Você está na página 1de 11

CRONICONTO JOÃO APARECIDO

Ele chegou a cidade ninguém sabe como,


uns dizem que chegou de trem, outros que
veio caminhando pela estrada, na verdade
ele simplesmente apareceu um dia. Dirigiu-
se a pensão da dona Mariazinha, e dizem
que veio para ficar, pois pagou um mês
adiantado. Homem simples, mas com
grande preparo, falou em inglês ao telefone
em um dia, em outro falou em francês. Com
tudo, era um homem simples,
cumprimentava todo o mundo, freqüentava
os bares mais simples e os mais elegantes.
Como ele se chamava? João, sim, João
Aparecido, assim todos passaram a chamá-
lo. O que ele fazia? Nada! Apenas passava
o dia inteiro freqüentando bares,
restaurantes, cafés, até os aposentados que
se reunião na praça o conheciam, ele lá
passava no mínimo três vezes por semana, e
não tinha presa, ficava batendo papo, por
horas a fio. Não tinha nenhum enterro que
ele não permanecesse ao velório, sempre
ajudando os parentes do morto. Dinheiro?
Não era problema para ele, quando o nível
da sua conta no banco baixava, logo
aparecia um novo credito vindo não se sabe
donde. Alguém disse que ele passou a noite
em um bar noturno, tocando violão e
cantando junto com os bêbados, mas
somente tomou água mineral durante toda a
noite. Fazia apenas três meses que ele
estava na cidade e era a pessoa mais
popular da região.
Certo dia estava na frente do frigorífico na
hora em que os magarefes começavam a
entrar, pegou a carrocinha de picolés abri a
tampa e começou a distribuir na fila de
entrada, a distribuição foi até que não
restava nenhum picolé no contentor, e
perguntou ao homem que os estava
vendendo, quantos havia distribuído, pagou
em moeda corrente. Outra feita uma anciã,
saia do supermercado com duas sacolas
cheias de viveres, justo no momento em
que ele entrava. Parou, perguntou para a
senhora se ele poderia ajudá-la a levar os
mantimentos até a sua casa, como ela
aceitou, foram rua a fora ele, lavando as
duas sacolas.
Por isso os grandes partidos o assediavam
para que a eles se filiasse. Mas Joãozinho,
nunca se decidia por nenhum. O maior
partido da cidade o convidou para participar
de uma reunião na sede do clube da cidade,
era o partido do atual prefeito. Aquiesceu
ao convite e compareceu no clube do
Comércio, onde durante a reunião seria
servido um jantar.
Logo após o jantar, um dos partidários,
levantou e solicitou que o ilustre convidado
o Sr. João Aparecido, lhes falasse sobre o
que achava da atual política do nosso país.
Joãozinho que estava a mesa junto com o
prefeito, esposa, o presidente da câmara e
esposa. Joãozinho levantou, e iniciou assim
a sua fala:
Certa vez, na antiga Roma, época em que
os cristãos eram jogados as feras para lhes
servirem de pasto. Um homem se
esgueirava contra a murada da arena, na
jaula, um leão faminto, se movimentava de
um lado para outro a procura de uma
saída. De repente, a porta da jaula é
aberta, o leão faminto adentra na arena de
espetáculo. Quando o leão esta no centro
da arena, o homem corre ao encontro da
fera e lhe murmura algo ao ouvido. A fera
cabisbaixa retorna para a sua jaula. Sabem
o que o infeliz homem disse a fera? Que
após o banquete haveria discursos.
Excelentíssimo, Sr. Prefeito da cidade de
Salcedos, Excelentíssimo Sr. Presidente da
câmara de Veradores, meus senhores e
minha senhoras...
Nessa oportunidade Joãozinho, falou sobre
a macro economia do pais, sobre relações
exteriores, sobre o capital e trabalho. Sem
se colocar num ou noutro lado, mantendo-
se neutro. Ao final de seu discurso, foi
ovacionado, as pessoas não paravam de
aplaudi-lo. Durante a reunião o Sr. Prefeito
e o presidente do maior partido da cidade,
convidaram Joãozinho para se filiar ao
partido e concorrer nas próximas eleições
ao caro de vereador. Joãozinho declinou do
convite, dizendo que não tinha aspirações
políticas.
Joãozinho merecia o diminutivo no nome,
era um homem pequeno e franzino, olhos
verdes, sempre escondidos por um par de
óculos sombreado, cabelos grisalhos em
grande abundância, pois não tinha
propensões a calvície. O seu trajar era
digno de um aristocrata, sempre vestindo
um palito, ora claro, ora escuro, camisa de
colarinho apertada por uma gravata
borboleta.
Na pensão de dona Mariazinha chega uma
comissão do menor partido da cidade, um
partido pigmeu. Queriam falar com João
Aparecido. Conversaram com ele, e com
ele saíram, levando-o à sede do partido que
ficava em dos bairros da pequena cidade.
Assim se expressou o presidente do partido:
- Sr. João aparecido, sabemos que recusou
fazer parte do partido do prefeito, que o
queria candidato a vereador. Nos do partido
perseverante o convidamos a ser nosso
candidato a prefeito. Joãozinho, relutou,
ponderou e finalmente aceitou o convite.
Mas colocou algumas condições, que após
lançada a sua candidatura, fosse feita uma
pesquisa, para ver da sua real aceitação dos
eleitores.
E, que se tivesse uma aceitação
significativa, mais da metade dos eleitores
entrevistados, ele abdicaria a candidatura
em favor de uma pessoa indicada pelo
partido.
Os membros do partido acharam estranha a
atitude de Joãozinho, mas aceitaram as
condições impostas.
Quinze dias depois na sede do clube
Cacheral na capital:
O mestre de cerimônia olha para o grande
relógio de parede do clube e diz:
- Senhores! São precisamente 20 horas do
dia 14 de setembro de 2005, portanto já esta
findo o prazo para o cumprimento da
aposta, começamos a entrar nos 15 minutos
de tolerância. Se o Sr. João Aparecido não
aparecer dentro desse tempo a aposta será
vencida pelo Sr. Ramires Furtado.
Eram 20 horas e 12 minutos, quando João
Aparecido adentra na portaria do clube. O
mestre de cerimônia se aproximando do
microfone, disse:
- Atenção senhores, acaba de entrar no
clube o Sr. João Aparecido.
João adentra na sala. Dirigiu-se ao
microfone e pegando-o diz:
- Boa noite a todos. Meus caros amigos! A
precisamente cento e cinqüenta dias, nesta
mesma sala, fui desafiado pelo meu
conterrâneo e amigo Dr. Ramires Furtado a
provar o que eu havia afirmado em meu
discurso, de que no nosso país, os
representantes do povo são eleitos levando
em conta os candidatos e não o partido.
Para tanto fizemos uma aposta que foi
registrada no 3º cartório desta capital. Nela
consta que eu deveria em 150 dias,
apresentar provas cabais de que o que
afirmara era verdadeiro. A cidade foi
aleatoriamente escolhida, uma com menos
de 20.000 eleitores. O resto seria fruto de
minha imaginação. Neste ultimo momento,
venho apresentar as provas, as quais devem
ser examinadas e após aprovadas ou não
pela comissão previamente escolhida pelos
apostadores. As provas que apresentam são
incontestáveis. A 150 dias atrás eu nem
sabia da existência da cidade de Laguna
Alta. Mas para lá parti, desenvolvi um
trabalho de marketing pessoal, fui
convidado pelo partido do atual prefeito, o
maior partido da cidade, a candidatar-me a
vereador, não aceitei. Terminei aceitando
candidatar-me a prefeito pelo menor partido
da cidade, quinze dias após a minha
candidatura, as pesquisas apontaram-me
como o candidato preferido por mais de
50% dos eleitores entrevistados. Aqui está o
resultado da pesquisa no único jornal da
cidade, que diz na manchete:
“SE AS ELEIÇOES FOSSEM HOJE
JOÃOZINHO SERIA O NOVO
PREFEITO DE LAGUNA ALTA”
Passo as provas à comissão julgadora.
A comissão não tardou a considerar João
Aparecido como vencedor da aposta, e que
o perdedor deveria fazer o pagamento
naquele momento.
João pede a palavra e diz:
- Em Laguna Alta, tive a oportunidade de
conviver com mais de 20 idosos que
freqüentava a praça da cidade, o qual lhes
servia de clube de reuniões, acontece que
esses idosos nos dias de chuva e de muito
frios, são obrigados a permanecer em suas
casas. O maior desejo deles é de terem um
local onde possam se reunir. Por isso quero
destinar o valor total da aposta para a
confraria dos aposentados de Laguna Alta,
tudo conforme consta no registro de aposta
feito no 3º cartório desta capital. Cabendo
ao perdedor, meu amigo e correligionário,
Dr. Ramires Furtado, providenciar tudo até
a inauguração a qual nos dois devemos
comparecer. Com a palavra o Dr. Ramires:
Tomando a palavra o Dr. Ramires, assim se
expressou:
- Reconheço a derrota, e aqui está u cheque
de R$ 500.000,00, com os quais vou
construir a sede da confraria dos
aposentados de Laguna Alta.
A festa varou a noite toda.

Você também pode gostar