Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Sáude em Revista
O Estresse Ocupacional Em Cirurgiões-Dentistas:
7
Gilsée Ivan Regis Filho; Dayane Machado Ribeiro
Sáude em Revista
O Estresse Ocupacional Em Cirurgiões-Dentistas:
9
Gilsée Ivan Regis Filho; Dayane Machado Ribeiro
Sáude em Revista
O Estresse Ocupacional Em Cirurgiões-Dentistas:
11
Gilsée Ivan Regis Filho; Dayane Machado Ribeiro
Sáude em Revista
O Estresse Ocupacional Em Cirurgiões-Dentistas:
13
Gilsée Ivan Regis Filho; Dayane Machado Ribeiro
profissionais possuem entre seis a 10 anos res níveis de estresse. Apenas 58,40% dos
de exercício profissional. No tocante à profissionais pesquisados tinham assis-
renda familiar, um terço dos pesquisados tentes de consultório dentário em tempo
(36,30%) apresentou renda superior a 20 integral. A falta desses profissionais pode
salários mínimos e praticamente 50% en- vir a contribuir para um maior nível de
tre dez e vinte salários mínimos. estresse durante a jornada de trabalho dos
No que se refere aos profissionais que cirurgiões-dentistas.
possuíam especialidade, 21,8% respond- Por último, os profissionais foram pes-
eram afirmativamente, sendo que o maior quisados sobre atualizações profissionais e
percentual se concentrou na especialidade quais as modalidades utilizadas. A grande
ortodontia, com 8,0%. Quanto ao tempo de maioria, 92,40%, atualizava-se de alguma
exercício de uma especialização existiu uma forma, sendo que cursos de atualização,
forte concentração entre dois a 10 anos, re- participação em congressos/palestras e a
spondendo por 58,30% do total. aquisição de revistas científicas são as mo-
Em relação à distribuição da carga dalidades mais citadas, com percentuais
horária dos profissionais pesquisados, 9,50% superiores a 60,0% para cada uma delas.
dedicavam de 10 a 40 horas semanais para Outras modalidades, como comunicações
a docência, 37,20% trabalhavam de alguma pessoais, Internet, livros, vídeos e cursos
forma para o setor público e no período en- de pós-graduação, eram utilizadas por
tre 11 a 20 horas semanais se encontrava a 17% dos profissionais.
maior concentração de profissionais trabal- A média dos escores para todos os fatores
hando (21,2%). Por outro lado, 88,90% dos estressantes pesquisados ficou concentrada
pesquisados atuavam em clínica privada; entre > = 1 e < 2 (entre 42,5 a 57,9%), ou seja,
destes, 42,80% dedicavam entre 31 a 50 a média dos fatores estressantes considera-
horas ao trabalho, ou seja, quase metade dos dos é pouco ou medianamente estressante.
profissionais dedicava, em média, 40 horas Entretanto, mais de um quarto (entre 25,4 e
a atividades particulares, sendo que mui- 38,5%) dos profissionais pesquisados apre-
tos deles trabalhavam, além disso, no setor sentaram escores entre > = 2 e < 3 para os di-
público ou na docência, o que eleva con- versos fatores estressantes, ou seja, entre me-
sideravelmente a carga horária de trabalho dianamente estressante e muito estressante,
semanal, agravando ainda mais o risco de sendo estes últimos percentuais bastante
desenvolver estresse. preocupantes. A Tabela I apresenta as médias
Um fator relevante pesquisado foi dos escores para fatores estressantes.
quanto à utilização de pessoal auxiliar, que Os níveis de risco para estresse e proba-
pode ser uma variável significativa para a bilidade de adoecer dos pesquisados em
redução do risco de níveis inadequados função dos níveis de risco de estresse obti-
de estresse, pois o trabalho a quatro mãos, dos dos resultados do índice “Unidade de
além de ser fator de elevação da produ- Mudança de Vida” do “Breve Inventário de
tividade, contribui para um trabalho com Causas e Estratégias para Lidar com o Es-
menor fadiga e, consequentemente, meno- tresse” são apresentados na Tabela II.
Os níveis de risco de estresse considerados alto e elevado somaram 44,66%, o que é 1,54
vezes maior do que para os dos trabalhadores que se sentem “bastante ou extremamente
estressados no trabalho”, segundo relatos do National Institute for Ocupacional Safety and
Healty (NIOSH)22.
Os 44,66% são, também, superiores aos 40% dos trabalhadores que relataram que seu
emprego era “muito ou extremamente estressante” e, ainda, são 1,72 vezes maior do que os
trabalhadores relatando que estão “com frequência ou muita frequência sobrecarregados ou
estressados pelo seu trabalho”, segundo o mesmo NIOSH22. Diante do exposto, fica eviden-
Sáude em Revista
O Estresse Ocupacional Em Cirurgiões-Dentistas:
15
Gilsée Ivan Regis Filho; Dayane Machado Ribeiro
ciado que os níveis de risco de estresse entre A distribuição dos profissionais, segun-
cirurgiões-dentistas são superiores aos dos do agrupamentos, apresentou as seguintes
trabalhadores em geral. frequências: Grupo 1 – 340 (21,5%); Grupo
Os profissionais com maior risco de 2 – 723 (45,7%); Grupo 3 – 520 (32,8%),
adoecer 44,66%, ou seja, as categorias que têm num total de 1.583.
probabilidade de 5 em 10 (25,27%) e de 7 em O que se observa é que quase metade
10 (19,34%) são as que têm um alto nível de dos profissionais (45,7%) apresentou, como
estresse e técnicas ineficientes para lidar com perfil, estar no mercado de trabalho há al-
ele. As chances são reduzidas (10%) quando gum tempo, na plenitude da idade produtiva
o nível de estresse é baixo e as pessoas dis- e dedicar, em média, um tempo significativo
põem de técnicas eficientes de autocontrole21. à profissão, o que pode contribuir para um
A análise de agrupamento identificou maior nível de risco de estresse.
três grupos relativamente homogêneos de Uma segunda análise verificou a associa-
profissionais, cujas características predomi- ção entre distribuição dos profissionais se-
nantes estão listadas a seguir: gundo agrupamentos e os níveis de risco de
• Grupo 1 – com menos de cinco anos estresse. A Tabela III apresenta os resultados.
de tempo de exercício profissional, idade en- Não houve associação estatística signifi-
tre 20 e 29 anos, renda até 10 salários míni- cativa entre os grupos e os níveis de risco de
mos, sendo do sexo feminino; estresse, entretanto o Grupo 2 concentrou,
• Grupo 2 – de cinco a 19 anos de ex- em média, 45,% dos pesquisados em todos
ercício profissional, idade entre 30 e 39 anos, os níveis de risco de estresse, o que está de
41 a 60 horas de trabalho semanal e renda de acordo com o perfil dos profissionais encon-
15 a 20 salários mínimos; trado para esse grupo.
• Grupo 3 – com mais 20 anos de Uma terceira análise buscou detectar
exercício profissional, mais de 40 anos de associação estatisticamente significativa en-
idade, do sexo masculino, com até 20 horas tre os agrupamentos de profissionais e os
de trabalho semanal e renda de maior que quatros grupos de fatores estressantes. Não
20 salários mínimos. houve associação estatística significativa
Tabela III - Distribuição dos Profissionais Segundo Agrupamentos e Níveis de Risco de Estresse
Níveis de Risco de Estresse Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Total
Alto 69 (22,33%) 140 (45,31%) 100 (32,36%) 309
Elevado 92 (23,12%) 180 (45,23%) 126 (31,65%) 398
Moderado 86 (21,99%) 190 (48,59%) 115 (29,42%) 391
Baixo 88 (18,84%) 204 (43,68%) 175 (37,48%) 467
Sem Preenchimento 5 (27,78%) 9 (50,0%) 4 (22,22%) 18
Total 340 723 520 1.583
Sáude em Revista
O Estresse Ocupacional Em Cirurgiões-Dentistas:
17
Gilsée Ivan Regis Filho; Dayane Machado Ribeiro
Tabela VII – Distribuição dos Profissionais Segundo Níveis de Risco de Estresse e Fatores
Estressantes Relativos à Prática Odontológica
Prática Odontológica
Níveis de Risco de Estresse Total
0a1 1a2 2a3
Alto 3 19 6 28
Elevado 5 17 8 30
Moderado 9 10 4 23
Baixo 13 9 1 23
Sem Preenchimento 1 1 - 2
Total 31 56 19 106
Observa-se que, para os três fatores estressantes com associação estatística significativa, os
níveis de risco de estresse alto, elevado, moderado ou baixo estão concentrados entre 1 e 2, ou
seja, pouco ou medianamente estressante, com exceção ao relativo à prática odontológica na
qual o nível de risco de estresse baixo tem maior concentração entre 0 e 1 (nada estressante e
pouco estressante). Assim, verifica-se que não importa o fator estressor, pois ele sempre apre-
sentará um nível de risco, pelo menos, entre pouco ou medianamente estressante.
O gerenciamento adequado do estresse exige do cirurgião-dentista uma nova posição fr-
ente à profissão e à vida, por exemplo, definir claramente o que deseja e o que é bom para si,
pois frequentemente o ser humano é induzido a realizar mais do que deve e quer. Assim, bus-
cará aprender a dizer não e se sentir bem com isso. Entretanto, alguns aspectos são relevantes
para o gerenciamento eficaz do estresse; e desse modo, o profissional deve proporcionar maior
atenção ao seu objetivo principal de vida, sem desconsiderar um cuidado essencial à saúde.
Nesse sentido, algumas regras podem auxiliar o profissional em direção a uma melhor
qualidade de vida no trabalho, por exemplo:
Referências bibliográficas
1. Nahas MV, Bem MFL. Perspectivas e tendências da relação teoria e prática na educação física.
Motriz 1997; 3 (2):73-79.
2. Cooper KH. O que é bem-estar total? In: Cooper, KH. O programa aeróbico para o bem-estar
total. São Paulo: Nórdica; 1982. p.17-26.
3. Regis Filho GI, Lopes MC. Qualidade de vida no trabalho: a empresa holística e a ecologia em-
presarial. Revista de Administração da USP 2001; 36(3):95-99.
4. Nahas MV. Atividade física, saúde e qualidade de vida – Conceitos e sugestões para um estilo de
vida ativo. Ed. rev. e atual. Londrina: Midiograf; 2003.
5. Michal M. Stress. Sinais e causas. v 1, São Paulo: Roche; 1997.
6. Grandjean E. Manual de ergonomia. Adaptando o trabalho ao homem. Porto Alegre: Bookman; 1998.
7. Sergeant H. [citado em 2005 Dez 20]. Disponível em URL: <http://www.stress.org.uk>.
8. Albert E, Ururahy G. Como tornar-se um bom estressado. Rio de Janeiro: Salamandra; 1997.
Sáude em Revista
O Estresse Ocupacional Em Cirurgiões-Dentistas:
19
Gilsée Ivan Regis Filho; Dayane Machado Ribeiro
9. Hartley LR, Hassani JE. Stress, violations and accidents. Appl Ergon 1994; 25(4):221-230.
10. Paraguay MIBB. Estresse, conteúdo e organização do trabalho: contribuições da ergonomia para a
melhoria das condições de trabalho. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional 1990; 18(70):40-43.
11. Carvalho L de, Malagris LEN. Avaliação do nível de stress em profissionais de saúde. Estudos e
Pesquisas em Psicologia 2001; 7(3):210-222.
12. Gomes AR, Cruz JF, Cabanelas, S. Estresse ocupacional em profissionais de saúde: um estudo
com enfermeiros portugueses. Psicologia: Teoria e Pesquisa 2009; 25(3):307-318.
13. Stelluto JR. Stress. Revista da Associação Brasileira de Odontologia Nacional 1995; 3(2):78-84.
14. Gonzalo JD, Caro H, Parra ZAG, Bedoya JP, Pabón ÉAR, Mejía MCS. Dispositivos desenca-
denantes de estrés y ansiedad en estudiantes de Odontología de la Universidad de Antioquia.
Revista da Faculdad de Odontologia Universitaria 2008; 20(1):49-57.
15. Oliveira ALBM de, Campos JADB, Garcia PPNS. Ruído ambiental e sua percepção pelos alunos
de odontologia. Revista de Odontologia da UNESP 2007; 36(1):9-16.
16. Vinaccia Alpi S. Análisis de las condiciones generadoras de estrés diario de profesionales, estu-
diantes y personal auxiliar de odontología: Revisión de Investigaciones. CES odontologia 2001;
14(2):24-34.
17. Silva FPP Da. Burnout: um desafio à saúde do trabalhador. PSI: Revista de Psicologia Social e
Institucional 2000; 2(1). Disponível em: <http://www2.uel.br/ccb/psicologia/revista/textov2n15.
htm#*>. Acesso em 10 out. 2012.
18. Marucco MA. Síndrome de quemarse por el trabajo (burnout) en odontólogos residentes en seis
hospitales de la Pcia. de Buenos Aires. Revista da Associação de Odontologia da Argentina 2008;
96(1):49-52
19. Albanesi de Nasetta S. Estrés en odontologia. Acta Odontologica Venezuelana 2006; 44(3):310-315.
20. Rahe RH, Veach TL, Tolles RL, Murakami K. The stress and coping inventory: an educational
and research instrument. Stress Medicine 2000; 16:199-208.
21. EBCT. Empresa Brasileira de Correios e Telegráfos. Diretoria Regional de Santa Catarina. Manu-
al Carta/Cartão-Resposta. Florianópolis; 1998.
22. NIOSH - National Institute for Occupational Safety and Health. Stress at work. U. S. Department of
Health and Human Services. N. 99-1001. US Government Printing Office, Washington, DC; 2002.
Submetido: 13/4/2012
Aceito: 13/9/2012