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CLAUDIA PERROTTA
“Aqui nesta pedra alguém sentou olhando mar. O mar não parou
para ser olhado. Foi mar pra tudo quanto é lado”, diz o poema de
Paulo Leminski. No filme, quem “atropela” Ishaan é o pai, que,
depois de uma reunião com os “educadores” da escola, em que o
fracasso do filho é reafirmado em frases como: “ele não evolui,
repete os mesmos erros de propósito...”, decide mandá-lo para
um colégio interno, afastá-lo da família como castigo por não ter
se esforçado. Tem início então um segundo momento da vida
desse menino: toda a sua vivacidade, o sorriso malandro, a
alegria de criança, a curiosidade e fascinação pelas cores e
movimentos das ruas, que depois reproduzia em desenhos e
pinturas belíssimos, são substituídos pela tristeza do abandono,
pela decepção, em especial com a atitude da mãe, que, embora
não concorde com a ideia da separação, submete-se ao marido.
Impossível ao espectador não se sensibilizar com o sofrimento
que parece não ter fim do menino. O lema da “nova” escola,
entoado com orgulho pelo corpo técnico, é: “Disciplina. Já
domamos cavalos selvagens, vamos domar este também”. Ou
seja, Ishaan é de imediato identificado como o garoto
desregrado e incapaz de se desenvolver intelectualmente. Pior:
agora, ele aceita esses rótulos e começa a se anestesiar para não
sofrer, submetendo-se às novas humilhações dos professores
sem qualquer reação. Deixa de falar, de desenhar e vai se
tornando indiferente a tudo e a todos. Ishaan foi impedido de ser
ele mesmo.
Mas este filme indiano não foge à regra e, para alívio de todos,
repete a fórmula do clássico pioneiro “Ao mestre com carinho”,
seguido de “Sociedade dos poetas mortos”, e mais recentemente
“Escritores da liberdade”, já comentado nesta seção. Também
aqui há um professor herói, um salvador, e a redenção
finalmente chega pelo personagem Ram Shankar, que assume as
aulas de artes.