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O estresse ocupacional em cirurgiões-dentistas:


o desafio da administração do trabalho
The Occupational Stress in Dentists:
The Challenge of Labour Administration
Resumo A Odontologia, em função das suas características inerentes à profissão, como equi-
pamentos e instrumentos elaborados sem obedecer a critérios ergonômicos, tarefas mal dese-
nhadas, trabalho sob pressão temporal em virtude de um novo mercado de alta competitivida-
de e de clientes cada dia mais exigentes, submete os profissionais a diversos agentes estressantes
de origem ocupacional. O presente trabalho propõe por meio de um estudo epidemiológico
transversal retrospectivo, descobrir se o cirurgião-dentista pertence a um grupo profissional
exposto ao risco de estresse ocupacional, bem como conhecer quais são os agentes mais es-
tressores. O protocolo utilizado foi enviado em envelopes específicos previamente personali-
zados e remetidos pelo sistema de carta e cartão-resposta do tipo convencional para todos os
cirurgiões-dentistas cadastrados no Conselho Regional de Odontologia de Santa Catarina até
maio de 2003, totalizando 5.169 questionários, sendo que o número de questionários devolvi-
dos e corretamente preenchidos corresponde a 30,62% dos devolvidos. Os resultados obtidos
possibilitaram as seguintes conclusões: os cirurgiões-dentistas pertencem a uma categoria pro-
fissional exposta a um risco considerável de desenvolver estresse ocupacional, uma vez que os
níveis de risco de estresse variam de moderado a alto em 69,36% dos indivíduos pesquisados;
nível de risco de estresse considerado alto e elevado atinge 44,61% dos profissionais, sendo 1,54
vezes maior do que para os demais trabalhadores que se sentem “bastante ou extremamente
estressados no trabalho”; quase metade da amostra (44,61%) apresenta cinco e sete chances em
dez de adoecer; e esse mesmo percentual (44,61%) é quase 40% superior ao dos trabalhadores
que relatam que seu emprego é “muito ou extremamente estressante”. A média dos escores para
todos os fatores estressantes ficou concentrada entre > = 1 e < 2, ou seja, a média dos fatores es-
tressantes considerados é pouco ou medianamente estressante. Entretanto, mais de um quarto
dos profissionais pesquisados apresentaram escores entre > = 2 e < 3 para os diversos fatores
estressantes, ou seja, entre medianamente estressante e muito estressante.
Palavras-chave: Estresse, cirurgião-dentista, ergonomia.
Gilsée Ivan Regis Filho*
Universidade Federal de Santa Ca-
Abstract Dentistry, depending on the characteristics inherent to the profession, such as
tarina. Doutor em Engenharia da
Produção. Mestre em Ergonomia, equipment and tools designed without following the ergonomic criteria, poorly designed tasks,
Especialista em Recursos Humanos, work under time pressure due to a new market highly competitive and increasingly demanding
Especialistra em Saúde Pública, Bel em clients, submits the professionals to various stressors in their jobs. This paper proposes using
Administração, Professor Associado I, a retrospective epidemiological study, find out if the dentist belong to a professional group
aposentado, Departamento de Odon- exposed to the risk of occupational stress, as well as knowing which agents are more stressors.
tologia da UFSC. The protocol used was previously sent in envelopes specific custom system and sent by letter
E-mail: gregis@brturbo.com.br and response card of the conventional type for all dentists registered with the Regional Council
of Dentistry Santa Catarina until May 2003, totaling 5169 questionnaires, and the number of
Dayane Machado Ribeiro returned questionnaires filled out correctly and corresponds to 30.62% of the returned. The
Universidade Federal de Santa Ca- results allowed the following conclusions: the dentists belong to an occupational category ex-
tarina. Doutora em Odontologia em posed to a considerable risk of developing occupational stress, since the risk levels of stress vary
Saúde Coletiva, Mestre em Odontolo- from moderate to high in 69.36% of the individuals surveyed; level considered high risk and
gia em Saúde Coletiva, Especialista em
high stress reaches 44.61% of professionals, being 1.54 times higher than for other workers who
Endodontia, Cirurgiã-dentista, Profes-
feel “very or extremely stressed at work”, almost half of the sample (44.61% ) presents five seven
sora Adjunto III, Departartamento de
Odontologia da UFSC. in ten chance of becoming ill, and the same percentage (44.61%) is almost 40% higher than that
E-mail: dayanemribeiro@yahoo.com.br of workers report that their job is “very or extremely stressful.” Mean scores for all stressors was
concentrated between> = 1 and <2, ie the average of stressors is considered slightly or modera-
* Correspondência tely stressful. However, over a quarter of professionals surveyed had scores of> = 2 and <3 for
E-mail: gregis@brturbo.com.br the various stressors, ie between mildly stressful and very stressful.
Keywords Stress, dentist, ergonomics.

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No decorrer de sua vida, o ser huma- fletem as atitudes e os valores individuais,


no passa por infinitas possibilidades de podendo ser resumido como um pentáculo
aprendizagem. Os incontáveis ingredientes do bem-estar, em que o gerenciamento do
da vida, como pensamentos, pessoas, sen- estresse, a nutrição adequada, a prática de
timentos, coisas, atividades, experiências, atividade física regular, o não uso de drogas
sucessos e fracassos moldam e diferenciam e um comportamento geral preventivo são as
o cotidiano dos indivíduos. A inter-relação partes que compõem esse pentáculo. Entre-
mais ou menos harmoniosa dessa intrigante tanto, é importante salientar a necessidade
rede de fenômenos, pessoas e coisas é o que de se procurar obter um perfeito equilíbrio
caracteriza a vida de cada um, resultando entre os fatores, ou seja, sem priorizar um
naquilo que, abstratamente, se pode deno- fator em detrimento de outro4. Um desses
minar “qualidade de vida”1. fatores do pentáculo do bem-estar, o estres-
Por outro lado, de maneira geral, as- se, é também o gatilho que coloca de pronti-
socia-se à expressão “qualidade de vida” dão uma defesa mais elevada para proteger a
fatores como saúde, longevidade, satisfa- vida, incluindo opção de luta ou de fuga5, 6.
ção, disposição, dignidade e bem-estar. En- O estresse assume níveis preocupantes
tretanto, o bem-estar total só é alcançado em praticamente todos os países e indepen-
quando o corpo humano está em perfeito de do sexo, da profissão ou condição socio-
equilíbrio, impedindo uma definição obje- econômica dos indivíduos, sendo, portan-
tiva de qualidade de vida2. to, uma condição bastante abrangente. O
Uma vida labutar satisfatória contribui ônus do estresse é incalculável tanto em
para uma vida interpessoal, social e mesmo termos humanos como econômicos, pois,
pessoal efetiva, a qual consiste na habilida- se os custos aparentes com patologias, ab-
de de o indivíduo se ajustar ao seu meio, senteísmo, acidentes, suicídios, mortes,
assumindo responsabilidades em relação etc. têm sua contribuição para esse ônus, o
aos grupos sociais e familiares, adotando ati- mesmo acontece com os custos escondidos,
tudes sadias em relação à vida e com o do- por exemplo, relacionamentos interpesso-
mínio de suas emoções. Contudo, atitudes ais rompidos, erros de julgamento, produ-
sadias implicam em prevenir e estar livre de tividade diminuída, falta de criatividade,
doenças; para tanto, é necessário adotar prá- desempenho fraco, etc.
ticas saudáveis de: higiene pessoal, cuidados Alguns dados mundiais do estresse em
médicos, prevenção de acidentes e equilíbrio diversos países5, 7, 8, 9 comprovam esses custos:
das atividades diárias, como trabalho, recre- a) o ônus do estresse nos Estados Uni-
ação, sono e repouso3. Quando se opta por dos da América foi de 200 bilhões
um conjunto de parâmetros socioambien- de dólares por ano, e somente para
tais e individuais para qualificar e quantifi- a indústria americana esse custo foi
car qualidade de vida, observa-se que mui- de 30 bilhões de dólares por ano;
tos desses independem da ação das pessoas. b) a morte por esgotamento, ou ka-
Porém, alguns deles estão na relação direta roshi, levou, em 1992, 10 mil japo-
de um conjunto de ações habituais e que re- neses ao suicídio;

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c) 70% a 90% das consultas médicas encontravam na fase 2 do estresse (fase 1:


americanas têm o estresse como alarme, fase 2: resistência e fase 3: exaustão),
origem; ou seja, a fase de resistência. Por outro lado,
d) na Grã-Bretanha, no final da dé- essa mesma pesquisa apontou que, entre os
cada de 80, já se declarava que 30 estressados, 56% tinham predominância de
milhões de dias de trabalho eram sintomas físicos.
perdidos por causa do estresse, ou Gomes, Cruz e Cabanela12 analisaram
17% de todo o absenteísmo rela- o estresse ocupacional em 286 enfermeiros
cionado ao trabalho; de hospitais e centros de saúde portugueses.
e) o custo na Grã-Bretanha por falta Avaliaram as fontes de estresse, a síndrome
ao trabalho decorrente do estres- de Burnout, os problemas de saúde física,
se, em 1994, foi de 56 bilhões de a satisfação e a realização profissional. Os
libras. Há uma estimativa de que o resultados apontaram 30% de enfermeiros
estresse possa estar atingindo 3,5% com experiências significativas de estresse e
do Produto Interno Bruto (PIB) 15% com problemas de exaustão emocional.
desse lugar. As análises de regressão múltipla apontaram
maior capacidade preditiva das dimensões
Nos países em que programas de geren- de estresse na exaustão emocional, na saúde
ciamento do estresse foram implantados, física, na satisfação e na realização profissio-
houve melhorias consideráveis na produ- nal. As análises comparativas evidenciaram
ção, nas relações industriais e na redução maiores problemas de estresse e reações
das despesas de seguro saúde, sendo que, mais negativas ao trabalho nas mulheres,
em cinco anos para cada dólar investido, nos enfermeiros mais novos e com menos
houve um retorno de 20 dólares7. experiência na função, nos trabalhadores
Observa-se que o estresse ocupacional com contratos a prazo, nos profissionais que
reside na percepção pelo profissional do equi- trabalham em turnos e nos que exercem
líbrio entre as demandas existentes no traba- suas atividades durante mais horas.
lho e sua habilidade e/ou possibilidade para Parece claro o caráter diversificado da
respondê-las. O nível absoluto da demanda e patologia, e a Odontologia é uma das áreas
exigência não é o fator mais importante, mas que a possibilita em virtude de algumas das
a discrepância existente entre a percepção de características inerentes à profissão, como
ambas e a condição para enfrentá-las, o que equipamentos e instrumentos elaborados
faz com que geralmente se defina o estresse sem obedecer a critérios ergonômicos,
pelas emoções negativas, sensação de mal- campo operatório não iluminado adequa-
-estar e desconforto vivenciados10. damente, ambiente de trabalho exposto ao
Pesquisa realizada por Carvalho e Ma- ruído em níveis acima do tolerável, tarefas
lagris11 com profissionais da área de saúde, mal desenhadas e, na maioria das vezes, tra-
incluindo cirurgiões-dentistas, indicou que balho exercido sob pressão temporal, além
58% dos profissionais pesquisados se mos- de ser um mercado que apresenta atual-
travam estressados, sendo que 94% destes se mente alta competitividade, pois um núme-

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ro significativo de profissionais é formado a percepção à exposição ao ruído aumenta no


cada ano e os clientes estão cada vez mais decorrer do curso.
informados e exigentes; todos esses fatores Pesquisa realizada por Vinaccia Alpi16
submetem seus praticantes a um estado de objetivou analisar o impacto do estresse diá-
estresse permanente. rio em cirurgiões-dentistas, pessoal auxiliar
Por outro lado, as pesquisas indicam ra- e estudantes de Odontologia. O estudo foi
zoável número de evidências apontando na realizado em duas etapas, sendo a primeira
direção da profissão de cirurgião-dentista com os cirurgiões-dentistas e pessoal au-
como geradora de estresse contínuo, por xiliar procurando evidenciar quais fatores
exemplo, estudos realizados nos Estados associados à vida pessoal dos profissionais
Unidos da América, onde a Odontologia causariam maior impacto nos fatores ocu-
foi considerada a segunda ocupação mais pacionais e a segunda etapa foi realizada
estressante, sendo a primeira a de piloto de com os estudantes, a fim de demonstrar que
aviões militares de caça13. os fatores estressantes se apresentam unifor-
A própria formação do profissional memente entre as pessoas, sendo resultado
cirurgião-dentista é geradora de estresse, da prática clínica. A pesquisa mostra a ne-
como indica estudo de Gonzalo, Caro, Par- cessidade de programas para o gerencia-
ra, Bedoya, Pabón, e Mejía14, que procuraram mento do estresse na clínica odontológica
identificar os agentes causadores de estresse e e sugere que os professores universitários
ansiedade durante a formação dos estudantes recebam capacitação pedagógica.
de Odontologia. Foi utilizada a metodologia Embora não exista uma definição unâ-
qualitativa por meio do teste de Zung, o qual nime sobre a síndrome de Burnout, para Sil-
permite medir níveis de estresse e ansiedade, va17 há um consenso em considerar que ela
entrevista estruturada e recordatório do his- aparece no indivíduo como uma resposta ao
tórico de vida. Os resultados evidenciaram estresse laboral crônico, tratando-se de uma
que os principais agentes estressores são a alta experiência subjetiva interna que agrupa
carga horária, a orientação docente e o medo sentimentos e atitudes e que tem um perfil
de acidentes com riscos biológicos, sendo negativo para o indivíduo, pois implicam
possível concluir que os agentes estressores alterações, problemas e disfunções psicofi-
estão presentes no cotidiano dos estudantes siológicas com consequências nocivas para
de Odontologia associados a manifestações a pessoa e para a organização. Marucco18
físicas, como tensão, fadiga, medo, angústia, investigou essa síndrome entre os residentes
preocupação, desinteresse, agressividade, fal- de Odontologia em hospitais por meio do
ta de concentração, entre outros. Inventário de Burnout de Maslach (MBI) e
Oliveira at al.15 verificaram que alunos a sua comparação a partir de diversos pon-
de Odontologia estão expostos a níveis de tos de corte. A prevalência foi de 5,55% para
ruído inadequados durante suas atividades Marucco e 38,88 % para Maslach, Gil Monte
clínicas e laboratoriais, tendo como fonte e Neira, segundo Marucco18, sendo que nos
principal a do instrumento rotatório de alta profissionais do gênero feminino se obser-
rotação e as bombas a vácuo, sendo que a vou maior esgotamento emocional.

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Albanesi de Nasetta19 investigou a sín- Para pesquisar quais são os agentes


drome de Burnout em dois grupos: estudan- mais estressores, entre eles, os relativos
tes de Odontologia do último ano de gra- aos pacientes, à organização do trabalho, à
duação e profissionais cirurgiões-dentistas. concorrência e competitividade e à prática
A amostra foi composta de 82 indíviduos, odontológica, adotou-se no presente traba-
sendo 42 cirurgiões-dentistas e 40 estudan- lho o método epidemiológico transversal
tes de Odontologia da Universidade Nacio- retrospectivo.
nal de Córdoba, Argentina. Foi utilizado o O protocolo utilizado, denominado
Inventário de Burnout de Maslach (MBI), “Inventário sobre Estresse”, foi dividido em
e os resultados demonstraram que os estu- quatro partes: uma destinada à identificação
dantes de Odontologia apresentaram maior do pesquisado quanto a aspectos sociais e
pontuação quanto aos fatores cansaço emo- pessoais, outra relacionada ao perfil profis-
cional e despersonalização, enquanto que sional, uma terceira abordando fatores es-
os cirurgiões-dentistas apresentaram maior tressantes relativos à profissão de cirurgião-
realização com o trabalho. -dentista e a quarta um inventário de causas
O estresse, por apresentar etiologia e estratégias para lidar com o estresse. O
multifatorial, impõe uma abordagem mul- protocolo foi pré-testado em estudo piloto
tidisciplinar, na qual o trabalhador deve ser com 82 cirurgiões-dentistas de uma Secre-
observado em sua situação laboral como taria Municipal de Saúde, os quais foram
um todo, elaborando-se hipóteses de tra- entrevistados pelos autores, mostrando-se
balho sobre as relações entre as condições adequado para o estudo pretendido.
e organização do trabalho, aqui entendida Na quarta parte do protocolo, para a
como horas diárias e semanais trabalhadas, coleta de dados, utilizou-se o teste multi-
número de clientes atendidos na clínica, dimensional “Breve Inventário de Causas e
tempo de atendimento destinado a cada Estratégias para Lidar com o Estresse”, adap-
cliente, espaço entre as consultas e trabalho tado de Rahe, Veach, Tolles e Murakami20,
a quatro mãos, ou seja, com a utilização da objetivando pesquisar as manifestações
auxiliar de odontologia e as manifestações sentidas ou não, passadas ou presentes e es-
expressas ou indiretas do estresse10. tratégias para gerenciar esse estresse. Esse
O objetivo deste estudo se limita a de- protocolo foi devidamente validado por
tectar se o cirurgião-dentista pertence a um Rahe, Veach, Tolles e Murakami20, em es-
grupo profissional exposto a risco conside- tudos publicados na literatura especializada
rável de desenvolver estresse e quais são os e disponibilizados solidariamente para este
agentes mais estressores. trabalho, razão pela qual somente o referido
protocolo não consta do presente trabalho.
Material e métodos O protocolo “Inventário sobre Estresse”
foi enviado em envelopes específicos previa-
O presente trabalho foi aprovado pelo
mente personalizados pelo sistema de carta
Comitê de Ética em Pesquisa com Seres
e cartão-resposta tipo convencional para to-
Humanos da Universidade Federal de Santa
dos os cirurgiões-dentistas cadastrados no
Catarina, sob o número 155/03.

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Conselho Regional de Odontologia de Santa em que se pretenda estabelecer a formação


Catarina até maio de 2003, totalizando 5.169 de grupos homogêneos a partir de múlti-
questionários. Destes, 145 foram devolvidos plas características.
por causa de mudança de endereço dos des- A AFCM se destina à construção de
tinatários. Dos que retornaram, 3.546 não uma tabela de casos e variáveis com valores
continham respostas e 40 foram descarta- quantitativos observados nos eixos fato-
dos por apresentarem alguma falha no pre- riais. Essa etapa é necessária, pois a tabela
enchimento, restando 1.583 adequadamente original é composta por atributos categóri-
preenchidos, o que corresponde a 30,62% cos não numéricos que não podem ser sub-
dos questionários devolvidos. metidos à classificação.
A metodologia estatística para o trata- A classificação hierárquica verifica o nú-
mento dos dados constou da verificação das mero de grupos no conjunto por meio das
frequências simples para o índice de Unida- comparações entre os casos e sua proximi-
de de Mudança de Vida (UMV), distribuído dade ao centro de gravidade de cada grupo,
em baixo, moderado, elevado e alto nível de garantindo a homogeneidade entre os seme-
risco de estresse. Verificou-se, também, a lhantes. Nessa etapa, é possível identificar o
probabilidade de adoecimento. A classifica- número de grupos mais adequado para o
ção foi realizada de acordo com os escores conjunto de casos. Assim, como passo final
do “Breve Inventário de Causas e Estratégias do agrupamento, utilizou-se o método de
para Lidar com o Estresse” e a interpretação Classificação Não Hierárquica por Partição,
dos resultados de acordo com o somatório que permitiu a alocação estável dos casos
desses escores. em três grupos segundo sua proximidade
As perguntas quanto aos fatores es- ao centro de gravidade, bem como a ampli-
tressantes foram condensadas em quatro tude da dispersão intergrupos. Trata-se de
grandes grupos: 1) relativos aos pacientes; um procedimento em que os elementos são
2) relativos à organização do trabalho; 3) agrupados e reagrupados três a quatro vezes
relativos à concorrência e competitividade; até atingirem uma estabilidade espacial de
4) relativos à prática odontológica. Os pro- seu posicionamento, no sentido de garantir
fissionais pesquisados utilizaram uma escala a máxima homogeneidade intragrupo e he-
de zero a 3, em que: zero = nada estressante; terogeneidade intergrupo.
1 = pouco estressante; 2 = medianamente A análise dos 1.583 questionários foi re-
estressante; e 3 = muito estressante. alizada para estabelecer a associação das va-
Para o agrupamento dos casos com riáveis relativas a apresentar ou não estresse,
presença de estresse, foram utilizadas a e a análise das respostas positivas para essas
Análise Fatorial de Correspondência Múl- situações foi a de associação das variáveis
tipla (AFCM) e a Classificação Hierárquica entre si, indicando apenas quais variáveis de
Ascendente e Classificação Não Hierárqui- identificação e perfil estavam associadas aos
ca por Partição. A escolha do método se níveis de gravidade de estresse.
deve à natureza qualitativa das variáveis Por opção metodológica, abordou-se
selecionadas e sua adequação para estudos somente os aspectos epidemiológicos, ex-

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cluindo uma análise mais aprofundada de Quanto às faixas etárias, observou-se


outros fatores, como os físicos, legais e de uma concentração de profissionais entre 30
organização temporal do trabalho, que são a 39 anos e entre 22 a 29 anos, com 37,30% e
relacionados com o estresse, sendo o que 28,70%, respectivamente, ou seja, são essas
determina os limites do presente estudo. as faixas etárias de maior produtividade dos
cirurgiões-dentistas.
Resultados e discussão Ao serem questionados quanto ao es-
tado civil, a maioria dos entrevistados in-
Segundo a Empresa Brasileira de Cor- formou ser casado (61,90%), sendo que
reios e Telégrafos, com base na experiên- esse valor, o que equivale a praticamente
cia adquirida em décadas oferecendo essa dois terços da amostra, encontra resposta
modalidade de serviço, era esperado nesse na concentração de profissionais entre 30 e
tipo de pesquisa um retor0no da ordem de 49 anos, ou seja, profissionais em uma faixa
não mais que 10%. Embora esse argumen- etária na qual normalmente os indivíduos já
to possa, a princípio, não ser considerado estão com família constituída e com maio-
científico, é o único disponível na literatu- res responsabilidades socioeconômicas.
ra. Assim, apenas comparativamente e em Quanto ao local de residência, quatro
virtude do método empregado, o número cidades responderam por 53,57% dos pro-
de questionários que não retornou ou a fissionais pesquisados, sendo elas: Floria-
taxa de não resposta devem ser considera- nópolis (22,87%), Joinville (11,37%), Itajaí
dos baixos21. (9,79%) e Blumenau (9,54%), ou seja, cida-
Por outro lado, uma pesquisa com uma des que, em razão de suas características de-
popu­ lação de 5.169 indivíduos, ou seja, correntes da alta concentração de profissio-
população considerada finita, com nível de nais, a concorrência e a competitividade são
confiança de 95%, estabelecendo em 30% a reconhecidamente mais intensas e podem
percentagem com que o fenômeno se veri- gerar maior risco de estresse.
fica e tolerância de erro de até 3%, necessita Com relação ao tempo de graduação na
de, aproximadamente, 791 respondentes, o profissão, observou-se uma concentração de
que reafirma a importância do percentual profissionais entre seis a 20 anos (54,60%),
de retorno. ou seja, mais da metade dos cirurgiões-den-
Inicialmente, foi identificado o perfil tistas estavam expostos, a princípio, a um
dos cirurgiões-dentistas em que determina- período de tempo de médio a longo para
das variáveis, como gênero, idade, número desenvolver algum nível de estresse.
de filhos, estado civil, tempo de graduação A respeito do tempo de efetivo ex-
e especialidade, foram pesquisadas. Assim, ercício da profissão, os números encon-
dos 1.583 questionários recebidos, 53,40% trados contribuíram para demonstrar a
foram enviados por cirurgiões-dentistas do consistência da amostra, pois o tempo de
gênero masculino, 46,3% enviados por pro- graduação e o tempo de efetivo exercício
fissionais do gênero feminino e o restante profissional apresentaram distribuição
(0,3%) não informou o gênero. semelhante, ressaltando que 23,80% dos

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profissionais possuem entre seis a 10 anos res níveis de estresse. Apenas 58,40% dos
de exercício profissional. No tocante à profissionais pesquisados tinham assis-
renda familiar, um terço dos pesquisados tentes de consultório dentário em tempo
(36,30%) apresentou renda superior a 20 integral. A falta desses profissionais pode
salários mínimos e praticamente 50% en- vir a contribuir para um maior nível de
tre dez e vinte salários mínimos. estresse durante a jornada de trabalho dos
No que se refere aos profissionais que cirurgiões-dentistas.
possuíam especialidade, 21,8% respond- Por último, os profissionais foram pes-
eram afirmativamente, sendo que o maior quisados sobre atualizações profissionais e
percentual se concentrou na especialidade quais as modalidades utilizadas. A grande
ortodontia, com 8,0%. Quanto ao tempo de maioria, 92,40%, atualizava-se de alguma
exercício de uma especialização existiu uma forma, sendo que cursos de atualização,
forte concentração entre dois a 10 anos, re- participação em congressos/palestras e a
spondendo por 58,30% do total. aquisição de revistas científicas são as mo-
Em relação à distribuição da carga dalidades mais citadas, com percentuais
horária dos profissionais pesquisados, 9,50% superiores a 60,0% para cada uma delas.
dedicavam de 10 a 40 horas semanais para Outras modalidades, como comunicações
a docência, 37,20% trabalhavam de alguma pessoais, Internet, livros, vídeos e cursos
forma para o setor público e no período en- de pós-graduação, eram utilizadas por
tre 11 a 20 horas semanais se encontrava a 17% dos profissionais.
maior concentração de profissionais trabal- A média dos escores para todos os fatores
hando (21,2%). Por outro lado, 88,90% dos estressantes pesquisados ficou concentrada
pesquisados atuavam em clínica privada; entre > = 1 e < 2 (entre 42,5 a 57,9%), ou seja,
destes, 42,80% dedicavam entre 31 a 50 a média dos fatores estressantes considera-
horas ao trabalho, ou seja, quase metade dos dos é pouco ou medianamente estressante.
profissionais dedicava, em média, 40 horas Entretanto, mais de um quarto (entre 25,4 e
a atividades particulares, sendo que mui- 38,5%) dos profissionais pesquisados apre-
tos deles trabalhavam, além disso, no setor sentaram escores entre > = 2 e < 3 para os di-
público ou na docência, o que eleva con- versos fatores estressantes, ou seja, entre me-
sideravelmente a carga horária de trabalho dianamente estressante e muito estressante,
semanal, agravando ainda mais o risco de sendo estes últimos percentuais bastante
desenvolver estresse. preocupantes. A Tabela I apresenta as médias
Um fator relevante pesquisado foi dos escores para fatores estressantes.
quanto à utilização de pessoal auxiliar, que Os níveis de risco para estresse e proba-
pode ser uma variável significativa para a bilidade de adoecer dos pesquisados em
redução do risco de níveis inadequados função dos níveis de risco de estresse obti-
de estresse, pois o trabalho a quatro mãos, dos dos resultados do índice “Unidade de
além de ser fator de elevação da produ- Mudança de Vida” do “Breve Inventário de
tividade, contribui para um trabalho com Causas e Estratégias para Lidar com o Es-
menor fadiga e, consequentemente, meno- tresse” são apresentados na Tabela II.

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Tabela I – Média dos Escores Para Diversos Fatores Estressantes


Relativos Relativos à Relativos à Relativos à Prática
Escores ao Organização do Concorrência Odontológica
Paciente Trabalho e Competitividade
F % F % F % F %
0 4 0,3 7 0,4 39 2,5 19 1,2
>0e<1 132 8,3 125 7,9 269 17,0 253 16,0
>=1e<2 917 57,9 673 42,5 679 42,9 749 47,3
>=2e<3 402 25,4 609 38,5 427 27,0 416 26,3
3 13 0,8 49 3,1 52 3,3 23 1,5
Sem Preenchimento 115 7,3 120 7,6 117 7,4 123 7,8

Total 1.583 100,0 1.583 100,0 1.583 100,0 1.583 100,0


F = Frequência.
Fonte: Os autores (2009).

Tabela II – Níveis de Risco de Estresse e Probabilidade de Adoecer


Níveis de Risco de Estresse Probabilidade de Adoecer
Níveis e Probabilidade
F % F %
Alto 309 19,52
Elevado 398 25,14
Moderado 391 24,70
Baixo 467 29,50
Sem Preenchimento 18 1,14
7 em 10 306 19,34
5 em 10 400 25,27
3 em 10 408 25,77
1 em 10 468 29,56
Sem Preenchimento 1 0,06
Total 1.583 100,00 1.583 100,00
F = Frequência.
Fonte: Os autores (2009).

Os níveis de risco de estresse considerados alto e elevado somaram 44,66%, o que é 1,54
vezes maior do que para os dos trabalhadores que se sentem “bastante ou extremamente
estressados no trabalho”, segundo relatos do National Institute for Ocupacional Safety and
Healty (NIOSH)22.
Os 44,66% são, também, superiores aos 40% dos trabalhadores que relataram que seu
emprego era “muito ou extremamente estressante” e, ainda, são 1,72 vezes maior do que os
trabalhadores relatando que estão “com frequência ou muita frequência sobrecarregados ou
estressados pelo seu trabalho”, segundo o mesmo NIOSH22. Diante do exposto, fica eviden-

Sáude em Revista
O Estresse Ocupacional Em Cirurgiões-Dentistas:
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Gilsée Ivan Regis Filho; Dayane Machado Ribeiro

ciado que os níveis de risco de estresse entre A distribuição dos profissionais, segun-
cirurgiões-dentistas são superiores aos dos do agrupamentos, apresentou as seguintes
trabalhadores em geral. frequências: Grupo 1 – 340 (21,5%); Grupo
Os profissionais com maior risco de 2 – 723 (45,7%); Grupo 3 – 520 (32,8%),
adoecer 44,66%, ou seja, as categorias que têm num total de 1.583.
probabilidade de 5 em 10 (25,27%) e de 7 em O que se observa é que quase metade
10 (19,34%) são as que têm um alto nível de dos profissionais (45,7%) apresentou, como
estresse e técnicas ineficientes para lidar com perfil, estar no mercado de trabalho há al-
ele. As chances são reduzidas (10%) quando gum tempo, na plenitude da idade produtiva
o nível de estresse é baixo e as pessoas dis- e dedicar, em média, um tempo significativo
põem de técnicas eficientes de autocontrole21. à profissão, o que pode contribuir para um
A análise de agrupamento identificou maior nível de risco de estresse.
três grupos relativamente homogêneos de Uma segunda análise verificou a associa-
profissionais, cujas características predomi- ção entre distribuição dos profissionais se-
nantes estão listadas a seguir: gundo agrupamentos e os níveis de risco de
• Grupo 1 – com menos de cinco anos estresse. A Tabela III apresenta os resultados.
de tempo de exercício profissional, idade en- Não houve associação estatística signifi-
tre 20 e 29 anos, renda até 10 salários míni- cativa entre os grupos e os níveis de risco de
mos, sendo do sexo feminino; estresse, entretanto o Grupo 2 concentrou,
• Grupo 2 – de cinco a 19 anos de ex- em média, 45,% dos pesquisados em todos
ercício profissional, idade entre 30 e 39 anos, os níveis de risco de estresse, o que está de
41 a 60 horas de trabalho semanal e renda de acordo com o perfil dos profissionais encon-
15 a 20 salários mínimos; trado para esse grupo.
• Grupo 3 – com mais 20 anos de Uma terceira análise buscou detectar
exercício profissional, mais de 40 anos de associação estatisticamente significativa en-
idade, do sexo masculino, com até 20 horas tre os agrupamentos de profissionais e os
de trabalho semanal e renda de maior que quatros grupos de fatores estressantes. Não
20 salários mínimos. houve associação estatística significativa

Tabela III - Distribuição dos Profissionais Segundo Agrupamentos e Níveis de Risco de Estresse
Níveis de Risco de Estresse Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Total
Alto 69 (22,33%) 140 (45,31%) 100 (32,36%) 309
Elevado 92 (23,12%) 180 (45,23%) 126 (31,65%) 398
Moderado 86 (21,99%) 190 (48,59%) 115 (29,42%) 391
Baixo 88 (18,84%) 204 (43,68%) 175 (37,48%) 467
Sem Preenchimento 5 (27,78%) 9 (50,0%) 4 (22,22%) 18
Total 340 723 520 1.583

qui-quadrado 8,986 p = 0,343


Fonte: Os autores (2009).

16 SAÚDE REV., Piracicaba, v. 12, n. 32, p. 7-20, set.-dez. 2012


Gilsée Ivan Regis Filho; Dayane Machado Ribeiro

entre os fatores estressantes relativos aos pacientes, à organização do trabalho e à prática


odontológica. Por outro lado, houve associação estatística significativa entre os agrupamen-
tos dos profissionais e os fatores estressantes relativos à concorrência e competitividade,
cujos valores estão descritos na Tabela IV.

Tabela IV - Distribuição dos Profissionais Segundo Agrupamento e Fatores Estressantes Rela-


tivos à Concorrência e a Competitividade
Concorrência e Competitividade Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Total
0a1 77 (25,33%) 209 (31,86%) 140 (35,44%) 426
1a2 151 (49,67%) 315 (48,02%) 186 (47,09%) 652
2a3 76 (25%) 132 (20,12%) 69 (17,47%) 277
Total 304 656 395 1.355

qui-quadrado 10,733 p = 0,03


Fonte: Os autores (2009).

No Grupo 1, há uma maior presença de profissionais com escores entre 1 a 2 e 2 a 3


(74,67%), indicando que nesse grupo existe maior preocupação com a concorrência que
nos outros grupos. Por outro lado, o Grupo 3 apresenta maior presença de profissionais com
escores entre 0 a 1 e 1 a 2 (82,53%), o que pode indicar que esse grupo não sente ou não se
preocupa tanto com o peso da concorrência e da competitividade.
Uma quarta análise foi realizada para verificar associação estatisticamente significativa
entre níveis de risco de estresse e os fatores estressantes. Não houve associação estatística
significativa em níveis de risco de estresse e fatores estressantes relativos ao paciente.
Por outro lado, fatores estressantes relativos à organização do trabalho, à concorrência
e competitividade e à prática odontológica apresentaram associação estatística significativa
com níveis de risco de estresse, como o verificado, respectivamente, nas Tabelas V, VI e VII.

Tabela V - Distribuição dos Profissionais Segundo Níveis de Risco de Estresse e Fatores


Estressantes Relativos à Organização do Trabalho
Organização do Trabalho
Níveis de Risco de Estresse Total
0a1 1a2 2a3
Alto 25 137 105 267
Elevado 51 174 104 329
Moderado 54 165 106 325
Baixo 76 213 92 381
Sem Preenchimento 4 5 4 13
Total 210 694 411 1.315

qui-quadrado 26,484 p=0,001


Fonte: Os autores (2009).

Sáude em Revista
O Estresse Ocupacional Em Cirurgiões-Dentistas:
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Gilsée Ivan Regis Filho; Dayane Machado Ribeiro

Tabela VI – Distribuição dos Profissionais Segundo Níveis de Risco de Estresse e Fatores


Estressantes Relativos à Concorrência e Competitividade
Concorrência e Competitividade
Níveis de Risco de Estresse Total
0a1 1a2 2a3
Alto 58 117 96 271
Elevado 93 173 73 339
Moderado 100 161 78 339
Baixo 168 196 29 393
Sem Preenchimento 7 5 1 13
Total 426 652 277 1.355

qui-quadrado 96,274 p < 0,0001


Fonte: Os autores (2009).

Tabela VII – Distribuição dos Profissionais Segundo Níveis de Risco de Estresse e Fatores
Estressantes Relativos à Prática Odontológica
Prática Odontológica
Níveis de Risco de Estresse Total
0a1 1a2 2a3
Alto 3 19 6 28
Elevado 5 17 8 30
Moderado 9 10 4 23
Baixo 13 9 1 23
Sem Preenchimento 1 1 - 2
Total 31 56 19 106

qui-quadrado 18,505 p=0,018


Fonte: Os autores (2009).

Observa-se que, para os três fatores estressantes com associação estatística significativa, os
níveis de risco de estresse alto, elevado, moderado ou baixo estão concentrados entre 1 e 2, ou
seja, pouco ou medianamente estressante, com exceção ao relativo à prática odontológica na
qual o nível de risco de estresse baixo tem maior concentração entre 0 e 1 (nada estressante e
pouco estressante). Assim, verifica-se que não importa o fator estressor, pois ele sempre apre-
sentará um nível de risco, pelo menos, entre pouco ou medianamente estressante.
O gerenciamento adequado do estresse exige do cirurgião-dentista uma nova posição fr-
ente à profissão e à vida, por exemplo, definir claramente o que deseja e o que é bom para si,
pois frequentemente o ser humano é induzido a realizar mais do que deve e quer. Assim, bus-
cará aprender a dizer não e se sentir bem com isso. Entretanto, alguns aspectos são relevantes
para o gerenciamento eficaz do estresse; e desse modo, o profissional deve proporcionar maior
atenção ao seu objetivo principal de vida, sem desconsiderar um cuidado essencial à saúde.
Nesse sentido, algumas regras podem auxiliar o profissional em direção a uma melhor
qualidade de vida no trabalho, por exemplo:

18 SAÚDE REV., Piracicaba, v. 12, n. 32, p. 7-20, set.-dez. 2012


Gilsée Ivan Regis Filho; Dayane Machado Ribeiro

a) autorrevigoração – encontrar algo na risco considerável de desenvolver estresse


vida que eleve o espírito, praticar atividades ocupacional, uma vez que:
como dança, tai chi chuan, meditação, mer- 1. os níveis de risco de estresse variam
gulho, orações, etc., pois revitalizando-se de moderado a alto em cerca de
fica mais fácil alcançar perspectiva e equilí- 69,36% dos indivíduos pesquisados;
brio apropriado na vida, e quanto mais 2. a média dos escores para todos os
revigorado o indivíduo estiver menor o fatores estressantes ficou concen-
domínio do estresse sobre o corpo; trada entre > = 1 e < 2, ou seja, con-
b) exercícios aeróbicos regulares – estes siderados pouco ou medianamente
são aliados importantes na diminuição da estressantes. Entretanto, mais de
ansiedade, na prevenção da depressão, na um quarto dos profissionais pes-
elevação da autoestima, na melhoria do siste- quisados apresentaram escores
ma imunológico e na prevenção das doenças; entre > = 2 e < 3 para os diversos
c) nutrição adequada – ingerir mais fatores estressantes, ou seja, entre
frutas frescas e legumes; evitar álcool em medianamente estressante e muito
excesso, nicotina e drogas; evitar alimen- estressante;
tos processados, cafeína, ovos e chocolate; 3. o nível de risco de estresse, consid-
reduzir o consumo de laticínios; e utilizar erado alto e elevado, atinge 44,61%
com frequência ervas como damiana, cam- dos profissionais;
omila e ginseng. 4. quase metade da amostra (44,61%)
apresenta cinco e sete chances em
Conclusões dez de adoecer; e
5. Ocorre nível de risco de estresse,
O presente estudo possibilita concluir pelo menos, entre pouco ou medi-
que os cirurgiões-dentistas pertencem a anamente estressante, não impor-
uma categoria profissional exposta a um tando o fator estressante.

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Submetido: 13/4/2012
Aceito: 13/9/2012

20 SAÚDE REV., Piracicaba, v. 12, n. 32, p. 7-20, set.-dez. 2012

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