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RAILDO DE SOUSA MACHADO

ZAIRA REGINA ZAFALON

CATALOGAÇÃO
DOS PRINCÍPIOS E TEORIAS AO RDA E IFLA LRM
CATALOGAÇÃO:
DOS PRINCÍPIOS E TEORIAS AO RDA E IFLA LRM
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
MARGARETH DE FÁTIMA FORMIGA MELO DINIZ
BERNARDINA MARIA JUVENAL FREIRE DE OLIVEIRA

EDITORA UFPB
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RAILDO DE SOUSA MACHADO
ZAIRA REGINA ZAFALON

CATALOGAÇÃO:
DOS PRINCÍPIOS E TEORIAS AO RDA E IFLA LRM

João Pessoa
Editora UFPB
2020
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Catalogação na publicação:
Biblioteca Central da Universidade Federal da Paraíba

M149c Machado, Raildo de Souza


Catalogação: dos princípios e teorias ao RDA e IFLA LRM /
Raildo de Sousa Machado, Zaira Regina Zafalon. - João Pessoa:
Editora UFPB, 2020.

128 p.

Recurso digital (1,37MB)


Formato: PDF
Requisitos do Sistema: Adobe Acrobat Reader

ISBN 978-65-5942-000-1

1. Ciência da informação. 2. Catalogação descritiva. 3. Cataloga-


ção - Instrumentos. 4. AACR2. 5. ISBD. 6. RDA. 7. IFLA LRM.
I. Zafalon, Zaira Regina. II. Título.
UFPB/BC CDU 025.4

Livro aprovado para publicação através do Edital Nº 01/2020/Editora Universitária/


UFPB - Programa de Publicação de E-books.

EDITORA UFPB Cidade Universitária, Campus I, Prédio da editora Universitária, s/n


João Pessoa – PB
CEP 58.051-970
http://www.editora.ufpb.br
E-mail: editora@ufpb.br
Fone: (83) 3216.7147
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO................................................... 7

1 ISTO NÃO É UMA INTRODUÇÃO.................... 10

2 A CATALOGAÇÃO DESCRITIVA E SEUS


TEÓRICOS............................................................ 16

2.1 Antonio Panizzi (1797-1879).................................20

2.2 Charles Coffin Jewett (1816-1868).......................22

2.3 Charles Ammi Cutter (1837-1903)........................24

2.4 Shiyali Ramamrita Ranganathan (1892-1972)....26

2.5 Seymour Lubetzky (1898-2003)...........................31

3 PRINCÍPIOS INTERNACIONAIS DE
CATALOGAÇÂO................................................... 34

4 OS INSTRUMENTOS DE CATALOGAÇÃO....... 38

4.1 Códigos de catalogação........................................38

4.2 Código de catalogação anglo-americano (AACR,


AACR2 e AACR2r).........................................................46
4.3 International Standard Bibliographic Description
(ISBD)............................................................................49

5 OS MODELOS CONCEITUAIS DO UNIVERSO


BIBLIOGRÁFICO.................................................. 54

5.1 Functional Requirements for Bibliographic


Records (FRBR)............................................................57

5.2 Functional Requirements for Authority Data


(FRAD)..........................................................................64

5.3 Functional Requirements for Subject Authority


Data (FRSAD)...............................................................71

6 UM NOVO CÓDIGO DE CATALOGAÇÃO........ 76

7 ERA UMA VEZ UM CÓDIGO INTERNACIONAL


DE CATALOGAÇÃO!............................................ 85

8 A PROPOSTA DO RESOURCE DESCRIPTION


AND ACCESS(RDA)............................................. 91

9 DURANTE O RDA, O IFLA LRM! UM NOVO


MODELO CONCEITUAL...................................... 97

10 ISTO NÃO É UM DESFECHO........................ 113

NOTAS DE FIM.................................................. 127


APRESENTAÇÃO
Fruto da colaboração entre orientando e orientadora no
desenvolvimento de pesquisa acadêmica de mestrado, resulta a presente
manifestação bibliográfica.
Manifestação recomendada aos bibliotecários catalogadores,
que anseiam por uma atualização em sua área de trabalho e de estudos.
A publicação também se coloca como bibliografia indicada aos
cursos de Biblioteconomia e Ciência da Informação.
O livro enfoca os instrumentos de catalogação, notadamente
o Resource Description and Access (RDA). Apesar da temática supor um
foco técnico, trata-se de leitura prazerosa aos profissionais, muito bem
sistematizada ao abordar a relação dos princípios e dos fundamentos
catalográficos com a proposta do novo padrão – RDA, agora em
evidência internacional.
Nos capítulos apresentados, têm-se um mapeamento da
contribuição de teóricos clássicos que fundamentaram a catalogação
descritiva, como: Antonio Panizzi (Anthony Panizzi), Charles Ammi
Cutter, Seymour Lubetzky, Charles Coffin Jewett, e Shiyali Ramamrita
Ranganathan. Sintetiza as ideias, conceitos e princípios teóricos destes
estudiosos, resgatando ao leitor os fundamentos da catalogação
moderna.
A origem e evolução dos códigos de catalogação é assunto
exposto, até por serem estes recursos essenciais aos processos da
catalogação descritiva; calcada no uso de códigos, normas ou padrões
que subsidiam a elaboração e arranjo dos catálogos bibliográficos. Neste
tópico, analisam-se os códigos de catalogação anglo-americanos (AACR,
AACR2 e AACR2r); e a International Standard Bibliographic Description
(ISBD).
Também é dedicado capítulo aos modelos conceituais da
catalogação, os chamados “FRs” – requisitos funcionais, responsáveis por
modelarem e definirem orientação para a construção de novas formas
de padrões e normas catalográficas. O capítulo destaca: o Functional

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Requirements for Bibliographic Records (FRBR); o Functional Requirements
for Authority Data (FRAD); e o Functional Requirements for Subject Authority
Data (FRSAD).
Já o tópico dedicado à proposta do Resource Description and
Access (RDA), estabelece a sua relação com os princípios e fundamentos
teóricos da catalogação descritiva, estruturado sob criteriosa e
seletiva bibliografia. Ao tratar das bases teóricas e das justificativas
para a concepção do RDA, o capítulo realça um significativo alerta aos
bibliotecários de catalogação e estudiosos do tema, preconizado por
Lubetzky (1953, p.61-62), ao destacar que:

[...] não é possível comprometer-se a delinear um código


de regras sem princípios diretivos, assim como não se
poderia empreender o traçado de um mapa sem recorrer
a uma bússola que indique os pontos cardeais. Não se
pode abordar e aplicar inteligentemente um código de
regras, por mais bem construído que seja, sem que haja
conhecimento de seus princípios subjacentes, apesar de
ser possível se orientar num mapa e usá-lo, sem mesmo
conhecer suas direções cardeais.

Realça que as atividades práticas não podem prescindir da teoria


e dos seus princípios norteadores. Mesmo a concepção de normas,
padrões ou a definição de políticas para os serviços catalográficos, bem
como a implementação de processos de representação descritiva, devem
ser submetidos aos princípios e fundamentos teóricos da catalogação.
Uma contribuição é dada no capítulo Durante o RDA, o IFLA LRM!
Um novo modelo conceitual, ao tratar do movimento “Pós RDA”, no qual
após sua publicação em 2010, alinhado aos modelos conceituais dos
“FRs”, surge o novo modelo conceitual – IFLA Library Reference Model
(IFLA LRM), que consolida os modelos conceituais anteriores. E, neste
sentido, segue sendo um modelo da comunidade bibliotecária para
dados bibliotecários; não restringe o diálogo com outras comunidades
de informação e seus respectivos dados.

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O livro, em Isto não é um desfecho, destaca, entre várias
considerações, dois pontos significativos: 1) o RDA não é o desfecho
final de séculos de história da catalogação; também, talvez, não seja o
seu ápice, o momento mais glorioso da catalogação; mas representa um
momento importante, discutido nos cinco continentes; e 2) o momento
pelo qual passa a catalogação, na atualidade, chega como reflexo não
apenas do contexto tecnológico que ocasionou os acontecimentos
presentes, mas como despertar da consciência de que esta é apenas
umas das etapas que futuramente enriquecerá a história da catalogação.
Enfim, resta renovar o convite para a leitura e, principalmente,
saudar o bibliotecário e mestre Raildo de Sousa Machado e a bibliotecária
e professora Zaira Regina Zafalon, pela qualidade da contribuição que
disponibilizam para a área da Biblioteconomia brasileira.

São Paulo, 12 de março de 2020


José Fernando Modesto da Silva
Bibliotecário e Professor
Universidade de São Paulo (USP)

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1 ISTO NÃO É UMA INTRODUÇÃO

Meu Deus, como tudo isto é bobo e simples; este


enunciado é perfeitamente verdadeiro, pois é bem
evidente que o desenho representando um cachimbo
não é, ele próprio, um cachimbo? (FOUCAULT, 2008, p. 20).

A frase-título deste capítulo não é para ser compreendida como


uma transgressão à frase no quadro de Magritte1 e, tampouco, como
uma provocação aos textos de Foucault. Pelo contrário, não há nada
contraditório. Este é um capítulo introdutório que não soubemos
intitular de outro modo. E começamos assim.
As ferramentas criadas pela humanidade desde os tempos pré-
históricos sempre aspiravam uma forma de simplificar os trabalhos
por eles desenvolvidos e, à medida em que foram criadas, outras
necessidades também surgiram e exigiram que novas formas de
instrumentos, ou a melhoria de instrumentos que fossem mais
adequados às necessidades, fossem estudadas, criadas, testadas e
aplicadas. Foi assim com as formas de registrar e disseminar informação,
ações que evoluíram desde o tempo em que eram fixadas nas paredes
das cavernas, passando pelo rádio, pela televisão, pelos multimeios,
pelos computadores até chegar aos tempos dos intensos avanços
tecnológicos da comunicação online e em tempo real.
As comunidades informacionais2, como agentes importantes
no meio social, não se permitiram permanecer inalteradas frente às
inúmeras transformações sofridas pelo constante avanço tecnológico.
Da mesma forma, os diversos serviços desenvolvidos nestas unidades,
em suas individualidades, adequaram-se às transformações e buscaram
suprir as necessidades decorrentes de tais mudanças. Neste processo,
os suportes em que as informações são registradas foram, e continuam,
em alteração periodicamente, o que exige um amoldamento das
ferramentas, dos serviços e dos profissionais a essas alterações.

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RAILDO DE SOUSA MACHADO E ZAIRA REGINA ZAFALON

A informação, com propriedades e fluxos configurados como


objeto de estudo da Ciência da Informação, tem sido a moeda da
época presente (LE COADIC, 2004). Vista como algo que possui o
potencial de agregar valor aos dados gerados, o que permite a geração
de conhecimento, a informação contribui para o desenvolvimento
das sociedades. Mas para que a informação alcance valor, ou esteja
em um ambiente em que possa valorar-se, precisa estar registrada,
representada e ter o seu acesso e uso facilitados e possíveis. À Ciência
da Informação tem-se atribuído a responsabilidade de estudar os fluxos
que a informação percorre até cumprir sua finalidade, seja ela acadêmica,
profissional, econômica ou social.
A tecnologia, mutável conforme sua época, assume importante
papel no nascimento e desenvolvimento da Ciência da Informação
que, aliada à Biblioteconomia, interfere, também, no desenvolvimento
de instrumentos que orientam a organização e a representação da
informação. Ressaltamos que, tanto os instrumentos e as regras quanto
as teorias da catalogação modificam-se conforme o avanço tecnológico,
uma vez que o comportamento dos usuários se remodela neste cenário.
A catalogação ocupa importante espaço no fluxo informacional.
É por meio da catalogação que se garante o acesso e a recuperação
do conhecimento registrado. Assim, com função mediadora em
um processo comunicativo, a catalogação contribui para a efetiva
organização e uso da informação por pessoas e máquinas. A catalogação,
assim como as demais atividades e ambientes, tem seu bojo enriquecido
com os avanços tecnológicos, o que provoca e adiciona muitas formas
e possibilidades ao seu fazer e ganha, inclusive, uma nova dinâmica
com os computadores, a Internet, a web semântica e as novas formas
de recuperação de conteúdos digitais.
Um exemplo claro dessa interferência dos avanços tecnológicos
na catalogação, é o padrão3 de catalogação Resource Description and
Access (RDA)4. Fruto de necessidades do tempo hodierno, constitui-se das
mudanças nos tipos de recursos e conteúdos informacionais, que antes

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tinha os materiais impressos como predominante, e consequentemente


nas maneiras de representá-los e acessá-los no ambiente web.
Quanto à representação, foco dos estudos da catalogação,
recorremos a Tourinho (1996, p. 42, grifo do autor), para quem a tradição
representacionista é aquela que “[...] se elabora a partir da crença de que
é possível construir descrições do mundo que espelhem sua própria
natureza, isto é, descrições que representem a realidade que é objeto do
conhecimento [...].” Este conhecimento artístico ou intelectual é expresso,
materializado, assim como os suportes usados para tal registro. Zafalon
(2017, p. 132) chama a atenção para o fato de que

[...] a representação não se propõe a tomar o lugar do


representado, mas como um mecanismo no qual se
busca formas desenvolvidas com a intenção de tornar
o representado reconhecível diante de dada situação,
contexto e público.

Garrido Arilla (1999) define catalogação como uma técnica


formada por um conjunto de operações destinadas à recuperação
da informação, com uma função de intermediação no processo de
circulação de dados entre o produtor e o usuário. Mais que um exercício
de registrar metadados, é essa representação, como parte do fluxo
informacional, que torna possível a organização e o uso da informação.
Como parte do fluxo informacional, o exercício de representar
informações passa a contar com instrumentos auxiliares, que contribuem
para o desempenho e o alcance de resultados mais eficientes das
informações representadas. Os sistemas de representação e, por
consequência, de recuperação da informação, agora automatizados,
desvinculam-se das limitações antes impostas por tamanhos de fichas
impressas, e possibilitam que outros metadados sejam registrados e
permitem, assim, que sistemas se tornem robustos, com informações
mais completas e dinâmicas, além de permitir o intercâmbio de dados
bibliográficos sem barreiras geográficas.

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Com os avanços tecnológicos os modos de armazenamento de


informações, assim como dos ambientes em que se encontram e as
suas formas de uso, foram alterados. Le Coadic (2004, p. 18) destaca que

[...] o objeto da ciência da informação não é mais o


mesmo que o da biblioteconomia e de suas veneráveis
disciplinas co-irmãs. Esse objeto não é mais a biblioteca
e o livro, o centro de documentação e o documento, o
museu e o objeto, mas a informação.

Le Coadic (2004, p. 25) ressalta, ainda, que a Ciência da


Informação “[...] tem por objeto o estudo das propriedades gerais da
informação (natureza, gênero, efeitos), e a análise de seus processos
de construção, comunicação e uso.” Assim, com o avanço tecnológico,
assumimos que o objeto de estudo deixa de ser algo limitado a um
suporte informacional e passa a ser a informação constante nestes
suportes, independentemente de suas características.
A catalogação, em essência, não deixa de ser modificada, mas a
cada período assume novas convenções tanto referentes à sua prática
quanto à sua teoria que se ajustam aos comportamentos informacionais
e às demandas de seu próprio tempo. Com o ambiente em rede e,
consequentemente, os catálogos online, estas mudanças foram ainda
mais intensas.
No intuito de padronizar o exercício da catalogação surgiram os
códigos, normas e padrões de catalogação, instrumentos que orientam
a construção de catálogos, e que, aprimorados ao longo do tempo,
reuniram regras criadas por teóricos, bibliotecários catalogadores,
livreiros e pesquisadores e formaram padrões robustos, com regras
que conduzem o registro de suportes. Zafalon (2014) destaca que “[...]
normas, padrões, metodologias e critérios são requeridos em unidades
de informação e tornam-se essenciais em processos de gerenciamento,
tratamento, recuperação, provisão, uso e compartilhamento de registros
informacionais em diversos suportes.” Com as mudanças dos suportes

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também foi exigido que os códigos de catalogação se adequassem


tanto aos suportes como aos catálogos em linha.
Voltar-se sobre as mudanças que decorrem dos avanços
tecnológicos, seu impacto na construção de catálogos, inclusive no
comportamento dos usuários que deles usufruem, e, também, das
atualizações e alterações em princípios, modelos conceituais e padrões
estabelecidos internacionalmente, dá uma ideia das motivações para a
revisão do Código de Catalogação Anglo-Americano, 2ª edição (AACR2)
o que culminou no desenvolvimento do padrão RDA.
Apesar do fato de os suportes informacionais e os processos
catalográficos terem sido reconfigurados pelo avanço tecnológico,
de modo a ser impulsionada a revisão do AACR2, a ressignificação
da terminologia, da teoria e dos conceitos advindos dos modelos
conceituais Functional Requirements for Bibliographic Records (FRBR)
e Functional Requirements for Authority Data (FRAD) foi decisiva para
definir o foco na revisão do que poderia ter sido a terceira edição do
AACR, o AACR3, e a decisão pela elaboração de um padrão internacional
de catalogação, o Resource Description and Access (RDA), destinado ao
ambiente digital e com foco no usuário.
Para Chandel e Prasad (2013), a renomeação da revisão de AACR3
para RDA deu ênfase à descrição de vários elementos dos registros. Esta
ênfase foi um dos motivos para a alteração do nome de AACR3 para RDA.
Desde o seu lançamento em 2010, o padrão RDA passou por
diversas e necessárias adequações decorrentes das atualizações de
documentos aos quais está imbricado: a Statement of International
Cataloguing Principles, a International Standard Bibliographic Description
(ISBD), edição consolidada, e o IFLA Library Reference Model.
Um ano antes de seu lançamento, houve a primeira atualização
da Declaração dos Princípios Internacionais de Catalogação5
(INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS AND
INSTITUTIONS, 2009a), que passou por uma nova revisão, com publicação
em 2017 (INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS AND

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INSTITUTIONS, 2017). A publicação do agrupamento de todas as ISBDs
em apenas uma, a edição consolidada da ISBD, presente no anexo D
do RDA, ocorreu em 2011 (INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY
ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS, 2011). A publicação do IFLA Library
Reference Model: a conceptual model for bibliographic information (IFLA
LRM) ocorreu em 2017 e consolida “[...] a família FR em um único modelo
coerente para esclarecer a compreensão do modelo geral e remover
barreiras à sua adoção” (INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY
ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS, 2017, p. 5). Esses fatos deram impulso
à releitura do RDA e o levaram ao Project RDA 3R.
Está posto o ponto de partida para o nosso interesse em
publicar este livro que considera o percurso da revisão do AACR2 até
a proposta do RDA, tecendo um entrelaçamento entre os princípios e
os fundamentos teóricos da catalogação descritiva.
Com a clara intenção de mostrar o percurso que fizemos, e por
conta de assumirmos que é possível crescer sobre o ombro de gigantes,
rememoramos a contribuição dos teóricos fundadores da catalogação
e os princípios e fundamentos trazidos por eles. Apresentamos a
cronologia dos instrumentos da catalogação e os modelos conceituais
basilares da catalogação contemporânea pois isso, em nosso ponto
de vista, é requisito essencial para analisar o RDA. Como, durante a
elaboração desse material, o ciclo de (re)avaliação do RDA continuou
ocorrendo, também apresentaremos os movimentos ocorridos após o
lançamento do RDA e que são inerentes às discussões atuais do RDA.

Esperamos que embarque nesta conosco!

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2 A CATALOGAÇÃO DESCRITIVA E SEUS TEÓRICOS
O século XIX foi decisivo para a história e o desenvolvimento da
catalogação moderna. Alguns fatores impulsionaram o desenvolvimento
prático e teórico da catalogação como conhecida hoje, tais como a ideia
da democratização do acesso aos livros a todas as pessoas, o crescimento
da produção de livros em línguas vernáculas (e não apenas em Latim),
e o surgimento de bibliotecas públicas, nacionais e universitárias.
Garrido Arilla (1999) destaca, entre os acontecimentos que foram
importantes para a história da catalogação, o trabalho de Otlet e La
Fontaine com o Institut International de Bibliographie, criado em 1895
em vista do crescimento da comunidade intelectual e a propagação
colossal das publicações científicas. Garrido Arilla (1999) afirma que
quiseram construir um arquivo central de todas as publicações impressas
editadas em todos os países, desde a invenção da imprenta. Estava
posta a necessidade de padronização de catálogos.
A catalogação se estabelece como uma das principais atividades
no campo da Biblioteconomia e da Ciência da Informação, tanto
naquelas de cunho profissional quanto de pesquisas, mesmo tendo
surgido a partir das comunidades de prática e, delas, advindo suas
teorias e seus conceitos. Destacamos o ambiente biblioteconômico
como o seu lugar de nascimento prático e de desenvolvimento teórico.
Ao destacar a importância da catalogação, Lubetzky e Svenonius
(2000), a descrevem como um elo indispensável na transmissão,
integração e exploração dos registros da civilização humana e como
fundamental no desenvolvimento de operações e serviços e para o
atingimento da missão da biblioteca. A catalogação, portanto, está
repleta de ideologia, metodologia e tecnologia para servir bem a
biblioteca do século XXI.
Para Pinto Molina (1991) a catalogação é um processo composto
por um conjunto de operações (algumas intelectuais e outras mecânicas
e repetitivas) que cobrem o conteúdo e a forma dos documentos
originais, retrabalhando-os e transformando-os em outros, de natureza

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instrumental ou secundária, que facilitam a identificação precisa do


usuário, a recuperação e a difusão desses. Ela destaca, também, que essa
transformação é resultado de um processo geral de natureza analítica,
ainda que faça uso da síntese e de um momento criativo, que permite
a configuração final do documento secundário.
A definição acima evidencia a importância do processo
catalográfico e coloca o resultado deste processo como um novo
documento, criado a partir de um documento primário. O documento
secundário é o que de fato permite a localização e acesso ao primário,
ao original.
A catalogação, para Mortimer (2007), é a preparação de
informação bibliográfica para registros de catálogo, na qual
catalogadores usam ferramentas definidas a partir de regras e padrões
internacionais. Assim, a catalogação consiste de: catalogação descritiva,
catalogação de assunto e classificação.
A catalogação, portanto, é compreendida como um processo que
considera o conjunto de aspectos descritivos e temáticos ou de assuntos,
que favorecem os mecanismos de busca e recuperação do documento,
e define elementos que permitem acessá-lo, local ou remotamente.
Garrido Arilla (1999) situa a operação de aspectos descritivos e
temáticos dentro do processo global da catalogação, sendo, a primeira
voltada para a descrição dos documentos (a chamada Descrição
Bibliográfica) e uma segunda, cuja missão é o estabelecimento de
pontos de acesso ao documento, o que, posteriormente, permitirá
a sua recuperação6. Os pontos de acesso podem ser de dois tipos:
definidos pela Catalogação de Assunto (pontos de acesso por assunto)
e pela Catalogação Descritiva (pontos de acesso por nomes de autores
pessoais, corporativos ou de título). A Catalogação Descritiva tece,
portanto, a descrição bibliográfica ou documental e os pontos de acesso
de autores pessoais, corporativos ou de título.
Garrido Arilla (1999) ainda indica que os elementos descritivos
e temáticos são complementares e, deste modo, a escolha dos Pontos

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de Acesso tem a função de agrupar e unificar as entradas (por assunto,


nome, instituições e título) apresentadas em um documento, o que
permitirá a sua recuperação. Aos aspectos descritivos cabe distinguir,
individualizar e identificar as peculiaridades de um documento, o que
faz com que uma descrição seja distinta da de seus similares.
Em definições gerais, consideramos catalogação descritiva como
a ação que trata dos aspectos formais dos documentos e a catalogação
de assunto, ou representação temática, aquela que se ocupa da definição
de termos que representem o conteúdo destes documentos. O que, na
teoria, se separa, justificada tanto pelo desenvolvimento teórico quanto
por conta das atividades de pesquisa e ensino, na prática se vincula,
visto que as duas ocorrem concomitantemente, e são, igualmente,
essenciais para registro, recuperação, disseminação, localização e uso
da informação pelos usuários.
Um dos principais produtos da catalogação é a reunião de
registros bibliográficos no catálogo, visto que ele assume o papel
de canal entre acervos e usuários. Porém, Pettee (1936) esclarece
que os catálogos só assumiram função de ferramenta bibliográfica
diante da necessidade de reunir as obras por um autor específico, por
um determinado assunto e por edições diferentes da mesma obra,
impulsionado pelo advento da impressão e, consequentemente, o
aumento das coleções. Até então, os catálogos configuravam-se como
simples listas de itens, ordenadas de acordo com o armazenamento nas
bibliotecas, monastérios e prensas. A finalidade dos catálogos ainda era
a de um inventário, que servia de guia para proprietários de acervos,
visto que a função até então era outra, e não a de um instrumento de
comunicação e localização para acesso às obras.
Se, anteriormente, os catálogos eram tidos apenas como listas
de itens, hoje o catálogo exerce função social (no sentido humanístico)
primordial na democratização de acesso à informação e provisão para
o conhecimento. Concebido como um inventário de documentos, mas
projetado para se tornar o dispositivo para acesso às obras, Smiraglia,

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Lee e Olson (2011) definem o catálogo como parte de um aparato


bibliográfico muito maior, que inclui bibliografias, índices, bancos de
dados e até mesmo as notas de estudiosos individuais.
Com Strout (1956) é possível identificar como os catálogos
aparecem em determinados períodos:

• Século VIII: limitados às listas de inventário informais e não


organizadas;
• Século XIII: como listas de propriedade em bibliotecas inglesas;
• Século XIV: com a ideia de símbolos de localização, assim como
identificação mais completa de edições e entradas para mais
do que a primeira obra em um volume;
• Século XV: uso de referências cruzadas e a compilação de uma
bibliografia e um índice para a bibliografia;
• Século XVI: faz menção a editores e tradutores e bibliografias
em que, pela primeira vez, a atenção foi dada à palavra de
entrada;
• Século XVII: crescente interesse pelos catálogos, bem como
tratados sobre como eles deveriam ser feitos; uma época
para rever realizações passadas em vez de inventar novos
dispositivos;
• Século XVIII: seguiu um caminho semelhante ao do Século
anterior, com exceção ao que ocorreu em sua última década,
por conta do uso de catálogos em fichas pelo governo francês;
• Século XIX: caracterizado como de grande interesse e por ser
alvo de exigências cada vez maiores por parte dos usuários da
biblioteca; muitos dos grandes catálogos modernos surgiram
durante este século na Alemanha, França, Inglaterra e Estados
Unidos.
Freedman (1984) coloca Panizzi, Jewett, Cutter e Lubetzky como
os grandes pensadores da catalogação no âmbito anglo-americano,
e os denomina de “quatro sagrados”. Também é dele a afirmação de

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que qualquer discussão sobre catalogação deve ocorrer no âmbito


da ideologia desenvolvida pelos ‘quatro sagrados’ ou, até, provar as
deficiências dessa ideologia antes de propor alguma alternativa a
ela. À consideração de Freedman, somamos um quinto, o indiano
Ranganathan! Entretanto, nem Jewett e, tampouco, Ranganathan,
tiveram suas bases teóricas utilizadas no desenvolvimento do RDA.
Agora vamos discorrer sobre as ideias e a influência de tais
teóricos na catalogação descritiva.

2.1 Antonio Panizzi (1797-1879)


Sir Antonio Genesio Maria Panizzi, italiano, refugiado e
naturalizado na Inglaterra. Panizzi é apontado por Gorman (2000) como
o gigante da catalogação descritiva do século XIX e por Estivill Rius
(2012) como o Príncipe dos Bibliotecários.
Panizzi foi o principal bibliotecário do British Museum de 1856
a 1866, sendo que chegou a esse cargo em meio a um turbulento
momento de crise no museu, tanto na administração quanto no
desenvolvimento do catálogo de livros impressos, demandado tanto
pelos diretores do museu, quanto pelos usuários do catálogo.
Como resultado do trabalho desenvolvido por Panizzi, enquanto
Guardião do Department of Printed Books no British Museum Library,
com a colaboração de um comitê formado por Thomas Watts, J. Winter
Jones, Edwards Edwards e John H. Perry, é feita a proposta de 91 Regras
a serem adotadas para a catalogação do acervo do museu (STROUT,
1956). As regras atenderam às demandas dos curadores que faziam
parte da equipe de trabalho de Panizzi, que exigiam um conjunto de
regras que orientassem a catalogação do acervo de livros impressos do
museu (SCHACHT, 1980). Por serem consideradas as primeiras regras da
catalogação moderna, Conners (2008) define Panizzi como o responsável
pelo primeiro código moderno de catalogação.

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Panizzi, ao lado de Charles Jewett, é o principal nome da primeira


idade dos códigos de catalogação e buscou formas de organizar
informações de uma maneira lógica, sem deixar de ser útil. Negrucci
(2001) lembra que Panizzi foi persistente na ideia de que o catálogo
deveria ser elaborado conforme um conjunto padrão de regras.
Strout (1956) afirma que, até Panizzi, o grande interesse nas
minúcias da catalogação nunca foi exibido em nenhum outro momento
por eruditos, leitores e governo, e que é com ele que se chega à
catalogação moderna, haja vista sua importância para a catalogação
e para a catalogação descritiva, assim como a sua influência no Código
de Catalogação Anglo-Americano (AACR).
Para Garrido Arilla (1999), as regras foram criadas para orientar a
elaboração de um catálogo alfabético, fundamentalmente de autores e
entidades, que permitiria ao usuário a localização rápida e fácil de uma
obra, assim como o agrupamento de obras de um mesmo autor com
suas diferentes edições e traduções. Para ela, as regras de Panizzi (o
primeiro código sistemático) estão mais orientadas à criação do catálogo
do que para a descrição de documentos, como entendidas hoje.
Além da contribuição quanto ao código de catalogação, Lubetzky
e Svenonius (2000) lembram que Panizzi viu o livro como uma edição
de uma obra particular, concepção que permite relacioná-lo com as
outras edições e traduções da obra que a biblioteca pode ter, o que leva,
portanto, que diferentes edições podem ser integradas à determinada
obra. Por quê? Simplesmente porque o livro é um objeto dicotômico.
O livro, na visão de Panizzi, é uma junção de entidades e não existe
de forma isolada ou apenas física. Assim, além das referências cruzadas
que deveriam ser usadas sempre que necessário, a representação de um
determinado livro também não deveria ser feita de forma disjunta, mas
integrada às demais expressões e manifestações da obra constante em
um livro. Essas ideias em muito remetem aos conceitos apresentados
no FRBR (que falaremos mais adiante).

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Entre as várias contribuições de Panizzi destacamos os seguintes


pontos que servem como argumento para discussão de aspectos teóricos
e práticos da catalogação descritiva: [1] o processo catalográfico deve ser
realizado a partir de regras consistentes para atender às necessidades
de uniformidade e padronização; [2] novas regras precisam ser providas
conforme surjam imprevistos; [3] integridade e precisão devem ser
aplicadas a todos os livros; [4] obras anônimas devem ser registradas
com a primeira palavra do título, artigos e preposições; [5] obras criadas
sob pseudônimo devem ser catalogadas sob o nome do pseudo autor;
[6] o registro deve ser tão detalhado a ponto de cada livro fosse mais
simplesmente identificável e que a página de rosto era a fonte de dados
para o registro.

2.2 Charles Coffin Jewett (1816-1868)


Charles Coffin Jewett, americano, foi bibliotecário e professor
de línguas modernas. Podemos considerar a iniciação de Jewett na
catalogação quando foi assistente de Oliver A. Taylor, enquanto este
preparava o catálogo do Andover Theological Seminary. Seis anos após
esse início, foi em 1841 que Jewett foi nomeado bibliotecário na Brown
University, com a responsabilidade de elaborar um novo catálogo.
Com On the Construction of Catalogs, Jewett (1852) apresentou
um código composto por trinta e nove regras que foram elaboradas com
grande cuidado. Formuladas a partir das regras adotadas na compilação
do catálogo do British Museum, algumas são, literalmente, iguais, e
outras se parecem mais com as regras defendidas por Panizzi do que
àquelas sancionadas pelos curadores do Museu.
No entanto, Blake (2002) nos conta que, diferentemente de
Panizzi, as regras de Jewett determinavam que, se o autor usasse um
pseudônimo e sua identidade fosse conhecida, a obra deveria ser
registrada com o nome verdadeiro do autor. Outra situação indicada
por Panizzi e presente em Jewett são as referências cruzadas.

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Jewett enfatizou que os dados deveriam ser registrados


conforme apresentados no item; que a página de rosto era a fonte
primária de informação; que o título fosse transcrito exatamente como
consta na obra. Defendia, ainda, que as regras de catalogação deveriam
ser rigorosas e, quando possível, atender a todos os detalhes. Jewett
também destacou que o gosto ou julgamento individual do catalogador
deve ser deixado de lado, e, tanto quanto for possível, evitado.
Na concepção de Jewett, o catálogo é um instrumento de
promoção e difusão do conhecimento, e considera ser esta a justificativa
para o ofício catalográfico. Para além disso, o catálogo se coloca
como promotor do conhecimento, ao mostrar o que já foi estudado e
evidenciar lacunas no campo científico. Para evitar que novas publicações
sejam feitas somente de modo a acrescentar o volume de livros sem,
necessariamente, somar conhecimento, Jewett (1852) defendeu que o
catálogo tem a função de indicar o caminho do esforço útil.
Jewett fez críticas à prática de impressão do catálogo em livro,
da forma como era feito, uma vez que este tipo de catálogo estava
sempre em estado de imperfeição. Para sanar essa dificuldade, Jewett
propôs o que ele chamou de Stereotype the titles separately, que, por
configurarem-se em placas ou blocos, possibilitariam a construção de
um catálogo geral.7
Sobre as regras de catalogação, Jewett as considerou de extrema
importância no processo de criação de catálogos, visto que, sem elas, o
resultado do trabalho catalográfico seria um misto de erro e confusão.
Ele também defendia que as regras destinam-se à uniformidade, que
para ele é imperativa e só pode ser alcançada por conta da adesão de
todos às regras, abrangendo, quanto possível, todos os detalhes da obra.
Para Jewett, o catálogo era um importante instrumento democrático
de acesso e promoção ao conhecimento.

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2.3 Charles Ammi Cutter (1837-1903)


Charles Ammi Cutter nasceu em Boston (USA), foi outro destaque
entre os principais influenciadores da catalogação; ocupou importante
cargo de presidente da American Library Association, da qual foi um de
seus fundadores.
Influenciado, indiretamente, por Panizzi e, diretamente, por
Jewett, trabalhou com este último, “[...] na preparação de um catálogo
para uma coleção especial da Biblioteca Pública de Boston [USA].”
(FIUZA, 1987, p. 48).
Foster (1903) aponta três momentos na vida de Cutter como
significativos para a história da biblioteconomia e da catalogação:
[1] a publicação do catálogo do Athenaeum de Boston, em 1874; [2] a
publicação de Rules for a Dictionary Catalog, em 1876, e; [3] e a publicação
de Expansive Classification, em 1891.
Em Rules for a Dictionary Catalog, Cutter apresenta 368 regras
para a elaboração de catálogos. Conforme Hufford (1991), este foi o
último código publicado individualmente, visto que os demais códigos
foram desenvolvidos por comitês e associações. Nesta obra, Cutter
ressalta que nenhum código de catalogação poderia ser adotado em
todos os pontos por cada um. A justificativa do autor era a de que cada
biblioteca tem seus objetivos e públicos específicos. No entanto, Cutter
coloca que a elaboração de um catálogo deve objetivar a localização de
obras e baseou suas ideias no modo como o usuário de uma biblioteca
procura por informações.
Um ano após o falecimento de Cutter foi publicada a quarta
edição de Rules for a Dictionary Catalog, em 1904, momento em que se
assistia ao início do fornecimento de fichas para o arranjo de catálogos,
pela Library of Congress. No prefácio desta obra Cutter chamou a atenção
para a necessidade de que regras fossem revistas, observações se
tornassem regras e que a forma de compor o catálogo influenciaria
as revisões.

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Cutter dividiu os catálogos em curto, médio e completo (ou


bibliográfico), com níveis variantes para o conjunto de informações que
comporiam cada um deles. Para Yee (1994), Cutter foi o primeiro a declarar
os objetivos do catálogo e a discutir técnicas para implementá-los.
Os objetivos8 do catálogo definidos por Cutter (1904) são:
1. Permitir que uma pessoa encontre um livro do qual
(A) o autor seja conhecido
(B) o título seja conhecido
(C) o assunto seja conhecido
2. Para mostrar o que a biblioteca tem
(D) de um determinado autor
(E) sobre um dado assunto
(F) em um determinado tipo de literatura
3. Ajudar na escolha de um livro
(G) quanto à sua edição (bibliográfica).
(H) quanto ao seu caráter (literário ou tópico).

Para Cutter (1904), a conveniência do usuário deve ser sempre


definida antes da facilidade do catalogador. Assim, a conveniência do
usuário deve anteceder a definição de regras de catalogação, bem
como a composição de catálogos.
Como contribuições para a catalogação descritiva, Fiuza (1987,
p. 48) destaca que, em Rules for a Dictionary Catalog, “[...] [Cutter]
definiu os primeiros princípios de catalogação expressos em regras
que constituíram um código tão racional e completo que muitas delas
continuam a fazer parte dos códigos atuais.”
Para Blake (2002), Cutter ultrapassa os limites estabelecidos
por seus antecessores, Panizzi e Jewett, visto que é ele quem define o
conceito de autoria corporativa, ao considerar que, assim como uma
pessoa, uma instituição pode ser registrada como autora de uma obra.

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Cutter via o catálogo como instrumento para atender às


necessidades dos usuários, o que em certa medida corrobora a visão
de Jewett de que o catálogo era voltado ao processo democrático de
acesso ao conhecimento.

2.4 Shiyali Ramamrita Ranganathan (1892-1972)


Shiyali Ramamrita Ranganathan, indiano, era bibliotecário e
matemático. Embora externo ao ambiente anglo-americano, é tão
importante quanto o grupo de teóricos citados na introdução do RDA.

Ranganathan pensava em um modelo de controle


bibliográfico, baseado em um sistema internacional
de intercâmbio de dados catalográficos. Vale lembrar
que ele foi idealizador da catalogação na fonte, e que
se estava nos anos de 1950, onde formatos legíveis por
máquina iriam ainda ser gestados no ambientes das
ideias. (SILVA, 2018).

Tanto as ideias de Ranganathan quanto o seu Classified


Catalogue Code (CCC) foram grandes contribuidores das discussões
que antecederam a International Conference on Cataloging Principles,
ocorrida em 1961.
Em 1954, Ranganathan foi convidado pelo Dr. Bourgeois,
então presidente da IFLA, para que analisasse problemas referentes
à catalogação e sugerisse soluções. A compilação destas sugestões
destacou-se como uma das grandes contribuições para a definição dos
Princípios de Paris9, ao lado das ideias de Seymour Lubetzky (o próximo
teórico que apresentaremos).
Assim como Jewett, Ranganathan defendia a construção de
um catálogo central. Ampliou, porém, a discussão para a idealização
de um código internacional de catalogação, e, semelhante a Cutter,

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advogava que a construção de catálogos fosse impessoal e que tivesse


como prioridade o usuário.
Em termos gerais, Ranganathan (1959) considerava alguns
problemas no estabelecimento de um código internacional de
catalogação:
• atividade impessoal: o catalogador e o usuário podem ser
diferentes, mas o catálogo poderia ser o mesmo, centralizado;
• catálogo versus entrada principal: as diferentes escolhas
para entrada principal dificultavam a elaboração de um
catálogo de todas as bibliotecas; se, como um todo, um
catálogo centralizado era irrealizável, o registro da entrada
principal não o era;
• armazenamento de cópias: o fato de fazer cópias de fichas
antecipadamente, gerou um problema de armazenamento,
que seria solucionado ao fazer uso de uma tecnologia
(vigente na época) que permitiria fazer as fichas apenas
sob demanda;
• obstáculos no caminho: mais voltado aos catalogadores
do que quanto ao catálogo em si; o primeiro era a questão
da tradição enraizada que impedia a propagação de novas
ideias assim como dos propagadores destas; o segundo
vinha do espírito individualista e do liberalismo, tidos para
Ranganathan como falsamente aplicados;
• código de catalogação: para a economia no ofício da
catalogação, era necessário que esse serviço fosse feito
de forma centralizada, porém, o uso de diferentes códigos
de catalogação por bibliotecas diferentes tornava isso
impraticável;
• padronização e originalidade: o contexto de composição de
um catálogo é, e sempre deve ser, usuário-bibliotecário de
referência. Se este contexto muda de tempos em tempos,

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passa a existir, consequentemente, a necessidade de


melhoramentos no código de catalogação;
• plano internacional: a grande dificuldade estava na
catalogação de livros estrangeiros, que se desmembra nos
obstáculos da tradição, do individualismo, da resistência à
padronização, da diversidade cultural e da linguística, em
que os dois últimos são insuperáveis;
• códigos em diferentes planos: além de todos os obstáculos
reais citados, o fato de um código de catalogação
internacional ser definido por uma nação ou um grupo
linguístico ou cultural para muitos não traria benefícios.
Entre as indicações para discussão na Conferência de Paris, em
1961, Ranganathan (1959) apontou a concordância com os princípios
normativos que, no campo da catalogação, devem implicar, de modo
especial, leis fundamentais da Biblioteconomia, sendo consideradas
as fronteiras estabelecidas pelos requisitos sociais, de um lado, e os
requisitos de catalogação, de outro. Tal afirmação coloca, mais uma vez, o
caráter social da catalogação, tão necessário nas discussões, nas teorias e
na prática. Esse conjunto de princípios foi desenvolvido por Ranganathan
como cânones da catalogação em sua obra Theory of library catalogue,
publicada em 1938, a serem considerados na delimitação do conjunto
de regras de catalogação.
Sobre os cânones, Bhattacharya (1973 apud ROUT; PANIGRAHI,
2015) lembra que o conjunto de princípios normativos de catalogação
é uma das maiores contribuições da Índia no campo da catalogação
e afirma que a potencialidade e a versatilidade desses princípios não
foram percebidas pelos bibliotecários. Se, à época de sua proposição,
esses princípios normativos estavam à frente do tempo, é com o passar
dos anos que sua utilidade e a importância serão notadas.
Para Ranganathan (1938), a aplicação das cinco leis da
Biblioteconomia, tão difundidas no universo biblioteconômico, deve

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ser acompanhada da Lei da Parcimônia, talvez o princípio geral mais


elementar da catalogação e, até mesmo, de qualquer outra prática
científica.
Em Classified catalogue code, publicado em 1964, Ranganathan
propõe outros cânones (adicionados aos cânones anteriormente
definidos em 1938), o que formou um conjunto de nove cânones a
serem observados quando da elaboração de códigos de catalogação,
assim como de suas regras. Os cânones propostos por Ranganathan são:
consistência, relevância, determinabilidade, permanência, uso corrente,
individualização, contexto, ponto de acesso e preponderância, e serão
apresentados a seguir.
O Cânone da Consistência (Canon of Consistency) impõe ao
código a responsabilidade de que ocorrências análogas sejam tratadas
da mesma forma. Para exemplificar esse cânone, Ranganathan se reporta
a Cutter (1904) que defendia que entre os vários métodos possíveis para
atingir os objetivos, dentre coisas iguais, uma mesma entrada deveria
ser escolhida. Isso daria consistência às outras entradas de modo que
um mesmo princípio pudesse ser aplicado.
O Cânone da Relevância (Canon of Relevance10) orienta tanto a
elaboração das regras quanto a aplicação destas, visto que indica que
os dados escolhidos para a entrada principal devem ter a relevância
necessária para atender a demanda de título, autor e assunto.
O Cânone da Determinabilidade (Canon of Ascertainable)
exige que todas as informações usadas tenham como fonte a folha
de rosto e, via de regra, apenas a definição dos pontos de acesso de
assunto leva o catalogador para além dela. Apesar disso, Ranganathan
se apoia novamente em Cutter (1904) para destacar que, em alguns
casos, pode não ser possível determinar os dados a partir do título,
e comenta que as adições feitas a um título devem ser breves, no
idioma do título, e marcadas com colchetes, e que, caso haja uma
palavra escrita incorretamente, deve ser feita a indicação de [sic] ou
[!]. Apesar de considerar a folha de rosto como fonte principal de

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dados para a catalogação, Ranganathan lembra que nem sempre a


página de rosto contém as informações necessárias para compor um
registro bibliográfico. Com esse cânone, Ranganathan defendeu uma
aproximação maior entre os catalogadores e o comércio de livros, além
de sugerir uma norma internacional para a elaboração da folha de rosto.
Ao Cânone da Permanência (Canon of Permanence) cabe a
definição da Entrada Principal para indicar algo permanente. Apesar
de se saber que nomes de pessoas ou de instituições sofrem alterações,
Ranganathan ressalta que esse cânone deve ser observado.
O Cânone do Uso Corrente (Canon of Currency) que, em um
momento acorda com o Cânone da Permanência, conflita com os
cânones da Consistência e da Determinabilidade, embora cada situação
tenha sua própria demanda. A recomendação é que, no caso do título,
é necessário registrar o atual; quanto ao autor, como indicado na folha
de rosto; para o assunto, a forma de uso mais popular. Assim, para
atender a ordem do uso corrente, Ranganathan define que devem ser
revisadas, de modo a atender esse Cânone, as entradas de assunto
de um catálogo de dicionário e as entradas de índice de classe de um
catálogo classificado.
O Cânone da Individualização (Canon of Individualisation),
estabelece que o nome de qualquer entidade usada como entrada
principal deve denotar apenas uma entidade. Aos casos homônimos
deve-se acrescentar elementos individualizadores. Esse cânone se
justifica diante do objetivo de poupar o tempo dos pesquisadores e
usuários de catálogos e bibliografias.
No Cânone do Contexto (Canon of Context), as regras de um
código de catalogação devem considerar o contexto da natureza
dos recursos informacionais e a organização da biblioteca. As regras,
portanto, devem ser alteradas, de tempos em tempos, para acompanhar
as mudanças no contexto. Ranganathan exemplifica a aplicação deste
cânone ao citar mudanças havidas nas regras de entrada principal dos
livros impressos na era dos incunábulos para aquelas da era pós 1500.

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O Cânone de Pontos de Acesso11 (Canon of Sought-Heading)


aponta que os pontos de acesso devem ser aplicados de forma que
se evite duplicação e que ofereçam alternativas para o usuário na
recuperação de documentos. Os pontos de acesso devem, ainda, permitir
a recuperação de outros documentos relacionados ao documento objeto
de busca pelo usuário. Ranganathan considerou que um código de
catalogação e suas regras deveriam considerar que autor e assunto são
os mais populares entre as buscas em um catálogo.
Apesar de todos os cânones anteriormente apresentados serem
atinentes também à classificação, é o Cânone da Preponderância (Canon
of Prepotence) que tem a sua indicação específica para a catalogação
descritiva (RANGANATHAN, 1964, p. 70). Um fator de vital importância é a
posição ordinal em que se coloca uma determinada entrada, em relação
às demais, visto que esta posição ou ordem define a potencialidade da
entrada em servir para a recuperação e identificação de um documento.
Ranganathan ressalta que a Preponderância não é uma exclusividade
do título.
É fato que muitos dos cânones tiveram os vocábulos atualizados.
Porém, os conceitos mantiveram-se. Quanto ao Cânone da Preponderância,
entretanto, cabe uma ressalva, visto que, em catálogos automatizados,
a posição de um ponto de acesso não determina a potencialidade da
recuperação por aquele elemento; todos os pontos de acesso tem a
mesma importância de recuperação e identificação de um documento.

2.5 Seymour Lubetzky (1898-2003)


Consultor de bibliografia e catalogação, Seymour Lubetzky
foi responsável por uma das publicações mais influentes sobre
catalogação, Cataloging Rules and Principles, publicado em 1953,
atendendo a uma solicitação da Library of Congress para examinar o
rascunho do código de catalogação escrito pela Division of Cataloging

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and Classification da ALA, e simplificar as regras de tal código. Essa


obra foi a maior influenciadora do AACR (GORMAN, 2000). Com o
objetivo de analisar as regras para entrada de autor e título, com
ênfase para os autores corporativos, também foram discutidos os
objetivos e princípios das regras propostas. O grande questionamento
de Lubetzky ao escrever a obra citada era: esta regra é necessária?
Lubetzky (1953) apontou dois objetivos para as regras de um
código de catalogação: [1] permitir que o usuário do catálogo determine
prontamente se a biblioteca tem ou não o livro que ele deseja, e [2]
revelar ao usuário do catálogo, sob uma forma do nome do autor,
quais obras a biblioteca tem por um determinado autor e quais edições
e traduções de uma determinadaobra. Dada a complexidade de se
estabelecer as relações definidas no segundo objetivo, ele foi ignorado
pelo catalogadores.
A presença de tecnologias em catálogos possibilitou
aprimoramento das possibilidades de busca e recuperação da
informação. Lubetzky (1953) ressalta que ambos os objetivos,
firmemente definidos por Panizzi, também foram buscados nas regras
de catalogação anglo-americanas. Para Lubetzky e Svenonius (2000)
os catálogos online atendem ao primeiro objetivo, mas ressaltam que
as tecnologias presentes em catálogos deveriam ser melhoradas para
atender, também, ao segundo objetivo.
Em sua obra Lubetzky defendeu que as regras de catalogação
devem basear-se em dois elementos: nome do autor e título, pois são os
meios mais importantes usados pelos usuários para identificar uma obra,
o que leva à compreensão de que [1] obras cujos autores são conhecidos
devem ser inseridas sob seus autores; [2] aquelas cujos autores não são
identificados, devem ser inscritos sob seus títulos. Sobre isso, Lubetzky
(1953) afirma que os dois grandes princípios de Cutter permanecem tão
válidos quanto sempre foram. Mesmo que implicitamente, estes objetivos
foram vislumbrados no FRBR, publicado em 199812, e, mais claramente,
assemelham-se aos objetivos do catálogo, propostos por Cutter.

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Na obra de Lubetzky são considerados, ainda, os princípios


variantes (ou adicionais) em que considera [1] as obras que possuem
mais de autor; [2] os autores que possuem mais de um nome; [3] as
obras que possuem mais de um título; [4] as obras que são baseadas
em outras obras; [5] as obras de autores corporativos.
Para Lubetzky (1953), as regras devem permitir que o usuário
selecione a edição ou a tradução de uma obra que melhor atenda à
sua finalidade; que ele encontre as obras relacionadas ao autor; que
identifique uma obra que foi ligeira, ou imprecisamente, citada; e que
encontre uma obra que foi catalogada separadamente. Dessa forma,
ao catalogador é requerido o estabelecimento da identidade do(s)
autor(es) e de suas relações da obra.
Estivill Rius (2012) lembra que foi com Lubetzky que a catalogação
e os seus códigos “[...] retornaram a alguns princípios teóricos, os de
Cutter, simplificados em alguns aspectos e renovados com a inclusão
do conceito de obra, que é central para a função de agrupamento do
catálogo.” A autora também ressalta a presença de Panizzi, Jewett,
Cutter e Ranganathan como influenciadores e precursores das ideias
e da obra de Lubetzky.

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3 PRINCÍPIOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÂO
Ao considerar os alicerces teóricos para o desenvolvimento
do RDA, ainda em sua introdução, fica explícito que o padrão foi
construído nas bases estabelecidas pelo AACR e com influências de
grandes tradições catalográficas. O documento do RDA especifica tais
tradições e destaca como obras fundadoras: [1] Rules for a Dictionary
Catalog, de Charles A. Cutter; [2] International Conference on Cataloging
Principles, report; [3] Principles of cataloging: final report: phase I: descriptive
cataloging, de Seymour Lubetzky e; [4] Rules for the compilation of the
catalogue, de Antonio Panizzi, que fazem parte do rol de importantes
pensadores da catalogação e formadores de ideias que ainda hoje são
aplicadas. As ISBDs, um dos principais contributos para a padronização
dos registros bibliográficos, não são indicadas como parte das tradições,
mas como um dos instrumentos em que a construção do RDA se
fundamenta.
Resultado da International Conference on Cataloguing Principles,
realizada em Paris, a Statement of International Cataloguing Principles teve
sua primeira publicação em 1961 e ficou conhecida como Princípios de
Paris. O objetivo dos Princípios de Paris é o de servir como referência
para a padronização internacional da catalogação, além de orientar a
construção de catálogos e de códigos de catalogação (apesar de estes
últimos estarem implícitos na publicação de 1961). Santos e Corrêa
(2009) lembram que a obra Cataloguing rules and principles, de Seymour
Lubetzky, foi aquela que deu sustentação para o que seria discutido
na International Conference on Cataloguing Principles. Consideramos de
igual importância as ideias conjuntas de Ranganathan e Lubetzky nas
discussões de tais princípios.
Na publicação de 1961, a declaração apresentou as funções e
a estrutura dos catálogos, além de orientações de como deveriam ser
registradas as entradas em um registro bibliográfico. Santos e Corrêa
(2009, p. 23) destacam que a “[...] Conferência de Paris é [...] a primeira

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etapa importante de padronização em uma plataforma internacional”, o


que corrobora a importância da Conferência para a catalogação mundial.
Diante da necessidade de atender às demandas surgidas com
os Online Public Access Catalogues (OPACs) e ampliar os princípios para
todos os tipos de obras, e não mais apenas livros impressos, os Princípios
de Paris foram revisados.
Mais de quarenta anos após a publicação dos Princípios de
Paris, e após ampla discussão para a atualização da declaração ocorrida
nos IFLA Meeting of Experts on na International Cataloguing Code (IME-
ICC), com rascunhos colocados para discussão nas cinco edições do
encontro13, foi publicada, em 2009, a nova versão, intitulada Declaração
de Princípios Internacionais de Catalogação.
Foi a publicação de 2009 que trouxe o detalhamento dos
princípios, dentre os quais figuram, explicitamente, os seguintes:
[1] conveniência do usuário, [2] uso comum, [3] representação, [4]
exatidão, [5] suficiência e necessidade, [6] significância, [7] economia,
[8] consistência e normalização, e [9] integração. A própria Declaração
coloca a conveniência do usuário como o principal dos princípios.
Assim, as “[...] decisões relativas à descrição e às formas controladas
dos nomes para acesso devem ocorrer tendo em conta o utilizador
(usuário).” (INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS
AND INSTITUTIONS, 2009a, p. 2).14
Em 2016 nova edição dos International Cataloguing Principles
acontece. A justificativa para sua atualização, segundo a International
Federation of Library Associations and Institutions (2016), considera
os usuários, o ambiente de acesso aberto, a interoperabilidade e
acessibilidade de dados, os recursos de ferramentas de descoberta
e a mudança significativa de comportamento do usuário em geral.
Nesta edição, além dos princípios já presentes na edição de 2009,
novos princípios são agregados com a finalidade de atender novas
demandas de tecnologias e usuários. São eles (com destaque os novos):
[1] Conveniência do usuário, [2] Uso comum, [3] Representação, [4]

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Exatidão, [5] Suficiência e necessidade, [6] Significância, [7] Economia,


[8] Consistência e normalização, [9] Integração, [10] Interoperabilidade,
[11] Abertura, [12] Acessibilidade e [13] Racionalidade.
Uma das diferenças entre as edições de 2009 e 2016 em relação
à edição de 1961 é que, as mais recentes trazem orientação para a
descrição bibliográfica15.
A partir de informações dos Princípios Internacionais de
Catalogação, publicados pela International Federation of Library
Associations and Institutions (1961, 2009a, 2016), e de Santos e Corrêa
(2009), o Quadro 1 demonstra uma comparação entre as Declarações
que foram publicadas.

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Quadro 1 – Quadro comparativo das definições presentes nos Princípios Internacionais de Catalogação (ICP) de 1961, 2009 e 2016
Categorias ICP 1961 ICP 2009 ICP 2016
Escolha de Pontos de acesso e cabeçalhos Entidades, atributos e relações; descrição Entidades, atributos e relações; descrição bibliográfica;
Abrangência bibliográfica; pontos de acesso; fundamentos pontos de acesso; fundamentos das capacidades de
para a funcionalidade de pesquisa pesquisa
Não menciona. Conveniência do usuário; Uso comum; Conveniência do usuário; Uso comum; Representação;
Representação; Exatidão; Suficiência e Exatidão; Suficiência e necessidade; Significância;
Princípios necessidade; Significância; Economia; Economia; Consistência e normalização; Integração;
Consistência e normalização; Integração. Interoperabilidade; Abertura; Acessibilidade;
Racionalidade

Recursos Livros impressos Todos os tipos de recursos informacionais Todos os tipos de recursos informacionais
informacionais
O catálogo deve ser um instrumento eficiente para O catálogo deve ser um instrumento efetivo e O catálogo deve ser um instrumento eficaz e eficiente
verificar: se a biblioteca contém um determinado livro eficiente que permita ao utilizador (usuário): que permite ao usuário: encontrar um determinado
especificado por seu autor e título, ou se o autor não for encontrar um determinado recurso; identificar recurso; identificar um recurso bibliográfico ou agente;
mencionado no livro, apenas seu título, ou se autor e título um recurso bibliográfico ou agente; selecionar selecionar um recurso bibliográfico que seja apropriado
forem inadequados ou insuficientes para identificação, um recurso bibliográfico que seja apropriado às às necessidades do usuário; adquirir ou obter acesso a um
um substituto adequado para o título; e quais obras de um necessidades do usuário; adquirir ou obter acesso item descrito; navegar e explorar num catálogo ou para
Funções do catálogo
determinado autor e quais edições de uma determinada a um item descrito; navegar num catálogo ou para além dele.
obra estão na biblioteca. além dele.

O catálogo deve atender às necessidades e ao interesse A conveniência do usuário é o princípio mais Considera novas categorias de usuários e a mudança
do usuário. determinante. significativa do seu comportamento em geral.
Usuário

Não menciona. Indica que: deve ser criada uma descrição - deve-se criar uma descrição bibliográfica separada para
bibliográfica separada para cada Manifestação; cada Manifestação;
a descrição bibliográfica baseia-se,
tipicamente, no item e pode incluir atributos - os dados descritivos devem ser baseados numa norma
tanto da obra quanto da expressão; os dados internacionalmente vigente;
Descrição bibliográfica
descritivos devem ser baseados numa norma
- as descrições podem ser feitas de acordo com vários
internacionalmente vigente; as descrições
níveis de detalhe, dependendo dos objetivos do
podem ser feitas de acordo com vários níveis de
catálogo.
detalhe, dependendo dos objetivos do catálogo
ou ficheiro (arquivo) bibliográfico.

Fonte: Adaptação a partir de International Federation of Library Associations and Institutions (1961, 2009a, 2016) e de Santos e Corrêa (2009).

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4 OS INSTRUMENTOS DE CATALOGAÇÃO
A catalogação teve desenvolvimento concomitante de
instrumentos que auxiliassem a sua prática e a constituição de sua
teoria. Assim, tanto a catalogação descritiva quanto a temática, fazem
uso de códigos, normas e/ou padrões que orientam a elaboração e o
arranjo de catálogos.
Para Chaplin (1956) além de ser uma declaração de práticas,
um código de catalogação pode ser entendido como um conjunto de
regras destinadas a aplicar-se aos catálogos, visto que é um instrumento
de padronização. Ele ainda lembra que as vantagens na uniformização
dos catálogos são sentidas na economia de tempo tanto do usuário
quanto para os produtores de catálogos.
Neste capítulo apresentaremos uma abordagem geral sobre os
códigos de catalogação e seu percurso histórico, com destaque para
os códigos anglo-americanos e a ISBD.

4.1 Códigos de catalogação


Para Strout (1956), os primeiros códigos de catalogação foram
produzidos no século XVI, influenciados pelo impacto que a invenção da
imprensa causou às bibliotecas, além de movimentos políticos, culturais
e intelectuais que promoveram mudanças nas bibliotecas da época.
Gorman e Oddy (1997) apontam três idades dos códigos
modernos de catalogação em língua inglesa, a saber:
• primeira idade: característica do século XIX, dos códigos de
única autoria, principalmente os de Panizzi e Cutter;
• segunda idade: marcado, quase ao mesmo tempo, com
o início do século XX; idade do códigos de autoria de um
comitê; e
• terceira idade: anunciada pelas ideias de Seymour Lubetzky
e do AACR.

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Os códigos de catalogação visam definir as regras para a


elaboração do registro bibliográfico e buscam uma uniformidade na
representação das obras, o que tornam esses registros únicos, tanto
em uma rede de bibliotecas quanto em grupos bibliotecas isoladas.
Os códigos de catalogação aproximam, cada vez mais, o modo que
diferentes bibliotecas registram seus materiais.
Cunha e Cavalcanti (2008, p. 89) definem código de catalogação
como um “[...] conjunto de regras para a elaboração de registros
bibliográficos, cuja finalidade é assegurar a consistência na preparação
desses registros.” Os vários códigos de catalogação que surgiram
ao longo do tempo buscavam uma forma de tornar os registros
bibliográficos integrados em um catálogo e coerentes em sua relação,
de modo que permitissem relacionar os itens catalogados, apesar de
serem descritos individualmente.
A partir de Strout (1956) e Souza (1997), e com dados que foram
acrescentados por nós a partir de pesquisa bibliográfica, pode ser mais
bem compreendida a cronologia dos códigos, tratados e acontecimentos
que influenciaram as bases da catalogação:
• 1560, com o tratado de Florian Trefler: este monge beneditino
publicou em Augsburg (Alemanha) um tratado sobre a
manutenção de uma biblioteca, intitulado Methodus exhibens
per varios indices, et classes subinde, quorumlibet librorum,
cuiuslibet bibliothecae, breve, facilem, imitabilem ordinationem.
Em seu tratado, Trefler defendeu que um catálogo deveria
consistir em cinco partes: um catálogo de autor, uma lista
de prateleira, um índice confidencial, um índice alfabético e
uma lista de livros. Esta foi a primeira vez que ficou evidente a
importância de se estabelecer mais de uma forma de acesso;
• 1595, com Andrew Maunsell: o livreiro inglês compilou seu
Catalogue of English Printed Book e, no prefácio, declarou

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suas regras para a definição do ponto de acesso principal.


Entre as exigências, constava a necessidade de inclusão
de tradutor e de dados da imprenta. O documento trazia,
ainda, indicações de que uma obra anônima deveria ter a
sua entrada pelo título e/ou pelo assunto;
• Século XVI, com os primeiros códigos de catalogação: grande
impacto por conta da imprensa na produção de livros, do
surgimento das universidades e da destruição tanto de livros
quanto de bibliotecas;
• Século XVII, com Sir Thomas Bodley: no início deste Século,
Bodley apareceu como uma figura importante na cena de
catalogação por ter proposto o código de Bodley, que incluía
um índice alfabético de autor organizado pelo sobrenome
e métodos minuciosos de catalogação que, entre outras
regulamentações, definia que os nobres fossem inseridos
pelos nomes de suas respectivas famílias. Bodley aproximou-
se dos usuários com o intuito de identificar como deveria
ser o funcionamento do catálogo;
• 1650, com o tratado de John Dury: foi quem indicou a
necessidade de que, anualmente, complementos aos
catálogos deveriam ser impressos;
• 1697, com Humphrey Wanley: foi quem levantou questões
para o melhoramento da construção e do uso de catálogos,
com destaque para o fato de que os registros deveriam ter a
indicação de títulos e datas, serem escritos no idioma do livro,
ter o tamanho e o nome do editor de um livro, e mencionar
se um livro não tivesse lugar ou data;
• 1697, com Frederic Rostgaard: publicou em Paris seu discurso
sobre um novo método de criação de um catálogo de

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bibliotecas. As regras de Rostgaard, intituladas Project d’une


nouvelle methode pour dresser le catalogue d’une bibliotheque,
exigiam um arranjo de assunto subdividido por ordem
cronológica e por tamanho de volume. Para ele o catálogo
deveria ser organizado em tal grau que os autores que
tratassem do mesmo assunto e todas as edições de uma
mesma obra fossem encontrados juntos;
• 1791, com o primeiro código de catalogação (França):
durante a Revolução Francesa e, após o recém-formado
governo do país, foram estabelecidas as direções para sua
reorganização. Dentre as direções, o governo enviou às
bibliotecas instruções para catalogar suas coleções, intitulado
Instruction pour procéder de la confection du catalogue de
chacune des bibliothèques sur lesquelles les Directoires ont dit ou
doivent incessamment apposer les scelle . Daí o surgimento do
primeiro código nacional de catalogação. Também é nesse
período que aparece pela primeira vez o catálogo em fichas;
• Século XIX, com Thomas Hartwell Horne: publicou na
primeira parte do Século, na Inglaterra, um esquema de
classificação e um código de regras de catalogação, intitulado
A Catalogue ... Methodically Arranged e chamou a atenção
para o fato de que um livro não se limitava a apenas uma
entrada de assunto;
• 1841, com Sir Anthony Panizzi: quem cria, com colaboradores,
as 91 Regras, destinadas à catalogação do acervo da
British Museum Library, o que constituiu o primeiro código
de catalogação completo. Este foi um passo de muita
importância para a catalogação britânica e americana;

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• 1852, com Charles Coffin Jewett: publica um código, chamado


Smithsonian Report on the Construction of Catalogues of
Libraries, and of a General Catalogue and Their Publication by
Means of Separate, Stereotyped Titles, with Rules and Examples,
baseado naquele elaborado por Panizzi. Jewett expandiu
algumas regras de Panizzi, mas, também propôs novas;
• 1876, com Charles Ammi Cutter: publicou Rules for a Printed
Dictionary Catalogue, um código constituído de 369 regras,
e, a partir dele, criou-se a escola americana de catalogação.
Cutter firmou seu nome na história da catalogação e ainda
hoje suas teorias são amplamente usadas nos serviços
catalográficos;
• 1883, com a publicação de Condensed Rules for author and
title catalog, na revista Library Journal;
• 1899, com as instruções prussianas: resultado do Instruktionen
für die Alphabetischen Kataloge der Preussischen Bibliotheken,
publicado em 1890;
• 1908, com a 2ª edição de instruções prussianas;
• 1908, com o código da ALA: publicado como Cataloguing
rules: author and titles entries, teve sua origem no trabalho
Condensed Rules for author and title catalog, publicado em
1883, e é resultado de estudo sugerido por Dewey, em
colaboração com a British Library, das normas da Library of
Congress;
• 1922, com o código nacional italiano: publicado sob o título
de Relege per la compilazione del catalogo alfabetico, foi o
primeiro código oficial italiano;

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• 1927, com o código da Vaticana: foi criado com o título de


Norme per il catalogo deglistampait;
• 1931, com a Norme per il catalogo degli stampati: revisão do
código da Vaticana a partir das orientações do código da
ALA e das regras usadas pela Library of Congress;
• 1938, com Ranganathan: em sua obra Theory of library
catalogue, Ranganathan estabeleceu os cânones a serem
considerados na delimitação do conjunto de regras de
catalogação;
• 1939, com a 2ª edição do código da Vaticana;
• 1941, com a 2ª edição do código da ALA: publicado em duas
partes, uma voltada a entradas e cabeçalhos, e a outra à
descrição de livros, esta edição foi revisada visto que a
edição de 1908 do código da ALA não foi bem aceita pelos
catalogadores;
• 1949, com a comissão de catalogação para revisão e nova
redação de instruções prussianas: apesar de voltada às
bibliotecas universitárias da Alemanha, foi adotada também
na Áustria, Hungria, Suécia, Suíça, Holanda e Noruega;
• 1949, com revisão da 2ª edição do código da ALA: por ser
considerada prolixa e complexa nova revisão foi feita, o que
resultou em dois volumes distintos e independentes: ALA
cataloguing rules for author and titles entries, editado por Clara
Beetle; e Rules for descriptive cataloguing in the LC;
• 1949, com a 3ª edição do código da Vaticana: edição
traduzida para vários idiomas, inclusive português, com
ampla aceitação na América Latina;

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• 1949, com as Normas de Catalogação de Impressos: tradução


do código da Vaticana para o português, com iniciativa de
Lydia de Queiroz Sambaquy (Brasil);
• 1952, com nova revisão do código da ALA por Lubetzky: por
conta da continuidade de críticas, Lubetzky foi convidado
a apresentar um relatório de revisão, o que resultou na
publicação de Cataloguing rules and principles: a critique of
ALA rules for entry and proposed design for their revision;
• 1962, com a tradução da 3ª edição do código da Vaticana
para o português;
• 1964, com Ranganathan: em Classified catalogue code,
Ranganathan propõe outros cânones, o que formou um
conjunto de nove a serem observados quanto à elaboração
de códigos de catalogação, assim como as regras destes
códigos;
• 1967, com o Anglo-American Cataloging Rules (AACR):
publicado a partir de revisão feita pela ALA, LC, Library
Association da Grã-Bretanha e Canadian Library Association,
do código da ALA, com adaptação a partir dos princípios
discutidos na International Conference on Cataloguing
Principles, ocorrida em 1961, em Paris;
• 1969, com o Código de Catalogação Anglo-Americano:
tradução do AACR para o português, com adaptações das
regras e inclusão de apêndices;
• 1971, com a edição preliminar da ISBD(M);
• 1974, com publicação da ISBD(M);

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• 1975, com a tradução da ISBD(M) para o português: por


iniciativa de Maria Luiza Monteiro da Cunha, e financiada
pela FEBAB;
• 1978, com a publicação do AACR2: com as adaptações a
partir da ISBD(M) à primeira edição do AACR;
• 1983, com a publicação do primeiro volume do AACR2 no
Brasil;
• 1985, com a publicação do segundo volume do AACR2
no Brasil: teve um apêndice especial à edição brasileira,
nomeado Entradas para nomes de língua portuguesa.
Apresentada a cronologia de fatos que marcaram o desenvolvimento
de tratados e de códigos de catalogação, vamos nos concentrar nos códigos
de catalogação anglo-americanos, amplamente adotados no Brasil.

4.2 Código de catalogação anglo-americano (AACR,


AACR2 e AACR2r)
Por sugestão de Melvil Dewey, em 1904, a American Library
Association (ALA), nos Estados Unidos, e a Library Association, na Grã-
Bretanha, concordaram em cooperar para a elaboração de um código
anglo-americano. O resultado da cooperação culminou na publicação,
em 1908, do primeiro código internacional de catalogação: Catalog
Rules, Author and Title Entries, com edição britânica e americana.
Após separações causadas pela Segunda Guerra e a realização da
International Conference on Cataloguing Principles, em 1961, foi publicada,
em 1967, as Anglo-American Cataloguing Rules (AACR), ainda em edições
em cada país, que contou com considerações sobre os Princípios de Paris
e com as ideias de Seymour Lubetzky (JOINT STEERING COMMITTEE
FOR DEVELOPMENT OF RDA, 2009).

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Quanto ao objetivo do AACR, Fusco (2011, p. 32) escreve que é


o de servir de padrão para a catalogação “[...] no âmbito internacional
servindo de base para o tratamento de informação por meio de um
sistema de pontuação em que a catalogação pode ser feita pelo suporte
físico da obra, através da forma escrita convencional ou legível por
máquina.” Por ser produto de um encontro de ideias de vários teóricos
e de catalogadores de diversas partes do mundo, o AACR busca ser um
código que atende às necessidades desses profissionais.
Do International Meeting of Cataloguing Experts, realizado em
Copenhague, em 1969, resultou a International Standard Bibliographic
Description (ISBD). Como consequência de sua publicação, o AACR
passou por revisões para estar em conformidade com essa padronização
internacional agora exigida.
Gorman e Oddy (1997) lembram que a segunda edição do
código anglo-americano, reconhecida como AACR2, surgiu no início
da década de 1970 e se configurava como a harmonização dos textos
britânicos e americanos, com modificações fundamentais. Para Gorman
e Oddy (1997), o AACR2 se baseou em princípios e determinou que [1]
as descrições deveriam ser formuladas em conformidade com a ISBD;
[2] os meios de comunicação deveriam ser tratados do mesmo modo;
[3] as descrições deveriam basear-se no item bibliográfico; [4] os pontos
de acesso deveriam ser derivados da natureza da obra que está sendo
catalogada e não da natureza da entidade bibliográfica descrita.
Arquitetado como um código voltado à catalogação de materiais
impressos em papel, o AACR2 passou por várias atualizações com a
finalidade de melhorar seu desempenho e oferecer regras para registrar
o maior número de mídias possível.

[...] anteriormente, o impresso era o meio dominante na


comunicação registrada. Os formatos eram mais estáveis
de se compreender e categorizar. Afinal, as pessoas eram
também analógicas no uso dos recursos existentes.

Capa | Sumário | 46
Desta maneira, um vídeo ou um áudio (em cassete)
tinham os suportes delineados e os catalogadores
podiam descrevê-los sem dificuldades como conteúdos
de algo real. Com a evolução tecnológica, surge uma
nova variedade de mídias. (SILVA, 2008).

Em 1997, em Toronto, durante a realização de International


Conference on the Principles and Future Development of AACR, Gorman
e Oddy (1997), ao avaliarem as necessidades e cautelas para a revisão
do AACR2, apontaram que dez questões deveriam ser ponderadas em
relação à revisão do código, sem deixar de atender aos princípios em
que ele se baseia:
1. desconsiderar as regras especiais, como os casos de obras
religiosas e leis;
2. desbastar as excessivas regras descritivas de casos especiais;
3. definir regras para os itens “não publicados” (textos impressos
e eletrônicos, vídeos, gravações de som etc.);
4. ter novos capítulos, ou capítulos revisados para às novas
mídias;
5. rever as questões de acesso as novas mídias;
6. revisar a Parte 2, à luz dos conceitos de registros de
autoridade;
7. estudar as questões de microformas;
8. revisar os exemplos e adicionar exemplos para as novas
mídias;
9. consolidar, unificadamente, o MARC e o AACR2;
10. que a LC deixe de emitir exemplos que não tenham a
finalidade de melhorar o acesso.
Com revisões em 1988, 1998 e em 2002, o AACR2 teve, também,
adições em 1999 e 2001.
Coyle e Hillmann (2007) enfatizam que a publicação do AACR2
ocorreu às vésperas da grande mudança tecnológica: o computador e

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a rede eletrônica, fato que evidencia que atualizações do AACR2 logo


seriam requeridas.

4.3 International Standard Bibliographic Description


(ISBD)
Após a conferência que deu origem aos Princípios de Paris,
o Committee on Uniform Cataloguing Rules, vinculado à International
Federation of Library Associations and Institutions, ao considerar as suas
atividades pós conferência, propôs a realização, em 1968, do International
Meeting of Cataloguing Experts. Para dar ideia da importância desta
reunião, a avaliação que Estivill Rius (2012) faz dos Princípios de Paris
e da International Meeting of Cataloguing Experts é que os primeiros
trataram dos objetivos e da estrutura dos catálogos, e que a reunião
tratou dos acordos para normalizar o bloco descritivo do registro.
Segundo a International Federation of Library Associations and
Institutions (1970), outros fatores também foram ponderados para a
realização da reunião, dentre eles [1] a revisão de códigos de catalogação
influenciados pelos Princípios de Paris; [2] o estabelecimento de um
padrão internacional de descrição, que levou ao estudo comparativo
das práticas de catalogação e bibliografia, desenvolvido por Michael
Gorman, sob um contrato da UNESCO; [3] o programa de catalogação
compartilhada da Library of Congress, e; [4] o crescente processo de
automação dos serviços de bibliotecas.
A reunião contou com 38 participantes de 32 países16, o
que acarretou em modificações expressivas na catalogação e,
consequentemente, nos códigos.
A agenda da Reunião deveria contemplar as seguintes pautas
(INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS AND
INSTITUTIONS, 1970): [1] revisar o progresso na aplicação da Declaração
de Princípios e aprovar um texto definitivo para a edição anotada dos

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Princípios; [2] estabelecer princípios para o conteúdo descritivo das


entradas do catálogo; [3] examinar os Programas de Catalogação e a
possibilidade de estendê-lo internacionalmente; [4] considerar o uso
do computador no registro e na troca de informações bibliográficas;
e [5] ponderar o impacto da mecanização nos catálogos e códigos de
catalogação.
No decorrer da Reunião, evidenciou-se que, apesar do avanço das
discussões sobre o padrão de descrição bibliográfica, o tempo disponível
não permitiria o detalhamento do padrão. Sendo, assim, foi formado um
grupo para a que fosse composto um padrão de descrição bibliográfica,
bem como a forma e a ordem de seus componentes (INTERNATIONAL
FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS, 1970).
A Reunião abordou ainda questões referentes à catalogação
compartilhada, baseada em atividades realizadas pelas bibliotecas
norte-americanas, e que objetivava a economia de tempo e dinheiro,
além da busca pela padronização internacional. Houve acordo quanto
ao fato de que a proposta da catalogação compartilhada causava
variações nas descrições, mas que tais variações eram aceitas; destacou-
se, porém, que uma uniformidade maior deveria ser almejada, uma
vez que essas variações levariam a incertezas na identificação da
informação (INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS
AND INSTITUTIONS, 1970). Isso, porém, só teria condições de acontecer
se houvesse padronização da forma e do conteúdo da descrição
bibliográfica.
É nesse contexto de discussões sobre a catalogação compartilhada
e a automatização dos serviços de bibliotecas que nasce a International
Standard Bibliographic Description (ISBD), cujo objetivo era o de servir
como um padrão voltado ao Controle Bibliográfico Universal, ou
seja, tornar disponível, de modo internacionalmente aceito, os dados
bibliográficos básicos de todos os recursos publicados em todos os países.
Com o principal objetivo de fornecer consistência ao compartilhar
informações bibliográficas, a ISBD é o padrão que determina os

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elementos de dados a serem gravados ou transcritos em uma


sequência específica como base da descrição do recurso que está sendo
catalogado e, para isso, faz uso de pontuação prescrita como um meio
de reconhecer e exibir elementos de dados e torná-los compreensíveis
independentemente da linguagem da descrição (INTERNATIONAL
FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS, 2011).
Para Spaulding (1973), ao fazer uso da pontuação prescrita, a ISBD
oferece meios para que elementos bibliográficos sejam identificados,
independente da linguagem utilizada, tanto por humanos quanto por
máquinas.
Segundo a International Federation of Library Associations and
Institutions (2011), os trabalhos sobre a ISBD foram sido pautados pelos
princípios:
• de fornecer determinações consistentes para a descrição de
todos os tipos de recursos publicados;
• de fornecer determinações para a catalogação descritiva
compatível em todo o mundo;
• de atender diferentes níveis de descrição;
• de especificar os elementos descritivos necessários para
identificação e seleção de um recurso;
• de manter o foco no conjunto de dados bibliográficos;
• de considerar as práticas sobre o custo efetivo das determinações
para a descrição dos recursos.
A primeira edição da ISBD, voltada para publicações
monográficas, identificada como ISBD(M), foi publicada em 1971.
Comentários de usuários da ISBD(M) levaram à decisão de produzir
um texto revisado, publicado em 1974 como a “Primeira edição padrão”.
Também foi neste ano que foi publicada a ISBD(S), para publicações
seriadas. Diante da proposição de que um padrão geral para todos os
tipos de materiais daria melhores resultados, feita pelo Joint Steering

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Committee for Revision of the Anglo-American Cataloguing Rules para


o IFLA Committee on Cataloguing, em 1975, a ISBD(M) foi revisada e,
assim, a ISBD(G), foi publicada somente em 1978. Em 1977 houve a
publicação da ISBD(CM), para materiais cartográficos, da ISBD(NBM),
para materiais não-livros, e a revisão da ISBD(S). Em 1980, vieram a
ISBD(A), para publicações monográficas antigas, e a ISBD(PM), para
música impressa.
Na IFLA Conference, realizada em 2003, em Berlim, o ISBD Review
Group decidiu formar o Study Group on Future Directions of the ISBDs
que, em suas reuniões decidiu que a consolidação de todas as ISBDs
era viável. Também foi neste ano que, por conta das mudanças na
natureza dos recursos e do desenvolvimento tecnológico que impactou
o acesso aos recursos informacionais, o ISBD Review Group nomeou um
grupo para o estudo das designações de materiais gerais e específicos,
intitulado de Material Designations Study Group.
Na reunião do IFLA Conference, em 2007, em Durban, a edição
preliminar consolidada da ISBD havia sido publicada e o Material
Designations Study Group havia elaborado uma proposta de conteúdo
para ser discutida pelo ISBD Review Group. Após novas revisões e um
período de revisão mundial, uma nova Área 0, chamada Content Form
and Media Type Area, foi aprovada em 2009.
Algumas outras mudanças que se destacam na edição atual são:
• o texto foi editado para evitar redundância e conseguir mais
harmonização;
• os níveis de elementos obrigatórios, opcionais e condicionais
foram simplificados para indicar apenas quando um
elemento é obrigatório;
• a base da descrição, que constitui o objeto da descrição
bibliográfica, foi esclarecida;
• mais atenção foi dada aos recursos monográficos multipartes;

Capa | Sumário | 51
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• as fontes de informação foram revisadas para consistência


terminológica e aplicação;
• mais consideração foi dada aos requisitos de escritas não-
romanos;
• foram removidas as estipulações para a descrição de recursos
monográficos mais antigos que não correspondiam à ISBD;
• foi esclarecido que os qualificadores são diferentes dos
elementos;
• a área 5 foi renomeada de modo a permitir que os recursos
impressos sejam descritos de forma consistente com outros
materiais;
• o nome da área 6 foi expandido; e,
• novas definições foram incluídas no glossário.
Apesar das mudanças introduzidas pelos projetos de revisão,
resumidas acima, a estrutura essencial e os componentes de dados
da ISBD têm se mostrado relativamente estáveis ao longo dos anos
e continuam a ser amplamente utilizados na íntegra ou parcialmente
pelos criadores de códigos de catalogação e esquemas de metadados.
A ISBD é, notadamente, um dos principais marcos na história da
catalogação mundial e umas das mais importantes contribuições para
a padronização de descrição bibliográfica, tanto que Gorman ([2007])
a considera o padrão de catalogação internacional mais bem-sucedido
de todos os tempos.

Capa | Sumário | 52
5 OS MODELOS CONCEITUAIS DO UNIVERSO
BIBLIOGRÁFICO
Diante do contexto de necessidades teóricas da catalogação
surgem os modelos conceituas propostos pela International Federation
of Library Associations and Institutions, que trouxeram para a área amplas
discussões e impacto nas práticas, padrões e teorias da catalogação.
Segundo Chen (1990), modelo conceitual (expressão que vem
da Ciência da Computação) refere-se a um método adotado para a
definição do projeto lógico de um banco de dados. Neste modelo busca-
se fazer, por meio de diagramas, uma representação do mundo real,
independente das formas de armazenamento dos dados e da eficiência
do banco de dados. Por ser concebido a partir das funcionalidades dos
dados, as definições do modelo conceitual são feitas com base nas
relações entre as entidades (a “coisa” distintamente identificada) por
meio de seus atributos (qualificadores).
No delineamento dos modelos conceituais assume-se que as
abstrações do mundo real e sua semelhança com a realidade são de
ordem conceitual e não física (COYLE, 2016). Poulter (2013) apresenta
entidade como uma coisa capaz de existir de forma independente, que
pode ser identificada de forma exclusiva.
Além das entidades e dos atributos, os modelos conceituais
apresentam as relações estabelecidas entre as entidades; essa
composição de entidades, atributos e relacionamentos é o que demarca
um modelo conceitual.
O Esquema 1 é apresentado para ilustrar como os relacionamentos
são ligados às entidades. As setas que ligam as entidades marcam as
relações: pontas duplas de setas ilustram, por exemplo, uma relação
para muitos; as pontas únicas de setas indicam que a relação é unívoca.

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Esquema 1 – Relacionamentos entre entidades

PAÍS

Fonte: Adaptação de Chen (1990).

Nesse esquema notam-se quatro entidades: país, estado, cidade


e rua. O relacionamento entre elas pode ser explicado do seguinte modo:
um País pode ter vários estados (seta dupla chegando na entidade
Estado); mas um Estado está vinculado a somente um País (seta simples
chegando na entidade País); o mesmo ocorre com as outras entidades.
Os modelos conceituais no universo bibliográfico foram
propostos para servir de orientação à catalogação e colocam-se como
posições teóricas no sentido de orientar a construção de padrões,
normas, códigos que direcionam os registros bibliográficos usando de
uniformidade, a despeito das diferenças culturais, linguísticas, tipos de
conteúdo e sobre os seus suportes informacionais.
De acordo com Frederick (2017), diante das amplas discussões
na comunidade de catalogação, passou-se a acreditar que um modelo
teórico de informação bibliográfica precisava ser criado e usado pelos
catalogadores no lugar das regras tradicionais. Os debates dessa

Capa | Sumário | 54
natureza levaram a comunidade bibliotecária a refletir teoricamente
sobre os motivos pelos quais as regras são necessárias e amplamente
adotadas na prática.
Os modelos conceituais usados no domínio biblioteconômico,
reconhecidos como família FR, são modelos abstratos. Joudrey, Taylor
e Miller (2015) definem os FRs como um arcabouço teórico básico
para a compreensão dos componentes do universo bibliográfico. Essa
exposição reforça que a família FR foi estabelecida com a finalidade de
orientar a construção de padrões, e não de tornarem-se padrões de
catalogação em si mesmos.
Para Coyle (2016) até o surgimento do Functional Requirements
for Bibliographic Records (FRBR), as descrições bibliográficas eram feitas
de forma muito restrita, limitando-as às características materiais/físicas,
ou às características que eram mais visíveis ou facilmente identificáveis,
não dando a atenção necessária aos conteúdos que os suportes
informacionais carregam. Desse modo, a contribuição que a abordagem
dos modelos conceituais traz pressupõe uma redefinição da descrição
bibliográfica de um grupo fixo e imóvel de dados para um conjunto de
unidades de informação inter-relacionadas que podem ser vistas sob
diferentes pontos de vista.
Pelo fato de os modelos conceituais voltarem-se à compreensão
sobre as funções de um registro bibliográfico, vamos olhar com mais
detalhe os requisitos funcionais propostos pela IFLA: Functional
Requirements for Bibliographic Records (FRBR), Functional Requirements
for Authority Data (FRAD) e Functional Requirements for Subject Authority
Data (FRSAD).

Capa | Sumário | 55
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5.1 Functional Requirements for Bibliographic Records


– FRBR
Resultado de um exame sobre as funções que os registros
bibliográficos devem exercer nos processos de busca e recuperação
realizados pelos usuários é que foi publicado em 1998, como relatório
final de um estudo desenvolvido pelo Standing Committee on Cataloging
da IFLA, o documento Functional Requirements for Bibliographic Records:
Final Report (INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS
AND INSTITUTIONS, 1998).
Na introdução deste relatório final fica evidente a principal
razão que motivou a sua construção: o crescimento da catalogação
cooperativa ou compartilhada, que se tornou uma necessidade que
começou a contar com a força dos avanços tecnológicos que deram
impulso à catalogação compartilhada, além de contribuir para o controle
bibliográfico. A própria demanda causada pelos avanços tecnológicos
trouxe fatores que também influenciaram o exame da catalogação
prática e teórica em âmbito internacional, feito pela IFLA, o que resultou
na publicação do FRBR.
Um ponto decisivo para a elaboração do FRBR foi a questão
dos custos com a catalogação que seria resolvida com a redução de
duplicatas de catalogação. A intenção da IFLA era a de propor um
modelo que simplificasse a elaboração de códigos de catalogação, o que
atinge, consequentemente, o processo catalográfico, e que contasse com
as transformações acarretadas pela constante inovação nas tecnologias.
Buscava-se, assim, acomodar mudanças que trouxeram consigo novas
formas de publicações eletrônicas e os adventos de acesso a recursos
informacionais em rede. (INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY
ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS, 1998).
Dois objetivos propostos no FRBR estabeleceram a estrutura
do modelo: o primeiro, que indica a necessidade de relacionar
dados bibliográficos às necessidades do usuários, e o segundo, que

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aconselha considerar as relações de atributos e entidades dos modelos


conceituais com as tarefas dos usuários (INTERNATIONAL FEDERATION
OF LIBRARY ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS, 1998). Os dois objetivos
estão inter-relacionados pois, enquanto o primeiro propõe identificar
as entidades, analisar os atributos que se associam a cada uma das
entidades, estabelecer as relações e determinar os atributos e as relações
que se associam a cada entidade, bem como relacioná-los às tarefas
dos usuários, o segundo recomenda um nível básico para o registro
bibliográfico, sem deixar de considerar as relações dos atributos e
entidades com as tarefas do usuário.
No relatório final do FRBR são definidos três grupos de entidades
e a forma de relacionamento entre eles: 1) para ilustrar produtos do
trabalho intelectual ou artístico; 2) para indicar a responsabilidade
pelos produtos do grupo 1, quer sejam desenvolvidos ou criados
ou produzidos ou disseminados ou custodiados; e 3) para indicar os
assuntos das obras do grupo 1.
Desse modo, é possível compreender que produtos intelectuais
ou artísticos, referenciados no Grupo 1, são identificados no relatório
da International Federation of Library Associations and Institutions
(1998), pelas entidades:

• Obra: uma distinta criação intelectual ou artística; entidade


abstrata; não há um único objeto que possa ser apontado
como obra; a obra é reconhecida por meio de realizações
individuais ou expressões da obra;
• Expressão: realização intelectual ou artística de uma obra na
forma de notação alfa-numérica, musical ou coreográfica,
som, imagem, objeto, movimento, etc., ou qualquer
combinação de tais formas; é a forma intelectual ou artística
específica que uma obra leva cada vez que é “realizada”;
• Manifestação: personificação física de uma expressão de
obra; corporificação; abrange uma ampla gama de materiais,

Capa | Sumário | 57
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incluindo manuscritos, livros, periódicos, mapas, pôsteres,


gravações de som, filmes, gravações de vídeo, CD-ROMs,
kits multimídia etc.; representa todos os objetos físicos que
possuem as mesmas características, tanto no que diz respeito
ao conteúdo intelectual quanto à forma física;
• Item: um único exemplar de uma manifestação; é uma
entidade concreta; em muitos casos, é um único objeto físico,
mas há casos em que compreende mais de um objeto físico.
O Esquema 2 ilustra a relação entre as entidades do Grupo 1
dos FRBR.
Esquema 2 – Relacionamento entre entidades do Grupo 1 do FRBR

OBRA

é realizada através de
EXPRESSÃO

é materializada em
MANIFESTAÇÃO

é exemplificada por
ITEM

Fonte: Adaptação de International Federation of Library Associations and Institutions (1998).

Fazem parte do Grupo 2 do FRBR, conforme indicação da


International Federation of Library Associations and Institutions
(1998), as seguintes entidades que indicam a responsabilidade pelo
desenvolvimento, criação, produção, disseminação ou custódia dos
produtos das entidades do Grupo 1:

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• Pessoa: um indivíduo; pessoas falecidas e vivas que estão


envolvidas na criação ou realização de uma obra (por
exemplo, como autores, compositores, artistas, editores,
tradutores, diretores, intérpretes, etc.), ou são objeto de uma
obra (por exemplo, como tema de uma obra biográfica ou
autobiográfica, história etc.);
• Instituição17: uma organização ou grupo de indivíduos e/
ou organizações, em atividade ou extintos, atuando como
unidade, identificados por um nome específico, incluindo
grupos ocasionais e grupos que são constituídos como
reuniões, conferências, congressos, expedições, exposições,
festivais, feiras etc.; também engloba organizações que
atuam como autoridades territoriais, exercendo funções
governamentais em um determinado território, como uma
federação, um estado, uma região, um município local etc.;
O Esquema 3 mostra o relacionamento entre as entidades do
Grupo 2 com o Grupo 1 do FRBR.

Esquema 3 – Relacionamentos entre as entidades do Grupo 1 e do Grupo 2 do FRBR

OBRA

é criada por

EXPRESSÃO é realizada por PESSOA

é produzida por

MANIFESTAÇÃO é propriedade de INSTITUIÇÃO

ITEM

Fonte: Adaptação de International Federation of Library Associations and Institutions (1998).

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O Grupo 3 do FRBR foi definido pela International Federation


of Library Associations and Institutions (1998) com as entidades que
podem ser assuntos das obras:
• Conceito: uma noção ou ideia abstrata; abrange uma
ampla gama de abstrações que podem ser objeto de
uma obra: campos de conhecimento, disciplinas, escolas
de pensamento (filosofias, religiões, ideologias políticas
etc.), teorias, processos, técnicas, práticas etc.; pode ser de
natureza ampla ou estritamente definido e preciso;
• Objeto: uma coisa material; abrange uma ampla gama de
coisas materiais que podem ser objeto de uma obra: objetos
animados e inanimados que ocorrem na natureza; objetos
fixos, móveis e móveis que são o produto da criação humana;
objetos que não existem mais;
• Evento18: uma ação ou ocorrência; abrange uma ampla gama
de ações e ocorrências que podem ser objeto de uma obra:
eventos históricos, épocas, períodos de tempo etc.;
• Lugar: um local; abrange uma ampla gama de locais: terrestre
e extra-terrestre; histórico e contemporâneo; características
geográficas e jurisdições geopolíticas.
O FRBR lista todas as entidades no Grupo 3, ao permitir que cada
uma delas seja, também, assunto de obras, conforme ilustra o Esquema 4.

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Esquema 4 – Relacionamentos de assunto da entidade Obra

tem como assunto OBRA EXPRESSÃO


OBRA

tem como assunto MANIFESTAÇÃO ITEM

PESSOA

CONCEITO OBJETO
INSTITUIÇÃO

EVENTO LUGAR

Fonte: Adaptação de International Federation of Library Associations and Institutions (1998).

As entidades em modelo entidade-relacionamento são


compostas por atributos, características particulares de cada entidade.
Com foco nas necessidades dos usuários, entendidos como o
usuário final e o catalogador, o FRBR propõe o relacionamento dos
valores dos atributos das entidades de modo que estes dados auxiliem,
eficientemente, a recuperação e o acesso aos suportes informacionais
por parte dos usuários. Com esse objetivo, o FRBR define quais são os
elementos de dados que correspondem às necessidades dos usuários
e propõe que esses dados sejam estratégicos para a recuperação.
Santos e Corrêa (2009, p. 31-32), ao descreverem o FRBR, acentuam
que “[...] o documento estabelece conceitos novos incluindo metadados
[...], que, futuramente, darão origem ao novo Código Internacional de
Catalogação, cujo objetivo principal será a satisfação do usuário.” Essa
afirmação ratifica o objetivo de o catálogo ser composto por registros
que buscam servir de auxílio aos usuários, tanto o usuário final como
o catalogador.19

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Segundo International Federation of Library Associations and


Institutions (1998, p. 82, tradução nossa), o FRBR aponta quatro tarefas
básicas a serem desenvolvidas pelos usuários na busca por informação:
• encontrar entidades que correspondam aos critérios de busca
formulados pelo usuário (isto é, localizar tanto uma única
entidade quanto um conjunto de entidades em um catálogo ou
base de dados como resultado de uma pesquisa que empregue
um atributo ou um relacionamento da entidade);
• identificar uma entidade (isto é, confirmar que a entidade
descrita corresponde à entidade procurada, ou distinguir entre
duas ou mais entidades com características similares);
• selecionar uma entidade que seja apropriada às necessidades do
usuário (isto é, escolher uma entidade que atenda aos requisitos
do usuário no que se refere ao conteúdo, formato físico etc., ou
recusar uma entidade que seja inadequada para as necessidades
do usuário);
• adquirir ou obter acesso à entidade descrita (isto é, adquirir
uma entidade por meio de compra, empréstimo etc., ou acessar
eletronicamente uma entidade por meio de uma conexão online
com um computador remoto).
Estas quatro tarefas formam o ponto de partida usado pelo
FRBR com o objetivo de tornar as informações recuperáveis de forma
simplificada e objetiva, uma vez que proporciona aos usuários satisfação
em suas buscas. No entanto, Denton (2007) esclarece que, na verdade,
essas tarefas são descendentes dos objetivos de Cutter: por exemplo,
o objetivo ‘encontrar um livro do qual o 4 seja conhecido’ tornou-
se ‘encontrar todas as manifestações que englobam as obras que
determinada pessoa física ou jurídica é responsável’ e ‘encontrar uma
manifestação particular quando o nome de pessoa ou instituição for
conhecido’.

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Denton (2007) enfatiza que apesar da forte ligação das tarefas do


usuário com os objetivos de Cutter, no FRBR, não há limitação do usuário,
visto que prevê busca por qualquer um dos atributos de qualquer uma
das entidades.
No âmbito da catalogação, o FRBR exercem importante papel.
A partir de sua publicação, em 1998, outros documentos basilares
da catalogação mundial passaram por alterações com o objetivo
de adequarem-se aos conceitos e às terminologias instituídas pelo
FRBR. A ISBD e os International Cataloguing Principles são exemplos de
documentos que fundamentam o fazer da catalogação e que foram
revisados e amoldados à partir da proposta do FRBR. Para Maxwell
(2008), o FRBR tem a função de ajudar a desvendar a explosão de
informações que é característica do final do século XX e início do século
XXI. O FRBR trouxe relevantes contribuições às práticas e às teorias dos
registros bibliográficos.

5.2 Functional Requirements for Authority Data (FRAD)


Resultado do estudo desenvolvido pelo Working Group on
Functional Requirements and Numbering of Authority Records (FRANAR),
criado em 1999 pela IFLA Division of Bibliographic Control e pelo IFLA
Universal Bibliographic Control and International MARC Programme
(UBCIM)20, o FRAD configura-se como uma extensão do FRBR, com
ênfase nas entidades do grupo 2, que tem responsabilidade sobre os
produtos intelectuais ou artísticos.
Publicado em 2009, com emendas e correções ocorridas em
2013, o FRAD tem ênfase nos dados de autoridade e apresenta, além
das entidades pessoa e instituição, presentes no FRBR, a entidade família.
Assim como o FRBR, o FRAD apresenta entidades, atributos, relações
e tarefas de usuários voltados aos dados de autoridade, e, inclusive,
repetem algumas das entidades presentes no FRBR.

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As entidades e os atributos apresentados no FRAD contribuem


para o estabelecimento da padronização dos dados de autoridade
que, no próprio documento (INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY
ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS, 2009b), são definidos como um
conjunto de informações sobre uma pessoa, uma família, uma instituição
ou uma obra cujo nome é usado como a base para um ponto de acesso
controlado para registros em um catálogo de biblioteca ou em uma
base de dados bibliográficos.
Os registros de autoridade, por sua vez, destinam-se a atender
às tarefas executadas pelos usuários para recuperar informações. Na
prática, um registro de autoridade contém o ponto de acesso autorizado
para a entidade (estabelecido pela agência de catalogação) e, também,
os pontos de acesso para as formas variantes do nome e sua relação
com os pontos de acesso autorizados. Também faz parte de um
registro de autoridade as informações que identificam as regras sob
as quais os pontos de acesso controlados foram estabelecidos, as fontes
consultadas, a agência de catalogação responsável por estabelecer
o ponto de acesso controlado etc. (INTERNATIONAL FEDERATION OF
LIBRARY ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS, 2009b).
Desse modo, os dados de autoridade são definidos pela
agência catalogadora para que subsidiem a construção dos registros
de autoridade, usados, por sua vez, pelos usuários ao acessarem os
catálogos. Ocorre que estes usuários vão além daqueles que são
atendidos diretamente pela unidade de informação, visto que os
FRAD foram propostos com o objetivo de suportar o controle de
autoridade e o compartilhamento internacional de dados de autoridade.
(INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS AND
INSTITUTIONS, 2009b).
Conforme o International Federation of Library Associations and
Institutions (2009b), os FRAD considera as seguintes entidades: pessoa,
família e instituição; obra, expressão, manifestação e item; conceito, objeto,

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evento e lugar; nome e identificador; ponto de acesso controlado; regras;


agência.
As entidades tiveram suas definições, em grande parte, derivadas
do FRBR, mas também foram definidas com base em Guidelines for
Authority Records and References (GARR).
As definições das entidades expressão, manifestação, item,
conceito, objeto, evento e lugar, mantiveram-se conforme apresentadas
no FRBR.
Outras, indicadas abaixo, tiveram suas definições atualizadas:
• Obra21: uma criação intelectual ou artística distinta (ou seja, o
conteúdo intelectual ou artístico);
• Pessoa: um indivíduo ou uma persona ou uma identidade
estabelecida ou adotada por um indivíduo ou grupo;
• Instituição: uma organização ou grupo de pessoas e/ou
organizações identificadas por um nome específico, agindo
como uma unidade.
Dentre as entidades que compõem o FRAD, são novas:

• Agências: instituição responsável pela criação ou modificação


de um ponto de acesso controlado; responsável pela
aplicação e interpretação das regras que cria e/ou usa;
também pode ser responsável pela criação e manutenção
dos identificadores dentro de seu domínio;
• Família: duas ou mais pessoas relacionadas por nascimento,
casamento, adoção, união civil (ou situação similar), ou quem
se apresenta como uma família;
• Identificador: um número, código, palavra, frase, logotipo,
dispositivo etc., associado a uma entidade, que serve para
diferenciá-la de outras entidades dentro do domínio em que
o identificador é atribuído; pode consistir de uma sequência
de identificadores e um prefixo e/ou sufixo;

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• Nome: um personagem, uma palavra ou um grupo de


palavras e/ou caracteres pelos quais uma entidade é
reconhecida;
• Ponto de acesso controlado: um nome, termo, código etc.,
sob o qual um registro bibliográfico ou de autoridade ou
uma referência será encontrado;
• Regras: um conjunto de instruções para a formulação e/ou
registro de pontos de acesso controlado (formas autorizadas,
formas variantes ou referências, etc.).
Assim como no FRBR, o FRAD objetiva relacionar os atributos
das entidades para facilitar a recuperação da informação pelos usuários,
além de servir de referencial tanto para catalogadores quanto para o
desenvolvimento de novos padrões e códigos de catalogação.
O Esquema 5 apresenta o modelo conceitual para dados de
autoridade. Para tanto, considera as entidades do grupo 1 (definidas no
FRBR) e sua relação com as entidades do grupo 2 (propostas no FRAD).

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Esquema 5 – Modelo conceitual para dados de autoridade

ENTIDADES BIBLIOGRÁFICAS
PESSOA

INSTITUIÇÃO
OBRA CONCEITO
FAMÍLIA
EXPRESSÃO OBJETO
é associado com
é associado com EVENTO
MANIFESTAÇÃO
LUGAR
ITEM

é base para
possui denominação é baseado em
NOME PONTO DE ACESSO
é denominação de
CONTROLADO
é atribuído
IDENTIFICADOR
é atribuído para
é controlado por
controla REGRAS

são aplicadas por


aplicam
é criado/modificado por AGÊNCIA
cria/modifica

Fonte: Adaptação de International Federation of Library Associations and Institutions (2009b).

A análise do Esquema 5 permite identificar diversas relações entre


as entidades. As linhas e setas marcadas com cor verde representam
as relações entre as entidades nome e identificador e as entidades
bibliográficas com as quais estão associadas. Uma instância específica de
qualquer uma dessas entidades bibliográficas pode ser conhecida por um
ou mais nomes (“possui denominação”), e por outro lado qualquer nome
pode estar associado a uma ou mais instâncias específicas de qualquer
uma das entidades bibliográficas (“é denominação de”). O mesmo ocorre
com a entidade identificador, com os relacionamentos “é atribuído” e “é
atribuído para”, que também estão com destaque em verde.
Nota-se, com destaque em azul, a relação de associação entre
as entidades obra, expressão, manifestação e item com as entidades
pessoa, família e instituição.
As relações retratadas na parte inferior do esquema, com
destaque em vermelho, representam as associações entre as entidades
nome e identificador e a entidade ponto de acesso controlado, e a

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associação entre essa entidade e as entidades regras e agências. Um


nome ou identificador específico pode ser a base para um ponto de
acesso controlado (“é base para”) e, por outro lado, um ponto de acesso
controlado pode ser baseado em um nome ou identificador (“é baseado
em”).
Os pontos de acesso controlados são regidos por regras (“é
controlado por/controla”) que, por sua vez, são aplicadas por uma
agências ou mais (“são aplicadas por/aplicam”). Da mesma forma, pontos
de acesso controlados são criados ou modificados por uma agência ou
mais (“é criado por/cria” e “é modificado por/modifica”.
De acordo com International Federation of Library Associations
and Institutions (2009b, p. 46, tradução nossa) as tarefas dos usuários,
nos FRAD, são assim divididas e conceituadas:
• Encontrar: encontrar uma entidade ou um conjunto de
entidades correspondentes aos critérios (ou seja, encontrar
uma única entidade ou um conjunto de entidades usando,
como critérios de pesquisa, um dos seus atributos ou
combinações de atributos ou relacionamentos da referida
entidade); ou explorar o universo das entidades bibliográficas
usando esses atributos e relacionamentos;
• Identificar: identificar uma entidade (ou seja, confirmar que
a entidade representada corresponde à entidade procurada,
distinguir entre duas ou mais entidades que tenham
características semelhantes) ou validar a forma do nome a
ser usado como um ponto de acesso controlado;
• Contextualizar: localizar uma pessoa, instituição, obra, etc.,
em seu contexto; esclarecer o relacionamento entre duas ou
mais pessoas, instituições, obras, etc.; esclarecer a relação
entre uma pessoa, instituição, etc., e um nome pelo qual
essa pessoa, instituição, etc., é conhecida (por exemplo, um
nome usado em religião e um nome secular);

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• Justificar: documentar o motivo pelo qual o criador dos


dados de autoridade escolheu o nome ou a forma do nome
no qual um ponto de acesso controlado se baseia.
As tarefas contextualizar e justificar são apresentadas
especificamente para os dados de autoridade e visam não apenas dar
a conhecer um determinado dado de autoridade, mas, também, justificar
o motivo pelo qual determinado ponto de acesso foi escolhido.

5.3 Functional Requirements for Subject Authority


Data (FRSAD)
Como o FRAD, que se configura como extensão das entidades
do grupo 2 do FRBR, o FRSAD é um aprofundamento das entidades
do grupo 3, que trata dos assuntos das obras. Apesar de o FRANAR
Working Group ter incluído alguns aspectos de assunto em seu estudo,
a análise não foi aprofundada, fato que levou à formação, em 2005, do
IFLA Working Group on the Functional Requirements for Subject Authority
Records (FRSAR) para que fossem estudados os dados de autoridade
de assunto. O relatório, chamado de FRSAD, teve publicação preliminar
em 2009 que, após revisão mundial, teve seu relatório final publicado
em 2010.
Os FRSAD ressalta que o objetivo do controle de autoridade “[...]
é garantir consistência na representação de um valor – um nome de
uma pessoa, um nome de local ou um termo ou código que representa
um assunto – nos elementos usados como pontos de acesso na
recuperação de informações.” (INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY
ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS, 2010, p. 8). Assim, uma obra pode
ser encontrada não somente pelo assunto em si, mas, também pelos
termos relacionados a ele, uma vez que os termos variantes levam ao
termo autorizado.22

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Voltado às necessidades do usuário, tal qual ocorreu no FRBR


e no FRAD, o principal objetivo do FRSAD é produzir uma estrutura
que forneça uma afirmação clara e uma compreensão comumente
compartilhada sobre as informações que os dados, registros e
arquivos visam fornecer, bem como a expectativa do que esses
dados devem alcançar em termos de resposta às necessidades dos
usuários (INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS
AND INSTITUTIONS, 2010). É com base nesta proposta que o FRSAD
mantém foco nos usuários para que tenham supridas suas necessidades
de acesso e uso da informação.
As entidades propostas no FRSAD não estão previstas nos
modelos conceituais anteriores. Os termos Thema e Nomen, adotados
para nomear as entidades, foram escolhidos por não terem um
significado pré-existente no contexto biblioteconômico, por serem
culturalmente neutros e nem requerem tradução. (INTERNATIONAL
FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS, 2010). O
relatório do FRSAD define estas entidades como:
• Thema: qualquer entidade utilizada como assunto de uma
obra;
• Nomen: qualquer sinal, ou sequência de sinais, pelo qual um
Thema é conhecido ou referido.
O Esquema 6 representa a relação entre as entidades do FRSAD,
no qual fica evidente que uma obra pode ter vários thema, assim como
um thema pode remeter a várias obras; do mesmo modo, um nomen
pode ser a denominação de vários thema, e um thema ser denominado
de vários nomen.

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Esquema 6 – Modelo conceitual FRSAD

tem como assunto tem denominação


OBRA THEMA NOMEN
é assunto de é denominação de

Fonte: International Federation of Library Associations and Institutions (2010, p. 15, tradução nossa).

De modo semelhante ao que ocorre com o FRBR e o FRAD, o


FRSAD contou, para finalidades de estudo, com a definição de tarefas
que o usuário executa para descobrir um recurso informacional. A
tarefa “explorar” é novidadeira em relação àquelas apresentadas no
FRBR e no FRAD:
• Encontrar um ou mais assuntos e / ou suas denominações, que
correspondem aos critérios declarados pelo usuário, usando
atributos e relacionamentos;
• Identificar um assunto e / ou sua denominação com base em seus
atributos ou relacionamentos (ou seja, distinguir entre dois ou
mais assuntos ou denominações com características semelhantes
e confirmar que o assunto ou denominação apropriado foi
encontrado);
• Selecionar um assunto e / ou sua denominação apropriada às
necessidades do usuário (ou seja, para escolher ou rejeitar com
base nos requisitos e necessidades do usuário);
• Explorar relacionamentos entre assuntos e / ou suas
denominações (por exemplo, para explorar relacionamentos,
para entender a estrutura de um domínio de assunto e sua
terminologia) (INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY
ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS, 2010, p. 9, tradução nossa).
Com a tarefa “explorar” é possível ao usuário ampliar as relações
no processo de recuperação de obras catalogadas sob determinado
assunto; essa tarefa permite que sejam descobertas outras relações
existentes com o assunto pesquisado.

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O Esquema 7 mostra as relações de assunto entre as entidades


e demonstra que qualquer entidade pode ser assunto de uma obra.

Esquema 7 - Entidades e relacionamentos do FRSAD

OBRA
OBRA

tem EXPRESSÃO
como assunto
MANIFESTAÇÃO
tem como assunto
ITEM
é assunto de

PESSOA
tem como assunto
INSTITUIÇÃO THEMA

FAMÍLIA

tem como assunto CONCEITO

OBJETO

EVENTO

LUGAR

tem denominação
NOMEN
é denominação de

Fonte: International Federation of Library Associations and Institutions (2010, p. 15, tradução nossa).

Neste esquema é possível visualizar que se configuram como


Thema as dez entidades previstas no FRBR (com o acréscimo da entidade
família, definida no FRAD), e não somente aquelas indicadas no FRBR
como entidades do grupo 3 (conceito, objeto, evento e lugar).
Tendo sido discutidos cada um dos modelos conceituais
propostos pela IFLA sobre como os dados bibliográficos e de autoridade
se relacionam em um registro bibliográfico, e, em específico, como foram

Capa | Sumário | 72
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definidas as tarefas do usuário, o Quadro 2 apresenta um cenário geral


das tarefas do usuário, previstas nos modelos conceituais FRBR, FRAD
e FRSAD, e que já foram discutidas.
Quadro 2 – Tarefas dos usuários nos modelos conceituais da IFLA
FRBR FRAD FRSAD
encontrar encontrar encontrar
identificar identificar identificar
selecionar contextualizar selecionar
obter justificar explorar
Fonte: Elaborado pelos autores.

Uma vez apresentados os modelos conceituais que compõem


a proposta da IFLA para as relações entre os registros bibliográficos,
o capítulo seguinte é voltado para apresentação e discussão sobre
um novo padrão de catalogação, proposto com base nos modelos
conceituais FRBR, FRAD e FRSAD, que vimos neste capítulo.

Capa | Sumário | 73
6 UM NOVO CÓDIGO DE CATALOGAÇÃO
O que impulsionou a criação de um novo código, visto que o
AACR2r estava sendo atualizado? Weiss e Larkin (2006) consideraram
quatro forças motrizes para a tomada de decisão quanto à criação de um
novo código de catalogação: [1] a realização da International Conference
on the Principles and Future Development of AACR, em Toronto, Canadá,
em 1997; [2] a publicação do Functional Requirements for Bibliographic
Records (FRBR), em 1998; [3] o Plano estratégico para o AACR; e [4] a
realização do IFLA Meeting of Experts on an International Cataloguing
Code, com edições anuais no período de 2003 a 2007, ocorridas em
diferentes continentes.
A International Conference on the Principles and Future Development
of AACR, ocorreu de 23 a 25 de outubro de 1997, na Faculty of Information
Studies, University of Toronto, em Toronto, no Canadá, e contou com
participantes de Austrália, Canadá, Reino Unido, Alemanha, Rússia,
Suécia, África do Sul, Irã e Dinamarca. Segundo Tillett (1998), esta
Conferência avaliou os princípios e as regras de catalogação à luz da
descrição e do acesso aos recursos informacionais dentro da estrutura
dos catálogos de bibliotecas.
As discussões neste evento buscaram apresentar, historicamente,
o AACR e analisar seus princípios à luz das tecnologias que transformaram
as formas de apresentação das informações em um catálogo. Também
foram colocadas em pauta as influências da tecnologia na construção de
catálogos e a permanência da validade dos princípios de catalogação
para o ambiente online. Debateu-se, ainda, a efetividade dos pontos
de acesso em um catálogo, que deixou de ser físico, e, em um contexto
marcado pela transferência do catálogo em fichas para o computador,
analisou-se como o MARC poderia ser usado para além de uma
apresentação prática do AACR, o que exigiu um olhar computacional.
As relações bibliográficas também foram abordadas no
encontro, e destacou-se a necessidade de que tais relações deveriam
estar presentes nos princípios de códigos de catalogação. A função

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do registro bibliográfico, de apresentar atributos físicos e intelectuais


ou artísticos de uma obra, foi analisada sob a ótica do conteúdo e do
suporte, o que levou à sugestão de que a primazia da descrição não
deveria ser tão dependente do produto físico da obra. Quanto à série
e às demais publicações consideradas não monográficas, discutiu-se
a necessidade de o código de catalogação ter, de forma conceitual e
explícita, diretrizes para a descrição de recursos contínuos. Haja vista
a mudança significativa do ambiente de atuação do AACR a partir dos
avanços tecnológicos, propôs-se a revisão da estrutura lógica do código,
de modo a permitir a construção e o uso de catálogos de modo mais
eficiente. Ao ser defendida uma definição clara de obra, foi indicada a
possibilidade de ela se apresentar de formas variadas, ser produzida
por diferentes tipos de autores, publicada em vários idiomas, dentre
outros detalhes a serem considerados em um código de catalogação
(INTERNATIONAL CONFERENCE..., 1997).
O Quadro 3 apresenta uma síntese de propostas de algumas
discussões que ocorreram no evento.

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Quadro 3 – Síntese das discussões da Conferência de Toronto

Pediu aos participantes que se concentrassem na aplicabilidade


das regras para o futuro, tendo em mente as mudanças físicas
Ralph Manning
nos catálogos e nas operações de catalogação e a preocupação
com os ambientes físicos.
Recomendou uma análise mais sistemática e lógica dos
princípios e estruturas que fundamentam o código usando
uma técnica de modelagem (entidade-relacionamento ou
análise orientada a objeto). Propôs tabelas de classes de
Tom Delsey
materiais definidas por forma de suporte, por tipo de obra
e por forma de expressão, que esclareceram as questões e
problemas inerentes às visões atuais de conteúdo versus
suporte e questões de séries.
Afirmou que os catálogos online faziam parte de um sistema
online maior, que as funções do catálogo precisavam se
expandir além dos aspectos tradicionais locais e de localização
para identificar entidades e esclarecer relações consideradas
Rahmatollah Fattahi
importantes no universo bibliográfico, e que deixavam de
servir somente aos usuários locais para atender àqueles de
acesso remoto. Pediu que fosse questionada a opcionalidade
de títulos uniformes e que fosse abandonada a regra de três23.
Indicou que todos os catálogos online dependiam da
consistência na apresentação dos dados, o que requeria
consistência nas regras de catalogação; que as regras
Candy Bogar específicas eram rapidamente superadas; que os princípios
ajudavam a definir uma abordagem geral; e que as regras em
vigor não eram expressas logicamente, de modo que nem
todos sabiam como aplicá-las.
Questionou se realmente era preciso usar a pontuação da ISBD,
especialmente quando as telas podem ser personalizadas.
John Espley Argumentou que os títulos uniformes não eram necessários
para a grande maioria dos registros e que, quando necessários,
deveriam ser fornecidos, exibidos e recuperados.
Observou que, quanto aos muitos tipos de relacionamentos
bibliográficos, os dados herdados não registravam
Ed Glazier relacionamentos e, portanto, não poderiam ser facilmente
automatizados sem uma grande despesa para adicioná-los
retrospectivamente.
Indicou que títulos uniformes eram úteis para vincular
Maureen Killeen
expressões e manifestações e distinguir entre eles.

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Pediu regras compreensíveis e ensináveis ​​que tivessem
lógica, e que fossem extensíveis, pois novas mídias apareciam
frequentemente e algumas vêm e vão. As regras do AACR
deveriam ser compatíveis, tanto quanto possível, com
Glenn Patton
outras tradições e regras de catalogação, à medida em que
o movimento internacional era cada vez maior. Destacou,
também, a necessidade de remover o limite de três autores
na descrição.
Observou que era possível incluir EAD (Enhanced Archival
Description) e Dublin Core nas regras de várias maneiras
Laurel Jizba e sugeriu declarar o propósito dos diferentes modelos na
introdução das regras de modo a defini-los no contexto do
mundo dos sistemas de informação.
Observou que a comunidade arquivística utilizou com
Kent Haworth e Steve
sucesso a ISBD(G) e o AACR2 nos últimos sete anos, o que
Hensen
não comprometeu os princípios de arquivamento.
Indicou que os registros bibliográficos deveriam incluir o
idioma, a data, os dados da manifestação original e que os
Sherry Vellucci registros de obra deveriam incluir o nome do autor, o nome da
obra e a data, visto que cobriam todas as funções tradicionais
de uma entrada principal.
Propôs um modelo nomeado como sendo de quatro camadas
Lynne Howarth (ou quatro níveis), que, na verdade, eram quatro componentes
vinculados de informação (e não um modelo hierárquico).
Afirmou que o AACR2 poderia ser a base para mudanças
Michael Gorman graduais e evolutivas e um meio de padronização para
aumentar os benefícios econômicos da catalogação.
Fonte: Adaptado de Tillett (1998).

Outra força motriz, considerada por Weiss e Larkin (2006) para


a proposição de um novo padrão de catalogação refere-se ao plano
estratégico para o AACR.
O Joint Steering Committee for the Revision of AACR (2004), em seu
plano estratégico para o futuro do AACR2, evidenciou a intenção de que
o código deveria manter as bases firmes de seus princípios, mas que
evoluísse para regras sólidas e que alcançasse todas as mídias, tanto as
contemporâneas quanto as emergentes. Desse modo, o Joint Steering
Committee for the Revision of AACR (2004) estabeleceu, em 2002, que

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em cinco anos o futuro código de catalogação deveria obedecer aos


seguintes requisitos:
1. As regras continuarão baseadas em princípios e incluirão
atributos para todos os tipos de materiais.
2. Elas serão usadas ​​em todo o mundo, mas serão derivadas
de convenções, costumes e língua inglesa.
3. Elas serão fáceis de interpretar e usar.
4. Elas serão aplicáveis ​​e operarão em um ambiente online
baseado na Web.
5. Fornecerão um controle bibliográfico eficaz de todos os
tipos de meios de comunicação e digital.
6. Elas serão compatíveis com outros padrões de descrição e
recuperação de recursos.
7. Elas serão usadas além da comunidade da biblioteca.
O Joint Steering Committee for the Revision of AACR (2004) definiu,
ainda, que a terminologia e os conceitos do FRBR deveriam ser aplicados
na atualização do código; os conceitos de entrada, entrada principal
e entrada secundária deveriam ser analisados quanto à sua utilidade
nos catálogos em ambiente online; os conceitos de Designação Geral
de Material (DGM) deveriam ser estudados, assim como as questões
relacionadas à autoria e à regra dos três autores.
Ainda no plano estratégico para o futuro do AACR2, o grupo de
trabalho definiu que os membros do comitê participariam de encontros
de especialistas para o desenvolvimento de um código internacional de
catalogação, que foram, inclusive, indicados por Weiss e Larkin (2006)
como uma das forças motrizes para a proposta de um novo código de
catalogação.
Esses encontros de especialistas, edições do IFLA Meeting of
Experts on an International Cataloguing Code - IME-ICC, realizados pela
Cataloguing Section da IFLA, ocorreram nos anos de 2003, 2004, 2005,

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2006 e 2007, em Frankfurt, Buenos Aires, Alexandria, Seúl e Durban,


respectivamente. Os encontros tinham como propósito analisar os
códigos de catalogação nacionais usados nos continentes, observar suas
semelhanças e o quanto tinham aderência à Statement of International
Cataloguing Principles.
Com o objetivo de enriquecer as possibilidades de
compartilhamento de informações do catálogo em nível internacional, de
modo a promover padrões para registros bibliográficos e de autoridade,
os IME-ICC tinham como resultado esperado um código internacional de
catalogação, de acordo com o que Tillett (2003) nos conta. É também
dela a afirmação de que, dentre as atividades desenvolvidas no IME-
ICC, estava o debate para a atualização dos princípios norteadores da
catalogação: em cada um dos encontros foram elaborados rascunhos
para a atualização dos Princípios de Paris, estabelecidos em 1961. Tal
atualização deveria incorporar as terminologias e os conceitos do FRBR.
Nestes encontros foi reconhecida a importância da International
Standard Bibliographic Description (ISBD) e a necessidade de reunir
todas as ISBDs específicas em uma, a fim de adequar seus conceitos
e terminologias ao FRBR. Barbara Tillett apresentou a proposta do
Virtual International Authority File (VIAF), com o objetivo de ampliar
o acesso aos arquivos de autoridade legíveis por computador para
o compartilhamento de informações em formulários de nomes
autorizados.
Com a proposta de concepção de um novo código, primeiramente
denominado AARC3, Tom Desley foi designado para a elaboração das
partes I – Descrição, II – Pontos de acesso e III – Controle de autoridade,
que resultariam no novo código. No entanto, os comentários acerca do
rascunho da Parte I mostraram que, além dos objetivos estabelecidos no
plano estratégico não terem sido alcançados, também seria necessário
que o código fosse compatível com o passado, lidasse com o presente
e se preparasse para o futuro (WEISS; LARKIN, 2006). (WEISS; LARKIN,
2006).

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Outra força que também entendemos que deva ser considerada


na proposta de um código internacional de catalogação é quanto às
discussões sobre as leis definidas por Ranganathan. Isto porque, desde a
publicação de As Cinco Leis da Biblioteconomia, o usuário é colocado no
centro de todas as atividades desenvolvidas nas unidades de informação.
Contudo, as formas de conteúdos e suportes informacionais foram
alterados, como fruto do avanço tecnológico. Assim, termos e objetos
como o “livro”, presente nas leis, deixaram de ser predominantes
ou, pelo menos, tiveram que dividir seu espaço com outras formas
de documentos, suportes informacionais e conteúdos como links,
hipertextos, informações armazenadas em nuvem etc.
Connaway e Faniel (2015) defendem que tanto as noções
de livro quanto de leitor expandiram-se, além de tornaram-se mais
complexas, o que implica mudanças na interpretação das leis definidas
por Ranganathan. A proposta feita por Connaway e Faniel (2015) está
compilada no Quadro 4.

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Quadro 4 – Proposta revisitada para as Cinco Leis de Ranganathan

Leis de
Leis propostas por Connaway e Faniel
Ranganathan
Os livros são para E-books são para Netflix é para
Blackboard é para estudar
usar leitura assistir
A cada leitor o seu A cada ouvinte A cada artista
A cada estudante seu EasyBib
livro seu iTunes seu Photoshop
Todo mapa do
Para cada livro o Todo blog seu Todo repositório digital tem
Google tem seu
seu leitor leitor seu pesquisador
viajante
Economize Economize
Poupe o tempo Economize o tempo do
o tempo do o tempo do
do leitor pesquisador
ouvinte viajante
A biblioteca é um
organismo em
crescimento
Fonte: Adaptado de Connaway e Faniel (2015).

Ante a gama de possibilidades de acesso às informações, além


da importância do fator tempo, surge a questão da conveniência e da
utilidade, pois, apesar de preservação, catalogação (representação),
apresentação e disseminação manterem-se importantes na prática
biblioteconômica, há que se considerar que a forma como tais ações
são realizadas exigem a satisfação dos interesses dos usuários.
Coyle e Hillmann (2007) afirmam que, em ambientes
informacionais digitais, a catalogação é uma das atividades em que
o avanço tecnológico exerceu as maiores mudanças, inclusive com
consequências nos catálogos. Isso se deu por conta de as regras, outrora
criadas com a finalidade de gerar registros catalográficos de materiais
impressos para serem inseridos em e comporem catálogos em fichas,
já não atenderem à demanda atual.
Está posta a necessidade de a catalogação acompanhar os
avanços tecnológicos, repensar as demandas dos usuários e a sua
forma de interagir nos sistemas automatizados de busca e recuperação
da informação, e dinamizar a organização, representação e acesso à

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informação: conceitos e regras que consolidam a elaboração de registros


catalográficos, o uso e reúso de metadados criados, e o desempenho
dos catálogos precisam ser adequados à nova realidade.

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7 ERA UMA VEZ UM CÓDIGO INTERNACIONAL DE
CATALOGAÇÃO!
Por conta da associação das tecnologias na elaboração
de registros bibliográficos, no gerenciamento dos catálogos, no
processamento das solicitações dos usuários pelos bancos de dados,
na definição de templates de apresentação dos resultados em ações
de busca, e em sua (re)configuração por opções feitas pelos próprios
usuários, as limitações das fichas catalográficas e as regras vigentes já
não eram aplicáveis também aos novos suportes informacionais.
Relembremos, com Souza (1997), que o AACR foi publicado
em 1967, após uma revisão do Código da American Library Association
(ALA), adaptando-o aos princípios discutidos, em 1961, durante a
International Conference on Cataloguing Principles. Portanto, o AACR
supriu as necessidades que lhe cabiam naquele período específico, o que
mostra que o processo de catalogação, seus instrumentos, e tecnologias
correlacionam-se. Com os avanços tecnológicos e, consequentemente,
com as novas formas de produção, armazenamento e uso da informação,
surgiu a necessidade de revisão e adequação do AACR.
Elaborado como um código para catalogar materiais impressos,
o AACR2 passou por várias atualizações com a finalidade de melhorar
seu desempenho e oferecer regras para o registro de maior gama
de suportes, por isso a publicação do AACR2r (revisão de 2002, com
publicação da versão brasileira em 2004). Segundo Oliver (2011, p. 3) “[...]
um grande obstáculo com que se defrontaram as AACR foi a descrição
de novos tipos de recursos. [...] Esta limitação dificultou a extensão
das regras AACR2 para incluir a descrição de novos tipos de recursos,
principalmente os eletrônicos.”
Algum argumento contrário à proposta de um novo código? Nos
apontamentos feitos por Gorman e Oddy (1997) durante a Conferência de
Toronto ficou claro o cuidado que se deveria ter ao propor a substituição
de um código amplamente aceito, o que era o caso do AACR (inclusive,
identificado nos IME-ICC), e argumentam:

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1. é o primeiro código a integrar todas as mídias na descrição


e nos pontos de acesso;
2. é o primeiro exemplo de um código de catalogação que lida
com nomes e títulos em um meio-termo base;
3. é o primeiro código de catalogação que delineia claramente
a distinção entre descrição e acesso;
4. é um código que tem os pontos de acesso baseados na
abordagem de Lubetzky que cobriu códigos anteriores;
5. é conscientemente internacionalista;
6. mostrou o caminho para o conceito de registros de
autoridade de igual valor associados às descrições;
7. é o primeiro código a incorporar o conceito de uma pessoa
com duas ou mais identidades bibliográficas;
8. é um código que fornece uma estrutura infinitamente
expansível (tanto na descrição quanto no acesso) para
acomodar novas e futuras mídias.
Isso nos mostra, claramente, que Gorman e Oddy defendiam que
revisões regulares do AACR2 dariam conta das mudanças significativas
necessárias à adequação do padrão ao ambiente em que agora opera,
o ambiente online.
O risco de uma proposta em prol de um código internacional de
catalogação já havia também sido advertido por Cutter (1904) quando
afirmou que nenhum código de catalogação poderia ser adotado
em todos os pontos por todos. Seria necessário, então, ponderar as
particularidades das diferentes comunidades de diversas partes do
mundo que utilizam padrões para o registro bibliográfico.
Hanson (1939) também chamou a atenção para o fato de
que, se um código internacional viesse a se tornar realidade, muitos
bibliotecários se recusariam a adotá-lo em sua totalidade.
Ora! Mas esses argumentos são do Século passado!, poderiam
dizer. No entanto, também foi no Século passado que, em 1910, Paul

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Otlet, então secretário geral do Institut International de Bibliographie, saiu


em defesa de um código internacional, durante o International Congress
of Archivists and Librarians, ocorrido em Bruxelas. Otlet (1912) apontou,
inclusive, que o caminho para isso seria o de estabelecer relações entre
todos os códigos nacionais existentes, trazer países que não têm um
código para estabelecer um ou adotar um dos códigos existentes e,
finalmente, estabelecer um código Internacional.
Apesar disso, ao discutir a uniformização por meio de um código
universal de catalogação, Chaplin (1956) diz que isso acarretaria no
abandono de práticas tradicionais e locais que funcionavam bem e
destacou que a discussão internacional sugerida em Bruxelas teve
pouco ou nenhum progresso e que o crescimento da uniformidade
havido em período posterior ao evento tomou a forma de imitação
de códigos já existentes em outros países. Também é de Chaplin
(1956) a lembrança das três tentativas de elaboração de um código
internacional de catalogação: [1] durante o Congress of Archivists and
Librarians, realizado em Bruxelas, em 1910, com a proposição de Otlet
de composição de uma comissão para a elaboração de um código
universal de catalogação; [2] no First World Congress of Libraries and
Bibliography, realizado em Roma, em 1929, com o destaque de Tobolka24
sobre a necessidade de um código internacionalmente aceitável, apesar
de reconhecer que a unificação pudesse ser impossível; e [3] com a
comparação, feita por Ranganathan, entre o código anglo-americano,
as instruções prussianas, as Rules for a Dictionary Catalogue, de Cutter,
o código da Vaticana, , além do próprio Classified Catalogue Code, de
Ranganathan.
A questão é que, agora, ficava explicita a necessidade de
adequação do código de catalogação aos constantes avanços
tecnológicos, bem como o seu alinhamento aos conceitos e terminologias
do FRBR e do FRAD. Daí a revisão e a definição de propostas de ajustes
no AACR2r, assim como um acréscimo de regras com a finalidade de
adaptá-las às mídias atuais. Essa revisão resultaria no AACR3 e tinha

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como responsável o Joint Steering Committee for Revision of AACR2 (WEISS;


LARKIN, 2006).
Para Gorman ([2007]), contribuíram para um nível sem
precedentes de padronização internacional e cooperação, o que
promove o progresso constante em direção ao ideal de Controle
Bibliográfico Universal: o AACR2, traduzido para muitos idiomas e
adotado por muitos países, ou usado como base para códigos nacionais
fora da comunidade anglo-americana; a ISBD; e o MARC, validado em
todo o mundo. A questão é: se isso funcionou muito bem na prática,
parece não ter funcionado em teoria, haja vista a decisão do Joint
Steering Committee por encerrar o processo de desenvolvimento e
revisão do AACR2.
A intenção inicial de atualização das regras do AACR2 mudou
para a definição de uma proposta de elaboração de um novo código
de catalogação, uma vez que as mudanças propostas como revisão
seriam abrangentes.
Esse é o contexto no qual se abriu mão da continuidade das
revisões que originariam o AACR3 em prol da construção do novo
padrão de catalogação, agora denominado Resource, Description and
Access (RDA).
Sob o encargo do, agora, Joint Steering Committee for Development
of RDA, este padrão foi desenvolvido com a pretensão de atender às
demandas oriundas do contexto tecnológico vivenciado nas últimas
décadas.
Hitchens e Symons (2009), ao discorrerem sobre as razões que
levaram à atualização do AACR para o AACR2, apontam que os mesmos
motivos que, em tempos remotos, induziram o melhoramento do AACR
para o AACR2, agora levaram a repensá-lo em vistas do RDA: o avanço
tecnológico e o desenvolvimento dos materiais não-livros. Destarte,
Coyle e Hillmann (2007) enfatizam que a publicação do AACR2 ocorreu
às vésperas da grande mudança tecnológica: o computador e a rede
eletrônica, fato que evidencia que atualizações do AACR2 logo seriam

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requeridas. Na ocasião, porém, não houve preocupação com o potencial


da tecnologia em ascensão.
Não há como negar, portanto, que a história do vínculo entre
catalogação, catálogos e tecnologias se repete: a transição do AACR2
para o RDA é motivada pelos mesmos agentes das alterações anteriores:
inovações tecnológicas e seus efeitos tanto na elaboração dos catálogos
quanto no uso destes por parte dos usuários.
Para Kincy e Layne (2014), o RDA é resultado de um processo de
desenvolvimento e revisão de algo que foi proposto como um padrão
de catalogação no bojo da proposta teórica do FRBR e FRAD, mas está
repleto de instruções advindas do AACR2.
Ao considerar os pressupostos que justificariam a construção
de um novo padrão de catalogação, em substituição ao AACR2, Delsey
(2016) aponta que desenvolver, de fato, um novo padrão para descrição
e acesso ao recurso seria uma resposta a um ambiente digital em
desenvolvimento, no qual tanto a produção quanto a disseminação de
recursos de informação e as tecnologias usadas para criar, armazenar e
acessar dados descrevendo aqueles recursos, também estavam sendo
transformados.
O RDA seguia, portanto, em direção a um novo padrão,
adequado ao ambiente digital, apesar de ter suas bases no AACR2.
O RDA, com pretensão internacional, seria elaborado com o objetivo
de atender às necessidades emergentes dos usuários de um catálogo,
mas marcadamente como um padrão de catalogação baseado em
modelos conceituais.
Certo de que os avanços continuarão e, consequentemente,
novas formas e suportes de registro de informações surgirão, o RDA
traz a proposta de, como indica Oliver (2011, p. 2), proporcionar os
“[...] princípios e as instruções para registro de dados de recursos
hoje conhecidos e os que venham a ser desenvolvidos.” Tillett (2013)
ressalta que o RDA tem uma visão voltada para que ele seja um padrão

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internacionalmente destinado ao ambiente digital que nos encontramos


agora.
Com essas justificativas, o RDA nasce com o objetivo de suprir
as necessidades de descrição de novos recursos e emergentes tipos
de mídias e conteúdos, assim como os catálogos agora disponíveis
em ambiente online. Além disso, a proposta do novo padrão, segundo
define o Joint Steering Committee for Development of RDA (2005), é que as
instruções para o registro dos dados sejam independentes das diretrizes
para apresentação de dados.

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8 A PROPOSTA DO RESOURCE DESCRIPTION AND
ACCESS (RDA)
No documento norteador do RDA, o Statement of objectives and
principles for RDA, foram estabelecidos cinco princípios que orientariam
o desenvolvimento do RDA: [1] generalização, [2] especificidade, [3] não
redundância, [4] terminologia e [5] estrutura de referência; e outros
oito princípios voltados à funcionalidade dos dados descritivos: [1]
diferenciação, [2] relacionamentos, [3] uniformidade, [4] atribuição, [5]
representação, [6] precisão, [7] uso comum e [8] suficiência.25 (JOINT
STEERING COMMITTEE FOR DEVELOPMENT OF RDA, 2009). O plano
estava traçado.
Para Riva (2016), os códigos de catalogação podem ser, e
de fato são, baseados em um modelo que considera as entidades,
relacionamentos e atributos revelados por meio de dados bibliográficos.
O RDA, então, seria exemplo de um instrumento de catalogação alinhado
de forma firme e explícita com um modelo conceitual escolhido.
Para Delsey (2016) o alinhamento com os modelos FRBR e FRAD
foi fundamental no cumprimento do compromisso assumido no plano
estratégico do RDA. Isso definiu que as orientações estabelecidas pelo
novo padrão deveriam apresentar-se conforme os conceitos presentes
nos FRs. Para Gorman ([2007]), porém, o FRBR pode ter algum mérito
como forma de examinar a teoria da catalogação, mas tem pouco a
contribuir como documento fundamental para a criação de um código
de catalogação.
O alinhamento do RDA aos modelos conceituais da IFLA fica
evidente em cada uma de suas seções, que direcionam o olhar para as
entidades, atributos e relações presentes nos modelos.
Em um ensaio “pré RDA”, Dunsire (2007) declara que RDA é o
acrônimo de Resource Description and Access, um novo padrão para o
conteúdo de metadados usados para apoiar a descoberta, identificação
e emprego de recursos informacionais.

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CATALOGAÇÃO ‘DOS PRINCÍPIOS E TEORIAS AO RDA E IFLA LRM’
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O RDA Steering Committee (2018) define o RDA com um pacote


de elementos de dados, diretrizes e instruções para criar metadados
de recursos de bibliotecas e de instituições de patrimônio cultural que
foram formulados de acordo com modelos internacionais voltados para
aplicações de dados vinculados focados no usuário. Ao contrário do que
se observa nos códigos de catalogação, caracterizados pelo seu conjunto
de regras, o RDA tem, desde sua concepção, diretrizes e instruções, o
que o configura, sob nosso ponto de vista, como um padrão. Glennan
(2012), porém, enfatiza que, apesar das mudanças havidas ao longo
de seu desenvolvimento, o RDA continua profundamente enraizado
em tradições anglo-americanas de catalogação, ao mesmo tempo em
que se alinha com os modelos conceituais internacionais mais recentes,
como FRBR e FRAD.26
Para Danskin (2014), é com o RDA que, pela primeira vez, as
instruções de catalogação não foram limitadas por requisitos do
gerenciamento de espaço.
Nem todos os comentários foram positivos quanto ao RDA.
Gorman27 ([2007]) tece duras e ácidas críticas em um texto que também
faz referência aos importantes marcos da catalogação. O título já é
provocativo; algo como “RDA: a derrocada do catálogo está vindo”, em
uma tradução descomprometida. Para ele, as ações em prol do RDA são
reflexo de um sequestro do processo de revisão do AACR2 e o resultado
prático promete ser o maior desastre a atingir a catalogação descritiva
desde o projeto de regras de 1941 (que sinalizamos no capítulo 4).
Dentre as várias razões apontadas por Gorman ([2007]) para a
calamidade que estava se aproximando destaca-se o argumento de
que estava sendo demandado grande esforço para resolver o problema
de catalogação e acesso aos registros eletrônicos por meio do uso de
metadados criados por não catalogadores, nas palavras dele: a proposta
se resume à ideia simplista de que é possível ter uma catalogação
eficaz de documentos eletrônicos recorrendo a termos não controlados
em algumas categorias simples, ou seja, acreditam que resultados

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obtidos pela catalogação usando vocabulários controlados e estruturas


bibliográficas de catálogos podem ser alcançados de forma barata e
sem o uso dessas estruturas essenciais.
Parece que o ponto central do questionamento de Gorman
([2007]) em sua crítica ao RDA está no fato de que um modelo conceitual
do universo bibliográfico esclarece as relações existentes entre os
elementos que compõem um registro bibliográfico e as relações entre
os registros bibliográficos em um catálogo. Entretanto, o modo como os
registros bibliográficos são explicados devem refletir em um código de
catalogação? Os instrumentos de catalogação são para fornecer regras
e orientações para a formulação de registros bibliográficos, e não para
entender a relação entre eles. Estão sendo postas à mesa, portanto,
‘coisas’ de diferentes naturezas.
Agora queremos fazer uma proposta: olhar o RDA a partir do
ponto de vista de quem chegou até aqui e leu o pouco que conseguimos
apresentar sobre os princípios e fundamentos teóricos da catalogação,
os teóricos da catalogação descritiva, os instrumentos de catalogação
e os modelos conceituais do universo bibliográfico.
Ao discorrer sobre os princípios da catalogação, Svenonius (2000)
aponta que, quando usados na literatura de descrição bibliográfica,
os princípios referem-se aos objetivos de um sistema bibliográfico, às
regras gerais em um código bibliográfico e às diretrizes que orientam a
construção de uma linguagem bibliográfica. Lubetzky (1953) faz algumas
críticas! Sem princípios diretivos não é possível assumir o compromisso
de delinear um código de regras; eles funcionam como bússola! Sem
conhecimento sobre os princípios subjacentes não será possível abordar
e aplicar de forma inteligente um conjunto de regras, por mais bem
construído que seja.
Com base no ponto de vista apresentado por eles notamos
como imprescindível, tanto na fase de idealização quanto nas atividades
práticas, que códigos, padrões, normas e ou metodologias sejam
constituídos de princípios.

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Quanto à proposta do RDA à luz dos princípios e fundamentos


teóricos da catalogação descritiva vale mencionar que os ideais de
Panizzi, em relação à integração das diversas expressões e manifestações,
estão presentes na proposição do RDA, uma vez que um dos objetivos
do padrão é permitir que os catálogos façam relações entre as diversas
entidades descritas. De igual modo, observamos que, dentre os dois
objetivos do catálogo propostos por Lubetzky, as relações entre
entidades propostas no RDA vão ao encontro do segundo objetivo, o
de possibilitar ao usuário encontrar as diferentes edições e traduções
de uma obra.
Importante ressaltar que, na Declaração de Princípios
Internacionais de Catalogação, publicada em 2009, uma das finalidades
destes princípios era o de orientar o desenvolvimento de códigos de
catalogação, cujo documento foi escrito em concomitância com o
desenvolvimento do RDA.
Quanto aos modelos conceituais da IFLA, o relatório do FRSAD
não é mencionado na publicação inicial do RDA, o que pode ter sido
motivado pelo fato de o modelo conceitual não estar finalizado à época.
Entretanto, é notório que os termos e conceitos apresentados nos
modelos da família FR influenciaram claramente o desenvolvimento
do RDA.
O RDA não coloca a ISBD como uma das tradições catalográficas
em que se baseou; em vez disso ela aparece como um dos padrões
chave considerados no desenvolvimento do RDA, ao lado do MARC
21 Format Bibliographic Data e do MARC 21 Format for Authority Data.
Byrum Jr. (2004) menciona que, no início da década de 1990,
quando a IFLA instituiu o grupo de estudo para o FRBR, o grupo de
revisão e manutenção das ISBDs também estavam em atividades, mas
seus trabalhos foram interrompidos para aguardar as recomendações
do FRBR. Foi também neste período que os trabalhos em prol da
consolidação da ISBD foram desenvolvidos, o que futuramente
daria origem a uma ISBD em conformidade com o FRBR. Essa edição

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consolidada da ISBD é resultado do esforço para assegurar que a descrição


de todos os materiais atinja o mesmo estado de conformidade com o
FRBR. (INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS AND
INSTITUTIONS, 2011).
No RDA, em seu Anexo D – Record syntaxes for descriptive data,
são apresentados os elementos da ISBD, da pontuação e dos elementos
no RDA. Apesar de constarem desse modo, Bianchini e Guerrini (2016)
ressaltam que o RDA não coloca a ISBD como uma forma para a
apresentação de dados, a ordem dos elementos ou uma pontuação
convencional: o RDA informa o que descrever, mas não como apresentar
os dados.
Os cânones da catalogação, definidos por Ranganathan, podem
ser vistos no RDA, apesar de não haver qualquer menção sobre ele ou
suas propostas na introdução do documento. Encontramos indícios dos
cânones da Determinabilidade, da Individualização, da Permânencia,
da Consistência e do Uso Corrente. O Cânone da Determinabilidade
considera que a folha de rosto não deve ser a única fonte de informação
para a catalogação, e que, no caso de insuficiência de informações
nesta, outras partes do livro/item podem ser consultadas. O Cânone
da Individualização pode ser percebido no princípio da diferenciação
no RDA, quando determina que os dados descritivos diferenciam e
individualizam um recurso dos demais. Os cânones da Permanência,
da Consistência e do Uso Corrente também estão presentes no RDA e
são, inclusive, indicados por Chandel e Prasad (2013) quando afirmam
que eles ainda são princípios orientadores da catalogação, inclusive na
criação de metadados.
Para Bianchini e Guerrini (2016) pode-se dizer que a principal
característica do novo padrão seja a estrutura relacional, já teorizada
por Panizzi em 1876.
Também há indícios da contribuição de Jewett, apesar de sequer
ser mencionado no RDA. É dele a declaração de que os dados devem
ser registrados conforme apresentados no item e que o título deva ser

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transcrito exatamente como aparece, tal qual o RDA orienta nas diretrizes
gerais para trancrição, em 1.7.1. Um ponto que mostra divergência entre
as proposições de Jewett e o RDA é que ele era contra a liberdade dada
ao catalogador, visto que, para ele, ou os catalogadores seguiam regras
ou o serviço catalográfico seria um bagunça.
Cutter, ao estabelecer os objetivos do catálogos, vinculou a
necessidade de que todas as atividades práticas e teóricas da catalogação
fossem direcionadas aos usuários. Esse é o grande ponto de encontro
entre os teóricos e o RDA: o usuário.
Mesmo que em épocas diferentes e contextos tecnológicos
diversos, ou que algumas das regras e instruções diferenciem-se no
padrão RDA, o que se observa no arcabouço teórico de tais estudiosos
é a preocupação com o usuário e o esforço para que o catálogo sirva
não apenas de canal de comunicação entre os acervos e o público, mas
que cumpra o papel de democratização do acesso e uso da informação.

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9 DURANTE O RDA, O IFLA LRM! UM NOVO MODELO
CONCEITUAL
Em decorrência da publicação do RDA e do FRSAD, ambos
em 2010, e das discussões advindas do alinhamento do padrão aos,
agora, três modelos conceituais FR houve uma pausa nas atualizações
do RDA motivada pela proposição de um novo modelo conceitual.
Neste capítulo comentaremos os desdobramentos havidos depois da
publicação do RDA: o IFLA Library Reference Model e o Project RDA 3R.
A International Federation of Library Associations and Institutions
(2017) define que o IFLA LRM é resultado dos três modelos conceituais
da família FR (FRBR, FRAD e FRSAD) e, ao mesmo tempo, distinto dos
mesmos. Tendo em vista que os modelos conceituais da família FR
foram propostos por grupos com diferentes membros e publicados
em diferentes períodos, se fez necessário consolidá-los em um único
modelo coerente, o que originou o IFLA LRM, um modelo conceitual
de referência para dados de bibliotecas.
Os estudos para a consolidação dos modelos FR em um modelo
conceitual consolidado foram desenvolvidos pelo FRBR Review Group, a
partir de 2010. Em 2013 esse grupo constituiu o Consolidation Editorial
Group (CEG) que tinha como missão avaliar detalhadamente os atributos
e relacionamentos do modelos da família FR e elaborar um relatório com
a definição do modelo. Após a apresentação do relatório, identificado
como FRBR-Library Reference Model, para uma revisão mundial, o CEG
fez os ajustes no rascunho do modelo, que foi avaliado pelo FRBR Review
Group, e aprovado, em 2016, com o nome de IFLA Library Reference
Model. Feita a apresentação do modelo aos comitês permanentes de
catalogação e de assuntos da IFLA e ao ISBD Review Group, o modelo
foi aprovado e publicado em 2017.
A International Federation of Library Associations and Institutions
(2017) ressalta que, para o IFLA LRM, foram analisados comparativamente
as tarefas de usuários, as entidades, os atributos e as relações dos três
modelos da famílai FR, tendo o estudo sido dividido nos seguintes

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momentos: [1] exame das tarefas do usuário, o que proporcionou um


foco e um alcance funcional para o resto das decisões da modelagem; [2]
exame das entidades, e, depois, alternadamente, dos relacionamentos
e atributos, processo realizado por meio de várias iterações, pois cada
passagem revelou simplificações e refinamentos que, em seguida,
precisavam ser aplicados de forma consistente em todo o modelo; e
[3] redação das definições, notas de escopo e exemplos, o que fez com
que houvesse a definição completa do modelo de forma consistente
e integrada.
No IFLA LRM não há diferença entre dados tradicionalmente
armazenados em registros bibliográficos ou de coleções e dados
tradicionalmente armazenados em registros de autoridade de nome e de
assunto, visto que todos esses dados são entendidos como informação
bibliográfica. Assim como nos três modelos anteriores, entidades,
atributos, relacionamentos e tarefas de usuários são, marcadamente,
as bases nas quais o novo modelo se organizou.
O IFLA LRM, portanto, não assume posição de código ou padrão
de catalogação, apesar de servir como guia para que as regras de
catalogação e como base na implementação de sistemas bibliográficos.
Isto porque, conforme International Federation of Library Associations
and Institutions (2017), as definições de certos elementos-chave no IFLA
LRM destinam-se a ser compatíveis com uma variedade de códigos ou
padrões de catalogação.
Diante da proposição de que o IFLA LRM deve resolver
inconsistências entre os modelos da família FR, novas entidades,
atributos e relacionamentos foram apresentados. Do FRBR foram
herdadas as entidades obra, expressão, manifestação e item; do FRAD,
a entidade pessoa, agora é subordinada à entidade agente que, por
sua vez, também tem a ela subordinada a entidade agente coletivo; do
FRSAD, advém a entidade nomen. Além das entidades agente e agente
coletivo, a entidade intervalo de tempo também é nova no IFLA LRM.

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Vejamos como as entidades do modelo IFLA LRM são


apresentadas no relatório da International Federation of Library
Associations and Institutions (2017):
• Res: “coisa” em latim; qualquer entidade no universo do discurso;
usada para referir-se a coisas e conceitos materiais ou físicos;
• Obra: conteúdo intelectual ou artístico de uma criação específica;
objeto conceitual; nenhum objeto material único pode ser
identificado como obra; uma obra pode ser reconhecida
retrospectivamente a partir de um exame das realizações
ou expressões individuais da obra; a obra consiste da criação
intelectual ou artística que está por trás de todas as várias
expressões da obra;
• Expressão: combinação distinta de sinais de qualquer forma ou
natureza (inclui sinais visuais, auditivos ou gestuais) destinados
a transmitir conteúdo intelectual ou artístico identificáveis como
​​
tais; uma expressão surge simultaneamente com a criação de
sua primeira manifestação, nenhuma expressão pode existir sem
que haja pelo menos uma manifestação;
• Manifestação: conjunto de todos os suportes que supostamente
compartilham as mesmas características do conteúdo intelectual
ou artístico e aspectos da forma física; o conjunto é definido pelo
conteúdo geral e pelo plano de produção para seu suporte ou
suportes; resulta da captura de uma ou mais expressões sobre
um recurso ou conjunto de recursos informacionais;
• Item: um ou vários objetos que carregam sinais destinados
a transmitir conteúdo intelectual ou artístico; em termos
de conteúdo intelectual ou artístico e forma física, um item
exemplifica uma manifestação e normalmente reflete todas as
características que definem a própria manifestação;

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• Agente: uma entidade capaz de ações deliberadas, de cessão


de direitos e de ser responsabilizada por suas ações; ser um
agente requer ter ou ter tido o potencial de relacionamentos
intencionais com instâncias de entidades de interesse
bibliográfico (obras, expressões, manifestações, itens), seja esse
agente específico que tenha feito ou não; os seres humanos
são, direta ou indiretamente, a força motriz por trás de todas
as ações tomadas por todos os agentes;
• Pessoa: um ser humano individual; inclui pessoas que vivem
ou viveram;
• Agente coletivo: uma reunião ou organização de pessoas com
um nome específico e capaz de atuar como uma unidade;
inclui famílias, instituições comerciais ou corporativas e outros
organismos legalmente registrados, organizações e associações,
grupos musicais, artísticos ou de atuação, governos e qualquer
uma de suas subunidades; a associação de muitos tipos de
agentes coletivos continuará a evoluir ao longo do tempo;
• Nomen: uma associação entre uma entidade e uma designação
que se refere a ela; associada a qualquer denominação; qualquer
entidade referida no universo do discurso é nomeada por, pelo
menos, um nome;
• Lugar: uma extensão de espaço determinada; relevante em
um contexto bibliográfico; uma construção cultural; uma
identificação humana de uma área geográfica ou extensão do
espaço;
• Intervalo de tempo: um período de tempo que possui um início,
um fim e uma duração; a duração resultante pode ser associada a
ações ou ocorrências durante esse período de tempo; mesmo um
período de tempo muito preciso tem uma duração mensurável,
por mais breve que seja.

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Quanto aos usuários, o IFLA LRM considera que os dados sejam


usados por todos os tipos de usuários, desde o usuário final até os
profissionais de bibliotecas. Desse modo, as tarefas definidas como
encontrar, identificar, selecionar, obter e explorar formam um conjunto
de tarefas voltadas aos usuários e refletem os modelos conceituais
anteriores, que consideraram tais tarefas como objetivo a ser alcançado
pelos dados elaborados conforme os requisitos funcionais estabelecidos
para o universo bibliográfico.
Nos mesmos moldes do que ocorreu com os outros modelos
conceituais da família FR, além da apresentação das entidades, dos
atributos e dos relacionamentos, também são declaradas as tarefas
do usuários. O relatório do IFLA LRM apresenta as seguintes tarefas
dos usuários:
• Encontrar: Reunir informações sobre um ou mais recursos
de interesse pesquisando sobre qualquer critério relevante;
• Identificar: Compreender claramente a natureza dos recursos
encontrados e distinguir entre recursos semelhantes;
• Selecionar: Determinar a adequação dos recursos
encontrados e aceitar ou rejeitar recursos específicos;
• Obter: Acessar o conteúdo do recurso;
• Explorar: Descobrir recursos utilizando os relacionamentos
entre eles e, assim, contextualizá-los. (INTERNATIONAL
FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS,
2017).
No Quadro 5 é possível visualizar as entidades e as tarefas de
usuários adotadas nos modelos conceituais FRBR, FRAD, FRSAD e no
IFLA LMR (em destaque as entidades novas propostas em relação ao
modelo anterior).

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Quadro 5 – Principais diferenças entre os quatro modelos

Modelo FRBR FRAD FRSAD IFLA LRM


conceitual (1998) (2009) (2010) (2017)
Obra Obra Thema Res
Expressão Expressão Nomen Obra
Manifestação Manifestação Expressão
Item Item Manifestação
Pessoa Pessoa Item
Instituição Instituição Agente (pessoa e
agente coletivo)
Conceito Conceito
Nomen
Objeto Objeto
Entidades Lugar
Evento Evento
Intervalo de tempo
Lugar Lugar
Família
Nome
Identificador
Pontos de acesso
controlado
Regras
Agência
Encontrar Encontrar Encontrar Encontrar
Identificar Identificar Identificar Identificar
Tarefas de
Selecionar Contextualizar Selecionar Selecionar
usuário
Obter Justificar Explorar Obter
Explorar
Fonte: Elaborado pelos autores.

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A definição formal do IFLA LRM, conforme descrito em


International Federation of Library Associations and Institutions (2017),
abrange os elementos empregados em modelos do tipo entidade-
relacionamento: entidade, atributo e relacionamento.
Na nomeação dos elementos do modelo, identificados por
“LRM- ”, foi adicionada a letra inicial do elemento correspondente: E
para entidades, A para atributos e R para relacionamentos. As entidades
são identificadas como mostra o Quadro 6:

Quadro 6 – Identificação das entidades no IFLA LRM

Identificação Entidadades
LRM-E1 Res

LRM-E2 Obra

LRM-E3 Expressão

LRM-E4 Manifestação

LRM-E5 Item

LRM-E6 Agente

LRM-E7 Pessoa

LRM-E8 Agente coletivo

LRM-E9 Nomen

LRM-E10 Lugar

LRM-E11 Intervalo de
Tempo
Fonte: Elaborado pelos autores.

No IFLA LRM foi adotado o modelo de classes e subclasses, nos


quais os relacionamentos se dão como IsA (é um). O modelo define,
então, hierarquias entre as entidades, como demonstrado no Esquema 8.

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Esquema 8 - Hierarquias entre as entidades do IFLA LRM

LRM-E1

LRM-E2 LRM-E3 LRM-E4 LRM-E5 LRM-E6 LRM-E9 LRM-E10 LRM-E11

LRM-E7 LRM-E8

Fonte: Adaptado de International Federation of Library Associations and Institutions (2017).

As entidades são os principais objetos de interesse dos usuários


no IFLA LRM. Estas entidades são descritas bibliograficamente junto
com os dados de autoridade, visto que o modelo trata os dois tipos de
dados como informação bibliográfica.
Dentre os elementos que compõem o modelo conceitual do
tipo entidade-relacionamento, além das entidades, também fazem
parte os atributos, que caracterizam as instâncias de cada entidade.
Apesar disso, o IFLA LRM não tem atributos cujos valores sejam de
preenchimento obrigatório, mas podem ser registrados, desde que
facilmente identificados. Para o registro dos valores dos atributos
podem ser adotados listas ou vocabulários controlados, ou, ainda,
serem transcritos em linguagem natural, se preferidos pela unidade
catalogadora (INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS
AND INSTITUTIONS, 2017).
O Esquema 9 mostra a hierarquia das entidades do IFLA LRM
e os respectivos atributos, conforme estabelecido em International
Federation of Library Associations and Institutions (2017). Com o intuito
de facilitar a visualização da hierarquia adotamos cores diferentes: em
caixas sombreadas estão as entidades (roxo para a entidade de nível
superior e azul para as entidades de nível inferior); em caixas sobrepostas
às entidades estão os atributos (texto em preto para os atributos de
alto nível, e texto em azul para os atributos de nível inferior).

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Esquema 9 – Atributos das entidades do IFLA LRM

LRM-E1
LRM-E1-A1
LRM-E1-A2

LRM-E2 LRM-E3 LRM-E4 LRM-E5 LRM-E6 LRM-E9 LRM-E10 LRM-E11


LRM-E2-A1 LRM-E4-A1 LRM-E5-A1 LRM-E6-A1 LRM-E10-A1 LRM-E11-A1
LRM-E3-A1 LRM-E9-A1
LRM-E2-A2 LRM-E4-A2 LRM-E5-A2 LRM-E6-A2 LRM-E10-A2 LRM-E11-A2
LRM-E3-A2 LRM-E9-A2
LRM-E4-A3 LRM-E6-A3
LRM-E3-A3 LRM-E9-A3

LRM-E7 LRM-E8
LRM-E3-A4 LRM-E4-A4 LRM-E9-A4
LRM-E3-A5 LRM-E4-A5 LRM-E9-A5
LRM-E3-A6 LRM-E4-A6 LRM-E9-A6
LRM-E7-
LRM-E3-A7 LRM-E9-A7
A1
LRM-E3-A8 LRM-E9-A8
LRM-E9-A9

Fonte: Adaptado de International Federation of Library Associations and Institutions (2017, p. 38, tradução nossa).

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De modo sumarizado, o Esquema 9 mostra os atributos28 das


entidades previstas no IFLA LRM:
• LRM-E1 - Res
• LRM-E1-A1 Categoria
• LRM-E1-A2 Nota
• LRM-E2 – Obra
• LRM-E2-A1 Categoria
• LRM-E2-A2 Atributo de expressão representativa
• LRM-E3 – Expressão
• LRM-E3-A1 Categoria
• LRM-E3-A2 Extensão
• LRM-E3-A3 Público-alvo
• LRM-E3-A4 Direitos de uso
• LRM-E3-A5 Escala cartográfica
• LRM-E3-A6 Idioma
• LRM-E3-A7 Tonalidade
• LRM-E3-A8 Meio de execução
• LRM-E4 – Manifestação
• LRM-E4-A1 Categoria do suporte
• LRM-E4-A2 Extensão
• LRM-E4-A3 Público-alvo
• LRM-E4-A4 Declaração de Manifestação
• LRM-E4-A5 Condições de acesso
• LRM-E4-A6 Direitos de uso
• LRM-E5 – Item
• LRM-E5-A1 Localização
• LRM-E5-A2 Direitos de uso
• LRM-E6 – Agente
• LRM-E6-A1 Informações de contato
• LRM-E6-A2 Campo de atividade
• LRM-E6-A3 Idioma
• LRM-E7 Pessoa

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• LRM-E7-A1 Profissão/Ocupação
• LRM-E9 – Nomen
• LRM-E9-A1 Categoria
• LRM-E9-A2 Nomen string
• LRM-E9-A3 Esquema
• LRM-E9-A4 Público-alvo
• LRM-E9-A5 Contexto de uso
• LRM-E9-A6 Fonte de referência
• LRM-E9-A7 Idioma
• LRM-E9-A8 Escrita
• LRM-E9-A9 Conversão de escrita
• LRM-E10 – Lugar
• LRM-E10-A1 Categoria
• LRM-E10-A2 Localização
• LRM-E11 – Intervalo de tempo
• LRM-E11-A1 Início
• LRM-E11-A2 Término
No IFLA LRM os atributos devem ser registrados pela agência
catalogadora com o uso de vocabulários controlados e no idioma e
escrita da própria agência.
Outro componente essencial em modelos conceituais do tipo
entidade-relacionamento são os relacionamentos entre as entidades.
Com a finalidade de contextualizar e vincular as entidades, os
relacionamentos exercem fundamental importância no IFLA LRM.
Do mesmo modo que ocorre com as entidades, os
relacionamentos obedecem a hierarquias, nomeado no modelo como
refinamento específico; isso faz com que seja cumprida a função de
restrição entre os relacionamentos.

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Quadro 7 – Relacionamentos declarados e relacionamentos de reciprocidade no IFLA LRM


ID Relacionamento declarado Relacionamento de reciprocidade
LRM-R1 Res possui associação com Res Res é associado com Res
LRM-R2 Obra é realizada através de Expressão Expressão realiza Obra
LRM-R3 Expressão é materializada em Manifestação Manifestação materializa Expressão
LRM-R4 Manifestação é exemplificada por Item Item exemplifica Manifestação
LRM-R5 Obra foi criada por Agente Agente criou Obra
LRM-R6 Expressão foi criada por Agente Agente criou Expressão
LRM-R7 Manifestação foi criada por Agente Agente criou Manifestação
LRM-R8 Manifestação foi fabricada por Agente Agente fabricou Manifestação
LRM-R9 Manifestação é distribuída por Agente Agente distribuiu Manifestação
LRM-R10 Item é propriedade de Agente Agente é proprietário de Item
LRM-R11 Item foi modificado por Agente Agente modificou Item
LRM-R12 Obra possui como assunto Res Res é assunto de Obra
LRM-R13 Res possui denominação Nomen Nomen é denominação de Res
LRM-R14 Agente atribui Nomen Nomen foi atribuído por Agente
LRM-R15 Nomen é equivalente a Nomen Nomen é equivalente a Nomen
LRM-R16 Nomen possui parte Nomen Nomen é parte de Nomen
LRM-R17 Nomen é derivação de Nomen Nomen possui derivação Nomen
LRM-R18 Obra possui parte Obra Obra é parte de Obra
LRM-R19 Obra precede Obra Obra sucede Obra
LRM-R20 Obra acompanha / complementa Obra Obra é acompanhado / complementado
por Obra
LRM-R21 Obra é inspiração para Obra Obra é inspirado por Obra
LRM-R22 Obra é transformação de Obra Obra foi transformado em Obra
LRM-R23 Expressão possui parte Expressão Expressão é parte de Expressão
LRM-R24 Expressão é derivação de Expressão Expressão possui derivação Expressão
LRM-R25 Expressão foi agregado por Expressão Expressão agregou Expressão
LRM-R26 Manifestação possui parte Manifestação Manifestação é parte de Manifestação
LRM-R27 Manifestação possui reprodução Manifestação Manifestação é reprodução de Manifestação
LRM-R28 Item é reprodução de Manifestação Manifestação possui reprodução Item
LRM-R29 Manifestação possui alternativa Manifestação Manifestação possui alternativa Manifestação
LRM-R30 Agente é membro de Agente coletivo Agente coletivo possui membro Agente
LRM-R31 Agente coletivo possui parte Agente coletivo Agente coletivo é parte de Agente coletivo
LRM-R32 Agente coletivo precede Agente coletivo Agente coletivo sucede Agente coletivo
LRM-R33 Res possui associação com Lugar Lugar é associado com Res
LRM-R34 Lugar possui parte Lugar Lugas é parte de Lugar
LRM-R35 Res possui associação com Intervalo de Intervalo de tempo é associado com Res
tempo
LRM-R36 Intervalo de tempo possui parte Intervalo de Intervalo de tempo é parte de Intervalo de
tempo tempo
Fonte: Elaborado pelos autores.

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CATALOGAÇÃO ‘DOS PRINCÍPIOS E TEORIAS AO RDA E IFLA LRM’
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As relações previstas entre as entidades do IFLA LRM podem ser vistas no Esquema 10.
Esquema 10 – Panorama dos relacionamentos entre as entidades do IFLA LRM

possui parte
é parte de
possui associação com
INTERVALO DE
é associado com TEMPO

é associado com possui associação com


possui associação com
possui parte
é associado com é parte de
RES
é assunto de LUGAR
é denominação de
NOMEN

possui parte possui parte


possui derivação
é parte de é parte de
é derivação de
precede OBRA criou foi atribuído por é equivalente a
sucede
acompanha/complementa
é acompanhado/complementado por
é inspiração para é realizada através de
é inspirado por AGENTE
criou
é transformação de
foi transformado em

possui parte EXPRESSÃO criou


é derivação de distribuiu
agregou fabricou isA
é parte de é materializada em é proprietário de
foi agregado por modificou
possui derivação PESSOA
isA
MANIFESTAÇÃO é membro de
possui parte
possui reprodução
possui alternativa possui reprodução de
é parte de é exemplificada por
é reprodução de

possui membro AGENTE


é reprodução COLETIVO
exemplifica ITEM
é parte de
possui parte
precede
sucede

Fonte: International Federation of Library Associations and Institutions (2017, p. 86, tradução nossa).

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O Esquema 10 apresenta os relacionamentos e os nomes das


relações entre as entidades do modelo IFLA LRM.
Comecemos pela entidade Agente, que tanto a entidade Pessoa
quanto a entidade Agente Coletivo podem ser assumidas como tal (por
conta da relação “isA”). Vejamos os relacionamentos previstos para a
entidade Agente: um Agente pode ser membro de um Agente Coletivo;
pode criar um Obra e/ou criar um Expressão; também pode criar uma
Manifestação, além de fabricá-la ou distribuí-la e, por fim, um Agente
pode ser proprietário de um Item, e também pode modificá-lo. Um
Agente Coletivo pode ser parte de outro Agente Coletivo, em como
pode precedê-lo ou sucedê-lo.
Analisemos a entidade Obra. Além de ser criação de um Agente,
como dito anteriormente, uma Obra pode ter várias relações com outras
Obras. Assim, uma Obra pode ser parte de outra Obra, pode preceder
ou suceder uma Obra, pode acompanhar uma Obra, pode servir de
inspiração para outra Obra, e também pode ser a transformação de outra
Obra. Obra também se relaciona com a entidade Expressão, visto que é
através desta que aquela se realiza. A Expressão, por sua vez, pode ser
agregada ou derivada de outra, bem como pode ter uma Expressão como
parte. A relação da entidade Expressão com a entidade Manifestação
se dá por conta de esta ser a sua materialização. Uma Manifestação,
por sua vez, pode possuir Manifestações como parte, alternativa ou
reprodução. Uma Manifestação também pode ser alternativa de outra
Manifestação. Se tem conhecimento de uma Manifestação por meio
conta de sua relação com Item, que a exemplifica; Item é um exemplar
da Manifestação e, pode, inclusive, ser sua reprodução.
Quanto à entidade Nomen, podemos perceber que ela é atribuída
por um Agente e que um Nomen também pode ser derivado de outro
Nomen, bem como pode ter outro Nomen como parte ou, ainda, como
equivalente. Um Nomen é a denominação de um Res.
Por fim, a entidade Res, deixada por último em nossa análise,
pois todas as outras relações são dependentes dela, visto que ela é a

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entidade de maior nível na hierarquia. Uma Res associa-se a outra Res,


a Intervalo de Tempo, que tem uma relação de parte com Intervalo de
Tempo, e a Lugar, que também tem uma relação de parte com Lugar.
O ciclo explicativo se fecha pois Res é assunto de Obra.
Como dissemos no início deste capítulo, o IFLA LRM foi proposto
por conta dos desdobramentos havidos com a publicação do RDA, em
2010. Ocorre que, se o RDA foi proposto com base no FRBR e no FRAD,
e, tendo sido publicado o FRSAD, e, os três modelos conceituais da
família FR consolidados no IFLA LRM, o RDA deixou de ter sua base no
modelo conceitual vigente.
A primeira versão do RDA foi lançada como uma ferramenta
online, o RDAToolkit, e teve atualizações anuais no período de 2012 a
2017. Foi ainda em 2016 que começou a ser discutida a necessidade de
reestruturação do repositório de dados e do redesenho do RDA.
A American Library Association e o RDA Steering Committee (RSC)
decidiram, então, que se iniciaria em abril de 2017, o Project RDA 3R,
nomeado por conta da reestruturação e redesenho do RDA (os 3R),
cujo término foi previsto para abril de 2018, com a implantação do site
reformulado. Ocorre que, em agosto de 2017, o RSC Steering Ccommittee
fez um comunicado no qual indicava que não seria mais possível a
conclusão do projeto na data prevista, e propôs a conclusão em junho
de 2018, com lançamento entre agosto e setembro do mesmo ano.
Além das propostas do Project RDA 3R também estava prevista
a sua adequação ao modelo conceitual IFLA LRM.
Foi previsto, no Project RDA 3R, a inserção de novos capítulos no
RDA que evidenciassem as novas entidades originárias do IFLA LRM:
agente, agente coletivo, nomen, lugar e intervalo de tempo.
Frederick (2017) indica que, com o congelamento proposto
para as atualizações do RDA (o que configura o Project RDA 3R), seria
possível, por conta do intervalo de tempo (abril de 2017 a abril de 2018),
a reconstrução completa do serviço pelo editor do Toolkit, período em
que o RSC poderia essencialmente reescrever o RDA. Ele ainda esperava
que as bibliotecas aprendessem o IFLA LRM para que elas estivessem
prontas para aprender o novo RDA, nele baseado.
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De acordo com as informações do RDA Toolkit (2019), tendo


sido lançado o site beta (abril e setembro de 2019), o texto do RDA foi
estabilizado e o site atendeu às metas do projeto para acessibilidade e
relatórios de revisão. Discussões entre o RDA Board, o RSC e os editores
do RDA Toolkit levaram à redefinição do plano de conclusão do 3R, o que
implica dizer que não seriam apresentadas novas propostas formais para
melhora do RDA por um período29. Esse plano foi considerado exequível,
apesar de não ter data definida, pois ele permitia a estabilidade das
operações do padrão ao mesmo tempo que admitia que as instituições
controlassem sua transição para o RDA baseado no IFLA LRM.
Quais as últimas notícias sobre o Project RDA 3R? Terminada essa
fase, as versões do beta RDA Toolkit continuarão e cada lançamento
incluirá Release Notes, visto que não são esperadas mudanças
significativas antes da transição (agendada para ocorrer em 15
de dezembro de 2020). Traduções e declarações de políticas serão
adicionadas assim que estiverem prontas para publicação.
Fato é que, com o novo modelo conceitual, mudou, também, a
abordagem de como o RDA trata os dados do universo bibliográfico.

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10 ISTO NÃO É UM DESFECHO

“Catalogar é uma arte.” (CUTTER, 1904).

Desde a publicação das 91 Regras de Panizzi, em 1841,


considerado o marco inicial da catalogação moderna, o que se seguiu
foi o desenvolvimento e o aprofundamento da prática e da teoria da
catalogação regida por regras e de forma esquematizada de descrição.
É quando se resgata o trabalho de Otlet e La Fontaine, em 1895, com
a criação do Institut International de Bibliographie, momento em que
se deu, de forma grandiosa, a ampliação da produção científica e,
juntamente, a necessidade de organizar de maneira uniforme esse
conjunto colossal de documentos que precisavam ser organizados
para, posteriormente, serem recuperados e usados.
Ao longo deste livro visitamos as obras de Panizzi, Jewett, Cutter,
Ranganathan e Lubetzky, e ficou evidente que a catalogação tem a
finalidade suprema de proporcionar aos usuários das diversas unidades
informacionais o acesso e o uso da informação. A catalogação, que
nasceu no ambiente da biblioteconomia, confere a esta o seu papel
humanístico, suas teorias e práticas.
Nesse percurso histórico, passamos pelo início da catalogação
moderna, e o que se pode ver a partir de então é uma catalogação
com característica descritiva e sistemática, caracterizada por regras. Foi
nesse trajeto que conhecemos as contribuições de Ranganathan e de
Lubetzky para a discussão que culminou nos Princípios Internacionais
da Catalogação.
Trazer à luz os fundamentos e os princípios da catalogação em
relação ao RDA, mostrou importantes caminhos a serem percorridos
tanto no âmbito acadêmico quanto no âmbito profissonal, no sentido
de compreender conceitos que foram idealizados muito antes do
estabelecimento do FRBR e do RDA. A catalogação de hoje, e seus
instrumentos, foi, sem dúvida, construída sobre os ombros de gigantes!

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O momento atual (e já nem muito atual assim, por conta do


tempo decorrido entre o estudo para esta discussão, mais o intervalo
de tempo entre a submissão, aprovação e revisão do original para que
esse livro fosse publicado) da catalogação, com os modelos conceituais
e com o RDA, chega como reflexo não apenas do contexto tecnológico
que ocasionou os acontecimentos presentes, mas como um despertar
de consciência de que esta é apenas umas das etapas que futuramente
enriquecerá a história da catalogação.
Embora o objetivo maior deste livro não tenha sido o de observar
se, de fato, o RDA cumpre o propósito a que se propôs, foi possível
visualizar a intenção de vincular os dados que compõem os catálogos,
o que torna a pesquisa em catálogos online mais dinâmica e célere.
Um exemplo sobre isso pode ser observado no catálogo da Biblioteca
Nacional da Espanha (disponível em http://datos.bne.es), que traz uma
ideia de como deveria ser um catálogo que teve seus dados registrados
conforme as orientações do RDA. Fica claro que as relações bibliográficas
constituem uma das principais propostas advindas da computação,
inserida no contexto catalográfico por meio do FRBR e que foram
incorporadas ao RDA.
Certamente o RDA não é o desfecho para a história da
catalogação, e, talvez, não seja o seu ápice, o momento mais glorioso
da catalogação, mas, certamente, representa um marco importante.
Este livro é, portanto, definido pelos meios com que a catalogação
tem lidado com suas práticas e teorias, ao buscar o melhoramento do
resultado de suas atividades para alcançar um objetivo maior, o de tornar
cada vez mais o catálogo em um instrumento de compartilhamento de
dados e de um meio para o acesso e democratização da informação e
do conhecimento.
Se este não é um desfecho, que seja, ao menos, uma semente
para os estudos de catalogação.

Capa | Sumário | 112


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26 set. 2020.

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CATALOGAÇÃO ‘DOS PRINCÍPIOS E TEORIAS AO RDA E IFLA LRM’
RAILDO DE SOUSA MACHADO E ZAIRA REGINA ZAFALON

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MOTA, Denysson Axel Ribeiro. Organização e representação da
informação e do conhecimento: intersecções teórico-sociais. João
Pessoa: UFPB, 2019.

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NOTAS DE FIM

1 René Magritte foi um artista surrealista que distribuiu em suas


pinturas o texto e a imagem. Sua obra “Ceci n’est pas une pipe” (Isto
não é um cachimbo) foi amplamente discutida por Michel Foucault no
livro homônimo (FOUCAULT, 2008).
2 Neste livro adotamos esta expressão para identificar as comunidades
que assumem caráter biblioteconômico, arquivístico e museológico e
que lidam com o patrimônio ou artefato cultural.
3 Em textos do Joint Steering Committee for Development of RDA (2009),
que propôs o RDA, encontramos a palavra standard que, no Brasil, tanto
pode ser traduzida como padrão ou norma. Entretanto, adotaremos
padrão para referir-se ao RDA pois este apresenta diretrizes para a
catalogação de recursos, e não regras.
4 Segundo o Joint Steering Committee for Development of RDA (2009),
o RDA foi desenhado como um padrão para descrição do recurso e seu
acesso.
5 Dentre todas as edições da Declaração dos Princípios Internacionais
de Catalogação a única que teve tradução para o português (BR) foi a
de 2009.
6 Destacamos que a busca nos catálogos físicos, com registros
bibliográficos em fichas, era feita por índices de autor, título e assunto
e que, somente com o advento das aplicações computacionais, os
catálogos eletrônicos e os softwares de busca e recuperação da
informação passaram a oferecer a opção de busca também por meio
de palavras, o que favoreceu a descoberta de documentos por todos
os elementos do registro bibliográfico (e não somente pelos pontos de
acesso previamente definidos).
7 Estereotipia, no contexto das artes gráficas, consiste na “[...] técnica
e processo de reprodução de uma composição tipográfica em uma

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chapa a partir da moldagem de uma matriz sólida (de gesso, cartão


etc.).” (ESTEREOTIPIA, [2019?].
8 Cutter adota a palavra Objeto para referir-se ao que chamamos de
objetivos (cf. CUTTER, 1904, p. 12).
9 Os Princípios de Paris e outros princípios de catalogação serão
tratados no próximo capítulo.
10 Este Cânone aparece apenas em Theory of Library Catalogue
(RANGANATHAN, 1938).
11 A adoção dos vocábulos cabeçalhos e entradas, adotadas por
Ranganathan, tiveram sua nomenclatura atualizada para pontos de
acesso.
12 A discussão sobre o FRBR e os outros modelos conceituais da família
FR será feita no capítulo 5.
13 Ocorrido em Frankfurt, 2003; em Buenos Aires, 2004; em Cairo,
2005; em Seoul, 2006; em Pretória, 2006.
14 Quanto à importância do papel do usuário/leitor recorremos a
Chartier (1999) que afirma que, no contexto de avanços tecnológicos,
o leitor passa de agente passivo a agente ativo da informação: o leitor
passa a “[...] submeter os textos a múltiplas operações (ele pode indexá-
lo, anotá-lo, copiá-lo, desmembrá-lo, recompô-lo, deslocá-lo, etc.), mais
do que isso, ele pode se tornar seu co-autor.”
15 Descrição bibliográfica refere-se à Catalogação Descritiva.
Compreendemos, por sua vez, que Catalogação é a “[...] elaboração
de metadados de recursos informacionais, pelo tratamento descritivo
e temático, e da definição de dados para sua localização tendo em
vista a garantia de acesso a tais recursos, quer seja por ações de busca
e recuperação dos itens documentais pelo público humano ou pela
interpretação dos metadados por agentes computacionais.” (ZAFALON;
MACHADO, 2019, p. 95).

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16 A participante brasileira na reunião foi Maria Luíza Monteiro


da Cunha, que foi Presidente da Comissão Brasileira de Processos
Técnicos, Coordenadora do Grupo de Bibliotecários em Informação e
Documentação em Processos Técnicos (CUNHA, 1979).
17 Nos documentos dos modelos conceituais da família FR produzidos
pela International Federation of Library Associations and Institutions esta
entidade está identificada como corporate body, que pode se referir, em
português (BR), tanto a entidade coletiva quanto a instituição. Pelo fato
de a palavra entidade também ser usada na descrição dos modelos
conceituais optamos por adotar a palavra instituição para referir-se à
entidade coletiva com o intuito de dirimir qualquer confusão semântica.
18 Tambem identificado na literatura como acontecimento.
19 Quanto a esta citação cabe, porém, comentar que o Código
Internacional de Catalogação como indicado, não foi proposto. A
proposição acabou acontecendo com o RDA.
20 Com o fim deste Programa, a responsabilidade do FRANAR
Working Group foi assumida pela British Library e pela IFLA-CDNL
Alliance for Bibliographic Standards (ICABS) [IFLA-CDNL: aliança da
IFLA e da Conference of Directors of National Libraries] (INTERNATIONAL
FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS, 2009b).
O FRANAR teve suas atividades encerradas em 2009.
21 Esse conceito foi atualizado conforme modificação presente na
versão de 2009 dos Princípios Internacionais de Catalogação.
22 No relatório do FRSAD é deixado claro que em sua proposta não
é assumida uma posição filosófica sobre a natureza da questão, visto
que analisa o problema do ponto de vista do usuário.
23 A regra de três refere-se ao fato de que, no AACR2r, nos casos de
até três autores, a descrição da indicação de responsabilidade deve ser
feita com a nomeação dos três autores. Porém, em casos de mais de

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três autores, somente o primeiro deverá ser descrito, indicando-se a


omissão de outros nomes com reticências e o acréscimo da expressão
latina ‘et al’. Por exemplo: “Raildo de Sousa Machado, Zaira Regina
Zafalon e Vivian Rosa Storti”, para o primeiro caso; e, caso os nomes dos
autores sejam Raildo de Sousa Machado, Zaira Regina Zafalon, Vivian
Rosa Storti e Raquel dos Santos Maciel, a descrição deverá ser: “Raildo
de Sousa Machado ... [et al.]”.
24 Os detalhes sobre a proposta de Tobolka podem ser conhecidos em:
Tobolka, Z. Projet d’um Code International de Règles Catalographiques.
In: CONGRESSO MONDIALE DELLE BIBLIOTECHE E DI BIBLIOGRAFIA, 1.,
1929, Roma). Atti. [s. l.: s. n., 1929]. p. 121-152.
25 Os princípios representação, precisão, uso comum e suficiência
remetem à versão atualizada da Statement of International Cataloguing
Principles, publicada em 2016.
26 Note que o relatório dos FRSAD não é mencionado. Isso porque
o modelo para dados de autoridade de assunto esteve em estudo e
desenvolvimento concomitantemente com a construção do RDA; ambos
foram publicados em 2010.
27 Quem é Michael Gorman? Foi ele quem fez um estudo comparativo
das práticas de catalogação e bibliografia, texto-base da ISBD; foi o
primeiro editor do AACR2 (nas edições de 1978 e de 1988); e, junto,
com J. McRee Elrod, preparou interpretações de regras AACR2, que
permitem o seu uso para preparar registros compatíveis com o RDA,
com algumas cláusulas AACR2 mantidas.
28 Os atributos de nível inferior foram destacados com sublinhado.
29 A data para início da contagem deste tempo não foi definida e
será determinada em comum acordo entre RDA Board, o RSC Steering
Committee e os editores do RDA Toolkit. Será considerado o tempo
necessário para transição, estabilização e tradução do RDA.

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Sobre os Autores

SOBRE OS AUTORES
Raildo de Sousa Machado é bacharel em Biblioteconomia,
especialista em Docência no Ensino Superior e mestre em Ciência da
Informação. Atua como bibliotecário-documentalista na Universidade
Federal do Amapá há sete anos. É membro do Grupo de Trabalho em
Catalogação da FEBAB. É pesquisador no Grupo de Pesquisa Tecnologias
em Ambientes Informacionais e Inovação da Universidade Federal de
São Carlos (GPTAI/UFSCar), onde desenvolve pesquisas em Organização
e Representação da Informação, com ênfase em catalogação descritiva,
revisão sistemática de literatura e normativas para a formalização da
comunicação científica.

Zaira Regina Zafalon é bacharel em Biblioteconomia e


Documentação, mestre em Comunicação e Semiótica e doutora
em Ciência da Informação. Foi premiada pela Associação Nacional
de Pesquisa em Ciência da Informação e pelo Conselho Regional de
Biblioteconomia – 8ª Região e homenageada pela Câmara Municipal
de São Carlos (SP). Tem vivência de 10 anos como bibliotecária e
18 como docente no ensino superior. Ministra aulas em cursos de
Biblioteconomia há 14 anos, dos quais 12 na Universidade Federal de
São Carlos. Lidera o Grupo de Pesquisa Tecnologias em Ambientes
Informacionais e Inovação (GPTAI), onde desenvolve e orienta pesquisas
sobre Organização e Representação da Informação. Atua como Vice-
Presidente na Gestão 2019-2022 da Associação Brasileira de Educação
em Ciência da Informação, onde também é Editora-Chefe da Abecin
Editora.

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Este livro foi diagramado pela
Editora da UFPB em 2020,
utilizando a fonte Myriad Pro.
Apresenta conceitos da catalogação e
a contribuição de teóricos para a sua
consolidação: Panizzi, Jewett, Cutter,
Ranganathan e Lubetzky.

Expõe os princípios que alicerçam


a catalogação e explica os modelos
conceituais do universo bibliográfico.

Permite conhecer a proposta e a


concepção do Resource, Description and
Access (RDA), do IFLA Library Reference
Model (IFLA LRM) e do Project RDA 3R.

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