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Biblioteca Esotérica Virtual
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AS ORDENS ESOTÉRICAS E SEU TRABALHO


Dion Fortune�

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................. 2
ESOTERISMO, OCULTISMO E MISTICISMO ..................................... 4
A ORIGEM DOS MISTÉRIOS ................................................. 6
AS TRÊS GRANDES TRADIÇÕES .............................................. 8
OS CAMINHOS DA TRADIÇÃO OCIDENTAL ..................................... 14
A EVOLUÇÃO E A FUNÇÃO DOS MESTRES ..................................... 20
O TREINAMENTO E O TRABALHO DE UM INICIADO ............................. 26
AS ESCOLAS OCULTAS .................................................... 30
ORDENS, FRATERNIDADES, GRUPOS ......................................... 34
O USO E O PODER DO RITUAL ............................................. 40
JURAMENTOS E OBRIGAÇÕES ............................................... 42
OS CAMINHOS DIREITO E ESQUERDO ........................................ 46
PROCURANDO O MESTRE ................................................... 49
A ESCOLHA DE UMA ESCOLA OCULTA ........................................ 59
O CAMINHO DA INICIAÇÃO ................................................ 62

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INTRODUÇÃO

Em todos os tempos, e entre todas as raças, tem existido uma tradição


referente a certas escolas esotéricas, ou fraternidades, onde um
conhecimento secreto, desconhecido da maioria da humanidade, podia ser
apreendido, e cuja admissão era obtida através de uma iniciação, na qual
os testes e o ritual tinham a sua parte. Quem quer que esteja
familiarizado com a literatura do folclore e da Antropologia, sabe que
essa crença existe entre povos primitivos, dos esquimós do Círculo Ártico
aos mineiros indígenas da Terra do Fogo. Quem quer que tenha estudado
história também sabe que isso prevaleceu desde a primeira aurora da
cultura humana. Hoje, nos centros do mundo civilizado, essa crença ainda
está viva e, embora possa ser ridicularizada pelos que têm mentalidade
ortodoxa, um observador imparcial não pode deixar de notar que alguns dos
homens mais nobres estiveram entre os seus defensores, e que as
inteligências mais criativas têm, quase sem exceção, dado testemunho de
uma fonte de inspiração vinda do Invisível.
É difícil acreditar que esse rumor pudesse se difundir tão amplamente e
pudesse manter tão longa existência se fosse inteiramente destituído de
fundamento; ademais, o fato de ter ele a mesma forma entre raças que não
tiveram relacionamento umas com as outras, tal como os egípcios
primitivos e os primitivos mexicanos, é prova maior em favor dessa
verdade. Não é possível demonstrar, àqueles que estão fora dos limites, a
existência de organizações como aquelas a que nos referimos, porque,
desde que haja a revelação dos seus segredos, vem, com isso, a
obrigatoriedade do silêncio. É permissível, contudo, dar informações
suficientes para capacitar aquele que busca com ardor discernir o caminho
pelo qual pode aproximar-se da entrada de uma ou de outra dessas escolas,
e, com esse propósito, o ensinamento que se segue, concernente às ordens
esotéricas e às suas funções, é colocado diante do leitor, embora as
provas das declarações aqui contidas devam ser recusadas, até que ele se
tenha qualificado para recebê-las.
As diferentes escolas de ocultismo declaram-se detentoras de uma ciência
tradicional, secreta, a elas comunicada, em primeiro lugar, pelos
fundadores divinos, e enriquecida e revisada, de tempo em tempo, por
grandes mestres. Essa ciência refere-se ao estudo das causas que estão
por trás dos fenômenos perceptíveis, e os condicionam. Depois de testes
preliminares quanto ao caráter e à aptidão, as fraternidades ocultas
estão preparadas para transmitir a teoria dessa ciência aos candidatos
aceitos, e, subsequentemente, transmitir também os poderes para seu uso
prático, por meio das iniciações rituais. São essas, em resumo, as
afirmações feitas em favor das escolas esotéricas, por aqueles que estão
em condição de falar por elas.
Frequentemente, e com muita razão, pergunta-se por que as sociedades que
confessam terem sido formadas para servir a humanidade, e têm
ensinamentos tão valiosos a dar, não se comunicam livremente com todos os
que as procuram. Não deveriam, ademais, estar antes fazendo propaganda
ativa do seu trabalho, a fim de induzir as pessoas a procurá-las e a
compartilhar da sua sabedoria, e não, como parece estarem fazendo,
esconderem-se como que procurando todos os recursos possíveis para evitar
observação e impedir que sejam descobertas por aqueles que aprenderiam
com elas?
A resposta a essa pergunta será encontrada quando a natureza da ciência
oculta for compreendida. O caso refere-se aos poucos conhecidos poderes
da mente humana, e a certos aspectos pouco compreendidos da Natureza. Se

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as pesquisas quanto a esses assuntos fossem puramente teóricas, não


haveria necessidade de guardar suas descobertas tão cuidadosamente, mas o
conhecimento dos fatos assim descobertos revela imediatamente suas
aplicações práticas. O conhecimento confere poder nesse campo de
pesquisa, ainda mais do que nos campos explorados pela ciência ortodoxa,
porque o poder que se faz assim disponível é o poder da mente, e os
efeitos do uso desse poder são de tão grande alcance, para o bem como
para o mal, que não é coisa para ser levianamente confiada às mãos de
qualquer ser humano. Tal como a lei sobre drogas perigosas restringe a
compra e a administração de drogas fortes, os que são os guardiões desse
antigo conhecimento tradicional procuram salvaguardar o seu uso. Sendo de
natureza tão sutil, é impossível evitar os abusos se ficarem em mãos
inescrupulosas; portanto, seus guardiões fazem tudo quanto lhes é
possível para que tais pessoas não tenham acesso a ele. Daí as restrições
que cercam o seu ensinamento. Tais restrições, entretanto, não são mais
severas do que as que se fazem na prática da medicina, para a qual cinco
anos de pesado aprendizado são necessários. Estamos, contudo, tão
habituados a ver o ensino espiritual dado livremente, a ouvir o chamado:
"Olá! Todos os que têm essa sede, venham às Aguas da Vida e bebam
livremente", que não podemos entender o sistema que recusa qualquer fluxo
saído de tal fonte aos que estão sedentos.
A razão está no fato, que não pode ser muito claramente entendido pelos
presumíveis neófitos, de que a ciência oculta é uma coisa mental, não
espiritual, não é boa nem má em si mesma, mas só na forma pela qual é
usada. É poderosa, tanto para o bem como para o mal, pode salvar almas
das quais nenhum outro meio pode aproximar-se, e também pode, mesmo sem
má intenção, destruí-las. Não é brinquedo de criança, e são poucos os que
estão preparados para o caminho que leva às alturas. Não obstante, para
os que podem aventurar-se por ele é uma nobre procura para a alma, uma
verdadeira cruzada contra os Poderes das Trevas e a iniquidade espiritual
em altas regiões. Nos lugares ocultos do mundo, bem pouco suspeitados
pelos que não estiveram face a face com eles, é que homens e mulheres de
coragem, força, e o conhecimento indispensável são necessários para
tratar com eles.
O treinamento dado nas escolas ocultas destina-se a preparar o adepto, um
ser humano que, pelo exercício intensivo, elevou-se acima do
desenvolvimento comum da humanidade, e está dedicado ao serviço de Deus.
Certo trabalho, em conexão com a evolução e com o desenvolvimento
espiritual e a salvaguarda das nações, é empreendido por homens e
mulheres altamente treinados, embora seu trabalho nunca seja visto e o
local de treinamento jamais se faça conhecido. Seu treinamento real, pode
dizer-se, é feito nos Planos Interiores, e só o treino preliminar, que os
prepara para as Escolas Ocultas, tem lugar nos planos físicos. A
Percepção é preparada para a sua Grande Busca, e aventura-se, sozinha,
pelo Invisível.
Não se pode dizer muito mais em relação a esse treinamento, e não muitos
estão aptos para ele, mas foi dito o bastante para alimentar o
pensamento.

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ESOTERISMO, OCULTISMO E MISTICISMO

Antes de nos aventurarmos ao estudo do assunto deste livro As ordens


esotéricas e seu trabalho é necessário definir o sentido em que a
palavra esoterismo é usada para incluir todos os aspectos da ciência
superfísica. Para fazer isso teremos alguma dificuldade, já que se trata
de uma palavra relativa, usada para se distinguir de exoterismo. O
esoterismo começa onde o exoterismo termina. E como as fronteiras da
ciência exotérica sempre estão avançando, as fronteiras do esoterismo
estão sempre recuando. O que era ensinado aos iniciados no Egito, hoje é
ensinado às crianças nas escolas da Inglaterra. Leitura, Escrita e
Matemática foram, outrora, artes ocultas. O mesmo acontece com os
aspectos mais profundos da hipnose, embora alguns dos seus aspectos
menores tenham sido redescobertos por cientistas exotéricos. A medida que
a evolução avança, o homem comum torna-se capaz do que outrora foi
possível apenas para o homem excepcional. O que o homem civilizado é em
relação ao selvagem é o adepto em relação ao homem comum. Os poderes do
homem civilizado parecem miraculosos para o selvagem porque ele não
conhece as leis que o dominam, mas o homem civilizado sabe bastante bem
que o homem não transcende o império da lei quando voa como um pássaro ou
quando cura um enfermo. Ele alcança esses resultados pelo conhecimento de
certas leis naturais, e as utiliza, tal como faz o adepto.
Pessoalmente, o selvagem pode beneficiar-se pela educação, ou pode não
ser capaz disso. Dependerá da sua capacidade. O homem médio pode ser
capaz de beneficiar-se pela iniciação, ou pode não o ser. Também
dependerá da sua capacidade.
Todas as pessoas, entretanto, deveriam ter a oportunidade de avançar até
o mais alto desenvolvimento de que sejam capazes. Um certo grau de
evolução deve ser obtido antes que a iniciação se torne operativa: um
estudante não entra num curso de pós -graduação enquanto não chegou à
formatura. A função da religião exotérica é zelar para que cada membro da
raça alcance o padrão normal da evolução. Ela tem de procurar a ovelha
perdida e erguer a décima moeda submersa. Enquanto um homem não aprende
as lições da sua fé, não está preparado para as lições da iniciação.
A função dos Mistérios Menores é permitir que cada pessoa admitida ao seu
ensinamento alcance o mais alto grau de desenvolvimento de que seja
capaz. Nos Mistérios Menores são desdobradas as capacidades latentes do
homem, mas nos Grandes Mistérios são desdobradas as capacidades ocultas
da Natureza. Os Mistérios Menores ocupam-se com a esfera subjetiva, e os
Grandes Mistérios ocupam-se com a esfera objetiva, e um é pré-requisito
essencial do outro. Não é possível que um homem controle as essências
elementares da Natureza, a não ser que seja senhor dos aspectos
elementares da sua própria natureza, porque os poderes interiores, se
rebelados, irão traí-lo com os poderes exteriores. A disciplina deve
preceder o domínio. Atuamos sobre o que está no exterior pelo aspecto
correspondente do que está no interior. Se a Natureza não for purificada,
fará um contato confuso quando tocar o Invisível. As operações do
ocultismo são baseadas nos poderes da vontade e da imaginação, e ambas
são forças cegas. A não ser que sejam controladas e dirigidas por um
motivo que tenha relação com o Universo como um todo, não é possível que
haja uma síntese definitiva. A personalidade deve ser universalizada pelo
ideal a que se dirige, a fim de que possa funcionar como parte organizada
do todo cósmico. Esse anseio de universalidade é o anseio definitivo da
alma; o eu inferior procurará atingi-la atraindo todas as coisas para si
próprio, numa fúria de posse; o eu superior procura alcançá-la

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transcendendo os limites do eu e tomando-se um com o Universo. Há duas


uniões a serem alcançadas: o eu pode tornar-se um com o Universo por meio
da solidariedade universal essa é a meta do ocultista, mas o eu pode
também fazer-se um com o Criador do Universo por meio de absoluta devoção
essa é a meta do místico. O ocultista, porém, tendo atingido sua própria
meta, ainda não fez sua integração final, ainda não passou do aspecto
fenomenal manifestado no cósmico. E o místico, tendo alcançado sua
transcendente união, não pode retê-la, pois deve retornar ao universo
fenomenal. A integração definitiva só pode ser alcançada através da
solidariedade universal e da devoção absoluta unidas em uma natureza. Em
tal pessoa todas as coisas são reunidas por meio da solidariedade, e ela,
por sua vez, é reunida ao TODO por meio da devoção.
Essa é a meta definitiva da evolução para o Universo manifestado como um
todo; e aquele que passa pelo Caminho da Iniciação apenas antecipa a
evolução. A função dos Mistérios é dar assistência ao iniciado para
palmilhar aquele trecho do Caminho que já foi explorado, mas além dele
está uma seção que não é conhecida por consciência alguma que esteja em
sua forma física. Essa seção o homem deve percorrer a sós com seu Mestre.
Ainda mais além, há uma outra seção onde o homem fica sozinho com o seu
Deus.
Isso não pode ser conseguido em apenas uma encarnação. Três encarnações
de absoluta devoção, sem erro, devem bastar, mas quem está isento de
erro, e a que distância deveremos estar na Senda, antes que a devoção
absoluta seja alcançada? Não podemos sair da marcha da evolução com um pé
e com ò outro penetrar na Luz Cósmica. São precisos muitos passos para
palmilhar a Senda, e alguns deles falham e têm de ser repetidos. As
dificuldades são enfatizadas porque muitos se aventuram levianamente
nessa grande e terrível experiência, mas os frutos dela não são
minimizados, porque transcendem tudo que os olhos podem ver e o coração
pode sonhar. Nem precisaremos esperar pelo fim da jornada para fazer a
colheita desses frutos. Dia a dia o maná caiu durante toda a jornada
através do deserto, embora o Egito tivesse de ser abandonado, e o Mar
Vermelho, transposto antes que aparecesse.
Assim, na grande jornada da alma até à Terra Prometida, que é o Caminho
da Iniciação, a segurança das habitações humanas tem de ser deixada, e a
alma viaja, sem abrigo e solitária pelo deserto, chegando ao Mar
Vermelho. ê a essa altura que o fraco volta as costas e retorna à
escravidão, para trabalhar como um mouro, sem que por isso seja
recompensado. Se o teste supremo do Mar Vermelho for enfrentado, as ondas
se dividirão por uma força invisível, e o viajante passará sobre piso
seco, com uma parede de água levantada a cada lado. Esse é o teste da fé,
porque, pela lei do mundo, aquelas águas deveriam cair, e só uma lei
superior as mantém afastadas.
Então, tendo passado pelo teste com segurança, embora ainda esteja no
deserto, águas fluirão das pedras e o maná cairá diariamente porque,
apesar de viver ainda no mundo dos sentidos, o peregrino se colocou sob a
ação de uma lei superior.

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A ORIGEM DOS MISTÉRIOS

A fim de tornar compreensível a importância da iniciação, será necessário


lançar os olhos para a história da evolução da humanidade. A ciência
oculta ensina que outras espécies de seres humanos existiram antes da
humanidade tal como a conhecemos hoje. E essas espécies distintas são
chamadas de Raças-Raízes, acreditando-se que a Raça-Raiz que no momento
tem a posse do globo terrestre é a quinta da série evolucionária. Em duas
raças anteriores, conhecidas como a Polariana e a Hiperboreana, a
consciência ainda não se havia individualizado, mas a alma estava à
sombra da sua alma grupai, da mesma maneira pela qual o tipo inferior de
animais está à sombra até os dias presentes. A psicologia esotérica da
alma grupai oferece um vasto campo de estudo, e é demasiado envolvente
para entrar nestas páginas. Deve ser suficiente dizer que as operações
dessa alma grupai podem ser reconhecidas pela inteligência da formiga e
da abelha, e pela migração das aves. Muitos fenômenos intrigantes da
inteligência animal são explicados pela hipótese de uma alma grupal.
A proporção que a evolução humana prosseguia, mais e mais a matéria
mental comum à espécie tornou-se organizada em complexos separados, e
encarnada em muitos veículos distintos, que formavam o corpo composto do
grupo. Esses complexos organizados, desenvolvendo-se em torno dos núcleos
originais, ou fagulhas divinas, espalharam-se através da massa amorfa da
alma grupai, tomando-se, finalmente, entidades individualizadas e
desenvolvidas na forma humana. Depois, a evolução continuou, avançando a
uma certa distância, e essas entidades individualizadas atingiram um grau
de independência que as tornou difíceis de controlar por parte da alma
grupai a cuja sombra estavam. E o Logos chamou em Seu auxílio aqueles
Seus filhos que haviam completado seu ciclo de crescimento na evolução
anterior, alcançando a cósmica posição de adultos. (Não se deve esquecer
que uma evolução, para o Logos Solar, representa uma encarnação para o
ser humano, e cada evolução não passa de um dia na grande vida cíclica de
Brahma.)
Esses Grandes influenciaram os pioneiros da humanidade, apresentando
imagens de suas mentes por meio de um processo que chamaríamos sugestão
telepática. As imagens necessárias para permitir que a sensação se
transformasse em mentalização eram fornecidas já prontas, e, por assim
dizer, a humanidade foi poupada da longa e trabalhosa necessidade de
construir essas imagens através de experiências acumuladas. No primeiro
Dia Cósmico, naturalmente, a humanidade de então teve de passar por
aquele processo, mas as evoluções subsequentes foram prontamente
capacitadas a recapitular estágios concluídos anteriormente, com a ajuda
de seus Irmãos Mais Velhos. Só depois que o ponto mais alto do Dia
Cósmico precedente foi alcançado, a evolução passou a ter lugar através
da matéria-prima da experiência.
Por meio de experiências às quais a percepção tornou agora o homem
suscetível, a mente concreta, ou objetiva, da humanidade foi
paulatinamente construída, fundamentada no conteúdo inspirador que fora
injetado na mente humana subconsciente pelo atendimento do Irmão Mais
Velho e as influências da alma grupai. O ponto foi finalmente alcançado
quando a consciência concreta dominou a subconsciência inspiradora, tal
como esta última havia dominado a influência da alma grupai. A linha
direta de controle, vinda do Logos, através da Alma Superior, para o
indivíduo, foi assim perdida. Tornou-se necessário, portanto, ligar a
mente consciente com a mente subconsciente, de forma que o controle

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cósmico pudesse ser restabelecido, e essa foi a função dos Iniciadores


Cósmicos, ou Manus.
Esses Grandes, que são os mais próximos aliados da humanidade entre todos
os Senhores da Evolução, tendo alcançado seu desenvolvimento no Dia
Cósmico imediatamente precedente ao nosso, apareceram na Terra durante os
meados do Período Atlante. São os "Altos Sacerdotes da Ordem de
Melquisedeque", seres sem pai nem mãe que construíram seus veículos
físicos sem assistência humana. Era seu dever comunicar-se com a mente
concreta da humanidade, forjar a corrente de ligação das ideias da
consciência para a subconsciência, assim capacitando o homem para captar
as vibrações mais sutis, que são a voz das esferas superiores.
Para que lhes fosse possível fazer isso, tiveram de aparecer à
consciência concreta numa forma concreta; por isso, e com dificuldade
infinita, construíram um veículo que a consciência concreta pudesse
conhecer. Essas formas antropóides eram tão pouco apropriadas para as
forças altamente desenvolvidas que precisavam abrigar, que só se
mantinham unidas com muita dificuldade, e por curtos períodos de tempo.
Daí os relatos sobre súbitos aparecimentos e desaparecimentos dos deuses,
que fazem parte de todas as tradições primitivas. Porque esses Grandes
foram deuses reais do mito e da fábula, os Fundadores Divinos das
culturas raciais, para as quais todas as tradições primitivas voltam os
olhos (eles não devem ser confundidos, entretanto, com a personificação
das forças da Natureza dos períodos anteriores; esses são os deuses da
cultura, ou os progenitores divinos).
Essas grandes entidades reuniram em torno de si grupos de estudantes
selecionados entre os mais prometedores da raça para a qual vieram, e
desenvolveram as suas faculdades até que eles ficassem capacitados a
conhecer, conscientemente, aqueles tipos sutis de vibração que até então
só tinham podido perceber intuitivamente, recuperando, assim, o tipo
primitivo de mentalização sobre um arco mais alto. Tendo realizado isso,
os Manus puderam retirar-se para aqueles planos nos quais podiam
funcionar mais facilmente e com maior liberdade, convocando seus
discípulos a "erguerem-se a esses planos" e ali os atenderem para receber
instruções. E deixaram a esses mesmos discípulos o cuidado de treinar
outros, tal como eles próprios haviam sido treinados, suprindo, dessa
maneira, as escolas ocultas através de sucessivas gerações.
Dessa forma, se estabeleceu o grande culto ao Sol na Atlântida e sua
escola de iniciação foi equipada com o conhecimento. Os Manus puderam
falar aos seus discípulos sobre a formação das esferas, porque eles
próprios tinham estado presentes quando elas foram construídas, e puderam
informar-lhes sobre as fases através das quais a evolução havia passado,
porque eram testemunhas oculares disso, tendo eles mesmos se desenvolvido
em algumas dessas fases, ou sido discípulos iniciados dos que já se
haviam desenvolvido. É assim que as escolas ocultas mantêm as tradições
da história da evolução cósmica.

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AS TRÊS GRANDES TRADIÇÕES

Leitores da literatura esotérica terão conhecimento de que há muitas


escolas diferentes de ocultismo, e verão que os ensinamentos e o
simbolismo empregado em todas elas são, fundamentalmente, os mesmos. E de
tal forma é assim que, por uma simples tradução da terminologia, o
iniciado de uma delas fica habilitado a compreender as escrituras das
outras. Não obstante, essas escolas não são idênticas porque, embora a
forma seja a mesma, em consequência da sua origem comum, a força que as
anima é completamente diferente, devido às circunstâncias da sua
fundação.
Recorda-se que, entre os muitos abalos sísmicos que sacudiram a Atlântida
antiga, houve três de maior magnitude do que os outros, e foram chamados
os Três Grandes Cataclismos. Antes de cada um deles, deu-se a emigração
daqueles que tinham desenvolvimento suficiente para levá-los a antever o
desastre. Esses emigrantes levaram consigo cópias dos Livros Sagrados, e
tinham entre eles alguns iniciados para fundar uma Loja. Esses iniciados
obtiveram autorização para fundar o novo centro, através do Manu de
então. Ora, os Manus, como tudo o mais, funcionam sob os aspectos das
fases cósmicas, e, sendo o Logos do nosso sistema uma entidade trina,
cujas três fases são sabedoria, poder e amor, as fases logoidais
apresentam-se em um ciclo de três, de forma que, embora todos os três
aspectos estejam sempre ali, embora cada um deles predomine de uma vez,
tal como um triângulo revolvendo sobre seu centro, apresentará primeiro
um ângulo, e depois outro aos olhos do observador, sempre permanecendo
triangular. Essa sequência pode ser observada na história, se um período
suficientemente longo for estudado: haverá uma fase na cultura humana
durante a qual o poder está sendo construído, sucedida por outra na qual
a sabedoria vai sendo acumulada, e culminando com a fase final do
período, na qual o amor fraternal traz a Idade de Ouro.
Foi assim que a força transmitida aos discípulos pelos Manus da Atlântida
teve a coloração do aspecto logoidal que prevalecia na ocasião do seu
funcionamento. A força transmitida por um Manu é chamada o seu Raio. Além
de habilitar o homem a elevar sua consciência à percepção dos planos mais
sutis, os Manus põem seus discípulos em contato com uma grande força
cósmica diretamente procedente do Logos, e é com essa força que os
candidatos são postos em contato através do ritual de sua iniciação. Será
visto, então, que embora a teoria ensinada ao iniciado das diferentes
escolas ocultas seja fundamentalmente a mesma, o modus operandi da sua
prática será muitíssimo diferente, de acordo com a natureza especial do
Raio fornecedor do que metaforicamente pode ser chamado a força motriz da
Ordem.
O grande Templo do Sol, no qual todos os Raios se reúnem, não mais
existe, tendo submergido sob as águas do Atlântico, mas seus ensinamentos
ainda são preservados pelas três grandes tradições ocultas, descendentes
das três grandes emigrações.
A Primeira Emigração, que se deu sob o comando de um Manu, operando sob o
aspecto de Poder do ciclo logoidal, tem o poder como seu princípio
fundamental. Essa emigração, movendo-se em direção para o Oriente,
segundo a disposição que as massas de terra do globo tinham então,
detinha-se, a cada ano, para semear e colher seu trigo e construir
altares temporários no lugar onde faziam esse trabalho. A seguir, movia-
se através do norte da Europa e da Ásia, deixando uma trilha megalítica
atrás de si, até que o seu avanço foi bloqueado pelo que hoje chamamos
Mar Amarelo, que, então, estendia-se em direção do sul, ao longo das

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costas da Ásia. Finalmente, houve o contato com os remanescentes da


cultura lemuriana no Pacífico, e dessa cultura absorveram os emigrantes
alguns dos elementos que fazem hoje uma perigosa e poluída corrente.
Embora não seja permitido a um livro da natureza deste entrar em questões
que envolvam ocultismo prático, os que conhecem a natureza do Pecado dos
Sem Mente podem ser capazes de deduzir seus resultados.
A Tradição dessa Primeira Emigração forma a base de todos os primitivos
cultos do Jujuísmo, do Panteísmo, e da magia primitiva. Sua iniciação é
uma iniciação do Segundo Plano, e dá ao candidato acesso apenas ao astral
inferior. E, embora, por ser o plano de controle do plano físico,
evidentemente é necessário que tenha os poderes a ele referentes, para
quaisquer operações mágicas que envolvam a manipulação de forças etéricas
ou matéria densa; ainda assim é essencial que o ocultista que ensaia os
processos desse plano conserve as iniciações do plano acima, pelo qual,
por sua vez, ele é controlado. Se assim não fosse, o ocultista tenderia a
tornar-se absorvido em suas condições, e, como a iniciação do segundo
plano emprega um tipo muito primitivo de força, que só pode ter
influência inspiradora sobre um tipo de inteligência tão inferior que no
presente estágio de evolução subumana, colocar-se alguém sob o controle
dessa força é uma regressão para um homem civilizado. Nesse plano, o
homem branco deve funcionar como um senhor. Ele não pode, para ser justo
em relação a si próprio, encarar as suas entidades em termos iguais. Os
fenômenos que caracterizam a magia desse plano são aqueles com os quais
nos familiarizamos nas experiências das salas de sessões espíritas, e,
diante das palavras anteriores, o leitor facilmente verá onde está o
perigo dessas pesquisas quando em mãos de ignorantes e inexperientes.
A Segunda Grande Emigração dirigiu-se para uma latitude mais meridional,
devido ao avanço do gelo polar, e, cruzando a Europa Central, continuou
seu movimento para o leste até que seu caminho fosse barrado pelas
regiões montanhosas da Ásia, com suas neves eternas. Ali foram
estabelecidos os templos, formando o Centro Himalaico. E dali a cultura
difundiu-se, descendo pelos vates dos rios, acompanhando os cursos de
água, tal como era preciso fazer nas viagens primitivas. Assim, todas
aquelas partes do mundo, cujos rios têm sua nascente nas cordilheiras da
Ásia Central, também contemplam o centro dos Himalaías, buscando
inspiração para as suas religiões. Dessa emigração derivaram as Religiões
da Sabedoria do Oriente, e embora algumas das seitas estejam tingidas por
influências da cultura da Primeira Emigração, sobre a qual, em parte, o
segundo fluxo fluiu (tal como o primeiro estava tingido pela vagarosa
tradição lemuriana), ainda assim, em sua maior parte, um notável grau de
pureza foi mantido nas Ordens ocultas, e alguns dos mais profundos
conhecimentos do mundo estão guardados nos contrafortes de suas
montanhas.
A Terceira Grande Emigração veio do continente condenado, imediatamente
antes do cataclismo final que para sempre o sepultou sob as águas. E,
viajando para o leste, em uma direção ainda mais meridional do que a das
suas duas predecessoras, cruzou a África do Norte e continuou sua jornada
até que "o Mar Vermelho e o Deserto" barrassem seu caminho. Instalaram--
se, então, nas terras férteis daquela árida região, o vale e o delta do
Nilo, fundando a cultura que nos é conhecida como egípcia. Quem quer que
compare a civilização do Egito com a da América Central, cuja tradição
declara ter sido uma remota porção da Atlântida, não pode deixar de
sentir-se impressionado pela similaridade das duas, seja nos conceitos da
sua religião, seja na sua arquitetura.
A navegação desenvolveu-se primeiramente no mar interior, e onde quer que
as galeras fossem comerciar, a filosofia egípcia penetrava, de forma que
a Tradição da Terceira Emigração espalhou-se por toda a Bacia
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Mediterrânea e pelo Oriente Próximo. Os Mistérios gregos e tirrenos


admitem que seus adeptos foram treinados nos templos egípcios. Dos
tirrenos sabemos que a tradição hebraica derivou seu renascimento, e dos
Mistérios gregos cresceu aquela Gnose que traduziu os conceitos
espirituais do Cristianismo para a linguagem do intelecto. E da Gnose,
esmagada como foi pela Igreja Cristã, depois que o poder passou para as
mãos daqueles que nada sabiam além da verdade exterior que mantinham,
nasceu aquela extensa fileira de místicos intelectuais que mantiveram o
fogo aceso na Europa, e que as gerações posteriores chamaram Alquimistas.
Como o desenvolvimento das comunicações levou as culturas a se difundirem
e a inundar umas às outras, foi natural que as linhas de demarcação entre
uma tradição e outra não fossem tão rígidas nos últimos dias como tinham
sido nos primeiros; e os discípulos da segunda e da terceira Tradições
encontraram--se e influenciaram-se mutuamente, ao longo das vias de
comércio do Oriente Próximo. Entretanto, embora os ensinamentos pudessem
ter sofrido modificações sob a influência de culturas raciais
características, as forças empregadas em iniciações são diferentes. As
disciplinas, ou métodos de treinamento são, também, radicalmente
distintos. Os do Raio do Poder trabalham de baixo para cima, e, operando
sobre objetos do plano de manifestação, procuram influenciar seus
aspectos sutis.
A característica dos métodos desse Raio está no fato de ser obrigatório
haver um ponto de partida material, uma substância mágica, que é o seu
point d'appui; e muita da sua sabedoria consiste no conhecimento desses
objetos naturais que estão em íntima associação com o mundo invisível,
dando, portanto, pronto ingresso a ele. Vemos os feiticeiros-doutores
desses cultos usando coleções de curiosos trofeus, cada um dos quais é
tido como de valor sobrenatural.
Se esses valores dependem de suas propriedades reais, ou da fé do seu
possuidor, é um ponto que tem de ser testado em cada caso individual,
pois há demasiada evidência dessas afirmações para que sejam afastadas
como ilusórias. Será um homem precipitado aquele que se arriscar a dar
uma opinião sobre um assunto que não investigou.
Nessa tradição encontramos, então, muita evidência de magia física e das
drogas que afetam os estados da consciência, agindo sobre o sistema
nervoso e sobre as glândulas endócrínas, e, ao mesmo tempo, uma total
escassez de qualquer compreensão racional dos métodos usados. O
conhecimento da Primeira Tradição, quando não influenciado por tradições
mais evoluídas, é um caso baseado na experiência e no senso comum, e
muito adulterado por pura superstição, coisa que é tão contrária â
verdadeira ciência oculta quanto o é à ciência natural.
Os métodos da Segunda Tradição são caracterizados pela ênfase posta sobre
a aquisição de conhecimentos, e dos muito notáveis sistemas de cultura
mental, e, sendo assim, a consciência do iniciado se expande. Ao mesmo
tempo, os mestres dessa escola não ignoram os métodos da Primeira
Tradição, pelo fato de que, nascendo da mesma escola atlante de
ocultismo, embora em período posterior da sua história, tinham a posse
tanto do grau inferior como do superior, que a evolução lhes
acrescentara. Possuíam tudo quanto os iniciados da Primeira Emigração
tinham possuído, bem como as aquisições das gerações subsequentes, e,
sendo os métodos originais fundamentalmente sólidos, jamais foram
substituídos nos planos aos quais pertencem. Cada tradição, na verdade,
possui tudo o que sua predecessora possuiu, além daquilo que
caracteristicamente lhe pertence.
A Tradição Esotérica Ocidental teve sua origem na terceira e última
Emigração vinda da Atlântida, que se deu imediatamente antes da
catástrofe final que mergulhou no fundo do mar o Continente Perdido,
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junto com sua sabedoria e civilização. Os sacerdotes que acompanharam a


emigração levavam consigo os Livros e Símbolos Sagrados, de forma que
pudessem fundar um Templo do Sol na Terra das Trevas, para a qual se
dirigiam. Para a fundação desse Templo, receberam um mandato do Manu de
então, e o contato, feito quando o Aspecto de Amor do Logos prevalecia,
estava, conseqüentemente, sobre o Raio do amor e da devoção; e tal como a
Primeira Emigração, que surgiu sob o Aspecto do Poder do Logos, teve como
seu ideal o manejo do poder, perfeito e supremo conforme as leis
cósmicas; e a Segunda Emigração, tendo surgido sob o Aspecto da Sabedoria
do Logos, teve a perfeita sabedoria como seu ideal. Assim, a Terceira e
última Emigração, surgindo sob o Aspecto de Amor do Logos, teve a
fraternidade e a compaixão como seus ideais, e a socialização como sua
tarefa.
Os sacerdotes da Terceira Emigração, sendo treinados na mesma tradição
que produzira os sacerdotes da Primeira e da Segunda, possuíam a
sabedoria secreta de ambas essas tradições, além daquela que os tempos
subsequentes tinham desenvolvido. A nova Escola do Mistério teve de
passar por essas fases na construção do seu sistema, como podemos
distinguir claramente na história dos Mistérios. Tendo, porém,
recapitulado essas fases, e alcançado um nível de cultura equivalente ao
da civilização matriz, a última e característica fase foi introduzida
pelo trabalho do Mestre Jesus. A Tradição Ocidental, portanto, tem três
aspectos: o aspecto da Natureza, correspondente às iniciações astrais,
cujo mestre, no Astral Inferior, é representado pelo pilar da Mão-
Esquerda do Templo, e no Astral Superior por Orfeu, o doce cantor; o
aspecto da Sabedoria, correspondendo às iniciações da mente, cujo Mestre
no Plano Mental Inferior é Hermes, e no Mental Superior é Euclides; e o
Aspecto Devocional e Espiritual, cujo Mestre dos Mestres é Jesus de
Nazaré. Esses três grandes aspectos formam a integral Tradição Ocidental,
e cada um deles, sem os outros dois, é apenas parcial.
A não ser que o Raio do Cutto da Natureza seja complementado pelo Raio do
Desenvolvimento Intelectual e Treinamento Hermético, os aspectos
subumanos se tornarão dominantes no subconsciente do aspirante. E a não
ser que o Raio Intelectual seja iluminado pela espiritualidade do Raio
Devocional, ele tenderá para o endurecimento do coração e a estreiteza de
perspectiva, enquanto o próprio Raio da Natureza suaviza e vivifica os
Mistérios com a alegria e a pureza dos seus contatos naturais primitivos.
Todos os Raios se unem no Sol. Portanto, seus caminhos convergem e,
depois que certos estágios são alcançados, fundem-se, de forma que um
iniciado dos graus superiores de qualquer Escola de Mistério estará em
terreno comum aos iniciados de qualquer outra escola. Entretanto, nos
graus inferiores, especialmente em seus métodos de trabalho nos planos
astral e físico, as escolas são largamente divergentes, tal como
testemunham as diferenças em suas invocações. Aquela que invoca os devas
do Oriente não invocará as hostes angélicas do Ocidente, nem as fórmulas
de expulsão, que mandam os demónios hindus de volta aos seus domínios,
dão proteção a um país europeu, como vários discípulos ingleses
descobriram por experiências próprias. Os próprios mantras, fórmulas e
Palavras de Poder, são reunidos sobre diferentes princípios. Para usar
uma metáfora tirada da música, os Raios são tocados em diferentes tons, e
se tiver de haver transposição, ela deve ser feita por um mestre
experimentado, que entenda as correspondências; serão produzidos efeitos
desagradáveis, se simplesmente forem tocados sustenidos como bemóis.
Qualquer estudante de religião comparada sabe que, embora as grandes
divindades possam ser identificadas através de diferentes mitologias, e
símbolos análogos surjam em todos os sistemas religiosos, a modificação,
tanto de nomes como de signos, ocorre quando são traduzidos de um país
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para outro. Muitos estudantes ignoram as diferenças e concentram-se na


similaridade, acreditando que as alterações são devidas a peculiaridades
locais de pronúncia, portanto superficiais, e que, tendo identificado os
diferentes deuses solares através do mundo, estão tratando com uma e
única potência. É verdade, naturalmente, que a mesma força está por trás
de todos eles, mas é como se alguém tentasse usar, indiscriminadamente,
um telefone, um dínamo, ou um cautério elétrico, porque a mesma força
está por trás de todos eles.
A pronúncia e a ortografia correias das Palavras de Poder são
extremamente importantes em todas as operações ocultistas, e não sofrem
alteração sem motivo e, sim, de acordo com leis definidas. A mudança nos
Nomes Sagrados, de um país para outro, é feita para que as forças se
adaptem às condições existentes em cada um deles, e não por uma
intromissão leviana.
O ocultismo, nos planos da forma, é sempre racial e local porque deve
estar adaptado ao ambiente; e, embora nos planos superiores, uma fórmula
seja válida para todos, e as experiências místicas do mesmo tipo
caracterizem todos os graus superiores, para que os adeptos possam
encontrar-se em terreno igual, os sistemas empregados no treinamento de
aspirantes são inteiramente diferentes, e jamais devem ser confundidos. A
meditação e o ascetismo levarão o discípulo oriental aos pés do seu
Mestre, mas o iniciador ocidental, trabalhando nas condições materiais
muito mais densas daquela civilização, tem de empregar os rituais a fim
de obter seus resultados que bem poucos corpos orientais poderiam
suportar. Os métodos meditativos do Oriente não dariam resultado no
Ocidente, a não ser que a vitalidade se faça mais baixa, sendo muito
arriscado tentar o manejo de altas potências sobre uma vitalidade
diminuída. E o aspirante também não iria se sentir bem na pressa e na
excitação constante da nossa civilização.
Métodos desenvolvidos para se adaptarem a um tipo de vida, a um regime, e
a condições etéricas, não se mostram apropriados para outros tipos
completamente diferentes, e essa falta de adaptação evidencia-se na
tensão nervosa do discípulo. Se desejam seguir os métodos iogues, devem
levar uma vida iogue. Se não fizerem isso, serão destruídos.
As forças do Oriente requerem veículos muito purificados e rarefeitos
para a sua operação, portanto os aspectos primitivos da Natureza devem
ser desbastados. As forças ocidentais são muito mais fortes e mais
drásticas em sua ação, porque apoderam-se dos aspectos primitivos e usam-
nos para seus próprios fins, sublimando o metal inferior, que transformam
em ouro, e não precipitando o ouro a partir do éter. Podemos nos tornar
capazes de receber sinais telegráficos além do alcance normal, seja
aumentando o poder do aparelho transmissor, seja pela sensitividade do
aparelho receptor. O método ocidental emprega o primeiro e o oriental, o
segundo. Se o professor deseja usar os métodos do Oriente, deve levar
seus discípulos a preencher as condições do Oriente, e, para os graus
mais altos, terá de ir ao Oriente.
Os métodos ocidentais estão baseados no simbolismo e nas potências
ocidentais. Têm suas raízes entranhadas na vida espiritual da raça. Suas
influências moldaram a sua civilização, portanto eles não se inclinam a
fazer, de seus iniciados, estrangeiros em sua própria terra, deixando-os
inadequados para as condições de vida na Europa. Preferem treinar seus
aspirantes para cooperarem com as forças raciais, para usá-las e serem
usados por elas.
O conhecimento da Sabedoria Antiga do Oriente foi popularizado pela
Sociedade Teosófica, mas não nos esqueçamos de que há nosso próprio
esoterismo nativo, escondido na mente superconsciente da raça, e que
temos nossos lugares sagrados às nossas próprias portas, os quais foram
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usados para iniciações desde tempos imemoriais, e que foram igualmente


potentes para o contato dos celtas com a Natureza, para o trabalho dos
Hermetistas, e para as experiências místicas da Igreja do Santo Graal.

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OS CAMINHOS DA TRADIÇÃO OCIDENTAL

A Tradição ocidental tem vários e diferentes aspectos que constituem, de


fato, escolas dentro das Tradições, chamadas geralmente de Raios. Esses
Raios recebem seus nomes, quase sempre, das cores do espectro, com as
quais elas devem se equiparar. Há alguma diferença de opinião a respeito
da designação da cor a ser atribuída aos Raios, e o sistema popular de
atribuir o primeiro Raio ao primeiro Plano, e assim por diante, é
puramente arbitrário e exotérico, porque os Planos não se desenvolveram
em um só cicIo-Raío, com a interferência de períodos de Pralaya em
diferentes pontos. A verdadeira designação exotérica da cor difere disso
em vários aspectos. Portanto, foi empregada uma terminologia que dá nomes
aos Raios de acordo com a escola que experimentou o mais alto
desenvolvimento, e os correlaciona com os Planos e os estados de
consciência. Esse é um sistema que será prontamente entendido pelos
leitores, seja qual for a terminologia a que estejam habituados, e evita
a confusão mental que surge quando os termos aos quais se está habituado
recebem implicação que não nos é familiar.
A questão dos Raios é altamente técnica e intrincada e, embora seja de
grande importância no ocultismo prático, não é possível tratar dela em
detalhes, nestas páginas, porque seria necessário todo um livro para
isso. Será suficiente dizer que os Raios se originaram nas expansões
periódicas do impulso de Vida Logoidal. Essas expansões podem ser
concebidas como
canais abertos nos planos ocultos, e a Força Logoidal continua a fluir
nesses canais depois que a enchente original se esgotou. Essas expansões
construíram os sucessivos planos de manifestação, depositando-os, por
assim dizer, como o fluxo de um rio deposita sedimentos. Cada uma dessas
expansões tem de descobrir seu ingresso no plano da matéria através da
consciência de um ser encarnado, e os Grandes, aperfeiçoados em evoluções
anteriores, adiantam-se, por sua vez, para assumir essa tarefa. Depois de
a terem completado, e de o fluxo, após haver depositado seus sedimentos,
ir se esgotando, eles se recolhem aos Planos ocultos, e dali continuam
seu trabalho, que é o de focalizar aquela manifestação particular da Vida
Logoidal, dando-lhe forma e expressão. Então, passam a ser conhecidos
como os Senhores dos Raios ou Estrelas Logoi.
Os planos de percepção humana correspondem aos planos instalados pelos
Raios, e são as forças de um Raio, reconcentradas por meio de um ritual
para formar um fluxo em miniatura, que são usadas para estimular o plano
correspondente da percepção a iniciar um funcionamento ativo.
Cada alma possui todos os sete aspectos, mas em uma determinada
encarnação somente alguns deles podem estar latentes. é muito raro um
desenvolvimento igual, total. Um desses pianos será o foco de percepção,
e os outros aspectos serão a ele subordinados e contribuem para ele. Por
exemplo, uma pessoa pode agir por suas emoções, e ter o julgamento
abalado pelos seus sentimentos. Outra pessoa pode concentrar-se em sua
mente, e, segundo a velha frase, a cabeça governará o coração. Quando
pessoas assim vêm para a iniciação, a tarefa difícil para o iniciador é
tentar persuadi-las a desenvolver aspectos suplementares, a fim de obter
equilíbrio.
É questão relativamente fácil estimulara inclinação natural da pessoa. A
dificuldade está em estimular um fortalecimento correspondente de seus
pontos fracos, única forma de produzir equilíbrio, O homem que está
focalizado em sua mente deve aprender a usar seu coração, e o homem que

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está focalizado em seu coração deve aprender a usar a cabeça. Nenhum


desses aspectos, sozinho, é suficiente.
Portanto, os estudantes tendem a se separar em grupos, de acordo com o
tipo; e os diferentes tipos têm de ser tratados de maneiras diferentes em
uma escola de iniciação. Os Mistérios Menores têm como objetivo oferecer
um treinamento preliminar total, primeiro na purificação e disciplina do
caráter, e depois no desenvolvimento dos poderes intelectuais,
especialmente o da concentração. Todos os candidatos precisam passar por
esse curso, e muitos fracassos resultam de especialização demasiadamente
precoce. Só depois de terem passado pelos três graus, nos quais a
percepção é treinada, e só depois que a dedicação seja oferecida e
aceita, é que passam para os Grandes Mistérios.
A essa altura é que são separados e levados aos Raios, trabalhando
primeiro em um, depois em outro, até que tenham adquirido os Poderes dos
Planos aos quais os Raios correspondem. Cada Raio influencia um aspecto
diferente da consciência, e, quando o estudante tiver passado por todos
eles, sua natureza estará desenvolvida, purificada e harmonizada em todos
os seus aspectos. Então, de acordo com o seu temperamento, ele escolhe o
Raio em que se quer especializar, e, dali por diante, dá início ao seu
trabalho sobre aquele Raio. Entretanto, é essencial que tenha tido
experiência de todos os Raios antes de fazer isso, de outra maneira iria
assemelhar-se a um compositor que tentasse orquestrar um trecho de música
sem entender a técnica de um instrumento de sopro. Não é possível
orquestrar um instrumento, a não ser que se entenda a sua técnica. O
mesmo se dá com o iniciado: mesmo que o plano escolhido por ele seja o
Espiritual Elevado, precisará ter conhecimento do Astral Inferior; e se o
plano que escolheu for o das poderosas forças elementares do Astral
Inferior, nem por isso precisará menos dos contatos do Espiritual
Elevado, a fim de não ser arrastado e submerso nos aspectos não-humanos
da Natureza.
Cada plano, e seu aspecto correspondente de percepção ou consciência,
está aberto sob a égide do Senhor do Raio, cujo nome é a suprema Palavra
de Poder daquele Plano.
Cada escola oculta, infelizmente, inclina-se à especialização, porque os
temperamentos raciais têm sua tendência natural. Os Raios mais
trabalhados presentemente na Tradição ocidental são os Raios da Mente
Concreta e do Espírito Concreto. A Tradição oriental, por outro lado,
levou a um alto grau de desenvolvimento o Raio do aspecto etérico da
matéria, na Hatha Yoga, e o Raio do Espírito Abstrato, na Raja Yoga.
Outros Raios têm tido seu desenvolvimento em diferentes fases da história
do mundo. Os gregos, por exemplo, realizaram suas iniciações com base nos
Raios do Astral Superior e da Mente Abstrata. Quando vamos estudar um
Raio, portanto, voltamo-nos para a escola esotérica que se especializou
nesse aspecto.
O sétimo plano, o Plano do Espírito Abstrato, nunca foi contatado no
presente estágio de evolução, quando no corpo; o ego deve retrair-se do
corpo, para esse contato, e o corpo entra, então, em profundo transe.
Esse aspecto tem sido o mais altamente desenvolvido no Oriente, e, por
isso, esse Raio é geralmente conhecido como Raio Búdico; mas tivemos
exemplos dele no Ocidente, em nossos extáticos, e Santa Teresa é a nossa
principal autoridade nesse caso. É extraordinariamente raro que ele seja
assinalado em nossos dias, e só pode ser desenvolvido em retiro, sob
condições ascéticas. Não há Raio Logos no sentido em que existem outros
Raios, porque ele ainda não foi trazido à manifestação na matéria, e
porque nunca foi focalizado pela percepção de um ser encarnado. Sua
invocação e seus contatos são os do Espírito Santo, e ele jamais opera em

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percepção desperta, mas apenas, como tivemos ocasião de dizer antes, em


transe total.
As operações desses contatos envolvem a retirada da alma em relação ao
mundo, e jamais são empreendidas enquanto não se aproxima o tempo em que
a libertação da Roda do Nascimento e da Morte possa ser reivindicada.
Concentração sobre
esse contato antes da época propícia causa uma interrupção do crescimento
espiritual. Temos um exemplo disso na Europa, com os Quietistas: a Sra.
Guyon, para usar uma expressão metafórica tirada do grande trabalho de
Evelyn Underhill sobre o Misticismo, "aquecia-se como um gato ao Sol da
Vida". Foi o desenvolvimento excessivo desse aspecto que paralisou o
progresso do Oriente.
O sexto plano, ou Plano do Espírito Concreto, é atualmente o ponto
focalizador da civilização. Sobre ele são desenvolvidas as qualidades
espirituais de Amor, Verdade, Bondade, Pureza e muitas outras. Esse Raio
foi manifestado ao homem pelo Senhor Jesus, que é o seu Mestre dos
Mestres, o seu Raio Logos, por isso, é conhecido como Raio Cristão. A
iniciação desse Raio é o mais alto ideal que um homem pode alcançar
enquanto ainda permanece na senda humana da evolução.
São os contatos desse Raio que dão ao santo sua Visão Deliciosa e que
transformou o cálice no Graal. Esse Raio é o poder oculto do Cristianismo
que foi ensinado aos discípulos, no Aposento Superior, enquanto a
multidão recebia apenas uma regra de vida uma regra, contudo, que, sendo
fielmente seguida, iria levá-la ao Aposento Superior, onde poderia
receber o ensinamento oculto, que não é recusado, mas apenas mantido em
separado. É o poder do Raio Cristão que brilha através do Graal, e é para
a Igreja do Graal que vai o aspirante quando escolhe o Caminho da Cruz.
Essa é a Igreja que está por trás da igreja que não é vista, mas
compreendida, e é para ela que a devoção aos Sacramentos conduz o homem.
A igreja, que é de pedra, se apaga para ele, e o homem passa a encontrar-
se na Igreja que não é construída pelas mãos, que é eterna nos céus. é
ali que o místico cristão faz seu culto, é ali que ele encontra o seu
Mestre face a face, no vinho e no pão, que não são pão e vinho, mas as
substâncias de uma operação mágica, sublimadas em ouro espiritual.
As iniciações no Plano da Mente Abstrata referem-se ao desenvolvimento do
pensamento intuitivo e do poder de raciocínio dedutivo, estendendo-se do
conhecido para o Desconhecido e traduzido em termos reconhecíveis. é
chamado, com frequência, Rato Pitagórico, porque teve seu apogeu nas
Escolas de Mistérios da Grécia. É esse o verdadeiro Raio da Sabedoria,
porque seus contatos representam a primeira das iniciações objetivas,
onde as portas do eu são abertas, e esse eu entra em imediato
relacionamento com o Não-eu. Todas as iniciações que antecedem a esta
abrem apenas as alturas e profundezas ocultas do eu.
O Raio da Mente Concreta é o mais alto aspecto da personalidade
encarnada. Hermes, três vezes grande, representa o seu Raio Logos. Seu
mais elevado desenvolvimento deu-se nos sistemas egípcio e cabalístico, e
foi mesclado com o pensamento cristão nas escolas dos neoplatônicos e dos
Gnósticos, mas a energia perseguidora da Igreja, de há muito exoterizada,
baniu-o como sistema organizado. Seus estudos, que eram o expoente máximo
do seu aspecto cabalístico, foram mantidos vivos apenas entre os judeus,
durante a primeira parte da Idade Média. Seu aspecto egípcio foi
reintroduzido na Europa pelos Templários, depois que as Cruzadas os
puseram em contato com os Centros Sagrados no Oriente Próximo. Novamente
banido, pelo medo e pelo ciúme da Igreja, ele reapareceu, uma vez mais,
na longa linha de Alquimistas que floresceu depois que o poder de Roma
foi rompido pela Reforma. E está vivo até hoje.

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O Raio que tem correlação com o Plano Astral Superior é conhecido como
Raio Céltico, porque sua iniciação do eu emocional superior deu à cultura
racial céltica o seu ímpeto. Ê visto, em sua mais alta manifestação, nos
inícios da tradição grega, especialmente nos cultos dionisíacos, antes
que a influência dos pensamentos oriental e egípcio tivesse produzido
desdobramentos que não eram típicos do gênio racial helénico.
O Raio Céltico é essencialmente elemental, e se relaciona com o aspecto
natural das coisas. Sendo uma iniciação das emoções, seus padrões de
valor são estéticos, não éticos, seus ideais são a beleza e a alegria,
não a verdade e a bondade, e devemos ter isso em mente quando julgamos
suas devoções. Ele está bastante afastado do mundo dos homens e dos
valores mundanos, mas, sem o seu fermento, o utilitarismo dos homens
esmagaria de todo a visão mais ampla.
É desse Raio que todo trabalho imaginativo extrai a sua inspiração, e os
artistas criativos retiram sua força. é, essencialmente, o Raio dos
Artistas, seja qual for o meio no qual sua capacidade artística encontre
expressão. E é a força desse Raio que faz a sutil diferença entre os
produtos do trabalhador manual e os produtos da máquina e dá aos produtos
feitos à mão o sutil fascínio que eles exercem sobre a alma sensitiva.
Mesmo que a sua técnica não seja tão perfeita quanto a da fábrica, elas
estão vivas com a maravilhosa vida elemental do Raio Céltico, que aquele
que as faz, trabalhando com a criativa inspiração haurida daquele Raio,
colocou nelas. Sim, elas estão literalmente vivas, animadas com a
essência elemental; e eis por que elas são "agradáveis", de uma forma que
o objeto feito pela máquina não o é.
Contudo, embora a expressão grega da Sabedoria Antiga forneça excelente
material de estudo, é através da forma que ela estabeleceu no espírito
grupai da nossa raça que devemos procurar aproximação com os contatos
reais do seu poder; e a verdadeira expressão do Raio Céltico, para o
habitante das Ilhas Britânicas, está nas lendárias tradições gaélicas.
Muitas gerações do intelecto britânico foram nutridas com a tradição
clássica, e, conseqüentemente, produziram aquele remoto, antiquado e
estranho tipo de beleza literária ou artística que é chamada clássica.
Esse é um tipo de beleza para cuja apreciação uma cultura especial se faz
mister, uma cultura clássica similar àquela que inspirou o criador da
coisa bela, porque a vida elemental que anima suas criações é derivada do
aspecto helénico do Raio Céltico (porque a tradição romana também deriva
dessa fonte), portanto não atrai o homem comum, que não estabeleceu tais
contatos dentro da sua alma. Contatos com uma força estranha têm de ser
lenta e elaboradamente estabelecidos. Não surgem espontaneamente, nem são
inatos. E não só devem ser estabelecidos como devem ser ternamente
amados, porque são as plantas tropicais da alma.
Porém, o que deriva da nossa tradição popular nativa nasce do solo como
água vivificada pela boa terra escura e refrescada com o alento da erva e
da árvore. Nasce, rebrilha, e quem passa pelo caminho, embora, seja
insensível, não pode senão regozijar-se, pois aquilo, para ele, é
congénito. Não precisa de comentários que faiem da sua beleza. Ama-a
porque ele a aprecia e ele a aprecia porque ela vitaliza a sua natureza.
Ela vitaliza a sua natureza porque o põe em contato com a terra nativa,
aquecida de sol, molhada de chuva, aquela terra que seus pés nus
palmilharam quando ele era uma criança, quando sua alma estava aberta e
ela ainda podia sentir o Invisível. Sopra através de sua alma como o
vento dos lugares mais altos, e passa sobre ele como as ondas do mar
aberto. Seu coração salta, ao sentir aquilo, como as chamas que se elevam
goruscantes de um fogo vivo. Porque, pelo pó de seus ancestrais, ele tem
afinidade com os elementos da sua terra nativa, e, pela estrada dos
sonhos da sua infância, aproxima-se do contato Céltico. Porque o iniciado
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do Raio Céltico é a Criança Imortal, o Folgazão do Céu, sempre jovem e


nunca sensato, porque a Sabedoria não está no Raio Céltico.
O Raio que corresponde ao Plano Astral inferior é conhecido como Raio
Escandinavo, porque os mais puros contatos dessa muito corrompida
tradição de que podemos dispor no Ocidente são os da mitologia nórdica. O
Plano Astral Inferior é o plano dos instintos primitivos e das paixões
grosseiras com eles associadas, e é a sublimação dessas paixões que dá o
êxtase da iniciação desse contato. Na tradição nórdica, o êxtase deriva-
se da sublimação da qualidade de coragem, em sua apoteose como a volúpia
guerreira da batalha.
Em outras tradições, esse Raio toma diferentes formas. No sistema Hindu é
o terrível culto de Káli, com seus tugues e suas mutilações, a apoteose
da crueldade, não da coragem. O aspecto priápico, distinto do aspecto
dionisíaco do culto fálico, também está relacionado com esse Raio.
Entretanto, não se deve pensar que esse Raio seja mau em si mesmo. Nada
do que Deus criou é mau em si mesmo. É apenas em sua perversão e
distorção que se torna mau. O Raio Escandinavo é o Raio das virtudes
heróicas de coragem, resistência e estabilidade. Quando seu potente
elemento primitivo falta, as pessoas tornam-se decadentes e neuróticas,
desequilibradas e maníacas; a artificialidade toma o lugar dos instintos
naturais.
A época em que esse Raio manifestou-se sobre a Terra é tão remota que
suas funções se correlacionam com o cerebelo, porque o cerebelo funcionou
antes que o cérebro, a parte do encéfalo que dá à fronte a característica
humana, se desenvolvesse. Normalmente, a mentalização correspondente a
essa parte do cérebro não vem a foco na personalidade acordada, mas é
subconsciente, vindo à tona apenas durante períodos de intensa emoção, ou
quando as partes mais recentemente desenvolvidas do cérebro são postas em
ação pela influência das drogas ou de doença.
Ele é, naturalmente, o Raio par exceffence da Magia Negra, e, em
consequência disso, tornou-se muito contaminado. Seus contatos são usados
apenas em cultos de feitiçaria, e, contraditório como possa parecer, por
ocultistas altamente treinados. Porque da capacidade para contatar e
controlar as forças desse plano depende o poder de produzir efeitos
tangíveis na matéria densa. O Nome do Mestre dos Mestres desse plano não
pode ser dado, por ser Palavra de Poder, mas pode ser dito que é função
especial do Arcanjo Miguel guardar os portões do Mundo Subterrâneo, de
forma que nenhuma arremetida do "caos e da velha noite" possa abrir
caminho para o Plano da Terra.
O Raio que se refere à instalação do Plano da Terra é ainda mais antigo
do que o Raio Escandinavo. Manifestou-se antes que a matéria que nos é
conhecida sob aspecto denso tivesse evoluído. Como força iníciatória ele
desenvolve os poderes do duplo etéreo. Seus contatos são efetuados no
Oriente, na disciplina da Hatha Yoga, e, já que não temos escola
correspondente no Ocidente, iremos chamá-lo Raio Etéreo.
Em seu aspecto original, há muito ele deixou de manifestar-se, mas o
ciclo da evolução está começando a trazê-lo de volta em um arco mais
alto, e estamos vendo um grande desenvolvimento do poder da mente sobre o
corpo, em cultos tais como os da Ciência Cristã, e no movimento chamado
Pensamento Novo. é operando sobre o duplo etéreo, naturalmente, que o
curador da mente obtém seus resultados, tal como o faquir obtém seus
fenômenos.
Esses sete Raios constituem a escala da iniciação, e ninguém pode ser
chamado adepto com justiça se não possuir os graus correspondentes a
eles. O Raio Búdico está à frente da evolução; O Raio Etéreo, em seu
aspecto original, fica atrás dele; o Raio Cristão é o ponto focalizador
da era presente. É ao longo das linhas traçadas pelo Mestre Jesus que o
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desenvolvimento está tendo lugar. Os poderes dos outros Raios, com


exceção do Raio Búdico, que não pertence ao Plano da Terra presentemente,
são recapitulações pelas quais um homem toma posse, para si mesmo,
daquilo que a humanidade alcançou no passado, e que é parte da herança da
raça.
Mestre Jesus, Logos Estrela do Raio sob o qual a moderna civilização está
se desenvolvendo, é o Senhor desta época, e Seu Nome é a Suprema Palavra
de Poder, porque a cada manifestação do Cristo são confiadas todas as
coisas no Céu e na Terra, incluindo as de Seus Irmãos, que o precederam
no cargo. Outra encarnação da força do Cristo virá na devida estação
evolucionária, como ensinam todas as religiões; mas essa estação ainda
não chegou e, até que chegue. Mestre Jesus é o Mestre dos Mestres para o
Ocidente e o Grande Iniciador dos povos de raça branca.

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A EVOLUÇÃO E A FUNÇÃO DOS MESTRES

Muito se tem escrito, nos últimos anos, a respeito Daqueles que são
chamados Mestres, e muitas opiniões diferentes foram expressas. Há
escritores que Os colocam como apenas um pouco inferiores à Divindade, e
outros que parecem usar a palavra como equivalente aos "controles" dos
espiritualistas, chegando mesmo a referir-se a Eles como em forma humana,
com lugar e residência no plano físico. Isso produziu mal-entendidos, e
levou a um aviltamento do conceito sobre esses Seres Divinos e super-
homens, com os quais a humanidade tem possibilidade de estabelecer
contato. O mal-entendido é em grande parte devido ao fato de que toda a
super-humanïdade tem sido classificada, com frequência, em conjunto, por
parte de estudantes irrefletidos; e as funções de Adepto, Mestre, e
Mestre dos Mestres, Logos Estrela, ou Raio Chohan (segundo a terminologia
empregada) têm sido confundidas, e suas gradações também o foram. Na
terminologia empregada nestas páginas, a palavra Mestre jamais é aplicada
a um ser encarnado no plano físico, e sim reservada para Aqueles que já
não precisam encarnar para realizar Seu trabalho. O termo Adepto é usado
para aqueles seres que passaram além do estágio que a evolução já atingiu
em nosso planeta, e, assim, nada têm a aprender das suas condições, e
preferem encarnar-se apenas para realizar determinado trabalho. Esses não
são vistos como Seres Divinos, mas como Irmãos Mais Velhos. O homem ou a
mulher que avançou para além de um certo grau nos Grandes Mistérios é
citado como iniciado e, abaixo desses, vêm os graus de irmão, neófito,
dedicado, servidor e buscador.
Como os graus da hierarquia referem-se a estágios evolutivos, sua
significação é melhor entendida estudando-os em sua sequência, começando
pela primeira manifestação, que é hoje a mais alta, cada advento
subsequente levando a iniciação para mais um estágio no percorrer dos
planos. E, como a humanidade, neste ínterim, evolui firmemente para os
planos superiores, chega-se a uma ocasião em que a consciência cósmica
pode ser atingida e mantida no estado desperto normal. "Em minha carne eu
verei Deus." O trabalho dos Manus, o que se originou de evoluções
anteriores, foi explicado em outro capítulo, e retomaremos a história no
ponto em que os Grandes Mestres, que foram discípulos dos Manus, entram
em funcionamento.
Consideremos, primeiro, a condição da humanidade ao tempo em que os Manus
começaram a aparecer no plano físico. Essa condição era bem mais baixa do
que a do mais primitivo selvagem, a inteligência sendo essencialmente
animal em seu tipo, pois a função dos Manus era dar assistência ao
desenvolvimento das faculdades caracteristicamente humanas, e distinguir-
nos de nossos irmãos mais novos, os animais. Os próprios Manus procediam
de evoluções anteriores. A sua função era auxiliar a humanidade a
recapitular rapidamente as experiências evolutivas que deviam trazê-la ao
nível em que seus predecessores se haviam retirado do plano físico, de
modo que a humanidade pudesse assumir o trabalho do planeta no ponto onde
os Senhores da Mente o tinham deixado. Com a intenção de poupar o tempo
que seria empregado em reconstrução laboriosa, certas entidades
aperfeiçoadas, da onda de vida anterior, assumiram a tarefa de entregar à
humanidade os frutos da sua evolução.
A Humanidade mal havia alcançado o estágio de consciência perceptiva,
isto é, podia formar imagens mentais que se iam engrenando em sequência
de memórias. Agora, fazia-se necessário que a consciência conceptiva
fosse desenvolvida, de modo que a memóría-imagem pudesse ser sintetizada
em generalizações. Por meio de sugestão, de transmissão de pensamentos,

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os Manus plantaram IDÉIAS na consciência humana, e os homens escolhidos


para essa operação, tendo aprendido um conceito e compreendido a
possibilidade dessa forma de pensamento, depressa puderam construir
outras sínteses de imagens por si próprios, e foram postos a praticar
assiduamente esse processo, sob seus instrutores, tal como os aspirantes
de hoje são postos a praticar o pensamento intuitivo dos planos
abstratos.
Uma vez que esse processo encaminhou-se bem, os Manus tiveram a
possibilidade de se retirar para um plano mais alto, e os discípulos, que
Eles tinham iniciado em Seus métodos de pensamento, foram incumbidos de
treinar seus companheiros, sob instruções dos Manus. No curso devido da
evolução, alguns desses discípulos fizeram tanto progresso que evoluíram
para além da necessidade da encarnação, e também eles se retiraram do
plano físico. Os Senhores da Mente, que tinham sido seus iniciadores,
puderam, então, retirar-se para seu próprio lugar, que não é em nosso
planeta, embora esteja dentro dos limites do nosso sistema solar. Então,
os Senhores da Humanidade tornaram-se os iniciadores do seu próprio povo.
As entidades aperfeiçoadas, originadas de evoluções anteriores, têm Suas
funções próprias dentro do Universo, tais como leis, forças e princípios,
e só os Senhores da Mente se aproximam, em pequeníssimo grau, do nosso
conceito de seres conscientes. Embora perfeitos e completos, de acordo
com seu próprio tipo, eles estão em um grau de evolução muito inferior
àquele em que a humanidade estará, quando, por sua vez, completar seu
curso. Porém, da mesma forma que um cão de dois anos está em estágio de
desenvolvimento muito superior ao de uma criança de dois anos, e pode ser
colocado como guarda dessa criança, os Senhores da Mente são
infinitamente superiores em relação à humanidade infante, embora a
humanidade venha a ser superior aos Senhores da Mente, quando
integralmente evoluída.
Conforme cada nova fase da evolução humana era encetada, um dos Senhores
da Humanidade assumia a encarnação no plano físico, a fim de introduzir
na percepção humana as ideias arquetípicas que se pretendia fossem
desenvolvidas durante aquela fase, e Ele ensinava essas ideias a um grupo
de discípulos pela doutrina, ensinando, porém, pelo exemplo, à multidão.
Isso quer dizer que Ele viveu a vida ideal, manifestou caráter ideal,
apresentando, assim, um novo conceito de perfeição humana à consciência
dos homens, e formando um padrão pelo qual eles poderiam medir sua vida e
suas ações. Foram, assim, os Grandes Modelos, e representam o Homem
Arquetípico, ao qual a humanidade chegará, quando tiver completado a fase
de evolução assim introduzida.
Entretanto, Eles são mais do que Modelos. São, também, Salvadores, porque
antes que uma nova fase de trabalho seja empreendida, Eles têm de
erradicar e corrigir qualquer resíduo de erro da fase anterior de
evolução, e fazem isso tomando sobre Si mesmos o pecado do mundo, para
usar a terminologia teológica.
Os ocultistas conhecem um método de cura pela substituição, no qual, pela
extrema compaixão ante os sofrimentos de uma pessoa amada, esse
sofrimento é sentido no próprio eu, e, pela reação e compreensão assim
despertadas, é expiado em um plano mais alto. Esse processo é
extremamente perigoso porque, se a expiação não é realizada com êxito, o
pretenso curador é abandonado com a doença; é também extremamente penoso,
porque o que seria um sofrimento físico, longamente arrastado para o
paciente, é transmudado em seu equivalente sofrimento mental para o
curador durante um período curto, e por isso mesmo concentrado. Ademais,
todo o processo tem de ser realizado de acordo com as leis do karma, ou
haverá mais mal do que bem.

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Aquilo que às vezes se faz entre duas pessoas é realizado entre o


Salvador e a alma grupai do mundo, quando uma Reparação é realizada ao
final de uma fase da evolução. Nas poucas horas da Crucificação o pecado
e o sofrimento que restaram de uma fase de evolução foram compreendidos e
aliviados. Não é de admirar que, sabendo com antecipação o que seria
aquela amarga prova, o Senhor do Raio Purpurino suplicasse: "Afasta de
mim este cálice."
O iniciado da Tradição ocidental dá à Paixão e ao seu oferecimento ritual
na Missa, a mesma colocação que lhe dá o teólogo. Para ele, a Eucaristia
representa o supremo contato do seu Raio e raça. Mas reconhece, também,
outros grandes Redentores, e sabe que a lenda da morte sacrificatória é
verdadeira para todos Eles.
Quando um Mestre encarna como Redentor e passa pelo sacrifício da Morte,
Ele não reencarna, mas torna-se o Logos Estrela do Seu Raio, um dos Sete
Espíritos que estão diante do Trono, e traz aquele aspecto da força
logoidal para um foco, através das fontes da Sua personificação. Uma
personificação não é a mesma coisa que uma personalidade, e sim a imagem
que a individualidade constrói de uma encarnação em particular, a fim de
se manifestar sobre o plano da matéria. Esse é um ponto significativo do
ocultismo prático, e foi a isso que Madame Blavatsky se referiu quando
disse em A doutrina secreta, que q corpo de um Mestre é ilusório. Quando
psíquicos dizem que o Mestre Jesus está encarnado, no presente tempo, em
tal ou qual lugar, não é uma encarnação que eles divisam, mas uma
personificação, uma forma-pensamento na consciência do Logos Estrela, que
está sendo usado para realizar Seu Raio, E quando essa encarnação é
relatada em um Centro Sagrado, no Himalaia ou no Cáucaso, significa que o
corpo astral do vidente está trabalhando em um desses centros astrais. O
Mestre Jesus não está vivendo ali, mas é o psíquico que ali está
funcionando! Coisa muito diferente. é extremamente fácil obterá
reabertura da consciência astral quando o vidente supõe estar funcionando
em seu corpo causal, abstrato, mental, e então ambos os tipos de
percepção apresentam-se simultaneamente ao ego, como duas exposições de
uma chapa fotográfica.
Também, psíquicos que não absorveram a fórmula-teste apropriada para
"tentar os espíritos" no plano e no Raio nos quais eles estão
trabalhando, podem, facilmente, encontrar o conteúdo subconsciente
exteriorizado como formas-pensamento, e estarem, assim, apenas lendo suas
próprias mentes subconscientes quando acreditam estarem lendo os
Registros, e por isso apresentam noções preconcebidas como visões.
Finalmente, um psíquico que não pode trabalhar acima do plano astral,
descreverá tudo em termos de imagens-consciência antropomórficas. Quando,
portanto, ele ou ela resolvem investigar coisas que não são desse plano,
não podem elevara percepção a ponto de compreenderem o abstrato, e só
conseguirão ver os reflexos na luz astral, usando a consciência astral
como um espelho. E coisas que são puro espírito, portanto sem forma,
serão apresentadas como tendo formas, e sua aparência será descrita. As
aparências vistas são, simplesmente, representações simbólicas do
abstrato, tal como as apreende a percepção concreta, que o vidente deve
ser capaz de interpretar em termos abstratos, tal como fez Anna Kingsford
em relação às suas iluminações. Mas, quando temos um vidente que não
compreende o método da transmutação do simbolismo entre os planos, temos
a descrição do Cristo de pé sob uma árvore em Seu jardim, abençoando o
mundo com a mão estendida, todas as tardes.
Bem: o Cristo não é, e nunca foi, uma personalidade. Não é sequer
individualizado, mas, simplesmente, o aspecto regenerador e harmonizador
da força logoidal, e, como tal, fala-se nele como o Cristo Cósmico, a fim
de distingui-lo da manifestação daquela força que vem através do canal da
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consciência de um Redentor. Essa força foi a que funcionou através de


todos os Salvadores do Mundo, orientais ou ocidentais que fossem, mas
Jesus, o Cristo, sendo o Salvador da civilização ocidental em sua fase de
evolução, é, para nós, "o único Nome, sob o céu, por meio do qual seremos
salvos", isto é, por meio do qual obteremos a suprema iniciação que ora
está disponível para nós, nesta esfera, "Para cada homem seu próprio
Mestre", nem podemos nós "julgar-nos servos de outro homem", mas para as
raças ocidentais, Jesus de Nazaré é O Cristo, porque é o Seu ideal que a
nossa civilização está tentando desenvolver, tão lenta e laboriosamente.
O Próximo Professor do Mundo diz respeito à próxima Raça-Raiz, e nada tem
a ver com a civilização ocidental, que deve desenvolver a Lei do Amor, de
acordo com a vontade divina do Senhor Jesus. Só o povo-semente da nova
raça irá seguir o novo Professor, quando Ele os convocar, e eles não
acharão possível regenerar a civilização europeia pelos métodos que
desejam instalar, mas terão que se segregar em colónias ou comunidades e
viver separadamente a sua própria vida, enquanto a civilização ocidental
cumpre o seu próprio destino e alcança seu zénite. Então, com a
decadência dessa civilização, as almas que ela tiver aperfeiçoado se
retirarão, para reencarnar mais tarde em uma nova Raça-Raiz. Virão,
porém, como indivíduos, porque não é possível transferir a alma grupai de
uma civilização, de um Manu para outro. Porque a alma grupai, da mesma
forma que o corpo grupal, ou uma organização social, é finita e mortal, e
deve morrer antes de ser reencarnada. Só o espírito da humanidade é
imortal e permanece por toda uma evolução; só o espírito, que é universal
e uno, permanece em todas as partes do planeta. As organizações sociais
são tão independentes como os indivíduos, e suas almas grupais, ou devas,
não deixarão que se unam, embora possam formar fraternidades no plano da
consciência de grupo.
O Mestre Jesus é "um Alto Sacerdote da Ordem de Melquisedeque", e teve,
segundo a Tradição Esotérica Ocidental, apenas duas manifestações
anteriores neste plano. Passou para além dos planos da forma, depois da
terceira, última, e mais alta manifestação, que foi a conclusão do Seu
trabalho. Nunca foi da nossa humanidade, e agora é do grau do Fogo
Cósmico na hierarquia, portanto o Sol é Seu símbolo apropriado, e Sua
Igreja mantém as estações do ano solar e as identifica com os fatos da
sua carreira, dando, assim, nascimento à hipótese do Mito Solar.
As histórias dos Evangelhos ocupam-se com dois tipos de fatos: a
narrativa histórica da Encarnação e os atributos da função de Redentor,
que Nosso Senhor teve. A exposição dessa significação dual seria longa
demais para estas páginas, mas o leitor esclarecido será prontamente
capaz de distinguir as duas, e atribuir cada fato da Vida Divina à sua
própria categoria.
O Senhor Jesus não é do mesmo grau hierárquico de outros Mestres com os
quais Ele tem sido, às vezes, associado e confundido. Está no mesmo grau
dos Manus Krishna e Osíris, como um Mestre dos Mestres em Seu próprio
Raio, abaixo de Quem estão os Grandes Mestres, que são Regeneradores mas
não Redentores, porque não morreram de Morte Sacrificial. A esses
pertencem Moisés, que deu a Lei de Israel; Gautama, que deu a Lei à Ásia;
Maomé, que deu a Lei à África; e Paulo, que deu a Lei à Europa. O
trabalho desses últimos é com a mente consciente do homem, mas o trabalho
do Cristo é feito com a consciência da raça.
Abaixo destes estão ainda os Mestres Menores que, na terminologia cristã,
seriam chamados santos, e são esses os que se estão ocupando do ensino e
treinamento da humanidade no tempo presente.
O místico fala na Comunhão dos Santos, e o ocultista fala na Loja dos
Mestres, e ambos se referem a diferentes tipos de uma mesma coisa. A
Comunhão dos Santos é aquele corpo de "homens justos que se fizeram
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perfeitos", e que pelo Caminho da Cruz passaram para além da encarnação.


Tendo amado a Igreja durante sua permanência no tabernáculo da carne,
ainda a amam na vida do espírito. Assim, "com anjos, arcanjos, e toda a
companhia do céu", respondem ao chamado do sino do santuário, e, naquela
Missa do Graal, da qual a alma mística partilha, a Igreja do Céu e da
Terra se reúnem. São eles que constituem a Igreja além da Igreja, ou, na
linguagem da Tradição ocidental, a Igreja do Graal, e é nesse "corpo de
homens justos que se fizeram perfeitos" que repousa a força da Igreja.
Por esse motivo é que a oração dirigida aos santos e a adoção de um santo
patrono têm grande valor sobre o Caminho Místico, pois o seu Santo
Patrono é para o místico o que o seu Mestre é para o ocultista uma lente
através da qual o Poder Cósmico é concentrado, um símbolo pelo qual a
percepção é elevada a conceitos transcendentes, um Irmão Mais Velho que,
tendo chegado pela mesma senda, compreende a necessidade humana daquele
que busca e está confiado à sua guarda, e pela sua sabedoria mais
profunda e maior poder, pode aconselhar e ajudar naquelas pequenas coisas
que parecem tão grandes à alma lutadora.
As grandes forças cósmicas são usadas apenas para os grandes propósitos
cósmicos, mas aquelas almas cósmicas, às quais chamamos Santos e Mestres,
podem transmutar e aplicar essas forças para alívio das pequenas
necessidades humanas daqueles que estão sob Seus cuidados, de forma que
essas almas, por si mesmas, devido à pequenez de sua compreensão e à
limitação de suas ideias, não poderiam fazer isso com igual êxito. É
verdade que não há oração dirigida ao Pai de Todos que tombe por terra
sem dar frutos, mas o domínio de dificuldades temporárias da vida humana
não é função do Grande Irrevelado, tal como a função do Sol não é acender
fogos. Ainda assim, se os raios do Sol forem concentrados através de um
vidro ustório, um fogo pode ser aceso.
O Primeiro Manifestado sustenta todas as coisas, e há de sustentá-las,
quer oremos para Ele ou não. Ao fim, seremos reunidos de volta à Vida
Infinita. Contudo, no presente estado da nossa evolução, Ele está, para
todos os propósitos práticos, fora do nosso alcance (salvo em certas
meditações adiantadas, quando é possível a aproximação Dele por meio de
um símbolo). Somos levados pelas grandes correntes da Sua força, como
animálculos nas marés oceânicas, conduzidos em movimento tão vasto que
nossos sentidos não podem percebê-lo. Ele atuará, quer O cultuemos ou
não, e nenhuma das nossas preces podem desviá-lo do Seu curso.
O Cristo Cósmico é uma força do mundo. Pela aspiração podemos abrir a
nossa consciência para essa força, e nos alinharmos com suas normas, até
que a consciência fique saturada por ela, e a iluminação aconteça. Essa,
porém, não é uma força que alivie as pequenas necessidades humanas,
embora possamos recorrer a ela para qualquer tarefa cósmica em que
estejamos empenhados. Ele é o Guardião da Alma, chamemo-Lo Santo ou
Mestre, que estende a mão nas trevas que o coração em luta necessita,
trazendo-lhe a força do Cristo que, se fosse aplicada â sua alma despida,
queimá-la-ia; ou, resguardando-o daquela glória inefável quando ela se
torna tão brilhante que os olhos recém-abertos são crestados por ela.
Porque o poder do Cristo é tão forte em sua força purificadora que só o
ouro, purificado pela fornalha, pode suportá-la. Tudo quanto é escória em
nossa natureza sobe em chamas, quando exposto aos seus fogos
regeneradores, e é função dos Guardiães das Almas moderar o vento para o
cordeiro tosquiado e a luz violenta para o espírito imperfeito,
conduzindo brandamente aqueles que conceberam o Ideal Divino até o
momento em que serão levados ao entendimento e à realização.
Quando precisamos de poder para propósitos cósmicos, nós nos alinhamos
conscientemente com as forças do Cristo Cósmico por meio de certas
meditações; porém, quando necessitados de conforto, estendemos as mãos da
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fé através das trevas do Véu, e, por trás desse Véu, sentimos que nossas
mãos são tomadas pelas mãos atenciosas do Guardião da Alma.
Silenciosamente, na noite, as mãos podem ser elevadas acima da cabeça, e
o toque respondedor representar-se na imaginação, e então podemos
descobrir que a imaginação transformou-se em realidade, e um súbito poder
tocou a alma, uma Presença invisível foi sentida na escuridão, e o
caminhante sabe que não está sozinho.

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O TREINAMENTO E O TRABALHO DE UM INICIADO

Aqueles que buscam conhecimento no caminho oculto conquistam, finalmente,


o serviço de um Mestre, e a descrição dos estágios pelos quais esse
aprendizado é obtido ajudará a compreensão.
Toda vida manifestada está avançando para a perfeição na grande corrente
da evolução, ampla, lenta, mas certa. Cada unidade organizada da
evolução, ou alma grupal de uma espécie, está à sombra de uma grande
consciência angélica, que atua como individualidade para a mente grupal
em vagaroso desenvolvimento. Quando a individualização tem lugar dentro
da consciência do grupo, cada unidade assim criada toma-se seu próprio
senhor, e aprende, pela amarga experiência, o uso correto de seus
poderes, gerando muito karma nesse processo; e a alma grupal do todo,
metaforicamente falando, atira seu peso para contrabalançar o karma
composto assim gerado, mantendo, dessa forma, o equilíbrio racial. Se o
excesso de peso for além do poder de correção, o anjo do grupo, ou alma
superior, recolhe-se, e a morte do grupo tem lugar como se dá a morte de
qualquer outro corpo do qual a alma é retirada.
Se a consciência individual, assim desenvolvida, sentir o espírito de
meditação que se debruça sobre o todo do qual ela é parte, e lhe
transmite as forças divinas, se ela conceber a ideia de cooperar com a
Vida Divina mais do que experimentar com sua própria vida pessoal, então
ela sai do domínio da alma grupal e vai para a jurisdição da Loja dos
Mestres relativa àquele grupo.
Loja dos Mestres é um outro nome, apenas, para o "corpo de homens justos
que se fizeram perfeitos", aquelas almas que, por supremo esforço,
adiantaram-se em relação aos seus companheiros e atingiram a estatura
completa do desenvolvimento humano antes que o tempo evolucionário o
trouxesse para o resto da humanidade. Muitas almas fizeram isso desde o
começo da nossa raça; algumas, tendo chegado à conclusão, preferiram
esperar o término do manvantara, ou dia da manifestação, em estado de
beatitude. Outras, contudo, tomadas de compaixão, voltam novamente para o
alcance da esfera terrena, a fim de que possam auxiliar os que estão
lutando para avançar no caminho que eles próprios seguiram. São esses os
que, habitualmente, recebem o nome de Mestres. Na verdade, há outras
almas aperfeiçoadas, de graus superiores, que se ocupam em outro
trabalho, mas para essas é mais apropriado o nome de Regentes; a palavra
Senhor é habitualmente empregada para o ser que se aperfeiçoou em
evolução remota. Os Senhores da Chama, da Forma, da Mente, contudo, são
aos poucos afastados para esferas longínquas, conforme seu trabalho se
torna estereotipado pela repetição cíclica no curso de vastas eras, e
suas tarefas são tomadas pelos Regentes, de forma que, em vez de estar
lidando com um Senhor da Forma, podemos descobrir que estamos tratando
com um Regente da Esfera de Saturno. A distinção é importante,
especialmente no ajustamento do karma por meio de cálculos astrológicos,
porque os Regentes são muito mais acessíveis do que os Senhores.
O trabalho de um iniciado e, conseqüentemente, a tarefa a que um
aspirante se deve dedicar, a fim de se preparar para esse trabalho, não
podem ser inteiramente compreendidos em conexão com o processo de
evolução, do qual eles são uma parte vital e integral. O ocultista
acredita que o trabalho do Universo é conduzido através de uma hierarquia
de consciências. Essas consciências têm sido personificadas como deuses,
arcanjos ou devas, pelas diferentes escolas de fé, e, embora essas
personificações tenham sido antropomorfizadas pelos não-iluminados,
conservam sua importância metafísica para o iniciado, e o leitor é

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solicitado a tentar libertar-se das associações que o pensamento não-


instruído permitiu que se acumulassem a respeito dessas entidades. Elas
são tão diferentes em graduação daquelas mais altas formas de consciência
com as quais estamos relacionados quanto essas mais altas formas diferem
das mais baixas, que nossos instrumentos de precisão e ampliação nos
possibilitam perceber. Embora, porém, difiram em tal grau a ponto de mal
serem reconhecíveis como entidades pela nossa percepção míope, não
diferem em espécie daquele tipo de organização e atividade, da qual nossa
inteligência humana forma um dos mais precoces marcos, e, portanto, são
melhor descritas como entidades, ou seres conscientes, do que com
qualquer outra descrição, porque tal identificação com o nosso próprio
tipo de evolução serve para indicar um relacionamento; pois o que somos
hoje eles foram no ontem do tempo cósmico, e o que eles são hoje nós
seremos no cósmico amanhã.
Compreenderemos melhor essa afirmação, e entenderemos que não se trata de
desvairada fantasia da imaginação transcendental, se fizermos lembrar a
nós mesmos os ensinamentos estabelecidos e aceitos na biologia,
concernentes à evolução do homem desde as primitivas formas de vida. A
biologia demonstrou, sem sofismas, que a linha de ascensão do homem, e o
conceito de uma super-humanïdade e de um reinado arcangélico, não passa
de uma continuidade dessa linha para além do ponto onde, no momento, se
encontra a humanidade.
A ciência oculta difere da ciência ortodoxa quando vê o homem ocupando um
estágio intermediário na escada da vida, ao invés de estar no mais alto
degrau, e sobre essa hipótese baseia sua doutrina da iniciação e do
rápido aceleramento da evolução individual, em consequência dela. Quando
nos recordamos que, como pode ser historicamente provado, as Escolas de
Mistérios ensinaram a doutrina da evolução em uma época em que a ciência
ortodoxa ensinava a de uma criação especial e um Universo estático, não
parece impossível que a ciência ortodoxa passe, finalmente, a admitir o
resto da hipótese esotérica, da qual já tem admitido muito.
A Consciência Logoidal é tida como formulando idéias concernentes ao Seu
Universo. Essas idéias são entendidas como ideais espirituais pela grande
Estrela Logoi, ou Raio Chohan, para usar a terminologia oriental. Esses
ideais são considerados petos Grandes Mestres como idéias abstratas, e,
em consequência, incapacitados para manifestarem-se tanto quanto o Plano
da Mente Abstrata. Para além desse plano, começa a vida da forma, e, a
fim de que os ideais sejam revitalizados nos planos da forma, eles têm de
ser "formulados" pela consciência que trabalha em termos de forma. É
nesse ponto que tem início o trabalho do adepto, porque ele, ainda
vivendo sobre o plano da forma, mas capacitado para elevar a consciência
ao plano da mente abstrata, pode colocar-se em relacionamento com os
Mestres e receber Deles a inspiração dos ideais abstratos, que, através
do seu trabalho, serão trazidos ao plano da matéria.
Portanto, é de se compreender que o Adepto atua como intermediário entre
os Mestres e a Humanidade. Ele é, na verdade, um dos elos da cadeia por
meio da qual as Idéias Arquetípicas, concebidas na Consciência Logoidal,
são trazidas à manifestação na matéria.
Contudo, o Adepto não é o último elo com o qual a cadeia da inspiração
evolucionária está conectada ao plano da matéria, porque ele,
necessariamente, vive afastado do mundo dos homens, já que tem de manter
um pé em dois mundos, e não poderá fazer isso se estiver profundamente
imerso na matéria. Abaixo dele vêm os seus discípulos, ou aprendizes,
como são tecnicamente chamados nos Mistérios, e a eles o Adepto passa as
Idéias Arquetípicas, devidamente formuladas, a fim de que elas possam ser
revividas no plano da matéria, e assim levadas à manifestação na
consciência humana. Desde que isso tenha sido feito, e a Ideia
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Arquetípica, injetada na mente grupal da raça, para ser compreendida e


vivida por uma consciência que é parte daquela mente grupal, é apreendida
pela raça e toma-se parte do seu subconsciente, saturando-o aos poucos,
destruindo idéias que lhe sejam antagónicas, e mesclando-se com idéias
afins, modificando, assim, todo o caráter da mente grupal da raça.
Dizemos raça, deliberadamente, porque todo o esquema é racial, sendo
revelado através de mentes grupais, e o fator racial não pode ser
ignorado quando tratamos de trabalho ou iniciação ocultos. Isso não
significa que deve haver, forçosamente, necessidade de antagonismo
racial, mas deve haver sempre diferenças raciais até a ocasião em que a
evolução tenha levado a humanidade para além do plano da forma, e,
enquanto aquelas diferenças existirem, devem ser consideradas no
ocultismo prático.
O discípulo do Adepto, como já foi notado, é conhecido na linguagem dos
Mistérios como um aprendiz, e essa palavra expressa mais verdadeiramente
o seu status e relacionamento com seu Professor do que a denominação mais
comumente usada de discípulo; pois a palavra discípulo pressupõe alguém
cuja atitude diante de seu professor é puramente receptiva, alguém que
está sendo educado apenas para seu próprio benefício por um professor que
não tem outro propósito senão o da educação. A palavra aprendiz implica
um tipo diferente de relacionamento, porque embora o aprendiz seja
realmente ensinado, aprende compartilhando o trabalho de seu Mestre,
adquirindo, assim, "Sugestões exatas da arte e habilidade no manejo
verdadeiro dos instrumentos". Ele desempenha sua parte no trabalho que
está sendo levado a efeito na oficina de seu Mestre. Seu trabalho é
essencial no esquema das operações, e ele não é um simples espectador,
nem realiza certas ações apenas para adquirir destreza manual. A argila
que ele trabalhou, dando-lhe a consistência exata, não é atirada de volta
para a massa, e sim colocada pelo Mestre sobre a roda. Durante os
estágios iniciais do seu treinamento, ele executa as tarefas manuais que
não exigem experiência para seu Mestre. é usado como "um desbastador de
madeira e provedor de água", e com esses serviços ele paga sua taxa de
admissão na oficina e ganha o direito de progredir em sua arte observando
os homens hábeis em seu trabalho. Bem antes do término de seu
aprendizado, terá aprendido seu ofício, mas ainda tem de continuar a
servir seu Mestre por algum tempo, e o valor desse trabalho não
remunerado de novo o ajuda a pagar pelo seu treinamento, até que, por
fim, "ao término do seu tempo", ele próprio é um Mestre em sua arte, e,
como tal, tem liberdade de ação.
A experiência do discípulo aceito pelos Mestres é exatamente igual. Ele
Os serve a fim de que possa aprender, e seu trabalho é também utilizado
na real execução de tarefas em que Eles estão empenhados. Mesmo enquanto
está recebendo a instrução preliminar, tem de servir em Sua Oficina de
vida cotidiana, e é de acordo com a forma pela qual essas humildes
tarefas são realizadas durante o período probatório que a decisão final
de aceitação ou rejeição é tomada. Durante todo o tempo em que o
discípulo está aprendendo, ele trabalha e, enquanto trabalha, aprende. Um
dos testes do verdadeiro iniciador é que ele nunca pede pagamentos, mas
sempre faz o discípulo trabalhar pelo seu treinamento faz com que ele
cumpra seu tempo da maneira tradicional.
Podemos também conceber a evolução da humanidade como um vasto exército,
marchando penosa e lentamente em sua formação, em uma grande coluna. E,
fazendo o reconhecimento, muito à frente do corpo principal, batedores
solitários, em velozes montarias, munidos de armas ligeiras e sem
bagagem, exploram o caminho para os demais. São as guerrilhas espirituais
a que Paulo se refere como aqueles nascidos fora da época devida. De vez
em quando veremos algumas almas velozes passar à frente do grande
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exército da humanidade e seguirem sozinhas para o deserto. Durante certo


tempo, sua caminhada é solitária, mas logo depois ela alcança a linha
avançada dos batedores, e pode dar a senha que prova seu direito de
pertencer àquele corpo, recebendo lugar nas fileiras daquela intrépida
companhia, cavaleiro da fronteira da evolução, sozinho em sua patrulha,
ainda assim não estando fora de contato com os seus camaradas, pois há
marcos de sinalização ao longo do caminho, e, em certas épocas, todos
eles se reúnem em conselho.
Há certas épocas e lugares onde os conselhos se realizam, de acordo com o
grau que está sendo trabalhado. O conselho supremo da Grande Loja Branca
é realizado para além dos planos da forma, portanto não tem um lugar, mas
as Lojas Estrela dos Raios têm cada qual seu point d'appui no plano
físico, seja no Himalaia, em Meca, em Jerusalém, ou nos seus equivalentes
ingleses. Esse lugar sagrado é usado como ponto focal, a fim de permitir
aos que ainda estão no plano da matéria encontrar sua orientação. Os que
estão nos planos situados além da forma têm possibilidade de, se for
preciso, descer até o Astral Superior, e os que podem libertar sua
consciência em relação ao cérebro e subir até ali podem encontrá-los, se
eles forem convocados. Às vezes, a peregrinação ao lugar sagrado é feita
na carne, porém com mais frequência se faz em corpo astral; às vezes, é a
projeção consciente daquele corpo, feita pelo ocultista treinado; às
vezes, o aspirante é para ali levado pelo seu Mestre, e conserva a
lembrança como um sonho. Em todos os casos, porém, ninguém retorna como
foi, pois encontrou a Grande Luz, face a face, e sua glória permanece
sobre seu semblante. Os não-iniciados jamais profanam o lugar santo
nessas ocasiões, pois um poder oculto os mantém afastados. Até o gado é
afastado, e seja aquilo um monte pagão ou um lago cristão, em quietude
absoluta, as grandes vibrações começam a palpitar até que o lugar esteja
sussurrando como um sino; estranho calor sobe do chão, mesmo em meados do
inverno; a luz astral fulgura até que cada objeto esteja aureolado de
luz; incenso, balançado por um turíbulo que não é mortal, pesa no ar; e a
sensação de inumeráveis presenças, fileira por fileira, se faz presente
em todos os lados, realizando o grande ritual astral que liga o espírito
com a matéria. E, em tudo, a retumbante voz das forças da Natureza pode
ser ouvida como um rio em enchente, porque é na maré alta do mundo da
forma que passamos para o mundo da força.
Para o aspirante, a lembrança de uma tal visita brilha como uma estrela
na noite escura da alma. Tendo posto sua mão no arado, ela não se volta
para trás quando a labuta na escuridão começa, mas trabalha, esperando a
aurora, e pode, subitamente, ver-se levado em sonho para encontrar o
Mestre, face a face, e então voltará novamente para o cabo do arado, com
aquela gloriosa lembrança a confortá-lo, de modo que possa dizer com
outro vidente que tinha a dádiva da poesia:

"Sim, embora Tu tivesses de arrancá-lo à sua glória,


Cego e atormentado, enlouquecido e só,
Mesmo sobre a Cruz ele manteria sua história,
Sim, e no Inferno murmuraria: 'Eu soube'."
É o buscador que recorda, no Inferno, o que lhe foi mostrado na Montanha
que atinge a iluminação.

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AS ESCOLAS OCULTAS

O treinamento de um estudante de Ciência Oculta é feito em estágios bem-


marcados, seja qual for o Raio ou tradição que possam estar sendo
trabalhados. Cada estágio é, ou deveria ser, a preparação para o que lhe
fica acima, e um sério dano acontece quando estudantes passam de estágio
a estágio insuficientemente preparados. As condições que aqui são
descritas não devem ser tomadas como se referindo a qualquer ordem ou
fraternidade em especial, e sim como generalizações e um desígnio de
perfeição. Fraternidades têm seus altos e baixos, como acontece com
outras instituições de estudos. No plano mundano não é possível fugir às
limitações da personalidade humana. Um grande ocultista criará uma grande
escola de ocultismo, mas depois da sua morte, o manto cairá sobre ombros
indignos e a glória se extinguira ou se voltará para a corrupção. O
caminho da iniciação fez-se tortuoso no hemisfério ocidental pela
perseguição e pelo materialismo, mas as nuvens parecem estar ficando
menos densas, sob o grande impulso do poder espiritual que todas as almas
sensitivas sentem estar atualmente fluindo pelo mundo. Ordens ocultas e
grupos de estudo estão brotando em todas as direções, e é bom para o
aspirante ter alguma ideia sobre o que uma escola oculta deve ser, a fim
de que ele possa compreender se aquela na qual pretende se matricular
cumpre as exigências do genuíno padrão iniciatório.
Depois que a Reforma libertou os homens para a especulação em assuntos e
cultos religiosos, cada qual, a seu próprio arbítrio, surgiu uma vigorosa
safra de seitas, algumas das quais diferem da ortodoxia em detalhes tão
pequenos que a mínima demonstração de tolerância e boa-vontade poderia
ter evitado um cisma. Outras são tão extravagantes em suas doutrinas e
práticas que se revelam, obviamente, produtos de mentes desordenadas.
Assim se passa com o ocultismo em nossos dias: urn pouco de conhecimento
e alguma experiência do Invisível possibilitarão a um homem se instalar
como professor de ocultismo, e até como iniciador. Esse charlatanismo
esotérico está tão distante do espírito das Grandes Escolas de Mistérios,
como os métodos dos vendedores de remédios patenteados, nas feiras
rurais, estão afastados dos da terapêutica científica.
As Grandes Escolas de Mistérios têm existido desde a aurora da
consciência na raça humana. Não são fabricadas pela imaginação, fraudes
para iludir os supersticiosos, nem existem somente nos Planos Interiores.
Fora da Europa elas têm florescido sem repressão desde tempos imemoriais,
reverenciadas e temidas pelos povos que elas guiaram; às vezes,
aproveitando-se de períodos de desgraça, como as degeneradas escolas de
vodu dos negros, às vezes retendo a nobre tradição, como em certas
escolas da Índia e da China, mas sempre aceitas como uma parte da vida
racial tal como as ordens monásticas são aceitas entre nós .
Na Europa, contudo, a religião do Estado, que deveria ter tido a custódia
dos Mistérios, tornou-se, em vez disso, sua perseguidora. Esse infeliz
estado de coisas veio a existir devido ao expediente político, que
colocou em altas posições homens que não tinham altos graus nos
Mistérios. Esses homens, sendo de natureza humana, foram naturalmente
avessos a se submeter aos seus inferiores no trabalho, que eram seus
superiores em conhecimento, e assim os ensinamentos esotéricos, que
deveriam ter formado a escola secreta da Igreja, foram interditados como
heresias.
Antes, a sistemática perseguição da Reforma esmagou efetïvamente todas as
tentativas de uma Gnose. E, depois da Reforma, o intelecto desorientado
da época, reagindo contra as doutrinas de uma teologia sem luzes,

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desprezou todo o transcendentalismo, considerando-o superstição. Os


estudos do ocultismo foram, por conseguinte, limitados aos muito poucos
que, em qualquer época, são capazes de pensar livremente, ou aos mais
ignorantes, entre os quais uma magia tradicional ainda sobrevivia às
influências civilizadoras da época, tais como eram. Essas últimas
trouxeram descrédito para a ciência do Invisível, o que forçou seus mais
valiosos estudantes a ocultar seu interesse, e assim a Ciência Oculta, na
Europa, levou, durante vários séculos, uma vida de perseguição e revelou
os defeitos que uma existência assim deve invariavelmente provocar.
Os Conceitos Arquetfpicos, contudo, permaneceram nos Planos Interiores, e
todas as vezes que homens, individualmente, fizeram-se capazes de elevar
a consciência até ali, encontraram as grandes Ordens Secretas ainda
existentes no Invisível, embora a perseguição tivesse destruído suas
formas físicas. Era como se o espírito imortal dos Mistérios sobrevivesse
à morte do seu corpo físico o Templo e aqueles que tiveram
possibilidade de elevar sua consciência a um plano superior puderam
comunicar-se com as Ordens mortas.
Durante a segunda metade do século foram feitas inumeráveis tentativas
para induzir a alma dos Mistérios a reencarnar, e essas tentativas
obtiveram diferentes êxitos. A partir de muitos esforços malogrados, a
tradição está sendo reformada, aos poucos. O fogo latente do conhecimento
oculto foi soprado para fazer-se chama, e os deuses novamente vieram
aproximar--se do homem.
Durante as Idades Escuras do ocultismo europeu, qualquer forma de
trabalho de Loja foi quase impossível, porque a reunião de um certo
número de pessoas era difícil de esconder e despertava suspeitas. O
sistema de treinamento do aprendizado foi usado, portanto, por poucos
iniciados europeus que mantiveram viva a fagulha. Tomaram alunos,
individualmente, em seus laboratórios, tal como o mestre artesão fazia em
sua oficina. E esses alunos, depois da morte do Adepto, ou se
dispersavam, habitualmente, a fim de procurar maior instrução, ou tomavam
alunos por sua própria conta, se estivessem suficientemente adiantados. O
recuo causado por esse sistema pode ser observado facilmente. Como todo o
ensinamento sem supervisão, ele inclinou-se para o relaxamento e para a
degenerescência, e é por isso que a Tradição Esotérica Ocidental, no
plano físico, não possui uma grande literatura, como tem a Tradição
Oriental. Não obstante, como não precisamos lembrar a nenhum estudante do
assunto, a parte mais importante de uma Ordem está nos Planos Ocultos, e
essas Ordens Ocultas permaneceram intactas através das épocas, recebendo
os raros iniciados que tiveram a possibilidade de encontrar seu caminho
até elas, por pura intuição e aguardando seu momento, à espera de que os
homens uma vez mais sejam livres para construir o templo que deve abrigar
o sacrário.
Quando um templo tenha sido assim levantado, e o altar ordenado de acordo
com o melhor conhecimento dos artesãos, será necessário acender o Fogo
Sagrado. Isso só pode ser feito trazendo-se uma brasa ardente de um outro
altar, a não ser que o Sumo-sacerdote seja da Ordem de Prometeu, e não há
muitos que o sejam. Ou, para variar a metáfora, a sucessão apostólica
está na essência da iniciação, pela razão de que o professor tem de
induzir na alma de seu discípulo um tipo particular de atividade e, a não
ser que ele próprio esteja funcionando daquela maneira, não terá
possibilidade de fazer isso. Ele tem que fazer a consciência superior, do
discípulo, até então adormecida, dar início ao funcionamento. Isso é
feito por meio de um processo conhecido como indução solidária de
vibração.
Se um piano e uma harpa estiverem colocados um junto do outro, e uma
certa nota for batida no piano, a nota correspondente irá soar na harpa,
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por causa das vibrações do ar, procedentes da corda vibrada do piano, que
se introduzem sobre as cordas da harpa, e uma delas, a que for capaz de
vibrar com aquele ritmo, é posta em movimento. A mesma coisa acontece com
o iniciador e seu discípulo. A atividade do eu superior do iniciador
estimula a do discípulo. Essa é a parte mais vital do treinamento oculto.
A teoria do ocultismo pode ser aprendida nos livros que agora estão à
disposição do grande público, mas é apenas com o ocultista ativo que um
estudante pode receber a inoculação espiritual que irá operar em suas
veias. Muito poucas são as almas que tiveram a possibilidade de conceber
através do Espírito Santo, e o estudo dos livros sobre embriologia não as
levará para muito mais próximo do seu objetivo.
Os Sacerdotes da Ordem de Prometeu são aqueles Portadores da Luz que
instituem os novos graus nos Mistérios, à proporção que o avanço da
evolução torna o homem mais capacitado para receber ensinamento maior.
São eles os primeiros dispensadores de um grau que ainda não tenha sido
trabalhado sobre a Terra. Não se deve pensar, portanto, que quando um
homem apareça com um ensinamento novo, seja, forçosamente, um Sacerdote
da Ordem de Prometeu. A Ordem de Prometeu é o grau superior que mais se
aproxima da Ordem de Melquisedeque, e esses graus não são conferidos aos
simples e ignorantes, como se dá com os graus místicos da Luz Interior,
tal como os Quacres sabem, mas representam as mais altas aquisições de um
iniciado. Devemos recordar que Moisés foi levado, como recém-nascido, ao
palácio do Faraó, e que o Senhor Jesus foi "levado para o Egito" quando
criança. A importância dessas palavras não precisa ser enfatizada para os
estudantes de ocultismo. Cuidado com o ocultista autodidata. Ele não é
confiável, tal como não o é o médico autodidata.
Grande peso é dado à sucessão apostólica, ou derivação de uma genuína
tradição, e não há trabalho oculto, tomado como distinto do
desenvolvimento místico, que seja possível sem isso. Pode ser que a brasa
trazida ao altar, recentemente consagrado, seja, para todos os
observadores externos, apenas cinza morta, mas se ali houver a mínima
fagulha de fogo, ela poderá ser soprada e fazer-se chama, e então, uma
criteriosa quantidade de combustível permitirá que o altar resplandeça
naquele fogo, e as iniciações podem ser levadas a efeito com a sua luz e
calor. Para o fogo do altar duas coisas são necessárias: carvão aceso e
um suprimento de combustível; e, embora a sucessão apostólica seja
trazida de uma tradição genuína, a não ser que haja conhecimento oculto,
a não ser que o templo esteja adequadamente orientado, o fogo não poderá
ser soprado para se tornar chama. E mesmo depois que tenha sido
devidamente aceso e preparado, pode ainda acontecer-lhe apagar-se por
falta de combustível, ou sufocado sob as cinzas. Nem todos os que gritam
"Senhor, Senhor" são convocados por nosso Pai.
Uma escola de ocultismo só pode ser fundada por um iniciado de alguma
grande tradição. Deve ser recordado que Paracelso viajou pelo Oriente
Próximo antes de receber poder oculto. E lembraremos, também, que Madame
Blavatsky adentrou o Tibete antes de ficar habilitada a fundar uma escola
esotérica. O motivo que leva os Mistérios Menores da Europa a usarem a
terminologia do negócio de construção é o fato de que as relações
necessárias para os graus são encontradas em rituais adulterados, que as
associações medievais de construtores realizavam "para dar sorte" quando
lançavam as pedras dos alicerces. Esses rituais datam dos tempos em que
os templos dos Mistérios eram projetados como grandes símbolos e sistemas
de correspondência, e os homens que fizeram o trabalho tinham sido,
portanto, iniciados em certos graus inferiores, a fim de poderem realizar
corretamente suas tarefas. Só trabalhadores iniciados tinham permissão
para construir esses templos simbólicos, tal como só zeladores iniciados
podem cuidar dos templos maçónicos. Assim, um conhecimento elementar dos
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Mistérios bem como um conhecimento elementar de mecânica faziam parte do


treinamento do melhor tipo de construtor.
Quando a construção de templos deu lugar à construção de igrejas, a
tradição sobreviveu por muito tempo. Os construtores persistiam em
levantar suas estruturas exatamente do Leste para o Oeste, aplicando
nefas uma grande quantidade de antigo simbolismo que seus novos
empregadores não reconheciam senão como ornamentos. Isso não quer dizer
que os pedreiros que ali trabalhavam tinham tais desígnios esotéricos,
tal como a eles é atribuído por escritores imaginativos, pois raramente
eram iniciados dos Grandes Mistérios, seguiam apenas os modelos comuns e
careciam de ideias originais. Assim, muitos dos símbolos das fés antigas
foram preservados para nós, em nossos edifícios cristãos, muito depois de
todos os resquícios de conhecimento já não estarem mais ao alcance dos
homens que os trabalharam. Os velhos rituais foram conservados como
supersticiosos dispensadores de sorte, do mesmo modo como uma criança que
rezasse habitualmente: "Não nos deixeis cair do trem na estação." * Mas,
quando homens de conhecimento, em 1717, quiseram fogo vivo para seu altar
recentemente erguido, descobriram que os rituais antigos forneciam
algumas brasas vivas sob suas sufocantes cinzas, e serviram-se delas.

* Há uma semelhança da frase do Pai-nosso, em inglês: "Lead us not into


temptation" com a que está expressa no original, "Lead us not into Thgmes
Station". Assim, tentamos uma adaptação utilizando a frase acima por ter
certa similaridade com "Não nos deixeis cair em tentação" (N.T.).

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ORDENS, FRATERNIDADES, GRUPOS

Há duas Sendas para o Recôndito: o Caminho do Místico, que é o da devoção


e meditação, um caminho solitário e subjetivo, e o caminho do ocultista,
que é o caminho do intelecto, da concentração e da vontade treinada.
Nesse caminho a cooperação dos companheiros de trabalho é solicitada,
antes de mais nada, para a permuta de conhecimento, e, em segundo lugar,
porque a magia ritual tem um papel importante nesse trabalho. Portanto, a
assistência de muitos é necessária na maior parte das grandes operações.
O místico deriva seu conhecimento através da comunhão direta do seu eu
superior com os Poderes Superiores. Para ele a sabedoria do ocultista é
insensatez, pois sua mente não trabalha daquela forma; mas, por outro
lado, para um tipo mais intelectual e mais extrovertido, o método do
místico é impossível, enquanto um longo treinamento não o capacitar para
transcender os planos da forma. Devemos, portanto, reconhecer dois tipos
distintos entre aqueles que buscam o Caminho da Iniciação, e lembrarmo-
nos de que há uma senda para cada um deles.
O ocultista segue por um caminho definido, que tem sido palmilhado por
incontáveis pés desde tempos imemoriais. Tão logo ele tenha alcançado um
determinado estágio do desenvolvimento interior, terá as Escolas de
Mistérios de sua raça abertas para si, e para estas encontrará seu
caminho através de um método que será descrito pormenorizadamente, em
capítulo posterior. A origem dessas Escolas de Mistérios e a fonte de seu
conhecimento foram descritas em capítulo anterior, e nestas páginas
empreenderemos a tarefa de explicar alguma coisa da sua disciplina e
organização em geral, lembrando de novo ao leitor que essas descrições
não devem ser tomadas como referentes a qualquer escola em particular,
mas como generalizações.
A ciência esotérica começa onde a ciência exotérica termina. Esta última
recebe seu conhecimento da observação dos fenômenos, e a primeira o
recebe de seus métodos intuitivos. ê muitíssimo desejável que todo o
conhecimento seja dessa exata natureza, que apenas a observação e o
experimento podem produzir, mas o método ortodoxo científico é um
processo lento, e, entrementes, o homem tem de viver sua vida e enfrentar
seu ambiente. Assim, para compreender a si mesmo e resolver seus
problemas, ele tende a aproveitar-se de todas as faculdades da mente,
inclusive da faculdade de intuição ou mentalização subconsciente, e
também da apreensão direta. Pormenores desses dois métodos de
mentalização mostram-se demasiado longos para entrarem aqui agora, e
fazem, mais apropriadamente, parte do tema da psicologia esotérica.
A ciência exotérica pode ser concebida como erguendo um nobre e
permanente domo de pedra; e a ciência esotérica como sendo o madeirame
que mantém as paredes inacabadas em sua posição, até que finalmente o
núcleo da abóbada fique em seu lugar. A proporção que uma nova camada de
reboco é colocada, a madeira é retirada, pois não é mais necessária. E,
quando nova descoberta se acrescenta ao domínio do conhecimento
científico exato, a ciência esotérica vai recuando para o Invisível,
ainda servindo ao seu propósito de ser uma estrutura temporária que
capacita a mente dos homens a operar, e a vida a ser levada de uma forma
intencional. É o x, a quantidade desconhecida da nossa álgebra mundana,
que propicia os cálculos a serem feitos, mas o problema não pode ser
visto como de todo resolvido até que o próprio x seja reduzido a uma
quantidade numérica e deixe de ser uma incógnita.
O mesmo se dá com a ciência esotérica. Virá finalmente o dia em que a
maré montante da percepção humana, avançando com a evolução, cobrirá toda

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a areia do deserto, e não haverá mais ciência esotérica, porque toda ela
se terá tornado exotérica. Esse dia, porém, não é para agora, nem mesmo o
resplendor do seu alvorecer é visível, mesmo do mais alto pico da
montanha da esperança; portanto, devemos nos contentar, por ora, em
trabalhar com o nosso x, com a nossa quantidade desconhecida, através de
processos mentais não aplicáveis ao laboratório do cientista.
As grandes Ordens esotéricas possuem pormenorizadas cosmogonias,
concernentes aos Mundos Invisíveis, que se aglomeram em torno daquela
pequena manifestação que é percebida pelos cinco sentidos físicos, e tal
como o telescópio ou o microscópio abriram para o homem o conhecimento de
todos os universos devida nova, que eram imperceptíveis aos sentidos
desajustados, certos poderes pouco conhecidos da mente, quando forem
desenvolvidos, hão de revelar plano sobre plano de existências, dos quais
o homem comum sequer suspeita. As escolas esotéricas ensinam o uso desses
poderes, porque eles são, para o ocultista, o que o microscópio é para o
biológico e pelo seu uso ele ganha a possibilidade de se relacionar com
aqueles estados de consciência que se esquivam à mente humana em seu
presente estágio de desenvolvimento.
O estudante, contudo, não está equipado com esses poderes, e volta-se
para o Invisível a fim de fazer experimentos, da melhor maneira que lhe
seja possível, tal como o pesquisador trabalha em ciência natural, mas é
instruído para usar suas faculdades recém-despertas, a fim de relacionar-
se, primeiramente, com uma cosmogonia que ele, teoricamente, já conhece
bem. A diferença entre esses dois métodos é a diferença entre a navegação
de Colombo para a América e a navegação de um transatlântico moderno. O
comandante deste último tem seus mapas e instrumentos de navegação, e
pode dizer, a qualquer momento, onde está exatamente, e chegar ao
ancoradouro de qualquer lugar ao longo do litoral do Atlântico sem ter de
fazer sondagens para isso, ao passo que Colombo dependia inteiramente da
sorte para encontrar seu porto de destino, e foi só o fato de lhe ser
fisicamente impossível ultrapassar a América que o impediu de fazer isso.
Quando nos lembramos de que Colombo estava, de fato, tentando chegar à
índia, tendo acreditado que o conseguira, compreendemos que a posição da
ciência natural pode não ser tão satisfatória como às vezes pensa que é.
Foi, realmente, encontrada muita terra firme, mas seria aquela terra
firme a índia que ele acreditava ser?
ê a posse do mapa e da bússola que distingue o iniciado de uma autêntica
Ordem Oculta do psíquico nato que está tateando seu caminho para o
Invisível através de sistemas primitivos. O mapa é uma cosmogonia e um
Sistema de Correspondências que capacitam o estudante a encontrar seu
caminho acima e abaixo dos planos do Invisível. Com aquele mapa ele
conhece as estradas. Sem ele, deve lutar por campos e matas, da melhor
forma que lhe seja possível.
Um Sistema de Correspondências compõe-se de um grupo de símbolos que a
mente concreta pode captar e do conhecimento das cadeias associadas que
os ligam uns aos outros. Esse conhecimento é absolutamente essencial para
o desenvolvimento oculto e é diferente para cada uma das grandes divisões
da humanidade e da superfície da Terra porque as condições locais variam,
e a seus aspectos astral e mundano o sistema deve ser adaptado, embora em
seus aspectos superiores sejam universal. Por exemplo, muitas operações
ocultas são melhor realizadas em uma certa ocasião, e o tempo é diferente
nas diferentes longitudes. Portanto, a operação que seria realizada a uma
certa hora, em Londres, tem de ser realizada cinco horas depois em Nova
Iorque, porque ela pode não depender da hora solar, mas da hora sideral,
e essa é constante para todo o globo, e a diferença na hora solar entre
uma parte e outra tem de ser levada em conta. Da mesma maneira, em
qualquer processo que tenha relação com correntes magnéticas e marés,
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elas têm de ser calculadas pelo ponto em que a operação deve ocorrer, e
isso não pode ser resolvido ao acaso. Todas essas considerações mostrarão
que o ocultismo prático não é coisa a ser aprendida em livros pelo não-
iniciado. Uma Ordem conhece os métodos de elevar e desenvolver a
consciência melhor adaptada à Terra e à raça a que ele pertence, e, sem
essa orientação, um estudante da Ciência Secreta está em séria
desvantagem.
Para poder servir-se de um mapa, entretanto, é necessário ter
instrumentos de navegação e compreender seu uso; do contrário é possível
saber onde fica a América, mas ignorar de todo a própria localização em
relação a ela. Os instrumentos do ocultista são certas faculdades da
mente pouco conhecidas, treinadas e desenvolvidas por certos processos
definidos. Não é possível dizer muito nestas páginas a respeito do
trabalho dos Mistérios Maiores que é posto em prática pelas Ordens, mas
foi dito o bastante para tornar claro que elas possuem a cosmogonia
secreta e entendem os métodos de treinamento da consciência superior.
Antes que tal treinamento possa ser empreendido, contudo, é necessário
que a consciência inferior e o caráter recebam cuidadosas purificação e
disciplina, de forma que os alicerces sejam profundamente assentados com
a segurança de que não se deslocarão ou cederão quando a grande
superestrutura do conhecimento oculto levantar-se sobre eles, através do
funcionamento da mente superior. A não ser que isso seja feito, é muito
provável que ocorra um desastre. Na verdade, pode mesmo dizer-se que o
desastre ocorrerá, com certeza. Muitas almas, naturalmente, receberam a
iniciação em vidas anteriores, portanto depressa recapitulam e recordam
seu antigo conhecimento quando de novo têm contato com os Mistérios, mas,
mesmo para essas almas, é bom refrescar suas lembranças passadas e
assegurar-se de que as trouxeram para sua consciência quando despertas,
em sua integridade, antes de empreenderem a perigosa tarefa do
desenvolvimento oculto. Para a alma que está vindo para a Senda pela
primeira vez, tal treinamento preliminar é essencial. Uma proporção muito
grande dos desastres que ocorrem na busca do ocultismo prático é devida à
negligência em relação ao treinamento preliminar, de forma que os
alicerces não podem suportar a superestrutura. Uma escola ocultista é uma
sala de ginástica da mente, e se um estudante tentar realizar certos
feitos quando não é treinado para isso ou não tem condição, um
sério.acidente pode ocorrer e ele ficar prejudicado para toda a vida,
enquanto, tendo o treinamento apropriado, pode realizar o mesmo feito com
perfeita segurança. Os exercícios que desenvolvem a percepção superior,
têm de ser graduados tão cuidadosamente quanto aqueles que desenvolvem o
corpo e a ignorância, ou, um sistema falho produz resultados tão maus na
Loja quanto na sala de ginástica. Entre os atletas, existe uma máxima: a
de que homem algum pode treinar a si mesmo, e diz-se exatamente o mesmo
entre os ocultistas, como um bom número de estudantes arrojados
descobriram, por experiência própria. O ocultismo é uma grande aventura,
e não é sem riscos, embora, em certas circunstâncias, esses riscos sejam
os que um homem corajoso pode considerá-los como algo que deva,
justificadamente, ser enfrentado. Nesse ponto, o ocultismo não é
diferente do alpinismo: há, sempre, certo elemento de perigo, e esse
elemento pode assumir, inesperadamente, sérias proporções; coisa que um
homem não pode prever. Porém, dispondo de bons guias, boas cordas, e uma
cabeça firme, não há motivo para que um homem não se habitue às
altitudes, fazendo tentativas em subidas mais fáceis, e tomando-se,
finalmente, capaz de conquistar os picos clássicos do alpinismo. Mas o
homem que saia diretamente de um escritório em Londres, e sem guias, sem
mapas, e sem cordas, levando nada mais do que um Baedeker * ultrapassado,

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sai com a intenção de escalar o Matterhorn,* * não irá além da aldeia


mais próxima ou chegará a um fim prematuro.
O treinamento preliminar que prepara um homem para as altitudes da
ciência oculta é ou deve ser dado naquela seção dos Mistérios conhecida
como Fraternidade. é função de uma Fraternidade treinar a personalidade
do discípulo, e, assim agindo, eliminar os que não estão capacitados para
as alturas na presente encarnação. Ninguém deve envergonhar-se disso, de
ter chegado a uma Fraternidade e não ter possibilidade de ir mais
adiante. Todos nós temos de passar por inúmeras reencarnações trabalhando
nos Mistérios Menores, antes de estarmos preparados para os Mistérios
Maiores, e embora alguém consiga colocar o pé no primeiro degrau da
escada que o caminho abre para ele, não deve pensar que é possível subir
até o topo dessa escada numa só encarnação. Os que extraordinariamente
fazem progressos rápidos estão recapitulando o que fizeram em vidas
passadas, e os que fazem progressos lentos estão trabalhando nos
Mistérios pela primeira vez. Não há nada para sentir-se envergonhado
nesse progresso lento, se a pessoa está fazendo honestamente o melhor que
pode; e o tempo não está sendo desperdiçado, sendo essencial para o
treinamento. Mas é preciso ser muito cauteloso na tentativa de caminhar
num ritmo que só é possível numa recapitulação, ou o desastre advirá.
Numa Fraternidade, o treinamento do caráter é especificamente enfatizado,
e as grandes lições de fraternidade e serviço altruísta têm de ser
aprendidas. A mente consciente também tem de ser preparada para
amalgamar-se com a superconsciência, e para isso tem de ser provida da
teoria geral da ciência oculta. Nos Mistérios Menores, portanto, o
aspirante treina o seu caráter como o atleta treina o seu corpo, a fim de
que ele possa fortalecer-se para enfrentar a prova das alturas para as
quais os Mistérios Maiores o capacitarão a subir. Também precisa
guarnecer sua mente de forma que ela possa compreender integralmente o
ensinamento que lhe será ministrado quando ele entrar para os Mistérios
Maiores.
Muito do treinamento recebido nos Mistérios Menores deixou, agora, de ser
secreto e está disponível em muitas publicações modernas; apesar disso,
seus conceitos têm de ser apreendidos com segurança antes que o candidato
esteja preparado para os Mistérios Maiores, onde seu significado
verdadeiro será revelado. é, contudo, no treinamento do caráter que
reside, principalmente, o valor dos Mistérios Menores, como também no
fato de que um membro de uma Fraternidade está sob a influência de um ou
outro membro das grandes Ordens. Porque uma Fraternidade, para ser capaz
de dar um treinamento válido, deve ser o complemento de uma das grandes
tradições de iniciação, e, a não ser que um iniciado nos Mistérios
Maiores viva no Oriente, suas cerimónias não terão validade.
Chegamos, finalmente, ao exame do funcionamento do grupo, ou sociedade,
no estudo da Ciência Sagrada. Tais grupos são inumeráveis atualmente, e
podem representar a porta entreaberta, ou ser um logro e uma decepção, ou
mesmo algo pior. Os métodos para se distinguir entre os que merecem
respeito e os que não o merecem são dados em pormenor em um capítulo
posterior.
Um grupo, ou sociedade, nada mais é dó que um círculo de estudo, a não
ser que seu chefe seja um iniciado nos Mistérios, pois um grupo deve ser
o complemento de uma Fraternidade tal como uma Fraternidade é o
complemento de uma Ordem. Iniciados nos Mistérios, que chegaram a um
certo grau, têm permissão para trabalhar abertamente no mundo, ensinando
os elementos da ciência secreta aos que desejarem ouvir, porém nada mais
que os elementos podem ser dados assim livremente, pelas razões que já
foram consideradas. Um desses conferencistas ou escritores pouco faz além
de atuar como um orientador. Eles dizem aos estudantes: "Se quiserem
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seguir a linha de preparação que eu indico, poderão ser qualificados para


o treinamento secreto." Isso, também, é tudo o que as sociedades de
propaganda podem fazer em suas palestras públicas; mas não será preciso
dizer que se trata de uma tarefa absolutamente necessária que deve ser
feita por alguém, e os iniciados nos Mistérios são solicitados a empregar
seu tempo nesse trabalho.
Se o dirigente de um grupo, ou o presidente de uma sociedade for,
realmente, um iniciado nos Mistérios, ele encaminhará seus alunos para
uma escola secreta, onde receberão mais treinamento, e assim poderão
iniciar seus passos no caminho. Mas, se ele próprio não for um iniciado
regular, em contato com os grandes sistemas, nada terá a oferecer aos
seus alunos, além dos recursos de seu próprio intelecto, e essa é uma
fonte da qual os mais adiantados entre eles depressa beberão até secá-la.
Os grupos e as sociedades deveriam ser vistos como postos avançados dos
Mistérios, e o objetivo de cada verdadeiro professor é ter os discípulos
em suas mãos o mais rápido possível, e enviá-los para a Ordem onde ele
próprio recebeu seu treinamento. Quanto mais depressa conseguir colocá-
los no estado de desenvolvimento exigido para a admissão aos Mistérios,
maior é a sua competência como professor. O homem que é iniciado numa das
grandes Escolas de Mistérios jamais teme deixar que seus alunos o
ultrapassem, porque sabe que será muito proveitoso para seus superiores o
fato de estar constantemente enviando aspirantes que "provaram ser bons"
para ele. Portanto, ele jamais tenta reter um discípulo promissor, já que
não tem necessidade de temer que esse discípulo, se lhe permitirem entrar
nos Mistérios, vá explorar secretamente o terreno que lhe foi desnudado;
ele, na verdade, trará de volta um relato de extraordinárias riquezas ali
existentes, confirmando, assim, o que foi dito pelo seu professor,
avivando ainda mais o entusiasmo de seus condiscípulos.
Nunca confiem num ocultista que lhes diga que é o chefe de uma tradição,
porque, se o fosse, antes de mais nada, não falaria disso a um não-
iniciado, e, em segundo lugar, estaria, com toda a possibilidade, vivendo
em grande isolamento, sendo inacessível a todos, menos aos seus
subordinados imediatos. Se um homem é um grande pintor, não precisa nos
informar disso. Nós o conheceremos pelas suas pinturas expostas nas
galerias do país, e, ademais, veremos que ele evita relações pessoais
fortuitas, por causa das invasões em seu tempo, às quais sua fama o torna
sujeito. Quanto mais importante é uma pessoa, mais difícil é aproximarmo-
nos dela, não por espírito de orgulho e exclusivismo, mas por serem
tantas as pessoas que a querem ver, sendo assim preciso que haja essa
discriminação para recebê-las.
O mesmo se dá com o ocultista os grandes não são facilmente encontrados,
e os acessíveis encontram-se entre os de menor importância, ou são Guias
para levar o buscador às Escolas de Mistérios onde eles próprios
receberam seu treinamento. Devemos saber que o ocultista autêntico não
cria segredos em sua própria cabeça. Recebe-os como uma grande e sagrada
responsabilidade, que lhe foi dada por homens que, por sua vez, a
receberam de seus predecessores. Assim, a tocha do conhecimento oculto é
passada, de mão em mão, pelas gerações.
Essa, portanto, é a organização das escolas ocultas: primeiro, os grupos
que reúnem iniciados nos Mistérios Menores; depois, a Fraternidade, que é
um apêndice dos Mistérios Maiores; e, finalmente, os Mistérios Maiores, a
própria Ordem, onde tem início o verdadeiro trabalho oculto. É por essa
escada que o aspirante sobe em direção à luz, e seu progresso depende
apenas dele próprio, porque, mesmo a Ordem, nesta Terra, não passa de um
portão que leva ao Invisível. Sua iniciação só lhe pode ser dada pelo
Grande Iniciador, e essa iniciação não é dada pessoalmente ou por alguém.
Grupos, Ordens e Fraternidades trabalham com símbolos, e neles o
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aspirante vê como através de um vidro escurecido. Mas é função deles


ajudá-lo a desenvolver a superconsciência, e, quando tiver obtido isso,
ele enxergará claramente e saberá até mesmo como é compreendido.
Devemos enfatizar novamente que o estudo do ocultismo é apenas um meio
para chegar a um fim, e que esse fim é o Caminho da União Divina. Há
alguns que podem fazer essa jornada diretamente, mas outros têm de agir
por estágios através dos planos da forma, dos quais o plano mental não é
o menos importante; e, para chegar a eles, a mente tem de ser treinada,
elevada e ensinada a funcionar sob novas formas que chegarão mais próximo
da realidade espiritual. Não se esqueçam, porém, de que todas as formas
obscurecem a luz, e só as conhecemos pelas sombras que lançam sobre o
plano inferior. O aspirante deve usar os símbolos do ocultismo para
treinar a consciência, e não para guarnecê-la, e deve ter por objetivo
descartar-se deles o mais cedo que lhe seja possível, no momento em que a
consciência pura alvorecer sobre ele.

* Guia de turismo (/V. T.).


** Um dos principais picos dos Montes Apeninos, também conhecido como
Cervino, com 4.478 m de altura. Sua conquista marcou uma etapa importante
na história do alpinismo.

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O USO E O PODER DO RITUAL

Só a Luz Interior pode levar um homem à Grande Luz. Isso, porém, é a


suprema realização, e para correlacionar tal experiência à consciência
normal, a fim de que ela não venha a passar como o fulgor de um
relâmpago, é necessário que a consciência seja preparada para a sua
recepção. Quando recordamos que cada objeto que está no plano da forma
física tem dentro de si a substância de cada um dos outros seis planos de
manifestação, e que cada aspecto da substância é modelado em uma forma,
de acordo com as leis e tipos do seu próprio plano, veremos que cada
objeto material tem analogias em cada plano do universo manifestado. é
pelo uso dessas analogias que os sistemas de simbolismo são construídos.
Se aqueles que têm conhecimento da Luz Divina em qualquer de seus
aspectos desejam dar assistência a um neófito, para que ele obtenha uma
compreensão consciente da natureza daquela Luz, terão de fornecer-lhe uma
cadeia de ideias associadas, uma verdadeira escada de Jacó, levando os
planos diretamente para cima, com uma exata correlação em cada um deles.
Nem todos os objetos que ele pode escolher a esmo, de acordo com uma
semelhança superficial com a coisa que pretende simbolizar, podem fazer
isso, e só aqueles que, conscientemente, sobem de plano a plano são
competentes para preparar um sistema de simbologia, e, dentre esses, os
que podem passar através dos sete planos são muito raros. Portanto, os
iniciadores de menor capacidade mental contentam-se em confiar no
simbolismo dos Manus de sua raça, mesmo que eles próprios não possam
interpretar seus aspectos mais altos, porque sabem que seus discípulos,
quando alcançam o plano no qual têm direito a receber qualquer grau de
iniciação, saberão, sendo-lhes mostrado o símbolo cósmico, fazer por si
mesmos a interpretação. Portanto, é de grande importância ter acesso aos
antigos rituais que os Grandes do passado, Manu, Salvador e Mestre,
instituíram, trabalhando cada qual em Seu grau.
Cada objeto em uma Loja deve ser uma representação simbólica dos
diferentes aspectos da força, funcionando sobre o plano para o qual
pretende-se elevar a consciência do candidato. Nada deve ser omitido, e
nada estranho deve ser incluído. A criação de uma imagem, de um símbolo
na consciência forma um ponto de contato com a força que ele pretende
representar. Forma, cor, movimento, som e incenso impressionam os meios
de acesso dos sentidos físicos, cada um dos quais é um símile dos
sentidos sutis, e assim a imagem simbólica é construída e, desde que as
condições sejam correias, será traduzida como experiência pelo corpo
sutil sobre o qual está destinada a agir.
Tem sido dito, bem, e verdadeiramente, que na igreja exotérica, a
cerimônia é realizada por uma pessoa, em benefício da congregação. Em uma
Loja, porém, a cerimônia é realizada pela congregação em benefício de uma
pessoa. O candidato é o principal ator num espetáculo de mistério, no
qual ele passa, em ação simbólica, por certas experiências da alma em sua
transição das trevas para a luz. Espera-se que ele faça voltar à memória
experiências pelas quais a alma passou em ultraconsciência e, a não ser
que o iniciador tenha essa base de realização subconsciente com a qual
possa trabalhar, a iniciação é, para o candidato, uma cerimônia sem
significação. Cada grau de iniciação marca a conclusão, não o início, de
um estágio na Senda. Deve ficar claramente entendido que a iniciação
ritual nos Mistérios Menores nada outorga, apenas torna exequível aquilo
que foi obtido em ultraconsciência . A verdadeira iniciação é uma
experiência espiritual. Passar através da representação simbólica da

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morte e ressurreição pode nada significar para o candidato no qual o


desejo não morreu e a percepção espiritual ainda não surgiu.
Nos antigos Mistérios, está registrado que o candidato à iniciação nas
diferentes Fraternidades era levado, habitualmente, a representar a
história da vida do Hierofante original, o Homem Divino, cuja história
formou a base do simbolismo das cerimónias. Ele tinha o papel principal
numa representação de mistério, na qual as outras partes eram
representadas pelos membros da Loja. O Homem Divino era o arquétipo ou
ideal que devia ser mantido conscientemente pelo neófito, e cada membro
da Loja representava uma força que se movimentava sobre o Homem Divino no
curso da sua evolução. Um membro que compreendesse corretamente a sua
função devia apoiar-se na força que devia representar através de seu
trabalho, até que a sua personalidade se tornasse tão saturada de tal
força que ele irradiaria sua influência sobre o candidato que estava
ajudando a iniciar. A ação conjunta de todos os membros construía uma
mente grupal capaz de transmitir e focalizar potências de tipo muito mais
maciço, ou cósmico, do que a que poderia ser transmitida pelo canal de
uma única consciência.
Cor e som desempenham importantes papéis na operação de transmudar as
forças de um plano para seu correspondente em um plano inferior e mais
denso. Sua influência baseia-se nos princípios da lei da Razão de
Vibração. Isso pode ser explicado pela analogia. Sabe-se perfeitamente
que muitas pessoas associam cores com certas tonalidades musicais. É
também um fato provado que se a areia for espalhada sobre um disco e se
um arco de violino for passado transversalmente pela sua borda, levando-o
a vibrar, a areia toma padrões regulares, que consistem em formas
geométricas. O som é uma vibração do ar, do qual se pode verificar o
número de vibrações por segundo de determinada nota. A luz é uma vibração
do éter, cujo número de vibrações por segundo também pode ser verificado.
Ver-se-á, então, que existe um relacionamento matemático entre a vibração
do ar de um som e a vibração do éter de uma cor que o som evoca na
consciência de certas pessoas de tipo mais sensitivo. Esta última será um
múltiplo da primeira. Nos planos mais sutis, há muitos e diferentes tipos
de força, cada qual com seu próprio ritmo de vibração. Se a média desse
ritmo puder ser descoberta, se sua raiz e seus fatores primos forem
determinados, se os sons forem produzidos com a média da vibração dos
vários fatores, sendo expressos em sequência, eles farão lembrar a
vibração complementar no corpo sutil, que corresponde ao plano da
potência que ela pretende evocar, tal como uma entonação musical faz com
que a cor, com a qual ela mantém uma relação, surja na consciência. Essa
é a base lógica do uso dos Nomes Sagrados e Palavras de Poder.
O mesmo se dá com as formas geométricas: certas influências compostas têm
suas correspondentes nas linhas de intersecção, de forma que dão
nascimento às figuras regulares dos padrões de areia; sobre um princípio
análogo são construídos os Símbolos Sagrados que representam linhas de
força no Invisível.
Todas essas influências são empregadas para construir uma grande forma-
pensamento na mente-grupal da Loja, e nessa forma-pensamento serão
injetadas as potencial idades evocadas pelos Nomes de Poder usados no
trabalho iniciatório, e essas influências são focalizadas sobre o
candidato enquanto ele se encontra em estado de exaltada consciência.
Esse é o fundamento lógico da iniciação.
O candidato, enquanto está desempenhando o ritual com o seu corpo físico,
deve lembrar-se de que é apenas um símbolo do Homem Divino que ele está
representando, e deve, conscientemente, cumprir à risca as ordens da alma
que estão sendo promulgadas nos planos sutis.

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JURAMENTOS E OBRIGAÇÕES

Os que estão de fora questionam, com frequência, a sensatez e o direito


do ocultista de guardar seu conhecimento, pela imposição de juramentos de
silêncio. Estamos tão habituados a ver os cientistas oferecerem
livremente suas descobertas benéficas a toda a humanidade que sentimos
essa humanidade injustiçada e espoliada, se qualquer conhecimento se
mantiver secreto por não serem suas descobertas imediatamente postas à
disposição de todos os que desejem compartilhar delas.
O iniciado responde a essa acusação dizendo que é o guardião desse
conhecimento no interesse da humanidade, e, da mesma forma como um tutor
não consentiria que um menor desbaratasse a sua fortuna, em imprudentes
extravagâncias e loucas especulações, antes de ter idade para compreender
a natureza das suas responsabilidades, os Irmãos Mais Velhos não
permitirão que a humanidade sofra castigos por intromissão com grandes
poderes desconhecidos enquanto ela não tiver alcançado um estágio de
desenvolvimento que a torne suficientemente sensata, disciplinada e
purificada para que possam confiar nela.
O conhecimento é guardado em segredo a fim de que a humanidade possa ser
protegida do seu mau uso em mãos inescrupulosas. Quem quer que compreenda
a natureza da Ciência Secreta e os poderes que ela confere, verá a
necessidade de tal precaução. A mente possui certos poderes pouco
conhecidos, mas tão vigorosos e tão sagazes que, usados para o crime,
poderiam subverter o sistema social de uma nação. Os tribunais reconhecem
a influência indevida que uma pessoa pode ter sobre outra, mas têm pouca
percepção de um tipo de influência que a mente treinada pode exercer
sobre uma outra que não o seja. O verdadeiro iniciado usa seu poder a fim
de desenvolver e treinar as faculdades superiores de seu discípulo, mas
os seguidores do Caminho da Esquerda usam-no para seus próprios fins, sem
pensar no interesse ou no bem-estar daqueles sobre os quais pode obter
influência. Portanto, é do interesse da humanidade que o conhecimento
transmissor de tais poderes seja retido em mãos confiáveis, da mesma
forma como é necessário que o poder para conseguir drogas poderosas e
perigosas deva ser salvaguardado, a fim de que possa ser procurado apenas
para propósitos legítimos, e por pessoas honradas.
O iniciado do Caminho da Direita emprega todos os esforços para
assegurar-se de que a Ciência Secreta seja ensinada a discípulos dignos
disso, e somente a eles. Por esse motivo, prende a um juramento de
silêncio cada aluno que recebe, para que o neófito não comunique o
conhecimento dado, antes de estar em condições de avaliar a sua
importância. Certo arbítrio é permitido aos iniciados dos graus
superiores eles podem se prender ao juramento ou não. A maioria dos
sistemas de treinamento oculto, porém, é guardada por compromissos muito
severos, e mesmo o Adepto está preso ao juramento de só poder transmiti-
los nas condições em que ele próprio os recebeu. Assim, vemos alguns dos
velhos sistemas guardando, com terríveis juramentos, informações que de
há muito vêm sendo impressas e publicadas. Isso é motivo de permanente
zombaria, em relação a um dos grandes sistemas ocidentais, o dizer-se que
seus iniciados atrairiam os poderes do Inferno, se divulgassem o alfabeto
hebraico. Entretanto, embora haja pontos sobre os quais as escolas
ocultas poderiam, com proveito, reconsiderar sua posição, na mente de
quem quer que esteja familiarizado com a natureza do trabalho empreendido
em uma escola de ocultismo prático, não há a menor dúvida de que o
juramento de silêncio é necessário.

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Nenhum iniciado do Caminho da Direita recusaria o conhecimento a alguém


que fosse digno de recebê-lo. Ele deseja, ao contrário, levar consigo sua
colheita, quando for chamado a entrar na Grande Loja Branca. Procura,
sinceramente, alunos aos quais possa treinar para ajudá-lo em seu
trabalho, porque, sem essa assistência, muitas tarefas tornam-se
impossíveis para ele. Por outro lado, contudo, não ousa, para sua própria
proteção, se não por melhor motivo, aceitar como aluno alguém que pareça
capaz de servir-se de tal conhecimento para trair a sua confiança. Por
esse motivo é que submete seus alunos a testes, e só os admite
gradualmente ao conhecimento que possui, de forma que possam eles, sob o
rigor do treinamento oculto, revelar falhas de caráter insuspeitadas, e
possam ser rejeitados antes de terem ido longe o bastante para se
tornarem perigosos. O crítico dos Adeptos formaria uma opinião mais
segura da atitude deles se não os olhasse como guardiães de um tesouro,
distribuindo-o de má-vontade e com parcimônia aos candidatos cujos
direitos foi impossível ignorar ou desafiar, e sim como treinadores de
cavalos de corrida, pacientemente pondo à prova animal após animal, na
esperança de que um deles possa finalmente se encontrar em condições de
vencer o Grande Prémio Nacional. O Adepto que aceita um discípulo sem
condições de aprender, faz-se culpado de crueldade, tanto quanto o
cavaleiro que atira um cavalo para um obstáculo que ele não pode
ultrapassar.
Mas, embora aquele que busca a iniciação possa estar preparado para
aceitar o juramento de sigilo como uma das condições do seu treinamento,
no Ocidente pensa-se que não se lhe deve pedir um juramento de
obediência. No Oriente, entretanto, esse não é o caso, e muitas, se não a
maioria das escolas orientais e escolas provenientes do Oriente pedem
aquele juramento como parte da sua disciplina. Elas são, sem dúvida, as
melhores julgadoras das necessidades das almas que estão sob seus
cuidados, mas esse sistema não se adapta ao temperamento ocidental,
treinado por gerações em liberdade, e nunca foi parte da Tradicão
Ocidental, mesmo numa época em que as nações às quais ela servia ainda
mantinham a escravidão e a autocracia. é bem verdade que, para a
iniciação, o aluno deve oferecer dedicação sem reservas a seu Mestre, mas
não deve permitir que ninguém interprete para ele os termos dessa
dedicação. Seu próprio Eu Superior deve ser o único juiz. O verdadeiro
iniciador irá ajudá-lo a encontrar seu Mestre, mas nem por um só momento
deverá colocar-se entre esse Mestre e o aluno, e se tal tentativa for
feita, o aluno é aconselhado a repeli-la peremptoriamente. Na verdade, o
ocultista de um grau superior pode trazer-lhe uma mensagem ou instrução
de seu Mestre, mas ele nunca deve vê-las como autoritárias, a não ser que
"levem seu coração a arder dentro de si", a não ser que haja uma resposta
da intuição que as torne válidas para ele.
Suponhamos, por exemplo, que um Adepto diga a um neófito que o Mestre deu
tal e tal instrução para ele, e o neófito responda: "Essa instrução não
me parece correta." Quem é o melhor juiz? Incontestavelmente é o neófito,
porque é melhor para o seu desenvolvimento que erre como homem do que ser
empurrado para a frente como escravo. Aprenderá mais de um engano honesto
do que de uma confiança não-inteligente no julgamento de outros.
Precipitação e pretensiosa autoconfiança receberão, sem dúvida, a sua
punição, mas o homem que tem a coragem das suas convicções obterá,
provavelmente, muito mais da iniciação do que aquele que se contenta em
deixar algum outro pensar por ele. Conselho é uma coisa, ordem é outra. O
conselho é dado a fim de que possa esclarecer o entendimento, e só tem de
ser seguido depois de madura consideração. Um homem da raça ocidental
geralmente responde que é incompatível com o seu caráter receber, em
questões de consciência, ordens dadas por um seu semelhante falível. Será
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bem audacioso o homem que assuma a responsabilidade de guiar outra alma,


de olhos vendados, entre o Céu e o Inferno.
O verdadeiro treinador de almas sabe que a exigência de tal juramento não
serve a propósito algum, porque, a não ser que ele esteja preparado para
levar seus alunos, corporeamente, para o Reino do Céu, deve ensinar-lhes
a caminhar com seus próprios pés, e eles jamais poderão fazer isso
enquanto forem mantidos entre as talas de um juramento de obediência. E,
realmente, se o treinador os levasse, é muito de se duvidar que o Céu os
recebesse, porque a iniciação requer grandes qualidades de caráter e,
estas, não se pode aprender, a não ser em liberdade. Os Mistérios sempre
pedem a um homem que ele seja tão livre quanto de boa reputação, e isso
não é um grupo de simples palavras conservadas dos velhos tempos, porque,
se um homem tiver uma natureza tal que passe prontamente para o domínio
de um outro homem sem instintivamente se ressentir do processo,
provavelmente se deixará dominar pelos seres que não são seus
semelhantes, e tombará vítima da obsessão.
O que se pede ao neófito não é cega obediência, mas inteligente
compreensão dos princípios. Seu professor pede-lhe que alcance um tal
grau de autodisciplina que, quando um princípio lhe for explicado, ele
imediatamente tenha possibilidade de pô-lo em prática, sem que o zurro do
Irmão Asno se torne indevidamente sonoro. Por exemplo, se o Adepto tem de
instruir o neófito para ficar de vigília até o alvorecer, espera que ele
seja capaz de manter-se acordado, e não vai ficar toda a noite vigiando,
para cutucá-lo cada vez que ele mostre sinais de cochilo. Como é possível
passar por qualquer teste, se o aluno está habituado a obedecer
instruções ao invés de pensar por si próprio? Os testes do ocultismo são
baseados, em parte, na aplicação inteligente dos princípios às
circunstâncias e, em parte, no caráter e na vitalidade; e uma capacidade
de obediência cega não levará o candidato a passar por esses testes.
O pedido de um juramento de obediência não soa bem, porque se a
obediência for necessária para propósitos que obteriam a aprovação do
discípulo, porque ele, como homem livre, não iria oferecer a sua
lealdade? E se eles forem de tal natureza que não mereçam a sua
aprovação, é correto que o discípulo seja coagido contra a sua
consciência? Se a luz que existe nele é tão fraca que não lhe dá
possibilidade para compreender os princípios em questão, esse candidato
não pode ser colocado em posição de ter de tratar com problemas que estão
além de seus poderes. Alguém faria uma criança de Jardim da Infância
jurar lealdade a Euclides e obediência aos seus princípios? Quando essa
criança compreender as proposições de Euclides, verá que elas são
evidentes por si mesmas. O mesmo se dá com os princípios ocultos: eles
são leis naturais, não decretos arbitrários, e argumentar com eles é o
mesmo que chicotear uma muIa morta. Os futuros professores da Ciência
Oculta compreenderão que sua posição é tão inexpugnável como a de um
astrónomo, e que eles podem, com segurança, deixar um discípulo
recalcitrante ser tratado pelas leis que ele desafia, e assim haveria
muito menos rumores sobre cisma e rebelião nas escolas de ocultismo.
Nesses assuntos, homem algum tem necessidade de tomar a lei em suas
próprias mãos, seja ele discípulo ou iniciador. Suponhamos que o
discípulo de um astrônomo ameaçasse saltar para fora da Terra; seu mestre
iria trancá-lo, para salvar sua vida? Suponhamos que ele ameaçasse
maltratar a Lua, o astrônomo faria com que jurasse solenemente que
evitaria isso? Os Mestres podem cuidar de Si Mesmos, e se persistirmos em
colocar obstáculos às revoluções cósmicas, nós é que teremos o pulso
quebrado e nenhum agradecimento pelos nossos esforços.
Se um professor baseia seus ensinamentos nos princípios espirituais,
pode, com segurança, entregar seus discípulos a esses princípios, seja
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para recompensas ou para punições. O homem que se firma em tais


princípios está em posição inexpugnável e nada pode deslocá-lo dali.
Mesmo que seja um neófito tateando na escuridão, o princípio espiritual é
o fio que o levará à saída do labirinto: se deixar de segurá-lo estará
perdido, e se o mantiver poderá ser seu próprio iniciador. Um dos testes
dos Mistérios tenta o candidato para uma ação fora dos princípios em nome
dos Mestres, e, se ele tiver tão pouca compreensão de sua natureza a
ponto de ceder, será rejeitado.
"Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e
com toda a tua força" e "Só a Ele servirás": a função do professor, do
iniciador, da Fraternidade, ou da Ordem, é levar-te a Deus, e não a de
tomar o lugar de Deus e exigir tua lealdade. "Sigam-me apenas até onde eu
seguir os Mestres" disse H. P. Blavatsky, falando como verdadeira
iniciadora. Todos os ocultistas brancos te dizem que nunca deves
renunciar à tua vontade. Dirão, também, que nunca deves renunciar ao teu
julgamento. O professor que te pede que o sigas cegamente não está te
treinando mais do que um matemático que usa o mesmo método. Se uma
sugestão não toca a tua razão e consciência, rejeita-a. Os que sobem
muito ficam sujeitos a grandes tentações, e nunca sabemos quando a
vertigem das alturas pode tomar conta mesmo do maior entre eles. Há
assuntos nos quais os espectadores muitas vezes vêem a maior parte do
jogo, e o caminhante, embora um tolo, pode, às vezes, formar um
julgamento mais claro do que o daqueles cujos olhos estão ofuscados por
excesso de luz.
As questões de princípios nada têm a ver com o intelecto. Referem-se ao
caráter e, por pouco que conheças de ocultismo, és competente para
decidir uma questão de princípio pela orientação da tua consciência, que,
para ti, é a voz do Mestre.

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OS CAMINHOS DIREITO E ESQUERDO

A distinção entre o Ocultismo Branco e o Ocultismo Negro não é tão fácil


de traçar como os ingênuos e os inexperientes gostariam de acreditar. A
fim de compreendê-la, é necessário definir o conceito esotérico do mal.
Se compararmos os ensinamentos do Velho e do Novo Testamentos, veremos
que, sob a Velha Dispensação a vida era regulada por inumeráveis e
minuciosos regulamentos, que diziam a um homem exatamente o que fazer, em
dada circunstância. Esses regulamentos, sendo pormenorizados e precisos,
eram inflexíveis e, com as mudanças havidas nas condições sociais,
tornaram-se inaplicáveis. Não davam instruções sobre assuntos que
necessitavam muitíssimo de regulamentação, e leis obsoletas permaneciam
como cansativas e inúteis restrições. Para interpretação e aplicação da
Lei Mosaica, foi reunida uma multidão de escribas e comentaristas, os
quais, usando de muito engenho e ampliando muito a significação das
palavras, conseguiram mantê-las dentro de um sistema mais ou menos
viável. Quando o Senhor Jesus chegou, porém, disse: "Observai um novo
mandamento que eu vos dou", e em umas duas dúzias de palavras deu os
princípios subjacentes da Lei e dos Profetas. Disse: "Amarás ao Senhor
teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma, e com toda a tua
mente, e com toda a tua força... e ao teu próximo como a ti mesmo." Essa
é uma declaração compreensível que o sofisma não pode eludir e que serve
de guia em todas as circunstâncias imagináveis. É uma fita métrica, que,
seja qual for o plano em que estivermos agindo, sempre nos dará a medida
exata. Podemos aplicá-la ao nosso trato tanto com os elementais como com
os homens, tanto com as mais altas inteligências como com o mais baixo
dos espíritos do mal. é uma regra de conduta que jamais nos abandona.
Na estimativa de condições externas, entretanto, precisamos de maior
orientação, e nesse ponto é impossível aplicar uma regra-padrão. Uma
coisa que pode ser correta sob determinada circunstância, pode mostrar-se
errada em uma outra; uma coisa pode ser correta para uma pessoa e errada
para outra. Não há Código Levítico que possa ser aplicado às infinitas
variedades de testes do Caminho.
O iniciado toma como padrão movimento e direção, e não uma craveira
ética. Mede todas as coisas em relação à corrente da evolução. Indaga
sobre qualquer ação ou série de circunstâncias. Estão movendo-se na mesma
direção da evolução? E seu passo é mais rápido ou mais lento do que o do
fluxo normal? E julgará da correção ou do erro relativos pelas respostas
dadas a essas perguntas.
Por exemplo, ele pode considerar o trabalho e os ensinamentos de alguma
seita severa e intolerante, e perguntar a si próprio: Posso condenar essa
gente que está tão obviamente cheia de boas intenções? E se vir que essa
gente obscurece o espírito humano e impede que ele alcance a estatura da
virilidade que normalmente alcança, julgará que essa seita está se
movendo em um passo mais lento do que a corrente da evolução, embora
caminhando na mesma direção, não sendo, portanto, benéfica para o homem
nem para Deus.
Pode, também, estudar algum ensinamento heterodoxo sobre moralidade, e,
desejando descobrir sua tendência, vista à luz da biologia, verificará
que se trata de um desvio da linha pela qual a vida chegou; dirá, então,
que, embora aquilo possa estar progredindo com grande rapidez e
produzindo modificações mais rapidamente do que o lento melhoramento da
consciência humana, ainda assim não se está movendo em direção do
objetivo da União Divina, mas divergindo, em ângulo maior ou menor, da
senda do avanço normal, como foi determinado pelo prolongamento da linha

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pela qual a raça tem caminhado. Então condenará aquele ensinamento por
estar fora de alinhamento com a evolução.
Finalmente, o iniciado pode verificar que diferentes padrões prevalecem
em sociedades e entre homens em diferentes estados de desenvolvimento.
Para avaliá-los com justiça, teria de levar em consideração em que degrau
da escada evolucionária eles estão, porque os princípios têm de ser
diferentemente aplicados aos diferentes estados de desenvolvimento,
embora eles próprios sejam imutáveis. Por exemplo, cada homem primitivo
tem de ser um guerreiro e um caçador, se esse é o seu dever para com a
sociedade; mas, se o impulso predatório persiste numa sociedade
civilizada, ele conduz ao crime. Foi observado como muitos criminosos
habituais se distinguiram na guerra, e a notável libertação em relação ao
crime que prevaleceu enquanto esse derivativo esteve disponível para os
aventurosos impulsos da raça. O criminoso profissional não é, de forma
alguma, um homem de temperamento ignóbil ou de desagradável disposição,
invariavelmente. Às vezes, ele tem virtudes heróicas. Com frequência,
trata-se de um homem que não se adaptou à civilização e que se rebela
contra as condições repressoras da vida moderna. Se fosse um membro dos
grupos de colonizadores, seu procedimento seria considerado bom e teria
boa reputação. é mau porque está deslocado no tempo. Os impulsos que
atuam sobre ele deixaram de servir aos propósitos sociais. Ele é atávico,
um "atirado de volta" a condições primitivas.
Esses princípios nos possibilitam fazer a estimativa dos Caminhos da
Direita e da Esquerda e do Ocultismo Negro, assim como do Ocultismo
Branco. O Caminho da Direita é o que prolonga a linha da evolução e
conduz ao seu objetivo pela trilha mais direta; é a trilha mais curta
entre o estágio no qual um homem chega quando ouve o Chamado, e a União
Divina. Portanto, deve-se notar que nenhuma trilha específica pode ser
traçada como se fosse o Caminho verdadeiro ou o sistema pelo qual todos
os homens devem trilhar. "Os caminhos de Deus são tantos quanto o número
de respirações dos filhos dos homens." é o fato de ser a trilha direta ou
indireta que conta.
Ainda, no que se refere ao Ocultismo Negro, é impossível rotular qualquer
operação em todos os momentos e sob todas as circunstâncias como
explicitamente Negra ou explicitamente Branca. Tudo quanto podemos dizer
é que, sob certas circunstâncias, ela é negra ou branca. Sujeira foi
definida como material extraviado, e o mal pode ser definido como força
extraviada. A força pode ser extraviada no tempo ou no espaço. Uma coisa
pode estar certa em uma ocasião e errada em outra. O Ocultismo Negro,
então, pode ser definido como uma força extraviada, ou como métodos
obsoletos.
A questão dos métodos iniciatórios obsoletos foi tratada em capítulo
anterior, mas agora devemos retomar a questão, sob o ponto de vista do
treino prático de um candidato, como é dado em uma escola oculta. Que o
aspirante se imagine como de pé no ponto mais baixo de uma elipse cujo
ponto mais alto é Deus. À sua esquerda, estende-se o caminho pelo qual
ele desceu para a matéria; à sua direita, estende-se o caminho peio qual
ele retornará ao Espírito. Se ele voltasse sob seus passos ao longo do
caminho pelo qual veio, estaria palmilhando o Caminho da Esquerda;
avançasse ele pelo caminho que a evolução finalmente segue, e estaria
seguindo o Caminho da Direita. Por qualquer dessas trilhas pode elevar-se
sobre os planos, e se alcançar o conhecimento em um plano, pelo Caminho
da Direita, será Mestre de ambos os seus aspectos, o primitivo e o
evoluído. Terá, contudo, de ter o cuidado de conservar ambos os seus
aspectos em seus lugares exatos, senão eles já não mais o deterão.
Tornemos isso claro através de um exemplo: suponhamos que, sem iniciação,
ele tentasse penetrar na consciência superior com o auxílio de drogas. A
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ação delas iria colocar em inatividade temporária as faculdades


superiores da mente, permitindo, assim, que os poderes da percepção
psíquica direta funcionassem sem freio. Ele penetraria realmente no plano
astral, mas iria encontrar-se em seu limbo ou aspecto purgatorial. Se ele
tivesse descoberto os sentidos astrais pelos verdadeiros métodos
iniciatórios de desenvolvimento e extensão da consciência, obteria
igualmente o acesso ao plano astral, mas em uma outra esfera dele. Se,
contudo, tivesse êxito na penetração dessa esfera, descobriria que quando
tivesse alcançado o conhecimento dele, para ali se mover em plena
consciência, e livremente, também, teria possibilidade de penetrar seus
infernos. Esse poder, entretanto, ele jamais usaria, salvo com o
propósito de "pregar aos espíritos aprisionados". Os métodos de ingresso
nos infernos podem ser usados pelo mágico Negro, que deseja obter
controle sobre os espíritos e empregá-los para seus próprios e perversos
objetivos, e pelos ocultistas Brancos que desejam redimir uma alma que
pode ter sido arrastada para um dos infernos. Portanto, não se pode dizer
que essas fórmulas sejam exatamente más, e que nunca, sob pretexto algum,
devem ser usadas. A Magia Negra ocupa-se, amplamente, com a evocação de
maus espíritos, mas o mágico Branco pode usar a mesma fórmula para evocar
um espírito a fim de forçá-lo a libertar sua vítima. Uma evocação deve
preceder ao exorcismo, pela razão óbvia de que é impossível banir um
espírito que não está presente. Por esse motivo é que muitas tentativas
de exorcismo revelam-se frustradas, ou são meramente temporárias em seus
efeitos; isto porque quem as realizou não teve coragem para fazer a
evocação. Ninguém deveria esperar que um homem trabalhasse fora do seu
grau, ou que tentasse usar poderes que não lhe tinham sido conferidos, e
o ocultista sensato reconhece suas limitações e observa-as estritamente.
Porém, se, afinal, o ritual mágico for tentado, deve ser feito
corretamente, ou será ainda pior do que inútil. Não é o mal em si mesmo,
mas pode facilmente transformar-se no mal em mãos inexperientes, porque
as forças assim evocadas prontamente ficam fora de controle.
Duvida-se muito pouco de que a evolução tenha alcançado o estágio em que
a forma está começando a ser posta de lado. "Porque, ao nos elevarmos, os
símbolos desaparecem." O objetivo legítimo do ritual mágico na época
presente é limitado. Ele é usado corretamente para tratar com
determinadas patologias ocultas, especialmente com aquelas que têm origem
na bruxaria do passado, mas isso não é coisa para se manejar com
propósitos experimentais. Não obstante, um conhecimento do seu modus
operandi e dos seus princípios é necessário ao neófito que está
desenvolvendo os poderes psíquicos, tal como o conhecimento da natação é
essencial para quem quer que se interesse por navegação. O estudante pode
estar trabalhando dentro das linhas do desenvolvimento espiritual que não
emprega o ritual mágico, mas, se um acidente ocorrer e a iniciação não é
prova de insensatez , ele será precipitado na esfera onde o ritual mágico
opera, e aquele conhecimento é a única coisa que dali o poderá arrancar.
Os poderes ocultos devem ser vistos como uma lâmpada a mostrar o Caminho
ao aspirante, mas não um farol pelo qual navegar. Eles podem guiá-lo em
segurança através do inexplorado território interior da mente humana, e
sem essa orientação é possível que ele se extravie. Se ele se volta para
o lado e constrói para seu uso uma casa na região do ocultismo, terá
deixado o Caminho. Seu objetivo está nos píncaros do Espírito e não nas
selvas da mente, mas, como deve atravessar as selvas da mente, precisa de
equipamento para a jornada.

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PROCURANDO O MESTRE

Aludimos à história da iniciação de modo muito resumido, de todo


resumidamente, sem dúvida, para o leitor comum, não versado no assunto.
Ela se destina a estudantes, não à propaganda, e os rudimentos são tidos
como certos. ë destinada, ainda, para indicar o modo de aproximação ao
ramo ocidental da grande Tradição Esotérica para aqueles que, tendo
tomado conhecimento do que pode ser proclamado publicamente sobre a
Sabedoria Secreta, estão desejosos de continuar seus estudos nos aspectos
mais profundos do assunto.
Para tal fim, diligência e intelecto não são o bastante; certas condições
de caráter e certas atitudes da mente são exigidas, e aquele que pretende
ser estudante deve disciplinar e desenvolver sua natureza, tanto como
seguir com suas pesquisas. O Eu Superior é o primeiro iniciador, nenhum
outro pode nos pôr em contato com os Mestres Invisíveis, e o trabalho
preliminar tem de ser executado subjetivamente.
Geralmente pergunta-se se é possível que a iniciação tenha lugar sem que
a mente consciente esteja ciente da experiência. A resposta a essa
pergunta é negativa. A iniciação envolve a unificação da consciência
superior e inferior, portanto não pode, obviamente, ter lugar sem que a
pessoa esteja ciente disso. E, se fosse possível, não serviria a um
propósito útil. Isso, seja como for, é verdade na Tradição Esotérica
Ocidental, onde os graus conferem reais poderes ocultos que têm de ser
demonstrados para aprovação dos magos antes que o aluno possa subir para
graus superiores. Se o mesmo acontece na Tradição oriental, a escritora
não pode dizer, pois não é uma iniciada nessa Tradição, mas a evidência
aponta para o mesmo estado de coisas ali prevalecente, e para a posse dos
Siddhis, ou poderes ocultos, por todos os autênticos iniciados daquela
Tradição. Um diferente estado de coisas, entretanto, aparece quando uma
alma encarnada em um corpo ocidental procura, enquanto reside em país
ocidental, obter real contato com um Guru oriental, para tomar uma
iniciação oriental. Em tal caso pode bem ser possível que a percepção da
experiência não consiga penetrar o veículo físico. Seria de se
considerar, então, que tal experiência tenha sido apenas parcial, e com
certeza não iria conferir Siddhis, ou Poderes do Grau. Seus frutos podem
amadurecer em uma outra encarnação, mas dificilmente na presente
existência. Portanto, os iniciados do Ocidente sempre afirmaram que os
métodos ocidentais devem ser usados por pessoas ocidentais, e eles jamais
foram negados a candidatos adequados, nem a qualquer grupo ou sociedade
que venha com as mãos limpas à procura de contatos. A grande Tradição
Esotérica Ocidental é uma força viva. O Caminho Ocidental é uma estrada
aberta, palmilhada por incontáveis pés, e todos os que a procuram irão
encontrá-la.
O Mestre está ciente da existência do discípulo, e pode até ter iniciado
o treinamento preliminar antes que o aluno esteja suficientemente
sensível às forças psíquicas para sentir-se ciente da presença do Mestre.
O treinamento preliminar pode, realmente, seguir-se sem o conhecimento
por parte do discípulo. A invocação que chamou o Mestre pode ter sido
esquecida, e a busca, embora ainda desejada, pode ter sido vista com
desânimo, e o buscador acredita que clamou a ouvidos demasiadamente
distantes para ouvi-lo, ou que até nem existam. Contudo, o trabalho pode
estar se desenvolvendo com firmeza sobre o seu eu superior, além do
âmbito da percepção do cérebro. Que ele não desanime, mas mantenha sua
aspiração, e, no momento devido, terá sua colheita, se não falhar. Dia a
dia a consciência superior está sendo levada cada vez mais para perto do

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limiar. As grandes forças que os Mestres deixam livres sobre a alma que
se abre para Elas estão enchendo suas profundezas, como uma nascente
fluindo para um reservatório. Lentamente, as águas reúnem forças por trás
da barreira que separa a subconsciência da consciência, e, quando chega a
hora, o iniciador coloca a mão sobre a alavanca que opera as comportas, e
a água flui para o canal determinado.
Essa operação, entretanto, tem dois aspectos e é executada em dois planos
simultaneamente, tal como um túnel através de uma montanha é perfurado ao
mesmo tempo nas duas extremidades. E tal como o impulso na feitura de um
túnel depende da habilidade dos engenheiros e da exatidão de seus
instrumentos, para que os dois cortes se encontrem ou se percam um do
outro, nas entranhas do monte, também depende da habilidade psicológica
do professor que as duas linhas do desenvolvimento se encontrem ou se
percam na profundeza do subconsciente do aspirante. Seu dever é fazer com
que o treinamento da personalidade e da mente consciente seja
conduzido,de tal forma que as partes torcidas se façam retas, e o Caminho
da Alma seja levado a alinhar-se com o Caminho do Poder do Espírito,
descendo como o fulgor de um relâmpago. Se isso não for feito, a junção
entre os dois Caminhos pode ter de ser feita por meio de uma curva em S,
como a que deformou um dos primeiros túneis dos Alpes. Essa sinuosidade
no caminho do poder é sempre uma fonte de perigo, porque a tendência de
uma força é seguir sempre em linha reta, e ela pode falhar ao tomar a
curva. Essa força, cavando um caminho através da percepção e derrubando
tudo quanto encontra em sua passagem, é conhecida pelos ocultistas como
um dano, e vem a ser causa de muitas patologias, tanto da mente como da
moral e do corpo. O risco de uma tal ocorrência é muitíssimo diminuído
quando o Caminho é palmilhado sob a orientação de um professor de
confiança. Ele saberá qual é o ângulo da direção da força iniciatória e
pode instruir seu aluno sobre o modo como ele poderá alinhar com ela o
estado de percepção.
Como aquele que vislumbrou a possibilidade do Grande Trabalho poderá
encontrar um Mestre que o treine para o seu desempenho? Esta é uma
pergunta importante para o buscador sincero. Mas, recordem isto: andar
pelo Caminho é muito diferente de estudar o mapa. O mapa pode ser
estudado à luz da lâmpada, junto à lareira, e o Caminho é percorrido sob
o vento e a escuridão dos pontos improdutivos da alma. Porque o Caminho
está dentro, e leva, da percepção do cérebro, através da subconsciência,
à superconsciência. E, apesar disso, ele não é nada subjetivo, e é em
relação ao aspecto objetivo da indagação que o estudante sem dúvida se
sentirá curioso.
Consideremos a história espiritual de alguém que se volta para a busca, e
notemos os estágios pelos quais passará.
Primeiro, vem a formulação do conceito: ele concebe a ideia da iniciação
e o ideal do serviço de,um Mestre, e deseja fazer a sua dedicação. Mas,
basta o desejo? Sim, é o bastante, se for bastante forte e bastante
longo; se continuar sem hesitação e sem abalos, através de todas as
provas da alma que testarão a sua fibra, através da purgação que a
purificará para o contato com o Mestre e através do duro trabalho do
treinamento que a irá preparar para o serviço do Mestre. Se o desejo da
iniciação se mantiver firme através de tudo isso, levará o discípulo aos
pés do Mestre.
Como são poucos, entretanto, os que conseguem, ou sequer compreendem a
força do desejo que se faz necessária para produzir a iniciação! A bela
tradição oriental fala do Mestre que manteve seu discípulo sob a água até
que ele ficasse quase sem fôlego, e disse-lhe que, quando ele desejasse a
luz tão fervorosamente quanto havia desejado o ar, o receberia. E a
história ocidental fala do homem que vendeu tudo quanto tinha, a fim de
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comprar uma pérola de grande preço. Aquele que põe o pé no Caminho, pode
nada levar consigo; nus viemos para o mundo, e nus o deixaremos, passando
para uma consciência superior. Os "que desejam o céu" são muitos, mas os
que suportam a jornada divina são poucos. É impossível tirar o maior
proveito de ambos os mundos, porque onde nosso tesouro estiver, aí estará
também o nosso coração.
Só aqueles para os quais a sensualidade da carne, o desejo dos olhos e o
orgulho da vida deixaram de ter significação, podem tentar o Caminho que
leva às alturas, e para eles a jornada não será penosa, porque viajam
leves. O que vai com as mãos vazias caminha facilmente. O grande peso das
necessidades egoístas é que fazem a trilha cansativa.
Logo depois vem para a alma um período amargo de conflito. Ela vislumbrou
o ideal divino, bebeu as águas vivas do espírito, e essas águas geraram
nela uma sede que não pode ser saciada na Terra. Tendo conhecido a
realidade, não encontra repouso nas aparências. Entretanto, ainda não
exauriu os deleites da matéria. O melhor é que essa pessoa calcule
seriamente o custo, antes de embarcar na Grande Busca e de chamar os
Mestres para ajudá-la em suas pesquisas. Porque os Mestres aceitarão a
sua palavra, se ela os invoca, e levam-na a passar pela chama da
circunstância, de forma que toda a impureza seja expurgada de seu
caráter. Se, entretanto, o minério da sua natureza for expurgado de seu
caráter. Se, entretanto, o minério da sua natureza for pobre de metal
espiritual, a conflagração assim causada irá gerar tal calor que o ouro
fundirá e escorrerá, e a forma daquele homem será perdida. Só o homem
despido de desejos pode passar pela Grande Liberação, e quando alguém que
é governado pelos desejos tenta a passagem, esses desejos, sendo
arrancados pelas raízes, sangram a alma. É melhor que um amadurecimento
do espírito seja obtido de forma que deixe de lado seus desejos carnais,
naturalmente, ultrapassando-os, ao invés de violentar os instintos da
natureza. Não é a supressão, mas a ultrapassagem dos desejos que devemos
procurar. Os frutos maduros soltam-se das hastes com facilidade, e o
homem, que tiver aprendido as lições que a vida nos dá, irá passar sem
queixas. Uma experiência abortiva, incompleta, da vida, não é bom
alicerce para a iluminação.
A iniciação não pode ser obtida em menos de três encarnações de firme
esforço dirigido. Na primeira encarnação a alma concebe o ideal e embala-
o em segredo, preenchendo todos os deveres da humanidade com humildade e
paciência, construindo assim o seu caráter. Na segunda encarnação a alma
sofre testes e purgação, e tem de enfrentar seu karma e dessa época se
fala como a encarnação-semente. Na terceira encarnação ela recapitula
rapidamente o desenvolvimento obtido nas outras duas, e está pronta para
o Caminho.
Cada pessoa que concebe o ideal da iniciação tem de certificar-se sobre
se a consciência está sendo despertada pela primeira vez, ou se é a
memória que retorna das profundezas do subconsciente, depois do sonho
entre os nascimentos. É aqui que o conselho de um professor que possa ler
os Registros é muito necessário, porque a imaginação aquecida pela
ambição da aventura ou pelo espírito de emulação pode levar o candidato a
extraviar-se gravemente, fazendo-o correr o risco de sair da sua
profundidade. Pode também acontecer que a vida anterior, preparatória,
não tenha preenchido o seu propósito e a preparação tenha ficado
incompleta. O trabalho, então, tem de ser feito novamente, antes que se
consiga um avanço maior. Finalmente, há muitas almas que foram iniciadas
no passado, mas foram deslocadas para a Magia Negra, ou falharam em um
teste, e devem, trabalhosamente, subir de volta pelo caminho que foi
perdido. Tais almas são psíquicas, frequentemente, mas não têm
conhecimento do ocultismo. Os sentidos sutis que foram desenvolvidos
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podem permanecer, mas os contatos foram rompidos e as lembranças


obliteradas pelo Mestre que foi traído. Para esses, o Caminho é proibido
até que a expiação esteja completa e o erro sanado. Seu próprio instinto
é o melhor guia nesse caso, porque eles saberão, com exata certeza,
quando a barreira invisível desce e eles estão livres para seguirem
adiante.
A aspiração da alma pela iniciação deverá ser formulada e mantida com uma
inabalável determinação; deverá ser meditada e pensada longamente, em
vigílias noturnas, e cada ação das horas despertas será dedicada ao
aperfeiçoamento do caráter e ao serviço da humanidade, e, através disso,
ao dos Mestres. A alma, porém, deve aguardar, humildemente, as
experiências psíquicas, sem procurar projetar-se nos espaços astrais onde
não tem guia, mapa ou bússola. No momento exato, quando tiver chegado a
hora, ela viajará realmente, pelos caminhos astrais, mas sob os cuidados
de um guia, não sozinha.
Os Mestres recebem almas como discípulos, não para benefício da alma, mas
para benefício do Grande Trabalho. Um homem não é treinado para
satisfazer sua curiosidade ou entusiasmo, mas apenas na medida em que
tenha valor como servidor. Por esse motivo é que o desejo altruísta de
servir é o passo mais seguro para o Mestre. Ninguém que deseje
conhecimento ou poder para si próprio jamais terá êxito em obter a mais
recôndita essência dessas coisas. Pode tornar-se um mago, ou um vidente
astral, ou mesmo possuir sabedoria intuitiva, mas a Luz espiritual do
Recôndito estará apagada. Não nos enganemos: o Espírito é a meta desta
busca. Tudo o mais é um meio para um fim, tudo o mais é aparência, não
realidade. E, embora as aparências possam não ser forçosamente ilusórias,
e sim um verdadeiro e exato simbolismo e um sistema de correspondências,
elas não podem satisfazer a fome da natureza espiritual em busca do
Espírito de Deus. O corpo astral funciona no plano astral, e o corpo
mental desperta para a consciência no plano mental, quando recebe a sua
iniciação, mas o corpo espiritual não deve despertar para o mundo do
Espírito, antes que o homem sétuplo esteja completo. Nem mentalidade nem
emoções satisfarão as necessidades do espírito.
Em União com o Divino, que os esoteristas ocidentais concebem como sendo
a suprema iniciação, a Fagulha do Espírito Divino, que é para o homem o
que o grão de areia é para a pérola, acorda para a consciência dentro do
corpo inteiramente formado no sexto plano do espírito concreto. Essa é a
primeira das iniciações cósmicas, porque, sendo a Fagulha Divina,
metaforicamente falando, do Plano de Deus, passou para além do Círculo
Sem Passagem do universo projetado para o Cosmos numenal, onde reside a
consciência da Grande Entidade.
Esse supremo ideal espiritual nunca deve ser perdido de vista durante
toda a longa extensão do Caminho: só ele é a meta, pois nenhuma outra
coisa pode proporcionar a perfeição final e integral. Se esse marco for
conservado sempre diante dos olhos, o viajante não se desviará da trilha,
porque, embora a jornada seja feita por estágios e através de diferentes
regiões, e embora a disciplina de cada estágio deva ser enfrentada a fim
de estabelecer a perfeição da alma, ele nunca deve parar ou descansar
enquanto não tiver alcançado a definitiva União Divina. Nem deve, em
qualquer dos estágios do Caminho, voltar-se para um lado e construir uma
casa, pensando que na perfeição daquela fase encontrará a perfeição. Cada
montanha que ele escale revelará a montanha seguinte, e de cada pico ele
deve descer para o vale da humilhação a fim de subir ao topo da
disciplina que virá a seguir. Nem a visão astral nem poderes mágicos são
fins em si mesmos, antes servem aos fins do Adepto, que, a não ser que
tenha também os poderes do espírito, é como o bronze que soa ou o címbalo
que tine. Ainda assim, se ele tem as coisas do espírito e não tem também
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os poderes, terá de ser um daqueles que esperam, em subjetiva beatitude,


o fim do Dia da Manifestação, porque, sem os Poderes dos Planos, ele não
pode voltar a auxiliar a humanidade em seu caminho de subida. Terá de ser
um mago, se vai ser um Mestre, porque sem as artes ocultas, ele não pode
passar de plano para plano. Esse é um ponto importante, a ser seriamente
considerado na escolha de uma escola ou professor de esoterismo.
Consideremos, agora, o estado real do treinamento do buscador que, tendo
formulado um verdadeiro ideal, levou sua luz a brilhar com mais força nas
regiões escuras do mundo. Pensando nos Mestres, nós atraímos a sua
atenção, e é incrivelmente fácil estabelecer uma ligação magnética com
aqueles que estão sempre mais prontos a dar do que nós a receber; e se
alguém, depois de pensar nos Mestres e de formular o desejo de ser aceito
como aluno, descobre que as circunstâncias da sua vida estão começando a
se mostrar tempestuosas, saberá que sua solicitação foi aceita e que os
testes preliminares começaram. Nesse ponto de sua vida ele será testado
na libertação do desejo. Contudo, não se deve pensar que o serviço dos
Mestres signifique, forçosamente, bancarrota ou privação. Um homem pode
ter vasta fortuna, e ainda assim as coisas que o dinheiro pode comprar
terem para ele pouca importância, a ponto de nunca pensar em adquiri-las,
levando uma vida de grande simplicidade e usando o total de seus vastos
recursos em serviços altruístas, sem pedir recompensas nem
agradecimentos. Uma pessoa assim sentirá antes alívio do que perda,
quando for privado da sua fortuna. Mas, se há alguém que, mesmo com
pouquíssimos meios, agarra-se desesperadamente à sua mesquinha segurança,
será testado em perdas financeiras até que compreenda que, se aceitarmos
o que nos diz o Mestre em Seu trabalho, e procurarmos primeiro o Reino do
Céu e a sua justiça, todas aquelas coisas nos serão acrescentadas.
O Mestre Jesus é o Mestre da Compaixão, e Seu Reino é o Reino do Amor,
mas se amarmos cada criatura ou coisa com um amor puramente pessoal, um
amor que se compraz mais com a sensação de amar do que com o bem do ser
amado, iremos ser testados, seguramente, com o afastamento da coisa
desejada. Mas se amarmos com um amor tão inteiramente destituído de
egoísmo que nos poríamos de lado, sem sentir angústia, se a pessoa
querida pudesse, com isso, receber um bem maior do que está em nosso
poder lhe dar, então amamos com o Amor Superior, que não nos será tirado,
nem elevado nem rebaixado, nem outra criatura qualquer poderá separar-nos
do objeto do nosso amor.
Não se pense que nos sacrifícios do Caminho qualquer dever tem de ser
posto de lado. Não são os deveres, mas os desejos, que devem ser
abandonados. Todo o dever legítimo tem de ser cumprido, sem dele eximir-
se, e cada dívida humana tem de ser paga antes que estejamos livres para
entrar na dedicação que o estudo da Ciência Secreta envolve. Há, contudo,
muitas sendas para ir ter com os Mestres da Sabedoria, e uma delas é o
Caminho do Lar, pelo qual, através da realização com amor dos deveres
domésticos, ganha-se a iniciação. Os deveres sagrados do lar são os
degraus do Caminho, e com frequência passam a ser a sorte daqueles que em
encarnações passadas buscaram o conhecimento por amor de si mesmos e não
para servir, e precisam seguir essa disciplina. Que esses se dediquem a
isso como a seu Meste, mas usando todos os momentos livres para estudar
fielmente e conseguir a necessária base de conhecimento. Que sua divisa
seja:
"Conquistemos primeiro os meios; Deus seguramente indicará como usar
nossas conquistas." Onde quer que a alma se encontre, desse ponto ela
deve dar início à sua jornada; ninguém pode caminhar com sapatos alheios.
A alma deve sempre "fazer o melhor" daquilo que tem nas mãos, antes de
ingressar no Caminho. Se a alma for a de um balconista ou de uma
cozinheira, deve tornar-se uma eficiente balconista ou uma boa
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cozinheira. Os Mestres pouco uso têm para a incompetência, como pouco uso
têm para o pecado, e se formos incompetentes no cumprimento de qualquer
aspecto dos nossos compromissos, um substrato de fraqueza estará
subjacente em toda a natureza, e os testes do Caminho descobrirão qual é,
no devido tempo, o buscador, tendo se submetido com segurança aos testes
preliminares, descobre o Caminho propriamente dito abrindo-se diante
dele, e tendo considerado a maioria dos meios à sua disposição,
esgotando-os, novas oportunidades lhe serão dadas. O esgotamento do
material colocado em sua mão, para que o trabalhasse, é um ponto muito
importante em relação com o seu progresso. O buscador deve ansiar por
livros além dos seus meios, e sentir-se incapaz de avançar em seus
estudos por não os ter: mas, já esgotou as possibilidades da biblioteca
pública municipal? Ou, pode desejar ensinamentos profundos em meditação,
mas tem de aprender a manter a serenidade durante as horas mais
atarefadas de seu trabalho? Todas essas coisas são usadas pelos Mestres
como disciplina, e Eles observam a proficiência do discípulo nessas
coisas antes que Eles lhe permitam avançar, e um dos testes mais seguros
é a boa ordem do aposento que a pessoa ocupa, e a condução ordenada de
seus negócios. Um ocultista precisa ter temperamento calmo e nervos de
aço, e há poucas caminhadas na vida que não possam ser feitas para
proporcionar oportunidades para o desenvolvimento de preliminares
essenciais.
Tudo tendo sido feito, então, o buscador pode agir em solidão, a Loja
Estrela sob a qual seu Caminho está sendo feito designa-lhe um Guia. O
ofício do Guia é um dos primeiros a ser preenchido por uma alma que se
adiantou para além da encarnação na matéria. Depois da última morte do
corpo de alguém que se dedicou ao serviço dos Mestres, a alma
recentemente liberada é empregada no grande trabalho humanitário que se
desenvolve no plano astral. Esse é um trabalho bem conhecido de quantos
estão empenhados em pesquisa espiritualista, e não precisamos entrar em
pormenores nestas páginas. E o ofício de Guia é uma das suas subdivisões.
Um Guia atua como mensageiro entre o Mestre e o seu discípulo,
transmitindo instruções por meio de sugestão telepática à consciência da
alma sob seus cuidados. Tem, também, a tarefa de resguardar seu protegido
durante suas primeiras expedições para os planos ocultos, salvaguardando-
o durante os difíceis momentos de transição de um plano para outro, e
amparando-o até que ele tenha conquistado habilidade ao fazer essa
transição através dos estados de consciência.
Durante um período que varia de alguns meses até vários anos, a relação
entre o Guia e o buscador deve continuar, e ao fim desse tempo eles se
mostram tão bem relacionados um com o outro como qualquer par de amigos.
Os Guias são simplesmente seres humanos de um tipo elevado, que não
recebem corpo físico, e cuja personalidade é a da última encarnação.
Chega uma ocasião, entretanto, em que o Guia está pronto para alcançar um
trabalho superior, mas o buscador ainda não está preparado para o próximo
estágio. Um novo Guia será então designado para ele, e o outro se afasta,
embora possa, de vez em quando, vir visitar seu antigo protegido, porque
essas amizades do plano oculto são tão reais como as do plano da Terra.
Entretanto quando chega a ocasião em que o discípulo está pronto para
caminhar entre os planos com segurança e confiança, podendo receber por
si mesmo as ordens do Mestre, já não precisa do auxílio do Guia, que
então se afasta para dedicar-se a outro trabalho.
Muitas almas são treinadas totalmente dessa maneira, a partir dos planos
interiores, mas há outras que não desenvolvem tão prontamente o
psiquismo, e, para essas, usa-se outro método. O Guia atuará como
elemento de ligação entre o discípulo a ser treinado e outro servidor do
mesmo Mestre que já tenha sido treinado no corpo físico, e colocará o
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estudante sob a orientação de um professor. Um professor não é um Mestre,


e ninguém que seja digno do nome reivindicaria o título. Sua função é a
de informar o discípulo, não a de governá-lo.
Um professor, para realizar de forma adequada a sua função, deve ser um
psíquico, e é mais do que inútil para o aspirante estudar com qualquer
ocultista que não o seja, pois como um cego poderia guiar um cego? O
psiquismo representa os olhos da alma nos planos da forma, e é preciso
que haja uma visão astral adequada para que o estudante seja bem dirigido
e corretamente protegido.
Um estudante de ocultismo necessita tanto de proteção durante os
primeiros estágios de seu treinamento quanto um paguro* que deixou uma
concha para procurar outra; caso contrário ele será tomado de
perturbações nervosas e exaustão. Essas indisposições não representam um
sine qua non do desenvolvimento oculto, nem mostram a espiritualidade da
natureza, mas são um sinal de treinamento falho. Não redundam em crédito
para o estudante, mas em descrédito para o professor. Nenhum trabalho
oculto deveria ser tentado por uma pessoa em estado de carência de
vitalidade ou de equilíbrio. Tudo deve ser posto de lado até que ele
recobre sua sanidade física, e é dever do professor observar a condição
física do aluno tão cuidadosamente quanto a sua condição espiritual.
O professor conhece o aluno pelo selo do Mestre que está estampado na
aura, logo acima da cabeça, mas, como pode o aluno conhecer o professor e
ter certeza de que não está nas mãos de um charlatão? Em primeiro lugar,
porque o professor não lhe pedirá dinheiro pela sua instrução. Esse é o
teste supremo para um professor de ocultismo, e põe fora do caminho,
efetïvamente, os mercenários. Um homem, porém, pode ser bem-intencionado
e idealista, mas, apesar disso, ser um tolo; como pode o aluno saber que
não está caindo nas mãos de um incompetente? Ele deve exercer o mesmo
cuidado e discrição que usaria na transação de qualquer negócio
importante no plano físico. Deve fazer indagações quanto à reputação e às
referências feitas à pessoa em cujas mãos ele pretende confiar a sua vida
espiritual. Deve observar bem de perto o caráter, o aspecto e o tipo dos
membros do grupo que rodeia o professor, pois ali verá, claramente, a
indicação da natureza do ensinamento dado, e essa é uma indicação que não
pode enganar. "Pelos seus frutos os conheceremos." E o peregrino, mesmo
sendo um tolo, conhece os frutos do Espírito quando os vê. Pureza e paz,
mente sã em um corpo sadio; misericórdia no pensamento e na ação, bem
como na palavra e na escrita; ordem e limpeza tanto na mente como no
ambiente; tratamento justo e honesto cumprimento das obrigações; e, acima
de tudo, a bondade simples que adoça os relacionamentos humanos, "contra
esses pontos não existe lei", mas quando eles faltam, cuidado!
O treinamento oculto deve construir nobreza de caráter e equilíbrio da
mente. Se ele falhar nisso, alguma coisa está faltando. Que proveito
teria um homem de ver os céus abertos e perder a razão? é melhor ter os
cinco sentidos e sanidade do que psiquismo e falta de equilíbrio. Um
professor de qualquer sistema de treinamento oculto só pode ser
justificado pelos resultados. Boas intenções podem servir para proteger a
pessoa que se aventura pelo Invisível em busca do conhecimento para si
própria, mas não representam equipamento suficiente para aquele que
pretende treinar outro.
Alguns gritam: "Paz, paz" onde não há paz, recusando-se a ver sinais de
deterioração mental e física em seus alunos, e considerando os sintomas
de tensão nervosa como um psiquismo incipiente. Inexperientes quanto aos
processos da mente, deixam de reconhecer a dissociação e a alucinação
quando as vê, considerando os fenômenos anormais como evidência de
poderes em desenvolvimento. A vidência é uma integração da
individualidade, não a desintegração da personalidade. O grande problema
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que sempre embaraça o vidente é o problema da síntese, a manutenção da


comunicação aberta entre o eu superior e o eu inferior, e a transferência
do abstrato para o concreto, de forma que possa ser assimilado pela
consciência. E nenhum sistema de treinamento que se incline a afrouxar a
coesão da personalidade, pode produzir resultados satisfatórios.
Outros professores, habituados a operar com um sistema ineficaz, perdem
subitamente a cabeça quando um aluno excepcionalmente sensitivo começa a
obter resultados, e voltam-se para eles, naturalmente para obter
explicações e orientação. Não sendo eles próprios psíquicos, são
incapazes de ver o que o aluno vê, e se tudo não correr calmamente (e,
sob tais circunstâncias, não é provável que corra agradavelmente), ficam
tomados de pânico e largam o aluno como se fosse uma brasa viva. A
condição de uma pessoa assim tratada é deplorável, e geralmente termina
em grave crise nervosa, ou mesmo em insanidade. Não menos deplorável é a
condição de tal professor, embora os resultados kármicos possam não se
manifestar tão rapidamente. Nunca será demais repetir que nervos de ferro
são necessários para todas as operações ocultas, especialmente para uma
iniciação, e, a não ser que o ocultista possua a faculdade de ler os
registros e de discernir o karma de um candidato, de ler a sua aura e
discernir a situação, não deve encarregar-se do treinamento de um
discípulo em ciência esotérica.
Cada iniciador autêntico sabe que tem de compartilhar do karma que venha
a ser gerado por qualquer aluno treinado por ele. Se esse aluno fizer bom
uso do seu conhecimento e trabalhar bem, o iniciador, desse modo, também
progride. Um grupo altamente evoluído é de valor incalculável para
qualquer ocultista, daí a loucura de impedir seu adiantamento, por ciúme.
Por outro lado, o abuso do poder oculto tem efeito desastroso, não só
sobre a pessoa que assim procede como sobre o grupo no qual ela foi
treinada. Tal como o aluno deve ser cuidadoso quando se coloca nas mãos
de um professor, este também tem a grande necessidade de ser cauteloso ao
aceitar um discípulo, e o candidato deve estar preparado para submeter-se
a testes, antes de dar a certeza de que é confiável. Ele deve ser
prudente quanto a portas sempre abertas; os que têm tesouros, guardam-
nos.
Ele deve recordar, entretanto, que o professor não pode revelar seu
sistema aos que não têm compromisso e, quanto mais souber, menos
inclinado estará a falar; por isso mesmo os mais cautelosos devem estar
preparados para receber algo em confiança. Porém, se, considerando o
professor, o aluno sente que deseja tornar-se igual a ele, então pode
matricular-se com segurança. Se depois de considerar o professor, ele
sente que deve rejeitar o caráter dele enquanto lhe absorve o
conhecimento, irá mostrar-se muito imprudente mantendo qualquer contato
com essa pessoa, porque descobrirá que na prática real não terá
possibilidade de manter essa distinção.
É possível a um homem ensinar ciência natural sem qualquer consideração
de caráter pessoal interferindo no assunto, mas isso não pode ser feito
em ciência oculta. A essência do treinamento oculto não está no que é
ensinado, mas na influência que emana do professor e, aos poucos,
sintoniza o discípulo para vibrações cada vez mais altas. O professor tem
de transmitir as forças do Mestre, até que o aluno fique en rapport com
esse Mestre. ê nisso que reside o verdadeiro valor do treinamento, não
nas informações que são dadas. Todos ensinam mais ou menos as mesmas
coisas; alguns ensinam um pouco mais, outros ensinam um pouco menos. Não
há grande divergência entre as diferentes escolas, mas há imensa
diferença em suas respectivas vitalidade e pureza.
Se um professor tem em sua natureza aspectos maus ou não sublimados,
esses aspectos irão pô-lo em contato com as potências correspondentes no
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mundo invisível, e quando ele procurar trazer a força do seu Mestre,


estará agindo com um contato mesclado, e os resultados para o aluno serão
o mal e o bem inextricável mente misturados. Sob tais circunstâncias, o
professor inclina-se a se dissociar cada vez mais do seu Mestre, e está,
portanto, penetrando em maré vazante e, à proporção que as forças
superiores falham, as inferiores tornam-se mais evidentes. Tal professor
é um conhecido excessivamente perigoso para qualquer sensitivo.
Aluno algum, por muito forte que se sinta, pode esperar ser mais forte do
que seu professor, porque, se este último não souber mais do que ele,
para que procurá-lo? Nunca acredite que está em condições de separar o
joio do trigo antes da colheita. Se o professor for um homem de vida
impura, o discípulo não pode evitar de ser envolvido em impureza. Se não
for escrupuloso, o discípulo será sacrificado ao seu amor ao poder ou aos
lucros.
Já ouvi ser argumentado o fato de que a disposição de enfrentar a repulsa
à associação com os maus é um dos testes do Caminho. Estar ao lado do
professor, através do bom e do mau rapport, é, realmente, um teste, mas
perdoar a ação má não o é. O teste, nesse caso, é de natureza contrária.
Você está preparado para perder sua oportunidade de iniciação, preferindo
isso a recebê-la de mãos sujas? Está preparado para recusar as Águas da
Vida, se elas estiverem poluídas com sujeira? Das respostas a essas
perguntas muita coisa depende. É essa a prova de que se deve engolir a
sujeira por amor do ensinamento? Ou de que se deve rejeitar a
oportunidade por causa da sujeira? Siga o seu instinto. Ele o levará para
o lugar a que pertence.
Lembre-se disto, porém: ninguém tem o poder de lhe dar iniciação ou negá-
la. Assim que estiver preparado para isso, pode reivindicá-la por
direito, não como favor. Se um canal se fechar, outro se abrirá.
Reivindique ante os Mestres a sua iniciação, e não ante uma Loja,
Fraternidade ou Ordem no plano físico. Embora o voto de tal assembleia
tenha o poder de fechar qualquer Loja em particular para a sua pessoa,
não tem o poder de fechar a Ordem, se essa Ordem for uma legítima
fraternidade oculta, porque, em tal caso, a decisão não cabe aos que
estão neste plano, e sim Àqueles que estão nos Planos Ocultos, de onde a
Ordem deriva seu poder. Se aqueles que são os guardas dos portões do lado
físico negam persistentemente o ingresso àqueles aos quais esse ingresso
é devido, o fluxo de força que emana através desses portões será desviado
para outro canal e um chão nu e coberto de pedras ficará ali onde antes
havia uma corrente navegável. E as Aguas da Vida vão fluir em outro
lugar. Mas as Aguas da Vida não cessam de fluir pelo fato do julgamento
humano declarar que são privativas. Ninguém que esteja buscando a verdade
precisa temer o julgamento humano. A conclusão está entre ele e seu
Mestre, e mais ninguém. Se estiver pronto para a iniciação, ele a
receberá, se não através de uma mão, então será de outra, e se não
estiver pronto, nem mesmo o maior Adepto do cosmos teria possibilidade de
lhe conferir. Nunca hesite em tomar posição ousadamente sobre um
princípio em assuntos ocultos, porque estará lidando com princípios, e se
não tomar posição quanto a eles, onde irá firmar os pés e encontrar
firmeza? Expediência é uma arma de dois gumes, das mais perigosas: nunca
se arrisque a usá-la. Em todos os momentos de dificuldade e perigo,
eleve-se a um plano superior, e nos princípios espirituais busque a
solução das dificuldades astrais. Nunca se deixe guiar pela opinião de
ninguém na busca de solução para um problema oculto. Recolha-se e tente
ouvir a quieta e pequena voz da consciência, pois ela será para você a
Voz do Mestre. Antes de assim ouvi-la, porém, invoque o Mestre, e cerque-
se com o círculo sagrado do Seu poder, desenhando-o no ar com seu dedo
enquanto invoca o Nome: porque há uma coisa chamada sugestão telepática,
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e, se você tem motivo para acreditar que essa sugestão está agindo, se
descobrir ideias impondo-se à sua mente, ideias que normalmente não
seriam ali toleradas, faria bem em realizar a meditação que deve
esclarecer seus passos, em uma igreja onde o Santíssimo Sacramento é
guardado, porque diante daquela Presença e potência nada pode vir que
produza uma mentira.

* Crustáceo que vive em conchas de moluscos, mudando de casa à medida que


cresce (N. T.).

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A ESCOLHA DE UMA ESCOLA OCULTA

Para aqueles que estão altamente desenvolvidos em vontade e consciência,


é possível obter acesso à fonte da Sabedoria Secreta através de métodos
puramente intuitivos e meditativos. Mas é necessário um grau considerável
de adiantamento nesses métodos, antes que isso seja possível. Há muitos,
porém, que têm um desejo sincero desse conhecimento, e que já alcançaram
o desenvolvimento de caráter que os qualifica para recebê-los, mas não
podem obtê-los por lhes faltar a técnica de percepção necessária que
torna tal conhecimento acessível aos métodos puramente meditativos. Para
esses, existe uma escola de treinamento que, embora não declare abrir o
portão dos mundos invisíveis, pode mostrar onde está o portão e dar a
chave que o abre, quando o discípulo trilhou o caminho que a ele conduz.
Mais do que isso ninguém pode fazer, a não ser que a pessoa escolha o uso
de drogas e de hipnose e pague o preço que essas coisas exigem.
Tal como ficou dito: "Os caminhos de Deus são tantos quanto o número de
respirações dos filhos dos homens." Há sete Caminhos conhecidos, embora
nem todos funcionem como Caminhos da Iniciação atualmente, e para cada
Caminho há muitas escolas. A escolha de uma escola depende do
temperamento, porque todas as que não são do Caminho da Esquerda, ensinam
um aspecto ou grau da Verdade eterna que é universalmente válido. Uma
escola de esoterismo surge, habitualmente, em conexão com alguma
compreensão especial da Verdade, que, às vezes, vai além de suas devidas
proporções para a vida como um todo, mas jamais será encontrado qualquer
ensinamento que tenha o poder de manter coeso um corpo de fervorosos
buscadores que não tenha uma fagulha do fogo divino em seus corações.
Portanto, deve haver respeito por todos os que buscam com sinceridade,
por muito longe da meta que eles pareçam estar, e todos os que estão
empenhados na Grande Busca devem antes tentar compreender a visão que um
irmão vislumbrou do que os erros nos quais caiu como vítima.
Nenhuma enunciação da verdade jamais será completa, nenhum método de
treinamento jamais será adaptável a todos os temperamentos, ninguém pode
fazer mais do que demarcar um pequeno lote do Infinito que pretende
cultivar, e meter ali a pá, confiando em que o solo possa vir a ser
frutífero, e livre de ervas más, até o limite que ele próprio determinou.
Entretanto, embora o trabalho seja essencial em qualquer empreendimento,
é Deus quem dá o crescimento. A Fraternidade que não tem iluminação a não
ser a inspiração do seu fundador está limitada pela capacidade da
personalidade dele, e se fará em cinza quando essa personalidade faltar.
Uma escola esotérica difere de todas as outras pelo fato de que, embora,
como as outras, sua sabedoria possa estar armazenada na biblioteca, seu
poder reside nos contatos que tem com os Mundos Ocultos, e a não ser que
tenha esses contatos não pode dar aos seus discípulos o poder de pôr em
prática a teoria. Todas as escolas do Caminho da Direita ensinam os
mesmos princípios, mas diferem muitíssimo em seu poder de aplicá-los.
Algumas afirmam que é bastante, para nós, conhecermos a teoria, e que a
tentativa de sua aplicação prática é uma perigosa presunção. Outras
afirmam que toda experiência é puramente subjetiva. Isso, é natural, pode
ser verdadeiro para os alunos dessas escolas, mas não existe, para as
raposas que têm caudas, a necessidade de cortá-las.
A não ser que o estudo da ciência esotérica dê frutos para aplicação
prática, é inútil que pessoas mentalmente sérias se ocupem em fazê-lo. E,
a não ser que esses frutos sejam frutos do espírito, não serão dignos de
constituírem objeto de estudo para qualquer pessoa mentalmente
espiritualizada. O homem tem quatro aspectos o físico, o emocional, o

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intelectual e o espiritual , e qualquer método de treinamento deve levar


em consideração todos os quatro, se quiser produzir aquele equilíbrio da
natureza que é o único a dar estabilidade. Infelizmente, o psiquismo é,
com frequência, ligado à instabilidade, mas nada, a não ser estabilidade
e constância, pode ser compatível com o exercício dos poderes ocultos.
O ocultismo não está à prova dos tolos; ele faz exigências pesadas à
coragem espiritual daqueles que se resolvem a estudá-lo, mas se for
levado adiante em condições corretas, pode produzir o bem sem a
inevitável mescla do mal. Não é ocupação para os fracos e os timoratos,
por muito puras que sejam suas intenções, nem é interesse saudável para
imaturos. Como a maturidade é um caso de desenvolvimento individual, é
difícil estabelecer uma linha firme e constante, mas a autora nunca se
preocupa em ver alguém de menos de vinte e cinco anos interessado em tais
assuntos. O primeiro quarto de século de vida devia ser dedicado ao plano
físico. Se a atenção se voltar prematuramente para os planos ocultos,
isso tende a retirar a energia dos planos exteriores antes do completo
desenvolvimento da percepção cerebral ser atingido, e a pessoa terá poder
insuficiente de extroversão, e uma tendência a se tornar permanentemente
introvertida, quando o ocultista corretamente treinado deve manter um
ritmo equilibrado entre os dois aspectos da consciência.
O equilíbrio é a tónica de todo o verdadeiro treinamento esotérico. Para
a natureza mal-equilibrada, a sabedoria superior nada mais é senão
perigo. A estabilidade é tão necessária quanto a pureza no Caminho. Um
sensitivo é pessoa bem diferente de um ocultista, e o tipo de treinamento
que desenvolverá um sensitivo é muito diferente daquele empregado para
treinar um ocultista. Os que se aventuram pelos mundos invisíveis podem
ser divididos em três classes: sensitivos e médiuns, místicos e
ocultistas. Sensitivos e médiuns são classificados juntos, porque o
último é apenas um desenvolvimento do primeiro. Ambos são o aspecto
negativo ou puramente receptivo da percepção superior. Ambos são
passivos, afetados por aquilo que é externo para o eu, sem o poder de
controlar isso, enquanto o místico e o ocultista são intensamente ativos.
Os poderes tanto do médium como do sensitivo deviam fazer parte do
arsenal de um ocultista integralmente treinado. Ele deveria divisar o
invisível tão claramente como um sensitivo o faz, e deveria, em
determinada ocasião, ser capaz de transmitir comunicações de um plano
para outro, mas também ele precisa ser muitíssimo mais. Seu ego deve ser
como o regente de uma orquestra na qual as faculdades de psiquismo e
mediunidade estivessem entre os instrumentos que dirige, que ele pode
fazer soar ou silenciar à vontade. É moda entre os ocultistas denegrir os
fenômenos das salas de sessões espíritas, fenômenos com os quais muitas
vezes não têm conhecimento direto, e nisso, na minha opinião, fazem uma
injustiça aos espiritualistas. O espiritualismo é, simplesmente,
ocultismo empírico, e embora o ocultista evite os riscos que os
espiritualistas correm, às vezes sem ter ciência do que estão fazendo, e
embora esses últimos devam geralmente a sua segurança ao fato de estarem
patinando em águas rasas, não há motivo para mútuas recriminações. Cada
um tem muito a dar ao outro. Os experimentos da sala de sessões espíritas
são proibidos aos ocultistas dos graus menores, não porque sejam nocivos,
mas porque são arriscados para um ocultista devido às potências com as
quais ele está em contato. Aquele que possui uma lanterna elétrica pode
fazer experiências com o seu mecanismo de uma forma que seria imprudente
para uma pessoa cuja lâmpada esteja ligada a uma estacão de força.
é divertido observar que enquanto o ocultista censura o espiritualista, o
místico olha enviesado para o ocultista. Contudo, o místico é
simplesmente um ocultista introvertido, e o ocultista é um místico
extrovertido. Ambos buscam o mesmo objetivo, embora procurem-no através
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de métodos diferentes. A diferença entre eles é de temperamento, não de


ideal. Quando o temperamento científico aborda o Invisível, escolhe o
Caminho Oculto do desenvolvimento, e quando o temperamento artístico
aborda o Invisível, escolhe o Caminho Místico. Um progride através do
correto conhecimento, e o outro através do correto sentimento. E ambos se
encontram, no fim. A diferença de métodos nunca nos deve cegar para a
unidade de objetivo.
O místico percorre um caminho solitário, mesmo quando é membro de uma
comunidade; sua visão é só sua, e com frequência pouco pode ensinar
daquilo que ele próprio aprendeu. Atinge as alturas do espírito e lá
habita separado; sua experiência é pessoal e não pode ser transmitida a
outrem. é, essencialmente, o temperamento artístico trabalhando em coisas
do espírito; criativo, alegre e inspirador para aqueles que podem
apreciar a sua arte por serem semelhantes a ele em natureza. O
esoterismo, sem um toque de enlevo místico, seria tão descolorido como
uma cultura que não tivesse lugar para o belo. Uma cultura espiritual
inteiramente mística, entretanto, tem pequena relação com os problemas da
humanidade e não traz mensagem para o homem comum.
O ocultismo, por outro lado, pertence ao intelecto. O caminho oculto é
seguido em cooperação com outros, porque suas alturas são alcançadas por
meio de trabalho de grupos e pelo uso do ritual.
Podemos falar da arte mística e da ciência oculta, e, assim falando, vem-
nos à memória que toda arte é baseada em uma ciência, e toda ciência
aplicada partilha da natureza da arte. O mais alto desenvolvimento é
atingido quando o místico possui o conhecimento e a técnica de um
ocultista, ou quando o ocultista é um místico em seu coração. O místico
pode, então, expressar os ensinamentos do espírito em termos do
intelecto, e assim torná-los acessíveis para aqueles que não têm
percepção mais alta do que a da mente; e o ocultista que partilha das
coisas do espírito terá aquele elemento de devoção em sua natureza,
elemento que, com tanta frequência, falta naqueles em que o intelecto é
dominante. Sem esse elemento, a síntese final é impossível. Ele será
apenas um filósofo exotérico que segue um horizonte em constante recuo,
porque ele só estuda os fenômenos por meio do efeito que eles produzem
sobre os sentidos. A consciência numênica, que é a meta final do
esoterista, só é possível para aqueles que podem, realmente, unir-se
àquilo que desejam conhecer. O objetivo final da compreensão é o Logos,
através de cujo fiat todas as coisas existem. A união com o Divino só
pode ocorrer pela devoção, e a união com o Divino é a síntese final.
Todos os caminhos levam a isso, e nisso todos os objetivos encontram sua
realização. O místico busca um estado de conhecimento no qual deve estar
de acordo com Deus, e o ocultista busca um estado de conhecimento no qual
terá o entendimento completo da verdade; ambos conhecem Deus, mas nenhum
pode conhecer Deus em Sua inteireza.
É por isso, portanto, que nos Mistérios Menores, o neófito, cujo
temperamento inclina-se para o ocultismo, é levado a seguir o Caminho
Místico, enquanto o místico é forçado a seguir o Caminho Oculto. Só
quando os Grandes Mistérios são alcançados é que cada um tem permissão
para seguir sua tendência natural. Faz-se isso para garantir um
desenvolvimento equilibrado.

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O CAMINHO DA INICIAÇÃO

"Se a luz em ti for escuridão, como é grande essa escuridão." O Cristo


interior é o Primeiro Iniciador. A entrada para o caminho deve ser
procurada interiormente, não do lado exterior, porque é um estado
exaltado da consciência. Desde que essa consciência é obtida, entretanto,
o Caminho é tanto objetivo como subjetivo. Alguns professores declaram
que o Caminho é inteiramente subjetivo, dizendo que a meta da iniciação é
a perfeição do homem. Outros ensinam que a iniciação é uma experiência
astral, enquanto o pensamento popular muitas vezes acredita que o homem
que busca a iniciação irá encontrá-la em alguma região remota, atrás de
altas paredes. Nenhum desses conceitos encerra toda a verdade, mas há um
elemento de verdade em todos eles.
A fim de alcançar a iniciação, é necessária a elevação da consciência a
um grau superior ao que é comum entre a média da humanidade. A
consciência deve transcender não apenas os cinco sentidos físicos, mas
deve transcender também o psiquismo comum, se a experiência relacionada
com a palavra "iniciação", nestas páginas, tiver de ser alcançada. A
iniciação é uma experiência espiritual, não astral; o candidato desloca o
foco da sua percepção, retirando-o da personalidade, a unidade de
encarnação, e levando-o para a individualidade, o ego imortal, ou unidade
de evolução, e a consciência da individualidade, sendo abstrata, é capaz
de apreender as coisas do espírito que não têm manifestação nos planos da
forma. O iniciado transfere o foco de sua consciência da personalidade
para a individualidade, portanto as coisas que estão ocultas para o homem
comum são perceptíveis para ele. Vive em uma evolução, não em uma
encarnação, e, conseqüentemente, todos os valores são modificados. Pode
ver com profundidade na região das causas, percebendo eventos que
fermentam nos planos ocultos bem antes que eles se manifestem no
exterior, e, assim, ele tem o dom da profecia. Vendo as causas, muitas
vezes pode controlá-las, portanto ele parece ter poderes mágicos.
Operando em planos superiores, que atuam como alavancas de controle para
os planos inferiores, pode equilibrar força contra força, projetando sua
vontade na escala, e assim mudando os resultados dos acontecimentos no
plano físico. São essas coisas que levam a ver o iniciado como alguém que
possui poderes mágicos. Mas esses poderes não são da natureza da magia. O
iniciado chega aos seus fins empregando os poderes do seu eu superior nos
planos superiores, tal como faz o peregrino cujas preces recebem
resposta.
O Caminho que leva à iniciação é o caminho da vida que possibilita a um
homem elevar-se acima dos desejos e limitações da sua personalidade e
viver em seu eu superior, e a experiência da iniciação é a transferência
da consciência, que passa da personalidade para a individualidade.
Um homem coloca os pés no Caminho imediatamente ao desejar isso. É o
primeiro passo, e muito simples. Porém, apenas com a continuidade do
desejo é que ele coloca um pé depois do outro e estará palmilhando o
Caminho. Muito poucas são as almas que mantêm o desejo suficientemente
firme que as capacite a fazer progressos perceptíveis. Entretanto, o
desejo, mantido com firmeza, depressa mostrará ter atingido o alvo
desejado, e o candidato receberá o conhecimento necessário que lhe
faculta a obtenção de progressos apropriados, dirigindo seus esforços
para uma finalidade definitiva. Por esse motivo é que os Mestres
encontram e apoiam organizações tais como a Sociedade Teosófica, a
Sociedade Antroposófica, a Fraternidade Rosa-Cruz, e muitas outras, menos
conhecidas, mas não menos úteis, e a todas elas, os que viram o alvorecer

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deveriam dar seu apoio, em prova de gratidão pela luz que eles próprios
receberam, e a fim de que o Caminho seja mais fácil para outros.
Através dos livros e conferências de tais sociedades, o candidato
aprenderá que seu sonho tem um fundamento em fatos, e que sua ânsia
íntima está baseada em um instinto verdadeiro. Eles fornecerão o mapa do
Caminho, embora ninguém, a não ser o próprio candidato, possa percorrê-
lo. Deles aprenderá a origem do homem como uma potencialidade divina, a
sua evolução através das experiências sétuplas da forma e sua
transcendência final de forma no desenvolvimento da divina realidade.
Aprenderá sobre os sete planos e suas possibilidades, e também aprenderá
sobre a existência dos Mestres.
Tendo aprendido todas essas coisas, tendo, por assim dizer, adquirido a
teoria da ciência esotérica, como pode o candidato passar essa teoria
para a prática? Como, pessoalmente, irá passar pela experiência daquilo
que lê? Poderá alcançar a percepção do plano astral pelo uso da auto-
hipnose e das drogas: o método é simples, mas as consequências são
desastrosas para o eu superior. Pode, também, levar o astral à
manifestação no plano físico pelo uso da magia. O conhecimento desses
métodos, contudo, é cuidadosamente guardado e não facilmente obtido,
assim como não pode ser usado sem perigo por alguém que não seja um
Adepto.
A forma de alcançar conhecimento pessoal dos mundos superiores pode ser
facilmente contatada, embora não possa ser praticada tão facilmente. Os
sentidos da individualidade podem conhecer esses mundos. Se, entretanto,
os aspectos superiores do homem, a natureza espiritual e o poder do
pensamento abstrato forem cultivados até que tenham atingido um alto grau
de desenvolvimento, e se o foco da percepção for, então, deslocado da
personalidade, a unidade de encarnação, para a individualidade, a unidade
de evolução, será possível aumentar õ desenvolvimento desses aspectos da
natureza, até que o Universo seja apreendido em termos de pensamento
abstrato e intuição espiritual. O deslocamento do foco da consciência é
alcançado pelo deslocamento do foco do desejo das coisas dos sentidos
para as coisas do espírito. Não é bastante que a vontade seja dirigida
para um objetivo espiritual; um estágio de desenvolvimento deve ser
alcançado, no qual os desejos espontâneos também para ali se dirijam.
Muitos pretensos iniciados cometem o engano de pensar que desejar
iniciação é suficiente, mas esse não é o caso. A maioria dos desejos da
natureza, tanto conscientes como subconscientes, devem ser afastados das
coisas dos sentidos para as coisas do espírito. E, como a mente
subconsciente contém muito do que concerne à infância da raça e inclina-
se para a matéria em sua forma mais densa, é necessário levar a
consciência além do que habitualmente é o território do subconsciente, a
fim de garantir a assimilação dos desejos instintivos pelas finalidades
da natureza espiritual.
A fim de conseguir essa assimilação, devemos, primeiro, nos conhecer em
nossos aspectos mais primitivos, e então sublinhar esses aspectos até que
eles possam ser assimilados pela personalidade. Porque, enquanto a
personalidade não se tiver integrado, não pode, deliberadamente, ou por
sua volição esclarecida, procurar a realização da sua vida nos ideais da
individualidade. Essa é a apoteose da personalidade. Por isso é que a
fome da alma está sempre clamando, porque não pode encontrar satisfação
nas coisas dos sentidos. A união com o aspecto divino do eu, o Deus
interior, deve preceder à percepção do Deus do Todo, do qual ele é apenas
uma parte. O nível espiritual da natureza do homem é apenas uma porção
circunscrita do Espírito Uno, o Todo, o aspecto numênico da manifestação.
Porque para aquilo que é em si mesmo numênico, ou uma realidade
subjacente, não pode haver satisfação no que é fenomenal, ou da natureza
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da experiência projetada. A fagulha da Luz Divina, que é o núcleo do ego


reencarnante, ou individualidade, deve associar-se com os seus iguais se
quiser conhecer companheirismo. O aspecto espiritual do instinto gregário
só pode encontrar satisfação através da união com o Espírito. Ele não tem
morada no mundo do fenómeno, e se a consciência se tiver elevado até a
apreensão das realidades espirituais à parte das experiências no mundo da
forma, jamais aceitará novamente coisa alguma como válida, se não tiver
um núcleo dessa realidade numênica. Tal realidade, uma vez sentida,
trazendo, como traz, a completa satisfação da própria vida, e não de
qualquer apetite saciado, forma o tipo de toda futura satisfação, e
determina a sua validade. Se tal experiência alguma vez ocorresse na
história do ego encarnante, nunca seria esquecida, e ele levará consigo,
vida após vida, essa experiência impressa na subconsciência da
personalidade, a unidade de encarnação, até que a evolução torne possível
àquilo que é ultraconsciente fazer-se consciente.
A primeira iniciação consiste no relance de consciência cósmica, ocasião
em que o ego vê com os olhos do espírito em vez de ver com os olhos da
carne. Isso só é alcançado pela exaltação da percepção, e vem do
interior. Mas, uma vez conhecida essa experiência, para reproduzi-la nas
encarnações subsequentes, é necessário apenas ligar o consciente com o
subconsciente por meio de uma cadeia de associações para trazer esse
aspecto particular do subconsciente para uma percepção consciente. Isto é
alcançado por meio da iniciação ritual, e o simbolismo do ritual
empregado é planejado para levar a consciência ao longo da devida cadeia
de associações que terminará na memória da Luz da Realidade.
A iniciação ritual não pode fazer mais do que isso, mas é o suficiente,
porque, na Grande Luz, o Mestrado está compreendido. O psíquico
desenvolvido ou o mágico integralmente treinado pode tornar-se um Adepto
sobre todos os planos do cubo da manifestação, porém algo mais existe
além, algo que tem suas afinidades com aquilo que, em relação ao universo
solar, não é manifestado, sendo cósmico. Ninguém pode ser chamado um
iniciado se não teve a experiência da consciência cósmica. Passar pelos
graus dos Mistérios Maiores sem isso nada mais significa senão uma
sublevação psíquica, os olhos enceguecidos pelo excesso de luz, da qual a
consciência não tem um símbolo para interpretar. Por outro lado, o
neófito, se estiver adequadamente preparado, pode ver a Luz por trás dos
símbolos e receber a iluminação.
Para que as páginas precedentes sejam compreendidas, não se deve
interpretá-las em seu significado literal ou verbal. a! coisas que elas
têm a intenção de descrever não têm palavra ou imagens na linguagem, para
representá-las. A fim de chega ao significado, o leitor deve interpretá-
las por meio de experiências análogas, dele próprio. Se não tem
experiências análogas não receberá a impressão que elas pretendem
transmitir, e irá não desarrazoadamente, chamar tolices a essas coisas.
Para c que assim são, eu nada posso oferecer. O tempo evolucionário terá
de fazer o seu trabalho.

A Society of The Inner Light, fundada por Dion Fortune, tem cursos para
todos que desejem seguir seriamente o Estudo da Tradição Esotérica
Ocidental.

pG9@gmx.net
cadppus@yahoo.com

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