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MURRA, John Victor. As Sociedades Andinas Anteriores a 1532.

Quando os espanhóis chegaram até a região andina se impressionaram com


a paisagem pois não se assemelhava a nada que já houvessem visto ou ouvido falar
antes mesmo que algum deles já tenham servido em vários lugares do mundo.
Perceberam também que era uma região de imensa riqueza não apenas ouro, mas
de aspectos sociais e culturais. Possuíam diversas habilidades e grande poder
arquitetônico. Suas habilidades metalúrgicas, construção de estradas, irrigação e
produção têxtil era absolutamente incrível.

Outra observação feita pelos espanhóis é que o domínio da região estava sob
controle de um príncipe a pouco tempo, cerca de três a quatro gerações antes de
1532. Quando os espanhóis iniciaram seu processo de conquista na região, desde a
vitória em Cajamarca, pessoas passaram a se perguntar como um império daquele
tamanho e tão complexo poderia ter sido derrotado de forma tão rápida. A
observação sobre a geografia andina também foi algo extremamente observado já
que possuía poucas semelhanças funcionais para o homem de outras latitudes, se é
que existia alguma.

A concentração populacional era voltada ao alto planalto ao redor do lado


titica e possuía mais habitantes do que em qualquer outro lugar.

As pradarias tropicais, mais altas e frias, eram cultivadas há muito tempo,


talvez antes mesmo do que todas as arvores fossem cortadas. Durante milênios a
maioria dos povos andinos viveram nesses locais. Não apenas os incas, porém as
mais antigas estruturas políticas surgiram na puna.

A região dos andes tinha fácil adaptação a variedades europeias e africanas


como a cevada, cana-de-açúcar, uva, banana, porém os agricultores andinos
possuíam apego a culturas resistentes, domesticadas no local, perfeitamente
adaptadas as condições andinas. Algumas dessas culturas como milho e batata-
doce eram encontradas por todo o continente, porém na região essas culturas não
eram produzidas em grandes quantidades embora algumas fossem altamente
valorizadas por serem consideradas exóticas.
Com o crescimento populacional civilizações andinas precisaram buscar
novos recurso em lugares mais distantes. Na região costeira desértica abaixo, se
viviam na cordilheira ocidental ou na floresta das encostas andinas, se habitavam a
cordilheira oriental.

Na região mais populosa dos andes, ocorre um fenômeno onde a temperatura


muda drasticamente da noite pro dia, gerando variações de até cerca de 30ºC. Esse
fenômeno gera um processo de conservação. Entre esses tecidos congelados
estavam chuñu e charki.

Através de alguns estudos foi identificado como todas as comunidades


situadas em volta do Titicaca tinham acesso as ilhas da planice a leste do lago.
Nesse local todos os recursos necessários eram cuidados diretamente pelos
parentes de alguém ou pelos que lhe eram submetidos. Esse modo complementar
de acesso a muitos pisos ecológicos é chamado de arquipélago. Os colonos dessas
áreas eram chamados de mitmac e quando sua distância para o núcleo era pequena
podia manter vínculos com o lugar de origem, porém, quando a distância do núcleo
chegava a oito dias existia dispositivos institucionais que garantiam acesso a essas
regiões. Os mitmacs eram também responsáveis nas áreas cobertas de arvores pela
confecção de utensílios domésticos e artesanatos e os que viviam próximo a costa
pescavam. Isso gerava uma troca entre as regiões mais altas com as regiões mais
baixam gerando uma grande circulação de mercadorias.

Além de ilhas periféricas os iupacas também possuíam aldeias de ceramistas


e de metalurgistas.

Os mitmac também exerceram outras funções, foram utilizados mais tarde de


maneira militar. Com a expansão do reino e o crescimento populacional além dos
conflitos e invasões fizeram com que os mitmacs fossem usados em guarnições já
que as fronteiras precisavam ser vigiadas em tempo integral.

A partir de pesquisas recentes descobriu-se que o estado inca de


Tahuantinsuyo não foi a primeira comunidade surgida nos andes.

O horizonte primitivo dos Andes era centrado em Chavín, um templo


localizado a 3.135 metro de altitude nas montanhas do leste e era conhecido por sua
arte religiosa e é considerado a matriz da civilização andina e alcançou seu apogeu
a três mil anos. Ainda não se sabe como surgiram os horizontes e como acabaram,
porém, existem teorias que o comercio e o zelo religioso tenham sido os principais
fatores para a expansão. O horizonte médio vai de 500 a.C à 1000 d.C. em
Tiahuanaco e Huan.

A expansão de Tahuantisuyo foi rápida, mas somente após conseguir


absorver outras grandes entidades politicas por inteiro pois antes, quando só
absorvia pequenos vilarejos não o conseguia. Os membros das elites locais, assim,
passaram a adequar-se a um sistema de governo-indireto. Quando os iupacas
passaram a ser dominados pelos incas sofreram um processo de deportação para
níveis mais baixos dos andes próximo a praia do lago.

Após o período de conflitos entre o horizonte médio e o tardio cuzco deixa de


ser no século XV apenas um núcleo de uma sociedade local para se transformar em
um grande e importante centro urbano.

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