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Histórias da Aranha.

  Anansi viveu inúmeras outras aventuras e enganou muitos deuses, homens e


animais. Porém, certa vez, sua própria esperteza se voltou contra ele.
Aconteceu que, não muito longe das terras de Anansi, vivia um rei muito
poderoso, e que possuía um bode enorme, invejado por todas as pessoas. O
rei não permitia que ninguém sequer tocasse em seu bode, que podia andar
por onde quisesse e comer de tudo o que quisesse. Pois o bode, certo dia, saiu
das terras em que morava e se pôs a comer os rebentos do milho da plantação
de Anansi.

 Não demorou e a Aranha foi conferir sua lavra de milho, mas descobriu que
ela estava devastada; desesperado, percorreu o milharal e deu com o bode do
rei, lá no meio, ainda mastigando o milho que fora tão cuidadosamente
cultivado. Furioso, Anansi pegou uma pedra e jogou na cabeça do bode, que
caiu morto no meio dos pés de milho.

 Quando a raiva passou, Kwaku-Anansi olhou para o bode morto e soube que
estava perdido. O rei condenava à morte quem tocasse seu animal, e logo
descobriria quem o matara... Sentou-se então sob uma árvore e se pôs a
pensar em algum estratagema que o livrasse da fúria do rei. De repente, um
fruto muito suculento caiu dos galhos lá em cima, bem sobre sua cabeça, e
aquilo lhe deu uma ideia.

 Anansi pegou o corpo do bode morto e o pendurou em um dos galhos da


árvore. Saiu à procura de um vizinho,, outra aranha, maior e mais forte que ele.
Disse ao vizinho que sabia de um lugar onde se podiam colher frutos
saborosos, apenas sacudindo-se o tronco da árvore. E, quando as duas
aranhas chegaram junto à árvore, pediu ao vizinho que sacudisse o tronco. De
fato, quando os galhos balançaram pela força da outra aranha, muitos frutos
caíram, mas junto deles veio também o bode morto.

  - Você matou o bode do rei! - exclamou Anansi, deixando apavorado o


vizinho. - Bem, se for ao rei e confessar o que fez, talvez ele não se importe.

 A outra aranha achou que não tinha outra coisa a fazer senão confessar o
acontecido ao rei. Tomou o corpo do bode e, a caminho da casa do soberano,
parou para falar com sua mulher sobre o que acontecera. A mulher chamou o
marido de imbecil: desde quando bodes sobem em árvores? Ele havia caído
em alguma armadilha.

 A conselho da mulher, o vizinho então foi ao palácio do rei, mas nem levou o
bode e nem falou com o soberano. Quando voltou do passeio, foi dizer a
Anansi que ele estava certo, o rei não tinha se importado nem um pouco com a
morte do animal, e ainda lhe tinha dado uma parte da carne do bode! Anansi
ficou inconformado, achando que aquilo não era justo: se ele é que tinha
matado o bode, ele é quem deveria ganhar uma porção de sua carne! Ao ouvir
aquilo, o vizinho e sua mulher arrastaram Kwaku- Anansi á presença do rei e
lhe contaram tudo. A aranha não teve outro jeito senão confessar e pedir o
perdão do rei.

 Mas este ficou tão furioso que caiu de pontapés sobre Anansi, e foram tantos
golpes que a aranha se dividiu em muitos pedacinhos; cada um fugiu para se
esconder em um canto. E é por isso que os descendentes da aranha, que
antes era enorme, hoje são bem pequenos e se escondem pelos cantos das
casas...

Fonte: Livro "Volta ao Mundo em 80 Mitos", por Rosana Rios.

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