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Fabio Antônio da Silva Arruda

TRIANGULAÇÃO
EM SAÚDE E SEGURANÇA
DO TRABALHO
Gestão, Engenharia e Comportamento

volume 3

Editora Pascal
2020
2020 - Copyright© da Editora Pascal

Editor Chefe: Dr. Patrício Moreira de Araújo Filho

Edição e Diagramação: Eduardo Mendonça Pinheiro

Edição de Arte: Marcos Clyver dos Santos Oliveira

Revisão: Os autores

Conselho Editorial

Dr. José Ribamar Neres Costa

Dr. Will Ribamar Mendes Almeida

M.Sc. Carlos César Correia Aranha Júnior

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


C694int

Coletânea Triangulação em saúde e segurança do trabalho: gestão, engenharia e com-


portamento/ Fábio Antônio da Silva Arruda (Organizador). 1ª ed. São Luís: Editora Pas-
cal, 2020.

319 f. ; il. 3 v.

Formato: PDF
Modo de acesso: World Wide Web
ISBN: 978-65-86707-01-4
D.O.I.: 10.29327/514014

1. Saúde e segurança do trabalho. 2. Organização da segurança e saúde. 3. Enge-


nharia. 4. Gestão de segurança e saúde no trabalho. I. II Título

CDD: 869.8
CDU: 331:316.776:331.07

O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade

são de responsabilidade exclusiva dos autores.

2020

www.editorapascal.com.br

contato@editorapascal.com.br
APRESENTAÇÃO

Desde a época mais remota, grande parte das atividades às


quais o homem tem se dedicado apresenta uma série de ris-
cos em potencial, frequentemente concretizados em lesões que
afetam sua integridade física ou a sua saúde. Assim, o homem
primitivo teve sua integridade física e capacidade produtiva di-
minuídas pelos acidentes próprios da caça, da pesca e da guer-
ra, que eram consideradas as atividades mais importantes de
sua época. Posteriormente, quando o homem das cavernas se
transformou em artesão, descobrindo o minério e o metal, pôde
facilitar seu trabalho pela fabricação das primeiras ferramentas,
conhecendo também as primeiras doenças do trabalho provo-
cadas pelos próprios materiais que utilizava. O passo seguinte
foi ainda mais sangrento, pois o processo de industrialização
trouxe, junto com a evolução das novas e complexas máquinas,
muitos acidentes e doenças do trabalho para a população traba-
lhadora daquela época.
Na época atual, o trabalho humano vem se desenvolvendo sob
condições em que os riscos são em quantidade e qualidade mais
numerosos, a tecnologia e novas sistemáticas de trabalho im-
põe também novos desafios na busca diária de prover a própria
subsistência, como o risco psicossocial, síndrome de Burnout e
diversas outras psicopatias geradas pelo trabalho.
No Brasil registra-se um acidente do trabalho a cada 49 segun-
dos, isso corresponde a 4,7 milhões de acidentes de trabalho em
uma taxa de seis mortes a cada 100 mil trabalhadores somente
no mercado de trabalho formal no período de 2012 a 2018, co-
locando nosso pais como a quarta nação que mais acidenta tra-
balhador no mundo, atrás apenas da China, da Índia e da Indo-
nésia. Além do sofrimento, os acidentes do trabalho impactam
diretamente a economia na casa de R$ 22 bilhões, devido aos
afastamentos de empregados de suas funções após sofrerem
ferimentos durante o trabalho. Se fossem incluídos os casos de
acidentes em ocupações informais, esse número poderia chegar
a R$ 40 bilhões, segundo levantamento da Organização Inter-
nacional do Trabalho (OIT) e observatório de segurança e saúde
no trabalho do Ministério Público do Trabalho (MPT).
O caminho ainda é muito logo, mas é inegável que esforços
vêm sendo direcionados para esse campo, visando à redução do
número de acidentes e efetiva proteção do acidentado e seus
dependentes. As nações e empresas vêm se empenhando em
usar meios e processos adequados para proteção do homem no
trabalho, evitando acidentes e doenças que geram muito sofri-
mento, perdas financeiras, danos a reputação e ainda impactos
na produtividade e competitividade da empresa.
Esta obra apresenta a temática de saúde e segurança do traba-
lhador pela perspectiva da triangulação entre engenharia, ges-
tão e comportamento na ótica de profissionais e acadêmicos
que se dedicam no dia-a-dia a estudar e a desenvolver sistemas
e métodos para garantir integridade física, mental e social do
trabalhador, preservando-os dos riscos inerentes às tarefas do
cargo e ao ambiente físico onde as atividades laborais são de-
senvolvidas.

Sirva-se sem moderação desta obra!

Fabio A. S. Arruda
Organizador e coautor
SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 .......................................................... 1

INTERAÇÕES E DESAFIOS NA IMPLEMENTAÇÃO


DOS EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO NA INDÚSTRIA
DA CONSTRUÇÃO CIVIL

Breno Cardoso Dias Rattes

CAPÍTULO 2 ....................................................... 21

AÇÕES ESTRUTURANTES PARA PREVENÇÃO DE AC-


IDENTES DE TRABALHO NA INDÚSTRIA DA CON-
STRUÇÃO CIVIL

Cléber Fontes Silva

CAPÍTULO 3......................................................... 43

MODELO DE GESTÃO DA INCAPACIDADE LABORAL:


A EXPERIÊNCIA DE UMA EMPRESA NO MANEJO DO
ABSENTEÍSMO MÉDICO

Daniel Penna e Souza

CAPÍTULO 4......................................................... 57

PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO BASEADO NO COM-


PORTAMENTO SEGURO DAS ATIVIDADES COM RIS-
CO ELÉTRICO

Emerson Franco
CAPÍTULO 5......................................................... 71

IMPLEMENTANDO A CULTURA DE PREVENÇÃO


ATRAVÉS DA ATUAÇÃO DOS LÍDERES

Enio Viterbo Junior

CAPÍTULO 6 ...................................................... 107

REGISTROS DE QUASE ACIDENTES: ESTRATÉGIAS


E APRENDIZADO ORGANIZACIONAL

Fabio Arruda

CAPÍTULO 7....................................................... 139

SEGURANÇA NA UTILIZAÇÃO DE DRONES EM


ATIVIDADES INDUSTRIAIS: LEGISLAÇÃO E BOAS
PRÁTICAS

Harrinson Barros Palhano

CAPÍTULO 8....................................................... 159

A INDÚSTRIA 4.0 NOS PROCESSOS DE MA-


NUTENÇÃO FERROVIÁRIA EM BENEFÍCIO DA SE-
GURANÇA OCUPACIONAL

Ivanise Maria Bezerra

CAPÍTULO 9....................................................... 183

AVALIAÇÃO ERGONÔMICA BASEADA NA PROBABI-


LIDADE DO ERRO HUMANO

Luciana Cândida de Aquino


CAPÍTULO 10..................................................... 199

GESTÃO DE RISCOS E DESVIOS COMPORTAMENTA-


IS NAS MANUTENÇÕES DE MÁQUINAS E EQUIPA-
MENTOS

Antonio Marcos Soares Barbosa

CAPÍTULO 11..................................................... 221

TOMADA DE DECISÃO: ASPECTOS SIMBÓLICOS E


IMPACTOS NA PREVENÇÃO DE ACIDENTES

Rafaela Figueroa Carlos

CAPÍTULO 12..................................................... 233

ESTRATÉGIA DE REDUÇÃO DE RUÍDO EM ATIVI-


DADES DE MANUTENÇÃO FERROVIÁRIA

Vanessa Marques de Lima Tenório

CAPÍTULO 13..................................................... 271

Metodologia FEL como alavanca em saúde, segurança


e meio ambiente no ciclo de vida de projetos

Wilson da Costa Junior


1

INTERAÇÕES E DESAFIOS NA
IMPLEMENTAÇÃO DOS EQUIPAMENTOS
DE PROTEÇÃO NA INDÚSTRIA DA
CONSTRUÇÃO CIVIL

Breno Cardoso Dias Rattes

Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho pela Universi-


dade de São Paulo (USP), Graduado em Engenharia Ambiental pela
Universidade Federal do Tocantins (UFT). Atuou na área de meio am-
biente e segurança do trabalho em atividades de empreendimentos
de médio e grande porte em diferentes Estados brasileiros, nos ramos
de energia, petróleo, agricultura, silvicultura, obras civis lineares e
não lineares. Exerceu atividades de perícia ambiental e como pales-
trante (áreas de meio ambiente e segurança do trabalho). Possui 12
anos de experiência na área de meio ambiente e 09 anos de experi-
ência na área de segurança do trabalho. Também possui experiência
na área de gestão e projetos, análise dos processos de gestão, indi-
cadores de desempenho, melhoria contínua e ferramentas da quali-
dade. Atualmente faz parte do corpo técnico para acompanhamento
dos Programas Básicos Ambientais (PBAs) dos meios físico e biótico
do Ramal do Agreste, Trecho VII do Projeto de Integração do Rio São
Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional (PISF).
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

RESUMO

A
indústria da construção civil, devido sua dinâmica para o
cumprimento de prazos contratuais, associada à elevada
demanda de mão-de-obra e aos problemas relacionados
quanto a implementação das medidas de segurança do traba-
lho, enseja o cenário ideal para a ocorrência de acidentes do
trabalho. Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi reali-
zar uma análise da relação entre a atuação do Estado, das em-
presas enquanto executoras das ações de Saúde e Segurança
do Trabalho nos canteiros de obras, e dos trabalhadores.

Palavra-Chave: Construção; Engenharia; Proteção

2
Fabio A. da S. Arruda

1. INTRODUÇÃO

A construção civil faz parte dos setores com maior em-


pregabilidade no Brasil, com importante papel na economia
do país. Constituído por diversa gama de atividades, o setor
da construção civil faz parte do chamado “macro complexo da
construção”, por haver dentro do setor variadas atividades eco-
nômicas interligadas. Devido sua abrangência de atuação e por
possuir alta demanda de mão de obra, expõe elevada quantida-
de de trabalhadores a riscos de acidentes, os quais ocorrem até
mesmo quando do correto uso dos equipamentos de segurança
(SILVA et. al., 2015).
SANTOS (2018) relata que os acidentes de trabalho ge-
rados ocasiona também enormes prejuízos para o Brasil. Para
SILVA et. al. (2015), dentre as causas que geram aumento na
incidência dos acidentes de trabalho na construção civil, podem
ser citadas: baixa qualificação profissional, treinamentos inefi-
cientes, desenvolvimento de atividades em clima desfavorável,
desrespeito às normas de segurança do trabalho, dentre outros.
Comumente, grandes empresas priorizam os aspectos
construtivos em detrimento das técnicas de segurança do tra-
balho, tendo como objetivo a redução de gastos e incremento
do lucro, sendo esse um dos vieses para o aumento dos aci-
dentes de trabalho. As condições de trabalho dos colaboradores
tendem a não ser a prioridade, podendo ocasionar considerá-
veis perdas financeiras para as empresa e riscos de morte aos
trabalhadores (SANTOS, 2018).
Para SANTOS (2018), a segurança do trabalho deve ser
tida como investimento para a empresa, e não como despe-
sa, devido a prática da prevenção minimizar as despesas rela-
cionadas aos acidentes com colaboradores, com o patrimônio,
equipamentos e maquinários, assim como reduz os gastos com
indenizações provenientes de acidentes, que normalmente ge-
ram perdas significativas.
A transferência de conhecimento acerca da segurança do

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Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
trabalho deve ser transmitida pela empresa a todos os cola-
boradores envolvidos na atividade da construção civil, sendo,
nesse contexto, obrigação do empregador de realizar os devi-
dos treinamentos, assim como propiciar o desenvolvimento de
todas as atividades com segurança (SANTOS, 2018).
Os índices de acidentes na indústria da construção civil são
elevados, e a soma de fatores relacionada aos trabalhadores -
tais como atos inseguros, não utilização ou uso inadequado dos
equipamentos de proteção -, omissão das empresas e ineficiên-
cia do Estado em sua tarefa fiscalizatória, possui forte influência
para o aumento de tais índices (SOUZA e SOUZA, 2018).
Para BRIDII (et. al. 2013), o foco na saúde e segurança do
trabalhador sofreu aumento em diversos países ao longo das úl-
timas décadas, sendo que, no Brasil, esse avanço tem ocorrido
de forma combinada entre a legislação, ações de responsabili-
zação trabalhistas, penais, previdenciárias, civis, administrati-
vas e tributárias dos empregadores, tidos como responsáveis
pelos danos sofridos pelos trabalhadores.
Assim, o presente trabalho tem como intuito agrupar as in-
formações em torno do assunto quanto à relação entre legisla-
ção, empresa e trabalhadores, e os desafios na implementação
dos equipamentos de proteção na indústria da construção civil
no Brasil.

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Fabio A. da S. Arruda

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 A Indústria da Construção Civil

No Brasil, a indústria da construção civil é um dos setores


com maior taxa de absorção de mão de obra, ao mesmo tempo
que se caracteriza por ser um segmento com precária qualidade
dos trabalhadores e a não continuidade do processo industrial,
pois, ao término das obras, ocorre a mobilização e a desmobili-
zação dos trabalhadores envolvidos. Essa dinâmica de contrata-
ção e dispensa da mão de obra pode comprometer a integridade
física dos colaboradores, sendo esse um desafio marcante na
indústria da construção civil (Takahashi et al. 2012).
Assim, as atividades desenvolvidas na indústria da cons-
trução civil em todo o mundo, justificada pelas suas caracterís-
ticas intrínsecas, é tida como perigosa, expondo os empregados
a diversos riscos ocupacionais, em diferentes intensidades, das
quais dependem do tipo de construção que está sendo realizada,
das etapas do empreendimento e da forma como os programas
e ações de segurança do trabalho são implementados. O traba-
lhador fica, portanto, exposto aos riscos existentes no ambiente
de trabalho, das intempéries existentes no local, das atividades
que ele e outros trabalhadores desempenham (BAUER, 2002).

2.2 O Meio Ambiente de Trabalho

O meio ambiente geral é definido como o agrupamento de


leis, influências e interações químicas, físicas e biológicas res-
ponsáveis pelo regimento da vida em todas as suas variações. O
meio ambiente de trabalho, englobado no meio ambiente geral,
relaciona-se de forma direta com o ser humano, na figura do
trabalhador, quando esse desenvolve alguma atividade laboral
em prol de outro (MELO, 2013).
O ambiente de trabalho é tido como o local em que o ser

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Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
humano realiza suas atividades laborais, podendo ou não haver
recompensa pela atividade realizada. O equilíbrio do ambiente
de trabalho é alcançado por meio da salubridade e da inexistên-
cia de fatores que proporcionem perigos de caráter físicos e psí-
quicos para os trabalhadores, independendo das circunstâncias
às quais poderão estar expostos (MELO, 2013).
Para Mariano (2012), o ambiente de trabalho é o lugar
onde são realizadas as atividades laborais sob remuneração ou
não, isto é, trata-se do ambiente onde são desenvolvidas as ati-
vidades referentes ao trabalho do homem, não estando limitado
ao empregado, e sim à sua mão-de-obra, seja ela física ou em
caráter intelectual. Melo (2013) cita que os locais de trabalho
devem possuir ambiente harmonioso para todos, do qual repre-
senta importante e fundamental direito do cidadão brasileiro
trabalhador.

2.3 Direito do Trabalho

Delgado (2014) conceitua o Direito do Trabalho como o


conjunto de normas que disciplinam a relação entre empregado
e empregador, assim como a relação jurídica de tal relação. O
art. 2° da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, considera
o empregador como “a empresa, individual ou coletiva, que,
assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assala-
ria e dirige a prestação pessoal de serviços”. Dessa forma, en-
tende-se que o empregador abarca o empregado junto a sua
empresa, sendo, portanto, pactuado um contrato de trabalho
que gerará ônus ao empregador, devido este assumir o paga-
mento do salário de seu empregado em troca de sua prestação
de serviço.
Contudo, o empregador arca tanto com os fatores positivos
quanto negativos da empresa, dos quais não podem ser repas-
sados ao trabalhador (MARTINS, 2012).
Assim, é possível observar que o empregador avoca os
riscos inerentes a sua atividade, estando em seu poder os con-
troles decisórios, de modo a evitar os possíveis prejuízos. O art.

6
Fabio A. da S. Arruda

3° da Consolidação das Leis Trabalhistas conceitua o empre-


gado como: “Considera-se empregado toda pessoa física que
prestar serviços de natureza não eventual ao empregador, sob
a dependência deste e mediante salário” (GARCIA, 2013).

2.4 Saúde e Segurança do Trabalho

A saúde e segurança do trabalho possui como objetivo a


proteção e a prevenção da saúde e da segurança do trabalha-
dor, sendo que existem deveres inerentes tanto ao empregador
quanto ao empregado (MELO, 2013).
É dever das empresas o cumprimento das normas referen-
tes à segurança e medicina do trabalho, assim como realizar a
instrução dos empregados por meios diversos (palestras, trei-
namentos, etc), quanto aos cuidados a serem tomados referen-
tes à execução das atividades. Cabe também ao empregador,
implantar medidas de modo a evitar a ocorrência de acidentes
do trabalho e doenças ocupacionais, e implementar as medidas
exigidas pelos órgãos competentes (art. 157 da CLT) (GARCIA,
2013).
Quanto aos deveres dos empregados, esses devem obser-
var as normas de medicina e segurança do trabalho, colabo-
rando para a aplicação de tais normas na empresa, sendo que
se constitui ato faltoso o empregado que se recusa a colaborar
com as ações de saúde e segurança do trabalho de forma injus-
tificada (MELO, 2013).

2.5 Equipamentos de Proteção Individual e Coletivo

A função do Equipamento de Proteção Coletiva (EPC)


é manter íntegra a segurança de todos os trabalhadores
de determinado local de uma obra. Portanto, a junção dos
Equipamentos de Proteção Individual (EPI) com os Equipamen-
tos de Proteção Coletiva, possibilitará ampla proteção contra a
maior parte dos riscos existentes na construção civil (SOUZA,

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Triangulação em saúde e segurança do trabalho
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2017).
As atividades de construção de um determinado empreen-
dimento, necessita da participação de inúmeros profissionais,
em diferentes funções, o que requer a adoção de medidas extras
como os Equipamentos de Proteção Coletiva, dos quais auxiliam
na prevenção de acidades e redução na quantidade de fatalida-
des que podem ocorrer o canteiro de obras (SOUZA, 2017).
Para que haja eficiência quanto ao uso dos equipamentos
de proteção, se faz necessária a implantação de um Sistema
de Gestão de Saúde e Segurança do Trabalho robusto na em-
presa, do qual deverá reforçar o compromisso da alta direção
da empresa com a saúde e a segurança de seus trabalhadores
(SOUZA, 2017).
Dessa forma, é implementado um conjunto de procedimentos
dos quais resultam na efetivação de ações coletivas, de modo
que reduzam as possibilidades de ocorrência dos acidentes, so-
bretudo os de maior gravidade (SOUZA, 2017).
A mera delegação de atribuições de segurança do trabalho
para um determinado departamento não se faz suficiente para
garantir a plena segurança dos trabalhadores, tendo em vista
que o número de profissionais da área de Saúde e Segurança
do Trabalho das empresas é reduzido, perante o quantitativo
de colaboradores, de atividades e frentes de serviços nos locais
(SOUZA, 2017).
As ações de monitoramento de uso dos equipamentos de
proteção, o acompanhamento na verificação da adequação dos
EPCs, as inspeções quanto aos procedimentos corretos de Se-
gurança do Trabalho e demais equipamentos, devem ser rea-
lizadas pelo SESMT, assim como pelos os líderes (presidente,
gerentes, coordenadores, inspetores, etc). Dessa forma, os co-
laboradores perceberão a postura das lideranças voltada à pre-
servação da saúde e segurança, podendo, assim, resultar em
redução dos atos inseguros e acidentes (SOUZA, 2017).
De acordo com SOUZA (2017), é comum que os trabalha-
dores, sobretudo os acidentados, tenham pleno conhecimento
dos EPIs aos quais necessitam utilizar, contudo, não compreen-

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Fabio A. da S. Arruda

dem plenamente sua utilidade prática. Tal situação gera a reti-


rara do equipamento em determinados momentos, por razões
irrelevantes diversas, ocasionando o ato inseguro e exposição
aos riscos.
A participação ativa do empregador se mostra de suma
importância, não somente por fornecer os equipamentos de se-
gurança, mas também por possuir a autoridade para monitorar
e cobrar o seu devido uso em todos os ambientes da empresa e
cenários dos quais possam ocorrer riscos à integridade do tra-
balhador (SOUZA, 2017).

2.6 O Acidente de Trabalho

Para Costa (2011) o acidente de trabalho está diretamente


relacionado com desastre, fatalidade, evento de caráter nega-
tivo com danos morais e materiais. Quando o acidente abrange
pessoas, trata-se de acidente humano, e se porventura ocorrer
com alguma ligação ao trabalho, tona-se acidente laboral.
Michel (2001) considera as seguintes entidades de aci-
dentes de trabalho: a doença profissional e a doença do tra-
balho. A doença profissional é desencadeada pela realização do
trabalho; a doença do trabalho é a adquirida pelas condições
específicas que a atividade é desenvolvida.
O Decreto n° 3.048, de 6 de Maio de 1999, aprova o Regu-
lamento da Previdência Social, e dá outras providências, sendo
que no art.30, em seu parágrafo único, cita que:
Entende-se como acidente de qualquer natureza ou
causa aquele de origem traumática e por exposição a
agentes exógenos (físicos, químicos e biológicos), que
acarrete lesão corporal ou perturbação funcional que
cause a morte, a perda, ou a redução permanente ou
temporária da capacidade laborativa.

FRANCO (2017) apud Heinrich (1959) descreve que é co-


mum ocorrer alguma ação por parte do homem antes do aci-
dente; por ser detentor de uma personalidade, esse assume

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Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
exercer uma atividade sem o devido preparo, ocasionando o
acometimento de atos inseguros e/ou expondo-se a condições
inseguras, sendo que essas são as principais causas de aciden-
tes.
FRANCO (2017) apud Freitas (2011) cita que a maioria dos
acidentes ocorre devido comportamento de risco dos trabalha-
dores; em outras palavras, ocorrem pelo não atendimento às
normas de segurança do trabalho. É comum o trabalhador utili-
zar ferramentas inadequadas por estar desmotivado a buscar a
ferramenta correta onde está guardada.
Ainda de acordo com Freitas (2011), a ocorrência do aci-
dente de trabalho não se dá por mero fruto do azar ou mesmo
do acaso. Uma sequência de fatores pretéritos contribuem para
a ocorrência do acidente que, se eliminados, reduzem as pos-
sibilidades de ocorrência de novo acidente. É fundamental que
o trabalhador atue sobre os riscos aos quais está exposto, bus-
cando extingui-los.
Para SANTOS (2018), a maior parte das causas dos aci-
dentes relacionada ao trabalho no Brasil são pelos seguintes
motivos: não utilização dos EPIs e EPCs adequados; negligência
por parte do empregador quanto à correta instrução; baixo con-
hecimento técnico; atos inseguros; ausência ou mesmo neg-
ligência por parte dos órgãos fiscalizadores; não cumprimento
das leis relacionadas ao trabalho; não observância por parte
dos empregadores aos diretos trabalhistas dos colaboradores;
falta de manutenção ou renovação dos equipamento.
Ainda de acordo com SANTOS (2018), a construção civ-
il é uma das atividades com maior número de acidentes, fato
comprovado por meio dos apontamentos realizados pelo INSS,
do qual comprova que as principais situações causadoras de
acidentes de trabalho são: queda em altura, cortes, lesões por
esforços repetitivos, altos níveis de ruídos e fadiga.

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Fabio A. da S. Arruda

2.7 Atuações da Escola Nacional de Inspeção do Tra-


balho - ENIT

A redução dos acidentes com agravos e óbitos que estejam


correlacionadas com as atividades laborais está diretamente li-
gada à atuação das políticas públicas e arranjos socioeconômi-
cos. É certo que a atitude proativa do Estado quanto à fisca-
lização dos ambientes de trabalho nas empresas condicionam
melhorias nos aspectos relacionados às doenças e riscos de aci-
dentes (PAULA, 2018).
O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) - atual Escola
Nacional de Inspeção do Trabalho (ENIT) - é, de acordo com a
legislação brasileira, o responsável pela execução das ações de
fiscalização junto às empresas VASCONCELOS (2014).
NASCIMENTO e SALIM (2018) ressaltam que a atuação das
ações de inspeção do trabalho para a melhoria das condições
de trabalho e prevenção de doenças e acidentes deve também
contemplar aspectos motivacionais junto aos representantes
patronais e dos trabalhadores de modo a estimulá-los nos pro-
cessos decisórios de medidas preventivas capazes de reduzir os
riscos nos ambientes de trabalho. Essas medidas teriam refle-
xos diretos na redução dos índices de acidentes.
PAULA (2018) identificou que a criação de normas e leis
rigorosas voltadas ao trabalho possibilitou redução gradual dos
acidentes de trabalho, sobretudo os fatais. O ramo da indústria
da construção civil possui elevados e diversos riscos que podem
ser prevenidos, requerendo maior rigidez do Estado quanto à
intensificação da fiscalização. Destaca-se nas ações de fiscali-
zação a atuação dos Auditores Fiscais do Trabalho (AFT), res-
ponsáveis diretos pela verificação e investigação das causas dos
acidentes e doenças ocupacionais do trabalho, assim como das
situações que podem gerar outros eventos danos físicos, quí-
micos ou biológicos aos trabalhador. Tais profissionais realizam
a verificação do cumprimento pela empresa das disposições le-
gais existentes na CLT e nas normas regulamentadoras (NR´s),
que são voltadas à saúde e segurança do trabalho LACHOWSKI
(2017).

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Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
Quanto ao número de Auditores Fiscais, segundo a Portaria
nº 560, de 12 de agosto de 2016, apresentada pelo MTE, até o
ano da publicação existiam 2.525 em atividade, distribuídos em
todo o território nacional, divididos nas ações inerentes ao car-
go. Para a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o ideal
é que haja 01 (um) Auditor Fiscal do Trabalho para cada grupo
de 10mil habitantes, havendo, portanto, defasagem no número
de profissionais no Brasil LACHOWSKI (2017).

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Fabio A. da S. Arruda

3. MÉTODO

Para o desenvolvimento do presente trabalho foi realizada


a metodologia Revisão de Literatura, valendo-se de publicações
científicas e livros. Também foram acessadas as Normas Regu-
lamentadoras (NRs) acerca da SST, assim como outros docu-
mentos (leis, portarias, manuais técnicos). Procedeu-se, então,
leitura minuciosa dos documentos selecionados, sendo realizada
a análise com foco nos temas pertinentes ao presente estudo.
Durante a análise foram observadas as formas de gestão
das empresas quanto às questões relacionadas à saúde e se-
gurança dos trabalhadores; no enfoque dado à prevenção de
acidentes, à implementação das medidas de proteção nos locais
de trabalho; nas relações existentes entre empresa e Estado
quanto às questões de Segurança do Trabalho; à forma como
o Estado rege suas políticas de Segurança do Trabalho, assim
como suas ineficiências na fiscalização; foram observados os
comportamentos dos empregados, as dificuldades encontradas
nos canteiros de obras para a utilização dos equipamentos de
segurança e para o desenvolvimento da cultura da segurança.
Também foi utilizado como base para a elaboração do pre-
sente estudo, a experiência do autor ao longo de 7 (sete) anos
atuando em frentes de serviço de obras civis lineares e não li-
neares.

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Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

É possível aferir, por meio das consultas às legislações, NR’s


e demais formas de regulamentação da segurança e medicina
do trabalho, que o Estado tem atuado em prol da saúde e segu-
rança do trabalhador, em uma crescente melhoria dos direitos
ao longo das décadas, considerando-se de 1950 a 2020. Contu-
do, atualmente, tal “proatividade” tem quase que se limitado às
legislações e normas, havendo redução das ações práticas, tais
como auditorias e fiscalizações.
A regulamentação de SST na construção civil contribui for-
temente para a melhoria das condições de trabalho, mas, é no-
tório que somente a formalização de normas e leis de tais prá-
ticas não se faz suficiente para a real proteção do trabalhador.
A baixa atuação dos órgãos fiscalizadores funciona como força
motriz para que as empresas não executem na íntegra o que
é preconizado na legislação, por já ser sabido que os órgãos
fiscalizadores não possuem o contingente necessário para uma
boa atuação. A pressão que o Estado exerce junto às empresas
é decisivo no quão essas irão ou não aderir às políticas de pro-
teção ao trabalhador.
Há também que se falar quanto aos quesitos financeiros
cobrados pelo Estado que desestimulam as empresas a imple-
mentar ações voltadas à Saúde e Segurança do Trabalho. Essa
situação se reflete de diversas formas junto ao empregador e,
consequentemente, ao empregado, sendo comum, por exem-
plo, os casos de sub notificação dos acidentes de trabalho, pois
são eventos que podem refletir financeiramente junto à empre-
sa.
Ao se analisar o viés das empresas, que são movidas em
prol do capital, nota-se que o atendimento integral às práticas
de saúde e segurança do trabalho são, à primeira vista para
os empregadores, onerosas. A instalação dos equipamentos de
proteção coletiva em todas as frentes de serviço, sobretudo em
obras lineares, associado à exigência constante junto aos tra-
balhadores do uso adequado dos equipamentos de segurança

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Fabio A. da S. Arruda

individual, requer do empregador postura proativa. Porém, co-


mumente, a qualidade do atendimento às necessidades estão
condicionadas aos custos com mão de obra e equipamentos que
essas demandas poderão exigir, assim como o tempo deman-
dado.
Quando ultrapassada a resistência da empresa em adotar
os procedimentos de segurança para a fiel execução da instala-
ção e utilização dos equipamentos de proteção (sejam coletivos
ou individuais), se faze necessária a realização de treinamentos
junto aos colaboradores antes das etapas iniciais da obra. Ten-
do em vista que a mão-de-obra nesses locais é temporária, e
que se está trabalhando com a cultura das pessoas, é correto
afirmar que a conscientização quanto à segurança do trabalho
junto aos empregados se trata de uma atividade que necessita
de acompanhamento constante ao longo das etapas da obra,
não se limitando ao momento da integração do trabalhador.
Frequentemente, o único contato que o empregado possui
com os conceitos de segurança do trabalho são transmitidos
somente na fase de integração. Os treinamentos, palestras e
o reforço constante dos temas de segurança do trabalho, são,
na maioria das vezes, ignorados, pois o tempo demandado é
compreendido pelo empregador como prejuízo, pois trata-se de
mão-de-obra “parada”.
Assim, esse acompanhamento junto aos trabalhadores nas
etapas da obra pode exigir do empregador uma demanda de
profissionais qualificados acima do que a legislação preconiza.
Como exemplo, pode ser citado o caso em que a legislação exi-
ja a permanência de somente 01 (um) técnico de segurança
em determinada obra, e se, por diversas razões, esse técnico
não conseguir atender a todas as demandas de campo e ad-
ministrativas que lhe são exigidas, o empregador poderá não
contratar outro técnico de segurança. Dessa forma, a qualidade
das ações de acompanhamento em campo dos colaboradores é
comprometida. As justificativas dos empregadores geralmente
se pautam em cronogramas com prazos apertados e questões
relacionadas aos recursos financeiros, estando esta, ainda as-
sim, resguardada legalmente.
A questão da adoção, por parte do empregado, de atitudes

15
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
seguras em seu ambiente de trabalho e ao uso adequado dos
equipamentos de proteção, esbarra principalmente em ques-
tões culturais, psicológicas e comportamentais. O empregado,
nesses casos, se configura como a parte frágil da relação entre
Empregado x Empregador e Governo, pois necessita do salário,
geralmente não possui a cultura da segurança e via de regra
obedece o que o empregador ordena. Quando da ocorrência
de acidentes de trabalho, é comum o empregado ser apontado
pelo empregador como o causador do acidente por ter negligen-
ciado as questões de segurança.
O sucesso nas ações de segurança que podem alcançar
os trabalhadores da construção civil, via de regra, apenas são
alcançados quando há o engajamento do empregador, com a
participação de todas as lideranças envolvidas no empreendi-
mento. Delegar a responsabilidade da segurança do trabalho
somente para os trabalhadores e técnicos de segurança tem se
mostrado ineficiente.

16
Fabio A. da S. Arruda

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

De modo geral, para que ocorra a melhoria nas ações de


implementação dos equipamentos de proteção junto aos traba-
lhadores, se faz necessária que aja engajamento do Estado por
meio de ações de fiscalização/ auditoria. Pois o Estado falha ao
não exercer seu papel com eficiência, muitas vezes motivado
por questões políticas e financeiras.
Concomitante, a atuação das empresas não deve se pautar
pelo simples cumprimento da legislação e a busca sem limites
pelo capital, mas atuar de forma responsável e preventiva em
suas frentes de serviços, valendo-se das metodologias de análi-
se de riscos, com o intuito de sanar quaisquer riscos aos traba-
lhadores que, porventura, sejam identificados.
É imprescindível que a busca da empresa pelo capital es-
teja vinculada ao cuidado da saúde e segurança do trabalho,
realizando-se os treinamentos necessários e de forma eficiente
para a conscientização dos que se encontram na linha de frente
da exposição ao risco (os colaboradores), juntamente com o
devido acompanhamento nas frentes de serviços em busca do
fiel cumprimento dos preceitos estabelecidos. Estaria, assim,
o empregador atuando em busca do cenário ideal para a não
ocorrência de atos inseguros e acidentes de trabalho.

17
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

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18
Fabio A. da S. Arruda

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19
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
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20
2

AÇÕES ESTRUTURANTES PARA


PREVENÇÃO DE ACIDENTES DE
TRABALHO NA INDÚSTRIA DA
CONSTRUÇÃO CIVIL

Cléber Fontes Silva

Cursando Doutorado em Educação; Mestrado em Ciências da Ad-


ministração; Bacharel em Engenharia de Produção; Tecnólogo em
Segurança do Trabalho; Especialista em Engenharia de Segurança
do Trabalho; Especialista em Gestão Estratégica; Técnico em Segu-
rança do Trabalho. Já ocupou diversos cargos na área de saúde e
segurança no trabalho em empresas de do segmento de Construção
Civil, Engenharia, Mineração e Gerenciamento. Atualmente é Super-
visor de Segurança do Trabalho na Empresa Vale S/A e Professor de
diversas disciplinas no Cursos de pós-graduação em Engenharia de
Segurança do Trabalho. Co-autor da 1ª edição da coletânea “Trian-
gulação em Saúde e Segurança no Trabalho: engenharia, gestão e
comportamento” pela editora Pascoal.
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

RESUMO

O
estudo de caso realizado nos relatórios de investigação
dos acidentes ocorridos na Construtora Pessânka Ltda.
sediada em Parauapebas/PA, mostrou a importância da
implantação de ações estruturantes para eliminação de novas
ocorrências. As sugestões para a reestruturação dos planos de
ação seguiram o modelo da hierarquia das camadas de proteção
defendidas por Oliveira, quando descreveu sobre Gerenciamen-
to de incidentes relacionados com Saúde e Segurança do Tra-
balho, obedecendo aos critérios explicitados nas normas do
Ministério do Trabalho e Emprego, a fim de que os ambientes de
trabalho alcancem um nível de conforto em saúde e segurança,
que possibilitem a redução e/ou eliminação da exposição dos
trabalhadores aos riscos ocupacionais.

Palavra-Chave: Acidente, Prevenção, Trabalho.

22
Fabio A. da S. Arruda

1. INTRODUÇÃO

Após a ocorrência de um acidente, ações corretivas devem


ser implantadas para a eliminação da possibilidade de novas
ocorrências, independente da gravidade do evento. Para tanto,
entendemos como ação corretiva a “Ação tomada para eliminar
ou reduzir as causas de uma não conformidade existente,
defeito ou outra situação indesejável, com vistas a prevenir sua
repetição” (BRASIL 1993).
No que se refere ao acidente de trabalho, a NBR 14280:2001
descreve-o como uma “Ocorrência imprevista e indesejável,
instantânea ou não, relacionada com o exercício do trabalho,
de que resulte ou possa resultar lesão pessoal (BRASIL 2001)”.
Essa mesma norma estabelece critérios para análise e investi-
gação de acidentes de trabalho, a fim de que as organizações
possuam um referencial teórico para o direcionamento das es-
tratégias aplicadas no levantamento das causas dos acidentes,
para que a partir de então, possuam as informações necessárias
à elaboração do plano de ação, com vista à eliminação das fa-
lhas identificadas na análise do evento.
É importante realizar a investigação das possíveis
causas com a máxima objetividade, sem quaisquer
preconceitos sobre que causas ou sobre que ações
preventivas ou corretivas possam ser tomadas. As
decisões, portanto, serão baseadas em fatos. (BRASIL
1993).
Segundo Oliveira (2009), existem duas vertentes funda-
mentais para o tratamento das causas de acidentes, sendo que
a primeira está voltada à melhoria comportamental, abrangendo
as ações administrativas aplicadas para a eliminação dos riscos
por meio da conscientização dos colaboradores (treinamento,
diálogo de saúde e segurança, etc.), da padronização (elabora-
ção de procedimentos, cartilhas, manuais, etc.) ou penalizações
(advertência, suspensão, etc.). Em sequência existem as ações
estruturantes, que estão voltadas estritamente ao bloqueio ou
eliminação de uma condição de risco, pois estão focadas na es-
truturação e adequação de projetos (mudança de layout, reade-
quação de rotas de fuga, eliminação ressaltos, etc.), instalação

23
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
de barreiras físicas (guarda-corpo, proteção de máquinas, etc.)
ou sistemáticas (sensor de parada, sensor de movimento, etc.);
nesse sentido, a ordem de implantação vai depender exclusiva-
mente do compromisso de cada organização com a prevenção
de acidentes.
Ao analisar as estatísticas de acidentes nos sites do INSS
(Instituto Nacional do Seguro Social) e do OIT (Organização In-
ternacional do Trabalho) podemos constatar que no ano de 2010
houve uma enorme deficiência no entendimento e atendimento
dos requisitos normativos. De acordo com o que mostraram as
estatísticas, a prevenção de acidentes no Brasil e no mundo por
parte das empresas, demonstram que não houve uma implan-
tação efetiva de ações para evitar a ocorrência de acidentes. No
Anuário Estatístico da Previdência Social (PREVIDÊNCIA SOCIAL
2010) houve o registro de 701,5 mil acidentes de trabalho, o
que representa 1,92 mil acidentes por dia e 80,08 acidentes por
hora. Já no site da OIT (OIT BRASIL 2013) foram registradas
6.300 mortes como resultado de lesões ou doenças relaciona-
das ao trabalho, o que corresponde a mais de 2,3 milhões de
mortes por ano.
No Brasil a Lei 6.514 de 22 de dezembro de 1977, regu-
lamentada pela portaria 3.214/1978, estabelece em suas nor-
mas regulamentadoras a responsabilidade dos empregadores
sobre a implantação de medidas que garantam a preservação
da saúde e integridade física de seus colaboradores, orientação
esta que pode ser atendida plenamente quando observadas as
orientações defendidas por Oliveira (2009), quando apresenta a
hierarquia das camadas de proteção.

24
Fabio A. da S. Arruda

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 HIERARQUIA DAS CAMADAS DE PROTEÇÃO

O modelo apresentado por Oliveira (2009) estabelece uma


sequência lógica que deve ser observada na construção do pla-
no de ação, conforme descrito anteriormente. Assim, na inves-
tigação do acidente serão identificadas as causas pelas quais
o acidente se originou e a partir deste ponto, analisa-se cada
causa e a viabilidade da implantação das medidas propostas
na hierarquia das camadas de proteção, uma a uma, de acordo
com a ordem estabelecida na figura abaixo.

FIGURA 1 - Hierarquia das camadas de proteção (OLIVEIRA, 2009).

2.1.1 PROJETO

Em uma escala de importância ou de valor, Oliveira afirma


que as barreiras voltadas à adequação dos projetos são as mais
eficientes em todo o processo de prevenção de acidentes, pois
“quando se identifica um perigo, a primeira opção que preten-
demos de ver é a sua eliminação (OLIVEIRA 2009)”.
Com base na afirmação de Oliveira, podemos trabalhar os
layouts ainda na elaboração dos projetos, tornando o processo
industrial o mais dinâmico possível, substituindo tecnologias,
provendo o espaço necessário para movimentação segura de

25
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
pessoas e equipamentos, além do que os prédios já devem ser
projetados e construídos com todo o sistema de emergência
necessários em casos de sinistros (saídas de emergência em ta-
manho adequado, portas corta chama, iluminação de emergên-
cia, sinalização de emergência, sistema de parada instantânea,
pontos de encontro identificados, equipamentos de combate a
incêndio, distribuídos em pontos estratégicos, etc.).

2.1.2 CARACTERÍSTICAS DE SEGURANÇA PROJETA-


DAS

“Características de segurança projetadas têm algum tipo


de inteligência. Em outras palavras, elas ‘sabem’ que em função
de um evento ter acontecido, outro evento deve ou não deve
acontecer (OLIVEIRA 2009)”. Em suma, estamos tratando de
um dispositivo inteligente de segurança que reage aos estímu-
los previamente programados que, quando violado, paralisa o
funcionamento do equipamento retirando sua fonte de alimen-
tação. A exemplo de tal situação temos uma prensa, que para o
seu funcionamento quando a mão de um colaborador atinge um
campo estabelecido dentro do raio de ação ou ainda uma bate-
deira industrial, quando tem sua tampa removida, ela para de
funcionar; assim, não há riscos de alguém se acidentar fazendo
uso deles.

2.1.3 DISPOSITIVOS DE SEGURANÇA

Segundo Oliveira (2009), diferente das “características de


segurança projetadas”, os dispositivos de segurança não pos-
suem qualquer inteligência e, em geral, são barreiras físicas
(guarda-corpo, linha de vida, proteções de máquinas, blinda-
gens de equipamentos, isolamento acústico, exaustor, etc.);
apesar de sua característica ser mais simples, estes dispositivos
representam grande importância para as camadas de proteção.

26
Fabio A. da S. Arruda

2.1.4 DISPOSITIVOS DE ADVERTÊNCIA

Uma vez que os dispositivos de advertência estarão volta-


dos para o senso e nível de atenção dos colaboradores, logo es-
tes dependem da sua total atenção, pois não oferecem qualquer
barreira que impeça o colaborador de se expor aos riscos. Dessa
maneira, elas dão uma conotação visual (placas de sinalização,
luzes giroscópicas, coletes refletivos etc.) ou audível (sirenes
de alerta, sinal sonoro de ré, buzinas de equipamentos etc.);
assim, “este dispositivo adverte sobre um perigo para que se
tomem atitudes corretivas necessárias (OLIVEIRA 2009)”.

2.1.5 PROCEDIMENTO, TREINAMENTO E EPI

“Apesar da camada de proteção ser considerada menos efi-


ciente, os procedimentos, os treinamentos e o EPI são indis-
cutivelmente importantes e frequentemente usados (OLIVEIRA
2009)”. Esta ação não possui um sistema que impeça a expo-
sição do colaborador aos riscos na íntegra, pois ela só atinge o
fator comportamental e está direcionada à conscientização. Sa-
lientamos que pelo fato de um colaborador ter sido treinado, não
quer dizer que ele vá colocar em prática tudo o que aprendeu
da mesma forma; o fato de que existe um procedimento para
realização de uma atividade, não significa afirmar que este será
seguido e por fim, o uso do equipamento de proteção individual
também estará a cargo da decisão do colaborador de usar ou
não.
Dentre as cinco camadas de proteção descritas nos tópicos
anteriores, é preciso observar uma subdivisão de classes im-
portantíssimas para este contexto. Sendo assim, observe que
há dois direcionamentos distintos: as primeiras três camadas
(projeto, características de segurança projetadas e dispositivos
de segurança) tratam sobre ações estruturantes, em síntese, as
barreiras mais eficientes, pois não dependem da ação humana
para o seu funcionamento, ou seja, o homem vai dar sua par-

27
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
cela de contribuição apenas na implantação ou programação
desta. As duas últimas camadas (dispositivos de advertência e
procedimento, treinamento e EPI), tratam do segundo direcio-
namento que está voltado às ações comportamentais ou admi-
nistrativas, que necessariamente dependem da conscientização
do homem para funcionar; estas ações possuem pouca eficácia
no processo de prevenção de acidentes, conforme defende Oli-
veira.

28
Fabio A. da S. Arruda

3. MÉTODO ESTUDO DE CASO: A RELEVÂNCIA DA IM-


PLANTAÇÃO DE AÇÕES ESTRUTURANTES PARA PRE-
VENÇÃO DE ACIDENTES DE TRABALHO, EM UMA EM-
PRESA DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM PARAUAPEBAS/
PA

A empresa objeto deste estudo de caso é a Construtora


Pessânka Ltda. que atua no ramo da construção civil, na opor-
tunidade sediada em Parauapebas no estado do Pará. Tal em-
presa assinou no fim de 2011 um contrato de 36 meses para
realização de uma obra, tendo seu início em 2012 e com um
quantitativo de 96 funcionários divididos em 08 setores (Ad-
ministração, engenharia, transporte, carpintaria, armação, hi-
dráulica, concretagem e elétrica). No primeiro ano de obras, a
empresa registrou um total de 27 acidentes de ordem pessoal e
material, o que representa 0,26 acidentes por dia. O quantita-
tivo de acidentes chamou a atenção dos diretores da empresa,
uma vez que alguns colaboradores foram encaminhados para o
INSS.
QUADRO 1 – Registros de acidentes de trabalho ocorridos no ano de 2012.
MESES DO ACIDENTES ACIDENTES
TOTAL
ANO PESSOAIS MATERIAIS
Janeiro 2 0 2
Fevereiro 0 1 1
Março 1 1 2
Abril 0 2 2
Maio 0 0 0
Junho 3 2 5
Julho 1 0 1
Agosto 1 0 1
Setembro 2 3 5
Outubro 0 1 1
Novembro 0 3 3
Dezembro 4 0 4

TOTAL 14 13 27

FONTE: Construtora Pessânka Ltda.

29
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
GRÁFICO 1 – Distribuição dos acidentes pelos meses do ano de 2012.

FONTE: Construtora Pessânka Ltda.

Algumas frentes de trabalho tiveram que ser interrompi-


das devido a danos causados em alguns equipamentos, ou pela
falta de um profissional qualificado para operação de um deter-
minado maquinário, conforme as informações fornecidas pela
gerência da Construtora Pessânka Ltda. Sendo assim, a propos-
ta deste estudo é analisar todos os acidentes que tiveram como
consequência o afastamento dos colaboradores da empresa
pelo INSS, considerar tecnicamente suas causas e as barreiras
de proteção sugeridas nos planos de ação das investigações,
fazendo uma antítese de acordo com o disposto neste artigo so-
bre a importância da implantação das ações estruturantes para
prevenção de acidentes.

30
Fabio A. da S. Arruda

QUADRO 2 – Distribuição dos acidentes x dias de afastamento.

ACIDENTE DIAS AFASTADOS

Fratura no braço direiro 67


Lesão no dedo esquerdo 45
Corte na mão esquerda 10
Contato da mão com superfície quente 8
Corte superficial na mão direita 7
Prensamento do dedo da mão direita 5
Atingido por objeto no braço 2
Atingido por objeto na perna 1

TOTAL 145

FONTE: Construtora Pessânka Ltda.

Partindo do critério sugerido de afastamento pelo INSS,


observamos duas ocorrências; logo, vamos analisar as suas
principais causas.

QUADRO 3 – Acidentes x Principais causas


ACIDENTE
S

Lesão no dedo
braço direiro
Fratura no

esquerdo
CAUSAS

Falta do Proteção do Equipamento


Improvisação
Excesso de Confiança
Tentativa em Ganhar Tempo
Falta de Percepção de Riscos
Colocar a Mão no Raio de Ação de Peças
Falha no Gerenciamento de Riscos

FONTE: Construtora Pessânka Ltda.

Uma vez identificadas as principais causas dos eventos, o


segundo momento é o de analisar cada ocorrência, apresentan-

31
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
do as barreiras sugeridas para o seu bloqueio e as medidas que
devem ser implantadas, segundo a hierarquia das camadas de
proteção, defendidas por Oliveira.

3.1 FRATURA NO BRAÇO ESQUERDO

O evento ocorreu com um colaborador que realizava a


operação de uma betoneira de carregamento manual. Durante
o carregamento de material, a manga da camisa do colaborador
ficou presa em uma peça presente no tambor da betoneira;
como este não conseguiu desligar o equipamento, gritou pedindo
ajuda, mas até a chegada do colega mais próximo o seu braço
já havia sofrido uma fratura exposta.

IMAGEM 01: Carregamento manual da betoneira.

FONTE: http://www.youtube.com/watch?v=FVmocvrJaCY

No plano de ação da investigação deste evento ficaram


definidas as seguintes ações para bloqueio:

32
Fabio A. da S. Arruda

QUADRO 4 – Plano de ação da investigação de acidentes

PLANO DE AÇÃO DA INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTES


AÇÕES DE BLOQUEIO RESPONSÁVEL PRAZO DA AÇÃO
Realizar um treinamento de percepçao de riscos para
Fulano de tal 10/08/2012
todos os colaboradores envolvidos no setor de
concretgem.
Realizar a divulgação do evento em DSS para todos
Fulano de tal 03/08/2012
os colaboradores da empresa.
Realizar uma manutenção na betoneira e reduzir as
astes internas, a fim de eliminar a possibilidade de Fulano de tal 15/08/2012
prender no uniforme dos colaboradores.

FONTE: Construtora Pessânka Ltda.

Realizando uma comparação entre as ações sugeridas


neste plano de ação e as ações propostas por Oliveira, pode-se
verificar que não houve uma preocupação quanto a hierarquia
das barreiras de proteção. As ações alcançam um baixo nível de
eficiência e a única ação voltada ao equipamento (reduzir o ta-
manho da haste) não garante a eliminação do acidente e ainda
interfere na originalidade do equipamento, que foi projetado e
construído para trabalhar naquele padrão. Por outro lado, se as
ações fossem criadas a partir da hierarquia das ações sugeridas
neste artigo, a sequência seria a seguinte:

33
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
QUADRO 5 – Proposta de plano de ação segundo a hierarquia das barreiras
de proteção

PLANO DE AÇÃO DA INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTES


AÇÕES DE BLOQUEIO RESPONSÁVEL PRAZO DA AÇÃO
Realizar a divulgação do evento para todos os
Fulano de tal 03/08/2012
colaboradores da empresa.
Realizar a substituição das betoneiras de
carregamento manual por betoneiras de carregamento
Fulano de tal xx/xx/2012
automático, a fim de evitar o contato do colaborador
com o tabor da betoneira.
Realizar um treinamento para todos os operadores de
betoneiras para operação das betoneiras de Fulano de tal xx/xx/2012
carregamento automático.
Instalar um dispositivo de parada de emergência onde
Fulano de tal xx/xx/2012
possa ser acionado de qualquer ponto de operação da
betoneira.
Instalar proteção que impeça o contato do colaborador
Fulano de tal xx/xx/2012
com qualquer parte móvel da betoneira.
FONTE: O autor

IMAGEM 02: Betoneira com carregamento automático segundo pro-


posta do plano de ação.

FONTE: http://www.edillame.com/pt/Betoneiras_Hidr%C3%A1ulicas/
AMIS_Diesel

Veja que as ações agora sugeridas para construção do pla-


no de ação tiveram relação com as três camadas de proteção,

34
Fabio A. da S. Arruda

seguindo a hierarquia:

Projeto – Substituição da betoneira de carregamento


manual por uma com carregamento automático (com caçamba)
e instalação de um dispositivo de parada de emergência.
Dispositivos de segurança – Instalação de proteção das
partes móveis.
Procedimentos, treinamentos e EPI – Realizar a divul-
gação do evento e treinar os colaboradores para o uso adequa-
do do novo equipamento.
Ressalta-se que a quantidade de ações e sua classificação
dependerão exclusivamente das características de cada evento.

3.2 LESÃO NO DEDO ESQUERDO

O colaborador estava realizando um corte de madeira em


uma serra circular de bancada sem proteção, quando teve seu
dedo esquerdo lesionado ao tentar cortar a extremidade de uma
peça. Ele relatou que após o corte, a peça escorregou e ele não
conseguiu parar a mão antes que ela atingisse o disco da serra.

35
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
IMAGEM 03: Serra circular de bancada sem proteção

FONTE: http://guaratuba.olx.com.br/vendo-serra-circular-de-bancada-
-iid-429512614

No plano de ação da investigação deste evento, ficaram


definidas as seguintes ações para bloqueio:

QUADRO 6 – Plano de ação da investigação de acidentes

PLANO DE AÇÃO DA INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTES


AÇÕES DE BLOQUEIO RESPONSÁVEL PRAZO DA AÇÃO
Realizar um treinamento de percepçao de riscos para
Fulano de tal 07/10/2012
todos os colaboradores do setor de carpintaria.
Realizar a divulgação do evento para todos os
Fulano de tal 05/10/2012
colaboradores da empresa.
Elaborar um procedimento para operação da serra
circular, orientando sobre a maneira adequada de sua Fulano de tal 20/xx/2012
operação.
Treinar os colaboradores do setor de carpintaria no
Fulano de tal 22/xx/2012
procedimento operacional.

FONTE: Construtora Pessânka Ltda.

36
Fabio A. da S. Arruda

Analisando tecnicamente as ações sugeridas pode-se ver-


ificar, assim como no evento da betoneira, que não houve uma
preocupação quanto à hierarquia das barreiras de proteção,
as ações são novamente de cunho comportamental e de pou-
ca eficiência, porém, observando a hierarquia das camadas de
proteção, o plano de ação pode ser construído da seguinte for-
ma:

QUADRO 7 – Proposta de plano de ação segundo a hierarquia das barrei-


ras de proteção

PLANO DE AÇÃO DA INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTES


AÇÕES DE BLOQUEIO RESPONSÁVEL PRAZO DA AÇÃO
Realizar a divulgação do evento para todos os
Fulano de tal 05/10/2012
colaboradores da empresa.
Realizar a instalação de uma proteção para o disco da
Fulano de tal xx/xx/2012
serra circular (coifa).
Realizar a instalação de um limitador de curso (guia),
para nivelamento de corte, a fim de direcionar a
madeira no corte, de acordo com o tamanho Fulano de tal xx/xx/2012
pretendido e impedir que a peça fuja do controle do
operador.
Realizar a aquisição de um protetor de mão, para que
o colaborador não tenha necessidade de colocar a
mão na peça de madeira (o protetor fica travado na Fulano de tal xx/xx/2012
peça e o colaborador faz sua movimentação
normalmente).
Realizar a elaboração de um PRO com instruções de
segurança para operação da Serra Circular, tornando
obrigatória a necessidade do uso de Coifa, Limitador Fulano de tal xx/xx/2012
de curso e Protetor de Mão para sua operação.

Realizar um treinamento no PRO da Serra Circular


para todos os operadores, orientando-os sobre as
diretrizes e quanto a operação da serra com os novos Fulano de tal xx/xx/2012
dispositivos (Coifa, Limitador de curso e Protetor de
Mão).
Instalar um dispositivo de parada de emergência onde
Fulano de tal xx/xx/2012
possa ser acionado de qualquer ponto de operação da
betoneira.
FONTE: O autor

Também neste caso, é possível identificar o diferencial


apresentado com a implantação das ações estruturantes:
Projeto: Dispositivo de parada de emergência.

37
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
Dispositivos de Segurança: Instalação de coifa, limita-
dor de curso, protetor de mão.
Procedimentos, treinamentos e EPI - Realizar a divul-
gação do evento, elaborar procedimento e treinar os colabora-
dores neste procedimento.
IMAGEM 04: Exemplo de proteção para serra circular

FONTE: http://novohamburgo.olx.com.br/protecao-autoajustavel-
-para-serra-circular-de-bancada-ou-esquadrejadeira-konstrumack-
-iid-471215187

IMAGEM 05: Exemplo de limitador de curso (guia)

FONTE: http://carazinho.olx.com.br/serra-circular-de-bancada-simples-
-iid-310877074

38
Fabio A. da S. Arruda

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Todos os eventos apresentados tiveram como consequên-


cia das investigações realizadas, planos de ações que não pos-
suem eficácia para eliminação de novas ocorrências, pois fo-
ram fundamentadas apenas em aspectos comportamentais que
possuem relevância apenas para conscientização das pessoas,
enquanto que para o alcance do objetivo esperado, deveria ter
sido obedecida a hierarquia das barreiras de proteção, dando
preferência às ações estruturantes, que têm como finalidade
principal eliminar a possibilidade de contato entre o colaborador
e a fonte de risco.
Para tanto, implantar ações estruturantes deve ser o foco
de todas as organizações que prezam pela preservação da saú-
de e integridade física de seus colaboradores, e é claro que
as ações comportamentais devem ser implementadas como
complemento e não apenas como eixo principal.

39
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

REFERÊNCIAS

BRASIL. (2013). Ministério da Previdência Social. Anuário Es-


tatístico da Previdência Social – AEPS 2013 Ano 1. Brasília: MPS/
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ISO 9004-4 Gestão da qualidade e elementos do sistema da
qualidade. Rio de Janeiro. Nov 1993.

BRASIL. ABNT-Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR


14280-Cadastro de Acidente do Trabalho-Procedimento e clas-
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BRASIL. Ministério da Previdência Social. Anuário Estatístico


da Previdência Social. Brasília: PS/DATAPREV, 2010.

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Luiz Roberto Curia, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lí-
via Céspedes . 8ª edição. São Paulo: Saraiva, 2011.

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http://www.oitbrasil.org.br/htsites/safe_day/download/informe_dia_
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OLIVEIRA, Renato N. Gerenciamento de incidentes relacionados


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edillame.com/pt/Betoneiras_Hidr%C3%A1ulicas/AMIS_Diesel>.
Acesso em: Julho de 2013.

GUARATUBA. Serra Circular de Bancada. <http://guaratuba.olx.


com.br/vendo-serra-circular-de-bancada-iid-429512614>. Acesso
em: Julho de 2013.

40
Fabio A. da S. Arruda

NOVOHAMBURGO. Serra circular de bancada sem proteção.


< http://novohamburgo.olx.com.br/protecao-autoajustavel-pa-
ra-serra-circular-de-bancada-ou-esquadrejadeira-konstru-
mack-iid-471215187>. Acesso em: Julho de 2013.

CARAZINHO. Proteção para serra circular. < http://carazinho.olx.


com.br/serra-circular-de-bancada-simples-iid-310877074>. Acesso
em: Julho de 2013.

41
3

MODELO DE GESTÃO DA
INCAPACIDADE LABORAL: A
EXPERIÊNCIA DE UMA EMPRESA NO
MANEJO DO ABSENTEÍSMO MÉDICO

Daniel Penna e Souza

Especialista em Medicina do Trabalho pela Faculdade Ciências Médi-


cas de Minas Gerais (FCMMG), Pós-graduado em Nutrologia pela
Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), MBA em Gestão de
Negócios pela Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC).
Graduado em Odontologia pela Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) e Graduado em Medicina também pela Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG). Possui sólida experiência em Medicina Ocu-
pacional, atuando como médico examinador prestando serviço na
VIVO e na SLU em Belo Horizonte. Ingressou na empresa Vale S/A
como médico coordenador do PCMSO em 2011, em 2012 assumiu
a função de supervisor de saúde ocupacional e em 2018 assumiu a
posição de gerente de saúde ocupacional onde é responsável por
equipe multidisciplinar de saúde ocupacional, ergonomia e higiene
ocupacional em diversas unidades nos estados de Minas Gerais, Es-
pirito Santo e Rio de Janeiro.
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

RESUMO

A gestão do absenteísmo médico gera altos custos para


as empresas e, na maioria delas, ainda é um tema polêmico,
principalmente quando se fala em papéis e responsabilidades,
mas também pela multifatorialidade envolvida nas causas raízes
que levam ao afastamento do trabalho. A implantação de um
modelo de gestão da incapacidade laboral numa empresa de
mineração de Minas Gerais, baseada em ações de prevenção
primária, secundária e terciária, associada a uma base de
informações robusta e à criação de um comitê multidisciplinar
deliberativo, trouxe resultados positivos e mostrou que o
envolvimento genuíno dos gestores, das áreas de saúde e do
RH é essencial para a redução do índice de absenteísmo médico
de forma sustentável.

Palavra-Chave: Absenteísmo; incapacidade laboral, pre-


venção.

44
Fabio A. da S. Arruda

1. INTRODUÇÃO

O absenteísmo elevado gera altos custos para as empre-


sas, principalmente pela redução na produtividade e aumento
dos gastos com a saúde suplementar (BIERLA, 2013). A gestão
do absenteísmo é um tema desafiador. Suas causas raízes são
multifatoriais, multidisciplinares, e, muitas vezes, estão rela-
cionadas a ganhos secundários (COUTO, 1987), o que aumenta
ainda mais a complexidade envolvida no seu gerenciamento.
O perfil das empresas, o nível de envolvimento dos gestores
e das áreas de suporte técnico, bem como a importância e os
recursos que elas disponibilizam para tratar o tema, impactam
diretamente nos resultados das iniciativas de redução do ab-
senteísmo. Infelizmente, na maioria das organizações, há uma
cultura de que o absenteísmo é um problema que a área de
saúde da empresa precisa resolver e há pouco envolvimento de
outras áreas fundamentais para o manejo do problema. Este
trabalho tem o objetivo de compartilhar a experiência de uma
diretoria operacional de uma empresa do setor de mineração de
Minas Gerais na gestão do absenteísmo, por intermédio de um
modelo que foi criado e implementado com o desafio de reduzir
a incapacidade laboral dos seus empregados.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O absenteísmo tem importantes efeitos no funcionamento


das instituições e está diretamente relacionado com as condições
de trabalho (DAMART e KLETZ, 2016). Sangro (1971) cita al-
guns problemas acarretados pelo absenteísmo como: aumento
do custo da produção pela redução da produtividade, aumen-
to do custo da previdência social, diminuição dos rendimentos
econômicos do trabalhador, redução da destreza do trabalhador
(cerca de 35%) nos afastamentos longos. Segundo Bierla
(2013), devido aos fortes impactos em custos e no clima orga-

45
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
nizacional, cada vez mais empresas têm criado suas políticas
levando em conta o absenteísmo. O absenteísmo por doença
não pode ser previsto, por isso é o que mais preocupa os em-
presários. Na origem do absenteísmo por doença nas empre-
sas, raramente, são encontradas as grandes questões de saúde
pública. São mais comuns as doenças sobre as quais o médico
não pode ter uma participação ativa na seleção como diarreia,
gripe, acidentes fora do trabalho e acidentes do trabalho. As
doenças de natureza psicossomática e relacionadas às questões
ergonômicas tem crescido cada vez mais (COUTO, 1987).
A origem multifatorial do absenteísmo permeia diversos
espectros que vão além do adoecimento em si. Segundo Souto
(1979), muitas vezes por trás de um atestado médico existe
uma série de situações como: insatisfação com o trabalho,
falta de confiança e relação interpessoal desgastada entre
liderança e subordinados, tratamento injusto, ausência de uma
política de planejamento de carreira, problemas de organização
de processos de trabalho, dependência química, problemas
domésticos e financeiros dos empregados, residir distante do
trabalho, ter um segundo emprego, clima organizacional, dentre
outros. De acordo com Loisel e Anema (2013), o trabalhador com
incapacidade para o trabalho deve ser percebido no centro de uma
rede de interações dinâmicas que envolve ele próprio, portador
de uma determinada condição de saúde, os aspectos pessoais,
a organização do trabalho e o ambiente onde vive em diferentes
contextos sociais. Essa multifatorialidade de causas exige que
as ações de controle e mitigação sejam desenhadas por uma
equipe multidisciplinar e sempre pensando no empregado de
uma forma integral (SANTIAGO, 2017). De uma forma geral, na
maioria das empresas, a solução do “problema” do absenteísmo
recai sobre a área da saúde. Mas para que as empresas consigam
realmente evoluir na redução do absenteísmo é necessária uma
maior participação e envolvimento dos gestores, do setor de
Recursos Humanos (RH) e, alguns casos, do jurídico na condução
desse tema tão complexo. É importante também fomentar o
protagonismo e o autocuidado do empregado com sua saúde
(MARQUES, MARTINS e SOBRINHO, 2011).
A prática clínica e o ferramental epidemiológico são essen-
ciais para a análise dos afastamentos. Sendo assim, o primeiro

46
Fabio A. da S. Arruda

passo e a principal matéria prima que a empresa precisa para


auxiliar na gestão do absenteísmo é a informação. Investir em
um sistema informatizado robusto de saúde que consolide as
informações geradas pelo cadastro dos atestados médicos, de
resultados de exames, de questionários de saúde, de avaliações
e restrições médicas, e que permita a geração de relatórios con-
fiáveis, não pode ser encarado como um gasto para as empre-
sas e sim um investimento (REIS e RIBEIRO, 2003).

3. MÉTODO

A metodologia de pesquisa se baseou em um estudo quan-


titativo, de caráter descritivo, utilizando-se para coletas de da-
dos técnicas de análise documental, observação e avaliação
sobre o perfil da população, características e demais análises
sobre os afastamentos dos empregados ao trabalho com base
nos atestados médicos entregues no serviço de medicina do
trabalho da empresa pesquisada.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na diretoria da empresa de mineração citada neste texto,


uma análise detalhada das informações colhidas sobre o perfil
da população e dos atestados médicos entregues, mostrou que
os principais grupos de patologias que mais impactavam em seu
absenteísmo seguiam uma tendência do Brasil e global, com
as doenças osteomusculares (Código Internacional de Doenças
- CID M) e transtornos psiquiátricos (Código Internacional de
Doenças - CID F) sendo responsáveis por mais de 50% dos af-
astamentos. Esse perfil sinalizou que as ações preventivas de-
veriam priorizar aspectos psicossociais e ergonômicos. Além de
um sistema de impute de informações de adoecimento e afasta-
mentos e geração de relatórios, a empresa investiu também no
desenvolvimento de um modelo preditivo, utilizando inteligên-
cia analítica (Analytics), cuja construção foi feita com a ajuda
de uma empresa especializada, que cruzou diversas variáveis

47
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
de diferentes bancos de dados da empresa e gerou um escore
que permitiu a categorização do risco de adoecimento da popu-
lação de trabalhadores. Dessa forma, ações mais assertivas de
prevenção, promoção e recuperação puderam ser empregadas.
É importante lembrar que, como em qualquer modelo preditivo,
leva-se tempo para que ele amadureça e aumente progressiva-
mente seu grau de assertividade.
A base para a construção do modelo de gestão do ab-
senteísmo da empresa teve um espectro amplo que levou em
conta o conceito da incapacidade laboral, ou seja, o grau de
impedimento para o trabalho, temporário ou permanente, par-
cial ou total, capaz de influenciar na saúde e na produtividade
de indivíduos. A construção do modelo teve início em junho de
2017 com a formação dos grupos técnicos multidisciplinares,
formados por representantes da saúde, da ergonomia, de ge-
stores operacionais, do RH e do jurídico e de uma empresa de
consultoria que apoiava o projeto. O grupo tinha a missão de
propor ações e iniciativas que pudessem ajudar na redução do
absenteísmo. A figura 1 mostra a linha do tempo da construção
do modelo.

Figura 1 – Linha do tempo da construção e implantação do modelo de ges-


tão da incapacidade laboral

48
Fabio A. da S. Arruda

O modelo de gestão da incapacidade laboral foi construído


a partir dos conceitos de:
• Prevenção primária: melhorias nas condições do ambi-
ente físico e nos fatores psicossociais e organizacionais
que predispõe a incapacidade laboral.
• Prevenção secundária: identificação precoce da perda
da capacidade laboral e intervenção imediata.
• Prevenção terciária: ações para reduzir o prolongamen-
to da incapacidade.
No desenho proposto, um comitê integrado multidisciplinar
teria a função de priorizar alternativas de prevenção e inter-
venção em cada um desses três pilares, e os resultados dessas
ações retroalimentariam o fluxo. A figura 2 mostra as etapas do
fluxo do modelo de gestão da incapacidade laboral que podem
ser divididas da seguinte forma:
• Etapa 1: equipe de saúde ocupacional levanta o perfil
do afastamento médico da população de trabalhadores
e identifica quais são os grupos de doença que mais im-
pactam no absenteísmo.
• Etapa 2: equipe de Saúde Ocupacional categoriza, me-
diante o escore de risco gerado pelo Analytics, quais são
os casos com risco, baixo, médio, alto e muito alto de
afastamento, e prioriza os casos pela criticidade.
• Etapa 3: o Comitê Integrado Multidisciplinar recebe,
analisa e discute periodicamente os casos e categoriza-
dos por intermédio do Analytics.
• Etapa 4: após análise e discussão dos casos, o Comi-
tê Integrado Multidisciplinar delibera e cria os planos
de ação de prevenção primária, prevenção secundária e
prevenção terciária.

49
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

Figura 2 – Fluxo do modelo de Gestão da Incapacidade Laboral

Fica claro, no modelo adotado pela diretoria, que o Comitê


Integrado Multidisciplinar tem um papel central na gestão do
absenteísmo, pois ele fomenta o protagonismo, comprometi-
mento e colaboração dos principais atores envolvidos - área
operacional, a área de saúde, o RH, a ergonomia e em alguns
casos o jurídico. O sigilo médico deve ser sempre respeitado
durante as discussões do comitê. É função também do comitê
checar e garantir o acompanhamento da execução dos planos
de ação elaborados. Na diretoria em questão, ficou estabelecido
que as reuniões dos comitês aconteceriam semanalmente em
dia e horário fixos.
Os planos de ação montados pelo comitê integrado multi-
disciplinar para a prevenção primária da incapacidade laboral de
origem osteomuscular e psicossocial são voltados para a mel-
horia do ambiente físico e organizacional da empresa. Portanto,
são ações coletivas de ergonomia física, cognitiva e organizacio-
nal e ações de RH que promovem o bom clima de trabalho, a
capacitação da liderança, o protagonismo de carreira, o espírito
de equipe, o bom relacionamento interpessoal, o engajamen-
to e uma cultura de responsabilidade, confiança e colaboração,
além de promover políticas claras de carreira e sucessão.

50
Fabio A. da S. Arruda

As ações de prevenção secundária para os aspectos osteo-


musculares e psicossociais, propostas pelo comitê multidisci-
plinar são voltadas para o indivíduo e buscam identificar e inter-
vir precocemente nos primeiros sinais da perda da capacidade
laboral. Como exemplos de ações de prevenção secundária,
pode-se citar: a restrição de atividades incompatíveis com o
estado de saúde ou que possam agravá-lo, a avaliação da ne-
cessidade de readaptação profissional e de mudança de função,
a inclusão em grupos controle para o acompanhamento médi-
co de empregados com doenças crônicas ou outras condições
de saúde que possam ser geradas ou agravadas pelo trabalho,
o encaminhamento para especialistas com referência e contra
referência, o encaminhamento para programas de qualidade de
vida e bem estar da empresa, melhorias ergonômicas no posto
de trabalho do empregado, o acompanhamento próximo e indi-
vidualizado pelas analistas de RH e pelo gestor imediato.
Já nas ações de prevenção terciária, o comitê multidisciplinar
busca ações para reduzir o prolongamento da incapacidade.
Segundo Damart (2016), as incertezas e inseguranças
dos trabalhadores em relação ao seu retorno ao trabalho,
principalmente em afastamentos longos, muitas vezes levam os
empregados a comportamentos que propiciam o prolongamento
da sua ausência do trabalho. Um bom exemplo de ação de
prevenção terciária é o acompanhamento dos empregados
afastados pelo INSS, possibilitando contatos periódicos pelo
serviço social, gestor e RH. É importante ressaltar que nem
todos os empregados afastados pelo INSS vão autorizar
esse acompanhamento. Por isso é importante que, já no
momento do encaminhamento ao INSS, o empregado receba
as orientações sobre a importância do acompanhamento pela
empresa durante o período do afastamento. Outro exemplo de
ação de prevenção terciária é trabalhar junto com o INSS as
possibilidades de reabilitação profissional. Outra ação importante
é que os gestores construam os Planos de Retorno ao Trabalho
para os empregados com alta do benefício previdenciário. No
plano de retorno ao trabalho o gestor deve prever conversas
transparentes, ambientação gradual ao local de trabalho, às
atividades laborais que irá exercer e às equipes atuais, gerando
confiança e reduzindo as chances de novo afastamento.

51
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
Devido à multifatorialidade das causas que geram o ab-
senteísmo, não é fácil prever como cada afastamento irá evoluir.
Na maioria das vezes as iniciativas voltadas para a redução dos
afastamentos terão resultados refletidos nos índices somente a
médio e longo prazo.
A figura 3 mostra a evolução do absenteísmo de 2017 até
janeiro de 2020 na diretoria estudada. A fórmula de cálculo uti-
lizada pela empresa para cálculo do índice de absenteísmo está
demonstrada na figura 4.

Figura 3 – Evolução do absenteísmo na diretoria após a implantação do


modelo de gestão da incapacidade laboral

Figura 4 – Formula de cálculo absenteísmo

Avaliando os resultados após três anos da implantação do


modelo de gestão da incapacidade laboral, pontua-se que houve
uma redução de 12% no índice de absenteísmo da diretoria en-
tre janeiro de 2017 e janeiro de 2020.
De junho de 2017 até março de 2018, o modelo ainda estava
em fase de construção e testes. Isso ajuda a explicar a não
redução dos índices de absenteísmo entre 2017 e 2018. Nesse
período, as equipes técnicas multidisciplinares responsáveis pela
construção do modelo se reuniram diversas vezes para discutir,
propor, testar e reavaliar o fluxo que estava sendo proposto.
Essa fase de planejamento foi essencial para o sucesso do

52
Fabio A. da S. Arruda

modelo, que foi implantado efetivamente a partir de março de


2018 com o início das reuniões dos Comitês Multidisciplinares
Integrados. Ajustes nas dinâmicas das reuniões dos comitês
ainda precisaram ser feitas nos meses iniciais até que se
chegasse ao formato ideal.
Apesar da redução no índice de absenteísmo da diretoria
com a implantação do modelo de gestão da incapacidade laboral,
a multifatorialidade e a complexidade envolvida na origem do
absenteísmo não permite afirmar que existe uma relação direta
única entre a redução do absenteísmo e a implantação do modelo.
Mas ficou claro que o maior envolvimento e comprometimento
dos gestores, do RH, da ergonomia e da medicina ocupacional
geraram um acompanhamento mais próximo dos casos de
afastamento e ações mitigadoras mais efetivas, gerando um
clima de maior cuidado e confiança nas equipes.
Apesar da implantação do modelo ter ajudado a reduzir
os índices e ter trazido melhorias na gestão do absenteísmo
da diretoria, muitos outros fatores externos ainda contribuem
de forma negativa para a redução dos afastamentos. Um
exemplo disso são as relações entre a medicina ocupacional e a
assistencial, que podem ser conflituosas. Se o médico assistente
não se preocupar em colocar o CID correto no atestado médico,
baseado num bom exame clínico, isso poderá comprometer o
levantamento adequado do perfil de adoecimento da população
de empregados da empresa. Por outro lado, se o médico do
trabalho da empresa não fizer uma boa avaliação clínica e não
tiver a iniciativa de entrar em contato com o médico assistente
em casos de dúvida ou para outros esclarecimentos sobre o
atestado médico recebido, as estatísticas também poderão
ser comprometidas. Outra causa externa bastante comum são
os ganhos secundários que alguns empregados buscam pelo
afastamento pelo INSS. Há uma alta incidência de queixas
subjetivas, contribuindo para o absenteísmo por doença.
Para muitos desses empregados o afastamento é vantajoso,
pois permite permanecer com o seu vínculo com a empresa,
mantendo direito ao plano de saúde e outros benefícios e, ao
mesmo tempo, receber o benefício previdenciário, tendo tempo
ainda para exercer atividades informais que lhe proporcionem
uma fonte de renda extra.

53
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
O fato de, nessa diretoria, o perfil do absenteísmo ser mais
prevalente para o adoecimento por causas osteomusculares e
psicossociais não quer dizer que outras iniciativas e programas
para reduzir o absenteísmo por outras causas não possam ser
implementadas. Os programas de prevenção e promoção da
saúde do trabalhador devem levar em conta aspectos como a
incidência de riscos não ocupacionais, condições de vida, hábi-
tos, comportamentos de saúde, a saúde financeira das famílias,
o relacionamento interpessoal familiar dos trabalhadores e out-
ros que possam ser causa raiz de problemas psicossociais que
geram o afastamento do trabalho (REIS e RIBEIRO, 2003).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A multifatorialidade e a imprevisibilidade das causas que


levam ao absenteísmo torna complexa a sua tratativa. Mas a
experiência mostra que quanto mais envolvidas e comprometi-
das estão a liderança imediata, a área de saúde e o RH, e quan-
to mais preventivas forem as ações mitigadoras, maiores são as
chances de redução dos afastamentos. Em um bom programa
de gestão do absenteísmo a comunicação é considerada um
fator essencial, pois favorece o amplo entendimento dos diver-
sos determinantes da incapacidade para o trabalho, a medição
de possíveis conflitos de expectativas, além da identificação e
priorização de alternativas de intervenção. O fluxo do modelo
de gestão da incapacidade laboral, ao trazer em suas etapas
o levantamento do perfil do absenteísmo, o escore de risco de
afastamento do Analytics, os comitês com a participação dos
principais atores para a análise e tratativa dos casos e os planos
de ação de prevenção primária, secundária e terciária, reúne
as ferramentas mais importantes para o gerenciamento, para
a prevenção e para evitar o prolongamento dos afastamentos.
Os desafios do modelo para os próximos anos são os de
aumentar a sua maturidade, aumentar cada vez mais a asser-
tividade do Analytics e avaliar novas variáveis para cruzamento
de dados que possam melhorar ainda mais o escore de risco de
afastamento.

54
Fabio A. da S. Arruda

REFERÊNCIAS

BIERLA, Ingrid; HUVER, Benjamin; RICHARD, Sébastien. New evi-


dence on absenteeism and presenteeism. The International Jour-
nal of Human Resource Management, v. 24, n. 7, p. 1536-1550,
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simples doença. Couto HA. Temas de saúde ocupacional. Belo
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DAMART, Sébastien; KLETZ, Frédéric. When the management of nurse


absenteeism becomes a cause of absenteeism: a study based on a
comparison of two health care facilities. Journal of nursing mana-
gement, v. 24, n. 1, p. 4-11, 2016.

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ty. Prevention and management.: Springer, 2013.

MARQUES, Solange Vianna Dall’Orto; MARTINS, Gabriela de Brito;


SOBRINHO, Oswaldo Cruz. Saúde, trabalho e subjetividade: absente-
ísmo-doença de trabalhadores em uma universidade pública. Cader-
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SANGRO, P. Absenteísmo industrial. In: Tratado de Higiene e Se-


guridad del Trabajo. Espanha: Ministerio do Trabalho, 1971.

SOUTO, D. Absentismo: Preocupação Constante das Organizações.


Revista Saúde Ocupacional, XIV, v. 3, p. 131-154, 1980.

SANTIAGO, Letícia Alessandra et al. Absenteísmo e doença na equipe


de profissionais de enfermagem. Revista Contexto & Saúde, v. 17,
n. 33, p. 43-57, 2017.

55
4

PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO
BASEADO NO COMPORTAMENTO
SEGURO DAS ATIVIDADES COM RISCO
ELÉTRICO

Emerson Franco

Consultor de Segurança do Trabalho, Pós-Graduado em Engenharia


de Manutenção pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
(PUC-Minas), Especialista em Gestão de Recursos Humanos pela
FACCO-MG. Possui Formação em Eletrotécnica com mais de 27 anos
atuando com consultoria e treinamentos de Segurança do Trabalho
para grandes empresas em todo o Brasil. Especialista em Designer
Instrucional de cursos presenciais e online, analista Comportamen-
tal e Executive Coach, Coautor de livros de desenvolvimento pes-
soal e performance humana. Atualmente é Diretor de Engenharia e
Desenvolvimento de Pessoas do grupo Colabor, oferecendo consul-
toria para elevação da maturidade da cultura, adequação de normas
regulamentadoras e treinamentos transformadores de segurança do
trabalho e liderança. www.grupocolabor.com.br
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

RESUMO

As empresas que possuem atividades com riscos críticos,


necessitam constantemente desenvolver seus profissionais
para que performem com qualidade e segurança. Dentre essas
atividades, temos aquelas que envolvem o risco elétrico em
que trabalhadores lidam com energias que não são percebidas
pelos sentidos humanos e que podem causar graves acidentes
em caso de contato indevido. Para tanto, estas empresas
e profissionais devem adotar medidas de controle efetivas
contra o risco elétrico, que constituem-se em barreiras físicas,
sistêmicas e comportamentais. Desse modo, um bom programa
de capacitação deve ter como objetivo o desenvolvimento
do comportamento seguro nos participantes e, para isso,
é fundamental que ele seja planejado e customizado para a
realidade da empresa. Logo, por meio da utilização do Design
Instrucional é possível a criação de treinamentos transformadores
que envolvam os participantes promovendo reflexão, percepção
de riscos e principalmente que contribuam para a criação de um
ambiente mais seguro e saudável.

Palavra-Chave: Treinamento Transformador; Comporta-


mento Seguro; Atividades Elétricas

58
Fabio A. da S. Arruda

1. INTRODUÇÃO

Existem atividades que devido a sua natureza apresentam


maiores riscos aos trabalhadores, pois em caso de acidentes
podem levar a fatalidade ou a sequelas irreversíveis. Os
trabalhos com eletricidade, por exemplo, se encaixam nessa
categoria, uma vez que seus profissionais lidam com algo que
na maioria das vezes não podem ver, ouvir ou sentir.
Por esse motivo devem ser adotadas barreiras de controle
não apenas pelos profissionais, mas ainda pelas empresas
que possuem essas atividades. Neste aspecto, um programa
de treinamento transformador pode contribuir fortemente
para o aumento da percepção de riscos, além da adoção de
medidas de controle e conscientização dos trabalhadores para o
comportamento seguro no seu dia a dia.
Desse modo, para a eficácia de tal treinamento, deve-
se buscar características que o tornem um espaço verdadeiro
de aprendizado, com experiências educacionais planejadas,
para então envolver os participantes e promover as reflexões
individuais e coletivas para prevenção.
Tão logo, tal objetivo pode ser alcançado por meio
da utilização do Design Instrucional que, associado a uma
adequada customização, pode apresentar-se como uma solução
educacional transformadora contribuindo para a elevação da
cultura de segurança.

2. PERDAS DOS ACIDENTES ELÉTRICOS

Os acidentes na área elétrica caracterizam-se normalmente


pela sua baixa frequência e alta gravidade, ou seja: sua ocorrência
é eventual na rotina das empresas, porém tem o potencial de
levar ao óbito ou causar sequelas graves e incapacitantes aos
trabalhadores.
Em grande parte dos casos, esses profissionais são expos-

59
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
tos ao risco de choque e arco elétrico, contribuindo para o au-
mento dos casos de acidentes, bem como para os riscos adicio-
nais que envolvem essas atividades.
Segundo Kindermann (2000), “choque elétrico é a pertur-
bação de natureza e efeitos diversos que se manifesta no or-
ganismo humano quando este é percorrido por uma corrente
elétrica”. Esse contato indevido com partes energizadas pode
levar a graves consequências, tais como parada cardiorrespi-
ratória, fibrilação ventricular e tetanização, que é a contração
involuntária (crispação) dos músculos, podendo manter a víti-
ma presa ao ponto de contato com a energia elétrica até um
eventual desligamento ou ação de emergência tomada por uma
outra pessoa no local.
Além do choque elétrico, podemos mencionar a ocorrência
de arcos elétricos que são fenômenos oriundos da falta de iso-
lamento ou abertura inadequada de dispositivos de manobra.
Para tanto, a caloria gerada por um arco elétrico é chamada
de energia incidente e apresentada em calorias por centímetro
quadrado. Dependendo do porte da instalação essa energia, ela
é capaz de derreter partes metálicas de painéis e emitir on-
das de temperaturas que podem chegar a 20.000 graus celcius.
Além da temperatura, ondas de pressão, luz e ruído são gera-
das, o que pode causar riscos iminentes aos trabalhadores.
Salienta-se ainda que a maioria dos acidentes envolven-
do arcos elétricos sem proteção do trabalhador pode provocar
queimaduras de terceiro grau, podendo ser agravadas pela pro-
jeção de partículas metálicas que aderem à pele do trabalhador,
prejudicando assim o processo de cicatrização e recuperação.
Normalmente, associado ao choque e arco elétrico, ainda
temos os riscos adicionais que podem agravar ainda mais a se-
veridade dos acidentes elétricos, conforme a figura abaixo:

60
Fabio A. da S. Arruda

Figura 1- Riscos Elétricos

Fonte : Próprio Autor

Devido a todas essas consequências, as atividades


elétricas requerem um alto grau de planejamento, preparação
e prevenção para se evitar os efeitos decorrentes desses
acidentes.
Mediante ao exposto, podemos afirmar que ao longo do
tempo as empresas e organizações buscaram adotar barreiras
para controle dos riscos em suas atividades laborais. Conforme
Lafraia (2011) podemos observar a aplicação dessas barreiras
em três estágios conforme figura abaixo:

61
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

Figura 2 : Melhoria Desempenho de SMS no tempo

Fonte : pg 25 - Livro Liderança para SMS (Lafraia)

Segundo o autor, o primeiro estágio de barreira física está


relacionado a utilização de equipamentos, ferramentas e insta-
lações projetados com soluções de engenharia e proteções co-
letivas que atendam às normas vigentes de redução de riscos.
A segunda barreira chamada de sistêmica trata da organi-
zação do trabalho, por meio de procedimentos, regras, sistemas
de gestão, programas de segurança entre outras medidas admi-
nistrativas e gerenciais.
Por fim, a terceira barreira é a comportamental, que
está relacionada ao desenvolvimento da cultura de segurança,
baseada na disciplina operacional, liderança e comportamento
seguro.
Desse modo, nas questões ligadas às atividades elétricas
podemos afirmar que a segurança será de fato efetiva quando
houver a prática pontual dessas três barreiras: físicas, sistêmicas
e comportamentais.

62
Fabio A. da S. Arruda

Como barreiras físicas na área elétrica, entende-se a


adoção de instalações, ferramental, equipamentos de proteção
coletivas (EPC’s) e equipamentos de proteção individuais (EPI’s)
específicos para os riscos elétricos.
Quanto às instalações elétricas existem normas técnicas
que, associadas a NR10 (Norma regulamentadora de instala-
ções e serviços em eletricidade), apresentam requisitos e exi-
gências para tornar a instalação mais segura. Deste modo o
profissional da área elétrica e gestores das empresas devem
conhecer essas normas a fim de promover o aprimoramento
contínuo das instalações elétricas e disponibilização de recursos
de proteção aos trabalhadores.
No que se refere às barreiras sistêmicas, estas podem ser
entendidas como todas as ações administrativas e de gestão de
risco que a empresa possui. Nesta categoria estão os procedi-
mentos, ferramentas de segurança e documentação relaciona-
da a parte elétrica.
A exemplo disso, as ampresas com potência instalada aci-
ma de 75 kW ou atuantes no SEP (Sistema Elétrico de Potência)
devem constituir o P.I.E. (Prontuário das instalações Elétricas),
que traz em sua essência toda a documentação e controle rela-
cionados às atividades elétricas, tais como a existência de uni-
filares, documentação de pessoal, laudos e o RTI (Relatório das
Instalações elétricas).
Esse relatório é fundamental para a gestão da norma, pois
exige uma avaliação criteriosa das instalações e serviços para
subsidiar a elaboração de um plano de ação, bem como para
correção das não-conformidades encontradas.
Quanto às barreiras comportamentais, entendem-se como
todas as iniciativas que levam ao aprimoramento da atitude
preventiva dos trabalhadores, tais como diálogos de segurança,
observação comportamental, cultura de segurança, liderança e
capacitação da equipe que podem atender a uma significati-
va parcela empresarial que carece evoluir e adotar medidas de
maneira estruturada e efetiva.
Conforme Alves (2013) orientada por comportamento essa

63
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
barreira pode contribuir efetivamente para a cultura de segu-
rança das empresas e com isso potencializar a adoção das me-
didas anteriores (barreira física e sistêmica).
Tomando como base os treinamentos realizados
em determinadas empresas, percebemos nas barreiras
comportamentais uma grande oportunidade de melhoria pois,
essa ferramenta quando bem aplicada, pode ser um fortalecedor
da cultura de segurança e promotor de comportamentos seguros.
Infelizmente nos deparamos com treinamentos enfadonhos,
repetitivos, pouco envolventes, que não são planejados para
mudança comportamental e que apenas apresentam informações
que se perdem logo após a realização deles.
Outro fator importante citado por Mota (2014) são as funções
cognitivas executivas, ou seja: comportamentos adaptativos
que envolvem o raciocínio abstrato, resolução de problemas,
planejamento, organização e outras que proporcionam o
desempenho laboral efetivo.
Logo, podemos afirmar que os treinamentos devem
ser desenhados para contribuir com o desenvolvimento das
funções cognitivas, além de contribuir para a reflexão de um
comportamento efetivo no dia a dia dos profissionais.

3. DESENVOLVIMENTO DE PROGRAMAS DE CAPACI-
TAÇÃO

Um bom programa de capacitação deve possuir uma es-


tratégia educacional para ser bem sucedido, pois é necessário
um planejamento e alinhamento das necessidades e objetivos
esperados.
Conforme Filatro (2019), um caminho para esse plane-
jamento está na utilização do Design Instrucional, que é um
processo para identificar um problema (uma necessidade) de
aprendizagem e desenhar, implementar e avaliar uma solução
para esse problema.
Quando estamos tratando de capacitação para atividades

64
Fabio A. da S. Arruda

envolvendo grandes riscos, é necessário um bom planejamento


que tenha como objetivo o desenvolvimento do comportamento
seguro dentro de sua própria realidade operacional.
Em nossos programas de capacitação para atividades de
risco elétrico utilizamos a metodologia ADDIE (Análise, Desen-
ho, Desenvolvimento, Implementação e Avaliação) conforme
figura abaixo:

Figura 3 : Processo ADDIE adaptado

Fonte: Customizado pelo Autor

Na etapa intitulada ANÁLISE estabelecemos o problema, as


metas e os objetivos instrucionais. É necessário, portanto, que
seja efetuado um briefing com as áreas envolvidas a fim de se
identificar os “comportamentos alvo” esperados e os eventuais
“comportamentos problema” existentes, bem como o contexto
em que eles se apresentam.
É oportuno salientar que é de vital importância nessa eta-
pa o envolvimento da liderança, profissionais de RH, SESMT,
planejamento e demais pessoas relacionadas ao desempenho e
dia a dia dos participantes do treinamento.
A etapa seguinte nomeia-se DESIGN, onde será definido
o conteúdo programático e as metodologias ativas a serem uti-
lizadas. É de suma importância que nesta etapa o caminho para
a potencialização dos comportamentos esteja claro e bem defi-
nido, bem como as ferramentas possíveis para o envolvimento
dos participantes sejam concebidas.

65
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
A terceira etapa é o DESENVOLVIMENTO, onde a meto-
dologia definida ganha vida, para que o material educacional e
dinâmicas sejam preparados, assim como os instrutores defini-
dos e principalmente para que a customização seja feita para a
realidade dos participantes.
A quarta etapa diz respeito a IMPLEMENTAÇÃO, que é a
colocação em prática das ferramentas desenhadas e desenvol-
vidas. O importante aqui é que o instrutor seja capaz de criar o
ambiente propício para o aprendizado, baseado na andragogia,
que é o ensino dos adultos, que possuem características pró-
prias.
A quinta etapa trata-se da AVALIAÇÃO, onde deve-se me-
dir se o objetivo proposto foi atendido. Para isso, pode-se utili-
zar várias ferramentas tais como :
• Avaliação do aprendizado (pré e pós teste podem confir-
mar se houve evolução no conhecimento);
• Avaliação das dinâmicas e interações em sala (vis-
am identificar o nível de habilidade e conscientização
demonstrada pelos participantes);
• Avaliação de reação (trata-se da avaliação do instrutor,
ambiente e recursos educacionais pelo ponto de vista do
participante);
• Avaliação por meio da Observação Comportamental (
trata-se da observação do participante por um líder ou
técnico, quanto os comportamentos apresentados pelos
participantes pós-treinamento).

Essa metodologia, quando bem executada, pode propor-


cionar uma elevação da eficácia dos treinamentos. Porém, há
de se expandir a visão isolada de treinamento para uma visão
sistêmica de DESENVOLVIMENTO DOS PROFISSIONAIS, ou
seja: os treinamentos devem ser pensados como um progra-
ma contínuo de desenvolvimento em que os diversos eventos
possam ter conexão entre si e reforçar o comportamento dos
profissionais.

66
Fabio A. da S. Arruda

Conforme Bley (2014), “as estratégias de aprendizagem e


melhoria das condições de segurança de uma indústria precisam
ser concebidas, no que se referem ao comportamento humano,
com base nas situações concretas com as quais o trabalhador
precisa ser capaz de lidar”. Isso significa que os treinamentos
devem ser customizados para a realidade dos participantes, tra-
zendo exemplos e casos que tragam reflexão e possibilidade de
aplicação em seu cotidiano.
Outro aspecto muito importante para o sucesso de qual-
quer programa de treinamento é a criação de um ambiente
propício para o aprendizado e mudança de comportamento. Isso
pode ser obtido por meio da escolha criteriosa dos dois princi-
pais elementos de um treinamento: Participantes e Instrutores
(facilitadores).
Nesse sentido, os participantes devem possuir necessida-
des similares e desafios em comum a fim de criar o ambiente
de desenvolvimento da equipe, assim como os Instrutores (fa-
cilitadores) precisam ser escolhidos pela sua experiência e for-
mação técnica associados a habilidades comportamentais para
comunicação e envolvimento da equipe.
Quanto ao instrutor, este deve colocar o participante como
centro do processo de aprendizagem, proporcionando momen-
tos de troca, reflexão e participação de todos. Ele é chamado de
facilitador quando realmente cria o caminho para que o próprio
participante desperte o interesse e busque o seu aprendizado.
Para isso, é fundamental a aplicação dos conceitos de an-
dragogia conforme figura abaixo:

67
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

Figura 4 : Características da Andragogia

Fonte : Adaptado pelo Próprio Autor


4. TREINAMENTOS TRANSFORMADORES

As atividades elétricas requerem um profissional melhor


preparado para lidar com os diversos riscos do seu dia a dia e
para que isso ocorra, é necessário reforçar constantemente a
barreira comportamental por meio de ações de desenvolvimen-
to.
Um bom programa de capacitação precisa ser planejado
por meio de metodologias profissionais e inovadoras desde a
sua concepção até a sua avaliação e, desse modo, podemos
afirmar que um treinamento transformador deve estar centra-
do no participante e baseado no desempenho esperado por
ele, o que deve ser muito envolvente e impactante.
Nossa experiência com mais de 4.000 profissionais treina-
dos em grandes indústrias nos leva a crer que é possível sim
desenvolver treinamentos técnicos ou de segurança do trabalho
com ênfase no aspecto comportamental.

68
Fabio A. da S. Arruda

Podemos citar como exemplo o nosso treinamento PEP


(Profissional Eletroeletrônica Prevencionista) desenvolvido para
900 profissionais de uma grande empresa de mineração. Esse
treinamento foi estruturado utilizando a metodologia ADDIE e
foi fortemente ancorado em premissas da Andragogia e utiliza-
ção de Metodologias Ativas de Aprendizagem.
Essa customização levou à elaboração de um modelo de
treinamento, em que os participantes puderam refletir sobre
o impacto de suas ações e omissões para sua segurança e dos
demais colegas de equipe.
As dinâmicas e metodologias planejadas provocaram uma
participação intensa dos envolvidos no processo, alcançada por
meio de cenários similares aos encontrados em suas atividades,
apresentando de maneira clara e objetiva os requisitos de nor-
mas e conhecimentos técnicos para promoção de um ambiente
mais seguro. O resultado foi uma assimilação mais profunda
dos conhecimentos e aplicação efetiva da prevenção em suas
atividades diárias.
A avaliação feita pelos próprios líderes dos funcionários é
que novas atitudes começavam a ser percebidas nos participan-
tes, tais como a proatividade, melhoria na comunicação, imple-
mentação de sugestões de melhoria e maior cuidado para com
os colegas ativos da empresa.
Podemos afirmar que o caminho para o desenvolvimento
de TREINAMENTOS TRANSFORMADORES inicia com a participa-
ção de todos os envolvidos da empresa, sendo eles os líderes,
profissionais do SESMT e profissionais da área de RH e treina-
mento que queiram se posicionar como provedores de soluções
educacionais efetivas para os seus clientes internos.
Assim, com a participação de todos é possível o desen-
volvimento de programas de capacitação que contribuam para
prevenção de acidentes, principalmente em áreas de alto risco,
como a área elétrica.
Logo, estes programas podem auxiliar de maneira con-
tínua na elevação da maturidade de cultura das empresas, pro-
porcionando um ambiente seguro e saudável para todos.

69
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

REFERÊNCIAS

BLEY, Juliana. Comportamento Seguro. Belo Horizonte. Artesã,


2014.

LAFRAIA, João Ricardo B. Liderança para SMS Segurança, Meio


Ambiente e Saúde. Rio de Janeiro: Qualitymark Editora Ltda, 2011.

FILATRO, Andrea. Design Instrucional 4.0 – Inovação na Edu-


cação Corporativa. São Paulo: Saraiva, 2019.

MOTA, Mírian Cristina Zaidan. Psicologia Aplicada em segurança


do trabalho – Destaque aos aspectos comportamentais e tra-
balho em equipe NR10. São Paulo: LTr, 2014.

KINDERMANN, Geraldo. Choque Elétrico. Porto Alegre: Sagra Luza-


tto. 2000.

70
5

IMPLEMENTANDO A CULTURA DE
PREVENÇÃO ATRAVÉS DA ATUAÇÃO
DOS LÍDERES

Enio Viterbo Junior

Mestre em Administração de Empresas pela Pontifícia Universidade


Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Mestre em Administração de
Sistemas de Informação pela Universidade Federal Fluminense
(UFF), Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho pela
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Especialista em Ad-
ministração Naval pela Marinha do Brasil, Graduado em Engenheiro
Mecânico pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), Chairman do
Comitê de Saúde e Segurança da Associação Mundial do Aço (2015-
2016), Especialista em Gestão de Riscos (ITSEMAP-MAPFRE). Au-
ditor de sistemas de gestão (DNV, BVQI e PE-Batalas). Auditor de
HSE em Terminais Químicos (CDIT). Atuou como Diretor Global de
Segurança, Saúde e Meio ambiente no grupo Gerdau (2008-2016)
Atuou como Diretor de HSEQ na Bayer do Brasil (1989-2008), Oficial
Engenheiro da Marinha do Brasil (1979-1989). Autor dos livros “ISO
9001 na indústria química e de processos” e “Sistema Integrado de
Gestão Ambiental”. Praticante de mergulho autônomo, grau de in-
strutor.
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

RESUMO

O
presente estudo visa avaliar como as organizações estão
incorporando os conceitos mais recentes em Segurança e
em Prevenção de Fatalidades nas suas operações e como
esses conceitos se tornam práticas efetivas e controles robustos
para garantir a segurança e o bem-estar de todos. Apresenta
ainda como as organizações estão envolvendo e comprometen-
do seus líderes nos esforços de melhoria, observações efetu-
adas entre 2018 e 2019 em diversos segmentos de negócio,
visando contribuir com as demais organizações e profissionais
envolvidos.

Palavra-Chave: Liderança em Segurança; Prevenção de


Fatalidades; Cultura de Segurança.

72
Fabio A. da S. Arruda

1. INTRODUÇÃO

Iniciaremos a partir de análise acerca dos desafios perenes


em Segurança enfrentados pelas organizações que apresentam
riscos em suas operações:
• Eliminar acidentes com potencial de fatalidade ou de
causar lesões incapacitantes permanentes;
• Minimizar a ocorrência de acidentes a valores tão baixos
quanto racionalmente possíveis;
• Manter a importância e a relevância do tema Segurança
durante todo o tempo.
Muitas organizações vêm reduzindo taxas de acidentes co-
muns com sucesso, chegando a ficar alguns anos sem a ocor-
rência de acidentes com afastamento, mas isso não significa
que as operações são seguras. Acidentes sem afastamento ain-
da acontecem mesmo que em pequeno número e quase aciden-
tes com potencial elevado também ocorrem, mas normalmente
não causam a indignação necessária na liderança para eliminar
as causas que contribuem para sua ocorrência.
Acidentes são consequência de falhas ou perturbações nos
processos operacionais; é sabido que todos os processos são
sujeitos a variabilidade, assim, devemos considerar o total de
acidentes, incluindo aqueles que não causam afastamento e
também os primeiros socorros ou atendimentos médicos, pois
são sinais de que continua existindo o contato das pessoas com
agentes físicos, químicos ou energias perigosas e, assim, po-
demos entender melhor os processos e seus riscos associados,
para estabelecer medidas que venham a eliminar (alto poten-
cial) ou mitigar (baixo potencial) suas consequências.
Um dos mais difíceis desafios em Segurança é manter a
importância e a relevância do tema durante todo o tempo, uma
vez que, em muitas organizações, a não ocorrência de acidentes
com afastamento por um período considerável acaba levando à
acomodação, ou pior ainda, a um excesso de confiança que faz

73
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
acreditar que “a segurança está dominada”, ou que “as pessoas
estão cuidando de sua segurança”, então é possível passar para
outras prioridades. Segurança teria que ser considerada como
um Valor para a organização, estando acima das demais priori-
dades normais a qualquer organização, e também deveria ser
devidamente tratadas pelas equipes. Quando a empresa para
de dar a atenção necessária ao processo Segurança ou deixa de
realizar algumas práticas fundamentais, os processos começam
a se degradar e a ocorrência de acidentes mais graves passa a
ser apenas uma questão de tempo.
O tão propalado Zero Acidente deveria ser um objetivo per-
manente das organizações, nada diferente de zero poderia ser
aceito como objetivo, mas nunca deveria ser uma meta, pois
toda meta tem objetivo, valor e prazo para acontecer. É como a
excelência ou a perfeição que todos buscamos atingir e temos
como ideal, mas não deveria se colocar valor e prazo para atin-
gir pois não existe fator mais desmotivador do que começar um
ano de trabalho com uma meta “zero acidente” colocada e logo
na segunda semana do ano alguém torce o pé e a meta “cai”, o
que levaria as pessoas a considerá-la perdida, passando a focar
esforços em outra meta, deixando de dar a atenção necessária
às práticas de Segurança e o resultado normalmente seria a
ocorrência de outros acidentes no ano.
Metas de segurança deveriam incluir a implementação de
controles efetivos para os riscos encontrados e também coloca-
das em indicadores proativos de segurança adotados pela orga-
nização.
Nos últimos 10 (dez) anos houve diversos avanços na ma-
neira de pensar a Segurança como processo, sendo assim, se
torna necessário lançar uma nova visão sobre os antigos para-
digmas, os quais foram por muito tempo aceitos sem contes-
tação, sendo disseminados mundialmente; são esses avanços
na maneira de pensar segurança e como as organizações vêm
implementando práticas sustentáveis e robustas baseadas nes-
ses novos conceitos que justificam a necessidade de um estudo
qualitativo. O problema da pesquisa pode então ser resumido a
duas questões fundamentais:
- Como as organizações estão incorporando novos concei-

74
Fabio A. da S. Arruda

tos em Segurança e implementando práticas efetivas para a


implementação de uma cultura de prevenção que elimine fata-
lidades e acidentes graves, reduza significativamente a ocor-
rência de acidentes menores e mantenha perene a relevância e
importância da segurança em todas operações?
Sabendo que as organizações lidam com recursos limitados
e concorrentes entre si, onde investir e concentrar os esforços
de melhoria em Segurança?

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A partir do ano 2.000 houve significativos avanços na ma-


neira de pensar a Segurança como processo, lançando uma nova
visão sobre antigos paradigmas. Selecionamos as seguintes
contribuições como as mais importantes e objetos do presente
estudo:
• O trabalho de James Reason, ao estudar erros médicos
e a partir desses formulando a teoria das três barreiras,
também conhecida como teoria do queijo suíço.
• O estudo liderado por Thomas R. Krause sobre eventos
de potencial elevado de fatalidades ou lesões severas
(PSIF – Potential Serious Injuries or Fatalities) finalizado
em 2012 e que gerou a publicação “Seven Insights into
Safety Leadership, em referência.
• O trabalho de Sidney Dekker, sobre uma maneira dife-
rente de encarar a segurança (Safety Differently) uma
das bases do programa HOP (Human Organizational
Performance), já adotado por algumas organizações de
vanguarda.

75
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

Figura 1 – O modelo das três barreiras, de James Reason.

A figura acima mostra que existem barreiras físicas como


medidas de engenharia e dispositivos de proteção e bloqueio,
barreiras sistêmicas como procedimentos e instruções de tra-
balho e barreiras comportamentais referentes às atitudes e
comportamentos das pessoas ao executarem os trabalhos. Os
acidentes acabam acontecendo por falhas latentes nas três bar-
reiras e, quando há o alinhamento entre essas falhas, o aciden-
te ocorre. Importante ressaltar que as três barreiras são neces-
sárias e trabalham em conjunto para bloquear a ocorrência de
acidentes. Trabalhando em cada barreira, existem pessoas que
atuam e tomam decisões, e essas pessoas, por sua vez, pos-
suem líderes, sendo trabalho dos líderes garantir que as três
barreiras estejam bem implementadas e mantidas.
O estudo liderado por Thomas Krause, em 2012,
constatou que os acidentes fatais e de elevado potencial de
lesões incapacitantes têm causas distintas daqueles de baixo
potencial, lançando uma nova luz sobre a pirâmide de Heinrich
(posteriormente complementada por Bird) e completando
seu entendimento à luz das distintas causas entre acidentes
de potencial elevado e acidentes menores. Esse estudo teve
a participação das seguintes grandes empresas na América
do Norte: Exxon Mobil Corporation, Archer Daniels Midland
Company, BHP Billiton, Potash Corp, A.P.Moeller – Maersk Group,
Cargill Inc. e Shell.

76
Fabio A. da S. Arruda

Figura 2 – atualizando o modelo mental da pirâmide de Heinrich/Bird

Os estudos iniciais do pioneiro Herbert Heinrich, na década


de 30 do século passado, traziam as proporções entre fatali-
dades, acidentes com perda de tempo e acidentes sem perda
de tempo (1-29-300), complementadas três décadas depois por
Frank Bird, que relacionou acidentes com perda de tempo (inclu-
indo fatalidades) com acidentes sem perda de tempo, acidentes
com danos materiais e quase acidentes (1-10-30-600). Por vol-
ta de 20 anos, alguns consultores adicionaram outra camada
de comportamentos críticos ou desvios, porém sem qualquer
estudo científico que sustentasse a proporção, entretanto, aca-
bou sendo aceito sem maiores contestações, pois mostrava que
havia muito mais desvios e falhas de comportamento do que
quase acidentes, visto que a maioria desses desvios ocorria sem
que as falhas nas três barreiras, mostradas na figura 1, estives-
sem alinhadas.
Durante muito tempo se acreditou e se propagou que “tra-
balhando na base da pirâmide” seria possível evitar a ocorrência
de fatalidades ou acidentes de elevada severidade e, até hoje,
muitos ainda acreditam no velho paradigma por não terem tido
a oportunidade de acessar o estudo liderado por Krause.
Os resultados desse estudo comprovaram o que muitas or-
ganizações e profissionais já desconfiavam ou acreditavam, que
fatalidades e acidentes graves têm causas distintas de acidentes

77
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
menores. Do grupo de grandes empresas que participaram do
estudo obteve-se a proporção de 21% de acidentes com poten-
cial para causar fatalidade ou lesões sérias, dentre o total de
eventos estudados. O triângulo da direita mostra que nesses
21% o acidente mais sério pode ocorrer direto do nível de quase
acidente, caso as suas causas distintas não forem eliminadas.
Isso lança foco na atuação dos líderes, pois devem se preocupar
exatamente com esse tipo de situação, não medindo esforços
para implementar medidas de controle robustas e efetivas para
evitar uma fatalidade ou lesão séria.
A contribuição da obra de Sidney Dekker lança uma nova
visão que vai de encontro aos mantras ultrapassados, como o
que afirma que 90% dos acidentes são devidos a falhas hu-
manas. Dekker alerta que essa constatação é fruto de uma
análise malfeita, incompleta e inconclusiva, para a qual não se
consegue estabelecer uma ação eficaz de bloqueio. Erros hu-
manos vão acontecer sempre, pois as pessoas são humanas e
humanos erram, é parte de nossa natureza.
Dekker afirma ainda que uma análise melhor executada
leva a se perguntar a uma pessoa que sofreu um acidente qual
resultado ela esperava obter ao executar a atividade de uma
forma distinta da estabelecida. Obviamente a pessoa que sofreu
o acidente não sabia que isso iria ocorrer e perguntar a ela por
que não seguiu determinada regra ou determinado procedimen-
to não iria ajudar a entender os reais motivos do desvio, apenas
encerra qualquer possibilidade de aprendizado.
Dekker adiciona que erros humanos são inevitáveis, mas
não são as causas de falhas, são sintomas de problemas maiores,
não são aleatórios, mas sim conectados a procedimentos, ferra-
mentas ou ao ambiente operacional. As falhas, normalmente,
representam dificuldades das pessoas em lidar com a complex-
idade dos sistemas estabelecidos. Muitas funções estabelecem
procedimentos e sistemas complexos na organização; tal com-
plexidade é o que ocasiona falhas.
Dessa forma, conclui Dekker, as fontes de erros são es-
truturais e não pessoais, por esse motivo não se deve punir as
pessoas por erros cometidos, tentando “consertar” as pessoas,
mas determinar as causar estruturais e corrigi-las.

78
Fabio A. da S. Arruda

Os conceitos acima expostos foram analisados quanto à


sua implementação e qualidade das práticas decorrentes em
organizações dos setores farmacêutico, químico, petróleo, met-
al mecânico, mineração e embalagens, nos anos 2018 e 2019,
e serão apresentados os resultados das práticas de sucesso
desenvolvidas.

3. MÉTODO

Foi selecionado o método qualitativo para o estudo, me-


diante pesquisa em literatura referenciada e verificação da apli-
cação dos conceitos em grandes organizações dos setores quí-
mico, farmacêutico, metal mecânico, embalagens, mineração e
petróleo. A partir das premissas e constatações constantes da
literatura em referência, foram verificadas durante o período
2018-2019 as melhores práticas existentes nas organizações,
as quais comprovadamente trouxeram resultados para a melho-
ria da segurança e evolução da cultura de prevenção.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Onde investir os recursos par melhoria

Como as respostas às perguntas do estudo estão correla-


cionadas, é mais didático o início pela pergunta: Onde investir e
concentrar os esforços de melhoria em Segurança?
Na maioria das organizações que foram avaliadas por visitas
ou entrevistas com seus gestores de segurança, já haviam
sido realizados investimentos significativos em sistemas de
gestão e também em segurança baseada em comportamento,
movimentos que tiveram seu tempo, mas não trouxeram a
melhoria desejada, então, os pontos em comum observados
nas organizações foram:

79
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
Investir em melhoria de sistemas de gestão não trará re-
sultados significativos, normalmente é muito esforço para pou-
co resultado. Conquista-se uma padronização e eventualmente
uma certificação do sistema, mas muitas têm dificuldades para
manter o sistema funcionando como projetado e algumas práti-
cas fundamentais não evoluem.
Investir mais em programas de comportamento seguro não
vai trazer a eliminação de fatalidades ou de acidentes de poten-
cial elevado de severidade, pois requerem a implementação de
medidas de controle de alta hierarquia. Este foi um erro obser-
vado em algumas organizações que, por modismo ou desconhe-
cimento, acabaram investindo em programas comportamentais
e, quando ocorria um acidente mais sério, a alta administração
questionava a utilidade do programa (com justa razão), ou seja,
é um investimento que na maioria das vezes não se sustenta,
pois não resolve o desafio perene de eliminar fatalidades e aci-
dentes com elevado potencial de lesões.
A resposta encontrada para a questão é que as organiza-
ções estão buscando investir na liderança para que ela imple-
mente controles efetivos nas três barreiras, construindo a cultu-
ra de prevenção em segurança, a qual irá trazer o desempenho
da organização para um novo nível de resultados.
Por mais óbvio que possa parecer, muitas vezes as pessoas
desconhecem que o líder é o responsável pela segurança de
sua equipe e é quem responde pelos resultados. Organizações
que já enfrentaram acidentes graves sabem que a pior derrota
que um líder pode experimentar é um acidente grave com um
membro de sua equipe, então cabe aos líderes implementar e
manter os controles necessários, resistindo a toda e qualquer
pressão por recursos ou prioridades que venham a competir
com a Segurança.
As organizações nas quais a liderança apresentava os me-
lhores resultados em segurança consideram a função supervi-
são como fundamental para garantir que os processos se man-
tenham sob controle, cabendo esta função ao primeiro nível de
liderança. Essas organizações consideram a presença do líder
na área de operações como fundamental para desenvolver a
confiança e o decorrente comprometimento da equipe e, assim,

80
Fabio A. da S. Arruda

desenham suas rotinas para permitir e incentivar a presença


dos líderes nas áreas de operação.
Liderança é um processo no qual líderes exercem influên-
cia pessoal e conseguem que os liderados realizem aquilo que a
organização espera de forma natural e com elevado comprome-
timento. Liderar é atingir metas, trabalhando com as pessoas,
fazendo as coisas certas, conforme definido por Vicente Falconi
Campos, em seu livro O verdadeiro Poder, em referência.
Características desejadas pelas organizações para um bom
líder em segurança:
• Querer fazer – antes de tudo o líder tem que querer
fazer, caso contrário todo o resto não acontece.
• Saber fazer – o líder deve reconhecer suas limitações e
aceitar ajuda sempre que julgue necessário, ninguém
nasce sabendo e muito menos sabe de tudo.
• Poder fazer – ou seja, ter autoridade constituída sobre
as equipes de trabalho.
Autoridade pode ser definida como a arte de conseguir que
as pessoas façam voluntariamente aquilo que o líder deseja,
devido à influência pessoal que é exercida de maneira equili-
brada, porém firme. Líderes de equipes de operação possuem
autoridade formal sobre os membros da equipe enquanto que
profissionais de segurança possuem autoridade técnica, ou
seja, capacidade de influenciar tecnicamente os líderes e con-
vencê-los a liderarem suas equipes na melhoria da segurança.
De todas as localidades observadas no estudo, com diver-
sas culturas regionais e organizacionais havia um ponto em
comum, excelentes resultados de segurança aconteciam onde
existiam excelentes líderes e excelentes profissionais de segu-
rança trabalhando juntos. Quando apenas uma das condições
existia, os resultados não aconteciam de forma sustentável até
que as duas condições fossem estabelecidas, seja por capaci-
tação das pessoas ou alguma substituição no percurso. Os Fa-
tores Críticos de Sucesso para líderes de operações incluem,
mas não estão limitados a:

81
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
• Assumir a vida das pessoas da equipe e seu bem-estar
como Valores;
• Dar o exemplo através da dedicação e comprometimen-
to pessoal com a Segurança;
• Conhecer os processos operacionais e ampliar sua pre-
sença nas áreas;
• Trabalhar de forma focada e equilibrada nas três bar-
reiras, física, de sistemas e de comportamento, esta-
belecendo controles robustos e adequados em função
dos riscos existentes;
• Reconhecer que não é possível “mudar por ordem” com-
portamentos de pessoas, mas através da construção de
uma cultura onde os hábitos seguros sejam internaliza-
dos pelas pessoas;
• Cobrar o cumprimento dos padrões operacionais e deix-
ar muito claro que violações não são toleradas;
• Reconhecer e valorizar atitudes seguras;
• Estabelecer comunicação constante e em duas vias com
a equipe, com seus pares e com a alta administração;
• Considerar como privilégio pessoal a oportunidade de
trabalhar como agente de transformação da organi-
zação.
A atuação do líder de operações na rotina diária está es-
quematizada na conhecida figura do SDCA, conforme mos-
trado na publicação Gerenciamento da Rotina, de Vicente
Falconi Campos, em referência.

82
Fabio A. da S. Arruda

Figura 3 – Atuação na Rotina do dia a dia

A atuação do líder na rotina se dá principalmente por


meio do acompanhamento dos processos; são verificadas as
capacitações dos executantes, a aderência dos executantes aos
procedimentos e instruções de trabalho, a efetiva supervisão
das equipes, através da verificação do atingimento dos itens de
verificação de cada célula de trabalho, das inspeções de área
onde são verificadas as condições físicas e o funcionamento
dos dispositivos de segurança existentes, da verificação do
cumprimento das etapas críticas dos procedimentos mediante
auditorias de padrão e do estabelecimento das ações corretivas
necessárias para corrigir situações levantadas em auditorias de
padrão, em sugestões da equipe ou, no pior caso, em acidentes
que porventura ocorram.
Os líderes quando presentes na área de operações devem
ter sempre em mente as seguintes questões:
• Estamos identificando todos os riscos presentes?;
• Estamos promovendo a Disciplina Operacional, ou seja,
exigindo o cumprimento dos padrões?;
• Estamos permitindo atalhos e violações?;
• Estamos checando os pontos críticos ou apenas dele-

83
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
gando e acreditando?
Nas situações fora de rotina como em partidas, paradas pro-
gramadas de manutenção, obras, ampliações ou manutenções
corretivas a atuação do líder e igualmente decisiva, devendo
cuidar de:
• Manter as áreas limpas e arrumadas mesmo em ma-
nutenção. Em local limpo e arrumado o acidente não
encontra espaço, mas em áreas desorganizadas e sujas,
a ocorrência de acidentes é quase certa;
• Não permitir o início de nenhuma atividade sem uma
prévia análise de riscos;
• Emissão de permissão de trabalho em todos os serviços
onde ela é necessária. Falta de permissão de trabalho é
violação gravíssima;
• Liberação dos serviços realizada no local da execução,
verificando a correta implantação de todas as medidas
de segurança. Desabilitar dispositivos de proteção é vi-
olação gravíssima.
• Para os líderes de Segurança os seguintes atributos são
fatores críticos de sucesso:
• Conhecimento do negócio da organização dos processos
através dos quais os produtos são obtidos e dos riscos
associados aos processos;
• Conhecimento da variabilidade dos processos, de gestão
de pessoas e de gestão de riscos;
• Foco em soluções para os riscos existentes ao invés de
normas e regulamentos;
• Adoção de estratégias distintas para eliminação de fa-
talidades e para redução da acidentabilidade total;
• Conhecimento do seu papel de apoio aos líderes no
processo, ajudando efetivamente a operação (“mis-
sionário”).
Líder de segurança, em uma analogia com as premiações

84
Fabio A. da S. Arruda

de atores, pode postular o prêmio de melhor ator coadjuvante,


sabendo que o prêmio de melhor ator é destinado aos líderes
das operações, uma vez que esses são quem possuem a autori-
dade constituída para liderar equipes.
Em organizações que implementaram com sucesso a gestão
da Segurança com base nas três barreiras e com a efetiva par-
ticipação dos líderes apoiados pelas equipes de segurança te-
mos normalmente a seguinte distribuição de papéis:
• Papéis normalmente atribuídos à alta administração;
• Papéis normalmente atribuídos à diretoria e corpo ger-
encial;
• Papéis desempenhados pelos líderes de operação;
• Papéis desempenhados pelas equipes de segurança;
• Papéis desempenhados pelos operadores.
Os quadros a seguir mostram os principais papéis atribuí-
dos e desempenhados por essas funções.

Figura 4 – Papéis normalmente atribuídos a alta administração e corpo


executivo

85
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

Figura 5 – Papéis normalmente atribuídos à operação e segurança

Muitas vezes os nomes das práticas e ferramentas diferem


entre organizações, mas, no geral, os papéis se assemelham,
promovendo uma implementação controlada e efetiva, uma vez
todos os níveis de liderança e operacional se comprometendo
com o processo.

4.2 Implementação de novos conceitos e práticas


efetivas

Foram observadas nas organizações diversas práticas deri-


vadas da assimilação dos novos conceitos e do aperfeiçoamen-
to dos conceitos existentes. Podemos representar esquematica-
mente a atuação do líder de operação em uma figura do PDCA,
em organizações com uma cultura já madura em Segurança.

86
Fabio A. da S. Arruda

Figura 6 – Atuação do líder transforma a cultura e os resultados

A figura está esquematizada no PDCA de rotina, também


chamado de SDCA e inclui as principais atividades e práticas
a cargo dos líderes de operação. Um fator considerado funda-
mental é a adoção das agendas mensais dos líderes, que de-
vem construí-las dividindo as práticas de forma equilibrada e
completa, objetivando que durante o mês todas as atividades
previstas sejam adequadamente executadas.
Na etapa de execução estão as principais atividades como
a promoção da Disciplina Operacional, cobrando a execução dos
padrões e deixando claro a não aceitação de atalhos ou violações,
mantendo contato continuo com as equipes, exercendo a liderança
percebida e atuando de forma exemplar. As atividades diárias de
acompanhamento dos indicadores de verificação das diversas
células, os diálogos e conversas de segurança e as caminhadas
de segurança na área, supervisionando e orientando as equipes
e promovendo a solução dos problemas prioritários aumentam
a confiança e comprometimento das equipes operacionais, até
que todos estejam “jogando no mesmo time”.
Na etapa de verificação (“C”) são realizadas as inspeções
de área a as auditorias de execução dos padrões, com
ênfase nas atividades onde riscos críticos estão presentes e
as eventuais observações de comportamento e atitudes do

87
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
pessoal operacional. São realizadas também as verificações
das observações e sugestões dos operadores, priorizando
aquelas relacionadas a riscos críticos e dando feedback e
reunindo as semelhantes, priorizando e delegando a operação a
implementação das demais.
Na etapa de análise crítica e melhoria são utilizadas as
medições da cultura de segurança da área, os resultados das
auditorias internas e externas e a medição da assertividade do
líder, ou seja, a medição qualitativa e quantitativa das ativi-
dades a cargo do líder. As oportunidades de melhoria são dis-
cutidas e priorizadas e passam para a etapa de planejamento do
ciclo seguinte para serem devidamente implementadas.
A partir da grande figura (no amplo sentido), a seguir
serão apresentadas as principais atividades do cargo do líder na
construção da cultura de prevenção, as quais foram observadas
nas organizações de cultura mais maduras, desde o planejamento
e passando pelas três barreiras de forma equilibrada e completa.

4.2.1 Principais atividades em Segurança a cargo dos


líderes

a) Planejamento:

Foi observado nas organizações mais maduras o não esta-


belecimento de metas numéricas para níveis de acidentes, mas
sim metas em cima de indicadores proativos por elas utilizados,
por exemplo: percentual de implementação de medidas de con-
trole para riscos críticos, percentual de atingimento de indicador
de atuação proativa de líderes, realização de auditorias de pa-
drões, entre outras. Importante definir o estágio de cultura de
prevenção em segurança desejado pela organização. Existem
algumas classificações adotadas no mercado, mas a mais co-
nhecida é a utilizada pelo programa Hearts & Minds do Energy
Institute, em referência.

88
Fabio A. da S. Arruda

Figura 7 – Estágios de cultura de segurança

A medição da cultura de segurança se dá através da apli-


cação de questionários que podem ser comprados diretamente
no site do Energy Institute sendo utilizada uma escala Likert
(com valores de 1 a 5) onde os níveis de cultura vão se con-
centrar nesses 5 (cinco) possíveis estágios ou degraus: Patoló-
gico, Reativo, Calculativo, Proativo e Generativo. Um excesso
que foi detectado em diversas organizações foi o de se planejar
para atingir o estágio mais elevado sem levar em conta a cul-
tura da atividade, a realidade dos negócios e os níveis de ris-
co existentes. Ao lado esquerdo da figura é apresentada uma
outra classificação similar, utilizada dentro do programa Atua-
ção Responsável, particular das indústrias químicas mundiais,
onde uma foi observado em algumas organizações de destaque
o planejamento para o estágio desejado de Líder Industrial, ge-
renciando segurança e meio ambiente estrategicamente e indo
além dos requisitos legais somente onde fizesse sentido para
os negócios, atuando de uma maneira proativa na justa medida
que fosse necessária.
Essa decisão faz muito mais sentido que simplesmente de-
clarar que atingirá o nível Generativo, com todas equipes opera-
cionais atuando de forma interdependente sem levar em conta
o esforço necessário e os custos proibitivos para tal. O resultado
nessas organizações é que muito raramente esse nível é alcan-
çado, gerando frustração desnecessária e dispêndio excessivo
de recursos.

89
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

b) Atividades dos líderes na gestão de riscos críticos


(PSIF)

Foi observado nas organizações com cultura mais madu-


ra que os lideres devem revisar periodicamente a identificação
de perigos e avaliação de riscos nas áreas, bem como a cada
evento potencial ou real que apresente um risco não detectado
e tratado. Especial atenção deve ser dada aos riscos críticos ou
PSIF’s, cuidando para que o risco seja eliminado ou diminuído
em sua consequência através de medidas de controle de alta
hierarquia. Riscos críticos não podem ser tratados com medidas
administrativas, procedimentos ou comportamento das equipes,
estas barreiras não são robustas para riscos de tal magnitude.
Nas organizações que vêm trabalhando para eliminar fata-
lidades e acidentes severos, os líderes buscam constantemente
e de forma estruturada a identificação de precursores de riscos
críticos e suas potenciais consequências para se determinar a
medida de controle necessária para ser priorizada e instalada.
É necessário, ainda, levar em conta a robustez da medida e
também sua manutenção durante todo o tempo, priorizando
soluções duráveis que demandem pouca manutenção.
A figura abaixo mostra uma série de atividades de campo
do líder nas quais ele deve estar atento para a identificação e
tratamento dos riscos críticos encontrados.

Figura 8 – O novo paradigma, identificar e tratar precursores para evitar


fatalidades

90
Fabio A. da S. Arruda

Ao identificar e tratar devidamente as situações onde exis-


tem riscos críticos, a ocorrência de eventos de alto potencial
e, consequentemente, a ocorrência de fatalidades ou lesões
graves, pode ser evitada. Como exemplos de riscos críticos
normalmente presentes em operações industriais das organiza-
ções observadas, podemos citar trabalhos com energia elétri-
ca, levantamento e transporte de cargas pesadas, circulação de
empilhadeiras e pessoas na mesma área, trabalhos em altura,
trabalhos em espaços confinados, trabalhos a quente próximos
a inflamáveis e outras situações particulares de cada setor, as
quais devem ser corretamente identificadas e tratadas.
Foi observada também uma atenção especial quanto ao
método de Investigação de Acidentes, as organizações que bus-
cavam reduzir eventos de alto potencial optavam pela utilização
de um método robusto de investigação de potenciais causas
como o método Análise de Causa Raiz. Métodos mais simples
como os “5 porquês” e o “diagrama de Espinha de Peixe” não
eram mais utilizados em eventos de alto potencial, apenas em
investigações de eventos de baixo potencial, uma vez que por
serem muito simples, muitas vezes as causas não eram adequa-
damente identificadas e tratadas e o acidente voltava a ocorrer.
Para a implementação das medidas de controle adequa-
das, foi observada a utilização correta da hierarquia de con-
troles mostrada na figura abaixo, iniciando sempre da medida
mais alta e caso não seja viável descendo para a imediatamente
abaixo. Riscos críticos requerem obrigatoriamente medidas de
1 a 4, ou seja, barreiras físicas ou de engenharia, complemen-
tadas por medidas administrativas auxiliares como procedimen-
tos, comportamento das pessoas ou equipamentos de proteção
individual.

91
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

Figura 9 – Hierarquia das medidas de controle

Como exemplos de medidas de controle em riscos críticos


temos a instalação de passarelas em telhados e linhas de vida
certificadas para trabalhos em altura, as quais são complemen-
tadas pelo uso de cinto de segurança com talabarte duplo nos
pontos certificados, separação física de áreas de circulação de
pedestres e de empilhadeiras, teste de atmosfera e monitora-
mento contínuo, além de dispositivo de resgate e sentinela du-
rante todo o tempo em trabalhos em ambientes confinados,
bloqueios físicos de energias perigosas e etiquetagem e teste
prévios em trabalho com possibilidade de liberação de ener-
gias perigosas, uso de dispositivos de içamento certificados e
manutenção de distância segura de cargas em operações com
pontes rolantes entre outros.
As organizações maduras consideram que a eliminação de
fatalidades e lesões sérias como o maior desafio em Segurança
para um líder e assim a implementação das medidas de controle
deve ser acompanhada diretamente por ele e reportada para a
alta administração nas reuniões gerenciais de controle.

92
Fabio A. da S. Arruda

c) Atuação dos líderes na promoção da Disciplina


Operacional

As organizações com cultura mais madura entendem a pa-


lavra disciplina quando usada no termo Disciplina Operacional
com base na sua origem do Latim, disciplinam que significa
educação. Dela deriva discípulo, aquele que segue, aluno. Dis-
ciplina Operacional é considerada como o compromisso e a ded-
icação de realizar cada tarefa de forma consciente, correta e
consistente, seguindo as regras e padrões de trabalho em todas
as atividades e é a base para a Cultura Justa de Segurança,
conforme preconizado por Sidney Dekker, em referência.
Assim, consideram fundamental que o líder reforce sempre
com sua equipe a necessidade de se cumprir rigorosamente os
padrões estabelecidos e mais importante ainda, deixando muito
claro a todos que atalhos ou violações a regras e procedimentos
não serão tolerados. Em resumo, alerta para o que tem que ser
cumprido e para o que não será aceito de forma alguma pela
liderança muito menos pela organização.
Nas organizações citadas, os padrões operacionais são
elaborados com a participação de representantes da equipe
operacional, aqueles mais experientes e que melhor conhecem
os processos e equipamentos. Aperfeiçoamentos e melhorias
do padrão são parte da melhoria contínua e são estimulados
pelo líder, mas a partir do momento em que uma nova e melhor
forma de se executar uma atividade chave foi reformulada,
todos devem aderir ao novo padrão.
Casos de violação a regras e padrões devem ser analisados
e tratados, conforme descrito no tópico a seguir.

d) Atuação dos líderes na Gestão de Consequências

As organizações com uma cultura madura em segurança


separam muito claramente os erros que acontecem nas opera-
ções das eventuais violações. Elas consideram que uma cultura
de excelência só se constrói em ambiente de confiança e que

93
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
onde erros não são tolerados ou são punidos a confiança não
existe e a turma passaria a esconder os erros até que um aci-
dente mais sério exponha a verdade.
As organizações de cultura madura sabem que quando se
fala que 90% dos acidentes são devidos a falhas humanas, isto
é fruto de uma análise malfeita, incompleta e inconclusiva, para
a qual não se consegue estabelecer uma ação eficaz de blo-
queio. Erros humanos vão acontecer sempre pois as pessoas
são humanas e humanos erram, é parte de nossa natureza.
As organizações de cultura madura em segurança conside-
ram que os acidentes emergem da complexidade dos sistemas
e não são frutos de apenas um erro ou uma violação, mas de
uma sucessão de fatores necessários para que o acidente ocor-
ra. Elas buscam corrigir os sistemas, não perdendo tempo ten-
tando corrigir as pessoas.
As organizações conhecem que erros são diferentes de vio-
lações e estas não devem ser toleradas pela liderança, mas uma
análise cuidadosa com o tipo de violação é efetuada para se
concluir se é ou não o caso de aplicar uma sanção prevista na
política de consequências da organização.
O modelo abaixo destina-se a apoiar os líderes nas deci-
sões sobre eventual aplicação de política de consequências.

Figura 10 – Modelo de Gestão de Consequências

94
Fabio A. da S. Arruda

Na parte de cima da figura são ressaltados os reforços po-


sitivos, reconhecimentos e estímulo a recusas de risco aplicados
pelos líderes de modo a reforçar os comportamentos seguros
observados, levando à formação de hábitos seguros pela força
de trabalho
Quanto aos comportamentos de risco constatados através
de observações ou de relatos de anomalias ou incidentes, es-
tes devem ter claramente separados erros de violações. Erros
devem ser tratados, como descrito no item anterior, e, para as
violações deve ser efetuada uma análise dos ativadores de com-
portamento, ou seja, dos antecedentes que levaram a violação
e das consequências para aquele tipo de violação. Frequen-
temente a violação é induzida pela organização ou é realiza-
da por desconhecimento e, nessa situação, não se deve aplicar
medidas de sanção pessoal. Somente para algumas poucas
violações intencionais é que as sanções são cabíveis e, nesses
casos, recomenda-se sempre a participação da liderança de se-
gurança, da gerência da área e do representante de RH da área
para se evitar qualquer punição injusta.
Somente quando todos concordam que a violação é passí-
vel de uma sanção é que esta deve ser aplicada e o tempo para
esta análise e aplicação deve ser o mais breve possível, pois
uma sanção intempestiva também não faz sentido.
Preferencialmente, é necessário avaliar as violações que
não geraram acidentes para que estes venham a ser preveni-
dos. Existem várias ferramentas para a identificação de vio-
lações, inclusive câmeras de circuito fechado de televisão nas
áreas produtivas, então, o melhor é avaliar as situações antes
que problemas maiores venham a ocorrer.
Líder que não aplica sanção devido ao tempo e hora acaba
caindo em descrédito pelos integrantes de sua equipe, além
de gerar insatisfação com a grande maioria que tem Disciplina
Operacional e comprometimento em seguir regras e instruções
de trabalho. Pode ser uma tarefa “indigesta” para o líder, mas faz
parte de sua função. Com educação dos filhos é a mesma coisa,
se não se chama a atenção no tempo correto e, eventualmente,
se não se aplica um “castigo” corretivo - como um tempo sem
acesso a joguinhos eletrônicos ou celular -, a criança acaba se

95
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
tornando cada vez mais mal-educada e sujeita a problemas
maiores no futuro.

Figura 11 – Erros e Violações - classificação

A figura acima visa apoiar o líder na classificação de even-


tuais erros e violações cometidos nas operações e servir de base
para a análise das medidas corretivas necessárias. Note que al-
guns erros são fruto de ação intencional, os chamados enganos,
porém o resultado do engano não era intencional então não é o
caso de violação. Da mesma forma existem algumas violações
não intencionais, por desconhecimento de determinada regra
ou padrão, mostrando que estes não foram adequadamente
disseminados para a força de trabalho.
Tendo avaliado se foi um erro ou uma violação, deve-se
usar o fluxo da figura abaixo como ajuda para estabelecer ações
corretivas para erros e violações de modo a evitar sua recorrên-
cia. Importante notar que erros devem ser tratados com a par-
ticipação de operadores experientes para a melhoria dos pro-
cessos, e violações de rotina devem ser objeto de recontratação
de antecedentes com toda liderança, estabelecimento e divul-
gação de regras e recontratação de atitudes com as equipes,
deixando claro que novos casos não serão aceitos. Os casos de
violação por problemas pessoais, seja por otimização pessoal,
lei do menor esforço ou, pior ainda, por negligência, devem ser
objetos de aplicação de sanções com os cuidados já descritos
anteriormente.

96
Fabio A. da S. Arruda

Figura 12 – Fluxo de tomada de decisões para erros e violações

e) Atuação dos líderes na formação de Hábitos Se-


guros

A formação de hábitos seguros por toda a organização ala-


vanca a consolidação da cultura de prevenção de segurança,
sendo observado que as organizações com maturidade mais alta
buscam hábitos seguros; indo muito além do comportamento
seguro monitorado, elas buscam que todos pratiquem disciplina
operacional e atitudes seguras no “piloto automático”, ou seja,
sem necessitar dos esforços de inspeção e eventuais sanções. É
um estágio altamente elevado de cultura organizacional, onde a
excelência operacional floresce.
Muitas das organizações que iniciaram programas de ges-
tão de comportamento com foco nos operadores e em mudar
comportamentos pessoais - e apesar de terem envidado mui-
to esforço no início do programa -, acabaram verificando que
os resultados não se sustentavam com o tempo e entenderam
que um processo devia ser implementado, ao invés de um pro-
grama. A maioria das organizações ajustou seus processos de
modo a induzir o comportamento seguro da organização como
um todo, começando pelos seus líderes e não apenas das equi-
pes operacionais.

97
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
Foi observado como comum nas organizações de maturida-
de mais alta que a governança em segurança é atribuição clara
da liderança e algumas ações a cargo dos líderes são também
comuns na maioria das organizações. Essas ações têm como
objetivo ajudar a construir hábitos seguros e uma cultura sus-
tentável de prevenção em segurança.
A atuação efetiva dos líderes se dá nas áreas operacionais,
em todos os contatos que têm com as equipes de operação,
sendo as mais comuns as caminhadas de segurança também
chamadas de “gemba safety walk” as auditorias de cumprimen-
to de padrões operacionais, as observações de comportamento,
os diálogos com a equipe onde a disciplina operacional é cobra-
da e reforçada e também no dia a dia da supervisão da turma
e orientação dos membros das equipes. Todos percebem quan-
do o líder está dando exemplo e se comunicando abertamente,
ajudando assim a construir a chamada liderança percebida (por
todos).
Um dos pontos mais importantes é o tratamento dos re-
latos dos operadores, como mostrado na Figura 13, abaixo. O
líder deve ter uma rotina para tomar conhecimento dos relatos
de incidentes e sugestões de melhoria e tratar diretamente
aqueles que tem potencial de incidente. Quanto mais o líder
soluciona os problemas, mais a turma acredita nele e passa a
“jogar junto”; o velho ditado “quanto mais resolve, mais envol-
ve” não falha.
A maioria dos problemas operacionais pode ser resolvido
através do “ver e agir”, ou seja, depende de vontade e priori-
zação somente. Uma parte menor depende de algum dispêndio
que pode ser absorvido “no custo” da operação e a menor parte
vai depender de se elaborar um projeto e aprovar um investi-
mento para ser devidamente amortizado no custo da organi-
zação. O exemplo pessoal e a qualidade das decisões do líder
influenciam diretamente a liderança percebida, quanto mais de-
cisões de resolver problemas forem tomadas, mais os operado-
res vão assimilando os hábitos seguros.

98
Fabio A. da S. Arruda

Figura 13 – A atuação do líder na formação do hábito seguro

As observações de comportamento também ajudam na


formação de hábitos seguros, desde que realizadas como um
processo, não como um programa. As organizações que se li-
mitaram a realizar um programa de observações estabelecen-
do inclusive metas numéricas elevadas para os líderes, sem se
preocupar com a qualidade do processo de aprendizado não co-
lheram resultados sustentáveis, com o passar do tempo viram
os esforços diminuírem e o programa cair em desuso ou seguir
“cumprindo tabela” somente.

Figura 14 – Observações comportamentais efetivas

As organizações de cultura mais elevada perceberam que


seria necessário um processo e não um programa e que o núme-
ro excessivo não levava a melhoria, sendo mais importante a

99
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
qualidade das observações do que a quantidade. A figura acima
representa a maneira encontrada para realizar observações efe-
tivas.
Dentro da agenda mensal do líder são programadas algu-
mas observações de comportamento em postos chave de tra-
balho e esta prática a cargo do líder é suportada tecnicamente
pela equipe de SST. Embora as etapas de observação diferissem
ligeiramente nas organizações, basicamente seguiam o mesmo
roteiro. Os pontos importantes são a interação entre líderes e
operadores, a reflexão sobre eventuais comportamentos de ris-
co e o compromisso assumido de mudar esses comportamen-
tos. O bom líder tem em seu bolso um caderno de anotações (o
mais simples possível) e combina com o operador observado a
data em que será verificado que o comportamento seguro foi
adotado em substituição ao comportamento de risco.
Durante a verificação será constatado que:
• O operador realmente adotou um comportamento se-
guro e o líder dará o reforço positivo, cumprimentando o
operador por ter eliminado comportamento de risco, ou;
• O operador ainda demonstra comportamento de risco,
não tendo alterado o modo de se comportar e atuar
naquela tarefa específica. Sendo assim, o líder dará
mais uma chance e firmará um plano de melhoria com
o operador.
Passado o prazo combinado para que o plano de melhoria
seja implementado, o líder efetua mais uma verificação e caso
o operador insista em atuar com comportamento de risco, deve
ser estudada a aplicação da política de consequências da orga-
nização conforme já detalhado.
A arma mais eficaz que o líder tem à sua disposição para
a construção de uma cultura de prevenção em segurança onde
todos adotam hábitos seguros é o reforço positivo. Algumas
organizações de maturidade mais baixa focam mais do lado
da aplicação de sanções (ou seja, mudança “na dor”) ao invés
de reforçarem suas práticas de reconhecimento (mudança “no
amor”).

100
Fabio A. da S. Arruda

A motivação da força de trabalho vai muito além de um sis-


tema de premiações e punições; Frederick Herzberg, em um ar-
tigo semanal publicado na Harvard Business Review, em 1975,
já alertava para isso. Existem inúmeras teorias até hoje válidas
em Administração de Empresas relacionadas a motivação da
força de trabalho, mas para fins de mudança de comportamen-
to, o feedback positivo valorizando uma atitude segura observa-
da tem um poder transformador.

Figura 15 – Principais fatores de influência sobre o compor-


tamento

f) Atuação dos líderes para aperfeiçoamento pessoal

Cada vez mais os jovens líderes chegam aos postos de tra-


balho com um déficit de formação na parte de liderança de pes-
soas, pois isso não é reforçado durante a formação técnica da
maioria dos cursos de engenharia, química, farmácia, biologia
e demais ciências exatas e biológicas. Além da necessidade de
conhecer a fundo os processos através dos quais os produtos e
serviços são elaborados e entregues, o profissional precisa en-
tender “de gente” para liderar efetivamente sua equipe e atingir
as metas colocadas pela organização.
Ao se aperfeiçoar para atingir as metas de segurança e

101
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
transformar a cultura da organização em uma cultura de pre-
venção com hábitos seguros espalhados em todas as áreas, o
líder se capacita também em atingir as demais metas da organi-
zação e isso tem um poder alavancador sobre seu desempenho
e sobre sua progressão dentro da organização ou mesmo em
um desafio fora dela.
A maioria das organizações observadas têm Planos de De-
senvolvimento Individual (PDI) anuais colocados para os líde-
res, os quais apontam e negociam com seus gerentes os temas
que sentem necessidade de melhorar para atingirem todas as
metas colocadas
As organizações de maturidade mais elevada em segurança
pedem que dentre as 4 (quatro) ou 5 (cinco) ações de melhoria
estabelecidas no PDI sejam incluídas duas relativas à Seguran-
ça, dentre aquelas constantes da Figura 6 ou outra específica,
como Investigação de Incidentes, Diálogos Difíceis, Comunica-
ção Efetiva dentre outras. Em um prazo de 3 (três) anos, o de-
sempenho em Segurança terá alcançado níveis altíssimos que
foram construídos de forma gradual e planeja.

Figura 16 – Plano de Desenvolvimento Individual

102
Fabio A. da S. Arruda

Fora observado que as organizações que já possuíam uma


cultura mais elevada em segurança envolveram seus líderes na
incorporação dos novos conceitos de Segurança e transforma-
ram em práticas robustas que efetivamente trazem resultados.
O estudo apresenta melhores práticas observadas, não neces-
sariamente na mesma organização, a maioria delas não imple-
mentou todas, em algumas estava apenas começando. O con-
ceito de Riscos Críticos ou os chamados PSIF mostrou-se bem
disseminado e aquelas organizações com grau de risco mais
elevado já avançaram significativamente no estabelecimento
de controles. O estudo mostra que essas organizações estão
preenchendo a lacuna existente em Segurança, dando priori-
dade absoluta a evitar fatalidades e acidentes sérios e desen-
volvendo controles e práticas efetivas, deixando de adotar os
chamados “programas da moda”.
Assim, o estudo contribui pode contribuir para o convenci-
mento da adoção dos conceitos mais atuais e de práticas robus-
tas desenvolvidas por suas equipes internas de liderança e de
segurança. “Segurança não deve ser definida como a ausência
de acidentes, mas como a presença de controles efetivos que
vão garantir a segurança e o bem-estar de todas as pessoas” -
Sidney Dekker.

103
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como consideração final é possível verificar que as orga-


nizações mais maduras estão buscando investir na capacitação
das suas lideranças para que implementem controles efetivos
que previnam a ocorrência de fatalidades e lesões incapacitan-
tes permanentes, e também que vêm de uma forma geral in-
corporando os novos conceitos de Segurança disseminados nos
últimos 10 (dez) anos e implementando controles e práticas
derivados destes conceitos, seja pela adaptação e melhoria de
uma prática já existente, seja pela adoção de uma nova forma
de controle e de se realizar atividades.
O método qualitativo possui limitações inerentes e tam-
bém existiu a limitação da amostra onde as observações foram
realizadas. Algum viés de interpretação pode ter acontecido in-
dependente da vontade do autor, mas característico da expe-
riência acumulada e de casos de sucesso vivenciados, os quais
reforçam as crenças internas.
É sugerida a realização de uma pesquisa quantitativa, com
questionários elaborados em escala Likert e enviados a uma
amostra maior de organizações, visando estabelecer correla-
ções entre controles implementados e resultados alcançados.

104
Fabio A. da S. Arruda

REFERÊNCIAS

KRAUSE, Thomas R. e BELL, Kristen J. Seven Insights Into Safety


Leadership. USA: The Safety Leadership Institute, 2015.

REASON, James. The Swiss Cheese Model. USA: US Department


for Human Safety and Human Services, 2000.

REASON, James. Human Error. New York: Cambridge University


Press, 1990.

DEKKER, Sidney. The field guide to understand human error.


Hampshire, UK: Ashgate, 2006.

ENERGY Institute, Hearts and Minds. Como manejar el rompimen-


to de reglas. Netherlands; SIEP B.V., 2008.

FALCONI Campos, Vicente. Gerenciamento da Rotina. Belo Hori-


zonte: UFMG, 1992.

FALCONI Campos, Vicente. O Verdadeiro Poder. Nova Lima: INDG,


2009.

HERZBERG, Frederick. Novamente: como se faz para motivar


funcionários? Cambridge-MA: Harvard Business Review, 1975.

105
6

REGISTROS DE QUASE ACIDENTES:


ESTRATÉGIAS E APRENDIZADO
ORGANIZACIONAL

Fabio Arruda

Doutorando em Gestão de Negócios; Mestre em Administração de


Empresas; MBA Executivo em Gestão de Pessoas com pós-gradu-
ação nas áreas de Engenharia de Produção, Gestão Estratégica, Ge-
renciamento de Projetos com Ênfase em Riscos, Gestão de Saúde,
Segurança do Trabalho e Meio Ambiente; Bacharel em Administração
de Empresas. É Professor de cursos de pós-graduação e MBA em di-
versas Instituições nos Estados do Maranhão e Pará. Atua há mais
de 17 anos como Gestor de Pessoas e Processos de Saúde e Segu-
rança Ocupacional em uma empresa multinacional do segmento de
mineração. Atua também como Conselheiro Regional e Diretor de
Desenvolvimento Profissional e Institucional do Conselho Regional
de Administração do Maranhão (CRA-MA). Autor do livro “Estraté-
gias de Capacitação X Acidente do Trabalho” pela editora Nelpa.
Organizador da coletânea “Triangulação em Saúde e Segurança no
Trabalho: engenharia, gestão e comportamento” pela editora Pascal.
Coautor dos livros “Coaching: A solução” e “Capital Intelectual” pela
editora SerMais, “Revolução” pela editora Literare Books e “Faces
e Interfaces da Multieducação” pela editora Dialógica. Idealizador
do Arruda Consult, página eletrônica que modera temas na área de
gestão, motivação e carreira. www.arrudaconsult.com.br
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

RESUMO

O
presente trabalho relata um estudo sobre acidentes do
trabalho que representam uma disfunção do processo
produtivo. Infelizmente, essa mazela é cada vez mais fre-
quente no cotidiano das empresas na maioria dos segmentos
no Brasil. Nesse sentido, o objetivo desta pesquisa foi analisar
a contribuição dos registros de quase acidentes no aprendizado
organizacional como estratégia de prevenção de acidentes do
trabalho, se baseando em um estudo quantitativo, de caráter
descritivo. O quase acidente é um evento não esperado que
tinha potencial para gerar perda, porém por questão de tempo,
espaço ou ainda atuação dos controles a perda, não ocorreu,
todo quase acidente tem liberação de energia. Os resultados
apontam que incentivar os empregados a registrarem as situ-
ações acidentais que ocorreram em suas atividades com poten-
cial de gerar dano, mas que por questão de tempo ou espaço
não se materializou em uma perda, é uma alternativa viável
como estratégia de prevenção, pois a adoção de um programa
eficaz de registro, análise e tratamento de quase acidentes
gera aprendizado organizacional, tornando, assim, a empresa
mais resiliente e os empregados mais informados e conscientes
quanto aos riscos de acidentes do trabalho presentes nas suas
atividades laborais.

Palavra-Chave: Quase Acidente, Aprendizado Organi-


zacional, Estratégias

108
Fabio A. da S. Arruda

1. INTRODUÇÃO

Desde a época mais remota, grande parte das atividades às


quais o homem tem se dedicado apresenta uma série de riscos
em potencial, frequentemente concretizados em lesões que afe-
tam sua integridade física ou a sua saúde. Assim, o homem
primitivo teve sua integridade física e capacidade produtiva di-
minuída pelos acidentes próprios da caça, da pesca e da guer-
ra, que eram consideradas as atividades mais importantes de
sua época. Posteriormente, quando o homem das cavernas se
transformou em artesão, descobrindo o minério e o metal, pôde
facilitar seu trabalho pela fabricação das primeiras ferramentas,
conhecendo também as primeiras doenças do trabalho provo-
cadas pelos próprios materiais que utilizava. O passo seguinte
foi ainda mais sangrento, pois o processo de industrialização
trouxe, junto com a evolução das novas e complexas máquinas,
muitos acidentes e doenças do trabalho para a população tra-
balhadora daquela época.
Na época atual, o trabalho humano vem se desenvolvendo
sob condições em que os riscos são em quantidade mais nu-
merosos e em qualidade mais graves do que no passado. Hoje
em dia, uma das grandes preocupações nos países industrial-
izados é com respeito à saúde e proteção do trabalhador no de-
sempenho de suas atividades. Esforços vêm sendo direcionados
para esse campo, visando à redução do número de acidentes e
efetiva proteção do acidentado e seus dependentes.
O acidente do trabalho é um fenômeno complexo que
atinge a classe trabalhadora do Brasil e uma das estratégias
propostas é adoção do pensamento preventivo e utilizar fer-
ramentas proativas no sistema de gestão das organizações, o
quase acidente é uma das ferramentas mais relevantes que po-
dem ser utilizadas no contexto preventivo de acidentes do tra-
balho. Os acidentes do trabalho geram dor e sofrimento e ainda
impedem as empresas portuárias de alcançarem a eficiência de
seus processos, pois é impensável falar em eficiência se o pro-
cesso produtivo gera lesão e doenças ao trabalhador em suas
ocupações laborais. Devido a atualidade e relevância do tema,

109
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
existe a necessidade de avaliar os fenômenos envolvidos e que
geram a complexidade do acidente do trabalho, considerando,
assim, dentre as alternativas, incentivar o registro quase aci-
dente como uma estratégia viável de prevenção.
O objetivo desta pesquisa, nessa perspectiva, é analisar a
contribuição dos registros de quase acidentes para a geração
de aprendizado organizacional como estratégia de prevenção
de acidentes do trabalho. A metodologia de pesquisa deste tra-
balho se baseou em um estudo quantitativo, de caráter descri-
tivo.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Acidentes do trabalho: pressupostos e a realida-


de brasileira

A área de segurança e saúde no trabalho é multidisciplinar,


estando relacionada com a segurança, saúde e qualidade de
vida de pessoas no trabalho ou no emprego. Como efeito se-
cundário, a segurança e a saúde ocupacional também protegem
empregados, clientes, fornecedores e público em geral que pos-
sa ser afetado pelo ambiente de trabalho.
Segundo Oliveira (2019), segurança ocupacional ou do tra-
balho é a garantia de um estado satisfatório de bem-estar físi-
co e mental ao trabalhador na empresa e, se possível, fora do
ambiente dela (em viagem de trabalho, no lar, no lazer, etc.). É
a parte de planejamento, organização, controle e execução do
trabalho que objetiva reduzir permanentemente os riscos iner-
entes ao processo de trabalho e, com isso, as probabilidades de
ocorrência de acidentes.
Concernente ao aspecto legal, a Lei nº 8.213, de 24 de ju-
lho de 1991, do Ministério da Previdência e Assistência Social,
em seu artigo 19, define o acidente do trabalho nos seguintes
termos:
Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do

110
Fabio A. da S. Arruda

trabalho a serviço da empresa [...] ou pelo exercício


do trabalho dos segurados [o segurado empregado,
o trabalhador avulso, bem como o segurado especial,
no exercício de suas atividades], provocando lesão
corporal ou perturbação funcional que cause a morte
ou a perda ou redução, temporária ou permanente,
da capacidade para o trabalho (Brasil, 1991).
Existem diversas teorias que visam explicar o fenômeno
dos acidentes do trabalho nas mais diversas linhas do pensa-
mento. Arruda (2016) descreve diversas dessas teorias, e cada
uma, em sua limitação, tenta explicar as razões da existência
do acidente do trabalho nas organizações.
Ao avaliar a realidade dos acidentes do trabalho no Bra-
sil, observamos que existe uma verdadeira tragédia em curso,
pois segundo dados mais atuais do Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS), foram 5 milhões de vítimas de acidentes do tra-
balho num intervalo de apenas sete anos, com 19,5 mil mortos
e 101 mil inválidos. Sobre está triste realidade, KONIG (2015)
fornece mais detalhes:
Os acidentes de trabalho ostentam números de
uma epidemia para a qual o Brasil não encontra
solução. As vítimas registradas nos últimos 7 anos
demonstram que os acidentes de trabalho matam
seis vezes mais do que a dengue, doença sazonal que
todo verão impõe aos brasileiros o medo em escala
epidemiológica. No mesmo período de sete anos, o
país teve 5,3 milhões de casos de dengue, número
equivalente aos acidentes de trabalho. Menos letal,
a doença matou 3.331 pessoas, média de 475 por
ano, contra 19.478 óbitos no trabalho, ou 2.780 por
ano – os 720 mil acidentes anuais ainda deixam 14,5
mil inválidos permanentes. Cabe lembrar que, ano
após ano, o combate à dengue mobiliza todo o país,
um esforço que não se vê no combate aos perigos no
trabalho (p.13).
Conforme a Lei nº 8.213, os empregadores têm a obrigação
legal de informar riscos de acidentes do trabalho ao Ministério,
mas não o fazem, às vezes temendo que os auditores descu-
bram outras irregularidades no local do acidente (Brasil, 1991).
Outro fator que compromete a confiabilidade das informações
junto aos órgãos do Governo é o grande número de postos de
trabalho informais e trabalhadores sem vínculo empregatício,

111
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
que possuem uma baixa taxa de registros nos órgãos regula-
dores, além da falta de informações consolidadas. Foi possível
identificar tal problema após o acesso e verificação dos dados
disponibilizados pelo Governo, que, sem nenhuma aplicação ou
ferramenta que possibilite a visualização gráfica desses dados
de acidentes de trabalho, torna as análises e comparações mais
complexas.
Para Budel (2012), a ocorrência de acidentes do trabalho
gera consequências traumáticas, ocasionando, na maioria das
vezes, mutilações, invalidez permanente, entre outros danos,
que não se limitam ao corpo físico do trabalhador, afetando
também sua integridade psicológica, chegando até a causar a
morte do trabalhador, com repercussões para os familiares, in-
clusive para a sociedade de modo geral, bem como para os cof-
res públicos. Somente o fato de os acidentes ocorrerem com a
população trabalhadora do país já é motivo mais que suficiente
para que dados sobre esses incidentes sejam disponibilizados
de forma pública.
Além disso, temos todo o fator financeiro, já que a popu-
lação acaba abrindo mão de investimento em outras áreas para
cobrir os custos causados por esses acidentes. Baseando-se
em dados do Ministério da Previdência Social do Brasil em um
período de sete anos (2007 a 2013), Arruda (2016) elaborou,
conforme apresentado no quadro abaixo, o perfil do acidente do
trabalho no Brasil.

112
Fabio A. da S. Arruda

Quadro 1 - Perfil do acidente do trabalho no Brasil

Fonte: Arruda (2016)

Como demonstrado, os acidentes do trabalho trazem


enormes perdas financeiras, sofrimento e danos à imagem das
empresas, sociedade, governo, empregados e seus familiares.
Avançar na fiscalização e no comprometimento com a prevenção
de acidentes e a manutenção de uma boa qualidade de vida no
trabalho é fator primordial; existe também a necessidade de
implantação de normas com conteúdo que tendam a diminuir
a quantidade absurda de acidentes do trabalho no Brasil, não
só para diminuir o suposto déficit previdenciário, mas princi-
palmente para preservar a sociedade e a massa trabalhadora,
haja vista que sem a qual não existe produtividade e progresso
econômico.

2.2. Saúde e segurança no trabalho

Oliveira (2019) apresenta que a segurança do trabalho


pode ser entendida como os conjuntos de medidas que
são adotadas visando minimizar os acidentes de trabalho,

113
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
doenças ocupacionais, bem como proteger a integridade e a
capacidade de trabalho do trabalhador. Apresentaremos alguns
conceitos que aprofundam o tema, e também dissertaremos
como as empresas tem lidado com esse assunto. No Brasil, a
Legislação de Segurança do Trabalho compõe-se de normas
regulamentadoras, leis complementares, como portarias e
decretos e as convenções Internacionais da Organização
Internacional do Trabalho, ratificadas pelo Brasil.
O quadro de Segurança do Trabalho de uma empresa com-
põe-se de uma equipe multidisciplinar composta por Técnico de
Segurança do Trabalho, Engenheiro de Segurança do Trabalho,
Médico do Trabalho e Enfermeiro do Trabalho. Esses profission-
ais formam o que chamamos de Serviço Especializado em En-
genharia de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT).
Segundo Arruda (2016), saúde e segurança no trabalho
é o conjunto de normas e procedimentos adotados para a
integridade física e mental do trabalhador, preservando-o dos
riscos de saúde inerentes às tarefas do cargo e ao ambiente
físico onde são executadas. Apresenta também abaixo, 5 tópicos
relevantes sobre o tema na prática:
• A segurança do trabalho é uma ciência - quando se fala
em segurança do trabalho não se trata apenas de um
grupo de profissões voltadas ao cuidado do trabalhador,
mas de uma ciência que estuda a ocorrência de aci-
dentes do trabalho de forma a preveni-los e proteger a
saúde do trabalhador, garantindo seu bem-estar. Para
realizar essa função, a segurança do trabalho envolve
o conhecimento de áreas como medicina, engenharia,
enfermagem, estatística e epidemiologia, desenvol-
vendo diversas tecnologias, como os Equipamentos de
Proteção Individual (EPI);
• Atuar com segurança no trabalho requer uma equipe
multidisciplinar - os Serviços Especializados em Engen-
haria de Segurança e em Medicina do Trabalho (SES-
MT), regulamentados pela legislação trabalhista, são
compostos por: médico especializado em medicina do
trabalho, engenheiro de segurança do trabalho, enfer-
meiro do trabalho, técnico de segurança do trabalho e

114
Fabio A. da S. Arruda

auxiliar de enfermagem. Forma-se, assim, uma equi-


pe multidisciplinar capacitada para abordar qualquer
questão relacionada à segurança do trabalho. Vale res-
saltar, no entanto, que os profissionais exigidos no SES-
MT da empresa dependem do número de funcionários e
do grau de risco que aquela produção acarreta sobre o
trabalhador. Empresas com risco grau 2 (dois) e mais de
1000 funcionários precisam de um médico e um engen-
heiro em tempo parcial e um técnico de segurança do
trabalho e auxiliar de enfermagem em tempo integral,
por exemplo;
• A segurança do trabalho é regulamentada por leis - a
legislação trabalhista brasileira, com suas 37 normas
regulamentadoras, as já conhecidas NR’s -, e diversas
portarias, decretos e leis complementares, que deter-
minam exatamente como a segurança do trabalho deve
ser posta em prática em cada tipo de empresa, dessa
forma, nesses mesmos textos estão descritas também
as penalidades e multas que as empresas sofrerão ao
não cumprir tais exigências;
• A prevenção de acidente do trabalho inclui doenças ocu-
pacionais. Para a legislação trabalhista, o termo aciden-
te do trabalho inclui não apenas os acidentes propria-
mente ditos, como quedas e outros traumas acidentais,
mas também as doenças ocupacionais que surgem após
anos de trabalho: pneumoconioses, lesão por esforço
repetitivo, asma, lombalgia, etc;
• O investimento em segurança do trabalho é importante.
Em princípio, os gastos com segurança de saúde podem
parecer supérfluos, exagerados e até prejudiciais para
o lucro da empresa. No entanto, é importante que a
companhia compreenda que, com uma boa gestão em
segurança do trabalho, além de seguir a legislação e
evitar multas e outras penalidades, garante-se que sua
mão de obra estará saudável para produzir de forma
eficiente, reduzindo as faltas por problemas de saúde,
os afastamentos por licenças médicas, o pagamento de
indenizações, o número de acidentes e, até mesmo, o

115
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
valor dos impostos a serem pagos.

Figura 1 - Simbologias de saúde e segurança no trabalho

Fonte: Arruda (2016)

Mais que símbolos ou um departamento na empresa onde


são alocados profissionais de saúde e segurança do trabalho, a
prevenção deve ser considerada com um fator competitivo da
empresa, uma vez que os benefícios e custos envolvidos são
relevantes.
A adoção de um sistema de gestão de saúde e segurança
como a ISO 45001 - que tem por objetivo permitir a oferta de
locais de trabalho seguros e saudáveis, que previnam lesões e
doenças ocupacionais - é uma das alternativas apontadas por
Alonso (2019), o qual acrescenta que a ISO 45001 é o siste-
ma de gestão que pode prover uma estrutura adequada para
gerenciar riscos e oportunidades de SSO (Saúde e Segurança
Ocupacional) e agregar valor para qualquer organização, pois o
objetivo é gerar melhora significativa no desempenho de SSO
da organização, como a diminuição dos índices de acidente, en-
tre outros indicadores. Quando uma empresa se prontifica para
adoção de um sistema de SSO, os ganhos com produtividade
e custos tendem a aparecer, veja abaixo esta comparação de
custos.

116
Fabio A. da S. Arruda

CUSTOS DA NÃO-SEGURANÇA CUSTOS DE TER SEGURANÇA


Tempo dos trabalhadores
Custos do transporte e atendimento
utilizado durante as atividades
médico do acidentado
de treinamento

Prejuízos resultantes dos danos Custos dos treinamentos,


materiais a ferramentas, máquinas, conscientização e capacitação
materiais e ao produto dos trabalhadores

Pagamento de benefícios e
Custos com exames médicos de
indenizações aos acidentados e suas
monitoramento de saúde
famílias

Manutenção de equipes de SST


Pagamento de multas e penalizações
e respectivos encargos sociais

Tratamento de pendências jurídicas,


tais como processos criminais por Aquisição de equipamento de
lesões corporais, indenizatórios e proteção individual
previdenciários

Tempo não trabalhado pelo acidentado Tempo para desenvolvimento


durante o atendimento e no período de projetos e instalação de
em que fica afastado proteções coletivas

Tempo despendido pelos supervisores,


Placas de identificação e
equipes de SST e médico do trabalho
orientativas de SST
durante o atendimento

Manutenção da infraestrutura
Baixa moral dos trabalhadores, perda
nos canteiros (áreas de
de motivação e consequente queda de
vivência, refeitórios, alojamento,
produtividade
sanitários)

Custos com realização de


Tempo de paralisação das atividades
medições de condições
pelo poder público e consequente
ambientais (ruído, iluminação,
prejuízo a produção
vapores, etc.).

Tempo para a limpeza e recuperação Tempo para capacitação de


da área e reinício das atividades líderes e gestores em SST.

117
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

Tempo dos supervisores para


investigar os acidentes, preparar Custos com implementação
relatórios e prestar esclarecimentos e manutenção do sistema de
às partes interessadas: clientes, gestão em saúde e segurança.
sindicatos, MET, imprensa, etc.

Tempo de recrutamento e capacitação Custo com adoção de


de um novo funcionário na função do ferramentas proativas de
acidentado, durante o afastamento. prevenção.

Aumento dos custos dos seguros Tempo da liderança para


pagos pelas organizações (voluntários avaliação e análise crítica de
e obrigatórios). indicadores de SST.

Aumento dos custos para a sociedade


e o governo quanto ao pagamento Custo com pesquisa de
de benefícios previdenciários (auxílio tecnologias aplicadas a SST.
doença, pensões por invalidez, etc.).

Custos econômicos relativos ao Custos com implementação


prejuízo da imagem da empresa frente de programa de gestão
à sociedade e clientes. comportamental.

Quadro 2 - Custos envolvidos em saúde e segurança no trabalho

Fonte: Arruda (2016)

O quadro acima apresenta os custos para implantar um


sistema de saúde e segurança e os custos pela falta de segu-
rança. Alonso (2019) complementa ainda que as consequências
afetam o caixa de uma empresa, pois será necessário despend-
er gastos não esperados para cobrir o ocorrido. Recursos, inclu-
indo o tempo, também são consumidos, além de afetar a produ-
tividade de uma equipe pela falta de um membro prejudicado.
Estruturar um sistema de gestão de SSO é uma das formas de
garantir a excelência e um ambiente adequado para o alcance
dos resultados esperados pela organização.

118
Fabio A. da S. Arruda

2.3 Quase acidentes: caracterização e relevância

Os trabalhadores constituem o elo mais importante dentro


do complexo sistema de trabalho. Investir em prevenção, saúde
e segurança no trabalho é gestão de pessoas assim como investir
em qualificação dessa massa colaboradora é garantir um futuro
com menor probabilidade de problemas e maior probabilidade
de sucesso no negócio.
A busca pela excelência em segurança e saúde no trabalho
passa obrigatoriamente pela implementação de ações para
a melhoria do desempenho dos resultados de acidentes do
trabalho e melhoria nas condições de trabalho. Uma estratégia
relevante é o pensamento preventivo, Arruda (2020) apresenta
que muitas empresas se situam em um ambiente de perda na
zona reativa, isso significa que atuam somente quando ocorre
um acidente do trabalho, uma doença ocupacional, um acidente
com perda de produção ou uma autuação de órgãos fiscalização
do trabalho. Por outro lado, o pensamento de administração
prevencionista, pressupõe uma atuação da gestão na zona
proativa, onde o cenário ainda é o de desvio.
Atuar de forma preventiva significa desenvolver sistemáticas
de trabalho para identificação, análise e tratamento dos desvios
antes que esses se materializem em uma perda, este é o conceito
da teria do Teoria do Iceberg em Segurança do Trabalho proposto
por Arruda (2020), pois, segundo ele, todo desvio não tratado
tem grande possibilidade de se materializar em um perda, da
mesma forma que o sol derrete a crista do iceberg e a parte de
baixo que estava submersa e escondida, sobe para a superfície
do oceano.

119
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

Figura 2 – Teoria do iceberg em segurança do trabalho

Fonte: Arruda (2020)

O quase acidente é uma ferramenta proativa e que merece


grande destaque no sistema de gestão de saúde e segurança
ocupacional, pois gera aprendizados dos desvios presentes
na organização e que podem gerar acidentes, caso não sejam
tratados de forma eficiente.
O conceito de quase-acidentes, assim como o de acidente,
é variável em função de seus objetivos para fins preventivos, do
contexto em análise e dos interesses dos envolvidos. Nesse sen-
tido, as principais divergências verificadas na literatura acerca
da definição de quase acidente dizem respeito às consequências
do evento, uma vez que em alguns contextos eles podem gerar
danos pessoais, materiais ou combinação de ambos e em outros
não. Assim, a consequência atribuída a um quase-acidente vai
depender do que se considera como consequências do acidente
em um determinado contexto. Contudo, deve ser destacado que
dentro de um mesmo contexto podem existir diferentes visões
em função, especialmente, dos interesses dos grupos envolvi-

120
Fabio A. da S. Arruda

dos em sua definição.


Cambraia, Saurin, e Formoso (2015) salienta que a pala-
vra incidente é também utilizada com significado semelhante à
quase-acidente, embora não exista consenso na literatura. Para
alguns autores, em especial aqueles que estudam a gestão da
segurança na indústria química e normas de sistemas de gestão
mais atuais, incidente e quase-acidente são conceitos distintos.
Nessa linha, os incidentes são todos os eventos indesejáveis
à segurança, o que engloba acidentes, quase-acidentes, atos
e condições inseguras (BRAZIER, 1994; JONES et al., 1999;
VAN DER SCHAFF; KANSE, 2004). Uma outra corrente defende
que, tanto o termo incidente quanto quase-acidente, podem ser
empregados para descrever eventos de mesma natureza (GUI-
MARÃES; COSTELLA, 2003; REASON, 1997; SAURIN, 2002).
Nesse artigo considera-se que esses termos são distintos e po-
dem ser melhor compreendidos nas práticas de gestão por meio
da proposta defendida pela primeira corrente de autores dis-
cutida.
De forma geral, os quase-acidentes são entendidos como
sinais iminentes de um acidente (JONES et al., 1999). Para Bier
e Mosleh (1990), são os precursores dos acidentes e para Bra-
zier (1994) são indicadores de potenciais acidentes quando a
sorte deixa de estar ao nosso lado.
Reason (1997) afirma que o quase-acidente é qualquer
evento que poderia ter resultado em consequências graves. Eles
podem variar de uma penetração parcial das defesas a situ-
ações nas quais todas as proteções disponíveis foram vencidas,
embora nenhum prejuízo significativo tenha ocorrido. Ele ainda
destaca que a identificação e análise dos quase-acidentes for-
nece feedback positivo sobre a resistência do sistema, principal-
mente quando as defesas funcionam como planejado, mas, em
alguns casos, representam feedback negativo, na medida em
que pequenos danos pessoais e materiais podem ser gerados.
Segundo Arruda (2020) o quase acidente um evento não es-
perado que tinha potencial para gerar perda, porém por questão
de tempo, espaço ou ainda atuação dos controles a perda não
ocorreu. Completa ainda que todo quase acidente tem liberação
de energia que é o evento desencadeado com possibilidade de

121
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
gerar a perda. As energias podem ser: mecânica (movimento)
térmica (calor), elétrica (potencial elétrico), química (reações
químicas), hidráulica (fluido líquidos), nuclear (desintegração
do núcleo), dentre outras.
Os quase-acidentes ocorrem em decorrência de condições
de inseguras, comportamentos de riscos ou ainda pela combi-
nação destes, nos quais existe uma sequência dos fatos, caso
não fosse interrompida, poderia provavelmente causar danos
ou impactos (lesões, perdas financeiras ou danos ao meio am-
biente). A figura 3 abaixo apresenta o encadeamento destes
eventos de forma ilustrativa.

Figura 3 – Encadeamento da condição insegura ao dano

Fonte: Arruda (2020)

• Condição insegura - situação de trabalho abaixo de


padrões ou requisitos pré-estabelecidos. Exemplos:
buraco na calçada, ferramentas inadequadas disponíveis
para o trabalho, içamento de carga com fixação inade-

122
Fabio A. da S. Arruda

quada e etc.;
• Comportamento de risco - são ações ou omissões de
pessoas no ambiente de trabalho que ampliam o nível
de risco das atividades. Exemplos: dirigir e usar o celu-
lar, trabalhar em altura e não fixar o cinto de segurança,
passar sob carga suspensa e etc.;
• Quase acidentes - Um evento não esperado que tinha
potencial para gerar perda, porém por questão de tem-
po, espaço ou ainda atuação dos controles a perda não
ocorreu, todo quase acidente tem liberação de ener-
gia. Exemplos: empregado quase recebeu um choque
elétrico (energia elétrica); empregado quase foi atingido
na face por água quente proveniente de uma mangueira
em alta pressão que se desprendeu (energia térmica e
energia hidráulica); empregado quase foi atingido por
uma carga que se desprendeu (energia mecânica);
• Perda / Impacto – É a materialização da perda que
ocorrer em eventos futuros se as causas de um quase
acidente não forem identificadas, analisadas e tratadas.
Exemplos: acidentes pessoais (lesões ou perturbações
funcionais), acidentes materiais (perda de produção,
perda em ativo da empresa ou impacto financeiro) ou
ainda acidentes ambientais (impactos ambientais).
O quase acidente também deve ser visto pelo seu potencial
ou magnitude da perda ou dano que poderia ter gerado, quanto
maior a possibilidade do dano, mas relevante deve ser o pro-
cesso de identificação, análise e tratamento das causas. Para
diferenciar os conceitos envolvidos no gerenciamento de riscos
e tratamento de incidentes, Arruda (2020) elaborou uma árvore
com derivações dos conceitos de forma didática.

123
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

Figura 4 – Árvore de conceitos em saúde e segurança

Fonte: Arruda (2020)

Hinze (1997) defende que é importante conhecer os


quase-acidentes e desenvolver planos para reduzir ou eliminar
a possibilidade de um acontecimento semelhante. Além disto,
os quase-acidentes tendem a ser muito mais frequentes que os
acidentes, indicando áreas críticas para melhorias na gestão da
segurança.
Reason (1997) reconhece as dificuldades para a coleta
desses eventos, uma vez que o relato dos mesmos depende da
boa vontade dos indivíduos. Segundo Van der Schaaf e Kanse
(2004), na perspectiva dos trabalhadores, os fatores que influ-
enciam no relato de quase-acidentes podem ser reunidos em
quatro grupos:
• Medo de ação disciplinar, como resultado de uma cultura

124
Fabio A. da S. Arruda

de se buscar culpados;
• Aceitação do perigo, pois esses eventos são vistos como
algo que faz parte do trabalho e não podem ser preve-
nidos ou da cultura machista existente em alguns ambi-
entes industriais;
• Inutilidade, ou seja, não percepção e entendimento de
como a gerência utiliza as informações para melhorias
no sistema e;
• Razões práticas, isto é, a percepção de que é difícil cole-
tar esses eventos, além de consumir muito tempo.
O aprendizado organizacional é a obtenção de conhecimen-
tos formais e informais a respeito de dinâmicas e necessidades
corporativas que proporcionam à empresa instituir um modelo
próprio de gestão, habilitando e ensinando seus colaboradores
com o propósito de conquistar bons resultados. O quase aciden-
te são eventos que representam ainda o lado positivo (proativo)
do controle da segurança (JONES et al., 1999; VAN DER SCHAAF,
1995), visto que o foco de atenção está em eventos aquém
dos acidentes, os quais, além de serem mais raros, geram um
clima psicológico muito negativo. Os quase-acidentes também
auxiliam na priorização dos riscos em um sistema de gestão da
segurança e no fortalecimento da cultura de segurança entre os
trabalhadores, quando os mesmos são motivados a participar
do processo de coleta e não sofrem qualquer tipo de punição.

125
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

3. MÉTODO

A metodologia de pesquisa se baseou em um estudo quan-


titativo, de caráter descritivo, utilizando-se para coletas de da-
dos técnicas de análise documental, observação e aplicação
de 203 questionários através de amostra não probabilística. A
aplicação dos questionários elaborado pelo pesquisador ocor-
reu no período de 15/02/2020 a 15/03/2020, sendo que o
pesquisador encaminhava eletronicamente os formulários via
planilha eletrônica da plataforma Forms (https://forms.gle/
mXHwh5jqHe5pn2tR6) para os líderes e profissionais de saúde
e segurança no trabalho, apresentava os objetivos da pesqui-
sa, os comandos das questões do formulário para garantir a
compreensão e os convidava a responderem voluntariamente a
pesquisa que demorava, em média, 10 minutos.

126
Fabio A. da S. Arruda

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa tinha como objetivo analisar a contribuição dos


registros de quase acidentes no aprendizado organizacional
como estratégia de prevenção de acidentes do trabalho. Os lí-
deres e profissionais de saúde e segurança são atores principais
deste contexto, pois vivenciam em suas organizações a reali-
dade da prevenção de acidentes, assim como as dificuldades
enfrentadas neste contexto.

Gráfico 1 – Perfil do participante da pesquisa, sexo

Fonte: Dados da pesquisa

O gráfico 1 acima demostra que a maior parte dos respon-


dentes, 68% são do sexo masculino, o que demostra que as
equipes de saúde e segurança nas empresas em nosso país
ainda é muito masculinizado.

127
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

Gráfico 2 – Perfil do participante da pesquisa, idade

Fonte: Dados da pesquisa

O gráfico 2 avaliou faixa etária dos respondentes da pesqui-


sa, e aferiu que 76,9% tem entre 25 a 45 anos de idade, dem-
ostrando que são profissionais maduros na função, por outro
lado demostra a dificuldade dos jovens de até 25 anos de in-
gressarem na profissão, pois estes representam apenas 2,5%
do público pesquisado.

Gráfico 3 – Perfil do participante da pesquisa, instrução

Fonte: Dados da pesquisa

128
Fabio A. da S. Arruda

O gráfico 3 avaliou o nível de instrução dos respondentes


da pesquisa, e aferiu que 76% possui graduação, sendo que
58,7% do público total já possuem especialização, mestrado
ou doutorado, demostrando que são profissionais capacitados e
que buscam cada vez mais alto grau de instrução como forma
de se prepararem para o mercado de trabalho e terem conhec-
imento na área de atuação.

Gráfico 4 – Perfil do participante da pesquisa, segmento que atua

Fonte: Dados da pesquisa

O gráfico 4 avaliou o segmento de atuação das empre-


sas que os respondentes da pesquisa trabalham, e aferiu que a
maior parte 56% atuam na indústria, sejam elas; indústrias de
bens de produção, indústrias de bens intermediários e indústri-
as de bens de consumo.

129
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

Gráfico 5 – Perfil do participante da pesquisa, região do Brasil

Fonte: Dados da pesquisa

O gráfico acima demonstra a região do Brasil onde os re-


spondentes da pesquisa residem, e aferiu que a maior parte
(44,3%) residem na região Nordeste, mas a pesquisa teve
abrangência nacional e teve expressiva participação em todas
as 5 (cinco) regiões do país.

Gráfico 6 – Sua empresa tem processo estruturado para registro, análise e


tratamento de quase acidente.

Fonte: Dados da pesquisa

O gráfico 6 explicita sobre o processo de registro, análise

130
Fabio A. da S. Arruda

e tratamento de quase acidente na empresa dos respondentes


funciona de forma estruturada, para isso eles deveriam avaliar
de 1 (um) a 5 (cinco), sendo 1 (um) discordo totalmente e 5
(cinco) concordo totalmente. A maior parte dos respondentes,
71% concordam que suas empresas tem um processo estru-
turado para gestão de quase acidentes.

Gráfico 7 – O empregado que registra um quase acidente está engajado


com os objetivos da empresa em prevenir acidentes

Fonte: Dados da pesquisa

O gráfico 7 demonstrou se na percepção dos respondentes


da pesquisa o empregado que registra um quase acidente está
engajado com os objetivos da empresa em prevenir acidentes,
considerando a seguinte escala: 1 (um) discordo totalmente e 5
(cinco) concordo totalmente. A maior parte dos respondentes,
78,3% concordaram que o empregado que se preocupa em
registrar os quase acidentes estão também demostrando seu
compromisso e preocupação com a prevenção de acidentes.

131
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

Gráfico 8 – Registrar, analisar e tratar um quase acidente ajuda a prevenir


futuros acidentes

Fonte: Dados da pesquisa

No gráfico 8 é possível analisar se na percepção dos


respondentes da pesquisa o processo de registrar, analisar e
tratar um quase acidente ajuda a prevenir futuros acidentes,
considerando a seguinte escala: 1 (um) discordo totalmente
e 5 (cinco) concordo totalmente. A grande maioria dos
respondentes, 98,5% concordam que ao realizar a gestão
do quase acidente e tratar suas causas, a empresa estará
diminuindo a possibilidade de ter um acidente no futuro.

Gráfico 9 – O processo de tratamento de quase acidente gera aprendizado


organizacional

Fonte: Dados da pesquisa

132
Fabio A. da S. Arruda

O gráfico 9 trata da percepção dos respondentes da pesqui-


sa sobre o processo de tratamento de quase acidente, se gera
aprendizado organizacional, considerando 1 (um) para discor-
do totalmente e 5 (cinco) para concordo totalmente; a grande
maioria dos respondentes, 96,5%, concordou que, ao realizar
a gestão do quase acidente, a empresa agrega conhecimentos
intrínsecos das causas e fatores de trabalho que falharam e
que isso se materializa em aprendizado organizacional e pre-
venção de acidentes.

Gráfico 10 – A maior dificuldade para registrar quase acidentes na empre-


sa?

Fonte: Dados da pesquisa

No gráfico 10, o estudo destaca a maior dificuldade em


registrar quase acidente pelos empregados, e as 3 (três) prin-
cipais causas que são elencadas pelos 203 respondentes da
pesquisa são: medo de represália ou punição com 24%, falta
de incentivo da liderança com 21%, e falta de interesse dos
empregados.

133
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No intuito de buscar respostas assertivas acerca dos ques-


tionamentos que originam a investigação, a presente pesquisa
procurou contribuir para os estudos sobre a gestão de saúde e
segurança no trabalho nas empresas, procurando explorar mais
especificamente as relações entre a quase acidentes e apren-
dizado organizacional como estratégia de prevenção de aci-
dentes nas organizações.
O acidente de trabalho é um problema concreto enfrentado
por uma parcela significativa de profissionais no cotidiano do
mundo do trabalho. Tal problema tem muitas faces interligadas,
envolvendo as dimensões humana, social e econômica. Diver-
sas teorias e modelos definem o acidente do trabalho como um
evento complexo que ocorre dentro das organizações.
A taxionomia do acidente do trabalho apresentada neste
estudo demonstra que existe uma tragédia em curso no Brasil,
da qual pouco se fala e que nada tem a ver com guerras ou de-
sastres naturais. Ainda assim, o termo “tragédia” é bem empre-
gado, pois a quantidade de vítimas e a gravidade das sequelas
são absurdas. Existe uma necessidade iminente de políticas
públicas eficientes, maior atuação dos órgãos de fiscalização e,
ainda, maior compromisso das empresas para diminuir a quan-
tidade absurda de acidentes do trabalho, não só para diminuir
o suposto déficit previdenciário brasileiro, mas, principalmente,
para preservar a sociedade e a massa trabalhadora, sem a qual
não existe produtividade e progresso econômico.
Concluímos que necessitamos desenvolver o pensamento
preventivo e que o quase acidente é uma ferramenta proativa
que merece grande destaque no sistema de gestão de saúde
e segurança ocupacional, pois gera aprendizados dos desvios
presentes na organização e que podem gerar acidentes, caso
não sejam tratados de forma eficiente. O quase acidentes é
um evento não esperado que tinha potencial para gerar perda,
porém por questão de tempo, espaço ou ainda atuação dos con-
troles a perda não ocorreu, todo quase acidente tem liberação

134
Fabio A. da S. Arruda

de energia.
Realizando uma análise sintetizada dos resultados do
questionário aplicado, verificamos que investir no registro de
quase acidente é uma estratégia viável para prevenção de
acidentes, pois 98,5% dos 203 líderes em especialistas em
saúde e segurança de todo o Brasil que responderam à pesquisa
acreditam que ao realizar a gestão do quase acidente e tratar
suas causas a empresa estará diminuindo a possibilidade de ter
um acidente no futuro. Outro ponto relevante é a contribuição
do quase acidente para o aprendizado organizacional, pois
96,5% dos respondentes desta pesquisa também concordam
que ao realizar a gestão do quase acidente a empresa agrega
conhecimento intrínsecos das causas e fatores de trabalho
que falharam e que isso se materializa em aprendizado
organizacional e prevenção de acidentes.
Organizações de sucesso são aquelas que investem no
aperfeiçoamento e desenvolvimento das pessoas e dos proces-
sos. As empresas dependem das pessoas para seu planejamen-
to, organização e sucesso, sendo recursos organizacionais im-
portantes dentro de seu negócio. Investir em saúde e segurança
das pessoas é garantir um futuro com menor probabilidade de
problemas e maior possibilidade de sucesso no negócio. Nesse
caso, investir em quase acidente traz maior aprendizado organi-
zacional sobre os riscos, o que confere menor probabilidade de
ocorrência de acidentes do trabalho, invista no quase acidente.

135
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

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137
7

SEGURANÇA NA UTILIZAÇÃO
DE DRONES EM ATIVIDADES
INDUSTRIAIS: LEGISLAÇÃO E BOAS
PRÁTICAS

Harrinson Barros Palhano

Possui formação na área Técnica em Segurança do Trabalho, Grad-


uado em Administração de Empresas pela Faculdade Atenas Mara-
nhense (FAMA), Pós-Graduado em Gestão Estrategisca de Negocios
pelo Instituto Cotenar - MG, Bacharel em Teologia pela Filemom Es-
cola Superior de Teologia - ES. Atua a 13 anos na área de saude e se-
gurança do trabalho, passando por empresas como Proativa / Alumar
(Alcoa), Camargo Correia e Vale, onde desenvolvel trabalhos junto
as áreas de manuteção, operação e energia atuamente na Vale S/A,
suporta a Gerência de Investimentos Correntes no Terminal Maritimo
Ponta da Madeira em São Luis-MA. Dentre os trabalhos desenvolvido
destaca-se: Gestão de Contratadas, Gestão de Treinamentos, Con-
sultoria de Saúde e Segurança em áreas de Manutenção e Oper-
ação; Auditorias Internas; Instrutor de Treinamentos; Implantação
de Preogramas de SSMA e Investigação e Análise de Incidentes.
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

RESUMO

O
emprego da tecnologia tem sido cada vez mais evidente
nos diversos processos das organizações, objetivando o
aumento da produção, otimização de processos, quali-
dade de produtos, dentre outros. De tal forma, a tecnologia
também tem contribuído para redução dos cenários de risco
que podem resultar em danos à integridade física das pessoas
e das instalações. A utilização de drones vem crescendo e se
popularizando não só para fins recreativos, mas também nos
diversos ramos econômicos, principalmente em plantas indus-
triais; a aplicabilidade dos drones se traduzem em ganhos nos
resultados das mais diversas atividades e na segurança dos
empregados pela possibilidade de reduzir a exposição desses
aos riscos inerentes as atividades industriais. Em contrapartida,
a operação de drone também é considerada uma atividade, e
como tal forma, requer a aplicação de medidas de controle que
visam uma operação segura.

Palavra-Chave: Drone; Planta Industrial; Segurança Ocu-


pacional.

140
Fabio A. da S. Arruda

1. INTRODUÇÃO

As atividades realizadas em plantas industriais estão en-


tre as mais perigosas, devido à complexidade dos processos
produtivos. De acordo com Moraes (2010), a organização é
um sistema complexo constituído por um conjunto de partes
independentes, articuladas e que cooperam para a realização
econômica comum; essa complexidade é integrada e caminha
de forma harmônica por meio de um sistema de gestão.
Dentre as partes que integram esse sistema, vale destacar
a gestão de saúde e segurança que, por meio da aplicação de
suas diversas ferramentas, vai transitar nos diversos setores
da organização com o objetivo de prevenir perdas e minimizar
riscos.
A aplicação das ferramentas de gerenciamento de risco de
saúde e segurança contribui para o estudo do risco e logo favo-
rece na implementação de medidas de controles mais eficazes,
que eliminam ou controlam o risco por meio da redução ou da
retirada do empregado da exposição a esse risco. Uma das alia-
das nesse processo é o emprego da tecnologia, dentre as mais
diversas iniciativas, cabe destacar a utilização do popularmente
conhecido Drone.
Drone é um termo popular para uma aeronave não tripula-
da. Este termo ganhou destaque em função do ruído produzido
pelas hélices ser similar ao ruído do zangão, macho entre as
espécies de abelhas e que em inglês é drone. De acordo com
MINUCIO (2019), no Brasil os drones são regulamentados por
três órgãos: Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel),
Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e O Departamento de
Controle do Espaço Aéreo (DECEA).
A ANATEL exerce papel relativo sobre dispositivos e equi-
pamentos que emitam ou funcionem a base de radiofrequência
para evitar interferências desnecessárias e demais problemas
que podem ser causados. Desta maneira, assim como celulares,
controles remotos, notebooks e outros dispositivos, os Drones

141
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
obrigatoriamente precisam ser homologados (tanto rádio quan-
to a aeronave) pela agência.
A ANAC é quem estabelece as regras e regulamenta o uso
do espaço aéreo brasileiro por Drones por intermédio da RBAC-
94. A ANAC criou um sistema no qual o piloto ou responsável
pelo Drone preenche um cadastro rápido com informações pes-
soais e registra o Drone com informações como modelo e nú-
mero de série da aeronave. Este sistema gerará um arquivo tipo
pdf. com as informações do registro, que posteriormente será
requerido no cadastro do sistema do DECEA.
O DECEA, que é o departamento militar responsável pelo
controle do espaço aéreo, se responsabiliza em ceder autoriza-
ção de voo via sistema, o sistema oficial SARPAS. Nessa solici-
tação, o operador informará dados como local do voo, aeronave
utilizada, período, altura e outros dados básicos que o departa-
mento utilizará para avaliar se é viável conceder a liberação da
decolagem, de acordo com as regras vigentes e o tráfego aéreo
presente.
Dada a importância do tema e uma vez conhecido os ór-
gãos que regulamentam a operação de drones, o objetivo deste
artigo é apresentar um levantamento de todas as exigências
para a operação segura de drones em plantas industriais.

142
Fabio A. da S. Arruda

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. Drone

De acordo com a ANAC (2017) o termo “drone” é usado


popularmente para descrever qualquer aeronave (e até mesmo
outros tipos de veículos) com alto grau de automatismo. De
forma geral, toda aeronave drone é considerada uma aeronave
não tripulada categorizada como Aeromodelo, RPA ou Aeronave
Não Tripulada Autônoma.
Pereira (2017) comenta que o surgimento dos drones se
deu por necessidades militares ainda durante a Segunda Guerra
Mundial. As grandes potências buscavam aplicações tecnológi-
cas para melhorar sua eficácia de ataque ao inimigo. O primeiro
drone criado foi inspirado em uma bomba, o principal objetivo
era criar uma arma de detonação remota, conhecida como buzz
bomb, desenvolvida pela Alemanha.
Os drones tinham como objetivo permitir que soldados vi-
giassem ou até mesmo atacassem uma determinada região. O
equipamento era usado para não expor os soldados, também
serviam como apoio em meio a ataques e espionagens, e até
mesmo para enviar mensagens.
O modelo de drone conhecido hoje foi inventado pelo israe-
lita e engenheiro espacial, Abe Karem; cuja invenção este fora
batizada de Aquila. O drone possuia 20 horas de autonomia de
voo de e eram necessárias 30 pessoas para pilotá-lo; aplicação
era para uso militar.
Ao fundar a empresa Leading System, Karem desenvolveu
seu segundo drone, cujo nome era Albatross, utilizando pouca
tecnologia, no entanto, com autonomia de 56 horas e sendo
operado por apenas 3 (três) pessoas. Após a demonstração do
Albatross, Karem teve quem o financiasse para aprimorar o pro-
tótipo esurgiu o Amber.
No Brasil, o primeiro drone ficou conhecido como BQM1BR.
Um protótipo de veículo aéreo não tripulado (VANT) que funcio-

143
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
na com propulsão a jato e o voou pela primeira vez em 1983. Os
primeiros modelos eram para fazer apenas imagens e vídeos.
Hoje os drones podem ser utilizados nas mais diversas áreas e
atividades.

2.2. Atividades Industriais

Industria é um conjunto de operações que permitem obter,


transformar ou transportar produtos naturais. As plantas indus-
triais, por conseguinte, são as fábricas onde se elaboram di-
versos produtos. Trata-se daquelas instalações que dispõem de
todos os meios necessários para desenvolver um processo de
fabricação. Uma planta industrial é formada pelo edifício em si,
as instalações específicas (como a climatização, o saneamento,
etc.) e as maquinarias.
Segundo Penha (2020) a classificação da atividade indus-
trial é realizada com base em um critério predeterminado e visa
a diferenciação e agrupamento dos tipos de indústria existentes
para, assim, possibilitar uma melhor compreensão da forma
como o setor secundário da economia se estrutura. Entre esses
critérios, os principais são o tipo de atividade realizada, a final-
idade dos bens produzidos, o setor de atuação e outros.

2.3. Segurança Ocupacional



A Segurança do Trabalho corresponde ao conjunto de ciên-
cias e tecnologias que tem por objetivo proteger o trabalhador
em seu ambiente de trabalho, buscando minimizar e/ou evitar
acidentes de trabalho e doenças ocupacionais. Assim, dentre as
principais atividades da segurança do trabalho, podemos citar:
prevenção de acidentes, promoção da saúde e prevenção de
incêndios
No Brasil, a segurança e saúde ocupacionais estão regula-
mentadas e descritas como Serviço Especializado em Engenha-
ria de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT), que está

144
Fabio A. da S. Arruda

regulamentado em uma portaria do Ministério do Trabalho e


Emprego (MTE), Norma Regulamentadora (NR) 04 e, portanto,
na legislação trabalhista brasileira.
Na Norma Regulamentadora (NR) 04 está descrito como
devem ser organizados os Serviços Especializados em Engen-
haria de Segurança e em Medicina do Trabalho, buscando di-
minuir os acidentes de trabalho e as doenças ocupacionais. Para
alcançar esses objetivos e cumprir com suas funções, o SESMT
deve ser constituído por: médico do trabalho, engenheiro de
segurança do trabalho, enfermeiro do trabalho, técnico de se-
gurança do trabalho, auxiliar de enfermagem, sendo o número
de profissionais necessários determinado pelo número de tra-
balhadores e grau de risco.
O SESMT tem como finalidade a prevenção e é desem-
penhado pelos profissionais que o compõe, abrangendo em seu
cerne profissionais com conhecimentos de engenharia de segu-
rança e de medicina ocupacional no ambiente de trabalho, de
forma a reduzir ou eliminar os riscos à saúde dos trabalhadores.
Dentre as atribuições dos SESMT, podemos citar a análise de
riscos, a orientação dos trabalhadores quanto ao uso dos equi-
pamentos de proteção individual e o registro dos acidentes de
trabalho.

145
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

3. MÉTODO

Antes de toda operação com drone, é importante conhecer


as normas aplicáveis conforme disposto por cada órgão que
regulamenta essas operações, a tabela abaixo demostra as nor-
mas associada a cada órgão.

Figura 1 – Normas aplicáveis as operações de drone.

Fonte: Orientações para usuários de drones.

Os drones ou Aeronave Remotamente Pilotada (RPA) po-


dem ser utilizados nas mais diversas finalidades e áreas, como
por exemplo: Inspeção de redes elétricas, Inspeção de estrutu-
ras, Agricultura, Mineração, Fiscalização, Policiamento, Mapea-
mento, Cobertura de Eventos. Em contrapartida, a sua ope-
ração dever seguir uma série de exigências estabelecidas na
legislação para uma operação segura. Essas exigências serão
definidas conforme a classe do drone ou o tipo de operação.

Os drones ou RPA – Aeronave Remotamente Pilotadas são

146
Fabio A. da S. Arruda

classificados em três classes, de acordo com o Peso Máximo de


Decolagem (PMD) da RPA, da seguinte maneira:
a. Classe 1: RPA com PMD maior que 150 kg;
b. Classe 2: RPA com PMD maior que 25 kg e menor ou
igual a 150 kg;
c. Classe 3: RPA com PMD menor ou igual a 25 kg.

Figura 2 – Drone ou RPA Multirotor.

Fonte: Dados de pesquisa.

Figura 3 – Drone ou RPA de Asa Fixa.

Fonte: Dados de pesquisa.

Além dos tipos de classes das aeronaves, as suas operações


também são definidas em 3 tipos:
1. Operação BVLOS: Operação na qual o piloto não
consegue manter o drone dentro de seu alcance visual,
mesmo com a ajuda de um observador.

147
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
2. Operação VLOS: Operação na qual o piloto mantém o
contato visual direto com o drone, sem auxílio de lentes
ou outros equipamentos.
3. Operação EVLOS: Operação na qual o piloto remoto só é
capaz de manter contato visual direto com o drone com
auxílio de lentes ou de outros equipamentos e precisa
do auxílio de observadores de drone.

Figura 4 – Tipos de Operação

Fonte: Orientações para usuários de drones

Uma vez definido os tipos de classes de aeronaves e os ti-


pos de operações, podemos resumir a regulamentação da ANAC
no quadro abaixo:

Figura 5 – Resumo da regulamentação da ANAC

Fonte: Orientações para usuários de drones.

148
Fabio A. da S. Arruda

De forma didática, estão organizadas abaixo as liberações


necessárias para a realização dos voos com drones; tais
liberações envolvem a aeronave, o piloto e o voo.

Figura 6 – Fluxo de Liberação de Aeronave, Piloto e Voo

Fonte: Dados de pesquisa.

Com a definição de todas as regras para a realização de


voos com drones, serão relatados os procedimentos mínimos de
segurança para a operação de drones em atividades industriais,
conforme listados abaixo:
a) Inicialmente o voo tem que ser solicitado no sistema
SARPAS, sendo que o mesmo deverá ser aprovado pelo
DECEA;
b) Uma Análise de Risco deverá ser elaborada, contemplando
todos os riscos e controles da operação;
c) Deve ser realizada uma inspeção na aeronave, antes da
operação, para identificar possíveis anomalias que po-
dem comprometes a operação;
d) O piloto deverá portar todos os documentos obrigatórios

149
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
para a operação de drone, conforme a classe da
aeronave, os documentos obrigatórios são compostos
por: Etiqueta de homologação da ANATEL, Registro
no Sisant da aeronave, Registro do piloto (SARPAS);
Apólice de seguro RETA válido, Manual do equipamento,
Comprovação da liberação de voo pelo DECEA – SARPAS
e Análise de Risco;
e) Somente pessoas capacitadas e autorizadas poderão pi-
lotar os drones;
f) Deverão ser seguidas todas as recomendações constan-
tes no manual do drone, do transporte e montagem do
equipamento;
g) Não poderá ser feita qualquer alteração que descaracte-
rize as condições originais das aeronaves não tripuladas
(drone), exceto mediante laudo técnico de profissional
habilitado;
h) As operações de drone deverão ser paralisadas quando
se verificarem condições adversas de clima, tais como:
risco de descargas atmosférica, chuva, ventos fortes,
etc. para devida verificação das condições climáticas.
i) Durante os voos deve ser mantida uma distância máxi-
ma de aproximação de redes elétricas, máquinas, equi-
pamentos, estruturas prediais e pessoas conforme defi-
nido em legislação;
j) Para a realização da operação de drones, os pilotos de-
verão fazer uso dos Equipamentos de Proteção Indivi-
dual (EPI), conforme a análise de risco;
k) Os drones deverão possuir um plano de manutenção
conforme a recomendação do fabricante da aeronave.
O piloto deverá atentar para as proibições especificadas na
legislação:
• Na operação de aeronave não tripulada, deverá ser
respeitada a área distante de terceiros determinadas
pelo operador. A área distante de terceiros deve ser
considerada a partir de certa distância horizontal da

150
Fabio A. da S. Arruda

aeronave não tripulada em operação – nunca inferior


a 30 metros - na qual pessoas não envolvidas e
não anuentes no solo não estão submetidas a risco
inaceitável a segurança. O limite de 30 metros não
precisa ser observado caso haja uma barreira mecânica
suficientemente forte para isolar e proteger as pessoas
não envolvidas e não anuentes na eventualidade de um
acidente.
• A ANAC permite a operação de aeronaves não tripuladas
perto de pessoas sem observar os critérios das áreas
distantes de terceiros desde que essas pessoas tenham
dado expressamente a sua anuência, manifestando,
dessa forma, a sua vontade.
• O voo de aeronave não tripulada não poderá ser contin-
uado pelo piloto remoto em comando de uma aeronave
não tripulada, quando ocorrerem problemas mecânicos,
elétricos ou estruturais que comprometam a segurança
da operação. Assim que detectado e informado pelo App
de interface ou visualmente, deverá interromper oper-
ação.
• Durante todas as fases do voo é expressamente proibi-
da a ausência de um piloto remoto para a operação na
Estação de Pilotagem Remota (Remote Pilot Station –
RPS). Obs.: É admitida a troca do piloto remoto em co-
mando durante a operação por outro piloto que atenda
todas as exigências da lei.
• O início de uma operação de aeronave não tripulada
somente é iniciado se, considerando vento e demais
condições meteorológicas conhecidas, houver autono-
mia suficiente para realizar o voo e pousar em segu-
rança no local previsto.
• É expressamente proibido realização de voos sem a
seguinte documentação: Certidão de Cadastro da Aero-
nave, Manual de voo, a apólice de seguro ou o certifica-
do de seguro.
• Pousos e decolagens de Aeronave Remotamente Pilota-

151
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
da (Remotely Piloted Aircraft – RPA (DRONE)) somente
são realizados sob total responsabilidade do piloto re-
moto em comando e/ou do operador desde que: (1) o
pouso ou a decolagem seja feito em áreas distantes de
terceiros e que não haja proibição de operação no local
escolhido.
• Antes do início da operação deverá ser determinado uma
ou mais áreas para pouso de emergência (crash site).
• Antes de iniciar um voo, o piloto remoto em comando
de uma aeronave não tripulada deverá ter ciência de
todas as informações necessárias para o planejamento
do voo.
• Caso não tenha todas as informações é expressamente
proibido o início do voo.
• É expressamente proibido que um piloto remoto opere
mais de um sistema de Aeronave Remotamente Pilotada
(Remotely-Piloted Aircraft System – RPA (DRONE)S) por
vez. Piloto de RPA (drone) somente poderá pilotar uma
aeronave por vez, sem aplicabilidade de exceções.
• É proibido o transporte de pessoas, animais, artigos
perigosos referidos no RBAC nº 175 ou carga proibida por
autoridade competente em aeronaves não tripuladas;
• É vedado operar uma aeronave não tripulada, mesmo não
sendo com o propósito de voar, de maneira descuidada
ou negligente, colocando em risco vidas ou propriedades
de terceiros.
• É proibida a operação autônoma de aeronaves não
tripuladas, onde o operador não possui poder de alterar
dados de voos automáticos; as operações totalmente
autônomas desses equipamentos, ou seja, naquelas
onde o piloto remoto não é capaz de intervir, continuam
proibidas no país. Essas operações diferem-se das
automatizadas, nas quais o piloto remoto pode interferir
em qualquer ponto.
• É expressamente proibido voar acima do permitido pela

152
Fabio A. da S. Arruda

legislação conforme o tipo de operação.


• É proibido a operação de RPA’s nas imediações de aero-
portos, complexos penitenciários e helipontos.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A utilização de drones em atividades industriais tem per-


mitido a redução da exposição dos empregados a riscos com
alto potencial de perda, como por exemplo:
• Inspeções em redes elétricas e lançamento de cabos;
• Inspeções em telhados e estruturas de equipamentos;
• Monitoramento de pátios de estocagem de minério.
Em contrapartida, para que essas atividades sejam
realizadas de forma segura, cabe a implementação de um
procedimento de segurança para a operação de drones, além
do cumprimento de toda a legislação aplicável.
Logo, dentre os resultados obtidos com o estudo da utilização
de drones em atividades industriais, está a implementação deste
procedimento, o qual irá definir diretrizes para uma operação
segura, conforme a classe do drone e o tipo de operação.
Dentre os itens que constam no procedimento, enfatiza-se
o check-list pré-operação, que contempla todas as exigências
necessárias para a operação dos drones, aplicado pelo piloto
antes da operação, que ficará condicionada ao atendimento de
todos os itens.
O check-list por sua vez é composto por 4 (quatro) itens
principais, sendo eles: Check-list em sala (1), Pré-voo e De-
colagem (2), Aterrissagem e lista de verificação pós-voo (3),
Recomendações (4). Esses 4 (quatro) itens são desdobrados
em subitens conforme veremos a seguir.

153
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

Figura 7 – Check-list de itens obrigatórios para operação de drones

Fonte: Dados de pesquisa.

1. Check-list em sala - O item se refere a checagem de


critérios básicos para a operação do drone e deve ser realizado
em sala, antes do operador ir para o campo. È composto pelas
seguintes verificações: Capacitação e condições do operador,
Verificação das condições climáticas, Componentes e software,
Solicitação de voo e documentação obrigatória.

Figura 8 – Check-list em sala.

Fonte: Dados de pesquisa.

154
Fabio A. da S. Arruda

2. Pré-voo e Decolagem - Está relacionado às condições


físicas do equipamento englobando todos os componentes ne-
cessários para realização do voo e do local onde será realizado
o voo. Esta checagem dever ser feita no local da decolagem.

Figura 9 – Check-list pré-voo e decolagem.

Fonte: Dados de pesquisa.

3. Aterrissagem e lista de verificação pós-voo – Neste


item será verificado o local em que será feita a aterrissagem do
drone, a fim de prevenir eventos com possíveis interferências,
também é avaliada as condições gerais do drone após o voo.

155
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

Figura 10 – Aterrissagem e Lista de verificação pós-voo

Fonte: Dados de pesquisa.

4. Recomendações – O campo de recomendações se


refere as orientações gerais para o piloto, sobre prevenção de
risco a acidentes envolvendo instalações e terceiros, por meio
de adoção de controles.

Figura 11 – Recomendações.

Fonte: Dados de pesquisa.

156
Fabio A. da S. Arruda

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os órgãos que regulamentam as operações de drones no


Brasil tem adotado critérios rigorosos que vão desde a habilita-
ção dos pilotos até as operações de voo. Tais critérios precisam
ser observados e atendidos como parte integrantes de uma sé-
rie de medidas para uma operação segura, o que cabe aos pilo-
tos e as empresas que adotam a utilização de drones em suas
operações conhecerem a legislação aplicável para a execução
de práticas seguras conforme o disposto por cada órgão.
A utilização dos drones por diversas empresas, de vários
setores, tem contribuído não só para qualidade de serviços ou
aumento de produtividade, mas também para a redução de ce-
nários de risco, eliminando a exposição dos empregados em ati-
vidades complexas e com alto potencial de gerar danos, sendo,
assim, a sua adoção cada vez mais comum.
Por outro lado, deve ser adotado procedimentos que es-
pecifiquem diretrizes para uma operação segura, visto que as
atividades de operação com drones também precisam ser ge-
renciadas, tendo os seus riscos mapeados e controles estabele-
cidos. Um desses controles, como mencionado anteriormente, é
a aplicação do check-list pré-operação, contemplando todas as
exigências legais necessárias para uma operação segura.
Logo, concluímos que a utilização de drones em atividades
de alto risco, enquadradas em um processo de gerenciamento
de risco, pode servir de parte contínua para preservação das
vidas dos trabalhadores, uma vez que tem sido fundamental
para busca da melhoria contínua dos processos operacionais e
do zero dano.

157
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

REFERÊNCIAS

MINUCIO, Leonardo F. Regulamentação dos Drones – Esclare-


cendo tudo, 2019. Disponível em: < https://www.futuriste.com.br/
blog/regulamentacao-drones/>; Acesso em: 16/03/2020.

MORAES, Giovanni. Elementos do Sistema de Gestão de SMSQRS


– Segurança, Meio Ambiente, Saude Ocupacional, Qualidade e
Responsabilidade Social. 2ª edição, Volume 2, Rio de Janeiro 2010.

PEREIRA, Daniela Silva. Drones – A História por trás desta nova


era tecnológica, 2017. Disponível em: https://www.aerodronebra-
sil.com/2017/09/27/drones-historia-por-traz-desta-nova-era-tecno-
logica/; Acesso em 16/03/2020.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. NR 04 – Serviços Es-


pecializados em Segurança e Medicina do Trabalho. Brasília:
Ministério do Trabalho e Emprego, 2004. Disponível em:< http://
trabalho.gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR4.pdf> Acesso em:
16/03/2020.

PENHA, Rodolfo F. Alves. Classificação da Atividade Industrial,


2020. Disponível em:<https://alunosonline.uol.com.br/geografia/
classificacao-atividade-ndustrial.html>; Acesso em: 17/03/2020.

________. Orientações de Usuários de Drones. Brasília: Anac,


2017.

158
8

A INDÚSTRIA 4.0 NOS PROCESSOS


DE MANUTENÇÃO FERROVIÁRIA
EM BENEFÍCIO DA SEGURANÇA
OCUPACIONAL

Ivanise Maria Bezerra

Especialista em Engenharia de Segurança do trabalho pela Uniao


de Faculdades de Alagoa (UNIFAL), Especialista em Engenharia Fer-
roviária pela Centro Universitário Don Bosco (UNDB) Especialista em
Radioproteção pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN),
Graduada em Engenheira de Produção e Mecânica pelo O Centro
Universitário CESMAC. Tem mais de 10 anos de experincia em areas
de Saúde, Segurança e Meio Ambiente. Atualmente é Engenheira
de Segurança do Trabalho na empresa Vale/AS, onde Coordenado-
ra de equipe de segurança Ocupacional responsável pelo gerencia-
mento de riscos no ambiente de trabalho nas áreas de Operação e
Manutenção Ferroviária, tendo como atribuições: análise de riscos,
acidentes e falhas, realizando a investigação das causas e estabe-
lecimento de plano de ações preventivas e corretivas. Especialis-
ta em Rigging (movimentação de carga), Auditora do Sistema de
Gestão Integrado (SGI) da Vale e Responsável pelo Processo de Ra-
dioproteção da Logística Norte.
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

RESUMO

O
projeto é baseado na implantação da indústria 4.0 nos
processos de manutenção ferroviária em uma empresa
de logística ferroviária que atua no TFPM, Terminal Fer-
roviário Ponta da Madeira, em São Luís/MA. Em busca de um
ambiente de trabalho mais seguro, visa eliminar condições de
riscos ergonômicos e situações de riscos de fatalidades, ma-
peados na Análise Preliminar de Riscos (APR) do processo de
manutenção de rodeiros, Oficina de manutenção de Rodeiros
(OMR) e do Centro de Troca e Manutenção de Rodeiros (CTMR).
A indústria 4.0 nos processos de manutenção ferroviária é mais
que uma tendência é uma realidade que visa aumentar a se-
gurança pessoal no processo de manutenção de rodeiros de
vagões, além de elevar a eficiência operacional e a sustentabili-
dade da empresa, por meio de: aumento da disponibilidade dos
equipamentos, redução dos eventos de acidentes de trabalho e
redução do tempo de manutenção dos equipamentos. O estudo
concluiu que é imprescindível a atualização dos processos com
tecnologias de automação e ativos de classe mundial para re-
dução do absenteísmo, riscos de prensamento/esmagamento
e atropelamento ferroviário mapeados na APR do processo. A
Boa Prática consiste na implantação de uma nova oficina de Ma-
nutenção de Materiais Rodantes, utilizando automação no pro-
cesso através da criação de uma Célula Robótica para a troca
de rolamentos dos vagões da Estrada de Ferro Carajás (EFC),
além da automação do posicionamento dos lotes nas rampas
para troca, movimentação e manutenção dos rodeiros. O pro-
jeto trará aumento de produtividade, atendimento das premis-
sas do TFPM para 240 MTPA, redução/mitigação dos riscos de
Saúde e Segurança; tornando essa empresa referência mundial
em manutenção ferroviária.

Palavra-Chave: Indústria 4.0; automação; mitigação;


absenteísmo.

160
Fabio A. da S. Arruda

1. INTRODUÇÃO

O projeto foi desenvolvido e aplicado no Terminal Fer-


roviário de Ponta da Madeira (TFPM), que faz parte da Estrada
de Ferro Carajás localizada nos estados do Maranhão e Pará,
respectivamente nas Regiões Nordeste e Norte do Brasil, en-
tre os limites geográficos definidos pelos paralelos 2°34’00” e
44°19’00” de latitude sul e meridianos 44° 19’ 00” e 50° 08’ 00”
de longitude oeste.
Convencionou-se que o ponto de partida do estaqueamento
definido pela quilometragem é o quilômetro 0 (zero), localizado
no início do Terminal Ferroviário Ponta da Madeira - TFPM, em
São Luís no Estado do Maranhão, e o ponto final é o quilômetro
892, no início do Terminal Ferroviário de Carajás, em Parauape-
bas no Estado do Pará.
O TFPM é gerido pela empresa em estudo, uma mineradora
global com sede no Rio de Janeiro, criada como empresa es-
tatal em 1º de junho de 1942 pelo Decreto-Lei nº 4.352, sendo
privatizada em 1987. Hoje a empresa, opera em 13 estados
brasileiros e nos cinco continentes, possuindo várias minas de
extração mineral, milhares de quilômetros de malha ferroviária
e 9 terminais portuários próprios. A empresa é uma das maiores
operadoras de logística do país e a segunda maior empresa de
mineração do mundo. Além do minério de ferro, também pro-
duz manganês, ferroliga, cobre, bauxita, potássio, caulim, alu-
mina, alumínio, possuindo também consistentes investimentos
na área de logística e energia.
As ferrovias operadas por essa empresa estão entre os
grandes diferenciais competitivos da empresa. No Brasil, onde
estão os maiores sistemas de mineração, a empresa opera cer-
ca de 2 mil quilômetros de malha ferroviária, e temos acordos
para utilizar linhas em países da África e na Argentina.
Por meio da VLI, Valor Logística Integrada, também a em-
presa presta serviços de logística a terceiros. A empresa ainda
opera trens de passageiros de longa distância em dois trechos

161
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
importantes no país. Para reforçar essa competitividade e sus-
tentar a expansão das operações, foram desenvolvidos projetos
para o aumento da capacidade das ferrovias.
Hoje a Estrada de Ferro Carajás faz parte do circuito de
produção e logística mina-ferrovia-porto, onde é responsável
pelo transporte do minério do minério do Para até o Maranhão,
onde este é embarcado.

Figura 1 – Mapa do sistema de produção mina-ferrovia-porto

Fonte: Vale (2016)

Esse circuito de produção e logística mina-ferrovia-porto


se complementa, consolidando-se como um dos mais impor-
tantes complexos minerários do mundo. A Baía de São Marcos,
em São Luís, foi escolhida para receber o escoamento da pro-
dução mineral de Carajás pelo aspecto técnico, pois apresentava
maior largura e profundidade adequada, para receber os navios
graneleiros de até 280 mil toneladas, e um canal de acesso nat-
ural que permitiria o tráfego simultâneo, em ambos os sentidos,
de navios de grande porte. Além disso, contava a favor a boa
visibilidade, pois a região se encontrava fora de qualquer rota
de tempestades, o que permitia a operação durante todo o ano.

162
Fabio A. da S. Arruda

A seguir são listadas algumas dessas características da Es-


trada de Ferro Carajás:
• Composta por uma linha tronco e cinco ramais;
• Extensão total de 1033,05Km;
• Extensão da linha tronco de 892,00 Km;
• Possui 03 terminais;
• Possui 03 entrepostos;
• 300 Locomotivas;
• 20.000 Vagões de Minério;
• 4.000 empregados próprios e cerca de 400 empregados
terceiros permanentes.
• CNAE 49.11-6-00 - Transporte ferroviário de carga
• CNPJ 33.592.510/0378-21
• Grau de risco 3

Figura 2 – Mosaico com imagens da operação e instalações

Fonte: Vale (2016)

Ao longo dos anos, o TFPM passou por diversas expansões

163
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
para aumentar a capacidade do seu sistema produtivo.
Atualmente a empresa continua com a ampliação deste. O
projeto prevê aumentar de 140 milhões de toneladas métricas
por ano (mtpa) para 240 milhões de toneladas métricas por ano
(mtpa) a capacidade de transporte e escoamento das minas de
Carajás, no Pará. Para isso, a empresa duplicou 115 quilômetros
da Estrada de Ferro Carajás, comprou locomotivas e vagões.

Figura 3 – Principais destinos do minério transportado

Fonte: Vale (2016)

Além de toda a malha ferroviária citada acima, a EFC pos-


sui também as oficinas de manutenção dos seus equipamen-
tos (Locomotivas e Vagões) além dos postos de abastecimento
desses equipamentos que ficam localizados em São Luís e ao
longo de toda a EFC.
Essas oficinas são responsáveis por garantir que os equi-
pamentos estejam disponíveis para utilização, em condições de
segurança e operacionais.
Além das oficinas existem também as equipes de ma-
nutenção de via permanente, que são as equipes que garantem
que a linha ferroviária também esteja em condições de segu-

164
Fabio A. da S. Arruda

rança e operacionais para a circulação dos trens.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O projeto a ser apresentado nesse Case, é a implantação


de uma célula robótica, como melhoria do ambiente de trabalho
da Manutenção de Materiais Rodantes, instalada numa nova ofi-
cina de manutenção de rodeiros, Centro de Troca e Manutenção
de Rodeiros (CTMR) do Terminal Ferroviário de Ponta da Madei-
ra (TFPM) além da automação do posicionamento dos lotes nas
rampas para troca, movimentação e manutenção dos rodeiros.
Segundo Vale (2018) ao planejar a construção de uma nova
oficina para manutenção de rodeiros, a Gerência de Manuten-
ção de Materiais Rodantes da EFC, desenvolveu um estudo da
condição ergonômica e avaliação de riscos de acidentes da ofici-
na de manutenção de rodeiros, OMR, já existente localizada na
oficina central, com objetivo de levantar os cenários de riscos a
fim de identificar, avaliar e propor ações de controle e mitigação
dos riscos em Saúde e Segurança Ocupacional.

Foto 1 - OMR - Oficina de Manutenção de Rodeiros (OMR) 2015

Fonte: Dados da pesquisa

Foram utilizadas tecnologias de automação e suas interfaces


na construção de uma nova oficina de manutenção ferroviária
com foco na redução do absenteísmo e incidentes de trabalho.

165
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
Vale (2018) apresenta que a nova economia baseada no
conhecimento está mudando profundamente os modelos de
negócios para uma realidade digital e automatizada (JIDOKA),
com foco no valor para o cliente, eliminação de desperdícios,
flexibilidade e agilidade dos processos. Nessa nova economia de
novos pensamentos, a transformação digital acompanhada da
automação são fatores determinantes da competividade e suste-
ntabilidade dos negócios. De carona com todas essas mudanças
vem as mudanças culturais, exigindo um novo perfil de pessoas
de alto coeficiente emocional, espiritual e intelectual, capazes
de resolver problemas complexos dessa nova realidade. Para ir
no compasso dessa nova realidade, preparamos um plano de
capacitação utilizando a metodologia TWI e uma matriz de ca-
pacitação técnica, que engloba conhecimentos técnicos, éticos,
comportamentais e motivacionais. Para atender este cenário a
EFC está implementando diversas iniciativas de transformação
digital e automação, utilizando princípios enxutos no redesenho
dos layouts e aplicações com operações automatizadas e não
automáticas.
Esse projeto considera o estudo realizado das condições
ergonômicas dos processos, que tem como base os riscos ma-
peados em APR. O estudo concluiu que é imprescindível o in-
vestimento e uso de tecnologias de automação e suas interfaces
na construção de uma nova oficina de manutenção ferroviária
com foco na redução do absenteísmo e incidentes de trabalho,
redução da exposição a posturas e esforços com alto risco de
lesão.
A Boa Prática apresentada nesse case consiste no estu-
do para implantação de uma nova oficina de Manutenção de
Materiais Rodantes, utilizando automação no processo através
da criação de uma Célula Robótica para a troca de rolamentos
dos vagões da Estrada de Ferro Carajás (EFC). O rolamento é
parte do conjunto de rodeiros do vagão – formado por rodas,
eixo e rolamentos – e sofre um desgaste natural com o tempo
de uso, portanto, sendo um componente importante para o de-
sempenho de qualquer ferrovia. A EFC mantém hoje uma frota
com mais de 18 mil vagões, circulando 24 horas por dia, todos
os dias da semana, ao longo dos 982 quilômetros da Estrada de
Ferro Carajás.

166
Fabio A. da S. Arruda

O trabalho de identificação dos rolamentos desgastados


começa com os trens ainda em movimento. Por meio de sen-
sores colocados ao longo da linha férrea, é possível identifi-
car exatamente que rodeiro ou rolamento precisa de troca ou
manutenção. Feito isso, os vagões escolhidos são direcionados
ao local onde a atividade é realizada, no Centro de Troca e Ma-
nutenção de Rodeiros, em São Luís (MA). Além da identificação,
a Vale mantém os planos de manutenção regulares, similares
àqueles aplicados aos veículos, as chamadas ‘revisões’.
Essa tecnologia foi desenvolvida especialmente para esse
tipo de atividade, com o objetivo de otimizar os processos de
manutenção, tornando-os mais eficientes e seguros, além de
garantir um ambiente de trabalho de referência nos requisitos
de Saúde, Segurança e Meio Ambiente.

Foto 2 - Célula Robótica, 2017 (Jediel Grangeiro)

Fonte: Vale (2016)

Instalada no Centro de Troca de Rodeiros (CTR) do Ter-


minal Ferroviário de Ponta da Madeira (TFPM), a célula robó-
tica composta por uma sequência de máquinas automáticas
sequenciadas e 06 robôs, similares aos utilizados na indústria
automobilística, tem a função de substituir os rolamentos que
fazem parte da estrutura rodante de um vagão. O projeto con-
siste de 02 Linhas Automatizadas com a carga e descarga de
rolamentos automáticas com manipuladores robóticos, controle
dos parâmetros técnicos de pressão de eixamento. Layout Inte-
grado com os processos de Usinagem, Troca de Rodas e Estação
de Tampas.

167
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

Foto 3 - Linhas automatizadas (2017), Jediel Grangeiro

Fonte: Dados da pesquisa

Vale (2018) descreve que a empresa possui uma frota de


aproximadamente 20 mil vagões na EFC, tendo ciclos de ma-
nutenção preventiva e corretiva desses ativos no CTR, esse pro-
cesso envolve etapas que incluem a usinagem das rodas do
vagão e a troca de rodas e dos rolamentos. A troca de rolamen-
tos, na condição manual, levava 35 minutos para ser concluído.
Agora, com o uso da nova tecnologia, este tempo caiu para 12
minutos. Considerando-se apenas a etapa da troca de rolamen-
tos, que antes era realizada em 7,5 minutos, essa substituição
hoje é feita em apenas dois minutos.
A modernização do CTR aconteceu um pouco mais de um
ano após a inauguração do complexo de oficinas do Terminal
Ferroviário de Ponta da Madeira, ocorrido em maio de 2016,
essa modernização se deu devido a projeção de aumento da
capacidade de transporte e escoamento das minas de Carajás,
no Pará de 130 milhões de toneladas métricas por ano (mtpa)
para 230 milhões de toneladas métricas por ano (mtpa). Além
do Centro de Troca de Rodeiros, o complexo inclui o Centro de
Manutenção de Rodeiros e o Posto de Inspeção e Abastecimento
de Locomotivas (PIAL). O processo funciona da seguinte forma:
os trens com 330 vagões vindos de Carajás, no sudeste do Pará,
são separados em blocos de 110 vagões para facilitar a descar-

168
Fabio A. da S. Arruda

ga. Enquanto o minério é retirado, as locomotivas seguem para


revisão no PIAL. Este é o novo conceito de “pit stop” implantado
pela Vale em São Luís.

Figura 4 – Operacionalização do TFPM

Fonte: Vale (2016)

Depois de descarregados, os vagões são conduzidos pelas


locomotivas já revisadas e abastecidas até o Centro de Troca
de Rodeiros, CTR. O rodeiro integra rodas, rolamentos e eixo e
permite a movimentação do vagão sobre os trilhos. No CTR, os
rodeiros que precisam de manutenção são retirados e trocados
por outros em perfeitas condições de uso. O Centro tem ca-
pacidade de atender até 2 mil vagões/dia. Neste novo método,
que dura até 15 minutos, não há mais necessidade de separar
o vagão com o rodeiro danificado do bloco, como era feito an-
tes. A troca com o bloco integrado diminui o tempo de parada
na manutenção. Os rodeiros que precisam de manutenção são
enviados ao Centro de Manutenção de Rodeiros, outra grande
oficina do complexo, que realiza o reparo necessário, deixando
o rodeiro apto a ser utilizado em novas viagens.
O sistema utilizado pela Vale para garantir alta capacidade
de transporte é chamado de Locotrol. Nele, utiliza-se 3 blocos
com 110 vagões + 3 locomotivas alocadas em longo da com-
posição. Com esse formato, os trens chegam a ter 3,5 quilômet-
ros de extensão, os maiores em circulação regular no país.
Em atendimento a NR 17 - ERGONOMIA o projeto da im-
plantação da célula robótica visa estabelecer parâmetros que

169
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
permitam a adaptação das condições de trabalho às característi-
cas psicofisiológicas dos trabalhadores durante a manutenção
de materiais rodantes, de modo a proporcionar um máximo de
conforto, segurança e desempenho eficiente.
De acordo com o item 17.1.1. As condições de trabalho
incluem aspectos relacionados ao levantamento, transporte e
descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às
condições ambientais do posto de trabalho, e à própria organi-
zação do trabalho. O projeto buscou construir uma nova oficina
atendendo os parâmetros estabelecidos na NR17 proporcionan-
do um melhor conforto para os empregados.
A Gerência de Manutenção de Materiais Rodantes realizou
um estudo ergonômico juntamente com o SESMT tendo como re-
sultado a instalação de uma célula robótica conseguindo adaptar
um ambiente de trabalho de manutenção ferroviária adequado
às características psicofisiológicas dos trabalhadores atenden-
do ao item 17.1.2. Para avaliar a adaptação das condições de
trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores,
cabe ao empregador realizar a análise ergonômica do trabalho,
devendo a mesma abordar, no mínimo, as condições de tra-
balho, conforme estabelecido nesta Norma Regulamentadora.
O projeto tem foco na redução da Taxa de Absenteísmo
por problemas osteomuscular devido aos esforços repetitivos
e posturas inadequadas, além da redução dos riscos de fatali-
dades Prensamento/Esmagamento e Atropelamento ferroviário
de Muito Alto para Médio na APR.

3. MÉTODO

Para a construção do projeto de automação foi realizado


um estudo da condição ergonômica e avaliação de riscos de
acidentes dos processos de manutenção de rodeiros já exis-
tente, utilizando uma metodologia chamada de Ergonomia Par-
ticipativa, baseada na ferramenta de gerenciamento de riscos
da empresa em estudo, APR, Análise Preliminar de Riscos (PTP
000773), realizando levantamento dos cenários de riscos, a fim

170
Fabio A. da S. Arruda

de identificar, avaliar e propor ações de controle e mitigação dos


riscos em Saúde e Segurança Ocupacional.

Figura 5 - Ferramenta de Gerenciamento de Riscos

Fonte: Adptado Vale (2016)

Atividades acompanhadas no CTMR após implementação


da nova oficina, segue apreciação de riscos levantadas nesse
processo:
A análise de riscos foi implementada com envolvimento dos
empregados e liderança na identificação, análise, classificação
e tratamento dos riscos de saúde e segurança ocupacional pre-
sentes nas atividades mais críticas da OMR. Essa análise uti-
lizou-se de:
• Entrevistas e apresentações com os empregados e
lideranças;
• Fotos e filmagens das situações mais críticas dentro dos
processos de trabalho da OMR;
• Mensurações de ferramentas de análise de riscos er-

171
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
gonômicos (OWAS e SUZANE RODGERS);
• Pesquisas no mercado sobre possíveis soluções de
melhorias;
• Pesquisas no mercado sobre possíveis soluções de
melhorias; validação do relatório técnico com os
empregados e liderança sobre as situações levantadas e
recomendações sugeridas, com apresentação do plano
de ação.
Deu-se início a aplicabilidade da ferramenta de gerencia-
mento de risco nas atividades de manutenção de rodeiros. As
atividades avaliadas na OMR foram:
• Retirada manualmente com auxílio de parafusadeira e
slide Sledge as tampas de rolamento;
• Movimentar manualmente carro extrator de rolamento;
• Acomodar e movimentar manualmente rolamento ex-
traído com auxílio do carrinho;
• Realizar preparação/limpeza da manga do eixo;
• Movimentar manualmente o rolamento do pallet até a
prensa.
A apreciação ergonômica foi realizada através da observa-
ção das atividades de troca de rolamentos na OMR, com coleta
de dados, com caracterização e priorização dos riscos encon-
trados e a aplicação da metodologia ergonômica especifica. De
posse dos dados coletados, os riscos encontrados foram apre-
sentados aos executantes e lideranças.

172
Fabio A. da S. Arruda

Figura 6 - Atividades Avaliadas OMR

Fonte: Dados da pesquisa

Figura 7 - Avaliação de Riscos do Processo de Troca de Rolamentos

Fonte: Dados da pesquisa

Para mensuração dos ganhos utilizou-se de metodologia de


comparativos entre as situações antes e depois das melhorias
implementadas por setor de trabalho, conforme abaixo:

173
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

1. Posto de Trabalho: Retirada de Tampas do Rolamento


Tarefa: Retirar manualmente com auxílio de parafusadeira
e slide sledge tampa de rolamento
Criticidade do risco (Antes): ALTO
Criticidade do Risco (Depois): BAIXO

Figura 8 - Retirada de tampas dos rolamentos

Fonte: Dados da pesquisa

2. Posto de Trabalho: Desmontagem de Rolamento


Tarefa: Movimentar manualmente carro extrator de rola-
mento
Criticidade do risco (Antes): ALTO
Criticidade do Risco (Depois): Condição Eliminada

174
Fabio A. da S. Arruda

Figura 9 - Desmontagem de Rolamento

Fonte: Dados da pesquisa

3. Posto de Trabalho: Montagem de Rolamentos


Tarefa: Montar rolamentos no rodeiro com auxílio de uma
máquina de montar rolamentos.
Criticidade do risco (Antes): ALTO
Criticidade do Risco (Depois): Condição Eliminada

175
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

Figura 10 - Montagem de Rolamento

Fonte: Dados da pesquisa

Durante a análise das atividades foi possível identificar


a adoção frequente de posturas críticas, principalmente, em
flexão de tronco, extensão de tronco e inclinação lateral de
tronco, muitas vezes, associada a levantamento e manuseio
de carga (peso dos rolamentos de aproximadamente 45kg),
além dos movimentos bruscos. Estes fatores, conforme revisão
bibliográfica, quando associados ou mesmo de forma isolada,
são fatores que podem desencadear distúrbios osteomuscular.
Além da análise de risco ergonômica da OMR, também
foi realizada a avaliação dos cenários de risco de fatalidade –
atropelamento/esmagamento durante a troca de rodeiros na
nova oficina CTMR, foi implementada com envolvimento dos
empregados e liderança na identificação, análise, classificação
e tratamento dos riscos de saúde e segurança ocupacional
presentes nos processos.

176
Fabio A. da S. Arruda

Figura 11 - Avaliação de risco atropelamento e esmagamento

Fonte: Dados da pesquisa

Figura 12: Relatório técnico posicionamento de lotes nas rampas de troca


de rodeiros no CTMR

Fonte: Dados da pesquisa

3.1 Participação do trabalhador

A empresa desenvolveu todo o conceito da célula robótica


utilizando experiência técnica e benchmark realizado com em-

177
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
presas desenvolvedoras de ativos de classe mundial. Toda parte
de infraestrutura e montagem foi executada por profissionais
próprios. Para o processo de integração e automação a empre-
sa contou com o apoio de empresas especializadas, mas com
o acompanhamento direto dos empregados da área. O objetivo
desta parceria era agregar conhecimento técnico específico e
otimizar o processo de capacitação dos profissionais do CTR.

Figura 11 - Inauguração do CTMR, reconhecimento da equipe.

Fonte: Vale (2016)

178
Fabio A. da S. Arruda

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Redução da Taxa de Absenteísmo por problemas osteomus-


cular devido aos esforços repetitivos e posturas inadequadas,
redução dos riscos de fatalidades Prensamento/Esmaga-
mento e Atropelamento ferroviário de Alto para Médio na APR.

Figura 12 - Avaliação do risco antes Posicionamento de lotes nas rampas


de troca de rodeiros no CTMR

Fonte: Dados da pesquisa

Figura 13 - Avaliação do risco depois Posicionamento automático de lotes


nas rampas de troca de rodeiros no CTMR

Fonte: Vale (2016)

Com a célula robótica conseguiu eliminar o esforço físico


que a atividade exigia. O trabalho de automação não substituiu
a presença humana dentro do processo, já que é necessário
profissional para operar a célula robótica, no entanto, as ativi-

179
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
dades realizadas manualmente que acarretava grande esforço
físico foram substituídas por processo automatizado. O grande
resultado desse projeto é baseado no Valor principal da empres
que é A Vida em Primeiro Lugar, tendo como principais ganhos:
• Riscos Ergonômicos Eliminados e Mitigados;
• Prevenção de Fatalidade;
• Atendimento aos requisitos legais (NRs);
• Redução nos afastamentos por motivo osteomuscular e
Trauma, mitigando a causa raiz do afastamento, diminu-
indo o risco de Alto para Baixo na avaliação qualitativa
de riscos do processo de troca de rolamento;
• Reintegração de colaboradores com restrição para o
processo atual, que poderão operar os equipamentos
sem restrição.
• Qualidade e Confiabilidade: Controle das variáveis
críticas do processo (segurança para a circulação fer-
roviária);
• Rastreabilidade de dados/parâmetros técnicos de Eixa-
mento para investigações da CPIA e redução dos retra-
balhos da Troca de Rodas/Rolamentos e Tampas.
• Garantia dos parâmetros de conicidade e rugosidade,
(segurança para a circulação ferroviária).
• A empresa está utilizando a tecnologia em benefício do
homem, tendo em vista os riscos ligados às condições
físicas.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A EFC (Estrada de Ferrovia de Carajás) através da revolução


industrial, indústria 4.0, utiliza constantemente, métodos, no-
vas tecnologias, análise de dados, redução de custos, controle
e customização operacional para tornar seus processos fer-
roviários mais seguros e competitivos. E assim, a EFC por meio

180
Fabio A. da S. Arruda

de inteligência artificial, controle das variáveis críticas do pro-


cesso (segurança para a circulação ferroviária), rastreabilidade
de dados/parâmetros técnicos e um trabalho colaborativo está
mudando o cenário do processo de manutenção ferroviária,
conectando pessoas para gerar maior eficiência operacional.

REFERÊNCIAS

AYRES, D. O; CORRÊA, J. A. P. Manual de Prevenção de Acidentes do


Trabalho: Aspectos Técnicos e Legais. São Paulo: Atlas, 2015.

BRASIL. Portaria nº 3214 de 08 de junho de 1978. Normas Regu-


lamentadoras do Ministério do Trabalho. Brasília: MTE, 1978. (Obra
Clássica)

BRITISH STANDART INSTITUITION. Guide to occupation health and


safety management systems –BS8800 Londres, 1996.

CAMISASSA, M. Queiroga. Segurança e Saúde no Trabalho. NRs 1 a


36 Comentadas e Descomplicadas. Ed4ª. Rio de Janeiro: Florence,
2017.

CARNEVALI, Marlene. A Ciência do Gerenciamento de Riscos em Pro-


jetos. 2017.

PEREIRA, A. Demetrius. Segurança e Saúde Ocupacional. São Paulo:


Saraiva, 2017.

REASON, J. Managing the risks of organizational accidents. Aldershot:


Ashgate, 1997. (Obra Clássica)

VALE, S.A. Nossa história. Rio de Janeiro: Brasil Editora, 2013.

VALE, S.A. Book de resultados de SSMA Logística Norte 2017. São


Luis: Vale, 2018

http://www.vale.com/brasil/PT/business/logistics/railways/Paginas/
default.aspx

Guia Trabalhista: www.guiatrabalhista.com.br/legislacao

181
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
VALE, 2018. Gerenciamento de Riscos. Arquivo disponível em drive
de rede Vale: Seguranca_Ocupacional_EFC1 em 04 dezembro 2019.

VALE, S.A. Vale Informar > Brasil > 16/10/2017 http://valeinformar.


valeglobal.net/BR/Paginas/Home-16-10-17.

VALE, S.A. 2019. http://www.vale.com/brasil/PT/initiatives/innova-


tion/industria-40/Paginas/default.aspx3.

VALE, 2019. Gerenciamento de Riscos. Arquivo disponível em drive


de rede Vale: Seguranca_ocupacional_EFC1 em 12 junho 2019.

VALE, 2019. http://anpei.org.br/vale-utiliza-celula-robotica-para-tro-


ca-de-rolamentos-em-manutencao-de-vagoes-da-efc/

182
9

AVALIAÇÃO ERGONÔMICA BASEADA


NA PROBABILIDADE DO ERRO HUMA-
NO

Luciana Cândida de Aquino

Especialista em Engenharia de Segurança, Pós-graduada em Er-


gonomia, MBA em Gerenciamento de Projetos pela Fundação Getúlio
Vargas (FGV), Graduada Engenheira de produção pela Universidade
Federal de Ouro Preto (UFOP). Possui experiência profissional de 20
anos atuando com consultoria e treinamentos de saúde e segurança
no trabalho para grandes empresas. Atualmente é Diretora de EHS
do grupo Colabor, oferecendo diagnósticos de maturidade da cultura,
probabilidade do erro humano e demais treinamentos e consultorias
relacionados a segurança do trabalho. www.grupocolabor.com.br
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

RESUMO

E
xiste um consenso de que a maioria dos acidentes do tra-
balho está relacionada a aspectos comportamentais. Pode-
se dizer que o erro humano, associado a segurança do tra-
balho, ocorre quando o indivíduo não possui a percepção dos
riscos ou não promove as ações preventivas necessárias. Nesse
sentido a ergonomia apresenta-se como uma ferramenta para
análise destes aspectos comportamentais, auxiliando na gestão
de riscos das empresas. Este artigo apresenta uma proposta de
identificação e mensuração da probabilidade do erro humano,
baseada na metodologia SPAR-H adaptada à realidade do seg-
mento industrial brasileiro.

Palavra-Chave: Aspectos Comportamentais; Ergonomia;


Erro Humano.

184
Fabio A. da S. Arruda

1. INTRODUÇÃO

As atividades laborais de um modo geral apresentam riscos


em diferentes graus que eventualmente levam a ocorrência de
acidentes e doenças do trabalho. Em função disso, há muito
tempo o homem busca desenvolver medidas de prevenção para
minimizar a ocorrência e efeitos danosos a pessoas, meio am-
biente e patrimônio.
Nesse sentido, o SESMT (Serviço Especializado de Saúde
e Medicina do Trabalho) atua em conjunto com a liderança e
equipes operacionais para poder identificar perigos, quantificar
riscos e implantar medidas de controle.
Devido a diversidade de causas que contribuem para os
acidentes e doenças do trabalho, faz-se necessário uma análise
criteriosa para identificação e visão sistêmica das atividades.
Sendo assim, a ergonomia tem o importante papel de identi-
ficar oportunidades de melhoria em segurança e saúde do tra-
balhador.
Conforme a IEA (International Ergonomics Associations),
a ergonomia é o estudo científico da relação entre o homem
e seus meios, métodos e espaços de trabalho. Seu objetivo
é elaborar, mediante a contribuição de diversas disciplinas
científicas que a compõem, um corpo de conhecimentos que
dentro de uma perspectiva de aplicação deve resultar em uma
melhor adaptação ao homem, dos meios tecnológicos e dos
ambientes de trabalho e de vida.
Por sua vez, a ABERGO (Associação Brasileira de Ergono-
mia) define ergonomia como sendo o estudo da adaptação do
trabalho às características fisiológicas e psicológicas do ser hu-
mano.
Entende-se, portanto, o aspecto multidisciplinar dessa
ciência que se subdivide em três áreas sendo ergonomia física,
organizacional e cognitiva.
A ergonomia física tem como objeto o estudo dos aspectos

185
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
físicos da relação entre homem/máquina/ambiente, envolvendo
estudo da fisiologia, anatomia e biomecânica e como a atuação
profissional do ser humano interfere no funcionamento de sua
musculatura, suas articulações, sua postura e seus movimen-
tos.
Quanto a ergonomia organizacional, estuda a forma como
o sistema e a organização como um todo interfere na relação
do homem com o seu trabalho; envolve aqui a análise do clima
organizacional, cultura, política, processos, procedimentos e os
modelos de liderança.
No que se refere a ergonomia cognitiva, esta por sua
vez tem sua ênfase no estudo dos processos cognitivos como
memória, atenção, concentração e raciocínio; envolve análises
mentais e emocionais considerando o estresse, tomada de de-
cisão, esforço mental, satisfação e motivação.
Nesse sentido, este artigo tem como objetivo propor uma
metodologia para avaliação do erro humano baseada na fer-
ramenta denominada SPAR-H (Standardized Plant Analysis
Risk-Human Reliability Analysis).
Tal ferramenta foi concebida originalmente para uso na in-
dústria nuclear com ênfase na identificação do erro humano e
suas respectivas influências em seu ambiente do trabalho.
A utilização desta metodologia encontra grande aplicação
em empresas de grau de risco 3 e 4 conforme quadro I da NR4,
pois essas empresas normalmente possuem uma maior quan-
tidade de maquinários, atividades e energias que apresentam
maior risco de acidentes e doenças do trabalho.
Conforme Lafraia (2011), a segurança do trabalho evoluiu
consideravelmente nas últimas décadas trazendo mais tecnolo-
gia e organização no trabalho por meio de fortes barreiras de
natureza física (instalações), sistêmica (processos) e comporta-
mental (pessoas).
Apesar dos grandes investimentos em medidas de contro-
les físicas e sistêmicas, percebe-se ainda no Brasil uma grande
quantidade de acidentes envolvendo o erro humano no traba-
lho; logo uma maneira que possa identificar e quantificar a pro-

186
Fabio A. da S. Arruda

babilidade desses erros poderá contribuir efetivamente para a


prevenção de acidentes e doenças nas empresas.
Desse modo, a utilização da ferramenta SPAR-H se deve
a escassez de ferramentas ergonômicas nacionais que tenham
como objetivo quantificar o erro humano no segmento indus-
trial.
Neste sentido, a utilização dos princípios de uma ferramen-
ta conceituada e adaptada para utilização em outras indústrias
pode contribuir de forma significativa para identificação de me-
lhorias em segurança e saúde, levando em consideração a con-
tribuição do erro humano nessas ocorrências.
Essa ferramenta possibilitará a identificação de fatores de
riscos baseados no erro humano e, consequentemente, servirá
como base para adoção de melhorias de segurança e saúde no
trabalho nessas indústrias.

2. CONFIABILIDADE HUMANA

Segundo Meister (1976), confiabilidade humana é a


probabilidade de que uma tarefa seja realizada com sucesso
pelo operador em um determinado estágio da operação, e em
um mínimo período de tempo exigido.
De acordo com Hollnagel (2005), o termo “confiabilidade
humana” é geralmente definido como a probabilidade de que
uma pessoa execute corretamente alguma atividade exigida
pelo sistema durante um determinado período de tempo (se o
tempo for um fator limitante), sem realizar outra atividade que
possa degradar o sistema.
Conforme Swain & Guttmann (1983), confiabilidade huma-
na é a probabilidade que um procedimento ou tarefa tem de ser
concluído com sucesso pelo operador ou equipe em qualquer
estágio e na operação de um sistema dentro do mínimo tempo
exigido (quando a dimensão do tempo é relevante).
Para Jhonata Teles (1992), a confiabilidade humana é a
probabilidade de uma atividade ser executada de acordo com os

187
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
objetivos propostos sem nenhum erro.
A análise de confiabilidade humana (ACH) estuda a execução
das ações pelos indivíduos em um determinado sistema,
considerando os fatores que influenciam no seu desempenho,
os quais comumente evidenciam a incompatibilidade existente
entre as limitações humanas e as condições impostas para o
trabalho. Exemplos desses fatores incluem restrições de tempo
para executar uma atividade, carga de trabalho excessiva,
treinamento inadequado do operador, procedimentos mal
elaborados, complexidade da tarefa, entre outros.
Desse modo, o estudo da análise da confiabilidade humana
visa identificar probabilidades de erro humano que, por sua vez,
são afetadas por diversos fatores.
Conforme Rasmussen (1981), se um sistema funciona de
forma menos satisfatória do que normalmente - devido a um
ato humano ou a um distúrbio que poderia ter sido neutraliza-
do por um ato humano razoável - a causa provavelmente será
identificada como um erro humano.
Segundo Reason (1990), erro humano é um termo genéri-
co para abranger todas as ocasiões em que uma sequência
planejada de atividades mentais ou físicas não consegue atingir
o resultado pretendido, e quando essas falhas não podem ser
atribuídas à intervenção de algum agente de mudança.
A figura 01, ilustra os tipos de erros humanos na visão de
Vicente e Rasmussen (1992).

188
Fabio A. da S. Arruda

Figura 1 - Tipos de erros humanos

Fonte: Adaptado Vicente & Rasmussen (1992)

Conforme Swain e Guttmann (1983), ao modelar o desem-


penho humano para uma Análise Probabilística de Segurança
(APS) ou Probabilistic Safety Analysis (PSA), é necessário con-
siderar os fatores que mais afetam o desempenho.
Alguns desses fatores de modelagem de desempenho ou
Performance Shaping Factors (PSFs) - Fatores de Avaliação
de desempenho (FAD) - são externos à pessoa e alguns são
internos.
Os PSFs externos incluem todo o ambiente de trabalho,
especialmente o projeto do equipamento e os procedimentos
escritos ou instruções orais. Os PSFs internos representam as
características individuais da pessoa - suas habilidades, motiva-
ções e expectativas que influenciam seu desempenho. Estresses
psicológicos e fisiológicos resultam de um ambiente de trabalho
no qual as demandas impostas ao operador pelo sistema não
estão de acordo com suas capacidades e limitações.
No SPAR-H (NUREG/CR-6883), o PSF é um fator que in-
fluencia o desempenho humano e as probabilidades de erro,

189
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
incluindo a análise do tempo disponível, estresse e estressor,
complexidade, experiência e treinamento, procedimentos, er-
gonomia e interface homem-máquina, adequação ao trabalho e
processos de trabalho.

3. METODOLOGIA SPAR-H

A publicação NUREG/CR-6883 da U. S. NRC que trata do


método de análise de confiabilidade humana SPAR-H, apresenta
um método simples para estimar as probabilidades de erro hu-
mano associadas com as decisões e ações do operador e demais
membros, em resposta a eventos iniciais em plantas nucleares
nos Estados Unidos. O método foi desenvolvido para suportar
o desenvolvimento de modelos de Análise Probabilística de Ris-
co (Probabilistic Risk Analysis) em plantas específicas para a
Comissão Reguladora Nuclear dos Estados Unidos.
De acordo com o NUREG/CR-6883, a estrutura básica do
SPAR-H oferece suporte à análise de eventos, conforme descrito
abaixo.

1) Analisar as atividades e classificá-las como ação ou fa-


lhas no diagnóstico, que podem ocasionar Eventos de
Falha Humana (EFH);
2) Identificar e quantificar os PSFs;
3) Cálculo da Probabilidades de Erro Humano (PEH);
4) Avaliação da Probabilidade do Erro Humano.

Assim, o método SPAR-H atribui atividade humana a uma


das duas categorias de tarefas gerais: ação ou diagnóstico.
As tarefas de ação relacionam-se com a operacionalida-
de da máquina/equipamento a exemplo da partida de bombas,
realização de alinhamentos do sistema, realização de calibração
ou teste. Tais tarefas relacionadas ao diagnóstico são aquelas

190
Fabio A. da S. Arruda

atreladas ao conhecimento, experiência, entendimento das con-


dições da planta/trabalho, planejamento e programação de ati-
vidades e tomada de decisão.
De acordo com a visão geral do processo de trabalho do
método SPAR-H, o analista determinará se as ações especifica-
das envolvem o diagnóstico ou se são puramente baseadas em
ações. Em alguns casos, a ação e o diagnóstico estão interliga-
dos e indiscerníveis. Se uma tarefa envolve ação e diagnósti-
co, duas planilhas correspondentes à ação e ao diagnóstico são
preenchidas e uma Probabilidade do Erro Humano comum é
calculada.
A revisão da literatura revela oito (08) fatores de desem-
penho humano operacionais listados abaixo, que podem estar
diretamente associados ao modelo do desempenho humano,
considerando as influências ergonômicas e cognitivas.
1) Tempo disponível;
2) Estresse e estressores;
3) Complexidade;
4) Experiência e treinamento;
5) Procedimentos;
6) Ergonomia e interface Homem-Máquina;
7) Habilidade do executante para desempenho da ativi-
dade;
8) 8) Processos de trabalho.
Estes fatores operacionais chamados de FAD (Fatores de
Avaliação de Desempenho) relacionados à ação, estão detalha-
dos abaixo com os seus respectivos indicadores e característi-
cas.

3.1 TEMPO DISPONÍVEL

O tempo disponível refere-se à quantidade de tempo que

191
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
um operador ou uma equipe precisa para diagnosticar e agir em
um evento anormal. A falta de tempo pode afetar a capacidade
do operador de pensar com clareza e considerar alternativas.
Como também pode afetar a capacidade do operador de realizar
determinada tarefa.

3.2 ESTRESSE / ESTRESSORES

Estresse (e nível de excitação) foram amplamente defini-


dos e usados para descrever forças motivadoras negativas e
positivas do desempenho humano.
O estresse usado no SPAR-H refere-se ao nível de condições
e circunstâncias indesejáveis que impedem o operador de con-
cluir facilmente uma tarefa. O estresse pode incluir o mental,
carga de trabalho excessiva ou ainda estresse físico (como o
imposto por fatores ambientais inadequados). Inclui aspectos
como campo de atenção limitado ou tensão muscular; pode
ainda incluir apreensão geral ou nervosismo associados à im-
portância de um evento.
Fatores ambientais, muitas vezes referidos como estress-
ores como o calor excessivo, ruído, ventilação inadequada ou
radiação, podem induzir estresse em uma pessoa e afetar o
desempenho mental ou físico do operador.

3.3 COMPLEXIDADE

A Complexidade refere-se a dificuldade em realizar a tarefa


no contexto dado.
Considera-se ainda a tarefa e o ambiente no qual ela deve
ser executada, pois quanto mais difícil for a tarefa, maior a
chance de erro humano. Da mesma forma, quanto mais am-
bígua a tarefa, maior a chance de erro humano. A complexidade
também considera o esforço mental necessário, como realizar
cálculos mentais, requisitos de memória, entender o modelo de
como o sistema funciona e confiar no conhecimento, em vez de

192
Fabio A. da S. Arruda

treinamento ou prática. Complexidade também pode se referir


aos esforços físicos necessários, como ações físicas que são difí-
ceis devido a padrões complicados de movimentos.

3.4 EXPERIÊNCIA / TREINAMENTO

Este fator refere-se à experiência e treinamento dos opera-


dores envolvidos na tarefa. Incluídos nesta consideração estão
os anos de experiência do indivíduo ou da equipe, e se o opera-
dor/equipe foi treinado(a) ou não, bem como a quantidade de
tempo decorrido desde o último treinamento e ainda os siste-
mas envolvidos na tarefa e no cenário.
Outra consideração em relação ao cenário é se este é novo
ou não, ou seja, se a equipe ou o operador esteve envolvido em
um cenário semelhante, em um treinamento ou em uma condi-
ção operacional semelhante.
Exemplos específicos onde o treinamento pode ser defi-
ciente são as orientações para ignorar as funções de segurança
projetadas; a exemplo de eficiência temos as orientações para
monitorar a operação da planta durante condições aparente-
mente normais e estáveis com o propósito de promover a de-
tecção precoce de anormalidades.

3.5 PROCEDIMENTO

Este fator refere-se à existência e uso de procedimentos


operacionais formais para as tarefas em consideração. Dentre
os problemas comuns observados em investigações de eventos
para procedimentos, alguns incluem situações em que os pro-
cedimentos fornecem informações erradas ou inadequadas em
relação a uma sequência de controle específica.

193
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

3.6 ERGONOMIA

Ergonomia refere-se aos equipamentos, displays, controles,


layout, qualidade e quantidade de informações disponíveis na
instrumentação, além da interação do operador/equipe com o
equipamento para realizar as tarefas. Os aspectos da interação
homem-máquina estão incluídos nesta categoria. A adequação
ou inadequação de software também está incluída neste FAD.

3.7 HABILIDADES PARA EXECUÇÃO

Refere-se ao fato de o indivíduo que executa a tarefa estar


física ou mentalmente apto para executar a tarefa no momen-
to. Algumas situações podem afetar o condicionamento físico
como fadiga, doença, uso de drogas (legal ou ilegal), excesso
de confiança, problemas pessoais e distrações. Aptidão para o
trabalho inclui fatores associados aos indivíduos, mas não rela-
cionados ao treinamento, experiência ou estresse.

3.8 PROCESSOS DE TRABALHO

Os processos de trabalho referem-se a aspectos do trabalho


incluindo cultura organizacional, cultura de segurança, planeja-
mento de trabalho, comunicação e políticas de gerenciamento
e suporte. A forma como o trabalho é planejado, comunicado e
executado pode afetar o desempenho do indivíduo e da equipe.
Se o planejamento e a comunicação são ruins, os indivídu-
os podem não entender completamente as exigências. Os pro-
cessos de trabalho incluem considerações sobre coordenação,
comando e controle.

Para o cálculo da probabilidade deve-se levar em conta al-


gumas questões: se a atividade for considerada um diagnóstico,
usa-se o valor de 0,01; se for uma atividade de ação, o valor é
0,001.

194
Fabio A. da S. Arruda

O PSF composite é o produto resultante da multiplicação de


todos os PSFs.
Quando três ou mais influências negativas do PSF estão
presentes, deverá ser calculado fator de ajuste, sendo:

Onde HEP é a probabilidade do erro humano.


Se nenhum fator de ajuste for necessário, a probabilidade
do erro humano será igual a probabilidade de falha de ação.
Abaixo a figura 2 ilustra a análise do resultado do HEP.

Figura 2 - HEP - Probabilidade do erro humano

Fonte: The SPAR-H Human Reliability Analysis Method - NUREG/CR-6883

195
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
Onde:

PROBABILIDADE DE ERRO HUMANO VALOR DE HEP


Alta probabilidade de erro humano > 0,7182
Diagnóstico 0,7182
Média
Ação -0,2817
Baixa probabilidade do erro humano De -0,2817 a -2,2817

4. CONCLUSÃO

O método SPAR-H foi concebido para ser utilizado na in-
dústria nuclear, um segmento altamente regulamentado e com
critérios rígidos para operação e manutenção do seu sistema,
porém os critérios avaliados no SPAR-H são comuns a todas
atividades laborais e, portanto, podem ser usados em outras
indústrias.
Apesar da metodologia apresentar critérios e métricas
objetivas para alguns pontos da avaliação, alguns outros
requerem uma interpretação maior por parte do avaliador.
Desse modo, o estudo da ferramenta SPAR-H ofereceu
subsídios para o maior entendimento das interações do ser
humano no trabalho e os fatores ligados a probabilidade do erro
humano.
Como citado, as pesquisas relacionadas comprovaram que
existem poucas ferramentas nacionais para a mensuração do
fator humano, como elemento de determinação de riscos e
acidentes.
Entendemos que a associação da ferramenta SPAR-H, com
as ditas clássicas de ergonomia, pode auxiliar na aplicação desse
instrumento em indústrias de segmentos variados.
Logo, tal ferramenta adaptada pela autora deste artigo foi
testada em vários ambientes e cenários industriais, e mostrou-
se efetiva para identificação da probabilidade de erro humano e
adoção de medidas preventivas.

196
Fabio A. da S. Arruda

REFERÊNCIAS

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DEJOURS, Christophe. O Fator humano – FGV, 2007

JÚNIOR, Geraldo Portela da Ponte. Gerenciamento de riscos ba-


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ponível em: <https://www.nrc.gov/reading-rm/doc-ollections/nure-
gs/contract/cr6883/cr6883.pdf.> Acesso em 12/10/2019.

197
10

GESTÃO DE RISCOS E DESVIOS


COMPORTAMENTAIS NAS
MANUTENÇÕES DE MÁQUINAS E
EQUIPAMENTOS

Antonio Marcos Soares Barbosa

Pós-graduando em Engenharia de Segurança do Trabalho na Facul-


dade Laboro, Graduado em Engenharia de Produção pela Universi-
dade Unisa, Técnico de Segurança do Trabalho formado pelo Insti-
tuto de Educacional de Tucuruí (IET), Mecânico Industrial formado
pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). Possui
experiência de mais de 20 anos em cargos de coordenação e de nível
técnico especializado em Saúde e Segurança do Trabalho em diver-
sas empresas do segmento de engenharia, consultoria, construção
civil e gerenciamento de obras no Brasil e países da América Latina.
Atuou em vários segmentos da mineração como Níquel, Potássio e
Minério de Ferro. Atualmente é Técnico de Segurança Especializa-
do na empresa Vale S/A, atuando nas gerências manutenções por-
tuárias na unidade de São Luis/MA. Dentre os trabalhos desenvolvido
destaca-se: gestão de empresas contratadas, gestão de treinamen-
tos, consultoria de saúde e segurança em áreas de manutenção e op-
eração; auditorias internas; instrutor de treinamentos; implantação
de programas de SSMA e investigação e análise de incidentes.
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

RESUMO

E
ste artigo tem como objetivo analisar a relação entre produtiv-
idade, manutenção de equipamentos e a necessidade do res-
peito às diretrizes de segurança no trabalho. Os trabalhadores
de manutenção, geralmente, são mais qualificados, pois seu tra-
balho, quase sempre, envolve a manutenção e reparo de estruturas,
aparelhos, máquinas e equipamentos complicados, com tecnologia
avançada e uma complexidade maior, máquinas para trabalhar me-
tais, equipamentos de telecomunicações, infraestrutura, edifícios,
sistemas de aquecimento, carros, tratores, linhas de processamento
e transporte de cargas. Com a importância da manutenção cada vez
mais aparente em uma situação altamente competitiva, essa não visa
apenas preservar o nível normal, mas tenta melhorar a tecnologia e
os processos. A natureza complicada das operações de manutenção
- que geralmente envolve pressão de tempo, trabalhando junto com
os processos em execução, trabalhando em alturas e posições difíceis
e usando dispositivos, ferramentas e produtos químicos perigosos,
entre outros - resultou em uma alta taxa de acidentes e problemas de
saúde para os trabalhadores destas manutenções. Os trabalhadores
da manutenção e seus supervisores precisam seguir algumas regras
básicas para garantir a condução segura do trabalho. O descumpri-
mento das regras e etapas são onde se originam as principais causas
de acidentes. Alterações nos padrões de segurança que tratam da
proteção de máquinas incorporam obrigações frequentemente con-
troversas e difíceis de aplicar no dia a dia. No Brasil, a mesma situ-
ação ocorre, mesmo com a atualização das Normas Regulamenta-
doras, como por exemplo a Norma Regulamentadora nº 12 (NR 12).
Como este é uma pesquisa explicativa, a metodologia foi baseada em
uma coleta de informações por meio de bancos de dados, através de
sites e artigos voltados para a inspeção de segurança no trabalho, a
fim de explicar porque as empresas têm problemas para aplicar esse
padrão. Os resultados mostram as dificuldades encontradas, que vão
desde a ausência de certificação de equipamentos e de sinalização
correta, dificuldade na obtenção de máquinas atualizadas e limitações
cognitivas dos funcionários.

Palavra-Chave: Produção; Manutenção de Equipamentos; Se-


gurança do trabalho.

200
Fabio A. da S. Arruda

1. INTRODUÇÃO

A cultura de saúde e segurança ocupacional é um conceito


complexo que tem sido objeto de extensa pesquisa desde a
década de 1980. Existem diferentes perspectivas sobre como
definir e abordar essa cultura nas organizações. Este artigo pre-
tende fornecer uma descrição e visão geral da pesquisa teórica
e discussões sobre o assunto, dada a existência de uma série de
publicações acadêmicas completas.
A abordagem cultural para entender a relação entre pro-
dução, manutenção de equipamentos e segurança ocupacional
pode ser avaliada como parte de um processo de melhoria or-
ganizacional. O objetivo é transmitir informações atualizadas
sobre esse complexo de maneira direta e condensada, tentando
construir uma ponte entre pesquisa e prática.
No Brasil, o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS)
traz, entre outras informações, dados sobre acidentes de tra-
balho, mostrando setores da economia que gera acidentes As-
sim, para o INSS (2013), foram contabilizados mais de 55 mil
acidentes em máquinas, representando 10% do total de aci-
dentes no Brasil em 2013.
Essa realidade dos acidentes não ocorre apenas no Brasil.
Dados coletados pelo NIOSH (1999), entre 1980-1998, mostr-
aram que, nos Estados Unidos, feridos causados ​​ por máqui-
nas são classificados como terceiro lugar entre as causas de
acidentes, representando 13% do total. A União Nacional de
Auditores Fiscais do Trabalho (SINAIT), por meio de análise de
documental sobre os avisos de acidentes de trabalho emitida
entre os anos de 2011 e 2013, concluiu que houve o total de
172.115 acidentes, sendo 10.710 amputações, 26.010 são fra-
turas e 358 mortes (SINAIT, 2014).
A NR 12 é a norma brasileira que estabelece obrigações
para máquinas e equipamentos. Isto sofreu poucas mudanças
durante anos, mas o relatório da Portaria SIT n.º 197/2010,
foram acrescentados requisitos que levam a 340 ao total. A

201
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
realidade é que até então não ocorreu consenso de governo,
empresários e operadores de máquinas no que diz respeito a
viabilidade. Desse modo, surgiram críticas, especialmente de
empresários.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Este artigo apresenta os padrões regulatórios (NR) criado


pelo Ministério do Trabalho e Emprego do Brasil com base na
Constituição Federal de 1988, que afirma: o trabalhador tem
o direito à proteção de sua saúde, física e moral integridade
e segurança na execução de suas atividades. O trabalho deve
ser realizado em condições que contribuem para a melhoria da
qualidade de vida e realização pessoal e social; implicando tam-
bém que segurança e saúde do trabalhador são de responsabili-
dade do empregador e dos profissionais envolvidos no ambiente
de trabalho.

2.1 Segurança e Saúde no Trabalho

A consciência dos acidentes de trabalho cresceu nos pri-


meiros anos do século XX, juntamente com maiores preocu-
pações sobre o salários e condições de vida dos trabalhadores.
Várias iniciativas em nível estadual, durante as primeiras duas
décadas do século, abordaram o problema dos acidentes de tra-
balho. Uma lei nacional que regulamentava condições de se-
gurança no local de trabalho (Lei n. 3724) foi promulgada em
1919 e alterada em 1934. Durante as décadas de rápida indus-
trialização que seguiu o mundo na Segunda Guerra Mundial, o
número de acidentes relatados e sua carga econômica aumen-
tou dramaticamente.

O governo nacional definiu em 1968, através da emissão


da Portaria 32, requisitos de segurança e iniciativas de saúde no
local de trabalho visando proporcionar um ambiente de trabalho

202
Fabio A. da S. Arruda

mais salubre Desde então, muitos outros regulamentos foram


promulgados no governo a nível federal e em alguns estados.

2.2 EPI: Equipamentos de proteção individual

O Equipamentos de Proteção Individual (EPI) protegerá o


usuário contra riscos de saúde ou segurança. O EPI pode incluir
itens como capacetes de segurança, luvas, proteção para os
olhos, roupas de proteção, roupas de alta visibilidade, calça-
dos de segurança, cintos de segurança, protetores de ouvido,
protetores auriculares e Equipamento de Proteção Respiratória
(EPR). Em situações apropriadas, podem ser fornecidos EPIs
descartáveis; por exemplo, macacão descartável. Os empre-
gadores têm deveres quanto ao fornecimento e uso de equipa-
mentos de proteção individual no trabalho (SIQUEIRA, 2014).

O EPI não inclui:


• Roupas ou uniformes comuns de trabalho não projetados
para garantir a saúde ou a segurança dos trabalhadores;
• Roupas fornecidas para fins de higiene alimentar;
• Equipamento usado para proteção enquanto viaja em
uma via pública (por exemplo, capacetes de motocicleta
ou bicicleta);
• Equipamento usado durante competições esportivas
competitivas (mas outros equipamentos de proteção
usados ​​por instrutores esportivos seriam incluídos, por
exemplo, colete salva-vidas usado pelo instrutor de ca-
noa);
• Uma arma ofensiva usada como autodefesa ou como
equipamento de dissuasão. Por exemplo, cassetetes ou
botijões de gás CS usados ​​pela polícia ou pelo exérci-
to (mas estão incluídos capacetes, armaduras e outros
EPIs usados ​​para proteger os funcionários da violência
física);

203
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
• Dispositivos portáteis para detectar e sinalizar riscos e
incômodos, como emblemas para detectar radiação ou
detectores de gás pessoais.
Na hierarquia de controle de risco, o EPI é considerado
o mais baixo e representa a opção de último recurso. É
apropriado apenas quando o perigo em questão não pode ser
totalmente removido ou controlado de tal maneira que o dano
seja improvável (por exemplo, isolando o perigo ou reduzindo o
risco na fonte a um nível aceitável). Existem várias razões para
essa abordagem:
• O EPI protege apenas a pessoa que o utiliza, enquanto
as medidas que controlam o risco na fonte podem pro-
teger todos no local de trabalho;
• Os níveis máximos teóricos de proteção raramente são
alcançados usando o EPI, e o nível real de proteção é
difícil de avaliar (devido a fatores como ajuste inadequado
ou falha em usá-lo quando necessário). A proteção
efetiva só pode ser alcançada por equipamentos que
sejam corretamente instalados, mantidos e utilizados
adequadamente o tempo todo;
• O EPI pode restringir o usuário limitando a mobilidade,
a visibilidade ou exigindo que seja transportado peso
adicional.
• O uso de EPI pode alterar a percepção dos funcionários
sobre os perigos com os quais estão lidando.
Nesse contexto de uma medida de controle de último re-
curso, o EPI é de importância crucial, pois, geralmente, é usado
apenas onde outras medidas são insuficientes e, como tal, de-
sempenha um papel crucial na prevenção e redução de muitas
mortes, lesões e doenças ocupacionais.

204
Fabio A. da S. Arruda

2.3 Gestão de Risco: NR 12

Esta Norma de Regulamentação (NR12) e seus anexos for-


necem referências técnicas, princípios básicos e medidas de
proteção para garantir a saúde e a integridade física dos tra-
balhadores e estabelece requisitos mínimos para a prevenção
de doenças e acidentes de trabalho nas etapas de projeto e uso
de máquinas e equipamentos de todos tipos, e também para
sua fabricação, importação, comercialização, exibição e cessão
de qualquer forma, em todas as atividades econômicas, sem
prejuízo do disposto em todas as outras NR’s aprovadas pelo
Decreto Governamental nº 3214, em 8 de junho de 1978, nas
normas técnicas e, na ausência ou omissão, nas normas inter-
nacionais aplicáveis. (BRASIL, 2010).
A fase de uso inclui transporte, montagem, instalação,
configuração, operação, limpeza, manutenção, inspeção, desa-
tivação e desmontagem de máquinas e equipamentos (alterado
pela Portaria nº 857, de 25 de junho de 2015). As disposições
desta norma referem-se a máquinas e equipamentos novos e
usados, exceto os itens em que há menção específica sobre sua
aplicabilidade.
As máquinas e equipamentos comprovadamente exporta-
dos estão isentos da conformidade com a segurança técnica
requisitos especificados nesta norma (inserido pela Portaria nº
857, em 25 de junho de 2015).
As áreas de circulação devem ser mantidas permanente-
mente desobstruídas. Os materiais utilizados no processo de
produção devem ser armazenados em áreas específicas, devi-
damente marcadas com tiras coloridas, indicado pelas normas
técnicas oficiais, ou sinalizados para áreas externas. Os espaços
ao redor das máquinas e equipamentos devem ser adequados
ao seu tipo e ao tipo de operação para prevenir acidentes e
doenças relacionadas ao trabalho.
A distância mínima entre as máquinas, de acordo com suas
características e aplicações, deve garantir a segurança dos tra-
balhadores durante a operação, manutenção, ajuste, limpeza
e inspeção, e permitir o movimento dos segmentos corporais,

205
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
dada a natureza da tarefa. As áreas de armazenamento e circu-
lação de materiais e os espaços ao redor da máquina devem ser
projetados, dimensionados, mantidos para que os trabalhadores
e transportadores de material, mecanizados e manuais, possam
se mover com segurança.

2.4 Cultura da saúde e segurança no trabalho (SST)

A cultura organizacional é, frequentemente, enfatizada


como um fator importante na mudança de comportamento so-
bre SST. No entanto, como mencionado e mostrado nas seções
acima, a elaboração é principalmente sobre como a cultura se
relaciona com a segurança: a chamada cultura de segurança
(clima de segurança). Considerando que não temos tradiciona-
lmente uma cultura de segurança elevada, o tópico da cultura
organizacional da saúde é relativamente subdesenvolvido.
Em consequência, dificilmente são encontradas ferramen-
tas e instrumentos relativos à cultura de saúde corporativa. Na
literatura científica, no entanto, existem alguns estudos relati-
vos à cultura em saúde do trabalho que valem a pena descre-
ver. O impacto do ambiente social na saúde é frequentemente
demonstrado, como nos modelos conhecidos como a estrutu-
ra de trabalho-demanda-apoio (Karasek e Theorell, 1990), o
esforço-recompensa-desequilíbrio (ERI) (Siegrist, 1996) e Job
Demands-Resources (JDR) (Demerouti et al, 2001; Bakker e
Demerouti, 2007).
Esses modelos são frequentemente usados ​​ para explicar
o tipo de ambiente social que deve ser criado para melhorar a
saúde (psicossocial). No entanto, nessa tradição de pesquisa,
No entanto, nessa tradição de pesquisa, a conexão da saúde do
trabalhador com o desenvolvimento da cultura organizacional é
apenas marginalmente explicitada até agora.
Apesar dos referidos estudos, os laços entre o ambiente
social e a saúde dos trabalhadores não foram explorados ex-
tensivamente na literatura de pesquisa psicossocial. O termo
“cultura da saúde” realmente existe na literatura e é usado para

206
Fabio A. da S. Arruda

denotar a conexão com cultura organizacional. Criar “uma cul-


tura de bem-estar” (Stokes, 2006) ou “uma cultura de saúde”
(ABNT, 2018) é frequentemente recomendado para permitir a
participação em programas de bem-estar no local de trabalho
e fomentar o compromisso de gestão com a saúde. A cultura
da saúde nesta definição refere-se aos funcionários valores e
atitudes em relação à promoção da saúde nos locais de tra-
balho (ABNT, 2018). Outros estudos enfatizam uma conexão
mais próxima entre saúde e desenvolvimento da cultura orga-
nizacional.

3. MÉTODO

A metodologia de pesquisa utilizada neste trabalho foi a


revisão bibliográfica, por meio de coleta de informações em livros,
artigos científicos, artigos e demais pesquisas relacionadas a
temática.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Desvios comportamentais em paradas de manu-


tenção

A partir da reflexão feita sobre observações realizadas em


anos de atividades em manutenção industrial, foi evidenciada a
falta de conhecimento, por parte de alguns líderes, com relação
aos assuntos pertinentes ao grau de responsabilidade que esses
assumem em caso de um acidente de trabalho. O resultado é
preocupante, pois esse desconhecimento gera insegurança nos
trabalhadores que recorrem a aqueles em busca de esclareci-
mento durante a execução dos serviços; o exemplo dos líderes
reflete nas ações e consequentemente nos resultados de suas
equipes, apontando com relevância o desafio de educar e con-
scientizar os trabalhadores na busca da prevenção de acidentes.
Tradicionalmente, as empresas investem muito tempo e
recursos para melhorar o desempenho das atividades e tarefas

207
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
na tentativa de torná-las seguras no que se refere as máquinas
e sistemas de gestão, as quais incluem a inspeção, proteção de
máquinas, estatísticas etc. Como consequência, tais esforços
reduzem de modo significante os acidentes no decorrer dos
anos, mas, é necessário que esse esforço cubra a responsabili-
dade de utilização de técnicas de administração que resulte na
mudança positiva no desempenho de segurança por parte dos
trabalhadores com melhores atitudes. Embora muitos acidentes
sejam atribuídos à falta de cuidado de pessoas ou atitudes pre-
cárias com relação à segurança, a maioria é ativado por um
comportamento de risco.
Essa observação teve como eixo central a avaliação da in-
fluência dos líderes na ocorrência de desvios comportamentais
de suas equipes durante paradas de manutenção, no intuito de
minimizar a ocorrência dos desvios, trazendo como benefício
para a comunidade a redução dos acidentes de trabalho, vis-
to que os problemas econômicos derivados dessas ocorrências
atingem a todos: acidentado, a família, a empresa, a sociedade,
a nação.

4.2 Importância do planejamento em paradas de


manutenção

Com a ocorrência de atrasos na execução de serviços,


devido ao não cumprimento do Cronograma da Parada, os
coordenadores, durante as reuniões de parada, são cobrados
pelo atendimento aos prazos definidos durante a apresentação
do cronograma.
Toda e qualquer equipe que presta serviço de manutenção,
deve verificar durante o planejamento, os prazos de início e
encerramento da parada, bem como o tempo de execução
de cada tarefa e os recursos das interfaces e interferências.
Não se deve desconsiderar o tempo que cada serviço leva
para ser liberado pela equipe, pois esses detalhes, quando são
observados e discutidos juntamente com a equipe, permite que
sejam reajustados os prazos, evitando, assim, que, durante a
execução das tarefas, ocorram atrasos e consequentemente

208
Fabio A. da S. Arruda

pressão para que suas equipes concluam o prazo ou tenham


que executar de forma diferente dos padrões.
Os líderes da frente de serviço, na tentativa de alinhar a
curva de avanço, acabam cobrando que as suas equipes recu-
perem o tempo perdido. Essas, por sua vez, se sentem pres-
sionadas, favorecendo assim a ocorrência de desvios e, conse-
quentemente, de acidentes.

4.2.1 Desvios cometidos pelos líderes durante as pa-


radas de manutenção

Durante a realização das Paradas de manutenção são iden-


tificados vários desvios cometidos pelos líderes das empresas,
destacamos dentre eles:
• Ultrapassar área isolada;
• Atender telefone celular em área industrial;
• Não utilização de protetor auricular;
• Líder de equipe faltando a DDS;
• Não utilização de luvas para movimentar peças;
• Desconhecimento de procedimento para execução dos
serviços.
Vários desvios iguais a esses listados acima são cometidos
pelas equipes durante as Paradas. Analisando os fatos citados,
verificamos a influência da supervisão na ocorrência de desvios
comportamentais de suas equipes durante as paradas de ma-
nutenção.
O ponto de partida foi verificar o processo de contratação
e a relação entre a quantidade de pessoas fichadas versus pes-
soas indicadas pela supervisão. Desta maneira, pode-se verifi-
car o índice de funcionários indicados trabalhando em paradas
de manutenção.
A seleção de pessoal possui uma série de etapas que pre-

209
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
cisam ser galgadas para que se obtenha, de fato, eficácia na
escolha de candidatos para o preenchimento de vagas numa
empresa; contudo, tal processo, em alguns lugares, ainda per-
dura a tradição industrial de se contratar, à porta da fábrica,
candidatos que, em filas, aguardam um recrutamento rudimen-
tar, baseado em um mínimo de requisitos, que muitas vezes
nada tem a ver com a função a ser preenchida.
Nesta fase do ápice do desenvolvimento humano e tec-
nológico, é preciso que os empresários se conscientizem de que
a boa seleção de pessoal é um investimento útil para a empresa
selecionar de forma correta a pessoa adequada para a função
compatível as suas atribuições. Sendo cumprida esta lógica
serão garantidos os itens a seguir:
a) Supressão do problema de rotatividade da mão-de-
obra;
b) Diminuição do tempo de treinamento e de formação
profissional do recém-admitido;
c) Aumento do rendimento do trabalhador de forma acen-
tuada, melhorando a qualidade da produção e diminuin-
do o desperdício de material;
d) Redução do número de acidentes de trabalho.
Enfim, a seleção eficaz aumenta o prazer pelo trabalho,
pois o homem que trabalha na função adequada a ele mesmo, é
um homem satisfeito. Para tanto, precisará possuir característi-
cas que configure condições gerais, como sexo, idade, nacional-
idade e outras, bem como condições legais que são certificações
profissionais, títulos, experiência, saúde, conhecimentos gerais,
conhecimentos especiais, aptidões, personalidade e adaptabil-
idade.
Durante o processo orçamentário de serviços de Paradas
de Manutenção, o planejamento das empresas deve tirar todas
as dúvidas com relação ao levantamento quantitativo das
funções e apoio logístico dos serviços, desde o recebimento da
carta convite, análise de desenhos, isométricos e visita técnica,
pois diante da ocorrência de um planejamento mal feito, a
probabilidade de ocorrer desvios comportamentais aumenta.

210
Fabio A. da S. Arruda

Na busca de cumprir o Cronograma dos Serviços, os líderes,


muitas vezes, deixam de atender certas condições de extrema
importância para o trabalho seguro, além de gerar “pressão”
nas suas equipes. Através da análise das observações durante
as Paradas de Manutenção, foi constatado que em todas há a
preocupação de eliminar os desvios e, consequentemente, os
acidentes; porém ainda falta um maior comprometimento na
eliminação de tais “desvios”, afinal de contas, a preocupação
em promover a segurança do trabalhador não deve ser apenas
uma obrigação legal, mas sim um resultado de conscientização
do homem a esse respeito, principalmente dos líderes.
Foi verificado vários desvios cometidos pelos líderes, ao
mesmo tempo, durante a análise das observações, foi observa-
do que muitos líderes desconhecem diversas responsabilidades
pertinentes ao cargo desempenhado pela liderança durante a
ocorrência de um acidente de trabalho. Se um líder descon-
hece suas responsabilidades, é possível um relaxamento dos
deveres a serem desenvolvidos, não cumprindo as normas de
segurança do trabalho; assim, passam também a cometer des-
vios, os quais servem como exemplo para as suas equipes, haja
vista que questionamentos da seguinte natureza podem ser le-
vantados: “se o meu líder faz dessa maneira, por que eu não
posso fazer?”.
Para que possamos executar os serviços durante uma Para-
da de Manutenção sem a ocorrência de acidentes, é de suma
importância que tratemos os desvios e só conseguiremos isso
com a junção de vários itens: seleção adequada, treinamento,
conhecimento das responsabilidades civis e criminais dos líde-
res e dos seus comandados e exemplos positivos dos líderes.

4.3 Dispositivos de segurança em máquinas

Vários dispositivos podem ser usados ​​para aumentar a se-


gurança em máquinas, embora escolhas padrão usadas nem
sempre sejam admissíveis ou adequadas, tornando difícil es-
colher o dispositivo certo, porque um dispositivo implementado
de maneira errada pode aumentar o risco para os funcionários;

211
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
o designer pode ser responsável por qualquer dano causado
pela seleção inadequada de dispositivos de segurança (ARRU-
DA, 2019).
A NR 12 divide os dispositivos em duas categorias, por
proteção fixa e para proteção móvel; essa norma define referên-
cias técnicas, princípios fundamentais e medidas de proteção
para resguardar a saúde e a integridade física dos trabalhadores,
estabelece requisitos mínimos para a prevenção de acidentes e
doenças do trabalho nas fases de projeto e de utilização de
máquinas e equipamentos, e ainda à sua fabricação, impor-
tação, comercialização, exposição e cessão a qualquer título,
em todas as atividades econômicas.
• Controles elétricos ou interfaces de segurança: são
dispositivos responsáveis por executar o monitoramento,
verificando a interligação, posição e operação de outros
dispositivos como relés de segurança, configuráveis
controladores de segurança e lógica programável e
segurança do controlador;
• Dispositivos de intertravamento: Na segurança
eletromecânica, chaves com ação e ruptura positivas,
magnéticas, codificado eletrônico, optoeletrônico,
indutivo, sensores de segurança;
• Sensores de segurança: dispositivos, sensores de
mecânica, que envia sinal para interromper ou
impedir as operações perigosas, como cortinas de
luz, optoeletrônicos detectores de movimento, feixes
múltiplos de laser, barreiras ópticas, monitores de área
ou scanners, paradas, tapetes e sensores de posição;
• Válvulas e blocos de segurança ou pneumáticos e
sistemas hidráulicos com a mesma eficácia;
• Dispositivos mecânicos, como dispositivos de retenção,
limitadores, separadores, empurradores, inibidores,
defletores e retrátil; e
• Dispositivos de validação: dispositivos de controle
adicionais operado manualmente como teclas seletoras
com trava e dispositivos bloqueáveis.

212
Fabio A. da S. Arruda

Os empregadores têm uma obrigação legal de garantir a


manutenção correta das máquinas no local de trabalho. Isso
ajuda a reduzir quaisquer riscos como resultado de falhas ines-
peradas e ajuda a manter a força de trabalho segura, conforme
apresenta a figura 1:

Figura 1 – Manutenção de equipamentos e máquinas

Fonte: ARRUDA, 2019

Fatores como custo, confiabilidade, eficiência, risco de neu-


tralização ou criação de novos perigos, influenciam diretamente
os designers durante a escolha de quais dispositivos de segu-
rança podem ser usados ​​em máquinas e ferramentas (Caputo,
Pelagagge e Salini, 2012).
Estudos como Fadier e De la Garza (2006) encontraram
métodos, modelos e recomendações utilizados em projetos de
máquinas mais seguras, concluindo que os dispositivos de se-
gurança são complementos de um projeto original, de forma
que questões de segurança não sejam consideradas antes do
produto, mas quando idealizado.

213
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

4.4 Triangulação

As estratégias de avaliação fornecem uma maneira diferen-


te de ver e avaliar a cultura de segurança de uma organização
(usando instrumentos específicos). No entanto, nenhum deles
deveria ser visto como sendo a única e verdadeira abordagem.
Pelo contrário, eles deveriam ser considerados como comple-
mentar (DRAGONE, 2011).
Uma pesquisa de questionário (ou seja, quantitativa, abor-
dagem analítica) pode, por exemplo, resultar em alguns resulta-
dos (numéricos), que poderiam ser mais verificados e explora-
dos por meio de entrevistas com a equipe, ou seja, qualitativa,
acadêmica, participativa (SILVA; SOUZA, 2011). Mendes et al.
(2017) compara a avaliação da cultura de segurança de uma
organização a esse respeito, com um diagnóstico médico. Um
clima de segurança.
A pesquisa de questionário pode ser vista como um che-
ck-up geral com seu médico local ou praticante. Esse primeiro
diagnóstico pode, então - se necessário -, ser seguido por in-
vestigações mais aprofundadas, usando diferentes instrumen-
tos e técnicas.
Muitos autores enfatizam o fato de que nenhuma aborda-
gem ou técnica é adequada para compreender e explorar a cul-
tura de segurança. Em vez disso, uma abordagem multi-méto-
do e holística deve ser levada em direção à cultura de segurança
(NAVARRO, 2007). Essa abordagem, usando várias estratégias,
também é chamada de ‘triangulação’, que é expressa pelo fato
de várias culturas de segurança possuírem caixas de ferramen-
tas de avaliação (kits de ferramentas), cada uma contendo e
fornecendo diferentes ferramentas e instrumentos.
Quanto mais complexa a organização, maior o risco poten-
cial e mais sofisticada a avaliação da cultura de segurança deve
ser (veja também a figura 5). Isso significa que mais esforço
e recursos precisam ser levados a cabo na avaliação. Por outro
lado, o benefício potencial será superior. Muitos cálculos foram
feitos por organizações especializadas que demonstram o fato
de que as boas práticas de Segurança e Saúde do Trabalho ge-

214
Fabio A. da S. Arruda

ralmente valem a pena em termos de mais produtividade, me-


nos licenças médicas e também diretamente dinheiro poupado.
Certas diretrizes relativas ao gerenciamento no âmbito da
manutenção de equipamentos são necessárias para garantir
que a cultura de segurança no setor seja aprimorada. As dire-
trizes devem governar o gerenciamento de segurança dos seto-
res, equipamentos e força de trabalho. Para evitar acidentes no
local de trabalho, a atitude humana que são “atitudes reativas
e ruins, geralmente uma norma, deve ser alterada para uma
cultura positiva e proativa” (JUNIOR, et al. 2016).
Quanto à implantação de uma manutenção produtiva, tra-
ta-se de melhorias que envolvem pilares de higiene, segurança
e meio ambiente, com base em políticas de prevenção e geren-
ciamento de riscos, além de também reduzir cursos do ciclo de
vida das máquinas. Siqueira (2014) ensina que a implantação
de manutenção preventiva é fundamentada em 8 (oito) pilares,
conforme a figura 2:

Figura 2 – 8 pilares da manutenção preventiva

Fonte: SINGH; AHUJA, 2013.

Duas abordagens bastante distintas para gerenciar a se-


gurança no local de trabalho competiram por atenção e ger-
aram uma quantidade considerável de debates e controvérsias.

215
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
A primeira dessas abordagens, a segurança baseada em com-
portamento, concentra-se na identificação e modificação de
comportamentos críticos de segurança e enfatiza como esses
comportamentos estão ligados a lesões e perdas no local de
trabalho (ARRUDA, 2019).
A segunda abordagem, em contraste, enfatiza a importân-
cia fundamental da cultura de segurança da organização e como
ela molda e influencia os comportamentos de segurança e a
eficácia do programa de segurança. Além disso, cada movimen-
to recrutou seus próprios proponentes persuasivos e detratores
vocais. Na superfície, pelo menos, as duas abordagens parecem
ser oposição indireta uma à outra e representam duas visões
de mundo completamente diferentes sobre causalidade de feri-
mentos e gerenciamento de segurança (BRASIL, 2019).
As empresas estão inseridas em um ambiente institucional
e social, tornando-as suscetíveis à influência da cultura nacion-
al. Essa influência se reflete na definição geral de cultura de se-
gurança oferecida por Arruda (2019) como ‘aspectos da cultura
que afetam a segurança’.
Os resultados do estudo corroboram as evidências forne-
cidas por outros estudos sobre a influência da cultura nacional
na saúde e segurança quanto à manutenção de equipamentos
como meio de melhorar a produção. Um estudo comparativo
realizado sobre a cultura de segurança ilustra a relação entre
valores culturais e segurança nesses setores.
Os trabalhadores das instalações viam valores de liber-
dade, amor e interações sociais como tendo impacto na se-
gurança do local, enquanto os trabalhadores classificaram ess-
es valores como tendo um impacto menor (ARRUDA, 2019). A
relação entre saúde e segurança no trabalho e valores culturais
é sustentada pelos dados do presente estudo. As percepções
e atitudes dos proprietários / gerentes em relação à saúde e
segurança estão ligadas ao sistema familiar ampliado e a uma
visão coletivista da vida, caracterizada por manter e fornecer
para as necessidades sociais, incluindo saúde e segurança dos
trabalhadores.
Para garantir que o equipamento de trabalho não se dete-

216
Fabio A. da S. Arruda

riore na medida em que possa colocar as pessoas em risco, as


empresas devem exigir que os empregadores, os trabalhadores
independentes relevantes e outros que controlam o equipamen-
to de trabalho o mantenham em um estado que controlam o eq-
uipamento de trabalho o mantenham em um estado impecavel-
mente eficiente, em ordem e em bom estado de conservação
(MENDES, et al. 2017).
Essa manutenção eficaz pode não apenas ajudar a atender
aos requisitos das empresas, mas também servir a outros obje-
tivos de negócios, como melhoria da produtividade e redução do
impacto ambiental. A frequência e a natureza da manutenção
devem ser determinadas por meio da avaliação de riscos, le-
vando em consideração: as recomendações do fabricante; a in-
tensidade de uso; ambiente operacional (por exemplo, o efeito
da temperatura, corrosão, intemperismo), conhecimento e ex-
periência do usuário, o risco para a saúde e a segurança de
qualquer falha ou mau funcionamento previsível.
As partes críticas de segurança do equipamento de tra-
balho podem precisar de um nível de atenção mais alto e mais
frequente do que outros aspectos, o que pode ser refletido em
qualquer programa de manutenção. A manutenção de avarias,
realizada somente após a ocorrência de falhas não será adequa-
da quando houver riscos significativos com o uso continuado do
equipamento de trabalho.
Silva e Souza (2011) ensinam que as instruções do fabricante
devem descrever qual manutenção é necessária para manter o
equipamento seguro e como isso pode ser feito com segurança.
Essas instruções devem sempre ser seguidas, a menos que
haja razões justificáveis ​​para não fazê-lo - por exemplo, onde é
necessária manutenção mais frequente, devido ao uso intenso,
condições ambientais adversas ou quando outra experiência
mostrar essa necessidade.
A manutenção em uma base menos frequente do que a
recomendação do fabricante deve estar sujeita a uma avaliação
cuidadosa dos riscos e as razões para isso devem ser revisa-
das em intervalos apropriados. Onde já existe um regime de
inspeção, talvez para equipamentos pouco usados, uma ma-
nutenção menos frequente pode ser justificada devido ao moni-

217
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
toramento de condições já fornecido pelo programa de inspeção
(ARRUDA, 2019).
Não é necessário manter um registro de manutenção, em-
bora seja recomendado para equipamentos de alto risco. Os logs
de manutenção podem fornecer informações úteis para o plane-
jamento futuro da manutenção, além de informar o pessoal de
manutenção sobre as ações anteriores tomadas. No entanto, se
você tiver um log de manutenção, mantenha-o atualizado.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho discutiu as abordagens distintas para estu-


dar e avaliar uma cultura de segurança do trabalho nas orga-
nizações. Cada estratégia de avaliação possui características
próprias, variando de descritivo para normativo e da orientação
para o passado, presente ou futuro de uma organização.
Por meio da pesquisa, foi possível contemplar os principais
aspectos relacionados com a manutenção, buscando determinar
como a gestão estratégica adequada é essencial para o alcance
da segurança para o trabalhador desses setores. A presença
de variáveis que relacionam a gestão de riscos e o processo de
produção e a gestão puderam ser observados, o que leva ao
entendimento de que, possivelmente, não exista somente um
padrão de gerenciamento estratégico.
Essas diferenças são refletidas em diferentes instrumentos
e técnicas de avaliação, que podem ser quantitativos ou qual-
itativos (métodos etnograficamente inspirados) como obser-
vações, análises de documentos, entrevistas). É interessante
vincular os diferentes instrumentos de avaliação às camadas
culturais de uma organização, ou seja, os artefatos, valores ad-
otados e suposições básicas.
Foi constatada uma dificuldade relacionada à implantação
dos dispositivos de segurança nas máquinas antigas, devido
desacelerar a rotatividade dos parques industriais brasileiros.
Isto ficou claro que, mesmo em máquinas modernas, a
segurança de dispositivos são complementos, algo que mostra

218
Fabio A. da S. Arruda

que os requisitos da NR 12 são extremamente necessários.


Portanto, há a necessidade da adoção de práticas que tor-
nem a manutenção de máquinas e equipamentos mais seguros,
partindo de um planejamento, tornando o local de trabalho um
ambiente seguro, protegido, impedindo o acesso não autoriza-
do, usando barreiras e sinais, uso de equipamento apropriado,
trabalhando como planejado e passando por uma checagem fi-
nal.
Devido à grande concorrência enfrentadas pelas empresas,
é importante que suas máquinas e equipamentos liberem a
maior quantidade de recursos possíveis, para que se mantenha
uma vantagem competitiva. A melhoria na produção depende
de vários fatores combinados para se obter a redução de
custos: perda de tempo e mão de obra, utilização das máquinas
e equipamentos em sua capacidade total de trabalho e
proteção dos trabalhadores envolvidos. A gestão estratégica
na manutenção traduz esse sistema em qualificação adequada,
melhorias nos equipamentos, boas práticas de segurança no
trabalho, utilização de ferramentas eficazes e prevenção de
acidentes e falhas.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Norma Reguladora 12. Segurança no trabalho em máqui-


nas e equipamentos. (Redação dada pela Portaria SIT n.º 197, de
17/12/10). 2010.

ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Gestão de Riscos.


ISO 31000, 2018.

ARRUDA, Fabio Antônio da Silva. Coletânea Triangulação em saú-


de e segurança de trabalho: gestão, engenharia e comporta-
mento. 1ª edição. São Luís: Editora Pascal, 2019.

BRASIL. Seguro Social. Classificação nacional de atividades econô-


micas e risco de acidente de trabalho. Brasil, 2019.

DRAGONE, José Fausto. Proteções de máquinas, equipamentos,

219
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
mecanismos e cadeado de segurança. São Paulo: LTR, 2011.

MENDES, Wanderson de Almeida et al. Manutenção e a Segurança do


Trabalho: Uma Análise Sobre a Influência da Manutenção Industrial
no Processo de Trabalho Seguro. Revista Eletrônica Multidiscipli-
nar – FACEAR. 2017.

NAVARRO, Antonio F. Acidentes de trabalho com máquinas e


equipamentos. Niterói: 2007. Disponível em: <http://pt.slideshare.
net/AntonioFernandoNavarro/acidentes-do-trabalho-commquinas>.
Acesso em: 12 mar. 2020.

JUNIOR, Averaldo Alencar Coelho, et al. A importância da NR-12


segurança no trabalho em máquinas e equipamentos. 2016.

SIQUEIRA, Wagner Dias. Gerenciamento dos riscos ocupacionais


no trabalho com máquinas e equipamentos. [Monografia]. Uni-
versidade Alto Vale do rio do Peixe – UNIARP, Caçador – SC, 2014.

SILVA, I.B.R. SOUZA, B.S. Proteção de Máquinas: A Melhor Al-


ternativa. Revista Proteção, Novo Hamburgo, n. 239, p. 76-81, nov.
2011.

SINGH, K. AHUJA, I.S. Synergistic suitability of transfusion of TQM-


TPM for Indian manufacturing industries using fuzzy-based model
simulation. Int. J. B. Continuity and Risk Management, 4(1), 36-
46. 2013.

220
11

TOMADA DE DECISÃO: ASPECTOS


SIMBÓLICOS E IMPACTOS NA
PREVENÇÃO DE ACIDENTES

Rafaela Figueroa Carlos

Mestre em Administração e Recursos Humanos pelo Centro Univer-


sitário UNA Belo Horizonte, Pós-graduada em Psicopedagoga pelo
Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH), Graduada em Psi-
cologia pelo Centro Universitário Newton Paiva. Possui mais de 15
anos atuando em Recursos Humanos e Segurança do trabalho, com
foco em consultoria interna para as áreas de negócio. Vivência em
multinacionais de grande porte com atuação multidisciplinar em Re-
cursos Humanos, Saúde e Segurança Ocupacional e Meio ambiente.
Experiência em formação de líderes, treinamento, desenvolvimento,
programas de clima e cultura organizacional, processos de reestru-
turação, implementação de novas políticas, suporte os clientes inter-
nos com foco alinhado aos negócios da organização e psicologia do
trabalho. Atualmente é analista de segurança do trabalho na empresa
Vale S/A, responsável pela implementação de programas de trans-
formação cultural para empregados próprios e terceiros, no Terminal
Marítimo Ponta da Madeira em São Luis/Ma.
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

RESUMO

E
ste trabalho visa refletir sobre a tomada de decisão
nas práticas e rotinas laborais e de quais formas essas
decisões podem evitar ou não acidentes do trabalho.
Constantes transformações e inovações dos métodos e técnicas
de trabalho, tanto no aspecto da prática funcional quanto no
aspecto comportamental, fazem com que os profissionais
frequentemente se ajustem e interajam necessariamente com
o meio e com os equipamentos de forma a responderem a uma
dinâmica processual e a tomarem decisões na rotina de suas
práticas. Na dinâmica desse processo, na maioria das vezes, o
trabalhador não se dá conta dos aspectos simbólicos nos quais
está inserido por meio de uma intervenção cultural que legitima
os interesses dominantes, o fazendo acreditar que acompanhar
essas mudanças repentinas o deixa mais preparado para o
sucesso profissional, deixando de lado um dos aspectos mais
importantes nas práticas prevencionistas: a tomada de decisão.

Palavras-chave: Comportamento, mudanças, cultura,


símbolos organizacionais, comunicação, tomada de decisão.

222
Fabio A. da S. Arruda

1. INTRODUÇÃO

No mudo organizacional globalizado, percebe-se, cada vez


mais, um maior número de profissionais envolvidos em procurar
saídas, formular hipóteses, criar conhecimentos, rever a ordem
vigente para uma melhoria continua dos processos. As últimas
décadas foram marcadas pela brusca entrada de novas tecno-
logias tanto no meio organizacional quanto na sociedade e na
cultura. Em decorrência dos avanços tecnológicos, várias trans-
formações nos sistemas ocupacionais ocorreram. Os profission-
ais são convidados, inconscientemente, a esta transformação,
chamados a utilizar novos sistemas e métodos nos serviços de
aprendizagem e desenvolvimento das organizações.
Com a entrada dessas tecnologias, os profissionais pre-
cisaram construir conhecimento, vocabulário e reconstruir
condições de trabalho a partir desses novos sistemas apresen-
tado às organizações, e repassá-los às atividades laborais, mui-
tas vezes, em curto espaço de tempo.
Estar atento ao negócio, conhecer e deter informações tem
sido o mais relevante fator de competitividade. Agir rapida-
mente às mudanças do mercado passou a ser uma das exigên-
cias profissionais das organizações contemporâneas. Ser ime-
diatista, adaptar-se com velocidade aos novos conceitos passou
a ser o novo foco.
Neste mundo laboral contemporâneo, ser rápido pode
significar muitas coisas, como a capacidade de aceitar novos
desafios, novas estratégias, novas abordagens comerciais e de
gestões, ou seja, encarar as mudanças e atualizações como
rotina, e, consequentemente, estar mais exposto e atento aos
riscos, dado à rapidez exigida na execução das atividades.
Perceber as constantes modificações provocadas pela glo-
balização, pelas oscilações econômicas, pelas mudanças políti-
cas é de extrema importância para a aceitação e tomada de de-
cisão dos profissionais diante dessas transformações. Portanto,
exige-se estar preparado para ver as mudanças, entendê-las e

223
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
possibilitar as adaptações necessárias, para garantir que a se-
gurança esteja no topo das prioridades organizacionais.
A partir deste cenário, começou a surgir nos profissionais
a necessidade de desenvolvimento comportamental para que
possam estar mais conscientes acerca dos comportamentos que
os colocam ou não expostos aos riscos laborais, que possam
compreender a necessidade de avaliar as mudanças, apontando
as sintonias com as situações, gerando discussões necessárias
para adaptação do profissional a esse novo jeito de trabalhar.
Fazer com que os empreendedores e líderes saibam
qual a significância do seu papel como agente de mudanças
é imprescindível neste novo mercado, pois há necessidade
de refletir como estas constantes transformações afetam os
trabalhadores, a segurança e, consequentemente, o produto
final.

2. A CULTURA ORGANIZACIONAL E O CONTROLE

Para Bourdieu (2012), conhecer um ambiente organizacio-


nal é importante, pois expressa a maneira que a empresa age
em relação ao mercado, a maneira que dispõe seus serviços,
sistemas, produtos e símbolos demonstrados por intermédio da
construção da realidade dos profissionais. Para ter um bom re-
sultado como empresa, o conhecimento sobre ela deve ser re-
passado ao grupo de pessoas que trabalha no local e esta tarefa
envolve a linguagem explícita e tácita, criando e ou remodelan-
do a cultura organizacional.
Os símbolos são instrumentos por excelência
da integração social: enquanto instrumentos de
conhecimento e de comunicação, eles tornam possível
o consensus acerca do sentido do mundo social que
contribui fundamentalmente para a reprodução
da ordem social: integração lógica é a condição da
integração moral (BOURDIEU, p.10, 2012).

É nesta maneira de dispor serviços, sistemas, produtos,
relações e símbolos que a cultura organizacional vai se definin-

224
Fabio A. da S. Arruda

do, dando forma à um modelo hipotético de premissas básicas


para bom andamento de um negócio. A cultura de uma empresa
se forma a partir de seus princípios, crenças, políticas, valores
e clima. São réguas norteadoras que as pessoas pertencentes à
organização adotam como orientação e pontos de partidas, para
dar sentido também ao processo de segurança do trabalho.
Segundo Bourdieu, (2012), o movimento cultural que se
resume na cultura da organização tem seu funcionamento como
uma caixa recheada com o conjunto de ideias, convicções,
princípios que caracterizam o pensamento do grupo pertencente
àquela empresa. Por meio da cultura, justificam-se as constantes
mudanças, a entrada de novos estilos gerenciais e tecnologias
submetidas ao mundo globalizado. Atualmente, o que permeia
este processo de reificação das culturas organizacionais é a
existência constante de novos paradigmas, práticas que mudam
com frequência o mercado de trabalho e o mundo, abrindo
um abismo entre a familiarização dos processos e as novas
tendências.
A Justificativa para esse acontecimento chega até aos
profissionais mediante os discursos de valores, explicações das
mudanças e lógicas que tentam convencer os trabalhadores de
que essas novas formas de trabalhar são as mais adequadas
para o momento.
Nesse novo contexto, tomadas de decisões sem análise
crítica torna-se um risco à integridade, pois a nova dinâmica do
mundo organizacional impõe uma maleabilidade em busca da
eficiência e eficácia. Mas não atrelar a segurança nesta dinâmica
torna-se um ponto crítico de atenção, de acordo com Bourdieu
(2012).
Dar valor a repetição das tarefas em prejuízo da segu-
rança, valorizando o novo como se representassem realmente
a mudança é uma forma reducionista de sanar problemas. A
tomada de decisão dos profissionais deve ser valorizada como
elemento que possibilita ao trabalhador intervir, questionar e
modificar os processos de acordo com os objetivos estabeleci-
dos para o seu cargo. Treinar por treinar, repetir por repetir terá
pouca efetividade nesse universo.

225
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
Beuren (2000) aponta que o processo de produção está
estribado por justificativas aparentemente funcionalistas, onde
há uma busca de apresentar todos os resultados de forma es-
tatística, medindo, verificando, checando as variáveis. No en-
tanto, há outras questões que influenciam de forma diretamente
proporcional os dados estatísticos, como o clima, cultura, políti-
cas, ativadores psicossociais que devem ser consideradas no
processo de execução das atividades, processo esse que com-
põe a tomada de decisão.
É exatamente no aspecto simbólico que se encontram os
saberes diferenciados e pensamentos das mais diversas origens
que, na tentativa de quantificar e mensurar os aspectos não
numéricos, também se esforçam para funcionalizar o clima, a
cultura, os sentimentos e as relações de trabalho.
Treinamentos, abordagens, forma de gerir das mais diver-
sas têm sido importadas e exportadas sem que seja refletida a
real aplicabilidade, sem compreender qual a reação do processo
nessas novas dinâmicas, o quanto isso implica na segurança do
trabalho e, por fim, carência da percepção dos riscos aos quais
os profissionais serão expostos.
O foco/produção passa a ser a justificativa da utilização de
novos processos em detrimento da descoberta da real necessi-
dade do negócio. A valorização do novo e o reducionismo dos
processos nas empresas contemporâneas tem transformado o
mercado de trabalho em um mundo aberto à informação, às
experiências e ao dinamismo, como um estimulo à lucratividade
e ao adestramento e estresse do novo profissional.
É nesse cenário de mudanças contínuas, tecnologias,
rapidez, adaptação, criação e readaptação de culturas organi-
zacionais que muitas vezes acontecem a violência simbólica;
Acidentes e Incidentes.

3. TOMADA DE DECISÃO E SEUS IMPACTOS NA


PREVENÇÃO DE ACIDENTES

Estudar o processo decisório no ambiente de trabalho, no

226
Fabio A. da S. Arruda

que tange a segurança ocupacional, tem sido cada vez mais


relevante, dado a constante valorização da saúde e integridade
do trabalhador. É indiscutível a importância de se aprofundar
nesse tema, uma vez que as empresas necessitam cada vez
mais de decisões acertadas e, principalmente, que garantam a
manutenção da saúde de quem está decidindo.
Para Beuren (2000, p.18), fazer uso de métodos, modelos
e técnicas para tomada de decisão permite aos líderes entend-
er melhor a estrutura organizacional e as complexas relações
inerentes ao processo desenvolvido pela equipe. Sendo assim,
construir, investigar modelos que permitam averiguar a melhor
aplicabilidade dos processos de tomada de decisão é fundamen-
tal na prática de prevenção aos riscos operacionais.
As decisões e as ações decorrentes se constituem no
resultado da troca ou da barganha entre os envolvidos,
cujo processo é possível, porque os envolvidos ocupam
posições que lhes atribuem algum tipo de poder. “No
modelo político há duas categorias de informações
buscadas pelos que tomam as decisões: a informação
usada para tomar decisões e a informação usada para
apoiar decisões já tomadas” (MELTSNER, 1976 apud
CHOO, 2003, p. 293).

Para Kahneman (2002), as decisões que se tornam


incoerentes têm um alto custo para as organizações e isso se
torna ainda mais grave quando tais decisões estão diretamente
ligadas à segurança. É importante estar atento ao fato que o
juízo dos profissionais está fortemente influenciado por vários
fatores muitas vezes não tão relevantes, como estado de
espírito, necessidades fisiológicas, condições climáticas, o que
Kahneman (2002) chama de ruídos – condições que trazem
variabilidade de julgamento.
O ser humano na sua compreensão de mundo utiliza duas
formas de pensar mediante dois sistemas mentais, o sistema
intuitivo e o sistema oneroso. O sistema intuitivo é habitual ao
nosso dia a dia, enquanto o sistema oneroso é mais reflexivo
e gasta mais energia e tempo para concluir algo ou alguma
questão. As pessoas transitam todo o tempo nesses dois siste-
mas na tomada das suas decisões, sem que percebam de qual

227
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
sistema está lançando mão a cada momento.
O Sistema 1 registra o conforto cognitivo com que
processa informação, mas não gera um sinal de alerta
quando se torna pouco confiável. Respostas intuitivas
vêm à mente com rapidez e confiança, sejam originadas
das habilidades, sejam da heurística. Não existe um
modo simples de o Sistema 2 fazer a distinção entre
uma reação apta e uma reação heurística. Seu único
recurso é reduzir a velocidade e tentar construir
uma resposta por conta própria, coisa que ele reluta
em fazer porque é indolente. Muitas sugestões do
Sistema 1 são casualmente endossadas com mínima
verificação, como no problema do bastão e da bola.
É assim que o Sistema 1 adquire sua má reputação
como fonte de erros e vieses. Suas características
operativas, que incluem WYSIATI, equiparação de
intensidade e coerência associativa, entre outras, dão
origem a vieses previsíveis e ilusões cognitivas como
ancoragem, previsões não regressivas, superconfiança
e inúmeras outras (Kahneman, 2002, p. 444).

O cérebro, por sua natureza, tende a poupar energia, e
agir de forma mais simplificada para ações que já tenha ex-
perimentado, esta simplificação tem o nome de atalho mental,
o qual Kahneman (2002) chama de heurísticas. As Heurísticas
auxiliam o cérebro na economia de energia para que as pessoas
não tenham que deliberar todas as informações e fatos a cada
decisão já conhecida que tenha que tomar; elas são inteligíveis,
no entanto, em alguns momentos, podem levar a tomada de
decisões pouco precisas e não racionais:
• Tomadas de decisão pela heurística da disponibi-
lidade – neste modelo, os profissionais tendem a su-
pervalorizar toda informação que tem disponível. A ex-
periência do indivíduo, direta ou indiretamente, faz com
que ele aumente sua consciência em relação ao risco
que está correndo em sua atividade. Exemplo, o profis-
sional ao presenciar algum acidente ou quase acidente
aumenta sua consciência sobre as probabilidades e o
risco daquele mesmo acidente acontecer com ele.
• Tomadas de decisão pela heurística da representa-
tividade – neste estilo, todo foco e decisões estão vol-

228
Fabio A. da S. Arruda

tadas para o resultado que determinada atuação gera.


Como o resultado está no foco da consciência, o profis-
sional aqui é, normalmente, o que executa a atividade
rapidamente e, o fato de não sofrer acidentes, o faz
assumir mais risco e ter uma falsa sensação de segu-
rança – baixa percepção do risco. Desse conceito, vem
a importância das organizações divulgarem ao máximo
os incidentes, para que tornem as pessoas mais consci-
entes ao risco.
• Tomadas de decisão pela heurística do Ajusta-
mento – o poder de influência da pessoa que lidera o
grupo e percebe o risco, faz com o que maior número
de profissionais compactuem com esse mesmo valor e a
percepção ao risco aumenta, consequentemente.

Com base nisso, as organizações devem construir sua an-


coragem a partir do seu ideal sobre prevenção, de forma a in-
fluenciar a antiga forma de pensar o risco, trazendo a influência
do meio de forma positiva para as pessoas. Em todos os níveis
das organizações é colocada, diariamente, uma variável infinita
de opções e caminhos, sendo necessário fazer uma escolha e
tomar decisões importantes para a conclusão de uma ou várias
práticas laborais.
O desafio das grandes empresas, no que tange a segurança
do trabalho, é fazer com que os profissionais tomem a decisão
mais acertada à atividade, colocando em primeiro plano a decisão
que assegura a maior preservação de sua integridade física. O
fundamento da tomada de decisão garantindo a integridade é o
de ampliar os horizontes a respeito das informações de segurança
do trabalho. Quanto mais conhecimento, fatos, contextualizações
processuais são oferecidas às pessoas expostas ao risco, maior
serão as repostas comprometidas e alinhadas ao processo de
segurança do trabalho.
Tomar decisões sempre envolve riscos em diferentes es-
calas, isso é indiscutível, no entanto, facilitar o processo para
a tomada de decisão mais assertiva é imprescindível no mundo
organizacional. Utilizar de ferramentas de comunicação con-

229
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
temporâneas de forma a favorecer este acesso à informação e
fazer isso de forma eficaz, por meios didáticos e de rápido con-
sumo pode ser a bússola para guiar a segurança do trabalho ao
incentivo para a tomada de decisão segura.

4. CONCLUSÃO

Ao se pensar em segurança do trabalho com o objetivo


de promover melhores recursos para o processo decisório, é
fundamental que seja levado em conta qual contexto simbólico
e cultural os profissionais estão inseridos. Não basta fornecer
informações atuais, sobre riscos, atos inseguros, ou simples-
mente os passos para a tomada de decisão, se não for levado
em consideração todo o meio que influencia as ações.
Se a organização deseja preparar profissionais para de-
cidirem ativamente, priorizando sua integridade, precisa-se ir
além do preparo conceitual, em direção à mudança de estig-
mas, mediante ações menos complexas e mais acessíveis que
de fato façam sentido para quem está recebendo.
Apesar da complexidade relacionada ao processo de ca-
pacitação, treinamento e desenvolvimento, a adoção de co-
municação acessível que envolve questões de segurança dire-
tamente ligadas à execução da atividade e que de fato faça
sentido a quem está recebendo, parece ser de primordial im-
portância para auxiliar na tomada de decisão, atitudes e valores
prelecionistas no ambiente organizacional.
Para isso, parece essencial fazer uso da comunicação
contemporânea, sobre diversos pontos de vistas, em busca da
construção coletiva de valores e novos ideais, para que sejam
definitivamente substituídas as atitudes que anteriormente co-
locavam os trabalhadores em risco. Esse movimento exige mu-
dança de postura por parte da liderança das empresas, no sen-
tido de incorporar os novos discursos às práticas, discussões
envolvendo todos os aspectos culturais que possam favorecer
esse novo cenário.

230
Fabio A. da S. Arruda

REFERÊNCIAS

BEUREN, I. M. Gerenciamento da informação: um recurso es-


tratégico no processo de gestão empresarial. São Paulo: Atlas, 2000.
104p.

BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro, RJ: 16ºEd.


Editora Bertrand Brasil, 2012.

KAHNEMAN, Daniel. Rápido e devagar [recurso eletrônico]: duas


formas de pensar / Daniel Kahneman; tradução Cássio de Arantes
Leite. - Rio de Janeiro: Objetiva, 2012

MELTSNER, A. J. Policy analysts in the bureaucracy. Berkeley: Univer-


sity of California Press, 1976. p. 77-79. apud CHOO, C. W. A organi-
zação do conhecimento: como as organizações usam a informação
para criar significado, construir conhecimento e tomar decisões. São
Paulo: SENAC, 2003. 425p.

231
12

ESTRATÉGIA DE REDUÇÃO DE RUÍDO


EM ATIVIDADES DE MANUTENÇÃO
FERROVIÁRIA

Vanessa Marques de Lima Tenório

Pós graduada em Higiene Ocupacional (HO) pela Faculdade de Ciên-


cias Médicas de Minas Gerais (FELUMA), Pós graduada em Toxico-
logia Geral pela Faculdade Unyleya graduada em Administração de
Empresas pela Universidade CEUMA, Técnica em Segurança do Tra-
balho formada pelo Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET-
PE). Graduanda em Engenharia de Produção pela Faculdade UNISA.
Atua há 16 anos no departamento de Saúde e Segurança do Tra-
balho frente aos processos de Higiene Ocupacional na empresa Vale/
SA, onde realiza estudos qualitativos e quantitativos de HO, Gestão
de Riscos Ambientais, Assistente Técnica em Perícias trabalhistas,
Gestão das Ações do PCA e PRR em processos de operação e ma-
nutenção de Ferrovia e Porto.
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

RESUMO

O
presente trabalho faz parte das ações do Projeto de Ruí-
do proveniente do Teste de Auto Carga que visa identifi-
car quais são os impactos de ruído provenientes na real-
ização do teste de auto carga em locomotivas na área da Oficina
Central para as áreas adjacentes; verificando a possibilidade de
definir um local mais adequado para realização da atividade,
buscando a redução do número de pessoas expostas ao ruído e
melhoria das condições no ambiente de trabalho, dos emprega-
dos envolvidos diretamente e indiretamente com o processo. O
Projeto foi dividido em 2 (duas) etapas, a primeira compreen-
deu o conhecimento dos impactos do ruído proveniente do teste
de auto carga nas áreas adjacentes à Oficina Central, e a se-
gunda etapa, que consistiu na identificação de possíveis desvios
na utilização da proteção auditiva, fazendo a gestão da proteção
auditiva junto aos trabalhadores da Manutenção de Locomoti-
vas, mediante estudos técnicos referentes às atenuações dos
protetores auditivos utilizados. Foi sugerido um local mais ad-
equado para a realização dos testes, por meio da reativação e
ampliação de um galpão para que as locomotivas sejam testa-
das neste ambiente, reduzindo significativamente o ruído na
planta operacional.

Palavra-Chave: ruído; redução de ruído; teste de auto


carga.

234
Fabio A. da S. Arruda

1. INTRODUÇÃO

Todos os locais de trabalho onde haja a possibilidade de


exposição dos trabalhadores a altos níveis de ruído, tal como
agente físico devem ser avaliados e os trabalhadores monito-
rados de tal forma que sejam obtidas informações suficientes
para identificar níveis de exposição que possam ser prejudiciais
à saúde dos expostos. Buscando formas efetivas de proteger
os trabalhadores, por meio de estudos científicos, construindo
juntos com os expostos.
A perda auditiva é realidade para uma parcela de brasile-
iros. Boa parte dos acometidos por algum grau de deficiência
auditiva desenvolveu o problema devido à exposição ocupacio-
nal ao ruído. O único meio de evitar danos ao ouvido do tra-
balhador, em atividades nas quais a eliminação total do ruído
não é viável, é o controle do agente na fonte. Quando não for
possível prover medidas de engenharia ou administrativas, a
saída é buscar alternativas capazes de minimizar os efeitos das
emissões até o limite permitido, incluindo a adoção de proteção
auditiva.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Ruído

O fator de risco ruído é de suma importância à saúde, dado


aos diversos efeitos humanos muito referenciados em robus-
ta bibliografia científica, da qual se destacam algumas con-
sequências, dentre elas: reações físicas (aumento da pressão
sanguínea, do ritmo cardíaco e das contrações musculares); au-
mento da produção de adrenalina e outros hormônios; reações
mentais e emocionais (irritabilidade, ansiedade, impaciên-
cia, medo, insônia); reações generalizadas ao stress; efeitos
deletérios auditivos.

235
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
Para maior entendimento desse trabalho se faz necessário
abordarmos conceitos importantes.
A NHO 01, da Fundacentro, conceitua: Ruído Contínuo ou
Intermitente: todo e qualquer ruído que não está classificado
como ruído de impacto ou impulsivo.
O agente físico ruído, cuja denominação técnica é nível de
pressão sonora elevado, está presente em quase todos os lu-
gares e pode se apresentar isoladamente como ruído contínuo
ou intermitente, ou ainda, como ruído de impacto. Entretanto é
comum apresentar-se sob forma combinada.
O Manual de Aposentadoria Especial, conceitua:
O DeciBel (dB) corresponde à décima parte de um Bel (0,1
Bel). Não é uma unidade, mas uma relação adimensional, que
pode ser definida pela seguinte equação:
L = 20 log P/P0
Onde:
• L é o nível de pressão sonora (dB) P é a pressão sonora
encontrada no ambiente (Pa) P0 é a pressão sonora de
referência, por convenção, 20 μPa.
• A frequência do som é expressa em Hertz, definida pelo
número de oscilações (vibrações) da pressão do ar por
unidade de tempo. Um Hertz é igual a um ciclo/segun-
do.
Assim, em um ciclo a frequência indica o tempo maior ou
menor que as partículas do ar vibram e retornam ao seu ponto
de equilíbrio anterior.

2.1.1 Limite de Exposição Ocupacional (LEO)

O item 15.1.5, NR-15 da Portaria 3.214/78, define como


limite de tolerância a concentração ou intensidade máxima ou
mínima, relacionada com a natureza e o temo de exposição ao
agente, que não causará dano à saúde do trabalhador durante

236
Fabio A. da S. Arruda

a vida laboral. Em 2014, com a entrada em vigor da Portaria nº


1.297, de 13 de agosto, em vez de empregar o termo limite de
tolerância (LT), passa-se a utilizar a sigla LEO.
A NR 15, Anexo 1 estabelece o limite de exposição ocupa-
cional ao ruído de acordo com o tempo de exposição.

Figura 1: Limite de tolerância para ruído continuo ou intermitente

2.1.2 Avaliação ocupacional do ruído

A avaliação ocupacional do ruído é feita na curva de


compensação “A” e na curva “C” ou linear, no caso de ruído de
impactos, o qual não é o foco desse estudo.
Os Decretos n. 53.831/1964 e 83.080/1979 estabeleciam
os limites em dB, sem mencionar a curva de compensação ou
ponderação. Porém, do ponto de vista técnico para a avaliação
de ruído, as normas sempre preconizaram a utilização das cur-
vas de compensação A, C e linear, além de estabelecerem os
tempos máximos de exposição em função dos níveis de ruído.
A ponderação A é o filtro padrão das frequências audíveis desti-

237
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
nados a reproduzir a resposta do ouvido humano ao ruído. Nas
baixas e altas frequências o ouvido humano não é muito sen-
sível, mas entre 500 Hz e 6 kHz o ouvido é bem mais sensível.
A NR 15, estabeleceu a metodologia e os limites. Portanto, a
avaliação ocupacional do ruído, em todo o período, deveria ser
realizada com base nos níveis de ruído e tempo de exposição
diária permitidos.

2.1.2.1 Instrumentos de Medição de Ruído

a) Medidor de nível de pressão sonora


A NR 15 estabelece que os níveis de ruído contínuo ou in-
termitente devem ser medidos em decibéis (dB), com o instru-
mento de nível de pressão sonora operando no circuito de com-
pensação “A” e no circuito de resposta lenta. O medidor do nível
de pressão sonora determina o nível instantâneo de ruído.

b) Analisador de Frequência
Esse instrumento é utilizado para determinar as frequên-
cias do ruído e, consequentemente, verificar se o NPS concen-
tra-se nas frequências nas quais a resposta subjetiva ao ruído
é maior (2.000 a 5.000Hz). Além disso, a análise de frequência
permite especificar isolamentos acústicos e calcular a atenu-
ação dos protetores auriculares.

c) Audiodosímetro (medidor integrador de uso pes-


soal)
Quando há exposições diária a diferentes níveis de ruído,
devem ser considerados os efeitos combinados, em vez dos
efeitos individuais de cada um deles.
A determinação da dose ou efeito combinado e o nível
equivalente de ruído devem ser feitos, preferencialmente, com
medidores integradores de uso pessoal (dosímetros de ruído).
Esse equipamento deve ser configurado de acordo com as ex-

238
Fabio A. da S. Arruda

igências da NR 15, ou seja, jornada de trabalho 8 horas, dose


100% ou 1 para 85 dB(A) e incremento de duplicação de dose
igual a 5.

d) Calibrador acústico
Os instrumentos de medição devem ser calibrados antes e
depois da medição, conforme preconiza a NHO 01 da Fundacen-
tro. Para tanto, utiliza-se uma fonte padrão que permite som na
frequência de 1.000 Hz. Esse instrumento, ao ser ajustado ao
microfone do medidor, apresenta o nível de pressão sonora de
94 dB, 114 dB ou outro valor, de acordo com a marca do calib-
rador.

2.2 Medidas de Controle

As medidas de controle do ruído podem ser consideradas


em três maneiras distintas: na fonte, na trajetória e no homem.
As medidas na fonte e na trajetória deverão ser prioritárias
quando viáveis tecnicamente.

2.2.1 Medidas de controle coletivo

O Guia de diretrizes e parâmetros mínimos para a elab-


oração e gestão do Programa de Conservação Auditiva (PCA)
(2018, p. 17), ressalta que:
As medidas de controle coletivo de engenharia ou
administrativas devem ser prioritárias. As medidas de
engenharia têm por objetivo a redução e o controle
na fonte emissora ou na trajetória do ruído. Entre
as medidas incluem-se eliminação, manutenção
preventiva e corretiva, modificação ou substituição de
equipamentos, máquinas e ferramentas; isolamento
ou amortecimento de superfícies vibrantes, mudanças
na trajetória de transmissão do ruído (uso de
enclausuramentos ou barreiras acústicas), redução
da reverberação (uso de materiais absorventes),

239
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
adequação ou melhoria na manutenção preventiva,
modificações nos ritmos e nos processos de operação,
concepção e mudanças de layout dos locais de
trabalho, como por exemplo, aumento da distância
das fontes emissoras, redução da concentração de
máquinas, etc.

A engenharia de controle de ruído na fonte identifica as


causas primárias de geração desse, que pode ser feito para
eliminar ou minimizar os mecanismos básicos que o geram.
A atuação junto à trajetória de transmissão é considerada
a segunda linha de defesa no controle de ruído. Como normal-
mente problemas de ruído não são antecipados na fase de pro-
jeto, resta ao responsável pelo controle atuar na trajetória da
transmissão.

2.2.2 Medidas de controle no receptor

Nos ambientes de trabalho, a proteção individual é a última


linha de defesa na redução dos níveis de ruído que chegam até
a orelha. A proteção individual consiste no uso, por parte dos
trabalhadores, da proteção auditiva.
Deve ser dada aos trabalhadores a oportunidade
de selecionar o seu protetor auditivo dentro de um
conjunto de opções oferecidas pelo empregador.
Devem ser oferecidas duas ou mais opções de
diferentes tipos de protetores auditivos, considerando-
se aspectos de conforto, tempo de uso, compatibilidade
com outros EPIs, eficiência do protetor auditivo,
nível de exposição, entre outros. Guia de diretrizes e
parâmetros mínimos para a elaboração e gestão do
Programa de Conservação Auditiva. (PCA) (2018, p.
19).

Especificamente no que se refere à proteção auditi-


va, a premissa da proteção auferida pelo EPA (Equipamento
de Proteção Auditiva) passa por uma série de providências e
cuidados técnicos que devem nortear a elaboração do PCA (Pro-
gramas de Conservação Auditiva), nos quais profissionais das

240
Fabio A. da S. Arruda

áreas de segurança e saúde devem cuidar para que o conjunto


de medidas neles previstos seja suficiente para garantir a eficá-
cia da proteção que se deseja.
E, se o EPA for adotado como medida de controle, é impor-
tante que sejam realizados estudos científicos para definir o que
promove melhor atenuação, o qual veremos adiante.

2.2.2.1 Procedimento de avaliação da eficiência dos


protetores auditivos em ambiente de trabalho

O uso de protetor auditivo se apresenta como um dos mé-


todos mais comuns e práticos para reduzir o nível de expo-
sição ao ruído de origem ocupacional, vários são os tipos de
protetores auditivos à venda no mercado. Há em torno de mil
marcas comerciais oferecendo soluções em proteção auditiva
em nível internacional. Como a oferta é grande é preciso ser
exigente na hora da escolha, uma vez que a eficiência só poderá
ser comprovada se eles forem empregados da maneira correta.
É necessário que a empresa adquira o equipamento adequado
para o nível de ruído ao qual o trabalhador está exposto, levan-
do em consideração alguns fatores: o tipo de ruído encontrado,
conforto, aceitação do usuário, custo, durabilidade, problemas
de comunicação, segurança e higiene.
Samir, (2000, p. 627) traz os métodos simplificados para
auxiliar na escolha do EPA:
O nível de pressão sonora no ouvido protegido
(isto é, com a colocação do protetor auditivo) pode
ser avaliado pôr vários procedimentos. Existe dois
métodos principais: o Método Longo e os Métodos
Simplificados. Sempre que possível utiliza-se o
Método Longo.
O cálculo neste método fornece os níveis de pressão
sonora em dBA em bandas de frequências de 125 Hz
até 8 KHz, nível total do ouvido protegido e atenuação
total fornecido para este protetor auditivo neste
ambiente do trabalho.

O nível de pressão sonora protegida esperado poderá ser

241
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
determinado confrontando-se os dados do protetor auditivo com
os níveis de ruído por banda de frequência, acima referidos.
No exemplo que segue, considera-se as bandas de oita-
va, cujas frequências centrais, em Hz, são mostradas na tabela
abaixo. Os níveis de pressão sonora, em dB(A) (para cada uma
das bandas de oitava), a que está submetido o usuário sem o
uso do protetor, estão mostrados na tabela na linha 1. A soma
logarítmica desses valores é 109 dB(A) e corresponde ao nível
total a que o indivíduo está submetido antes de colocar o pro-
tetor.
Frequências 125 250 500 1K 2K 4K 8K
1 - NPS 83,9 93,4 101,8 106,0 102,2 97,0 88,9
2 – Atenuação Média 14,0 19,0 31,0 36,0 37,0 48,0 40,0
3 – Desvio padrão (σ) 5,0 6,0 6,0 7,0 7,0 7,0 8,0
4 – Atenuação - 2σ 4,0 7,0 19,0 22,0 23,0 34,0 24,0
5 – NPS com protetor 98% 79,9 86,4 82,8 84,0 79,2 63,0 64,9
confiança (1-4)
Todos os níveis são em
dB(A)
Fonte: Samir, (2000, p. 627)

Considera-se para as bandas de oitava adotadas as ate-


nuações médias, em dB, protetor utilizado e os respectivos des-
vios padrão (dados fornecidos pelos fabricantes e obtidos do
ensaio normalizado no laboratório credenciado) mostrados na
tabela (ver linhas 2 e 3). Determinam-se os limites inferiores
de atenuação do protetor, subtraindo-se dois desvios padrão
da atenuação média, conforme já descrito anteriormente, para
confiabilidade de 98% (ver linha 4 da tabela). A soma loga-
rítmica destes valores é 90,3 dB(A) e corresponde ao nível de
pressão sonora total a que o indivíduo estará submetido após a
colocação do protetor. A diferença entre os níveis totais obtidos
antes e após a colocação do protetor é 109 – 90,3 = 18,7 dB(A)
e corresponde para aquela específica situação analisada, a ate-
nuação esperada do protetor utilizado, com confiança de 98%.
(Samir, 2000, p.627, 628).
Para os Métodos Simples, neste estudo, será abordado ape-
nas o Nível de Redução de Ruído (NRRsf). Samir (2000, p.629)
conceitua o Nível de Redução de Ruído (NRRsf).

242
Fabio A. da S. Arruda

O NRRsf é usado para cálculo do Nível de Pressão


Sonora protegido em NPSC dBA (com o uso do protetor
auditivo) submetido a NPSS (dBC) ou NPSs (dBA) no
ambiente conforme as seguintes equações:
• NPSC (dB(A) = NPSS (dBA) – NRRsf, ou
• NPSC (dBA) = NPSS (dBA) – (NRRsf+5)

Os ensaios para a obtenção do Certificado de Aprovação


(C.A) devem ser realizados de acordo com a norma ABNT/NBR
16.076 – Método B – Método do Ouvido Real – Colocação pelo
Ouvinte. Desta forma, as atenuações dos protetores auditivos
são expressas em NRRsf.
Uma grande variedade de tipos e modelos de protetores
auditivos estão disponíveis no mercado para atender às diferen-
tes necessidades. Eles são divididos em: protetores de espuma
moldável, pré-moldados, capa de canal e tipo concha. Existem
ainda algumas variações que se adequam a situações específi-
cas, como: tipo concha acopláveis ao capacete, ou com haste
na nuca, modelos com tamanhos, formatos e materiais variados
ou com recursos eletrônicos para a comunicação. É importante
sempre verificar a adaptação do protetor em cada usuário e,
estabelecer mais de uma opção, para que a escolha final seja
realizada pelo trabalhador, em conjunto com o profissional de
Saúde ou Segurança do Trabalho.

2.3 Teste de Auto Carga em Locomotivas

É uma operação assistida da locomotiva elevando todos os


componentes mecânicos e elétricos ao teste máximo de operação.
Verificando a confiabilidade do processo de manutenção me-
diante inspeções das correntes auxiliares, dos ventiladores,
compressores e sopradores. Verificar vazamentos do sistema
de lubrificação, de arrefecimento, de alimentação de ar MD, ve-
rificar pressão de combustível, entre outros.

243
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

2.3.1 Tipos de Manutenções em Locomotivas

a) Manutenções Preventivas:
• Manutenção trimestral - RT
• Manutenção semestral – RS
• Manutenção anual – R1
• Manutenção a cada 2 (dois) anos – R2
• Manutenção a cada 3 (três) anos - R3
• Manutenção a cada 4 (quatro) anos – R4
• Manutenção a cada 6 (seis) anos – R6
• Manutenção a cada 8 (oito) anos – R8

b) Manutenções Corretivas:
• Qualquer intervenção no sistema de injeção eletrônica.
• Intervenção no sistema de admissão de ar.
• Intervenção no sistema de arrefecimento.
• Intervenção no circuito do sistema de potência.
• Intervenção no sistema de frenagem dinâmica.

244
Fabio A. da S. Arruda

3. MÉTODO

O presente trabalho foi realizado mediante análise qualita-


tiva nos ambientes de trabalho, que consistiu em:
• Visita técnica em campo;
• Entrevistas com empregados que atuam no processo,
com aplicação de questionário específico;
• Consultas técnicas em normas e procedimentos;
• Reuniões de acompanhamento das ações.
E análise quantitativa realizada segundo:
• Avaliação do nível de pressão sonora em situações es-
tabelecidas;
• Avaliação da exposição ocupacional ao ruído dos GHE
dos processos de Revisão de Locomotiva, Inspeção de
Locomotiva, Preditiva, Revisão Pesada e Componentes
Mecânicos;
• Estudo do maior exposto, considerando os empregados
que atuam com mais frequência, realizando os testes de
auto carga;
• Avaliação de Nível de Pressão Sonora e Análise das Fre-
quências de Ruído por bandas de oitava em situações
estabelecidas;
• Estudo da eficiência da proteção auditiva, utilizando
como parâmetro o método NIOSH.

245
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Diagnóstico da situação de risco

A real exposição dos trabalhadores ao ruído gerado pela


atividade de teste de auto carga era desconhecida, sendo
necessário não apenas conhecer as diversas intensidades de
ruído, mas o que os empregados envolvidos nesta condição
sentiam diante do problema. Para conhecermos o sentimen-
to desses empregados, foi aplicado um questionário com 20
(vinte) perguntas fechadas e 1(uma) pergunta aberta, para que
pudéssemos atuar de forma mais assertiva ao longo do estudo,
direcionando os passos adiante.

4.4.1 Percepção dos Trabalhadores

O questionário foi aplicado em 4 (quatro) supervisões, nos


quais os trabalhadores realizam teste de auto carga, sendo
elas: Inspeção de Locomotivas, Revisão Leve, Revisão Pesada e
Preditiva, e uma cujos empregados são afetados indiretamente,
a supervisão de Componentes Mecânicos.
Foram distribuídos o formulário para que os trabalhadores
pudessem escolher as alternativas conforme sua percepção.

246
Fabio A. da S. Arruda

Figura 1 – Questionário sobre Proteção Auditiva

247
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
Após a análise dos dados, algumas das respostas foram
bastante relevantes ao estudo técnico, dividimos entre temas
para uma maior compreensão dos dados.
a) Característica do exposto:

Figura 2 – Características do exposto

A faixa etária predominante dos empregados expostos é


de 25 a 40 anos, equilibrando bem o tempo de trabalho entre 1
(um) a mais de 10 (dez) anos atuando nessas condições. O tipo
de proteção auditiva utilizada com um número significante é o
tipo concha e mais adiante o tipo inserção, poucos empregados
fazem o uso da dupla proteção e desconheciam os benefícios.
Utilizam a proteção por dia, em média, de 6 (seis) a 8 (oito)
horas/dia.

248
Fabio A. da S. Arruda

b) Conforto:

Figura 3 - Conforto

Em relação ao conforto foi necessário identificar se os em-


pregados sentiam algum desconforto na utilização do EPI, nesse
caso, a pergunta está direcionada para o tipo concha. Apesar da
grande maioria não sentir dores de cabeça associada ao uso do
EPI, 31 empregados relataram que sentiam as vezes e 5 (cinco)
afirmaram que sentiam dores frequentes.
É importante ressaltar que apesar dos trabalhadores in-
formarem que sentem dores de cabeça associado ao uso da
proteção auditiva, não há como comprovar tais afirmações, pois
se trata de uma questão subjetiva. Tais desconfortos podem ser
ocasionados por vários fatores, tais como: uso do conjunto de
EPI para executar a função (capacete, jugular, óculos e abafa-
dor), suscetibilidade individual, entre outros.
Mesmo com o ruído no ambiente associado ao uso do EPI,
os empregados ressaltam que não há impactos na percepção
dos sinais de alerta, porém 4 (quatro) dos entrevistados men-
cionaram que o uso da proteção auditiva afeta na percepção
dos sinais de alerta. Esse dado requer uma atenção maior, pois
a não percepção dos sinais de alerta pode gerar acidentes do
trabalho e desvios operacionais.

249
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
c) Teste de Auto Carga

Figura 4: Impactos das fontes geradoras de ruído

Legenda: 1 - Teste de Auto Carga; 2 – Buzina da Locomotiva; 3 – Motores


Ligados; 4 – Rádio de Comunicação; 5 – Sinos de Alerta; 6 - Outros

Apesar das fontes geradoras de ruído nos ambientes da


Oficina Central emitirem um ruído elevado, a atividade de teste
de auto carga é a fonte que mais afeta os empregados.
Outra fonte de ruído bem significante é proveniente dos
motores ligados nas rampas de manutenção. De acordo com
informações técnicas, as locomotivas devem permanecer liga-
das nas rampas mesmo sem estar passando por inspeções de
manutenção, para não perder eficiência.

250
Fabio A. da S. Arruda

Figura 5: Controle adicional

Destacamos nessa pergunta que os empregados acreditam


que é possível adotarmos medidas de controle adicionais, ou
seja, além da proteção auditiva. Isso nos proporcionou desen-
volver ações direcionadas e o total envolvimento dos mesmos.

4.1.2 Avaliação de Nível de Pressão Sonora nas Áre-


as Adjacentes

Com o objetivo de conhecer os impactos gerados para os


empregados que atuam nas áreas adjacentes à Oficina Cen-
tral de Manutenção de Locomotivas, bem como os empregados
envolvidos diretamente ao processo, foram realizadas algumas
avaliações quantitativas que serão expostas a seguir.
Para realizar tais avaliações quantitativas, foram utilizados
os seguintes instrumentos:
• Medidor de Nível de Pressão Sonora – Sound Pro – Quest
– N° de série: BIJ020002 / BCK070032;
• Calibrador acústico – QC 10 – Quest – N° de série:
QIJ020132;

251
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
• Dosímetros de Ruído – EDGE5 – Quest – N° de Séries:
ESJ020056 / ESR010063 / ESJ020049 / ESJ020050.
As avaliações pontuais de ruído foram realizadas
considerando os principais pontos em que são realizados os
testes de auto carga, nas linhas férreas em torno da Oficina
Central, mapeando as intensidades de ruído nas áreas, onde
possivelmente são impactadas pelas ondas sonoras advindas
do teste.
Os pontos foram definidos por uma equipe multidisciplinar
formada pelo Supervisor da Inspeção de Locomotivas, Técnica
Especializada em Higiene Ocupacional, Ergonomista e o Técnico
de Segurança do Trabalho.
As avaliações foram realizadas utilizando 2 (dois) Medi-
dores de Pressão Sonora devidamente calibrados em dias alter-
nados, prezando pela condição normal da atividade.
Com base na estratégia estabelecida foram obtidos os re-
sultados abaixo:

Figura 7 – Mapa de ruído – Teste ao lado da Oficina de Torno de Subsolo

252
Fabio A. da S. Arruda

PONTO DO TESTE – AO LADO DA OFICINA DO TORNO


DE SUBSOLO
PONTO AVALIADO RESULTADO

(dB(A))
Ponto 1 – EPI Express 68,7
Ponto 2 – Auditório da GEMEG 69,3
Ponto 3 – Prédio da Eletroeletrônica 65
Ponto 8 – Posto de Abastecimento 84
Ponto 9 – Oficina de Torno de Subsolo 96,4
Ponto 10 – Oficina de Vagões 84
Tabela 1 – Avaliações realizadas ao lado da Oficina de Torno de Subsolo

Figura 8 – Mapa de ruído – Teste na linha 162

253
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

PONTO DO TESTE – LINHA 162


PONTO AVALIADO RESULTA-
DO

(dB(A))
Ponto 1 – EPI Express 84,4
Ponto 2 – Auditório da GEMEG 71,8
Ponto 3 – Prédio da Eletroeletrônica 76,3
Ponto 4 – Prédio do Planejamento 85,1
VP
Ponto 5 – Prédio da Manutenção VP 78,9
Ponto 6 – Oficina de Freios 84,7
Ponto 7 – Componentes Mecânicos 92,9
Tabela 2 – Avaliações realizadas com a locomotiva na Linha 162

Figura 9 – Mapa de ruído – Teste na linha 165

254
Fabio A. da S. Arruda

PONTO DO TESTE – LINHA 165


PONTO AVALIADO RESULTA-
DO

(dB(A))
Ponto 1 – EPI Express 80,5
Ponto 2 – Auditório da GEMEG 73,9
Ponto 3 – Prédio da Eletroeletrônica 66,5
Ponto 4 – Prédio do Planejamento VP 71,3
Ponto 5 – Prédio da Manutenção VP 76,6
Ponto 6 – Oficina de Freios 91,9
Ponto 7 – Componentes Mecânicos 85,4
Ponto 11 – Oficina de Equipamentos 93,3
Industriais
Tabela 3 – Avaliações realizadas com a locomotiva na Linha 165

De acordo com os resultados obtidos, podemos analisar


que as áreas adjacentes serão afetadas dependendo onde esta-
rá posicionada a locomotiva, então, identificamos que, ao estar
posicionada ao lado da Oficina de Torno de Subsolo, dentro da
Oficina, o ruído é mais intenso, chegando a 96,4 dB(A). Ao se
posicionar na linha 162 - ao lado da Oficina Central na parte
frontal - as áreas mais impactadas são: Componentes Mecâ-
nicos com intensidade de 92,9 dB(A), em seguida o Prédio do
Planejamento VP com intensidade de 85,1 dB(A).
Na linha 165, a Oficina de Equipamentos Industriais é a
mais afetada com intensidade até 93,3 dB(A), seguida pela
Oficina de Feios com intensidade de 91,9 dB(A), e a área de
Componentes Mecânicos ainda é bastante afetada mesmo com
uma maior distância, com intensidade de 85,4 dB(A).
Esses pontos foram ressaltados, pois encontram-se acima
do limite de tolerância de 85,0 dB(A) para uma jornada de 8
(oito) horas, apesar de o teste de auto carga não ser realizado
durante toda a jornada, definimos para essa etapa como limite
padrão.

255
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

4.1.3 Avaliação do Nível de Pressão Sonora nos mo-


delos de Locomotivas

As avaliações foram realizadas em 3 (três) tipos de lo-


comotivas: EVO (Evolution), Dash9 e SD70. Foram realizadas
simulações da realização do teste de auto carga, prezando pela
pior situação, que mediante acompanhamento das atividades,
definiu-se a etapa de inspeção mecânica no motor de tração.
Com base na estratégia estabelecida foram obtidos os re-
sultados abaixo:

AVALIAÇÕES DE NPS POR MODELO DE LOCO-


MOTIVA
RESULTA-
MODELO DE LOCOMOTIVA DO

(dB(A))
SD70 112,2
DASH9 112,4
EVOLUTION (EVO) 122,6
Tabela 4 – Resultados das avaliações de NPS

a) Modelo SD70: Considerando o tempo máximo permiti-


do, a exposição ficou acima do Limite de Tolerância – LT,
que de acordo com o Anexo 1 da NR-15 é de 10 minu-
tos. Porém com o uso da proteção auditiva esse tempo
de exposição pode sofrer alteração:

AVALIAÇÕES DE NPS POR MODELO DE LOCOMOTIVA


ATENUAÇÃO
DAS PROTE- MÁXIMA EXPOSI-
RESULTADO RESULTA-
ÇÕES AUDITI- ÇÃO DIÁRIA PER-
SEM PROTEÇÃO DOS COM
VAS MISSÍVEL (Anexo 1
AUDITIVA ATENUAÇÃO
– NR 15)
(NRRsf)

256
Fabio A. da S. Arruda

16 dB(A) 96,2 dB(A) 1 hora e 45 minutos


18 dB(A) 94,2 dB(A) 2 horas e 15 minutos
112,2 dB(A) 22 dB(A) 90,2 dB(A) 4 horas
Dupla Proteção 85,2 dB(A) 8 horas
Tabela 5: Análise do resultado do modelo SD70

b) Modelo Dash9: Considerando o tempo máximo permiti-


do, a exposição ficou acima do Limite de Tolerância – LT,
que de acordo com o Anexo 1 da NR-15, é de 10 minu-
tos. Porém, com o uso da proteção auditiva, esse tempo
de exposição pode sofrer alteração:

AVALIAÇÕES DE NPS POR MODELO DE LOCOMOTIVA


ATENUAÇÃO
DAS TIPOS DE MÁXIMA EXPOSI-
RESULTADO RESULTA-
PROTEÇÕES ÇÃO DIÁRIA PER-
SEM PROTEÇÃO DOS COM
AUDITIVAS MISSÍVEL (Anexo
AUDITIVA ATENUAÇÃO
1 – NR 15)
(NRRsf)
16 dB(A) 96,4 dB(A) 1 hora e 45 minutos
2 horas e 15 minu-
18 dB(A) 94,4 dB(A)
tos
112,6 dB(A) 22 dB(A) 90,4 dB(A) 4 horas
Dupla Proteção 85,4 dB(A) 8 horas
Tabela 6: Análise do resultado do modelo Dash9

257
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
c)
d) Modelo EVO: De acordo com o Anexo 1, NR-15, item
7: As atividades ou operações que exponham os tra-
balhadores a níveis de ruído, contínuo ou intermitente,
superiores a 115 dB(A), sem proteção adequada, ofere-
cerão risco grave e iminente. Porém, com o uso da
proteção auditiva esse tempo de exposição pode sofrer
alteração:

AVALIAÇÕES DE NPS POR MODELO DE LOCOMOTIVA


ATENUAÇÃO RESULTA- MÁXIMA EXPOSI-
RESULTADO SEM
DAS PROTE- DOS COM ÇÃO DIÁRIA PER-
PROTEÇÃO AUDI-
ÇÕES AUDITI- ATENUA- MISSÍVEL (Anexo
TIVA
VAS (NRRsf) ÇÃO 1 – NR 15)
16 dB(A) 106,6 dB(A) 25 minutos
18 dB(A) 104,6 dB(A) 35 minutos
122,6 dB(A) 22 dB(A) 100,6 dB(A) 1 hora
Dupla Proteção 95,6 dB(A) 2 horas
Tabela 7: Análise do resultado do modelo EVO

4.3.1 Avaliações Ocupacionais a Ruído

As avaliações das exposições ocupacionais foram realiza-


das prezando pela rotina dos trabalhadores, realizando manu-
tenções mecânicas e elétricas nas locomotivas, incluindo a ex-
posição durante teste de auto carga.
Os critérios técnicos e metodologias utilizadas para realizar
o referido estudo foram os estabelecidos na NR-15 (fator de du-
plicação de dose: q =5) e NHO-01 (fator de duplicação de dose:
q=3).
. Foram utilizados os medidores de nível de som que acu-
mula a energia total do som ao longo de um período de medi-
ção e calcula uma média (nível equivalente). São equipamentos
mais completos e indicados para avaliação do ruído ocupacio-
nal. Conhecidos como audiodosímetros.
Um ponto importante é que os valores de atenuação dos

258
Fabio A. da S. Arruda

protetores auditivos foram obtidos por meio da informação ex-


posta nas embalagens dos protetores auditivos e verificados no
Certificado de Aprovação (CA) de cada modelo. Esses valores
são referentes ao método simples com 84% de confiabilidade,
que abordaremos em seguida.
Com base na estratégia estabelecida foram obtidos os re-
sultados abaixo:

4.1.3.1 Atendimento a NR-15

ATENUAÇÃO DO PROTETOR
LAVG NRRsf
– NR (84% de confiabilidade)
SUPERVISÃO GHE 15 Dupla
dB(A) 16 18 22 Prote-
ção
MANUTEN-
ÇÃO MECÂ- 90,3 74,3 72,3 68,3 63,3
INSPEÇÃO DE NICA
LOCOMOTIVAS MANUTEN-
ÇÃO ELÉTRI- 89,7 73,7 71,7 67,7 62,7
CA
MANUTEN-
ÇÃO MECÂ- 95,1 79,1 77,1 73,1 68,1
REVISÃO LEVE
NICA
DE LOCOMO-
MANUTEN-
TIVAS
ÇÃO ELÉTRI- 89,8 73,8 71,8 67,8 64,8
CA
Tabela 9 – Resultados das avaliações ocupacionais

De acordo com os dados obtidos a exposição geométrica


(MG) ficou acima do Nível de Ação e do Limite de Tolerância.
Sendo assim, considera-se que o resultado da exposição ocu-
pacional excedeu o limite de 85 dB(A) para uma jornada de tra-
balho de 8 (oito) horas, previsto na NR-15, Anexo 1.

259
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
Com base no cálculo da exposição atenuada, podemos con-
cluir que todos os modelos de protetores auditivos fornecidos
pela empresa oferecem a proteção necessária e suficiente para
o controle da exposição ao ruído, pois os níveis de exposição
atenuados ficaram abaixo do Limite de Tolerância.

4.2 Medidas de Controle

As medidas de controle desse estudo são baseadas em dois


pilares, o primeiro na medida de controle individual e a segun-
da, na medida de controle de engenharia, esta como sugestão
para a liderança do processo.

4.2.1 Estudo da Eficiência da Proteção Auditiva

Foram observados em campo os tipos de proteções auditi-


vas utilizados pelos empregados e a forma de utilização. Além
disso, foi identificado que não há uma padronização. Alguns
utilizam o protetor auditivo tipo concha, outro de inserção ou
dupla proteção, mas sem nenhum critério técnico e isto já havia
sido identificado na aplicação do questionário.
Diante dos resultados obtidos no diagnóstico da situação
de risco, se fez necessário atuar conjunto à medida de controle
individual, executando todas as ações propostas no estudo da
eficiência da proteção auditiva que, mesmo sendo a última ca-
mada de proteção, não é a menos importante, haja vista que o
ruído gerado é inerente ao processo de manutenção, fazendo-
-se necessário melhorar as condições das exposições dos tra-
balhadores.

4.2.1.1 Objetivo

• Conhecer a eficiência da atenuação dos EPI;


• Selecionar 3(três) protetores auditivos mais eficientes;

260
Fabio A. da S. Arruda

• Reduzir a exposição dos trabalhadores ao ruído.

Para escolher o protetor auditivo ou verificar se um pro-


tetor é adequado para determinado ambiente ruidoso deve-se
realizar cálculos de verificação da proteção fornecida pelos Pro-
tetores Auditivos disponíveis para os empregados, com base em
três informações:
• Avaliação da Exposição Ocupacional, conforme
metodologia definida na NHO 01 da Fundacentro;
• Avaliação das Frequências de Ruído;
• Verificação da atenuação dos Protetores Auditivos,
obtidos por meio da tabela de atenuação do certificado
de Aprovação(CA).

4.2.1.2 Desenvolvimento

O presente estudo foi dividido em 3 (três) etapas:

Figura 10: Etapas do Estudo da Eficiência da Proteção Auditiva

261
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

a) Seleção das 3 (três) melhores proteções auditivas


Selecionamos 9 (nove) modelos de proteção auditivas
homologadas pela Empresa para uso dos empregados. Com base
nas informações extraídas da tabela de eficiência da proteção
auditiva de cada modelo, foi possível calcular o Nível de Proteção
Global dos EPI listados, verificando as atenuações em dB(A),
considerando os métodos simples e longo. Posteriormente,
calculamos o Nível de Pressão Sonora Global com Proteção,
referente aos EPIs listados, utilizando da mesma forma, os
métodos simples e longo. Em seguida, foi possível definir as
3 (três) melhores proteções auditivas a serem utilizadas pelos
empregados, com base na análise dos dados.
1.0 DADOS GERAIS DO EPI

ÍTEM CA EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO AUDITIVA FABRICANTE MODELO NRRsf

1 29706 Protetor auditivo tipo concha 3M DO BRASIL H6P3E 16

Protetor Auditivo de Inserção de


2 5745 3M DO BRASIL (POMP) POMP PLUS 17
Silicone

3 13633 Protetor auditivo tipo concha PELTOR H10B 24

4 27972 Protetor auditivo tipo concha MS A SORDIN HPE 22

5 5745 Protetor Auditivo Tipo Inserção 3M DO BRASIL POMP PLUS 18

6 13447 Protetor auditivo tipo concha 3M DO BRASIL H7P3E 19

7 27971 Protetor auditivo tipo concha MSA SORDIN XLS 20

8 28089 Protetor auditivo tipo concha MSA MARK V GREEN 14

9 32840 Protetor auditivo tipo concha 3M DO BRASIL X4P3E 22

Figura11: Informações dos EPI definidos

262
Fabio A. da S. Arruda

2.0 NÍVEIS DE ATENUAÇÃO DOS PROTETORES 3.0 DESVIO PADRÃO VINCULADO À ATENUAÇÃO

125 HZ 250 HZ 500 HZ 1000 HZ 2000 HZ 4000 HZ 8000 HZ 125 HZ 250 HZ 500 HZ 1000 HZ 2000 HZ 4000 HZ 8000 HZ

8 13 22 26 31 32 34 4 5 6 4 3 4 6

22 23 26 22 28 32 40 7 7 7 4 4 10 6

16 24 31 34 30 35 35 3 3 3 3 3 4 4

16 20 25 29 30 36 37 4 4 4 3 3 3 5

22 23 26 22 28 32 40 7 7 7 4 4 10 6

8,4 16,5 27,4 33,2 35,5 32,9 30,4 4,9 4 3,3 3,4 3,3 2,7 3,9

12 16 27 27 32 35 38 4 4 4 3 3 3 4

8 13 19 24 30 24 25 4 5 5 4 4 6 6

11 18 26 35 33 38 36 4 3 4 4 3 4 5

Figura 12: Informações da atenuação e desvio padrão dos EPI selecionados

b) Avaliação dos Níveis de Pressão Sonora por Bandas de


Oitava
Para este estudo foram utilizadas as avaliações de Nível
de Pressão Sonora por banda de frequências de 1/1 oitava na
Locomotiva 2012 modelo Evolution (EVO), realizada em no-
vembro de 2018.
Simulando um circuito completo de inspeção elétrica ao
redor da máquina, realizada por um Eletricista. Esse circuito
consiste em abrir as portas dos compartimentos (motores,
etc.) realizando uma inspeção visual. Normalmente, essa
atividade tem duração de aproximadamente 15 minutos, porém
a simulação foi realizada em 6 (seis) minutos, atendendo o
objetivo proposto de conhecer os níveis de pressão sonora por
banda de oitava (frequência) a que o trabalhador está submetido.
Foram utilizados os dados obtidos nessa avaliação e aplicamos o
Método Longo do NIOSH nos protetores auditivos que já estão
homologados na Empresa.

263
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

Figura 13: Avaliação de NPS – Bandas de Oitavas

264
Fabio A. da S. Arruda

c) Dimensionamento da Proteção Auditiva

6.0 NPS GLOBAL 7.0 DADOS DA AVALIAÇÃO ATENUADA 8.0 SELEÇÃO DO


PROTETOR
NÍVEL de Proteção Global do EPI
NPS Global NPS Global com Proteção
Listados Escolha as três
Valores em dB(A) Proteção referente aos EPI listados
Atenução em dB(A) dos EPI melhores opções
Banda de Frequência
84% Confiabilidade 98% Confiabilidade 84% Confiabilidade 98% Confiabilidade

16,0 7,6 95,9 104,2


0,0

111,8
17,0 12,2 94,9 99,7

24,0 18,8 87,9 93,0

22,0 15,5 89,9 96,3 1º


2.1 NPS GLOBAL 18,0 12,2 93,9 99,7 2º

NPS Global 19,0 8,2 92,9 103,6


Valores em dB(A)
20,0 12,3 91,9 99,5

14,0 7,1 97,9 104,7

111,9 22,0

0,0
12,2

#N/D
89,9

111,9
99,6

#N/D

Figura 14: Resultado da seleção dos 3 (três) melhores EPI

METODOLOGIA APLICADA
MÉTODO LONGO - 98% DE CONFIABILIDADE
Descrição do Equipamento de Proteção Auditiva Indicado:

1º MELHOR EQUIPAMENTO: 4. Protetor auditivo tipo concha, MS A, SORDIN HPE CA: 27972
ANÁLISE DO EPI
FREQUÊNCIAS ANALISADAS NAS AVALIAÇÕES - EM BANDA DE OITAVA VALOR GLOBAL DO AVALIAÇÃO
abaixo estão relacionadas as frequências analisadas na área em analogia ao CA do equipamento abaixo está relacionado o valor do ambiente

125 HZ 250 HZ 500 HZ 1000 HZ 2000 HZ 4000 HZ 8000 HZ NPS


101,7 101,4 105,7 105,1 102,3 103,2 101,9 111,8

1
VALORES DE ATENUAÇÕES MÉDIAS DO EQUIPAMENTO POR BANDA DE OITAVA VALOR DA AVALIAÇÃO COM PROTEÇÃO:
abaixo estão relacionadas as frequências analisadas e suas respectivas atenuações de acordo com níveis de CONFIABILIDADE

125 HZ 250 HZ 500 HZ 1000 HZ 2000 HZ 4000 HZ 8000 HZ 84% 98%


16 20 25 29 30 36 37 89,9 96,3

DESVIO PADRÃO REFERENTE AS ATENUAÇÕES DESCRITAS ACIMA NÍVEL DE PROTEÇÃO GLOBAL DO EPI
abaixo estão relacionadas as frequências analisadas e seus respectivos desvios padrão de acordo com níveis de CONFIABILIDADE

125 HZ 250 HZ 500 HZ 1000 HZ 2000 HZ 4000 HZ 8000 HZ NRRsf 84% 98%
4 4 4 3 3 3 5 22 15,5

Enquadramento do Equipamento de Proteção Individual em relação aos demais equipamentos analisados (para esta área e/ou equipamento específico)

2º MELHOR PROTETOR 3º MELHOR PROTETOR


5. Protetor Auditivo Tipo Inserção, 3M DO BRASIL, POMP PLUS 9. Protetor auditivo tipo concha, 3M DO BRASIL, X4P3E

Figura 15: Aplicação do Método Longo – NIOSH

Diante estudo realizado e as análises da eficiência das


Proteções Auditivas, todos os empregados da Manutenção de
Locomotivas que atuam de forma contínua na área operacional
da Oficina Central ou aqueles que atuam acima de 50% da jor-

265
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
nada próximo as rampas de manutenção e inspeção de locomo-
tivas, bem como próximos aos locais de Testes de Auto Carga,
deverão fazer o uso dos Protetores Auditivos.

FATOR DE
COLOCA- TIPO DE PRO- ATENUAÇÃO
FABRICANTE MODELO
ÇÃO TETOR (Método Lon-
go)
SORDIN
1º TIPO CONHA MSA 15,5 dB(A)
HPE
3M DO BRA-
2º TIPO INSERÇÃO POMP PLUS 12,2 dB(A)
SIL
3M DO BRA-
3º TIPO CONHA X4P3E 12,2 dB(A)
SIL

Tabela 10: Resultado do Estudo da Eficiência da Proteção Auditiva

Para os executantes de Teste de Auto Carga fica proibido


o uso do Protetor Auditivo tipo Inserção, exceto conjugado (Du-
pla Proteção) com o do tipo Concha modelo SORDIN HPE.

d) Comparação das atenuações de ruído do EPI conforme


o método aplicado

ATENUAÇÃO ATENUAÇÃO
MÉTODO
PROCESSO GHE RESUL- MÉTODO
LONGO
TADO SIMPLES
(98% con-
LAVG (84% con-
fiabilidade)
fiabilidade)
NR 15
22 dB(A) 15,5 dB(A)
INSPEÇÃO MANUTENÇÃO 90,3 68,3 74,8
DE LOCO- MECÂNICA
MOTIVAS MANUTENÇÃO 88,7 67,7 73,6
ELÉTRICA
REVISÃO MANUTENÇÃO 95,1 73,1 79,2
LEVE DE LO- MECÂNICA
COMOTIVAS MANUTENÇÃO 89,8 67,8 74,3
ELÉTRICA
Tabela 12: Comparação das atenuações de ruído conforme o método apli-
cado

266
Fabio A. da S. Arruda

Os resultados da atenuação da intensidade de ruído para


o protetor auditivo, classificado como 1º lugar na aplicação do
método simples, apresenta uma proteção maior que a do método
longo, porém esse traz uma falsa sensação de atenuação,
pois o método longo considera um número maior de desvios
na utilização da proteção auditiva. Portanto, com a aplicação
do Método Longo do NIOSH teremos a proteção auditiva mais
eficiente para o tipo de ruído gerado, garantindo que 98% dos
trabalhadores estão protegidos a níveis aceitáveis durante a
jornada de trabalho.

4.2.1.4 Substituição dos EPI

Após os resultados do estudo de eficiência da proteção au-


ditiva, apesar do estudo direcionar 3(três) protetores auditivos
mais eficientes para utilização na área, a liderança definiu que
todos os trabalhadores fizessem o uso do EPI que ficou em pri-
meiro lugar. De posse dessa informação houve a necessidade
de fazer uma estratégia para substituir não só os protetores
auditivos, mas o capacete para o cumprimento das diretrizes da
NR – 06.

4.2.2 Sugestão de medida de controle de engenharia



Como sugestão de melhoria destacamos que a área deverá
construir um galpão suportado por tecnologia, que possa ser
realizado o teste de auto carga através de uma sala de con-
trole, com revestimento acústico. Esse galpão deverá possuir
sistemas de câmeras de alta resolução para que os empregados
consigam fazer inspeções em componentes de dentro da sala
de controle e, assim, reduzam o tempo de exposição ao ruído
proveniente do teste de auto carga, além de reduzir o esforço
físico de subir e descer da locomotiva muitas vezes ao longo do
dia, pois a plataforma de teste é paralela ao piso da locomotiva,
obtendo ganhos ergonômicos.
Na área do galpão seria necessário instalar um sistema

267
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
de exaustão - por causa da emissão de monóxido de carbono
proveniente da combustão dos motores da locomotiva - para a
devida segurança das pessoas que transitam ao lado da loco-
motiva, no caso de uma possível explosão ou caso algo saque
da locomotiva, a fim de não atingir as mesmas.
Porém se faz necessário mais insumos técnicos especia-
lizados, e, para isso, a elaboração de um Estudo de Viabilidade
Operacional e Técnico pela área de Engenharia de Projetos da
empresa.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com os estudos realizados, visitas técnicas,


consulta com especialista da área de acústica, manutenção em
locomotiva e com os empregados da empresa, chegamos às
seguintes conclusões:
Diante dos levantamentos in loco e consultas com
profissionais externos e internos, verificamos que o local mais
adequado para realizar os testes de auto carga seria um galpão
com acesso restrito aos trabalhadores que realizam a atividade,
a ser construído.
Sabemos que a implantação de qualquer melhoria de en-
genharia requer tempo para a execução, sendo assim, reali-
zamos uma análise nos desvios da proteção auditiva por meio
do Estudo da Eficiência da proteção Auditiva, no qual selecio-
namos 3 (três) melhores protetores no que tange a eficiência
da atenuação, porém, por ordem gerencial foi adotado para os
trabalhadores, o EPI tipo concha da MSA, modelo Sordin HPE,
possibilitando a redução da exposição dos trabalhadores ao ruí-
do. Não é apenas essa ação que garantirá uma proteção efe-
tiva, deve-se levar em consideração outros fatores, tais como:
treinamento de utilização, manutenção e higienização do EPI,
suscetibilidade individual e exposição a compostos químicos
ototóxicos. Para isso, é importante implementar o PCA (Pro-
grama de Conservação Auditiva), englobando todos os proces-
sos que apresentam níveis elevados de ruído na empresa.

268
Fabio A. da S. Arruda

Todas as ações realizadas tiveram a participação efeti-


va dos trabalhadores da manutenção de locomotivas, durante
as avaliações em campo, coletando informações por meio de
pesquisas e conversas.
Ao final do estudo técnico, foi aplicada uma pesquisa de
satisfação, buscando dados acerca da mudança da proteção
auditiva. Foram coletadas as seguintes informações: 20% dos
empregados acharam ótimo e 48% bom, 18% não responderam
e 14% consideraram regular a péssimo a substituição. Não foi
possível realizar o estudo Audiológico dos trabalhadores que
atuam na área, por motivos administrativos.

REFERÊNCIAS

AMERICAN NATIONAL STANDARDS INSTITUTE. ANSI S3.19-1974:


measurement of the real-ear attenuation of hearing protec-
tors and physical attenuation of ear muffs. Washington, DC:
Ansi, 1974.

ANSI S12.6-1984: measurement of the real-ear attenuation of


hearing protectors. Washington, DC: Ansi, 1984

AMERICAN NATIONAL STANDARDS INSTITUTE. ANSI S12.6-1997:


methods for measuring the real-ear attenuation of hearing
protectors. Washington, DC: Ansi, 1997.

BERNARDI, Alice Penna Azevedo. Conhecimentos essenciais para


atuar bem em empresas: Audiologia Ocupacional. São José dos
Campos;2003.

BISTAFA, Sylvio R. Acústica aplicada ao controle do ruído. 2. ed.


São Paulo: Blucher, 2011.

GERGES, S. N. Y. Ruído: fundamentos e controle. 2. ed. Flori-


anópolis: Editora NR, 2000.

Guia de diretrizes e parâmetros mínimos para a elaboração e


gestão do Programa de Conservação Auditiva (PCA). Irlon de
Ângelo da Cunha (coord.); Elisa Kayo Shibuya ... [et al]. São Paulo:
Fundacentro, 2018.

269
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
KWITKO, A. EPIs auditivos: A falácia dos NRRs. Segurança e Tra-
balho, Salvador, p. 1-8, 2003. Disponível em: <http://www.seguran-
caetrabalho.com.br/download/epis-airton_kwitko.pdf>. Acesso em:
14 mar. 2018.

Instituto Nacional do Seguro Social. Manual de Aposentadoria Es-


pecial/Instituto Nacional do Seguro Social. Brasília, 2017.

Portaria n° 3214, de 08 de junho de 1978. Aprova as normas regula-


mentadoras que consolidam as leis do trabalho, relativas à segurança
e medicina do trabalho. Norma Regulamentadora nº 06 (NR 06):
Equipamento de Proteção Individual. Diário Oficial da República Fed-
erativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, 1978d. Disponível em:
<http://portal.mte.gov.br. Acesso em: 10 abr. 2018.

Portaria n° 3214, de 08 de junho de 1978. Aprova as normas regula-


mentadoras que consolidam as leis do trabalho, relativas à segurança
e medicina do trabalho. Norma Regulamentadora nº 09 (NR 09):
Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA). Diário Oficial
da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, 1978d.
Disponível em: <http://portal.mte.gov.br. Acesso em: 21 mar. 2017.

Portaria n° 3214, de 08 de junho de 1978. Aprova as normas regula-


mentadoras que consolidam as leis do trabalho, relativas à segurança
e medicina do trabalho. Norma Regulamentadora nº 15 (NR 15):
Operações e Atividades Insalubres, Anexo 01 Ruído. Diário Oficial da
República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, 1978d. Dis-
ponível em: <http://portal.mte.gov.br. Acesso em: 10 abr. 2018.

SALIBA,FANTAZZINI. Estratégia de amostragem: gestão das ex-


posições na higiene ocupacional. Artigo Técnico, São Paulo, 2010.

270
13

METODOLOGIA FEL COMO ALAVANCA


EM SAÚDE, SEGURANÇA E MEIO
AMBIENTE NO CICLO DE VIDA DE
PROJETOS

Wilson da Costa Junior

Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho, Engenharia


de Produção e Engenharia da Qualidade pela Universidade Candido
Mendes, Graduado em Engenheiro Ambiental pela Universidade San-
to Amaro, Pós-graduado em Psicologia Organizacional com MBA em
Gerenciamento de Projetos. Experiência de mais de 20 anos adquiri-
da nas áreas industriais e construção de megaprojetos, com apli-
cação em gerenciamento de processos sustentáveis em saúde e hi-
giene ocupacional, segurança do trabalho, meio ambiente, produção
e qualidade, relações com a comunidade, atuando em consultoria
e assessoria de empresas multinacionais. Atualmente é Engenheiro
de Segurança no Trabalho na empresa Blosson Consult – prestando
serviços nos projetos Hydro Alunorte, atuando no gerenciamento de
segurança do trabalho e meio ambiente nas fases de planejamento
e implantação de obras de grande porte na região Norte do Brasil.
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

RESUMO

R
ecorrentes problemas em projetos transformam-se em
eventos indesejáveis, como doenças ocupacionais, acidentes
do trabalho, impactos ambientais e, em alguns casos,
grandes catástrofes. Buscando a contínua diminuição de riscos e
falhas, as empresas vêm aplicando processos de gerenciamento
de “ciclo de vida de projetos” utilizando metodologias como
Front-End-Loading (FEL), Planejamento Pré-Projeto (PPP),
entre outras. Na aplicação correta dos métodos, devem ser
utilizadas ferramentas de prevenção direcionadas para saúde
e higiene ocupacional, segurança do trabalho, meio ambiente e
sustentabilidade do negócio. O propósito aqui é explicar como
funcionam as fases do “ciclo de vida de projetos” e quais são os
possíveis estudos que devem ser entregues para embasamento
técnico. Estudos estes que serão utilizados pela comissão na
tomada de decisão para mudança de “portão” ou etapa do
projeto. Também será abordado o tema formação de equipe
de projetos, que deve ser experiente, multidisciplinar, contando
com especialistas em SSMA, sendo esta uma das chaves para
o sucesso de um empreendimento. Por fim, lista-se algumas
diretrizes básicas imprescindíveis para o desenvolvimento de um
projeto, com objetivo de minimizar ou eliminar a possibilidade
de ocorrência de eventos indesejáveis.

Palavras-chave: Ciclo de vida de projetos; Saúde e hi-


giene ocupacional; Segurança do trabalho; Meio ambiente;
Sustentabilidade do negócio.

272
Fabio A. da S. Arruda

1. INTRODUÇÃO

Fundado em 1987, o IPA (Independent Project Analysis) é


uma empresa de consultoria idealizadora da Metodologia FEL –
Front End Loading, que não pode ser traduzida ao pé da letra,
pois seu significado não faria sentido. O método, de fato, quer
dizer: validar ou autorizar por etapas/partes, e é largamente
aplicado para atender a megaprojetos de alta complexidade e
orçamento elevado.
A metodologia FEL ganhou muitos adeptos, principalmente
nas indústrias petrolífera, química e de mineração. Isso porque
ela procura, com embasamentos em dados, evitar que um pro-
jeto continue sem que haja certeza e garantia de que seus ob-
jetivos serão atingidos, o que é avaliado pelo ROI – Return on
Investment (Retorno do Investimento). Quando a metodologia
não é aplicada e os projetos avançam para fase de construção,
alguns problemas podem acontecer, como:
• altos custos, provocados por planejamento incorreto e
replanejamentos com recursos alocados, elevando-os
bastante;
• devido a um estudo de viabilidade com falhas, ocorrem
paralisações durante a fase de execução;
• grandes mudanças e correções durante a execução da
obra, além de atrasos inimagináveis;
• interrupção e cancelamento do projeto durante
a execução, quando tardiamente se percebem
discrepâncias inequívocas dos custos reais para sua
execução.
A aderência de diagnósticos à realidade do empreendimen-
to que está sendo estudado é fundamental para tomada de de-
cisão. Por isso é importante que premissas e diretrizes de SSMA
estejam alinhadas com os valores da empresa. No caso deste
artigo, trata-se de assuntos sobre saúde e higiene ocupacional,
segurança do trabalho, meio ambiente e sustentabilidade do

273
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
negócio.
O diagnóstico depende também de profissionais especial-
izados, com conhecimento multidisciplinar para conduzir os es-
tudos de forma consistente e embasar a tomada de decisão. As-
sim como também depende do comportamento dos envolvidos,
que devem se portar como donos do empreendimento, a fim de
minimizar as possibilidades de falha com atitude assertiva.

2. UMA METODOLOGIA BEM-SUCEDIDA

O método escolhido foi o Front-End-Loading (FEL), da IPA,


por ser um dos mais utilizados em todo mundo, como pode ser
observado na Figura 1.

Figura 1 – Locais onde foram aplicadas as metodologias FEL

Fonte: https://www.ipaglobal.com/ 2019.

Essa metodologia tem como premissa garantir que, du-


rante as etapas preliminares de engenharia, ocorra redução do
número de falhas. Dessa forma, estas não ocorrerão durante a
execução da obra, fase na qual existe grande volume de capital
envolvido. Outra premissa é propor alternativas de engenharia
para minimização de riscos e impactos ambientais, garantindo
funcionamento e operação dentro dos padrões de engenharia e

274
Fabio A. da S. Arruda

legislação aplicáveis.
  Adicionalmente, o FEL é um direcionador, pois possui pro-
cessos pelo qual uma empresa identifica e determina o escopo
de projetos complexos alinhados com a necessidade do negócio.
Em procedimentos como preparação, planejamento e execução
de projetos, itens como saúde e higiene ocupacional, segurança
do trabalho, meio ambiente e sustentabilidade do negócio de-
vem ser sempre enfatizados, mais do que a redução de custos
ou a obtenção de prazos mais rápidos. O IPA acompanha os in-
dicadores desses fatores e os resultados, dados que ajudam as
empresas a melhorar o desempenho nessas áreas.
As empresas, por sua vez, devem se preocupar com o le-
gado de SSMA do empreendimento funcionando, porém a fase
em que ocorrem mais incidentes é a construção. Nesta, a taxa
de lesão é alta, com ocorrências de fatalidades e, portanto, esse
setor tem mostrado pouca melhoria nos indicadores. Os donos
de projetos devem assumir sua responsabilidade diante de tal
panorama, porque isso é a atitude correta.
O IPA, acompanhando as tendências de SSMA de projetos
por anos, observou que:
• projetos bem planejados e preparados possuem melhor
desempenho em termos de SSMA, por atingir bons
índices de “carregamento” no FEL, o que melhora
o índice de desenvolvimento da equipe e o índice de
controle do projeto, resultando em menos acidentes
registráveis (fatalidades, afastamentos, restrição ao
trabalho e tratamento médico);
• em projetos menores, existe a tendência a serem mais
seguros do que projetos de capital e megaprojetos;
• em projetos executados que utilizaram um modelo de
contrato de construção de “montante fixo” (preço fixo),
a tendência é apresentar pior desempenho em SSMA;
• os indicadores de SSMA dos projetos variam de acordo
com o setor industrial em que são desenvolvidos, como:
mineração, metais, oleodutos e projetos farmacêuticos;
apresentando pior desempenho em termos de SSMA do

275
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
que os projetos de refino de petróleo e produtos quími-
cos;
• projetos com níveis elevados de inovação tecnológica in-
troduzem riscos de SSMA que podem causar acidentes.
Por isso a importância de aplicação de metodologia já con-
sagrada de revisão de projeto e a formação de um time com
experiência e envolvimento direto no SSMA.

3. O MÉTODO FEL

O direcionamento neste trabalho será no estabelecimento


de ferramentas de gerenciamento em saúde e higiene ocupacio-
nal, segurança do trabalho e meio ambiente, que podem ajudar
nos processos de gerenciamento de projetos. Essas ferramentas
ajudarão na tomada de decisão, servindo como parâmetro de
apoio. Inicialmente, no entanto, é preciso compreender como
funcionam os portões do processo FEL (Metodologia Front-End
Loading). A partir desse entendimento, serão propostos ferra-
mentas e estudos de SSMA que podem ser utilizados por fase
de projeto.
De acordo com Vargas (2005), para atender às demandas
de maneira eficaz, em um ambiente caracterizado pela velocid-
ade das mudanças, torna-se indispensável um modelo de ger-
enciamento baseado no foco em prioridades e objetivos. Como
pode ser verificado na Figura 2, um projeto passa por portões
de aprovação e esse processo depura as ideias, minimizando
a possibilidade de falhas, ou seja, o projeto fica cada vez mais
aderente.

276
Fabio A. da S. Arruda

Figura 2 – Ciclo de vidas de projetos de acordo com riscos e incertezas

Fonte: https://www.ipaglobal.com/ 2019 (Adaptada pelo autor).

O processo de validação das ideias é realizado de forma com


que os riscos e as incertezas sejam minimizados, e as apostas
do projeto vão aumentando. Em outras palavras, as ideias e
os estudos são apresentados, de acordo com um cronograma
do projeto, a um time multidisciplinar que avalia cada etapa,
validando e melhorando esse processo. Para se ter uma noção
da evolução do projeto, 75% das ideias da primeira fase param
no portão 1 e não são levadas adiante, 50% das que estarão
não passam do portão 2 e somente 1% restante fica para a
terceira fase e não passa do portão 3. Com isso, quando o grande
montante de dinheiro for investido, a partir da fase 4, momento
em que o projeto detalhado começa a ser desenvolvido, as
incertezas ficarão para trás, conforme demonstra a Figura 3.

277
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

Figura 3 – Sistema de Avaliação e Aprovação de Portão

Fonte: https://www.ipaglobal.com/ 2019 (Adaptada pelo autor).

Percebe-se, ao analisar a Figura 3, que os gastos são baixos


até a terceira fase. Isso é fundamental para que um projeto
fique dentro das expectativas e, se for necessário cancelar ou
arquivar o projeto, não haverá perdas substanciais. Observe, na
mesma figura, que existem pequenos semáforos representando
pontos de tomada de decisão. Para entender melhor como
ele funciona, durante cada análise para mudança de portão,
existe um processo decisório que define se esse projeto deve,
continuar, reciclar ou cancelar/arquivar. Esses termos
significam:
Continuar para próximo portão. A decisão continuar in-
forma que o projeto atingiu todos os objetivos das etapas an-
teriores. Finanças, Mercado, SSMA Produto e Clientes também
estão validados e o projeto pode ir para a próxima fase.
Reciclar: o projeto fica e não passa para próxima fase.

278
Fabio A. da S. Arruda

A decisão de reciclar significa que ainda falta algum estudo e


o cumprimento de metas. É uma avaliação positiva e, quando
um projeto volta para reciclagem, é necessário considerar um
processo de prioridade.
Cancelar ou arquivar: o projeto entra em espera ou é can-
celado. A decisão de arquivar e colocar o projeto “em espe-
ra” ocorre quando podem haver projetos que estão em melhor
posição, ou priorização, ou outros projetos em testes. Sendo
assim, não é necessário desenvolvê-lo no momento. Pode ser
que uma mudança de mercado ou na tecnologia a ser aplicada
reinicie o projeto.
Conforme este processo vai sendo aplicado de forma
sistemática, menor influência o time de decisão terá. Com os
riscos diminuindo, aumentam-se os gastos.

Figura 5 – Ciclo de vida de projetos de acordo com a influência & gastos

Fonte: https://www.ipaglobal.com/ 2019 (Adaptada pelo autor).

O FEL inconsistente tem muitas fontes. O tempo pode ser


considerado culpado, uma vez que a pressão para encontrar
uma janela de mercado ou para obter acesso a recursos, muitas
vezes, leva a atalhos na primeira fase (IPA, 2019).

279
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

3.1 Formação do time de projetos

Reconhecidamente multidisciplinar, o time de projetos deve


possuir, além da equipe técnica, uma forte participação de es-
pecialistas, incluindo relações com a comunidade e SSMA. Na
Tabela 1, tem-se a proposta de um time que pode ser aplicado
em projetos de médio e grande porte.
Tabela 1 – Proposta de time de projetos

Fonte: Elaborada pelo autor.

É importante que esses participantes tenham forte ex-


periência nas suas áreas de atuação, no mínimo cinco anos, por
se tratar de projetos em que não há tempo para desenvolvimen-
to dos profissionais no processo de avaliação de projetos. Orga-
nizar para apoiar projetos é um desafio, porque as organizações
empresariais típicas, aquelas já conhecidas, não são capazes de
desempenhar efetivamente as funções principais exigidas por
uma organização de projeto (IPA, 2019).
Outro desafio importante é a comunicação, que em projetos

280
Fabio A. da S. Arruda

deve seguir um fluxo diferente. Nas organizações empresariais


tradicionais, a comunicação interfuncional (ou lateral) envolve
canais longos, de cima para baixo, ou verticais. Isso não é algo
que ocorre com frequência, por isso pode ser aceitável no mun-
do dos negócios. Entretanto, no mundo dos projetos, canais de
comunicação similares não são eficazes, pois o processo é lento
e a informação, muitas vezes, é transmitida de forma incorreta
(IPA, 2019).
Após o entendimento básico do processo FEL, busca-se
aprofundar em cada fase. Já nesta etapa, propõem-se alguns
estudos aplicáveis em SSMA.

3.2 Análise do negócio (FEL 1)

Com o objetivo de validar a oportunidade comercial ou pro-


dutiva, e avaliar as alternativas, esta fase valida o negócio, a
estratégia e a análise de mercado. A base dessa avaliação são
projetos similares, verificando os riscos relacionados. Via de
regra, 75% dos projetos avaliados não passam dessa etapa, ou
seja, não vão para a fase FEL 2. Em outras palavras, são reci-
clados. As atividades de SSMA que podem ser aplicadas nesta
fase são:
• estabelecer premissas iniciais de SSMA;
• estabelecer metas de SSMA alinhadas com as melhores
práticas e metas internas da companhia;
• identificar custos relativos a SSMA de acordo com o con-
ceito do projeto;
• identificar potenciais barreiras de SSMA;
• contribuir com as outras disciplinas;
• identificar licenças e estudos necessários para o projeto;
• estabelecer um programa de SSMA para próxima etapa;
• estabelecer possíveis impactos ambientais;
• definir o escopo de estudos ambientais e licenças

281
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
aplicáveis;
• desenvolver os documentos de SSMA para próxima fase.

3.3 Seleção da alternativa (FEL 2)

Com o objetivo dar direção a uma opção, atualizar as in-


formações econômicas, definir premissas do projeto, esta é a
fase conceitual com o escopo do projeto. Desenvolve-se, aqui,
a engenharia conceitual dos projetos definidos como promis-
sores na fase FEL 1. O retorno financeiro é decisivo para que o
projeto passe de fase. Sendo assim, nesta etapa, verifica-se o
gasto de capital para implantação do projeto. De maneira geral,
50% dos projetos avaliados não passam desta etapa, ou seja,
não vão para a fase FEL 3. São interrompidos ou reciclados. As
atividades de SSMA que podem ser aplicadas nesta fase são:
• estabelecer critérios de engenharia de aprovação de
SSMA para próxima fase;
• desenvolver um programa de SSMA;
• identificar regulamentos e processos internos, e leis
aplicáveis;
• incorporar relevantes lições aprendidas em outras uni-
dades e boas práticas;
• definir como será o acompanhamento dos estudos am-
bientais;
• verificar sistemas de emergência aplicáveis;
• estabelecer como serão as interfaces de projeto;
• iniciar alguns estudos ambientais; (EIA/RIMA);
• realizar estudo de análise de riscos (Hazid);
• desenvolver os documentos de SSMA para próxima fase.

282
Fabio A. da S. Arruda

3.4 Planejamento da construção (FEL 3) - Engenha-


ria detalhada e suprimentos

Nesta fase, inicia-se a engenharia detalhada do plano de


execução e a estimativa de custos para a alternativa seleciona-
da na fase anterior. O projeto é preparado para sua aprovação
e implantação. Será desenvolvido o Projeto Básico, no qual o
detalhamento diminui as margens de erro do projeto. Também
se consegue realizar uma avaliação do layout das instalações,
fluxos de processos e tamanhos definitivos dos equipamentos,
assim como obter melhor entendimento físico-financeiro do
projeto. Todo processo logístico de suprimentos é definido nes-
ta fase, sendo importante o estabelecimento de um plano com
rotas bem estipuladas, de modo a minimizar interferências ex-
teriores no processo construtivo.
Nesta fase, 1% dos projetos avaliados não passam desta
etapa, ou seja, aqui a confiabilidade e as incertezas estão prati-
camente dirimidas devido aos processos anteriores e à tendên-
cia grande ao início da construção ou implantação, e, poste-
riormente, operação. As atividades de SSMA que podem ser
aplicadas nesta fase são:
• estabelecer o plano de SSMA para próxima fase;
• estabelecer o programa de resposta a emergências;
• definir diretrizes de gerenciamento de contratadas na
fase de construção;
• aplicação dos critérios de SSMA na engenharia detalha-
da;
• definir acompanhamento para os estudos ambientais;
• definir requisitos de pré-qualificação das contratadas
que executarão a construção;
• iniciar as pré-qualificações de SSMA para contratadas;
• preparar projeto definitivo de resposta a emergências;
enviar ao corpo de bombeiros para aprovação do início

283
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
da construção;
• participar do processo de licenciamento ambiental para
implantação do empreendimento, fornecendo infor-
mações e os estudos necessários;
• implementação do EIA/RIMA, ou programa ambiental,
aplicável por tipo de projeto;
• participar dos estudos de engenharia, revisões e apli-
cação de critérios de SSMA;
• participar ativamente dos estudos de construtabilidade;
• definição de plano de auditorias durante a fase de con-
strução de comissionamento;
• planos e rotogramas para cargas complexas e processos
logísticos;
• realização de estudos de análise de riscos (Hazop e De-
sign review).

3.5 Construção

Nesta fase se inicia a construção, que é a materialização


física do projeto previamente elaborado, isto é, uma obra de
arte, edificação, estruturas metálicas, tubulações, tanques,
caldeiras, túneis, viadutos. É a execução de todas as fases do
projeto elaborado, da fundação ao acabamento, respeitando as
técnicas construtivas e as normas técnicas vigentes. Reformas
e ampliações também são tipos de construção. Todos os riscos
previstos deverão ser controlados em níveis aceitáveis e os im-
pactos socioambientais devem ser mitigados. As atividades de
SSMA que podem ser aplicadas nesta fase são:
• acompanhamento das condicionantes ambientais;
• cumprimento integral do plano e do programa de SSMA;
• implantação do plano de emergência para construção;
• implantação da equipe de gerenciamento de projeto;

284
Fabio A. da S. Arruda

• aplicação integral das premissas de construtabilidade,


definidas na fase anterior;
• acompanhamento das entregas de SSMA, conforme
definidas no projeto;
• realização de auditorias nas empresas contratadas;
• aplicação da matriz de engajamento em SSMA da lider-
ança para construção;
• aplicação do programa de treinamentos envolvendo
SSMA;
• aplicação do plano logístico, com rotogramas previstos
para cargas complexas;
• aplicação do sistema de gestão integrada de projetos;
• validar, junto ao corpo de bombeiros, o projeto de res-
posta a emergências via AVCB;
• licenças e autorizações para as atividades de construção
atualizadas e com processo de acompanhamento per-
manente.

3.6 Comissionamento e início da operação

Comissionamento é o processo de testes que garante que


os sistemas/circuitos/estruturas e componentes do empreen-
dimento estejam instalados conforme projetados, testados,
operando e com manutenção de acordo com as necessidades
e requisitos operacionais do projeto. O comissionamento é
aplicável em novos empreendimentos (grenfild) ou empreen-
dimentos existentes (brownfild), em processo de expansão ou
reformas. Na prática, o processo de comissionamento consiste
na aplicação integrada de um conjunto de técnicas e procedi-
mentos de engenharia para verificar, inspecionar e testar cada
componente físico do empreendimento, desde os individuais,
como peças, instrumentos e equipamentos, até os mais com-
plexos, como módulos, subsistemas e sistemas.

285
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
  Ele é aplicável a partir do momento em que a completação
mecânica já foi realizada e após o cliente aprovar partes do
empreendimento, liberando para testes. Testes a frio, com ar,
água, elétricos, mas sem produto, e comissionamento a quente,
em que entra produtos nas linhas, tanques etc. As atividades de
SSMA que podem ser aplicadas nesta fase são:
• programa/procedimento de SSMA em comissionamen-
to;
• processo de licenciamento ambiental para operação do
empreendimento, fornecendo informações e os estudos
necessários;
• implementar o plano de SSMA;
• implementar o plano de resposta a emergências para
fase;
• acompanhamento do programa de comissionamento;
• participação dos testes dos equipamentos de resposta a
emergência.

286
Fabio A. da S. Arruda

3.7 Resumo de ferramentas aplicáveis de SSMA por


fase do ciclo de vida do projeto

Como revisão geral de SSMA, o ciclo de projetos se apre-


senta conforme Tabela 2.

Tabela 2 – Ferramentas de SSMA por fase de aprovação FEL

Fonte: Adaptado pelo autor.

287
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

3.8 Diretrizes básicas de SSMA para projetos

Para facilitar o trabalho do profissional de SSMA em um


processo de FEL, desenvolveram-se algumas Diretrizes
Básicas de SSMA, muito alinhadas com as melhores práticas,
tanto de legislação do trabalho quanto de legislação ambiental.
Esse material é um norteador para projetistas e deve estar
disponível para conhecimento dos integrantes do time de
projetos. A Figura 6 representa as práticas pobres e práticas
padrão. Em seguida, tem-se uma lista de diretrizes que podem
ser aplicadas aos projetos.
Figura 6 – Práticas pobres e práticas padrão

288
Fabio A. da S. Arruda

Fonte: https://www.oshas.com (Adaptado pelo autor).

289
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3

3.8.1 Diretrizes gerais

• Adotar EPIs e treinamentos apenas como última opção


de controle adequado de riscos.
• Levar em consideração medidas antropométricas da
população da fábrica para definição de altura de válvu-
las, layout de postos de trabalho etc.
• O layout do projeto não deve permitir a criação de grupos
de exposição de trabalhadores sujeitos a agentes físi-
cos, químicos e ergonômicos considerados inaceitáveis;
priorizar a aquisição de motores com baixo nível de ruí-
do, controle de vibração, isolamento de fontes de calor
de contato e radiante, controle de emissões de particu-
lados, válvulas de fácil manuseio, cabines isoladas acus-
ticamente e refrigeradas etc.

3.8.2 Diretrizes para agentes ambientais

• As exposições a riscos físicos, químicos, biológicos,


ergonômicos e de acidentes considerados inaceitáveis
não deverão ocorrer.
• Os critérios para marcação e sinalização de riscos
físicos e para identificação de sistemas de tubulações
devem atender à legislação vigente. Os códigos de cores
devem atender às normas regulamentadoras - NR 26
(Sinalização de Segurança) da Legislação Brasileira.
• Prover efetivo controle de emissões fixas e fugitivas
(poeira e particulados) em fontes, como galeria de
correias transportadoras, torres de transferência,
pátio de estocagem, descarregadores de navios, a fim
de atender às normas legais vigentes e, desse modo,
atender à legislação, além de manter o nível de poeira
no perímetro das instalações para garantir a qualidade
do ar, com limite máximo de concentração igual a 40ug/

290
Fabio A. da S. Arruda

m3 por dia.
• Os níveis de ruído devem ser minimizados por meio da
especificação de nível máximo de ruído de 85db(A) para
fornecimento de equipamentos e/ou aplicação de medi-
das de engenharia adequadas - enclausuramento, inclu-
indo nas tubulações para atender a este critério.
• Os níveis máximos de vibração, incluindo vibração
mecânica de equipamentos rotativos, devem estar de
acordo com os níveis de tolerância estabelecidos pela
legislação e pelas normas técnicas aplicáveis, nacionais
e internacionais.

3.8.3 Diretrizes para espaço confinado

• Deverá ser minimizado a criação de novos espaços


confinados.
• Quando não for possível evitar essa criação, os espaços
confinados deverão ter acesso adequado para entrada
e deslocamento de pessoas no seu interior (diâmetro
mínimo de 70cm).
• Os projetos já devem prever sistema de resgate de
emergências, com pau de carga e sistema de retirada
dos trabalhadores, levando em consideração o tipo de
trabalho que será realizado no local.
• Os dispositivos, como máscaras autônomas ou máscaras
de fuga, bem como quaisquer equipamentos adicionais,
devem ser previstos para aquisição pelo projeto.
• Um processo de controle de toda fonte de energia
residual perigosa do lado externo do espaço confinado,
com facilidade de bloqueio, tipo raqueteamento ou
desconexão.
• Pontos de ancoragem, em caso de trabalhos em altura
no espaço confinado, devem ser certificados para
sistemas de salvamento e trabalho em altura (1.500kgf

291
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
por pessoa).
• As tampas das bocas de visita dos espaços confinados
devem possuir sistema que permita sua retirada sem
exposição ergonômica e riscos de pensamentos a parte
do corpo dos trabalhadores.

3.8.4 Diretrizes – prevenção de quedas

• Projetar acessos adequados e pontos de ancoragem


permanentes para trabalhos sobre equipamentos e
telhados, de forma a possibilitar manutenções seguras.
• Projetar acesso seguro, por meio de escadas
convencionais coletivas, quando a probabilidade de
subir escadas é frequente (diária ou, no mínimo, uma
vez por semana).
• Prever acessos seguros a pontes rolantes, torres de
resfriamento, telhados, correias transportadoras, torres
de transferências, torres de iluminação e pontos de
amostragem para controle ambiental e de qualidade de
produtos/processos (lavra, beneficiamento, chaminés).
• Desníveis deverão ser evitados, a fim de minimizar risco
de queda.
• Todas as plataformas de trabalho, com altura maior que
1,20m, devem dispor de sistemas fixos de prevenção
contra quedas por meio de guarda corpos.
• Os telhados devem ser calculados para suportar o peso
mínimo de 150 quilos por m2.
• Nos locais onde são empregados telhados de plástico,
claraboias ou outros pontos frágeis, devem ser instalados
guarda corpos, telas de proteção suplementar ou acesso
seguro sobre as mesmas.
• Projetar, em lajes, sistemas de prevenção de quedas
para seu entorno (guarda corpos provisórios ou outros
dispositivos).

292
Fabio A. da S. Arruda

• Aumentar a área das bases dos sistemas de


bombeamento, permitindo que o operador trabalhe sem
risco de queda de nível diferenciado.
• O uso de escadas tipo “marinheiro” deve ser minimizado
ao máximo, com substituição por escadas coletivas
convencionais.
• Quando não for possível eliminar as escadas de
marinheiro, projetá-las com linhas de vida verticais,
quando a altura da escada (do nível inferior ao piso
da plataforma de trabalho imediatamente acima) seja
maior que 3,5 metros.
• Critérios estabelecidos para utilização de portões em
acessos através de escadas de marinheiro: passarela de
descanso de escadas, do tipo marinheiro, não necessita
de instalação de portões, por ser somente para acesso e
não para trabalho; topo de escada tipo marinheiro, que
se conecta a passarela estreita (menor que um metro de
largura) de passagem convencional, deve ser instalado
portão; em escadas tipo marinheiro, pelas quais se tem
acesso à plataforma de trabalho com área inferior a 4m²,
deve ser instalado portão; independentemente da área
de trabalho, se houver uma distância de um equipamento
(em frente) menor que um metro da entrada da escada
tipo marinheiro, deverá ser instalado portão.
• Considerar, no projeto, a instalação de portões com
fechamento por gravidade, garantindo o fechamento
independentemente da ação do homem.
• Os guarda corpos, de pisos superiores de áreas com
riscos de transbordo de líquidos perigosos, por exemplo,
licor, deverão ter fechamento metálico até 2/3 de sua
altura.
• Os vãos, entre os corrimãos dos guarda corpos das
plataformas de descanso das escadas convencionais,
devem ter fechamento em tela metálica.
• Os vãos, entre os corrimãos dos guarda corpos das
plataformas de trabalho, devem ter fechamento em tela

293
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
metálica, se houver passarela de acesso imediatamente
abaixo; ou o layout da área exigir movimentação
contínua de trabalhadores próximo a essas zonas de
risco de queda de material de nível diferenciado.
• Locais, onde forem necessárias as inspeções periódicas
e rotineiras, deverão possuir sistema de câmeras para
minimização de movimentação de operadores e controle
de riscos de quedas.

3.8.5 Diretrizes – NR 10 / iluminamento / controle


de energia

• Dispositivos de bloqueio incorporados a dispositivos de


isolamento de energias, quando disponibilizados pelo
fabricante, são a melhor opção.
• Deverão ser considerados, no projeto de novas sub-
estações, condutores não acessíveis, usando cabo iso-
lado e armado, além de painel de distribuição blindado,
que devem ser utilizados para todos os sistemas de dis-
tribuição novos ou restaurados até 34kg.
• Todas as luminárias devem possuir dispositivos de
proteção contra queda das lâmpadas; deve ser esta-
belecida sistemática de manutenção e troca de lâmpa-
das que não exponham empregados a riscos de quedas
(basculamento de postes e troca de sistema completo
com plug rápido).
• A passagem dos cabos pelas paredes das subestações
deve vedada com proteção passiva; o material a ser
aplicado deve ser aprovado pela FM, UL ou ULC.
• Deve existir proteção contra raios para subestações
elétricas, transformadores, transmissão elétrica, torres
e linhas de distribuição, assim como prédios e estrutu-
ras importantes.
• Deve ser prevista iluminação de emergência para todos
os prédios.

294
Fabio A. da S. Arruda

• Todos os novos bancos de capacitores estáticos devem


ter uma chave seccionadora de curto-circuito/aterra-
mento, instalada de forma permanente, intertravada
mecanicamente ou por chave, com a chave secciona-
dora da alimentação do banco; o intertravamento deve
evitar que as seccionadoras de aterramento e de ali-
mentação do banco sejam fechadas simultaneamente;
sinais de aviso bem visíveis, alertando que a estrutura
do banco de capacitor está energizada, devem ser co-
locados em todos os lados da estrutura acessíveis aos
trabalhadores.
• Todos os painéis de subestações, primárias e se-
cundárias, devem ter resistência a arco elétrico e a ex-
plosões.
• Deverá ser realizado estudo de corrente de curto cir-
cuito do sistema de potência para definição do nível de
roupa de proteção a ser utilizada, de modo a prevenir
incidentes relacionados a arco elétrico.
• Deve ser prevista sinalização de segurança em todo
painel elétrico: nível de energia, incidentes e nível de
proteção adequado para exposição a risco de arco elétri-
co.
• Nenhum leito de cabos deve estar sujeito a áreas com
risco de transbordo ou queda de material; eventuais
ramificações devem receber cobertura ou isolamentos,
sendo as coberturas afixadas mecanicamente (cintas e
parafusos), a fim de evitar seu desprendimento aciden-
tal.
• Tubulações, transportadores ou estruturas metálicas,
que correm paralelos e/ou passam sob as linhas de alta
tensão, deverão ter projeto adequado de aterramento,
em conformidade com a legislação legal aplicável (NBR
14309).
• Para instalações elétricas, que forem sujeitas a inspeções
periódicas, deverão haver compartimentos/janelas de
inspeções;.

295
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
• Todo o projeto de subestações elétricas deverá atender
a requisitos relacionados ao revestimento retardante de
chama de leito de cabos, isolamento das entradas e saí-
das de leitos de cabos, sistema de proteção e alarme
contra incêndio.
• Toda a planta deve ser amplamente iluminada/sinaliza-
da, de forma que os riscos sejam perceptíveis, interna e
externamente, à Unidade.
• Os sistemas fixos de detecção de fumaça nas sub-
estações devem utilizar princípio de sistema de monito-
ramento por meio de aspiração contínua do ar ambiente.
• Os painéis das salas elétricas deverão estar dispostos de
forma a permitir acessibilidade adequada para combate
de emergências.
• O nível mínimo de iluminamento das áreas operacionais
deverá estar em conformidade com os padrões NBR
ISO/CIE 8995-1, IES RP-7.
• Minimizar a passagem de leitos de cabos por áreas
sujeitas a risco de transbordo ou queda de materiais;
eventuais ramificações devem receber cobertura do
leito de cabos.

3.8.6 Diretrizes para equipamentos móveis

• Estações de carga/descargas & enlonamento/desen-


lonamento de caminhões devem ser providas de pórtico
com linhas de vida em viga e trava quedas retráteis,
para controle de riscos de quedas de nível diferenciado
(NR35).
• O conceitual do projeto deverá levar em consideração a
minimização da utilização de veículos industriais.
• A área destinada para operação dos equipamentos
móveis/veículos industriais deverá, sempre que pos-
sível, ser segregada fisicamente do tráfego de pessoas.

296
Fabio A. da S. Arruda

Deverão ser utilizadas, quando necessário, barreiras


físicas, sinalizações horizontais, verticais, sonoras e de
iluminação para controle adequado de riscos.
• O acesso de pessoas e veículos industriais a prédios,
permanentes e temporários, devem ser independentes
e sinalizados adequadamente.
• Todas as intersecções de tráfego devem ser projetadas
com ampla visibilidade.
• Os projetos de tráfego devem levar em consideração,
sempre que possível, o uso de mão única nas vias, de
forma a minimizar riscos.
• Devem ser projetadas defensas para postes, tubulações
e estruturas que fiquem localizadas ao lado de vias de
trânsito com risco de abalroamento.

3.8.7 Diretrizes para combate a incêndio, sistemas


de detecção de fumaça e alarme que devem ser in-
terligados à Central de Controle de Emergência da
Unidade

• As portas de emergência a serem instaladas devem


possuir trinco tipo antipânico; o sentido de abertura
deve ser para lado de fora; não deve ser posicionado
nenhum dispositivo que dificulte o acionamento do
trinco antipânico.
• Sistema aprovado de extinção com “agente limpador”
(FM 200 etc.) deve ser previsto para salas importantes
de processo, como salas centrais de computador, salas
de controle ou grandes equipamentos (caminhões e
máquinas fora de estrada, D11, carregador de navio e
minério).
• Preferencialmente, devem ser instalados, sempre que
possível, sprinklers do tipo Upright; estes não permitem
o acúmulo de resíduo, por serem instalados na parte de

297
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
cima da tubulação.
• Os fluídos resistentes a fogo devem ser recomendados
para sistemas hidráulicos localizados próximos às fontes
de ignição.
• Todas as correias transportadoras, com altura superior a
9 metros ou que estejam imediatamente acima do mar/
rio, devem possuir sistema de proteção por sprinklers,
independentemente do material transportado. 
• A revisão de prevenção de perdas pela seguradora
deve envolver os seguintes projetos: novos prédios e
instalações; segurança de combustão; projetos de co-
berturas (levantamento, estática e combustibilidade);
sistemas de proteção contra incêndios; modificações
de processos líquidos inflamáveis e combustíveis; líqui-
dos inflamáveis e combustíveis, e estocagem de gás;
grandes sistemas hidráulicos ou sistemas usados próxi-
mo às fontes de ignição.
• A construção de prédios e as proteções de parede de-
vem ser não combustíveis; se forem usados painéis de
parede em forma de encaixe, esses componentes de-
vem ser aprovados pela FM.
•  A construção de cobertura e paredes de prédios sem
proteção deve ser não combustível.
•  A proteção automática de sprinkler deve ser projetada e
instalada conforme a norma NFPA 13; quaisquer coleto-
res ou hidrantes contra incêndios devem ser instalados
conforme a norma NFPA 24; a demanda total deve estar
disponível por um período de duas horas, no mínimo.
• Se o suprimento de água para proteção contra incên-
dio for proveniente do uso de um sistema de proteção
contra incêndio e bombeado de uma fonte ilimitada, a
estação de bombeamento pode precisar de certas car-
acterísticas de confiabilidade, geralmente não incorpo-
radas às estações de bombeamento industrial.
•  A localização do hidrante deve ser selecionada de tal

298
Fabio A. da S. Arruda

forma que todos os prédios envolvidos sejam atendidos


por, no mínimo, dois hidrantes.
• Quaisquer coletores ou hidrantes de incêndio devem ser
instalados conforme a norma NFPA 24.
• Os sistemas de combustão deverão atender aos
requisitos estabelecidos pelos padrões de engenharia
estabelecidos pela NFPA 85, NFPA 86 e NBR 12313.
• Os projetos dos sistemas de prevenção e combate
a incêndio e de combustão devem ser revisados por
Consultor de Prevenção de Perdas da Seguradora, a fim
de verificar a conformidade com padrões da NFPA, NR
13, ASME.
• Todos os tanques, tubulações ou equipamento de
processo, com temperaturas externas de 60 graus
centígrados ou mais, em que haja possibilidade de
contato com pessoas, devem ser providos de sistema de
proteção ou isolamento adequado, para prevenir risco
de queimaduras térmicas.
• Solicitar e manter atualizados registros de licenças,
autorizações de corpo de bombeiro/prefeitura pertinentes
ao projeto.

3.8.8 Diretrizes para proteções de máquinas e equi-


pamentos

• Os projetos de pontes rolantes, talhas elétricas e outros


dispositivos de movimentação de cargas devem possuir
alarme sonoro, sinalização luminosa da área de risco
para a movimentação de cargas, controle remoto com
comando bimanual, sensor de sobrecarga, chaves de
fim de curso, radiocontroles com código único, sistema
de prevenção de quedas de motores ou peças de talhas/
pontes (cabo de aço ou similar).
• Deve ser prevista proteção de máquina para todo equi-
pamento que tenha partes móveis expostas.

299
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
• As proteções das partes móveis devem ser robustas e
desenhadas para garantir “ACESSO ZERO “ a qualquer
parte perigosa da máquina.
• O projeto de proteção de máquinas deverá levar em
consideração aquisição de dispositivos de engenharia
inteligentes (chaves de segurança, cortinas de luz) para
partes móveis de máquinas/equipamentos que tenham,
como consequência da exposição do homem, o risco de
fatalidade.

3.8.9 Diretrizes para projeto áreas operacionais

• Chuveiros de emergência deverão possuir válvula de


rescaldo, de modo a garantir temperatura adequada da
água, sinalização de segurança, válvulas reguladoras de
pressão e filtros de linha.
• Prever substituição de válvulas manuais por pneumáticas/
automáticas em função de critério de risco (diâmetro,
frequência de utilização, força aplicada, altura, inclinação
etc.).
• Projetar sistemas auxiliares para inversão de figura
8 com diâmetro maior que 12”, limpeza de caixa de
peneiras, substituição de carga dos moinhos etc.
• Prever instalação de elevadores, em função de
necessidade de movimentação contínua de pessoas em
áreas específicas.
• Projetar plataformas de conexão entre prédios, tanques
e estruturas, de forma a minimizar a necessidade de
“cruzamento de riscos” e esforço físico; em casos de
longas escadarias, verificar a implantação de elevadores.
• Todos os medidores radioativos devem ter seu princípio
de funcionamento baseado em cintilômetro, com base
no princípio ALARA (As Low As Reasonably Achievable).
• Deverá ser previsto local adequado para armazenamento
de fontes radiativas utilizadas em medidores nucleares,

300
Fabio A. da S. Arruda

em conformidade com normas da CNEN.


• Eliminar, dos processos operacionais e instalações,
produtos comprovadamente perigosos, tais como:
arbestos; RCF (Fibra Cerâmica Refratária); PCBs
(Bifenilaspolicloradas – Ascanel); solventes aromáticos;
solventes clorados; metas pesados.
• Os processos de pintura não deverão conter metais
pesados, tais como: chumbo, cádmio, mercúrio, cromo
etc.
• Deverão ser conduzidas análises de segurança de
projetos para cada fase do projeto (conceitual, básica
e detalhada) e monitorados continuamente os planos
de ações das contramedidas a serem implementadas,
conforme perigo identificado, para trazer os riscos a
níveis aceitáveis ou eliminá-los, gerados por estas
análises (HAZAN/HAZOP).
• Todas as drenagens provenientes de oficinas devem
ser direcionadas para sistemas de tratamento (caixas
separadoras de água e óleo SAO), e estes devem
contemplar o período de chuva e sua possível contribuição
nestes sistemas.
• Os tanques de estocagem devem ser construídos acima
do nível do piso, assim como as tubulações e válvulas
(exceção somente para água e esgoto).
• Os depósitos ou tanques fixos que armazenem fluidos
devem ser identificados pelo mesmo sistema de cores
das tubulações.
• Tanques fixos de estocagem e de processos devem
ser dotados de sistema de contenção secundária ou
similar, para evitar derramamentos diretamente no
piso; sistemas similares incluem áreas com muretas,
associadas a poços de contenção ou de bombeamento.
• O dimensionamento das contenções secundárias de
tanques fixos de estocagem e a capacidade volumétrica
desta área devem ser, no mínimo, igual à capacidade

301
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
do maior tanque inserido nesta área, mais 10% do
volume total dos demais tanques, conforme NBR 17505
1/2/3/4/5.
• Todos os pisos dos poços de bombeamento de produtos
químicos deverão ser chapeados.
• Áreas com muretas em áreas operacionais, como ofici-
nas de manutenção, deverão ter piso impermeabilizado
com manta plástica ou chapas de piso.
• Onde houver a possibilidade de derrame de produtos
perigosos, deverá ser previsto sistema de contenção se-
cundário, por exemplo, bombas e motores.
• Áreas sujeitas à lavagem e aos transbordos devem ter
fechamento metálico completo em 2/3 da altura do
guarda corpo, e fechamento em tela do restante.
• As bombas de pasta deverão possuir carcaça dupla em
ferro fundido nodular, colar de alívio de pressão e sen-
sores de temperatura.

3.8.10 Diretrizes para área ambiental / produtos


químicos

• Adotar conceitos de desenvolvimento sustentável, inte-


grando as questões ambientais às decisões relevantes
nas fases de conceituação do projeto.
• Projetar instalações e processos que possibilitem usar,
de forma responsável, racional e sustentável, os recur-
sos naturais e adotar práticas de conservação de água
e energia.
• Todas as áreas, equipamentos e processos que apresen-
tem volumes significativos de produtos perigosos, e que
possam dar origem a vazamentos acidentais, devem
ser dotados de sistemas de contenção secundária, con-
struídos com material compatível com as características
do produto, com volume e dimensões proporcionais ao

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Fabio A. da S. Arruda

volume que possa vazar acidentalmente. Exemplos de


área que necessitam de contenção: tanques de produ-
tos químicos, óleos, combustíveis etc.; áreas de proces-
sos via úmida, com tanques, sistemas de bombeamento
etc.; transformadores de grandes dimensões, contendo
óleo dielétrico em volume superior a 40 litros; áreas
de estocagem de produtos químicos, óleos lubrificantes,
combustíveis e outros produtos de características con-
taminantes, embalados em tambores e em embalagens
de volumes variados.
• Todos os sistemas de contenção de produtos quími-
cos, óleos e combustíveis devem ter piso e taludes lat-
erais revestidos de material compatível com o produto
contido. Tal requisito justifica-se pela necessidade de
proteção do subsolo e das águas subterrâneas, em caso
de vazamentos do produto.
• Todos esses locais devem ser avaliados quanto à insta-
lação de poços de monitoramento e piezômetros.
• Os volumes e áreas dos sistemas de proteção e con-
tenção devem ser dimensionados em função da área de
possível projeção do produto vazado e com o volume
do maior acidente potencial possível; além de o volume
para conter o produto, acrescido de uma folga de 10%,
deve ser acrescido um volume de reserva para reter a
chuva crítica por um período de 24 horas, no caso de
áreas ao ar livre, além de um nível com elevação de 10
cm.
• As áreas de estocagem de óleos lubrificantes e com-
bustíveis devem ser dotadas de sistemas separadores
de água/óleo, conectados após o registro de fechamen-
to da bacia de contenção.
• Todos os tanques de estocagem de produtos devem ser
aéreos, sendo proibida a utilização de tanques enter-
rados nas dependências das unidades e do canteiro de
obras das empresas contratadas.
• Os tanques devem ser identificados por etiquetas que

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Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
indiquem o produto e seus riscos associados, pintados
na cor característica do produto armazenado e dota-
dos de sistemas de interrupção de alimentação, para o
caso de ser atingido o nível máximo, com indicadores de
nível, dispositivos para alívio de pressões e aterramento
do tanque e dos veículos de descarga, além de sistemas
de proteção contra incêndios.
• Sempre que possível, devem ser utilizadas tintas isen-
tas de metais pesados, ou seja, à base de água.
• Fontes de radiações ionizantes devem ter o projeto de
sua potência, localização e blindagens de forma a asse-
gurar os menores níveis de exposição possível aos op-
eradores.
• As fontes de radiações ionizantes devem ser protegidas
para minimizar a probabilidade de danos e vazamentos,
na ocorrência de incêndios ou acidentes de abalroamen-
tos.
• Todos os produtos químicos utilizados devem possuir Fi-
cha de Segurança (MSDS - Material Safety Data Sheet)
com suas características de riscos à saúde, à segurança
e ao meio ambiente; essas fichas devem ser previa-
mente analisadas pela equipe de gerenciamento do pro-
jeto e aprovadas para utilização.
• Produtos que o fabricante se recuse a fornecer a Ficha de
Segurança completa não serão aceitos para utilização.

3.8.11 Diretrizes – Estocagem de material

• A estocagem de materiais em pilhas ao ar livre, que


apresentem características de transporte pelo vento, re-
sultando em emissões fugitivas potencialmente acima
de limites legais, deve ser complementada por medidas
de controle de engenharia.
• Os sistemas de transporte de materiais, resíduos e
matérias-primas na forma particulada devem ser dota-

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Fabio A. da S. Arruda

dos de sistemas de controle de emissões fugitivas, prin-


cipalmente nos pontos de transferência para tanques,
sistemas de descarga e passagem entre desníveis do
sistema de transporte.
• No caso de estocagem de materiais oleosos em áreas
descobertas, as águas pluviais devem ser coletadas e
passadas através de separadores água/óleo, antes de
sua descarga para os cursos de água naturais.

3.3 Possíveis resultados com a aplicação da metodo-


logia FEL

Importantes resultados serão alcançados quando aplicada


a metodologia FEL em projetos, principalmente utilizando um
time direcionado às questões de saúde e higiene ocupacional, de
segurança do trabalho, de meio ambiente e de sustentabilidade
do projeto. A utilização da metodologia organiza as atividades
que seguem uma sequência necessária, de acordo com o nível do
empreendimento. Porém, com caminho definido e ferramentas
de SSMA aplicadas em cada fase.

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Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
Figura 7 – Mapa de aplicação do método FEL, utilizando as ferramentas de
SSMA

Fonte: Adaptada pelo autor.

A taxa de incidentes registráveis para projetos que utilizam


a metodologia FEL do IPA é de 0,5, que está muito abaixo dos
3,5 da Indústria da Construção Americana, uma das referências
mundiais.
Figura 8 – Indicador de incidentes registráveis

Fonte: https://www.ipaglobal.com/ 2019 (Adaptada pelo autor).

São observados melhores desempenhos na produção e au-


mento dos rendimentos da qualidade em projetos que aplicam
a metodologia FEL que se convertem em percentagem reduzida

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Fabio A. da S. Arruda

de falhas de execução e operação. A CII (Construction Industry


Institute) fornece provas adicionais que sustentam a importân-
cia desta metodologia. De acordo com uma pesquisa realizada
em 2009, baseada em uma amostra de 609 projetos no valor
de $37 bilhões - proprietários que tem alta adesão a aplicação
do método FEL incorrem em 10% menos custos, o prazo de en-
trega é 7% mais curto e ocorrem 5% menos mudanças. Estes
dados são comparados com outros projetos com uma baixa ou
nula aplicação de FEL .
Figura 9 – Indicador FEL increases Likelihood of Success (Merrow, 2019)

Fonte: Adaptada pelo autor.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A principal vantagem de executar uma metodologia como a


FEL é que esta ordena os processos de criação e de inovação que
antes tendiam para o caos. Por ser um processo burocrático, ele
não é uma unanimidade na indústria e uma maior flexibilidade
é bem-vinda na condução do processo. Por isso, é importante
pensar os processos de FEL para cada tipo de empreendimento
e definir quais são os estudos imprescindíveis.
Esse tipo de pensamento traz diversos benefícios, como:
• reduzir o risco e os números de projetos com baixo valor

307
Triangulação em saúde e segurança do trabalho
Vol. 3
agregados na empresa;
• direcionamento de estudos específicos de SSMA para
cada projeto;
• alocação gradual de recursos, reduzindo o risco associado
a cada empreendimento;
• facilidade de comunicação com o time do projeto e com
os clientes, já que se torna claro quando a reunião de
FEL será necessária;
• previsibilidade do tempo necessário para projetos
inovadores.
A aplicação correta de metodologias, como FEL, bem como
a definição de um time específico com especialistas, minimiza
riscos e melhora a assertividade das empresas na tomada de
decisões.
O envolvimento dos times corretos desenvolve equipes
dentro do ambiente da empresa que, cada vez mais experientes
e alinhadas com o processo e as diretrizes das empresas, faz
com que cada novo empreendimento seja melhor, levando em
consideração os erros e os acertos do anterior.
O desempenho de SSMA dos projetos com planejamento
de execução definitivo ou preliminar, quando aplicado o método
FEL, resulta em duas vezes menos lesões, em comparação com
um projeto mal planejado (o que não deve ser uma surpresa).
Sendo assim, a meta de sustentabilidade do projeto é alcançada.
Figura 10 – Ciclo de vidas de projetos de acordo com a influência & gastos

Fonte: https://www.ipaglobal.com/ 2019 (Adaptada pelo autor).

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Fabio A. da S. Arruda

REFERÊNCIAS

IPA, Independent Project Analysis. Front-End Loading. Disponível em:


<http://www.ipaglobal.com>. Acesso em: 05 dez. 2019.

Negócio: Contribuição da Metodologia FEL no Pré- Planejamento de


Grandes Empreendimentos, 2010.

ROMERO, F.; ANDERY, P. FEL – Front End Loading e LDPS - Lean De-
livery Production System para concepção de projetos de empreendi-
mentos. In: Portal Mundopm. Disponível em: < http://www.mundo-
pm.com.br/download/demo01_PM24.pdf>. Acesso em: 04 dez. 2019.

VARGAS, R. V. Gerenciamento de Projetos. 6ª edição. Brasport.


2005.

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