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Divisão de

Nutrologia

Síndrome do Intestino Curto


Pato siologia

Gustavo P. Laender

2021

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De nições

“A síndrome do intestino curto (SIC) é de nida pela incapacidade da superfície


do intestino delgado em manter as condições adequadas de absorção de
nutrientes, ocasionando de ciências nutricionais”. (Marchini, Cunha et all, 2011

“ É um termo descritivo para referir-se aos inúmeros problemas clínicos que


surgem após ressecção de comprimentos variáveis do intestino delgado ou, em
raras ocasiões, que são congênitos (p. ex., doença de inclusão microvilosa)”
(Harrison, 19)
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)

Etiologia
A SIC ocorre quando há redução da massa funcional do intestino delgado, que resulta em
dé cit nutricional. Em adultos

- 75% dos casos de SIC devem-se às ressecções intestinais maciças, relacionadas a


infarto mesentérico, volvo de intestino delgado, lesão traumática dos vasos
mesentéricos superiores e bridas

- 25% dos casos são por ressecções intestinais múltiplas por doença de Crohn e enterite
actínica

(Marchini, Cunha et all, 2011)


.


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Introdução

A diminuição da superfície de absorção e o aumento da velocidade do trânsito


intestinal levam a diarreia profusa, desidratação, alterações do equilíbrio eletrolítico
e ácido-básico, além de acometimento nutricional.

Em indivíduos normais, a extensão do intestino delgado varia entre 300 e 850 cm,
sendo os 2/5 proximais representados pelo jejuno, e os 3/5 distais pelo íleo.

(Marchini, Cunha et all, 2011



)

Classi cação

Classi cação da extensão da ressecção baseada no comprimento do intestino


remanescente:

- Pequena: 100 a 150 cm de intestino remanescent

- Grandes: entre 40 e 100 cm e as

- Ressecções maciças: menos de 40 cm de intestino remanescente

(Marchini, Cunha et all, 2011

No entanto, mesmo com valores residuais < 180 cm há risco de desenvolver


SIC. (Thompson et al, 2012)
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)

Classi cação
Baseada no segmento ressecado

a) ressecção predominantemente jejunal, com íleo distal maior que 10 cm e

preservação da válvula ileocecal e de todos os segmentos colônicos;

b) ressecção ileal com preservação da válvula ileocecal;

c) ressecção ileal e da válvula ileocecal com anastomose jejuno-colônica;

d) ressecção jejunal parcial e íleo-colônica total com jejunostomia terminal.

(Marchini, Cunha et all, 2011)


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Introdução
- Não existe uma de nição de qual o comprimento mínimo de intestino delgado seria

su ciente para manter a absorção dentro da normalidade.

- A intensidade da manifestação clínica está fracamente correlacionada com o

comprimento ressecado devido à grande variação de comprimento entre os indivíduos

e devido a alta capacidade compensatória.

- As conseqüências nutricionais após a ressecção dependem não só do comprimento,

mas também das condições funcionais do intestino remanescente.

(Marchini, 2001) (Uptodate, 2021


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)

Falência Intestinal

A falência intestinal descreve um estado no qual o nível de funcionalidade do TGI é

incapaz de manter o status nutricional e de hidratação sem suplementação enteral ou

parenteral.

É classi cada em aguda (tipo I), aguda prolonga (tipo II) e crônica (tipo III)

SIC é a causa mais comum de falência intestinal crônica (60%); outras causas são

síndromes disabsortivas, obstrução e dismotilidade.

(Uptodate, 2021)

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Epidemiologia

Os dados no Brasil são escassos. Nos EUA a prevalência de nutrição parenteral

domiciliar é de 120 por 1 milhão, dos quais 25% tem SIC. Isso corresponde a 10.000

indivíduos em 1992.

Em países com prevalência menor, acredita-se que isso se deva ao fato de maior

morbimortalidade associada à ausência ou falha de tratamento.

(Uptodate, 2021)

Fatores determinantes da função intestinal

Fatores que determinam as manifestações clínicas e o grau de sintomas:

(1) o segmento especí co ressecad

(2) o comprimento do segmento ressecado

(3) a integridade da papila ileal

(4) se foi realizada também alguma remoção do intestino grosso

(Harrison, 19)
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;

Fatores determinantes da função intestinal

Fatores que determinam as manifestações clínicas e o grau de sintomas:

(5) doença residual no intestino delgado e/ou no intestino grosso (p. ex., doença de

Crohn, doença da artéria mesentérica

(6) o grau de adaptação no intestino restant

(7) Hiperssecreção gástric

(8) Motilidade gastrointestinal alterad

(Harrison, 19)
a

Comprimento do intestino ressecado

É um dos determinantes da função intestinal e do prognóstico com relação a

necessidade de suporte com NPT ou NE. No entanto, é difícil estabelecer com acurácia

o comprimento do intestino remanescente. Podemos usar como parâmetros

- Relato cirúrgico do comprimento ressecado, remanescente, e do aspecto do

intestino remanescente.

- Exames de imagem contrastados como Rx-baritado ou CT: importante também

para avaliar presença de outras complicações como estenoses ou dilatações

(Uptodate, 2021)

Ao comentar sobre a importância do exame


“Além de avaliar o tempo de trânsito até o intestino grosso, o exame contrastado
de trânsito intestinal pode ser utilizado na medição da extensão do intestino
remanescente e no acompanhamento dos fenômenos de adaptação estrutural das
alças delgadas e colônicas”.
:

Paciente de 37 anos, feminino, submetida a enterectomia maciça por infarto entero-mesentérico,


com confecção de anastomose jejuno-colônica (cólon transverso) e presença de 15 cm de intestino
delgado remanescente. Destacam-se, ainda, o aumento do calibre das alças intestinais delgadas
remanescentes e hipertro a das pregas mucosas, fenômenos estes associados à presença de
adaptação intestinal em curso.
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Comprimento do intestino ressecado

- A presença de cólon ajuda a mitigar a disfunção absortiva, sendo que a metade do

cólon remanescente tem equivalência aproximada de 50 cm de intestino delgado.

- Perda da válvula ileocecal e de um segmento ileal causa comparativamente mais

disfunção do que uma perda equivalente do jejuno.

- No entanto, como dito antes, a correlação entre comprimento e função parece ser

fraca devido à variantes individuais.

(Uptodate, 2021)

Segmento submetido a ressecção

A necessidade de suporte com NPT ou DE são fortemente determinados pela

capacidade adaptativa do segmento residual. O íleo tem maior capacidade

adaptativa quando comparado ao jejuno, o que implica em melhor prognóstico nas

ressecções jejunais se comparados às ileais.

A evolução tende a ser satisfatória em ressecções < 80% da extensão total do intestino.

(Marchini, Cunha et all, 2011


)

Segmento submetido a ressecção

Segmentos próximas do intestino - duodeno e jejuno proximal são sítios incomuns de

ressecção em adultos devido ao padrão de irrigação arterial. No entanto, quando

envolvidos, estão associados a hipergastrinemia intensa e hiperssecreção gástricas,

bem como de ciências de ferro e folato.

(Uptodate, 2021)
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Sítios de anastomose
Tem implicações importante no prognóstic
- Anastomose jejuno-cólica: resulta de ressecção completa do íleo, válvula ileocecal,
parte do cólon, e comprimentos variados do jejuno; mais comum; prognóstico
depende do tamanho residual do jejuno

- Anastomose jejuno-ileocólica: ressecção de parte do íleo com retenção da válvula


ileocecal e o cólon está completo -> melhor prognóstic

- Jejunostomia terminal: ressecção completa do íleo e do cólon ou com o cólon


presente no entanto desconectado -> pior prognóstico

(Uptodate, 2021)
.

Ressecção Jejunal

Fisiologia jejunal:

- Vilosidades longas com grande área absortiva, alta concentração de enzimas

digestivas e muitas proteínas carreadore

- É o sítio primário de absorção da maior parte dos macro e micronutrientes, sendo

que a maior parte da absorção ocorres nos 150 cm proximais

- Absorção de uidos: o TGI normal secreta por volta de 4L de uido. A reabsorção

de água é um processo passivo que depende do transporte de nutrientes e eletrólitos.


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Ressecção Jejunal

Fisiologia jejunal:

- As junções entre as células epiteliais (gap-junctions) são “frouxas” quando

comparada ao resto do intestino, o que propicia um rápido uxo de líquidos e

nutrientes e consequentemente uma absorção de uidos ine ciente.

Com consequência, a mucosa jejunal não consegue concentrar o conteúdo luminal e

o sódio difunde livremente para o lúmen.


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Ressecção Jejunal

Fisiologia jejunal:

- Notadamente, a absorção do sódio no jejuno ocorre contra o gradiente de

concentração, depende do uxo de água, e é associado à absorção de glicose.

-> A composição dos Sais de Reidratação oral tira proveito deste cotransporte

sódio-glicose para otimizar a absorção jejunal

- A absorção de sódio cria um gradiente eletroquímico que possibilita o transporte dos

nutrientes transmembrana

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.


Ressecção jejunal

Logo, a ressecção jejunal resulta em dé cit nutricional temporário.


Há uma resposta adaptativa modesta, sendo a maior parte de natureza funcional (atividade
enzimática) ao invés de estrutural

(Uptodate, 2021)
.

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Ressecção Ileal

Função absortiva do íleo (lembrando que tem maior capacidade adaptativa):

- Vit B12: os 50-60 cm distais do íleo são os sítios primários para absorção da B12,

ligada ao FI.

—> todos os pacientes com SIC necessitam de reposição de B12, com particular

atenção se houver ressecção do íleo distal.

(Uptodate, 2021)

Ressecção Ileal

Função absortiva do íleo (lembrando que tem maior capacidade adaptativa):

- Absorção dos ácidos biliares.

-> Ressecções > 100 cm do íleo terminal gera transtorno na circulação

enterohepática, de ciência de ácidos biliares, o que acentua a má absorção de

gordura e de vitaminas lipossolúveis.

—> Ademais, a passagem em excesso dos ácidos biliares para o cólon induz diarreia

secretomotora (enteropatia colerética

(Uptodate, 2021)
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)


Ressecção Ileal

- “Freio ileal” / “ileal break”: gorduras não absorvidas que alcançam o íleo causam

um retardo no esvaziamento gástrico mediado por GLP-1 e peptídio YY, que é

bené co na SIC pois reduz a velocidade de trânsito intestinal.

—> Na ressecção ileal o paciente perde o efeito bené co do “freio ileal” resultando

em trânsito mais rápido, absorção reduzida de nutrientes e menor efeito adaptativo

(Uptodate, 2021)
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.

Ressecção Ileal

- Absorção de uidos: aqui as junções intercelulares são mais apertadas, com menor

uxo de água e sódio. No entanto o íleo faz transporte ativo de NaCl, gerando

consequente reabsorção de uido e concentrando o conteúdo ileal.

—> o íleo reabsorve grande parte da secreção secretada pelo jejuno.

—> ressecção ileal acarreta perda de capacidade de absorção de uidos e eletrólitos,

bem como não toleram refeições com grande volume ou osmolaridade

(Uptodate, 2021)
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Ressecção da válvula ileocecal (VIC)

- A VIC funciona como barreira de re uxo colônico para o íleo e também regula a

velocidade de esvaziamento ileal para o cólon. As consequências da ressecção da

VIC são muito mais pronunciadas nas crianças e menos importantes nos adultos

(Uptodate, 2021)
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Ressecção da válvula ileocecal (VIC)

- Possíveis consequências da ressecção da VIC:

-> aumento da velocidade de trânsito intestinal o que reduz absorção

-> promove supercrescimento bacteriano, o que reduz B12, reduz desconjugação

dos ácidos biliares, piorando a absorção de gordura e promovendo diarreia. Além

disso, pode aumentar translocação bacteriana e gerar lesão hepática, acidose D-

lactica, artrite e colite

(Uptodate, 2021)
.



Adendo - Acidose D-Lactica

- É uma forma de acidose láctica que pode ocorrer na SIC; ocorre também na ingestão

maciça de propileno-glicol ou CAD

- O ácido D-láctico é um estereoisômero do ácido L-láctico, que é o principal isômero

produzido nos humanos. No entanto, é de metabolização muito mais lenta e pode se

acumular

(Bianchetti, 2018)
.

Adendo - Acidose D-Lactica

- Ocorre na SIC após consumo de sobrecarga de carboidratos, que é metabolizado por

bactérias em ácido D-láctico e em seguida absorvido. Pode ocorrer ainda por

supercrescimento de anaeróbios G

- Apresenta-se com acidose metabólica associado a confusão mental, ataxia

cerebelar, disartria e perda de memória.

(Bianchetti, 2018)
+

Ressecção colônica

Funções colônicas

- absorção de água, eletrólitos, ácido graxo de cadeia curta (AGCC).

- Quando comparado ao delgado, é o que tem o trânsito mais lento, as Gap-junctions

mais estreitas, e a maior e ciência na reabsorção de água e sódio.

-> no adulto o cólon recebe 1-1.5L de uido e só deixa passar 150 ml.

(Uptodate, 2021)
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Ressecção colônica

Funções colônicas

-> nas ressecções de delgado, ainda mais líquido checa no cólon, que pode

reabsorver até 6L de uidos extra por dia. Logo, nas jejunostomias (desconexão

colônica) ou na ausência de cólon, o risco de desidratação e DHE é

substancialmente maior, com maior dependência de NPT

(Uptodate, 2021)

:

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Ressecção colônica

Funções colônicas

- Em indivíduos normais absorve até 15% das necessidades energéticas diárias

através da metabolização de carboidratos complexos por bactérias colônicas.

-> em pacientes com ressecções extensas de delgado, ele pode absorver até 50%!

Logo, os pacientes que tem cólon tem vantagem em dietas com carboidratos

complexos. No entanto, em pacientes sem cólon o contrário é verdade, pois pode

causar diarreia.

(Uptodate, 2021)


Ressecção colônica

Funções colônicas

- Reduz a velocidade do trânsito intestina

- Estimula adaptação intestinal aumentando o número de enterócitos e outras células

e aumenta secreção de GLP-1 e peptídio YY

-> colectomia total associada a ressecção jejunal de 50-100 cm tem alta chance de

evoluir com necessidade permanente de NPT.

(Uptodate, 2021)
:

In uência da SIC na função gástrica

- Grandes ressecções do intestino delgado geram hipergastrinemia e hiperssecreção

pela perda do feedback negativo.

-> ressecção duodenal ou jejunal proximal é rara mas exacerba sobremaneira este

evento.

-> Aumenta então a acidez do intestino delgado causando lesão péptica e disfunção

das enzimas digestivas.

(Uptodate, 2021)
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In uência da SIC na função gástrica

-> a hiperssecreção gástrica gera intensa perda de líquidos com aumento do débito

da ostomia ou volume fecal que pode durar até 12 meses após a cirurgia.

-> Manejado com reposição de uidos agressiva e IBP.

(Uptodate, 2021)


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Fenômeno de Adaptação

Após a ressecção intestinal há um processo de adaptação que pode ser (1)

estrutural e (2) funcional que dura de 6 a 12 meses (Uptodate menciona até 2

anos).

A adaptação depende de uma série de fatores hormonais, e em particular, do

estímulo dos nutrientes da dieta e dos segmentos restantes.

(Harrison, 19)

Fenômeno de Adaptação

Logo, é fundamental a ingestão continuada de nutrientes e calorias por via

enteral, até mesmo no pós-operatório imediato (se necessário associado a

NPT).

A capacidade subsequente desses pacientes de absorver nutrientes não será

conhecida por vários meses, até que a adaptação seja completa.

(Harrison, 19)

Adaptação Estrutural

Estímulo proliferativo ocorre ao longo do eixo cripta-vilosidade e gera:

(1) aumento do peso da mucosa,

(2) alargamento das pregas mucosas

(3) dilatação e alongamento do intestino remanescente.

(4) Aumento da massa celular

(Uptodate, 2021)
Adaptação Estrutural

Estímulo proliferativo ocorre ao longo do eixo cripta-vilosidade e gera:

(5) Aumento quantitativo no DNA com aumento proteico;

(6) alongamento das violisidades, expansão dos microvilos,

aprofundamento das criptas.

(7) Aumento da camada muscular em espessura, 


circunferência e comprimento

(Uptodate, 2021)
Adaptação Funcional

(1) Modi cação da atividade enzimática da membrana em borda em escova;

(2) Modi cação permeabilidade da membrana;

(3) Up-regulation de cotransportador Na/glicose, bomba de Na/H e outras

enzimas. Down-regulation de outros transportadores.

(Uptodate, 2021)
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Adaptação Funcional

(4) Redução na velocidade de trânsito aumentando o tempo para absorção

(Longshore, 2009)

(5) Pouco compreendidas são as mudanças na microbiota (Joly, 2010),

atividade motora e de barreira e na função imune.

(Uptodate, 2021)
Adaptação Ileal vs jejunal

- O íleo é capaz de sofrer adaptação intensa com aumento signi cativo da

área de absorção, comprimento, diâmetro e função motora, bem como

adaptações funcionais.

(Uptodate, 2021)

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Adaptação Ileal vs jejunal

- A adaptabilidade jejunal é mais modesta, e na sua maior parte é de caráter

funcional. A adaptação é dependente do estímulo dos segmentos restantes. 


-> anastomose jejuno-cólica permite melhor adaptação funcional;


-> jejunostomia terminal apresenta pouca ou nenhuma adaptação

(importância do cólon no prognóstico)

(Uptodate, 2021)
Efeitos dos nutrientes

- O maior efeito estimulante para adaptação intestinal é a presença de

alimentos no lumen intestinal. 


-> mediado por fatores de crescimento 


-> modelos animais mostraram que a adaptação não ocorre com NPT

exclusiva (sem estímulo enteral)

(Uptodate, 2021)
Efeitos dos nutrientes

- Nutrientes que requerem digestão antes da absorção funcionam como

potente estímulo para a adaptação intestinal. 


-> dissacarídeos e AGCL estimulam adaptação mais que monossacarídeos e

AGCM.

(Uptodate, 2021)

Efeitos de nutrientes específicos são descritos na literatura


Arginina ou citrulina

- Modelos animais mostraram que arginina parenteral reduz a permeabilidade

intestinal. Efeito semelhante foi visto com suplementação enteral ou

parenteral de citrulina, que é metabolizada em arginina.

- Modelos animais sugeriram que suplementar citrulina na NPT pode

potencializar a adaptação intestinal.

(Uptodate, 2021)
Arginina ou citrulina

- Consistente com um papel de fator de crescimento, níveis séricos de

citrulina correlacionam-se com massa de enterócito de crianças com SIC

(Bailly-Botuha, 2009)

- Níveis séricos baixos de citrulina se correlaciona com infecção de corrente

sanguínea associada a cateter em crianças com falência intestinal.

(Uptodate, 2021)
Arginina ou citrulina

- Foi proposto que a dosagem sérica de citrulina pode predizer falência

intestinal transitória vs de nitiva. (Rhoads, 2005)

- Os estudos em geral apontam que valores < 15 micromol/L se associam a

necessidade de NPT permanente (Flitzgibbons, 2009)

(Uptodate, 2021)
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Efeitos dos nutrientes: Glutamina

- Estudos em animais mostrou que glutamina parenteral reverteu hipoplasia

intestinal, enquanto glutamina enteral não teve impacto na adaptação

intestinal.

- Estudos em humanos mostrou benefício modesto de glutamina enteral em

peso e balanço eletrolítico (no entanto há um vies do estudo que os

pacientes também receberam hormônio do crescimento)

(Uptodate, 2021)
Efeitos nos nutrientes: Triglicérides

Em modelos animais suplementação enteral de TAG de cadeia longa foi mais

bené co que de cadeia média em promover adaptação intestinal, apesar de

que os de cadeia média são mais facilmente absorvíveis. Dados em humanos

são limitados.

(Uptodate, 2021)
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Efeitos nos nutrientes: Omega-3

- Óleo de peixe que é rico em Omega-3 parece ser bené co na indução da

adaptação. Em modelo animal óleo de peixe reduziu diarreia e excreção

fecal de gordura quando comparado com óleo de milho.

- Outro estudo mostro que administração parenteral de Omega-3 induziu

adaptação em ratos. Neste estudo, administração parenteral foi superior a

enteral.

(Uptodate, 2021)
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Hormônios entéricos

Os nutrientes possivelmente induzem adaptação pela liberação de um ou

mais hormônios com efeito tró co, um estímulo que é mediado primariamente

pela presença gordura no lúmen.

Diversos mediadores foram descritos.

(Uptodate, 2021)
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Hormônios entéricos:
Glucagon-like peptide 2

- GLP-2 é um fator de crescimento intestinal produzido pelas células

enteroendócrinas L do íleo e cólon.

- Modelos animais mostraram elevação sérica importante de GLP-2 após

ressecção intestinal com indução de adaptação nos segmentos restantes. 


-> se os segmentos que o produzem são ressecados, esse efeito não é

observado. 


(Uptodate 2021)

Hormônios entéricos:
Glucagon-like peptide 2

-> administração de GLP-2 induz hiperplasia de vilas no íleo e jejuno após 4

dias de uso em ratos com SIC, acompanhados de aumento na absorção de

glicose e diminuição da permeabilidade intestinal.

(Uptodate 2021)

Hormônios entéricos:
Teduglitide (Revestive ®)

- Teduglutide é um análogo de GLP-2 de longa ação subcutâneo: 



—> dose 0.05 mg/kg 1 vez ao dia

- promove adaptação intestinal e absorção e tem efeito bené co no desmame


de NPT em adultos com SIC.

- Alto custo

(Jeppesen, 2012) (Kim, 2017)


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Hormônios entéricos

- Estudos com GH associado com glutamina ou outros fatores de crescimento

foram con ituosos e inconclusivos.

- Mucosa ileal produz diversos hormônios tró cos e se ressecada pode

reduzir o potencial de adaptação promovido por estes hormônios. 


—> enteroglucagon, EGF (epidermal growth factor), HGF (hepatocyte growth

factor), peptídeos trefoil, IGF-1 (insulin-like growth factor)

fl
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Hormônios entéricos

- Modelos animais mostraram efeitos na camada muscular com IGF-1, EGF,

mas modelos humanos são escassos.

(Uptodate, 2021)
Hormônios com efeito negativo
- Alguns hormônios tem efeito de inibir o tro smo:

-> Transforming-growth factor beta-1 inibe células tronco, proliferação de

enterócito e adaptação em ratos. 


-> Octreotide atrapalha adaptação estrutural por reduzir proliferação celular, o

que limita o uso de octreotide como tratamento para diarreia na SIC.

(Uptodate, 2021)
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Hormônios entéricos: motilidade

- A motilidade é regulada por hormônios, e ressecções grandes podem alterar

diversos aspectos da motilidade como o esvaziamento gástrico e trânsito

intestinal.

- Ressecção ileal tem efeitos particularmente importantes (“ileal break”)

- Se o íleo está presente, dieta com gordura aumenta o freio ileal que aumenta

a adaptação por reduzir o trânsito.

(Uptodate, 2021)
Prostaglandinas

- Prostaglandina E2 promove reparo intestinal através de resposta celular

adaptativa do epitélio (Miyoshi, 2017)

- Estimulam proliferação intestinal


-> Uso de aspirina, AINE e e corticoide pode inibir o processo de adaptação.


(Uptodate, 2021)
Microbiota na SIC

- A microbiota dos pacientes com SIC é alterada. Estudo de Jeppesen, 1998

com pacientes com SIC e ressecção colônia parcial mostrou que a

diversidade bacteriana colônia era reduzida e Lactobacillus estava

superrepresentado quando comparado com a microbiota normal.

- Isso representa um potencial benefício pois os Lactobacillus fermentam

carboidratos mal absorvidos aumentando a extração de energia da dieta

(Uptodate, 2021)
Objetivo: Caracterizar a microbiota intestinal de pacientes com SIC internados na
Unidade Metab lica do HCFMRP-US

Métodos: Foram avaliadas amostras de fezes, exames bioqu micos e avalia o do


estado nutricional. Foi ainda realizado pesquisa para cepas patogênicas para
determina o de esp cies da fam lia enterobacteriaceae. Em cada cepa de E. coli
isolada foram aplicados anti-soros para determina o de poss vel patogenicidade.
Metodologia molecular tamb m foi utilizada para determina o do per l da microbiota
intestinal bacteriana.






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Resultados: Observou-se menor quantidade de microorganismos da fam lia
enterobacteriaceae por grama de fezes em pacientes com SIC. Por m a an lise molecular
mostrou a manuten o na propor o de esp cies bacterianas, equivalente a microbiota
intestinal saud vel

Conclusão: Nossos resultados sugerem que apesar da retirada maci a do intestino


delgado, uso freq ente de antibi ticos, depress o do sistema imune, presen a de alimentos
n o digeridos no trato gastrintestinal e tr nsito intestinal acelerado, a propor o entre as
esp cies bacterianas intestinais permanecem similares normalidade.




.

















Supercrescimento bacteriano

- Enquanto pacientes sem SIC tem pouca densidade bacteriana no intestino

delgado proximal (primariamente aeróbica), os que tem SIC tendem a ter

maior densidade bacteriana incluindo anaeróbios.

- Invasão do delgado com população excessiva ou desbalanceado pode

gerar supercrescimento bacteriano que pode exacerbar a disabsorção e

produzir gás, causando distensão e outros sintomas que podem reduzir

ingesta oral, o que di culta desmame da NPT.

(Uptodate, 2021)

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Supercrescimento bacteriano

- Reduz a desconjugação de ácidos biliares o que reduz absorção de

monoglicerídios e ácidos graxos

- Causa aumento de resposta in amatória com lesão endotelial, o que piora

a disabsorção

- Competem pela vitamina B12, reduzindo sua absorção.

(Uptodate, 2021)
fl
Referências
• KASPER, Dennis L.. Medicina interna de Harrison. 19 ed. Porto Alegre:
AMGH Editora, 2017. 1 v, .

• Chagas Neto FA, Barreto ARF, Muglia VF, Elias Junior J, Bellucci AD, Marchini
JS, Cunha SFC. Avaliação e seguimento de pacientes adultos com
síndrome do intestino curto pelo exame contrastado de trânsito
intestinal. Radiol Bras. 2011 Mai/Jun;44(3):188–191.

• Marchini, JS, Pasquali, LS, Borges, RM, Nonnino, CB. Terapia nutricional
oral em pacientes com síndrome do intestino curto. Divisão de Nutrologia,
)

Departamento de Clínica Médica, Hospital das Clínicas, Faculdade de


Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. Rua Moreira de
Oliveira, 345, 14025-300, Ribeirão Preto, SP, Brasil. Correspondência para/
Correspondence to: C.B. NONINO. E-mail: cnoni@hotmail.com

• Dibaise, JK. Pathophysiology of short bowel syndrome. Uptodate, May 2021.


https://www.uptodate.com/contents/pathophysiology-of-short-bowel-
syndrome?source=history_widget
Referências

• Bowel resection induced intestinal adaptation: progress from bench to


bedside. Longshore SW, Wakeman D, McMellen M, Warner BW. Minerva
Pediatr. 2009;61(3):239. 

• Bailly-Botuha C et al. Plasma citrulline concentration re ects enterocyte


mass in children with short bowel syndrome. Pediatr Res. 2009;65(5):559. 

• Rhoads JM, Plunkett E, Galanko J, et al. Serum citrulline levels correlate with
enteral tolerance and bowel 

length in infants with short bowel syndrome. J Pediatr 2005; 146:542.

• Marchini JS, Suen VMM. Cyclic parenteral nutrition does not change the
intestinal microbiota in patients with short bowel syndrome. Acta Cirurgia
Brasileira - Vol. 28 (sup 1) 2013
fl

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