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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

INSTITUTO DE BIOLOGIA
DEPARTAMENTO DE BOTÂNICA

MORFOLOGIA VEGETAL

Profa. LEILA MACIAS


Profa. RAQUEL LÜDTKE

2012
5ª edição
Apostila de Morfologia Vegetal – UFPEL Macias, L. & Lüdtke, R.
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SUMÁRIO
I. RAÍZ ............................................................................................................................... 03
1. RAÍZES PIVOTANTES OU AXIAIS ............................................................................ 04
2. RAÍZES FASCICULADAS .......................................................................................... 04

II. CAULE .......................................................................................................................... 08


A. QUANTO AO HÁBITAT ............................................................................................. 08
B. QUANTO À RAMIFICAÇÃO ...................................................................................... 11
C. QUANTO AO HÁBITO ............................................................................................... 12
D. QUANTO À CONSISTÊNCIA .................................................................................... 13

III. FOLHA ......................................................................................................................... 15


1. QUANTO À SUCESSÃO FOLIAR .............................................................................. 15
2. QUANTO ÀS PARTES COMPONENTES ................................................................. 16
3. QUANTO À SUBDIVISÃO DO LIMBO ....................................................................... 17
4. QUANTO À CONSISTÊNCIA ou TEXTURA .............................................................. 20
5. QUANTO À FORMA DO LIMBO ................................................................................ 20
6. QUANTO À FORMA DA MARGEM .......................................................................... 24
7. QUANTO À FORMA DO ÁPICCE ............................................................................. 25
8. QUANTO À FORMA DA BASE ................................................................................. 26
9. QUANTO AO RECORTE DO LIMBO ........................................................................ 27
10. QUANTO À NERVAÇÃO ........................................................................................ 29
11. QUANTO AO INDUMENTO ..................................................................................... 31
12. QUANTO À COLORAÇÃO ...................................................................................... 32
13. FILOTAXIA .............................................................................................................. 32
14. PRESENÇA DE ESTÍPULAS .................................................................................... 34
ADAPTAÇÕES DAS FOLHAS ........................................................................................ 35
POLIMORFISMO FOLIAR................................................................................................ 37

IV. FLOR ........................................................................................................................... 38


PERIANTO ..................................................................................................................... 39
I. QUANTO À PRESENÇA DE VERTICILOS DE PROTEÇÃO ..................................... 39
II. QUANTO À SOLDADURA DO CÁLICE ..................................................................... 40
III. QUANTO À SOLDADURA DA COROLA .................................................................. 40

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IV. QUANTO À SIMETRIA DA FLOR ............................................................................. 41


V. QUANTO AO SEXO .................................................................................................. 41
ANDROCEU ................................................................................................................... 42
I. QUANTO À CONCRESCÊNCIA DOS ESTAMES ...................................................... 42
II. QUANTO AO NÚMERO DE ESTAMES EM RELAÇÃO ÀS PÉTALAS ..................... 43
III. QUANTO AO TAMANHO DOS ESTAMES ............................................................... 43
IV. QUANTO À INCLUSÃO DOS ESTAMES NA COROLA ........................................... 44
V. QUANTO À INSERÇÃO DOS ESTAMES NA FLOR ................................................. 44
VI. QUANTO AO PONTO DE INSERÇÃO DO FILETE NA ANTERA ............................ 44
VII. QUANTO AO TIPO DE DEISCÊNCIA DAS ANTERAS ........................................... 45
VIII. QUANTO À ORIENTAÇÃO DA DEISCÊNCIA ....................................................... 45
IX. QUANTO AO NÚMERO DE TECAS ........................................................................ 46
GINECEU ....................................................................................................................... 48
I. QUANTO AO NÚMERO DE CARPELOS ................................................................... 48
II. QUANTO A UNIÃO DOS CARPELOS ....................................................................... 48
III. QUANTO À INSERÇÃO DO ESTILETE NO OVÁRIO .............................................. 49
IV. QUANTO À POSIÇÃO DO OVÁRIO ........................................................................ 50
V. QUANTO À FLOR EM RELAÇÃO À POSIÇÃO DO OVÁRIO ................................... 50
VI. QUANTO À PLACENTAÇÃO ................................................................................... 51

V. INFLORESCÊNCIA ...................................................................................................... 53
1. INFLORESCÊNCIAS RACEMOSAS OU INDEFINIDAS ........................................... 53
2. INFLORESCÊNCIAS CIMOSAS OU DEFINIDAS ..................................................... 55

VI. FRUTO ........................................................................................................................ 58


1. FRUTOS SIMPLES .................................................................................................... 59
2. FFRUTOS COMPOSTOS .......................................................................................... 59
3. FRUTOS MÚLTIPLOS ............................................................................................... 59
4. FRUTOS SECOS ....................................................................................................... 59
5. FRUTOS CARNOSOS ............................................................................................... 59
6. FRUTOS DEISCENTES ............................................................................................. 59
7. FRUTOS INDEISCENTES ......................................................................................... 59
8. FRUTOS MONOCARPELARES ................................................................................ 59
9. FRUTOS PLURICARPELARES ................................................................................. 60
10. FRUTOS MONOSPÉRMICOS ................................................................................. 60
11. FRUTOS POLISPÉRMICOS .................................................................................... 60

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 65


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I – RAÍZ

A raiz (do latim "radix") é a estrutura do corpo vegetal especializada na fixação da


planta ao solo, absorção e condução de água e sais minerais. Atua, por vezes, no
armazenamento de reservas nutritivas e aeração.
As raízes são, via de regra, aclorofiladas, subterrâneas e de geotropismo positivo,
sem gemas terminais e laterais, sem nós e entrenós. A raiz principal tem origem da
radícula do embrião. Já as raízes secundárias, têm origem endógena, a partir do periciclo.
As raízes eu não se originam da radícula do embrião e sim de órgãos aéreos, como
do caule, ramos ou folhas são chamadas de raízes adventícias (fig. 4) e estas podem
proporcionar, em muitas situações, a multiplicação vegetativa das espécies.
Morfologicamente, a raiz é composta pelas seguintes regiões: a coifa ou caliptra, a
zona lisa (crescimento), a zona pilífera (dos pêlos absorventes), a zona suberosa (de
ramificação) e o colo (coleto) (fig. 1):

1) Coifa ou caliptra: estrutura que recobre o ápice radicular. Nesta região,


existem células pequenas e relativamente delicadas que se multiplicam intensamente,
promovendo o crescimento vertical da raiz. A coifa envolve e protege essas células contra
o atrito com as partículas do solo e contra o ataque de microrganismos diversos.

2) Zona lisa (de crescimento ou de alongamento): é a região onde ocorre o


alongamento das células que foram produzidas na ponta protegida pela coifa; o grande
alongamento das células, nessa região, permite o crescimento da raiz. Assim, para que
uma raiz cresça bem, deve haver: multiplicação de células (na coifa) e alongamento
celular (na região lisa).

3) Zona pilífera (dos pêlos absorventes): nessa região existem pêlos


absorventes que retiram do solo água e sais minerais que vão formar a seiva bruta. É
também chamada zona de absorção.

4) Zona suberosa (ou de ramificação): região na qual a raiz se ramifica,


originando as raízes secundárias, que auxiliam a fixação da planta no solo e aumentam a
superfície da absorção.

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5) Colo (ou coleto): ponto de encontro da raiz com o caule.

colo

raiz
principal

zona de ramificação
raiz
secundária

zona pilífera

zona lisa

coifa

Fig. 1. Regiões da raiz

TIPOS BÁSICOS DE RAÍZ


De um modo geral, as raízes subordinam-se a dois tipos fundamentais: pivotantes
e fasciculadas.

1. Raízes pivotantes ou axiais: nesse sistema de raízes, existe uma raiz principal,
geralmente maior que as demais e que penetra verticalmente no solo. Da raiz principal
partem as raízes laterais secundárias, que também se ramificam (terciárias) e assim por
diante. Estas raízes ocorrem nas eudicotiledôneas (fig. 2).

2. Raízes fasciculadas ou em cabeleira: as raízes fasciculadas compõem-se de


um conjunto de raízes finas que têm origem em um único ponto sem haver a formação de
uma raiz mais desenvolvida . A raiz primária atrofia formando-se outras raízes do primeiro
nó caulinar. Nesse sistema todas as raízes são adventícias e apresentam espessura
semelhante. Estas raízes ocorrem nas monocotiledôneas (fig. 3).

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Fig. 2. Raiz pivotante Fig. 3. Raiz fasciculada Fig. 4. Raízes adventícias

Entre as principais adaptações das raízes destacam-se:

1. Raízes tuberosas: as raízes tuberosas contêm grande reserva de substâncias


nutritivas (principalmente amido) que ocorrem na raiz principal ou nas secundárias, e são
muito utilizadas na nossa alimentação. Como exemplos dessas raízes, podemos citar a
mandioca, a cenoura, a beterraba, o cará, a batata-doce e o nabo (fig. 5).

2. Raízes escora ou suporte: são raízes adventícias que partem do caule e se fixam no
solo, aumentando a superfície de fixação da planta. Geralmente são encontradas nas
plantas que se desenvolvem nos mangues, ambientes de solos movediços; é o caso da
planta chamada de mangue-vermelho, do gênero Rhizophora (Rhizophoraceae) (fig. 6).
Também são encontradas no milho (Zea mays), falsa-seringueira (Ficus elastica).

3. Raízes tabulares ou sapopemas: são raízes adventícias de origem caulinar, que


achatadas como tábuas, auxiliam na fixação da planta no solo e possuem poros que
permitem a absorção de gás oxigênio da atmosfera. São encontradas em árvores de
grande porte, como me muitas espécies de figueiras (Moraceae), assegurando-lhes
estabilidade mecânica (fig. 7).

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4. Raízes sugadoras ou haustórios: são próprias de plantas parasitas que apresentam


órgãos de contato com o hospedeiro, os apressórios, em cujo interior formam-se raízes
muito delgadas, os haustórios, os quais penetram no hospedeiro sugando-lhe a seiva.
Exs.: erva-de-passarinho, cipó chumbo, etc (fig. 8).

5. Raízes respiratórias ou pneumatóforos: são raízes de algumas plantas que se


desenvolvem em locais alagadiços. Nesses ambientes, como os mangues, o solo é
geralmente muito pobre em gás oxigênio. Essas raízes partem de outras existentes no
solo e crescem verticalmente (geotropismo negativo), emergindo da água; possuem
pequenos orifícios (pneumatódios) que permitem a absorção de oxigênio atmosférico (fig.
9).

6. Raízes grampiformes: são raízes em forma de ganchos que facultam ao vegetal fixar-
se em locais íngremes, como paredes e pedras. São próprias de espécies trepadeiras,
como a hera (fig. 10).

7. Raízes aéreas: usualmente apresentam uma estrutura bastante modificada, como uma
epiderme múltipla (pluriestratificada), o velame, com células de paredes espessadas que
resultam num tecido esponjoso próprio para a absorção e armazenamento de água. Além
disso, raízes aéreas podem ser capazes de realizar fotossíntese. Ex: orquídeas.

8. Raízes cinturas ou estranguladoras: são raízes adventícias de plantas parasitas que


“abraçam” outro vegetal e, muitas vezes, ocasionam a morte deste hospedeiro. Ex.: cipó-
mata-pau (Ficus microcarpa).

Fig. 5. Raízes tuberosas Fig. 6. Raízes escora Fig. 7. Raízes tabulares

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Fig. 8. Haustórios Fig. 9. Pneumatóforos Fig. 10. Grampiformes

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II - CAULE
O caule (do latim "caulis" que significa talo, ramo, haste) é a estrutura do corpo
vegetal que provê suporte a folhas, flores e frutos, dispondo-os de forma a otimizar suas
funções. Realiza a condução da seiva inorgânica para as regiões fotossintetizadoras e da
seiva orgânica para todas as demais partes da planta. Podem ainda ser acumuladores de
reserva e água bem como atuar na propagação vegetativa (reprodução assexuada) das
plantas. É sustentado por um sistema radicular, geralmente subterrâneo. Eixos caulinares
apresentam, em geral, geotropismo negativo, sendo, portanto aéreos e de fototropismo
positivo. Podem ser fotossintetizantes ou não.
Sua estrutura externa é composta por nós, entrenós, gemas terminais e laterais. As
gemas laterais ou axilares localizam-se nas axilas de folhas, inseridas nos nós.

Fig 1. Representação esquemática de um caule de angiospermas

Estudamos os caules quanto ao habitat, ramificação, hábito, consistência e


adaptações.

A. QUANTO AO HÁBITAT: diz respeito ao meio em que se desenvolve o caule, podendo


ser aéreos, subterrâneos ou aquáticos.
1. CAULES AÉREOS: podem apresentar-se eretos, rastejantes ou trepadores.
1.1. Caules eretos

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a) Haste: caule não lenhoso, pequeno, clorofilado, tenro, encontrado em


ervas (fig. 2).
b) Colmo: caule silicoso, cilíndrico, claramente dividido em nós e
entrenós. Podem ser ocos/fistulosos (bambu) ou cheios/maciços (milho, cana-de-açúcar).
Muito comum nas gramíneas (monocotiledôneas) (fig. 3).
c) Tronco: são caules desenvolvidos, lenhosos, ramificados, próprios de
árvores (fig. 4).
d) Estipe: lenhoso, cilíndrico, longo, em geral não ramificado, com nós e
entrenós bem marcados e as folhas estão concentradas na extremidade. É o caule típico
das palmeiras (monocotiledôneas), mas pode ser encontrado em dicotiledôneas
(mamoeiro) (fig. 5).

Fig. 2. Haste Fig. 3. Colmo Fig. 4. Tronco Fig. 5. Estipe

1.2. Caules rastejantes


a) Prostrados ou decumbentes: são caules que crescem junto
(paralelos) ao solo, sem enraizarem-se nos nós, não ocorrendo, portanto, a emissão de
raízes adventícias. São caules que não conseguem se sustentar (fig. 6).
b) Estolões ou estolhos: caules laterais aéreos geralmente longos,
capaz de formar, vegetativamente outras plantas. Nascem na base de um caule
preexistente e se expandem, enraizando em alguns nós formando ramos aéreos ou
subterrâneos. As plantas que apresentam este tipo de caule são chamadas de
estoloníferas (fig. 7). Ex.: morango, violeta.

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Fig. 6. Prostrado Fig. 7. Estolão

1.3. Caules trepadores


a) Sarmentosos: são caules herbáceos que apresentam órgãos
auxiliares que lhes permitem fixar-se ao suporte, que podem ser raízes grampiformes,
gavinhas, etc.
b) Volúveis: são caules herbáceos ou subarbustivos que não dispõe de
órgãos de fixação, mas que se enrolam no suporte (fig. 8).
c) Lianas ou cipós: são trepadeiras lenhosas, que se enrolam sobre o
suporte sem auxílio de órgãos de fixação (fig. 9).

Fig. 8. Volúvel Fig. 9. Liana

2. CAULES SUBTERRÂNEOS: abaixo da superfície do solo.


2.1. Rizomas: caules subterrâneos que possuem nós, entrenós, gemas e
escamas, emitindo raízes adventícias. Espaçadamente, as gemas originam folhas e/ou
ramos laterais (fig. 10). Os rizomas podem apresentar-se expandidos (Hydrocotile
bonariensis_erva-capitão) ou contraídos (espada-de-são-jorge, gengibre).

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2.2. Tubérculos: são caules delgados que apresentam o ápice intumescido


formando uma “batata”. São considerados como rizomas hipertrofiados pelo acúmulo de
reservas nutritivas. Diferem-se dos rizomas pelo crescimento limitado e pela falta de
raízes (fig. 11). Ex.: batata-inglesa.
2.3. Bulbos: são órgãos que apresentam uma porção central, pequena, que
recebe o nome de prato ou disco que representa a porção caulinar. O prato é envolvido
por folhas modificadas denominadas catáfilos, geralmente suculentas pelo
armazenamento de substâncias nutritivas. O prato apresenta, em sua porção apical, o
botão vegetativo que, ao desenvolver-se, origina uma nova planta, e na porção inferior,
raízes adventícias fasciculadas (fig. 12). Ex.: cebola, lírio.
2.4. Cormos: consistem de um eixo intumescido (reserva) apresentando-se
como um corpo sólido, maciço, achatado, que cresce perpendicularmente à superfície do
solo, revestido por catáfilos reduzidos a escamas, com entrenós bem definidos (fig. 13).
Ex.: nhame.

Fig. 10. Rizoma Fig. 11. Tubérculo Fig. 12. Bulbo Fig. 13. Cormo

3. CAULES AQUÁTICOS: são pouco desenvolvidos, tenros, geralmente


clorofilados, com aerênquima que lhes proporciona facilidade de aeração e flutuação.

B. QUANTO A RAMIFICAÇÃO: as gemas são responsáveis pela formação do sistema de


ramificação caulinar que pode ser classificado em monopodial e simpodial.

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1. Monopodial: é aquele em que o crescimento do caule se dá pela atividade de


uma única gema apical, que persiste ao longo da vida da planta, podendo não
desenvolver qualquer ramificação lateral (fig. 14). Ex.: pinheiros, mamoeiro.

2. Simpodial: várias gemas participam consecutivamente da formação dos eixos


caulinares, sendo a ramificação intensa. Isto ocorre, muitas vezes, por inibição da
atividade meristemática das gemas terminais. Este padrão é o responsável pela
conformação variada das copas da maioria das eudicotiledôneas arbóreas (fig. 15).

Fig. 15. Monopodial Fig. 16. Simpodial

C. QUANTO AO HÁBITO: diz respeito à aparência da planta, ao porte.


1. Herbáceo: plantas cujos caules não apresentam lignificação e a superfície, via
de regra, é esverdeada. Apesar das ervas serem normalmente plantas pequenas,
algumas podem alcançar tamanhos bem expressivos.
2. Subarbustivo: plantas lenhosas na base e de consistência herbácea nas
porções apicais do caule.
3. Arbustivo: plantas perenes, lenhosas, ramificadas desde a base sem ter um
caule principal definido.
4. Arbóreo: plantas lenhosas com copa e tronco (fuste) bem definido e despido de
ramos em sua porção inferior.
5. Trepador: plantas de caules longos e finos que se utilizam do suporte vivo ou
morto para melhor disporem suas folhas em busca de luz.
As ervas e subarbustos podem ser classificados de acordo com o hábito em:
a) Ereto: com crescimento vertical.

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b) Prostrado: rastejantes, não radicantes, sem erguer o ramo florífero.


c) Decumbente: rastejantes, não radicantes, mas com o ramo florífero erguido.
d) Rizomatoso: com rizomas.
e) Estolonífero: rastejantes, com estolões.
f) Rosetado: com entrenós curtos e folhas rosuladas (aparentemente saindo do
mesmo ponto).
g) Cespitoso: em forma de touceira, se ramificam para todos os lados.

D. QUANTO A CONSISTÊNCIA
1. Herbácea: caules tenros, de pouca consistência, onde o colênquima prevalece
como tecido de sustentação.
2. Sublenhosa: caules lenhosos na base e herbáceos no ápice, como acontece
em plantas de hábito subarbustivo.
3. Lenhosa: são caules rígidos onde o esclerênquima predomina como tecido de
sustentação.

ADAPTAÇÕES DO CAULE: modificações dos caules decorrentes de funções específicas


que exercem ou da influência do meio.

* Cladódios: órgãos de natureza caulinar com aparência e função de folha. Podem


apresentar nós e entrenós nítidos com folhas rudimentares ou exibindo flores. O cladódio
distingue-se do filocládio por apresentar crescimento indeterminado. Ex.: aspargos.
Os cladódios podem ser carnosos, com folhas rudimentares, áfilos ou ainda com
folhas transformadas em espinhos, podendo conter mucilagens que retêm água (fig. 16).
Ex.: cactos.
* Filocládios: caules achatados como uma folha, fotossintetizantes e áfilos, com
crescimento determinado (fig. 17).
* Espinhos: órgãos de origem caulinar, endurecidos e pontiagudos, possuem
vascularização (limoeiro, laranjeira). Não podem ser confundidos com acúleos que são de
origem epidérmica e não apresentam vascularização (roseira) (fig. 18).
* Gavinhas: são ramos filamentosos (de origem caulinar ou foliar), axilares que
permitem a planta fixar-se no suporte (fig. 19). Ex.: maracujá, uva.

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Fig. 16. Cladódio Fig. 17. Filocládio Fig. 18. Espinho Fig. 19. Tipos de gavinhas

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III – FOLHA

São órgãos geralmente verdes, laminares, considerados como expansões laterais


do caule. Tem crescimento definido e, por principal função, a fotossíntese.

REGIÕES DA FOLHA
Três regiões podem ser observadas nas folhas (fig. 1):
a) BAINHA: parte basal e achatada da folha que a prende ao caule, envolvendo-o
total ou parcialmente;
b) PECÍOLO: haste que liga o limbo ao caule, diretamente ou através da bainha;
c) LIMBO ou LÂMINA FOLIAR: parte expandida da folha.

Fig. 1. Regiões da folha

CLASSIFICAÇÃO DAS FOLHAS

1 – QUANTO À SUCESSÃO FOLIAR (fig. 1a):


a) Embriófilos, folhas embrionárias ou cotilédones: são as primeiras folhas do
embrião.

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b) Neófilos ou folhas primordiais: aparecem logo depois dos cotilédones, com


formas diferentes das demais folhas do vegetal.
c) Nomófilos ou folhas normais: aparecem depois das folhas primordiais e se
formam durante toda a vida do vegetal.
d) Prófilos: primeira folha de um novo eixo caulinar.
e) Catáfilos ou escamas: folhas reduzidas, escamiformes. Ocorrem em caules
subterrâneos e podem servir para proteção das gemas quiescentes ou para o
armazenamento de reservas.
f) Hipsófilos, folhas preflorais ou brácteas: são folhas que se situam nas partes
terminais dos ramos, junto às flores. Podem ser coloridas.
g) Antófilos ou folhas florais: formadas pelo cálice e a corola, respectivamente
pelas sépalas e pétalas.
h) Esporófilos: folhas que produzem esporos, formadas pelo androceu e o
gineceu, respectivamente pelos estames e carpelos.

Fig. 1a. Sucessão foliar

2 – QUANTO ÀS PARTES COMPONENTES:


a) Completas: quando todas as regiões estão presentes.
Ex.: roseira, copo-de-leite
b) Incompletas: quando uma ou mais regiões não estão presentes. Uma folha
incompleta pode ser:

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- Séssil: quando só tem limbo, ou seja, falta o pecíolo e bainha (fig. 2);
- Invaginante: quando apresenta limbo e bainha e falta o pecíolo (fig. 3);
- Peciolada: quando apresenta limbo e pecíolo, faltando a bainha (fig. 4);
- Filódio: pecíolo achatado e laminar, geralmente substitui o limbo (fig. 5);.

bainha
pecíolo

Fig. 2. folha séssil Fig. 3. folha invaginante Fig. 4. folha peciolada

pecíolo

Fig. 5. filódio

3 – QUANTO À SUBDIVISÃO DO LIMBO:


a) Simples: quando o limbo apresenta-se inteiro ou recortado, porém, nesse caso,
o recorte não alcança a nervura primária (fig. 6);
b) Compostas: quando o limbo apresenta-se subdividido em segmentos menores,
os folíolos, os quais se articulam a um pecíolo comum (fig. 7).

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folíolo

Fig. 6. folha simples Fig. 7. folha composta

Uma folha composta poderá ter os seguintes elementos: estípulas, pulvino, pecíolo,
ráquis, folíolo, peciólulo, ráquila, foliólulo, estipela e pulvínulo (fig. 8).

Fig. 8. Folhas compostas

Observações:
A ráquila e o foliólulo só se fazem presentes nas folhas bicompostas ou
bipinadas.

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Tanto o pulvino quanto o pulvínulo são formados por tecido parenquimático que,
por variação de turgescência das células de faces opostas, pode provocar movimento
tigmonástico.

As folhas compostas podem responder aos seguintes tipos:


b.1) Penadas: apresentam folíolos distribuídos ao longo da ráquis. Podem ser:
- Trifolioladas: composta de três folíolos (fig. 9);
- Paripenadas: composta por um número par de folíolos (fig. 10);
- Imparipenadas: composta por um número ímpar de folíolos, sendo um de posição
terminal (fig. 11).

Fig. 9. Trifoliolada Fig. 10. Paripenada Fig. 11. Imparipenada

b.2) Digitadas: apresentam folíolos no ápice de um pecíolo comum. Podem ser:


- Bifolioladas: compostas por dois folíolos (fig. 12);
- Trifolioladas: com três folíolos (fig. 13);
- Digitadas propriamente ditas ou palmadas: composta de vários folíolos que se
inserem quase no mesmo ponto (fig. 14).

Fig. 12. Bifoliolada Fig. 13. Trifoliolada Fig. 14. Digitada

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b.3) Bicomposta ou recomposta: são folhas cujos folíolos são subdivididos em


foliólulos. Podem ser: Bipenadas imparipenadas (fig. 15); Bipenadas paripenadas (fig. 16)
ou Bidigitadas (fig. 17).

Fig. 15. Bipenada imparipenada Fig. 16. Bipenada paripenada Fig. 17. Bidigitada

4 – QUANTO À CONSISTÊNCIA ou TEXTURA:


a) Membranáceas: tem consistência de membrana, delgada e flexível;
b) Cartáceas: consistência de cartão, flexível;
c) Coriáceas: de consistência dura, grossas, não suculentas, quebrando-se
quando dobradas;
d) Crassas: folhas grossas, carnosas, suculentas que também se quebram quando
dobradas.

5 – QUANTO À FORMA DO LIMBO:


Para sabermos a forma do limbo de uma folha, levamos em consideração apenas o
seu contorno, não se levando em conta a forma do ápice ou da base, nem os acidentes
das margens.
Existem seis grupos principais de forma de limbo, a partir dos quais poderão ser
classificados os subtipos.

a) Orbiculares: limbo arredondado ou quase, lembrando um disco. Subtipos:


Orbicular típica ou rotunda, perfeitamente circular, ao ponto de não conseguir distinguir
o ápice da base (fig. 18), Subrotunda, semi-circular (fig. 19); Peltado-orbicular, o
pecíolo sai do meio do limbo (fig. 20) e Cordado-orbicular, em formato de coração (fig.
21).

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Fig. 18 Fig. 19 Fig. 20 Fig. 21

b) Ovadas: limbo mais largo na base do que no ápice. Subtipos: Ovada típica (fig.
22), Lanceolado-ovada (fig. 23), Oblongo-ovada (fig. 24), Panduriforme, em forma de
viola (fig. 25), Falcado-ovada (fig. 26), Deltóide ou Triangular (fig. 27), Cordado-ovada
(fig. 28), Cordiforme, em forma de coração (fig. 29), Peltado-cordiforme, folha peltada
em forma de coração (fig. 30), Cordado-sagitada (fig. 31), Cordado-hastada (fig. 32),
Hastada, em forma de lança com os lobos basais divergentes (fig. 33), Peltado-sagitada
(fig. 34), Auriculado-ovada (fig. 35), Parabólica (fig. 36) e Sagitada, em forma de seta
(fig. 37).

Fig. 22 Fig. 23 Fig. 24 Fig. 25 Fig. 26 Fig. 27

Fig. 28 Fig. 29 Fig. 30 Fig. 31 Fig. 32

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Fig. 33 Fig. 34 Fig. 35 Fig. 36 Fig. 37

c) Obovadas: limbo mais largo no ápice do que na base. Subtipos: Obocordada-


típica (fig. 38), Espatulada (fig. 39), Dolabriforme (fig. 40), Obcordada (fig. 41),
Obcordiforme (fig. 42), Reniforme, em forma de rim (fig. 43), Obreniforme, rim invertido
(fig. 44) e Lunulada (fig. 45).

Fig. 38 Fig. 39 Fig. 40 Fig. 41 Fig. 42

Fig. 43 Fig. 44 Fig. 45

d) Oblongas: ápice e base com larguras aproximadamente iguais. Subtipos:


Oblonga-típica (fig. 46), Elíptica (fig. 47), Obovado-oblonga (fig. 48), Cuneado-
oblonga (fig. 49), Violada (fig. 50), Cordado-oblonga (fig. 51), Linguiforme (fig. 52) e
Retangular (fig. 53).

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Fig. 46 Fig. 47 Fig. 48 Fig. 49 Fig. 50

Fig. 51 Fig. 52 Fig. 53


e) Lanceoladas: forma de lança, onde a porção mais alargada situa-se abaixo da
metade do limbo, estreitando gradualmente para o ápice e mais abruptamente para a
base. Subtipos: Lanceolada típica (fig. 54), Linear (fig. 55), Oblongo-lanceolada (fig.
56), Tubulosa (fig. 57), Ensiforme (fig. 58), Acicular ou Filiforme (fig. 59), Falciforme,
em forma de foice (fig. 60) e Romboidal (fig. 61).

Fig. 54 Fig. 55 Fig. 56 Fig. 57 Fig. 58

Fig. 59 Fig. 60 Fig. 61 Fig. 62 Fig. 63

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f) Assimétricas ou Inequiláteras: quando um dos lados do limbo é diferente do


outro (fig. 64 a 71).

Fig. 64 Fig. 65 Fig. 66 Fig. 67 Fig. 68

Fig. 69 Fig. 70 Fig. 71

6 – QUANTO À FORMA DA MARGEM:


O bordo ou margem da folha, diz respeito ao limite externo, periférico da folha.
Poderá ser íntegro, inteiro ou liso ou, então, apresentar numerosas variações importantes
à classificação das folhas, tais como:
Serreado: os dentes são voltados para o ápice do limbo, com o aspecto dos dentes de
uma serra (fig. 72);
Serrilhado: os dentes são diminutos (fig. 73);
Ondulado: as margens apresentam subidas e descidas alternadas e sucessivas (fig. 74);
Aculeado: margem com dentes pontiagudos (fig. 75);
Ciliado: margem com cílios (fig. 76);
Crenado: margem com dentes arredondados (fig. 77);
Dentado ou denteado: margem onde os dentes tema sua altura perpendicular ao eixo
longitudinal do limbo (fig. 78);
Denticulado: com dentes diminutos (fig. 79);
Duplo-serrado: apresenta dois tamanhos de dentes na mesma margem (fig. 80);

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Inteiro ou liso: margens desprovidas de dentes, lobos, recortes (fig. 81).

Fig. 72 Fig. 73 Fig. 74 Fig. 75 Fig. 76

Fig. 77 Fig. 78 Fig. 79 Fig. 80 Fig. 81

7 – QUANTO À FORMA DO ÁPICE:


O ápice da folha pode apresentar-se de forma bem variada, podendo ser:
Acuminado: ápice cujas margens inicialmente afilam-se em um ângulo obtuso e
abruptamente passam a afilar-se em ângulo agudo, formando uma projeção (fig. 82);
Agudo: com margens retas que aproximam-se entre sim em um ângulo menor que 90°
(fig. 83);
Apiculado: apresenta uma pequena ponta formada abruptamente (fig. 84);
Aristado: ápice longo e delgado (fig. 85);
Caudado: o ápice se prolonga em forma de cauda (fig. 86);
Cirroso: ápice longo, filiforme e enrolado, em forma de gavinha (fig. 87);
Fendido: (fig. 88);
Cuspidado: apresenta ápice com ponta aguda e rija (fig. 89);

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Emarginado: apresenta ápice fortemente chanfrado (fig. 90);


Mucronado: ápice provido de múcron, ou seja, terminando em uma ponta rígida a qual é
a continuação da nervura central (fig. 91);
Mucronulado: ápice com múcron diminuto (fig. 92);
Obcordado: ápice arredondado e reentrante em forma de coração (fig. 93);
Obtuso: quando as margens aproximam-se entre si em ângulo maior que 90°, podendo
estas margens serem retas ou arredondadas (fig. 94);
Retuso: ápice arredondado, mas com uma depressão arredondada na extremidade (fig.
95);
Rotundo: ápice circular (fig. 96);
Espinhoso: presença de espinhos (fig. 97);
Truncado: ápice apresenta-se como que cortado transversalmente, como se tivesse sido
mutilado (fig. 98).

Fig. 82 Fig. 83 Fig. 84 Fig. 85 Fig. 86 Fig. 87

Fig. 88 Fig. 89 Fig. 90 Fig. 91 Fig. 92 Fig. 93

Fig. 94 Fig. 95 Fig. 96 Fig. 97 Fig. 98

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8 – QUANTO À FORMA DA BASE:


Assim como o ápice, a base da folha pode apresentar-se, igualmente, de forma
muito variada, podendo ser:
Amplexicaule: folha séssil cujo limbo foliar abraça o caule (fig. 99);
Atenuada: apresenta base estreita que acompanha o pecíolo até o ponto de inserção do
caule, dando ao pecíolo um aspecto alado (fig. 100);
Auriculada: os bordos do limbo projetam-se em direção ao pecíolo, formando lobos
proeminentes, lembrando orelhas (fig. 101);
Conada ou conata: as bases das folhas opostas parem ter se fundido ao redor do caule
(fig. 102);
Cordada: base arredondada e reentrante em forma de coração (fig. 103);
Cuneada: em forma de cunha (fig. 104);
Peltada: o pecíolo insere-se no centro do limbo ou próximo do mesmo (fig. 105);
Hastada: em forma de lança com os lobos basais pontiagudos e divergentes (fig. 106);
Truncada: apresenta-se como que cortada transversalmente (fig. 107);
Assimétrica ou oblíqua: os lados do limbo são nitidamente assimétricos (fig. 108);
Reniforme: em forma de rim (fig. 109);
Perfoliolada: o caule parece atravessar o limbo foliar de uma folha séssil (fig. 110).

Fig. 99 Fig. 100 Fig. 101 Fig. 102

Fig. 103 Fig. 104 Fig. 105 Fig. 106

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Fig. 107 Fig. 108 Fig. 109 Fig. 110

9 – QUANTO AO RECORTE DO LIMBO:


As folhas podem apresentar o limbo INTEIRO (sem recortes) ou RECORTADO. O
recorte do limbo diz respeito às reentrâncias que lhe são peculiares, mais ou menos
profundas, sem, no entanto, atingirem a nervura principal. Por mais acentuado que seja o
recorte, o limbo mantém continuidade, não havendo, portanto, como na folha composta, a
individualização dos folíolos e peciólulos. Nesse particular as folhas podem ser:

a) Lobadas: quando o limbo apresenta recortes pouco profundos que atingem, no


máximo, até 1/3 da metade do limbo. As folhas lobadas podem ser: bilobadas (fig. 111),
trilobadas (fig. 112) e palmatilobadas (fig. 113).

Fig. 111. Bilobadas Fig. 112. Trilobadas Fig. 113. Palmatilobadas

b) Fendidas ou Partidas: os recortes do limbo são mais profundos, limitando-se


até 2/3 da metade do limbo. Essas folhas podem ser: pinatífidas ou pinatipartidas (fig.
114 e 115) e palmatífidas ou palmatipartidas (fig. 116 e 117).

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Fig. 114 Fig. 115 Fig. 116 Fig. 117

c) Sectas: os recortes do limbo são muito profundos, alcançando quase a nervura


mediana. Por vezes, essas folhas parecem compostas, mas a observação atenta permite
verificar, bem junto à nervura mediana, a continuidade do limbo. As folhas sectas podem
ser: pinatissectas (fig. 118) e palmatissectas (fig. 119).

d) Clestradas ou Fenestradas: são aquelas cujo limbo revela áreas perfuradas ou


translúcidas (fig. 120).

Fig. 118 Fig. 119 Fig. 120

10 – QUANTO A NERVAÇÃO:
A nervação ou venação das folhas relaciona-se ao modo como se distribuem as
nervuras no mesófilo foliar e resultam imersas ou não na face superior, ventral ou abaxial
e proeminentes ou não na face inferior, dorsal ou abaxial das folhas. No tocante ao tipo de
distribuição das nervuras, as folhas podem ser:

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a) Penadas ou Peninérveas: cujas nervuras secundárias ou laterais partem quase


perpendicularmente à nervura primária ou principal, em forma de pena. As folhas penadas
compreendem os seguintes tipos:
a.1) Craspedódromas: quando todas as nervuras secundárias chegam até
a margem da folha, sem se curvarem ou se ramificarem (fig. 121).

a.2) Camptódromas: nervação bastante comum onde as nervuras


secundárias divergem da nervura central mas não alcançam a margem, se aproximam
dela mas curvam-se antes de a atingir.
- Eucamptódroma: subtipo da nervação camptódroma onde as nervuras
laterais arqueiam-se para o ápice, mas não tocam umas nas outras, não formando,
portanto, arcos (fig. 122a).
- Broquidódroma: subtipo da nervação camptódroma onde as nervuras
laterais se unem entre si, próximo à margem da folha, formando arcos (fig. 122b).

a.3) Hifódromas ou uninérveas: tipo de nervação onde todas as nervuras


secundárias são invisíveis, imersas no mesofilo espesso, ficando visível apenas a nervura
principal. Tal padrão é comum em folhas suculentas (fig. 123).

Fig. 121. Craspedódroma Fig. 122a. Camptódroma Fig. 122b. Camptódroma


Eucamptódroma Broquidódroma

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Fig. 123. Hifódroma

b) Paralelódromas ou paralelinérveas: quando as nervuras correm paralelas


numa grande extensão da folha, convergindo ao aproximarem-se do ápice (fig. 124).
b.1) Peniparalelódroma: tipo de nervação onde as nervuras de maior porte
formam um arranjo em forma de pena e a venação menor é essencialmente paralela.

c) Acródroma ou curvinérvea: quando as nervuras são curvas e saem do mesmo


ponto da base da folha, desenvolvendo arcos moderados e convergindo em direção ao
ápice (fig. 125).

d) Campilódromas: tipo de nervação onde as nervuras primárias surgem do


mesmo ponto e percorrem toda a extensão da lâmina foliar em arcos convergentes
fortemente curvados (fig. 126).

e) Actinódromas: quando três ou mais nervuras primárias surgem


aproximadamente no mesmo ponto e divergem entre si. Neste caso a nervura central
normalmente não é mais pronunciada do que as outras (fig. 127a).

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Fig. 124. Paralelódroma Fig. 125. Acródroma Fig. 126. Campilódroma

Fig. 127a. Actinódroma Fig. 127b. Peltinérvea

f) Peltinérvea: nervação típica das folhas peltadas, onde as nervuras se irradiam


do pecíolo que se insere no centro do limbo ou próximo ao centro (fig. 127b).
g) Palmatinérvea ou Palminérvea: nervação de folhas palmatissectas, onde o
recorte do limbo quase alcança o pecíolo. As nervuras partem do mesmo ponto divergindo
em várias direções.

11 – QUANTO AO INDUMENTO ou PILOSIDADE:


A superfície das folhas pode apresentar-se com ou sem indumentos, que podem
ser tricomas (pêlos), e estes tricomas podem ser uni ou pluricelulares, simples,
estrelados, escamosos ou de várias outras formas, com acúleos ou, ainda, revelar-se ou
não urticantes. Essas formações podem ocorrer com intensidade diferente em ambas as
faces foliares.
Nesse particular as folhas classificam-se em:
a) Pilosas: com tricomas ou pêlos. A intensidade da pilosidade é muito variável e
admite o reconhecimento de vários subtipos;
b) Glabras: com a superfície desprovida de tricomas;
c) Aculeadas: com acúleos;

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d) Urentes: com tricomas urticantes que provocam ardência na pele.

12 – QUANTO À COLORAÇÃO:
Normalmente as folhas são verdes, porém podem adquirir outras colorações. No
tocante à coloração as folhas podem ser:
a) Concolores: quando ambas as faces são verdes e de igual tonalidade.
b) Discolores: quando, nas folhas verdes, a tonalidade de uma das faces é
acentuadamente diferente da outra.
c) Maculadas: quando o limbo apresenta manchas.
d) Variegadas: quando o limbo é multicolorido.

13 – FILOTAXIA:
Filotaxia é a maneira como as folhas se dispõem no ramo. É o arranjo das folhas
ao longo do eixo caulinar. Nesse particular as folhas podem ser:

a) Opostas: quando, de um mesmo nó, nascem duas folhas em posição oposta.


As folhas opostas podem ser:
- Dísticas: todos os pares de folhas estão no mesmo plano (fig. 128).
- Cruzadas ou decussadas: cada par de folhas encontra-se em plano
perpendicular ou cruzado em relação ao par de folhas anterior (fig. 129).

b) Alternas: quando de cada nó nasce apenas uma folha. As folhas alternas


podem ser:
- Dísticas: todas as folhas nascem em um mesmo plano (fig. 130).
- Espiraladas ou helicoidais: as folhas inserem-se no ramo em posição
espiralada (fig. 131).

c) Verticiladas: tipo especial de filotaxia oposta, onde três ou mais folhas nascem
de casa nó, rodeando o ramo em ângulos praticamente uniformes entre si (fig. 132).

d) Fasciculadas: quando três ou mais folhas nascem de cada nó, mas agrupadas
em forma de feixe ou fascículo (fig. 133).

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e) Rosetadas ou rosuladas: quando as folhas, em virtude da proximidade dos


nós, surgem todas de um mesmo ponto, como no abacaxi, gravatá, tansagem (fig. 134).
f) Equitantes: quando as folhas são conduplicadas, as mais velhas envolvendo as
mais novas da mesma gema ou broto (fig. 135).

Fig. 128. oposta dística Fig. 129. oposta decussada

Fig. 130. alterna dística Fig. 131. alterna espiralada Fig. 132. verticilada

Fig. 133. fasciculadas Fig. 134. rosuladas Fig. 135. equitantes

OBS.: em plantas de hábito trepador a filotaxia é classificada apenas como OPOSTA ou


ALTERNA, sem necessidade de subdivisão.

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14 - PRESENÇA DE ESTÍPULAS: estípulas são apêndices laminares localizados na base


das folhas e que protegem as gemas axilares (estípula axilar) e/ou terminais (estípula
terminal). Podem ser persistentes ou decíduas (caducas). De acordo com a presença ou
não de estípulas podemos classificar uma planta como sendo:
1. Estipulada: planta que apresenta estípulas.
2. Exestipulada: planta que não apresenta estípulas.

No que tange a sua localização na base do pecíolo, as estípulas podem


apresentar-se de duas maneiras:
Estípulas intrapeciolares: estípulas localizadas entre o pecíolo e o eixo caulinar
(fig. 135a).
Estípulas interpeciolares: estípulas posicionadas entre os pecíolos de duas
folhas opostas. Ex.: Rubiaceae (fig. 135b).

Fig. 135a. estípulas intrapeciolares Fig. 135b. estípulas interpeciolares

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ADAPTAÇÕES DAS FOLHAS


As adaptações das folhas classificam-se de acordo com as funções por elas
realizadas:

1 – PROTEÇÃO
a) Pétalas e sépalas: são modificações foliares que integram o perianto, para
proteção dos órgãos reprodutores (androceu e gineceu) das flores.
b) Estípulas: são apêndices laminares localizados na base das folhas e que
protegem as gemas axilares. Podem ser persistentes ou decíduas (fig. 136).
c) Ócrea: estrutura resultante do crescimento de duas estípulas em ambos os
bordos, com o aspecto de uma bainha fechada. Caracteriza a família Polygonaceae (erva-
de-bicho, língua-de-vaca) (fig. 137).
d) Brácteas e bractéolas: são folhas modificadas que protegem uma flor ou uma
inflorescência (fig. 138).
e) Espinhos: estrutura de origem foliar, que não apresenta limbo e geralmente é
fortemente endurecida, reduzindo a evapotranspiração. Espinhos são sempre órgãos
modificados, portanto possuem vascularização, não devendo ser confundidos com
acúleos. Existem espinhos de origem caulinar (fig. 139).

Fig. 136 Fig. 137 Fig. 138 Fig. 139

2 – SUSTENTAÇÃO
a) Gavinhas: são modificações de todo o limbo (gavinha total) ou parte dele
(gavinha parcial) em filamentos que podem se enrolar como molas espirais. Existem
também gavinhas oriundas da modificação de inflorescências (fig. 140).

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Gavinha parcial

Gavinha total

Fig. 140. Gavinhas

3 – ABSORÇÃO
a) Ascídias: são folhas modificadas de plantas insetívoras que permitem capturar
e digerir pequenos insetos (fig. 141).

Fig. 141. Ascídias

4 – RESERVA
a) Catáfilos: folhas modificadas frequentemente escamiformes que formam os
bulbos e cormos (tipos de caule) que acumulam reservas. Além disso, os catáfilos podem
promover a proteção de gemas quiescentes (fig. 142).

b) Folhas crassas: acumulam substâncias de reserva, principalmente água. Tais


folhas, também são chamadas de suculentas, apresentam um espesso mesofilo aquoso
(fig. 143).

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Fig. 142. catáfilos Fig. 143. folhas crassas

5 – REPRODUÇÃO
a) Estames e carpelos: são modificações foliares que constituem o androceu e o
gineceu das Angiospermas (fig. 144).

b) Escamas estaminais e folhas carpelares: modificações foliares que


constituem o aparelho reprodutor das Gimnospermas.

estame carpelo

Fig. 144. Estames e carpelos

POLIFORMISMO FOLIAR
As folhas em uma planta, comumente podem variar muito quanto ao o seu
tamanho e forma, dentro deste contexto alguns conceitos são fundamentais:

A) HETEROBLASTIA: trata de uma mudança progressiva e natural na forma da folha que


ocorre em todas as plantas em algum momento do seu desenvolvimento.
B) HETEROFILIA: fenômeno no qual algumas plantas produzem folhas de formas e
tamanhos diferentes, no mesmo ramo ou na mesma planta.
C) ANISOFILIA: é uma condição de heterofilia em que as folhas de diferentes formas e
tamanhos encontram-se no mesmo nível (filotaxia oposta).

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IV – FLOR
Aparelho de reprodução sexuada das fanerógamas. As flores têm sua origem em
meristemas laterais axilares e são constituídas por até quatro verticilos (fig. 1):

CÁLICE: verticilo floral vegetativo que tem a função de proteção. É o verticilo mais
externo e usualmente envolve o botão em desenvolvimento, tem aspecto foliáceo. Cada
unidade do cálice é chamada de sépala.
COROLA: é o segundo verticilo vegetativo que é responsável pela atração dos
polinizadores, sendo, portanto, muito colorida e atrativa. Cada unidade da corola é
chamada de pétala.
ANDROCEU: verticilo floral reprodutivo, parte da flor que desempenha o papel
masculino da reprodução sexuada, onde cada unidade é chamada de estame e cada
estame divide-se em filete e antera. As anteras são constituídas, geralmente, de duas
partes chamadas tecas. O tecido vascularizado que une as teças de uma antera recebe o
nome de conectivo.
GINECEU: é quarto verticilo floral, também reprodutivo, desempenha o papel
feminino na reprodução sexuada. Cada unidade do gineceu é chamada de carpelo, que
podem estar livres ou fundidos entre si, formando o pistilo.

Os verticilos estão dispostos sobre um eixo, o receptáculo. Quando a flor é


solitária ou isolada, ela se liga ao caule através do pedicelo (quando não há pedicelo a
flor é chamada de séssil).

Fig. 1. Partes constituintes de uma flor

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A morfologia da flor é bastante variável entre as plantas, refletindo a especialização


no uso de diferentes polinizadores.

CLASSIFICAÇÃO DAS FLORES – PERIANTO


Perianto é termo que descreve os dois verticilos de proteção da flor, isto é, o cálice
e a corola. Uma flor pode ser completa, quando apresenta todos os verticilos florais ou
incompleta, quando falta algum.
Conforme o número de peças de cada verticilo, o perianto pode ser trímero
(verticilos em número de três ou múltiplos de três), tetrâmero, pentâmero, etc...

I - QUANTO À PRESENÇA DE VERTICILOS DE PROTEÇÃO (PERIANTO): perianto é


termo que descreve os dois verticilos vegetativos da flor, isto é, o cálice e a corola.
a) FLOR PERIANTADA: com cálice e/ou corola.
- MONOCLAMÍDEA: com apenas um dos verticilos, ou o cálice ou a corola
(fig. 2);

Fig. 2. Monoclamídea

- DICLAMÍDEA: com cálice e corola (fig. 3);


- Diclamídea Homoclamídea: com cálice e corola semelhantes
(neste caso chamamos o conjunto de perigônio), onde cada unidade do perigônio passa a
chamar-se de tépala (ex: maioria das monocotiledôneas) (fig. 4).

- Diclamídea Heteroclamídea: com cálice e corola distintos entre si


(ex: maioria das eudicotiledôneas) (fig. 5).

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Fig. 3. Diclamídea Fig. 4. Dicl. homoclamídea Fig. 5. Dicl. heteroclamídea

b) FLOR APERIANTADA OU ACLAMÍDEA: desprovida de perianto (fig. 6).

Fig. 6. Aclamídea

II – QUANTO À SOLDADURA DO CÁLICE:


a) Dialissépala: cálice com as sépalas livres entre si (fig. 7).
b) Gamossépalo: cálice com as sépalas soldadas (fig. 8).

Fig. 7. Dialissépala Fig. 8. Gamossépala

III – QUANTO À SOLDADURA DA COROLA:


a) Dialipétala: corola com as pétalas livres entre si (fig. 9).
b) Gamopétala: corola com as pétalas soldadas (fig. 10).

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Fig. 9. Dialipétala Fig. 10. Gamopétala

IV – QUANTO À SIMETRIA DA FLOR:


a) FLOR SIMÉTRICA: quando é possível traçar um plano de simetria que
permite dividir a flor em duas partes iguais. Uma flor simétrica pode ser:
- Actinomorfa (=radial): apresenta dois ou mais planos de simetria (fig. 11a).
- Zigomorfa (=bilateral): apresenta apenas um plano de simetria (fig. 11b).

b) FLOR ASSIMÉTRICA: flor na qual não é possível traçar um plano simétrico


passando pelo centro que seja capaz de dividi-la em duas partes idênticas (fig. 12).

Fig. 11a. Actinomorfa Fig. 11b. Zigomorfa Fig. 12. Assimétrica

V – QUANTO AO SEXO DA FLOR: no que tange a presença dos verticilos reprodutivos,


as flores podem ser:
a) UNISSEXUADAS: são aquelas flores que apresentam apenas um dos verticilos
reprodutivos. Uma flor unissexuada por ser:
- Estaminada ou masculina: é aquela que apresenta apenas o androceu
(estames).

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- Pistilada ou feminina: é aquela que apresenta apenas o gineceu


(carpelos).
B) BISSEXUADAS: flores que apresentam os dois verticilos reprodutivos,
androceu e gineceu.

CLASSIFICAÇÃO DAS FLORES – ANDROCEU


É o aparelho reprodutor masculino da flor, constituído por folhas modificadas
denominadas ESTAMES, que produzem os micrósporos, células que originam o
gametófito masculino (grão de pólen). Um estame é formado por (fig. 13):

- Antera: função de produzir os grãos de pólen é formada por duas tecas, cada
uma destas sendo constituída por dois sacos polínicos, onde são formados os grãos de
pólen;
- Conectivo: tecido vascularizado que une as tecas da antera;
- Filete: haste que sustenta a antera e que liga o estame ao receptáculo da flor;

antera

filete

Fig. 13. Partes constituintes do estame

I – QUANTO À CONCRESCÊNCIA (SOLDADURA) DOS ESTAMES:


a) Dialistêmones: apresenta estames livres entre si (fig. 14).
b) Gamostêmones: estames concrescidos pelos filetes ou anteras.
- Monadelfos: soldados pelos filetes em um só grupo, formando um tubo (fig.
15);
- Diadelfos: soldados pelos filetes em dois grupos (fig. 16);
- Sinânteros: estames soldados pelas anteras (Asteraceae) (fig. 17).

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Fig. 14. Fig. 15. Fig. 16. Fig. 17.

II – QUANTO AO NÚMERO DE ESTAMES EM RELAÇÃO AO NÚMERO DE PÉTALAS:


a) Isostêmones: número de estames é igual do número de pétalas da mesma flor;
b) Oligostêmones: número de estames é menor que o de pétalas;
c) Polistêmones: número de estames é maior que o número de pétalas;
d) Diplostêmones: número de estames é igual ao dobro de pétalas.

III – QUANTO AO TAMANHO RELATIVO DOS ESTAMES:


a) Isodínamos: estames de tamanhos iguais.
b) Heterodínamos ou anisodínamos: estames de diferentes tamanhos (fig. 18);
c) Didínamos: 4 estames, destes 2 são maiores e 2 menores ( Ex.: Bignoniaceae)
(fig. 19);
d) Tetradínamos: 6 estames, onde 4 são maiores e 2 menores (Ex.: Brassicaceae)
(fig. 20);

Fig. 18. Fig. 19. Fig. 20

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IV – QUANTO À INCLUSÃO DOS ESTAMES NA COROLA: este tipo de classificação só


ocorre em corolas gamopétalas.
a) Inclusos ou insertos: quando os estames estão totalmente escondidos dentro
do perianto tubular.
b) Exclusos ou exsertos: estames que se projetam para fora da corola tubulosa.

V – QUANTO À INSERÇÃO DOS ESTAMES (FILETE) NA FLOR:


a) No receptáculo: estames estão inseridos no receptáculo da flor;
b) No hipanto: estames estão inseridos no hipanto (estrutura originária do
receptáculo, em formato de cálice que reveste o ovário semi-ínfero ou ínfero) (fig. 21);
c) Epipétalos: estames inseridos na corola;
d) Epissépalos: estames inseridos no cálice (encontrados geralmente em flores
monoclamídeas);

hipanto

Fig. 21. Hipanto

VI – QUANTO AO PONTO DE INSERÇÃO DO FILETE NA ANTERA:


a) Anteras basifixas: inserção basal (fig. 22);
b) Anteras dorsifixas: inserção no dorso da antera, na parte mediana (fig. 23);
c) Anteras apifixas ou apicefixas: inserção no ápice da antera (fig. 24).

Fig. 22. Basifixas Fig. 23. Dorsifixas Fig. 24. Apicefixas

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VII – QUANTO AO TIPO DE DEISCÊNCIA DAS ANTERAS:


A deiscência é o termo utilizado para definir a abertura das anteras para a
liberação do pólen, podendo ser classificada em:
a) Deiscência rimosa: abertura através de uma longa fenda:
Rimosa longitudinal: quando a abertura se dá por uma fenda longitudinal
em cada teca (fig. 25);
Rimosa transversal: quando a abertura se dá por uma fenda trasnversal
em cada teca;
b) Deiscência poricida: abertura através de pequenos poros, geralmente
localizados no ápice das tecas (fig. 26);
c) Deiscência valvar: aberturas por valvas (janelas) em número variável em cada
teca (Lauraceae) (fig. 27).

Fig. 25. Longitudinal Fig. 26. Poricida Fig. 27. Valvar

VIII – QUANTO À ORIENTAÇÃO DA DEISCÊNCIA DAS ANTERAS:


a) Introrsa: aberturas da antera estão voltadas para o centro da flor, ou seja, para
os carpelos (fig. 28);
b) Extrorsa: aberturas da antera estão voltadas para fora, para as pétalas e não
em direção aos carpelos (fig. 29);
c) Latrorsa: abertura da antera se dá nas regiões laterais da teca (fig. 30).

Fig. 28. Introrsa Fig. 29. Extrorsa Fig. 30. Latrorsa

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IX – QUANTO AO NÚMERO DE TECAS DAS ANTERAS: teca é a unidade da antera


onde os grãos de pólen estão contidos, de acordo com o número de tecas presentes, a
antera pode ser classificada em:
a) Monoteca: antera provida de uma teca apenas;
b) Biteca: antera com duas tecas;
c) Tetrateca: antera com quatro tecas.

Outras nomenclaturas...

Estaminódio: estame modificado, estéril; não tem função de produção de grãos de pólen,
pode ser rudimentar ou vistoso (fig. 31).
Androginóforo: continuação cilíndrica do pedúnculo que eleva tanto o androceu quanto o
gineceu; encontrado na família Passifloraceae (fig. 32).
Andróforo: estrutura formada por numerosos filetes fundidos, sendo que por dentro deste
tubo formado pela união dos filetes, passa o gineceu. Pode ser encontrado em
representantes da família Malvaceae (fig. 33).
Polínia: grãos de pólen compactos numa massa coesa, aumentando a chance de uma
planta fecundar um grande número de óvulos em um único evento de polinização. Estas
estruturas podem ser encontradas na família Orchidaceae e Apocynaceae (fig. 34).

Fig. 31. Estaminódio Fig. 32. Androginóforo Fig. 33. Andróforo

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polínias

polinário

Fig. 34. Polínias

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CLASSIFICAÇÃO DAS FLORES – GINECEU


É o aparelho reprodutor feminino da flor, constituído por folhas modificadas
denominadas CARPELOS. O gineceu pode ser formado por um ou mais carpelos e a
unidade constituída pela soldadura de um ou mais carpelos é chamada pistilo. Um pistilo
é formado por (fig. 35):
- Ovário: região basal ou sub-basal do pistilo, usualmente dilatada, dentro dos
quais se desenvolvem os óvulos ou rudimentos seminais. Normalmente, o ovário
desenvolve-se no fruto após a polinização e fecundação.
- Estilete: região intermediária entre o ovário e a região que recebe os grãos de
pólen (estigma). Pode ser muito reduzida ou até mesmo ausente.
- Estigma: porção distal de um pistilo que é responsável pela recepção dos grãos
de pólen trazidos pelo agente polinizador.

estigma

estilete

ovário

Fig. 35. Partes constituintes do pistilo

I – QUANTO AO NÚMERO DE CARPELOS:


a) Gineceu unicarpelar ou monômero: formado por um único carpelo, resultante
ou não do aborto de carpelos do gineceu apocárpico;
b) Gineceu pluricarpelar: formado por dois ou mais carpelos.

II – QUANTO A UNIÃO DOS CARPELOS (TIPOS DE GINECEU): no que tange a união


dos carpelos num gineceu pluricarpelar podemos ter dois tipos de gineceu:

b.1) Dialicarpelar ou apocárpico: dois ou mais carpelos livres entre si


dispostos sobre o receptáculo floral ou envolvido por ele, existindo tantos pistilos quantos
forem os carpelos. É o tipo mais primitivo de gineceu (fig. 36).

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b.2) Gamocarpelar ou sincárpico: dois ou mais carpelos concrescidos


entre si, formando apenas um pistilo (fig. 37).
Um gineceu gamocarpelar pode ter um ou vários lóculos, neste
sentido ele pode ser classificado em:
- Gineceu unilocular: os carpelos soldam-se de modo que o ovário
apresente uma única cavidade interna (lóculo). Pode originar-se de um gineceu unilocular
ou de um gineceu plurilocular sem septos (fig. 38).
- Gineceu plurilocular: os carpelos soldam-se mantendo as paredes
ou septos separatórios entre si, formando várias cavidades (lóculos) no ovário (fig. 39).

Fig. 36. Apocárpico Fig. 37. Sincárpico

Fig. 38. Unicarpelar, unilocular Fig. 39. Pluricarpelar, plurilocular

III – QUANTO À INSERÇÃO DO ESTILETE NO OVÁRIO:


a) Terminal ou apical: inserção do estilete se dá no ápice do ovário (fig. 40);
b) Lateral: inserção se dá lateralmente (fig. 41);
c) Ginobásico ou basal: estilete se insere na base do ovário (algumas
Verbenaceae e Lamiaceae) (fig. 42).
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Fig. 40. Terminal Fig. 41. Lateral Fig. 42. Ginobásico

IV – QUANTO À POSIÇÃO DO OVÁRIO: de acordo com a posição relativa em relação


aos demais verticilos, um ovário pode ser:
a) Súpero: quando as demais peças florais estão inseridas abaixo do ovário.
Representa o ovário de uma flor hipógina (fig. 43).
b) Ínfero: quando as demais peças florais estão inseridas em um receptáculo
côncavo, completamente concrescido neste ovário em todo o seu comprimento.
Representa o ovário de uma flor epígina (fig. 44).
c) Semi-ínfero: neste caso o receptáculo é escavado, usualmente livre, com os
verticilos vegetativos inseridos na altura da metade do ovário. Neste caso, o ovário está
apenas parcialmente aderido pelo receptáculo. Representa o ovário de uma flor perígina
(fig. 45).

V – QUANTO À FLOR EM RELAÇÃO À POSIÇÃO DO OVÁRIO:


a) Hipógina: flor com peças florais inseridas abaixo do ovário, ou seja, em um
receptáculo plano ou convexo. Neste caso a flor é portadora de um ovário súpero (fig.
43).
b) Epígina: quando as peças florais estão inseridas em um receptáculo
côncavo, completamente concrescido com o ovário em todo o seu comprimento. A flor
epígina possui um ovário ínfero (fig. 44).
c) Perígina: quando as peças florais estão inseridas em um receptáculo
côncavo, que pode deixar o ovário livre ou estar concrescido a ele até a metade de seu
comprimento. Neste caso o ovário é semi-ínfero (fig. 45).

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Fig. 43. Flor hipógina Fig. 44. Flor epígina Fig. 45. Flor perígina
ovário súpero ovário ínfero ovário semi-ínfero

VI – QUANTO À PLACENTAÇÃO: forma nas quais os óvulos ou rudimentos seminais e


suas respectivas placentas podem estar inseridas na parede interna do ovário.
a) Parietal: tipo de placentação onde os óvulos estão inseridos na parede do
ovário (fig. 46).
b) Axial: os óvulos estão presos ao longo das margens dos carpelos (fig. 47).
c) Central: os óvulos estão presos no eixo central em uma flor que perdeu os
septos, de forma que a placenta é representada por uma estrutura colunar (fig. 48).
d) Basal ou ereta: onde um ou mais óvulos encontram-se inseridos na base do
ovário ou muito próximo dela (fig. 49).
e) Pêndula ou apical: quando o óvulo é inserido na porção superior do lóculo que
se posiciona apicalmente (fig. 50).

Fig. 46. Parietal Fig. 47. Axial Fig. 48. Central

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Fig. 49. Basal ou ereta Fig. 50. Pêndula ou apical

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V – INFLORESCÊNCIA

Eixo caulinar que produz principalmente flores ao longo de ser comprimento, ou


seja, é a reunião de duas ou mais flores sustentadas por um pedúnculo. A morfologia de
inflorescência é extremamente variável e pode apresentar padrões bastante intrincados.
Principais partes de uma inflorescência:
• Pedúnculo: eixo que porta a inflorescência;
• Pedicelo: eixo individual que porta cada flor;
• Ráquis ou raque floral: eixo principal de uma inflorescência;
• Ráquila: eixo secundário em uma inflorescência.
• Bráctea ou ferófilo: folha modificada em cuja axila nasce uma flor ou uma
inflorescência;
• Bractéola ou prófilo: brácteas menores que guarnecem uma única unidade
floral.

pedicelo

ráquis floral
ráquila

pedúnculo

As inflorescências se dividem em dois grandes grupos, as racemosas e as


cimosas.

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1) INFLORESCÊNCIAS RACEMOSAS ou INDEFINIDAS: quando o eixo central é mais


desenvolvido que os laterais e tem crescimento indefinido, terminando por uma gema. As
flores, neste tipo de inflorescência, se abrem de baixo para cima ou de fora para dentro.
Tipos de inflorescências racemosas:
a) Racemo ou cacho: com flores pediceladas, dispostas em níveis diferentes do
ramo principal, atingindo diversas alturas (fig. 1).
b) Espiga: com flores sésseis saindo em toda a extensão de um eixo principal. As
flores de uma espiga são frequentemente guarnecidas de bractéolas (prófilos) (fig. 2).
c) Amento: variação de espiga em que o eixo principal é flexível pendente e em
geral apresenta flores unissexuais e aclamídeas (fig. 3).
d) Espádice: variação de espiga onde a ráquis é carnosa e envolvida por uma
grande bráctea (ferófilo) chamada de espata (fig. 4).
e) Capítulo: inflorescência densamente condensada, discóide ou arredondada,
com flores sésseis. É uma espiga onde o pedúnculo é curto e largo formando um
receptáculo onde se inserem as flores. O capitulo é guarnecido por brácteas estéreis
(periclínio) que dão sustentação à inflorescência. Inflorescência exclusiva da família
Asteraceae (fig. 5).
f) Umbela: flores pediceladas inseridas no mesmo ponto do eixo principal,
atingindo uma altura aproximadamente igual (fig. 6).
g) Corimbo: tipo de racemo onde as flores pediceladas saem de pontos diferentes
do eixo principal, mas atingem a mesma altura (fig. 7).
h) Panícula: termo que designa um racemo composto, ou seja, um racemo de
racemos, onde no lugar das flores no eixo principal saem racemos menores (fig. 8).
i) Tirso: inflorescência composta em que os ramos laterais diminuem do meio para
as extremidades, assumindo um aspecto fusiforme (fig. 9).

Fig. 1. Racemo Fig. 2. Espiga Fig. 3. Amento Fig. 4. Espádice

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Fig. 5. Capítulo Fig. 6. Umbela Fig. 7. Corimbo

Fig. 8. Panícula Fig. 9. Tirso

2) INFLORESCÊNCIAS CIMOSAS ou DEFINIDAS: quando o eixo principal tem


crescimento definido, terminando em uma flor que é a primeira a se abrir. Ainda que o
eixo seja determinado ou definido, outras flores podem surgir da axila do prófilo e este
processo pode ser repetido indefinidamente. As flores, neste tipo de inflorescência, se
abrem de cima para baixo ou de dentro para fora. Tipos de inflorescências cimosas:
a) Glomérulo: as flores estão inseridas bem próximas umas das outras dando um
aspecto globoso à inflorescência (fig. 10).
b) Dicásio ou cima bípara: sob a flor terminal do eixo principal, partem dois eixos
secundários opostos, também terminados por uma flor, os quais podem igualmente
originar dois outros, e assim sucessivamente (fig. 11).
c) Monocásio ou cima unípara: quando abaixo do eixo principal terminado por
uma flor, forma-se apenas um eixo secundário lateral, também terminado por flor, e assim
sucessivamente. Neste caso podemos ter dois tipos de monocásios:

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c.1.) Monocásio ou cimeira escorpióide: os eixos secundários saem sempre


do mesmo lado fazendo com que a inflorescência se curve como a cauda de um
escorpião (fig. 12).
c.2.) Monocásio ou cimeira helicóide: os eixos secundários saem de um lado
e de outro, alternadamente (fig. 13).

d) Pleiocásio ou cima multípara: quando, da região abaixo da flor terminal,


surgem mais de três ramos laterais, que por sua vez, também produzem uma flor apical e
o mesmo número de ramos laterais (fig. 14).

e) Verticilastro ou verticiláster: as cimeiras surgem da axila de folhas opostas,


são bastante densas e usualmente sésseis dando um aspecto falsamente verticilado às
flores (fig. 15).

Fig. 10. Glomérulo Fig. 11. Dicásio composto Fig. 12. Monocásio escorpióide

Fig. 13. Monocásio helicóide Fig. 14. Pleiocásio Fig. 15. Verticiláster

Outros tipos de inflorescências:

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SICÔNIO: inflorescência de receptáculo côncavo e carnoso, com flores unissexuais


e diminutas na parte interna. Na maioria das vezes, o acesso a essas flores se faz
somente por um pequeno poro chamado ostíolo. Este tipo de inflorescência é típica da
família Moraceae (fig. 16).
CIÁTIO: inflorescência formada por uma flor feminina, aclamídea, pedicelada
rodeada por várias flores masculinas, constituídas por um único estame. Todo este
conjunto é envolvido por um invólucro de brácteas. O ciátio é encontrado nos
representantes da família Euphorbiaceae (fig. 17).

ostíolo

Fig. 16. Sicônio

Fig. 17. Ciátio

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VI – FRUTO

É a estrutura que representa o último estádio do desenvolvimento do gineceu


fecundado ou partenocárpico (desenvolvimento do fruto sem que haja fecundação)
acompanhado ou não de outras partes florais. Compreende o PERICARPO e as
SEMENTES. O pericarpo nada mais é que a parede do fruto, e este é composto por três
camadas (fig. 1):

- EPICARPO: é a camada mais externa do fruto proveniente da epiderme externa


da parede ovariana. Pode adquirir cores e texturas bastante distintas.
- MESOCARPO: é originário da proliferação do tecido fundamental da parede do
ovário, posicionando-se entre o epicarpo e o endocarpo. Pode tornar-se esponjoso,
fibroso ou esclerificado na maturação.
- ENDOCARPO: é o tecido que reveste a cavidade do lóculo. É originário da
proliferação da parede interna do ovário, incluindo tricomas. Em alguns frutos pode tornar-
se lenhoso.

mesocarpo

endocarpo

epicarpo

Fig. 1. Pericarpo

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CLASSIFICAÇÃO DOS FRUTOS


Os frutos podem obedecer a diferentes tipos de classificação, dependendo da
característica que se leva em consideração.

1) FRUTOS SIMPLES: frutos originários de um único ovário de uma única flor.

2) FRUTOS COMPOSTOS: várias flores unem-se na maturação para formar uma única
estrutura, tratada como uma “fruta” única. São infrutescências oriundas da concrescência
dos ovários das flores de uma inflorescência (fig. 2). Ex.: abacaxi, figo.

3) FRUTOS MÚLTIPLOS: são frutos originários do desenvolvimento de um gineceu


apocárpico de uma única flor, onde cada carpelo constitui uma unidade chamada frutículo
ou frutíolo (fig. 3). Ex.: morango, framboesa.

frutíolo

Fig. 2. Fruto composto (figo) Fig. 3. Fruto múltiplo

4) FRUTOS SECOS: apresentam pericarpo seco.


5) FRUTOS CARNOSOS: apresentam pericarpo carnoso, suculento e espesso.

6) DEISCENTES: são aqueles frutos que se abrem na maturação para a liberação de


suas sementes.
7) INDEISCENTES: são os frutos que não se abrem quando maduros, não liberando,
portanto, suas sementes.

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8) MONOCARPELARES: são frutos provenientes de um ovário com apenas um carpelo.


9) PLURICARPELARES: provenientes de ovários com dois ou mais carpelos.
- Apocárpico: originado de dois ou mais ovários livres em uma única flor;
- Sincárpico: originado de duas ou mais folhas carpelares fundidas em ovário
único.

10) MONOSPÉRMICOS: com apenas uma semente.


11) POLISPÉRMICOS: mais de uma semente.

TIPOS DE FRUTOS:
A) Folículo: fruto mono ou polispérmico originado de um ovário súpero, cuja
deiscência se dá pela separação dos bordos carpelares, por apenas, uma fenda
longitudinal (fig. 4);
B) Legume: fruto poli ou monospérmico originado de um ovário súpero, cuja
deiscência se dá por duas fendas longitudinais, deiscente no ponto de junção das bordas
do carpelo e na região dorsal, sobre a nervura mediana, formando duas valvas (fig. 5).
Fruto básico da família Fabaceae.

Fig. 4. Folículo Fig. 5. Legume

C) Síliqua: fruto originado de ovário súpero, sincárpico, bicarpelar que, na


maturação, através de 4 deiscências longitudinais, separa-se em duas valvas a partir da
base do fruto em direção ao ápice. O septo mediano fica intacto e é conhecido como
replum ou replo, que é uma estrutura em forma de moldura onde se prendem as
sementes (fig. 6);

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replum ou
replo

Fig. 6. Síliqua

D) Cápsula: fruto originado de ovário súpero ou ínfero, sincárpico, formado por


dois ou mais carpelos, polispérmico. De acordo com a deiscência, as cápsulas podem ser
divididas em:
d.1) Cápsula loculicida: caracteriza-se pela deiscência ao longo da nervura
média, no dorso do carpelo, formando tantas valvas quantos forem os carpelos (fig. 7);
d.2) Cápsula septífraga: caracteriza-se pela deiscência sobre os septos, ao
longo do dobramento dos carpelos, mantendo a parte interna dos septos (placenta)
intacta (fig. 8);
d.3) Cápsula septicida: deiscência ocorre na junção dos carpelos, isolando
cada lóculo (fig. 9);
d.4) Cápsula poricida: a deiscência ocorre através de pequenos orifícios ou
poros (fig. 10);
d.5) Cápsula denticida: deiscência ocorre através de fendas por dentes
apicais (fig. 11);
d.6) Cápsula circunscisa ou pixídio: caracteriza-se pela deiscência
transversal, que divide o fruto em duas porções distintas, o opérculo (tampa apical) e a
urna (restante do fruto) (fig. 12).

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Fig. 7. Loculicida Fig. 8. Septífraga Fig. 9. Septicida

opérculo

urna

Fig. 10. Poricida Fig. 11. Denticida Fig. 12. Circuncisa

E) Aquênio: fruto originado de ovário ínfero, bicarpelar, mono ou sincárpico, cuja


semente prende-se ao endocarpo por apenas um ponto (fig. 13);
F) Cariopse: fruto sincárpico onde a semente prende-se ao endocarpo em toda
sua extensão. É o fruto típico das Poaceae (fig. 14);
G) Sâmara: monocarpelar ou pseudomonocarpelar por atrofia de um carpelo,
ovário súpero, com o pericarpo expandido em forma de asa (fruto alado) (fig.15);
H) Noz: fruto originado de um ovário ínfero ou semi-ínfero apresentando pericarpo
lenhoso (fig. 16).

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Fig. 13. Aquênio Fig. 14. Cariopse Fig. 15. Sâmara Fig. 16. Noz

I) Esquizocarpo: com dois ou mais carpelos que se dividem longitudinalmente,


separando-se na maturação e atuando como unidades de dispersão (fig. 17);
J) Bacóide: oriundo de ovário sincárpico, polispérmico. Fruto com pericarpo
carnoso, sendo geralmente pluricarpelar e polispérmico, mas podendo ser unicarpelar e
monospérmico. Existem alguns subtipos de frutos bacóides (fig. 18):
- Hesperídio: originário de um ovário súpero apresenta epicarpo mais ou
menos delgado, mesocarpo esponjoso e endocarpo membranáceo, dividido em gomos e
revestido de tricomas sucosos na porção interna. Caracteriza os frutos do gênero Citrus
(Rutaceae) (fig. 19);
- Peponídeo: originário de ovário ínfero, com placentação parietal, com três
placentas bifurcadas que avançam para o espaço central. Pericarpo carnoso e sementes
embebidas em polpa sucosa. Caracteriza espécies do gênero Cucumis (Cucurbitaceae)
(fig. 20);
K) Drupa: fruto monospérmico do tipo drupóide, que apresenta o endocarpo
coriáceo ou lenhoso, o qual envolve a semente, constituindo o caroço ou pirênio (fig. 21);
L) Pomídio (Pomo): fruto originário de um ovário ínfero, onde o pericarpo torna-se
coriáceo e é envolvido pelo receptáculo carnoso. O receptáculo, neste caso, é a estrutura
comestível no fruto (fig. 22). Ex: maçã.

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Fig. 17. Esquizocarpo Fig. 18. Bacóide Fig. 19. Hesperídio

epicarpo

mesocarpo

endocarpo
com pirênio
sementes

Fig. 20. Peponídeo Fig. 21. Drupas

receptáculo
pericarpo

semente

Fig. 22. Pomídio

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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