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LINGUÍSTICA

PARA O ENSINO SUPERIOR 6

SEMÂNTICA
CELSO FERRAREZI JR.
Sumário

Primeiras palavras........................................................................................................................9

Apresentação.................................................................................................................................. 11

CAPÍTULO 1 – Semântica como ciência............................................................................ 15


1.1. Objeto, objetivo e método................................................................................................. 20
1.2. Metalinguagem nos estudos semânticos................................................................... 23
1.3. Relação entre semântica, pragmática e semiótica................................................. 39

CAPÍTULO 2 – Conceitos básicos............................................................................................. 43


2.1. A questão da sinalidade: o signo e o triângulo semiótico................................... 43
2.2. Outras questões de sinalidade: prosódia, ordem e linguagem não verbal.. 47
2.3. Significado e sentido........................................................................................................... 50
2.4. Sentido geral e representação........................................................................................ 56
2.5. Referenciação, especialização do sentido e extensão do significado............. 60
2.6. Composicionalidade e expressividade........................................................................ 64
2.7. Valor de verdade: verdade, falsidade, mentira e não procedência................. 67
2.8. Mundos possíveis................................................................................................................. 71
2.9. Predicação............................................................................................................................... 72
2.10. Sentença e enunciado......................................................................................................... 74
2.11. Pressuposição, acarretamento, implicatura............................................................. 76
2.12. Literalidade e figuratividade: denotação e conotação......................................... 81
2.13. Escopo....................................................................................................................................... 84

CAPÍTULO 3 – Os fenômenos semânticos mais estudados............................. 89


3.1. Sinonímia e paráfrase........................................................................................................ 89
3.2. Polissemia e paráfrase....................................................................................................... 93

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SEMÂNTICA • Celso Ferrarezi Jr.
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3.3. Antonímia e contradição................................................................................................... 95
3.4. Hiponímia e hiperonímia............................................................................................... 102
3.5. Ambiguidade....................................................................................................................... 103
3.6. Vagueza................................................................................................................................. 107
3.7. Nomeação............................................................................................................................. 111
3.8. Expressões idiomáticas.................................................................................................. 114
3.9. Negação................................................................................................................................. 118
3.10. Interrogação........................................................................................................................ 119
3.11. Restrição e explicação — efeitos na extensão do significado........................ 125
3.12. Metáfora e metonímia..................................................................................................... 133

CAPÍTULO 4 – Aspectos semânticos da descrição de línguas naturais.. 143


4.1. Dêixis...................................................................................................................................... 143
4.2. Tempo, modo, modalidade e aspecto....................................................................... 145
4.3. Casos sintáticos e papéis temáticos.......................................................................... 156
4.4. Cinésica dos eventos........................................................................................................ 160
4.5. Prototipia.............................................................................................................................. 164
4.6. Categorização gramatical, categorização cultural e classificadores........... 166
4.7. Gramaticalização de traços semânticos.................................................................. 169
4.8. Tradução............................................................................................................................... 174

CAPÍTULO 5 – Para saber mais............................................................................................ 179


5.1. Capítulo 1............................................................................................................................. 180
5.2. Capítulo 2............................................................................................................................. 181
5.3. Capítulo 3............................................................................................................................. 182
5.4. Capítulo 4............................................................................................................................. 183

Conclusão.......................................................................................................................................... 185

Referências..................................................................................................................................... 187
Primeiras palavras

Uma das principais missões da Associação Brasileira de Linguística [ABRALIN]


é divulgar o conhecimento da área em camadas cada vez mais amplas da po-
pulação, tentando se fazer presente na sociedade como agente de educação
completo, não apenas como órgão de debates acadêmicos internos.
Essa missão tem se realizado pelo recurso a instrumentos e canais variados,
mediante iniciativas de diferentes naturezas, entre as quais a promoção de
redes internacionais, a produção de eventos em sedes tradicionalmente
afastadas dos principais centros acadêmicos, o uso de mídia alternativa ao
texto escrito para popularizar as diferentes disciplinas da área e um empe-
nho social articulado com outras instâncias acadêmico-sociais.
A Coleção Linguística para o ensino superior, da Parábola Editorial, editada
por Tommaso Raso e Celso Ferrarezi, apresenta-se como uma iniciativa am-
pla, especificamente pensada para oferecer aos alunos do ensino superior
um quadro completo das disciplinas linguísticas, com um olhar para o pa-
norama internacional da área e meios de divulgação adequados aos nossos
tempos. Por essa razão, a coleção tem a chancela da ABRALIN.
Faltava ao panorama editorial e educacional do país um instrumento
como este, capaz de aproximar ainda mais o Brasil do padrão vigente em
meios universitários internacionais. A ABRALIN, sempre atenta aos meios
necessários para o fortalecimento da área no País, sem nunca perder de
vista o compromisso com a qualidade, apoia e parabeniza a iniciativa da
Parábola Editorial.
Miguel Oliveira Jr.
Presidente da ABRALIN

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CAPÍTULO
1
Semântica
como ciência

A linguística é uma ciência consolidada e se espera o mesmo rigor


científico de todas as suas subdivisões, guardadas as devidas pecu-
liaridades. A semântica é tradicionalmente definida como a subdivi-
são da linguística que estuda o significado. Porém, muitas vertentes
e formas de estudo bastante diferentes recebem hoje o nome de “se-
mântica”. Saber do que se está falando ao dizer que se está estudan-
do “semântica” é um passo fundamental. Por isso, nesta introdução
à disciplina, conheceremos um pouco da história da linguística com
foco no que concerne à semântica.
Como a semântica é uma das menos estudadas subdivisões da lin-
guística na nossa educação básica, a maioria dos alunos chega à gra-
duação sem ter ideia do que é ela, do que trata. Muito menos, sabem
de onde ela “veio”, as formas como se apresenta. Considerando isso,
é necessário usar um pouco do nosso espaço para conhecer essa his-
tória, saber até onde os cientistas chegaram nos estudos semânticos,
para nos localizar no tempo e nos acontecimentos.
Quem forjou o termo “semântica” foi o linguista francês Michel
Bréal, no fim do século XIX, antes ainda da ascensão das ideias de
Saussure. Bréal também fez as primeiras incursões bem-sucedidas
na organização de fatos semânticos relevantes e na demonstração
da importância de seu estudo para a compreensão das línguas na-
turais, no propósito de a semântica vir a ter cadeira cativa entre os
estudos linguísticos europeus. Contudo, foi apenas depois que Saus-
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sure e suas ideias influentes sobre o signo linguístico se tornaram
conhecidos na Europa que a semântica recebeu o devido espaço en-
tre os estudos linguísticos.
Mesmo assim, nas primeiras décadas do árduo processo de cons-
trução da linguística como ciência, a semântica não teve posição de
destaque. Isso talvez se deva ao fato de que a missão que Saussure,
como fundador da linguística moderna, estabeleceu para a linguísti-
ca tivesse, à primeira vista, pouco a ver com a dimensão semântica
das línguas. A proposição que aparece no Curso de linguística geral é
que, aos linguistas, caberia estudar todas as estruturas gramaticais
de todas as línguas do mundo, compará-las e, com isso, verificar o
que havia de comum e de peculiar entre elas. Isso, já naquela época,
apontava para a ideia de pesquisar aspectos gramaticais de cunho
“universal”, uma espécie de “base comum” possivelmente existente
em todas as línguas. Passados mais de cem anos e mesmo com toda a
tecnologia de que atualmente dispomos, ainda estamos longe desse
ousado objetivo. Tal desejo apontava mais para a estrutura grama-
tical (para os aspectos fonético-fonológicos e morfossintáticos) das
línguas em si do que para questões de ordem semântica, até porque,
naquela época, a dimensão semântica das línguas desfrutava de pou-
co prestígio quando comparada às questões estruturais.
Ferdinand de Saussure, a quem se atribuem as ideias contidas no
livro póstumo Curso de linguística geral, teve como um de seus mui-
tos méritos ter organizado os conhecimentos teóricos dos estudos
linguísticos até então existentes e estabelecido sistematicamente
seu status como disciplina independente, de onde ele ser tradicio-
nalmente chamado “o pai da linguística moderna”. Saussure foi além
disso, com ideias originais para sua época e fundamentais até hoje,
mas aqui, vamos nos deter um pouco sobre o Curso (vale lembrar
que a primeira edição do Curso de linguística geral data de 1916. Uso
a edição brasileira de 1989.).
No Curso, ficava claro que a linguística deveria se importar com todas
as formas de linguagem humana, mas principalmente, com a forma
falada das línguas naturais. Havia uma grande preocupação com a
“forma natural” utilizada pelas pessoas para se comunicar. Vejamos:
A matéria da linguística é constituída inicialmente por todas as mani-
festações da linguagem humana, quer se trate de povos selvagens ou
de nações civilizadas, de épocas arcaicas, clássicas ou de decadência,
considerando-se em cada período não só a linguagem correta e a “bela
linguagem”, mas todas as formas de expressão (Saussure, 1989, p. 13).

Mas embora Saussure se preocupasse com a dimensão comunicati-


va das línguas naturais, seus olhos de cientista olhavam mais para
a estrutura das línguas do que para qualquer outra dimensão. Essa
estrutura, a seu ver, era a chave para a reconstrução das línguas an-
tigas, pois seria nessa estrutura que estariam as “leis” que regem to-
das as línguas.
Segundo o Curso, organizado pelos linguistas Charles Bally e Albert
Sechehaye, alunos de Saussure, se o homem fosse capaz de conhecer
todas as leis que regem todas as línguas, seria capaz de comparar
tudo isso e descobrir o que existe de universal, o que funciona em
todas as línguas, o que há de comum entre elas, chegando a, quem
sabe, descobrir se existiu uma língua-mãe primordial. Sobre isso, o
Curso declara:

A tarefa da linguística será:


(a) fazer a descrição e a história de todas as línguas que puder
abranger, o que quer dizer: fazer a história das famílias de lín-
guas e reconstituir, na medida do possível, as línguas-mães de
cada família;
(b) procurar as forças que estão em jogo, de modo permanente e uni-
versal, em todas as línguas e deduzir as leis gerais às quais se
possam referir todos os fenômenos peculiares da história;
(c) delimitar-se e definir-se a si própria (Saussure, 1989, p. 13).

Devido à grande influência das ideias de Saussure nos primórdios da


linguística, a maioria dos pesquisadores passou a buscar apenas co-
nhecer a história e a estrutura das línguas que descreviam, estudar a
gramática dessas línguas, esquecendo terem elas uma dimensão social,
uma dimensão cultural, uma dimensão ideológica etc., esquecendo
que, além disso tudo, uma língua só funciona se seus usuários forem
capazes de atribuir sentido àquilo que a gramática permitiu construir.
A tradição de estudar a gramática acabou se concretizando na forma
de uma escola conhecida como estruturalismo linguístico, em que a

Semântica como ciência


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­dimensão semântica da língua não tinha muita relevância. Na Europa,
o estruturalismo é muito forte até hoje. Lá não é incomum ver estudio-
sos mais preocupados com a “gramática” da língua, ou seja, com a di-
mensão estrutural, deixando num nível inferior a dimensão semântica.
A despeito disso, foi na Europa que a semântica se desenvolveu no
A despeito de sua importância
pós-2ª Guerra Mundial. Nospilar, a semântica
Estados é uma
Unidos, até ilustre desconhe-
o advento das ideias
cidagerativistas
na educação lançadas ao mundoPor
básica brasileira. porisso,
Noam Chomsky,
grande parteados
semântica era
alunos que
comumente
adentram desprezada
os cursos por
de letras ougrande partenodos
linguística estudiosos.
Brasil desconhece quase
Para Chomsky,
totalmente a área.os estudos
Alguns linguísticos
se lembram dedeveriam
ter ouvidoir falar
além sobre
da estrutura
sinôni-
mosem si e tinham mas
e antônimos, como “missão”
pouco alémexplicar como
disso. Os maisos seres humanos
agraciados são
pela esco-
capazes de gerar estruturas linguísticas em suas mentes. Chomsky
la também ouviram falar de metáfora e metonímia, mas ainda acham
foi o precursor do gerativismo, importante corrente do pensamen-
isso coisa lá da literatura. Enfim, há um grande caminho a percorrer se
to linguístico fundada a partir da década de 1950 (a primeira obra
quisermos dar aos
significativa conhecimentos
sobre o gerativismosemânticos o lugar
data de 1957) nos onde realmente
Estados Unidos,
devem estar: no cerne
em oposição dos estudos linguísticos
ao estruturalismo em todos
bloomfieldiano. os níveis.
Chomsky adotou a
ideia do inatismo como fundamental para sua teoria, quer dizer, a
Felizmente, a semântica vem ganhando importância no campo da pes-
ideia de que temos todos algum tipo de dispositivo inato no cérebro
quisa e do ensino superior brasileiros. Novas vertentes começam a sus-
que nos permite aprender línguas e compreender significados. Esses
tentar grupos deé pesquisa
significados que moveme projetos relevantes, inclusive,
nosso pensamento de deles
e é através descrição
que
de línguas naturais.
entendemos as coisas que nos dizem e somos capazes de atribuir
valor semântico ao que dizemos.
Este livro é um subsídio nessa direção. Ao apresentar um panorama
As ideias
amplo de Chomsky
e acessível rapidamente
aos graduandos se tornaram
em letras referência
ou linguística (ou, mundial
simples-
na área dos estudos linguísticos. Como a mais básica delas era: a
mente, aos interessados nos estudos linguísticos), ele ajudará o leitor
capacidade humana da linguagem é inata, isso o aproximou de es-
iniciante em semântica a enxergar a importância dessa área de estudos
tudiosos da cognição e da neurologia. O gerativismo veio a defen-
quando o assunto é compreender
der, diferentemente o que são e como
de alguns cognitivistas funcionam
importantes, comoaspor
lín-
guasexemplo,
humanas.Jean Piaget, que a mente humana é modularmente organi-
zada, de forma que os processos de produção da língua passam por
“módulos”, ideia mais claramente apresentada por J. Fodor (cf. Fodor,
1983) e, posteriormente, bem acolhida entre muitos psicólogos cog-
nitivistas modernos. Nessa concepção modular, o princípio de tudo
em uma língua é um estrato conhecido como estrutura profunda. A
estrutura profunda corresponde a uma fase inicial do pensamento
humano em que ainda não temos frases linguísticas prontas, ou seja,
antes de nosso pensamento se transformar em frases da língua. Por-

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