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Família Wings

Tradução e Revisão: Angel e


Seraph

Leitura: Aurora

Formatação: Angel e Aurora

09/2021
Aviso

A tradução foi efetuada pelo grupo Wings Traduções (WT), de


modo a proporcionar ao leitor o acesso à obra, incentivando à
posterior aquisição. O objetivo do grupo é selecionar livros sem
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disponibilizando-os ao leitor, sem qualquer forma de obter lucro,
seja ele direto ou indireto.
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adquirir as obras, dando a conhecer os autores que, de outro
modo, não poderiam, a não ser no idioma original,
impossibilitando o conhecimento de muitos autores desconhecidos
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código penal e lei 9.610/1998.
Sinopse

Maddox ‘Mad Dog’ White odeia tudo o que o nome


Vitiello representa depois de testemunhar seu pai e seus
homens sendo massacrados pelo Capo da máfia italiana em
seu território. Criado por seu tio, o presidente do Tartarus
MC, Maddox está destinado a seguir seus passos. Agora sua
sede está em ascensão novamente, mas para seu triunfo
final, eles precisam destruir o império Vitiello. E que melhor
maneira de fazer isso do que roubar a princesa mimada de
Vitiello e quebrá-la pedaço por pedaço até que seu pai
implore por misericórdia.

Conhecida como a princesa mimada de Nova York,


Marcella Vitiello cresceu em uma gaiola dourada. Se seu pai é
o homem mais temido de Nova York, as pessoas o tratam com
reverência.

Destinada a se casar com o homem aprovado por seu


pai, Marcella está cansada de ser tratada como uma boneca
de porcelana intocável.

Ela se ressente da vida forçada por sua família até que


tudo o que considerava como certo é arrancado dela. Onde
ela está agora, seu nome não causa admiração, apenas dor e
humilhação. Se você cresceu em um castelo alto, a queda é
ainda maior.

Os pecados cometidos pelos pais têm uma maneira de


alcança-lo... quem sangrará por eles?
Prólogo

Algumas coisas correm em seu sangue. Elas não podem


ser abaladas, não podem ser alteradas, não podem ser
perdidas, mas podem ficar adormecidas. Desde cedo, eu
tinha um instinto infalível quando se tratava de perigo ou
farejar uma pessoa em quem não podia confiar. E prestava
atenção, sempre parando antes de agir vislumbrando bem
dentro de mim, por aquela intuição, verificando novamente.

Até que parei de prestar atenção, até que me acostumei


com os outros cuidando da minha segurança, até que confiei
em seu julgamento sobre o meu. Entreguei minha vida para
outros, guarda-costas capazes, homens que eram muito mais
preparados para me proteger do que eu, ‘uma mera menina’ e
mais tarde ‘mulher’, era. Se tivesse dado ouvidos aos meus
instintos, ao formigamento na nuca naquela primeira noite, e
mais tarde, quando me levaram, estaria segura. Mas aprendi
a ensurdecer minha voz interior, a um instinto herdado de
meu pai, porque deveria estar alheia aos perigos de nossa
vida.
As crianças aprendem rapidamente que fechar os olhos
do mal não te protege. Levei muito tempo para aprender essa
lição.

Desde o primeiro momento em que vi Branca de Neve,


ela ficou gravada em meu cérebro. Cada maldita noite, a
imagem de seu corpo nu me torturava em detalhes
enlouquecedores.

Às vezes acordava com os resquícios de seu gosto em


minha boca, meio convencido de que realmente enterrei
minha língua em sua boceta, sem dúvida bonita. Porra, não
tinha visto um centímetro daquele corpo lendário ainda,
muito menos tocado. Ah, mas tocaria, mesmo que fosse uma
maçã envenenada.

Um cara como eu nunca teria permissão para se


aproximar da Branca de Neve. Eu não era um perdedor do
caralho, longe disso. Ia me tornar presidente do Tartarus MC,
seguindo os passos do meu tio, o presidente atual. Claro, isso
me tornava a escória mais baixa da terra se perguntasse a
Branca de Neve e seu maldito pai, Luca Vitiello, o Capo da
máfia italiana na Costa Leste. Eu era um garotinho, de
apenas cinco anos, quando a vida que conhecia foi arrancada
de mim. Como filho do presidente da sede de Nova Jersey do
Tartarus MC, vi muitas coisas perturbadoras desde muito
jovem. Irmãos do clube transando com prostitutas no meio da
sede do clube em plena luz do dia, lutas brutais, tiroteios...
mas nada havia me marcado como a noite em que o Capo da
Famiglia matou brutalmente meu pai e seus homens.

O bastardo assassino massacrou a sede inteira de nosso


clube, sozinho.

Risque isso.

Não sozinho, com a porra de um machado e uma faca de


esfolar. Os gritos da minha família do clube morrendo ainda
assombravam minhas noites, o eco de uma memória que não
conseguia afastar a menos que bebesse o suficiente para
matar um elefante. Essas imagens foram o combustível para
minha fome de vingança.

A vingança que finalmente conseguiria, com a ajuda da


princesa mimada de Nova York: Marcella Vitiello.
Capítulo 1

Cinco anos de idade

Agachado no piso do clube, eu girava uma garrafa de


cerveja vazia. Minhas palmas estavam pegajosas por causa
disso. Quando trouxe meus dedos à boca para provar, meus
lábios se curvaram em uma careta. Um sabor amargo e podre
explodiu na minha língua, agarrando-se às minhas gengivas
e garganta. Cuspi, mas o gosto ruim não desapareceu.

A sala estava cheia de fumaça de charutos e cigarros,


fazendo meu nariz coçar um pouco e às vezes até meu ranho
tinha manchas pretas.

Continuei girando a garrafa. Não tinha nenhum outro


brinquedo aqui. Meus brinquedos estavam todos com
mamãe, mas papai me pegou lá ontem e eles gritaram um
com o outro como sempre faziam. Papai deu um tapa em
mamãe, deixando uma marca vermelha da mão em sua
bochecha, e estava de mau humor desde então. Eu sempre
ficava fora do seu caminho quando ele estava assim. Agora,
ele estava gritando com alguém ao telefone.
Pop, o segundo em comando, geralmente brincava
comigo, mas ele estava sentado no bar com uma mulher loira
e a estava beijando. Os outros motoqueiros se amontoaram
ao redor da mesa e jogavam cartas. Eles realmente não
queriam que eu os irritasse. Um deles me empurrou, então
caí de bunda quando perguntei se poderia vê-los jogar. Meu
cóccix ainda doía onde bateu no chão.

Passos trovejaram mais perto. A porta do clube se abriu


e um dos prospectos entrou tropeçando, os olhos arregalados.
— Limusine preta!

Todos pularam como se as palavras fossem um código


secreto. Minha cabeça girou para papai, que gritava ordens,
saliva voando de sua boca. Não entendia o que havia de tão
ruim em um carro preto. Um grito soou, agudo, depois
gorgolejante. Olhei de volta para a porta e o prospecto caiu
para frente, um machado na parte de trás de sua cabeça,
partida como uma melancia madura. Deixei cair a garrafa,
meus olhos se arregalando. O corpo caiu no chão e sangue
espirrou por toda parte quando o machado caiu de sua
cabeça, deixando um corte profundo em seu crânio onde eu
podia ver pedaços de seu cérebro. Exatamente como uma
melancia, pensei novamente.

Papai correu até mim e agarrou meu braço com força. —


Esconda-se embaixo do sofá e não saia! Está me escutando?

— Sim senhor.

Ele me empurrou em direção ao velho sofá cinza e caí de


joelhos rastejando para baixo dele. Já fazia um tempo que
não tentava me espremer embaixo do sofá e quase não cabia
mais, mas eventualmente deitei de barriga, de frente para a
porta de entrada e a sala.

Um homem enorme com olhos selvagens invadiu, uma


faca e uma arma na mão. Prendi a respiração quando ele
entrou rugindo como um urso louco. Ele arremessou sua faca
no tesoureiro de papai, que havia agarrado sua arma. Muito
tarde. Ele caiu para frente, bem diante do sofá. Seus olhos
enormes me encarando enquanto o sangue se acumulava sob
sua cabeça.

Recuei alguns centímetros, mas congelei abruptamente,


com medo de que meus pés ficassem para fora. Os gritos
ficaram cada vez mais altos até que pressionei minhas
palmas sobre os ouvidos, tentando bloqueá-los. Mas não
conseguia desviar o olhar do que estava acontecendo. O louco
agarrou sua faca e jogou em Pop. Ele o acertou bem no meio
do peito e Pop caiu para trás como se tivesse bebido demais.
Papai correu para trás do bar com dois prospectos. Eu queria
me esconder lá com ele, queria que me consolasse, mesmo
que isso não fosse algo que ele fizesse. O louco atirou na mão
de outro irmão do clube quando ele pegou uma arma caída.
Eu podia ouvir os tiros mesmo através das palmas sobre
minhas orelhas, baques surdos que me faziam estremecer a
cada vez.

O louco continuou atirando no bar, mas por fim tudo


silenciou. Papai e os prospectos ficaram sem munição?
Meus olhos se moveram para o arsenal no final do
corredor. Um dos prospectos saiu de trás do balcão, mas o
homem o perseguiu e jogou o machado em suas costas.
Fechei os olhos com força, respirando fundo algumas vezes,
estremecendo, antes de ousar abri-los novamente. O sangue
do tesoureiro se espalhava lentamente e começou a ensopar
minhas mangas, mas dessa vez não ousei me mexer. Nem
mesmo quando encharcou minhas roupas e cobriu meus
dedinhos. Mais dois homens de papai entraram, tentando
ajudar. Mas o louco era como um urso zangado. Fiquei imóvel
enquanto ouvia gritos de agonia e raiva observando um
cadáver após o outro cair no chão. Havia muito sangue por
toda parte.

Papai gritou quando o homem o arrastou de trás do bar.


Deslizei para frente, querendo ajudá-lo, mas seus olhos
cortaram para mim e me alertaram para ficar onde estava. Os
olhos do homem mau seguiram os de papai. Seu rosto era
como o de um monstro, coberto de sangue e contorcido de
raiva. Abaixei minha cabeça, com medo de que ele tivesse me
visto. Mas ele continuou arrastando papai para uma cadeira.

Sabia que não devia desobedecer às ordens de meu pai e


por isso permaneci imóvel pelo que pareceram dias, mas
provavelmente foram apenas alguns minutos. O homem mau
começou a machucar papai e o prospecto que ainda estava
vivo. Não podia mais assistir e fechei os olhos com tanta força
que minhas têmporas latejaram. Pressionei minha testa em
meus braços. Meu peito e meus braços estavam quentes de
sangue e minha calça estava quente onde tinha feito xixi.
Tudo fedia a xixi e sangue, e prendi a respiração, mas meu
peito doía e tive que respirar fundo. Comecei a contar os
segundos, tentei pensar em sorvete, bacon frito e na torta de
limão da mamãe, mas os gritos eram muito altos. Eles
afastaram todos os pensamentos da minha cabeça.

Por fim, o silêncio reinou ao meu redor e ousei levantar


a cabeça. Meus olhos lacrimejaram quando olhei em volta.
Havia manchas vermelhas e pedaços de carne espalhados por
toda parte. Estremeci e vomitei, a bile deixando minha
garganta crua, então congelei, com medo de que o homem
mau estivesse por perto para me matar também. Não queria
morrer. Comecei a chorar, mas rapidamente enxuguei as
lágrimas. Papai odiava lágrimas. Por um tempo, ouvi as
batidas do meu coração, que soavam em meus ouvidos e
vibravam em meus ossos até que me senti mais calmo e
minha visão clareou.

Finalmente, olhei em volta em busca do homem, mas ele


não estava em lugar nenhum. A porta da frente estava
aberta, mas ainda esperei muito tempo antes de finalmente
sair de baixo do sofá. Apesar de minhas roupas estarem sujas
de xixi e sangue, e meu corpo gritando por comida e água,
não fui embora. Fiquei no meio dos corpos dilacerados de
homens que conheci durante toda a minha vida, homens que
eram a coisa mais próxima de uma família normal que já tive.
Quase não reconheci nenhum deles. Eles estavam muito
desfigurados.
O corpo do papai era o pior. Não reconheci seu rosto.
Apenas a tatuagem em seu pescoço: uma caveira cuspindo
fogo, me disse que era ele. Queria me despedir dele, mas não
me atrevi a me aproximar do que restava de seu corpo. Ele
parecia assustador. Finalmente saí de repente e não parei de
correr até chegar à casa de uma old lady. Era a propriedade
do tesoureiro. Eu a visitei algumas vezes antes, quando ela
fez biscoitos para mim. Quando ela me viu coberto de sangue,
imediatamente soube que algo estava terrivelmente errado.

— Eles estão mortos, — sussurrei. — Todos mortos.

Ela tentou ligar para o telefone do pai, depois do Pop e


de outros irmãos do clube, mas ninguém atendeu.
Eventualmente, ela ligou para minha mãe e me limpou
enquanto esperava que eu fosse pego.

Quando a mamãe finalmente chegou, ela parecia branca


como um lençol. — Vamos, temos que sair.

Ela pegou minha mão. — E o papai?

— Não podemos fazer mais nada por ele. Nova York não
é mais segura para nós. Temos que ir embora, Maddox, e não
podemos mais voltar. — Ela me arrastou em direção ao nosso
velho Ford Mustang e me sentou no banco do passageiro. O
carro estava tão cheio de malas que eu não podia olhar pela
janela traseira.

— Estamos indo embora? — Perguntei, confuso.

Ela girou a chave na ignição. — Você não ouviu? Temos


que partir para sempre. Este não é mais o território do
Tartarus. Vamos morar com seu tio no Texas agora. Será sua
nova casa.

Minha mãe ligou imediatamente para meu tio Earl,


pedindo ajuda. Ela não tinha nenhum dinheiro, era papai que
sempre lhe dava, embora sempre brigassem e não morassem
mais juntos. Earl nos ajudou e então nos mudamos para o
Texas, e eventualmente mamãe se tornou a old lady de Earl e
eles tiveram meu irmão Gray.

O Texas se tornou meu lar temporário, mas meu


coração sempre clamava para retornar à minha terra natal,
reivindicar meu direito de nascença e buscar vingança.

Não voltei para Nova Jersey por muitos anos, mas


quando finalmente voltei, foi com um propósito em mente:
matar Luca Vitiello.
Cinco anos de idade

Eu me sentei na beira da cama, minhas pernas


balançando para cima e para baixo. Meu olhar estava
grudado na porta, esperando que ela se abrisse. Já eram
sete. Mamãe sempre me acordava nesse horário. O relógio
marcou 7:01 e comecei a deslizar para fora da cama. Mamãe
se atrasaria hoje?

Não podia mais esperar.

A maçaneta da porta se moveu para baixo e congelei,


sentando no colchão e observando enquanto mamãe enfiava a
cabeça para dentro. Ao me ver, seu rosto se iluminou e ela
riu. — Há quanto tempo você está acordada?

Dei de ombros e pulei da cama.

Mamãe me encontrou no meio do caminho e me abraçou


com força. — Feliz aniversário, querida.

Me contorci em seu aperto, desesperada para descer as


escadas. Afastando-me, perguntei: — Podemos descer agora?
Tem festa?
Mamãe riu de novo. — Ainda não, Marci. A festa é mais
tarde. Agora, somos apenas nós. Venha, vamos dar uma
olhada em seus presentes.

Após um breve momento de decepção, peguei a mão de


mamãe e a segui escada abaixo. Eu estava usando minha
camisola rosa com babados favorita, a que me fazia sentir
como uma princesa. Papai esperava no saguão enquanto
descíamos as escadas e me pegou antes que eu chegasse ao
último degrau e beijou minha bochecha. — Feliz aniversário
princesa. — Ele me levantou sobre sua cabeça e me carregou
para a sala de estar. Estava decorada com balões cor de rosa
e vermelho, uma guirlanda que dizia feliz aniversário e uma
coroa dourada sobre a mesa ao lado de um enorme bolo rosa
de unicórnio. Em outra mesa, uma grande pilha de presentes
esperava, todos embrulhados em papel rosa e dourado. Corri
em direção a ela.

— Feliz aniversário! — Amo gritou enquanto corria ao


redor da mesa, tentando roubar o show.

— Eles são nossos, e de seus tios e tias, — mamãe


disse, mas só ouvi metade enquanto começava a
desembrulhar tudo ansiosamente.

Ganhei quase tudo que pedi. Quase.

Papai acariciou minha cabeça. — Você vai ganhar mais


presentes na festa de hoje.

Balancei a cabeça e sorri. — Serei a princesa.

— Você sempre é.
Mamãe deu a papai um olhar que não entendi.

Poucas horas depois, a casa estava cheia de amigos,


familiares e homens que trabalhavam para papai. Todos
vieram comemorar comigo. Eu usava um vestido de princesa
e uma coroa, adorando como todos me trouxeram presentes e
me parabenizaram e cantaram parabéns para mim. A torre de
presentes era três vezes o meu tamanho. Mais tarde naquela
noite, quando meus olhos não paravam de fechar, papai me
carregou para o meu quarto.

— Precisamos colocar sua camisola, — ele murmurou


enquanto me colocava na cama.

Segurei seu pescoço e balancei a cabeça vigorosamente.


— Não, quero usar meu vestido de princesa. E minha coroa,
— acrescentei depois de um bocejo.

Papai deu uma risadinha. — Você pode usar o vestido,


mas a coroa é muito desconfortável. — Ele gentilmente a
tirou e colocou na minha mesa de cabeceira.

— Ainda sou uma princesa sem coroa?

— Você sempre será minha princesa, Marci.

Sorri. — Me abraça para dormir?


Papai assentiu e desajeitadamente se esticou ao meu
lado, com as pernas penduradas para fora da cama muito
pequena. Ele passou um braço em volta de mim e pressionei
minha bochecha contra seu peito, fechando meus olhos. Meu
pai era o melhor pai do mundo.

— Amo você papai. Nunca vou te deixar. Vou morar com


você e mamãe para sempre.

Papai beijou minha testa. — E eu te amo, princesa.


Capítulo 2

O balanço suave da rede me embalava em um meio-sono


enquanto observava as ondas espumosas batendo em nosso
cais e na praia. A rede em nossa mansão nos Hamptons era
meu lugar favorito em um dia ensolarado, e foram semanas
de dias ensolarados e quentes de verão desde o início de
junho, mas não tive muito tempo para o lazer.

Mexi meus dedos do pé, soltando um suspiro. Os


últimos dias foram cansativos e, portanto, alguns dias para
relaxar eram extremamente necessários. A organização da
festa de meu décimo nono aniversário significava semanas de
preparação intensa com degustação de bolos e cardápios,
compra de roupas, correções na lista de convidados e muitas
outras tarefas. Mesmo uma planejadora de eventos
dificilmente reduzia minha carga de trabalho. Tudo precisava
ser perfeito. Meus aniversários sempre foram um dos eventos
sociais mais importantes do ano.

Depois da grande festa, dois dias atrás, mamãe me


trouxe, junto com meus irmãos mais novos, Amo e Valerio,
para os Hamptons para uma semana de relaxamento muito
necessário. Claro, Valerio não entendia o significado de
relaxamento. Ele estava nas ondas, fazendo esqui aquático,
enquanto um de nossos guarda-costas conduzia o barco em
manobras arriscadas para satisfazê-lo. Duvido que algum dia
tenha tido tanta energia quanto esse garoto, nem mesmo aos
oito.

Mamãe lia um livro em uma espreguiçadeira à sombra,


seu cabelo loiro emoldurando seu rosto em ondas
bagunçadas de praia. Meu cabelo estava sempre liso, mesmo
um dia na praia não mudava isso. Claro, meu cabelo era
preto como carvão e não loiro angelical como o da mamãe.

Negro como sua alma, Amo costumava brincar. Meus


olhos cortaram para ele. Ele montou uma academia de
CrossFit em uma parte menos necessária de nossa
propriedade e estava fazendo o treino do dia. Parecia uma
tortura auto infligida a julgar por sua expressão. Preferia os
cursos de Pilates da tia Gianna. Claro, a dedicação de Amo o
deixou parecido com o Hulk aos quinze anos.

A porta deslizante se abriu e nossa empregada, Lora,


saiu com uma bandeja. Balancei minhas pernas para fora da
rede e sorri quando vi que ela havia preparado nosso suco de
morango favorito. Essa bebida me esfriava mesmo nos dias
mais quentes de verão. Ela serviu um copo e me entregou.

— Obrigada, — falei, estremecendo de satisfação


enquanto bebia.
Ela colocou uma tigela com pedaços de abacaxi gelado
na mesa lateral. — O abacaxi não está tão bom quanto da
última vez.

Coloquei um pedaço na minha boca. Estava um pouco


azedo demais. Suspirei. — É tão difícil conseguir bons
produtos.

Amo correu até nós, o suor voando por toda parte de seu
corpo brilhante.

— Não sue na minha comida, — avisei.

Ele fez um show se sacudindo como um cachorro


molhado e pulei da rede, dando alguns passos para trás
salvando meu suco. O amor fraterno só vai até certo ponto...

Ele comeu alguns dos meus pedaços de abacaxi, nem


mesmo se desculpando por isso. — Por que não pega para
você?

Fiz um gesto para Lora, que estava servindo a mamãe


seu suco e frutas. Ele acenou com a cabeça para o livro de
Análise de Marketing na mesa lateral. — É verão. Você
realmente precisa desse livro? Você é a melhor da classe
qualquer forma.

— Sou a melhor da classe porque trago meus livros


comigo, — murmurei. — Todo mundo está esperando que eu
estrague tudo. Não vou lhes dar essa satisfação.

Amo encolheu os ombros. — Não entendo porque você


se importa. Nem sempre pode ser perfeita, Marci. Eles sempre
encontrarão algo de que não gostam em você. Mesmo se
organizar a festa de aniversário do século, alguém ainda vai
reclamar que as vieiras não estavam vítreas.

Fiquei tensa. — Falei várias vezes ao chef para tomar


cuidado extra com as vieiras por que... — Parei quando vi o
sorriso de Amo. Ele estava zombando de mim. — Idiota.

— Apenas relaxe, pelo amor de Deus.

— Estou relaxada, — falei.

Amo me lançou um olhar que dizia que definitivamente


não era uma pessoa relaxada. — Então, as vieiras estavam
vítreas ou não?

Amo gemeu. — Elas estavam perfeitas, não enlouqueça.


E sabe de uma coisa? A maioria das pessoas ainda não vai
gostar de você, mesmo que as vieiras sejam de outro mundo.

— Não quero que gostem de mim, — falei com firmeza.


— Quero que me respeitem.

Amo encolheu os ombros. — Eles respeitam. Você é uma


Vitiello. — Ele correu atrás de Lora para pegar mais abacaxi e
suco. Para ele, a discussão acabou. Amo ia ser Capo, mas ele
não sentia a pressão como eu. Como a Vitiello mais velha e
menina, as expectativas eram muito altas. Eu só podia falhar.
Tinha que ser linda e moralmente impecável, pura como a
neve, mas ao mesmo tempo progressiva o suficiente para
representar a nova geração da Famiglia. Amo tirava notas
ruins, dormia por aí e saía de moletom, e todo mundo dizia
simplesmente que ele era um menino e cresceria. Se eu
fizesse alguma dessas coisas, estaria socialmente morta.
Meu telefone apitou com uma mensagem de Giovanni.

Sinto sua falta. Se não tivesse tanto trabalho, iria até aí.

Meus dedos pairaram sobre minha tela, mas o afastei.


Estava feliz que seu estágio no escritório de advocacia de
nosso advogado da Famiglia, Francesco, o mantinha
ocupado. Precisava de alguns dias longe dele depois da nossa
quase discussão no meu aniversário. Se não conseguisse me
livrar do meu aborrecimento antes da nossa festa oficial de
noivado, teria problemas em manter uma expressão
apaixonada.

Coloquei o celular no silencioso e virei a tela sobre a


mesa e peguei meu livro. Estava imersa em uma parte
particularmente difícil quando uma sombra caiu sobre mim.

Olhei para cima encontrando papai elevando-se sobre


mim. Ele tinha ficado em Nova York para negócios urgentes
com a Bratva.

— Trabalhando duro como sempre, minha princesa, —


ele disse e se abaixou para beijar o topo da minha cabeça.

— Como foram os negócios? — Perguntei curiosa,


colocando o livro de lado.

Papai sorriu fortemente. — Nada para você se


preocupar. Temos tudo sob controle.

Cerrei meus dentes contra o desejo de questioná-lo. Seu


olhar procurou Amo, que imediatamente parou seu treino e
se aproximou de nós. Papai queria que ele estivesse presente
em tudo o que acontecia com a Bratva, mas mamãe o
dissuadiu. Ela não conseguia parar de protegê-lo.

— Ei, pai, — disse Amo. — Você se divertiu esmagando


cabeças da Bratva?

— Amo, — a voz de papai oscilou em advertência.

— Marci não é cega. Ela sabe o que está acontecendo. —


Às vezes, achava que entendia a brutalidade do trabalho de
papai melhor do que Amo. Ele ainda considerava isso muito
divertido e realmente não via o perigo. Mamãe provavelmente
estava certa em mantê-lo longe das grandes lutas. Ele apenas
se mataria.

— Preciso falar com você. Desça até o cais comigo, —


papai disse a Amo.

Amo assentiu. — Deixe-me pegar um sanduíche. Estou


morrendo de fome. — Ele correu de volta para a casa,
provavelmente para importunar Lora a lhe fazer um queijo
grelhado.

O rosto de papai estava tenso de raiva. Ele obviamente


queria falar imediatamente.

— Ele acha que os conflitos com o Tartarus e a Bratva


são muito divertidos, tipo mais uma fase em um de seus
jogos de computador. Ele precisa crescer, — disse papai.
Seus olhos se voltaram para mim, como se tivesse esquecido
que eu estava aqui.

Dei de ombros. — Ele tem quinze anos. Eventualmente


crescerá e perceberá a responsabilidade.
— Gostaria que ele fosse tão responsável e sensato
quanto você.

— Ser menina ajuda nisso, — falei com um sorriso. Mas


também significava que minha responsabilidade e
sensibilidade nunca seriam úteis para mim. Eu nunca
poderia ser uma parte do negócio.

Papai assentiu, seu rosto se tornando protetor. — Não


se preocupe com nada disso, princesa. Você já tem o
suficiente em seu prato com a faculdade e o planejamento de
noivado e festa de casamento... — Ele parou de falar como se
tivesse esquecido o que eu fazia no meu tempo livre. Papai e
eu não tínhamos muitos interesses em comum, não porque
não estivesse interessada nos negócios da Famiglia, mas
porque ele não queria que eu me envolvesse. Ele tentou
mostrar interesse nas coisas que achava que eu gostava, e
fingi gostar delas.

— A festa de noivado já está planejada. E ainda há


muito tempo até o casamento. — Nossa festa de noivado
estava marcada para dali a duas semanas, embora
estivéssemos noivos por quase dois anos, mas o casamento
ainda demoraria mais dois anos. Um futuro meticulosamente
planejado estava à minha frente.

— Sei que você adora quando as coisas saem perfeitas.


— Ele tocou minha bochecha. — Giovanni virá para cá?

— Não, — disse. — Ele está muito ocupado.


As sobrancelhas de papai franziram. — Posso ligar para
Francesco e pedir-lhe para dar a Giovanni alguns dias de
folga, se você quiser...

— Não.

Os olhos de papai se estreitaram com suspeita. — Será


que ele...

— Ele não fez nada, pai, — falei com firmeza. — Só


quero um pouco de tempo para estudar e pensar no esquema
de cores da festa, — menti e sorri amplamente como se não
pudesse pensar em uma maneira melhor de passar a tarde do
que meditar sobre a diferença entre creme e casca de ovo.
Ainda não tinha começado a planejar nada para o casamento
e não me sentia nem um pouco compelida a fazer isso agora.
Depois de alguns dias relaxando após o planejamento da
festa de aniversário, provavelmente me sentiria mais
entusiasmada.

Amo saiu da casa com um prato cheio com três


sanduíches, enquanto comia um quarto. Se eu comesse
assim, poderia dar adeus ao espaço entre minhas coxas.
Papai beijou o topo da minha cabeça novamente antes que ele
e Amo descessem até o cais para discutir os negócios da
Famiglia. Suspirei e peguei meu livro, mergulhando nas
páginas. Papai queria me proteger de nosso mundo e eu
precisava aceitar isso.
— Você sabe do que se trata? — Gunnar perguntou
enquanto estacionava ao lado de minha Harley. Afastei-me e
passei a mão pelo meu cabelo emaranhado. Foi o mais curto
que já usei, longo no topo para que pudesse escová-lo para
trás, mas o capacete ainda o bagunçava.

— Earl não me disse nada.

Gunnar desceu da sua moto, um modelo mais antigo


com bastante cromo. Minha moto era uma Fat Boy toda
preta, até os raios eram pretos foscos. O único traço de cor
era o pequeno logo do Tartarus MC costurado no assento de
couro vermelho sangue e o cão do inferno ao lado dele.

Gunnar olhou ao redor. — Onde está a criança?

— Provavelmente perdido em uma boceta em algum


lugar, — falei com um sorriso enquanto seguíamos em
direção ao clube. Era nossa quarta base nos últimos dois
anos. Vitiello e seus homens ficavam nos farejando, então
tínhamos que abandoná-las com frequência. Não haveria
outro massacre.

Nós nos acomodamos em torno da mesa de carvalho


onde Earl já estava esperando, recostado na porra de sua
cadeira de massagem. Tivemos que arrastar a coisa pesada
de um clube para o outro. Earl tinha uma expressão como se
tivesse ganhado a porra do Prêmio Nobel. Mais e mais irmãos
se acomodaram ao redor da mesa até que todos os membros
com direito a voto estivessem reunidos, exceto um. Earl
balançou a cabeça, levantou-se e removeu a cadeira vazia da
mesa, colocando-a em um canto da sala. Então se acomodou
em sua cadeira, pronto para iniciar a reunião.

A porta se abriu e Gray cambaleou para dentro, sua


braguilha aberta e seu colete colocado do avesso. Seu longo
cabelo loiro estava em completa desordem. Reprimi um
sorriso. Este menino tinha muito que crescer.

O rosto de Earl escureceu, acentuando ainda mais as


muitas cicatrizes. Mesmo que ele compartilhasse a cor do
cabelo de Gray e minha, o dele ficou cinza com o passar dos
anos. — Você está atrasado.

Gray pareceu se encolher enquanto tropeçava em


direção ao seu lugar habitual na mesa, congelando quando
percebeu que sua cadeira havia sumido. Ele olhou ao redor,
finalmente localizando-a no canto. Ele foi pegar a cadeira.

— Você pode sentar no canto até aprender a chegar na


hora, garoto, — Earl latiu.

Gray lançou um olhar incrédulo, mas Earl com certeza


não estava brincando, a julgar pelo brilho de raiva em seus
olhos.
— Sente-se ou saia, — ele ordenou. — E coloque essa
porra de colete do lado certo, seu idiota, ou dê o fora dessa
reunião.

Gray olhou para si mesmo, seus olhos se arregalando.


Ele desajeitadamente tirou o colete e o virou, em seguida,
colocou-o novamente antes de se sentar no canto.

— Pronto? Não tenho o dia todo. Temos assuntos para


discutir. — Gray assentiu, em seguida, afundou ainda mais
em sua cadeira.

Dei uma piscadela para ele e relaxei contra o encosto de


cabeça estofado da minha cadeira. Earl pediu a um
carpinteiro que fizesse as pesadas cadeiras de mogno com
forro vermelho para dar à nossa mesa de reunião uma
aparência real. Até sua cadeira de massagem era estofada
com cetim vermelho. Claro, depois que o próprio Earl colocou
a primeira marca de queimadura de cigarro no cetim caro, as
coisas só pioraram.

Gray ainda estava curvado em sua cadeira como um


cachorro afogado. Ele sempre levava a sério as reprimendas
de Earl. Talvez fosse a idade, mas eu não era tão ansioso pela
aprovação de Earl quando tinha dezessete anos. No entanto,
Earl sempre me deu mais liberdade do que a seu filho. Mas
mesmo eu dificilmente recebi uma palavra calorosa. Aprendi
desde cedo a encontrar palavras calorosas com as mulheres e
não com meus irmãos do clube, muito menos com meu tio.

— Então, o que está acontecendo, Prez? — Cody


perguntou.
A desaprovação de Earl foi substituída por um sorriso
malicioso. — Tenho o plano perfeito para chutar a bunda de
Vitiello.

— Fale, fale, — eu disse. — O que surgiu na sua linda


cabeça?

— Vamos sequestrar Marcella Vitiello.

— Sua filha? — Gray soltou. Seu choque aberto refletia


meus próprios sentimentos, só que havia aprendido a mantê-
los para mim. Mais tarde, falaria com Earl em particular
sobre minhas preocupações.

Earl lançou lhe um olhar severo. — Quem mais? Ou


você conhece mais alguém com essa porra de nome? Você
acharia que Deus não o agraciou com mais de duas células
cerebrais pela maneira como age às vezes.

O pescoço de Gray ficou vermelho, um sinal claro de seu


constrangimento.

— Você acha que Luca Vitiello se importa se


sequestrarmos sua prole? Ela não é sua herdeira. Talvez
devêssemos sequestrar aquele seu garoto gigante, — disse
Cody. Ele era o sargento de armas de Earl, e muito puto
porque eu era o segundo no comando e não ele.

— Ele comeria o cabelo da porra da nossa cabeça, —


murmurei, o que me rendeu o riso de todos ao redor, exceto
Cody e Gray, que ainda estava alimentando seu orgulho
ferido.
— Quero que você a vigie, Maddox. Você vai liderar a
operação, — disse Earl.

Assenti. Isso era pessoal. Teria insistido em fazer parte


do trabalho, mesmo que meu tio não tivesse me pedido para
fazê-lo. A mimada princesa Vitiello seria minha.

Earl empurrou um artigo de jornal para mim. A


manchete anunciava o noivado de Marcella Vitiello com um
idiota com cara de inteligente. Meus olhos foram atraídos
para a imagem abaixo.

— Foda-se, — murmurei. — É ela?

Vários homens soltaram assobios baixos. Earl olhou de


soslaio. — A prostituta que custará a Vitiello sua fortuna e
sua vida.

— Eles devem ter usado algum tipo de filtro. Ninguém é


tão linda assim, — Gunnar disse. — Acho que meu pau cairia
de admiração se chegasse perto dessa boceta.

— Não se preocupe, não vai, — falei com uma piscadela.


— Sua old lady provavelmente o cortaria antes de você chegar
perto.

Gunnar tocou seu coração. Ele tinha sido o tesoureiro


de nosso clube por uma década e muitas vezes agia mais
como uma figura paterna do que Earl.

— A foto foi manipulada, sem dúvida, — disse outro


irmão.
Só podia concordar. Vitiello provavelmente pagou a
mais, então os fotógrafos retocaram a imagem de sua filha até
que parecesse uma aparição. Cabelo preto comprido, pele
clara, olhos azul-celeste e lábios carnudos e vermelhos. O
idiota ao lado dela em sua camisa social e cabelo escuro
cuidadosamente penteado parecia seu consultor tributário e
não aquele que a fazia ficar molhada.

— Como a Branca de Neve, — sussurrei.

— O que? — Earl perguntou.

Balancei a cabeça, arrastando meus olhos para longe da


foto. — Nada. — Soar como um imbecil de merda não me
faria nenhum favor. — Presumo que ela esteja fortemente
protegida?

— Claro. Vitiello mantém sua esposa e filha em uma


gaiola dourada. É seu trabalho encontrar a brecha, Mad. Se
alguém pode fazer isso, é você.

Balancei a cabeça distraidamente enquanto examinava


as fotos na mesa mais uma vez. Manobras arriscadas era
minha especialidade, mas fiquei mais cauteloso sobre isso ao
longo dos anos. Não era mais adolescente. Aos vinte e cinco
anos, percebi que ser morto antes de me vingar não
resolveria.

Meus olhos voltaram para a foto como se puxados por


um fio invisível. Linda pra caralho para ser real.

Vitiello era o centro das minhas atenções, nunca sua


família e, definitivamente, não seus filhos. Por alguma razão,
me irritava pra caralho que ele fosse o pai de uma filha tão
deslumbrante. Realmente esperava que as fotos estivessem
muito retocadas e que a maldita Marcella Vitiello fosse
horrível na realidade.

Usei roupas comuns quando segui Marcella pela


primeira vez. Seus guarda-costas só suspeitariam se um
motoqueiro aparecesse repetidamente. Vitiello certamente
havia distribuído fotos de todos os membros conhecidos do
nosso clube para seus soldados praticassem tiro ao alvo, para
que pudessem nos matar à primeira vista. Felizmente, fiquei
oculto nos últimos anos e perdi as feições de menino e o
cabelo na altura dos ombros da minha adolescência. Aqueles
anos loucos que quase me custaram a vida e me renderam o
apelido de ‘Mad Dog’. Logo depois de voltar para Nova York,
corri risco atrás de risco atacando estabelecimentos da
Famiglia até que uma bala raspou minha cabeça e quase
acabou com minha vida. Eu morreria assim que Vitiello
tivesse o que merecia, nem um dia antes.

Hoje, estava até usando uma maldita blusa de manga


comprida e gola alta para cobrir minhas tatuagens e
cicatrizes. Parecia a porra de um menino do coral. Mas
mesmo assim, fiz questão de manter distância. Os guarda-
costas de Marcella eram tão cautelosos quanto se poderia
esperar de soldados que responderiam a Luca Vitiello se algo
acontecesse com sua preciosa prole. Pior do que minha
escolha de roupas foi o Toyota Prius que Earl havia
conseguido para seguir nosso alvo. Sentia falta da minha
moto, da vibração entre minhas coxas, o som, o vento. Dirigir
este carro, me fazia sentir uma idiota. Mas minha
camuflagem me dava a chance de seguir o carro de Marcella
de perto, e quando finalmente pararam em frente a uma
butique chique, estacionei alguns carros adiante. Saí do meu
Prius apenas quando um dos guarda-costas abriu a porta
traseira para Marcella. A primeira coisa que vi dela foi uma
perna longa e magra de salto alto vermelho. Até a maldita
sola era vermelha.

Quando ela se endireitou, tive que suprimir uma


maldição. Essa garota não precisava de retoque. Ela usava
um vestido vermelho de verão que acentuava sua cintura
estreita e bunda redonda e fazia suas pernas parecerem
longas, embora fosse uma mulher pequena. Forcei-me a
continuar olhando as vitrines da loja porque congelei
instantaneamente ao avistar a princesa Vitiello. Seu andar
mostrava uma confiança inabalável. Ela nunca oscilou,
apesar de seus saltos ridiculamente altos. Ela andava pelas
ruas como se fosse a dona: sua cabeça erguida, sua
expressão fria e dolorosamente bela. Havia garotas que eram
bonitas, havia garotas que eram lindas e havia garotas que
faziam homens e mulheres pararem para admirá-las de
queixo caído. Marcella era a última.
Quando ela desapareceu na boutique, balancei minha
cabeça como se estivesse tentando acordar de seu feitiço.
Precisava me concentrar. A aparência de Marcella era
completamente irrelevante para nossa missão. A única coisa
que importava era a proteção insana de Vitiello. Se a
tivéssemos em nossas mãos, seríamos donos dele, e então o
bastardo pagaria.

Soltei um suspiro de alívio quando tirei a porra da blusa


de gola alta depois de retornar ao clube naquela noite. Só de
boxer, desci até a área do bar e peguei uma cerveja. Mary Lu
saiu do quarto de Gray quando abri minha porta. Ela usava
shorts de cintura alta e uma regata sem sutiã.

Seu rosto se iluminou quando me viu. — Parece que


você precisa de companhia.

Tomei um gole da minha cerveja. Precisava de um corpo


feminino para me distrair de Marcella Vitiello. — E suponho
que você queira ser essa companhia?

Ela andou até mim e passou as unhas pelo meu peito


nu, puxando meu piercing de mamilo enquanto fazia isso. Ela
se inclinou como se fosse me beijar.

— Você acabou de dar um boquete a Gray com essa


boca? — Perguntei com um sorriso.
Ela enrubesceu. — Ele desmaiou de bêbado antes de...

— Não quero saber se meu irmão atirou sua carga em


sua garganta, Lu, — murmurei então abri minha porta. —
Nada de beijos, mas estou afim de um boquete e prometo não
desmaiar antes de atirar meu esperma nessa linda garganta.

Ela riu quando bati em sua bunda e fechei a porta atrás


de nós. Lu era uma de nossas garotas compartilhadas, mas
tinha todas as ambições de se tornar uma old lady. Não
minha, isso era certo, no entanto.

Acordei no meio da noite de um sonho, ou talvez


pesadelo, dependendo do ponto de vista. Os últimos
resquícios dele ainda giravam em minha cabeça. Olhos azuis
olhando para mim, lábios vermelhos separados por um grito
de êxtase e uma boceta sobre minha boca.

Meus olhos se arregalaram. Porra. Quase podia sentir o


gosto. Sonhar em comer Marcella Vitiello era a porra da
última coisa que eu deveria fazer. Um corpo quente se agitou
ao lado do meu, e por um segundo de merda me perguntei se
de alguma forma consegui esquecer o sequestro de Marcella e
a trouxe para a minha cama.

— Mad? — Veio a voz sonolenta de Lu, e meu batimento


cardíaco desacelerou novamente.
— Volte a dormir, — falei rispidamente. Meu pau
pulsava pelo excesso de sangue. A última vez que acordei
com uma ereção violenta como essa era um adolescente.

Lu se curvou em minha direção, sua mão escovando


meu pau. — Quer que eu te chupe?

Sim, merda, mas imaginaria que era Marcella. Isso


levaria as coisas por um caminho muito perigoso. — Não,
volte a dormir.

Sua respiração se estabilizou em minutos e continuei


olhando para o teto, ignorando meu pau latejante.

Devia saber que a prole de Luca Vitiello tornaria minha


vida um inferno, mesmo antes de estar em nossas mãos. Seu
pai havia assombrado meus pesadelos por anos. Era justo
que agora sua filha assumisse o controle.
Capítulo 3

Verifiquei meu reflexo uma última vez. Tudo estava


perfeito. Exatamente às quatro da tarde, a campainha tocou.
Giovanni nunca se atrasava. Ele nem se adiantava. Chegava
sempre no horário. No começo, achei seu desejo de agradar a
mim, e especialmente ao meu pai, adorável. Agora tinha que
sufocar meu aborrecimento quando ele entrou no saguão
depois que nossa empregada Lora o deixou entrar.

Ele usava uma camisa e calça perfeitamente passadas e


seu cabelo estava no lugar, apesar da tempestade forte lá
fora. Desci a escada para cumprimentá-lo. Quando fiquei na
ponta dos pés para beijar seus lábios, ele rapidamente se
esquivou e beijou minha palma, lançando um olhar cauteloso
para Lora, que olhava para qualquer lugar menos para nós.

Eu lhe dei um olhar, não mais tentando mascarar meu


aborrecimento. — Giovanni, meu pai não está em casa e
mesmo que estivesse, ele sabe que somos um casal. Estamos
noivos, pelo amor de Deus.
Podia ver que minhas palavras não estavam causando o
menor impacto sobre ele. Seu medo de meu pai era muito
grande. Isso não era novidade e nem mesmo particularmente
chocante. Giovanni me deu um de seus sorrisos suplicantes,
que sempre parecia um pouco à beira do sofrimento. Ele
pegou minha mão.

— Vamos subir para o meu quarto, — falei, unindo


nossas mãos.

Giovanni hesitou. — Eu não deveria cumprimentar sua


mãe primeiro?

Essa era sua tentativa miserável de questionar se minha


mãe estava em casa. — Ela também não está em casa, —
brinquei, perdendo a paciência.

Ele finalmente me seguiu escada acima, mas ainda


podia sentir sua preocupação persistente, e ela acabou
surgindo quando chegamos ao patamar do primeiro andar. —
E quanto ao seu irmão? Ele é o dono da casa quando seu pai
não está.

— Meu irmão está no quarto dele, provavelmente


jogando Fortnight ou qualquer outra coisa que o interesse no
momento. Ele não se importa se você vai cumprimenta-lo.

— Mas talvez devêssemos alertá-lo da minha presença.

Eu estava começando a perder a paciência. Estreitando


meus olhos, falei: — Ele sabe que você está aqui e não se
importa. Sou a Vitiello mais velha presente.

— Mas você é...


… uma mulher.

Ele não precisava dizer isso. Só uma mulher e, portanto,


totalmente irrelevante. Sufoquei uma nova onda de
frustração.

— Não é como se você fosse um estranho, Giovanni.


Você é meu maldito noivo. — Giovanni odiava quando eu
amaldiçoava, ele achava impróprio e não adequado para a
filha de um Capo, e era exatamente por isso que o fazia para
irritá-lo. Ele obviamente não tinha nenhum problema em me
irritar com seu medo de ficar sozinho comigo.

Finalmente nos acomodamos na minha cama depois de


outra discussão, se deveríamos deixar a porta do meu quarto
entreaberta. Eu poderia dizer que Giovanni não estava
envolvido em nosso beijo. Sua língua era como um caracol
sem vida na minha boca. Beijá-lo nunca realmente colocou
meu sangue em chamas, mas isso era o coroamento de tudo.
Ele parecia estar a quilômetros de distância. Levantei-me com
um sorriso sedutor e puxei meu vestido pela cabeça,
apresentando o novo conjunto de sutiã e calcinha La Perla
que comprei na semana passada na esperança de que alguém
além de mim pudesse vê-lo. Era de renda preta, revelando a
sugestão dos meus mamilos.

Os olhos de Giovanni se arregalaram enquanto


passavam por mim e a esperança explodiu em mim. Talvez
estivéssemos realmente chegando a algum lugar. Voltei para
a cama, mas já podia ver a apreensão tomando conta da
expressão de Giovanni como se eu fosse forçá-lo. O beijei e
tentei puxá-lo para baixo, mas ele se apoiou nos braços,
levitando sobre mim, uma expressão de dor no rosto. Senti o
calor subir por minhas bochechas com sua rejeição. Nem
estava claro por que ainda me sentia assim quando seu
afastamento se tornou uma rotina dolorosa.

Giovanni balançou a cabeça. — Não posso Marcella. Seu


pai me mataria se descobrisse.

— Mas meu pai não está aqui, — resmunguei.

E ainda assim estava. Meu pai sempre estava no


cômodo quando eu estava sozinha com Giovanni, não
fisicamente. Ele não precisava estar porque estava na cabeça
de Giovanni. Todo mundo tinha medo do meu pai, até mesmo
meu noivo. A sombra do meu pai me seguia aonde quer que
fosse. Amava minha família mais do que tudo, mas em
momentos como este, desejava não ser Marcella Vitiello.
Mesmo que meu pai me permitisse namorar, apenas sua
existência reforçava as velhas tradições às quais
tecnicamente eu não estava mais presa. Ainda deveria
permanecer virgem até minha noite de núpcias, mas tudo o
mais entre Giovanni e eu era problema nosso. Claro, seria, se
Giovanni tivesse coragem de me tocar.

Empurrei Giovanni para longe e ele cedeu, recostando-


se e afundando na cabeceira da cama. Ele parecia querer
pular da cama se não tivesse medo de me ofender. Medo de
me ofender, medo do meu pai. Sempre com medo.
— Qual é o seu problema? Estamos namorando há mais
de dois anos e você ainda não chegou nem perto da minha
calcinha.

Não podia acreditar que estava tendo essa discussão.


Não podia acreditar que estava praticamente implorando ao
meu noivo para transar. Sempre que minhas amigas falavam
sobre como manipulavam seus namorados com sexo, sentia
uma pontada de inveja porque Giovanni provavelmente
choraria de alívio se eu parasse de importuná-lo por sexo. Eu
me sentia indesejável. Nem me atrevia a falar com minhas
amigas sobre isso e, em vez disso, fingia que era eu quem
queria esperar o casamento como a filha boa e virtuosa do
Capo que todos queriam que eu fosse.

— Marci... — Giovanni começou em um tom que sugeria


que eu era uma garotinha que precisava de repreensão. —
Você sabe como são as coisas.

Oh, eu sabia. Não se tratava de sociedade. Era sobre seu


medo de papai.

Estava farta disso, farta de ser desejada de longe. — Não


posso mais fazer isso. Três pessoas é demais em um
relacionamento.

Peguei meu vestido e coloquei com raiva sobre a minha


cabeça, sem me importar quando o ouvi rasgar. Custou uma
fortuna, mas podia comprar um novo. Podia ter qualquer
coisa que o dinheiro pudesse comprar e até coisas além disso,
se meu pai puxasse as cordas certas. Todos me tratavam
como uma princesa. A princesa mimada de Nova York. Sabia
o apelido carregado de sarcasmo que era sussurrado
desagradavelmente em nossos círculos. Eu não servia para
nada além de comprar sapatos e ser bonita. Destacava-me
em ambos, é claro, mas também era a melhor da classe e
tinha objetivos na vida que nunca importariam.

— Eu nunca... — Giovanni disse, chocado, enquanto se


arrastava atrás de mim.

— Traiu, não, você não o fez.

Parte de mim gostaria que ele tivesse. Então poderia


largá-lo e pagar na mesma moeda, obter uma vingança que
poderia me manter ocupada, mas como estava, sua expressão
confusa me fez sentir culpada. — Meu pai sempre foi e
sempre fará parte dessa relação. Ele lançará sua sombra
sobre nosso casamento também. Estou cansada disso. Você
quer se casar com ele ou comigo?

Giovanni me encarou como se eu tivesse duas cabeças.


Isso me deixou louca. Não era culpa dele. Era minha por
nunca estar feliz com o que tenho, por querer um amor que
queima tão forte que explodiria a sombra de papai. Talvez
esse amor não existisse, mas não estava pronta para engolir a
pílula amarga da aceitação ainda.

— Escute, Marci, acalme-se. Você sabe que adoro o chão


que você pisa. Eu te adoro, te honro. Serei o melhor marido
que puder ser para você.

Ele me adorava como uma princesa inatingível. Cada


beijo, cada toque era encharcado de cuidado, de respeito, de
medo... medo do que meu pai faria se Giovanni desagradasse
a mim ou a ele. Eu odiava isso.

No início, sua gentileza e moderação eram cativantes.


Ele sabia que seria meu primeiro beijo e levou três meses
para me beijar. Tive que roubar o beijo dele. Todos os outros
passos em nosso relacionamento físico foram iniciados por
mim também, e não havia muitos para contar. Às vezes
sentia como se estivesse me forçando a ele. Eu, que fazia
caras quase quebrar o pescoço para me olhar.

Se fosse a algum lugar onde ninguém me conhecia,


poderia ter um cara diferente todas as noites. Mas não queria
fugir. Não queria esconder quem eu era, quem era meu pai.
Queria alguém que me quisesse tanto que arriscaria a ira de
meu pai. Giovanni não era essa pessoa. Percebi isso há muito
tempo, mas me apeguei a esse relacionamento, até disse sim
ao seu pedido de casamento, quando mesmo naquela época
sabia que ele não me daria o que queria. Dois anos, três
meses e quatro dias. Outro dia não seria adicionado ao nosso
relacionamento. Dez dias depois do nosso noivado, tudo
acabou. Já podia ver o alvoroço que essa notícia causaria.

— Acabou, Giovanni. Sinto muito. Simplesmente não


posso mais fazer isso.

Eu me virei e saí correndo, mas Giovanni me seguiu. —


Marci, você não está falando sério! Seu pai ficará furioso.

Virei-me para ele. — Meu pai? E você? E quanto a mim?


— O empurrei e fui embora.
Os passos de Giovanni soaram atrás de mim e ele me
alcançou na escada. Seus dedos se fecharam em volta do
meu pulso. — Marcella, — sua voz era baixa, frenética. —
Você não pode fazer isso. Devemos nos casar assim que você
se formar.

Em dois anos, teria meu diploma de marketing. A mera


ideia de continuar nosso relacionamento da mesma maneira
por tanto tempo fez meu estômago revirar. Não podia mais
fazer isso.

Giovanni balançou a cabeça. — Vamos, Marci. Podemos


até casar mais cedo, então poderemos fazer o que você quiser.

O que eu quisesse? Uma nova onda de sentimentos


indesejáveis tomou conta de mim. — Lamento que seja um
fardo para você ter contato físico comigo.

— Não é, claro que não. Eu te desejo. Você é uma


mulher linda e mal posso esperar para fazer amor com você.

Ele beijou minha mão, mas não senti nada, e a ideia de


fazer amor com Giovanni parecia menos atraente do que
antes. Os olhos de Giovanni me imploravam para
reconsiderar, mas me agarrei à minha resolução mesmo
quando me sentia culpada. Só pioraria se terminasse mais
tarde, e terminaria eventualmente. Balancei a cabeça.

O aperto de Giovanni em meu pulso aumentou. Não era


doloroso ainda, mas perto. Ele se aproximou ainda mais. —
Você conhece nossas tradições. A Famiglia ainda é
conservadora. Se você não se casar comigo depois de me
namorar por dois anos, perderá sua honra.

— Nós não fizemos nada, exceto beijar, algumas


apalpadelas nos seios e uma escovada na virilha que forcei
em você.

— Mas as pessoas vão achar que sim.

Não pude acreditar em sua audácia. — Isso é uma


ameaça? — Assobiei, pronta para bater nele.

Ele rapidamente balançou a cabeça. — Não, claro que


não! Só estou preocupado com a sua reputação, só isso.

Quão atencioso da parte dele. — Amo dormiu com


metade de Nova York. Se os conservadores querem atacar
alguém por suas práticas sexuais, deveriam escolhê-lo.

— Ele é um homem, você vai ser arruinada.

— Foda-se. — Pausei. — Oh, quase esqueci que você


não pode. Provavelmente cagaria nas calças de medo do meu
pai. Então vá embora. — Tentei me livrar de seu aperto, mas
ele não me soltou.

Não tínhamos feito metade das coisas que queria,


porque Giovanni não queria arriscar, e agora se atrevia a me
chantagear com tudo o que não fizemos, mas poderíamos ter
feito? Idiota.

Algo se moveu na sala de estar e Amo se levantou do


sofá onde aparentemente estava ocupado com seu telefone e
lentamente veio em nossa direção.
Estreitei meus olhos para Giovanni. — Solte-me agora
mesmo, ou juro que você vai se arrepender.

Seus olhos dispararam para a porta onde meu irmão


estava se elevando com um olhar assassino. Giovanni me
soltou como se tivesse se queimado. — Tenho que ir, — ele
disse rapidamente. — Ligarei para você amanhã, quando
estiver mais calma.

Meus olhos se arregalaram de fúria. — Não se atreva.


Nós terminamos.

Amo se aproximou. — Você deve sair agora.

Giovanni se virou e seguiu em direção à porta da frente.


Amo o seguiu e fechou a porta. Então voltou na minha
direção. Eu estava no último degrau e ele ainda era mais alto
do que eu. Seus olhos queimavam de proteção. — O que
aconteceu? Você quer que eu vá atrás dele e o mate?

Quando outros irmãos diziam essas palavras às irmãs


em um ataque de proteção, era uma figura de linguagem.
Amo falava mortalmente sério. Se eu pedisse, ele iria atrás do
meu ex noivo e acabaria com sua vida. Giovanni me irritou,
mas poderia encontrar seu feliz para sempre com outra
pessoa, no que me dizia respeito.

— Ele te forçou a fazer algo que você não queria fazer?

Claro, ele acharia que era esse o caso. Ninguém


acreditaria que precisava implorar para um homem me tocar.
— Não, — disparei, sentindo um peso traiçoeiro na minha
garganta e olhos. — Giovanni é o cachorro de colo perfeito do
papai, o cavalheiro contido.

Amo me lançou um olhar que deixou claro que se


preocupava com minha sanidade.

— Se uma garota deitasse seminua na sua frente, você


diria não a ela?

Os lábios de Amo se contraíram de desconforto. —


Provavelmente não. Mas realmente não quero imaginá-la nua
ou fazendo sexo. Se papai soubesse, mataria Giovanni só por
pensar nisso.

— Por quê? Giovanni foi um cãozinho de estimação bem


treinado e não me desonrou. — Rangi meus dentes contra a
sensação de calor em meus olhos. Não choraria por causa do
Giovanni.

Por um tempo, tive certeza de que o amava, mas agora


percebi que queria amá-lo, amei a ideia de amá-lo. Meu alívio
por ter acabado com isso era grande demais para um amor
verdadeiro. No entanto, a tristeza também se instalou dentro
de mim. Tristeza pelo tempo perdido ou um futuro perdido,
não tinha certeza. Achei que poderia forçar o amor, podia
recriar o que mamãe e papai tinham por pura força de
vontade, mas falhei.

— Preciso pensar, — falei e me virei para voltar ao meu


quarto. Amo era um ótimo irmão, mas conversar sobre
relacionamentos com ele era discutível.
No momento em que entrei no meu quarto, meus olhos
pousaram na moldura da minha mesa de cabeceira. Tinha
uma foto minha e de Giovanni em nossa festa de noivado.
Giovanni estava radiante, mas meu rosto parecia... estranho.
Nunca tinha percebido isso antes, mas eu não parecia uma
mulher apaixonada por seu noivo. Parecia uma mulher
cumprindo seu dever.

Fui até minha cabeceira e virei a moldura. Olhar para


esta foto não me ajudaria a limpar a cabeça.

Senti-me um pouco perdida enquanto estava no meu


quarto. Cada momento que não passei com minha família,
malhando ou na faculdade foi dedicado a Giovanni. Agora
isso acabou. Não era fácil encontrar alguém em quem confiar,
para amar, para estar, se você fosse eu. Conhecia Giovanni
há muito tempo e ele fazia parte da minha vida desde a
infância. Como filho de um dos capitães de papai, sempre
íamos aos mesmos eventos sociais.

Não queria pensar nisso. Pegando meu iPad, me


aconcheguei no recanto da minha ampla janela e cliquei em
meus sites de compras favoritos. Mas mesmo isso não
funcionou, então peguei minha bolsa e desci até o escritório
dos guarda-costas no prédio adjacente para lhes dizer que
queria fazer compras.

Duas horas depois, voltei para casa com uma dúzia de


sacolas. As deixei cair sem cerimônia no chão. Agora que a
corrida às compras tinha acabado, um vazio familiar se
espalhou em meu peito. Afastando a sensação, peguei as
sacolas mais próximas e as abri. Coloquei o vestido Max Mara
e tirei a caixa de sapatos da outra sacola.

Passos soaram e Amo apareceu. Ele não disse nada por


vários momentos parando com os braços cruzados na porta,
os músculos salientes.

Ergui minhas sobrancelhas.

— Quando outras garotas são largadas, elas choram


muito. Você gasta uma fortuna em roupas.

Meu peito se apertou. Quase chorei, mas cutucaria meu


olho com meus estiletes antes de deixar isso acontecer. —
Não fui largada, — falei, deslizando meus novos Louboutins
de couro preto. — Garotas como eu não são largadas.

Giovanni nunca teria me largado. O problema era que


não tinha certeza se o motivo disso era o medo de meu pai ou
sua adoração por mim. Tentei relembrar nossos bons
momentos, mas olhando para trás, nenhum deles teve a
profundidade emocional que eu ansiava.

— Ainda posso matá-lo, sabe. Não seria nenhum


problema.

Amo estava tentando soar como o papai, mas não estava


conseguindo. Ainda não.

Endireitei-me e me virei para mostrar meu vestido novo


para Amo. — O que você acha?

Ele deu de ombros, mas seus olhos permaneceram


preocupados. — Parece bom.
— Bom? — Perguntei. — Quero parecer gostosa.

Amo ergueu uma sobrancelha. — Você sabe muito bem


qual é sua aparência, e não vou chamar minha irmã de
gostosa.

— Quero sair para dançar.

Amo balançou a cabeça. — Mamãe vai me matar se


reprovar em outro teste de matemática. — Amo havia
reprovado em matemática no ano passado, e apenas a
reputação de papai o salvou. Agora mamãe o obrigava a
estudar e fazer testes de matemática mesmo no verão.

Revirando os olhos, caminhei até ele e inclinei minha


cabeça para trás. — Mesmo? Prefere matemática a festas?

Amo suspirou. — Alguma das suas amigas vai estar lá?

— Metade delas te odeia porque as largou. E a outra


metade sente tesão por você, então te manterei bem longe
delas. — Sem mencionar que nenhuma delas sabia da minha
separação ainda e, por agora, não tinha intenção de mudar
isso.

— Então estou fora.

Fiz uma cara suplicante. — Por favor, Amo. Você sabe


que só posso sair quando você está comigo. Preciso de uma
distração.

Amo fechou os olhos, rosnando. — Porra. Realmente não


sei como Giovanni conseguia te dizer não quando você faz
essa cara.
Abri um sorriso para ele, sabendo que tinha vencido.
Ele, como papai, tinha dificuldade em me dizer não. — Ele
estava muito ocupado se preocupando em todas as maneiras
que papai poderia matá-lo.

Amo riu enquanto pegava o telefone, provavelmente para


pedir a aprovação dos guarda-costas. — Sim. — O sorriso
sumiu. — Tem certeza que está bem?

Empurrei seu peito. Ele não se mexeu. — Estou bem. —


Joguei meu cabelo para trás. — Agora vamos mostrar à
população masculina de Nova York o que eles nunca terão.

— Você é tão vaidosa.

— Diz o Sr. Vaidade.

— Quando você vai contar para a mamãe e o papai?

Parei. Essa era uma conversa pela qual não estava


ansiosa. Não porque me preocupasse que me obrigassem a
reconsiderar minha decisão. Mas não queria lhes explicar
minhas razões, e eles certamente pediriam uma explicação.
Nossos círculos certamente fariam perguntas e, se eu não
desse respostas satisfatórias, começariam a espalhar boatos.
Provavelmente fariam isso de qualquer maneira. As pessoas
procuravam um escândalo, principalmente no que dizia
respeito a mim. Eu tinha mais inimigos do que apoiadores.

— Amanhã de manhã, quando eles voltarem.

Mamãe e papai tinham um encontro semanal, que


passavam em um hotel. Valerio estava com tia Gianna e tio
Matteo nesse ínterim, provavelmente fazendo nada de bom
com nossa prima Isabella, e Amo e eu tínhamos a casa só
para nós, e os guarda costas.

— Conseguimos o sinal verde dos guarda-costas?

Amo assentiu, erguendo os olhos do telefone. —


Podemos ir a um dos clubes da Famiglia.

Isso era o que eu esperava. Amo e eu tínhamos posto os


pés apenas uma vez dentro de um clube da Bratva e papai
perdeu completamente a cabeça.

— Então vamos nos preparar. Preciso de uma distração.

O clube era frequentado por muitas pessoas de nossos


círculos, então Amo e eu estávamos sob escrutínio no
segundo em que entramos. Mas ambos estávamos
acostumados a isso, então ignoramos a atenção constante.
Ou pelo menos fingimos fazer isso. Desde muito cedo, cada
um de nossos passos era monitorado e por isso aprendemos a
manter as aparências em público. Sem crises ou maquiagem
borrada. Frequentemente, os paparazzi nos seguiam. E não
queria esse tipo de foto minha no jornal. Isso traria má
imagem a minha família.

Amo e eu seguimos em direção a um dos camarotes VIP


com vista para a pista de dança. Como papai era o dono do
lugar, ninguém se importava se tínhamos idade suficiente
para beber e não estávamos limitados à exigência mínima de
mil dólares em bebidas por noite, mas na maioria das vezes,
Amo e eu facilmente superávamos isso com nossos amigos.
Agora que estávamos sozinhos, isso não aconteceria. Beber
uma garrafa Magnum de Dom Perignon sozinha ou com seu
irmão mais novo depois de um rompimento era muito triste.
Verifiquei meu telefone novamente. Perguntei a Maribel e
Constance, minhas duas amigas mais próximos da faculdade,
se queriam se juntar a nós, mas elas já tinham outros planos
porque esta era para ser minha noite de encontro com
Giovanni. Ignorei suas perguntas por que de repente estava
livre para passar a noite com elas e desliguei meu telefone.

Só queria esquecer o que tinha acontecido e quem era


por alguns momentos, mas vendo todos os olhares de
julgamento sobre mim, pelo menos o último não aconteceria.

Mantendo minha cabeça erguida, mostrei meu rosto


perfeito de princesa mimada, dando-lhes o que esperavam.
Eles me odiavam porque achavam que eu tinha tudo quando
as coisas que mais queria estavam sempre fora do meu
alcance. O dinheiro poderia comprar muitas coisas, mas
nunca felicidade ou amor. Caramba, não conseguia nem
escolher a carreira que queria.

Papai nunca me permitiria fazer parte do negócio, fazer


o que nasci para fazer e seguir o caminho que corria no meu
sangue. Joguei meu cabelo por cima do ombro e pedi uma
garrafa de champanhe. Minha vida era cheia de todas as
riquezas que o dinheiro podia comprar e outras garotas me
odiavam por isso. Perguntei-me se ainda me odiariam se
soubessem das algemas invisíveis em torno de meus pulsos.
Às vezes, só queria me livrar delas, mas para fazer isso, teria
que deixar a vida que conhecia para trás, e pior: minha
família.
Capítulo 4

Passei uma eternidade me preparando para uma versão


diferente de mim mesmo que atenderia aos requisitos de
entrada no clube de dança. Earl estava aborrecido por eu
seguir Marcella dentro de um dos clubes de Vitiello,
preocupado com o perigo, ou provavelmente apenas que
nosso plano fosse detectado. Mas escondido bem embaixo do
nariz do inimigo era um dos melhores lugares para se estar.
Luca nunca esperaria que um membro do Tartarus MC
colocasse os pés dentro de um de seus estabelecimentos. O
idiota era muito seguro de si. Para garantir o meu sucesso,
escolhi Mary Lu para me acompanhar. Ela sabia se portar
muito bem e fingir que pertencia a uma boate chique de
Manhattan. Caras com companhia geralmente têm acesso
mais fácil às boates.

— Pegue minha mão, — falei quando entramos na fila, e


Mary Lu o fez imediatamente, parecendo como se eu estivesse
lhe dando o maior presente de todos. Certamente não doeu
que eu tivesse lhe dado algumas centenas de dólares para
comprar roupas para que ela parecesse uma garota de
Manhattan.

Quando chegamos a um dos babuínos enormes que


Vitiello escolheu como segurança, ele me deu uma olhada, em
seguida, verificou Mary Lu e fez sinal para que entrássemos.
Mary Lu agarrou-se com força à minha mão enquanto
entrávamos no clube. Este não era o meu público habitual,
nem a música que eu gostava.

A batida monótona e a multidão se mexendo no ritmo


me fez ter vontade de bater com uma marreta na têmpora.
Rapidamente examinei o clube, mas não demorei muito para
localizar meu alvo. Ela e seu irmão tronavam bem acima da
multidão mundana em seu camarote VIP, olhando para seus
súditos como o rei e a rainha de Nova York que achavam que
eram.

— Vamos dançar—, Mary Lu gritou.

Dei-lhe uma olhada. Estávamos aqui a negócios, não


por diversão.

— Precisamos nos misturar, — ela me lembrou, como se


se importasse com nossa missão, não que soubesse
exatamente por que estávamos aqui. Earl não confiava nas
garotas do clube para manter a boca fechada. Mas ela tinha
razão. Precisávamos nos misturar.
Como de costume, os Vitiellos estavam cercados por
uma comitiva de guarda-costas. Misturar-se não era seu
estilo.

O guarda-costas na escada que conduzia ao camarote


me deu uma rápida olhada, mas seu rosto não mostrou
nenhum reconhecimento. Com a camisa passada e o cabelo
penteado para trás, eu parecia muito um dos corretores de
Wall Street que frequentavam os clubes de Vitiello para enfiar
cocaína no nariz.

Dancei com Mary Lu, mas meu olhar continuava


subindo para o camarote VIP. Infelizmente, o ângulo não era
o melhor, então mal consegui distinguir Marcella Vitiello. A
principal razão pela qual sabia que ela estava lá em cima
eram os muitos olhares curiosos das pessoas na pista de
dança.

— Vamos para o bar, — gritei, cansado de dançar.

— Vou ao banheiro, — Mary Lu disse, e balancei a


cabeça distraidamente porque Marcella estava indo em
direção à escada que descia para o andar principal.

Várias pessoas esticaram a cabeça para ver a princesa


mimada de Nova York enquanto ela descia as escadas em um
vestido excitante. Meus olhos estavam grudados nela
enquanto ela se dirigia para a pista de dança no meio da
multidão que se abria. Ela usava saltos que faziam minha
cabeça girar. Altos e pontudos, mas dançava com eles como
se fossem tênis. Cada movimento seu, cada movimento do
seu cabelo, até mesmo cada batida de seus cílios estava em
perfeita sincronia com a música, como se tivesse passado
meses aperfeiçoando uma coreografia. Marcella Vitiello era
pura perfeição. Ela sabia disso, e todos ao seu redor
admitiam isso.

E a desprezava por isso. Ela vivia uma vida mimada,


sem privações. Nunca sofreu como eu. Seu pai a colocou em
um trono, fez dela uma princesa sem nenhuma conquista
própria. Trabalho árduo, dor, sacrifício não significava nada
para a princesa de Nova York.

Sua queda seria íngreme. Porra. Eu a faria cair sobre


seu nariz arrogante.

Deixei meu olhar vagar ao redor do clube lotado. Além


do irmão dela, um garoto cuja semelhança com o pai me dava
vontade de cortar sua garganta. Tinha três guarda-costas
com ela. Pela primeira vez, seu noivo cachorrinho não estava
ao seu lado. Problemas no paraíso?

Sorri contra a minha garrafa de cerveja e tomei outro


gole. Eu deveria ir embora. Mesmo disfarçado, o risco de ser
reconhecido por um dos soldados da Famiglia era muito alto.
Isso estragaria tudo, mas era difícil me desvencilhar.

Fiquei onde estava por mais alguns minutos e a observei


dançar. Essa garota não precisava de guarda-costas ou de
seu irmão gigante para manter todos à distância. Seus frios
olhos azuis sugadores de alma construíam paredes mais altas
do que as dos imperadores chineses.
Outra jogada dos cabelos pretos e de repente as orbes
azuis travaram nas minhas, por menos de um segundo, mas
meu pulso acelerou. Foda-se. A única vez que me senti preso
num olhar foi no pai dela, mas de uma maneira muito
diferente. A mesa logo viraria. Sorri. Suas sobrancelhas
franziram e desviei meu olhar. Depois de deixar a garrafa e o
dinheiro no bar, encontrei Mary Lu e saí do clube com ela.

— O que deu em você, Mad? Parece que o diabo está te


perseguindo, — Mary Lu disse enquanto tropeçava atrás de
mim em seus saltos, não exibindo nada da graça que
Marcella exibia com facilidade.

Entrei no maldito Prius que Earl me forçou a usar


novamente e esperei Mary Lu entrar também antes de pisar
no acelerador. — Vamos voltar para o clube. Tive o bastante.

Ela me lançou um olhar curioso, mas me concentrei na


rua e, ocasionalmente, no espelho retrovisor enquanto nos
apressávamos. Marcella Vitiello tinha olhos que podiam
congelar o sangue nas veias de qualquer pessoa enquanto o
resto de seu corpo tinha o efeito oposto.

Naquela noite foi a segunda vez que sonhei com ela e,


daquele dia em diante, ela assombraria minhas noites.
Normalmente, dançar sempre fazia maravilhas ao meu
humor. Era meu lugar feliz pessoal, o remédio escolhido
quando me sentia triste, mas hoje não surtiu o efeito
desejado.

Eu gostava que as coisas fossem do meu jeito, seguir os


planos que havia traçado meticulosamente para o meu
futuro. Até agora, todos os meus planos haviam funcionado.
Terminei o colegial como a melhor da classe, e fui para a
universidade que escolhi. Quando começava algo, sempre
terminava e quando terminava fazia como uma das melhores.
Romper com Giovanni, mesmo que fosse a escolha certa,
parecia um fracasso, como admitir a derrota da minha parte.
Eu desisti.

— Por que você está fazendo essa cara? Achei que


estávamos aqui para nos divertir, — gritou Amo sobre o som
da música.

Meus olhos vasculharam o clube por algo que chamasse


minha atenção e me distraísse dos meus pensamentos
errantes. E então localizei o cara que parecia completamente
deslocado neste clube chique de Manhattan, apesar da roupa
padrão de camisa social e calça escura. Algo em seus olhos
me disse que ele desprezava estar aqui, como se estivesse
fingindo ser outra pessoa. Conhecia esse sentimento, mas
ninguém jamais suspeitaria de nada. Aperfeiçoei minha
máscara ao longo dos anos. Talvez ele também,
eventualmente, ou simplesmente parasse de se importar com
o que as pessoas pensavam.

Ele estava encostado no bar, uma garrafa de cerveja em


uma das mãos. Meu instinto me disse que ele não se
importava com a aprovação de ninguém, o que tornou sua
escolha de roupa ainda mais estranha. Ele provavelmente
não daria a mínima se meu pai ficasse bravo. Gostaria de
poder ser assim, não dar a mínima para o que as pessoas
pensavam de mim, mas isso era um luxo que não podia me
dar, praticamente o único. O cara encontrou meu olhar e seu
sorriso em torno da borda da garrafa tornou-se quase
presunçoso. Minha pele começou a formigar de uma forma
traiçoeira, um sinal de perigo iminente, mas meus guarda-
costas pareciam imperturbáveis e então ignorei a reação do
meu corpo ao cara, mas não conseguia parar de olhar em
seus olhos. Algo neles arrepiou todo o meu corpo. Muitas
pessoas não gostavam de mim, mas seus sentimentos em
relação a mim pareciam mais sombrios e profundos.

Ele se virou abruptamente e desapareceu na multidão


dançante como um fantasma. Às vezes, gostaria de poder
fazer o mesmo, simplesmente desaparecer nas sombras, no
anonimato por um tempo. Olhei para meus guarda-costas
mais uma vez, mas eles nem mesmo prestavam atenção no
cara. E Amo? Ele estava dançando com duas garotas pelo
menos cinco anos mais velhas que ele, que pareciam prestes
a arrancar suas roupas.

Revirei os olhos para ele enquanto continuava dançando


sozinha, o habitual um metro de proibição ao meu redor. Os
homens não se aproximavam de mim por medo do meu pai e
as meninas mantinham distância para que pudessem falar
mal de mim. Amo acenou para as duas meninas e dançou na
minha direção.

— Você não precisa me fazer companhia como se eu


fosse uma perdedora, — murmurei, mas fiquei feliz com sua
presença, que dizia muito sobre meu dia e minha vida em
geral. Ter que contar com seu irmão mais novo para dançar
com você era triste em todos os aspectos.

Amo encolheu os ombros. — Você é a única pessoa com


quem posso ser eu mesmo, perdedora ou não.

Revirei os olhos novamente, mas minha garganta travou


de emoção. — Cale a boca e dance!

Eram quase duas da manhã quando Amo e eu


arrastamos nossas bundas cansadas de volta para casa.
Apesar dos três coquetéis de champanhe que tomei durante a
noite, me senti desapontadamente sóbria assim que me
acomodei na cama. Todos os pensamentos sobre Giovanni e
meu futuro agora frustrantemente não planejado voltaram
com força total.

Lembrei-me do cara que desapareceu nas sombras e


como naquele momento quis fazer o mesmo, mas não era
alguém que fugia. Mesmo que essa vida fosse uma droga, era
muito grata aos meus pais pelo que faziam por mim.

Apesar de insistir com Amo que não estava nervosa por


falar com mamãe e papai, meu estômago revirou enquanto eu
descia as escadas pela manhã. Já podia ouvir mamãe e papai
conversando, e o tilintar ocasional de talheres.

Quando entrei na cozinha, os dois ergueram os olhos.


Mamãe sorriu brilhantemente, parecendo como se ela e papai
tivessem acabado de chegar da lua de mel. — Como foi a
noite de encontro? — Perguntei desnecessariamente.

— Maravilhosa como sempre, — mamãe disse, dando a


papai um daqueles sorrisos secretos.

Seu rosto sempre se encheu de tanta ternura que


percebi por que nunca poderia dar certo com Giovanni.
Estava lutando pelo que mamãe e papai tinham, mas
enquanto Giovanni adorava o chão em que eu pisava por
causa de quem eu era, de quem era meu pai, nunca me olhou
como se andasse no fogo por mim. Papai não teria deixado
ninguém lhe dizer como amar mamãe. Ele definitivamente
não teria medo do pai dela.

— Marcella? — Papai perguntou, a preocupação


tingindo sua voz e suas sobrancelhas escuras franzindo.
Passos soaram atrás de mim e Amo entrou, com calça
de moletom e nada mais, parecendo a morte quente e
apertando os olhos contra a luz do sol. A sombra da barba
em suas bochechas e queixo ainda me desconcertava, embora
seus pelos faciais estivessem crescendo há um tempo.

Caso de mamãe e papai ainda não soubessem sobre


nossa saída para dançar na boate, saberiam agora. Amo deu
a mais leve sugestão de um aceno de cabeça enquanto se
jogava em uma cadeira com um gemido.

A expressão de papai tornou-se severa. — O que te falei


sobre ficar bêbado?

— Espero que estude para os testes de matemática,


mesmo que esteja com dor de cabeça, — acrescentou a mãe.

— Foi minha culpa, — falei, porque Amo não parecia


estar em condições de se defender e não era justo que tivesse
problemas por minha causa.

Papai se recostou na cadeira com um olhar de


expectativa. — Terminei com Giovanni, — falei.

Os olhos da mamãe se arregalaram e ela saltou


imediatamente e correu até mim. — Oh, Marci, sinto muito. O
que aconteceu? — Ela tocou minha bochecha. Eu era cerca
de um centímetro mais alta que mamãe, mas ela ainda
conseguia fazer com que me sentisse cercada por seu
conforto.

Papai, entretanto, parecia estar prestes a caçar


Giovanni. — O que aconteceu? — Suas palavras, mesmo que
fossem iguais às de mamãe, tinham um significado muito
diferente. Percebi que ele já estava imaginando todas as
coisas horríveis que Giovanni poderia ter feito para me
aborrecer e como fazê-lo pagar dez vezes mais por sua
transgressão. — O que ele fez?

— Nada, — falei com firmeza. Esse era o problema. Não


poderia dizer a papai os motivos exatos pelos quais tinha
rompido com Giovanni, especialmente porque eram os
motivos pelos quais papai provavelmente o escolheu. Eram
definitivamente os motivos pelos quais papai me permitiu
namorar Giovanni em primeiro lugar. Papai podia ler as
pessoas e provavelmente cheirou a um quilômetro de
distância que Giovanni era covarde demais para me tocar.

Papai olhou para Amo como se esperasse que meu


irmão provasse que minhas palavras estavam erradas, mas
Amo apenas deu de ombros como se não tivesse a menor
ideia e preferisse morrer a participar dessa conversa mais um
momento sofrendo de ressaca.

Os olhos da mamãe suavizaram ainda mais. — Talvez


você e Giovanni possam se reconciliar?

— Não, — falei imediatamente. Se voltasse com


Giovanni, seria apenas por hábito e porque odiava a
perspectiva de um futuro incerto, mas esses não eram
motivos bons o suficiente para continuar um relacionamento.
— Simplesmente percebi que não o amo. Não quero me
contentar com menos do que vocês têm.
Mamãe sorriu suavemente. — Às vezes o amor leva
tempo. Seu pai e eu não estávamos apaixonados quando nos
casamos.

— Eu sei. Vocês nem mesmo escolheram se casar, mas


não demoraram anos para se amarem. Giovanni e eu estamos
juntos há mais de dois anos, mas não o amo e nunca amei.

Papai finalmente se levantou da cadeira também. —


Deve ter acontecido algo que te fez perceber isso.

— Não aconteceu nada, pai. Honestamente. Percebi isso


há um tempo, mas não queria desistir muito rapidamente,
especialmente sabendo que poderia refletir muito sobre você e
mamãe se rompesse o relacionamento e, pior, o nosso
noivado. A Famiglia ainda está presa na Idade Média em
alguns aspectos.

Mamãe assentiu, mas papai ainda me olhava como se


esperasse que lhe desse uma resposta mais satisfatória à sua
pergunta. — Vou dar uma palavrinha com o Giovanni.

Meus olhos se arregalaram em alarme, e mamãe avisou:


— Luca, essa é a decisão de Marcella.

— A decisão é dela, mas ainda devo falar com Giovanni e


ver o que ele tem a dizer.

— Em sua defesa, você quer dizer, — acrescentei com


raiva. Amava meu pai e sua atitude protetora, mas às vezes ia
longe demais.

— É meu trabalho garantir que você não seja


prejudicada.
Perdi a calma e gritei. — Mas você é a razão pela qual
não deu certo! Portanto, se quiser encontrar uma resposta
para sua pergunta, precisa se olhar no espelho.

— Cuidado com o tom, — papai disse com firmeza,


então franziu a testa. — Agora explique. Apoiei seu
relacionamento com Giovanni. Não foi? — Ele perguntou,
virando-se para a mamãe.

— Depois de seus ressentimentos iniciais, você foi a


favor do relacionamento, sim, — mamãe disse neutra.

Amo reprimiu um sorriso, mas estava longe de estar


achando graça.

— Você era a favor de Giovanni pela facilidade com que


podia controlá-lo. Ele estava sempre ansioso por sua
aprovação. Estava certo de que ele nunca faria nada que você
não quisesse.

— Não vejo problema.

— Claro que você não vê. Mas o que eu quero deve


importar em um relacionamento e não seus desejos!

— Sou quem sou, Marcella. Minha reputação vai além


de nossos círculos. Poucos homens têm a coragem de
desconsiderar meus desejos. Isso é algo que você terá que
aceitar. Estou lhe dando mais liberdade do que a maioria das
garotas dos nossos círculos tem, muito mais liberdade do que
sua mãe já teve, mas você sempre estará sujeita a certas
regras.
— Então acho que terei que encontrar alguém que tenha
bolas para enfrentá-lo, — falei.

— Linguagem, — disse a mãe.

Balancei a cabeça e me afastei.

— O café da manhã não acabou, — papai me lembrou,


mas o ignorei.

Fui direto para o meu quarto e me joguei na cama,


deixando escapar um grito de frustração. Quem teria coragem
de ir contra a vontade de papai? Giovanni e todos os outros
soldados da Famiglia até tentavam antecipar os desejos não
expressos de papai. Um homem assim nunca me faria feliz.
Mas os caras normais que conheci na faculdade eram ainda
piores. Eles mal olhavam na minha direção porque temiam
que papai os perseguisse no estilo Al Capone. Eles não
sabiam nenhum fato real sobre a Famiglia, mas até mesmo
imaginar era o suficiente para mantê-los à distância. Se eles
realmente soubessem do que papai era capaz, fugiriam
chorando. Não, nunca poderia respeitar um homem assim.

Encarei o teto sem expressão. Talvez alguém de outra


família mafiosa. Mas não tinha absolutamente nenhuma
intenção de me mudar para a Costa Oeste, nem de fazer parte
da Camorra. Eles eram loucos demais para o meu gosto. E
alguém da Outfit? Poderia muito bem colocar uma bala no
coração de papai.

Acho que teria que ficar solteira indefinidamente.


Uma batida suave soou e mamãe entrou. — Posso falar
com você?

Balancei a cabeça e me sentei. Não queria ficar


deprimida na cama como uma criança de cinco anos. Mamãe
se sentou no colchão ao meu lado e me deu um sorriso
compreensivo. Ela sempre foi compreensiva. Suponho que
tenha aprendido essa característica em seu casamento com
papai.

— Você está bem?

— Sim, — falei. Não estava triste por perder Giovanni,


não mesmo. — Só estou triste por não ter terminado as
coisas antes.

Mamãe inclinou a cabeça. — Há algo que você queira me


dizer que não pode falar na frente do seu pai?

Ri. — Giovanni não fez nada, então não tenho que


protegê-lo. Papai provavelmente lhe daria elogios por ser um
cavalheiro tão perfeito.

Mamãe mordeu o lábio, obviamente lutando contra a


diversão.

— Vá em frente, ria. Sinto-me motivo de chacota de


qualquer maneira, — murmurei. — É tão errado querer tudo?
Amor, paixão e alguém de quem papai gosta... ou pelo menos
tolera?

— Talvez as coisas melhorem depois do seu casamento.


Balancei a cabeça. — Giovanni sempre tentará agradar o
papai em tudo o que fizer.

— Suponho que seja verdade.

— Você tem muita sorte de ter papai. Ele é aquele que


todos temem. Ele nunca tentaria agradar a ninguém. Ele
pega o que quer.

— Não vi dessa forma no começo. Tinha medo de seu


pai. Amor e paixão exigiram algum trabalho de ambas as
partes.

— Não importa o quanto tente, não consigo imaginá-la


com medo de papai. Vocês são como yin e yang, se
complementam.

— Algum dia, você encontrará essa pessoa especial.

— Onde?

— Onde menos espera.


Capítulo 5

Gunnar e eu esperamos na van, fumaça enchendo o


interior. Desde que deixamos o clube, fumei praticamente
sem parar. Hoje era o dia. Tinha que admitir que estava
nervoso como uma virgem antes de sua cereja estourar.
Estávamos seguindo Marcella há semanas, esperando o
momento perfeito para sequestrá-la. Infelizmente, as medidas
de segurança que Vitiello estabeleceu para ela eram quase
impenetráveis. Earl estava perdendo a paciência, mas uma
manobra arriscada apenas alertaria Vitiello e não nos levaria
a lugar nenhum. Talvez essa fosse nossa única chance. E não
iria estraga-la.

— Talvez ela tenha saído por outra porta, — disse


Gunnar. Seu cabelo grisalho na altura dos ombros tinha
caído quase completamente fora de seu rabo de cavalo por
causa de sua preocupação constante. Nunca o tinha visto tão
nervoso.
— Nah, — falei. — Os carros ainda estão aqui. Deixe-me
verificar a área.

Saltei da van e esmaguei meu cigarro debaixo da minha


bota antes de seguir para a calçada. Sentia-me nu sem meu
colete, mas vestir qualquer coisa que me ligasse ao Tartarus
teria sido estúpido e quase um suicídio. Mesmo com roupas
civis, o risco de ser reconhecido por um dos guarda-costas de
Marcella ainda era alto, mas podia sentir no meu sangue que
hoje era o dia.

Eventualmente, localizei a princesa mimada. Ela


conversava com um homem mais velho de mocassins e um
paletó amarelo mostarda, provavelmente um professor. Eu
nem tinha terminado o ensino médio, então não tinha muita
experiência com essas coisas, mas ele parecia alguém que
passava muito tempo com o nariz nos livros.

Seus guarda-costas mantinham uma distância


respeitosa, mas ainda estavam perto demais para que a
agarrássemos. Tínhamos munição e armas suficientes para
conquistar a faculdade inteira, mas queríamos manter as
coisas o mais discretas possível. Não queríamos a polícia em
nossas costas. Ter Vitiello e a Famiglia atirando nos nossos
traseiros era mais do que suficiente. Sem mencionar que
Vitiello pagava metade dos policiais, então eles provavelmente
nos entregariam direto a ele e então seríamos lixo.

Segui Marcella a uma distância segura no campus. Até


peguei alguns livros na biblioteca para encenar minha parte.
Ela estudava negócios e marketing ou fingia fazer isso.
Aposto que o pai dela comprou o diploma para ela. Não que
precisasse de uma educação universitária, ela se casaria com
aquele noivo piegas e se tornaria uma esposa troféu como
todas as mulheres da máfia.

Não tinha visto Marcella e seu noivo juntos há mais de


uma semana, o que era incomum, mas hoje ele a seguia
novamente como um cachorrinho perdido. Ele não sabia
muito sobre mulheres se não conseguia ver quão irritada ela
estava com sua imploração afetada. Mas a choradeira dele
eventualmente funcionou e ela o seguiu até o carro para uma
conversa. Claro, o garoto chique tinha uma Mercedes
Cabriolet extravagante. A Famiglia simplesmente nadava em
dinheiro.

Ela ordenou que seus guarda-costas saíssem e eles


permaneceram nas escadas do prédio principal.

Endireitei-me e peguei meu telefone para enviar uma


mensagem a Gunnar. Mantendo um olho em Marcella e seu
noivo de brinquedo, corri até a velha van e sentei no banco do
passageiro, onde joguei os livros no chão. Lentamente,
Gunnar dirigiu o carro para o estacionamento onde Marcella
e seu noivo pareciam presos em uma discussão em frente a
seu elegante carro.

Nada era melhor para afastar os guarda-costas do que


uma briga embaraçosa entre pombinhos. Seus guarda-costas
fingiam não prestar atenção a discussão, obviamente
constrangidos com a cena. Cães bem treinados, todos eles.
Deslizei o soco inglês de prata na minha mão no caso do
noivo de Marcella resistir mais do que deveria.

— Mais perto, — falei a Gunnar que dirigiu a van ainda


mais próximo de Marcella.

Ela parecia furiosa. As bochechas coradas parecendo


absolutamente marcantes contra sua pele de porcelana.

— Fodida Branca de Neve, — murmurei. A Marcella dos


meus sonhos tinha uma semelhança notável com a Marcella
raivosa do momento, só que suas bochechas coradas tinham
um motivo muito diferente.

Gunnar me lançou um olhar curioso, mas o ignorei.


Marcella empurrou o ombro do noivo e girou nos saltos, então
seu cabelo o atingiu bem no rosto. Depois de uma expressão
estupefata, ele agarrou o braço dela e seus guarda-costas
eram todos olhos agora. Tínhamos apenas uma chance. Logo
eles estariam enxameando ao redor da princesa novamente e
não teríamos chance de chegar perto dela. Empurrei a porta
antes que Gunnar parasse e saltei da van. Avancei em
direção a Marcella com visão afunilada completa. Seus olhos
me atingiram e seu rosto se transformou de confusão em
reconhecimento e depois em choque. Os lábios carnudos se
abriram para um grito. Seus guarda-costas começaram a
correr, sacando suas armas.

Gunnar saltou do carro, ergueu sua pistola e atirou. O


som transformou o pacífico campus em um inferno. Gritos
soaram e as pessoas se espalharam, correndo para salvar
suas vidas.
O pânico deles foi uma vantagem para nós. Eles
tropeçaram nos guarda-costas de Marcella que tentavam nos
alcançar, retardando-os. Cheguei até Marcella e seu noivo.
Ele agarrou sua arma, mas fui mais rápido e bati meu punho
com o soco inglês direto em seu rosto. O sangue jorrou de seu
nariz e boca e ele caiu no chão. Não tinha tempo para mata-
lo, não com todo o inferno acontecendo. Era apenas uma
questão de minutos antes que dezenas de soldados da
Famiglia entrassem em cena para proteger sua princesa.
Sabia o que aconteceria se eles colocassem as mãos em mim.
Eles me entregariam a Vitiello e o que ele fez ao meu pai
pareceria brincadeira de criança em comparação com o que
faria comigo por atacar sua preciosa prole. Não ia acontecer.

Nada importava quando finalmente agarrei o braço de


Marcella e a puxei para mim. Seus grandes olhos azuis
chocados me atingiram como uma marreta. Seus olhos se
fixaram nos meus, sem medo, apenas surpresa. O azul de
sua íris era acentuado por um anel externo mais escuro. O
puxão a fez colidir contra meu peito. Uma nuvem de seu
perfume exótico, algo sutilmente doce, mas também picante,
me atingiu. Ela era ainda mais baixa do que eu pensava.
Mesmo com salto alto, só alcançava meu nariz. Antes que ela
pudesse reagir, pressionei o tecido encharcado de clorofórmio
sobre sua boca. Suas pálpebras caíram e ela cedeu contra
mim. A levantei por cima do ombro e corri em direção à van.
Gunnar ainda estava atirando nos guarda-costas que não
tinham escolha a não ser procurar cobertura, mesmo que o
medo da ira de Vitiello os tornasse imprudentes. Coloquei
Marcella na área de carga da van antes de fechar a porta e
deslizar para o banco do passageiro. Depois de um sinal meu,
Gunnar saltou e pisou no acelerador.

— Acertei um deles.

Ele estendeu a pistola e a peguei para o caso de ter que


lidar com perseguidores. Logo o campus desapareceu na
distância e Gunnar conduziu o carro até uma garagem onde o
trocamos pela primeira vez. A nova van com o logotipo da
lavanderia pertencia a um membro da família de uma das old
ladies. Duvidava que Earl tivesse lhe dito para que a
usaríamos. Ele não se importava se Vitiello colocasse as mãos
neles, desde que nosso plano funcionasse. Danos colaterais
sem importância.

Marcella não se mexeu quando a carreguei de um carro


para o outro.

Depois de mais trinta minutos, quando tive quase


certeza de que não estávamos sendo seguidos, coloquei a
arma no chão. Branca de Neve estava lentamente voltando a
si, gemendo de uma forma que me lembrou do sonho da noite
anterior. Virei-me no assento para observá-la. A dose que
usei não tinha sido muito potente. Seus cílios negros
vibraram contra sua pele pálida. Tinha quase cem por cento
de certeza de que suas fotos tinham sido retocadas
pesadamente, mas agora de perto, percebi que Marcella
Vitiello era tão imaculadamente linda quanto seu Instagram e
fotos da imprensa sugeriam. Tive que resistir ao impulso de
me aproximar ainda mais, de tocá-la e descobrir se sua pele
era tão lisa quanto parecia. O curto momento em que a
agarrei passou em um flash e não tive tempo para prestar
atenção.

Suas pálpebras dispararam e ela olhou para mim,


penetrante e sem medo. Congelei, chocado com a intensidade
de seu olhar, pela forma como ele me agarrou e não me
soltou. Felizmente, o momento passou rapidamente. Seus
olhos reviraram e se fecharam, e reprimi um suspiro de alívio
ao me livrar de seu olhar penetrante. Porra.

Trocamos de carro mais duas vezes antes de chegarmos


a nossa nova sede na floresta a nordeste de Morristown.
Minha frequência cardíaca começou a diminuir quando
passamos pelos portões da cerca de arame. Meio que
esperava que Vitiello e seus soldados lançassem um ataque
contra nós. Até agora, Marcella estava balançando, ainda fora
de si, mas cada vez mais alerta. Desta vez, não cometi o erro
de olhar para ela novamente.

Earl esperava na varanda da velha casa de fazenda com


os braços cruzados. Ele recebeu minha mensagem sobre
nosso sequestro bem-sucedido. Saltei da van com um polegar
para cima na direção de Earl e abri a porta da área de carga.
Marcella se sentou, apoiando-se em um braço. Ela jogou a
cabeça para trás para olhar para mim quando me ergui sobre
ela.

— É hora de se mudar para sua casa temporária, Srta.


Vitiello.
Abaixei-me para pegá-la, mas ela deslizou para trás. —
Não me toque com suas mãos sujas.

Ela mirou um chute na minha virilha, mas agarrei seu


tornozelo antes que pudesse fazer um dano real e a puxei em
minha direção. Ela não tinha nenhuma experiência em luta,
então não tive problemas para içá-la para fora da van. Minha
tentativa de colocá-la no chão para que pudesse andar
sozinha foi frustrada quando ela deu outro chute na minha
canela.

— Foda-se, vadia.

Seus olhos azuis indignados me atingiram.


Provavelmente ninguém nunca a chamou de vadia antes, e
geralmente não era um termo que eu usava, mas ela
realmente me irritou.

— Ande ou vou carregá-la sobre meu ombro para que


meus irmãos possam ver sua bunda empinada.

Ela enrijeceu, o que me deu a chance de colocá-la no


chão e agarrá-la pelo braço para arrastá-la. Marcella lutou
contra meu domínio, mas só apertei meus dedos em torno de
seu braço, rosnando.

— Pare com isso.

Ela se encolheu antes de sua boca formar uma linha


fina e teimosa, mas pelo menos finalmente me seguiu sem
lutar.
Earl desceu os três degraus da varanda e nos encontrou
no meio do caminho. — Ninguém te seguiu? — Earl
perguntou, examinando Marcella da cabeça ao dedo do pé.

Ela estremeceu. Não tinha certeza se era por causa de


Earl ou porque finalmente sabia quem éramos. Ao contrário
de Gunnar e eu, Earl usava seu colete com o grande logo do
Tartarus MC nas costas e o menor na frente.

— Ninguém, não se preocupe. Tomamos cuidado, —


falei. Avancei em direção à casa, mas Earl ergueu a mão para
me impedir.

— Os canis, — Earl ordenou com um aceno de cabeça


apontando na direção da fila de gaiolas descendo a encosta
da casa.

Hesitei, minhas sobrancelhas se unindo.

Os olhos de Earl estreitaram em advertência. — Mostre


à prostituta seu lugar de direito. — Marcella ficou tensa, mas
quando comecei a arrastá-la em direção ao canil, a luta
voltou ao seu corpo. Eventualmente, cansei e a coloquei sobre
meu ombro como prometi. Ela era leve, mas o que faltava em
peso compensava com flexibilidade e mordida. Ela tentou
aranhar meu pescoço e braços, cada centímetro de pele que
não estava coberto por roupas. — Você vai se arrepender
disso! Meu pai vai te matar.

Recebendo estoicamente a picada de suas unhas,


murmurei: — Tenho certeza que ele adoraria me
desmembrar, mas não lhe darei uma chance.
Latidos nos cumprimentaram quando chegamos aos
canis. Eles eram uma das novas adições à propriedade. Earl
nunca ia a lugar nenhum sem alguns de seus cães de
combate.

— Oh Deus, — Marcella sussurrou. Talvez tenha achado


que não a ouvi. Certamente não foi para meus ouvidos, mas
pela primeira vez, senti seu medo e o senti no tremor de seu
corpo.

Era estranho, mas não senti nenhuma satisfação com


sua angústia.

A carreguei para o único canil vazio, apesar de sua luta.


Os rottweilers enchiam as outras gaiolas, bestas que meu tio
transformou em ferozes máquinas de matar que só
obedeciam a ele, e às vezes a mim. O volume de seus latidos e
rosnados aumentaram ao ver uma estranha.

A coloquei de pé sem cerimônia, então me virei e fechei a


porta da gaiola. Os cães imprensados em seu canil saltaram
contra as grades, rosnando e cuspindo, enquanto seus olhos
ferozes se fixavam em Marcella, ansiosos para rasgá-la. Earl
ganhava um bom dinheiro com brigas de cães, e corriam
boatos de que ele também havia eliminado traidores dessa
forma, mas isso foi antes da minha época.

Marcella se encolheu e recuou contra a parede do canil,


segurando um de seus sapatos de salto alto preto de
aparência cara. Earl assistia tudo com um sorriso satisfeito
antes de andar até mim. Por algum motivo, vê-la em uma
gaiola me deu a mesma sensação desconfortável que
experimentei sempre que via um tigre no zoológico. Ela não
pertencia lá, mas isso não era sobre meus sentimentos
irracionais, mas sobre vingança. O desconforto dela duraria
pouco e nada em comparação com o inferno que vivi depois
que o pai dela matou o meu.

— Quietos! — Ele sibilou e os cães em todos os canis


deitaram obedientemente. Ele parou ao meu lado, mas só
tinha olhos para a garota dentro da gaiola.

— Marcella Vitiello, finalmente nos encontramos.

— Eu deveria saber quem você é? — Disse ela com


altivez.

Tive a sensação de que ela sabia muito bem quem


éramos. Sua reação ao ver o logo foi muito forte. Ela não
podia ser tão alheia. Embora tivesse certeza de que Vitiello fez
o possível para transformar a vida dela em um conto de fadas
do caralho. No entanto, até mesmo seu cérebro de princesa
obcecado por compras tinha que saber as histórias sobre
nosso clube e a Famiglia.

— Talvez você não saiba, — disse Earl com um encolher


de ombros. Ele se virou, mostrando-lhe o logotipo do cão do
inferno com nosso nome. — Sou o presidente do Tartarus
MC, e temos contas a acertar com seu pai. Infelizmente para
você, pretendemos resolver isso com a sua ajuda.

Marcella cruzou os braços. — Não vou te ajudar a


resolver nada. Seu plano está condenado. Meu pai vai
massacrar todos vocês como deveria ter feito há muito tempo.
Ela, obviamente, não era alheia ao que tinha acontecido.
De repente, vê-la na gaiola não me incomodou mais. Talvez
fosse bom para ela dormir um pouco com os cachorros.

— Vamos ver por quanto tempo você consegue manter


essa arrogância. Desfrute de nossa hospitalidade, — disse ele
com uma risada gutural. Com um aceno de cabeça para mim,
ele se virou e voltou para o prédio.

Marcella não se mexeu. Ela ainda brandia aquele sapato


em sua mão. Seus pés estavam descalços, então deve ter
perdido um sapato no caminho.

— Você não vai precisar de sapatos elegantes por aqui,


acredite em mim, — falei, me encostando nas grades.

Ela olhou para o salto alto e depois para mim. — Não


confio em você ou em qualquer um dos outros caipiras.

— Caipiras? — Sorri e calmamente peguei um cigarro do


maço na minha calça jeans. — Não é uma coisa muito
inteligente insultar as pessoas responsáveis por sua
segurança. — Acendi o cigarro, sem tirar os olhos da garota.

Até seus pés eram imaculados. Seus dedos dos pés


estavam pintados de vermelho, provavelmente por algum
salão de beleza chique em Manhattan. Meninas como ela não
faziam suas próprias unhas, cabelo ou qualquer outra coisa.
Estavam acostumadas a ter pessoas fazendo tudo por elas.
Mimadas até o âmago.

Finalmente desviei meus olhos de seus pés, não


querendo parecer um pervertido que gostava de chupar dedos
dos pés. Marcella estava me observando como eu a
observava. Seu rosto era uma máscara de controle, mas seus
olhos não conseguiam esconder o medo. Isso não me deu a
satisfação que esperava. Seu pai era quem eu queria em
minhas mãos.

— Nem sei o seu nome, — Marcella disse como se


apresentações formais fossem esperadas.

— Maddox ‘Mad Dog’ White.

Observei sua reação ao meu nome, especialmente meu


apelido, atentamente. Se ela reconheceu o nome, não
demonstrou, mas meu nome do meio definitivamente chamou
sua atenção.

— Mad Dog, — disse ela, balançando a cabeça com um


sorriso amargo. Ela balançou os dedos bem cuidados na
direção dos cachorros. — Então, eles são seus?

Zombei. — Você acha que me chamam de Mad Dog


porque sou louco por cachorros?

— Como saberia sobre regras de motoqueiros, se é que


existe algum tipo de regra entre a sua espécie.

Cerrei meus dentes. — Mad Dog porque não conheço o


medo, como um cachorro louco.

— Então você nunca conheceu meu pai.

Ri baixinho, balançando a cabeça enquanto empurrava


a ponta das minhas botas pretas no chão. Se ela soubesse.
Ela inclinou a cabeça com curiosidade, mas não tinha
intenção de dizer mais nada agora.

— Por que estou aqui? — Ela perguntou quase com


altivez.

Tive que admitir que ela me surpreendeu. Achei que ela


estaria implorando e chorando, mas até agora manteve a
máscara fria pela qual era famosa. Talvez Marcella tivesse
mais de seu pai nela do que meu tio e eu pensávamos. —
Como meu tio disse, por causa de seu pai e das contas que
queremos acertar.

Ela balançou a cabeça. — O que quiserem dele, vocês


não conseguirão.

— Queremos a vida dele, e tenho certeza que a


conseguiremos considerando que temos sua preciosa filha.

Marcella olhou para o canil à sua esquerda, onde Satan,


a cachorra favorita de Earl, estava sentada atrás das grades e
a observava como seu próximo petisco. Nunca entendi por
que ele chamava uma cadela de Satan, mas entender o
raciocínio de Earl era perda de tempo de qualquer maneira.

Ela engoliu em seco e arrastou os olhos de volta para


mim. — Meu pai é o homem mais cruel que você já teve a
infelicidade de conhecer. A única coisa com que ele se
preocupa é a Famiglia.

Rio. — Você realmente acha que acredito nisso? Seu pai


é bom em manter sua cara de bastardo frio em público, mas
você e sua mãe olham para ele com amor. Se ele fosse um
idiota a portas fechadas, você não o olharia assim.

Passei horas olhando fotos de Luca com sua família nas


últimas semanas. A internet estava cheia de retratos oficiais,
poucos dos quais transmitiam qualquer emoção honesta, mas
algumas fotos indesejadas de paparazzi revelaram os
sentimentos de Marcella e Aria em relação ao homem que
odiava mais do que tudo. Por algum milagre, elas pareciam
adorá-lo, e embora ele sempre mantivesse sua fachada de
bastardo frio em público, tinha a sensação de que ele era, no
mínimo, protetor e possessivo com sua filha e esposa. Ele
agiria agora que a tínhamos.

Marcella deu de ombros, tentando parecer blasé, mas


cravou as unhas pintadas de vermelho nos braços. — Se você
diz. Muitas vítimas amam e admiram seus agressores.

Dou uma tragada no meu cigarro. — Algumas fazem.


Mas é sempre misturado com medo. Medo de desagradar seu
agressor e depois receber sua ira.

— Como você sabe? — Ela disse bruscamente. — Você


se formou em psicologia?

Dou-lhe um sorriso tenso. Ela não precisava saber mais


sobre meu passado do que a história da morte de meu pai. —
Nah, ao contrário de você, não tive o privilégio de ir para a
faculdade.
— Não pode ser sobre dinheiro. Aposto que seu clube
ganha muito dinheiro com drogas e armas. É um negócio
lucrativo.

— Estou surpreso que você saiba mais sobre dinheiro do


que o preço de seus sapatos elegantes.

— Nunca olho para etiquetas de preços, — ela disse


secamente, encolhendo os ombros delicadamente.

Realmente rio. Ela sabe revidar. Gostei disso. Esperava


outra coisa. — Então, seu pai compartilha histórias do
negócio com você?

Talvez Marcella pudesse realmente ser útil como mais do


que material de barganha. Earl queria expandir nossos
negócios, mas a Famiglia tinha um controle rígido sobre as
drogas e as armas.

— Não, ele não o faz. Isso é algo que todo mundo com
um pouco de cérebro sabe. — Não sabia se ela estava
mentindo. Ela tinha uma boa cara de pôquer. E era
definitivamente muito confiante para seu próprio bem.

À medida que o silêncio entre nós se estendia, ela olhou


ao redor de sua cela com cautela.

— Caso você esteja procurando o banheiro, é ali. —


Apontei para o balde enferrujado no canto.

— Não vou usar um balde, — disse ela com desgosto.

— Então pode simplesmente fazer no chão como os


cachorros fazem.
Ela olhou para a gaiola à sua esquerda novamente onde
Satan estava agora deitada em seu canil, mantendo um olho
atento em Marcella.

O rugido de várias motos me disse que as


comemorações de um sequestro bem-sucedido começariam
em breve. Com aplausos e gritos, vários dos meus irmãos do
clube vieram até o canil. Eles bateram em meus ombros e
verificaram a prisioneira com olhos desconfiados e
comentários sujos. Após alguns minutos, nos quais Marcella
parecia ter tentado desaparecer na parede, eles partiram para
a sede do clube.

Marcella agarrou seus antebraços com mais força,


olhando para mim. — E agora?

Joguei meu cigarro no chão. — Você fica aqui


confortável, e irei até meus irmãos.

Música country alta explodiu pelas janelas abertas e


alguns caras cantavam junto em um tom desafinado. Eles já
devem ter encontrado os destilados. A porta do clube se abriu
e Gunnar saiu cambaleando, sua camisa meio desabotoada e
uma garrafa de uísque em suas mãos.

— Maddox, você está perdendo a festa, — ele gritou.

— Estou indo!

— Suponho que vocês estejam comemorando meu


sequestro? — Marcella perguntou, colocando uma mecha de
cabelo atrás da orelha. Hoje foi a primeira vez que vi seu
cabelo não perfeitamente arrumado.
— Isso, e a morte dolorosa e próxima de seu pai assim
que ele se trocar por você.

Marcella me surpreendeu quando se afastou da parede e


se aproximou. Estreitei meus olhos e me afastei das grades.
Ela era uma mulher pequena, um palmo mais baixa que eu,
mas às vezes as aparências enganavam. O sorriso que ela me
enviou foi gelado. — Aproveite a festa enquanto dura, mas
não se engane, a única morte que estará comemorando é a
sua.

Gray chegou em sua moto naquele momento.

— Finalmente, Gray, mova sua bunda para cá. Seu


velho esteve te procurando o dia todo, — gritou Gunnar.

Gray me deu um aceno de cabeça enquanto descia da


moto. Balancei a cabeça, me perguntando o que ele tinha
feito de novo. Seus olhos pousaram em Marcella e ele fez uma
careta. Seus sentimentos em relação ao sequestro não
mudaram. Os meus também não, mas sacrifícios tinham que
ser feitos se quiséssemos nossa merecida vingança.

Gunnar colocou um braço ao redor de seus ombros e o


conduziu para a sede do clube, embora Gray parecesse
preferir passar a noite no canil comigo.

O olhar de Marcella disparou deles para mim. — Seu


irmão?

Inclinei a cabeça, percebendo que ela observava tudo


atentamente. Não tinha certeza de como sabia que éramos
parentes. Nós dois tínhamos cabelos loiros, mas Gray tinha
os olhos cinzentos de nossa mãe e seu rosto era mais suave
do que o meu. — Meio irmão, — falei.

Ela assentiu, como se estivesse arquivando as


informações para uso posterior.

Acendi outro cigarro e tirei um chapéu imaginário antes


de caminhar até a sede do clube. — Aproveite o ar fresco.

Ela não disse nada, mas quase pude sentir seus olhos
furiosos no meu pescoço.

Dentro da sede do clube, a festa estava em pleno


andamento. A notícia sobre o sucesso da missão se espalhou
rapidamente.

Todos queriam bater no meu ombro e me parabenizar


pelo sucesso. Apenas balancei a cabeça com um sorriso. Earl
veio em minha direção e me entregou uma Budweiser. — Por
que você não está comemorando?

— É muito cedo, — gritei em seu ouvido. — Vencemos


uma batalha, mas não a guerra.

— É uma batalha importante, filho. Deixe nossos


homens comemorar e sentir que estamos perto de ganhar a
porra da guerra.

Balancei a cabeça, então tomei um gole da cerveja antes


de permitir que Cherry, uma das garotas mais novas do
clube, se esfregasse contra mim em uma dança muito
explícita. Minha mente estava em outro lugar. Não conseguia
parar de pensar na garota trancada no canil do lado de fora.
Ela foi um produto da minha imaginação por tanto tempo que
tê-la tão perto era um choque para o meu sistema.

No momento em que terminei a cerveja, Gray empurrou


uma garrafa de cachaça na minha mão. Tomei um pequeno
gole e coloquei sobre o bar.

Preferia ficar sóbrio com Marcella nas mãos. Não


subestimaria Luca Vitiello. O homem era um maníaco
homicida com um exército de soldados leais em suas mãos e
um protetor mortal de sua família. Sequestrar sua filha
poderia ser o prego em todos os nossos caixões se não
fizéssemos isso direito. Earl deveria ter adiado as
comemorações, mesmo que nossos irmãos não gostassem. O
álcool e o sexo podiam esperar até que Vitiello morresse.

Cherry pressionou contra mim. — Você parece


entediado. Vamos subir para o seu quarto. Sei como te
entreter.

Eu a deixei me puxar escada acima e entrar em meu


pequeno quarto. A única peça de mobília era uma cama e
uma poltrona que usava para jogar minhas roupas.

Ela me empurrou na cama e começou a se despir.


Sempre me satisfiz com as garotas do clube, mas agora não
conseguia parar de compará-las à porra da Marcella Vitiello.
E foda-se, Branca de Neve jogava em uma liga própria.
Cherry deixou cair o sutiã, mas não foi por isso que meu pau
ergueu uma barraca no meu jeans. Uma imagem de olhos
azuis frios, cabelo preto e lábios vermelhos carnudos
permaneceu na minha cabeça.
Precisava parar de fantasiar sobre a Branca de Neve,
especialmente agora que ela estava ao alcance.
Capítulo 6

Assisti Maddox desaparecer dentro do prédio da fazenda


miserável, uma arrogância confiante em seu andar. Seus
amigos motoqueiros provavelmente o saudaram como um rei
depois que ele me sequestrou. Movi-me na gaiola, tentando
ignorar o rosnado de desaprovação do cachorro na gaiola ao
lado da minha, e minha pulsação acelerada em resposta.
Deve ter chovido não muito tempo atrás, porque o fedor de
pelos molhados e xixi fez meu estômago revirar
violentamente. A umidade e o calor persistente só pioraram
as coisas. Tentei não pensar em todas as coisas que meus
pés descalços tocavam no chão sujo. Subi no abrigo,
estremecendo quando lascas da madeira áspera espetaram
minhas palmas e sentei contra a pedra áspera da parede dos
fundos. Estava ficando escuro ao meu redor, apenas fazendo
minha situação parecer mais desesperadora. Por hábito,
coloquei a mão no bolso de trás para pegar meu telefone, mas
é claro que eles o descartaram.
Papai sempre me alertou sobre os perigos de nossa vida,
mas nem ele nem eu imaginamos que realmente chegaria a
esse ponto. Que eu realmente seria sequestrada.

Estremeci. Ainda parecia um pesadelo.

Não sabia que horas eram. Devo ter perdido meu relógio
como um dos meus sapatos em minha luta, mas horas devem
ter se passado desde que fui sequestrada. A ideia de que
estive desmaiada por horas enviou um calafrio pela minha
espinha, me perguntando o que aqueles animais fizeram
nesse ínterim.

Por agora, papai já saberia. Perguntei-me se ele já tinha


contado a mamãe. Ele preferia esconder certos assuntos
obscuros dela e de mim, mas não éramos estúpidas e
sabíamos mais do que ele achava. Ainda assim, gostaria que
houvesse uma maneira de esconder essa notícia de mamãe.
Ela entraria em colapso se descobrisse. Mamãe nunca foi
construída para este mundo.

E Amo? Ele provavelmente faria algo absolutamente


estúpido, ainda mais estúpido do que suas ações habituais.
Sorri, mas logo as lágrimas encheram meus olhos. Pisquei
rápido para cessá-las. Não choraria. Em vez disso, olhei
obstinadamente para a floresta que cercava a área, ouvindo
os sons de uma estrada próxima ou de vida humana. Mas
além de um pássaro ocasional se despedindo do sol poente e
do farfalhar das árvores, não ouvi nada, exceto a confusão na
sede do clube.
A noite caiu e o canto dos pássaros morreu. Os uivos da
festa dos motoqueiros aumentaram de volume e foram
acompanhados pelo som de vidros quebrando. A exaustão,
mais emocional do que psicológica, mas igualmente potente,
tomou conta de mim. No entanto, não dormiria até que meu
corpo não aguentasse mais. Não com esses animais, cães e
motoqueiros, tão próximos.

Seixos rangeram. Fiquei tensa e sentei quando um


homem na casa dos vinte anos tropeçou em minha direção.
Ele estava bêbado e não conseguia nem andar direito, mas
tinha o olhar fixo em mim. Ele colidiu com as grades, em
seguida, agarrou-se a elas, pressionando a testa na abertura
como se quisesse se espremer através do metal. Meus olhos
dispararam para a porta, que estava trancada, mas e se ele
tivesse as chaves?

Ele me deu um sorriso largo. — Ai está ela. — Ele soava


como se estivesse tentando ser uma cobra, arrastando o s
grotescamente. — Princesa linda. — Ele me despiu com olhos
gananciosos e semicerrados.

Minhas mãos tremeram ainda mais e segurei meus


joelhos. Seus olhos dispararam para a porta da gaiola. Rezei
para que ele não tivesse as chaves. Talvez estivesse bêbado o
suficiente para que eu pudesse dominá-lo e fugir, mas talvez
ele não estivesse, e era definitivamente mais forte que eu. Ele
cambaleou em direção à porta e a sacudiu, levemente no
início, depois com mais força. Soltei um suspiro de alívio
quando suas sacudidas irritadas na porta não fez nada.
— Que pena. Talvez mais tarde, — ele disse com uma
gargalhada estúpida. Então começou a desafivelar o cinto. Ele
precisou de duas tentativas para abaixar o zíper, e sacudi
minha cabeça em desgosto. Ele ia se masturbar bem na
minha frente?

Mas logo o som do líquido batendo na lateral da gaiola


ecoou no silêncio. Algumas gotas quentes atingiram minhas
mãos e soltei um grito de nojo, pressionando ainda mais
perto da parede. — Seu animal!

Passos soaram. — Denver, seu idiota! — Maddox rugiu e


empurrou o peito do outro homem com tanta força que ele
simplesmente tombou e riu como um bêbado, depois ficou em
silêncio.

Maddox estava de jeans largo, mas sem camisa, e os


cadarços de sua bota arrastavam pelo chão. No brilho suave
da varanda, pude ver que ele tinha várias tatuagens no peito,
uma delas, sobre o esterno, uma caveira cuspindo fogo. As
sombras acentuaram as cristas de seu estômago musculoso
até o V de seus quadris.

— Foda-se, — Maddox rosnou e chutou um Denver


imóvel cuja cabeça pendeu para o lado. — O idiota desmaiou
e se mijou todo. — Ele se virou para mim, os olhos
enrugando. — Você está bem?

— E você se importa? Você me trancou em uma gaiola


de cachorro. — Minha voz se tornou nasalada enquanto
lutava contra as lágrimas. Segurei minha mão longe de mim,
me perguntando como poderia me livrar do xixi. Meu
estômago embrulhou só de pensar nisso.

— Não me importo, — ele disse friamente e se virou para


partir. — Boa noite.

— Ele fez xixi na gaiola e caiu um pouco nas minhas


mãos, — disse apressada, odiando o tom desesperado em
minha voz. Nunca fiquei desesperada, pelo menos não na
frente de estranhos.

— Idiota estúpido, — Maddox rosnou na direção de seu


amigo motoqueiro, que definitivamente não o ouviu antes de
me dizer: — Vou pegar uma toalha para você.

Ele se virou e seguiu pelo caminho de pedregulhos que


levava ao clube.

Olhei para o homem desmaiado no chão, mas ele não se


mexeu. Alguns minutos depois, Maddox voltou com uma
toalha. Ele a estendeu para mim através das grades. Pulei do
abrigo, tomando cuidado para não pisar no xixi, e agarrei a
toalha. Estava fria e úmida. Cheirei, não confiando em
ninguém por aqui, mas só peguei o mais leve toque de
detergente.

— É água e sabão, ou você esperava que eu lhe desse


uma toalha com mais urina? — Maddox disse. Ele realmente
parecia ofendido. Que direito ele tinha de se ofender? Era ele
quem estava no canil?

Limpei minhas mãos, resmungando. — Como deveria


saber? Aquele cara queria fazer xixi em mim, e você
provavelmente acha que é o que mereço por ser filha do meu
pai.

Meu pai evocou ódio em muitas pessoas e,


simplesmente por compartilhar seu sangue, estava colhendo
as mesmas emoções. O poder de papai me protegeu da força
da maldade das pessoas, seu medo sempre maior do que sua
antipatia. Agora eu estava desprotegida.

— Não. Só porque você é uma prisioneira, não significa


que deva ser tratada como lixo. Quero o seu pai, não você.

Continuei esfregando minha mão com a toalha, mas o


fedor de xixi do chão do canil entupia meu nariz, então ainda
me sentia suja. — Então, uma gaiola de cachorro é a sua
versão de não me tratar como lixo?

— Essa foi uma decisão do clube.

Inclinei a cabeça curiosamente. — E onde você me


manteria?

— Temos um porão.

— Parece esplêndido. — Estendi a toalha.

Ele balançou a cabeça, me olhando de uma forma que


parecia muito pessoal. — Guarde isto.

Balancei a cabeça, em seguida, fiz um caminho mais


curto ao redor da poça de xixi e subi de volta ao abrigo.

— Vou mandar alguém limpar isso de manhã, ou talvez


à tarde, dependendo de quando todos estarão sóbrios. — Ele
tinha o sotaque mais sutil, um que não pertencia aqui e que
não consegui identificar, mas era definitivamente sulista.

— Você sabe que seria fácil para meu pai se atacasse


agora.

— Seria, mas seu velho não tem a menor ideia de onde


você está. Nos mudamos recentemente para esta sede.

— Onde estamos? — Perguntei casualmente.

Maddox me observou atentamente e lentamente um


sorriso se formou em seus lábios, formando covinhas em sua
bochecha direita. — Por alguma razão, acho que pode ser um
erro falar muito a você.

— Maddox! — Um grito alto e feminino ecoou.

Maddox suspirou, olhando para uma janela onde uma


mulher nua acenava. — Sua namorada está esperando por
você para mantê-la entretida, — murmurei.

— Não é minha namorada, mas devo ir, — ele disse. Ele


agarrou o cara no chão e arrastou-o para longe.

Uma vez que estava fora de vista e do alcance da voz,


soltei um suspiro trêmulo. Lágrimas queimaram meus olhos.
Não era forte o suficiente para segurá-las.

Sentada no escuro, ouvindo os grunhidos, uivos e


latidos dos cães ao meu redor, lágrimas silenciosas
escorreram pelo meu rosto. Não estava frio, mas não
conseguia parar de tremer. Sempre soube que o negócio de
papai era perigoso, mas era um perigo distante, apesar dos
guarda-costas seguirem cada passo meu. Eles estavam
mortos agora. Ou os motoqueiros os mataram, ou papai os
matou no momento em que descobriu que eles permitiram
que eu fosse sequestrada. Não os culpava. Giovanni tinha me
incomodado tanto até que os mandei sair para ter uma
conversa particular com ele e tirá-lo do meu pé. Papai não
veria dessa forma. Ele culparia meus guarda-costas em sua
ira e eu não estava lá para lhe dizer o contrário e assumir a
culpa.

Enxuguei as lágrimas eventualmente e encarei a


escuridão sem expressão, ouvindo o uivo ocasional dos
motoqueiros enquanto se embebedavam. O enorme cachorro
do canil esquerdo começou a andar de um lado para o outro,
com as orelhas em pé. Ele arranhou o chão e depois se
enrolou. Apesar do meu medo dos cães, senti pena deles por
passarem a vida trancados em uma pequena gaiola.

Quanto tempo ficaria aqui? Talvez papai e Matteo já


estivessem a caminho para me salvar. Rezei para que fosse
esse o caso. Não queria descobrir o que aqueles motoqueiros
tinham em mente para mim. Maddox pode ter me salvado de
ser mijada e fingido que eu seria tratada com decência, mas
até agora tudo apontava para outra direção.

Minha beleza foi uma arma durante toda a minha vida,


algo para intimidar os outros sem armas e violência, mas
agora era um risco. Estava no início da adolescência quando
percebi a expressão nos olhos de muitos homens, e logo
aprendi a usá-los a meu favor, mas agora...
Depois de me permitir um bom choro, prometi a mim
mesma ser forte para sair dessa com vida. Papai faria de tudo
para me salvar, mas precisava ter certeza de que ele e Matteo
não seriam mortos enquanto o faziam. Tinha que descobrir
uma maneira de tornar as coisas mais fáceis para eles, ou
talvez até mesmo escapar. Esses motoqueiros não eram as
velas mais iluminadas do bolo. Tinha que encontrar uma
maneira de enganá-los para que pudesse fugir.

Minhas pálpebras logo ficaram pesadas, mas as forcei a


abrir até que queimassem ferozmente. Os cães roncavam nos
canis ao lado do meu, provavelmente sonhando em me ter
como sua próxima refeição.

Uma figura saiu de casa muito depois que a festa se


acalmou. Reconheci Maddox quando ele se encostou na
varanda, iluminado pela luz da janela. Ele era o mais alto de
todos os motoqueiros. De vez em quando, a ponta do cigarro
brilhava. Mesmo sem ver seus olhos, podia dizer que ele
estava me observando. Houve uma sensação de
formigamento. Uma que senti no clube onde o vi pela
primeira vez.

Maddox White.

Sabia quem ele era. Papai nunca compartilhou as partes


mais sombrias de sua vida comigo ou com mamãe, como se
não pudéssemos lidar com elas porque éramos mulheres.
Mamãe não queria saber e eu nunca havia realmente me
esforçado para descobrir mais, porque parecia inútil. Isso
apenas despertaria meu interesse ainda mais e me deixaria
ressentida pelo fato de nunca poder fazer parte do negócio.
No entanto, ouvi a história do clube de motoqueiros em Nova
Jersey que meu pai erradicou sozinho. Fiz questão de manter
meus olhos e ouvidos abertos o tempo todo, e esse massacre
ainda era um tópico popular entre os homens feitos em
eventos sociais. Visto que a maioria dos homens tentava ser
excessivamente divertidos perto de mim para me
impressionar, histórias como essa sempre chegavam aos
meus ouvidos.

Respirei fundo e pressionei contra a parede áspera.


Meus dedos doíam de agarrar meu salto alto. Maddox era
filho de um dos motoqueiros que morreram. Ele devia
realmente odiar papai, então confiei ainda menos em sua
simpatia. Até agora, não tinha tentado pensar em seu plano
de vingança. Isso só teria me deixado mais nervosa, mas ter
uma visão clara do que poderia acontecer a seguir significava
a diferença entre escapar viva ou em um caixão.

Minha pulsação acelerou ao perceber o quão perto da


morte estava. Durante toda a minha vida, uma possível
ameaça à minha segurança pairou sobre minha cabeça como
uma espada de Dâmocles, mas sempre foi abstrata, nunca
algo palpável que pudesse agarrar. Agora as preocupações de
papai haviam se manifestado e meu aborrecimento por sua
insistência em me manter fortemente protegida o tempo todo
parecia infantil e ingênuo. Talvez tivesse sido bom me
preparar de uma forma semelhante como ele fez com Amo,
realmente me mostrar os perigos do nosso mundo. Agora
estava sendo confrontada por eles com pouca preparação.
Esses homens queriam meu pai, mas para conseguir
isso, certamente não hesitariam em me machucar. Nunca
sofri uma cicatriz na minha vida. Orei por forças para
permanecer digna, mesmo enfrentando a tortura. Queria
deixar minha família orgulhosa. Esses motoqueiros queriam
manchar o nome Vitiello, mas eu faria o possível para frustrá-
los. Precisava confiar que tinha mais do meu pai em mim do
que ele sempre esperou.

Não tinha nenhuma arma real, exceto uma. Amo sempre


disse que minha aparência era letal. Tinha que torcer para
provar que ele estava certo.
Capítulo 7

Apesar do cansaço profundo dominando meu cérebro,


não conseguia dormir, mesmo muito depois que meus irmãos
do clube sucumbiram ao sono induzido pelo álcool. Por fim,
desisti de tentar e passei a noite na varanda, observando a
sombra curvada de Marcella no abrigo, sentindo que ela
também mantinha os olhos em mim. O ocasional pio da
coruja ou uma luta de guaxinins quebrava o silêncio pacífico.
Apenas uma pequena parte do motivo da minha vigília era
garantir que nenhum dos homens do meu tio colocasse a
mão em nossa prisioneira, especialmente depois que Denver
agiu como a porra de um animal e mijou na gaiola de
Marcella. O outro motivo era que queria saber mais sobre
Marcella Vitiello e, por meio dela, sobre seu pai. O nome
Vitiello havia assombrado minha vida por tanto tempo que
parecia estúpido deixar passar a oportunidade de saber mais
sobre a família.

Quando os primeiros raios de sol nebulosos espreitaram


sobre as copas das árvores, joguei meu cigarro no cinzeiro e
me afastei da varanda me dirigindo para os canis. No fundo,
sabia que deveria ficar bem longe de Branca de Neve.
Primeiro por que comecei a chama-la de Branca de Neve e,
segundo, por que não conseguia parar de pensar nela.

Ela estava sentada na parte de cima do abrigo de cães


com as pernas puxadas contra o peito e o queixo apoiado nos
braços cruzados sobre os joelhos. Seus olhos estavam
vidrados e vermelhos. Ela deve ter chorado. Estava muito
escuro para ver. O pensamento de suas lágrimas me deixou
desconfortável. Marcella não era a pessoa que eu queria
trancar em uma gaiola e colocar no inferno. Ela era apenas a
isca para uma presa muito maior.

Seu salto alto descansava ao seu lado. O balde foi


empurrado para o canto o mais longe possível dela. Mas
mesmo que tivesse uma vontade de aço, as necessidades de
seu corpo devem ter vencido durante a noite. A madeira do
abrigo estava mais escura onde a urina de Denver atingiu.

Quando ela me viu, endireitou-se e sentou-se com as


pernas cruzadas e as costas retas como uma vareta. Sua
blusa estava amassada e sua calça coberta de sujeira, mas
ela ainda conseguia parecer exatamente como deveria. Merda.
Essa garota ainda conseguia parecer blasé e como uma
maldita garota da sociedade em uma porra de canil.

Os cachorros ganiram e pularam nas gaiolas, ansiosos


por comida. Mas esse era o trabalho de Gray, não meu.
Suspeitei que ele ainda estava de ressaca da nossa festa de
ontem à noite. Enviaria um dos prospectos para limpar tudo
mais tarde.

Parei na frente das gaiolas, olhando para a garota lá


dentro por alguns minutos sem dizer uma palavra.
Infelizmente, Marcella simplesmente olhou para mim,
escondendo seu desconforto, se é que sentia algum. — Seus
olhos estão vermelhos. Você chorou?

— Meus olhos estão vermelhos porque lutei contra o


sono a noite toda. Não vou fechar os olhos com tantos
animais nojentos por perto. — Ela fez uma pausa para dar
ênfase. — Sem falar nos cachorros.

Sorri. — Seus insultos chegam até mim como pérolas. —


Ela deslizou para fora do abrigo com elegantes pés de
dançarina de balé, certificando-se de ficar longe dos pontos
de urina, e agarrou o sapato. Tive que sufocar minha diversão
com sua insistência em manter aquele sapato perto.

— Não vou procurar o outro sapato, por mais caro que


eles sejam. E ninguém se importa com sua aparência. Você
não vai precisar de sapatos elegantes tão cedo. — Sem
mencionar que a garota parecia uma bomba sexual, mesmo
com as roupas rasgadas. Ela provavelmente ainda pareceria
uma maldita modelo em um saco de batatas.

Marcella sorriu e veio em minha direção, seus quadris


balançando de um lado para o outro da maneira mais
hipnotizante, antes de parar perto das grades. Ontem à noite,
quando peguei Denver urinando contra o abrigo, vi por trás
de sua máscara arrogante por um momento, mas agora sua
expressão era de aço novamente.

— Você parece se preocupar pela maneira como fica me


observando. Estive pensando em você a noite toda...

Levantei uma sobrancelha. — Não vou te libertar para


uma foda rápida, não importa quão fodível você seja. Mas boa
tentativa.

Seus lábios se estreitaram. — Prefiro dormir em um


canil com esses cachorros do que transar com você. Mas
posso dizer que você pensou muito sobre isso.

Seus olhos tinham tanta arrogância que tive que resistir


à vontade de abrir a porta e puxá-la contra mim para calá-la.

— De manhã cedo, percebi onde te vi antes. No clube há


algumas semanas. Você estava me observando como todos os
homens fazem, como se vendesse seu rim esquerdo por uma
noite comigo.

Peguei uma grade, rindo. — Droga, você é vaidosa pra


caralho. Estava te observando porque estava procurando
uma oportunidade de sequestra-la.

Marcella agarrou a grade abaixo dos meus dedos,


inclinando-se para frente, deixando nossos rostos muito mais
perto. Os botões de cima de sua blusa de seda tinham caído,
dando-me uma visão de seu decote e a ondulação sedutora de
seus seios. Desviei meu olhar, mas encontrei seus olhos
destruidores. Nunca tinha visto olhos tão azuis quanto os
dela, mas com um anel mais escuro ao redor deles, nunca
tinha visto uma pele tão imaculada, quase perolada,
especialmente contra seu cabelo preto. Era como se ela
realmente tivesse se materializado de um conto de fadas. Um
conto de fadas adulto muito sujo. Branca de Neve, de fato.

— Mas não era por isso que você não conseguia tirar os
olhos de mim. Conheço a expressão que estava em seu rosto.
Você pode negar o quanto quiser, mas aposto que fantasiou
sobre mim depois daquele dia.

Gostaria que ela estivesse errada. Mas a garota estava


certa. Ela era tão linda, que mesmo depois de uma noite em
um canil sem qualquer acesso a um banheiro, ela fazia as
garotas arrumadas na sede do clube parecerem ratos de
sarjeta. — Sua beleza não vai te tirar daqui, não vai te salvar.

Seu sorriso se alargou como se ela soubesse melhor,


como se tivesse absoluta certeza de que seria salva.

— Mesmo seu pai não encontrará este lugar se é isso


que espera. Ele não pode te salvar, — continuei.

— Meu pai vai me salvar. Ele vai matar todos que


estiverem em seu caminho. Cada homem, cada garota do
clube, até mesmo seu irmão mais novo. Ele vai matá-los tão
brutalmente quanto é capaz, e meu pai é o homem mais
capaz quando se trata de brutalidade, Maddox. Você vai vê-
los sangrar até a morte em seus pés, seus intestinos
espalhados pelo chão como confete. Gray vai morrer e, nos
últimos momentos de sua vida, você ouvirá seus gritos e se
sentirá culpado por trazer isso para ele e para você.
Suas palavras me pegaram de surpresa, especialmente a
veemência e ferocidade nelas. Essa garota não parecia fugir
do lado sujo da vida, mas duvidava que já tivesse visto
sangue e morte, certamente não como eu.

Suas palavras também revelaram quão perceptiva ela


realmente era. Ao nos ver interagindo por apenas um
momento, Marcella já havia percebido que eu me sentia
muito protetor em relação a Gray e estava tentando jogar com
a minha preocupação por ele. Ela era boa e mais perigosa do
que acreditava. Precisava ter cuidado com ela por mais de um
motivo.

— Você acha que sabe tudo, não é? Mas não sabe,


Branca de Neve, — rosnei. As sobrancelhas de Marcella se
ergueram. — Sei o quão capaz seu pai é. Você só ouviu as
histórias, mas o vi em ação. O observei desmembrar e esfolar
meu pai e seus homens quando era apenas um garotinho.
Ajoelhei-me em seu sangue enquanto seu pai continuava
golpeando seus cadáveres como um maldito maníaco. Mijei
nas calças, com medo de que ele me encontrasse e me
matasse também. Ainda ouço os gritos em meus pesadelos. E
você quer me dizer que não sei do que seu pai é capaz?

Pela primeira vez, minhas palavras romperam sua bela


máscara fria. Seu rosto suavizou com compreensão, e em
seguida, compaixão.

Ver os ângulos mais suaves de seu rosto me atingiu


como um punho no estômago.
Tinha ouvido as histórias, incontáveis versões dos
eventos. Se os homens de meu pai contavam a história, elas
glorificava a ele e a suas ações como se ele fosse sobre-
humano. Se estranhos sussurravam as histórias em vozes
abafadas na minha presença, suas palavras ainda soavam
com respeito e fascinação doentia. Sentia orgulho sempre que
ouvia essa história. Agora, pela primeira vez na minha vida,
não senti. Pela primeira vez, vi o outro lado da moeda, uma
verdade muito sangrenta e dolorosa.

As palavras de Maddox foram cruéis, mas vi a dor que a


memória trouxe aos seus olhos azuis. Não queria imaginar o
quão horrível deve ter sido para um garotinho ver seu pai ser
morto, especialmente de uma forma tão brutal.

Mascarei meus sentimentos, não querendo sentir pena


do homem que me sequestrou. Qualquer crueldade que ele
sofreu quando menino não justificava suas ações agora. —
Então deve ser razoável e me soltar antes que meu pai
coloque as mãos em você, — falei.
Maddox se afastou das grades. — Esperei toda a minha
vida pela chance de matar seu pai. Nada me tirará isso.
Nada.

Não havia uma centelha de dúvida nos olhos de


Maddox. Ele seguiria com seu plano e todo o clube parecia
apoiá-lo. A morte do meu pai era seu único objetivo. Eles não
parariam por nada. — Então, seus amigos motoqueiros estão
dispostos a morrer para que você possa se vingar?

— A vingança não é apenas minha. Cada um de nós tem


fome de vingança. Seu pai matou uma sede inteira. Meu tio
perdeu seu irmão. Nenhum de nós vai descansar antes que
as contas sejam acertadas, e estamos dispostos a morrer por
isso.

— Vocês vão, — falei com um encolher de ombros,


parecendo certa disso mesmo quando não estava. Papai era
poderoso, mas podia agir irracionalmente quando me
envolvia. Ele não tinha nenhuma fraqueza, exceto por seu
amor pela família. Ele não daria ouvidos à razão se minha
vida estivesse em jogo. E, mamãe, a pessoa que geralmente
conseguia argumentar com ele quando estava enlouquecendo
provavelmente não estaria em condições de pensar com
clareza.

— A vingança é uma perda de tempo e energia, — menti.

Maddox sorriu arrogantemente. Tive de admitir que


fiquei surpresa com seus dentes retos e brancos e seu cheiro
agradável. Por alguma razão, sempre imaginei os motoqueiros
um pouco maltrapilhos, com o cabelo sujo, emaranhado por
causa do capacete fedorento e dentes manchados de amarelo.
Até mesmo seu cabelo parecia suave como seda quando caia
em seus olhos. Ele o empurrou para trás, um hábito que já
havia notado.

— Você usa água sanitária para manter seus dentes tão


brancos? Com todos os cigarros que você fuma, essa parece
ser a única maneira de ter dentes bonitos.

Maddox balançou a cabeça com um olhar incrédulo,


uma risada explodindo. — Porra, só você pode pensar nos
dentes de alguém enquanto está cativa pelo inimigo mortal de
seu pai.

Ele se encostou nas grades e tentei vê-lo como um


homem que poderia ter conhecido em um clube, não meu
inimigo e captor. Ele estaria fora dos limites, com suas
tatuagens e sua falta de herança da Famiglia, então não teria
lhe dado o segundo olhar que estava dando agora, mas ele
não era ruim de olhar com seu rosto anguloso, olhos azuis e
corpo alto e musculoso. O jeans escuro, a camiseta branca e
o colete de couro preto realmente funcionavam a seu favor,
mesmo que nunca tenha sido uma garota que gostava de um
look casual.

Jogar a única carta que tinha, usando minha melhor


arma, não seria impossível com ele. Se fosse qualquer outro
dos motoqueiros, mesmo com minha vida em risco, não
poderia pensar em flertar com eles. Mas com Maddox...

Ele me observou desde o primeiro momento em que me


viu, e não apenas como captor e prisioneira. O desejo de um
homem era algo com o qual estava familiarizada, pelo menos
à distância. E Maddox me desejava. Não tanto quanto a
vingança. Ainda não.

— Não há muito mais que eu possa fazer, — falei, minha


voz menos hostil, mais suave e quase brincalhona.

— Você poderia chorar e implorar por misericórdia.

— Isso mudaria alguma coisa? — Perguntei secamente.

— Não.

— Não gosto de perder meu tempo, — disse. — A vida é


muito curta para não fazermos as coisas que gostamos...

Ele sorriu, a covinha, que não era realmente uma, mas


uma cicatriz, aparecendo em sua bochecha. — Então por que
você está perdendo seu tempo flertando comigo, princesa
mimada? Talvez ache que eu seja um animal, mas meu pau
não está comandando o show. Desculpe por desapontá-la.

Ele tirou um chapéu imaginário e se afastou das grades,


o sorriso diminuindo e seus olhos se tornando mais
vigilantes. — Mantenha os pés no chão, e não flerte com
meus irmãos do clube, eles podem levar mais a sério do que
você deseja. Mas se mantiver a cabeça baixa, logo voltará
para casa sem um fio de cabelo fora do lugar. Sua herança
garantirá uma vida cheia de viagens de compras depois que
secar as lágrimas pela morte de seu pai.

Sufoquei minha fúria. — Você acha que a morte do meu


pai secará as suas lágrimas por ter perdido seu pai?
Ele estreitou os olhos. — Não perdi apenas meu pai, ele
foi arrancado de mim da maneira mais bárbara possível.

— E você acha que sendo bárbaro, se sentirá melhor.

— Não se trata de se sentir melhor, mas de vingança.

— Mas se você matar meu pai, não o machucará. Meu


pai não tem medo da morte. Se quer vingança, precisa
machucá-lo como ele te machucou.

— E como poderia machucá-lo?

Sorri amargamente. Se Maddox realmente queria


vingança, deveria me machucar. Meu pai sofreria da pior
maneira se eu pagasse por seus pecados do passado.

Maddox inclinou a cabeça. — Suponho que te machucar


resolveria.

Eu não disse nada. Não tinha certeza do que estava


fazendo aqui. Queria ser solta o mais rápido possível, mas
conhecendo papai, ele trocaria de lugar comigo sem
hesitação.

— Você não é a pessoa que queremos. Não tenho


absolutamente nenhum interesse em machuca-la. Seu pai
pagará, não você. — As palavras soaram definitivas.

— Se matar meu pai e me deixar viver com a culpa de


ter sido a razão de sua morte, eu pagarei por seus pecados.

— Mas se eu te machucar para fazer seu pai sofrer, você


pagará pelos pecados dele também, só que de uma forma
mais dolorosa.
— Acho que pagarei de qualquer maneira, — falei
suavemente. — Mas você está errado, a dor física não seria
mais dolorosa.

— A menos que você tenha experimentado as duas, não


pode ter certeza.

— Acho que vou descobrir em breve.

— Você não sentirá dor física enquanto estiver aqui,


mas não posso poupá-la da tristeza de ser o motivo da morte
do seu velho, — ele murmurou. Ele enfiou os polegares nos
bolsos da calça jeans. — Talvez seja um consolo saber que ele
merece tudo o que planejamos.

Meu estômago embrulhou enquanto minha mente


imaginava os detalhes horríveis. — Maddox, — falei
calmamente. — Homens como você e ele sempre merecem a
morte. Em algum ponto, a matança mútua tem que parar. Se
você matar meu pai, meu irmão e meus tios buscarão
vingança.

Matteo amava meu pai e Romero respeitava Luca e era


quase como um irmão para ele. Eles não descansariam até
que cada motoqueiro encontrasse um final doloroso.

— Vivo por vingança.

— Parece uma vida sem sentido se for preenchida


apenas com um desejo de vingança.

— Para mim basta.


— Seus irmãos e tio do clube ficarão de luto por você tão
profundamente quanto minha família ficará de luto por meu
pai? Alguém sentirá sua falta tão profundamente porque te
amou de todo o coração?

Ele me deu um sorriso severo. — Receio não ter tempo


para mais bate-papo. Tenha um bom dia.

Ao não responder, ele me deu a resposta que esperava.


— Isso foi o que pensei.

Ele inclinou a cabeça em despedida e se virou sem dizer


outra palavra. Definitivamente atingi um ponto fraco. Um
movimento na varanda chamou minha atenção. Outro
motoqueiro, muito mais velho que Maddox, com cabelos
grisalhos que chegavam ao seu ombro me observava. Arrepios
subiram na minha pele com o brilho em seus olhos.

Maddox passou por ele em seu caminho para a sede do


clube, dizendo-lhe algo que fez o homem desviar o olhar de
mim brevemente.

Mas a interrupção durou pouco. Logo seu olhar


ganancioso voltou para mim, e agora Maddox se foi. Só podia
esperar que minhas palavras não o tivessem afastado. Tinha
a sensação de que ele era minha melhor aposta para passar
por isso ilesa.
Capítulo 8

Cody continuou observando os canis como um lobo à


caça. Ele estava com os olhos postos em Branca de Neve,
sentindo uma boceta fácil. Ele nunca entendeu muito bem o
significado de consentimento.

Parei ao lado dele na varanda. — Você não tem coisas


melhores para fazer do que salivar pela garota Vitiello?

Ele zombou. — Não passo metade da minha manhã


fofocando com uma boceta.

— Estou tentando reunir informações de nossa cativa


enquanto ela está em nossas mãos, — menti. Esse era o
plano original, mas sempre que estava perto dela, qualquer
plano cuidadosamente elaborado evaporava.

— Que tipo de informação? Quanto pau ela pode levar


na sua boca imunda?

— Só fique longe dela. Nós dois sabemos que seu pau


tem vida própria.
Entrei em casa e fui imediatamente atingido pelo cheiro
de uma festa selvagem. Depois de horas ao ar livre, o fedor
quase me fez desmaiar. Gray vomitou em um balde de gelo e
outra pessoa mijou em uma garrafa de cerveja. Isso
misturado com o odor de uma dúzia de corpos suados era
uma mistura potente.

Encontrei Earl já de pé e em sua cadeira na nossa mesa


de reunião, fumando um charuto. Ele conseguia aguentar a
bebida muito bem depois de décadas de treinamento. Uma
garota seminua estava deitada em cima da mesa,
profundamente adormecida.

— Você saiu da festa mais cedo, — disse ele, sem se


preocupar em tirar o charuto da boca.

— Já tive festas suficientes para uma vida inteira e


ainda não acho que temos motivos para comemorar.

— Quando tinha sua idade, não dizia não a uma festa


ou a uma boceta.

— Então nada mudou, — disse com um sorriso.

Ele riu, tossiu e finalmente tirou o charuto. — O que a


vadia disse? Ela chorou e implorou para que você a soltasse?

Balancei a cabeça. — Ela é muito orgulhosa. Tem mais


de seu pai nela do que eu pensava.

A expressão de Earl ficou sombria. — Vamos ver por


quanto tempo ela mantém a arrogância de Vitiello.
Algo no tom de Earl me deixou inquieto. Se ele não
gostava de alguém, realmente não gostava de alguém, era
melhor essa pessoa ficar longe dele.

— Quando você vai pedir a Vitiello que se troque pela


filha? Quero acabar com isso e, finalmente, colocar minhas
mãos no próprio Vitiello.

Earl não reagiu, apenas estreitou os olhos fitando o


charuto em suas mãos.

— Esse ainda é o plano, certo? — Depois da minha


relutância inicial em relação ao sequestro, Earl insistiu que
manteríamos Marcella o mínimo tempo possível. Agora ele
parecia estar pensando de novo, e isso nunca era uma coisa
boa.

— É, mas seria muito fácil, e a última coisa que quero


dar a Vitiello é uma maneira fácil de sair dessa. Ele precisa
sofrer emocionalmente antes de nós realmente destruí-lo.

Eu era a última pessoa a querer poupar Luca Vitiello de


qualquer tipo de dor. Ele precisava sofrer o máximo possível
por arruinar minha infância.

— Já passamos por muita merda, mas precisamos nos


manter no caminho ou correr o risco de ter nossos traseiros
chutados de novo. Tenho certeza de que o idiota já sofreu
muito depois que descobriu que colocamos as mãos em sua
filha.

— Uma noite. Isso é o que você chama de muito


sofrimento? Você mijou nas malditas calças todas as noites
durante os primeiros três meses em que morou comigo. Isso é
sofrimento, Mad. Quero Vitiello mijando nas calças de medo
pela vida de sua preciosa filha. Depois que vier rastejando,
ainda podemos trocá-la por ele e torturá-lo até a morte.

A voz de Earl deixou claro que a discussão acabou para


ele, e sendo teimoso como uma mula, sabia que era inútil
continuar falando.

Um grito masculino ecoou, seguido por uma maldição e


o grito de dor de Marcella.

— O que foi agora? — Earl murmurou, irritado,


empurrando-se para fora da cadeira, mas eu já estava saindo
da sala.

Saí de casa como um furacão, meus olhos se voltando


para os canis de onde vinha o barulho. Os cães latiam como
loucos, pulando contra as gaiolas, mas meus olhos foram
atraídos para a gaiola de Marcella. Cody estava lá dentro,
agarrando Marcella pelo braço e sacudindo-a.

Ele esbofeteou Marcella no rosto com tanta força que ela


caiu no chão com um grito. Avancei pelo caminho e entrei na
gaiola e agarrei seu braço, impedindo-o de bater nela
novamente.

— O que diabos está acontecendo aqui? — Rosnei.

Marcella sentou-se no chão, tocando sua bochecha, que


estava vermelha brilhante. Pela maneira como pressionava os
lábios, poderia dizer que ela estava lutando contra as
lágrimas.
— Responda, — sibilei, sacudindo Cody.

Ele se livrou do meu domínio e pressionou o lado da


cabeça, onde sangrava profusamente de um corte na linha do
cabelo. Ele fez um movimento como se fosse atacá-la
novamente, mas o empurrei contra as grades.

— O que aconteceu aqui?

Por que diabos ninguém respondia?

— A prostituta me atacou com a porra do sapato, —


Cody fervia de raiva.

Segui seu dedo indicador em direção ao salto alto no


chão e quase comecei a rir.

— Isso é um Louboutin, não um sapato, — disse


Marcella com altivez, ainda pressionando sua bochecha, mas
não parecendo mais à beira das lágrimas.

Não tinha ideia do que isso significava. Eu tinha


exatamente dois pares de sapatos. Enviei-lhe um olhar
mortal. — É melhor você calar a boca.

Cody era um idiota vingativo. Provocá-lo não só tornaria


a vida dela muito mais difícil, mas também a minha, se
quisesse ter certeza de que ela sairia ilesa disso. Earl ficou na
varanda, observando os acontecimentos. Não tinha certeza de
qual era o seu ângulo, então ele provavelmente não manteria
Marcella segura. Era irônico que coubesse a mim proteger a
prole do meu pior inimigo.

— O que você estava fazendo na gaiola dela?


— Eu deveria alimentá-la. A boceta não merece comida,
se você me perguntar.

— Ninguém te perguntou, Cody. Da próxima vez é


melhor prestar atenção antes que ela arranque seu olho, —
disse a ele. — Melhor ainda, deixe eu ou Gray cuidarmos das
refeições.

Preferia Cody longe dela. Eventualmente, ele não seria


capaz de manter seu pau feio nas calças. Realmente não
queria adicionar esse tipo de merda à minha lista de pecados.

— Tanto faz, — murmurou Cody, esfregando a cabeça


ao sair da gaiola. O último olhar que ele enviou para Marcella
me disse que eu teria mais noites sem dormir. Ele se afastou,
murmurando insultos.

Earl balançou a cabeça para Cody. Sua desaprovação só


aumentaria o desejo de Cody de cobrar Marcella por tê-lo
humilhado.

Virei-me para Marcella. Sua blusa tinha perdido outro


botão e estava coberta de sujeira assim como seus pés, mas o
brilho em seus olhos era tão orgulhoso quanto da primeira
vez que a vi. Estendi minha mão e para minha surpresa ela a
pegou sem hesitar. A coloquei de pé. Ela tropeçou sobre mim
e não tive certeza se foi um acidente. Em vez de afastá-la
logo, apreciei a sensação de seus seios pressionados contra
meu peito por um momento enquanto olhava para seu rosto.
Agarrando seus ombros, a afastei. — Isso dói? — Perguntei,
apontando para sua bochecha vermelha.
Ela encolheu os ombros. — Seu amigo motoqueiro está
pior. Acho que tirei suas últimas células cerebrais da cabeça.

— Talvez você deva descer do alto de seu cavalo antes


que alguém a derrube. Todos por aqui estão ansiosos para
quebrar a princesa mimada. Tenha isso em mente antes de
agir novamente.

— Meu pai me salvará em breve. Aposto que já está a


caminho com um exército de seguidores leais em seus
calcanhares. E você descobrirá que sou difícil de quebrar, —
ela disse simplesmente.

Sua certeza absoluta que seu pai a salvaria me


incomodou. Sua confiança absoluta em seu pai me
enfureceu. Queria que ela duvidasse dele, que o odiasse.
Queria que ela mostrasse uma rachadura em sua fachada de
princesa fria de Nova York. Esse lado dela era muito parecido
com seu pai.

Sorri. — Talvez porque ninguém tentou quebra-la ainda,


Branca de Neve. — Aproximei-me novamente até me elevar
sobre ela e inalar seu perfume. — Você cresceu em um
castelo atrás de paredes protetoras construídas pelo seu
maldito pai.

Porra, parte de mim queria quebrá-la, mas a outra, a


outra queria saber mais sobre ela, queria trazê-la para o meu
lado. Estuprar mulheres não era minha praia de qualquer
maneira. Cody e alguns outros caras, por outro lado,
poderiam achar isso agradável.
Marcella apenas me observou, mas havia uma centelha
de inquietação em seus olhos. Ela sabia que o que falei era
verdade. Ela teve uma vida muito protegida. Os únicos
problemas que encontrou até agora foram se os sapatos não
combinavam com o vestido. Vim de um mundo muito
diferente, cheio de sangue e dor.

— Você quer me quebrar, Maddox? — Marcella


perguntou, e a maneira como disse meu nome, sua língua
acariciando cada sílaba, arrepiou minha pele. Porra. Nunca
antes uma mulher me deu arrepios.

Seus olhos azuis pareciam enterrar-se em minha alma,


cavando e procurando. — Estou muito ocupado. — Recuei e
peguei o sapato. — Temo ter que confiscar isso até sua
libertação. Porém, tenho certeza de que você tem uma coleção
impressionante em casa e não vai sentir falta.

— Quando serei solta?

Saí da gaiola e fechei a porta. — Quando seu papai


estiver pronto para se entregar. — Ela não precisava saber a
verdade. Talvez finalmente aprendesse a desprezar seu pai se
achasse que ele hesitou em se trocar por ela.

— Você vai me dar roupas para trocar ou uma


oportunidade para me lavar?

Balancei a cabeça. Não tinha certeza se ela estava


tentando me irritar de propósito. — Mandarei alguém com
um balde de água mais tarde. Mas não acho que alguma das
garotas queira suas roupas arruinadas nos canis.
— Você provavelmente prefere que me sente aqui nua,
— ela murmurou.

— Não, — falei, e não estava mentindo, porque tinha a


sensação de que ver Marcella nua bagunçaria meu cérebro de
uma forma que realmente não precisava.

Desci até minha motocicleta. Desde a chegada de


Marcella, três dias atrás, sempre estacionava minha moto
mais abaixo na colina, então tinha que passar pelos canis
para poder dar uma olhada nela. O que vi me fez parar.

Sua blusa estava rasgada. Uma daquelas mangas


transparentes chiques penduradas por um fio. Esta manhã,
antes da minha corrida, definitivamente ainda estava inteira.
Porra. Por que Earl insistiu para que verificasse nosso
estoque de armas e drogas?

Fiz um caminho mais curto em direção a ela, meu pulso


já acelerando. — O que aconteceu?

Marcella remexia em sua tigela de ovos mexidos.


Entendi porque ela não os comeu. Parecia já ter sido comido.

— Alguém precisa fazer um curso de culinária, — disse


ela, como se não soubesse ao que eu estava me referindo. Ela
tinha um talento para me fazer subir pelas paredes.
Destranquei a porta e uma tensão sutil entrou no corpo de
Marcella. Tinha percebido isso antes e, como de costume, me
incomodou.

Fiz um gesto para sua manga rasgada. — O que


aconteceu?

Ela finalmente ergueu os olhos da tigela. Sua bochecha


ainda estava ligeiramente inchada de quando Cody a
esbofeteou e a visão ainda aumentou minha raiva.

— Cody não ficou feliz com a minha recusa em


reconhecer sua presença, então se fez inequivocamente
presente.

Cerrei meus dentes com o ataque de fúria que senti


contra o idiota. Ele sempre precisava de alguém para
importunar, de preferência uma mulher. — O que exatamente
ele fez?

Marcella estreitou os olhos daquela forma avaliadora


que fazia. — Por que você se importa?

— Você é nossa vantagem contra seu pai. Não permitirei


que ninguém atrapalhe meus planos, prejudicando essa
vantagem.

— Notícia de última hora: sua vantagem já foi


danificada. — Ela apontou para sua bochecha. — E duvido
que rasgar minha manga seja a última coisa que Cody fará.
Ele parece gostar muito. — Ela tentou soar petulante e fria,
como se nada que pudesse acontecer a preocupasse
minimamente, mas havia o menor tremor em sua voz que
traía sua frieza por ser uma farsa.
— Cody não vai tocar na porra de um fio de cabelo da
sua cabeça de novo. Vou me certificar disto.

— Seu último aviso não teve o efeito pretendido. E seu


tio não parece se importar se ele danificar a mercadoria.

Isso era verdade. A preocupação de Earl com a


integridade física de Marcella se limitava a ela estar viva o
suficiente para torturar Vitiello com sua segurança e
chantageá-lo para que se entregasse.

Meu telefone tocou. Atendi. Era Leroy, um dos


prospectos destacados para vigiar nossa antiga sede do clube.
Sua respiração estava áspera. — Mad, eles queimaram tudo.
— Suas palavras tropeçaram umas nas outras, cheias de
medo.

— Calma, quem queimou o quê? — Tinha uma ideia do


que poderia ter acontecido.

Marcella largou o prato e se levantou. Percebi que não


seria a melhor ideia deixá-la saber muito. Mesmo que ela não
tivesse nenhum implante que pudéssemos detectar, tive a
sensação de que ela era inteligente o suficiente para usar
qualquer pedaço de informação contra nós.

Ouvindo as divagações de Leroy, saí do canil e tranquei-


o novamente, para óbvio desgosto de Marcella. Como temia,
Vitiello havia incendiado nossa sede anterior, que também
ficava em um local secreto e não era fácil de detectar. — Você
está seguro? — Perguntei ao prospecto.
— Não sei. Alguns deles me seguiram, mas devo tê-los
despistado. Não os vejo mais.

— Você sabe o protocolo. Não venha para cá até ter


certeza absoluta de que ninguém está te seguindo. Até então,
fique com uma das garotas. — Ir para uma das old ladies
seria muito arriscado e até que pudéssemos ter certeza de
que nossas casas seguras eram realmente seguras, ele
precisava ficar longe delas também.

— Vou ficar, — disse ele. Ele ainda parecia assombrado.

Ignorando a expressão curiosa de Marcella, desliguei e


corri até a sede do clube para dar a má notícia a Earl. O
encontrei em seu escritório com uma garota do clube, uma
das compartilhadas, em seu colo. No passado, a visão sempre
me deixava furioso em nome de mamãe, mas ela sempre disse
que não se importava, contanto que fosse sua old lady. Os
motoqueiros não podiam ser fiéis, especialmente o prez. Achei
que ela estava pegando muito fácil com Earl, mas sua
gratidão depois que ele a levou para sua casa, e para a cama,
depois da morte brutal de papai, ia além do meu raciocínio.

— Negócios do clube, — falei.

Earl sem cerimônia empurrou a garota de seu colo e não


olhei em qualquer lugar perto de sua virilha. Já tinha visto
seu pau em muitas ocasiões como esta.

— O que é tão importante?

— Más notícias sobre nossa antiga sede.


Earl se inclinou para frente em sua cadeira como se
estivesse se preparando para atacar. — Vitiello encontrou e
queimou. Ele deve ter esperado encontrar sua filha lá e
provavelmente quis nos enviar uma mensagem com sua
destruição.

Earl saltou de pé. — Filho da puta! Vou enviar-lhe uma


porra de mensagem se ele quiser uma!

Ele parecia lívido. Sua cabeça não apenas ficou


vermelha, mas também roxa e uma veia em sua testa inchou
grotescamente. Isso nunca era bom.

— Ele está tentando nos intimidar. Se ignorarmos sua


mensagem, isso só vai enfurecê-lo mais.

— Ignorar? Foda-se que farei isso. Ele precisa perceber


quem está puxando as cordas, e com certeza não é ele.

— Qual é o seu plano? — Perguntei cuidadosamente


enquanto ele andava pela sala, estalando os nós dos dedos
tatuados.

Em vez de uma resposta, ele saiu de seu escritório como


um homem em uma missão. — Reúnam-se nos canis! — Ele
latiu para os caras relaxando na sala.

A maioria dos irmãos do clube estava em corridas, mas


Cody, Gunnar, Gray e um prospecto estavam por perto.
Todos se levantaram e me lançaram olhares questionadores,
como se eu soubesse que tipo de loucura Earl tinha em
mente.

— Traga seu telefone com você, Grey! — Earl ordenou.


Segui Earl enquanto ele corria para fora.

— Por que você precisa de um telefone? Você pode usar


o meu.

— Ligar para o Vitiello é um grande risco, Prez. Ele pode


nos rastrear, — Cody se intrometeu.

Quase revirei os olhos. Como se Earl não soubesse


disso. Todo mundo que faz merda ilegal há mais de um dia
sabe como é fácil rastrear ligações telefônicas.

— Pareço um idiota? — Earl rosnou. — É para gravar


um vídeo para o filho da puta, Vitiello.

Meu pulso acelerou, perguntando-me que tipo de vídeo


Earl tinha em mente. A expressão de Marcella ficou
preocupada quando ela nos viu indo em sua direção. — Ei
princesa, é hora de mostrar ao seu pai que ele não deve
mexer com a gente. — Os olhos de Marcella se voltaram para
mim e depois para Earl.

— Tire a roupa, — Earl ordenou.

Minha cabeça girou. — Por quê? — Perguntei, minha voz


alarmada.

— Alguém está ansioso para ver uma boceta, — Cody


riu, confundindo minha preocupação com emoção. Ele era
um idiota de merda. Earl, por outro lado, parecia saber
exatamente como me sentia sobre a situação.

— Você pode subir o vídeo para a internet sem nenhum


link para este local? — Earl perguntou a Gray.
Gray parecia inquieto. — Acho que sim.

Earl deu um tapa na cabeça dele. — Acho que sim não


funcionará se você não quiser que Vitiello esfole suas bolas.

— Posso fazer isso, — Gray disse calmamente.

— Você quer postar um vídeo da Marcella nua online? —


Não era tão ruim quanto o que temia quando Earl pediu que
ela ficasse nua, e isso definitivamente provocaria uma forte
reação de Vitiello.

Earl assentiu, mas olhou para Marcella. — Fique nua!

Ela balançou a cabeça, a cabeça erguida. — Certamente


não vou me despir na frente de nenhum de vocês.

— Oh, você não vai? Então teremos que fazer isso por
você, — Earl disse com um sorriso desagradável.

Cody já estava salivando com a perspectiva de colocar as


mãos em Marcella. — Posso fazer isso, — disse ele, soando
como se nunca tivesse visto uma boceta antes.

— Não, eu quero fazer isso, — rosnei, enviando uma


carranca a Cody. Então olhei para Earl e permiti que minha
expressão se tornasse maliciosa. — Quero que Vitiello saiba
que fui eu que despi sua preciosa princesa.

Marcella me lançou um olhar de desgosto.

Earl me deu um sorriso benevolente. — Vá em frente. —


Ele acenou com a cabeça para Gray. — Prepare o seu
telefone.
Destranquei a porta e entrei na gaiola, endireitando
minhas costas para que parecesse bom na gravação.

— O resto de nós vai uivar e bater nas grades ao fundo,


— Earl instruiu, como se Cody precisasse de um incentivo
para fazê-lo.

Gray se posicionou em um canto do canil para que


pudesse filmar Marcella, mas também os outros enquanto
enxameavam ao redor do canil.

Os cães começaram a latir e pular contra as grades,


animados pela atmosfera aquecida.

Marcella deu um passo para trás quando me aproximei


dela, mas então se conteve, endireitou os ombros e ergueu a
cabeça para me lançar o olhar mais condescendente que já vi,
como se eu fosse uma barata indigna de ser esmagada sob
seu sapato caro. A raiva correu por minhas veias. Em
momentos como esse, ela me lembrava muito o pai. Por que
estava tentando protegê-la?

Parei bem na frente dela, dividido entre a fúria e a


preocupação. Isso estava ficando rapidamente fora de
controle.

— Tire essas roupas dela, — gritou Earl.

— Vou contar até cinco, depois vou começar a gravar, —


disse Gray.

Peguei a blusa de Marcella e percebi o leve tremor em


seu corpo. Minha raiva evaporou rapidamente, mas não
conseguiria argumentar com Earl e com certeza não
permitiria que Cody colocasse as mãos sobre ela. Comecei a
desabotoar os botões restantes de sua blusa. Meus dedos
roçaram a pele de Marcella e arrepios explodiram por todo o
seu corpo, mas tudo que conseguia pensar era que nunca
tinha tocado em uma pele mais macia do que a dela.

Ela recuou quando alcancei seu diafragma. — Farei isso


sozinha.

— Apresse-se, sim? — Rosnei, sabendo que isso


alcançaria Vitiello.

Dei um passo para trás e observei Marcella desabotoar o


último botão, em seguida, empurrar a blusa sobre os ombros.
Depois disso, ela tirou as calças pretas. O tecido flutuou até o
chão sujo, deixando-a de calcinha de renda preta e um sutiã
preto sem alças. Nem tentei não olhar para ela. Teria sido
fisicamente impossível. O impacto era simplesmente muito
forte.

— O resto também, — Earl rosnou.

Os dedos de Marcella tremeram quando ela desabotoou


o sutiã e engoliu visivelmente quando ele caiu no chão. Seus
mamilos rosados se enrugaram. Arrastei meus olhos para
longe de seus seios redondos e encontrei seu olhar, tentando
não agir como a porra de um pervertido, mas isso me custou
cada grama de autocontrole que nunca soube que tinha.

Ao fundo, Earl e os outros começaram a uivar e bater


nas grades. Os latidos dos cachorros logo se tornaram
estridente e excitados. Marcella enganchou os dedos no cós
da calcinha, seus olhos odiosos me atingindo antes de
empurrar o tecido fino para baixo. Por um segundo, meu
olhar disparou para baixo, como um reflexo que não pude
controlar, mas não houve tempo suficiente para absorver
toda a enormidade de sua beleza. Só tive um vislumbre de
um triângulo preto e coxas finas antes de me conter. Lutei
contra a vontade de ficar na frente dela para protegê-la dos
olhos famintos dos outros. Não queria compartilhar a visão
com ninguém, embora não tivesse o direito de ver eu mesmo.
Porra. Nunca me importei se alguma das garotas com quem
dormi passasse pelos meus irmãos do clube, então por que
me importava com Marcella?

— Vire-se, — Earl ordenou. A ira de Marcella agora o


atingiu. Ela estava tremendo e o medo nadava nas
profundezas de seus olhos azuis, mas você não notaria por
sua expressão fria.

Com uma graça que poucas pessoas conseguiriam em


um canil sujo, cercada por homens maliciosos e cães
furiosos, Marcella se virou lentamente. Percebi que parei de
respirar quando a última peça de roupa dela atingiu o chão e
rapidamente respirei fundo. Precisava me controlar.
Concentrei-me em Cody, tentando avaliar sua reação. Ele
estava praticamente salivando, ansioso para montá-la.
Felizmente, a expressão de Earl era principalmente calculista,
mesmo que também a observasse com uma espécie de fome
abismada, como qualquer homem ao ver o corpo de Marcella.
Por fim, Earl sinalizou para Gray encerrar a gravação.
Marcella ficou parada, com os braços soltos ao lado do corpo.
Do jeito que estava, ela não tinha nenhuma razão para ser
tímida com seu corpo, mas não era por isso que parecia
completamente imperturbável por sua nudez. Ela era
orgulhosa demais para mostrar qualquer fraqueza. Perguntei-
me o que realmente estava passando por sua cabeça.

— Vamos torcer para que seu pai receba a mensagem,


— Earl disse antes de se virar e voltar para a sede do clube,
provavelmente para mergulhar seu pau na boceta da garota
do clube.

Gray, o prospecto e Gunnar logo o seguiram. Apenas


Cody permaneceu, ainda examinando Marcella.

— Por que você não cai fora? — Murmurei.

— Por quê? Pra você mergulhar seu pau nessa


bocetinha virgem? Posso esperar você ser o primeiro.

Olhei para Marcella. Virgem? Ela estava namorando


aquele idiota italiano por mais de dois anos. Sabia que a
máfia italiana era tradicional, mas mesmo eles deviam estar
no século vinte e um agora. O rosto de Marcella ainda era
odioso e assustadoramente orgulhoso.

— Ninguém vai esperar nada, — rosnei.

— Veremos, — disse Cody e finalmente se virou e saiu.


No momento em que ele partiu e estava fora do alcance da
voz, me virei para Marcella.

— Você pode se vestir.


Ela sorriu severamente, mas não perdi o brilho de seus
olhos. — Tem certeza que é isso que você quer? Você não
quer reclamar da minha boceta virgem? — Ela cuspiu as
duas últimas palavras com desgosto. Era óbvio que ela não
estava acostumada a falar sujo.

Quase perguntei se ela era mesmo virgem. Então decidi


que seria melhor se não soubesse. Era completamente
irrelevante para o nosso plano, mas mesmo assim meus
pensamentos giraram em torno desse pequeno pedaço de
informação, já que Cody o trouxe à tona como moscas ao
redor da merda. — Basta se vestir, — falei bruscamente,
irritado comigo mesmo.

Marcella cobriu os seios enquanto se abaixava para


pegar suas roupas, em seguida, foi na ponta dos pés em
direção ao abrigo, onde as apoiou como se não estivessem
rasgadas e empoeiradas.

— Não sabia que isso aconteceria, — falei, embora não


tivesse certeza do por que estava dizendo isso a ela. Não tinha
que me justificar ou as ações do clube para ela.

— Você gostou, — ela murmurou enquanto colocava a


calcinha de volta. Eu a vi lavá-las no balde de água da minha
janela na noite passada.

Não havia como negar. Marcella era mais bonita do que


na minha imaginação. Porra, bonita era um insulto para ela.
— Há homens que não gostariam?
— Pelo menos um, — ela disse enquanto se vestia
completamente. Perguntei-me a quem ela estava se referindo.

— Seu noivo?

— Ex noivo. — Ela me olhou fixamente. — Então o que


vem agora? Vocês vão postar um vídeo de cada motoqueiro
me estuprando?

Meu pulso acelerou. — Não, — rosnei. A mera ideia de


deixar isso acontecer fez meu sangue ferver. — Não somos
animais.

Ela me lançou um olhar duvidoso. Não podia nem a


culpar depois do show que Earl tinha acabado de fazer.

A ferocidade na voz de Maddox me pegou de surpresa.


— Por que você se importa? Ou me quer para você? —
Perguntei.

Resisti à vontade de esfregar meus braços. Isso não


eliminaria a sensação de sujeira na minha pele, onde eles me
olharam de forma maliciosa. Focar em Maddox ajudou um
pouco. Seu olhar, além do de seus amigos motoqueiros, não
me fez sentir suja. Não tinha certeza do que havia nele que
me acalmava e animava ao mesmo tempo. Era um
sentimento absolutamente irracional.

Ainda assim, meu estômago embrulhou quando pensei


na gravação que logo pararia na internet, em milhões de telas
de computador, até mesmo de papai e Amo. Esperava que
eles não assistissem. Também gostaria que nenhuma das
garotas que me desprezavam me visse assim, mas isso era
uma ilusão. Todas aproveitariam a chance de me ver
humilhada. À mercê desses bastardos. Não permitiria que
eles me fizessem sentir degradada.

Maddox saiu da gaiola e a trancou, como se não


suportasse mais um segundo na minha proximidade. Ele
acendeu um cigarro e olhou furioso para a sede do clube,
mas não respondeu à minha pergunta. Eu não era cega. Vi o
jeito que ele me olhou, não importa o quanto tentasse não
olhar.

Ele deu uma longa tragada no cigarro e exalou. — Sou


uma escolha melhor do que Cody, — ele murmurou.

Meu estômago embrulhou com a implicação. A simples


ideia de Cody me tocando me deu vontade de vomitar.
Maddox, por outro lado... Não sentia repulsa por seu corpo e
não desgostava dele tanto quanto seria de se esperar. Sem
mencionar que ele provavelmente era a única chance de eu
sair daqui. Nenhum dos outros motoqueiros mostrou o menor
interesse no meu bem estar.

— Você não é uma escolha. Ninguém me perguntou o


que quero.

Maddox assentiu. — Tenho que ir.

O medo me oprimiu e me lancei para frente, agarrando


as grades. — E se Cody vier aqui buscar o que quer? Duvido
que seu tio se importe.

Maddox ficou tenso, mas não pude ler sua expressão


quando ele se virou para mim. Algumas mechas loiras caíram
sobre seus olhos azul bebê e o corte que parecia uma covinha
peculiar se aprofundou ainda mais quando ele fez uma
careta. — Cody não pode fazer nada sem a permissão do meu
tio.

Isso deveria me acalmar? Cody era como um homem


faminto que viu sua próxima refeição quando olhou para
mim.

O olhar de Maddox segurou o meu e o que vi nele foi


pura fome. Estremeci e pressionei ainda mais perto das
grades.

— Você não pode deixá-lo me ter, — sussurrei. Posso ser


sua, deixei meus olhos dizer. Ele me queria, me desejou
desde o primeiro momento. Precisava dele do meu lado se
quisesse sobreviver a isso. Não podia contar apenas com
papai e Matteo para me salvar.
Uma guerra acontecia nos olhos de Maddox. Talvez
tenha percebido porque eu estava flertando com ele. Ele jogou
o cigarro fora, pisou nele antes de chegar bem perto de mim,
apenas as grades entre nós. Os cachorros latiam de
excitação. Ele trouxe seu rosto tão perto que nossos lábios
quase se roçaram.

— Não sou estúpido, — ele rosnou. — Não pense que


você pode me manipular. Não sou como seu ex noivo piegas.

Seus olhos furiosos correram para a minha boca,


querendo, apesar de tudo. Ele suspeitava de mim e ainda
assim não conseguia parar de querer o que não deveria. Não
desviei o olhar. Exalei, em seguida, inalei seu cheiro, uma
mistura de couro, fumaça e sândalo. Nada que já tenha
apreciado, mas Maddox fez funcionar. Meu corpo estava
curioso, ansiava por algo que me foi negado por tanto tempo.

— Quem disse que estou te manipulando? — Então


mudei minha tática. — Mas mesmo se estivesse tentando
fazer isso, você não precisa me deixar ter sucesso. Poderia
simplesmente me usar como acha que estou te usando.

— Não tenho que usá-la. Você está à nossa mercê,


Marcella, talvez tenha esquecido. Poderia fazer com você o
que quisesse, sem quaisquer consequências.

— Poderia, mas isso não é quem você é. Você me quer,


mas me quer disposta.

Os nós dos dedos de Maddox ficaram brancos quando


ele apertou as grades com mais força.
— Você não me conhece.

— Não, não conheço. Mas sei de uma coisa com certeza,


— sussurrei e então escovei meus lábios levemente sobre os
dele, tentando ignorar como meu corpo aqueceu com o
contato leve. — Você não consegue parar de pensar em mim,
e a partir de hoje sonhará com meu corpo e como seria me
tocar a cada momento de vigília e até mesmo quando estiver
dormindo.

Ele se afastou de meus lábios como se o tivessem


eletrocutado. Também senti o choque percorrer meu corpo
com o breve beijo. — Não brinque com coisas que não pode
controlar, Branca de Neve. Você não sabe no que está se
metendo. — Ele se virou e saiu. Ele provavelmente estava
certo. Maddox era um tipo de homem diferente do que eu
estava acostumada. Ele era rude e não tinha um pingo de
respeito por meu pai. Ele adoraria irritá-lo. Mas isso era parte
do motivo pelo qual estava atraída por ele, apesar da situação
horrível. Não que meus desejos tivessem algum significado.
Precisava sair daqui, não importa como.

Maddox manteve distância pelo resto do dia e,


felizmente, ninguém mais apareceu também.

Meu estômago roncou novamente. Depois da gravação,


tive certeza de que nunca mais conseguiria comer de novo,
me senti muito mal. Nos últimos dias, ansiava pelo meu
celular, agora estava feliz por ele ter sumido. Meu Instagram
e Messenger provavelmente estavam cheios de mensagens por
causa da gravação de nudez. Afastei o pensamento e olhei
para a esquerda.

Satan andava pelo canil ao lado do meu novamente. Ela


provavelmente também estava com fome. Não tinha visto
ninguém trazendo comida para os cachorros. Saltei do abrigo,
o único lugar na sombra, e me aproximei cautelosamente do
cachorro.

Ela me lançou um olhar rápido, então andou de um lado


para o outro na frente da porta da gaiola novamente. Sua
tigela de água também estava vazia. Olhei em direção à casa.
No calor da tarde, cachorros precisavam beber alguma coisa,
até eu sabia disso. Pensei em gritar para Maddox. Talvez ele
estivesse em seu quarto e me ouvisse, mas não consegui me
obrigar a fazê-lo.

A porta da casa se abriu e gritei: — Ei, os cachorros


precisam de água e comida! — Então percebi que era Cody.
Fechei minha boca, mas ele já vinha na minha direção com
um largo sorriso.

Afastei-me das grades, querendo o máximo de distância


possível entre nós.

— O que você quer, princesa?

Engoli minha repulsa e orgulho. — Os cães não foram


alimentados hoje e Satan não tem água.
— Os cães são mais ferozes quando estão com fome. Há
uma luta de cães esta noite, então eles precisam estar
atentos.

Fiz uma careta. — Duvido que possam lutar se


morrerem de sede.

Cody se encostou nas grades, deixando seus olhos


viajarem pelo meu corpo de uma forma muito nojenta. — O
que ganho em troca se der água a eles?

Zombei. — Não o que você quer.

Seu rosto endureceu. Ele pegou a mangueira que


usavam para encher as tigelas, mas em vez de apontá-la para
lá, brandiu a ponta para mim. Meus olhos se arregalaram por
um segundo antes de a água fria atingir meu peito. Tropecei
para trás, mas não havia nenhum lugar onde pudesse
procurar abrigo, a menos que rastejasse para dentro do
abrigo de cachorro, o que nunca faria. Os cães latiram com
entusiasmo. Virei-me para que a água batesse nas minhas
costas. Por fim, Cody fechou a torneira. Eu estava
completamente encharcada. Olhando por cima do ombro, vi
Cody sorrindo maliciosamente.

— Aí está a sua água. Tem certeza que não quer me dar


alguma coisinha para que encha as tigelas dos cachorros?

Fiz uma careta e ele jogou a mangueira para longe antes


de ir embora. Meu canil estava completamente molhado, mas
a água escorreu pela ligeira inclinação em direção a entrada
da gaiola e não atingiu as outras gaiolas. Satan deitou de
barriga e tentou apertar seu focinho sob a lacuna entre as
grades e o chão para lamber a água, mas não teve sucesso.
Peguei minha tigela, que estava cheia de água, mas a coisa
não passava pelas grades. Satan me observava atentamente.
Eu não tinha nenhuma experiência com cachorros, então não
pude dizer se ela era amigável ou estava esperando por uma
chance para me comer.

Minha pena pela besta venceu mesmo quando meu


pulso acelerou. Peguei água em minhas mãos e
cuidadosamente as movi através das grades. Após um
momento de hesitação, Satan se aproximou de mim. Fiquei
tensa quando ela aproximou o focinho, mas apenas sua
língua saiu e ela começou a beber com avidez. Repeti o
processo várias vezes até que ela parecesse satisfeita.

— O que você está fazendo? — Maddox perguntou, me


assustando tanto que machuquei meus pulsos quando os
puxei de volta através das grades. Satan soltou um forte
latido com o movimento rápido.

— Dando água a ela.

Maddox examinou minhas roupas encharcadas. — E por


que você está molhada?

— Cody me molhou com a mangueira em vez de dar


água aos cachorros quando lhe pedi para encher as tigelas.

A expressão de Maddox tremeluziu de fúria. — Idiota, —


ele murmurou, então franziu a testa. — Por que você se
importa se os cachorros têm água ou não?
— Eles estão trancados dentro de uma gaiola sem terem
culpa de nada, assim como eu.

Maddox balançou a cabeça com um sorriso estranho


enquanto pegava a mangueira e enchia todas as tigelas com
água. Já estava escurecendo.

— É verdade que os cães têm que passar fome para


lutar mais ferozmente esta noite?

— Sim, — disse Maddox. — Ordens de Earl.

— Isso é errado. Brigas de cães são nojentas. Tenho


pena deles.

— Também não gosto das lutas, mas o prez toma as


decisões e todos nós as seguimos, mesmo que odiemos.

Fiquei surpresa com sua honestidade e pude ver em seu


rosto que ele não pretendia revelar tanto. — Você foi contra o
meu sequestro?

Maddox balançou a cabeça com um sorriso estranho. —


Você precisa de um cobertor ou toalha?

— Não, está quente o suficiente.

Ele tirou um chapéu imaginário antes de voltar para a


sede do clube, onde se sentou no corrimão e acendeu um
cigarro. Tive a sensação de que ele me observaria enquanto
pudesse renunciar ao sono.

Logo Denver, que não tinha ousado se aproximar de


mim novamente, e Gunnar pegaram vários cães, entre eles
Satan, e os levaram embora. Nas profundezas da floresta, as
luzes foram acesas, mas não consegui distinguir nenhum
detalhe. No entanto, quando os primeiros rosnados e depois
uivos e gemidos ecoaram pela área, fechei os olhos e coloquei
as mãos sobre os ouvidos.
Capítulo 9

A luta de cães era absolutamente desnecessária, até


porque esta noite nem tínhamos visitantes que pudessem
apostar no resultado. Isso era apenas para entretenimento de
Earl e do clube. Quando era criança, Earl me forçava a ver os
cachorros se despedaçando, mas agora já tinha idade
suficiente para ficar longe. Gray não tinha tanta sorte. Earl
ainda achava que precisava endurecer o menino, fazendo-o
assistir a esse espetáculo sádico.

Tentei ignorar o som da luta e, em vez disso, observei


Marcella. Ela estava encolhida, cobrindo os ouvidos com as
palmas das mãos. Ela me surpreendeu hoje. Não teria
imaginado que ela se importava com nada além de si mesma.
Vê-la ajudar Satan arriscando seus dedos tinha feito algo
comigo que não conseguia explicar.

Era quase meia-noite quando Cody e Gray levaram os


cães sobreviventes de volta aos canis enquanto Earl atirava
nos que estavam gravemente feridos. Marcella se sentou
quando Satan entrou mancando no canil e rolou para o chão.
Cody disse algo a ela que fez seu rosto se torcer de nojo.

Endireitei-me, pronto para correr até lá e enfiar minha


bota na bunda de Cody. Ele estava me irritando mais a cada
dia e, ao contrário de Denver, parecia contente em ignorar
meus avisos. Seu interesse por Marcella estava perdendo a
mão. Finalmente, ele caminhou na direção onde Earl sempre
atirava nos cachorros, provavelmente para observar com
atenção. Marcella disse algo para Gray e ele encolheu os
ombros.

Estreitei meus olhos, imaginando o que eles estavam


falando. Ela disse mais e Gray assentiu, em seguida, ele se
dirigiu para o galpão com a comida de cachorro e pegou um
punhado. Fiquei tenso quando ele entregou a Marcella
através das grades, mas ela simplesmente pegou sem tentar
nada. Gray voltou para a sede do clube, parecendo pálido.

— O que ela queria?

— Ração para Satan.

— E?

— Só isso. Ela me perguntou se eu estava bem porque


parecia doente, — disse ele, esfregando a nuca em
constrangimento.

— Diga a Earl que você não quer assistir.

— Eu disse, mas ele não se importa. Hoje foi muito


ruim. — Ele balançou a cabeça como se não quisesse pensar,
muito menos falar sobre isso. — Preciso beber até esquecer,
— ele murmurou e desapareceu dentro do clube.

Resisti ao impulso de ir até o canil por alguns minutos,


mas a atração era muito forte. Marcella ergueu os olhos
quando um galho quebrou sob minha bota. Ela estava
ajoelhada ao lado das grades e jogando comida para Satan,
que a comia, mas estava obviamente exausta demais para se
levantar e chegar mais perto.

— Isso é bárbaro, — ela ferveu. — Ela está sangrando.


Tem cortes na orelha e no focinho.

— Se esses são os únicos ferimentos dela, o outro


cachorro provavelmente está morto, — disse. Satan era o
favorito de Earl por um motivo. Ela era grande para uma
fêmea, e como teve uma ninhada, que Earl tirou dela logo
após o nascimento, ela era uma lutadora feroz dentro do
ringue.

— Ela não deveria ser forçada a lutar contra outros


cães.

Eu a observei, sem dizer nada. O luar fazia sua pele


brilhar e seu cabelo reluzir como petróleo, mas o que
realmente a deixou linda naquele momento foi a expressão
carinhosa que ela tinha pelo cachorro. Ela me lançou um
olhar enviesado, jogou o resto da comida na direção de Satan
e limpou as palmas das mãos nas calças antes de se levantar.
Ela se aproximou de mim com um olhar que fez meu
estômago revirar. Ela agarrou as grades e olhou para mim. —
Pessoas que gostam de lutas de cães geralmente gostam de
torturar humanos também. Não confio em Cody e Earl. E
você?

Eu ri. — Eles não são meus inimigos.

— Cody com certeza é.

Dei de ombros. — Posso lidar com Cody. — Não confiava


em Cody e confiava em Earl até certo ponto.

— Ele não vai parar de frequentar os canis. Ele está


atraído por mim. Ele não suporta ser rejeitado.
Eventualmente, pegará o que quer, Maddox.

Sabia que ela estava certa, mas não podia deixar que
nos considerasse aliados. Nós não éramos. Ela era a cativa e
filha do meu pior inimigo.

Ela se inclinou ainda mais perto, com a voz baixa. —


Você realmente quer vir aqui um dia e descobrir que ele
abusou de mim? Você quer isso na sua consciência? — Rangi
meus dentes. — Poderia realmente viver consigo mesmo se
Cody pegasse o que você nega a si mesmo?

Recuei, meu pulso acelerado. Suas palavras pareciam


afundar em mim e apodrecer.

— Não... — Avisei, mas nem sabia como terminar a


frase. Virei-me e voltei para o clube.
Porra, porra, porra.

Marcella Vitiello estava tentando me guiar pelas bolas


para se salvar, e eu estava pensando em deixá-la tentar.
Arrisquei outro olhar por cima do ombro para os canis
enquanto me dirigia para o clube. Ela ainda estava
pressionada contra as grades, me observando. Seu cabelo
estava uma bagunça e suas roupas já haviam visto dias
melhores, mas parecia ter sido feita para ser assim, como se
estivesse encenando alguma fantasia pós-apocalíptica para
uma sessão de fotos da Vogue. Rangi meus dentes e desviei
meus olhos. Tornou-se mais difícil ignorá-la, esquecê-la.
Meus sonhos estavam completamente fora do meu controle
agora e depois do que vi hoje, as coisas certamente não iriam
melhorar. Mas meu pau era o menor dos meus problemas. O
tesão de Cody era o verdadeiro problema, porra. Vê-la nua lhe
daria uma tonelada de novas fantasias que ele seguiria em
algum momento. Não podia deixar isso acontecer. As razões
da minha necessidade de proteger Marcella eram irrelevantes.
Tudo o que importava era tirá-la do perigo. Seu pai pagaria
por seus pecados, não a filha. Talvez ela fosse mimada e
tivesse levado uma vida boa graças ao seu personagem podre,
mas isso não justificava sua punição, e certamente eu era a
última pessoa que deveria julgar o dinheiro por sangue de
uma pessoa.

Andando pela varanda, fumei dois cigarros antes que


um plano se formasse em minha mente. Era arriscado em
muitos níveis, mas a única outra coisa que poderia pensar
era deixar Marcella ir e o inferno congelaria antes que isso
acontecesse. Ela era nosso bilhete para a morte de Vitiello.

Apaguei meu cigarro no cinzeiro transbordando e subi


para o meu quarto, determinado a falar com Earl pela
manhã. Depois das brigas de cães, ele não estava em
condições de discutir nada. Sentei-me no parapeito da janela.
As palavras de Marcella se repetiram na minha cabeça. E se
ele pegar o que você nega a si mesmo?

Porra. Passaria a noite observando os canis novamente.

Depois de um cochilo rápido pela manhã, saí em busca


de Earl, mas não tive a chance de dizer nada porque ele me
enviou para coletar dinheiro de um de nossos traficantes.
Felizmente, Cody não estava por perto, então não precisava
que me preocupar com Marcella. Só teria que me apressar.

Quando voltei para casa no final da tarde, a motocicleta


de Cody já estava estacionada na frente da casa. Desmontei
da minha Harley rapidamente e corri pela trilha até avistar os
canis. Marcella estava sentada ao lado da grade e parecia
estar falando com Satan. A cachorra estava estendida ao lado
dela, apenas as grades entre elas.

Tranquilo, entrei. Seguindo os sons de balas atingindo


latas, atravessei a porta dos fundos e encontrei meu tio em
sua cadeira de balanço favorita, atirando em latas apoiadas
em arvores. Seu colete com as palavras Presidente do
Tartarus MC estava sobre o encosto. Como de costume, meu
peito inchou ao ver isso. Um dia usaria aquele colete, seria o
líder do nosso clube. Por muito tempo, não considerei isso
uma opção, tinha certeza de que Gray seguiria os passos de
seu pai, mas três anos atrás Earl me disse que eu e não Gray
seria o futuro prez do Tartarus. Fiquei mais do que um pouco
surpreso, e Gray ficou arrasado, mas Earl era um idiota
teimoso e não mudava de ideia depois que tomava uma
decisão.

Earl olhou por cima do ombro e continuou atirando nas


latas. — Não fique nas minhas costas, porra, está me dando
uma coceira de merda.

Sentei na cadeira de balanço ao lado dele, mas firmei


meus pés no chão para impedi-la de se mover. Eu odiava o
vai e vem monótono. Preferia avançar. A sensação de fazer
uma viagem por centenas de quilômetros na minha
motocicleta, esse era o tipo de movimento que gostava. Bem,
havia um movimento de vai é vem que eu não me importava...

— Derrame. Você está fodendo com minha mira.

— Você fez mais planos com a garota que não me


contou? — Perguntei.

O rosto de Earl se contraiu com raiva. — Se fiz, você vai


descobrir quando eu achar melhor, garoto.

Balancei a cabeça de má vontade. — Achei que esse


plano era nosso, nossa chance de nos vingar do assassino do
meu pai. Achei que estávamos nisso juntos, mas agora você
está fazendo as coisas por conta própria.

Earl suspirou e recostou-se na cadeira, a arma


balançando em sua coxa. — Você terá sua vingança, não se
preocupe. Precisamos usar a pirralha Vitiello enquanto a
tivermos, realmente levar o pai dela ao limite, ver aquele
idiota italiano desmoronar aos poucos.

Apoiei meus cotovelos nos joelhos. — É isso aí, — disse,


então sorri torto. — É por isso que a quero na minha cama.

Cody, que havia saído sem que eu percebesse, soltou


uma risada incrédula. — Certo.

Mas o ignorei e apenas continuei: — Ninguém tem mais


razão para se vingar do que eu.

Earl me olhou com curiosidade e acendeu o cigarro. —


Por que a mudança de ideia? Você não disse que ela é apenas
uma vantagem e não devemos machucá-la. Agora quer
arrastá-la para a sua cama?

Não tinha absolutamente nenhum proposito em protegê-


la. O pai dela matou meu pai brutalmente diante dos meus
olhos, mas não podia permitir que Cody colocasse as mãos
nela. — Não vou arrastar ninguém, — disse com um sorriso.
— A garota está flertando comigo como uma louca,
provavelmente tentando chegar ao meu lado bom. Suponho
que esteja acostumada a conseguir o que quer usando seus
seios e boceta.

— Aposto que está. Ela tem seios lindos e uma boceta


bonita, pelo que pude ver, então tem muito com que
trabalhar.

Acendi meu próprio cigarro, permitindo que meu sorriso


ficasse sujo. — Se ela quer me influenciar com sua boceta
bonita, quem sou eu para lhe negar? Principalmente quando
isso irrita Vitiello.

O rosto de Cody ficou cada vez mais frustrado. — Tenha


cuidado para não cair na armadilha dela. Aposto que ela
conduziu mais de um homem por seu pau.

Earl ainda me observava. Aprendi a ter cautela com sua


cara de pôquer. — Não se preocupe. Meu ódio pelo que seu
pai fez vai me ajudar. Com certeza não serei conduzido pelo
meu pau, mas se ela quiser um bom motoqueiro para se
molhar, quem sou eu para dizer não?

Ri para mim mesmo, agarrando minha virilha.

Earl soltou sua risada rouca. — Tesão pra caralho. Por


mim, você pode preencher os buracos dela, contanto que isso
não interfira no nosso plano. Você é quem mais merece uma
boceta Vitiello, como disse. Não vou proibir isso. Mas tome
cuidado. Tenho certeza que o rosto bonito é uma máscara e a
boceta vai te apunhalar pelas costas no momento em que não
estiver prestando atenção.

Cody cruzou os braços sobre o peito esquelético. Talvez


ele devesse restringir seus movimentos físicos ao supino em
vez de foder cada boceta disponível no clube. — Acho que
seria justo se cada um de nós a tivesse. Estamos todos nisso.
Não acho que seja justo apenas Mad molhar o pau.

— Mad teve que assistir seu pai e seus irmãos do clube


sendo destroçados por Luca Vitiello e arriscou a porra de seu
couro sequestrando Marcella. Como isso é injusto?
Cody se virou para Earl. O ouvi tentando ao máximo
colocar as mãos sujas em Marcella e, enquanto Earl
balançava a cabeça, me perguntei por quanto tempo ele
negaria o pedido de Cody. Manter o bom humor no clube era
uma das principais tarefas de um prez. Até agora, nenhum
dos outros irmãos do clube havia pedido abertamente uma
chance com Marcella, mas se Cody começasse a vomitar suas
besteiras, isso podia muito bem mudar. Ele era como a porra
de um buldogue quando queria alguma coisa.

Mas se alguém se desse bem com ela, esse seria eu.

— Ela não é uma garota compartilhada. Não vou passá-


la como um troféu. Isso só vai levar a mais discussões entre
vocês, pervertidos. Não quero brigas porque alguém ficou dez
minutos a mais com a puta. Contanto que seja apenas Mad
recebendo seu bônus depois de toda a merda que Vitiello o
fez passar, tudo ficará bem.

Cody parecia estar engolido uma pílula amarga, mas


não se atreveu a insistir com Earl. Seu rosto deixou claro que
o assunto estava encerrado e ele queria sua paz do caralho
para atirar nas latas.

Enviei a Cody um sorriso malicioso e acenei


agradecendo a Earl antes de me afastar para dar as boas
novas a Branca de Neve.

Meu coração batia como um tambor na selva. Estava em


êxtase pra caralho, mas ao mesmo tempo sabia que isso
poderia bagunçar as coisas. Já tinha problemas para tirar
minha mente da sarjeta. Dormir no mesmo quarto com
Branca de Neve definitivamente não ajudaria. O aviso de
Cody atingiu o alvo. Por um lado, não sabia muito sobre
Marcella. Ela podia muito bem me apunhalar no olho
enquanto eu dormia. Teria que me livrar de todas as armas
em potencial no meu quarto, o que demoraria um pouco.

— Boas notícias, você vai se mudar hoje, — disse a ela.


Ela levantou, os olhos arregalados de esperança.

— Você vai me ajudar, — ela sussurrou, seu olhar


passando rapidamente para a sede do clube como se isso
fosse um segredo. Em momentos como este, sua educação
protegida aparecia. Tudo sempre corria conforme o planejado
em sua vida. Seu pai se certificou disso. Que alguém não
caísse de joelhos diante de sua força e seguisse seu comando
era impossível de entender.

— Espero que não esteja pensando que vou levá-la de


volta para o papai ou deixá-la ir. Nem todo o meu sangue
saiu do meu cérebro ainda.

Ela franziu a testa, tornando-se vigilante. — Para onde


você vai me levar? — Destranquei a gaiola e entrei, me
irritando com a reação dela, especialmente quando ela deu
um passo para trás. Ela achou que eu a agarraria e a jogaria
por cima do ombro? Arrisquei a porra da minha cabeça por
ela e ela agia como se eu fosse algum tipo de pervertido.

— Para o meu quarto. É lá que passará o resto de sua


estadia aqui até que seu pai decida se trocar por você.
Sua boca ficou frouxa. — Você perdeu a cabeça? Não
vou dividir o quarto com você.

— Se ficar no meu quarto, posso protegê-la de Cody.


Aqui, você estará à mercê dele, especialmente à noite. Não
vou ficar acordado a noite toda te olhando pela minha janela.
Desculpe, princesa, não vai acontecer.

— Você quer que eu ache que é algum tipo de cavaleiro


de armadura brilhante? — Ela assobiou. Aqueles olhos azuis
brilharam com desconfiança, e ela tinha todos os motivos
para não confiar em mim.

— Não me importo com o que você acha Marcella, mas


se estou te dizendo para ficar ao meu lado para sua própria
proteção de merda, você realmente deve fazer isso.

Seus olhos se estreitaram ainda mais. — Não acredito


que esteja fazendo isso pela bondade do seu coração.

— Você pode ficar aqui e esperar que Cody coloque suas


mãos ansiosas sobre você ou pode vir comigo para o meu
quarto.

— Para você colocar suas mãos ansiosas em mim.

Soltei uma risada sarcástica. — Não se superestime. —


Então inclinei a cabeça. — E se bem me lembro de nossas
últimas conversas, você flertou comigo e não o contrário.

O olhar que ela me deu deixou claro que sabia muito


bem do efeito que tinha sobre mim, e porra, ela estava certa.
Dei de ombros e girei nos calcanhares para sair da
gaiola. Não imploraria a ela para dormir no meu quarto. Se
ela quisesse ficar com os cachorros. Essa era uma decisão
dela. Eles seriam o menor de seus problemas de qualquer
maneira. Cody já estava salivando com a ideia de colocar seu
minúsculo pênis em sua boceta.

Claro, a recusa dela apenas significava que eu passaria


o dia e a noite vigiando os canis da minha janela para ter
certeza de que ninguém tocaria na Branca de Neve.

— Espere, — ela gritou quando eu estava prestes a


fechar a gaiola. Mascarei meu alívio e levantei uma
sobrancelha para ela.

— Não tenho o dia todo para você se decidir. Talvez


todos tenham atendido aos seus caprichos até agora, mas eu
não vou.

Poderia dizer que ela lutou contra si mesma para


manter a réplica mordaz. — Irei com você, — ela disse a
contragosto.

— Então vamos. Apresse-se.

Ela saiu da gaiola na ponta dos pés, mas Satan saltou


contra as grades ansiosamente, fazendo-a pular. Ela se virou
para o cachorro. — Vou me certificar de que meu pai a liberte
assim que destruir este lugar.

Zombei. — Seu pai vai fazer um tapete com a pele dela.

— Você não sabe nada sobre meu pai.


Balançando a cabeça em aborrecimento, fiz sinal para
ela ir em frente. Ela finalmente pegou um pouco de
velocidade enquanto a levava para o meu quarto. Os irmãos
do clube reunidos na área comum gritaram e assobiaram ao
nos ver. Enviei-lhes um sorriso, o que aumentou a expressão
de cautela no rosto de Marcella.

No momento em que entramos no meu quarto, ela e eu


ficamos tensos, só que por razões diferentes.

Como vice-presidente do Tartarus MC, conseguir uma


boceta nunca foi um problema. Mulheres ansiosas por
agradar entravam e saíam do nosso clube todos os dias. Mas
passar a noite em um quarto com Marcella, era uma tentação
de merda diferente de tudo que já encontrei. A trouxe para o
meu quarto para protegê-la, mas agora que ela estava aqui,
me perguntei se isso complicaria seriamente as coisas para
mim. Eu a queria, quis desde o primeiro segundo em que a vi,
para ser honesto comigo mesmo.

— Preciso de um banho, — disse ela, tirando-me dos


meus pensamentos. Ela examinou meu quarto. Ela estava
acostumada com coisas melhores, é claro. Eu vivi em todos
os casebres imagináveis e não me importava se ela achava
esse abaixo dela. Ela tinha sorte de estar fora do canil.

— Seja minha convidada. Há um chuveiro atrás daquela


porta. Claro, nada tão sofisticado quanto uma banheira de
mármore ou um chuveiro a vapor.

Ela franziu os lábios, os olhos fixos em mim. — Talvez


você ache que eu seja mimada...
— Acho?

— Talvez seja mimada, mas não acho que tenha o direito


de me julgar. Não saio por aí sequestrando pessoas.

— Não, você só lucra com os crimes de seu pai, e


sequestrar pessoas é o menor de seus pecados.

Sempre que atacava seu pai, suas paredes se erguiam


enquanto ela entrava em modo protetor. Nada poderia fazê-la
duvidar dele? — Meu pai nunca sequestraria uma mulher ou
o filho de alguém. Ele tem honra, ao contrário de você e seu
clube de motoqueiros idiota.

— Você pensa muito de seu pai. Se soubesse tudo o que


ele fez, tenho certeza de que mudaria de ideia.

— Nada que você diga mudaria meus pensamentos,


Maddox, então não perca seu fôlego em me convencer.

Não havia uma centelha de dúvida em sua expressão e


isso me enfureceu. Queria destruir a imagem de seu pai.
Queria que seu ódio por ele se igualasse ao meu. Eu a queria
do meu lado. Isso realmente quebraria Luca Vitiello.
Eu precisava desesperadamente de um banho, mas mal
podia usar minhas roupas sujas por mais um dia. Elas
cheiravam a cachorro molhado e suor e estavam manchadas
com o que quer que tenha se agarrado ao abrigo dos
cachorros.

— Você deveria se preparar para dormir. Amanhã tenho


que acordar cedo e não posso me dar ao luxo de discutir
besteiras com você a noite toda, — disse Maddox. Ele
manteve alguns passos de distância entre nós, o que me
deixou feliz. Não tinha certeza sobre seus motivos.

— Preciso de uma muda de roupa. As minhas estão


arruinadas.

Ele apontou para a pilha de roupas amontoadas na


poltrona no canto. — Escolha uma camiseta e uma boxer
para dormir. Não vou fazer compras para você.

Depois de mais uma olhada na cama queen size, fui até


a poltrona. Nos dois anos de nosso relacionamento, Giovanni
nunca havia passado a noite. Era irônico que o primeiro
homem com quem passaria a noite em um quarto era o
mesmo que me sequestrou e queria matar meu pai. Um
motoqueiro. Um homem que definitivamente não
compartilhava de nenhum dos nossos valores. Flertei com
ele, mas dormir em seu quarto nunca fez parte dos planos.
Olhei ao redor de seu quarto com curiosidade. Não havia
muito nele. Uma cama, uma poltrona e uma escrivaninha. As
duas últimas serviam apenas como um lugar para largar as
roupas.
Cuidadosamente peguei uma peça de roupa,
perfeitamente ciente dos olhos de Maddox seguindo cada
movimento meu. Pela pilha bagunçada, era difícil dizer se as
roupas estavam sujas ou limpas.

Maddox soltou uma risada baixa enquanto se


empoleirava no parapeito da janela e soprava a fumaça do
lado de fora. — Está tudo limpo. Mas como pode ver, não
tenho um guarda-roupa, então a poltrona tem que servir.

— Passar e dobrar é muito complicado para você? —


Perguntei depois de pegar uma camiseta preta simples e uma
boxer preta. Era estranho tocar a cueca de Maddox. A ideia
de usá-la parecia ainda mais estranha. Meu relacionamento
com Giovanni sempre foi muito formal para que tivesse a
chance de usar suas roupas, sem mencionar que ele nunca
teria me permitido chegar perto de sua cueca.

— Fique à vontade se quiser ficar com suas roupas


sujas.

Peguei a camiseta e sua boxer e desapareci no banheiro.


Era limpo, mas pequeno. Maddox estava certo. Nunca estive
em um banheiro tão simples quanto este. Até mesmo minhas
amigas tinham dinheiro e banheiros maiores e mais luxuosos
do que a maioria das pessoas. Lavei minha calcinha na pia
com sabonete, mas minha calça e blusa estavam arruinadas.
Depois de um banho rápido, me vesti com as roupas de
Maddox. Sua camisa alcançava minhas coxas e sua boxer
caiu sobre meus quadris, quase escorregando. Era estranho
estar tão vulnerável perto de um homem como ele.
Quando saí do banheiro, Maddox havia sumido. Andei
em direção à janela, sem saber o que fazer. Deitar na cama de
Maddox parecia uma má ideia. Estava morta de cansaço, mas
minhas suspeitas me mantinham bem acordada. Depois de
um tempo, a porta se abriu e Maddox entrou com um prato
cheio de sanduíches. Ele fez uma breve pausa, seus olhos
traçando desde meus pés descalços e minhas pernas nuas
até meu rosto. Ele não demonstrou nenhuma emoção.
Normalmente os homens sempre ficam de queixo caído, mas
geralmente eu estava arrumada.

— Trouxe alguns sanduíches para você.

— Você os fez?

Ele balançou a cabeça com uma expressão divertida,


como se a mera sugestão fosse absurda. — Pedi a Mary Lu
que os fizesse. Ela é uma cozinheira decente.

— A garota com quem você se aconchegou alguns dias


atrás?

Ele assentiu, como se não fosse grande coisa. — Ela não


se importou por ter que fazer o jantar para outra mulher
passando a noite no seu quarto?

— Não estamos namorando, apenas transando. Ela é


uma garota compartilhada. Ela não liga. Não sou o único cara
em quem ela está de olho. Se outro cara lhe pedisse para ser
sua old lady, ela me chutaria em um piscar de olhos. Tudo o
que essas garotas querem é um colete que as declare
propriedade de um motoqueiro.
Meus lábios se curvaram. —Uma garota compartilhada,
sério? O quão sexista você pode ser?

— Não aja tão alta e poderosa. Em seus círculos, as


mulheres são usadas como barganha. Quer dizer, quem
ainda usa casamentos arranjados?

— Eles funcionaram por séculos, — falei com altivez. —


E não estou prometida.

— Não mais. Você e aquele cara piegas não deveriam se


casar em dois anos?

— Nós não tínhamos uma data ainda. Mas para sua


informação, eu o escolhi, não meus pais.

— Você escolheu alguém que seu pai permitiu que se


aproximasse para que o escolhesse.

Nunca tinha visto dessa forma, mas era verdade que


apenas alguns meninos tiveram permissão para se aproximar
de mim quando atingi a puberdade. Todos eles bem
comportados e respeitosos, para não falar com medo do meu
pai. — Você não sabe nada da nossa vida. Mas certamente é
melhor do que essa vida caipira sem lei que você leva.

— Sou livre para fazer o que quiser. Você está sujeita às


suas regras antiquadas. — Mesmo que ele tivesse razão, não
poderia simplesmente não argumentar. Fiz um gesto para a
tatuagem de cão do inferno em seu braço, o símbolo de seu
clube. — Você não pode simplesmente deixar o clube
também. Isso não é liberdade.
— Vivo para o clube. Nunca o deixaria. É a porra da
minha vida.

— E minha família é a minha vida, então não sou menos


livre do que você.

— Não acho que você realmente entenda o que significa


liberdade.

Muitas vezes ansiava por liberdade, mas não longe da


minha família e do mundo em que cresci.

Maddox estendeu o prato novamente e o colocou na


mesa de cabeceira. — Você pode comer na cama se quiser,
não me importo.

— E as migalhas? — Perguntei, mais para ganhar tempo


e me livrar do meu nervosismo repentino.

— Esses lençóis já viram coisas piores, — disse Maddox


com uma risada, caminhando até a poltrona.

Meus lábios se curvaram. — Acho que vou dormir no


chão.

Maddox me lançou um olhar irritado. — Os troquei esta


manhã, então não fique nervosinha. Mas se preferir o chão,
fique à vontade. Não dou a mínima.

Ele removeu o colete e o pendurou no encosto. Era a


primeira vez que o via sem ele desde o sequestro. Do jeito que
olhava para ele, o pedaço de couro parecia ser importante.

Ele me lançou um olhar de advertência. — Não toque no


meu colete enquanto tomo banho.
— Não se preocupe.

Ele se virou na porta do banheiro. — E não tente nada


ou vou jogar sua bunda empinada no canil de novo. — Ele
fechou a porta.

— Idiota, — murmurei, mas estava quase grata. Se ele


realmente fez isso para me proteger, foi um belo gesto. Porém,
não conseguia acreditar que era só por causa disso.

Herdei a natureza desconfiada de meu pai e isso estava


surgindo agora. Quando a água começou a correr, fui até a
porta e empurrei a maçaneta, mas estava trancada. Vozes
masculinas e risadas barulhentas soaram lá embaixo, então a
porta trancada era provavelmente o melhor de qualquer
maneira.

Olhando para a pilha de sanduíches e ouvindo o ronco


zangado do meu estômago, finalmente peguei um com queijo
e presunto. Geralmente não comia carboidratos ou laticínios.
Um te engordava e o outro dava espinhas, mas realmente não
me importava. Enfiei um terço do sanduíche na boca e mordi,
mastigando ansiosamente. Depois de viver em uma gaiola
fedorenta por dias e estar à mercê daqueles motoqueiros, a
maioria das minhas preocupações anteriores parecia
terrivelmente irrelevante. Rapidamente minha mente me
lembrou do vídeo, se perguntando quem o teria visto, mas
afastei o pensamento. Não era útil no momento. Passado era
passado. Precisava descobrir uma maneira de melhorar meu
futuro.
Mais cedo do que o esperado, Maddox saiu do banheiro
e quase tive um ataque cardíaco. Ele usava nada além de
boxers, revelando a parte superior do corpo musculoso
coberto de tatuagens. Agora, a barra pendurada no teto perto
da janela fazia sentido. Esse corpo exigia trabalho. Tive que
forçar meus olhos para longe dele. Seu corpo gritava menino
mau. E cresci em torno de homens maus, mas Maddox
carregava sua própria aura proibida de menino mau.

Maddox olhou para mim como se fosse uma intrusa em


seu espaço, como se tivesse pedido para estar aqui, como se
tudo isso fosse minha escolha. Ele andou até a pequena mesa
e pegou o maço de cigarros que estava lá. — Você tocou no
meu colete?

Revirei meus olhos. — É um pedaço de couro. — Ele


ergueu as sobrancelhas. — Não, não toquei.

Ele assentiu, obviamente satisfeito. Ele pegou o maço de


cigarros e foi até o peitoril da janela.

— Você vai fumar no seu quarto?

Ele colocou o cigarro na boca, acendeu e deu uma longa


tragada antes de finalmente me considerar com uma
resposta. — Tem algum problema com isso?

Dei de ombros. — É anti-higiênico e nojento. Sem falar


que é perigoso, considerando quantas pessoas adormecem
com um cigarro aceso e se incendiam. É sua saúde. Mas
prefiro que você escolha algo que te mate mais rápido do que
a nicotina.
A expressão de Maddox se retorceu de raiva e ele
avançou na minha direção. Obriguei-me a ficar parada e não
me afastar de sua fúria. — Sou a única coisa que fica entre
você e um bando de motoqueiros excitados querendo provar o
gostinho da boceta da máfia.

Por que isso o enfureceu tanto? Ele estava


particularmente tenso desde que chegamos ao seu quarto.
Enrijeci. — Por que você se importa? Por que não os deixa me
atacar se odeia tanto minha família?

— Odeio seu pai. Você só me irrita pra caralho porque


nem percebe quão privilegiada é.

Devido à sua explosão, ele chegou muito perto de mim,


então o cheiro de seu gel de banho másculo e mentolado
inundou meu nariz. Seu cabelo ainda estava molhado e
desgrenhado na testa. Meus olhos foram atraídos para as
tatuagens por toda a parte superior de seu corpo e braços.
Imagens de cães do inferno, facas, caveiras e motocicletas.

— Pare de bancar a vítima aqui, — falei finalmente.

Maddox olhou para mim, mas algo em seus olhos me fez


sentir quente. — Fui vítima há muito tempo, não sou agora.

Meus olhos piscaram do piercing em sua língua para a


barra em seu mamilo.

— Eu tenho mais, — ele disse e deu outra tragada.

— Onde? — Perguntei.

Seu olhar desceu para sua boxer. — Mais dois.


Meu queixo caiu, tentando imaginar onde exatamente
ele os tinha. Minhas bochechas ficaram quentes. — Você está
brincando comigo. — Estreitei meus olhos. — Você só quer
me deixar nervosa.

— Por que dois piercings no meu pau te deixariam


nervosa? — Ele perguntou, mas sua voz tinha um timbre
novo e mais profundo.

Dei de ombros. — Eles não deixam.

Ele sorriu, vendo através de mim. Tudo sobre Maddox


me deixava nervosa. — Vá para a cama, princesa.

Ele sempre conseguia fazer a palavra soar como o pior


insulto imaginável.

Não querendo parecer assustada, sentei-me na beirada


da cama, meus dedos dos pés no chão. A roupa de cama
cheirava fresca e não a fumaça ou suor. Talvez ele
normalmente só fumasse com a janela aberta e simplesmente
não fez hoje para me irritar.

Maddox me lançou um olhar meio divertido, meio


irritado. — Os lençóis estão limpos como falei, não se
preocupe.

— Não estou preocupada com isso.

Ele assentiu, estreitando os olhos em pensamento. —


Então, com o que está preocupada?

— Não é óbvio? Não estou muito feliz em dormir ao lado


do meu sequestrador sem proteção.
Ele apontou para o peito. — Sou sua proteção, e você
com certeza não precisa ser protegida de mim. Sua boceta
está segura.

Rangi os dentes e finalmente deitei na cama. Era muito


diferente do que estava acostumada em casa, mas parecia
uma nuvem macia depois do abrigo de cães.

Maddox terminou seu cigarro, mas mesmo assim ficou


na frente da janela, olhando para fora. As letras Tartarus MC
estavam escritas em suas costas e ombros, e abaixo delas
uma caveira cuspia fogo, a mesma imagem que em seu
esterno. — Por que os crânios?

Ele olhou para o peito. — Meu pai tinha a mesma


tatuagem. Não lembro muito de sua aparência. Sempre que
tento me lembrar de sua aparência, vejo a polpa sangrenta
em que seu pai o transformou. Essa tatuagem é tudo que
tenho.

Engoli. — Sinto muito pelo que meu pai fez.

Ele assentiu, me observando intensamente. — Não é


você que precisa se desculpar, e duvido que seu velho algum
dia pronuncie essas palavras.

Ele provavelmente não o faria.

Desviei o olhar do seu muito pessoal e examinei suas


outras tatuagens. As palavras ‘sem arrependimentos’
enfeitavam seu antebraço esquerdo.
— Você só se arrepende das coisas que não faz, —
murmurei. Era uma citação que li em um post motivacional
no Instagram uma vez e que ressoou profundamente em mim.

Maddox me lançou um olhar confuso até que apontei


para sua tatuagem. Ele sorriu ironicamente. — O que você se
arrepende de não ter feito?

A lista era longa, mas nada que me sentisse confortável


em discutir com Maddox. Desviei meus olhos dele e olhei
para o teto. O ventilador estava girando em círculos lentos e
hipnotizantes. — Nada.

Ele riu e minha barriga revirou. Ele apareceu ao lado da


cama, elevando-se sobre mim, ainda usando apenas sua
boxer. — Não acredito em você. Tenho certeza de que há
muitas coisas que você morre de vontade de fazer, mas não
pode porque seu velho está sempre te vigiando.

Não falei nada. Maddox afundou do outro lado da cama


e fechei minhas mãos em punhos. — Não tente me sufocar
enquanto durmo. Se tentar qualquer coisa, vou entregá-la
pessoalmente ao Cody.

Balancei a cabeça, não confiando em minha voz. Senti-


me muito quente quando Maddox se esticou ao meu lado.
Sua cama era pequena demais para duas pessoas que não
estavam namorando. Nossos braços estavam praticamente se
tocando. Você mal podia contar um centímetro entre nós.
Cruzei minhas mãos na barriga para criar mais espaço entre
nossos braços.
— Para alguém que estava flertando comigo no canil,
você está terrivelmente quieta agora, — ele brincou, seu rosto
inclinado para mim.

Virei minha cabeça em sua direção. Apesar de nossa


proximidade, não estava nem com a metade do medo que
deveria. Se quisesse que meu plano funcionasse, deveria
estar flertando com ele agora, mas isso estava definitivamente
fora da minha zona de conforto. — Achei que você queria
dormir.

— Eu quero, — disse ele, mas seus olhos diziam outra


coisa. Engoli em seco quando ele finalmente desviou o olhar e
apagou as luzes.

Escutei sua respiração, agarrando-me à consciência,


esperando que ele dormisse antes de mim. Mas simplesmente
sabia que ele estava bem acordado. Perguntei-me o que o
impedia de dormir. Não podia ser preocupação por sua vida.
Talvez estivesse imaginando todas as coisas que poderia fazer
comigo. Meu pulso acelerou. O problema é que não era
apenas de ansiedade.
Capítulo 10

Quando acordei na manhã seguinte, sentei na cama,


olhando em volta. Maddox estava empoleirado no parapeito
da janela. Sua bochecha formou uma covinha ao encontrar
meus olhos. — Você sobreviveu, viu?

Limpei minha garganta e escovei meu cabelo, me


sentindo vulnerável sabendo que Maddox me viu dormir. Era
uma coisa muito pessoal, e nunca compartilhei com ninguém
fora da minha família. O sol tinha acabado de nascer, mas
Maddox parecia estar acordado há um tempo.

— Por que está acordado?

Maddox encolheu os ombros. — Você ocupou muito


espaço na cama.

Inclinei minha cabeça em consideração. Quase parecia


que Maddox se sentiu desconfortável comigo na cama. Pelo
menos, eu não era a única que não estava à vontade.
Levantei e me espreguicei. Maddox seguiu o movimento.
Talvez ele estivesse com medo de seu próprio desejo. Eu
precisava usar isso. Enquanto andava até ele, sob sua
atenção inabalável, minha coragem se esvaiu. Como afirmou,
ele não era como Giovanni. Maddox não se conteria por medo
de meu pai. Ele provavelmente lhe enviaria uma narração
detalhada se alguma vez fizéssemos sexo.

Uma onda quente passou pelo meu corpo com o


pensamento.

Passei os braços em volta do meu peito quando parei ao


lado dele, e o ar frio da manhã me atingiu. Meus mamilos
endureceram e estava ciente de que Maddox podia ver através
do tecido fino da camiseta.

— Vou estar fora em uma corrida a maior parte do dia,


mas deixarei comida e água suficientes e manterei a porta
trancada.

Eu assenti, seguindo seu olhar para o horizonte e


maravilhada com quão estranha a situação era. Em um
piscar de olhos, minha vida virou de cabeça para baixo e
tinha a sensação de que isso era apenas o começo.

Verifiquei o perfil de Maddox, os ângulos definidos,


então demorei na cicatriz que parecia uma covinha. — Como
você conseguiu essa cicatriz?

Maddox tocou o local e sorriu ironicamente. — Quando


tinha nove anos, tentei libertar os cães de Earl em uma noite
de luta. Alguns deles conseguiram fugir. Ele me bateu com
uma das coleiras pontiagudas que usa nos cachorros.
— Isso é horrível. Mas por que cicatrizou tão mal? A
ferida não pode ter sido tão profunda.

— Ele disse que se eu quisesse escolher o lado dos cães,


seria tratado como um e suas feridas sempre têm que
cicatrizar sem tratamento. Ele me trancou na gaiola por
alguns dias também, então eu saberia como é.

Meu queixo caiu. — Não admira que você seja tão


confuso.

Ele deu uma gargalhada profunda e completa. — Esse é


um motivo, sim, mas seu velho ainda ganha o prêmio de me
ferrar.

Inclinei-me contra a parede, franzindo a testa. — Mas


Earl deveria cuidar de você depois que seu pai morreu, não
deixar cicatrizes mental e fisicamente.

Ele suspirou e balançou a cabeça. — Não sei por que te


disse isso.

— Porque você não tem mais ninguém, não confia o


suficiente para compartilhar.

Passei o dia todo sentada no parapeito da janela. A


princípio, fiquei surpresa que Maddox não trancou a janela.
Mas logo descobri que escapar pela janela, além do risco de
pular do segundo andar, não era uma opção. Avistei guardas
patrulhando uma cerca de arame e um deles tinha um
rottweiler na coleira. Ele provavelmente soltaria a besta atrás
de mim se eu tentasse fugir. Lembrando-me dos dentes
afiados de Satan, estremeci ao pensar no que eles fariam à
minha carne. Satan e eu tínhamos feito uma trégua, pelo
menos temporária, mas não era cega para o perigo que os
cães representavam.

Procurei no horizonte sinais de que papai estava a


caminho. Nem tinha certeza do que estava procurando
exatamente. Ele certamente tentaria manter seu ataque em
segredo pelo maior tempo possível para surpreender os
motoqueiros. Eu sabia que ele estava procurando por mim,
mas ser incapaz de contatá-lo ou qualquer outra pessoa da
família parecia como se uma parte de mim tivesse sido
arrancada. Mesmo quando estava longe de casa, sempre
tinha meu telefone comigo para contatá-los quando quisesse.
Agora me sentia mais sozinha do que jamais me senti na
vida.

Maddox voltou para casa depois do anoitecer, parecendo


desgrenhado e irritado. — O que aconteceu? — Perguntei,
sentando na cama.

— Seu pai.

Ele não deu mais detalhes, apenas desapareceu no


banheiro. Não pude deixar de sorrir.

Maddox saiu dez minutos depois e foi para a cama sem


dizer uma palavra, mas não apagou as luzes.
— Eu te disse que meu pai não pararia por nada para
me salvar, — disse, incapaz de conter minha emoção.

Maddox zombou. — Como ele fez uma lavagem cerebral


em você para se tornar sua maior fã, apesar de todos os seus
defeitos? Qualquer droga que ele tenha te dado deve valer
milhões.

— Ele é meu pai, é claro que acredito nele. E a droga


que você está procurando é amor. — Me encolhi por dentro
com o quão sentimental isso soou, mas era verdade. Papai
não me mimou apenas com presentes e dinheiro, ele também
me mimou com amor e carinho.

— Vou vomitar. — Maddox se virou, me encarando


totalmente. — Vamos lá, seja honesta por um momento. Você
deve perceber que tipo de homem seu pai é. Não me diga que
não se importa.

— Sei que tipo de homem ele é. Todos na minha família


estão envolvidos com a máfia. E seus familiares são
bandidos, então não me diga que há muita diferença. Você
justifica suas ações com lealdade ao clube e seu colete, e os
membros da minha família justificam com seu juramento e a
lealdade à tatuagem em seu peito.

Maddox balançou a cabeça. — Você defende a Famiglia


mesmo quando eles definem sua vida. Eu serei presidente do
clube um dia, mas você sempre será apenas a esposa de um
mafioso. Sua palavra nunca vai importar na máfia. Ainda
assim você defende a causa. Você não parece uma mulher
que gosta de sentar e não fazer nada.
— Quem disse que não vou fazer nada?

— Você não pode governar a Famiglia como seu pai.

— Meu irmão será Capo.

— Você não está chateada porque seu irmão vai se


tornar o chefe, embora seja a mais velha?

Ocasionalmente, imaginei o que faria se me tornasse


Capo, mas nunca considerei realmente uma opção válida. —
As mulheres são permitidas no seu clube?

— Claro, você não as viu?

Revirei meus olhos. — Não para diversão ou para


transar. Quero dizer, como membros.

— Não, é contra as regras.

— Então, se você tivesse uma irmã mais velha, ela não


poderia se envolver com o clube?

Ele franziu a testa. — Ok, tanto o clube quanto a máfia


não permitem mulheres. Mas você parece uma garota
acostumada a conseguir o que quer. Deve ser difícil ficar em
segundo lugar, nem isso. Sua palavra nunca significará nada
na Famiglia. Se você se casar com um mafioso italiano
pomposo, ele subirá no ranking da Famiglia e você poderá
criar os filhos dele e lhe dar um boquete se ele voltar para
casa depois de um dia duro de trabalho.

— Boquete? — Repeti com uma torção enojada dos


meus lábios enquanto o calor subia pela minha garganta de
uma forma muito embaraçosa.
Maddox usou sua língua para empurrar sua bochecha
de uma forma muito óbvia.

— Isso é nojento.

— O boquete ou a minha interpretação dele?

— Ambos, — murmurei.

— Não me diga que você nunca deu um boquete naquele


pobre idiota em dois anos de relacionamento. Não admira que
ele sempre parecesse tão tenso. Eu ficaria também se não
ganhasse um bom e longo boquete em anos.

— Pare de dizer essa palavra, — murmurei. Nunca quis


dar a Giovanni prazer oralmente, e ele nunca teria sonhado
em me pedir. Ele nunca me permitiu chegar perto de seu
zíper em nosso relacionamento. — Esta discussão acabou.

— Estou te fazendo se sentir desconfortável? — Maddox


perguntou, obviamente se divertindo.

Ele me deixava desconfortável por vários motivos,


nenhum dos quais discutiria com ele, especialmente não
enquanto compartilhava sua cama.

Flerte com ele.

Esse era o plano, mas seguir adiante era mais difícil.


Maddox me observou e minhas palmas ficaram suadas. Meu
corpo nunca reagiu à presença de alguém assim. Eu os
deixava nervosos, não o contrário.

— Por que alguém perfuraria seus órgãos genitais? —


Soltei, querendo quebrar o silêncio.
O sorriso de resposta de Maddox só me fez sentir mais
quente. — Para ter mais prazer, e ainda mais importante,
para dar mais prazer.

Minha mente disparou. Maddox e eu olhamos nos olhos


um do outro, então ele balançou a cabeça com uma risada e
rolou de costas. — Vá dormir antes que façamos algo de que
possamos nos arrepender.

— Duvido que você se arrependa, — falei.

Maddox fechou os olhos com um sorriso sardônico. —


Não me arrependeria.

Sua confirmação me surpreendeu. Meus olhos traçaram


seu peito, que não estava coberto pelos lençóis.

— E você, se arrependeria? — Ele perguntou


eventualmente.

— Definitivamente, — falei. Nem mesmo queria


considerar a tempestade de merda na mídia social a que seria
submetida se soubessem que transei com um motoqueiro,
mesmo que fosse para me salvar. Em nossos círculos, as
mulheres eram condenadas em um piscar de olhos. E minha
família? Papai enlouqueceria.

Maddox assentiu, os olhos ainda fechados. — Sim. Você


definitivamente se arrependeria.
Marcella passou as últimas três noites na minha cama,
e todas as noites foram torturante do que a anterior. Sentia
sua presença em todos os lugares. Quando deitava ao lado
dela à noite, quase não dormia mais, ficava quase louco por
seu cheiro e pelas imagens de seu corpo se repetindo diante
dos meus olhos fechados.

Meio que esperava, meio temia que Marcella fizesse um


movimento sobre mim, mesmo que apenas para se salvar,
mas até agora ela se conteve. Apesar de seu corpo assassino,
ela não estava acostumada a fazer avanços sobre os homens.
Não tinha certeza se era devido à sua educação conservadora
ou porque estava acostumada com os homens se jogando a
seus pés.

Eu estava pensando em fazer o mesmo.

Algumas mulheres usavam vestidos caros e colocavam


toneladas de maquiagem para ficarem apresentáveis, mas
Marcella com minhas roupas e sem maquiagem era uma
aparição que envergonhava a todas.
— O que você está pensando? — Ela perguntou do nada.

— Essa é uma pergunta que você faz ao seu noivo


quando ele passa a noite?

Ela encolheu os ombros. — Giovanni nunca passou a


noite.

Nome estúpido para um idiota, então meu cérebro


registrou suas palavras. — Por quê?

— Somos apegados aos nossos antigos valores, — disse


Branca de Neve com naturalidade. — E moro com meus pais.

Não conseguia parar de olhar para seus olhos azuis,


brilhando contra o carvão escuro de seu cabelo.

— Deixe-me adivinhar, seu noivo mijava nas calças por


causa do seu velho.

Ela sorriu. — A maioria das pessoas o faz.

— Eu não.

— Não, — ela concordou em uma voz suave. — Você


não, Maddox.

Porra. Gostaria que ela parasse de dizer meu nome com


essa cadência suave. No entanto, nunca lhe pedi porque no
momento em que a última sílaba morreu em seus lábios,
desejei ouvi-la novamente. Ela era como uma droga que não
podia resistir, e nem tinha experimentado ainda. Ela seria
como crack, sem dúvida. Uma dose e você ficaria viciado e,
no final das contas, ela o arruinaria.

— Qual é a sua memória favorita de infância de seu pai?


Não esperava essa pergunta. Ninguém nunca me
perguntou algo assim. Vasculhei meu cérebro, tentando
encontrar uma resposta. Muitas das minhas memórias não
eram felizes. Meu velho não foi o melhor pai, mas era meu
pai.

Imagens do meu pai brigando com minha mãe, ou


sentado no sofá com uma cerveja, ou nem mesmo presente,
passaram pela minha mente.

— Ele morreu antes que pudéssemos fazer muitas boas


lembranças, — falei. Mas, no fundo, sabia que as memórias
felizes teriam sido poucas e distantes entre si, mesmo que
Vitiello não o tivesse matado. Mas ter um pai ruim era melhor
do que não ter nenhum.

— Mas você sente falta dele?

Acima de tudo, sentia falta do que poderia ter sido. Perdi


que nunca tivemos a chance de ter um bom relacionamento.
Perdi que meu velho nunca teve a chance de ser um bom pai.
— Claro, — falei, mas as palavras soaram vazias.

Marcella inclinou a cabeça fazendo seu cabelo se


espalhasse como piche no travesseiro. — E a sua mãe?

— Ela se tornou a old lady do meu tio algumas semanas


depois que meu velho foi morto.

Isso devia responder à sua pergunta. Minha mãe nunca


sentiu falta do meu pai. Ela poderia ter sentido falta da
posição de old lady de um prez se meu tio não a tivesse
tornado sua imediatamente.
Acenei para ela. — Sua vez.

Ainda não conseguia superar o fato de que Marcella


Vitiello estava deitada na cama ao meu lado, de camiseta
preta e boxer, falando comigo como se fosse a coisa mais
normal do mundo.

— Você quer que lhe conte minha memória de infância


favorita? Tem certeza que quer ouvir alguma história sobre
meu pai?

Com certeza não queria imaginar Luca Vitiello como um


bom pai. Desejei que as memórias de Marcella dele fossem
tão sombrias quanto as minhas do meu pai, mas eu não era
um maricas. Poderia ouvir a verdade. — Vá em frente.

O olhar de Marcella ficou distante, então um sorriso


suave curvou seus lábios, um que nunca tinha visto antes em
seu rosto normalmente tão controlado e cauteloso. — Quando
tinha sete anos, tive uma fase em que me convenci de que
havia monstros no meu closet e embaixo da minha cama. Mal
conseguia dormir. Portanto, papai certificava-se de verificar
todos os esconderijos possíveis em meu quarto todas as
noites e, mesmo quando chegava em casa tarde da noite,
após um dia de trabalho difícil, ele ainda se esgueirava em
meu quarto e se certificava de que eu estava segura. Depois
que ele checava o quarto, sabia que os monstros tinham ido
embora e sempre adormecia em minutos. Mas, segundos
antes de adormecer, papai sempre beijava minha testa.
Não conseguia imaginar Luca Vitiello como Marcella o
descreveu, como o pai amoroso e cuidadoso. Ele tinha sido o
monstro que ainda me assombrava aos sete anos de idade.
Quando pensava nele, sempre via o louco empunhando o
machado e a faca que matava pessoas que eram como minha
família. Ele era o homem que tinha sido nosso inimigo antes
mesmo de eu nascer. Esta não era uma nova rixa, mas sim
uma que durava gerações.

Marcella me olhou. — Você não acredita em mim?

— Acredito que é assim que você o vê, mas isso não


muda meus sentimentos em relação a ele. Nada pode apagar
meu ódio, nada jamais o fará.

— Nunca diga nunca.

— Você vai preferir aprender a desprezar o seu velho


antes de eu perdoá-lo, isso é um fato, Branca de Neve.

Eu me encolhi. Esta era a segunda vez que a chamava


por esse nome fora da minha cabeça.

Suas sobrancelhas franziram e ela me olhou como se


estivesse tentando ver dentro do meu cérebro.

— Branca de Neve?

Dei de ombros e rolei de costas, olhando para o teto. Ela


continuou me olhando com expectativa.

— Vamos lá, não se surpreenda. Não acredito que


ninguém nunca te chamou de Branca de Neve antes. Cabelo
preto, pele perolada, lábios vermelhos.
Uma sobrancelha escura se contraiu e percebi que
estava apenas cavando uma cova mais profunda com cada
palavra que saía da minha boca estúpida. O fantasma de um
sorriso passou por seus lábios, e fiz tudo o que pude para
não a puxar para cima de mim e beijá-la.

As mulheres ocupam um determinado lugar em clubes


de motos e não estão em pé de igualdade com os homens.
Elas só deveriam falar quando autorizadas e tivessem que
agradar seu homem. Nunca falei com uma mulher mais do
que um bate papo sem sentido antes e depois do sexo e, se
possível, até evitava isso. A única mulher com quem já tive
uma conversa decente foi minha mãe, mas nos últimos anos,
me fechei até mesmo perto dela.

Não tinha certeza do que Marcella tinha que me fazia


querer falar, ou pelo menos ouvir. Ela era sofisticada e
escolhia as palavras com cuidado. Nunca conversei com uma
mulher que fosse tão educada e inteligente quanto ela. E às
vezes simplesmente gostava de obter uma reação dela. — O
que aconteceu com o seu noivo? Ele te largou por não
transar?

Seus lábios se estreitaram. — Garotas como eu não são


largadas. Eu terminei com ele.
— Arrogante pra caralho. Você acha que é um presente
para os homens que ninguém ousaria chutar sua bunda
empinada?

— Ninguém me chutaria por causa do meu pai, — ela


murmurou.

Eu me animei com o tom amargo em sua voz. — Ele


estava com muito medo do velho, entendi. Mas por que
parece que isso te irrita? Você não gosta das vantagens de ser
temida por causa do seu pai assustador?

— Prefiro ser temida ou respeitada por quem sou.

Suas palavras me surpreenderam, mas não pude conter


um comentário sarcástico. — As pessoas geralmente não
respeitam ou temem alguém por suas extraordinárias
habilidades de compra.

Ela estreitou os olhos. — Há mais em mim do que


apenas compras. Você não me conhece.

— Então me esclareça, Branca de Neve.

— Minha vida não é um conto de fadas, então pare de


me chamar assim.

Meu sorriso se alargou com sua raiva óbvia. — Pena,


tenho certeza que o lobo mau adoraria comê-la.

Um rubor subiu por sua garganta e bochechas, fazendo-


a parecer ainda mais com a princesa de contos de fadas.

— Estudo marketing e estou entre as melhores.

Não conseguia parar de sorrir.


Ela ficou carrancuda. — Suponho que você se veja como
o lobo mau, Mad Dog?

Definitivamente adoraria comê-la.

Ela balançou a cabeça e ficou muito quieta. — Já faz


mais de uma semana. Quando isso vai acabar?

Não perguntei a Earl novamente. Ele estava punindo


Vitiello com silêncio, esperando que o idiota morresse de
preocupação por sua filha. E não me importava de ter mais
alguns dias com Marcella.

Meu sorriso morreu. — Em breve. Quando o seu velho


estiver morto.

Ela fechou os olhos. — O que seria necessário para você


desistir de seu plano?

— Não perca seu tempo procurando uma maneira de me


convencer. Não vou mentir, meus sonhos estão cheios de
imagens do seu corpo nu em cima do meu, mas mesmo isso
não me fará mudar de ideia, então não tente me manipular
com sexo.

— Ninguém disse nada sobre sexo, — ela murmurou.


Então ela a inclinou a cabeça curiosamente. — Então você
prefere que eu não tente seduzi-lo?

— Tenho esperado todas as noites que você finalmente


tente, porra, mas não faça isso por nenhum outro motivo a
não ser porque quer.
— Como se você se importasse do porquê faria um
movimento em você.

Sorri. — Não me importaria, contanto que acabasse


entre suas coxas. Mas quero poupá-la da decepção se você
não conseguir nada com isso, exceto sexo sujo e incrível.

— Se sexo fosse tudo que eu quisesse, poderia ter


dormido com caras mais sexys do que posso contar. Existem
poucos homens que não diriam sim a uma noite comigo.

Sem dúvida...

— Talvez você não tenha escolhido um deles porque


todos esses homens se encolheriam diante de seu pai. Sou o
primeiro cara que não tem medo dele e isso, admita ou não,
te excita.

Ela não negou, apenas olhou para mim de uma forma


que me enviou uma onda de desejo.
Capítulo 11

Sentei-me no parapeito da janela, olhando para fora.


Como sempre, tentei encontrar pontos de referência que me
dessem uma pista de onde estava, mas a floresta ao redor da
sede do clube não dava nenhuma dica. Depois de dez dias
nas mãos dos motoqueiros, estava começando a perder a
esperança de que papai e Matteo me encontrassem. Uma
tábua do assoalho rangeu no corredor, me deixando tensa.
Sempre que Maddox não estava por perto, meu nervosismo
ficava à flor da pele. Por mais insano que fosse, ele me
protegia. Tinha visto os olhares que os outros homens me
deram, famintos e odiosos. Não podia esperar misericórdia
deles e, embora gostasse de dizer que não queria sua
misericórdia, estava apavorado com o que eles poderiam fazer
comigo.

— Oh, Princesa Mimada, onde você está se escondendo?


— Cody chamou com uma voz cantante. Era seu hobby
favorito se esgueirar em frente a porta quando Maddox não
estava e me torturar com comentários sobre como me
estupraria. Ele fez sons altos de fungada. — Posso sentir o
cheiro dessa boceta italiana. Deixe um homem de verdade
preencher esse buraco sujo.

Fiz questão de não fazer barulho. Talvez então ele fosse


embora. Em vez disso, ele sacudiu a maçaneta da porta.
Mesmo sabendo que ele estava tentando me assustar de
propósito, não pude deixar de ficar ansiosa. Apenas uma
porta e o respeito dos motoqueiros por Maddox me
mantinham segura. Ambas não eram coisas nas quais queria
confiar.

Quanto mais demorava meu cativeiro, maiores eram as


chances de Earl White eventualmente perder a paciência e me
machucar para pressionar meu pai. Não queria esperar que
isso acontecesse, mas escapar sem a ajuda de Maddox era
inútil.

Ele deixou claro que não me ajudaria, não importa o que


fizesse, mas, neste ponto, me perguntei se não deveria testar
sua teoria. O ouvi murmurar meu nome em seus sonhos à
noite.

O rugido de um motor virou minha cabeça em direção à


garagem e não pude deixar de sorrir quando vi Maddox em
sua Harley parando em frente à varanda. Ele tirou o capacete
e passou a mão pelo cabelo rebelde. Tinha que admitir que a
visão de Maddox montando sua motocicleta era
estranhamente atraente. Até mesmo sua roupa de motoqueiro
com o colete ficava bem nele. Ele desceu da motocicleta e
olhou para a janela. Nossos olhos se encontraram e meu
estomago se contraiu de uma maneira que não queria
analisar. Afastei-me da janela como se não me importasse
que ele estivesse de volta, mas o alívio avassalador em meu
corpo falava uma linguagem muito diferente.

Estava escuro e o calor de Maddox estava por toda a


parte. Eventualmente rolei. Mal conseguia distinguir sua
silhueta. As cortinas mantinham muito do luar do lado de
fora. Maddox me queria, e mesmo que eu nunca admitisse,
me sentia atraída por ele. Excitada, como ele disse. Podia
seguir meu desejo e esperar que isso me salvasse, ou podia
negar a mim mesma o que queria e confiar que outros me
salvariam. Talvez eu fosse uma princesa mimada, mas não
precisava de um príncipe para me acordar do sono eterno.

A escuridão parecia nos cobrir em um casulo cheio de


possibilidades. Eu estava deitado de costas ao lado de
Marcella. Ela cheirava a problemas e tentação. Ela virou e
seu joelho tocou levemente minha coxa, e o toque pareceu
eletrificar todo o meu corpo. Sua proximidade causava
estragos em mim. Ela estava quente e muito perto.

Estar perto dela todas as noites era uma tortura. Earl


havia mencionado que entraria em contato com Vitiello em
breve para fazer a troca e, em vez de ansiar pela vingança,
meu único pensamento era que perderia Marcella antes
mesmo de tê-la. Eu era um idiota.

— O que você está pensando? — Ela perguntou.

— Que vou me arrepender de ter te convidado para o


meu quarto, — falei.

— Por quê?

Tive a sensação de que ela sabia de seu efeito sobre


mim. Era quase impossível para eu não olhá-la, não fantasiar
sobre ela dia e noite. — Acho que você sabe, — falei
rispidamente.

Ela se moveu, deixando-nos mais perto, mas ainda


assim só o seu joelho me tocava. Queria rolar e puxá-la
contra mim, beijá-la, prová-la, especialmente essa boceta com
a qual estava fantasiando.

— Sei?

Minha paciência acabou. Rolei, deixando nossos rostos


impossivelmente perto. Até mesmo sua respiração era doce
quando ela exalou bruscamente. Não a toquei, embora cada
parte de mim quisesse. — Não consigo parar de pensar na
sua boceta e se ela está pingando, — falei rudemente,
esperando fazer a princesa mimada recuar, mas ela apenas
engoliu em seco.

— Nada te impede de descobrir, — ela sussurrou.

Tinha certeza que tinha ouvido mal. Toquei seu quadril


e depois de brevemente ficar tensa, ela amoleceu sob meu
toque. — O que você está fazendo? Você acha que pode me
seduzir para ajudá-la? Quantas vezes tenho que dizer que
isso não vai funcionar?

— E mesmo se estivesse, não valeria a pena provar o


gostinho da princesa mimada?

Porra. Não pude resistir. Acariciei ao longo de sua coxa,


em seguida, arrastei meus dedos dentro da cueca samba-
canção. O hálito quente de Marcella roçou meus lábios
enquanto ela exalava quando meus dedos deslizaram sob sua
calcinha. Sufoquei um gemido ao sentir sua pele quente e
sedosa. Sua boceta era macia pra caralho. Ela prendeu a
respiração quando escovei meu dedo indicador ao longo de
sua boceta. Meu dedo descobriu a sugestão sutil de umidade
entre os lábios de sua boceta. — Foda-se, — gemi.

Determinado a arrancar mais dela, tracei meu dedo para


cima e para baixo em sua boceta.

Sua respiração ainda era lenta e controlada, mas


acelerou quando comecei a tesourar sua boceta, acariciando-
a entre o meu dedo indicador e o dedo médio e escovando as
juntas dos meus dedos sobre seu clitóris. Ela começou a
ofegar e logo meus dedos estavam escorregadios com sua
excitação. Não pude resistir. Mergulhei um dedo nela e
sufoquei uma maldição. Senti como se tivesse morrido e ido
direto para o céu. Ela era tão apertada que as palavras de
Cody voltaram à minha mente. Talvez ele estivesse certo.
Porra, a toquei vagarosamente, querendo saborear cada
segundo disso. Ela agarrou meus ombros e começou a mover
seus quadris no ritmo dos meus dedos, perseguindo a palma
da minha mão com seu clitóris. Diminuí, e como esperava,
ela se esfregou contra minha mão, enfiando meu dedo nela
uma e outra vez. Meu pau estava pronto para explodir.

— Não pare, — ela sussurrou densamente.

— Porra, você realmente acha que qualquer coisa me


impediria de te dedilhar até que você goze? Eu continuaria
fazendo isso mesmo se meus dedos caíssem.

— Cale a boca, — ela gemeu, então respirou fundo.


Bombeei mais rápido, quase bêbado com seus gemidos e a
sensação de suas paredes apertadas ao redor do meu dedo.
Adicionei um segundo dedo, meu pau se contraindo com sua
exalação afiada. Seus lábios encontraram os meus em um
beijo descoordenado.

E então ela explodiu com um grito, suas paredes se


fechando ao redor dos meus dedos. Seu orgasmo foi como
uma avalanche imparável, seus sucos escorrendo pelos meus
dedos e pulso. — Pingando, — falei asperamente.

Marcella só gemia baixinho enquanto eu continuava


bombeando para dentro e para fora dela lentamente,
prolongando seu orgasmo. Eventualmente parei, mas mantive
meus dedos dentro dela, saboreando o espasmo ocasional
que tomava conta de suas paredes. Puxei meus dedos e os
trouxe aos lábios, lambendo-os para limpar, certificando-me
de que ela pudesse ouvir o que eu fazia.

— Isso é nojento, — ela sussurrou.

— Tenho que discordar. — Sorri enquanto a inalei após


o cheiro do orgasmo. — Ainda não tenho certeza se isso não é
um sonho.

Marcella se virou de costas. — Tenho certeza de que


você gozaria no seu sonho.

Ri, mesmo que meu pau pulsasse com uma necessidade


furiosa. — Isso não vai te render pontos extras.

Ela se inclinou e deu um beijo suave na minha


bochecha. — Durma bem, Maddox. Mal posso esperar para
ouvi-lo murmurar meu nome em seu sono novamente.

Porra.

Claro, sonhei com ela e acordei com tesão. Talvez o


sangue não tenha deixado meu pau a noite toda. Minhas
bolas doíam como uma cadela de qualquer maneira. Depois
de um banho rápido, andei completamente nu no meu
quarto, cansei de brincar de esconde-esconde com Branca de
Neve.
Ela seguiu meus movimentos com uma expressão
indignada, mas seus olhos mantinham o mesmo desejo que
sentia. Logo meu pau ficou duro novamente. O olhar de
Marcella avaliou o piercing de barra na base e o da ponta. O
último na verdade foi o resultado de uma aposta perdida,
mas rapidamente percebi que gostava da sensação do metal
frio e as mulheres também gostavam.

O fascínio de Marcella definitivamente valia a pena.


Acariciei o piercing na base, trazendo sua atenção para lá. —
Este é posicionado de forma a estimular o clitóris, — disse,
minha voz mais áspera do que o normal. — E este aqui, —
continuei, tocando o piercing na ponta. — Estimula o ponto
G.

Marcella não disse nada, mas depois de ontem à noite


ela não podia fingir que não sentia tesão por mim. Eu sabia
que a encontraria molhada novamente se tocasse em sua
boceta.

A noite anterior com Maddox foi uma revelação. Seu


simples toque acendeu meu corpo. Talvez porque estivesse
faminta por toque.
Estava preocupada em sentir arrependimento depois,
mas lamentar algo que você quer fazer novamente parecia
hipócrita. Tentei me consolar com o fato de que estava em
uma situação extraordinária que não podia ser julgada pelas
regras padrão. No entanto, no fundo, me perguntei se essa
era a única razão do meu desejo.

Quando saí do banheiro naquela noite, Maddox estava


estendido na cama, me olhando com um sorriso faminto.

Ele estava apenas de boxer, exibindo seu corpo


musculoso e tatuado. Fingi desinteresse.

— Earl disse que vai falar com o seu velho. Esta pode
ser uma de nossas últimas noites juntos.

Meu coração acelerou. — Mesmo?

— Mal pode esperar para se livrar de mim? — Ele


perguntou.

Surpreendentemente, queria mais tempo com Maddox,


não importa o quão irritante ele pudesse ser. Estar trancada
no quarto com Maddox, longe dos motoqueiros nojentos,
quase me fez esquecer o perigo que corria. Isso parecia uma
versão estranha de um período sabático longe da minha vida
normal.

— Talvez você devesse usar esta noite para me deixar


comer sua boceta antes de voltar para o seu noivo.

— Ex noivo, — falei imediatamente.


Giovanni nunca me lambeu, só me tocou algumas vezes
através da calça jeans (porque estava com medo de me ver
nua no caso de meu pai entrar no quarto), o que não foi uma
experiência que gostei muito. No entanto, considerando que
sua língua parecia como se um peixinho dourado estivesse
lutando para sobreviver na minha boca sempre que nos
beijávamos, não estava muito ansiosa para que ele me
lambesse. Não gozei nas poucas vezes que ele me tocou, o
que foi um golpe para sua confiança, o que ele me culpou por
querer esperar até minha noite de núpcias... pelo menos
inconscientemente. Isso era uma besteira total, é claro.

Maddox estava deitado de costas, sorrindo sujo. —


Poderia te dar um orgasmo muito bom.

Meus lábios se curvaram. — Orgasmo, realmente? Não


perca seu fôlego, não gosto de oral.

— De dar.

— De receber, — respondi, embora realmente não


soubesse.

Nunca tinha feito um boquete em um cara. Giovanni


tinha muito medo de meu pai e não se atreveu a me sujar
assim antes do dia do nosso casamento.

O sorriso de Maddox ficou ainda mais sujo e o calor


tomou conta de mim. Estava um pouco escorregadia entre
minhas pernas só de olhar para ele. — Seu noivo é um
verdadeiro perdedor. Ele não te comeu direito ou você não
estaria falando essa merda. Se você fosse minha garota,
estaria esguichando como uma fonte só de pensar na minha
língua em sua boceta.

Não o corrigi em sua suposição de que Giovanni havia


me comido. Era irrelevante para o que tínhamos. Aproximei-
me da cama, olhando para ele. — Você tem uma boca suja.

Você só se arrepende das coisas que não fez.

— Mas tenho uma língua mágica, — ele rosnou,


sacudindo a língua para que o piercing brilhasse na luz. Não
conseguia parar de me perguntar como seria a sensação de
tê-lo me dando prazer com o piercing. Só de pensar nisso,
minhas coxas cerraram em antecipação. Se esta era
realmente uma de nossas últimas noites, também era minha
última chance de tê-lo do meu lado... e de me divertir um
pouco.

Não tinha certeza de por que fiz isso, mas pisei na cama
e olhei para Maddox.

Ele inclinou a cabeça para trás para que pudesse olhar


por baixo da minha camisa. Não estava usando calcinha. Ele
assobiou entre os dentes. — Porra, Branca de Neve, deixe-me
comer essa boceta real.

Levantei uma sobrancelha. — Só se isso te calar.

Ele sorriu diabolicamente. — Escarranche na minha


cabeça. Vamos. Espalhe essas coxas leitosas para mim.

Dei-lhe o meu olhar mais condescendente e subi na


cama, me elevando sobre ele com meus pés de cada lado de
seus ombros. Sabia que tipo de visão premium estava lhe
dando, e ele gostou. No entanto, não podia negar que também
ficava cada vez mais excitada com a situação, com a boca
suja de Maddox, com o brilho faminto em seus olhos. Duvidei
de mim mesma tantas vezes no passado, mas com Maddox,
seu desejo por mim era flagrantemente claro. Não havia lugar
para dúvidas.

— Ajoelhe-se para que eu possa comê-la.

— Vitiellos não se ajoelham.

Ele agarrou minhas panturrilhas e puxou com tanta


força que perdi o equilíbrio e caí para frente, meus joelhos
afundando no colchão macio ao lado de sua cabeça.

— Eu podia ter esmagado seu rosto com o joelho! —


Assobiei. Maddox era minha única chance de sair desse
inferno. Mesmo se quisesse matá-lo, o que não era totalmente
verdade neste momento, teria que esperar até estar livre.

Maddox agarrou minha bunda e me puxou em direção


ao seu rosto. Seus olhos capturaram os meus e, em seguida,
sua língua deslizou para fora lentamente, um sorriso sujo em
seu rosto. A ponta de sua língua roçou os lábios da minha
boceta, separando-os para acariciar o interior sensível.
Estremeci com a sensação quase opressora,
momentaneamente preocupada de ter gozado com o breve
contato. — Foda-se, — disse ele em um estrondo baixo, seus
lábios vibrando contra a minha carne pulsante. Ele começou
a me lamber com movimentos lentos, o piercing provocando
meu clitóris. Agarrei seu cabelo, puxando sua boca para mais
perto da minha boceta e ele aceitou o convite, mergulhando
sua língua em mim. Girei meus quadris, montando sua boca,
sua língua dentro de mim, seu piercing provocando o que
assumi ser o meu ponto G. O observei enquanto ele levava
seu tempo, às vezes até fechando os olhos como se estivesse
fazendo uma refeição que precisava saborear plenamente. O
piercing brilhava enquanto sua língua sacudia meu clitóris
vagarosamente. Agarrei seu cabelo, puxando quase
violentamente, mas Maddox apenas sorriu e fechou os lábios
em volta do meu clitóris. Meus dentes cravaram em meu
lábio inferior para conter um gemido.

— Você precisa gritar e gemer. Todas as mulheres fazem


isso quando estão no meu quarto. Meus irmãos do clube vão
ficar desconfiados se ficar em silêncio como um rato de igreja.

O encarei.

Maddox pareceu tomar isso como um desafio para


extrair sons dos meus lábios enquanto chupava e lambia,
mordiscava e sacudia. Logo minha respiração saiu em
rajadas agudas e meus quadris balançavam quase
desesperadamente. Até agora estava montando sua boca sem
vergonha. As mãos fortes de Maddox seguraram minha
bunda, massageando e guiando meus movimentos. Ele se
afastou cerca de um centímetro e quase o puxei de volta pelos
cabelos. Tão desesperada por liberação que estava perto de
perder qualquer aparência de controle.

— Goze na minha boca, Branca de Neve, — Maddox


rosnou. Seus olhos azuis ficaram presos nos meus enquanto
seus lábios seguravam meu clitóris mais uma vez. O prazer
irradiava do meu núcleo, por cada centímetro do meu corpo
em ondas incontroláveis. Gozei com tanta força que todos os
músculos pareciam contraídos ao máximo. Engasguei,
minhas mãos voando até os ombros musculosos de Maddox
para me firmar. Fechando meus olhos, sucumbi às sensações
e gritei como se nada existisse ao nosso redor. E me senti tão
bem. Balancei meus quadris para trás e com força, dirigindo
sua língua mais profundamente até que as ondas de prazer
começaram a diminuir. Eventualmente minhas pálpebras se
abriram e olhei para Maddox.

Maddox lambeu minha liberação ansiosamente,


sorrindo, seu rosto brilhando com meus sucos. O observei e
continuei esfregando minha boceta contra seus lábios.
Amando como isso era sujo, quão errado. Isto, Maddox,
poderia ser minha salvação, ou poderia ser a queda em
desgraça que tantos esperavam.

Continuei ajoelhada acima dele, meu peito arfando.

Seus lábios e queixo estavam brilhantes. — Veja, eu


disse que você encheria minha boca de creme.

— Você percebe que isso soa nojento, certo? — Mas, no


fundo, estava perversamente excitada. Maddox era proibido,
rude e ousadamente livre de convenções. Isso era para ser
um meio para um fim, mas não conseguia me sentir culpada
por gostar disso ao mesmo tempo.

Maddox ergueu a cabeça e esticou a língua. Traçando


sua ponta ao longo de minhas dobras, em seguida, chupando
uma delas em sua boca. — Quem não gosta de creme?
Especialmente se tiver um gosto tão bom.

Levantei-me, a camisa caindo nos joelhos mais uma vez,


escondendo minha nudez. Mas minhas pernas estavam
pegajosas e meu núcleo ainda latejava da minha liberação.

Maddox se sentou lentamente. — Você não vai devolver


o favor?

Levantei uma sobrancelha. — Por que não pede a uma


das garotas compartilhadas para fazer isso por você? —
Apesar do tom áspero de minhas palavras, a ideia de que
Maddox poderia transar com outra mulher não caiu bem para
mim. Ele se empurrou numa posição sentada, sua calça
jeans esticada. Lembrando-me dos piercings e de seu corpo
pecaminosamente sexy, me senti compelida a ficar de joelhos
e fazer o que ele pediu, mas meu orgulho me manteve no
lugar. Ele tirou um cigarro do maço e levantou, parecendo
não se importar. Ele deu de ombros e caminhou até a porta.
— Como quiser. Conheço a garota certa para chupar meu
pau.

Uma bola quente de fúria cresceu em meu peito. — Se


você fizer isso... — Fervi, sem saber com o que iria ameaçá-lo.
Não éramos um casal, então não podia terminar com ele. Não
éramos nada, exceto cativa e captor, o que tornava a situação
ainda mais ridícula. Não tinha nada com que pudesse
chantageá-lo.
— Então o que? — Maddox perguntou, virando-se com
um sorriso satisfeito, como se minha reação fizesse parte de
seu plano. Ele me enganou por uma explosão emocional?

Não podia acreditar nele. Balancei a cabeça em


desgosto. — Não me importo. Faça o que for preciso. Pelo que
me importa, pode deixar todas as garotas... — Queria dizer
algo grosseiro para me igualar a ele, mas as palavras ficaram
presas na minha boca. — ...terem o que quiserem com você.
— Terminei sem jeito, e meu rosto esquentou.

O sorriso de Maddox se alargou, tornando-se tão


presunçoso que tive vontade de estrangulá-lo com a corrente
de ouro em seu pescoço. — Terem o que quiserem comigo? —
ele repetiu, cheio de dentes e presunção. — Chupar meu pau
é o que elas fariam. Você não consegue dizer as palavras,
Branca de Neve?

— Ao contrário das mulheres que você escolhe para


fazer sua jogada, tenho algum estilo.

— Oh, você tem estilo e muita arrogância para


combinar. Você não se sente hipócrita falando mal daquelas
garotas quando sua boceta ainda está molhada da minha
língua mágica.

Ele tinha razão, mas não podia admitir. — Elas


escolheram este estilo de vida. Fui sequestrada. Nada é
minha escolha.
— Montar minha boca com sua boceta como a porra de
um cavaleiro de rodeio foi sua escolha, princesa. Seu creme
na minha língua é a prova disso.

Com a mesma frequência com que sua grosseria me


excitava, ela me irritava. — Isso é o que os especialistas
chamam de Síndrome de Estocolmo, — murmurei, odiando
que minhas bochechas esquentassem ainda mais porque me
sentia presa. Mesmo que dissesse a mim mesma que isso era
parte do plano para trazer Maddox para o meu lado, para que
ele me ajudasse a escapar, gostei muito de nossos encontros
físicos para culpar a estratégia. Sentia-me devassa, sexy e
travessa de uma forma que Giovanni nunca havia permitido.
Eu me sentia livre das algemas que pesavam mais do que
imaginava.

— Besteira, Branca de Neve. Não insulte minha


inteligência e definitivamente não sua própria espinha dorsal.
Você nunca deixaria uma síndrome de merda determinar
suas ações. Duvido que alguém ou alguma coisa possa forçá-
la a fazer qualquer coisa que não queira. — Ele fez uma
pausa. — E você me quer. Em sua vida de sociedade
recatada, você nunca teria permissão para transar com
alguém como eu, mas agora teve a chance e a aproveitou
avidamente com suas unhas perfeitamente cuidadas.

Ele estava certo. Eu o queria. Senti-me livre das regras


da Famiglia pela primeira vez. Esta era uma zona sem lei. O
que quer que aconteça enquanto estivesse presa aqui, nunca
seria culpada por isso.
Isso era covardia, não querer arriscar viver a vida que
você deseja.

Seus olhos percorreram meu corpo, fazendo-me sentir


calor novamente. — Você nem precisa dizer. Sei que não quer
nada mais do que ficar ainda mais indecente comigo,
realmente libertar a vampira sexy que esconde atrás desse
rosto de Branca de Neve. — Seu sorriso ficou ainda mais
sujo. — Você não está curiosa?

— Sobre seus genitais? — Disse sarcasticamente.

Maddox riu, uma risada profunda de que comecei a


gostar demais. — Não exatamente as palavras que escolheria,
mas sim.

— Não, obrigada. A curiosidade matou o gato.

Seu sorriso se alargou. Deus, um sorriso nunca me fez


sentir como se minhas entranhas estivessem pegando fogo.

Ele enfiou a mão em sua boxer e liberou seu pau. Não


conseguia desviar o olhar, embora quisesse fazer isso. Mas o
piercing em sua ponta capturou minha atenção e não a
deixou ir. Ele passou o polegar sobre o pedaço de metal
brilhante repetidamente enquanto esfregava a ponta.

Aproximei-me. — Você realmente vai fazer isso na minha


frente. Você não tem vergonha?

— Não tenho vergonha nenhuma, Branca de Neve. Mas


se você está tão preocupada com a minha dignidade, dê-me
uma mão.
Balancei a cabeça. — Você é impossível, rude e
absolutamente sem vergonha.

— Culpado da acusação. Mas você é uma covarde, uma


hipócrita e uma mentirosa.

Estreitei meus olhos. — Não sou. — Mas eu era. Maddox


segurou meu pescoço e me puxou até que tive que me apoiar
com um joelho no colchão.

— Você é, — ele murmurou antes de me beijar. Ele


continuou se esfregando e quando finalmente me livrei de seu
beijo, meu olhar disparou para baixo vendo sua mão
trabalhar em seu pau.

Minha boca salivou vendo seu abdômen flexionar a cada


movimento. — Covarde.

— Cale-se. Você não pode me provocar para te tocar. Se


eu te tocar, farei porque quero.

— Claro, — ele disse. O tom sarcástico em sua voz mal


foi registrado porque simplesmente não conseguia prestar
atenção em nada além do movimento rítmico de sua mão
para cima e para baixo. Uma gota de líquido leitoso se
acumulou em sua ponta.

— Você é impossível, — fervi, beijei-o com raiva e


finalmente peguei seu pau. Meus dedos se fecharam em torno
de seu pau duro, mas suave.

Ele soltou um suspiro antes de dizer: — Finalmente


corajosa.
O silenciei com outro beijo e comecei a mover minha
mão para cima e para baixo, efetivamente afastando sua mão.
Meu polegar explorou o piercing em sua ponta, emocionada
com a ingestão aguda de ar seguida por um gemido baixo.
Arrastei meus dedos mais para baixo, para o outro piercing
na base, como uma decoração para suas bolas, e novamente
fui recompensada por um assobio de Maddox.

— Fique nua, — ele rosnou.

Minhas sobrancelhas franziram. Ainda não tinha


decidido se queria ir até o fim com Maddox. Nos últimos
trinta minutos, a balança definitivamente tinha tombado a
favor de Maddox. Simplesmente não conseguia parar de me
perguntar se o sexo seria uma revelação como o oral foi. Por
que deveria esperar por outro Homem Feito, um futuro
marido, que transou com inúmeras garotas antes de nossa
noite de núpcias? Por que não podia me divertir um pouco?

E mais do que isso, uma vozinha, que eu costumava


chamar de instinto, me disse que Maddox era o cara com
quem deveria perder minha virgindade.

Maddox riu como se pudesse ler pelo menos parte dos


meus pensamentos. — Quero gozar em todo o seu corpo
perfeito.

— Não tenho certeza se quero pegar alguma doença


sexual que você tenha.

— Se eu tivesse alguma doença, você a teria contraído


pela boceta quando te comi.
Ele tinha razão e odiava me sentir estúpida.

— Mas não se preocupe, costumo usar camisinha e se


esqueço, faço o exame. Estou limpo.

Parei de esfregá-lo e puxei minha camisa pela cabeça. O


olhar de Maddox acariciou minhas curvas. Meus mamilos
endureceram, embora não estivesse frio no quarto. Comecei a
esfregá-lo novamente. Maddox alcançou meu seio,
capturando um mamilo duro entre seus dedos e girando-o
entre eles. Sua outra mão acariciou minha bunda antes de
serpentear entre minhas pernas por trás. Seu polegar me
separou, roçando meu clitóris, que já latejava de ansiedade
novamente. Um toque seu e estava iluminada de desejo,
pronta para me soltar.

— Achei que era a sua vez, — disse em voz baixa


enquanto seu polegar me estimulava novamente. Tinha que
admitir, acariciar Maddox ao mesmo tempo era muito
excitante, me levando em direção à borda muito mais rápido
do que o esperado.

— Vê-la ficar molhada vai me fazer gozar muito mais


forte, Branca de Neve. — Pela primeira vez, não fiz um
comentário inteligente. Estava muito perdida nas sensações,
no calor que irradiava da pele de Maddox, na dureza
surpreendente de seu pênis e na necessidade pulsante entre
minhas pernas. Logo meus quadris começaram a se mover,
perseguindo o polegar de Maddox.

Quando meu segundo orgasmo tomou conta de mim, ele


também gozou por todo seu abdômen. Depois de um suspiro
profundo, ele agarrou meu pescoço e me puxou para um
beijo. — Realmente vou odiar deixa-la ir.
Capítulo 12

Algo estava diferente hoje. Os motoqueiros que


chegaram depois que Maddox e Gray saíram em uma corrida
pareciam agitados enquanto zumbiam ao redor da
varanda. Quando Earl White olhou pela janela, capturando
meu olhar com um brilho de superioridade em seus olhos,
meu estômago revirou. Duvidava que seria solta hoje. Ele
tinha mais reservado para mim.

Earl acenou com a cabeça para Cody, que sorriu.

Meus olhos dispararam para a porta trancada. Alguns


momentos depois, ouvi passos trovejando. Pulei do peitoril da
janela e corri para o banheiro quando a fechadura fez
barulho. — Você não pode fugir para lugar nenhum, boceta.

Cody me agarrou pelos cabelos e me puxou para


trás. Gritei com a dor aguda que atravessou meu
crânio. Agarrei seus pulsos, cravando minhas unhas, mas ele
continuou me arrastando para fora da sala e escada
abaixo. Meus joelhos bateram contra vários degraus, me
fazendo gritar de dor novamente.

Ele não parou até chegarmos à área comum no andar de


baixo. Meu estômago já enjoado, revirou quando o fedor de
álcool derramado e fumaça velha encheu meu nariz. O que
estava acontecendo? Eles me trocariam pelo meu pai? A
atmosfera estava tensa demais para isso.

— Porra, a puta estúpida me arranhou. — Cody me


empurrou para longe dele. Caí de joelhos diante de Earl,
ofegando com a pontada aguda, mas rapidamente me
levantei. Nunca me ajoelharia diante de alguém como ele.

Ele zombou. — Ainda muito orgulhosa para se curvar


aos superiores? — Ele balançou sua cabeça. — Assim como o
seu velho.

— Um dia meu pai fará você se arrepender do dia em


que nasceu, — disse, levantando meu queixo. Um sentimento
de total impotência passou por mim, mas não o deixei
assumir o controle.

Earl sorriu de uma forma que congelou meu sangue. —


Estive tão perto de permitir que seu velho se trocasse por
você, mas algo na voz dele não continha a submissão
necessária que eu esperava em uma situação como esta,
sabe?

Engoli em seco, não gostando da maneira como os


motoqueiros olhavam para mim. Não podia culpar papai. Não
estava em seu sangue ser submisso. Mesmo se tentasse
parecer assim, nunca seria convincente.

— Hoje, vou fazê-lo se arrepender do dia em que


contrariou o Tartarus e mostrar-lhe seu novo lugar.

Ele acenou para Cody, que agarrou meu pescoço e me


pressionou contra o balcão do bar. Uma dor aguda percorreu
meus quadris com o impacto. Ele empurrou minha cabeça
para baixo pressionando minha bochecha direita contra a
superfície de madeira pegajosa. O fedor da bebida barata era
quase insuportável. Earl se aproximou, segurando uma longa
faca. Tentei recuar, mas Cody me segurou com força, seu
corpo pressionado contra o meu da maneira mais vil. A
lâmina brilhou à luz das lâmpadas sobre o bar. O pânico
percorreu meu corpo como veneno.

Earl ergueu a faca com um sorriso malicioso,


observando minha reação. Gostaria de conseguir parecer
corajosa e indiferente, mas estava com muito medo do que ele
poderia fazer. — Você é bonita pra caralho, puta. Esse rosto
perfeito me deixa com raiva toda vez que o vejo.

O medo me sufocou quando ele se aproximou ainda


mais, segurando a ponta afiada da faca bem diante do meu
olho esquerdo.

— Eu me pergunto o que você faria sem esses olhos


letais. — Ele sorriu de uma forma de gelar os ossos,
revelando um dente de ouro.
— Não, — consegui dizer. Queria soar feroz e
ameaçadora, mas parecia apavorada e quase implorando,
mas não pude evitar. E se ele me cegasse? Ainda havia tanto
que queria ver, tantas coisas que não tinha apreciado o
suficiente porque achei que teria tempo de vê-las. Meu
coração batia furiosamente, o sangue bombeando em minhas
veias como uma avalanche.

— Sinto muito, docinho, mas preciso de um presentinho


para o seu velho. Ele precisa saber que não estamos
brincando. Nós o destruiremos.

Ele aproximou a faca ainda mais. Onde estava


Maddox? Deus onde ele estava?

Quando a lâmina me cortou, um grito agudo rasgou da


parte mais profunda do meu corpo até que tudo caiu na
escuridão.

No momento em que entrei no clube, sabia que algo


estava errado. Ruby, a garota favorita de Earl e estúpida o
suficiente para achar que ele a faria sua old lady, tinha um
sorriso malicioso de satisfação no rosto enquanto Earl
limpava o sangue de sua faca. Sangue também cobria o
bar. Meu coração disparou. — O que aconteceu aqui? —
Perguntei, tentando esconder minha preocupação.

Earl embainhou a faca com calma, parecendo entediado


pra caralho. — Ensinei uma lição à princesa Vitiello e ao pai
dela também.

Porra. Earl deve ter usado sua chave reserva para entrar
no meu quarto. Passei por um Cody sorridente e corri escada
acima, meu coração batendo forte. O que diabos ele
fez? Achei que Vitiello estava pronto para a
troca? Destranquei a porta e invadi o quarto. Respingos de
sangue cobriam o chão, levando ao pequeno banheiro. O
sangue nunca me incomodou. Depois da carnificina que
Vitiello causou diante dos meus olhos quando menino, estava
muito endurecido para ser incomodado por isso. E, no
entanto, a visão desses poucos respingos de sangue fez meu
coração disparar.

Eu os segui até o banheiro, em seguida, parei


cambaleando na porta.

Marcella estava empoleirada na beira do vaso sanitário,


o rosto pálido, os ombros e a regata cobertos de sangue. Ela
pressionava uma toalha no lado esquerdo do rosto. — O que
aconteceu? — Perguntei, temendo o pior. Earl era como um
pai para mim, mas eu sabia do que ele era capaz. Com o
passar dos anos, sua obsessão por vingança havia
aumentado rapidamente, ainda mais do que a minha.

Ela abaixou a toalha que sua mão trêmula segurava na


lateral de sua cabeça. Vendo seus olhos azuis intactos, o
alívio tomou conta de mim, mas então registrei sua orelha,
que estava sangrando muito. Levei um momento para ver que
Earl havia cortado o lóbulo da sua orelha esquerda.

Minha visão ficou vermelha e me virei e desci as escadas


barulhentas. Mal conseguia respirar de fúria. Meus ouvidos
zumbiam, minha têmpora latejava. Invadi a área
comum. Earl e Cody estavam sentados nas banquetas do bar
e bebiam uísque como se para comemorar o sucesso.

Corri em direção a Earl e agarrei seu colete, puxando-o


para fora do banquinho. — Nós concordamos em não torturá-
la! Você jurou. — Nunca falei com meu tio assim,
especialmente na frente de outras pessoas.

Os olhos de Earl se estreitaram e ele agarrou meu pulso


com força esmagadora, tentando destravar meus dedos, mas
não o soltei. Ele tinha envelhecido, mas não era menos
cruel. — O que foi que você fez? — Fervi. Pela primeira vez na
minha vida, queria matá-lo.

— Não se esqueça de quem está puxando as cordas do


clube, Maddox, — ele murmurou, sua expressão cheia de
advertência. — E não se esqueça de quem o acolheu quando
o velho da putinha matou seu pai.

Cody havia se levantado de sua banqueta e estava


pronto para interferir. Ele estava de olho na posição de
segundo no comando por anos, sempre dizendo que eu era
muito jovem para o cargo. Matar-me faria seu dia.
Abri meus dedos, respirei fundo e dei um passo para
trás. — Você não deveria ter feito isso. Você foi longe
demais. Nunca concordei com essa merda. Quero torturar e
matar Luca Vitiello, não Marcella.

Earl inclinou a cabeça, se aproximando e me olhando


com um sorriso desafiador. — Ela está te
influenciando? Onde está sua lealdade?

— Com o clube, — disse.

Os lábios de Earl se apertaram. No passado, sempre


estive com ele, mas depois do que fez hoje, não o seguiria
cegamente nunca mais. — Eu sou o clube, não se esqueça
disso, Maddox. Se você quer vingança, é melhor parar de ir
para a cama com a prole de Vitiello. Ela está te fazendo
perder o foco. Talvez não tenha sido sensato da minha parte
permitir que a levasse para o seu quarto. Talvez todos nós
devêssemos compartilhá-la.

O rosto de Cody se iluminou como a porra de uma


árvore de Natal. Cortaria seu pau antes de deixá-lo chegar
perto de Marcella.

— Não estou perdendo o foco, — falei em uma voz muito


mais calma. — Mas provocar Vitiello assim pode levar a ações
precipitadas da parte dele. Você sabe do que ele é capaz.

Earl sorriu severamente. — Desta vez, estamos no


controle. Ele não vai nos pegar de surpresa como da última
vez. Com sua filha em nossas mãos, ele pensará duas vezes
antes de agir.
Até este momento, teria concordado com a avaliação de
meu tio. Luca não arriscaria o bem-estar de Marcella, mas
agora que meu tio começou a torturá-la... meu sangue ferveu,
meu peito apertou. Earl não tirou os olhos de mim. — Com
suas ações, você forçou a mão de Vitiello. Ele não vai esperar
que corte mais pedaços da filha dele, tio. Achei que ele estava
pronto para se trocar.

— Ele não vai nos encontrar. Estamos bem


escondidos. E se atacar outro de nossos irmãos, lhe
enviaremos outro pedaço dela até que ele perceba qual é o
seu lugar. — Ele subiu de volta na banqueta do bar e
esvaziou seu bourbon. — Ele queria fazer a troca, mas não
gostei do tom dele quando conversamos. Ele ainda acha que é
melhor do que nós. Até que descubra seu lugar, sua filha fica
conosco.

Eu secretamente desejava mais tempo com Marcella,


mas não assim.

— Quanto mais tempo levar, maior o risco para todos


nós, — disse, lutando para manter minha voz sob controle.

— Estou no controle, — disse Earl, sua voz


misturada com rancor.

Dei um aceno conciso, fervendo. Cody me lançou um


olhar superior que me deu vontade de esmagar o rosto dele
contra a parede. Eu podia imaginar como ele se divertiu ao
ver Marcella sendo torturada. Só de pensar nisso, tive
vontade de enfiar uma bala na cabeça dele e na de Earl
também. Porra.
Voltei para o meu quarto, minha mente cambaleando
em busca de uma solução para a situação em que estava.
Marcella não estava mais segura neste lugar. Agora que meu
tio começou a torturá-la, não pararia. Ele gostava disso,
muito. Porra. Eu também queria sangue, mas não o de
Marcella. Queria o fim brutal de seu pai, não dela. Encontrei
Marcella ainda no banheiro. Ela não tinha se movido do lugar
no assento do vaso sanitário e estava observando o sangue
pingar de sua orelha, gota após gota, caindo aos pés
descalços. Agora, a maior parte do esmalte de suas unhas
havia descascado, mas o que restava tinha a mesma cor de
seu sangue.

Ela me ignorou e olhou para seus pés. Então,


lentamente, levantou a cabeça, mas ainda não estava
olhando para mim. Encarei seu perfil, tentando organizar
minhas emoções turbulentas.

Mesmo com uma camiseta esfarrapada e ensanguentada


e minha velha cueca samba-canção, Branca de Neve parecia
mais majestosa do que qualquer rainha em um trono de ouro
e diamantes poderia. Ela carregava sua coroa invisível com
orgulho descarado. Porra, esta mulher nasceu para ser uma
rainha e possuía esse título.

Ajoelhei-me ao seu lado, mas ela não olhou na minha


direção. Em vez disso, continuou olhando para frente, seus
olhos distantes.

— Branca de Neve, — murmurei. Ela não reagiu. —


Marcella.
Seus olhos se arrastaram até os meus, tão frios e
impenetráveis quanto gelo. Ela não podia esconder os
vestígios de suas lágrimas. — Deixe-me dar uma olhada em
sua orelha, — disse com uma voz acenando.

— O que sobrou dela, você quer dizer? — Ela disse


roucamente, seus olhos cheios de ódio e acusação, mas além
dessas emoções óbvias, emoções que ela queria que eu visse,
detectei sua dor e medo, e essas emoções me cortaram
profundamente. Talvez devesse ter previsto. Desde o primeiro
momento em que a vi, ela não saiu da minha mente. O que
era luxúria no início se transformou em algo mais. Eu
gostava de conversar com ela, provocá-la. Porra, até gostava
de vê-la dormir. O que quer que eu sentia, e ainda não estava
pronto ou disposto a analisar minhas emoções, estava em
desacordo com meu puro ódio por seu pai.

— Eu não sabia. Não teria permitido que isso


acontecesse. Não faz parte do plano.

Seus lábios se contraíram em um sorriso tenso. — E


qual é o plano?

— Você deve ser trocada por seu pai, como te disse. Era
para acontecer esta semana.

— Mas qual é o plano agora?

Não tinha certeza se lhe dizer melhoraria as coisas, mas


sabia que Marcella era muito inteligente para não perceber o
que estava acontecendo. — Earl quer punir seu pai por meio
de seu sofrimento.
Ela assentiu como se tudo fizesse sentido. Sacudiu a
cabeça novamente, seus ombros enrijecendo. Me movi,
tentando dar uma olhada em seu rosto. Podia ver a luta em
cada centímetro perfeito, mas finalmente as lágrimas
caíram. Contidas no início, mas depois suas paredes
desabaram.

— Branca de Neve, me desculpe, porra, sinto muito, —


murmurei, tocando sua bochecha.

Seus olhos brilharam. — Isto não é um conto de


fadas. E é sua culpa que isso esteja acontecendo.

Ela estava certa. Era irrelevante que Earl ainda seguisse


o plano, mesmo sem minha ajuda.

— Deixe-me tratar do seu ferimento, — disse.

Ela me olhou feio. — É sua culpa. Vá embora.

Mas não saí, não com ela chorando abertamente na


minha frente, vulnerável como nunca tinha visto um Vitiello
antes. Peguei bandagens e desinfetante antes de começar a
limpar seu ferimento. O corte estava razoavelmente limpo e
tinha certeza de que os cirurgiões plásticos poderiam
substituir o lóbulo da sua orelha, mas esse não era o
ponto. Marcella ficou quieta enquanto eu cuidava dela e
desejei que dissesse algo, mesmo que fossem palavras de
rancor. Qualquer coisa era melhor do que essa versão triste e
tranquila dela.

— Feito, — disse.
Finalmente, seu olhar voltou para mim. O sorriso que
ela me deu foi amargo. — Isso era o que você queria,
hein? Trazer um Vitiello às lágrimas.

— O Vitiello errado. Mesmo que nunca tenha visto uma


mulher chorando mais bonita que você, nunca quis suas
malditas lágrimas.

Por alguma razão, isso causou uma nova onda de


lágrimas, o que só pareceu deixá-la mais furiosa. Deslizei
meus braços sob os joelhos e costas de Marcella e a levantei
em meus braços. Ela não resistiu, em vez disso, cedeu contra
mim. O que isso fez comigo me pegou de surpresa. Senti uma
onda de proteção e afeto que quase me derrubou.

A coloquei na cama e acariciei suas costas. Certo de que


ela não me queria perto, dei um passo para trás, desejando
caminhar pela floresta para limpar minha cabeça e planejar
algo.

Seu braço disparou, agarrando minha mão. — Não,


fique comigo.

— Marcella, você está...

— Fique.

Me deitei atrás dela e passei meus braços a sua


volta. Nunca a abracei assim, simplesmente para mostrar
carinho e consolar. Não me lembrava da última vez que
abracei alguém.
— Isso só vai piorar, — ela sussurrou. — Seu tio quer
quebrar meu pai, mas meu pai não pode ser quebrado, então
ele vai me quebrar.

Sabia que ela estava certa. Talvez devesse ter previsto,


mas estava muito desesperado por vingança. — Vou te
proteger, — prometi. Esta promessa seria minha ruína, podia
sentir isso no fundo dos meus ossos. No entanto, não tinha
intenção de voltar atrás.

Quando saí do meu quarto com uma Marcella


adormecida, uma hora depois, minha mente ainda estava
girando. Não tinha certeza de como convencer Earl a
prosseguir com a troca, especialmente depois de nossa
discussão. Ele provavelmente ainda estava chateado
comigo. A área comum estava cheia de caras. A notícia sobre
minha reação à tortura de Marcella deve ter se espalhado, a
julgar pelos olhares curiosos e às vezes questionadores que
recebi. Apenas balancei a cabeça para eles e saí, sem vontade
de me justificar.

Estava andando pela floresta quando avistei Gray. Ele


estava curvado em uma árvore caída, fumando, o cabelo
caindo no rosto. Como eu, ele estava no clube desde os
quinze anos, embora os prospectos geralmente precisassem
ter pelo menos dezoito anos.
— Ei, por que você está se escondendo aqui? —
Perguntei quando me aproximei dele e sentei ao seu
lado. Parecendo surpreso, ele me ofereceu um cigarro, que
aceitei.

Ele não disse nada, apenas estreitou os olhos para a


ponta brilhante. Traguei profundamente, mas notei um pouco
de sangue de Marcella em meus dedos. Uma nova onda de
raiva misturada com aflição pela situação desesperadora
desabou sobre mim. Isso era uma bagunça maldita.

— Ouvi sobre o que aconteceu com a garota, — Gray


disse finalmente. Sua expressão deixou claro que ele se
sentia mal do estômago por isso.

— Foi um erro, — eu disse.

Surpresa cruzou seu rosto. Raramente criticava as


decisões de Earl.

— Achei que você queria o sequestro.

— Não no início, mas depois percebi que era a maneira


perfeita de colocar as mãos em Vitiello.

— E agora você não acha?

— Ainda acho que devemos deixá-lo ser trocado por


Marcella. Mas Earl quer que Vitiello rasteje e implore, e
mesmo assim, provavelmente não ficará satisfeito.

— O cara vai enlouquecer quando vir o lóbulo da orelha


de sua filha, — murmurou Gray. — Earl mandou que
enviasse para ele.
Balancei minha cabeça. — Porra. Isso é uma bagunça.

— Como está a garota? Ela está no seu quarto?

— Sim, ela está dormindo agora. Claro, ela está


assustada. Quem não ficaria depois do que aconteceu?

Gray suspirou. — Espero que isso acabe logo.

— O sequestro?

— O sequestro, a vingança. Toda a minha vida, só ouvi


Earl e você falarem sobre vingança contra Vitiello. Só quero
seguir em frente e realmente nos concentrarmos em tornar o
Tatarus mais forte.

Uma vida sem vingança como foco parecia


impossível. Tornou-se uma parte integrante do clube. A
vingança era a razão pela qual a autoridade de Earl nunca foi
questionada. Brigas dentro do clube simplesmente não eram
uma opção durante a guerra com a Famiglia. Talvez fosse por
isso que Earl de repente não queria acabar com Vitiello.

— Talvez você possa falar com Earl, perguntar-lhe


quando a troca vai acontecer e convencê-lo a se apressar.

Gray me lançou um olhar como se eu tivesse criado uma


segunda cabeça. — Você sabe que papai não me escuta. Ele
acha que sou incapaz. Você é o filho favorito dele.

— Não sou filho dele, — falei com firmeza, me


surpreendendo. No passado, muitas vezes me pegava
desejando que Earl fosse meu pai, mas esse desejo havia
desaparecido completamente depois de hoje.
— Alguém tem que falar com ele e fazê-lo ver a razão. O
clube precisa seguir em frente como você disse. E isso só
pode acontecer quando finalmente matarmos Vitiello.

— Às vezes acho que matar Vitiello será apenas mais um


passo da guerra. Depois disso, sua família buscará vingança,
e então buscaremos vingança contra eles novamente, e assim
por diante.

No fundo, sabia que Gray provavelmente estava certo,


mas não me importava com o que acontecesse depois, só
queria me livrar de Luca. Mas primeiro me certificaria de que
Marcella estivesse segura. O que quer que viesse depois era
irrelevante.
Capítulo 13

Acordei com uma forte pulsação em meu ouvido


esquerdo. Sentando-me, estremeci quando toquei minha
orelha enfaixada, lembrando-me dos eventos de
ontem. Desmaiei rapidamente depois que eles cortaram
minha orelha e não senti muita dor, nem vi
meu lóbulo cortado. Só acordei quando Gray
desajeitadamente me carregou escada acima e para o
quarto. Me arrastei até o banheiro onde Maddox finalmente
me encontrou.

— Há analgésicos na mesa de cabeceira, — disse


Maddox. Minha cabeça girou para onde ele estava sentado no
parapeito da janela, apenas de jeans. Uma onda de alívio com
sua presença seguida de raiva percorreu meu corpo. Isso era
culpa dele, e mesmo sua expressão preocupada não o tornava
menos culpado.

Seu colete estava ao lado dele. Nunca estava longe


dele. O colete, seu clube, significava o mundo para ele.
— Você tem todo o direito de me olhar assim. Eu
também me odiaria se fosse você.

Não o odiava, infelizmente. Estava furiosa, mas ainda


não o odiava. Empurrei-me para fora da cama, oscilando
brevemente. Maddox cruzou o quarto em um flash, agarrando
minha cintura.

Depois de um momento, o afastei. Precisava de um


banho, me limpar do sangue seco em meu cabelo e pescoço e
me sentir mais como eu novamente. Maddox não me parou
enquanto cambaleei em direção ao banheiro. Encolhida sob a
água corrente, o desespero me oprimiu. Estava com medo do
que mais Earl havia planejado para mim. Estava com medo
por papai, por minha família. Estava até com medo por
Maddox, o que nem fazia sentido. Precisava sair daqui.

Quando saí do chuveiro, uma regata e uma boxer limpas


esperavam por mim na tampa do vaso sanitário. Me vesti,
depois escovei meu cabelo sem pressa, tentando me acalmar
e descobrir o que fazer, mas não importa quantas vezes
procurasse uma saída, Maddox surgia. Ele era o único que
poderia me salvar, todos nós, até ele mesmo, agora.

Depois de secar o cabelo com a toalha, voltei para o


quarto. Maddox parecia como se também estivesse
torturando seu cérebro por uma solução. Ele precisava ver
que isso estava indo na direção errada, que estava em suas
mãos nos guiar para fora da zona de perigo. Ele encontrou
meu olhar e toquei minha orelha, imaginando o que ele via
agora.
— Você ainda é linda pra caralho. Ao te conhecer, as
pessoas provavelmente pedirão aos cirurgiões plásticos para
cortar os lóbulos das orelhas porque você iniciou uma
tendência.

Soltei uma risada rouca. — Você não conhece as


pessoas com quem tenho que lidar. Eles vão se divertir muito
me vendo assim.

— Você não me ouviu? Você ainda é linda pra caralho.

— Até Earl cortar mais pedaços meus.

Era um medo que não tinha permitido mais espaço em


meu cérebro, mas ficou escondido nos recantos a noite toda,
enchendo minha noite de imagens horríveis.

Os olhos de Maddox brilharam de fúria. — Ele não


vai. Isso vai acabar logo. Eu jurei te proteger.

Aproximei-me dele e olhei para cima em seu rosto


sério. — Como isso vai acabar, se não for mal? Como você me
protegerá? Você não viu seu tio quando ele me cortou. Ele
fará de novo, não importa o que meu pai ou você faça. Os
irmãos do seu clube ficaram parados e assistiram. Eles
também seguirão seu tio neste caminho.

Ele agarrou meus ombros, parecendo dividido, com


raiva e desesperado ao mesmo tempo. — Este clube é a
minha vida, Marcella. Eu sangro por ele. Sei o que quer que
eu faça, mas não posso trair o clube, nem por você nem por
ninguém. E não vou poupar seu pai também. Ele vai morrer,
mas você estará segura.
— Você me perderá, e então meu irmão ou tio ou outra
pessoa te matará para vingar meu pai. É isso que você quer?

Eu podia ver uma coisa que ele queria mais do que


tudo, mesmo que não admitisse.

— Os últimos dias foram mais do que eu esperava com a


princesa mimada de Nova York. — Ele era bom em fugir da
verdade amarga.

— E isso é o suficiente? — Perguntei suavemente.

Ele rosnou e me puxou contra seu corpo, seus lábios


colidindo com os meus. Parte de mim queria empurrá-lo para
longe, mas a outra queria isso, ele. Por muitas razões
confusas.

Passei meus dedos por seu cabelo, puxando com força,


querendo que doesse. Ele rosnou em minha boca, mas
apenas me beijou com mais força, suas mãos percorrendo
minhas costas.

Seu piercing provocou minha língua, enviando picos de


prazer por cada centímetro do meu corpo. Beijar nunca foi
assim, como se relâmpagos ziguezagueassem pelo meu
corpo. O mundo ao nosso redor e tudo o que acontecia
desapareceram.

Ele puxou para baixo a regata e lambeu meu mamilo,


certificando-se de sacudir seu piercing contra ele algumas
vezes. Então o chupou profundamente em sua boca, sugando
com mais força do que esperava. Meu núcleo se contraiu. Me
inclinei para trás, observando seus lábios em volta da minha
carne sensível. Sua mão deslizou pela minha barriga, as
pontas dos dedos provocando minha pele. Já estava ficando
molhada e desesperada para sentir seu toque entre minhas
pernas. Este era o nosso momento, e minha última chance.
Nós tropeçamos para trás contra a porta.

Ele me espalmou através da boxer, deslizando seu dedo


médio entre meus lábios inferiores sobre o tecido fino. A
fricção adicional do material encharcado contra minha carne
sensível me fez ofegar. Ele me esfregou lentamente,
estragando completamente minha calcinha, mas não me
importei. Ele se ajoelhou. — Esta será a única vez que me
ajoelharei diante de um Vitiello, — ele rosnou, mas só pude
me concentrar em seus lábios que estavam muito perto da
minha calcinha. Ele enganchou a mão sob meu joelho e
empurrou minha perna para cima. Minha bunda bateu
contra a porta, fazendo a madeira velha ranger. Maddox
deslizou minha calcinha para o lado. — Pingando, — ele
murmurou. Então enterrou o rosto na minha boceta. Seu
piercing provocou meu clitóris sem piedade.

— Mad, — alguém chamou. Não reconheci a voz em


meu cérebro nebuloso de luxúria. Bateram contra a porta,
quase me causando um ataque cardíaco, mas Maddox não
me soltou. Seu rosto ficou entre minhas pernas.

— Foda-se, estou comendo minha boceta, — Maddox


gritou antes de chupar ruidosamente os lábios da minha
boceta.
Queria empurrá-lo para longe, mas ele jogou seu
piercing sobre o meu clitóris antes de chupá-lo em sua boca e
eu explodir. Meus dedos puxaram seu cabelo enquanto
pressionava contra ele, cavalgando seu rosto
desesperadamente. Era quase como uma experiência fora do
corpo, como se pudesse deixar todo o peso do passado e o
medo do futuro para trás.

Sabia que quem havia chamado o nome de Maddox


ainda estava lá, mas não me importava mais. Ele não viveria
para contar a história de qualquer maneira. Assim que minha
família me salvasse, todos morreriam e levariam tudo o que
ouviram ou viram para a sepultura com eles. Só podia
esperar que Maddox visse a razão antes de ter que
compartilhar esse destino.

Maddox se endireitou, e o olhar que ele me deu quase


parecia um adeus. — É muito cedo para um adeus, —
sussurrei.

— Não, — ele murmurou. Eu entendi. Ele não queria


pensar ou falar sobre isso agora.

Ele pressionou contra mim, sua expressão se


transformando em um sorriso brincalhão. — É verdade que
vocês, garotas italianas, têm que permanecer virgens até sua
noite de núpcias, Branca de Neve? Ou você deu ao seu noivo
um presente antecipado?

Sorri, combinando com sua leveza forçada. — Você terá


que descobrir por si mesmo, Maddox. Mas uma palavra de
advertência, meu pai vai matá-lo por isso.
— Eu acho que a morte valerá a pena.

Ele se firmou contra mim. Deus, nunca estive tão


molhada. Um olhar de Maddox me despertou mais do que
horas de beijos com Giovanni.

— Não serei gentil, Branca de Neve. Última chance de


me dizer o que eu quero saber.

Não precisava de gentileza agora. Precisava dele,


disso. Mordi seu lábio com força em resposta. Ele rosnou,
seus olhos se tornando ferozes. Ele empurrou minha boxer
para baixo e me levantou do chão fazendo minhas pernas se
enrolarem em torno dele. Então, com um impulso feroz, ele
empurrou para dentro de mim, ou tanto quanto meu corpo
permitia. Exalei, minhas unhas tirando sangue de suas
costas.

Maddox exalou, sua testa pressionada contra a minha,


seu peito arfando, os lábios entreabertos enquanto respirava
com dificuldade. — Porra, Branca de Neve. Seu velho
definitivamente vai me matar por isso.

— Cale a boca, Maddox. — Um deles morreria, mas não


queria pensar nisso agora. Em breve, a realidade sangrenta
nos alcançaria.

Ele se calou. Os músculos da parte interna das minhas


coxas tremiam enquanto me acostumava com a sensação dele
dentro de mim. Meu corpo caiu sobre ele, permitindo que
mais e mais de seu comprimento deslizasse para dentro de
mim. Prendi a respiração quando minha pélvis se acomodou
contra a dele e ele estava completamente dentro de mim. Seu
piercing pressionou contra meu clitóris como ele prometeu,
mas meu desconforto não me permitiu sentir meu ponto G.

— Por que seu noivo idiota não tirou sua virgindade?

Cravei minhas unhas ainda mais fundo em seus


ombros, mas ele nem mesmo recuou. — Porque tinha muito
medo do meu pai.

— Vale a pena morrer por você. Ele é um idiota se não


percebeu. — Maddox encontrou meu olhar, seus olhos azuis
cheios de desafio e fome sombria. — Não tenho medo do seu
velho. Quando o encontrar, vou dizer a ele que te comi.

— Não, você não vai, — rosnei, mas tive que admitir que
me emocionou saber que este homem não tinha medo de
enfrentar meu pai. Eu só queria que houvesse uma chance
para nós, para os dois viverem.

Seus dedos se enredaram no meu cabelo, puxando


ligeiramente até que descobri minha garganta para ele. Ele
lambeu meu ponto de pulso vagarosamente. — Eu com
certeza vou, Branca de Neve.

Ele agarrou minha bunda e começou a se mover. Exalei


bruscamente em desconforto e Maddox fez uma breve pausa,
seus olhos procurando os meus.

— Não pare, — ofeguei.

Seus dedos se apertaram ainda mais na minha bunda e


ele empurrou em mim. Engasguei com a dor aguda que foi
seguida por um raio de prazer quando seu piercing esfregou
contra meu clitóris. Maddox começou a empurrar em mim em
um ritmo moderado. O suor brilhava em sua testa por me
segurar e pelas estocadas controladas.

— Não se segure, — disse.

Ele bateu em mim, estocadas longas e fortes que fizeram


meu núcleo zumbir de dor. Ele angulou suas estocadas para
que seu piercing continuasse esfregando meu clitóris e então
me beijou. A sensação de sua língua enquanto me
reivindicava só aumentou o prazer. Logo era difícil determinar
onde meu desconforto terminava e o zumbido baixo do meu
orgasmo crescente começava.

— Tão molhada, — ele murmurou enquanto batia em


mim uma e outra vez. Meus olhos reviraram. Estava prestes a
gozar, mas toda vez que tinha certeza de que cairia do
penhasco, a dor me controlava. Ele inchou, tornando-se
muito maior dentro de mim, e então explodiu com uma
maldição murmurada. Suas estocadas se tornaram ainda
mais fortes, mas menos coordenadas. Minha boca se abriu
com a sensação de transbordamento. Prendi a respiração
quando a dor ficou quase insuportável. Ele mordeu meu
ombro enquanto suas estocadas diminuíam. Ele finalmente
olhou para cima, completamente desgrenhado e suado. —
Porra. Você deveria ter gozado.

— A maioria das garotas não goza na primeira vez.

— Besteira, — Maddox rosnou. Ele me ergueu mais


alguns centímetros e puxou. Exalei com a dor aguda. Minhas
pernas quase cederam quando Maddox me colocou de volta
no chão, mas ele não me deixou cair. Ele pressionou contra
mim, me olhando com uma nova possessividade e fome crua
que não existia antes.

— Você vai gozar e gritar por mim, Branca de Neve, —


ele murmurou. Ele me esfregou com dois dedos, em seguida,
bateu em mim sem aviso e começou a empurrar rápido e
forte. Meus olhos se arregalaram com a nova onda de
desconforto misturado com prazer. Maddox desacelerou de
repente e então acrescentou um terceiro dedo. Respirei
fundo, balançando a cabeça. — Demais? — Maddox
murmurou, sugando meu lábio inferior em sua boca. — Sua
linda boceta acabou de tomar meu pau inteiro. Você pode
tomar três dedos. Vai valer a pena, Branca de Neve.

Ele moveu os dedos em um ritmo dolorosamente lento


até que comecei a encontrar suas estocadas e minhas
pálpebras fecharam de prazer.

Quando finalmente gozei, agarrei-me firmemente a


Maddox. Ele passou os braços em volta de mim ainda mais
forte e descansei meu queixo em seu ombro. Lentamente, a
alegria diminuiu e me dei conta da pulsação em meu ouvido
que combinava com a ardência entre minhas pernas.

Me afastei um pouco e encontrei seu olhar. — Você tem


que me salvar. Só você pode, e sabe que só há uma maneira
de fazer isso.
Marcella estava encolhida ao meu lado, suas costas
elegantes voltadas para mim. Meus olhos traçaram as
protuberâncias suaves de sua coluna até sua bunda redonda
com as duas covinhas tentadoras acima de suas
nádegas. Lutei contra o desejo de beijar cada centímetro de
sua pele perfeita.

Suas palavras depois de termos fodido repetindo em


minha mente. Eu tinha que salvá-la, mas a opção que ela
tinha em mente estava fora de questão. Não podia deixá-la
fugir. Esta era nossa única chance de pegar seu velho. Se a
soltasse, Earl e meus irmãos do clube nunca me
perdoariam. Porra, eles me chamariam de traidor e cortariam
minhas bolas e me alimentariam com elas ou aos
rottweilers. Eu não era um traidor.

Meus olhos foram atraídos para a bandagem em sua


orelha. Começou a sangrar novamente durante a nossa
foda. Ainda não podia acreditar que tinha dormido com
Branca de Neve, que tinha tirado sua virgindade.
Antes de conhecer Marcella, muitas vezes fantasiei em
tê-la em minha cama, mas nunca foi assim. Achei que me
sentiria triunfante por tocar na prole preciosa de
Vitiello. Imaginei provocá-lo com todos os detalhes sujos,
imaginei usar Marcella como parte da minha vingança. Agora
tudo que podia pensar era que queria mantê-la na minha
cama, na minha vida. Quase ri ao pensar em Marcella se
tornando minha old lady. Vitiello enlouqueceria. No entanto,
por mais que tentasse, não conseguia imaginar Marcella
como parte do nosso estilo de vida. Ela era de um mundo
muito diferente.

Apesar da nossa impossibilidade, queria prová-la todos


os dias, ver a luxúria substituir a suspeita fria em seus olhos
azuis. E a última coisa que queria fazer era compartilhar
qualquer detalhe de nossa primeira noite juntos com
alguém. Queria cada momento, cada centímetro de Marcella
para mim. Mas também a queria segura, e ela precisava estar
longe do clube para isso, longe de mim. Eu pertencia ao clube
e ela não podia ficar.

Passei a mão pelo cabelo. — Estúpido idiota.

Marcella se mexeu, virando a cabeça para me olhar com


sono. — Você disse alguma coisa?

— Durma, — murmurei.

Ela simplesmente assentiu, virou-se e voltou a


dormir. Me estiquei de costas, meus braços cruzados atrás da
cabeça. Earl estava ficando desconfiado. Os outros estavam
ficando com ciúmes. Não estava indo como eu planejei. Não
queria deixar Marcella ir, mas tinha que deixar. Não podia
esperar que Earl se contivesse em não a machucar ainda
mais. Fechei meus olhos, querendo chutar minha bunda
estúpida. Quando a segurança de Marcella se tornou minha
principal prioridade, ainda mais importante do que a única
coisa pela qual trabalhei toda a minha vida: vingança?

Encarei o teto. Marcella disse que seu pai me mataria


por tirar sua virgindade. Considerando tudo o que fiz, ele
tinha vários motivos para acabar com minha vida da forma
mais brutal possível. Mas isso, foder sua filha, era
definitivamente a ponta do iceberg.

Mas valia a pena morrer por ela. Porra, morreria mil


mortes apenas por mais uma noite com ela.
Capítulo 14
Luca

Proteger minha família sempre foi minha


prioridade. Nada era mais importante, nem mesmo a
Famiglia.

Olhando para a nota de Earl White, percebi que


tinha falhado.

É hora da vingança, Vitiello.

Earl White

Presidente do Tartarus MC

— Esse imbecil provavelmente não sabe mais palavras,


— murmurou Matteo. Não reagi. Havia uma onda de estática
em meus ouvidos, semelhante à que experimentei anos atrás,
quando achei que Aria estava me traindo e saí em uma
matança no clube dos Tatarus. Perdi o controle naquela
época e estava perto de perdê-lo novamente.

Matteo estava lá naquela época, como estava agora. E


seu olhar mantinha a mesma preocupação enquanto me
observava silenciosamente como no passado.

Meu corpo clamava por sangue, por gritos e


carnificina.
Não podia fazer nada além de ouvir as batidas furiosas
do meu coração. — Como vou contar a Aria? — Consegui
dizer. Só descobri há quatro horas que Marcella havia sido
sequestrada do campus. Um dos homens responsáveis por
sua segurança me ligou para me dizer. A única razão pela
qual ele ainda não estava morto era que eu precisava que
todos os homens destruíssem o Tatarus e tentar salvar sua
pele era um grande incentivo.

Matteo tocou meu ombro. — Eu posso fazer isso.

— Não, — resmunguei, balançando a cabeça. Lancei um


olhar enviesado para o meu filho, seu rosto ainda enterrado
nas palmas das mãos. Amo estava lá quando recebi a ligação.
Seu choque refletia o meu. Apesar de ter sido apresentado à
Famiglia em seu décimo terceiro aniversário, mantive muitos
aspectos horríveis deste mundo longe dele, a pedido de Aria.

Levantei da cadeira em meu escritório, para onde


havíamos retornado após uma busca inútil. Não havia
vestígio de Marcella, nem dos membros do Tatarus. Todos
eles rastejaram para seus esconderijos, com medo do que
faria se pegasse um deles. Eles cantariam como um canário,
revelando cada segundo que nem sabiam que escondiam. —
Devo ir para casa agora, antes que a notícia chegue a Aria.

Já havia convocado uma reunião com cada homem da


Família que estava perto o suficiente para estar presente esta
noite. Alguns dos meus subchefes e seus soldados estavam
muito longe para se juntar à busca.
Amo se aproximou de mim, segurando meu antebraço,
seus olhos severos. — Deixe-me fazer parte da busca e
destruição do Tatarus. Não quero proteção. Não preciso ser
protegido. Quero salvar Marci e matar cada filho da puta que
a machucou. Quero esmagar seus corpos em uma polpa
sangrenta.

Ele tinha quase minha altura e a ferocidade em seus


olhos cinza, meus olhos, me lembravam mais de mim mesmo
do que nunca.

Protegê-lo não era mais uma opção. Eu balancei a


cabeça e apertei seu ombro. Não fui capaz de proteger
Marcella e não podia mais proteger Amo. — Vamos lutar lado
a lado.

Sua expressão cheia de determinação e orgulho. Talvez


eu devesse tê-lo deixado fazer parte de uma missão
antes. Esta, sua primeira missão real, era mais arriscada do
que qualquer coisa que enfrentamos há muito tempo.

Minha frequência cardíaca aumentou quando entrei em


nossa mansão trinta minutos depois. Matteo e Amo estavam
logo atrás de mim, mas isso, contar tudo a Aria, era meu
fardo. Valerio desceu correndo os degraus, sorrindo, mas
bastou olhar para o meu rosto e sua expressão sumiu. — O
que está errado?
Indiquei a Amo e Matteo para cuidar dele. Ele era muito
jovem para os detalhes horríveis, mas também precisava da
verdade. No entanto, meu único foco era Aria por enquanto.

Segui um zumbido suave até a cozinha, onde a


encontrei. Ela estava soprando uma xícara de chá fumegante
enquanto lia uma revista. Eu não esperava encontrá-la
cozinhando. Aria era a pior cozinheira do mundo.

Seu cabelo loiro dourado estava preso em um coque


bagunçado, algumas mechas rebeldes emoldurando seu lindo
rosto. Marcella herdou a beleza de Aria e seus olhos, mas
meu cabelo preto.

Aria e eu estamos casados há vinte e quatro anos, mais


tempo do que nós dois sem o outro. Ela ainda estava tão
bonita quanto no dia do nosso casamento, talvez até mais. O
que a tornava ainda mais bonita era que ela amava mais
ferozmente do que qualquer outra pessoa que eu conhecia, e
por isso essa notícia a revelaria.

— Aria, — forcei minha voz. Cada fibra do meu corpo se


revoltou em perturbar sua serenidade com uma verdade feia
que mesmo eu dificilmente poderia suportar. Jurei manter
todos os danos dela e de nossa família e falhei terrivelmente.

Aria se virou com um sorriso suave que desapareceu


com a expressão no meu rosto. Ela me conhecia melhor do
que ninguém, cada contração do meu rosto e o significado
por trás disso. Só podia imaginar como minha expressão
deveria estar.
Ela pousou a xícara lentamente, a preocupação
enchendo seus olhos. — O que há de errado? — Como
poderia lhe contar? Queria mentir para ela, para protegê-la,
pelo menos.

Eu não era um homem que recuava de uma verdade feia


ou de qualquer outra coisa. Tinha visto e feito muito para
ficar com medo, mas neste momento estava apavorado pra
caralho. — Você se lembra do Jersey MC?

Suas sobrancelhas se uniram. — Você matou todos eles


quando eu estava grávida de Marcella.

Meu coração encolheu. Claro, ela se lembrava. Eu agi


por puro desespero e fúria naquela época, sem pensar nas
consequências de minhas ações. Queria mutilar e matar, e
aqueles motoqueiros pareciam ser o alvo perfeito. Eles
haviam atacado os armazéns da Famiglia e matado meus
soldados antes, então estavam longe de serem inocentes, mas
naquela época os teria matado mesmo se não fosse o caso.

Minhas ações ficaram impunes por décadas, mas agora


Marcella estava pagando por meu pecado.

— Eles reconstruíram suas sedes nos últimos anos.

Ela assentiu porque mencionei isso a ela na ocasião,


especialmente se um de seus ataques insanos me causassem
dor de cabeça.

— Luca, você está me assustando. O que há de


errado? Por que você está me contando tudo isso?
Aproximei-me dela e toquei seus ombros. — Marcella,
eles a sequestraram...

Aria deu um passo para trás, o horror torcendo seu


rosto. — Não.

— Aria...

— Não, — ela sussurrou. Ela começou a tremer,


recuando até que suas costas bateram no balcão da
cozinha. Lágrimas explodiram de seus olhos. Ela colocou a
mão trêmula sobre a boca, tentando recuperar o fôlego
enquanto sua angústia o roubava. Queria tocá-la, consolá-la,
mas não tinha certeza se ela queria meu toque. Eu era o
motivo de tudo isso. Marcella se tornou um alvo por causa de
minhas ações no passado. — Ela está viva, — disse ela,
não perguntou, como se dizer isso tornaria as coisas
verdadeiras.

— Sim, claro que ela está viva. O presidente


provavelmente quer me chantagear. Eles não vão matá-
la. Eles sabem que eu os pulverizaria e todos os MC em meu
território e além como vingança. — Não confiava na palavra
de Earl White ou em sua honra, mas tinha que confiar em
seu instinto de autopreservação. Isso não significava que eles
não a machucariam. Mas mesmo se não o fizessem, Marcella
devia estar apavorada nas mãos daqueles homens, apavorada
com o que eles poderiam fazer... Não queria considerar as
opções horríveis.

Aria fechou os olhos, engolindo. — Oh, Marci. — Aria


cedeu contra mim com um gemido sufocado, seus dedos
cravando em meus braços. A peguei e a pressionei contra
meu peito.

Sua dor me cortou mais do que qualquer lâmina já


cortou. — Eu sinto muito amor. Nossa filha está pagando
pelos meus pecados. Nunca vou me perdoar e não espero que
você me perdoe também.

Aria se afastou lentamente, enxugando os olhos antes


de olhar para mim. Ela agarrou minha mão. — Esses homens
são os culpados, não você, Luca. Não há nada a
perdoar. Quando me casei com você, sabia dos riscos de estar
com um Capo.

O casamento nunca foi sua escolha, embora tivéssemos


escolhido um ao outro uma e outra vez nos anos desde o dia
do nosso casamento.

— Vou me oferecer para me trocar por nossa filha. É a


mim que eles querem, não ela.

A expressão de Aria tornou-se inesperadamente feroz. —


Salve nossa filha e mate aqueles homens. Eles não podem
sobreviver ou nunca estaremos seguros. Você é o homem
mais forte que conheço. Mostre a eles, e não se atreva a não
voltar para mim.

A fé inabalável de Aria em mim era o maior presente que


eu poderia imaginar e um fardo que carregava com
prazer. Não decepcionaria sua confiança. Salvaria nossa filha
com brutalidade absoluta e com a minha vida se necessário.
Amo entrou na sala de jantar, e seu rosto não era um
bom presságio. Me levantei imediatamente. Não estava com
fome de qualquer maneira. A única razão pela qual estava na
mesa de jantar era porque Aria queria preservar uma
aparência de normalidade para Valerio. Ele sabia mais do que
ela queria, mas a divertia fingindo que não.

Aria e Valerio ficaram em silêncio.

Aproximei-me de Amo, mantendo minha voz baixa


enquanto perguntava: — O que há de errado?

O rosto de Amo estava vermelho de raiva. — Os


motoqueiros postaram um vídeo da Marcella na internet.

Aria se levantou e se aproximou de nós. — Marcella está


bem? O que aconteceu?

— Que tipo de vídeo?

O telefone de Amo tocou repetidamente com mensagens


recebidas. Ele olhou de soslaio para a tela. — Porra. Vou
matar todos eles.

Agarrei seu pulso. — Amo, que tipo de vídeo? — Meu


próprio telefone começou a zumbir com mensagens.

— Eles postaram um vídeo de Marcella nua e a


marcaram nas redes sociais. Está em tudo Insta, TikTok e
Twitter.
Cerrei minhas mãos em punhos, minha fúria tão
avassaladora que tive problemas para controlá-la. Valerio e
Aria estavam me olhando preocupados e eu precisava manter
a porra da minha compostura até que estivesse longe de
casa.

Aria olhou para seu telefone celular e a cor sumiu de


seu rosto.

— Mãe? — Valério perguntou, mas ela não reagiu.

Fui até Aria e toquei seu ombro. Ela ergueu a cabeça. —


Quero todos eles mortos, — ela sussurrou suavemente. Como
se precisasse pedir. Eles morreriam, de uma forma ou de
outra. Por minha mão ou pela de Amo e Matteo depois que
me matassem.

Me curvei sobre a minha mesa, olhando para o meu


telefone. Minha última ligação com Earl White foi ontem. Não
tinha ouvido falar dele desde então e não tinha um número
para ligar. Suas últimas palavras me fizeram temer o pior
para Marcella.

Matteo andava pela sala. — Ele quer que você


implore. Mal posso esperar que a situação mude e o façamos
implorar.
Quase implorei, não com as palavras exatas e manter
minha fúria sob controle foi quase impossível depois do vídeo
de Marcella que o MC postou, mas me ofereci a Earl White em
uma bandeja de prata, mas ele recusou. Se meus homens
estivessem perto de encontrar o atual esconderijo do Tatarus,
as coisas seriam mais fáceis. Pulverizaria cada
motociclista. Porra, gostaria mais do que qualquer coisa que
já gostei antes.

— Sonho em matar os Whites todas as noites. É tudo


em que consigo pensar, — Amo disse de seu lugar no meu
sofá. Ele passou todas as horas em que estava acordado
procurando pelos Tatarus e sua irmã desde que ela foi
sequestrada. Mesmo Aria, que normalmente era tão inflexível
sobre ele se concentrar no próximo ano letivo, não discutiu.

Nada era mais importante do que a família.

Dois dias atrás, seguimos uma pista a noite toda, mas a


cabana que encontramos era apenas um depósito de armas e
munições abandonado. Não havia nenhum vestígio do atual
clube dos Tatarus. Se pudéssemos colocar as mãos em um
dos motoqueiros. Eles revelariam a localização, mas o último
cara que seguimos e encurralamos colocou uma bala na
cabeça antes que pudéssemos pegá-lo.
Uma batida soou e Valerio enfiou a cabeça dentro do
meu escritório. — Mamãe acabou de receber um pacote. Há
uma impressão do cão do inferno1 nele.

Amo deu um pulo do sofá, mas eu já estava fora da


porta, correndo atrás de Valerio, que abriu o caminho até
Aria. Nós a encontramos na sala de estar. Ela olhava para o
pacote, uma faca de carta na mão, mas ainda estava fechado.

— Não abra! — Gritei. Aria saltou, seu olhar disparando


para mim. Eu a alcancei e gentilmente a afastei, protegendo-a
com meu corpo.

Amo tirou a faca da mão dela. Balancei a cabeça. — Vou


abri-lo.

Ele me entregou a faca e cortei o embrulho. Duvidava


que houvesse algo perigoso dentro, mas se houvesse, eu
deveria me machucar.

Rasguei o pacote e encontrei um frasco com um pedaço


de carne ensanguentada dentro. Meu pulso acelerou
enquanto lia o rótulo. — O primeiro pedaço de sua filha que
você recebe. Mais chegarão até que você mostre algum
respeito.

Os olhos de Matteo se arregalaram. — O que é isso? —


Ele murmurou. Amo ainda segurando Aria e Valerio para
trás.

Aproximei o frasco do rosto. — Um lóbulo de orelha.

1Um hellhound, cão do inferno ou cão negro, é um cão sobrenatural do folclore. Uma
grande variedade de cães infernais sobrenaturais ocorrem em mitologias de todo o
mundo, sendo notável, porém, na Inglaterra
Matteo cerrou os dentes e desviou o olhar, murmurando
algo sob sua respiração. Não tinha certeza se podia
falar. Minha fúria queimava muito intensamente.

— Luca? — Aria chamou, sua voz soando em pânico. —


O que é isso?

— Leve sua mãe e seu irmão para cima, — ordenei a


Amo. Aria não aceitou. Ela se livrou das mãos de Amo e ele
obviamente não se atreveu a agarrá-la novamente. Empurrei
o pacote para Matteo antes de ir até Aria, impedindo-a de ver
o frasco.

— Luca. — A voz de Aria tremeu, seus olhos se


encheram de lágrimas e terror enquanto ela olhava para mim.

— Confie em mim, amor. Marcella voltará para nós em


breve.

— Não sou fraca. Quero saber o que está acontecendo.

Fiz um gesto para Amo retirar Valerio da sala que


seguiu seu irmão sob protesto.

Aria agarrou meus braços. Não conseguia encontrar as


palavras, não conseguia lhe dizer o que estava acontecendo
com Marcella e o que não podia evitar. Mesmo eu, que tinha
visto e feito tantas coisas horríveis, não conseguia suportar a
ideia do que Marcella estava passando. A dor, o medo...

As palavras não passariam pelos meus lábios. Fechei


meus olhos brevemente. — Eles querem me punir, amor. Não
vou deixar que machuquem mais Marcella.
Aria olhou para Matteo, que ainda estava segurando o
pacote. Ela passou por mim. — Mostre-me, — ela
ordenou. Matteo olhou para mim. Assenti.

Aria pegou o frasco e colocou-o de volta no


pacote. Passei meus braços em volta dela por trás,
segurando-a enquanto ela chorava.

O Tatarus havia me atingido da pior maneira possível, e


Earl White sabia disso. Ele gostava disso e, conhecendo
homens como ele, detestaria perder essa fonte de poder. Ele
não soltaria Marcella. Se não a encontrássemos logo...
Desamparo era um sentimento ao qual não estava
acostumado, e não permiti que criasse raízes. Contanto que
respirasse, procuraria pela minha garota, e mataria cada
motociclista no meu caminho até ela.
Capítulo 15

Estava evitando Earl o máximo possível desde nossa


discussão, dois dias atrás, mas se quisesse ter certeza de que
tudo finalmente estava indo na direção certa, tinha que falar
com ele e descobrir o que se passava em sua
cabeça. Tínhamos uma reunião marcada para a noite e quase
todos os donos de patchs concordaram em comparecer.

Marcella tinha ficado terrivelmente quieta o dia todo, e


me perguntei se ela havia se arrependido de nossa noite
juntos. Ela havia mencionado que se arrependeria de mim,
mas agora queria que ela mudasse de ideia.

Marcella estava sentada na cama e escovando o cabelo


com uma escova que peguei de uma das garotas do clube, o
movimento quase hipnótico. Não conseguia desviar o
olhar. Ela virou a cabeça, fixando-me com aqueles olhos
penetrantes. — O que vocês vão discutir na reunião?

— Quando vamos trocá-la por seu pai.


Marcella me deu um sorriso estranho, como se
realmente não acreditasse nisso. — Vou convencê-los. Eles
vão ouvir a razão, — disse, dificilmente acreditando em mim
mesmo.

— O que você quer, Maddox?

Você. Desde que te conheci, só você. Estava meio


tentado a fugir com ela, deixar tudo que sempre conheci,
sempre quis, para trás. Mas não podia. A vida de MC era tudo
que conhecia, tudo que queria. Não tinha amigos ou família
fora deste clube. Eu só tinha o Tatarus.

E então... de repente lá estava Marcella, uma mulher,


filha do meu inimigo, ocupando cada vez mais o meu espaço
mental.

Não disse nada. Meus pensamentos eram loucura e


traição. Fui até ela e me inclinei sobre ela. Agarrando seu
pescoço, inclinei sua cabeça para trás para um beijo
profundo. Ela respondeu no início, mas depois afastou a
boca, roubando-me aqueles lábios irresistíveis. — Isso vai
acabar assim que seu tio me devolver ao meu pai. A menos
que ele decida me torturar e matar para punir meu pai.

Ela disse isso como se estivesse falando sobre outra


pessoa, sua voz fria e controlada, mas seus olhos refletiam o
medo que ela nunca admitiria. Meu coração acelerou com a
simples menção de sua morte. — Eu nunca permitiria que
Earl te matasse. Eu te protegerei.
Ela sorriu, mas não estava feliz. — Você pode? Me
proteger? Seus irmãos do clube querem me jogar na fogueira
como a bruxa que acham que sou.

Meus irmãos do clube a queriam de uma maneira muito


diferente. Eu também não permitiria isso. Enquanto Marcella
estivesse sob nosso teto, me certificaria de que ela não fosse
prejudicada mais do que já foi. Mas uma vez que ela fosse
liberada...

O pensamento de deixá-la ir, de nunca mais vê-la


novamente, adicionou um peso aos meus ombros.

— Você não quer me perder, — ela sussurrou, se


levantando e agarrando meu colete. Seus olhos me
mantiveram cativo como sempre.

Considerei mentir, mas simplesmente não podia fazer


isso com ela olhando para mim assim. Segurei seu pescoço
com mais força. — Claro, não quero te perder. — Peguei
minha camiseta que chegava até suas coxas e empurrei a
boxer de lado. — Sentiria falta dessa linda boceta. — Eu
sentiria, mas era apenas uma pequena parte da razão pela
qual não conseguia imaginar deixá-la ir. Compartilhar
detalhes da minha infância, falar sobre mais do que entrega
de drogas, álcool e armas, ela era a única pessoa que eu
podia fazer isso.

Meus dedos encontraram seu clitóris e comecei a


circulá-lo levemente, apenas provocando-a quando realmente
queria mergulhar nela.
— É mais do que isso, Maddox, — Marcella disse
suavemente, sua respiração falhando enquanto continuava
acariciando sua carne sensível.

Inclinei-me e chupei seu lábio inferior em minha boca


antes de beijá-la. Sua língua encontrou a minha em uma
dança suave e lenta, muito diferente de nossos beijos
anteriores. Seus olhos ficaram presos nos meus e ela
suspirou em minha boca enquanto meus dedos acariciavam
sua boceta para cima e para baixo, reunindo sua excitação
para deslizar ainda mais facilmente sobre sua pequena
protuberância.

— Seja o que for, não podemos ter, não para sempre, —


rosnei.

Ela balançou a cabeça. — Podemos ter o que


quisermos. Nós só precisamos alcançá-lo. Você pode me ter
só para você se me ajudar a escapar.

— Escapar, — ecoei. — Meus irmãos me matariam como


um traidor.

— Você poderia vir comigo e pedir ajuda ao meu pai.

Fiz uma careta. A simples ideia de pedir ajuda a Luca


Vitiello, o homem que massacrou meu pai, deixou um gosto
amargo na boca. — Seu pai me mataria por sequestrar sua
preciosa filha.

— Ele não vai se eu lhe pedir para te poupar.

— Não quero estar à mercê de seu pai. Ele deveria estar


a minha e definitivamente não vou lhe conceder isso.
A expressão de Marcella endureceu e ela tentou se
afastar, mas a segurei pelo pescoço e mergulhei minha língua
em sua boca ao mesmo tempo que dois de meus dedos
mergulharam em sua boceta molhada. Ela gemeu em minha
boca, suas paredes apertando deliciosamente. Empurrei nela
em um ritmo rápido, saboreando sua excitação e o fogo
queimando em seus olhos. Desejo e raiva, uma bela
combinação. Eventualmente, a pressão de Marcella em mim
tornou-se dolorosa enquanto seus quadris balançavam
contra a minha mão, perseguindo o orgasmo.

Quando suas paredes se fecharam em meus dedos e


seus olhos se arregalaram com a força de seu orgasmo,
afastei-me do beijo para ouvi-la gritar de êxtase.

— Sim, Branca de Neve, — rosnei, dedilhando-a ainda


mais rápido. Ela se agarrou a mim até que finalmente seu
orgasmo arrefeceu. Baixei minha mão e abri minha
braguilha.

Marcella puxou meu cabelo, me forçando a encontrar


seu olhar. — Você pode viver e me ter, se deixar sua vida de
MC para trás e trabalhar para meu pai.

Zombei. — Você quer que eu sirva ao seu pai.

Ela ficou séria. — Você pode servir ao comando do meu


pai ou governar um cemitério.

— Não estamos mortos ainda, e eu e meus irmãos


somos muito difíceis de matar, como você verá.
— Meu pai matou homens do Tatarus antes. Ele fará
novamente.

Abaixei minhas calças e empurrei Marcella em direção à


cama. Ela me deu um sorriso desafiador e separou suas
longas pernas. Agarrei seus tornozelos e puxei-a em minha
direção antes de bater nela com um impulso forte. Ela ainda
estava apertada e seu rosto brilhou de desconforto, mas só
esperei um segundo para sua boceta se adaptar ao meu
pau. Minhas bolas bateram furiosamente contra sua boceta e
meus quadris contra sua bunda até ficar vermelha. Mas isso
não era suficiente, nunca seria. Precisava ver seu rosto,
queria vê-lo todas as fodidas manhãs quando acordasse e
todas as noites antes de dormir. Eu a virei e subi em cima
dela.

Seus olhos queimaram um buraco em minha alma e


coração. —Foda-se, — rosnei. — Não posso te perder, porra.

Depois da nossa foda, ela deitou em meus braços, com a


respiração suave. Eu logo teria que me levantar para ir à
reunião.

— Estou com medo de morrer, com medo de que eles me


machuquem ainda mais, Maddox, — ela sussurrou tão
suavemente que, a princípio, não tinha certeza se a ouvi
direito. Ela tinha todos os motivos para estar com medo.
— Estou aqui, — murmurei, beijando seu pescoço. Sua
orelha enfaixada me provocou com a verdade.

Sua respiração estabilizou e me levantei, sentindo uma


energia nervosa tomar conta do meu corpo. Enquanto descia
as escadas, cruzei com Gunnar. Ele tocou meu ombro. —
Você está passando muito tempo com ela. Todo mundo
percebeu. Logo terá que fazer uma escolha.

— Fiz minha escolha há muito tempo, — disse,


apontando para o meu colete. — O Tatarus corre no meu
sangue.

Gunnar deu de ombros. — Ainda. Algumas pessoas se


preocupam. A reunião desta noite é sua chance de apaziguá-
los.

— Foda-se eles. Sangrei por este clube mais do que a


maioria.

— Acalme-se. Só estou falando.

Se um homem como Gunnar já começava a desconfiar


de mim, precisava tomar cuidado. Quando Gunnar e eu
entramos na sala de reuniões cinco minutos depois, a
maioria dos membros já estavam sentados ao redor da mesa
e alguns encostados nas paredes. A maioria dos acenos que
recebi foram tão amigáveis quanto no passado, mas podia ver
a desconfiança em alguns rostos. A julgar pela expressão de
Cody, provavelmente era ele quem estava falando merda
sobre mim. Earl estava sentado à frente, como de
costume. Sentei-me ao lado dele, mas ele mal reconheceu
minha presença. Nós tivemos discussões no passado,
especialmente quando eu era um adolescente de sangue
quente, mas nunca pareceu definitiva. Desta vez, parecia que
uma fenda se abriu entre nós que não poderia ser facilmente
transposta. Não tinha certeza de como fechá-la, não tinha
certeza se queria tentar.

Para minha surpresa, Earl não abriu a reunião com o


tema mais óbvio: o sequestro. Em vez disso, queria discutir
novas rotas para nossos transportes de armas e uma
possível cooperação com outros MCs. Considerando quantos
tínhamos matado ao longo dos anos, duvidava que houvesse
muitos dispostos a conversar, mesmo que a Famiglia fosse
um inimigo comum.

Estava perto de explodir quando finalmente estávamos


prontos para passar para o próximo tópico.

— Que tal discutirmos Vitiello agora? — Disse, falhando


em mascarar meu aborrecimento.

Houve algumas risadas de membros mais velhos que


provavelmente se lembraram da minha adolescência quando
interrompia Earl constantemente e era banido da mesa várias
vezes por minha explosão de sangue quente.

Os olhos de Earl cortaram para mim, cheios de fúria. —


Não há nada para discutir neste momento. Vitiello não
consegue descer do cavalo e, enquanto for esse o caso, a
prostituta italiana fica conosco.
O insulto provocou em mim uma nova onda de raiva,
que tive dificuldade em extinguir. Bati meu punho na
mesa. — O Tatarus não torturou mulheres. Lidamos com
nossos inimigos, não com seus filhos. Queremos Vitiello e ele
se ofereceu a nós. Vamos finalmente nos vingar. Está na
hora. Eu convoco uma votação.

Earl afundou na cadeira, mas sua calma fingida não


enganou ninguém. Seus olhos refletiam a mesma fúria que eu
sentia. Se isso não o fizesse parecer fraco, ele teria gritado
comigo e recusado a votação.

— Então vamos votar, — disse ele com um sorriso


severo. — Quem vota sim, devemos manter a prostituta
Vitiello até que Luca Vitiello nos mostre o respeito que
merecemos e sofra por todos os irmãos que torturou e
matou. Ou não, se quiser facilitar isso para ele e sua prole.

Cerrei meus dentes. Da forma como ele formulou, a


votação já estava perdida. Podia ver nas expressões dos meus
irmãos do clube e seus acenos afirmativos.

Como esperado, apenas três votaram contra, Gunnar,


Gray e eu, enquanto o resto, mais de dez homens votaram
para manter Marcella e deixar Luca sofrer por ela. Talvez
devesse ter previsto. As vozes mais moderadas em nosso
clube se tornaram nômades ao longo dos anos ou se
juntaram a sedes menores do Tatarus no Texas ou no norte
porque não queriam se envolver em nossos planos de
vingança. Os homens que permaneceram eram
absolutamente leais a Earl e concordavam com suas opiniões
radicais.

Quando a reunião acabou, fiquei sentado na cadeira e


observei enquanto meus irmãos do clube iam ao bar para
comemorar uma reunião bem-sucedida. Gunnar tocou meu
ombro ao passar. — Você tentou, — disse ele. — Logo isso vai
acabar e então podemos nos concentrar em coisas melhores
do que a vingança.

Balancei a cabeça, mas não acreditei.

Earl me viu e voltou, elevando-se sobre mim. — A


prostituta precisa sair do seu quarto, Mad. Ela está mexendo
com sua mente. É o gene Vitiello. Este é o nosso momento de
vingança, não permita que ela o estrague.

Levantei-me e dei a Earl um sorriso forçado. — As


últimas semanas me afetaram muito, Earl. Isso é tudo. Só
quero colocar minhas mãos em Vitiello antes que ele escape.

— Ele não pode. Não dessa vez. Agora vamos


comemorar.

O segui em direção ao bar e compartilhei alguns drinks


com o clube, para afastar suas suspeitas e como uma
despedida aos que não sobreviveriam.
Jurei me vingar de Luca Vitiello, fazê-lo sangrar
emocionalmente e, mais tarde, fisicamente. Queria que ele
sofresse tanto quanto eu sofri.

Marcella era o meio para um fim. Ela deveria ser o


resgate de que precisávamos para colocar as mãos em
Vitiello. Eu a desprezava antes de conhecê-la, e agora essa
mulher me possuía de uma forma que nunca deveria ter
permitido. Não tinha previsto, mas deveria. Marcella Vitiello
era uma mulher diferente de todas as que conheci antes.

E hoje trairia meu clube por ela. Desistiria do meu


objetivo de vida por ela. E talvez até perdesse minha vida por
ela. Nunca achei que algo valeria a pena, muito menos uma
mulher. Relacionamentos vão e vêm na vida de um
motoqueiro, o único vínculo duradouro era com seu clube e
seus irmãos, mas com Marcella sabia que queria que fosse
um tipo de coisa até que a morte nos separe. Claro, a morte
provavelmente nos separaria muito em breve.

Ela valia a pena. Porra. Eu sabia agora. Morreria mil


mortes por ela. Dando uma última tragada profunda, joguei
fora meu cigarro. Era por volta das dez da manhã, e vim para
cá depois de comemorar com meus irmãos na noite passada,
em vez de ir para a cama. Não conseguia dormir e também
não podia encarar Marcella. Precisava de tempo para
pensar. Hoje Marcella deveria voltar para o canil, o mais
longe possível de mim. Earl tinha me concedido mais
algumas horas para fodê-la antes que ela fosse um
alvo. Andei pelo local, verifiquei a cerca, mas ela estava
fortemente protegida.

Peguei meu telefone e olhei para ele quando os primeiros


raios de sol do dia nublado tocaram o chão ao lado dos meus
pés. Muitos guardas cercavam o perímetro para eu salvar
Marcella sozinho. Porra.

Meu coração bateu forte quando disquei o número da


boate de Vitiello, onde ficava seu escritório. Nunca tinha
falado com ele antes. Esse sempre foi o privilégio de Earl
como Prez.

Depois de alguns minutos, finalmente fui passado para


o celular do Capo porque ele não estava no clube. Não fiquei
surpreso por ele não estar trabalhando. Ele e seus homens
provavelmente estavam trabalhando 24 horas nos sete dias
da semana para encontrar uma maneira de salvar
Marcella. — O que você quer? — Perguntou Vitiello. Sua voz
estava tensa com raiva reprimida. Podia imaginar o que ele
queria fazer comigo, e provavelmente eu merecia. Mas Vitiello
era o último que deveria julgar alguém. — É melhor ouvir
com atenção porque o que vou dizer a seguir é onde você
encontrará Marcella.

Dei-lhe o endereço e acrescentei: — Você deve se


apressar se quiser proteger sua filha de mais danos.

— Nós dois sabemos que é uma armadilha do caralho,


— rosnou Vitiello.
— Isso importa? Você morreria por ela. Esta é a sua
chance de provar isso.

Ele não negou e, pela primeira vez na vida, tinha algo


em comum com meu pior inimigo. O engraçado é que a
pessoa que provavelmente perderá a vida sou eu. Se Vitiello
atacasse nosso clube com toda a força de seus soldados,
nenhum de nós sobreviveria. Uma morte rápida era tudo o
que podíamos esperar e provavelmente seríamos negados. —
Seja rápido. Earl tem mais coisas reservadas para sua filha.

— Vou rasgar todos vocês, — ele rosnou, mas desliguei


antes que ele pudesse elaborar sua promessa. Já tinha visto
do que ele era capaz.

Sentei contra a parede do galpão, olhando para o


céu. Era irônico que o sol tivesse aparecido agora que decidi
destruir a única coisa na qual me agarrei por toda a minha
vida. Então arrastei meus olhos para a tatuagem do cão do
inferno no meu braço. Eu nasci no clube. O amei com todo o
meu coração, jurei minha lealdade e vida a ele e aos meus
irmãos do clube, mas em apenas algumas semanas Marcella
virou minha vida de cabeça para baixo. O sequestro dela me
mostrou a cara feia do Tatarus, uma que sempre tentei
ignorar. Ainda lutaria ao lado dos meus irmãos do clube e
tentaria matar Vitiello assim que Marcella estivesse
segura. Eu queria ajudá-la, não poupá-lo.

Afastei-me da parede e saí em busca do meu meio-


irmão. Ele precisava sair daqui antes que Luca
chegasse. Encontrei Gray, Gunnar, Cody e alguns outros
reunidos ao redor da mesa, jogando pôquer, a maioria
parecendo a morte por beber demais. Alguns desses homens
eram meus amigos. Não mereciam a morte, mas se lhes
dissesse o que estava por vir, eles contariam a Earl, e ele
evacuaria todos e levaria Marcella para um novo
esconderijo. Só que desta vez, não seria capaz de protegê-
la. Eu só tinha essa chance e não estragaria tudo por
ninguém.

— Quer se juntar a nós e parar de se lamentar, Mad? —


Gunnar perguntou, um charuto entre os dentes. — Não sei
por que você está tão irritado de qualquer maneira. Se tivesse
uma mulher linda na minha cama, estaria sorrindo de orelha
a orelha.

— Você me conhece. Quero a cabeça de Vitiello como


troféu na parede do nosso clube. Não ficarei satisfeito até que
esse seja o caso.

Isso ainda era verdade. Queria Vitiello


morto. Infelizmente, esse desejo contrariava minha obsessão
por sua filha. Talvez fosse melhor se Vitiello me matasse,
então não enfrentaria esse problema impossível.

— Você não terá que esperar muito mais tempo. Vitiello


cortará seu próprio pau para salvar a filha, uma vez que
todos nós tivermos uma chance com ela, — Cody disse com
uma risadinha. Ainda mais do que no passado, senti a
necessidade de esmagar sua cara estúpida.

— Ei Gray, preciso falar com você.


Gray balançou a cabeça. — Estou ganhando
aqui. Podemos conversar mais tarde.

Minha paciência acabou. Provavelmente Vitiello já


estava a caminho com todos os itens de tortura já inventados
neste planeta. Aproximei-me dele e arranquei as cartas de
suas mãos. — Desista.

Gray protestou, em seguida, balançou a cabeça. — Qual


é a porra do seu problema?

— Meu problema é que você não segue ordens. Você


está abaixo de mim na hierarquia, não se esqueça disso.

— Por enquanto, — ele murmurou, um leve insulto em


sua voz. Ele deve ter bebido muito para ainda estar bêbado
na manhã seguinte. Esse garoto me tirava do sério. Cody e
Gunnar trocaram olhares.

Gray se levantou. Optei por ignorar seu comentário,


embora provavelmente fosse verdade. Seu ciúme só aparecia
quando ele estava bêbado. Earl acabaria por favorecer Gray
como seu sucessor. Afinal, ele era seu filho. Mas nada disso
importava mais. Depois de hoje, a sede principal do Tartarus
MC estaria morta e eu era o prego em seu caixão. Talvez os
Nômades se unissem para construir uma nova sede, mas
duvido que fariam isso perto de Nova York.

Gray me seguiu para fora enquanto me dirigia para a


floresta. Não queria arriscar que ninguém nos ouvisse. — O
que é tão urgente para você arruinar meu Straight Flush?
— Preciso que você saia agora e pegue algumas coisas
para mim.

— Não posso. Papai convocou todo o clube para outra


reunião na hora do almoço. Por isso acordamos tão cedo. Ele
planejou algo.

Minhas sobrancelhas se uniram. Earl não mencionou


isso para mim. — O que é?

Gray encolheu os ombros. — Ele geralmente sempre


compartilha merdas com você, não comigo.

Achei que comemorar com eles na noite passada tinha


convencido Earl da minha lealdade, mas, aparentemente, ele
ainda suspeitava de mim. Por uma boa razão. — O que quer
que seja, pode esperar. Você precisa ir agora.

Gray estreitou os olhos, de repente não parecendo mais


bêbado. — Por que? Qual é o problema?

Essa discussão estava me fazendo perder tempo que não


tínhamos. Agarrei Gray pelo colarinho. — Ouça-me pelo
menos uma vez e saia daqui.

— O que você fez? — Ele falou entre dentes.

— Saia do clube agora.

Ele se livrou do meu aperto. — Não vou fugir, não


importa o que aconteça.

Eu poderia ser capaz de viver comigo mesmo se Vitiello


matasse meus irmãos do clube e até mesmo Earl, mas me
odiaria para sempre se Gray morresse. — Porra, seu idiota,
Vitiello sabe nosso paradeiro. Ele provavelmente já está a
caminho para matar todos nós.

Gray deu um passo para trás, a realização horrorizada


passando por seu rosto. — Você disse a ele?

— Eu precisei. Earl foi longe demais. Todos nós


fomos. Isso não deveria se transformar em uma sessão de
tortura de sua filha. Vitiello deveria pagar, não ela.

— Você é um traidor!

Ele girou nos calcanhares como se fosse correr de volta


para a casa e avisar a todos. Não queria que todos
morressem, mas se Gray os avisasse, Earl poderia matar
Marcella e provavelmente permitir que todos os irmãos a
atacassem antes disso. Não podia permitir. Peguei minha
arma e acertei meu meio-irmão na cabeça com a coronha. Ele
caiu no chão. Agarrando-o por baixo dos braços, arrastei-o
para a floresta e escondi-o sob alguns galhos e folhas. Com
um pouco de sorte, ele não acordaria antes de tudo
acabar. Então, pelo menos, ele sobreviveria. Isso era tudo que
eu podia fazer.

Corri de volta para casa e parei quando notei a máquina


de tatuagem no balcão do bar. — Quem fará uma tatuagem?
— Perguntei ao redor.

— A prostituta receberá uma tatuagem que merece, algo


realmente adequado, — disse Cody com um sorriso
desagradável, obviamente gostando de saber mais do que
eu. Ele baixou as cartas. — Full House!
Gunnar gemeu enquanto colocava suas cartas e os
outros murmuravam maldições também.

— Uma tatuagem nunca foi mencionada antes, —


disse. Sem conseguir mascarar meu choque.

— O que Vitiello fez precisa ser punido de acordo.

— Ele precisa pagar, não sua filha, — murmurei como


um disco quebrado, ainda esperando contra a razão que
meus irmãos do clube ouvissem.

— É decisão de Earl, garoto, — Gunnar disse


diplomaticamente.

— A boceta dela atrapalhou seu julgamento? — Cody


perguntou. Mostrei o dedo para ele. Então saí em busca de
Earl. Nem tinha certeza de por que ainda me incomodava,
talvez para me convencer de que ele não tinha perdido
completamente a consciência.

O encontrei em nossa mesa de reunião, perdido em seus


pensamentos, o que nunca era uma coisa boa. A última vez
que ele fez essa cara foi quando descobrimos sobre um
traidor em nossas fileiras. Só que desta vez eu era a porra do
traidor. — É verdade o que Cody disse, que você quer tatuar
Marcella?

Earl saiu de seus pensamentos e estreitou os olhos para


mim. — Ela terá o que merece. Achei que tivéssemos
concordado com isso ontem à noite.

Balancei a cabeça. — Isso é levar as coisas longe


demais. Vamos pegar Vitiello e fazê-lo pagar.
Earl levantou e me encarou, e percebi que o estava
perdendo, sua confiança e o pouco de afeto que ele era
capaz. Queria salvar qualquer vínculo que tivéssemos, mas
não tinha certeza de como fazer isso sem sacrificar Marcella e
qualquer consciência que ainda tivesse. — Não tenho certeza
se você ainda está do lado certo, filho. — Por um tempo
adorei ouvi-lo me chamar assim, mas recentemente não
parecia um termo legal. Duvidava que Earl realmente tivesse
me visto como seu filho. Ele apreciava meu desejo de
vingança e que minha triste história criou um vínculo mais
forte entre nossos homens. — Você vai ser um problema? —
Ele rosnou.

Cody invadiu a sede do clube. — Gray está na


floresta. Alguém o nocauteou.

Earl seguiu Cody imediatamente, mas girei nos


calcanhares e corri em direção à minha jaqueta de couro
jogada sobre uma das banquetas para pegar as chaves da
minha motocicleta, então corri para o arsenal. Antes que
pudesse pegar uma metralhadora, algo foi esmagado contra
minhas costas e caí de joelhos com um grunhido de
dor. Minha testa colidiu com a parede, fazendo estrelas
dançarem em minha visão. Pisquei para me segurar. O
sangue pingou de um corte na minha testa e escorreu pelo
meu olho esquerdo quando olhei para cima. Cody estava ao
meu lado com um taco de beisebol na mão. — Seu tio estava
certo em suspeitar de você. Disse-me para ficar de olho em
você enquanto conversa com Gray. Se o menino contar a seu
pai que você o nocauteou por causa da prostituta, você está
morto.

Me lancei contra Cody, tentando arrancar o taco de


beisebol de sua mão, mas Earl apareceu na porta e apontou a
arma para mim. — Parado ou vou colocar uma bala em seu
crânio, Mad.

Fiquei de joelhos, minha visão nublando diante dos


meus olhos.

Earl elevou-se sobre mim com um sorriso duro. — Gray


me disse que você ligou para Vitiello para que ele pudesse
salvar sua pequena prostituta.

Foda-se, Gray. Esperava que o garoto ouvisse a razão e


não seguisse cegamente o julgamento de seu velho,
especialmente quando Earl tinha enlouquecido.

— Você foi longe demais, Earl. Eu te avisei.

Earl se abaixou, cuspe voando enquanto rosnava: —


Esta era a nossa vingança.

— Devemos deixar o local, — sugeriu Cody, olhando ao


redor nervoso, como se achasse que Vitiello pularia de trás da
cortina a qualquer momento. Era irônico que a chegada de
Vitiello fosse minha única esperança agora. Quem jamais
imaginava que esse dia chegaria?

— Não vamos fugir. Temos a filha dele. Ele não pode


arriscar muito. Certifique-se de que o perímetro esteja seguro
e leve Gray para dentro.
Com um sorriso maldoso na minha direção, Cody se
afastou.

Os olhos de Earl pousaram em mim. Por muito tempo,


ele assumiu o posto de meu pai, e ainda era a única família
que tive ao lado de Gray e mamãe. Posso tê-los perdido com
minhas ações. Talvez pudesse reconquistar a confiança deles
ajudando-os na luta contra Vitiello. Ainda queria o homem
morto, mas não à custa de arriscar a vida de Marcella. Não
importa o quanto odiasse seu pai, meus sentimentos por ela
eram ainda mais fortes. Eu era um filho da puta condenado.

Earl balançou a cabeça com uma risada áspera. —


Garoto estúpido. — Ele mirou o cano de sua espingarda na
minha cabeça e tudo ficou preto.
Capítulo 16

Olhei pela janela, a sensação de peso no fundo do


estômago aumentando a cada momento que passava. Maddox
não veio para a cama na noite passada, pela primeira vez
desde que me trouxe para seu quarto. Tentei escutar atrás da
porta trechos de conversa que pudessem me dar uma dica do
porquê, mas ninguém se aproximou do quarto.

Vários motoqueiros chegaram em suas motos e uma


comoção estourou na garagem. Sentei-me curiosa. O rosto de
todos estava tenso de preocupação. A esperança encheu meu
peito. Talvez papai tenha conseguido uma pista. Minha mão
se moveu para minha orelha, mal tocando a
bandagem. Então rapidamente a afastei. Eu nem tinha visto
a ferida ainda. Não tinha certeza se teria coragem de fazer
isso tão cedo.

E se algo tivesse acontecido com Maddox e por isso ele


não apareceu? E se papai fosse o motivo do desaparecimento
de Maddox?
A fechadura girou e me levantei, sorrindo. O sorriso
morreu quando Gunnar apareceu na porta.

— Não há razão para sorrir, boneca, — ele disse em sua


voz áspera.

— Onde está Maddox? — Perguntei bruscamente,


recuando.

Gunnar negou com a cabeça. — Garoto estúpido. — Ele


avançou na minha direção e agarrou meu braço. — Maddox
não pode ajudá-la agora. É melhor você rezar para que seu
pai veja a razão.

Ele me arrastou para fora, apesar da minha luta. Meus


pés descalços arranharam no piso áspero. — O que você quer
dizer? O que aconteceu? — Perguntei várias vezes, mas ele
me ignorou. Não havia ninguém na área comum quando a
cruzamos. Onde estava todo mundo? E o que estava
acontecendo?

Gunnar me levou até o canil e me empurrou para dentro


da mesma gaiola em que estive antes. Virei-me no momento
em que ele trancou a porta.

— O que está acontecendo? Por favor, me diga, onde


está Maddox?

— Ele se juntará a você em breve, — disse ele


enigmaticamente antes de ir embora. Os cães passeavam em
suas gaiolas, infectados pela atmosfera nervosa. Satan não
estava em sua gaiola, porém, não pude deixar de me
preocupar com ela também. O cheiro familiar de urina e fezes
de cachorro entupiu meu nariz quase que instantaneamente.
Sentei na gaiola, observando enquanto os motoqueiros
juntavam armas e carregavam tábuas para o clube como se
fossem barricar as janelas. Alguns deles passaram pelos
canis apenas para me insultar e olhar maliciosamente para o
meu corpo. Apenas na boxer e regata de Maddox me senti
ainda mais exposta.

— Mande mais homens para a cerca! — Alguém rugiu,


preocupação oscilando em sua voz.

A esperança disparou em minhas veias. Isso só podia


ser papai. Mas onde estava Maddox? O que estava
acontecendo? E se papai tivesse Maddox nas mãos? Minha
mente não parava de girar. O medo lutou contra a esperança
em mim. Queria ser libertada, mas não queria perder
Maddox.

Foi um pensamento fatal, e uma atração fatal.

Abraçando meus joelhos contra o peito, observei meus


arredores, tentando acompanhar o que estava
acontecendo. Depois dos insultos iniciais, ninguém prestou
atenção em mim, mas o medo que vi em muitos de seus
rostos só podia ser por causa de papai.

Um movimento atraiu meu olhar de volta para a sede do


clube.

Earl White saiu pela porta, arrastando um Maddox


imóvel atrás dele pelo braço. Pulei do abrigo e atravessei o
canil sujo com os pés descalços, meu coração batendo na
garganta. Os cães dos canis vizinhos começaram a latir e
pular contra as gaiolas. Quase não vacilei mais. Tinha me
acostumado com sua natureza turbulenta. Eles não eram os
animais mais perigosos ao redor.

Maddox parecia sem vida, membros se arrastando pela


terra, a cabeça pendendo quase comicamente para frente e
para trás. Earl sorriu sombriamente para mim quando
nossos olhos se encontraram e imediatamente arrepios
subiram pela minha pele. Tentei mascarar minha
preocupação, mas duvidava que pudesse enganá-lo. Agora,
todos pareciam saber sobre Maddox e eu.

— Talvez isso te ajude a limpar sua cabeça e te faça


perceber seu erro. Se você se desculpar, vou lhe conceder
uma morte rápida — Earl disse enquanto arrastava Maddox
para a gaiola ao lado da minha. Morte? O que ele estava
falando? O lado esquerdo do rosto de Maddox estava coberto
de sangue de um corte na linha do cabelo. Finalmente notei o
peito de Maddox subindo e descendo. Pelo menos, ele não
estava morto, ainda. Algo estava terrivelmente errado. Earl se
virou e fechou a gaiola, então sorriu cruelmente para mim. —
E para você, tenho uma surpresa especial em breve.

Nem queria pensar sobre o que isso poderia significar.

Olhei para o cachorro angustiado que andava ao redor


de Maddox como se estivesse esperando o momento perfeito
para rasgá-lo. Quando Earl e Cody se foram, ajoelhei-me nas
grades. — Maddox, — sussurrei, depois mais alto. — Maddox,
acorde!
Suas pálpebras tremeram, mas não abriram. O cachorro
cheirou seu ferimento. E se a fera começasse a roê-lo? Eles
foram alimentados hoje? Não prestei atenção aos canis
enquanto olhava pelas janelas.

— Xô, — sibilei, tentando assustar o cachorro, mas ele


só me deu uma olhada rápida antes de continuar
inspecionando Maddox. — Vá embora! — Rosnei, batendo nas
grades. Quando isso não teve o efeito desejado, me virei e
agarrei minha tigela de água. Joguei a água no cachorro e ele
saltou para trás. Em seguida, investiu contra mim e saltou
contra as grades. Tropecei para trás.

Maddox soltou um gemido. Um pouco da água também


o atingiu no rosto. Seus olhos se abriram e ele rolou, em
seguida, apoiou-se nos cotovelos. Ele balançou a cabeça,
como um cachorro antes de olhar ao redor. Seu olhar se
concentrou no cachorro tentando derrubar as grades entre
ele e eu.

— Wesson, deite-se! — Ele ordenou em uma voz tão


afiada quanto um chicote. — Deite! — A besta realmente
ouviu e afundou em sua barriga, sua língua rosa
preguiçosamente para fora. Exceto por Satan, realmente não
tinha me conectado com nenhum dos outros cães.

— Você está bem? — Perguntei.

Maddox esfregou a cabeça, fazendo uma careta e


levantou. Ele oscilou um pouco enquanto se aproximava de
mim. — Apenas uma dor de cabeça filha da puta.
— Seu tio estava muito zangado com você.

— Ele está chateado. Ele acha que te escolhi ao invés do


clube.

Não disse nada. — Ele disse algo sobre uma surpresa


especial para mim hoje.

Maddox suspirou. — Essa é uma das razões pelas quais


queria te tirar daqui.

— O que é?

— Meu tio quer tatuar algo nas suas costas.

Meu sangue gelou. — Não acho que será algo que eu


goste, — falei, tentando soar blasé, mas falhando. — O que é?

Maddox balançou a cabeça.

— Diga-me.

Ele agarrou as grades com força, seus olhos ferozes. —


Honestamente não sei. Eles não compartilham mais nada
comigo.

Assenti. Meus dedos tocaram a bandagem sobre minha


orelha machucada. — Acho que posso me considerar sortuda
por eles não escolherem minha testa para a tatuagem. Talvez
na próxima vez?

— Não posso mais te proteger, — Maddox disse


calmamente. — Foi por isso que entrei em contato com seu
pai e lhe contei sobre nosso paradeiro.
Meus olhos se arregalaram e me aproximei mais, meus
dedos fechando sobre os dele. — Você contou ao meu pai? —
Apesar de seu ódio por meu pai, considerando o que ele
testemunhou quando criança, eu podia entender seu
raciocínio mesmo que não o compartilhasse, ele o contatou
para me salvar.

— Ele pode te salvar. Ele tem a mão de obra


necessária. Ele provavelmente já está a caminho. Com um
pouco de sorte, você voltará para casa esta noite.

Meu coração bateu mais rápido. — E você? Depois dessa


traição, seu tio não vai perdoá-lo.

— Ele não vai. Ele vai me matar depois que terminar


com você. Ele quer que te veja machucada porque sabe o que
isso faz comigo. Mas duvido que ele sobreviva ao ataque de
seu pai, nem eu.

Papai torturaria e mataria todos eles, como mereciam. A


menos que implorasse a papai para poupar Maddox. Esse
nunca foi o plano. Originalmente busquei a confiança e
proximidade de Maddox para me salvar no caso de papai não
me encontrar a tempo. Mas as coisas mudaram, mesmo que
não quisesse que isso acontecesse. Não queria que Maddox
morresse. Meu peito apertou dolorosamente com o mero
pensamento de sua morte. Ele não era inocente, longe
disso. Ele era culpado de me sequestrar, de me entregar nas
mãos de seu tio em primeiro lugar. Claro, seu tio teria
simplesmente enviado outra pessoa se Maddox não tivesse
concordado, mas esse não era o ponto. — Meu pai não vai
mata-lo se eu pedir que ele te poupe.

Maddox encostou a testa nas grades. — Por que você


faria algo assim?

— Porque quero que você viva, — disse apenas. Havia


mais do que isso, nada que quisesse considerar ou expressar
neste momento.

— Mas a que custo? O que seu pai vai querer de mim, se


ouvi-la, —Maddox perguntou baixinho.

— Ele pedirá que você queime seu colete, quaisquer


laços com outros motoqueiros e jure lealdade, pelo menos. —
E para que isso acontecesse, um quase milagre era
necessário. O ódio de papai por motociclistas era ilimitado
neste ponto, sem dúvida, e Maddox estaria no topo de sua
lista de ódio.

Maddox balançou a cabeça lentamente, seus lábios


torcendo com nojo, como se o mero pensamento de fazer
qualquer uma dessas coisas fosse impossível para ele. — O
que há entre nós é uma coisa, mas meus sentimentos em
relação ao seu pai não mudaram.

— Então você tem que colocá-los para descansar. É sua


única chance se quiser que meu pai te poupe.

— É melhor morrer em pé do que viver de joelhos,


Branca de Neve. Morrerei antes de cair de joelhos diante de
seu pai e pedir misericórdia.
Revirei meus olhos. — As coisas são sempre pretas ou
brancas para os homens, especialmente alfas. Mas a vida
está cheia de áreas cinzentas. Você ainda pode ser livre e
manter seu precioso orgulho se jurar lealdade ao meu pai.

— Branca de Neve, direi mil vezes até que entre na sua


linda cabeça. Seu pai nunca confiará em mim, nem eu
confiarei nele. Ele e eu temos um passado que não pode ser
ignorado. Mesmo o seu charme e nossos sentimentos por
você não mudarão isso.

Pressionei minha testa na dele com as grades entre


nós. — Que sentimentos?

Maddox sorriu sombriamente. — Traí meus irmãos do


clube e meu próprio sangue por você. Que tipo de sentimento
você acha?

— Luxúria, — brinquei, mas minha voz saiu


abafada. Nada disso fazia parte do plano, nem para Maddox,
nem para mim.

— Muito mais.

A comoção e o estalar de galhos fizeram com que


Maddox e eu nos separássemos para observar a área. Cody e
Earl vinham na nossa direção com dois motoqueiros cujos
nomes eu não sabia. Earl tinha Satan na coleira e Cody
carregava algum tipo de máquina.

— Que doce, — Cody falou, um sorriso desagradável em


seu rosto feio. O tio de Maddox, por outro lado, parecia
furioso. — Se soubesse quão facilmente você permite que
uma boceta atrapalhe seu julgamento, teria me assegurado
de que ficasse longe dela.

Maddox olhou para o tio com desprezo e cautela. — É


hora de acabar com este jogo. Vitiello era nosso alvo, Earl.

Seu tio o ignorou pairando na frente da minha gaiola e


me olhando com um brilho inquietante nos olhos. — Cody
tem um talento especial para tatuagem. Espero que goste.

Ele destrancou a porta da gaiola. Resisti ao impulso de


recuar, mesmo que cada fibra do meu corpo gritasse para
fugir. Eu era uma Vitiello. Não podia parecer fraca, mesmo se
estivesse com medo do que estava por vir. Senti o mesmo
terror quando fui sequestrada, pronta para quebrar sob a
força do meu medo, mas não cedi, e também não cederia
agora.

Cody carregou a máquina de tatuagem, percebi agora,


para dentro da gaiola antes de agarrar meu braço com força
enquanto mais dois motoqueiros entravam na gaiola
estreita. Eles colocaram um gerador ao meu lado e
conectaram a máquina de tatuagem a ele.

— Solte-a, — Maddox fervia, seus olhos transbordando


de fúria enquanto agarrava as grades, parecendo pronto para
derrubá-las.

— Sua palavra significa merda, idiota, — disse


Cody. Eles nos torturariam e matariam antes que meu pai
chegasse?
Acreditava em um poder superior, mas nunca orei
muito. Mesmo assim, implorei a quem quer que estivesse
ouvindo que deixasse meu pai chegar a tempo. A tempo de
me poupar mais dor e tudo o que Cody colocaria na minha
pele. Para salvar Maddox também.

Cody me empurrou contra o abrigo do cachorro e caí


para frente, apoiando-me na superfície suja. Outro homem
agarrou meu pescoço e me segurou. Um rasgo soou e o ar
tocou minha pele quando minhas costas foram
expostas. Lutei, mas não tinha chance contra os três homens
na gaiola comigo.

— Earl, seja razoável, pelo amor de Deus. Vitiello


chegará aqui a qualquer momento. Não perca seu tempo com
isso, — Maddox tentou argumentar com seu tio, mas sua voz
não soava como a de alguém que queria negociar. Parecia
mortal.

— Vitiello quer nos ferrar? A filha dele pagará o preço.

Virei meus olhos para o lado até que peguei o olhar de


Maddox. O zumbido de uma agulha de tatuagem soou. Cravei
meus dentes em meu lábio inferior. No momento em que a
agulha tocou minhas costas, a dor irradiou pela minha
espinha. Fechei os olhos com força, contra a expressão
desesperada de Maddox e do mundo como um todo. Cody
provavelmente estava se certificando de que fosse
particularmente doloroso, mas exceto por algumas
inspirações bruscas de ar, não dei a nenhum deles a
satisfação de gritar ou suplicar. Todos eles pagariam dez
vezes mais. Mesmo que desse meu último suspiro, teria
certeza disso.

Eventualmente, a dor se transformou em uma


queimadura de fogo e formigamento que acabei me
acostumando. Não tinha certeza de quanto tempo a provação
demorou, mas quando finalmente fui solta, me senti muito
fraca para me endireitar. Fingi que tinha desmaiado. Meus
olhos queimavam com lágrimas prestes a cair e então forcei
minhas pálpebras a se fechar.

— Não é tão forte quanto o pai dela agora? — Earl disse.

Não reagi. Deveria ter dado uma resposta, mas neste


momento, não podia fazer isso. Precisava de minha energia
para a luta que estava por vir. Precisava da minha força para
o reencontro com minha família, para que eles não
precisassem se preocupar mais do que já se preocupavam. E
não desperdiçaria nada com Earl ou Cody ou qualquer outro
motociclista idiota.

— Você está morto, — Maddox rosnou.

Não tinha certeza de com quem ele estava


falando. Provavelmente Cody. Seu vínculo com seu tio ainda
era muito forte.

Um hálito quente passou pelo meu ouvido, arrepiando


todo o meu corpo e enviando um calafrio pela minha espinha,
o que fez uma nova onda de dor percorrer minhas costas. —
Isso é o que você ganha por mexer com a gente. E logo vou
foder sua bunda bem na frente dos olhos de seu pai. Talvez o
force a te foder também para salvá-la, — Earl murmurou.

Não queria nada mais do que chutá-lo nas bolas, mas


permaneci imóvel. Ainda não tinha certeza se minhas pernas
teriam obedecido se tentasse. Me sentia trêmula e minhas
costas latejavam. Pior do que a dor, porém, era a incerteza
sobre a tatuagem. Deve ser algo desagradável. Earl parecia
muito presunçoso.

— Agora você, Mad. Estava pensando no que fazer com


você, se deveria deixa-lo assistir a prostituta sendo fodida por
cada um de nós antes de matá-la, mas percebi que mantê-lo
vivo neste momento é um risco que simplesmente não posso
correr.

Virei minha cabeça para o lado até poder ver tudo. Earl
destrancou a porta da gaiola e Cody tirou o outro cachorro da
gaiola. Earl libertou Satan. — Acho que nós dois sabemos
que deve que acabar assim. — O sorriso de Earl era cruel. Ele
trancou Satan na gaiola com Maddox, que se virou
lentamente pressionando suas costas contra as grades.

Meu sangue gelou, percebendo o que Earl estava prestes


a fazer. Mas Maddox conhecia os cães... Satan não o
atacaria... certo?

— Satan, mate — gritou Earl.

Me endireitei apesar da dor nas minhas costas. Satan


hesitou um momento antes de atacar Maddox e se lançar
contra ele. Maddox ergueu os braços para proteger o rosto e a
garganta. Satan latiu e mostrou seus dentes, mas não
mordeu Maddox ainda.

— Mate-o! — Earl rosnou.

Tropecei em meus pés e em direção às grades,


agarrando-as. — Não, Satan, pare!

— Solte! — Maddox gritou. — Não!

Satan caiu sobre suas patas e se virou, obviamente


confusa com a miríade de ordens. Earl podia ser seu dono,
mas nunca a tratou como um cachorro deveria ser
tratado. Talvez isso o mordesse na bunda agora.

— Cadela estúpida, — sibilou Cody. Earl caminhou em


direção a outra gaiola com um grande rottweiler macho e o
agarrou pelo pescoço, arrastando-o em direção à gaiola de
Maddox.

— Não, — sussurrei. O sangue correu em meus


ouvidos. Estava começando a sentir náuseas de medo e da
tatuagem, mas me agarrei às grades, apesar das minhas
pernas bambas.

Earl destrancou a porta novamente e empurrou o outro


cachorro para dentro. Satan girou, mostrando seus
dentes. Esses cães eram treinados para lutar uns contra os
outros.

— Mate, — Earl ordenou, apontando para Maddox, e o


cão macho não hesitou. Ele atacou Maddox, mas Satan
obviamente queria defender seu território e colidiu com ele.
Earl encolheu os ombros. — Ele tem onze quilos sobre
ela. Quando ele a matar, pode mastigar seu rosto,
Mad. Aproveite o show, puta.

Cody e Earl se viraram e partiram.

O cachorro maior estava em cima de Satan, mas era


difícil acompanhar sua luta violenta enquanto eles rosnavam,
mordiam e lutavam.

Satan gritou de dor. — Maddox!

— Foda-se, — Maddox murmurou. Ele tirou o cinto e o


enrolou na mão para que a fivela cobrisse os nós dos dedos,
então andou em direção aos cães lutando, agarrou o macho
maior pela coleira e o puxou para trás. O animal era pesado,
por isso não voou muito longe e rapidamente se voltou para
Maddox, que deu um soco com a fivela no focinho do
cachorro. Com um ganido alto, o cachorro saltou para longe,
balançando a cabeça. Maddox elevou-se sobre ele. — Calma,
agora! — O cachorro se deitou, ofegando pesadamente, o
focinho coberto de sangue. Provavelmente de Satan. Ela
estava deitada de lado, respirando pesadamente.

Me ajoelhei, me sentindo trêmula. Minhas costas


latejavam e eu estava apavorada. Por mim, por Maddox, até
mesmo por Satan. Era demais para engolir. Tudo me pegou
naquele momento e parte de mim queria se encolher no
canto.

— Branca de Neve? — Maddox murmurou, sua voz


misturada com preocupação. — Marcella?
Levantei minha cabeça muito rapidamente e me
arrependi quase que instantaneamente quando uma dor
aguda atingiu minhas costas. Minha pele parecia muito
pequena para o meu corpo e poderia rasgar a qualquer
momento. Ignorando isso, me endireitei totalmente de novo,
em seguida, sentei na beirada da gaiola. Quando minha
vertigem desapareceu, fixei meu olhar em Maddox.

— Satan está gravemente ferida?

Ele balançou a cabeça. — Não pense nisso agora. Temos


que tirá-la daqui viva.

Seu olhar disparou para minhas costas expostas. A


culpa e a fúria criaram uma combinação potente em seus
olhos.

— O que a tatuagem diz? — Perguntei, surpresa com o


quão crua e seca minha voz soou.

— Não pense nisso agora. Existem coisas mais


importantes com que se preocupar.

— Não me diga com o que me preocupar, Maddox. Eu


quero saber. — Precisava saber. Tudo era melhor do que
essa incerteza esmagadora. Minha mente invocaria os piores
cenários.

— Marcella, — ele murmurou, seus olhos me pedindo


para deixar para lá.

— Diga-me, — rosnei. — Eu não sou frágil, então não


me trate assim!
—Prostituta Vitiello.

Balancei a cabeça, então me levantei e brevemente virei


minhas costas para Maddox escondendo minha expressão
dele. Estava tão brava com ele. Isso era culpa dele.

— Sinto muito, porra. Isso não deveria acontecer. Eu


juro. Se eu soubesse...

— Então o que? — Perguntei asperamente, girando para


ele. — Você não teria me sequestrado?

Maddox encostou a testa nas grades. — Sim. E teria


feito tudo ao meu alcance para impedir Earl de deixar outra
pessoa sequestra-la também.

Lhe dei um olhar incrédulo. — Você odeia meu pai mais


do que tudo no mundo. Você mesmo disse. Faria qualquer
coisa para se vingar dele. Por que se importa com a perda do
lóbulo da orelha e uma tatuagem insultuosa para a filha do
seu pior inimigo?

— Às vezes, as prioridades mudam. Você não tem que


acreditar em mim, mas é a maldita verdade.

Me aproximei dele. O vento aumentou, tocando minhas


costas doloridas. — E quais são suas prioridades agora,
Maddox?

Maddox estendeu um braço tatuado, a palma da mão


para cima, esperando que a pegasse.

Não me mexi.
— Traí meus irmãos por você. Talvez morra por você
assim que seu pai colocar as mãos em mim.

— Você trouxe isso para si mesmo, não por mim.

— Se alguém tivesse matado seu pai bem diante de seus


olhos, seu irmão não desejaria vingança?

— Não apenas meu irmão, — admiti. Maddox assentiu


severamente.

Coloquei minha mão na dele e seus dedos se fecharam


em torno dos meus. — Você quer matar meu pai. Enquanto
for esse o caso, estamos perdidos.

— Vivi por vingança por muito tempo, é difícil abrir mão


de algo assim. Mas se há alguém por quem faria isso, é você,
Branca de Neve. Faria qualquer coisa por você.

Queria acreditar nele. Mas depois de tudo o que


aconteceu, não estava disposta a lhe dar o benefício da
dúvida.

— Ataque! — Alguém gritou.

A mão de Maddox ao redor da minha se apertou. — Seu


pai está aqui para salvá-la e me matar, Branca de Neve.

— A menos que um de seus irmãos motoqueiros me


mate primeiro, — disse.

Ele me puxou em sua direção, seus olhos queimando de


emoção. — Vou me certificar de que você chegue em
segurança ao seu pai. Agora dê a um homem moribundo seu
último beijo.
Permiti que ele me puxasse ainda mais até que meus
lábios tocassem os dele através das grades. Ele aprofundou o
beijo, cheio de saudade e desejo. Afundei nele mesmo que
mais gritos ecoassem, enquanto o mundo ao nosso redor
explodia em guerra. Tiros cortaram os gritos. Tiros rápidos de
metralhadoras. Como um homem se afogando tentando
respirar, Maddox se afastou de mim e me soltou. —
Pressione-se contra a parede até que diga para se mover ou
veja seu pai. Agora!

Fiz o que ele pediu e tropecei em direção ao fundo do


canil. Maddox e eu nos olhamos de novo, e isso pareceu um
adeus.

Provavelmente um de nós morreria, talvez nós


dois. Meu coração se apertou achando que esse era o fim
para nós, para um amor que nunca deveria ser, um amor
sem chance de um final feliz.
Capítulo 17

Precisava ter certeza de que Marcella sairia disso


viva. Eu morreria de qualquer maneira, pelas mãos dos meus
irmãos do clube ou pelo pai dela. Havia uma estranha
sensação de alívio ao saber da morte certa.

Examinei nossos arredores, esperando que Gray


passasse correndo. Ele era nossa única esperança. Nenhum
dos outros homens, nem mesmo Gunnar me ajudaria a
escapar. Nem tinha certeza se Gray faria isso. O abismo entre
nós havia crescido nas últimas semanas. Tiros soaram na
cerca. Nosso poder de fogo manteria Vitiello e seu exército
longe por um tempo. Não esperaria aqui como um rato na
armadilha.

Tentei não olhar para Marcella, que estava pressionada


contra a parede de seu canil. A queria fora de perigo. As
chances de ser atingida por uma bala perdida eram muito
altas. Sem mencionar que Earl ainda poderia matá-la para
punir Vitiello.
Lancei um olhar cauteloso para o cachorro. Ele não se
moveu de seu lugar, mas estava me observando. Esperava
que ele tivesse esquecido as ordens de Earl. Ser dilacerado
por seus dentes não era meu desejo de morte. Não que a
morte nas mãos de Luca fosse muito melhor. Satan ainda
respirava, mas o sangue se acumulava sob sua perna
traseira. Duvidava que ela sobrevivesse.

E então vi um flash de cabelo loiro brilhante e o colete


combinando. — Grey! — Gritei.

Seus olhos dispararam para mim, arregalados de


desorientação e ansiedade. Ele se curvou para escapar das
balas.

— Gray! Venha aqui!

Ele olhou na minha direção mais uma vez, o conflito


refletindo em seu rosto. Quando Earl saía com seus irmãos
do clube, se embebedando ou fodendo, e mamãe estava em
um surto depressivo, eu cuidava dele, o segurava à noite
quando ele tinha medo dos monstros do escuro.

Então ele correu em minha direção, com a cabeça


baixa. Não tinha certeza se Luca e seus homens já haviam
ultrapassado a cerca, mas suspeitava que sim. Uma cerca
de arame não os impediria por muito tempo, mas passar por
nossos guardas armados demoraria mais.

Quando Gray finalmente chegou na frente da minha


gaiola, dei um suspiro de alívio.

— O que aconteceu com os cachorros?


— Você tem que me ajudar, Gray. Morrerei se ficar
trancado aqui.

O olhar de Gray voou para Marcella e ele estreitou os


olhos. — Você é a razão pela qual estamos sob ataque. Se te
soltar, lutará contra nós.

— Gray, — disse implorando, pressionando com força


contra as grades. — Earl colocou os cachorros em mim para
que eles pudessem me matar.

Gray balançou a cabeça como se não pudesse


acreditar. — Ele não faria...

— Não faria? Vamos, nós dois sabemos que não é


verdade.

Gray não disse nada, apenas observou Satan.

— Somos irmãos. Você realmente me quer indefeso em


uma gaiola de cachorro para que Vitiello possa me
destruir? Você sabe o que ele fez com meu pai. E fará o
mesmo comigo, não importa se ajudei a filha dele, que foi o
que fiz. Você viu o que Earl fez com ela. Não é certo. Isso não
tem nada a ver com Vitiello. Ainda o quero morto e não
hesitarei em matá-lo se tiver a chance.

Precisava falar com Gray rapidamente antes que Earl


nos visse, ou meu irmão fosse atingido por uma bala da
Famiglia.

Ele olhou de volta para o clube e depois para mim. —


Não sei se posso confiar em você.
— Você pode, — disse ferozmente, mas não tinha certeza
se ele poderia. Nesse momento, minha única prioridade era
colocar Marcella em segurança. Uma vez que isso fosse feito,
faria o possível para ajudar Gray. Se algo acontecesse com ele
por causa da minha traição, nunca seria capaz de me
perdoar. Eu o queria seguro. Queria uma vida diferente para
ele.

Gray tirou seu chaveiro e tive que resistir à vontade de


arrancá-lo de sua mão. Em vez disso, esperei que ele
destrancasse minha gaiola. No momento em que o clique
familiar soou, empurrei a porta e corri para o canil de
Marcella.

— Agora ela.

— Não, — Gray rosnou. — Não me importo com o que


acontece com ela. Ela estragou tudo.

— Não foi escolha dela ser sequestrada por nós.

— Mas foi escolha dela seduzi-lo e bagunçar sua


mente. Antes dela, o clube sempre vinha em primeiro
lugar. Você vivia pelo clube, por vingança, e agora olhe para
você.

— Você não queria o sequestro. Olhe para as costas


dela! — Me virei para Marcella. — Mostre a ele.

Ela apresentou suas costas tatuada para nós. A visão


ainda fez meu sangue ferver de raiva. O lugar entre seus
ombros estava vermelho e ensanguentado, e Prostituta
Vitiello estava escrito em letras pretas feias em sua pele.
Os olhos de Gray se arregalaram e ele engoliu em seco.

— Gray, me ajude. Você quer a morte de uma mulher


inocente em sua consciência?

Gritos soaram.

Gray se voltou para a luta, mas não podia permitir que


ele saísse com as chaves. Me lancei contra ele e agarrei seu
braço. — Dê-me as chaves.

Ele se virou para mim com uma expressão incrédula. —


Eu sabia!

— Você não sabe de nada, Gray. Não seja uma ovelha


que segue cegamente o rebanho até a morte. Fuja enquanto
ainda tem chance.

— Não vou sair do clube.

O puxei ainda mais perto. — Gray. Nosso clube tomou o


caminho errado quando sequestramos Marcella, mas com
certeza entramos direto no território do fogo do inferno
quando Earl começou a torturá-la. Não me diga que de
repente você concorda com o que aconteceu?

— Não, — ele rosnou. — Fui contra o sequestro desde o


início, mas Earl é o presidente deste clube e é nosso trabalho
seguir suas ordens.

Gray livrou-se do meu aperto e saiu


cambaleando. Esperava que ele subisse em sua moto e
salvasse sua própria bunda. Ele era um cara legal e não
merecia cair com este clube. Se Vitiello colocasse as mãos
nele, ele não teria misericórdia, mesmo se ele ainda fosse
uma criança.

Me virei para a gaiola de Marcella. Ela tropeçou em


direção à porta quando a destranquei e caiu em meus
braços. A beijei ferozmente, sem me importar com as balas e
gritos. Precisava prova-la antes que nunca pudesse vê-la
novamente. Ela relaxou brevemente contra mim e o tempo
pareceu parar. Nada importava, exceto seus lábios, seu
corpo, o fogo queimando em seus olhos. — Precisamos leva-la
até o seu pai, — disse asperamente.

— E quanto a Satan?

— Marcella, não podemos ajudá-la agora. Ela é muito


pesada para carregarmos. — Uni nossas mãos e a guiei para
longe das gaiolas. Os outros cães se acalmaram e se
esconderam em seus abrigos. A visão do meu olho esquerdo
ainda estava prejudicada. Talvez o sangue tivesse secado em
meu globo ocular, ou a batida na minha cabeça tivesse
deixado um dano duradouro, não tinha certeza. Marcella
tinha dificuldade em acompanhar meus passos, mas não
reclamou.

Avistei Gunnar e alguns prospectos saindo da sede do


clube em direção à cerca, provavelmente para defender
nossas fronteiras, mas conhecendo os números de Vitiello,
duvidava que tivessem alguma chance. Ele passaria direto
por nós e não deixaria nada em seu rastro.

Uma explosão soou, espalhando estilhaços de madeira e


cerca ao nosso redor. Empurrei Marcella para baixo e a
protegi com meu corpo. Minhas costas queimaram, mas não
me mexi até que uma nova onda de gritos e tiros ecoou. O
som de espingardas fez minha cabeça girar. Como temia, Earl
e vários motoqueiros saíram da sede do clube em direção aos
canis.

Puxei Marcella de pé. Ela também tinha visto os


motoqueiros vindo em nossa direção. A arrastei para longe,
mas correr em direção à cerca onde a maior parte da luta
estava acontecendo apresentava o risco de ser atingido por
uma bala de qualquer lado. Vitiello estava a caminho, só
precisava garantir que Marcella continuasse viva até
então. Nada mais importava.

Invadi o lugar mais improvável, a sede do clube. Como


esperado, estava vazia, exceto por um prospecto de aparência
aterrorizada. Ele se atrapalhou com sua arma, mas não
conseguiu soltar o pino de segurança. Soltei a mão de
Marcella e me lancei contra ele, arrancando a arma de sua
mão antes de acertá-lo na cabeça com a coronha. Peguei
outra arma e sua faca, então arrastei Marcella para trás do
balcão. Tinha sido reforçado com tábuas de madeira e
poderia aguentar algumas balas. Claro, as espingardas
acabariam por rasgá-lo, mas tinha que confiar que Vitiello
nos encontraria.

O tiroteio e os gritos se aproximaram. Parecia que a


terceira guerra mundial havia estourado. Marcella olhou para
mim com olhos arregalados, ofegando suavemente.
— Tudo ficará bem. Seu pai estará aqui a qualquer
momento e vou mantê-la segura até lá. — E então todo o
inferno se soltou ao nosso redor. A prateleira atrás de nós
explodiu. Álcool e cacos de vidro foram catapultados em
nossa direção. Minhas costas ascenderam com uma nova dor,
mas só me concentrei em Marcella, que se encolheu na
minha frente. Toquei sua bochecha brevemente, querendo
gravar a imagem de seu rosto em minha mente para que
pudesse me lembrar em meus últimos momentos.

Passos soaram e uma porta foi fechada. — Barriquem a


porta! — Earl gritou e prendi a respiração, percebendo que
ele estava na casa e, a julgar pela miríade de vozes, vários
homens estavam com ele. Maddox e eu estávamos presos.

— Earl! — Papai rugiu. — Dou-lhe cinco segundos para


entregar minha filha antes de derrubar a porra da casa e
cortar você e sua família em pedaços.

Meu coração inchou de alívio ao ouvir a voz de papai.

— Foda-se! Vou mandar a cabeça dela para você, é tudo


o que receberá. Vamos ficar com sua boceta fria para nos
manter entretidos.
Os músculos de Maddox ficaram tensos quando ele
ergueu as armas. — Fique abaixada, — ele murmurou.

Outra explosão soou e estilhaços voaram pela sala. Um


homem cambaleou em nossa direção, provavelmente
procurando abrigo. — Prez, eles estão...

Maddox atirou em sua cabeça antes que ele pudesse


terminar a frase e todo o inferno desabou. Meus ouvidos
zumbiram com o tiroteio. Maddox deu um pulo, erguendo
suas armas. — Earl, não seja estúpido. Todo mundo vai
morrer por causa do seu ego. — Maddox se abaixou e uma
bala explodiu em outra garrafa de bebida.

— Malditos cachorros, vou afogar todos eles.

— Pelo amor de Deus! Seja razoável e entregue Marcella!

Mais tiros soaram seguidos pelo som de madeira


quebrando. Um momento depois, algo atingiu o chão com um
estrondo.

— A porta caiu! — Alguém gritou.

Maddox se levantou bruscamente quando Gunnar


apareceu com uma faca nas mãos. Eles começaram a
lutar. Era óbvio que Maddox não queria matar o homem mais
velho. Por fim, ele conseguiu acertar com força a têmpora do
homem. Gunnar caiu no chão e não se mexeu novamente.

O próximo motociclista que atacou Maddox não teve


tanta sorte. Maddox empalou sua faca no peito do cara.
Comecei a tremer, meus ouvidos zumbindo por causa
dos tiros e homens feridos gritando de dor. Talvez morresse
bem na frente do papai.

Respingos de sangue cobriam o piso de madeira e as


paredes. Maddox saiu da proteção e atirou. Rastejei para
frente, espiando por trás do bar. Uma carnificina brutal
reinava ao meu redor. Sangue e partes de corpos jaziam no
piso.

E no meio de tudo isso estavam papai, Matteo e Amo e


vários soldados da Famiglia, bem em frente à porta enquanto
Earl e seus homens se escondiam atrás da mesa de sinuca
virada. Levei um momento para reconhecer Amo. Seus olhos
estavam selvagens e em sua mão direita, ele segurava um
machado coberto de sangue e carne. Não sabia quantos dos
motoqueiros selvagemente mortos era culpa dele. Este não
era o Amo de que me lembrava.

O irmão que deixei para trás via as brigas como um jogo


divertido. Tornar-se um Capo era um objetivo distante, para o
qual ele ainda não estava preparado. Ele era um garoto
arrogante, em busca de emoção, que gostava de impressionar
as garotas com seu futuro título e aparência. Sua indução
havia sido uma formalidade. Até este ponto, papai o manteve
longe da pior parte dos negócios a pedido de mamãe. Amo
sempre teve uma queda pela violência. Corria em seu sangue,
como corria no meu, embora não tão forte. Mas ele estava
adormecido. Agora, quando vi seu rosto salpicado de sangue
e fome crua de vingança em seus olhos, iguais aos de papai,
percebi que sua verdadeira natureza havia sido despertada.

Maddox me empurrou para trás quando outro


motociclista pulou em nós e cravou uma faca no homem,
matando outro de seus irmãos MC para me salvar. Atrás do
sofá à direita, localizei Gray. Maddox ficaria arrasado quando
percebesse que seu irmão não tinha fugido, mas ficou para
lutar.

Mais homens da Famiglia entraram na casa até que Earl


e alguns outros motoqueiros correram para as escadas em
busca de segurança no segundo andar.

Maddox agarrou meu braço e me ajudou a levantar, me


arrastando pela sala e me protegendo com seu corpo. — Vá
para a sua família. — Ele me empurrou para frente, para
longe de seu calor e tropecei alguns passos,
desorientada. Matteo me pegou em seus braços, mas
engasguei de dor quando ele tocou minhas costas. Ele olhou
brevemente para minhas costas expostas, e sua expressão se
contorceu em descrença e depois fúria. — Terei satisfação
matando-os.

— Leve Marci para um lugar seguro, — papai


rosnou. Marci, o nome não parecia mais adequado para a
garota que eu havia me tornado.

Matteo começou a me arrastar para longe da cena, mas


me virei em seu aperto para me dirigir a papai. — Não o mate!
— Apontei para Maddox, mas não pude dizer mais nada
porque Matteo apertou seu domínio sobre mim e me arrastou
para longe. Meu olhar passou por Maddox e seu sorriso de
despedida enquanto estava coberto de sangue entre seus
irmãos mortos do clube. Ele tinha feito as pazes com a
morte. A última coisa que vi foi quando ele pulou atrás do
sofá ao lado de seu irmão Gray para lutar ao seu lado.

— Não! — Gritei.

— Vamos, Marcella. Vamos levá-la a um médico.

Olhei para meu tio. — Diga ao papai que ele não pode
matar Maddox.

— Deixe seu pai e eu cuidarmos desses idiotas. E não se


preocupe, seu pai quer manter o maior número possível deles
vivos para questionamentos e tortura completa.

Olhei de volta para o clube enquanto tropeçava junto


com meu tio. Dois guardas armados estavam ao nosso lado e
não saíram nem mesmo quando entramos em uma van
preta. Lá dentro, o médico da Famiglia já estava
esperando. Papai pensou em tudo.

— Por que Amo não me trouxe para um lugar seguro? —


Perguntei, surpresa que papai permitiu que ele ficasse.

Matteo torceu a faca na mão, obviamente ansioso para


usá-la em alguém. — Seu irmão insistiu em ter permissão
para lutar e seu pai prefere ficar de olho para que ele não
faça algo estúpido. Mas vou mantê-lo seguro. — Sua boca se
abriu em um sorriso que parecia completamente
errado. Matteo era fácil de lidar como um mafioso, mas hoje
seu lado mais sombrio saiu para brincar.
Sua expressão mudou novamente quando ele olhou para
minhas costas. Só podia imaginar como estava. Eu o
encarei. — Você não pode ir até papai e lhe dizer para não
matar Maddox? Não vou deixar o médico me tratar de outra
forma.

Matteo examinou meu rosto com curiosidade. — O plano


é manter Earl, Maddox e Gray White, bem como o sargento de
armas vivos para que possamos lidar com eles
completamente nos próximos dias. — A excitação fluiu em
sua voz, me lembrando das histórias sobre a tendência de
Matteo para a tortura que tinha ouvido. Sempre era difícil
imaginar, considerando o quão engraçado ele costumava ser.

— Todos os outros estão seguros? Mamãe? Valerio? E


quanto a Isabella e Gianna? Lily e as crianças? — Estava
divagando, mas meus lábios se moviam por conta própria.

— Romero e Growl são responsáveis por sua


segurança. Não se preocupe. Logo tudo estará acabado, e os
homens que te machucaram serão comida de cachorro.

Maddox.

Sabia o que minha família havia planejado, mas isso me


dava tempo para descobrir o que fazer com Maddox e como
convencer meu pai a não cortá-lo em pequenos pedaços. Só
podia rezar para que Maddox não morresse hoje.

— Você tem algum ferimento? — O médico perguntou


calmamente enquanto se sentava no banco ao meu lado.
Toquei cautelosamente minha orelha, que Maddox havia
coberto com uma bandagem nova ontem. — Minha orelha e
minhas costas.

— Vamos começar pelas suas costas, certo?

Balancei a cabeça entorpecida. O doutor teve acesso


livre às minhas costas devido à minha camiseta
rasgada. Depois de alguns minutos de estímulo cuidadoso,
ele disse: — Vou desinfetar tudo e atualizar sua vacina contra
o tétano. E para cobrir todas as nossas bases, vou fazer
alguns exames de sangue para verificar possíveis infecções
que a agulha possa ter transportado. — O que ele não se
atreveu a dizer: possíveis doenças através da relação sexual.

Meu coração deu um salto e eu o encarei com horror.

— Que tipo de infecções? — Matteo perguntou antes que


pudesse dizer uma palavra.

— Hepatite, HIV, para citar algumas.

Podia sentir o sangue escoar lentamente do meu


rosto. Nem havia considerado que a agulha poderia estar
contaminada. A feiura da tatuagem tinha sido minha única
preocupação até agora.

Matteo se agachou diante de mim, me dando um olhar


tranquilizador. — Você vai ficar bem, Marcella.

— Que tal uma possível gravidez? —O médico


perguntou em uma voz muito baixa. A expressão de Matteo
mudou para fúria, mas então seu olhar disparou para mim.
Balancei a cabeça vigorosamente, mas não tinha certeza
se não estava grávida. Tomava pílula há mais de um ano
quando Maddox me sequestrou. Claro, não as tinha
comigo. Mas não queria considerar isso agora. Cuidaria desse
problema quando estivesse em casa.

O alívio no rosto de Matteo foi avassalador. Ele tocou


meu braço. — Logo você estará em casa e esquecerá que isso
aconteceu.

Balancei a cabeça, mas me sentia trêmula e com


frio. Até este ponto, consegui colocar uma máscara de
controle, mas estava escorregando rapidamente. Mal registrei
quando o médico removeu o curativo para verificar minha
orelha. — Existe a opção de remodelar o lóbulo da sua
orelha. Conheço um dos melhores cirurgiões plásticos de
Nova York que terá prazer em atendê-la.

— Como se seu pai e eu lhe déssemos uma escolha, —


Matteo murmurou, batendo em sua palma com a lâmina de
sua faca favorita.

Balancei a cabeça. — Fica do jeito que está. Apenas


certifique-se de que não infeccione.

Matteo encontrou meu olhar, obviamente


confuso. Talvez ele se preocupasse que sofresse de PTSD,
mas não achei que esse fosse o caso.

— Quero um lembrete.

— Espero que não considere manter a tatuagem


também, — ele brincou com a voz seca.
Dei de ombros. — Quão ruim é?

— Muito ruim, — disse ele. — Existem opções para


remover tatuagens.

— Eu sei, — disse. Nem ousei espiar por cima do ombro


ainda. Mais tarde seria a hora de enfrentar o horror.

O médico cobriu a tatuagem com bandagens e Matteo


jogou um cobertor sobre meus ombros, então ficamos
sentados em silêncio, esperando que a luta acabasse. Pude
ver no rosto de Matteo que ele queria voltar e fazer parte do
derramamento de sangue. Estava grata por ele ter ficado
comigo. Não queria ficar sozinha agora.

Minha mente vagou para Maddox, que arriscou tudo


para me salvar. Ligar para meu pai e lhe contar sobre a sede
do clube foi suicídio. Ele disse que me amava. Não confiava
em meus próprios sentimentos. O amor verdadeiro poderia
nascer em cativeiro?
Capítulo 18

Observei Marcella sendo arrastada pelo irmão de


Vitiello, o amante de facas. Seus olhos brilharam de pânico
quando pousaram em mim, e ela gritou com seu pai para me
poupar.

Sorri ironicamente. A expressão que vi no rosto de Luca


Vitiello era a mesma que vi muitos anos atrás. Ele veio para
mutilar e matar, não para poupar ninguém. Certamente não
eu, e tampouco Gray. Não merecia misericórdia e nunca a
quis. Meu olhar disparou para meu irmão curvado atrás de
um sofá. Não me importava com minha vida, mas tiraria Gray
daqui vivo, mesmo que tivesse que matar Luca e seus
homens.

Fiz uma corrida louca até o sofá e caí no chão ao lado de


Gray. Ele estava sangrando de um ferimento de bala no
braço, mas, fora isso, parecia ileso. Verifiquei a ferida,
ignorando seu estremecimento enquanto cutucava
sua carne dilacerada. A bala estava alojada, o que não era
ruim, considerando que evitava sangramentos ainda
maiores. Haveria tempo para removê-la mais tarde.

Gray segurava uma arma em sua mão esquerda, mas


sabendo que ele usava seu braço direito, agora ferido, poderia
muito bem estar desarmado.

— Você tem munição?

Ele assentiu. — Mais quatro tiros.

Isso não era o suficiente contra o exército que


enfrentávamos. Não era nem mesmo o suficiente contra a
sede de Luca fodido Vitiello por sangue.

— Ok, me escute, Gray. Vou tentar distraí-los e disparar


todas as balas que tenho sobre eles para que você possa
salvar sua bunda.

Seus olhos se arregalaram. — Não vou fugir como um


covarde. Papai precisa da minha ajuda.

— Earl correu escada acima para salvar sua própria


bunda, te deixando aqui para lidar com Vitiello e seu
exército. Ele não merece sua preocupação.

Gray balançou a cabeça. — Não sou um covarde.

— Não, você não é. Mas você também não é idiota, e


ficar aqui é tolice. Não podemos sair disso vivos, não com os
números contra nós. Mas você conhece todos os caminhos
secretos para sair da floresta. Se alguém pode sair daqui, é
você. — Gray continuou balançando a cabeça. Agarrei seu
colete. — Porra. Mamãe precisa de você. Se Earl e eu
morremos, ela precisará de você.

Isso pareceu entrar em sua cabeça dura.

— Saia daí, White — disse Luca. Presumi que ele se


referia a mim, considerando que Earl havia subido as escadas
correndo para se esconder.

Dei um aceno em direção a Gray. — Corra em direção à


porta dos fundos tão rápido quanto suas pernas o levarem
quando lhe der o sinal, entendido? — Eu não seria
responsável por sua morte.

— Entendido, — Gray murmurou.

— Bom. — Me levantei e comecei a atirar em tudo que se


movia. Luca e outro homem que não conhecia procuraram
cobertura do lado de fora, mas continuaram atirando em
mim. Amo Vitiello se escondeu atrás da mesa de sinuca
virada, mas também atirou em mim. Me abaixei atrás do sofá,
feliz pelas placas de metal que Gunnar tinha prendido na
parte de baixo algumas semanas atrás, em preparação para
um possível ataque.

Pulei de volta no momento em que Luca e dois homens


atiraram novamente. Levantei minha arma, pronta para abrir
buracos em todos.

Luca foi distraído por seu filho


correndo loucamente escada acima, provavelmente para
matar os motoqueiros restantes sozinho. Conhecia essa
sensação invencível da minha adolescência. — Sigam Amo! —
Ele rugiu para seus homens. Eles não hesitaram e correram
atrás do jovem Vitiello, deixando seu Capo sozinho comigo.

— Corra, — gritei para Gray usando esse momento


único e avancei. Vitiello reagiu tarde demais e me lancei
contra ele, fazendo nós dois voar para o chão. Ele me agarrou
pela garganta, cortando meu suprimento de ar, mas só
aumentei meu domínio na faca e a enfiei em sua perna, o
único lugar que pude alcançar. O filho da puta mal
estremeceu, mas seu aperto na minha garganta afrouxou o
suficiente para respirar fundo. Em seus olhos, vi o mesmo
ódio que sentia.

Seu filho soltou um rugido no andar de cima, seguido


por tiros, gritos e mais tiros. Lá fora, o tiroteio cessou, o que
significava que logo o resto dos soldados de Vitiello
chegariam. O Capo deles estaria morto então.

Vitiello apertou meu pescoço mais uma vez, seus olhos


queimando de raiva. Enfiei minha faca em sua coxa
novamente. Minha cabeça começou a girar por falta de
oxigênio. Tentei me afastar dele, mas seus dedos em volta da
minha garganta eram como a porra de um torno. Levantei a
faca e sua outra mão disparou, agarrando meu pulso para me
impedir de enfiar a lâmina em sua cabeça e dividir seu
crânio.

Um grito ecoou no andar de cima e por um instante a


atenção de Vitiello mudou, cheia de preocupação, e escapei
de suas mãos e abaixei a faca, mirando em seu olho. Este foi
o momento pelo qual esperei por toda a minha vida.
O rosto de Marcella passou pela minha mente e joguei
meu braço para o lado no último momento, arranhando o
lado de sua cabeça e enfiando a faca no piso de madeira. Não
podia fazer isso com ela. Porra. O que essa mulher fez
comigo?

Os olhos de Vitiello fixaram-se nos meus, furiosos e


questionadores. Ele não entendeu por que não o matei. Eu
dificilmente faria isso.

— Isto é por Marcella, apenas por ela, seu bastardo


assassino.

Seus olhos se moveram para algo atrás de mim, mas


antes que pudesse reagir, a dor irradiou pelo meu crânio e
minha visão tornou-se negra.

A porta da van se abriu e papai entrou, mancando


muito. Um longo corte na lateral de sua cabeça sangrava
profusamente, pingando sangue por toda a camisa, rosto e
braço. Ele imediatamente me puxou para um abraço
apertado, que afrouxou quando estremeci. Ele cheirava a
sangue e fluidos corporais ainda menos atraentes, mas sua
proximidade ainda parecia um bálsamo para minha alma
tumultuada. Ele se afastou e segurou minhas bochechas,
examinando meus olhos como se estivesse preocupado que
não fosse a mesma filha de que ele se lembrava. Eu
certamente mudei, mas ainda era eu, a minha versão que
nunca veio à tona porque minha vida aconchegante nunca
exigiu isso. Atrás de papai, ainda fora da van, Amo
esperava. Ele limpou sangue e carne de seus braços. Fiquei
maravilhada com as linhas duras de seu rosto que não
estavam lá antes. Ele brevemente olhou para cima e forçou
um sorriso que parecia grotesco em seu rosto ensanguentado.

Por alguma razão, não suportei vê-lo assim. O sequestro


me mudou. Como não poderia? Mas esperava que não
causasse um dano duradouro às pessoas que eu amava. Ao
vê-los agora, percebi que meu desejo não havia sido atendido.

— O que aconteceu com a sua perna? — Perguntei a


papai, desviando o olhar de Amo.

— Nada. Vamos levá-la para casa agora, — ele disse em


uma voz rouca. Nunca vi papai assim, coberto de sangue e à
beira do controle.

— E quanto a Maddox? — Perguntei, não pude


evitar. Precisava saber. Talvez sua morte tornasse as coisas
mais fáceis, mas meu coração apertou agonizantemente com
o mero pensamento. Ele era a razão pela qual estava aqui
hoje, em mais de um sentido. Ele era culpado pelo meu
sequestro e responsável pela minha liberdade. Eu odiava e...
talvez o amasse, se o amor pudesse florescer em uma
situação como a nossa.

Papai empurrou o punho contra a lateral da van, a


expressão se retorcendo de raiva.

Meu coração bateu mais forte. — Pai?

O rosto de papai ficou sombrio. — Ele está vivo como


alguns outros e será levado a um local onde será interrogado.

Alívio passou por mim. Sabia o que interrogar


significava em termos da máfia, mas enquanto ele não
estivesse morto ainda, ainda havia esperança para ele, para
nós. Se devesse ter esperança por nós ou por ele. Meus
pensamentos estavam confusos e instáveis demais para
entender. Cada novo pensamento escapava como areia
movediça antes que pudesse terminá-lo.

Matteo pegou seu telefone e saltou da van. — Vou ligar


para Gianna. Ela vai me rasgar ao meio se eu não a avisar
que estamos bem.

Tantas pessoas se preocuparam com seus entes


queridos arriscando suas vidas por mim. Não podia imaginar
o que Gianna e Isabella estavam passando enquanto Matteo
lutava contra motoqueiros loucos para me salvar.

Papai pegou o telefone. Sua expressão me disse que ele


estava ligando para mamãe. — Ela está segura, — ele disse
de cara.
Podia ouvir o suspiro estremecido de mamãe. Então
papai estendeu o telefone para mim. Peguei com dedos
trêmulos.

— Mãe, — disse. — Estou bem.

— Oh, Marci, estou tão feliz em ouvir sua voz. Mal posso
esperar para tê-la em meus braços.

— Estaremos em casa em cerca de uma hora, — disse


papai.

— Se apressem, — mamãe disse suavemente.

Meu pai passou o braço em volta do meu ombro


enquanto me conduzia para dentro de casa, tentando
esconder que mancava, mas deveria ser ruim se ele não
conseguiu esconder da mamãe. E até Amo pairava perto
como se precisasse de vigilância constante agora. Parte da
violência havia deixado sua expressão, mas não toda.

— Controle-se, — papai murmurou. — Sua mãe não


precisa vê-lo assim.

Amo acenou com a cabeça e fechou os olhos


brevemente. Podia ver seu rosto se transformando em algo
mais gentil e infantil, mas era uma luta óbvia, e seus olhos,
quando os abriu, ainda pareciam perdidos.
No momento em que entrei na casa, mamãe pulou do
sofá. Valerio estava com ela e as minhas tias Gianna e
Liliana, e as minhas primas Isabella, Flavio, Sara e
Inessa. Romero e Growl mantiveram vigilância como Matteo
havia dito. Mamãe correu até mim e papai finalmente me
soltou, apenas para mamãe tomar o seu lugar.

Mamãe me abraçou com tanta força que mal consegui


respirar. Estremeci quando suas palmas roçaram a tatuagem
recente nas minhas costas. Ela se afastou com lágrimas nos
olhos cheios de preocupação. Seu olhar voou sobre minha
orelha machucada antes que ela o forçasse de volta aos meus
olhos. Sua palma ainda descansava levemente na bandagem
sobre minhas costas. — O que aconteceu com suas costas?

Não queria lhe contar. Não porque estava com vergonha.


Eu não estava. Estava furiosa e com medo. Furiosa porque
Earl fez isso comigo e com medo de que sempre tivesse que
carregar seu julgamento sobre mim. Quando não disse nada,
ela olhou para papai. O homem que massacrou vários
motoqueiros em um ato de fúria e força parecia cansado
naquele momento. Sua culpa pelo que tinha acontecido
comigo era inconfundível em cada linha de seu rosto, mas o
pior de tudo em seus olhos. Amo fez questão de olhar para
qualquer lugar, menos para mamãe, o que provavelmente era
o melhor, considerando que ele ainda tinha aquele brilho de
louco nos olhos.

Não queria colocar o fardo de contar a mamãe sobre a


tatuagem em papai. Ela não olhava para ele como se o
culpasse pelo que aconteceu, mas ainda me preocupava que
o relacionamento deles tivesse sofrido por causa do meu
sequestro. Meus pais eram objetivos absolutos de
relacionamento em minha mente e o pensamento de que algo
poderia mudar isso era quase pior do que o que tinha
acontecido comigo nas últimas semanas.

— Eles me tatuaram, — disse, tentando soar blasé.

A cor sumiu do rosto de mamãe e os lábios de papai se


contraíram em um esforço para conter sua fúria pelos
homens que fizeram isso comigo.

Mamãe olhou para papai interrogativamente, mas não


perguntou o que a tatuagem mostrava.

— Vamos removê-la assim que você se sentir bem, —


disse papai com firmeza. — Pedi ao médico que tomasse
todas as providências necessárias.

— Obrigada, pai.

Valerio veio até mim e me abraçou também. — Da


próxima vez também vou chutar a bunda dos motociclistas
quando eles te sequestrarem.

Engasguei com uma risada. — Realmente espero que


este seja o último sequestro, e você não deveria amaldiçoar.

Ele revirou os olhos e despenteei sua crina loira antes


que ele pudesse se esquivar. Depois de mais abraços de
Gianna e Isabella, tia Liliana, Romero e meus primos,
finalmente subi as escadas, cansada até os
ossos. Rapidamente me desculpei, oprimida pela onda de
emoções que sentia.

Sozinha no meu quarto após o primeiro banho no que


pareceram dias, tirei a bandagem das minhas costas e me
virei em direção ao espelho comprido. Respirei
profundamente. Maddox tinha me dito o que a tatuagem
dizia, mas vê-la com meus próprios olhos ainda foi como um
soco no estômago.

As letras pretas pareciam quase borradas e eram


finas. Elas me lembravam das tatuagens que os prisioneiros
faziam atrás das grades. As palavras ‘Prostituta Vitiello’
brilhavam de volta para mim. Elas estavam bem entre
minhas omoplatas, abaixo do meu pescoço. Um carimbo de
prostituta, como Earl disse. Engoli uma vez, então me afastei
do espelho. Assim que as pessoas descobrissem o que havia
acontecido entre Maddox e eu, ouviria o insulto com
frequência.

Uma batida soou e saltei, minha frequência cardíaca


acelerando imediatamente. Peguei um roupão de banho e o
coloquei antes de ir até a porta, tentando banir minha
ansiedade irracional. Esta era minha casa. Estava segura
aqui. Quando abri a porta, mamãe sorriu para mim. — Eu só
queria verifica-la.

A deixei entrar. — Papai está em casa?

— Sim, ele está lá embaixo com seus tios, discutindo os


planos para amanhã. Ele virá te desejar boa noite mais tarde.
Sorri, me lembrando de todas as vezes que ele fez isso
quando era mais jovem. Mamãe hesitou e então tocou meu
ombro. — Existe alguma coisa que você queira me falar?

Balancei a cabeça. — Ainda não. Estou bem por


enquanto. — Havia tantas coisas sobre as quais estava
confusa, precisava de tempo para processá-las antes de poder
falar com alguém.

— Você ficará bem sozinha esta noite? Posso ficar com


você.

Beijei a bochecha da mamãe. — Vou ficar bem,


mãe. Não tenho medo do escuro.

Mamãe assentiu, mas pude dizer que ela ainda estava


preocupada comigo. — Boa noite então. — Depois que ela
saiu, coloquei uma das minhas camisolas favoritas para me
sentir mais eu mesma novamente e deslizei para debaixo das
cobertas. Enquanto estava acordada, tomei a decisão de
transformar a tatuagem nas minhas costas em algo que
provasse que era mais forte do que Earl achava que eu
poderia ser. Não me esconderia ou recuaria. Eu atacaria.

Peguei meu telefone e comecei a pesquisar


tatuadores. Não deixaria o julgamento de ninguém
determinar quem eu era. Nem agora, nem nunca.

Apesar das minhas palavras, imagens horríveis me


assombraram no momento em que apaguei as luzes.
Tatuagens grosseiras, pedaços de mim cortados, corpos
dilacerados e cães de luta. Meu estômago embrulhou.
Uma batida me fez pular na cama. — Sim? — Falei,
parecendo trêmula.

Papai entrou, franzindo as sobrancelhas. — Você está


bem, princesa?

— Você pode não me chamar assim? — Pedi,


lembrando-me das muitas vezes que Earl ou Cody usaram o
termo para me fazer sentir suja.

Papai ficou tenso, mas assentiu. Ele permaneceu na


porta como se de repente não tivesse certeza de como agir
perto de mim. Podia dizer que ele tinha muitas perguntas
para fazer, mas não o fez. — Vim desejar-lhe uma boa noite.

— Obrigada, — disse calmamente. Ele se virou para


sair. — Pai?

Ele me encarou novamente.

— Irei com você amanhã quando você interrogar os


cativos.

— Marci...

— Por favor.

Ele acenou com a cabeça, mas sua expressão ainda


dizia não. — Não acho que seja uma boa ideia, mas não vou
impedi-la. Amo e eu sairemos muito cedo. Você deve dormir
até tarde e ir mais tarde com Matteo.

Depois que ele saiu, me joguei na cama por mais uma


hora, mas a escuridão trouxe lembranças ruins e não
consegui dormir com as luzes acesas. Nas últimas semanas,
Maddox esteve ao meu lado durante a noite, e não importa o
quão ridículo fosse, me sentia segura ao seu lado. Agora
sozinha, a ansiedade levou a melhor sobre mim.

Saí da cama, coloquei meu roupão de banho e atravessei


o corredor até o quarto de Amo. Eu bati.

— Entre, — Amo falou.

Entrei e fechei a porta. Amo estava sentado em sua


mesa em frente ao computador, apenas de moletom. —
Jogando Fortnight? — Perguntei, aliviada por ele ter voltado à
sua rotina.

— Isso é para crianças e perdedores, — ele


murmurou. — Estou fazendo pesquisas sobre os métodos de
interrogatório usados pelo Mossad e pela KGB.

— Oh, — sussurrei. Tive uma estranha sensação de


perda. Meu irmão mais novo se foi. Ainda faltavam dois
meses para seu aniversário de dezesseis anos, mas ele havia
crescido nas semanas em que estive fora.

Amo ergueu os olhos da tela, franzindo a testa. — Você


precisa de ajuda?

Balancei a cabeça. — Posso passar a noite aqui? — Não


conseguia me lembrar da última vez em que Amo e eu
dormimos no mesmo quarto juntos. Estávamos muito velhos
para isso, mas não sabia mais para onde ir.

— Claro, — disse ele lentamente, olhando-me


criticamente.
Rastejei sob as cobertas. — Vou deitar na beirada.

— Não se preocupe. Não conseguirei dormir de qualquer


maneira. Muita adrenalina.

Assenti. — Você deveria jogar videogame de novo como


costumava fazer, sabe?

— Vou rasgar os motoqueiros em pedaços amanhã. É o


único entretenimento de que preciso, — ele murmurou.

Fechei os olhos, esperando que Amo voltasse ao que era


antes, mas no fundo sabia que nenhum de nós poderia
recuperar o que havia perdido.

Não dormi muito, então já estava acordada e de volta ao


meu quarto quando mamãe bateu na minha porta na manhã
seguinte. Meus pensamentos giraram em torno de Maddox e
minha família a maior parte da noite.

— Entre, — disse, sentando na cama. A noite foi cheia


de dor nas minhas costas e incerteza no meu coração.

Mamãe já estava usando um vestido fino de tricô e, ao


contrário de ontem, seus olhos estavam claros. Nenhum sinal
de lágrimas. Ela parecia decidida como se tivesse vindo para
salvar nossa velha família sozinha. Ela segurava algo na mão
enquanto se dirigia até mim e se sentava na beira da minha
cama. — Tenho algo para você, — ela disse. Fiquei feliz por
ela não perguntar como tinha sido minha noite. Ela
provavelmente poderia adivinhar que mal dormi. Esperava
que Amo não contasse a ela ou a papai que estava com muito
medo de dormir no meu próprio quarto. Esta noite eu seria
forte, não importa o quê.

Ela acariciou meu cabelo como fazia quando eu era uma


garotinha, então abriu a mão, apresentando um brinco
alpinista2 de ouro branco em forma de meia-lua cravejado de
diamantes.

Meus olhos se arregalaram. — É lindo. —


Cuidadosamente toquei minha orelha. Ainda estava sensível,
mas evitei tocá-la.

— Até que decida consertá-la, pode cobri-la com belas


joias.

Peguei o brinco. — Não acho que vou consertá-la. É um


bom lembrete de que não devo considerar nada como
garantido. — Levantei o brinco. — Você pode me ajudar a
colocá-lo?

Ainda não tinha olhado a ferida, mas teria que fazer se


tentasse colocar sozinha.

Mamãe se aproximou e, com muito cuidado, prendeu o


brinco no meu ouvido. Controlei um estremecimento quando

2
a joia tocou minha orelha ainda sensível. — É bom que você
tenha mais furos na orelha.

Ri. Ainda me lembrava de como meu pai desaprovou que


colocasse um piercing na orelha, mas sempre usei pequenos
diamantes elegantes, então ele acabou aceitando isso.

— Como ficou? — Perguntei.

Mamãe sorriu. — Absolutamente deslumbrante. Vá, veja


por si mesma.

Saí da cama e verifiquei meu reflexo. O brinco cobriu


perfeitamente o lóbulo da minha orelha perdida. Toquei e
sorri. Assim, poderia guardar o lembrete, mas escolher
quando queria apresentá-lo ao mundo.

Me virei para a mamãe. — Como você conseguiu isso tão


rapidamente? Por favor, não me diga que papai ameaçou
todos os joalheiros em Nova York esta noite para tê-lo o mais
rápido possível.

Mamãe deu uma risadinha. — Não, não. Na verdade,


comecei a procurar um brinco como esse quando... quando
descobrimos que sua orelha havia sido machucada. — Ela fez
soar como se tivesse sofrido um acidente que me custou o
lóbulo da orelha, e não que motociclistas vingativos o
tivessem cortado e enviado para minha família. — Mas seu
pai teria ameaçado todos eles por você, se necessário. Ele
faria qualquer coisa por nós.

— Eu sei, — disse. — Não o culpo, você sabe. Por favor,


não me diga que você e papai brigaram por minha causa.
Mamãe se levantou e veio até mim. Ela tocou minha
bochecha. — Eu estava apavorada por você. E seu pai se
culpou. Pude ver o quanto ele se odiou por isso. Mas não
briguei com ele. Todos fazemos parte deste mundo. Seu pai
tenta nos proteger com o melhor de suas habilidades.

— Sempre soube que ele me salvaria. Nunca duvidei


disso.

— Ele mal dormiu. Ele e todos os soldados sob seu


comando procuraram por você dia e noite.

Lágrimas brotaram em meus olhos, mas não as deixei


cair. Não gostava de chorar, nem mesmo na frente da mamãe.

Mamãe também lutou contra as lágrimas. Ela tocou


meu braço. — Seu pai disse que um dos motoqueiros revelou
o paradeiro do clube para ele.

Assenti. — Maddox.

O silêncio se estendeu entre nós enquanto mamãe


examinava meus olhos. Minha voz estava desligada, até eu
poderia dizer. Limpei minha garganta. — Ele e eu nos
aproximamos durante meu cativeiro.

Mamãe não demonstrou seu choque, se é que sentiu


algum. Foi bom contar a ela. Se alguém entenderia, era
ela. Mamãe acreditava no amor contra todas as
probabilidades, no amor verdadeiro. Ela me ensinou a
acreditar nisso também. Agarrei-me a Giovanni, esperando
desesperadamente que o que tínhamos magicamente se
transformasse no tipo de amor que tudo consome como
mamãe e papai viviam diante dos meus olhos todos os dias.

Temia ter encontrado: o tipo de amor que te deixava sem


fôlego, que doía quase tanto quanto te fazia se sentir
bem. Era um amor que não tinha certeza se deveria
perseguir.

— Oh, Marci, — disse mamãe, como se pudesse ler


todos os meus pensamentos.

— Queria usá-lo para que me ajudasse a escapar e ele


basicamente fez isso...

— Mas você se apaixonou por ele?

Apaixonada. Nunca entendi realmente o termo, como se


o amor fosse algo tão inevitável quanto a força da
gravidade. Como se a agarrasse e a arrastasse para baixo
com ele. Com Giovanni, foi uma escolha lógica. Mas o que
Maddox e eu tínhamos, desafiava a lógica. Isso ia contra tudo
em que ele e eu acreditávamos. Era contra a razão, contra as
crenças da minha família.

— Papai nunca permitiria. Não com um motoqueiro. Não


depois do que Maddox fez.

Mamãe inclinou a cabeça em consideração. — Acho que


este último é o maior problema. E você? Você pode perdoar
Maddox pelo que ele fez? Por sequestra-la? Por permitir que
outros te machucassem?

Era uma pergunta que sempre me fazia, já durante meu


cativeiro e ainda mais nas horas desde minha fuga. Meu
coração e minha mente estavam em conflito. Eu não queria
perdoá-lo, mas meu coração já havia perdoado. Mas eu não
era alguém que agia por impulso. Pensava bem nas coisas,
pesava os prós e os contras.

O amor não funcionava assim. Mas se o amor de


Maddox por mim, ou meu amor por ele fosse tóxico, preferia
encontrar o antídoto o mais rápido possível.

— Se precisa pensar sobre isso por muito tempo, ele


realmente significa muito para você. Mas, por favor, não se
esqueça de que a confiança é a base para um casamento
funcionar.

Meus olhos se arregalaram. — Mãe, nunca disse nada


sobre me casar com Maddox. — Então percebi que seria de se
esperar exatamente isso, casar com ele. Meu namoro com
Giovanni foi tolerado porque ele era meu noivo e nosso
casamento estava marcado. O escândalo que se seguiu após
nosso rompimento não foi nada em comparação com as
fofocas que um relacionamento com Maddox criaria. Mesmo
que não me importasse com a reação negativa à minha
reputação, precisava considerar o que isso faria à minha
família. Mas mesmo um relacionamento com Maddox parecia
impossível neste ponto. Não conseguia ver como poderíamos
fazer um futuro funcionar.

— Você não tem muito tempo para se decidir, amor, —


mamãe disse suavemente. — Você sabe o que seu pai
planejou para os motoqueiros que capturou.
— Eu sei, — disse. — Tio Matteo vai me pegar e me levar
para o cativeiro da Famiglia.

Mamãe franziu os lábios. — Seu pai mencionou


isso. Não acho uma boa ideia confrontar o homem que fez
isso com você.

Sorri. — Não se preocupe, mãe. O jogo virou. Não estou


mais nas mãos deles. Não vou quebrar agora, não depois de
sobreviver a semanas de cativeiro.

— Não duvido. Estou maravilhada com a sua força. —


Ela fez uma pausa. — Se quiser falar sobre o que aconteceu
entre Maddox e você, estou aqui, sabe disso, certo?

Assenti. — Todo mundo viu o meu vídeo?

— Muitos o fizeram, — mamãe disse honestamente. —


Seu pai tentou de tudo para removê-lo e, eventualmente, ele
conseguiu.

— A internet nunca esquece, — disse.

E pensar que passei horas agonizando sobre a imagem


perfeita para postar no Instagram. Eventualmente, teria que
assistir ao vídeo e enfrentar o escândalo resultante em
minhas contas de mídia social. Mas ainda não.

— Você não tem nada para se envergonhar. Eles te


forçaram, e você parecia orgulhosa e linda, apesar da
situação.

— Essa não foi minha escolha, — concordei. — Mas


dormi com Maddox. Não porque ele me forçou e nem mesmo
porque esperava que ele me ajudasse a escapar se o fizesse,
mas só porque naquele momento eu quis.

Queria tirar isso do meu peito.

Por um segundo, mamãe foi incapaz de esconder seu


choque, mas então ela acenou com a cabeça. — Achei que
poderia ser o caso, mas esperava estar errada.

Franzi meus lábios. — Porque deveria permanecer


virgem até o casamento.

Mamãe balançou a cabeça. — Não me importo com isso,


Marci.

Não tinha certeza se mamãe realmente estava falando


sério. Poucas coisas mudaram ao longo dos anos. Papai pode
ter abolido a tradição dos lençóis ensanguentados quando me
aproximei da idade de casar, mas muitas pessoas ainda
seguiam os velhos hábitos. Agora parecia ser uma escolha da
noiva e não um dever ao qual ela tinha que sucumbir. Mas
poucas garotas tiveram a coragem de decidir contra a
tradição dos lençóis ensanguentados e as que fizeram eram
frequentemente vistas como vagabundas que não queriam
correr o risco de revelar seus modos lascivos. Às vezes, uma
escolha não era uma, desde que a sociedade considerasse
apenas uma decisão válida.

— Mas papai se importa.

— Seu pai preferiria que você fosse para um convento e


nunca se envolvesse com meninos.

Reprimi um sorriso. — Mas ele aceitou Giovanni.


— Papai sabia que teria que deixa-la ir e permitir que
você crescesse. Quando você escolheu Giovanni, ele o tolerou
porque era alguém que conhecia e...

— Podia controlar.

Mamãe encolheu os ombros. — Seu pai é controlador.

— Maddox não é tão fácil de controlar. Será que o papai


o aceitará?

— Eu não sei. Talvez, mas vai levar tempo e muito


trabalho da parte de Maddox. Talvez você ainda não devesse
contar a seu pai que dormiu com Maddox. Isso só vai
complicar as coisas.

— Você realmente acha que ele não suspeita de algo?

— Oh, tenho certeza que sim. Mas seu pai é cego


quando se trata de você se tornar uma mulher.

— Homens.

Mamãe tocou minha mão. — Você usou proteção?

Levei um momento para perceber o que ela queria dizer


e o calor subiu em minhas bochechas. — Não, — admiti.

Mamãe assentiu, engolindo. — Vou comprar um teste de


gravidez para você hoje, então poderá usar caso não fique
menstruada.

Minha menstruação chegaria a qualquer momento. Eu


não tinha um círculo regular, então era difícil dizer. —
Obrigada, mãe.
Minha vida sempre foi uma construção cuidadosamente
planejada, uma entidade intrincada que passei anos
estruturando e construindo. Não era nada além de um
castelo de cartas, percebi agora. Sempre achei que tinha
medidas de segurança suficientes embutidas em meu plano
de futuro que mesmo algumas cartas faltando não
derrubariam meu castelo. Claro, nunca havia considerado
alguém invadir minha vida e quebrar meu castelo de cartas
em pedaços. Todos os meus planos arquitetados com
inteligência, de repente estavam prestes a desmoronar.

Eu amava Maddox, amava tanto quanto sempre sonhei


em amar alguém, desejava-o tão ferozmente quanto
esperava. Meus pensamentos giravam em torno dele de uma
forma que nunca tinha experimentado antes, certamente não
com Giovanni. Eu o amava, mas também amava minha
família. Como você pode comparar um amor a outro? Como
pode pesar um contra o outro? Não podia fazer isso. Eu não
podia desistir de Maddox. Não podia desistir da minha
família.

Olhei de volta para os brincos.

Daria a Maddox uma escolha hoje, uma escolha


impossível, uma que determinaria se nós teríamos uma
chance, uma escolha que poderia rasgar meu coração em
dois.
Capítulo 19

Minha cabeça latejava de dor quando voltei a mim. Não


tinha certeza de que horas eram. Podia ouvir o barulho ao
meu redor e a respiração rouca. Com um gemido, forcei meus
olhos a abrirem, apesar da agonia que isso causou.

Paredes cinzentas e úmidas. Fedor de umidade e mofo,


mijo e sangue. Estava em um porão, na câmara de tortura de
Vitiello, sem dúvida.

— Finalmente acordado, hein? — Cody murmurou.

Virei minha cabeça e percebi que estava amarrado a


uma cadeira. Tentei derrubá-la, mas suas pernas estavam
presas ao chão. Claro, Vitiello pensaria em tudo.

— Isso é culpa sua, — Earl rosnou.

Ele e Cody estavam em cadeiras à minha esquerda e ao


lado deles estava Smith, um prospecto. Ele parecia muito
mal, sangrando de duas feridas na perna e na lateral. Mas
estava feliz que não fosse Gray em seu lugar. — Há quanto
tempo estamos aqui?

Cody cuspiu na minha direção, mas caiu a alguns


centímetros das minhas botas. — Tempo suficiente para que
mijasse nas calças duas vezes, seu idiota.

Earl me encarou com olhos ferozes.

— Se você tivesse me ouvido e trocado Marcella por


Vitiello, nós que estaríamos torturando. Mas você não estava
satisfeito, — rosnei.

— Não mencione o nome daquela puta!

Balancei a cabeça. — Espero que Vitiello comece a nos


torturar em breve. Nada pode ser pior do que estar em uma
sala com dois idiotas.

— Ele me matará por último, então poderei assistir você


morrer lenta e dolorosamente, — disse Earl com um sorriso
desagradável.

— E quanto a Gray? Você o viu?

— O covarde fugiu. Ele está morto para mim. Não vai


sobreviver sozinho por muito tempo de qualquer
maneira. Vitiello o pegará em breve.

— Era seu trabalho mantê-lo seguro. Em vez disso, você


salvou sua própria bunda e correu escada acima.

A porta pesada rangeu.

— Oh, merda, — disse Cody. — Por favor, Deus, me


ajude.
Enviei-lhe um olhar divertido. — Você realmente acha
que Deus te olha com bondade?

Amo e Luca Vitiello entraram na sala. Um olhar para


eles e sabia que não morreria hoje, mesmo que implorasse
por isso.

Fui baleado, esfaqueado, queimado, tinha quebrado


incontáveis ossos em acidentes. Não tinha medo da dor ou da
morte, mas sabia que Vitiello tinha maneiras de fazer até
homens endurecidos chorarem pela mãe.

— Marcella está bem? — Perguntei. Earl bufou.

Amo veio até mim e me deu um soco nas costelas e no


estômago. — Nunca a mencione novamente.

Tossi e sorri. — Então você está substituindo o papai


como o chefe torturador agora?

— Não, — disse Luca em voz baixa que poderia ter me


feito cagar nas calças se já não tivesse ouvido antes. — Terei
certeza de lidar com cada um de vocês. Mas temos muito
tempo para Amo e meu irmão também terem sua vez.

Amo foi até uma mesa com instrumentos que não


tinha notado antes.

— Oh Deus, — Cody choramingou quando Amo pegou


os pinos.

Me preparei, rezando para ser forte o suficiente para não


implorar por misericórdia. Talvez tivesse coragem de morder
minha própria língua. Fechando meus olhos, lembrei-me de
Marcella. Uma imagem digna dos meus últimos momentos.

Raramente colocava tanto esforço em minha aparência


para uma festa ou evento social como fazia agora para
assistir a morte cruel de Earl White. Comprei a calça de
couro preta e a blusa de seda vermelha depois do meu
rompimento com Giovanni, mas nunca tive a chance de usar
nenhuma das duas. Hoje era o dia.

Minhas mãos tremeram quando coloquei meus


Louboutins de couro envernizado preto. Flexionei meus
dedos, desejando que parassem de tremer. Respirando fundo,
abri minha porta e saí.

Mamãe esperava por mim no saguão. Seus olhos


nadavam com lágrimas não derramadas e preocupação. Ela
pegou minha mão, examinando meus olhos. — Tem certeza?

Ela não tentou me convencer a não visitar meus


captores, mas pude ver que estava quase doente de
preocupação. No entanto, precisava disso para realmente
fazer as pazes com tudo o que aconteceu. Valerio estava na
casa da tia Liliana, então não testemunhou muito do nosso
tumulto. Aposto que ele e nosso primo Flávio não estavam
falando nada mais além do sequestro e do que aconteceria
com meus sequestradores de qualquer maneira. Nossos pais
sempre acharam que éramos alheios e que poderiam nos
proteger.

— Absolutamente. Quero estar lá. Quero mostrar a eles,


antes que morram, que estou mais forte do que antes.

— Você está. Estou tão orgulhosa de você, Marci. Você é


uma verdadeira guerreira. Você tem a força do seu pai.

— E a sua. Conheço as histórias de como você arriscou


sua vida por papai, como entrou em território inimigo para
ajudar seu irmão mais novo. Sua ferocidade é mais sutil do
que a de papai, mas está lá do mesmo jeito.

Mamãe engoliu em seco, mas as lágrimas caíram de


qualquer maneira. — Mostre-lhes suas verdadeiras cores.

Balancei a cabeça com um sorriso firme antes de sair.

Tio Matteo esperava por mim em seu carro na garagem e


sentei no banco do passageiro ao lado dele. Ele também tinha
uma motocicleta, que costumava usar para vir até nossa casa
quando estava sem Gianna e Isabella. Era uma coisa que ele
e Maddox tinham em comum. E até Amo, que participava de
ralis ocasionalmente. Me peguei imaginando como eles
poderiam um dia fazer uma viagem de motocicleta juntos e
imediatamente tive vontade de me estapear. Esses homens
eram inimigos mortais. Nada havia mudado.
Matteo observou meu rosto. Gostaria que a maquiagem
pudesse cobrir minha turbulência como fazia com as
manchas, mas Matteo provavelmente poderia vê-las
claramente.

— Você está pronta para ir? — Matteo perguntou com


cuidado. Ele, como tantos outros, não hesitou em arriscar a
vida por mim. Só podia imaginar quão assustada Isabella
estava por seu pai, quão preocupada tia Gianna deve ter
ficado. Tive dificuldade em expressar a quantidade de
gratidão que sentia por eles e também pelos soldados que
nem conhecia.

— Estou. Esta é minha batalha e não vou recuar, —


disse com firmeza.

Matteo sorriu. — Essa é minha sobrinha durona.

Sorri, mas lentamente outra questão se formou em


minha mente, uma que não tive tempo de considerar
totalmente ainda. — Quantos morreram na tentativa de me
salvar?

Matteo me lançou um olhar cauteloso. — Você deve


conversar com seu pai sobre isso.

— Matteo, — disse exasperada. — Não sou mais uma


criança. Posso lidar com a verdade e preciso dela.

Matteo assentiu. Ele, ao contrário de papai comigo,


permitia que sua filha Isabella tivesse mais liberdade e lhe
contava coisas que papai sempre tentava esconder de mim. —
Três homens morreram.
Engoli em seco. Minha vida não valia mais que a deles,
mas eles a colocaram em risco por mim.

— Eles sabem do risco de se tornarem Homens Feitos, e


nossa guerra com os motoqueiros custaram às vidas de
muitos mais homens. Isso não é sua culpa.

Talvez não fosse, mas me sentia culpado de qualquer


maneira. — Quero enviar as minhas condolências às
famílias. Eles precisam saber que sinto muito por sua perda e
que compreendo sua tristeza.

— Você cresceu.

— Acho que isso é natural.

— Não, quero dizer, enquanto esteve fora.

— Algo assim muda sua visão da vida, — disse


calmamente.

— Sim.

Matteo parou em frente a um armazém em uma área


industrial. Nunca estive aqui, mas antes de hoje nunca tive
permissão de estar presente em qualquer tipo de negócio da
Famiglia, muito menos uma sessão de tortura.

Matteo saiu do carro, mas permaneci sentada por mais


um momento. Isso seria um desafio por duas razões. Earl
White.

… E Maddox.

Menos de vinte e quatro horas se passaram desde que o


vi pela última vez. Minha primeira noite em liberdade, cheia
de pouco sono e muitos pesadelos. Vivi uma vida privilegiada
até o dia em que Maddox me arrancou da minha zona de
conforto. Agora eu havia mudado. Por causa da dor e da
humilhação que sofri, mas também por causa dos meus
sentimentos por Maddox. Sentimentos do quais morria de
medo. Minha vida seria mais fácil se os esquecesse,
me esquecesse dele. Se permitisse que papai e Amo
matassem Maddox. Dessa forma, a escolha seria tirada de
minhas mãos.

Matteo me lançou um olhar preocupado. Permaneci


congelada no carro, olhando para o enorme edifício como se
isso significasse minha perdição.

Não era minha perdição.

Esta seria minha libertação final. Minhas mãos ficaram


úmidas enquanto seguia Matteo em direção à porta de
aço. Antes de abrir, ele se virou para mim mais uma vez. —
Maddox White, você o quer morto?

Fiquei surpresa com a franqueza de Matteo, mas não


deveria ter ficado.

— Não, — disse, uma verdade que não podia admitir


nem para mim mesma até agora.

— Seu pai não vai gostar, e eu também não. Ele significa


problemas.

— Você sempre diz que Gianna é problema e que gosta


de problemas. Porque eu não posso?
Matteo riu. — Você não deve me usar como um exemplo
para suas escolhas de vida.

Encolhi os ombros, em seguida, meus olhos vagaram de


volta para a porta de aço. Meu coração disparou, uma
estranha mistura de medo e excitação. — Não me decidi
sobre Maddox ainda.

— Você deve fazer isso rapidamente. Seu pai vai matá-lo


em breve.

Matteo finalmente abriu a porta para mim e fomos em


direção a outra porta de aço no final do vasto corredor. Meus
saltos clicavam no piso de pedra e com cada passo que dei,
meu pulso acelerou. Matteo tocou meu ombro. — Espere aqui
e deixe-me verificar se podemos entrar.

Balancei a cabeça e não disse que sabia o que papai e


Amo estariam fazendo com os motoqueiros. Matteo enfiou a
cabeça para dentro, então abriu mais a porta e me fez entrar.
Respirando fundo para me preparar, entrei, seguida por
Matteo. Com um estrondo de gelar os ossos, a pesada porta
de aço se fechou atrás de mim. Um arrepio correu pela minha
espinha enquanto examinava a sala árida.

Quatro homens estavam amarrados a cadeiras, um


deles Maddox. Seu olhar me atingiu, olhos azuis que
despertaram minhas emoções novamente. O lado esquerdo de
seu rosto estava inchado e azulado, mas, fora isso, papai e
Amo ainda não tinham colocado a mão nele. Os outros
homens não tiveram a mesma sorte, um deles era o
responsável por tudo.
Earl White tinha um braço quebrado e sua orelha
também não parecia bem. Cody estava inerte na cadeira. Não
sabia o nome do quarto homem. Achei que um dos cativos
poderia ser Gray. O fato de ele não estar aqui me deixou
preocupada por Maddox. Era óbvio o quão protetor ele era
com seu meio-irmão. Se ele estivesse morto, isso quebraria o
coração de Maddox e definitivamente não melhoraria seu
relacionamento com meu pai.

Papai imediatamente veio em minha direção,


protegendo-me dos homens. — Marci, você sabe que não
acho que deveria estar aqui. Não há nada que esses homens
tenham a dizer que você deva ouvir, e eles não são dignos de
ouvir uma única palavra de seus lábios.

— Você disse que não me impediria, — o lembrei. Não


fiquei surpresa por ele ter mudado de ideia. Ele ainda achava
que poderia me proteger do mal.

Meu olhar procurou Maddox mais uma vez. Seu olhar


penetrante não me deixou por um momento.

Papai seguiu meu olhar e suspirou baixinho. — Não


chegue muito perto. — Então ele enfrentou os prisioneiros. —
Se algum de vocês tentar alguma coisa, os farei se
arrepender.

A promessa de violência na voz de papai me fez


estremecer, mas lhe dei um pequeno sorriso antes de me
mover mais para dentro da sala.
— Veio se juntar à diversão? — Earl perguntou com um
sorriso sombrio, revelando uma boca sangrenta onde faltava
alguns dentes. Isso explicava o alicate ensanguentado em
uma das mesas. — Compartilhar a sede de sangue do seu
pai?

Queria um último confronto, mas não tinha decidido se


poderia assistir à tortura que papai, Amo e Matteo
certamente tinham em mente para os motoqueiros. — Seu
sangue sujo nunca vai me tocar, — disse simplesmente,
satisfeita com a frieza da minha voz.

Ao ver Maddox amarrado à cadeira, tive que resistir ao


desejo de correr até ele e libertá-lo. Ele não era inocente, e
precisava ter certeza de que realmente podia confiar
nele. Talvez ele já tivesse se arrependido da sua decisão de
me ajudar a escapar. No entanto, em seus olhos, podia ver o
mesmo desejo que sentia e tentava desesperadamente
esconder.

— Deixando papai e seu irmão fazerem o trabalho sujo,


puta? — Earl disse, explodindo meus pensamentos,
obviamente frustrado com a minha falta de reação. Enrijeci,
me lembrando das palavras feias tatuadas nas minhas
costas. Palavras semelhantes provavelmente circulariam
rapidamente se as pessoas descobrissem que dormi com
Maddox. Se estivesse grávida... não me sentia grávida e não
queria considerar a opção. No momento, só podia me
concentrar em uma coisa, se Maddox e eu tínhamos uma
chance, se fazia sentido nos dar uma chance.
Papai agarrou Earl pela garganta, parecendo menos
humano do que já o tinha visto. Amo estava ao seu
lado. Nenhum vestígio do irmão mais novo que vi pela última
vez antes do meu sequestro. Esses homens me assustariam
se não fossem meu sangue, meus protetores. Se sua raiva
descarada e vingança não fossem emoções que fervilhavam
dentro de mim também.

— Não, — disse com firmeza, tanto para Earl quanto


para papai e Amo. Papai não afrouxou o controle sobre Earl,
que estava ficando vermelho lentamente, gaguejando
enquanto lutava para respirar.

— Pai, não.

Papai olhou para mim, obviamente sem saber o que eu


queria. — Vamos lhe dar o que ele merece. Ele vai sofrer mais
do que qualquer homem já sofreu.

Ele achava que queria que ele poupasse meu


algoz? Essa era a última coisa em minha mente. Mamãe era
do tipo que perdoava, mas até ela provavelmente faria Earl
sofre uma morte dolorosa nas mãos de papai se ele pedisse
sua opinião. Claro, ele nunca faria tal coisa porque não
queria que ela tivesse sangue nas mãos.

— Deixe-me tirar as bolas dele com uma colher de


sorvete, — Amo rosnou, apontando para a variedade de facas,
alicates e outras ferramentas de tortura espalhados sobre
uma pequena mesa de madeira.
Meu estômago revirou com a exibição e o sangue
acumulado sob ela, e afastei meus olhos. Eu não era como
papai e Amo. E também não era como mamãe. Estava em
algum lugar no meio. Capaz de certa dose de crueldade se
levada ao limite, mas não capaz de executá-la sozinha. Talvez
isso fosse fraqueza, mas não me esforçaria mais pela
perfeição.

Um sorriso desagradável surgiu no rosto de Earl com a


minha breve demonstração de hesitação. Engoli em seco e
enrijeci meus ombros antes de me dirigir até a mesa e pegar
uma faca. O cabo parecia estranho na minha palma. Papai
sempre se certificou de que não manuseasse armas. Minha
proteção era tarefa de outros. Aceitei, certa de que nada
poderia me tocar enquanto papai estivesse lá. Mas percebi
que não importa quão fortes sejam seus protetores, você
precisa ser capaz de sobreviver por conta própria.

— Ele vai sofrer, mas não pelas suas mãos, pai, — disse
com firmeza, forçando um sorriso, e me virei para
Maddox. Seu olhar mudou da lâmina brilhante para os meus
olhos. Como sempre acontecia, meu coração deu um salto
quando encontrei seu olhar. Este era o nosso momento da
verdade, o momento que provaria sua lealdade ou acabaria o
que nunca deveria acontecer. Não tinha certeza se meu
coração sobreviveria a este último.

Earl acenou com a cabeça para minha orelha. Outra


marca que ele deixou. Às vezes me perguntava o que mais ele
teria feito comigo se Maddox não tivesse revelado meu
paradeiro a papai. Earl White gostou de me torturar, não
apenas porque eu era filha de meu pai. — Você pode cobrir
sua orelha arruinada com joias caras, mas aquela tatuagem...

— Em breve estará coberta por uma linda tatuagem feita


pelo melhor tatuador dos Estados Unidos, — o
interrompi. Não o deixaria me fazer sentir pequena nem por
um segundo.

Ele grunhiu. — Há coisas que você nunca será capaz de


encobrir. Deixamos nossa marca dentro de você. Você temerá
o escuro até o dia de sua morte.

Desejei que ele não estivesse certo. Talvez a noite


passada tivesse sido a exceção, mas temia que levaria um
tempo para ficar confortável no escuro novamente, para não
vacilar quando alguém batesse e não olhar por cima do meu
ombro. Mas eventualmente superaria isso.

Aproximei-me dele, sorrindo sombriamente. — Tenho a


escuridão correndo em minhas veias. Sou filha do meu pai,
nunca me subestime porque sou mulher. Ser mulher não
significa que não seja forte. E acredite em mim quando digo
que nada do que você fez vai deixar uma cicatriz. Seu nome e
família vão desejar ser esquecidos enquanto o meu governará
o Oriente e caçará todos os motociclistas afiliados ao Tatarus.

Me movi em direção a Maddox, seguindo a atração


invisível que senti desde o primeiro momento em que o vi. Ele
nunca tirou os olhos de mim. Ele parecia um homem pronto
para morrer. Talvez devesse deixá-lo. Seria mais fácil para
minha família, mais fácil para mim se não levasse meu
coração em consideração, e talvez fosse ainda mais fácil para
ele, porque não tinha certeza se ele poderia lidar com a
escolha que logo estaria lhe dando.

O contornei até que estava em suas costas e me abaixei


para cortar suas amarras. Papai e Amo oscilaram para frente,
mas balancei a cabeça. — Não.

Eles pararam, mas podia dizer que ambos estavam


prontos para atacar se Maddox se movesse para o lado
errado. Maddox foi inteligente o suficiente para deixar seus
braços ao seu lado depois que o libertei de suas
amarras. Voltei para sua frente e encontrei seu olhar. Podia
ver as perguntas em seus olhos azuis.

Virando a faca, estendi o cabo para ele. — Marci, —


papai rosnou.

Balancei a cabeça novamente. Este era o meu momento


da verdade com Maddox, a decisão definitiva no nosso
relacionamento. Precisava da verdade, mesmo que ela me
matasse.

— Maddox, — disse, inclinando-me para ele, apesar do


aviso de papai. Ele não entendia o vínculo que Maddox e eu
tínhamos. — Pegue esta faca e mate seu tio. Faça isso por
mim.

Seus olhos azuis seguraram os meus, um deles injetado


em sangue. Seus lábios estavam arrebentados e a parte
superior de seu corpo repleta de cortes e hematomas, seria
apenas isso, se eu permitisse. — Mate seu tio com esta
faca. Faça-o sangrar. Faça isso por mim. Deixe-o sentir cada
grama de dor que senti, deixe-o sentir dez vezes. Faça-o
implorar por misericórdia, até mesmo pela morte. Faça isso
se você me ama.

Amor. Uma palavra que estava com medo de usar, uma


palavra que ainda abria uma fenda em meu peito, uma que
apenas Maddox poderia ser capaz de fechar. Mal dormi a
noite, debatendo se poderia, se deveria sobrecarregar Maddox
com essa escolha, mas era a única opção para curar algumas
das feridas que o sequestro havia aberto.

Não deixaria papai ou Amo matar outra figura paterna


de Maddox. Precisava que ele fizesse isso. Não havia lugar
neste mundo para o homem que cortou minha orelha e me
tatuou. O homem que teria me matado e até mesmo a
Maddox, porque estava tão cego pela necessidade de vingança
que não conseguia parar, não importava o preço.

Maddox não tirou os olhos dos meus enquanto movia


lentamente os braços para frente. Eles estavam cortados onde
as amarras ficavam e ele flexionou os dedos como se
estivessem rígidos pela posição estranha em que foram
forçados. Os segundos pareceram se arrastar em uma
lentidão excruciante até que ele finalmente tirou a faca da
minha mão.

— Marci, — Amo rosnou, vindo em minha direção com


sua própria faca desembainhada, mas levantei minha palma
e ele parou em seu caminho. Sua confusão era palpável, mas
como poderia explicar o que mal entendia?
— Dê um passo para trás, — papai me ordenou.

Não fiz isso. Em vez disso, agarrei o pescoço de Maddox


e o beijei duramente antes de sussurrar contra seus lábios:
— Faça-o sangrar pelo que ele fez comigo. — Puxei meu
brinco para lembrá-lo, então levantei meu cabelo para revelar
a tatuagem feia.

Maddox se inclinou para frente, pressionando um beijo


quente na tatuagem. — Você é verdadeiramente filha de seu
pai, Branca de Neve, e uma verdadeira rainha, se é que
alguma vez existiu. E se é isso que preciso fazer para provar
meu amor e lealdade a você, então eu farei.

Meu coração se encheu de alívio. Recuei quando


Maddox tropeçou em seus pés, cambaleando ligeiramente
pela tortura que sofreu nas mãos de meu pai e meu
irmão. Minhas próprias pernas pareciam instáveis enquanto
recuava. Seus lábios estavam rachados de desidratação, mas
ele manteve a cabeça erguida enquanto cambaleava em
direção ao tio.

Papai agarrou meu braço, olhando nos meus olhos


com preocupação. — Confie em mim, — disse. — Maddox o
fará sangrar por mim.

Papai balançou a cabeça como se eu estivesse


delirando. — E se ele o libertar?

— Ele não vai, — disse e senti no fundo do meu


coração. Maddox fez sua escolha e fui eu. Seu tio havia
perdido Maddox ao longo da estrada porque escolheu um
caminho que Maddox não podia seguir, não apenas por causa
de seu amor por mim, mas também porque ele era decente no
fundo de seu coração.

Virei-me para Earl mais uma vez com um sorriso


duro. — Algumas pessoas acham que as mulheres não
podem ser cruéis. Acho que somos apenas mais criativas
quando se trata de crueldade. Desfrute da dor pelas mãos de
sua própria carne e sangue.

Pratiquei essas palavras várias vezes na noite passada


até que soaram realmente cruéis, como se fosse um negócio
diário para mim, mesmo que não fosse.

— Você pode ter todas as bocetas do mundo, filho. Não


deixe a prostituta brincar com você com sua boceta mágica.

Amo deu um salto para frente e enfiou o punho no rosto


de Earl. Sua cabeça voou para trás e por um momento fiquei
preocupada que Amo tivesse realmente quebrado o pescoço
de Earl e bagunçado meu plano. Mas Earl curvou-se para
frente e balançou a cabeça vertiginosamente.

Ele lentamente arrastou seu olhar de volta para cima. —


Ela está te usando. Ela o manipulou desde o início para que
você a ajudasse. Não percebi logo, ou a teria mantido no meu
quarto e fodido seus três buracos até que soubesse seu lugar.

A mão de Maddox disparou para frente, cravando a


lâmina no abdômen de seu tio. Respirei fundo, com certeza
ele o matou. Fiquei dividida entre o alívio por tudo ter
acabado e Maddox realmente ter matado seu tio por mim, e a
decepção porque o homem não tinha sofrido o suficiente
ainda. Era uma coisa horrível de se pensar, mas que não
consegui suprimir.

Os olhos de Earl se arregalaram grotescamente e ele


soltou um gemido sufocado. O rosto de Maddox estava a
apenas alguns centímetros do de seu tio e o brilho em seus
olhos baniu a última pequena centelha de dúvida em minha
mente. Ele me vingaria e provaria seu amor por mim.

— Você nunca terá a chance de tocar em Marcella. E


hoje farei você se arrepender de cada segundo de dor que a
fez sentir. Você vai implorar a ela por perdão e chamá-la de
rainha quando terminar com você.

Pelo canto do olho, vi Amo e papai trocarem olhares


perplexos. Meu peito inchou ainda mais.

Seu primeiro grito disparou pelas paredes. Minha pele


se arrepiou. Alguns meses atrás, não poderia ficar, mas meus
próprios gritos de dor não muito tempo atrás me deixaram
entorpecida ao som. Eu ficaria até o fim amargo e assistiria.

Cruzando os braços, inclinei-me contra a parede e


coloquei meu brinco de diamante de volta na minha orelha
arruinada. Outro grito, ainda mais alto do que o anterior,
ecoou. Amo se inclinou ao meu lado, me olhando como se me
visse sob uma nova luz.

— Você mudou, — disse ele calmamente.

— Assim como você.


Ele assentiu. Papai olhou para nós, arrependimento
passando por seu rosto. Ele dedicou sua vida para nos
proteger, mas esta vida não deixava nada intocado. Era
apenas uma questão de tempo antes de sermos arrastados
para a escuridão.
Capítulo 20

— Gray vai te odiar por isso, — Earl resmungou, com a


respiração entrecortada. Não disse nada, apenas observei a
vida sumir dele enquanto o sangue deixava seu corpo. Ele
não mencionou mamãe. Eu mesmo teria que contar a ela
sobre sua morte. Devia isso a ela, mesmo que nunca falasse
comigo novamente. E Gray? Só podia esperar que ele
estivesse longe. Ele ainda era jovem. Tinha um futuro pela
frente. Esperava que ele tentasse encontrar algo em que fosse
bom e não procurasse o próximo MC.

O peito de Earl subiu mais uma vez antes que


afundasse em si mesmo. Senti uma pontada no peito, uma
estranha mistura de culpa e melancolia.

Minha respiração estava superficial e rápida, ainda nada


em comparação com a minha pulsação. Earl jazia sem vida
aos meus pés, seus olhos fixos nos meus. Havia ódio, mas
também decepção neles. Talvez tenha imaginado os dois. Ele
nunca foi um bom homem, e definitivamente não foi um bom
pai, ainda menos para Gray do que para mim. Ainda assim,
nunca pensei que o mataria. Ele foi minha orientação para a
vingança. Ele alimentou meu ódio sempre que ameaçou se
extinguir. Ele foi meu ídolo quando se tratava de mulheres,
escola e todas as outras opções de vida. Muitas delas tinham
sido uma merda, mas duvidava que minhas escolhas teriam
sido melhores sozinho. Com o sangue do meu velho correndo
em minhas veias, uma vida bagunçada sempre foi meu
destino. Apaixonar-me por uma princesa da máfia era a
cereja do bolo.

Não era por isso que estávamos aqui agora, por que
matei a única figura paterna que conhecia desde que era um
garotinho. Eu não queria ver o lado ruim dele, e eu mesmo
tinha lado ruim o suficiente, então nunca ousei lançar meu
julgamento sobre outro ser humano. No entanto, Earl tinha
ido longe demais. Ele cruzou uma barreira que sempre
existiu, uma barreira que o levou e ao nosso clube por uma
estrada de onde não havia como voltar. Devíamos ter
percebido quando mais e mais membros se tornaram
nômades, muitos homens bons que o clube poderia ter usado
durante as votações.

Eu era culpado por sequestrar uma mulher inocente e


até por permitir que Earl a trancasse em um canil e a
tatuasse. Tudo isso me fazia sentir culpado pra caralho e um
grande idiota. Devíamos ter focado em Vitiello e seus
homens. Deveríamos tê-lo atacado diretamente, ou pelo
menos ter mantido Marcella a salvo da dor. Que Earl tinha
começado a torturá-la, que queria continuar fazendo isso,
não podia aceitar. Vi a expressão em seus olhos. Estava tão
perdido para ele quanto ele para mim. Ele queria me matar e
teria feito isso se Vitiello não tivesse destruído nosso
clube. Ele provavelmente teria matado Marcella primeiro e me
feito assistir. Eu era um traidor aos olhos dele, quando ele
traiu tudo o que sempre quisemos que o clube
representasse. Honra e um estilo de vida livre. Uma casa para
todos aqueles que não se enquadravam nos limites da
sociedade. Fraternidade, amizade. Perdemos tudo isso ao
longo do caminho e o que restou foi amargura e fome de
vingança e dinheiro.

Ainda assim, a morte de Earl foi misericordiosa em


comparação com o fim que Luca teria lhe dado.

Finalmente afastei meus olhos de Earl. Meus dedos


apertaram em torno do cabo da faca e minha pele estava
pegajosa de suor e sangue. Parte era meu, mas a maior parte
era de Earl. Encontrei o olhar de Marcella. Não tinha certeza
de quanto da tortura ela havia assistido. Ela estava pálida
encostada na parede, seus braços se abraçando e os nós dos
dedos brancos pelo aperto que tinham em seus cotovelos. Ela
engoliu em seco, seus olhos procurando os meus antes de se
endireitar e limpar a garganta. — Obrigada, — ela disse
simplesmente.

Balancei a cabeça, sem palavras.

— A faca — disse Luca com a voz de um chicote. Ele


provavelmente estava chateado por Earl ter sofrido apenas
por um breve período. Ele sem dúvida faria com que eu
sofresse o dobro para compensar isso.

Abri meus dedos e deixei a faca cair no chão com um


estrondo. Esta podia ser minha última chance de enfiar uma
faca no peito de Luca, mas a fome de vingança foi substituída
pela minha necessidade de garantir o bem-estar de
Marcella. Depois que estivesse morto, e não tinha
absolutamente nenhuma dúvida de que seu pai me mataria
em breve, Marcella precisaria de toda a sua família para
superar os eventos do sequestro. Mesmo que ela tivesse dito a
Earl que suas ações, nossas ações, não deixaram cicatrizes,
ouvi o tremor em sua voz, vi o breve lampejo de dor em seus
olhos.

Amo avançou e pegou a faca, seus olhos nunca me


deixando. O ódio fervilhava neles. Teria sentido o mesmo se
estivesse no lugar dele.

— É hora de ir agora, Marcella, — disse Luca com


firmeza. Ele acenou para seu irmão, que assistia a tudo com
um olhar calculista.

Ela assentiu, mas em vez de sair, se dirigiu até ele. Ele


abaixou a cabeça para que ela pudesse sussurrar em seu
ouvido. Ele balançou a cabeça a princípio, mas ela agarrou
seu braço, seus dedos ficando brancos novamente, e
sussurrou um pouco mais. Eventualmente, ele se afastou e
deu um aceno de cabeça afiado, mas não parecia feliz com o
que quer que tenha concordado.
Seus olhos dispararam para mim, e senti uma porra de
pontada no coração, sabendo que esta seria a última vez que
a veria. Queria mais tempo com ela. Queria outro beijo, outro
cheiro de seu perfume. Precisava de mais segundos, minutos,
horas, dias com ela, mas mesmo assim, nunca seria o
suficiente. Tinha a sensação de que mesmo uma vida inteira
com Marcella não saciaria meu desejo por ela. Era uma fome
insaciável, uma necessidade ardente. Não tive uma vida
inteira, nem mesmo alguns segundos.

Ela se virou e saiu da sala. A pesada porta de aço se


fechou com um estrondo angustiante.

Earl estava morto. Cody estava praticamente morto, e


Smith uma bagunça simplória. Acho que seria o próximo.
Talvez Marcella tenha pedido a seu pai para me dar uma
morte rápida, um fio de misericórdia. Talvez ele tenha
concordado. Talvez ela tenha confiado em sua promessa. Mas
ela não estava aqui agora, e sabia o tipo de ódio que Luca
devia sentir por mim. Era um com o qual estava
dolorosamente familiarizado. E desisti do meu por Marcella.

Sentei na cadeira, esperando que eles fizessem o que


quisessem. Encontrei o olhar de Luca. Não tinha medo dele e
morreria de cabeça erguida. Amo balançou a cabeça e
cambaleou na minha direção. Ele me mataria com a mesma
faca que usei em Earl? Seria um final adequado.

Amo agarrou meu braço e tive que resistir à vontade de


acertar meu punho em seu rosto. Esses eram meus
inimigos. Meus sentimentos por Marcella não haviam
mudado isso.

— Você tem sorte que minha irmã tenha um coração, —


Amo rosnou enquanto me colocava de pé. — Se dependesse
de mim, você sufocaria em seu sangue. — Ele me empurrou
em direção à porta onde Luca estava esperando. Meu corpo
se arrepiou com sua proximidade. Duas décadas de ódio
explodiram.

— Por causa de Marcella, você viverá, mesmo que não


mereça, — Luca rosnou.

Sorri friamente. — Idem.

Seus olhos brilharam de fúria. Ele queria me


matar. Podia ver o desejo queimando-o. Mas a influência de
Marcella era muito forte. Esta mulher tinha mais poder em
suas mãos elegantes do que imaginava.

— Leve-o para a outra cela, Growl, — ele ordenou para


um cara grande com tatuagens por toda parte. O cara parecia
incerto de ter ouvido seu chefe direito, mas não protestou,
apenas agarrou meu braço e me levou pelo corredor
escuro. Ele destrancou outra porta de aço e me empurrou
para dentro. Minhas pernas quase cederam, mas me segurei
contra a parede. Growl me olhou por mais um segundo.

— Belas tatuagens, — disse secamente.

Ele acenou com a cabeça, mas não se dignou a


responder. Sem uma palavra, ele fechou a porta. Sentei no
chão de pedra fria, de repente sentindo cada corte e
hematoma e cada osso quebrado em meu corpo. Quando
esperava a morte, nada importava. Agora me perguntava se
seria deixado para apodrecer neste lugar. Talvez a morte
fosse mais gentil do que ficar trancado no subterrâneo com
apenas a memória de Marcella enquanto ela encontrava um
novo cara, provavelmente algum idiota da Famiglia, para se
casar. Por fim, fechei os olhos, esperando a morte ou
qualquer outra coisa que Vitiello reservasse para mim.

Quando a porta de aço se fechou atrás das minhas


costas com um estrondo arrepiante, inclinei-me contra ela e
respirei estremecendo. — Marcella? — Matteo perguntou. Ele
deveria me levar para casa.

— Me dê um segundo.

Fechei meus olhos. Maddox realmente matou seu


tio. Esperava que ele não se sentisse culpado por isso. Ele
deveria saber que seu tio era um homem morto no segundo
em que minha família o capturou. Papai teria tornado seu fim
muito mais doloroso.

— Assistir algo assim leva algum tempo para se


acostumar, — disse Matteo suavemente.
Abri meus olhos. — Não acho que quero me acostumar
com algo assim.

Matteo sorriu. — Você não precisa. Depois de hoje, pode


deixar tudo isso para trás.

— Você realmente acha que posso?

Matteo encolheu os ombros. — Não se você não


tentar. Algumas coisas sempre ficam com você. Você só
aprende a ignorá-las. Vamos te levar para casa agora. Aria
provavelmente já está muito preocupada. Não quero que ela
chute minha bunda.

Não ri, apesar do humor em sua voz. — Eu vou


ficar. Vou esperar que papai e Amo terminem. Quero estar
aqui quando eles saírem. Eles estão fazendo isso por
mim. Devo isso a eles, — disse com firmeza.

— Torturar motociclistas não é um grande sacrifício


para eles, acredite em mim. Vá para casa e pense em outra
coisa. Que hoje seja um novo começo para você, — disse
Matteo suplicante.

Era um novo começo, mas não da maneira que Matteo


sugeria. — Vou ficar.

Matteo suspirou. — Você avisa sua mãe.

Peguei meu novo telefone e lhe enviei um texto rápido


antes de seguir Matteo em direção a uma mesa e cadeiras ao
lado de uma pequena cozinha. Ele se sentou, mas estava
muito agitada.
Andei de um lado para o outro pelo armazém, meus
saltos clicando no enorme edifício. Dei uma olhada em
Matteo. — Por que você não está lá, ajudando papai e Amo a
torturar e matar os dois motoqueiros?

— Dois motoqueiros não são suficientes para todos nós,


especialmente porque você cuidou dos dois Whites que
realmente queríamos colocar nossas mãos.

— Você quer Maddox morto.

— Todos nós o queremos morto e ele nos quer mortos.

— Maddox matou seu tio por mim, e papai prometeu


poupar a vida de Maddox.

Matteo riu, balançando a cabeça. — Esse não era o


resultado que eu esperava.

Não era o resultado que ele queria, foi o que ele


realmente quis dizer. Não esperava que seu ódio evaporasse,
mas queria que houvesse uma chance para que
eventualmente desaparecesse. — Para onde Growl levou
Maddox?

— Nem pense em ir até lá agora. Converse com seu pai e


sua mãe e durma ponderando o que você acha que quer
agora. Tudo bem?

Concordei. Matteo estava certo. Sentei ao lado dele em


uma cadeira. Alguns guardas cruzaram o armazém e me
lançaram olhares curiosos. Balancei a cabeça em uma
saudação a eles.
Duas horas se passaram antes que papai e Amo
finalmente aparecessem. Eles haviam mudado de roupa, mas
a escuridão ainda se apegava a eles, especialmente papai
parecia exausto. Ele era incrivelmente forte, mas sua culpa o
consumia. Podia ver isso a cada segundo que estava com ele.

Ele olhou para Matteo. — O que ela ainda está fazendo


aqui?

— Me recusei a sair, — falei antes que ele pudesse


repreender Matteo.

— Você deveria esquecer tudo isso, Marci. Viva a vida


que costumava ter. Vou garantir que nada aconteça com você
novamente. Vou triplicar sua segurança e matar todos os
homens que representarem perigo para você.

Sorri tristemente. — Este mundo significa perigo. Você


não pode me proteger disso. — Amava que ele ainda achasse
que poderia.

Ele balançou sua cabeça. — Isso nunca deveria ter


acontecido.

Parecia que ele queria se torturar até a morte. A culpa


não era uma emoção com a qual ele estava muito
familiarizado. Isso provavelmente tornava mais difícil lidar
com ela. Fui até ele e abracei sua cintura com força, minha
bochecha pressionada contra seu peito.

— Sou sua filha, pai, — sussurrei com a voz rouca. — E


se isso significa que terei que sangrar por nossa família,
então é o que farei. Farei isso com prazer.
— Você pagou pelos meus pecados, — ele murmurou, e
tive que olhar para cima. Seus olhos estavam tão cheios de
escuridão que nem mesmo a luz da mamãe seria capaz de
penetrá-los.

— O que é o pecado senão um fantasma criado pelo


homem?

— Muito inteligente e bonita para este mundo.

— Este mundo não me assusta, pai. Sou grata por sua


proteção, mas no final das contas a liberdade sempre vem
com certo risco, e prefiro a liberdade de andar por aí e fazer
coisas que gosto do que ficar trancada em uma mansão. Não
espero que você garanta minha segurança, mas te amo por
tentar.

Papai tocou minha bochecha. — Poderia mandá-la para


uma universidade na Inglaterra, onde você estaria mais
segura.

— Pai, não importa aonde eu vá, sempre serei uma


Vitiello e não quero ser outra pessoa. — Fiz uma pausa,
sabendo que o que diria a seguir seria uma pílula ainda mais
difícil de engolir para papai.

— Quero fazer parte do negócio.

Papai ficou tenso, já começando a balançar a


cabeça. Esperava essa reação e, no passado, teria me feito
recuar, mas passei por um inferno.

Me afastei dele. Abraçá-lo como uma criança não


aumentaria minhas chances.
— Não diga que quer me proteger deste lado do nosso
mundo, pai. Mereço colher as recompensas do meu
sofrimento.

Papai olhou para Amo, que estava ouvindo com a testa


franzida, ainda limpando as mãos com uma toalha. Amo
encontrou meu olhar. Amo era alfa. Ele nasceu para ser
Capo. Ele carregava uma autoridade natural. Ele seria um
bom Capo um dia. E nunca tiraria isso dele. Pude ver que ele
e papai achavam que estava pedindo para me tornar chefe da
Família, a primeira mulher a liderar uma família ítalo-
americana. Mas, como papai havia dito, eu era inteligente e
sabia como nossos homens operavam. Eles nunca me
aceitariam, não importa o que fizesse. Poderia governar com a
maior brutalidade e ainda assim eles nunca me admirariam e
amariam como faziam com papai e um dia Amo.

Minha família era mais importante do que ser a


número um.

— Você é mais velha, — Amo disse calmamente. — É


seu direito de nascença. — Podia ver o quanto lhe custava me
dar isso, e não podia acreditar no que ele estava oferecendo,
que estava realmente disposto a se afastar da posição para a
qual foi preparado desde o nascimento.

Engoli em seco, vencida por uma emoção


indesejável. Andei na sua direção e o abracei, meu rosto
pressionado contra seu peito, sentindo seu coração bater
contra minha bochecha.

— Ninguém merece mais do que você, — ele murmurou.


— Você merece, — resmunguei. — E não tirarei isso de
você. Nunca.

Me afastei e encarei Amo. Escuridão e raiva ainda


fervilhavam em seus olhos cinzentos e me preocupei que elas
nunca sumiriam.

Ele assentiu, obviamente lutando consigo mesmo.

Me virei para papai, que parecia honestamente


confuso. — Ainda não sei que lugar quero na Famiglia. Por
enquanto, quero liderar um grupo de executores que caçarão
todos os membros do Tartarus MC em nosso território que
simpatizem com Earl White, e se Remo Falcone permitir, até
mesmo além de nossas fronteiras. Eles poderão morrer ou
cair de joelhos e nos jurar lealdade. Depois de cuidar disso,
poderia lidar com a logística ou negociar novas cooperações.

A admiração cintilou nos olhos de papai, mas, ao


mesmo tempo, sua hesitação permaneceu. O que diria a
seguir não tornaria as coisas mais fáceis para ele.

— E quero Maddox ao meu lado.

A expressão de papai endureceu e Amo zombou. — Ele


não é um de nós.

— Poupar a vida dele é uma coisa, o que ainda


considero um erro, mas permitir que ele trabalhe para nós e
esteja perto de você? Isso está fora de questão, Marci. Nunca
permitirei isso.

Endireitei meus ombros, preparada para a batalha. —


Ele poderia ser um de nós. Ele me salvou.
— Depois que te sequestrou, — Amo rosnou. — Essas
merdas de MC não são leais.

— Ele é leal a mim.

Papai ficou carrancudo. — Marci, não confunda a fuga


do navio que está afundando com outra coisa senão o que é:
medo de perder a vida.

Estreitei meus olhos. — Não sou uma criança e não sou


uma tola. Maddox não tem medo da morte. Você estava perto
de encontrar o clube deles quando ele te ligou?

Papai e Amo trocaram um olhar. — Teríamos


encontrado eventualmente, — papai disse cuidadosamente.

— Teria sido tarde demais. Earl gostou de me


torturar. Ele queria me usar como um troféu.

Podia ver a batalha nos olhos de papai. — Sua mãe me


disse que você não foi... — Ele engoliu em seco, dividido entre
a fúria e o desespero.

— Não fui estuprada, não, pai. Maddox me manteve


segura. Ele arriscou sua vida para me salvar. Ele matou seu
tio para me vingar.

— Então por que ele fez isso? — Amo perguntou.

— Porque ele me ama.

Amo riu como se eu tivesse enlouquecido, mas papai


apenas me olhou com preocupação. — Como você sabe?

— Ele me disse, e posso ver em seus


olhos. Simplesmente sei disso no fundo. — Papai desviou o
olhar. — Deixe-o provar a si mesmo, para você, para mim,
para nossa família.

— Não vou permitir que ele se aproxime de você, de sua


mãe ou de Valerio sem supervisão.

Toquei o braço de papai. — Confie em mim, pai.

— Confio em você, Marci, mas depois do que ele fez, não


posso me imaginar confiando naquele homem. E duvido que
sua mãe iria querer seu sequestrador perto de você ou de
nossa família.

— Conversei com mamãe sobre Maddox. Ela sabe como


o amor pode mudar tudo. Ele te mudou.

Amo fez uma careta como se toda a discussão de amor o


deixasse enjoado. — Se o amor te transforma em um idiota,
prefiro não me apaixonar. É uma perda de tempo e
energia. Somos inimigos, Marci. Isso não vai mudar.

Papai o ignorou. Ele só tinha olhos para mim e parecia


quase assustado ao perguntar: — Quando você fala sobre
amor, está se referindo aos possíveis sentimentos dele por
você.

— Seus sentimentos por mim, sim, e meus sentimentos


por ele.

Papai soltou um suspiro áspero. — O que você está


dizendo, Marci? Que o ama?

Engoli em seco. — Eu acho que sim.


Amo praguejou em italiano e papai balançou a cabeça,
parecendo desesperado. — Achar não é suficiente neste
caso. Ele é a razão pela qual você tem essa tatuagem
horrível. Ele é a razão pela qual você perdeu sua orelha, e
você me diz que gosta daquele bastardo?

— Maddox não é a razão. Ele queria impedir seu tio.

— Mas não fez isso.

— Ele não podia.

Papai balançou a cabeça. — Ele é o inimigo.

— Ele não tem que ser.

— Ele não pode fazer parte do nosso mundo. Nossos


homens nunca o aceitariam.

— Sei que será uma batalha difícil, mas estou disposta a


lutar.

— E Maddox, você realmente acha que ele quer


trabalhar para mim, seguir minhas ordens? — Papai apontou
para o corte na lateral da cabeça e depois na perna. — Ele me
apunhalou. Ele queria me matar. Provavelmente ainda quer
matar a mim e ao seu irmão.

— Mas ele fez isso?

Papai riu sombriamente. — Você lhe perguntou se ele


queria fazer parte do nosso mundo?

Engoli em seco, tentando aceitar o fato de que Maddox


atacou papai. Talvez seu desejo de vingança ainda fosse
muito forte. Mas o que seria de nós então? Eu não deixaria
minha família. — Tenho que falar com ele.

— Podemos lhe dar uma morte rápida se for o que você


quiser depois da conversa, — disse Amo.

Lhe lancei um olhar duro. — Isso não é engraçado.

— Não, não é, — Amo concordou. — É uma merda que


você ache que ama nosso inimigo.

Papai envolveu um braço a minha volta. — Espere um


ou dois dias antes de falar com ele. Dê a si mesma tempo
para esquecer o sequestro. Fale com sua mãe de novo.

— Tudo bem, — disse. Papai estava certo. Precisava de


uma cabeça limpa para minha conversa com Maddox. Muito
estava em jogo. Não apenas minha felicidade e sua vida, mas
também o bem-estar de minha família. Não podia ser egoísta
com isso.

Papai e Amo trocaram um olhar com Matteo. Não foi


difícil ler suas expressões. Todos eles esperavam que
mudasse de ideia e os deixasse matar Maddox.

— Se o deixarmos viver, talvez até soltá-lo, ele pode


tentar matar seu pai e seu irmão novamente. Você realmente
quer arriscar? — Matteo perguntou baixinho enquanto íamos
para o carro do lado de fora.
Capítulo 21

Estava escuro na sala sem janelas para a qual me


arrastaram depois que matei meu tio. O fedor de urina e
sangue culminou em um odor avassalador de desespero. Me
perguntei quantos morreram dentro dessas paredes, rasgados
pelas mãos hábeis de Vitiello. Agora eram dois Vitiellos, e não
sabia qual era pior, o pai ou o filho.

Minhas mãos ainda estavam pegajosas com o sangue do


meu tio. O tinha matado a pedido de Marcella sem
hesitação. Faria isso de novo, mesmo que me trouxesse para
cá para esta prisão sem esperança e não para os braços da
mulher que não conseguia parar de pensar. Talvez devesse
saber que ela não me perdoaria tão facilmente. Mesmo matar
meu tio não mudava o fato de que a sequestrei e fui incapaz
de protegê-la da crueldade do meu tio. Ela carregaria as
marcas dos meus pecados por toda a vida.

Perdi a noção do tempo, não que isso importasse.


Muitas vezes me peguei desejando a morte.
A porta se abriu com um rangido e a luz do corredor
atingiu meu rosto, cegando-me momentaneamente. Apertei os
olhos contra a claridade para ver quem veio me ver. Marcella
para se despedir antes que o pai acabasse com isso? Mas o
corpo que tomou forma era gigantesco demais para pertencer
a qualquer pessoa, exceto ao próprio Luca Vitiello. Demorou
vários segundos antes de ele entrar em foco.

Sua expressão era de aço puro, seus olhos as piscinas


impiedosas de que lembrava há muitos anos. Ele não disse
nada. Talvez esperasse me ver implorar por misericórdia, mas
seria uma perda de tempo. Ele não concedia misericórdia e
eu cortaria meu próprio pau antes de lhe pedir isso. Talvez
tenha matado meu tio e ajudado Vitiello a salvar Marcella,
mas com certeza não fiz isso por ele. Tudo o que fiz foi pela
Branca de Neve.

Ainda o queria morto. Talvez sempre fosse assim.

— Está na hora? — Resmunguei. Minha garganta


coçando por tantas horas sem beber.

O rosto de Luca nem mesmo se contraiu. Ele


provavelmente estava imaginando todas as maneiras como
me desmembraria e me torturaria. Ele odiava a porra das
minhas entranhas, pelo que fiz com Marcella, e concordava
de todo o coração com ele nesse ponto, mas também por
quem eu era, um motoqueiro, o filho do meu pai, o homem
que tocou em sua filha. Se Marcella lhe contasse que tirei sua
preciosa virgindade, ele provavelmente me mataria apenas
por essa transgressão.
Porra, morrer com essa memória em minha mente
poderia valer a pena morrer uma e outra vez.

— Você sequestrou minha filha, arriscou seu bem-estar


e segurança, apenas para salvá-la semanas depois. Me
pergunto por que fez isso? Talvez tenha percebido que a
Famiglia e eu a salvaríamos eventualmente e viu isso como
sua única chance de salvar a porra da sua pele.

Me levantei, mas me arrependi quando uma onda de


tontura me dominou, então me sentei no chão. Vitiello me
olhou sem emoção. Eu era menos que sujeira aos seus olhos.

— A mesma razão pela qual não enfiei minha faca em


seu olho. Por Marcella.

— Porque se sentiu culpado? — Ele zombou.

Me sentia culpado, mas isso teria me impulsionado a


destruir o clube? — A culpa é apenas uma pequena parte
disso.

— Então por que? — Luca rosnou.

— Porque eu a amo. — Ri, percebendo o absurdo da


situação. — Amo a filha do homem que destruiu minha vida.

Luca acenou para mim. — Muitas pessoas perdem


alguém. Isso faz parte do nosso mundo.

— Tenho certeza que muitas crianças assistem as


entranhas de seus pais sendo espalhadas como a porra de
confete, — murmurei. — O que sempre me perguntei desde
que você massacrou meu clube é se me notou naquele dia?
Luca me encarou como se tivesse duas cabeças. — Do
que diabos você está falando?

Me levantei, mesmo que me sentisse como


borracha. Não podia ter essa conversa sentado aos pés de
Vitiello como um cachorro. — Estou perguntando se você
notou aquele menino de cinco anos apavorado encolhido
debaixo do sofá enquanto você mutilava as pessoas que ele
considerava sua família?

O rosto de Luca permaneceu a máscara impassível e


severa que conhecia. Marcella também tinha uma cara de
pôquer arrepiante, mas não era nada em comparação com a
de seu velho. — Não vi um menino naquele dia.

— Isso mudaria as coisas ou você teria me matado ao


lado de meu pai e seus homens?

— Não mato crianças ou mulheres inocentes, — disse


Vitiello.

Era difícil acreditar que ele pudesse dispensar alguém. A


história de Marcella sobre seu pai simplesmente não se
encaixava na imagem do homem que eu tinha.

— Então teria girado nos calcanhares e partido se


soubesse que estava lá?

Era uma pergunta retórica. A expressão nos olhos de


Vitiello não era a de um homem capaz de dar as costas ao
derramamento de sangue. Ele tinha sede de violência e
fúria. Nada, nem mesmo um garotinho poderia impedi-lo.
Seu olhar penetrante me deu a resposta que
esperava. — O que teria feito comigo então?

— Te trancado no meu carro para que você não


precisasse assistir em um mundo ideal.

— Seu tipo de mundo ideal inclui trancar um menino


em seu carro para que pudesse massacrar seu pai e seus
homens?

— Duvido que seu mundo ideal seja cheio de sol e arco-


íris. — Ele estreitou os olhos. — E você sequestrou uma
garota inocente, então certamente não tem o direito de me
julgar. Meu único juiz será Deus.

— Você acredita em Deus?

Ele não respondeu.

— Você está se esquecendo das autoridades legais. Eles


podem um dia julgá-lo também.

— Improvável. Mas esse não é o ponto. Você sequestrou


minha filha.

— O que nunca teria acontecido se você não tivesse


massacrado meu pai e seu clube!

Respirava com dificuldade, me perdendo na raiva do


passado novamente. Porra. Ainda queria matá-lo.

— Você merece a morte e não quero nada mais do que


matá-lo, mas não posso porque amo sua filha!

Luca deu um passo à frente, olhando feio. — Você


merece a morte tanto quanto eu, e quero matá-lo mais do que
tudo pelo que deixou acontecer com Marcella, mas não posso
porque amo minha filha.

Olhamos um para o outro, presos por nosso ódio e


controlados por nosso amor por uma garota.

— E agora, aqui estamos nós, — disse ironicamente. —


Você poderia mandar um de seus homens me matar e
encenar uma cena de suicídio. Diga a Marcella que a culpa
por ter feito meus irmãos do clube serem mortos me
consumiu.

— Essa é uma opção, — disse Luca. — Você está se


sentindo culpado por isso?

— A maioria deles deveria morrer para que Marcella


estivesse segura.

Luca não disse nada por um longo tempo. Talvez ele


realmente estivesse considerando o plano de suicídio. —
Minha filha acha que você é leal a ela.

— Eu sou, —disse. — Faria qualquer coisa por ela.

Luca sorriu sombriamente. — Acho que ela vai testar o


nosso amor por ela. Não sei se devo esperar que você falhe ou
não. De qualquer forma, Marcella enfrentará obstáculos que
nunca quis para ela. — Ele inclinou a cabeça em
consideração. — Não preciso dizer o que farei se achar que
você está brincando com ela.

— Sacrificaria minha vida por ela. Nunca a machucaria.


— Se é esse o caso, você deve ir embora e nunca mais
voltar. Vá para o Texas e cavalgue para a porra do pôr do sol
com seu irmão, mas permita que Marcella tenha o futuro que
merece e sempre planejou para si mesma antes de você
destruir tudo. — Ele jogou um livro para mim que dizia diário
do futuro. — Veja a primeira página.

Abri o livro e olhei para o papel. Era uma espécie de


diário com marcações e Marcella havia listado seu plano para
os próximos cinco anos. Conseguir um diploma aos vinte e
dois, casar no mesmo ano, criar planos de marketing para as
empresas da Famiglia, primeiro filho aos vinte e cinco...

— A vida não pode ser planejada assim, — murmurei,


mas ver as expectativas de Marcella para seu futuro me
atingiu. Seus planos não estavam de acordo com minhas
escolhas de vida até agora. — Tem certeza de que essas não
são as coisas que você queria para ela?

— Ela escreveu isso. Você realmente acha que podem


ficar juntos? Marcella é educada e socialmente hábil. Ela
prospera em eventos sociais. Sempre teve o cuidado de
proteger sua imagem pública. Se souberem que está com
você, tudo o que ela construiu para si vai desmoronar. Você
realmente quer arruiná-la?

Não podia acreditar que ele estava me jogando o cartão


de culpa e não podia acreditar que isso estava realmente
causando um impacto sobre mim. — Você teria deixado a
mulher que ama ir?
Luca sorriu sombriamente. — Sou egoísta. Talvez você
queira ser melhor do que eu.

— Você não está fazendo isso por ela.

Ele me agarrou pela garganta e em meu estado de


fraqueza, não pude lutar contra ele. Minhas costas colidiram
com a parede. Seus olhos ardiam de pura fúria. — Não me
diga que não estou fazendo isso por Marcella. Morreria por
ela. Só quero o melhor para ela e isso com certeza não é
você. — Ele me soltou e deu um passo para trás, respirando
com dificuldade.

Esfreguei minha garganta. — Marcella não é uma


criança. Ela pode fazer suas próprias escolhas de vida.

Por um momento, tive certeza de que Luca me mataria


na hora, mas então ele girou nos calcanhares e saiu. Não
fiquei surpreso que ele não aprovasse minha relação com
Marcella. Éramos de mundos diferentes, não havia como
negar. Não queria nada mais do que estar com ela, mas não
tinha certeza de como nossos mundos poderiam se fundir.

Poucas horas depois, Marcella entrou, seguida por seu


irmão, que me olhou como se quisesse quebrar minha cara. O
sentimento era mútuo. Ela parecia a garota de antes do
sequestro. Saltos altos, calça de couro justa, blusa de seda e
um brinco de diamante sobre o lóbulo da orelha que faltava,
que provavelmente custava mais do que a minha Harley.

Me perguntei por que ela estava aqui. Sua expressão era


de puro controle, a bela perfeição que me provocava e
atormentava enquanto me sentava em meu próprio fedor,
esperando o fim.

Marcella se voltou para Amo. — Quero falar com


Maddox sozinha.

— Devo ficar de olho em você.

— Não seja ridículo, Amo. Maddox matou seu tio e


irmãos motoqueiros por mim. Ele não vai me machucar.

Amo me lançou um olhar que deixou perfeitamente claro


o que aconteceria se a tocasse.

— Você pode pegar algo para Maddox beber e comer?

Minha última refeição?

Amo deu um aceno conciso e saiu. Marcella fechou a


porta atrás dele antes de se virar totalmente para mim.

Me levantei, tentando esconder o fato de que estava


desidratado e morrendo de fome. Não queria que ela se
lembrasse de mim como um fraco.

— Isso é um adeus? — Perguntei.

— Meu pai não confia em você. Ele não acha que você é
leal.
Aproximei-me, cada passo enviando uma pontada pelo
meu corpo. Estava quase certo de que tinha vários ossos
quebrados que precisavam de tratamento. — Não provei isso
quando traí o clube por você?

Teria dado qualquer coisa por esta mulher, para provar


seus lábios, para ouvir uma declaração de amor desses lábios
vermelhos.

— Achei que sim, mas então você tentou matar meu


pai. Vi a facada na perna e o corte na cabeça que você errou.

— Errei? — Ecoei, então ri. — Não errei nada, Branca de


Neve. Decidi não matá-lo porque não podia fazer isso com
você, e foi exatamente isso que disse a ele. Suponho que ele
não mencionou esse detalhe?

Ela estreitou os olhos, pensativa, mas não disse nada,


ainda não estava disposta a esfaquear o pai pelas costas. —
Você desistiu da vingança por mim?

— Desisti. — Mas depois da minha conversa com Luca


hoje, gostaria de ter continuado com ela.

— E na próxima vez que tiver a chance de esfaquear


meu pai? O que escolherá então?

Queria matá-lo, sem dúvida, mas continuar com


isso? Ri. — Acho que você não entendeu. Há apenas uma
escolha, e essa é você. A menos que queira que mate o seu
velho, o que provavelmente só acontecerá em meus sonhos,
não tentarei matá-lo novamente. Não tenho certeza se ele
pode dizer o mesmo.
— Então você quer matá-lo e ele quer te matar, mas os
dois não o farão por mim.

— Mais poderosa do que qualquer rainha que conheço.

Marcella suspirou e tocou os cotovelos com dedos


recém-tratados. Porra. A queria em meus braços. Era
fisicamente doloroso tê-la tão perto e não tocá-la. — O que
você quer, Maddox?

— Você.

— Mas venho com bagagem. Sou uma Vitiello. Sempre


farei parte da minha família e até mesmo entrarei no
negócio. Se me quiser, terá que descobrir uma maneira de se
tornar parte deles também.

Ri, não pude evitar. — Olha, sou totalmente a favor de


sonhar e estabelecer metas altas, mas seu velho nunca me
aceitará como parte do negócio. — Fiz uma pausa,
percebendo o que mais ela havia dito. — Você me quer como
parte da sua família?

— Minha família é parte de mim, então se você me ama,


terá que tentar amá-los também.

Balancei a cabeça, afundando contra a parede. — Só


recentemente desisti da vingança por você. Passar de odiar as
entranhas de seu pai para amá-lo é um salto distante que
pode levar várias vidas. Mesmo que seja ágil como um, não
sou um gato.

Marcella revirou os olhos e se aproximou até ficar bem


na minha frente. Não tinha certeza de como ela aguentava o
fedor, mas estava feliz por sua proximidade. — O que meu pai
fez com você quando criança foi horrível, e entendo seu
ódio. O perdão leva tempo. Só estou pedindo que tente
superar sua raiva.

Não tinha certeza se era uma opção, tanto para Luca


quanto para mim. — E você? Quanto tempo vai levar para
você me perdoar?

— Já te perdoei, — ela disse calmamente.

— Você perdoou?

— Mas não confio totalmente em você ainda. Não posso,


não depois do que aconteceu.

— Se você não confia em mim, seu pai definitivamente


não confiará. — Sorri ironicamente. — Então, isso é um
adeus, afinal.

— Não, — disse ela com firmeza. Ela olhou para mim,


fixando-me com aqueles olhos azuis que me assombravam.
Olhos que me fizeram querer acreditar no impossível.

— Não disse a ele. Isso é entre você e eu. Quero você na


minha vida. Agora cabe a você decidir se quer isso também.

Não queria perdê-la. — Perdoar seu pai é uma tortura,


— murmurei e o rosto de Marcella se contraiu de
decepção. — Mas sofrerei de bom grado por você. Vou provar
minha lealdade a você um milhão de vezes, se for preciso,
Branca de Neve. Vou ganhar sua confiança. Vou sangrar por
você. Matar por você. Farei qualquer coisa até que confie em
mim totalmente.
— A confiança absoluta é uma coisa rara.

Não queria nada mais do que beijá-la, mas só podia


imaginar o quão vil parecia.

— O que temos também é raro.

— Para ganhar minha confiança, você terá que fazer as


pazes com meu pai, com minha família. Terá que deixar de
lado sua fome de vingança. Precisa estar do lado do meu pai
porque é do lado que estou, e isso não vai mudar. Você pode
realmente fazer isso?

— Por você, sim. — Estava disposto a tentar. Não tinha


certeza se teria sucesso.

Amo voltou, olhando-nos criticamente. Ele realmente


carregava uma bandeja com comida e água, embora
desconfiasse do conteúdo. — É hora de ir para casa, — disse
ele.

Marcella acenou com a cabeça lentamente, mas não


se moveu. — Você parece uma garota de um milhão de
dólares, — murmurei.

— Mais do que você pode pagar, — Amo rosnou.

— Amo, — Marcella sibilou antes de se virar para mim


novamente. — Tome a decisão certa.

Ela se virou, cada movimento cheio de elegância, e


saiu. Amo balançou a cabeça para mim antes que também
saísse e batesse a porta.

— Se eu soubesse qual é.
Capítulo 22

Outro dia se passou, em que alguém me trouxe comida


e água. Apesar da minha preocupação de que cuspissem na
comida, estava com muita sede e fome para ser
exigente. Meus pensamentos estavam cada vez mais
confusos.

Quando Luca abriu a porta outra vez, sua expressão


não revelou nada. — E agora? — Perguntei.

— Não confio em você. Mas confio em minha filha, e ela


quer sua liberdade.

Me animei. Não podia acreditar que Marcella tinha


realmente convencido seu pai. — Devo dizer que estou
surpreso.

A boca de Luca se apertou. — Ainda acredito que você


merece a morte pelo que fez, mas Marcella sofreu e a decisão
é dela.
Levantei. — Você realmente vai me deixar ir? Como isso
deveria funcionar? E quanto aos seus soldados, eles não
ficarão chateados por você liberar o inimigo deles?

— Se você tivesse matado um dos meus soldados


durante a luta, teria te matado, não importa o que Marcella
dissesse, mas não o fez. Você até matou outro motoqueiro.
Meus homens querem a Famiglia forte e se disser que tê-lo do
nosso lado nos tornará mais fortes, eles acabarão se
acostumando com você.

— Eu duvido, — murmurei. As brigas entre nosso MC e


a Famiglia estavam cada vez mais feias nos últimos
anos. Havia muito sangue ruim entre nós. Levaria anos para
superar isso, se é que aconteceria.

Luca estreitou os olhos. — Marcella disse que você


gostaria de cooperar, recrutar motociclistas dispostos a
trabalhar conosco e eliminar aqueles que ainda representam
um risco para Marcella.

— Isso mesmo. Mas com certeza não farei um juramento


a você, Vitiello. Farei isso por causa da Marcella, mas ainda
tenho meu orgulho.

— Você realmente acha que está em posição de


negociar?

Encontrei seu olhar diretamente. — Se você não gosta,


me mate. Amo sua filha. O homem que ela conheceu e se
apaixonou tem coragem e orgulho. Não vou me tornar outra
pessoa, para você me poupar. Vou trabalhar com você, não
para você, e o farei com prazer, porque isso tornará a posição
de Marcella na Famiglia mais forte. Isso é tudo. Se não gosta,
coloque uma bala na minha cabeça agora e poupe-nos do
bate-papo.

Luca assentiu. Talvez apenas concordasse em acabar


comigo. O cara era impossível de ler. — Você não é um
covarde. E não dou a mínima para você, desde que não faça
nada que machuque a Famiglia, e especialmente Marcella.
Nem darei a mínima se tiver seu próprio negócio paralelo,
desde que não interfira nos meus negócios. A Famiglia ganha
dinheiro suficiente para poder abrir mão desses trocados.

Cerrei os dentes contra seu tom condescendente,


mesmo que estivesse aliviado por ele ter me dado essa
opção. Tentaria ganhar dinheiro com contatos antigos de
qualquer maneira. Não aceitaria o cheque de pagamento de
Vitiello. — Você não foi tão gracioso quando se tratava do
Tartarus tentando vender drogas e armas em seu território.

— Seu clube inundou meus clubes e ruas com drogas


de merda, inclusive fingiu que era coisa da Famiglia. Sem
mencionar que você tentou bagunçar meu negócio e queimou
um dos meus depósitos. — Ele fez uma pausa, olhando
feio. — Talvez não se lembre, mas quando seu pai era o
presidente da sede de Jersey, seu clube ainda praticava
tráfico sexual. A polícia pescou várias prostitutas mortas do
Hudson e começou a me investigar. Avisei seu pai para parar
com essa merda, mas ele estava tentando financiar suas
armas com as escravas sexuais.
Earl havia mencionado algo nesse sentido. Naquela
época, a sede principal no Texas ainda estava envolvida com
tráfico sexual também, mas eventualmente, foram
perseguidos demais por russos e mexicanos, então pararam.
Felizmente, isso aconteceu anos antes de me tornar parte do
clube. — Não finja que matou meu pai porque sentiu pena
das pobres escravas sexuais. Você estava em busca de
sangue naquele dia. Só queria matar e meu pai e seus irmãos
do clube eram um alvo conveniente.

— Eu não nego. E com certeza não vou me desculpar


por isso. Seu pai merecia morrer e não teria hesitado em me
matar também. Em retrospecto, teria certeza de que você não
estaria lá para assistir.

Acho que isso era o mais próximo de um pedido de


desculpas que Luca Vitiello daria. Marcella havia mencionado
que seu pai não tinha o hábito de se desculpar. Ficamos em
silêncio e apenas nos encaramos. Seus olhos refletiam a
mesma desconfiança e ódio que eu sentia. — Porra, isso
parece errado.

— Não preciso de um maldito juramento seu, mas quero


sua palavra de que não machucará Marcella e nos ajudará
com outros motoqueiros.

— Você tem minha palavra. Estou surpreso que se


importe com isso. A palavra de um motociclista vale alguma
coisa aos seus olhos?

Luca encolheu os ombros. — Se não cumprir sua


palavra, ainda posso caçar seu irmão Gray.
Entrei na cara dele. — Ele está fora dos limites, Vitiello.
Ele está cuidando da própria vida e isso não mudará. — Com
certeza esperava que fosse realmente o caso. Gray precisava
de um sistema de apoio forte, e me preocupei que ele fosse
buscá-lo em outro MC, ou talvez em um Tartarus
reconstruído.

Luca apenas sorriu friamente. Porra, Marcella, como


farei isso?

— Onde está Marcella?

Um músculo na bochecha de Luca se contraiu. — Em


casa. Ela sabe que estou aqui para falar com você, mas não
achei uma boa ideia tê-la por perto enquanto ainda
precisávamos resolver as coisas.

— No caso de ter que atirar em mim.

Ele não disse nada.

— Se você me deixar ir, terei que cuidar de algumas


coisas primeiro, principalmente falar com minha mãe, depois
gostaria de falar com Marcella. Como posso entrar em contato
com ela?

— Vá até o Sphere e marcarei uma reunião.

Tive que engolir um comentário. Esta era uma pílula


difícil de engolir para Vitiello, então cedi um pouco, mas com
certeza não lhe pediria cada vez que encontrasse sua filha.
— Tem certeza de que nenhum dos seus homens vai
atirar em mim acidentalmente porque acham que estou
fugindo?

— Meus homens fazem o que digo.

— Aposto que sim, — disse. — Sua reputação os


mantém na linha.

— É mais do que isso. A Famiglia é baseada na


lealdade. Isso não é algo que você entenderia.

— A lealdade nunca deve ser dada às cegas. A lealdade


deve ser conquistada, e meu tio e muitos dos meus irmãos do
clube escolheram um caminho que não pude apoiar.

— E quanto ao resto? Não matamos todos os membros.

— Como disse, meu irmão está fora dos limites. Ele é


uma criança e não causará problemas sem Earl.
Conhecendo-o, ele se tornará um mecânico e cuidará da
própria vida no meio do nada, no Texas, com minha mãe. Ela
também está fora dos limites.

Luca sorriu severamente. — Não tenho certeza se confio


em sua avaliação da inocuidade de seu irmão. Mas Marcella
me pediu para poupá-lo e a sua mãe, então por ela, farei isso,
até que seu irmão me dê motivos para vê-lo como um perigo
para minha família.

— Ele não será. Gray não é vingativo.

— Tem certeza que ele não se importará que você tenha


matado o pai dele?
Não tinha visto Gray desde que ele conseguiu
escapar. Não tinha certeza do quanto ele sabia,
definitivamente não que eu tinha matado Earl. — A menos
que você espalhe a notícia, ninguém sabe que matei Earl.

— Então você não planeja contar a ele.

Gray merecia a verdade, mas temia que isso o irritasse,


sem mencionar que tornaria meu trabalho de procurar
motoqueiros querendo matar Marcella ainda mais
difícil. Porém, a notícia sobre ser um traidor provavelmente já
estava circulando, então era apenas uma questão de tempo
antes que houvesse uma recompensa pela minha cabeça.

Luca apontou para a porta. — Você está livre para sair.

A surpresa me atravessou. Ainda achei que ele não iria


seguir com isso. Ainda não tinha cem por cento de certeza de
que não terminaria com uma bala na nuca no momento em
que virasse as costas para ele.

— Suponho que minha motocicleta tenha virado cinzas,


certo?

— Queimamos tudo.

Balancei a cabeça, não realmente surpreso. — E os


cachorros?

Eles não eram meus cães e nunca confiei neles, mas


realmente não era culpa deles que Earl os tivesse
transformado em máquinas de matar. Eles mereciam coisa
melhor.
— Um de nossos executores, Growl, adotou um e
encontrou um lugar em um abrigo para o resto. Não me
pergunte onde. Ele é o único que tem um coração para feras
assim.

Ele se virou e saiu da cela. Mostrar-me suas costas era


para me dizer que não me temia. Mas ele ainda estava
mancando um pouco, mesmo tentando esconder. O segui
com cautela, ainda desconfiado de seus motivos. Lá fora, no
longo corredor, esperava o homem alto e tatuado que me
trouxe para a cela.

Luca lhe deu um aceno de cabeça, e meio que esperava


que Growl puxasse uma arma e colocasse uma bala na
minha cabeça. Em vez disso, ele acenou para que o
seguisse. Ele carregava um monte de roupas debaixo do
braço. Olhei em volta, mas não vi mais ninguém. Luca ainda
me olhava com uma expressão avaliativa. Ele achava que eu
não era bom o suficiente para sua filha, mas provaria que ele
estava errado, mas mais do que isso, provaria a Marcella que
ela podia confiar em mim.

O cara, Growl, parou dentro de um banheiro e colocou


as roupas em um banco em frente a uma fileira de
armários. Os boxes eram limpos e bastante modernos. Luca e
seus homens provavelmente tomavam banho aqui depois que
terminavam de torturar seus inimigos. Ainda carregava o
sangue de Earl e também o meu sangue na minha pele,
misturado com suor, fuligem e sujeira. Comecei a tirar minha
camisa quando percebi Growl encostado na parede, sem
realmente me observar, focado na tela de seu telefone.

— Você ficará de olho em mim para que não faça nada


estúpido? — Perguntei ironicamente.

Ele assentiu.

Estremeci. Uma parte da camisa estava presa em um


ferimento sob minhas costelas. Com um puxão, ela saiu. —
Foda-se, — murmurei quando o sangue começou a escorrer.

— Precisará de pontos, — Growl murmurou.

Levantei uma sobrancelha. — Sim, obrigado. Estava


ocupado apodrecendo na minha cela.

Novamente um aceno de cabeça.

— Então você cuidou dos cachorros?

— Eles merecem uma vida melhor.

— Obrigado.

Growl acenou com a cabeça. — A confiança de Luca


deve ser conquistada. Eu costumava ser o inimigo. Agora não
sou.

Tirei minhas roupas restantes. — Não tenho certeza se


ele realmente quer tentar.

— Se ele te quisesse morto, você estaria morto, então ele


lhe deu uma chance que poucas pessoas têm. Não estrague
tudo.

Entrei no chuveiro com um gemido.


Trinta minutos depois, segui Growl para fora. O jeans e
a camisa eram um pouco pequenos para o meu corpo
alto. Obviamente não eram de Growl. Para minha surpresa,
Matteo Vitiello esperava na garagem ao lado de uma
motocicleta. Uma Kawasaki preta elegante.

— Não estrague tudo, — Growl disse como forma de


adeus.

Caminhei até Matteo, que aparentemente estava


esperando por mim. — Growl não é o cara mais
comunicativo, é?

O sorriso de Matteo se tornou desafiador. — Suponho


que verá mais Growl assim que começar a trabalhar conosco.

Era óbvio que ele não achava que o faria.

— Parece que sim. Talvez você possa chamar um táxi


para mim, já que meu telefone e minha motocicleta viraram
cinzas.

— Onde você está indo? — Ele perguntou, ainda com


aquele sorriso que me fez querer nocauteá-lo.

— Preciso cuidar dos negócios e verificar minha mãe.

— Que tipo de negócios? Encontrar velhos amigos?

— Meus velhos amigos estão mortos ou querendo meu


sangue, — falei com um sorriso severo. — Mas há alguns
fundos antigos que gostaria de pegar antes que alguém o
faça. Estou sem dinheiro agora. E com certeza não vou pegar
emprestado da Famiglia.
A avaliação e desconfiança nos olhos de Matteo
realmente me irritaram. Depois de dias em uma cela
fedorenta, quase sem comida e água, não estava com humor
para conversa fiada. Ele não precisava gostar de mim ou
confiar em mim. Tudo o que importava era que Marcella o
fizesse.

Matteo apontou para a Kawasaki. — Quer saber, por


que não pega minha motocicleta. Não é uma Harley, mas o
levará aonde precisar ir.

Levantei minhas sobrancelhas. — Você está me


oferecendo sua motocicleta.

— Tenho certeza de que a trará de volta assim que


cuidar dos negócios. — Sua voz deixou claro que ele achava
que fugiria e nunca mais voltaria. Peguei as chaves que ele
estendeu.

— Obrigado. Vou cuidar bem dela, — disse com um


sorriso forçado. — Você precisa que chame um táxi?

Matteo me deu um sorriso. — Oh, não se preocupe. Vou


pegar uma carona com Luca. — Claro, o Capo ainda estava
por aqui em algum lugar. Eles provavelmente teriam uma
reunião assim que saísse para falar sobre mim, talvez até
mandassem alguém atrás para ver se estava fazendo alguma
coisa contra a Famiglia.

— Quando você voltar, há muito que discutir. Se quiser


ficar com Marcella, temos que fazer os arranjos para o
noivado e o casamento, mudar seu guarda-roupa e lhe dar
algumas aulas de etiqueta para que possa fazer parte do
círculo social dela.

Ele estava me provocando, o idiota. Como se ele ou Luca


quisessem que me casasse com Marcella. Infelizmente, suas
palavras tiveram o efeito desejado. Meu corpo se arrepiou
com a mera ideia do que ele disse. Não queria ser preparado
para outra pessoa. Porra, o casamento sempre pareceu
desnecessário em minha mente.

Coloquei o capacete e liguei a moto. Matteo deu um


passo para trás. Com uma saudação, parti. Resisti à vontade
de olhar por cima dos meus ombros. Virar as costas para um
Vitiello ainda me dava calafrios. Pilotar a Kawasaki era uma
sensação totalmente nova para mim. Preferia o barulho
constante da Harley e senti uma pontada quando pensei na
minha Harley agora queimada. Ainda assim, a sensação
familiar de liberdade que sempre me dominava em uma
motocicleta me pegou.

Realmente podia desistir de minha liberdade, meu estilo


de vida, até mesmo parte de mim por Marcella?
Mamãe me olhou preocupada enquanto nos sentávamos
à mesa de jantar. Maddox foi solto pela manhã e Matteo até
lhe deu sua motocicleta porque Maddox tinha alguns
negócios para tratar. Suspeitei que ele procuraria seu irmão e
sua mãe para se certificar de que estavam bem. Ainda assim,
esperava que ele descobrisse uma maneira de entrar em
contato comigo agora.

— Matteo não deveria ter lhe dado sua motocicleta. Lhe


pedi a coisa por meses e ele simplesmente dá para o nosso
inimigo, — Amo murmurou.

— Não foi um presente. É emprestado até que ele


devolva quando voltar, — disse com firmeza.

Amo balançou a cabeça. — Certo.

— Marcella, — papai começou, obviamente tentando


antecipar o golpe o mais gentilmente possível. Sabia o que
todos eles achavam.

— Maddox não fugiu. Ele está cuidando de algumas


coisas e voltará para Nova York para provar a si mesmo.

Papai olhou para mamãe.

— Marcella o conhece melhor do que nós, — ela disse


em seu jeito diplomático usual. — Se ela deposita sua
confiança nele, tenho certeza de que tem seus motivos.

— Obrigada mãe.

— Mas realmente quero conhecê-lo pessoalmente o mais


rápido possível.
Sufoquei um sorriso com o aço repentino em sua voz.

— Vou apresentá-lo a você. — Não perdi a expressão de


cautela no rosto de papai. Ele provavelmente ficaria de
guarda a cada segundo quando mamãe encontrasse
Maddox. Era estranho. Apesar da falta de notícias e das
dúvidas da minha família sobre seu retorno, acreditei que ele
voltaria. Depois do que ele arriscou para me salvar, tinha
certeza de seus sentimentos por mim.

Quando não houve notícias de Maddox na manhã


seguinte, comecei a ficar realmente nervosa. Mas não queria
perder tempo me preocupando. Maddox voltaria, e se não
voltasse... então ele nunca me mereceu para começar. Ainda
assim, meu coração doeu pensando nisso.

Decidi me distrair com algo que pretendia fazer há


alguns dias. Liguei para Growl e perguntei se ele poderia me
pegar e me levar até o abrigo que construiu com Cara para
ajudar cães de briga abusados. Papai mencionou que eles
levaram os rottweilers para lá.

Trinta minutos depois, ele parou na frente de nossa


mansão. Dois guarda-costas esperavam na frente da porta
quando saí. Eles me acompanharam até o carro de Growl, em
seguida, entraram em um segundo carro e nos seguiram. —
Obrigada por vir tão rápido, — disse.
— Fiquei surpreso por você querer ver os cachorros.

— Fiquei apavorada com eles no começo, mas meio que


me apeguei ao cachorro que estava ao lado da minha
gaiola. O nome dela é Satan, mas foi gravemente ferida. Você
sabe se ela sobreviveu?

— Não sei seus nomes. Ainda preciso nomeá-los.

— Não chame nenhum cachorro de Satan, por favor.

Growl assentiu.

— Tenho que admitir que ver os cachorros de novo não


era a única razão pela qual pedi que você me pegasse.

— Imaginei, — Growl murmurou. — Seu pai me disse


que você se juntará ao negócio.

— Quero liderar nossa equipe de Executores, para


coordenar os ataques aos MCs que estão nos causando
problemas e também para encontrar os motociclistas
Tartarus restantes que representam um risco.

Growl apenas acenou com a cabeça, mas realmente


queria que ele dissesse algo.

— Quero saber se teremos um problema porque sou


mulher ou porque você quer estar no comando dos
executores.

— Não tenho problemas em servi-la, e nunca quis


liderar ninguém. Estou feliz com o trabalho que faço todos os
dias.
— E quanto aos outros executores? Eles disseram algo
para você?

— A maioria deles tem muito juízo para falar mal de


você.

Eles temiam meu pai, mas não me respeitavam. Faria o


meu melhor para mudar isso. Depois de quase uma hora,
chegamos a uma casa de fazenda com enormes
áreas cercadas. Saímos e um cara esguio na adolescência
saiu. — Adolescentes problemáticos dirigem o abrigo sob sua
orientação, certo?

— Isso dá a eles e aos cães um novo lar.

Growl me levou até uma área menor onde dez Rottweiler


no total eram mantidos. — Eles não se dão bem com os
outros cães ainda, então temos que mantê-los separados.

Não demorei muito para localizar Satan e o alívio me


invadiu. Sua lateral estava enfaixada e ela estava usando um
cone para não lamber o ferimento, mas fora isso parecia bem.

— Ela está sozinha na gaiola porque os outros cães não


a aceitarão enquanto estiver ferida.

Para minha surpresa, ela trotou em direção à cerca no


momento em que me viu. Considerando nosso primeiro
encontro, percorremos um longo caminho. — Ei, garota, —
disse. Ela bufou e abanou o rabo. Bem alimentada e com um
grande quintal para correr, ela parecia muito mais relaxada
do que o cachorro de que me lembrava.
Vê-la também trouxe de volta muitas memórias do meu
cativeiro que não queria lembrar. Ainda me sentia presa em
uma espécie de limbo, em casa fisicamente, mas com minha
mente ainda perdida na sede do clube. Dei um tapinha gentil
nela através das grades. — Você vai encontrar um bom lar
para ela?

— Não será fácil, dada a sua criação.

— Gostaria de poder acolhê-la, mas papai nunca


permitiria.

— Seu pai quer protegê-la.

— Eu sei, — disse. — De tudo. Maddox, cachorros...

— Maddox precisa ganhar a confiança de seu pai. Isso


não é uma coisa fácil de fazer, mas já fui inimigo de seu pai
uma vez e ele me deu o benefício da dúvida. Maddox pode
fazer o mesmo.

Sorri. — Obrigada, Growl. — Olhei para Satan que me


observava. — Você pode me fazer um favor e chamá-la de
Santana? Ainda é parecido com o nome dela, mas muito
melhor.

— Certo. Você quer passar mais tempo com ela?

— Sim. — Fiquei por mais uma hora a acariciando antes


de Growl me levar de volta para casa. Subi para o meu quarto
para pesquisar possíveis tatuagens para não pensar
constantemente em Maddox.
No início da noite, o motor de uma motocicleta roncou
do lado de fora. Meus olhos se arregalaram e pulei do sofá do
meu quarto. Corri escada abaixo e em direção à porta da
frente, meu coração galopando loucamente. Abri e murchei
quando vi Matteo em sua motocicleta, a que ele deu a
Maddox.

Ele passou a mão pelo cabelo e me deu um pequeno


sorriso.

Passos soaram atrás de mim e papai apareceu ao meu


lado. Sua expressão não era um bom presságio.

— O que há de errado? Onde está Maddox?

Matteo subiu as escadas, trocando outro olhar secreto


com papai.

— Pai, — disse com raiva. — Onde está Maddox?

Amo e mamãe estavam no saguão agora.

Papai tocou meu ombro. — Ele apareceu no abrigo de


Growl esta tarde e deixou mais dois cachorros e a motocicleta

Devemos ter nos desencontrado por uma hora. — Mas


onde ele está agora?

— Ele fugiu como todos nós sabíamos que faria, — disse


Amo.

Virei-me para ataca-lo, mas a expressão compassiva de


mamãe me disse que as palavras de Amo eram verdadeiras.

— O que? — Sussurrei, chocada. — Ele não fugiria


simplesmente. Ele me salvou, traiu seu clube por mim...
— Talvez ele tenha se arrependido de sua decisão, —
disse Matteo gentilmente.

Papai tocou meu ombro. — Maddox só conhece o estilo


de vida de motoqueiro. Ele não quer ser limitado por uma
mulher ou por convenções sociais. O chamado da estrada, da
liberdade, foi muito forte.

— Você acha que ele escolheu a liberdade em vez de


mim?

— O que ele considera liberdade, pelo menos.

— Isso foi o que ele disse a Growl?

Matteo acenou com a cabeça. — Falei com Growl


quando peguei minha motocicleta. Maddox não demorou
muito. Ele fez questão de partir o mais rápido que
pôde. Provavelmente está saindo de nosso território agora. Os
homens que o seguiram ontem o viram pegando uma sacola
cheia de dinheiro.

Engoli em seco. — Ele poderia ser livre ao meu lado.

— Boa escolha. Se ele construir a porra do seu clube de


novo, vou matá-lo, e desta vez Marci não vai nos impedir, —
murmurou Amo.

O ignorei. Mamãe passou um braço em volta de mim. —


Você tem um futuro maravilhoso pela frente, Marci. Não
precisa dele. Você nos tem.

Não precisava dele, mas o queria ao meu lado. Queria


que ele se tornasse parte da minha vida, da minha
família. Achei que poderíamos superar o abismo entre nossas
origens.

Mas nosso vínculo era fatal desde o início. Maddox me


salvou e eu o salvei. Isso foi tudo que existiu.

Agora só tinha que convencer meu coração disso.

Continua em

By Sin I Rise - Parte Dois...

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