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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO


ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

ÉLCIO VALMIRO SALES DE MENDONÇA

A DINASTIA OMRIDA:
Reconstrução do Primeiro Estado Independente
de Israel a partir da Bíblia e da Arqueologia

São Bernardo do Campo


Junho de 2017
2

ÉLCIO VALMIRO SALES DE MENDONÇA

A DINASTIA OMRIDA:
Reconstrução do Primeiro Estado Independente
de Israel a partir da Bíblia e da Arqueologia

Prof. Dr. José Ademar Kaefer (Orientador)

Tese de Doutorado apresentada em


cumprimento às exigências do Programa de
Pós-Graduação em Ciências da Religião, da
Universidade Metodista de São Paulo, para
obtenção do grau de Doutor.

São Bernardo do Campo


Junho de 2017
3

FICHA CATALOGRÁFICA

Mendonça, Élcio Valmiro Sales de


M523d A Dinastia Omrida : reconstrução do primeiro Estado independente de
Israel a partir da Bíblia e da arqueologia / Élcio Valmiro Sales de Mendonça -
- São Bernardo do Campo, 2017.
356fl.

Tese (Doutorado em Ciências da Religião) – Universidade Metodista de São


Paulo - Escola de Comunicação, Educação e Humanidades Programa de Pós-
Graduação em Ciências da Religião São Bernardo do Campo.
Bibliografia

Orientação de: José Ademar Kaefer

1. Arqueologia bíblica 2. Israel 3. Exegese I. Título

CDD 220.93
4

A tese de doutorado sob o título “A DINASTIA OMRIDA: RECONSTRUÇÃO DO


PRIMEIRO ESTADO INDEPENDENTE DE ISRAEL A PARTIR DA BÍBLIA E DA
ARQUEOLOGIA”, elaborada por Élcio Valmiro Sales de Mendonça, foi defendida
e aprovada perante banca examinadora composta por Prof. Dr. José Ademar
Kaefer (Presidente/UMESP), Prof. Dr. Tércio Machado Siqueira (Titular/UMESP),
Prof. Dr. Edson de Faria Francisco (Titular/UMESP), Prof. Dr. Luis José Dietrich
(Titular/PUC-PR) e Prof. Dr. Haroldo Reimer (Titular/UEG).

Prof. Dr. José Ademar Kaefer


Orientador e Presidente da Banca Examinadora

Prof. Dr. Helmut Renders


Coordenador do Programa de Pós-Graduação

Programa: Ciências da Religião


Linha de Pesquisa: Linguagens da Religião
Área de Concentração: Literatura e Religião no Mundo Bíblico
5

Esta pesquisa foi realizada com financiamento da


FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo)
6

DEDICATÓRIA
7

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Eterno.

Meu agradecimento a Jannine Ferreira Cosmo de Mendonça, minha


esposa, pela paciência e apoio. Aos meus pais Amaro Cabral de Mendonça e
Severina Maria Sales de Mendonça que sempre me inspiraram ter uma vida
íntegra, e a buscar e batalhar pelos meus objetivos. À minha irmã Viviane e
Rodrigo Scura por todos os momentos e pela colaboração a esta pesquisa.

Ao meu orientador prof. Dr. José Ademar Kaefer que se tornou um amigo
nesta caminhada, e sempre me apoiou e me encorajou a prosseguir avançando
nas pesquisas sobre Israel Norte, sem me esquecer do povo das comunidades e
em como levar esse conhecimento a ele.

Ao prof. Dr. Tércio Machado Siqueira que foi meu orientador no Mestrado,
e ao prof. Dr. Edson de Faria Francisco, estudiosos da área de Bíblia, grandes
amigos e incentivadores. Também ao prof. Dr. Paulo Nogueira, por suas
observações ao meu projeto no exame de qualificação.

Ao prof. Ms. Silas Klein Cardoso, amigo, pelas conversas e discussões


sobre as pesquisas, pelos artigos e obras que compartilhou comigo. Também a
Ms. Cecilia Toseli, que junto com o Silas Klein, contribuiu muito para o
amadurecimento desta tese.

Aos pesquisadores do Grupo de Pesquisa Arqueologia do Antigo Oriente


Próximo, que de alguma forma também contribuíram com esta pesquisa.
Finalmente, meus agradecimentos a Regiane (Coordenação) e a Camilla
(Secretaria) pelo atendimento sempre muito bom e pelos serviços prestados.

Ao prof. Dr. Haroldo Reimer e prof. Dr. Luis José Dietrich.

À Fapesp, pelo financiamento da pesquisa, e ao IEPG pelo importante


auxílio no início e no final da pesquisa.
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RESUMO

Esta pesquisa tem por objetivo analisar a dinastia omrida como a fundadora do
primeiro Estado independente de Israel, no séc. IX AEC. Este foi o único
momento da história que Israel governa de modo totalmente independente. Ao
invés de ser dominado era Israel quem dominava. A dinastia dos reis omridas
expandiu seu território alcançando a costa do mar Mediterrâneo, o sul da Síria, a
Transjordânia e dominando sobre Judá. A fundação de Samaria por Omri foi o
início do primeiro estado israelita. Omri edificou a cidade e realizou grandes
obras unindo vários aspectos arquitetônicos existentes e inovando com outros,
de forma que formou um modelo arquitetônico para todas as construções
omridas pelo vasto território. Israel Norte possui todas as características de um
estado desenvolvido, conforme as teorias de formação dos estados de Childe e
Liverani. Palácios suntuosos, edifícios públicos e administrativos, mão-de-obra
especializada, cobrança de tributos, templos, produção excedente, indústrias,
corpo de escribas e escrita desenvolvida. Judá não possuía nada disso, ao
contrário, durante o séc. IX AEC era pequeno e sem recursos. Judá se tornou
um estado desenvolvido somente no séc. VIII AEC, depois que Israel Norte foi
destruído pelos assírios. Mas apesar de tudo isso, a dinastia omrida é vista com
a pior, mais pecadora e mais perversa de todas, seus reis, principalmente, Omri
e Acab são avaliados nas narrativas bíblicas como os piores reis de Israel. Isso
porque a história de Israel como a temos na Bíblia, foi editada e compilada por
Judá, quando Israel Norte já não existia, isto favoreceu Judá na história bíblica.
Esta pesquisa pretende fazer o caminho inverso, entender a história de Israel a
partir de Israel Norte. E para isso, o método utilizado será a análise exegética e
a análise dos achados arqueológicos. A exegese com a arqueologia para
desvendar a história de Israel Norte do séc. IX AEC, que não foi registrada nos
textos bíblicos. Para isso, foram realizadas visitas de estudo em quase todos os
sítios analisados nesta pesquisa (sítios de Israel, Palestina e Jordânia), também
foram realizadas escavações no sítio arqueológico de Tel Megiddo (2016), com
o arqueólogo Israel Finkelstein, um dos referenciais desta pesquisa. Quanto aos
resultados, Israel Norte, no período da dinastia omrida, de fato foi o primeiro
estado israelita e o único de toda a história de Israel a existir e governar de
forma independente. O vasto território dominado pela dinastia omrida é
praticamente o mesmo da Monarquia Unida de Davi e Salomão. Há grande
possibilidade de que a ideia de Monarquia Unida tenha vindo das memórias de
um reino poderoso, próspero e extenso que governou o Norte e o Sul, a
Transjordânia e chegou até a Síria, que tinha fortes ligações comerciais com a
Fenícia. Enfim, o único reino que fez tudo isso foi o da dinastia omrida.

Palavras-Chave: Dinastia Omrida, Monarquia Unida, Israel Norte, Arqueologia,


Exegese
9

ABSTRACT

This research aims to analyze the Omride Dynasty as the founder of the first
independent state of Israel in the ninth century BCE. This was the only time in
history that Israel rules completely independently. Instead of being dominated, it
was Israel who dominated. The kings of the Omride Dynasty expanded their
territory, reaching the shores of the Mediterranean Sea, southern Syria,
Transjordan and dominating over Judah. The founding of Samaria by Omri was
the beginning of the first Israelite state. Omri built the city and made great works
by uniting various architectural aspects and innovating with others, in a way that
formed an architectural model for all buildings omridas by the vast territory.
Northern Israel has all the characteristics of a developed state, according to the
theories of the establishment of the states of Childe and Liverani. Sumptuous
palaces, public and administrative buildings, specialized labor, collection of taxes,
temples, surplus production, industries, body of scribes and developed writing.
Judah had none of this, on the contrary, during the ninth century BCE, was small
and without resources. Judah only becomes a developed state in the eighth
century BCE, after Israel North was undone by the Assyrians. But despite all this,
the Omride Dynasty is seen with the worst, most sinful and most perverse of all,
its kings, especially Omri and Ahab, are evaluated in the biblical narratives, as
the worst kings of Israel. This is because the history of Israel as we have it in the
Bible was edited and compiled by Judah, when Northern Israel was destroyed,
this favored Judah in biblical history. This research intends to do the opposite
way, understanding the history of Israel from Northern Israel. And for that, the
method used will be the exegetical analysis and the analysis of the
archaeological findings. Exegesis with archeology to unravel the history of
northern Israel from the ninth century BCE, which was not told in the biblical
texts. For this, study visits were carried out in almost all the sites analyzed in this
research (sites of Israel, Palestine and Jordan), excavations were also carried
out at the archaeological site of Tel Megiddo (2016), with archaeologist Israel
Finkelstein, one of the references of this search. As for the results, Israel North
was in fact the first Israeli state, and the only one in all of Israel's history to exist
and govern independently. The vast territory dominated by the Omride Dynasty is
practically the same as the United Monarchy of David and Solomon. There is a
strong possibility that the idea of the United Monarchy came from the memories
of a powerful, prosperous and extensive kingdom that ruled North and South,
Transjordan, and reached Syria, which had strong trade links with the
Phoenician. At last, the only kingdom that did all this, was the one of the omrida
dynasty.

Key words: Omride Dynasty, United Kingdom, Northern Israel, Archeology,


Exegesis
10

RESUMEN

Esta investigación tiene por objetivo analizar la dinastía omrida como la


fundadora del primer Estado independiente de Israel, en el siglo IX AEC. Este
fue el único momento de la historia que Israel gobierna de manera totalmente
independiente. En vez de ser dominado, era Israel quien dominaba. La dinastía
de los reyes omridas expandió su territorio, alcanzando la costa del mar
Mediterráneo, el sur de Siria, la Transjordania y dominando sobre Judá. La
fundación de Samaria por Omri, fue el inicio del primer estado israelí. Omri
edificó la ciudad y realizó grandes obras uniendo varios aspectos arquitectónicos
existentes e innovando con otros, de forma que formó un modelo arquitectónico
para todas las construcciones omridas por el vasto territorio. Israel Norte posee
todas las características de un estado desarrollado, según las teorías de
formación de los estados de Childe y Liverani. Palacios suntuosos, edificios
públicos y administrativos, mano de obra especializada, cobro de tributos,
templos, producción excedente, industrias, cuerpo de escribas y escritura
desarrollada. Judá no tenía nada de eso, por el contrario, durante el siglo IX
AEC, era pequeño y sin recursos. Judá sólo se convierte en un estado
desarrollado en el siglo AEC, después de que Israel Norte fue deshecho por los
asirios. Pero a pesar de todo esto, la dinastía omrida es vista con la peor, más
pecadora y más perversa de todas, sus reyes, principalmente Omri y Acab, son
evaluados en las narrativas bíblicas, como los peores reyes de Israel. Porque la
historia de Israel como la tenemos en la Biblia fue editada y compilada por Judá,
cuando ya no existía Israel, esto favoreció a Judá en la historia bíblica. Esta
investigación pretende hacer el camino inverso, entender la historia de Israel
desde Israel Norte. Y para eso, el método utilizado será el análisis exegético y el
análisis de los hallazgos arqueológicos. La exégesis con la arqueología para
desentrañar la historia de Israel Norte del siglo IX AEC, que no fue contada en
los textos bíblicos. Para ello, se realizaron visitas de estudio en casi todos los
sitios analizados en esta investigación (sitios de Israel, Palestina y Jordania),
también se realizaron excavaciones en el sitio arqueológico de Tel Megiddo
(2016), con el arqueólogo Israel Finkelstein, uno de los referenciais de la
investigación. Sobre los resultados, Israel Norte de hecho fue el primer estado
israelí, y el único de toda la historia de Israel a existir y gobernar de forma
independiente. El vasto territorio dominado por la dinastía omrida es
prácticamente el mismo de la Monarquía Unida de David y Salomón. Hay gran
posibilidad de que la idea de Monarquía Unida haya venido de las memorias de
un reino poderoso, próspero y extenso, que gobernó el Norte y el Sur, la
Transjordania y llegó hasta Siria, que tenía fuertes vínculos comerciales con la
fenicia. Por fin, el único reino que hizo todo eso, fue el de la dinastía omrida.

Palabras Clave: Dinastía Omrida, Monarquía Unida, Israel Norte, Arqueología,


Exégesis
11

SUMÁRIO

ABREVIATURAS ................................................................................................14
INTRODUÇÃO ....................................................................................................16
1. As fontes bíblicas ....................................................................................... 16
2. As fontes arqueológicas ............................................................................. 17
3. O Método ................................................................................................... 19
4. As Hipóteses .............................................................................................. 20
5. Estrutura da Pesquisa ................................................................................ 21
PARTE 1: ESTADO ATUAL DA PESQUISA .....................................................23
Capítulo 1 - A Situação Atual da Pesquisa sobre Israel Norte ......................24
1. Abordagens sobre a dinastia Omrida publicadas até 1980 ........................ 25
2. Abordagens sobre os omridas publicadas entre 1980 e 2000 ................... 35
3. Abordagens sobre a dinastia omrida publicadas após 2000 ...................... 41
PARTE 2: LITERATURA ....................................................................................64
Capítulo 2 - A Ascensão da Dinastia Omrida: Estudo Exegético de 1Rs
16.15-33. ...........................................................................................................65
Introdução .........................................................................................................65
1. Tradução Literal Interlinear de 1 Reis 16.15-33 ............................................66
2. Crítica Textual ...............................................................................................69
3. Delimitação da Perícope ...............................................................................77
4. Estrutura da Perícope ...................................................................................79
5. Coesão da Perícope .....................................................................................82
6. Gênero Literário ............................................................................................86
7. Análise do Conteúdo de 1Rs 16.15-33 .........................................................89
7.1. A Ascensão de Omri (16.15-22) .................................................................90
7.1.1. Zimri usurpa o trono de Israel Norte (v.15) ........................................ 90
7.1.2. Omri, comandante do exército de Israel Norte (v.16) ........................ 94
7.1.3. Omri sitia a cidade de Tirza, capital de Israel Norte (v.17)................. 97
7.1.4. A morte de Zimri no palácio real (v.18) .............................................. 98
7.1.5. Avaliação negativa do reinado de Zimri (v.19-20) .............................. 99
7.1.6. Um concorrente de Omri ao trono de Israel Norte, Tibni (v.21) ....... 102
7.1.7. A morte de Tibni e a ascensão de Omri ao trono (v.22) .................. 104
7.2. O Reinado de Omri e a Fundação de Samaria (16.23-28) .......................106
7.2.1. Omri começa a reinar sobre Israel Norte a partir de Tirza (v.23) ..... 107
7.2.2. A fundação de Samaria, a nova capital de Israel Norte (v.24) ......... 111
7.2.3. Avaliação negativa do reinado de Omri (v.25-26) ............................ 115
7.2.4. O fim do reinado de Omri (v.27-28) ................................................. 121
7.2.5. Acréscimo no texto grego da LXX (Ralphs) em 3Rns 16.28: ........... 125
7.3. O Reinado de Acab, Filho de Omri (16.29-33) .........................................130
7.3.1. Início do reinado de Acab (v.29) ...................................................... 131
12

7.3.2. Avaliação negativa e severa do reinado de Acab (v.30) .................. 133


7.3.3. O casamento com a princesa Jezabel, a fenícia (v.31) ................... 134
7.3.4. Avaliação negativa de Acab, rei de Israel Norte (v.32-33) ............... 138
8. Propondo Data e Lugar ...............................................................................141
Capítulo 3 - O Conjunto Literário sobre a Dinastia Omrida .........................148
Introdução: Os Reis Omridas (1Rs 16.23 – 2Rs 11.13) ................................ 148
1. Omri e a Fundação de Samaria (1Rs 16.15 – 28) ................................... 150
2. O Reinado de Acab (1Rs 16.29 – 22.40) ................................................. 151
3. O Reinado de Acazias (1Rs 22.52 – 2Rs 1.18) ....................................... 156
4. O Reinado de Jorão (2Rs 3.1 – 9.29) ...................................................... 156
5. Dois Reis em Israel Norte e em Judá com os mesmos Nomes (2Rs 8.16-
29) ................................................................................................................ 157
6. A Revolta de Jeú: o Extermínio da Dinastia Omrida (2Rs 9-10) .............. 158
7. Atalia: uma Rainha Omrida em Jerusalém (2Rs 11.1-3, 13-16) .............. 160
8. Os Omridas e o Domínio sobre Judá em 1 e 2 Reis ................................ 161
9. A Dinastia Omrida nos livros das Crônicas (2Cr 18.1 – 23.15) ................ 164
10. O Domínio da Transjordânia ................................................................... 168
11. O Território Omrida na Transjordânia no livro de Juízes (Jz 11.12-22) .. 170
PARTE 3: ARQUEOLOGIA ..............................................................................173
Capítulo 4 - A Fundação de Samaria a partir da Arqueologia .....................174
Introdução ..................................................................................................... 174
1. Localização do sítio arqueológico de Sebastia (Samaria) ....................... 174
2. Geografia e Topografia de Samaria e Região ......................................... 176
3. História da Pesquisa Arqueológica em Samaria ...................................... 177
3.1. Harvard Excavations at Samaria (1908-1910) ................................... 178
3.2. Os Achados Referentes ao séc. IX AEC ............................................ 182
3.3. O Palácio de Omri (Fase I) ................................................................. 183
3.4. O Palácio de Acab (Fase II) ............................................................... 187
3.5. Palácio de Acab – Parte Oeste: A Casa dos Óstracos....................... 189
3.6. Os Óstracos e a Escrita em Samaria – Israel Norte ........................... 197
3.6.1. A Estela Israelita de Samaria ...................................................... 200
3.6.2. A Inscrição hyl (‫ליה‬, lyh)............................................................ 202
3.7. Os Túmulos dos Reis de Israel em Samaria ...................................... 203
3.8. Joint Expedition at Samaria (1931-1935) ........................................... 205
3.9. A Arquitetura de Samaria ................................................................... 207
4. A Capital do Primeiro Estado Israelita ..................................................... 210
Capítulo 5 - O Território Dominado pelos Omridas a partir da
Arqueologia ...................................................................................................217
Introdução ..................................................................................................... 217
1. As 7 Principais Características Arquitetônicas das Cidades e Fortalezas
Omridas ........................................................................................................ 219
2. Arquitetura Omrida em Israel Norte ......................................................... 221
13

3. Arquitetura Omrida na Transjordânia: As Estelas de Mesha e de Tel


Dan .................................................................................................................240
5. Território dominado por Israel Norte ........................................................ 257
PARTE 4: RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA ......................................................260
Capítulo 6 - O Primeiro Estado Independente: Monarquie Unida ...............261
Introdução ..................................................................................................... 261
1. A Primeiro Estado de Israel Norte e Judá ................................................ 262
2. Um Estado Independente ........................................................................ 272
3. Dinastia Omrida: A Monarquia Unida ....................................................... 277
4. Omri e Acab / Davi e Salomão ................................................................. 288
Considerações finais .................................................................................... 293
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................................................296
ANEXO I – ARQUITETURA OMRIDA ..............................................................304
ANEXO II – FORTALEZAS OMRIDAS .............................................................315
ANEXO III – MARCAS DE PEDREIRO ............................................................321
ANEXO IV – INSCRIÇÕES HEBRAICAS E ARAMAICAS...............................326
ANEXO V – CÓDICES MASSORÉTICOS ........................................................328
ÍNDICE REMISSIVO .........................................................................................331
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................337
14

ABREVIATURAS

AEC Ante da Era Comum.


Ancient Near East Texts. [PRITCHARD, James B. (ed.). Ancient
ANET Near Eastern Texts: relating to Old Testament. ANET. Third Edition
with Supplement. Princeton: Princeton University Press, 1969].
Almeida Revista e Atualizada. [Bíblia Sagrada com
ARA Concordância. Ed. Revista e Atualizada. Trad. João Ferreira de
Almeida. Barueri: Sociedade Bíblia do Brasil, 2008].
Antigo Testamento Interlinear. [FRANCISCO, Edson de Faria.
ATI Antigo Testamento Interlinear Hebraico-Português. Vol.2. Profetas
Anteriores. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2014].
Biblia Hebraica Stuttgartensia. [ELLIGER, Karl; RUDOLPH,
BHS Wilhelm (eds.). Biblia Hebraica Stuttgartensia. 5. Ed. Stuttgart:
Deutsche Bibelgesellschaft, 1997].
Bíblia de Jerusalém. [Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus,
BJ
1995].
Cf. Conferir.
Códice A Códice de Alepo A (925 ou 930).
Códice L Códice de Leningrado B19a (1008 ou 1009)
EC Era Comum.
Fig. Figura.
impf. imperfeito.
K Ketiv (‫ )כתיב‬indicado na massorá como ‫כת‬ׄ
LXX Septuaginta ou Setenta
Mm Masora Magna
Mp Masora Parva
Nova Bíblia Pastoral. [Nova Bíblia Pastoral. São Paulo: Paulus,
NBP
2014].
séc. Século.
part. particípio.
PEF Palestine Exploration Fund
pes. pessoa.
pf. perfeito.
pl. plural.
Q Qerê (‫ )קרי‬indicado na massorá como ׄ‫ק‬
sing. singular.
v. versículo.
15

Alfabeto Hebraico – Paleohebraico – Árabe – Transliteração


Quadrado Qumran Mesha Tel Dan Samaria
(Idade Média e (Séc. II AEC (Séc. IX (Séc. IX (Séc. IX e Árabe Transliteração
atual) e II EC) AEC ) AEC ) VIII AEC )

‫א‬ a a ‚ A ‫ا‬ ’

‫בּ‬/‫ב‬ b b b B ‫ب‬ b / ḇ

‫ג‬ g g G G ‫ج‬ g

‫ד‬ d d D d ‫د‬ d

‫ה‬ h h H h ‫ھ‬ h

‫ו‬ u W W w ‫و‬ w

‫ז‬ z z Z z ‫ز‬ z

‫ח‬ H x x x ‫ح‬ ḥ

‫ט‬ T j j j ‫ط‬ ṭ

‫י‬ i Y Y y ‫ي‬ y

‫כ‬ k K % & ‫ث‬ k/ḵ

‫ל‬ l l L l ‫ل‬ l

‫מ‬/‫ם‬ m M M m m ‫م‬ m

‫נ‬/ ‫ן‬ N n N ‫ن‬ n

‫ס‬ s s s S ‫س‬ s

‫ע‬ o [ [ { ‫ع‬ ‘

‫פ‬/ ‫ף‬ p P p p p ‫ف‬ p

‫צ‬/ ‫ץ‬ N X C # C ‫ص‬ ṣ

‫ק‬ q Q Q s ‫ق‬ q

‫ר‬ r r R r ‫ر‬ r

‫שׂ‬/‫שׁ‬ w f v V ‫س‬/‫ش‬ ś / š

‫ת‬ t T t t ‫ت‬ t
16

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa está baseada na análise exegética do texto Bíblico e na


arqueologia do antigo Israel. O ponto de partida será a análise exegética,
baseada no método da Crítica da Forma, dos textos da Bíblia Hebraica,
especificamente, daqueles que se referem ao período da dinastia omrida.
Também está baseada na análise de vestígios arqueológicos, levando em
consideração as novas abordagens da arqueologia referentes à história de Israel
Norte, presentes na obra de Israel Finkelstein, Amihai Mazar e outros.
O objetivo principal é estudar a história de Israel a partir do Norte. Entender
como foi o desenvolvimento histórico que levou ao surgimento da primeira
monarquia israelita. Esta monarquia foi duramente rejeitada pelos redatores e
compiladores das narrativas dos livros dos Reis e, posteriormente, pelos dois
livros das Crônicas, isto porque foi Judá, não Israel Norte, quem concluiu a
redação da história de Israel. Mesmo assim, é possível encontrarmos vestígios
nos textos que nos dão ideia de como teria sido Israel Norte, e nisso, a
arqueologia tem ajudado muito.
Com relação às fontes utilizadas nesta pesquisa, estas podem ser divididas
em dois grandes grupos: 1. As fontes bíblicas, e, 2. As fontes arqueológicas.
1. As fontes bíblicas: Serão utilizadas as duas principais fontes bíblicas:
1) a Bíblia Hebraica e, 2) a Septuaginta (LXX). Para a Bíblia Hebraica, estou
utilizando a Biblia Hebraica Stuttgartensia1, que representa do Códice de
Leningrado B19a, um códice massorético datado em 1008-1009 (FRANCISCO,
2008, p. 315). Este texto da Bíblia Hebraica será a base desta pesquisa para a
análise exegética da história de Israel contida principalmente nos livros de 1 e 2
Reis.
Outra importante fonte bíblica é a Septuaginta (LXX)2, que é a primeira
tradução da Bíblia do hebraico para o grego. Esta tradução é o mais antigo
testemunho da transmissão do texto bíblico e é considerada como uma das

1 ELLIGER, Karl; RUDOLPH, Wilhelm (eds.). Biblia Hebraica Stuttgartensia. 5. Ed. Stuttgart:
Deutsche Bibelgesellschaft, 1997.
2 RAHLFS, Alfred (ed.). Septuaginta: Id est Vetus Testamentum graece iuxta LXX interpretes.

vols. 1 e 2. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1979.


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principais versões da Bíblia Hebraica. A tradução é datada do séc. III AEC, feita
em Alexandria, Egito. (FRANCISCO, 2008, p. 432-433). A LXX será utilizada
para comparações com o texto da Bíblia Hebraica, especificamente nos casos
de palavras com tradução incerta e nos casos de acréscimos contidos na versão
grega que não aparecem na Bíblia Hebraica.
2. As fontes arqueológicas: Serão trabalhadas três fontes arqueológicas
escritas relacionadas diretamente com a dinastia omrida de Israel Norte. Estas
fontes são duas inscrições em paleohebraico (Estela de Mesha e de Tel Dan) e
uma em cuneiforme (Obelisco Negro de Salmaneser III):
2.1. Estela de Mesha: Também chamada de Estela de Mesha, ou
ainda Estela Moabita. Ela foi encontrada na cidade de Diban, na Jordânia, em
1868, pelo missionário alemão Friederich Klein. A estela mede 1,10m de altura
por 0,60m de largura, e está atualmente no Museu do Louvre, Paris. (KAEFER,
2015, p.74-76; GALLEAZO, 2008, p. 12). Há uma réplica desta estela no Museu
de Arqueologia do Instituto de Arqueologia da Universidade Hebraica de
Jerusalém, da qual fiz vários registros fotográficos.
Esta estela mostra como Israel Norte expandiu seu domínio a leste do
Jordão, na Transjordânia, territórios de Amon e Moab. Este é um testemunho
extra bíblico importante da expansão omrida nos territórios da atual Jordânia. Ela
menciona importantes localidades que indicam fortalezas omridas de fronteira,
como: Atarote e Jahaz, além de mencionar Madaba e Monte Nebo, que estavam
sob o domínio omrida. Esta estela é importante para esta pesquisa, pois ela
indica os territórios dominados pelos omridas na região da Transjordânia, e o
ponto de vista transjordaniano a respeito de Israel Norte.
2.2. Estela de Tel Dan: Foram encontrados três fragmentos (A, B1 e
B2) de basalto desta estela durante as escavações realizadas nos anos de
1993-1994 no sítio de Tel Dan3, extremo norte de Israel. O fragmento A foi
descoberto em 21 de julho de 1993, o fragmento B1, em 20 de junho de 1994, e
o fragmento B2 em 30 de junho de 1994 (ATHAS, 2003, p.1,6,13-14; KAEFER,
2015, p. 78).

3 Veja os relatórios das escavações em Tel Dan em: http://teldan.wordpress.com/ e


http://www.ngsba.org/en/excavations.
18

Esta estela se tornou conhecida por causa de uma expressão que aparece
escrita no fragmento A, dwdtyB “Casa de Davi”. Mas para esta pesquisa, a
importância desta estela está no fato de ela revelar novas e relevantes
informações para a compreensão da história de Israel Norte. Ela revela que foi
Hazael (possível autor do escrito), quem matou Jorão, rei de Israel e Acazias, rei
de Judá, e quem colocou Jeú no poder. Ela também mostra que os omridas
ocuparam territórios que Hazael, rei de Damasco, afirmava ter sido do pai dele,
Ben Hadad. Isto ajuda a compreender as fronteiras omridas ao norte e nordeste,
contra Aram-Damasco, região de Gilead e Ramot-Gilead (KAEFER, 2015, p.80-
82).
2.3. Estela de Kurkh de Salmaneser III: A inscrição está em
caracteres cuneiformes, e foi encontrada em 1861 pelo britânico John George
Taylor, na antiga cidade de Kurkh, leste da Turquia. Nesta inscrição, o rei
Salmaneser III (858-824 AEC), da Assíria, relata sua vitória em Qarqar sobre a
coalizão anti-assíria formada por doze reis, entre eles, Acab, Aḫabbu, rei de
Israel Norte. (KAEFER, 2015, p. 70-71; GRAYSON, 2002, p. 23-24;
PRITCHARD, 1950, p. 278-279). A Estela de Kurkh de Salmaneser III foi datada
em 853-852 AEC4
A importância desta inscrição está nas informações que ela fornece a
respeito do rei Acab, mostrando seu poderio bélico, seu destaque entre os
demais reis da coalizão, e sua força de organização e planejamento de guerra.
Além da citação do nome de Acab, Aḫabbu, e da sua expressiva quantidade de
carros de guerra e soldados a pé, os assírios conheciam o reino de Israel Norte
através da expressão “Casa de Omri”, Bit-Ḫumrii, inclusive anos após o
extermínio de sua dinastia. Tal expressão ocorre pelo menos cinco vezes nos
textos assírios de Salmaneser III (GRAYSON, 2002, p. 48, 54, 60, 149).
2.4. Sítios arqueológicos omridas estudados in loco: Foram
visitados quase todos os sítios arqueológicos pertencentes ao período da
dinastia de Omri. São sítios de Israel, Palestina e Jordânia que apresentam
evidências das características arquitetônicas omridas, as quais ajudam a
reconstruir as dimensões geopolíticas do reino de Israel Norte. Os sítios

4 The British Museum. The Monolith stelae of Shalmaneser III. Disponível em:
http://www.britishmuseum.org/research/collection_online/collection_object_details/collection_ima
ge_gallery.aspx?assetId=150815&objectId=367117&partId=1. Acesso em 14/10/2015.
19

visitados e estudados são: Samaria, Tel Jezreel, Tel Megiddo (estrato VA-IVB),
Ḥazor (estrato X), Tel Dan, Tell el-Farah [Tirza] (estrato VIIB), Tel Gezer (estrato
VII), Tel Reḥov (estrato VI-IV), En Gev (estrato IV, área A, e estrato III, área B-
C), Tell Ballata (Siquém) e Pella, Tell Hisban (Hesbon), Khirbet ‘Ataruz5 (Atarote)
e Khirbet ‘Ara‘ir (Aroer).
Também serão trabalhados outros sítios omridas que foram analisados a
partir dos seus relatórios de escavação, em livros ou nos websites das
expedições arqueológicas. Os sítios são: Abel-Bet-Maacah6, Khirbet al-
Mudayne7 (Jahaz), Kuntillet ‘Ajrud, Tel Ḥarashim, Taanak (período IIA e IIB),
Horvat Rosh Zayit (estrato 3-2), Har Adir (equivalente ao estrato X de Ḥazor), Tel
‘Amal, Tell el-Hammah e Dibon.

3. O Método
A presente pesquisa foi realizada a partir de levantamento bibliográfico,
análise exegética do texto bíblico e da pesquisa arqueológica. As obras
analisadas e estudadas aqui trazem informações sobre o estado atual das
pesquisas sobre o reino de Israel Norte e lançam luzes às novas pesquisas
sobre o período da dinastia de Omri.
Do levantamento bibliográfico, há uma quantidade de materiais produzidos
principalmente fora do Brasil sobre a história de Israel. Mas suas abordagens
são fragmentadas e do modo como são apresentadas não é possível enxergar o
todo, só partes de um contexto maior. A pesquisa bibliográfica consiste em obras
clássicas sobre o tema de estudiosos, como William Foxwell Albright, John
Bright, Thomas Thompson, Israel Finkelstein entre outros. Os relatórios das
escavações tanto em obras impressas como em relatórios publicados online nos
websites das expedições.
A análise exegética de 1Rs 16.15-33 é o ponto de partida. Uma das
principais fontes de análise será o texto hebraico dos livros de 1 e 2 Reis. O
método exegético utilizado nesta pesquisa é baseado na Crítica das Formas, um
dos passos do complexo método Histórico-Crítico. Este método segue uma
estrutura de certo modo fixa: a tradução “literal” do texto hebraico, a análise da

5 http://www.ataruz.org.
6 http://www.abel-beth-maacah.org.
7 https://mudaynathamad.wordpress.com.
20

crítica textual, a delimitação, estrutura e coesão da perícope, o gênero literário,


datação e lugar vivencial do texto. Depois disso tudo, vem a análise dos
conteúdos do texto, onde são estudadas as frases e parágrafos da perícope,
com base no texto bíblico hebraico.
O método de pesquisa da arqueologia de Israel Norte é a análise dos
relatórios das escavações, as fontes primárias da pesquisa, bem como as visitas
aos sítios arqueológicos estudados aqui somam um total de 42 sítios
arqueológicos visitados em 2014 e 2016, e a participação nas escavações em
Tel Megiddo (2016). Outra fonte importante, são as recentes pesquisas de
arqueólogos da atualidade, como Israel Finkelstein (Universidade de Tel Aviv),
Amihai Mazar (Universidade Hebraica de Jerusalém), Norma Franklin
(Universidade de Haifa), entre outros. Também fazem parte analisadas as obras
e os diários de escavação de George Reisner e Clarence Fischer (Universidade
de Harvard).

4. As Hipóteses
A partir de levantamento bibliográfico do estado atual da pesquisa sobre os
reis omridas e das análises das evidências arqueológicas dos sítios omridas, a
hipótese que será verificada nesta pesquisa é a de que a dinastia omrida foi a
fundadora do primeiro Estado desenvolvido israelita, e que a fundação de
Samaria foi essencial para esse processo de estabelecimento do Estado, por
sua localização geográfica estratégica e por ter se tornado o centro da
administração de todo o reino de Israel Norte.

Desta forma, outra hipótese que será verificada nesta pesquisa é a de que
o único período em que Israel reinou de modo independente, que ao invés de
ser dominado dominava, foi durante o governo da dinastia omrida. Por fim, serão
analisadas as evidências das dimensões territoriais de Irsael Norte no séc. IX
AEC, comparando com o território atribuído à Monarquia Unida, com o objetivo
de verificar se é o mesmo território e se a ideia de Monarquia Unida não seria do
período dos reis omridas, durante o séc. IX AEC.
21

5. Estrutura da Pesquisa
Esta pesquisa possui seis capítulos divididos em quatro partes: 1. Bases, 2.
Literatura, 3. Arqueologia, e 4. Reconstrução Histórica. Na parte 1. Bases, está o
capítulo um, que aborda o estado atual das pesquisas sobre Israel Norte,
especificamente sobre os reis da dinastia omrida. Neste capítulo há uma seleção
de obras publicadas durante o séc. XX e XXI. No total são quinze estudiosos: 1.
William Foxwell Albright, 2. George Ernest Wright, 3. John Bright, 4. Martin Noth,
5. Werner Keller, 6. James Pritchard, 7. Herbert Donner, 8. Thomas Thompson,
9. Jorge Pixley e 10. Milton Schwantes), 11. Ildo Bohn Gass, 12. Mario Liverani,
13. José Ademar Kaefer, 14. Amihai Mazar, e 15. Israel Finkelstein). A partir
destes estudiosos, com seus pontos de vistas diferentes conforme suas épocas,
formam a base da visão sobre os reis da dinastia omrida nesta pesquisa.
A parte 2, (Literatura) possui dois capítulos: cap. 2 = A exegese de 1Rs
16.15-33, que segue em parte a Crítica das Formas, analisando a partir do texto
da Bíblia Hebraica e sua tradução e o conteúdo da perícope; e, cap. 3 = A
análise do conjunto literário sobre a dinastia omrida. Esta é a análise literária da
dinastia, desde seu surgimento e formação da dinastia por Omri, rei de Israel. O
estabelecimento da monarquia norte-israelita, a expansão do seu domínio
territorial, a vassalagem de outros povos, as listas de cidades transjordanianas
sob seu domínio e a indústria de cobre/bronze conquistada por eles. São
analisados os livros de 1 e 2 Reis, 2 Crônicas, as listas de cidades apresentadas
nos livros de Números, Deuteronômio, Josué e Juízes.
A parte 3, (Arqueologia) é composta por dois capítulos: o cap. 4 = A
fundação de Samaria a partir da Arqueologia, e cap. 5 = O território dominado
pelos omridas a partir da arqueologia. Nesta parte a análise é feita tendo como
base os relatórios e as visitas aos sítios arqueológicos dominados pelos omridas
no séc. IX AEC. Primeiro a análise dos relatórios das escavações em Samaria,
bem como dos diários de escavação de George Reisner e David Gordon Lyon,
informando com detalhes o que aconteceu e o que foi encontrado em cada dia
das temporadas de 1909-1910. Depois, no cap. 5 foi trabalhado o território
dominado pelos omridas, a partir de levantamento dos sítios de fronteira que
foram construídos ou dominados pelos omridas no séc. IX AEC. Com isso, pode-
se reconstruir as possíveis fronteiras do antigo reino de Israel Norte.
22

A parte 4, (Reconstrução Histórica) é composta por um capítulo, o cap. 6 =


A primeira monarquia independente. Neste capítulo são trabalhadas em conjunto
todas as informações vistas nos capítulos anteriores, é a discussão do tema
propriamente dito. A proposta de que a fundação de Samaria proporcionou a
Israel Norte fundar a primeira monarquia de fato, com todas as características de
um estado é uma nova no Brasil. A novidade em olhar a história de Israel a partir
do norte, é de fato uma nova visão da história israelita. Todo o território
dominado pelos reis omridas na Transjordânia e na costa litorânea, o domínio
político e comercial sobre a Síria e o domínio sobre Judá, mostram a extensão
do reino de Israel Norte.
23

PARTE 1
ESTADO ATUAL DA PESQUISA
24

Capítulo 1
A SITUAÇÃO ATUAL DA PESQUISA
SOBRE ISRAEL NORTE

Introdução
Neste capítulo será apresentada uma revisão de bibliografia de alguns dos
principais estudiosos da área bíblica do séc. XX, mostrando a situação atual da
pesquisa sobre a dinastia omrida. São as bases para o prosseguimento da
pesquisa sobre os reis omridas (Omri, Acab, Acazias, Jorão e Atalia). Este
capítulo está estruturado em duas partes principais: 1. Abordagens sobre a
dinastia omrida no séc. XX, e 2. Abordagens sobre a dinastia omrida no séc.
XXI. Cada uma desta partes são apresentadas obras selecionadas e publicadas
em cada período. Desta forma, pode haver estudiosos que viveram também na
época anterior, mas que produziram obras importantes no período seguinte.
Assim, o foco está nas obras publicadas sobre a história e arqueologia de
Israel, restringindo ainda mais para o Israel Norte do período da dinastia omrida,
séc. IX AEC. Autores como William Foxwell Albright, um dos pioneiros nas
pesquisas sobre a história e arqueologia de Israel, John Bright, seu discípulo,
James Pritchard, Herbert Donner e Thomas Thompson. Estudiosos latino-
americanos, como: Jorge Pixley, Milton Schwantes e José Ademar Kaefer, e
estudiosos israelenses na área da arqueologia, como Amihai Mazar e Israel
Finkelstein.
As obras apresentadas aqui fornecem uma visão geral do tema da dinastia
omrida, de forma que é possível perceber as tendências e as mudanças de
abordagem no decorrer do séc. XX e XXI. As abordagens oscilam entre as
visões maximalistas e as minimalistas, mas também é possível perceber a
ascensão da visão centrista da história de Israel e seus principais expoentes.
25

1. Abordagens sobre a dinastia Omrida publicadas até 1980


A busca pelo conhecimento e pela comprovação dos relatos bíblicos
durante a primeira metade do séc. XX, levou teólogos, historiadores e
arqueólogos a olhar a dinastia omrida sempre de modo negativo. Esta busca
tornou estas disciplinas científicas em servas da história bíblica. A própria
arqueologia em seus primórdios foi surgindo no cenário das ciências modernas
como uma ferramenta para a fundamentação dos fatos bíblicos.
Por outro lado, estas pesquisas iniciais deram grande impulso à
investigação bíblica e ao estudo da geografia da Palestina, como era chamado o
território no início do séc. XX. Duas escolas foram se distinguindo: o grupo
maximalista e o minimalista8. A escola maximalista segue o texto bíblico de perto
e entende a história de Israel de modo literal. Para eles a Bíblia é um registro
inteiramente histórico e em ordem cronológica de seus fatos (KAEFER, 2015,
p.12; KAEFER, 2014, 153-154). Os que pertencem à escola minimalista,
também chamados de “desconstrucionistas”, defendem que os materiais
entendidos como “históricos” da Bíblia são na verdade composições tardias do
período pós-exílico, persa ou mesmo helênico. Há quem defenda que a maior
parte da “história” de Israel, teria sido escrita no período Hasmoneu, para a
legitimação do governo dos sacerdotes.
A escola minimalista afirma que grande parte dos textos são construções
imaginárias e escritas com motivações puramente teológicas. Desta maneira, os
textos seriam apenas construções de habilidosos escribas, que produziram e
reuniram antigos mitos e narrativas lendárias juntamente com algumas
memórias de fatos históricos do séc. IX ao VI AEC. (FINKELSTEIN, 2007, p. 12;
KAEFER, 2014, p. 154-157).
Nas últimas décadas um grupo considerado “centrista” tem se fortalecido
nas pesquisas sobre a história bíblica. Este grupo de estudiosos tem adotado
como período de redação de grande parte do Pentateuco e muito da História
Deuteronomista o período tardio da monarquia, o período exílico e pós-exílico.

8Sobre este assunto, veja: SCHMITH, Bryan (ed.). The Quest for the Historical Israel: Debating
Archaeology and the History of Early Israel – by Israel Finkelstein and Amihai Mazar. Number 17.
Leiden-Boston: Brill, 2007. Veja também MENDONÇA, Elcio V. S. “O Novo Paradigma
Arqueológico e os Estudos Bíblicos”. Em: VIGIL, Jose Maria (ed.). Revista Voices. The New
Biblical Archaeological Paradigm. EATWOT, 2015, p. 25-37.
26

Assim, este grupo entende que os textos têm valor e que podem ter preservado
provas confiáveis sobre a história de Israel nos tempos monárquicos, o que não
os isenta de possuírem conteúdo altamente ideológico, adaptado ao seu período
de compilação. (FINKELSTEIN, 2007, p. 14; KAEFER, 2015, p. 20-21; KAEFER,
2014, 157-158).
Vejamos, a partir de agora, como foram e tem sido as abordagens de
alguns dos principais estudiosos bíblicos referentes à dinastia dos reis omridas
do séc. XX, entre teólogos, historiadores e arqueólogos.

1.1. William Foxwell Albright (1891-1971)

O período entre as duas guerras mundiais (1914-1918 e 1939-1945)


marcou de forma significativa os estudos bíblicos e os estudos da arqueologia
bíblica. Pode-se dizer que até a Segunda Guerra Mundial as expedições
arqueológicas que stavam se destacando pertenciam às potências da época,
como a Inglaterra, Alemanha e França. Isto pode ser constatado nas iniciativas
de pesquisa bíblica e arqueológica na Palestina desde o final do séc. XIX e início
do séc. XX. Várias instituições de ensino e pesquisa foram fundadas e
estabelecida nos arredores da Cidade Velha de Jerusalém, dentre estas
instituições, podemos citar como exemplo, a francesa École Biblíque et
Archeologique Française de Jérusalem9 (RODRIGUES; FUNARI, 2009, p. 98-
99).
Nos anos entre as guerras mundiais, as instituições de pesquisa bíblica e
arqueológicas norte-americanas passam a dominar os estudos na Palestina.
Nesta época, William Foxwell Albright se destacou e, posteriormente, foi
considerado o “pai da arqueologia bíblica”, graças aos seus métodos e
considerações epistemológicas da arqueologia bíblica desenvolvidos por ele.
Segundo Mazar, os trabalhos de Albright durante os vinte anos entre as guerras
mundiais foram extremamente significativos, especialmente suas escavações
em Tell el-Ful (1922-1923, 1933), Betel (1927) e Tell Beit Mirsim (1926-1932).
Albright “teve grande impacto sobre as gerações posteriores de estudiosos
americanos e israelenses” (MAZAR, 2003, p. 34-35). Albright também sugeriu a

9 Para mais informações sobre a École Biblique et Archeologique Française de Jérusalem, veja
http://www.ebaf.edu/?cat=78&lang=en.
27

localização de Tirza na colina chamada Tell el-Far‘ah, à onze quilômetros de


Nablus em 1930, e em 1947 escavou em Tirza sob a direção de Roland de Vaux
(WRIGHT, 1956, p. 219).
Uma das obras clássicas de Albright é The Archaeology of Palestine cuja
primeira publicação se deu em 1949, é uma obra condensada, onde ele
apresenta suas interpretações arqueológicas de diversos sítios já pesquisados e
as relaciona com as narrativas bíblicas. Ele divide a obra por períodos que vão
desde a pré-história até o período do Novo Testamento.
A parte que nos interessa aqui é a do período do Ferro I e Ferro II, onde ele
trabalha a arqueologia e a história de Israel na época da monarquia. Seguindo
uma linha tradicionalista e literalista do texto bíblico, Albright parece entender a
Bíblia como um livro histórico, o que o levou a pesquisar através da arqueologia
os vestígios históricos que comprovariam tal historicidade bíblica.
Deste modo, ele vê a história da ascensão e queda de Saul e a ascensão
de Davi como rei, como uma história legítima e com comprovações históricas,
bem como a construção da chamada Monarquia Unida. Para ele (1949, p. 120-
122), Davi fortificou o reino de Judá em suas constantes lutas contra os filisteus
e a conquista de Jerusalém das mãos dos Jebuseus, como o ponto inicial da
formação do grande império de Davi e de Salomão durante o séc. X AEC.
Albright, nesta obra aborda um pouco mais a história sobre Salomão, e se
baseia no texto de 1Rs 9.15 para interpretar as evidências arqueológicas de
Gezer, Megiddo e Ḥazor. Ele utiliza das descobertas de P. L. O. Guy sobre os
estábulos de Megiddo do estrato IV e V para afirmar que são edificações de
Salomão, sendo este período o mais florescente da civilização material da
história da Palestina (ALBRIGHT, 1949, p. 123).
Segundo ele, ao se examinar as evidências arqueológicas de Megiddo
encontradas por Schumacher com as evidências de Macalister encontradas em
Gezer, fica clara a ligação das edificações realizadas por Salomão. O mesmo
aconontece ao se comparar as construções em Tell el-Hesi (estrato V), com as
de Ḥazor e as de Taanac. A conclusão seria que todas elas foram, de fato,
construções feitas por Salomão (ALBRIGHT, 1949, p. 124-125).
Os portões de seis câmaras, segundo Albright (1949, p. 126-127), já eram
utilizados em Carquemis, norte da Síria, desde o final do séc. XI AEC. Tais
28

portões teriam se tornado o estilo padronizado por Salomão em várias das suas
fortalezas, tanto em Megiddo com em Gezer e Ḥazor, também em Laquish e em
Ezion-Geber, no Golfo de Aqaba. Mesmo assim, Albright não está totalmente
convicto, pois ele mesmo diz que “tem quase certeza que datam de Salomão”.
Sobre os omridas, Albright reserva poucas páginas de sua importante obra,
três ou quatro páginas onde são citados os nomes de Omri e Acab. Quando ele
cita a Estela de Mesha, ele o faz em poucas linhas, e não menciona os reis
omridas (p. 128-129, 137).
Em outra obra de referência de Albright The Archaeology of Palestine and
the Bible, de 1932, ele menciona Acab e a dinastia omrida somente em três
páginas (p.31-33). Ele não fornece muitas informações sobre os omridas,
apenas menciona os arqueólogos e as expedições que trabalharam em Samaria,
como é o caso de George A. Reisner e C. S. Fischer, nada mais.
O mesmo acontece em outra importante obra de Albright, Archaeology and
the Religion of Israel, cuja primeira edição foi impressa em 1942. Nesta obra, o
tema central é a religião no Antigo Oriente Próximo, e aborda principalmente a
religião no antigo Israel e de Canaan. Embora haja muito a se dizer da religião
em Israel Norte, Albright se limita a mencionar brevemente o período de Omri e
Acab, somente para se referir aos óstracos de Samaria, que já na época desta
edição eram datados no período de Jeroboão II, e a Estela da Mesha, para tratar
da escrita hebraica em Israel e por citar o nome de Javé, o tetragrama
(ALBRIGHT, 1956, p.41).
Outra ocorrência dos omridas nesta obra acontece no capítulo cinco,
quando trata do ciclo de Elias/Eliseu e do conflito entre os profetas de Baal e de
Aserá (ALBRIGHT, 1956, p. 157). A escassez de referências aos omridas na
obra de Albright, demonstra a pouca importância que se dava à história desta
dinastia ainda na primeira metade do séc. XX.

1.2. George Ernest Wright (1909-1975)

Wright se tornou muito conhecido por sua experiência em Arqueologia do


Antigo Oriente Próximo, especificamente em sua metodologia para datação da
cerâmica. Wright foi um pastor presbiteriano e se especializou nos estudos do
Antigo Testamento, estudando com William Foxwell Albright, com quem fez seu
29

mestrado e doutorado10. Wright dirigiu algumas expedições arqueológicas na


Palestina, como por exemplo, as escavações em Siquém11, atual Nablus, entre
os anos de 1956 e 1957, através da Joint American Expedition (TAHA; VAN
DER KOOIJ, 2014, p. 8-9).
Com relação às histórias bíblicas e, especialmente, sobre as narrativas
acerca de Davi, Salomão e os omridas, Wright segue os mesmos passos de
Albright, seu mestre. Ele procura provas arqueológicas que deem historicidade
ao relato bíblico acerca de Davi e Salomão. Isto não quer dizer que tais relatos
não são confiáveis, mas que necessitam de uma análise crítica, para que se
perceba as influências de redatores tardios deuteronomistas.
Para ele, Davi foi estabelecido como rei em lugar de Saul, porque ele tinha
dotes extraordinários e grande carisma dado pelo próprio Deus (WRIGHT, 1956,
p. 178). Isto fez com que o reino de Saul ruísse e Davi fosse colocado como rei.
Segundo Wright, Davi montou um aparato burocrático e administrativo, e
escolheu escribas para trabalharem para ele, o que indica que Davi estabeleceu
um estado bem estruturado, capaz de organizar e manter um grande império (p.
180).
Com relação a Salomão, Wright reserva um bom número de páginas para
expor toda a glória de Salomão (p. 186-209). Segundo ele, Davi expandiu todo o
território de Israel, o qual se denomina Monarquia Unida, e Salomão deu toda a
glória a essa monarquia. Wright chama esse período de Idade de Ouro.
Segundo ele, Salomão teria fortificado Jerusalém, construído edifícios
administrativos, cidades com capacidade de armazenamento e cidades com
estábulos para os carros e cavalos de guerra. Também, Salomão teria sido um
grande comerciante, que negociava carros de guerra e cavalos para os povos
vizinhos. Para Wright, Salomão queria controlar o comércio com a Arábia e a
Mesopotâmia, e para isso, mandou construir Ezion-Geber no Golfo de Aqaba,
para fazer a cada três anos, uma viagem comercial para a região da Etiópia e
Iêmen, tais navios retornavam carregados de ouro, prata, marfim e animais
(WRIGHT, 1956, p. 186).

10 Veja, http://oasis.lib.harvard.edu/oasis/deliver/~div00667. Acesso em 19/09/2016.


11 Veja mais informações sobre as escavações em Siquém (Tell Balata) em:
http://www.tellbalata.com/.
30

Além disso, as cidades de Megiddo, Gezer e Ḥazor, com suas muralhas de


casamata, armazéns, palácios e portões de seis câmaras, levaram também
Wright a acreditar, como seu mestre Albright, que eram de fato cidades
salomônicas do séc. X AEC. Isto é perceptível quando se lê as páginas 187-195,
onde Wright trabalha as evidências arqueológicas e os textos bíblicos referentes
ao período.
Sobre a dinastia omrida, Wright trabalha um pouco mais que seu mestre
Albright, fornecendo e discutindo diversas informações sobre as escavações em
Samaria e a história bíblica de 1Rs 16. Samaria de fato foi fundada por Omri,
pois a arqueologia apresenta as primeiras edificações nos anos de Omri, rei de
Israel.
Muitas evidências encontradas em Samaria, como os muros de casamata e
os capitéis proto-iônicos, foram logo comparados com os de Megiddo, por sua
grande semelhança, mas atribuídos sempre à Salomão, e que Omri e Acab
teriam feito semelhantemente aos de Megiddo, construídos por Salomão. Wright
atribui as peças de marfim encontradas em Samaria à dinastia omrida,
especificamente de Acab.
É interessante que já na década de 1950, Wright tenha mencionado a
possibilidade de os estábulos e outras edificações de Megiddo e Ḥazor,
comumente atribuídas a Salomão, serem de Acab, no séc. IX AEC. Isto vai
contra seu mestre Albright, que datou estes edifícios no período de Salomão,
séc. X AEC. No caso de Ḥazor, ele diz que o palácio-fortaleza do estrato VIII,
que fora posteriormente destruído por Tiglate-Pileser III em 733-732, teria sido
construído por Acab no séc. IX AEC (WRIGHT, 1956, p. 222-226).
Estas informações foram inovadoras, mas permaneceram em silêncio até
os dias atuais. Wright também menciona a Estela de Mesha, mas sem
mencionar o território ocupado pelos reis omridas, e faz um breve comentário
sobre o Obelisco de Salmaneser III, o qual cita Jeú como vassalo da Assíria (p.
226-227).

1.3. John Bright (1908-1995)

John Bright, um teólogo e pastor presbiteriano, estudou e trabalhou no


Union Theological Seminary até o final de sua carreira como professor. Nos anos
31

de 1931 e 1932, Bright viajou para participar das escavações em Tell Beit
Mirsim, na quarta e última temporada. As expedições neste sítio eram lideradas
por William Foxwell Albright, e lá John Bright o conheceu e se tornou seu
profundo admirador e discípulo, ao lado de George Ernest Wright.
Bright se encontrou com Albright novamente nas escavações em Betel, em
1935, e neste mesmo ano iniciou o doutorado sob a orientação de Albright na
John Hopkins University, cuja tese foi concluída em 1940 com o título The Age of
King David: A Study in the Institutional History of Israel. Tal tese foi publicada em
1959 sob o título History of Israel, a qual foi traduzida para vários idiomas
(BRIGHT, 2003, p. 15-16).
Bright foi mais historiador que arqueólogo, e trabalhou uma metodologia
que fosse satisfatória para o estudo da história do antigo Israel. Ele classificou
como insatisfatórios os trabalhos de Martin Noth e Yehezkel Kaufman, por causa
da análise crítica da história de Israel, que segundo ele, deixava a fé de lado
(BRIGHT, 2003, p. 19). Por isso, ele passou a utilizar a arqueologia na linha de
frente de sua pesquisa sobre a história de Israel, pois segundo ele, a
arqueologia ajudaria a compreender de forma mais objetiva os eventos históricos
narrados nos textos bíblicos.
Bright teve a tendência de estabelecer datações para as narrativas bíblicas
conforme a época que elas narram, ou seja, as narrativas sobre Abraão são
datadas no período do Bronze, talvez do Bronze Médio ou Tardio. Moisés e os
textos de Josué e de Juízes, como sendo narrativas escritas antes do período da
monarquia israelita. Isto causa certos problemas metodológicos quando
trabalhados ao lado de outras disciplinas, como a arqueologia moderna.

1.4. Martin Noth (1902-1968)

Martin Noth foi um estudioso que se especializou em Bíbia Hebraica e


história de Israel, principalmente no período anterior à monarquia. Noth propôs a
ideia de anfictionia ou da liga das tribos israelitas organizadas em torno de um
santuário central, baseando-se num paralelo com a anfictionia grega. Tal ideia
foi duramente criticada por estudiosos posteriores e atuais, como Thomas
Römer (2008) e Jean-Louis Ska (2016). Ele seguiu a história de Israel levando
em conta a existência de um período pré-monárquico tribal, iniciando a
32

monarquia com Saul, Davi e Salomão, com a monarquia unificada e,


posteriormente, a monarquia dividida entre Norte e Sul.
Noth comenta sobre a dinastia omrida, mas sem aprofundamentos. Ele é
levado pela sintonia do texto bíblico dos Reis a ver tal dinastia como ruim,
adoradora de Baal e desobediente a Javé. Ele diz que Omri foi o fundador da
primeira dinastia israelita, que, embora por pouco tempo, emplacou cinco reis,
mas não trabalha as questões do reinado dos reis desta dinastia. Atalia é
apresentada por ele somente como uma mulher que interrompeu a dinastia
davídica. Embora Noth tenha dado sua contribuição às pesquisas bíblicas sobre
o Antigo Testamento no séc. XX, sobre o período da dinastia omrida,
especificamente, ele não proporcionou grandes avanços.

1.5. Werner Keller (1908-1980)

Werner Keller nasceu em 1909 na Alemanha, e viu de perto o horror das


duas grandes guerras mundiais, bem como seus desdobramentos para a cultura
religiosa cristã em toda a Europa. Dentro do pensamento positivista do pós-
guerra, em 1955 lançou sua obra intitulada A Bíblia Tinha Razão12, que foi
publicada pela primeira vez em português em 1958. Keller teve grande
repercussão nas décadas seguintes, sendo muito utilizado em faculdades e
seminários de Teologia em diversas partes do mundo.
Em seu relato introdutório, ele afirma ter sido inspirado por arqueólogos
franceses que escavaram Mari e Ugarit em 1950, resolveu escrever um livro
sobre a Bíblia, cujo objetivo principal era claramente apresentar provas da
historicidade dos relatos bíblicos, diante da “crítica cética” desde o iluminismo
até seus dias (KELLER, 1964, p.7-9).
A importância da sua obra está em reunir os resultados das expedições
arqueológicas realizadas até a década de 1950 com o texto bíblico, dando
fundamento histórico cronológico para diversas passagens da Bíblia, mesmo a
relatos míticos como, por exemplo, os relatos de Gn 1-11.
Keller reserva quatro capítulos inteiros para falar sobre a Monarquia Unida,
chamada por ele de Grande Reino (p.161-193). A ideia de Davi e Salomão como
grandes monarcas e que dominaram um vasto território, é fortemente trabalhado

12 O título original da obra é “Und die Bibel hat Doch Rech” (E a Bíblia ainda está Certa).
33

nesses capítulos. Ele classifica o reinado de Davi como uma grande potência
(KELLER, 1964, p. 162).
Segundo ele, a despeito da grandeza e do poderio egípcio, Davi foi
alargando suas fronteiras para todos os lados, conquistando ao leste o território
além do Jordão, Amon e Moab, e ao sul, descendo pelo deserto de Arabá, até o
Golfo de Ácaba. Para Keller, o objetivo de Davi era o de controlar o comércio de
cobre e minério de ferro e a Estrada Real que seguia pelo território de Edom.
Davi teria ainda avançado para o leste, conquistando as terras do vale do
Jarmuk e o planalto de Gilead, seguindo para o norte. Isto deve ter incomodado
o avanço assírio. Mesmo assim, Davi avançou para o norte até Orontes, e a
ideia era expandir o império davidida até o rio Eufrates. Para Keller, Davi
avançou para o território sírio e derrotou o rei de Damasco, prestando grande
auxílio, sem saber, ao avanço do império assírio, que mais tarde aniquilaria o
reino de Israel. Davi, portanto, estendeu suas fronteiras ao norte até o vale do
Orontes (região onde ocorrera a batalha de Qarqar, quando a coalisão
antiassíria encabeçada por Acab enfrentou o poderoso exército assírio),
ocupando territórios do Líbano, descendo até Ezion-Geber, no Mar Vermelho,
uma distância de aproximadamente 600 km (KELLER, 1964, p. 161-165).
Keller descreve o território dominado por Davi como um aglomerado de
tribos que passou a ser um grande império, ocupando todo o território israelita e
sírio. Com prédios públicos e um sofisticado aparato burocrático com escribas
ocupando o segundo posto da hierarquia do Estado (KELLER, 1964, p. 166-
168).
De igual forma, Keller reservou várias páginas (p. 169-181) para abordar a
história de Salomão. Ele inicia falando da historicidade dos textos bíblicos
referentes a Salomão, principalmente 1Rs 9, que traz várias informações sobre
as cidades edificadas por Salomão (1Rs 9.15) e a citação de Ezion-Geber e o
comércio de ouro com Ofir (1Rs 9.26-28).
O arqueólogo Nelson Glueck13, rabino norte-americano, escavou na região
do Golfo de Aqaba, junto ao Mar Vermelho, encontrando as ruínas de Tell el-
Kheleifeh. Glueck encontrou vários vestígios de cobre e edificações feitas em
blocos e pedras, logo ele identificou os achados de Tell el-Kheleifeh como sendo
13Para mais informações sobre Nelson Glueck, veja http://www.ngsba.org/en/about/our-founder-
nelson-glueck.
34

a bíblica Ezion-Geber, nas proximidades de Eilat, conforme descrito em 1Rs


9.26, e ligou o comércio de cobre ao domínio de Salomão (KELLER, 1964, p.
170-172).
Depois dos achados em Tell el-Kheleifeh, Glueck passou a se referir a
Salomão como “o rei do cobre”, mas ele não consegue fazer uma ligação clara,
baseada nos vestígios arqueológicos, a ligação entre a Fenícia e Salomão, ele
apenas faz a ligação entre ambos, baseando-se especificamente em textos
bíblicos (Dt 8.7,9; 1Rs 7.13-14; 9.27). À esta indústria de cobre do rei Salomão,
Keller chama de “coluna do rei Salomão” (KELLER, 1964, p. 171-177).
Keller, depois de apontar para estas evidências no Golfo de Aqaba e ao
trabalho de Nelson Glueck, passou a apresentar outras evidências, que segundo
ele, comprovariam a existência do grande império de Davi e Salomão. Ele
passou a estudar o sítio de Tell el-Muteselim, atualmente chamada como Tel
Megiddo.
Como havia diversas barreiras para a realização de escavações, sendo
necessário autorizações dos donos das terras ou até mesmo do governo, o
Instituto Oriental da Universidade de Chicago, com recursos levantados de
iniciativas privadas, comprou em 1925, a colina de Tell el-Muteselim, afim de que
pudessem escavar livremente o sítio (KELLER, 1964, p. 177). Tell Muteselim foi
escavada inicialmente pela Sociedade Alemã do Oriente, sob a direção de
Gottlieb Schumacher, entre os anos de 1903-1905 (SCHUMACHER, 1908).
Em 1925, o arqueólogo Clarence S. Fischer começou a escavar a colina
com seu método modelo. Sua expedição escavou a colina em “fatias”, cavando
centímetro por centímetro. Ele encontrou pelo menos quatro estratos, chegando
até o período israelita. Depois de Fischer, vieram os arqueólogos Gordon Loud e
P. L. O. Guy, que continuaram a escavar o estrato IV do período israelita.
Segundo Keller, todos eles encontraram “surpresas sensacionais do tempo do
rei Salomão” (KELLER, 1964, p. 178).
E os omridas? Para os reis omridas, Keller reservou as páginas 197-207.
Keller não faz uma apresentação tão empolgante quanto a apresentação que ele
fez sobre Davi e Salomão, mas apresenta alguns fatos que são, de certa forma
importantes para a pesquisa sobre Israel Norte e os omridas.
35

Ele fala que Omri (chamado por Keller de Amri), pressentindo a ameaça
assíria, comprou uma colina e construiu Samaria, uma colina rodeada por
montanhas, junto a um fértil vale que liga o Vale do Jordão à costa litorânea.
Segundo ele, Omri teria construído a plataforma alta e Acab, seu filho, a
plataforma baixa, ambas no topo da colina, com cerca de cem metros de altura.
O rei Acab fez aliança com Ben-Hadad, rei de Damasco, com a finalidade
de fortalecer a barreira contra a Assíria. Keller menciona as inscrições de
Salmaneser III, que cita Acab e sua força bélica na batalha da coalisão
antiassíria. Mas esta aliança durou até a retirada temporária das forças assírias,
quando numa nova batalha contra Damasco Acab morre e Hazael, rei de
Damasco, toma de volta grande parte do território ocupado por Israel. Acab é
apresentado por Keller como sendo um rei idólatra, tal qual era e é a tendência
da teologia cristã (KELLER, 1964, p. 199-200).
Keller menciona as escavações realizadas em 1908-1910, pela
Universidade de Harvard, dirigidas inicialmente por George A. Reisner, seguido
por Clarence S. Fischer e D. G. Lyon, em 1931-1935 pela equipe dirigida pelo
arqueólogo inglês J. W. Crowfoot. Pelo menos com relação a Samaria, Keller
não teme em afirmar que foram os omridas que a construiram, diferentemente
de Megiddo, Ḥazor e Gezer, as quais Keller insiste em afirmar que são cidades
edificadas por Salomão, como era a tendência da época, inicialmente dos
arqueólogos cristãos, e depois de 1948, dos arqueólogos israelenses.
Ele menciona a Estela de Mesha, mas não enfatiza o domínio de Israel
Norte sobre o leste do Jordão. Sua ênfase está no ponto em que a estela e a
Bíblia concordam na derrota dos omridas. O comentário sobre os reis omridas se
encerra na menção da revolta de Jeú e da inscrição onde ele aparece,
prostrando-se diante de Salmaneser III e pagando-lhe tributo (KELLER, 1964, p.
205-207).

2. Abordagens sobre os omridas publicadas entre 1980 e 2000


2.1. Herbert Donner (1930-2016)

Uma das obras mais importantes de Donner são os dois volumes de


História de Israel e dos Povos Vizinhos. A obra foi lançada primeiramente em
alemão, em 1986, e traduzida para o português em 1997, numa parceria entre
36

as editoras Sinodal e Vozes14. Os dois volumes desta obra abordam a história


de Israel desde as origens até o período grego de Alexandre, o Grande, sempre
seguindo uma linha teológica tradicional.
A história de Davi ocupa todo o capítulo 3 do livro (p.216-249), sob o título
“O império de Davi” e a história de Salomão, o capítulo 4 (p. 250-268). São dois
capítulos para tratar com certos detalhes da historicidade das narrativas
relacionadas ao grande império de Davi e Salomão. Ele trabalha com a hipótese
largamente aceita de que a monarquia unida tenha sido de fato estabelecida no
período dos reinados de Davi e Salomão.
A exemplo de Werner Keller, Donner também afirma que Davi organizou
um aparato público administrativo complexo, com áreas competentes, como,
militar, civil e política. Segundo ele, Davi ainda teria um exército popular, um
corpo de escribas e de sacerdotes à disposição da coorte e da população.
Donner ainda reafirma a tese de Keller, quando diz que o território dominado por
Davi ia desde a Síria até o deserto de Beerseba, em torno de 500 km de
extensão norte-sul, também os territórios antes dominados pelo Egito, as terras
férteis e a Transjordânia (DONNER,1997, p. 234-239).
Sobre Salomão, Donner procura fazer uma análise mais crítica da
construção da narrativa de 1Reis, pois, segundo ele, é extremamente difícil
analisar a história de Salomão, e identificar quem é o Salomão histórico, quem é
o Salomão do deuteronomista e quem é o Salomão ideal na interpretação do
autor da narrativa. Para Donner (1997, p. 252), se há algo de histórico na
narrativa sobre Salomão, isto deve ter sido sua iniciativa de manter relações
internacionais.
Donner reafirma o discurso a respeito das relações comerciais de Salomão,
do seu comércio de cavalos e de cobre, especialmente na citação das
escavações em Ezion-Geber, bem como do apoio fenício para construção de
navios para o comércio de ouro em Ofir (DONNER, 1997, p. 254). Segundo
Donner (1997, p.261),

O programa de construção de fortalezas de Salomão (9.15-18)


deixa entrever que o rei reorientou o núcleo do território

14Cf. DONNER, Herbert. História de Israel e dos Povos Vizinhos. Vol.1. Da época da divisão do
Reino até Alexandre Magno. São Leopoldo: Sinodal, 1997, p. 197-268.
37

palestinense em moldes defensivos. Ele erigiu as seguintes


fortalezas: Ḥazor (Tell Waqqaç), para a segurança das estradas
no norte e contra os arameus; Meguido (Tell el-Mutesellim), para
a segurança das estradas de ligação que cruzam a planície do
mesmo nome; Gezer (Tell Djezer) e Bete-Horom (Bet 'Ur et-
tahta), com a finalidade de defesa gradual na estrada da planície
litorânea até Jerusalém; no sul, Baalate (?) e Tamar ('En Haçb),
contra os edomitas e provavelmente também contra os nômades
do deserto meridional. Tratava-se preponderantemente, se não
exclusivamente, de antigas cidades cananéias cujas
fortificações, já existentes, Salomão só precisava ampliar e
reforçar. Em todo caso, o sistema de defesa, prudentemente
equilibrado, mostra o alto grau de ameaça que Salomão atribuía
à sua posição e com que inimigos potenciais contava.

Uma grande contribuição de Donner foi a abordagem que ele faz da


dinastia omrida (DONNER, 1997, p. 303-318). Segundo ele, a dinastia omrida
governou de forma majestosa diante dos desafios e dos problemas políticos
internos e externos de sua época. Também a grande problemática do império
assírio era uma realidade cada vez mais próxima (DONNER, 1997, p. 303).
Mesmo diante dos assírios, os omridas expandiram seu território e prepararam
um poderoso exército com centenas de carros de guerra, a maior força de carros
de todos os reinos vizinhos, conforme as inscrições assírias de Salmaneser III.
Donner classifica os omridas como soberanos talentosos e enérgicos. As
construções e monumentos eram uma representação do seu poder. Porém,
Donner não aprofunda na pesquisa sobre esses personagens da história. O
problema da religião canaanita em Israel e a fé exclusiva em Javé foram temas
que alcançaram seu ápice durante esta dinastia. Neste contexto entra em cena
Elias, o profeta, fazendo críticas a Acab e defendendo a exclusividade da religião
javista (DONNER, 1997, p. 306-308).

2.2. Thomas Thompson

Thomas L. Thompson é um estudioso norte-americano de Teologia Bíblica


e História de Israel. Foi professor na Universidade de Copenhague entre 1993 e
2009, e seguiu seriamente o movimento conhecido como Minimalista, da escola
de Copenhague, juntamente com outros estudiosos, como Neils Peter Lemche e
Philip Davis. Thompson foi orientando de Joseph Ratzinger (que na época era
professor de Teologia Sistemática), nos estudos de mestrado, mas seu
38

orientador não aceitou sua pesquisa, e Thompson ficou sem seu título. Alguns
anos depois sua pesquisa foi publicada e fortemente criticada por ter feito uma
análise crítica sobre as narrativas patriarcais (MOOREY, 1991, p. 114).
Como resultado de sua publicação, pelas controvérsias que surgiram, ele
ficou vários anos sem conseguir vaga em universidades norte-americanas para
ser professor (THOMPSON, 1999, p. xiii). Mas em 1985 ele foi indicado como
professor na École Biblique de Jerusalém, onde atuou como professor e
pesquisador nos sítios arqueológicos protegidos pela UNESCO.
Em 1987, Thompson publicou um livro sob o título The Early History of the
Israelite People, no qual ele retoma pesquisas realizadas por ele em 1978, onde
afirma que Israel teria surgido nas terras altas ao norte de Jerusalém no séc. IX
AEC, excluindo assim qualquer possibilidade de ter havido uma Monarquia
Unida no séc. X AEC. Esta obra causou reações mais fortes que o anterior sobre
os Patriarcas. Isto fechou de vez as portas das universidades norte-americanas
para Thompson. Entretanto, isto, segundo ele, “foi uma bênção inequívoca”,
porque lhe abriu uma porta na Universidade de Copenhague, onde ele atuou
como professor por dezesseis anos (THOMPSON, 1999, p. xiv-xv).
Na obra citada The Early History of the Israelite People (1987), Thompson
critica duramente a existencia da Monarquia Unida, que segundo ele, não há
qualquer vestígio de sua existencia. Para ele, Israel surge como um povo no séc.
IX AEC. Ele não faz ligação entre a Monarquia Unida e a dinastia omrida, mas
aponta que a dinastia omrida é uma monarquia que possui muitas evidências de
sua existência, porém ele também não diz que ela foi a primeira monarquia.

2.3. Jorge Pixley

Jorge Pixley é um biblista com fortes influências na América Latina, embora


nascido nos Estados Unidos. Pixley escreveu várias obras, mas utilizarei aqui
somente uma, A História de Israel a Partir dos Pobres (1989). Nesta obra, escrita
no final do séc. XX, Pixley segue a tendência de interpretação da história de
Israel desde o séc. XIX, tomando o relato bíblico como documentação histórica e
comprovável pelos métodos arqueológicos. Ele segue bem próximo a narrativa
bíblica dos juízes e do início da monarquia israelita, com a escolha de Saul por
Javé, e posteriormente sua rejeição como rei pelo próprio Javé. Ishbaal, filho de
39

Saul, assume o trono, mas Davi vai para Judá e é coroado rei.
Pixley desenvolve a história de Israel a partir do Sul, e dizendo que a
escolha e tomada de Jerusalém por Davi foi sobremaneira estratégica. Para ele,
as razões para a escolha de Jerusalém como a nova capital de Judá, são, entre
outras, sua localização geográfica, sua localização estratégica e a existência de
muralhas circundando a cidade (p. 27).
Para Pixley, Davi fundou um grande império, e isto se deu por causa de
suas grandes conquistas territoriais e suas guerras. Davi teria organizado a
sociedade israelita, estabelecido funções administrativas e burocráticas, o
exército e o sacerdócio. Javé falaria direto com ele e com o profeta da corte.
Quanto a Salomão, ele não escreve muito, mas afirma que a estrutura
social do reinado de Salomão se assemelha às estruturas clássicas do modo de
produção tributário, com somente uma diferença, o rei estava submetido
formalmente a Javé (p.34-35).
Com relação ao Reino de Israel Norte, ele apresenta a estrutura social
baseada no rei e no exército, e todas as tribos estavam submetidas a eles. Para
ele o rei tinha pouca autoridade sobre os santuários religiosos locais, e que o rei
não era mais do que um chefe militar, responsável pela segurança das tribos
(p.40-41). Esta é uma visão muito reducionista da história de Israel Norte, e
privilegiar a história de Judá, Reino do Sul.
A história de Omri é apresentada em três páginas, e é possível perceber
certo desprezo a esta dinastia. O casamento de Acab com Jezabel, para ele, foi
simplesmente por questões de política externa, para fortalecer a política interna.
Acab teria construído um templo em Samaria a exemplo de Jerusalém, mas
afirma ser impossível domesticar Javé.
Atalia foi dada em casamento a Jorão, filho de Josafá, somente para se
manter boa relação entre os dois reinos, o que é uma interpretação bastante
simplista desse relato. Nessa época Israel Norte já dominava Judá, e Atalia foi
para Jerusalém como uma representante real dos omridas, tendo se casado com
Jorão e assumido o trono logo após a morte de Acazias, seu filho.
Pixley diz nesta obra que o único objetivo ou estratégia dos omridas era a
fundação da nova capital, Samaria, e o estabelecimento de um culto oficial a
Baal, sem que os santuários de Javé em Dan e Betel deixassem de funcionar.
40

Para ele, o rei estava no centro da estrutura social do reino de Israel Norte, e
que todas as demais áreas da sociedade estavam diretamente subordinadas a
ele.

2.4. Milton Schwantes (1946-2012)

Milton Schwantes foi um biblista brasileiro nascido no Rio Grande do Sul.


Sua obra é composta por inúmeros títulos publicados, tanto livros quanto artigos,
em português e outros idiomas. Deixou um importante legado na área da
exegese e arqueologia bíblica em toda a América Latina, cujos estudos
influenciaram e influenciam biblistas em todo o continente. Schwantes iniciou um
grupo de pesquisa em arqueologia, posteriormente retomado e reformulado por
José Ademar Kaefer, cujo projeto assumiu a seguinte nomenclatura,
“Arqueologia do Antigo Oriente Próximo”. Este projeto está em andamento
atualmente.
Entre as obras de Schwantes serão utilizadss duas: Breve História de Israel
(2008) e As Monarquias no Antigo Israel (2006). Tais obras são basicamente
roteiros para a compreensão da história de Israel no âmbito sociológico e
político, e isto faz destas obras peças importantes para esta pesquisa sobre a
dinastia omrida em Israel Norte.
Na obra As Monarquias no Antigo Israel, Schwantes procura reconstruir a
história das origens da monarquia em Israel desde o período dos juízes. Apesar
dele seguir a história do tribalismo e dos juízes como fases antecessoras da
monarquia, a obra tem valor pelas informações e análises críticas que ele faz do
período da monarquia propriamente dita.
Schwantes faz boa caracterização dos reinos do Norte de do Sul,
diferenciando seus territórios e levantando questões geográficas, topográficas e
sociais de cada um destes reinos (p. 52-53). É interessante que ele faz uma
abordagem da história colocando inicialmente o Reino do Norte, comentando a
respeito de Samaria, só depois faz seus comentários acerca do reino do Sul,
Judá.
Para ele, a fundação de Samaria foi crucial para o desenvolvimento do
Reino de Israel Norte. Segundo Schwantes, Siquém seria uma capital com
localização mais apropriada, por ser um entroncamento de duas rotas, a norte-
41

sul e a leste-oeste, porém, esta é frágil, por se localizar no meio de um vale.


Diferente de Samaria, que segundo ele, não está numa posição que supere a de
Siquém, mas está no alto da montanha e junto ao vale, por onde passa a rota
comercial leste-oeste, e liga Samaria a Siquém em pouco tempo.
Outra obra Breve História de Israel, Schwantes amplia a pesquisa iniciada
na obra anterior, e estende os estudos da história de Israel até o período dos
Macabeus, no séc. II AEC. Ele não dá ênfase nos reinados de Davi e Salomão,
mas também não prossegue na análise mais aprofundada acerca do Reino de
Israel Norte e da dinastia omrida. O objetivo maior nesta obra parece ser a
questão sociológica, como na obra anterior.
Schwantes aborda a dinastia omrida de forma mais positiva, olhando a
partir da arqueologia e da importância de Samaria. Ele aborda um pouco mais o
reinado de Atalia, e escreve mais detalhes sobre este período. Segundo ele, a
sociedade no Norte se definia na montanha de Samaria, e neste caso, toda a
região ao norte, como as montanhas da Galileia, passa a ser periférico. É
interessante como Schwantes estava percebendo as mudanças no pensamento
teológico e exegético a respeito deste período, o séc. IX AEC, a fundação de
Samaria como a nova capital do Reino de Israel Norte (p.28-36).

3. Abordagens sobre a dinastia omrida publicadas após 2000


3.1. Ildo Bohn Gass

Gass organizou uma coleção de livros intitulada “Uma Introdução à Bíblia”.


Esta coleção aborda um vasto período de tempo e trabalha todos os livros
bíblicos do Antigo e do Novo Testamento. São vários volumes entre cem e
duzentas páginas.
De todos os livros desta coleção, dois tratam do período de Davi e
Salomão e da chamada monarquia dividida, o volume 3 Formação do Império de
Davi e Salomão (2011) e o volume 4 Reino Dividido (2011). São os livros que
tratam da história de Israel no período da monarquia, especificamente, da
formação do grande império de Davi e Salomão, e do período da monarquia
israelita e judaíta.
Ambos os livros seguem de perto as narrativas bíblicas, quase que
literalmente. Em vários casos ele faz abordagem interessante sobre o contexto
42

do texto e procura sempre uma ponte com a atualidade. Mas ele não tem
acompanhado, pelo que parece, os avanços da pesquisa arqueológica e
histórica da Bíblia, bem como as dificuldades textuais e de datações redacionais.
Na obra Formação do Império de Davi e Salomão (2011), o foco principal é
a ascensão de Davi e a formação da monarquia unida. Gass aborda vários
aspectos da ascensão de Davi ao trono de Israel e do domínio sobre todas as
doze tribos. A expansão do território e todo o aparato burocrático do império, e
isto depois da reprovação do reinado de Saul. Para Gass, o reinado de Saul foi
somente um período intermediário entre a sociedade tribal e a monarquia (p.23).
O filho de Saul, Ishbaal, é tido como um rei fraco e sem expressão política,
o qual não representou nenhuma ameaça para Davi, que estava sendo coroado
rei em Judá. Quando o Norte ficou sem rei, Davi reuniu as dez tribos nortista e
assim passou a reinar sobre todo o território de Israel e Judá, incluindo territórios
do planalto de Gilead e de Moab (p.26-28). Segundo Gass, o território do império
de Davi teria ido até o norte da Síria e descido até o norte da península do Sinai
e Eilat, no Golfo de Áqaba (p.31).
Para a redação deuteronomista da Bíblia, as ações de Israel Norte contra
Judá são vistas como rebelião ou rebeldia, como por exemplo, quando da revolta
de Absalão apoiado pelas dez tribos do Norte. (p.33-37). A partir da página
quarenta e um, Gass estudou a monarquia sob o domínio de Salomão em
Jerusalém, e assim segue até o final do livro.
O rei Salomão é visto como sábio e poderoso, mas Gass também percebe
que ele fez muitas injustiças, principalmente para com as tribos do Norte. Quem
pagava a conta do luxo de Salomão eram os tributos pesados cobrados das
tribos do Norte. O povo do campo é que pagava a conta disso tudo. Eram os que
sustentavam o reino propriamente dito.
Na outra obra Reino Dividido (2011), Gass aborda toda a história da
monarquia dividida, todos os reis do Norte e todos do Sul. Destes, os que mais
importam aqui são os reis da dinastia Omrida, chamada por ele como “Amri”. Ele
segue basicamente a narrativa bíblica, recontando a história e estabelecendo
paralelos com o reinado de Davi e Salomão.
Segundo Gass, o motivo pelo qual o culto em Israel Norte era plural, tendo
Baal como divindade principal, era o fato de os reis omridas manterem relações
43

diplomáticas, políticas e econômicas com os povos cananeus. Segundo ele, os


interesses da corte estavam acima de tudo, inclusive o controle da religião servia
para legitimar tais interesses. Para ele, Omri “foi um rei famoso. Foi o primeiro
rei de Israel cujo nome aparece em documentos extrabíblicos, como num
documento do rei contemporâneo de Moab, Mesha, e em inscrições assírias” (p.
19).
Sobre Acab, Gass começa escrevendo a respeito do tempo de Baal que
ele teria construído junto com sua esposa, Jezabel. Também teria adotado as
divindades canaanitas, dentre as quais, as principais divindades adotadas por
Acab e Jezabel teria sido Baal, o deus da chuva e da fecundidade da terra, e a
Aserá, deusa-mãe e deusa da fertilidade. Tal culto foi adotado e promovido pelo
casal real.
Neste contexto aparece Elias, o profeta, acusando o rei de prestar culto a
Javé e a Baal. Baal teria sido a divindade principal adotada por Acab, ao lado de
Javé. Isto fez com que Elias desafiasse os profetas de Baal, para lhes mostrar
quem era o verdadeiro Deus de Israel. Certa ênfase é percebida na história de
Nabote, na trama e na violência praticada deliberadamente contra o inocente
Nabote, com a finalidade de tomar-lhe as terras e a vinha. Parece que para
Gass, este foi um fato que manchou a dinastia omrida, a ponto de ser rejeitada e
classificada com a pior de todas.
No ciclo de Elias, Gass enfatiza as ações do profeta em defesa da fé em
Javé, e seu cuidado para com as pessoas pobres. Outra ênfase dada a Elias é a
defesa do campesinato, baseada principalmente no episódio de Nabote. Mais
tarde, toda a trama política de Eliseu para promover o golpe sobre a dinastia
omrida, ungindo reis de modo suspeito, é vista de maneira positiva, pois a ideia
que está por trás disso parece ser a de que para promover a fé em Javé as
tramas e a violência são justificadas.

3.2. Mario Liverani

Mario Liverani é professor de História do Antigo Oriente Próximo na


Universidade La Sapienza, em Roma. Nesta pesquisa, trabalharemos com três
das suas principais obras: 1. Antigo Oriente: História, Sociedade e Economia
(2016), 2. Para Além da Bíblia: história antiga de Israel (2008) e, 3. Uruk: A
44

Primeira Cidade (2006). A primeira e a segunda trabalham a história de Israel, e


a terceira, a fundação dos estados na antiguidade.
Na primeira obra citada, Antigo Oriente: História, Sociedade e Economia
(2016), Liverani diz que no séc. X AEC “Israel” estava vivendo uma série para
definir as fronteiras do território de Benjamin, até ficar estável no séc. IX AEC,
com a subida de Omri ao trono de Israel. Com Omri e Acab, Israel passaria por
uma fase de grandes construções públicas e ampliação de seu território. Israel
se aliou com a Fenicia, através do casamento entre Acab e Jezabel, e investiu
nas atividades comerciais tanto marítimas como nas rotas comerciais em Gilead.
Na segunda obra, Para Além da Bíblia: história antiga de Israel (2008),
Liverani inicia o texto a respeito dos omridas mostrando que Omri marcou uma
reviravolta na situação político-institucional e econômica do reino de Israel Norte,
fazendo com que Israel se despontasse no cenário nacional e internacional. Ele
faz uma abordagem mais panorâmica acerca da dinastia omrida, até porque sua
obra aborda um longo período da história de Israel e Judá, mesmo assim, a obra
traz informações importantes sobre a nova visão acerca desta dinastia. Para ele,
entre os reis da dinastia omrida, Acab teve um papel importante, pois, foi o
artífice da ampliação política de Israel.
A construção de Samaria teria sido o evento central para a decolagem do
Estado de Israel. Ele parece seguir mais de perto as hipóteses de Finkelstein a
respeito de Israel Norte como o primeiro reino de Israel. Ele também lança
questionamentos a respeito da monarquia unida e das dimensões do império de
Davi e Salomão, apresentando evidências arqueológicas acerca desse assunto
(LIVERANI, 2008, p. 145-147).
Na obra Uruk: A Primeira Cidade (2006), Liverani retoma as pesquisas
realizadas por Gordon Childe, na década de 1950, sobre a formação dos
estados. Liverani reformula e atualiza vários pontos das dez características de
um estado antigo sugerido por Childe, e os utiliza para analisar a cidade de
Uruk. Estes pontos serão aplicados na análise da formação do estado israelita,
abordando as várias características que fazem de Israel Norte o primeiro estado
israelita.
45

3.3. José Ademar Kaefer

José Ademar Kaefer é um biblista latino-americano. Seu trabalho e esforço


para difundir a pesquisa bíblica são intensos, por meio de projetos, como o da
Bibliografia Bíblica Latino-Americana e da Revista de Interpretação Bíblica
Latino-Americana (RIBLA). Kaefer é o atual coordenador do grupo de pesquisa
Arqueologia do Antigo Oriente Próximo, que tem promovido viagens a Israel,
Palestina e Jordânia, para estudos e pesquisas na área de Bíblia e Arqueologia.
Na obra A Bíblia, a Arqueologia e a História de Israel e Judá (KAEFER,
2015) ele faz uma síntese da história de Israel a partir dos novos paradigmas
históricos e arqueológicos da pesquisa bíblica. Ele inicia fazendo uma retomada
das discussões metodológicas entre grupos opostos de estudiosos, os quais
denominam um ao outro com termos que acreditam sintetizar a metodologia do
outro, como denominando de maximalistas aqueles que seguem uma linha
fundamentalista e literalista do texto bíblico, e de minimalistas aqueles de não
levam em conta o texto bíblico, e que para estes o texto bíblico não possui
absolutamente nada de histórico.
Kaefer questiona a velha teoria da Monarquia Unida de Davi e Salomão,
abrindo caminhos para novos horizontes na pesquisa bíblica no Brasil. Para ele,
Davi e Salomão teriam sido líderes populares que governaram Judá a partir de
Jerusalém, uma pequena cidade, ou uma aldeia em Judá. As narrativas bíblicas
acerca dos reis de Israel Norte de Jeroboão I até Omri são obscura, mas é
possível reconstruir essa história a partir dos novos olhares da arqueologia e da
história, bem como da exegese bíblica.
Kaefer discute a respeito das divindades e do culto a Javé, da figura do
touro-jovem e de Aserá e Javé em Kuntillet ‘Ajrud e em Tel Arad, sul de Judá. As
tradições de Jacó e do Êxodo como sendo mitos fundantes de Israel Norte,
mostrando sua independência e autonomia, e a atuação de suas divindades na
libertação da escravidão sob os egípcios.
Uma das partes importantes dessa obra é a que trata tanto da Monarquia
quanto da importância da dinastia omrida. Kaefer segue muitas das hipóteses de
Finkelstein e Mazar, e apresenta outras, a respeito da importância de se olhar a
história bíblica a partir dos omridas de Israel Norte.
46

Esta obra de Kaefer segue abordando o reino de Israel Norte, passando


pela queda de Samaria e o desmantelamento do Reino de Israel Norte, os
refugiados que fugiram para o sul, Judá, e o grande crescimento de Judá e
Jerusalém nesta época. O desenvolvimento de Jerusalém e a expansão de Judá
depois que Israel Norte já não existia. A idealização de uma grande monarquia
unida em Davi e Salomão, remonta aos desejos de Josias em governar os
territórios antes pertencentes a Israel Norte (KAEFER, 2015, p. 27-104).
Outra obra de Kaefer é Arqueologia das Terras da Bíblia (KAEFER, 2012),
onde são abordados e estudados dezenove sítios arqueológicos visitados por
ele e uma equipe de pesquisadores, em Israel e Jordânia. Os sítios
arqueológicos abordados por ele que mais interessam a esta pesquisa são os
textos que tratam dos sítios de Jerusalém (p. 9-18), de Tel Ḥazor (p. 19-22), Tel
Gezer (p. 23-26), Tel Megiddo (p. 27-30) e Tel Arad (p. 31-34), que são sítios
que possuem alguma ligação com o Reino de Israel Norte.

3.4. Amihai Mazar

Amihai Mazar é um dos mais importantes arqueólogos da atualidade.


Professor do Departamento de Arqueologia da Universidade Hebraica de
Jerusalém, ele escavou em muitos sítios bíblicos em todo o território do atual
Israel. Recentemente ele escavou uma colina na entrada do Vale de Jezreel e
nas proximidades de Beit-Shean, o sítio identificado como Tel Reḥov.
O sítio de Tel Reḥov é muito significativo para a compreensão da economia
em Israel Norte, por causa dos achados impressionantes, como o grande
apiário, que produzia grandes quantidades de mel por ano, e que era
comercializado, já que Reḥov estava numa região de rotas comerciais
importantes.
Amihai Mazar, em sua obra Arqueologia na Terra da Bíblia (MAZAR, 2003),
além das abordagens acerca da monarquia unida de Davi e Salomão, lança
luzes importantes sobre a análise do período omrida. Para ele, a construção de
Samaria foi iniciada por Omri e completada por Acab. Samaria demonstra o
poder e a grande riqueza da dinastia omrida, a cidade permaneceu por cerca de
cento e cinquenta anos, até 720 AEC (p.388-390).
47

Mazar faz uma abordagem arqueológica do período omrida (séc. IX AEC).


Ele analisa nesta obra a estratigrafia e a estrutura da cidade de Samaria. Para
ele, a construção de Samaria não teve precedentes na história arquitetônica do
país, mas ele coloca uma exceção, no caso, as edificações de Salomão (p. 390).
Conforme a estratigrafia de Samaria, não houve grandes edificações antes de
Omri, pois as edificações encontradas aí são datadas do séc. IX AEC, época da
dinastia omrida.
Mazar está entre prosseguir suas interpretações acerca da dinastia omrida
e dos demais reis de Israel Norte, e a necessidade em procurar evidências de
Salomão em Jerusalém e em outros sítios. Mesmo assim, ele faz suas análises
em outras cidades importantes do reino do Norte, como: Ḥazor, Dan, Megiddo e
Tirza. Dentre estas, Ḥazor e Megiddo, somadas a Gezer, são cidades
tradicionalmente datadas do período de Salomão, como cidades edificadas e
fortificadas por ele. Mazar mencionou a possibilidade de as edificações destas
cidades serem na verdade dos omridas, no séc. IX AEC. Ele também menciona
o grupo de sessenta e três óstracos encontrados na parte ocidental da cidade de
Samaria. Tais óstracos foram inicialmente datados como sendo do período
omrida, mas posteriormente os óstracos foram datados de forma mais correta,
sendo atribuídos com certeza no período de Jeroboão II, no séc. VIII AEC. (p.
388-398).
No capítulo onze da obra de Mazar, ele aborda a cultura material das
cidades israelitas, jarros, altares, óstracos etc. Também são apresentas plantas
das cidades e fortificações israelitas, bem como plantas comparadas de portões
do período omrida, séc. IX AEC (p. 438-501).

3.5. Israel Finkelstein

Israel Finkelstein é um arqueólogo israelense, professor do Departamento


de Arqueologia da Universidade de Tel Aviv. Em suas obras, ele tem buscado
resgatar a história do Israel Norte, que tem sido esquecida e negligenciada
através dos séculos. Através das novas abordagens arqueológicas e das novas
datações feitas por meio dos avanços tecnológicos do Carbono 14, tem sido
possível recontar a história de Israel Norte com mais precisão, dando-lhe o
devido destaque.
48

Entre suas últimas publicações está o livro The Forgotten Kingdom: the
archaeology and history of Northern Israel (2013). Este novo livro é uma coleção
de palestras proferidas no Le Royaume Biblique Oublié, em Paris (2012). Teve
sua primeira publicação em francês e depois traduzido para o inglês em 2013. O
livro é muito útil para arqueólogos e biblistas, já que Finkelstein trabalha com
arqueologia e Bíblia, utilizando-se das conclusões de suas próprias pesquisas
arqueológicas para o estudo da história bíblica. O livro abrange o período do
Bronze Tardio até o período do Ferro IIB (entre os anos de 1350-720 AEC). Este
período envolve principalmente as narrativas bíblicas de 1 e 2 Reis.
O foco do livro é o reino de Israel Norte. Na introdução (p. 1-11), Finkelstein
inicia abordando questões fundamentais para a pesquisa no Israel Norte,
trabalhando primeiramente o conceito de historiografia e memória histórica,
abordando as origens dos textos bíblicos que seriam oriundos do Israel Norte. É
possível que muitos textos tenham sido escritos a partir da primeira metade do
séc. VIII AEC em Samaria e em Betel. Quando Israel Norte foi destruído pelos
assírios, seus textos escritos e suas tradições foram levados para o Sul por
refugiados israelitas depois de 720 AEC, onde as narrativas bíblicas foram
concluídas, o que privilegiou as tradições pró-davididas e jerusalemita do reino
do Sul.
O foco é a política de Siquém desde o período do Bronze Tardio até os
últimos dias das cidades-estado canaanitas do período do Ferro I Tardio. O
objetivo deste capítulo é oferecer uma visão clara dos padrões de assentamento
e processos territoriais dos que povoaram terras altas e os vales do Norte no
período do Ferro I e IIA. Parece haver uma ligação entre Siquém e Amarna, já
que há possíveis citações de Siquém e de Jerusalém nos antigos textos
egípcios. Siquém fez parte de um grupo de cidades-estado chamado de Nova
Canaan, formado por Megiddo, Kinneret, Tel Reḥov e Ḥazor. Em torno do séc. X
AEC aconteceu o declínio gradual da Nova Canaan, possivelmente por ataques
realizados pelos povos das terras altas (p. 34-36).
Finkelstein aborda a Casa de Saul e a política de Gibeá ou Gibeon, como
sendo a primeira entidade territorial do Norte israelita. Também questiona a
respeito do território de Benjamin, que ora aparece como pertencendo a Judá
ora a Israel, Norte. Finkelstein menciona uma série de sítios arqueológicos
49

localizados no planalto de Gibeon-Betel, a norte de Jerusalém. São em torno de


trinta sítios (p.38). Tais localidades foram abandonadas por causa da campanha
do Faraó Sheshonq I ou Shishaq (Sesaque) talvez por esta região estar
ameaçando os interesses egípcios.
Neste caso, o conflito narrado em 1Sm 30-31 entre israelitas e filisteus, na
realidade foi entre israelitas e egípcios. É possível que na época da redação o
Egito tenha sido substituído pela memória dos recentes filisteus. Desta forma, o
pagamento de tributos de Roboão para o Egito (1Rs 14) possui problemas de
cronologia, já que o faraó Sheshonq I era contemporâneo de Saul.
É possível que o faraó Sheshonq I tenha estabelecido Jeroboão I em
Tirzah. Esta cidade, conforme a narrativa de 1Reis, é estabelecida como capital
do Norte no período do rei Baasa (15:21,33; 16:6). Para Finkelstein, embora o
sítio de Tirza (atual Tell el-Fa‘rah) não possua grandes fortificações, ela é crucial
para o estudo dos primeiros dias do reino do Norte, Israel.
Finkelstein trata a importância de Tirza desde o capítulo 3 até o capítulo 4
(p. 83-117), onde começa a tratar do período omrida (884-842 AEC). A política
de Tirza abrange um período que vai desde cerca de 931-842 AEC, como capital
do reino do Norte Israel, até ser substituída pela nova capital, Samaria. Com os
omridas, surgiu a primeira grande potência nortista. Os reis omridas foram: Omri,
Acab, Acazias e Jorão, os quais reinaram cerca de quarenta anos sobre Israel
Norte. Tal período se enquadra no Ferro Tardio IIA. Os omridas foram grandes
monarcas conhecidos internacionalmente. Eles são mencionados em pelo
menos três registros arqueológicos: na inscrição de Salmaneser III, na estela de
Dan e na estela de Mesha. Os omridas foram reis influentes e poderosos, apesar
das narrativas bíblicas os classificarem com os piores reis de Israel. (p. 83,84).
Os reis omridas são visíveis arqueologicamente devido aos inúmeros
monumentos, não só em Samaria, mas em Jezreel, Ḥazor, Gezer, En Gev, Har
Adir, entre outras. Há ainda vestígios de construções na Transjordânia
pertencentes aos omridas, como Jasa (atual Khirbet al-Mudeyine), Atarote (atual
Khirbet Ataruz) e Gilead (atual Tell er-Rumeith), cidades mencionadas inclusive
na estela moabita de Mesha. O território omrida se estendia desde o litoral
mediterrâneo até uma grande faixa da Transjordânia, desde as proximidades de
Damasco até Dibon.
50

Finkelstein defende que os omridas deixaram marcas que caracterizam sua


arquitetura: 1. Construção de plataformas; 2. Muralhas de casamata; 3. Portões
com seis câmaras; e 4. Fosso. Estas características podem ser encontradas
inclusive nas cidades transjordanianas do período omrida. A dinastia omrida só
foi impedida de avançar por Hazael, de Damasco, por ocasião da revolta de Jeú.
No capítulo 5, Finkelstein trata o século final do reino do Norte Israel, a
partir da ascensão do rei Hazael (2Rs 10:32ss). Para ele, Hazael foi o
responsável pelo surgimento de Moab e de Judá como reinos com presença
significativa na história. Nesse período o Israel Norte parece ter dominado Judá
por um tempo, talvez isso explique a expressão “de Dan até Beerseba” (1Sm
3.20).
A queda de Israel Norte abriu caminho para o desenvolvimento de Judá,
que conquistou o território onde hoje está a cidade de Ramallah. Neste capítulo
descreve o renascimento do reino israelita sob o reinado de Joás e Jeroboão II,
em cujo período Dan se torna uma cidade israelita, e seu santuário, juntamente
com o de Betel, passam a ter certa visibilidade. Com Jeroboão II o reino do
Norte Israel tem nova ascensão, com a reconquista dos territórios
transjordanianos outrora sob o domínio dos omridas (Am 6.11-14).
O reino de Israel Norte experimentou com Jeroboão II um novo período de
prosperidade econômica, com a produção de azeite de oliva e de vinho (p.
131,132), também com o negócio de cavalos treinados. Isto pode ser atestado
nas inscrições assírias que narram a batalha de Carcar, nas quais Acab é
mencionado com um grande número de cavalos e carros de guerra. Quanto ao
culto e às divindades do Norte, temos Javé, Baal e Aserá, e isto pode ser visto
nas inscrições de Kuntillet ‘Ajrud “YHWH de Samaria e sua Aserá”. Nesse
período, segundo Finkelstein, se originam as tradições do êxodo e do ciclo de
Jacó, tanto oralmente quanto suas primeiras redações; também nesse período
se situam as origens do ciclo positivo de Saul em 1Samuel (p.140).
Finkelstein oferece breves reflexões sobre as implicações de suas
reconstruções históricas baseadas nos vestígios arqueológicos e na história de
Israel narrada na Bíblia Hebraica. No capítulo 6 (p. 141-151) Finkelstein comenta
dois mitos originários do reino do Norte Israel: o ciclo de Jacó e as tradições do
êxodo no deserto. O mito de Jacó do período do Ferro inclui dois temas bem
51

integrados: 1. Delineia as fronteiras nortistas, e 2. Narra a fundação do reino de


Israel Norte, bem como a etimologia do seu nome. Também localiza os
santuários israelitas do Norte: Betel, Peniel e Siquém. Finkelstein localiza as
origens do ciclo de Jacó como tradição oral no séc. X AEC. (p. 144), embora sua
escrita tenha acontecido mais tarde, no séc. VIII AEC. Também as tradições do
êxodo podem ser localizadas no séc. X AEC. (p.151), pois trata do conflito com o
Egito e isto pode estar relacionado à campanha do faraó Sheshonq I.
No capítulo 7 encontramos duas subdivisões: 1. Os israelitas em Judá
depois da queda do reino do Norte; e, 2. A ascensão do conceito de Israel
Bíblico. Depois de Jeroboão II o Norte inicia um processo de declínio, o que
favorece as políticas de Damasco. Para Finkelstein, o Norte Israel estava
perdendo seus territórios transjordanianos para Damasco, pouco antes da
chegada de Tiglate-Pileser III. Quando Samaria foi capturada pelos assírios
(722-720 AEC), grupos da elite nortista foram deportados e grupos de refugiados
desceram para Judá, o reino do Norte Israel desaparece para sempre. Mas
segundo Finkelstein, esse não foi o ponto final da história nortista, mas o início
de um novo conceito de Israel, o de Israel formado por doze tribos, que abrange
todo o território governado outrora pelos dois reinos (p.153).
No período do Ferro IIB Jerusalém tem um grande crescimento, isto por
causa da chegada dos refugiados nortistas. O conceito de Israel como o grande
reino unido parece ter origem neste período, depois da queda do Norte Israel.
Neste período, também o nome “Israel” se tornou vago, genérico, tanto territorial
como politicamente. Judá realizou a etapa final da escrita e compilação da
história bíblica. A preservação de tradições nortistas na redação final da
narrativa bíblica (1 e 2Sm e 1 e 2Rs) na redação deuteronomista (séc. VIII e VII
AEC), parece ter acontecido devido à grande população nortista presente em
Judá neste período, já que nenhum texto, segundo a arqueologia, poderia ter
sido escrito antes de 800 AEC. (p. 163).
As tradições do Norte foram preservadas na redação deuteronomista, mas
sempre submetidas às ideologias sulistas, no sentido de promover a dinastia
davídica e a centralidade do culto em Jerusalém (p. 157). Desta forma, a
importância do Norte precisou ser depreciada, diminuída pela ideologia sulista,
52

tendo o Sul se apropriado inclusive do nome “Israel”, para dar continuidade ao


seu projeto redacional e ideológico (p. 158).
Finkelstein conclui esta análise comentando sobre os avanços das
escavações e pesquisas arqueológicas naquelas regiões bíblicas, o que tem
fornecido novas possibilidades de interpretação das histórias bíblicas, que, para
ele, estão mal contadas e ideologicamente distorcidas, para servirem aos
objetivos de Judá quando Israel Norte não existia mais (p. 159). Finkelstein
finaliza sua obra expressando o desejo de que este último conceito de Israel,
criado pela ideologia deuteronomista, preservada tanto pelo cristianismo quanto
pelo judaísmo, por tantos séculos, não ofusque a história e a cultura do primeiro
Israel: o reino esquecido.
Em A Bíblia não Tinha Razão15 (2003), Finkelstein e Silberman inicia
discutindo a respeito das origens de Israel e seus mitos, e a respeito da
monarquia unida de Davi e Salomão. A questão para ele não é se o reino de
Davi e Salomão existiram, mas qual o tamanho do seu “império”. A ideia da
grande monarquia unida foi transmitida através dos séculos devido a leituras
literalistas das narrativas bíblicas de Samuel e Reis, uma vez que tais textos
enxergam e avaliam Israel Norte sempre de forma negativa e pejorativa.
Aqui, Finkelstein e Silberman também vai trabalhar a ideia de que sempre
existiram dois reinos, Norte e Sul, e que ambos tinham um relacionamento
bastante conflitante. Até em torno da década de 1980, historiadores bíblicos e
arqueólogos acreditavam que a narrativa bíblica, com a ascensão de Davi, a
unificação do reino e a grandeza do reino de Salomão, seguindo quase que
palavra por palavra, era fato histórico. A partir desta década, intensos
levantamentos arqueológicos nas regiões montanhosas centrais abriram novas
perspectivas para a compreensão do caráter e origens dos dois estados, do Sul
e do Norte.
Não há evidências de que o norte e o sul fossem uma unidade política
numa época anterior. Nos séculos X e IX AEC Judá era ainda muito espalhada,
no que diz respeito a povoamento, com número reduzido de pequenas aldeias,
em torno de vinte ou menos. Jerusalém na época de Davi era uma modesta

15O título original desta obra é “The Bible Unearthed” (A Bíblia Desenterrada). O título “A Bíblia
não Tinha Razão” não reflete o verdadeiro título da obra e foi criado pela edição em português
da editora A Girafa.
53

aldeia da montanha. O Norte, Israel, era densamente povoado com dúzias de


sítios, com sistema de assentamento desenvolvido, com centros regionais e
aldeias de todos os tamanhos e também pequenas vilas. Em resumo, enquanto
Judá ainda era marginal e atrasado, Israel florescia sob o aspecto econômico
(FINKELSTEIN; SILBERMAN, 2003, p. 219-220).
A chave para a nova compreensão da história do Israel Norte são as
importantes inscrições que se referem de forma direta ao reino de Israel Norte.
De todas as inscrições, a mais valiosa é a Estela de Mesha, encontrada em
1868, na superfície de um cômoro remoto em Dhiban, Jordânia (antiga Dibon,
Moab). O texto da inscrição da estela refere-se à mesma história narrada na
Bíblia em 2Reis 3, que cita o rei Mesha como um vassalo do Reino do Norte,
Israel (FINKELSTEIN; SILBERMAN, 2003, p. 243-244).
A estela menciona Omri, rei de Israel, e também menciona Acab. Diz que
Omri oprimiu Moab por muito tempo, e que ocupou territórios que eram de Moab
por quarenta anos. A inscrição continua a relatar como Mesha foi expandindo
seus territórios aos poucos, numa rebelião contra Jorão, o rei de Israel na época.
Mesmo que Mesha demonstre seu desprezo por Omri e sua dinastia, ele deixou
um valioso registro de até onde foi o domínio dos omridas (FINKELSTEIN;
SILBERMAN, 2003, p. 244-245).
Outra inscrição importante é a Estela de Dan, descoberta em 1993 na
cidade bíblica de Dan. Embora a estela tenha diversas informações valiosas
acerca do reino de Israel Norte, ela ficou mais conhecida por causa da
expressão “Casa de Davi”, que aparece no texto da estela. Isto fez com que
acabasse com as dúvidas acerca da existência de Davi. Mas as informações
preciosas estão em todas as frases dos três fragmentos da estela. Embora o
nome do rei que a erigiu não apareça nos fragmentos, está claro que foi o rei
Hazael, de Damasco, quem a erigiu. Hazael capturou Dan e erigiu uma estela
triunfal em torno de 835 AEC. Esta estela também menciona que o rei de Israel
havia ocupado territórios pertencentes anteriormente a Damasco. Nela aparece
um nome, que aparentemente pode ser o de Jorão, filho de Acab, e rei na
época.
Fica claro que o reino dos omridas expandiu seus domínios através das
regiões montanhosas centrais e dos vales de Israel, até a vizinhança de
54

Damasco e em direção ao sul, em territórios de Moab, governando uma


significativa população não-israelita (FINKELSTEIN; SILBERMAN, 2003, p. 245).
Outra inscrição importante é a inscrição assíria de Salmaneser III, um dos
grandes reis assírios, que governou nos anos de 858-824 AEC, o qual
mencionou em seus registros, ainda que indiretamente, o poder da dinastia
omrida. A inscrição monolítica foi encontrada pelo explorador inglês Austen
Henry Layard, em 1840, no antigo sítio de Nimrud. A pedra era escura e estava
escrita em caracteres cuneiformes, e registrou a força bélica de Acab 2000
carros de guerra e 10000 soldados a pé. A maior força de carros de guerra,
aquela que era a mais cobiçada arma de guerra, de toda a coalizão antiassíria.
Embora Salmaneser tenha clamado vitória, ele retornou de imediato com seu
exército para a Assíria. O avanço das tropas assírias foi bloqueado por mais
algum tempo (FINKELSTEIN; SILBERMAN, 2003, p. 245-247).
Estas três inscrições, dos três mais ferozes inimigos de Israel,
suplementam a informação do relato bíblico. Omri e seus sucessores foram reis
poderosos que expandiram seus territórios e mantiveram o que talvez tenha sido
um dos maiores exércitos permanentes da região. Estavam continuamente
envolvidos em políticas internacionais num esforço para se manterem
independentes contra seus rivais regionais e a gigantesca ameaça do império
assírio (FINKELSTEIN; SILBERMAN, 2003, p. 247-248).
Segundo Finkelstein e Silberman, violência, idolatria e ganância são as três
palavras que o livro utiliza para descrever o que o texto bíblico diz a respeito de
Israel Norte. Depois de Jeroboão, os principais vilões da história de Israel Norte
são os omridas. A grande dinastia fundada por Omri, antigo general israelita, foi
tão poderosa que conseguiu colocar um de seus príncipes para reinar em Judá.
Acab e Jezabel são acusados frequentemente de introduzir em Israel culto a
deuses estrangeiros, de assassinar sacerdotes, por confiscar a propriedade de
seus súditos e de violar as tradições de Israel (FINKELSTEIN; SILBERMAN,
2003, p. 234).
Embora arqueólogos do começo e da metade do séc. XX tenham atribuído
muitas construções magníficas aos omridas, seu reinado e domínio nunca foram
levados em consideração. A busca e a fixação dos arqueólogos em encontrar
vestígios do período salomônico suplantaram o interesse pelos omridas. Novas
55

perguntas foram surgindo sobre a natureza, extensão ou mesmo a existência


histórica do vasto reino de Salomão. O interesse estava em datar corretamente
os fatos, isto porque foram percebendo que havia algo seriamente errado com
essa correlação entre as narrativas bíblicas e as camadas arqueológicas. (p.
256)
Então, se Salomão não construiu nem os portões nem os palácios
“salomônicos”, quem os teria construído? A resposta parecia óbvia, os
candidatos naturais seriam os omridas. Os palácios de Megiddo, inicialmente
atribuídos a Salomão, eram na verdade, de um século mais tarde, o século IX
AEC, o período do domínio Omrida. (p. 256-257).
A pista decisiva para se estabelecer as novas datas para os portões e
palácios “salomônicos” veio do sítio de Tel Jezreel, a 16 km a leste de Megiddo.
Jezreel é um lugar privilegiado, é elevado e está no centro do vale, tem visão
ampla de todo o vale e das colinas próximas, de Megiddo, no oeste, e da
Galileia, ao norte, até Betseã e Gilead, ao leste. Jezreel ficou famosa por causa
da história da vinha de Nabote e dos planos de Acab para expandir o palácio e
também, por causa dos assassinatos dos últimos dos omridas.
O sítio foi escavado da década de 1990 por David Ussishkin, da
Universidade de Tel Aviv, e por John Woodhead, da British School of
Archaeology, Jerusalém, os quais descobriram um grande cercado real, similar
ao de Samaria. Seu complexo arquitetônico só foi ocupado por breve período de
tempo, no séc. IX AEC Deve ter sido destruída durante os conflitos que ali
aconteceram (FINKELSTEIN; SILBERMAN, 2003, p. 257).
Muito parecido com Samaria, Jezreel foi construída no alto de uma colina.
Grandes obras de construção, como a construção de uma muralha enorme de
casamata em torno da colina, formaram uma caixa, que foi preenchida por
toneladas de terra e operações de nivelamento, formando um grande pódio, uma
plataforma plana, sobre a qual foi construído um complexo real. Um talude
inclinado de terra sustentava a muralha de casamata no lado externo. O
complexo era rodeado por uma vala, um fosso, escavado na rocha, com pelo
menos 6m de largura e 4,5m de profundidade. Havia um portão, possivelmente
de seis câmaras.
56

Assim como Jezreel era muito similar a Samaria, ela também era muito
similar a Megiddo. Isto fez com que os arqueólogos repensassem a datação
‘salomônica’ e estabelecessem novas datações (FINKELSTEIN; SILBERMAN,
2003, p. 258). Todos esses cinco sítios (Samaria, Ḥazor, Megiddo, Jezreel e
Gezer) oferecem uma visão da arquitetura real da dinastia omrida. Mas uma das
grandes implicações para essa atribuição, é que ela anula a única evidência
arqueológica que existia da monarquia unida baseada em Jerusalém, e que Davi
e Salomão foram líderes políticos das montanhas, cujo alcance administrativo
permaneceu regular no Sul, Judá (FINKELSTEIN; SILBERMAN, 2003, p. 261).
De acordo com Finkelstein, a partir de agora é possível procurar outros
exemplos adicionais de lugares omridas em lugares mais distantes, Atarote e
Jahaz, em Moab. Atarote é um sítio não escavado de Khirbet ‘Ataruz, ao sul da
moderna Madaba. Ao norte do Arnon há uma cidade chamada Khirbet el-
Mudayna, que contém as características das cidades omridas. É possível
perceber através de fotografias aéreas do local, que ele foi construído em cima
de um grande pódio de aterro artificial. Seria essa uma fortaleza de fronteira dos
omridas? Seria essa a Jahaz descrita na Estela de Mesha?
Outra obra importante de Finkelstein é a que ele escreveu junto com
Amihai Mazar, The Quest for Historical Israel: debating archaeology and history
of early Israel (FINKELSTEIN; MAZAR, 2007). Nesta obra, Finkelstein diz que o
reino do Norte alcançou sua soberania durante o período da dinastia omrida. Ele
retoma assuntos de outras obras, como de A Bíblia não Tinha Razão e alguns
artigos, e trabalha os temas referentes aos assentamentos israelitas nas
montanhas e depois no Vale de Jezreel, e também a respeito da monarquia
unida de Davi e Salomão.
Neste capítulo sobre a monarquia unida, é o arqueólogo Amihai Mazar
quem escreve. Para ele, a monarquia unida do período de Davi e Salomão deve
ter acontecido de fato. Um dos argumentos que ele utiliza, é o de que muitos
pegam as evidências extra bíblicas, como as estelas e outras inscrições onde
aparecem os nomes dos reis omridas, e afirmam que eles foram grandes e
poderosos. Mas a diferença de anos entre Davi e Salomão e os omridas é de em
torno de meio século, o que não é suficiente para se negar esse fato
(FINKELSTEIN; MAZAR, 2007, p. 118).
57

Para Mazar, não se pode negar a monarquia unida só porque os assírios


mencionam os omridas, pois as inscrições assírias se referem a acontecimentos
do século IX AEC, não da época de Davi e Salomão. Mazar questiona a maneira
como Finkelstein tem utilizado o que ele mesmo sugeriu baixa cronologia, onde
se baixou as datas estabelecidas para os acontecimentos da história bíblica,
afetando em cheio o período da monarquia unida de Davi e Salomão
(FINKELSTEIN e MAZAR, 2007, p. 129-131).
Em outro capítulo, Finkelstein volta a abordar temas que estabelecem e
reforçam a importância de Israel Norte, principalmente no período da dinastia
omrida. A estela de Mesha fornece indícios de que os omridas conquistaram
territórios em Moab, e a estela de Dan, indica que os omridas haviam tomado
territórios de Aram.
Embora o texto bíblico dos Reis omita, a arqueologia mostra o poder dos
omridas. O Norte era um reino multifacetado, o que difere do estilo tribal
encontrado em Judá. A diversidade étnica do reino do Norte inclui elementos
fenícios e arameus ao nordeste e noroeste, isto deve ter facilitado o plano de
governo omrida (FINKELSTEIN e MAZAR, 2007, p. 149,150). Uma pequena
pausa da pressão assíria e a proeminência da Síria devem ter sido algumas das
causas da queda da dinastia omrida, favorecendo as cidades-estado mais ao
sul, em Judá (FINKELSTEIN e MAZAR, 2007, p. 150,151).
No artigo de Finkelstein, Stages in the Territorial Expansion of the Northern
Kingdom (FINKELSTEIN, 2011), ele faz uma retomada dos assuntos tratados
em A Bíblia não Tinha Razão e em The Quest for Historical Israel: debating
archaeology and history of early Israel, abordando as origens de Israel Norte nas
montanhas e depois no Vale de Jezreel. A primeira entidade territorial nortista
com Saul, depois com Jeroboão I, Nadabe, Baasa, Zimri e Omri, seguido de sua
dinastia. A dinastia omrida teria inaugurado o reino em Israel Norte.
As capitais políticas de Israel Norte teriam mudado desde Gibeon para
Siquém, Tirza até Samaria, fundada por Omri e edificada por Acab. Para
Finkelstein, a fundação de Samaria foi importante para o desenvolvimento
político do Reino de Israel Norte.
Tanto as narrativas de 1 e 2 Reis como as evidências arqueológicas
mostram até onde foi o território governado pelos omridas. As narrativas sobre o
58

período de Acab e as narrativas do Ciclo de Elias e Eliseu trazem informações


importantes. A arqueologia, através das magníficas estelas de Dan e de Mesha,
lança luz sobre a história israelita do Norte.
Foi no período dos omridas que Israel Norte tem o seu pleno
desenvolvimento, expandindo seu território para dentro dos territórios
damascenos ao sul e grande faixa do território moabita do norte até a região do
ribeiro de Arnon e Aroer. Neste artigo surge uma controvérsia a respeito da
cidade de Dan, pois não fica muito claro se Dan foi omrida ou não, porque na
obra A Bíblia não Tinha Razão, ele afirma que Dan teria sido uma cidade
israelita no tempo da dinastia omrida (FINKELSTEIN; SILBERMAN, 2003, p.
253).
O artigo The Last Labayu: King Saul and the Expansion of the First North
Israelite Territorial Entity (FINKELSTEIN, 2006), Finkelstein lança as bases para
a compreensão do início do povo e do estado israelita em Canaan. Para isso, ele
utiliza as fontes arqueológicas do platô de Gabaon-Betel e as fontes textuais
bíblicas (que são tradições positivas de Saul), as cartas de el-Amarna, a lista das
cidades conquistadas por Sheshonq I, que está no templo de Karnak, no Egito.
Este artigo se relaciona com o tema dos omridas, porque trabalha as
origens do povo de Israel nas terras altas da região do Vales de Jezreel e da
Galileia. Para Finkelstein, Israel surgiu dentre os canaanitas, dentre a tribo dos
Labayu’s, como primeira entidade territorial israelita. Assim, para ele sempre
houve dois reinos “irmãos” distintos, um no norte (Israel) e outro no sul (Judá).
Ambos os reinos surgiram de pequenas tribos canaanitas que se desenvolveram
com o enfraquecimento do poder egípcio na região.
Israel Norte sempre foi visto negativamente pelos editores dos livros de
Samuel e dos Reis, de forma que até as tradições escritas positivas de Israel
Norte foram retrabalhadas de forma a tornar a história de Judá mais positiva. A
história do primeiro rei de Israel, Saul, começa bem, mas depois Deus o rejeita e
levanta Davi para reinar em seu lugar, apesar das suas más ações.
O domínio do território saulida alcançou o planalto de Gilead, na
Transjordânia, e desde o sul do Vale de Jezreel até os territórios ao sul de
Jerusalém, possivelmente até a região de Hebron. Isto é, envolvia inclusive
Jerusalém.
59

A morte de Saul teria acontecido num confronto com Sheshonq I, já que a


expansão de Israel ao norte no Vale de Jezreel ameaçava os interesses
egípcios. Existem, entretanto, similaridades e diferenças entre Labayu e Saul.
Podemos citar algumas similaridades, como, ambos expandiram de centros de
poder nas terras altas para Gilead, leste do Jordão, ameaçaram cidades no Vale
de Jezreel e foram parados por interesses egípcios em Canaan.
Quanto às diferenças, podemos elencar, de acordo com o artigo, o Labayu
e seus filhos governaram de Siquém, os Saulidas de Gabaon; a coalizão de
Siquém incluiu Gezer e Gintikirmil, na planície costeira, o que a dinastia Saulida
não alcançou; no Ferro I terras altas eram mais povoadas que no Bronze Tardio;
e, no Bronze Tardio o Egito governava Canaan diretamente. Possivelmente
Jeroboão I tenha sido o sucessor de Saul no reino de Israel Norte.
No artigo Observation on the Layout of Iron Age Samaria (FINKELSTEIN,
2011) Finkelstein trabalha os aspectos das edificações de Samaria da Idade do
Ferro, principalmente sua topografia, extensão e layout sobre a colina. Embora
Samaria tenha se expandido no decorrer dos séculos, com construções gregas,
romanas e igrejas cristãs, Finkelstein se limita a analisar somente a fortificação
que está sobre a colina, que são construções do período omrida.
A arquitetura omrida, segundo Finkelstein, pode ser dividida em duas
grandes partes, a das construções da plataforma alta e as da plataforma baixa,
com 450m a oeste e 230m a sul e norte (FINKELSTEIN, 2011, p. 194,195).
Numa vista aérea da colina de Samaria, é possível perceber as duas
plataformas (alta e baixa), bem como o aterro ao sul da fortaleza e
possivelmente o fosso a leste.
A plataforma alta fica numa região central e é rodeada pela plataforma
baixa. A plataforma alta é retangular e sobre ela estava o palácio real. Nele
foram descobertos inúmeros fragmentos de marfim, os quais ornamentavam as
paredes do palácio. Também sobre a plataforma alta foram encontrados os
óstracos, datados de meados do séc. VIII AEC (p.196,197).
No lado oeste da plataforma, há um espaço identificado, segundo a
Harvard Expedition, com o palácio de Jeroboão II (p. 198). Ao norte, está uma
fortificação do período helênico, uma casamata e edificações herodianas. No
lado leste da plataforma há uma inclinação moderada, indicando que
60

possivelmente houvesse um portão ali. Neste lado, foram encontrados todos os


seis capitéis proto-iônicos, e isto também pode indicar a presença do portão da
fortaleza. De fato, as escavações indicaram uma muralha que denunciava a
presença de um portão. O problema é que as ocupações posteriores ofuscaram
as edificações mais antigas neste lado da plataforma (p.198-200).
As interpretações destas evidências variam um pouco, mas há fortes
indícios do período omrida. A chave de interpretação do sítio omrida está no
modelo arquitetônico semelhante ao encontrado em outros sítios, como Jezreel,
Ḥazor estrato X, Khirbet al-Mudayne eth-Themed e Khirbet ‘Ataruz, na região da
Transjordânia (p.203). Além das hipóteses acerca do período omrida, os novos e
modernos métodos de escavação podem ainda trazer nova luz para a história de
Israel Norte. (p.205).
No artigo The Archaeology of the United Monarchy: an alternative View
(1996), Finkelstein trata das controvérsias nas pesquisas acerca da chamada
Monarquia Unida, apresentando uma visão alternativa para sua compreensão.
Para Finkelstein, a historicidade da Monarquia Unida não consegue se
sustentar com os argumentos atuais apresentados, já que estes argumentos
são, na sua maioria, baseados na ideologia e na visão religiosa, não nas
pesquisas arqueológicas nem nos novos exames de Carbono 14.
Importantes arqueólogos no início do séc. XX dataram alguns sítios no séc.
X A.E.C. atribuindo tais sítios a Salomão. Na verdade, não encontraram nada em
Jerusalém até agora que comprove tal tese, desta forma, estes arqueólogos se
voltaram para outros sítios, como, Gezer, Ḥazor e Megiddo. Eles encontraram
muitas similaridades nas edificações, nos muros de casamata, no portão de seis
câmaras, entre os três sítios, e baseados num único versículo bíblico (1Reis
9,15) eles definiram suas hipóteses sobre as cidades salomônicas descritas no
versículo, que diz que Salomão edificou Gezer, Ḥazor e Megiddo (p. 178,179).
Finkelstein analisa vários sítios no sul e no norte de Israel que pertenciam à
Monarquia Unida, comparando seus estratos de ocupação e suas edificações,
tentando encontrar um elo que ligasse todos eles e esclarecesse de vez esse
enigma da Monarquia Unida de Davi e Salomão. Isto trouxe novos
questionamentos.
61

Com os avanços tecnológicos da metodologia de datação do Carbono-14


(C14), as datações ficaram ainda mais exatas. Se antes as datações tinham uma
margem de erro de 200 anos, hoje essa margem é de 25 a 30 anos. Isto
possibilitou novos exames por C14 nos sítios atribuídos a Salomão (séc. X AEC).
Os resultados foram surpreendentes e ocasionaram no surgimento de uma nova
proposta para a história de Israel, pois o que havia sido atribuído a Salomão no
início do séc. XX, eram passaram cem anos para frente, chegando no período
dos reis omridas (Omri, Acab, Acazias e Jorão).
Finkelstein chama essa nova proposta de datação da história de Israel de
baixa cronologia, pois as datações diminuíram e avançaram para outros
períodos e outros personagens. Assim, os sítios de Gezer, Ḥazor e Megiddo,
anteriormente atribuídos a Salomão, hoje são atribuídos com segurança aos reis
omridas. Isto muda completamente a ideia da Monarquia Unida de Davi e
Salomão, pois faz o grande império davídico e salomônico recuar para os
territórios do sul, a região de Judá. E a fundação da monarquia em Israel para
Omri, quando edificou Samaria.
É uma grande reviravolta na história de Israel, já que os omridas são
descritos sempre como desqualificados, pecadores, pervertidos e fracos nos
textos de 1 e 2 Reis, porém, essa visão negativa não se sustenta mediante às
comprovações arqueológicas de que eles foram grandes monarcas, que
realizaram grandes edificações, construções monumentais, expandiram o
território e dominaram inclusive o território de Judá, da dinastia davídica.
Em Una Actualización de la Cronología Baja: Arqueología, História y Biblia
(2008), Finkelstein busca esclarecer as questões relacionadas com a baixa
cronologia, as novas datações para a Idade do Ferro I e II, baseadas nos novos
exames por Carbono-14. Neste artigo, ele parte dos conhecimentos tradicionais
da arqueologia e da Bíblia, apresentando seus argumentos e o que há de errado
na cronologia tradicional.
Para Finkelstein, a cronologia tradicional se baseia em dois pilares
principais: 1) O paradigma filisteu, e 2) O testemunho bíblico da Grande
Monarquia Unida de Israel. O problema está em que no Ferro I a principal
ameaça era o Egito, não os Filisteus. Nesse período o Egito dominava grandes
territórios em Canaan, principalmente as faixas férteis da terra, como a Sefelá,
62

no sul, o Vale do Jordão e o Vale de Jezreel, que foi chamado pelo Egito de “o
celeiro do Egito”.
No caso do testemunho bíblico da Monarquia Unida, Finkelstein diz que a
teoria de Yigael Yadin, arqueólogo israelense, estava cheia de problemas desde
o início. Um dos problemas é que foram encontrados muros de casamata com
portões de seis câmaras em outros locais fora do território da Monarquia Unida,
como em Asdode e no planalto da Transjordânia no séc. IX e VIII AEC.
Para Finkelstein, apesar da estratigrafia16 apresentar uma cronologia
relativa, Yadin baseou sua teoria de datação para estes sítios unicamente no
texto Bíblico. Até William Dever, estudioso norte-americano, datou um tipo de
cerâmica no séc. X somente porque eles foram encontrados nos chamados
“estratos salomônicos”. Finkelstein afirma que o livro dos Reis não foi escrito
antes do séc. VII AEC, incluindo a história acerca de Salomão. Apesar disso, o
único pilar verdadeiro na teoria de Yadin era o texto de 1Rs 9.15 (p.120,121).
Segundo Finkelstein, toda a descrição do reinado de Salomão no livro dos
Reis está baseada em dois fundamentos: 1) as realidades da época da
compilação do texto ou um pouco antes, e 2) a ideologia de Judá no período
final da monarquia (p.123).
Finkelstein propõe uma cronologia alternativa, com indícios provenientes
dos sítios da dinastia omrida, como Samaria nas terras altas e Jezreel no Vale
de Jezreel. A partir daí foi realizada uma apurada análise dos indícios e revisão
das datações dos estratos, assim, os níveis que Yadin associou a Salomão em
Megiddo são da mesma época dos níveis da dinastia omrida em Samaria,
inclusive as marcas dos construtores nas pedras são as mesmas que aparecem
em Samaria. O estilo cerâmico também é o mesmo dos sítios omridas (p. 125),
séc. IX e VIII AEC.
O método independente são as medições por radiocarbono. Amihai Mazar,
o arqueólogo que tem escavado em Tel Reḥov, tinha sido resistente à baixa
cronologia, apoiando-se sempre na cronologia tradicional. Ultimamente, ele e
sua equipe, verificaram que as datações de Tel Reḥov devem ser baseadas na
baixa cronologia, isto porque os achados de Tel Reḥov são idênticos aos de
Megiddo e de Samaria do mesmo período. Isto fortalece a ideia de que a
16 Sobre estratigrafia veja a obra: HARRIS, Edward. Principles of Archaeological Stratigraphy.
2.ed. London: Academic Press Limited, 1989.
63

proposta da baixa cronologia é realmente uma inovação, e pode recontar a


história de Israel a partir da arqueologia, mas não a mesma história tradicional,
mas uma nova história de Israel, de sua origem e de suas ocupações.

Considerações Finais

Há, ainda, forte tendência a uma visão conservadora da história de Israel,


não só entre os estudiosos alemães ou norte-americanos do início do séc. XX,
mas entre brasileiros que estudam a história de Israel. Estudiosos latino-
americanos como, Jorge Pixley e Milton Schwantes não têm oferecido uma
perspectiva suficientemente atualizada da história de Israel, seguindo em muitos
aspectos as formas conservadoras de Albright, Bright e seus discípulos. Esta
visão maximalista tem predominado nas pesquisas bíblicas não só no séc. XX,
mas até no início do séc. XXI esta visão ainda tem sido, de modo geral, muito
frequente. A compreensão literalista das narrativas bíblicas como principal fonte
histórica, é a que tem predominado no meio religioso atualmente17.
Mesmo assim, a visão centrista da história bíblica tem ganhado espaço
ultimamente. É possível trabalhar entre as duas abordagens “minimalista e
maximalista”, analisando criteriosamente cada uma e o que dizem sobre a
história de Israel Norte. Um dos maiores expoentes da visão centrista é o
arqueólogo Israel Finkelstein. Esta nova visão sobre a história de Israel, baseada
nos avanços da arqueologia, tem trazido uma revolução na compreensão e
datação de livros bíblicos e sítios arqueológicos. A interdisciplinaridade na
pesquisa bíblica tem proporcionado uma base segura para o desenvolvimento
das pesquisas sobre Israel Norte.

17 Veja também o artigo de SILVA, 2001, p. 62-74.


64

PARTE 2
LITERATURA
65

Capítulo 2
A ASCENSÃO DA DINASTIA OMRIDA:
ESTUDO EXEGÉTICO DE 1REIS 16.15-33

Introdução
Para analisarmos a dinastia omrida, suas inovações e seu poder, o ponto
de partida será a análise exegética do texto que narra a fundação desta dinastia.
A perícope de 1 Reis 16.15-33 narra pelo menos três fases da ascensão dos
omridas: 1) A ascensão de Omri ao trono de Israel; 2) A fundação de Samaria
como a nova capital de Israel Norte; e, 3) o início da dinastia.
A exegese bíblica tem a finalidade de aclarar o texto, trazer os sentidos
escondidos nas palavras hebraicas e gregas, e resgatar-lhe as possibilidades de
interpretação, conforme a polissemia de cada palavra. A ideia é ler o texto bíblico
como literatura e como registro “histórico” de tempos distantes no cobiçado
território de Israel, no Antigo Oriente Próximo, mais especificamente, do séc. IX
AEC.
Analisar um texto como o da Bíblia requer cuidados, pois o pesquisador
pode se tornar tendencioso para determinada linha teológica, ideológica ou
denominacional. Por isso, o pesquisador, o exegeta bíblico, precisa ter ciência
disto e trabalhar o texto bíblico cientificamente, tendo a Bíblia como seu objeto
de pesquisa, e seguindo uma metodologia criteriosa, procurando se afastar do
objeto de pesquisa, de forma que não o contamine com leituras
institucionalizadas ou pré-concebidas.
A metodologia exegética utilizada nesta pesquisa seguirá a Crítica das
Formas, com as algumas adequações necessárias para o momento atual
acadêmico. Esta metodologia acadêmica é composta por um roteiro de análise
que dá suporte e direcionamento à pesquisa. Trabalharei bem próximo à
metodologia clássica, analisando a estrutura, o gênero literário e o lugar
66

vivencial, o ambiente do texto. Não analisarei a intensão do texto ou do autor,


pois é impossível saber com segurança qual foi a intensão do autor quando
escreveu o texto.
A Crítica da Forma, do modo como será trabalhada nesta pesquisa,
abordará os seguintes itens: 1. Tradução literal da perícope; 2. Crítica Textual; 3.
Delimitação da Perícope; 4. Estrutura da Perícope; 5. Coesão do Texto; 6.
Gênero Literário; 7. Data e Lugar; e 8. Análise do Conteúdo. O texto será
trabalhado na forma como ele foi preservado na Bíblia Hebraica, sempre levando
em conta a Crítica Textual. O texto é visto como literatura fruto de um período
histórico. Além da Crítica da Forma e da Crítica Textual, serão trabalhados
tamném alguns aspectos da narratologia, a partir da metodologia de Marguerat e
Bourquin18.

1. Tradução Literal Interlinear de 1 Reis 16.15-33


hd"êWhy> %l,mä, ‘as'a'l. hn"©v' [b;v,øw" ~yrI’f.[, •tn:v.Bi 15
Judá, rei de para Asa ano, e sete vinte Em ano de

hc'_r>tiB. ~ymiÞy" t[;bî .vi yrI±m.zI %l:ïm'


em Tirza; dias sete de Zimri reinou

`~yTi(v.liPl. ; rv<ïa] !AtßB.GI-l[;( ~ynIëxo ~['äh'w>


para os filisteus. que contra Gibeton os que acampavam e o povo

yrIêm.zI rv:åq' rmoêale ~ynIåxho ; ‘~['h' [m;ÛvY. Iw: 16


Zimri, conspirou dizendo: os que acampavam o povo E ouviu

yrI’m.[-' ta, laer"f.yIû-lk'( WkliämY. :w: %l,M,_h;-ta, hK'ähi ~g:ßw>


a Omri todo Israel e fizeram reinar o rei feriu e também

`hn<)x]M;B(; aWhßh; ~AYðB; lae²r"f.yI-l[; ab'óc'-rf;


no acampamento. o aquele no dia sobre Israel o chefe do exército

`hc'(r>T-i l[; WrcUYß "w: !At+B.GImI) AMß[i laeîr"f.yI-lk'w> yrI±m.[' hl,î[]Y:w: 17


contra Tirza. e sitiaram desde Gibeton; com ele e todo Israel Omri E subiu

ry[ihê ' hd"äK.l.nI-yKi( ‘yrIm.zI tAaÜr>Ki yhiúy>w: 18


a cidade, eis que foi capturada Zimri conforme vendo E aconteceu

wyl'ó[' @ro’f.YIw: %l,M,_h;-tyBe !Amår>a;-la, aboßY"w:


sobre ele e incendiou casa do rei; para palácio fortificado e foi

18MARGUERAT, Daniel; BOURQUIN, Ivan. Para Ler as Narrativas Bíblicas: iniciação à análise
narrativa. São Paulo: Loyola, 2009.
67

`tmo)Y"w: vaeÞB' %l,m,²-tyBe(-ta,


e morreu. no fogo a casa do rei

hw"+hy> ynEåy[eB. [r:Þh' tAfï[]l; aj'êx' rv<åa] Αwyt'aJox;Ð AtaJ'x;-l[; 19


YHWH; aos olhos de a maldade em fazer errou que [*Q* os erros dele] Por causa de *k*

`lae(r"f.yI-ta, ayjiÞxh] ;l. hf'ê[' rv<åa] AtaJ'x;b.W ~['bê .r"y" %r<dB<ä . ‘tk,l,’l'
a Israel. para fazer errar fez, que e no erro dele Jeroboão, no caminho de andar

rv"+q' rv<åa] Arßv.qiw> yrIêm.zI yrEäbD. I ‘rt,y<’w> 20


conspirou; que e a conspiração dele Zimri as ações de E o restante

~ymiÞY"h; yrEîbD. I rp,se²-l[; ~ybiªWtK. ~heä-al{)h]


os dias as ações de no livro de as que estão escritas Acaso eles não

p `lae(r"f.yI ykeîl.m;l.
Israel? dos reis de

hy"h'û ~['øh' yci’x] ycixle_ ; laeÞr"f.yI ~['îh' qle²x'yE za'ó 21


estava o povo metade de para metade de Israel o povo se repartiu Então

`yrI)m.[' yrEîxa] ; yciÞx]h;w> Akêylim.h;l. ‘tn:yGI-!b, ynIÜb.ti yrE’x]a;


Omri. atrás de e a metade para o fazer reinar dele, filho de Ginate, Tibni atrás de

ynIåb.Ti yrEÞx]a; rv<ïa] ~['§h'-ta, yrIêm.[' yrEäxa] ; rv<åa] ‘~['h' qz:Üx/Y<w: 22


Tibni atrás de que o povo Omri, atrás de que o povo Mas foi forte

p `yrI)m.[' %l{àm.YIw: ynIbë .Ti tm'Y"åw: tn:+yGI-!b,


Omri. e reinou Tibni, e morreu filho de Ginate;

hd"êWhy> %l,m,ä ‘as'a'l. hn"©v' atx;øa;w> ~yvi’l{v. •tn:v.Bi 23


Judá, rei de para Asa ano e um trinta No ano

`~ynI)v-' vve %l:ïm' hc'Þr>tiB. hn"+v' hrEÞf.[, ~yTeîv. laeêr"f.yI-l[; ‘yrIm.[' %l:Üm'
seis anos. reinou em Tirza ano; doze sobre Israel Omri reinou

@s,K_' ~yIr:åKk. iB. rm,v,Þ ta,mîe !Ar±mv. o rh"ïh'-ta, !q,YI÷w: 24


prata; por dois talentos Semer de Samaria o monte de E comprou

hn"ëB' rv<åa] ‘ry[ih' ~veÛ-ta, ar"ªq.YIw: rh'êh'-ta, ‘!b,YI’w:


construiu que a cidade nome e chamou o monte, E construiu

` a!Ar)m.vo rh"ïh' ynEßdoa] rm,v,ê-~v, l[;ä


Samaria. o monte de dono de nome de Semer sobre

lKoßmi [r:Y"¨w: hw"+hy> ynEyå [eB. [r:Þh' yrI±m.[' hf,î[]Y:w: 25


de todo e praticou o mal YHWH; em olhos de o mal Omri E fez

`wyn")p'l. rv<ïa]
para face dele. que
68

AtêaJ'x;bW.
a jb'ên>-!B, ~['äbr. "y" ‘%r<D<’-lk'B. %l,YE©w: 26
e no erro dele filho de Nebat, Jeroboão em todo caminho de E andou

hw"±hy>-ta, sy[iªk.h;l. lae_r"f.yI-ta, ayjiÞx/h, rv<ïa]


YHWH para irritar a Israel; induziu ao erro que

` b~h,(yleb.h;B. laeÞr"f.yI yheîl{a/


em suas inutilidades. Israel Deus de
b hf'_[' rv<åa]b Atßr"Wbg>W hf'ê[' rv<åa] a‘yrIm.[' yrEÛbD. I rt,y<“w> 27
fez ; que e seu poder fez, que Omri ações de E restante das

`lae(r"f.yI ykeîl.m;l. ~ymiÞY"h; yrEîbD. I rp,se²-l[; ~ybiªWtK. ~heä-al{)h]


Israel? para reis de dias ações dos sobre-livros escritos Acaso eles não

!Ar+m.vBo . rbEßQ'YwI : wyt'êbao ]-~[i ‘yrIm.[' bK;Ûv.YIw: 28


em Samaria; e foi sepultado com seus pais Omri E deitou-se

p ` awyT'(xT. ; AnàB. ba'îxa. ; %l{°m.YIw:


em seu lugar. seu filho Acab E reinou

~yviÛl{vb. tn:“v.Bi alaeêr"f.yI-l[; ‘%l;m' yrIªm.['-!B, ba'äx.a;w>a 29


trinta em ano de sobre Israel, reinou filho de Omri, E Acab

yrIÜm.[-' !B, ba'’x.a; %l{m.YIw:û bhd"_Why> %l,m,ä as'aÞ l' . hn"ëv' ‘hn<mvo .W
filho de Omri Acab e reinou Judá; rei de para Asa ano e oito

`hn")v' c
~yIT:ßvW. ~yrIfï .[, !Arêm.voåB. ‘laer"f.yI-l[;
anos. e dois vinte em Samaria, sobre Israel

hw"+hy> ynEåy[eB. [r:Þh' a yrI±m.['-!B,a ba'óx.a; f[;Y:“w: 30


YHWH; em olhos de o mal filho de Omri Acab E fez

`wyn")p'l. rv<ïa] lKoßmi


para diante dele. que de tudo

jb'_n-> !B, ~['äbr. "y" twaJoßx;B. ATêk.l, alqEånh" ] ‘yhiy>w: 31


filho de Nebat? Jeroboão nos erros de seu andar foi insignificante E aconteceu

~ynIëdyo ci %l,mä, ‘l[;B;’t.a,-tB; lb,z<©yai-ta, hV'øai xQ;’YIw:


sidônios, rei dos filha de Etbaal Jezabel mulher E tomou

`Al* WxT;Þv.YIw: l[;Bêh; ;-ta, dboå[]Y:w:) ‘%l,YE’w:


para ele. e prostrou-se a Baal e serviu E andou

l[;B;êh; tyBeä l[;Bl'_ ; x;BeÞz>mi ~q,Y"ïw: 32


o Baal, casa de para o Baal; altar E ergueu
69

`!Ar)m.voB. hn"ßB' rv<ïa]


em Samaria. construiu que
atAfª[]l; ba'øx.a; @s,AY“w: hr"_veah] '-ta, ba'Þx.a; f[;Y:ïw: 33
para o fazer, Acab e superou a Aserá; Acab E fez

laeêr"f.yI ykeäl.m; lKo’mi laeêr"f.yI


b yhelä {a/ ‘hA"hy>-tab, ‘sy[ik.h;l.
Israel, reis de de todo Israel, Deus de YHWH para irritar

`wyn")p'l. Wyàh' rv<ïa]


para diante dele. aconteceram que

2. Crítica Textual
2.1. Notas do Aparato Crítico da BHS19

O texto bíblico utilizado nesta pesquisa é o texto da Biblia Hebraica


Stuttgartensia (BHS). Esta edição acadêmica editada por Elliger e Rudolph,
representa o Texto Massorético do Códice de Leningrado B19a (L). Este códice
massorético data de 1008-1009. Nele há, entre outras anotações, diversas notas
massoréticas denominadas Massora Parva (Mp) e Massora Magna (Mm). Na
parte final do Códice de Leningrado B19a (fólios 466a-466b) elenca 246
divergências entre os massoretas orientais (Babilônia) e os ocidentais
(Tiberíades) nos blocos dos Profetas e dos Escritos (FRANCISCO, 2008, p. 315;
FISCHER, 2013, p.153-167).
A importância do aparato crítico está na observação das variantes textuais
de manuscritos antigos e na possibilidade de reconstruir o texto bíblico baseado
nas suas testemunhas textuais e traduções, principalmente a LXX e a Vulgata.
Segundo Francisco (2005, p. 96), “o objetivo principal do de tal aparato é
informar diferenças entre o texto bíblico hebraico de tradição massorética
tiberiense, (...) e as antigas versões bíblicas clássicas, além de fornecer
emendas tanto de natureza textual quanto de índole do texto”.
A utilização do aparato crítico nos ajuda a identificar e corrigir as mudanças
que aconteceram no texto durante seu processo de transmissão e cópia. Tais
mudanças acidentais aconteceram ao longo de muitos séculos de atividade dos

19 A interpretação das notas foi baseada em FRANCISCO, Edson F. Manual da Bíblia Hebraica:
Introdução ao Texto Massorético – Guia Introdutório para a Biblia Hebraica Stuttgartensia. 3ª Ed.
São Paulo: Vida Nova, 2008.
70

copistas (TREBOLLE BARRERA, 1996, p.439). Algumas delas, foram


propositais, sendo realizadas por motivos teológicos como são os casos de
~yrIp.As ynEWQTi (Correções dos Escribas), abreviadas no aparato crítico das

versões acadêmicas da Bíblia Hebraica (BHK e BHS) como “Tiq sof”, outros
casos de correções por motivos teológicos são chamados de ~yrIp.As yyIWNyKi
(eufemismos dos escribas). Tais correções aconteceram nos textos em que
havia termos entendidos como pejorativos, negativos ou ofensivos próximos do
tetragrama hwhy (YHWH) ou de outros títulos divinos, como por exemplo: yn"Ada]
(Senhor ou senhores) e ~yhil{a/ (Deus ou deuses). A tradição judaica acredita
que tais correções aconteceram em torno do séc. V AEC, no período do
Segundo Templo (FRANCISCO, 2008, p. 238-243; veja também de McCARTHY,
1981, p. 17-24).
A seguir estão as transcrições das notas do aparato crítico da BHS desta
perícope (1Rs 16.23-33) junto com sua interpretação:

▪ VERSO 15 Frase: a hd"êWhy> %l,mä, ‘as'a'l. hn"©v' [b;v,øw" ~yrI’f.[, •tn:v.Bi a (no ano
vinte e sete de Asa, rei de Judá)
Nota: [ 15 a–a > * ]
Interpretação: O texto original grego da LXX omite esta frase.
Como ficaria o versículo conforme a LXX: “E Zimri reinou sete dias em Tirza,
e o exército de Israel diante de Gibeton dos estrangeiros”.

▪ VERSO 15 Expressão: b [b;v,øw" ~yrI’f.[, b (vinte e sete)


Nota: [ 15 b–b  22,  31 ]
Interpretação: O texto grego da LXX, conforme a recensão de Luciano de
Antioquia (séc. III EC) traz o número “vinte e dois” ao invés de “vinte e sete”. Já
a LXX, versão de Göttingen ou de Ralphs, nos manuscritos 127 e 246, traz o
número “trinta e um” no lugar de “vinte e sete”.
Como ficaria o versículo cf. a recensão da LXX de Luciano: “No ano vinte e
dois de Asa, rei de Judá, reinou Zimri sete dias em Tirza; e o povo estava
acampado contra Gibeton que é dos filisteus”.
Como ficaria o versículo cf. LXX (Göttingen/Ralphs, 126.246): “No ano trinta
e um de Asa, rei de Judá, reinou Zimri sete dias em Tirza; e o povo estava
acampado contra Gibeton que é dos filisteus”.

▪ VERSO 15 Vocábulo: c !AtßB.GI (Gibeton)


Nota: [ 15 c   17 ]
71

Interpretação: A Peshitta20 traz gt (tg) no lugar de Gibeton. O mesmo acontece


no versículo 17.
Como ficaria o versículo: No ano vinte e sete de Asa, rei de Judá, reinou Zimri
sete dias em Tirza; e o povo estava acampado contra Gat que é dos filisteus”.

▪ VERSO 16 Vocábulo: a lk'( (todo)


Nota: [ 16 a  evn ]
Interpretação: O Códice Vaticano (séc. IV EC), o Códice Alexandrino (séc. V
EC) e outros códices manuscritos da LXX utilizam evn (em) no lugar do vocábulo
hebraico lk'( (todo).
Como ficaria o versículo: “E ouviu dizer, o povo que estava acampado: Zimri
conspirou e também feriu o rei; e naquele dia no acampamento, fizeram reinar,
em Israel, [a] Omri, chefe do exército sobre Israel”.

▪ VERSO 16 Vocábulo: b yrIm.[.' (Omri)


Nota: [ 16 b  Zambri ]
Interpretação: A tradição do texto grego da LXX, exceto a recensão de Luciano
de Antioquia (séc. III EC), colocam o nome Zambri (Zimri) no lugar de “Omri” do
texto hebraico.
Como ficaria o versículo: “E ouviu dizer, o povo que estava acampado: Zimri
conspirou e também feriu o rei; e naquele dia no acampamento, fizeram reinar,
todo Israel, [a] Zimri, chefe do exército sobre Israel”.

▪ VERSO 19 Vocábulo: a wyt'aJox-; l[; (por causa dos erros dele)


Nota: [ 19 a   wyt'- ;  AtaJ'x; ? ]
Interpretação: Muitos manuscritos hebraicos medievais, muitas ou todas as
versões como o Q (Qerê) lêem wyt'aJox;; é para ser lido como K (Ketiv) AtaJ'x,;
de acordo com os massoretas orientais ou da Babilônia (séc. VII-IX EC)?
Como ficaria o versículo: “Por causa dos erros dele, o qual errou em fazer a
maldade aos olhos de YHWH; [ao] andar no caminho de Jeroboão, e no erro
dele, para fazer errar Israel”.

▪ VERSO 19 Vocábulo: b ~['b.r"y" (Jeroboão)


Nota: [ 19 b  () + ui`ou/ Nabat ]
Interpretação: A LXX e (a Peshitta concorda, mas em parte), acrescenta ui`ou/
Nabat (filho de Nebate) depois do nome “Jeroboão”.

20
A Peshitta é uma versão da Bíblia para o siríaco. Surgiu em torno do séc. II EC na Síria. Para
mais informações sobre a Peshitta, veja FRANCISCO, 2008, p. 497-506.
72

Como ficaria o versículo: “Por causa dos erros dele, o qual errou em fazer a
maldade aos olhos de YHWH; [ao] andar no caminho de Jeroboão, filho de
Nebate, e no erro dele, para fazer errar Israel”.

▪ VERSO 19 Vocábulo: c AtaJ'x;bW. (e no erro dele)


Nota: [ 19 c  ]
Interpretação: A LXX, a Peshitta e o Targum de Jônatas ben Uziel, traduzem
este vocábulo como plural “e nos erros dele”.
Como ficaria o versículo: “Por causa dos erros dele, o qual errou em fazer a
maldade aos olhos de YHWH; [ao] andar no caminho de Jeroboão, e nos erros
dele, para fazer errar Israel”.

▪ VERSO 19 Frase: d ayjiÞxh


] ;l. hf'[' d (fez para fazer errar)
Nota: [ 19 d-d  ayjix/h,   ]
Interpretação: A expressão ayjiÞxh] ;l. hf'[' (fez para fazer errar ) deve ser lida
como ayjix/h, (induziu ao erro [conjugação hifil]). Conferir com o texto da LXX
(séc. III-I AEC) e com a Peshitta e Vulgata.
Como ficaria o versículo: “Por causa dos erros dele, o qual errou em fazer a
maldade aos olhos de YHWH; [ao] andar no caminho de Jeroboão, e no erro
dele, [que] induziu ao erro Israel”.

▪ VERSO 21 Vocábulo: a ycix]h;w> (e a metade)


Nota: [ 21 a  ]
Interpretação: O texto da LXX omite a locução ycix]h;w> (e a metade) em sua
tradução. A locução é para ser deletada?
Como ficaria o versículo: “Então o povo de Israel se dividiu; metade do povo
estava junto a Tibni, filho de Ginate, para o fazer reinar, e a [outra] metade
estava junto a Omri”.

▪ VERSO 22 Vocábulo: a qz:x/Y<w: (mas foi forte)


Nota: [ 22 a  ]
Interpretação: O texto grego original da LXX apresenta o v.22 de outro modo.
Como ficaria o versículo: “O povo que foi após Omri prevaleceu contra o povo
que foi após Tibni, filho de Ginate, e morreu Tibni e Ioram, seu irmão, no mesmo
tempo, e reinou Omri após Tibni”.

▪ VERSO 22 Vocábulo: b -ta, (*)


Nota: [ 22 b  !mi ]
73

Interpretação: Provavelmente para ser lido como poucos manuscritos hebraicos


medievais, a Peshitta e o Targum de Jônatas ben Uziel, com a preposição !mi
(desde) no lugar de -ta, (*).
Como ficaria o versículo: “Mais forte foi o povo que [estava] junto a Omri que
desde o povo que [estava] junto a Tibni, filho de Genate; e Tibni morreu, e Omri
reinou”.

▪ VERSO 22 Vocábulo: c ynIb.Ti (Tibni)


ayhih; t[eB' wyxia' ~r"Aw>  ]
Nota: [ 22 c 
Interpretação: Provavelmente a frase ayhih; t[eB' wyxia' ~r"Aw> (e Oram, irmão
dele, no momento ele) deve ser inserida no texto. Conferir com o texto da LXX.
Como ficaria o versículo: “Mais forte foi o povo que [estava] junto a Omri que o
povo que [estava] junto a Tibni, filho de Genate; e Tibni e Oram, irmão dele, no
[mesmo] momento ele morreu, e Omri reinou”.

▪ VERSO 22 Vocábulo: d yrIm.[' (Omri)


Nota: [ 22 d  ynIb.Ti yrEx]a; ]
Interpretação: A frase ynIb.Ti yrEx]a; (depois de Tibni) deve ser inserida depois do
vocábulo yrIm.[' (Omri). Conferir com a LXX.
Como ficaria o versículo: “Mais forte foi o povo que [estava] junto a Omri que o
povo que [estava] junto a Tibni, filho de Genate; e Tibni morreu, e Omri reinou
depois de Tibni”.

▪ VERSO 23 Vocábulo: a tx;a;w> (e um)


Nota: [ 23 a ; , 312 ]
Interpretação: “ Tanto o Códice Coisliniano, mão original, como os códices
cursivos (minúsculos) da LXX (séc. IX e X em diante) trazem  (e
sete) no lugar de tx;a;w> (e um); mas Flavio Josefo (Antiquitates Judaicae ou
Antiquitates Flavii Josephi) omite.
Como ficaria o versículo: “No ano trinta e sete de Asa, rei de Judá, reinou Omri
sobre Israel doze anos; seis anos reinou em Tirza”.

▪ VERSO 24 Vocábulo: a !Arm.vo (Samaria)


Nota: [ 24 a B al Saemhrwn,   ]
Interpretação: “o Códice Vaticano (séc. IV) e outros códices manuscritos da
LXX trazem a grafia Saemhrwn para !Arm.vo (Samaria). A Vulgata (séc. IV-V) traz
a grafia Samariam, conferir com a grafia do acádico samerina.
Como ficaria o versículo: Muda a pronúncia do nome Samaria para
“Saemeron”, “Samariam” ou “Samerina”.
74

▪ VERSO 26 Vocábulo: a AtaJ'x;bW. (e no erro dele)


Nota: [ 26 a  ywt'aOJÄ AtaJ'Ä]
Interpretação: “Muitas versões trazem como o Ketiv ywt'aOJx;b.W (e nos erros
dele). Muitos manuscritos hebraicos medievais trazem como o Qerê AtaJ'x;b.W (e
no erro dele).
Como ficaria o versículo: não muda.

▪ VERSO 26 Vocábulo: b ~h,yleb.h;B. (em suas inutilidades)


Nota: [ 26 b  ` ]
Interpretação: Assim está no Códice L, muitos manuscritos hebraicos medievais
e edições impressas da Bíblia Hebraica trazem o sinal ` (sof pasuq) depois de
~h,yleb.h;B. (em suas inutilidades).
Como ficaria o versículo: não muda.

▪ VERSO 27 Vocábulo: a yrIm.[.' (Omri)


Nota: [ 27 a   -lk'w> ]
Interpretação: “Provavelmente é para ser inserido com muitos manuscritos
hebraicos medievais, a LXX e a Peshitta, -lk'w> (e todo) após o vocábulo yrIm.['.
(Omri).
Como ficaria o versículo: “E o restante das ações de Omri, e todo o ato de
poder dele; não [estão] escritos sobre o livro das ações dos dias dos reis de
Israel?”

▪ VERSO 27 Frase: bhf'_[' rv<åa]'.b (que fez)


Nota: [ 27 b-b  ]
Interpretação: O texto grego da LXX (séc. III-I AEC) e a Peshitta omitem a
expressão hf'_[' rv<åa]'. (que fez). É para ser apagada?
Como ficaria o versículo: “E o restante das ações de Omri, e o ato de poder
dele; não [estão] escritos sobre o livro das ações dos dias dos reis de Israel?”

▪ VERSO 28 Vocábulo: a wyT'(xT


. ; (em seu lugar)
Nota: [ 28 a  ( = 22,41 – 44.46 – 51) ]
Interpretação: O texto grego da LXX adiciona vários versículos (como 22.41-44;
46-51)
Como ficaria o versículo: não muda, mas haveria o acréscimo de oito
versículos.
75

▪ VERSO 29 Frase: alaeêr"f.yI-l[; ‘%l;m' yrIªm.['-!B, ba'äx.aw; >a (e Acab, filho de Omri,
reinou sobre Israel)
Nota: [ 29 a-a > * ]
▪ Interpretação: “O texto grego da LXX (séc. III-I AEC) omite a frase laeêr"f.yI-l[;
‘%l;m' yrIªm.[-' !B, ba'äx.a;w> (e Acab, filho de Omri, reinou sobre Israel).
Como ficaria o versículo: “No ano trinta e oito de Asa, rei de Judá; Acab, filho
de Omri, reinou sobre Israel em Samaria vinte e dois anos”.

▪ VERSO 29 Frase: hd"_Why> %l,mä, as'Þa'l. hn"ëv' ‘hn<mov.W ~yviÛl{v.b


b (trinta e oito
anos para Asa rei de Judá)
Nota: [ 29 b-b * deute,rw| tw/| Iwsafat ]
Interpretação: O texto grego da LXX (séc. III-I AEC) traz no lugar da frase
hebraica hd"_Why> %l,mä, as'a
Þ l' . hn"ëv' ‘hn<mvo .W ~yviÛl{v. (no ano trinta e oito de Asa,
rei de Judá), a expressão deute,rw| tw/| Iwsafat (no segundo ano de Josafá).
Como ficaria o versículo: “No segundo ano de Josafá, reinou Acab, filho de
Omri, sobre Israel em Samaria, vinte e dois anos”.

▪ VERSO 29 Vocábulo: c ~yITv


:ß W. (e dois)
Nota: [ 29 c  [B;r>a;w>;  ]
Interpretação: Poucos manuscritos hebraicos medievais trazem [B;r>a;w> (e
quatro) no lugar de ~yIT:ßvW. (e dois); dois manuscritos hebraicos medievais
omitem esse vocábulo ~yIT:ßvW. (e dois).
Como ficaria o versículo: “E Acab, filho de Omri, reinou sobre Israel, no ano
trinta e oito de Asa, rei de Judá; e reinou Acab, filho de Omri, sobre Israel em
Samaria, vinte e quatro anos”.

▪ VERSO 30 Expressão: ayrI±m.[-' !B,a (filho de Omri)


Nota: [ 30 a-a  ]
Interpretação: O texto grego da LXX (séc. III-I AEC) omite a expressão yrI±m.[-' !B,
(filho de Omri). É para ser apagada?
Como ficaria o versículo: “E fez Acab o mal aos olhos de YHWH; mais do que
todos que [foram] antes dele”.

▪ VERSO 33 Vocábulo: atAfª[]l; (para fazer)


Nota: [ 33 a  ]
Interpretação: O vocábulo tAfª[]l; (para fazer) foi inserido? Conferir o texto
grego da LXX (séc. III-I AEC).
76

Como ficaria o versículo: “E fez Acab a Aserá; e superou Acab em provocar a


irritação [de] YHWH, Deus de Israel, mais que todos [os] reis de Israel, que
foram antes dele”

▪ VERSO 33 Frase: blaeêr"f.yI yheäl{a/ ‘hA"hy>-tab (YHWH Deus de Israel)


Nota: [ 33 b-b * th.n yuch.n auvtou/ tou/ evxoleqreuqh/nai\ evkakopoi,hsen ]
Interpretação: O texto grego da LXX (séc. III-I AEC) traz a frase th.n yuch.n
auvtou/ tou/ evxoleqreuqh/nai\ evkakopoi,hsen (a sua alma destruir totalmente,
fazendo o mal) no lugar da frase hebraica laeêr"f.yI yheäl{a/ ‘hA"hy>-ta (YHWH Deus
de Israel).
Como ficaria o versículo: “E fez Acab a Aserá; e superou Acab em provocar a
irritação [da] sua alma, destruir totalmente fazendo o mal, mais que todos [os]
reis de Israel, que foram antes dele”.

2.2. Tradução Idiomática21

15 No ano vinte e sete de Asa, rei de Judá, reinou Zimri sete dias em Tirza; e o
povo estava acampado contra Gibeton que é dos filisteus. 16 E ouviu dizer, o
povo que estava acampado: Zimri conspirou e também feriu o rei; e naquele dia
no acampamento, fizeram reinar, todo Israel, [a] Omri, chefe do exército sobre
Israel. 17 E subiu Omri e todo Israel com ele desde Gibeton; e sitiaram contra
Tirza. 18 E aconteceu [que], conforme vendo Zimri que a cidade fora capturada,
foi para o palácio fortificado, [a] casa do rei; e incendiou sobre ele a casa do rei
no fogo e morreu. 19 Por causa dos erros dele, o qual errou em fazer a maldade
aos olhos de YHWH; [ao] andar no caminho de Jeroboão, e no erro dele, para
fazer errar Israel. 20 E o restante das ações de Zimri, e a conspiração dele;
acaso não estão escritas no Livro das Crônicas dos reis de Israel? 21
Então o povo de Israel se dividiu pela metade; metade do povo estava junto a
Tibni, filho de Ginate, para o fazer reinar, e a [outra] metade estava junto a Omri.
22 Mais forte foi o povo que [estava] junto a Omri que o povo que [estava] junto
a Tibni, filho de Genate; e Tibni morreu, e Omri reinou.

23 No ano trinta e um de Asa, rei de Judá, reinou Omri sobre Israel doze anos;
seis anos reinou em Tirza. 24 E comprou o monte de Samaria de Semer por dois
talentos de prata; e edificou o monte, e chamou o nome da cidade que edificou

21 Conforme definição de tradução dada por BARNWELL, 2012, p. 16.


77

de Samaria, de acordo com [o] nome de Semer, dono do monte. 25 E fez Omri o
mal aos olhos de YHWH; e praticou o mal, mais do que todos [que foram] antes
dele. 26 E andou em todo [o] caminho de Jeroboão, filho de Nebate, e no erro
dele, que induziu Israel ao erro; para provocar irritação a YHWH, Deus de Israel,
em suas inutilidades. 27 E o restante das ações de Omri, e o ato de poder dele;
não [estão] escritos sobre o livro das ações dos dias dos reis de Israel? 28 E
deitou-se Omri com seus pais, e foi sepultado em Samaria; e reinou Acab, seu
filho, em seu lugar.

29 E Acab, filho de Omri, reinou sobre Israel, no ano trinta e oito de Asa, rei de
Judá; e reinou Acab, filho de Omri, sobre Israel em Samaria, vinte e dois anos.
30 E fez Acab, filho de Omri, o mal aos olhos de YHWH; mais do que todos que
[foram] antes dele. 31 E aconteceu que, acaso era insignificante seu andar nos
erros de Jeroboão, filho de Nebate; e tomou [por] mulher a Jezabel, filha de
Etbaal, rei dos sidônios, e andou e serviu a Baal, e se prostrou para ele. 32 E
ergueu [um] altar para Baal, [uma] casa de Baal, que edificou em Samaria. 33 E
fez Acab a Aserá; e superou Acab em provocar a irritação [de] YHWH, Deus de
Israel, mais que todos [os] reis de Israel, que foram antes dele.

3. Delimitação da Perícope
Não há maiores dificuldades para se delimitar a perícope. Ela se inicia em
16.15 e vai até 16.33. A perícope que conta o surgimento da história de Omri e
de Samaria se inicia em 16.15, quando narra o momento em que Zimri sobe ao
trono, em Tirza. Este é o estopim da revolta que levou Omri ao trono de Israel
Norte. Neste verso 15, aparece um sinal massorético  (do hebraico ,

“ordem, sequência, seção de leitura”) ou  /  (com o mesmo

significado do termo ), que é um sinal para divisão do texto para as leituras

realizadas no shabbat (FRANCISCO, 2008, p. 178,179; KELLEY et.al., 1998, p.


155).
A perícope anterior, conforme a BHS, vai de 16.1-7 e 16.8-14, terminando
com o sinal massorético (do hebraico  ou : “aberto”, ou ainda

 : “parágrafo aberto”), tal sinal indica a abertura de novo parágrafo,

tema ou perícope no v.15. O parágrafo iniciado no v.15 segue até o v.20, onde
78

ocorre novamente o sinal massorético . O sinal  ocorre no total de três vezes

na perícope (v.20, 22 e 28).


No v.34, aparece outro sinal, o sinal massorético  (do hebraico :

“fechado”, ou  : “parágrafo fechado”), indicando fechamento do

parágrafo ou perícope ou até mesmo do tema de um bloco narrativo maior, que


é composto por uma ou mais perícopes. (FRANCISCO, 2008, p. 176,177;
KELLEY et.al., 1998, p. 167; SCOTT, 1995, p. 1).
No Códice de Leningrado B19a22 (Códice L), fólio 197, divide a perícope
em três partes, 16.1-22, 16.23-28 e depois do v.29-34. O Códice de Alepo23
(Códice A), fólio 85, assim como o Códice L, divide a perícope em três partes,
v.1-22, v.23-28 e v.29-34. O códice A deixa um espaço maior entre o final do
v.33 e início do v.34, indicando uma pausa mais forte no texto, possivelmente
uma separação de assuntos. Ambos parecem separar ainda os v.21-22, como
um parágrafo, da mesma forma a BHS, que segue o Códice L, também separa
estes versos, mas parece não haver consenso nisso.
Long24, na obra 1 Kings with Introduction to Historical Literature, edição que
trabalha basicamente com a Crítica da Forma, coloca a perícope dentro de um
grande bloco narrativo que vai de 15.1-16.28 composta com pelo menos cinco

22 O Códice L (Códice de Leningrado B19a) é um manuscrito massorético do séc. XI EC (1008


ou 1009), e faz parte de uma das duas coleções de Firkowitch, da Biblioteca Nacional Russa de
São Petersburgo, antiga Leningrado. A denominação “Firkowitch” é uma homenagem ao erudito
russo Abraham ben Shemuel Firkowitch (1786-1874). O Códice L também é conhecido como
Codex Leningradensis, ou Firkowitch I. B19a. Este códice pertence à tradição massorética da
família de Arão ben Asher. (FRANCISCO, 2008, p. 315-317, 331-341).
23 O Códice A é outro manuscrito massorético de tradição da família de Arão ben Asher. É um

manuscrito do séc. X EC (entre 925 e 930), e foi trabalhado em Tiberíades, Israel. O Códice A é
conhecido como Códice de Alepo ou Codex Alepensis, ou ainda pelos seguintes nomes
hebraicos    (literalmente, “Coroa de Alepo”),   (literalmente, “Coroa de
Alepo”), ou   (literalmente, “Coroa de Jerusalém”). Este códice foi preservado numa
sinagoga na cidade de Alepo, Síria. Em 1947, logo após a resolução da ONU em repartir o
território da Palestina em dois, Israel e Palestina, uma perseguição aos judeus foi desencadeada
na Síria, e num incêndio criminoso, parte do Códice A foi queimado, quase todo o texto do
Pentateuco. (FRANCISCO, 2008, p.311-314). Veja mais informações no website do Códice de
Alepo: http://aleppocodex.org.
24 Bruce O. Long fez parte da equipe que trabalhou na coleção conhecida pela sigla “FOTL”,

“The Forms of the Old Testament Literature”, e escreveu os dois volumes relacionados aos livros
de 1 e 2 Reis. É uma obra clássica para o tema da Crítica das Formas da Bíblia Hebraica.
79

perícopes que abrangem os reinados de Jeroboão I, Nadab, Baasa, Elá, Zimri e


Omri, deixando a história de Acab para outro bloco narrativo.
Segundo Long (1984, p. 165-166, 170) o parágrafo que trata do rei Acab
(16.29-33) faz parte do bloco narrativo seguinte, que vai de 16.29-22.40,
abordando o início do reinado de Acab até a sua morte. Conforme a análise de
Long, o v.34 fica fora da perícope (16.15-33), porque trata de assunto diferente
conforme é a proposta desta pesquisa.
As Bíblias, de modo geral, parecem incluir o v.34 não porque faça parte
efetivamente da perícope, mas para fechar o capítulo 16, já que esse capítulo
tem 34 versículos. Os códices massoréticos, principalmente o Códice A, deixa
bem evidente que não era consenso que o v.34 fizesse parte da perícope que
trata da história de Omri e Acab.
Enfim, a perícope está bem delimitada, a história da dinastia omrida tem
seu início na narrativa em 1Reis em 16.15, quando Zimri sobe ao trono num
golpe de estado, em seguida temos a ascensão de Omri ao trono de Israel
Norte, depois, Omri edifica Samaria, e por fim, temos a sucessão de Acab como
rei de Israel em 16.33. A acentuação disjuntiva massorética auxiliou deixa muito
evidente a delimitação da perícope, o que facilitou na análise da delimitação e da
estrutura, como veremos a seguir.

4. Estrutura da Perícope
Da mesma forma que a delimitação não foi problemática em excesso, a
estrutura do texto também não oferece muitas dificuldades. O texto dos livros
dos Reis é formado, de modo geral, por várias perícopes e parágrafos bem
delimitados com pequenas histórias de ascensão e queda de reis e seus
problemas ou qualidades.
A perícope está delimitada em 16.15-33. Este texto é composto
basicamente por três parágrafos: v.15-22, v.23-28 e v.29-33. Cada um destes
parágrafos também está bem delimitado dentro de seu tema específico. Os
parágrafos vão elevando a história omrida para o clímax durante o reinado de
Acab. O reinado de Acab é descrito em vários capítulos incluindo os capítulos do
Ciclo de Elias/Eliseu. Esta extensão demonstra sua importância, embora a
80

redação deuteronomista o classifique negativamente como o pior de todos os


reis de Israel.
A estrutura sugerida pelas Bíblias Almeida Revista e Atualizada e Nova
Bíblia Pastoral são praticamente as mesmas 16.15-20, 21-28 e 29-34. A Bíblia
de Jerusalém estrutura de forma um pouco diferente: 16.15-22, 23-28 e 29-34.
Os temas dos subtítulos são variados conforme a tradução e a edição da Bíblia
em Português. Na Biblia Hebraica e na Septuaginta não apresentam subtítulos,
nem os códices massorético os apresentam.
Brueggemann (2000, p. 199-204) sugere uma estrutura baseada nas
pequenas histórias de cada rei. Ele mantém esta sistemática em todo o livro de 1
e 2 Reis. A divisão que Brueggemann propõe é: 1. Zimri, definido pela violência
(v.15-20); 2. Omri, o vencedor (v.21-28) e 3. Acab, o filho de Omri (v.29-34). Ele
coloca os v.21-22 dentro do segundo parágrafo. De fato, estes versos 21-22 não
são consenso entre os exegetas, se pertencem ao parágrafo anterior ou ao
posterior, ou mesmo, se podem ser identificados como um parágrafo
independente. Brueggemann também inclui o v.34 como parte da perícope em
questão.
A estrutura apresentada por Long (1984, p. 166) é uma das estruturas mais
detalhadas se observarmos todo o bloco narrativo ou a estruturação de todo o
livro, mas alguns pontos importantes para esta pesquisa ele não detalha, deixa a
redação muito genérica. Talvez porque o foco de Long é a forma e a estrutura do
texto de todo o livro de 1 e 2 Reis, e o foco desta pesquisa é a ascensão da
dinastia omrida. Long sugere a seguinte estrutura.

A O reino de Zimri (v.15-20)


1. Fórmula do resumo real da ascensão (v.15a)
2. Reportagem da morte de Zimri na guerra civil (v.15b-19)
3. Fórmula de citação do resumo real (v.20)
B Reportagem da guerra civil e da ascensão de Omri (v.21-22)
C O reino de Omri: resumo real (v.23-28)
D Resumo real introdutório [Acab] (v.29-33)

O problema desta estrutura está em não evidenciar a ascensão de Omri e


de Acab, e nem a fundação de Samaria, temas importantes e imprescindíveis
81

para esta pesquisa. Ela não detalha o relato sobre Omri nem detalha o relato
sobre Acab. Isto torna esta estrutura inviável para o objetivo desta pesquisa.

a. Proposta de estrutura para 1 Reis 16.15-33


Por isso, baseado nas fontes estudadas e apresentadas aqui, proponho
nova estrutura detalhada para a perícope, levando em conta todas as
dificuldades apresentadas e discutidas anteriormente.

1 Reis 16.15-33
I. A ASCENSÃO DE OMRI (v.15-22)
. Zimri usurpa o trono de Israel Norte (v.15)
. Omri, comandante do exército de Israel Norte (v.16)
. Omri sitia a cidade de Tirza (v.17)
. A morte [misteriosa] de Zimri (v.18)
. Acusação contra Zimri e o Livro da História dos Reis de
(v.19-20)
Israel
. Surge um concorrente para o trono, Tibni (v.21)
. A morte [misteriosa] de Tibni e a ascensão de Omri ao
(v.22)
trono de Israel Norte

II. O REINADO DE OMRI E A FUNDAÇÃO DE SAMARIA (v.23-28)


. Omri começa a reinar a partir de Tirza (v.23)
. A fundação de Samaria, a nova capital de Israel Norte (v.24)
. Avaliação do reinado de Omri (v.25-26)
. Fim do reinado de Omri, sua morte, sepultamento e
(v.27-28)
sucessão

III. O REINADO DE ACAB, FILHO DE OMRI (v.29-33)


. Início do reinado de Acab (v.29)
. Avaliação severa do reinado de Acab (v.30)
. O casamento com Jezabel, princesa dos sidônios (v.31)
. Avaliação negativa do rei Acab (v.32-33)

Esta estrutura explicita melhor os assuntos tratados na perícope e


apresenta de forma clara os objetivos do narrador ao escrever ou editar a
narrativa.
82

Pode-se perceber que a história de Acab não termina com sua morte e
sepultamento, porque a terceira parte é só uma introdução ou um resumo do seu
reinado (LONG, 1984, p. 170). A história de Acab continua em meio ao Ciclo de
Elias/Eliseu, e segue até 1Rs 22.40, quando narra a morte e sepultamento de
Acab e sua sucessão ao trono de Israel Norte por Acazias.

5. Coesão da Perícope
Inicialmente, o texto de 1Reis 16.15-33 me parecia ser composto por três
perícopes independentes (v.15-22; 23-28 e 29-33), já que trata de três reis
distintos de Israel Norte, e porque cada perícope estaria separada pelo sinal
massorético , indicando separação entre elas. Porém, o sinal massorético 

não se refere exclusivamente à delimitação de perícopes, mas também ao


encerramento e início de parágrafo (FRANCISCO, 2008, p. 176,177; KELLEY
et.al., 1998, p. 167; SCOTT, 1995, p. 1).
Observando melhor a perícope delimitada e as divisões apontadas no
Texto Massorético, é possível perceber que a perícope que se inicia no v.15 e
que termina no v.33 é uma unidade textual. As divisões propostas pelos
massoretas se referem às divisões de parágrafos, que nem sempre são exatas.
Portanto, 1Reis 16.15-33 é uma perícope coesa dividida em três grandes
parágrafos (v.15-22; 23-28 e 29-33). O tema central da perícope é a ascensão
da dinastia omrida, que começa com a subida do general Omri ao trono de Israel
Norte e termina com um breve relato do seu principal sucessor, seu filho Acab.
Os parágrafos estão bem ligados ou costurados, eles apresentam uma
sequência clara e objetiva da ascensão da dinastia omrida. O texto não tem
rodeios. A linguagem é direta e simples. O hebraico é bem elaborado e faz parte
da chamada Obra Historiográfica Deuteronomista (OHD), devido à forte
influência do deuteronomio em seu texto (SEIBERT, 2006, p. 100).
É possível perceber os temas que perpassam toda a perícope. Temos
nomes próprios, verbos e substantivos que ocorrem em todo o texto.
Começando pelos nomes próprios de pessoas, temos por exemplo, o nome que
83

já aparece no v.15, yrIm.zI (Zimri)25. O nome Zimri ocorre quatro vezes nesta

perícope (v.15, 16, 18 e 20).


Outro nome pessoal com várias ocorrências é o de yrIm.[' (Omri)26. O nome

Omri ocorre doze vezes na perícope (v.16, 17, 21, 22 (2x), 23, 25, 27, 28, 29 (2x)
e 30). É o nome pessoal que mais ocorre no texto, mostrando sua importância
na narrativa, embora tal narrativa seja relativamente curta. Também o nome de
as'a' (Asa), rei de Judá, ocorre três vezes na perícope, sempre utilizado como

base para datação dos reinados de Israel Norte (v.15, 23 e 29). O nome de
ba'x.a; (Acab), filho de Omri, ocorre seis vezes no texto, das quais, cinco

ocorrem no último parágrafo da perícope (v.28, 29 (2x), 30 e 33 (2x)).


Outros nomes pessoais que ocorrem com menos frequência, são: ynIb.Ti
(Tibni), que ocorre três vezes na perícope (v.21 e 22 (2x)); O nome de ~['b.r'y"
(Jeroboão I) também ocorre três vezes na perícope, sempre nos versículos que
tratam da avaliação negativa de cada rei do Norte (v.19, 26 e 31). rm,v, (Semer),
que ocorre duas vezes num único versículo (v.24); lb,z<yai (Jezabel) e l[;B;ta. ,
(Etbaal), ambos ocorrem uma única vez na perícope (v.31).
Também nomes próprios de lugares e regiões ocorrem com certa
frequência no texto, o que nos auxilia na compreensão geográfica e política da
narrativa. Temos, como a primeira ocorrência o nome de hc'r>Ti (Tirza), a capital

de Israel Norte, ela ocorre três vezes na perícope (v.15, 17 e 23). As ocorrências
de hc'r>Ti (Tirza) estão na primeira parte da perícope, onde estão acontecendo
as revoltas e toda a trama inicial, bem como o surgimento de Omri na narrativa e
na história de Israel Norte. O nome desta cidade ocorre até o v.23, quando Omri
decide edificar Samaria e transferir a capital de Tirza para a nova cidade,
Samaria.

25 Na LXX o nome yrIm.zI (Zimri) aparece escrito na seguinte grafia: Zambri (Zambri). A Vulgata
grafa como Zamri (Zamri).
26 O nome yrIm.[' (Omri) aparece grafado na LXX como Ambri (Ambri). Na Vulgata, o nome vem
grafado como Amri (Amri). A Bíblia de Jerusalém segue a Vulgata e grafa o nome como “Amri”.
Conforme as notas gramaticais do Texto Massorético (TM), e as atuais gramáticas de Hebraico
Bíblico, toda vez que o sinal vocálico qamets é sucedido por um shevá, o qamets deve ser lido
com o som da vogal “o”, por isso a opção por grafar o nome como “Omri”.
84

A cidade de !AtB.GI (Gibeton), na região de fronteira com a Filistia (yTiv.liP.),

no extremo sul do território israelita, próximo do reino de Judá, ocorre duas


vezes no texto (v.15 e 17), onde, de acordo com a narrativa, Omri estava
acampado com o exército de Israel Norte.
O nome laer'f.yI (Israel), aparece no texto doze vezes (v.16 (2x), 17, 19, 20,
21, 23, 26 (2x), 27, 29 (2x) e 33 (2x)). O nome Israel perpassa toda a narrativa,
do início ao fim, e se refere basicamente, ao reino de Israel Norte. O nome do
Reino do Sul hd'Why> Judá, ocorre somente três vezes em toda a perícope (v.15,
23 e 29), tornando o reino sulista num tema meramente periférico, servindo
somente para fins de datação. Também o nome da nova capital de Israel Norte
!Arm.vo (Samaria), ocorre cinco vezes, todas a partir do v.24, que é o versículo

que narra sua fundação (v.24 (2x), 28, 29 e 32).


Temos também nesta perícope, nomes de três divindades, que nos
mostram a diversidade religiosa existente em Israel Norte, diversidade esta, que
os editores deuteronomistas expuseram e condenaram veementemente. A
primeira divindade que aparece na perícope é Javé (hwhy, YHWH), que ocorre

cinco vezes no texto (v.19, 25, 26, 30 e 33). Todas as cinco vezes o tetragrama
aparece nas avaliações negativas dos reis de Israel: Zimri (v.19), Omri (v.25 e
26) e Acab (v.30 e 33).
As outras duas divindades são, l[;B; (Baal) e hr'vea] (Aserá)27. Baal ocorre

três vezes na perícope (v.31 e 32 (2x)). Aserá ocorre somente uma vez (v.33).
Na perícope, Baal aparece ligado a Jezabel e Aserá, aparece junto a Acab.
O vocábulo %l,m, (rei) perpassa toda a perícope. Ele ocorre dezenove

vezes (v.15 (2x), 16 (2x), 18 (2x), 20, 21, 22, 23 (3x), 27, 28, 29 (3x), 31 e 33).
Isto porque todo o contexto acontece em torno dos reis, no ambiente das
monarquias, dinastias e interesses políticos e busca pelo poder. Outro vocábulo
importante que aparece em toda a perícope é o substantivo taJ'x; (erro,

27 O nome da divindade hr'vea] (Aserá) foi interpretado pelo tradutor da LXX como a;lsoj
(arvoredo, bosque). A Vulgata interpreta como plantavit (plantou, plantado/a). Isto deve ter
influenciado as traduções em português, que traduzem de diversas maneiras: “poste-ídolo” ARA,
“poste sagrado” na BJ, “Aserá” na NBP.
85

transgressão, “pecado”). Tal vocábulo ocorre seis vezes no texto (v.19 (3x), 26
(2x) e 31), sempre para desqualificar os reis israelitas. Este vocábulo é uma
derivação do verbo aj'x' (errar, transgredir, “pecar”). O verbo aj'x' ocorre três
vezes na perícope (v.19 (2x) e 26), nas avaliações dos reis Zimri e Omri. No
caso de Acab, o autor/editor do livro não utiliza o verbo aj'x,' mas narra com
mais detalhes quais foram os pecados dele.
Um verbo importante, mas que ocorre somente uma vez na perícope, é
WrcUYß "w: (v.17), que traz como opções de tradução: “cercar, sitiar, oprimir,

pressionar”. Este verbo aparece no momento que Omri e seu exército sitiaram a
cidade de Tirza. A ideia de sitiar como oprimir ou pressionar, resume o ambiente
tenso do momento da ascensão de Omri.
O vocábulo [r:h' (a maldade), ocorre três vezes na perícope (v.19, 25 e
30), sempre nos versículos que informam a avaliação de cada um dos reis que
aparecem na perícope (Zimri, Omri e Acab). Também ocorre no texto, em dois
versículos de avaliação dos reis Zimri e Omri (v.19 e 26), a expressão hebraica
~['b.r"y" %r<d< “caminho de Jeroboão”, fazendo menção de Jeroboão I como o

ícone ou o modelo de rei transgressor para Israel.


Todos estes termos e vocábulos repetidos, mostram a coesão da perícope,
e não há dúvidas quanto a isso. Outro fator convincente da coesão do texto é a
sua progressão literária. A perícope inicia com a subida de Zimri ao trono de
Israel através de um golpe de estado, enquanto as tropas israelitas estavam
acampadas em Gibeton, diante dos filisteus (v.15). A notícia do golpe de Zimri
chega aos ouvidos de Omri, o general do exército de Israel, que reúne todo o
exército e saindo de Gibeton, chega à capital Tirza, onde sitiam a cidade (v.16-
17).
Quando Zimri percebe que a cidade estava para ser tomada por Omri e seu
exército, refugia-se no palácio do rei, que misteriosamente é incendiado e Zimri,
que reinou somente sete dias, morre carbonizado (v.18). Depois desta narrativa
(v.15-18), vem a avaliação negativa do pequeno reinado de Zimri, justificando
sua morte (v.19-20).
Nos v.21-22 o texto nos informa que logo depois da morte de Zimri e da
tomada da cidade por Omri e seu exército, surge inesperadamente um
86

concorrente ao trono de Israel chamado Tibni, filho de Ginate. O surgimento


deste concorrente fez com que o povo se dividisse, parte do povo queria Omri e
outra parte do povo queria Tibni. O texto continua no v.22 dizendo que os que
seguiam Omri prevaleceram contra os que seguiam Tibni, e misteriosamente
Tibni morre. Este primeiro parágrafo termina dizendo que Omri “passa a reinar”
(v.22). Esta frase é a ligação para o próximo parágrafo (v.23-28) que trazem
informações sobre o reinado de Omri.
Omri, então, começa a reinar e reina seis anos em Tirza (v.23). Ele compra
uma colina de um homem chamado Semer, e por causa desse nome, ele coloca
o nome da colina de Samaria. Omri passa a edificar Samaria e a transforma na
nova capital de Israel Norte (v.24). Os v.25-26 apresentam a avaliação do do seu
reinado, e os v.27-28, informam três assuntos diferentes: 1. O registro dos atos
de Omri no Livro da História dos Reis de Israel, 2. A morte de Omri e, 3. A sua
sucessão por Acab, seu filho. A última frase deste parágrafo é a ligação com o
parágrafo seguinte: “e Acab, seu filho, reinou em seu lugar” (v.28).
O último parágrafo traz um resumo do início do reinado de Acab, e mostra
seus três principais “pecados”: 1. Casar-se com Jezabel, uma princesa fenícia;
2. Ter servido e edificado um templo para Baal em Samaria; e, 3. Ter erguido
uma Aserá em Samaria. Depois de listar estes principais “pecados” de Acab, o
texto continua dizendo que ele “cometeu mais abominações para irritar a Javé”
(v.33) e encerra enfatizando que Acab realizou mais “abominações que todos os
reis de Israel que foram antes dele (v.33).
Portanto, a coesão da perícope está bem estabelecida, com os temas que
a percorrem e fazem parte da sequência da narrativa e progressão do tema da
ascensão da dinastia omrida ao trono de Israel Norte e e a fundação de
Samaria.

6. Gênero Literário
O livro dos Reis possui vários gêneros literários. De acordo com Long
(1984, p. 30), o gênero literário de 1 e 2 Reis nunca foi plenamente definido.
Para ele, a narrativa do livro dos Reis é muito similar às inscrições reais egípcias
e mesopotâmicas, as quais eram uma comemoração às vitórias militares ou às
construções monumentais de seus reis. Para ele, partes de 1 e 2 Reis se
87

assemelham aos gêneros cronográficos, como, listas de reis e crônicas, ambos


os gêneros de caráter histórico, as quais fazem uma apresentação
extremamente limitada de reis e eventos selecionados e colocados no texto de
forma razoavelmente cronológica.
Brueggemann (2000, p. 1 e 3) utiliza frequentemente a expressão “história
real” para se referir ao gênero literário do livro dos Reis, pois logo de início de
sua obra, ele já apresenta o livro bíblico como uma “grande história real”.
Entretanto, ele reconhece que a utilização do termo “história” é um problema28,
Brueggemann aponta que a noção de “história” no judaísmo antigo estava
diretamente ligada às ações de Javé (YHWH), é o que ele chama de “teologia da
história”. Por este motivo os livros de 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis, na Bíblia
Hebraica, não são contados como históricos, mas como Profetas Anteriores,
junto com Josué e Juízes. Para ele, os livros de 1 e 2 Reis são “profecia”, não
“história”; ele entende como um “comentário teológico da história” e não uma
reportagem factual. Neste caso, a história acontece através da vontade de Javé.
Javé é o grande jogador, que mexe e intervêm na história quando desejar.
Burke Long (1984, p. 30-31, 168), na coleção The Forms of the Old
Testament Literature, faz uma abordagem mais genérica no início do livro,
tratando dos gêneros literários contidos nos dois livros dos Reis. Depois ele faz
uma abordagem mais específica para cada perícope, analisando o conteúdo, o
gênero ou os gêneros literários, o lugar vivencial e a intensão do autor ou
autores. Para Long, o gênero da perícope é Regnal Resumé, que pode ser um
Resumo do Reinado ou um Sumário do Reinado, no sentido de informar um
currículo do reinado
Para Long (1984, p. 30-31), os livros dos Reis possuem dois gêneros
literários principais, que podemos chamar de “história factual” (history) e história
fictícia” (story). A história factual, segundo Long, é a história baseada em fatos
reais, concretos, uma narrativa estruturada a partir de testemunhos de eventos
que possuem sequência cronológica. Enquanto que, a história fictícia, é uma
narrativa de conteúdo diverso, cujo principal objetivo são o drama e a estética

28Para Funari e Chevitarese, a compreensão da história na atualidade, é de um relato preciso


dos fatos ocorridos, porque a história se faz através de documentos, os quais nos ajudam a
conjecturar acerca dela, como testemunhos diretos ou indiretos, materiais ou imateriais, que
podem ser chamadas de fontes primárias ou secundárias (FUNARI; CHEVITARESE, 2012, p. 9).
88

A diferença dos termos ingleses, segundo Marguerat (2009, p. 32-33), em


sua obra Para Ler as Narrativas Bíblicas, expressam bem a diferença entre a
história factual e a história fictícia. Ele diz que o termo inglês history, refere-se
aos “fatos brutos”, aos acontecimentos reais tais quais eles aconteceram. Já o
termo story, refere-se à narração de acontecimentos fictícios, subjetivos, não
necessariamente reais.
Para Finkelstein (2007, p. 15), os textos possuem sim valor histórico, e em
muitos casos, eles podem fornecer muitas informações acerca da sociedade, da
política, dos seus escritores e sobre o tempo que é descrito neles. Trechos da
História Deuteronomista, 1 e 2 Reis, por exemplo, podem nos fornecer a
plataforma ideológica e política de Judá em tempos monárquicos tardios. Isto
pode ser percebido na ideia de que todo o culto deveria ser centralizado em
Jerusalém. Isto mostra um conteúdo altamente ideológico em ambos os níveis,
político e teológico.
De acordo com Fohrer e Sellin (2007, p. 139), os livros dos Reis podem ser
enquadrados no gênero “anais e crônicas”, que se caracteriza pela fixação da
memória dos acontecimentos significativos e realizações de reis e soberanos, o
qual se constitui num gênero “informativo”, que era mantido arquivado como
memória. Foi por isso que, segundo Fohrer e Sellin, chegaram até nós as
informações sobre Salomão, os feitos dos Reis de Israel e Judá, a invasão de
Sheshonq I (Sisac ou Sisaque), etc. Este gênero literário não era restrito
somente a Israel e Judá, mas era comum nas cortes do Antigo Oriente Próximo.
A historiografia israelita, segundo Fohrer e Sellin (2007, p. 140-141, 323),
serve menos para fins oficiais do que para fins públicos e privados, porque em
Israel faltam os relatos dos reis em primeira pessoa, o que desempenha papel
primordial na transmissão da história. A respeito de alguns reis, se diz apenas
que tudo o que eles fizeram estão escritos num Livro dos Reis de Israel e outro
de Judá. Para poucos reis fora dada atenção e se narrou mais detalhes de suas
vidas. É o que se pode perceber nas narrativas acerca de Davi e Salomão, de
Saul, de Acab e outros poucos, que chamaram a atenção dos compiladores e
editores dos livros dos Reis, ou pelo que eles fizeram de bom ou de ruim. Outros
são ainda tão menosprezados, que não importa o que fizeram de bom, a eles
89

foram destinadas poucas palavras ou poucos versículos, como é o caso do rei


Omri, ao qual foram destinados apenas seis versículos.
É interessante como a narrativa fala da fundação de Samaria. O texto vai
narrando os acontecimentos a respeito de Omri, então no v.24 passa a falar
sobre a origem do nome “Samaria” e sua fundação como nova capital de Israel
Norte, tudo muito resumido e parece apresentar o fato de modo negativo. O
parágrafo v.23-28 parece ser mais um relato etiológico de Samaria e da dinastia
omrida.
Na minha análise, a perícope de 1 Reis 16.15-33 possui pelo menos três
tipos diferentes de gênero literário: 1. Resumo de reinado; 2. Reportagem; e, 3.
Narrativa etiológica. Estes três gêneros foram unidos por um editor ou
compilados, e formaram a narrativa que temos hoje. Os resumos de reinado
ocorrem com muita frequência nos livros dos reis, basicamente para cada rei há
um resumo sobre seu reinado com uma avaliação no final. A reportagem, são
informações acerca das ações praticadas por determinado rei. A alguns reis foi
reservada uma longa reportagem de seus atos, a outros, porém, a reportagem é
extremamente resumida, informando somente listas de ações, como é o caso
desta perícope. Com relação à etiologia, refiro-me à narrativa acerca da
fundação de Samaria. Este é um relato etiológico que apresenta a origem da
monarquia norte-israelita. A perícope poucos indícios de origem nortista, a maior
parte do texto reflete um dialeto sulista, possivelmente, o vocabulário de
redatores deuteronomistas do Sul.

7. Análise do Conteúdo de 1Rs 16.15-33


Desde as primeiras análises sobre a perícope de 1 Rs 16.15-33, no início
deste capítulo, foi possível observar que o tema central da perícope é Omri e a
fundação de Samaria, e consequentemente, a fundação da monarquia em Israel.
Isto é notório e importante para esta análise exegética, porque pretende
compreender melhor a história de Israel Norte e reler a história bíblica a partir de
Israel Norte, não a partir de Judá, como tem sido convencionalmente feito.
A narrativa da perícope traz várias informações significativamente
etiológicas, como o aparecimento de Omri e sua ascensão no cenário político de
Israel Norte. Também a origem da dinastia omrida, a qual é composta por cinco
90

reis (Omri, Acab, Acazias e Jorão em Samaria, e Atalia em Jerusalém). Também


temos a fundação da imponente capital nortista, Samaria. Com a ascensão da
dinastia e da nova capital nortista, temos então, a fundação da monarquia em
Israel. Isto é o que vamos estudar a partir da análise exegética de 1 Rs 16.15-
33.

7.1. A Ascensão de Omri (16.15-22)


15 No ano vinte e sete de Asa, rei de Judá, reinou Zimri sete dias em Tirza;
e o povo estava acampado contra Gibeton que é dos filisteus. 16 E ouviu
dizer, o povo que estava acampado: Zimri conspirou e também feriu o rei; e
naquele dia no acampamento, fizeram reinar, todo Israel, [a] Omri, chefe do
exército sobre Israel. 17 E subiu Omri e todo Israel com ele desde Gibeton;
e sitiaram contra Tirza. 18 E aconteceu [que], conforme vendo Zimri que a
cidade fora capturada, foi para o palácio fortificado, [a] casa do rei; e
incendiou sobre ele a casa do rei no fogo e morreu. 19 Por causa dos erros
dele, o qual errou em fazer a maldade aos olhos de YHWH; [ao] andar no
caminho de Jeroboão, e no erro dele, para fazer errar Israel. 20 E o
restante das ações de Zimri, e a conspiração dele; acaso não estão
escritas no Livro das Crônicas dos reis de Israel? 21 Então o povo de
Israel se dividiu pela metade; metade do povo estava junto a Tibni, filho de
Ginate, para o fazer reinar, e a [outra] metade estava junto a Omri. 22 Mais
forte foi o povo que [estava] junto a Omri que o povo que [estava] junto a
Tibni, filho de Genate; e Tibni morreu, e Omri reinou.

O primeiro parágrafo desta perícope é composto por oito versículos (v.15-


22). Estes versículos formam uma unidade literária, no sentido de compor um
parágrafo completo, uma pequena perícope. Ela conta a história da subida de
Zimri ao trono e sua queda, o levante do general Omri, o surgimento de um
concorrente ao trono de Israel e a ascensão de Omri ao trono de Israel Norte. O
parágrafo está subdivido em sete tópicos, os quais mostram o desenvolvimento
da narrativa. É quando Omri, que surge repentinamente na história. Vejamos a
análise.

7.1.1. Zimri usurpa o trono de Israel Norte (v.15)

‘as'al' . hn"©v' [b;v,øw" ~yrI’f.[, •tn:v.Bi 15 15 No ano vinte e sete de Asa,


rei de Judá,
hd"êWhy> %l,m,ä reinou Zimri sete dias em Tirza;
hc'_r>tiB. ~ymiÞy" t[;îb.vi yrI±m.zI %l:ïm' e o povo estava acampado contra
91

~ynIëxo ~['äh'w> Gibeton que é dos filisteus.


`~yTi(v.liPl. ; rv<ïa] !AtßB.GI-l[;(
A primeira frase “No ano vinte e sete de Asa, rei de Judá” traz a informação
de data para o início de reinado seja do Norte ou do Sul. Os livros dos Reis
apresentam um complexo modo de datação entrelaçando as informações entre
os reis do Norte e do Sul. Quando se referire a um rei do Norte, o editor-narrador
cita uma datação de um rei do Sul, e vice-versa.
A primeira informação que o texto nos oferece é o ano do reinado de Asa
quando Zimri assume o trono de Israel. O Texto Massorético registra que Zimri
subiu ao trono de Israel “no ano vinte e sete de Asa, rei de Judá”. Neste
versículo 15 temos pelo menos três notas no aparato crítico da BHS.
A nota [ 15 a–a > * ] explica que a primeira frase do texto hebraico “No
ano vinte e sete de Asa, rei de Judá” parece ter sido omitida na edição da LXX29,
ficando somente a segunda e terceira frase “Reinou Zimri sete dias em Tirza; / e
o povo estava acampado contra Gibeton que é dos filisteus”.
A segunda nota do aparato crítico da BHS do v.15 é [ 15 b–b  22, 
31 ]. Esta nota faz referência à frase “no ano vinte e sete”. Tal nota diz que há
divergência entre dois textos da LXX com o Texto Massorético. O texto grego da
recensão de Luciano de Antioquia (séc. III EC) diz o seguinte: “no ano vinte e
dois”. Já o texto grego da edição de Göttingen e de Ralphs, em dois manuscritos
(127 e 246) traz “no ano trinta e um”. Aqui temos a divergência de datas, pois os
três textos (dois gregos da LXX e o Texto Massorético) trazem números
diferentes. Assim temos “vinte e dois” (Luciano), “trinta e um” (Göttingen/Ralphs)
e “vinte e sete” (TM). Infelizmente não foram encontrados manuscritos deste
texto dos Reis nas cavernas da região do Mar Morto, porque assim, poderíamos
comparar com manuscritos hebraicos mais antigos que o massorético.
A primeira frase está informando, portanto, a data de início do reinado de
Zimri. Com as divergências entre manuscritos gregos e o TM, ficaremos neste
caso com o texto massorético, que informa o ano vinte e sete do reinado de Asa,
o rei de Judá, para a subida de Zimri ao trono. E isto depois do golpe que ele
mesmo executou.

29O editor da nota do aparato crítico da BHS para o livro dos Reis (A. Jepsen), não informa a
qual manuscrito da LXX ele está se referindo nesta nota. O símbolo * significa “texto da LXX”.
92

Não se sabe ao certo a origem de yrIm.zI Zimri nem do seu nome. Tal nome
ocorre quinze vezes na Bíblia Hebraica30, e destas, sete vezes só no livro de
1Reis 16 (1Rs 16.9, 10, 12, 15, 16, 18, 20). É um nome quase que exclusivo da
época da monarquia, já que não há citações dele nos demais livros bíblicos.
Segundo Hutton, em The Anchor Yale Bible Dictionary, diz que uma das
possibilidades de origem do nome yrIm.zI Zimri seja a raiz (rmz), esta é a mesma
raiz do termo musical rAmz>mi, traduzido comumente como “salmo” (HUTTON,

1992, verbete [Zimri], p. 1). Thiel, na mesma obra, sugere que o nome yrIm.zI Zimri
seja uma abreviação de um nome maior, possivelmente Why"rIm.zI “YHWH [é]

minha proteção” (THIEL, 1992, verbete [Omri], p. 1), mas não há maiores
evidências para este formato do nome, já que não ocorre em nenhuma outra
parte da Bíblia Hebraica.
A segunda frase do v.15 “reinou Zimri sete dias em Tirza”, começa com um
verbo qatal. Segundo Niccacci (1990, p. 35-45), quando uma frase hebraica
começa com qatal e em seguida vem um sujeito (substantivo próprio), o texto
quer dar ênfase à ação do sujeito, não exatamente ao sujeito. Esta é uma frase
de ação, verbal, não uma frase nominal como a primeira frase.
A frase, portanto, informa que Zimri reinou sete dias em Tirza. O foco aqui
é o reinado de Zimri, que foi extremamente curto, apenas sete dias (uma
semana), mas qual o motivo para um reinado tão curto? A reposta pode estar no
planejamento do golpe de estado que ele mesmo executou. Zimri planejou e
executou um golpe de estado contra o rei Elá, filho de Baasa (1Rs 16.8-14).
Zimri pegou o rei de surpresa, enquanto este estava se embriagando na casa de
seu mordomo Arsa. Zimri entrou na casa de Arsa e golpeou o rei Elá até a
morte, tomando-lhe o trono em Tirza. O problema, ao que tudo indica, é que ele
teria feito isso sem o apoio do exército, que estava acampado contra Gibeton,
cidade filisteia. Mas sobre isso, trataremos no próximo tópico.
O nome hl'ae (Elá), rei de Israel, ocorre inúmeras vezes na Bíblia Hebraica,
em diversas formas e classificações gramaticais. A raíz desta palavra não ocorre
somente como nome próprio Ela pode ocorrer como pronome demonstrativo,

30As ocorrências do nome yrIm.zI são: Nm 25.14; 1Rs 16.9, 10, 12, 15, 16, 18, 20; 2Rs 2.6; 1Cr
8.36 (2x); 9.42 (2x) e Jr 25.25.
93

como verbo e, ainda, como nome de um vale chamado hl'aeh' qm,[E (Vale de
Elá). A origem deste nome é discutida e não há consenso para sua etimologia. A
raiz de palavra hla também pode significar “árvore grande” ou “árvore

frondosa”, uma árvore onde se realizavam celebrações cúlticas. Kirst traduz o


termo como “árvore majestosa” (KIRST et. al., 2004, p. 10). Para Clines (2009, p.
19)., a palavra hL'ae se refere também a “terebinto” ou “carvalho”, uma árvore
considerada sagradaTal árvore sagrada poderia ser Aserá, uma deusa da
fertilidade, que entre suas várias formas, também é vista como uma árvore. A
raiz hla também compõe a raiz da palavra H;l{a/ (forma singular de ~yhila{ /
“Deus ou deuses”). É possível que o rei Elá, pelos significados relacionados ao
seu nome, estivesse ligado ao culto a Aserá, divindade da fertilidade.
A terceira frase “e o povo estava acampado contra Gibeton que é dos
filisteus” é uma frase nominal, porque começa com um substantivo prefixado
com uma conjunção.
O vocábulo ~['h'w> (e o povo) não parece se referir exatamente ao povo de

Israel, como o conjunto da população, mas refere-se ao exército. Era o exército


de Israel, não a população, que estava acampado contra Gibeton. O verbo ~ynIxo
traduzido como “estava acampado”, traz o sentido de “armar um acampamento
militar”, por essa razão que o vocábulo ~['h'w> (e o povo) não se refere à

população de Israel, mas ao exército. O exército tinha montado um


acampamento militar contra a cidade filisteia de Gibeton.
Há uma nota no aparato crítico do v.15 para o nome “Gibeton” [ 15 c 
 17 ]. A nota diz que a Peshitta traz no lugar de !AtB.GI “Gibeton” o nome

tg “Gat”, e o mesmo ocorre no v.17. Esta informação é interessante, porque

tanto !AtB.GI “Gibeton” quanto tg “Gat”, seriam cidades filisteias. É possível que

tg “Gat” fosse um nome mais conhecido no séc. II EC, época da tradução da

Peshitta. A LXX, tradução anterior a Peshitta, simplesmente transcreve o nome


!AtB.GI “Gibeton” como Gabaqwn “Gabaton”.

Ao que parece, o objetivo do sítio militar em Gibeton, segundo Thiel, era


ganhar o controle sobre todo campo aberto, a Sefelá, ao sul da fortaleza de
94

Gezer, cuja posse era questão de conflitos entre os israelitas e os filisteus. Os


filisteus eram uma ameaça ao programa de expansão norte-israelita. Já que
suas cidades estavam bem próximas da Sefelá, e Gat, por exemplo, estava
localizada na parte oeste da Sefelá, no Vale de Elá (THIEL, 1992, verbete
[Omri], v5, p. 17).

7.1.2. Omri, comandante do exército de Israel Norte (v.16)


O texto informativo termina e dá lugar para uma narrativa clássica. A
narrativa chamada aqui como clássica é a que segundo Niccacci (1990, p. 48-
72), é iniciada por um wayyiqtol seguido pelo sujeito e complemento. Esta é a
estrutura clássica da narrativa hebraica.
Conforme os acentos disjuntivos hebraicos, o v.16 está dividido em três
frases “E ouviu dizer, o povo que estava acampado”, “Zimri conspirou e também
feriu o rei” “e naquele dia no acampamento fizeram reinar, todo Israel, [a] Omri,
chefe do exército sobre Israel”. São três frases verbais, a narrativa aponta para a
ação, a história está movimentada e as tramas estão acontecendo. Vejamos o
texto do v.16.

rmoêale ~ynIåxoh; ‘~['h' [m;Ûv.YIw: 16 16 E ouviu dizer,


%l,M,_h;-ta, hK'ähi ~g:ßw> yrIêm.zI rv:åq' o povo que estava acampado:
Zimri conspirou e também feriu o rei;
yrI’m.[-' ta, laer"f.yIû-lk'( Wkliäm.Y:w: e naquele dia no acampamento,
lae²r"f.yI-l[; ab'óc'-rf; fizeram reinar, todo Israel, [a] Omri,
`hn<)x]M;B(; aWhßh; ~AYðB; chefe do exército sobre Israel.

A primeira frase do v.16 “E ouviu dizer, o povo que estava acampado”,


começa com um wayyiqtol, que como vimos anteriormente, caracteriza um texto
narrativo. O verbo é [m;ÛvY. Iw: (e ouviu), este verbo aponta para a ação do ~['h' (o
povo), que assim como no v.15, refere-se possivelmente ao exército, não à
população. O verbo [m;Ûv.YIw: (e ouviu) está ligado ao verbo no infinitivo que

encerra a primeira frase rmoêale (dizer), ficando a tradução ainda um pouco literal
“e ouviu dizer”. O exército de Israel ouviu dizer desde o acampamento, que
estava contra Gibeton. A palavra “acampamento” é a mesma que aparece no
v.15 (acampamento militar).
95

A segunda frase do v.16 “Zimri conspirou e também feriu o rei”, começa


com um verbo qatal, rv:q' (conspirou) é uma frase verbal iniciada por um verbo.
Como já vimos anteriormente, as frases iniciadas com verbo qatal querem dar
ênfase maior à ação do sujeito, não exatamente ao sujeito em si. O verbo rv:q'
(conspirou) é seguido pelo nome yrIm.zI (Zimri), mostrando ação de Zimri, que

neste caso foi a de conspirar.


Nesta segunda frase do v.16, temos a presença de dois verbos, isto indica
que são duas frases verbais qatal, a frase (A) e frase (B). A frase (B) é
dependente da primeira (A), assim, a frase (A) começa com o rv:q' (conspirou),
que também pode ser traduzido por “tramou”. Zimri planejou secretamente a
morte do rei Elá. A frase (B), é iniciada por uma conjunção ~g:w> (e também)

seguida por hK'hi (feriu). Este verbo foi usado também em 1 Rs 16.10, quando

narra com mais detalhes o assassinato praticado por Zimri. Tal verbo traz o
sentido de golpear até a morte, golpear não necessariamente com algum objeto,
mas pode ser simplesmente com as mãos. Zimri bateu no rei até a morte dele.
Então, quando o exército ouviu dizer que Zimri havia matado o rei Elá em Tirza,
revoltou-se contra ele.
Na terceira frase temos a continuação imediata da ação narrativa “e
naquele dia no acampamento, fizeram reinar, todo Israel, [a] Omri, chefe do
exército sobre Israel”. Aqui aparece pela primeira vez o nome yrIm.[' (Omri). Omri
era o comandante do exército de Israel. Não se sabe exatamente a etimologia
do nome nem se sua origem seja israelita. Thiel propõe que o nome yrIm.[' seja
uma abreviação de um nome maior, da mesma forma que ele propõe para o
nome yrIm.zI. A forma completa do nome yrIm.[' seria Why"rIm.[' (ver KESSLER, 2009,

p. 87), mas há um problema aqui, diferente do nome yrIm.z,I o nome yrIm.[' não
possui raiz hebraica clara, a afirmação de que seja um nome hebraico é
altamente questionada (THIEL, 1992, verbete [Omri], v5, p. 17).
Conjecturando a respeito da conexão entre o nome yrIm.[' e outras palavras
hebraicas com raiz parecida, podemos indicar a raiz verbal rm[ que só ocorre
na conjugação hitpael (reflexivo) e pode ser traduzido como “o que trata alguém
96

brutalmente” ou “ser tirano com” (HOLLADAY, 2010, p. 392; HARRIS et.al.,


1998, p. 1138). Kirst propõe a tradução deste verbo como “agir violentamente”
ou “tiranizar” (KIRST et.al., 2004, p. 182). Thiel ainda afirma que o nome Omri
possivelmente seja uma derivação de uma palavra com raiz árabe ou amorita,
povos semitas oriundos do deserto sírio-árabe, mas não diz qual raiz árabe ou
amorita é essa. O nome Omri neste caso, significaria, segundo Thiel, “a vida que
YHWH deu” (THIEL, 1992, verbete [Omri], v5, p. 17). O nome yrIm.[' ocorre

dezoito vezes na Bíblia Hebraica em dezesseis versículos, todos eles em 1 e 2


Reis e 1 e 2 Crônicas, e uma vez em Miqueias. Este nome não ocorre em
nenhuma outra parte da Bíblia Hebraica e em narrativas que tratam da história
do séc. IX AEC, no período monárquico.
A hipótese de que yrIm.[' não seja um nome hebraico vem de vários indícios
principalmente textuais da Bíblia Hebraica. Sobre ele não é dada nenhuma
informação, nem sobre sua origem. Não se sabe o nome de seu pai nem de sua
mãe, nem a que tribo pertencia. Segundo Thiel, pode-se concluir que a família
de Omri não era israelita, mas estrangeira, das terras a leste do Jordão, dos
povos árabes ou amorreus, ou uma família árabe canaanita (THIEL, 1992,
verbete [Omri], v5, p. 17).
A forma longa de seu nome informada anteriormente, Why"rIm.[', junto com o
nome de hy"l.t;[] Atalia (2Rs 11.1), a rainha de Judá, um nome teofórico com o

tetragrama abreviado, mostraria que ele e sua família teriam adotado a fé javista
e assumido as tradições israelitas (THIEL, 1992, verbete [Omri], v5, p. 17).
Temos também, mais tarde, os filhos de Acab com nomes teofóricos, como
Why"z>xa; ] “Acazias”31 (2Rs 22.40) e ~r'Ahy> “Jorão”32 (2Rs 3.1). Em todos esses

nomes há a presença do tetragrama hwhy (YHWH, Javé).

A expressão hebraica traduzida aqui por comandante é ab'c-' rf;


(literalmente, “príncipe do exército”). A narrativa parece indicar que Omri era

31 O nome Why"z>x;a] “Acazias” ocorre sete vezes na Bíblia Hebraica: 2Rs 1.2; 9.16,23,27,29; 11.2;
2Cr 20.35.
32 O nome ~r'Ahy> “Jorão” ocorre vinte e nove vezes na Bíblia Hebraica: 1Rs 22.51; 2Rs
1.17(2x); 3.1,6; 8.16,25,29; 9.15,17,21(2x),22,23,24; 12.19; 2Cr 17.8; 21.3,4,5,9,16;
22.1.5,6(2x),7.
97

popular no meio do exército, pois logo que a notícia da conspiração de Zimri e


da morte do rei Elá chega ao acampamento em Gibeton, Omri é aclamado rei de
Israel. O verbo Wklim.Y:w: (fizeram reinar) é um hifil, verbo causativo ativo,

indicando que teria sido o exército quem fez Omri reinar, pelo menos pela
classificação do verbo hebraico, não se percebe nenhuma intensão de Omri em
se tornar rei neste momento, pois o exército o teria feito rei.

7.1.3. Omri sitia a cidade de Tirza, capital de Israel Norte (v.17)


Agora a narrativa muda de cenário. Há um movimento. Omri com todo o
exército sai de Gibeton e segue na direção de Tirza, com a finalidade de sitiar a
cidade. Querem acabar com o conspirador assassino. O v.17 está divido em
duas frases, uma maior e outra menor. A segunda está ligada diretamente à
primeira através de uma conjunção que dá a continuidade e o resultado da ação
praticada na primeira frase. Vejamos o v.17:

yrI±m.[' hl,î[]Y:w: 17 17 E subiu Omri


!At+B.GmI I) AMß[i laeîr"f.yI-lk'w> e todo Israel com ele desde Gibeton;
e sitiaram contra Tirza.
`hc'(r>Ti-l[; WrcUßY"w:
A primeira frase do v.17 “e subiu Omri e todo Israel com ele desde Gibeton”
é o resultado da ação do v.16. O exército soube da conspiração de Zimri e da
forma como ele matou o rei Elá, e logo fizeram Omri como o novo rei de Israel e
levantando o acampamento desde Gibeton. O v.17 começa com um verbo
wayyiqtol hl,[]Y:w: (e subiu). Esta ação verbal pode assumir dois sentidos: primeiro,

o sentido literal de subir desde a planície do mediterrâneo para Tirza, ao norte;


ou, segundo, pode carregar um sentido teológico, de sair de um lugar menos
importante para um mais importante, independente de localização geográfica.
A narrativa continua e temos todo o restante da frase seguida do verbo,
temos AM[i laer"f.yI-lk'w> yrIm[. ' (Omri e todo Israel com ele). Aqui o nome de Omri
segue imediatamente o verbo “e subiu”, indicando uma ação direta da parte de
Omri. Ele mesmo comandou o exército para levantar acampamento e subir, ele
“e todo Israel com ele”. Aqui novamente a expressão laer"f.yI-lk'w> (e todo Israel)
98

é utilizada para se referir ao exército, ele deu ordens para todo o exército
marchar com ele desde Gibeton.
Daí temos a segunda frase que complementa a primeira “e sitiaram contra
Tirza”. A segunda frase do v.17 mostra a direção para onde o exército estava
marchando. Omri e seu exército marchou firmemente até a capital, Tirza, onde
estava o conspirador Zimri no trono de Israel. A narrativa adianta o tempo, pois
na primeira frase diz que Omri e o exército subiu desde Gibeton, e na frase
seguinte eles já estão em Tirza, mas o texto não informa quanto tempo durou a
viagem desde Gibeton até Tirza. Segundo Marguerat (2009, p. 107-109), a
cadência narrativa se dá pela velocidade que as cenas são apresentadas no
texto. Neste caso, a mudança de cena é repentina, numa frase estão em
Gibeton e na outra já estão em Tirza. São dias de viagem escritos entre uma
frase e outra. Isto pode nos mostrar o ímpeto com que Omri viajou com seu
exército. Eles estavam verdadeiramente determinados e prontos para agir com
violência.
O verbo que inicia esta segunda frase WrcUY"w: (e sitiaram) traz o sentido de

oprimir e pressionar alguém fortemente. É um verbo que pode denotar violência.


O cerco contra Tirza foi violento. A narrativa é rápida com frases curtas na sua
maioria, e o tempo narrativo intenso e ágil. Omri e seu exército estão agora em
Tirza, bem próximos do alvo, Zimri.

7.1.4. A morte de Zimri no palácio real (v.18)


O v.18 segue com a mesma rapidez do tempo narrativo do verso anterior.
A narrativa continua veloz e empolgante. A trama da ascensão de Omri ao trono
está se desenvolvendo. Há cenas violentas e rápidas.
Temos quatro frases no v.18 com cinco verbos wayyiqtol. Todas as quatro
frases são iniciadas por verbo. A primeira frase possui dois verbos, mas o
primeiro é mais um verbo para ligação e indicação de narrativa. Vejamos o texto:

yhiúy>w: 18 18 E aconteceu [que],


ry[ihê ' hd"äK.l.nI-yKi( ‘yrIm.zI tAaÜr>Ki conforme vendo Zimri que a cidade
fora capturada,
!Amår>a;-la, aboßY"w: foi para o palácio fortificado,
%l,M,_h;-tyBe [a] casa do rei;
wyl'ó[' @ro’f.YIw: e incendiou sobre ele a
99

vaeÞB' %l,m²-, tyBe(-ta, casa do rei no fogo


e morreu.
`tmo)Y"w:
A primeira frase do v.18 começa com o verbo yhiy>w: (e aconteceu). Este

verbo é muitas vezes confundido com o verbo “ser”, mas no hebraico bíblico não
há verbo “ser”. No hebraico moderno, a ideia de verbo ser é utilizada apenas no
tempo presente, e isto por influência de outros idiomas, já que na cultura
oriental, as línguas semíticas não possuem tal verbo. A forma verbal yhiy>w: deve
ser traduzida então como “e aconteceu”. No léxico hebraico de Holladay (2013,
p. 108-109), as primeiras opções de tradução são, “tornar-se” e “acontecer”. Esta
forma de tradução nos mostra a continuidade da ação anterior, logo após
sitiarem a cidade (v.17), Zimri percebe que está cercado, a cidade foi capturada,
foi tomada por Omri e seu exército.
Zimri foge para o palácio e parece ter se trancado lá dentro, o único refúgio
seguro para ele. Seguro, mas não tanto. Pois a terceira frase “e incendiou sobre
ele a casa do rei no fogo” mostra que o palácio foi incendiado. O verbo @rof.YIw: (e
incendiou) é um qal imperfeito, é um ativo simples e seu sujeito parece ser Zimri.
Zimri teria então, incendiado o palácio, causando um incêndio que o levaria à
morte, a quarta frase tmo)Y"w: (e morreu). Esta morte de Zimri levanta suspeita, mas

conforme o texto hebraico, parece que este foi um caso de suicídio.

7.1.5. Avaliação negativa do reinado de Zimri (v.19-20)


Aqui temos uma interrupção na narrativa, isto faz parte do enquadramento
que o editor-narrador montou para a narrativa dos reis de Israel e Judá. Primeiro
apresenta uma datação, depois mostra o que o rei fez de bom ou ruim, depois
segue uma nota avaliativa do rei e uma classificação: bom ou ruim.

Este é um texto informativo, um sumário. Este tópico é composto por dois


versículos (v.19 e 20) que, assim como os v. 25-27 e v. 30-33, são de redação
diferente dos demais versículos da perícope. Aqui temos as avaliações dos reis,
carregadas com conteúdo deuteronomista. A sequência é sempre a mesma: fez
o que era mau, andou segundo Jeroboão e fez Israel pecar.

aj'êx' rv<åa] AtaJ'x;-l[; 19 19 Por causa dos erros dele, o qual errou
100

hw"+hy> ynEåy[eB. [r:Þh' tAfï[]l; em fazer a maldade aos olhos de YHWH;


[ao] andar no caminho de Jeroboão,
~['êbr. "y" %r<d<äB. ‘tk,l,’l' e no erro dele, para fazer errar Israel.
hf'ê[' rv<åa] ‘AtaJ'x;bW. 20 E o restante das ações de Zimri,
`lae(r"f.yI-ta, ayjiÞxh] ;l. e a conspiração dele;
acaso não estão escritas no Livro das
yrIêm.zI yrEäb.DI ‘rt,y<’w> 20
Crônicas dos reis de Israel?
rv"+q' rv<åa] Arßv.qiw>
rp,se²-l[; ~ybiªWtK. ~heä-al{)h]
p `lae(r"f.yI ykeîl.m;l. ~ymiÞY"h; yrEîbD. I
A primeira frase do v.19 “por causa do erro dele, o qual errou” começa com
uma expressão AtaJ'x-; l[; (literalmente, “sobre os erros dele”), que pode ser

traduzida como “por causa dos erros dele”, desta forma dá mais sentido à frase
como um todo. A frase termina com um verbo qatal, aj'x' (ele errou). Este verbo

é traduzido geralmente como “pecou”. O ATI – Antigo Testamento Interlinear,


traduz como “transgrediu”, o que é plenamente possível. Eu preferi traduzir como
“errou” para tirar um pouco da carga religiosa que possui o verbo em português
“pecou”. Todas as demais frases do v.19 e 20 são dependentes desta primeira.
A segunda frase “em fazer a maldade aos olhos de YHWH” explica a
primeira frase “por causa do erro dele, o qual errou”. É uma frase imediata. Zimri
errou em fazer a maldade aos olhos de YHWH (Javé). O vocábulo [r:h' (a

maldade) também pode significar “desagradável”, “desprezível”, “moralmente


depravado”, “indesejável” e “irritante”. Os erros de Zimri foram classificados com
todos esses adjetivos negativos. Zimri foi visto pelo deuteronomista, no mínimo,
como depravado e desprezível aos olhos de Javé (YHWH).
Aqui temos a ocorrência do tetragrama hw"hy> (YHWH, Javé). O tetragrama

ocorre cinco vezes em toda a perícope (v.19, 25, 26, 30 e 33), todas elas nos
versículos que tratam da avaliação dos reis. Isto já mostra claramente a redação
deuteronomista no texto. A avaliação dos reis é baseada na teologia referente a
Javé (YHWH), não em relação ao que determinado rei fez ou deixou de fazer.
Na terceira frase “[ao] andar no caminho de Jeroboão” temos mais um
motivo da reprovação de Zimri, ele andou no caminho de Jeroboão. Aqui a LXX
e em parte a Peshitta, acrescenta ui`ou/ Nabat “filho de Nebate” após o nome
101

“Jeroboão”. Jeroboão foi transformado, pelo editor deuteronomista, num vilão


modelo para todos os reis de Israel. Todas as avaliações reais são feitas em
comparação a Jeroboão, aos erros de Jeroboão. Parece que Jeroboão era
conhecido no tempo da redação deuteronomista, que apresentava certo ódio
contra Jeroboão, talvez por causa dos dois touros-jovens que ele estabeleceu
em Dan e Betel, fortes concorrentes do templo de Jerusalém.
A quarta frase deste tópico a continuação é subordinada da terceira frase.
Zimri andou no caminho de Jeroboão e no erro dele. Zimri é acusado de seguir
as mesmas práticas de Jeroboão, possivelmente Jeroboão II. Depois a frase
apresenta um verbo qatal hf'[' (fez) e um verbo na conjugação hifil infinitivo

ayjix]h;l. (causar o erro). A ação de Zimri em andar no caminho de Jeroboão,

causou o erro em Israel, fez com que Israel errasse.


O aparato crítico da BHS apresenta uma nota para a expressão hebraica
ayjix]h;l. hf'[' (fez para fazer errar). A nota33 [ 19 d-d  ayjix/h,   ]

questiona se ela deveria ser lida como está ou como “induziu ao erro”. De
qualquer forma, a nota orienta a conferir com o texto da LXX, da Peshitta e da
Vulgata. Neste caso, a nota faz sentido, porque a frase que está na Bíblia
Hebraica é confusa “fez para fazer errar”, assim, traduzir como “induziu ao erro”
faz mais sentido.
O sumário caminha para o seu final, seu desfecho. Isto é o que vemos no
v.20 que está dividido em três frases. A primeira frase do v.20 “e o restante das
ações de Zimri” começa com um substantivo com uma conjunção, rt,y<w> (e o

restante). Este vocábulo sugere que Zimri cometeu muitos outros erros além dos
que foram registrados aqui.
A segunda frase do v.20 “e a conspiração dele” ou literalmente “e a
conspiração que ele conspirou” (rv"+q' rv<åa] Arßv.qiw>) denota uma certa indignação
pelo ato cometido por Zimri. Além de todos os erros que ele cometeu, e muitos e
outros que não estão escritos, temos um que o editor fez questão de deixar
registrado “ e a conspiração que ele conspirou”. Esta frase prossegue na terceira
frase do v.20 que culmina numa interrogação, “acaso não estão escritas no Livro
das Crônicas dos reis de Israel?”. Eis aqui um livro que nunca foi encontrado, o

33 Ver esta nota na seção “Crítica Textual”.


102

“Livro das Crônicas dos Reis de Israel”. Este livro, se de fato existiu, seria uma
fonte primária interessantíssima, talvez mais até do que a narrativa dos livros
dos Reis a qual estamos estudando. Porque é possível que este livro não tivesse
o teor teológico deuteronomista.

7.1.6. Um concorrente de Omri ao trono de Israel Norte, Tibni (v.21)


Com a morte de Zimri no incêndio do palácio, parecia óbvio que Omri
rapidamente assumisse o poder em Tirza, pois conforme o v.16, todo o exército
o havia constituído como o novo rei de todo Israel. Mas, surpreendentemente, no
v.21 surge um novo personagem para concorrer com Omri o trono de Israel, seu
nome é ynIÜbt
. i (Tibni).
Na redação dos livros dos Reis, vários personagens aparecem
repentinamente na narrativa, sem aviso prévio e sem nenhuma apresentação.
Isto pode ser visto especialmente nos textos que narram a história do Norte,
como o rei Baasa (1Rs 15.28), Omri (16.16) e Tibni (1Rs 16.21)
Nos v.21 e 22 temos a trama final da ascensão de Omri ao poder. Omri e o
exército já havia sitiado Tirza e o rei Zimri, o alvo do exército, estava morto. A
trama continua em Tirza, e não é informado a maneira como Tibni aparece na
cena nem a duração de tempo entre o v.20 e o 21. Estes dois versículos
parecem ser uma inserção, um pedaço de outro texto costurado aqui.
No Códice de Alepo34, fólio 85, o v.21 e 22 estão separados do texto, como
se fossem um parágrafo. Talvez essa diferença já tenha sido percebida na
época massorética. O mesmo parece acontecer no Códice de Leningrado, no
fólio 197, os v.21 e 22 parecem estar dispostos como um parágrafo. A BHS
segue o texto do Códice de Leningrado e coloca um sinal p no final do v.20,
indicando mudança de parágrafo. Mas em ambos os códices, estes versículos
parecem soltos no texto, como sendo um outro texto inserido na narrativa. Mas
em nenhuma das bibliografias consultadas abordam o assunto.
O v.21, que começa com a partícula za' (então). Esta partícula adverbial é,
segundo Holladay, um artifício estilístico utilizado para enfatizar a frase
subsequente, alertando que a frase que se segue deve ser cuidadosamente
distinguida (HOLLADAY, 2010, P. 10). Parece que a trama final da narrativa da

34 Para ter acesso ao Códice de Alepo, veja o fac-símile no site: www.aleppocodex.org.


103

ascensão de Omri solicita a atenção do leitor. Esta partícula chama a atenção do


leitor para o que vai se desenrolar a seguir, o surgimento de Tibni e a divisão do
povo.
O v.21 pode ser dividido em três frases “então o povo de Israel se dividiu
pela metade”, “metade do povo estava junto a Tibni, filho de Ginate, para o fazer
reinar” e “e a [outra] metade estava junto a Omri”. É uma narrativa iniciada por
um wayyiqtol logo após a partícula adverbial za' (então). Vamos ao texto:

ycixe_l; laerÞ "f.yI ~['îh' qle²x'yE za'ó 21 21 Então o povo de Israel se dividiu
pela metade;
Akêylim.h;l. tn:yGI-!b, ynIÜb.ti yrE’x]a; hy"h'û metade do povo estava junto a Tibni,
~['øh' yci’x] filho de Ginate, para o fazer reinar,
`yrI)m.[' yrEîxa] ; yciÞx]h;w> e a [outra] metade estava junto a
Omri.

A primeira frase do v.21 “então o povo de Israel se dividiu pela metade”, é


iniciada, como vimos, pela partícula adverbial za' (então). Esta partícula aparece
na Bíblia Hebraica, em sua maior parte, para ligar o texto a uma explicação que
mais parece um adendo posterior. Neste caso, a partícula aparece para ligar a
narrativa da morte de Zimri à pequena história de Tibni, totalmente desconhecido
na narrativa.
A partícula za' (então) é seguida pelo verbo wayyiqtol qlex'yE (“foi dividido” ou

“dividiu-se”). Para Holladay o contexto deste verbo se refere à divisão em grupos


(HOLLADAY, 2010, p. 151, verbete [ ql;x' II ]). Clines segue na mesma direção e
diz que este verbo se refere à divisão em duas facções, e cita 1Rs 16.21 como
exemplo (CLINES, 2009, p. 120, verbete [ qlx I ]). Portanto a partícula za'
(então), está chamando a atenção do leitor para esta trama que se segue, a
divisão de Israel em duas facções, em dois grupos. A ênfase parece estar na
dúvida acerca da pessoa de Omri como rei.
Logo depois do verbo qlex'yE (“foi dividido” ou “dividiu-se”) temos o vocábulo
~['h' (literalmente: “o povo”), que novamente parece não indicar a população de

Israel, mas o exército. Mas porque o exército estaria dividido com relação a Omri
104

e ele mesmo o tinha escolhido como rei no acampamento de Gibeton? O


versículo continua dizendo que o povo ficou dividido pela metade.
A segunda frase “metade do povo estava junto a Tibni, filho de Ginate, para
o fazer reinar” é subordinada à primeira, porque ela dá uma explicação à ação
apresentada no início da primeira frase, o povo ou o exército estava dividido em
duas facções. Esta frase diz que metade do povo estava com Tibni, nome que
aparece pela primeira vez no texto e em toda a Bíblia Hebraica. O nome ynIb.Ti
(Tibni) ocorre somente três vezes no texto da Bíblia Hebraica (1Rs 16.21,22
(2x)).
Se o vocábulo ~['h' “o povo” se referir de fato ao exército, que é o mais
possível, então Tibni poderia ter sido um general do exército, de modo que
influenciou metade da força armada de Israel a segui-lo. A frase continua
dizendo que esta metade do exército queria fazê-lo rei de Israel. Ou nem todo o
exército que estava com Omri o queria como rei, ou ele estava somente com
metade do exército consigo, e a outra metade estava com Tibni. O problema é
que não sabemos quem era Tibni nem o que ere fazia. O texto não informa nem
mesmo sua origem. Ele simplesmente surge na narrativa como o oponente de
Omri ao trono de Israel.
A terceira frase “e a outra metade estava junto a Omri” é a continuação da
segunda. Ela nos informa que metade estava com Tibni e a outra metade estava
com Omri. A preposição hebraica yrExa] ; traduzida aqui como “estava junto a”,

significa literalmente “atrás de”, dando a ideia de que metade do exército estava
atrás de Tibni e a outra atrás de Omri, seguindo-o.

7.1.7. A morte de Tibni e a ascensão de Omri ao trono (v.22)


Logo a narrativa passa para o v.22, sem interrupções. O v.22 já inicia com
um verbo de ação, mostrando movimento na cena. Parece uma guerra civil, uma
batalha. Não é apenas uma “campanha eleitoral” democrática, é um caso de
divisão no exército e um grupo lutando com o outro.
O v.22 pode ser dividido em quatro frases “mais forte foi o povo que
[estava] junto a Omri”, “que o povo que [estava] junto a Tibni, filho de Genate”, “e
Tibni morreu” e “e Omri reinou”. São duas frases maiores (uma verbal e a outra
nominal) e duas pequenas frases verbais. Este verso é uma narrativa de ação,
105

possui três verbos wayyiqtol, que são verbos cuja ocorrência caracterizam um
texto narrativo. E é também um verso que encerra este primeiro ciclo narrativo
da nossa perícope. Ele conclui toda a ação iniciada com a tomada do trono por
Zimri e a revolta do exército sob o comando de Omri. Aqui temos o desfecho da
história da ascensão de Omri ao trono. Vamos ao texto:

yrIêm.[' yrEäx]a; rv<åa] ‘~['h' qz:Üx/Y<w: 22 22 Mais forte foi o povo que [estava]
junto a Omri
tn:+yGI-!b, ynIåb.Ti yrEÞx]a; rv<ïa] ~['h§ '-ta, que o povo que [estava] junto a Tibni,
ynIëb.Ti tm'Y"åw: filho de Genate;
p `yrI)m.[' %l{àm.YIw: e Tibni morreu,
e Omri reinou.

O v.22 inicia com uma frase decisiva “Mais forte foi o povo que [estava]
junto a Omri”. O verbo wayyiqtol qz:x/Y<w:, traduzido aqui como “mais forte foi”,

também significa “tornou-se forte” ou “sobrepujou”, no sentido de pesar a mão


sobre alguém ou de se tornar mais pesado que o outro, esmagando-o,
oprimindo-o.
A primeira frase do v.22 traz uma nota no aparato crítico da BHS, a nota é
[ 22 a  ] e diz que o texto grego da LXX apresenta este versículo de
modo diferente. Assim está o v.22 na LXX:

o` lao.j o` w'n ovpi,sw Ambri “O povo que foi após Omri prevaleceu
u`perekra,thsen to.n lao.n to.n ovpi,sw contra o povo que foi após Tibni, filho
Qamni ui`ou/ Gwnaq kai. avpe,qanen de Ginate, e morreu Tibni e Ioram,
Qamni kai. Iwram o` avdelfo.j auvtou/ evn
seu irmão, no mesmo tempo, e reinou
tw/| kairw/| evkei,nw| kai. evbasi,leusen
Ambri meta. Qamni Omri após Tibni”.

O texto da LXX traduz o texto hebraico com pequenas alterações e


inserções e também nos oferece mais informações acerca de Tibni. O início do
v.22 da LXX está redigido melhor que o texto hebraico, está mais compreensivo
e melhor construído. Não sabemos se o tradutor da LXX melhorou o texto ou se
o texto hebraico utilizado por ele era desta forma. As informações adicionais são
interessantes, como o nome do irmão de Tibni, Iwram (Ioram), e a informação de
que ele tenha morrido junto com Tibni. As outras três notas do aparato crítico
abordam essas diferenças e informam o adendo ao texto no texto grego da LXX.
106

A frase seguinte do Texto Massorético “que o povo que [estava] junto a


Tibni, filho de Genate” é a continuação da primeira frase. O exército que estava
com Omri foi mais forte que o que estava com Tibni, filho de Ginate. A LXX,
como vimos, diz que o exército que estava com Omri prevaleceu contra o
exército que estava com Tibni. Isto indica que possivelmente houve um
confronto.
Com o palácio em ruínas devido ao incêndio o levante de Tibni pareceu
uma grande oportunidade para tomar o poder no lugar de Omri. Possivelmente,
Tibni e seu irmão Ioram lutaram junto com o exército que estava ao lado deles.
O texto bíblico não informa como foi esse conflito, parece que essa informação
não era importante para o editor deuteronomista, por isso não se preocupou em
detalhá-la.
A terceira e a quarta frase “e Tibni morreu” e “e Omri reinou”, fecham o
primeiro capítulo da perícope. São frases curtas e objetivas, vão direto ao
assunto. Os verbos tm'Y"åw: (e morreu) e %l{àm.YIw: (e reinou), são verbos ativos

simples “qal”, que apresentam ações diretas praticadas pelos sujeitos. Na


terceira frase temos “e Tibni morreu” e na quarta frase “e reinou Omri”. O
fechamento do parágrafo é simples e direto, não nos dá mais detalhes de como
foi o desenvolvimento do conflito entre Omri e Tibni e nem de como foi a morte
de Tibni. Esta, assim como a morte de Zimri, são mortes misteriosas. Com
certeza, Omri e seu exército estão envolvidos diretamente nestas mortes.
Estes dois versículos (v.21 e 22) possivelmente sejam uma inserção
posterior ou um fragmento de uma história cujos personagens eram Tibni e
Omri. É possível que fizesse parte de uma narrativa maior, ou que talvez de
outra história diferente, mas só ficaram registrados esses dois versículos, que
foram enxertados na perícope. A narrativa segue tranquilamente sem estes dois
versículos. Se os v.21 e 22 não estivessem no texto, logo após a morte de Zimri,
Omri teria assumido o trono de Israel, não fariam falta na narrativa, talvez por
não fazerem parte dela num texto mais antigo.

7.2. O Reinado de Omri e a Fundação de Samaria (16.23-28)


No primeiro parágrafo, vimos como foi a ascensão de Omri ao trono de
Israel. Todo a trama desde a tomada do trono de Elá, rei de Israel, por Zimri, até
107

a subida de Omri ao trono de Israel em Tirza. Os conflitos civis dentro da capital


de Israel, o confronto entre facções do exército e a vitória de Omri sobre Tibni.
Veremos agora, neste segundo parágrafo (v.23-28), os poucos versículos
que contam a história de Omri, o fundador de uma dinastia que durou cerca de
quarenta anos. Veremos também, um acontecimento importantíssimo para o
estabelecimento do grande reino de Israel Norte, a fundação de Samaria como a
nova capital de Israel. Eis o texto do segundo parágrafo:

23 No ano trinta e um de Asa, rei de Judá, reinou Omri sobre Israel doze
anos; seis anos reinou em Tirza. 24 E comprou o monte de Samaria de
Semer por dois talentos de prata; e edificou o monte, e chamou o nome da
cidade que edificou de Samaria, de acordo com [o] nome de Semer, dono
do monte. 25 E fez Omri o mal aos olhos de YHWH; e praticou o mal, mais
do que todos [que foram] antes dele. 26 E andou em todo [o] caminho de
Jeroboão, filho de Nebate, e no erro dele, que induziu Israel ao erro; para
provocar irritação a YHWH, Deus de Israel, em suas inutilidades. 27 E o
restante das ações de Omri, e o ato de poder dele; não [estão] escritos
sobre o livro das ações dos dias dos reis de Israel? 28 E deitou-se Omri
com seus pais, e foi sepultado em Samaria; e reinou Acab, seu filho, em
seu lugar.

Este segundo parágrafo é formado por seis versículos. Tais versículos


formam uma unidade literária, de modo que a exemplo do primeiro parágrafo,
também poderia ser considerado uma perícope. Podemos dividi-lo em quatro
subtópicos (v.23; 24, 25-26 e 27-28). O primeiro (v.23) informa o início do
reinado de Omri em Tirza, o segundo (v.24), trata resumidamente da fundação
da nova capital, Samaria. O terceiro (v.25-26), traz a avaliação do reinado de
Omri e o quarto (v.27-28), sumariza o final do reinado de Omri, sua morte e
sepultamento, e por último, apresenta o seu sucessor, seu filho Acab.

7.2.1. Omri começa a reinar sobre Israel Norte a partir de Tirza (v.23)
O primeiro subtópico do segundo parágrafo é formado pelo v.23. O v.23
está subdividido em três frases “no ano trinta e um de Asa, rei de Judá”, “reinou
Omri sobre Israel doze anos” e “seis anos reinou em Tirza”. Ele conta o início do
reinado de Omri. São informações muito resumidas, sem detalhes. O editor não
está muito interessado em contar a história de Omri, somente a menciona
rapidamente, mas são informações escassas, mas preciosas para
compreendermos como foi o início do reinado de Omri. Vejamos:
108

as'a'l. hn"©v' tx;øa;w> ~yvi’l{v. •tn:v.Bi 23 23 No ano trinta e um de Asa,


hd"êWhy> %l,m,ä rei de Judá,
~yTeîv. laeêr"f.yI-l[; ‘yrIm.[' %l:Üm' reinou Omri sobre Israel
hn"+v' hrEÞf.[,. doze anos;
seis anos reinou em Tirza.
`~ynI)v-' vve %l:ïm' hc'Þr>tiB
A primeira frase do v.23 “no ano trinta e um de Asa, rei de Judá” também é
a cabeça do parágrafo. Ela abre o segundo parágrafo com as frases modelos da
estrutura montada pelo editor, para apresentar as histórias dos reis. Também
apresenta o complexo sistema de contar as datas dos reis, estabelecendo a data
de um rei pela data de reinado de outro.
Esta é uma frase sem verbo. No hebraico bíblico é possível haver frases
sem verbo. Os verbos normalmente estão subentendidos, não aparecem, mas o
leitor os subentendem. Não é o caso desta frase. Esta é uma frase sem verbos
hebraicos e não há nenhum verbo subentendido em sua estrutura.
É uma narrativa informativa, um sumário, conforme a narratologia de
Marguerat. A sintaxe hebraica também fornece informações suficientes para a
análise de frases sem verbo e sua função na narrativa. Uma frase sem verbo
tem função informativa, não narrativa, embora faça parte do texto narrativo
(NICCACCI, 1990, p. 163-191).
No aparato crítico da BHS há uma nota referente a esta primeira frase.
Anota é esta [ 23 a ; , 312 ] e diz que tanto o
Códice Coisliniano quanto os códices cursivos (minúsculos) da LXX (séc. IX e X
em diante) trazem trazem  (e sete) no lugar de tx;a;w> (e um); mas

Flavio Josefo (Antiquitates Judaicae ou Antiquitates Flavii Josephi) omite isso.


Desta forma, há uma discordância quanto ao número do ano do reinado de Asa,
rei de Judá, quando Omri começou a reinar em Israel Norte. O texto hebraico
traz tx;øa;w> ~yvi’l{v. •tn:v.Bi (no ano trinta e um) e o Códice Coisliniano e outros

manuscritos da LXX do séc. IX em diante trazem


 (no ano trinta e sete). De qualquer
forma, esse problema de datação no texto não atrapalha o conteúdo da
narrativa, já que são poucos anos de diferença entre os textos.
A segunda frase “reinou Omri sobre Israel doze anos” é subordinada à
primeira. As duas frases estão intimamente ligadas, pois a segunda frase é o
109

complemento da primeira. Quando Asa, rei de Judá, completou trinta e um anos


de reinado, Omri começou a reinar sobre Israel. Asa começou a reinar em Judá,
três anos depois que Baasa começou a reinar em Israel, e terminou seu reinado
três anos antes do final do reinado de Omri sobre Israel. O período do reinado
de Omri, conforme informado na frase, foi de doze anos, entre 884-873.
A terceira frase do v.23 “seis anos reinou em Tirza”, é uma informação
adicional para detalhar a informação dada na frase anterior, que disse que Omri
reinou doze anos, mas os seis primeiros anos de seu reinado foi a partir de
Tirza.
Segundo Mazar (2003, p. 386-387), Tirza foi a terceira capital de Israel.
Para ele, a capital de Israel em seus primeiros anos tinha sido mudada de
Siquém para Fanuel (Peniel), na Transjordânia, e de Peniel a capital foi
transferida para Tirza, atual Tell el-Far‘a Norte. De fato, a “primeira capital” na
época de Jeroboão I parece ter sido Siquém (1Rs 12.25a), antigo centro de
poder tribal importante desde a Idade do Bronze Tardio, em torno do séc. XIV
AEC (FINKELSTEIN, 2015, p. 29-31). Logo depois do texto mencionar Siquém,
menciona também Peniel (1Rs 12.25b), dizendo que Jeroboão I edificou Peniel.
Finkelstein (2011, 148-149) não menciona nada acerca de Peniel como capital
de Israel, mas para ele, esse é um dos poucos textos de origem preservados do
reinado de Jeroboão.

Tirza hc'r>Ti (Tell el-Far‘a Norte)

Tirza foi capital de Israel possivelmente desde a época de Nadab, filho de


Jeroboão I, mas o texto bíblico não dá indicações seguras disso. O fato é que a
primeira vez que o nome Tirza aparece no livro dos Reis, é quando a mulher de
Jeroboão vai até a cidade de Tirza35 (1Rs 14.17). Tirza foi a “capital”, o centro de
poder dos primeiros reis de Israel36, durante um período de cerca de cinquenta
anos, entre o séc. X AEC e IX AEC.

35 O nome hc'r>Ti (Tirza) ocorre 18 vezes em dezessete versículos no texto da Bíblia Hebraica,
e suas referências são: Nm 26.33; 27.1; 36.11; Js 12.24; 17.3; 1Rs 14.17; 15.21; 15.33; 16.6;
16.8; 16.9 (2x); 16.15; 16.17; 16.23; 2Rs 15.14; 15.16 e Ct 6.4.
36 Os nomes dos primeiros reis de Israel que reinaram a partir de Tirza, foram: Jeroboão I (1Rs

14.17), possivelmente Nadab, Baasa (1Rs 15.21, 33; 16.6), Elá (1Rs16.8-9), Zimri (1Rs 16.15) e
Omri (1Rs 16.23).
110

Não existem dúvidas quanto à autenticidade das informações sobre Tirza


no texto bíblico hebraico. Para Finkelstein (2012, p. 332-333), as evidências
referentes a Tirza são consistentes. Para ele a arqueologia dá suporte suficiente
para tais narrativas bíblicas, inclusive para a fundação de Samaria por Omri
(como veremos no próximo tópico). Tirza é crucial para o estudo de Israel Norte,
principalmente para os primeiros anos do Reino do Norte.
Roland de Vaux escavou em Tirza (Tell el-Far‘a) entre 1946 e 1960. Ele
escavou a cidade em quatro lugares diferentes, três deles a oeste (Chantier II, III
e IV) e um a norte (Chantier I). De Vaux publicou os resultados das suas
escavações na Revue Biblique. Finkelstein (2012, p. 333-334), através da nova
cronologia, datou da Idade do Ferro Antigo I e Ferro IIB, datados por de Vaux na
Idade do Bronze Tardio, como sendo da segunda metade do séc. X e início do
séc. IX AEC. O que de Vaux tinha datado como Ferro I, Finkelstein datou como
Ferro IIA (cerca de 870, segunda metade do séc. IX AEC), e um período que de
Vaux não tinha identificado, como sendo do ano 840/820-770/760.
Tirza foi perdendo sua importância durante o séc. IX AEC, quando Omri
decide mudar a capital para Samaria, estabelecendo maior ligação com a
planície costeira e o importante porto de Dor. Os níveis estratigráficos desse
período são VIIa e VIIb, quando a arqueologia mostra que houve um período
significativo de prosperidade na cidade, e depois silencia (FINKELSTEIN, 2012,
p. 346; LIVERANI, 2014, p. 142). Para Mazar (2003, p. 397), esses níveis
estratigráficos pertencem ao período da Monarquia Unida de Davi e Salomão,
com fortificações e edifícios monumentais, planejados no período de Davi e
Salomão.
Durante o extrato VIIb, Tirza teve grande produção de cerâmica. A cidade
parece ter ocupado somente a parte alta da colina, cerca de um hectare, e não
possuía grandes fortificações, suas edificações estavam construídas sobre as
edificações do período do Bronze. Segundo Finkelstein (2011, p. 227-242; idem,
2015, p. 88-96), seu governo tinha fortes características rurais, que não
justificam uma capital de um reino estabelecido, com mão de obra especializada,
prédios públicos e administrativos e elevado índice de urbanização
(FINKELSTEIN, 2012, p.342).
111

Conforme o texto bíblico do livro de 1Rs 16.18 e 22, houve dois grandes
conflitos na capital Tirza, o primeiro no v.18, quando Omri e o exército sitiam a
capital e o palácio real é incendiado, o segundo conflito ocorreu no v.22, quando
diz que o exército que estava com Omri foi mais forte do que o que estava com
Tibni, e prevaleceu sobre ele de forma que Tibni foi morto. Isto poderia indicar
certo grau de destruição dentro da cidade por causa dos conflitos. Segundo
Liverani (2014, p.145), há evidências de reconstrução sobre bases anteriores na
cidade, mas são difíceis de datar, e podem ser tanto do período de Baasa como
do período de Omri. Se levarmos em conta a narrativa bíblica, poderemos datar
essa reconstrução no período de Omri, já que houve dois grandes conflitos
durante a sua ascensão ao poder.

7.2.2. A fundação de Samaria, a nova capital de Israel Norte (v.24)


O v.24 é um versículo chave tanto para esta análise exegética quanto para
esta pesquisa de doutorado como um todo. A fundação de Samaria é a fundação
de um novo tempo em Israel Norte, a fundação da monarquia do Reino de Israel
Norte. Trataremos disso com mais detalhes em outro capítulo.
Este versículo está praticamente no centro da perícope, temos nove
versículos do v.15-23 e oito versículos do v.25-33, assim o v.24 permanece no
centro da perícope. O fato de o v.24 estar localizado no centro da perícope, pode
lhe conferir grande importância dentro da narrativa, se levarmos em conta que
num texto bíblico, o que está no centro pode ser o assunto principal ou a ideia
mais importante do texto, sendo os demais versículos periféricos, cada um com
sua importância dentro do texto.
A exemplo dos demais versículos que descrevem a vida de Omri, este é
bastante resumido. O v.24 possui quatro frases, três frases verbais e uma
nominal. As frases podem ser divididas, conforme a acentuação massorética do
texto hebraico, da seguinte forma: “e comprou o monte de Samaria de Semer
por dois talentos de prata”, “e edificou o monte”, “e chamou o nome da cidade
que edificou de Samaria” e “de acordo com [o] nome de Semer, dono do monte”.
Vamos ao texto:
112

24 E comprou o monte de Samaria


!Ar±m.vo rh"ïh'-ta, !q,YI÷w: 24 de Semer por dois talentos de prata;
rh'hê '-ta, ‘!b,YI’w: @s,K_' ~yIrK:å .kiB. rm,v,Þ ta,mîe e edificou o monte,
e chamou o nome da cidade que
hn"ëB' rv<åa] ‘ry[ih' ~veÛ-ta, ar"ªq.YIw: edificou de Samaria,
`!Ar)m.vo rh"ïh' ynEßdoa] rm,v,ê-~v, l[;ä de acordo com [o] nome de Semer,
dono do monte.

Este versículo, como já vimos no versículo anterior, é a continuação das


ações realizadas por Omri durante o período seu reinado. Embora Omri tenha
reinado doze anos sobre Israel (884-873 AEC), a narrativa bíblica nos dá poucas
informações sobre esse tempo, o que temos são informações incipientes em
pouquíssimos versículos. Este é o único versículo que temos no texto da Bíblia
Hebraica que menciona em rápidas palavras, a fundação de Samaria e a
maneira como ela teve origem, mais nada.
A primeira frase do v.24 “e comprou o monte de Samaria de Semer por
dois talentos de prata” é uma frase verbal. Frases verbais iniciadas com verbo,
em geral, querem enfatizar a ação do sujeito. A frase começa com verbo
imperfeito + waw consecutivo, indicando um pequeno trecho narrativo. É uma
construção diferente da construção do v.23, que abre este parágrafo. O v.23 é
um texto informativo, um sumário, com frases verbais e nominais, mas nenhuma
iniciada com verbos no imperfeito + waw consecutivo.
O verbo da primeira frase do v.24, mostra ação de Omri na narrativa. O
verbo !q,YIw: (e comprou) está na conjugação Qal, indicando ação direta do sujeito.

Omri comprou o monte de um indivíduo chamado rm,v,Þ (Semer). É possível

perceber uma pista para a compreensão do nome rm,v,Þ (Semer) ao analisar a

raiz da palavra. O nome rm,v,Þ (Semer) pertence à raíz rmv (smr), esta raiz é

um verbo hebraico rm;v', que tem o sentido de vigiar ou guardar, também

significa “manter vigilância” e “estar de guarda”. Interessante é que há outro


substantivo formado com a mesma raiz do verbo, hr"m.v' que significa “guarda”,
“vigia” e “observação” (somente em Sl 141.3). Outro vocábulo com a mesma raiz
é ~yrImuv,i que significa “vigília” e “guarda noturna” (conferir HOLLADAY, 2010, p.
113

536-537 e HARRIS; ARCHER; WALTKE, 1998, p.1587-1589). Possivelmente o


nome Samaria tenha sua origem neste sentido de “vigiar”, já que a colina olha
tanto para a planície costeira do Mediterrâneo quanto para o Vale de Nablus,
que liga Siquém à Via Maris.
Outro vocábulo que possui a mesma raiz do nome rm,v,Þ (Semer) é seu

homônimo rm,v,,Þ que significa “borra [de vinho]” ou “resíduo [de vinho]” (conferir
HOLLADAY, 2010, p. 536-537). Este vocábulo nos fornece outra proposta de
compreensão, pois faz referência à plantação de uvas e à produção de vinho.
Neste caso, Semer teria sido um produtor de vinhos. É possível até que ele
mantivesse o negócio de vinhos por estar numa rota comercial ligando à região
portuária de Dor. Mas não dá para afirmar definitivamente sua origem e
significado, porque o texto não nos fornece mais informações sobre ele.
Esta primeira frase diz que Omri comprou a colina de Semer por dois
talentos de prata. A palavra hebraica rK'Ki (talento), conforme Holladay, era um

pedaço fino e redondo como um pão, um disco de prata que pesava em torno de
35 quilos (HOLLADAY, 2010, p. 221; CLINES, 2009, p. 176 e HARRIS;
ARCHER; WALTKE, 1998, p. 750-751). Desta forma, a expressão hebraica
@s,K_' ~yIr:åKk. iB. (por dois talentos de prata) representaria cerca de 70 quilos de

prata. Este foi o valor pago por Omri a Semer pela colina.
A segunda frase do v.24 “e edificou o monte”, é uma frase verbal iniciada
por um verbo imperfeito + waw consecutivo !b,YIw: (e edificou) tem também o

sentido de “e fortificou”. Embora este seja o mesmo verbo utilizado para falar da
construção de Siquém e de Peniel (1Rs 12.25), Ramá (1Rs 15.21) entre outras
cidades, não parece nestes casos ter o sentido de fortificar, já que a arqueologia
apresenta evidências de que não há indícios de grandes fortificações na região
de Canaan antes do séc. IX AEC.
Já neste caso, na segunda frase do v.24, o uso deste verbo referindo ao
monte e à Samaria, parece carregar o sentido de fortificar de forma maciça. A
frase diz que Omri fortificou o monte. Essa afirmação concorda com as
evidências arqueológicas de Samaria no séc. IX AEC. Tais evidências podem
ser comprovadas através dos relatórios das escavações desde as primeiras até
as mais recentes expedições arqueológicas.
114

Finkelstein aborda em suas publicações os aspectos das edificações de


Samaria da Idade do Ferro, principalmente sua topografia, extensão e layout
sobre a colina. Embora a Samaria tenha se expandido no decorrer dos séculos,
com construções gregas, romanas e igrejas cristãs, ele se limita a analisar
somente a fortificação que está sobre a colina, que são construções do período
omrida.
A arquitetura omrida, de acordo com Finkelstein (2011, p. 194,195), pode
ser dividida em duas grandes partes, a das construções da plataforma alta e as
da plataforma baixa, com 450m a oeste e 230m a sul e norte. Numa vista aérea
da colina de Samaria, é possível perceber as duas plataformas (alta e baixa),
bem como o aterro ao sul da fortaleza e possivelmente o fosso a leste.
A plataforma alta fica numa região central e é rodeada pela plataforma
baixa. A plataforma alta é retangular e sobre ela estava o palácio real. Nele
foram descobertos inúmeros fragmentos de marfim, os quais ornamentavam as
paredes do palácio. Também sobre a plataforma alta, foram encontrados os
óstracos, datados de meados do séc. VIII AEC (FINKELSTEIN, 2011, p. 195-
207). Tudo isso fortalece o argumento da edificação do monte como sendo a
construção de uma fortaleza sobre o monte, a cidade de Samaria.
A terceira frase do v.24 “e chamou o nome da cidade que edificou de
Samaria” é a terceira frase verbal do versículo, e traz dois verbos ar"q.YIw: (e

chamou) e hn"B' (edificou). A frase hn"ëB' rv<åa] ‘ry[ih' ~veÛ-ta, ar"ªq.YwI : traduzida

literalmente significa “e chamou o nome da cidade que edificou”. Esta frase está
ligada à segunda, pois faz referência à fortificação do monte. A frase não está
completa, ela precisa da quarta frase do v.24 que lhe é subordinada, porque
continua a explicação e apresenta o nome da cidade e a origem do nome.
A quarta frase do v.24 !Ar)m.vo rh"ïh' ynEßdoa] rm,v,ê-~v, l[;ä “de acordo com [o]

nome de Semer, dono do monte” pode ser traduzida literalmente como “sobre o
nome de Semer, senhor do monte, Samaria”. A frase traduzida literalmente fica
sem sentido, por isso organizei o texto de maneira que ficasse mais inteligível.
A frase diz que Omri colocou o nome do monte sobre o nome de Semer,
que era o dono do monte. Aqui, literalmente rh"ïh' ynEßdoa] (Senhor do Monte),

aparecendo o vocábulo ynEßdoa] (Senhor) significando “dono”, o dono do monte. É


115

curioso que Omri tenha comprado esse monte de Semer e que tenha baseado o
nome da cidade no nome de Semer, antigo dono do monte.
Como já vimos na primeira frase do v.24, o nome Semer é uma incógnita,
não se sabe quem era nem de onde veio nem quando morreu. Semer aparece
no cenário narrativo da história de Israel Norte repentinamente, e também logo
desaparece. Devido à raiz do seu nome, podemos fazer algumas deduções. A
raiz do nome Semer pode ter origem no verbo que significa “vigiar” ou “guardar”,
é a mesma raiz de vigília e manter guarda à noite. Se assumirmos esta raiz para
o nome Semer, podemos deduzir que ele deveria fazer parte do exército, um
vigia, um guarda, alguém que é vigia noturno. Isto pode fazer sentido, já que
Omri era general do exército.
Também vimos que a raiz do nome Semer pode vir de um vocábulo
hebraico que significa “borra [de vinho]” e “resíduo [de vinho]”, dando a entender
que Semer poderia ter sido um agricultor que produzia vinho. Ou poderia ter sido
um comerciante de vinhos, já que o monte chamado por Omri de Samaria, ficava
às margens de uma importante rota comercial que ligava ao porto de Dor.
O fato é que Omri parece ter feito uma homenagem a Semer, ou por causa
de uma amizade ou porque Semer poderia ter sido uma pessoa importante na
época. O texto então, finaliza dizendo que Omri colocou o nome do monte de
Samaria por causa do seu antigo dono, chamado Semer.
Embora a edificação de Samaria tenha marcado uma reviravolta na
situação político-institucional e econômica no reino de Israel Norte, ela é descrita
em apenas um versículo. Para Liverani (2008, p. 145-147), está bem claro que
por óbvio preconceito anti-samaritano, a nova capital do reino de Israel Norte é
narrada com tanto desprezo.

7.2.3. Avaliação negativa do reinado de Omri (v.25-26)


Estes dois versículos 25-26, embora apresentem vários verbos wayyiqtol
não possuem características narrativas, parecem ser mais um memorial do que
Omri praticou durante seu reino. É uma avaliação das ações praticadas por
Omri. Esta perícope possui narrativas quebradas, há várias interrupções para
dar informações ao leitor e dar o parecer do editor-narrador.
O editor é parcial, ele não analisa o reinado de Omri baseado no que Omri
realmente fez durante seu reinado, mas sua avaliação é puramente religiosa,
116

não importando se Omri realizou grandes coisas ou não, mas se ele serviu a
Javé ou não. E o fato é que nem sabemos se Omri realmente seguia a Baal ou a
Javé, por que o que temos é o que o editor deuteronomista deixou escrito, não o
que realmente aconteceu.
Esta avaliação faz parte da estrutura montada pelo editor do livro, que
segundo Long (1984, p. 22), está dividida basicamente em três partes: 1. Quadro
introdutório (nome e data de ascensão do rei sincronicamente com o outro reino
“irmão”, ano da ascensão, comprimento e local do reinado, nome da rainha mãe
e avaliação teológica); 2. Eventos durante o reinado; e 3. Quadro final (fórmula
citando outras fontes do reinado, notícias da morte e do sepultamento, e notícias
do sucessor). É possível encontrar esta fórmula praticamente três vezes nesta
perícope, uma em cada parágrafo. Neste caso, no v.24, temos a avaliação
teológica do reinado de Omri.
São dois versos v.25 e 26, e podem ser divididos em cinco frases verbais:
no v.25 duas frases: “e fez Omri o mal aos olhos de YHWH”, “e praticou o mal,
mais do que todos [que foram] antes dele”; e no v.26, três frases: “e andou em
todo [o] caminho de Jeroboão, filho de Nebate, e no erro dele”, “que induziu
Israel ao erro” e “para provocar irritação a YHWH, Deus de Israel, em suas
inutilidades”.
É um texto narrativo, o editor está narrando as coisas que, aos seus olhos,
Omri realizou erradamente. No texto são três verbos wayyiqtol e um hifil
infinitivo. A quantidade de wayyiqtol caracteriza a narrativa hebraica. A
conjugação Hifil aqui é secundária, pois segue a ação realizada no wayyiqtol.
Vamos ao texto:
yrI±m.[' hf,î[]Y:w: 25 25 E fez Omri
hw"+hy> ynEåy[eB. [r:Þh' o mal aos olhos de YHWH;
e praticou o mal,
`wyn")p'l. rv<ïa] lKoßmi [r:Y¨"w: mais do que todos antes dele.
ÎAtêaJ'x;bW. Ð ¿wyt'aJox;b.WÀ jb'ên>-!B, 26 E andou em todo caminho de
~['äbr. "y" ‘%r<D<’-lk'B. %l,YE©w: 26 Jeroboão, filho de Nebate,
e no erro dele,
lae_r"f.yI-ta, ayjiÞxh/ , rv<ïa] que induziu Israel ao erro;
hw"±hy>-ta, sy[iªk.h;l. para provocar irritação a YHWH,
`~h,(yleb.h;B. laeÞr"f.yI yheîl{a/ Deus de Israel, em suas inutilidades.
117

A avaliação do reinado de Omri tem início no v.25 “e fez Omri o mal aos
olhos de YHWH”, e tal avaliação começa com hf,î[]Y:w: (e fez), um verbo wayyiqtol,
que significa basicamente “e fez”, “e executou”, “e produziu”, etc. Este é um
verbo com muitas ocorrências na Bíblia Hebraica, ele ocorre mais de 2.600
vezes37 (veja HOLLADAY, 2010, p. 403-404).
Esta é uma típica frase verbal hebraica (verbo [hf,î[Y] :w]: + sujeito [yrI±m.[]' +

complemento [hw"+hy> ynEåy[eB. [r:Þh']). Frases assim, querem chamar a atenção para
as ações praticadas pelo sujeito, não exatamente para o sujeito em si. O foco
aqui são as ações “negativas” de Omri, aquilo que ele fez ou produziu de “ruim”
durante o seu reinado.
Logo após o verbo inicial, vem o autor da ação, Omri. Mas que ações ele
praticou de “ruim” para que merecesse essa avaliação negativa? O
complemento da frase indica que ele fez “o mal aos olhos de YHWH”. O termo
traduzido como “mal” é [r:h' (o mal), de [r; (mal). Tal termo ocorre em torno de
225 vezes na Bíblia Hebraica (HOLLADAY, 2010, p. 486), e traz consigo o
sentido de “má qualidade”, algo “inferior”, “mau”, ou “mal” no sentido ético
absoluto, “moralmente depravado”, “ofensivo” ou “pernicioso”. O termo [r:h' (o
mal) indica, portanto, as ações “reprováveis” realizadas por Omri, de acordo com
a visão do editor deste texto.
Tais ações, segundo o editor do texto, eram “más” aos olhos de Javé
(YHWH). Isto mostra claramente que a avaliação do reinado, neste caso de
Omri, é meramente religiosa e teológica, não é uma avaliação criteriosa baseada
no histórico de como realmente foi o reinado de Omri e o que ele realizou. A
expressão hebraica hw"hy> ynEy[eB. (aos olhos de YHWH) ocorre noventa e três

vezes na Bíblia Hebraica, e destas, quarenta e duas vezes só nos livros de 1 e 2


Reis.
As ações “negativas” continuam. Na segunda frase “e praticou o mal, mais
do que todos [que foram] antes dele” a avaliação vai ficando ainda mais severa.
Literalmente, a frase hebraica wyn")p'l. rv<a] lKoßmi [r:Y"w:, pode ser traduzida como

37 Segundo o softwere Bibleworks, a raiz do verbo hf[ (fazer) ocorre 2.640 vezes em 2.286
versículos e em 159 formas diferentes.
118

“e praticou o mal desde todos que para diante dele/antes dele”. Francisco, na
obra Antigo Testamento Interlinear (ATI), traduz de forma literal do seguinte
modo, “e fez mal mais do que todos os que antes dele”. Traduzir lKoßmi como
“mais do que todos”, dá mais sentido à frase. Por isso optei por seguir o ATI na
tradução desta preposição.
O verbo [r:Y"w: (e praticou) é um wayyiqtol na conjugação hifil (causativo).
Este verbo hebraico na conjugação hifil significa segundo Holladay (2010, p.
488-489), “fazer o mal”, “cometer um ato mau”, “comportar-se de forma
repreensível” etc. Kirst (2004, p. 231), além destas, outras opções de tradução,
ele sugere, “praticar o mal” e “fazer sobrevir o mal”. A opção por traduzir o verbo
[r:Y"w: como “e praticou”, pareceu-me mais interessante, por causa da ação

prática explícita no verbo em português.


O texto diz que Omri praticou o mal mais do que todos os que foram antes
dele. Tal avaliação foi mais severa que a de todos os reis que vieram antes de
Omri. A frase hebraica wyn")p'l. rv<a] lKoßmi (mais do que todos os que [foram]

antes dele) ocorre somente duas vezes na Bíblia Hebraica, no v.25 com Omri e
o v.30 com Acab. Isto mostra como essa dinastia foi odiada e menosprezada
pelo editor do texto. Segundo Römer, todos os reis foram avaliados conforme
alguns critérios bem definidos, principalmente “a fidelidade a Javé” e “a
centralização do culto”.

Todos os reis são submetidos a uma avaliação, que se baseia


em sua fidelidade a Javé e em sua observância do mandamento
da centralização do culto. Os reis judaítas são também
comparados com Davi (“N. agiu / não agiu como seu pai Davi”).
O critério de centralização do culto explica por que nenhum rei
de Israel pode satisfazer os padrões ideológicos dos autores ou
redatores, nem mesmo Jeú, embora este seja descrito como um
revolucionário javista que põe fim à dinastia dos amridas (2Rs 9-
10). (RÖMER, 2008, p. 18).

Neste caso, conforme Römer (2008, p. 22-25), o editor deuteronomista


teria transformado a dinastia omrida como a pior monarquia de todas, idólatra e
imoral. Porém, há fortes indícios de que na verdade, os omridas tenham sido
grandes monarcas, que realizaram seus governos com certa tolerância às
manifestações religiosas populares, javistas ou não.
119

Fohrer e Sellin (2007, p. 323-324), na obra Introdução ao Antigo


Testamento, dizem que o editor deuteronomista planejou uma reflexão religiosa
da história, na qual o templo de Jerusalém e o relacionamento dos reis com ele
deveriam estar em primeiro plano. Assim, daqueles reis que não se encaixavam
no ponto de vista do editor, eram dadas apenas informações resumidas e
incompletas. Fohrer e Sellin continuam seu comentário e mencionam o caso de
Omri, o fundador da conhecida dinastia omrida. Para eles, “Omri,
importantíssimo do ponto de vista da história, não recebeu mais do que seis
versículos”. E caso os leitores estivessem interessados, podiam consultar outra
fonte que na época estava à disposição.
Ainda na avaliação do editor deuteronomista, a primeira frase do v.26 “e
andou em todo [o] caminho de Jeroboão, filho de Nebate, e no erro dele”, traz à
memória do leitor a pessoa de Jeroboão, filho de Nebate. Jeroboão se torna o
modelo de rei mal e pecador para todos os reis posteriores de Israel. A frase diz
que Omri andou em todo caminho de Jeroboão. O verbo hebraico %l,Y©wE : (e andou)

foi traduzido na LXX pelo verbo grego evporeu,qh (procedeu), dando a ideia de
realizar a mesma coisa que Jeroboão realizou.
Aqui temos uma nota no aparato crítico da BHS. A nota [ 26 a 
ywt'aOJÄ AtaJ'Ä] diz que muitas ou todas as versões do texto

bíblico, trazem como K (Ketiv) ywt'aOJx;b.W (e nos erros dele) com sufixo

pronominal plural de terceira pessoa. Já muitos manuscritos hebraicos


medievais trazem como Q (Qerê) a forma AtaJ'x;b.W (e no erro dele), com sufixo

pronominal de terceira pessoa do singular.


O vocábulo taJ'x,; traduzido aqui como “erro”, aparece traduzido em quase

todas as versões em português da Bíblia como “pecado”, talvez por influência da


versão grega da LXX, a qual traduz o vocábulo por a`marti,aij (pecados). A
opção de traduzir por “erro” ao invés de “pecado”, deu-se pelo fato de o verbo
aj'x' significar “errar” ou “errar o alvo”, e o vocábulo taJ'x; (erro) ser um

substantivo derivado do verbo, por isso traduzir por “erro”38.

38 Tradução baseada em HOLLADAY, 2010, p. 142-143 e KIRST et.al., 2004, p. 66.


120

A segunda e a terceira frases do v.26 “que induziu Israel ao erro” e “para


provocar irritação a YHWH, Deus de Israel, em suas inutilidades”, são
subordinadas diretamente à primeira, inclusive o tema do taJ'x; “erro” continua
em ambas as frases. A segunda frase lae_r"f.yI-ta, ayjiÞx/h, rv<ïa] “que induziu

Israel ao erro” , a LXX traduz nos seguintes termos, ai-j evxh,marten to.n Israhl
“com os quais fizera pecar Israel”.
Esta é uma frase verbal iniciada por uma partícula relativa rv<ïa] (que, o

qual). É uma frase informativa, faz parte da avaliação deuteronomista dos reis,
neste caso, de Omri, rei de Israel Norte. O verbo hebraico desta frase ayjiÞxh/ ,,
está na conjugação hifil, que é um causativo ativo, ou seja, ele não realizou a
ação diretamente, mas causou a ação em Israel, por isso a tradução “induziu ao
erro”. Por causa das ações realizadas anteriormente, ao andar no caminho de
Jeroboão e nos seus erros, Omri teria induzido Israel ao erro.
A terceira frase do v.26 ~h,(yleb.h;B. laeÞr"f.yI yheîl{a/ hw"±hy>-ta, sy[iªk.h;l. “para
provocar irritação a YHWH, Deus de Israel, em suas inutilidades” é subordinada
à segunda, que por sua vez é subordinada à primeira. É uma frase explicativa,
ela procura explicar o motivo das ações de Omri, e o porquê seguiu os caminhos
de Jeroboão.
O verbo hebraico sy[iªk.h;l. é um hifil, um verbo causativo ativo que

traduzido é “para provocar a irritação” ou “para provocar a ira”. Este verbo liga
diretamente esta terceira frase com a segunda, pois Omri teria induzido Israel ao
erro com a finalidade de “provocar a irritação” de Javé, hw"±hy>-ta, (YHWH).

O nome de Javé aparece aqui formando uma expressão, que prefixado à


partícula -ta, (‘et-), laeÞr"f.yI yheîl{a/ hw"±hy>-ta, “a YHWH Deus de Israel”, ocorre
sete vezes na Bíblia Hebraica. De todas estas sete vezes, a expressão se refere
diretamente aos reis omridas em cinco delas (1Rs 15.30; 16.13; 16.26 e 22.54).
Esta mesma expressão, sem a partícula -ta, (‘et-), laeÞr"f.yI yheîl{a/ hw"±hy> “YHWH
Deus de Israel”, ocorre noventa e nove vezes em toda a Bíblia Hebraica. É
interessante que esta expressão ocorre tanto referindo-se a Israel Norte como a
Judá, Finkelstein chama isso de pan-israelita (FINKELSTEIN, 2015, p.109).
121

A terceira frase termina com o vocábulo ~h,(yleb.h;B. “em suas inutilidades”.

Este vocábulo, da maneira como está no v.26, ocorre três vezes na Bíblia
Hebraica (Dt 32.21; 1Rs 16.13 e 16.26), todas traduzidas na Almeida (RA) como
“seus ídolos”. A forma singular de ~h,(yleb.h;B. “em suas inutilidades” é lb,h,
“inútil, inutilidade, vapor”. O vocábulo lb,h, ocorre oitenta e seis vezes na Bíblia
Hebraica em quatorze formatos diferentes, sendo a maior ocorrência no livro de
Eclesiastes, trinta e oito vezes. Este vocábulo refere-se a coisas inúteis, vãs.
Holladay (2008, p. 106) define o vocábulo como “sopro”, algo transitório, “nada”,
“perecibilidade” e “vazio”. A tradução por “ídolo” é a última opção que Holladay
apresenta.
Aqui a BHS apresenta uma nota no aparato crítico para o vocábulo
~h,(yleb.h;B. “em suas inutilidades”, [ 26 b  ` ]. Tal nota diz que
assim está no Códice de Leningrado, e que muitos manuscritos hebraicos
medievais e edições impressas da Bíblia Hebraica, como a de Kennicott, de De
Rossi e a de Ginsburg, possuem o sinal massorético ` sof pasuq no vocábulo
~h,(yleb.h;B. “em suas inutilidades”. A LXX traduz ~h,(yleb.h;B. “em suas

inutilidades” por evn toi/j matai,oij auvtw/n “nas ações dele”.


Está bem claro que o editor deuteronomista conclua sua avaliação do
reinado de Omri, rei de Israel, como sendo “nada” e as ações de Omri como
inúteis e vazias. O editor não dá a devida importância ao que Omri representou
para o reino de Israel Norte, menosprezando-o totalmente, classificando o seu
reinado como “idolatria”.

7.2.4. O fim do reinado de Omri (v.27-28)


Estamos caminhando para o final deste segundo parágrafo (v.23-28). Estes
dois últimos versículos (v.27-28) apresentam o final da brevíssima narrativa
acerca do reinado de Omri, rei de Israel Norte. Finkelstein diz que a história de
Omri é contada de forma muito incompleta (FINKELSITEIN, 2003, 236-237;
idem, 2015, p. 107-109).
Aqui temos um sumário do final do reinado de Omri, sua morte e
sepultamento em Samaria. O sumário também fornece informações sobre a
sucessão ao trono de Omri, seu filho Acab. Tudo é dado de forma muito
122

resumida, mostrando que não havia interesse de quem escreveu ou editou, em


descrever a grandeza e o poderio desta dinastia. Talvez por ser a dinastia que
que faz sombra no reinado de Davi e Salomão, a grande Monarquia Unida.
Os dois versículos deste sumário (v.27-28) podem ser divididos em seis
frases, isto conforme a acentuação massorética contida no texto da Bíblia
Hebraica. Temos as seguintes frases: no v.27 “e o restante das ações de Omri”,
“e o ato de poder dele” e “não [estão] escritos sobre o livro das ações dos dias
dos reis de Israel?”, e no v.28 “E deitou-se Omri com seus pais”, “e foi sepultado
em Samaria” e “e reinou Acab, seu filho, em seu lugar”. Segue o texto abaixo:
hf'ê[' rv<åa] ‘yrIm.[' yrEÛb.DI rt,y<“w> 27 27 E o restante das ações de Omri,
hf'_[' rv<åa] Atßr"Wbg>W e o ato de poder dele;
rp,se²-l[; ~ybiªWtK. ~heä-al{)h] não [estão] escritos sobre o livro das
ações dos dias dos reis de Israel?
`lae(r"f.yI ykeîl.m;l. ~ymiYÞ "h; yrEîb.DI 28 E deitou-se Omri com seus pais,
wyt'êboa-] ~[i ‘yrIm.[' bK;Ûv.YIw: 28 e foi sepultado em Samaria;
!Ar+m.vBo . rbEßQ'YIw: e reinou Acab, seu filho, em seu
lugar.
p `wyT'(xT. ; AnàB. ba'îxa. ; %l{°mY. Iw:

Como já foi dito anteriormente, quando uma frase hebraica não começa
com verbo, a ênfase está no sujeito, não exatamente em suas ações
(NICCACCI, 2002, p. 27-37). É desta maneira que inicia a primeira frase do v.27
hf'ê[' rv<åa] ‘yrIm.[' yrEÛb.DI rt,y<“w> “e o restante das ações de Omri”. O texto começa
com o substantivo construto prefixado pela conjunção waw rt,y<w> “e o restante
de”. Este vocábulo ocorre sessenta e duas vezes na Bíblia Hebraica e destas,
sessenta e duas vezes ocorre nos livros de Reis e Crônicas, todas nas
avaliações dos reis de Israel e Judá, e significa basicamente “resto” ou
“restante”.
Este substantivo vem, na maioria das ocorrências, seguida pelo substantivo
construto yrEbD. I “coisas de”, “palavras de” ou “ações de”. A frase, numa tradução
literal, diz “o restante das ações que Omri realizou” ou “que Omri fez”. Temos o
verbo hf'[' “fez” no qal, terceira pessoa do singular, referindo-se às ações de

Omri, àquilo que ele fez ou realizou. Este verbo, também pode ser traduzido
123

como “produziu” ou ainda “executou”. Isto pode fazer referência às obras


monumentais de Omri e seus sucessores, especialmente Acab.
Há uma nota no aparato crítico da BHS junto ao nome de yrIm.[' “Omri”, a

nota [ 27 a   -lk'w> ] diz que, provavelmente, deve ser

inserido o vocábulo -lk'w> (e todo) logo após o nome de yrIm.[' “Omri”, e isto,

conforme muitos manuscritos hebraicos medievais, a LXX e a Peshitta. De fato,


a LXX traduziu a frase inserindo o vocábulo kai. pa,nta “e tudo” depois do nome
de Omri. A frase, com o acréscimo, ficaria “e o restante das ações de Omri e
tudo o que ele fez” ou “e o restante das ações de Omri e tudo o que ele realizou”
ou ainda “e tudo o que ele produziu”.
A segunda frase do v.27 é subordinada à primeira, é um complemento,
hf'_[' rv<åa] Atßr"Wbg>W “e o ato de poder dele que ele fez”. Esta frase faz referência
às ações de poder e de força que Omri realizou durante seu reinado.
Nesta segunda frase também existe uma nota no aparato crítico da BHS. A
nota [ 27 b-b  ] diz que o texto da antiga versão da LXX, datado entre
o séc. III AEC e I AEC e o texto siríaco da Peshitta, ambos omitem a frase
hf'_[' rv<åa]'. “que ele fez”. A nota deixa uma pergunta em aberto “apagaram?” ou
“foi apagada?”. Evidentemente não é possível responder a esta questão com
plena certeza, mas é sabido que a LXX reflete um texto hebraico anterior ao
Texto Massorético. Poderia ter sido então um acréscimo posterior? Outra
questão sem resposta.
A terceira frase do v.27, “não [estão] escritos sobre o livro das ações dos
dias dos reis de Israel?” é uma indicação da existência de outra fonte da história
dos reis. Infelizmente esta fonte não está disponível. Ela seria um valioso
achado, caso fosse encontrada, que mudaria nossa visão acerca de Israel e de
Judá de modo mais completo. Esta frase ocorre dezessete vezes na Bíblia
Hebraica, sempre fazendo referência a outra fonte escrita sobre os reis de Israel.
A primeira e segunda frase do v.28, “e deitou-se Omri com seus pais e foi
sepultado” !Ar+m.voB. rbEßQ'YwI : wyt'êboa]-~[i ‘yrIm.[' bK;Ûv.YIw:, nos dá informações

resumidas acerca da morte e do sepultamento de Omri, rei de Israel. Com


124

relação à morte e ao sepultamento de Omri, a arqueóloga Norma Franklin traz


importantes evidências arqueológicas.
Franklin (2003, p. 4-7) em seu artigo, The Tombs of the Kings of Israel,
confronta informações contidas nos relatórios das primeiras escavações em
Samaria, realizadas pela Harvard Expedition de 1908-1910. Segundo ela, a
Harvard Expedition errou ao identificar o túmulo de Omri como sendo uma
cisterna. Franklin diz que está claro que é de fato um túmulo e que pode ter sido
o túmulo de Omri (4,50 x 5,90 x 4m), pois foi escavado na rocha e está dentro do
palácio edificado por Omri, cuja entrada era feita por meio de um pequeno túnel
de aproximadamente 0,80m de altura. Este túmulo foi identificado como sendo o
Túmulo A.
É possível que este túmulo encontrado em Samaria tenha sido utilizado por
vários reis de Israel, como, Omri, Acab, Jeú, Joacaz, Joás e talvez, Jeroboão II,
isto porque todos estes foram sepultados em Samaria, conforme 1Rs 16.21;
22.37; 2Rs 10.35; 13.9 e 14.16,29 (FRANKLIN, 2003, p. 7-8).
A terceira e última frase do v.28 e última frase deste segundo parágrafo, é
wyT'(xT. ; AnàB. ba'îx.a; %l{°mY. Iw: “e reinou Acab, seu filho, em seu lugar”. A frase fecha

o parágrafo informando o sucessor de Omri. A frase é verbal e traz um wayyiqtol


no início, mostrando a ênfase da frase, a ação de reinar do sucessor de Omri. A
ênfase, portanto, não está exatamente em Acab, mas na ação de reinar dele, “e
reinou Acab, seu filho, em seu lugar”.
A BHS aponta para mais uma nota no seu aparato crítico exatamente no
vocábulo hebraico wyT'(x.T; (em seu lugar). A nota que aparece no aparato crítico é
[ 28 a  ( = 22,41 – 44.46 – 51) ]. Tal nota diz que o texto original da
LXX, ou pelo menos sua versão mais antiga, adiciona vários versículos após o
vocábulo wyT'(xT. ; (em seu lugar). No total são oito versículos, e são semelhantes
a 1Rs 22.41-44, 46-51.
Esse acréscimo textual, como cita a nota do aparato crítico, é semelhante
ao texto de 1Rs 22.41-44, 46-51. Muitos dos “acréscimos” contidos no texto
grego da LXX no livro dos Reis, por exemplo, parecem ser repetições de outros
textos dentro do próprio livro dos Reis ou deslocamento de textos, como é o
caso de 1Rs 9.14 e o acréscimo em 1Rs 10.22, que parece ser continuação de
125

9.14. Segundo Francisco (2008, p. 439-444), várias passagens do texto hebraico


sofreram modificações por ocasião da tradução para o grego, textos foram
interpretados, aumentados ou reduzidos. Para ele há muitas diferenças entre o
cânon hebraico e a LXX, principalmente nos livros de Rute, Juízes, 1 e 2
Crônicas e 1 e 3 Reis, que no cânon da LXX aparecem como 3 e 4 Reinos.

7.2.5. Acréscimo no texto grego da LXX (Ralphs) em 3Rns 16.28:


Segue tabela comparativa do acréscimo da LXX em 3 Reinos 16.28 (BHS,
1Rs 16.28), com o texto grego da LXX (Ralphs), a tradução do acréscimo e o
texto similar de 1Rs 22.41-44, 46-51 da BHS.

Tradução do Acréscimo 1Rs 22.41-44, 46-51


Acréscimo da LXX
da LXX (ARA)

28 kai. evkoimh,qh Ambri meta.


28 E dormiu Omri com os
tw/n pate,rwn auvtou/ kai.
pais dele e foi sepultado em
qa,ptetai evn Samarei,a| kai.
Samaria e reinou Acab, seu
basileu,ei Acaab ui`o.j auvtou/
filho, no seu lugar.
avntV auvtou/

41 E Josafá, filho de
Asa, começou a reinar
Î28aÐ kai. evn tw/| evniautw/| tw/|
[28a] E no ano décimo sobre Judá no quarto
e`ndeka,tw| tou/ Ambri ano de Acab, rei de
primeiro de Omri, reinou
basileu,ei Iwsafat ui`o.j Asa Israel. 42 Era Josafá da
Josafá, filho de Asa, o reino
evtw/n tria,konta kai. pe,nte evn idade de trinta e cinco
dele [foi de] trinta e cinco
th/| basilei,a| auvtou/ kai. anos quando começou a
anos, e vinte e cinco anos
ei;kosi pe,nte e;th evbasi,leusen reinar; e vinte e cinco
reinou em Jerusalém, e o
evn Ierousalhm kai. o;noma th/j anos reinou em
nome da sua mãe [era]
mhtro.j auvtou/ Gazouba Jerusalém. Sua mãe se
Gazuba, filha de Silei.
quga,thr Selei? chamava Azuba, filha de
Sili.

Î28bÐ kai. evporeu,qh evn th/| [28b] E procedeu no 43 Ele andou em todos
o`dw/| Asa tou/ patro.j auvtou/ caminho de Asa, seu pai, e os caminhos de Asa,
kai. ouvk evxe,klinen avpV auvth/j não se desviou dele, seu pai; não se desviou
tou/ poiei/n to. euvqe.j evnw,pion fazendo o bem diante do deles e fez o que era
126

kuri,ou plh.n tw/n u`yhlw/n Senhor, entretanto, os altos reto perante o SENHOR.
ouvk evxh/ran e;quon evn toi/j não removeu, sacrificava 44 Todavia, os altos não
u`yhloi/j kai. evqumi,wn nos altos e queimava se tiraram; neles, o povo
incenso. ainda sacrificava e
queimava incenso.
46 Quanto aos mais
Î28cÐ kai. a] sune,qeto atos de Josafá, e ao
[28c] E concordou Josafá e
Iwsafat kai. pa/sa h` poder que mostrou, e
toda a dominação que fez,
dunastei,a h]n evpoi,hsen kai. como guerreou,
e as guerras que fez, isto
ou]j evpole,mhsen ouvk ivdou. porventura, não estão
não está escrito no Livro
tau/ta gegramme,na evn bibli,w| escritos no Livro da
das Crônicas dos reis de
lo,gwn tw/n h`merw/n tw/n História dos Reis de
Judá?
basile,wn Iouda Judá?

47 Também exterminou
Î28dÐ kai. ta. loipa. tw/n [28d] E o restante das
da terra os restantes dos
sumplokw/n a]j evpe,qento evn complicações praticadas
prostitutos-cultuais que
tai/j h`me,raij Asa tou/ patro.j nos dias de Asa, pai dele, ficaram nos dias de Asa,
auvtou/ evxh/ren avpo. th/j gh/j ele removeu da terra.
seu pai.

48 Então, não havia rei


Î28eÐ kai. basileu.j ouvk h=n [28e] E não havia rei na
em Edom, porém
evn Suri,a| nasib Síria, [somente] um nasib39.
reinava um governador.
49 Fez Josafá navios de
Î28fÐ kai. o` basileu.j [28f] E o rei Josafá fez Társis, para irem a Ofir
Iwsafat evpoi,hsen nau/n eivj navios para Társis partiu em busca de ouro;
Qarsij poreu,esqai eivj para Sofir, lugar do ouro, e porém não foram,
Swfir evpi. to. crusi,on kai. não partiu porque os navios porque os navios se
ouvk evporeu,qh o[ti sunetri,bh de Ezion-Geber quebraram quebraram em Ezion-
h` nau/j evn Gasiwngaber em pedaços. Geber.

Î28gÐ to,te ei=pen o` basileu.j [28g] Então disse o rei de 50 Então, Acazias, filho
Israhl pro.j Iwsafat Israel para Josafá: “Eu de Acab, disse a Josafá:
evxapostelw/ tou.j pai/da,j sou enviarei seus jovens servos Vão os meus servos
kai. ta. paida,ria, mou evn th/| e meus rapazes no navio” e embarcados com os

39 Nasib (nasib), pode ser um cargo político, algum tipo de governante “prefeito” ou
“governador”.
127

nhi, kai. ouvk evbou,leto Josafá não quis. teus. Porém Josafá não
Iwsafat quis.

Î28hÐ kai. evkoimh,qh Iwsafat 51 Josafá descansou


[28h] E dormiu Josafá com
meta. tw/n pate,rwn auvtou/ kai. com seus pais e foi
seus pais, e foi enterrado
qa,ptetai meta. tw/n pate,rwn sepultado na Cidade de
com seus pais na cidade de
auvtou/ evn po,lei Dauid kai. Davi, seu pai; e Jeorão,
Davi, e reinou Jorão, seu
evbasi,leusen Iwram ui`o.j seu filho, reinou em seu
filho, em seu lugar.
auvtou/ avntV auvtou/ lugar.

Este acréscimo da LXX em 3 Reinos 16.28 (BHS, 1Rs 16.28) possui alguns
problemas nas informações apresentadas da história de Israel. Josafá começou
a reinar quando Acab, rei de Israel Norte, estava no seu quarto ano de reinado.
Quando Josafá iniciou seu reinado em Judá, Omri já tinha morrido há quase
quatro anos, conforme é possível visualizar na tabela abaixo:

Tabela comparativa: Omridas, Josafá e Asa (séc. IX AEC)


890 880 870 860 850 840 830

Israel Omri Acab Acazias Jorão


Norte
884 873 852 851 842
911

Judá Asa Josafá


870 846

Tabela 1: Datas dos reinados baseadas em FINKELSTEIN, 2003, p. 37. Tabela minha.

Em 3Reinos 16.28d não deixa claro quais seriam os problemas, ou como


diz no texto, “as complicações” praticadas nos dias de Asa, rei de Judá. No
entanto, no texto correspondente de 1Rs 22.47, o texto explicita um problema
que aos olhos do editor deuteronomista era o principal, a presença e atuação
dos “prostitutos-cultuais” em Judá, possivelmente no Templo de Jerusalém ou
em templos menores. O termo hebraico traduzido em ARA como “prostitutos-
cultuais”, é vdEQ'h; que significa “pessoa consagrada” masculina para a

realização de cultos, talvez com ritos que envolvessem a prática do sexo, mas
isso é incerto. A avaliação do editor é clara, este “homem consagrado” pertencia
a um culto concorrente do Templo de Jerusalém.
Em 3Reinos 16.28e há uma divergência com 22.48 com relação à
localidade que no momento estava sem um rei. No texto de 1Reinos 16.28e diz
128

que a Síria estava sem rei, havia apenas um nasib nasib, um tipo de governador
ou prefeito, porém, em 1Rs 22.48 o texto hebraico diz que quem estava sem rei
era Edom não a Síria. A hipótese mais plausível aqui, é a de que a LXX
represente um texto hebraico mais antigo, e que o território sírio que estava sem
rei, poderia se referir ao território ao sul de damasco, o qual foi dominado por
Israel Norte nesta época. Ou então, o texto de 1Rs 22.48 seja uma memória da
época de Jeroboão II, período em que Israel Norte dominou o território edomita.
Esta hipótese pare ser mais plausível do que Judá tendo dominado Edom, já que
existem evidências arqueológicas que fortalecem essa hipótese, por exemplo, os
achados de Kuntillet ‘Ajrud, que menciona YHWH de Teman, território edomita
no séc. VII AEC. (FINKELSTEIN; RÖMER, 2014, p. 7-8).
O v.28f e 28g de 3Reinos menciona os nau/n eivj Qarsij “navios de
Társis”. Esta expressão refere-se quase sempre aos navios mercadores de Tiro,
Fenícia. A Fenícia, segundo Aharoni, eram os “donos do mar” neste período, de
forma que se tornaram o principal poder entre as cidades-estado da costa
litorânea do Mediterrâneo (AHARONI et.al., 1999, p. 88). Mas Aharoni coloca a
forte atividade marítima fenícia principalmente no período de Salomão, dentro da
visão de Monarquia Unida de Davi e Salomão. É bem possível que, o
envolvimento de Israel com a navegação tenha surgido principalmente, com a
aliança entre Israel e Fenícia com o casamento de Acab, filho de Omri, com
Jezabel, filha de Etbaal, rei de Tiro (1Rs 16.31).
A localização de Társis ainda hoje é uma incógnita. Aharoni (1999, p. 88)
fornece pelo menos três hipóteses para a localização de Társis: 1. Que Társis
deve ser a Tarso, na Sicília, que segundo ele, é a localização mais provável; 2.
Que Társis seja a mesma cidade de Tarros, na Sardenha; e 3. Que Társis seja a
cidade de Tartessos, na Espanha.
Em 3Reinos 16.28f diz que Josafá construiu navios para ir a Társis, e que
estes navios iriam antes para Swfir “Sofir”. A localização de Sofir é incerta,

mas o texto de 1Rs 22.49 diz que tais navios iriam para a terra de hr"ypiAa
(’ôfîrāh), que é Ofir. O substantivo hebraico hr"ypiAa ocorre treze vezes na Bíblia
Hebraica, sendo oito vezes somente nos livros de Reis e Crônicas. Já o
substantivo grego Swfir “Sofir”, ocorre uma única vez no texto grego da LXX, e
129

somente no acréscimo de 1Rs 16.28 (3Rns 16.28f), o que indica ser este, uma
hápax legomenon.
Tais navios, conforme 1Rns 16.28f, tinham como destino Ofir, localidade
conhecida pela qualidade de seu ouro. Ofir estaria localizada na margem do Mar
vermelho, na região da Arábia. Do outro lado do Mar Vermelho, diante de Ofir,
estaria Havilá, na região de Cuxe, no continente africano (AHARONI et.al., 1999,
p. 21). O texto de Gn 2.11-12 diz Havilá é a terra do ouro, e que o ouro de lá era
bom.
Outra informação interessante fornecida pelo acréscimo grego em 3Rns
16.28, é o fato de os navios de Társis terem se despedaçados em Ezion-Geber
(no grego Gasiwngaber “Gaziongaber”; no hebraico rb,G") !Ayðc.[, “‘Ezion Gaber”).
O verbo hebraico utilizado em 1Rs 22.49 para descrever a destruição dos navios
de Társis é rb;v.' Tal verbo ocorre neste caso no nifal (terceira pessoa do plural)
e significa tanto “foram quebrados” como “foram despedaçados” ou ainda “foram
fragmentados”.
A cidade de Ezion-Geber (no grego Gasiwngaber “Gaziongaber”; no

hebraico rb,G") !Ayðc.[, “‘Ezion Gaber”), segundo o Atlas Bíblico de Aharoni, estava
localizada próximo da atual tlya Eilat, no golfo de Áqaba, braço direito do Mar
Vermelho (AHARONI et.al., 1999, p. 23, 45, 85, 88, 107, 109; PEREGO, 2001, p.
23).
Não é possível saber o motivo pelo qual os navios de Társis não foram
para Ofir, mas foram fragmentados em Ezion-Geber. Foram atacados? Foram
acidentados no porto ou na costa litorânea? Não é possível saber. O texto
informa ainda no v.28g, que o rei de Israel ofereceu ajuda para Josafá, mas não
diz qual rei de Israel. O texto hebraico de 1Rs 22.50 diz que foi Acazias, rei de
Israel, quem ofereceu ajuda, mas Josafá não quis a ajuda do rei de Israel.
Evidentemente que o texto faz uma leitura positiva de Josafá, e o fato de não ter
aceitado ajuda do rei de Israel, testemunha sua fidelidade a Javé e ao Templo
de Jerusalém.
O acréscimo termina em 3Rns 16.28h informando a morte de Josafá e seu
sepultamento na Cidade de Davi. Depois, finaliza indicando seu sucessor, Jorão,
seu filho, para o trono de Judá em Jerusalém.
130

Embora o texto seja positivo com relação a Josafá, mostrando sua


superioridade quanto ao rei de Israel, sabemos que a arqueologia nos diz o
contrário. É possível que na época de Josafá, ou pelo menos no final do seu
reinado, Judá estivesse sob o domínio da dinastia omrida de Israel Norte. Há
fortes evidências que ajudam a compor essa realidade, como o casamento entre
a princesa Atalia (omrida) com o príncipe Jorão, de Judá (2Rs 8.18,26). Também
a cidade de Jericó estava sob o domínio omrida (1Rs 16.34), e sua reconstrução
se dá neste período (FINKELSTEIN, 2015, p. 136).

4. O Reinado de Acab, Filho de Omri (16.29-33)


Toda a história da ascensão de Omri ao trono de Israel e a fundação da
poderosa dinastia foi vista no primeiro e segundo parágrafo desta perícope.
Agora, veremos o reinado do primeiro sucessor de Omri, seu filho Acab. Este
terceiro parágrafo dá continuidade à narrativa da ascensão de Omri ao trono de
Israel e ao estabelecimento desta grande dinastia que governou Israel Norte por
mais de quarenta anos (884-842 AEC).
Depois de Omri, o rei mais importante desta dinastia é Acab. Sobre Acab, a
Bíblia Hebraica reserva quase sete capítulos, incluindo o ciclo de Elias/Eliseu
(1Rs 16.29–22.40). Acab, ao contrário do que é dito sobre ele no texto bíblico, foi
um poderoso monarca, capaz de levar Israel Norte, pela primeira vez, à
proeminência do cenário mundial, tornando-se conhecido em muitas nações e
até mesmo no grande e temível império assírio, como um grande opositor ao
avanço da Assíria (FINKELSTEIN, 2003, p. 235-236).
Aqui temos o início do reinado de Acab, um sumário de seu reinado.
Começa informando o começo e a duração do seu reinado, logo após isso, vem
a avaliação negativa do editor deuteronomista, e mais rigorosa que a avaliação
de todos os outros reis de Israel e Judá. Menciona Jeroboão, assim como na
avaliação de Omri e de outros antes e depois dele. Além da menção a Jeroboão,
o editor menciona seu casamento com Jezabel e um templo para Baal edificado
em Samaria e termina falando acerca de Aserá. Vejamos o texto:

29 E Acab, filho de Omri, reinou sobre Israel, no ano trinta e oito de Asa, rei
de Judá; e reinou Acab, filho de Omri, sobre Israel em Samaria, vinte e dois
anos. 30 E fez Acab, filho de Omri, o mal aos olhos de YHWH; mais do que
todos que [foram] antes dele. 31 E aconteceu que, acaso era insignificante
131

seu andar nos erros de Jeroboão, filho de Nebate; e tomou [por] mulher a
Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios, e andou e serviu a Baal, e se
prostrou para ele. 32 E ergueu [um] altar (x;BzeÞ >mi) para Baal, [uma] casa de
Baal, que edificou em Samaria. 33 E fez Acab a Aserá; e superou Acab em
provocar a irritação [de] YHWH, Deus de Israel, mais que todos [os] reis de
Israel, que foram antes dele.

Este parágrafo possui cinco versículos (v.29-33) e pode ser subdividido em


quatro tópicos. O primeiro (v.29), informa o início do reinado de Acab; O
segundo (v.30), informa a avaliação severa e negativa em relação ao reinado de
Acab; O terceiro (v.31), fala do casamento de Acab com Jezabel, a princesa
fenícia; e o quarto tópico (v.32-33), menciona os atos “negativos” e “pecadores”
de Acab durante seu reinado em Israel Norte. Vamos à análise do parágrafo:

7.3.1. Início do reinado de Acab (v.29)


Este primeiro tópico do terceiro parágrafo fornece informações acerca do
início do reinado de Acab em Israel Norte. É um texto claramente informativo.
Começa com substantivo e na sequencia aparece um verbo qatal, indicando que
a ênfase do texto é a pessoa de Acab, não seus atos. O texto pretende informar
o leitor, ainda que de forma resumida, dados sobre o princípio do reinado de
Acab.

yrIªm.[-' !B, ba'äx.a;w> 29


laeêr"f.yI-l[; ‘%l;m' 29 E Acab, filho de Omri,
reinou sobre Israel,
as'aÞ l' . hn"ëv' ‘hn<mvo .W ~yviÛl{v. tn:“v.Bi no ano trinta e oito de Asa,
hd"_Why> %l,m,ä rei de Judá;
yrIÜm.[-' !B, ba'’x.a; %l{m.YIwû: e reinou Acab, filho de Omri,
sobre Israel em Samaria,
!Arêmv. oåB. ‘laer"f.yI-l[; vinte e dois anos.
`hn")v' ~yIT:ßv.W ~yrIïf.[,

A primeira frase do v.29 “e Acab, filho de Omri, reinou sobre Israel” é uma
frase informativa. Aqui temos um texto que não é puramente narrativo, é um
sumário, uma informação, um resumo. A frase começa com o nome do novo rei
de Israel, ba'x.a;w> “e Acab”, seguido pela origem familiar, demonstrando a
132

sucessão dinástica, yrIm.['-!B, “filho de Omri”. Na sequência aparece um verbo

qatal + complemento, laer"f.yI-l[; %l;m' “reinou sobre Israel”.

Nesta primeira frase do v.29 há uma nota no Aparato Crítico da BHS. A


nota [ 29 a-a > * ] diz que o texto grego da LXX (séc. III-I AEC) omite a frase
hd"_Why> %l,mä, as'aÞ l' . hn"vë ' ‘hn<mvo .W ~yviÛl{v. tn:“v.Bi “e Acab, filho de Omri, reinou

sobre Israel”. Segue abaixo o v.29 da LXX:

29
evn e;tei deute,rw| tw/| Iwsafat basileu,ei Acaab ui`o.j Ambri
29 No ano segundo de Josafá, reinou Acab filho de Omri

evbasi,leusen evpi. Israhl evn Samarei,a| ei;kosi kai. du,o e;th


reinou sobre Israel em Samaria vinte e dois anos

O texto grego da LXX apresenta uma divergência com o Texto


Massorético. A segunda frase do v.29 do Texto Massorético, informa o seguinte:
laeêr"f.yI-l[; ‘%l;m' yrIªm.['-!B, ba'äx.aw; > “no ano trinta e oito de Asa, rei de Judá”. Já

o texto grego da LXX fornece a seguinte informação: evn e;tei deute,rw| tw/|
Iwsafat basileu,ei Acaab ui`o.j Ambri “no segundo ano de Josafá, reinou
Acab, filho de Omri”. A divergência aqui está relacionada com a data de início do
reinado de Acab, filho de Omri.
O texto hebraico diz que Acab, começou a reinar no ano trinta e oito de
Asa, rei de Judá. A LXX diz que Acab, rei de Israel, começou a reinar no
segundo ano de Josafá, rei de Judá. Conforma o quadro de datações fornecida
por Gershon Galil na obra A Bíblia não Tinha Razão, de Israel Finkelstein (2003,
p. 37), Acab começou a reinar sobre Israel, três anos antes de Josafá começar a
reinar. Acab iniciou seu reinado em 873 AEC, e Josafá, somente em 870 AEC.
As datações propostas por Galil e apoiadas por Finkelstein, coincidem com
a datação apresentada no texto bíblico hebraico para o início do reinado de Acab
em Israel. A datação hebraica bate também com a narrativa sobre o início do
reinado de Josafá em Jerusalém, quando diz que Josafá começou a reinar no
quarto ano de Acab, rei de Israel (1Rs 22.41). Neste texto de 1Rs 22.41, o texto
grego da LXX concorda com o texto bíblico hebraico.

kai. Iwsafat ui`o.j Asa evbasi,leusen evpi. Iouda


E Josafá, filho de Asa, começou a reinar sobre Judá,
133

e;tei teta,rtw| tw/| Acaab basile,wj Israhl evbasi,leusen


ano quarto de Acab, rei de Israel, começou a reinar.

A terceira frase do v.29 “e reinou Acab, filho de Omri, sobre Israel em


Samaria, vinte e dois anos”, fecha esse primeiro tópico informativo. Ela inicia
com um verbo wayyiqtol, indicando uma pequena frase narrativa, enfatizando a
ação do sujeito. Esta frase, diz que Acab reinou em Israel vinte e dois anos. Com
relação a esta data, a LXX também concorda, vejamos:

evbasi,leusen evpi. Israhl evn Samarei,a| ei;kosi kai. du,o e;th


reinou sobre Israel em Samaria vinte e dois anos

Nesta última frase do v.29 a BHS apresenta uma nota no seu Aparato
Crítico. A nota [ 29 c  [B;r>a;w>;  ] diz que poucos manuscritos

hebraicos medievais trazem o número [B;r>a;w> (e quatro) no lugar do número

~yIT:ßvW. (e dois); e que dois manuscritos hebraicos medievais omitem esse

número ~yITv
:ß .W (e dois) do seu texto.
Assim, ao invés de Acab ter reinado sobre Israel vinte e dois anos, como
indica o Texto Massorético e a LXX, ele teria reinado vinte e quatro anos. Dois
anos a mais que o tempo apresentado pelo Texto Massorético.

7.3.2. Avaliação negativa e severa do reinado de Acab (v.30)


Neste tópico começa a avaliação negativa do reinado de Acab. Como se
não bastasse avaliar apenas de modo negativo, o editor quis destruir a
reputação de Acab, fazendo uma avaliação dura e severa de seu reinado. A
avaliação é puramente teológica e incompleta.
A avaliação do editor deuteronomista, neste caso, é bem longa. Começa no
v.30 e segue até o v.33. O terceiro parágrafo praticamente não encerra, ele pára
repentinamente na avaliação do reinado, e o texto muda de assunto, começa a
falar de Hillel, o homem que reconstruiu Jericó (v.34).
Esta avaliação não está num único bloco, mas segue os tópicos propostos
no início deste capítulo. Portanto, este tópico abrange somente o v.30. O v.30
pode ser subdividido em duas frases, a principal “e fez Acab, filho de Omri, o mal
aos olhos de YHWH” e a subordinada “mais do que todos que [foram] antes
dele”. Como segue:
134

yrI±m.[-' !B, ba'óx.a; f[;Y:“w: 30 30 E fez Acab, filho de Omri,


o mal aos olhos de YHWH;
hw"+hy> ynEåy[eB. [r:Þh' mais do que todos que [foram] antes
`wyn")p'l. rv<ïa] lKoßmi dele.

A primeira frase do v.30 “e fez Acab, filho de Omri, o mal aos olhos de
YHWH” inicia com um verbo wayyiqtol, enfatizando a ação do sujeito. O rei Acab
fez o que era mau aos olhos de Javé. Há uma nota no aparato crítico nesta
frase, a nota [ 30 a-a  ] diz que o texto original grego da LXX (séc. III-I
AEC) omite a expressão yrI±m.[-' !B, “filho de Omri”. A nota deixa uma pergunta em
aberto: a expressão yrI±m.[-' !B, “filho de Omri” foi apagada? O fato é que a

omissão desta expressão não muda em nada o conteúdo da frase.


A segunda frase do v.30 “mais do que todos que [foram] antes dele” é
subordinada à primeira, ela dá intensidade à avaliação negativa da primeira
frase. O texto hebraico wyn")p'l. rv<ïa] lKoßmi literalmente diz “desde todos que antes
dele”. O ATI traduz como “mais do que todos os que antes dele” (FRANCISCO,
2014, p. 480). A LXX traduz da seguinte forma:

evponhreu,sato u`pe.r pa,ntaj tou.j e;mprosqen auvtou/


fez pior do que todos os [que foram] antes dele.

Esta frase wyn"p'l. rv<a] lKomi ocorre somente duas vezes na Bíblia Hebraica
1Rs 16.25 e 30, nas duas avaliações dos omridas. Isto mostra como o editor
deuteronomista não gostava desta dinastia, e principalmente de Omri e Acab,
que foram os principais reis desta dinastia.

As informações contidas nos livros dos Reis a respeito da dinastia omrida,


devem ser cuidadosamente analisadas antes de utilizá-las numa reconstrução
histórica. Os livros do Reis não são puramente históricos, mas possuem forte
teor teológico, que interpreta os fatos históricos a partir da ideologia
deuteronomista.

7.3.3. O casamento com a princesa Jezabel, a fenícia (v.31)


O editor deuteronomista já disse desde o início da avaliação, que este foi o
pior de todos os reinados, e que Acab fez pior do que todos os que foram antes
135

dele (v.30), e isto também foi dito sobre Omri, seu pai (v.25). Agora a avaliação
negativa se intensifica, já que o editor começa a apresentar alguns fatos que,
para ele, pareciam suficientes para justificar sua negativa e repulsa.
Surge na história de Israel a princesa fenícia chamada Jezabel lb,z<yai (na
LXX, Iezabel). A figura de Jezabel vai se perpetuar como sinônimo de maldade
e ambição, que vai alcançar até a época cristã e seus escritos. Além da Jezabel,
teremos a divindade chamada Baal, que será um dos pilares para a condenação
de Acab pela ideologia deuteronomista.
Neste tópico, composto pelo v.31, o texto pode ser subdividido em quatro
frases, “e aconteceu que, acaso era insignificante seu andar nos erros de
Jeroboão, filho de Nebate”, “e tomou [por] mulher a Jezabel, filha de Etbaal, rei
dos sidônios”, “e andou e serviu a Baal”, e “e se prostrou para ele”. Vejamos o
texto:

twaJoßx;B. ATêk.l, lqEån"h] ‘yhiy>w: 31 31 E aconteceu que, acaso era


insignificante seu andar nos erros de
jb'_n-> !B, ~['äb.r"y" Jeroboão, filho de Nebate;
~ynIëdyo ci %l,m,ä ‘l[;B;’t.a,-tB; lb,z©y< ai-ta, e tomou [por] mulher a Jezabel, filha
l[;B;êh-; ta, dboå[]Y:w): ‘%l,Y’Ew hV'øai xQ;’YIw: de Etbaal, rei dos sidônios,
e andou e serviu a Baal,
`Al* WxT;Þv.YIw: e se prostrou para ele.

A frase começa com o verbo yhiy>w: “e aconteceu”, que indica uma frase

narrativa. A maioria das traduções da Bíblia para o português, traduz esse verbo
como “ser”, neste caso “e houve”, “e sucedeu” ou “e como se fora”. Mas no
hebraico bíblico, assim como em todas as línguas semíticas, não tem verbo ser.
Por isso, a melhor tradução para este verbo é “e aconteceu” (ver no ATI,
FRANCISCO, 2014, p. 480).
Logo na sequência de yhiy>w: “e aconteceu”, temos o verbo lqEn"h] (da raiz
llq) na conjugação hifil, “ser insignificante” ou “tratar algo frivolamente ou com
desprezo”. A ideia é “e como se não fosse suficiente...”, ou seja, poderíamos
traduzir o texto da seguinte forma: jb'_n-> !B, ~['bä .r"y" twaJoßx;B. ATêk.l, lqEånh" ] ‘yhiy>w: “e
aconteceu que, como se não fosse suficiente ele andar nos erros de Jeroboão,
filho de Nebate”. O editor coloca um tom de desprezo na atitude de Acab, rei de
136

Israel, com relação aos “erros” praticados por ele, pois como se não bastasse
ele ter andado nos erros de Jeroboão, ele fez ainda coisas piores. Como a que é
narrada na próxima frase.
A segunda frase do v.31, narra o que para o editor deuteronomista, era pior
do que andar nos erros de Jeroboão, o fato de ter se casado com uma
estrangeira adoradora de Baal. O texto bíblico diz que Acab “tomou por mulher
Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios”. É uma frase iniciada por um verbo
wayyiqtol, a ênfase está na ação do sujeito, na ação de tomar, pegar, agarrar.
Tal verbo, neste caso, junto com a palavra hebraica hV'ai, forma uma expressão
que dá a ideia de casamento (hV'ai xQ;YIw: “e tomou por mulher”).
Jezabel, segundo o texto bíblico, foi atuante em algumas situações
complicadas, as quais o editor aproveitou para enfatizá-las e mostrar como ela
era “má”. Jezabel reagiu com extrema fúria quando soube que Elias tinha
matados seus profetas de Baal, e decidiu matá-lo (1Rs 19.1-18). Por conta disso
Elias fugiu para o sul. Ela também tramou a morte de Nabote, porque este não
quis vender sua propriedade para o rei Acab. Então Nabote foi condenado à
morte por apedrejamento, e Acab se apoderou de sua vinha (1Rs 21.1-16).
A ação de se casar não era um problema para o editor deuteronomista, o
problema para ele, era o se casar com uma estrangeira. Acab tomou por esposa
a lb,z<yai Jezabel, uma princesa estrangeira. O texto não informa com precisão
quando Acab teria se casado com Jezabel, mas possivelmente, seu pai, Omri,
deve ter arranjado esse casamento, com a finalidade de fechar um forte acordo
comercial e político com a Fenícia, cuja tecnologia naval era bem avançada, e
estes dominavam o comércio marítimo do mediterrâneo. Esta era uma grande
oportunidade para quem agora estava dominando a costa litorânea de Israel
Norte, e dominando a cidade portuária de Dor.
Jezabel era filha de l[;B;ta. , Etbaal, o rei dos sidônios. Era o reino que

ficava na fronteira no extremo noroeste de Israel. O reino de Sidon ocupava a


parte final do Vale de Jezreel quando este chega ao mar, e todo o monte
Carmelo. Megiddo poderia ter sido uma fortaleza militar para proteger o vale de
Jezreel, e ficava perto da fronteira com a Fenícia. O nome l[;B;t.a, Etbaal (na
LXX, Ieqebaal), ocorre somente uma única vez tanto na Bíblia Hebraica quanto
137

na LXX. Uma anotação massorética marginal da Bíblia Hebraica (massora

. , Etbaal é uma hapax legomenon (ׄ‫)ל‬.


parva), indica que l[;B;ta

A terceira frase do v.31, é a segunda de uma sequência de três ações


“negativas” de Acab, segundo a avaliação deuteronomista. A frase “e andou e
serviu a Baal” leva o personagem da narrativa na direção dos mais “horríveis
pecados” que um rei poderia cometer, o servir a Baal. Segundo Finkelstein
(2003, p. 238), “diz-se que Jezabel apoiava o clero pagão em Samaria,
abrigando “quatrocentos e cinquenta profetas de Baal e quatrocentos profetas de
postes sagrados” em seu espaçoso palácio real”.
Baal era uma divindade canaanita, era o deus da tempestade e da
fertilidade. Aparece em textos extra bíblicos como os de Ugarit. Em Ugarit, Ras
Shamra, Baal é visto de várias formas, uma das que mais aparecem é a de
“cavaleiro das nuvens” e como aquele que construiu seu palácio acima das
nuvens, na montanha sagrada de Sapanu (OLMO LETE, 1981, p. 98-153). Baal
também aparece como divindade da Fenícia com vários epítetos, como, Baal-
Shamem (KAI 4.3), Baal do Líbano (KAI 31.1, 2) e Baal de Sidon (KAI 14.18).
Também aparece como Baal-Mot, o Baal da vida e da morte, da ressurreição
(DAY, 1992, p. 850-853).
A última frase do v.31 aponta para mais uma ação “negativa” de Acab, rei
de Israel: Al WxT;v.YIw: “e se prostrou para ele” ou “e se prostrou diante dele”. O
verbo WxT;v.YIw: que ocorre nesta pequena frase vem da raiz hwx, este é um verbo
que tem atraído a atenção dos lexicógrafos40, o verbo ocorre aqui como um
histafel, Holladay indica pelo menos duas opções de tradução, “prostrou-se” e
“fez reverência”. Em grande parte dos casos, ocorre no âmbito do culto
(HOLLADAY, 2010, p. 138). Acab, então, além de ter andado e servido a Baal,
teria também se prostrado diante dele, numa ação causativa do verbo. O temor

40 Sobre o verbo WxT;v.YIw:: “O verbo hw"x]T;v.hi (curvar-se, adorar) tem recebido atenção
considerável dos lexicógrafos. Tem sido tradicionalmente considerado formação hitpolel de hx'v',
v
na qual a sibilante ( ) e o T passam por metátase (esse verbo ocorre uma vez no qal e outra no
hif‘il). Alguns gramáticos sugerem que a forma é um hištafel de hwx, com Tv.hi como o prefixo
desse tema raro. O tema šafel no semítico oriental corresponde ao hif‘il (causativo) do semítico
do noroeste, de modo que essa pode ser uma forma reflexiva ( t.hi) do tema causativo com v”
(ROSS, 2005, p. 304-305).
138

do sujeito faz com que ele se curve diante da divindade. Isto mostra um certo
grau de devoção por parte de Acab, rei de Israel Norte, para com o deus Baal.
Estas três últimas ações “negativas” de Acab no v.31, seria decorrente da
ação de ter tomado Jezabel por esposa. A princesa Jezabel, ao se casar com
Acab, teria vindo para Samaria e trazido consigo uma comitiva, com presentes,
servos e servas, oficiais, divindades sacerdotes e sacerdotisa. O deuteronomista
reprovou todas essas ações.

7.3.4. Avaliação negativa de Acab, rei de Israel Norte (v.32-33)


Este é o último tópico da avaliação deuteronomista do reinado de Acab, rei
de Israel Norte. A primeira parte da avaliação do deuteronomista dou a de que
Acab foi o pior rei de Israel, pior do que todos os que foram antes dele. A
segunda parte da avaliação negativa foi ainda mais severa, o deuteronomista
acusou Acab de ter se casado com Jezabel a princesa dos Sidônios, de ter
servido a Baal e ter se prostrado diante dele.
Agora, no v.32 e 33, temos a continuação da avaliação deuteronomista.
Estes dois versículos podem ser divididos em cinco frases, “e ergueu [um] altar
para Baal”, “[uma] casa de Baal, que edificou em Samaria”, “e fez Acab a Aserá”,
“e superou Acab em provocar a irritação [de] YHWH, Deus de Israel” e “mais que
todos [os] reis de Israel, que foram antes dele”. Vamos à análise do texto:

l[;B'_l; x;BeÞz>mi ~q,Y"ïw: 32 32 E ergueu [um] altar para Baal,


`!Ar)m.voB. hn"Bß ' rv<ïa] l[;B;êh; tyBeä [uma] casa de Baal,
hr"v_ ea]h'-ta, ba'Þx.a; f[;Y:ïw: 33 que edificou em Samaria.
33 E fez Acab a Aserá;
‘sy[ik.h;l. tAfª[]l; ba'øx.a; @s,AY“w:
e superou Acab em provocar
laeêr"f.yI yheäl{a/ ‘hA"hy>-ta, a irritação [de] YHWH, Deus de Israel,
laeêr"f.yI ykeäl.m; lKo’mi mais que todos [os] reis de Israel,
`wyn")p'l. Wyàh' rv<ïa] que foram antes dele.

Este é um texto narrativo, possui pelo menos três verbos wayyiqtol, um no


v.32 e ou outros dois no v.33. A primeira frase do v.32 “e ergueu [um] altar para
Baal” é iniciada por um hifil com waw consecutivo, cuja raiz é ~wq e significa
basicamente “levantar”. Na conjugação hifil, esse verbo passa a ser um
causativo ativo, seu sujeito não praticou diretamente a ação de levantar, mas
139

causou essa ação, ele fez com que levantassem para ele. Desta forma, o verbo
hebraico ~q,Y"w: “e levantou”, indica que o rei Acab foi o autor da ação, mas a

realizou através de outras pessoas, sacerdotes?


O texto diz que Acab ~q,Y"w: “e levantou” um altar. A palavra “altar” aqui é
x;Bez>mi, este substantivo é derivado de outro substantivo, xB'z< “sacrifício de animal
(gado)”, que por sua vez deriva do verbo xb;z" “sacrificar” ou “abater”. O vocábulo
hebraico x;Bez>mi, deveria ser um altar normalmente feito de pedra, para queimar
os animais abatidos para o sacrifício (ANDERSON, 1992, p. 7671). O rei Acab
mandou levantar um altar de sacrifícios para Baal.
A informação é que Acab teria construído um templo para Baal l[;B;h; tyBe
(literalmente “casa do Baal”). O verbo hn"B' “edificou”, também é utilizado na

edificação de Samaria (v.24), portanto aqui deve se referir realmente a um


templo de Baal. Esta expressão l[;B;h; tyBe “casa de Baal” ocorre nove vezes

na Bíblia Hebraica somente nos livros de Reis (oito vezes) e Crônicas (uma vez),
e todas as nove ocorrências fazem referência à família da dinastia omrida (1Rs
16.32; 2Rs 10.21, 23, 25, 26, 27; 11.18; 2Cr 23.17).
Primeira frase do v.33 diz hr"_vae h] '-ta, ba'Þx.a; f[;Y:ïw: “e fez Acab a Aserá”. A
Aserá foi uma deusa bastante popular no período bíblico, ela era uma deusa da
fertilidade. O vocábulo hr'vea] ocorre quarenta vezes na Bíblia Hebraica, destas,
dezesseis vezes no livro de 1 e 2 Reis e onze vezes no livro de 2 Crônicas.
O texto informa que Jezabel sustentava quatrocentos e cinquenta profetas
de Baal e quatrocentos profetas de Aserá com os recursos da corte (1Rs 18.19).
Isto indica que esta era a religião do estado, ou pelo menos a religiosidade
apoiada pelo estado. Foram encontradas muitas estatuetas feitas em cerâmica
de Aserá/Astarte tanto em Israel Norte como em Judá, mostrando que as
divindades da fertilidade eram muito comuns no cotidiano dos israelitas deste
período (MAZAR, 2003, p. 476).
O nome hr'vea] é traduzido na maior parte das versões da Bíblia em língua
portuguesa, por “poste-ídolo” (ARA), “bosque” (ARC), “poste sagrado” (BJ) e por
a;lsoj “bosque” na LXX. Evidentemente que, como um nome de divindade, não
140

deveria ser traduzido, mas transliterado, para manter a pronúncia do nome, mas
isso não é uma realidade. A tradução do nome hr'vea] acaba escondendo a

personalidade da deusa da fertilidade, excluindo-a do texto bíblico e da história


de Israel, ela simplesmente não aparece. É possível que isso aconteça por
motivos teológicos.
O nome hr'vea] é a forma feminina de rvea' que é também o nome de um
dos filhos de Jacó (Gn 30,13), significa “ser feliz”, “ser reputado por feliz”,
“prosperidade”. Lea, uma das esposas de Jacó, chamou a criança recém-
nascida pelo nome de rvea,' relacionando o nome com a fertilidade para procriar,

e isto demonstrava sua felicidade. O nome hr'vea] (Aserá) deve trazer o sentido
de “a que traz felicidade”, daí a ideia de deusa da fertilidade.
Há uma proibição em Dt 16.21-22 para que ninguém levantasse uma Aserá
nem plantasse uma árvore junto ao altar de Javé. No livro dos Reis temos várias
ocasiões onde o texto bíblico hebraico testemunha a presenta de Aserá no
território de Israel Norte e de Judá, como também dentro do próprio Templo de
Jerusalém, como neste texto 1Rs 16.33 onde menciona o templo de Baal e o
estabelecimento da Aserá em Samaria. Posteriormente, temos a presença de
Aserá durante o reinado de Jeoacaz em Samaria, em 2Rs 13.4-6, quase
quarenta anos depois de Acab.
Este texto sugere que a Aserá está associada com o templo de Baal em
Samaria. Porém, é possível que o templo tenha sido de Javé, pois existem
várias evidências que apresentam Javé como a divindade de Samaria
(DIJKSTRA, 2001, p. 116-117). A Estela de Mesha, por exemplo, uma pedra de
basalto com um texto escrito em letras paleohebraicas, apresenta na linha 18, o
nome de Javé (YHWH) como a divindade de Israel Norte, que segundo Mesha,
foi derrotado por Qemosh (ou Camos), divindade moabita (GALLEAZZO, 2008,
p. 119-120, 147-148).
A Aserá aparece como um dos motivos listados pelo editor deuteronomista
como a causa da queda de Samaria diante dos assírios (2Rs 17.7-10). E
também aparece em Jerusalém na época de Ezequias (2Rs 18.4), e anos mais
tarde, dentro do Templo na época de Manassés (2Rs 21.7) e na época de
141

Josias, o qual a retirou do templo e a queimou no vale do Cedron (2Rs 23.4).


(KAEFER, 2006, p. 180-181).
Segunda frase do v.33 mostra o quanto o editor deuteronomista estava
indignado com relação ao reinado de Acab em Israel. Ele continua sua avaliação
utilizando o verbo hebraico @s,AYw: “e superou” ou “e acrescentou”, em relação ao
fato de provocar a irritação ou a ira de Javé, assim como já havia abordado no
v.30. Acab desta vez havia superado as expectativas negativas do
deuteronomista, em causar a ira, a irritação laer"f.yI yhelä {a/ hA"hy>-ta, “a Javé, o
Deus de Israel”.
A utilização do nome de Javé relacionado a Israel, segundo Finkelstein
(2015, p.109), é resultado de uma ideologia pan-israelita do período do final da
monarquia e início do pós-exílio. Quando Judá passa a assumir o nome Israel
para si, a fim de fortalecer a teologia histórica da Monarquia Unida no pós-exílio.
A BHS, neste v.33, traz uma nota no aparato crítico referente à frase
hebraica laer"f.yI yheäl{a/ ‘hA"hy>-ta, “a Javé, o Deus de Israel”. A nota [ 33 b-b *
th.n yuch.n auvtou/ tou/ evxoleqreuqh/nai\ evkakopoi,hsen ] diz que o texto original
grego da LXX (séc. III-I AEC) traz a frase th.n yuch.n auvtou/ tou/
evxoleqreuqh/nai\ evkakopoi,hsen (a sua alma, a destruir totalmente fazendo o
mal) no lugar da frase hebraica laer"f.yI yhel{a/ hA"hy>-ta, “ a Javé Deus de Israel”.
Neste caso o versículo ficaria da seguinte forma: “E fez Acab [uma] Aserá; e
superou Acab em provocar a irritação [da] sua alma, a destruir totalmente
fazendo o mal, mais que todos [os] reis de Israel, que foram antes dele”.
Daí vamos para a terceira frase do v.33, última frase deste terceiro
parágrafo e última frase desta perícope, que teve início no v.15 deste capítulo.
Esta última frase é subordinada à anterior, que informa que Acab, rei de Israel,
havia superado o fato de irritar a Javé, com todas as suas realizações
mencionadas nos v.30-33; o fato de ter se casado com uma estrangeira fenícia,
seguidora de Baal, de ter andado e servido a Baal, além de ter construído um
templo em honra a essa divindade e de ter levantado uma Aserá em Samaria.

8. Propondo Data e Lugar


Os livros de 1 e 2 Reis fazem parte de um grupo de escritos chamados de
142

Obra Historiográfica Deuteronomista (OHD), isto devido à grande influência que


os livros bíblicos do Pentateuco, Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis
sofreram do livro de Deuteronômio, nos aspectos linguísticos e teológicos. A
OHD surgiu em meados do séc. VII AEC em Judá, após o desaparecimento do
reino de Israel Norte, e uma obra estritamente centrada no Templo de Jerusalém
(FINKELSTEIN; SILBERMAN, 2003, p. 27-29; CAZELLES, 2008, p. 66).
Para Finkelstein (2003, p. 28), “a maior parte da história deuteronomista foi
escrita no tempo do rei Josias, a fim de servir a sua ideologia religiosa e suas
ambições territoriais, e que foi concluída e editada no exílio, poucos anos mais
tarde”. A história de Israel está intimamente ligada à ideologia e teologia do
Templo de Jerusalém, o núcleo da cultura social e religiosa de Judá. Com isso, o
rei Josias, ordenou que fossem destruídos todos os templos tribais e fronteiriços
de Judá, bem como destruir toda forma de religiosidade que não estivesse
dentro do formato da religião do Templo, inclusive os ícones de divindades que
havia dentro do Templo de Jerusalém em sua época (2Rs 23).
Na literatura de 1 e 2 Reis os reis do Israel Norte foram julgados de acordo
com sua fidelidade ou infidelidade para com o santuário nacional de Jerusalém,
isto pelo fato de tentarem construir uma história sincrônica dos dois reinos. Ora,
o reino do Israel Norte foi desfeito em 722 AEC quando os assírios invadiram
Samaria e as demais cidades do Norte. Samaria se tornou, então, uma província
assíria, e os assírios trocaram a sua população pela população de outras
localidades, dissolvendo desta forma, o reino de Israel Norte (CAZELLES, 2008,
p. 66).
Nesta época da invasão assíria, muitos israelitas do Norte fugiram para o
sul, para o reino de Judá, refugiados da guerra, incluindo vários levitas e
sacerdotes. Estes refugiados chegaram em grupos que possuíam as mesmas
origens culturais, e a memória trágica da guerra, de terem que fugir de suas
terras, abandonando suas casas para irem para outra região, por vezes
rivalizada.
Os refugiados chegaram com sua memória coletiva originária do Norte,
com sua religiosidade e cultura própria. Os sacerdotes e levitas do Norte
passaram a assumir funções secundárias no Templo de Jerusalém e o povo
tendo que se submeter às novas formas culturais e religiosas. Com a
143

centralização do culto em Jerusalém e do estabelecimento gradual do


monoteísmo41 javista, os refugiados do Israel Norte passaram a correr sério risco
de expropriação de sua memória individual e coletiva (HALBWACHS, 1991,
p.3.). Isto se intensificou, quando da redação dos textos relatando a história dos
dois reinos Israel Norte e Judá, ao sul.
Depois de cerca de cem anos do desmantelamento do reino do Norte, as
novas gerações dos refugiados foram assimilando a nova cultura judaíta,
embora com indícios de alguma resistência por parte de grupos minoritários. O
reino do Israel Norte, nos textos deuteronomistas, foi sendo colocado cada vez
mais como o reino vilão, e todos os seus reis como ruins, maus e detestáveis.
Desta forma, tais textos culpam os reis nortistas pelo desmantelamento do reino
de Israel Norte.
Marguerat (2009, p. 22,23) aborda um pouco desta construção dos textos
dos livros dos Reis em sua obra Para Ler as Narrativas Bíblicas, quando aborda
o tema do narrador onisciente e confiável. Ele diz que o narrador é reconhecido
como onisciente e é considerado confiável pelo leitor. O narrador pode narrar as
cenas mais íntimas de uma personagem, das quais não existem testemunhas,
os sentimentos mais profundos e a intenções mais perversas e pecaminosas do
coração.

Por outro lado, o leitor confia no narrador. Reconhece-o como


confiável. É sempre assim na narração bíblica: o leitor adere à
narrativa do narrador, ao seu sistema de valores. E, quando o
narrador dos livros dos Reis faz a triagem entre os reis que
agradam a Deus e aqueles cujas ações não agradam a Deus, o
leitor aceita. (MARGUERAT; BOURQUIN, 2009, p. 22,23).

Posso citar como exemplo as avaliações de quatro reis do Israel Norte, os


reis da dinastia omrida (1 Reis 16.25; 16.30; 22.53 e 2 Reis 3.2). A fórmula
avaliativa se repete a todos os demais reis do Israel Norte, anteriores e
posteriores, mas estes que formam a dinastia omrida foram os que receberam
as piores avaliações.
Mas não é isso que a arqueologia atual tem nos mostrado. Com o avanço
das pesquisas arqueológicas pode-se enxergar outra realidade do Israel Norte, o
outro lado da história, o que não foi contado pelos narradores deuteronomistas.
41Sobre “monoteísmo” veja REIMER, Haroldo. Inefável e sem Forma: Estudos sobre o
monoteísmo hebraico. São Leopoldo: Oikos; Goiânia: UCG, 2009.
144

Os omridas foram grandes governantes e empreendedores. Os projetos de Omri


foram mais ousados que os de Judá, no sul. O desenvolvimento do Israel do
Norte aconteceu mesmo diante do expansionismo arameu, de Damasco, e do
avanço assírio de Assurnasírpal II (883-859 AEC). Em suas relações
internacionais, Israel Norte fez alianças com a Fenícia, tornando-se parceiros no
rendoso comércio marítimo internacional a partir do Mediterrâneo (SIQUEIRA,
1997, p. 95,96).
Ao contrário do que é narrado na história bíblica, os omridas foram grandes
monarcas. O reino de Israel Norte se expandiu ao norte até a região de Dan, ao
oeste até o mar, e ao leste e sudeste dentro das terras de Moab, território
transjordaniano. Estes dados são confirmados em fontes extra bíblicas, como a
Estela de Dan e a Estela Moabita. Além disso, Omri e Acab realizaram obras
monumentais, testificadas pela arqueologia tanto em Samaria quanto em
Megiddo e Ḥazor. Até hoje a arquitetura do sítio de Samaria impressiona tanto
arqueólogos quanto visitantes (ROCCA, 2008, p. 145-148.).
Os autores deuteronomistas dos livros dos Reis tiveram a intenção de
esconder a história do Israel Norte, para favorecer os ideais culturais e religiosos
de Judá. O fato de nas avaliações dos reis os reis do Norte serem todos ruins
mostra que o texto foi uma construção ideológica baseada no Templo de
Jerusalém. Como a história bíblica foi escrita e editada por autores de Judá,
depois do fim do reino do Israel Norte, o sul foi favorecido.
Para Nelson (1981, p. 36-40), em sua obra The Double Redaction of the
Deuteronomistic History, o texto dos Reis dev ter sido editado a partir do período
de Josias, quando foram editadas as avaliações dos reis com a anulação total de
Israel Norte. Mesmo assim, ele afirma que ainda pode ter havido outro editor
exílico trabalhando no texto, principalmente na segunda metade do livro de 2
Reis. Segundo Nelson, existe muita semelhança nos relatos e duplicações de
texto com pouca modificação entre eles.
A discussão acerca da redação deuteronomista e acerca da própria
datação do movimento deuteronomista tem gerado muitos questionamentos e
levantado muitas dúvidas, principalmente por parte dos minimalistas. Segundo
Römer, é inevitável, ao se estudar a Bíblia, não se deparar com a hipótese da
Obra Historiográfica Deuteronomista. Para ele, os livros de Deuteronômio e Reis
constituem uma unidade redacional elaborada durante o exílio babilônico, que os
145

livros dos reis são uma intepretação teológica da história e não uma
interpretação estritamente histórica (RÖMER; PURY; MACCI, 2000, p. 24-25).
Esta acirrada discussão a respeito da datação do livro dos Reis é de longa
data, e atualmente, com os novos paradigmas arqueológicos surgindo e se
estabelecendo, os exegetas e historiadores bíblicos estão reavaliando suas
posições e outros já mergulharam na nova visão da história bíblica. Segundo
Kaefer, autor das introduções aos livros históricos da Nova Bíblia Pastoral, os
livros dos Reis e os de Samuel começaram a se formar entre as épocas de
Ezequias e Josias, quando Judá se torna um Estado desenvolvido,

Como se pode perceber, as divergências de opiniões nunca trouxeram


consenso entre exegetas e historiadores bíblicos acerca da datação dos livros
dos Reis, mas esta nova visão e através da nova cronologia proposta por
Finkelstein e seguida por Kaefer parece ser a mais plausível no momento,
porque possui provas consistentes arqueológicas, históricas e bíblicas. A
proposta apresentada pelos maximalistas, de que os textos dos Reis começaram
a ser escritos já durante a época de Salomão (séc. X AEC) ou a apresentada
pelos minimalistas, que negam totalmente a historicidade dos Reis e ainda os
datam no final do período helênico, na época dos Hasmoneus, não são
consistentes como parecem.
O texto dos Reis não pode ter sido escrito antes do séc. IX AEC, já que
Judá não passava de um Estado pequeno, sem muitos recursos e sem muita
expressão. Judá só se torna um Estado forte quando o Estado de Israel Norte
deixa de existir (FINKELSTEIN; SILBERMAN, 2003, p. 311-338). Também não
poderia ter sido escrito no final do período helênico, durante o governo
hasmoneu, porque com o achado das estelas de Dan e de Mesha, percebeu-se
que a semelhança das narrativas e a quantidade de detalhes referentes à época
da monarquia, não poderiam ter sido utilizados pelos reis Hasmoneus em seus
projetos de legitimação e poder (SCHMIDT, 207, p. 5-6, 12-14).
Com relação à datação é possível que os textos dos Reis tenham sido
editados no final da monarquia, entre o séc. VII e final do séc. VI AEC, ou em
torno do início do séc. V AEC. A corte de Judá precisava de uma narrativa
histórica para legitimar seu poder e a dinastia davídica, e para isto, editaram
ideologicamente as antigas histórias e tradições de Israel Norte, favorecendo
146

Judá e desqualificando Israel Norte, deixando-o como vilão, pecador e digno de


ter recebido os “juízos de Javé” com sua destruição em 722 AEC.

Considerações Finais

Por meio da análise exegética pode-se constatar que após uma


sequência de golpes de estado, Omri, general de Israel Norte, sobe ao poder em
Tirza. Havia nessa época conflitos contra os filisteus em Gibeton, nas
proximidades da cidade de Gezer, na fronteira sul de Israel Norte. A entidade
política de Israel Norte começou a se expandir e ocupar os vales férteis, e
chegou até as proximidades de Gibeton. Isto é um sinal de que a monarquia
estava num processo evolutivo que culminaria com a subida de Omri ao poder
em 884 AEC, primeira metade do séc. IX AEC.
Os conflitos contra os filisteus eram na verdade conflitos com o poder
egípcio, que estava enfraquecido em Canaan e perdendo territórios. Os filisteus
estavam guerreando em nome do Egito, ou pelo menos sob sua autoridade.
Omri sobe ao poder poucos dias depois de Zimri, general dos carros de guerra,
assassinar Elá, rei de Israel Norte. O exército proclama Omri como rei, e ele
sobe ao trono com o apoio do exército de Israel. A morte de Zimri e de Tibne são
misteriosas, embora seja possível que ambos tenha sido mortos por Omri.
Omri reina por seis anos em Tirza e constrói Samaria (1Rs 16.23-28). Não
é possível saber quanto tempo levou para construir Samaria, mas o texto diz que
no sexto ano de seu reinado, Omri muda a capital norte-israelita para Samaria,
reinado de lá por mais seis anos. A edificação de Samaria foi ponto central para
a expansão e estabelecimento da monarquia norte-israelita. As inovações
arquitetônicas, as construções monumentais, portões e muros de casamata
passaram a fazer parte das construções da dinastia omrida. A narrativa não
apresenta detalhes a respeito da construção de Samaria (1Rs 16.24), ao
contrário, apresenta de forma resumida e insuficiente, num único versículo,
mostrando total desprezo por parte do narrador.
Depois da morte de Omri, Acab sobe ao poder em Samaria. Sob seu
reinado, Israel Norte é elevado ao nível de potência regional, dominando
territórios e submetendo reinos vizinhos à vassalagem. Acab reina
independente, não há nenhum poder sobre ele. Mas esta não é a realidade
147

apresentada na narrativa. Acab é avaliado como o pior de todos os reis de Israel


Norte, e como se fosse pouco, o narrador diz que Acab fez ainda mais
abominações que todos os reis que vieram antes dele. Sua avaliação, como
vimos na análise exegética, é extremamente negativa pelo menos por quatro
motivos: 1. Casou-se com Jezabel, princesa fenícia; 2. Serviu a Baal e o adorou;
3. Edificou um templo e um altar a Baal em Samaria; e, 4. Fez uma Aserá em
Samaria (1Rs 16.29-33).
O acréscimo de oito versículos na LXX traz informações interessantes
sobre o comércio de ouro em Eilat, Ezion-Geber. A narrativa diz que Josafá fez
navios para Társis, para comercializar o ouro proveniente de Ofir, costa litorânea
oeste da Arábia. Esta é uma informação importante para a compreensão de até
onde chegou o domínio de Israel Norte sob o reinado de Acab. Josafá era
vassalo de Acab, e este colocou uma princesa omrida na corte de Judá, em
Jerusalém. Estas informações retiradas da exegese são muito úteis para a
construção e o prosseguimento da pesquisa sobre a formação do primeiro
Estado israelita.
148

Capítulo 3
O CONJUNTO LITERÁRIO SOBRE
A DINASTIA OMRIDA

Introdução: Os Reis Omridas (1Rs 16.23 – 2Rs 11.13)


Os livros bíblicos de 1 e 2 Reis formavam um único livro na Bíblia Hebraica.
A LXX apresenta estes livros como  (1, 2, 3 e 4Reinos)
sendo  (1 e 2 Reinos = 1 e 2 Samuel) e  (3 e 4
Reinos = 1 e 2 Reis)42. Primeiro e Segundo Reis como um único livro pode ser
visto nos códices hebraicos massoréticos medievais, como o códice de
Leningrado B19a43 e o de Alepo (A)44. As edições impressas da Bíblia Hebraica
também apresentam 1 e 2 Reis como um único livro, diferenciando, porém, na
numeração dos capítulos, mantendo de certa forma, os padrões atuais, como
nas edições da Biblia Hebraica de Ginsburg (1894, p. 672), Biblia Hebraica
Leningradensia (DOTAN, 2001), Biblia Hebraica Stuttgartensia (ELLIGER, 1977,
p. 617) e no Antigo Testamento Interlinear Hebraico-Português (FRANCISCO,
2014, p. 511).
Estes livros bíblicos têm como objetivo contar uma história linear do
período da monarquia, desde a morte de Davi até o exílio para a Babilônia
(BROWN, 2004, p. 71-72; GABEL e WHEELER, 1990, p. 52-53). Esses livros,
apesar de apresentarem características de uma narrativa histórica, há
questionamentos acerca de sua historicidade, já que o texto apresenta tendência
em interpretar os fatos históricos religiosamente sob fortes influências da
historiografia deuteronomista (FINKELSTEIN, 2015, p. 107-109; FINKELSTEIN,

42 Conferir edição de RAHLFS, Alfred (ed.). Septuaginta: Id est Vetus Testamentum graece iuxta
LXX interpretes. vols. 1 e 2. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1979.
43 Cf. edição Facsímile do Códice de Leningrado em https://archive.org/details/Leningrad_Codex
44 Veja o fac-símile do Códice de Alepo em www.aleppocodex.org
149

2003, p. 27-28, 304-307; RÖMER, p. 100-108; FOHRER e SELLIN, 2007, p.


323-324; VON RAD, 2006, p. 326).
Desta forma, é possível entender o porquê que todos os reis nortistas
foram avaliados negativamente pelos redatores do livro, enquanto que a maioria
dos reis sulistas recebeu avaliação positiva dos seus reinados. Grandes trechos
narrativos estão reservados para alguns reis, como Davi e Salomão (1Rs 1.1 –
11.43) no Sul e a dinastia de Omri no Norte (1Rs 16.15 – 2Rs 11.25), apesar de
os editores avaliarem de forma extremamente negativa a dinastia omrida.
A influência dos historiadores deuteronomistas é percebida através de toda
a narrativa. Eles, ao que parece, aproveitaram as narrativas e tradições já
existentes em sua época, retrabalharam estas narrativas e as colocaram numa
ordem cronológica, fazendo ajustes conforme sua ideologia (VON RAD, 2006, p.
326; FOHRER e SELLIN, 2007, p. 323-324). A redação deuteronomista fez
ajustes e compôs pequenos textos narrativos em estilo e linguagem própria, aos
quais Rendsburg atribui uma característica linguística denominada por ele como
JH, Judahite Hebrew [hebraico judaíta] (RENDSBURG, 2002, p. 17-25).
Segundo Savran (1997, p. 163), na obra Guia Literário da Bíblia, os livros
de 1 e 2 Reis estão organizados em três seções distintas: 1. A Monarquia Unida;
2. A história sincrônica dos reinos divididos; e, 3. Os eventos subsequentes
desde a queda de Samaria/Israel Norte até a queda de Jerusalém/Judá. Ele
apresenta um esquema quiástico interessante dos livros dos Reis, o qual mostra
que a história sobre a dinastia omrida está colocada na parte central dos livros,
entre 1Rs 16.15 e 2Rs 12.
De fato, esta seção é desproporcional em relação ao restante do livro. São
dezoito capítulos para quarenta anos de reinado. Tem mais capítulos que a
narrativa da história de Salomão e a Monarquia Unida, que somam onze
capítulos. O ponto central dos livros dos Reis, conforme Savran, é 2Rs 2, que
compreende a ascensão de Elias e a sucessão de Eliseu, colocando uma
continuidade profética até o final da dinastia omrida (SAVRAN. 1997, p. 164).
O deuteronomista não estava interessado em apresentar as realizações
dos reis, se eles foram reis competentes, se governaram de forma justa ou
injusta. Não estavam interessados no desenvolvimento econômico e cultural que
determinado rei realizou, mas somente nas suas faltas que provocaram a ira de
150

Javé, as quais teriam sido o motivo da queda de Israel, e posteriormente de


Judá (RÖMER, 2008, p. 154-155).
Num primeiro momento, o bloco literário sobre a dinastia omrida pode ser
dividido em cindo partes, conforme a narrativa para cada rei, as quais estão
organizadas de modo praticamente cronológico, como segue: Omri (1Rs 16.15 –
28), Acab (1Rs 16.29 – 22.40), Acazias (1Rs 22.52 – 2Rs 1.18), Jorão (2Rs
3.1 – 9.29) e Atalia (2Rs 11.1 – 25). Esta dinastia reinou entre os anos de 884-
836 AEC, sobre Israel Norte e em Judá (FINKELSTEIN e SILBERMAN, 2003, p.
235).

1. Omri e a Fundação de Samaria (1Rs 16.15 – 28)


Conforme a narrativa deuteronomista de 1Rs 16.15-28, antes de ser rei de
Israel Norte, Omri (rIm.[,' LXX: Ambri) foi general do exército de Elá, rei de Israel,

filho de Baasa (1Rs 16.8-14). Elá subiu ao trono de Israel depois da morte de
seu pai Baasa (14.8). É possível que Omri tenha sido também general quando
Baasa ainda era rei de Israel Norte, devido ao curto período de reinado de Elá,
apenas dois anos (14.8). Segundo a narrativa, Omri estava com o exército diante
de Gibeton, cidade filisteia, e Elá ficou em Tirza.
A narrativa diz que um dos comandantes dos carros de guerra chamado
Zimri, não foi para o cerco em Gibeton, em vez disso, ficou em Tirza (16.9). Zimri
planejou um golpe para tomar o trono de Elá, e aproveitou que o rei estava na
casa de um mordomo bebendo, e o matou (16.10), assumindo o trono de Israel
em Tirza. Mas Zimri teria realizado este golpe sem o apoio do exército, o que
ocasionou numa crise. É nesse momento que Omri, o general do exército de
Israel Norte, entra na história de Israel.
Omri é aclamado rei pelo exército e marcha para Tirza para encontrar
Zimri. O exército sitia Tirza, a narrativa diz que Zimri se esconde no palácio. O
texto bíblico não informa, mas possivelmente tenha sido Omri e seu exército que
incendiou o palácio e matado Zimri.
Um personagem surge na história, Tibne. Ele não tinha sido citado na
narrativa, só aparece em dois versículos, como um forte concorrente ao trono de
israel. Contudo, parece que consegue fazer com que metade do povo de Tirza o
seguisse. Tibne morre repentinamente (1Rs 16.22). O texto não dá nenhum
151

detalhe sobre como ele morreu, deixando um mistério sobre sua morte.
Possivelmente, ele tenha sido morto por Omri, ou pelo seu exército (SIQUEIRA,
1997, p. 99). Omri sobe ao trono de Israel Norte, em Tirza, de onde reina seis
anos. Durante esse período, Omri compra uma colina ao oeste de Tirza, no final
do vale que liga a costa litorânea, perto de Dor, até Siquém, uma rota comercial
importante leste-oeste. Já que ligava a Estrada do Rei, no extremo leste de seu
território à Via Maris, rota comercial que passava pelo litoral. Estas rotas
comerciais traziam e levavam produtos para o porto de Dor e para o comércio
com a Fenícia.
Omri compra a colina de Semer e constrói nela a nova capital do novo
reino de Israel Norte, Samaria (1Rs 16.24). O livro dos reis menciona a fundação
de Samaria em apenas um versículo, de modo extremamente reduzido,
mostrando tamanho desprezo por parte dos compiladores e editores do livro.
Logo após a menção à fundação de Samaria, a narrativa é interrompida
bruscamente para dar lugar às avaliações do reinado de Omri. De Omri é dito
que ele foi o pior dos reis que até o momento e foi acusado de seguir o mesmo
caminho mau de Jeroboão (1Rs 25-26). A narrativa acerca de Omri termina no
v.28, dizendo que Omri morreu e foi sepultado em Samaria, e que Acab, seu
filho, passou a reinar no lugar dele.

2. O Reinado de Acab (1Rs 16.29 – 22.40)


A narrativa sobre o reinado de Acab (ba'x.a,; LXX: Acaab) começa com um

breve resumo, um sumário (1Rs 16.29-33). Neste sumário estão temas que
foram abordados na análise exegética do capítulo 3. Acab é avaliado de forma
extremamente negativa, sendo chamado de o pior de todos os que foram antes
dele (1Rs 16.30), e ainda mais, o avaliador diz que como se isso fosse pouco
(ter sido o pior de todos), ele ainda se casou com Jezabel, uma princesa sidônia
(Fenícia) e é acusado de ter servido a Baal (1Rs 16.31). Além disso, Acab é
acusado de ter levantado um altar a Baal no templo de Baal que ele mesmo
tinha edificado em Samaria, e também de ter feito uma Aserá (RÖMER, 2005, p.
18). O avaliador diz que Acab cometeu mais abominações do que todos os que
reinaram antes dele (1Rs 16.32-33).
152

A partir de 1Rs 17 a narrativa dos omridas vai sendo intercalada com o


ciclo de Elias-Eliseu, numa disputa profética entre Elias-Eliseu e os reis omridas.
O mais notável é que desde então, a narrativa passa a fornecer muitas
informações importantes sobre o território e a religiosidade de Israel Norte.
Segundo Finkelstein (FINKELSTEIN, 2015, p. 132; veja também
SCHNIEDEWIND, 1996, p. 83-85), o ciclo de Elias-Eliseu (1Rs 17 – 2Rs 13.25)
apresenta material genuíno sobre o reino de Israel Norte, quando ela se refere a
Jezreel, ao fim da dinastia omrida e ao ataque de Hazael contra Israel.
O fundo geográfico do ciclo de Elias-Eliseu durante o governo de Acab é
relativamente bem detalhado. A narrativa gira em torno de Jezreel, próximo a
Megiddo. Jezreel45 ocorre 4 vezes durante o período de Acab, em 1Rs 18.45,46
quando Acab vai para seu palácio em Jezreel depois do evento do monte
Carmelo, e em 21.1,23 no episódio da vinha de Nabote. É interessante que no
ciclo de Elias Eliseu, as cidades da Galileia e da Alta-Galileia não aparecem.
Elias, no período de reinado de Acab, teria circulado somente do Vale de Jezreel
para o sul e para o leste, na Transjordânia. A única cidade/fortaleza na região da
Galileia seria Afec46, que possivelmente seja ‘En Gev, na margem leste do Mar
da Galileia, e palco de confrontos entre Aram e Israel (FINKELSTEIN, 2015, p.
134). As localidades que estão no Vale de Jezreel, são: Sunén (Sulam)47,
Megiddo48, Bet-Hagan49 (Jenin?), Monte Carmelo50 e Ibleam51, a leste do Vale
de Dotan52.
Temos citações de cidades na região central, como: Samaria53, a capital do
reino de Israel Norte, Baal-Salisa54, Betel, Gilgal e, Gezer e Jericó fechando a

45
Jezreel ( la[,r>z>yI
, LXX: Iezrael) ocorre 25 vezes em todo o ciclo de Elias-Eliseu: 1Rs 18.45,46;
21.1,23; 2Rs 8.29(2x); 9.10,15(2x), 16,17,30,36,37; 10.6,7,11.
46 qpea], LXX: Afeka) ocorre três vezes: 1Rs 20.26,30; 2Rs 13.17.
Afeca (
47
Suném (~nEWv, LXX: Souman) ocorre duas vezes: 1Rs 18.45 (?); 2Rs 4.8.
48
Megiddo (ADgIm., LXX: Mageddwn) ocorre somente uma vez: 2Rs 9.27.
49 Bet-Hagan (!G"+h; tyBeä, LXX: Baiqaggan) ocorre uma vez: 2Rs 9.27;

50 Referências ao Monte Carmelo (lm,(r>K;h; rh:ï, LXX: o;roj to. Karmh,lion) ocorre cinco vezes:

1Rs 18.19,20,42; 2Rs 2.25; 2Rs 4.25.


51 Ibleam (~['l.b.yI
, LXX: Ieblaam) ocorre uma vez: 2Rs 9.27.
52 Dotan (!t'Do, LXX: Dwqai?m) ocorre uma vez: 2Rs 6.13.

53 Samaria (!Arm.vo, LXX: Semerwn) ocorre trinta e seis vezes: 1Rs 18.2; 20.1,10,17,34,43;
21.1,18; 22.10,37,38,52; 2Rs 1.2,3; 2.25; 3.1,6; 5.3; 6.19,20(2x),24,25; 7.1,18;
10.1(2x),12,17,35,36; 13.1,6,9,10,13;
153

fronteira de Israel Norte com Judá. São doze menções a Samaria durante a
história de Acab, primeiro quando Elias se apresenta a Acab em 1Rs 18.2,
quando ele diz para Acab reunir todos os profetas de Baal e de Aserá no topo do
monte Carmelo. A próxima ocorrência de Samaria aparece somente no capítulo
20, num primeiro confronte com Ben-Hadad, rei de Damasco, quando este teria
sitiado Samaria e guerreado contra ela. O texto diz que Acab derrotou os
arameus, mas não matou Ben-Hadad, ao contrário, teria feito uma aliança com
ele. O texto diz que Ben-Hadad iria devolver as cidades que eram de Omri, mas,
Acab é que teria tomado as cidades ao sudoeste de Aram e dominado este
território até os limites de Damasco, na região de Dan, Betsaida e ‘En Gev
(FINKELSTEIN, 2015, p. 133-135).
As demais ocorrências são no capítulo 21, num segundo conflito entre
Aram e Israel Norte. Acab e Josafá vão para a guerra em Ramot-Gilead, na
Transjordânia, a finalidade, conforme indica o texto parece ter sido proteger as
fronteiras ao sul de Damasco. Um ponto interessante do capítulo 21 é o
arrependimento de Acab (1Rs 21.27-29), que segundo Römer (2008, p. 155),
seria uma adição pós-exílica da história de Acab. Na última guerra que Acab
participa em Ramot-Gilead, Josafá é claramente submisso a ele. Inclusive se
vestir com as vestes reais durante a batalha no lugar de Acab (1Rs 22.30), se
fossem matar Acab matariam Josafá. Neste conflito, Acab é ferido e morre sobre
a biga real. No final deste capítulo, no v. 39 é mencionada a casa de marfim de
Acab, e diz que houve outras edificações de dele que não foram relatadas no
livro dos Reis.
As cidades de Betel55, Gilgal56 e Jericó57 são as cidades do centro-sul e sul
do reino de Israel Norte. Jericó era a fortaleza de fronteira, Gezer (que não é
citada no ciclo de Elias) ao oeste, guardando as fronteiras com Judá e com a
Filístia, e Jericó, guardando a fronteira com Judá, protegendo o fértil vale do
Jordão58. Gezer é uma das cidades com fortes características arquitetônicas dos

54 Baal-Salisa ( hv'liv' l[;B;, LXX: Baiqsarisa) ocorre uma vez: 2Rs 4.42.
55 Betel (lae-tyBe, LXX: Baiqhl) ocorre cinco vezes: 2Rs 2.2(2x),3,23; 10.29.
56 Gilgal (lG"l.G,I LXX, Galgalwn) ocorre duas vezes: 2Rs 2.1; 4.38 (Khirbat al Mafiar).

57 Jericó (AxrIy>, LXX, Iericw) ocorre cinco vezes: 2Rs 2.4(2x),5,15,18.

58 Jordão (!Der>y:, LXX, Iorda,nou) ocorre onze vezes: 1Rs 17.3,5; 2Rs 2.6,7,13; 5.10,14; 6.2,4;

7.15; 10.33.
154

reis omridas: a casamata, a plataforma, o palácio, edifícios públicos, o talude, o


fosso e armazém (veja capítulo 5). O texto menciona outras cidades
transjordanianas, como Tisbe “Listeb, ou Tal Mar Elias” (HADDAD, 2015, p. 52-
54), e Abel-Meolá59 “Tall al-Maqlub, Jordânia” (HADDAD, 2015, p. 49), no
planalto de Gilead, além de Ramot-Gilead60, já citada.
Temos depois disso, Sidon61 e Sarepta62, cidades da costa litorânea da
Fenícia. Isso sugere livre trânsito entre Israel Norte e Fenícia, possivelmente por
causa do casamento de Acab com Jezabel, uma aliança política e comercial. Daí
a narrativa ter colocado Elias em Sidon e em Sarepta, para socorrer a viúva no
período de fome (1Rs 17.8-24). Há também referências a Damasco63, duas
vezes durante o reinado de Acab, uma vez como uma ordem de Javé para ungir
Jeú como rei de Israel Norte, e a outra num acordo entre Acab e Ben-Hadad,
onde Ben-Hadad diz para Acab que lhe entregaria as cidades arameias e
fizeram um tipo de acordo comercial. O texto de 1Rs 20.34 usa o vocábulo
tAcWx, traduzido por “ruas”, “lado de fora” ou uma espécie de casa comercial”.
Se for isso, Acab teria certo poder de influência sobre Ben-Hadad também em
Damasco, não só com o comércio, mas por ter edificações nela. Porém, Acab
não chegou a conquistar Damasco, pois não existem comprovações
arqueológicas para isso, entretanto, é possível comprovar arqueologicamente
que ele expandiu suas fronteiras até as proximidades ao sul da capital síria.
Em Judá, o ciclo de Elias-Eliseu fornece uma indicação importante, que
depois pode ser comprovada através da arqueologia, o domínio de Israel Norte
sobre Judá e a cidade fronteiriça de Beerseba64. A tradicional cidade dos
patriarcas Abraão e Isaque (Gn 21.14, 31; 22.19; 26.23,33), foi cidade norte
israelita no período dos reis omridas. A arqueologia mostra que Beerseba só foi
fortificada com muros de casamata durante o séc. IX AEC, no período dos reis
omridas (GRABBE, 2007, p. 62-63). A cidade é citada uma única vez no ciclo de

59 hl'Axm. lbea', LXX, Abelmaoula) ocorre uma vez: 1Rs 19.16.


Abel-Meloáh (
60 Ramot-Gileade (d['l.GI tmor, LXX, Remmwq Galaad) ocorre onze vezes: 1Rs 22.3,4,6,
12,14,20,29; 2Rs 8.28; 9.1,4,14
!Adyci
61 Sidon ( , LXX: Sidwni,aj) ocorre uma vez: 1Rs 17.9.
62 Sarepta (tp;r>c', LXX: Sarepta) ocorre duas vezes: 1Rs 17.9,10.
63 Damasco (qf,M,D;, LXX: Damasko,j) ocorre cinco vezes: 1Rs 19.15; 20.34; 2Rs 5.12; 8.7,9.

64 Beerseba ([b;v, raeB., LXX: Bhrsabee) ocorre uma vez: 1Rs 19.3.
155

Elias-Eliseu (1Rs 19.3), quando Elias foge de Jezabel e caminha até Beerseba.
Sem levar em conta o caráter ficcional da narrativa, a menção a Beersheba e o
livre acesso entre as fronteiras Israel Norte e Judá, contribuem com a ideia de
que Judá estivesse sob o domínio de Israel Norte.
Acab construiu um palácio em Jezreel (1Rs 21.1), somando, portanto, dois
palácios principais, um em Samaria e outro em Jezreel. Jezreel tinha arquitetura
semelhante à de Samaria, o que é atestado pela arqueologia (FINKELSTEIN,
2015, p. 119-121; MAZAR, 2003, p. 393). Jezreel foi palco da trama e
apedrejamento de Nabote (1Rs 21) e do assassinato de Jorão, rei de Israel,
pelas mãos de Jeú (2Rs 9). São atos condenados pelo profeta Oséias em Os
1.4. A narrativa dos Reis também fornece informações sobre edificações feitas
por Acab, como por exemplo, a ampliação do palácio e a casa de marfim que
teria construído em Samaria 1Rs 22.39. Os textos não fornecem maiores
detalhes sobre tais edificações realizadas por Acab, rei de Israel Norte.
A narrativa também informa acerca do poderio militar de Acab, como no
episódio em que Ben-Hadad se alia com trinta e dois reis e marcha contra
Samaria (1Rs 20). A narrativa diz que Acab saiu para a guerra com um exército
de sete mil homens (1Rs 20.15). A cidade de Afec onde ocorreram as batalhas
entre Aram e Israel Norte, possivelmente seja a região de ‘En Gev, a leste do
Mar da Galileia (FINKELSTEIN, 2015, p. 132). Na última batalha contra Ben-
Hadad em Ramot-Gilead, Acab e Josafá guerrearam contra um forte exército,
com trinta e dois capitães dos carros de guerra, isto indica que o exército de
Acab e Josafá teria carros de guerra e soldados a pé, de modo que tivesse
poder para enfrentar tamanho exército com êxito, mas, Acab foi ferido na guerra
e morreu no campo de batalha, sobre sua biga real, e foi enterrado em Samaria
(1Rs 22. 29-40).
Em 1Rs 22.41-51 está o resumo do reinado de Josafá, rei de Judá. É o
resumo clássico, com nome do rei, a idade que assumiu o trono, o nome da
mãe, se foi bom ou mau, seus atos, sua morte e seu enterro. O texto avalia
Josafá como bom, com uma ressalva, que ele não retirou os lugares altos
(tAmB'). O texto informa que ele manteve paz com o rei de Israel (v.45) e que

não havia rei em Edom, somente um governador (v.48). O v.49 diz que Josafá
fez navios para Társis, com a finalidade de comercializar o ouro vindo de Ofir,
156

mas que esses navios se quebraram em Ezion-Geber (Khirbet al-Kheleifeh). Isto


é uma memória do comércio de Acab em Ezion-Geber, não só de ouro, mas de
cobre. O resumo finaliza informando que Josafá fora enterrado na Cidade de
Davi (v.51).

3. O Reinado de Acazias (1Rs 22.52 – 2Rs 1.18)


Logo após a morte de Acab, Acazias (Why"z>xa
; ], Ocoziaj) assume o trono de Israel
Norte em Samaria (1Rs 22.52). A narrativa sobre o reinado de Acazias começa
com um breve resumo com a avaliação negativa de seu reinado (1Rs 22.52-54),
e assim termina o primeiro livro dos Reis, que originalmente, 1 e 2 Reis eram os
dois um único livro.
Assim que Acazias começa a reinar sobre Israel Norte, Moab levanta uma
rebelião contra o domínio israelita sobre ela, mas esta rebelião só é mencionada
no versículo primeiro (2Rs 1.1). Acazias teve um reinado curto. A narrativa diz
que ele teria sofrido um acidente em Samaria, caindo das grades de um quarto
alto e fica muito adoecido (2Rs 1.2). Elias surge na história acusando-o por ter
consultado a Baal-Zebube, deus de Ecrom. A morte de Acazias, nesta narrativa
é apresentada como um juízo de Javé, pronunciado através de Elias (2Rs 1.2-8).

4. O Reinado de Jorão (2Rs 3.1 – 9.29)


Jorão (~r'Ahy>, Iwram) é o último rei omrida a reinar em Israel Norte. A

narrativa sobre seu reinado já começa com uma avaliação negativa, um pouco
mais amena, porque ele teria removido a maṣṣebah de Baal (l[;B;h; tb;C.m;)
erguida por seu pai em Samaria. Porém, um dos pontos que pesou na sua
avaliação negativa foi que além de ter agido conforme os feitos de Acab e
Jezabel, e por ter seguido nos erros de Jeroboão I (2Rs 3.3).
A história da revolta de Moab volta para a narrativa (2Rs 3.4-27), agora
mencionando seu líder, Mesha, o rei de Moab. Esta é a mesma história contada
na Estela de Mesha, aqui na perspectiva de Israel Norte e na estela, na
perspectiva de Moab. A narrativa da revolta inicia informando o nome do rei de
Moab e o valor do tributo cobrado por Omri e Acab, reis de Israel Norte. Os
números são exagerados, mas enfatizam o alto valor dos tributos: cem mil
cordeiros e cem mil carneiros.
157

Jorão chama Josafá, que prontamente se dispõe. Josafá diz o seguinte


para Jorão: ^ys,(WsK. ys;îWsK. ^M<ß[;k. yMiî[;K. ^Am±k' ynIAmõK' “eu [sou] como tu, meu
povo como teu povo, meus cavalos como teus cavalos” (2Rs 3.7). A narrativa da
batalha contra Mesha diz que Israel derrota os moabita, uma versão diferente da
apresentada na estela de Mesha, onde Moab teria vencido Israel Norte. O texto
sugere que Israel teria vencido a batalha, logo após Mesha ter sacrificado seu
filho primogênito sobre o muro da cidade, mas não informa qual cidade, talvez
Dibon (2Rs 3.27).
Depois da narrativa sobre a revolta de Moab, por Mesha, há uma
sequência de quatro capítulos com pequenas histórias de Eliseu (cap. 4-7). São
pequenas histórias de milagres, prodígios e lendas proféticas (LONG,1991, 87-
88). Depois, a narrativa diz que Eliseu, em 2Rs 8.7-15 sobe até Damasco para
ungir Hazael como rei da Síria, que no dia seguinte, mata seu pai Ben-Hadad,
sufocando-o, e desta forma assumindo o trono em Damasco (2Rs 8.15).

5. Dois Reis em Israel Norte e em Judá com os mesmos Nomes


(2Rs 8.16-29)
A narrativa de 2Rs 8.16-29 narra um momento da história de Israel e Judá
em que reis com os mesmos nomes reinam no norte e no sul: Jorão e Acazias.
Durante um período de quatro anos, houve dois reis com o mesmo nome
reinando simultaneamente em Samaria e em Judá, Jorão. O editor
deuteronomista para tentar resolver o problema, teria mudado o nome de um

deles, omitindo a letra ‫ה‬. O nome de Jorão, rei de Israel Norte, que em toda a
narrativa anterior era ~r'Ahy> (Iwram), passou a ser ~r'Ay (Iwram); e o nome de
Jorão, rei de Judá, ficou como ~r'Ahy>. Na tradução ARA, o nome do rei de Judá
é transcrito como “Jeorão” e o do rei de Israel Norte “Jorão”, já na BJ ambos os
nomes são transcritos como “Jorão”. Jorão de Judá reinou por oito anos em
Jerusalém.
O rei Jorão, de Judá, também é avaliado negativamente. Um dos
argumentos para esta avaliação é que ele teria andado nos mesmos caminhos
dos reis de Israel Norte, seguindo o que fizera Acab. O texto bíblico fornece mais
uma informação sobre Jorão, que ele fora casado com Atalia (hy"l.t;[]) filha de
158

Omri (ou “de Acab”, veja LÓ, 2006, 55-57). Na opinião do editor deuteronomista,
Javé não destruiu Judá nessa época, porque havia prometido a Davi de lhe dar
sucessão para sempre em Jerusalém (2Rs 8.19, ver também 1Rs 11.36). Nesta
época uma série de rebeliões teria acontecido em Edom e Libna (2Rs 8.20-22).
A narrativa bíblica dá um final aparentemente mais brando para Jorão, dizendo
apenas que ele “se deitou com seus pais e foi sepultado” (2Rs 8.24).
Em seguida, assume o trono em Judá, Acazias filho de Jorão de Judá e
Atalia (2Rs 8.24,26). A transcrição do reinado de Acazias de Judá é curto, assim
como o relato sobre o reinado de Jorão de Judá; são no total cinco versículos
(2Rs 8.15-29). Ele reinou somente um ano em Jerusalém, foi avaliado
negativamente, por ter andado nos caminhos de Acab (v.27). Ele foi com Jorão
de Israel Norte guerrear em Ramot-Gilead contra Hazael, rei de Damasco. Na
guerra, Jorão é ferido e é levado para Jezreel, em seguida, Acazias de Judá vai
para Jezreel para ver Jorão, seu parente (v.29).

6. A Revolta de Jeú: o Extermínio da Dinastia Omrida (2Rs 9-10)


Enquanto Jorão e Acazias estão em Jezreel, explode a revolta de Jeú,
general de Israel Norte (2Rs 9). O profeta Eliseu é colocado no centro do golpe
que derrubaria a dinastia omrida. Jeú é ungido rei de Israel em Ramot-Gilead, e
Hazael é ungido rei de Damasco, pelo próprio Eliseu (2Rs 9.1-3).
A narrativa coloca Eliseu como já sabendo qual seria o juízo de Javé sobre
a dinastia omrida, porque teria ungido Jeú e Hazael ao mesmo tempo, com a
finalidade de exterminar os reis omridas. Obviamente que esta é uma narrativa
deuteronomista, tentando explicar o fim drástico da dinastia (2Rs 8.11-12).
Segundo a estela de Tel Dan, Jeú teria tomado o poder em Israel Norte apoiado
por Hazael, rei da Síria, que com a queda da dinastia de Omri, recuperou os
territórios antes dominados pelos omridas, e passou a dominar sobre Israel
Norte.
Jeú mata Acazias de Judá e Jorão de Israel Norte, depois extermina a
família real em Samaria. Mas Jeú não venceu os omridas sozinho,
possivelmente ele teria agido apoiado por Hazael. Com isso, Jeú assumiria o
poder em Samaria. Ele era de uma família poderosa que vivia no vale de
159

Jezreel. Segundo as inscrições encontradas em Tel Reḥov65, o avô de Jeú era


comerciante, produtor de mel. Isto foi confirmado através das escavações no
sítio, onde foi encontrado, além das inscrições, um grande apiário, e o nome
“Nimsi” foi encontrado em dois fragmentos de cerâmica (MENDONÇA, 2017,
veja também o capítulo 4).
Após ter matado a rainha Jezabel, Jeú teria trocado cartas com os anciãos
e chefes de Samaria (2Rs 10.1-8). Jeú pede a eles uma prova de sua fidelidade
a ele, ordenando que lhe enviassem as cabeças dos filhos de Acab para ele, em
Jezreel (2Rs 10.6). Quando os cestos com as cabeças dos filhos de Acab
chegaram em Jezreel, Jeú manda colocarem as cabeças no chão, em dois
montes, na frente do portão da cidade (2Rs 10.8).
Jeú ainda mata os da família real que estavam em Jezreel e segue para
Samaria. No caminho para Samaria ele encontra uns parentes de Acazias de
Judá, perto do poço de Bet-Equede, e matou a todos (2Rs 10.14). Em Samaria,
a narrativa diz que Jeú proclama uma assembleia com os sacerdotes de Baal e
convoca todos os adoradores de Baal para um sacrifício no templo de Baal, em
Samaria (2Rs 10.18-23). Depois que o holocausto foi realizado, Jeú ordena aos
seus capitães e soldados que matassem todos os adoradores de Baal e seus
sacerdotes (v.24-25). Os soldados entraram no templo e derrubaram suas
colunas e atearam fogo. O templo de Baal foi derrubado, inclusive a coluna de
Baal também fora derrubada. A narrativa diz que as ruínas do templo de Baal
serviu de latrinas até o dia que o texto foi escrito (v. 26-27). O editor
deuteronomista indica a ideia de que com este massacre, Javé vence Baal pelas
mãos de Jeú.
Esse massacre promovido por Jeú foi condenado pelo profeta Oséias, no
séc. VIII AEC, o qual fez uma denúncia por esta violência (Os 1.4).

E disse Javé para ele:


wyl'êae ‘hw"hy> rm,aYOÝw:
Chama o nome dele Jezreel,
la[,_r>z>yI Amàv. ar"îq. pois daqui a pouco
j[;ªm. dA[å-yKi visitarei o sangue de Jezreel sobre a
casa de Jeú,
aWhêyE tyBeä-l[; ‘la[,rz> >yI ymeÛD>-ta,
e farei cessar o reino da casa de Israel.

65 Para mais informações sobre as escavações em Tel Reḥov, veja: http://www.rehov.org/


160

yTiød>q;p'’W
`lae(r"fy. I tyBeî tWkßl.m.m; yTiêB;v.hi’w>

Jeú teve duas avaliações no livro de 2Reis, em 2Rs 10.30 ele tem
avaliação positiva por parte de Javé, por ter exterminado a casa de Acab; e no
v.31, ele teve uma avaliação negativa, por ter andado nos pecados de Jeroboão,
filho de Nebate. O texto não menciona as circunstancias da morte de Jeú, diz
somente que ele se deitou com seus pais e foi sepultado em Samaria (2Rs
10.36).
No período de Jeú, Israel Norte começou a perder território para a Síria, de
maneira que Hazael dominou toda a terra de Gilead e Moab, até o vale do Arnon
(2Rs 10.32-33). Durante o reinado de Joás, em Jerusalém, Hazael chegou até
Gat e a dominou, chegando até próximo de Jerusalém (2Rs 12.17-18).

7. Atalia: uma Rainha Omrida em Jerusalém (2Rs 11.1-3, 13-16)


Atalia (hy"l.t;[], Aqelia ou Goqolia), para o deuteronomista, foi uma

interrupção à dinastia davídica, uma rainha nortista da família dos omridas


reinando em Jerusalém. Para ele, ela era meio israelita, meio fenícia, não era
judaíta da família real de Davi (RÖMER, 2008, p. 156). Ela reinou primeiro como
esposa de Jorão, depois como rainha-mãe de Acazias. A narrativa bíblica diz
que, assim que ela soube que seu filho e sua família tinha sido exterminada por
Jeú, rapidamente extermina a descendência real de Judá, assumindo o trono em
Jerusalém (2Rs 11.1-3).
Quase nenhuma informação é fornecida pelo livro dos Reis sobre o reinado
de Atalia, e o texto que relata sua morte é maior que o relato do seu reinado.
Atalia reinou seis anos sobre Jerusalém, e no sétimo ano, o sacerdote Joiada
executou um golpe que tirou Atalia do poder. Ele ungiu Joás às pressas como rei
de Judá, sendo ele ainda uma criança (2Rs 11.4-12). Evidentemente que o
maior favorecido nessa história era o próprio sacerdote, que assumiria o poder
em Judá.
O golpe contra o reinado de Atalia e sua morte foi vista como uma vitória. O
texto bíblico não informa como foi o reino de Atalia, indica apenas que ela teria
construído um templo para Baal em Jerusalém (2Rs 11.18). O livro dos Reis não
161

apresenta motivos razoáveis que justificariam o golpe contra Atalia, apresenta


apenas dois motivos: 1. Motivo religioso, e 2. Interesses políticos por parte do
sacertode. Mas apesar de tudo isso, o mais interessante é ver como a dinastia
dos reis omridas conseguiram dominar Judá e depois subir ao trono em
Jerusalém.
O texto não informa o local de sepultamento de Atalia, mostrando total
desprezo a sua pessoa e a sua família. Atalia foi a única mulher a reinar em
Judá, e a única mulher a reinar em Jerusalém sem ser da dinastia davídica (2Rs
11.114-16).

8. Os Omridas e o Domínio sobre Judá em 1 e 2 Reis


Israel sempre foi mais poderoso que Judá. Israel Norte é verde, com
florestas e rios, Judá, é desértico, com poucos rios sazonais. Os vales férteis
daquela região, que eram desejados por grandes potências da época estavam
sob o domínio de Israel Norte. A única área fértil de Judá era a Sefelá, onde
estava o Vale de Elá, uma área sempre disputada pelos filisteus (SCHWANTES,
2008, p. 30-32). Israel Norte tinha a região da Alta e Baixa Galileia, o Vale de
Jezreel, o Vale do Jordão e a costa litorânea, todas regiões ricas com pastos
verdes para o gado e boas para o cultivo.
Quando Omri construiu Samaria ele também estava fundando a primeira
monarquia israelita (1Rs 16.15-28). E logo que Israel se tornou uma monarquia,
com prédios públicos, casamatas, palácios suntuosos e linguagem desenvolvida,
ele começou seu projeto de expansão. Jerusalém nessa época, séc. X e IX AEC,
era pequena e tinha cerca de mil habitantes. Jerusalém só se tornará uma
cidade importante com a queda de Samaria, momento em que a população de
Jerusalém para a ter cerca de quinze mil habitantes (FINKELSTEIN, 2003, p.
331).
As fronteiras entre Israel Norte e Judá estavam bem definidas, Gezer a
oeste, na fronteira com a Filístia e Judá e no lado leste, próximo a Jerusalém,
Jericó, que foi, segundo a narrativa, reconstruída na época de Acab (1Rs 16.34).
Israel Norte expandiu suas fronteiras para o planalto de Gilead, tendo Ramot-
Gilead como fortaleza de fronteira com a Síria, descendo para o sul seguindo a
Estrada do Rei até Aroer, no Vale do Arnon, toda a terra de Moab. O Domínio
sobre Judá proporcionou a Israel Norte do séc. IX AEC dominar parte do
162

território que seria Edom, especialmente a indústria de cobre de Khirbet en-


Nahas, próximo a Petra, e descendo mais ao sul, seguindo a Estrada do Rei até
Ezion-Geber, atual Eilat/Ácaba (1Rs 22.49).
Quando Acab assumiu o poder em Samaria, eram os últimos anos do
reinado de Asa, rei de Judá (1Rs 16.29). No período de Omri, fundador da
dinastia, o reino do Norte não tinha ainda dominado sobre Judá, mas já tinha
dominado Moab, a planície de Gilead, e o sul e sudoeste de Damasco, isto
conforme as estelas de Mesha e de Tel Dan. Quando Acab sobre ao trono,
quatro anos depois, Josafá assume o trono em Judá (1Rs 22.41), e é na época
de Josafá que Israel Norte domina o reino de Judá.
Isto é perceptível numa leitura mais atenta aos textos. Dentre as cidades
citadas no ciclo de Elias-Eliseu, está a cidade de Beerseba, no deserto sul de
Judá. Na narrativa, Elias tem livre acesso ao território de Judá, e parece não
haver mais fronteiras entre Israel Norte e Judá. Também as evidências
arqueológicas de Beerseba, com arquitetura típica dos reis omridas no séc. IX
AEC, fortalecem essa ideia.
Por outro lado, parece haver indícios de submissão por parte de Josafá, rei
de Judá com relação à Acab. Josafá prontamente se dispõe a ir à guerra com
Acab em Ramot-Gilead (1Rs 22.1-4), e se dispôs ainda a correr risco de morte,
ao aceitar ir para a guerra com vestes reais (1Rs 22.29-30). Porque ele faria isso
se não fosse subordinado a Acab? O texto diz que Josafá viveu em paz com
Israel (1Rs 22.45). O verbo traduzido por “viveu em paz”, é um hifil de ~lv, que
pode ser traduzido como “viveu em paz”, “fez a paz”, “estabeleceu a paz” ou
“entregou-se completamente” (HOLLADAY , 2010, p. 531).
Depois da morte de Acab, já na época de Jorão, rei de Israel Norte, Josafá
se dispõe a ir à guerra mais uma vez, mas agora contra Moab. É interessante
que na narrativa, Josafá diz para Jorão (2Rs 3.7) as mesmas palavras que tinha
dito a Acab em 1Rs 22.4.

1Rs 22.4 (Josafá diz para Acab)


laeêr"f.yI %l,m,-ä la, ‘jp'v'Ah)y> rm,aYOÝw: E disse Josafá para o rei de Israel:
^Am±k' ynIAmõK' Eu [sou] como tu [és],
^M<ß[;k. yMiî[;K. meu povo [é] como teu povo,
^ys,(WsK. ys;îWsK. meus cavalos [são] como teus cavalos.
163

2Rs 3.7 (Josafá diz para Jorão)


hl,[ê /a, rm,aYOwæ : E disse: Eu subirei.
^Am±k' ynIAmõK' Eu [sou] como tu [és],
^M<ß[;k. yMiî[;K. meu povo [é] como teu povo,
^ys,(WsK. ys;îWsK. meus cavalos [são] como teus cavalos.

Nestes dois versículos (1Rs 22.4 e 2Rs 3.7) Josafá diz que Israel Norte e
Judá são o mesmo. O povo de Judá era um com o povo de Israel Norte e o
poderio militar de Judá era um com o de Israel Norte. Acab casou sua filha Atalia
com Jorão, filho de Josafá (2Rs 8.18, 26). Tal casamento, por um lado, favorecia
Josafá, firmando uma aliança de preservação da família do rei de Judá e de
manutenção da paz entre os dois reinos, e, por outro lado, a dinastia omrida
entrava oficialmente no trono de Judá em Jerusalém (FINKELSTEIN, 2015, p.
136).
As citações do comércio marítimo em Ezion-Geber (Khirbet el-Kheleifeh),
atual Eilat/Aqaba, ajuda a mostrar como os omridas entraram dentro do reino de
Judá e chegaram até a extremidade sul, no Golfo de Aqaba. Em 1Rs 9.26-28 diz
que Salomão construiu navios em Ezion-Geber, e explorou o comércio de ouro
de Ofir. Em 1Rs 22.49, Josafá constrói navios de Társis junto com Acazias de
Israel Norte, para comercializar o ouro vindo de Ofir, mas seus navios se
quebraram em Ezion-Geber (ver também 1Cr 20.36). Portanto, conforme a
narrativa, o comércio marítimo de ouro em Ezion-Geber estava sob o domínio
dos reis omridas. Isto pode ser visto também nos achados arqueológicos em
Khirbet Kheleifeh, uma fortaleza omrida encontrada em Eilat (sobre isto, veja
capítulo 5).
Os omridas também controlaram a produção e o comércio de cobre (ou

bronze) em Khirbet en-Nahas (‫النحاس‬ ‫خربة‬, ḫirbet en-naḥas) no sul da atual


Jordânia, a noroeste de Petra. Embora não apareça explicitamente dentro da
história dos reis omridas em 1 e 2 Reis, temos outras fontes para basear esta
afirmação. Primeiro, o nome Khirbet en-Nahas, formado pelo vocábulo árabe

Naḥas (‫ )نحاس‬significa “cobre”. Em hebraico, a palavra equivalente a Naḥas

seria vx'n" (naḥaš), que significa “cobra” ou “serpente” (HOLLADAY, 2010, p.


164

333). O vocábulo hebraico para “cobre” é tv,xno > (nǝḥōšet), que contêm a raiz da
palavra cobra ou serpente vxn (nḥš).

Isto faz ligação direta com a tradição do êxodo, originária em Israel Norte
(FINKELSTEIN, 2015, p. 175-182). No texto de Nm 21.4-9, a narrativa da
serpente de bronze que Moisés teria feito no deserto, diz que o povo tinha
seguido pelo caminho do Mar Vermelho, possivelmente por Eilat e Aqaba. Diz a
narrativa que eles passaram a rodear a terra de Edom, e o povo ficou sem
paciência e falou contra Moisés, então Javé teria mandado serpentes (~yvix'n>)

para matar o povo. Moisés intercede pelo povo, e Javé lhe dá ordens para fazer
uma serpente de bronze (ou cobre), para que o povo, ao olhar a serpente,
ficasse curado.
Eles estavam, possivelmente, seguindo pela Estrada do Rei, ou nos seus
arredores, e passaram a rodear aquele território, na região de Petra, onde está
localizada a indústria de cobre (ou bronze) do séc. IX AEC. Esta deve ser uma
narrativa para legitimar a posse da indústria e do comércio do cobre. Esta
localização dada pela narrativa bíblica bate com a localização de Khirbet en-
Nahas, que está próxima da Estrada do Rei, ao sul do mar Morto, no antigo
território de Edom.

9. A Dinastia Omrida nos livros das Crônicas (2Cr 18.1 – 23.15)


Os livros das Crônicas são textos tardios, datados no final do período persa
e início do período grego, em meados do séc. IV AEC (LAMADRID, 2015, p.
134). Portanto, é necessário cuidado em sua análise, porque diferentemente dos
livros dos Reis, Crônicas não tem muito de historicidade em suas narrativas, já
que possui forte ideologia davídica desconsiderando, quase por completo, a
história de Israel Norte. Mesmo assim, o texto nos fornece algumas informações
interessantes sobre a dinastia dos reis omridas.
Estes livros, ao contrário dos livros dos Reis, apresentam a história da
dinastia omrida de modo ainda mais resumido e ainda mais negativo. As
Crônicas pretendem fazer um exame da história bíblica desde a criação dos
céus e da terra até a destruição do Templo e da cidade de Jerusalém, e
consequente exílio para a Babilônia. Tal texto exibe um recorte na historiografia
165

de Israel e Judá, deixando de lado toda a rica história de Israel Norte e dos seus
reis, privilegiando, desta forma, a dinastia davídica (TALMON, 1997, p. 393).
A história da dinastia omrida é contada nos livros das Crônicas em poucos
capítulos, do 18.1 ao 23.15, e está em meio às histórias dos reis de Judá:
Josafá, Jorão e Acazias. Os textos não mencionam localidades geográficas nem
das fronteiras territoriais de Israel Norte. A narrativa, com relação a localidades,
apenas menciona a batalha de Acab e Josafá contra os sírios em Ramot-Gilead,
onde Acab é ferido e morre, e a revolta dos moabitas e amonitas contra Judá
(2Cr 18.2-34 e 19.1-20.30).
A expressão verbal ^Am±k' ynIAmõK' ocorre três vezes na Bíblia Hebraica (1Rs
22.4; 2Rs 3.7; 2Cr 18.3), todas elas na boca de Josafá, quando responde a uma
pergunta de Acab ou Acazias, para ir guerrear na Transjordânia. O verbo com
partícula interrogativa %lEïteh] ocorre somente três vezes na Bíblia Hebraica (1Rs
22.4 d['_l.GI tmoår" hm'Þx'l.Mil; yTi²ai %lEïteh] “Irás comigo para guerra em Ramot-

Gilead?”; 2Rs 3.7 hm'_xl' .Mil; ba'ÞAm-la, yTi²ai %lEïteh] “Irás comigo para Moab para
guerra?”; 2Cr 18.3 d['_l.GI tmoår" yMiÞ[i %lEïteh] “Irás comigo para guerra em Ramot-
Gilead?”). É interessante perceber o uso da partícula yTiai nos textos dos livros
dos Reis, que parece indicar um dialeto do hebraico norte israelita, diferente do
que aparece em 2Cr 18.3, onde ocorre o uso da partícula yMi[.i o que pode

indicar um dialeto judaíta, do reino do Sul.


Nestes textos o cronista narra a história de Josafá e condena suas alianças
feitas com os reis nortistas. Em 2Cr 18.1-3 ele critica Josafá por ter se aliado
com Acab para ir à guerra em Ramot-Gilead. Esta crítica é enfatizada no
capítulo seguinte, quando o cronista coloca na boca de um vidente ( hz<x)o

chamado Jeú, uma condenação contra Josafá por ter ido guerrear com Acab, rei
de Israel Norte (2Cr 19.2).
Outra crítica acontece no resumo do reinado de Josafá, onde o cronista
condena Josafá por ter se aliado com Acazias, rei de Israel Norte, filho de Acab
(2Cr 20.35). A condenação continua no verso 36, dizendo que Josafá se uniu a
Acazias para fazer navios para Társis em Ezion-Geber. Por conta disso, um
profeta chamado Eliézer trouxe uma condenação severa contra Josafá, dizendo
166

que suas obras seriam destruídas e seus navios se quebrariam e não iriam para
Társis (2Cr 20.37).
Estas alianças com Acab e Acazias, reis de Israel Norte aconteceram,
conforme a narrativa, por iniciativa do próprio Josafá, rei de Judá. Isto pode ser
visto em 2Cr 18.1, na expressão hebraica ba'(x.a;l. !TEßx;tY. Iw: "e aparentou-se com

Acab”. Tal expressão possui um verbo que está na conjugação Hitpael, (!TEx
ß ;t.YIw:),
que indica uma ação reflexiva ativa, ou seja, a iniciativa de se aparentar com a
família de Acab partiu do próprio Josafá, como uma necessidade, uma maneira
de se manter no trono do reino de Judá.
O domínio de Israel Norte sobre Judá é perceptível, o que resultou em
fortes críticas por parte de seus videntes. Embora não seja a intensão do autor,
a narrativa hebraica mostra que Acab se manteve sempre na posição de
comando é ele quem dá ordens, ao passo que Josafá aparece sempre na
posição de submissão, acatando todas as ordens vindas de Acab.
Em 2Cr 18.3 Acab pergunta para Josafá d['_l.GI tmoår" yMiÞ[i %lEïteh] “Irás

comigo [para] Ramot-Gilead?”, e prontamente Josafá responde positivamente,


“Serei com tu és, o meu povo, como teu povo; iremos, contigo, à peleja”. O verso
anterior (18.2) mostra que o rei Acab teria persuadido Josafá a decidir
positivamente. O verbo aparece na conjugação hifil, que é um causativo, e indica
que Acab teria causado, de alguma forma, a resposta positiva de Josafá, como
se este tivesse sido obrigado a tomar essa decisão em ir à guerra em Ramot
Gilead.
Posteriormente, seus videntes fizeram severas críticas e condenações
contra Josafá por causa de sua submissão ao rei de Israel Norte, inclusive na
ordem dada por Acab a Josafá, para que se vestisse com as roupas reais no
meio da guerra, enquanto Acab permaneceria disfarçado (2Cr 18.29). Esta foi
uma decisão quase que suicida, já que o rei era o alvo principal numa guerra.
Apesar do disfarce, o rei Acab que estava disfarçado, morre em combate, e
Josafá, que estava trajando vestes reais, permanecera vivo (2Cr 18.33-19.1).
Jorão, filho de Josafá, assume o trono logo após a morte do pai (21.1). Sua
história é contada brevemente no capítulo 21, em vinte versículos. Jorão tinha
sete irmãos (21.2), mas assumiu o trono por ser o primogênito (21.3). É
interessante que o cronista diz, em 21.2, que Josafá era rei de Israel, não de
167

Judá. O texto apresenta Jorão como um rei ruim, que matou todos os seus
irmãos e é acusado de ter andado nos caminhos dos reis de Israel (21.4-6).
Outra acusação contra Jorão, é pelo fato de que sua esposa, Atalia, que era da
família dos omridas, o induzia a fazer o que era mau aos olhos de Javé (v.6). O
próprio profeta Elias teria escrito uma carta a Jorão, acusando-o de ter feito Judá
se prostituir religiosamente, conforme Acab e seus sucessores teriam feito em
Israel Norte (v.12-13).
Como castigo, Javé o teria ferido com uma enfermidade incurável (v.18), a
qual se agravou num período de dois anos e ele morreu com grandes agonias
(v.19). O cronista diz que o povo não lamentou sua morte, como haviam feito
com seu pai, Josafá. Diz também que Jorão morreu “sem deixar saudades”, e
que foi sepultado na cidade de Davi, mas não nos sepulcros reais (v.20).
Acazias assume o trono de Judá em Jerusalém no lugar de Jorão, seu pai.
Sua história é contada em nove versículos (22.1-9). Tal brevidade mostra o
desprezo do cronista por sua história. Acazias era filho de Jorão com Atalia, que
no v.3 é chamada de filha de Omri. Acazias é acusado de seguir os caminhos da
casa de Acab, que influenciado por sua mãe, Atalia, que seguia os conselhos de
Jezabel sua mãe, agia perversamente (v.3).
Acazias vai à guerra com Jorão, rei de Israel Norte, em Ramot-Gilead,
contra Hazael, rei da Síria (v.5). Jorão é ferido e Acazias o acompanha até
Jezreel. O cronista diz que esta foi a vontade de Deus, que Jorão fosse ferido e
Acazias o acompanhasse até Jezreel, porque lá Jeú executaria o juízo de Deus
contra a casa de Acab, matando Jorão, rei de Israel Norte e Acazias, rei de Judá
(22.7-9).
Quanto a Atalia, a narrativa sobre sua morte (23.12-15) é mais extensa que
a narrativa de seu reinado (22.10-12). Atalia é vista ainda com maior desprezo
pelo narrador cronista, porque ela é vista como uma interrupção no governo da
dinastia davídica sobre Judá e Jerusalém. Ela é vista como usurpadora, quando
ao saber que seu filho, Acazias tinha sido morto por Jeú, decide exterminar os
descendentes da “casa de Judá” (22.10).
Na tomada do poder em Jerusalém e na coroação de Joás como rei de
Judá, o sacerdote Joiada dá ordem aos seus capitães que levem Atalia e a
matem fora do Templo de Jerusalém, e eles vão e executam suas ordens
168

(23.14-15). Com a morte de Atalia, rainha da dinastia omrida, o cronista diz que
o povo da terra e a cidade de Jerusalém havia ficado tranquila, porque Atalia
tinha sido morta à espada (23.21). O casamento de Atalia com Jorão, o reinado
de seu filho Acazias, e o reinado dela em Jerusalém, mostram que os omridas
estavam no domínio de Judá, mesmo que o cronista tente não mostrar
claramente isso.
É nítida a avaliação negativa e o total desprezo à dinastia omrida. 1. Omri é
citado somente uma vez (2Cr 22.2) na narrativa sobre Acazias de Judá; 2. A
fundação de Samaria não é mencionada nas Crônicas; e, 3. As histórias de
Acab, Acazias e Jorão, são contadas à sombra das histórias de Josafá, Jorão e
Acazias, reis de Judá. O cronista inverte a ordem de quem era o dominador,
colocando Judá como dominante e Israel como inferior e fraco.

10. O Domínio da Transjordânia


Israel Norte dominou as terras a leste do Jordão e ao sul de Damasco.
Todo o território atribuído às tribos de Gad, Rubem e Manassés (leste) foi o
território dominado pelos reis da dinastia omrida no séc. IX AEC. Muitas das
cidades citadas na caminhada pelo deserto descritas em Números e
Deuteronômio, nos territórios de Edom, Moab e Gilead, são as cidades
ocupadas por Israel Norte no séc. IX AEC. Também, na narrativa da conquista
da terra, das tribos que solicitaram ficar nas terras da Transjordânia, refletem a
realidade do séc. IX AEC.
Parte das cidades citadas nestes livros bíblicos são citadas na Estela de
Mesha (ver capítulo 5). Esta estela forneceu importantes informações sobre o
domínio omrida no território da Transjordânia, especialmente no planaldo de
Madaba. Estas cidades são mencionadas no final da narrativa da caminhada do
Êxodo, que teve seu percurso final seguindo a Estrada do Rei, passando pela
região de Edom, Moab e Amon. Todo o período dos reis da dinastia omrida foi
de dominação em Moab. O principal objetivo desta dominação, era além da
cobrança de tributos, o controle da principal rota comercial entre o Egito e a
Mesopotâmia.
A política expansionista dos reis omridas foi intensa, se estendeu para as
direções norte-sul e leste-oeste. Há várias histórias e lendas bíblicas que se
passam no planalto da Transjordânia, na região de Gilead, como a história de
169

Jefté, considerado um dos juízes israelitas, cujo antepassado tinha o nome de


Gilead (Jz 11). Também o ciclo de Jacó, importante tradição bíblica que tem
parte de sua história nas terras altas da Transjordânia.
Os omridas, principalmente Acab, dominaram reinos e ocuparam territórios.
Os livros dos Reis não fornecem muitas informações sobre os territórios
ocupados pelos omridas nem sobre os reinos dominados por eles, as
informações ou não existem ou são incipientes. O domínio dos territórios ao sul
de Damasco pode ser visto na narrativa de 1Rs 20.1-43, que apesar de não
mencionar os nomes das cidades, ela diz que havia cidades ao sul de Damasco
que foram ocupadas pelos reis omridas (1Rs 20.34). Neste texto Ben-Hadad diz
que iria devolver para Acab as cidades que o pai dele tinha tomado de Omri:

byviªa' ^ybiøa' tae’me •ybia'-xq;l'-( rv,a] ~yrIå['h, wyl'‡ae rm,aYOæw:


“E disse para ele: As cidades que meu pai tomou de teu pai, farei retornar”

Mas sabe-se que era o contrário, Omri e Acab é que tinham tomado as
cidades do sul da Síria, e quando Acab firmou uma aliança com Ben-Hadad,
poupando-lhe a vida, teria autorizado Acab a edificar praças de comércio (#Wx)66

em Damasco (1Rs 20.34b). A Estela de Tel Dan confirma parcialmente esta


hipótese, pois Hazael diz que os omridas ocuparam as terras de Ben-Hadad
antes dele se tornar rei, e que ele teria recuperado suas terras, bem como suas
cidades, na ocasião da revolta de Jeú (2Rs 8.7-15; 9.1-29). Essas terras seriam
as terras do sul de Damasco, não exatamente a capital síria.
Os territórios ocupados de Moab aparecem em 2Rs 3.4-27, onde diz que o
rei Mesha se Moab pagava altos tributos para os reis omridas, principalmente

66 #Wx (substantivo absoluto masculino). Seu significado básico é “rua” ou “praça”. Holladay
concorda com esse significado, e acrescenta outros dois: “fora” e “campos abertos” (HOLLADAY,
2010, p. 139). Kirst (et.al.) apresenta os mesmos seignificados que Holladay (KIRST et.al., 2004,
p. 65). O dicionário de Harris (et.al.), apresenta a possibilidade de traduzir como “bazares”,
trazendo um sentido comercial para o vocábulo (HARRIS et.al., 1998, p. 443). Cline sugere os
mesmos sentidos apresentados por Holladay, e diz que talvez signifique também “bazar”, dando
conotação comercial assim como Harris (CLINE, 2009, p. 110). A Bíblia ARA traduz por
“bazares”, já a BJ e a NBP traduz por “mercados”. O ATI optou por traduzir como “ruas”. Nesta
pesquisa, preferi traduzir por “praças de comércio”, pois parece fazer mais sentido neste caso.
De acordo com este texto de 1Rs 20.34, a palavra hebraica #Wx parece ter um sentido mais
amplo, e Ben-Hadad, conforme a narrativa, parece entregar para Acab o comércio de Damasco.
170

para Omri e Acab, mas, na época de Jorão, rei de Israel, Mesha, rei de Moab, se
revoltou contra o domínio de Israel Norte e recuperou seus territórios. Em 2Rs
3.9 diz que Josafá, rei de Judá, e o rei de Edom, foram para a guerra junto com
Jorão, rei de Israel Norte. Isto também mostra o domínio norte-israelita sobre
Judá e sobre Edom. O texto dos Reis não menciona o nome das cidades
ocupadas por Israel Norte, mas a Estela de Mesha fornece mais detalhes sobre
essa ocupação em Moab.

11. O Território Omrida na Transjordânia no livro de Juízes (Jz


11.12-22)
O livro de Juízes faz parte de um grupo de livros chamados de Obra
Historiográfica Deuteronomista (OHD) abrange os livros bíblicos de Josué a
Reis. A OHD obra foi compilada no período final da monarquia judaíta, entre o
séc. VII-IV AEC (RÖMER, 2008, p. 54-55), e se fortaleceu no pós-exílio. No caso
do livro de Juízes, o deuteronomista pretende apresentar uma história linear do
período chamado “tribal” até os dias próximos à monarquia. A impressão que o
leitor tem ao ler estes textos é que a história bíblica está organizada de forma
cronológica e histórtica, e que sempre o monoteísmo sempre existiu em
Israel/Judá, sendo Javé a única divindade. O leitor também tem a visão de que
Jerusalém sempre foi a cidade que Javé escolheu como sua habitação, ou a que
ele escolheu para habitar. O final da história deuteronomista coincide com o final
dos últimos versículos do livro dos Reis (2Rs 25.27-30), mostrando uma época
tardia para sua compilação (RÖMER, 2008, p. 31).
Mesmo assim, para Römer (2008, p. 94-95), o livro de Juízes é o que tem o
menor número de passagens tipicamente deuteronomistas sendo a maior parte
do livro, composto por textos nortistas anteriores ao séc. VIII AEC. Todos os
juízes são nortistas, exceto Otniel, um juiz judaíta, possivelmente integrado no
texto dos juízes por editores deuteronomistas do pós-exílio.
Levando em conta a antiguidade das histórias dos juízes (salvadores)
nortistas, é possível, por exemplo, compreender a lista de cidades
transjordanianas escritas na história de Jefté. As cidades que aparecem na
narrativa são todas da Transjordânia, da região de Moab e Gilead, que coincide
com a região dominada pelos reis omridas durante o séc. IX AEC.
171

O território mencionado na história de Jefté envolve todo o planalto de


Gilead, como segue: Jefté de Gilead (hT'py. I, Iefqae) “Yiftah67” (Jz 11.1) e Tobe

(bAj, Twb) (11.5) seriam cidades do norte do planalto de Gilead; depois, o autor

menciona o território central e sul de Gilead, que vai desde o Arnon “Wadi Al
Mujib” até o o vale do Jaboq “Wadi Al Zarqa” (11.13,22). A narrativa cita a cidade
de Hesbon (!ABv.x,, Esebwn) “Hisban” (11.26)na parte central, ao norte de

Madaba. Na região do planalto de Madaba, a narrativa menciona Mispa de


Gilead (d['l.gI hPec.mi, skopia.n Galaad) (11.29), Aroer (r[eAr[], Arohr) “Khirbet
Ara’ir”, Minite (tyNIm)i e Abel-Queramim (~ymir'K. lbea', Ebelcarmin) “Tall Al-
Umayri”68 (11.33). A região do planalto de Madaba é a apresentada na estela de
Mesha.

Considerações Finais
Embora a dinastia omrida seja avaliada negativamente nos livros dos Reis
e das Crônicas, é notável a quantidade de textos bíblicos referentes a esta
dinastia, que em quantidade de texto só perde para as narrativas sobre Davi e
Salomão. Ora, se esta dinastia é tão ruim e perversa, porque conservar tantos
textos sobre ela? Possivelmente, muitos textos da história dos omridas já
existissem quando foi redigida a história de Davi e Salomão, e como Israel Norte
já não mais existia nesta época, Jerusalém foi privilegiada nas narrativas.
É possível que os redatores tenham mantido as narrativas existentes do
Norte, e as compilaram, ampliando-as, inserindo a história de Judá e de
Jerusalém. Vimos que a dinastia omrida cresceu e se expandiu após a
construção da nova capital, dominou povos, dominou Judá. Foi conhecida por
impérios e citada em importantes inscrições reais de povos vassalos. As
informações contidas em outros livros que contam sobre esse período, como as
listas de cidades das tribos transjordanianas mostram a ocupação de Irsael
Norte nesta região, o que foi atestada pela inscrição de Mesha, séc. IX AEC.

67Coordenadas geográficas de Yiftah ou “Jephthah”: 32º29’20.05”N – 35º49’56.58”L.


68Coordenadas geográficas de Tall Al-Umayri: 31º52’07.25”N – 35º53’17.39”L. Sobre esse sítio,
veja o website: http://www.madabaplains.org/umayri/research.htm. Acesso em 29/11/2016.
172

Também foi possível ver nos textos indícios de domínio e vassalagem de


Israel Norte sobre Judá, na época de Josafá. Palavras de ordem e verbos
causativos mostram a submissão de Josafá a Israel Norte, os quais colocaram
uma princesa omrida no trono de Judá em Jerusalém, que depois da morte de
Acazias de Judá, passou a reinar em Jerusalém interrompendo a dinastia
davídica. Estas informações são sognificativas para reconstrução histórica desta
dinastia e de sua época. No capítulo 5 trataremos sobre a arqueologia desse
período e do território ocupado pela dinastia omrida, então será possível ver o
que se pode comprovar ou se há evidências de uma grande monarquia no séc X
AEC ou se esta monarquia é do séc. IX AEC, os omridas.
173

PARTE 3:
ARQUEOLOGIA
174

Capítulo 4
A FUNDAÇÃO DE SAMARIA A PARTIR DA
ARQUEOLOGIA

Introdução
Os assuntos apresentados e discutidos na Parte 2 são referentes à análise
da dinastia omrida a partir da literatura. Foi trabalhada a exegese de 1Rs 16.15-
33 (cap. 1) e a análise do conjunto literário das narrativas sobre os reis da
dinastia omrida (cap. 3). Nesta Parte 4 da pesquisa, a dinastia omrida será
abordada a partir da arqueologia. Neste capítulo, especificamente, será
analisada a fundação de Samaria através das evidências arqueológicas. A partir
dos relatórios das duas expedições que aconteceram na primeira metade do
séc. XX, e das novas abordagens arqueológicas em pesquisas recentes.
Será abordada neste capítulo a fundação de Samaria com base nas
evidências arqueológicas, principalmente nos relatórios das primeiras
escavações em Samaria, escritos por George Reisner e Gottlieb Schumacher. A
partir disso, são trabalhadas as recentes pesquisas sobre o tema, as
atualizações dos estudos em arqueologia de Samaria, bem como as análises
comparativas iniciadas por Israel Finkelstein e Norma Franklin, entre Samaria e
outros sítios do mesmo período, como Tel Megiddo e Tel Jezreel69.

1. Localização do sítio arqueológico de Sebastia (Samaria)

Samaria (hebraico: ‫שֹׁ ְמרוֹ ן‬, šōmərōn) é chamada atualmente de Sebastia

(latim: Sebaste; árabe: ‫سبسطيه‬, sabasṭiyah). Na atualidade, Sebastia é um

município palestino da Cisjordânia com pouco mais de 4 mil habitantes, que

69 Veja mais informações sobre as escavações em Tel Jezreel em:


http://www.jezreelvalleyregionalproject.com/volunteer-2013%21.html.
175

pertence ao Governorado de Nablus (‫ڼآبلس‬, nablus)70, ao oeste da cidade de


Nablus, onde está localizado o sítio arqueológico de Tell Balata, a antiga
Siquém. De Nablus para Sebastia tem um vale chamado Nahal Nablus, que
inicia entre os montes Gerizin e Ebal, passa por Sebastia e segue para a costa

litorânea, nas proximidades da atual cidade israelense de Netanya (‫)נתניה‬.

Quanto às distâncias a partir de Samaria (Sebastia), é possível calcular


através do software Google Earth, para ter uma noção da localização estratégia
da colina escolhida por Omri para se tornar a nova capital de Israel Norte. De
Samaria para Jerusalém, indo pela autopista 60, conhecida como Rodovia
Beersheva-Nazareth, a distância é de cerca de 80 km. Subindo por Ramallah

(‫هللا‬ ‫رام‬, ram’allah; hebraico: ‫)רמאלה‬ e Beytin (antiga Betel), passando por

Nablus. De Beytin para Sebastia (Samaria) são cerca de 57 km.


A distância entre Nablus (Siquém) e Samaria é de aproximadamente 16

km, seguindo pelo vale Nahal Nablus. De Tirza (árabe: ‫تل الفارعة‬, Tell el-Far’ah
Norte) para Samaria, a distância é de cerca de 19 km ao oeste. De Samaria para
Jezreel, onde os omridas tinham uma residência real, a distância é de cerca de
44 km ao norte, passando pela cidade árabe de Jenin. Para Megiddo, fortaleza
omrida e criadouro de cavalos, a distância é de 48 km, indo pela autopista 60 até

Jenin, virando à esquerda sentido Haifa (‫חיפה‬, árabe: ‫ )خيفا‬até o Tel Megiddo
(ֹׄ‫ְמגִ ּדו‬ ‫תֵ ל‬, tēl məgiddô).
Samaria possui localização estratégica, a região central do território de
Israel Norte. Ela está, em linha reta, cerca de 31 km da costa litorânea (a oeste),

e à cerca de 48 km lineares até Peniel, no vale do Jaboq (‫יַבֹּ ק‬ ‫)נַחַ ל‬. Em linha
reta, Samaria dista 85 km de Madaba, na atual Jordânia, à 103 km de Dhiban
(Dibon) e cerca de 108 km de Ara’ir (Aroer), isto em medições lineares. As
distâncias percorridas através das modernas autopistas aumentarão o número
de quilometragem entre estas localidades.
A partir de Samaria para a Estrada do Rei (ou Caminho Real), na
Transjordânia, é de cerca de 87 km, indo pelo Nahal Nablus, subindo à esquerda

70 Para mais informações sobre o município de Sebastia, veja o site oficial da cidade
http://www.sabastiya.org.ps/wp/.
176

até Tirza, e descendo o vale de el-Far‘ah (árabe: ‫ )الفارعة‬até o vale do Jordão,


daí subindo a leste, passando por Tell Deir ‘Alla (árabe: ‫)تل دير عال‬, entrando no
vale do Jaboq até o planalto de Gilead, onde está a Estrada do Rei. E acerca de
30 km a oeste até a Via Maris (ou Caminho do Mar), outra rota importante de
comércio na época. Havia maior facilidade para ligações diplomáticas e
comerciais com a Fenícia, ao noroeste, pela proximidade e viabilidade, por
causa da rota litorânea. Isto fazia de Samaria o local ideal para o
estabelecimento da nova capital de Israel Norte.

2. Geografia e Topografia de Samaria e Região


Samaria71 está localizada numa região montanhosa, a mesma atribuída à
tribo de Manassés (cf. Js 17). É uma área com vales férteis, próprios para o
cultivo de oliveiras e vinhas. Os rios que passam pela região viabilizavam o
abastecimento de água da cidade, como é o caso do Nahal Nablus, rio que dá
nome ao vale que sai de Nablus para Samaria (AVIGAD, 1978, p. 1032; MAZAR,
2003, p. 389-390).
A topografia da região vai se elevando desde a costa litorânea para o leste,
progressivamente até 286m de altitude no pé da colina de Samaria,
prosseguindo a leste até 726m a 50 km do litoral, na região montanhosa no vale
de el-Far‘ah, próximo ao vale do Jordão (FINKELSTEIN; LEDERMAN, 1997, p.
73-76). Nesta região, os pontos mais altos estão na região de Nablus (Siquém),
o Monte Ebal a 936m e o monte Gerizin, a 871m acima do nível do mar. A região
é montanhosa, mas tem vários vales, por onde passam as rotas comerciais.
Temos a rota comercial que ligava a Via Maris ao Caminho do Rei (ou Via
Régia), tal rota saía da Via Maris seguia pelo vale de Nahal Nablus, que corta
leste-oeste, e passava ao sul da colina de Samaria. Este vale segue a leste até
Siquém (Nablus), onde se encontra com o vale que corta norte-sul.
Este vale norte-sul que passa por Siquém, é a rota que vem de Jerusalém,
passa por Betel, Siquém, onde tem o entroncamento com o vale de Nahal
Nablus (leste-oeste), e vai até Tirza. Dela, a rota que vem da Via Maris, segue
pelo vale de el-Far‘ah até o Jordão, na altura de Sucote (Tell Deir Alla), subindo

71Localização geográfica de Sebastia (Samaria): 32º16’40.90”N – 35º11’22.75”L, conforme o


software Google Earth.
177

pelo vale do Jaboq (hebraico: ‫נַחַ ל יַבֹּ ק‬, naḥal yabôq; árabe: Nahr az-Zarqa ou

Wadi az-Zarqa), passando por Peniel (hebraico: ‫פְ נִ יאֵ ל‬, penî’ēl) e Mahanaim

(hebraico: ‫מַ ֲחנָיׅ ם‬, maḥănāyim)72, até a região de Hesbon (hebraico: ‫חֶ ְשׁבּוֹ ן‬,
ḥešbôn; árabe: ‫تل حسبان‬, tell ḥisban), onde passava o Caminho do Rei.
Atualmente há uma rodovia que passa pela antiga Estrada do Rei, a autopista

35, conhecida como King’s Highway, que sai de Amman (árabe: ‫ )عمان‬e desce
até as proximidades de Aqaba (‫العقبة‬, al-‘aqabah ou ‫أيلة‬, ’aylah), no extremo sul
da Jordânia.
Outra rota comercial importante é a que vinha de Beersheva, sul de Judá.
Esta, passava por Jerusalém, Betel e Samaria, até Nazareth, depois subindo
para Ḥazor, e a partir daí seguindo sentido Líbano ou Damasco. Havia ainda
outra importante rota comercial, que saindo de Beersheva passava por Samaria.
Ao passar por Samaria, a rota chegava em Jenin, no Vale de Jezreel, e seguia
para o noroeste, passando por Megiddo e Joqneam, indo pelo lado norte do
Monte Carmelo, até os portos fenícios, ou subia ao norte para Tiro e Sidon, na
Fenícia (Líbano).
Samaria é uma colina com cerca de 450m de altura desde o nível do mar, e
164m de altura desde a entrada do sítio73. Ela está rodeada de outras colinas
moderadamente onduladas, com muitas plantações de oliveiras e amendoeiras,
uma região com características fortemente agrícolas (FINKELSTEIN, 2003, p.
248). A oeste, as colinas vão baixando até dar lugar à planície costeira do Mar
Mediterrâneo, norte-sul, ligando o Egito à Fenícia, à Ásia e à Mesopotâmia.

3. História da Pesquisa Arqueológica em Samaria


Samaria não teve um histórico longo de escavações, no total foram duas
grandes expedições arqueológicas: 1. Harvard Excavations at Samaria; e, 2.
Joint Expedition. Depois da Joint Expedition, houve apenas mais uma temporada
de escavações em Samaria, na década de 1960, em pequena escala, dirigida
por Fawzi Zayadine e financiada pelo Department of Antiquities of Jordan.

72 Peniel e Mahanaim juntas recebem o nome árabe de Tulul al-Dahab (árabe: ‫)تلول الذهب‬.
73 Medidas calculadas pelo software Google Earth.
178

3.1. Harvard Excavations at Samaria (1908-1910)


O trabalho arqueológico em Sebastia (Samaria) foi o primeiro projeto
totalmente norte-americano de toda a Palestina otomana. Este projeto,
trabalhado pela Harvard University, teve início em 1905, quando um influente
empresário judeu de família rabínica, chamado Jacob Henry Schiff, doou 50 mil
dólares para o projeto de escavações em Samaria, que seria realizado sob os
auspícios do Semitic Museum of Harvard University. Tal projeto recebeu,
posteriormente, o nome de Harvard Excavations at Samaria (SCHNEIDERMAN,
1921, p. 42-43; DAVIS, 2004, p. 42; REISNER, 1924, p. 3)74.
Depois disso, um longo período de negociações começou a ser feita entre
os representantes do comitê do projeto da Harvard University e as autoridades
turcas, para conseguir as autorizações para escavar no território. O comitê para
as escavações em Samaria foi formado pelos seguintes pesquisadores: David G.
Lyon, George F. Moore, Crawford H. Toy e posteriormente, George Andrew
Reisner. Em outubro de 1906, as autorizações foram concedidas, e o empresário
Jacob Henry Schiff financiou, adicionalmente, as despesas para o início das
escavações (REISNER, 1924, p. 3).
Gottlieb Schumacher75 foi o primeiro diretor designado pela Harvard
Excavations at Samaria em 1908. Schumacher tinha acabado de encerrar uma
longa temporada de escavações em Tel Megiddo76, Tell Muteselim (1903-1905),
financiado pela instituição alemã German Society for Oriental Research. A
temporada de escavações em Samaria dirigida por Schumacher, aconteceu em
03/04 a 31/08/1908, e foi reportada por David Lyon, da American School in
Jerusalem (YADIN, 1977, p. 831; REISNER, 1924, p. vii; DAVIS, 2004, p. 42;
SCHUMACHER, Diary I e II, 1908). Schumacher foi designado para as
escavações em Samaria, porque George Reisner estava envolvido numa
expedição no Egito, e só poderia assumir os trabalhos em Samaria a partir de
1909 (DAVIS, 2004, p. 42; FRANKLIN, 2008, p. 45).

74 Para saber mais sobre este projeto, veja as informações no portal da Harvard University:
http://ocp.hul.harvard.edu/expeditions/reisner.html. Acesso em 14/10/2016.
75 Para saber mais sobre a biografia do arqueólogo Gottlieb Schumacher, veja o portal da

Palestine Exploration Fund: http://www.pef.org.uk/profiles/gottlieb-schumacher; veja também no


portal da Tel Aviv University: http://www.tau.ac.il/~archpubs/megiddo/excavations1.html.
76 Para mais informações sobre as escavações em Tel Megiddo, veja:
http://www.megiddo.tau.ac.il.
179

Em 1909, George Andrew Reisner passa a ser o diretor da segunda


temporada da Harvard Excavations at Samaria, que teve duração de dois anos
(1909-1910). Reisner trouxe vários trabalhadores do Egito que foram treinados
por ele, e reuniu inicialmente em torno de duzentos voluntários. Posteriormente,
o número de voluntários chegou a quatrocentos e cinquenta (REISNER, 1924, p.
6; DAVIS, 2004, p. 43).
Segundo Cline (2009, p. 28), Reisner realizou um trabalho muito melhor
que Schumacher, e soube administrar uma equipe de especialistas e voluntários
maior que a de Macalister em Gezer77, com quem Reisner tinha grandes
controvérsias. Na equipe de especialistas de Reisner, estava Clarence Stanley
Fisher, um arquiteto que havia trabalhado nas escavações pioneiras na cidade
suméria de Nippur, no atual Iraque, financiadas pela University of Pensilvania
(REISNER, 1924, p. 4; DAVIS, 2004, p. 43; FRANKLIN, 2008, p. 45).
Fisher trouxe grandes contribuições à escavação arqueológica na
Palestina, pois ao invés de escavar por trincheiras78, como o método utilizado
desastrosamente por Macalister em Gezer, ele e Reisner optaram por escavar
grandes áreas estrato por estrato. Isto fez com que se conhecesse melhor cada
estrado e identificar exatamente onde cada artefato estava localizado e a que
período pertencia. Seu método de escavação ficou conhecido como Method
Reisner-Fisher, e se tornou modelo para as escavações seguintes por vários
anos (DAVIS, 2004, p. 59).
Para Reisner (1924, p. 36), a análise dos detritos anteriormente
descartados, era uma das características mais importantes do seu trabalho. Ele
dava importância a cada achado, não somente aos grandes monumentos
arquitetônicos encontrados no sítio. Para ele, o registro arqueológico era
importantíssimo, e o arqueólogo não poderia deixar de fazê-lo, mesmo que lhe
causasse alguma dor, porque o trabalho arqueológico é destrutivo, e o único
motivo que justifica essa destruição é o registro minucioso dos achados (DAVIS,
2004, p. 44). Por este motivo, Reisner fez um registro documental meticuloso de

77 Sobre o trabalho do arqueólogo R. A. Stewart Macalister, em Gezer, veja no portal das


escavações dm Tel Gezer: http://www.telgezer.com/overview/history-of-research/.
78 Segundo Funari, “as trincheiras são escavações estreitas e longas, como de um metro de

largura e dez de comprimento, e se destinam a descobrir a orientação geral faz estruturas fixas a
serem desenterradas, facilitando, devido à simetria das plantas, a suposição da localização dos
muros e principais estruturas” (2010, p. 66).
180

toda a escavação e de cada objeto encontrado no sítio, bem como das grandes
estruturas.
Reisner classificou os achados como: geológicos (aquilo que foi depositado
sem ação humana), detritos de pedreiros (os que indicam alguma atividade
humana local), decomposição, sedimentos e resíduos de descarte (restos de
alimentos e animais mortos). A forma de registro de todas as atividades de
escavação consistia em: Diário, desenhos de mapas e plantas, registro dos
objetos encontrados e registro fotográfico. Com isso, os registros de Reisner
foram muito efetivos e bem feitos, com boas descrições, belas fotografias e
detalhados diários de escavação, os quais podem ser utilizados ainda hoje
(REISNER, 1924, p. 35-42; CLINE, 2009, p. 28-29).
Reisner registrou todo o período de escavação em Samaria em sete diários
manuscritos, nos quais é possível acompanhar diariamente como foi o progresso
das escavações em Samaria, bem como saber as datas em que determinados
achados foram desenterrados. Todos os diários fazem parte do acervo da
biblioteca de Harvard University, mas podem ser encontrados disponíveis na
internet, através do próprio portal da universidade79.
Na semana anterior às escavações em Samaria (sexta-feira, 24 de abril de
1908), Schumacher e Reisner fizeram uma reunião para ajustar os métodos e os
planos de trabalho. As escavações tiveram início propriamente dito, no domingo,
dia 27 de abril de 1908, sob a direção de Gottlieb Schumacher. George Reisner
retornou para seu trabalho arqueológico no Egito e só retornaria no ano
seguinte. As escavações em 1908 aconteceram em três períodos: 1) de 24/abril
a 01/maio; 2) de 22/maio a 02/junho; e, 3) de 11/julho a 21/agosto.
Nestes três períodos de escavação foi realizado inicialmente um trabalho
amplo de surveying sobre o primeiro terraço ou plataforma superior, identificando
as ruínas que estavam visíveis na superfície, depois cavaram trincheiras de
variadas larguras, aprofundando e analisando os estratos encontrados. Um dos
primeiros edifícios desenterrados foi o templo de Herodes, sendo que, primeiro
foi encontrada a escadaria, depois a plataforma e o piso interior do templo, isto
durante o mês de julho de 1908 (REISNER, Vol. II, 1924, Plates 85-86). Depois

79 Sobre os registros de Reisner e os relatórios das escavações em Samaria (Sebastia), veja:


http://ocp.hul.harvard.edu/expeditions/vcsearch.php?cat=Harvard%20Expedition%20to%20Sama
ria.
181

foi encontrado o altar diante da escadaria do templo com estelas no seu lado
leste e uma estátua danificada, possivelmente, segundo Reisner, de um
imperador romano (REISNER, Vol. I, 1924, p. 9).
As escavações, em 1908, se concentraram mais na região em torno do
templo de Herodes. Foi desenterrado um pavimento logo acima da escadaria,
que continha restos de colunas romanas. As escavações revelaram ainda,
estruturas logo abaixo dos fundamentos do templo, tais estruturas eram mais
antigas, e dataram do período de Omri. Eram as estruturas do palácio de Omri
que estavam sob o templo de Herodes (REISNE, Vol. I, 1924, p. 9-11).
Foram encontradas nestes períodos de escavação de 1908, diversas
inscrições em hebraico ou aramaico, em grego e em latim. Em torno de cento e
trinta moedas do período romano foram desenterradas, mais poucas moedas
fenícias e bizantinas cunhadas em bronze. Muitos objetos cerâmicos foram
encontrados, garrafas, jarros inteiros e fragmentados, alças de jarros, copos,
lâmpadas, etc. Também estatuetas femininas e estatuetas de animais, conchas
ossos humanos e de animais e muitos objetos de marfim (REISNER, Vol. I,
1924, p. 21-28).
No final desta temporada, Schumacher manifestou o desejo de não
continuar como diretor nas escavações em Samaria. Mudanças já estavam
acontecendo, e George Reisner finalizou suas atividades no Egito, podendo
assim assumir a diretoria da Harvard Excavations at Samaria.
Houve inicialmente dificuldades para a equipe de Reisner, porque seu
objetivo principal era escavar o período israelita, porém, havia muitas ruínas dos
períodos posteriores, principalmente do período romano (REISNER, 1924, p. 36-
42). Quanto aos níveis estratigráficos de Samaria, Reisner classificou sua
ocupação em onze períodos, os primeiros seis períodos entre a fundação da
cidade (876 AEC) e a queda do Reino de Israel Norte (722 AEC), e os demais
entre a conquista assíria (722 AEC) até o período bizantino tardio, Idade Média
(AVIGAD, 1978, p. 1041-1050). Na tabela a seguir, estão os onze períodos
organizados do último (o primeiro estrato de cima) ao primeiro (o último estrato
de baixo).
182

Estrato Período
Período bizantino: Uma torre no alto da colina, ruínas de uma
catedral bizantina dedicada a João Batista. Cinco capitéis de
XI
colunas característicos do séc. V EC, e um monastério da Idade
Média também dedicado a João Batista.
Período romano: Portões e torres, a rua colunada do comércio
X (rua do cardo), templos, o templo de Herodes, o teatro, o estádio e
o fórum.

IX Período grego e helênico: Torres de 13m de diâmetro e muros.

Período assírio, babilônico e persa: Fragmentos de uma estela


VII e VIII assíria atribuída a Sargão II, um selo cilíndrico assírio, vários
óstracos com inscrições aramaicas do período persa.

V e VI Conquista assíria de Samaria em 722 AEC.

Época do reinado de Jeroboão II e de outros reis nortistas até a


IV
conquista assíria. Reparos nos muros e construção de armazéns.

Época de Jeú: Desde o golpe contra os omridas até o reinado de


III
Jeroboão II. Evidências de destruição e construções.
O reinado de Acab: Construção do muro de casamata, ampliação
II
do palácio e possivelmente, construção do portão leste.
Reinado de Omri: Fundação de Samaria. Evidências das
I primeiras construções monumentais. O palácio e os muros, bem
como a primeira plataforma e os taludes.

Não houve grande construções sobre a colina depois da invasão assíria,


com exceção do período romano. Neste período aconteceu muita atividade de
construção sobre as plataformas de Samaria, e as construções aconteceram por
cima das ruínas anteriores, principalmente as do período israelita.

3.2. Os Achados Referentes ao séc. IX AEC


Com relação à identificação das ruínas das construções do período israelita
desde Omri até Jeroboão II, Reisner (1924, p. 60) diz em seu relatório que foi
relativamente fácil, porque estas eram as primeiras construções acima da
estrutura rochosa da colina. As edificações israelitas de Omri e Acab, foram as
183

primeiras sobre a colina de Samaria, por isso Reisner não encontrou dificuldades
para a identificação das construções desse período, as quais datavam do séc. IX
AEC.
O sítio não foi plenamente escavado, somente a parte oeste da plataforma
superior e algumas ruínas na parte leste e norte da plataforma inferior foram
escavadas, como a basílica bizantina e o teatro romano, bem como as colunas
gregas e a rua colunada do terraço sul. Os palácios foram parcialmente
escavados, mas é possível perceber as construções do período de Omri, Acab e
Jeroboão II sobre a plataforma superior, logo abaixo do templo construído por
Herodes.

3.3. O Palácio de Omri (Fase I)


Não há dúvidas quanto ao palácio de Omri ter sido a primeira edificação na
colina de Samaria. O topo da colina sofreu um corte de aproximadamente 4m,
deixando o núcleo da rocha plano para ser a base para a estrutura do palácio
(FRANKLIN, 2004, p. 194). Segundo Finkelstein, a colina foi claramente
modificada artificialmente no seu topo, onde foi realizado um grande trabalho de
construção de muros de casamata e de preenchimento de terra, deixando o topo
como uma plataforma plana com cerca de 400m de comprimento em linha reta
(leste-oeste). A partir da rua colunada o talude se eleva entre 25 e 30m numa
inclinação de 45º (FINKELSTEIN, 2011, p. 195). Foram feitas pelo menos duas
grandes plataformas, a plataforma superior e a plataforma inferior. Na plataforma
superior estava o palácio, o composto real, e na plataforma baixa, a cidade
(FINKELSTEIN, 2015, p. 112).
A plataforma superior era protegida por um talude de aprox. 20m de altura,
e a plataforma inferior de aprox. 15m, com 45º de inclinação a partir da rua
colunada romana, situada na parte sul da colina. Possivelmente havia um fosso
na parte oeste da colina, a área com nível mais baixo, talvez entre a basílica
bizantina e o fórum romano (hoje um grande pátio aberto), para proteger a
cidade.
A elevação da plataforma superior está em torno de 435m no lado sul, e
444m no lado norte. A largura varia numa média de 184m e seu comprimento,
em torno de 260m. A plataforma inferior rodeia quase por completo a plataforma
superior, exceto no lado sul. Sua altura tem muita variação por causa da
184

topografia acidentada da colina, tendo cerca de 15m de altura. O topo da colina


foi cortado e serviu de base e de piso para o palácio de Omri (REISNER, 1924,
p. 93).
O palácio foi desenterrado somente na parte leste e sul da plataforma
superior, numa linha perpendicular ao talude sul. Ao norte do altar do templo de
Herodes foi encontrada uma escarpa vertical, que não fazia parte do templo, e
foi identificada, com segurança, como a parte norte do palácio de Omri. Numa
das trincheiras na parte oeste do palácio, foram encontrados dois grandes
blocos com marcas de pedreiros, muitas delas foram também encontradas em
Tel Megiddo (Tell Muteselim) por Gottlieb Schumacher. Tais marcas também
aparecem nas construções do período de Acab (REISNER, Vol.1, 1924, p.94-95,
119; FRANKLIN, 2008, p. 46).
Segundo Franklin (2008, p. 46), essas marcas de pedreiros foram
encontradas em sítios omridas de como Samaria (período I) e Megiddo (estrato
V-IV), somando a quantidade de 44 marcas diferentes de um total de 73
marcas80 (Veja Anexo III). Franklin chama a atenção para o fato de que os
blocos de pedra com estas marcas tenham sido encontrados somente nas
ruínas dos palácios de Megiddo (estrato V-IV) e de Samaria (Período I). Marcas
de pedreiro semelhantes também foram encontradas em Tel Dor, e datam do
Ferro IIB, séc. IX AEC (GILBOA et al, 2015, p. 64).
Há evidências de cortes ou raspagens na rocha para colocar os alicerces
de um muro ou para servir de piso em outros períodos israelitas, mas em
nenhum deles aconteceu com tanta frequência como no período de Omri. Estas
rochas cortadas ou raspadas marcam quase que por completo a área do palácio
de Omri, tornando fácil sua identificação, já que mesmo nos lugares onde as
pedras do muro foram removidas, ficaram as valetas na rocha que recebia as
pedras do fundamento, sendo possível rastrear todo o alicerce do edifício
(REISNER, Vol.1, 1924, p. 93-94).
O palácio de Omri não foi totalmente escavado, como já foi visto, somente
a parte oeste do palácio está à mostra no sítio. A parte leste e norte do palácio

80Para Franklin, o objetivo ou a função destas marcas ainda hoje é desconhecida, mas deve ter
servido a algum propósito dentre os trabalhadores da construção de origem estrangeira, uma vez
que tais marcas são muito parecidas com as letras do alfabeto Cariano, língua proveniente da
Ásia Menor, atual Turquia (FRANKLIN, 2008, p. 47-49; ADIEGO, 2007, p. 26).
185

está aterrada e não é possível visualizar suas ruínas. Mas com a parte que foi
escavada é possível fazer medições e ter uma ideia das dimensões do primeiro
palácio da nova capital israelita.
O palácio foi construído sobre um escarpado de cerca de 4m de altura,
sobre a rocha do cume da colina, que foi cortada para dar lugar aos alicerces do
edifício e em algumas partes, servir também como piso de alguns cômodos. O
palácio tem no lado leste uma longa parede de cerca de 27m de comprimento.
Esta parede se projeta na escarpa (ou talude) em 5,5m no lado norte e 7,5m no
lado sul. O muro sul do lado oeste, se estende cerca de 7,5m na direção do
talude sul da plataforma superior. O edifício tem um pátio retangular fechado
com cerca de 11m x 21,25m, que atualmente se encontra embaixo da plataforma
do tempo de Herodes (FRANKLIN, 2008, p. 50).
É possível que o palácio tenha chegado próximo do talude norte da
plataforma superior (cerca de 45m a 50m de comprimento), mas esta parte norte
do edifício está debaixo a estrutura posterior do período romano e não foi
desenterrada totalmente. Segundo Franklin (2008, p. 50), Samaria e Megiddo
são as únicas localidades que utilizam a medida de 0,45m por côvado durante o
mesmo período. De acordo com ela, no Egito, que era governado pela 22º
dinastia (proveniente da Líbia), a medida era praticamente a mesma.
Foram escavadas treze salas do palácio de Omri, todas com tamanhos
diferentes. Uma longa parede cavada na rocha que liga a parede sul à uma
grande sala retangular ao norte. Uma sala grande e quadrada no centro dessa
área escavada com duas salas pequenas no lado oeste. A parede no lado sul,
se estende em linha reta para o leste, mas não foi escavada na extremidade
leste, portanto, o comprimento desse muro do palácio é desconhecido
(FRANKLIN, 2004, p. 195).
Não há dúvidas de que esta estrutura tenha sido o palácio de Omri. Esta
constatação foi uma unanimidade entre os pesquisadores da expedição de
Harvard e entre os pesquisadores das expedições seguintes (FRANKLIN, 2004,
p. 194; FAUST, 2012, p. 46). Até porque não existem evidências de construções
monumentais anteriores a esta estrutura. Para Finkelstein (2011, p. 234), esta
estrutura de fato é o alicerce do palácio de Omri, rei de Israel Norte. Segundo
ele, somente neste período a colina agrícola recebe um composto de edificações
186

reais e se torna a capital de um reino, mesmo que seus arredores continuassem


com fortes características agrícolas.

Estrutura escavada do palácio de Omri.


Planta adaptada de (FRANKLIN, 2008, p. 252)

Segundo Mazar (2003, p. 390), a acrópole construída por Omri, na


plataforma superior, foi pavimentada com um espesso piso de rocha calcária,
rodeada por um muro de cantaria com 1,6m de espessura, edificado com um
sistema de construção de “blocos travados par a par”. Os muros de cantaria
eram feitos com pedras cortadas de forma que se encaixassem perfeitamente,
sem a necessidade de utilização de argamassas. Geralmente possuíam os
quatro lados retos e seu ajuste também é chamado de “muro de pedra seca”.
Este tipo de pedras para construção de muros de cantaria, foi muito utilizado e
produzido por pedreiros fenícios no Levante, e se tornou comum no Antigo
Oriente Próximo, inclusive no Egito, onde eram utilizadas para a construção de
templos e túmulos (LEICK, 2003, p. 241-242). Com este tipo de construção Omri
edificou o palácio e construiu os muros que rodeavam a acrópole real, suas
técnicas de construção foram conhecidas por sua alta qualidade (AVIGAD, 1978,
p. 1041).
187

3.4. O Palácio de Acab (Fase II)


Acab sucedeu Omri, seu pai, e reinou a partir de Samaria por cerca de 21
anos (FINKELSTEIN, 2003, p. 235). Sabemos que os primeiros dias de Samaria
demonstraram a primeira fase de mudanças na colina, que como vimos, foi
empenhado um grande esforço de construção no seu topo, com uma construção
de muros de casamata ao redor do cume e de preenchimento de terra por
dentro, para formar uma plataforma no cume rochoso da colina. Sobre essa
plataforma foi edificado o palácio de Omri, o primeiro rei, propriamente dito, de
Israel Norte.
As construções monumentais em Israel Norte começaram com Omri, e
continuaram em larga escala no período de Acab. Segundo Finkelstein (2011, p.
234), Omri deu início ao grande projeto de Samaria, mas a grande
transformação urbana e a fase mais avançada das construções e do domínio do
governo da dinastia omrida, aconteceu no período do rei Acab, que é
considerada a Fase II de Samaria.
A Harvard Excavations at Samaria escavou partes do palácio de Acab, que
foi escavado posteriormente pela Joint Expedition at Samaria entre 1932 e 1935.
Reisner percebeu que a área do palácio no período de Acab foi grandemente
ampliada para os lados norte e oeste. Acab manteve a estrutura original,
construída por seu pai, Omri, a qual se tornou base para suas ampliações e
novos projetos arquitetônicos. Segundo ele, o palácio edificado por Acab se
assemelha em muito com os grandes palácios do império assírio (REISNER,
vol.1, 1924, p. 98).
Assim como o palácio de Omri, o palácio de Acab não foi totalmente
escavado na parte leste e norte, mas como Acab seguiu os mesmos métodos de
construção de Omri, colocando as fundações das paredes cavadas na rocha,
onde não foi totalmente escavado, dava para rastrear o restante das paredes,
reconstruindo pelo menos, a planta do palácio.
Segundo Reisner (1924, Vol.2, Plate 26 b), a maior parte da área escavada
pertencia ao palácio de Acab, que tinha em torno de 95,25m de comprimento
norte-sul. No lado norte, a parede virava para o oeste em 19,75m e depois virava
novamente para o norte, com comprimento de 16m, formando o ângulo da asa
norte-oeste. A fachada norte do palácio, seguindo a direção leste-oeste, deve ter
188

o comprimento acima de 40m, conforme estimativa da equipe de Reisner. A


fachada sudoeste do palácio segue para o leste em 38,8m, altura em que houve
outra asa que se estende para o sul com 14,4m de comprimento. Neste ângulo,
foi construída uma torre retangular de alvenaria medindo 12,5m x 16m, que não
estava ligada ao muro, pois há uma distância de 1,1m do muro no lado norte da
torre e 3,55m de distância do muro para o lado leste. É possível que aqui fosse
uma das pequenas entradas do palácio na parte sul (REISNER, Vl.1, 1924, p.
98-99).

Área do Palácio de Acab

Área do Palácio de Jeroboão II

Área do Palácio de Omri

Palácio de Omri, Acab e Jeroboão II.


Planta adaptada de (REISNER, Vol.2, 1924, Plan 5)

A parede sul do palácio de Acab foi construída sobre o muro de contenção


da plataforma superior, que neste ponto estava a 7,5m de altura da superfície da
rocha da colina. Esta parede foi elevada conforma a marca característica das
189

edificações de Acab, um espesso muro duplo com cerca de 2m a 2,3m de


largura. A estrutura desta parede sul foi desenterrada, e evidenciou que havia
salas nesta parede dupla, que eram retangulares, cujo comprimento era o dobro
da sua largura. No lado norte, toda a estrutura da parede foi quase que
totalmente destruída, mas é possível ver nas ruínas que permaneceram, que
este padrão foi mantido também no lado norte do palácio (REISNER, Vol.1,
1924, p. 99). Segundo Mazar (2003, p. 390), Acab substituiu os muros externos
da acrópole por espessos e pesados muros de casamata, cujas salas formavam
um extenso espaço para armazenamento dos tesouros reais, arsenal de guerra
e estoques de alimentos.
Na parte central do palácio havia um pátio retangular com salas
retangulares ao redor nos quatro lados, mas somente a parte meridional estava
com as ruínas melhor preservadas, mas por esta parte dava para deduzir o
restante do pátio e das salas. Conforme Mazar,

Essa planta, com o seu grande pátio central, lembra palácios


cananeus da Idade do Bronze Recente, como os de Ugarit e
Meguido; mas é diferente do bit-hilani, que era o principal tipo de
palácio durante a era salomônica em Meguido e talvez também
em Jerusalém. Enquanto o bit-hilani é relacionada com o interior
sírio, a residência régia de Acab pode ter sido inspirada por
tradições arquitetônicas cananeias e fenícias. (MAZAR, 2003, p.
391).

O palácio de Acab se estendia ainda mais para o lado oeste, indo até cerca
de 1,8m de distância do muro de casamata oeste da acrópole. Esta parte oeste
do palácio era um anexo administrativo real, e ficou conhecida como a “Casa
dos Óstracos” (The Ostraca House), porque foi o local onde encontraram os 63
óstracos com registros de recebimento de mercadorias em Samaria (REISNER,
Vol.1, 1924, p. 114-117, 227-246). Atualmente estes óstracos são datados do
período de Jeroboão II, séc. VIII AEC, embora haja diversas indicações de que
os óstracos sejam datados desde o reinado de Acab (873 AEC) até os dias de
Manaém (737 AEC), um espaço de tempo de quase dois séculos (KAEFER,
2015, p. 68-69).

3.5. Palácio de Acab – Parte Oeste: A Casa dos Óstracos


A chamada “Casa dos Óstracos” é a extensão oeste do palácio de Acab,
190

escavada na temporada de 1909. Esta edificação era um prédio administrativo


real, o qual fazia toda a parte contábil e todo o aparato administrativo do reino. A
estratigrafia do prédio estava abaixo de construções do período grego e helênico
e posteriormente Romano. Do período grego e helênico havia restos de muros e
pavimentos, e do período romano, um grande pátio e uma casa romana datada
da época de Herodes (REISNER, Vol.1, 1924, p. 115, 227).
O edifício estava localizado a 1,8m do muro de casamata oeste da
acrópole, e de 3,65m a 4m de distância do muro de casamata sul. A construção
era retangular e media 11,3m de largura (leste-oeste) e em torno de 31,8m de
comprimento (norte-sul). O interior do prédio estava dividido em três partes com
seis salas e um corredor central em cada uma das partes. As entradas das salas
estavam voltadas para o muro oeste da acrópole, formando um corredor de 1,8m
entre o prédio e o muro de casamata (REISNER, Vol.1, 1924, p. 115-116).

Casa dos Óstracos. Planta de George Reisner.


(REISNER, Vol. II, 1924, Plan 5). Recorte meu.

O prédio foi construído no mesmo nível do palácio de Acab, e suas bases


foram cavadas na rocha entre 2,5m e 4m abaixo do nível do pátio, e cada
fundamento tinha entre 60cm e 80cm a mais de espessura que as paredes do
191

prédio, o qual dava um total de 1,05m a 1,15m de espessura. Os espaços entre


os fundamentos até o nível do pátio foram todos preenchidos com entulhos e
pedaços de pedras calcárias. As paredes do prédio foram construídas com 65cm
a 70cm de espessura e estavam rebocadas com uma mistura de barro com
palha e fragmentos de cinzas, assim como nas paredes das cisternas
(REISNER, Vol.1, 1924, p. 116).
Foi encontrada no prédio “Casa dos Óstracos” uma alça de jarro feita em
marfim com formato de um uraeus egípcio e um jarro de alabastro com uma
inscrição em hieróglifos egípcios contendo o nome do faraó Osorkon II. Segundo
Reisner (1924, p. 14-16), é possível que o jarro de alabastro tenha sido um
presente deste faraó para Acab. Este faraó de origem líbia pertenceu à XXII
dinastia egípcia, e reinou entre 874-856 AEC, mesmo período que Acab reinou
em Samaria. Também foram encontrados vários escaravelhos e amuletos
egípcios, todos do mesmo período de Osorkon II. Muitas outras peças de origem
egípcia foram encontradas na sala 414 deste edifício.
Para Reisner (1924, p. 16), os óstracos poderiam ser datados entre os
séculos IX e VIII AEC. Os óstracos foram escritos em caracteres paleohebraicos
e estão razoavelmente legíveis, porém, muitos estão bastante fragmentados,
mas é possível reconhecer seus caracteres e fazer uma leitura dos fragmentos.
No total foram encontrados 63 fragmentos de cerâmica, denominados óstracos.
Havia dois tipos de óstracos, aqueles que já foram escritos em cacos de
cerâmica, e outros que tinham sido escritos na parte de cima de jarros de vinho
ou azeite.
Tais óstracos eram registros de recebimento de tributos e/ou materiais,
especificamente vinho e azeite. Nomes de várias pessoas são mencionados
neles, bem como as mercadorias recebidas deles, como se pode ver, por
exemplo, no óstraco Nº.1:

“No décimo ano, para Sam-


aryaw. De Beeryam. Jarro[s]
de [vinho] antigo.
Gera filho de Elisha.............II
Uzza filho de Q-besh...........I
Elba filho de [.......................I
Baala filho de Elisha...........[I]
Jedaiah filho [.....................[I]

Óstraco de Samaria Nº.1 (REISNER, 1924(?), p. 17-18, Plate 1)


192

A tabela a seguir mostra os óstracos de Samaria a partir dos destinatários


fornecendo algumas informações pontuais, como: nomes de alguns remetentes,
lugares, mensageiros, etc:

Nº do
Destinatário Remetente Ano Doc. Mercadoria Mensagem
Óstraco
1. Gedaliah Qasah 9 4 4-7 4 Vinho ------------------

- Azah 10 2 17 2 Azeite ------------------

- - - - 2 - Abibaal.........II

- - - - - - Ahaz.............II

- - - - - - Sheba...........I

- - - - - - Meribaal........I

- Suq 10 2 16 2 Azeite ------------------

- Khasorith 10 1 18 1 Azeite ------------------


2. Kheles filho
Shemida 15 4 30 - Gerâ Khaniab
de Gedaliah
- - - - 33 - ..........menath

- - - - 34 - S...................

- - - - 35 - Yaw..............

3. Samaryaw Azath Paraîm 9 1 14 1 Vinho ------------------

- Beeryam 10 1 1 6 Vinho Ragea Elisha II

- - - - - - Uzza..............I

- - - - - - Eliba..............I

- - - - - - Baalâ.............I

- - - - - - Josiah............I

- Abiezer 10 1 13 1 Vinho Veja p. --------.

- Hat-Tell 10 1 20 1 Azeite ------------------

4. Baalzamar Saphtaîm 9 1 12 1 Azeite ------------------


193

5. Ahinoam ou
Gib.......... 9 1 8 1 Vinho
Aroniam [O Nº.19 é claramente
Akhinoam; mas os Nº.9
- Yasoth 9 2 9, 10 2 Vinho
e 10 parecem ser
Arinoam]
- “ 10 1 19 1 Azeite

6. Akhima Shemîda 10 1 3 1 Vinho ------------------

- “ 15 2 37, 39 ------ Iysha Baalazkar

- “ 15 1 38 ----- Alah Elâ

- “ 15 1 36 ----- Gerâ Yawyosheb

7. Kheles
Shemîda 15 1 32 ----- ------------------
Akhima
8. Iysha
Abiezer 10 1 13 1 Vinho ------------------
Ahimelek

- “ 15 1 28 ----- Baalâ de Elmethen

- Shemîda 15 1 29 ----- Qader de Suq

- Khêleq 15 2 22, 23 ----- Kheles de Khasoroth


Kheles, o vinho de
- “ 15 1 26 -----
Khasoroth
Rapha Animes de
- “ 15 1 24 -----
Khasoroth
- “ 15 1 25 ----- Ahzai de Khasoroth

- “ 15 1 27 ----- Baalâ Baalmeoni


9. Kheles
Shemîda 15 1 31 ----- Baalâ Zêker
Aphsakh
10. Khanan Marinyaw Nathan de
Hoglah 15 3 45, 47 -----
Baarâ Yasoth
11. Gamer Hoglah 15 1 50 ----- Abdyaw para Ariyaw

12. Haninoam Shechem 15 1 44 ----- …..Vinho…..

Dos 63 óstracos encontrados em Samaria, 45 fornecem os nomes de 12


destinatários e 18 localidades diferentes de origem das mercadorias. Portanto,
45 óstracos foram enviados para 12 pessoas diferentes em Samaria, que eram
funcionários administrativos que recebiam as mercadorias e faziam suas
anotações e contabilidade (REISNER, 1924(?), p. 20-22).
Dos nomes de localidades ou de famílias (clãs) que aparecem inscritos nos
194

óstracos, alguns deles também aparecem em textos da Bíblia Hebraica, como é

o caso de: Abiezer (rz{ba, ‫אבעזר‬, nº 3 e 28), Ḥeleq (qlX, ‫חלק‬, nº 22-27),

Shekem (mkF, ‫שכם‬, nº 44), Semida ({dy~f, ‫שמידע‬, nº 3, 29, 31-40, 62, 63,

65, 69), todos estes ocorrem no livro de Josué 17.2. Os nomes, No’ah (h{n, ‫נעה‬,

nº 50) e Ḥogla (hLGX, ‫חגלה‬, nº 45-47), ocorrem no livro de Números 26.28.

Todos esses nomes próprios ocorrem nestes textos como sendo parte da tribo
ou da região de Manassés.

Outros nomes pessoais como, Ḥeleṣ (#LX, ‫חלץ‬, nº 30, 33, 35), Aḥino‘am
(m{nXA, ‫אחנעם‬, nº 8-11, 19), Aḥimelek (%LMXA, ‫אחמלך‬, nº 22-29, 48), Ḥanan

(nnX, ‫חנן‬, nº 45-47), Ba‘ara’ (‚r{B, ‫בערא‬, [fem.], nº 45-47) e Gomer (rmG, ‫גמר‬,
[fem.], nº 50), são nomes que também ocorrem em textos bíblicos.
Nomes próprios de localidades que não ocorrem nos textos bíblicos: ’El-

Mattan (ntml‚, ‫אלמתן‬, nº 28), Geba‘ ({BG, ‫גבע‬, nº 8), Ḥaṣerot (tR#X, ‫חצרת‬, nº
18, 22-25), Yaṣot (t#y, ‫יצת‬, nº 9, 19, 45, 47), Yašeḇ (BFy, ‫ישב‬, nº 48), Suq (qs,

‫סק‬, nº 16, 29), ‘šrt (trFy, ‫ישרת‬, nº 42), qṣh (h#q, ‫קצה‬, nº 4-7) e Šaptain (!tPv,
‫שפתן‬, nº 12).
Os nomes Gaddiyau (WydG, ‫גדיו‬, nº 1, 2, 4, 5, 7, 16-18, 30, 33-35, 42) e

Shemaryau (Wyrmv, ‫שמריו‬, nº 14, 18, 21) são equivalentes de Gedaiah (‫)גדיה‬
e Shemariah (‫)שמריה‬. Ba‘alzamar (rmzL{B, ‫בעלזמר‬, nº 12) é um nome próprio
fenício conhecido. Alguns outros nomes que aparecem no final das inscrições

dos óstracos, como: ’Abiba‘al (L{BBa, ‫אבבעל‬, nº 2), ’Ahaz (zXa, ‫אחז‬, nº 2),

Šeba‘ ({Bf, ‫שבע‬, nº 2), ’Eliša‘ ({fyl‚, ‫אלישע‬, nº 7, 41), ‘Uzza’ (‚z{, ‫עזא‬, nº
1), ‘Ela’ (‚l‚, ‫אלא‬, nº 38), Gera’ (arG, ‫גרא‬, nº 30, 36), Rafa’ (APr, ‫רפא‬, nº 24) e

Natan (!t!, ‫נתן‬, nº 45-47) também são identificáveis como nomes bíblicos, além
de possuírem equivalentes ou paralelos fenícios.
Nos óstracos ainda aparecem nomes compostos que segundo Reisner, há
questões para serem analisadas sobre eles, como: Ba‘ala Elisha‘ ({Fyl‚.‚L{B,
195

‫בעלא אלישע‬, nº 1), Ba‘ala de ’El-Mattan (ntml‚m.‚l{B, ‫בעלא מאלמתן‬, nº 28),


Ba‘ala’ Ba‘alme‘oni (y!{~l{B.‚l{B, ‫בעלא בעלמעני‬, nº 27), Ba‘ala’ Zakar

(rpz‚l{B, ‫בעלאזכר‬, nº 31), Ḥeleṣ Gaddiyau (WydG..#LX, ‫חלץ גדיו‬, nº 30, 33-

35), Ḥeleṣ ’Afṣah (X#P‚..#LX, ‫חלץ אפצח‬, nº 31), Ḥeleṣ de Ḥaṣerot (tr#X.#LX,
‫חלץ חצרת‬, nº 22, 23), ’Isha Aḥimelek (%LMX‚.‚v‚, ‫אשא אחמלך‬, nº 22-29),

’Isha’ [Ba‘al‘azkar] ([r%z{l{B].‚v‚, [‫]בעלעזכר‬ ‫אשא‬, nº 37, 39), Ḥanan Ba‘ara’


(‚r{B.nnX, ‫חנן בערא‬, nº 45, 47), ‘Alah ‘Ela’ (‚l‚.hl{, ‫עלה אלא‬, nº 38), Rage‘
’Elisha‘ ({vyl‚.{Gr, ‫רגע אלישע‬, nº 1), Gera’ Yahuyošeb (bfyWy.‚rG, ‫יוישב‬
‫גרא‬, nº 36), Marnayahu Natan de Yaṣot (t#y~.ntn.Wynrm, ‫מרניו נתן מיצת‬, nº
45, 47) e Rafa’ ‘Animeš de Ḥaṣerot (tr#Xm.Fmn{.‚Pr, ‫רפא ענמש מחצרת‬, nº

24).
Todos esses nomes de localidades mostram as influências que Israel Norte
sofreu de outros povos da época, principalmente da Fenícia. Israel Norte
mantinha uma aliança familiar com a Fenícia, por conta do casamento de Acab,
filho de Omri, rei de Israel Norte, e a princesa fenícia, Jezabel, filha de Etbaal, rei
dos sidônios. Isto pode ser percebido nos muitos nomes tipicamente fenícios.

Um nome próprio que aparece no óstraco Nº 56 é nmš (v~n, ‫נמש‬,


“Nimsi”). A palavra nmš é o nome do pai ou avô de Jeú, chamado Nimsi (‫נִ ְמ ִשׁי‬,

nimǝšî), conforme aparece nos textos da Bíblia Hebraica de 1Rs 19.16, 2Rs 9.2,
14, 20 e 2Cr 22.7. A inscrição nmš foi encontrada em três localidades diferentes:
Tel ‘Amal (estratos IV e III) e Tel Reḥov (estrato V), localidades do vale de Bet-
Shean na entrada do Vale de Jezreel, e Samaria (óstraco 56).

‫ד מהתל‬٨
‫בשת‬
‫לנמשי‬
-- ׄ‫עד‬---ׄ‫דל‬
--
Óstraco de Samaria Nº.56 (REISNER, 1924, p. 237, 242)
196

Os óstracos de Samaria funcionaram como um sistema de contabilidade


registrando o vinho, o azeite ou outros produtos que foram entregues à cidade
real de Samaria. É possível que o nome pessoal que aparece inscrito nos
óstracos, refira-se ao nome da pessoa que enviou a mercadoria para a capital
(KAUFMAN, 1997, p. 468-469). No caso do óstraco 56, o nome que aparece é

lnmš (v~nl, ‫לנמש‬, lenimši, “para Nimsi” ou “de Nimsi”), indicando que a

mercadoria (não se sabe qual), foi enviada por Nimsi, o pai ou avô de Jeú. É
possível que ele tenha enviado as mercadorias a partir das cidades de Tel
Reḥov e Tel ’Amal, e tenha enviado não somente vinho e azeite, mas
possivelmente mel.
Há outra inscrição encontrada no sítio que também faz referência ao nome
Nimsi. Tal epigrafia foi feita num jarro “hippo” de cerâmica, encontrado na área

CF estrato IV, séc. IX AEC. A palavra inscrita no jarro é: lšqynmš (‫לשקינמשי‬,

“para o oficial de Nimsi”). A palavra na verdade é uma frase, que contém a


palavra šqy (shaqay), que pode ser traduzida literalmente como “mordomo” ou
“copeiro”, que trabalhava ao lado das elites da cidade e era funcionário de Nimsi,
pois a frase lšqynmš pode ser traduzida como “para o copeiro de Nimsi”, “para o
mordomo de Nimsi” ou “para o oficial de Nimsi”. Ou pode ser traduzida

entendendo o (‫ )ל‬como genitivo, desta forma: “do copeiro de Nimsi”, “do

mordomo de Nimsi” ou “do oficial de Nimsi” (ZIFFER, 2016, p. 91).

lnmš lnmš lnmš


Tel Reḥov, estrato V Tel ’Amal, estrato IV-III Samaria, óstraco 56

É possível perceber a semelhança epigráfica entre as três, as quais são


datadas no final do séc. X e início do IX AEC Estas três epigrafias contendo o
nome de Nimsi, pai ou avô de Jeú, fortalecem a ideia de que a família de Nimsi
fazia parte da elite da região, uma família ligada às atividades comerciais, já que
a primeira inscrição fora encontrada dentro do apiário de Tel Reḥov. Nimsi
comercializava na região dos vales de Jezreel e de Bet-Shean, bem como com a
capital real, Samaria, durante o séc. IX AEC.
197

O estilo de letra utilizado nestas três epígrafes é idêntico, levando em conta


sua datação e estratigrafia parecidas. Segundo Naveh, em sua obra The Origins
of the Alphabets: introduction to Archaeology (s/d, p. 64-65,68), este estilo de
grafia pode ser datado entre o final do séc. X e primeira metade do séc. IX EAC.
Este tipo de hebraico também é parecido com o da estela de Mesha e com o
aramaico da estela de Tel Dan, ambas datadas do séc. IX EAC. Isto indica que
havia uma escrita comum em Damasco e na Transjordânia, bem como no
território de Israel Norte durante o séc. IX EAC, ainda no período do governo dos
reis da dinastia omrida.

3.6. Os Óstracos e a Escrita em Samaria – Israel Norte


Até agora, a escrita em Israel Norte não tem recebido a devida importância
por parte dos estudiosos. Existem evidências de escrita em Samaria e em outras
partes de Israel Norte, entre o séc. IX AEC e VIII AEC, mas tais evidências
nunca receberam atenção necessária. Em Samaria, na década de 1940, foi
encontrado um fragmento de uma estela com três letras grandes em escrita
paleohebraica rvA, mas este permanece no esquecimento. As Estelas que
permanecem em evidência atualmente são, a de Tel Dan, por causa da
expressão dWd.TyB “casa de Davi” e a Estela de Mesha, que possui um grande
texto narrativo. Ora, se estes povos que tinham suas terras dominadas pelos reis
omridas possuíam escrita desenvolvida, por que Israel Norte que os dominava
não teria?
O processo de desenvolvimento da escrita em Israel deve ter iniciado no
início do séc. IX AEC, e durante o séc. VIII AEC a escrita já estava mais
desenvolvida. Os óstracos encontrados em Samaria foram datados do séc. VIII
AEC, sendo atribuídos ao período de Jeroboão II. O problema é que quando eles
foram datados, a margem de erro era de mais de cem anos, e o próprio George
Reisner, que escavou e encontrou os óstracos, disse que parte deles poderia ser
do séc. IX AEC, da época de Acab, rei de Israel Norte (REISNER, 1924, p. 15-
16). Reisner sugere isto, porque junto aos óstracos foi encontrada uma inscrição
em hieróglifos egípcios contendo o nome do faraó Osarkon II. Este faraó foi
contemporâneo de Acab (REISNER, 1924, p. 14-16).
Mazar (2003, p. 489-490) classifica o grupo de óstracos encontrado em
Samaria como o mais rico grupo de óstracos com escrita hebraica de todos já
198

encontrados até agora. Ele data os óstracos de Samaria do séc. VIII AEC, e data
alguns óstracos de Arad como sendo do séc. IX e VIII AEC, alcançando ainda o
período da dinastia dos reis omridas. Finkelstein datou os óstracos de Samaria
na primeira metade do séc. VIII AEC, mas faz uma ressalva, dizendo que essa
tradição escrita deve refletir uma realidade anterior, da organização do Reino e
Israel Norte FINKELSTEIN, 2015, p. 95).
Isto não quer dizer que os óstracos sejam exclusivamente do séc. VIII AEC
em diante, mas que a escrita foi se desenvolvendo anteriormente, no séc. IX
AEC, e as técnicas de escrita foram sendo aprimoradas gradualmente. Mazar diz
que a caligrafia dos óstracos de Samaria reflete as mãos de um escriba
habilidoso, levando em conta os contornos das letras, as curvas e a alternância
de espessura do desenho das letras, e isto, segundo ele, exige tempo de treino
e de prática de escrita. Então, isto deve refletir o séc. IX AEC (MAZAR, 2003, p.
489-490). Segundo Herzog (1984, p. 4) foram encontrados onze óstracos
datados do séc. IX AEC. Tais óstracos, segundo ele, são do período de Josafá,
rei de Judá.
Temos a Estela de Mesha em Moab e a Estela de Tel Dan, ambas do séc.
IX AEC. Também há outras duas inscrições moabitas com escrita paleohebraica
encontradas no sul da Jordânia, perto de Kerak, e datam do séc. IX AEC. O
fragmento parece fazer parte da cintura de uma estátua, e diz que um rei
moabita oferece uma oferta para o altar de Qemosh (qemošyat). A outra
inscrição é uma estela chamada Estela de Nerab, também da região de Kerak, e
datada do séc. IX AEC. Esta estela tem uma figura humana no centro em alto
relevo, e as inscrições estão ao redor da figura dentro das bordas da estela
(PARKER; ARICO, 2015, 105-109).
Há muita semelhança entre os óstracos de Samaria, Tel Reḥov a Estela de
Mesha, a estela de Tel Dan e os óstracos de Tel Arad estrato X, todos datando
do séc. IX AEC e início do séc. VIII AEC. Há fortes indícios de escrita
desenvolvida em Israel Norte neste período. A quantidade de óstracos e
inscrições em jarros, com caracteres padronizados e similares aos utilizados em
Moab e na Síria, mostram que embora em Israel não tenha sido encontrada
nenhuma inscrição monumental, havia boas condições de escrita e produção de
textos. A boa caligrafia dos escribas de Israel Norte, mostram prática e
199

conhecimento da língua, indispensavelmente necessário para o desenvolvimento


do estado norte-israelita.

Tabela Comparativa das inscrições paleohebraicas do séc. IX – VIII AEC

Óstraco Óstracos Estela Estela


Hebraico Paleo Tel Reḥov
Samaria Tel Arad Mesha Tel Dan
quadrado hebraico Israel
Israel Judá Moab Síria

‫א‬ A

‫ב‬ B -

‫ג‬ G -

‫ד‬ D
‫ה‬ h -

‫ו‬ W -

‫ז‬ Z -

‫ח‬ X
‫ט‬ J - - - - -

‫י‬ Y

‫כ‬ ^ -

‫ל‬ l
200

‫מ‬ m

‫נ‬ n

‫ס‬ s -

‫ע‬ [ -

‫פ‬ @ -

‫צ‬ #

‫ק‬ Q

‫ר‬ R -

‫ש‬ V
‫ת‬ t

Esta semelhança indica que havia um sistema de escrita comum entre


Israel Norte, Judá, Moab e Damasco. Havia troca de correspondências e
anotações administrativas e contábeis, como no caso de Samaria. Somando-se
a isto, temos também as inscrições de Kuntillet ‘Ajrud, que datam da primeira
metade do séc. VIII AEC., e refletem uma realidade anterior, possivelmente da
segunda metade do séc. IX AEC.

3.6.1. A Estela Israelita de Samaria


Na temporada das escavações de 1936 da Joint Expedition at Samaria,
uma equipe estava limpando os entulhos no portão leste e encontraram um
fragmento de uma estela com uma inscrição em paleohebraico, a primeira em
Israel. Eleazar Sukenik, da Universidade Hebraica de Jerusalém, estudou este
201

fragmento e escreveu algumas notas sobre ela na revista do Palestine


Exploration Quaterly. Foi encontrado um único fragmento, que seria da parte

superior da estela. Nele há uma inscrição com três letras rvA (‫)אשר‬. Mas existe

dúvidas quanto ao que seria esta palavra: seria (‫ר)ה‬


ָׄ ֵ‫ אֲש‬ou ‫אֲש)ּו(ר‬ ? Não se
sabe exatamente e nem tem muito o que especular.
As letras são grandes e espaçadas, feitas com profunda incisão na pedra.
Há um sinal depois da última letra, talvez mostrando o fim da palavra, assim
como em Mesha e Dan. Também entre as letras r e v parece ter uma letra Z,
porém há diferença na incisão da escrita desta letra. É incrível que a notícia da
existência de uma estela em Samaria, não tenha sido veículada. Este foi um
grande achado que ficou esquecido nas páginas de um artigo de Sukenik.

Fragmento da estela israelita de Samaria, séc. IX-VIII AEC


(Foto: SUKENIK, 1936, Plate 111)

Sukenik (1936, p. 156) propõe um complemento para junto com esta


palavra, tentar reconstruir a frase inicial da estela. Sua hipótese de reconstrução
da frase é a seguinte:

‫המצבה [ אשר ]הציב מלך ישראל‬


l‚rvy $lm By$h] rv‚ [hB$mh
A estela] que [o rei de Israel erigiu
202

Esta inscrição deve ter feito referência a alguma construção monumental.


Sukenik propôs uma datação para esta estela, entre o séc. IX e VIII AEC. Ele diz
que ela está mais para o séc. VIII AEC que para o séc. IX AEC. Mas a datação
não foi exata, e oscila dentro deste período, sendo possível que ela tenha sido
feita ainda no séc. IX AEC. A caligrafia e o estilo das letras paleohebraicas é
similar à caligrafia e estilo da inscrição da Estela de Mesha e da Estela de Tel
Dan. Se estiver certo, então seria mais uma evidência contundente de que havia
escrita desenvolvida em Israel Norte na segunda metade do séc. IX AEC.

3.6.2. A Inscrição hyl (‫ליה‬, lyh)

Outra interessante inscrição foi a encontrada num caco de cerâmica que


formava a borda de um jarro. Esta inscrição foi encontrada na casa dos óstracos
no piso do período de Acab. Porém, Reiner não aponta com certeza qual sua
datação, e diz que certamente seria do séc. IX ou VIII AEC. Ele afirma pender
mais para séc. VIII AEC, mesmo assim, deixa em aberto o séc. IX AEC como
data para a inscrição. Ele faz o mesmo com os óstracos encontrados no mesmo
prédio, deixando uma margem de cem ou cento e cinquenta anos, dizendo que
os óstracos podem ser datados do séc. IX e VIII AEC. De qualquer forma, a

inscrição é interessante, é o nome de Javé na sua forma curta hyl (‫)ליה‬.

Insrição LYH (leyah) Fragmento da borda de um jarro,


séc. IX-VIII AEC (Foto: REISNER, 1924, Plate 55b)
203

Esta inscrição se assemelha às muitas conhecidas como lemelek (klml,


LMLK). Que indicam que aqueles jarros com esta inscrição, são tributos para o
rei. Esta inscrição LYH foi escrita na borda de um jarro, a mesma posição das
inscrições LMLK, e estava dentro da casa dos óstracos. Isto implicaria em duas
coisas: 1. A cobrança de tributos ou dízimos para Javé, e 2. Reforça a ideia da
existência do templo para Javé em Samaria.

3.7. Os Túmulos dos Reis de Israel em Samaria


A primeira equipe a escavar em Samaria foi a Harvard Expedition (1908-
1910), e ela obteve grande sucesso em escavar a parte principal do antigo
palácio de Omri. Debaixo da estrutura do lado oeste do palácio foi encontrada
uma caverna, que posteriormente foi analisada e identificada como sendo um
túmulo real. O túmulo coincidia com o nível estratigráfico do restante do palácio
antigo (FRANKLIN, 2003, p. 4).
A Joint Expedition por sua vez, escavou uma série de cavernas, túmulos e
cisternas do período romano em forma de garrafas, mas nenhum osso humano
ou bens funerários foi encontrado, embora os cortes no chão de cavernas eram
utilizados, de forma geral, como repositórios de restos humanos. Um túmulo
romano foi desenterrado em 1937 pelo Department of Antiquities of the
Mandatory Government, uma estrutura quadrada (5,5m x 5,5m) construída com
pedras e pilastras. O túmulo era uma câmara quadrada dentro deste mausoléu
(3,3m x 3,3m) com vários nichos. Sarcófagos foram encontrados. O túmulo foi
utilizado, possivelmente, a partir do séc. II AEC (AVIGAD, 1978, p. 1049).
O túmulo de Samaria do período 0 e 1 estava numa elevação de cerca de
345m do nível do mar. Segundo o Jordanian Department of Antiquities, túmulos
baixos deviam ter sido utilizados pela nobreza, mas não por reis. Os túmulos dos
reis estavam situados nos lugares mais elevados. Para Franklin (2003, p. 4),
quanto mais elevados fossem os locais dos túmulos, maior prestígio possuía.
Um túmulo real, chamado de túmulo A, foi desenterrado debaixo da
grande área do palácio de Omri, mas foi erroneamente identificado como sendo
uma cisterna. No entanto, esta caverna antes identificada como uma cisterna é,
na verdade, um dos dois túmulos reais da plataforma superior de Samaria. O
túmulo tem 5,9m de comprimento, 4,5m de largura e 4m de altura. As paredes
do túmulo tinham sido revestidas originalmente, mas com o tempo foi se
204

deteriorando e partes do revestimento caiu.


A entrada do túmulo A, ficava numa pequena escarpa no lado oeste do
palácio de Omri, e consiste de um túnel com 6m de comprimento e 0,80m de
altura, e possuía duas câmaras, uma menor e em seguida a maior. O túmulo A
foi utilizado pelo menos até o Período III. No Período IV sua entrada deve ter
sido bloqueada por pedras, possivelmente na época da invasão assíria
(FRANKLIN, 2003, p. 6).
Não foram encontrados nenhum vestígio de ossos humanos ou objetos
funerários no interior do túmulo, apenas muito entulho, cerâmicas tardias do
período helênico e muitos ossos de animais. O túmulo foi claramente roubado,
mas não se sabe em que época. Pela datação das cerâmicas, deduz-se que
tenha sido roubado no período helênico (FRANKLIN, 2003, p. 6).

Túmulo A

Salas Sala 7

Túmulo B

Planta do palácio de Omri com os dois túmulos do Período I.


Adaptação de (FRANKLIN, 2003, p.5)

O segundo túmulo real de Samaria, é chamado de túmulo B. A Harvard


Expedition não relata a existência deste túmulo em seus relatórios. Talvez
205

tenham interpretado como sendo outra cisterna. Suas medidas são similares às
do túmulo A, e sua entrada ficava paralela à do túmulo A, na mesma escarpa
oeste do palácio de Omri, um pouco mais ao sul, debaixo das salas do palácio.
O acesso a esse túmulo B era feita através de um túnel com 12m de
comprimento, o dobro do comprimento do túnel de entrada do túmulo A. Este
também foi entulhado com pedras durante o período IV, na invasão assíria, e
ficou inacessível por um longo tempo (FRANKLIN, 2003, p. 6-7).
Ambos os túmulos possuem similaridades tanto no tamanho quanto no
plano, e estão debaixo da estrutura do palácio de Omri, do Período I de
ocupação da colina. Os textos bíblicos mencionam que os reis de Israel Norte
Omri, Acab, Jeú, Jeoacaz, Joás e possivelmente Jeroboão II, foram enterrados
em Samaria (ver 1Rs 16.28; 22.37; 2Rs 10.35; 13.9; 14.16,19). É possível que o
túmulo A, tenha sido construído no início do reinado de Omri em Samaria. O
túmulo B, embora tenha dificuldades de datação, talvez tenha sido construído no
período de Acab, o segundo rei da dinastia fundada por Omri. Independente das
dificuldades de identificação do túmulo B, estes dois túmulos, são com boa
probabilidade, os túmulos dos reis de Israel Norte, os únicos dois túmulos reais,
segundo Franklin, desenterrados até agora no antigo Israel (FRANKLIN, 2003, p.
7-8).

3.8. Joint Expedition at Samaria (1931-1935)


A segunda grande expedição arqueológica em Samaria foi realizada pela
Joint Expedition at Samaria entre os anos 1931-1935. Esta foi uma expedição
conjunta formada por cinco instituições: Harvard University, Palestine Exploration
Fund (PEF), British School of Archaeology (situada em Jerusalém), British
Academy e Hebrew University of Jerusalem.
O diretor geral da expedição em Samaria foi John W. Crowfoot, e sua
equipe de especialistas foi formada pela arqueóloga britânica Kathleen M.
Kenyon e pelo arqueólogo Eleazar Sukenik. Katheleen Kenyon continuou as
escavações no topo na plataforma superior, esta foi sua primeira experiência na
Palestina antes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Kenyon junto com
Grace M. Crowfoot ficou responsável pela publicação dos relatórios, bem como
N. Avigad e o arquiteto J. Pinkerfeld. K. Lake representou a Harvard University e
Eleazar Sukenik foi assistente de campo para o diretor (AVIGAD, 1978, p. 1037;
206

FRANKLIN, 2004, p. 189-190).


A Joint Expedition ampliou a área de escavação fazendo inicialmente uma
limpeza na área da fortaleza dos reis israelitas, retomando o trabalho na
plataforma superior e no extremo leste da colina. Kathleen Kenyon estendeu as
escavações para o lado norte e leste do palácio de Acab, e introduziu novas
técnicas de análise das camadas (estratos), o que deu grande avanço para a
pesquisa arqueológica e para as datações dos achados. Ela questionou algumas
datas propostas por Schumacher e por Reisner, inclusive com relação à primeira
ocupação no topo de Samaria, que para ela, antes de Omri, já havia indicações
de habitações em Samaria desde o Bronze Tardio, mas a esta questão não foi
dada continuidade (TAPPY, 1997, p. 463).
Pequenos projetos dentro da Joint Expedition escavaram a fortaleza
helenística, a rua colunada no pé do talude sul, o fórum e o estádio, num terraço
baixo ao nordeste da colina. Também foram descobertas as ruínas de um templo
dedicado à deusa grega Koré, o teatro romano, a igreja bizantina e um sistema
de água romano (FRANKLIN, 2004, 193; AVIGAD, 1978, p. 1037).
Uma das grandes dificuldades desta expedição foi a de fazer a distinção
entre os estratos, porque a cidade havia sido destruída e reconstruída várias
vezes. E nas reconstruções, os edificadores normalmente reutilizavam as pedras
derrubadas para as novas construções, e isto fez com que houvesse uma
confusão na estratigrafia, com grande nível de dificuldade para realizar as
datações e análises dos estratos.
Algumas fundações de prédios de períodos diferentes foram encontradas
não acima da mais antiga, mas muitas vezes ao lado destas. Isto fez com que
Kenyon mudasse o sistema de escavação que vinha sendo adotado
anteriormente, deixando as grandes e profundas trincheiras de lado, e dando
mais atenção às finas camadas de ocupação do solo (AVIGAD, 1978, p. 1037).
A expedição escavou três câmaras na região dos palácios na plataforma
superior. Estas câmaras consistiam numa cisterna alongada, construída como
um sistema de túneis e câmaras em degraus. O túnel descia abaixo das
fundações da acrópole, numa sequência de cerca de 30 degraus e dava numa
câmara de 15m de comprimento, 9m de largura e 2,5m de largura. A outra
câmara media 20m de comprimento e 6m de altura. No talude norte foi
207

encontrada a terceira câmara, com cerca de 30m de comprimento. Estas


cavernas permaneceram sem análises mais apuradas, e ficaram escondidas por
baixo de outras estruturas posteriores (FRANKLIN, 2004, p. 196-197).
Em 1932 a Joint Expedition encontrou na parte norte do palácio de Acab,
novos vestígios de construções. Tais construções eram a parte norte do palácio.
Isto mostrou a grande dimensão do palácio, que ocupou toda a parte do antigo
palácio de Omri, estendeu-se para o leste, na “casa dos óstracos”, e estendeu-
se para o norte, até as proximidades do muro de casamata.
A expedição encontrou nestas ruínas uma grande quantidade de objetos e
decorações de marfim, no total foram 250 objetos registrados pelos
escavadores. Tais restos de marfim teriam sido do palácio de marfim de Acab,
mas há controvérsias quanto à datação dos marfins. Kenyon acredita que estes
marfins sejam de um período bem posterior ao de Acab, o período helênico.

3.9. A Arquitetura de Samaria


Samaria é um sítio muito importante para o estudo do período do Ferro II
(1000-586 AEC), período da monarquia israelita (MAZAR, 2003, p. 51). A
fundação de Samaria atribuída a Omri, também pode ser atestada em textos
assírios, quando estes se referem ao Reino de Israel Norte como Bît-Ḫumria,
Casa de Omri. Os estudos em Samaria, bem como as escavações
arqueológicas, focaram em todo o complexo real, na casamata e nos restos do
palácio que estão no topo da colina.
Amihai Mazar (2003, p.390-392), defensor da monarquia unida de Davi e
Salomão, afirma que as operações de construção em Samaria são sem
precedentes na história arquitetônica de Israel. Segundo Mazar (2003, p.388-
390), o corte uniforme e a alvenaria dos muros de cantaria são superiores às
construções atribuídas a Salomão. Segundo ele, Samaria possui dois períodos
principais de construção: o período 1, a fundação da cidade com as edificações
da época de Omri, como a pavimentação da parte principal da acrópole cercada
por um muro de cantaria, e o período 2, da época de Acab, quando foram
construídas a muralha e a casamata, o palácio e os edifícios públicos.
Finkelstein (2015, p. 113) e Liverani (2014, p. 146-147) concordam que
houve duas fases na construção de Samaria, mas de forma um pouco diferente.
Na fase 1, do período de Omri, foi construído um palácio numa escarpa e
208

cercado por instalações agrícolas, e a fase 2, da época de Acab, onde o palácio


foi expandido, foi construído o composto real num pódio, o muro de casamata e
o fosso.
Em resumo, as fortes características das construções dos omridas são bem
estabelecidas e distintas, e se repetem em outras cidades. Os conceitos
arquitetônicos omridas são avançados para sua época, os aterros, as
plataformas, etc., mostram o poder e a realiza desta primeira dinastia
monárquica de Israel, como veremos a seguir.

Plataforma Superior
Plataforma Fosso?
Inferior

Palácio Plataform
a Inferior

Planta de Samaria. (Foto: FINKELSTEIN, 2015, p. 12)

O padrão arquitetônico omrida possui pelo menos cinco características


principais, são elas: 1. A construção de um pódio (Plataforma); 2. O composto de
Casamata; 3. O portão; 4. O fosso e 5. A esplanada (Talude).

a) A Plataforma: A plataforma era moldada artificialmente para nivelar e


ampliar o topo da colina. A finalidade disto era construir prédios e palácios sobre
a plataforma no topo da colina. Sua construção era complexa e envolvia
numerosos trabalhadores e grande esforço de movimentação de terras. Pelo
menos quatro muralhas de casamata eram levantadas ao redor do topo da
209

colina, formando um quadrado ou um retângulo. Depois era realizado um grande


trabalho de preenchimento com terra até deixar o topo da colina nivelado e
amplo. Em Samaria foram construídas duas grandes plataformas, chamadas de
superior e inferior.

b) O muro de casamata: Os muros de casamata rodeavam a plataforma. Eles


eram construídos com pedras não muito grandes e formavam uma muralha
dupla, com cerca de dois metros de largura. Os muros eram compostos por
salas que compreendiam um extenso espaço para o armazenamento de
tesouros reais, arsenais do exército e para estoque de alimentos. O longo muro
de casamata possuía no lado sul e oeste, em torno de cinquenta e duas salas
para armazenamento (MAZAR, 2003, p.390-391). Os muros de casamata
também eram construídos para cercar os limites da cidade.

c) O portão: Embora o portão de Samaria não tenha sido escavado, há grande


possibilidade de que ele esteja no lado oeste, embaixo das ruínas da igreja
bizantina. Em todo caso, o portão monumental característico dos reis omridas é
composto por seis câmaras, e eram unidos na parte da frente aos muros de
casamata que rodeavam a cidade.

d) O fosso: Os fossos eram construções elaboradas e estrategicamente


pensadas. Normalmente, os fossos eram cortados na terra ou na rocha, e
cercavam a cidade pelo lado de fora dos muros. O fosso em Tel Jezreel, por
exemplo, media cerca de 670m de comprimento (nos lados leste, sul e oeste),
8m de largura e 5m de profundidade. Em Samaria, é possível que o fosso
ficasse no lado leste, embaixo da igreja bizantina.

e) O Talude: O talude era uma grande concentração de terra o que apoiava o


muro de casamata pelo dado de fora do composto. Os taludes de Samaria
possuem uma inclinação de cerca de 45º e em torno de 20m de largura. Ele se
inclina desde topo do muro, descendo (em certos casos) até a borda do fosso.
Aparentemente, tinha funções construcionais de suporte e defesa.
Este tipo de construção e edificação realizada em Samaria se tornou
padrão para outras cidades omridas, seja para cidades fortalezas de fronteira
seja para lazer e luxo da monarquia. Estes foram conceitos arquitetônicos
inovadores utilizados num conjunto pela primeira vez pelos reis omridas. Este
210

estilo arquitetônico é encontrado em outros sítios, como se verá no capítulo 5, o


que comprovará até onde chegou o domínio territorial dos reis da dinastia
omrida.

4. A Capital do Primeiro Estado Israelita


A grande questão é quando verdadeiramente teve início a primeira
monarquia em Israel? A Monarquia Unida do período de Davi e Salomão teria
sido uma sombra da primeira grande monarquia de Israel, a monarquia da
dinastia omrida. Eles inauguraram a primeira monarquia em Israel Norte, cuja
expansão tornou possível abranger todo o território de Israel Norte, até o litoral a
oeste, todo o planalto da Transjordânia a leste, parte da Alta Galileia até Abel-
Beth-Maaca e ao sul, dominando sobre o reino de Judá até o deserto do Negev.
Uma monarquia na antiguidade se caracterizava por construções
monumentais, edifícios públicos, palácios e fortes muralhas de casamata. Isto
em Israel aconteceu somente no século IX AEC, com Omri, o fundador da
dinastia. Foi com ele que Israel se estabeleceu como monarquia, surgiu no
cenário internacional como uma potência da época, permaneceu independente
de outros reinos, enfrentou o avanço assírio, expandiu o território a norte, leste e
oeste, ocupou a costa litorânea, os territórios ao sul de Damasco e ocupou os
territórios do planalto Transjordaniano. Na época de Acab, Israel Norte se
expandiu ainda para o sul, dominando o reino de Judá e estabelecendo uma
rainha omrida em Jerusalém.
Samaria nem sempre foi a capital do reino de Israel Norte, antes dela,
existiram outras cidades que tiveram a posição de “capital” ou “centros de poder”
em Israel Norte, como por exemplo, Gibeon, Siquém e Tirza. Estas foram as
“capitais” ou “centros de poder” israelitas desde a época de Saul até Omri.
Quando Saul se tornou rei, a capital de sua entidade territorial foi Gibeon
(FINKELSTEIN, 2006, p. 178-179), na época de Jeroboão I, a narrativa de
1Rs12.23 diz que ele fortificou Siquém e passou a residir nela. Nadabe,
sucessor de Jeroboão I, reinou dois anos possivelmente a partir de Siquém.
Quando Baasa assume o trono, num golpe militar, ele transfere a capital para
Tirza, e passa a reinar dali (1Rs 15.33). A partir de Baasa, a capital de Israel
Norte continuou sendo Tirza até que Omri se tornou rei de Israel Norte (1Rs
14.33-16.23). Omri reinou seis anos a partir de Tirza, depois comprou uma colina
211

e a chamou de Samaria, então passou a edificar e fortificar Samaria, que se


torna então, a nova capital de Israel Norte (1Rs 16.24).
Estas mudanças de centros de poder (capitais) podem ser observadas e
confirmadas através das evidências arqueológicas, tanto nas listas das cidades
conquistadas pelo Egito quanto nas escavações arqueológicas. De Vaux
escavou a cidade de Tell el-Far’ah Norte, a antiga Tirza, na primeira metade do
séc. XX. É possível ver os estratos do período israelita (estrato VIIa), mas não
há evidências de fortificações ou edificações monumentais. A cerâmica do
estrato VIIa de Tirza é equivalente à de Megiddo VIA, entre a Idade do Ferro I e
IIA (FINKELSTEIN, 2006, p. 178-179).
Todas as antigas “capitais” de Israel Norte (Gibeon, Siquém e Tirza), nunca
tiveram edificações monumentais ou fortificações que as estabelecessem como
capitais reais, elas, segundo Finkelstein, foram “capitais” com fortes
características rurais (FINKELSTEIN, 2011, p.230-235). Na época delas, Israel
Norte não era um reino propriamente dito, mas uma entidade territorial.
Segundo Childe (1950, p. 9-17), arqueólogo e historiador, que estudou as
antigas civilizações da região do Levante e da Mesopotâmia, e o surgimento e
desenvolvimento dos primeiros estados arcaicos, existe pelo menos dez critérios
para o estabelecimento de um estado desenvolvido. Os critérios de Childe,
trabalhados na década de 1950, são: 1. O aumento da densidade populacional
ao redor de centros urbanos; 2. Mão de obra especializada, artesãos,
comerciantes, construtores e aparatos burocráticos; 3. Produção de excedente
para sustentar o governo, cobrança de impostos, dízimos e ofertas no âmbito
religioso e político; 4. A construção de edifícios públicos monumentais, palácios
e templos suntuosos, grandes celeiros e prédios militares, etc.; 5.
Estabelecimento de uma elite governante, principalmente reis e sacerdotes; 6.
Desenvolvimento da escrita e notações numéricas, para manter todo o aparato
burocrático; 7. Elaboração e desenvolvimento das ciências, como: aritmética,
geometria e astronomia.; 8. Elaborados projetos arquitetônicos, com estilos
conceituados e sofisticados; 9. Investimento no comércio interno e externo de
matérias primas e produtos manufaturados; e, 10. Estabelecimento de um
estado com uma capital fixa e com todos os demais critérios. O nomadismo
passa a não ser mais obrigatório, porque a população se estabelece de modo
212

fixo dentro das cidades ou ao redor dela (veja também CAMPAGNO, 2007, p. 9-
11)
Mario Liverani, em sua obra Uruk: The First City (1998, 2006), aborda as
teorias marxistas sobre os estabelecimentos de grandes cidades na
Mesopotâmia, e dialoga com outras teorias mais antigas, como a de Heichelheim
(HEICHELHEM, 1938), e outras mais recentes, como a de Polanyi (POLANYI,
1944 e 1957). Para Heichelheim, a formação dos estados antigos está ligada
diretamente com a economia, e diz que os estados estavam baseados num
relacionamento recíproco com três fatores principais: 1. Recursos; 2. Trabalho;
e, 3. O capital. Para Polanyi, o mercado é o grande fator para o surgimento dos
estados antigos. Estas teorias têm certa ligação com a de Childe, com relação
ao trabalho especializado e a produção de excedentes, estes excedentes, além
de sustentar toda a burocracia estatal e religiosa, também formavam um capital,
e investimento no comércio interno e externo (CHILDE, 1950, p. 11-13), mas não
são suporte suficiente para a compreensão do surgimento de um estado
desenvolvido.
Para Liverani (2006, p. 5-14), a obra de Childe The Urban Revolution é um
clássico, e fala do legado que esta obra deixou nos estudos dos primeiros
estados e governos territoriais tanto da Mesopotâmia quanto de outras partes do
Levante. Ele trabalha a formação de Uruk, na Mesopotâmia, com os seguintes
aspectos: 1. A transformação social do território, com irrigação e plantio, criação
de tecnologias e ferramentas para o arado e beneficiamento da colheita; 2.
Administração de uma economia complexa, com calendários de plantio,
comércio e mão de obra especializada; 3. Política e Cultura, com o
desenvolvimento da escrita, do aparato burocrático, ideologias e técnicas mais
aprimoradas para armazenamento; 4. Centro e periferia, com sofisticado sistema
de governo regional periférico a partir do centro, a capital do estado (LIVERANI,
2006, p. 15-76). Liverani reorganiza e reinterpreta a teoria de Childe, atualizando
seus conceitos na aplicação dos critérios de formação de estados na cidade de
Uruk, chamada por ele de a primeira cidade, por possuir muitas destas
características de um estado antigo datado de cerca de 3000 AEC.
Para Norman Yoffee (2013, p. 120-127), os estados surgiram mediante
uma evolução da sociedade humana, formando pequenos povoados e aldeias
213

próximas aos rios, depois da formação de pequenas cidades para as cidades-


estado, e formação de centros de poder. Com a evolução das cidades para
cidades-estado é que surgiria o estado desenvolvido, grandes aglomerações de
pessoas, o comércio, construções públicas e prédios administrativos,
recolhimento de impostos e mão de obra especializada.
Nesta perspectiva, temos Sergi e Gadot, que escreveram um artigo
intitulado Omride Palatial Architecture as Symbol in Action: Between State
Formation, Obliteration, and Heritage (2017, p. 103-104). Neste artigo, eles
afirmam que foi somente com a ascensão da dinastia omrida que Israel entrou
no cenário mundial da época, e isto durante o séc. IX AEC. Os omridas passam
a controlar os vales férteis (Jezreel, Jordão e Hula), a Baixa Galileia e o planalto
de Gilead, na Transjordânia. Segundo eles, as grandes edificações omridas
visíveis ainda hoje, especialmente seus palácios, evidenciam o surgimento do
estado norte-israelita.
Para Sergi e Gadot (2017, p. 104), a arquitetura monumental exerce papel
fundamental para a criação, manutenção e transformação da ordem social e da
ideologia. Dentre os critérios para a identificação da importância da arquitetura
monumental, o da visibilidade e iconografia são os principais (TRIGGER, 1990,
p. 119-132). Segundo eles, a visibilidade e a iconografia marcam o status de
poder do estado. Isto causa impacto na população e nos visitantes da cidade. As
comitivas reais ou altos governantes que chegam próximo à cidade e visualizam
os edifícios imponentes e suntuosos e sua iconografia bem trabalhada e
colorida, causa grande impacto e certo temor diante do poderio que este visual
impõe.
É interessante como estes critérios podem ser aplicados em Samaria e no
estabecimento do Reino de Israel Norte. Quando Omri assume o poder em
Tirza, Israel Norte, embora fosse mais desenvolvido que Judá, não tinha
características de um estado plenamente desenvolvido, eram governos com
fortes características tribais. A expansão do território e o domínio dos vales
férteis, deu as condições necessárias para a edificação monumental de Samaria,
e posteriormente, de outras cidades em Israel Norte, Judá e Transjordânia.
Com a fundação de Samaria, sua arquitetura monumental, muros de
casamata, preenchimentos e nivelamento de terra, plataformas, altos e longos
214

taludes de terra, palácio suntuoso, túmulos reais, templo, edifícios


administrativos e armazéns, capitéis proto-iônicos e iconografia em marfim,
mostram que Samaria foi fundada com o objetivo de ser a capital de um grande
estado, Israel Norte. A suntuosidade com que Samaria foi construída, suas
paredes com blocos de pedra de cantaria, suas plataformas que nivelaram o
topo da colina, e seu grande palácio no alto junto aos seus prédios
administrativos, dava ao visitante uma visão de grandeza e de poder. E não só
isso, várias cidades e fortalezas dos reis omridas edificadas em outras
localidades de Israel Norte e da Transjordânia trazem estas características.
A população de Samaria no final do séc. IX e início do séc. VIII AEC era
pelo menos três vezes maior que a de Judá, calcula-se em torno de 350 mil
pessoas (BROSHI; FINKELSTEIN, 1992, p. 48-53; FINKELSTEIN, 2015, p. 136-
137). Este aspecto, portanto, se encaixa no primeiro critério de Childe e de
Liverani (CHILDE, 1950, p. 9-17; CAMPAGNO, 2007, p. 9-11; LIVERANI, 2006,
p. 15-76), o aumento da densidade populacional.
A mão-de-obra especializada para trabalhar os blocos de pedra de cantaria
e os marfins do palácio de Acab, por exemplo, ou para a construção de todo o
complexo de casamatas, plataformas e taludes de Samaria. O conhecimento
técnico para projetar a construção de cidades com arquitetura semelhante à da
capital de norte-israelita. O aparato para a cobrança de impostos e dízimos, a
avançada administração localizada ao lado do palácio de Acab e o avanço da
capacidade de escrever documentos e textos, mostram que em Samaria e em
várias partes do território de Israel Norte, havia mão-de-obra especializada.
Técnicas aprimoradas para armazenagem de alimentos podem ser vistas
ainda hoje nos sítios arqueológicos omridas. Eles investiram na construção de
grandes e amplos armazéns e locais para guardar grãos, principalmente nas
cidades localizadas nas imediações dos vales férteis, como o vale do Jordão e
de Jezreel (LIVERANI, 2006, p. 15-76). Para Norman Yoffee (2013, p. 67-72),
essas técnicas de armazenagem representavam aspectos puramente
econômicos com finalidades comerciais, e representava a riqueza do estado.
A escrita em Israel Norte foi se desenvolvendo durante o séc. IX AEC. Isto
pode ser visto através das inscrições de Mesha e de Hazael, e pelas inscrições,
mesmo que pequenas, dos óstracos tanto de Israel Norte quanto em Judá.
215

Levando-se em conta que a escrita teria inicialmente surgido em Israel Norte, e


só posteriormente teria migrado para o sul, no final do séc. VIII AEC, com a
invasão assíria sobre Israel Norte.
A formação de uma elite governante e de um exército grande, com arsenal
bélico de grandes potências, como carros de guerra e criação de cavalos. O
domínio da indústria de cobre/bronze, proporcionou a fabricação de
equipamentos para o exército, além de comercializar esse material, bem como
comercializar os cavalos treinados para a guerra e matéria prima de
bronze/cobre e ouro. Cobrança de impostos e, possivelmente, cobrança de
pedágios nas rotas comerciais da Via Maris e Estrada do Rei (Via Régia).
O conceito arquitetônico dos reis da dinastia omrida pode ser percebido em
vários sítios de Israel e Jordânia. Todas as cidades construídas pelos omridas
seguiam um padrão arquitetônico. Isso é claramente visto quando se compara
as principais cidades omridas do sec. IX AEC, como Samaria, Jezreel, Ḥazor e
Gezer (FINKELSTEIN, 2015, p. 110-122, 129). Fazia parte deste padrão
arquitetônico o portão de seis câmaras (ou de quatro câmaras, dependendo do
objetivo da cidade), o muro de casamata, obras de preenchimento e nivelamento
da colina formando uma plataforma plana, palácios, armazéns, grandes
cisternas, taludes e fosso rodeando a cidade (FINKELSTEIN, 2015, p. 130).
Estas características arquitetônicas dos reis omridas estão presentes em
todas as fortalezas de fronteira (ver capítulo 5). Temos, por exemplo, as
fortificações em Atarote e Jahaz na Transjordânia, elas são similares ao layout
de Samaria e Jezreel, e Ḥazor e Gezer. Fortalezas para guardar entre outras
coisas, as fronteiras e o comércio. Segundo Dreher, essas fortalezas também
poderiam ter servido para se preparar para a chegara dos assírios (DREHER,
2006, p. 207-208).

Considerações Finais

Neste capítulo foi analisada a fundação de Samaria como a capital do


estado de Israel Norte, a partir da arqueologia. No capítulo 3 foi analizada entre
outros assuntos, a fundação de Samaria a partir das narrativas bíblicas de 1 e 2
Reis, apesar de não termos informações mais detalhadas nestas narrativas. Aqui
a proposta foi localizar geograficamente a cidade de Samaria, e a topografia da
216

região. Depois, foram apresentadas as duas grandes expedições arqueológicas


realizadas em Samaria, Harvard Excavation e Joint Expedition. As duas
expedições não deram conta de escavar todo o composto real de Samaria,
mesmo assim, deram grande contribuição para a pesquisa bíblica e a
compreensão de como era Samaria desde sua fundação.
As evidências de construções monumentais e o padrão arquitetônico
encontrado em outros sítios de Israel Norte, Transjordânia e Judá mostram até
onde os reis omridas dominaram. Na pesquisa foi possível perceber que já
existia uma escrita desenvolvida em Samaria em meados do séc. IX AEC.
Alguns óstracos podem ser datados, segundo Reisner, da época de Acab, além
de uma inscrição egípcia do faraó Osorkon II, contemporâneo de Acab,
encontrada junto aos óstracos de Samaria. Outro argumento a favor da escrita
em Samaria é o fragmento de uma estela israelita encontrado lá. Apesar de ser
um pequeno fragmento e de ter somente três letras (que são semelhantes às
letras da estela de Mesha e de Tel Dan), ela pode comprovar, junto com outras
evidências, a existência de uma escrita desenvolvida em Samaria.
A teoria da formação dos estados apresentada inicialmente por Childe, e
retrabalhada por Liverani, contribuiu para iluminar esta questão. É possível
encontrar as características de formação de um estado em Israel Norte.
Samaria, sua capital, possui muitas evicências para isso. Os monumentos, a
escrita, a mão-de-obra especializada, cobrança de tributos, dízimos, o exército,
armazéns, estábulos, excedentes, etc. Todas estas evidências contribuem para
identificar Israel Norte como o primeiro Estado israelita (durante o período dos
reis omridas), uma vez que Judá era pequeno e sem recursos durante o séc. IX
AEC.
217

Capítulo 5
O TERRITÓRIO DOMINADO PELOS OMRIDAS A
PARTIR DA ARQUEOLOGIA

Introdução
Antes de Samaria, não houve nenhuma cidade com edificações e
fortificações semelhantes no território de Israel Norte nem no território de Judá,
que no século IX AEC, era pequeno e sem muitos recursos naturais
(FINKELSTEIN, 2011, p. 227-242). Somente a Sefelá judaíta, na fronteira com
os Filisteus, era fértil; o restante do território era em sua maior parte desértico,
como o é até hoje. Não havia grandes edificações que legitimassem ter sido um
reino estabelecido e poderoso. Jerusalém era uma pequena cidade, longe da
Sefelá e rodeada por desertos ao leste e ao sul.
Jerusalém cresceu e se destacou com uma cidade fortificada, somente
depois que o Reino de Israel Norte foi desfeito pelos assírios (722 ou 721 AEC),
quando ela passou de uma pequena aldeia de pouco mais de mil habitantes
para cerca de quinze mil; foi uma explosão demográfica. Este crescimento
favoreceu um aumento significativo de seu potencial econômico, político e
comercial no cenário internacional (KAEFER, 2015, p. 28).
Davi é descrito nos livros de Samuel e dos Reis como o rei que foi ungido
por Samuel para assumir a monarquia no lugar da casa de Saul, já que Saul
havia sido rejeitado como rei pelo próprio Javé. Davi é apresentado como o
“homem conforme o coração de Javé”, e Saul, como um rei cujo reino não
subsistirá (1Sm 13.14).
Davi sobe ao poder no lugar de Jonatas, filho de Saul. E conforme a
narrativa, Jônatas reconhece Davi como um ungido, aceitando isso por causa da
forte amizade entre eles. Davi é proclamado rei sobre Judá (2Sm 2.1-8) e sobre
as dez tribos do Norte (2Sm 5.1-5), formando então a conhecida Monarquia
218

Unida (DONNER, 1997, p. 227-249). Davi teria reinado então, em todo o


território de Judá e de Israel Norte.
A Monarquia Unida teria continuado até a época de Salomão, o qual reinou
depois de Davi. Salomão teria dado continuidade à Monarquia Unida, baseado
em Jerusalém, onde construiu o famoso Primeiro Templo [1Rs 1.1-11.43]
(DONNER, 1997, p. 250-268). Com a morte de Salomão, seu filho Roboão
assume o trono. Ele continuou e intensificou a opressão que seu pai, Salomão,
estava fazendo sobre as tribos do Norte, o que teria causado então, o fim da
Monarquia Unida. Depois disso, foram formados dois estados independentes,
Israel ao norte e Judá ao sul.
A arqueologia da primeira metade do século XX fortaleceu essa
interpretação literalista da história bíblica. Arqueólogos que escavaram em
Ḥazor, Megiddo e Gezer, como Yigael Yadin, Macalister, A. Rowe, George
Wright, Amihai Mazar, Yohanan Aharoni, entre outros, tenderam a afirmar que
tais cidades do Norte foram edificadas por Salomão, e que tais cidades faziam
parte de seu poderoso império. Eles chegaram a esta conclusão baseando-se
mais no texto bíblico do que nas evidências arqueológicas. O texto no qual estes
arqueólogos se basearam para confirmar suas teses é 1Rs 9.15 “a razão porque
Salomão impôs trabalho forçado é esta: edificar a Casa do SENHOR, e a sua
própria casa, e Milo, e o muro de Jerusalém, como também Ḥazor, e Megiddo, e
Gezer” (Texto da Bíblia Almeida. Revista e Atualizada. Barueri: SBB, 2008;
KAEFER, 2015, p. 72).
Porém, as recentes pesquisas arqueológicas, através de avançadas
tecnologias e novas metodologias de pesquisa, têm mostrado o outro lado da
história, o lado que os escribas judaítas tentaram esconder quando editaram o
texto de 1 e 2 Reis (KAEFER, 2015, p. 57). As novas e avançadas técnicas de
datação por radiocarbono (14C) tem proporcionado novas datações para os
eventos bíblicos, proporcionando bases históricas mais seguras para as
narrativas. Essa nova datação, chamada por Finkelstein como nova cronologia
(FINKELSTEIN, 2010, p. 1667-1680; FINKELSTEIN, p. 31-42.), estabeleceu uma
diferença de cerca de cem anos, levando os grandes feitos e grandes
construções anteriormente atribuídas a Salomão, para o período da dinastia
omrida, principalmente Omri e Acab.
219

Os omridas, além de edificar estas cidades, edificaram várias outras


cidades na Alta Galileia que serviram como fortaleza fronteiriça, como Har-Adir,
Abel-Beth-Maaca e Ḥazor, chegando até Tel Dor na costa litorânea do Mar
Mediterrâneo, por onde passa a Via Maris (GILBOA; SHARON; BLOCK-SMITH,
2015, p. 64, 70), a região de Gilead e grande parte do território de Moab, onde
passava a Estrada dos Reis, até a capital Moabita de Dibon. Quanto a Dibon ter
sido ou não omrida, a questão permanece em aberto (FINKELSTEIN, 2013, p.
105-109).
Ao sul, os omridas dominaram Judá possivelmente até Beerseba, ou um
pouco além, tendo inclusive instituído uma rainha da família omrida, Atalia, para
reinar sobre Judá (FINKELSTEIN, 2015, p. 136). Atalia esteve no governo de
Judá durante o reinado de seu esposo Jorão, filho de Josafá, o qual foi rei em
Judá (846-843 AEC), depois durante o reinado de seu filho Acazias (843-842), e
depois da morte de Acazias, Atalia reinou soberana sobre Judá em Jerusalém
por cerca de sete anos (842-836). Somando todo esse período, Atalia esteve
presente no governo de Judá por aproximadamente dez anos.81
Foi no tempo dos omridas que surgiram diversas cidades com fortificações
e muros de casamata, edifícios públicos administrativos, palácios monumentais,
grandes portões, preenchimentos e plataformas artificiais protegidas com
acentuados taludes de terra e fortes muros, fossos de proteção, etc. Edificações
que mostram claramente que Israel Norte havia se tornado um reino rico e
poderoso tanto internamente como no âmbito internacional (FINKELSTEIN,
2013, p. 103-104; FINKELSTEIN, 2010, p. 29-42; FINKELSTEIN, 2011, p. 227-
242).

1. As 7 Principais Características Arquitetônicas das Cidades e


Fortalezas Omridas

Além da reconstrução textual é possível reconstruir o território dominado


pelos reis omridas através as evidências arqueológicas. Os avanços da
arqueologia nas últimas décadas e os avanços da tecnologia das análises de

81Sobre o reinado de Atalia, veja a dissertação de mestrado: LÓ, Rita de Cássia. Atalia Rainha
de Judá: Leitura Exegética e Histórica de 2 Reis 11.1-3,13-16. São Bernardo do Campo: Umesp,
2006. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Faculdade de Humanidades e Direito,
Universidade Metodista de São Paulo (Umesp).
220

Carbono 14, tem possibilitado essa importante tarefa de delimitar as fronteiras


do território dominado por Israel Norte durante o séc. IX AEC.
A fundação de Samaria (ver capítulo 4), realizada por Omri, é nosso ponto
de partida para a análise dos sítios atribuídos aos reis omridas. O
estabelecimento de Samaria como capital e o Reino de Israel Norte como uma
potência regional, também pode ser atestada em textos assírios, quando estes
se referem ao Reino de Israel Norte como bit ḫumrî, Casa de Omri (GRAYSON,
2002, p. 9, 54, 60, 149). As pesquisas em Samaria bem como as escavações
arqueológicas realizadas na primeira metade do séc. XX EC, estiveram sempre
focadas em todo o seu complexo real, nas muralhas de casamata e nos restos
dos palácios que estão localizados na plataforma superior. Como já foi analisado
no capítulo 4, não há indícios de fortificações antes do período omrida
(FINKELSTEIN, 2015, p. 113).
Amihai Mazar (2003, p.388-392), defensor da monarquia unida de Davi e
Salomão, afirma que as operações de construção em Samaria são sem
precedentes na história arquitetônica de Israel, e diz ainda que o corte uniforme
e a alvenaria dos muros de cantaria são superiores aos salomônicos. Segundo
ele, Samaria possui dois períodos principais de construção: o período 1, a
fundação da cidade com as edificações da época de Omri, como a
pavimentação da parte principal da acrópole cercada por um muro de cantaria, e
o período 2, da época de Acab, quando foram construídas a muralha e a
casamata, o palácio e os edifícios públicos.
Finkelstein e Liverani concordam que houve duas fases na construção de
Samaria, mas de forma um pouco diferente. Na fase 1, do período de Omri, foi
construído um palácio numa escarpa e cercado por instalações agrícolas, e a
fase 2, da época de Acab, onde o palácio foi expandido, foi construído o
composto real num pódio (plataforma), o muro de casamata e o fosso
(FINKELSTEIN, 2015, p. 113; LIVERANI, 2014, p. 146-147).
As características imponentes das construções dos reis omridas são
evidentes e distintas, e tornaram-se o padrão para outras cidades construídas
por eles. Seus conceitos arquitetônicos eram avançados para sua época: o muro
de casamata rodeando o topo da colina, as plataformas, os aterros, os taludes,
etc. Tudo isso mostra o poder e a realiza desta primeira dinastia monárquica de
221

Israel. Este conceito arquitetônico de Samaria se tornou padrão para outras


cidades omridas, seja para cidades fortalezas de fronteira seja para lazer dos
monarcas (MENDONÇA, 2015, p. 73-87).
Quanto ao padrão arquitetônico omrida, Finkelstein indica pelo menos
cinco características principais: 1. A construção de um pódio (Plataforma); 2. O
composto de Casamata; 3. O portão; 4. O fosso e 5. O Talude (FINKELSTEIN,
2015, 129-131; FINKELSTEIN e LIPSCHITS, 2010, p. 32-33). Porém, ao analisar
todo o conjunto arquitetônico que formavam as cidades omridas, podemos incluir
pelo menos mais duas características importantes: 1. Prédios Administrativos; 2.
Estábulos e 3. Armazéns. – Desta forma, podemos comparar algumas das
cidades construídas pelos reis omridas utilizando como parâmetro as oito
principais características da arquitetura omrida: 1. A Plataforma; 2. O muro de
Casamata; 3. O portão; 4. O fosso; 5. O Talude; 6. Prédios Administrativos; e, 7.
Armazéns.

Prédios Administrativos: Prédios administrativos são características de


estados estabelecidos que possuem escrita bem desenvolvida. Nas cidades
omridas haviam prédios administrativos, como por exemplo, a “casa dos
óstracos” de Samaria, onde eram registrados e contabilizados os tributos.

Armazéns: Armazéns para guardar o excedente das colheitas. Grãos e outros


produtos colhidos nos campos eram guardados para o mantimento da cidade,
para a venda de produtos e para dias de cerco.
Estas características arquitetônicas dos omridas podem ser vistas em
todas as grandes cidades em Israel e Moab. Finkelstein e Mazar apresentam
desenhos de plantas comparativas entre algumas destas cidades, como na
figura anterior.

2. Arquitetura Omrida em Israel Norte


Estas características da arquitetura omrida podem ser percebidas em
diversos sítios omridas de Israel Norte. Alguns deles ainda não escavados
totalmente ou estão em fase inicial de escavação arqueológica. Temos os sítios
da Alta Galileia, que faziam fronteira com Damasco e Fenicia, como Abel-Beth-
Maacah.
As inscrições assírias de Tiglate-Pileser III, quando este reporta a
222

reconquista da Síria, atestam para o domínio omrida sobre a fortaleza. Embora


este seja um texto do séc. VIII AEC, ele mostra que a memória do domínio dos
omridas na região se perpetuou séculos depois da queda desta importante
dinastia. O texto assírio menciona ainda que Tiglate-Pileser III reconquistou
dezesseis distritos da terra dos omridas. O texto descreve, entre elas, Abel-
Beth-Maacah como cidade na “fronteira da Casa de Omri (Bît-Ḫumria)”
(PRITCHARD, 1969, p. 283-284; TADMOR e YAMADA , 2011, p. 57-63).

2.1. Alta e Baixa Galileia


Abel-Beth-Maaca82 (hebraico: hk'[m] -; tyBe lbea', árabe: Tell AbiI al-Qamḥ) é
um sítio arqueológico no extremo norte da Alta Galileia, e é composto por uma
colina claramente nivelada artificialmente em seu topo, formando uma
plataforma rodeada por um muro de casamata. O muro de casamata seguia o
contorno natural da colina (veja Anexo II, Fig.1). Infelizmente o sítio ainda não foi
plenamente escavado, por isso ainda não foi desenterrado o portão e demais
prédios.

O formato de Abel-Beth-Maacah lembra muito o de Tel Ḥazor83 (‫חָׄצוֹׄר‬ ‫)תֵׄל‬,


ambos são muito semelhantes, assim como o de Tel Gezer, ao sul na fronteira
com Judá. Estes três sítios estão localizados sobre uma colina artificialmente
trabalhada como uma plataforma. A diferença entre Tel Ḥazor e Gezer e o sítio
de Abel-Beth-Maacah, é que os dois primeiros foram melhor escavados, de
forma que é possível ver os portões de seis câmaras completos (veja Anexo I),
os muros de casamata, restos de edifícios administrativos, armazéns e um fosso
do lado de fora dos muros. Os reis omridas também construíram em Ḥazor um
grande sistema de água, armazéns e celeiros para abastecer a cidade
(KAEFER, 2012, p. 19-21; BEN-TOR, 2015, p. 138-141).
O estrato X de Tel Ḥazor equivale ao período da dinastia omrida, séc. IX
AEC, Idade do Ferro IIA. O layout da cidade segue a topografia da colina e foi
construída sobre as ruínas dos períodos anteriores. É perceptível que em Tel
Ḥazor houve uma grande obra de nivelamento e de preenchimento de terra, de
modo que o topo da colina se tornasse uma plataforma (veja Anexo II, Fig. 12). A

82 Coordenadas geográficas de Tel Abel-Beth-Maaca: 33º15’37.21”N – 35º34’49.36”L.


83 Coordenadas geográficas de Tel Ḥarashim: 32º58’01.71”N – 35º20’04.98”L.
223

cidade, segundo Finkelstein (2015, p. 121), foi construída no final do Ferro Tardio
(estrato VIII), e ficou em funcionamento até o séc. VIII AEC, onde há vestígios de
destruição.
Há evidências de que um grande edifício fora construído no estrato X, do
período omrida. Tal edifício ocupava um espaço de 20 x 30m, e estava localizado
na beira da plataforma, recebendo a brisa vinda do oeste. É possível que este
edifício tenha sido um palácio, construído sobre as ruínas de construções
anteriores durante no séc. IX AEC (FINKELSTEIN, 2015, p. 121-122). Capitéis
proto-eólicos foram encontrados nesta área e eram suportados por pilastras de
cantaria que atualmente está exposto no Museu de Israel, em Jerusalém. Dois
edifícios adjacentes ao palácio foram desenterrados, e eram compostos por
salas, possivelmente escritórios ou residências de autoridades reais, e eram
semelhantes aos edifícios administrativos que foram encontrados em Samaria
(MAZAR. 2013, p. 393-394).
Outras duas fortalezas da Alta Galileia que guardavam as fronteiras

noroestes com o sul da Fenicia eram: Tel Har Adir84 (‫אָׄדׅׄיר‬ ‫)תֵׄל הַׄר‬ e Tel

Ḥarashim85 (‫חָׄרָׄשׁׅׄים‬ ‫תֵׄל‬, árabe: Khirbet et-Tuleil). Segundo Finkelstein

(FINKELSTEIN, 2015, p. 133-134), Tel Har Adir era uma fortaleza localizada
numa região densamente arborizada e pouco habitada da Alta Galileia. Ela era
quadrada medindo 80 x 80m e rodeada por um muro de casamata, essa
casamata formava uma plataforma no topo da colina. Para ele, a casamata
encontrada em Har Adir é muito semelhante à encontrada Ḥazor estrato X,
indicando que a fortaleza de Har Adir com sua casamata e plataforma, teria sido
obra dos reis omridas (MAZAR. 2013, p. 335-336). A fortaleza de Har Adir foi
encontrada e escavada na década de 1970, mas os resultados destas
escavações nunca foram publicados (FINKELSTEIN, 2015, p. 129). O que temos
são apenas menções comparativas com outros sítios da época fornecidas por
Finkelstein e Mazar. Para Finkelstein (2011, p. 237-238), não há dúvidas de que
Har Adir seja uma fortaleza omrida, isto mediante todas as evidências
apresentadas.
Na década de 1950, foram escavados restos de uma fortaleza a 8 km ao

84 Coordenadas geográficas de Tel Har Adir: 33º01’56.90”N – 35º22’20.50”L.


85 Coordenadas geográficas de Tel Ḥazor: 33º01”02.86”N – 35º34’05.71”L..
224

sudeste de Har Adir, esta fortaleza era Tel Ḥarashim. A exemplo de Har Adir, não
temos muitas informações acerca do sítio de Tel Ḥarashim, mas ainda assim, há
alguns textos disponíveis sobre a fortaleza. O sítio foi escavado em 1953 por
Aharoni e Amiran, financiados pelo Israel Department of Antiquities and
Museums e pelo Israel Exploration Society. Aharoni e Amiran desenterraram o
muro de casamata da fortaleza, e segundo Ben-Ami (2004, p. 197. Veja Anexo I,
Fig. 25), o sistema de fortificação dos muros de casamata é impressionante.
Este sítio está localizado nas colinas fronteiriças com o sul da Fenícia, a 690m
acima do nível do mar, e possui características semelhantes às de Har Adir e de
Ḥazor. O muro de casamata, a plataforma e vestígios de prédios administrativos
foram encontrados tanto em Har Adir quanto em Tel Ḥarashim (FINKELSTIN,
2015, p. 136; BEN-AMI, 2004, p. 194). A fortaleza de Tel Ḥarashim deve ter
permanecido ativa entre o séc. IX e VIII AEC, já que existem vestígios de
destruição que são datados do final do séc. VIII AEC, possivelmente por parte da
invasão assíria de 722 AEC. (MEYERS, 1999, p. 93).
Um sítio importante omrida que está localizado no meio do vale da Alta
Galileia, guardando a estrada que passava junto ao rio Jordão e seguia para
Damasco, é Tel Ḥazor86. Este é um dos sítios melhor escavados da Alta Galileia,
e por isso, ele se tornou um modelo de comparação para os demais sítios
menores ou menos escavados, como os já citados Tel Abel-Beth-Maacah, Tel
Har Adir e Tel Ḥarashim. O sítio arqueológico de Tel Ḥazor (conhecido pelo nome
árabe ‫تل القضاه‬, Tell el-Qedar) foi identificado pela primeira vez em 1875 pelo
pastor protestante Josias Leslie Porter, enquanto trabalhava como missionário
na região de Damasco. Mais tarde, em 1928, o arqueólogo britânico J. Garstang
conduziu as primeiras escavações em Ḥazor. Somente no final da década de
1950 é que houve grande interesse da Universidade Hebraica de Jerusalém em
escavar o sítio87.
Yigael Yadin conduziu as escavações em grande escala em Tel Ḥazor entre
1955-1958 e 1968-1969. As conclusões dele são que Ḥazor, Megiddo e Gezer
eram cidades edificadas por Salomão, e isto baseado principalmente no texto de
1Rs 9.15, que diz que Salomão edificou Gezer, Megiddo e Ḥazor (ver

86 Para saber mais sobre as escavações em Tel Hazor, veja:


http://unixware.mscc.huji.ac.il/~hatsor/ ou http://hazor.huji.ac.il/
87 Veja mais informações sobre as escavações em Tel Ḥazor, em: http://hazor.huji.ac.il.
225

http://Ḥazor.huji.ac.il). Mas tais conclusões estavam fundamentadas num único


versículo bíblico e com forte pressão ideológica e política dos primeiros anos do
estado israelense. Atualmente, após novas pesquisas e novos exames de 14C,

Israel Finkelstein propõe uma nova cronologia para os sítios bíblicos, e as


edificações de Tel Ḥazor passam a ser atribuídas aos reis omridas (séc. IX AEC),
principalmente a Acab, rei de Israel (FINKELSTIN, 2015, p. 121).
Ḥazor tem um longo histórico de ocupação, mas o período que nos
interessa aqui é o do estrato X, séc. IX AEC. Neste estrato foi desenterrada a
parte oeste da colina, esta era a cidade de Ḥazor do Ferro Tardio IIA. A área
cobre em torno de 2,5 hectares e seu formato segue a topografia da colina, o
que deixou o layout da cidade na forma triangular (FINKELSTEIN, 2011, p. 136).
A cidade era rodeada por um muro de casamata e, claramente se nota que
houve grande obra de preenchimento de terra, a cidade foi construída sobre uma
plataforma nivelada artificialmente. Este tipo de edificação é próprio das
construções omridas, sendo similar à Samaria e Jezreel (FINKLETSITEIN, 2015,
p. 121).
Um grande portão de seis câmaras foi encontrado no lado leste,
semelhante ao de Megiddo (estrato VA-VIB) e de Gezer (estrato VII), também
omridas (Veja Anexo I, Fig. 2 e 3). Em Tel Ḥazor X foi encontrada uma cidadela,
um edifício real com anexos administrativos, segundo Mazar, parecidos com os
de Samaria (MAZAR, 2003, p. 394). O composto real, que media 20 x 30m,
estava localizado no lado oeste da cidade, junto a uma torre de vigia que olhava
para as montanhas da Galileia na direção de Tel Ḥarashim (FINKELSTEIN, 2011,
p. 236). Também foram encontrados o sistema de água, um armazém público e
um celeiro junto ao muro leste (veja Anexo I, Fig. 7), próximo ao portão de seis
câmaras. Atualmente, este celeiro e as residências do período omrida foram
tiradas para prosseguir as escavações dos períodos mais antigos, como do
período do Bronze. Temos, portanto, em Ḥazor, todas as características da
arquitetura omrida: a plataforma, o muro de casamata, o armazém, prédios
administrativos e o portão de seis câmaras (FRITZ, 1996, p. 189-192).
Para completar os principais sítios de fronteira da dinastia omrida na Alta
Galileia e Baixa Galileia, podemos também citar o sítio arqueológico de Tel En
226

Gev88 (‫ֵגׄב‬ ‫תֵׄל עֵׄין‬, tel ‘ēn gēv), que está localizado na margem leste do Mar da
Galileia (‫רת‬
ֶׄ ‫כׅׄ ֶׄנ‬ ‫)ָׄים‬, dentro de um famoso Qibbutz com o mesmo nome. O sítio de
Tel En Gev89 (estrato IV, área A, e estrato III, área B-C) foi construído sobre uma
plataforma rodeada por um mudo de casamata que mede 60 x 60m, este muro
era protegido por um talude de terra em ambos os lados. De acordo com
Sugimoto, do consórcio japonês para escavações em Tel En Gev, a arquitetura
do sítio é semelhante à encontrada em Samaria e Jezreel (veja a obra de
SUGIMOTO, Vol. 122, 2010). Para Hasegawa e Paz (Vol. 121, 2009, p. 61), En
Gev deve ter sido construída por um rei israelita da dinastia omrida, porque
possui as mesmas características arquitetônicas de outras cidades omridas,
especificamente Jezreel. Para eles o muro de casamata é similar ao de Jezreel,
assim como de Tel Ḥazor.
Finkelstein (2015, p. 134, 136; 2011, p. 238) afirma que En Gev faz parte
das cidades dominadas pelos reis omridas, porque segue as mesmas
características arquitetônicas das principais cidades dessa dinastia, ela lembra
muito Ḥazor estrato X. Para ele, En Gev, juntamente com Tel Abel-Beth-Maacah,
Tel Har Adir e Tel Ḥarashim, são as cidades fortalezas que guardavam as
fronteiras do reino de Israel Norte. Tel En Gev possui evidências de muros de
casamata, uma plataforma feita com movimentação, preenchimento de terra e
nivelamento.
Uma dúvida surge com relação ao Tel Betsaida90, por que houve domínio
omrida em En Gev e Dan e não haveria em Betsaida? Essa questão ainda está
em aberto porque não se tem certeza se ela era do domínio de Damasco ou de
Israel Norte. Nos relatórios das escavações em Tel Betsaida, não é mencionado
o domínio israelita, somente de Damasco, embora afirme que há semelhanças
entre os muros e os portões de quatro câmaras com os de Tel Dan91, Khirbet
Qeiyafa e Beerseba (ARAV, 2009)92. Segundo Hasegawa, Betsaida
possivelmente estaria entre as cidades do território mencionado na estela de Tel

88 Coordenadas geográficas de Tel ‘En Gev: 32º47”00.16”N – 35º38”24.54”L.


89 Para mais informações sobre o sítio de Tel ‘En Gev, veja: http://www.hadashot-
esi.org.il/report_detail_eng.aspx?id=1013&mag_id=115.alepo
90 Para os relatórios de Tel Betsaida, veja: http://world.unomaha.edu/bethsaida/dig.php.

91 Para os relatórios de Tel Dan, veja: http://qeiyafa.huji.ac.il/. Acesso em 10/05/2015.

92 Veja: http://www.unomaha.edu/international-studies-and-programs/bethsaida/_files/docs/2009-

bethsaida-report.pdf. Acesso em: 11/06/2015.


227

Dan, nas linhas 3-4 (HASEGAWA; PAZ, Vol. 121, 2009, p. 61).
Finkelstein não dá um ultimato sobre esta questão, ora ele diz que poderia
ter sido de Damasco e ora dos omridas (FINKELSTEIN, 2015, p. 139-140). Ele
também diz que Betsaida é semelhante a Tel Dan com seu portão de quatro
câmaras e muros sólidos. Colunas de basalto foram encontradas em ambos os
sítios na região do portão. Em Tel Dan há vestígios destas colunas e
possivelmente, a estela de Dan estaria no portão. Em Betsaida, uma estela com
uma representação do deus-sol foi encontrada no portão. Uma diferença entre a
arquitetura omrida e a arquitetura de Betsaida é o muro sólido e o portão com
quatro câmaras (FINKELSTEIN, 2015, p. 134). Embora com relação ao portão,
temos o de Beerseba que é semelhante ao de Tel Dan, Khirbet Qeiyafa e de
Betsaida, que foi uma cidade dominada pelos reis da dinastia omrida.

Tel Abel-Beth-Maacah
Tel Dan

Tel Har Adir Tel Ḥazor

Tel Bethsaida
Tel Ḥarashim

‘En Gev

Alta e Baixa Galileia. (Mapa: Google Earth). Anotações minhas.

Tel Dan é outra cidade que ainda permanece, assim como Betsaida, em
aberto sobre quem a dominou no séc. IX AEC, Damasco ou Israel Norte? Se Tel
Dan não foi omrida durante o séc. IX AEC, por que Hazael teria construído uma
estela mencionando sua vitória sobre Jorão, rei de Israel Norte e sobre Acazias,
rei de Judá)? Para Finkelstein (2015, p. 159-160), Dan e Betsaida seriam as
cidades edificadas por Hazael após sua expansão territorial no final do Ferro II.
228

Segundo ele, Dan teria sido israelita somente na época de Jeroboão II, séc. VIII
AEC. Davis, em sua obra Tel Dan in its Northern Cultic Context (2013), diz que
Tel Dan apresenta diversas características que a ligam com as características
arquitetônicas dos reis omridas. Para ele, uma plataforma e blocos de pedra de
cantaria seriam características suficientes para indicar uma influência omrida
(DAVIS, 2013, p. 35, 53), mas há problemas nisso, porque os omridas não foram
os criadores dos blocos de pedra de cantaria nem das plataformas, eles
trouxeram essas tecnologias de fora, possivelmente Ugarit, Chipre e Fenícia
(MAZAR, 2003, p. 447).
Greer (2013, p. 130) acredita que Dan foi uma cidade dominada pelos
omridas, especificamente no período de Acab, rei de Israel Norte. Jeroboão II
teria somente retomado os territórios anteriormente dominados pelos omridas,
incluindo Dan. Daí a memória dos santuários de Dan e Betel mencionado na
narrativa de 1 Reis. Mazar (2003, p. 449) retoma a característica omrida dos
blocos de pedra de cantaria, fazendo comparação entre os blocos de Samaria e
os de Tel Dan. De fato, os blocos de pedra são idênticos com a borda em baixo
relevo como as bordas de um quadro (veja Anexo I, Fig. 29 e 30). Segundo ele,
é possível que os omridas tenham introduzido essa tecnologia para Israel
através da sua estreita ligação com a Fenícia, e desta forma, também com o
Chipre e a região de Ugarit, devido as rotas marítimas. Este estilo de blocos de
cantaria, posteriormente foi utilizado nas construções de Herodes o Grande,
como na construção do Monte do Templo, conhecido atualmente como a
Esplanada das Mesquitas.

2.2. Vale de Jezreel

O vale de Jezreel sempre teve grande importância econômica na região,


tendo sido cobiçado por grandes potências como o Egito, que a ocupou por
grande período de tempo, chamando o vale de “celeiro do Egito” (FINKELSTEIN,
2011, p. 232). Os reis omridas perceberam essa importância do Vale de Jezreel,
e Acab construiu um palácio lá, tornando-a como uma segunda capital para
Israel Norte (1Rs 21.1). No vale de Jezreel temos pelo menos três cidades ou
fortalezas com fortes características arquitetônicas da dinastia omrida: Tel
229

Megiddo93 (ֹׄ‫ְמגִ ּדו‬ ‫תֵ ל‬, estrato VA-IVB), Tel Jezreel94 (‫יׅׄ ְזׄרֵׄעאֵׄל‬ ‫)תֵׄל‬ e Tel Reḥov95

(‫רחוֹׄב‬
ֵׄ ‫תֵׄל‬, estrato VI-IV).
Das três cidades do vale de Jezreel, a mais completa e importante é sem
dúvidas Tel Megiddo. Ela tem longo histórico de ocupação e de construções que
chega a 3000 AEC, além de aparecer registrada nas paredes do templo egípcio
de Karnak em 1468 AEC, onde o faraó Tutmósis III descreve uma vitória num
combate em Megiddo (KAEFER, 2012, p. 27). A fortaleza também é citada nas
cartas de el-Amarna (Idade do Bronze Tardio), onde o governador de Megiddo
troca correspondências com o faraó egípcio da décima oitava dinastia
(SCHNIEDEWIND; COCHAVI-RAINER, 2015, p. XI, 25, EA242-EA248, EA365).
O sítio de Tel Megiddo possui pelo menos três das características
arquitetônicas omridas: o portão de seis câmaras, armazéns e celeiros. Além
destas, Megiddo ainda possui sistema de abastecimento de água, palácio e
muitos estábulos. Todas estas construções são muito similares às encontradas
em Samaria (MAZAR, 2003, p. 450-455; LAMON E SHIPTON, 1939, p. 11-18). O
portão de seis câmaras foi escavado nas temporadas de 1935 e 1936, e foi
encontrado completo. Atualmente, é possível ver somente um lado do portão
israelita (veja Anexo I, Fig. 1), porque o outro foi derrubado para escavar o
período anterior canaanita. Por cima do portão, na segunda câmara, é possível
ver os restos do portão assírio de uma única câmara (LOUD, 1948, p. 42, 47-51).
Prédios administrativos foram encontrados no lado nordeste da fortaleza,
colunas e várias salas foram desenterradas nessa área. Junto aos edifícios
administrativos, em torno de doze grandes estábulos foram escavados, alguns
deles com todas as colunas e cocheiras (veja Anexo I, Fig. 15 e 16). No lado sul,
próximo ao palácio, mais cinco estábulos e uma grande área quadrada com uma
estaca no meio foi encontrada. Este era um local para treinamento e
adestramento de cavalos (LAMON E SHIPTON, 1939, p. 32-47; MAZAR, 2003,
p. 396). Um palácio do estrato IVB foi encontrado no lado norte, junto a um
grande estábulo que teria abrigado os cavalos reais (veja Anexo I, Fig. 10). O
palácio ficava próximo ao portão da fortaleza (MAZAR, 2003, p. 396), e olhava

93 Coordenadas geográficas de Tel Megiddo: 32º35’06.53”N – 35º11’04.60”L.


94 Coordenadas geográficas de Tel Jezreel: 35º33’21.08”N – 35º19’49.27”L.
95 Coordenadas geográficas de Tel Reḥov: 32º27’26.85”N – 35º29’52.86”L.
230

para o norte do vale de Jezreel, entre o Monte Tabor e o Monte Carmelo, para a
direção do sul da Fenícia. O estilo do palácio sul, com um grande pátio na frente,
é, segundo Finkelstein, do estilo bit hilani da Síria, ocupando uma área de 20 x
30m, com capitéis proto-eólicos similares aos encontrados em Samaria
(FINKELSTEIN, 2003, p. 259-261. Veja Anexo I, Fig. 11 e 12).
No lado sul, próximo de um edifício real, foi encontrado um grande celeiro,
um depósito para armazenagem de grãos. Também foram encontrados
armazéns para, possivelmente, guardar alimentos, alguma produção agrícola
restrita do vale de Jezreel, etc. Apesar de todas essas características, Megiddo
não é uma cidade totalmente semelhante às demais cidades omridas. O próprio
layout da cidade, por exemplo, é diferente do de Samaria e Jezreel. A cidade não
teve obra de nivelamento e preenchimento de terra, mesmo que tenha
casamatas. Os dois edifícios reais (norte e sul de Megiddo) são similares aos de
Samaria e Ḥazor. As características omridas, aparecem mais em locais
edificados por eles, territórios conquistados destruídos e reconstruídos, que
podem ser grandes fortalezas ou pequenas aldeias em regiões estratégicas
(FINKELSTEIN, 2015, p. 131).

Não há dúvidas de que os estábulos, portão e palácios de Megiddo sejam


dos reis omridas. Há fortes evidências para isso, porque só depois das novas
análises de Carbono 14 é que a datação de Megiddo avançou em torno de cem
anos (do séc. X para o séc. IX AEC), chegando ao período de Acab, rei de Israel
Norte (FINKELSTEIN, 2008, p. 115-136; FINKELSTEIN, 2015, p.21;
FINKELSTEIN, 2003, p. 248-255)96.

Tel Jezreel97, localizada a 12km a leste de Tel Megiddo era uma fortificação
construída por Acab, rei de Israel. No local foi encontrado um composto
retangular com casamata e torres quadradas nos quatro cantos (veja Anexo II,
Fig. 11 e 18). O composto mede 270 x 140m. Blocos de cantaria foram
encontrados em alguns lugares e notou-se que as casamatas formavam uma
plataforma plana, uma das características da arquitetura omrida. É perceptível

96 Veja também MENDONÇA, Élcio V. S. “Os Estudos Bíblicos e o Novo Paradigma


Arqueológico”. Em: Revista Voices. New Biblical Archaeological Paradigm. Vol. XXXVIII.
EATWOT, 2015, p. 25-37.
97 Veja http://www.jezreel-expedition.com.
231

que houve grande movimentação de terra para preencher o espaço entre os


muros e o centro da colina, onde estava localizado seu topo FINKELSTEIN,
2015, p. 119-120).

Tel Jocneam
Tel Dor

Tel Megiddo Tel Jezreel

Tel Reḥov

Vale de Jezreel. (Mapa: Google Earth). Anotações minhas.

As casamatas de Tel Jezreel estavam cheias de terra. Conforme os


relatórios das escavações, um portão foi localizado um pouco a leste do centro
do muro sul, e é bem possível que fosse um portão com seis câmaras, como o
encontrado em Tel Ḥazor. Também vários lagares foram encontrados nas
proximidades dos muros de casamata, indicando forte atividade de produção de
vinhos (FRANKLIN, 2015, p. 9-10).
Além da do muro de casamata e da plataforma plana, foram escavados
ainda dois elementos adicionais para esta análise: O talude e o fosso. Do lado
de fora da casamata, um talude de terra foi identificado, e descia inclinado desde
a casamata até a borda do fosso. Paralelo à casamata sul, o fosso tinha cerca
de 17m de comprimento por 8m de largura e 5m de profundidade (veja Anexo I,
Fig. 26). No lado leste e oeste, o fosso fora cortado na rocha. No total, somando
os lados leste, oeste e sul, o comprimento do fosso chegava a cerca de 670m.
No lado norte, não houve necessidade de cavar um fosso, por causa do declive
natural da colina (FINKELSTEIN, 2015, p. 119-120). Não foi possível localizar
232

exatamente o palácio e outros edifícios existentes dentro do composto, devido


às constantes e fortes erosões que acabaram danificando a área, principalmente
no lado oeste, onde fora construída uma aldeia medieval e posteriormente
otomana.

2.3. Região Central

Na região central de Israel Norte, temos cidades importantes ou núcleos de

poder militar dos reis omridas. Como é o caso de Samaria, Tirza98 (‫)תׅׄרְׄצָׄה‬, Tel

Gezer99 (‫ֶׄג ֶזׄר‬ ‫ )תֵׄל‬e Tel Dor100 (‫)תֵׄל דוֹׄר‬. Sobre Samaria já foi dedicado o capítulo
4, portanto, não será abordado aqui novamente. Neste tópico serão trabalhados
os sítios de Tirza, Tel Gezer e Tel Dor. Evidentemente há muitos outros sítios
igualmente importantes nesta região, e que possivelmente apresentam sinais da
presença omrida, mas o objetivo deste tópico é apresentar os sítios com as
características da arquitetura omrida que estão mais evidentes.
Tirza estava localizada num entroncamento de dois vales e rotas
comerciais: 1) O vale atualmente chamado de Wadi al-Far’a, que vinha do vale
do Jordão, um pouco abaixo o vale do Jaboq; e, 2) O vale que seguia para o sul,
para Siquém e descia para Betel. Era uma localização estratégica do ponto de
vista comercial, mas não exatamente estratégica do ponto de vista político,
porque estava escondida no meio de um vale entre montanhas. Por isso a
escolha de Samaria, mais ao centro do território e na ligação entre o vale do
Jordão e a costa litorânea.
Em Tirza não foram encontradas edificações que justificassem uma capital
de um reino, mas possivelmente de um centro de poder ou um reino com fortes
características tribais. Roland de Vaux escavou este sítio entre os anos de 1946
e 1960, e escavou uma área dividida em quatro campos: três no lado oeste do
sítio e um no lado norte. A parte central e leste do sítio não foi escavado, sendo
impossível saber com precisão se havia edifícios administrativos e palácio no

98 Coordenadas geográficas de Tirza (Tell el-Far’ah): 32º17’13.74”N – 35º20’15.82”L.


99 Coordenadas geográficas de Tel Gezer: 31º51’33.55”N – 31º55’12.55”L. Para mais
informações sobre as escavações em Tel Gezer, veja: http://www.telgezer.com/ ou
http://www.gezerproject.org/ ou http://www.hadashot-esi.org.il/report_detail_eng.aspx?id=1820&
mag_id=118.
100 Coordenadas geográficas de Tel Dor: 32º36’58.54”N – 34º55’00.78”L. Veja mais informações

sobre as escavações em Tel Dor em: http://dor.huji.ac.il.


233

composto. Os estrados VII (A, B e C) são os que pertencem ao início do reinado


da dinastia omrida, o período de Omri, rei de Israel (FINKELSTEIN, 2015, p. 90-
91).
Há vestígios de ocupação desde a Idade do Bronze Tardio (em torno do
séc. XI AEC), tendo uma lacuna de ocupação entre o séc. X e IX AEC, entre a
Idade do Ferro I e II. A hipótese levantada por Finkelstein (2015, p. 91-95), é a
de que Tirza teria ficado desabitada até o período da dinastia omrida, quando a
cidade volta a ser habitada. Talvez isto explique a plataforma nivelada no topo da
colina de Tirza, onde a cidade fora construída. Desta forma, a cidade seria
omrida ou seria dos primeiros dias de Jeroboão II, no séc. VIII AEC). De
qualquer forma, esta entidade territorial de Tirza teria se expandido e chegado
até o vale de Jezreel, que coincide com as datações de Samaria. É possível que
Omri teria assumido o poder desta entidade territorial de Tirza, expandido e
ocupado o vale de Jezreel. Ao sudoeste, ele teria escolhido a colina onde
edificou Samaria, para que fosse a capital do seu reino, tendo inaugurado o
primeiro estado israelita desde então (FINKELSTEIN, 2015, p. 85-105).

Samaria Tirza

Siquém

Tel Gezer Jericó

Região Central. (Mapa: Google Earth). Anotações minhas.

Na fronteira sul com Judá temos a fortaleza de Tel Gezer. Gezer é um dos
três principais sítios atribuídos a Salomão, conforme datações de meados do
234

séc. XX. Isto por causa da semelhança entre as construções e com base num
único versículo bíblico, 1Rs 9.15, que diz que Salomão edificou Gezer, Megiddo
e Ḥazor. Gezer é uma cidade importante estrategicamente, porque dela era
possível controlar o vale de Asquelon e a via Maris (KAEFER, 2012, p.23), além
de estar próximo da Sefelá judaíta. A fortaleza foi o centro logístico dos cercos
israelitas a Gibeton, conforme 1Rs 15.27 e 16.15-17. Tais textos, segundo
Finkelstein (2015, p. 135), por citar Gibeton, e não uma cidade com maior
importância na planície costeira, fornece credibilidade histórica ao relato bíblico.
Gezer, assim como Ḥazor e Megiddo, tem um longo período de ocupação
desde a Idade do Bronze, mas o período que interessa a esta pesquisa é o da
ocupação israelita, que conforme encontrado no estrato VIII, foi o período em
que surgiram as evidências arquitetônicas dos reis omridas. O estrato VIII é
datado do séc. IX AEC. Neste estrato escavado nas últimas temporadas no tel,
mostra evidências do padrão arquitetônico omrida, como o muro de casamata
que rodeava a fortaleza, a plataforma nivelada com movimentação de
preenchimento de terra, o portão com seis câmaras, um edifício público
administrativo e, possivelmente, um palácio no lado oeste do portão, e um
grande sistema de abastecimento de água (MAZAR, 2003, p. 370-375;
FINKELSTEIN, 2015, p. 135-136; KAEFER, 2015, p. 72; Kaefer, 2012, p. 23-25.
Veja Anexo I, Fig. 2, 14 e 23; Anexo II, Fig. 14).
Uma marca de pedreiro semelhante às encontradas em Samaria e
Megiddo foi encontrada em Tel Gezer (veja Anexo III, Fig. 3), mas segundo os
relatórios de Macalister (1912, p. 178-179), ela foi encontrada junto a ruínas do
período Macabeu, não tendo nenhuma ligação com o período omrida, atribuindo,
assim, ao período Macabeu, séc. II AEC. Essas marcas de pedreiro também
foram encontradas em Tel Beerseba, todas similares às de Samaria e Megiddo,
todas do séc. IX AEC, do período omrida.
Os omridas se expandiram para a costa litorânea, dominando a cidade
portuária de Dor (Tel Dor). Segundo Finkelstein (2015, p. 135), a arqueologia não
tem apresentado provas conclusivas até o momento, fazendo-se necessário o
uso das fontes documentais. Para ele, a lista dos distritos salomônicos em 1Rs
4.11 reflete a realidade do séc. VIII AEC, entre o final do governo israelita do
Norte e o domínio assírio. É possível que as fortes ligações entre Israel Norte e a
235

Fenícia, através do casamento de Acab com a princesa fenícia, Jezabel, tenha


impulsionado a conquista de Dor, com finalidades comerciais marítimas. Mesmo
assim, nos relatórios das escavações em Tel Dor de 2014, publicados na página
de Tel Dor Excavation Project, mostra que houve avanços nas escavações, e
que foram encontrados um muro de casamata e um portão datados do séc. IX
AEC. O portão ainda não havia sido plenamente escavado, e somente quatro
câmaras ficaram evidentes até a publicação do relatório101 (Veja Anexo I, Fig. 6).
Os relatórios da Tel Dor Excavations Project mostram que durante a Idade
do Ferro II (séc. IX – VIII AEC) houve construções monumentais, fortificações e
muros de casamata. Isto indica que durante o séc. IX AEC houve interesse e
investimento na cidade, sendo construídos edifícios e um portão, juntamente
com a fortificação com muros de casamata. O relatório publicado em 2014 diz
que tais edificações e o portão, são, possivelmente, do período de dominação
dos reis omridas (GILBOA et al, 2015, p. 64, 70). As escavações e a história da
ocupação no sítio mostram que Tel Dor não foi israelita antes do séc. IX AEC,
mas as evidências apresentam ocupação principalmente fenícia. Desta forma, a
primeira evidência ocupacional israelita em Dor teria sido durante o séc. IX, no
período do domínio dos reis omridas em Israel Norte.

2.4. Arquitetura Omrida em Judá

O domínio de Israel Norte em Judá é notório tanto através das evidências


textuais e documentais, como arqueológicas. Isto pode ser visto através de sítios
como Beerseba, Tel Arad, Kuntillet ‘Ajrud, Khirbet Kheleifeh e Khirbet en-Nahas.
Tel Beerseba102 (árabe: Bir es-Seba‘, e, Tell es-Seba‘) possui um
interessante histórico de ocupação. Uma cidade atribuída aos patriarcas (Gn
21.25-31; 26.26-35) tem seu desenvolvimento datado de finais do séc. X AEC e
durante o séc. IX AEC. O sítio foi escavado inicialmente na década de 1960 por
Y. Israeli e R. Cohen, financiado pelo Departamento de Antiguidades de Israel.
Posteriormente, entre 1969 e 1975, o sítio foi escavado por Yohanan Aharoni,
pela Universidade de Tel Aviv (NEGEV, 1990, [Beer-Sheba]; KAEFER, 2012, p.
38).

101 Veja mais informações em http://dor.huji.ac.il/periods_IR.html.


102 Coordenadas geográficas de Tel Beer Sheva (Beerseba): 31º14’41.96”N – 34º50’26.18”L.
236

A cidade foi recebeu fortificações e se tornou um grande centro de


armazenamento entre o séc. X e IX AEC. As rotas comerciais leste-oeste do
Nahar Beerseba favorecia o comércio de produtos agrícolas para as conexões
com a via Maris e a região de Moab e a Estrada do Rei.
O estrato VI-V é o período do domínio omrida. O sistema de muros de
casamata e taludes (com cerca de 20º) foram construídos com a finalidade de
fortificar a cidade (veja Anexo I, Fig. 22). Segundo Manor (1992, p. 643), do The
Anchor Yale Bible Dictionary, foi identificada uma grande operação de
preenchimento e nivelamento e um fosso, não totalmente escavado, medindo
entre 2 e 3m de profundidade. Deste estrato também é o portão (21 x 21m) com
quatro câmaras no lado sudeste (veja Anexo I, Fig. 4), o qual Aharoni achou
semelhante ao de Tel Dan e sua cerâmica, Aharoni achou similar à de Megiddo
V-IV, do período omrida. Neste estrato também foram desenterrados armazéns,
casas e edifícios.
Um altar com quatro chifres foi encontrado desmontado, na temporada de
1973, e suas partes tinham sido utilizadas como blocos de numa parede de um
armazém. O altar (2,5 x 2,5 x 1,5m) foi datado por Aharoni no séc. VIII AEC, e é
similar aos altares de quatro chifres encontrados em Megiddo (AHARONI, 1974,
p. 3). O problema da datação está no fato de que o altar não foi encontrado in
situ, mas deslocado, isto dificulta a datação. É possível que o altar seja do séc.
IX AEC, ou que pelo menos estivesse em uso nessa época, refletindo a cultura
religiosa desse período.
Algo que não foi notado pelos pesquisadores, é que nas pedras do altar há
marcas de pedreiro similares às encontradas em Samaria e Megiddo. Aharoni
percebeu as marcas de pedreiro, mas na época não fez comparação com as
marcas existentes nas cidades do norte citadas (AHARONI, 1974, p. 3). Sendo o
altar da mesma época que Megiddo V-IV e Samaria, isto torna possível a
identificação com os construtores dos edifícios omridas. Esta identificação faz a
ligação direta com o domínio omrida em Judá, chegando em Beersheba, onde
há muitas evidências arquitetônicas das construções omridas e marcas de
pedreiro nas pedras do altar com quatro chifres (veja Anexo III, Fig. 9).
Há evidências ainda de ocupação omrida no extremo sul de Judá, nas
237

antigas fronteiras no deserto com o Egito: Kuntillet ‘Ajrud e Khirbet Kheleifeh103,


atual Eilat/Aqaba, conhecida na Bíblia como Ezion-Geber, e outra cidade,
produtora de cobre, na antiga divisa entre Judá e as terras de Edom, Khirbet en-
Nahas104, na atual Jordânia.
Kuntillet ‘Ajrud está no deserto ao sul de Judá, a cerca de 150km de
Jerusalém, a 50km ao sul de Ein el-Qudeirat105 (Cades-Barnea). Atualmente,
esta localidade pertence ao território egípcio no norte da península do Sinai.
Este sítio foi datado do séc. VIII AEC, do período de Jeroboão II. Finkelstein
endossa essa data, mencionando os exames de Carbono 14 realizados nas
cerâmicas encontradas nele (FINKELSTEIN 2015, p. 167). Mas isto não significa
que a fortaleza não estivesse em uso desde o séc. IX AEC, até porque o próprio
Finkelstein aponta para o início do séc. VIII AEC a paleografia e a cerâmica, o
que indica que ainda na segunda metade do séc. IX AEC já existia alguma
atividade no local (FINKELSTEIN 2015, p. 167-168).
O surpreendente são as inscrições em paleohebraico e desenhos
encontradas em cacos e potes de cerâmica e gesso. A menção a “Yhwh de
Samaria e sua Aserá” liga Kuntillet Ajrud diretamente a um culto a Javé em
Samaria ao lado de Aserá, divindade da fertilidade. Possivelmente seja uma
referência a um templo de Javé localizado na capital norte israelita
(UEHLINGER, 1987, p. 491; KAEFER, 2015, p. 75-80).
A cidade de Khirbet en-Nahas ao sudeste do Mar Morto, era um importante
centro de produção de cobre do Levante, um grande complexo industrial de
cobre. Foi escavada pelo moraviano A. Musil, no início do séc. XX,
posteriormente, nas décadas de 1930 e 1940 ela foi escavada por Nelson Gluek.
Outras temporadas de escavação aconteceram na década de 1980, financiadas
pelo German Mining Museum, sob a liderança de A. Hauptmann. Nas décadas
de 1990 e 2000, as escavações continuaram sob a liderança de T. E. Levy e M.
Najjar, num consórcio fechado entre University of California, University of
California San Diego (UC San Diego) e o Department of Antiquities of the
Hashemite Kingdom of Jordan, este projeto atualmente é chamado de Edom
Lowlands Regional Archaeological Project, ELRAP (LEVY; BETTILYON;

103 Coordenadas geográficas de Khirbet Kheleifeh: 29º33’16.94”N – 34º57’44.55”L.


104 Coordenadas geográficas de Khirbet en-Nahas: 30º40’51.47”N – 35º26’10.31”L.
105 Coordenadas geográficas de ‘Ein el-Qudeirat: 30º38’25.10”N – 34º24’28.63”L.
238

BURTON, 2016, p. 313-314).


A importância de Khirbet en-Nahas é a datação da indústria de cobre e das
edificações locais. Levy e Smith datam o sítio entre os séculos XII e IX AEC. Tal
datação justificaria o surgimento do reino de Edom nessa época e a indústria
edomita de cobre, e consequentemente, o domínio salomônico na região (LEVY;
SMITH, 2008, p. 42, e LEVY; BETTILYON; BURTON, 2016, p. 317-318).
Finkelstein, discorda das datações sugeridas pela equipe de Levy,
principalmente com relação ao domínio judaíta sobre o reino de Edom nesta
época. Para Finkelstein, a datação deste sítio é problemática, mas não pode ser
datado antes do séc. X AEC. Segundo ele, uma datação plausível, seria entre o
séc. IX até o final do séc. VIII, ou início do séc. VII AEC, tendo seu pico de
produção na primeira metade do séc. IX AEC (FINKELSTEIN, 2005, p. 119-120;
FINKELSTEIN, 2011, p. 238-239).

Tel Beerseba
Tel Arad

Khirbet en-Nahas
Cades-Barnea

Kuntillet ’Ajrud

Khirbet el-Kheleifeh

Judá. (Mapa: Google Earth). Anotações minhas.


239

Para Finkelstein (2011, 238-239), era importante para os omridas terem o


domínio da produção de cobre e ter o controle territorial da Estrada do Rei, que
passava próximo ao vale de Faynan, junto à área de preservação ambiental
Dana Biosphere Reserve. Tal controle sobre a produção de cobre era atribuída
ao rei Salomão, durante a chamada Monarquia Unida, no séc. X AEC.
Foi encontrada em Khirbet en-Nahas uma fortaleza quadrada com um
portão não totalmente escavado, mas possivelmente tenha tido quatro câmaras
(veja Anexo I, Fig. 7), que seria semelhante ao de Beerseba, Betsaida e Tel Dan.
Um muro fortificado e salas de trabalho, pedras de cantaria foram utilizadas no
muro nas proximidades do portão, também foram encontradas bacias de pedra
para fundição de cobre (LEVY; BETTILYON; BURTON, 2016, P. 317-318).
Finalizando a análise dos sítios norte-israelitas em Judá, temos no extremo
sul do deserto de Judá, na moderna cidade de Eilat, o sítio arqueológico de
Khirbet el-Kheleifeh. Este sítio foi escavado por várias expedições entre as
décadas de 1930 e 1940, tendo como principal arqueólogo Nelson Glueck
(PRATICO, 1985, p. 1). Inicialmente o sítio foi atribuído a Salomão, devido às
citações bíblicas de 1Rs 9.26-28 sobre o comércio com navios de Társis.
Finkelstein, num de seus artigos sobre este sítio (2014, p. 128-130), diz que não
existia em Judá antes do séc. VIII AEC, fortalezas quadradas com casamatas
como esta encontrada em Judá, medindo 73 x 73m (veja Anexo II, Fig. 5), e que
estas são características das construções dos reis da dinastia omrida, e que
Khirbet el-Kheleifeh deve ser datada de meados do séc. IX AEC.
Na fortaleza localizada no litoral do Mar Vermelho foram desenterrados os
muros de casamata e um portão com quatro câmaras, semelhante aos portões
de Beersheba, Khirbet en-Nahas, Betsaida e Tel Dan. O portão e o muro de
casamata são datados do séc. IX AEC, e há um muro sólido que foi construído
por cima da casamata e data do período assírio. Fortalezas quadradas com
casamatas desta mesma época (séc. IX AEC), também foram encontradas em
Tel Har Adir (80 x 80m), Tel Ḥarashim, na Alta Galileia, em En Gev (60 x 60m),
no lado leste do Mar da Galileia, em Khirbet en-Nahas (73 x 73m), no sudeste do
Mar Morto e em Tel Arad no estrato X (50 x 50m). O forte de Arad tem as
mesmas dimensões do forte de Khirbet Ara’ir (Aroer), no Vale do Arnon, Jordânia
(FINKELSTEIN, 2014, p. 128-129; LAMAIRE, 1977, p. 151-152).
240

Portanto, as marcas de presença omrida nestes sítios são provas bastante


contundentes de que Israel Norte, durante a dinastia omrida, estendeu seu
domínio até as margens de Eilat, muito além da fronteira sul do território de
Judá. Desta forma, eles teriam dominado o comércio marítimo no braço leste do
Mar Vermelho, bem como, o entroncamento de uma das principais rotas
comerciais vindas do Egito e passando por Eilat, a Estrada do Rei.

3. Arquitetura Omrida na Transjordânia: As Estelas de Mesha e


de Tel Dan
As estelas de Mesha e de Tel Dan fornecem informações preciosas para a
compreensão do domínio territorial dos reis omridas durante o séc. IX AEC. Por
isso, ambas são peças importantes para as análises e reconstrução do território
omrida, principalmente na região da Transjordânia e do sul de Damasco. A
Estela de Mesha menciona diversas cidades construídas e dominadas pelos reis
omridas, fazendo referência ao nome de Omri (linhas 4 e 5) e a Acab “seu filho”
(linha 6). A Estela de Tel Dan diz que os reis omridas ocuparam os territórios ao
sul de Damasco (linhas 3 e 4). Vejamos.

3.1. Estela de Mesha

A estela de Mesha foi encontrada em Dhiban (bíblica Dibon) no segundo


semestre de 1868, por Friedrich Klein, um pastor protestante natural de
Estrasburgo. Ele logo fez um decalque da inscrição da estela (feita de basalto
negro), o que posteriormente possibilitou a reconstrução do texto, já que com as
disputas políticas pela estela, no final de 1869, a mesma foi quebrada em vários
fragmentos (GALLEAZZO, 2008, p. 29-37). Nela ocorre várias vezes o nome da
divindade nacional de Moab, Qemosh Vm^106, e encontra-se pela primeira vez

fora da Bíblia, o nome de Javé hWhY107, o tetragrama (WÜRTHWEIN, 1995, p.


136-137; ACHILLES, 2013, p. 208-209).
A estela foi datada do séc. IX AEC (LAMAIRE, 2007, p. 136). O texto da
estela mostra que havia escrita desenvolvida em Moab nessa época. Os
caracteres são similares aos da Estela de Tel Dan e dos Óstracos de Samaria. A

106 Qemosh (qmš) ocorre doze vezes nas linhas: 01, 03, 05, 09, 12, 13, 14, 17, 18, 19, 32 e 33.
107 Javé (yhwh) ocorre uma vez na estela, na linha 18.
241

estela possui um longo texto com 34 linhas, que contam a vitória de Moab contra
Israel. A mesma história está descrita na Bíblia em 2Rs 3.21-27, porém narra a
vitória de Israel. Essas diferenças entre as narrativas são secundárias, o mais
importante são as citações dos reis de Israel Norte, das cidades dominadas por
eles, da menção à tribo de Gad na linha 10 (D@.FA, ’š gd, “homens de Gad”) e

a ocorrência do nome de Javé na linha 18 (HWHY, yhwh).


A Estela de Mesha menciona esse território como tendo sido habitado
pelos “homens de Gad108” (linha 10). O texto de Nm 32.3109 diz que “Atarote,
Dibon, Jazer, Ninra, Hesbom, Eleale, Sebã, Nebo e Beom”, foram as cidades
herdadas pela tribo de Gad. Em Nm 32.34 diz que “os filhos de Gad edificaram a
Dibon, Atarote e Aroer”. Além das cidades dos gaditas, a Estela de Mesha
menciona cidades citadas na Bíblia como sendo herança da tribo de Rúben,
como vemos em Josué 13.16-17 e 25-27: “16 E foi o seu limite desde Aroer, que
está à beira do ribeiro de Arnom, e a cidade que está no meio do vale, e toda a
campina até Medeba; 17 Hesbom e todas as suas cidades, que estão na
campina; Dibom, e Bamote-Baal, e Bete-Baal-Meom; 18 E Jasa e Quedemote,
e Mefaate; 19 E Quiriataim e Sibma, e Zerete-Saar, no monte do vale; 20 Bete-
Peor, e Asdote-Pisga, Bete-Jesimote”. Todas as cidades marcadas em negrito
também foram citadas na Estela de Mesha como sendo cidades dominadas
pelos reis omridas.

Na linha 5, o rei Mesha fornece informações, mesmo que esta não seja a
intenção dele, sobre Omri e Acab. Ele diz que os reis de Israel Norte oprimiram
Moab por muitos dias, que segundo o próprio texto da estela, foram quarenta
anos, que segundo a narrativa bíblica, foi o tempo de vida de Omri até Jorão.

NBR.NMy.BAM.TA.wN[yw.LARVy.kLM.yRM[
‫עמריׄמלךׄישראלׄויענוׄ אתׄמאבׄימןׄרבן‬
Omri rei de Israel oprimiu Moab [por] muitos dias

As linhas 7 e 8 dizem ainda que durante seu reinado, possivelmente a


partir de Samaria, ele conquistou vários territórios em Moab:

108 Sobre Gad, veja KAEFER, 2006, p. 169-174.


109 As citações bíblicas deste parágrafo são da Bíblia ARA. Negritos meus.
242

.CRA.Lk.TA.yRM[.VRywׄ. (…)
ׄ‫)…( וירשׄעמריׄאתׄכלׄארץ‬
VYW.TV.N[BRA.HNB.YMY.YCXW.HMY.HB.BVYW/ABDHM
‫מדבאׄוישבׄבהׄימהׄוחציׄימיׄבנהׄארבעןׄשתׄויש‬
(...) Omri conquistou toda a terra de
Medeba e se estabeleceu nela [em] seus dias, e metade dos dias de seu filho,
quarenta anos.

Estas três linhas selecionadas da estela, mostram que Omri dominou sobre
Moab vários anos e que Acab, Acazias e Jorão, continuaram seu domínio
durante todos os dias de seu reinado. A estela não cita escrito por extenso o
nome de Acab, nem de Acazias ou Jorão, mas os chama de HNB “seu filho”,
referindo-se a eles. Omri conquistou toda o planalto de Medeba, atual Madaba,
com todas as suas fortalezas, várias são mencionadas pelo nome no texto da
estela. Com as informações fornecidas pela estela, somadas às evidências
arqueológicas, é possível reconstruir as fronteiras de Israel Norte, bem como
identificar as principais características da arquitetura omrida em suas cidades e
fortalezas.

Hesbon

Nebo
Madaba

Atarote Jahaz

Dibon
Aroer

Transjordânia, conforme Estela de Mesha. (Mapa: Google Earth). Anotações minhas.


243

As cidades citadas na estela de Mesha que foram dominadas pelos reis

omridas, são: ‘Atarot [TRj[, ‫]עטרת‬ (linha 10-12), Nebo [Hbn, ‫]נבה‬ (linha 14),

Jahaz [chY, ‫]יהץ‬ (linha 19), Dibon [nbYd, ‫]דיבן‬ (linha 21) e Aroer [R{R{,

‫]ערער‬ (linha 26), Medeba [ABdhm, ‫]מידבא‬ (linha 07-08), Bet-Diblaten

[nTlBd.TB, ] (linha 30) e Bet-Baal-Meon [n[m.l[B.TB, ‫מעון‬ ‫( ]בית בעל‬linha


09 e 30) e Quiriaten [nTYrq, ‫( ]קריתים‬linha 10).

Com base nas informações fornecidas na Estela de Mesha, podemos


reconstruir o domínio omrida na região de Moab. Destas cidades mencionadas
na Estela de Mesha, pelo menos três delas têm claras evidências arquitetônicas
das construções omridas. Só o fato delas terem sido citadas na estela já seria
uma boa evidência, mas além disso, temos as escavações, as datações e as
características dos sítios. Os sítios são: Khirbet ‘Ataruz (Atarote), Khirbet Al-
Mudayne (Jahaz) e Khirbet Ara’ir (Aroer).
Khirbet ‘Ataruz (ḫirbet ‘aṭārūs) a bíblica Atarote, foi construída como uma
fortaleza no planalto de Madaba, a qual também era israelita durante o séc. IX
AEC. ‘‘Atarote foi construída no cume de uma colina a cerca de 12 ou 15km à
oeste da Estrada dos Reis110. Segundo Finkelstein (2015, p. 125), o cume
domina uma ampla visão para o leste, onde passa a Estrada dos Reis, no
planalto de Madaba, para o sul e para o oeste, com vista para a região do Mar
Morto. Finkelstein visitou o sítio em janeiro de 2010, e segundo ele, as ruínas do
período do Ferro estão expostas na superfície e próximo à superfície.
O sítio tem a forma retangular plana no alto da colina. Seu projeto
arquitetônico é semelhante ao de Samaria e de Jezreel. Atarote possui até
agora, algumas das características dos demais sítios omridas, exceto o portão
de seis câmaras, que ainda não foi desenterrado: 1) o pódio; 2) a muralha de
casamata; 3) o fosso; e, 4) o talude.
O layout de Khirbet ‘Ataruz é muito parecido com o de Jezreel, uma
edificação retangular plana no cume da colina, medindo aproximadamente 155 x
90m (veja Anexo II, Fig. 10). A Jezreel omrida também era retangular, construída
no cume de uma colina, com muro de casamata e obras de preenchimento de
terra, tornando o cume da colina uma plataforma plana, medindo cerca de 270 x
110 Medições feitas através do software Google Earth.
244

140m (FINKELSTEIN, 2015, p. 119). Em Khirbet ‘Ataruz, um fosso foi


descoberto rodeando a edificação, tal fosso foi desenterrado no lado sul e oeste,
medindo aproximadamente 4m de largura por 3m de profundidade (veja Anexo I,
Fig. 27). O portão ainda não foi desenterrado, mas presume-se que esteja no
lado nordeste da fortaleza. (FINKELSTEIN, 2015, p. 125-126).
Do muro de casamata, foram desenterrados em torno de 150m na parte
lateral norte e 90m da parte sul111, onde estão expostas algumas ruínas no lado
sudeste da fortaleza. Foram desenterradas também residências e um complexo
cúltico na parte central da fortaleza. O lado leste não foi desenterrado até agora.
A parte sul está bem preservada e marca bem a borda do pódio, e é visível
o muro do lado oeste do sítio. Segundo Finkelstein (2015, p. 125-126), o muro
parece estar apoiado por um talude, mas isso não está visível no lado leste do
sítio, porque não foi completamente escavado. Ele observa que a característica
mais marcante do sítio, é o fosso cortado na rocha, e que está claramente visível
em pelo menos três lados do retângulo112.
Segundo a equipe do Ataruz Project, os achados encontrados nas
escavações da área E, que incluem todo o complexo do templo, foram datados e
estiveram em uso nos séculos IX e VIII AEC. O muro de casamata retangular, a
plataforma e o fosso, são datados do séc. IX AEC, e são características da
arquitetura omrida (JI; BATES, 2013, p. 3).
No outro lado da estrada do Rei, a 23 km ao leste de Khirbet ‘Ataruz

(Atarote), está Khirbet al-Mudayne (‫المدينةواديالثمد‬ ‫خربة‬, ḫirbet al-Mudāyna aṯ-


Ṯamad), a bíblica Jahaz. A fortaleza de Atarote guardava o planalto entre a
Estrada do Rei e o Mar Morto a oeste, e Jahaz, a parte leste da Estrada do Rei.
Ambas vigiavam todo o tráfego comercial das caravanas que subiam do Egito ou
da Arábia e desciam desde Damasco ou Mesopotâmia. Este sítio está localizado
na parte mais fértil do Wadi Thamad, no deserto leste do governorado de
Madaba, uma localização estratégica e fronteiriça de Israel Norte. A Estela de
Mesha diz que foram os reis omridas que a construíram (linhas 18-19), e Mesha
depois lutou contra ela e a venceu, na revolta de Moab contra Israel Norte
narrada também em 2Rs 3.21-27.

111Medições feitas através do software Google Earth.


112 Veja mais informações sobre as escavações em Khirbet ‘Ataruz, em:
http://www.ataruz.org/fieldwork
245

Khirbet al-Mudayne é uma colina comprida e circular no seu lado nordeste


e sudoeste. A colina possuía um muro de casamata que era moldado pelo
contorno da colina, com um portão com seis câmaras no lado nordeste, medindo
15,8 x 16,4m (veja Anexo I, Fig. 5 e 24). A fortaleza estava construída sobre uma
plataforma nivelada (120 x 50m), feita com preenchimento de terra, de forma que
o topo da colina ficasse plano. Um armazém foi encontrado na fortaleza, uma
cisterna nas proximidades do portão e um grande fosso rodeando toda a colina
(DAVIAU, 2006, p. 249-275; FINKELSTEIN e LIPSCHITS, 2010, p. 34). Foi
desenterrado um pequeno templo com altares e inscrições, e vestígios de uma
indústria têxtil, como peças de teares e restos de tecido, talvez relacionado ao
exército (DAVIAU, 2012, p. 269-288. Veja Anexo I, Fig. 19).
O sítio de Khirbet al-Mudayne possui várias das características da
arquitetura de uma cidade omrida, como muros de casamata que contornam
toda a colina e formam uma plataforma, um portão com seis câmaras, um talude
de terra e um fosso ao redor da muralha. Todas estas características podem ser
encontradas em outros sítios omridas do oeste do Jordão, principalmente,
Samaria, Jezreel, Ḥazor (estrato X) e Gezer (estrato VII).

Khirbet Ara‘ir (‫عرعور‬ ‫خربة‬, ḫirbet ‘arā’ir), a bíblica Aroer, é uma fortaleza
moabita localizada na margem norte do desfiladeiro do Wādî Mūjib (Vale do
Arnon). A Estela de Mesha diz que foi o rei de Moab quem a construiu (linha 26)
e que os reis omridas a conquistaram. Embora a estela diga que Aroer fora
construída por Mesha, rei de Moab, ela possui características do conceito
arquitetônico omrida (FINKELSTEIN; LIPSCHITS, 2010, p. 37-38).
O forte foi construído sobre um pequeno monte de aproximadamente 10m
de altura. A construção era quadrada (50 x 50m), muros triplos davam base à
plataforma e também a protegiam de ataques. O muro triplo era composto por
três muros construídos um ao lado do outro, com um espaço entre eles, tal
espaço tinha sido preenchido com terra e entulhos, fortificando o muro composto
(veja Anexo I, Fig. 20; e Anexo II, Fig. 4). É possível ver claramente que a
fortaleza foi construída sobre uma plataforma artificial com preenchimento de
terra e nivelamento. Um talude de terra rodeia o muro triplo (FINKELSTEIN;
LIPSCHITS, 2010, p. 37-38), principalmente na parte sudeste, onde a quina no
246

muro avança sobre o desfiladeiro do Vale do Arnon. Há vestígios de edificações


dentro da fortaleza, e estão visíveis atualmente.
O exame de Carbono 14 realizado com as cerâmicas encontradas no sítio,
datou o sítio da Idade do Ferro IIA, o que evidencia a ocupação da fortaleza
durante o séc. IX AEC (FINKELSTEIN; LIPSCHITS, 2010, p. 38). Segundo
Finkelstein, “o conceito arquitetônico que inclui todo o complexo descrito acima
não foi encontrado até agora, em nenhum local do início do século IX (ou
anterior) fora das fronteiras do Reino do Norte” FINKELSTEIN, 2015, p. 131).
A fortaleza de Khirbet Ara’ir (Aroer) era utilizada para vigiar a rota comercial
da Estrada do Rei que passava junto a ela. Da fortaleza é possível ter uma visão
ampla e distante podendo-se ver até o Mar Morto a oeste, o lado leste e o lado
sul do Vale do Arnon. Todas as caravanas ou até mesmo exércitos eram visíveis
aos olhos dos vigias da fortaleza de Aroer.

3.2. A Estrada do Rei: Rota Comercial

A expressão hebraica ‫ּדֶ ֶרְך הַ מֶ לְֶך‬ (Caminho do Rei, Estrada do Rei ou

Estrada Real) ocorre somente duas vezes na Bíblia Hebraica, em Nm 20.17 e


Nm 21.22. Tais textos narram solicitações de passagem da parte dos israelitas,
durante o êxodo, pela região de Edom e de Moab, subindo pela Estrada do Rei.
Esta famosa estrada ligava o Egito a Damasco, e daí para a Mesopotâmia. Em
seu longo percurso várias ramificações saíam dela ligando as rotas para a
Arábia, e rotas secundárias que a ligavam à costa litorânea, bem como à outra
importante rota comercial, a Via Maris (AHARONI et.al., 1999, p. 16-17; MAZAR,
2003, p. 10, 241; KAEFER, 2015, p. 31; SIQUEIRA, 1997, p. 100-101). A Via
Maris era chamada assim pelos romanos, mas no texto bíblico ela aparece com

o nome de “Caminho do Mar” (‫הַ יָם‬ ‫ּדֶ ֶרְך‬, Cf. Is 8.23 [9.1]) ou pode aparecer

também como “Caminho da terra dos Filisteus” (‫פְ לִ ְשׁ ִתים‬ ‫ ּדֶ ֶרְך אֶ ֶרץ‬Cf. Ex 13.17),
rota que saída do Egito e passava por Gaza, Asquelon, Asdode, Jaffa e Dor,
seguindo para a Fenícia em direção a Ásia.
A Estrada do Rei era uma das mais importantes rotas de comércio
internacional, por onde passavam as caravanas com especiarias e diversos
outros produtos. Várias das cidades por onde passava a Estrada do Rei, eram
247

dominadas pelos omridas durante o séc. IX AEC., podemos citar, entre outras,
Aroer (Khirbet ‘Ara’ir), Dibon (Dhiban), Medeba (Madaba) e Ramot-Gilead (Tell
er-Rumeith). A rota saía do Egito e atravessava toda a península do Sinai ao
norte, seguindo na direção de Eilat/Aqaba/Ezion-Geber, e daí subia sentido
norte, passando pelas cidades dominadas pelos omridas, na região de Moab e
no planalto de Gilead, indo até a capital arameia de Damasco (AHARONI et.al,
1999, p. 80, 88; PEREGO, 2001, p. 28).
Durante a primeira metade do séc. IX AEC, os reis omridas, principalmente
Acab, dominaram estas duas importantes rotas comerciais, a Via Maris e a
Estrada do Rei (Via Régia). Todo o comércio vindo do Egito para a
Mesopotâmia, ou para a Fenícia e para a Arábia, passava obrigatoriamente pelo
território então dominado pelos omridas (GASS, 2011, p. 18-23; SIQUEIRA,
1997, p. 101), tal domínio é atestado pelas estelas de Mesha e de Tel Dan. Ter o
controle destas rotas comerciais significava o domínio de toda a riqueza
produzida e transportada para o Egito ou para a Mesopotâmia, a cobrança de
pedágios e impostos para transportar mercadorias por estas rotas
(FINKELSTEIN, 2013, p. 8, 17-20; LEVY et al, 2016, p. 317-318).
Na altura do planalto de Madaba, a Estrada do Rei passava primeiro entre
as fortalezas de Aroer e Dibon, no vale do Arnon, depois entre as de ‘Atarot e
Jahaz, quatro fortalezas que conforme as inscrições na Estela de Mesha, os
omridas teriam construído pelo menos duas delas, como está escrito nas linhas
10 e 11: “e o rei de Israel construiu ‘Atarot” e as linhas 18-19 “e o rei de Israel
construiu Jahaz”. Para Finkelstein (2013, p. 37), estas fortalezas tinham o
objetivo de vigiar a rota comercial a leste e oeste, principalmente o comércio de
cobre vindo de Khirbet en-Nahas, que era a fonte de cobre mais importante do
Levante, cuja produção parece ter chegado ao pico no séc. IX AEC, durante o
período do domínio omrida na Transjordânia. Tudo indica que os omridas,
especialmente o rei Acab, tiveram a intenção de monopolizar o comércio de
cobre e outras especiarias que passavam pela Estrada do Rei, visando além do
comércio, objetivos militares.

4. Planalto de Gilead
Há outras cidades omridas transjordanianas que não foram mencionadas
na Estela de Mesha, como as cidades e fortalezas da região de Gilead, no
248

planalto norte, acima do Vale do Jaboq. Tais cidades podem ser identificadas
como omridas através do método de comparação da arquitetura da cidade ou
fortaleza. Entre elas está Ramot-Gilead, palco de conflitos entre Israel Norte e
Damasco. Outras, mas com pouca ou quase nenhuma escavação arqueológica,
são Mispa de Gilead e Pella (Tabaqat Fahl). Pella tem atividades de escavação
até recentemente, e possivelmente, parte das ruínas desenterradas são do
período da dinastia omrida.
Tell er-Rumeith113 é o nome moderno para a antiga Ramot-Gilead. Ela está
localizada na parte nordeste de Gilead, cerca de 16 km a leste da cidade de Irbid
e 7 km ao sul de Ramtha. Por ela passa a Estrada do Rei, que neste trecho é a
rodovia 25, importante rota comercial na antiguidade e durante o séc. IX AEC,
dominada pelos reis omridas, principalmente pelo rei Acab.
O sítio foi escavado em duas grandes temporadas pelo arqueólogo Paul
Lapp na década de 1960. A primeira temporada aconteceu em 1962 e a
segunda, em 1968. As escavações de Lapp estiveram focadas especificamente
na Idade do Ferro I e II, que é o período israelita. A datação das cerâmicas
encontradas no sítio foi estabelecida entre o final do séc. X AEC e início do séc.
VIII AEC (BARAKO; LAPP, 2015, p. 3-5). Foi identificado no sítio uma fortaleza
quadrada (40 x 40m), uma plataforma e um grande fosso rodeando a fortaleza
pelo lado de fora dos muros pertencentes ao estrato VII e VIIB (FINKELSTEIN,
2015, p. 127; BARAKO e LAPP, 2015, p. 7, 73. Veja Anexo II, Fig. 4).
A plataforma era rodeada por um muro de casamata de 1,5m de largura
formando uma plataforma nivelada dentro da fortaleza. Restos de um portão foi
encontrado, mas com grandes marcas de destruição, portanto, não foi
identificada a quantidade de câmaras do portão (BARAKO; LAPP, 2015, p. 19-
30). Várias camadas de destruição foram encontradas nas escavações de Tell
er-Rumeith. É possível que 1Rs 22.29-40 e 2Rs 9.1-29 faça referência a isso.
Segundo Finkelstein, Lapp não percebeu as principais características do sítio:

(1) Que o forte foi construído sobre num pódio elevado; e (2) que
está rodeado por um amplo fosso (...), o qual está rodeado, por
sua vez, no seu lado exterior, por um muro de barro (...). O fosso
e o muro se parecem com elementos semelhantes em Khirbet

113 Veja fotos das escavações em Tell er-Rumeith (Ramot-Gilead) em:


http://imgur.com/gallery/DKYwh.
249

Mudeyine eth-Themed em Moab (FINKELSTEIN, 2015, p. 128).

Três importantes características da arquitetura omrida podem ser


identificada nas escavações: o muro de casamata, a plataforma quadrada e o
fosso ao redor. Os relatórios das escavações nunca foram publicados
integralmente, o que dificulta as análises do sítio. A fortaleza quadrada se
assemelha à fortaleza de Khirbet en-Nahas, Khirbet al-Kheleifeh, Tel Har Adir, Tel
Ḥarashim e En Gev, todas fortalezas datadas do séc. IX AEC, dominadas pelos
reis da dinastia omrida.

4.1. Vale do Jaboq e Madaba

Na região do vale do Jaboq há vários sítios arqueológicos com ocupação


durante o século IX AEC, que podem ser atribuídos aos reis omridas. Porém, tais
sítios não foram plenamente escavados e as informações sobre sua estratigrafia
são escassas. Serão citados aqui, mas não há evidências suficientes e
conclusivas para atribuí-los aos omridas. Apesar de que durante o século IX
AEC, os reis da dinastia omrida dominaram toda a região do Jaboq e de
Madaba.

Os sítios de Sucot (atual Tell Deir Alla, árabe: ‫تل دير عال‬, tell deyr ‘alla),

Peniel (hebraico: ‫פְ נִ יאֵ ל‬, penî’ēl) e Mahanaim (hebraico: ‫מַ ֲחנָיׅ ם‬, maḥănāyim) –
ambas são chamadas de Tulul al-Dahab (árabe: ‫)تلول الذھب‬ – são sítios de

domínio israelita omrida durante a primeira metade do séc. IX AEC, uma vez que
Jeroboão II também parece ter reinado ali. As histórias do Ciclo de Jacó em
Peniel e Mahanaim e as características do Tell Deir Alla indicam que eram sítios
omridas. Também o estilo da escrita paleohebraica das inscrições de Tell Deir
Alla coincidem com o estilo das inscrições de Mesha, Tel Dan, Tel Reḥov e dos
óstracos de Samaria.
Hesbon (Tall Hisban) é um dos sítios mais escavados do planalto de
Madaba, mas suas escavações enfatizaram até o momento somente o período
bizantino e otomano do sítio. O período do Ferro não foi escavado, exceto
poucas partes isoladas, como as dos estratos 21-17, onde foram encontrados
fragmentos de um muro de casamata, parte de uma plataforma e um
250

reservatório114. Estas são características da arquitetura omrida, mas tais


achados são restritos demais para serem uma evidência conclusiva, embora a
narrativa bíblica afirme que Hesbon foi uma cidade israelita durante o séc. IX
AEC (Nm 32.3).

4.2. Estela de Tel Dan

Na Estela de Dan, pode-se perceber a descrição de Hazael, rei de


Damasco, a respeito de suas conquistas. Ela deve ter sido construída na época
do rei Hazael, como um memorial das suas vitórias sobre Israel Norte e a
reconquista dos territórios arameus dominados pelos reis da dinastia omrida. A
estela teria sido colocada na porta da cidade de Dan, para celebrar sua vitória e
humilhar os reis da casa de Omri e os reis da casa de Davi.
A estela foi quebrada, e somente três fragmentos foram encontrados. O
fragmento A foi encontrado em 21 de julho de 1993, o fragmento B1 em 20 de
junho de 1994 e o fragmento B2 em 30 de junho de 1994 (ATHAS, 2003, p. 6,
13, 14). A estela foi datada do séc. IX AEC e atribuída sua autoria a Hazael, rei
de Damasco (ATHAS, 2003, p. 255-256; KAEFER, 2016, p. 66-68). Ela tem treze
linhas de texto, todas incompletas e algumas com apenas uma ou duas
palavras. Mas, como o texto nos fragmentos está bem conservado e legível,
escrito em caracteres paleohebraicos separados por pontos, foi possível
reconstruir parte do texto (Veja Anexo IV, Fig.2).
A estela ficou mais conhecida por causa da expressão que aparece na

linha 9 dWdtyb (‫דוד‬ ‫“ )בית‬casa de Davi”, já que esta foi a primeira vez que o
nome Davi aparece registrado fora dos textos bíblicos. O fato de Hazael registrar
a expressão “casa de Davi” na estela, mostra que embora ela fosse conhecida
em Damasco, ela foi colocada numa posição secundária na estela, já que Jorão
(~r[Wy) na linha 7, e depois Acazias (Why]zx‚) na linha 8, aparecem antes
do nome de Davi (ATHA, 2003, p. 298-309; KAEFER, 2016, p. 70).
Na linha 5 da Estela de Tel Dan, o rei Hazael diz que Israel Norte tinha
ocupado as terras de Damasco na época de seu pai, Ben-Hadad:

114 Veja Tall Hisban Expedition: http://www.madabaplains.org/hisban/hesban-global-history.htm.


251

(5) “[Is]rael entrou previamente nas terras de meu pai. Hadad me fez rei”

O texto da linha 7, é continuação imediata do anterior (6), onde o rei Hazael


diz que havia matado setenta reis com suas milhares de carros de guerra e
milhares de cavaleiros, e menciona ainda, que matou o rei Jorão, filho de Acab.
A linha foi reconstruída, mas parece não haver dúvidas de que o texto deva ter
sido este.

(7) [bi]gas e milhares de cavaleiros. [Eu matei Jo]rão, filho de [Acab]

E na linha 8, Hazael diz que matou o rei Acazias, filho de Jorão, rei de
Judá, da casa de Davi:

(8) rei de Israel, e matei [Acaz]ias, filho de [Jorão, re]i

Estes textos selecionados com as marcações nos nomes dos reis de Israel
e Judá (Jorão e Acazias), evidenciam que esta vitória de Hazael deve ter
acontecido na época da revolta de Jeú (2Rs 9.14-10.14), e é possível que o
nome Jeú estivesse no final da linha 11 “[... Jeú rei]nou sobre Is[rael ...”
(KAEFER, 2012, p. 39-40). Embora a narrativa bíblica apresente Jeú agindo
sozinho e tomando o poder em Israel Norte, a estela apresenta outra
informação. Segundo a estela de Tel Dan, parece que ter sido Hazael quem
colocou Jeú no poder, e talvez ainda tenha eliminado a dinastia omrida através
de Jeú. Porém, apesar de Jeú ter assumido o poder, Israel Norte já não era mais
uma monarquia independente, ela estava agora sob o domínio de Hazael, rei de
Damasco.
A Estela nos mostra como a dinastia omrida tinha representatividade
internacional, o que indica sua importância e poder, ao pondo de render uma
252

Estela para o rei Hazael, onde narra sua vitória contra Jorão, o último rei da
dinastia omrida, a qual deveria estar fixada no portão de entrada da cidade. A
menção aos territórios de Damasco ocupados pelos reis omridas é importante
para esta pesquisa, infelizmente a estela não menciona as cidades e fortalezas
dominadas pelos omridas, assim como consta na Estela de Mesha. Mas,
somando-se esta estela com as demais evidências dos sítios a leste e nordeste
do Mar da Galileia, dá para tentar uma reconstrução plausível dos territórios de
Damasco dominados por Israel Norte.
Com a vitória de Hazael sobre Israel Norte, a dinastia omrida chega ao fim.
As evidências das destruições promovidas por Hazael e seu domínio em todo o
território de Israel Norte pode ser visto através das evidências arqueológicas.
Tanto em Jezreel como em Rehov e em outras cidades ao sul de Israel Norte é
possível perceber os vestígios de destruição na segunda metade do séc. IX AEC
(FINKELSTEIN, 2007, p. 149).

4.3. A Inscrição Assíria de Salmaneser III

Os reis omridas são mencionados também em inscrições assírias, da


época de Salmaneser III, onde apresenta “Acab, o israelita”, mostrando seu
poderio bélico da batalha de Carcar (qar-qa-ra) 853 AEC. A Estela de Kurkh,
conhecida também como a Estela de Salmaneser III, foi encontrada em 1861,
pelo britânico John George Taylor, na antiga cidade de Kurkh115, no distrito de
Bismil, leste da Turquia, próximo da fronteira norte com a Síria e da cidade de
Harã. A estela é similar à de Ashurnasirpal II, que também foi encontrada em
Kurkh, daí o nome: As Estelas de Kurkh. A primeira estela é um registro de
Salmaneser III, em suas campanhas de expansão do império assírio para o leste
do Eufrates, vencendo a coalisão antiassíria liderada por Acab, rei de Israel
Norte (linhas 91 e 92). A estela é datada de 853-852 AEC (GRAYSON, 2002, p.
11; CLINE e GRAHM, 2012, p. 90-95; PROVAN et.al., 2016, p. 401-403).
O texto da estela foi publicado em ANET, obra editada por James
Pritchard, em 1969. O texto retrabalhado por Grayson (2002, p. 23), numa
coleção de vários volumes sobre as inscrições assírias. No volume 3, Grayson
trabalha as inscrições assíria do séc. IX e VIII AEC, onde está este mesmo texto
115Kurkh é o antigo nome da atual cidade de Üçtepe, no distrito de Bismal. Sua localização
geográfica é: 37º49’33.72”N – 40º32’38.42”L.
253

apresentado por ANET, mas traz o texto da estela transliterado. Acab é visto
como um forte oponente e possuindo grande poder de combate, com seus dez
mil soldados a pé e seus dois mil carros de guerra . Vejamos o texto a seguir:

Seguindo desde a cidade de Arganâ, eu me aproximei da


cidade de Qarqara. eu arrasei, destruí, (e) queimei a cidade
Qarqar, sua cidade real. Uma aliança foi formada por (lit. "ele /
ela tinha tomado como seus aliados") estes doze reis: 1.200
carros de guerra, 1.200 cavalaria, (e) 20.000 soldados a pé de
Hadad-ezer (Adadidri), o Damasceno; 700 carros de guerra,
700 de cavalaria, (e) 10.000 soldados a pé de Irḫulēnu, o
Ḫamatite; 2.000 carros de guerra (e) 10.000 soldados à pé
de Acab (Aḫabbu) o israelita (Sir’alāia); 500 soldados a pé
de Byblos; 1.000 soldados a pé do Egito; 10 carros de guerra
(e) 10.000 soldados a pé do Irqanatu terra; 200 soldados a pé
de Matinu-Ba’al da cidade de Arvad; 200 soldados à pé da terra
de Usanātu; 30 carros de guerra (e) [N].000 soldados a pé de
Adunu-ba’al da terra de Šianu; 1.000 camelos de Gindibu dos
árabes; [N] centenas de soldados a pé (ii 95) de Ba’ asa, o
homem de Bīt-Ruḫubi, o amonita. Eles atacaram com
[retribuição] guerra e batalha contra mim. Com as forças
supremas que Aššur, meu senhor, tinha me dado (e), com as
armas poderosas que o padrão divino, que vai adiante de mim,
havia me concedido, eu lutei com eles.116 (GRAYSON, 2002, p.
23, Salmaneser III (A.0.102.2) – Col.i, ii 86b-89a).

Números da Coalisão Antiassíria


Carros
de Cavalaria Soldados Camelos Rei / Localidade
guerra a pé

Hadad-ezer (Adadidri), o
1.200 1.200 20.000 -
Damasceno

116Este texto também está publicado na obra Ancient Near Eastern Text (ANET), PRITCHARD,
1969, p. 278 (col.2), p. 279 (col.1). O texto em português citado nesta pesquisa é tradução minha
e os negritos são meus.
254

700 700 10.000 - Irḫulēnu, o Ḫamatite


Acab (Aḫaabbu) o israelita
2.000 - 10.000 -
(Sir’alā-a-a)
- - 500 - Byblos

- - 1.000 - Egito

10 - 10.000 - terra de Irqanatu

- - 200 - Matinu-Ba’al da cidade de Arvad

- - 200 - terra de Usanātu

30 - [n].000 - Adunu-ba’al da terra de Šianu

- - - 1.000 Gindibu dos árabes


[N] Ba’asa, o homem de Bīt-Ruḫubi,
- - -
centenas o amonita
Mais de Números totais da
3.940 1.900 1.000
41.900 Coalisão Antiassíria

Os omridas foram grandes governantes e empreendedores. Os projetos de


Omri foram os que mais se assemelharam aos atribuídos a Salomão, como
descritos nos textos bíblicos. Por isso muitas das obras anteriormente atribuídas
a Salomão, hoje são atribuídas, com alto grau de certeza, aos omridas. O
desenvolvimento do Reino de Israel Norte aconteceu tendo em vista o
expansionismo arameu, de Damasco, e o assírio de Assurnasírpal II (883-859
AEC). Em suas relações internacionais, os omridas fizeram alianças
importantes, como a que fizeram com a Fenícia, cuja finalidade era de se
tornarem parceiros no rendoso comércio marítimo internacional, já que eles
também tinham anexado aos seus territórios a costa litorânea (SIQUEIRA, 1997,
p. 95-96).

Outras ocorrências da expressão Bît-Ḫumria (Casa de Omri), posteriores à


dinastia omrida, aparecem registradas em outros monumentos. Nestas
inscrições, a expressão Bît-Ḫumria passa a ser o nome dado pelos assírios para
se referir a Israel Norte, tamanha foi a fama e importância desta dinastia. Há
255

uma inscrição feita sobre a imagem de um touro monumental em Calah


(A.0.102.8), cujo texto começa citando o nome de Salmaneser, mencionando
seus títulos, epítetos, genealogias e narrativas de vitórias. Este texto menciona
nas linhas 24-27 que Salmaneser recebeu tributo de Tiro, Sidom e de Jeú, da
casa de Omri (GAYSON, 2002, p. 48).
É importante mencionar que as cobranças de tributos por Salmaneser
começaram a acontecer após o fim da dinastia omrida, na época de Jeú.
Acontece que mesmo após o fim da dinastia omrida, Israel Norte continuou
sendo chamado pelos assírios como “Casa de Omri”.

Linha Transliteração Texto Assírio Tradução

24 ina lìb-bi as-qup ina u-me-šú-ma Naquele tempo eu recebi

25 ma-da-tu šá KUR sur-ra-a-a tributo do povo de Tiro

26 KUR si-du-na-a-a šá ia-ú-a (e) de Sidom (e) de Jeú

27 DUMU ḫu-um-ri-i am-hur da casa de Omri.

Linha Transliteração Texto Assírio Tradução


ina líb-bi ú-še-ziz ma-da-tu šá
10 Eu recebi tributo de Ba’ali-manzeri
ba- a-li-maan-NUMUN
ṣur-ra-a-a ša ia-a-ú DUMU ḫu-
11 de Tiro [e] de Jeú da casa de Omri
um-ri-i

Outra inscrição é a A.0.102.10, escrita numa grande pedra lisa encontrada


numa parede em Aššur, e diz que Salmaneser recebeu pessoalmente tributos de
Ba’ali-manzeri de Tiro e de Jeú da casa de Omri (GAYSON, 2002, p. 54).

Há pelo menos mais duas citações de recebimento de tributos parecidos


com os já mencionados, como: A.0.102.12, escrita sobre uma estátua de
Salmaneser, datada de 839 AEC (GAYSON, 2002, p. 50-60); a epigrafia no
Obelisco Negro A.0.102.88, datado de 853 AEC (GAYSON, 2002, p. 149). A
256

inscrição desta parte (A.0.102.88) do Obelisco Negro apresentada por Grayson


diz o seguinte:

Transliteração Texto Assírio Tradução


Eu recebi tributo de Jeú da casa de
ma-da-tu šá ia-ú-a DUMU ḫu-um-ri-i
Omri
KÙ.BABBAR.MEŠ KÙ.GI.MEŠ sap-
Prata, ouro, uma bacia de ouro
lu KÙ.GI zu-
qu-ut KÙ.GI qa-bu-a-te.MEŠ KÜ.GI
uma vasília de ouro, vasos de ouro
da-la-ni.MEŠ
KÙ.GI AN.NA.MEŠ GIS hu-tar-tú sâ baldes de ouro, estanho, a equipe das
ŠU MAN GIŠ pu-aš-ḫa-ṭi am-ḫur-šu mãos do rei, [e] lanças

Além desta inscrição sobre a coalizão antiassíria na guerra de Carcar, há


ainda outras outras citações da expressão Bît-Ḫumria (Casa de Omri) em outras
inscrições assírias deste mesmo período e de períodos posteriores, como no
séc. VIII AEC. Em tais inscrições a Assíria chama Israel Norte de “Casa de
Omri”, mesmo um século depois do desaparecimento desta dinastia. Isto mostra
a importância que ela teve e sua relevância como potência regional no cenário
internacional do séc. IX AEC.

Nesta inscrição (de 733 AEC), Tiglate-Pileser III diz que ocupou Damasco,
no período de Rezin, rei de Damasco, e conquistou as cidades ao sul e sudoeste
de Damasco. Ele cita numa das suas inscrições, que conquistou a cidade de
Abel-Beth-Maacah, dizendo que esta era uma cidade da “Casa de Omri”. A
dinastia dos reis omridas foitão conhecida pelos reis do império assírio, que mais
de um século depois do fim desta dinastia, ainda estava viva na memória dos
soberanos da Assíria, a existência da poderosa dinastia que governou Israel
Norte durante o séc. IX AEC (PRITCHARD, 1969, p. 283-284; TADMOR e
YAMADA, 2011, p. 57-63).
257

5. Território dominado por Israel Norte

Anotações minhas. (Mapa: Google Earth)


258

Considerações Finais

No capítulo 3 foi estudado o conjunto literários sobre a dinastia omrida, e


um dos tópicos era a sobre o território dominado pelos reis omridas. Esta
reconstrução do território e das fronteiras do território, foi feita a partir da análise
dos textos bíblicos de 1 e 2 reis, Números, Deuteronômio, Josué e Juízes. Mas é
sabido que os textos bíblicos refletem um contexto posterior ao da história
narrada, por isso, não podemos entender todas as citações textuais como
verdadeiramente históricas, ou que todo o cenário apresentado na narrativa seja
exatamente o mesmo da época dos acontecimentos.

Neste capítulo utilizamos a arqueologia (que também tem suas limitações


como ciência) para reconstruir o território de Israel Norte na época dos reis
omridas. No capítulo 3 vimos as cinco principais características arquitetônicas
das construções dos omridas (apresentadas por Finkelstein), e aqui
acrescentamos outras duas características, que são prédios públicos
administrativos e os armazéns. Vimos também que o padrão arquitetônico de
Samaria, foi o padrão para todas as cidades edificadas ou reconstruídas pelos
reis omridas. Um bom exemplo disso é a cidade de Ḥazor, cujo assentamento
remonta ao período do Bronze. A cidade foi conquistada pelos omridas, que
reconstruíram as partes que haviam sido destruídas, edificando a partir das
características de Samaria: o muro de casamata, a plataforma, o talude, o fosso
(quando necessário), o portão de seis câmaras e um armazém.

Isso aconteceu com todas as cidades omridas tanto em Israel Norte como
na Transjordânia, no sul da Síria e na parte sul de Judá. Na Transjordânia temos
pelo menos três cidades/fortalezas com a maior parte destas características:
Atarote (Khirbet Ataruz), Jahaz (Khirbet Al-Mudayne) e Ramot-Gilead (Khirbet er-
Rumeith). Todas estas cidades/fortalezas possuem muros de casamata,
plataforma, prédios administrativos, armazéns, taludes e fosso.

A partir destas características foi possível encontrar as cidades omridas do


séc. IX AEC, inclusive as fortalezas de fronteira e aquelas que vigiavam a
Estrada do Rei e a Via Maris, as duas principais rotas comerciais da época. A
259

arqueologia e os textos bíblicos e extra-bíblicos em conjunto, forneceram um


panorama completo do território dominado por Israel Norte.

O território de Israel Norte no séc. IX AEC, portanto, envolvia toda a costa


litorânea desde a atual Tel Aviv, subindo até Tel Dor. De Tel Dor a fronteira
segue à direita contornando a parte sul do monte Carmelo, passando por Tel
Joqneam. De Joqneam a fronteira subia para as montanhas ocidentais da
Galileia, passando pela forntaleza de Tel Ḥarashim, Tel Har Adir e Abel-Beth-
Maacah. Daí subia até as proximidades de Damasco (Síria), e descia pela
Transjordânia, na rota da Estrada do Rei, passando por Edrei (atual Daraa), Tell
er-Rumeith, Khirbet al-Heri, Madaba, Khirbet al-Mudayna, Khirbet Ataruz, Khirbet
’Ara’ir, Dhiban, Khirbet en-Nahas, até Khirbet el-Kheleifeh (atual Eilat/Aqaba).
Daí subia no sentido noroeste, pela estrada que segue na direção do Egito (uma
continuação da Estrada do rei), passandono deserto por Khirbet ‘Ajrud até
Khirbet el-Qudeirah (Cades-Barnea). Deste ponto, a fronteira seguia à direita
contornando as terras fos filisteus, passando por Beerseba, e seguia cortando a
Sefelá judaíta até Tel Gezer, uma fortaleza que guardava uma fronteira tríplice
entre Israel Norte, Filistia e Judá. De Tel Gezer, a fronteira seguia a leste até a
costa do Mar Mediterrâneo, na altura da atual cidade de Tel Aviv.
260

PARTE 4:
RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA
261

Capítulo 6
O PRIMEIRO ESTADO INDEPENDENTE:
MONARQUIA UNIDA

Introdução
O que vimos nos cinco capítulos anteriores são as bases para a análise e
conclusões deste capítulo. Todo o levantamento bibliográfico dos principais
estudiosos da história de Israel, especificamente da dinastia omrida, forneceram
as informações necessárias para a compreensão de como a dinastia omrida foi
entendida de forma negativa e pejorativa, durante todo o séc. XX, e como ela
tem sido entendida nas últimas décadas, principalmente nas publicações do
início do séc. XXI.
O presente capítulo está estruturado em seis tópicos principais: 1. A
primeira monarquia de Israel e Judá; 2. Uma monarquia independente; 3. O
território omrida: Monarquia Unida?; e, 4. Omri e Acab / Davi e Salomão. O
principal objetivo neste capítulo é mostrar evidências de que Israel Norte com os
reis omridas transformou-se na primeira monarquia de fato, com todas as
características de monarquia, e ocupou um vasto território, expandindo para o
norte, sul, leste e oeste, que curiosamente, é semelhante ao território atribuído à
Monarquia Unida de Davi e Salomão.
Não analisaremos toda a história de Davi e Salomão plenamente, mas
ressaltaremos os pontos de semelhança entre o governo dos omridas e o da
Monarquia Unida, bem como os territórios dominados em cada um destes
governos. Uma reconstrução da história de Israel Norte a partir do Norte,
olhando os fatos com as fontes disponíveis: a Bíblia e a Arqueologia. Ambas as
fontes são importantes e uma não se contrapõe à outra, mas o conjunto das
fontes pode fornecer uma visão mais completa sobre a história desta importante
dinastia, que fundou o primeiro grande estado israelita.
262

1. A Primeiro Estado de Israel Norte e Judá

1.1. Dias Anteriores ao Estado Norte-Israelita

A história de Israel começa nas terras do Norte. Segundo Finkelstein, a


primeira entidade territorial israelita se deu com a Casa de Saul e a política de
Gibeá (ou Gibeon), na segunda metade do séc. X AEC, entre 950 e 920. Antes
disso, o território de Canaan tinha sido dominado pelo Egito durante a Idade do
Bronze Tardio (entre 1500 e 1150 AEC). As cartas de Amarna apresentam essa
realidade, havendo inúmeras correspondências de líderes ou governadores das
cidades-estado canaanitas com o faraó egípcio, como: Megiddo e Reḥov, no
Vale de Jezreel, Ḥazor, no Vale do Jordão, e Siquém, nas terras altas de
Samaria (FINEKLSTEIN, 2015, p. 29-32).
Segundo Liverani (2014, p. 36), o domínio egípcio sobre Canaan durou
cerca de três séculos, entrando em colapso em cerca de 1170. Conforme Cline
(2014, p. 25), este colapso foi o resultado de uma concatenação de eventos,
incluindo as mudanças climáticas e a seca. Os constantes conflitos de interesses
de governantes das cidades-estado canaanitas, como libertação, expansão e
domínio territorial, também foram fatores que contribuíram para o
enfraquecimento do domínio egípcio em Canaan (FINKELSTEIN, 2015, p. 33-
38).
Labayu, governador de Siquém, confrontou o poder dos egípcios, tendo ele
mesmo iniciativa de manipular e organizar uma coalisão que tinha por finalidade,
conquistar os territórios dominados pelo Egito em Canaan. Esta coalisão anti-
Egito (Gezer, Joqneam, Astarot e Shim’on) está registrada nas cartas de
Amarna, como em EA 252-254 e 255-256, que descrevem a insurreição de
Labayu contra o domínio egípcio, no período do faraó Amenhotep III. Outro caso,
por exemplo, é o das cartas EA 242-249, que narram as ameaças de Labayu
contra a cidade de Megiddo (Magidda), uma importante cidade-estado dominada
pelo Egito no fértil vale de Jezreel (SCHNIEDEWIND, 2015, p. 996-1015;
SCHWANTES, 2008, p. 11-13; NA’AMAN, 1992, p. 174).
Labayu guerreou contra as cidades-estado de Megiddo e Roob, e teria
conseguido ocupar parte do território sul do Vale de Jezreel, descendo para sul,
até Gezer. Segundo Finkelstein, se Labayu tivesse conquistado todo o Vale de
263

Jezreel, incluindo a região de Basã, a leste do Mar da Galileia e o norte do


planalto de Gilead, ele teria dominado um território semelhante ao dominado
pelo início do Reino de Israel Norte séculos mais tarde, na época de Saul
(FINKELSTEIN, 2015, p. 36-37; FINKELSTEIN, 2006, p. 171-174).
Com o colapso do domínio egípcio em Canaan, grandes ondas de
assentamento nas terras altas aconteceram no séc. XII e XI AEC. O número de
sítios aumenta de cerca de 30 para 250 no início da Idade do Ferro I, séc. XII
AEC. Essa onda de assentamentos provocada pelo colapso das cidades-estado
canaanitas deu lugar no final do Ferro I, ao nascimento do que podemos chamar
de “Israel primitivo”. Talvez isso explique a menção do nome Israel, na estela de
Mernepta (final do séc. XIII AEC) como um grupo, um povo ou um assentamento
que vivia nas terras altas do norte de Canaan (NA’AMAN, 2011, p. 47; LEMCHE,
1998, p. 34-36).
O espaço deixado pelas grandes cidades-estado canaanitas favoreceu o
desenvolvimento de clãs nas terras baixas e vales férteis. Tais vales
possibilitaram a ampliação da produção agrícola, cujos excedentes fizeram
surgir clãs mais ricos e poderosos (KAEFER, 2015, p. 32-33). Essa recuperação
dos assentamentos durou até o início do séc. X AEC. Para Finkelstein (2015, p.
49), esse foi um período de prosperidade, no qual várias cidades foram
reconstruídas, como é o caso de Megiddo, que voltou a ser uma importante
cidade no vale de Jezreel. Não foi o caso de Hazor, que após sua destruição no
final do séc. XIII AEC, só voltou a ter proeminência no início do séc. IX AEC, no
período dos reis omridas.
O período entre o colapso das cidades-estado canaanitas e a ascensão do
reino de Israel Norte ainda é obscuro. Há muitos questionamentos e posições
diferentes sobre o período. Martin Noth sugeriu em meados do séc. XX EC, o
estabelecimento de uma população israelita em Canaan, a qual estava
organizada numa liga de tribos – uma anfictionia – na qual as tribos e suas
instituições funcionavam em torno de um santuário central. Noth (1966, p. 91-
111) afirmou isso baseado na ideia de um santuário central em Silo, onde a liga
das tribos estava organizada, mas isso foi fortemente combatido posteriormente
(FINKELSTEIN, 2003, p. 208-209). Para Finkelstein (2015, p. 40-43), embora
não haja evidências diretas de um santuário em Silo do Ferro I, é possível que
264

houvesse algum tipo de lugar cultual ali.


O relato bíblico sobre Abimelec em Juízes 9 parece conter memórias do
período anterior à ascensão do reino de Israel Norte, o que lança luzes sobre
esse período obscuro (MAZAR, 2003, p. 327). Há pistas nos textos da Bíblia
Hebraica que indicam a existência de um “homem forte” governando na região
de Siquém, e este seria Abimelec. Segundo Finkelstein (2015, p. 44-45), da
mesma forma, a história da ascensão de Jeroboão I pode descrever memórias
do final do séc. X AEC, início do Ferro IIA.
Saul teria sido a continuação do governo de “homens fortes” em Canaan.
Para Finkelstein (2006, p. 179-183), Saul teria sido o último Labayu, ou alguém
semelhante a ele, reinando agora a partir de Gibeon/Gibeá (1Sm 10.26), onde
teria havido uma grande concentração de população. Saul teria iniciado a
primeira entidade territorial de Israel Norte (950-925?), começado a reinar a
unidade política Gibeon-Gibeá, nas terras de Benjamin (1Sm 14.16), e
expandido seu território ao norte, até o limite sul do Vale de Jezreel, ao leste, na
região do planalto de Gilead e Vale do Jaboque, e ao sul nas proximidades de
Gob (Khirbet Qeiyafa?), Azeca e Soco (1Sm 17.1; 2Sm 21.18).
O Egito pode ter visto o avanço de Saul (no platô de Gibeon/Gibeá) como
uma ameaça, por causa do seu lucrativo comércio de cobre, ao sul de Judá
(Khirbet en-Nahas). Na segunda metade do séc. X AEC (945-926 AEC) o faraó
Sisaq (Sheshonq I) iniciou uma nova campanha egípcia em Canaan, cujas
cidades conquistadas e destruídas estão registradas numa das paredes do
templo de Karnak, Egito. Esta campanha teria arruinado várias cidades
canaanitas desde o sul de Judá até o norte, na região do Vale de Jezreel.
Jerusalém não é mencionada na lista de cidades conquistadas pelo faraó
Sisaq117, possivelmente por ser um pequeno assentamento e não ter nenhuma
representatividade durante o séc. X AEC (FINKELSTEIN, 2006, p. 175;

117No total há o registro de 150 nomes de cidades e reis. Destas, 43 cidades bíblicas foram
conquistadas pelo faraó Sisaq, as quais são: Gaza [11], Bet-Shemesh [13], Taanac [14], Suném
[15], Bet-Shean [16], Rehov (apiário) [17], Mahanaim [22], Gibeon [23], Bet.Horon [24], Kiriat-
Jearim [25], Aijalon [26], Megiddo [27], Adar [28], Soco [38], Bet-Tapuah [39], Peniel [53], Sucote
[55], Siquém [58], Tirza [59], Vale de Jezreel [65], Hebron [71/72], Fortalezas do Negev [77/78],
Gat [83], Edom [98], Arad [108/109], Jehoram [139], Maacah [145], Jordão [150] (veja a lista
completa em http://www.bible.ca/archeology/bible-archeology-sheshonq-I-shoshenq-shishak-
shishaq-bubastite-karnak-conquest-campaign-canaan-battle-relief-topographical-list-187-cities-
conquered-name-rings-926bc.htm).
265

FINKELSTEIN, 2002, p. 11-113; TOSELI, 2016, p. 78-100).


Saul teria sido morto pelos egípcios em torno de 925 AEC (pelos filisteus
conforme 1Sm 31.1-7) no monte Gilboa, e a primeira entidade política-territorial
de Israel Norte chega ao fim. Junto com Saul, as novas cidades do Ferro I em
Canaan ruíram no final desse período. Há indícios de destruição por fogo em
vários sítios do norte, incluindo Megiddo, no Vale de Jezreel. Megiddo foi
completamente queimada e suas ruínas chegaram a mais de um metro de altura
em algumas partes do sítio. Sua nova fase de assentamento se iniciou no início
do Ferro IIA (entre o final do séc. X e início do séc. IX AEC). Assim como em
outras áreas de Canaan, a mudança na cultura material é nítida e diferente da
anterior. Estas novas características se tornaram padrão para o reino de Israel
Norte. A destruição neste período foi decisiva para a transição da cultura
material canaanita para uma cultura material norte-israelita (KAEFER, 2015, p.
37-42; FINKELSTEIN, 2015, p. 50-55).
Após a retirada do Egito, o território governado por Saul foi retomado.
Novos líderes tribais se levantaram para governar estes novos assentamentos.
Este seria o caso dos reis de Israel Norte que governaram depois de Saul e

antes dos omridas, como: Jeroboão I ( ~['b.r'y", 1Rs 12.16-14.20, governou 22


anos) e seu sucessor Nadab ( bd'n", 1Rs 15.25-32, governou 2 anos), Baasa
(av'[.B;, 1Rs 15.33-16.7, governou 24 anos) e Elá, seu filho (hl'ae, 1Rs 16.8-14,
reinou 2 anos), e por último, Zimri, que governou somente sete dias ( yrIm.zI, 1Rs
16.15-20, reinou sete dias). Jeroboão I teria governado a partir de Siquém, a
qual precisou reconstruir118 (1Rs 12.25), e depois teria edificado também Peniel
(1Rs 12.25b). Baasa assume o poder depois de Nadab, filho de Jeroboão I, e
começa a governar em Tirza (1Rs 15.33). Segundo os números apresentados
em 1 Reis, estes reis tribais governaram por um período total de cerca de 50
anos.

1.2. O Surgimento da Primeiro Estado Israelita

Com o enfraquecimento do domínio egípcio de Sisaq I em Canaan e sobre

118Esta menção a edificação de Siquém, talvez seja referente à sua destruição por Sisaq I, em
926 AEC.
266

a primeira entidade territorial israelita sob Saul, estes novos governantes


“israelitas” vão surgindo e ocupando espaço. Na época de Elá, rei de Israel,
Omri, general dos exércitos de Israel, estava acampado diante de Gibeton, dos

filisteus. A Peshitta propõe o nome Gat ( tG:) no lugar de Gibeton (!AtB.GI), isto
consta no aparato crítico da BHS. Isto faz sentido, levando em conta que com o
enfraquecimento egípcio na região, o comércio de cobre/bronze teria ficado sob

o domínio de um poder local, que seria, possivelmente, Gat, tG: (FINKELSTEIN,


2002, p. 111-112).
Omri sobe ao poder em Tirza, passando a reinar sobre Israel Norte (1Rs
16.15-28). Omri reina seis anos em Tirza e depois em Samaria, sua nova capital.
Ele muda sua capital de Tirza para Samaria, logo após tê-la construído. Samaria
se tornou uma capital imponente, com edificações monumentais, com fortes
muros de casamata e obras de preenchimento e nivelamento de terra. Um
grande e alto talude de terra rodeando os três lados da plataforma (lado norte,
sul e oeste). Um suntuoso palácio, cujas fundações podem ser vistas até hoje.
Omri teria aproveitado o enfraquecimento e recuo egípcio em Canaan, para
empreender a expansão do reino de Israel Norte. Casou seu filho, Acab, com
uma princesa Fenícia, Jezabel, fazendo aliança familiar com o reino da Fenícia,

chamada na Bíblia Hebraica de Sidon ( !Adyci). Com esta aliança, além de

manter a paz entre os dois reinos, abriu as portas do comércio marítimo, do qual
a Fenícia tinha grande experiência, tanto no comércio propriamente dito, como
na construção de navios, dominando assim, a costa litorânea, com seu porto em
Dor (DREHER, 2006, p. 206-207).
Acab assume o trono em Samaria depois da morte de Omri, e prossegue
com a política de expansão e domínio, que seu pai começara. Acab amplia o
palácio e constrói prédios públicos e administrativos sobre as plataformas de
Samaria (ver cap. 4). Ele continua seu domínio sobre Moab e expande para o
sul, dominando Judá, e casando sua filha com o filho de Josafá, rei de Judá. O
domínio sobre Judá foi necessário para o controle do comércio e produção de
cobre/bronze, no sudeste de Judá, território de Edom. Seu domínio segue ainda
mais para o sul, chegando em Ezion-Geber (Khirbet el-Kheleifeh), e edifica
fortalezas de fronteira com o Egito, ao norte da península do Sinai
267

(FINKELSTEIN, 2015, p. 165-168). Essas incursões e ocupação das terras sob o


domínio egípcio teriam fortalecido a tradição do Êxodo desde o Egito e algumas
das histórias da conquista da terra.
O domínio do comércio de ouro e cobre está descrito nas narrativas dos
livros dos Reis (SIQUEIRA, 1997, p. 95-96). Quando o texto bíblico fala que
Josafá dominou o comércio de ouro e da fabricação de navios em Ezion-Geber
(1Rs 22.49; 2Cr 20.36), seria uma tentativa de esconder o domínio omrida no
comércio de ouro e indústria naval. O controle do comércio marítimo esteve nas
mãos de Acab, e posteriormente com Acazias do Norte, cf. 2Cr 20.36. As rotas
comerciais da costa litorânea, a Via Maris, e a Estrada do Rei (Via Regia, ou
Caminho do rei) também eram de interesse dos reis omridas, e foram
controladas por eles. Um dos motivos do domínio omrida na Transjordânia e a
região norte do deserto do Sinai era justamente o controle das rotas comerciais
vindas do Egito em direção à Arábia, Damasco e Mesopotâmia.
As rotas comerciais secundárias que ligavam a Via Maris à Estrada do Rei,
também formavam uma importante rede de transporte de mercadorias e matéria
prima em todo o território Israelita, tanto no Norte quanto no Sul. O comércio de
mel produzido em Reḥov era outro bastante rentável. Localizada na entrada do
Vale de Jezreel pelo Vale do Jordão, a cidade estava próxima de Tel Bet-Shean.
Esta cidade parece ter pertencido à família de Jeú, desde seus avós, de acordo
com as inscrições lá encontradas. A estimativa era que Reḥov produzisse cerca
de meia tonelada de mel e entre 50 e 70 kg de cera por ano (MAZAR, 2007, p.
211-212).
Os omridas também tinham controlado uma indústria têxtil em Jahaz
(Khirbet al-Mudayne), na Transjordânia, a leste da Estrada do Rei. Neste sítio
foram encontradas várias peças de teares e restos de tecidos. Também foi
encontrada uma sala com duas fileiras de colunas, intercaladas com bacias
feitas em pedra (a sala era semelhante a um estábulo), que serviam,
possivelmente, para o tingimento de tecidos.
Pode-se ver que os reis omridas tiveram grande desenvolvimento
comercial e industrial. Eles teriam mantido o controle sobre a indústria de
cobre/bronze de Khirbet en-Nahas, e de tecido em Jahaz. Também mantiveram
o controle da produção de mel e cera de abelha em Tel Reḥov, além da
268

produção agrícola de cereais nos vales férteis vales e de azeite nas regiões
montanhosas. Os omridas também investiram na criação de cavalos em
Megiddo, na indústria manufaturada, fabricação de cerâmica e no controle das
caravanas (pedágio) que passavam pelas duas principais rotas comerciais do
Antigo Oriente Próximo, a Estrada do Rei e o Caminho do Mar.

1.3. O Comércio e a Economia Omrida

Israel Norte tinha muitas vantagens econômicas. Quase todo seu território
ao norte era fértil, tanto seus vales quanto suas montanhas. A diversidade da
flora, florestas e vales planos e extensos, favorecia a produção agrícola. A
indústria de vinho no vale de Jezreel era grande, e pode ser comprovada através
da quantidade de registros de vinho (NY, ‫ין‬, equivalente a ‫ )יין‬nos óstracos
encontrados em Samaria (REISNER, 1924, p. 17-22, 237-242, Plate 55). Parece
ter havido grande produção de em Israel Norte, inclusive em Samaria, cujo nome
tem origem no nome Semer (rm,v), , mencionado na narrativa de 1Rs 16.24, e o

texto da vinha de Nabot, no vale de Jezreel 1Rs 21. Sobre a produção de vinho,
a arqueologia encontrou, até agora, somente os registros nos óstracos de
Samaria (ROSEN, 1986, p. 39-45; SURIANO, 2007, p. 27-33; SURIANO, 2016,
p. 99-110; LIVERANI, 2014, p. 164-167).
Mais ao sul, no platô de Gibeon, foi encontrada uma vinícola. Ela tinha
lagares para pisar as uvas, bacias para a decantação e tanques para a
fermentação. Tudo escavado na rocha. Setenta e três cisternas no formato de
sino foram desenterradas, as quais possivelmente serviam como uma espécie
de adega, para o armazenamento do vinho. Pritchard calculou a capacidade
dessas adegas, e segundo ele, era de cerca de 125 mil litros (MAZAR, 2003, p.
464-465).
A produção de azeite também pode ser atestada através dos óstracos
encontrados em Samaria. A região montanhosa de Samaria sempre foi grande
produtora de azeite. Havia muitas plantações de oliveiras por todo o território,
inclusive até os dias de hoje (LEV-YADUM, 1997, p. 85-102). Foram
encontradas nas colinas de Samaria cerca de 40 prensas de azeite. A datação
das prensas não é fácil, mas estas, especificamente, foram datadas por Eitam,
que as pesquisou, como sendo do séc. IX e VIII AEC. Poucas prensas de azeite
269

foram encontradas nas colinas de Samaria anteriores ao séc. IX AEC (EITAM,


1979, p. 146-154).
Segundo Finkelstein (2015, p. 140), a indústria de azeite no norte de
Canaan, deve ter florescido no início do Ferro I e se expandido durante o Ferro
IIA e IIB. Para ele, Israel Norte teria sido um dos maiores produtores e
fornecedores de azeite, tanto para o Egito como para o império Assírio. Em Tel
Ḥazor foi encontrada uma grande prensa de azeite, que esteve em atividade
durante o séc. IX e VIII AEC, durante o período dos reis omridas e posterior
(MAZAR, 2003, p. 463-466). Esse tipo de prensa norte-israelita pôde ser datado
com segurança, por causa das cerâmicas encontradas ao redor delas. As
prensas nortistas foram datadas no séc. IX-VIII AEC, tendo sido utilizadas no
séc. IX e largamente utilizada no séc. VIII AEC.
A indústria de cobre de Khirbet en-Nahas foi uma das maiores de todo o
Levante. Este sítio era um grande composto industrial, com várias construções e
fornos, casas e locais para armazenagem. Sabe-se que a demanda por
cobre/bronze durante o séc. IX AEC foi grande. A fabricação de carros de guerra
e acessórios, armas e dispositivos militares se tornou um grande e lucrativo
negócio. O comércio de cobre com a Assíria parece ter sido intenso, bem como
para os demais reinos ao redor, devido ao interesse em reforçar seus exércitos.
Isso pode ser visto nas inscrições assírias de Salmaneser III, os milhares de
carros de guerra mencionados no relato da guerra de Carcar, em 853 AEC são
testemunho do grande interesse no comércio de cobre/bronze durante o séc. IX
AEC (LEVY et.al., 2002, p. 767-794; FINKELSTEIN, 2015, p. 140).
Os reis omridas controlaram toda a indústria e o comércio de cobre do séc.
IX AEC. O cobre era comercializado com o Egito, a Arábia, Damasco e
Mesopotâmia. O escoamento da produção acontecia principalmente pela
Estrada do Rei, onde os omridas tinham fortalezas militares em praticamente
todo o seu percurso. Um posto importante para o transporte do cobre era Gezer,
fortaleza importante e imponente na época, por onde passava o cobre que seria
levado para o porto de Dor, e dali para outras regiões do Mediterrâneo. Para
Finkelstein (2015, p. 141), os reis omridas foram os maiores beneficiários deste
comércio em todo o Levante durante o séc. IX AEC (LEVY et.al., 2009, p. 89-91).
A dinastia omrida se impôs comercialmente no cenário internacional,
270

trabalhando com vários segmentos de mercado, inclusive com o treinamento e


comércio de cavalos. Eles comercializavam cobre e carros de guerra, os quais
também precisam de cavalos bem treinados. Os estábulos de Tel Megiddo
mostram bem esta situação. Foram desenterrados nos estratos V e IVB, período
omrida em Megiddo, em torno de dezessete estábulos (LAMON E SHIPTON,
1939, p. 12, 32-47; MAZAR, 2003, p. 396). Os estábulos eram retangulares, e
mediam 16 a 18m de comprimento, e 10 a 12,5m de largura cada um. Dentro
deles havia duas fileiras com 10 a 14 pilares, e entre as fileiras um corredor na
parte central do estábulo (MAZAR, 2003, p. 450-451). Estes estábulos tinham a
capacidade de abrigar em torno de 500 cavalos, e há uma estimativa de que
havia mais de 4.200 cavalos de guerra em Israel Norte na região do Vale de
Jezreel (LAMON E SHIPTON, 1939, p. 44). Em 1Rs 10.29 diz que o preço de
uma biga era de 600 ciclos de prata e um cavalo, 150 ciclos de prata.
Israel Norte investiu no comércio marítimo em Dor, na costa do
Mediterrâneo, e em Ezion-Geber, no braço leste do mar Vermelho. Os textos
bíblicos de 1Rs 22.49 e 2Cr 20.36 narram o controle do comércio marítimo e da
produção de navios como sendo de Josafá. Ambas as narrativas informam que
Josafá teria sido reprovado por ter feito aliança com Acab e posteriormente com
Acazias, no comércio de ouro vindo de Ofir. As narrativas dizem que porque
Josafá se uniu aos omridas, Javé quebraria seus navios no porto de Ezion-
Geber.
Ezion-Geber era um importante entroncamento de rotas comerciais, e um
porto de escoamento de mercadorias. Ali era um ponto estratégico, por onde
passavam as rotas vindas do Egito e de Gaza, a Estrada do Rei e a rota para a
Arábia. Dali também era possível transportar mercadorias para Jerusalém e para
o porto de Dor, nas proximidades do Carmelo. Várias rotas secundárias também
poderiam ser utilizadas para levar as mercadorias de leste a oeste e vice-versa.
As ligações comerciais com a Fenícia se fortaleceram com o casamento de
Acab e Jezabel. Este casamento, segundo Finkelstein (2003, p. 236), foi um
“brilhante golpe de diplomacia internacional”, e garantiu um período de paz entre
os dois reinos, e o acesso às rotas comerciais de ambos. A Fenícia era uma
potência na época, e estava mais preocupada com o comércio marítimo do que
com conflitos com Israel Norte (KAEFER, 2015, p. 70). Ela também deveria ter
271

interesse na produção de cereais, vindos dos ricos vales de Jezreel e do Jordão.


Isto favoreceu a entrada de Israel Norte no lucrativo comércio marítimo, do qual
os fenícios eram a maior potência.
Outro comércio importante controlado pelos omridas, foi o de mel e cera de
abelha. Em Tel Reḥov foram desenterradas dezessete colmeias, mas é possível,
baseado no que foi encontrado, que tivesse ali mais de setenta e cinco colmeias.
Um dos maiores apiários de todo o Levante. Segundo estimativas, cada colmeia
cilíndrica era capaz de produzir em torno de três a cinco quilos de mel por ano,
dependendo do florescimento anual, dos métodos utilizados e da manutenção
das colmeias (MAZAR; PANITZ-COHEN, 2007, p. 211; KAEFER, 2015, p. 39-
48).
Levando em conta o número de colmeias que pode ser reconstruído,
conforme o que foi desenterrado até agora, pode-se fazer o cálculo total da
produção de mel anual a partir de um número de cem colmeias. Desta forma, a
produção anual em Reḥov no Ferro II estava em mais de meia tonelada de mel.
Além da produção de mel também havia a produção de cera nas colmeias. Cada
colmeia produzia em torno de 0,5 e 0,7 kg de cera por ano. Tomando por base a
mesma quantidade de cem colmeias, teremos um total anual de mais de 50 a 70
kg de cera de abelha. Isto seria o resultado da criação de cerca de quinze mil
abelhas (MAZAR e PANITZ-COHEN, 2007, p. 211-212; KAEFER, 2016, p. 43-
44).
Estes números representam uma produção em escala comercial. Esta é
uma das maiores produções de mel da região, que certamente chamava a
atenção dos reinos vizinhos e a cobiça das potencias regionais da época. Um
apiário de tamanhas proporções necessita de um forte centro de poder para
planejá-lo e conduzi-lo no meio de uma cidade densamente povoada (MAZAR e
PANITZ-COHEN, 2007, p. 211-212). Reḥov, sem dúvida alguma, era uma
grande produtora de mel e cera do séc. IX AEC e estava numa localização
estratégica, num entroncamento de importantes estradas comerciais
internacionais que ligavam Reḥov à Fenícia, Damasco, Egito e outros territórios
vizinhos.
Todo esse desenvolvimento industrial, agrícola e o controle das rotas
comerciais, trouxe grande riqueza e prosperidade para Israel Norte. O exército
272

foi um dos grandes beneficiários de toda essa riqueza, o que favoreceu o


estabelecimento do Estado de Israel Norte como uma potência regional
(FINKELSTEIN, 2003, p. 234-235).

2. Um Estado Independente

O único momento em que Israel Norte esteve independente foi nos 40 anos
do reinado da dinastia omrida, adicionando-se ainda, mais 7 anos do reinado de
Atalia em Jerusalém. Antes disso, o território tinha sido dominado pelo Egito
durante o Bronze Tardio, e posteriormente, no final do período do governo de
Saul, em 926 AEC. O enfraquecimento do domínio egípcio favoreceu a
ascensão do primeiro estado israelita.
Após o fim da dinastia omrida, desde a época de Jeú, Israel Norte passou a
ser dominado por Hazael de Damasco (845-800 AEC). Desde que Jeú começou
a reinar (842-814 AEC), Hazael passou a dominar Israel Norte, e o dominou até
cerca de 800 AEC. Somente na época de Jeroboão II é que Israel Norte derrota
os sírios. Neste mesmo período, a Síria já estava sob o domínio dos assírios, e
pagava tributo a Salmaneser II e, posteriormente, a Adad-Nirari III
(FINKELSTEIN, 2003, tabela 7).
A Assíria dominou Israel Norte a partir da época de Jeú, e dominou Judá
até a ascensão do império babilônico, entre o séc. VII e VI AEC. Israel Norte caiu
sob o domínio assírio em 722 AEC, e Judá sob o domínio babilônico, em 586
AEC. Depois disso, Israel e Judá sempre permaneceram sob o domínio dos
impérios (persa, grego e romano), até a dispersão em 70 EC.
Embora a Síria fosse uma potência no séc. IX AEC, ela nunca conseguiu
subjugar Israel Norte durante o período dos reis omridas. Estes, como já foi
visto, dominaram toda a parte sul da Síria, impondo suas fronteiras a partir da
topografia da região, chegando até as proximidades de Damasco. Esta fronteira
dentro do território sírio contornava o sul de Damasco e descia para o sul,
passando por Edrei (atual, Daraa), seguindo a Estrada do Rei. Israel Norte teve
forte influência sobre o comércio em Damasco, já que dominava toda a rota
comercial da Transjordânia. Isto deve ter impactado a economia e o comércio
sírio, tanto na importação quanto na exportação de mercadorias para o Egito e
Arábia.
Para vigiar suas fronteiras e proteger suas rotas comerciais, Israel Norte
273

construiu fortalezas militares em todo o limite de seu território. Este território no


sul e no leste está baseado nas rotas comerciais, cujas fortalezas foram
estrategicamente construídas ou ocupadas, visando proteger as fronteiras e
controlar as caravanas de comerciantes que viajavam por elas.
O Estado norte-israelita ocupou a fortaleza síria de Dan, nas proximidades
de Abel-Beth-Maacah, e a fortaleza de Betsaida, a nordeste do lago de Kinneret.
Em Dan, os reis omridas teriam construído um templo, cujos blocos de pedra, do
tipo “cantaria”, são semelhantes aos encontrados em Samaria e Megiddo do
período de Acab (Veja Anexo I, Fig. 30). O estilo arquitetônico deste templo é
semelhante ao estilo de construção encontrado em Samaria, e em outros sítios
que foram dominados pelos omridas. Estas foram duas importantes fortalezas de
fronteira da Síria, que foram ocupadas pelos reis omridas a sudoeste de
Damasco.
Na Estela de Tel Dan, na linha 3, o verbo traduzido como “entrou”, é l{y,

‫]עלל[ יעל‬, e está na conjugação aramaica peal imperfeito na terceira pessoa do


singular, indicando intensidade na ação por parte dos omridas (ATHAS, 2003, p.
232-233). Da mesma forma, a Estela de Mesha mostra que Omri dominou a
terra de Moab por muito tempo. Na linha 6, quando a estela diz que Omri

dominou Moab, o verbo que aparece escrito é WN{a, ‫אענו‬, cuja raiz [‫]ענה‬

significa “dominar”, “oprimir”, “subjugar” e “humilhar”, que ocorre nesta frase no


piel imperfeito de primeira pessoa do singular (HOLLADAY, 2010, P. 393-394).
Isso indica uma ação intensiva no dominar ou oprimir. Tanto na Estela de Mesha
como na de Tel Dan, os verbos utilizados para o domínio e posse dos territórios
estão no intensivo ativo, mostrando o forte domínio omrida nos territórios de
Moab e nas terras ao sul de Aram-Damasco.
Com relação ao domínio sobre Judá, o modo como o texto apresenta o
relacionamento entre Josafá e Acab, e posteriormente, entre Josafá e Jorão de
Israel, deixa claro a submissão de Josafá aos reis omridas (Veja cap. 4 e 5). A
obediência de Josafá aos chamados de Acab (1Rs 22.1-51) e de Jorão (2Rs 3.7)
para a guerra em Ramot-Gilead é bem suspeita. Josafá se sujeita às ordens de
Acab e de Jorão, filho de Acab. Os pronomes usados por Josafá “Eu sou como
tu és, meu povo como teu povo, meus cavalos como os teus cavalos” (1Rs 22.4
e 2Rs 3.7) mostram essa submissão de vassalagem.
274

Atalia, princesa omrida, é dada em casamento a Jorão de Judá, filho de


Josafá, e governa sobre Judá e Jerusalém como rainha-mãe durante os
reinados de Jorão, seu esposo e Acazias, seu filho (846–842 AEC, aprox. 05
anos como rainha-mãe), e posteriormente, depois da morte de Acazias, seu
filho, ela reina sobre Judá soberana por sete anos (2Rs 11, 842-836 AEC).
Então o reino dos omridas se estende de 884–836 AEC, somando 48 anos de
reinado da dinastia omrida sobre Israel Norte e Judá (KAEFER, 2015, p. 68).

Reino do Sul – Judá (AEC) Reino de Israel Norte (AEC)


- - Omri 884-873 (12 anos)
- - Acab 873-852 (21 anos)
- - Acazias 852-851 (02 anos)
Jorão 846-843 (04 anos)
Jorão 851-842 (10 anos)
Acazias 843-842 (02 anos)
Atalia 842-836 (06 anos) - -

Isto tudo mostra como os reis da dinastia omrida fundaram o primeiro


estado de Israel e reinaram de forma independente por cerca de 40 anos. Antes
deles, na Idade do Bronze Tardio e na transição do Ferro I para o IIA, o território
de Canaan permaneceu sob o domínio egípcio. E depois do extermínio da
dinastia omrida, Israel e Judá passaram para o domínio da Síria, depois para o
domínio da Assíria, depois Babilônia, Persa, domínio grego, helênico e romano.
Portanto, o único período em que Israel reinou independente, e dominando ao
invés de ser dominado, foi durante o governo dos reis da dinastia omrida.

2.1. Judá antes do séc. VIII AEC: um Estado?

Judá surge como um Estado somente entre final do séc. VIII e início do
séc. VII AEC, com a queda do reino de Israel Norte. Antes disso, ele era uma
entidade territorial, governada por “reis” com fortes características tribais.
Segundo Finkelstein (2003, p. 312),

apesar da proeminência de Judá na Bíblia, não existe nenhuma


indicação arqueológica até o séc. VIII a.C. de que essa pequena
e bastante isolada área montanhosa, cercada a leste e ao sul
por estepes áridas, possuísse algum interesse particular.
275

Tanto Jerusalém como as demais cidades de Judá eram pequenas em boa


parte, insignificantes. Mais da metade da geografia de seu território é de
semiárido a totalmente desértico. Havia poucos recursos naturais e poucos
pastos. Estava entre duas importantes rotas comerciais, mas não tinha recursos
suficientes para dominá-las. Para Römer (2005, p. 52),

Existe quase que um consenso sobre o fato de que Judá não se


tornou um Estado monárquico desenvolvido antes do séc. VIII
a.C. Existem indícios arqueológicos de crescimento de
Jerusalém nessa época; estas mudanças implicam uma
administração real mais desenvolvida com registros, arquivos,
etc. De Certa forma o progresso de Judá e Jerusalém é também
consequência da destruição da capital de Israel, a cidade de
Samaria.

A única região fértil era a Sefelá, uma grande área baixa e verde com
longos vales férteis, bons para a agricultura. Era uma região disputada por
impérios, também pelas pequenas cidades-estado que foram surgindo em torno
do vale e lutando para viver dele. No período da monarquia bíblica, ora a Sefelá
estava nas mãos dos filisteus ora nas mãos dos judaítas. Inclusive a épica
batalha entre Davi e Golias, narrada no livro de Samuel, aconteceu nesta região,
entre Azeca, Socó Lakish e Gat (DIETRICH, 2003). Este vale era o celeiro da
parte sul de Canaan, e Judá queria conquistá-la.
Judá viveu por muito tempo à sombra de Israel Norte. Jerusalém era
pequena com baixo índice habitacional. Não há evidências de edifícios e
construções monumentais em Jerusalém durante o séc. IX AEC. A ideia de
Jerusalém com grandes construções já no séc. X AEC, na época de Davi e
Salomão, é contradizer o que a arqueologia tem dito sobre isso. Mesmo que se
saiba que a arqueologia tem suas limitações, o que foi escavado até agora não
evidencia uma Jerusalém grande e cheia de edifícios e palácios suntuosos
(FINKELSTEIN, 2015, p. 105-106).
Com a queda de Israel Norte, Judá se favorece e surge como um Estado. A
explosão demográfica experimentada por Judá e Jerusalém no final do séc. VIII
AEC, foi espantosa. Jerusalém, que era uma modesta cidade com cerca de 1 mil
habitantes, aumentou drasticamente quase 15 vezes, chegando a cerca de 15
mil habitantes (FINKELSTEIN, 2003, p. 32-331). Somente a partir deste período
é que Judá se desenvolve e se expande.
276

Até a década de 1990, havia grandes questionamentos acerca da


existência de Davi. Pois em todos esses anos de escavações em Jerusalém,
nada foi encontrado dele ou sobre ele. Até que nas temporadas de 1993 e 1994
foram encontrados os fragmentos da estela conhecida como Estela de Dan. A

estela ficou mais conhecida por causa da expressão dwdtyB (‫“ )ביתדוד‬Casa de
Davi”, registrada no fragmento A. Esta expressão ofuscou todo o restante do
conteúdo da estela, que permaneceu abandonado por muito tempo. Depois
deste achado, o meio acadêmico se convenceu – não totalmente – de que Davi
tenha existido, vivido e governado Judá em meados do séc. X AEC.
Davi, portanto, existiu, mas não a forma como o imaginário foi construído
acerca dele. A saga do pastor que se tornou rei e que governou um grande
império, que foi passado para seu filho Salomão, o homem mais sábio e mais
rico de todos os tempos. Sabe-se atualmente que Davi governou em Jerusalém,
mas de forma bastante modesta. Ele não teria governado um império, nem
jamais chegou a dominar a Síria até o rio Eufrates. Seu governo tinha uma
capital modesta e pequena, sem muitos recursos e com pouco comércio. Estava
situada no alto das montanhas, não tinha rotas comerciais importantes nem
grandes produções agrícolas, como houve em Israel Norte, principalmente,
durante o séc. IX AEC.
Desta forma, todas as edificações monumentais anteriormente atribuídas a
Salomão passaram a ser atribuídas aos reis omridas. Até porque ainda existem
muitas dúvidas se Salomão existiu mesmo ou não. Não se sabe exatamente se
Salomão existiu ou não, porque dele não foi encontrado absolutamente nada,
nenhuma evidência de sua existência nas escavações em Jerusalém, e
nenhuma citação extrabíblica, como é o caso dos reis omridas, que foram
citados por povos vizinhos e até pelo grande império assírio. Os reis da dinastia
omrida foram tão influentes e poderosos internacionalmente, que o temido
império assírio se referia ao reino de Israel Norte como “Casa de Omri”, mesmo
depois do fim da dinastia omrida.
Judá se desenvolveu tardiamente. Israel Norte sempre esteve no domínio
de Judá, por ser mais forte, estruturado e com poderoso exército. Judá não
possuía no séc. IX AEC as características de um estado estabelecido, as
mesmas que podem ser encontradas em Israel Norte da dinastia omrida.
277

Densidade populacional, construção de edifícios monumentais, produção de


excedente, projetos arquitetônicos elaborados, investimento no comércio interno
e externo, e escrita desenvolvida, Judá somente realizou tudo isso depois do
final do séc. VIII AEC. Quase cem anos após o fim da dinastia omrida.
Segundo Finkelstein (2003, p. 367), as edificações em Judá começariam
com Ezequias (727-698), que constrói uma muralha em Jerusalém, faz o túnel
de Siloé (Siloam), faz edificações em Lakish e na região do Neguev. Nessa
época a escrita começa a se desenvolver em Judá. A arqueologia fornece
evidências de escrita desenvolvida através de óstracos, inscrições e selos.
Portanto, Judá só vai adquirir o status de Estado quase um século depois do fim
da dinastia omrida, e sob o domínio dos assírios. Há muitas evidências que
comprovam que a dinastia omrida tenha fundado o primeiro estado israelita, e
isto já foi discutido nos capítulos anteriores. Não há evidências de um estado
desenvolvido antes do séc. IX AEC. O que faz dos omrida, a única dinastia
israelita a reinar de forma totalmente independente, com todo aparato de um
estado desenvolvido, ao ponto de se tornarem conhecidos até mesmo do grande
império assírio.

3. Dinastia Omrida: A Monarquia Unida

Os reis omridas governaram um vasto território. Eles se aproveitaram do


enfraquecimento do domínio egípcio e foram ocupando espaço e guerreando
contra os filisteus, que estavam a serviço do Egito (FINKELSTEIN, 2006). Já
vimos que a monarquia norte-israelita dos reis da dinastia omrida foi a primeira
monarquia estabelecida em Israel, e que ela reinou independente. Não foi
vassalo de ninguém e dominou grandes territórios dos reinos vizinhos.
Acab, seu principal rei, foi quem levou Israel Norte ao patamar jamais
alcançado por outro rei israelita ou judaíta, Israel Norte chegou a ser uma grande
potência regional, dominando as principais rotas comerciais na costa litorânea e
em toda a extensão da Transjordânia, desde Eilat/Aqaba até Damasco. Ele
construiu fortalezas em toda a extensão da Estrada do Rei, e em Damasco,
conforme o texto de 1Rs 20.33-34, Acab teria estabelecido praças de comércio
em Damasco, controlando todo o comércio que passava por Damasco,
anexando grande parte da Síria, principalmente Damasco, aos territórios de
Israel Norte.
278

O território dominado pelos reis omridas é praticamente o mesmo território


atribuído à Monarquia Unida de Davi e Salomão. O grande império de Davi e
Salomão começa em Hebron, logo após a morte de Saul (1Sm 31; 2Sm 5.5) e a
morte de Isbaal (l[;B;v.a,) ou Isbosete (tv,B-o vyai), aparentemente sem nenhuma

ligação com Davi (2Sm 4). O fato é que somente após a morte de Isbaal é que
Davi assume o poder sobre Israel Norte. Em seguida Davi invade Jerusalém,
que se torna a nova capital de Judá e Israel (2Sm 6-10). A partir de Jerusalém,
Davi teria reinado 33 anos (2Sm 5.5).
Em 2Sm 8 temos um resumo das conquistas de Davi e da expansão do
seu território. Davi teria dominado os filisteus (v.1) e os moabitas (v.2), de modo
que estes ficaram vassalos de Davi, pagando-lhe tributos. No v.3 Davi teria
derrotado Hadadezer do norte da Síria, nas proximidades do rio Eufrates, e em
seguida, dominaria Damasco estabelecendo guarnições na cidade. A Síria teria
passado a lhe pagar tributos (v.4). Nos v.12-14, diz que Davi dominou os
territórios da Síria, de Moab, de Amon, da Filístia e de Edom.

Salomão teria assumido o trono de Israel após Davi seu pai (1Rs 1.32-
2.12), e reinou durante 40 anos em Jerusalém (1Rs 2.12). Salomão teria reinado
desde o rio Eufrates até a terra dos filisteus e até a fronteira com o Egito, e todos
os povos pagavam tributos a ele, de forma que enriqueceu (1Rs 4.20-21, na
Bíblia Hebraica 1Rs 4.20-5.1). Mas é interessante que redator destes textos
continua a chamar “Israel e Judá” (laer"f.ywI > hd"Why>), mesmo narrando fatos que
seriam do período da Monarquia Unida (1Rs 4,20, 25, na Bíblia Hebraica 1Rs
4.20; 5.5). Isto é bastante suspeito em se tratando de Monarquia Unida, mas
também reflete uma redação ou edição tardia dos fatos. Esta expressão aparece
nos livros tardios das Crônicas, pelo menos quatro vezes (2Cr 25.26; 28.26;
32.32; 35.18).

Salomão teria se casado com princesas de vários reinos, como


provenientes do Egito, Moab, Amon, Edom e Fenícia, de Sidon. Salomão teria
construído um templo para Qemosh, divindade moabita, seguiu Astarote
(Aserá?) e a Moloque, divindade amonita (1Rs 11.1-8). Do casamento com a
princesa egípcia, Salomão recebeu a cidade de Gezer (1Rs 9.16). Salomão
construiu um templo para Javé em Jerusalém, para onde levou a arca e todos os
279

demais utensílios (1Rs 6.1-8.66). Salomão também ampliou o palácio e edificou


várias cidades, como: Ḥazor, Megiddo e Gezer (1Rs 9.15). Teria construído
navios em Ezion-Geber e comercializado o ouro proveniente de Ofir (1Rs 9.15-
28). Este foi o período da Monarquia Unida de Davi e Salomão, seu governo e
os limites de suas fronteiras.

Rio Eufrates

Síria
Aram-Damasco

Damasco

Amon
Israel
Gileade
Norte

Moab Fronteira
Filístia

Judá

Edom

Território dominado por Davi conforme 2Sm 8. (Marcações


minhas. Mapa: GoogleEarth)

Mas existem alguns problemas com relação à Monarquia Unida. Isto


porque não tem sido possível comprovar a existência dela através da
280

arqueologia, nem com construções monumentais nem com evidências textuais


extrabíblicas. Como foi visto no cap. 1 desta pesquisa, a grande maioria dos
estudiosos do séc. XX, compreendia a Monarquia Unida de Davi e Salomão
como histórica em todos os seus detalhes, olhando o texto bíblico dos Reis e
Crônicas como relatos estritamente históricos, como é o caso de William
Albright, John Bright e Milton Schwantes, entre outros. Mas a historicidade do
texto tem sido discutida principalmente por estudiosos mais recentes, como
Israel Finkelstein, Mario Liverani, Thomas Thompson etc.
Segundo Mazar (2003, p. 356), a única fonte escrita para comprovar a
existência da Monarquia Unida é o texto bíblico, não existem evidências
arqueológicas que a comprove. Por outro lado, as novas e avançadas técnicas,
de datação por radiocarbono (C14) têm proporcionado novas datações para os
eventos bíblicos, especialmente para os eventos relacionados a Monarquia
Unida, proporcionando bases históricas mais seguras para as narrativas.
Essa nova datação, chamada por Finkelstein como Baixa Cronologia,
estabeleceu uma diferença de pelo menos cem anos. A Baixa Cronologia está
apoiada nos avanços da tecnologia do Carbono 14. Ela tem proporcionado uma
nova visão sobre a história de Israel e sobre as datas dos seus eventos
(FINKELSTEIN, 2010, p. 1667-1680; FINKELSTEIN, p. 31-42). Segundo
Finkelstein (2008, p. 116), a cronologia tradicional adotada há anos, está
baseada unicamente na história bíblica como está narrada. Isto pode causar
diversos problemas nas datações e interpretações das evidências materiais.
A cronologia tradicional teria atribuído à Monarquia Unida quase todas as
evidências de outro período da história. Os portões de Ḥazor, Megiddo e Gezer,
por exemplo, foram datados no período de Salomão, baseado num único
versículo bíblico 1Rs 9.15. Também as datações dos palácios de Megiddo e de
outras fortalezas foram prejudicadas, pois foram atribuídas a Salomão, no séc. X
AEC (FINKELSTEIN, 2008, p. 116-118). De acordo com Rendsburg (2002), os
textos de 1Rs 1-11 são de redação judaíta, não contendo evidências de redação
norte-israelita, isto evidencia a redação deuteronomista do texto, privilegiando a
tradição de Davi.
Para Römer, Omri foi um dos mais importantes reis de Israel, ao ponto de
Israel Norte ser conhecido dos assírios como “casa de Omri”. A fundação de
281

Samaria teria ofuscado a grandeza de Jerusalém. Para ele, os autores


deuteronomistas estão mais interessados em sublinhar as faltas e os erros dos
reis, que na opinião deles, teria levado a queda de Israel e Judá. Quanto a Acab,
Römer (2008, p. 155) diz que embora ele seja classificado como o pior de todos
os reis anteriores, ele teria sido um dos mais brilhantes reis de Israel. Segundo
Finkelstein (2003, p. 268),

A verdadeira reputação de Israel sob a dinastia amride


envolve extraordinária história de poder militar, de
realização arquitetônica e de sofisticação administrativa,
até onde pode ser determinada com exatidão. Amri e seus
sucessores mereceram o ódio da Bíblia porque foram tão
fortes, porque tiveram tanto sucesso em transformar o reino
do norte em influente poder regional, que ofuscou por
completo, o pobre e marginal reino rural-pastoril de Judá,
ao sul. A possibilidade de que um rei israelita que se
relacionava com outras nações, que casou com uma
princesa estrangeira e que construiu santuários e palácios
‘cananeus’ pudesse prosperar era intolerável e impensável.
Ainda por cima, da perspectiva da monarquia posterior de
Judá, a abertura e o internacionalismo dos amrides eram
pecaminosos. Permitir que a nação se misturasse com
outros povos representava, de acordo com a ideologia
deuteronomista do séc. VII, violação direta ao mandamento
divino. Mais uma lição poderia ser aprendida da
experiência: na época da compilação dos livros dos Reis, o
veredicto da história estava confirmado. Os amrides tinham
sido destronados, e o reino de Israel não mais existia.

Thomas Römer, em sua obra As Origens de Javé (2016, p. 106), diz que
ideia de uma Monarquia Unida, com Davi e Salomão é mais obra da imaginação
dos autores bíblicos do que uma representação histórica da realidade. De fato,
isto é o que a arqueologia tem mostrado até agora. Não há nenhuma evidência
de um grande império antes do séc. IX AEC.
As novas datações colocam a redação dos livros dos Reis para depois do
séc. VII AEC, o que mostra uma distância considerável entre os fatos e a escrita.
Levando em consideração também que a escrita em Judá só se desenvolve no
final do séc. VIII AEC, quando Israel Norte é tomada pelos assírios, em 722 AEC
(FINKELSTEIN, 2015, p. 142-143; FINKELSTEIN, 2008, p. 121). Para
282

Finkelstein (2008, p. 123), a descrição do reinado de Salomão em 1 e 2 Reis


está fundamentado em dois pilares: 1. Nas realidades da época em que foi
escrito, e 2. A ideologia de Judá nos finais do período da monarquia.
Mesmo assim, como relacionar Davi e Salomão, a grande Monarquia
Unida, ao período dos reis da dinastia omrida? Esta é uma questão complexa,
Mazar também achou complexa essa relação, mas não descarta a possibilidade,
tendo ele mesmo dito que precisa rever várias questões de sua principal obra,
traduzida para o português sob o título: “Arqueologia das Terras da Bíblia”
(2003). Mas com tudo isso, temos ainda algumas pistas a seguir sobre a
realidade da Monarquia Unida no período da dinastia omrida, séc. IX AEC.
1. A nova cronologia baseada no Carbono 14;
2. Nas evidências textuais das narrativas bíblicas hebraicas;
3. Nos textos extrabíblicos da Estela de Mesha, de Tel Dan e das
inscrições assírias.
4. Nas evidências arqueológicas dos sítios omridas do séc. IX AEC.
Conforme a nova cronologia baseada no Carbono 14, as datações dos
monumentos atribuídos anteriormente a Salomão, principalmente, os
monumentos de Megiddo, Ḥazor e de Gezer, passaram para o séc. IX AEC, para
o período de Acab, rei de Israel. Tomando como ponto de partida a edificação de
Samaria e de Jezreel, é possível fazer uma análise comparativa do estilo e das
características das construções do séc. IX AEC, especificamente do período dos
reis omridas.
Os portões das cidades de Megiddo, Ḥazor e Gezer, são características da
arquitetura omrida, não só os portões com seis câmaras, mas os de quatro
câmaras também. Os palácios encontrados nestes sítios, em Tel Dan e em
outros sítios da Transjordânia, como em Jahaz, Khirbet al-Heri, Khirbet er-
Rumeith (Ramot-Gilead), e em sítios de Judá, como Beerseba e Tel Arad, entre
outros, são característicos da arquitetura omrida do séc. IX AEC. Os taludes e as
plataformas, os muros de casamata e os fossos, fazem parte do conjunto
arquitetônico dos reis omridas.
As fortalezas de fronteira, quase todas quadradas ou retangulares, com
exceção de Beerseba, que é circular, podem ser identificadas e a partir delas,
pode-se reconstruir as fronteiras do território norte-israelita do séc. IX AEC. Os
283

limites das fronteiras estão bem delimitados tanto nas evidências textuais da BH
como na arqueologia. Nos textos bíblicos dos Reis temos narrativas com
conteúdo histórico bem preservado, os quais podem nos ajudar na reconstrução
das fronteiras de Israel Norte.
Temos por exemplo, as narrativas proféticas do Ciclo de Elias-Eliseu,
mesmo que não possam ser tomadas como relatos puramente históricos, elas
informam com certa segurança as localidades por onde os profetas teriam
passado (FINKELSTEIN, 2015, p. 132). Tanto Elias como Eliseu atravessam
fronteiras sem nenhum tipo de barreiras ou impedimentos, parecendo não haver
fronteiras fechadas entre alguns reinos vizinhos de Israel Norte, como Judá,
Fenícia, Moab, Amon e Damasco. Israel dominou Judá durante o governo da
dinastia omrida, Amon e Moab também eram vassalos de Israel Norte (RÖMER,
2016, p. 106). O caso da Fenícia, para onde os profetas vão até Tiro e Sidon, as
fronteiras são livres, mas Israel Norte não dominou a Fenícia em nenhum
aspecto. Já o caso de Damasco, para onde Eliseu foi ungir o novo rei da Síria,
Hazael, é possível perceber uma submissão ao reino de Israel Norte.
Temos outras evidências textuais nos livros dos Reis, como a submissão
de Josafá, rei de Judá, a Acab, rei de Israel Norte. Josafá sempre estava
disposto a obedecer às palavras de Acab e às suas convocações, mesmo que
sua vida ficasse em perigo, como no conflito em Ramot-Gilead, onde Acab diz
para Josafá se vestir de rei no meio da batalha, para que se os sírios fossem
matar o rei de Israel Norte, matassem Josafá, que é o que quase aconteceu
(1Rs 22.29-30; 2Cr 18.28-34). O comércio de fabricação de navios e do
transporte marítimo em Ezion-Geber, bem como o comércio de ouro com Ofir, o
que é condenado pelo narrador e avaliador dos reinos no texto. Josafá foi
reprovado por ter se aliado com Acab e com seu filho, Jorão (1Rs 22.41-51; 2Cr
20.31-37). Estes são indícios de narrativas nortistas ou de tradições atribuídas a
Josafá. Segundo Rendsburg (2002, p. 75-81), boa parte da narrativa de 1Rs 22
pertence ao dialeto hebraico de Israel Norte, inclusive a conversa entre Acab e
Josafá, em 1Rs 22.29-30.
Provan (2016, p. 407), diz que no tempo dos reis da dinastia omrida houve
uma relativa integração em Israel, e entre Israel Norte e Judá, porque ambos
viveram esse período em paz um com o outro. Este não foi um período de
284

integração, mas de domínio do Norte sobre o Sul, e a relativa paz entre os dois,
se deu porque Israel Norte estava dominando Judá, e também por ter uma
rainha omrida na família real judaíta.
O reinado de Atalia, a princesa omrida, em Jerusalém, aconteceu desde
seu casamento com Jorão, filho de Josafá. Ela reinou como rainha-mãe e depois
da morte de Acazias, seu filho, ela reinou mais sete anos sozinha em Jerusalém
e Judá (2Rs 11.1-3, 13-16; 2Cr 22.10-12; 23.12-15). Atalia teria reinado em
Jerusalém, somando todo o período em que estava casada com Jorão de Judá
(2Rs 3.1-8.24) e o período em que foi rainha-mãe (2Rs 8.25-29), um total de
doze anos em Jerusalém e Judá. Enquanto ela era rainha, esposa de Jorão e
como rainha-mãe de Acazias, rei de Judá, ela reinou simultaneamente com
Jorão de Israel Norte foram pelo menos seis anos de governo omrida simultâneo
em Israel Norte e em Judá (2Rs 3.1-10.36). O reinado de Atalia mostra como os
omridas dominaram Judá por dentro, chegando ao trono em Jerusalém. O
reinado de Atalia foi uma ameaça à continuidade da dinastia davídica.
O período governado por Atalia (842-836) parece ter sido bastante estável.
Apesar do silêncio a respeito de seu reinado em Jerusalém, parece que não
houve maiores conflitos ou guerras. Mas as narrativas dos Reis sugerem que
houve certa tensão política entre a rainha, os sacerdotes e o povo da terra. O
domínio omrida em Jerusalém ainda pesava bastante sobre a elite judaíta. Os
muitos anos de domínio de Israel Norte sobre Judá levaram o povo da terra a
tramar junto com os sacerdotes, a queda da rainha omrida (SIQUEIRA, 1997, p.
106; LÓ, 2006, p. 48-55).
A história de Atalia está fragmentada. Ela aparece na história
deuteronomista somente para evidenciar a entronização de Joás, e a volta da
dinastia davídica ao poder em Jerusalém (LÓ, 2006, p. 48-49). Ela reinou como
esposa do rei e rainha-mãe (hr'ybiG>) por cerca de sete anos. Neste período,

Atalia reinou como rainha-mãe ao mesmo tempo em que Jorão reinava em


Samaria. Desta forma, os omridas reinaram em Israel Norte e em Judá
simultaneamente, com um rei e uma rainha da dinastia omrida no poder.
O golpe que tirou Atalia do trono de Jerusalém e Judá foi realizado pelos
sacerdotes e o povo da terra. Estes dois grupos formavam um núcleo ou uma
base de poder religioso e econômico em Judá. Ambos aproveitaram o momento
285

propício para derrubar Atalia. Os omridas tinham sido exterminados por Jeú, que
assumira o poder em Samaria, portanto, ela seria a última omrida no poder.
Mesmo sozinha, ela ainda se manteve por quase sete anos como rainha
soberana em Jerusalém. A narrativa dos Reis diz que os sacerdotes teriam
levado Joás ao templo, com oito anos de idade, e o ungido como rei de Judá em
Jerusalém. Em seguida dão ordens para matar Atalia fora das dependências do
templo.
Sobre o golpe dado pelo sacerdote Jeoiada e o povo da terra, Liverani diz:

Obviamente, um recém-nascido não pode ter sido reconhecido


(como rei) por ninguém, e uma criança de sete anos não pode
ter agido por conta própria, pode apenas ter sido um instrumento
de fictícia legalização nas mãos do sacerdote Yoyada’,
verdadeiro artífice e beneficiário do golpe (LIVERANI, 2014, p.
172. Parênteses meus).

As evidências contidas nas estelas de Mesha e de Tel Dan dão uma visão
mais clara sobre o domínio dos omridas na Transjordânia e em Damasco. A
estela de Mesha informa inclusive os nomes das cidades dominadas e
edificadas em Moab e na região de Gilead, enquanto que a Estela de Tel Dan
informa somente que Omri e Acab ocuparam as terras de Damasco no período
de Ben-Hadad. Estas estelas ajudaram a reconstruir as fronteiras norte-israelitas
na Transjordânia.
Também, a identificação de outras fortalezas que foram edificadas ou
ocupadas durante o séc. IX AEC deu nova luz para a compreensão da dimensão
territorial dos reis omridas. A indústria de cobre/bronze de Khirbet en-Nahas, no
sudeste do Mar Morto e noroeste de Petra, coincide com a localização da
narrativa da construção da serpente de bronze por Moisés, e a rota do Êxodo.
Uma fortaleza quadrada com um portão com quatro câmaras, mas somente três
foram escavadas. Também as fortalezas de Khirbet el-Kheleifeh, de Kuntillet
’Ajrud e de Cades-Barnea, indicam a presença omrida no limite sul de Judá.
Isto fez com que Acab controlasse sozinho a Estrada do Rei, dominando-a
desde a saída do Egito. São quase 700 km de estrada, pelo deserto do Negev
(ao norte da Península do Sinai), desde Cades-Barnea e Kuntillet ’Ajrud,
passando pelo porto de Ezion-Geber e subindo a Transjordânia, passando por
Moab, Amon e o planalto de Gilead, chegando em Damasco, no território da
286

Síria.
Este território dominado pelos reis da dinastia omrida é praticamente o
mesmo atribuído a Davi e Salomão (1 e 2 Samuel). Davi e Salomão teriam
dominado todo o território de Judá e Israel Norte, indo desde Eilat e a fronteira
com o Egito em Cades-Barnea, até o extremo norte, na cidade de Dan. Também
teria dominado o rei da Síria, chegando até as proximidades do rio Eufrates, ao
norte de Damasco. Também teriam dominado toda a Transjordânia, desde
Edom, Moab até Amon, e daí até Damasco.
Segundo Longman (2016, p. 353),

a região controlada por Davi abrangia: 1) as áreas centrais de


Judá e Israel (mas não da Filístia), 2) os reinos transjordanianos
conquistados de Edom, Moabe e Amom, além de Aram-
Damasco e Zobá como vassalos tributários, 3) Hamate
(chegando até o Eufrates) como aliado subjugado.

O que temos até aqui é um aparente conflito de fontes. Por um lado, temos
a narrativa bíblica que atribui o território a Davi e Salomão, a Monarquia Unida,
por outro lado, temos a arqueologia e o Carbono-14 que mostram que as
fronteiras de tal território refletiam as do séc. IX AEC. Uma fonte não anula a
outra. Aqui vemos as limitações de cada uma das fontes, que precisam ser
vistas em conjunto. A arqueologia pode analisar os vestígios da época em que
foram construídos ou derrubados, já a narrativa bíblica tem um grande período
que a separa do fato até o momento da escrita, e neste momento o escriba
escreve baseado na realidade de sua época.
A narrativa diz que a monarquia começou com Saul e depois com Davi, em
Judá, e que Davi e Salomão reinaram a partir de Jerusalém em um vasto
território. A dinastia omrida é descrita pejorativamente, os redatores, ao que
parece, tiveram a intensão de diminuir a dinastia omrida para exaltar a dinastia
davídica. A arqueologia no séc. XIX e primeira metade do séc. XX, como visto no
cap. 1 desta pesquisa, tenderam a interpretar os vestígios arqueológicos a partir
da interpretação bíblica. Com o avanço da arqueologia, sua desvinculação com
a Bíblia, e a tecnologia do Carbono 14, todos os monumentos e cidades
atribuídas à Monarquia Unida passaram para a época de Omri e Acab, séc. IX
AEC.
287

Rio Eufrates

Filíst
FENÍCIA SÍRIA
ia Possível
domínio

GILEAD
ISRAEL
NORTE

AMOM

FILÍSTIA
JUDÁ MOAB

Fronteira

EDOM

EGITO

ARÁBIA

Território Monarquia Unida, cf. 2 Sm. Território dos omridas. Séc. IX AEC.
(Mapa 1: Google Earth). Anotações minhas. (Mapa 2: Google Earth). Anotações minhas.

Os textos bíblicos apresentam uma avaliação teológica do reino de Israel


Norte de forma extremamente negativa. O memo aconteceu com Judá. Depois
da queda de Israel Norte em 722 AEC, Judá se desenvolveu e concluiu a história
bíblica baseado na teologia centralizadora de Jerusalém, que privilegiou Judá e
rejeitou, de certa forma, Israel Norte. Os livros dos Reis foram escritos depois do
final do séc. VIII AEC, com maior possibilidade no séc. VII AEC, período de
Josias, sofrendo assim grande influência deuteronomista. Mesmo com a
influência deuteronomista, há textos mais antigos, de origem nortista, como
demonstra Rendsburg, que narram de forma positiva o reino nortista
(RENDSBURG, 2002, p. 17-26), que são pistas que ficaram no texto que podem
ajudar na reconstrução do reino de Israel Norte e do seu domínio territorial.
Olhando em conjunto as fontes bíblicas e arqueológicas, podemos perceber que
288

existem semelhanças significativas entre o território da Monarquia Unida 119


conforme aparece descrito em 2 Samuel e 1 Reis, é basicamente como o mapa
1. O problema é que 2 Sm 8 diz que o território de Davi chegou até o rio
Eufrates, no extremo norte da Síria. Isto jamais aconteceu. O autor/editor desse
texto deve ter escrito baseado na realidade da época dele, o domínio assírio,
quando Judá e a Síria se tornaram províncias assírias. Ou ele poderia estar no
período de Josias, com os altos ideais de monarquia unida. Tirando esse
exagero do rio Eufrates, o território davídico e salomônico é praticamente o
mesmo da dinastia omrida.
As pesquisas mais recentes têm colocado em dúvida o reino de Davi e
Salomão. A questão aqui não é se eles existiram ou não, mas se eles foram tudo
aquilo que as narrativas apresentam, o seu poder e grandeza territorial.
Conforme temos visto nas fontes da arqueologia, o território atribuído à
Monarquia Unida de Davi e Salomão data do séc. IX AEC, não do séc. X AEC.
Então o território da Monarquia Unida seria o território dominado pela dinastia
omrida. Todas as fortalezas possuem o mesmo padrão arquitetônico e estão
protegendo ao mesmo tempo, a Estrada do Rei e a fronteira de Israel Norte.
A narrativa bíblica dos Reis teria sido escrita depois do séc. VII AEC, quase
dois séculos depois do fim da dinastia omrida e quase três séculos depois de
Davi e Salomão. Isto pode indicar que, com a necessidade de se contar uma
narrativa do reino de Judá, poucos textos nortistas e uma memória de um reino
de Israel que ocupava o Norte e o Sul, dominava o comércio de cobre/bronze e
de ouro, que dominou toda a extensão da Transjordânia, dominando a Síria e
sua capital, Damasco, e chegou à costa litorânea, fora atribuída a Davi e
Salomão. E para exaltar o império davídico a dinastia de Omri eria que ser
diminuída e rejeitada. Por isso, Acab fora avaliado como o pior dos piores reis de
Israel. A história de Davi e Salomão, a ideia de Monarquia Unida, seria então,
uma retroprojeção da história dos reis omridas, principalmente, de Omri e Acab.

4. Omri e Acab / Davi e Salomão

Para fazer esta análise comparativa é necessário levar em conta alguns

119
O mapa da Monarquia Unida foi baseado em SAREL, Baruch. ‫אטלס מבוא להבנת המקר‬. ‫כרטא‬.
‫ירושליﬦ‬. 1997.
289

fatores importantes. Primeiro, não há indícios de escrita hebraica desenvolvida


no séc. X AEC, como sugere Gass. Para ele existia escrita desenvolvida já na
época de Davi e anterior, pois ele faz uma leitura mais literal da cronologia
apresentada no texto, seguindo a sequência da narrativa como sendo um
registro histórico. Segundo ele, em Jerusalém, na corte de Davi, havia
profissionais especializados em arquivos e literatura, e um secretário para
sistematizar o material literário produzido na época da monarquia unida (GASS,
2011, p. 61-32).
Segundo Finkelstein (2015, p. 142-143), a escrita começa a se desenvolver
em Israel Norte somente no séc. IX AEC, de onde temos várias amostras de
óstracos escritos em hebraico arcaico e produzidos no séc. IX e VIII AEC. Em
Judá, a escrita desenvolvida se estabelece somente depois do final do séc. VIII
AEC, com os refugiados vindo de Israel Norte, os que fugiam da invasão assíria
em Samaria em 722 AEC.
Em terceiro lugar, a redação dos capítulos 1-11 de 1 Reis reflete
plenamente a escrita hebraica judaíta. Estes são os capítulos que tratam da
história dos momentos finais de Davi e do reinado de Salomão em Jerusalém.
Os textos com indícios de dialeto hebraico norte-israelita aparecem nos textos
entre 1Rs 12 – 2Rs 17 (RENDSBURG, 2002). De acordo com Schniedewind
(2013, p. 73-83), a escrita hebraica se desenvolve primeiro em Israel Norte, em
meados do séc. IX AEC, e depois no Sul no final do séc. VIII e início do séc. VII
AEC.
Tendo, portanto, a escrita hebraica se desenvolvido em meados do séc. IX
AEC, torna-se evidente que não há registros escritos hebraicos antes desta data,
ou no máximo antes do final do séc. X e início do séc. IX AEC. Assim, teríamos
escritos hebraico somente em Israel Norte entre o séc. IX e VIII AEC. Várias
histórias dos primeiros reis de Israel Norte e tradições, como a do Êxodo e de
Jacó, já existiria por escrito, mesmo que em pequenos textos independentes.
As histórias de Davi e Salomão (séc. X AEC), teriam sido postas por escrito
somente no final do séc. VIII AEC. As semelhanças entre as histórias de Davi e
Salomão com as de Omri e Acab, são no mínimo interessantes. Há várias
semelhanças que precisam ser levadas em conta nesta análise. Não se trata
exatamente em dizer que um é o outro, mas que suas histórias se assemelham
290

e muitos aspectos foram retroprojetados para dar vida, força e poder, aos
primeiros reis da dinastia davídica.

Omri e Acab David e Salomão


Omri era general de Elá, rei de Israel Davi era general de Saul, rei de
(1Rs 16.15) Israel
Omri começa a reinar em Tirza Davi começa a reinar em Hebron
(1Rs 16.23) (2Sm 2.11)
Omri compra uma colina e edifica Davi conquista Jerusalém
Samaria (1Rs 16.24) (1Sm 5.6-10)
Omri passa a reinar de Samaria, Davi passa a reinar em Jerusalém,
nova capital do reino nova capital do reino
(1Rs 16.23-28) (1Sm 5.6-12)
Omri teve o apoio do exército Davi teve o apoio do exército
(1Rs 16.16-21) (2Sm 2.1-5.5)
Omri não constrói templo Davi não constrói templo
(1Rs 16.23-28) (2Sm 7.1-17)
Salomão começa a reinar em Judá
Acab reina em Israel depois de Omri
depois de Davi
(1Rs 16.29-33)
(1Rs 1.32-40)
História da morte de Urias
História da vinha de Nabote (2Sm 11.1-12.25)
(1Rs 21) História da eira de Araúna
(2Sm 24.18-25)
Salomão constrói um templo em
Acab constrói um templo em Samaria
Jerusalém
(1Rs 16.29-33)
(1Rs 6.1-13)
Seguiu a Baal e fez uma Aserá Seguiu a várias divindades
(1Rs 16.32-33) estrangeiras (1Rs 11.5)
Acab se casou com mulher Salomão se casou com várias
estrangeira mulheres estrangeiras
(1Rs 16.31) (1Rs 11.1-4)
Fortes ligações com a Fenícia Fortes ligações com a Fenícia
(1Rs 16.31) (1Rs 5.1-12)
Construiu e fortificou cidades e Construiu e fortificou cidades e
armazéns armazéns
(Fontes arqueológicas) (1Rs 9.15)
Controlou o comércio de ouro e cobre Controlou o comércio de ouro e
a partir de Ezion-Geber cobre a partir de Ezion-Geber
(2Cr 20.35-36) (1Rs 10)
Riqueza e luxo Riqueza e luxo
(1Rs 22.39) (1Rs 10.14-29)
291

Poder militar
Poder militar
(1Rs 20; 22.29-40;
(1Rs 10.26-29)
Inscrições assírias de Salmaneser III)
Domina um vasto território, Israel, Domina um vasto território, Israel,
Judá e Transjordânia Judá e Transjordânia
(1Rs 20; 2Rs 3.4-6) (1Rs 4.20-25)

Nesta tabela comparativa percebe-se que muitos fatos ocorridos com os


omridas ocorreram também com Davi e Salomão. Embora a narrativa de um e
de outro traga contextos diferentes, os fatos permanecem como algo em comum.
Analisando Davi e Omri, vemos que ambos foram generais do exército de reis
(Saul/Elá), ambos começaram seu reinado numa capital (Hebron/Tirza), e logo
em seguida mudaram a capital para outra cidade mais estratégica
(Jerusalém/Samaria) e os dois tiveram o apoio do exército para se
estabelecerem no poder. Ambos não constroem um templo, somente seus filhos
o fazem.
Segundo Finkelstein (2006, p. 121-122), algumas histórias e feitos de Davi,
principalmente da sua ligação com o grupo de bandidos e sua rivalidade com
Saul, podem ser registros em parte autênticos do séc. X AEC, podem ter sido
memórias que foram preservadas na oralidade tendo por base fundamental a
influência do governo da dinastia omrida. Para ele, a história de Davi e Salomão
é uma obra de grande propaganda posta por escrito no final do séc. VIII AEC.
Finkelstein diz que neste período, Judá já tinha se desenvolvido, Jerusalém e
outras aldeias vinham experimentando grande crescimento populacional, sendo
necessária a construção de armazéns e depósitos, e a habilidade da escrita para
a administração e contabilidade de impostos (FINKELSTEIN; SILBERMAN,
2006, p. 122-123; LONGMAN et al, 2016, p. 328-329; RÖMER, 2008, p. 145-
151).
Mazar não vê nenhuma ligação entre Davi e Salomão e Omri e Acab. Para
ele, as histórias de Davi e Salomão podem ter fundo histórico, apesar dele
mesmo afirmar que as evidências arqueológicas desta Monarquia Unida são
insuficientes (MAZAR, 2003, p. 355-388). Sobre Salomão não existem provas
arqueológicas, e sobre Davi, há somente uma ocorrência da expressão “casa de
Davi” em testemunho extrabíblicos, a estela de Tel Dan. Mesmo assim, há
controvérsias a respeito do vocábulo dwd, mas é bem possível que seja de fato
292

o nome Davi (KAEFER, 2016, p. 64-70). Então, não há dúvidas se Davi existiu
mesmo ou não, a dúvida gira em torno da existência de Salomão, se suas
histórias são lendas ou apenas memórias retroprojetadas do período da dinastia
omrida.
Isto deve ter acontecido também com a construção de um templo em
Samaria por Acab e a construção de um templo em Jerusalém por Salomão.
Para Finkelstein, um templo da capital do reino indicaria uma centralização
religiosa e de poder. A religião legitimava o rei e mostrava que a divindade
habitava na capital do reino, e toda a arrecadação de impostos e de ofertas ou
dízimos, era recolhida no templo central (FINKELSTEIN; SILBERMAN, 2006, p.
121-149). Esta narrativa sobre o templo em Jerusalém foi importante
principalmente na época em que os textos foram escritos, no final do séc. VIII
AEC e início do séc. VII AEC, época de Ezequias, rei de Judá, quando se
começou os ideais de centralização do culto em Jerusalém, a “cidade de Deus”
(ex. Salmo 45).
Há uma ênfase na narrativa sobre a ligação de Salomão com a Fenícia, o

nome Hirão ( ~r'yxi), rei de Tiro, por exemplo, ocorre 21 vezes120. Em tais

ocorrências, há parcerias comerciais entre Salomão e a Fenícia, como a compra


de matérias primas, como o cipreste e o cedro do Líbano e pedras para a
construção do templo. Hirão fornecia mão de obra especializada para a
fabricação de utensílios para o templo, muitos feitos de cobre/bronze batido.
Conforme a narrativa, Salomão também teria feito parcerias com a Fenícia
para a fabricação de navios no porto de Ezion-Geber, para a exploração e
comércio de ouro vindo de Ofir. Estes navios sairiam carregados para Társis, e
de lá voltariam carregados com outras mercadorias, inclusive com animais e
aves (1Rs 10.22).
Acab tinha ligação familiar com a Fenícia, uma vez que era casado com
Jezabel, princesa Fenícia. Ele estabeleceu fortes relações diplomáticas,
econômicas e políticas com a Fenícia (GASS, 2011, p. 19), inclusive relações
comerciais, através das rotas que passavam pelo Vale de Jezreel na direção da
Fenícia e pelo porto norte-israelita de Tiro, ao sul do Monte Carmelo.
A exploração do comércio marítimo no extremo sul de Judá durante o

120 1Rs 15.2(2x),16, 21, 22, 24, 25(2x), 26, 32; 7.13, 40(2x), 45; 9.11(2x), 12, 14, 27; 10.11, 22.
293

governo da dinastia omrida, em Ezion-Geber, é atribuído a Josafá pelo redator


do livro dos Reis e das Crônicas (1Rs 22.49; 2Cr 20.36, 37). Tanto nas
referências em Reis como em Crônicas (uma narrativa tardia), o comércio
marítimo está com a aliança entre Acazias e Josafá. Em Crônicas, Josafá é
acusado por ter feito aliança com Acazias, de Israel Norte, na fabricação e
comercialização de navios e mercadorias de Ezion-Geber para Társis. Apesar de
em Crônicas o cronista apresentar Josafá como estando acima de Acazias, no
livro dos Reis é Acazias quem manda, e não só ele, mas o seu pai Acab dava as
ordens sobre Josafá (1Rs 20 e 22; 2Cr 18.2).
Quanto ao poderio militar temos poucas informações nos textos bíblicos,
principalmente com relação aos exércitos de Israel Norte. Os números dos
exércitos de Salomão são informados no texto de 1Rs 10.26: 1.400 carros de
guerra e 12.000 cavaleiros. Os números na Bíblia nem sempre podem ser
entendidos literalmente, mas com relação a Acab, temos os números do exército
norte-israelita nos registros assírios de Salmaneser III, onde diz que Acab de
Israel tinha 2.000 carros de guerra e 10.000 soldados a pé na batalha de Carcar.
Tais números também não podem ser entendidos literalmente, mas é possível
que fosse algo em torno disso, já que ele aparece como o terceiro da lista entre
os mais poderosos reis da coalisão antiassíria.

Considerações finais
As evidências bíblicas e arqueológicas têm apontado para uma nova
interpretação da história de Israel. O reino de Israel Norte sempre foi visto de
forma negativa e incompleta, em toda a narrativa dos Reis ele é colocado à
margem da história de Judá. O levantamento bibliográfico do primeiro capítulo
desta pesquisa mostrou a maneira como, principalmente, a história dos reis da
dinastia omrida foi lida e interpretada tanto por comunidades de fé como no
mundo acadêmico.
Nesta reconstrução histórica do período da dinastia omrida, vimos como a
história desta dinastia influenciou fortemente a construção das narrativas sobre a
Monarquia Unida. Omri fundou Samaria e, consequentente, a primeira
monarquia israelita. As características da formação de um estado indicadas
compiladas inicialmente por Vere Gordon Childe e depois retrabalhadas e
atualizadas por Mario Liverani, deram base para a análise da formação do
294

primeiro estado israelita.


Acab expande Samaria, constrói uma fortaleza em Jezreel, edifica cidades,
constrói palácios e templos por todo o território norte-israelita e da Transjordânia.
Várias cidades e fortalezas de Judá também foram fortificadas por Acab, como é
o caso de Beerseba e Arad, cujos estrados das fortificações datam do séc. IX
AEC. Várias fortalezas foram construídas e fortificadas por toda a fronteira de
Israel Norte, e guardavam todo trajeto da Estrada do Rei.
Ao reconstruirmos as fronteiras de Israel Norte, e após uma comparação
com as fronteiras da Monarquia Unida de Davi e Salomão, é possível ver que
são praticamente as mesmas, isto porque não conseguimos evidências
suficientes para indicar que as fronteiras omridas chegaram até o rio Eufrates e
dominaram os filisteus, como atribuídas a Davi (2Sm 8). As descrições do
território de Davi na narrativa indicam todos os territórios de Israel Norte. Mas as
fronteiras apresentadas do domínio davídico são mais detalhadas que as
apresentadas do domínio de Israel Norte. Só é possível refazer as fronteiras de
Israel Norte no séc. IX AEC através das narrativas, se fizermos uma leitura
analítica e crítica dos textos, mesmo assim, o texto só informa o território
indiretamente, diferente das informações dadas para o território de Davi e
Salomão.
No caso de Israel Norte, temos registros extrabíblicos, como as estelas de
Mesha e de Tel Dan. Ambas as estelas afirmam que os omridas ocuparam seus
respectivos territórios, mencionando inclusive as cidades dominadas pelos reis
da dinastia omrida. Estes registros foram surpreendentes e indispensáveis para
a reconstrução das fronteiras do domínio dos reis da dinastia omrida durante o
séc. IX AEC.
Com estes dados analisados, é possível chegar a um denominador
comum. As duas histórias Davi e Salomão e Omri e Acab têm muitos pontos
semelhantes. Com as novas perspectivas da arqueologia, a baixa cronologia,
por exemplo, tem sido possível fazer um levantamento da história perdida de
Israel Norte, tanto a partir da arqueologia como dos textos bíblicos. É
interessante ver como os territórios coincidem, mas na narrativa de 2 Samuel e
de 1 Reis, não fornecem maiores detalhes acerca das fortalezas e das cidades
dominadas pela Monarquia Unida. Portanto, é possível propor que a ideia de
295

Monarquia Unida tenha vindo a partir de uma retroprojeção da memória de um


grande reino que envolvia o Norte e o Sul, e formando assim uma Monarquia
Unida.
Judá foi quem ficou para contar a história, e a contou favorecendo a si
mesmo. A necessidade de contar sua história e para legitimar seu estado, suas
posses e território, encontrou na pessoa de Davi, o fundador da dinastia sulista,
um ideal de rei, guerreiro e seguidor de Javé. Desta forma, escrevendo as
memórias da dinastia omrida como sendo de Davi e Salomão, contando assim, a
origem do primeiro reinado, desconsiderando inclusive, o governo de Saul. Não
é por acaso que nas narrativas sobre Davi e Salomão, o nome do estado era
Israel, e posteriormente, o próprio Judá usaria o nome Israel para se referir a si
mesmo. Uma mitificação do Estado.
296

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A visão negativa que foi construída a respeito da dinastia omrida se deu, de


certa forma, pela maneira como a narrativas bíblicas apresentam os reis que a
compõe. A interpretação literalista e conservadora do texto bíblico tem
influenciado a visão a respeito desta dinastia. Os reis omridas, principalmente
Omri e Acab, receberam avaliação extremamente negativa por parte do editor
deuteronomista. Sobre Acab, o deuteronomista foi ainda mais severo, dizendo
que não houve rei pior que Acab. Mas o texto bíblico não leva em conta o
reinado em si, mas a visão religiosa da história.
Esta visão literalista das narrativas bíblicas continuou influenciando os
estudiosos apresentaram a dinastia omrida como perversa e pecadora, os piores
dos piores, exemplos de má conduta como, Martin Noth, Albrecht Alt, William
Foxwell Albright, John Bright, Jorge Pixley, entre outros. Destes, alguns
procuram seguir mais de perto o texto bíblico outros nem tanto, mas, todos
seguem a história de Israel como aparece nos textos bíblicos. Entretanto,
Herbert Donner e Thomas Thompson estavam se abrindo para as novas
tendências na interpretação bíblica baseada também na arqueologia. Porém,
ainda temos estudiosos com visão muito conservadora da dinastia omrida como,
Ildo Bohn Gass e Amihai Mazar, embora Mazar já tenha dado sinais de uma
reavaliação sua obra, baseando-a na nova visão da história de Israel. Outros
estudiosos, como, José Ademar Kaefer, Mario Liverani e Israel Finkelstein têm
assumido seguir a escola centrista, sendo o próprio Finkelstein um dos
precursores desta escola.
Esta nova visão nas pesquisas em arqueologia e Bíblia tem proporcionado
uma revolução na compreensão da história de Israel, e desta forma, analisando-
a a partir das suas origens na região montanhosa do norte. As novas datações
baseadas nos avanços da tecnologia em Carbono-14 (C14) deram uma
reviravolta na história no período bíblico, principalmente, nos períodos iniciais de
Israel ao norte de Canaan. Esta pesquisa se propôs a olhar a história de Israel
também a partir do norte, assumindo em suas hipóteses que os reis da dinastia
297

omrida foram os reis que fundaram o primeiro Estado israelita e sua primeira
monarquia. Com isso, esta dinastia foi a única na história de Israel a reinar de
forma totalmente independente num vasto território, muito semelhante com o
atribuído à Monarquia Unida.
O primeiro passo para trabalhar as hipóteses propostas foi a análise
exegética da fundação desta dinastia, 1 Reis 16.15-33. Este texto possui três
pequenas perícopes, que contam 1) a ascensão de Omri ao trono, 2) a fundação
de Samaria e 3) a sucessão de Omri por Acab. A partir deste texto foi possível
compreender o modo como a narrativa foi influenciada pela redação
deuteronomista, sendo possível que houvesse pequenos trechos nestas
perícopes que possuíam redação mais antiga, nortista, isto com base nas
pesquisas de Rendsburg (1990; 2002; 2009) e Schniedewind (2013).
Na perícope, portanto, predomina a narrativa deuteronomista, com as
avaliações extremamente negativas e pejorativas de Omri e Acab. A temática
principal são os erros e mazelas dos reis omridas. Não objetivo desta pesquisa
comprovar que foram bons reis para o povo, mas que foram geniais no
estabelecimento do Estado norte-israelita e na ampliação do seu território. A
fundação de Samaria é apresentada em poucas palavras, somente um versículo
(1Rs 16.24). Sobre Omri, foram nove versículos 1Rs 16.16-23, 25) e sobre Acab,
quatro versículos (1Rs 16.29-33), sendo a maior parte, avaliações negativas e
descrição de seus erros/pecados.
Tais textos foram influenciados ou modificados pelos editores
deuteronomistas do final da monarquia judaíta e do período pós-exílio
babilônico. Esta é a hipótese defendida, principalmente, por Israel Finkelstein,
Mario Liverani e Thomas Römer, também por Ademar Kaefer e José Airton da
Silva, embora haja estudiosos que defendam que a história de Israel seja uma
construção do período macabeu e hasmoneu, segundo século AEC (veja
DAVIES, 1991 e 1996).
Ao analisar o conjunto literário sobre os reis omridas, percebe-se que os
livros dos Reis reservaram quase metade da obra para contar a história da
dinastia omrida. Mas essa não era exatamente a intensão do deuteronomista,
pois a narrativa sobre os omridas só perde em tamanho para as narrativas sobre
Davi e Salomão juntos. Embora as avaliações sobre Acab sejam as piores
298

possíveis, nos livros dos Reis, Acab sempre aparece na narrativa como alguém
temente a Javé, e nunca desobedeceu às ordens do profeta Elias. Estas partes
positivas, especialmente do ciclo de Elias-Eliseu, podem ser fragmentos de
textos nortistas sobre os reis de Israel Norte (isto pode ser verificado também em
FINKELSTEIN, 2015). Possivelmente, fato do deuteronomista ter tentado ocultar
a grandeza e o poder de Israel Norte foi porque queriam, claramente, diminuir os
reis omridas e exaltar o reinado de Davi e Salomão, apresentando-os com reis
fundantes do reino de Judá e Israel, a Monarquia Unida.
Quando Omri assumiu o poder, tanto Israel Norte quanto Judá eram
entidades políticas territoriais, não exatamente reinos. Os monarcas anteriores a
Omri, foram reis com fortes características rurais, líderes regionais. Com a
fundação de Samaria por Omri, Israel Norte começa a despontar no cenário
internacional. Acab, sucessor de Omri, conseguiu levar Israel Norte ao patamar
de potência regional, sendo citado em estelas de outros povos, bem como nas
inscrições do poderoso império assírio.
Acab expandiu o território tanto para o oeste (litoral) como para o leste
(Amom e Moab) e para o norte (territórios arameus). Seu casamento com a
princesa Jezabel fortaleceu a aliança com os fenícios, o que favoreceu o
crescimento do comércio marítimo e o comércio com a própria fenícia. Também
conseguiu dominar Judá, o reino do Sul, por alguns anos, inclusive
estabelecendo uma rainha Omrida, Atalia, no poder em Jerusalém, a qual reinou
por sete anos.
A dinastia Omrida foi aniquilada através da revolta de Jeú, o qual segundo
a narrativa bíblica, matou Jorão (Israel) e Acazias (Judá) e assumiu o poder de
Israel Norte. Enquanto isso, em Jerusalém, Atalia assume o poder de Judá,
sendo assassinada a mandado do sacerdote Jeoiada.
A história tradicional de Israel tem sido contada sempre a partir de Judá,
com a centralidade de Jerusalém e do seu templo. Nesta perspectiva, Israel
Norte é sempre rejeitado, e na narrativa bíblica os pecados dos reis nortistas são
sempre evidenciados, nunca suas conquistas.
A arqueologia ajudou na compreensão de quem foram os reis omridas. Dos
mais perversos e pecadores nas narrativas bíblicas, para os mais brilhantes e
estrategistas na arqueologia. Isto não quer dizer que uma fonte nega a outra,
299

mas que se completam. A arqueologia contribuiu para aprimorar o conhecimento


sobre Israel Norte e suas origens. O padrão arquitetônico dos reis omridas,
presentes em vários sítios em todo Israel e Jordânia, é uma amostra do domínio
territorial dos omridas. As estelas de Mesha (moabita), Tel Dan (síria) e de Kurkh
(assíria), são testemunhas do que foi o reino de Israel Norte durante o séc. IX
AEC.
A estela de Mesha registrou as cidades dominadas pelos omridas, e
registrou o nome de Omri como o dominador de Moab. A estela de Tel Dan,
escrita por Hazael, rei de Damasco, diz que os omridas dominaram os territórios
de Damasco, mostrando que Israel Norte tinha forças para dominar territórios de
reinos poderosos como a Síria. A estela de Kurkh de Salmaneser III, menciona o
nome de Acab como um dos poderosos reis da coalisão antiassíria, e um dos
que mais enviou soldados e carruagens para a guerra. Além desta estela de
Salmaneser III, há muitos outros registros assírios onde o nome de Omri foi
mencionado. Omri se tornou tão conhecido dos assírios, que eles se referiam a
Israel Norte como “Casa de Omri”, mesmo dezenas de anos após o extermínio
da dinastia omrida por Jeú e Hazael.
Verificou-se a existência de escrita desenvolvida em Israel Norte, através
dos inúmeros óstracos encontrados em Samaria, das pequenas inscrições em
várias localidades do Norte, e de um fragmento de uma estela encontrada em
Samaria. Esta talvez seja a única estela israelita, ainda que fragmentada,
encontrada até o momento. A semelhança entre as inscrições mostra que já
havia escrita desenvolvida em Israel Norte no séc. IX AEC.
Com relação ao território dominado pelos reis omridas, a arqueologia deu
grande contribuição. As fortalezas encontradas junto à rota comercial chamada
“Estrada do Rei”, foram datadas entre séc. IX e VIII AEC, e possuíam arquitetura
semelhante. Isto mostra que os omridas ocuparam fortalezas já existentes e as
fortificaram e outras, eles construíram, todas guardando a principal rota
comercial entre o Egito e a Mesopotâmia e o comércio árabe. As fronteiras de
Israel Norte no séc. IX AEC, seguiam os contornos da Estrada do rei, isso é bem
visível.
Tanto a análise do texto bíblico quanto a arqueologia, mostram como Israel
Norte foi uma monarquia independente, que dominava territórios de outras
300

nações e tinha grande poderio bélico. Afirmar que a dinastia Omrida fundou a
primeira monarquia de Israel, é dizer que o grande império da Monarquia Unida
não existiu e que Davi não era mais que um líder tribal numa cidade que não tem
como justificar ser uma capital imperial nesta época.
Israel foi dominado por outras nações e impérios durante quase toda a sua
existência, foi dominado pelo Egito no sec. X, dominado pela Síria no final do
séc. IX e começo do séc. VIII, foi dominado pela Assíria no séc. VIII até ser
desfeito pelos assírios. Judá continuou dominado pelos assírios, depois pela
Babilônia, Persa, Grécia e Roma. Somente no séc. IX, quando Israel se tornou
uma monarquia, com verdadeiras características de monarquia (cf. George
Childe e Mario Liverani), é que ele permaneceu independente e dominou um
vasto território, incluindo Judá.
A fundação de Samaria foi essencial para o estabelecimento da monarquia.
Uma cidade fortificada, com plataformas e taludes, muros de casamata, palácio
e edifícios públicos administrativos, sua localização na estrada que liga a via
maris à Estrada dos Reis foi realmente bem estratégica. Também, Samaria está
mais ao centro do território israelita, que facilita o acesso leste – oeste e norte –
sul.
O reino do Norte no período da dinastia Omrida possui as características
que depois foram atribuídas à chamada Monarquia Unida, embora os Omridas
não tenham chegado no extremo sul, na região entre o deserto do Negev e o
deserto do Sinai, somente na época de Jeroboão II (no séc. VIII AEC) é que
Israel Norte domina esse território.
É possível que a memória da grandeza dos Omridas, principalmente de
Acab, tenha sido reelaborada posteriormente por Judá, para dar a Davi e
Salomão essas características de grande rei, do domínio de vastos territórios e
de construções monumentais?
Reunindo todas estas informações, verificou-se que Israel Norte foi de fato
o primeiro Estado israelita, que reinou de forma independente, e que dominou os
povos vizinhos a ele. Também, pode-se verificar que Israel Norte, que já era
próspero naturalmente, enriqueceu às custas do controle das rotas comerciais,
das cobranças de impostos, e do controle de importantes indústrias e produção
agrícola. Tinha um poderoso exército e dominou Judá, desde Ezion-Geber até
301

as proximidades de Damasco, e desde a costa litorânea até o planalto de Gilead.


Este é praticamente o território da Monarquia Unida.
A partir disto, pode-se ver que a ideia de Monarquia Unida teria vindo de
memórias do reino de Israel Norte, quando reinava independente, dominava o
Norte e o Sul, a Transjordânia e parte da Síria. Dominava o comércio e produção
de cobre/bronze, alta produção de mel e cera de abelha, o comércio marítimo,
as relações internacionais, a aliança com a Fenícia, etc. Tudo isto foi atribuído a
Davi e Salomão.
Davi e Salomão nunca tiveram a oportunidade de realizar tudo isso, Judá
no séc. X-VIII AEC era uma região sem recursos e fraca, não tinha atividade
comercial forte, e nem tinha domínio de importantes rotas comerciais, na
verdade, Judá estava fora as principais rotas comerciais. No séc. X, Judá Tanto
Israel quanto Judá foram dominados pelo Egito, na época do faraó Sisak
(Sheshonq I), não tinha espaço para se desenvolver. Somente Israel Norte, com
os reis omridas, se desenvolve no séc. IX AEC. Portanto, não pode ter havido
uma Monarquia Unida ou um estado estabelecido e desenvolvido no séc. X
AEC, porque Judá não tinha condições de ser um estado desenvolvido nessa
época. Isto só acontece no séc. VIII AEC, com a queda do reino de Israel Norte.
Desta forma, todas as análises das evidências arqueológicas nesta
pesquisa apontam para o séc. IX AEC o período de fundação do Estado israelita.
A ascensão de Omri e a fundação de Samaria foram determinantes para o
estabelecimento do Estado. Os monumentos e as grandes construções que
anteriormente eram atribuídas à Salomão, a partir das novas datações por C 14,
passaram a ser atribuídas aos reis omridas, principalmente à Acab. Isto pode ser
verificado e constatado tanto nas análises dos relatórios de escavações quanto
nas visitas técnicas aos sítios arqueológicos.

Foi somente com Acab que Israel Norte alcançou o patamar de potência
regional, dominando povos vizinhos (Moab, Amon, Sul de Damasco) inclusive o
pequeno reino de Judá. Foram apresentadas várias evidências que comprovam
esses domínios de Israel Norte, tanto textuais quanto arqueológicas. A análise
estrutura e arquitetura das fortalezas de fronteira ajudaram a fortalecer a
hipótese relacionada às dimensões do território dominado por Israel Norte, bem
como seu domínio sobre as principais rotas comerciais da época, a Estrada do
302

Rei (Via Régea) e a Estrada do Mar (Via Maris). Também o domínio sobre as
grandes indústrias de cobre e bronze, têxtil, vinícolas e a apicultura.
As Estelas de Tel Dan escrita por Hazael de Damasco e a Estela de
Mesha, escrita por Mesha, rei de Moab, foram importantes para a comprovação
da escrita em Israel Norte na segunda metade do séc. IX AEC e início do séc.
VIII AEC. Os óstracos de Samaria, que são normalmente atribuídos ao séc. VIII
AEC, possuem evidências de que parte deles tenham sido escritos no séc. IX
AEC, durante o período do reinado de Acab, rei de Israel Norte. Outras
inscrições encontradas em sítios norte-israelitas (Tel Rehov e Tel Amal, por
exemplo) possuem escrita e caligrafia idênticas à das Estelas de Tel Dan e
Mesha, bem como dos óstracos de Samaria, indicando escrita desenvolvida em
Israel Norte no séc. IX AEC. Outra evidência foi o fragmento de uma estela em
Samaria. Tal fragmento foi esquecido nas pesquisas acadêmicas, e só existe
uma nota descritiva sobre ele, escrita por Eleazar Sukenik, que trabalhou nas
escavações em Samaria pela Joint Expedition.
Os critérios para a identificação de um estado desenvolvido desenvolvidos
e apresentados por Childe (1951) e por Liverani (2006), podem ser verificados
no Estado norte-israelita: 1. O aumento da densidade populacional; 2. Mão de
obra especializada; 3. Produção de excedente para sustentar o governo,
cobrança de impostos, dízimos e ofertas no âmbito religioso e político; 4. A
construção de edifícios públicos monumentais, palácios e templos suntuosos,
grandes celeiros e prédios militares, etc.; 5. Estabelecimento de uma elite
governante, principalmente reis e sacerdotes; 6. Desenvolvimento da escrita e
notações numéricas, para manter todo o aparato burocrático; 7. Elaboração e
desenvolvimento das ciências, como: aritmética, geometria e astronomia.; 8.
Elaborados projetos arquitetônicos, com estilos conceituados e sofisticados; 9.
Investimento no comércio interno e externo de matérias primas e produtos
manufaturados; e, 10. Estabelecimento de um estado com uma capital fixa,
desenvolvidos por Childe (1951), e os critérios apresentados por Liverani (2006):
1. A transformação social do território, com irrigação e plantio, criação de
tecnologias e ferramentas para o arado e beneficiamento da colheita; 2.
Administração de uma economia complexa, com calendários de plantio,
comércio e mão de obra especializada; 3. Política e Cultura, com o
303

desenvolvimento da escrita, do aparato burocrático, ideologias e técnicas mais


aprimoradas para armazenamento; 4. Centro e periferia, com sofisticado sistema
de governo regional periférico a partir do centro, a capital do estado.
Foi identificado e verificado em Israel Norte: 1. A fundação de Samaria foi
fundamental para o estabelecimento do Estado de Israel Norte (SERGI; GADOT,
2017, p. 103-104); 2. A população de Israel Norte era três vezes maior que a de
Judá, cerca de 350 mil (FINKELSTEIN, 2015, p. 136-137); 3. Mão de obra
especializada (tijolos de cantaria, complexo de casamatas, taludes, plataformas,
etc); 4. Técnicas aprimoradas para armazenagem (economia e comércio); 5.
Elite governante e formação de exército com grande poder bélico; 6. Aparato
burocrático e escrita desenvolvida (óstracos e estela); 7. Comércio interno e
externo (rotas comerciais); 8. Produção de excedente e cobrança de impostos,
dízimos, etc; e, 9. Edificação e estabelecimento de fortalezas para guardar as
fronteiras.
Finalmente, pode ser constatado que as histórias dos reis omridas, Omri e
Acab, possuem estruturas idênticas às histórias de Davi e Salomão. O território
atribuído à Monarquia Unida é praticamente o mesmo dominado pelos reis
omridas. A diferença neste caso é que que o território dominado pelos reis
omridas pode ser comprovado através da arqueologia. É possível que ideia de
Monarquia Unida tenha surgido a partir de memórias da grandeza e do poder do
reino de Israel Norte no período dos omridas, que foi o único período em que
Israel dominou este vasto território de forma independente. Mas, as mãos
habilidosas e a forte ideologia deuteronomista conseguiu construir a história de
Davi e Salomão baseando-se nas memórias do governo omrida. Desta forma, a
grande Monarquia Unida teria acontecido, não na época de Davi e Salomão
(séc. X AEC), mas durante o governo e domínio dos reis da dinastia Omrida
(séc. IX AEC).
304

Anexo I – Arquitetura Omrida


1. Os Portões Omridas
A estratigrafia do período da dinastia omrida em Tel Megiddo é VA-IVB121.
Dentro destes níveis estratigráficos estão: portão israelita de seis câmaras, os
armazéns, estábulos e palácio.

Fig.1 - Metade do portão de seis câmaras de Tel Megiddo, estrato VA-IVB, séc. IX AEC.
(Foto: Acervo do autor)

Fig. 2 - Portão de seis câmaras da dinastia Omrida de Tel Gezer.


(Foto: Acervo do autor)

121FINKELSTEIN, Israel; USSISHKIN, David; CLINE, Eric H. (ed.). Megiddo V: The 2004-2008
Seasons. Vol.3. Monograph Series 31. Institute of Archaeology of Tel Aviv University. Indiana:
Eisenbrauns for the Sonia and Marco Nadler, 2013, p. 743.
305

Fig. 3 - Portão de seis câmaras de Tel Hazor, estrato X, séc. IX AEC.


(Foto: Acervo do autor)

Fig. 4 - Portão de quatro câmaras da dinastia Omrida de Tel Beerseba, séc. IX AEC.
(Foto: Cortesia de Silas Klein Cardoso)

Fig. 5 - Portão de seis câmaras de Khirbet al-Mudayne (Jahaz), séc. IX AEC.


Recorte e grifo meu. (Foto: APAAME, APAAME_20151014_REB-
0132.jpg)
306

Fig. 6 - Portão com quatro câmaras de Tel Dor, séc. IX AEC.


(Foto: GILBOA et al, 2015, p. 64)

Fig. 7 - Portão de Khirbet en-Nahas, Jordânia.


(Foto: LEVY; SMITH, 2008, p. 47)

I. Os Armazéns Omridas

Fig. 8 - Armazém de Tel Hazor do período Omrida, estrato X, séc. IX AEC.


(Foto: Cortesia de Silas Klein)
307

Fig. 9 - Armazém de Tel Beerseba do período omrida, séc. IX AEC.


(Foto: Cortesia de Silas Klein Cardoso)
2. Os Palácios Omridas

Fig. 10 - Palácio norte. Megiddo. Período Israelita, estrato X, séc. IX AEC.


(Foto: Acervo do autor)

Fig. 11 - Palácio sul com portão de quatro câmaras. Megiddo. Período


Israelita, estrato X, séc. IX AEC. (Foto: Acervo do autor)
308

Fig. 12 - Maquete do Palácio sul. Megiddo. Período Israelita, estrato X, séc. IX AEC.
(Foto: Acervo do autor)

Fig. 13 - Palácio israelita de Tel Hazor, séc. IX AEC. (Foto: Acervo do autor)

Fig. 14 - Palácio e portão israelita de Tel Gezer, séc. IX AEC.


(Foto: Cortesia de Silas klein Cardoso)
309

II. Os Estábulos Omridas

Fig. 15 - Estábulo norte do período de Acab, Tel Megiddo, séc. IX AEC.


(Foto: Acervo do autor)

Fig. 16 - Estábulo sul do período de Acab, Tel Megiddo, séc. IX AEC.


(Foto: Acervo do autor)
310

3. Muros de Casamata

Fig. 17 - Muro de casamata, Tel Hazor, séc. IX AEC.


(Foto: Acervo do autor)

Fig. 18 - Parte do muro de casamata leste, Tel Jezreel, séc. IX AEC.


(Foto: Acervo do autor)

Fig. 19 - Indústria têxtil de Khirbet al-Mudayne (Jahaz), séc. IX AEC.


(Foto: mudaynathamad.wordpress.com)
311

1 2 3

Fig. 20 - Muro triplo de Khirbet ‘Ara‘ir, Aroer, Jordânia, séc. IX AEC.


(Foto: Acervo do autor)

Fig. 21 - Muro de casamata, Tel Beerseba, séc. IX AEC.


(Foto: Cortesia de Silas Klein Cardoso)

Fig. 22 - Muro de casamata, Khirbet ‘Ataruz, Atarote, séc. IX AEC.


(Foto: Acervo do autor)
312

Fig. 23 - Muro de casamata, Tel Gezer, séc. IX AEC.


(Foto: Acervo do autor)

Fig. 24 - Muro de casamata, Khirbet al-Mudayne, Jahaz, séc. IX AEC. Recorte e


grifo meu. (Foto: APAAME, APAAME_20151014_REB-0132.jpg)

Fig. 25 - Muro de casamata, Tel Harashim. (Foto: BEN-AMI, 2004, p. 196)


313

4. Fosso

Fig. 26 - Fosso, Tel Jezreel, séc. IX AEC.


(Foto: Cortesia de Silas Klein Cardoso)

Fig. 27 - Fosso, Khirbet ‘Ataruz, séc. IX AEC. (Foto: Acervo do autor)

Fosso
Fig. 28 - Fosso, Khirbet al-Mudayne, Jahaz, séc. IX AEC. Recorte
meu. (Foto: APAAME. APAAME_20151014_REB-0129.jpg)
314

5. Muros de Cantaria

Fig. 29 - Muro de cantaria, Samaria.


(Foto: REISNER, 1924, vol.II, Plate 27)

Fig. 30 - Muro de cantaria, Tel Dan.


(Foto: Acervo do Autor)
315

ANEXO II – FORTALEZAS OMRIDAS

Fig. 1 - Tel Abel-Beth-Maacah.


(Desenho de http://www.biblewalks.com/sites/AbelBethMaacah.html)

Fig. 2 - Planta baixa de Tel ‘Ein Gev.


(Desenho de http://www.hadashot-
esi.org.il/report_detail_eng.aspx?id=1013&mag_id=115)
316

Fig. 3 - Khirbet al-Heri, Jordânia. (Foto: Google earth)

Fig. 4 - Khirbet ‘Ara‘ir (Aroer), Jordânia. Recorte meu.


(Foto: APAAME. APAAME_20090930_RHB-0072.dng)
317

Fig. 5 - Khirbet em-Nahas, Jordânia. (Foto: Google Earth)

Fig. 6 - Khirbet el-Kheleifeh (Ezion-Geber/Eilat), Israel.


(Desenho: PRATICO, 1985, p. 9)
318

Fig. 7 - Khirbet al-Mudayne (Jahaz), Jordânia. Recorte meu.


(Foto: APAAME_20151014_RHB-0107.jpg)

Fosso

Rampa
Externa

Fortaleza

Fig. 8 - Tell er-Rumeith (Ramot-Gilead), Jordânia.


(Foto: FINKELSTEIN et.al., 2013, p. 12). Tradução e desenho meus.

Fig. 9
Planta baixa da fortaleza
de Tell er-Rumeith
(Ramot-Gilead), Jordânia.
Recorte meu.
(Desenho: BARAKO,
2006, p. 8)
319

Fig. 10 - Khirbet ‘Ataruz (Atarote), Jordânia.


(Foto: FINKELSTEIN, 2015, p. 101)

Fig. 11 - Planta baixa de Tel Jezreel, Israel.


(Desenho: http://www.baslibrary.org/sites/default/files/bsba360403400l.jpg)
320

Fig. 12 - Fortaleza de Tel Ḥazor


(Foto: recorte de https://moements.org/archaeology-1/)

Fortaleza de Tel Gezer


(Foto: http://www.biblewalks.com/Sites/Gezer.html)
321

ANEXO III – MARCAS DE PEDREIRO

Fig. 1 – Marcas de pedreiros, Samaria


(REISNER, Vol. 2, 1924, Plate 90)

Fig. 2 – Marcas de pedreiros, Samaria


(REISNER, Vol. 2, 1924, Plate 90)
322

1. Letra ‫ ו‬waw;
2. Letra ‫ ת‬tav;
3. Estrela;
4. Letra ‫ ה‬he;
5. Letra ‫ צ‬tsadê;
6. (?);
7. Letra ‫ ק‬qof;
8. Letra ‫ ז‬zain;
9. Letra ‫’ א‬alef.
Fig. 3 – Marcas de pedreiros, Samaria
(REISNER, Vol.1, 1924, p. 119)

Fig. 4 - Marcas de pedreiro de Tel Megiddo.


(Foto: SCHUMACHER, 1908, p. 98)

Fig. 5 - Marcas de pedreiro de Tel Megiddo.


(Foto: Acervo do autor)
323

Fig. 6 - Marcas de pedreiro de Tel Megiddo.


(Foto: Acervo do autor)

Fig. 7 - Marcas de pedreiro de Tel Megiddo.


(Foto: Acervo do autor)

Fig. 8 - Marcas de pedreiro de Tel Gezer.


(Foto: MACALISTER, 1999, p. 179)
324

Fig. 9 - Marcas de pedreiro (Tabela de FRANKLIN, 2008, p. 251)

Fig. 10 - Marcas de pedreiro, atlar de quatro chifres de Tel


Beerseba (Foto: Acervo do autor)
325

Fig. 11 - Marcas de pedreiro, de Tel Megiddo


(Tabela: LAMON; SHIPTON, 1939, p. 25)

Fig. 12 - Marcas de pedreiro, de Tel Megiddo


(Foto: LAMON; SHIPTON, 1939, p. 13)

Fig. 13 - Marcas de pedreiro, de Tel Megiddo


(Foto: LAMON; SHIPTON, 1939, p. 20)
326

ANEXO IV – INSCRIÇÕES HEBRAICAS E ARAMAICAS

Fig. 1 – Estela de Mesha. Museu do Louvre


(Foto: Cortesia de Viviane Mendonça)

Fig. 2 – Estela de Tel Dan. Museu de Israel. (Foto: Acervo do autor)


327

Fig. 3 – Estela de Samaria, fragmento.


(Foto: Sukenik, 1936, Plate: 111)

Fig. 4 – Estela de Samaria, fragmento.


(Foto: Sukenik, 1936, Plate: 111)
328

ANEXO V – CÓDICES MASSORÉTICOS

Códice de Alepo (A)


1 Reis 16.20b-33
329

Códice de Leningrado B19a (L)


1 Rs 16.15-26a
330

Códice de Leningrado B19a (L)


1 Reis 16.26b-33
331

ÍNDICE REMISSIVO

Arquitetura monumental .................................. 213


A Asa, rei de Judá .......................... 75, 77, 130, 132
Asdode ...................................................... 62, 246
Abel-Beth-Maacah .... 19, 221, 222, 224, 226, 256 Aserá................. 28, 45, 84, 86, 93, 147, 151, 153
Absalão ............................................................. 42 Ashurnasirpal II ............................................... 252
Acab.....18, 24, 28, 30, 33, 35, 37, 39, 43, 44, 55, Asquelon ................................................. 234, 246
58, 61, 68, 69, 75, 76, 77, 79, 80, 81, 82, 83, Assíria ..................................... 18, 30, 35, 54, 252
84, 85, 86, 88, 90, 96, 107, 118, 121, 122, Assurnasírpal II ....................................... 144, 254
123, 124, 125, 126, 127, 128, 130, 131, 132, Atalia.....24, 39, 41, 96, 130, 150, 157, 158, 160,
133, 134, 135, 136, 137, 138, 139, 140, 141, 163, 167, 219
144, 146, 147, 150, 151, 152,153, 154, 155, Atarot .............. 17, 19, 49, 56, 215, 241, 243, 244
156, 157, 158, 159, 160, 161, 162, 163, 165,
166, 167, 168, 169, 182, 183, 184, 187, 188,
B
189, 190, 191, 195, 197, 205, 206, 207, 208,
210, 214, 225, 228, 230, 235, 240, 242, 247, Baal.....28, 39, 42, 43, 50, 84, 86, 116, 147, 151,
254 152, 156, 159, 241, 243
Acazias.....18, 24, 39, 49, 61, 82, 90, 96, 126, Baasa ...... 49, 57, 79, 92, 102, 109, 111, 150, 210
127, 129, 150, 156, 157, 158, 159, 160, 163, Baixa cronologia ......................................... 57, 62
165, 166, 167, 168, 219, 227, 250, 251 Baixa Galiléia .................................................. 225
Aharoni, Yohanan.... 128, 129, 218, 224, 235, 236 Beerseba................................... 36, 154, 162, 235
Albright, William Foxwell.....19, 21, 24, 26, 27, 28, Ben Hadad ........................................................ 18
29, 30, 31 Bet-Diblaten .................................................... 243
Alexandria ......................................................... 17 Betel.....26, 31, 39, 48, 49, 50, 51, 58, 101, 152,
Alfabeto Cariano ............................................. 184 153, 175, 176, 177, 228, 232
Alta Galiléia ............................................. 223, 224 Betsaida .................................. 153, 226, 227, 239
Amarna (el-Amarna) ........................... 48, 58, 229 Bíblia.....16, 25, 27, 32, 35, 41, 42, 43, 44, 45, 46,
América Latina ...................................... 38, 40, 45 48, 50, 52, 53, 56, 57, 58, 61, 65, 66, 69, 70,
Amri (Omri) ........................................... 35, 42, 83 71, 74, 78, 80, 83, 87, 92, 96, 101, 103, 104,
Análise exegética.....16, 19, 65, 89, 90, 111, 146, 109, 112, 117, 118, 119, 120, 121, 122, 123,
147, 151 128, 144, 145, 148, 149, 165, 194, 195, 218,
ANET .............................................. 252, 253, 344 237, 240, 241, 246, 337, 338, 340, 341, 342,
Antigo Oriente Próximo ..... 28, 40, 45, 65, 88, 186 343, 346, 351
Antigo Testamento.....28, 100, 118, 119, 148, Bíblia Hebraica.....16, 17, 50, 66, 69, 70, 74, 78,
337, 342, 345, 346, 356 87, 92, 96, 101, 103, 104, 109, 112, 117, 118,
Aqaba ....................... 28, 163, 164, 177, 237, 247 120, 121, 122, 123, 128, 165, 194, 195, 246
Arábia ....................... 29, 129, 147, 244, 246, 247 Bourquin, Ivan ................................................... 66
Aram-Damasco ................................................. 18 Brasil ........................................... 19, 45, 337, 351
Armazéns.....30, 182, 214, 215, 222, 229, 230, Bright, John ............................... 19, 21, 24, 30, 31
236 Bronze.....21, 31, 48, 59, 109, 110, 163, 164,
Arnon.....56, 58, 160, 161, 171, 239, 245, 246, 181, 189, 206, 215, 225, 229, 233, 234, 353
247
Aroer.....19, 58, 161, 175, 239, 241, 243, 245, C
246, 247
Arqueologia..... 1, 2, 16, 17, 20, 21, 24, 25, 26, Cades-Barnea ................................................. 237
27, 28, 30, 31, 40, 41, 45, 46, 47, 48, 51, 57, Câmaras (portão).....27, 30, 50, 55, 60, 62, 204,
58, 61, 63, 110, 113, 130, 143, 144, 154, 155, 206, 209, 215, 222, 225, 226, 227, 229, 231,
173, 174, 218, 219, 234, 260, 339, 340, 341, 234, 235, 236, 239, 243, 245, 248
342, 343, 345, 346, 352 Cantaria .......................................................... 186
332

Capital.....39, 40, 41, 49, 65, 83, 84, 85, 86, 89, Deuteronômio ........................... 21, 142, 144, 168
90, 97, 98, 107, 109, 110, 111, 115, 146, 151, Deuteronomista.....29, 36, 42, 51, 52, 82, 84, 89,
152, 175, 176, 185, 186, 196, 210, 211, 212, 100, 101, 102, 106, 116, 118, 119, 120, 121,
214, 219, 220, 228, 232, 233, 237, 247 127, 142, 143, 144, 148, 149
Capitéis ............................... 30, 60, 182, 214, 230 Diban................................................................. 17
Características arquitetônicas.....153, 215, 221, Dibon....19, 49, 53, 157, 175, 219, 240, 241, 243,
226, 228, 229 247
Carbono-14 ................... 47, 60, 61, 220, 237, 246 Dinastia omrida.....17, 18, 21, 24, 28, 30, 50, 146,
Carquemis ........................................................ 27 149, 150, 152, 158, 163, 164, 165, 167, 168,
Carros de guerra.....18, 37, 50, 54, 146, 150, 155, 187, 197, 213, 215, 222, 225, 227, 233, 239,
215, 251, 253 249, 250
Casa de Davi ...................................... 18, 53, 276 Divindade .............................. 42, 43, 84, 237, 240
Casa de Omri .................... 18, 207, 220, 222, 256 Donner, Herbert ........................ 21, 24, 35, 36, 37
Casamata.....30, 50, 55, 59, 60, 62, 146, 153, Dreher, Carlos................................................. 215
154, 182, 183, 187, 189, 190, 207, 208, 209,
210, 213, 215, 219, 220, 222, 223, 224, 225, E
226, 230, 231, 234, 235, 236, 239, 243, 244,
245, 248, 249 Edifícios administrativos.....29, 214, 222, 223,
Centrista (escola) ........................................ 25, 63 229, 232
Childe, Vere Gordon ....................... 211, 212, 214 Edom.....33, 126, 128, 155, 158, 161, 164, 168,
Ciclo de Elias/Eliseu ......................................... 28 170, 237, 238, 246
Cidade Velha .................................................... 26 Egípcio ........................ 33, 58, 146, 191, 229, 237
Cidades-estado ........................... 48, 57, 128, 213 Egito.....17, 36, 49, 51, 58, 59, 61, 146, 177, 178,
Coalisão antiassíria............................. 33, 35, 252 179, 180, 181, 185, 186, 211, 228, 237, 244,
Cobre.....21, 33, 34, 36, 156, 161, 163, 164, 215, 246, 247, 253, 254
225, 237, 238, 239, 247 Eilat.....34, 42, 129, 147, 161, 163, 164, 237, 239,
Códice de Alepo (A) ........................................ 357 247
Códice de Leningrado (L, B19a)....16, 69, 78, Ein el-Qudeirat ................................................ 237
102, 121, 148 Elá ........... 79, 92, 95, 97, 106, 109, 146, 150, 161
Colina.....27, 34, 35, 46, 55, 59, 86, 110, 113, Elias.....28, 37, 43, 58, 79, 82, 149, 151, 152,
114, 151, 175, 176, 177, 182, 183, 184, 185, 153, 154, 156, 162, 167
187, 188, 205, 206, 207, 208, 210, 214, 215, En Gev ........ 19, 49, 152, 153, 155, 226, 239, 249
220, 222, 223, 225, 231, 233, 243, 245 Epigrafia .................................................. 196, 255
Comércio.....29, 33, 34, 36, 144, 147, 151, 154, Escavações.....17, 19, 20, 21, 26, 29, 30, 31, 34,
155, 163, 164, 169, 176, 182, 211, 212, 213, 35, 36, 52, 60, 110, 113, 124, 158, 174, 177,
215, 236, 239, 246, 247, 254 178, 179, 180, 181, 205, 206, 207, 211, 220,
Compilação ........................................... 26, 51, 62 223, 224, 225, 226, 231, 235, 237, 243, 244,
Complexo real ................................... 55, 207, 220 248, 249
Crítica das Formas.................... 16, 19, 65, 66, 78 Escribas .......................... 25, 29, 33, 36, 198, 218
Crítica Textual ..................................... 66, 69, 101 Estábulos .............................. 27, 29, 30, 229, 230
Cronista .................................. 165, 166, 167, 168 Estado ......................... 1, 2, 33, 44, 145, 207, 210
Cuneiforme ....................................................... 17 Estela de Kurkh............................................... 252
Estela de Mesha.....17, 28, 30, 53, 56, 156, 168,
D 170, 198, 240, 241, 243, 244, 245, 247, 252
Estela de Tel Dan ............. 17, 169, 198, 240, 250
Damasco.....18, 33, 35, 49, 50, 51, 53, 54, 144, Estela Moabita .................................................. 17
153, 154, 157, 158, 162, 168, 169, 177, 197, Estrada do Rei.....151, 161, 164, 175, 177, 215,
200, 210, 221, 224, 226, 227, 240, 244, 246, 236, 239, 244, 246, 247, 248
247, 248, 250, 252, 254, 256 Estratigrafia ................. 47, 62, 190, 197, 206, 249
Dan (Tel).....39, 47, 49, 50, 53, 57, 58, 101, 144, Estrato.....19, 27, 30, 34, 60, 179, 181, 184, 195,
145, 153, 227, 228, 250, 338, 341, 357 196, 198, 211, 222, 223, 225, 226, 229, 234,
Davi.....27, 29, 32, 33, 34, 36, 39, 41, 42, 44, 45, 236, 239, 245, 248
46, 52, 53, 56, 57, 58, 60, 61, 88, 110, 118, Etiópia ............................................................... 29
122, 127, 128, 129, 148, 149, 156, 157, 167, Exegese .................................. 21, 40, 45, 65, 147
207, 210, 217, 218, 220, 250, 251 Êxodo ................................................................ 45
De Vaux, Roland ............................... 27, 110, 232 Expedições.....19, 26, 28, 29, 31, 32, 113, 177,
Deusa da fertilidade .................................... 43, 93 185, 239
Deusa-mãe ....................................................... 43 Ezion-Geber ................ 28, 33, 147, 163, 237, 247
333

F 134, 135, 139, 140, 141, 149, 163, 165, 174,


175, 177, 181, 197, 199, 222, 249
Fenícia.....34, 128, 144, 151, 154, 176, 177, 195, Hebron .............................................................. 58
221, 223, 224, 228, 230, 235, 246, 247, 254 Herodes o Grande .......................................... 228
Ferro I ............. 27, 48, 59, 61, 110, 211, 233, 248 Hesbon............................................ 171, 177, 249
Ferro II ...................................... 27, 207, 227, 235 História Deuteronomista.............. 25, 88, 142, 345
Ferro IIB .............................................. 48, 51, 110 Histórico-Crítico ................................................ 19
Ferro Tardio IIA ......................................... 49, 225 Holladay, William ............................................ 137
Finkelstein, Israel....16, 19, 20, 21, 24, 25, 33, 44,
45, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 54, 56, 57, 58, 59,
I
60, 61, 62, 63, 88, 109, 110, 114, 120, 121,
142, 145, 152, 174, 185, 187, 198, 207, 211, Iconografia .............................................. 213, 214
218, 220, 221, 223, 225, 226, 227, 230, 233, Império.....27, 29, 33, 34, 36, 37, 39, 41, 42, 44,
234, 237, 238, 239, 243, 244, 246, 247, 248 52, 54, 61, 187, 218, 252
Fischer, Clarence ............................ 20, 28, 34, 35 Indústria de cobre ............................................. 34
Fontes primárias ......................................... 20, 87 Inscrições assírias ...37, 43, 50, 57, 221, 252, 256
Formação dos estados ................................... 212 Israel.....16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 27,
Fortalezas.....17, 28, 36, 209, 214, 215, 221, 223, 28, 29, 30, 31, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40,
226, 228, 230, 239, 242, 247, 249, 252 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52,
Fortificações.....37, 47, 49, 110, 113, 211, 215, 53, 54, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 63, 65, 70, 71,
217, 219, 220, 235, 236 72, 73, 74, 76, 77, 78, 80, 82, 83, 84, 85, 86,
Fosso ................................................................ 50 88, 89, 90, 91, 92,93, 94, 95, 97, 98, 99, 100,
Franklin, Norma ........ 20, 124, 174, 184, 185, 205 101, 102, 103, 104, 106, 107, 108, 109, 110,
Fronteiras.....18, 21, 33, 51, 153, 155, 161, 162, 111, 112, 115, 116, 118, 119, 120, 121, 122,
165, 215, 220, 223, 226, 237, 242, 246 123, 124, 125, 126, 127, 128, 129, 130, 142,
Fundamentalista ............................................... 45 143, 144, 145, 146, 147, 149, 150, 151, 152,
153, 154, 155, 156, 157, 158, 159, 160, 161,
G 162, 163, 164, 165, 166, 167, 168, 169, 174,
175, 176, 181, 185, 187, 195, 197, 198, 199,
Galiléia.....41, 55, 58, 152, 155, 161, 213, 219, 200, 203, 205, 207, 208, 209, 210, 211, 213,
221, 222, 223, 224, 225, 239, 252 214, 215, 217, 218, 219, 220, 221, 223, 224,
Gass, Ildo Bohn .............................. 21, 41, 42, 43 225, 226, 227, 228, 230, 232, 233, 234, 235,
Gibeá ................................................................ 48 241, 242, 244, 247, 248, 250, 251, 252, 254,
Gibeon ........................................ 48, 57, 210, 211 256, 338, 340, 346, 350, 353
Gibeton ............................................................. 66 Israel Norte.....16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 24, 28,
Gilead.....18, 33, 42, 49, 55, 58, 59, 153, 154, 34, 35, 39, 40, 41, 42, 44, 45, 46, 47, 48, 49,
155, 158, 160, 161, 162, 165, 166, 167, 168, 50, 52, 53, 54, 57, 58, 59, 60, 63, 65, 77, 81,
171, 176, 213, 247, 248 82, 83, 84, 86, 89, 90, 94, 97, 102, 107, 108,
Glueck, Nelson.................................... 33, 34, 239 110, 111, 115, 120, 121, 127, 128, 130, 131,
Grayson, A. Kirk ...................................... 252, 256 136, 138, 139, 140, 142, 143, 144, 145, 146,
Grego (língua).....16, 36, 70, 71, 72, 74, 91, 105, 147, 149, 150, 151, 152, 153, 154, 155, 156,
119, 124, 125, 128, 129, 164, 181, 182, 190 157, 158, 160, 161, 162, 163, 164, 165, 166,
Guy, Philip L. O. ......................................... 27, 34 167, 168, 170, 175, 176, 181, 185, 187, 195,
197, 198, 200, 205, 210, 211, 213, 214, 217,
H 218, 219, 220, 221, 226, 227, 228, 230, 232,
234, 235, 241, 242, 244, 248, 250, 252, 254,
Har Adir............... 19, 49, 223, 224, 226, 239, 249 256, 340, 354
Harvard Excavations.....177, 178, 179, 181, 187, Israelita.....21, 22, 31, 34, 38, 39, 41, 48, 50, 54,
347 58, 84, 88, 95, 120, 146, 147, 154, 156, 161,
Hasmoneu ........................................................ 25 165, 170, 175, 181, 182, 185, 199, 207, 211,
Hazael.....18, 35, 50, 53, 152, 157, 158, 160, 167, 213, 226, 228, 229, 233, 234, 235, 237, 243,
169, 214, 227, 250, 251, 252 248, 249, 250, 252, 253, 254
Hazor (Tel).....19, 27, 28, 30, 35, 37, 46, 47, 48,
49, 56, 60, 61, 144, 177, 215, 218, 219, 222,
J
223, 224, 225, 226, 230, 231, 234, 245
Hebraico.....16, 19, 70, 71, 77, 78, 82, 91, 95, 96, Jacó .................................................... 45, 50, 249
97, 99, 105, 108, 110, 111, 112, 115, 118, Jahaz .......................... 17, 56, 215, 243, 244, 247
119, 120, 123, 124, 125, 127, 128, 129, 132,
334

Javé.....28, 37, 38, 39, 43, 45, 50, 84, 86, 87, 96, Khirbet en-Nahas161, 163, 164, 235, 237, 238,
100, 116, 117, 118, 120, 129, 146, 154, 157, 239, 247, 249
159, 160, 164, 167, 217, 237, 240, 241 Khirbet Qeiyafa ....................................... 226, 227
Javista ......................................... 37, 96, 118, 143 Kinneret............................................................. 48
Jebuseus .................................................... 27, 39 Klein, Friederich ................................................ 17
Jeroboão ............... 67, 68, 77, 130, 131, 135, 136 Kuntillet ‘Ajrud ....... 19, 45, 50, 128, 200, 235, 237
Jeroboão I ... 45, 49, 59, 79, 83, 85, 101, 109, 210
Jeroboão II.....28, 47, 50, 51, 59, 124, 128, 182, L
183, 189, 197, 205, 228, 233, 237
Jerusalém.....17, 20, 26, 27, 29, 37, 39, 42, 45, Labayu ................................................ 58, 59, 353
46, 47, 48, 49, 51, 52, 55, 56, 58, 60, 78, 80, Lapp, Paul ....................................................... 248
83, 88, 119, 125, 127, 129, 142, 143, 144, Layard, Austen Henry ....................................... 54
147, 149, 158, 160, 161, 163, 164, 167, 175, Levante ........................... 186, 211, 212, 237, 247
176, 177, 189, 205, 210, 217, 218, 219, 223, Literalista....................................... 27, 45, 63, 218
224, 237 Liverani, Mario.....21, 43, 44, 111, 115, 207, 212,
Jeú.....18, 30, 35, 50, 118, 124, 154, 155, 158, 214, 220
159, 160, 165, 167, 169, 182, 195, 196, 205, Loud, Gordon .................................................... 34
251, 255, 256 LXX (Septuaginta).....16, 69, 70, 71, 72, 73, 74,
Jezabel.....39, 43, 54, 83, 84, 86, 128, 147, 151, 75, 76, 83, 84, 91, 100, 101, 105, 106, 108,
154, 156, 167, 195, 235 119, 120, 121, 123, 124, 125, 127, 128, 132,
Joás .................................. 50, 124, 160, 167, 205 133, 134, 137, 139, 141, 147, 148, 150, 151,
Joint Expedition......29, 177, 187, 203, 205, 206, 152, 153, 154, 337
207 Lyon, David G. ................................... 21, 35, 178
Jorão.....18, 24, 39, 49, 53, 61, 90, 96, 127, 129,
130, 150, 155, 156, 157, 158, 162, 163, 165, M
166, 167, 168, 169, 219, 227, 250, 251, 252
Jordânia.....17, 45, 46, 53, 154, 163, 175, 177, Macabeus ......................................................... 41
198, 215, 237, 239 Macalister, R. A. Stewart........... 27, 179, 218, 234
Jordão.....17, 33, 35, 59, 62, 96, 153, 161, 168, Madaba.....17, 19, 56, 175, 242, 243, 244, 247,
176, 213, 224, 232, 245 249
Josafá.....39, 125, 126, 127, 128, 129, 130, 147, Mahanaim ............................................... 177, 249
153, 155, 156, 162, 163, 165, 166, 167, 168, Mar Vermelho ........................... 33, 129, 164, 239
170, 198, 219 Marcas de pedreiros ....................................... 184
Josué ............................ 21, 31, 87, 142, 194, 241 Marfim.....29, 30, 59, 114, 153, 155, 181, 191,
Judá.....18, 22, 27, 39, 40, 42, 44, 45, 46, 48, 50, 207, 214
51, 52, 54, 56, 57, 58, 61, 62, 70, 71, 73, 76, Marguerat, Daniel ................. 66, 88, 98, 108, 143
83, 84, 88, 89, 90, 91, 96, 99, 107, 108, 109, Maximalista (escola) ................................... 25, 63
120, 122, 123, 125, 126, 127, 128, 129, 130, Mazar, Amihai.....16, 20, 21, 24, 25, 26, 45, 46,
142, 143, 144, 145, 147, 149, 150, 152, 153, 47, 56, 57, 62, 109, 110, 186, 189, 197, 198,
154, 155, 157, 158, 159, 160, 161, 162, 163, 207, 218, 220, 221, 223, 224, 225, 228
164, 165, 166, 167, 168, 170, 198, 199, 200, Mesha.....28, 35, 43, 49, 53, 57, 58, 145, 156,
210, 213, 214, 217, 218, 219, 222, 227, 233, 157, 162, 169, 197, 199, 214, 240, 241, 243,
235, 236, 237, 239, 251 244, 245, 247, 249
Judaíta .............. 41, 143, 149, 165, 217, 234, 238 Mesopotâmia .... 29, 177, 211, 212, 244, 246, 247
Juízes ........................... 21, 31, 87, 125, 142, 170 Método exegético .............................................. 19
Minimalista (escola) .................................... 25, 63
Moab.....17, 33, 42, 43, 53, 54, 56, 57, 144, 156,
K
157, 160, 161, 162, 165, 168, 169, 198, 199,
Kaefer, José Ademar.....21, 24, 40, 45, 46, 145, 200, 219, 221, 240, 241, 242, 243, 244, 245,
234 246, 247, 249
Keller, Werner ....................................... 21, 32, 36 Moisés....................................................... 31, 164
Karnak ...................................................... 58, 229 Monarquia.....21, 22, 25, 27, 29, 31, 36, 38, 40,
Kaufman, Yehezkel ........................................... 31 41, 42, 44, 46, 52, 56, 57, 61, 62, 89, 90, 92,
Khirbet ‘Ataruz .................................... 19, 56, 243 111, 118, 145, 146, 148, 161, 207, 209, 210,
Khirbet al-Mudayne ................................... 19, 245 217, 220
Khirbet Ara’ir ........................................... 239, 243 Monarquia Unida.....27, 29, 32, 45, 60, 61, 62,
Khirbet el-Kheleifeh......................................... 239 110, 122, 128, 141, 149, 210, 218, 239
Monte Nebo ...................................................... 17
335

N Prédios públicos ................................ 33, 110, 161


Pritchard...................................................... 21, 24
Nablus ................................. 27, 29, 113, 175, 176 Profeta .......... 37, 39, 43, 155, 158, 159, 165, 167
Nabot .......................................... 43, 55, 152, 155 Profetas............................................... 28, 43, 153
Nadabe ..................................................... 57, 210
Navios de Társis ............. 126, 128, 129, 163, 239
Q
Nebate .............................................. 77, 131, 135
Nimrud .............................................................. 54 Qemosh .................................................. 198, 240
Nimsi (avô de Jeú) .......................... 159, 195, 196 Quiriaten ......................................................... 243
Noth, Martin .................................. 21, 31, 32, 343
Novo Testamento........................................ 27, 41 R
Números ........................... 21, 168, 194, 253, 254
Radiocarbono............................................ 62, 218
O Ramallah ................................................... 50, 175
Ramote-Gileade ................ 18, 154, 161, 165, 248
Obelisco Negro ................................... 17, 18, 255 Ramtha ........................................................... 248
Ofir .............. 33, 36, 126, 128, 129, 147, 155, 163 Refugiados ............................ 46, 48, 51, 142, 143
Omri.....19, 21, 24, 28, 30, 35, 39, 43, 45, 46, 47, Reino do Sul ............................................. 40, 165
49, 53, 54, 57, 61, 65, 66, 67, 68, 71, 72, 73, Reisner, George.....20, 21, 28, 35, 174, 178, 179,
74, 75, 76, 77, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 180, 181, 182, 187, 191, 194, 197, 206, 347
89, 90, 92, 94, 95, 96, 97, 98, 99, 102, 103, Roboão ..................................................... 49, 218
104, 105, 106, 107, 108, 109, 110, 111, 112, Rowe, A. ........................................................ 218
113, 114, 115, 116, 117,118, 119, 120, 121,
122, 123, 124, 125, 127, 128, 130, 131, 132, S
133, 134, 135, 136, 144, 146, 149, 150, 151,
153, 156, 157, 161, 162, 167, 168, 169, 175, Salmaneser III.....17, 18, 30, 35, 37, 49, 54, 252,
181, 182, 183, 184, 185, 186, 187, 195, 203, 253
204, 205, 206, 207, 210, 213, 218, 220, 233, Salomão (rei).....27, 28, 29, 30, 32, 33, 34, 35,
240, 241, 242, 250, 254, 255, 256, 352, 357 36, 39, 41, 42, 44, 45, 46, 47, 52, 55, 56, 57,
Operações de nivelamento ............................... 55 60, 61, 62, 88, 110, 122, 128, 145, 149, 163,
Orontes ............................................................. 33 207, 210, 218, 220, 224, 233, 239, 254
Óstracos.....28, 47, 59, 114, 182, 189, 191, 192, Samaria.....19, 21, 22, 28, 30, 35, 39, 40, 41, 44,
193, 194, 197, 198, 207, 214, 221, 249 46, 47, 48, 49, 50, 51, 55, 56, 57, 59, 61, 62,
Ouro.....29, 33, 36, 126, 129, 147, 155, 163, 215, 65, 67, 68, 69, 73, 75, 76, 77, 79, 80, 81, 83,
256 84, 86, 89, 90, 107, 110, 111, 112, 113, 114,
115, 121, 122, 124, 125, 130, 131, 132, 133,
P 137, 138, 139, 140, 141, 142, 144, 146, 149,
150, 151, 152, 155, 156, 158, 159, 160, 161,
Palácios.....30, 55, 155, 161, 183, 184, 187, 189, 162, 168, 174, 175, 176, 177, 178, 179, 180,
206, 208, 210, 211, 213, 215, 219, 220, 230 181, 182, 183, 184, 185, 187, 189, 191, 192,
Paleohebraico ........................................... 17, 237 193, 195, 196, 197, 198, 199, 200, 203, 204,
Palestina.....25, 26, 27, 29, 33, 45, 78, 178, 179, 205, 206, 207, 209, 210, 213, 214, 215, 217,
205 220, 221, 223, 225, 226, 228, 229, 230, 232,
Pella .......................................................... 19, 248 233, 234, 236, 237, 240, 241, 243, 245, 249,
Peniel ........................ 51, 109, 113, 175, 177, 249 347, 348, 352, 353, 354
Península do Sinai ............................ 42, 237, 247 Santuário................................................... 50, 142
Período helênico ....................... 59, 145, 204, 207 Saul.....27, 29, 38, 42, 48, 49, 50, 57, 58, 59, 88,
Pixley, Jorge ................................... 21, 24, 38, 39 210, 217
Plataforma.....35, 55, 59, 88, 114, 153, 180, 182, Saulidas ............................................................ 59
183, 184, 185, 186, 187, 188, 203, 205, 206, Schumacher, Gottlieb.....27, 34, 174, 178, 179,
208, 209, 215, 220, 222, 223, 224, 225, 226, 180, 181, 184, 206
228, 230, 231, 233, 234, 243, 244, 245, 248, Schwantes, Milton ................... 21, 24, 40, 41, 352
249 Seis câmaras .......................................... 225, 229
Pódio........... 55, 56, 208, 220, 221, 243, 244, 248 Semer ............................................................... 67
Portão.....55, 60, 159, 182, 208, 209, 215, 221, Septuaginta ................. 16, 80, 148, 337, 346, 355
222, 225, 227, 229, 230, 231, 234, 235, 236, Sergi e Gadot .................................................. 213
239, 243, 244, 245, 248, 252 Sheshonq I ................................ 49, 51, 58, 59, 88
Prata ........................... 29, 76, 107, 111, 112, 113 Shishaq ............................................................. 49
336

Siqueira, Tércio Machado.......144, 150, 246, 247, Tetragrama ..................... 28, 70, 84, 96, 100, 240
254, 267, 284, 356 Thompson, Thomas ........................ 19, 21, 24, 37
Siquém.....19, 29, 40, 48, 51, 57, 59, 109, 113, Tibni ............................................................ 67, 81
151, 175, 176, 210, 211, 232, 358 Tiglate-Pileser III ......................... 30, 51, 221, 256
Síria.....22, 27, 33, 36, 42, 57, 71, 78, 126, 128, Tirza.....19, 47, 57, 66, 67, 70, 71, 73, 76, 77, 81,
157, 158, 160, 161, 167, 168, 169, 198, 199, 83, 85, 86, 90, 91, 92, 95, 97, 98, 102, 107,
222, 230, 252 108, 109, 110, 111, 146, 150, 151, 175, 176,
Sugimoto, David.............................................. 226 210, 211, 213, 232, 233
Transjordânia.....17, 22, 36, 49, 58, 60, 62, 109,
T 152, 153, 165, 168, 170, 175, 197, 210, 213,
214, 215, 240, 247
Taanac .............................................................. 27 Tribos ................ 33, 39, 42, 51, 58, 168, 217, 218
Talude.....55, 153, 183, 184, 185, 206, 209, 226, Tributo ....................................... 35, 156, 255, 256
231, 243, 244, 245 Trincheiras .............................. 179, 180, 184, 206
Tel ‘Amal ................................................... 19, 195
Tel Arad .............................. 45, 46, 198, 199, 239 U
Tel Betsaida .................................................... 226
Tel Dan.....17, 19, 158, 162, 197, 198, 199, 226, Uruk ........................................................ 212, 343
227, 228, 236, 239, 240, 247, 249 Ussishkin, David ............................................... 55
Tel Dor .................................... 219, 232, 234, 235
Tel Gezer ............ 19, 46, 179, 222, 232, 233, 234 V
Tel Harashim............. 19, 224, 225, 226, 239, 249
Tel Ḥarashim........................................... 222, 223 Vale do Jaboque ............. 175, 176, 177, 232, 249
Tel Jezreel .................. 19, 55, 174, 209, 229, 230 Vestígios1.....6, 27, 33, 34, 49, 50, 54, 207, 223,
Tel Megiddo.....19, 20, 34, 46, 174, 175, 178, 224, 227, 233, 245, 246
184, 229, 230 Via Maris ................. 113, 151, 176, 215, 246, 247
Tel Rehov.....19, 46, 48, 62, 158, 198, 199, 249,
350, 351, 357 W
Tell Ballata ........................................................ 19
Tell Beit Mirsim ........................................... 26, 31 Wright, George Ernest ...... 21, 28, 29, 30, 31, 218
Tell el-Far‘ah ..................................................... 27
Tell el-Farah ...................................................... 19 Y
Tell el-Hammah................................................. 19
Tell el-Kheleifeh .......................................... 33, 34 Yadin, Yigael ..................................... 62, 218, 224
Tell el-Muteselim ............................................... 34 Yêmen............................................................... 29
Tell er-Rumeith ......................... 49, 247, 248, 358 Yoffee, Norman ....................................... 212, 214
Tell es-Seba‘ ................................................... 235
Templo de Jerusalém ..................... 127, 142, 167 Z
Teorias marxistas............................................ 212
Território.....21, 22, 25, 29, 30, 32, 33, 35, 36, 37, Zimri.....57, 66, 67, 70, 71, 76, 77, 79, 80, 81, 83,
42, 46, 48, 49, 50, 51, 57, 58, 61, 62, 65, 78, 84, 85, 90, 91, 92, 94, 95, 97, 98, 99, 100,
84, 128, 144, 151, 152, 153, 160, 161, 162, 101, 102, 103, 105, 106, 109, 146, 150
164, 168, 175, 178, 197, 210, 212, 213, 217,
218, 219, 232, 237, 240, 241, 247
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