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Ano X - Nº 35 - Outubro / Novembro / Dezembro de 2009 xImpressa em papel reciclado

abilitaçã
e
R strutura o
E
s
de

Despesa ou Investimento?
A necessidade de se manter a infraestrutura de saneamento para os municípios brasileiros
Foto: Odair Faria

Os transtornos de São Paulo, em decorrência de fortes chuvas

Visão de Mercado pág. 32 Entrevista pág. 26 Palavra de amigo pág. 48


Veja a análise dos aspectos econômicos O presidente nacional do Sindicato Os integrantes do “Clube dos Amigos
e contábeis que envolvem os processos Nacional das Empresas de Arquitetura que se Amam” contam passagens
de reabilitação de instalações e Engenharia Consultiva, João Alberto inesquecíveis em uma especial
operacionais de abastecimento de água Viol, destaca a necessidade de obras de homenagem à “eterna” amiga e
e esgotamento sanitário. saneamento para a Copa do Mundo 2014. conselheira, Eng. Cecília Takahashi Votta.
+
VEESTJA AEDIÇÃO
N
42
PÁG.
Editorial

A necessidade de se estruturar para se manter


nos trazem um conhecimento técnico, avalizados por
profissionais de conhecida competência no setor, de
importantes etapas de execução, otimização e reparos
de obras.
A questão ambiental hoje é uma preocupação que
mobiliza toda a sociedade por meio de atuações e ini-
ciativas voltadas à conscientização da preservação da
vida e do ecossistema. Na revista há uma nova sessão
denominada “Sustentabilidade” onde estará registrado
a participação da nossa AESabesp, agora uma OSCIP
em todos os projetos e trabalhos voltados à educação
Esta edição da Revista Saneas de nº 35 é a primeira da e à conscientização ambiental, bem como a projeção
gestão 2009-2012, à frente da AESabesp desde 6 de de iniciativas investidas por parceiros do setor.
outubro de 2009, e traz uma abordagem de um dos A AESabesp preocupada e atenta com as questões
temas mais recorrentes e debatidos nos cenários das humanitárias também destaca a sessão “Palavra de
grandes obras do setor: Reabilitação de Estrutura – Amigo”, que é um espaço onde alguém pode fazer
Despesa ou Investimento? uma homenagem a outro colega. Nesta edição, vá-
Está claro entre os profissionais do setor de sanea- rias mãos se mobilizaram para compor um artigo com
mento ambiental que o cenário indica uma grande grandes momentos de nossa inesquecível Eng. Cecília
preocupação com relação aos investimentos que es- Takahashi Votta, em uma criação coletiva do grupo
tão sendo dirigidos para a infra-estrutura de trata- denominado “Clube dos Amigos que se Amam”. E para
mento e distribuição de água e de coleta e tratamento descontrair, a sessão “Causos do Saneamento” reflete
de esgotos, que viabilize atender a demanda dos 5564 uma cena “engenheirizada” de cinema.
municípios brasileiros. Na oportunidade, ainda apresentamos a nova coorde-
Também complementando a nossa matéria tema, te- nadora do Fundo Editorial da AESabesp e responsável
mos uma entrevista com o presidente do Sindicato pela Revista Saneas: a Eng. Márcia de Araújo Barbosa
Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Nunes, profissional com especializações em Gestão
Consultiva, Eng. João Alberto Viol, a qual discorre so- de Projetos, em Engenharia de Saneamento Básico e
bre a necessidade de investimentos do setor e de po- em Meio Ambiente e Sociedade. Ela é funcionária da
líticas públicas de direcionamento de recursos, como Sabesp há 16 anos, tendo atuado na área de projetos
também da atualização tecnológica e da capacitação e de tratamento de esgotos - Divisão de Efluentes Não
de profissionais e fornecedores de serviços. Domésticos e Setor de Projetos de Esgotos da Unida-
Uma notícia boa para a engenharia nacional, porém de de Negócio Centro, da Diretoria Metropolitana da
de grande responsabilidade, é a perspectiva de cresci- Sabesp, inclusive como gerente dos Departamentos de
mento advindo por grandes obras de infra-estrutura Tratamento das Estações da Região Metropolitana de
para abrigar no Brasil a Copa do Mundo em 2014 e as São Paulo - as 5 grandes ETEs, onde atuou de for-
Olimpíadas, em 2016, eventos de projeções mundiais ma decisiva em redução do uso de energia elétrica.
que exigirá da engenharia nacional uma demonstração Atualmente é gerente do Departamento Comercial da
de toda a sua competência, criatividade e capacidade. Superintendência de Gestão Operacional da Diretoria
Esta perspectiva denuncia a premente necessidade de de Sistemas Regionais - R, onde vem atuando na im-
expansão de portos, de estradas, de aeroportos, de plantação dos Contratos de Serviços Globais, Projetos
ferrovias, de energia, de telefonia e principalmente de Recuperação Hidráulica e Otimização Operacional
de saneamento básico, pela sua importância genuina- do Sistema de Distribuição, além de ser a responsá-
mente vital. Mas, de acordo com o nosso entrevistado, vel pela implantação e operação da nova Central de
o nosso maior desafio é o cronograma muito apertado Atendimento, que atende a todos os clientes do Inte-
para se fazer tudo isso. rior e Litoral do Estado de São Paulo.
Também voltados ao tema proposto, os nossos artigos
“A recuperação do Poço Sabesp – Fernandópolis p15, Um forte abraço e uma boa leitura a todos,
com 1.460 m de profundidade”, “Recuperação de es-
truturas” e “Manifestações patológicas na impermea- Hiroshi Ietsugu
bilização de estruturas de concreto em saneamento” Presidente da AESabesp

outubro / novembro / dezembro | 2009 Saneas 3


Índice Expediente
Saneas é uma publicação técnica trimestral da Associação dos Engenheiros da
Sabesp

Diretoria Executiva:
Presidente - Hiroshi Ietsugu
Vice-Presidente - Walter Antonio Orsatti
1º Secretário - Nizar Qbar
2º Secretário – Choji Ohara
1º Tesoureiro – Yazid Naked
2º Tesoureiro - Nélson Luiz Stábile

Diretoria Adjunta:
Diretor Cultural - Olavo Alberto Prates Sachs
Diretor de Esportes - Evandro Nunes de Oliveira
Diretor de Marketing - Reynaldo Eduardo Young Ribeiro
Diretor de Pólos - Helieder Rosa Zanelli
Diretor de Projetos Socioambientais: Ivan N. Borghi
Diretor Técnico - Walter Antonio Orsatti

05 Reabilitação
Diretora Social - Viviana Marli Nogueira A. Borges
matéria tema (Em memória: Cecília Takahashi Votta)

Conselho Deliberativo:
Amauri Pollachi, Cid Barbosa Lima Junior, Gert Wolgang Kaminski, Gilberto
Alves Martins, Gilberto Margarido Bonifácio, Ivo Nicolielo Antunes Junior,
João Augusto Poeta, Marcos Clébio de Paula, Paulo Eugênio de Carvalho

de Estruturas
Corrêa, Pérsio Faulim de Menezes e Sonia Maria Nogueira e Silva.

Conselho Fiscal:
Carlos Alberto de Carvalho, José Carlos Vilela e Ovanir Marchenta Filho.

Conselho Editorial: Luiz Henrique Peres (Coordenador)


matéria sabesp Fundo Editorial:
12 A recuperação do Poço Sabesp – Fernandópolis p15, Márcia de Araújo Barbosa Nunes (Coordenadora)
Alex Orellana, Celso Roberto Alves da Silva, José Marcio Carioca, Luis Eduardo
com 1.460 m de profundidade Pires Regadas, Paulo Rogério Guilhem e Wong Sui Tung.

Coordenador do Site: Jônatas Isidoro da Silva


entrevista
Pólos AESabesp da Região Metropolitana - RMSP
26 Para Viol, investimento, planejamento e capacitação movem o Coordenador dos Pólos da RMSP - Robson Fontes da Costa
desenvolvimento do País Pólo AESabesp Costa Carvalho e Centro - M. Aparecida S. P. dos Santos
Pólo AESabesp Leste - Nélson César Menetti
Pólo AESabesp Norte – Sebastião Matos de Carvalho
ponto de vista Pólo Aesabesp Oeste - Francisco Marcelo Menezes
Pólo AESabesp P. Pequena - João Augusto Poeta
29 Uma análise conjuntural do investimento em saneamento no Brasil Pólo AESabesp Sul - Paulo Ivan M. Franceschi

Pólos AESabesp Regionais


visão de mercado Coordenador dos Pólos Regionais - José Galvão de F. R. e Carvalho
Pólo AESabesp Baixada Santista - Nilson Roberto Correia
32 Aspectos Econômicos Contábeis da Reabilitação de Instalações Pólo AESabesp Botucatu: Rogélio Costa Chrispim
Operacionais de Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário Pólo AESabesp Franca – Antonio Carlos Gianotti
Pólo AESabesp Lins - Marco Aurélio Saraiva Chakur
Pólo AESabesp Presidente Prudente - Robinson José
de Oliveira Patricio
artigos técnicos Pólo AESabesp Vale do Paraíba - Sérgio Domingos Ferreira
35 Recuperação de estruturas
Coordenação do XXI Encontro Técnico e Fenasan 2010:
38 Manifestações patológicas na impermeabilização de estruturas Olavo Alberto Prates Sachs e Walter Antonio Orsatti
de concreto em saneamento Comissão Organizadora:
Gilberto Alves Martins, Hiroshi Ietsugu, Ivan Norberto Borghi,
Maria Aparecida S. P. dos Santos, Maria Flávia S. Baroni, Monique Funke,
Nélson César Menetti, Nizar Qbar, Olavo Alberto Prates Sachs, Paulo Oliveira,
Sustentabilidade Reynaldo Eduardo Young Ribeiro, Sonia Maria Nogueira e Silva,
42 A importância da sociedade civil na promoção do saneamento Vanessa Hasson, Walter Antonio Orsatti e Yazid Naked.
ambiental através dos projetos socioambientais Órgão Informativo da Associação dos Engenheiros da Sabesp

Jornalista Responsável:
XXI Encontro Técnico e Fenasan 2010 Maria Lúcia S. Andrade – MTb. 16081
44 A AESabesp no preparo do maior evento de saneamento da AL PROJETO VISUAL GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO
Neopix Design
neopix@neopixdesign.com.br
Palavra de amigo www.neopixdesign.com.br
48 Cecília - Um Oásis em nossa vida
Associação dos Engenheiros da Sabesp
Rua 13 de maio, 1642, casa 1
“causos” do saneamento Bela Vista - 01327-002 - São Paulo/SP
Fone: (11) 3284 6420 - 3263 0484
50 Haveria uma Rebecca na resistência dos materiais? Fax: (11) 3141 9041
aesabesp@aesabesp.org.br
www.aesabesp.org.br

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matéria tema

reabilitação
de estruturas
Despesa ou Investimento?
Todos os profissionais do setor sabem o quanto é prioritário o investimento constante
na infra-estrutura de fornecimento de água e tratamento de água e esgoto para os
5564 municípios brasileiros. Mas concretizar isto em quantidade, gênero e tamanho, é
uma tarefa difícil. Como mensurar tudo o que é preciso?
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matéria tema

De modo sintetizado, podemos citar as neces-


sidades de conexões, tubulações, matrizes de água,
interceptores e coletores de águas, tanques de ar-
mazenamento, plantas de tratamento, estruturas hi-
dráulicas de armazenamento e regulação, represas,
equipamentos de controle, medição, manutenção
etc. Esses elementos constituem os ativos, que por
sua vez também necessitam de manutenção e de re-
abilitação. E quando essas necessidades são subesti-
madas, além de provocarem deficiências nos serviços
prestados, também incorrem no risco de causar da-
nos catastróficos à população e acarretar reparações
cada vez mais dispendiosas, a medida que os reparos
vão sendo deixados de lado.

O custo, que é um fator preponderante na exe-


cução desses processos, sofre variações e muitas ve-
zes não acompanham a realidade. Segundo cálcu-
lo da FGV (Fundação Getúlio Vargas), em reajustes
indexados pelo INCC (Índice Nacional de Custo da
Construção), elaborado pela própria entidade, para
a execução de um empreendimento, o custo do ma-
terial pode chegar a 51,45% do valor da obra e o Estima-se que o investimento, no Brasil, tanto
valor da mão-de-obra corresponderia a 48,45%. Nas para a expansão como da manutenção dos ativos,
obras de saneamento, esses números ganham outra está na ordem de 1% do PIB (Produto Interno Bru-
dimensão, já que os materiais e serviços podem res- to). A origem desses aportes vem em parte das tarifas
ponder a 98% dos custos. Exemplo: o aço que teve pagas pelos usuários, mas a grande complementação
alta valorização nos últimos anos pode representar vem dos subsídios que o Estado transfere. Também
mais de 70% em uma obra de saneamento. pode-se recorrer ao mercado de capitais para finan-
ciar projetos de longo prazo, solicitar financiamento
A Fundação Getúlio Vargas, inclusive, se propôs a às instituições financeiras.
divulgar no final de 2009 um índice específico de re-
ajuste de preços para saneamento básico. Contudo, Ainda existe a possibilidade de levantamento de
até o final de dezembro não ficou pronto, segundo recurso com a intervenção privada. Pode ser mui-
declaração do próprio IBRE (Instituto Brasileiro de to bem vinda, porque é uma forma de financiar e
Economia), “deverá ser finalizado entre seis e oito operar serviços, mas não deixa de ter um nível de
meses. Os reajustes, entretanto, serão efetivamente
divulgados em um ano, tempo necessário para que
os dados sejam coletados e comparados”.
Quando manutenção e
reabilitação são subestimadas
As empresas que atendem o setor estão ávidas incorrem no risco de causar
por este indicador, que, segundo a FGV, considerará
as especificidades das obras de saneamento, como danos catastróficos à
rede de coleta de esgoto, de distribuição de água, população e acarretar
obras de irrigação e estações de tratamento, topo-
grafia, tipo de solo, regionalização, densidade demo-
reparações cada vez mais
gráfica, custo do aço, do concreto e de maquinário. dispendiosas

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matéria tema

Contabilizar investimentos
como despesas, ou vice-versa,
risco na delegação de gestão com investimento, é uma questão de foco do
incorrendo até na venda dos próprios ativos. Por- que é “déficit” e do que é
tanto, torna-se indispensável uma transparência
nos contratos firmados por essa via e um sistema “superávit”.
regulatório com credibilidade.

Existem modelos muito bem-sucedidos de inter- canismo para aumentar o investimento público em
venção privada em países como Chile (na edição 34, níveis superiores e ninguém sair perdendo.
da Saneas, disponível em nosso site www.aesabesp.
org.br, a superintendente de saneamento do Chile, Dentro das metas apresentadas pela ONU (Orga-
Eng. Magaly Espinosa Sarriá, nos deu uma entrevista nização das Nações Unidas) para serem cumpridas
detalhada sobre o seu funcionamento e os benefí- até 2015, na sua “Declaração do Milênio”, pratica-
cios gerados em seu País), mas também há modelos mente todas convergem para a aplicação devida
de gestão pública bem-sucedidos, como é o caso da dos serviços de saneamento, envolvendo tópicos de
Sabesp, em São Paulo. Todavia, seja na gestão pú- erradicação da extrema pobreza, das doenças de de-
blica ou privada, é essencial que os investimentos e senvolvimento do milênio e de promoção do desen-
serviços não fiquem sujeitos às oscilações políticas, volvimento sustentável.
que em muitos casos afetam negativamente as deci-
sões emergencialmente técnicas e comprometem o Contudo, os baixos níveis de investimento em al-
bom atendimento à sociedade. gumas regiões, inviabiliza a qualidade sanitária pro-
posta. Haja vista, a mortalidade associada a infec-
Contabilizar investimentos como despesas, ou ções de origem hídrica continua sendo elevada. Isto
vice-versa, é uma questão de foco do que é “déficit” afeta particularmente a população mais vulnerável:
e do que é “superávit”. Pode-se extrair investimentos as crianças, os idosos e os pobres.
em saneamento desta contabilidade como um me-

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matéria tema

Metas de desenvolvimento do milênio


As Metas de Desenvolvimento do Milênio (MDM) surgem da Declaração do Milênio das Organização das
Nações Unidas, adotada pelos 191 estados membros no dia 8 de setembro de 2000. Criada em um esforço
para sintetizar acordos internacionais alcançados em várias cúpulas mundiais ao longo dos anos 90 (sobre
meio-ambiente e desenvolvimento, direitos das mulheres, desenvolvimento social, racismo etc.), a Declara-
ção traz uma série de compromissos concretos que, se cumpridos nos prazos fixados, segundo os indicadores
quantitativos que os acompanham, deverão melhorar o destino da humanidade neste século.
As 8 Metas - com seus 18 objetivos e 48 indicadores - podem ser acompanhadas por todos em cada país;
os avanços podem ser comparados e avaliados em escalas nacional, regional e global; e os resultados po-
dem ser cobrados pelos povos de seus representantes, sendo que ambos devem colaborar para alcançar os
compromissos assumidos em 2000. Também servem de exemplo e alavanca para a elaboração de formas
complementares, mais amplas e até sistêmicas, para a busca de soluções adaptadas às condições e poten-
cialidades de cada sociedade.

Meta 1
Erradicar a pobreza extrema e a fome
Um bilhão e duzentos milhões de pessoas sobrevivem com menos do que o equivalente a
US$1,00 PPC por dia – dólares medidos pela paridade do poder de compra de cada moeda
nacional. Mas tal situação já começou a mudar em pelo menos 43 países, cujos povos somam
60% da população mundial. Nesses lugares há avanços rumo à meta de, até 2015, reduzir
pela metade o número de pessoas que ganham quase nada e que – por falta de oportuni-
dades como emprego e renda – não consomem e passam fome. O Brasil é um exemplo de
sucesso, com dez anos de antecedência, conseguiu cumprir a meta.

Meta 2
Atingir o ensino básico universal
Cento e treze milhões de crianças estão fora da escola no mundo. Mas há exemplos viáveis de
que é possível diminuir o problema – como na Índia, que se comprometeu a ter 95% das crianças
freqüentando a escola já em 2005. A partir da matrícula dessas crianças ainda poderá levar algum
tempo para aumentar o número de alunos que completam o ciclo básico, mas os resultados serão adultos
alfabetizados e capazes de contribuir para a sociedade como cidadãos e profissionais.

Meta 3
Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres
Dois terços dos analfabetos do mundo são mulheres, e 80% dos refugiados são mulheres e crianças. Superar
as desigualdades entre meninos e meninas no acesso à escolarização formal é a base para capacitá-las a
ocuparem papéis cada vez mais ativos na economia e política de seus países.

Meta 4
Reduzir a mortalidade infantil
Todos os anos onze milhões de bebês morrem de causas diversas. É um número escandaloso, mas que vem
caindo desde 1980, quando as mortes somavam 15 milhões. Os indicadores de mortalidade infantil falam por si,
mas o caminho para se atingir o objetivo dependerá de muitos e variados meios, recursos, políticas e programas
– dirigidos não só às crianças mas às suas famílias e comunidades também.

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matéria tema

Meta 5
Melhorar a saúde materna
Nos países pobres e em desenvolvimento, as carências no campo da saúde reprodutiva levam a que a cada 48
partos uma mãe morra. A redução dramática da mortalidade materna é um objetivo que não será alcançado a
não ser no contexto da promoção integral da saúde das mulheres em idade reprodutiva. O acesso a meios que
garantam direitos de saúde reprodutiva e a presença de pessoal qualificado na hora do parto serão portanto o
reflexo do desenvolvimento de sistemas integrados de saúde pública.

Meta 6
Combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças

Em grandes regiões do mundo, epidemias mortais vêm destruindo gerações e ameaçando qualquer possibilidade
de desenvolvimento. Ao mesmo tempo, a experiência de países como o Brasil, Senegal, Tailândia e Uganda
vem mostrando que podemos deter a expansão do HIV. Seja no caso da AIDS, seja no caso de outras
doenças que ameaçam acima de tudo as populações mais pobres e vulneráveis como a malária,
a tuberculose e outras, parar sua expansão e depois reduzir sua incidência dependerá funda-
mentalmente do acesso da população à informação, aos meios de prevenção e aos meios de
tratamento, sem descuidar da criação de condições ambientais e nutritivas que estanquem
os ciclos de reprodução das doenças.

Meta 7
Garantir a sustentabilidade ambiental
Um bilhão de pessoas ainda não têm acesso à água potável. Ao longo dos anos 90,
no entanto, quase um bilhão de pessoas ganharam esse acesso à água bem como ao
saneamento básico. A água e o saneamento são dois fatores ambientais chaves para a
qualidade da vida humana, e fazem parte de um amplo leque de recursos e serviços na-
turais que compõem o nosso meio ambiente – clima, florestas, fontes energéticas, o ar e a
biodiversidade – e de cuja proteção dependemos nós e muitas outras criaturas neste planeta.
Os indicadores identificados para esta meta são justamente “indicativos” da adoção de atitudes
sérias na esfera pública. Sem a adoção de políticas e programas ambientais, nada se conserva
adequadamente, assim como sem a posse segura de suas terras e habitações, poucos se dedicarão à
conquista de condições mais limpas e sadias para seu próprio entorno.

Meta 8
Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento

Muitos países pobres gastam mais com os juros de suas dívidas do que para superar
seus problemas sociais. Já se abrem perspectivas, no entanto, para a redução da dívida externa de muitos países
pobres muito endividados.
Os objetivos levantados para atingir esta Meta levam em conta uma série de fatores estruturais que limitam
o potencial para o desenvolvimento – em qualquer sentido que seja – da imensa maioria dos países do sul do
planeta. Entre os indicadores escolhidos estão a ajuda oficial para a capacitação dos profissionais que pensarão
e negociarão as novas formas para conquistar acesso a mercados e a tecnologias abrindo o sistema comercial
e financeiro não apenas para países mais abastados e grandes empresas, mas para a concorrência verdadeira-
mente livre de todos.

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matéria tema

Em dia de chuva,
a cidade de
São Paulo vira
um caos
A lembrança do dia 8 de dezembro de 2009 ficará A causa para tantos danos foi declarada pelo pró-
viva na memória dos paulistanos e ressalta a impor- prio governador José Serra, que noticiou a quebra de
tância do investimento na reabilitação da estrutura uma das bombas da Usina Elevatória de Traição, que
dos serviços urbanos, tema principal dessa edição. fica no Rio Pinheiros e é integrada ao Departamento
Poucas vezes foi tão necessário, com altas doses de Águas e Energia Elétrica (DAEE) e a Empresa Me-
de desespero, o funcionamento eficaz das bombas tropolitana de Águas e Energia (EMAE).
de escoamento de água para os principais rios que
atravessam a cidade de São Paulo.
A forte chuva que atingiu a capital paulista desde
a madrugada daquela terça-feira causou alagamen-
tos, trânsito de mais de 100 km no meio da manhã
e deixou um saldo trágico de seis mortes, devido ao
transbordamento dos rios Tietê e Pinheiros. E ainda
houve alagamento na Ceagesp (Companhia de En-
trepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), principal
centro de abastecimento de alimentos da cidade,
onde a água chegou a um metro de altura e danifi-
cou toneladas de frutas, verduras e suprimentos. Usina Elevatória de Traição - São Paulo - SP

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matéria tema

Inaugurada em 1940, esta usina tem como função mento e Energia afirmou que existem estudos para
reverter o curso das águas dos rios Tietê e Pinheiros. a implantação de duas bombas adicionais, mas não
Do ponto de vista energético, a reversão do rio tem informou prazos.
como propósito manter volumes de água suficientes,
nos reservatórios do Rio das Pedras e Billings, para A situação se repetiu em janeiro
garantir a geração na usina Henry Borden.
A operação do sistema de reversão do rio Pi- Outros temporais castigaram São Paulo por todo
nheiros só é acionada justamente para o controle o verão, mas um mais forte que atingiu a cidade de
das enchentes. Contudo, segundo a explicação ofi- São Paulo na madrugada da quinta-feira, 12 de ja-
cial, “um dos quatro equipamentos que impedem neiro, novamente bloqueou as duas marginais e
que a água do rio Pinheiros siga para o Tietê não transbordou o Rio Tietê, além de mais cinco córre-
funcionou”. Essa falha significou o comprometi- gos. Por causa de pontos de alagamentos, as margi-
mento de 25% da capacidade de bombeamento da nais Tietê e Pinheiros chegaram a ficar totalmente
usina e estrangulou ainda mais o poder de escoa- paradas em boa parte do “dia útil”.
mento do rio Tietê. A Secretaria Estadual de Sanea-

Informe institucional

Tigre apresenta sistema de calhas para captação e


destino de água da chuva nas residências
Um sistema eficiente de redondadas e a Aquapluv Style tem linhas mais retas.
drenagem é fundamental Ambas tem estilo moderno e se adaptam a qualquer tipo
em meses de chuvas inten- de construção.
sas e tem como benefício Os principais componentes que formam o sistema de
proteger as construções de drenagem são:
alagamentos, da erosão do ■■ Calha - serve para captação da água que desce pelo
solo e da umidade excessi- telhado.
va. As águas provenientes da ■■ Bocal - é uma peça que finaliza a calha e serve para
chuva devem ser coletadas levar a água ao condutor (modelos para encaixe es-
e conduzidas a um destino querdo, direito ou central).
adequado. As soluções indicadas pela Tigre são as linhas ■■ Condutor - é o tubo que leva a água para a rede de
de calhas Aquapluv Beiral e Aquapluv Style. “São dois esgoto ou para a caixa de areia.
sistemas completos e incluem produtos que podem ser Para complementar o sistema de calhas para telha-
combinados conforme a necessidade do cliente, a fim de dos, é recomendável acrescentar a caixa de areia Tigre,
obter o melhor resultado”, afirma o gerente de produtos que serve para recolher detritos sólidos que caem pelo
da empresa, Maurício Cagnato. telhado – tais como folhas, areia e outros objetos – e que
De acordo com a assessoria da Tigre, “uma das van- poderiam entupir a rede de coleta e condução das águas
tagens dos sistemas é a facilidade na instalação, porque de chuva, podendo causar inundações. Periodicamente,
as peças podem ser montadas por simples encaixe. Outro é necessário fazer a manutenção dessa caixa de areia,
diferencial é a durabilidade, porque as duas linhas são retirando esses objetos e a areia acumulada no seu inte-
resistentes à ação das intempéries, não enferrujam nem rior. Esse trabalho é facilitado porque o fundo da caixa
perdem a cor, o que tornam desnecessária a pintura peri- de areia é inteiramente liso, o que evita a formação de
ódica, pois o material fabricado em PVC não enferruja”. incrustações e do limo.
A diferença entre as duas linhas está no desenho,
sendo que a linha Aquapluv Beiral tem linhas mais ar-

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matéria sabesp

A recuperação do Poço Sabesp –


Fernandópolis p15, com 1.460 m de
profundidade
(Combinação de ação mecânica com ortofosfatos ácidos)

José Paulo Godoi Martins Netto


Geólogo formado em 1988, com especialização em Administração de Empresas pela FGV – Fundação Getúlio Vargas, e pela Escuela Superior
de Baleares – ESPANHA; Diretor Executivo da Maxiagua Soluções em Água; especializado em perfuração, manutenção e reabilitação de
poços, com acompanhamento na perfuração de mais de 1.200 obras e da manutenção de mais de 2.000 poços; largo conhecimento em
tratamento de água e processos de incrustação e desincrustação de redes, com diversos trabalhos publicados nestes assuntos.

Fernando Wili Bastos Franco Filho


Geólogo da SABESP – formado 1975, pela UNESP – Rio Claro, Especializado em Engenharia de Saneamento Básico pela Faculdade de Saúde
Pública – USP, responsável pela elaboração de projetos e acompanhamento de um grande número de obras de perfuração e recuperação
de poços; Cursos ministrados e Assessoria a Órgãos Estaduais e Prefeituras na área de poços, geologia e hidrogeologia. - e-mail: ffranco@
sabesp.com.br

César Bianchi Neto


Geólogo da SABESP – formado 1983, pela UNESP – Rio Claro, Especializado em Engenharia de Saneamento Básico pela Faculdade de Saúde
Pública – USP, responsável pela elaboração de projetos e acompanhamento de um grande número de obras de perfuração e recuperação
de poços; Cursos ministrados e Assessoria a Órgãos Estaduais e Prefeituras na área de poços, geologia e hidrogeologia. e-mail: cbianchi@
sabesp.com.br

Manoel Ricardo Bueno da Silva


Geólogo da SABESP – formado 1987, pela USP – São Paulo, responsável pela elaboração de projetos e acompanhamento de obras de
perfuração e recuperação de poços; e-mail: mrbsilva@sabesp.com.br

Abertura Município de Fernandópolis – SP. Este poço data de


1976, com início da exploração em 1978, e foi o pri-
A utilização de água subterrânea tem grande meiro Poço de que se têm notícias, com profundida-
importância em todo o sistema de abastecimento de superior a 1.000 m, para exploração de água no
de água efetuado pela Sabesp, compreendendo um Estado de São Paulo.
total aproximado de 1.000 poços em operação, e um Para desincrustação dos carbonatos na zona de
percentual de 77% do número de mananciais explo- produção do poço foi utilizado o agente NO RUST,
rados pela Diretoria de Sistemas Regionais. isento de metais pesados, certificado como não tóxi-
Como os demais componentes do sistema de co, patenteado, e criado especificamente para poços,
captação e distribuição de água, os poços também que se mostrou adequado e eficiente, proporcionan-
requerem manutenções, que são efetuadas muitas do a total recuperação da vazão do poço, em subs-
vezes de forma corretiva, e não preventiva. A Sa- tituição ao ácido muriático (clorídrico hidratado)
besp, preocupada em preservar os poços existentes utilizado no passado, que pode conter expressivas
e o meio ambiente, tem investido em de processos contaminações, inclusive por metais pesados, agride
de reabilitação de seus poços, com novos produtos os metais dos poços, e implica em severos riscos de
e tecnologias, que tem proporcionado a recuperação manuseio, a saúde, e ao meio ambiente.
de vazões perdidas, melhoria da qualidade de água e
redução do consumo de energia elétrica. 1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho trata do processo de reabi-
litação do Poço Sabesp P - P15, com 1.460 m de A água subterrânea é uma fonte bastante con-
profundidade, que explora o Aquífero Guarani, no fiável de abastecimento de água, e no Brasil é lar-

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matéria sabesp

gamente utilizada, onde se estima que existam pelo A capacidade específica do poço no início da
menos 400.000 poços em operação. Dados do IBGE operação era de 8,01 m³/h/m. Em 1993, após uma
indicam que 15,6 % dos domicílios utilizam exclusi- intervenção corretiva no poço, foi novamente medi-
vamente água subterrânea. da em 7,40 m³/h/m, em 2007 se encontrava reduzida
Na SABESP os poços em operação se aproximam para 2,75 m³/h/m. Após as operações detalhadas no
de 1.000, com uma produção de 12.667.000 m³/mês, presente trabalho, foi medida em 8,92 m³/h/m, com
perfazendo um total de 21% da água produzida (Fig. um ganho de 323% em relação a 2007 e pode-se
01) e abastecendo 377 comunidades, que represen- dizer que igual a capacidade específica original do
tam 55 % do total de comunidades abastecidas pela poço, que comprova a eficiência da metodologia
Diretoria de Sistemas Regionais (Fig. 02). (2004). empregada, e mais uma vez, a viabilidade das ope-
rações de manutenção/reabilitação dos poços, que
garantem um maior fornecimento de água para a
população e permitem um maior faturamento, em
um sistema que já tem todos os seus componentes
instalados, e em operação.
Além do fornecimento de água potável, o poço
P15 fornece ainda água quente para um Hotel e par-
que Termal, com diversas Piscinas aquecidas, apro-
Figura 1. Volume % de água produzida pelos poços, na veitamento esta energia geotérmica para incremen-
Diretoria de Sistemas Regionais SABESP. tar o Turismo e Desenvolvimento Regional.
Devido às condições construtivas e a profundi-
dade o processo de reabilitação do poço foi dividido
em duas etapas principais:
a) Uma primeira, puramente mecânica, com a
utilização de uma sonda rotativa para corte de todo
o material que se encontrava incrustado no furo do
basalto (entre a superfície e 1.150 m de profundida-
de), para permitir acesso de ferramenta ao intervalo
de produção do poço, reduzir perdas de carga e lim-
Figura 2. Percentual de comunidades atendidas por par eventuais fraturas do basalto;
poços, na Diretoria de Sistemas Regionais SABESP. b) Uma segunda etapa, química e hidráulica com
aplicação do desincrustante no intervalo de produ-
Atualmente o Município de Fernandópolis é 100 ção do poço (entre 1.150 a 1.460 m), onde foram
% abastecido por água subterrânea, proveniente de solubilizadas as incrustações nos tubos e filtros e na
04 poços que exploram o aqüífero Guarani, sendo Formação Geológica, que após sua solubilização, fo-
eles: P1 (P15) com vazão de 200,00 m³/h; P2(P16) = ram removidas com a utilização de ar comprimido.
230,00 m³/h; P3 (P17) = 380,00 m³/h e P4 (P18) =
200,00 m³/h. O regime de exploração dos poços é de 2. GEOLOGIA REGIONAL
16 h/dia, visando à preservação do aqüífero.
O P1 (P15) sofreu forte agravo na redução de va- 2.1 - Aquífero Guarani
zão a partir de 2007, sendo que já em Agosto deste 2.1.1 - Caracterização Geral
ano a vazão havia caído para 102,00 m³/h com ND
de 69,90 m. O problema continuou se agravando e O Aqüífero Guarani ocorre na porção oeste do
culminou com a paralisação do poço em 2008, com Estado de São Paulo, ocupando cerca de 76% do seu
vazão de 18,00 m³/h com ND 69,90 (crivo da bom- território. A leste está localizada a faixa aflorante
ba), que resulta em uma capacidade específica de (Figura 3), que se estende desde o município de Ri-
0,50 m³/h/m, aproximadamente 16 vezes menor do faina, a norte, até Fartura, ao sul. Esta faixa, com
que a vazão de teste do poço. área de 16.000 Km2, está inserida na Depressão Pe-

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riférica e apresenta largura irregular que se amplia A Formação Pirambóia, de idade triássica (MILA-
ao longo das grandes drenagens, como é o caso do NI 2004), é constituída por arenitos de granulação
rio Jacaré-Pepira, quando atinge o máximo de 175 média a fina, localmente grossos e conglomeráticos,
Km. Para oeste daquela faixa, o aqüífero encontra-se depositados em ambiente fluvio-lacustrino e eólico
confinado pelos basaltos de Formação Serra Geral, (CAETANO-CHANG & WU 1992, MILANI et al. 1994).
numa extensão de cerca de 174.000 Km2. Apresenta estratificação de médio porte, cruzada,
planar ou acanalada e estratificação plano-paralela,
com lâminas ricas em argila ou silte. No Jurássico-
Cretáceo, segui-se a deposição eólica da Formação
Botucatu, constituída predominantemente por are-
nitos de granulação média a fina, avermelhados,
com grãos de alta esfericidade e bem selecionados,
exibindo estratificação cruzada de grande porte.
Todo pacote está assentado, em discordância angu-
lar, sobre o Grupo Passa Dois e parte dele, a porção
confinada, está recoberto pelos derrames basálticos
da Formação Serra Geral, que apresenta intertraps
de arenito (IPT 1981ª).
Figura 3 - Faixa Aflorante do Guarani no Estado de
O Aquífero Guarani é granular, homogêneo e re-
São Paulo
gionalmente livre na sua porção aflorante, a domi-
nantemente confinado, constituindo um pacote con-
Este aqüífero é composto por arenitos das for- tínuo desde sua área de afloramento, a leste, até o
mações Pirambóia, na base, e Botucatu, no topo (Fi- extremo oeste de São Paulo, onde extrapola os limites
gura 4). do Estado.
A superfície do topo, definida pelo contato com a
Formação Serra geral, mergulha para sudoeste, apre-
sentando altitudes de 800 m no limite da parte aflo-
rante até 1.300 m abaixo do nível do mar na região de
Presidente Prudente, junto ao rio Paraná (Figura 5). Os
gradientes desta superfície são de 1,8 m/km ao longo
do vale do rio Tietê, e de 3,8 m/km, pelo eixo próximo
ao rio do Peixe até as imediações da cidade de Avaré.

Figura 4 – Posição Estratigráfica do Aquífero Guarani


Figura 5 – Contorno Estrutural do Topo do Aquífero
(Fm. Botucatu e Pirambóia)
Guarani

14 Saneas outubro / novembro / dezembro | 2009


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A espessura do Aquífero varia de aproximada-


mente 100 m na área aflorante, até mais de 400 m,
a oeste, ao longo da calha do rio Tietê (Figura 6).
(Mapa de Águas Subterrâneas de SP, 2005).

Figura 7 – Nível Piezométrico aparente do Aquífero


Guarani e Vazões Exploráveis.

O limite da área de confinamento é aproximadamen-


te paralelo ao contato entre os basaltos da Formação
Serra Geral e os arenitos da Formação Botucatu, des-
Figura 6 – Espessuras dos Sedimentos do Aquifero
de as imediações de Ourinhos, a sul, até Franca, a nor-
Guarani
te. Na área de confinamento o nível potenciométrico
do Aquífero Guarani localiza-se em cota superior à do
2.1.2 – Potencialidade contato com a formação Serra Geral.
No que se refere ao limite da área de insurgência
O Estudo da potencialidade do Aquífero Gua- do Aquífero Guarani, este indica o local a partir do
rani foi realizado com base em 111 poços selecio- qual o nível d’água subterrânea, sob pressão, eleva-
nados (Mapa de Águas Subterrâneas de SP, 2005). se acima da superfície do terreno. A geometria irre-
Destes, 34 foram considerados representativos das gular deste limite é concordante com a topografia
principais características do aquífero, tais como regional (SILVA, 1983).
nível potenciométrico, cota da superfície do topo, A condutividade hidráulica (K) do Aquífero Gua-
espessura e faixas de vazão. rani como um todo, foi obtida pelo cálculo da média
A superfície potenciométrica do aquífero Gua- ponderada dos valores de K das formações Piram-
rani apresenta a leste, na área aflorante, cotas de bóia (2,5 m/dia) e Botucatu (3,5 m/dia) (DAEE 1974).
nível d’água da ordem de 800 m, que diminuem no O fator de ponderação correspondeu à somatória
sentido oeste e atingem valores de até 400 m de das espessuras de cada formação, considerando 14
área confinada. poços localizados na porção confinada do Aquífero e
A geometria destes equipotenciais indica que o 54 poços na área de afloramento. Os valores médios
fluxo regional ocorre de leste para sudoeste (Figura de K obtidos são 2,6 m/dia para a área confinada e
7). O gradiente hidráulico médio na porção confi- 3,0 m/dia para a área livre.
nada é de aproximadamente 0,001; enquanto na Adotando o mesmo procedimento, foi calcula-
área aflorante ocorrem os maiores gradientes, como da a média ponderada do coeficiente de armazena-
os observados ao longo dos eixos dos rios Pardo e mento (S) para a porção livre do Aquífero Guarani,
Jacaré-Pepira, com valores de 0,008 e 0,003, res- considerando um valor médio de 0,15 para a Forma-
pectivamente (Mapa de Águas Subterrâneas de SP, ção Pirambóia (DAEE 1974) e 0,25 para a Formação
2005). Botucatu (SILVA 1983), obtendo-se, nesta área, um
No Mapa, encontram-se indicadas as linhas que valor médio de 0,17. Na porção confinada, a média
delimitam a área de confinamento e a de insurgência não foi calculada pela inexistência de valores defi-
das águas subterrâneas, de acordo com SILVA (1983). nidos para cada uma das formações. Por este mo-

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tivo, dentro do intervalo de 10-3 e 10-5 fornecido ífero, sendo estes dados esclarecidos na Tabela 01
pelo DAEE (1974), optou-se pelo valor de 10-3, pois abaixo.
este possibilitou a obtenção de faixas de vazão mais
compatíveis com a minoria dos poços perfurados. De acordo com CAMPOS (1993) as águas deste
A transmissividade (T), obtida com base no mapa sistema são predominantemente bicarbonatadas
de espessura do Aquífero e nos valores de K é de cálcicas e apresentam temperaturas de 22 a 27ºC, pH
aproximadamente 260m2/dia, ao longo do vale do de 5,4 a 9,2 e salinidade inferior a 50 mg/L, na área
rio Tietê, na área confinada. aflorante. Na área confinada, a temperatura varia de
O cálculo de vazão (Q) explorável utilizou o mé- 22 a 59,7ºC, o pH de 6,3 a 9,8 e a salinidade de 50 a
todo descrito no capítulo 2 admitindo-se um rebai- 500 mg/L. As águas são predominantemente bicar-
xamento de 30% de espessura saturada de um pe- bonatadas e, subordinadamente, sulfatadas – clore-
ríodo de 50 anos de bombeamento contínuo, como tadas sódicas. Os valores de temperatura (Figura 8),
proposto por COSTA (2000). No entanto, o período de pH, salinidade, e de íons cloreto, sulfato e sódio, au-
exploração considerado neste trabalho foi de 20 anos, mentam o sentido do confinamento (Mapa de Águas
o que resultou em um rebaixamento máximo propor- Subterrâneas de SP, 2005).
cional de 12%, sendo este valor corrigido segundo a
proposta JACOB (1969 apud CUSTÓDIO & LLAMAS
1976), para a área de afloramento do aquífero.
Como resultado, foram obtidas as seguintes fai-
xas de vazão recomendada: de 20 a 40 m3/h e de 40
a 80 m3/h, no sistema livre; e de 80 a 120 m3/h, 120
a 250 m3/h e 250 a 360 m3/h, no sistema confinado
(Figura 7).
A menos faixa de vazão explorável (de 20 a 40
m3/h) pode conter vazões inferiores a 20 m3/h nas
áreas próximas a Formação Passa Dois, onde o Aquí-
fero apresenta as menores espessuras saturadas.
Dentro da área confinada, as vazões aumentam para
oeste-noroeste, até se fixarem em valores máximos
recomendados de 360 m3/h, a partir da linha que
Figura 8 – Isotermas da área confinada do Aquífero
se inicia em Ourinhos, a sudeste, e se estende até as
Guarani.
proximidades de Miguelópolis, a nordeste (Mapa de
Águas Subterrâneas de SP, 2005).
3. INCRUSTAÇÕES E DESINCRUSTAÇÕES
2.1.3 - Qualidade Química Natural das
Águas Subterrâneas no Guarani. A percolação da água subterrânea na formação
geológica ocorre de forma muita lenta, fazendo com
SILVA (1983) separou as águas do Aquífero Gua- que esta permaneça em contato prolongado com os
rani de acordo com as áreas de ocorrência do aqü- minerais contidos nestes materiais. Este contato é

Áreas aflorantes, onde o aqüifero é Áreas confinadas, onde há conectividade


Áreas mais confinadas
do tipo livre com a Formação Serra Geral

Águas bicarbonatadas-
Águas bicarbonatadas magnesianas Águas bicarbonatadas-cálcicas e calco-
sódicas evoluindo a cloro-
a calco-magnesianas magnesianas
sulfatadas-sódicas

STD: ±100mg/L STD: ±200 mg/L STD: ±650mg/L


Tabela 01 – Águas do Aquífero Guarani segundo Silva (1983), apud Borghetti et.al. 2004

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suficientemente prolongado a ponto de proporcio-


nar um perfeito equilíbrio entre a água contendo
sais minerais dissolvidos e o meio ambiente. Man-
tém-se em solução, a quantidade exata de um ou
mais minerais que as condições permitem e qualquer
perturbação das condições, desequilibra o sistema Figura 9 – Representação Gráfica do Íon Carbonato
de solução, resultando na precipitação de materiais CO3-2
insolúveis (CETESB, 1978; DRISCOLL, 1995).
Durante a operação normal dos poços, a água Dependendo do sistema cristalino que apresen-
sofre alterações de pH, temperatura e pressão, no tam, os carbonatos se dividem em dois grupos:
momento que entra nos poços, e estas alterações ■■ Carbonatos ortorrômbicos
geram corrosão e/ou precipitações dos elementos ■■ Carbonatos romboédricos
presentes na água, com variações de intensidade que
dependem da composição hidroquímica da água. O Carbonatos Ortorrômbicos:
acúmulo das incrustações ao longo do tempo pode Dentre os carbonatos anidros que se cristalizam
ocasionar problemas de difícil solução ou danos ir- no sistema ortorrômbico destacam-se:
reversíveis, e desta forma, a manutenção preventi- ■■ Aragonita: Carbonato de cálcio (CaCO3)
va dos tem grande importância, pois impede danos ■■ Cerussita: Carbonato plumboso (PbCO3)
maiores ao longo do tempo. ■■ Estroncianita: Carbonato de estrôncio (SrCO3)
Muitas vezes estas incrustações não são senti- ■■ Witherita: Carbonato de bário (BaCO3)
das imediatamente, porém seu acúmulo ao longo do
tempo causa problemas de redução da produção de Carbonatos Romboédricos
água e alterações de qualidade (MARTINS NETTO, et Dentre os carbonatos anidros que se cristalizam
al, 2005). no sistema romboédrico ou trigonal destacam-se:
Com a redução de vazão e rebaixamento dos ■■ Calcita: Carbonato de cálcio (CaCO3)
níveis, além do problema principal de redução no ■■ Dolomita: Carbonato duplo de magnésio e cálcio
fornecimento de água para abastecimento das po- (CaMg(CO3)2)
pulações, os conjuntos bombeadores saem de seus ■■ Siderita: Carbonato ferroso (FeCO3)
pontos máximos de rendimento para os quais foram ■■ Rodocrosita: Carbonato manganoso (MnCO3)
projetados, e assim, com esta queda de rendimento ■■ Smithsonita: Carbonato de zinco (ZnCO3)
ocorre um aumento do consumo de energia elétrica
por m³ de água explorada em um poço. A solubilização de amostras retiradas de alguns
A remoção destas incrustações, de forma eficiente intervalos do corte efetuado no poço, não demons-
e profunda permite que os poços recuperem vazões trou presença significativa de ferro, que seria o ele-
perdidas e reduzam seu consumo de energia elétrica. mento seguinte em importância, depois do cálcio e
magnésio, presente na água de poços. Associando
3.1 - Química e Mineralogia dos esta informação à qualidade atual da água, pode-
carbonatos mos dizer que a incrustação removida era formada
por Aragonita/Calcita (CaCO3) e subordinariamente
Os carbonatos são sais inorgânicos ou seus res- (quantidade muito inferior) Dolomita (CaMg(CO3 )2).
pectivos minerais que apresentam na sua composi-
ção química o íon carbonato CO3-2. 3.2 – Incrustações por Carbonatos
Na natureza os minerais de carbonato de cálcio
são encontrados sob duas formas cristalinas: Quanto ao cálcio, seu teor nas águas subterrâneas
■■ Aragonita: Quando seus cristais apresentam a varia, de uma forma geral, de 10 a 100mg/L, podendo
forma ortorrômbica. atingir 250 a 300 mg/l em determinadas regiões. As
■■ Calcita: Quando seus cristais apresentam a forma principais fontes de cálcio são os plagioclásios cálci-
romboédrica ou trigonal. cos, calcita, dolomita, apatita, entre outros.

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O carbonato de cálcio é muito pouco solúvel em 4. PERFIL CONSTRUTIVO DO POÇO


água pura e assim, o cálcio ocorre nas águas na for-
ma de bicarbonato, e sua solubilidade está em fun-
ção da quantidade do CO2 presente. Por sua vez a
quantidade de CO2 dissolvida depende da tempera-
tura e da pressão, que são, portanto, fatores que vão
determinar a solubilidade do bicarbonato de cálcio,
ocasionando variações que ora levam à solubilização
do carbonato de cálcio, ora levam à sua precipita-
ção, conforme reação abaixo (equação abaixo):

onde, Δp = é variação de pressão.

Para se remover as incrustações formadas por


carbonato de cálcio, é necessário que se quebre es-
tas moléculas, e que os íons se mantenham solúveis,
possibilitando a sua remoção. Desta forma foi apli-
cado o NO RUST, que possui estas propriedades, e
possibilita que as operações sejam realizadas com
pH na faixa de 1,8 a 2,4, que acelera muito a solu-
bilidade dos metais e melhora os resultados, prin- 5. AGENTES APLICADOS E CÁLCULO DE
cipalmente se comparado com o ácido cítrico que VOLUME
trabalha na faixa de 3,5 a 4,5 e se oxida com o ar
durante as operações, e esta oxidação ocasiona um O agente escolhido para a desincrustação foi o
aumentando do pH e perda de eficiência. NO RUST, que já vem sendo utilizado pela SABESP
O NO RUST se mostrou capazes de solubilizar os e diversas outras Companhias Estaduais de Sanea-
depósitos de carbonato de cálcio com grande velo- mento há alguns anos, com conhecida eficiência.
cidade e segurança, sem agredir os metais do poço, Este agente é isento de metais pesados, possui
mantendo o pH baixo, e os íons metálicos solúveis, certificado como não tóxico tipo DL 50 > 2.000 mg/
possibilitando sua rápida remoção ao término dos kg, é patenteado, e criado especificamente para po-
trabalhos. DOMENICO & SCHWARTZ (1998) citam ços, e foi escolhido por sua combinação de eficiência
que os metais são muito mais móveis nas águas sub- e segurança na aplicação, principalmente se com-
terrâneas com pH baixo. parado a aplicações de ácido muriático (clorídrico
hidratado) utilizado no passado, que não é indicado
para poços, pode conter expressivas contaminações
(inclusive por metais pesados), pode gerar subprodu-
tos perigosos, agride os metais dos poços, e implica
em severos riscos de manuseio e a saúde dos funcio-
nários, além de danos ao meio ambiente.
Para cálculo do volume NO RUST a ser aplicado
no poço, foi considerado que a câmera da perfilagem
óptica teve dificuldade de passar no furo de 9 7/8” na
primeira filmagem, e que poços em condições simila-

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matéria sabesp

res apresentam 1 a 2” de incrustação nos filtros. culando água para limpeza, desceu girando com
Multiplicando a espessura de 1” pelo diâmetro pouca resistência até 134 m, nesta profundidade
médio de 5 ½” (= 0,4388 m²/m linear), em todo o começou a aumentar a resistência com produção
intervalo filtrante, chega-se a 1,73 m³ de incrusta- de material carbonático até os 184 m; de 184 a
ção possível, só no intervalo de produção. Aplicando 200 m apresentou maior resistência ao avanço,
a densidade média de um carbonato de 2,9 g/cm³ a nos últimos metros começou a prender a broca.
este volume de 1,73 m³, encontramos 5 toneladas ■■ Retirada da ferramenta com broca de 12 ¼”.
de incrustação que poderiam estar depositadas no ■■ Descida de ferramental com broca de 8 ¾”.
intervalo de produção.
O desincrustante utilizado tem densidade de 22/12/2008
1,63 g/cm³ e o volume aplicado foi de 1.700 litros, Repasse (desobstrução da perfuração)
que representa um peso total de 2.771 Kg, suficien- ■■ Iniciando repasse com “tricone” de 8 ¾” a partir
tes para remover 4 a 4,5 T do carbonato de cálcio. de 200 m; circulando água para limpeza, avanço
A relação “massa de incrustação x massa de de- com resistência a descida, desceu até 550 m, com
sincrustante” é muito importante, e deve ser sempre produção de material carbonático.
avaliada com cuidado, pois aplicação com quantida- ■■ Retirada da ferramenta com broca de 8 ¾”.
de reduzida do desincrustante podem se traduzir em
resultados inferiores aos possíveis com a aplicação 23/12/2008 a 05/01/2009
das quantidades necessárias. ■■ Recesso de Natal e Ano Novo
O volume de carbonato presente no furo de 9
7/8 não foi considerado, pois foi cortado mecanica- 06/1/2009
mente e o desincrustante foi aplicado somente no Repasse (desobstrução da perfuração)
intervalo de produção do poço. ■■ Descida de ferramenta e corte com broca “tricone”
de 8 ¾” de 550 m a 688 m; circulando água para
Para desinfecção final foi utilizado, o bacterici- limpeza; maior resistência ao avanço; produzindo
da de nome comercial FERBAX, isento de compostos muito material carbonático recortado.
de cloro (não tem possibilidade de geração de THM),
criado para aplicação em poços, patenteado pelo fa- 07/1/2009
bricante, que também possui certificado de produto Repasse (desobstrução da perfuração)
não tóxico tipo DL 50 > 2.000 mg/kg. ■■ Corte com “tricone” de 8 ¾” de 688 até 880 m;
perda de circulação; poço “bebendo” lama.
6. DESCRITIVO DAS OPERAÇÕES ■■ Preparando lama a base de CMC, consumo de 730
kg.
17/12/2008 a 20/12/09
Transporte e Instalação do Canteiro 08/1/2009
■■ Acesso ao local do poço. Repasse (desobstrução da perfuração + confirma-
■■ Transporte e montagem de equipamentos e infra- ção do topo do revestimento)
estrutura de apoio. ■■ Após injeção de lama a base de CMC foi restabe-
■■ Fixação de espias no solo e Posicionando a sonda. lecida a circulação, iniciando com forte produção
■■ Posicionando os tanques de lama. de material carbonático.
■■ Montagem do circuito de lama. ■■ Repasse com broca “tricone” de 8 ¾”. de 880 até
■■ Preparação de ferramental para inicio da limpeza. 1.154 m.
■■ Após os 1.150 m, começou controle de peso e
21/12/2008 avanço para confirmar o topo do revestimento,
Repasse (desobstrução da perfuração) aos 1.154 m topou, confirmando com apoio de
■■ Descendo ferramental para inicio do repasse com 2 Ton.
broca “tricone” de 12 ¼” a partir de 72,70 m, cir-

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matéria sabesp

09/1/2009 13/1/2009
Limpeza do furo e descida de hastes para bombe- Remoção de incrustações solubilizadas
amento ■■ Bombeando com 01 compressor, vazão 20 m3/h;
■■ Circulando lama para limpeza do furo, até parar ■■ Descida do injetor para 174 e retomada do bom-
de produzir material (08 horas). beamento com vazão em torno de 25 a 30 m³/h.
■■ Trocando lama de CMC por água limpa e injetan- ■■ Água muito turva com aspecto esbranquiçado,
do água por 06 horas. pouco material sólido.
■■ Retirando ferramenta com broca e descendo has-
tes de 5 ¾” para bombeamento pela camisa. 14/1/2009
Bombeamento de limpeza e verificação de resul-
10/1/2009 tados
Bombeamento inicial aos 90 e 210 m ■■ Bombeamento por mais 08 horas, com água ainda
■■ Nível d’ água aos 33,40 m. turva; retirada do injetor e subida das hastes para
■■ Início do bombeamento com ar comprimido, uti- 210 m de profundidade, para bombeamento pela
lizando 01 compressor de alta pressão e ponta da camisa.
haste aos 90 m de profundidade, que não resultou ■■ Iniciando bombeamento com um compressor para
em produção de água por baixa submergência. comparação dos resultados com o bombeamento
■■ Descida de hastes até os 210 m de profundidade e do dia 10/01/09.
bombeamento com ar comprimido, operando em ■■ O regime de bombeamento passou a ser de 30
regime de 60/72 seg. saindo água para 120/160 seg. com água por 30 seg. sem água, o volume
seg. saindo somente ar (Figura 10). produzido é o mesmo, assim a vazão relativa do-
■■ Nesse regime não consegue levantar sujeira (o brou em relação ao primeiro bombeamento antes
material fica flutuando dentro do poço). da aplicação do desincrustante.
■■ Água com temperatura em torno dos 40 °C ■■ A temperatura da água subiu para valor ao redor
■■ Descendo a ferramenta no fundo para bombea- dos 50 °C.
mento por dentro do hasteamento. ■■ Produzindo pouco carbonato, forte turbidez e
produção de areia muito fina cinza clara.
11/1/2009
Bombeamento para limpeza 15/1/2009
■■ Descida de hastes até os 1.154m, com injetor por Bombeamento de limpeza e verificação de resul-
dentro aos 75,30 m; NE aos 33,50 m; bombeamen- tados
to com vazão muito baixa, em torno de 10 m³/h. ■■ Bombeamento com dois compressores, regime
■■ Descida do Injetor para os 114 m; Iniciando o constante, saindo água sem intervalos.
bombeamento, vazão de 20 m3/h; sem a presença ■■ Vazão estimada entre 250 e 300 m3/h.
de material cortado ou areia. ■■ Água muito turva com produção de material só-
lido (carbonato, pedaços de basalto, areia muito
12/1/2009 fina), com meia hora a água ficou limpa só com
Aplicação de NO RUST areia fina.
■■ Retirando o injetor interno de 1 ½” e preparando
para injeção do desincrustante.
■■ Injetando 1.200 l de No Rust das 18: 50 as 19: 50
h (Figura 11); deslocando o produto para fora das 16/1/2009
hastes com a injeção de água limpa em volume de Bombeamento de limpeza
20 m³; tempo de ação do agente. ■■ Bombeamento com 02 compressores, e com a
■■ Descendo injetor interno de 1 ½” aos 114 m. confirmação dos resultados foi recomendado
nova aplicação do desincrustante.

20 Saneas outubro / novembro / dezembro | 2009


matéria sabesp

17/1/2009 com ½ h água limpa, sem areia fina.


Nova aplicação do desincrustante ■■ Aumentou a vazão para 170 m3/h., turvou a água,
■■ Descendo hastes a 1.154 m e preparando para a com 1 h água limpa, sem areia fina.
nova injeção de NO RUST. ■■ Abriu todo o registro vazão de 186 m3/h., turvou
■■ Injetando 500 l de No Rust das 10: 30 as 11: 00 h a água, com 1 h água limpa, com areia fina no
e deslocando o produto para fora das hastes com inicio, passando a menor teor durante o bombe-
água limpa. amento.
■■ Deixando o produto agir por 5 horas.
■■ Subindo hasteamento aos 210 m para bombea- 25/1/2009
mento pela camisa. Bombeamento de limpeza com bomba
■■ Bombeamento com dois compressores; saindo ■■ Bombeamento com a bomba submersa, execu-
água sem interrupção; tando operações de liga e desliga.
■■ Vazão estimada entre 350 e 400 m3/h (Figura ■■ Vazão em torno de 180 m³/h.; presença constante
12). de areia (teor igual a obtido na operação antes da
■■ Água muito turva com produção de material só- perda de vazão); Encerrando limpeza e recupe-
lido (carbonato, pedaços de basalto, areia muito rando o poço para iniciar teste de vazão.
fina), com 1 hora a água ficou limpa só com pro-
dução de areia fina. 26/1/2009
■■ O bombeamento realizado pela camisa do poço Teste de Vazão
impossibilita a medição de vazão, mais foi possí- ■■ Nível estático = 32,82 m; tempo de bombeamen-
vel avaliar o aumento de vazão em relação à pri- to: 24 horas.
meira aplicação. ■■ Vazão: 166,70 m3/h (Figura 13).
■■ Temperatura da água elevou mais ainda, chegan- ■■ Nível dinâmico: 51,50 m
do aos 54 ºC; pH 7,8 ■■ Rebaixamento: 18,68 m.
■■ Capacidade específica: 8,92 m3/h/m
18/1/2009 e 19/01/09 ■■ Características da água: limpa com presença de
Bombeamento com compressor areia fina.
■■ Bombeamento com ar comprimido executando ■■ Escalonados: 3 etapas de 3 horas.
operações de liga e desliga ■■ Primeira Etapa: vazão de 116,00 m3/h – Nível di-
■■ Retirada da ferramenta e encerramento da etapa nâmico: 36,45 m.
de limpeza com compressor, aguardando desenvol- ■■ Segunda Etapa: vazão de 155,80 m3/h – Nível di-
vimento e teste de vazão com bomba submersa. nâmico: 45,50 m.
■■ Terceira Etapa: vazão de 166,70 m3/h – Nível di-
24/1/2009 nâmico: 51,50 m.
Descida de bomba submersa e início de bombea- ■■ Condições de Operação Previstas:
mento 1. Vazão: 190 m3/h – Nível dinâmico: 56,57 m –
■■ Descendo bomba submersa marca Ebara, modelo Prof. da bomba: 72 m.
BHS- 1010 – 140 CV, aos 113 m de profundidade. 2. Vazão: 200 m3/h – Nível dinâmico: 57,82 m –
■■ Edutor: hasteamento de 5” e NE aos 33,50 m. Prof. da bomba: 72 m.
■■ Iniciou a limpeza com registro estrangulado e va- 3. Vazão: 210 m3/h – Nível dinâmico: 59,07 m –
zão de 80 m3/h. Prof. da bomba: 72 m.
■■ Água turva esbranquiçada (leitosa), sem areia
fina; após 2 horas água limpa.
■■ Aumentou a vazão para 120 m3/h., turvou a água,
com ½ h água limpa, sem areia fina.
■■ Aumentou a vazão para 150 m3/h., turvou a água,

outubro / novembro / dezembro | 2009 Saneas 21


matéria sabesp

Figura 13. Detalhe do teste de bombeamento.

Figura 10. Detalhe do bombeamento, antes da aplica-


ção do desincrustante (com regime de 60/72 segundos 7. RESULTADOS OBTIDOS QUANTO A VAZÃO
saindo água para 120/160 seg. saindo somente ar) va-
zão estimada de 40 a 50 m³/h. Os resultados obtidos no teste de vazão (Figura
14), e sua interpretação confirmam o êxito das ope-
rações com a reabilitação do poço e recuperação da
capacidade específica.

Figura 11. Aplicação inicial de 1.200 l de NO RUST.


Gráfico 01. Capacidade Específica em m³/h/m, do P15
– SABESP – Fernandópolis ao longo do tempo, com
ênfase para os resultados após a desincrustação quí-
mica em 2009.

Figura 12. Detalhe do bombeamento final, após a apli-


cação do desincrustante, sem a interrupção da produ-
ção de água (regime contínuo), com vazão estimada Gráfico 02. Vazão comparativa antes e após as opera-
de 350 a 400 m³/h. ções de desincrustação, com ênfase a possibilidade de
exploração de 300 m³/h com mesmo ND de 2007.

22 Saneas outubro / novembro / dezembro | 2009


matéria sabesp

INTERPRETAÇÃO DE TESTE DE BOMBEAMENTO


Poço: P15 Mun icípio: FERNANDOPOLIS
Pr oprietário: SABESP Local: P15
EQUIPAMENTO DE BOMBEAMENTO
tipo: Bomba submersa marca: EBARA potê ncia 140 HP
diam.(pol.): 8 modêlo: 1010-08 Prof. Crivo 110 m
Pr of. N.E.(m): 32,82 referência de medidas: SO LO
DADOS DO TESTE
Início Término
Data 26/01/2009 hora: 13:00 data: 27/01/2009 hora: 13:00
Q (m3/h) N.D.(m) s med (m) s/Q (m/m3/h) Q/s (m3/h/m) duração (h) s calc (m) s/Q calc (m/m3/h)

166,70 51,50 18,68 0,1121 8,9240 24,00 20,13 0,1208


116,00 36,45 3,63 0,0313 31,9559 3,00 4,69 0,0404

138,50 45,50 12,68 0,0916 10,9227 3,00 10,54 0,0761


155,80 49,31 16,49 0,1058 9,4482 3,00 16,12 0,1035
166,70 51,50 18,68 0,1121 8,9240 24,00 20,13 0,1208

100 110 120 130 140 150 160 170 180


s(m) 20

15

sxQ 10

Q (m3/h) 0

INTERPRETAÇÃO
Equação tipo: s=B*Q+C*Q^2 Q/s (m3/h/m) = 8,923983
B= (0,1435) s/Q (m/m3/h) = 0,112058
B(24h)= (0,1435) Eficiência (BQ/(BQ+CQ^2)x100)=
C= 1,6E-03 T (m2/dia) = 317,5
CONDIÇOES DE OPERAÇAO PREVISTAS
Vazão 1 (m3/h): 190,00 Nível Dinâmico 56,57 Prof. instalação da bomba (m): 72,00

Vazão 1 (m3/h): 210,00 Nível Dinâmico 59,07 Prof. instalação da bomba (m): 72,00

Vazão 1 (m3/h): 300,00 Nível Dinâmico 70,32 Prof. instalação da bomba (m): 72,00

Interpretação: Geólogo Cesar Bianchi Neto Data: 26/01/2009

Figura 14. Dados e Interpretação do Teste de Vazão em 2009.


Figura 14. Dados e Interpretação do Teste de Vazão em 2009.

20
outubro / novembro / dezembro | 2009 Saneas 23
matéria sabesp

8. REDUÇÃO NO CONSUMO DE ENERGIA


ELÉTRICA
Para a interpretação dos dados de consumo de
energia foram utilizados os dados históricos da
SABESP, de consumo de energia em kW e produ-
ção de água em m³ (total mensal e instantânea),
além de medidas atuais obtidas de forma instan-
tânea com instrumentação apropriada. A Tabela
02 abaixo detalha o consumo de energia elétrica
em kW/m³ de água produzida pelo poço, e quan- Gráfico 03. Gráfico comparativo da produção de água
tidade de água em m³, produzida para cada kW de em m³/ kW de energia elétrica consumida
energia elétrica consumido.
Estes dados demonstram que após os trabalhos
houve uma redução de energia elétrica de 46,26 % Considerando a produção atual de 200 m/h x
em relação ao consumo do início do ano de 2007, e 440 horas/mês (média de 14,6 h/dia) temos uma
um aumento de produção de água de 180,60 % por produção mensal de 88.000 m³, com um consumo
KW consumido de energia. Um comparativo percen- de 32.000 kW/mês, que aplicado sobre o consumo
tual de períodos é detalhado abaixo: do início de 2007, antes dos trabalhos, teremos um
consumo de 54.320 kW, para se produzir o mesmo
Comparativo entre períodos de Maio de 2007 e volume de água, ou seja, a condição atual de explo-
Fevereiro de 2009 (após a reabilitação). ração de água no poço, após a reabilitação, oferece
■■ Redução do consumo de energia elétrica após a uma redução de 41,08 % no consumo de energia
reabilitação = (-) 46,60 % elétrica, com uma redução de 22.320 kW/mês, ou
■■ Aumento na produção de água apos a reabilita- 267.840 kW/ano, somente nesta operação de reabi-
ção, por kW consumido = + 69,75 % litação de um poço.
Comparativo entre períodos de Agosto de 2007 e Se compararmos com Agosto de 2007, onde o
Fevereiro de 2009 (após a reabilitação). problema havia se agravado, o consumo em 2007
■■ Redução do consumo de energia elétrica após a seria superior em 57.795 kW/mês (693.540 kW por
reabilitação = (-) 64,70% ano a mais). Além deste acréscimo do consumo de
■■ Aumento na produção de água apos a reabilita- energia, em 2007 o poço já trabalhava com prati-
ção, por kW consumido = + 180,60% camente 5,5 vezes a menos do que sua capacidade
específica, e assim a produção máxima foi de 7.920
m³/mês, que comparada com a produção atual de
água após a reabilitação, de 88.000 m³/mês, é menos
do que 10 % do que o poço produz hoje.

Ano 2006 2007 2007 2009


Consumo Janeiro Maio Agosto Fevereiro
KW/m³ 0,38 0,67 1,02 0,36
m³/KW 2,63 1,62 0,98 2,75

Tabela 02. Comparativo de consumo de energia e produção de água ao longo do tempo.

24 Saneas outubro / novembro / dezembro | 2009


matéria sabesp

9. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Quanto à utilização do desincrustante utilizado,
A metodologia empregada se mostrou adequada no intervalo de produção do poço, a base e orto-
e muito eficiente, culminando com a recuperação fosfatos de características ácidas (NO RUST), este
total do poço. se mostrou muito eficiente, inclusive mantendo sua
A capacidade específica atual do poço, após os capacidade de desincrustação e manutenção de pH
trabalhos, de 8,92 m³/h/m, é 243,63 % maior do que baixo, mesmo com elevadas pressões (146 Kg/cm²),
em 2007 (2,75 m³/h/m) quando os problemas come- removendo assim as incrustações, o que permitiu a
çaram a se agravar, e 17,8 vezes maior do que em recuperação de capacidade específica e produção de
2007 (0,50 m³/h/m) no agravamento final dos pro- água do poço, com total segurança nas aplicações e
blemas, e paralisação do poço. descarte.
Se compararmos com a capacidade específi- O primeiro teste de produção, realizado com
ca atual, com o início da operação em 1976 (8,01 compressor, após o corte mecânico das incrustações
m³/h/m), e em 1993 (7,40 m³/h/m), após a primeira e desobstrução do poço até 1.150 m de profundi-
intervenção, podemos dizer que o poço está total- dade, demonstrou vazão aparente de 30 a 50 m³/h
mente recuperado. (regime de 60/72 seg. saindo água para 120/160 seg.
O rebaixamento do nível estático para 33,82 m, sem sair água), com temperatura ao redor de 40 °C,
ao longo destes 33 anos se deve a descompressão do e a repetição deste ensaio de produção nas mesmas
aqüífero.. condições, após a aplicação do desincrustante, de-
O resumo de resultados comparativos entre a monstrou vazão aproximada de 200 m³/h (regime de
situação atual, após a reabilitação, com Maio de 30 seg. saindo água por 30 seg. sem sair água), e a
2007 (no início do agravamento do problema), está elevação da temperatura para 50 °C comprovam a
detalhado abaixo (não foram utilizados os dados de eficiência da desincrustação química, que possibili-
Agosto de 2007, pois a situação estava em nível crí- tou a recuperação do poço.
tico, e assim foram desconsiderados). Como a incrustação é um fator constante, os ní-
■■ Aumento do fornecimento total de água em m³/ veis e vazões devem ser acompanhados ao longo do
hora = 100,00 m³/h tempo, para que sejam efetuadas manutenções pre-
■■ Aumento do fornecimento total de água em m³/ ventivas, antes do agravamento dos problemas.
ano = 528.000 m³/ano A realização de manutenções preventivas tem
■■ Aumento da capacidade específica do poço custo menor do que as corretivas, além de prevenir
= 243,63% que o poço venha a operar em regime de maior con-
■■ Aumento percentual na produção de água sumo de energia elétrica, e com menor produção de
= 100,00 % água, o que aumenta seu custo operacional e dimi-
■■ Redução do consumo de energia elétrica em kW/ nui a receita, além da redução do volume de água
m³ = 46,60 % para fornecimento à população.
■■ Economia mensal de energia elétrica para se pro-
duzir o mesmo volume de água = 22.320 kW/mês
■■ Economia anual de energia elétrica para se produ-
zir o mesmo volume de água = 267.840 kW/ano

outubro / novembro / dezembro | 2009 Saneas 25


entrevista
João Alberto Viol

João Alberto
Viol é diretor da Para Viol, investimento,
JHE Consultores
Associados,
membro
planejamento e capacitação movem
permanente
do Conselho o desenvolvimento do País
Diretor da ABES
e presidente
nacional do Saneas: Como o senhor avalia, no cenário na- forço nacional nesse sentido. Da mesma forma
Sindicato Nacional cional, o investimento na reabilitação das es- que não temos informações para dizer que não
das Empresas truturas das obras de saneamento? estamos fazendo nada de significativo nesse sen-
de Arquitetura
Viol: Como uma medida absolutamente neces- tido, não estamos aptos a avaliar o quanto esta-
e Engenharia
Consultiva – sária em nível nacional. Os investimentos devem mos fazendo de forma pontual.
Sinaenco. atender a atualização tecnológica dos equipa-
mentos e aos novos processos que são inseridos, Saneas: De que forma a restrição de recursos
principalmente nos sistemas de tratamento e na públicos interfere num planejamento adequado
capacitação de profissionais e fornecedores de para a reabilitação de obras de saneamento?
serviços. Viol: A restrição de recursos públicos interfere na
Também se faz urgente a necessidade de po- base do planejamento.
líticas para direcionar e definir esses investimen- Sem uma clara definição de recursos públicos
tos. para este fim, não há possibilidade de se definir
as políticas necessárias para capacitar o setor e
Saneas: Por que a capacitação de profissionais desenvolver os programas de reabilitação.
é prioritária? Existe um despreparo do corpo
técnico disponível para atender as necessida- Saneas: O senhor tem alguma avaliação pessoal
des do setor? sobre o funcionamento da estrutura do sanea-
Viol: A prolongada crise da engenharia brasileira mento de São Paulo, relacionada às constantes
deixou de repor quadros profissionais e atualizar enchentes do último período?
tecnologicamente as empresas prestadoras de Viol: Em primeiro lugar, é preciso planejar. A
serviços. Dessa forma, a palavra de ordem atual lei de regulação do Saneamento 11445 de 2007
é capacitar e atualizar as empresas e profissio- prevê que os Municípios tenham produzido seus
nais de engenharia. Este é um elemento básico Planos Municipais de Saneamento até Dezembro
para o sucesso na reabilitação das estruturas de de 2010. Esses planos são constituídos por água,
saneamento. esgotos, manejo de águas pluviais e resíduos só-
Mas, paralelamente a essa medida, também é lidos. Todos esses tópicos devem ser integrados
preciso desenvolver programas de modernização entre si e dentro das bacias ou regiões em que se
das estruturas existentes, onde se inclui a substi- inserem. E assim cabe às autoridades agirem den-
tuição de equipamentos obsoletos; a implemen- tro de planos, programas e projetos, bem como
tação de novos processos na linha de produção e destinar investimentos nessas áreas.
a automação, que é uma tecnologia de ponta e se No caso das enchentes, é notório que deve
firma como uma ferramenta eficaz no aproveita- haver um planejamento e monitoramento do uso
mento dos recursos do setor. do solo, evitando as áreas de risco e promovendo
Esses investimentos não aparecem de forma sis- o crescimento urbano de forma ordenada. É im-
tematizada, de modo que possamos avaliar o es- portante também, além da construção de gale-

26 Saneas outubro / novembro / dezembro | 2009


entrevista
João Alberto Viol

“Devemos evitar que a tragédia natural se


transforme em tragédia humana”

rias, canais e áreas de contenção (piscinões), a apli- o ato de planejar. A água é o elemento mais precio-
cação de uma campanha de educação ambiental e a so quando se fala de saneamento. Ela deve ser o
preservação das áreas verdes e de mananciais. foco. Todas as ações devem ser controladas no sen-
Só agindo com essa coerência, é que podemos tido de preservá-la e melhor utilizá-la. Isso melho-
evitar que a tragédia natural se transforme em tragé- ra o conceito de trabalhar com o manejo das águas
dia humana. É a constante busca do equilíbrio entre pluviais. A idéia corrente é o projeto de drenagem.
o homem e o ambiente. Contudo, não vejo a estru- Com isso, se trabalha com o meio urbano. É sempre
tura da cidade de São Paulo inserida neste cenário. o conceito de direcionar e afastar as águas pluviais
Trabalha-se como tradicionalmente se faz no Brasil: dos equipamentos urbanos. Mas pouco se faz para
de acordo com as demandas, na “hora do apuro”. evitar que elas atinjam o meio urbano. A preserva-
ção do verde, dos mananciais, a ampliação das áre-
Saneas: O senhor e as entidades que representa as de infiltração são vitais no manejo das águas
têm sugestões para a minimização de problemas pluviais. É o esforço para evitar que o desastre na-
dos grandes centros urbanos, como enchentes, fal- tural (a enchente) se transforme no desastre huma-
ta de escoamento e fornecimento de água e esgoto no. Da mesma forma deve-se pensar no resíduo
tratado? sólido. Ele não deve contaminar o ambiente e con-
Viol: A sugestão é planejar e projetar antes de se sequentemente as águas de lazer e abastecimento.
realizar a obra. Antes de uma boa obra existe sem- Por isso, também se trata o esgoto e finalmente se
pre um bom projeto. Especificamente com relação trata a própria água que utilizamos.
ao saneamento, é preciso conceituar corretamente

outubro / novembro / dezembro | 2009 Saneas 27


entrevista

Em ritmo de
Copa do Mundo
Saneas: O Sinaenco está encampando um mega- municipais, de um relatório da entidade, com foco
planejamento de estrutura de engenharia para na minimização dos principais desafios que Copa do
atender as demandas das cidades que sediarão, no Mundo 2014 terá que enfrentar fora dos gramados.
Brasil, a Copa do Mundo de 2014 (Belo Horizonte,
Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Na- Saneas: O senhor espera que com os adventos da
tal, Recife, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador Copa em 2014 e Olimpíadas em 2016, a engenha-
e São Paulo). Como está o funcionamento desta ria nacional deslanche, mediante a necessidade
operação? de extensão de obras voltadas para o transporte,
Viol: De fato, estamos empenhados neste projeto como terminais rodoviários, aeroportos; de tu-
para a Copa de 2014, pensando inclusive no lega- rismo com ampliação da rede hoteleira e mesmo
do de 2015. Para tanto, montamos um Portal (www. de saneamento, que serve de estrutura para tudo
copa2014.org.br), cujo objetivo é veicular informa- isso?
ções consistentes sobre a infraestrutura esportiva, Viol: Claro que esses eventos podem marcar o pro-
urbana e regional de todas as cidades sedes. gresso da engenharia nacional e de todo o desenvol-
vimento do País de maneira decisiva. Porém insisto
Saneas: Qual é o grande desafio para deixar as ci- que mesmo que Deus seja brasileiro, nada cai do céu.
dades sedes aptas para conceber um evento dessa Portanto, o planejamento, a capacitação, a excelên-
magnitude? cia e a criação de políticas públicas eficientes, para
Viol: A luta contra o tempo, pois temos só 3 anos atender a essa demanda, são fundamentais.
para concluir projetos, conseguir as licenças, cons-
truir obras e capacitar pessoas. O Sinaenco está
oferecendo a sua contribuição, inclusive com a
apresentação, às autoridades federais, estaduais e

28 Saneas outubro / novembro / dezembro | 2009


ponto de vista
Gilson Cassini Afonso

Uma análise conjuntural do


Gilson Cassini
Afonso, vice-
presidente do
SINDESAM –
Sindicato Nacional
investimento em saneamento no Brasil
das Indústrias de
Equipamentos
Existe uma tendência notória de universali- saneamento (água e esgotos) que recebem gran-
para Saneamento
Básico e Ambiental zação dos serviços de água e esgoto no Brasil, des subsídios deixaram de ser subsidiadas (como
e superintentente porém estas obras são iminentemente estadu- eram no passado) e gradativamente estão evo-
operacional ais, pela maior capacidade de investimento das luindo para patamares mais reais onde a arre-
da Aquamec Companhias Estaduais em relação à capacidade cadação líquida, ou seja, a receita x despesas, é
Equipamentos S/A.
de recursos dos municípios, e dependem de in- que irá limitar os investimentos a serem feitos
vestimentos e aportes governamentais para que neste setor.
estas obras, que envolvem grandes somas, sejam Certamente, existem poucos municípios e
realizadas. O atual governo está procurando for- algumas Companhias Estaduais preparados para
mas de viabilizar esses serviços, de forma que a atender às exigências de endividamento que dão
sociedade, a iniciativa privada e o governo (seja direito ao aporte de empréstimos, dentro das re-
através dos Municípios, Estados ou União) pos- gras de governo.
sam vir a investir conjuntamente. Outro aspecto interessante é que a população
Grande parte dos 5564 municípios brasilei- deve saber que vai pagar ‘mais caro’ para aqueles
ros ainda apresenta saldo de receita líquida e de que ainda não estão servidos por estes serviços,
despesas negativo, com despesas maiores que as comparado com o que vêm pagando, prestados
receitas, no tocante a saneamento básico, seja com qualidade e nos padrões exigidos pelos ór-
através da tarifação regional das companhias, gãos federais e até mesmo internacionais.
das tarifações micro regionais que atuam em Não se pode esquecer que investimentos em
mais de um município ou as locais que são as saneamento público estão diretamente ligados
prefeituras através de suas autarquias ou em- aos gastos com saúde pública numa proporção
presas locais, tarifas estas que muitas vezes não que hoje chega a 5 para 1, ou seja, para cada real
atendem às necessidades para o equilíbrio eco- investido em saneamento haverá uma poupança
nômico dos serviços. É necessário um aumento proporcional de 5 reais em saúde pública. Sem
de tarifação e qualidade dos serviços, e é aí onde contabilizar outros custos indiretos que a falta
encontramos um sério problema. As tarifas de do saneamento proporciona à sociedade. Con-

“para cada real


investido em
saneamento haverá
uma poupança
proporcional de
5 reais em saúde
pública.”

outubro / novembro / dezembro | 2009 Saneas 29


ponto de vista
Gilson Cassini Afonso

“Precisa haver qualificação


técnica comprovada no
fornecimento de materiais
e equipamentos, e o parque
industrial nacional está
habilitado para atender estas
exigências.”

cluímos, a partir daí, quanto economizaremos aos Isso também ocorria no aspecto de aumento do
cofres públicos, às companhias regionais ou privadas preço das tarifas, que implicava numa atitude nada
e à sociedade que no fim, é quem “paga a conta”. popular, isto é, uma ação anti-voto, o que não é
Outro aspecto vital é o da vontade política dos totalmente verdade. A população está preocupada
governantes em realizarem obras de saneamento em com os riscos da falta de saneamento. Hoje as fa-
seus municípios. Muitos acreditavam que obras “en- mílias de modo geral estão sendo constantemente
terradas” não atraiam os votos de seus eleitores, e informadas, através dos meios de comunicação de
muitos anos se passavam até que alguma coisa fosse massa, sobre a importância de receber água tratada
feita. Hoje esta realidade, felizmente, está mudan- no seu domicílio e da coleta e tratamento dos seus
do, se já não mudou nos centros urbanos e micro- esgotos gerados. Essa consciência, a do saneamento,
regiões. Investimentos em saneamento estão, por passa também pela educação, habitação, transporte,
aclamação da própria população, elegendo muitos empregos, enfim todas as esferas sociais, assim como
de seus representantes e, além disso, podemos notar também sua falta implica diretamente na saúde.
que o tema saneamento tem sido freqüentemente Não depende somente do governante querer
pauta na mídia. executar uma obra de tratamento de esgotos, eles

30 Saneas outubro / novembro / dezembro | 2009


ponto de vista
Gilson Cassini Afonso

precisam buscar o financiamento para isso, e esses Temos que trabalhar para acabar com a inadim-
recursos virão da própria sociedade, no longo prazo, plência do setor público. Daí advirão muitos finan-
já que os recebíveis são, de certa forma, a maior ga- ciamentos e o setor terá um significativo crescimen-
rantia de um empréstimo. Não existem mais finan- to. Não basta, entretanto, uma captação de recursos
ciamentos fartos na quantidade e na velocidade ne- para investimentos de qualidade duvidosa, seja na
cessárias exigidas pela demanda do saneamento no solução técnica adotada, seja na forma de aquisição
Brasil, mas existem mecanismos que já possibilitam dos materiais e equipamentos. Precisa haver qualifi-
a obtenção de recursos, desde que atendidas exigên- cação técnica comprovada no fornecimento de am-
cias mínimas. As PPPs (Parcerias Público Privadas), as bos, e o parque industrial nacional está habilitado
Locações de Ativos e até mesmo as Concessões Pri- para atender estas exigências.
vadas ou Gestão Compartilhada são uma excelente O Sindesam vem trabalhando para estar mais
solução na busca de investimentos. perto daqueles que colaboram para a melhoria dos
Existe uma grande quantidade de municípios que serviços de saneamento. As empresas que compõem
não é atendida pelas empresas estaduais e estão ca- o Sindesam - que é um sindicato que atua em prol
rentes neste setor, precisando captar recursos para da melhoria da qualidade das empresas privadas,
investimentos. das fábricas de materiais hidro-eletro-mecânicos (os
Se percebe que há uma preocupação crescente materiais e equipamentos tais como equipamentos
dos municípios e da população em que direcione especializados de processo, medidores e controlado-
seus recursos corretamente. Há uma forte tendência res, bombas, válvulas, tubos, materiais e componen-
com o princípio de auto-sustentação do setor. Por tes elétricos e eletrônicos) e seus sistemas destinados
outro lado é óbvio que o governo voltou a reinvestir ao tratamento de água e efluentes - acreditam que
no setor de saneamento, muitas vezes, mesmo indi- o próximo governo investirá muito no setor.
retamente. A lei de responsabilidade fiscal, de signi- Procuramos agrupar as empresas fabricantes vi-
ficativa importância para o setor, trava a iniciativa sando dar suporte a elas, no tocante a investimento
de “investir”, mas de que adianta fazê-lo, sem recur- em pessoal e qualidade. As empresas privadas (fa-
sos para saldar os compromissos assumidos por estes bricantes de máquinas e equipamentos) não podem
investimentos. ficar paradas no tempo a risco de perder sua par-
Os fabricantes de máquinas e equipamentos e ticipação no mercado. São discutidos conceitos de
fornecedores de serviços precisam estar seguros de gestão, qualidade, atendimento de mercado, con-
que estes compromissos serão honrados, não dá para corrência internacional, capacitação tecnológica,
a indústria fabricante financiar este setor. Percebe- financiamento do setor produtivo, perspectivas de
mos que está havendo um trabalho em nível gover- mercado futuro, entre outros.
namental junto das companhias estaduais no sanea- O Sindesam tem a missão de comunicar ao mer-
mento financeiro para que estas companhias possam cado as informações atualizadas relativas às tecno-
captar recursos, via BNDES e bancos privados para logias disponíveis, experimentadas e inovadoras para
investir no setor, que antes não tinham interesse a preservação ambiental. Temos a certeza de que as
neste mercado, pelo risco que significavam. Não que necessidades e requisitos ambientais podem ser
os riscos tenham diminuído significativamente, mas atendidos pela indústria brasileira e estamos prepa-
estão mais controlados. Os serviços locais também rados para isto.
têm acesso a estes recursos, desde que certas regras
sejam respeitadas.

outubro / novembro / dezembro | 2009 Saneas 31


visão de mercado
Lorimel Brandão dos Reis

Econ. Lorimel
Brandão dos Reis Aspectos Econômicos Contábeis
– Corecom 5239 –
2ª. Região
Economista
da Reabilitação de Instalações
– formado pela
FEA/USP em 1970, Operacionais de Abastecimento de
especialista em
Metodologia do Água e Esgotamento Sanitário.
Ensino Superior
pela FMU.
Como Introdução de água potável e de esgotamento sanitário de
economista,
um agrupamento humano. Em segundo lugar
lecionou Teoria
Econômica A prestação dos serviços de abastecimento as formas jurídicas de como são organizados os
e Economia de água potável e de esgotamento sanitário, prestadores dos serviços. Em terceiro, as fontes
Brasileira nas o braço duplo do saneamento básico de uma de recursos para promover estas instalações.
FMU’s , prestou comunidade urbana ou rural, é realizada, me- Em quarto, o tratamento contábil do registro
serviços na Caixa diante a construção de instalações apropriadas de uma instalação de prestação dos serviços.
Econômica Federal,
para este fim, administradas por diferentes ti- Finalmente, alguns comentários à guisa de
Federação das
Indústrias do pos de pessoas jurídicas. conclusões e recomendações.
Estado de São A presente análise visa avaliar os aspectos
Paulo e, na Cia. econômicos e de registro contábil da mobiliza- As Instalações
de Saneamento ção de recursos para promover a reabilitação
Básico do Estado
de tais instalações, que sofrem, ao longo do Na prestação dos serviços de abastecimen-
de São Paulo-
SABESP - Setor tempo, os desgastes normais que ocorrem pelo to de água potável e de esgotamento sanitário,
de Planejamento uso contínuo em condições normais ou de ele-
de Controladoria vado “stress”.
Financeira, onde Para esta finalidade será realizada inicial-
se aposentou mente uma descrição das instalações que
no ano de 2000.
compõem o serviço de abastecimento
Atualmente
presta serviços
de consultoria
financeira,
para empresas
ligadas ao setor
de saneamento
ambiental e BID.

32 Saneas outubro / novembro / dezembro | 2009


visão de mercado

seguindo o caminho natural das águas, é realizado


um conjunto de instalações, composto de barra-
gens e poços para retirar a água da natureza em
estado bruto; edificações e equipamentos para
condução e tratamento da água, a servir e ser-
vida; instalações lineares (adutoras, redes, ramais “Quando as instalações sofrem
prediais e cavalete) para a condução da água, no uma degradação substancial,
caminho de ida e volta ao domicílio do usuário;
devido ao desleixo na
edificações e equipamentos para o bombeamen-
to da água, em função dos desníveis topográficos; manutenção ou obsolescência,
instrumentos e equipamentos para avaliar a qua- elas devem ser substituídas ou
lidade da água e medidores para aferir a pressão, reabilitadas, exigindo somas
a produção e o consumo da água.
de recursos financeiros acima
Na criação, expansão e melhoria de um sistema
completo destes serviços, mobiliza-se uma consi- do normal em relação a uma
derável soma de recursos financeiros para a com- simples manutenção.”
pra e instalação dos materiais, máquinas e equi-
pamentos, os quais são formalizados no balanço Formas Jurídicas da prestação
contábil como imobilizado operacional, no ativo, a
aplicação dos recursos e exigível e/ou patrimônio No Brasil, pelas leis vigentes, os serviços de
líquido, no passivo, a origem dos recursos. abastecimento de água potável e de esgotamento
Em seu ciclo operacional, estes ativos exigem sanitário podem ser organizados em entes públi-
novos gastos financeiros para serem operados, a cos – Departamentos ou Autarquias e entes pri-
título de despesas com manutenção, que vai des- vados – empresas privadas, empresas públicas e
de a preventiva até a corretiva. Tais despesas são empresas de economia mista.
contabilizadas no demonstrativo de resultados, As instituições públicas não sofrem nenhuma
bem como a quota de depreciação, que consiste restrição fiscal, porque já estão inseridas no pró-
numa apropriação contábil anual de parcela de prio orçamento fiscal das prefeituras e sofrem as
seu valor, de acordo com a vida útil da obra civil e restrições normativas destes entes, quanto à in-
das máquinas e equipamentos. serção no mercado financeiro de empréstimos de
Quando as instalações sofrem uma degradação financiamentos.
substancial, devido ao desleixo na manutenção ou Já as privadas estão sujeitas às restrições da
obsolescência, elas devem ser substituídas ou re- legislação fiscal brasileira do imposto de renda e,
abilitadas, exigindo somas de recursos financeiros também, em muitos casos, do mercado de capitais.
acima do normal em relação a uma simples ma- Em conseqüência o tratamento contábil dos gas-
nutenção. Neste caso, o que se coloca é quanto à tos está sujeito a estas restrições.
natureza do gasto, se é investimento ou despesa.
A contabilidade, além de mostrar a posição das Origem dos recursos
obrigações e direitos de uma pessoa jurídica, é um
instrumento de gerência fiscal e portanto deve A origem primordial dos recursos para a pres-
atentar às leis que disciplinam esta matéria. Desse tação dos serviços de abastecimento de água po-
modo, somados os aspectos técnicos de engenha- tável e de esgotamento sanitário é o sistema de
ria é necessário trazer à tona o arranjo jurídico da tarifas dos prestadores dos serviços. É deste couro
prestação dos serviços que determinam diferentes que saem todas as correias.
aspectos fiscais. No sistema tarifário, os gastos com investi-
mentos têm sua recuperação diferida no tempo

outubro / novembro / dezembro | 2009 Saneas 33


visão de mercado
Lorimel Brandão dos Reis

através da quota de depreciação e da remunera- da instalação, que foram degradadas quer por fal-
ção do investimento, mas ocorre no presente em ta de manutenção ou por obsolescência, acrescen-
período determinado. O valor anual da quota de tando-lhe mais vida útil, desde que as restrições
depreciação, como já foi dito, está sujeito à vida fiscais permitam, ela deve ser considerada como
útil das instalações (civis e lineares) e dos equipa- investimento e inscrita no ativo como imobilizado
mentos (motores e bombas) e a remuneração do em operação.
investimento é residual. Ela é igual às receitas Neste caso, a origem dos recursos pode ser
menos as despesas de operação, manutenção, co- proveniente de empréstimos e financiamentos, se
mercialização, administrativas, fiscais, depreciação os níveis de rentabilidade de um ente privado per-
e amortização de despesas. mitir ou se a prefeitura possuir margem para en-
Estes conceitos têm tratamento diverso entre dividamento em seu orçamento, quando se tratar
os diferentes prestadores. de um ente público ou de recursos próprios atra-
Num ente público, eles pouco aparecem, pois vés do re-investimento dos lucros, para um ente
vale a subordinação dos fluxos financeiros ao or- privado, e, de superávit do orçamento fiscal, se o
çamento fiscal da prefeitura, cuja máxima legal é: ente for público.
não se deve arrecadar mais do que se gasta, a não Para pequenas intervenções que não alterem
ser que a lei das diretrizes orçamentárias crie um de forma significativa as condições iniciais da ins-
fundo com finalidade específica. talação, desde que as restrições fiscais permitam,
Já em um ente privado a situação muda de fi- podem ser apropriada como despesa e incluída di-
gura, pois a taxa de rentabilidade (lucro/investi- retamente na equação tarifária.
mento) ou remuneração do investimento é um pa-
râmetro fundamental para orientar as decisões de Conclusões
aplicabilidade. Assim sendo, é muito importante
separar com muito critério os gastos com investi- Toda melhoria é bem vinda desde que no mo-
mento daqueles que são despesas. Apropriar como mento oportuno e aureolada pelos melhores crité-
despesa, o que é investimento, deprime a taxa de rios técnicos, econômicos e legais.
rentabilidade ou a geração de valor para o acio- Como melhor critério técnico, entende-se a
nista, o que dificulta o processo de captação de melhor tecnologia disponível que reflita o melhor
recursos no mercado financeiro e de capital. método construtivo, que incorpore qualidade ao
Por outro lado, apropriar como investimento ativo sob intervenção.
um gasto que seja despesa, superestima a taxa de Como melhor critério econômico, aquele que
rentabilidade, dando uma orientação falsa sobre a mobilize os recursos materiais para a alternati-
decisão de investir, bem como da geração de valor va de mais eficiente, ou seja, de menor custo de
para o acionista. oportunidade e compatibilize os recursos finan-
ceiros na melhor alternativa de fluxo de caixa.
O Tratamento Contábil dos Recursos da Como melhor critério legal, a intervenção deve
Reabilitação estar subordinada às leis fiscais e tarifárias que o
setor deve cumprir.
Como vimos, além dos critérios técnicos, que em Tudo isto está atrelado a bom sistema de pla-
geral orienta os gastos nas alternativas de maior nejamento, execução e controle das ações de in-
relação benefício custo, é importante estar atento tervenção nas instalações dos serviços de abaste-
com relação às origens de recursos para realizar a cimento de água potável e de esgotamento
reabilitação de uma instalação de abastecimento sanitário.
de água potável e de esgotamento sanitário.
Se a aplicação do recurso é de grande monta,
que modifica drasticamente as condições iniciais

34 Saneas outubro / novembro / dezembro | 2009


artigo técnico

RECUPERAÇÃO DE ESTRUTURAS
O ESTADO DA ARTE NA CONSTRUÇÃO X O ESTADO DA ARTE NA RECUPERAÇÃO DE ESTRUTURAS

Por Alfredo Figueiredo


Formado em Construção Civil pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Belas Artes,
especialização em Engenharia de Saneamento básico pela Faculdade de Saúde Pública da USP, atua no Departamento de Qualificação
e Inspeção de Materiais – CSQ – na SABESP, é professor da disciplina de Tecnologia do Ambiente Construído ( aço, concreto e madeira )
da FIAMFAAM – UniFMU.

Objetivo: Apresentar uma síntese da evolução da residências, obras de arte, aquedutos e templos reli-
maneira de se construir utilizando concreto armado, giosos, fundamentalmente visando ao bem-estar da
bem como da maneira como se efetua a recuperação raça humana. Entre as inúmeras obras citadas, há
dessas estruturas, principalmente quando utilizadas uma relação de modernas construções de concreto
em peças componentes dos sistemas de tratamento de elevado desempenho, as quais comprovam sua
de água e esgoto. versatilidade arquitetônica e estrutural, além de sua
Diante dos problemas vivenciados diariamente durabilidade.
por nossa equipe, no trabalho de Perícia Técnica, nos De acordo CEMBUREAU, 1995 temos:
vem à mente a seguinte questão: estamos utilizando Concreto Antigo: 5000 a.C. - 100 a.C.
todos os conhecimentos disponíveis quando do pro- Concreto Romano: 100 a.C. - 400 d.C.
jeto e execução de estruturas de concreto armado, Concreto Medieval: 1200 d.C. - 1600 d.C.
principalmente nas que se encontram em contato Concreto da Revolução Industrial: 1600 d.C. - 1800 d.C.
com agentes agressivos. E quando essas necessitam Concreto Moderno: 1800 d.C em diante
de reparos, estamos utilizando as técnicas adequa- Concreto com Agregados Reciclados: 1946 d.C.
das para sanar tais problemas? Concreto de Alto Desempenho - C.A.D: 1990 d.C.
Desta forma, buscamos na literatura disponível, C.A.D. com Agregados Reciclados: 2000 d.C.
bem como junto a laboratórios de tecnologia e for-
necedores parceiros, as respostas a estas indagações, A FIGURA 1 representa um mural egípcio datado
que em síntese representa o Estado da Arte na Cons- de 1950 a.C., que mostra o concreto sendo mistura-
trução de Estruturas de Concreto Armado e o Estado do e aplicado manualmente, o que nos causa certo
da Arte na Recuperação de Estruturas, e a seguir fa- desconforto, uma vez que passados séculos, ainda
zemos um relato de ambos estados. verificamos esta forma de trabalhar o concreto,
Nos últimos anos, no Brasil e em outros países, principalmente em obras de menor porte.
tem se produzido um conjunto significativo de tra- Muitas civilizações desenvolveram o concreto,
balhos que são denominados “estado da arte” ou destinado a diversas aplicações, no entanto, é credi-
“estado do conhecimento”. Definidas como de ca- tado aos romanos o desenvolvimento de seu uso em
ráter bibliográfico, trazem em comum o desafio de
catalogar e discutir a produção acadêmica em dife-
rentes campos do conhecimento, que em nosso caso,
trata-se do Concreto Armado.
Num artigo do Profº. Paulo Helene, este apresen-
ta uma síntese da evolução histórica da tecnologia
de preparo e utilização do concreto como material
de construção. Relaciona datas e obras que empre-
garam esse material desde 5.600 anos a. C. e o con- Figura 1 - Mural egípcio retratando mis-
sagraram como um dos melhores amigos do homem, tura manual de concreto, de 1950 a. C.
uma vez que sempre foi utilizado na construção de (CEMBUREAU, 1995)

outubro / novembro / dezembro | 2009 Saneas 35


artigo técnico
construções civis de grande escala e em sistemas de A utilização criteriosa dos agregados e do cimen-
drenagem e água. to, bem como o surgimento dos aditivos redutores
Depois da queda do Império Romano, as cons- de água e o rigoroso controle de produção, possibili-
truções de concreto na Europa apresentaram grande tou, nas últimas décadas do século XX, o surgimento
declínio. Somente 800 anos mais tarde, por volta de do Concreto de Alto Desempenho, e na esteira desse
1200 d.C., os construtores reabilitaram o concreto desenvolvimento aditivos que possibilitam o empre-
como material de construção, utilizando-o em fun- go de Concreto Autoadensável.
dações e estruturas. O material utilizado à época Há no mercado produtos cuja mistura com ci-
ficou conhecido por concreto medieval, que tem mento Portland, sílica e outras substâncias químicas
como um de seus mais notáveis exemplares a Cate- ativas reagem com a umidade do concreto fresco e
dral de Salisbury, na Inglaterra. com os subprodutos da reação de hidratação do ci-
Na Europa, a partir da segunda metade do século mento, causando uma reação catalítica, esta reação
XVIII, pesquisadores realizaram diversos experimen- gera uma formação cristalina insolúvel nos poros e
tos que vieram a possibilitar uma maior resistência e capilaridades do concreto tornando-o selado contra
durabilidade ao concreto. a penetração da água ou substâncias agressivas e
Em 1812, o Engenheiro Civil Louis Vicat, de ori- também protegido contra a deterioração mesmo em
gem francesa, foi designado para projetar uma nova condições ambientais severas.
ponte sobre o Rio Dordogne, em Souillac, na França.
Em 1817, realizando experimentos com materiais
para construção da ponte, Vicat descobriu o cimento
hidráulico, sendo este o registro da primeira utiliza-
ção do novo cimento.
Figura 2 - Vista geral
da ponte projetada por Figura 3 – Ensaio de espalhamento do concreto auto-
Vicat, em 1812 (CEMBU- adensável (imagem do autor)
REAU, 1995)
RECUPERAÇÃO DE ESTRUTURAS
As estruturas de concreto devem desempenhar
Em 1824, Joseph Aspdin, em Wakefield, Reino as funções que lhes foram atribuídas e manter a
Unido, vem a patentear o cimento Portland, resul- resistência e utilidade delas esperadas, durante um
tado da queima de rochas calcárias com carvão, for- período de vida previsto ou, pelo menos, próximo
mando, desse modo, um produto de cimento alta- deste. Portanto devem poder suportar o processo de
mente calcinado. deterioração ao qual estarão sujeitas. Nessas condi-
Com o desenvolvimento do Cimento Portland, foi ções, o concreto é considerado durável.
possível a engenheiros e arquitetos contar com um A durabilidade das superfícies de concreto de re-
material que lhes permitiu dar forma às suas idea- servatórios, canais e tubulações, fica comprometida
lizações, uma vez que o concreto fresco se molda a devido à água, elementos químicos para o tratamen-
forma, portanto, materializa o traço do arquiteto. to, seja de água bruta ou esgotamento sanitário, que
A primeira referência sobre utilização de concre- pode causar deterioração da superfície, bem como
to armado pode ser encontrada na Encyclopedia of pela ação de gases formados a partir da decomposi-
cottage, farm and village architecture, (Apud CEM- ção de material orgânico.
BUREAU, 1995). Em 1870, foi construída a primeira Portanto, existe a necessidade de se pesquisar o
ponte de concreto armado, em Homersfield, Reino desempenho de novos produtos que permitam exe-
Unido, com vão livre de 16,5 metros. cutar os reparos em menor tempo, com qualidade
Poucos anos depois, surgiria o concreto proten- e confiabilidade.
dido. Em meados de 1920, o engenheiro francês Eu- A literatura encontrada recomenda para repa-
gène Freyssinet, especificou seu emprego em pontes ros em superfícies hidráulicas a utilização de ar-
com vãos livres maiores, edifícios mais altos e em gamassas de base epóxi e argamassas modificadas
obras mais arrojadas (CEMBUREAU, 1995). com polímeros, assim como concretos poliméricos e

36 Saneas outubro / novembro / dezembro | 2009


artigo técnico
concretos reforçados com fibras de aço, bem como mendações para recuperação das estruturas de um
fibras de carbono. emissário na área litorânea do estado. Neste caso,
A partir de 1960 com o surgimento do fumo de foram detectados pontos de concreto disgregado e
sílica nos EUA, tem se estudado sobre as suas ex- armaduras expostas e oxidadas, ataque químico por
celentes propriedades como aditivo do cimento em hipoclorito de sódio e soda cáustica, caracterizado
concretos e argamassas, sendo também uma opção principalmente pela desagregação do revestimento
para este tipo de reparo. em argamassa em todas as paredes e pilares, ao nível
Todos esses materiais citados apresentam resis- do pavimento térreo, nas lajes e vigas da cobertura
tência à compressão superior ao concreto do subs- foram observadas fissuras indicativas de disgregação
trato a ser reparado e podem não ser compatíveis do concreto e manchas de oxidação, conforme ima-
com ele. Em nossas estruturas mais antigas o con- gem a seguir:
creto utilizado tem uma resistência à compressão na Para a recuperação das estruturas, basicamente,
faixa de 18 MPa aos 28 dias, enquanto as argamas-
sas epóxis segundo Mays and Wilkinson, apud MOR-
GAN, chegam à ordem de 50 a 100 MPa.
As argamassas epóxis são aquelas em que o aglo-
merante é uma resina epóxi, possuem elevadas resis-
tências mecânica e química, além de apresentarem Figura 5: Fissuras indicativas de disgregação do con-
excepcional aderência ao aço e ao concreto. São creto e manchas de oxidação da armadura (Imagem
do autor)
recomendadas para recuperação de superfícies de
vertedouros, canais e bordas de juntas de dilatação, foi indicado o uso de argamassa base epóxi, através de
pistas e rodovias de concreto e elementos expostos desempenadeira ou projetado, em duas demãos, ob-
a agentes agressivos. Também, utilizadas para casos tendo uma espessura final de 6,0 mm, posteriormente
em que haja necessidade de liberação da estrutura em pintura com tinta base poliuretano. No caso específico
poucas horas após a execução do serviço, possuem ex- de 02 pilares, foi necessária a demolição completa, e
celente resistência a ácidos não oxidantes, álcalis e a posterior reconstrução, uma vez que o nível de conta-
alguns solventes orgânicos. O coeficiente de dilatação minação havia chegado ao centro das peças.
térmica da argamassa epóxi é superior ao do concreto
comum, daí o cuidado na variação da temperatura e Conclusão
na escolha do local de utilização. As argamassas epó- Neste artigo, procurou-se registrar como se deu
xis resistem mal a altas temperaturas, são em geral a evolução da utilização do concreto na construção
satisfatórias até temperaturas em torno de 70 °C, e civil, bem como registrar as possibilidades a dispo-
acima de 300 °C se volatilizam ou carbonizam. sição no mercado para se empregar estruturas de
O termo epóxi refere-se a um grupo constituído concreto com grande eficiência, mesmo que aplica-
por um átomo de oxigênio ligado a dois átomos de das em condições severas de uso, desde que se faça,
carbono. O grupo epóxi mais simples é aquele formado a partir do projeto, especificações condizentes com
por um anel de três elementos como o óxido de etileno o uso. Registramos ainda que o mercado oferece
cuja estrutura pode observar-se na figura a seguir. inúmeras formas de recuperação estrutural, porém,
Recentemente, em parceria com o L. A. Falcão onerosas e por vezes demoradas, uma vez que em
Bauer, efetuamos os estudos de análise e reco- toda recuperação existe a fase de demolição parcial
e posterior refazimento da estrutura.
Desta forma, concluímos que a melhor solução,
seja no tocante a manutenção quanto custo, é a
perfeita integração de intenções entre projetistas,
usuários, construtores e fornecedores, formando
uma rede pró-ativa no sentido de dotar a estrutura
Figura 4: Estrutura molecular de algumas resinas epó- de concreto, de características e resistência adequa-
xis. Figura extraída da página da Silaex Química das ao uso.

outubro / novembro / dezembro | 2009 Saneas 37


artigo técnico

MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS NA
IMPERMEABILIZAÇÃO DE ESTRUTURAS
DE CONCRETO EM SANEAMENTO
por Engenheiro Civil, Marcos Storte
Gerente de Negócios da Viapol Impermeablilizantes
storte@viapol.com.br

INTRODUÇÃO propriedades diferentes, muitas vezes acarretam em


problemas de patologia construtivas, que incidem
A atividade impermeabilização é entendida de diretamente no desempenho da impermeabilização
forma simplória, como a adoção de técnicas e metas e, se a mesma não estiver adequadamente dimen-
com o objetivo de formar uma barreira química ou sionada, poderá falhar por não resistir aos esforços
física, contra a passagem da água. impostos.
No entanto, a impermeabilização tem uma fun- Em muitas ocasiões, a impermeabilização é
ção muito mais importante, que é a de proteger as apontada como ineficiente, sendo que, a partir de
estruturas de concreto, contra a agressão provoca- uma análise mais rigorosa, percebe-se que a mes-
da pela água e esgoto, visto elas serem suscetíveis a ma perdeu sua eficiência devido a erros construtivos
esta degradação. que provocaram sua degradação.
Os materiais e sistemas de impermeabilização Por erro de interpretação, a impermeabilização é
possuem características próprias e variáveis, em fun- apontada como ré, quando nestes casos é uma ver-
ção de sua composição química, formulações, etc.., dadeira vítima das falhas construtivas.
apresentando propriedades distintas de resistência a Assim sendo, os profissionais da atividade de
tração, alongamento, aderência, impermeabilidade, impermeabilização devem conhecer as patologias
absorção de água, durabilidade, etc. Portanto, se os construtivas mais comuns e inerentes às áreas im-
sistemas possuem propriedades variáveis, é natural permeabilizadas, a fim de prevenir com o dimen-
que sua aplicação na construção civil apresente for- sionamento adequado da impermeabilização, bem
mas de desempenho distintas. Assim sendo, a im- como dos reforços necessários. Os construtores tam-
permeabilização torna-se uma atividade complexa, bém devem conscientizar-se destas patologias, já
visto que os profissionais da especialidade devem que são responsáveis diretos pelas suas manifesta-
conhecer com profundidade as propriedades dos ções. Para melhor entender este mecanismo, seguem
sistemas impermeabilizantes para então entender o as principais manifestações patológicas que ocorrem
seu comportamento frente às solicitações impostas em estruturas de concreto em saneamento.
pelas obras da construção civil.
Por outro lado, a estrutura de concreto que ser- MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS
virá de suporte da impermeabilização apresenta
também suas propriedades físicas e químicas intrín- As principais manifestações patológicas relacio-
secas dos materiais utilizados na sua construção, nadas com a impermeabilização podem ser divididas
que refletem nas exigências de desempenho do sis- em dois grupos:
tema de impermeabilização, que será utilizado para GRUPO 1
protegê-lo, contra a passagem indesejável da água Manifestações patológicas provocadas pela infil-
e do esgoto. tração d’água, devido à ausência ou falha da im-
A somatória de técnicas distintas para a cons- permeabilização.
trução de uma estrutura de concreto, cada um com

38 Saneas outubro / novembro / dezembro | 2009


artigo técnico

GRUPO 2 amassamento necessária para sua mistura e traba-


Manifestações patológicas originárias do processo lhabilidade. Assim, obtemos um concreto compacto
construtivo, que podem provocar o rompimento ou e denso, porém poroso.
danos à impermeabilização. A elevada alcalinidade do concreto (PH entre 12
e 14) deve-se principalmente ao hidróxido de cálcio
Manifestações patológicas do GRUPO 1 resultante da reação do cimento. O hidróxido de cál-
cio em combinação com os hidróxidos ferrosos do aço
Corrosão das Armaduras formam uma capa passivadora, composta de óxidos
A corrosão das armaduras é uma das principais ma- compactos e contínuos, que mantém a armadura pro-
nifestações patológicas, responsáveis por prejuízos da tegida, mesmo em concretos com elevada umidade.
ordem de 0,5% do PIB, segundo algumas estatísticas. A carbonatação do concreto, notadamente em
Recobrimento das armaduras abaixo dos valores concretos porosos ou com baixo cobrimento das ar-
recomendados pelas normas da ABNT. maduras reduz a alcalinidade do concreto para valo-
Concreto executado com elevado fator água/ci- res de PH inferiores a 10, tendo como conseqüência
mento, acarretando elevada porosidade do concreto a destruição da capa passivadora da armadura, per-
e fissuras de retração. mitindo a início do processo de corrosão, quando em
presença de água (eletrólito), oxigênio e diferença
de potencial da armadura.

Eflorescência
A eflorescência é a formação de depósitos salinos
na superfície do concreto ou argamassas, etc.. Como
resultado da sua exposição à água de infiltrações ou
intempéries. Ë considerado um dano, por alterar a
aparência do elemento onde se deposita. Há casos
em que seus sais constituintes podem ser agressivos
e causar degradação profunda. A modificação no as-
pecto visual é intensa onde há um contraste de cor
entre os sais e o substrato sobre as quais se deposita.
Como exemplo, a formação branca de carbonato de
cálcio sobre o concreto cinza.
Quimicamente a eflorescência é constituída
principalmente de sais de metais alcalinos (sódio e
potássio) e alcalino-ferrosos (cálcio e magnésio, so-
lúveis ou parcialmente solúveis em água). Pela ação
da água , estes sais são dissolvidos e migram para a
Ausência ou deficiência de cura do concreto, superfície e a evaporação da água resulta na forma-
proporcionando a ocorrência de fissuras, porosidade ção de depósitos salinos.
excessiva, diminuição da resistência, etc. Fatores que contribuem para a formação de eflo-
Segregação do concreto com formação de ni- rescências:
nhos de concretagem, devido ao traço, lançamento Devem agir em conjunto:
e vibração incorretos, formas inadequadas, etc. ■■ teor de sais solúveis;
■■ pressão hidrostática para proporcionar a migra-
Carbonatação do Concreto ção para a superfície;
A reação do cimento com a água resulta em ■■ presença de água.
compostos hidratados. Na confecção do concreto,
normalmente adiciona-se um excedente de água de

outubro / novembro / dezembro | 2009 Saneas 39


artigo técnico

As lesões verificadas em obras sob efeito das mo-


vimentações diferenciadas, assumem diversas situa-
ções e intensidade, como exemplo:

■■ destacamentos entre alvenarias e estruturas;


■■ destacamento das argamassas de seus substrato;
■■ fissuras ou trincas inclinadas em paredes com
vínculo em pilares e vigas, expostos ou não à in-
solação;
■■ fissuras ou trincas regularmente espaçadas em
Manifestações patológicas do Grupo 2 alvenarias ou concreto, com grandes vãos sem
juntas;
Trincas e fissuras em estruturas de concreto ■■ fissuras ou trincas horizontais em alvenarias
Dentre os inúmeros problemas patológicos das apoiadas em lajes submetidas a forte insolação.
estruturas de concreto, as trincas são particular-
mente importantes pelos seguintes fatos:
■■ aviso de um eventual problema estrutural ou de
estado perigoso;
■■ comprometimento da estanqueidade da edificação;
■■ constrangimento psicológico dos usuários dos
serviços de água e esgoto.

A diferença entre as temperaturas das superfícies su-


perior e inferior da laje faz com que a dilatação seja
mais intensa na face superior, provocando tensões de
tração e cisalhamento nas paredes

Deformação excessiva do concreto armado


As estruturas de concreto armado deformam-
se sob ação de cargas permanentes ou acidentais.
O cálculo estrutural admite flechas que não com-
prometem a estabilidade ou o efeito estético. En-
tretanto suas amplitudes podem gerar tensões, que
comprometem as alvenarias e outros componentes
Abaixo são relacionados os principais tipos de apoiados ou vinculados à estrutura, acarretando a
trincas encontradas na patologia das estruturas de formação de fissuras ou trincas.
concreto:
Recalques diferenciais
Variações térmicas A deformação do solo sob o efeito de cargas ex-
Os componentes de uma estrutura de concre- ternas pode ser diferente ao longo das fundações de
to, notadamente as tampas dos reservatórios estão uma estrutura de concreto, podendo gerar recalques
sujeitas a variações térmicas diárias e sazonais, que diferenciais que geram tensões variáveis, que podem
provocam sua variação dimensional. Estes movimen- induzir na ocorrência de trincas e fissuras.
tos de dilatação e contração são restringidos pelos
diversos vínculos que envolvem os materiais, geran- Retração hidráulica
do tensões que podem provocar trincas ou fissuras. O concreto ou argamassa retrai quando seca e
expande quando absorve água. Estas variações de

40 Saneas outubro / novembro / dezembro | 2009


artigo técnico

volume, devido a presença de água, são inerentes ao Recobrimento das armaduras


concreto e argamassas. A ausência de recobrimento adequado das arma-
A mistura de água ao cimento produz uma série duras do concreto armado, com os valores mínimos
de reações cujos produtos compõem-se de materiais recomendados pela NBR 6118, podem desencadear
cristalinos e uma grande quantidade de gel (tober- processos de corrosão das armaduras, tendo como
morita). A variação do traço do concreto e argamas- manifestação a expulsão da capa de cobrimento das
sas apresenta maior ou menor retração. A quantida- armaduras, interferindo na aderência, puncionamen-
de de água tem relação direta com a retração. to ou rasgamento do sistema impermeabilizante.
Uma vez constatado a deficiência do cobrimento
As medidas preventivas para reduzir a retração das armaduras, pode-se prevenir as manifestações
hidráulica são: patológicas, com a aplicação de revestimentos es-
■■ menor relação água/cimento; peciais que compensem a ausência do recobrimento
■■ maior teor de agregados; recomendado por norma.
■■ espessura do cimento; Uma das soluções adotadas é o da aplicação de
■■ hidratação. cimentos ou argamassas poliméricas, compostas de
cimento, quartzo de granulometria definida e po-
Ninhos e falhas de concretagem límeros (acrílicos, SBR, SBS, etc.), cuja propriedade
A impermeabilização não deve ser aplicada num de baixa permeabilidade a agentes agressivos, evita
substrato desagregado ou de baixa resistência. Al- ataque às armaduras.
guns sistemas de impermeabilização, como os ci-
mentos impermeabilizantes por cristalização, só
apresentam eficiência sobre substratos de concreto
compactos.
Os ninhos e falhas de concretagem são pontos
preferenciais de ocorrência de patologia de corrosão
das armaduras, cujas conseqüências como fissuração
do concreto e expansão das armaduras, pode danifi-
car a impermeabilização.
Os ninhos e falhas de concretagem devem ser
cuidadosamente reparados, de forma a datar estas
regiões, com propriedades, no mínimo iguais ao do
concreto original. Devem ser eliminados todos os
materiais desagregados até atingir o substrato com- Chumbamento de peças
pacto, efetuando-se o reparo com argamassas de Os ralos, tubulações ou peças emergentes devem
alta resist6encia, não retrateis aditivadas com po- ser rigidamente fixadas ao substrato, de forma a que
límeros incorporadores de aderência, aplicadas após seu possível deslocamento não prejudique a imper-
prévia hidratação do substrato. meabilização aplicada e arrematada nestes pontos.
Devem ser evitadas a presença de materiais es-
tranhos, como madeira e outros materiais, que pos-
sam interferir na fixação destas peçam.
Recomenda-se para a correta fixação a utiliza-
ção de argamassas tipo grout e ponte de aderência
com adesivo epóxi.
Existem soluções técnicas adequadas e para me-
lhor informação veja o case da empresa Águas do
Amazonas, com fornecimento dos produtos pela Via-
pol e a execução dos serviços pela Betonpoxi.

outubro / novembro / dezembro | 2009 Saneas 41


Sustentabilidade

A importância da sociedade civil


na promoção do saneamento
ambiental através dos projetos
socioambientais
por Vanessa Hasson e Ivan Norberto Borghi

O desenvolvimento sustentável está na pauta ambientais cadastrados. As espe-


permanente da sociedade. Desmatamento, poluição cialistas são a Gestora Cultural
das águas, aquecimento global, desigualdades so- Isabel Xavier da Silveira, a Gestora
ciais, dentre outras questões, merecem a atenção de Ambiental Raquel Moraes Costa
todos indistintamente. As ações eficientes, entre- Pereira da empresa Gades – Ges-
tanto, não dependem apenas de mero engajamento tão Ambiental para o Desenvol-
de cada cidadão. Elas perpassam pela conscientiza- vimento Sustentável e a Bióloga
ção das pessoas, mas dependem de uma sociedade Sandra Jules Gomes da Silva. Juntas
organizada para sua concretização. elas receberam os projetos “Muito
Pensando nisso, a AESABESP decidiu abrir as Além do Babaçu”, “Endurecedor de
portas, iniciando o processo em 2008 pela obtenção Óleo Ecológico”, “Redução de Volume
da qualificação de OSCIP – Organização da Socie- de lodo em Lagoa de Esgoto”, “Educação e
dade Civil de Interesse Público, instituída pela Lei nº Preservação Ambiental para Todos”, “Educação
9.790/99 e criando, por decisão da Diretoria Execu- Ambiental com Arte Digital”, que foram selecio-
tiva e Conselhos, a Diretoria de Projetos Socioam- nados pela Diretoria de Projetos Socioambientais
bientais, com a missão de conduzir a comunidade dentre todos os cadastrados, verificada neles, maior
da AESABESP na participação da promoção do de- viabilidade técnica e financeira, além de um maior
senvolvimento sustentável. impacto positivo na promoção do desenvolvimento
Assim, em março de 2009 foi criada a Carteira sustentável.
de Projetos Socioambientais e o Cadastramento Hoje, os projetos encontram-se perfeitamente
de Especialistas, recepcionando projetos nas áreas desenvolvidos e formatados e estão prontos para
cultural, social e ambiental e os respectivos pro- receberem o apoio financeiro dos fundos públicos
fissionais especialistas necessários à execução dos e principalmente da parcela do empresariado que
projetos. já vislumbrou o valor agregado da prática da res-
Com a realização da FENASAN 2009, a Carteira de ponsabilidade social empresarial, que se soma ao
Projetos Socioambientais foi alavancada, contando valor do incentivo fiscal proporcionado pelo inves-
hoje com 31 projetos e 60 especialistas, travando timento em projetos através de uma OSCIP como
ao mesmo tempo várias parcerias com instituições a AESABESP.
públicas e privadas, tais como a OSCIP Água e Cida- Além destes, dentre os cadastrados e já apre-
de, que resultou na publicação do livro Água, sua sentados em formato adequado, estão os projetos
Importância em Nossa Vida e a ONG Ideas Brasil “Água Limpa é prá Beber”, “Pé de Moleque tam-
para viabilização do Projeto Recanta – Memorial bém é Verde”, “Uma História Visual do Sistema
da Cantareira, além das parcerias travadas com al- Cantareira”, “A História do Engenheiro Pera”,
guns especialistas que já iniciaram suas atividades, “Curso de Recuperação de Arquivos” e “Enolo-
tornando-se associados da AESABESP e auxiliando gia e Coaching”, que foram apresentados junto ao
no próprio desenvolvimento dos Projetos Socio- Fundo Nacional do Meio Ambiente e ao concurso da

42 Saneas outubro / novembro / dezembro | 2009


SABESP para obtenção de financiamento e também tual, cadastrando sua especialidade universitária ou
estão prontos a receber recursos privados com in- técnica para imediata contratação na atuação dos
centivo fiscal. projetos da Carteira de Projetos Socioambientais.
As encomendas para desenvolvimento de pro- A participação ativa dos associados AESABESP
jetos específicos também já são uma realidade. Re- e daqueles que desejam ingressar na associação é
centemente, a Diretoria de Projetos Socioambientais imprescindível ao sucesso da missão da entidade
recebeu a solicitação de uma Prefeitura da Região convencionada em “Promover o desenvolvimento
Metropolitana de São Paulo para elaborar o seu Pla- sustentável através de ações socioambientais”.
no de Saneamento Ambiental, obrigatório por força O comparecimento às Assembléias, as sugestões
da Lei 11.445/07. encaminhadas à Diretoria de Projetos Socioambien-
Como se vê, a demanda está instalada. A tais e principalmente a atuação nos projetos cadas-
AESABESP, como exemplo de instrumento de trados é essencial ao cumprimento de uma missão
uma sociedade civil organizada está fazendo maior. Uma missão que não pertence ao Poder Pú-
sua parte e está de portas abertas convo- blico, não pertence à iniciativa privada e nem ao
cando a todos que desejam ver acontecer terceiro setor, pertence a cada um de nós da socie-
ações eficientes, afastadas do mero dis- dade civil, que organizada e articulada entre os três
curso ecológico, para que participem des- setores poderá ser alcançada – a preservação do
tas ações, empregando seu capital intelec- planeta para as presentes e futuras gerações.

ADOTE UM PROJETO SOCIOAMBIENTAL


E PROMOVA SUA MARCA
“Água Limpa é pra Beber”: Educação ambiental, renda através do uso sustentável do babaçu e da pro-
sensibilização e conscientização sobre a importân- dução de material ecologicamente correto para subs-
cia e a necessidade da conservação e do bom uso da tituição da madeira na fabricação de revestimentos,
água tratada. móveis e objetos de decoração.
“Pé de Moleque também é Verde”: Educação am- “Endurecedor de Óleo Ecológico”: Endurecedor de
biental, aplicando os princípios da agroecologia para o óleo de cozinha, evitando o despejo no esgoto do-
plantio de mudas nativas, construção de hortas orgâ- méstico e facilitando a reciclagem.
nicas, a disseminação da importância da ampliação e “Redução de Volume de lodo em Lagoa de Esgo-
conservação de áreas verdes na cidade de São Paulo. to”: Reduzir o volume de lâmina/lodo em lagoas, com
“Uma História Visual do Sistema Cantareira”: Pu- baixo custo, substituindo a limpeza mecânica e mini-
blicação de alta qualidade gráfica, contendo a histó- mizando a disposição em aterros sanitários.
ria da construção do Sistema Cantareira a partir de “Educação e Preservação Ambiental para Todos”:
fotografias e desenhos. Visita ecológica monitorada às companhias de sane-
“Preservação e Difusão da Memória do Engenhei- amento.
ro e Sanitarista Armando Fonzari Pera”: Estudo do “Educação Ambiental com Arte Digital”: Inclusão
acervo pessoal do engenheiro Armando Fonzari Pêra, digital de alunos da rede municipal do ensino funda-
com resgate e recuperação de seu arquivo. mental, através da produção de arte digital elaborada
“Preservação e Acesso”: Curso para estudo e recupe- em trilhas ecológicas.
ração dos acervos e resgate da construção do sistema “Enologia e Coaching”: Técnica que usa o vinho
de água e esgoto da Cidade de Santos, gerando um como caminho para a descoberta da resolução dos
banco virtual de dados. problemas pessoais e profissionais através do coa-
“Muito Além do Babaçu”: Geração de emprego e ching, resultando em melhor qualidade de vida.
Parte dos valores investidos poderão ter redução do IRPJ. Consulte-nos!
Informações: Alessandra Buke - projetossocioambientais@aesabesp.org.br - Fone: (11) 3284 6420

outubro / novembro / dezembro | 2009 Saneas 43


XXI Encontro Técnico e Fenasan 2010

AESabesp no preparo do maior


evento de saneamento da AL
A AESabesp (Associação dos Engenheiros da Para tanto, a AESabesp já iniciou a chamada dos
Sabesp) se prepara para o grande desafio de re- trabalhos técnicos para o Encontro Técnico de 2010.
alizar o maior evento técnico-mercadológico em Neste ano, os autores concorrerão ao sorteio de uma
saneamento ambiental da América Latina: o seu máquina digital por período de apresentação dos
XXI Encontro Técnico, em caráter simultâneo com mesmos totalizando 5 máquinas e não mais 3 como
a sua 21ª edição da Fenasan (Feira Nacional de Sa- nos anos anteriores.
neamento e Meio Ambiente).
O grande evento está programado para os dias Fenasan com mais de 80%
10, 11 e 12 de agosto, no Expo Center Norte, em São do espaço vendido
Paulo – SP, para o qual se espera uma visitação de
mais de 10.000 participantes, cuja maioria atua na A FENASAN 2010 já conta com mais de 80% do
esfera do saneamento e meio ambiente, resultando espaço vendido, situação esta inédita no início do
num dos públicos mais qualificados das realizações ano, a 8 meses da Feira. No ano de 2009, foi co-
do setor. mercializada 100% de área do evento, com 152
O tema do Encontro Técnico de 2010 já está defi- expositores: empresas fabricantes e fornece-
nido, como: “ A importância da sociedade organizada dores de equipamentos para o setor, pres-
na promoção do saneamento ambiental”, que suscita tadoras de serviços e de demais seg-
a participação de todas as vertentes sociais, técnicas mentos complementares à esfera do
e acadêmicas, voltadas à excelência do setor. saneamento.
Espera-se, para este ano, uma superação No âmbito internacio-
de apresentação de trabalhos, em relação nal, empresas como
a 2009, que contou com 130 palestras
técnicas, 5 mesas redondas e dois semi-
nários: “Boas Práticas e Tendências de
Automação em Saneamento”, promo-
vido pela AESabesp em parceria com a
ISA (International Society of Automa-
tion) da América do Sul, Distrito 4, e
“Inovação Tecnológica”, promovido pela
Missão Econômica de Israel no Brasil, além
de uma visita técnica à empresa de cosmé-
ticos Natura, em Cajamar.

44 Saneas outubro / novembro / dezembro | 2009


XXI Encontro Técnico e Fenasan 2010

as trazidas pelo consulado de Israel, da Itália e dos “Destaque AESabesp”) e Imperveg (Destaque “Sus-
EUA também estiveram presentes na Feira, que ain- tentabilidade”). A Unidade Sabesp MA também
da contou com a visita da Superintendente Nacio- recebeu o troféu AESabesp por apresentar o maior
nal de Saneamento do Governo do Chile, Magaly nº de trabalhos no Encontro Técnico.
Espinosa Sarria.
Apoios e expositores
Mudanças na entrega do Troféu AESabesp
O XXI Encontro Técnico e Fenasan 2010 já conta
com os apoios das seguintes entidades: AAPS (Asso-
ciação dos Aposentados e Pensionistas da Sabesp),
ABPE (Associação Brasileira de Tubos Poliolefínicos e
Sistemas), AESBE (Associação das Empresas de Sane-
amento Básico Estaduais), ALEASP (Associação Leste
dos Profissionais de Engenharia e Arquitetura da Ci-
No ano passado a entrega do troféu AESabesp dade de São Paulo) e Sinaenco.
teve uma alteração no regulamento da premiação,
que deverá ser mantida na edição de 2010. Ao invés informações:
de ser por acúmulo de votos depositados em urnas,
www.fenasan.com.br
o resultado será avaliado, mediante critérios estipu-
lados por uma comissão, composta por gabaritados Também é possível consultar as empresas por linha
profissionais, sem ligações com empresas exposito- de produtos, as entidades de apoio e as fotos das
ras, indicados pela entidade. edições anteriores, pelos links:
Lembramos que os vencedores da edição de www.fenasan.com.br/expo_lista_prodts.php
2009 foram Bugatti, Glass e Valloy (Categoria www.fenasan.com.br/apoio.php
“Melhor Estande”); Amanco, Centroprojeckt e Di- http://www.fenasan.com.br/galeria.php
gimed (Categoria “Inovação Tecnológica”); Edra,
Emec e Hidrosul (Categoria “Atendimento Técni-
co”); ITT Brasil, Higra e Saint Gobain (Categoria

Saneas 45
expositores confirmados
na fenasan 2010
• ABS Inds. Bombas Centrífugas • Enmac Engenharia Materiais • Netzsch do Brasil Indústria e
• Acquaquímica Compostos Comércio
• Aesabesp - Associação dos • Environquip Engenharia de • Nivetec Instrumentação e
Engenheiros da Sabesp Sistemas Ambientais Controle
• Aerzen do Brasil • Famac Indústria de Máquinas • Nunes Oliveira Máq. e
• Allonda Equipamentos • Fibrav Fibra de Vidro de Lambari Ferramentas
Ambientais • FKB Válvulas • Parkson do Brasil
• Amanco Brasil • Fernco do Brasil • Petrofisa do Brasil
• Amitech Brazil Tubos • FGS Brasil Indústria e Comércio • Plastimax Indústria e Comércio
• AVK Válvulas do Brasil • Fluid Feeder • Policontrol Indústria de Controle
• B & F Dias Indústria e Comércio • GE Fanuc do Brasil Ambiental
• BBL Engenharia Construção e • Glass Ind. Com. Bombas • Promar Tratamento Anti-
Comércio Centrífugas e Equipamentos corrosivo
• Bermad Brasil Importação e • Gratt Indústria de Máquinas • Prominas Brasil Equipamentos
Exportação • Guarujá Equipamentos para • Polierg Industria e Comercio
• Bombas Grundfos do Brasil Saneamento Ltda. • Poly Easy do Brasil Ind e Com
• Bombas Leão • Hemfibra Tecnologia em • Restor Comércio e Manutenção
• Brasbom Comercial Importação Saneamento de Equip. Eletrom.
e Exportação • Hexis Científica • Robuschi
• Bugatti Brasil Válvulas • Hidroductil Tubos e Conexões • Sabesp
• Caetano Tubos - CMR4 • Hidrogeron do Brasil • Sampla do Brasil Ind. Com.
Engenharia e Comércio • Hidrosul - Máquinas Hidráulicas Correias
• Caimex Comércio Exterior Hidrosul • Saint-Gobain Canalização
• CEB - Conexões Especiais do • Higra Industrial • Schneider Electric
Brasil • Huesker • Sensus Metering Sustems do
• Chesterton • Imap Indústria e Comércio Brasil
• Coester Automação • Imefer Industrial e Mercantil de • SMV Válvulas Industriais
• Comercial Marwil Ferragens • Sondamar Poços Artesianos
• Continuum Chemical Latin • Imperveg Poliuretano Vegetal • Sondeq Indústria de Sondas e
América • Interativa Indústria, Comércio e Equipamentos
• Corr Plastil Industrial Representações • Tigre Tubos e Conexões
• C.R.I. Bombas • Invel Comércio Indústria • Valloy Indústria e Comércio de
• Danfoss Participações Válvulas e Assessórios
• Delbo Indústria e Comércio de • ITT Water & Wastewater Brasil • Vika Controls Comércio de
Válvulas • JCN Comércio e Representações Instrumentos e Sistemas
• Digitrol Indústria e Comércio • Kanaflex Ind. de Plásticos • Wasserlink Comercial
• Dinatécnica Indústria e Comércio • Kemira Water Solutions • Wastec Brasil
• Dositec Bombas Equipamentos e • KSB Bombas Hidráulicas • Watson Marlow Bredel Indústria
Acessórios • Lamon e Comércio de Bombas
• Ebara Indústrias e Comércio • Marte Balanças e Apar. de • Weatherford Indústria e
• EEA Empresa de Engenharia Precisão Comércio
Ambiental • Microambiental Laboratório, • Weldtron Tecnologia em Solda e
• Eletrônica Santerno Indústria e Comércio e Serviços em Água Automação Industrial
Comércio • Mission Rubber do Brasil • Wustenjet Engenharia,
• Emec Brasil Sist. Tratamento de • Multi Conexões Indústria e Saneamento e Serviços
Água Comércio

46 Saneas outubro / novembro / dezembro | 2009


A comunicação de aceite/recusa aos autores será feita a

203 205 207 H 209/211/213 215 217 219 H 221 223


IMAP Soft GEA Multiconexões
Parkson 12m² Weldtron 36m² Brasil 12m² 12m²

33m²
B

WC. Fem.
117/115 202 204/206 208
208 210 214 216 218/317
planta da exposição - fenasan 2010
EEA SMV Plastimax Sanitek Ext.
Petrofisa 16m² 32m² 16m² 16m²
301/303 305 Tigre SABESP 313/315 Fibrav
28m² Amitech Sondeq Bugatti
113

Telefones
40m² 20m² 45m² 54m² 40m² 36m²

WC. Masc.

Organização
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16m² 48m² 16m²
Guarujá erg de
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32m² 48m² 32m² 16m² 32m² 32m² Plas
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20m 805
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Saída
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outubro / novembro / dezembro


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44m² 41,25m² 41,25m² 44m² 20 m² 20m² 15m²
20m²
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513 Hig Elje 813 81
107 A 501 503 505
404 511 515a ra 806 n 5
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44m² 41,25m² 41,25m² 44m² 24 m² 515
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Acesso ao Mezanino
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Secretaria Executiva
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Acqua Consultoria Au
di tór
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Saneas
Rua Dr. Candido Espinheira, 560 - cj. 32 4

05004-000 - São Paulo - SP


Fone / Fax: 11 3871 3626

47
fenasan@acquacon.com.br
Palavra de amigo

Cecília
Um Oásis em nossa vida
(Criação coletiva dos integrantes do “Clube dos Amigos que se Amam”)

N
ão dá para acreditar que a Cecília não está Eram tantas as realizações, alegrias e demons-
mais entre nós. Ainda ouvimos a sua voz, trações de amor pela vida, que nesta edição quere-
lembramos do seu jeito todo especial de ser, mos deixar registrados alguns “causos” vividos em
de agir e de falar. sua companhia:
Estamos sentindo saudade de todas as conversas
jogadas fora, das descobertas que fizemos, dos so- Causo nº 1
nhos que tivemos, de tantos risos e momentos que Após várias cirurgias realizadas (extração do
compartilhamos com lágrimas de alegria e às vezes, útero, extração de um tumor da boca, retirada de
lágrimas de tristeza, mas o mais importante é que um rim e de um transplante de fígado), quando
sempre estávamos juntos! a Cecília foi realizar mais uma operação
Nos momentos tristes quando nos sentíamos complexa, a extração de parte do
sós, a Cecília sempre nos dava carinho e afeto; nos único rim que ela tinha, alguns
momentos de fúria e indignação ela sempre tinha amigos a estavam aguardando
uma palavra para nos trazer à realidade; nos mo- na saída da sala de cirurgia.
mentos de euforia e alegria, era sempre a melhor Era bem tarde da noite e
parceira para comemorar; nos momentos de dúvida devido à gravidade da si-
e incertezas, ela sempre compartilhava e nos ajuda- tuação, achávamos que
va a encontrar a saída. ela sairia bem afetada
Cecília sempre foi uma pessoa alegre e extrover- e até possivelmente
tida. Mas de todas as suas qualidades, a maior era desacordada. Qual
o poder de agregar as pessoas. Não eram raras às não foi o nosso es-
vezes em que nos reuníamos na sua casa, intitula- panto, quando
da por ela como “Clube dos Amigos que se Amam”. a porta se
Freqüentemente ela nos proporcionava reuniões
super-agradáveis, nos chamava para deliciar um
tacacá, uma maniçoba, um sukiyaki, um yakissoba,
uma costelinha de porco, etc... etc... Bem, se formos
relacionar todos os pratos que ela preparava, este
artigo não teria espaço suficiente...
Há sócios do “Clube dos Amigos que se Amam”
apaixonados por ela. Dizem que foi paixão à primei-
ra vista. Talvez seja tanto pela inteligência, quanto
pelo perfil festeiro da Cecília e com afinidades cres-
centes com o decorrer dos anos.
Sua participação na AESabesp sempre foi de
destaque. Dona de uma personalidade forte e de
uma valorosa franqueza, sempre que algo a desa-
gradava, logo dizia: “Me inclua fora”.

48 Saneas outubro / novembro / dezembro | 2009


Palavra de amigo

abriu e a Cecília saiu de maca, mas bem acordada. eu que estou sentindo, então falo como quero”,
E com os olhos abertos e firmes, ela nos perguntou: provocando risos nos demais. Essa amiga também
- VOCÊS ESTÃO BEM??? Ela conversou conosco e afirma que era “costas largas”, pois Cecília a culpava
ainda agradeceu a nossa presença. Que garra e que por tudo: “Se alguém derramava vinho na mesa ou
força de vontade: de fato, a Cecília deixou para nós no chão, destampava uma panela ou qualquer coisa
um exemplo de alegria e poder de minimizar a dor. desse tipo, quem levava bronca era eu. Ela até sabia
quem eram os autores das trapalhadas, mas como
Causo nº 2 me conhecia tão bem e sabia que eu não me zanga-
Num dos inúmeros encontros em sua casa, a va, atribuía tudo a mim. Na noite do nosso último
Cecília preparou uma comida paraense que se ser- tacacá, surgiu um imprevisto e eu não pude chegar
ve numa cuia, o tacacá (preparado, entre outros no horário combinado, ela me ligou várias vezes, di-
ingredientes, com tucupi e jambú). Após consumir zendo que só faltava eu. Quando consegui chegar,
o alimento um dos amigos ficou com a boca ador- todos já tinham ido embora, toquei a campainha e
mecida. Sem saber o que estava acontecendo, ele ela me atendeu de pijama (por sinal muito bonito:
perguntou à Cecília se não havia algo errado com era de seda em 2 cores). Eu lhe disse: vim, como o
o alimento e se este não estava estragado. Com a prometido. E ela respondeu: já acabou. Retruquei:
maior naturalidade e sabedoria ela explicou que a eu sei, mesmo assim eu vim. Então, ela me convidou
verdura usada na preparação do tacacá, é o jambú para entrar e me ofereceu o tacacá. Bebi, agradeci
que vinha do Pará, e que tinha este efeito anestési- e me despedi... Foi a última vez que a vi viva. Tenho
co (o índio masca o jambú quando está com dor de muitas coisas guardadas na minha memória e sinto
dente, tendo um alívio imediato). muita falta dela, mas o que mais me vem agora,
Aliás, foi esse prato, preparado com muito ca- como lembrança, é a sua inapagável figura na porta
rinho, que foi servido na última vez que estivemos do apartamento, com aquele lindo pijama de seda”.
juntos. Não imaginávamos que naquele dia era uma
despedida da Cecília dos amigos do nosso “Clube Causo nº 4
dos Amigos que se Amam”. Cecília era uma pessoa especial no grupo dos
amigos que se amam. Porém, entre os integrantes
Causo nº 3 desse núcleo, existem aqueles que moram ou traba-
Estas passagens vieram de um membro do Clu- lham distante da sede do clube: “a casa da Cecília”.
be, que se auto-define como “amiga escudo”, por- Certa vez numa entrega de amigo secreto de fim de
que levava várias e inesquecíveis broncas de Cecília, ano faltava uma componente do grupo, que morava
a quem ela compara o tratamento como o de uma bem longe e após informada que esta chegaria atra-
grande mãezona. Ela relata que quando se conhe- sada, a Cecília foi monitorando por telefone todo
ceram tiveram uma afinidade imediata, por serem o seu itinerário. Quando ela chegou a sua casa, a
conterrâneas e terem se formado na mesma uni- porta se abriu e lhe foi oferecido uma taça de vinho
versidade. Cecília foi sua coordenadora na Sa- branco além é claro de um fraterno e caloroso abra-
besp, na implantação de projetos para rede co- ço. De acordo com esta componente, foi um brinde
letora de esgoto, ocasião em que já começou inesquecível.
a ouvir da amiga “que ela fazia muita bo-
bagem”. E essa “pegação de pé” se estendeu Palavra do grupo
para as reuniões dos amigos que se amam Cecília, apesar da saudade e da dor de não tê-la
realizadas no “cafofo da Cecília”. Se a ami- mais ao nosso lado, mesmo assim, nós vencemos,
ga em questão usava uma expressão errada, pois nem a morte conseguiu nos separar... Hoje você
tipo: “meu libido está baixo”, a correção vi- não está mais ao nosso lado...e sim dentro de nossos
nha até com um dicionário, quando a mestra corações e de lá nunca mais sairá.
ensinava: “não é meu e sim minha libido”, Mais uma vez estamos convencidos de que o
no que a outra respondia: “o libido é meu, AMOR SEMPRE VENCE A MORTE...

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“causos”
Cabeçalho
do saneamento

HAVERIA UMA REBECCA NA


RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS ?
Por Manoel Henrique Campos Botelho - manoelbotelho@terra.com.br

Houve um famoso filme da década de 30/40 de Um outro mestre, talvez por estar nervoso ao tocar
nome “Rebeca, a mulher inesquecível”. Claro que não no assunto “treliça hipostática”, gagueja faz um erro e
assisti a esse filme, só ouvi dele falar. O filme fala de não responde.
uma Rebeca, mulher forte, bela, possessiva e que in- Mas agora talvez haja uma luz no túnel. Desconfio
fluenciou a vida de muitos, mas, por incrível que pare- que descobri duas estruturas que considero como treli-
ça, nunca aparece. ças hipostáticas e que são: portas treliçadas pantográ-
Acho que descobri uma Rebeca na Resistência dos ficas e mãos mecânicas.
Materiais. Estou estudando Treliças e numa apostila de Restou-me consultar um amigo e mestre, M. (en-
RM da EPUSP (Escola Politécnica da USP) fala-se e de- genheiro civil) que de forma apaixonada declarou-me
monstra-se matematicamente quando existe uma treliça sem autorizar entretanto citá-lo: -Botelho, Botelho.
hipostática, mas a exemplo dessa senhora, nada aparece. Cuidado com as treliças. Há estruturas que parecem
Corro atrás dessa possível nova Rebecca. Existi- treliças, funcionam como treliças, podem ser calculadas
rá uma treliça hipostática? Temos uma pista no livro como treliças, mas de “vero” (expressão tipicamente
do austero e sapiente “Saliger“ (versão espanhola). O paulistana) não são treliças. É o caso de estruturas tre-
mestre diz que ela é indesejável. liçadas hipostáticas. Como há mulheres
Ok. Uma coisa pode ser indesejá- que parecem, agem como Rebecca mas
vel, mas então ela existe pois se não são Rebeccas. As estruturas propos-
não existisse não seria indesejável, tas como treliças hipostáticas não o são,
como manda a mais implacável das pois treliça, intrinsecamente, quer dizer
Lógicas: a Lógica da Vida. uso de triângulos e, por princípio, são
Doutra parte, o mestre Timo- não móveis“.
shenko foge do assunto, ao dizer Se isso for verdade porque a apostila
“aprioristicamente” que treliças são da Poli as apresenta e o Saliger fala mal
estruturas formadas por triângulos delas???? A mesma pergunta feita a ou-
e assim não se define nem sim nem tros engenheiros civis menos doutos mas
não sobre Rebecca. De tão impor- sem dúvida bem preparados, que apre-
tante autoria, a omissão sobre tão sentaram idêntico horror a tudo que se
candente assunto é lamentável. move.
Um outro autor declara que ela Agora estou confundindo tudo exa-
existe mas é transformista, ou seja, tamente como o samba do crioulo doi-
muda de aspecto, aliás uma carac- do. Mas dou meu parecer final sobre tão
terística essencialmente feminina e momentoso assunto:
temos aí mais uma opinião de que “Todo o mistério sobre Rebecca leva-
ela existe e que o citado autor pos- me a desconfiar que talvez Rebecca te-
sivelmente a conheceu. nha sido sequestrada e até assassinada. Quem a teria
Tento continuar a usar critérios lógicos para saber matado ? Desconfio que deve ter sido um engenheiro
da pertinência de sua existência. civil que detestava o aspecto móvel da citada dama.
Uma maneira de saber se treliças hipostáticas exis- Em homenagem e inspirado em Rebecca, Verdi, que era
tem é saber de seu relacionamento com um tal o Sr. Cre- amigo do Cremona, teria feito a sua famosa marcha
mona. Treliças isostáticas sempre foram atendidas por fúnebre “La donna é móbile“.
esse senhor e com excelentes resultados (é o que dizem),
não sobrando incógnitas que não fossem cabalmente Se alguém tiver mais dados sobre o assunto peço
determinadas. Com as treliças hiperestáticas o relacio- endereçar a este cronista. Quando tiver mais dados
namento com o Sr Cremona parece que é aceitável. voltarei ao assunto.
Consultando um especialista, este fugiu do assunto
em parte com esta inacreditável resposta: -Não me de-
fino quanto à existência de tal figura, mas se ela existir
pode chamar o Cremona...

50 Saneas outubro / novembro / dezembro | 2009


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