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GRCES Império de Charitas 2022

Império canta o Império: O bicentenário da Independência do Brasil

Carnavalesco: Eliezer Rodrigues


Pesquisa e enredo: João Perigo e Eliezer Rodrigues

JUSTIFICATIVA

Como esquecer os clarins retumbantes, os sinos badalando e as salvas de canhões


por toda a cidade? O desvairado regente fez-se imperador contra as ordens portuguesas,
uniu um país menino sob o fio de sua espada, reluzente sobre o riacho. A farda de gala
unia-se às brancas crinas de alazões, testemunhas ocultas do grito que ecoou
estremecendo a serra ao libertar a nação. Brado que guiou as mãos do francês ao criar
nosso símbolo maior, com o verde das matas, o amarelo do ouro e o azul do céu. Se essa é
a história que te contaram na escola, lamento informar... As coisas não foram bem assim.
Hoje o Império de Charitas vem cantar a história não contada do bicentenário da
independência do Brasil.

RESUMO HISTÓRICO

A primeira década do século XIX foi intensamente marcada na Europa pela


expansão Napoleônica. Com Portugal não haveria de ser diferente. Os imbróglios,
franco-ingleses levaram os lusitanos ao limite, culminando na fuga da corte real da Europa
para seus domínios ultramarinos.
Entre os milhares de fugitivos encontrava-se um de nossos personagens principais,
o príncipe Pedro, filho do então regente do trono português, d. João. Ainda jovem, com
apenas 10 anos, aportou no Brasil com sua família, estabelecendo-se na cidade do Rio de
Janeiro, que futuramente se tornaria a capital de todo Reino Unido.
Anos depois, após a derrocada do imperador francês, as pressões para o retorno do,
já aclamado, Rei d. João VI se intensificaram. Porém, o monarca, temendo restrições a sua
autonomia, postergou enquanto pôde o reencontro com sua terra natal.
Nesse ínterim, começaram as buscas por uma esposa para o sucessor do trono, o
príncipe Pedro. As buscas por damas de linhagens nobres e de educação ímpar encontrou
na arquiduquesa Austríaca a candidata perfeita. O marquês de Marialva, homem de
confiança da coroa, foi o responsável pelos arranjos e presentes relacionados ao
casamento. Dentre o que foi enviado à noiva constava um riquíssimo medalhão ornado com
um retrato de seu pretendente, pelo qual de pronto se apaixonou. Não se pouparam
esforços para a realização da cerimônia, que mesmo efetuada por procuração, mostrou
requinte e opulência nunca antes vista pela nobreza do velho mundo.
Após ceder às pressões e retornar a Portugal, d. João deixa como regente do
Brasil seu filho Pedro. Ao partir, limpou os cofres da coroa e instaurou uma crise financeira
praticamente irremediável para o jovem regente gerenciar. A fim de sanar as inquietações e
levantes e garantir a unidade territorial, o regente parte em uma série de viagens a
diferentes províncias a fim de fortalecer seu apoio. Ao passo que Pedro tentava com todos
os recursos a unidade, a coroa portuguesa exigia seu retorno imediato a Lisboa. Exigência
que repetidas vezes foi ignorada.
Durante uma viagem a São Paulo, em 1822, o Rio de Janeiro, sob a regência da
Princesa Leopoldina, recebe um ultimato português exigindo o imediato retorno do príncipe.
Com Pedro distante e sem possibilidade de comunicação, a princesa, juntamente com José
Bonifácio, reúne o Conselho de Estado e decide pela separação entre Brasil e Portugal.
Dias depois, às margens do Rio Ipiranga, ainda na província de São Paulo, a
comitiva do príncipe recebe as cartas informando dos últimos acontecimentos:

“Pedro, o Brasil está como um vulcão. Até no paço há revolucionários. Até oficiais das
tropas são revolucionários. As Cortes Portuguesas ordenam vossa partida imediata,
ameaçam-vos e humilham-vos. O Conselho de Estado aconselha-vos para ficar. Meu
coração de mulher e de esposa prevê desgraças, se partirmos agora para Lisboa. Sabemos
bem o que tem sofrido nossos pais. O rei e a rainha de Portugal não são mais reis, não
governam mais, são governados pelo despotismo das Cortes que perseguem e humilham
os soberanos a quem devem respeito. Chamberlain vos contará tudo o que sucede em
Lisboa. O Brasil será em vossas mãos um grande país. O Brasil vos quer para seu
monarca. Com o vosso apoio ou sem o vosso apoio ele fará a sua separação. O pomo está
maduro, colhei-o já, senão apodrece. Ainda é tempo de ouvirdes o conselho de um sábio
que conheceu todas as cortes da Europa, que, além de vosso ministro fiel, é o maior de
vossos amigos. Ouvi o conselho de vosso ministro, se não quiserdes ouvir o de vossa
amiga. Pedro, o momento é o mais importante de vossa vida. Já dissestes aqui o que ireis
fazer em São Paulo. Fazei, pois. Tereis o apoio do Brasil inteiro e, contra a vontade do povo
brasileiro, os soldados portugueses que aqui estão nada podem fazer. Leopoldina”.

Mesmo com o decreto assinado, a resolução precisava do aceite do príncipe para ter
validade. Nesse momento, Pedro, ainda afetado pela disenteria que o assolava durante a
viagem, viu que a situação era irremediável. Declarou naquele momento, para os poucos
membros de sua comitiva, montados em lombos de mulas, que o Brasil tornara-se uma
nação independente. Mulas? Sim, mulas. Os garbosos cavalos brancos dos livros da escola
não aguentariam a viagem dura entre Rio de Janeiro e São Paulo. As mãos do pintor Pedro
Américo deram um tom épico ao evento, que, se muito, podemos retratar como simplório. A
recriação histórica mitificada criou uma visão romântica do grito do Ipiranga, porém
unilateral. Esqueceu-se de d. Leopoldina, nossa primeira Imperatriz, primeira mulher a
governar o país e peça fundamental em nossa independência. O verde e o amarelo de
nossa bandeira perderam sua identidade. Hoje são as matas e o ouro. Outrora foram
inspirações de Debret no verde dos Bragança e amarelo dos Habsburgo.

SINOPSE

Hoje o samba vem reverenciar quem se fez brasileiro mesmo antes do nosso país.
Quem merece seu lugar à luz da história. Hoje o Império de Charitas une o verde a seu
amarelo para cantar a Independência do Brasil.
Viaja no azul do mar que conduziu o pequeno príncipe às vistosas terras do sul.
Pelos traços da princesa, que apaixonada por seu medalhão casou-se por procuração e
atravessou o Atlântico em busca do amor. Não vamos de volta ao velho mundo, como fez o
Rei que enganou Napoleão. Ficaremos com Pedro, com Maria, com o povo!
"Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, diga ao povo que fico."
Dizem que Pedro falou... São os mesmos que contam das fardas alinhadas e da espada em
punho quando o brado ecoou.
Olhos que retrataram o que não viram e deixaram de enxergar o que estava em sua
frente. Os rabos de saia, as marquesas de Santos do pau oco. Um homem de carne e osso.
Largaram a princesa, Imperatriz, às margens da história, num futuro feito passado,
sem glória, sozinha ao lado do Imperador.
Brasil, é hora de conhecer sua verdadeira história. Deixar a estória de lado e encarar
seu destino. Menino, gigante, acorda que é hora de ser quem sempre sonhou. É chegado o
momento de questionarmos: Será que nesses 200 anos realmente nos tornamos
independentes? Talvez não sejamos mais colônia, mas ainda nos falte um brio
independente. Orgulho da pele vermelha e da negritude que nos formaram, que nos
tornaram, acima de um país, uma nação. Acorda Brasil e verás que um filho teu não foge à
luta.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

● REZZUTTI, Paulo. D. Leopoldina: a história não contada: a mulher que arquitetou a


independência do Brasil. Leya, 2017.

● REZZUTTI, Paulo. D. Pedro-A história não contada: O homem revelado por cartas e
documentos inéditos. Leya, 2015.

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