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O investidor que não tem uma metodologia com regras bem definidas

corre o risco de tomar decisões equivocadas no mercado, por influên-


cia de suas emoções e vieses. Por isso, players mais experientes ado-
tam um conjunto de princípios que norteiam suas análises do merca-
do de ações.

Ao longo deste material, compartilharemos nossos próprios funda-


mentos, denominados “Os 10 Mandamentos do Mercado de Ações”.
Todos se tratam de regras majoritárias, atemporais e que nunca de-
vem ser deixadas de lado, independentemente do contexto ou situ-
ação.

É fácil para os investidores se deixarem levar por narrativas e mo-


dismos que sempre aparecem de tempos em tempos no mundo dos
investimentos, ignorando conceitos fundamentais e básicos. Ao final
desta leitura, você não terá mais desculpas para fazê-lo. Seja fiel ao
método e deixe os mandamentos guiarem sua análise e tomada de
decisão.

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O mercado desconta eventos futuros e, embo-


ra o mecanismo não seja perfeito, esse fenô-
meno é protagonizado pelos investidores de
grande porte. Isso ocorre porque eles contam
com mais recursos para investir na coleta de
dados para compreender o desempenho de
uma empresa ou os rumos da atividade eco-
nômica.

Dessa forma, os grandes players adquirem in-


formações que somente semanas ou meses
depois são divulgadas pela mídia. Isso se tra-
duz em capacidade de antecipação e, tendo
muito poder de fogo, eles acabam conduzindo
as tendências, determinando seu rumo em rit-
mo e direção que variam de acordo com suas
convicções.

Estando sempre um passo à frente dos de-


mais, esses investidores capitaneiam a nau do
mercado na maior parte do tempo e é apenas
no esgotamento de uma tendência de alta de
longo prazo que a presença de pessoas físicas
tende a ser maior.

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O nível da valoração de um mercado de ações


– se os preços estão caros ou baratos – é in-
versamente proporcional ao percentual da
participação de ações nos portfólios de valo-
res mobiliários dos investidores finais. Por isso,
é justamente quando o mercado está caro que
há participação massiva de investidores ini-
ciantes.

A história demonstra que, com todo o leque


de opções sempre disponíveis aos investido-
res finais, quanto maiores forem as alocações
em ações em detrimento das demais opções,
maior será a demanda e, por consequência,
menor é o retorno nos dez anos subsequentes.

O oposto também é verdade. Quanto menor o


percentual de ações em posse dos investidores
finais, menor é o nível de valoração e maior é o
retorno no longo prazo.

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Consequência do mandamento anterior, a


presença muito acima do comum de pessoas
físicas comprando ações é típica de estágios
finais de um mercado de alta.

Somente após uma prolongada fase de alta


do mercado é que os investidores individuais
aceitam a ideia de que o movimento é secular
e, por algum tempo, obtêm os seus primeiros
ganhos. Nesse período, a euforia toma conta
do mercado.

Os iniciantes decidem aumentar a exposição em


ações muitas vezes guiados apenas por conse-
lhos de amigos, influencers ou induzidos pela
mídia (especializada ou não), seduzidos pela ilu-
são de ganhos fáceis.

Tal fato acaba formando uma armadilha, pois


esses investidores sentem-se mais confiantes
justamente nos momentos em que o risco é
maior e os rendimentos no longo prazo são in-
feriores.

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Por alguma razão que somente a psicologia com-


portamental explica, um contingente expressivo
de analistas pronunciou a famosa frase “desta
vez é diferente” (“this time is different”) às vés-
peras das inúmeras crises do passado, possivel-
mente enfeitiçados pela evolução dos preços das
ações.

Por esse filme ter se repetido inúmeras vezes, de-


ve-se sempre lembrar que o mercado acionário
tem o péssimo hábito de fazer com que muitos
analistas e investidores duvidem do óbvio, até
mesmo aqueles com boa reputação em sua área.

Nas fases finais de um mercado de alta, quan-


do investidores iniciantes adentram o mercado,
as evidências de esgotamento da tendência se
acumulam gradativamente, possível de serem
percebidas sem demasiado esforço ou recursos
extraordinários.

Entretanto, o encanto com os retornos passados,


a ilusão do enriquecimento sem esforço e o sen-
timento predominante turvam de tal maneira a
visão dos investidores que eles passam a duvidar
do óbvio, seguem a mentalidade de manada e se
rendem às armadilhas do mercado.

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O mercado de ações irá apresentar a cada


momento novas situações que dificilmente se-
rão comparáveis com qualquer outro instante
no passado. A regra que funcionou hoje deixa-
rá de funcionar amanhã. Tais situações preci-
sarão ser avaliadas pelo investidor e para isso
é imprescindível muito esforço, estudo, treino e
tempo de dedicação.

Contrariando a famosa frase de Mark Twain –


“a história nunca se repete, mas rima” –, ela de
fato não se repete e às vezes nem rima. Os de-
talhes fazem a diferença e é justamente onde
mora o perigo.

Alheios a isso, os investidores insistem em dar


demasiado valor a comparações com o passa-
do, muitas vezes reforçando os cenários fanta-
siosos que lhes convém (viés da confirmação).
Preparam, assim, uma armadilha para si pró-
prios.

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A avalanche de informações, interpretações de


analistas – muitas vezes incapazes de sair do
lugar-comum – ou da mídia, que quase sempre
abraça uma tese somente quando ela já se tor-
nou unanimidade, praticamente apreçada pelo
mercado acionário, leva a uma enorme confusão
mental no investidor comum e a uma necessida-
de insaciável de informações adicionais, criando
um círculo vicioso psicologicamente insuportável.

Resultado disso são diversos vícios cognitivos (os


demônios internos dos investidores), que são os
desvios de comportamento que distanciam o indi-
víduo de sua melhor decisão.

As finanças comportamentais têm prestado


inestimável contribuição ao identificar e estudar
esses vieses cognitivos, como por exemplo: ex-
cesso de confiança, negligência ao risco, aten-
ção limitada, viés do status quo, da dotação, da
confirmação, efeito da disposição, entre outros.

Para não serem punidos financeiramente, os


investidores precisam conhecer e identificar
seus próprios vieses (sempre presentes), para
enfim combatê-los, afastando-se de percep-
ções distorcidas por efeitos psicológicos.

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O preço no mercado de ações é uma função


complexa e não linear das expectativas cole-
tivas sobre os lucros, da política monetária e
do grau de propensão ao risco dos investido-
res. Dentre esses fatores, o mais determinante
para o rumo do mercado é a expectativa sobre
os lucros.

Ela é avaliada pelos analistas através do lu-


cro operacional – que é aquele projetado nos
doze meses subsequentes. O lucro operacional
é composto da atividade principal da empre-
sa, inclui os custos de produção, as despesas
operacionais para a manutenção dos negócios
e a depreciação. Exclui despesas ou receitas fi-
nanceiras, lucros obtidos em investimentos em
outras companhias e o imposto de renda.

Há um detalhe, porém: não são os níveis das ex-


pectativas coletivas sobre os lucros que impul-
sionam os preços dos ativos, mas as mudanças
nessas expectativas.

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Tornou-se popular o conceito de que para ob-


ter retornos maiores, deve-se assumir maiores
riscos. Isso é um engano!

Diferentemente do que postulam as finanças


tradicionais, a relação do risco e do retorno é in-
versa e não direta. Quanto menor é o risco do
mercado, maior tende a ser o retorno que ele
proporcionará no médio prazo. Como consequ-
ência, é nos instantes de baixo risco que se deve
tirar todo o proveito, expondo-se ao mercado
em operações com volumes acima do que as re-
gras de bolso recomendam.

George Soros disse a um dos gestores de seus


fundos que, quando se tem uma convicção for-
te e bem fundamentada sobre uma operação
no mercado de ações, deve-se pular na jugular
de quem estiver na ponta contrária. É o que
deve ser feito quando o risco for baixo.

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O mercado não exerce a sua função de ma-


neira linear e o seu funcionamento não é uma
ciência exata, pois se assim fosse não haveria
risco.

Acrescente isso ao fato de que os investidores


de grande porte, que movem o mercado, nem
sempre exercem sua pressão no mercado em
perfeita sintonia – há momentos de divergên-
cia entre eles, até que um lado se dá por ven-
cido e vai reforçar o movimento na ponta con-
trária.

Por esse motivo, timing perfeito (momento de


iniciar ou encerrar uma operação) é impossível,
não importa o método empregado.

A fase mais difícil é sempre a identificação, com


razoável clareza, do momento da exaustão de
uma tendência de alta; a identificação dos fun-
dos (inflexão da baixa para a alta) tende a ser
mais fácil.

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O que se aprende nas escolas de administra-


ção é que o risco é medido pela variância, ou
seja, apenas uma variável explicaria todo o ris-
co envolvido no mercado.

Porém, a classificação do risco em um espaço


unidimensional apresenta taxa de acerto muito
insatisfatória. Nunca deixe suas decisões serem
guiadas por uma visão simplista e incompleta.

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Na QUAD, enxergamos o mercado sob diversos ângulos para não nos
prendermos a uma variável em específico. Esses ângulos são chama-
dos de dimensões, e utilizamos quatro delas em nossa análise – Va-
loração, Indicadores Macroeconômicos, Sentimento e Ação dos Preços.

Cada dimensão tem maior relevância em diferentes horizontes tem-


porais, sendo as duas primeiras mais apropriadas para o longo e mé-
dio prazo, e as últimas para o curto prazo.

Quanto mais alinhadas elas estiverem, ou seja, apon-


tando para a mesma direção, menor é o risco – e maior
o retorno em potencial.

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