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Silo, O Sábio dos Andes

INTRODUÇÃO

“Meu ensinamento não é para os triunfadores, mas para aqueles que


levam o fracasso no coração.”

O Maestro Silo nasceu Mário Rodrigues Cobos, na cidade de Mendonça1


(Argentina), no dia 6 de Janeiro 1938 (Dia dos Reis Magos). Viveu um vida
muita ativa, deixando à sua partida uma Grande Obra literária e humana em
movimento:

Deixa-nos um método que permite organizar e aprofundar qualquer área do


conhecimento humano, baseado em 4 leis universais, descrevem o
funcionamento de qualquer sistema no universo –será chave para um pensar
coerente; deixa-nos uma descrição completa do funcionamento da
consciência humana, em 4 volumes que contrastam com a confusão
fragmentada a que nos habituaram os que se ocupam dessas matérias,
incluindo aspectos duma psicologia transcendental. Deixa-nos o “Olhar
interior”, um concentrado poderoso que será a base da sua Mensagem
espiritual e permite o ser humano transitar do sem-sentido da vida, para uma
vida de sentido e plenitude, através da meditação e da experiência interna.
Deixa-nos inúmeras ferramentas e tecnologias para evolução interior, como
o sistema autoliberação e experiências guiadas. Mas talvez a sua contribuição
mais importante no campo da espiritualidade serão a (re) organização das 4
disciplinas, apresentando-as de forma inédita em 12 passos (usando o
método), e em particular introduzindo a disciplina morfológica pela
primeira vez na história humana (as 3 anteriores já tinham sido amplamente

1
A cidade de Mendonça (Argentina) fica localizada perto da fronteira entre Argentina e
Chile, na base da cordilheira dos Andes, perto do monte Aconcágua. Na tradição
esotérica explica-se que o centro da espiritualidade originado a 33o latitude norte, nos
Himalaias (India), 5000 anos mais tarde desloca-se a Oeste, na mesma linha de 33o, à
zona do Médio Oriente, dando lugar às grandes tradições espirituais do Ocidente
(Judaismo, Cristianismo e Islão). Explica-se ainda que, nesta época, o centro estará
centrado a 33o, a sul, coincidindo exatamente com a região do monte Aconcágua,
chamado “teto do Ocidente”. Nessa região, onde nasce Silo, mais tarde dá o discurso
fundacional do seu Ensinamento, “A cura do sofrimento”, num lugar muito particular,
Punta de Vacas, único lugar no planeta onde confluem 3 cordões montanhosos e 3 rios
num mesmo ponto. Hoje, ali localiza-se o “Parque Histórico Punta de Vacas”, um dos
centros da Escola.
desenvolvidas em outras épocas e civilizações). Mas também pela primeira
vez na história estas disciplinas são apresentadas em conjunto e abertas ao
público.

Mas a sua contribuição não foi apenas em termos de pensamento. Silo foi
sobretudo um Homem de Ação, que sempre pôs em pratica aquilo que
predicou. Foi um exemplo inspirador e de grande motivação para todos
amigos que o acompanharam durante anos, na construção dum Projeto
maior para a humanidade (A Nação Humana Universal). A parte viva da sua
obra é composta pela corrente conhecida por Novo Humanismo (com
inúmeras frentes de ação e organismos sociais), a Mensagem de Silo (a
expressão espiritual da sua obra) e a Escola, funcionando nos 50 Parques de
Estudo e Reflexão que existiam à sua partida, e onde ficaria depositado o
conhecimento profundo das 4 disciplinas e do processo de evolução do ser
humano. Em cada um desses Parques a Escola funciona descentralizada, com
Mestres especializados nas disciplinas que vão realizando as suas
contribuições em novas investigações e produções.

A pesar de ser recordado como um personagem quase mítico por quem o


conheceu pessoalmente e o viu em ação –reconhecendo-o na categoria dum
Buda, Krishna ou Cristo- fez sempre questão de menosprezar o papel de
guru, priorizando sempre o trabalho conjunto e de equipa, valorizando
enormemente o esforço e a contribuição dos seres humanos “comuns”. (No
MH dizia-se: melhor um resultado medíocre produto dum trabalho em
equipa, do que um resultado brilhante, dependente dum homem-orquestra).
Este aspecto ficou muito gravado nos nossos códigos de conduta, na nossa
forma organizativa e até na forma de saudar-nos (abraços).

Em outro aspecto inédito, Silo deixa claro que a sua Mensagem é baseada na
experiência interna e na livre interpretação, anulando desse modo qualquer
possibilidade de surgimento presente ou futuro de “sacerdotes” que tratarão
de explicar a Mensagem, ou de “como são na verdade as coisas”. Seu
ensinamento trata de 3 temas essenciais: o sofrimento, a morte e a
transcendência. O sofrimento -como evitá-lo, a morte -como superá-la e a
transcendência -como experimentá-la. Como Buda antes dele, evitou desse
modo qualquer posterior dogma baseado em crenças sobre a divindade ou o
mais-além. Em entrevista quando perguntado: “Silo, crê em Deus?”.
Responde de imediato, com um sorriso insinuante, “Deus é uma enorme
possibilidade”.
INFANCIA

“Desde que nasci até os 4 anos, fui uma criança atrasada.”

De fora, Mário parecia um bebe totalmente comum. Alerta, vital, quase


nunca adoeceu –algo que o caracterizou toda a vida, até ao momento da sua
partida.

No entanto, quando um pouco mais crescido, começou a deixar os pais


preocupados. Parecia estar bem fisicamente mas enquanto os outros
gatinhavam e falavam, o bebé Mário ficava sentado, sorrindo e olhando o
mundo ao seu redor, com seus olhos negros grande e profundos. Parecia tão
silencioso e pacífico que os pais chegaram a suspeitar que era atrasado.

Finalmente um dia a criança se levantou e caminhou normalmente como se


estivesse a praticar por meses, e os pais suspiraram de alívio. Depois disso já
não se podia detê-lo, em pouco tempo estaria trepando por paredes e muros,
com a agilidade dum ginasta. No entanto continuava mudo. E apenas aos 4
anos abriu finalmente a boca: a família tinha ido assistir um mágico no circo
da cidade e ao vê-lo o pequeno Mário falou, explicando aos pais como o
mágico fazia para criar as suas ilusões, o fez como se já falasse há anos.

Silo diria mais tarde que foi nessa altura que tomou a decisão mais
importante da sua vida: “não deixar passar um dia sem fazer algum tipo de
trabalho interno”. Quando alguém perguntou-lhe algum dia como se tornou
o que se tornou, ele respondeu: “Eu também nasci humano, mas a única
diferença entre nós é que enquanto tu te distraias e perseguias os teus
devaneios, eu não deixei passar um dia sem trabalhar sobre mim mesmo.”

Outro episódio enigmático: ainda à volta dos 4 anos, era frequente subir ao
ramo mais alto das árvores da vizinhança, e ficar ali sentado todo o dia.
Quando perguntavam o que fazia, respondeu: “olho, e busco, e então
encontro...e logo sigo buscando e logo encontro”.

PRIMARIA

Quando entrou na primária numa Escola católica, deu com os professores


em doido. Negou insistentemente que 1+1 não podia ser igual a 2...mais
tarde explicou, “até hoje não entendo como se afirma tal coisa, pois dizer
que duas representações diferentes são iguais, é um mistério extraordinário.”
Aos 7 Mário dominava qualquer desporto a que se dedicava, mas logo
descartou o músculo lento do nadador, o músculo pesado do boxista e do
pesista, e também o músculo fibroso do corredor...”me ficou claro que todos
os desportos produziam alguma deformação muscular irregular, ou davam
uma velocidade a uma parte do corpo e lentidão a outra. Apenas a ginástica
olímpica conseguia o tipo de equilíbrio integral que eu procurava. Mas não
era apenas um treino super disciplinado em termos de regime de
alimentação, ou horas de treino ou sono equilibrado, mas se tratavam da
precisão dum programa que produzia um domínio completo da máquina
humana, na sua dimensão física.”

Desde o inicio Mário foi ágil não apenas com a mente e o corpo, mas
também no campo social. Na escola era muita amigável e companheiro
favorito dos colegas. Alguém recordava que Mário era o único que se dava
bem com todos. Era amável e franco, cheio de ideias maravilhosas para jogos
e aventuras, com uma profundidade de percepção que os seus amigos
respeitavam. Segundo vários colegas, era inteligente, rápido, atlético e
divertido.

Andava sempre em grupo, mas também todos sabiam que era diferente. Era
comum virem buscar-lhe para jogar futebol e ele desculpar-se que tinha
coisas que fazer, ou por vezes ir ao jogo, e sentar-se debaixo duma árvore a
ler filosofia, Descartes, Kierkegaard e outros. Mas mesmo assim encaixava-se
perfeitamente no grupo, e os outros amigos o acarinhavam muito.

Num episódio insólito: algum amigo lhe ofereceu um sorvete, Mário o


experimentou e logo atirou-o ao lixo. Logo explicou: “É que eu quero ser eu
a controlar o gelado, e não quero que o gelado controle a mim, não me
importa o quão bom seja.” (quero estar livre)

Aos 8 anos há uma foto na qual o pequeno Mário se tornava no alpinista


mais jovem a chegar a um pico de 3200m. As montanhas seriam um cenário
preferido de exploração do jovem Mário e os seus amigos.

ADOLESCENCIA

Nessa altura era um leitor insaciável, especialmente no campo da filosofia e


literatura. Foi nessa altura que ouviu falar da misteriosa Escola, e do
caminho para o despertar verdadeiro. A partir desse momento sempre teve
em conta que deveria partir para ir conhecer essa misteriosa Escola.

Nos eventos sociais, era muito sociável, falava bem e fluentemente sobre
vários assuntos, com opiniões elaboradas sobre política nacional e
internacional, e outros temas, mas o que os amigos não compreendiam era
“quando” lia sobre tudo isso, porque andavam sempre juntos. Outro amigo
respondeu: quando nos íamos a festas aos fim-de-semana, era frequente vê-lo
na biblioteca pública. E algum outro disse mais tarde, o problema é que para
ele bastava ler as primeiras páginas para compreender o conjunto todo.

Seus interesses e habilidades pareciam não ter limite. Era um excelente


jogador de xadrez e outros jogos de estratégia, e estava fascinado pelas
ciências, especialmente pela química e rádio. O pai tinha um laboratório no
sótão e ali fizeram todo tipo de experiencias, de química, física, biologia e
astronomia. Numa ocasião, chamou a vários por telefone e quando
chegaram apareceu no sótão com um tubo de ensaio, deixou cair uma gota e
se produziu uma explosão.

Noutro episódio curioso: ao redor dos 13, passou muitos dias numa boia de
madeira na piscina, deitado com óculos escuros a flutuar durante horas e
horas, saindo para almoçar e voltava a flutuar. Quando lhe perguntaram o
que andava a pensar: ele respondeu:: refletia sobre o que fazer com a minha
vida, até que um dia “se produziu o fenómeno” (nunca explicou que
fenómeno foi esse).

Durante a escola secundaria Mário continuou o intenso trabalho sobre si


mesmo: comentou que o seu objectivo era produzir o corpo dum atleta, a
cabeça dum computador e o coração dum poeta. Continuava o seu rigoroso
treino de ginástica olímpica, praticando todos os dias na escola e umas 4
vezes no ginásio da cidade.

Mário parecia poder dominar qualquer coisa a que se aplicava e também


aplica-la na direção escolhida. Tinha uma enorme capacidade de absorver,
entender, e guardar memoria de uma quantidade enorme de informação. E a
partir da adolescência já tinha um gosto por expor o conhecimento sobre
uma interminável variedade de temas, e sentia-se que era uma fonte
interminável de conhecimento.
Numa novela que na realidade pode ser um relato autobiográfico (Dia do
Leão Alado) nos conta Silo, através da boca dum personagem supostamente
imaginário:

Se tivesse dito aos meu professores de teatro e música que o meu interesse final era
converter o meu corpo num instrumento altamente aperfeiçoado, pensariam que
estava a brincar. Eles não conseguiam compreender que até as minhas piadas
tinham o mesmo objectivo. Por isso quando aperfeiçoava o papel numa peça
teatral ou quando saltava os pentagramas na composição musical, afinava na
verdade cada músculo e fazia consciente cada víscera do meu corpo. Numa
ocasião tamanha foi a minha atuação teatral que o publico levantou-se e
aplaudiu emocionado. O que não sabiam era que para mim tal fora o resultado
da afinação correta da glicose, insulina, adrenalina e hormonas, lançadas à
expressão dramática.

Da música extrai a compreensão do ritmo interno dos movimentos....aos 13 anos


era campeão juvenil em todas as disciplinas e já estava a treinar a independência
das sensações visuais...outro ponto importante que aperfeiçoei foi a capacidade de
resistência, melhorando a capacidade de prover oxigénio, eliminar anidrido de
carbono e acido láctico, e de aumentar o rendimento de vários órgãos exigidos
como os pulmões, coração, fígado e rins...

Era comum saírem a acampar nas montanhas. Em ocasiões, levavam apenas


uma bolsa de dormir e uma faca. Dormiam ao relento e comiam o que
podiam caçar. Em ocasiões ficavam dias sem comer. Mas eram jovens e
fortes. Em uma oportunidade, encontraram numa gruta um velho e um
fogo. Ali ficaram toda a noite conversando com o velho sobre temas raros e
inspiradores.

Quando em encontros sociais sabia como vestir-se para cada ocasião e falar e
lidar com qualquer situação. Era um personagem popular nas festas.

MUDAR O MUNDO

Antes de terminar a secundaria já era ativista social, tratando de participar


das organizações existentes até perceber que não lhe conduziam a lugar
nenhum. Em algum momento decidiu trilhar nesse campo o seu próprio
caminho. Um ponto central para ele era o organização social e a construção
de comunidades. Grande parte da atração que produzia era o equilíbrio que
tinha entre a seriedade e o tom alegre.
Terminou a escola secundaria com honras académicas, sendo reconhecido
como melhor em ginástica e em xadrez. Também tinha medalha pelos seus
estudos religiosos. Os sacerdotes conseguiram-lhe uma bolsa no Vaticano,
mas soube rejeitar com amabilidade. Quando tinha que dizer uma verdade
não querida, sempre foi bondoso e considerado.

EM BUSCA DA ESCOLA

A ideia de encontrar a legendaria Escola portadora e protetora duma antiga


sabedoria essencial para a evolução humana esteve sempre na sua mente,
desde criança. Dizia-se que havendo existido desde sempre, a Escola passava
os seus conhecimento aos seus iniciados. Se manifestou com grandes mestres
como Moisés, Zoroastro, Buda e Sócrates, saindo ao publico especialmente
em algumas ocasiões de crise. Mário estava certo que este era momento para
a manifestação da Escola, dada a crise generalizada em todos os cantos do
planeta. Deixando de lado os seus estudos académicos, aos 24 anos, montou
sobre uma moto de segunda mão e durante 6 meses andou pela América
Latina em condições de viagem difícil, pela situação política da região
(ditadura militar). Nessa viagem tomou contato direto com a realidade do
povo latino-Américano, e a miséria a que estavam sujeitos pelo sistema
imperante. Algures, alguém lhe comentou que poderia encontrar gente da
Escola ao sul da Itália.

Ao voltar a sua cidade, trabalhou num restaurante durante alguns meses, e


depois de economizar o que precisava, viajou a Europa em busca da Escola.
Diz-se que encontrou a escola, passou um breve tempo ali, comentando
muito brevemente: “Ali aprendi a desemaranhar a madeixa da vida, a saber
de onde extrair...”...alguns dizem que os anciãos da Escola o esperavam e lhe
passaram o conhecimento, ensinando o caminho à Cidade Escondida. E
deram-lhe o nome Silo (Genesis 49:10) “armazém da sabedoria’ e deram-lhe
a missão de converter-se em guia espiritual da humanidade. Mas quando se
perguntava a ele sobre essa lenda, tratava sempre de desmentir.

Quando voltou da viagem, os amigos notaram que havia mudado. Carregava


uma nova clareza e um novo propósito....nessa ocasião daria por terminado
tudo o que até então havia colocado toda a sua energia: a ginástica, o mundo
académico, etc....Silo preparava-se para “por em marcha a Roda da
Doutrina” (expressão com a qual se designou o início do ensinamento dum
Buda)...
“3. Nomeador de mil nomes, fazedor de sentido, transformador do mundo... os
teus pais e os pais dos teus pais continuam-se em ti. Não és um bólido que cai,
mas sim uma brilhante seta que voa em direcção aos céus. És o sentido do mundo
e quando aclaras o teu sentido, iluminas a terra. Quando perdes o teu sentido, a
terra escurece-se e abre-se o abismo.

4. Dir-te-ei qual é o sentido da tua vida aqui: humanizar a Terra! O que é


humanizar a Terra? É superar a dor e o sofrimento, é aprender sem limite, é
amar a realidade que constróis.

5. Não posso pedir-te que vás mais além, mas também não será ultrajante que
eu afirme: "Ama a realidade que constróis e nem mesmo a morte deterá o teu
vôo!"

6. Não cumprirás a tua missão se não deres o teu melhor para vencer a dor e o
sofrimento daqueles que te rodeiam. E se consegues que eles, por sua vez,
empreendam a tarefa de humanizar o mundo, abrirás o seu destino para uma
vida nova.(...)”

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