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Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
Hipertensão
Objetivos
• Contextualizar a hipertensão no âmbito da saúde pública, relacionando-a com as
principais doenças não transmissíveis que acometem a população adulta.
• Compreender a fisiopatologia da hipertensão, ressaltando os fatores que influenciam na
gênese e controle da doença.
• Revisar os principais tratamentos anti-hipertensivos tanto farmacológicos quanto não
farmacológicos.
• Capacitar os farmacêuticos para o trabalho interdisciplinar em serviços que atendam
indivíduos hipertensos, visando a integralidade do cuidado e a promoção da qualidade
de vida dos indivíduos.
Bons Estudos!
UNIDADE
Hipertensão
Contextualização
Como você sabe, a hipertensão é conhecida como doença “silenciosa”, pois, a maio-
ria dos casos de hipertensão não complicada é assintomática – isso faz com que muitas
pessoas não se deem conta de que são hipertensas.
Esses dados nos alertam para a importância da capacitação dos profissionais de saúde
para os cuidados com os portadores de hipertensão e para a elaboração de campanhas
de conscientização dos riscos da hipertensão.
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Introdução
A hipertensão arterial é uma condição clínica de origem multifatorial caracterizada por
níveis elevados e sustentados de pressão arterial. Associa-se, frequentemente, a alterações
funcionais e/ou estruturais em órgãos-alvo – coração, encéfalo, rins e artérias periféricas
– e a alterações metabólicas como dislipidemia, obesidade abdominal, intolerância à
glicose, com consequente aumento do risco de eventos cardiovasculares fatais e não fatais
(KASPER et al., 2017).
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UNIDADE
Hipertensão
Figura 1
Fonte: iStock/Getty Images
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Fisiopatologia da Hipertensão
A PA é determinada pelo débito cardíaco e pela resistência vascular periférica. Assim,
os fatores que influenciam nesses determinantes podem interferir na regulação da PA.
Resistência
Débito Pressão
Vascular
Cardíaco Arterial
Periférica
Frequência Volume
Cardíaca Sistólico
Figura 2
Fonte: elaborada pela professora conteudista
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UNIDADE
Hipertensão
A grande maioria dos casos de hipertensão não se relaciona com nenhuma causa
aparente ou identificada que justifique o aumento da PA. Nestes casos, a hipertensão é
classificada como hipertensão primária ou essencial. Geralmente sugere interferência
de fatores genéticos que se interagem com fatores ambientais. Entre os fatores
ambientais envolvidos na hipertensão arterial constam a obesidade, o consumo de
álcool, o sedentarismo e a ingestão de sal. Diabetes é um importante fator de risco para
a hipertensão arterial, principalmente pelos efeitos deletérios renais.
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Consequências da Hipertensão Arterial
Apenas uma pequena minoria de pacientes hipertensos apresenta somente uma
elevação da PA. Entre as principais complicações relacionadas com a hipertensão
arterial constam: Acidentes Vasculares Encefálicos (AVE), Insuficiência Cardíaca
Congestiva (ICC), Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), insuficiência renal (HART;
BAKRIS, 2011) e oclusões vasculares na retina. Tais complicações normalmente são
precedidas de lesões subclínicas como Hipertrofia do Ventrículo Esquerdo (HVE),
aumento da espessura dos grandes vasos, microalbuminúria com disfunção glomerular,
déficits cognitivos e retinopatia hipertensiva (CASTRO; IRIGOYEN, 2015), justificando
uma avaliação mais completa do paciente hipertenso.
A avaliação do paciente hipertenso tem como objetivo determinar o seu risco global,
de modo que a classificação do risco cardiovascular depende dos níveis de PA, dos fatores
de risco associados (Quadro 2), da presença de lesões em órgão-alvo e da presença de
doença cardiovascular ou doença renal (Sociedade Brasileira de Hipertensão; Sociedade
Brasileira de Cardiologia; Sociedade Brasileira de Nefrologia, 2016).
Dislipidemia
Colesterol total > 190mg/dl e ou
LDL-Colesterol >115 mg/dl e ou
HDL-Colesterol < 40mg/dl nos Homens e < 46mg/dl nas mulheres e/ou
Triglicerídeos > 150 mg/dl
Resistência à Insulina
Glicemia plasmática em jejum: 100-125 mg/dl
Teste oral de tolerância à glicose: 140-199 mg/dl em 2 horas
Hemoglobina glicada: 5,7 - 6,4%
Obesidade
IMC ≤ 30kg/m2
CA ≤ 102 cm nos Homens ou ≤ 88 cm nas Mulheres
Legenda: DCV = Doença Cardiovascular; LDL = Lipoproteína de Baixa Densidade; HDL = Lipoproteína de Alta Densidade;
IMC = Índice de Massa Corporal; CA = Circunferência Abdominal.
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Hipertensão
Figura 3
Fonte: iStock/Getty Images
Atividade Física
Entre as recomendações para pacientes hipertensos, a mais assertiva e eficiente é a
prática de exercícios físicos. Está claramente comprovado pela Ciência que o treinamento
crônico reduz a resistência vascular periférica e o débito cardíaco em repouso,
contribuindo fortemente para a diminuição da PA. O exercício crônico pode promover
redução da atividade simpática, redução da ativação do sistema renina-angiotensina,
melhora do perfil metabólico, melhora da função do endotélio vascular, promovendo
mudanças positivas na composição corporal (PONTES JUNIOR et al., 2010).
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A atividade física deve ser realizada por, pelo menos, trinta minutos, de intensidade
moderada, na maior parte dos dias da semana de forma contínua ou acumulada. As
pessoas devem incorporar a atividade física nas atividades rotineiras, tais como caminhar,
subir escadas, realizar atividades domésticas dentro e fora de casa. É considerada atividade
física moderada aquela que pode ser realizada mantendo-se conversação.
Medidas Nutricionais
Algumas dietas têm sido propostas como medidas de reduzir a PA. Entre essas dietas,
figura a Dietary Approaches to Stop Hypertension (Dash), que enfatiza o consumo
de frutas, hortaliças e laticínios com baixo teor de gorduras saturadas, além da ingestão
de cereais integrais, frango e peixe, mostrando reduzir a PA (Sociedade Brasileira de
Hipertensão; Sociedade Brasileira de Cardiologia; Sociedade Brasileira de Nefrologia,
2016; Fuchs; Wannmacher, 2017).
Figura 4
Fonte: iStock/Getty Images
Em relação ao café, estudos recentes sugerem que seu consumo em doses habituais não
está associado a maior incidência ou elevação da PA (Sociedade Brasileira de Hipertensão;
Sociedade Brasileira de Cardiologia; Sociedade Brasileira de Nefrologia, 2016).
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Hipertensão
O controle da ingestão de sal também tem sido estimulado para a redução da PA.
Vários estudos comprovam que a redução moderada no consumo de sódio até um nível
de 2,4 g por dia (6 g de NaCl por dia, 100 mmol por dia) tem um efeito anti‐hipertensivo
moderado e um possível efeito preventivo (KAPLAN; VICTOR, 2015). A queda na
pressão arterial tende a ser maior em indivíduos negros e idosos, demonstrando maior
sensibilidade ao sódio nessas populações. Outra vantagem da redução do consumo de
sódio é que aumenta a eficácia de todas as classes de medicamentos anti‐hipertensivos.
Figura 5
Fonte: iStock/Getty Images
Redução do Peso
O aumento de peso está diretamente relacionado ao aumento da PA tanto em adultos
quanto em crianças (Sociedade Brasileira de Hipertensão; Sociedade Brasileira de
Cardiologia; Sociedade Brasileira de Nefrologia, 2016). O efeito hipertensivo do ganho
de peso está relacionado principalmente ao aumento na quantidade de gordura visceral
abdominal, acompanhado de alteração na função endotelial (KAPLAN; VICTOR, 2015).
Qualquer grau de ganho de peso, mesmo em níveis que não sejam definidos como
excesso de peso, está associado a um aumento na incidência de hipertensão.
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Cessar o Tabagismo
O tabagismo aumenta o risco para mais de 25 doenças, incluindo a doença
cardiovascular (Sociedade Brasileira de Hipertensão; Sociedade Brasileira de Cardiologia;
Sociedade Brasileira de Nefrologia, 2016). Em relação ao seu efeito na hipertensão, não
existem muitos estudos demonstrando a relação entre o tabagismo e a hipertensão,
entretanto, sabe-se que o tabagismo aumenta a rigidez arterial e diminui a síntese do
óxido nítrico, que é um vasodilatador derivado do endotélio (KAPLAN; VICTOR, 2015).
Tratamento Farmacológico da
Hipertensão Arterial
Os fármacos reduzem a PA ao agirem na resistência periférica, débito cardíaco ou
em ambos (PA = débito cardíaco x resistência vascular periférica). A redução do
débito cardíaco é alcançada quando os fármacos inibem a contratilidade do miocárdio
ou reduzem o volume intravascular e para redução da resistência periférica os fármacos
provocam relaxamento dos vasos de resistência ou interferem na atividade dos sistemas
que produzem constrição dos vasos de resistência.
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Hipertensão
Diuréticos
A redução da PA pelos diuréticos envolve inicialmente seus efeitos na diminuição do
volume intravascular por meio do aumento da excreção de sódio e água. A redução do
volume intravascular reduz, consequentemente, o débito cardíaco e a PA (GOLAN, 2009;
Sociedade Brasileira de Hipertensão; Sociedade Brasileira de Cardiologia; Sociedade
Brasileira de Nefrologia, 2016). Entre os diuréticos usados no tratamento da hipertensão,
temos os diuréticos de alça e os diuréticos tiazídicos.
Inibidores da ECA
Isoladamente, os inibidores da ECA normalizam a pressão arterial em cerca de
50% dos pacientes com hipertensão leve a moderada. Em 90% dos indivíduos com
hipertensão leve a moderada, obtém-se um controle por meio da combinação de um
inibidor da ECA com um bloqueador dos canais de Ca2+, um bloqueador dos receptores
β-adrenérgicos ou um diurético.
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Os inibidores da ECA incluem o captopril, o enalapril, o lisinopril, o quinapril, o
ramipril, o benazepril, o moexipril, o fosinopril, o trandolapril e o perindopril.
Esse grupo tem como ação principal a inibição da enzima conversora de angiotensina
I (ECA), impedindo a transformação de angiotensina I em angiotensina II. Ao reduzir os
efeitos da angiotensina II, esses agentes promovem vasodilatação, reduzindo a resistência
vascular periférica, aumentam a excreção renal de sal e de água, reduzindo o volume
plasmático pela redução da liberação de aldosterona e diminuem a hipertrofia celular –
efeitos estes que contribuem para a redução da PA (GOODMAN; GILMAN, 2015).
Habitualmente bem tolerados pela maioria dos pacientes hipertensos, a tosse seca
é a principal reação adversa. Pode ocorrer uma considerável retenção de potássio em
pacientes com insuficiência renal. Em associação com diuréticos poupadores de K+
(amilorida, triantereno e espironolactona), Aine, suplementos de K+ e antagonistas
dos receptores β-adrenérgicos. Os inibidores da ECA estão contraindicados durante a
gravidez. Podem induzir insuficiência renal aguda.
Os ARA II possuem eficácia terapêutica equivalente aos inibidores da ECA? Existem muitas
diferenças entre esses dois grupos de fármacos?
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Hipertensão
Os ARA, assim como os Ieca, possuem potencial teratogênico e devem ser interrompidos
durante a gravidez. Podem provocar hipotensão, oligúria, azotemia progressiva ou
insuficiência renal aguda. Podem causar hiperpotassemia em pacientes com doença renal
ou naqueles em uso de suplementos de potássio ou em uso de poupadores de K+.
Antagonistas Adrenérgicos
Fármacos que bloqueiam seletivamente os receptores α 1-adrenérgicos são usados na
hipertensão por reduzirem a resistência vascular periférica. A prazosina, terazosina e
doxazosina são antagonistas de receptores α 1-adrenérgicos disponíveis para o tratamento
da hipertensão. Podem provocar hipotensão postural de grau variável (GOODMAN;
GILMAN, 2015).
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As RAM mais importantes desse grupo são edema maleolar, cefaleia latejante e
tonturas não são incomuns. O rubor facial com os di-idropiridínicos de ação rápida.
Hipercromia do terço distal das pernas – dermatite ocre – e a hipertrofia gengival.
Verapamil e diltiazem podem agravar a insuficiência cardíaca e constipação intestinal é
observada com verapamil.
Hidralazina
A hidrazina relaxa diretamente o músculo liso arteriolar, reduzindo a PA por diminuição
na resistência vascular periférica por mecanismo que parece envolver uma queda das
concentrações intracelulares de cálcio. A redução da pressão arterial observada após
administrá-la está associada a uma diminuição seletiva da resistência vascular nas circulações
coronariana, cerebral e renal, com efeito menor sobre a pele e o músculo. Os efeitos
adversos incluem cefaleia, náuseas, rubor, hipotensão, palpitações, taquicardia, tontura
e angina de peito. A hidralazina não é mais um fármaco de primeira linha na terapia da
hipertensão, em função de seu perfil de efeitos adversos relativamente desfavorável.
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Outros fatores relacionados com a hipertensão nos idosos são: maior sensibilidade ao
sódio e maior resposta hipotensora aos diuréticos, maior incidência de disfunção endotelial,
além da atividade simpática aumentada (MIRANDA; FEITOSA, 2016).
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Hipertensão na Gravidez
A síndrome hipertensiva da gestação é uma importante complicação da gestação,
estando entre as principais causas de morbimortalidade materna e fetal. A hipertensão
está presente em 7,5% das gestações no Brasil, sendo 2,3% de pré-eclâmpsia e 0,5%
de pré-eclâmpsia sobreposta. Resulta em mortalidade entre 20 e 25% de todas as causas
de óbito materno (SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO; SOCIEDADE
BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA; SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA,
2016). Pode ser classificada em quatro formas distintas:
O tratamento da hipertensão na gravidez deve ser conduzido com cautela para evitar
danos ao feto em desenvolvimento. Entre os medicamentos tradicionalmente usados estão
a metildopa e nifedipina. Em quadros mais graves, administra-se hidralazina intravenosa.
Anti-hipertensivos-hipertensivos como propranolol, diuréticos tiazídicos, inibidores da
enzima conversora de angiotensina e antagonistas de receptor de angiotensina II (risco D
na gravidez) devem ser evitados pelos efeitos indesejáveis – tanto maternos, como fetais
(SIQUEIRA et al., 2011).
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Adesão ao Tratamento
A adesão ao tratamento é a base para o alcance dos desfechos favoráveis na hipertensão,
dado que pacientes aderentes apresentam 45,0% mais chances de atingir o controle
pressórico e, consequentemente, na ocorrência de eventos cardiovasculares (CORRÊA et
al., 2016). O fato de se tratar de uma doença “silenciosa”, com poucos ou quase nenhum
sintoma aparente, contribui de forma acentuada para a falta de adesão aos tratamentos.
Muitas vezes as reações adversas e as privações impostas pelo tratamento incomodam os
pacientes mais do que a própria doença.
Figura 6
Fonte: iStock/Getty Images
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Um dos aspectos mais importantes é a aceitação da doença e do entendimento de sua
progressão e consequências, de modo que o paciente deve estar ciente das possibilidades
de tratamento e dos desfechos possíveis para o seu caso. Dessa forma, as medidas para
aumentar a adesão devem inserir o paciente como parte integrante e mais interessada
pelo tratamento, dando-lhe autonomia para participar da escolha das estratégias que
comporão seu plano de cuidados.
Figura 7
Fonte: iStock/Getty Images
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Figura 7
Fonte: iStock/Getty Images
No Brasil, políticas públicas de saúde foram criadas para melhorar o acesso aos
medicamentos, com políticas específicas aos portadores de diabetes e hipertensão. Para
conhecer esse programa, acesse o site do Ministério da Saúde.
http://portalsaude.saude.gov.br
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
Atenção Farmacêutica na Hipertensão Arterial
O vídeo produzido pelo Conselho Regional de Farmácia de São Paulo aborda os cuidados
farmacêuticos para os pacientes com hipertensão arterial. O material tem uma linguagem
de fácil compreensão e apresenta temas de extrema relevância, tais como os principais
tratamentos da hipertensão arterial, reforçando as medidas não farmacológicas, traçando
um paralelo com os principais medicamentos anti-hipertensivos.
https://youtu.be/rA4eeiBMzPw
Leitura
7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial
O material discorre sobre as diretrizes brasileiras para hipertensão. Trata-se de uma publicação
de apoio e consulta, trazendo as condutas clínicas que devem orientar o manejo e cuidado de
pacientes hipertensos. Aborda também os dados epidemiológicos, o diagnóstico, os cuidados
e tratamentos, além de outras informações sobre a hipertensão arterial.
https://goo.gl/UyUC8H
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Hipertensão
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica:
hipertensão arterial sistêmica. Brasília, DF, 2013. (Cadernos de Atenção Básica;
37). Disponível em: <http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/
caderno_37.pdf>. Acesso em: 21 jun. 2017.
CURI, R.; ARAÚJO FILHO, J. Fisiologia Básica. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan,
2011. [Minha Biblioteca].
KAPLAN, N.; VICTOR, R. G. Hipertensão clínica de Kaplan. 10. ed. Porto Alegre,
RS: Artmed, 2015. [Minha Biblioteca].
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MORI, A. L. P. M. et al. Pharmaceutic guidance to hypertensive patients at
USP University Hospital. Brazilian Journal of Pharmaceutical Sciences, v.
46, n. 2, p. 353-362, 2010.
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