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COMUNICAÇÕES DIGITAIS

AULA 3

Prof. Amilton Carlos Rattmann


CONVERSA INICIAL

Como sabemos, a complexidade de protocolos de comunicação pode ser


dividida em partes ou camadas, que possuem um conjunto específico de
funções. Cada camada descreve e resolve um determinado problema da
comunicação e opera de forma conjunta com as demais camadas ou funções de
cada camada, possibilitando a comunicação entre aplicativos através das redes.
O termo rede que acabamos de citar está propositalmente no plural indicando
que essa abordagem não se refere exclusivamente à internet, mas inclui também
qualquer rede existente ou as redes que venham a ser criadas, pois define
conceitualmente as necessidades para se estabelecer uma comunicação
confiável entre dispositivos heterogêneos, em ambientes heterogêneos, com
capacidades distintas de armazenamento e comunicação. Nesta aula, veremos
soluções dos problemas da camada física do modelo de referência OSI,
relacionados à comunicação digital pelos exemplos de soluções em sistemas
reais.

TEMA 1 – A CAMADA FÍSICA

A camada física resolve o problema da conexão entre dispositivos. Está


envolvida na tradução das informações lógicas em informações físicas capazes
de serem transportadas pelo canal estabelecido entre elementos transmissor e
receptor. As interfaces digitais são soluções técnicas que padronizam as
conexões entre equipamentos, especificando a forma pela qual se estabelecem
as conexões mecânicas entre cabos e equipamentos. Além da conexão
mecânica, é necessária a definição dos padrões elétricos de cabos e interfaces
e da estrutura de controle entre equipamentos, constituindo-se em soluções
adotadas universalmente para a conexão física entre dispositivos.

1.1 Interfaces físicas

As interfaces digitais de conexão são soluções técnicas para interligar


equipamentos terminais de dados (ETD, ou DTE do inglês: Data Terminal
Equipment) a equipamentos de comunicação de dados (ECD, ou DCE do inglês:
Data Circuit-terminating Equipment ou Data Communication Equipment), como
apresentado na Figura 1. As interfaces padronizam a forma de conexão
permitindo a troca de dados entre um equipamento gerador de dados e um
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equipamento capaz de transmitir esta informação através de um meio.
Equipamentos auxiliares podem ser conectados nas interfaces, entre ETD e
ECD, com funções variadas, capazes de avaliar erros na transmissão,
criptografar dados, testar a conexão física ou de capturar as informações
trocadas e decodificá-las, como analisadores de protocolos. As interfaces ainda
permitem um esquema especial de conexão permitindo a interconexão entre
equipamentos ETDs ou entre equipamentos ECDs, por meio de cabos cruzados
(crossover), sendo em ambos os esquemas, utilizados em soluções muito
específicas e normalmente temporárias.

Figura 1 – Ilustração geral da interface

Fonte: ITU, 2008b.

1.2 Equipamentos ETD

O equipamento ETD são definidos pelas normas como os equipamentos


que produzem dados (ou informações) e aos quais os dados são direcionados.
São os equipamentos que estão nas extremidades dos esquemas de
comunicação ponto a ponto, como apresentado na Figura 2. Em comunicações
utilizando redes de dados, os equipamentos de rede também são ETDs (Figura
3), sendo que parte das informações, as informações de controle, são destinadas
a esses equipamentos nas camadas funcionais do modelo de referência OSI.

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Figura 2 – ETD – Conexão ponto a ponto

Nas comunicações entre equipamentos por meio das redes de dados,


existem vários equipamentos ETD envolvidos trocando informações em níveis,
por diferentes camadas. Se a rede de transporte (aqui empregamos o termo rede
de forma mais genérica, no sentido de descrever um arranjo de equipamentos
de mesmo tipo, formando uma estrutura utilizada de transporte de dados e não
no sentido de protocolos de redes) for formada por equipamentos de nível 2
(camada 2), protocolos de camada 2 são utilizado pelos equipamentos em toda
rede, reservando para os equipamentos das pontas (extremidades das rede) os
protocolos de camada 3 que serão apenas protocolos de clientes, operando na
troca de informações entre ETDs terminais, como apresentado na Figura 3.

Figura 3 – ETD – Conexão em rede

Na Figura 4, são representadas em vermelho as conexões físicas,


presentes em todos os equipamentos. A linha tracejada vermelha indica solução
de adaptação ao meio, que é diferente do tipo de solução adotada nas interfaces,
embora sejam soluções de mesma camada. Em marrom, as conexões de enlace,
também presentes em todos os equipamentos. E, por fim, em alaranjado, a
conexão fim a fim entre equipamentos terminais, com protocolo de camada 3
sendo transportado por uma rede de camada 2.

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Figura 4 – Equipamentos ETD e ECD, fim a fim, em rede

1.3 Equipamentos ECD

Os equipamentos ECDs são equipamentos que realizam a alteração do


sinal binário para a transmissão pelo canal. Os modems analógicos são
moduladores que transmitem o sinal utilizando uma portadora, em canais
analógicos. Os modems digitais são ECDs codificadores que produzem um sinal
digital modificado para serem transportados por canais digitais. ECDs podem ser
modems rádio, estações VSat, modems ópticos, multiplexadores, ou outros
equipamentos com esta função. Na Figura 5, são mostrados três tipos de
modems:

i. modem satélite com transmissão digital e interfaces Ethernet;


ii. modem rádio com interfaces RS-232 e RS-422;
iii. modem óptico com interface V.35.

Mais recentemente, muitas interfaces incorporaram as funções ECD no


próprio hardware, tonando o conjunto mais robusto e barato. Os chamados
winmodems, comuns nos anos 2000, por exemplo, incorporaram a interface e
muitas funções de hardware que foram realizadas por software (sistema
operacional Windows), tornaram os modems para acesso à Internet mais
baratos.

Saiba mais

Termo winmodem foi registrado pela 3 Com/U.S. Robotics, mas foi


amplamente utilizado para descrever modem que substituíam parte do hardware
por software do sistema hospedeiro
Fonte: Knowledge Base, 2018.

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Figura 5 – Equipamentos ECD

Fonte: Improving..., 2018; Humanity, 2019; Direct Industry, 2019. Disponível em:
<https://www.newtec.eu>; <http://en.hm-it.com>; <http://www.directindustry.com>.

As primeiras interfaces Ethernet mantinham a função lógica da interface


separada da mídia física (PHY), que permitia manter a interface normalmente
mais cara e dependente do microprocessador utilizado, da conexão física
normalmente mais barata que podia ser alterada. Eram compostas pela interface
AUI (do inglês: Attachment Unit Interface), disponível em conectores DB15, e
pelo transceiver Ethernet, que podia operar com cabo coaxial, par trançado ou
fibra óptica, como mostrado na Figura 6, dependendo do modelo empregado.

Figura 6 – Conexão de rede Ethernet antiga

Fonte: Computer Language, 2019. Adaptado de: <www.computerlanguage.com>.

As interfaces Ethernet passaram por processo de incorporação de


funções quando combinaram as interfaces AUI e os transceivers Ethernet na
mesma placa de expansão, como mostrado na Figura 7. Chips como o microchip
LAN91C96 apresentavam os sinais para o PHY (do inglês: Physical Layer) de

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pares trançados e sinais AUI para permitir outros tipos de mídias físicas PHY. As
funções AUI foram suprimidas quando as funções da interface foram
incorporadas no mesmo chipset, como no chip Intel I219, no qual as interfaces
disponíveis para o sistema hospedeiro são a PCIe (do inglês: Peripheral
Component Interconnect Express) e SMBus (do inglês: System Management
Bus).

Figura 7 – Evolução das placas de expansão Ethernet. (A) Conexão utilizando


AUI; (B) transceivers; (C) Placa de rede mista com AUI e RJ-45 com o transceiver
incorporado

Fonte: Milhorim, 2018. Adaptado de: <https://slideplayer.com.br/slide/13896647/>.

1.4 Interfaces paralelas

As interfaces podem ser paralelas ou seriais. Normalmente mais simples,


as interfaces paralelas dispõem de sinais de controle em linhas dedicadas e
paralelas, através de cabos digitais de várias vias e conectores com múltiplos
pinos. Os sinais são trocados por nível, indicando a ativação ou a desativação
da função representada, permanecendo ativo pelo tempo necessário. A
operação por nível dispensa decodificação ou estabelecimento de estruturação
previa de bits para identificação dos sinais, sendo composta por circuitos simples
e de fácil operação. Por serem estáticos, os sinais das interfaces paralelas
podem ser medidos mais facilmente em atividades de diagnóstico e manutenção.
As interfaces paralelas estiveram amplamente disponíveis em servidores
e em computadores de mesa e portáteis, mas foram sendo substituídas por
interfaces seriais, mais rápidas e confiáveis. As interfaces paralelas ainda estão
disponíveis em equipamentos menores, como dispositivos aplicados à internet
7
das coisas e embarcados, suportados por sistemas como Raspberry, Arduino e
em computadores do tipo Nuc, que são empregados em controle de dispositivos
de acesso e controle.

Figura 8 – Dispositivos com RS-232: (a) Nuc Liva ZE Plus; (b) Arduino; (c)
Raspberry

Fonte: Antratek, S. d.; Arduíno, 2019; ECS, 2017. Disponível em:


<www.ecs.com.tw/ECSWebSite/Product/Product_Overview/EN/System/LIVA%20ZE%20Plus/LI
VA>; <www.arduino.cc>; <www.antratek.com/serial-pi-plus-rs232-for-raspberry-pi>.

A interface paralela para comunicação serial mais conhecida talvez seja


a V.24, também conhecida como RS-232. Apesar de lenta e com baixa
imunidade a ruídos, ainda é utilizada com interface legada em muitos sistemas,
pela simplicidade dos circuitos de interface e facilidade de diagnóstico. Outras
interfaces como a V.35, V.36 estão disponíveis em modems e roteadores,
embora cada vez mais equipamentos adotem as conexões seriais conhecidas
genericamente como interfaces Ethernet.
As interfaces internas em computadores e servidores também sofreram
evolução. A interface conhecida como barramento ISA (do inglês: Industry
Standard Architecture) ou slot ISA, padronizada em 1981, foi uma interface
paralela de 8 bits ou 16 bits, que operada por níveis para interconectar placas
com funcionalidades adicionais ao computador, como modem interno, interface
de rede, ou interface serial. As funções adicionais em computadores foram sendo
incorporadas nos projetos de placas mães, buscando o aumento de
funcionalidade e espaço, abrindo a possibilidade da inserção de novas interfaces
para funções adicionais, como placas especializadas em processamentos e
aceleração de imagem, que acabaram por substituir as interfaces ISA por novas
interfaces seriais de alta velocidade.
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1.5 Interfaces seriais

As interfaces seriais invariavelmente estão associadas a um protocolo que


define o significado de cada bit transmitido a cada instante. Sem o mapeamento
dos campos do PDU (do inglês: Protocol Data Unit) e o perfeito sincronismo entre
a transmissão e a recepção é impossível distinguir um bit do outro e
consequentemente operar a interface.
As interfaces USB (do inglês: Universal Serial Bus) revolucionaram as
conexões com dispositivos periféricos em computadores pessoais. Com
velocidade elevada de transmissão de dados (Tabela 1) e linhas de alimentação,
a interface USB, lançada 1997, tornou-se interface padrão não apenas em
computadores pessoais, mas em outros equipamentos como impressoras,
smartphones, TVs, equipamentos de medição e outros.

Tabela 1 – Padrões USB

Padrão Lançamento Velocidade


USB 1.1 1.995 12 Mbps
USB 2.0 2.000 480 Mbps
USB 3.0 2.008 4.8 Gbps
Fonte: USB, S.d. Disponível em: <https://www.usb.org>.

Em outra iniciativa, o grupo formado pelas empresas Intel, Dell, HP e IBM,


padronizou em 2004 uma interface serial para conexão entre a placa mãe de
computadores e placas de expansão, denominada PCI Express. A interface
permitia conexões seriais simultâneas de 1, 4, 8, 16 até 32 vias com velocidade
de 2,5 Gbps por via, com taxa líquida de 2 Gbps, totalizando 64 Gbps no
emprego de todas as vias.

TEMA 2 – A ESPECIFICAÇÃO MECÂNICA

A especificação mecânica é a parte da camada física que define a forma


de conexão dos dispositivos. Define o conector e a quantidade de vias para
estabelecer a conexão mecânica na interface. A especificação da interface V.24
definiu na especificação mecânica o conector DB-25, com 25 vias. Mais tarde os
sinais principais foram concentrados em um conector DB9, versão mais
comumente encontrada em dispositivos que incorporam esta interface.

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A interface V.35 definiu o conector M34 na especificação mecânica, mas
alguns equipamentos utilizam o conector DB25, como pode ser observado no
modem óptico da Figura 5.

2.1 Interface USB

As especificações mecânicas da interface USB são apresentadas na


Figura 9.

Figura 9 – Conectores USB

Fonte: Wikimedia, S.d. Disponível em:


<https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/82/USB_2.0_and_3.0_connectors.svg>.

Figura 10 – Dimensões físicas do USB conector A

Fonte: USB, S.d. Disponível em: <https://www.usb.org>.

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2.2 Interface V.24 (RS-232)

O conector DB25 foi especificado originalmente para a interface RS-232.


Pelo emprego mais simplificado em outros usos, os principais sinais definidos
foram concentrados em um conector menor, da mesma família, o DB9, ambos
apresentados na Figura 11:

Figura 11 – Conector D-sub DB25 e DB9

Fonte: Adam Tech, 2019. Disponível em: <www.adam-tech.com>.

2.3 Interface V.35

A interface V.35 opera até 2 Mbps e foi muito utilizada em circuitos de


dados até a primeira metade da década de 2000 (entre 2000 e 2010). Nesse
período, a maioria dos roteadores e modems possuíam a interface V.35 com o
conector M.34, embora não fosse incomum encontrar o conector DB25 em
alguns equipamentos, como multiplexadores, equipando esta interface.

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Figura 12 – Conector M34

Fonte: Metaltex, 2019. Adaptado de: <www.metaltex.com.br>.

2.4 Interface V.36

Formalmente o conetor DB37 utilizado nas interfaces V. 36 teria a


designação de DC37 pelos padrões dos conectores D-sub.

Figura 13 – Conector D-sub DB37

Fonte: Adam Tech, 2019. Disponível em: <www.adam-tech.com>.

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2.5 Interface Ethernet

O padrão mais comum é a utilização do conector e jack denominado de


RJ-45. O conector possui 8 pinos nos quais os quatro pares trançados do padrão
“T” Ethernet são conectados conforme padrão TIA-568A ou TIA-568B. Alguns
padrões Ethernet utilizam mais de dois pares de fios como na utilização da
alimentação pelo cabo (PoE - IEEE 802.3af) ou o padrão gigabit Ethernet (IEEE
802.3ab), nas demais velocidades mais baixas eram utilizados apenas dois
pares de fios.

Figura 14 – Conector e jack RJ-45

Fonte: Metaltex, 2019. Adaptado de: <www.metaltex.com.br>.

2.6 Interface E1

A interface E1 opera em cabo coaxial ou par trançado, transportando uma


estrutura TDM. A especificação mecânica define para conectores BNC, para
cabo coaxial e RJ-45, para par trançado.

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Figura 15 – Conectores BNC

Fonte: Amphenol RF, 2019. Disponível em: <www.amphenolrf.com>.

TEMA 3 – A ESPECIFICAÇÃO ELÉTRICA

A especificação elétrica define os níveis de tensão, polaridade, transições,


impedâncias e frequências envolvidas nas interfaces, consequentemente
definindo a taxa de bits e alcance das interfaces. A codificação e modo de
operação são definidos nesta especificação embora o significado e critérios de
sinalização sejam tratados na especificação de controle.

3.1 Interfaces USB

As interfaces USB operam a quatro fios, com alimentação em duas vias,


fornecendo 5V, e com duas vias para dados utilizando a codificação NRZI (do
inglês: Non Return to Zero Invert). Na versão 1.1, opera em 1,5 Mbps ou 12
Mbps, conforme já apresentado na Tabela 1.

3.2 Interfaces V.24

As interfaces V.24 operam por linhas desbalanceadas com tensões que


variam de ±3 V a ±25 V, a uma distância não maior que 15 m, com velocidade
máxima de 115 kbps. Um valor negativo na interface significa nível lógico “1” ou

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controle desligado. Um valor positivo significa valor lógico “0” ou controle ligado.
Um sinal de controle poderia ser o CTS ou o DCD, visto mais à frente na
especificação de controle.
Cada sinal da interface é um circuito. Cada circuito deve obedecer à
norma nos seguintes critérios:

• Cada pino do conector de interface é um circuito, composto por gerador e


carga;
• A tensão em aberto não deve exceder ±25 V;
• A resistência de carga entre 3 e 7 kΩ;
• A capacitância de carga deve ser inferior a 2500 pF;
• A variação de tensão não deve exceder 30 V/μs;
• A capacitância do gerador deve atender à exigência da condição anterior.

3.3 Interface V.35

As interfaces possuem a mesma especificação elétrica da V.24. Isso


permite, em algumas circunstâncias, a conversão de interfaces e o uso
compartilhado para atender a mais de uma interface em um mesmo
equipamento, por exemplo.

3.4 Interface V.36

As interfaces V.36 operam de forma balanceada. Utilizam duas linhas por


sinal para acomodar o sinal de retorno. As interfaces detectam o sinal para
diferença de tensão entre as linhas. Caso a diferença entre a linha A e B seja
negativa, um valor lógico “1” foi transmitido ou um sinal de controle foi desligado.
Caso seja um valor positivo, um valor lógico “0” foi transmitido ou um sinal foi
ligado, conforme apresentado na Figura 16C.
Operando com sinal balanceado a interface V.36 aumenta a imunidade ao
ruído e, consequentemente, o comprimento do cabo entre ETD e ECD que pode
atingir algumas dezenas de metros.
Esta interface era normalmente usada em ambiente mais sujeito ao ruído
ou quanto os equipamentos ETD e ECD se encontravam em salas distantes ou
andares diferentes.

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3.5 Interface Ethernet

As interfaces elétricas operam bem até 100 m de distância entre


elementos. Após essa distância ocorrem perdas que impedem o funcionamento
pleno da interface. O sinal é codificado em Manchester transmitindo um sinal
entre 0,55 V e 1,2 V, com impedância de 100 Ω no cabo. A padrão IEEE 802.3u
utiliza o código de linha MLT-3, com codificação 4B/5B, que é um mapeamento
de sequência fixa de quatro bits para cinco bits.

3.6 Interface E1

A interface E1 troca sinais com velocidade de 2 Mbps. Transporta uma


estrutura TDM composta de 32 divisões temporais (do inglês: time slot), com oito
bits em cada divisão. A estrutura se repete a cada 125us, de acordo com o
padrão de digitalização de voz no STFC (sistema telefônico fixo comutado), na
versão digital PCM (do inglês: Pulse Code Modulation).

Figura 16 – (A) Máscara de distorção de pulso. (B) Padrão de tensão em modo


desbalanceado. (C) Padrão de tensão em modo balanceado

Fonte: ITU, 2008e.

A interface emprega uma codificação HDB3, com pulsos de tensão de


±2,37 V no cabo coaxial, em modo desbalanceado (Figura 16B), e ±3V no par
traçado, em modo balanceado (Figura 16C). A ausência de pulso deve registrar
um valor máximo de 10% do valor de pico em cada tipo de cabo. A Figura 16A
apresenta a máscara para a distorção limite permitida do pulso na codificação
HDB3.

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As linhas balanceadas possuem uma impedância de 120 Ω e as linha
desbalanceadas de 75 Ω. O sinal de relógio exige uma precisão de 50 ppm
(partes por milhão).

TEMA 4 – A ESPECIFICAÇÃO DE CONTROLE

A especificação de controle especifica o significado dos sinais, a


sequência de operação e como estão relacionados para controlar a atividade da
interface. Veremos, neste tema, como foi especificada para algumas interfaces.

4.1 Interface USB

No caso de sistemas que empregam um protocolo de comunicação, a


especificação de controle é a especificação do protocolo. Nas próximas linhas,
serão descritos os procedimentos básicos da conexão USB:

1. O dispositivo USB se conecta ao host do sistema de controle (host USB).


O hub raiz detecta a conexão e informa ao host esse evento. Essa fase,
em que o dispositivo é detectado, é denominada enumeração e ocorre por
meio da troca de informações entre o dispositivo e o host USB;
2. Ao ser alimentado pela interface, esse dispositivo entra em estado
energizado e aguarda a requisição do host. O hub detecta o evento de
alimentação e avisa o host, iniciando o processo de detecção;
3. Após um reset na porta, o hub determina a velocidade do dispositivo. Após
essa verificação, o dispositivo passa para o estado de pronto;
4. O host solicita o descritor do dispositivo pelo endereço “0”. Ao receber o
primeiro pacote do dispositivo, o host já envia o novo endereço único. Ao
final do envio do descritor, o dispositivo configura seu endereço para o
valor recebido do host. A partir desse momento, toda comunicação
ocorrerá por esse endereço. O dispositivo está no estado endereçado;
5. O host solicita novamente o descritor e todas as demais informações do
dispositivo para identificar a capacidade e os drivers necessários para a
correta operação do dispositivo. Depois de carregar o drive, o host solicita
uma configuração específica do dispositivo, que passa para o estado
configurado;

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6. O dispositivo pode estar em dois outros estados: plugado, conectado e
sem estar energizado; e suspenso, no qual ficou muito tempo sem troca
de informações, economizando energia do barramento.

4.2 Interfaces V.24

A troca dos sinais de controle da interface V.24 realizam o chamado


handshake. Os sinais DTR (do inglês Data Terminal Ready) e DSR (do inglês:
Data Sender Ready) informam os o ETD e o ECD estão presentes e prontos para
operar, respectivamente (Figura 17). Os sinais de transmissão e recepção estão
trocados pelos sinais Send Data e Receive Data. O sinal pelo qual o ETD solicita
transmissão é o RTS (do inglês: Request to Send), cuja resposta do ECD é o
CTS (Clear to Send), desde que o sinal DCD (do inglês Data Carrier Detect)
esteja ativo. Outros sinais têm função específica de teste e qualidade de
transmissão. Esta sequência descrita é parte da especificação de controle da
interface V.24.

Figura 17 – Especificação de controle da interface V.24

Fonte: CPCS Technologies, S.d. Disponível em: <https://www.cpcstech.com/serial-data-


transmission-information.htm>.

4.3 Interface V.35

A especificação de controle da interface V.35 opera da mesma forma que


a interface V.24 (Figura 18). Possui o mesmo sinal e mesma forma de operação.

18
Figura 18 – Especificação de controle da interface V.35

Fonte: CPCS Technologies, S.d. Disponível em: <https://www.cpcstech.com/serial-data-


transmission-information.htm>.

4.4 Interface V.36

As interfaces V.36 ou RS-449 possuem a mesma operação de controle


que as interfaces V.24 e V.35, com os mesmos sinais e comportamento, exceto
pela especificação elétrica que difere de ambas.

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Figura 19 – Especificação de controle da interface V.35

Fonte: CPCS Technologies, S.d. Disponível em: <https://www.cpcstech.com/serial-data-


transmission-information.htm>.

4.5 Interface Ethernet

As interfaces Ethernet operam por múltiplo acesso ao meio. A linha


permanece vazia até a iniciativa de transmissão de alguma máquina no meio.
Caso um elemento tente transmitir, inicialmente ouve a linha. Os circuitos da
interface detectam ausência de atividade, permitindo iniciar a transmissão. Caso,
ao longo da transmissão, exista transmissão simultânea de duas máquinas, o
circuito de sensores de cada interface perceber o problema e as máquinas
envolvidas na transmissão atuação no conflito, denominado de colisão, param a
transmissão e temporizam aleatoriamente um novo tempo para tentarem nova
transmissão.
No início da transmissão, as máquinas enviam um preâmbulo de 7 bytes,
que apresentou uma sequência binária específica, cuja necessidade está no
processo de sincronização das máquinas receptoras com a máquina
transmissora. Nos cabos os sinais de controle são seriais. Na interface apenas
estão disponíveis os sinais de transmissão e recepção (Figura 20).

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Figura 20 – Interface Ethernet TIA-568A/B

Fonte: Pcboard.Ca, 2017. Adaptado de: <https://info.pcboard.ca/how-to-crimp-rj45-connector/>.

TEMA 5 – A REFERÊNCIA DE RELÓGIO

Um dos grandes problemas encontrados em comunicação é o


sincronismo. Redes de baixa velocidade ou assíncronas não possuem muitos
problemas com o sincronismo. Mas à medida que a velocidade de sistemas
síncronos aumenta, pequenas variações na fase do sinal de relógio podem
produzir perdas de dados. Outro ponto de atenção está na estabilidade do sinal
de relógio. Veremos algumas técnicas de distribuição de sinal de relógio neste
tema.

5.1 Interface codirecional

No sistema de distribuição do sinal de relógio codirecional, cada


equipamento envia a sua referência de relógio na transmissão (Figura 21). O
equipamento receptor deve sincronizar seus circuitos receptores pelo sinal
recebido. Nesse modo, cada equipamento trabalha com duas referências, sendo
uma para transmitir e outra para receber. Em alguns sistemas, essa
implementação pode ser complicada e pode exigir um mecanismo de
sincronização interna entre processador recepção e transmissão, mas
normalmente garante a correta leitura dos dados. Essa forma de operação exige
fontes de relógio com maior precisão e estabilidade.

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Figura 21 – Distribuição do sinal de relógio de forma codirecional

Fonte: ITU, 2008e.

5.2 Interface de temporização centralizada

Essa forma de distribuir o sinal de relógio é mais elaborada, mas pode


não ser justificada pela complexidade na distribuição. Uma fonte centralizada de
alta precisão e estabilidade fornece o sinal de relógio para todos os
equipamentos do sistema (Figura 22). O sinal deve chegar a todos os
dispositivos por algum meio. Os sistemas de celulares utilizam esta forma de
distribuição por sinal de GPS (do inglês Global Positioning System)
sincronizando todas as BTSs pelo mesmo sinal, com larga cobertura. Redes de
transporte SDH utilizam sistema centralizados por relógio atômico, distribuído
enlace a enlace, que fornece uma precisão de cerca de 1 segundo em 1 milhão
de anos.

Figura 22 – Distribuição do sinal de relógio de forma centralizada

Fonte: ITU, 2008e.

5.3 Interface contradirecional

Na distribuição de sinal de relógio contradirecional um dos dispositivos


fornece o sinal para a referência tanto de transmissão quanto recepção (Figura
22
23). Os sistemas operam com uma referência única no sistema. Esse é o modo
mais comumente utilizado em sistema de acesso e conexões ponto a ponto. É
conhecido também como sinal de relógio regenerado.

Figura 23 – Distribuição de sinal de relógio de forma contradirecional

Fonte: ITU, 2008e.

FINALIZANDO

Vimos nesta aula a interface física e as especificações que definem os


conectores, o conjunto de parâmetros elétricos de cada interface, o controle de
comunicação por meio das interfaces e as formas de distribuição do sinal de
relógio, que permitem estabelecer o primeiro nível de comunicação confiável e
padronizada entre equipamentos.

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REFERÊNCIAS

ADAM TECH – Connectors Cables Assemblies & Custom Solutions. Disponível


em: <http://www.adam-tech.com/>. Acesso em: 14 jul. 2019.

AMPHENOL RF. Disponível em: <https://www.amphenolrf.com/>. Acesso em: 14


jul. 2019.

ANTRATEK – Embedded Electronics & Media. Serial Pi Plus - Rs232 for


Raspberry PI. A ntratek, S.d. Disponível em: <https://www.antratek.com/serial-
pi-plus-rs232-for-raspberry-pi>. Acesso em: 14 jul. 2019.

ARDUINO. Disponível em: <https://www.arduino.cc/>. Acesso em: 14 jul. 2019.

COMPUTER LANGUAGE. Disponível em:


<https://www.computerlanguage.com/>. Acesso em: 14 jul. 2019.

CPCS TECHNOLOGIES. Serial Data Transmission. CPCS, S.d. Disponível em:


<https://www.cpcstech.com/serial-data-transmission-information.htm>. Acesso
em: 14 jul. 2019.

DIRECT INDUSTRY. Disponível em: <http://www.directindustry.com/>. Acesso


em: 14 jul. 2019.

ECS – Elite Group. LIVA ZE Plus. ECS, 2017. Disponível em:


<http://www.ecs.com.tw/ECSWebSite/Product/Product_Overview/EN/System/LI
VA%20ZE%20Plus/LIVA>. Acesso em: 14 jul. 2019.

HUMANITY. Disponível em: <http://en.hm-it.com/>. Acesso em: 14 jul. 2019.

IFSC – Instituto Federal de Santa Catarina. Interfaces Digitais IER. IFSC, 18


mar. 2011. Disponível em:
<https://wiki.sj.ifsc.edu.br/wiki/index.php/Interfaces_Digitais_IER>. Acesso em:
14 jul. 2019.

IMPROVING satellite economics through ground segment innovation. NewTech


Satcom, 27 nov. 2018. disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=SzfSMj80BMw>. Acesso em: 14 jul. 2019.

INTEL. Intel® Ethernet Connection I219. Intel, maio 2015. Disponível em:
<https://www.intel.com.br/content/www/br/pt/embedded/products/networking/eth
ernet-connection-i219-datasheet.html>. Acesso em: 14 jul. 2019.

24
ITU – International Communication Union. V.28: Electrical characteristics for
unbalanced double-current interchange circuits. ITU, 2008a. Disponível em:
<https://www.itu.int/rec/T-REC-V.28>. Acesso em: 14 jul. 2019.

_____. V.24: List of definitions for interchange circuits between data terminal
equipment (DTE) and data circuit-terminating equipment (DCE). ITU, 2008b.
Disponível em: <https://www.itu.int/rec/T-REC-V.24>. Acesso em: 14 jul. 2019.

_____. V.35: Data transmission at 48 kbit/s using 60-108 kHz group band circuits.
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