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FICHAMENTO DE LEITURA Data: 26/03/2021

Aluna: Carolina S. B. Drabek RA:190423

O Campo do Patrimônio Cultural: Uma Revisão de Premissas – Conferência Magna (páginas 25 - 39)
BEZERRA DE MENESES, ULPIANO. O Campo do Patrimônio Cultural- Professor emérito da FFLCH/USP-
Conselheiro do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural

O texto “O Campo do Patrimônio Cultural”, o autor Ulpiano Bezerra de Meneses trata sobre
uma reflexão crítica, de maneira a desarticular as práticas e representações do patrimônio
cultural e seu conteúdo existencial.
Através da separação de assuntos em Cultura (página 26), Materialidade/ Imaterialidade
(página 30) e Valor (página 32), o autor repensa o quadro de valores culturais existentes e a
forma na qual esses são retratados na sociedade atual de acordo com o interesse público.

Palavras chaves: Patrimônio Cultural, Cultura, Materialidade, Imaterialidade, Valores.

Resenha:
No estudo “O Campo do Patrimônio Cultural”, de Ulpiano Bezerra, é realizado
uma grande reflexão crítica, com o objetivo de chamar a atenção para a necessidade
de manter essa atitude crítica em relação às premissas que orientam a atividade no
campo do patrimônio cultural, foi utilizado uma referência de um cartum como símbolo,
uma velhinha e um grupo de turistas acompanhados de seu guia turístico, que
representam a diferente noção de patrimônio cultural que cada um dos personagens
possui.
Desta forma, sempre utilizando desses personagens simbólicos para a melhor
compreensão de sua reflexão, o autor retrata inicialmente sobre a Cultura, de maneira
a representar a relação de pertencimento nos processos de identidade situados no
espaço. A partir dessa análise, é possível compreender que a forma de se relacionar
com o “bem cultural” é diversa, sendo observada como um espaço de habitualidade,
com um vínculo pessoal e comunitário, com apropriação afetiva de qualificação
existencial (Velhinha), ou também como um domínio à parte, onde não é mobilizado
e não possui a intenção de viver e de interagir diretamente com o bem (Turistas).
Apesar de apresentar essas diferenças no momento de avaliar e qualificar a cultura,
o autor enfatiza que a maneira correta de entender o “bem cultural”, seria
considerando e compreendendo todas as formas de se relacionar com o bem, de
forma que, independente de como é feita a observação, seja de maneira habitual ou
sem mobilizações, qualquer forma de cultura é importante, desde que a totalidade da
vida social seja inclusa.
Após a reflexão sobre a cultura, o autor entra no quesito do que pode, ou não,
ser considerado materialidade e imaterialidade, representando como exemplo uma
catedral. Tal objeto pode possuir diversos significados, sendo eles fixos, definidos e
não identificados diretamente, ou algo que se potencia pelo aporte material do lugar
através de estímulos e especificações próprias. O autor afirma que o patrimônio
cultural possui vetores materiais como suporte, mas que isso também vale para o
patrimônio imaterial, de forma com que as diferenças entre o material e o imaterial não
são de natureza, mas operacionais. Além disso, em sua crítica, é possível entender
que bens culturais não são coisas ou práticas que foram identificados significados
intrínsecos, mas é falar de fatores cujas propriedades são seletivamente mobilizadas
pela sociedade para operar e fazer agir suas ideias e valores diante às práticas sociais
encontradas no campo do patrimônio histórico.
Por fim, Ulpiano traz o foco para os valores, se tratando de um assunto de
questão central e essencial, de forma necessária a compreensão para que haja o
tratamento adequado do patrimônio cultural. O autor apresenta a matriz de valor e a
maneira como o artigo 216 da Constituição de 1988 (renovação do Art. 1° do
Decreto/Lei 25/1937), apresenta um deslocamento da matriz de valor do patrimônio
cultural brasileiro. Tal deslocamento ocorre com a representação de que os valores
culturais não são criados pelo poder público, mas pela sociedade, sendo ele,
inicialmente, um fator social. Desta forma, compreende-se que o estado pode
participar da criação de valores, mas dentro do jogo das práticas sociais, sempre com
o papel de proteção e de colaboração com a comunidade (produtor de valor). Após
este estudo, e perceber os conflitos causados entre o que deve ser definido como
material de valor à sociedade, o autor estabelece 5 tipos de valores diferentes
encontrados na sociedade: Valores Cognitivos, que trazem condições de
conhecimento; Valores Formais, percebidos como oportunidades qualificadas para
gratificar sensorialmente; Valores Afetivos, históricos com a formulação de
autoimagem através da memória; Valores Pragmáticos, usos percebidos como
qualidades e os Valores Éticos, associados às interações sociais em face dos direitos
humanos.
Em conclusão, Ulpiano Bezerra retrata o patrimônio cultural e a maneira como
ele deve ser representado de forma clara e objetiva, principalmente pela utilização
dos exemplos (velhinha e turistas e suas diferenças ao se tratar a catedral), dos quais
facilitaram o processo de análise de cada uma das categorias vistas. É possível
compreender o campo dos valores como uma arena de confronto em que o patrimônio
cultural é um campo, acima de tudo, político no sentido de ser algo gerido e
compartilhado pelos cidadãos (pólis), tendo sempre o interesse público como um fator
comum na democracia. A partir da leitura, é possível perceber a importância da
criação dos valores, de maneira a ser enunciados, podendo ser propostos ou
recusados, mas nunca impostos e, apesar de complexa, é necessário existir uma
postura crítica no momento de definir e considerar o que a sociedade, com os
significados, culturas, valores e consciências de todos, enxerga situado dentro do
campo do patrimônio cultural.

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