Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
,
e r
im
c re s c
S Sic re d i
Pedro Andrade
Apresentador e Jornalista
Poupança
Por isso, chegou a hora de você investir junto com a gente.
Mas antes de tudo é preciso saber: quem é você na hora de investir? Renda Fixa
Junto com o Pedro Andrade, você pode descobrir o seu perfil de investidor e
chegar às melhores soluções para fazer o seu dinheiro começar a render mais.
Acesse investindojuntos.com.br,
descubra seu perfil e comece a investir seu dinheiro.
SAC 0800 724 7220 Deficientes Auditivos ou de Fala 0800 724 0525. Ouvidoria 0800 646 2519.
Instituição de caráter técnico-científico, educativo e filantrópico, criada em 20 de Publicação mensal de agronegócio e economia agrícola
dezembro de 1944, como pessoa jurídica de direito privado, tem por finalidade do Centro de Agronegócio da Fundação Getulio Vargas
atuar no âmbito das Ciências Sociais, particularmente Economia e Administração,
bem como contribuir para a proteção ambiental e o desenvolvimento sustentável. Conselho Editorial: Cleber Guarany, Marcelo Weyland
Barbosa Vieira, Luis Carlos Guedes Pinto, Luiz Carlos
Sede: Praia de Botafogo, 190, Rio de Janeiro - RJ, CEP 22253-900 ou Corrêa Carvalho, Ricardo Simonsen, Roberto Rodrigues
Postal Code 62.591 - CEP 22257-970 | Tel.: (21) 2559 6000 | www.fgv.br e Yoshiaki Nakano
Primeiro Presidente e Fundador: Luiz Simões Lopes Editor-chefe: Antônio Carlos Kfouri Aidar
Presidente: Carlos Ivan Simonsen Leal Editor Executivo: Luiz Antonio Pinazza
Vice-presidente: Francisco Oswaldo Neves Dornelles, Marcos Cintra Cavalcanti Colaboradores: Bruno Benzaquen Perosa e Felippe Cauê
de Albuquerque, Sergio Franklin Quintella Serigati
Fundadores: Julian M. Chacel e Paulo Rabello de Castro
CONSELHO DIRETOR
Presidente: Carlos Ivan Simonsen Leal Capa: Patricia Werner, Fernanda Carvalho, Julia Travassos
Vice-presidentes: Francisco Oswaldo Neves Dornelles, Marcos Cintra Cavalcanti Arte: Alexandre Monteiro
de Albuquerque, Sergio Franklin Quintella Revisor: Alexandre Sobreiro
Vogais: Armando Klabin, Carlos Alberto Pires de Carvalho e Albuquerque, Secretaria e Administração: Viviane de Carvalho
Cristiano Buarque Franco Neto, Ernane Galvêas, Coordenador da Produção Editorial: Evandro Faulin
José Luiz Miranda, Lindolpho de Carvalho Dias, Marcílio Marques Moreira, Roberto Publicidade/Comercial: Viviane de Carvalho
Paulo Cezar de Andrade
Suplentes: Aldo Floris, Antonio Monteiro de Castro Filho, Ary Oswaldo Mattos Av. Paulista, 1.294, 15º andar,
Filho, Eduardo Baptista Vianna, Gilberto Duarte Prado, Jacob Palis Júnior, José Tel.: (11) 3799-4104 | Fax: (11) 3262-3569
Ermírio de Moraes Neto, Marcelo José Basílio de Souza Marinho, Mauricio Matos
Peixoto contato@agroanalysis.com.br
www.fgv.br/agroanalysis
CONSELHO CURADOR
Presidente: Carlos Alberto Lenz César Protásio
Vice-presidente: João Alfredo Dias Lins (Klabin Irmãos & Cia.)
Vogais: Alexandre Koch Torres de Assis, Andrea Martini (Souza Cruz S/A),
Antonio Alberto Gouvêa Vieira, Eduardo M. Krieger, Estado da Bahia, Estado do
Rio de Janeiro, Estado do Rio Grande do Sul, José Carlos Cardoso (IRB-Brasil
Resseguros S.A), Luiz Chor, Luiz Ildefonso Simões Lopes, Marcelo Serfaty, Marcio
João de Andrade Fortes, Miguel Pachá, Murilo Portugal Filho (Federação Brasileira
de Bancos), Pedro Henrique Mariani Bittencourt, Ronaldo Vilela (Sindicato das
Empresas de Seguros Privados, de Previdência Complementar e de Capitalização
nos Estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo), Willy Otto Jordan Neto
Suplentes: Almirante Luiz Guilherme Sá de Gusmão, General Joaquim Maia
Brandão Júnior, José Carlos Schmidt Murta Ribeiro, Luiz Roberto Nascimento
Silva, Manoel Fernando Thompson Motta Filho, Nilson Teixeira (Banco de
Investimentos Crédit Suisse S.A), Olavo Monteiro de Carvalho (Monteiro Aranha
Participações S.A), Patrick de Larragoiti Lucas (Sul América Companhia Nacional
de Seguros), Rui Barreto, Sergio Lins Andrade
Acesse o site
www.agroanalysis.com.br
e nos acompanhe nas redes sociais.
Twitter: @agroanalysis
Instagram: /fgv.agroanalysis
Facebook: /fgv.agroanalysis
EDITORIAL
O AGRONEGÓCIO É O SEGUINTE
DECISÃO FAVORÁVEL À
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
PODE REDUZIR O CRÉDITO
alta do preço da carne bovina ocorrido entidade comprometida em promover Para encerrar, tem-se a publicação da
neste segundo semestre. As principais o aumento da produtividade da soja. 14ª edição do Caderno Especial Café,
causas, segundo especialistas, foram produzido pelo Conselho Nacional do
o crescimento da demanda de carne Foi apresentada, em 31 de outubro Café (CNC). A fase tem sido de amplo
bovina pela China, a menor oferta último, em Brasília, com a presença da esforço para superação do movimen-
de bovinos para abate e a espera por ministra Tereza Cristina, do Ministério to cíclico de baixa nos preços. Existe
retomada do crescimento da econo- da Agricultura, Pecuária e Abastecimento uma dinâmica em ação por meio dos
mia brasileira. Somados, esses fatores (MAPA), e do ministro Ricardo Salles, do nichos de cafés especiais e da impul-
apontam uma boa expectativa para a Ministério do Meio Ambiente (MMA), a são do café solúvel para a abertura de
bovinocultura de corte em 2020. CropLife Brasil. A entidade representará novos mercados.
algumas das principais empresas especia-
Como entrevistado do mês, a lizadas em pesquisa e desenvolvimento A Agroanalysis agradece a atenção
Agroanalysis traz Leonardo Sologuren, de novas soluções nas áreas de sementes, dos seus leitores, colaboradores e pa-
presidente do Comitê Estratégico Soja biotecnologia e defensivos químicos e trocinadores ao longo de 2019 e deseja
Brasil (CESB), que é uma entidade sem biológicos. A missão da CropLife Brasil a todos um próspero 2020.
fins lucrativos formada por profissionais será fomentar a inovação e o uso das
e pesquisadores de diversas áreas que se mais modernas tecnologias nas lavouras
uniram em prol da sojicultura nacional. brasileiras. A CropLife é uma instituição
O seu principal produto é o Desafio de com mais de cinquenta anos de histó-
Máxima Produtividade, criado em 2008. ria e escritórios nos Estados Unidos,
A entrevista aborda as ações executadas no Canadá, na Austrália, na África e
ao longo dos onze anos de existência da no Oriente Médio. A REVISTA DE AGRONEGÓCIO DA FGV
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS | VOL. 39 | Nº 12 | DEZEMBRO 2019 | R$ 15,00
5
SUMÁRIO
04 EDITORIAL 29
07 ENTREVISTA
LEONARDO SOLOGUREN
GANHOS DE PRODUTIVIDADE
DA SOJA SURPREENDERAM
E SURPREENDERÃO
20 QUARENTA ANOS DO
CARRO A ETANOL
24 POLÍTICA AGRÍCOLA
CAPA ESPECIAL CAFÉ
24 CAPANOVO ENTENDIMENTO SOBRE A
RECUPERAÇÃO JUDICIAL NO
AGRONEGÓCIO 44 COOXUPÉ
PROGRAMA ESPECIALÍSSIMO PREMIA OS
26 SUSTENTABILIDADE MELHORES CAFÉS DA SAFRA 2018/19
28 BRASIL AGROAMBIENTAL
28 MOBILIZANDO CAPITAL
PRIVADO PARA A ECONOMIA
DE BAIXO CARBONO
GANHOS DE PRODUTIVIDADE
DA SOJA SURPREENDERAM
E SURPREENDERÃO
LEONARDO SOLOGUREN
Presidente do Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB)
Da Redação
O presidente do CESB fala das ações executadas nos onze anos de existên-
cia da entidade comprometida em promover o aumento da produtividade
da soja nacional.
L EONARDO SOLOGUREN
é o atual presidente do CESB
(gestão 2019-2020), sócio-diretor da
AGROANALYSIS: DE ONDE VIE-
RAM AS PRIMEIRAS SEMENTES
PARA A CRIAÇÃO DO CESB?
sacas por hectare no País estava es-
tagnada há cerca de dez anos, mesmo
diante de um cenário de inovações tec-
Horizon e conselheiro do Conselho de nológicas, como a adoção crescente de
Informações sobre Biotecnologia (CIB). LEONARDO SOLOGUREN: A ideia biotecnologia, por exemplo. Queríamos
Formou-se em Engenharia Agronômica do CESB começou a ser concebida em entender quais eram as dificuldades e
pela Universidade Federal de Uberlândia 2007, quando um grupo de profissionais os desafios do produtor brasileiro para
(UFU) e se tornou mestre em Economia da área com diversas expertises uniram-se tomar decisões efetivas no sentido de
pela mesma universidade, onde desen- com o objetivo de discutir as estratégias elevar a sua média produzida, com a
volveu a sua dissertação focada em e as ações para estimular a ampliação da incorporação de temas desde o manejo
estratégias competitivas voltadas ao produtividade média da soja no Brasil. até a difusão e a capacitação tecnológica.
sistema agroindustrial da soja. Naquele momento, a produção de
7
ABRE ASPAS ENTREVISTA
“
tributários, a possibilidade de captação
OS TRABALHOS GIRAM EM TOR- de recursos para fins públicos fica limi-
tada. Como somos uma Organização
NO DE CASES REAIS EXTRAÍDOS da Sociedade Civil de Interesse Público
DO CAMPO DAS REALIZAÇÕES DOS (OSCIP), não temos objetivos lucra-
tivos. Há uma razão superior para o
PRÓPRIOS PRODUTORES.
”
nosso propósito ultrapassar a questão
da produtividade. No resultado final,
o aumento da produtividade represen-
MEDIR A COMPETIÇÃO DA PRO- Buscamos pensar sempre em estratégias ta sustentabilidade para a segurança
DUTIVIDADE REPRESENTA UMA lúcidas. O nosso esforço busca estimular alimentar. Estudamos várias formas
IDEIA ANTIGA? o produtor rural brasileiro a aumentar alternativas para formar um funding,
a produtividade com sustentabilidade. principalmente com fontes interna-
LS: O Desafio de Máxima Produtividade cionais. Faz parte do escopo do CESB
do CESB foi implantado logo no início a responsabilidade de o Brasil ser uma
da instituição. A primeira campanha COMO FOI O GRAU DE ACEITA- das maiores plataformas fornecedoras
ocorreu na safra 2008/09. Essa era a ÇÃO ENTRE OS ÓRGÃOS GOVER- de matéria-prima para a cadeia global
forma encontrada para provocar o setor NAMENTAIS E AS EMPRESAS PRI- de proteína animal.
e entender se os produtores consegui- VADAS?
riam desafiar a si mesmos, com aumento
das produtividades por meio das tecno- LS: Com muita esperança, começamos AS TECNOLOGIAS APLICADAS NA
logias já existentes. No primeiro ano, com apenas um patrocinador. À medida CULTURA DE SOJA VARIAM NO
contou-se com a participação de 140 que caminhou com ganho de escala, BRASIL?
componentes, sendo a média registrada a importância do Desafio de Máxima
pelos dez primeiros colocados de 77,8 Produtividade também teve a sua re- LS: Com certeza! Há uma diversidade
sacas por hectare naquele momento. percussão aumentada. As empresas enorme de produtores e regiões com
começaram a entender de forma mais adaptações conforme topografia, clima
O desafio ganhou gradativamente maior profunda o alcance do nosso propósi- e solo. O Brasil é um país de tamanho
proporção. Na campanha agrícola to. Naturalmente, mais companhias do continental, que possui seis biomas
2018/19, o número de participantes setor privado mostraram-se interessadas diferentes. Essa adaptação já começa
saltou para 4.400. Os primeiros colo- em se integrar ao projeto. Hoje, con- pela própria variedade da soja, com
cados alcançaram uma média de 118,62 tamos com 25 patrocinadores e apoio grande diversidade para atender cada
sacas por hectare. Nesse processo, o de outras instituições representativas local onde há produção.
CESB consolidou-se como uma refe- do setor, a exemplo da Associação
rência nacional na discussão do tema da Brasileira do Agronegócio (ABAG), A variabilidade das texturas e os tipos
produtividade. Os trabalhos giram em da Associação Brasileira das Indústrias de solo exigem manejos de nutrição
torno de cases reais extraídos do campo de Óleos Vegetais (ABIOVE), da diferentes. Já o clima influencia os
das realizações dos próprios produtores. Confederação da Agricultura e Pecuária maiores ou menores focos de doença
A competição entre os participantes do Brasil (CNA), da Fundação de e o alastramento de insetos e pragas,
funciona de modo similar à Fórmula 1 Apoio à Pesquisa Agropecuária de com exigência de condições específicas
para o setor automobilístico. Mato Grosso (Fundação MT), entre na aplicação de defensivos agrícolas.
outras. Mantemos interlocução cons- Mesmo em uma determinada região,
tante com órgãos do governo. Estamos a tecnologia aplicada pode mudar de
EXISTEM PROJETOS SIMILARES abertos a passos maiores em termos um ano para o outro, pois a agricul-
NOS EUA? de grandeza. O interesse é um só: tura é uma fábrica a céu aberto, com
impulsionarmos o principal setor do condições de produção que não são
LS: Não há iniciativas com o mesmo agronegócio brasileiro. 100% controladas pelo homem. É um
propósito que aplicamos aqui. As com- desafio a cada safra.
petições por maiores ganhos de produ-
tividade acontecem nos EUA, mas o FORMAR UM FUNDING ESTÁ EN-
objetivo do CESB agrega uma amplitude TRE OS MAIORES DESAFIOS? HÁ UMA RELAÇÃO ENTRE A CUL-
maior. Ao final do trabalho, incitamos os TURA, A CONQUISTA DO CERRA-
agricultores a replicarem o manejo e a uti- LS: Sem dúvida. Diante da questão DO E O SISTEMA DE PLANTIO DI-
lização tecnológica em todas as regiões. cultural, junto à ausência de incentivos RETO NA PALHA?
“
a inoculação, o produtor não precisa
NO RESULTADO FINAL, O AU- aplicar o nitrogênio. É uma redução
importante no custo de produção.
MENTO DA PRODUTIVIDADE Amplamente difundida no Brasil, a
REPRESENTA SUSTENTABILIDADE prática, com inovação, aprimora-se
tecnologicamente.
PARA A SEGURANÇA ALIMENTAR.
” OS RESULTADOS OBTIDOS PELO
LS: Na década de 1970, a Empresa A conquista tecnológica do Cerrado CESB SURPREENDERAM NO PAS-
Brasileira de Pesquisa Agropecuária tropical foi uma obra inédita. A evolu- SADO E SURPREENDERÃO NO
(Embrapa) realizou um trabalho extra- ção da soja nesse bioma teve um papel FUTURO?
ordinário: demonstrou a possibilidade crucial para o desenvolvimento econô-
de promover a produção de alimentos mico no interior do País. Essa expansão LS: Quando olhamos para trás, com
em áreas do Cerrado, até então consi- representou a pedra de toque funda- certeza, surpreenderam muito. Nos
deradas inapropriadas para tal prática. mental para a criação de diversos muni- primórdios da criação do CESB, a
A primeira cultura a ser explorada foi cípios muito prósperos e de alto Índice visão de que a produtividade poderia
o arroz, em consórcio com forrageiras, de Desenvolvimento Humano (IDH). superar 100 sacas por hectare signi-
para ajudar a correção da acidez do solo. ficava um mito ou, podemos dizer,
uma hipótese distante. Mas o tempo
Esse consórcio, conhecido como QUANDO SE TRATA DE SUSTEN- foi implacável. Além de esse resultado
Sistema Barreirão, é utilizado até hoje TABILIDADE, OS INOCULANTES ter sido ultrapassado, o campeão do
para as áreas destinadas à recuperação REPRESENTAM UM INSUMO PRE- desafio promovido na safra 2016/17
de pastagem. Depois, veio o Sistema CIOSO? atingiu 149,10 sacas por hectare. Na
Santa Fé, que, além de também con- temporada 2018/19, foram 216 pro-
sorciar grãos com forrageiras, produ- SL: Sem dúvida, essa capacidade da dutores, com médias acima de 90 sacas
zia palhada com intuito de aumentar leguminosa, como a soja, de fazer por hectare. Fica evidente o mistério
a matéria orgânica do solo para as a Fixação Biológica de Nitrogênio de ainda não se conhecer o potencial
lavouras seguintes. Nascia, assim, o (FBN) trouxe uma força para a com- produtivo da soja. Por isso, quando se
sistema de plantio direto, sem a retirada petitividade econômica da lavoura. olha para frente, acredita-se no apa-
da palhada. Evitava-se, desta forma, o Espera-se que a tecnologia se estenda recimento de novas surpresas. Essa
revolvimento do solo, com o aumento para as culturas de cereais, cana-de- constitui uma faceta interessante do
da sua conservação, além de se propi- açúcar, café etc. Apesar de ser uma trabalho do CESB.
ciar a redução da temperatura do solo. operação relativamente simples, com
“
A EVOLUÇÃO DA
HENRIQUE CAMPINHA/DIVULGAÇÃO CESB
LUIS CARLOS HEINZE, senador (PP/RS) presidente da O Plano Safra 2019/2020 demonstrou que,
comissão mista que estuda a MP nº 897
num cenário de restrição fiscal, o crédito
rural receberia menos recursos. Com o novo
O FAF facilitará o acesso do produtor modelo desenhado e apresentado pela MP
rural às linhas de crédito para fazer a [nº 897], poderemos ampliar a oferta de
renegociação das dívidas (...). O sistema recursos para além das linhas tradicionais de
funciona como um fundo solidário em que financiamento.
os credores poderão organizar grupos de
devedores para fazer o aval cruzado. ARNALDO JARDIM, deputado federal (Cidadania/SP)
PEDRO LUPION, deputado federal (DEM/PR) relator da NOTA EDITORIAL: tais resultados podem ser afetados
MP nº 897 pela aprovação da recuperação judicial de pessoa física
no agronegócio.
Vivemos em um emaranhado
de normativas, com Decretos,
Resoluções, Instruções
Agradecemos a confiança e continuaremos no
Normativas e Portarias que
esforço para garantir a melhor representação política
se misturam e causam uma
que a FPA pode fazer pela agricultura brasileira.
verdadeira inoperância aos órgãos
ambientais.
Trabalharemos na imagem do setor para a
JOSÉ MÁRIO SCHREINER, deputado fede-
população urbana conhecer a sustentabilidade e a
ral (DEM/GO) e presidente da Federação da segurança na produção de alimentos do Brasil.
Agricultura e Pecuária do Estado de Minas
Gerais/Serviço Nacional de Aprendizagem ALCEU MOREIRA, deputado federal (MDB/RS) reeleito
Rural (Sistema FAEG/SENAR) presidente da FPA para 2020
11
MACROECONOMIA
SINAIS CONCRETOS
ROGÉRIO MORI
Professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EESP)
A principal forma de acesso à terra é a pro- BRASIL: CONDIÇÃO LEGAL DAS TERRAS
priedade. Quando se comparam os núme-
ros de 2006 a 2017 com relação à declara- ESTABELE- Censo de 2006 Censo de 2017
ção de “terras próprias”, a participação dos CIMENTOS Unidades Hectares Unidades Hectares
estabelecimentos aumentou (de 76% para Próprios 3.946.411 302.138.391 4.107.762 298.323.489
81%), apesar de a área ter diminuído (de Sem titulação 194.867 5.957.124 266.910 6.165.766
90% para 85%). Isso caracteriza uma cons- Arrendados 333.975 15.127.498 320.263 30.171.451
tante movimentação na modalidade de uso Parcerias 186.193 3.240.841 177.803 7.830.479
da terra. Nas áreas arrendadas e em parce- Ocupados 474.133 7.216.236 464.253 8.798.642
ria, a quantidade de estabelecimentos teve TOTAL 5.135.779 333.680.037 5.073.324 351.289.816
uma pequena queda, embora a área tenha
quase dobrado. As áreas ocupadas mostram Fonte: IBGE
13
AGRODROPS
ORIENTAÇÃO TÉCNICA
BRASIL: ORIGEM DA ORIENTAÇÃO
TÉCNICA DOS ESTABELECIMENTOS
Dos estabelecimentos levantados no Censo Agrope-
cuário de 2017, a maioria dos produtores declarou não Censo de Censo de
ORIGEM Var. %
receber orientação técnica (79,8%) em relação a uma 2006 2017
minoria (20,2%). Não houve muita mudança, em ter- Governo 491.600 398.067 -19,0%
mos de cobertura, quando em comparação aos dados Própria 250.241 316.394 26,4%
do Censo Agropecuário de 2006, com alto não recebi- Cooperativa 225.521 251.520 11,5%
mento. Essa sinalização exige maior aprofundamento Empresas integradoras 153.858 134.950 -12,3%
na análise. É importante ter como focos de avaliação a Empresas privadas 85.195 29.302 -65,6%
magnitude e a participação dos estabelecimentos que ONGs 6.793 9.662 42,2%
declararam contar com assistência técnica nos respec- Sistema S – 7.690 –
tivos momentos. Existem casos em que há mais de Outras formas 30.374 52.117 71,6%
uma fonte prestadora de orientação técnica.
Fonte: IBGE
Fonte: IBGE
15
Conte com as
Opções Agro BB
para proteger a sua
produção das
oscilações de
preço do mercado.
Central de Relacionamento BB SAC Deficiente Auditivo ou de Fala Ouvidoria BB ou acesse @bancodobrasil
4004 0001 ou 0800 729 0001 0800 729 0722 0800 729 0088 0800 729 5678 bb.com.br /bancodobrasil
Mesmo a China sendo o principal parceiro comercial do Brasil, um acordo comercial entre os
países pode ser uma boa notícia para o agronegócio brasileiro.
é o país que mais vende bens para o Apesar de a China ser o maior vende- uma maior concorrência para os
setor. Entre esses produtos, destacam- dor de produtos para o agronegócio players já instalados no Brasil e que
se insumos de produção (33,1% do brasileiro, assim como no caso das haverá um período de adaptação com
valor total importado pelo agronegócio exportações, a pauta de importação é custos de ajustamento. Em outras
em 2019), produtos têxteis (43,8%) e bastante concentrada. Em 2019, apenas palavras, deverá haver, sim, perdedores
borracha (8,9%). três setores do agronegócio (insumos no curto prazo.
agropecuários, produtos têxteis e bor-
As compras do agronegócio na China racha) responderam por 85,9% do valor
têm aumentado. Por exemplo, em 2019, total das importações. Em geral, essas
esse aumento foi de 6,3%, puxado pela compras são de produtos que serão 1 Mestre em Economia Agrícola pela Escola
de Economia de São Paulo da Fundação
expansão das importações de insumos utilizados ao longo do processo produ- Getulio Vargas (FGV-EESP) e pesquisa-
agropecuários (22,5%), borracha tivo. Logo, o acordo comercial pode ser dora do Centro de Agronegócio da FGV
(16,1%) e produtos florestais (31,4%). benéfico para o agronegócio também (FGV Agro) – roberta.possamai@fgv.br
Juntos, esses três setores responderam por tornar alguns insumos de produção 2 Doutor em Economia pela FGV-EESP,
professor e pesquisador do FGV Agro –
por 46,9% do valor importado da China e matérias-primas mais baratos, dei- felippe.serigati@fgv.br
pelo agronegócio no ano. Na realidade, xando o produto final brasileiro ainda 3 Jornalista pós-graduada em Economia
vale ressaltar, ainda, que as importações mais competitivo. pela Fundação Instituto de Pesquisas
só não cresceram ainda mais neste ano Econômicas na Universidade de São Paulo
(Fipe/USP), apresentadora e editora-
devido à contração (-4,8%) das compras Apesar disso, é necessário reconhecer chefe do jornalístico Mercado&Cia, no
de produtos têxteis. que uma abertura comercial implica Canal Rural – severokellen@gmail.com
19
MERCADO & NEGÓCIOS
QUARENTA ANOS DO
CARRO A ETANOL
PLINIO M. NASTARI*
de Biocombustíveis –, teremos uma têm capturado junto aos consumidores. protótipo pronto e, quando chegar às
redução acumulada da emissão de mais Enquanto um carro elétrico a bateria na ruas, emitirá apenas 27 g CO2/km.
de 700 milhões de toneladas de gás Europa emite cerca de 141 gramas de
carbônico nos próximos dez anos, o gás carbônico por quilômetro (g CO2/ Por esses motivos, o Brasil encontra-se,
que corresponde a mais de um ano de km); com a pegada de carbono quase hoje, na vanguarda tecnológica da nova
emissões totais de carbono da França. neutra do etanol, a emissão de gases opção de mobilidade, com energia de alta
do efeito estufa dos atuais veículos densidade energética e limpa, que utiliza
Com o etanol, o Brasil tem uma opção equipados com motores de combustão a infraestrutura existente de distribuição.
tecnológica de mobilidade muito su- interna utilizando etanol, mesmo que
perior à que vários outros países têm eles ainda não sejam otimizados, é de Mais importante: essa tecnologia de
perseguido ao pretenderem substituir apenas 58 g CO2/km. mobilidade é replicável, escalável, aces-
motores de combustão interna por sível e aceita pelo consumidor e usa
outras motorizações que não utilizam E, graças a novas tecnologias a ser im- a infraestrutura existente, resolvendo
fontes limpas, de baixa pegada de plantadas em breve como resultado com implementação imediata os dois
carbono, numa falsa ilusão de que estão da Lei do Rota 2030, estamos indo na grandes problemas enfrentados pela
reduzindo emissões dessa maneira. direção de 47 g CO2/km. Estamos indo humanidade hoje: o aquecimento global
É por esse motivo que dirigentes de na direção, também, da eletrificação e a crise do emprego.
montadoras europeias têm alertado que com biocombustíveis com o novo
até os atuais carros movidos a diesel híbrido flex a etanol – que já é conside-
são mais limpos do que outras opções rado o carro mais limpo do Planeta, pois *Presidente da DATAGRO e
representante da sociedade
tecnológicas que, embora estimuladas emite apenas 29 g CO2/km – e a célula civil no Conselho Nacional de
por enormes subsídios, pouco interesse a combustível a etanol – que já tem um Política Energética (CNPE)
SHUTTERSTOCK
21
MERCADO & NEGÓCIOS
Demanda de carne bovina pela China, menor oferta de bovinos para abate e espera por retomada
do crescimento da economia brasileira garantem uma boa expectativa para a bovinocultura
de corte em 2020.
SHUTTERSTOCK
é menor a dificuldade para realizar a elevado descarte de fêmeas nos últimos aumentou as importações de outros
compra dos animais. As atenções vol- anos, e, também, a espera por retomada produtos. De acordo com estimativas
tam-se para o período de safra em 2020, do crescimento da economia brasileira, do USDA, as importações chinesas de
que deve ser enxuto de bois aptos à que deverá refletir-se em uma melhora carnes bovina, de frango e suína deverão
produção de carne para a China. Então, do consumo doméstico. Trata-se crescer, respectivamente, 63,6%, 82,7%
o foco dirige-se, mais uma vez, às no- de boas expectativas para a bovino- e 66,6% em 2020.
vilhas, que também atendem os requi- cultura de corte.
sitos de idade e são relativamente mais O Brasil tem se beneficiado dessa con-
comuns no primeiro semestre. juntura. O País exportou, até outubro
DEMANDA CHINESA deste ano, 1,22 milhão de toneladas de
Além da demanda externa aquecida, carne bovina in natura, 11,3% a mais em
destacam-se, como fatores de sustenta- Com a redução do rebanho suíno comparação ao mesmo período de 2018,
ção dos preços da arroba do boi gordo chinês – a sua grande fonte de proteína que já tinha crescido 11,2% em relação
em 2020, o cenário de menor oferta animal – em função do surto de Peste a igual período de 2017, segundo dados
de bovinos para abate, em função do Suína Africana (PSA), o país asiático da Secretária de Comércio Exterior
(SECEX). Inclusive, o volume embar-
cado em outubro deste ano foi recorde,
EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE CARNE
com um total 160,1 mil toneladas de
BOVINA IN NATURA COM VOLUMES MENSAIS EM 2018 E 2019
(MILHÕES DE TONELADAS)
carne bovina no mês. Essa tendência
deve prevalecer.
180,00
Com isso, o mercado da China foi o
145,00
maior destino comprador do produto
brasileiro neste ano, respondendo por
318,77 mil toneladas ou 26,1% do total
110,00 embarcado de carne bovina in natura
(resfriada ou congelada), tendo sido
75,00
seguido pelo de Hong Kong, com
15,2% do total, e pelo do Egito, com
11,5% do total embarcado.
40,00
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
02 /2 8
02 4/2 8
02 5/2 8
02 6/2 8
02 7/2 8
02 8/2 8
8
0/ 8
/1 018
18
/0 018
02 /2 9
02 4/2 9
02 5/2 9
02 6/2 9
02 7/2 9
02 8/2 9
9
0/ 9
/1 019
19
/0 01
/0 01
/0 01
/0 01
/0 01
/0 01
/0 01
/0 01
/1 01
/0 01
/0 01
/0 01
/0 01
/0 01
/0 01
/0 01
/0 01
/1 01
02 1/20
20
02 9/2
02 1/2
02 2/2
02 2
02 2/2
02 9/2
02 2
02 1/2
02 2/2
1/
3
3
/0
/1
02
23
POLÍTICA AGRÍCOLA
A decisão favorável do Superior Tribunal de Justiça (STJ) à Recuperação Judicial (RJ) de Pessoas
Físicas (PFs) pode trazer impactos profundos sobre o sistema de financiamento do agronegócio,
fazendo com que custos, limites, acessibilidade, alavancagem e garantias venham a ter as suas
condições estabelecidas em patamares muito mais próximos daqueles adotados em outros
setores da economia. A vantagem proporcionada à ação oportunista de poucos imporá custos
elevados para a imensa maioria dos agricultores.
N O INÍCIO de novembro, o
Superior Tribunal de Justiça
(STJ) emitiu uma decisão favorável
estrutura de garantias exigidas pelos
credores. Os fornecedores de crédito
deverão evitar a hipoteca da terra como
principal instrumento viabilizador do
acesso ao crédito pelo produtor rural
até o momento: a Cédula de Produto
para que Pessoas Físicas (PFs) na agri- objeto de garantia, uma vez que ela não Rural (CPR), especialmente na moda-
cultura possam iniciar o processo de poderá ser executada durante o pedido lidade de liquidação com entrega de
Recuperação Judicial (RJ). O assunto de RJ. Assim, nesse ambiente novo, os produto, uma vez que essa modalidade
gerou muito debate, pois o Código instrumentos que tenderão a ser usados de CPR tem sido considerada um bem
Civil possibilita que o produtor rural são a alienação fiduciária e o patrimônio essencial nas RJs.
execute a sua atividade como PF ou de afetação, este último recentemente
pessoa jurídica (PJ – empresa). No introduzido pela Medida Provisória no Em segundo lugar, o risco percebido
entanto, a Lei de Recuperação Judicial 897, publicada em 1º de outubro de 2019 pelos credores para todos os produtores
e Falências (n° 11.101/05) determina no Diário Oficial da União (DOU) e que rurais irá subir, promovendo uma ampla
que apenas empresas com cadastro na vem sendo chamada de MP do Agro. reclassificação de risco destes. Os custos
Junta Comercial há pelo menos dois processuais de uma RJ, associados com
anos podem solicitar a RJ. Segundo o Na alienação fiduciária, um bem finan- a incerteza quanto à recuperação do
Censo Agropecuário de 2017, realizado ciado fica como garantia, passando a crédito, elevarão o risco da concessão
pelo Instituto Brasileiro de Geografia ser registrado no nome do comprador e, com isso, o juro do crédito rural. Pelas
e Estatística (IBGE), dos 5 milhões de apenas após a quitação da dívida. No regras da Basileia, os bancos são obri-
estabelecimentos agropecuários existen- patrimônio de afetação, o produtor gados a provisionar recursos crescentes
tes no Brasil, apenas 97,5 mil possuem “recorta” a fazenda para dar partes conforme o risco do crédito aumenta. É
CNPJ, ou seja, são empresas. como garantia na operação de crédito, evidente, portanto, que um maior pro-
sem, todavia, fazer a sua partilha em visionamento implicará uma menor dis-
A decisão do STJ pode ter consequên- cartório. O patrimônio de afetação terá ponibilidade de crédito aos agricultores.
cias muito relevantes para o mercado o mesmo entendimento da alienação
de crédito no País. A análise de diversos fiduciária no sentido de não ser atingido Em terceiro lugar, haverá uma elevação
possíveis impactos dessa decisão aponta na RJ, ao contrário do que acontece no nas exigências contábeis dos produtores
a elevação do custo do crédito para caso da hipoteca. No entanto, ainda há a rurais, equiparando-as às de qualquer
todos os produtores rurais, e não apenas necessidade de regulamentar como será empresa, incluindo a auditoria dos
para aqueles que fizerem uso da RJ. efetivado o recorte da fazenda. balanços. Considerando esses efeitos,
além do aumento dos custos, haverá,
Em primeiro lugar, é necessário reco- A fragilização das garantias também também, uma redução no volume de
nhecer que haverá uma mudança na poderá ter impactos graves sobre o crédito destinado ao produtor rural.
SHUTTERSTOCK
PROCESSOS EM ANDAMENTO de produtividade e pela inserção no participação do crédito rural oriundo
mercado internacional. Ademais, todas da política pública (juro controlado)
A análise de alguns processos que estão as projeções futuras feitas pelos princi- em comparação ao volume de crédito
nos tribunais com pedidos de RJ de pais organismos internacionais apontam a juro livre (de mercado). Até 2018, a
produtores que operavam como PFs e o Brasil como o país que mais deverá participação do juro livre no crédito
que entraram com pedido sem respei- contribuir para atender as demandas era da ordem de 20%. No Plano Safra
tar o prazo de dois anos de atividade por alimentos, energia e fibras de toda 2019/2020, a participação saltou para
indica que o valor presente da dívida, a população mundial. 40%. Esse movimento deve crescer nos
aplicando-se as condições dos planos próximos anos. Assim, fica evidente que
de recuperação, é uma fração da dívida Não há dúvida de que uma parcela o setor privado terá um papel central no
existente, em que pese a dificuldade de importante desse sucesso é atribuída financiamento da safra brasileira. Esse
se obterem dados financeiros detalha- à criação de um amplo sistema de crédito virá do sistema financeiro e de
dos desses processos. Em alguns casos, crédito rural, que contou com apoio diversas empresas que se conectam ao
o valor presente da dívida responde por intenso do Estado, oferecendo linhas agronegócio, como as grandes comer-
menos de 20% dela e, também, uma de crédito mais favoráveis ao produ- cializadoras internacionais, as empresas
fração do valor da terra em garantia. tor, com prazos adequados e taxas de de insumos agrícolas e as revendas.
Além disso, em certos processos, não juros reduzidas. A oferta de crédito
há um problema de solvência, uma vez garantiu o crescimento da agricultura Contudo, a decisão favorável à RJ de
que os ativos existentes, mesmo sem de maneira impressionante. Um estudo PF na agricultura pode dificultar so-
estar atualizados a valores de mercado, econométrico feito pela MB Associados bremaneira a construção de um novo
superam a dívida declarada. Em alguns mostra com clareza que a elasticidade modelo de crédito rural.
casos, parte da dívida foi constituída entre o crédito e a produção agrícola
para comprar terras. é praticamente igual a 1, ou seja, para
cada 10% de expansão do crédito, se
associam 10% de crescimento da oferta
CRÉDITO PARA O AGRO agrícola. O inverso dar-se-á para o caso 1 Economista e sócio-diretor da MB
de uma redução. Associados Consultoria Econômica
O agronegócio brasileiro é um enorme 2 Engenheiro-agrônomo e sócio consultor
da MB Agro Consultoria
sucesso. No decorrer das últimas As dificuldades fiscais por que passa
3 Administrador de empresas e es-
décadas, o País construiu um setor agrí- o governo federal fizeram com que pecialista em consultoria de negó-
cola dinâmico e pautado pelos ganhos houvesse uma significativa queda na cios da MB Empresas
25
SUSTENTABILIDADE
O plantio direto deve ser considerado um ponto-chave para a construção de uma agricultura
sustentável e lucrativa nos trópicos, além de contribuir para a mitigação do aquecimento
global. A expansão da adoção do plantio direto entre 2010 e 2017 proporcionou uma captura
de carbono correspondente ao cumprimento de aproximadamente 155% da meta estabelecida
pelo Plano ABC.
N O PROCESSO de fortalecimento
da sustentabilidade da agropecuá-
ria brasileira, vários são os desafios a
cabe de forma essencial o bom desem-
penho ambiental frente às crescentes
exigências dos mercados em relação às
efeito estufa (GEE) para a atmosfera
e à sustentabilidade da produção. Por
exemplo, em ambientes tropicais, a
ser considerados. Além da rentabilidade mudanças climáticas. Como se sabe, o degradação da matéria orgânica do
econômica, da adoção de tecnologias uso e o manejo da terra podem resultar solo reflete-se na redução da susten-
para garantir o melhor desempenho em efeitos negativos ou positivos no tabilidade da produção agrícola, na
produtivo e da adequabilidade técnica, que se refere à emissão de gases do deterioração dos atributos físicos e
SHUTTERSTOCK
BENEFÍCIOS DO SPD
• Controle da erosão;
• Menores gastos com combustíveis e
de tempo nas atividades agrícolas;
• Queda na incidência de pragas e do-
enças;
• Redução dos custos de produção;
• Aumento ou manutenção da produti-
vidade das culturas quando em com-
paração à do cultivo convencional;
• Excelente prática para a conservação
dos recursos naturais – solo e água.
27
BRASIL AGROAMBIENTAL
MOBILIZANDO CAPITAL
PRIVADO PARA A ECONOMIA
DE BAIXO CARBONO
DIOGO FALCHANO BARDAL1, PEDRO GANDOLFO SOARES2
29
29
BRASIL AGROAMBIENTAL
RÔMULO SERPA
negócio, nada mais natural que o País se apresente como
pioneiro para construir uma missão ainda mais ambiciosa
do que as de outras CropLifes.
RÔMULO SERPA
ENTREVISTA: CHRISTIAN LOHBAUER
Este é um momento importante para uma série de instituições em torno da CropLife. Queremos construir um
projeto de dimensão importante; um desafio bonito de trabalhar. Juntos, iniciaremos um processo de con-
vencimento e conexão de confiança. Vamos desfazer os mitos do medo. A Ciência deve prevalecer sobre as
percepções e as versões. Há um paradoxo neste tempo: existe mais informação disponível e rápida, mas cada
vez mais gente desinformada. Como reverteremos isso? Enquanto trabalhamos de forma assídua para o bem
da sociedade, grupos nos criticam. Nossa autocrítica é a de que ficamos omissos e deixamos isso acontecer.
Vamos, de forma cordial e inteligente, conversar com as pessoas; mostrar os enganos em relação àquilo que
fazemos. Apesar de tentarmos o bem para a sociedade na contribuição para um mundo melhor, estamos per-
dendo a guerra. Existem várias narrativas para dificultar o nosso progresso.
A marca vem de fora, é bem conhecida, mas precisamos usar da melhor maneira possível. A ambição brasileira,
porém, é colocar essas divisões de negócio dentro do mesmo chapéu. Nem todas as CropLifes internacionais
fizeram isso. Mas nada mais natural do que essa iniciativa sair do Brasil, tendo em vista o seu tamanho em todos
os seus produtos e serviços. De uma maneira simples, queremos adotar um conteúdo direto e fácil para as pes-
soas entenderem quem somos: uma instituição representativa das tecnologias voltadas ao produtor para que
ele possa usá-las na propriedade, na cultura e na região que desejar. Aqui, estão representados as sementes,
os defensivos, os biodefensivos e todo o universo da biotecnologia disponível.
Trata-se de um passo novo. Alguns anos atrás, isso era difícil. Ficava a ideia de que a semente e o biodefensivo
talvez substituíssem os defensivos tradicionais. Isso não acontecerá. Há uma complementação e uma integra-
ção entre as áreas. Isso é inovador para dar sustentação à existência da CropLife. Estabelecemos, também,
uma governança inédita. Precisamos colocar essas instituições com tamanhos e negócios ainda que um pouco
diferentes dentro de um mesmo modelo de decisão. Montamos um conselho com participação ponderada por
membro. Existem objetivos transversais e horizontais, comuns ou não, para viabilizar uma agenda coordenada.
A CropLife demanda dois tipos de trabalho: primeiro, uma comunicação diferente na qual podemos colocar as
nossas energias criativas; e, segundo, um processo de aliança profunda entre os negócios, com um projeto de
boas práticas para ensinar e treinar diferentes públicos – produtores, revendas e a sociedade como um todo.
A pretensão é ambiciosa. Teremos divisões com profissionais qualificados para cuidar desses assuntos. Como
todo negócio, as empresas investem e esperam retornos. Existe muito recurso investido em pesquisa, desen-
volvimento e inovação, com propriedade intelectual para ser respeitada e aferida. Também trabalharemos
intensamente para combater as práticas ilegais – um problema brasileiro crônico em todas as atividades –, que
envolvem cifras bilionárias e precisam ser coibidas.
31
31
BRASIL AGROAMBIENTAL
RÔMULO SERPA
Os ministros do MMA, Ricardo Salles, e do MAPA, Tereza
Cristina, marcaram presença no lançamento da CropLife
Brasil, em Brasília. Em seus discursos, ambos destacaram
a importância de uma boa comunicação para reforçar a
imagem da agricultura.
Considerado pela Scientific American uma das cem personalidades mais influentes na área de Biotecnologia, Jack Bobo afirma que a
agricultura pode se tornar uma oportunidade para proteger as florestas.
Nos últimos vinte anos, visitei quase sessenta países ao redor equivalem, respectivamente, à América do Sul e à África. E
do mundo, mas nunca estive no Brasil. Trabalhei treze anos isso é muito. Se falarmos sobre a água, o mar de Aral, na
com política governamental no governo dos Estados Unidos Ásia Central, que era o maior lago de água salgada do mundo,
e acredito que a ciência e a tecnologia podem salvar o Planeta. ficou diminuto. O rio Colorado, quinto maior rio dos Estados
A questão é se teremos a permissão para utilizá-las, já que Unidos, não desemboca mais no mar. Tudo isso deve-se à
a Ciência diz o que podemos fazer, mas o público é quem retirada de água para agricultura. Na questão das mudanças
aponta o que devemos fazer. climáticas, uma parcela importante dos gases do efeito estufa
é proveniente da agricultura e do desmatamento.
Falarei, aqui, com base em lições aprendidas, sobre como
dialogar com o público e encontrar pontes para resolver os Se perguntarmos se prefeririam pagar mais por energia ou
problemas da agricultura. Vital para a sobrevivência humana, alimentos para ter um meio ambiente mais limpo, os consu-
a atividade agrícola está ligada à natureza a ao Planeta. Para midores ficariam com o segundo. Então, a nossa conversação
mostrar os seus benefícios, precisamos compartilhar valores deve fazer as pessoas entenderem melhor as oportunidades
com o consumidor. e os desafios da agricultura.
Atualmente, cerca de 40% da terra está sendo usada para Passaremos de 7 bilhões de pessoas para 9,5 bilhões até 2050.
agricultura. Em termos de tamanho, as culturas e as pastagens Esse desafio representa um problema não percebido. Temos
RÔMULO SERPA
33
33
BRASIL AGROAMBIENTAL
850 milhões de pessoas que vão para cama com fome todo Os consumidores querem produtos com valores subjacentes
dia. Esse número supera as mortes por acidentes de trânsito, à saúde e à sanidade para a família, assim como a sociedade.
malária e outras. Mas quantas manchetes tratam dessa situação? O problema está nos motivos das escolhas. Existem os ali-
mentos comercializados com rótulos de fazendas lindas, mas
Sobre o futuro da agricultura, muitos indicarão um sistema que são dedicadas à produção de ração para animais. Apesar
alimentar quebrado. Mas, há trinta anos, 24% das pessoas da imagem não condizer com a realidade da agricultura, não
dormiam com fome. Há cinquenta anos, eram 36%. Hoje, nos surpreende que as pessoas não compreendem isso.
essa parcela reduziu para 12%. Então, a maneira como
conduzimos a conversação pesa. Houve, sem dúvida, uma Assim, os consumidores ficam mais céticos em relação aos
melhoria. Embora os recursos tenham evoluído, deveremos alimentos. Quando estávamos no governo, falava-se sobre
melhorar a eficiência produtiva. perigos e riscos. Um acidente de avião representa menos
risco; já um acidente de carro corresponde a um risco maior.
Entre 1980 e 2011, os EUA reduziram a emissão de gases do Quando nadamos nos oceanos, a presença de tubarões pode
efeito estufa em 35% utilizando menos terra (-40%), energia passar de risco baixo para alto. Os consumidores estão pouco
(-40%) e água (-50%) para produzir a mesma quantidade programados para entender isso.
de alimentos. De maneira geral, desconhecedores de onde
vêm os alimentos, os consumidores apenas veem onde Depois de um tempo, avançamos e aprendemos a falar sobre
estamos no presente. Então, vamos esquematizar a nossa percepção de risco como o perigo versus a exposição. Muitas
conversação com eles. vezes, a nossa preocupação com as coisas aumenta, por um
motivo ou outro. É a chamada “twittificação” de risco. Hoje,
Quais são as perspectivas de como os alimentos serão produ- um caso ou um fato roda o mundo em menos tempo do que
zidos? De um lado, o movimento slow food olha para cem anos o necessário para se produzir um press release.
atrás. De outro, tem-se a aplicação da agricultura intensiva,
de alta tecnologia. Como mostrar essas tendências? Não se Quando o risco é alto, como a gripe em época de frio, mas
trata de uma questão de bem e mal, de certo e errado, mas com baixa atenção da mídia, o governo deve se envolver.
de escolhas e consequências. Quando os consumidores sentem um problema e reclamam
por tomadas de decisão dos governos, o risco tende a ser real.
Sem utilizar muitas tecnologias novas, a Europa importa
ração animal. Com isso, estabelece exigências ambientais e O esquema de conversação varia conforme a situação. Embora
reclama das formas de produção da agricultura dos países o uso de chamadas como “estamos tentando alimentar o
fornecedores, como o Brasil. mundo” mostre segurança, as pesquisas apontam que essas
informações alienam o público. A Ciência, por exemplo,
Perigo x risco polariza. Aqueles que discordam acabam decepcionando-se
com quem acredita nela.
Tanto quanto detestam a mudança, as pessoas amam a ino-
vação dos alimentos. Quando reúnem amigos e familiares, Nos Estados Unidos, existe uma preocupação com terro-
predomina certa rejeição. A nossa conversação deve levar as rismo, acidentes de avião ou de trânsito e câncer. Há pouca
pessoas a pensarem os alimentos como usam os smartphones. conexão entre aquilo com que as pessoas se preocupam e
aquilo com que elas deveriam se preocupar, com bastante
Os consumidores também se preocupam com como os ali- influência da televisão, do rádio e da internet.
mentos são produzidos, sobre o que pouco sabem. Algumas
questões sobre o meio ambiente e a saúde humana podem Levar ciência e conhecimento é diferente quando as
ajudar ou não os agricultores a alcançarem seus objetivos. pessoas vêm até nós. Isso tem muito a ver com como será
Muito disso dependerá da maneira como os alimentos são a CropLife Brasil.
comercializados.
Sempre me perguntam se o alimento amedronta. A melan-
Temos uma garrafa de água 100% natural para os veganos, cia sem semente vem de uma série de cruzamentos com
sem conservante, glúten e organismos geneticamente mo- agentes mutagênicos e conjuntos de cromossomos. O seu
dificados (OGMs). A área de Marketing pergunta: “como cultivo é convencional, sem análise nutricional e de segu-
faremos para as pessoas beberem mais dessa água?”. A rança. Tudo normal.
autoridade sanitária responde: “fale que não tem OGMs nem
glúten na água”. O Marketing vai em frente para dominar o Não há medo quando os consumidores desconhecem as
mercado de água. Um dia, os consumidores descobrem que coisas. Com duas partes, o nosso cérebro mente o tempo
toda água é vegana. Isso minará a marca. todo. Uma parte é mais rápida, usada nas decisões do dia a
dia; outra é mais lenta, para fazer os cálculos mais difíceis. As pessoas entendem isso, mesmo sem saber sobre a ciência
Os consumidores, quando vão ao mercado, se ouvem falar por trás do que fazemos. É uma maneira de se conectar.
de OGMs, rejeitam os produtos com decisões rápidas. Como Quando entendermos o que importa, desenvolveremos a
somos ocupados, muitas vezes, não fazemos o cálculo correto. conversação de maneira que todos a entendam. Teremos de
encontrá-los no espaço deles, e não no nosso espaço.
Pelo viés da confirmação, identificamos informações consis-
tentes com as nossas crenças. Quando uma matéria cita que Um relatório publicado pela World Wide Fund for Nature
a agricultura orgânica é mais nutritiva do que a convencional, (WWF) mostra que mais de 50% de todas as populações de
alguns procuram os autores e as bibliografias. Muitos outros vida silvestre desapareceram desde 1970. Cerca de 80% dessa
desconsideram. Tendemos a fazer perguntas difíceis para as perda é devida à agricultura. Pensem nisso. Para eliminarmos
nossas discordâncias, e vice-versa. esse problema, teremos de inserir na nossa conversação o
tema da conservação. Em torno das florestas, podemos cons-
O papel da comunicação truir cercas para proteger os animais, mas não suficientemente
altas para barrar o acesso de pessoas famintas.
A Heurística explica o fato de vir à mente algo ao falarmos
uma palavra. O termo “natureza” faz lembrarmos coisas Como as pessoas alimentadas não destruirão as florestas, não
bonitas, como pássaros e borboletas, e ruins, como a sal- há necessidade de cercas. A agricultura pode se tornar uma
monela e o vírus ebola. Tudo isso nos ajuda a compreender oportunidade para proteger a floresta ao intensificar a produção
como somos enganados todos os dias. de alimentos na mesma área de terra. Se chegarmos a 2050 sem
reduzir a perda de alimentos e melhorar as dietas das pessoas,
No passado, as pessoas ficavam satisfeitas se tinham o sufi- pelo menos teremos aumentado a produtividade da agricultura.
ciente para comer. Já depois, na década de 1980, apareceram
mais escolhas para o consumidor. Hoje, a preferência vai para A preocupação com o aumento da população existe. O livro
produtos que sejam a extensão dos nossos valores, sejam “The Population Bomb”, publicado em 1969, previa a morte
ambientais, sociais ou relacionados ao bem-estar animal. por fome e subnutrição de 1 bilhão de pessoas. Não percebeu
a Revolução Verde em curso. Em 1970, Norman Borlaug,
A ênfase mudou de alimentar para nutrir o mundo. considerado o pai desse movimento, ganhou o Prêmio Nobel
Devemos falar sobre as coisas esperadas pelo consumi- da Paz. A ciência e a tecnologia afastaram o medo do cresci-
dor. Independentemente da profissão, precisamos ser bons mento populacional.
contadores de histórias para nos conectarmos com os
valores das pessoas. Hoje, vivenciamos o fim desse processo. A mulher gerava,
em média, cinco filhos em 1950, contra pouco mais de dois
Em vez de falarmos sobre as tecnologias incríveis das empresas, agora. Teremos mais crianças nascidas no mundo neste ano
o foco deve ser despertar as motivações das pessoas, ou seja, do que no próximo. A população mundial aumenta porque
personalizar as histórias e reconhecer as suas preocupações. as pessoas vivem mais tempo, mas isso não será para sempre.
Muitos desconfiam dos governos e das grandes empresas,
mas não da Ciência. Então, trabalhemos a nossa conversação. Se chegarmos aos próximos trinta anos com a produtividade
em contínuo aumento, não precisaremos de mais alimentos
O que as pessoas querem dizer quando manifestam medo de pela primeira vez na história. Nesse aspecto, as coisas tor-
OGMs e substâncias químicas? Para o cidadão, o importante nar-se-ão mais fáceis.
são a saúde e a segurança da família. Esse é o valor comum
para compartilhamos e conectarmos com as pessoas. A partir Sem desmatar florestas e esvaziar rios, lagos e aquíferos,
daí, se constrói a confiança para falar sobre Ciência. a agricultura salvará o Planeta. Perguntamos se seremos
permitidos a fazer isso. Enquanto cientista, sou otimista;
Há alguns anos, estava numa conferência empolgante da acredito na ciência e na tecnologia. Mas, quando penso em
American Meat Science Association (AMSA), com a presença termos de regulamentação, sou pessimista. Não tenho certeza
de oitocentos cientistas especialistas. Falávamos que, se as se teremos a permissão para chegar lá.
pessoas não confiam no esquema das conversações, a Ciência
não tem importância; se confiam, a Ciência tem importância. O futuro do Planeta depende de conquistarmos ou não a
confiança do público para levar essas tecnologias ao mercado.
Paremos de falar o que fazemos e comecemos a falar por Esperamos que, por meio dessa nova organização, engajada
que fazemos. Todos os cientistas, produtores e políticos que com os nossos colegas ao redor do mundo, possamos contar
conhecemos fazem o que fazem porque se preocupam com melhor a nossa história. Precisamos de conversação com o
o Planeta e as pessoas de maneira apaixonada. público para salvar o Planeta.
35
35
ESPECIAL CAFÉ
NOVO CENÁRIO, MAS COM MANUTENÇÃO DO CORRETO
SILAS BRASILEIRO
Presidente executivo do Conselho Nacional do Café (CNC)
Em 2019, celebramos a 14ª edição do para formular a política do café e, acima de tudo, preservar
Caderno Café, em parceria com a Fundação o Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), o
Getulio Vargas (FGV), e vivemos o primeiro banco da cafeicultura que nos dá suporte para diminuir a
ano de uma nova gestão no nosso País, concentração da oferta no momento da colheita e distribuir
apresentando outras diretrizes e posicionamentos. o produto ao longo de doze meses.
Nesse cenário de alterações, temos de ser equilibrados e São R$ 6 bilhões à disposição da cafeicultura por meio das
racionais, mantendo as positividades que geram retorno, cooperativas de crédito e de outros agentes financeiros, com
como, no exemplo da cafeicultura, os investimentos em baixa taxa de juros. Aliás, a tendência de redução na aplicação
pesquisa, que, nos últimos vinte anos, somaram R$ 200 dos juros nos dá oportunidade para tomar recursos de outras
milhões e prepararam os produtores para momentos como instituições, como bancos oficiais e privados, que, hoje, inves-
o de crise de preços pelo qual passamos. tem no café por acreditar que ele é um investimento seguro.
Investir para aumentar a produtividade e baixar custo foi o Vivemos um momento com inflação baixa e disponibilidade
caminho que adotamos como representantes da produção de recursos, o que nos torna extremamente competitivos.
brasileira de café. Olhamos para os preços praticados pelo Participamos com 35% do mercado mundial, e nenhum
mercado sim, mas com foco em sermos competitivos, com país pode comparar o seu custo de produção ao do Brasil.
base em custos, produtividade e qualidade.
Investimos na qualidade do nosso café! Produzimos
O mercado responderá, e sairemos fortalecidos da crise, visto café de qualidade para atender qualquer exigência do
que somos um país que tem política para o setor. Por meio mercado consumidor.
do Conselho Deliberativo da Política do Café (CDPC), esse
alicerce criado por nós no sentido de aproximar a cadeia de Temos o nicho de cafés especiais, a evolução do solúvel na
café surtirá efeito na prática do dia a dia. abertura de novos mercados, o comércio ativo por meio das
cooperativas e dos exportadores, o consumo interno em
O CDPC, composto pela iniciativa privada e pelo Governo, crescimento contínuo pelo trabalho permanente da indústria
tem como objetivo unir produção, indústria e exportação de torrado e moído no sentido de aprimorar a qualidade e
Tivemos a aprovação pelo Congresso da reforma da previ- Teremos equilíbrio entre oferta e demanda devido à baixa
dência e da Medida Provisória nº 881/19, a MP da Liberdade safra de 2019 e ao comprometimento com a produção em
Econômica, que flexibiliza a geração de emprego e a oportu- 2020, em razão dos baixos tratos culturais e da condição
nidade de criação de pequenas empresas. A seguir, a reforma climática adversa. Isso nos faz crer que a próxima colheita
tributária levar-nos-á a acreditar na solidez do nosso País, se enquadrará dentro da média da nossa produção; isso sem
atraindo – reafirmamos – a confiança do mercado interna- levar em consideração os baixos estoques brasileiros.
cional com investimentos substantivos no Brasil.
Por essas considerações, acreditamos que a cadeia de café
Como braço operacional do cooperativismo brasileiro de poderá transpor este momento e já podemos antecipar que o
café, quando vemos as perspectivas de aumento do consumo, fim da crise está muito próximo. Acreditamos na competência
afirmamos que temos competência para suprir o mercado, dos nossos produtores e no apoio do Governo na superação
seja qual for a sua necessidade, pois as cooperativas estão dos desafios que estamos vivenciando.
prontas para atender qualquer volume da demanda. Além
disso, os agentes financeiros estão prontos para, caso neces- O momento atual leva-nos a uma reflexão e à certeza de
sário, financiar o setor com recursos para custeio, estocagem, que as propostas devem partir dos segmentos que integram
para, enfim, apoiar a produção. a cafeicultura, que monitoram e vivem a realidade de cada
setor, e, como fortalecimento, devem contar com o apoio
O momento atual é de uma crise aguda em nível mundial, dos nossos parlamentares. Um abraço e ótima leitura!
pois os preços aviltados levam-nos, às vezes, a tomar medidas
AGUINALDO LIMA
Diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (ABICS)
Desde 2018, quando assinou um projeto se- em mercados tradicionais, além de se abrirem novas fronteiras
torial com a Agência Brasileira de Promoção ao produto nacional.
de Exportações e Investimentos (Apex-
Brasil), a ABICS intensificou a sua ação ins- Resultado: o Brasil quebrará recorde na exportação de café
titucional para alavancar as exportações do setor e incentivar solúvel em 2019, remetendo 4,00 milhões de sacas ao exte-
um maior consumo interno da bebida. rior, superando a marca de 2016, até então histórica, de 3,87
milhões de sacas embarcadas.
O primeiro fruto colhido foi a criação de uma marca “Crie
& Curta – Cafés Solúveis do Brasil” (“Explore & Enjoy Essa projeção embasa-se no fato de, nos dez primeiros meses
– Instant Coffee Brazil”), que foi desenvolvida após um deste ano, termos exportado 3,34 milhões de sacas, com alta
trabalho de branding voltado para inteligência de mercado, de 9,5% na comparação ao mesmo período de 2018 e de
defesa de interesses, certificações internacionais e materiais 4,2% sobre 2016.
promocionais e de comunicação.
Voltando os olhos ao mercado interno, a ABICS realizou,
A criação dessa identidade fortaleceu a imagem dos cafés em 2019, cinco “Cuppings de Café Solúvel” para padronizar
solúveis brasileiros mundialmente, e, por meio de um ranquea- a classificação da bebida. As atividades, coordenadas pela
mento de países-alvo, ampliou-se a promoção e a participação consultora Eliana Relvas e com a participação de industriais
39
e pesquisadores, visam alcançar o máximo conhecimento EXPORTAÇÃO BRASILEIRA DE CAFÉS SOLÚVEIS
sobre os atributos dos mais diversos tipos de café solúvel. (MILHÕES DE SACAS)
3.500.000
Alcançamos respostas para perguntas como: é possível
3.250.000
ter um amplo processo de classificação para os solúveis?
Existem categorias explicitamente diferenciadas para o 3.000.000
consumidor? Como preparar corretamente para obter os
melhores resultados nas xícaras? Quais são as temperaturas 2.750.000
e os volumes ideais de água e os principais atributos a
2.500.000
ser valorizados?
2.250.000
Existe uma classificação ampla de categorias de qualidade,
métodos de preparo e atributos discutidos profundamente 2.000.000
jan-out jan-out jan-out jan-out jan-out
para cafés torrados e moídos e para os verdes. Considerando 2015 2016 2017 2018 2019
o aumento do consumo no Brasil, o conhecimento sobre o
solúvel se tornou uma necessidade para o crescimento do
setor, e a ABICS investe nesse sentido. O Brasil se mantém líder mundial em produção e exportação
de café solúvel e sempre será vanguarda quando se pensa
A conclusão dos trabalhos para a criação de uma inédita e em investimentos para o aprimoramento de cada segmento
comum metodologia de análise sensorial para o café solúvel da cafeicultura.
gerará referências até então existentes, mas não padronizadas,
pois cada indústria possui os seus próprios procedimentos. Com a imagem e a marca institucional das indústrias do
setor, a ABICS permanecerá hasteando a sua bandeira para
Diante disso, fizemos os investimentos e, agora, temos fortalecer a liderança global do Brasil, sob a égide de que “a
condições para avaliar com excelência os diversos tipos de nação do café” também é “a nação do café solúvel”.
café solúvel do Brasil e do mundo, aperfeiçoando o produto
na conquista de mais consumidores.
A cafeicultura brasileira tem ampliado significativamente o O projeto Campo Futuro, da CNA em parceria com o Centro
seu desenvolvimento tecnológico para que possa aumentar de Inteligência em Mercados da Universidade Federal de
os níveis de produtividade e se tornar mais competitiva. Lavras (CIM/UFLA), analisou os dados de custo de produção
Esses resultados podem ser verificados com a expansão das principais regiões produtoras de Coffea arabica e Coffea
da produção nos últimos anos, acompanhada da redução canephora do Brasil, que apontam para a descapitalização da
da área produtiva. Os recordes são recorrentes, como o cafeicultura brasileira em 2019.
de produção vivenciado em 2018 e, possivelmente, o de
exportação esperado para 2019. No entanto, os indicadores Nas regiões produtoras de Coffea arabica, verificou-se, em
técnicos e econômicos apontam que a remuneração finan- julho de 2019, um Custo Operacional Total (COT) médio
ceira dos cafeicultores não tem sido digna de recordes. Em de R$ 433,05/saca. Nesse mesmo período, o preço médio
crise financeira, a base da cadeia produtiva vive um dos seus de venda foi de R$ 374,17/saca, 13,6% inferior ao COT,
piores momentos e nos faz questionar até quando o pilar o que resultou em uma Margem Líquida média (ML) de
econômico da sustentabilidade estará de pé. -R$ 58,87/saca.
500,00
R$/saca de 60 kg
400,00
300,00
200,00
100,00
0
2018
2019
2018
2019
2018
2019
2018
2019
2018
2019
2018
2019
2018
2019
2018
2019
2018
2019
2018
2019
2018
2019
BREJ-ES MAN-MG SRS-MG CAP-MG GUA-MG APU-PR MOC-MG FRA-SP ITA-BA JAG-ES CAC-RO
Manual Semimecanizado Mecanizado Semimecanizado
Coffea arabica Coffea canephora
Para os produtores de Coffea canephora, o impacto da redução pela queda contínua dos preços no mercado internacional,
dos preços na remuneração dos cafeicultores foi ainda maior. o que tem se refletido fortemente no mercado interno, com
Para o mês de julho de 2019, o COT médio foi de R$ 319,02/ o agravante das incertezas promovidas pelas oscilações
saca, ao passo que o preço médio de venda verificado no cambiais, bem como com a ausência de ações de incentivo
mesmo período foi de R$ 254,48/saca. Essa diferença resultou ao consumo no mercado internacional.
em uma ML de -R$ 64,53/saca.
A fim de amenizar os impactos sobre os produtores e pro-
Os números mostram que, apesar de todo o desenvolvimento mover o desenvolvimento sustentável da cafeicultura, a CNA
tecnológico dos últimos anos, a cafeicultura brasileira é fortemen- e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR)
te dependente de mão de obra. Isso faz com que os custos de buscam constantemente o desenvolvimento e a ampliação de
produção aumentem substancialmente ano a ano. Além disso, o programas de assistência técnica e gerencial das propriedades
incremento dos gastos com fertilizantes e defensivos – que são, de café. No entanto, o comportamento do preço no mercado
na sua maioria, importados e influenciados pela desvalorização internacional impede grandes avanços nos resultados econô-
do real – também contribui para esse aumento de custo. micos, mesmo com as ações de aumento de competitividade
e eficiência e de redução de custos.
Somado ao crescimento constante dos custos, o processo
de descapitalização dos produtores está sendo intensificado
41
DE OLHO NA CHINA
Enquanto a guerra comercial entre os EUA e a China não atualmente, cerca de 4.125 lojas no país, projetando alcançar
chega ao fim, o mercado de commodities continua sendo im- 6.000 até 2022.
pactado com a grande volatilidade de preços, causada pelas
incertezas de um eventual acordo “fase 1” ainda em 2019. Quanto às exportações brasileiras de café para a China, os
Segundo os analistas de mercado, os americanos continuam embarques para o país aumentaram 161,1% nos últimos cinco
avaliando com cautela as propostas apresentadas por Pequim, anos, passando de 68,7 mil sacas para 179,3 mil, ocupando, em
e a conclusão das negociações dá sinais de que o acordo 2018, o 30º lugar nos destinos dos cafés do Brasil e gerando
poderá ser adiado para 2020. uma receita cambial de US$ 29,6 milhões.
Entretanto, os chineses continuam ávidos por importar do É importante ressaltar que as importações chinesas de café
agronegócio brasileiro. Tal afirmação pode ser observada nas não crescem apenas em volume.
aquisições realizadas nos últimos cinco anos, que saltaram
de US$ 22,1 bilhões, em 2014, para US$ 35,4 bilhões, em Conforme apresentado no jantar de gala da Swiss Coffee
2018, representando um aumento de 60,2% e um acréscimo Trade Association (SCTA) em Basel (na Suíça), em outubro
de US$ 13,4 bilhões na balança comercial brasileira. deste ano, o aumento das importações chinesas na última
década foi acompanhado pelo incremento das compras de café
Na comparação entre 2017 e 2018, os chineses aumentaram
em 33,1% as compras do agronegócio brasileiro, passan- EXPORTAÇÕES DO AGRONEGÓCIO
do de US$ 26,6 bilhões para US$ 35,4 bilhões, segundo BRASILEIRO PARA A CHINA
dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério
da Economia (SECEX/ME). Mesmo com a continuidade Part. % nas
ANO CIVIL US$ bilhões
exportações do agro
da guerra comercial com os EUA, a China mantém a sua
2014 22,1 22,8
participação na balança comercial em cerca de 31,8% de
janeiro a outubro. 2015 21,3 24,1
2016 20,8 24,5
Com relação às exportações do café brasileiro e ao consumo 2017 26,6 27,7
do produto na China, as expectativas são bem positivas! 2018 35,4 35,0
Estimativas não oficiais indicam que a população chinesa 2019* 25,5 31,8
consome cerca de 4,5 bilhões de xícaras de café por ano *Janeiro a outubro
com a sua população de 1,4 bilhão de habitantes. Como Fonte: SECEX/ME
referência, os norte-americanos consomem 130 bilhões de
xícaras com os seus 325 milhões de habitantes. EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE CAFÉ PARA A CHINA
200.000
Esse potencial de consumo do mercado chinês tem propor-
cionado uma disputa interessante na ampliação de market 160.000
share entre Luckin Coffee e Starbucks.
120.000
Segundo os resultados do terceiro trimestre de 2019 (termi-
nado em setembro), a chinesa Luckin Coffee aumentou em 80.000
209,5% o número de lojas no país, passando de 1.189 para
3.680 estabelecimentos na comparação ao mesmo período 40.000
de 2018, projetando encerrar o ano civil com 4.500 cafeterias.
0
2014 2015 2016 2017 2018
Já a Starbucks elevou, em média, cerca de 26% a.a. o
número de estabelecimentos nos últimos dez anos e possui, Fonte: CECAFÉ
VANUSIA NOGUEIRA
Diretora executiva da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, na sigla em inglês)
Em um mercado competitivo como o ca- garante que o café foi produzido dentro dos pilares ambien-
feeiro, os consumidores vivem o desafio de tais, sociais e econômicos corretos.
encontrar sua marca preferida. Atualmente,
porém, o challenge cresceu devido ao uso A certificação garante uma produção sustentável, mas não avalia
distorcido de termos como “especial” e “gourmet” em emba- ou garante que o perfil sensorial final seja satisfatório. Contudo,
lagens com produtos que não possuem essas qualificações. quando se cuida dos processos, as chances de se ter um café de
qualidade sempre aumentam. É nessa etapa que entra a BSCA,
A utilização indevida tem causado confusão aos consumi- para ajudar o produtor no processo de qualidade do grão.
dores, pois há cafés convencionais sendo rotulados como
“especiais” e “gourmet” e vendidos, contudo, ao preço do que Em um rigoroso processo, a Associação recebe as amostras
realmente são: tradicionais. Os convencionais são próprios dos associados certificados e as analisa quanto a tipo, cor,
ao consumo e não fazem mal, mas estão muito aquém da aspecto, peneira e torra para cafés crus e bebida limpa,
excelência dos verdadeiros cafés especiais. doçura, acidez, corpo, sabor, gosto remanescente e balanço
geral para cafés torrados e moídos. Para obter o Selo, o café
Representando institucionalmente o segmento nas esferas deverá obter pontuação igual ou superior a oitenta pontos
nacional e mundial, a BSCA impôs-se a obrigação de facilitar a (escala de zero a cem) e não apresentar nenhum parâmetro
identificação dos verdadeiros produtos dotados de excelência igual a zero. Se reprovada, é invalidada.
e criou o Selo de Qualidade BSCA.
Um café de gôndola só é verdadeiramente especial se tiver o
É uma certificação complexa, rigorosa e automatizada, desde Selo de Qualidade BSCA na sua embalagem, trazendo, no seu
a entrada da amostra e a avaliação por profissionais criterio- corpo, não só sabor, after taste e todos os atributos intrínsecos
samente selecionados, passando pela emissão e pelo controle, a essa bebida extremamente prazerosa e diferenciada, mas,
até chegar aos envios. principalmente, a rastreabilidade do produto – também
com auditorias de avaliação aleatória de cafés adquiridos
Tal Selo assegura ao consumidor que o café que ele está em pontos de venda –, apresentando a sua origem única e a
consumindo é, de fato, especial e traz mais reconhecimento história sustentável de produtores, propriedades e famílias
e credibilidade aos produtores brasileiros em relação à sus- exemplares no cultivo do fruto! E o consumidor tem acesso
tentabilidade, sendo o único a atestar o produto do plantio a isso tudo por meio do QR code do Selo.
ao consumo e, portanto, singular para a identificação de
um café especial.
A Agroanalysis agradece a participação e a colaboração
O primeiro passo para o produtor requerer o Selo de de Paulo André C. Kawasaki, coordenador da Assessoria
Qualidade BSCA é a certificação da propriedade, a qual de Comunicação do CNC.
43
PROGRAMA ESPECIALÍSSIMO PREMIA OS
MELHORES CAFÉS DA SAFRA 2018/19
O PROGRAMA
REALIDADE AUMENTADA
A embalagem do Café Safra Especial 2019 conta,
também, com um sistema de realidade aumentada,
que pode ser acessado por meio de um aplicativo
disponível gratuitamente nas lojas Google Play e O vice-presidente Osvaldo Bachião Filho explica como
Apple Store em celulares e tablets. o Especialíssimo traz valor agregado ao cooperado
Após instalar o aplicativo, basta o usuário apontar a
câmera para a ilustração disponível na embalagem
e terá acesso a um vídeo com informações comple-
mentares sobre o produto, de forma muito interativa.
O Café Safra Especial 2019 está disponível para com-
AMOR E RECONHECIMENTO
pra, também, na loja virtual da Cooxupé, que pode ser
acessada no site https://loja.cafescooxupe.com.br/. Sobre a sua conquista, o produtor campeão Edenilson
Aparecido de Carvalho afirmou: “É uma grande alegria.
Eu amo o que faço. Eu sempre trabalhei na lavoura, desde
RELAÇÃO DE COOPERADOS PREMIADOS criança, e faço tudo com muito amor e carinho. Eu quero
NO PROGRAMA ESPECIALÍSSIMO agradecer a todos da Cooxupé pelo apoio”.
45
O ESTADO DA ARTE DA
LEI DA INTEGRAÇÃO
FÁBIO DE SALLES MEIRELLES
Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária
do Estado de São Paulo (FAESP)
DIÁRIO DE BORDO
DECRETO SURPRESA
ROBERTO RODRIGUES
Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV (FGV Agro)
e embaixador especial da FAO para as Cooperativas
o governo federal estabeleceu, por meio de Não resta dúvida de que era tempo de uma
um Decreto, o zoneamento agroecológico da atualização do zoneamento, sobretudo em
cana-de-açúcar em todo o território nacional. função de novas tecnologias que permitem,
No trabalho, que identificou 40 milhões de por exemplo, a colheita mecanizada em áreas
hectares com aptidão total favorável ao cultivo com declividade de até 18%, enquanto, em
da gramínea (entre 64 milhões favoráveis, 2009, a tecnologia só admitia até 12% – o que
mas sem aptidão total), ficavam excluídas três entrou no Decreto.
regiões: a Amazônia, o Pantanal e a bacia do
Alto Paraguai, que é o nascedouro da maioria Atualmente, os canaviais ocupam 10,8 milhões
dos rios pantaneiros. Essas áreas eram então de hectares no Brasil, segundo a União da
consideradas ambientalmente frágeis e com Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA).
clima inadequado para a cana, além das limi- Supondo que não haverá um aumento na
tações logísticas inerentes a elas. produtividade de cana até 2030 (e isso é ab-
solutamente improvável mesmo), seria ne-
A iniciativa derivava de duas preocupações: cessário plantar mais 11 milhões de hectares
que a produção de cana não gerasse devastação com a cultura para o País atender o com-
ambiental nem competição em relação à de promisso de redução de emissões de CO2
alimentos, fatos que aconteciam em outras assumido no Acordo de Paris – lembrando
partes do mundo. Isso daria muita credibilidade que o etanol de cana emite 11% do que é
ao modo de produção brasileiro, destruindo emitido pela gasolina. E não há necessidade
eventuais acusações de desmatamento para a de 1 único hectare das regiões amazônicas ou
atividade canavieira, isto é, o etanol aqui gerado pantaneiras. Ao contrário, o crescimento de
seria considerado plenamente sustentável. canaviais, embora pequeno, vem ocorrendo
em áreas de pastagens degradadas do Centro-
O zoneamento não baniu canaviais já exis- Oeste e do Sudeste.
tentes no Acre, no Pará e no Amazonas, mas
proibiu o crédito para expandir aí a produção Alguns analistas acreditam que a revogação
ou a instalação de novas usinas. A restrição do Decreto poderia vir a prejudicar a visão
não era focada na Amazônia Legal, e sim no internacional da inequívoca sustentabilidade do
bioma Amazônia, onde, aliás, chove muito, o etanol brasileiro de cana. No ano passado, mais
que prejudica as qualidades industriais da cana. de 950 milhões de litros foram exportados para
Na época do Decreto – que foi muito bem o continente americano, 600 milhões para o
recebido pelo setor –, a região tinha menos asiático e 50 milhões para a Europa. E tudo O zoneamento agroe-
cológico da cana-de-
de 3% das usinas brasileiras (cerca de doze indica um crescimento dessas exportações,
açúcar identificou 40
unidades industriais). inclusive com o RenovaBio editado em 2017 milhões de hectares
por Michel Temer e que deve ser implantado aptos ao cultivo da
Tudo corria muito bem, apesar de algumas a partir de janeiro de 2020, com novos com- gramínea, excluin-
tentativas para mudar o Decreto feitas por promissos para atender as metas do Acordo do a Amazônia, o
interessados das diversas regiões fechadas, de Paris. Mas uma revisão do Decreto já estava Pantanal e a bacia
todas fracassadas. Mas, em 6 de novembro se tornando indispensável. do Alto Paraguai.
47
COLUNAS
PRODUZIR
A REGULARIZAÇÃO
FUNDIÁRIA NA AMAZÔNIA
MARCELO VIEIRA
Presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB)
OPINIÃO
PROSPECTAR O FUTURO
É FAZER PARTE DELE
GUSTAVO DINIZ JUNQUEIRA
Secretário da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo
49
COLUNAS
REFLEXÃO
O CENSO É UM BANCO
DE DADOS PARA
CONVERSARMOS
MARCELLO BRITO
Presidente do Conselho Diretor da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG)
O MODERNO AGRONEGÓCIO
BRASILEIRO É RESULTADO DA
EFICIÊNCIA EMPREENDEDORA
DOS PRODUTORES RURAIS, DAS
EMPRESAS E ORGANIZAÇÕES, COM
INVESTIMENTO EM PESQUISAS E
INOVAÇÃO. UMA GRANDE CADEIA
PRODUTIVA TRABALHANDO
PARA GARANTIR A PRODUÇÃO
SUSTENTÁVEL DE ALIMENTOS,
FIBRAS E ENERGIA.
ABAG
REPRESENTANDO O AGRO
NO BRASIL E NO MUNDO
A FGV PROJETOS, UNIDADE DE ASSESSORIA TÉCNICA
DA FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS, EM PARCERIA COM O
CENTRO DE AGRONEGÓCIOS DA FGV (GV AGRO),
DESENVOLVE PROJETOS EM AGRONEGÓCIO NO BRASIL
E EM 15 PAÍSES NO EXTERIOR.
ESTUDOS E PESQUISAS
ESTRATÉGIAS DE CRESCIMENTO
THINK AGRO
Think Tank do
Agronegócio
Brasileiro