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Cada vez mais os habitantes das sociedades modernas são “comandados” pelo
relógio, e a rotina e o stress próprios do dia-a-dia já fazem parte da sua forma de viver,
esta de tal maneira enraizado que já não vivem sem tais coisas. A par desta forma
exaustiva, rotineira e ocupada forma de viver nas sociedades modernas, surgem outras
formas diferentes de viver onde estas características próprias da vida urbana não
existem, uma vez que a forma de viver é muito diferente. São vidas que se desenrolam
em paralelo da vida dita normal. São assim, modos de vida despreocupados, sem
rotinas, sem preocupações, e nem as responsabilidades próprias do dia-a-dia. Refiro -
me aos mendigos, aos tocadores ambulantes e as prostitutas, que apesar da evolução das
sociedades ao longo do tempo, ainda fazem parte das sociedades dos dias de hoje.
Porque se à umas décadas atrás – Escola de Chicago – a mendicidade, a prostituição e a
pobreza estavam presentes nas sociedades daquela época, ainda hoje esses fenómenos
continuam presentes um pouco por todas as sociedades. A Sociedade Portuguesa não é
excepção, e ainda hoje em algumas cidades esses fenómenos continuam presentes.
Numa das minhas viagens a Lisboa, Lisboa cidade que, segundo Gilberto Velho
(1999: 58) “possui um conjunto de traços característicos (…) que a identificam,
alimentando algumas imagens bem conhecidas: banhada pelo rio Tejo, alcandorada
sobre sete colinas, cantada pelo fado, festejada pelos santos populares”, não pode deixar
de prestar atenção às “vidas paralelas” que se desenrolavam naquela cidade tão grande,
tão heterogénea, tão modernizada, com tantas raças diversificadas, com um ritmo de
vida tão agitado e por vezes tão complicado, com a poluição própria das cidades
modernas e ainda com memórias e tradições tão características e próprias da cidade. A
par do modo de vida aparentemente normal dos muitos indivíduos quer de Lisboa, quer
de outras cidades com uma casa, um emprego, uma família… desenrolam – se
paralelamente outras formas de viver, onde pelas mais diversas razoes estas
preocupações com a casa, família, e o emprego não existem. Contudo, em muitos dos
casos os indivíduos que habitam nas ruas e que vivem delas, já tiveram uma vida dita
normal, mas por diversas razoes como o desemprego, problemas financeiros, problemas
com álcool e drogas, o divórcio, uma desavença com familiares, acabaram por vir parar
à rua acabando assim por serem excluídos da sociedade e por terem formas de vida
diferentes dos indivíduos que têm uma vida normal.
Um pouco por todo o lado há mendigos, mendigos esses que pernoitam pelos
passeios, por uma qualquer esquina, pelos bancos dos jardins ou ainda pelo chão das
arcadas dos prédios da cidade das “sete colinas”, apenas enrolados em cartão com um
ou dois cobertores, que supostamente tapam o frio que por vezes não é o mais agradável
na capital, estão expostos no inverno ao frio e à chuva e no verão ás altas temperaturas.
São mendigos que talvez um dia já tenham tido uma casa, uma família, um emprego e
as consequentes preocupações e responsabilidades próprias do resto da sociedade, mas
que hoje em dia, por alguma razão vieram parar à rua, sobrevivendo como conseguem e
com as preocupações próprias de mendigos que não são em chegar a horas ao emprego,
ou preparar o jantar a horas, mas sim preocupações por exemplo, com o que comer e
onde dormir para escapar o máximo ao frio. Vivem dos restos e das ajudas dos outros,
sem tecto, nem chão, passam os seus dias encostados a qualquer esquina a verem os
outros passar ou ainda a tentarem encontrar alguma coisa nos caixotes do lixo que dê
para comer, contudo as vezes também recebem ajudas de instituições para poderem se
alimentar um pouco melhor. Andam mal vestidos, com a barba por fazer, com um saco
as costas com as poucas coisas que têm, e por vezes com a sua casa “ambulante” (com
poucas condições) debaixo do braço de um lado para o outro. Mesmo que queiram,
dificilmente passam despercebidos, uma vez que pela sua forma própria de vestir e o
seu aspecto descuidado naturalmente ao deambularem pela rua despertam a atenção de
qualquer um.
A par dos mendigos, outra “vida paralela” que se desenrola a par da vida em
sociedade dita normal é a prostituição. São como os “morcegos” só andam à noite, ou
pelo menos só vestem os seus fatos de “meninas da noite” e tratam da maquilhagem a
rigor quando é de noite. São na sua maioria do sexo feminino e em alguns casos ate têm
um emprego diurno, uma casa e uma família, contudo têm de trabalhar à noite para em
muitos dos casos fazerem face a problemas financeiros, ou para terem uma vida melhor,
mais desafogada economicamente “ existem aquelas que buscam a sobrevivência, mas
também as que estão mais preocupadas em satisfazer as suas fantasias” (Sousa, 2000:
148). Assim têm uma vida paralela á sua e aos demais indivíduos da sociedade.
Trabalham de noite, ficam na beira das estradas ou em alguns casos em sítios
estratégicos à espera dos seus clientes. A idade dos clientes é variada e alguns dos seus
clientes procuram apenas o prazer sexual, mas também há aqueles clientes que apenas
procuram companhia de alguém, segundo Sousa (2000: 84) “ Talvez se possa entender
essa estabilidade na frequência dos clientes, dentro desses intervalos de idades (…) um
deles pode estar vinculado à solidão”.
Contudo, não são bem vistas na sociedade portuguesa uma vez que têm má –
fama, e são olhadas de lado pelas mais diversas razoes.
Por exemplo, em Lisboa à volta dos muros do Instituto Superior Técnico, há
umas quantas meninas que lá estão todas as noites à espera dos seus clientes, e ali estão
à noite ou paradas, ou sentadas ou então acompanhadas por outras meninas à espera que
venham os seus clientes. Mas segundo Sousa e pelo que eu observei, a vida paralela da
prostituição não parece que esteja para terminar uma vez que se elas lá estão é porque
têm clientes, senão já teriam tentado uma outra vida, mais dignificante e mais aceite
socialmente “ as prostitutas continuam a ser procuradas pelos clientes que esperam
satisfazer necessidades e fantasias. Portanto, a prostituição não esta com “os seus dias
contados”, mas adaptando – se as exigências sociais. (Sousa, 2000: 148).
Alem dos mendigos, e das prostitutas, também existem um pouco por toda a
parte os tocadores que andam um pouco por todas as ruas de todas as cidades e tocam os
mais diversos instrumentos. Alguns tocam flauta, outros violinos ou guitarra, ou ate
mesmo acordeão, e à semelhança dos outros casos referidos anteriormente e pelas mais
diversas situações de vida, vêm para a rua tocar, de caixa aberta à espera que alguém lhe
dê uma moeda. Tocam vários tipo de musica e ninguém pode negar que apesar de
alguma desafinação que possa existir dão uma vida nova as ruas a onde param e tocam a
tarde toda para poderem conseguir juntar algum dinheiro. São esses sons que vêem da
rua que enchem o dia de quem por lá passa apressadamente pela rua sem em muitos
casos se darem conta de uma “vida paralela à sua” que ali esta, a tentar ganhar alguma
coisa numa sociedade que mal tem tempo para olhar para o lado e apreciar as coisas que
a vida dá.
Bibliografia