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PROVA RIO DE JANEIRO COLONIAL

Questão 1

Disserte sobre o processo de construção da cidade do Rio de Janeiro, destacando o


estabelecimento estrutural e a importância das Ordens religiosas na conquista e
manutenção territorial. Dê destaque às missões jesuíticas e à questão indígena.

A história do brasil e logo do rio de janeiro no período colonial, em especial no


primeiro século de domínio português sobre as terras do novo mundo é contada no
mito popular como uma aventura de grandes exploradores que vieram até essas
terras desconhecidas por acaso e que aqui entrou os “índios” que os receberam sem
qualquer conflito bélico. A figura indígena trabalhada no mito popular é de um
homem/mulher pacífico que vive no equilíbrio da natureza, essa concepção de
indígena reforça o estereótipo do ser puro e ignorante, sem maiores conhecimentos
do mundo e que possui uma alma sem pecados, a não ser o paganismo.

A visão pacífica dada ao indígena e muitas vezes de um ser inferior, é


evidenciada na cultura popular onde o indígena é sempre representado como burro,
que cai nos jogos do “homem civilizado” e deixado por ele ser explorado em troca de
bugigangas.

A colonização da américa pelos portugueses se deu a princípio com


exploração do pau-brasil e com isso a primeira forma de exploração dos indígenas
através de escambo de mercadorias feitas de metal, conhecimento que os indígenas
não possuíam, em troca de que os mesmos ajudassem os portugueses a coletar a
famosa arvore avermelhada. Entretanto, os primeiros processos de ocupação de
fixação portuguesa no território que seria o Brasil se dá pela expansão da fé católica
pelo mundo. Com a ordem da expansão do catolicismo, o rei de Portugal então
decreta que os portugueses tinham como papel converter os pagãos indígenas para
o catolicismo. Com isso, as ordens religiosas passaram a receber mais investimento
para que a missão fosse concluída.

Achar que o indígena aceitava esse tipo de imposição, entretanto, é um erro


comum cometido por pessoas leigas. Na verdade, a ideia de pacifismo indígena é
falsa. Os indígenas brasileiros foram extremamente resistentes a esses processos,
no Rio de Janeiro, inclusive, era muito comum a destruição fundações portuguesas.
A guerra entre europeus e indígenas era algo extremamente comum no continente,
tanto como aliados, tanto como inimigos. As reações indígenas inclusive foram
fundamentais para o fracasso de diversas capitanias como afirma Maria Celestino de
Almeida:

A violenta reação dos índios, responsável, em grande parte, pelo


fracasso da maioria das capitanias, tornou-se uma ameaça ao projeto
colonial. Assim, ao criar o governo geral com o objetivo de manter a
soberania sobre a colônia, a preocupação da Coroa não se restringia
aos ataques de estrangeiros. Visava também, essencialmente,
submeter os índios inimigos e integrar os aliados e isso se faria através
da guerra justa e da política de aldeamentos, respectivamente.
(ALMEIDA, 2014)

Essas guerras, entretanto, visavam também outro fator além do religioso, o


econômico. Através dos embates entre portugueses e indígenas, os europeus
conseguiam através da chamada “guerra justa” impor um sistema de trabalho
escravo aos inimigos nativos que fossem capturados nesses embates ou que
fossem vistos como inimigos na colonização.

Sendo assim, a resistência contra a presença portuguesa pelos indígenas era


extremamente alta, lavando esses povos a se unirem com outros povos europeus
para conseguir a retomada de um território e levar a expulsão dos ibéricos das suas
terras. Com isso, franceses, se utilizaram da rivalidade de tribos indígenas contra os
portugueses, se aliaram com tribos nativas e tentaram conquistar o território do Rio
de Janeiro.

Essa tentativa de ocupação francesa se torna um marco para a história do


Brasil, pois, nesse processo os portugueses se aliam a tribos indígenas e no dia 1º
de março de 1565 é fundada a cidade de São Sebastião do Rio de Janeira por
Estácio de Sá.

O processo indigenista iniciado pela coroa portuguesa leva a uma divisão


pelos portugueses das tribos: os mansos e os selvagens. Esses últimos são os que
seriam rivais do domínio português e que tanto resistiram a suas ocupações. Nesses
processos os ditos como selvagens acabariam por se tornar mão-de-obra escrava
através das guerras justas. Essas inciativas começam com Tomé de Souza, o
primeiro governador do Brasil e junto com ele, a coroa envia os primeiros Jesuítas
com papel de catequisar os nativos.

Os jesuítas foram fundamentais para a relação entre os lusitanos e os


indígenas, pois, através deles criam-se laços entre os colonizadores e os nativos.
Com a missão de catequizar os habitantes nativos, os jesuítas elaboram a criação
de aldeias fixas onde se reuniriam diversas tribos e com isso facilitaria a
catequização desses povos. Os jesuítas tiveram grande papel para o aculturamento
dos povos indígenas e também foram fundamentais para a diminuição da mão-de-
obra nativa como escrava.

Ao contrário do que se pensa na cultura popular, a escravidão indígena foi


extremamente presente no Brasil do século XVI e início do século XVII. A mão de
obra indígena foi fundamental para alavancar a produção das lavouras na colônia
portuguesa nas américas. No início da colonização no século XVI a presença de
escravos africanos nas lavouras era quase impossível já que seria necessário um
grande investimento de capital para isso, e como essas lavouras ainda não
continham tamanho poderio financeiro, a escravidão indígena foi a opção mais óbvia
para suprir essa necessidade.

O papel das aldeias missionárias jesuíticas, entretanto, teve um grande papel


para dificultar a aquisição de indígenas para serem escravos pelos senhores de
engenho. Sentindo-se ameaçados e em risco, diversos indígenas, mesmo sabendo
que viveriam em um sistema que seriam subalternos, preferiam migrar para essas
aldeias, pois lá teriam a proteção dos jesuítas contra as guerras justas.

Por fim, podemos ver que a presença jesuíta foi fundamental para a
construção da cidade do Rio de Janeiro através dos aldeamentos e controle do
território para conter invasões estrangeiras juntamente com os portugueses que para
tal também começaram a construir fortificações e com isso iniciar o processo de
criação estrutural da cidade.
Bibliografia:

 ALMEIDA, Maria Celestino de. Catequese, aldeamentos e missionação. In: In:


FRAGOSO, João; GOUVÊA, Maria de Fátima. O Brasil colonial. Vol. 1 (1443-1580).
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014. pp. 229-270.
 BICALHO, Maria Fernanda. A Descoberta da América ou a América do Descoberto.
In: A cidade e o Império. O Rio de Janeiro no século XVIII. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira: 2003. pp. 25-48.
 _______. O Rio de Janeiro: Espaço urbano e seu controle político. In: A cidade e o
Império. O Rio de Janeiro no século XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira:
2003. pp.201-227. 
 CAVALCANTI, Nireu. O Rio de Janeiro Setecentista. A vida e a construção da cidade
da invasão francesa até a chegada da Corte. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
2004. (Cap. I – pp. 21-37)

Questão 2

Disserte sobre a economia do Rio de Janeiro, destacando suas continuidades e


mudanças ao longo dos três séculos.

Quando estudamos o Rio de Janeiro e a chegada do europeu nas américas,


uma das primeiras coisas que ficamos a par é sobre o tão falado pau-brasil e o
escambo do mesmo com indígenas. O ciclo do pau-brasil, ou seja, sua exploração
pelos portugueses começa muito cedo, desde a chegada dos mesmos no território
do novo mundo, porém, sua vida útil comercial também se esvai cedo. Com a
intensa retirada das arvores, a espécie passa a se tornar extremamente difícil de se
conseguir e então o preço para se coletar sobe drasticamente. A economia do pau-
brasil então dá lugar a um novo ciclo econômico no território carioca: a cana-de-
açúcar.

A exploração de cana-de-açúcar pelos portugueses se inicia antes mesmo de


da chegada deles ao Brasil. Portugal, por possuir diversos territórios em ilhas
atlânticas já se empreitava na produção açucareira em seus territórios atlânticos e
nas regiões centro-africanas.

Com a fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro por Estácio


de Sá, após a vitória dos portugueses e seus aliados contra os invasores franceses,
o governador da capitânia decide então distribuir sesmarias para seus apoiadores,
entre eles os jesuítas que tiveram papel fundamental na luta contra os franceses e a
consolidação da cidade.

A cana de açúcar a princípio era plantada com mão-de-obra indígena que era
conseguida através das chamadas guerras justas e os regastes. Até o início do
século XVII, o índio era o motor da lavoura e a presença africana ainda era muito
pequena devido ao alto custo da importação de escravos africanos. Entretanto, com
o avançar da lavoura, com crescimento econômico da região e com a busca de
maior lucro através de uma maior produtividade, a partir da década de 1580, o
tráfico negreiro é iniciado e se consolida no início do século XVII.

O papel das ordens religiosas era fundamental para a economia local, através
dos aldeamentos e missões, os jesuítas possuíam forte controle sobre o indígena,
ou seja, eles controlavam todos os aspectos da mão-de-obra nativa. Além disso, os
jesuítas passaram a possuir grandes espaços de terra e a administrar diversos
latifúndios. Uma dessas terras é denominada de Engenho Velho segundo Marcia
Amantino:

O Engenho Velho ocupava grande parte das terras onde hoje está
estabelecida a região conhecida como Grande Tijuca, ou seja, a área
que engloba os bairros do Alto da Boa Vista, Maracanã, Andaraí,
Grajaú, Tijuca, Praça da Bandeira e Vila Isabel. Além dos sub-bairros
da Muda, Usina, Salgueiro, Aldeia Campista, Borel e Vila Zoológico.
(AMANTINO)

Com o decorrer do século XVII, Portugal sofre com grandes perdas


econômicas e entra em diversas crises. Com perdas de territórios na África, a
criação da Companhia das Índias Ocidentais por parte dos holandeses e a queda do
preço do açúcar a metrópole passa e ter prejuízos. Entretanto, na cidade do Rio de
Janeiro o cenário era diferente. Percebia-se então que o Rio, apesar de toda a crise,
ainda investia fortemente na produção de cana-de-açúcar. Ao se investigar o porquê
do forte investimento açucareiro nas plantações, percebe-se então que o que fazia
crescer esse investimento era o forte mercado local mostrando com isso que a
cidade possuía certa autonomia financeira e se tornando cada vez mais fundamental
para a economia do império. Além do mercado local, a capitania do Rio de Janeira
ainda tinha fortes ligações comerciais legais e ilegais com a região do Rio da Prata e
África.

Além do engenho outro fator era extremamente importante na economia da


cidade, o seu porto. O porto do Rio de Janeiro foi um dos mais importantes da
colônia, tendo como principal função o desembarque dos escravos. O Rio de Janeiro
é conhecido como o maior por de escravos que o Brasil já teve. Por possuir grande
função portuária, na virada do século XVII para o XVIII o Rio de Janeiro se torna
mais importante ainda para a economia portuguesa. Com a descoberta de ouro nas
minas gerais, a cidade carioca se torna então o lugar de escoamento desta tão
valiosa mercadoria. Com o aumento da importância fluminense para a colônia, a
capital é transferia de salvador para o Rio de Janeiro no ano de 1763.

Apesar de todo a importância econômica fluminense por ser o escoamento do


ouro, com a crise aurífera as autoridades portuguesas buscaram diversificar a
economia do principal porto no império português através da figura do Marquês de
Pombal na década de 1750.

Este período também vai presenciar a implementação de novas cul-


turas no Rio de Janeiro,5 como o anil, o arroz, a cochonilha, o linho
cânhamo, a amoreira (bicho de seda) e o café. Na verdade, a intro-
dução de medidas de fomento a diversificação agrícola estão inseridas
num contexto peculiar. De um lado, existe o crescimento da demanda
inglesa por matérias-primas, fruto da Revolução Industrial. De outro, as
medidas pombalinas de fomento agrícola. Portanto, a segunda metade
do século XVIII vai presenciar a consolidação não só da economia,
como também da estrutura política fluminense, ao lado do crescimento
de novas culturas. (PESAVENDO, Fábio. 2012)

Com a crise do ouro, o Rio de Janeiro entra em um período de queda


econômica e passa por um “renascimento agrícola”, entretanto existe um grande
debate sobre esse renascimento. Para alguns autores como João Fragoso, o
renascimento agrícola carioca é inexiste, já que toda sua economia agrícola estava
voltada para o mercado interno.
Desta forma podemos ver que a economia carioca é cercada por ciclos sendo
esses o do pau-brasil, da cana-de-açúcar, aurífero e após isso uma diversificação
maior da sua economia apesar de existir divergências sobre o tema. Sendo assim,
podemos ver que a cidade do Rio desde antes de sua fundação possuía um papel
econômico extremamente importante para a economia da colônia.

Bibliografia:

 PESAVENTO, Fábio. Colonial Tardio e a Economia do Rio de Janeiro na


Segunda Metade dos Setecentos: 1750-90. Porto alegre, 2012.
 AMANTINO, Marcia. A companhia de Jesus na cidade do Rio de Janeiro. O
caso do Engenho Velho, século XVIII. Jundiaí: Paco, 2018.

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