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Jacqueline Anderson

Preparação de texto, Revisão e Diagramação:


Carla Santos

Esta obra segue as regras do Novo Acordo Ortográfico da Língua


Portuguesa.

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Nenhuma parte dessa obra pode ser reproduzida ou transmitida por
qualquer forma, meio eletrônico ou mecânico sem a permissão por
escrito da autora.
Capa
Folha de Rosto
Ficha Catalográfica
Sinopse
Aviso importante
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo Extra
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Sou apenas uma estudante tímida, que sempre segue as regras; pelo
menos, é assim que todos os meus amigos pensam. Mas tenho um
segredo ilícito, proibido.
Ele é um homem acima de qualquer suspeita, respeitado e admirado
por todos... Até que me revela seus segredos mais sombrios, que eu
jamais podia imaginar.
Frio e calculista, ele se assemelha mais ao demônio do que a um anjo.
Por baixo de toda sua benevolência, se encontra algo que tem me
possuído. O calor da minha pele se eleva ao nível mais alto quando seus
olhos maliciosos percorrem meu corpo. Eu quero escapar do seu fascínio,
mas ele nunca me deixará ir.
Estou presa nas mãos profanas do meu professor... e ele é um padre.
Embora o enredo tem como pano de fundo a igreja católica e o
cristianismo, nenhuma das condutas aqui apresentadas se refletem em
fatos reais sobre a igreja e sua integridade.
Respeito a religião cristã e a igreja católica, não tenho o intuito de
desonrar a imagem da igreja, dos padres e religiosos e muito menos a de
Jesus. Tudo que acontece é fruto da imaginação e só está relatado para se
enquadrar no enredo ficcional.
Desenrolando meus longos cabelos castanhos da toalha, comecei a
secá-los com o secador enquanto ouvia uma música pop no meu celular.
Era a manhã do meu primeiro dia de aula na faculdade para estudar o
que sempre quis: veterinária. Estava muito animada para essa nova
etapa da minha vida.
Sempre fui apaixonada por animais, essa paixão cresceu desde a
infância quando Meg, minha gatinha de estimação, teve um pequeno mal-
estar. Todos ficaram preocupados por ela ser a última gatinha dos seus
ancestrais, que estavam na família durante décadas. Meg era forte e
nunca mais teve nenhum problema de saúde e, desta forma, escolhi
estudar e me profissionalizar nesses seres especiais. Meus pais, a
princípio, não gostaram muito da ideia, eles queriam que eu estudasse
Administração para, futuramente, trabalhar na corporação das empresas
do meu pai, mas depois de muito insistir, eles me deixaram fazer aquilo
que amo.
Aos 18 anos, eu era filha única e herdeira. Meus pais me protegeram
até onde puderam do "mundo lá fora", como eles costumavam chamar.
Nem mesmo estudei em escola presencial, até o ensino médio estudei em
casa com preceptores. Mas agora o meu momento de liberdade chegou,
estava indo para a faculdade.
Sorri animada e finalizei meu cabelo, antes de me dirigir até o closet
para escolher uma roupa. Ao passar pelo quarto, ouvi uma batida leve à
porta.
— Entra! Está aberta.
— Bom dia!
Uma senhora de cabelos brancos e pele clara, por volta dos 60 anos,
entrou no quarto com um sorriso, era a minha babá, aliás, ela cuidou de
mim desde que eu era um bebê e até hoje gostava de me ajudar para
tudo. Era como uma segunda mãe, que me dava conselhos, me ouvia e me
mimava.
— Bom dia, Jemima!
Ela me acolheu em seus braços amigos e a apertei alegremente,
suspendendo-a.
— Não, menina Eve, estou muito pesada.
— Tá nada! Além do mais, estou muito feliz, Jemima.
— Não acredito que minha menina cresceu e já vai para a faculdade!
Lembro que trocava suas fraldas pouco tempo atrás.
— Pois agora sou uma mulher, pronta para o mundo lá fora.
Finalmente abrirei minhas asas e voarei.
Me dirigi para o closet, seguida por Jemima. Ela me ajudou a escolher
uma roupa, enquanto conversávamos. Ao terminar de me arrumar com a
ajuda dela, olhei-me no grande espelho de corpo inteiro. Estava perfeita
para o primeiro dia de aula: escolhi um vestido suspensório de veludo e
pregas, uma camisa branca de gola e mangas compridas, meia-calça preta
e sapatos fechados. Mantive meus cabelos soltos, apenas presos nas
laterais com duas fivelas. A maquiagem era leve, apenas os olhos um
pouco marcados, o que destacava o verde deles.
— Está linda! Um arraso.
— Obrigada, Jem.
Jemima carinhosamente fez um sinal da cruz em minha testa, antes
de nos dirigirmos até embaixo para o desjejum. Ao chegar à sala de
jantar, meus pais já estavam me aguardando.
Meu pai, um homem de 50 anos, elegante, de cabelos e barba
grisalhos, de olhar acolhedor, recolheu seu jornal que até então estava
lendo e se levantou para me cumprimentar e depositar um beijo em
minha testa.
— Nossa garotinha irá para a faculdade, como se sente?
— Muito feliz e nervosa também, papai.
— Não fique, estudará na mais renomada universidade católica de
Roma em um ambiente muito respeitado.
— Sim, filha, eu e seu pai escolhemos com muito zelo o local que
estudará, não entregaríamos nossa filhinha para qualquer instituição.
Minha mãe era uma mulher de 45 anos, muito bonita, de cabelos
castanhos como os meus, só que modelados na altura dos ombros. Ela
tinha grandes e lindos olhos azuis. Mamãe segurou em minhas mãos me
confortando.
Meus pais eram muito carinhosos, vieram de família tradicional da
Inglaterra, país que morávamos antes de nos mudarmos definitivamente
para a Itália. Eles eram extremamente religiosos, contribuintes da igreja
por gerações e participantes ativos na comunidade religiosa local.
Éramos católicos e meus pais sempre me ensinaram valores, eles
mesmos eram grandes exemplos de virtudes para mim. Por isso não os
decepcionarei.
Após o café da manhã, recolhi meus pertences e partir para o meu
primeiro dia de aula. A brisa fria do início de outono bateu no meu rosto,
assim que desci os degraus da mansão. O carro preto com motorista já
me aguardava com a porta traseira aberta.
— Bom dia, James! — cumprimentei o motorista.
— Bom dia, Srta. Bennet.
Adentrei no veículo luxuoso e a porta foi fechada, ajustei o cinto de
segurança e o carro partiu para o meu destino. Senti um frio na barriga
de excitação. Observei através da janela o bairro elegante onde
morávamos nos arredores de Roma, capital italiana. Sempre admirei a
beleza estonteante desse país que aprendi a amar. Morávamos em Roma
há dez anos, eu tinha oito anos quando nos mudamos, vindo da
Inglaterra, nosso país de origem. A paisagem pitoresca entre o antigo e o
novo sempre me encantou. Agora passávamos por uma avenida de três
pistas. Observei as construções medievais de alguns prédios. Sempre
gostei de Roma, a cidade que foi palco da história, influente no
desenvolvimento da cultura europeia e era conhecida como a cidade
eterna.
O percurso de meia hora terminou e o carro parou em frente ao
prédio da Pontifícia Universidade Gregoriana, na Piazza Della Pilotta, no
centro de Roma. Datada desde 1584, era uma das mais antigas
universidades de Roma. Olhei admirada a fachada imponente com sua
entrada de três arcos e pilastras romanas. Sorri quando o motorista
abriu a porta e eu saí do carro, tudo muito lindo.
— Tenha um bom dia de aula, Srta. Bennet.
— Obrigada, James!
O motorista se afastou e foi embora, me mantive por alguns minutos
na calçada admirando a bela fachada. Apreciando o meu destino de todas
as manhãs.
— Tá fazendo o quê parada aqui?
— Antonella! — gritei e a abracei. Antonella também devolveu o
abraço rindo toda contente.
— Parece que não nos víamos há anos.
Antonella Grasso era minha melhor amiga, tínhamos a mesma idade e
nossas famílias eram muito unidas. Decidimos estudar o mesmo curso.
Ela era de família tradicional da Itália, tinha cabelos e olhos pretos e uma
pele cor de oliva. Um pouco mais alta que eu e seus cabelos eram lisos
com franja.
— Você sabe que sou tímida e ficaria perdida sem você aqui — falei
animada.
— Cara, você sabe que está mentindo, é tão comunicativa e
extrovertida quanto eu. Além do mais, conquista a todos com seus olhos
verdes...
Sorri, gostava desse jeito de Antonella e seu sotaque italiano, nos
comunicávamos em inglês a maioria das vezes, embora eu fosse influente
em italiano.
— Mas agora é diferente, é a primeira vez que estou em um ambiente
estudantil.
— Não tem nada de diferente do que os eventos da igreja e da
sociedade de Roma, encontrará muitos deles aqui.
— Então vamos entrar, estou doida para me familiarizar com tudo.
Entramos no prédio e muitos outros alunos, professores e
funcionários caminhavam pelos corredores apressados, cada qual
procurando seu destino. Antonella olhava para o celular à procura do
nosso cronograma de aula. Eu já sabia de cor o andar, o número da sala, a
primeira matéria e até o nome do professor.
— Que droga! Não consigo achar o cronograma de horários.
— Eu já sei, vem comigo.
— Você, como sempre, muito organizada.
Entramos no elevador e logo saltamos no segundo andar.
Caminhávamos no corredor procurando o número da sala. Não demorou
e logo achamos.
— É aqui!
Outros alunos já haviam se acomodado nos bancos acolchoados. Eu e
Antonella decidimos nos sentar na primeira fileira, uma ao lado da outra.
A sala parecia aquelas de cinema, com cadeiras e mesas em degraus.
— Qual a primeira aula? — ela perguntou.
— Ciências biológicas.
— É homem ou mulher?
— O quê?!
— O professor. Quem mais seria?
— Ah! É homem, o Sr. Crawford.
— Pelo sobrenome, é inglês.
— Parece.
Peguei meu celular e comecei a olhar os outros horários das aulas, já
para me organizar e estava distraída, inerte, quando senti uma mão em
meu antebraço. Era Antonella. Ela cochichou:
— Olha isso!
Levantei minha cabeça e me deparei com um homem, não, um deus
grego com sua beleza estonteante. Meus olhos não conseguiam desviar
de sua figura, ele era alto, cabelos pretos e curtos penteados para o lado.
Uma pequena mecha caía sobre a testa despretensiosa, o que lhe dava
um charme maior. O rosto liso, apenas com uma sombra de barba e a
boca mais sensual que vi em um homem. Ele estava vestido todo de preto
dos pés à cabeça e percebia-se através dos contornos da camisa social de
mangas longas e o blazer preto que ele era musculoso. Meu coração
jovem bateu descompassado quando ele cruzou seus olhos com os meus,
eram azuis, como duas piscinas convidativas para serem mergulhadas
em suas profundezas. Todo meu corpo arrepiou-se e minha pele
aqueceu-se. Meu rosto parecia brasa. Ele sorriu para mim, foi apenas
uma sombra de sorriso, mas o impacto foi tão grande em mim, que
desviei os olhos rapidamente, muito envergonhada.
— Ele é um padre? — Antonella perguntou cochichando.
Olhei para ele de canto de olho e constatei que, embora trajasse
roupas sociais normais, usava também o colarinho clerical. Meus Deus,
ele é um padre e eu acabei de o achar bonito, o que torna tudo pior.
— Não acredito que ele é um padre — Antonella continuou
cochichando.
— Shhh! — exclamei, pedindo para ela ficar quieta, morrendo de
medo dele escutar.
— Bom dia!
A voz forte, refinada e máscula, ecoou por toda a sala e entrou nos
meus ouvidos enviando ondas de calor pelo meu corpo. Ouviu-se um
burburinho na sala em reposta ao cumprimento. Eu não conseguia
levantar a cabeça para olhá-lo.
— Meu nome é Magnus Crawford, professor e chefe da área de
ciências da universidade. Trabalharemos em sala de aula teórica e
prática no laboratório — ele falava e eu não conseguia prestar atenção.
Percebi que ele se aproximou de mim e colocou uma das mãos sobre
a minha que estava repousada na mesa. O contato inesperado provocou
um choque elétrico de emoções, como se um raio tivesse me atingido.
Levantei a cabeça e olhei para ele. Seus olhos me percorreram como
se estivesse me devorando. Ele acariciou o dorso da minha mão com o
polegar, tudo era tão surreal que não acreditava que estava acontecendo.
— Quer ser a primeira a se apresentar? — ele perguntou.
Corei violentamente, ele apenas encostou em mim cordialmente, eu
não havia nem prestado atenção que ele sugeriu as apresentações. Em
minha mente, aquele contato era tão pecaminoso. Meu Deus, o que está
acontecendo comigo?
Levantei-me com as pernas trêmulas e pigarreei. Ele por sua vez,
cruzou os braços sobre o peito e esperou eu iniciar a apresentação.
— Meu nome... — interrompi e limpei a garganta antes de continuar:
— Desculpa! Meu nome é Eve Bennet, tenho 18 anos, quase 19 — falei
rápido.
Não sei por que falei isso, ainda faltava alguns meses para completar
19 anos.
— Eve... lindo nome — ele falou.
— Obrigada!
— Por que decidiu ser veterinária?
— É meu sonho, sempre amei os animais e sou devota de São
Francisco.
— Um grande Santo, ele é o patrono do curso veterinário — ele
comunicou, caminhando até sua mesa. — Obrigado, Srta. Bennet, pode
voltar a sentar.
Quase desabei na cadeira. As apresentações continuaram, mas aquele
clima estranho entre meu professor e eu era denso. Várias vezes, quando
olhava para ele, o flagrava me observando. Nenhum sinal de
constrangimento vinha dele, muito pelo contrário, ele mantinha os olhos
e eu percebia uma certa malícia. Eu sempre desviava. Acho que estava
ficando louca e imaginando coisas, ele era um padre, além do meu
professor, eu que o estava encarando com malícia, não o contrário.
Nunca desejei que uma aula terminasse tão rápido.
Em um determinado momento, o professor Crawford falou:
— Todo início de semestre, costumo escolher um aluno para ser meu
assistente. A pessoa terá que chegar um pouco mais cedo para as aulas e
algumas vezes me ajudar com as matérias depois das aulas. Gostaria de
se candidatar, Srta. Bennet?
— Eu?! — perguntei assustada.
— Sim, a senhorita.
O fitei com os olhos arregalados. Ele também me contemplava, algo
em sua postura e em seu olhar me avisava silenciosamente para não
recusar mesmo com um frio denso na barriga. Senti um nó na garganta e
engoli diversas vezes em seco. Gaguejei ao responder:
— A... a... acho que posso fazer isso.
— Excelente, Srta. Bennet. Podemos começar hoje?
— Sim, claro.
Voltei a me sentar e Antonella disse baixinho:
— Sortuda!
— Antonella!
Ela me olhou e fez uma expressão de questionamento erguendo as
sobrancelhas escondidas pela franja.
Quando ouvi o sinal, quase entrei em êxtase de alívio e ao mesmo
tempo de apreensão, não sabia exatamente o que o Sr. Crawford queria
que eu fizesse. Todos reuniram os materiais, inclusive eu.
— Por favor, Srta. Bennet, poderia me ajudar a levar esses materiais
até a minha sala?
— Vai nessa! Nos vemos mais tarde. — Antonella saiu da sala e
somente eu e o professor Crawford ficamos. Aproximei-me da mesa dele
para pegar os papéis que ele recolhia.
— Não precisa ter medo de mim, Srta. Bennet.
— Não estou, Sr. Crawford ou padre...
— Para você, somente padre Magnus.
Fiquei confusa.
— Podemos ser formais em sala de aula — ele esclareceu —, mas fora
dela nos trataremos sem formalidades. Afinal de contas, você agora é
minha assistente.
Fiquei sem fala, não sabia nem o que dizer ou como me expressar
diante daquele homem. O segui até seu escritório mordendo os lábios
nervosa por dentro, ele abriu a porta e me deu passagem. Logo depois
entrou, ouvi o chacoalhar das chaves. Todo meu corpo ficou em alerta.
— Agora estamos a sós, Eve.
O som do clique da fechadura sendo trancada foi um lembrete de que
eu estava sozinha na sala, com meu professor sexy.
“Para, Eve! Você está louca? Ele é um padre”, me adverti em
pensamento.
O barulho dos seus passos no assoalho de madeira, me deixou em
alerta, eu não conseguia vê-lo, mas sentia seu calor atrás de mim. Meu
coração batia rápido e apertei os materiais que segurava junto ao meu
corpo como se pudesse abafar todos os meus sentidos.
— Deixe os materiais naquele armário. — Sua voz profunda e rouca,
próxima ao meu ouvido, me fez tremer.
Olhei para a direção que ele apontou e caminhei até lá com as pernas
bambas. Abri as portas duplas de madeira do armário e guardei os
materiais.
Respirei fundo antes de voltar-me para ele com uma expressão
amistosa, tentando disfarçar meu desconforto. Ao fazê-lo, percebi que ele
havia retirado o blazer preto e pendurado no encosto da cadeira e já
estava sentado atrás de sua escrivaninha.
— Sente-se, Eve, vamos conversar um pouco.
Grata pelos segundos que tive para me recompor e parar de fantasiar
com o padre, aproximei-me da cadeira que ele indicava e me acomodei
com um sorriso amigável nos lábios, ainda que parecesse exibir uma
espécie de tensão. Ajeitei a saia, passando as palmas das mãos algumas
vezes nas pregas e juntei bem as pernas, levantei o ombro e o encarei.
Naquele instante experimentei o impacto dos olhos azuis profundos,
com quase imperceptíveis rugas de expressão nos cantos internos. Me
senti como um ratinho assustado diante de um felino selvagem, ele
irradiava força e confiança.
— Permita-me!
Ele abriu uma caixa de madeira em cima de sua escrivaninha e tirou
um charuto. Levou o fumo aos lábios e acendeu com um isqueiro de
prata. Observava seus movimentos admirada, nunca havia visto um
padre ter qualquer tipo de vício, os padres que estava acostumada a
encontrar na igreja que frequentava com meus pais eram senhores que
davam sermões sobre as coisas mundanas.
Ele tragou profundo e soltou a fumaça, olhava para os seus braços
musculosos que ficaram mais vistosos sem o blazer. De novo me
recriminei por olhá-lo como homem e não como padre. Senti meu rosto
corar como sempre e, para disfarçar, decidi falar alguma coisa:
— Eu não sabia que padres podiam fumar charuto.
— Há muitas coisas que um padre não pode fazer, mas faz.
O silêncio pesado só era interrompido pelo barulho do tique-taque do
relógio de parede.
— Não digo por mim, claro! — ele riu.
— Claro que não — rebati nervosa.
— Mas, às vezes, um padre se permite alguns prazeres da vida, e
fumar um charuto é um dos meus prazeres.
— Tem mais algum? — Ousei perguntar.
— Sabe guardar segredo, Eve?
— Bem, s-sim! — gaguejei.
Ele repousou o charuto no cinzeiro, estendeu-se e aproximou-se da
minha cadeira, a rodeou até ficar atrás de mim. Senti suas mãos grandes
em meus ombros, ele se debruçou e estava tão próximo que podia sentir
o perfume de sua loção pós-barba, a respiração intensa dele acariciando
a pele do meu rosto. Minha pulsação e a frequência cardíaca aceleraram.
Ele sussurrou no meu ouvido:
— Também gosto de um bom... vinho.
Senti um toque das mãos fortes em meus cabelos, ele os afastou do
meu ombro e ajeitou nas costas. Tive a impressão de que ele inalou o
perfume. Meu corpo respondeu ao seu toque vergonhosamente. Os bicos
dos meus seios enrijeceram a ponto de doer de encontro ao tecido do
sutiã. E minha vagina parecia um farol piscando.
— Lindo cabelo, deveria mantê-los sempre assim, soltos.
Ele afastou-se e eu soltei a respiração que até então não sabia que
estava segurando. Fiz um esforço supremo para não sentir nada daquilo.
Por Deus! Não posso sentir nada por ele, muito menos desejo sexual.
O padre sentou-se de novo na cadeira e me encarou com um sorriso
gentil. Seus olhos me encaravam cobiçosos e me sentia presa ao
magnetismo deles. Não sei precisamente por quanto tempo
permanecemos unidos naquele fascínio, mas em um dado momento ele
quebrou o encantamento:
— Mas claro que esses vícios não são bons exemplos para você,
mocinha. Portanto, não os repita só porque viu o velho padre aqui
praticar essas coisas mundanas.
— Oh, não! Meus pais são muito rigorosos sobre isso.
— Que bom saber que tem pais tão zelosos.
— Ah sim, às vezes são um pouco exagerados.
— Não concorda com a maneira que eles cuidam de você?
— Não é isso, mas passei uma boa parte da minha vida sob a proteção
rigorosa deles, e agora que estou na faculdade, me sinto mais livre para...
O padre ergueu uma das sobrancelhas esperando-me concluir, no
entanto não queria revelar que pensava em conhecer pessoas novas e,
quem sabe, até me envolver com alguém amorosamente. Mas não me
senti à vontade com ele, deveria, afinal de contas ele era um padre.
— Para...? — ele perguntou.
— Para viver, fazer minhas escolhas, cometer meus próprios erros.
— Que erros?
— Ah! Erros que jovens cometem, sabe?
— Não sei, fala-me quais.
— Hã...!
— Não precisa ficar tímida, pode confiar, sou um bom padre ouvinte.
Fiquei olhando para ele e imaginando como conseguia fazer aquilo.
Ao mesmo tempo que se mostrava um homem sensual e perigoso
exalando energia sexual em cada poro, também se mostrava cordial e
confiável. Acho que eu que estou imaginando coisas. Onde estou com a
cabeça ao alimentar fantasias a respeito de um homem que me é proibido?
Ele é meu professor, um padre e não tem nada de sensual nisso, embora sua
aparência seja o pecado ambulante. Que droga! Comporte-se, Eve!
Dando um profundo suspiro, forcei-me a sorrir.
— Bom, ir para a balada, beber alguns drinks, beijar alguns rapazes...
Fiquei vermelha, não teve jeito, acabei confessando meus segredos,
ele era muito persuasivo.
— Nunca namorou, Eve?
— Não!
A atmosfera voltou a ficar pesada, o padre tragou seu charuto forte e
soltou a fumaça. Observava a ponta vermelha da brasa enquanto inalava
o perfume vindo do charuto. Dei um salto na cadeira quando ouvi duas
sutis batidas à porta. O padre apagou o charuto no cinzeiro e se levantou,
eu também o fiz.
— Com licença, tenho que atender.
Ele seguiu para a porta e a destrancou, um senhor de cabelos muito
brancos, quase azulados, de óculos na ponta do nariz e usando uma
batina, entrou no cômodo.
— Não sabia que estava acompanhado, padre Magnus.
— Essa é uma das minhas alunas, ela será minha assistente esse
semestre...
— Ah! — o senhor exclamou.
— Senhorita Bennet, esse é o reitor da universidade, o padre
Gregório.
Imediatamente segurei em suas mãos que estavam estendidas e o
cumprimentei:
— É um prazer conhecê-lo, senhor.
— Você é da família Bennet? Seu pai é dono da construtora Bennet's?
— Sim — falei sem graça.
— Sua família é muito prestigiada em nossa comunidade e
extremamente generosa como dizimista. Sabe disso, padre Magnus?
— Sim, com certeza.
— Ótimo.
— Senhorita Bennet, acho que não precisarei de você mais hoje, já
está liberada — o padre Magnus dirigiu-se a mim.
— Sim, claro!
Nervosa, peguei minha mochila e andei até a saída, padre Magnus
segurava a porta para a minha passagem. Ao passar por ele, dei uma
última olhada em seu semblante e de novo vi um brilho diferente nele.
Saí para o corredor como uma sonâmbula, segurando as alças da mochila
com força. Minha mente não parava de pensar o que aconteceu naquela
sala, em alguns momentos tive a sensação de que ele me olhava com os
olhos de cobiça de um homem para uma mulher. Era evidente que estava
imaginado coisas, óbvio que ele não me via como uma mulher, apenas
como uma aluna, uma mocinha como me chamou.
Estava tão distraída que não percebi alguém vindo em minha direção
e colidimos. Quase deixei minha mochila cair.
— Me desculpe, eu não a vi.
— Está tudo bem.
— Te machuquei?
— Não, eu que deveria pedir desculpas, estava aérea.
— Você é Eve Bennet, não? Estava na aula do professor Crawford
hoje.
— Sim, mas desculpe, não me lembro de você.
— Sou Felipe Leopoldo, fazemos o mesmo curso.
— Prazer em conhecê-lo, Sr. Leopoldo.
Apertei a mão que ele estendeu. Olhei para o seu semblante, ele era
um rapaz bem-apessoado, devia ter mais ou menos a mesma idade que
eu, tinha cabelos ruivos, algumas sardas e olhos verdes cristalinos. Seu
sorriso era aberto e simpático.
— Pelo cronograma das aulas de hoje, a próxima é de Fisiologia e
Histologia.
— Realmente é isso, acho que podemos ir juntos, Sr. Leopoldo!
— Claro, Srta. Bennet.
Seguimos pelos corredores com alunos e profissionais de grande
respeito. Mesmo sentindo a brisa da tarde e estando em um local com um
bom número de pessoas afetuosas, sentia minha cabeça distante!
Distante demais da realidade e respirava forte a cada dez segundos
tentando desviar a rajada de pensamentos impuros para longe.
Enfim, chegamos no andar determinado. Na frente da porta da sala de
fisiologia vi Antonella segurando apenas uma alça da bolsa, animada.
— Até que enfim, rendeu bastante. Já estava pensando que foi
sequestrada — ela disse sarcástica.
— Deixe de ser exagerada, Antonella!
Estiquei um sorriso dócil para a minha amiga, aproximando-me com
Leopoldo.
— Antonella Grasso, minha melhor amiga, esse é Felipe Leopoldo,
estamos no mesmo curso — os apresentei.
— Felipe Leopoldo? Ouvi dizer que é um ótimo aluno e veio de ótimas
escolas do estado. Muito prazer em conhecê-lo.
— Igualmente, Srta. Grasso.
Os dois se cumprimentaram como bons colegas e, antes que a
professora nos chamasse para a aula, Antonella cochichou com a mão
esticada cobrindo a metade da boca:
— Quero saber de cada detalhe.
— Sobre o quê?! — murmurei rápida e eufórica.
— Você sabe, não se faça de desentendida... O padre — sussurrou.
Ri, não escaparei da indiscreta Antonella.
Durante todas as aulas, eu consegui fazer as atividades, contudo
ainda estava envolta no ocorrido no escritório do professor e padre
Magnus. Senti que, quando estivesse livre do edifício, as coisas mudariam
e eu poderia agir naturalmente.
Quando as aulas acabaram me despedi de Antonella e do meu novo
colega de faculdade. James já estava me esperando no carro, mas meus
olhos observavam atentos todos os ângulos do recinto tentando
encontrar uma imensidão azul como uma maré turbulenta e cáustica de
olhos cobaltos, que não avistei.
— Está tudo bem, Srta. Bennet? — James me perguntou ao adentrar
no carro e fechar todas as portas.
Respondi tranquilamente desta vez:
— Estou sim, James. Apenas foi um dia novo para mim, estou ansiosa
para ver a Meg.
— Aposto que sentiu sua falta, durante anos ela nunca se desapegou
da senhorita.
Sorri benévola e tentei manter esse sorriso durante todo o caminho
só de pensar em ver minha gatinha. Afinal, o dia não foi ruim na
faculdade, pelo contrário... O que me assustava mais.
Chegando ao meu lar, fui recebida pelos meus pais. Principalmente
mamãe que, já na entrada, me abraçou e beijou na testa como de
costume. Estava arrumada com seu vestido verde-esmeralda favorito.
— Vai ter algo especial hoje, mamãe?
— Depende, se você chama o Carbonara do seu pai de especial!
Rangi os dentes e dei risada.
— Ele está tentando cozinhar de novo?
— Sempre que quer agradar você.
Papai não era nem de longe o melhor cozinheiro de Roma, mas
sempre que eu estava triste ou quando ele estava preocupado... Como
supus que estivesse por ter sido meu primeiro dia de aula, ele mesmo
tentava me agradar fazendo meus pratos italianos favoritos quando tinha
tempo. O que nunca funcionava, especialmente porque mamãe e eu
evitávamos dizer a verdade cruel de que ele não nasceu para a culinária.
Até mesmo Meg, que era sapeca, evitava aparecer quando papai estava
no controle da cozinha.
Me preparei para o jantar usando meu querido vestido bege de cetim
e prendi os cabelos em um rabo de cavalo folgado como de habitual
quando estava na minha residência. Gostava de ajudar Cecília, uma das
amigáveis domésticas, a colocar a mesa também. Mamãe, papai e eu já
estávamos sentados quando Cecília nos serviu o prato principal à
Carbonara de papai; um prato composto por molho, bacon, ovos, queijo e
macarrão com pimenta do reino. Mamãe iniciou o agradecimento e a
pequena oração como em todos os jantares.
— Como foi seu dia hoje, querida? Muitos trabalhos? — papai
perguntou.
— Alguns, mas, como primeiro dia, teve mais apresentações.
— Logo nossa filhinha estará bem enturmada, Richard, e com alunos
e profissionais respeitáveis assim como gostamos. Vai aprender muitas
coisas importantes.
— Não tenho dúvidas disso.
Com o garfo e a faca apreciei o Carbonara de papai e, mesmo sendo
um prato composto por bons temperos, nunca estava temperado
suficiente e por isso que ele era um homem de negócios e não o chef, mas
o suco sempre salvava toda refeição quando era feita por suas mãos.
No começo da noite, gostava de assistir ao jornal com papai. Mesmo
que fosse um dos poucos momentos do dia que ele praguejasse e a única
hora que mamãe reclamava com ele. O relacionamento dos meus pais
eram tudo que eu queria para a minha vida; os dois sempre se entendiam
e nunca houve um conflito que os separassem. Pelo contrário, sempre
foram unidos pelo amor e, de certa forma, pela fé, já que ambos se
conheceram através da igreja há vinte anos.
Mamãe me acompanhou até o quarto onde depositou seu último beijo
do dia e sua última palavra carinhosa e religiosa em mim que atribuí o
mesmo, sempre a abençoando. Depois disso, tomei um banho quente e
vesti minha camisola rosa e fina. Escovando os cabelos longos sentada na
minha escrivaninha atendi a chamada on-line da webcam de Antonella,
que, por sua vez, estava deitada na sua cama com um pijama verde de
bolinhas.
— Tá, agora eu quero saber das novidades.
— Novidades? Papai fez Carbonara, acho que é seu prato favorito.
— Seu pai não sabe cozinhar — ela riu e arrumou a franja, eu soube
só pela sua expressão facial o que ela ia perguntar. — Então, como foi
com o padre gostoso? Você conseguiu beijar ele?
— Beijar? Isso é um pecado, Antonella!
Apertei o botão do volume abaixando até sua voz ficar baixa o
suficiente.
— Pecado é esse homem ser padre, isso sim é um pecado.
Escutei um barulho na porta e o máximo que consegui dizer foi um
“boa noite” antes de desligar na cara de Antonella. Caminhei com minhas
pantufas confortáveis até a porta que minha gatinha Meg arranhava.
Me abaixei e a peguei no colo. Meg me encheu de lambidas e carinho
com suas patinhas.
— Você me assustou, atrevida.
Fiz carinho no seu dorso e levei-a para a cama onde, juntas,
brincamos com sua bola de lã lilás. Meg era uma gatinha persa,
rechonchuda, da cor prateada como a lua. Seu temperamento foi sempre
tranquilo e ela era muito manhosa e tão doce quanto.
Antes de dormir coloquei-a na sua caminha aconchegante ao lado da
minha cama. Deixei as portas da varanda um pouco abertas e as cortinas
só com uma brecha à mostra, iluminando o quarto com a luz suave da
noite tranquila. Não estava frio e o clima sereno era o meu preferido, só
não deixava as portas totalmente abertas porque mamãe temia que o
tempo mudasse e isso, de alguma forma, afetasse minha saúde.
Fui até a cama e, antes de subir sobre ela, arrumei os edredons e olhei
para o crucifixo na parede um pouco acima da cabeceira. Engoli em seco.
Meu Senhor, afaste esses pensamentos da minha cabeça...
Tirei as pantufas e rezei antes de me deitar na cama. Cobri minha
cintura com o edredom, me deitei de lado para ver Meg banhando sua
pelugem cinza e ronronando. Na cabeceira ao lado do abajur ficava meu
terço que costumava usar na igreja. O ronronar de Meg era o que me
costumava me fazer adormecer, mas meus olhos estavam elétricos e nem
um pouco amenos como o sopro refrescante da brisa da noite que
atravessava as cortinas.
Meu corpo virou uma locomotiva em brasa. Me virei na cama e olhei
para o teto, fechei os olhos e pude sentir o cheiro viril e ostentoso do
padre Magnus contaminar meu corpo, minha mente e todo o meu
quarto... Se eu apertar bem os olhos conseguia sentir suas mãos grandes
queimando meus ombros. Seu toque no meu cabelo acendeu as partes
mais escondidas do meu corpo tal como sua voz possuidora. E está
acontecendo exatamente igual agora. Os bicos dos meus peitos ficaram
aparentes e endurecidos. Meus dedos apertaram firmemente a coberta,
meus pés roçaram todo o lençol da cama... Ah, meu Deus! Minha parte
íntima pulsou lentamente tornando minha calcinha um lago
transbordando.
Quero descobrir e ver todos os músculos escondidos dele, quero
experimentar o sabor daqueles lábios perfeitos... Eu quero, eu necessito
isso...
Meus dedos estão coçando para cometer um pecado. Para chegar e
alçar o elástico da minha calcinha, mordi meu lábio com toda força para
suportar esse desejo surreal. Escutei um miado de Meg e desenrolei essa
imaginação insana!
Onde estou com a cabeça? Eve! Por Jesus.
Fiquei de bruços e tirei minhas mãos de baixo do edredom
suspirando fundo e virando meu rosto sobre o travesseiro para olhar
Meg e agradecê-la por me tirar do devaneio.
— Rezarei muito para essa sensação não durar! Isso é só uma
questão de convívio, logo ele será só o que ele é: o meu professor e um
padre.
A neblina matinal envolvia as ruas da cidade em torno da igreja.
Corria mantendo a minha respiração controlada, meu corpo encoberto
por um casaco com capuz e uma calça de moletom, estava suado.
Corria todas as manhãs, levantava antes dos primeiros raios de sol e
me exercitava antes de ir para a universidade. Entrei no pátio da igreja e
fui cumprimentado por alguns padres que passaram por mim. Apenas
movi minha cabeça e continuei meu percurso até a casa paroquial.
Subi os degraus que dava acesso aos meus aposentos de dois em dois.
Sem nenhum sinal de cansaço pelo esforço da corrida, logo já estava no
quarto pronto para um banho. Despi-me e olhei meu corpo cheio de
músculos no reflexo do espelho. Inspecionei minha ereção, meu pau
parecia um monstro coberto de veias grossas. Segui para o chuveiro.
Deixei a água fria lancetar em minha pele quente e o sabão escorrer.
Fechei os olhos. Dois pares de olhos verdes-esmeraldas puros povoaram
meus pensamentos. Ela era como um cordeirinho que foi destacada do
rebanho e o bom pastor a acolheu em seu aprisco. E o bom pastor era eu.
Desci minhas mãos pelo meu tórax e passei pela barriga de músculos
definidos. Massageei meu membro duro, estava muito excitado, algo nela
eletrificou meu corpo. Comecei a mover a mão rápido por todo o meu
comprimento. Por alguma razão, não conseguia tirá-la da cabeça. Sua
boca, sua pele ruborizada, seu corpo... Tudo nela me atraiu de maneira
diferente e a única coisa que pensava era em possuí-la. Estou errado por
ter esse pensamento em relação a uma aluna? Sim, mas não me
importava, nesse momento só queria estimular meu pênis imaginando
que a estava possuindo. A fodendo potente até fazê-la desfalecer de
prazer em meus braços. Só de pensar nisso, meu pau pulsou com uma
excitação dolorosa. Estava quase lá.
Foquei na imagem que fazia dela em pensamento, seus olhos sensuais
e assustados fixados apenas em mim. Ela removeu suas roupas peça por
peça. Tão sensualmente e carnal como me tocava. Deslizei a mão no pau
por toda a extensão, meu caralho estava latejando, gemi com a ideia de
tê-la enterrada no meu pau, cada centímetro socado. Seus peitos roliços e
eriçados alcançados na minha cara. Meus movimentos ficaram mais
intensos, agora gemi alto e sussurrei o nome dela com a mente em um
turbilhão querendo possuí-la até sugar todo o seu desejo. Espalmei a
mão no azulejo sacudindo meu pau enquanto minha mente girava em
círculos. Estremeci todo quando ejaculei potente toda a minha carga
quente. Foda-se, eu inflamava, mordendo meus lábios. Oh, Deus! Oh,
Deus! Como precisava disso.
Minha respiração começou a voltar ao normal após o êxtase do
orgasmo. Finalizei meu banho. Saí do chuveiro e vesti um roupão sem
atar o nó. Olhei-me no espelho e vi meu reflexo. Cabelos molhados caindo
na testa e a barba despontando em meu maxilar. Peguei meu barbeador
elétrico e comecei a me barbear. Usei uma loção pós-barba após finalizar.
Passei os dedos entre os cabelos os jogando para trás. Ainda me
avaliando no espelho, vi um homem de 37 anos, com uma aparência de
dar inveja em muitos. Praticante de esportes, mantinha um físico
impecável. Um homem virtuoso... Sorri de mim mesmo. Que virtude eu
tinha, se acabei de me masturbar pensando naquela menina?
O pecado era como uma pequena semente implantada no coração do
homem e começava a germinar quando o solo estava propício. E ele
crescia rapidamente e seus ramos eram difíceis de arrancar.
Ouvi uma batida à porta do meu quarto. Fechei o roupão e fui
atender. Uma irmã, Madalena, vestida em seu hábito preto, me encarou
com uma bandeja de café da manhã na mão.
— Seu dejejum, padre Magnus.
Dei passagem para ela entrar. A observei colocar a bandeja sobre a
mesa. Olhei para o rabo dela escondido no hábito. Percebia-se que era
grande, já conhecia, fodia esse rabo às vezes. Ela virou-se para mim,
quase implorando com os olhos castanhos para eu enfiar meu pau no cu
dela.
— Vire-se, vadia!
Ela imediatamente obedeceu e segurou com as duas mãos a borda da
mesa. Levantei o hábito e sorri, ela já estava sem calcinha, a puta. Segurei
meu pau que estava rígido de novo e enfiei no cu dela. Comecei a estocá-
la forte esbofeteando seu traseiro. Ela gemia alto a cada impulso que eu
dava. Diferente da masturbação no chuveiro, não pensei na minha
menina, jamais compararia essa vagabunda com ela. Essa era só um
passatempo. Quando senti que ia gozar, tirei o pênis e ejaculei no chão.
Nunca comi a boceta dela e nem queria, já fazia um grande favor em
foder o cu.
— Limpe essa sujeira no chão —ordenei.
Ela ajeitou a roupa e agachou-se para limpar tudo. Enquanto isso,
acomodei-me à mesa e comecei a comer. Aproveitei esse momento, abri
meu laptop e comecei a trabalhar. A freira ficou esperando-me terminar
tudo para recolher as louças e limpar. Quando ela foi embora, abri meu
livro. Peguei uma fotografia, era da Eve. Eu já sabia quem era ela antes de
entrar na sala de aula. Olhei as fichas de todos os meus alunos. Seus
lindos olhos verdes inofensivos me chamaram a atenção de cara. A
contemplei por alguns instantes.
Suspirei fundo e me levantei. Vesti-me como sempre, camisa, calça e
blazer preto. Coloquei o colarinho clerical. Arrumei os cabelos e pronto,
agora estava vestido de padre, um homem de Deus, maculado e sem
pecados.
Antes de sair para a universidade, fui até um pequeno altar, acendi as
velas brancas, coloquei a foto da Eve encostada no sacrário. Em seguida,
peguei o turíbulo com o incenso aceso e comecei a incensar todo o altar
e, especificamente, a foto dela. Ao finalizar o rito, ajoelhei-me no
genuflexório acolchoado e contemplei a imagem dela por mais alguns
instantes, com meus pensamentos voltados para todas as coisas
pecaminosas que pretendia fazer com ela, com seu corpo.
Já no meu carro, dirigia pelas ruas de Roma tranquilamente enquanto
Eve não saía dos meus pensamentos, não via a hora de colocar minhas
mãos profanas naquele corpinho tentador e fazê-la se tornar o que já era
desde que botei meus olhos nela: minha.
Era manhã de domingo, eu, meus pais e Jemima estávamos na igreja
para a missa dominical. A liturgia ainda não havia começado, meus pais
odiavam chegar atrasados e nos fazia levantar cedo no domingo para
chegarmos pelo menos meia hora antes do início da celebração.
Minha cabeça estava distante, nem ao menos olhei os vitrais
coloridos da bela igreja de San Pietro que costumava admirar todas as
vezes que viemos à missa.
Aquela tinha sido a primeira semana de aula na faculdade e, diferente
do que imaginei, foi uma semana cansativa. Embora a adaptação das
aulas não tenha sido difícil e o entrosamento com os colegas de classe
tenha sido harmonioso e relativamente fácil, principalmente com Felipe,
que passou a ser meu companheiro para ajudar com as matérias, não era
isso que me desgastou, mas um homem...
Olhei para o altar da igreja decorado com flores e velas em seus
candelabros. Era difícil decifrar o que realmente estava acontecendo
comigo e, principalmente, quais eram as reais intenções do meu
professor. Algumas atitudes dele e comportamento para comigo eram
estranhos. Eu não era experiente, muito menos passei por alguma
situação parecida com a qual estava me deparando, mas não era difícil
para uma mulher perceber o interesse de um homem. Mas por Deus!
Esse não era um homem qualquer, era um padre. Porém, tinha que
admitir, mesmo contra a minha vontade, que ficava ansiosa todas as
manhãs com o encontro com o padre Magnus.
Baixei minha cabeça envergonhada só de pensar nele.
Meu Deus, me perdoe!
Estava dentro de uma igreja e não parava de me lembrar dos
momentos que o padre Magnus e eu estávamos a sós em seu escritório
ou até mesmo na sala de aula. Ele era um homem proibido, ele se
prometeu a Deus e mais ninguém. Contudo, sua conduta comigo não
coincidia com essa realidade; por isso me deixava confusa. Eu ficava
como uma boba admirando-o durante as aulas, sentada na primeira
fileira. Observava a maneira como ele ajeitava os cabelos e o flagrava
várias vezes como ele me olhava. Não era imaginação minha, alguma
coisa estava acontecendo.
No interior da sua sala ou até mesmo no laboratório, após as aulas, as
coisas ficavam um pouco piores. Ele sempre fechava a porta quando
ficávamos a sós. Então ele me tocava, seus toques eram quase
imperceptíveis, talvez eu estivesse até exagerando, mas ele não perdia
uma oportunidade para me tocar de alguma maneira. E esse tipo de
conduta se estendeu por todos os dias da semana.
Os primeiros acordes do canto de entrada da missa me fizeram sair
dos pensamentos pecaminosos. Levantei-me para iniciar a celebração.
Sorri quando avistei Antonella e seus pais chegarem à missa, eles sempre
chegavam em cima da hora, acenei para eles. Peguei o folheto para
acompanhar os ritos litúrgicos e me concentrei. Assim que o canto de
entrada terminou, o padre da nossa paróquia falou ao microfone:
— Bom dia!
A assembleia lhe respondeu o cumprimento.
— Hoje a celebração terá um padre convidado que me ajudará, o
padre Magnus.
Ao ouvir seu nome, meu coração gelou. Olhei atentamente para o
homem alto e vestido com os trajes clerical em cima do altar. Ele pegou o
microfone e falou com a assembleia. Eu o encarava como uma boba e, ao
mesmo tempo, me sentia uma pecadora. Poucos minutos atrás pensava
nele e agora o via presidindo a missa. Me senti tão constrangida, que
tinha a impressão de que todos sabiam meus segredos sujos.
A celebração teve continuidade e eu não conseguia me concentrar,
me atrapalhava em alguns ritos e minha mãe chamou minha atenção:
— Eve, está na hora de se ajoelhar para receber a eucaristia.
— Desculpa, mãe, estava distraída.
— Sabe que não gostamos que fique aérea assim na missa, é uma falta
de respeito.
Não disse nada, apenas me ajoelhei e fiquei com as mãos juntas
tentando meu melhor para me concentrar e pedir perdão. Mas os
pensamentos inapropriados continuavam rastejando em minha mente.
Assim que o ministro se aproximou, levantei-me e quase caí para trás ao
me deparar com o padre Magnus, ele sorriu para mim e fixou seu olhar
nos meus enquanto pegava a hóstia e molhava no cálice de vinho.
— Receba o corpo e o sangue de Cristo.
— Amém. — A palavra quase não saiu.
Abri a boca e ele levou a eucaristia aos meus lábios. Meu coração
disparou quando senti seus dedos invadindo a minha boca. Lentamente,
ele deslizou o polegar nos meus lábios desenhando-os. Meu corpo todo
acendeu-se, como uma chama incandescente, talvez fosse isso mesmo, já
estava queimando no fogo do inferno por ter uma reação daquelas no
momento de receber a hóstia consagrada. Quando ele se afastou,
praticamente me joguei de joelhos e pedi para Deus não me deixar cair
em tentação e tirar todos aqueles pensamentos pecaminosos de mim.
No final da missa, meus pais foram cumprimentar a família da
Antonella e ela logo disparou daquele jeito descontraído:
— Você viu quem era o padre celebrante?
— Vi sim, Antonella, não tinha como não ver.
— Que desperdício, um homem desses escondido atrás de uma batina
— ela cochichou.
— Por favor, Antonella, não fale assim, ele é um padre e estamos na
igreja.
— Qual é, Eve, vai me dizer que não tem alguns pensamentos
pecaminosos com ele.
Por incrível que pareça, não me sentia à vontade para compartilhar
com Antonella sobre os últimos acontecimentos e muito menos meus
sentimentos em relação ao padre. Eu e ela sempre conversamos sobre
todos os assuntos, inclusive rapazes, namorados e sexo. Antonella já
namorou e teve experiência com sexo, ela perdeu a virgindade algumas
semanas antes de iniciarmos a faculdade e compartilhou comigo sua
experiência. Me sentia até mal por não lhe falar nada, nunca escondemos
segredos uma da outra, mas, nesse caso, não conseguia contar. Talvez me
confessasse com o padre da nossa paróquia sem revelar obviamente que
estava tendo fantasias sexuais com meu professor padre.
— Não olha agora, mas ele está vindo ao nosso encontro junto com o
padre Paolo.
Foi automático que virei o rosto para olhar, contrariando o pedido de
Antonella. Quase desfaleci ao vê-lo aproximar-se. Pelos menos havia
tirado as vestes sacerdotais e agora vestia-se como sempre. O padre
Paolo logo o apresentou para os meus pais e os pais de Antonella.
— Caros paroquianos, este é o padre Magnus, ele leciona na faculdade
das meninas.
— Sim, eu sou professor de suas filhas.
— Oh! Que agradável surpresa, não sabia que o distinto padre
Magnus era seu professor, filha, não nos falou nada.
— Ah... é que achei...
— É porque não deu tempo — Antonella logo justificou.
— É um prazer conhecê-lo, padre Magnus — minha mãe falou.
Rapidamente a conversa girou em torno da faculdade. Percebi que ele
tinha uma desenvoltura e envolvia a todos com seu jeito simpático e ao
mesmo tempo charmoso. Todos estavam encantados com ele. Em um
dado momento, o padre Magnus revelou que eu era sua assistente. Meu
pai me olhou surpreso.
— Não nos disse nada, filha.
De novo gaguejei sem saber o que falar.
— Talvez ela não sinta que é importante falar sobre isso, afinal de
contas não é algo tão extraordinário assim — o padre Magnus falou.
— Mas é claro que é importante, imagine, ser assistente do professor!
— meu pai ralhou.
— Não vamos fazer uma tempestade no copo de água. Para
compensar, que tal o senhor ir almoçar em nossa casa? Será uma honra
recebê-lo — minha mãe sugeriu.
Papai gostou da ideia e estendeu o convite para os pais de Antonella e
o padre Paolo, que recusaram. Pedi a Deus em pensamento que ele
também recusasse, não aguentaria aquela tortura durante todo o almoço.
Contudo, Deus não me ouviu e ele aceitou o convite.
— Maravilhoso! — meu pai exclamou. — Então vamos, o senhor pode
nos acompanhar em nosso carro, tem vaga para mais um.
— Eu posso ir no meu próprio carro, basta me dar o endereço.
—Perfeito!
Enquanto meu pai planejava os arranjos com o padre, Antonella
cochichava:
— Não acredito que você vai desfrutar um pouco mais desse pedaço
de mal caminho.
— Preferia que ele não tivesse aceitado.
— Tá louca, eu iria adorar. Me liga mais tarde pra contar os detalhes.
— Contar o quê, Antonella? Ele só vai almoçar lá em casa, não fazer
uma suruba.
— Se fosse para fazer uma suruba, insistiria para os meus pais
aceitarem o convite também — ela riu.
Eu não disse nada, estava tão nervosa que não conseguia achar as
piadas da Antonella engraçadas. Ela sempre foi assim, e eu a
acompanhava nas brincadeiras sobre os rapazes. Mas agora tudo
mudara, esse homem não era um dos meninos bobos, estava longe de
ser.
Depois de todos os arranjos, nos dirigimos para casa. Eu e minha
família em nosso carro e o padre Magnus no dele. Logo estávamos em
casa.
Não foi um almoço agradável, pelo menos não para mim, embora
tentasse a todo custo saborear a excelente comida, a todo momento o
padre Magnus dirigia seus olhos para mim, sempre de maneira maliciosa.
Algumas vezes até me tocava sutilmente. Praticamente pulava da cadeira
quando isso acontecia.
— Padre Magnus, diga-me, quando decidiu entrar para a Ordem? —
meu pai perguntou.
— Meus pais me colocaram no seminário quando eu tinha 16 anos,
eles não conseguiam lidar com o adolescente rebelde que eu era. Então
acharam que me ajeitariam se eu ficasse com os padres.
Ele sorriu e meus pais o acompanharam. O padre Magnus continuou:
— Com o tempo, percebi que tinha vocação para o sacerdócio e dei
continuidade no seminário até me ordenar padre, aos 22 anos.
— Então foi sábia decisão dos seus pais, ganhamos um ótimo padre.
Contudo, não me parece que o senhor era rebelde — meu pai falou.
— Não se deixe levar pelas aparências, Sr. Bennet. — O padre Magnus
sorriu e olhou diretamente para mim. Baixei minha cabeça e torci as
mãos no colo. Será que ele se refere a mim? Será que percebeu alguma
coisa?
— No entanto, hoje em dia sou apenas um padre e professor, um
homem que já deixou o passado rebelde há muito tempo.
— Se Eve fosse rebelde, a colocaríamos em um convento, mas graças
a Deus ela é um anjo e uma filha de ouro — minha mãe falou orgulhosa.
— Tenho certeza de que Eve é uma moça de muitas virtudes...
Olhei para o rosto dele esperando encontrar pelo menos uma leve
ironia em seus olhos, mas ele estava sério e suas pupilas tinham um
brilho intenso, o azul delas estavam em um tom escuro, misterioso.
O almoço terminou e eu respirei aliviada. Aquela tensão estava
terminando. Seguimos todos para a antessala para o café.
Sentei-me em um dos sofás e brinquei com Meg, a minha gatinha.
Papai e o padre tomavam o café enquanto conversavam sobre política,
negócios e outros assuntos. Minha mãe se manteve do lado do meu pai,
como uma boa anfitriã apenas ouvindo.
Meu coração quase saiu pela boca quando ouvi a sugestão que minha
mãe deu:
— Poderia ir até o quarto de Eve, padre Magnus, penso que há uma
energia negativa lá, algumas vezes Eve tem pesadelos. E esses dias estão
acontecendo com mais frequência. O senhor pode fazer algum tipo de
oração.
— É claro, Eve pode me acompanhar.
— Vai, filha, leve o padre até seu quarto.
— É... é claro!
Me levantei e trouxe Meg junto de mim, a gatinha se aninhou em meu
colo, ela não queria me deixar. O padre Magnus se aproximou e a tocou
em sua cabeça, a gata teve uma reação que nunca teve com ninguém. Ela
se arrepiou toda e grunhiu bufando. Pulou do meu colo e correu para se
esconder.
— Acho que ela não gostou muito de mim.
— Meg é supercarinhosa, só deve estar em um mau dia hoje — meu
pai falou.
Subimos as escadas até o meu quarto, meus pais ficaram em baixo. Já
dentro do recinto, o padre trancou a porta. Fiquei tensa, olhei em volta,
nervosa, e reparei que havia uma calcinha minha em cima da cama. Corei
e tentei disfarçar meu constrangimento. O padre Magnus não falava
nada, ele andou pelo quarto olhando a mobília branca e a decoração bem
feminina em tons de rosa e dourado. Ele voltou-se para mim e falou:
— Então aqui é seu quarto.
— Sim, é meu refúgio. Mas acho que mamãe exagerou, não há nada de
errado aqui.
— Ou talvez os sonhos que você esteja tendo são pecaminosos...
— Não tenho motivos para ter esse tipo de sonho.
— Não?!
Ele voltou-se para a janela e, nesse momento, me aproximei da cama
para tentar esconder a calcinha, mas meu gesto foi percebido pelo padre
e ele me pegou com a peça na mão. Fiquei paralisada quando ele se
aproximou, parou próximo e tirou a calcinha da minha mão, meus olhos
ficaram presos nos seus. Para meu espanto ou não, realmente não sei, ele
aproximou a lingerie no nariz e a cheirou. O gesto era tão surreal quando
a reação que isso causou no meu corpo.
— Você é uma menina má Eve, uma tentação que o diabo preparou
para mim.
— Eu não entendo, padre...
Observei que ele colocou a calcinha dentro do bolso do paletó e
começou a andar. À medida que ele avançava, eu recuava assustada. Até
que me vi presa sem saída. Entreabri os lábios enquanto ele chegava
cada vez mais perto. Quando nossos lábios se tocaram, soltei um gemido
de prazer. Então ele me apertou fortemente, boca contra boca, coração
contra coração. Ele passou sua língua em meus lábios e rosto. Eu
precisava reagir, isso não podia acontecer.
— Padre Magnus, acho que não podemos...
— Percebe como você me deixa?
Ele pressionou seu quadril em mim e meu coração martelava em
minha caixa torácica em resposta a toda aquela tensão. A química que
havia se estabelecido entre a gente finalmente explodiu. Com o sangue
parecendo ruir dentro das veias, senti o coração parar de bater e então
recomeçar, descontroladamente. Ergui os olhos para ele, vi quase fora de
mim os deles escurecidos perigosamente. Ao mesmo tempo que sentia o
coração pulsar de encontro aos seios, percebi a excitação inconfundível
de encontro ao meu corpo.
— Você é culpada por me deixar assim, Eve. Por isso uma menina má
precisa de punição.
Deslizando as mãos grandes entre minhas coxas internas, logo seus
dedos grossos encontraram minha boceta. A calcinha de renda que usava
estava encharcada. Ele a afastou de lado e introduziu o dedo em minha
fenda.
— Padre... — murmurei sem saber exatamente se estava protestando
ou gemendo.
— A mocinha de boas virtudes está excitada e molhadinha. Quer
sentir meu cassete te penetrando?
— Não devemos... — meu protesto saiu mais como uma rendição.
— Tudo isso está acontecendo por sua culpa, você é culpada por ser
tão gostosa e pecaminosamente linda. Diz que você é uma pecadora, Eve.
— Eu... Eu sou uma pecadora, padre.
— Peça perdão e exija ser punida para a remissão dos seus pecados.
— Me puna, padre... Magnus.
Então ele me virou bruscamente, me fez segurar na borda do móvel
que estava atrás das minhas costas antes e levantou minha saia.
— Você se tornou uma menina muito indisciplinada e só há uma
maneira de resolver isso.
Ele andou atrás de mim e segurou na tira da calcinha, puxou forte até
a rasgar e tirar do meu corpo. Eu não soube o porquê, mas isso me fez
ficar mais excitada. Não sabia o que viria a seguir, mas não ousei me
mover do lugar.
De repente, senti um enorme tapa em minha bunda, seguido de outro
e outro. Abafei meus gritos de pavor.
— Você é uma garota suja, com a mente pecaminosa e merece que eu
a ponha em seu lugar.
Mais tapas. Ele parou. Agora sentia seus dedos escovando entre as
minhas dobras. Eu estava molhada. Oh, Deus! Eu estava excitada como
nunca estive em minha vida, nem em meus sonhos eróticos com ele.
Então ele me fez ficar de frente para ele. Em câmera lenta o vi colocando
os dedos na boca e limpando meus fluidos. Logo em seguida, ele me
beijou na boca de modo erótico, mordendo meus lábios levemente entre
seus dentes.
— Esse será o nosso segredinho... Não queremos que seus pais
descubram o quão profana você é, hum?!
— Sim.
— Boa menina, te vejo amanhã na faculdade. Não se atrase.
Ele saiu do meu quarto e eu fiquei paralisada no mesmo lugar, sem
conseguir ter reação. Ouvi meus pais se despedindo dele cordialmente,
dizendo que ele era bem-vindo na casa sempre. Saí do meu estado
letárgico e corri para o banheiro, liguei o chuveiro e entrei em seu jato.
Agachei-me e permaneci assim por um longo tempo.
— Atração é um elemento presente no corpo de todo ser vivo,
nomeado também pelos ancestrais como instinto. No reino animal assim
como nos seres humanos temos os hormônios dos desejos e ambições.
Instinto sexual seja por uma fêmea por um macho, ou um homem por
uma mulher e assim por diante, a natureza trabalha a favor do
acasalamento, da procriação.
Mesmo prestando atenção na aula, olhando para professora Suzane,
de Histologia, até mesmo suas palavras trabalhavam meu subconsciente
que estava conectado ao dia anterior. Bati o lápis sobre o meu caderno de
anotações, eu queria esquecer, fingir que nada aconteceu... Mas mordi o
lábio só de lembrar o gosto daqueles lábios, ao evocar seus dedos
grossos e compridos na minha calcinha. Só de me recordar, algo em meu
corpo disseminava como um veneno quente, letal e sufocante.
Pela sua glória, Senhor! Quando irei tirar esse homem proibido dos
meus pensamentos?
— Bom, na próxima aula continuamos com essa pauta que será
assunto das provas do bimestre. E não se esqueçam de entregar o
trabalho sobre criogenia na próxima aula.
A senhora Suzane encerrou sua aula, eu e Antonella fechamos os
nossos notebooks e terminamos rápido as anotações, para ir à próxima
aula no laboratório sem nos atrasarmos. Assim como ele me ordenou,
não podia me atrasar e uma parte grande de mim não queria mesmo.
— Tá! Agora eu quero saber de tudo, eu preciso saber tudinho! Você
não me ligou ontem — Antonella começou a proferir animada enquanto
seguíamos pelo corredor em direção à próxima aula.
— Não há nada que precise saber, não aconteceu nada demais, só um
almoço como deveria ser — menti.
Ela fez um bico grande enquanto fungou.
— Okay! Beleza, você tem dezoito anos e ainda não tem um
namorado! Vai me dizer que não sente um negócio… um tesão pelo padre
gostoso.
— Antonella! Ele é um padre, você está louca.
— Não, só estava testando um negócio aqui.
— Que negócio? Para de ficar falando essas coisas, devemos respeitá-
lo, tanto quanto padre e professor.
— Está certo. — Antonella fez uma expressão de indiferença e logo
mudou de assunto. — Sabe que dia é o quarto dia do mês que vem?
— Dia quatro? — respondi como se não soubesse bem que data era
essa e ela ergueu as sobrancelhas.
— Só dia quatro? — ela questionou.
— Acho que sim, não tem nem um feriado importante!
Ela rapidamente deu um soco leve no meu ombro e começamos a rir.
Chegamos em frente ao laboratório.
— Será meu aniversário! E meus pais vão convidar meus primos e
vários jovens, filhos dos sócios e empresários importantes, amigos deles.
E é claro que vou convocar alguns garotos daqui. Será ótimo para você
achar um rapaz.
Entramos no laboratório, já tinha alguns jovens e Felipe ainda não
havia chegado. Seguimos para as nossas mesas, sempre as primeiras em
frente à mesa do professor. Olhei para a sua escrivaninha, ele já devia
estar chegando assim como os alunos da mesma turma chegavam a cada
segundo.
Deixamos nossas coisas sobre a mesa ao lado dos telescópios. Girei
minha vista para a sala cheia de recipientes para coletar líquidos e
soluções, com balões volumétricos e os copos de medidas. Antonella
continuou dizendo que ia achar um rapaz para mim. Sim, gostava dessa
determinação dela; e não, até agora eu nunca tive vontade de ter um
namorado, mas todos os rapazes que me eram apresentados, seja por ela
ou por outras amigas menos íntimas, sempre me pareceram bobos e
infantis.
— Acho que não quero nenhum rapaz agora, Antonella, apenas
estudar.
— Você não prestou atenção à aula da professora Suzane? Instinto,
minha amiga! Instinto. Você não pode evitar, uma hora ou outra...
querendo ou não, vai desejar um rapaz e, olha, você não poderá evitar.
“Desejo, mas não é bem um rapaz!”, queimei minha língua só de
pensar.
Naquele momento o professor Crawford entrou na sala. Engoli em
seco ao avistá-lo e meu coração bateu descompassado. Imagens do que
aconteceu no meu quarto começaram a salpicar em minha memória.
Ele estava vestido todo de preto como sempre e seu porte viril
dominou a sala rapidamente. Não se ouvia nenhum som, todos pareciam
tão extasiados quanto eu, não era possível existir um homem tão bonito e
sexy assim nesse mundo.
— Bom dia!
Sua voz de trovão que exprimia uma beleza amigável para as pessoas
me fez sentir uma pontada entre as minhas pernas. Apertei as coxas
tentando inibir aquela sensação, mas era quase impossível com ele tão
maravilhoso à minha frente. Ele continuou com sua voz linda e
melodiosa.
— Irei entregar as atividades corrigidas da última aula, antes de
começarmos nossos trabalhos. Como todos vocês sabem, cada nota
importa bastante — ele pronunciou forte, em pé, com as pontas dos
dedos sobre a mesa.
Olhei para suas mãos e recordei as bofetadas que deixaram meu
bumbum avermelhado. Novamente um nó dilacerou minha garganta, não
ergui meu olhar para as profundezas cobaltos como uma joia dos seus,
nem morta nesse prezado instante.
— Senhorita Bennet? — me chamou com sua voz rouca e eu quase
gemi, meu rosto se elevou e eu encontrei seus olhos. Cada partícula do
meu corpo caiu em um abismo excessivo. Ele apontou um grupo de
papéis em cima da sua mesa antes de pedir: — Distribua as avaliações
aos seus colegas de classe, por favor.
Levantei-me e andei até sua mesa com passos lerdos, olhei para as
atividades organizadas em pilha ao lado da sua pasta. A primeira folha
continha meu nome, era minha atividade, e a minha nota estava em
vermelho destacado. Rapidamente dirigi meus olhos para os seus, que
estavam atentos na turma.
— Senhor Crawford, acho que se enganou com a minha nota…
Ele me olhou e ergueu as sobrancelhas calmamente, um quase sorriso
surgiu em seus lábios.
— Não cometo enganos, Srta. Bennet.
— Eu sou ótima em redações, não creio que fiquei com vermelho.
Sua mão grande e ostensiva tocou o dorso da minha alisando de uma
maneira que já experimentei antes, seus olhos maliciosos me encararam
daquela mesma forma ímpia.
— Deve se esforçar mais.
— Acho que eu fiz isso nessa atividade, sempre procuro dar o meu
melhor.
Então, imperceptível, ele deslizou a mão grande em meu braço
esquerdo causando uma resposta imediata em todo meu corpo. Cada
pelo eriçou e meus seios ficam intumescidos. Seu toque queimou na
minha pele como um campo florescendo ao pôr do sol. Minha espinha se
arrepiou, minha intimidade mostrou seus primeiros sinais de contração,
de pressão. Olhei para o seu colarinho clerical. Por favor, meu Deus.
— Talvez não tenha dado o seu melhor nessa atividade, sua cabeça
estava longe demais, Srta. Bennet.
Apertei meus dedos nos papéis, quando sua mão mudou do meu
braço para as minhas costas.
— Posso refazer a atividade?
Ele tirou a mão entre minhas costas e eu fechei os olhos suspirando
de alívio.
— Claro, depois da aula te darei algumas lições que irão ajudá-la a se
sair melhor.
Peguei as atividades e tentei esquecer seu tom de malícia enquanto as
entreguei para os alunos.
A aula seguiu “agradável”, mas não tanto para mim, meu corpo
correspondeu ao erro de novo! Estou caindo em desgraça... E preciso da
ajuda do bom Deus para sair dessa. Oh, Senhor... O que fiz para ficar desse
jeito? Estou tentando um padre? Ou ele que está me corrompendo? Eu
simplesmente não sabia.
Em certos momentos da aula, Antonella e Felipe discutiam sobre
assuntos da disciplina e sobre o aniversário dela, que seria no próximo
mês. Felipe dizia que precisava estudar para passar em seus cursos de
cálculos fora da faculdade e ela tentava o convencer a ir à grande festa
que seus pais irão oferecer.
Observei o padre Magnus explicando a laboração apresentada para
uma aluna um pouco à minha frente. Eu misturava alguns produtos
químicos a uma soda pura, e anotei os efeitos. Ora e outra, o professor
Magnus me olhava de um jeito devorador que me fazia clamar para a
aula acabar, ao mesmo que quase me deixava à mercê de uma insolação
prazerosa.
Não, não posso me perder!
Em certo momento estava totalmente perdida na atividade, mesmo
tirando meu devaneio. Somente com a ajuda de Felipe, eu finalmente
terminei o dever, contudo percebi que ele não despregava os olhos de
mim.
Havia acabado de terminar a aula no laboratório e, como eu era sua
assistente, fiquei na sala a sós para ajudá-lo guardar os materiais.
Como já era de hábito, ele trancou a porta com a chave. Não queria
pensar sobre o que aquilo significava, apenas continuei organizando os
instrumentos que havíamos usado na aula.
Em uma determinada circunstância, senti a respiração dele na minha
nuca, encontrei com seus olhos através do vidro da janela à nossa frente
que refletia a nossa imagem. Fascinada, perdi-me no encanto daquele
tom azul escurecido dos seus olhos. Mal podia respirar quando ele
deslizou as mãos em meus braços. Não conseguia controlar a respiração
ofegante e nem ao menos a reação do meu corpo. Ele deslizou as pontas
dos dedos lentamente em meus braços, por sorte eu estava de jaleco por
isso ele não percebeu todos os meus pelos arrepiados. Sua mão
continuou fazendo uma trilha, até chegar na minha coxa. Vi seu reflexo
que parecia mais sombrio do que nunca. Por quê? Por que padre Magnus
me toca assim?
— Padre...
— Você anda precisando de boas lições, Srta. Bennet.
Assenti mordendo a boca. Ele afastou meus cabelos com uma das
mãos e cheirou meu pescoço, sua língua molhada, sua boca deliciosa e
leiga beijou e mordeu com tamanha tentação! Tentei me deslocar do seu
corpo e ele subiu sua mão apertando minha virilha. Nesse momento
apertou minha coxa, com os dedos ele acarinhou minha calcinha rosa
bebê.
— Vou te ensinar, vou te domar e fazê-la se tornar a menina
disciplinada que seus pais merecem. Você quer isso? Quer ser punida por
sua safadeza, por desejar ter meu pau dentro dessa boceta ensopada?
Quer isso, Eve?
— Hummm... Eu quero, eu quero. — Minha boca e meu corpo foram
contra mim, sua mão apertou minha boceta com força e eu gemi entre
meus próprios lábios.
Sua outra mão pervertida apertou meu quadril, e subitamente
levantou minha saia expondo minha calcinha. Ouvi o ar saindo pelas suas
narinas, sua boca molhada atiçando fortemente meu corpo a cair em uma
armadilha profana.
Oh, meu Deus o que está havendo comigo?
Ele desceu seus dedos nos meus cabelos e apertou meu seio por cima
da roupa. Minha mão segurou a sua. Olhei firme para a nossa gravura
refletida, estava piscando com sua mão direita que apertava minha
vagina e dava leves batidas friccionando. Seus olhos acharam os meus
pelo vitrô transparente. O Sr. Crawford me olhava com luxúria aparente e
enunciou:
— Tenho algo a lhe mostrar. Termine de organizar tudo e encontre-
me no meu escritório.
Ele bateu no meu bumbum, um tapa que chegou a estalar. Se afastou,
arrumou seu traje e saiu com sua pasta me deixando só. Uma tensão
predominava no ar em minha volta, meu corpo reclamou, assim como
uma vergonha preencheu minha consciência. Mas não pensei muito,
apenas terminei de arrumar as coisas e fui em direção a sua sala. A cada
passo sentia medo.
Quando cheguei, bati três vezes à sua porta, de forma sutil. Estava
inquieta, nervosa, desejando o homem tentador sem saber o que me
reservava do outro lado da porta... Até ele abri-la e me mostrar.
Me senti em um estado de ansiedade aumentada quando ouvi a porta
sendo aberta hiperconsciente de cada som. O padre Magnus me deu
passagem para que eu entrasse em sua sala. Meu coração estava
acelerado e minha boca seca, não sabia exatamente o que estava fazendo,
o que ele queria me mostrar, mas eu queria descobrir. Ah, como eu
queria!
Ele andou pela sala lentamente e encostou-se à sua mesa, cruzou os
braços sobre o peito e me observou. Eu sustentei por alguns minutos o
brilho de seus olhos magnéticos, mas logo baixei as pálpebras.
Senti uma estranha mistura de medo, constrangimento e excitação.
Pensamentos pecaminosos infiltravam em minha mente cada vez mais
velozes. Os meus mamilos enrijeceram por baixo do tecido do sutiã e
começaram a me incomodar. Eu queria arrancá-lo. Não, eu queria que ele
arrancasse igual fez com a minha calcinha quando esteve em meu quarto
e sugasse meus mamilos com furor. Minha face estava completamente
enrubescida e uma mecha dos meus cabelos castanhos caiu sobre meu
rosto.
Só percebi sua presença próximo a mim, quando senti ele afastando a
mecha de cabelo do meu rosto e a prendendo atrás da minha orelha. Uma
descarga quente atravessou meu corpo e tossi para limpar minha
garganta seca. Então ele segurou a base do meu queixo apenas com um
dedo e levantou minha cabeça para eu o olhar.
— Está curiosa para saber o que tenho para te mostrar, Srta. Bennet?
— S-sim!
— Talvez seja algo que te deixará muito ocupada nas próximas horas,
por isso faça uma ligação para os seus pais e lhes diga que estará comigo
até tarde para me ajudar com algumas tarefas.
— Ah, tá...
— Diga que ligará para que o motorista venha te pegar assim que
terminarmos...
— Sim.
Peguei o celular da mochila e forcei-me a me sentar na cadeira à
frente da sua escrivaninha organizada em meio ao silêncio tenso que se
formara na sala. Apertei as coxas tentando ignorar o formigamento
familiar que aqueceu o espaço entre as minhas pernas. O padre Magnus
acompanhava todos os meus gestos, o que me deixava mais nervosa
ainda. No primeiro toque, minha mãe atendeu:
— Oi, querida, está tudo bem?
— Oi, mãe, eu liguei para comunicar que ficarei na faculdade até mais
tarde. Estou com o professor Crawford, ele precisará de mim.
— É o padre Magnus, querida?
— Sim.
— Oh! Que maravilha, filha, está em ótimas mãos! Nos ligue quando
precisar do motorista. Não tenha pressa, meu amor, fique o tempo que
precisar. Mande lembranças minhas e de seu pai para o padre.
— Okay, mãe!
— Fique com Deus, filha. Até mais tarde.
— Até!
Desliguei o celular com uma sensação muito ruim dentro de mim,
parecia que eu estava enganando os meus pais.
— Você é uma filha muito má, Eve!
Olhei para ele, ainda era o mesmo rosto, mas havia uma dureza fria e
sombria em seus olhos e um semblante calculista que me assustou e
excitou ao mesmo tempo.
— Você é uma mentirosa, que engana seus pais.
— Mas foi o senhor que pediu...
— Não coloque a culpa nos outros pela sua má conduta.
Abaixei meu rosto envergonhada e confusa pela severidade de suas
palavras. Mantive meu olhar sobre as coxas estreitas. Apertei o celular na
palma da mão. Vi seus pés calçados em sapatos de couro preto brilhoso
parar na minha frente.
— Ajoelhe-se! — ele ordenou.
Meus joelhos estremeceram quando escorreguei da cadeira e fiquei
na posição que ele ordenou, eu não consegui desobedecê-lo. Olhei-o, alto,
viril, lindo como o diabo. Ele trouxe a mão para a minha boca e acariciou
com o dedo meu lábio inferior, enquanto fitava meus olhos. Em seguida,
ele introduziu o dedo na minha boca me fazendo chupar. Ele rolou de
modo erótico na minha língua, tirando-o em seguida. Ele baixou a palma
da mão para apertar meu queixo, puxando meu rosto para cima e
introduziu o polegar em minha boca para eu lamber e chupar.
— Já chupou o pau de um homem antes, Eve?
Sua pergunta me pegou de surpresa e fez meu sangue correr mais
rápido nas veias, minhas bochechas entrarem em chamas enquanto senti
uma excitação percorrer o corpo inteiro. Eu não sabia o que responder,
talvez a verdade seria o correto, mas isso me tornaria uma menina boba,
e essa era a última imagem que queria passar para ele, não sei por que,
mas queria que ele pensasse que eu era experiente.
— Sim.
— Mentirosa! — Ele agarrou um punhado do meu cabelo com força e
me fez sentir dor. Com a mão livre abriu a calça e seu pau ficou na minha
frente, praticamente esfregando na minha cara. Era enorme e grosso, um
monstro que estava muito duro, com veias salientes em todo o seu
comprimento. Eu já tinha visto alguns pênis, não era tão inocente assim,
Antonella e eu, às vezes, fazíamos travessuras de ver nudes na internet,
mas o pau dele era muito diferente de tudo que eu vi antes. Era reto, não
tinha pelos púbicos nas bolas, estava todo depilado e era perfeito, com
uma fragrância que inalei com tanto prazer que me fez estremecer, que
me condenou.
Ele segurou pela base da ereção e trouxe-o à minha boca.
— Abra a boca e chupa, coloca tudo nessa sua boca suja e mentirosa,
para limpá-la!
Eu abri meus lábios e o deixei entrar, o pau dele imediatamente
encheu a minha boca e empurrou aquele mastro até que suas bolas
tocaram em meus lábios. A ponta do seu pênis bateu na minha garganta;
me sentia entalada, preenchida. Minha boca fechou-se em volta dele e eu
comecei a chupar seu pau enorme. Por mais que eu não tivesse
experiência em fazer isto, não foi muito difícil para mim, eu queria fazer,
queria sentir seu sabor e era delicioso. Minha boceta estava tão
encharcada, que provavelmente até sujou a minha calcinha. Deixei meu
celular cair no chão e deslizei as mãos dentro da minha calcinha, entre as
pernas, entre as coxas.
Meu Jesus, como eu quero aquele pau me fodendo, eu estou louca.
O padre Magnus percebeu os meus movimentos e, ao constatar que
estava me tocando, tirou o pau da minha boca e segurou a minha mão.
— Não, sua devassa, impura, não é hora pra você gozar, somente
quando eu quiser.
Então ele me estendeu do chão e levantou a minha saia, enfiou a mão
dentro da minha calcinha e facilmente encontrou a minha boceta
latejante. Ele enfiou o dedo do meio e começou a mover. Senti uma
ardência, mas o meu tesão era tão intenso e eu estava tão molhada que
não me importei com o incômodo. Eu comecei a gemer e mover os
quadris para sentir mais ainda seus dedos.
— Sua putinha maldita, tentação do demônio, com essa boceta quente
e virgem, eu vou comer essa cerejinha macia até a deixar esfolada. Você
quer isso?
— Sim! — Não hesitei, eu quero muito.
— Vem aqui. A surpresa que quero te mostrar está atrás desses
livros.
Olhei para as prateleiras de livros sem entender, porém logo entendi
quando as vi se afastarem e abrirem mostrando uma entrada. O padre
Magnus me conduziu para dentro e a porta fechou-se atrás de nós. Olhei
em volta admirada, estávamos em um cômodo, sombrio, com apenas
algumas luzes tênues iluminando. Era uma mistura de gótico, medieval e
religioso. Ele moveu-se no recinto e acendeu algumas velas nos
candelabros que logo flamejaram por todo o recinto. Observei alguns
objetos estranhos e uma cruz do tamanho de uma pessoa encostada na
parede. Mas o que mais me chamou atenção foi a grande cama no centro
do quarto com grades em volta como se fosse uma grande gaiola e a
cama era forrada com lençóis de seda vermelho.
— Deita-se na cama.
Fiz sem pestanejar, estava apreensiva, mas o que mais queria era o
padre Magnus me fodendo. Ouvi o farfalhar de roupas e deduzi que ele
estava se despindo. Então ele se inclinou sobre mim na cama. Pude ver
todo seu físico musculoso, ele era fabuloso. Seu tórax e abdômen
definidos cheio de perfeitos gominhos. Eu queria tocá-lo, mas estava com
medo. Então ele começou a despir-me das minhas roupas. Puxou minha
saia junto com a calcinha e sapatos, em seguida puxou meu cardigã e a
blusa branca e lisa que eu usava. Agora só me restou o sutiã, olhei para
ele com o rosto corado, os cabelos embaralhados, a boca entreaberta e
ofegante.
Finalmente ele tirou meu sutiã e fiquei totalmente exposta para ele.
Meus seios eram cheios e redondos, totalmente empinados, minha
melhor característica. Me pegando facilmente nos braços fortes, ele me
fez encostar na cabeceira da cama e abriu as minhas pernas. Ele me
olhou como se tivesse liberado um demônio de dentro de si, com
tamanha luxúria e frenesi. A paixão em seus olhos me assustou um pouco
e um sentimento de culpa me dominou, eu estava a ponto de transar pela
primeira vez com um padre... Isso não está certo, não está! Com uma voz
quase inaudível comecei a protestar:
— Padre... — Ele me calou tão logo comecei a falar.
— Cale a boca, agora você pagará pelos seus pecados, por sua culpa
estamos aqui, você preparou tudo isso como armadilha!
Ele se ajoelhou então, e trouxe sua cabeça entre as minhas pernas,
inalou meu cheiro, respirando profundamente, bebendo em cada parte
do meu desejo desesperado. Seu hálito quente bateu em minha fenda
molhada e eu mexi os quadris tentando lhe dar mais acesso. Ele
depositou beijos suaves ao longo das minhas coxas, até chegar em minha
boceta. Finalmente senti sua língua em meu hímen e abri mais ainda as
pernas. Ele correu a língua para cima e para baixo, me provando,
acariciando meus lábios vaginais, circulando meu clitóris com a ponta
dura de sua língua até encontrar meu buraco e começar a me foder com a
língua em círculos, em movimentos tão calorosos quanto o inferno.
Contorci-me, engasguei-me e gritei. Fechei minhas pernas em volta de
sua cabeça e meu abdômen contraiu. Eu gemi o nome dele:
— Magnus...
Ele parou, se afastou de mim, me empurrou com força para cima,
segurou na minha garganta com uma das mãos e apertou-a.
— Quando eu estiver te fodendo, me chama de padre Magnus,
entendeu?
Eu acenei com a cabeça concordando, não consegui falar com seu
aperto no meu pescoço. Ele me beijou profundamente. Sua língua girou,
entrelaçada com a minha, com o gosto do meus próprios fluidos. Ele se
separou para me olhar com o olhar abrasador, puxou minhas pernas
para baixo com brusquidão e enfiou seus quadris entre elas. Senti a
ponta do seu pau entre a minha entrada.
— Espere, você sabe? Não sei se tem experiência com essas coisas,
essa é minha primeira vez e acho que é a sua também, mas sabe... o
preservativo... não podemos fazer isso sem um.
Ele sorriu irônico e empurrou o pau em mim quase me penetrando,
segurou meu maxilar e sacudiu meu rosto.
— Tão inocente!
— Você não é...?
— O que importa é que você seja!
Mais uma vez, ele empurrou o pênis e começou a forçar a minha
entrada. Mesmo sentindo muito tesão e querendo que ele me possuísse
logo, ainda insisti na camisinha.
— Padre Magnus, a camisinha...
Em resposta, ele apanhou um punhado do meu cabelo e puxou até
que minha cabeça inclinasse para trás expondo minha garganta e
pescoço.
— Eu sou um padre — ele falou com a boca próxima ao meu ouvido.
— Foi você que me seduziu, me fez pecar junto com você, portanto
derramarei toda a minha porra quente dentro da sua boceta, como
punição para os seus pecados, para que você vá para casa com meu
líquido escorrendo entre as suas pernas até poder lavá-las.
Com isso, ele empurrou mais forte e mais forte e foi me alargando.
Fechei os olhos e abafei um grito de dor. Até que ele parou, senti que ele
havia se enterrado todo dentro de mim. Mal conseguia respirar com
aquela sensação da sua carne toda dentro de mim, palpitando quente. Ele
começou a mover-se, a princípio devagar, até que o pau deslizasse
facilmente em meus fluidos. Mas quando ele começou a acelerar, me
movi tentando me afastar, mas ele era mais forte do que eu, então me
segurou mantendo-me no lugar, enquanto me penetrava cada vez mais
forte. Senti dor, incômodo e uma pressão no meu ânus, mas à medida que
ele continuava os movimentos a dor foi substituída por prazer.
Todo o meu tesão e a energia sexual explodiram, nossos corpos
entraram em sintonia com puro atrito selvagem. Ele começou a bater os
quadris em mim com golpes fundos e poderosos fazendo meus peitos
balançarem. Pegou-os e começou a apertá-los, beliscar meus mamilos e
machucá-los, enquanto continuava me fodendo. Seu pau entrava e saía
cada vez mais ensopado, tirando de mim minha inocência para sempre.
Meu Deus! Estou sendo fodida pela primeira vez por um padre e sem
proteção.
A boca dele encontrou-se com o meu pescoço, sua língua me lambeu
até a orelha fazendo o arrepio caminhar mais forte por todo o meu corpo
que aceitava mais e mais, eu pude ouvi-lo gemer como uma fera, seus
movimentos agora eram tão rápidos e ritmados que pareciam que me
quebrariam ao meio. Eu circulei meus braços finos em seu corpo suado e
deslizei as mãos em suas costas molhada. Os músculos dele eram rígidos
e sua pele estava quente.
— Me chama de padre Magnus! — ele ordenou.
Eu fiz, gemendo alto e o chamando de padre Magnus várias vezes.
— Você agora é minha puta, minha putinha suja.
— Sim...
— Vou te foder sempre que quiser e te preencher com minha
semente até transbordar na sua boceta cheio de luxúria e pecado. Eu
quero você suja dos seus pecados, Eve! Tentação do demônio — ele
falava tudo isso entre o êxtase e a volúpia.
Eu estava confusa e comecei a me questionar sobre a minha conduta.
Eu era exatamente isso que ele falou, uma puta sendo fodida por um
padre e gostava tanto disso, de sentir esse cheiro do pecado predominar
tudo em nossa volta. Podia sentir até o crepitar da lareira fazendo o calor
florescer.
A fúria da paixão continuou, ele começou a mexer os quadris em
círculos flexionando meu clitóris inchado e isso levou a ondas de prazer.
Eu estava quase lá, minha barriga contraiu, minhas pernas ficaram moles
enquanto minha boceta se contraiu até que, em um último impulso, eu
cheguei no ápice do prazer final. O orgasmo rasgou meu ser, eu rosnei
desesperada e me contive embaixo dele. Ele também chegou ao seu
prazer estocando com força, o som era como música melodiosa e eu não
conseguia parar de gemer baixinho. Ele gemeu alto jogando todo seu
líquido quente dentro de mim, pude sentir vibrando dentro, escorrendo
pelos lados como uma bomba prestes a estourar.
— Foda-se, putinha gostosa!
— Hummm... Padre Magnus!
Ele respirou acelerado se contraindo e esporrando até a última gota
do seu sêmen.
Quando tudo terminou, ficamos longos minutos abraçados. Senti o
coração dele batendo rápido. Ele se moveu e me beijou na boca.
Estávamos ensopados, os cabelos dele, que sempre os mantinha
arrumados, estavam bagunçados e alguns fios agarrados a testa. Olhava
fascinada para ele.
Meu Deus! Meu Deus! O que foi que eu fiz? O que acabei de fazer?
As luzes das velas pareciam mergulhar em sua pele exposta lhe dando
uma tonalidade dourada e reluzente. Observei o corpo jovem que acabei
de corromper e sujar, aninhada entre os lençóis de seda. Percorri meus
olhos pelas suas curvas perfeitas e me detive em seu rosto relaxado
dormindo como um anjo querubim. A boca rosada e prazerosa dela
estava entreaberta e seus cabelos castanhos espalhados sobre o colchão.
Ela estava tão exausta das horas de sexo que compartilhamos, que caiu
adormecida quase que automaticamente após a terceira vez que a possuí
nessa tarde.
Levantei-me da cama e comecei a recolher minhas roupas
espalhadas. Voltei a vesti-las. Arrumei meu colarinho clerical, ajeitando-o
exatamente no lugar. Pronto, agora eu era o padre Magnus, respeitado e
confiável professor! Sentei-me em uma cadeira próximo a cama, cruzei as
minhas pernas e esperei a bela jovem acordar.
Eu deveria estar focado nos meus negócios doentios, mas, em vez
disso, estava aqui pensando em nada mais além dela e do seu corpo!
Nunca me senti assim após trepar com uma das alunas, ela não era a
primeira que trazia para o cômodo secreto e nem seria a última que irei
foder... A cada semestre escolhia uma delas para ser minha “assistente” e
com Eve não foi diferente. Contudo, ela me encantou de uma maneira
distinta desde que vi sua foto na ficha. E agora, após tê-la, senti um
frenesi, um êxtase embriagador. A boceta doce dela e sua inocência
estavam me tirando o foco me deixando obsessivo. Seduzir as alunas e
depois dispensá-las era algo tão simples e nem um pouco complicado!
Todas eram tremendamente fúteis.
Entrelacei meus dedos e os fechei em punho. Coloquei-os sobre a
boca pensativo. Essa ninfeta... Eu poderia simplesmente continuar meus
jogos sujos; manipulá-la e levá-la a acreditar que absolutamente tudo
que aconteceu era sua culpa. Ela era tão manipulável assim como seus
pais! Ser um padre tinha suas vantagens, eles confiavam cegamente na
bondade e benevolência de um homem atrás de uma batina. Sorri
irônico. Desde que entrei para o seminário, obrigado pelos meus pais,
que não sabiam lidar comigo desde a infância, não sabiam como
enfrentar minhas maldades, crueldades e manipulações abomináveis,
sem saberem, foi a melhor coisa que fizeram por mim. Descobri que
poderia usar isso ao meu favor e alimentar as minhas fantasias mais
doentias.
Ainda nos primeiros dias de seminário, seduzi uma das freiras, ela era
muito jovem e tinha acabado de se ordenar e eu a corrompi. Percebi de
imediato uma vocação divina... Assim, durante todos os meus estudos,
seduzia, usava e descartava as freiras, noviças e as fiéis! Nenhuma delas
nunca falaram nada e jamais abriram a boca, eu as amarrava em seus
próprios pecados através da manipulação. Mas não media esforços para
silenciar para sempre alguém, se fosse preciso...
Eve se moveu e abriu os preciosos olhos verdes espantados. Ela
analisou confusa o ambiente a sua volta e se levantou rápido sentando-se
na cama agarrando os lençóis para cobrir o corpo desnudo. Ela ainda não
me viu, vi em seu semblante que tentou colocar os pensamentos em
ordem e perceber onde estava e com quem estava. Notei-a colocar as
mãos na cabeça e apertar as pálpebras, alguém acabou de cair na real. O
gesto fez o lençol escorregar e mostrar seus maravilhosos seios, os
mamilos arrebitados e prontos para serem consumidos. Meu pau
pressionou contra a calça, ereto de novo só por contemplá-la.
— Belos seios!
Imediatamente ela agarrou o lençol de novo e tentou se cobrir
olhando em minha direção. Na hora, suas bochechas ficaram rosadas,
adorei vê-la corada de vergonha. Mantive seus olhos fixos aos meus,
consegui penetrar em sua mente através dos cristalinos de suas pupilas.
Queria que ela se quebrasse, se derramasse e me confessasse seus
segredinhos sórdidos. Queria agarrar o fio de seus desejos mais escuros e
puxá-los até que ela não soubesse quem era. Irei corrompê-la, pervertê-
la e purificá-la com minhas mãos. Um pecado por vez.
— Como se sente? — perguntei seco.
— Eu... eu preciso ir, padre!
Levantei-me e segurei o volume do pau dentro da calça, ela arregalou
os olhos e passou a língua sobre os lábios em um gesto nervoso. Percebi
que ela engoliu várias vezes e pude ver a jugular do seu pescoço
pulsando. Aproximei-me da cama e me ajoelhei sobre o colchão. Eve se
afastou até bater no encosto da cama. Para onde ela pensa que vai fugir?
Não há lugar algum que ela possa ir! Está atada, amarrada como um
pássaro na minha gaiola. Inclinei-me sobre ela e falei manso e rouco no
pé do seu ouvido:
— Eu sei como se sente, Eve! Você se sente uma pecadora que se
deixou sucumbir pelo pecado da luxúria. Não é verdade?
— Padre... — ela estremeceu como um ratinho.
— O que você é, Eve?
Ela não conseguiu falar nada. Segurei sua mão puxando-a e a fiz
sentir minha ereção na calça. Sua respiração em seus peitos expostos me
encheu de adrenalina.
— O que você faz com um homem de Deus, Eve?
— Sinto muito... padre Magnus. Eu não queria desviá-lo da sua
vocação.
— Sente mesmo, Eve? Você quer que eu a absolva da sua profanação?
— Eu não sei...
— Vire-se!
Mesmo assustada e confusa, ela engoliu em seco e obedeceu a minha
ordem respirando ofegante. Sua bunda macia empinada ficou a minha
disposição como um banquete. Esfreguei meus dedos na sua boceta
rosada e escorregadia gotejando, que me deu água na boca. Abri a calça,
ela escutou o cinto e seu gemido de nervoso retornou. Liberei meu pênis
que latejava, duro como hirto. Eu precisava me enterrar nessa boceta
mais uma vez.
— Você quer meu pau enterrado na sua boceta?
— Sim, padre Magnus.
— Quer que eu te foda?
— Sim... Eu quero.
Segurei o meu pau quente e deslizei a ponta em seu buraquinho do
traseiro até a entrada da sua boceta, que queria o sugar como uma
menina má. Com a mão livre, segurei um dos seus seios apertando-o. Ela
gemeu tímida. Deslizei a mão até o seu clitóris e friccionei lentamente os
dedos deixando sua bocetinha sensível o suficiente para ela morder a
boca até calar os gemidos. Meus dedos ficaram encharcados e só o
perfume me deixou enfeitiçado. Apertei sua bunda e deslizei o pau sem a
penetrar ainda. Segurei seus quadris com as duas mãos e me preparei
para mergulhar na sua entrada suave e inchada como veludo. Mas ela me
interrompeu:
— Padre Magnus, e se... se... eu ficar grávida? O senhor não usou
proteção nenhuma vez e eu não tomo anticoncepcional.
Agarrei seus cabelos e puxei com brutalidade, aproximei meus lábios
do pé da sua orelha:
— Então todos saberão que puta suja você é. E pela minha
misericórdia, eu vou aconselhar seus pais a expulsarem-na de casa e a
igreja excomungá-la. Então, trate para que isso não aconteça.
Assim, a penetrei com força e comecei a fodê-la. O som molhado do
meu pau mergulhando e saindo de dentro dela se espalhou pelo ar assim
como nossos gemidos. Estocava violento, agressivo, impiedoso. Meu
quadril batia na sua bunda e a fivela do cinto da calça que eu nem ao
menos havia tirado, deixava marcas em suas nádegas. Virei minha cabeça
para trás em êxtase e prazer. A boceta dela era tão gostosa, tão apertada
e afrodisíaca que me deixava alucinado. Meus pensamentos viraram
pólvoras e só pensava em mergulhar cada vez mais profundo como um
animal marinho dentro dessa safada.
O suor escorria do meu rosto e pingava na minha camisa que nem ao
menos tirei. Eu a fodia com minhas roupas de padre e isso era uma
heresia... deliciosa. Estalei um tapa potente no seu rabo, o vergão surgiu
no mesmo segundo. Ela arranhou o lençol tentando suportar as minhas
investidas, minhas veias vibravam cada vez mais dentro dela. Gostosa,
maldita ordinária!
Acertei mais algumas vezes meu quadril nela sem piedade e parei
quando meu esperma quente saiu potente, todo meu corpo estremeceu
enquanto meu pau contraiu ejaculando tudo dentro dela. O prazer era
devastador, algo diferente, senti como se meu corpo entrasse em transe.
Ela também gozou, pois os músculos da sua boceta apertaram meu pau
enquanto pulsava. Deixei-me cair sobre ela, ofegante e satisfeito com o
prazer profano no pecado. Nos abraçamos e ficamos juntos por um longo
tempo.
Eve acabara de se vestir, eu já tinha ajeitado as minhas roupas. Olhei
para o relógio de pulso e verifiquei as horas, seis da tarde, nunca passei
tanto tempo com uma das minhas alunas no quarto oculto, mas Eve era
uma tentação deliciosa, não conseguiria transar com ela somente uma
vez.
Olhei-a, ela estava de pé completamente constrangida. Ela segurou
uma das mangas do cardigã e puxou-os nervosamente. Mordeu o lábio
inferior com tanto vigor que os deixou mais vermelhos ainda.
Segui até uma pequena mesa baixa do lado da cama e abri uma
gaveta, peguei uma cartela apenas com um comprimido pequeno. Andei
até ela e lhe estendi.
— Toma.
— O que é isso? — ela perguntou.
— Pílula do dia seguinte. É melhor você tomar.
Ela pegou a pequena cartela da minha mão e fechou-a na palma. Ela
não conseguia olhar para mim. Então me aproximei ainda mais dela, a
segurei pelo queixo e a fiz me olhar.
— Espero que faça, não queremos nada indesejado entre a gente. Não
usarei preservativo com você em nenhum momento que estivermos
transando.
— E terão mais vezes?
Sorri e passei o polegar nos seus lábios carnudos.
— Muitas vezes.
Dois dias depois...
Mordisquei um pedaço da minha torrada com geleia de morango, um
pedaço que não aparentava obter gosto e nenhum nutriente. Olhei para
meu iogurte natural favorito, que não me parecia tão agradável agora,
não que eu não estivesse com fome, até estava... Mas meu apetite não era
suficiente, acho até que já comi demais ontem no quarto! Todas as
besteiras que minha mãe sempre dizia quando mais nova que iriam
estragar meus dentes. Meg andava inquieta pelo corredor e só mantive
toda minha atenção para a sua pelugem prateada.
Escutei a voz de mamãe me desejando “bom dia” e não lhe dei
ouvidos, papai chegou à mesa e beijou minha cabeça falando algo,
provavelmente dando sua bênção e eu estava longe da realidade
tentando afastar o meu erro que queimava minhas bochechas, não pelo
fato de o ter feito, mas também por ter gostado! E só me livrarei disso
tudo quando pedir perdão a Deus esta tarde e tirar o peso de minhas
costas.
— Então, querida, como está a faculdade? Matérias muito
complicadas, aposto — minha mãe perguntou bebendo seu cappuccino
quente enquanto escutei papai farfalhar o jornal falando algo sobre a
economia.
— É, são sim — respondi.
— E como se sente? Acho que deveríamos ir ao shopping no final de
semana, vai ser bom...
— Vou ficar em casa, mãe, estou cansada.
— Tudo bem, então acho que deveria ver um presente para
Antonella, o aniversário dela é logo no começo do mês...
— Eu sei disso.
Peguei mais um pedaço da torrada e mastiguei sem tanta vontade
com a mão apoiada sobre o queixo, Meg se aproximou de mim abrindo a
boca e acarinhando perto dos meus pés. Cecília colocou um prato à
minha frente com omelete e panquecas doces com calda e mirtilo na
minha frente.
— O que é isso?
Finalmente olhei para os meus pais.
— Você se trancou o dia inteiro ontem, meu amor, precisa se
alimentar bem, o café da manhã é a refeição mais importante do dia.
— Comi muito doce ontem, pai.
— Por isso mesmo, precisa comer algum nutriente.
— Aconteceu alguma coisa? Brigou com Antonella? — mamãe
questionou.
— Claro que não! Não briguei com ela, na verdade eu não briguei com
ninguém! Tenho dezoito anos, acho que já está na hora de me tratarem
como uma adolescente ao invés de uma criança!
Me levantei da mesa antes que meu pai me chamasse mais uma vez e
fui para o meu quarto, tranquei a porta e me deitei na cama tentando
suportar o choro.
Alguns minutos depois, Jemima entrou no quarto, nem ela com sua
voz doce e afetuosa me tirou do quarto.
— Oh, menina Eve, te conheço desde bebê! Nunca ficou dessa
maneira. Mesmo se machucando, sempre teve o sorriso mais lindo dessa
casa. Se está triste, todos nós ficamos também.
Nada adiantou, por mais que partisse meu coração! Eu precisava
desse momento, precisava me sentir assim, eu era um erro para toda a
minha família... Como deixei isso acontecer? Como Jemima e meus pais
reagiriam se soubessem da verdade? Rangi os dentes só de imaginar.
Faltavam poucos minutos para ir à faculdade quando finalmente me
levantei da cama, arrumei meus cabelos com as presilhas de lado. Passei
o gloss suave nos meus lábios e vesti meu vestido cor de pêssego
favorito, simples e confortável. Peguei minhas coisas e fui direto para o
carro onde James me esperava com um sorriso, que retribuí sem muita
força.
— Bom dia, Srta. Bennet.
— Bom dia, meu horário na igreja mais tarde ainda está de pé, né,
James?
— Sim, senhorita. Está tudo bem?
Tinha que admitir que todos que conviviam comigo percebiam
qualquer coisinha mínima que acontecesse no meu interior, mas não
darei motivos para isso estragar meu dia.
— Estou apenas com sono, não dormi muito bem.
Coloquei o cinto de segurança e apoiei minha cabeça na janela
olhando para as ruas em movimento suspirando fundo, ansiosa.

Assim que o carro parou na frente da faculdade, lá estava Antonella


quase pulando e gritando para todos saberem que eu havia chegado. Seu
aniversário estava próximo e, como sempre, ela estava apreensiva. Mal
havia saído do carro quando ela garantiu o meu sorriso quase deslizando
no chão, pela forma que veio correndo como uma criança. James deu
risada, sabia que eu estava consolidada e que nada de ruim poderia me
afligir com ele por perto, pelo menos para alguns era assim.
— Pelo visto, você está bem animada! — exprimi transferindo as
apostilas de uma mão para a outra.
— Estou! Meu aniversário vai ser um estouro! Já mandamos fazer os
convites! E tem mais, vai ter a área VIP, vai ser no teatro municipal da
cidade! Claro que a minha e a sua pulseira são garantidas!
— No teatro?! Então vai ser uma festa bem grande.
— Claro que vai, mas meu pai não quer que tenha álcool! Apenas para
os homens mais velhos, mas vamos dar um jeito.
Entramos na universidade e o cheiro estudantil me deixou fortalecida
de novo, precisava focar nos estudos agora, pelo menos tentar. As vozes
dos universitários ecoavam para todos os lados, fazendo Antonella ter
que gritar mais uma vez e me puxar surpresa para um grupo de meninas
dos graus mais elevados, que provavelmente irão se formar esse ano!
— Meninas! Essa aqui é a minha melhor amiga, Eve Bennet, acho que
vocês sabem quem são os pais dela e, bom, ela é tão bonitinha, né?! Mas
não se enganem, ela também é uma peste!
— Ella! — resmunguei com minha amiga imatura e me aproximei das
quatro garotas, duas deram risada e comentaram algo com Antonella que
voltou a falar como uma matraca sobre os gêmeos que ela convidará e
tudo mais sobre a sua festa imperdível, além de um suposto discurso que
ela quer fazer.
Não prestava atenção, não dava a mínima sobre o que ela falava,
quando vi o professor Crawford conversando com outro professor bem
distante de nós, quase no final do corredor. De costas, apenas o reconheci
pela sua altura monstruosa, sua postura respeitável.
Apertei meus livros em determinado momento, fechei os olhos e
fiquei inerte. Meu Deus, eu transei com esse homem.
Naquela tarde inesquecível, eu tinha voltado para casa toda dolorida
e, mesmo assim, não conseguia me arrepender! Oh, Jesus Cristo.
Quando ele se virou e veio na direção certa do nosso corredor, eu
rapidamente abaixei os olhos para os meus sapatos e mordi meu lábio
por dentro ao ponto de tirar sangue.
— Fiquem quietas! O professor está passando. Essa não, será que ele
vem aqui? — Antonella pronunciou empolgada e garantiu a risada das
suas novas colegas. Eu fiquei estática, querendo desaparecer. Meu
coração batia como um tambor, quando ele cumprimentou o grupo. Só
conseguia ouvir a empolgação das meninas ao cumprimentá-lo.
— Senhorita Bennet?
Gemi por dentro e Antonella me cutucou; ele me chamou mais de
uma vez. Ergui meu olhar para o azul perfeito dos seus! Seu cabelo
escuro e brilhante parecia feito de seda, tão macio e impecavelmente
arrumado. Nada lembrava os cabelos que tive entre meus dedos
enquanto ele me fodia.
— Temos que falar sobre sua redação, poderia me acompanhar? —
ele perguntou em um tom grave. As batidas do meu coração pareciam
estar dentro do meu ouvido. Meu corpo entrou em euforia ao perceber o
que aquele convite implicava.
Olhei para a sua mão forte no bolso, era maior que as minhas duas
juntas e lembrar dos estalos no meu bumbum me fizeram estremecer.
Em certo momento, ele ergueu a sobrancelha e eu finalmente dei meu
veredito:
— Claro, professor Crawford.
Caminhei com passos lerdos até a sala de aula segurando alguns dos
seus livros didáticos com os meus. Estava sob seu olhar que inflamava
minha pele. O mesmo medo e prazer de antes atravessaram meu
semblante quando, enfim, coloquei o material na sua mesa. Os flashbacks
que tive nos últimos dois dias com aquele momento de pecado voltou à
tona, virei-me e o vi trancando a porta.
— Padre...
Ele caminhou com passos firmes seu rosto doce mudou para uma
expressão ranzinza e, mesmo assim, de tamanha provocação. Me
encostei na sua mesa, logo suas duas mãos deslizaram por minha cintura.
Olhei para as suas veias, inspirei profundamente quando ele puxou meu
quadril direto para o seu corpo forte. E disse rude enterrando uma das
mãos no meu couro cabeludo:
— Não quero te ver com roupas provocantes, nenhuma peça ousada
por esses corredores. — Mordi minha língua para suportar algo que
crescia e percorria pelo meu sangue.
— Mas não estou usando nada provocante, padre Magnus, apenas um
vestido comportado.
Ele segurou minha cintura com as duas mãos com uma pegada brusca
e me colocou em cima da mesa levantando meu vestido e enterrando
seus dedos dentro da minha calcinha.
— Vai dizer que a menina safada não usou essa roupa para me
provocar? Não colocou esse vestido porque deseja receber meu pau?
Seus dedos me fizeram gemer, enterrei meu rosto em seu peito
enquanto um medo grande e pungente estralou na minha alma.
Droga, Eve, por que esses dedos esfregando na sua boceta são tão bons?
— Diga, sua ordinária! Diga que quer me manipular com essa boceta
piscando de desejo.
— Sim, sim...
Seu polegar deslizou sobre meus lábios bruscamente tirando meu
gloss.
— Para que toda essa maquiagem? Não a quero parecendo uma puta
para os outros... entendeu?
— Sim...
Olhei-o e ele beijou minha boca, devorou meus lábios e meteu sua
língua sedenta sem delicadeza. Minha mão foi até seu cinto e ele a
afastou com grosseria. Puxou meus cabelos para eu o olhar nos olhos e
senti o cheiro dos seus dedos que foram soterrados em mim há pouco, e
os lambeu. O sinal tocou e eu pulei da sua mesa arrumando minha
calcinha.
— É melhor que amanhã não apareça com esse tipo de vestimenta e
com esse tanto de maquiagem.
Ele me soltou e dirigiu-se até a porta para destrancá-la.
Ajeitei a roupa com gestos nervosos e limpei os lábios com o dorso da
mão. Peguei meus cadernos e apostilas e me sentei à minha mesa
próxima dele, logo Felipe e Antonella entraram na sala, mas não podiam
sequer imaginar o que aconteceu. Minha cabeça ficava definitivamente
longe, sempre tentava desviar meu foco dele, mas minha mente estava
voltada aos últimos dias que pretendia anular mais do que nunca.
As próximas aulas sucederam, mas a culpa e o pecado estavam
impregnados na minha cabeça a cada respiração. Na última aula, fiquei
conversando com o Felipe e a Antonella sobre o trabalho de Criogenia,
tentando, de alguma maneira, esquecer seus dedos grossos que
invadiram minha maior privacidade.
— Até amanhã! Mais tarde me liga, está bem? Temos que colocar o
papo em dia.
Minha amiga se despediu fora do carro e bateu com o cotovelo no
braço de Felipe, que arrematou um sincero e sutil “boa tarde”, sem
muitas delongas como Antonella.
— Boa tarde! — disse entrando no carro. Coloquei os poucos livros
no meu colo e fiz um sinal para James: — Agora vamos à igreja, James.
Preciso muito conversar com o padre Paolo.
Principalmente para tirar esses pensamentos indecentes de dentro
de mim. O carro trafegou pelas ruas de Roma. Olhei as pessoas
caminhando nas calçadas. Era fim de tarde e o crepúsculo pintava o céu
de laranja. Costumava me confessar com o padre Paolo desde que fiz
minha primeira comunhão, na verdade, as minhas confissões eram mais
sobre alguns raras vezes que fui malcriada com meus pais, e algumas
mentiras que preguei. Tinha certeza de que ele ficará chocado com o que
irei lhe confessar dessa vez. Obviamente não irei falar quem era o
homem que me fez pecar, apenas relatarei o pecado.
Meus pensamentos não paravam de pensar no padre Magnus.
Lembrei-me daquela tarde que nos envolvemos.
Quando cheguei em casa, como sempre, papai e mamãe, muito
animados, me acolheram calorosos. Eu, no entanto, não consegui encarar
eles. Me sentia suja, pois seus fluidos ainda estavam impregnados entre
minhas pernas, a calcinha estava encharcada com os seus orgasmos e a
pele pegajosa.
Ignorei meus pais e até Jemima e subi correndo para o meu quarto.
Tranquei a porta, nunca tive o hábito de fechá-la com a chave, mas não
queria ver ninguém. Ouvi o miado de Meg à porta, nem ao menos ela eu
queria encostar e sujá-la com minhas mãos pecaminosas. Coloquei a mão
no bolso do cardigã e tirei a cartela com a pílula. Lembrei-me do que ele
falou sobre uma possível gravidez... Estremeci... Deus! Não posso
engravidar dele.
Rapidamente me dirigi ao banheiro, peguei um copinho descartável
que era usado para fazer gargarejo, liguei a torneira e enchi de água. Abri
a cartela com as mãos trêmulas e joguei o comprimido na boca seguido
da água. Coloquei a palma da mão no estômago e apertei levemente.
Fechei os olhos e respirei fundo várias vezes até me sentir mais calma.
Após tomar um banho demorado, vesti-me normalmente para o
jantar. Assim que avistei mamãe, avisei que precisava comprar alguns
itens na farmácia. Ela estranhou, pois sempre providenciou tudo o que
precisava. Apenas disse que eram alguns itens para fazer um
experimento na faculdade, ela se ofereceu para me acompanhar, contudo
a fiz desistir. Ela não podia ir, já que ia comprar anticoncepcional.
Logo depois do jantar, James me levou até a farmácia. Haviam
algumas marcas de contraceptivos que não precisavam de receita
médica. Comprei algumas, decidi iniciar o uso no dia seguinte.
Volto ao presente ao avistar a bela igreja formosa de San Pietro,
James parou no estacionamento.
— Não demorarei, James.
— Tenho certeza de que não, Srta. Bennet, seus pecados não são tão
pesados e grandes assim. — Ele sorriu para mim e piscou em
camaradagem.
Fiquei sem graça. Se ele soubesse...
Olhei para a entrada da igreja. Precisava disso para aliviar um pouco
a minha culpa que pesava como uma âncora.
Os meus passos ecoavam no chão de pedra da igreja, andava
melancolicamente admirando as pinturas de anjos despidos e esculpidos
nas paredes. Ouvi chaves chacoalhando e desviei os meus olhos para
onde vinha o som. O zelador da igreja veio em minha direção, já o
conhecia há um bom tempo.
— Senhorita Bennet, estou me preparando para fechar a entrada
principal da igreja mais cedo hoje. O padre Paolo sofreu um pequeno
acidente e torceu o pé, ele foi para o hospital.
— Oh! Ele está bem? — perguntei preocupada.
— Sim, já foi atendido e agora está em repouso.
— Então terei que marcar outro dia, quando ele se recuperar.
— Não é necessário, outro padre atenderá a senhorita esta tarde, ele
estava junto do padre Paolo quando o acidente aconteceu e se ofereceu.
Ele a aguardava no confessionário.
— Ah! — exclamei.
— Quando a senhorita terminar, pode sair pela lateral da igreja, a
porta ficará encostada, apagarei apenas as luzes principais e deixarei as
do corredor acesa. Ficarei na portaria na parte externa. Todas as
atividades foram encerradas por hoje.
— Tudo bem!
O zelador continuou seu caminho até as grandes portas duplas da
entrada principal e as trancou. Acompanhei seus movimentos. Ponderei
alguns minutos, bom, já que estava aqui, confessarei com outro padre
mesmo, já que ele foi gentil em se oferecer. Talvez fosse até melhor
alguém que não me conhecia.
Com passos decididos, fui ao encontro do confessionário. A igreja de
San Pietro era uma das mais antigas de Roma e ainda mantinha cabines,
confessionários tradicionais de madeira ativos. Gostava disso, assim me
sentia mais à vontade para confessar, além de manter tanto a minha
privacidade quanto a do padre.
As luzes principais da igreja foram apagadas, dando um ar de
mistério ainda maior. Luzes discretas vinham das laterais do grande
corredor até a cabine. Haviam outras cabines, mas apenas uma estava
com a luz interna acesa, o padre já estava me esperando dentro do
confessionário. Fechei a distância restante e me ajoelhei no genuflexório
acolchoado e juntei as mãos apoiando os dois cotovelos no patamar de
madeira. A pequena janela se abriu e a silhueta do padre apareceu
escondida atrás da tela de madeira com um design de rede entrelaçado,
não era possível vê-lo nitidamente assim, como ele também não poderia
me ver. Prostrei-me, fiz o sinal da cruz e iniciei a minha confissão.
— Perdoe-me, padre, pois eu pequei. Faz quatro meses desde a minha
última confissão.
Um pequeno movimento do outro lado do painel indicou que ele
estava ouvindo. Continuei:
— Eu tenho um segredo que não posso contar a ninguém. Há duas
semanas iniciei meus estudos na faculdade e, desde o primeiro dia, tenho
tido pensamentos inapropriados com um homem... um professor.
Pausei um momento esperando-o falar alguma coisa, mas nada disse,
então prossegui respirando fundo:
— Eu não queria me sentir assim, padre, mas foi mais forte que eu.
Meu corpo pegava fogo quando ele me olhava, eu tinha todas as
sensações pecaminosas do sexo, padre. Eu me masturbei algumas vezes
pensando nele e tive sonhos eróticos.
Parei, suspirei fundo, ouvi a respiração do padre do outro lado, que
soou mais rápida do que antes. E de novo ele não disse nada e isso me
deu mais coragem para continuar a confessar meus pecados sórdidos.
— Eu sucumbi ao pecado da carne, padre. Foi em uma tarde, eu
queria muito, não posso negar, não pensei em nada só queria que ele me
possuísse, me tornasse mulher... e aconteceu. Eu transei com meu
professor. Ele me tirou a inocência, padre. Nós transamos por horas... eu
fiz sexo antes do casamento e me arrependo por isso. E admito a culpa de
tudo que aconteceu, eu o seduzi. Estou muito envergonhada, padre.
Me calei, todo meu corpo estava quente, o silêncio só foi cortado
pelas nossas respirações. Acho que não tinha mais nada para confessar.
Sabia que não estava contando tudo realmente, até porque eu não me
arrependia de ter transado com o padre. No entanto, me senti mais leve
por ter contado uma parte. Mudei meu peso dos joelhos, que já estava
ardendo, e juntei mais minhas pernas apertando-as. Contar o sórdido
encontro com o padre me deixou excitada e isso me incomodou, estava
em uma confissão, cometendo pecado. Meu Deus! Decidi finalizar.
Quando já estava pronta para dizer que havia terminado, o padre falou:
— Continua falando seus pecados sórdidos.
Aquela voz... Não é possível. Bati as pálpebras algumas vezes confusa.
Meus olhos se arregalaram. Não pode ser ele, não pode!
— Vamos, Eve, diga-me o que vem em sua mente suja.
— Padre Magnus... — Minha voz saiu estrangulada, não tinha mais
dúvidas de que era ele. Minhas bochechas ficaram ainda mais rosadas de
vergonha. Se um buraco se abrisse no chão agora, eu me atirava nele.
— O que uma pecadora como você merece, Eve?
Depois de rápidos segundos muda, respondi:
— P-punição...
Escutei o rangido da madeira antiga do confessionário que nos
separava. Ele abriu a portinha e me chamou:
— Vem aqui receber a sua absolvição, filha!
— Padre... Aqui... na... na igreja?
— Só aqui tem o cajado ungido da purificação.
Com as pernas bambas, levantei-me e entrei na cabine, o padre
Magnus trancou a porta e se sentou no banco de madeira, me puxou para
sentar-se de frente para ele no seu colo com as pernas separadas. Ele já
estava com a calça aberta e o pênis todo para fora. Respirei ofegante ao
sentir sua ereção pétrea contra a minha calcinha. Eu me engasguei,
espantada e envergonhada ao mesmo tempo. Como faremos algo tão
pecaminoso dentro de uma igreja?
— Comece a rezar a Ave-Maria — ele ordenou.
— Padre...
— Agora! — vociferou segurando minha cintura e me fazendo alojar
melhor no seu pau.
Comecei ofegante a oração.
Iniciei as palavras me sentindo mal por fazer aquilo nessas condições.
Senti a mão dele deslizar entre as minhas coxas, e apertei os olhos ainda
recitando a oração. Meus lábios começaram a tremer, eu estava confusa
com tudo isso, mas não podia negar que estava muito excitada e
molhada. O padre Magnus agora passou as mãos em minhas nádegas
movimentando as mãos de trás para a frente até tocar a minha vagina.
— Ahhh! — gemi e parei a oração mordendo os lábios para tentar
abafar o som.
— Continua... — ele ordenou.
Reiniciei enquanto o padre Magnus movia os dedos sobre a minha
vagina ainda encoberta com a calcinha e circulava os dedos,
pressionando e massageando de forma bruta que até parecia machucar
meus lábios e até meu clitóris. Embora os movimentos fossem bruscos,
ofegante, eu rezava e ficava cada vez mais molhada sentindo o prazer
tomar conta de todo meu corpo. Rezei ainda mais rápido, quando ele
puxou a calcinha para o lado e enfiou o dedo grosso no meu buraco. Ele
começou a mover de dentro para fora aumentando o ritmo e a melodia
da minha carne molhada sendo fodida pelo dedo dele ecoava dentro do
confessionário apertado enchendo o ambiente com todo esse calor.
Segurei nos ombros do padre e comecei a me mover, com a mão livre
ele abriu a parte da frente do meu vestido que era de botão, puxando-os
fazendo os botões voarem longe e segurando os meus seios. Tirando o
dedo da minha boceta, ele segurou as duas alças do sutiã e as desceu
pelos meus ombros até deixar meus seios expostos para, em seguida,
devorá-los com a boca, sua língua molhada me queimava como a água
divina queimando meus pecados. Nesse momento, já não conseguia falar
mais nenhuma palavra da oração, todo meu corpo estava em chamas e
atrofiado a essa sensação arrebatadora, padre Magnus sugou meus
mamilos com sofreguidão variando de um para o outro enquanto
apertava minha carne. Comecei a rebolar e friccionar minha entrada no
pau dele, mordendo meu lábio e gemendo. Meu Jesus, como eu o queria
dentro de mim me fodendo, me corrompendo, me levando para o
inferno.
De repente, ele parou tudo, agarrou meus cabelos e me puxou para
próximo de seu rosto, seus olhos estavam flamejantes e suas pupilas
mais escuras do que nunca. Ele começou a falar entredentes rangendo:
— A tentação é constante nesse mundo. Não importa o quão puro
alguém seja, o demônio sempre o atormentará, e você, Eve, é uma
perdição que correu meu sangue, minha mente e minha carne. E você
pagará por ser essa tentação pecaminosa e deliciosa.
Ele puxou mais ainda meu cabelo até que a dor me fez lacrimejar.
— Você quer pagar sua penitência agora?
— Sim, padre... — disse choramingando.
Então ele me empurrou para baixo entre suas pernas e me fez ficar de
joelhos.
— Diga o ato de contrição.
Repeti as palavras da oração que já conhecia de cor.
Finalizei e mantive a cabeça baixa.
— Chupa!
A palavra de ordem enviou um arrepio pela espinha até minha parte
íntima, que piscou. Olhei-o e vi a luxúria espelhada em suas íris. Ele
puxou a minha cabeça contra o pênis ereto e eu segurei a base, minhas
mãos tremeram em torno da carne quente do pau do padre Magnus.
Movi as mãos para cima e para baixo. Ele fechou os olhos e inclinou a
cabeça para trás. A pele era lisa e quente e eu me maravilhei em
contemplar o pau dele crescer ainda mais em minhas mãos, o cheiro
causou uma ebulição tão forte e rápida como uma bomba nuclear. As
veias salientes pulsaram no mesmo ritmo de meus batimentos cardíacos.
Era tão lindo, olhei admirada a cabeça brilhante e o líquido transparente
do pré-orgasmo saindo pelo pequeno orifício.
Então abri minha boca e o engoli. Deslizei a língua em sua cabeça
bebendo do seu fluido, e rolei algumas vezes lentamente. Em seguida,
empurrei o máximo que consegui todo o seu tamanho. Minha cavidade
bucal estava cheia de saliva, o que facilitava para o pau deslizar. Não fui
capaz de encaixar todo aquele monstro goela abaixo, ele era enorme e
grosso. Comecei a bombeá-lo para cima e para baixo até onde consegui. O
padre Magnus gemeu enquanto eu aumentei os movimentos. Embora
inexperiente, pois fiz isso só com ele uma vez, estava fluindo tão fácil e
prazeroso que parecia que já tinha feito isso várias vezes. O gosto do
feitiço me encantava, minha boceta pingava como uma corrente
apertada.
Agora eu praticamente o engoli todo. O padre Magnus segurou na
minha nuca e me fez ir mais fundo. Quando percebi que ele iria gozar,
parei. O padre Magnus empurrou-me e tirou o pênis da minha boca.
Então segurou o pau e ejaculou no meu rosto fazendo os movimentos da
Santa Trindade enquanto me lambuzava do seu esperma.
Quando ele terminou de ter o orgasmo, colocou o pênis dentro da
calça e a fechou, enquanto permaneci de joelhos.
— Você não fez a sua confissão completa, omitiu algo muito
importante, Srta. Bennet, esqueceu de dizer que seu professor é um
padre, por esse motivo não te darei a absolvição e não te deixarei gozar.
Então ele tirou a estola que usava e me entregou.
— Limpe-se.
Peguei-a e tirei uma boa parte do esperma do meu rosto. Meus olhos
queimavam, eu queria chorar, mas consegui segurar. Chorarei em minha
cama.
Devolvi a estola e comecei a ajeitar as roupas, o vestido estava
estragado, não tinha muito o que fazer, ainda bem que eu usava um
casaco. Apenas o fechei.
— Foi uma boa penitência. Agora vá para casa e tente se lavar. Acho
que você precisará se confessar todas as semanas. Na próxima vez, venha
nua por baixo da roupa, será mais fácil o pagamento da penitência.
Andei pelo estacionamento da igreja como uma sonâmbula, a noite já
tinha caído e a brisa fresca beijava minhas bochechas. Aproximei-me do
carro e abri a porta traseira, me joguei no banco e me encolhi. James
estava com a cabeça tombada para o lado, parecia estar dormindo.
— James — o chamei.
Ele acordou assustado e colocou a mão no rosto, em seguida olhou
para o espelho.
— Srta. Bennet, nossa! A senhorita demorou tanto, que acabei
pegando no sono.
Corei como nunca, a culpa me consumia.
— Desculpa, James, eu...eu...
Não tenho nenhuma justificativa, Deus! Nenhuma!
— Acho que meus pecados não eram tão pequenos afinal... — falei
sem graça.
James nada disse, apenas balançou a cabeça de um lado para o outro,
ligou o carro e guiou me levando para casa, para tentar me limpar da
minha desgraça. No entanto, a água lavava a pele, mas jamais lavaria a
minha alma, porque, embora eu me sentisse culpada, eu adorei minha
penitência.
O cheiro característico do sêmen do padre Magnus ainda estava
impregnado na minha pele. Passei a ponta dos dedos pelo rosto e senti a
pele pegajosa, mesmo tendo limpado o excesso. Até uma parte dos meus
cabelos estavam duros com sêmen seco.
Estava dentro do carro já chegando em casa. Abri minha mochila,
peguei minha nécessaire e tirei um lenço removedor de maquiagem. Abri
um espelho do brush e limpei meu rosto. Também tirei um pouco da
sujeira do cabelo e ajeitei a aparência. Arrumei o casaco que escondia
meu vestido rasgado e pronto! Não podia aparecer em frente aos meus
pais toda bagunçada.
James estacionou o carro em frente da mansão iluminada, com
absoluta certeza mamãe já viu o carro e estava me esperando na entrada
de casa. Desci do veículo e me despedi de James. Subi as escadas da
entrada como se estivesse com chumbos presos aos pés. Não queria
enfrentar meus pais, se pudesse já me materializava direto no meu
quarto sem ao menos ter que encará-los.
Me senti pesada, como se os fardos do mundo estivessem todos em
minhas costas, mas não, era minha própria consciência que gritava em
minha alma. Os eventos do que havia acontecido na igreja ainda estavam
muito vivos. Apertei a alça da mochila e me preparei para enfrentar os
meus pais. Assim que cheguei no último lance de escada, minha mãe
abriu a porta para me receber.
— Oi, filha, demorou, foi para algum outro lugar depois da igreja?
— Não.
Entrei na casa e ela me abraçou, deu um beijo na bochecha. Meu
coração batia acelerado, porque tinha certeza de que ela ia perceber algo,
nunca me senti tão suja como agora. Tentei me desviar dela de modo
brusco e fui um tanto rude.
— Mãe, acabei de chegar, estou suja da rua.
Andei apressada em direção às escadas e o aroma do jantar invadiu
minhas narinas, porém não senti fome, apenas um embrulho no
estômago. Só queria subir para o meu quarto o quanto antes. Já estava
pronta para subir as escadas quando ouvi a voz de papai às minhas
costas:
— Eve Clarice Bennet!
Meu Deus! Papai nunca me chamava pelo nome completo, só fazia
quando queria chamar a minha atenção. Voltei-me para ele ainda de
cabeça baixa.
— O que está acontecendo com você? Foi rude com sua mãe.
— Só estou cansada, papai, a faculdade está consumindo toda minha
energia.
— Entendemos, filha, mas já faz alguns dias que percebemos uma
mudança em seu comportamento, eu e sua mãe estamos preocupados...
se está passando por algum problema...
— Pai, nada aconteceu, será que não posso ficar sozinha? Só quero ir
para o meu quarto descansar. Que saco!
— Eve! — mamãe exclamou chocada.
Meus lábios tremeram e meus olhos arderam, não consegui evitar as
lágrimas que logo desceram e deslizaram em minhas bochechas. Virei-
me rápido nos calcanhares e subi as escadas correndo deixando meus
pais perplexos.
— O que está acontecendo com nossa filha, Richard?
— Eu não sei, Eve nunca foi assim.
— Precisamos descobrir alguma coisa, será que alguém na faculdade
a está importunando?
— Irei marcar um horário com o reitor, o padre Gregório.
— Faça isso o quanto antes.
— Sim, pedirei alguns conselhos e para prestar atenção em Eve.
— Vou solicitar a Jemima para que tente falar com ela mais tarde, Eve
sempre a ouve!

Bati a porta do quarto e a tranquei, me atirei na cama, toda minha


angústia foi derramada de encontro ao meu travesseiro. Me sentia muito
culpada não só pelo que havia acontecido na igreja como também por ter
sido tão rude com meus pais. Encolhi-me em forma de concha e abracei o
travesseiro, chorei baixinho até não ter mais lágrimas.
Quando me senti mais calma, levantei-me para um banho. Me lavei
esfregando a minha pele e cabelos com vigor, até sentir-me limpa, pelos
menos por fora. Após o banho, usei uma camisola rosa de algodão. Olhei
para o relógio de cabeceira e vi que já eram nove da noite, o horário do
jantar já havia acabado. Não me importei, não sentia fome mesmo.
Escutei uma batida à porta e, suspirando fundo, decidi atender.
— Olá, menina Eve, trouxe seu jantar, já que não desceu.
— Oi, Jemima. Entre!
Logo atrás dela Meg também entrou, sorri e a peguei no colo. Jemima
colocou a bandeja com a comida na mesa e voltou-se para mim.
— Eve, sente-se um pouco, gostaria de lhe falar.
— Por favor, Jemima, eu não quero receber sermão.
— Não lhe darei sermões, não é meu papel, mas eu conheço a minha
menina e nunca a vi ser tão malcriada como está sendo esses dias.
— Jemima, não sou mais criança, sou uma mulher.
Uma longa pausa se estabeleceu, Jemima me avaliava, ela era uma
mulher muito perspicaz e sempre conseguia descobrir o que se passava
comigo. Ouvi-a suspirar fundo e se sentar na beirada da minha cama. Fez
um gesto pedindo para que eu me sentasse próximo a ela, o fiz e mantive
minha cabeça baixa escutando minha própria respiração. Meus cabelos
ainda estavam úmidos do banho, ela os agitou e me fez olhá-la.
— Quem é ele?
— O quê?
— Você conheceu alguém na faculdade e não é só amizade.
— Está equivocada, Jemima, claro que não.
Desviei o olhar envergonhada. Ela me fez olhá-la de novo.
— É o padre Magnus?
— Como? — Arregalei os olhos extremamente assustada. Não é
possível que ela saiba de alguma coisa.
— Percebi algo estranho desde o primeiro momento na igreja.
— Isso... Isso é um absurdo! Como você fala algo tão... tão horrível
assim?
— Não é tão improvável, ele é um homem bonito e você é só uma
menina, é fácil envolvê-la.
— Ele é um padre, por Deus!
— Ele é um homem e, pelo jeito, sem escrúpulos.
— Por favor, não é nada disso, ele nunca fez nada. Gostaria que nunca
mais insinuasse algo desse tipo, principalmente com os meus pais.
— Não falarei nada, seus pais o colocaram em um pedestal, não
acreditarão em mim. Mas nada tira de minha cabeça que ele a está
manipulando de alguma maneira.
— Você está vendo coisas.
— Te dou um conselho, afaste-se dele, não o deixe dominar sua vida,
ele a destruirá assim como todos a sua volta. Não falarei mais nada, só
quero o seu bem.
Jemima levantou-se, beijou-me no rosto e me abençoou. Saiu do
quarto me deixando abismada com o coração martelando. Meu celular
tocou naquele momento, pulei assustada e olhei a tela, era uma chamada
do Facetime de Antonella. Não queria atendê-la, mas se não o fizesse ela
ia ficar ligando até eu atender.
— Oi!
— Nossa! Você está horrível!
— Me ligou para falar da minha aparência?
— Não, sua chata! Te liguei para falar sobre a minha festa.
— Ah!
— Então...
Na próxima meia hora, Antonella me contou tudo que aconteceria na
festa dela, as pessoas que iriam estar presentes, o buffet e os requintes
surpresa da celebração. Ela estava muito empolgada e nem percebeu que
eu apenas falava palavras monossilábicas e não estava nem um pouco
empolgada para a festa. No final, ela confirmou minha presença.
— Sim, claro que vou, não perderei sua festa por nada.
— Não parece muito empolgada.
— É que tive um probleminha com meus pais.
— Ah! Pais, sempre querendo nos controlar. Eve, estava pensando, tá
na hora de você arranjar um namorado, sabe aquele carinha, o Francisco...
Pois é, ele é um gato! Ele vai na festa.
— Mas não é você que está a fim dele?
— Estava! Mas agora estou de olho em outro, deixo ele pra você.
— Ah! Não sei...
— Deixa comigo, eu arrumo um jeito de vocês ficarem na festa.
— Antonella, eu...
— Peraí! Tenho que desligar, amanhã a gente se fala.
— Okay!
A chamada foi encerrada. Ergui-me e fui verificar a refeição que
Jemima havia trazido. Embora não estivesse com muita fome, acabei
pegando uma maçã e mordisquei sugando o sabor. Sentei-me na
escrivaninha e tentei estudar um pouco antes de dormir. Contudo, meus
pensamentos teimavam em convergir para o padre Magnus. Toda minha
pele se arrepiou e minhas bochechas enrubesceram em pensar que ele
agora sabia como me sentia em relação a ele. Levei um susto quando meu
celular vibrou. Franzi o semblante ao pegar o aparelho, achando que
fosse alguma mensagem de Antonella. Ao abrir a caixa de entrada vi que
havia várias mensagens em letras grifadas, uma atrás da outra:

“Você não vai a essa festa.”

“Não me desafie, se você for à festa descobrirá do que sou capaz.”

À medida que olhava, mais ameaças e a proibição para que eu não


fosse na festa chegavam. Meu coração estava disparado, só havia uma
pessoa que exigiria algo assim...
Nesse momento, o celular tocou, olhei para a tela: chamada restrita.
Mesmo assim atendi:
— Alô... — falei baixo nervosa.
— Você não irá para essa festa, entendeu? — A voz rouca e
ameaçadora do padre Magnus atravessou a linha e penetrou no meu
ouvido. — Entendeu? — ele repetiu a pergunta.
— Ela... ela é minha amiga...
— Não me interessa, ela é uma má influência para você, não a quero
com ela.
— Mas...
— Sem mas, espero que a avise amanhã sua decisão.
Ele desligou. Trêmula, deixei o celular sobre a escrivaninha e andei
até a cama. Deitei-me. Fiquei pensando sobre tudo aquilo com um nó
sufocante na garganta, sem conseguir pregar os olhos, até que, vencida
pelo cansaço, adormeci.

Rolava de um lado para o outro na cama, meu corpo estava banhado


em suor, havia uma sombra escura sobre mim e um par de olhos azuis me
avaliando através de uma névoa. Sem conseguir distingui-lo direito, senti
os toques de suas mãos fortes apertando meus pulsos como correntes. Ele
aproximou suas feições e inclinou-se sorvendo meus lábios em um beijo
molhado e exigente. Ele penetrou a língua na minha boca e me puxou para
junto de si. Gemi e tentei escapar de suas garras, eu precisava escapar, mas
não conseguia. Por fim, ao olhá-lo, o identifiquei: padre Magnus.

Acordei assustada apertando os olhos e sentei-me num ímpeto. Com


um grito estrangulado, abri os olhos e fitei a escuridão. Desorientada,
olhei ao redor, estava na minha cama, todas as luzes haviam sido
apagadas e alguém me cobriu. Voltei a me deitar. Fora um sonho, apenas
um sonho. Olhei para a minha gatinha, que ronronava no seu sono
tranquilo, até voltar a dormir.

As sombras sobre meus olhos estavam assombrando meu rosto


pálido. Cansada, pensava que nunca dormirei bem novamente. Os
primeiros raios da manhã despontavam e adentravam a janela. Era hora
de ir para a faculdade, não havia jeito.
Tomei um banho para tentar melhorar a aparência, não lavei os
cabelos, pois o tinha feito na noite passada. Apenas os prendi com um
rabo de cavalo simples.
Entrei no closet para escolher uma roupa. Olhei todas as vestimentas
que sempre gostei de usar, vestidos e saias sempre foram os meus
preferidos. Tirei um deles do cabide e avaliei, era um vestido florido com
uma alça entrelaçada. Desisti dele, achei que não era bom usá-lo. Tirei
várias roupas do cabide, até que me decidi por um vestido bege que não
usava há muito tempo, ele era de gola alta e não tinha decote. Fitei-me no
espelho por alguns minutos. Suspirei fundo. Peguei um blazer branco de
botões dourados e coloquei por cima. Nos pés calcei um Mule de ponta
fina marrom.
Enfim, suspirei fundo e olhei a aparência no espelho, alisei o tecido do
vestido e virei de lado para ver se não estava provocante. Dei de ombros,
olhei para o meu rosto e parecia um fantasma, peguei um batom, mas
parei, pensei sobre o que padre Magnus falou no dia anterior. Balancei a
cabeça em negação e voltei o batom para o lugar. No final, apenas passei
um pouco de blush para disfarçar a palidez.
Um ruído chamou minha atenção, era Meg. Sorri e a peguei nos
braços, dei vários beijinhos em seu focinho.
— Você é adorável, Meg, é a única que me entende.
A minha gata miou e me acariciou com sua pelugem fofinha.
Desci os degraus para encontrar meus pais, como sempre eles foram
muito carinhosos comigo, sempre procurando me agradar. No entanto,
notei que eles me observavam com um indisfarçável interesse e
cruzavam olhares. Talvez estivessem surpresos com a minha roupa,
estava aparentando mais uma senhora do que uma estudante
universitária de 18 anos. Disfarçando bem e colocando um sorriso gentil
no rosto, mamãe perguntou brandamente, enquanto mexia seu café:
— Dormiu bem, querida?
— Sim, mãe, obrigada.
— Você tem algum compromisso após a faculdade?
— Não, virei direto para casa.
— Que ótimo então, podemos sair para o shopping e comprar o
presente de aniversário da Antonella.
Todo meu corpo tensionou, só de ouvir falar da festa me fazia entrar
em pânico. Senti um gosto amargo na boca e um nó no estômago. A voz
do padre Magnus e sua ameaça badalava na minha cabeça como um sino.
— Podemos escolher alguma joia ou até uma bolsa de grife, o que
você acha, Eve? — minha mãe falava, mas suas palavras pareciam
lânguidas, como se estivesse em um mundo distorcido.
— Eve, sua mãe está falando com você.
— Não irei.
— O quê?
— Não irei nessa festa.
— Como não? Antonella é sua melhor amiga. Explique o que está
acontecendo.
— Não quero falar sobre isso, mãe.
A vontade de sumir era muito grande, queria ir embora, desaparecer
para que não precisasse enfrentar os olhares questionadores dos meus
pais. Por isso, levantei-me da mesa e peguei minha mochila.
— Estou de saída — comuniquei.
— Eve, você não sairá assim, sem dar uma explicação sobre a sua
decisão.
— É isso, minha decisão, gostaria que vocês a respeitasse.
— Mas por quê...?
— Vou para a faculdade agora, não quero falar sobre isso.
Antes que eles pudessem me deter, desci as escadas da entrada
correndo e entrei no carro, compenetrando-me a manter a calma. James
olhou para os meus pais confuso e questionador, sem saber o que fazer.
Até que eles acenaram para que James me lavasse para a faculdade.
Respirei aliviada. James entrou no carro e deu a partida rumo à
universidade.

Estava na sala de estudos com Felipe, ele me ajudava com um


trabalho difícil. Ele falou algo que me fez sorrir. Distraída, deixei a caneta
cair, nós dois nos abaixamos ao mesmo tempo para pegá-la e ele acabou
segurando minha mão. Nos entreolhamos por alguns segundos, ele me
encarava sério, com o rosto corado. Eu fui a primeira a me manifestar:
— Obrigada.
Felipe pigarreou e voltou a se arrumar na cadeira. Reiniciamos os
estudos. Um tempo depois, Antonella se juntou a nós. Como sempre, a
conversa voltou-se para a festa dela.
— Felipe, você vai, né?
— Sim, claro que vou.
— Se eu não estivesse arrumando uma paquera para a Eve na festa,
sugeriria vocês dois.
— Imagine! Eve é só uma amiga — Felipe falou sem graça e
completamente vermelho como um pimentão.
— É mesmo? Sei não...
— Antonella, para de fantasiar coisas, eu e o Felipe somos colegas de
estudos, somente isso. — Com uma risada travessa, puxei-o pelo braço e
deitei a cabeça no ombro dele.
— É... é só isso m-mesmo — ele confirmou gaguejando.
Um pequeno silêncio se estabeleceu. Antonella olhou de um para o
outro e ergueu as sobrancelhas. Felipe se desfez dos meus braços e
começou a juntar os materiais.
— Já está quase na hora da próxima aula. Vou ao banheiro antes de ir.
Nos encontramos na sala.
Observei a partida dele e quase que de imediato voltei-me para
Antonella:
— Para de insinuar essas coisas, Felipe é tímido.
— Só você não percebe que ele está a fim de você.
— É claro que não.
— Tá bem, Eve, fica se enganando, todo mundo já percebeu.
— Vocês não têm o que inventar, isso sim. — Sorri.
— E você esqueceu de se maquiar hoje, tá parecendo um fantasma.
Parei de sorrir na hora e coloquei uma mecha de cabelo que havia se
desprendido do rabo de cavalo atrás da orelha, nervosa. Mas Antonella
logo começou a falar outro assunto e perdeu o interesse em minha
aparência.
Caminhamos até a sala ainda indagando sobre o possível interesse de
Felipe por mim. Eu apenas ria incrédula.
Estávamos no meio da aula da Sra. Patrício, quando uma batida à
porta foi escutada. Ela se dirigiu até a porta e atendeu. Falou com alguém
lá fora. Logo em seguida voltou-se para dentro e me chamou com sua voz
séria:
— Senhorita Bennet, o professor Crawford precisa falar com você,
pode acompanhá-lo?
Senti as batidas do meu coração acelerando como o oxigênio nos
meus pulmões, parecia até que todo chão se abriu aos meus pés.
Durante os segundos seguintes, consegui me recuperar do choque do
chamado do padre Magnus e, relutante e ainda trêmula, juntei meus
materiais e joguei dentro da mochila. Atravessei a sala até a saída sem
olhar para ninguém. Não olhei nem para os lados, mas tive a impressão
de que todos acompanhavam meus passos. Lancei um olhar de relance
na figura do padre Magnus, que me aguardava, e vi suas feições duras.
Ele estava sério e parecia aborrecido.
Meu coração pulava mais depressa, meus passos eram leves como se
estivesse pisando nas nuvens enquanto o seguia pelo corredor até sua
sala. No interior do cômodo, ouvi o ruído da chave girando e meu corpo
todo se preparou para o que viria a seguir. Uma onda de excitação
invadiu-me fazendo com que uma parte sensível do meu corpo pulsasse
de desejo.
— Olhe para mim — seu comando imperativo e o tom da sua voz não
deixava dúvidas que ele estava zangado.
Devagar voltei-me para ele, notei de imediato sua postura altiva e
poderosa. Ele estava magnífico como sempre, com sua habitual
vestimenta que evidenciava seus ombros largos. Ele estava com as duas
mãos nos bolsos da calça e era evidente seu estado de ereção. O clima era
tenso e envolvente ao mesmo tempo, senti a boca seca ao passo que meu
coração acelerava. O desejo que me dominava ia muito além da razão.
Deus do céu! Senti a forte sensação de culpa por estar atraída por um
homem proibido.
Ele mediu-me de alto a baixo. Suas órbitas azuis encontraram as
minhas brutais em sua intensidade. Seus olhos se estreitaram
sinistramente. O rosto tomou expressões diabólicas enquanto seu olhar
soltava crispas de fúria.
— Que tipo de puta você é, Eve?
O sentimento nervoso no fundo da minha barriga ficou ainda mais
forte. Não sabia exatamente o que ele estava falando, o que estava
insinuando.
— Eu... — Minha voz não saiu.
— Cale a boca! Você é uma tentação do diabo, Eve, seduz e coloca aos
seus pés quem quiser. Mas saiba que comigo será diferente, não sou
esses garotos que você manipula.
— Mas eu não fiz nada.
— Pensa que não sei como se atira nos homens, como uma
vagabunda. Se pensa que só porque não é mais virgem pode foder com
outros está muito enganada, enquanto estiver comigo exijo
exclusividade.
— Padre Magnus, eu... eu não estou saindo com ninguém e nem penso
sobre isso.
— Você acha que não sei dos seus planos com sua amiga?
A injusta repreensão fez com que lágrimas de humilhação
começassem a brotar em meus olhos. Eu não havia feito nada de errado e
estava sendo insultada.
Num ímpeto, ele avançou sobre mim e agarrou meu braço enquanto
sentia o corpo inteiro vibrar de excitação. Ele me empurrou até a parede
e bateu as minhas costas. Presa de encontro ao seu peito por braços de
aço e com a garganta abstraída pelo medo, vi com os olhos arregalados, a
boca dura que se aproximava da minha. Então fechei os olhos sentindo-
me incapaz de suportar a visão que transformara as feições do padre
Magnus.
Então ele atacou meus lábios e começou a explorar o interior úmido
da minha boca, movimentando a língua de forma erótica e provocativa,
fazendo com que eu estremecesse em seus braços fortes.
— Você é minha... — ele falou em um tom rouco de voz. — Não a
quero falando com aquele moleque.
— O Felipe?
— Ele ou qualquer outro, entendeu? — exigiu.
— Mas ele é meu amigo...
Maldosamente agarrou meus cabelos, puxando-me mais para perto
do seu rosto.
— Eu disse que não a quero falando com ele. Caso insista, as coisas
não ficarão boas nem para você nem para ele.
As mãos dele desceram até a barra do meu vestido e subiu-a. Segurou
as duas polpas da minha bunda e as apertou.
— Vou dar o castigo que você merece, Eve.
Ele me largou e andou para trás da mesa dele. Eu estava assustada
com toda aquela agressividade. O padre Magnus abriu uma das gavetas
da escrivaninha e tirou de lá um objeto de couro preto. Parecia uma
palmatória.
— Punirei seu lindo rabo até eu decidir quando parar. Quero ver
lágrimas saindo dos seus olhos e um pedido de perdão.
E eu desejei, não sei exatamente, mas eu queria muito. Embora o
desconhecido me amedrontasse, a imagem daquele objeto e o que ele
planejava fazer comigo me excitava de uma maneira que nunca imaginei.
Os músculos entre minhas pernas começaram a pulsar.
— Vire-se!
Engoli duro, mas o obedeci. Ele ficou atrás de mim, me fez segurar na
borda da mesa e abriu as minhas pernas. Levantou o vestido, o ar gelado
da sala percorria nas minhas nádegas enviando corrente de calafrios na
minha espinha. O padre Magnus passou a mão áspera sobre a minha pele
e apertou a minha carne. Em seguida, arrancou a minha calcinha com um
puxão.
A sensação de estar tão vulnerável fez a minha boceta tremer de
excitação.
— A cada golpe, quero que diga que sente muito por não ter se
comportado e o quão má você é.
O primeiro golpe parou forte em minha bunda. Reprimi um grito de
dor, não esperava que doesse tanto, parecia que estava queimado. Fiquei
sem fôlego quando outro golpe veio, minhas pernas ficaram bambas e
dobraram.
— O que você é, Eve?
— Sou uma menina má, sinto muito por não ter me comportado.
Deu outro golpe e mais outro e mais outro até que minha respiração
ficou presa na garganta.
— Eu sou... uma menina má, me perdoa...
A surra continuou e eu já não tinha mais forças. Uma lágrima solitária
escapou do meu olho, seguido por outro e por outro. Uma vez que a
primeira caiu, eu não conseguia parar de chorar e logo eu estava
soluçando enquanto os golpes continuaram.
— Perdão, padre Magnus, por não ter me comportado — falei já não
aguentando mais.
Finalmente ele parou de me bater e apertou a minha bunda
completamente punida.
— Sua surra terminou, mas o castigo não. Vire-se, senta-se sobre a
mesa e abra as pernas — falou severamente.
Sem protestar, fiz o que ele mandou. Ao encostar as nádegas no forro
da mesa, senti muita dor, minha bunda parecia que estava inchada.
Separei bem as pernas e esperei. O padre Magnus aproximou-se e
pressionou sua mão no meu núcleo. Eu gemi e respirei fundo, inalando o
cheiro da colônia pós-barba que eu já conhecia.
— Essa boceta me pertence até quando eu quiser, ninguém mais a
tocará, a não ser eu. Entendeu?
— Sim, padre Magnus.
— Ouse me desobedecer e arque com as consequências.
O som do zíper da calça dele sendo aberto fez a minha vagina pulsar,
ela estava muito molhada e carente, totalmente exposta para ele. Eu
queria que ele me fodesse duro e me enchesse da sua semente. O
pensamento enviou a própria luxúria em overdose. Estava embriagada
de tesão, minha boceta doía de desejo.
Os dedos dele traçaram ao longo da minha carne deslizando com
facilidade as minhas dobras lisas. Em seguida, ele pressionou a cabeça
quente do seu pau na minha entrada.
— Vou punir a sua boceta quente agora, você quer, Eve?
— Sim... — murmurei.
Ele começou a afundar em mim e não foi gentil, o pau enorme alargou
a minha carne me causando ardência. Gemi de angústia e prazer quando
ele segurou meus quadris e fez de alavanca para impulsionar mais fundo
dentro de mim. A sensação da sua pélvis batendo com a minha era
deliciosa. Ele começou a se mover mais rápido e introduziu seu pênis o
mais fundo que pôde. Eu podia sentir suas veias grossas enquanto
deslizava na parede da minha vagina.
Ele estava me fodendo tão bruscamente que doía e, ao mesmo tempo,
me lançava ondas de prazer. Eu gemia e meus sons eram uma mistura de
desejo e dor. Minhas paredes internas fecharam gananciosamente em
torno do pau dele. Os sons molhados de seu pau afundando em minha
vagina me fez sentir bem.
O padre Magnus levantou uma das minhas pernas dando-me uma
nova sensação com o novo ângulo. O quadril dele moveu-se muito rápido
e ouvia nossos ossos colidindo. Ele começou a estapear o meu traseiro
ainda dolorido da surra, ao mesmo tempo que me comia. A dor dos tapas,
seu pau me fodendo, os gemidos e o som do sexo foram demais para
mim. Meu músculo vaginal apertou o pau dele e começou a pulsar com
convulsões orgásticas. Gritei estrangulado, eu não aguentava mais.
Então num impulso, ele me pegou pela cintura ainda me fodendo, me
levantou da mesa e me prendeu na parede. Enrolei minhas pernas em
sua cintura e circulei os braços em torno do pescoço dele. Ele continuou
se lançando forte dentro de mim enquanto suas feições estavam
transformadas pelo prazer.
— Você é um uma maldita, Eve, que está me deixando louco — ele
sussurrou rouco.
Ele me beijou na boca introduzindo a sua língua ao mesmo ritmo que
me fodia. Em um dado momento já não conseguia mais, o prazer veio
como fluidos de ondas, eu gemi alto contra a boca dele.
— Venha, venha para mim, eu quero sentir essa bocetinha apertando
meu pau.
O prazer sem restrições que bateu em mim foi tão intenso que me
senti em um mundo paralelo. Eu gritei, chorei. O êxtase selvagem rasgou-
me intensamente. Todos os músculos do meu corpo contorciam-se e ele
ainda continuou me fodendo, o que provocava mais e mais prazer.
Apertei minhas coxas junto aos seus quadris e o calor atravessou minhas
veias com tanta força, que parecia um rio furioso.
Ele também veio e senti-me preenchida pela sua carga quente. O
homem gemia de prazer enquanto se derramava todo dentro de mim.
Meu Deus! Essa foi a melhor punição que eu poderia ter, e eu queria
mais disso, muito mais. O padre Magnus me pôs no chão e, ainda com o
pau dentro de mim, me abraçou em seu corpo poderoso. Deitei a cabeça
em seu peito e ouvi as batidas descompassadas do seu coração. Ele
beijou o alto da minha cabeça e me estreitou mais forte em seus braços.
Eu não sabia o que estava acontecendo, era tudo tão intenso e
maravilhoso e, ao mesmo tempo, assustador. Mas de uma coisa eu sabia:
estava completamente viciada nesse homem e meu coração jovem batia
loucamente de paixão por ele.

Dias depois...

Era sábado à noite, estava no quarto deitada na minha cama. Era o dia
do aniversário da Antonella, não havia avisado para ela que não iria a sua
festa, não tive coragem. Meus pais estavam desapontados comigo, eles
tentaram, de todas as maneiras, descobrirem por que eu não queria ir à
festa, sendo que a gente não havia brigado. Contudo, não podia lhes
revelar que meu professor padre estava manipulando toda a minha vida
porque eu era a amante dele. O seu segredo sujo.
Sim, eu estava obedecendo todas as suas ordens e restrições. Deixei
de falar com Felipe, aliás, apenas o afastei e já não estudávamos juntos,
eu o evitava o máximo que podia. Ele percebeu e se distanciou. Antonella,
por sua vez, ainda era minha amiga, contudo começou a perceber meu
comportamento estanho. Eu não conseguia mais me abrir com ela para
nada, nossas conversas eram sempre ela falando e eu calada.
Virei-me na cama e olhei a hora, eram dez da noite, a festa da
Antonella já havia começado e meu coração estava pequeno de angústia.
Eu não podia fazer isso com ela, tinha certeza de que me odiaria. Peguei
meu celular e olhei a tela. Havia uma mensagem dela:

Antonella: “Onde você está?


Vem logo, amiga, a festa está
bombando.”

Droga! Não podia fazer isso com ela. Pensei um pouco. Todos em casa
já haviam se recolhido, quais eram as chances de alguém saber que eu
saí? Eu poderia ir até a festa, ficar pelo menos uma hora e depois voltar.
Meus pais não saberiam e muito menos o padre Magnus. Podia usar o
serviço do Uber, sem precisar do James, assim não levantaria nenhuma
suspeita.
Levantei-me da cama amimada, despi-me de minha camisola
enquanto corria até closet. Escolhi uma roupa rapidamente, sem me
demorar muito. Optei por um vestido preto tipo tubinho. Ele era de alça
fina e não havia necessidade de usar sutiã. Usei meias finas e um sapato
scarpin, por cima do vestido um casaco de vison. Usei poucos acessórios,
apenas uma gargantilha com pingente de cruz e brincos acompanhando.
Os cabelos deixei soltos e fiz uma maquiagem rápida, nada muito
elaborado. Pronto!
Me sentia nervosa, essa era a primeira vez que saía de casa escondido
dos meus pais e isso era estranho. Bom, se ia fazer, melhor não pensar
muito. Peguei o celular e entrei no aplicativo para solicitar o Uber,
marquei para ele me pegar na esquina da minha rua.
Pé ante pé, desci as escadas cuidadosamente. Pisei sobre os tapetes
para abafar o som dos meus saltos. Abri a porta da frente
cuidadosamente. Lá fora, tranquei a porta com a minha própria chave.
Fui andando até a esquina. Não esperei muito para o carro aparecer. Em
poucos minutos, já estava a caminho da festa.

Ao chegar, o motorista me deixou em frente à entrada do teatro onde


estava sendo oferecido a festa. Ri de nervoso, não acreditava que estava
fazendo isso.
Bom, já que cheguei até aqui, vamos entrar. Dei dois passos na calçada
para começar a subir as escadas quando um carro parou no meio-fio. A
porta dianteira do lado do passageiro foi aberta e uma voz forte que eu já
conhecia ordenou:
— Entra no carro.
Olhei o condutor e gelei. Era o padre Magnus.
A sensação de nós torcendo meu estômago só intensificou. Arregalei
os olhos em choque. “Como ele soube que eu viria na festa?”, me
perguntei já com o coração na boca. Olhei para os lados à procura de
algum conhecido, não queria que ninguém nos visse juntos, mas a festa já
havia começado há algumas horas e, provavelmente, todas as pessoas já
haviam chegado.
— Vamos, Eve, não me faça perder mais tempo.
Raiva e indignação começaram a dominar meu corpo.
Quem ele pensa que é? Não pode manipular a minha vida dessa
maneira, como se fosse meu dono. Sim, eu o desejo e ele também gosta de
transar comigo, mas isso não lhe dá o direito de mandar e desmandar nas
minhas decisões, sou uma mulher livre e não uma marionete.
Sem esconder a amargura na voz, perguntei:
— Padre Magnus, o que está fazendo aqui? — Droga! Minha voz saiu
trêmula.
— Pergunta ridícula não merece resposta, entra na porra do carro.
Sua voz agressiva me fez titubear por alguns segundos, o medo e a
insegurança queriam minar minha resistência, mas não deixarei que
aconteça, precisava me impor.
— Não irei, Sr. Crawford, essa é a festa da minha melhor amiga e o
senhor não tem o direito de me impedir de, pelo menos, lhe desejar
parabéns.
A explosão temperamental teve curta duração quando o vi saltar do
carro e vir em minha direção com a fúria estampada em seus traços
marcantes e belo. Recuei alguns passos, observando as linhas
endurecidas da boca e o olhar azul crispando de ódio fixos em meu rosto.
Pensei em correr, mas sabia que de nada adiantaria, só causaria um
escândalo e chamaria atenção e isso era a última coisa que queria,
morreria se qualquer um dos meus conhecidos sequer desconfiassem do
meu relacionamento com o padre. A mão de aço agarrou meu braço e
começou a me puxar até o carro. Tentei desvencilhar-me, mas a força
dele era muito maior que a minha, então usei as palavras para atingi-lo:
— Para com isso, me solta, ela é minha amiga e não a decepcionarei, o
senhor não é meu dono, na verdade não é nada meu, já que é um padre e
por isso ter qualquer relação íntima com uma mulher lhe é proibido!
Ele parou e me puxou de encontro ao seu corpo enquanto os olhos
dele expressavam possessividade. Agressivo, segurou uma mecha do
meu cabelo na nuca e forçou minha cabeça para cima, a boca dele
aproximou-se da minha e ele falou entredentes:
— Acontece que um padre pode cair em tentação e redimir de seus
pecados. Mas você sairá disso como uma puta que é, que me seduziu com
seus atributos e roupas sensuais. Farei questão de mostrar a todos o
quão promíscua você é. Não quer que todos saibam que a recatada Eve,
filha obediente, é uma sem-vergonha que se masturba pensando no
padre e professor?
— Lhe contei isso em confissão, não pode falar para ninguém.
— E quem disse que farei? Um áudio vazado na internet...
— Não!
— Há muita gente ruim e vingativa no mundo, Eve, é só encontrar as
pessoas certas. Sua amiga, por exemplo... ficará desapontada com você
por não ter ido à festa dela e se vingar...
— Você não faria isso.
— Quer me testar?
— Você também sairia prejudicado.
— Não, minha menina, nada acontecerá comigo, serei a vítima das
artimanhas, sua e de sua amiga, afinal de contas ela também queria
seduzir o padre...
— Não é verdade.
— Ah, Eve! Você não sabe do que sou capaz...
— Isso é chantagem.
De repente, ouvimos um barulho da porta da festa se abrindo e
risadas. Imediatamente, o padre Magnus empurrou a porta do carro a
fechando e me encostou sobre ela. Tomou-me em um beijo ardente. Seu
corpo musculoso cobriu-me por completo protegendo-me, ninguém nos
reconheceria, apenas perceberiam que eram duas pessoas se beijando.
Seu cheiro másculo e sua língua invadindo minha boca eroticamente fez
meu corpo todo entrar em erupção. O desejo mesclado a fúria, tomou
pouco a pouco o lugar da raiva, deixando-me lânguida e com as pernas
bambas com esse sabor febril.
Quando padre Magnus notou que as pessoas já haviam se afastado,
separou-se da minha boca e falou:
— É melhor entrar no carro, não estou de brincadeira, Eve, não
hesitarei em fazer o que for preciso, fui claro?
— Sim.
De novo ele abriu a porta do carro e derrotada, sem saída, entrei e
afundei no banco de couro. Minha face estava uma brasa com tamanha
raiva, mas também de algo tenebroso, toda aquela possessividade dele
me excitou. Ele assumiu o volante e ligou o carro. Tentei conter as
lágrimas quentes, contudo meu lábio inferior começou a tremer e os
músculos do meu rosto atrofiaram para o pranto que estava se
formando.
— Por que está chorando? — ele perguntou seco.
— Não estou — respondi com a voz embargada.
— Eve, para o seu bem, não me desafie, eu te avisei para não vir à
festa.
— Me pergunto como você sabia que eu viria, nem meus pais sabem.
— Eu sei tudo o que você faz, Eve, absolutamente tudo.
— Você está me vigiando?
— Cuido do que é meu.
— Não sou sua, talvez só o corpo...
— Acontece que não é só seu corpo que quero tomar, eu quero a sua
alma, sua vida.
— Até quando?
— Até quando eu decidir que acabou.
O olhei de relance, suas mãos fortes apertaram o volante conduzindo
o carro com precisão, assim como ele controlava tudo a sua volta.
O perfil do seu rosto mostrava sua mandíbula travada, o nariz
perfeito ostentava arrogância. Sua boca estava presa e seus olhos atentos
no trânsito. Não deixei de notar seus cabelos, que estavam levemente
bagunçados e alguns fios grisalhos nas têmporas.
Definitivamente ele era um homem diferente, com uma segurança e
arrogância fora do comum. Nada se assemelhava a outros padres, que,
em sua maioria, eram gentis e compreensivos. Na frente das outras
pessoas, ele poderia até se mostrar assim, mas eu estou conhecendo seu
lado obscuro, ele tem duas personalidades distintas, uma do padre e
professor e a outra de um homem sombrio e perigoso...
Ainda o avaliando, reparei em seus trajes, usava uma calça jeans
escura, blusa de gola alta e um sobretudo preto. Pela primeira vez, o via
em roupas diferentes das que estava habituado a usar, inclusive sem o
colarinho clerical. Suas roupas eram sóbrias e elegantes, de boa
qualidade, arriscava até serem de grifes caras. Estava acostumada a ver
pessoas bem-vestidas.
— Está gostando do que vê?
Desviei os olhos sem graça e, para disfarçar, falei apenas:
— Carro bonito.
Ele não disse nada e continuou dirigindo rápido pelas ruas de Roma.
De fato, assim como as roupas, notei que o carro era de luxo, nem meu
pai tinha um parecido, no entanto sabia que era um carro bem caro. Me
perguntava como um padre e professor universitário tinha condições de
comprar um carro como aquele de, no mínimo, arriscando por alto, mais
de 500 mil euros? Será que padres ganham tão bem assim? Acreditava
que não, até porque muitos até faziam votos de pobreza. Disfarcei um
suspiro, tudo nesse homem era uma incógnita e eu estou cada vez mais
me afundando em sua areia movediça de profanação.
Durante o resto do percurso mantivemos o peso do silêncio até que o
carro entrou no pátio da universidade.
— O que estamos fazendo aqui?
— Preparei uma surpresa para você.
O padre Magnus abriu o porta-luvas e tirou de lá uma venda de
veludo preto.
— Vire-se! — ordenou.
— O que é isso? — perguntei obedecendo-o.
— Você não pode ver a surpresa ainda.
Ele colocou a venda macia e escura sobre meus olhos e a prendeu, em
seguida deslizou as mãos em meus cabelos colocando de lado sobre o
meu ombro e beijou a curva do meu pescoço sensualmente. Meu corpo
imediatamente respondeu ao seu toque, os seios endureceram e minha
vagina se contraiu automaticamente.
— Saiba que tudo que acontecerá é culpa sua — ele sussurrou rouco
ao pé do meu ouvido. — Vem, receber sua punição, garotinha má.
Ele me ajudou a descer do carro e me guiou pelos corredores
segurando minha mão até parar. Ouvi o som da chave e, em seguida, a
porta sendo aberta. Um tremor gélido desceu por minha espinha. Tinha
certeza de que estávamos na sala dele. Mesmo vendada eu conseguia
sentir o inconfundível aroma dele pelo cômodo, o cheiro do tabaco que
ele costumava fumar. Passei muitas horas com ele ali depois das aulas. Já
transamos em quase todos os ambientes da sala.
Meus ouvidos detectaram o barulho de algo sendo afastado, meu
coração disparou. Meu Deus! Estamos indo para o quarto secreto. Não
entramos ali desde a primeira vez que transamos. Ele me guiou para
dentro. A expectativa do que ia acontecer fez meu sangue agitar-se em
minhas veias como milhões de partículas. Medo e excitação se
misturavam dentro de mim. O cheiro de incenso logo invadiu minhas
narinas.
Senti o padre Magnus parar atrás de mim e tirar a venda. Aos poucos,
uma luz bruxuleante começou a penetrar no meu mundo de trevas. Abri
as longas pestanas como uma cortina aveludada e olhei para o ambiente.
Um arrepio violento percorreu meu corpo ao avistar o cômodo secreto.
Tudo estava iluminado com velas, eram várias em candelabros e
espalhadas pelo chão, tanto vermelhas quanto brancas.
— Tire a roupa! — o padre Magnus ordenou.
Tirei o casaco e o joguei no chão aos meus pés, enfiei um dos dedos
na alça fina do vestido e comecei a deslizar de um lado e depois do outro.
A peça deslizou em meu corpo até amontoar no chão. Em seguida foram
as meias finas e os sapatos. Meus seios ficaram expostos ao olhar quente
dele. Quando eu ia tirar a calcinha, ele mandou parar. Andou em minha
volta com passos lentos, parou em frente a mim.
— Para quem você vestiu essa calcinha?
A pergunta me pegou de surpresa e levantei o olhar para ele. Suas
feições estavam duras, os olhos azuis frios. A calcinha que eu estava
usando de fato era bem sexy, um fio dental da Victoria’s Secret, mas optei
por ela por causa do vestido que era bem colado ao corpo e não queria
que ficasse marcado.
— Para ninguém...
— Meninas mentirosas merecem castigo. Tire o resto, a quero
completamente nua!
Desci a calcinha perna abaixo e a tirei. Vi quando ele pegou um objeto
preto sobre uma mesa. Era um chicote de couro flexível. Comecei a
tremer e a arfar. Ele andou para trás de mim.
— Tire os cabelos das costas.
Assim o fiz, meu coração martelava no peito. Ouvi o som do chicote
cortando o ar antes de bater contra a pele sedosa das minhas costas. Por
um momento, pensei que fosse cair, a linha do chicote queimou a minha
pele como se fosse um fogo ardente. Sem conseguir ainda me recuperar
do primeiro golpe, veio o segundo, mais intenso me fazendo gemer.
— Por favor, não! — implorei.
Deu mais um golpe, dessa vez na minha bunda, meus joelhos
dobraram e eu caí sobre eles.
— Levante-se e caminhe até a cruz.
Não havia reparado na cruz, mas, com os olhos turvos pelas lágrimas,
avistei-a no final do caminho de velas. Engoli algumas vezes em seco com
dificuldade, levantei-me e comecei a caminhar. A cada passo que eu dava,
ele me açoitava nas costas e pernas fazendo meus dentes rangerem. Eu
chorava enquanto ele me punia e comecei a implorar por seu perdão:
— Por favor, padre Magnus, perdoe-me.
Impiedosamente, ele continuou um golpe atrás do outro, eu podia
sentir os vergões se formando a cada chibatada. Eu caí aos pés da cruz.
— Você me desobedecerá mais uma vez, Eve?
— Não, eu prometo.
— O que vem agora garantirá isso. Levante-se e fique de costas para a
cruz! — ele exigiu.
Nem pensei em desobedecê-lo, eu só o fiz. O padre Magnus deixou o
chicote sobre a mesa e levantou meus braços acima da cabeça. Em
seguida, ele prendeu um dos meus pulsos em uma fivela em um dos
braços da cruz e fez a mesma coisa no outro. Fiquei como uma
condenada na cruz, completamente nua e açoitada.
Ele afastou-se de mim e voltou para a mesa, pegou outro objeto, dessa
vez um chicote mais rígido e fino de couro.
— Abra as pernas.
Abri minhas coxas e soltei um grito de dor e terror quando senti o
couro bater em cima da minha boceta depilada. Isso queimou como se
tivessem jogado uma água quente sobre a minha pele. Eu chorei e ele fez
de novo, batendo firme contra as minhas dobras sensíveis que me
fizeram contorcer. Ele chicoteou a minha boceta até eu ficar dolorida e
soluçando. Ainda não satisfeito, ele golpeou as pontas dos meus seios, a
cada golpe eu pulava de dor e angústia. Quando meu corpo estava todo
marcado pelo seu castigo, ele parou.
— Você acha que mereceu essa punição?
— Sim, padre Magnus, eu mereci — sussurrei quase sem voz.
— Acha que isso é suficiente, Eve? Você aprendeu a lição?
— Sim, eu aprendi.
Minha boceta pulsava de dor e minha pele parecia que estava em
carne viva. Meus pulsos doíam, pois eles praticamente seguravam o peso
do meu corpo. Eu estava completamente punida e humilhada.
No entanto, ele não terminou por aí, pegou uma garrafa de vinho
tinto, abriu-a e cheirou o aroma. Eu estava tão esgotada que já não me
importava o que ele iria fazer. Aproximou-se de mim e segurou meu
queixo, passou o polegar em meus lábios, com seus olhos presos aos
meus, voraz e cheios de desejo.
Ele levantou a garrafa e começou a jogar seu conteúdo na minha
cabeça, o líquido fresco escorreu em meu rosto e desceu sobre a minha
pele judiada. Ao encontrar minhas feridas feitas pelas chibatadas,
começou a arder profundamente como se tivessem jogado sal, o padre
Magnus derramou tudo em mim. Logo deixou a garrafa de lado. Os dedos
dele agora seguravam em meu pescoço, ele o apertou levemente e
começou a explorar a minha pele. Sua língua quente deslizou em meu
rosto e as mãos desceram pelo meu corpo de forma suave e tentadora.
Agora ele sugava meu pescoço com sofreguidão enquanto beliscava meus
mamilos os torcendo nos dedos. Continuou explorando meu corpo com a
mão até encontrar a minha carne molhada. Ah, sim! Eu já estava
encharcada e muito excitada. O padre Magnus introduziu dois dedos
dentro da minha boceta e gemi alto. Ele começou a mover e alargar-me
enquanto limpava o vinho do meu corpo com a língua.
Até que ele deixou minha boceta e começou a deslizar a língua pelo
meu colo e seios. As duas mãos grandes dele se fecharam em cada peito
os apertando enquanto ele os sugava e mordia meus mamilos. Doía, mas
um crescente sentimento de desejo estava crescendo no meu núcleo.
Lambi meus lábios, sentindo o calor líquido se formando em minha parte
íntima cada vez mais. Ele arrastou a língua pelos músculos da minha
barriga, nos meus quadris, até que encontrou a minha boceta. Ele me fez
abrir ainda mais as pernas e logo sua língua molhada movia-se entre as
minhas dobras fazendo uma onda tremenda de desejo pulsar por
clemência. Meu corpo ficou mais quente, minha respiração acelerou e
meus batimentos cardíacos ficaram cada vez mais rápidos. Ele usou os
dedos para abrir minha entrada enquanto se ajoelhou, lambendo minha
boceta desnuda.
Eu lutei para ficar parada, mas meus quadris se moveram quando ele
começou a sugar meu botão vermelho. Ele deslizou a língua para cima e
para baixo e se deteve em alguns segundos no clitóris. Comecei a gemer e
me contorcer de desejo, se ele continuasse não aguentaria e ia ter um
orgasmo maravilhoso.
Então ele parou e levantou-se, abri os olhos em desespero. Ele
afastou-se do meu corpo e ficou na minha frente. Meus olhos desceram
pelo seu corpo e pude ver o contorno da sua ereção dentro do jeans.
Lentamente ele começou a se despir, primeiro a camisa que logo deixou
seu corpo e revelou seu tórax forte e bíceps musculosos e definidos e o
perfeito pelos em “V” que escondia algo a mais por baixo dos quadris. Em
seguida, ele desatou o cinto e o zíper da calça. Desceu até tirá-la junto
com os sapatos e meias.
Me deliciava ao contemplar seu corpo magnífico, ele era tão incrível
que não parecia real. Logo ele também se livrou da cueca liberando seu
pau enorme, firme e latejante. Estremeci e salivei. Só o queria dentro de
mim, me fodendo, acabando comigo.
— Quer ser a minha putinha suja, Eve.
— Sim.
Ele aproximou-se de mim e começou a invocar uma oração, enquanto
passava a mão na minha boceta a ampliando para recebê-lo.
— Toda a chaga do seu corpo será curada pela misericórdia do meu
pau te fodendo na Santa Cruz.
Ele me beijou e sua língua circulou na minha enquanto sua mão
segurava meus quadris, nosso beijo molhado e ardente me fez queimar!
Ah, como quero isso, tanto que chega a doer...
A dor nos meus braços e pulsos era grande, mas não me importava.
Ele circulou seus braços em volta de mim e me penetrou. Senti seu pau
alargando a minha boceta e ele começou os movimentos quando estocou.
Ele empurrou forte e minha bunda e costas batiam contra a madeira da
cruz. Seus olhos estavam cheios de tentação da paixão assim como os
meus. Nós dois estávamos cobertos de suor deslizando um contra o
outro enquanto sentia seu pau vibrar e minha boceta o recebendo como
uma boa anfitriã. Ele me beijou nos lábios e eu pensei que derreteria toda
vez que ele me tocava com a boca no pescoço, lábios e orelha. Meus
peitos estavam espremidos ao seu peito peludo. Seu pau me fodia cada
vez mais forte, me esfolando e me desgrudando com maestria. Ele me
fodia entre a cruz e a espada, literalmente.
Ele continuou me fodendo como um animal até que me levou para o
céu. Senti como se estivesse alcançando o infinito e gritei de prazer e dor.
Minha boceta apertou o pau dele com tanta força, que podia sentir cada
milímetro dele pulsante. Eu sabia que o estava deixando louco e ele
estava prestes a gozar também.
— Putinha gostosa, menina malvada — ele resmungava sem controle.
— Eu vou gozar, sua vadia, minha perdição, minha e minha, só minha e
nada mais que minha!
Ele continuou me penetrando vigorosamente, me fazendo gemer
intensamente até chegar ao limite, enquanto murmurava palavras de
posse e chupava meu pescoço.
Eu também gritei, perdi até a voz por tantos gritos e senti como se o
pau dele se tornasse maior e mais difícil. Ele fodia minha boceta sem
piedade, brutal como um demônio até soltar seu fluxo de esperma todo
dentro de mim. Eu podia sentir seu líquido quente me enchendo, me
inundando, escorrendo pelos lados, lambuzando-me. Ele gradativamente
desacelerou enquanto ainda tinha os braços em volta de mim e grunhia
no pé da minha orelha. Perdi o fôlego inúmeras vezes e mal pude me
mover. Meu corpo se contorcia e tremia em seus braços fortes. Ele me
beijou, vagando sua boca no meu pescoço enquanto seu pau se contorcia
dentro de mim, liberando até a última gota de sêmen.
Quando tudo acabou, ele me tirou da cruz e me levou em seu colo até
a cama, nos deitamos juntos. Ele me acariciou na próxima meia hora,
beijando e lambendo cada machucado do meu corpo. Então, tudo
reiniciou.
Essa noite foi longa, muito longa, e ele me fez gritar e gemer até não
me restar voz.
— Acorda, preguiçosa! — A voz inconfundível do padre Magnus
soprou no meu ouvido.
Movi e senti todo o meu corpo dolorido, como se um trator tivesse
passado por cima de mim diversas vezes. Contorci o rosto de dor e gemi
baixinho.
— Vamos, Eve, temos que ir antes que o dia amanheça. Te levarei
para casa.
Ele me ajudou a sentar sobre a cama. Senti minha vagina muito usada
gotejando o sêmen dele ainda. Todos os músculos do meu corpo estavam
em frangalhos, meu clitóris muito dolorido, assim como minha garganta
estava rouca de gritos de prazer e dor. Me sentia exausta e muito fodida.
O padre Magnus envolveu seus braços fortes em volta de mim, tirou
um pouco dos meus cabelos do rosto e me fez olhá-lo. Gemi baixinho ao
ver aqueles olhos tão azuis e expressivos. Meu coração bateu forte,
estava tão frágil tanto emocional quanto fisicamente. Esse homem estava
consumindo tudo de mim, não só meu corpo, mas minha dignidade,
valores... minha vida, e eu deixava-o fazer isso comigo.
— Como se sente? — perguntou gentil.
— Dolorida!
— Passará. Vem aqui, minha menina obediente.
Ele trouxe meu corpo para junto do dele e fez minha cabeça repousar
em seus ombros largos. Apertou seus lábios em minha testa em um beijo
carinhoso. Ele já estava completamente vestido e isso me fez sentir pior
ainda, eu estava nua, suja, machucada e humilhada, enquanto ele
elegante em seus trajes bem talhados.
— Você recebeu seu castigo muito bem, Eve.
— Eu sinto muito não ter te obedecido. Me perdoa!
Não sei por que estava me desculpando e pedindo seu perdão, mas
senti a necessidade disso.
— Está perdoada, você sempre estará. Você só precisa ser lembrada
de que sou eu que estou no controle, entende?
— Sim, padre Magnus — concordei balançando a cabeça em seu
ombro.
Ficamos um tempo quietos, derramei algumas lágrimas, mas que logo
cessaram. Eu sabia que não deveria me sentir assim, contudo eu pensava
que ele sempre estava certo, até em suas punições, e o pior de tudo isso
era que eu gostava.
Senti seus dedos traçando uma linha em minha coluna até a nuca,
meu corpo todo arrepiou-se com seu toque macio. Me senti flutuando.
Ele beijou entre meus cabelos e logo encostou minhas bochechas.
Deslizou os lábios nela e chegou na boca. Beijou-me gostoso, o sabor dele
era tão delicioso, senti o gosto do vinho, aliás, eu mesma estava
embebida em vinho ainda, não podia chegar assim em casa.
Ele separou-se de mim e ordenou:
— Vai tomar um banho rápido, agora são quatro e meia da
madrugada, sairemos em meia hora. Você não quer que seus pais
acordem e não a encontrem em casa, hum! — Ele tocou a ponta do meu
nariz como se eu fosse uma criança.
Com a ajuda dele, levantei-me e ele me deixou no banheiro. Não sabia
que havia um banheiro naquele cômodo, mas tinha e era bem luxuoso e
equipado, tinha até uma hidromassagem enorme. Tomei um banho
rápido na ducha potente e vesti minhas roupas que padre Magnus deixou
sobre o aparador. Em menos de meia hora, já estava pronta. Me senti
melhor após o banho quente, claro que minha pele ainda estava muito
dolorida, arranhada e minha intimidade um pouco inchada e ardida,
porém bem menos que antes.
— Vamos?
— Sim.
Meia hora depois, padre Magnus parou o carro exatamente no mesmo
lugar onde havia marcado com o Uber na noite passada. O aroma do
perfume dele dominava o interior do carro aumentando a sensação de
intimidade. Não sabia o que fazer, entrelaçava as mãos uma na outra,
nervosa. Diante do seu silêncio, decidi sair do carro. Coloquei a mão na
tranca e tentei abrir, mas não consegui, estava travada. Voltei-me para
ele e dei de encontro com seus olhos ardentes. Deus! Por que ele tem que
ser tão maravilhoso?
Então ele levantou a mão e passou nos meus cabelos, em seguida
desceu pelo meu corpo até a barra do vestido e o subiu. Suspirei fundo
enquanto a mão dele deslocava até a minha calcinha. Ele parou, chegou
mais perto e com os olhos ameaçadores proferiu:
— Espero não a ver mais vestida com uma calcinha assim, a não ser
que seja para mim.
Ele continuou suas ameaças, agora com a mão nos meus seios que
estavam soltos dentro do vestido.
— E muito menos com um vestido provocante como esse, que a faz
parecer uma vadia barata, entendeu?
— Quer que me vista como uma freira?
— Quero que se vista como eu determinar.
— Ou seja, que eu pareça uma vadia somente para você.
Ele agarrou meus cabelos e puxou.
— Não me provoque, garota.
— Está me machucando! — protestei.
Me soltando, ele destravou a porta do carro e ordenou seco:
— Vá para casa.
Saí do carro e bati a porta. Caminhei pela calçada sem olhar para trás.
Apertei o casaco contra o corpo, a manhã estava fria e alguns raios
tímidos do sol nascente já despontavam no horizonte. O ar fresco da
manhã trazia o odor dos pinheiros ao redor. Pássaros cantavam nas
árvores e o carvalho rangia sob meus pés.
Entrei pelo portão e andei pelo caminho do jardim, o orvalho da
manhã espelhava nas flores perfumadas. Não percebia nada dessa beleza,
meus pensamentos estavam voltados todos para padre Magnus, o
homem que estava dominando a minha vida.
Como na noite anterior, abri a porta da frente com cuidado e
verifiquei se as atividades da manhã já haviam começado. Tudo estava
em silêncio. Cuidadosamente entrei em casa e fui direto para o meu
quarto. Meg saltou de sua caminha assim que me viu entrar e veio em
minha direção miando.
— Bom dia, meu amor! — sussurrei.
A acariciei e fui direto para o banheiro, me despindo das roupas, olhei
meu reflexo no espelho. Coloquei as mãos na boca chocada. Haviam
vários vergões vermelhos por todo o corpo e alguns com filetes de
arranhões. O pescoço todo marcado de chupões e os seios também. Não
eram feridas abertas, mas bem doloridas e feias. Bom, a única coisa a
fazer era colocar uma roupa de dormir e ficar o dia inteiro na cama hoje.
Me enfiei em um pijama e me joguei na cama. Peguei meu celular e vi que
havia muitas mensagens de Antonella, não tive coragem de ler nenhuma,
meu coração doía. Coloquei o celular de lado e ele vibrou. O peguei de
novo e havia uma mensagem de áudio. A abri, era dele.
— Chegou bem?
— Vai para o inferno.
— Não seja malcriada, esqueceu da sua punição?
— Nem se eu quisesse.
— Te vejo amanhã na faculdade, chegue cedo e vá direto para a minha
sala... e espere sem calcinha.
E essa foi a última mensagem. Uma lágrima escorreu depois outra,
Meg subiu na minha cama e a abracei, chorei até pegar no sono.
Lambidas no meu rosto me fizeram acordar. Alguém abriu as cortinas
e os raios de sol penetraram pela janela. Apertei as pálpebras,
incomodada, e coloquei as mãos nos olhos.
— Bom dia, Eve, está na hora de se levantar para ir à missa. Seus pais
sairão daqui a pouco.
Jemima puxou o meu edredom do corpo e soltou um grito
horrorizada, tentei me cobrir de novo, mas ela já tinha visto uma boa
parte dos hematomas.
— Eve, minha menina, o que aconteceu?
— Nada... Eu... eu escorreguei da escada ontem, não foi nada mesmo.
— Isso não parece um acidente, olha o seu pescoço...
Puxei o edredom mais para cima tentando esconder, mas Jemima não
deixou.
— Deixe-me ver isso.
— Não! Vai embora do meu quarto, me deixa sozinha! — gritei com
Jemima, algo que nunca fiz antes, nunca mesmo.
Não consegui segurar as lágrimas, meus lábios tremeram e caí em
prantos. Jemima sentou-se na minha cama e me abraçou. Ela me
acalentou até eu parar de chorar. Quando ela sentiu que estava mais
calma, olhou em meus olhos com os seus gentis e compreensivos.
— Foi ele, não foi?
— Do que você está falando?
— Eu sei que não se abrirá comigo, mas tenho certeza de que aquele
homem está fazendo alguma coisa com você.
— Não!
— Se não é ele alguém está fazendo.
— Não tem ninguém. Por favor, diga para os meus pais que não irei à
missa hoje, não me sinto bem... — Pausei e abaixei os olhos, pedi muito
envergonhada: — E, por favor, não conte nada para eles do que viu, por
favor! — supliquei.
— Não vou contar nada, mas vou alertá-los sobre minhas suspeitas
de que algo está errado na faculdade.
— Não, Jemima, não fale nada sobre o padre...
Jemima pegou em minhas mãos e comunicou:
— Não tocarei no nome de ninguém, mas não posso deixar isso
passar. É meu dever comunicá-los, não falarei dos machucados, não se
preocupe.
— Obrigada.
— Bom, agora vou trazer seu café da manhã, também não irei à missa.
Jemima saiu do quarto e desmoronei na cama. Encolhi-me entre os
lençóis colocando meu rosto molhado sobre o travesseiro que enxugou
meu pranto pelas horas anteriores.
Não demorou muito para Jemima trazer o meu café da manhã. Não
olhei para os pratos com apetite, mas me forcei a comer um pouco e bebi
o suco na frente dela. Estava quase suplicando para ela outra vez quando
ela fez o sinal da cruz em minha testa e me abençoou. Mamãe a havia
chamado, a poucos metros do meu quarto eu escutei a discussão entre
ela e papai.
— Richard, não sei o que faço! Nossa filha nunca esteve desse jeito! Não
ir à missa, à festa da melhor amiga? Algo está muito errado, eu sei disso!
Será os colegas ou depressão? Deveríamos protegê-la, mas...
— Calma, meu amor! Não vamos fazer alarde, deve ser só uma fase!
Mas não deixarei de falar com o reitor amanhã mesmo!
Eu sabia o que estaria por vir e levantei meu corpo fadigado da cama
para trancar a porta. Logo em seguida escutei os passos fervorosos de
mamãe, sua voz penosa soou como um sino em meus ouvidos fazendo-
me grudar a porta e encarar meus próprios pés.
— Meu anjo, abra a porta! Sabe que pode sempre contar comigo. Se
não quer ir à missa hoje, tudo bem. Podemos tirar um dia para nós duas,
fazer coisas legais, assistir a um filme.
Fazer isso só deixaria minha mãe mais preocupada, mas seria melhor
do que lhe dar esperanças e motivos para ela achar que eu precisava de
ajuda. Com a voz embargada proferi sentindo o nó crescente no meu
estômago até a garganta travada:
— Não, mamãe, não perde uma missa por muitos anos, eu estou bem.
Podemos tentar depois. Estou cheia de atividades para fazer e preciso
colocar as ideias em prática. Respeite isso, mamãe, pelo menos por um
tempo.
Um solavanco de ar saltou dos meus pulmões. Pude escutar sua
respiração receosa antes dos seus passos se afastarem e escuto um
singelo “Eu te amo”.
Vi pela janela o carro cinza partir, decidi tomar mais um banho e vesti
um short branco e uma blusa polo estampada e leve para ficar em casa.
Perdi boa parte da minha manhã cuidando e dando atenção a Meg, que
sentia minha ausência desde que começaram as aulas. Já eram três e
meia da tarde e, depois de uma pequena refeição, me senti apta para
começar as atividades.
Na minha escrivaninha, peguei as apostilas e digitei toda a matéria da
professora Suzane no computador. Eu tentei, juro pelos céus que, a cada
segundo, eu tentei não procrastinar, me esforcei para não voltar meus
pensamentos ao padre Magnus, não elevar mais meus pecados do que já
estavam. Como isso não me incomoda mais? Pelo contrário parecia até
que meu corpo sentia sede, sede dessa tentação perturbadora que estava
me contaminando como uma doença radioativa.
Me peguei mordendo a ponta do lápis e virei o rosto para olhar Meg
na minha cama, meus olhos miraram o crucifixo sob a parede da
cabeceira. Depois voltei minha atenção para os cadernos sentindo algo
em minha respiração. Aquelas mãos, aquele gosto pervertido, o suor, a
luz das velas... e até mesmo os açoites. Eu estava praticamente perdida
quando meu celular começou a tocar, virei a tela do smartphone e dei de
cara com o nome de Antonella.
Evitá-la seria inútil e mais feio do que poderia cogitar, então atendi
na terceira chamada:
— Alô, eu...
— Não comece! Eu não acredito que você fez isso comigo.
— Posso explicar, deixe... — comecei sem saber o que dizer, era
horrendo da minha parte ter que mentir.
Antonella continuava sem esperar uma resposta:
— Explicar? Era o dia mais importante para mim, um aniversário como
esse era especial! Podia ter avisado, seria bem melhor.
— Não poderia te magoar, seria...
— Não poderia? Adivinha só então? Imagina como fiquei?! Eu preparei
um discurso! Sim, para nós duas. E tem o Francisco que queria tanto
conhecê-la, seria uma noite perfeita! Mas adivinha só? Você estragou boa
parte disso, tinha coisa melhor para fazer além da nossa amizade?
Antes que pudesse declarar alguma coisa, alguma desculpa que já
derrapava pelos cantos estreitos dos meus olhos, ela desligou. Sequei as
lágrimas com as mãos tremendo. Algo de errado voltou a crescer sobre
meu peito, como um buraco negro. Não queria deixá-la assim, e, talvez,
seria capaz de correr atrás dela agora, mas não tive forças suficientes, eu
só queria me sentir bem, me sentir melhor.
Acho que perdi minha amiga... e tudo por causa dele.
Ela não olhou para mim, se manteve onde estava ao notar a minha
presença na sala. Seu corpo franzino estava coberto da cabeça aos pés
com roupas largas. Sorri cínico, ela estava se tornando exatamente o que
queria.
Caminhei até minha mesa a passos leves, como um tigre astuto,
observando a presa. Sentei-me em minha cadeira e inclinei no encosto
alto. Semicerrei os olhos olhando meu passarinho assustado. Ela era
linda como o diabo, seu longo cabelo castanho emoldurava seu rosto com
os belos lábios cheios sem cor. Sua pele do rosto assim como a da boca
estava sem um pingo de maquiagem. Cílios longos descansavam em suas
bochechas pálidas escondendo seus olhos verdes hipnotizantes.
Minha ereção já estava completa dentro da calça, eu sempre fui um
homem sexualmente ativo, fazer sexo para mim era como respirar,
porém, desde que comecei minha relação com a Eve, esse desejo
triplicou, eu tinha ereções só de pensar nela. Minha libido elevou ao
máximo. Ela possuía algo diferente das outras, não sei, todas sempre se
transformaram naquilo queria, obedientes e completamente submissas a
mim, contudo, nenhuma conseguiu manter meu interesse por muito
tempo, a cada semestre tinha a maior facilidade em dispensá-las e partir
para a próxima.
Mas Eve era tão inocente, mesmo me correspondendo sexualmente
ela ainda se mantinha pura, era uma pureza diferente e eu gostava disso.
Ela trouxe cor para a minha vida opressivamente incolor. Antes dela, não
havia nada de interessante a não ser as mesmas coisas, nada desafiante.
Então comecei meus jogos com ela e logo percebi que era tão
deliciosamente maleável e facilmente entrou no meu mundo de pecados.
Meu domínio sobre ela era muito forte, porém precisava podá-la ainda
mais, eu queria que qualquer ideia que ela tivesse de liberdade de
escolha em nossa relação precisava parar. Ela era minha e logo iria
garantir que ela e nem ninguém atrapalhasse o nosso relacionamento.
— Vem aqui! — ordenei.
Ela andou até mim e parou na minha frente. Estiquei meus braços,
peguei na sua cintura e puxei seu corpo. Sua delicada armação era tão
franzina e facilmente quebrável. Eu podia sentir cada osso fino e curva
macia do seu corpo. Segurei no cós da calça de moletom que ela usava e
puxei para baixo. Logo seu perfume feminino invadiu minhas narinas.
Como ordenei, ela estava sem calcinha.
— Boa menina!
Olhei para a bocetinha rosada dela que ainda tinha algumas marcas
das chibatadas que dei nela na noite passada. Passei os polegares em
círculos massageando a parte de cima da vagina. Ele começou a suspirar
e gemer. Peguei em sua bunda e a apertei. Com a língua, lambi a boceta
lisa dela enquanto abria a calça e colocava meu pênis para fora, duro
como uma rocha.
— Senta aqui!
Obediente, ela abriu as pernas e sentou-se em cima do meu pau. Ele
deslizou nos fluidos dela. Ela segurou no meu pescoço e começou a
mover os quadris flexionando o pau em sua carne. Segurei a sua cabeça e
beijei sua boca, mudei para a sua orelha e mordi o lóbulo entre os dentes.
A besta perversa dentro de mim desejava devorar cada brilho inocente
dentro de sua alma até que eu a tivesse preenchido com a mesma
escuridão que a minha. Eu queria forçá-la a participar dos meus jogos
torcidos e depravados.
Eu podia ver o contorno dos seus mamilos através do casaco de
moletom que ela usava. Coloquei as mãos por dentro da sua roupa e
apalpei até encontrar os mamilos. Apertei-os enquanto a beijava na boca.
Meu pau inchou e pressionou mais fundo nas dobras dela, ele deslizou,
mas ainda não a havia penetrado.
Quando liberei seus lábios, ela passou a mão no meu pescoço sobre o
colarinho da minha roupa.
— Não gosto disso — ela disse com a voz meiga.
— De quê? — perguntei.
— Dessa coisa branca, não quando estamos transando. Por que não
tira?
Sorri, ela se referia ao colarinho clerical. Puxei-a mais para próximo
de mim.
— Não o tiro porque quero que saiba com quem está transando, que é
um padre que está te fodendo.
Ela tentou sair do meu colo, mas a prendi com força.
— Não vai a lugar nenhum, cavalga gostoso no colo do padre,
garotinha impura.
Com a respiração trêmula, mantendo a cabeça e o olhar abaixados, ela
buscou meu pau. Eu o segurei alinhando-o com sua entrada encharcada e
quente, e ele deslizou facilmente em seus fluidos, logo seu anel
acomodou todo o meu comprimento. Fechei os olhos e saboreei aquele
buraco quente e molhado me engolindo. Era sempre assim, uma delícia
penetrá-la; embora o buraco dela fosse apertado, ele cedia facilmente a
minha invasão. Ela começou a se mover para cima e para baixo, gemeu e
jogou a cabeça para trás. Minha garotinha queria isso tanto quanto eu.
Ela ansiava pela força bruta do meu pau sendo enfiado todo dentro dela.
Ela era o meu anjo depravado, minha criação sombria.
Apertei suas nádegas enquanto ela cavalgava cada vez mais rápido.
Nossas respirações estavam aceleradas, rangi os dentes e empurrei ainda
mais fundo. Mesmo ela estando em cima, eu estava no controle.
— Ah, meu Deus! Deus! — ela gritou.
— Não sou Deus, mas o Mestre, o seu Mestre e Senhor.
Ela me beijou, sua língua embolou-se à minha. Enfiei meus dedos no
cabelo dela e a puxei mais ainda assumindo o controle do beijo,
lambendo e mordendo os lábios. Finalmente, eu não podia mais segurar.
Rugi quando preenchi sua passagem estreita de esperma. Ela também
atingiu o orgasmo e gritou jogando a cabeça nos meus ombros enquanto
estremecia de prazer. Meu corpo todo recebia ondas de gozo, eu nunca
senti tanto prazer quanto sentia com essa menina.
Minutos depois, nos recuperamos. Eve levantou-se do meu colo e,
como sempre, ficou tímida. Dei um tapa na sua bunda e disse:
— Vai se limpar!
Rapidamente ela pegou a mochila e as roupas que eu havia tirado do
seu corpo e foi para o lavabo. Eu apenas fechei a calça e liguei o
computador. Quando ela saiu, já havia se ajeitado. A liberei para ir à aula.
Logo eu mesmo me ajeitei no lavabo e voltei a atenção para a
computador.
Agora com meu corpo relaxado, depois de ter gozado, comecei a
trabalhar em algo importante. Já tinha todas as informações que eu
precisava saber sobre o pai da Eve. Comecei a ler o relatório dele.
Pelo visto, o homem de família, respeitado empresário, cristão
fervoroso, não era exatamente um exemplo de virtude.
Ri por dentro, quem diria que ele tinha uma amante fixa e várias
outras escapadinhas. Mas o pior de tudo, li em seguida, é que ele era
adepto da pornografia infantil. Abri as fotos que ele tinha “guardado” em
sua nuvem. Que interessante, Sr. Bennet, muito interessante. Fechei as
janelas do computador e recostei na cadeira, essas informações me
seriam úteis, tinha planos para Eve e não queria que os pais dela se
intrometessem. Não gostava de ver uma família tão bonita sendo
destruída, mas saberei usar muito bem isso... se me fosse conveniente.
Desliguei o computador, peguei minha pasta e fui para a sala de aula
iniciar as atividades do dia.

Horas depois...

Andava pelo corredor em direção à minha sala após a última aula,


quando me deparei com Eve sentada em uma das mesas da sala de
estudos. Ela estava sozinha com o laptop à sua frente e alguns livros
sobre a mesa, contudo não parecia estar concentrada nos estudos. Sua
cabeça estava inclinada para baixo e balançava um lápis em uma das
mãos entre os dedos. Olhei em volta na sala e percebi alguns alunos em
grupos conversando, ou estudando juntos. Vi quando ela ajeitou os
cabelos atrás da orelha, avaliei seu perfil, parecia triste e até percebia-se
que havia lágrimas secas em suas bochechas.
Ela mordeu o lábio inferior e levantou a cabeça. Seus olhos verdes
vagaram pela sala e logo voltou-se para dentro de si mesma com um
profundo suspiro. Ela era tão linda e vulnerável, gostava de vê-la assim,
sozinha, não queria ninguém próximo dela.
Percebi um dos alunos, que estava em outro grupo, levantar-se e ir
em direção dela. Fiquei em alerta. O rapaz se aproximou e
automaticamente ela levantou a cabeça e sorriu. Algo dentro de mim se
agitou, meu sangue correu mais rápido nas veias. Um sentimento de
posse apoderou-se de mim. Observei-o falando algo para ela, não sabia o
que era, pois o vidro impossibilitava sair som. Ela moveu-se um pouco
nervosa e balançou a cabeça negativamente. O rapaz então segurou no
braço dela e isso fez com que todas as minhas terminações nervosas se
eletrizassem e o corpo ficasse quente, travei a mandíbula e fechei os
punhos. Eve, então, parecia ter aceitado o convite e se preparava para
levantar-se. Não perdi tempo, abri a porta da sala e a chamei:
— Senhorita Bennet, poderia me acompanhar, por favor!
Ela me encarou com os olhos arregalados.
— Vai lá, Eve, te vejo mais tarde — o rapaz falou.
Ela terminou de juntar as coisas. Logo saiu da sala e andou na minha
frente. Assim que chegamos em outro corredor onde não havia ninguém,
a peguei pelo braço com violência e abri uma porta. A luz acendeu
automaticamente, bati e a encostei na porta. Segurei sua mandíbula com
violência. Minhas pupilas ardiam de raiva.
— Para onde você iria com aquele moleque? — perguntei
entredentes.
— Para lugar nenhum, ele só me chamou para sentar-me junto com
os outros — respondeu assustada.
— E precisa sorrir para ele, parecendo uma puta oferecida?
— Eu só estava sendo gentil — ela choramingou.
— Não me interessa, Eve. Você é uma oferecida, já tinha te avisado
que não a quero com ninguém, não é?
— Padre Magnus, tá me machucando, me solta!
— Eu vou machucar seus amiguinhos se você insistir em manter
contato com ele, especialmente com homens.
— O que está insinuando?
— É só um aviso, Eve, você é minha, entendeu? Só minha.
Com isso a beijei com violência, esmaguei os lábios dela para
machucar. A prendi com o corpo contra a porta. Ela tentava me empurrar
com as duas mãos no meu peito, mas eu a dominei e as prendi. Meu pau
se manifestou muito duro.
Merda! Essa porra está me deixando louco, eu vou fodê-la e mostrar a
quem ela pertence.
Então abaixei a calça dela e desatei a minha sem, no entanto, deixar
de beijá-la. Percebendo a minha intenção, ela tentou me empurrar,
contudo, mais uma vez, a dominei. Soltei seus lábios e ela tentou
argumentar:
— Padre Magnus, o que está fazendo?
— Vou te foder até você esquecer qualquer um, até entender que é
minha, minha. Abre as pernas.
— Padre... alguém pode entrar e nos ver.
—Faça o que mandei, Eve.
Ela então obedeceu e sem mais a penetrei e comecei a estocá-la.
Enquanto a socava com meu pau, repetia que ela era minha, minha e
minha. Não demorei muito para gozar, então tudo acabou. Me afastei da
Eve, atei a calça e passei as mãos entre os cabelos. Nunca perdi o controle
dessa maneira, nenhuma mulher foi capaz de despertar esse sentimento
de posse tão forte assim. Voltei-me para Eve, que já tinha se arrumado.
— Você está bem?
— Sim.
Aproximei-me dela e segurei em seu rosto.
— Deixei claro a quem pertence?
— Sim.
— Insistirá com amizades?
— Não.
— Boa menina!
Abri a porta e chequei para ter certeza de que não teria ninguém nos
arredores. Saímos do local. Eve seguiu na direção da saída e eu para a
minha sala. Assim que me sentei, ouvi duas batidas à porta, ordenei que
entrasse. O padre Gregório, o reitor da faculdade, cruzou o batente.
— Posso lhe falar um instante, padre Magnus?
— Claro, sente-se, por favor!
O senhor fechou a porta e sentou-se na cadeira à minha frente, logo
entrou no assunto:
— Padre Magnus, sabe quem acabou de sair de minha sala?
— Não faço ideia.
— O pai de Eve Bennet.
— Hum... — Encostei as costas na minha cadeira e arqueei uma das
sobrancelhas.
— Padre Magnus, não me envolvo nos seus “negócios” com suas
“assistentes”, você sabe disso. Contudo, nenhum dos seus “casos”
atrapalhou em nada aqui na faculdade. Mas, dessa vez, você está
mexendo com peixe grande e o aconselho a não se envolver com essa
menina.
— O que exatamente o pai dela lhe disse?
— Que a filha está se comportando estranho desde que entrou para a
universidade. Pediu para que eu a vigiasse ou descobrisse qualquer coisa
que esteja acontecendo.
— E o que você disse?
— O tranquilizei, disse que resolveria isso.
— De que maneira?
— Padre Magnus, se afaste dessa menina. Caso contrário, tomarei as
medidas cabíveis.
— Que são?
— Pedirei seu afastamento da faculdade e transferência de diocese.
Veja bem, padre Magnus, não podemos envolver o nome dessa
universidade em um escândalo como esse, então acate minha sugestão,
deixa essa moça em paz. Posso contar com sua colaboração?
— Sim.
— Muito bem. Assim não teremos mais problemas.
— É claro que não.
O reitor levantou-se e saiu da sala. O acompanhei com o olhar frio.
Estreitei as pálpebras, entrelacei os dedos e coloquei dois sobre a minha
boca, pensativo.
Dois dias depois...
Era a primeira vez que cheguei atrasada na faculdade, essa manhã
papai e mamãe me seguraram à mesa do café para me interrogarem
sobre a minha postura ultimamente. Como sempre, eu me esquivei. O
que dizer para eles? Mamãe questionou-me sobre as minhas roupas e
minha aparência em geral. Não que meus pais não respeitassem meus
gostos, minha mãe sempre foi muito vaidosa e me ensinou a vestir-me
bem e andar bem arrumada. No entanto, ela nunca me obrigou a nada.
Contudo, agora não era só meus gostos pessoais que mudaram, mas meu
comportamento.
Papai, como o homem íntegro que sempre foi, se mostrou muito
preocupado, inclusive ele foi falar com o reitor. Fiquei um pouco
preocupada, mas sabia que ele não desconfiava de nada sobre meu
relacionamento com o padre, se ele sequer desconfiasse, tinha certeza de
que faria algo drástico e até prejudicar o padre Magnus. Mas eu queria
isso? Não, meu coração até doía em pensar que ele pudesse sofrer algum
tipo de represália. Sabia que eu era boba por isso, mas não o queria
prejudicado. Meus sentimentos por esse homem eram muito confusos, eu
não sabia descrever o que realmente sentia por ele, acho que não tinha
palavras até porque nem eu mesmo sabia, contudo a única coisa que
tinha certeza era de que, enquanto ele me quisesse, queria ficar com ele.
Eu sempre fui muito comunicativa e cativante, cercada de amigos.
Embora meus pais fossem muito protetores, nunca me impediram de ter
amizades. Mas realmente estava me isolando de tudo e de todos. Não
queria ir a lugar nenhum, vivia mais no meu quarto e sendo controlada
por ele.
Padre Magnus sabia exatamente todos os meus passos, se algum
colega de classe me ligava, assim que a chamada se encerrava, ele
enviava mensagens com suas ameaças veladas. Eu estava ficando com
medo até de pegar no celular. Não sei se isso era paranoia minha, ele me
deixava confusa, dizia que tudo era minha culpa. Não tinha com quem
dividir minhas angústias, não tinha mais Antonella, há dias que não nos
falávamos, ela me evitava e eu não tinha coragem de lhe pedir desculpas.
Talvez ela estivesse esperando que eu a procurasse, mas me faltava
coragem. Se pelo menos ainda tivesse a amizade dela, poderia desabafar,
não que eu contaria sobre o meu envolvimento com o padre Magnus,
jamais falarei sobre isso com ninguém. Eu vivia esse relacionamento
proibido e não queria que ninguém descobrisse, morria de medo de que
isso acontecesse. No entanto, pelo menos Antonella com seu jeito alegre
e espontâneo poderia ao menos me dar alguns conselhos e me contagiar
com sua alegria. Sentia tanto a falta dela.
Já Felipe, às vezes ainda falava comigo, mas eu fugia dele como o
diabo foge da cruz, aliás qualquer que fosse o rapaz eu me esquivava.
— Chegamos, Srta. Bennet — James comunicou.
— Obrigada. Tenha um bom-dia, James.
— A senhorita também, se cuida.
Desci do carro e praticamente corri para dentro. A primeira aula já
havia começado há 15 minutos. Afobada, cheguei à porta da sala, alisei as
minhas roupas com as mãos, arrumei o cabelo e bati à porta.
— Entra.
— Desculpa, Sra. Miller, pelo atraso.
— Não tem problema, sente-se.
De cabeça baixa, sentei-me em minha cadeira de costume. Olhei para
os lados e encontrei os olhos de Antonella cravados em mim. Nós nos
olhamos por alguns segundos, percebi que ela me olhava com os olhos
reprovadores. A aula continuou e eu tentei o máximo prestar atenção,
mas sempre me pegava pensando nos meus problemas.
Em um determinado momento, a Sra. Miller fez um comunicado
importante:
— Caros alunos, o baile anual oferecido pela faculdade acontecerá
daqui a duas semanas. É um baile para alunos, professores e
funcionários, e é uma ótima oportunidade de conhecermos todo o nosso
corpo acadêmico...
A professora continuou falando enquanto entregava panfletos sobre
o baile. Peguei o meu e olhei desanimada, talvez nem viesse mesmo.
Coloquei o papel dentro do caderno.
No final da aula, ainda fiquei algum tempo na sala para conseguir
organizar minhas coisas e concluir a matéria. Senti a presença de alguém
sentado na cadeira do meu lado.
— Você está horrível.
Voltei meus olhos para o meu interlocutor, era Antonella. Sorri de
leve, já esperava essa crítica vindo dela, mas não fiquei triste, pelo
contrário.
— O que está acontecendo com você, Eve?
— Peço desculpas por não ter ido a sua festa...
— Para! Fiquei magoada sim por você não ter ido, mas muito mais
por não ter me avisado. Porém, já esqueci isso.
— Obrigada.
— Tenho te observado esses dias, Eve, você não é mais aquela
menina alegre que conheci, não fala mais com as pessoas, nem ao menos
ao clube e à igreja tem ido.
— Ah! É que é muito estudo...
— Não vem com essa! Eu também estudo e nem por isso pareço um
zumbi.
Não disse nada, o que dizer?
— Vem aqui, sua boba, me dê um abraço.
Nos abraçamos por alguns minutos, Antonella me acalentou. Suportei
as lágrimas o máximo que pude, consegui não derramá-las, e me
entreguei ao abraço.
— Olha, vamos para esse baile, acho que será uma ótima
oportunidade pra você se enturmar de novo — Antonella falou
mostrando o panfleto.
— Ah! Não sei se vou não...
— Vamos sim, vai estar toda a galera!
— Vou pensar...
— Parece até que você precisa pedir autorização de alguém.
“É mais ou menos isso”, pensei.
— Não é nada disso, mas...
— Seus pais não te proibiriam de ir a esse baile, tenho certeza.
— Não são meus pais...
— Então quem é?
— Ninguém. — Meu coração disparou.
— Vai me dizer que está namorando com um carinha ciumento e não
me falou nada.
— Claro que não! — Fiquei pálida.
— Pela sua expressão tem sim, fala logo.
— Não tem ninguém, Antonella, para de neura. Para tirar essas ideias
da sua cabeça, vou sim a esse baile, pronto!
— Assim que se fala, bate aqui.
Ela estendeu a mão e eu bati em companheirismo, mas por dentro só
pensava o que o padre Magnus ia achar sobre isso.
O resto da manhã passou tranquilo, fiquei até um pouco mais
relaxada com as piadas e brincadeiras da Antonella, mas a nossa amizade
já não era mais a mesma, eu queria muito compartilhar tudo com ela,
mas não podia, estava sozinha nessa situação.
A última aula do dia era com o padre Magnus, meu estômago já estava
dando nó de nervoso e ansiedade. Estava na sala de estudos com a
Antonella, esperando a hora, quando meu celular vibrou e o peguei
apreensiva. Li a mensagem, era dele.

Padre Magnus: “Vem para a


sala antes de todos.”

Comecei a recolher os materiais rápido.


— Vai aonde? O sinal não tocou ainda.
— Eu vou mais cedo, o professor Crawford precisa de mim.
— Então vou com você, nada mau ficar olhando para aquele pedaço
de padre delicioso.
— Não! — neguei enfática.
— Por quê? Não vou atrapalhar, só quero apreciar o professor
gostosão mais tempo, a gente não pode ter, mas pode admirar — ela
falou animada, também juntando os materiais.
— Eu disse que não! — falei agressiva.
Antonella parou de guardar as coisas e me olhou com as sobrancelhas
franzidas. Eu continuei recolhendo tudo nervosa. Já com a mochila
pronta, joguei nas costas e me virei para ir embora. Senti alguém me
segurando no braço, era Antonella, parei e a encarei.
— Qual é a sua com o professor Crawford?
— Na... nada, eu sou só assistente dele.
— Parece mais ser a dona dele.
— Para de imaginar coisas, eu só não gosto de o deixar esperando.
Meu celular vibrou de novo na minha mão, então puxei o braço e
disse:
— Preciso ir, a gente se vê mais tarde na aula.
Caminhei rapidamente deixando uma Antonella intrigada. Olhei para
a tela do celular e era uma mensagem dele, já com ameaça. Andei mais
apressada até chegar à porta da sala. Bati, mas não obtive resposta. Então
optei por entrar. Ele estava lá, encostado à mesa com os braços cruzados.
Os olhos azuis me examinaram com um grau de intensidade perturbador.
O semblante de poucos amigos, maxilar travado e a boca em uma linha
fina. Engoli em seco e entrei lentamente me sentindo um pouco
entorpecida.
— Tranca a porta! — ele ordenou.
O frio correu pelo meu corpo e meus joelhos balançaram. Girei a
chave, o som do click parecia estar dentro da minha cabeça tamanho era
o meu estado de nervos. Olhei para ele, a química entre a gente era tão
intensa e inexplicável que enrubescia. O bom senso me dizia para eu me
afastar desse homem, mas meu corpo e mente queriam se perder cada
vez mais em seus braços poderosos. Algo brilhava nas profundezas dos
seus olhos, sinistro e perigoso.
— Dez minutos para chegar até aqui. O que estava fazendo?
— Eu só estava organizando meus materiais.
Desconcertada com a cobrança injusta, baixei as pálpebras.
— Aproxime-se.
O comando autoritário encontrou o silêncio, mas não a
desobediência, mesmo apreensiva cheguei próximo dele. Abruptamente
ele segurou meu queixo e levantou meu rosto.
— Quando eu a chamar, quero que venha imediatamente. Perdemos
tempo precioso.
— Desculpa... — Minha voz saiu trêmula e baixa.
Os olhos dele agora estavam cobrindo meus lábios e isso foi o
bastante para acender as chamas abaixo de minha pélvis.
— Diabos! Você é uma tentação.
O beijo foi devastador, ele me tomou como se fosse um homem
sedento no deserto. O sabor quente e almiscarado dele fez minhas veias
incendiarem. As mãos seguraram minha cintura e puxou-me com força,
meu corpo sinuoso e flexível se alojou entre suas pernas totalmente
arrepiada. Presa em um turbilhão de voracidade sexual, percebi os sinais
evidentes de sua ereção.
Ele agarrou-me as coxas e me suspendeu, virou para a mesa e me fez
sentar. Senti os dedos ávidos dele descendo minha calça. Meu coração
batia muito rápido. Ai, meu Deus, ele vai me possuir em cima da mesa na
sala de aula.
— Padre Magnus, não acho que devemos...
— Eu quero você agora, que se foda. Abre bem as pernas.
Eu estava muito excitada, mesmo com medo de alguém chegar e
tentar entrar na sala, eu abri as pernas o máximo que pude e o ajudei a
abrir sua calça. Ele desceu a minha calça e a dele até no joelho e me
penetrou com uma investida habilidosa. A posse me causou um gemido e,
rápido, ele começou a mover-se como um lobo sábio. Abraçada naquele
corpo musculoso, cravei as unhas em suas costas por cima do blazer dele.
Os gemidos excitados, o desejo selvagem, os beijos febris o fizeram
mergulhar em um clímax intenso. A própria excitação ampliada por uma
reação de entrega de ambos, o fez investir mais e mais com grande
loucura antes de nos entregarmos ao prazer agonizante. Padre Magnus
se contorcia e expelia seu líquido quente todo dentro de mim.
— Minha puta gostosa — ele sussurrou no meu ouvido enquanto
apertou a carne da minha bunda e beijou meu pescoço. Era tão bom, me
sentia tão dele.
Naquele momento o sinal tocou, nos separamos abruptamente. O
padre Magnus ajeitou as roupas assim como eu.
— Limpa isso — ele ordenou apontando para a mesa, havia líquidos
provenientes do sexo que acabamos de fazer em cima da mesa.
Muito constrangida e chocada por termos transado na sala de aula,
peguei o lenço desinfetante para superfícies e limpei rapidamente a mesa
e arrumei os papéis. Antes de ir até a porta para abri-la, o padre Magnus
me segurou na nuca e me beijou de novo. Logo me soltou.
— Se alguém nos pegasse aqui, a culpa seria sua, Eve, somente sua.
— Mas... — Não consegui concluir.
— Sente-se em sua mesa.
O fiz, apertei as pernas e esperei os alunos começarem a chegar,
padre Magnus, muito seguro de si, já começou a aula, enquanto eu me
sentia culpada pelo que tinha acontecido e com a boceta ainda ardendo e
palpitando pela sua posse. Antonella sentou próximo a mim, mas não tive
coragem de olhar para ela.
Essa aula não havia sido nem um pouco produtiva para mim, a todo
momento o padre Magnus lançava olhares para mim, sorria cínico e
sempre me jogava indiretas enquanto explicava a matéria. Em uma certa
altura, quase já no final da aula, alguém bateu à porta. Padre Magnus
parou a explicação e ordenou que entrasse. Era a secretária que
trabalhava na secretaria da faculdade. Seu rosto estava transtornado, ela
parecia muito abalada.
— Professor Crawford, peço desculpas por interromper sua aula, mas
o que vim avisar é que todas as aulas estão suspensas. Infelizmente, o
nosso reitor, o padre Gregório, foi encontrado morto na sala de orações.
Imediatamente burburinhos de descrença ecoaram na sala. Olhei
para o padre Magnus com os olhos arregalados. Ele aparentava calma,
mas estava surpreso. A mulher continuou:
— O corpo dele foi encontrado pendurado em uma das vigas de
madeira no teto com um terço enrolado no pescoço, ele morreu
enforcado. Havia uma carta... Tudo indica que foi suicídio.
O choque foi geral. Coloquei a mão sobre a boca, horrorizada. Meu
Deus!
— Todos arrumem suas coisas, as aulas ficarão suspensas por uma
semana para as investigações policial. Obrigada, professor Crawford.
A secretária se retirou e todos os alunos saíram da sala. Antonella e
eu aguardamos nosso motorista chegar. Enquanto isso olhávamos toda a
movimentação da polícia isolando a área, já havia até pessoas da TV e
ambulâncias.
— Que estranho isso, um padre se matar assim, o que o fez fazer isso?
— Não sei, mas deve ter sido algo muito aterrorizante para ele
decidir por esse caminho.
— Sim.
Nesse momento, os paramédicos saíram com a maca e em cima o
corpo do padre Gregório envolto de um saco preto. Estremeci dos pés à
cabeça com essa situação, nunca imaginei uma coisa como essa e o
choque de ver toda essa cena na minha frente foi devastador.
Só se passaram três dias da suspensão das aulas, a cada tarde saía
uma nova notícia nos jornais que intrigavam meus pais, apesar disso
minha cabeça estava longe demais. Meu medo e a vergonha queimaram
minhas bochechas. Mas não conseguia negar o que estava sentindo.
Mesmo sem contato pele a pele, o padre Magnus me levava ao êxtase
todas as madrugadas. Eram ligações a altas horas, sua voz possuidora
dominava meu corpo como um vampiro e direcionavam meus dedos
para a calcinha. Não deixava de dizer a profanação que estava me
tornando para a sua conduta, o que faria comigo, as punições, a cópula
maliciosa e cheia de blasfêmia dos seus desejos para comigo. Enquanto
sua mão tocava sua ereção flamejante e os meus dedos meu clitóris
sensível e ambos explodíamos de tanto prazer.
Fechei a tela do notebook, ainda sentada com as costas apoiadas nos
travesseiros confortáveis da minha cama. Olhei para Meg caminhando na
varanda do meu quarto sendo ofuscada pelo sol descendo pelas nuvens
do fim da tarde e sendo abraçada pelo sopro leve do vento que logo
traria o opala da noite. Suspirei fundo e me levantei da cama, só queria
tomar banho e me tranquilizar depois de uma tarde única de estudos,
mesmo que na profundeza dos meus pensamentos existisse um que não
saía desde os primeiros dias.
Segui para o banheiro, logo fiquei despida e deixei a água e o sabão de
ameixas e frutas vermelhas lavarem a minha pele e meus cabelos. Os
vergões estavam desaparecendo gradualmente a cada dia que passava,
os mais fracos sumiram e somente os mais profundos inflamaram a
minha pele só de olhá-los.
Quando terminei me sequei e de roupão fui até o closet onde Meg já
me esperava deixando-me exultante com a bela companheira que tinha.
Vesti uma blusa de seda fina, cor de vinho e mangas compridas e uma
calça cinza leve para casa que esconderia quaisquer sinais.
Olhando minhas roupas nos cabides, procurei o que tinha escondido
em um fundo falso atrás de uma das gavetas. No cantinho que só eu
sabia, que usava para esconder as guloseimas quando era criança, peguei
o frasco de anticoncepcional e olhei para o rótulo engolindo em seco.
Tomava frequentemente e sabia que iria precisar de outro em breve, mas
ainda tinha o suficiente. Meu celular tocou assustando-me e quase
fazendo o recipiente cair. Escondi novamente e fui atrás do meu celular,
que estava em cima da minha cama.
Atendi e escutei a voz animada de Antonella que fez meu coração
disparar assustado.
— Oi! O que está fazendo agora?! Estou cheia de novidades!
— Ah, eu estava... Estava tomando banho, acabei de me arrumar.
— Sei, sei! Vai sair? — ela disse em tom sarcástico e de desconfiança.
— Não vou. Você disse que tem novidades?
— Sim, quais delas quer saber primeiro: as boas ou as ruins? — ela
perguntou mastigando algum salgadinho crocante.
— Antonella! Comece pela que achar melhor, sou toda ouvidos.
Sentei-me na cama e chamei Meg com batidinhas no edredom. Ela
subiu em um pulo e logo se deitou como uma concha no meu colo,
acariciei seu pelo e tentei me levar pela gana dos únicos momentos que
me faziam desviar da zona de perigo.
— Minha ‘Best friend’ iria pedir as coisas ruins primeiro, para saber se
as boas iriam superar de verdade e valer a pena. Mas, como ando
conversando com um mutante aspirante a zumbi, tudo bem! Começo pelas
boas.
— Estou esperando — digo com um sorriso jubiloso levemente
crescendo.
— Ranzinza! Bom, a notícia boa é que o baile não foi cancelado, pelo
contrário vai ser ótimo ter uma festa depois de tudo que aconteceu para
apaziguar todos e tranquilizar a família dos estudantes e eu também fui
chamada para alguns preparativos! Podemos sair depois para escolher as
vestes e chegarmos juntas no dia, o que acha?
Meu coração apertou; não queria magoá-la outra vez, muito menos
agora, não sabia o que Magnus iria pensar. Além do mais, seria na
universidade e para todos, obviamente ele estaria lá.
— Claro, vamos sim. Vai ser legal. Agora a coisa tão ruim assim que
tem a me contar?
Depois de alguns segundos e ruídos de refrigerante e salgadinho, ela
apresentou:
— Terrível! O que o reitor Gregório fez com a vida dele, daquela
maneira? Acabou de sair no site da delegacia local, as imagens do suicídio
e a carta revelando os “motivos” por trás é realmente degradante, fico
tão triste, ele demonstrava ser uma pessoa tão boa e caridosa, não é à toa
que virou o reitor da universidade. Não esperávamos isso de uma pessoa
como ele, dele! Nada justificará, mas são os fatos. A letra dele foi
reconhecida e as digitais são somente dele, é impressionante.
— Imagino como seja, não o conheci tão bem, mas nunca iria
presumir algo deste nível com ele. De todo modo, o que estava na carta?
— Estou te mandando o link do site da delegacia, você vai ver as fotos
em primeira mão e as palavras escritas por ele mesmo.
O celular vibrou, tirei-o do rosto e deixei no viva-voz clicando no link
que Antonella me enviou. Uma página se abriu e rolei meu dedo
indicador na tela escutando a voz de Antonella em plano de fundo, de
início apareceu uma foto comum do reitor. Olhei para o semblante do
homem de idade, um sorriso simples que transmitia benignidade e
santidade ao mesmo tempo, os óculos na ponta do nariz parecia, até
então, um acessório de um homem de virtude e honestidade.
Li com os olhos logo abaixo as palavras dele, uma das palavras finais
descritas pelo reitor Gregório:

“Eu sabia que pagaria pelos meus pecados nessa Terra cedo ou tarde,
uma questão que tirou meu sono todos os dias sagrados. Antes que
apedrejem meu nome, por obséquio peço perdão, não só a todos os súditos
da diocese, quanto ao bom Deus. Falhei, pequei e nunca iria parar de
cometer o erro desde que tomei a decisão letal predominado pela minha
culpa, pela desgraça e ruína que as minhas heresias estavam me levando,
me consumindo, transformando-me em algo pior que Judas. Estou fadigado
com a investigação, logo a justiça descobrirá sobre a verba recheada que
roubo constantemente da igreja durante semanas, meses e anos só para o
meu deleite. Estão prestes a me pegar e de qualquer maneira serei morto,
torturado e humilhado por todos quando fosse trazido a público. Dessa
forma me arrepender e parar com isso seria melhor de todas as formas,
calar a minha própria voz sendo asfixiado por minhas mãos da forma cruel
que mereço por meus atos, será a melhor coisa que farei, sem dúvida
nenhuma.”

Fiquei anestesiada por um tempo, e vi mais algumas informações


sobre a polícia, que confirmava o crime que o reitor da faculdade
cometeu. Lembrei-me daquele dia quando apertei sua mão, jamais
desconfiaria. Rolei meus dedos pela tela e rangi os dentes ao ver as
quatro fotos em sequência de ângulos diferentes.
— Você está bem? — A voz de Antonella me chamou.
— Acho que sim, mas agora vou ter um pesadelo — respondi como
um ratinho.
Vi o reitor preso em uma viga no teto, suas roupas estavam sujas e
seus pulsos e costas estavam cobertos pelo sangue escuro, que escorria e
gotejava pelos pés fazendo uma poça de sangue no chão. Sua boca estava
torcida mostrando sinais de dor e agonia. As provas levavam a crer que
ele mesmo se flagelou, como outros religiosos mais antigos faziam
quando cometiam um pecado. Nada me fez desgrudar os olhos do rosário
que rodava seu pescoço com firmeza e crueldade. Suas mãos abertas e as
pupilas frias, a imagem aterrorizante me trouxe arrepios na espinha.
Saí do site e voltei à ligação normal com Antonella:
— É, era pior do que pensei.
— Sim, inacreditável, mas é o que aconteceu...
Jemima me chamou pelo nome batendo à porta, dizendo que mamãe
queria conversar e me ver, porque não fazia isso há dias.
— Meus pais estão me chamando — avisei a Antonella, levantando-
me e fazendo Meg espreguiçar-se.
Me despedi dela normalmente e mordi meu lábio arrumando os
cabelos. Mamãe e papai estavam preocupados demais, então sempre
ficava um pouco com eles durante o jantar ao menos, o que não havia
feito esses dias por estar bastante exausta.
Jemima me acompanhou até o quarto de mamãe, durante o pequeno
percurso ela tentou me alegrar dizendo que Cecília e ela prepararam
minha sobremesa favorita. Confesso que isso trouxe paixão no meu peito.
Paramos à porta do quarto dos meus pais.
— Eve está entregue, Sra. Bennet.
— Obrigada, Jemima.
Jemima se retirou e eu entrei no quarto zeloso dos meus pais. Olhei
para o carpete bem polido, os quadros na parede do casamento belo e
distinto deles. Havia quadros deles por toda casa e um meu com eles na
mesa da cabeceira, perto de uma Bíblia e uma epístola deles.
Mamãe sempre teve bom gosto, até mesmo para as cortinas, mas
papai nunca se importou tanto, ainda assim nem isso era capaz de abalar
o bom matrimônio dos dois.
— Está muito observadora, filha, sabe que pode contar comigo para o
que quiser.
Mamãe tirou seus brincos de pérola na frente do espelho, não sabia o
que responder ou dizer apenas fiquei calada.
— Falta pouco menos de um mês, para o aniversário do nosso
casamento! Você fica mais animada que todos porque sempre sabe o que
seu pai vai me dar e sabe que os meus presentes não superam os dele.
— Isso é verdade — ri e não me senti tão boba por isso, pelo
contrário senti falta desse clima confortável, mas meu peito doía só de
pensar nos meus pecados, que eu enganava ambos.
— Entretanto, esse ano vai ser diferente! Eu tenho que presentear
Richard com algo especial, por todos esses anos! Quero surpreendê-lo de
verdade. Você pode me ajudar, querida, falta tão pouco e quero
impressioná-lo como ele tem feito comigo todo esse tempo.
Me aproximei de mamãe e logo ela me puxou para um abraço
aconchegante e acolhedor, meu coração vibrou no peito e meus olhos
tremeram. Pisquei os olhos profundamente inalando o cheiro doce de
seu perfume. Ela me encheu de beijos e disse o quanto me amava.
Quando separou o abraço apertado sorri secando a lágrima que quase
caiu.
— Cadê o papai, mãe? Quero perguntar a ele sobre o presente que ele
vai lhe dar.
Ela sorriu e respondeu tranquilamente:
— Ele está tão preocupado quanto eu, e ainda mais agora com o que
aconteceu com o reitor. Foi conversar com o padre Magnus, até agora ele
não chegou! Já estou quase ligando perguntando se teve algum problema
com o trânsito.
Meu coração quase parou de bater e foi direto para a minha garganta.
Suei frio.
— Pa... padre Magnus? — perguntei entre ofegos.
— Sim, ele mesmo, querida.
— E sobre o que ele foi falar com o padre Magnus?
— Sobre os últimos acontecimentos e sobre você...
— Sobre mim? — Coloquei a mão no peito, meus olhos esbugalharam.
Minha mãe suspirou fundo e sentou-se do meu lado. Ajeitou meus
cabelos e sorriu.
— Filha, sei que eu e seu pai somos demais zelosos com você e nos
preocupamos. O seu comportamento nos últimos dias tem nos afligido.
— Mãe, eu... eu só estou assim por causa dos estudos... Então prefiro
não sair, é só isso, nada demais.
— Sabemos e respeitamos a sua individualidade, mas seu pai... Você
sabe como ele é, encucou que tem algo que você não quer nos contar.
— Não está acontecendo nada, e além do mais o que o padre Magnus
tem com isso?
— Seu pai não me disse o que exatamente iria conversar com o padre
em relação a você, só disse que tem algumas desconfianças e que talvez
ele poderia ajudar.
— Desconfianças?
— Filha, eu gostaria que você se abrisse conosco.
— Mas eu não tenho nada para esconder...
Deus! As coisas só pioravam, me senti uma criatura horrível. Não
conseguia mais ficar ali mentindo para a minha mãe.
— Mãe, eu vou para o meu quarto, não quero jantar.
—Mas Cecília fez sua sobremesa preferida, e seu pai daqui a pouco
está chegando.
— Não estou com fome, por favor, não insista.
— Mas...
— Te amo, mãe.
Saí do quarto dela e praticamente corri para o meu. Deitei-me na
cama de barriga para cima. Minha cabeça não parava de pensar sobre o
que papai foi conversar com padre Magnus. O quê, Deus?!
Tempos depois, ouvi a batida à minha porta e Jemima entrou.
Levantei-me e sentei-me na cama.
— Vamos, menina Eve, seus pais estão te chamado para jantar.
— Não vou, Jemima!
— Infelizmente terá que ir, seu pai exige sua presença, pois temos um
convidado.
— Quem é?
— O padre Magnus.
Meu coração baqueou.
Horas antes...
Batia os dedos sobre a mesa, o homem à minha frente parecia
nervoso. O pai de Eve estava sentado em uma das cadeiras da sacristia.
Eu o estava esperando falar alguma coisa, afinal foi ele que marcou essa
reunião. Eu o observei através de minhas pálpebras semicerradas, A
expressão preocupada em seu rosto era tão falsa quanto minha
benevolência.
— Bom, padre Magnus, pedi para falar com o senhor, porque descobri
algo que está me deixando sem dormir.
— Prossiga.
— Eu não quero acreditar que isso seja verdade, o recebi em minha
casa, junto da minha família, minha filha...
Levantei uma das sobrancelhas com cinismo, cravei meus olhos
naquele velho aparentemente distinto, preocupado com a filha. Vamos
ver o que ele tem para me falar. O homem prosseguiu:
— A babá de Eve, aliás, ela não é mais a babá, porém ainda cuida dela
como a segunda mãe e Eve tem muito apego com ela.
O homem fez uma pequena pausa e franziu as sobrancelhas
pensativo. Continuou:
— Ela me alertou, não disse exatamente suas suspeitas, mas me fez
abrir os olhos. Por isso, quando Eve estava no banho, entrei em seu
quarto. Sei que não deveria fazer isso, mas era a honra da minha filha que
estava em jogo.
Ele suspirou fundo. Eu apenas o observava, esperando até onde ele
queria chegar. Claro que já sabia, não era nenhum idiota, mas o que o
otário não sabia era que já tinha tudo planejado para ele.
— Bom, eu peguei o celular da Eve, não há senha, nunca a deixamos
travar o aparelho. Li algumas mensagens e acho que não preciso lhe
dizer que tipo de conteúdo encontrei lá.
— Me pergunto, Sr. Bennet, por acaso o seu celular tem senha?
— O que isso tem a ver com a nossa conversa? Sim, o meu celular tem
senha, mas o da nossa filha não, pais responsáveis sempre têm que estar
atentos sobre o que os filhos fazem na internet e com quem trocam
mensagens, e, Graças a Deus por isso, assim pude descobrir com que tipo
de gente ela está se metendo.
— E de que tipo a princesinha do papai está se envolvendo?
— Como ousa? O senhor, um professor e ainda um padre seduzir uma
menina. Isso é repugnante, nem ao menos tem a decência de desmentir.
— Porque desmentirei algo que é verdade, de fato, eu estou fodendo
a sua filha, já a levei para a cama tantas vezes que perdi as contas.
O homem bateu os punhos na mesa com tamanha violência que
pensei que iria quebrá-la. Ele levantou-se. Seu rosto era uma máscara
vermelha de fúria. Me mantive no lugar esperando o teatrinho acabar.
Ele levantou o dedo em riste apontando no meu rosto.
— Seu desgraçado, eu vou te denunciar para as autoridades clerical,
isso não ficará assim. Quero vê-lo na sarjeta imunda, todos saberão o tipo
de padre você é, quero vê-lo expulso do clero, farei de tudo para que não
encubram sua índole, sua imagem estará estampada em todas as páginas
de jornal desse país, não medirei esforços, usarei meu dinheiro e
influência para que isso aconteça.
Gargalhei cruel, era real e tão engraçado que pensei em rolar no chão
de tanto rir. O homem por um instante pareceu desconcertado com a
minha reação, mas logo se fez de ofendido.
— Ainda acha engraçado? Não estou de brincadeira, padre Magnus,
hoje mesmo apresentarei minhas queixas para os seus superiores.
Entrarei em contato com o bispo.
Parei de rir e olhei com os olhos de aço, frios e implacáveis. Minhas
feições estavam duras e impassíveis, sem um pingo de misericórdia e
compreensão proferi:
— Faça isso, Sr. Bennet, e se prepare para enfrentar a cadeia.
— Sobre o que está falando? — Ele franziu as sobrancelhas confuso.
— Vejamos o que temos aqui. Descobri coisas muito interessantes a
seu respeito.
Abri meu laptop, fui direto para as fotos dele com a amante. Virei o
computador sobre a mesa em direção dele.
— Quem diria, um homem tão íntegro tem uma amante.
O homem ficou pálido na hora e desabou na cadeira. Por alguns
segundos, ele não sabia o que falar, sua boca estava aberta em total
desnorteamento, porém logo percebi que ele já estava preparando uma
desculpa.
— Isso não prova nada, Sr. Crawford, além do mais tenho certeza de
que minha esposa me perdoará pelo pequeno deslize.
— Sim, ela perdoará um pequeno deslize de cinco anos com sua
amante, afinal de contas ela é uma mulher cristã.
Ele engoliu em seco, ajeitou a gravata nervoso e se moveu na cadeira
incomodado. Eu continuei expondo seus podres:
— Além de uma amante fixa, ainda trai a esposa e a amante com
funcionárias da sua empresa. Que coisa feia, Sr. Bennet.
— Isso não é tão pior do que fez com a minha filha, Sr. Crawford, é tão
sujo como eu.
— Que bom que se reconhece um sujo, mas ainda não acabou, Sr.
Bennet. Quem diria, também é um pedófilo.
— Isso é uma calúnia, eu vou processá-lo por insinuar tal coisa.
— Acho que não, tenho um material seu muito interessante aqui.
Imagine essas fotos pararem nas mãos da polícia?
Girei o laptop para mim e abri as fotos das crianças sendo abusadas.
— Ora, ora! O que temos aqui! — Girei de volta para ele e o homem
desmoronou de vez, sua expressão era até engraçada.
— Isso... isso não t-tem n-nada a ver comigo — gaguejou.
— Claro que não! Essas fotos apareceram em sua nuvem por obra
Divina, ou melhor do diabo.
— Eu nunca toquei em crianças, é só um fetiche. Além do mais o
senhor não tem moral para nada.
— Um padre, professor, que seja, pode se envolver com uma aluna,
seria até uma história de amor muito bonita... mas pedofilia? Além de
repugnante, é crime Sr. Bennet. A polícia e a imprensa se deliciarão, um
dos empresários mais respeitados com uma família tão linda envolvido
em coisas tão sórdidas.
Ele estava sem saída e sabia disso. Percebi seu semblante, era até
patético ver a expressão dele. Limpando a garganta, Richard olhou para
mim.
— Quanto você quer? Pago o valor que exigir para que não vaze essas
informações.
— Hum... Começamos falar a mesma língua. Mas não é dinheiro o que
quero.
— Não! — Ele não era burro, já sabia o que queria.
— Não! O que quero é livre acesso a sua filha, sem intromissão da sua
parte ou de quem quer que seja.
O homem apertou os olhos e respirou profundamente. Baixou a
cabeça derrotado. Mais um que estava fora do meu caminho. Prossegui:
— Como um bom homem, pai de família, gentilmente fui convidado
para o jantar em sua casa. Sabe! Estou com saudades da Eve, são três dias
sem vê-la. Será um excelente jantar.
— Não o levarei a minha casa.
— Não é uma sugestão, e nem um pedido, é uma ordem. Irei a sua
casa hoje para o jantar.
Olhei para o relógio de pulso e verifiquei as horas.
— Já podemos ir, está quase na hora do jantar, não vamos deixar as
damas esperando.
Levantei-me e ajeitei o blazer, sem saída o homem saiu da sala como
um furacão, eu apenas o segui tranquilamente e fui até sua casa em meu
próprio carro.

A casa estava aconchegante como sempre, a mãe de Eve me recebeu


com um sorriso muito alegre.
— Padre Magnus, que honra o recebê-lo. Richard não nos avisou
nada, veio para jantar conosco? Pedirei para a copeira pôr mais um lugar
à mesa.
— Seu marido gentilmente me convidou. É gratificante estar em meio
a uma família tão bonita e integra como essa, com um pai e marido tão
responsável e correto. E uma filha maravilhosa. É difícil encontrar isso
hoje em dia.
— De fato, padre, Richard é um excelente marido e o pai amoroso,
temos muita sorte por tê-lo.
— Tenho certeza que sim.
Um silêncio constrangedor pairou no ar por alguns segundos antes de
ser cortado pela voz gentil da Sra. Bennet:
— Entre, padre Magnus.
— Onde está a Srta. Bennet? — perguntei.
— Está em seu quarto, ela não anda bem, padre, não sei se Richard te
falou alguma coisa.
Nos acomodamos todos na sala de estar.
— Sim, O Sr. Bennet me contou e eu lhe disse que falaria com ela, a
Srta. Bennet sempre me escuta.
— Ah, que maravilha, padre. Vou mandar chamá-la, ela ficará muito
feliz com sua presença.
— Se ela não está bem é melhor deixá-la — o pai de Eve falou
nitidamente nervoso.
— Mande chamá-la, Sra. Bennet, será bom para ela — falei encarando
o homem com os olhos ameaçadores.
A Sra. Bennet chamou a empregada, que veio prontamente.
— Jemima, vá até o quarto de Eve e peça-a para descer para o jantar.
Diga que o professor dela está aqui.
— Sim. Claro!
— Um minuto — ordenei.
Levantei-me e fui até a empregada, sorri para ela e perguntei:
— Você era a babá da Srta. Bennet, não?
— Sim, eu mesma.
— Jemima cuida de Eve desde bebê, elas são unidas. Inclusive, a gata
de Eve foi presente dela e todos os ancestrais — a mãe de Eve se
pronunciou.
— Que interessante!
— Com licença. — A empregada se afastou rapidamente.
Voltei-me a sentar e a mãe de Eve continuou a conversa sempre
muito educada e prestativa. Richard não falava nada e se manteve
cabisbaixo.
Alguns minutos depois, Eve se reuniu a nós.
Olhei para a minha menina, ela estava linda como sempre, expressão
angelical e seus olhos esmeralda brilhavam quando suas bochechas
coraram em um rosa delicado ao cruzarmos o olhar. Minha libido se
manifestou na mesma hora.
— Boa noite, Sr. Crawford!
— Boa noite, Srta. Bennet!
— Bom, acho que já podemos jantar — a mãe de Eve pronunciou.
Nos dirigimos todos à mesa, Eve tentava evitar olhar para mim, mas
sabia que ela também sentia a minha falta tanto quanto eu sentia a dela.
A atmosfera durante o jantar era pesada, porém somente a mãe de Eve
não percebia e a conversa acabou voltando-se para o que havia
acontecido com o padre Gregório quando ela comentou:
— Como um homem com uma aparência de santidade pode ter
cometido algo tão sórdido, roubar a igreja.
— Muitas pessoas com aparência de bons cidadãos são capazes de
cometer atos que até mesmo deixa em dúvida o Criador — comentei
olhando para o Richard.
— Verdade!
Continuei:
— Ele era um bom homem, pena que se deixou levar pela ganância e
poder desse mundo, agora padecerá no limbo dos suicidas.
— O senhor acredita que um suicida recebe perdão de Deus, padre
Magnus? — a Sra. Bennet perguntou.
— Todos podemos receber, mas um suicida não vai nem para o céu
nem para o inferno, sua alma fica vagando no Vale dos Suicidas até o
Juízo Final. Os suicidas não cumpriram seu tempo aqui na Terra.
— Mas se Deus nos deu livre-arbítrio para fazer as nossas próprias
escolhas, por que não de tirar a própria vida? — a mãe de Eve
questionou.
— Deus deu o livre-arbítrio, mas instruiu sobre o que podemos fazer
ou não. É uma decisão nossa sim, mas pagaremos por ela. Por isso tem
um dizer bíblico: “Tudo pode, mas nem tudo nos convém”.
— Bom, espero que o padre Gregório tenha encontrada sua paz.
— Assim seja!
— A fornicação também é um pecado, não é mesmo, padre Magnus?
— Richard me perguntou.
— É sim, principalmente quando se é praticado com crianças, para
esses não há perdão.
O homem ficou pálido, engoliu sua bebida que segurava toda de uma
vez e limpou a garganta algumas vezes, afrouxando o colarinho da sua
camisa.
— Que absurdo, esse tipo de ser humano não deveria nem existir
nesse mundo — a mãe de Eve falou.
— Também acho, Sra. Bennet, não concorda com sua esposa, Sr.
Bennet? — minha pergunta vibrou no ar.
Eve também parecia bem incomodada, o clima estava tenso. Um dos
empregados entrou na sala de jantar naquele momento trazendo a
sobremesa e cortou a tensão.
— Ah! Sua sobremesa preferida, querida! Crème brûlée.
Comemos em silêncio, que só era cortado com uma pergunta aqui e
ali da Sra. Bennet.
Ao final da refeição, seguimos para a saleta, porém, antes de nos
sentarmos, anunciei:
— Acho que não estenderei para o café, vou direto para o quarto de
Eve conversar com ela como combinamos.
Olhei para Eve e percebi uma onda de embaraço corar seu rosto, ao
notar meu olhar zombeteiro. A peguei de surpresa.
— Ah, sim! Querida, padre Magnus quer conversar com você, o leve
até seu quarto, assim vocês têm privacidade.
— Por que no quarto? Eles podem conversar aqui na saleta mesmo,
nós nos retiraremos, não acho prudente uma moça ficar sozinha em um
quarto com um homem — o pai de Eve tentou interferir.
— Imagine, querido, padre Magnus não é um homem qualquer, Eve
está completamente segura com ele.
— Escuta sua esposa, Sr. Bennet.
— Então vão, ficaremos aqui esperando vocês — a mãe de Eve falou.
Caminhei tranquilamente e, ao passar próximo do pai da Eve,
discretamente coloquei a mão no meu volume entre as pernas. Ele ficou
pálido como um papel entendendo o meu aviso. Vou comer a filhinha dele
embaixo do seu nariz.
No quarto, Eve abriu a porta e entrou seguido de mim, a gata dela
saiu da sua caminha e se arrepiou toda ao me ver.
— Tira essa gata daqui! — ordenei.
Eve pegou o bichano e colocou para fora do cômodo. Fechou a porta e
ficou com as costas encostadas me encarando. Me aproximei dela e fiquei
a centímetros do seu corpo. Levei a mão na chave e a girei.
— Padre Magnus... isso não está certo...
Seu murmúrio de protesto morreu nos lábios quando a beijei louco
de desejo. Minha mão esquerda segurava sua nuca enquanto a outra
tentava desatar a sua calça. Uma incrível sensação de prazer invadiu-me.
Três dias sem tocá-la estava me deixando louco.
Suspendi-a em meus braços fortes e suas pernas enrolaram em
minha cintura. Caminhei com ela até sua cama e a deitei entre a colcha e
almofadas rosas. Separei meus lábios dos dela e sussurrei em seu ouvido:
— Vou foder a princesinha do papai em cima de sua cama com
lençóis rosa.
— Não, padre Magnus, meus pais ou algum empregado pode nos
ouvir.
— Ninguém vai ouvir nada. Basta abrir as pernas e fechar a boquinha.
Voltei a beijá-la voraz, faminto. Empurrando seus cabelos macios,
beijei seu pescoço depois a orelha antes de murmurar:
— Seja uma menina safada.
Ela começou a esfregar seus quadris no meu pau duro enquanto eu
tirava sua blusa e sutiã com habilidade. Suspirei de satisfação ao
observar seus mamilos intumescidos. Coloquei a boca sugando aqueles
botõezinhos até ficarem intumescidos. Ela gemia baixinho e continuava
se esfregando na minha potente masculinidade.
— Você me quer?
— Sim. Oh, Deus! Eu quero.
— Senti sua falta esses dias.
— Eu também.
— Levanta sua bunda — rosnei.
Coloquei ambas as mãos no lado dos seus quadris e ela levantou o
traseiro. Deslizei as mãos nas polpas das nádegas, pressionei o pau em
sua boceta. Movi algumas vezes antes de mergulhar de vez em sua
entrada escorregadia.
Oh, inferno! A boceta dela era tão quente, receptiva e apertada que
me deixava alucinado. Prendi seus pulsos delicados contra o travesseiro
para em seguida entrelaçar os dedos das mãos nos dela. Gememos juntos
ao passo que começava a bombear sua boceta estreita.
Meu domínio sexual sobre ela estava completo, aprofundava e
intensificava as investidas e repetia aquele ciclo até senti-la estremecer.
Meu corpo estava em chamas, meu pau cada vez maior, o sangue irrigava
meu membro latejante que a fodia sem parar. Minha posse sobre ela era
perfeita e só de imaginar que os pais dela estavam lá embaixo enquanto
eu corrompia o corpo da filha deles e, especificamente, o pai dela
sabendo o que eu estava fazendo, me dava mais prazer ainda.
Acelerei o ritmo até alcançar o êxtase, ondas de prazer intenso me
dominavam fazendo meu corpo dar violentos espasmos e estremecer. Ela
atingiu o mesmo ápice e grunhimos juntos até eu me deitar sobre o corpo
dela. Ela me abraçou e eu mergulhei minha cabeça em seu pescoço a
beijando ali, com minha respiração acelerada próxima ao seu ouvido.
Minutos depois, movi-me e a olhei, ela me encarava com os olhos
lindos e inocentes, sem acreditar no que tinha acabado de acontecer.
— Está tentando decifrar a minha alma? — perguntei.
— Estou tentando descobrir se você tem uma.
Meus lábios curvaram-se em escárnio enquanto me levantei, arrumei
as roupas e, em seguida, os cabelos. Eve continuou deitada, sem ao
menos se mover. Quando estava pronto, me sentei na cama e falei
próximo dela:
— Sim, eu tenho alma. Por isso a quero amanhã na igreja no início da
noite, para uma confissão, não se atrase.
Beijei seus lábios trêmulos e segui para a saída. Desci as escadas
calmamente e encontrei seus pais no hall de entrada.
— Preciso ir agora, Eve está ótima, Sra. Bennet, não precisa se
preocupar, só está cansada por causa dos estudos. Marquei um horário
com ela amanhã na igreja, para uma confissão.
— Que bom, padre Magnus, obrigada por conversar com ela.
— Não tem de quê.
— Por favor, o senhor é sempre bem-vindo!
— Obrigado. O jantar estava divino e a sobremesa... deliciosa.
Encarei o pai da Eve malicioso, o homem parecia que explodiria.
— Que bom que gostou, padre Magnus.
— Não podia recusar um jantar com a família Bennet, sempre tão
receptivos. Tem uma bela família, Sr. Bennet, parabéns!
Estendi a mão para o homem, que hesitou alguns momentos antes de
segurá-la. Apertei-a e sorri sarcástico para ele encarando-o em desafio.
Ele nada fez e apenas manteve os ombros caídos e o semblante
derrotado. Soltei e caminhando até a porta comuniquei:
— Os vejo na missa de sétimo dia de padre Gregório. Eu serei o
celebrante.
— Estaremos lá com certeza.
Desci as escadas da entrada e entrei no meu carro. Fiquei alguns
minutos observando a casa com meu olhar enigmático, vi um pequeno
movimento nos arbustos de plantas. Sorri antes de dar a partida.
O sol já estava alto quanto abri os olhos de uma vez de manhã ainda
sob o efeito do sonho. Espreguicei-me e rolei na cama. Bocejei e agarrei-
me ao travesseiro de novo ajeitando a cabeça. O sonho estava tão bom,
quase podia sentir os lábios do padre Magnus roçando nos meus.
Suspirei fundo, não queria me levantar, por mim ficaria na cama o dia
inteiro. Mesmo tendo dormido a noite toda, ainda me sentia sonolenta,
isso tem sido frequente, um sono sem fim.
— Ultimamente está dormindo demais, Eve.
Rapidamente levantei-me sobressaltada e sentei na cama ao
reconhecer a voz.
— Papai?!
— Bom dia! Ou quase boa tarde! — disse olhando para o relógio de
pulso.
Meu pai estava sentado em minha poltrona próximo a cama. Fiquei
um pouco constrangida, papai não tinha o hábito de entrar no meu
quarto sem antes se anunciar e muito menos me vigiar enquanto estava
dormindo, e, pela postura dele, parecia estar ali há um bom tempo. De
qualquer maneira, respondi ao cumprimento:
— Bom dia, papai!
— Teve uma boa noite de sono, após a conversa com o padre
Magnus?
— Sim.
Minha cabeça estava muito confusa. “Papai está agindo de modo
estranho, por que tocar no nome do padre Magnus?”, me perguntei
atordoada. “Será que ele desconfia de alguma coisa?” Afastei a ideia
insensata, dizendo para mim mesma não ser desconfiada, embora se
realmente papai soubesse de algo, com certeza ele iria tomar as
providências.
— O que exatamente vocês conversaram?
— Ah! É... — Me atrapalhei toda e obviamente corei, meu rosto
parecia brasa.
Meu pai suspirou fundo e levantou-se, ele colocou as mãos no bolso
da calça e andou pelo quarto, pensativo. Eu o acompanhei com o olhar,
apreensiva. Ele parou e voltou-se para mim.
— Filha, alguma vez eu e sua mãe te demos motivos para não se abrir
conosco?
— Não, pai, nunca.
— Então por que não nos conta o que realmente está acontecendo?
— Porque não está acontecendo nada, papai. Eu sei que tenho agido
estranho esses dias, mas prometo que mudarei, estou até animada para
ir ao baile da faculdade.
— Que baile é esse?
— Terá um baile, no próximo final de semana, é um baile anual para
alunos e funcionários.
— Padre Magnus estará lá?
— Não sei, acho que sim.
— Hum... — De novo papai ficou contemplativo. Ele voltou a falar: —
Bem, filha, quero que saiba que a protegerei e irei até as últimas
consequências para isso.
Ele aproximou-se e beijou minha testa. Saiu do quarto me deixando
com uma pulga atrás da orelha. Dando de ombros, decidi me levantar,
olhei para a caminha da Meg e não a vi. Já era tão tarde, que ele já deveria
ter saído para as necessidades e brincar no quintal como de costume.
Segui para o banheiro para um banho.
Já pronta, desci as escadas correndo e encontrei mamãe ajeitando as
flores no jarro de entrada da casa.
— Oh! Finalmente acordou. Já está quase na hora do almoço, mas se
quiser comer alguma coisa, uma fruta, peço para providenciar.
— Não precisa, mãe, eu mesma vou na cozinha. Você viu Meg?
— Não, meu amor, pensei que ela estava em seu quarto te
acompanhando.
— Não, acordei e ela não estava na caminha. Deve estar no quintal.
— Sim, pedirei para o James procurar ela enquanto você vai até a
cozinha.
— Eu mesma vou procurá-la. Eu sei os lugares que ela gosta de
brincar.
Fui para a cozinha, assim que entrei no cômodo avistei a Cecília
preparando o almoço, Jemima e a copeira a ajudando.
— Bom dia!
— Bom dia! — todas responderam em coro.
Juntei-me a elas e aspirei o aroma delicioso no ar. Abracei Cecília e
perguntei alegre:
— O que teremos hoje para o almoço, estou morrendo de fome.
— Casserole de frango com ervas, purê de batata e ervilhas.
— Deu água na boca — falei salivando.
— Quer comer alguma coisa para esperar o almoço, não comeu nada
hoje? — Jemima perguntou.
— Apenas uma banana. Vou no quintal procurar a Meg.
— Meg? Não a vi hoje, nem no quintal.
— Tem certeza?
— Sim, ela nem ao menos tocou na comida e água.
A alegria desapareceu do meu rosto, deixando no seu lugar o medo e
a preocupação. Um frio na minha barriga e uma angústia tomaram conta
de mim. Perdi a fome completamente. Deus! Onde está Meg? Fiquei lívida
e cambaleei.
— Você está bem?
— Eu preciso encontrar Meg, ela pode ter caído na piscina.
Deixei a banana de lado e, sem pensar muito, sai pelas portas do
fundo seguida de Jemima e a copeira. Olhei para todos os lados, mas nada
da minha gatinha. Comecei a chamá-la:
— Meg!
Caminhei até a área da piscina com o coração na mão, Meg nunca se
aproximou da piscina, além do mais tinha grades, mas, para ela ter
sumido assim, só poderia ter acontecido alguma coisa.
— Meg — a chamei alto. Olhei em volta da piscina, para a água
cristalina e não havia sinal dela. Àquela altura, todos da casa já estavam
mobilizados à procura de Meg pelo jardim dos fundos, da frente e nada
dela. Eu rezava e pedia muito a Deus para que nada de ruim tivesse
acontecido com ela, mas, no fundo do meu coração, sentia que ela não
estava bem.
— Meg... — Caí em prantos. Minha mãe me abraçou e tentou me
consolar.
— Calma, filha, ela pode ter saído para a rua, vamos fazer panfletos e
distribuir pelo bairro. James está dirigindo nos arredores para procurá-
la. Não perdemos a esperança, meu amor.
— Eu quero minha gatinha, mãe. Por que ela fez isso comigo?
— Vai para o seu quarto, e tente se acalmar.
— Não quero ir pro meu quarto, mãe, preciso saber notícias dela.
— Tudo bem, vamos entrar então, esperamos notícias lá dentro.
Voltei para o interior da casa e sentei-me no sofá da sala. Minha mãe
ligou para papai comunicando o ocorrido. Uma hora depois, James voltou
e não trazia boas notícias.
— Dirigi por todo bairro e nem sinal dela, sinto muito.
Abracei minha mãe e dei vazão as lágrimas. Meg, minha Meg não.
Horas depois já estava mais calma. Não consegui comer muito,
mamãe também não, o clima em casa era pesado. Me sentia entorpecida
pelos acontecimentos e incrédula que ainda não havia nenhum sinal de
Meg. Estava deitada na cama muito triste quando mamãe entrou. Ergui-
me esperançosa.
— Encontraram ela, mãe?
— Não! Mas o padre Magnus acabou de me ligar para lembrar sobre o
compromisso de hoje à tarde, disse-lhe que você iria.
— Não quero ir, deveria não ter confirmado antes de me consultar.
— Eu sei, meu amor, mas será bom para você ir ao encontro, padre
Magnus pode ajudá-la a passar por isso com suas palavras de sabedoria.
Além do mais sair de casa lhe fará bem.
Mamãe continuou com seus argumentos e eu apenas me fechei em
mim de novo como uma concha e nem ao menos a escutava. Só pensava
em minha gatinha. Tempos depois, estava pronta para ir “conversar” com
padre Magnus.
— Vai com Deus, filha. Se soubermos qualquer coisa sobre a Meg, te
ligo imediatamente.
— Não hesite em ligar, mãe.
— Sim, Deus te abençoe.
Entrei no carro com destino à igreja. Ao chegarmos surpreendi-me ao
ver padre Magnus nos esperando no pátio da igreja. Desci do carro e ele
veio ao meu encontro. Meu coração dava cambalhotas, o encarava com os
olhos arregalados.
— Senhorita Bennet, que ótimo ter vindo, soube da sua gatinha e
decidi levá-la a um lugar especial para que possa esquecer um pouco.
Padre Magnus votou-se para o interior do carro e instruiu James:
— Não precisa esperá-la, James, irei levá-la a um convento, onde as
boas irmãs conversarão com a Srta. Bennet. Passaremos toda tarde lá e
eu mesmo a levarei para casa. Avise os pais dela.
— Sim, senhor padre Magnus.
Fiquei estarrecida com os acontecimentos enquanto olhava para o
carro indo embora.
— Vamos! — Foi a ordem seca dele.
— Para onde vamos? —perguntei enquanto o seguia tentando
organizar o raciocínio.
— Surpresa!
Embora estivesse transtornada, não tentei resistir e nem ao menos
lhe fazer mais questionamentos, assim que, com firmeza, ele abriu a
porta do seu carro e me fez entrar. Ajustei o cinto de segurança enquanto
ele assumia o volante e começou a dirigir em silêncio. Assim que nos
distanciamos da igreja, ele tirou o colarinho clerical e o guardou no
porta-luvas. Não disse nada, com certeza não era para o convento que
iríamos.
Após dirigir algumas quadras, entrarmos em um prédio luxuoso, ele
estacionou o carro no subsolo e logo estávamos dentro do elevador.
Percebi que ele apertou o botão do último andar. Ao chegarmos no
destino, o padre Magnus me guiou até uma porta, abriu-a e me fez entrar.
Me deparei com um apartamento luxuoso, as cortinas estavam abertas
deixando passar a luminosidade da rua que clareava o a sala em algumas
partes e fazia sombra em outras.
— De quem é esse apartamento? — perguntei surpresa pelo
esplendor do lugar.
— Isso importa?
— Acho que sim.
— É de um conhecido, padres têm muito amigos ricos que oferecem
esses lugares para que possa relaxar... As pessoas confiam demais em
padres.
Enquanto falava, ele pegou minha mão, senti o aperto dos dedos de
aço e sua determinação férrea. Ele levou-me a uma outra sala, espaçosa e
arejada com janelas amplas pelas quais entrava raios de sol fim da tarde.
Próximo a uma das janelas, havia uma mesa arrumada com pratos e
talheres para dois. A toalha era branca e os cristais reluziam. Sobre uma
bancada havia um balde com espumante branco.
Educadamente, ele afastou a cadeira para mim e convidou-me a
sentar, mesmo entorpecida por tudo, sentei-me e esperei ele abrir o
champanhe e colocar em duas taças de cristais. Em seguida, sentou-se na
cadeira à minha frente e levantou a taça.
— A nós!
Fiz o mesmo, mas não conseguia falar nada. Esse homem me
surpreendia a cada dia, sempre percebia uma faceta de sua
personalidade. Do padre, professor respeitado até o amante ardente.
Agora mais se assemelhava a um ricaço. Seus modos eram sempre de
alguém autossuficiente que não recebia ordens, mas que as ditava.
Observei melhor suas feições à luz do dia. Ele era maravilhoso, o azul dos
olhos estava mais cristalinos e a covinha do seu queixo que sempre
admirei o deixava mais sexy e arrogante ao mesmo tempo. Ele sorriu de
leve para mim e bebericou o espumante, eu também o fiz.
— Gostaria de comer agora?
— Eu não sei, não sabíamos que estávamos em um jantar.
— Nosso primeiro encontro... — ele riu irônico.
— Padre Magnus, não acho que isso seja um encontro, tendo em vista
que nosso relacionamento não é normal.
— Fingimos hoje. Só quero que relaxe, a trouxe aqui para isso.
— Será difícil, estou muito preocupada com Meg.
— Tenho certeza de que ela aparecerá, não se preocupe, ela deve ter
ido atrás de um parceiro.
— Meg nunca fez isso, além do mais ela é castrada, não fica no cio.
— Mas a dona dela fica...
Corei de vergonha e abaixei a cabeça. Padre Magnus falou carinhoso:
— Só estou brincando, quero que relaxe. Vou pedir o jantar, você
precisa comer alguma coisa, precisará de energia.
De novo fiquei constrangida, tudo que ele falava tinha duplo sentido.
Meus pensamentos foram interrompidos com a entrada de um homem
trazendo a comida. Ele serviu-nos com uma sopa de frango e queijo com
pão acompanhando. Comemos quase em silêncio. Ao finalizarmos, o
garçom, ou empregado, não soube definir, trouxe o prato principal:
macarrão com presunto e ervilha e bife à romana. Acabei comendo
bastante e até me senti mais leve. Ele sabia como fazer uma mulher
esquecer os problemas, conseguiu me fazer até sorrir com alguns
comentários. Nossa conversa foi até cordial e me surpreendeu quando
ele mesmo falou sobre o baile.
— Está animada para o baile na faculdade?
— Acho que sim... Eu... — Passei as mãos no cabelo nervosa.
— Eu estarei lá e você também.
Sorri de leve e me senti até feliz.
A sobremesa foi sorvete de chocolate, comia como uma criança,
lambuzando a boca. Peguei o guardanapo para limpar, mas ele pediu:
— Deixa que limpo para você.
Ele levantou-se e veio até mim, me fez levantar e começou a lamber o
canto da minha boca com a língua. Meu corpo todo queimou de desejo
como uma chama, lentamente ele começou a deslizar o zíper nas costas
do meu vestido, a noite já estava caindo e nossos corpos contrastavam
com a luminosidade do crepúsculo. O vestido de cetim deslizou pelo meu
corpo e caiu no chão.
Ele esmagou meus lábios em um beijo decidido. Abracei-o pelo
pescoço e nos beijamos sem parar até ele me pegar no colo e me levar
para outro cômodo. Assim como o resto do apartamento, ali era luxuoso
e estava escuro. Uma luz tênue acendeu próximo a grande cama onde ele
me deitou.
Nada mais nos deteve, a febre da paixão nos consumia, me
embriagava em seus beijos dominadores. Ajudei-o a se livrar das roupas
e logo sua pele sensual e seu corpo másculo ficaram desnudos para o
meu deleite. Aproximei os lábios de seu queixo, beijando sua covinha,
lambendo-o, sorvendo-o. A ânsia da paixão nos levava a um redemoinho
de sentimentos. O padre Magnus beijou os contornos dos meus seios, da
cintura e das curvas dos quadris. A urgência dos toques me deixava mais
ansiosa para que ele me possuísse.
Ele puxou minha calcinha e a tirou do meu corpo. Começou a lamber
minhas dobras molhadas e a estimular meu clitóris. Levantei o quadril
para senti-lo melhor. Era tão maravilhoso, a língua dele era mágica. Ele
agarrou meus seios jovens e empinados, enquanto chupava com
sofreguidão a minha boceta. Das minhas cordas vocais vibravam gemidos
de prazer, agarrei seus cabelos os puxando enquanto ele mamava meu
clitóris até soltá-lo. Ele fez isso várias vezes, chupava e soltava como se
fosse um elástico.
— Deus! Você tem um gosto delicioso — ele sussurrou, o hálito
quente atingiu o centro do meu núcleo. Ele rolou a língua subindo e
descendo de vez em quando tentando sugar o máximo do meu líquido
quente, me levando ao delírio. Ele me fodeu a boceta com a boca até me
fazer cair no orgasmo, eu gritei e fechei as pernas na cabeça dele
enquanto me contorcia de prazer. Meu Deus! Eu morri e fui direto para o
paraíso. Contudo, ele ainda não havia acabado, ainda com minha boceta
latejando de prazer, ele me puxou para baixo e entrou no meio das
minhas pernas. Ofegante, ele posicionou seu pau na minha entrada.
— Foda-me — implorei descontrolada —, eu o quero todo dentro de
mim.
— Faço tudo por você.
Ele enterrou fundo na minha boceta e começou a me foder duro e
rápido. Os movimentos de seus quadris e a penetração produziam sons
de molhado e eletrizante.
— Deus! — padre Magnus gemeu alto e áspero.
Os músculos da minha boceta apertavam o pau dele ainda sentindo os
efeitos do orgasmo. Mais uma vez, ele estava me levando ao delírio da
paixão. Minha entrada doía, mas de maneira deliciosa. Ele estava sendo
impiedoso, mas não me importei, eu queria mais e mais. Gritei de prazer
quando atingi mais um orgasmo e não parava de ter espasmos enquanto
ele continuava me fodendo.
O clímax foi tão intenso que tive a impressão de que transcendia para
outra dimensão. Padre Magnus também chegou no seu prazer e desabou
em cima de mim expelindo seu líquido abençoado, literalmente.
Depois do sexo intenso, ele me levou para o chuveiro e lá nos
amamos mais e mais vezes. No final de tudo, estávamos deitados sobre a
cama, eu aninhada em seu peito musculoso e inalando seu perfume
natural masculino. Ele passava a mão em meu cabelo carinhosamente.
Ouvia seus batimentos cardíacos fortes.
Pela primeira vez, ele não me fez sentir suja e culpada, nem ao menos
me chamou de nomes feios como costumava fazer.
A união foi tão bela que poderia fazer o mundo parar de girar. Foi
uma noite mágica, não foi só sexo nu e cru, foi romântico, foi amor... Meu
coração pesou, queria tanto que tudo fosse real, que esse relacionamento
tivesse um final feliz. Deus! O que está acontecendo comigo? Não posso
alimentar esse tipo de sentimento, ele é um homem proibido. Mas meu
coração jovem batia por ele, não conseguia frear esse sentimento que
insistia em crescer dentro de mim a cada alvorecer.
Dias depois...
Passei os dedos pelos meus cabelos grisalhos e sedosos, apertei a
gravata azul sentindo como se tivesse uma pedra na garganta prendendo
minha respiração. Estava suando frio, sobrevivendo de remorso por
conta das bebidas alcoólicas que minha esposa não podia sonhar que
estava voltando a exagerar depois do trabalho. Carregado de tanta zanga,
que já se percebia pela minha aparência caótica e, nos últimos dias,
mórbida!
Estava nervoso, por mil demônios! Maldito o dia que aquele padre
surgiu em nossas vidas! Mas eu já tinha um plano! Já tomei uma decisão,
não irei deixá-lo destruir minha reputação, acabar com minha carreira e
família e muito menos usar minha filhinha! Nunca! Nem por cima do meu
cadáver! Só de imaginar ele tocando minha menina...
— Richard, eu realmente não sei o que fazer! Já fiz algumas postagens
na internet, procuramos Meg por todo bairro...
Saí do closet apreensivo fechando as abotoaduras do terno cinza. Vi
minha esposa em pé ao lado da porta com um terço em mãos e os olhos
soterrados por uma escuridão de amargura.
— Tenha calma, meu bem, Meg é uma gata muito esperta! Essa não é
a primeira vez que acontece na família, a primeira vez com Meg sim,
mas... logo ela estará de volta como os outros e colocará fim a toda essa
tortura que Eve está passando, que nós estamos. Garanto-lhe isso.
— Não sei não, Richard, até você anda meio estranho nesses últimos
dias, se afastando, apressado, nervoso.
Peguei meu celular e coloquei no bolso de dentro do terno,
aproximando-me de minha esposa.
— Quem não estaria? — indaguei.
— Às vezes, me pergunto onde errei? O que deixei passar? Como mãe
deveria saber o que aflige minha menina, a minha família.
Ergui o queixo de Eleonora, só de lembrar do infame que estava
causando o inferno em nossas vidas fui preenchido da vontade
irrevogável de matá-lo! Beijei os lábios doces da minha companheira
com amor, minhas veias estavam explodindo só de recordar as ameaças
do desgraçado. Não deixarei isso passar pelo nome que carrego!
— É só o trabalho acumulado e os problemas. Está difícil administrar
tudo, mas sabe o quanto amo tudo que tenho? O quanto amo você mais
que minha própria vida e essa é a única verdade? Amo você e nossa filha
como se fossem uma só fonte de amor.
Ela me olhou por alguns segundos e assentiu balançando a cabeça
com os olhos brilhando.
— Sim, meu amor! Claro, também os amo mais do que minha própria
vida. Desculpe, Richard, você é um bom pai. Um bom marido. Eu estou
realmente enlouquecendo de preocupação! Vamos dar um jeito, se Deus
quiser logo nossa família estará nos eixos. Pode ir ao trabalho, não se
atrase, mas quando chegar será que pode conversar com ela de novo?
Faria tão bem, ela está tão triste!
— Claro, meu bem, farei isso! Vou trazer um presente para ela
também.
Acariciei suas bochechas com o polegar e o indicador, dei-lhe mais
um beijo antes de sair.
Entrei no carro batendo a porta, hoje era um dia lindo, um dia de sol
radiante e sem nuvens que acobertavam o céu. Eu diria que era um dia
perfeito até para algo trágico.
— Boa tarde, Sr. Bennet. Teve alguma notícia sobre a Meg?
— Boa tarde. Nenhuma até agora, mas tenho certeza de que uma hora
ela vai aparecer. Eu espero que sim e medirei esforços para isso — James
afirmou balançando a cabeça.
Fiz sinal para ele dar partida e coloquei o cinto de segurança. Peguei
meu celular e deslizei o dedo na lista de contatos procurando o número
que havia salvado. Não me restou escolhas! Eu nunca faria algo assim em
minha vida, mesmo com meus erros, não chegaria a esse ponto. Mas ele
estava me obrigando, não aceitava ser chantageado, coagido! Só de
pensar que agora mesmo o maldito podia estar com as mãos na minha
garotinha o sangue corria pelo meu corpo querendo explodir.
Suspirei fundo e liguei para o número que achei na deep web, dois
dias atrás. Usava um celular diferente, pré-pago, não soube como o
desgraçado conseguiu aquelas fotos, com esse não se podia brincar.
Depois da missa de sétimo dia do padre Gregório, suas picuinhas,
provocações, estavam torrando minha paciência. Ele fazia questão de
exibir de maneira subliminar que estava desfrutando da minha menina.
Oh, Eve! A culpa é toda minha filha. Mas eu farei esse infeliz pagar por
colocar as mãos em você.
Naquele mesmo dia, depois da missa, entrei on-line no computador
da sala de um dos estagiários da empresa. Não podia deixar pistas do que
estava prestes a fazer. Pesquisei sobre assassinos de aluguel em uma
página criptografada do site que frequentava. Haviam muitos, preços
altos, mas não me importava, queria que tudo fosse executado o mais
rápido e sigiloso, pagaria qualquer preço. Aproveitaria o tal baile, seria
essa noite.
No primeiro toque, uma moça atendeu.
— Advogados associados, em que posso ajudar?
— Gostaria de falar com Jean?
— Já vou transferir, só um momento.
Esperei alguns segundos e uma voz de homem foi desferida:
— Contrato fechado?
— Sim.
— Quando será a assinatura?
— No sábado à noite. O local será enviado junto com a foto da
propriedade.
— Certo! Entre em contato direto caso mude alguma coisa no negócio.
— Certo!
Um clique e a ligação foi encerrada. Suspirei fundo, estava feito.
O dia na empresa foi de muitas reuniões e precisava relaxar. Ao sair,
segui direto para o apartamento de minha amante. Apertei a campainha.
Ela abriu a porta do jeito que gostava, só de lingerie. Entrei no
apartamento e passei a tarde inteira com ela.
No início da noite ao chegar em casa, percebi uma encomenda
direcionada a mim, era uma caixa, havia uma carta e o selo de
confidencial em ambos.
— Oi, meu bem, chegou cedo.
— Sim.
Beijei minha esposa e perguntei sobre o pacote:
— Quem deixou isso aqui?
— Foi um entregador.
— Onde está Eve?
— No quarto dela, coitadinha, está sofrendo muito o sumiço de Meg,
seria...
— Ainda nenhuma informação?
— Nada. Não queria ter desesperança, mas acho que algo aconteceu a
Meg, talvez tenha sido atropelada.
— Não fala isso, mande aumentar o valor da recompensa.
Peguei a caixa e fui direto para o escritório, deixei em cima da mesa
enquanto conversava com Eleonora.
— Irei ver os preparativos do jantar.
Minha esposa saiu do cômodo e eu me sentei na cadeira. Olhei para a
caixa intrigado e peguei a carta. Olhei de um lado, depois do outro e nada
indicava o que poderia ser. Enfim, saberia quando abrisse. Peguei o
cortador de correspondência e abri a carta, coloquei os óculos e comecei
a ler as letras digitadas e essas começaram a dançar em minhas vistas à
medida que lia. Abri a boca incrédulo sobre o conteúdo da carta. Meu
coração gelou ao focalizar. Reli de novo sem ainda acreditar naquelas
palavras impressas:

“Caro, Sr. Bennet,


Saiba que estou sempre um passo à frente de você, sei de todos os seus
planos para se ‘livrar’ de mim. Não funcionará, não me subestime e nem
tente me afrontar. Na caixa tem um aviso claro do que acontecerá com
você e sua bela esposa se insistir.
P.S.: O aviso também serve para a empregada. Espero que ela não abra
a boca e não se envolva em meus negócios.
Deus o abençoe, Sr. Bennet!"

Nervoso, levantei-me e rasguei o lacre da caixa com o rosto suando


frio. Haviam vários flocos de isopor, comecei a removê-los e jogar no
chão. Meu coração teve um baque a ver a cena. Arregalei os olhos e
desabei na cadeira.
Dentro da caixa havia o corpo de Meg, picado em mil pedaços e sua
cabeça por cima dos pedaços com os olhos mortos e recheados de sangue
seco. Ainda muito abalado, peguei o celular e fiz uma ligação.
— Alô!
— Aborte o negócio!
Desliguei o celular desolado e caí na minha cadeira puxando o ar dos
pulmões. Depois de alguns minutos, fechei a caixa novamente. Precisava
me livrar disso sem levantar suspeitas. Escondi a caixa no armário.
Durante a madrugada quando todos estavam dormindo, levei a caixa até
um córrego e joguei os restos mortais de Meg, que sumiu em meio as vias
fluviais sem deixar rastros.
O vestido era um tomara que caia dourado. Olhei para o espelho
enquanto tentava arrumar o decote. Subi o corpete procurando esconder
o vale dos seios que estava bem evidente. Fiz uma careta. Naquele
momento, Antonella entrou no closet.
— Tá maravilhosa!
— Não acha que está muito ousado?
— Ousado? Claro que não, tá incrível!
— Não sei... Acho que vou trocar.
Olhei para os cabides com fileiras de vestidos, peguei um preto,
sóbrio e fechado. Coloquei na frente do corpo.
— O que acha desse?
Antonella olhou através do espelho e torceu o nariz.
— Você vai em um baile, não para um funeral.
— Mas preto é clássico.
— Miga, o que é isso? Por que quer esconder seu corpo? Vai me dizer
que acha que está engordando?
— Não é nada disso, só acho que fica melhor algo menos ousado.
Fiz menção de tirar o outro vestido e Antonella me impediu:
— Pode parar! Não vou deixar você fazer isso. Saímos ontem e eu a
convenci comprar esse, e você irá com ele. Ultimamente está agindo
muito estranho, nunca a vi hesitar diante de um tomara que caia ousado.
Além do mais, a saia dele é linda e valoriza suas pernas. Parece uma
boneca.
Antonella tirou o vestido preto da minha mão e colocou de volta no
cabideiro. Em seguida, pegou uma garrafa de champanhe que estava em
cima da minha mesa de maquiagem em um balde de gelo e abriu. Sorri
quando a rolha pulou e gritou de alegria. Encheu duas taças e me
ofereceu uma.
— Vamos brindar!
— Ao quê?
— Você vai desencalhar hoje.
— Ah, pelo amor de Deus, Antonella!
— O que foi? Você tem que ficar com alguém nesse baile. Não acredito
que ainda é virgem.
— Não vou transar com ninguém, tá louca!
— Disse que é pra transar? Não, mas ficar, dar uns amassos. Só falei
sobre sua virgindade porque ainda não me contou que a perdeu, lembra
que prometemos falarmos uma para a outra quando acontecesse, cara?
Respirei fundo e deixei o olhar cair, queria muito compartilhar tudo
com Antonella, mas não podia, vivia um relacionamento proibido e não
queria revelar para ninguém, nem ao menos para ela. Já tive vontade de
compartilhar com ela pelo menos que não era mais virgem, porém sabia
que ela não ia me deixar em paz até descobrir com quem perdi a
virgindade, então o melhor a fazer era ficar quieta.
— Não me diga que... — Antonella me olhou através do espelho.
Pelo olhar oblíquo que ela me dirigiu soube que adivinhara meus
pensamentos pela minha expressão. Imediatamente falei para despistar:
— Não! Não perdi a virgindade.
— Fala a verdade, pela sua cara...
— Só estava contemplativa.
Bebi a taça de champanhe quase toda e sentei-me no pufe para calçar
as sandálias de salto altíssimo. Levantei-me e olhei para Antonella.
— Estou pronta! Decidi ir com esse vestido mesmo, não sei por que
pensei em trocá-lo.
— É isso! Só quero que arrase.
Girei-me sobre mim mesma e a saia aberta do vestido de chiffon
esvoaçou-se. Sorri com alegria enquanto saía do closet com Antonella
para irmos direto ao baile. Embaixo, mamãe estava na entrada com um
sorriso aberto. Ela segurou em minhas mãos e disse com muito orgulho:
— Está linda, filha! Você também, Antonella. — Mamãe voltou-se
para ela e segurou sua mão também. Continuou: — A limusine já está aí
fora esperando por vocês.
— Uma limusine? — perguntei surpresa.
— Sim, foi meu pai que mandou alugar — Antonella falou animada.
— Uau! Sensacional! — exclamei alegre.
— Vão com Deus, meninas, e divirtam-se.
— Onde está o Sr. Bennet? — Antonella perguntou.
O sorriso de mamãe morreu na hora, e eu a fitei preocupada. Meu pai
mudou muito, desde o desaparecimento de Meg que ele tem sido sisudo e
até voltara a beber. Chegou em casa bêbado esses dias. Mamãe rezava o
terço todas as noites por ele, contudo as coisas só estavam piorando.
Para aliviar a tensão, apenas justifiquei:
— Papai não se sente bem esses dias, acho que ele está sentindo mais
a falta da Meg do que eu.
— Richard só está passando por uma fase difícil, os negócios... —
mamãe parou de falar, ele sempre tentava encobrir a situação. Mamãe
colocou seu sorriso lindo novamente nos lábios e falou: — Vão, meninas,
não se preocupem com problemas de adultos. Filha, divirta-se, não se
sinta culpada por causa da Meg.
— Obrigada, mãe, vou tentar.
— Pode deixar que cuido dessa minha amiga aqui. — Antonella me
abraçou e saímos de casa.
A limusine branca estava nos esperando parada na frente de casa, um
chofer abriu a porta.
— Vamos nessa, amiga!
Descemos as escadas correndo e entramos no veículo luxuoso.
Olhamos em volta e caímos na gargalhada. Havia champanhe geladinho.
De novo bebi mais algumas taças enquanto o carro partia para o baile.

Olhava admirada a decoração do salão de festas da universidade, a


decoração estava estupenda e requintada. Havia um buffet e um bar onde
era oferecido drinks preparados na hora. Tinha também uma cascata de
ponche. Já tinha chegado muita gente e todos circulavam
cumprimentando um e outro. Inspecionei em volta à procura dele, mas
nem sinal. Será que ele não vem? Me perguntei tentando disfarçar o
desapontamento.
— Vem aqui, amiga, achei o Felipe.
Antonella me puxou até um grupo de alunos da nossa turma. Felipe
me olhou e logo abaixou o olhar, eu também fiquei sem graça, mas
Antonella não parava de falar e nem deu importância ao
constrangimento. Começamos a beber ponche, a bebida refrescante e
com pouco álcool acabou me agradando e eu enchia o copo toda hora.
Na hora seguinte já estava mais relaxada, ria e conversava com todos,
inclusive com Felipe, porém a todo instante sentia que alguém me
observava. O padre Magnus ainda não deu as caras, porém calafrios
surgiam na minha espinha e minha pele se arrepiava a todo momento.
Aquilo já estava me incomodando.
A uma certa altura as cortinas do palco foram abertas e, para a minha
grande surpresa, padre Magnus surgiu vestido com um smoking preto e
gravata borboleta perfeitos. Ele falou ao microfone com sua voz
masculina linda. Meu coração acelerou e olhei-o como uma boba:
— Boa noite, alunos, docentes e funcionários, o trigésimo quinto baile
da Pontifícia Universidade Gregoriana está oficialmente aberto.
Aplausos calorosos e assobios ecoavam por todo recinto. Padre
Magnus continuou:
— Esse baile foi idealizado e criado pelo nosso reitor, o padre
Gregório que nos deixou recentemente.
Murmúrios de tristeza ressoaram entre todos. Um grande telão se
acendeu e uma foto do padre Gregório surgiu.
— Padre Gregório, assim que assumiu a reitoria da universidade,
fazia questão que o baile acontecesse. Independentemente de qualquer
coisa, ele queria que nós estivéssemos aqui hoje.
Aplausos bombardearam todo o local.
— Por esse motivo, esse baile será realizado em sua homenagem. E
aproveitando esse momento, que todos estamos reunidos, a
universidade apresenta o novo reitor, o padre Frank.
Um senhor alto vestido com uma batina e uma grande cruz no
pescoço, de barba e cabelos quase grisalhos, apareceu sob ovação. Padre
Magnus cedeu o microfone para ele que começou seu discurso. Eu quase
não prestava atenção no que o homem falava, só ficava olhando para ele,
lindo, viril naquele smoking preto impecável. Quase meu coração saiu
pela boca quando ele olhou direto para mim, seus olhos cor de topázio
azul ficaram no mesmo segundo frios e sardônicos, nenhuma sombra de
bom humor. Ele percorreu os olhos sobre meu corpo de cima a baixo e
me senti nua sob seu olhar avaliador. A boca dele era uma linha fina e seu
maxilar travou, claramente aborrecido.
O contato foi interrompido com mais aplausos calorosos. O novo
reitor devolveu o microfone para o padre Magnus, que anunciou o início
do baile. Uma banda começou a tocar vários sucessos e todos
encontraram seus pares ou apenas dançavam em grupo.
— Vamos dançar, Eve.
Antonella me puxou para a pista e começamos a dançar. Contudo,
sempre olhava em volta para ver se não via o padre Magnus em algum
lugar. E ele estava sentado em uma das mesas me encarando sem mover
uma pálpebra. Perdi até o ritmo. Nervosa, virei o ponche que estava
bebendo quase todo de uma vez. Me senti um pouco tonta, mas não dei
importância, voltei a encher o copo. À medida que o tempo foi passando,
os efeitos do álcool se mostravam em mim. Dançava com os braços para
cima sem me importar nem um pouco com minha roupa ou qualquer
coisa, muito menos para o padre Magnus que permaneceu sentado no
mesmo lugar.
— Droga, amiga! Preciso ir ao banheiro — falei para Antonella o mais
alto que pude em cima da música.
— Acho que é naquela direção! — Antonella apontou e continuou
conversando com um carinha e nem me deu atenção. Apertando as
pernas andei apressada, minha bexiga parecia que iria estourar. Andei
pelo corredor procurando a porta, porém, antes que encontrasse, senti
alguém me puxando para um canto escuro. Já estava pronta para gritar
quando reconheci o perfume e os olhos azuis do padre Magnus. Ondas de
prazer inoportunas percorreram o meu corpo quando ele praticamente
me lançou na parede.
— O que pensa que está fazendo? — ele murmurou entredentes.
— Sobre o que está falando? Só estou curtindo a festa.
— Que tipo de roupa é essa? E essa cara cheia de maquiagem? Está
parecendo mais uma prostituta! Além do mais, não para de beber.
Uma raiva cresceu dentro de mim, era injusto, todas as moças
estavam vestidas como eu, algumas até mais ousadas. Embora o vestido
fosse um tomara que caia e deixava meus seios mais vistosos, não era tão
revelador assim. Decidi me defender com um bico em meus lábios:
— Padre Magnus, acho que o senhor não tem o direito de exigir nada,
sou livre, solteira e não tenho que lhe dar satisfações!
— Não tenho o direito? Você é minha mulher.
Atirei a cabeça para trás e encarei-o desdenhosa com altivez:
— Aqui você é apenas meu professor e nada mais que isso.
Girei nos calcanhares para me afastar quando senti os dedos dele se
fecharem sobre a carne delicada do meu braço, puxando-me. Com a mão
livre, tentei desvencilhar-me, mas não consegui.
— Não me desafie! Se a ver dançando ou se engraçando com alguém
se arrependerá.
— E o que pretende fazer para me impedir? Vai se mostrar o meu
dono para todos?
— Não, eu tenho métodos mais sutis para colocá-la em seu lugar.
As palavras dele saíram como um rosnar de um gato selvagem.
Empalideci ao mesmo tempo que a coragem desaparecia. Todavia,
algumas pessoas passaram pelo corredor e nossa conversa foi
interrompida. O padre Magnus me encarou pela última vez antes de me
deixar e avisou:
— Estou de olho em você.
Respirei fundo várias vezes tentando me recompor. Segui para o
banheiro e entrei. Algumas garotas estavam no recinto. Molhei os pulsos
antes de entrar em uma das cabines.
Depois de me aliviar, só eu estava no banheiro. Lavei as mãos e abri a
bolsa para retocar a maquiagem. Fiquei olhando meu reflexo no espelho
e as palavras do padre Magnus ricocheteavam em minha cabeça: Parece
uma prostituta, uma prostituta, uma prostituta...
— Mais uma “assistente” dele, não é?
Saí dos meus devaneios e olhei para a direção de onde vinha a voz.
Uma garota de cabelos coloridos e vestida com calça jeans surrada e um
casaco rosa, com um cigarro nos lábios, me encarava com os olhos
semicerrados. Ela pegou o isqueiro do bolso e acendeu o fumo. A
pergunta dela ainda estava suspensa no ar. Olhei bem para o seu
semblante e me lembrei de que cruzei com ela algumas vezes pelos
corredores da faculdade durante as aulas.
— É sempre assim, ele escolhe as mais vulneráveis e destrói a vida
delas.
— Não sei do que está falando.
— Claro que não sabe, ai de você se abrir a boca. — A voz da moça
estava pastosa e, além do cheiro da nicotina, claramente estava bêbada.
— Olha, me desculpa, eu preciso ir, realmente não sei onde quer
chegar com esse papo.
— Eu sou a única das “assistentes” dele que continuou na faculdade,
as outras saíram e se silenciaram em suas próprias vergonhas ou tiraram
a própria vida.
— Para! — pedi já com um nó na garganta.
— Você está durando, ele enjoa muito rápido e as descarta antes do
semestre terminar. Comigo foi um mês. Ele me levou para o cômodo
secreto...
— Não! — Coloquei a mão sobre o estômago que embrulhava.
Ela continuou sem piedade:
— Sim, eu sei do cômodo. Ele me fodeu sobre a cama-gaiola de
lençóis de seda vermelho.
As lágrimas desceram naturalmente. Eu me encostei na pia e curvei
meu corpo sem querer acreditar nas palavras dela.
— Você é só mais uma, ele irá descartá-la com o coração e a vida
estraçalhada, assim como fez comigo e as outras.
Ela andou em minha direção, mas praticamente caiu no chão. Ela
começou a gargalhar.
Com os olhos turvos pelas lágrimas e uma dor aguda no coração, corri
para a porta e tentei abri-la, estava travada. Procurei a fechadura e a voz
da moça gritava atrás de mim:
— Fuja dele enquanto há tempo, para mim acabou, tudo acabou.
Consegui abrir a porta e saí do banheiro desolada. Andava pelo
corredor como se tivesse um peso sobre meus pés. A cabeça girava e as
palavras da moça ecoavam como um caleidoscópio de palavras. Ao
chegar no salão de festas, Antonella veio em minha direção.
— Demorou, pensei até que estava se atracando com alguém pelos
corredores. Estava chorando? — ela perguntou ao perceber meu rosto
transtornado.
Não disse nada, estava tão abalada pelo que tinha descoberto e
escutado, que parecia que estava em um mundo paralelo. Vaguei os olhos
à procura dele e o vi de pé com os braços cruzados, como sempre com
seu semblante ameaçador.
— Eve, o que foi que aconteceu?
— Nada, eu... eu só senti saudades da Meg — desconversei.
— Ah, amiga! Vamos dançar, daqui a pouco terá as românticas, você
vai ter que dançar com alguém.
— É claro que vou dançar, imagina!
— Assim que se fala.
Olhei para ele e lhe virei as costas. Se ele pensa que me controlará,
está muito enganado. Não mais.
Segui para o bar e pedi um drink, bebi e dancei com a bebida na mão
me esfregando em todos os meninos que encontrava pela frente. Quando
voltei para o bar para pegar mais bebida, ao virar-me para voltar a
dançar dei de encontro com o padre Magnus, ele tirou a taça da minha
mão e falou:
— Acho que seu pai não gostará de saber que anda bebendo muito,
Srta. Bennet.
— Mau pai não está aqui, e você não é ele.
— Me acompanha, sem protestar — ele sussurrou no meu ouvido.
Ele caminhou me puxando até um lugar onde abriu a porta,
empurrou-me para dentro.
— O que te disse sobre beber e dançar com garotos?
— Vai para o inferno, vai cobrar obediência das suas outras
“assistentes”.
— Quem te falou sobre isso?
— Uma delas, no banheiro, ela me contou tudo, absolutamente tudo.
O padre Magnus estreitou os olhos. Pela primeira vez percebi uma
expressão surpresa vindo dele. Porém, estava tão magoada que não
queria saber, só queria feri-lo assim como ele fez comigo:
— Eu te odeio e o quero longe de mim, ouviu?! Nunca mais encoste-
me com suas mãos profanas.
Sem eu saber exatamente o que aconteceu, me vi presa em seus
braços poderosos e sua boca devorou a minha em um beijo arrebatador.
Ele me pegou pela cintura e caminhou comigo até uma parede.
Um gemido de desamparo saiu dos meus lábios quando ele deixou
minha boca e falou com a voz cortante como navalha:
— Nunca a deixarei se afastar de mim, você é minha e essas mãos
profanas estarão em seu corpo, seu coração e sua vida, entendeu,
garotinha? Nunca a deixarei partir, nunca.
Estava tão abalada, que não conseguia falar nada. O padre Magnus me
soltou e segurou em minha mão.
— Você voltará para o salão e se comportará, não me desafie mais do
que já fez hoje.
Com essas palavras, ele me puxou e saímos da sala. Ele me largou e
voltou para o seu lugar. Desolada, triste e sem saber o que fazer, sentei-
me à uma das mesas e fiquei cabisbaixa. Alguns minutos depois, olhei
para onde ele estava e não o vi. Uma sensação muito ruim pesou no meu
coração. Naquele momento, Antonella se aproximou.
— O que está fazendo aí como um bichinho? Vem dançar, vai começar
as românticas!
— Não quero ir, Antonella, me deixa quieta.
— Ah! Não mesmo, Felipe quer te tirar para dançar, dê essa chance
para ele.
— Felipe?
— É... Felipe Leopoldo, nosso amigo tímido que não tem coragem de
te tirar para dançar!
Nesse momento uma música romântica começou a tocar. Olhei para o
Felipe que estava a alguns metros de nós, mirei para o local onde o padre
Magnus deveria estar, mas ele não estava mais. Dei de ombros, levantei-
me e segui Antonella.
— Felipe, Eve. Eve, Felipe — Antonella nos apresentou em tom de
zombaria.
— Aceita dançar comigo, Eve?
— Sim, aceito.
Segurei na mão que ele estendia e seguimos para a pista. A balada
romântica tocava e muitos casais dançavam agarradinhos. Felipe me
estreitou um pouco mais em seu corpo e dançamos envolvidos pela
canção. Senti as mãos dele deslizando em minhas costas e seu hálito
agitando meus cabelos. Levantei o rosto para contemplá-lo. Ele era tão
bonito, jovem, inteligente. Por que, Deus, não me apaixono por ele? Por
quê?
— Eve... — ele começou, mas o interrompi:
— Não fala nada, apenas me beije.
Os lábios dele encostaram nos meus e quase pude ver suas sardas
ficarem mais vermelhas que o normal. Seus lábios estavam frios,
nervosos. Coloquei a língua na boca dele e aprofundamos o beijo. Só
estava alheia que padre Magnus observava a cena com seus olhos
sórdidos e mortais.
Os lábios de Felipe gentilmente desgrudaram dos meus, por um
mínimo segundo nossos olhares se cruzaram, tímidos, e um sorriso
nervoso se projetou em minha boca e na dele, entretanto,
envergonhada... e, para evitar o constrangimento, coloquei minha cabeça
novamente em seu ombro e senti meu coração pulsar demasiadamente
devagar, com medo. O que acabei de fazer? Oh, meu Deus!
Deixei a música nos conduzir, podia até sentir sua respiração nervosa
tanto quanto a minha. Mesmo minha cabeça girando levemente pelo fato
de ter deixado isso acontecer tentei me controlar, afinal uma hora ou
outra isso poderia acontecer, foi o que disse para o padre Magnus na
primeira vez, mas tantas coisas surgiram até então!
“Onde está com a cabeça, Eve? Ele não viu!”, digo para mim mesma
como se isso pudesse mudar alguma coisa, no fim das contas esperava de
verdade que ele não tivesse visto, pois não iria gostar nada.
Acho que exagerei na dose. Felipe poderia ser alguém que
apresentaria à minha família, alguém que me faria sentir tranquila na
presença de todos os amigos, mas, mesmo dessa forma, não era a mesma
coisa, era diferente.
— V-você está b-bem? — ele gaguejou quando a música encerrou
com a agitação dos casais e nossos corpos se afastaram um do outro
espontaneamente.
— Estou sim, foi muito bom, Felipe. Gosto muito dessa música.
— É, eu também gosto dessa, é muito boa.
Suas bochechas ficaram mais vermelhas que a cor dos seus cabelos,
ele esticou um sorriso de canto bonito, mas minha cabeça estava voltada
para o professor Crawford.
Sentia em meu peito que, se ele soubesse disso, não ia prestar! Logo
Antonella se manifestou segurando dois copos de biritas, com sua alegria
capaz de quebrar a camada de ozônio.
— Ahhh, caramba! Eu sabia disso, sabia que os dois pombinhos iriam
se pegar! Já estavam perdendo tempo. Olha, eu torço por esse momento
desde o começo! Boa garota!
— Antonella! Acho que você está ficando muito bêbada! Não foi nada
demais.
Felipe assentiu balançando a cabeça e eu peguei o outro copo dela
antes que acabasse derrubando e bebi um gole.
— É melhor maneirarmos mais um pouco, senão vamos acordar
amanhã destruídas — alertei querendo largar o copo, suando frio e
olhando entre os alunos e professores para ver se encontrava ele.
— É esse o objetivo, destruídas! Não vejo a hora de tocar a minha
música favorita, depois eu te conto sobre o carinha da banda.
Percorri meus olhos para o palco, procurando pelo vocalista que
Antonella não desgrudou até há pouco antes dele subir no palco, todavia
esse pequeno gesto fez meus olhos esbarrarem de encontro as pupilas de
um azul tenebroso do padre Magnus, que me encaravam com uma
expressão nem um pouco animadora. Ele estava no bar sentado e me
encarando como um predador e eu sua presa.
Soltei o ar que prendia nos pulmões e senti meu corpo todo tremer
como uma batedeira ambulante.
Essa não! Essa não! Padre Magnus! Será que ele viu o beijo?
Suspirei fundo e voltei a atenção para os meus amigos, pedindo no
íntimo que ele não tivesse visto.
— A gente podia passar a noite na minha casa depois da festa, né,
amiga?! E você também Felipe! Só que meus pais...
— Não precisa, e-eu... vou ficar bem e tenho que...
— Estudar, logo irão começar as provas importantes — o Padre
Magnus surgiu um pouco atrás de mim e sua voz congelou meus
músculos deixando-me petrificada.
Antonella cumprimentou o professor da mesma forma que ele
apertou a mão de Felipe educadamente, porém, mesmo de soslaio,
percebi que tinha algo de errado no seu semblante. Levei o copo da
bebida à boca e mordi a borda, mas não ingeri o líquido. Já estava me
sentindo nervosa e aflita querendo sair daqui, quando a banda anunciou
mais uma música romântica. Ouvi a voz do padre Magnus sendo
direcionada a mim:
— Aceita essa dança, Srta. Bennet? Uma das maneiras que quero
agradecê-la, pelo seu bom trabalho e conduta como minha assistente!
Sua voz não era boa para comigo, tinha requinte de lâminas e tive
certeza quando encarei seu olhar e meu corpo todo se acendeu em um
arrepio intenso, ele sabia de tudo. Antonella estava alegre demais e pude
escutar sua animação, Felipe e ninguém ali desconfiaria dele. Todos aqui
achavam que o conheciam, mas só eu conhecia seu lado mais obscuro,
mas promíscuo e sombrio.
Ainda hesitante, segurei a mão que ele oferecia para acompanhá-lo na
dança, sei que não poderia recusar.
— Aceito, professor Crawford.
— Será uma dança maravilhosa, Srta. Bennet. — Sua voz tinha um
tom de ameaça velada, percebi. E logo ele me conduziu para a pista.
Desta vez, eu estava com o coração na mão batendo a mil por hora.
Por ser mais baixinha que ele senti o aroma do seu hálito perfeito, suas
mãos grossas agarraram minha cintura com uma força sobrenatural, o
seu peito contra o meu era de tirar o fôlego. Embora tivéssemos nossa
diferença de altura, nossos corpos se encaixaram perfeitamente. Senti
uma ardência na pele que não queria sentir hoje. Olhei nos olhos dele,
crepitando como fogo azul-cobalto, e vi a raiva dentro deles. Soube que
estava ferrada e não me surpreendi quando ele sussurrou no meu
ouvido:
— Você vai pagar caro por isso, Eve, a filhinha do papai se
comportando como uma vadia?! Do que acha que você precisa?
— Eu... Eu sinto muito.
— Responda minha pergunta, menina má! — Ele apertou tanto meu
corpo contra o seu que senti dificuldade para respirar, parecia que suas
mãos se controlavam na minha cintura, mas queriam estar em outro
lugar.
Mordi a boca e disse encarando-o:
— Pu... punição?
Coloquei meu rosto em seu peito de muralha, e esperei sua voz me
lacerar, porém só senti as batidas frias do seu coração.
Segundos antes da música acabar, ele me largou, segurou meu braço
e disse na minha orelha:
— Me encontre na capela em dez minutos.
Ele me largou e meus olhos se encheram de lágrimas. Eu merecia isso.
Arrumei meus cabelos e meu vestido, voltei para o bar, mas nem encostei
na bebida. Só respirei e inspirei profundamente, observei o barman fazer
as bebidas e apenas pedi um copo de água. Pensei em um milhão de
coisas, mas nada me dizia muito sobre o que ia acontecer, só sabia que
precisava estar lá no tempo que ele determinou.
Minha amiga estava conversando com o vocalista logo depois que a
banda saiu do palco, até avistei Felipe que estava com os amigos, mas
não pude prolongar porque não queria chegar atrasada.
Saí logo do salão onde estava rolando a festa e andei pelos corredores
da faculdade que estavam escuros e sem nenhuma movimentação. O som
dos meus saltos ressoava pelo corredor como uma canção sombria e meu
coração tamborilava em meu peito de ansiedade até chegar lá e me
deparar com o padre Magnus na porta, já me esperando, com uma cara
nada contente.
Diminuí os passos apreensiva e parei a poucos centímetros dele.
Contive a respiração, sentia-me à beira de um abismo de agonia. Por
algum motivo pensei em me desculpar e tentar apaziguar a fúria que
irradiava de suas pupilas diabólicas. Iniciei com a voz macia tentando
disfarçar que estava com medo:
— Padre Magnus, eu sinto muito, aquilo aconteceu sem querer, o
Felipe...
Senti um safanão ao ser puxada com força pelos pulsos e
praticamente jogada para dentro da capela pelos braços fortes do padre
Magnus. Meu coração estava disparado, as batidas erráticas me deixaram
muda. O som da porta sendo trancada fez minhas pernas fraquejaram.
Olhei em volta e parei observando o altar da capela. O ambiente
aconchegante de orações estava na penumbra, apenas duas luzes
vermelhas em cada lado do sacrário estavam acesas indicando que as
hóstias consagradas repousavam em seu interior. A mesa do altar era de
mármore branco lustroso e se encontrava majestosa no centro. Duas
cadeiras acolchoadas de tecido vermelho e armadura de madeira
dourada estava encostado no fundo de pedra. Acima do sacrário havia
uma grande cruz e Jesus crucificado com suas chagas esculpidas e seu
rosto distorcido de dor. Senti-me mal por isso.
— Tire a roupa! — padre Magnus ordenou.
Comecei a respirar acelerado. Meu Deus, era uma heresia fazer isso em
uma capela! Voltei-me para ele e lhe supliquei:
— Não podemos fazer isso aqui, padre Magnus, é uma blasfêmia.
O tapa na minha face foi tão forte que fui jogada para o lado e quase
caí no chão. As lágrimas salpicaram meus olhos e coloquei a mão sobre o
lado que ele havia batido. Meu corpo foi puxado pelas mãos de aço dele e
arrastado até o altar.
— Faça o que mandei, sua vagabunda!
Ele me largou lá e se afastou. Comecei a tirar a roupa com as mãos
trêmulas. Meu corpo todo se balançava pelos soluços curtos que saíam
na minha garganta. Puxei o zíper nas costas do vestido com dificuldade,
mas consegui deslizar até a peça cair sobre meus pés. Estava sem sutiã,
então apenas a calcinha me encobria naquele momento. Olhei em direção
dele lhe suplicando com o olhar para não fazer aquilo ali, mas suas
feições eram inexoráveis, ele não desistiria.
— Tira a calcinha! — ordenou.
Desci a última peça ficando completamente nua. O padre Magnus se
moveu até um canto do altar e pegou um objeto, o barulho de metal fez
meu corpo arrepiar-se, mas não olhei para aquela direção, me mantive
de pé paralisada e nua no altar, como uma estátua de bronze.
O aroma do incenso invadiu minhas narinas quando o padre Magnus
se aproximou de mim com o incensório nas mãos. Ele havia tirado a
camisa e o terno do smoking e estava somente com a calça. O peitoral
forte com cabelos rasos e braços musculosos à vista lançaram uma
corrente de fogo em minhas veias, eu não conseguia evitar as sensações
pecaminosas que ele me fazia sentir, mesmo naquela situação que me
encontrava e com a face ardendo pelo tapa dele.
Ele começou a balançar o incensório borrifando a fumaça sobre meu
corpo andando em volta da mesa do altar incensando toda a área. O
ritual continuou e logo todo o altar estava encoberta pela emanação.
Tossi algumas vezes pela intensidade de vapor que invadiu o nariz. Ele
afastou-se. Demorou alguns minutos antes de voltar de novo, porém não
o via, apenas ouvia seus movimentos.
— Vire-se! — ordenou com o tom mordaz na voz.
Ainda com o efeito do tapa e os olhos lacrimejantes, tanto pelo choro
como pela fumaça do incenso, fiz o que me mandou e quase parei de
respirar ao contemplá-lo atrás da mesa do altar vestido com as vestes
sacerdotais tão bonito como sempre. Porém, sua expressão era severa
quando mandou:
— Deite-se sobre a mesa.
— Padre Magnus... isso não é certo.
— Eu vou te foder sobre a mesa do altar onde consagro o Corpo e o
Sangue de Cristo sob o olhar d’Ele, sua puta vadia. Agora suba na mesa,
antes que eu mesmo a faça subir.
Soluçando em desamparo, deitei-me de barriga para cima sobre o
mármore frio. O padre Magnus se moveu e pôs suas mãos sobre o meu
corpo. Ele apertou meus seios entre os dedos e desceu vagarosamente
sobre o abdome até chegar no meu núcleo molhado. Introduziu os dedos
dentro da minha vagina com violência, suspirei fundo e arqueei o quadril.
Ele moveu os dedos de dentro para fora me fazendo sentir dor. Apertei
os olhos enquanto ele esfolava minha boceta com os dedos. De repente,
ele tirou o dedo e levantou a túnica que estava vestindo revelando sua
besta latejante.
Padre Magnus subiu no altar em cima de mim e abriu minhas pernas.
Senti a rigidez da ereção de aço dele se avolumar em uma exigência
implícita. Sua boca caiu em meus mamilos duros e sugou-os com
sofreguidão. O pênis latente encostava em minha cavidade e fazia uma
pressão, mas ele não a penetrou. Ele agarrou meus cabelos enquanto
machucava meus seios com os dentes. Mesmo sendo torturante estava
me afogando em minha ânsia, ardendo no calor do próprio desejo,
desesperada para tê-lo dentro do meu corpo. Movi o quadril tentando
senti-lo melhor. O padre Magnus tomou meus lábios e, como fez com os
seios, o mordeu até sentir o gosto metálico do sangue em minha língua.
Murmurei de dor e quase engasguei quando ele mergulhou seu
membro nas profundezas da minha boceta. Sem gentileza, ele começou a
me foder com força sobre o altar sagrado da capela. Ele circulou as mãos
grandes em meu pescoço e começou a apertá-lo à medida que me fodia
sem piedade. Abria a boca e tentava buscar ar, mas o aperto era cada vez
mais forte e as investidas mais violentas. O som dos suspiros dele e dos
nossos ossos colidindo ecoava pelo recinto cheio de blasfêmia tanto do
ato quanto das palavras que saía da boca do padre Magnus.
Quando pensei que não aguentaria mais, ele soltou meu pescoço e
começou a bater em meu rosto de ambos os lados. Não eram tapas fortes,
mas a cada estalar de suas mãos em minha pele, ele me xingava e
maldizia:
— Sua vagabunda, ordinária!
Então parou de me agredir e me envolveu em seus braços ainda me
penetrando com vigor. Seu hálito era quente e sussurrava beijando meu
rosto latejantes dos tapas. Embora com todo aquele ritmo vigoroso que
ele estava me tomando, meu corpo reagia positivamente as investidas. Os
lábios dele agora tocavam meu pescoço beijando-os, mordiscando-o.
Seus cabelos pretos estavam úmidos pelo esforço assim como sua pele.
Deslizei as mãos em suas costas e cravei as unhas em sua carne. Agora
sua língua penetrava a minha boca no mesmo ritmo de suas investidas,
exigindo uma rendição total.
Movi os quadris buscando mais dele, tentando alcançar aquelas
sensações incompreensíveis, mas extasiantes. Ele batia minha boceta
com o pau enorme tão profundo que me levou a um prazer pecaminoso e
cheio de blasfêmia. Gritei e arranhei as costas dele sem me importar com
mais nada em uma submissão completa. Padre Magnus continuou me
fodendo até que ele também derramou sua porra quente dentro de mim.
— Oh, foda-se, Deus!
O pau dele contraiu potente e parou de bombear e permaneceu
deitado sobre mim por longos minutos sem falar nada, somente nossas
respirações eram ouvidas. Eu tentava a todo custo segurar o pranto.
Padre Magnus se moveu e saiu de cima de mim de uma vez. Meu corpo
judiado e, ao mesmo tempo, saciado ficou deitado na mesma posição.
— Desce!
Com dificuldade saí da mesa e fiquei de pé sem saber o que fazer. Me
sentia trêmula e exausta. Mas padre Magnus ainda não havia acabado.
Com brusquidão, ele segurou em meu braço e me virou empurrando-me
sobre o altar. Agarrou meu cabelo e puxou até fazer minha cabeça
curvar-se para trás e me fez olhar para a imagem de Jesus na cruz.
— Olha para Ele e lhe diga o quanto você é uma pecadora traidora.
Vamos, vadia, Diga!
Ele puxou mais ainda meu cabelo rente ao couro e balançou minha
cabeça. Entre soluços de desespero comecei a falar com Jesus na cruz,
repetindo as palavras que o padre Magnus proferia:
— Pai, eu sou uma pecadora e mereço ser punida e humilhada. Eu traí
Sua confiança, eu sou uma vadia depravada.
Com a mão livre, o padre começou a estapear minha bunda nas duas
polpas com muita força. As lágrimas escorriam em meu rosto
misturando-se à minha saliva. A cada golpe ele me mandava repetir as
palavras de humilhação. Até que ele parou e soltou meu cabelo. Deixei
minha cabeça cair sobre a mesa. Agora ele apertou a carne do meu
traseiro com as duas mãos e alargou o buraco. Senti ele cuspir na minha
bunda e passar os dedos entre o vale. Meu coração começou a pular
como um louco ao adivinhar sua intenção. Levantei a cabeça e o tórax e
tentei me virar, mas ele me prendeu com suas coxas e agarrou meus
cabelos novamente.
— Olha para a cruz enquanto fodo seu rabo intocado.
— Padre Magnus... — tentei protestar, mas ele estava impiedoso.
Engoli a saliva muito nervosa pelo que viria. Senti seu pênis contra a
minha bunda e o coração bateu acelerado sobre a caixa torácica deixando
uma secura na minha boca. Meu corpo quente estava sensível pela
tensão.
Oh, Deus!
Antes que eu tivesse a chance de pensar, ele empurrou a cabeça
inchada do seu pau no meu anel apertado. Gritei de dor enquanto ele
alargava meu canal que nunca foi invadido e o abria como o fino elástico
de uma luva. A dor era lacerante, da minha garganta saltava um som de
angústia, choro e saliva.
Ele parou de me penetrar quando seu pau estava todo dentro de mim.
Então ele puxou mais ainda meus cabelos e começou a se mover.
— Repete que você é uma vadia suja, uma Judas.
— Eu sou... Senhor... — repetia olhando para a imagem de Jesus
enquanto ele pegava velocidade me fodendo no cu.
A pressão do seu pau esfregava contra a borda do meu buraco que,
àquela altura, já havia cedido todo seu limite. Ele me estocava forte e
meu corpo esfregava sobre o mármore. Meus seios estavam esmagados
entre meu corpo e a mesa do altar. Os quadris dele batiam na polpa da
bunda intensificando assim a ardência do local, que já havia sido punido
pela sua mão. Embora fosse uma experiência nova para mim e muito
incômoda, minha boceta estava latejante e muito molhada à medida que
ele me comia por trás.
Então, de repente ele parou e senti seu fluido quente invadindo meu
canal anal. Ele grunhiu e gritou. Senti seu corpo todo tremer e seu peso
desabar sobre mim. Quando ele tinha acabado de gozar, puxou o pau e
percebi o sêmen deslizando perna abaixo. Eu estava tão dolorida e
cansada, que praticamente escorreguei da mesa quando ele se afastou e
me sentei no chão. Fiquei assim ouvindo o farfalhar de roupas. Em pouco
tempo, ele estava completamente vestido.
Sobressaltei quando ele lançou o vestido sobre mim e a calcinha.
— Vista-se.
Muito dolorida e suja de todos os fluidos do sexo, vesti-me e tentei
ajeitar os cabelos. O padre Magnus se aproximou de mim, segurou na
minha cintura e me fez sentar sobre a mesa. Afastou minhas pernas com
o corpo e se enfiou no meio delas. Assustada perguntei:
— De novo?
Ele segurou meu maxilar com força e aproximou seu rosto do meu.
— Tudo, absolutamente tudo que aconteceu e que irá acontecer foi
somente por sua culpa. Entendeu?
— Sim.
Então ele passou as mãos sobre meu rosto com a maquiagem borrada
e limpou com força.
— Se eu a vir novamente com essa graxa perfumada no rosto, a
tirarei com tapas. Compreendeu?
— Sim. — Minha voz saiu embargada.
A boca dele tomou-me entre beijos selvagens. Apertou mais forte os
ossos da minha face quase deslocando e perguntou:
— Quantos você já beijou?
— Só ele.
— Não minta.
— Eu não estou mentindo, padre Magnus.
— Sua boca me pertence, garotinha, assim como o seu corpo. Nunca
mais nem ouse sonhar em beijar outro, porque, se isso acontecer
novamente, eu acabo com você.
Ele me largou. Tirou o lenço do bolso do paletó e me estendeu.
— Limpe o rosto e tire essa cara de choro. Vamos embora, sairei
primeiro e depois você. Vá direto para o salão de festas. Ah! Não se
esqueça, Eve, eu sei de cada passo seu, não me desafie ou se arrependerá
amargamente.
Com isso, ele saiu e me deixou. Ainda atordoada por tudo que havia
acontecido, limpei o rosto com o lenço e assoei o nariz. Desci do altar e
olhei para o sacrário. Pedi perdão a Deus em silêncio e saí da capela.
Andei pelo corredor devagar. Me sentia moída e muito dolorida em
muitos lugares. Ao passar pelas janelas de vidro, percebi de longe sirenes
de carro da polícia e de paramédicos. Parei para tentar ver o que tinha
acontecido e ouvi passos vindo em minha direção. Antonella apareceu e
logo atrás dela o padre Magnus.
— Onde você estava, amiga?
Lancei um olhar rápido para o Padre Magnus e vi suas sobrancelhas
levantadas de maneira cínica.
— Eu disse para a Srta. Grasso que a vi vindo da direção da capela —
ele falou.
— Ah sim, eu estava lá... e... e...
— Não importa — Antonella me cortou. — O que você precisa saber
agora é que aconteceu um acidente.
— Acidente? Então é por isso que a polícia está aqui?
— Sim. Acabaram de chegar, parece que uma menina se matou. Acho
que você já a viu, era uma estudante veterana, com o cabelo colorido...
Senti uma vertigem na hora e cambaleei, o padre Magnus que estava
do meu lado me amparou. Não consegui segurar e vomitei uma boa parte
do meu conteúdo estomacal praticamente em cima dele.
— Me desculpa — falei com a voz trêmula limpando a boca com o
próprio lenço dele que segurava apertado na mão. Antonella, embora
preocupada, não percebeu o clima tenso.
— Acho que você bebeu demais, amiga.
Padre Magnus não me soltou e continuou me segurando junto dele.
Nos afastamos e ele me fez sentar em um banco do corredor.
— Você está bem? — Antonella perguntou.
— Acho que sim. Mas o que aconteceu com a menina?
— Dizem que ela se jogou na frente de um carro e morreu atropelada.
Arregalei os olhos e encarei o padre Magnus. Ele manteve sua face
impassível. Era muita coincidência, mas ele estava comigo. Minha cabeça
rodava confusa, eu queria questionar, mas me mantive em silêncio,
porque as catástrofes daquela noite envolviam bem mais do que ele me
possuir daquele jeito.
A garota estava morta, meu Deus!
Uma semana depois do baile...
Era quase impossível me concentrar na aula quando minha menina
estava sentada na primeira fileira me olhando com seus grandes olhos
verdes. Porra, nunca me senti assim com minhas alunas escolhidas para
me servirem na cama. Com Eve estava sendo diferente, tudo nela era
único e isso estava me levando a um nível perigoso.
Alguém bateu à porta e eu ordenei que entrasse. O rapaz entrou com
o rosto vermelho, parecia que havia corrido uma maratona. Olhei para
ele severamente e consultei o relógio de pulso, estava atrasado menos de
dez minutos, para qualquer outro aluno isso não seria um problema tão
grandioso, realmente não me importaria, mas não para ele, não para
Felipe Leopoldo.
— Qual a sua desculpa para o atraso, Sr. Leopoldo?
— Me desculpa, professor Crawford, o meu motorista novo...
— Que desculpa é essa? Vai colocar a culpa do seu desinteresse em
chegar no horário no motorista?
— Não, senhor... É que...
Ele não sabia o que falar, estava tão constrangido por ter sido
chamado atenção daquela maneira na frente de todos que ficou sem
ação. Ótimo! Assim que eu quero. Assim que eu gosto.
— Sente-se! — ordenei.
O rapaz timidamente procurou um lugar vago e acomodou-se. Olhei
em direção de Eve e ela o olhava com pena. Meu sangue borbulhou nas
veias, ela ainda insistia em ter qualquer tipo de interesse por esse
moleque, mesmo que fosse de solidariedade? Mantive meus olhos
focados nela até que ela me encarou e imediatamente ficou vermelha e
abaixou o olhar, ela já sabia o que a esperava mais tarde.
— Então, vamos continuar a aula que foi interrompida. Srta. Bennet,
distribua os testes com as notas. Quero que observem bem suas
avaliações e me digam por que acham que receberam essa nota.
Eve levantou-se e aproximou-se da minha mesa. Entreguei os testes
para ela e cruzamos olhares. Eu mantive os meus frios como um lago
congelado e os dela confusos, sem saber exatamente por que estava
carrancudo daquele jeito. Mas ela saberia em breve.
Eve começou a devolver os testes, a expressão de uns era de alívio e
de outros apreensivos, mas a do Felipe foi a mais interessante,
principalmente para mim, ele jamais esperava um D, a menor
classificação. Fiz questão de colocá-la bem grande no centro da folha. Ele
parecia incrédulo pela nota, pois ele sabia tanto quanto eu que tiraria um
A+. Ele não errou exatamente nada e era muito bom nessa matéria,
contudo, quem decidia a nota era eu. Minha menina por sua vez ficou
contente por receber A, mas dei essa nota porque quis, pois era para ser
um C, mas gostava de vê-la feliz. Quando ela terminou, voltou para o seu
lugar.
— Vamos começar por você, Srta. Bennet. Diga-nos qual foi sua nota e
por que a recebeu.
— Bem! A minha nota foi um “A”, e realmente não sei explicar como
consegui, talvez tenha sido sorte?!
— Você acredita em sorte, Srta. Bennet?
— Às vezes.
— Não existe sorte, mas esforço. Ultimamente tem se mostrado muito
esforçada.
Passeei meus olhos em todo seu corpo que estava bem-comportado
em um conjunto de calça jeans e blazer, que escondiam bem suas formas,
embora a calça fosse justa. Meu pau se moveu na calça, merda, só de
olhar para ela já ficava excitado. Por sorte estava atrás da minha mesa,
sentado.
— Obrigado, Srta. Bennet. O próximo, senhor Leopoldo — continuei.
— Minha nota foi um D — ele falou baixo, derrotado.
Houve um burburinho na sala, todos os alunos ficaram surpresos, ele
nunca havia tirado uma nota tão baixa antes, mas, na última semana,
preparei tudo para desestabilizar esse moleque, desde a mudança do
motorista da família dele até a mudança da psicóloga que o tratava há
anos. Hoje seria a reta final.
— Por que acha que mereceu essa nota, senhor Leopoldo? —
questionei.
— Eu... eu não sei!
— Não sabe? Me diga, também não saberá o que fazer quando estiver
operando um dos seus pacientes? Quando estiver com a vida de algum
animalzinho de estimação de alguém nas mãos?
— Não...
— Então explique sua nota.
— Acho que não me esforcei o suficiente.
— Só isso? Pois não acho, tenho certeza, ultimamente tem se
mostrado um desleixado e incompetente, e isso se reflete na sua
avaliação final.
O rapaz ficou de cabeça baixa, completamente desmoralizado.
Perfeito!
— Próximo! — ordenei.
A aula continuou. Quando todos já haviam cumprido as
apresentações da nota, mandei que dividissem a turma em grupos para
um trabalho. Por azar da minha Eve e do Felipe, eles ficaram no mesmo
grupo e, para piorar, o idiota sentou-se do lado dela. Eve claramente
estava nervosa, mas Felipe, querendo se sair bem naquela tarefa depois
do fiasco na avaliação do teste, discutia cada detalhe com ela. Observava
a maneira que ele apontava as coisas na tela do laptop. Eve evitava olhar
para mim.
Em um determinado momento, comecei fazer algumas apresentações
nos slides para ajudá-los na tarefa, mas, mesmo falando para os alunos,
minha atenção era voltada para Eve e o comportamento de Felipe.
Percebi quando ele se inclinou e falou algo próximo do ouvido dela. Senti
meus olhos estreitos e minhas mãos se fecharam em punho. Eve parecia
muito incomodada com a aproximação, ele continuou falando com ela e
decidi interromper:
— Senhor Leopoldo, se pretende ficar de papinho enquanto estou
falando e já sabe toda a matéria, por favor convido-o a ocupar meu lugar
e lecionar para essa turma.
— Sinto muito, professor Crawford, mas estava discutindo com a Srta.
Bennet justamente sobre a matéria.
— Não me interessa o que está discutindo ou não — falei com a voz
cortante como navalha.
Ele se endireitou na cadeira e ficou vermelho como um pimentão. Eve
por sua vez, não fez nada, se manteve de cabeça baixa torcendo as mãos
uma na outra. Retornei à aula. Quase no final do horário terminar,
mandei que todos voltassem para os seus lugares e entregassem seus
relatórios.
— Para a próxima semana, quero um artigo de 20 páginas sobre a
variante genética de uma certa população de vírus que atacam primatas.
Voltei-me para a lousa branca e comecei a escrever. Ouvi um barulho
de papel e murmurinho de vozes surpresos. Sem me virar, comuniquei
duro:
— Não ajam surpresos com isso, está em seus currículos.
— Mas o tempo é muito curto, Sr. Crawford.
Voltei-me para Felipe, que ousou reclamar:
— Se não acha que é capaz de cumprir um artigo científico no tempo
estipulado, não deveria estar na minha turma.
O silêncio foi geral.
— Mais alguém quer questionar?
Nem um som.
— Ótimo!
Naquele momento, o sinal tocou, os alunos respiraram aliviados e
começaram a recolher seus materiais. Sentei-me em minha cadeira
esperando. Quando Felipe Leopoldo já estava a caminho da saída, o
chamei:
— Senhor Leopoldo, espera um instante, quero lhe falar.
O rapaz parou para esperar todos os alunos saírem, inclusive Eve, que
me lançou um olhar de alarde.
Quando a sala estava vazia, voltei-me para o jovem. Avaliei seu
semblante e postura. Um moleque insignificante como aquele não era
páreo para mim, não acreditei que Eve teve a ousadia de beijá-lo só para
me desafiar, porque não havia outra explicação para o comportamento
dela.
— Senhor Leopoldo, percebi seu comportamento nos últimos dias,
está completamente disperso. Há alguma coisa o afligindo?
— Não exatamente, eu sinto muito por não estar me esforçando o
suficiente.
— Tem passado por algum problema pessoal?
O rapaz ficou quieto. Suspirei fundo.
— Senhor Leopoldo, sei que fui duro hoje, mas não admito
fracassados em minha turma, e o senhor está se mostrando assim. Mas
quero que confie em mim para se abrir sobre o que o aflige. Tenho uma
hora vaga depois do almoço, vai até o meu escritório para conversarmos.
— Sim, e-eu irei.
— Ótimo! Te espero por lá.
O rapaz saiu, o acompanhei com o olhar diabólico e a respiração
carregada. Recolhi meus materiais e fui para a minha sala.
Ao chegar, joguei a maleta sobre o sofá de couro preto e fui para o
canto onde havia uma mesa com cafeteira elétrica. Escolhi um dos cafés
aromatizados e coloquei no compartimento. Liguei o aparelho e logo o
aroma do café fresco inundou o cômodo. Assim que a bebida ficou
pronta, peguei a xícara e me sentei à minha mesa.
Comecei a ingerir o café puro, enquanto olhava algo importante na
tela do meu computador. Ali estava toda a ficha do Felipe Leopoldo.
Deslizei o dedo no rolinho do mouse para reler aquilo que já sabia sobre
ele.
Mandei que o investigasse no dia seguinte ao baile e em menos de 24
horas tudo que eu queria saber sobre a vida dele estava entregue em
meu e-mail. A vida acadêmica dele era excelente, já sabia de tudo que eu
precisava saber, contudo, eu precisava saber sobre a vida pessoal dele,
para traçar meu plano.
A vida do jovem a princípio parecia como a de muitos que estudavam
na Pontifícia Universidade Gregoriana, de família rica e normal. Todavia,
não era bem assim. Eles não eram ricos, tinham uma vida de classe
média, não eram exatamente podres, o pai tinha um bom emprego na
Bolsa de Valores, contudo ele conseguiu uma bolsa na universidade por
ter um QI elevado.
Os pais dele haviam se separado dois anos atrás e, por conta disso, ele
teve um quadro de depressão severa. Tentou se matar pelo menos duas
vezes e, desde então, tinha acompanhamento psicológico e tomava
alguns remédios controlados. Com essas informações em mãos mexi
meus pauzinhos.
A primeira coisa que mandei fazer foi afastar a psicóloga dele, isso me
daria um tempo para que seu pai não conseguisse contratar outra
rapidamente. Em seguida, fiz com que o motorista da família fosse
demitido e no lugar infiltrei um sob o meu comando. O trabalho dele era
atrasar o Felipe algumas vezes quando estivesse vindo para a faculdade e
o principal, mudar os remédios para placebos.
Agora, depois de uma semana sem tomar o verdadeiro
antidepressivo, sem terapia e recebendo pressão sobre ele, seria fácil
manipulá-lo para aquilo que queria. Ninguém entrava no meu caminho e,
principalmente, chegava perto da Eve.
Não medirei esforços para eliminar da face da Terra.

Uma hora depois, Felipe Leopoldo entrava na minha sala. O recebi


com um sorriso.
— Sente-se, Sr. Leopoldo.
— Obrigado.
O jovem acomodou-se e eu o avaliei com os olhos estreitos. Percebia-
se que ele já estava abalado, o semblante jovial estava carregado de
tensão e até a aparência desleixada, não havia nem mesmo se barbeado e
uma sombra de barba ruiva despontava em seu rosto. Os olhos verdes
estavam sem brilho.
— Aceita um café? — ofereci.
— Não, obrigado.
— Gostaria que não ficasse apreensivo, aqui não estou no papel de
um professor, mas um padre amigo que quer te ajudar.
Ele olhou para mim e vi que seu rosto relaxou, tímido começou a
falar:
— Ultimamente realmente tenho me sentido triste. Sei que isso não
justifica meus atrasos e nem a nota baixa.
— Entendo. O que o aflige, meu jovem?
— Padre Magnus, eu posso me abrir com o senhor sobre meus
sentimentos? Não tenho outras pessoas que possam me ouvir sobre isso,
mas me sinto tão angustiado. Eu cheguei a compartilhar com minha
psicóloga e ela me aconselhou a dar tempo ao tempo, mas agora não a
tenho...
— Está enamorado de alguém...?
— Sim... — Ele ficou vermelho, mas começou a falar: — Eu gosto dela
desde que nos conhecemos no primeiro dia de aula. Ela é como um anjo
na minha vida, penso nela todos os dias. Só que algumas vezes acho que
ela gosta de mim, mas outras vezes não, porque ela se esquiva. Contudo,
no baile, uma esperança renasceu.
— Quem é essa moça que está mexendo tanto com você assim?
— A Srta. Bennet.
O silêncio caiu sobre o ambiente. Ouvi-lo falar pela própria boca que
queria o que era meu, fez minha raiva triplicar. Contudo, mantive a face
impassível, porém estava na hora de tirar esse pirralho do meu caminho.
— Sr. Leopoldo, já se olhou no espelho?
— Bem... Sim...
— Você acha que um jovem como você, com cabelos ruivos e sardas,
tem alguma chance com a Srta. Bennet?
— Eu... eu acho que ela não se importa com a aparência.
— É claro que se importa. Por que você acha que ela se esquiva de
você?
— Talvez por ser tímida...
— Meu jovem, sinto muito, mas tenho que ser sincero com você. A
Srta. Bennet nunca lhe dará uma oportunidade. A família dela é
milionária, tem status. E você, um pobre com pais separados.
Quando falei sobre os pais, percebi na hora que ele ficou muito
magoado. Ele começou a bater as pálpebras tentando segurar as
lágrimas. Eu continuei meu discurso:
— Não é certo o que vou lhe falar, pois a Srta. Bennet me disse isso
em uma das nossas conversas enquanto ela me ajudava aqui nessa sala,
como minha assistente. Ela disse com todas as letras que jamais
namoraria com você, pois o acha feio. Ela o admira por ser inteligente e
por isso é sua amiga, mas jamais passará disso. Sinto muito lhe contar
dessa forma, mas assim é melhor, não cria mais ilusões em sua cabeça.
O rapaz ficou extremamente abalado. As mãos dele começaram a
tremer e as lágrimas que tentava segurar escorreram. Continuei
cruelmente e seco:
— Sabe, lhe dou um conselho, quando a gente tem uma coisa que não
anda bem na vida, não vale mais a pena viver. Deus não quer ver seus
filhos sofrendo, por isso o melhor a se fazer é deixá-la.
— O senhor quer dizer... tirar a própria vida?
— A vida é para ser plena. E se não é, para que continuar vivendo?
Fiz uma pausa. O jovem estava agora confuso, percebia-se pelos seus
olhos que eu havia atingido.
— Olha! A Srta. Bennet e ninguém quer ficar com um fracassado
como você. Digo isso como amigo e padre. Liberte-se. Deus estará lá do
outro lado te esperando.
Sem mais, o jovem levantou-se e saiu da sala como um zumbi. Alvo
atingido.
Passados alguns minutos, enviei uma mensagem para Eve:

Padre Magnus: “Venha para a


minha sala, agora.”

Sequei as lágrimas com o dorso da mão e andei em passos rápidos


pelos corredores. Escutei os alunos; suas risadas, suas felicidades. Eu
queria ser assim também. Quem eu quero enganar? Nunca fui como eles,
nunca fui normal como eles. Cheguei aqui para ser como eles e fracassei,
porque era totalmente diferente e até o padre Magnus percebeu isso.
Não me encaixava, não me enquadrava. Era inferior.
“Imbecil! Idiota!”, minha cabeça insistia em repercutir tudo aquilo
que já sabia.
Entrei na sala de aula da professora Suzane e fui direto para a última
carteira, queria ficar sozinho. Mas alguns alunos da turma do professor
Crawford, entre eles Antonella e Eve, estavam presentes e um dos
veteranos reverberou em graça a minha derrota. Tudo bem, ele só foi
engraçado, eu que não deveria estar aqui. Esse nunca foi o meu lugar na
verdade.
— Felipe! Ei! Vem cá, só foi uma nota vermelha! Aposto que vai
recuperar isso. Aliás, eu não vou deixar você e nem a Eve em paz! —
Antonella apareceu na minha frente falando com meiguice e jogando os
cabelos.
Meus olhos baixos para mesa branca, viraram até a mesa de Eve,
onde ela se levantou pegando os materiais. Antonella virou-se para ela e
reclamou sobre alguma coisa que mal consegui escutar, olhei para aquela
menina bonita com lábios doces e de beleza natural. Eu achei que tinha
chances com ela, achei que aquela menina inteligente e sofisticada
pudesse me entender. Mas eu me enganei, não com ela, mas comigo
mesmo. Ela saiu da sala, antes da professora entrar.
Peguei os livros e até tentei me concentrar na matéria, mas nada
passava pela minha mente a não ser as palavras do professor e padre
Magnus Crawford. Ele estava certo, ele era um padre, eu não tinha como
negar.
Deixei todos incrédulos quando pedi para sair mais cedo alegando
estar com dor de cabeça, após ligar para que o motorista viesse me
pegar.
Eu só consegui entrar no carro, agradecer ao motorista e olhar para
as ruas de Roma uma última vez com os olhos embaçados.
Minha mãe era uma mulher linda, de cabelos ruivos e olhos verdes
como os meus, mas depois que se separou de papai poucas vezes me
ligava e sempre disse estar em viagens para fugir de mim. Ela
provavelmente conheceu a América e a Europa inteira, mas nunca me
enviou um cartão postal e toda vez que ligava para os resorts e hotéis que
ela deveria estar hospedada, descobria que ela nunca havia pisado no
local. Isso não me incomodava, o que me incomodava era que, agora mais
do que nunca, eu sabia porque ela fugiu de mim.
— Tenha um bom dia, Sr. Leopoldo. Seu pai disse que logo estará em
casa, já deve estar saindo do trabalho para saber se o senhor está bem.
— Se puder falar com ele, diga que não precisa — disse ao motorista
quando o carro parou na frente da minha casa.
Saí do carro e fui recebido por Madalena, uma mulher simpática
quase da mesma idade e altura do meu pai que cuidava da casa quando
ele não estava, uma boa governanta.
— Você está bem, meu garoto?
— É, estou sim. Só apenas cansado.
— Tem certeza?
— Estou ótimo, Madalena. Eu só preciso de um tempo, para pensar.
Madalena me acompanhou até a porta do meu quarto gentilmente.
— Que tal seu prato favorito? Demora um pouquinho para fazer
aquele tiramisù maravilhoso que você gosta, mas aposto que isso vai
colocar um sorriso em seu rosto.
Coloquei um sorriso amarelo em meu rosto, tentando passar um
sentimento que não estava sentindo.
— Eu vou adorar, Madalena.
— Então é pra já!
Ela se virou e eu entrei no meu quarto. Encostei a porta e deixei os
livros sobre a mesa de estudos. Olhei para as paredes brancas com
pequenos detalhes azuis, deveria estar cheio de pôsteres, objetos de
coleção que jovens da minha idade gostavam de ter em seus quartos, até
mesmo revistas de mulheres. Mas não, pelo contrário. Tinha troféus de
estudos que ganhei por minhas boas notas, livros e uma velha vitrola que
pertencia a minha mãe.
Peguei um disco velho de Elvis Presley, um dos meus cantores
favoritos, além das bandas de rock clássico. Deixei a música “Can’t help
falling in love” tocar tranquilamente enquanto me sentei na minha cama
e tirei os sapatos.
Todos os dias que eu chegava da faculdade colocava essa música para
tocar e imaginava mil e uma coisas sobre mim e Eve, no baile. Apesar de
todos os acontecimentos, eu dormia pensando sobre a música e o toque
suave dos lábios dela. Agora não era muito diferente. Senti um frio na
barriga, os lábios dela nos meus foi minha maior conquista.
As lágrimas caíram e não fui capaz de evitar! Fraco! Tonto! Tolo!
Idiota, bastardo! Minha boca tremia e sentia vontade de gritar, mas só
funguei de raiva olhando para os pequenos sinais de sujeira no chão.
Passei os dedos sobre os cabelos, sentindo raiva de mim! Do estafermo
inútil que me tornava a cada santo dia, eu não suportava isso, ele estava
certo. Ele estava. Eu precisava ir para um lugar melhor.
“A Srta. Bennet e nem ninguém quer ficar com um fracassado como
você.”
Suspirei fundo escutando as batidas do meu coração no ritmo da
música, olhei para garrafa de água ao lado do abajur na mesa da
cabeceira. Abri a gaveta e peguei o frasco de remédio que acabou
deslizando das minhas mãos trêmulas e espalhando todos os
comprimidos. Na gaveta, por baixo de todos os papéis, eu sabia
exatamente o que se escondia, no quarto do meu pai também tinha uma
arma de segurança e não queria que nada falhasse.
Minha mãe não sentiria falta, meu pai ia estar livre afinal eu era um
derrotado.
Engoli um nó na garganta.
“Eu deveria permanecer? Ou isso seria um pecado?”, a música
contornou meus pensamentos ao mesmo tempo que me fez lembrar dela.
Não tem mais.
Não tem menos.
Se eu sou o único culpado por ser quem eu sou, pra que viver?
“Deus estará lá do outro lado te esperando”, foi o que ele me afirmou.
Sorri por dentro, quando Madalena trouxer meu prato favorito a
única coisa que irá encontrar será um cadáver. Até depois de morto,
darei trabalho. Até depois de morto serei quem eu sou: um fracassado.
Ouvi um som alto. Os pássaros voavam das copas das árvores.
Horas antes...
Recebi a mensagem do padre Magnus no momento que cheguei na
classe da professora Suzane e já me preparava para a aula. Juntei meus
materiais e coloquei-os dentro da mochila novamente. Antonella, que
falava alguma coisa com Felipe, que estava no fundo da sala, voltou-se
para mim e segurou meu braço.
— Ei! Vai onde? Temos aula agora.
— Eu tenho que fazer algo antes, é só uma coisa que esqueci. Avisa
para a professora que chegarei um pouco atrasada.
— É para o professor Crawford?
— É... — falei entrecortado.
— Entendi.
Sem querer dar mais atenção para Antonella, praticamente corri para
a saída e no corredor dei de encontro com a professora Suzane.
— Oi, Eve, o professor Crawford me disse que precisará de você na
próxima hora. Ele pediu para dispensá-la da minha aula hoje, então não
precisa se preocupar.
— Ah! Obrigada. Eu pego a matéria depois.
— Fica à vontade, querida.
Voltei a andar com passos rápidos até a sala dele. Enquanto
caminhava, pensava no que falar com ele. Desde o dia fatídico do baile,
que não nos encontrávamos a sós, em nenhum momento me mandou
chamar e nem ao menos me enviou mensagem durante a noite, como
sempre fazia. Ele simplesmente não fez nada, foi somente meu professor.
Por isso não pude lhe questionar sobre as outras moças que foram
suas assistentes e especificamente a que me confrontou no banheiro.
Fiquei muito abalada com a morte da garota e, por um momento, pensei
que padre Magnus podia ter alguma coisa a ver com isso, talvez não
diretamente, mas indiretamente. Imaginei que ele, de alguma maneira,
tivesse chamado atenção dela por ter falado comigo ou algo assim e por
isso a menina teria se jogado na frente daquele carro. Contudo, quando
as aulas retornaram, foi comunicado que a morte dela foi realmente
acidental. Segundo a polícia, ela estava bem alterada, bêbada e não
prestou atenção ao atravessar a rua e praticamente se jogou na frente do
carro que não a viu e acabou atropelando-a. Não foi intencional. O
motorista não prestou socorro e não foi encontrado ainda.
Porém, ela me disse que teve outras, inclusive algumas se mataram.
Não parei de pensar sobre isso, me perguntava se tinha mais uma na
faculdade. Mesmo nas aulas dele, me questionava se era verdade da
garota ou se ela só falou aquilo para me afastar dele. Com certeza, ela
teve realmente algum caso com ele, já que sabia do cômodo secreto...
Droga! Meu coração deu um baque, não queria me sentir assim. Mas
só o fato de saber que ele levou outras para lá... Revirei os olhos,
indignada comigo mesma. Que coisa, você pensou que era a primeira dele?
Como você é burra! Claro que não, Eve, ele nunca foi um homem
inexperiente se tratando de sexo, não mesmo. Ri de mim mesma e de
pensar que achei que ele era virgem. E aquele quarto não estaria lá
somente para você. Como sou tola!
Na frente da porta da sala dele, suspirei fundo antes de bater duas
vezes sobre a madeira lisa. Recebi a ordem para entrar. Ele estava
sentado em sua cadeira de couro e me encarava com seus olhos azuis
intensos atentamente. Seu olhar era um tanto hostil.
— Tranque a porta! — Hesitei um pouco antes de fazê-la, mas fiz.
Voltei-me para ele e pigarreei antes de falar:
— Padre Magnus, eu tinha uma aula agora, não achei de bom tom me
chamar.
— Você está bonita hoje.
Fiquei sem jeito e ruborizei um pouco, não esperava que receberia
um elogio, mesmo assim não vou cair em seus encantos, precisava
esclarecer algumas coisas. Apenas por educação o agradeci pelo elogio.
— Sente-se, Eve, está com medo de mim?
— Não. Mas deveria, não é? Afinal de contas, estou nas mãos de um
sedutor, para dizer o mínimo.
Enquanto falava, me acomodei em uma das poltronas também de
couro afofado que ficava de frente para a mesa dele. Padre Magnus se
aprumou na cadeira e juntou as duas mãos sobre a mesa e inclinou para
a frente.
— Vamos deixar algumas coisas claras, Eve. Não falarei sobre as
outras com você. Aconselho-a esquecer sobre isso.
— Esquecer? Aquela moça está morta e provavelmente outras
também.
— E você acha que tenho culpa pelos fracassos dos outros? Todas
sabiam em que tipo de relacionamento estavam entrando e que teria um
fim.
— E quando será o meu?
O padre Magnus me encarou por alguns minutos, mantive meus
ombros caídos e olhos baixos sorrateiros. Ouvi-o suspirar fundo e a
cadeira ranger. Ele aproximou-se de mim, segurou nos meus ombros e
me fez levantar.
— O nosso relacionamento está longe de acabar, baby.
Meu coração disparou. Deus! Ele nunca me chamou assim tão
carinhosamente. Fiquei hipnotizada quando ele me puxou para si,
passando os dedos entre meus cabelos enquanto trazia meus lábios
lentamente até os dele.
Nossos lábios se tocaram e os dele se moviam delicadamente,
acariciando os contornos dos meus enquanto sua mão me arrepiava de
forma delicada, até que sua língua invadiu a minha boca e meu corpo
derreteu-se em virtude da língua dele deslizando. À medida que o beijo
dele ficou mais intenso e persuasivo, ele passou os braços em minha
cintura e estreitou-me mais ainda ao seu corpo com pressão, os bicos dos
meus seios já sensíveis roçaram no peito dele e meu corpo se apertou
inteiro de uma maneira avassaladora. A barreira das roupas era um
incômodo, e, com urgência, comecei desabotoar a camisa dele ao mesmo
passo que tentava tirar o blazer.
O padre Magnus me levou até a poltrona de couro e me deitou. A
minha ânsia por ele era ardente de desejo.
— Você é a porra de um vício, minha safada, minha ninfa!
Nessa altura, ele já havia se livrado da camisa e o blazer. Seu peito
musculoso tinha pelos escuros que desciam até a barriga e mais além.
Deslizei minhas mãos em seus contornos sentindo sua pele firme e
prazerosa enquanto ele me beijava no pescoço e em todas as partes que
seus lábios poderiam alcançar. Minhas mãos ávidas tiraram o cinto da
sua calça e logo o botão. Enfiei-as por dentro de sua cueca até sentir seu
membro grosso. O pau dele estava quente e palpitante, pude sentir até as
veias vibrando com vigor.
Instantes depois, tanto eu quanto ele estávamos nus entrelaçados nos
amando. O corpo forte dele estava sobre o meu em uma dança perfeita de
paixão e entrega.
Espalmei minhas mãos na bunda musculosa dele enquanto sentia a
cabeça do seu pau quente empurrar em minha vagina molhada. Abri-me
mais ainda para que ele pudesse alojar-se em minha carne latejante.
Senti-o empurrando e o membro sendo revestido nos meus fluidos com
vontade. Joguei minha cabeça para trás e soltei diversos gemidos
enquanto ele me devorava. As mãos dele e boca me apertavam e
mordiscavam enquanto iniciou os movimentos dos quadris.
Os dedos fortes dele apertaram firme a carne dos meus quadris e me
puxou para que todo seu tamanho entrasse em mim. Então ele colocou
tudo e tirou de vez, assim ele fez algumas vezes, o pau deslizava com
facilidade em minha excitação, e o fato dele tirar e colocar de novo,
estava me deixando eletricamente excitada e ainda mais molhada. Ele
mergulhou fundo em minha boceta mais uma vez e a melodia dos
contornos do seu pau esfregando em minhas paredes, fazia meu corpo
inteiro se entregar ainda mais que o possível.
— Ah, sim... sim... — gemi querendo mais e mais dele.
— Você é minha, Eve?
— Sim... Sim, toda.
Assim ele começou a estocar mais forte, agora ele me fodia sem parar
com muita velocidade em um ritmo constante. Meu corpo parecia o de
uma boneca em suas mãos. Eu podia sentir a dureza dele dentro de mim,
enquanto apertava com força, me entregava... e aceitava com desejo os
arrepios correrem por toda minha pele.
O suor escorria livre em nossos corpos quentes, meus cabelos longos
grudaram em minhas costas e rosto. O dele também. Adorava vê-lo
assim, com seus olhos vidrados em mim enquanto me comia com furor. O
calor começou a queimar em minhas entranhas.
O padre Magnus levantou uma das minhas pernas jogando-a para
cima e acelerou o ritmo. Meu corpo todo parecia uma geleia. Fechei os
olhos e me concentrei nos movimentos entre as minhas pernas.
— Pede por isso, minha menina? Você quer... Quer ser a boa garota do
padre?
Assenti quase implorando por isso.
Eu podia senti-lo chegando. Todos os meus músculos contraíram
prontos para a liberação final. A cascata do prazer veio como ondas
enérgicas correndo sobre mim tomando controle do meu corpo e mente.
Vi tudo preto quando minha boceta começou a apertar em volta do pau
dele. Ouvi-o soltar um grito estrangulado logo após, e, por um instante,
seus impulsos pararam. Então, ele retomou e ejaculou forte dentro de
mim. Eu perdi o fôlego com todas aquelas sensações.
O padre Magnus também respirava forte e ainda me fodia até parar,
cansado e saciado. Seus lábios buscaram os meus e ficamos juntinhos
naquela conexão perfeita, sobre nosso suor.
Minutos se passaram até ele se mover e desconectar de mim. Na
poltrona estreita, ele se deitou de lado e me abraçou pelas costas. Seu
pau ficou esmagado na minha bunda, mas não me importei, era tão bom
ficar agarradinha nele, sentindo seu perfume inebriante. Ele beijou meus
cabelos com carinho. Me senti tão completa, que sentia até medo de
quebrar aquela harmonia.
Mas embora o sexo fosse lindo e maravilhoso, algo estava me
incomodando, e constatei que precisava lhe pedir algo. Então sem me
mover, perguntei:
— Padre Magnus, eu posso te falar uma coisa?
— Hum-hum...
— Sobre o Felipe...
Senti que os músculos dele ficaram rígidos e ele se moveu e desfez o
abraço. Na hora soube que fiz uma besteira por falar sobre aquilo nesse
momento, mas agora que comecei já era, iria até o fim:
— Padre Magnus, me ouve...
— Eve, não abra a sua boca para falar desse moleque.
— Mas, padre Magnus, ele não teve culpa do beijo, fui eu que pedi
para ele me beijar.
— Merda!
Então ele levantou-se e começou a recolher as roupas no chão. Eu me
sentei sobre o sofá, nervosa. Que droga! Que droga! Eu precisava
consertar isso:
— Me desculpa! Eu sei que o senhor tem sido duro com ele por minha
culpa e me sinto culpada.
O padre Magnus parou de se vestir e baixou-se para ficar ao meu
alcance, segurou meu rosto entre as mãos e falou rude:
— Você sempre será perdoada, já te disse isso, mas saiba que seus
atos terão consequências. Entende?
— Sim, entendo.
— Então para de chorar, hum! Porque hoje não quero brigar com
você.
Ele deslizou o polegar sobre os meus lábios trêmulos e molhados
pelas lágrimas. Não sei por que chorei mais ainda. Mas ele me abraçou
com carinho. Deitei meu rosto em seus ombros fortes, sentindo uma
tristeza que nunca senti antes, pressentia que algo não estava bem, não
estava no mesmo lugar.
— Eu só queria que você o deixasse em paz...
— Não pense sobre isso, eu não estou de perseguição com ele, não
posso fazer nada se ele é um idiota!
— Mas ele não é...
— Chega! Se insistir nesse assunto, não serei mais gentil com você.
Lembra o que te avisei naquela noite?
— Sim.
— Vai insistir nesse assunto?
— Não.
— Boa menina.
O padre Magnus sentou-se no sofá e segurou o pau, ele já tinha
colocado as roupas de cima, mas ainda estávamos nus por baixo.
— Chupa! — ordenou.
— Padre Magnus, eu tenho outra aula, não posso faltar nessa.
— Eu dou um jeito depois. Faça o que mandei.
Assim que me posicionei, senti seu cheiro saboroso e comecei a
chupá-lo. Passamos toda a tarde na sala dele. Transamos em todas as
posições possíveis. Faltei todas as aulas.
Quando o padre Magnus finalmente me deixou ir, estava no fim da
última aula naquele momento. O sinal tocou alto e eu comecei a andar
pelo corredor apressada. Não queria encontrar com ninguém, muito
menos com Antonella; com certeza, ela iria me questionar por não ter
aparecido em mais nenhuma aula.
Decidi descer as escadas ao invés de ir para o elevador. No meio do
caminho, senti algo muito ruim, foi tão forte que parei. Meu coração
acelerou e bateu como um tambor dentro de mim, pareceu querer sair
pela boca. Uma dor aguda atingiu minha cabeça e me agachei. Sentei-me
no degrau da escada e comecei a tremer. Uma angústia apoderou-se de
mim. Minha face paralisou, senti como se estivesse presa e não conseguia
mover meus músculos.
Então eu vi, era como uma sombra, mas não escura, era como uma
névoa. Tinha o contorno de uma pessoa. Tão rápido como apareceu,
sumiu e uma brisa gelada atingiu meu rosto fazendo-me gritar com uma
angústia devastadora.
— Você está bem?
Olhei para o lado e encontrei os olhos de um rapaz sobre mim.
Limpando o rosto com o dorso da mão, falei tentando passar uma
tranquilidade:
— Sim, acho que senti só um mal-estar, mas já passou.
— Tem certeza?
— Sim. Eu estou bem.
— Eu posso te acompanhar...
— Não, obrigada. Meu motorista já deve estar me esperando.
— Então, está bem.
Ele começou a seguir seu caminho, mas hesitou, voltou-se para mim e
ainda insistiu:
— Tem certeza?
— Absoluta.
Ele deu de ombros e saiu do meu campo de visão. O sorriso que
estava ostentando morreu nos lábios. Minha boca estava muito seca e
meu coração ainda batia forte, mas já havia me acalmado e aquela
angústia rápida havia passado. Levantei-me e segui para a saída.
O fim da tarde estava frio, olhei em volta e vários alunos saíam do
prédio apressados cada um encontrando seu caminho. Vi James parado
me esperando no carro. Andei rapidamente e o cumprimentei entrando
no automóvel.
Respirei fundo e deitei a cabeça no vidro da janela do carro, mal
respondi à pergunta do James. Durante todo o percurso, lembrei-me
daquela sombra e lágrimas escorreram em meu rosto sem que eu
pudesse controlar.
Em casa, durante o jantar, o clima estava pesado, aliás, desde que Meg
desapareceu parecia que tudo estava desmoronando em nossa volta.
Papai agia muito estranho e minha mãe só sabia rezar o terço. Comia sem
vontade até que mamãe perguntou:
— Teve um bom dia de aula hoje?
— Sim.
— Se encontrou com o padre Magnus? — meu pai perguntou
carrancudo.
— Sim, ele é meu professor e, além do mais, sou sua assistente.
— Sei! — papai ironizou.
— Richard, você ultimamente está muito estranho. O padre Magnus é
o professor da Eve, um amigo e conselheiro.
— Você confia muito nesse padre, Eleonora.
— O que está insinuando?
— Nada! Imagina insinuar alguma coisa sobre o querido padre
Magnus.
Meu pai levantou-se da mesa muito irritado e eu fiquei de cabeça
baixa. Minha mãe, como sempre, tentou contornar a situação.
— Desculpa o seu pai, meu amor, ele está passando por um problema
sério na empresa.
Olhei para a minha mãe e me senti muito mal, eu a estava enganando
e não aguentava. Queria compartilhar tudo com ela, mas não podia, não
podia... Meu Deus! Ela não merece. Eu sou uma filha horrível, assim como
padre Magnus falou.
— Você está bem, Eve? — mamãe perguntou preocupada.
— Mãe... eu quero te falar algo...
Naquele momento, Jemima entrou na sala de jantar nos
interrompendo com o telefone da casa na mão.
— Sra. Bennet, é alguém da faculdade da Eve. Parece urgente.
Arregalei os olhos, apreensiva. Mamãe pegou o aparelho e atendeu
olhando para mim. Seu rosto mudou gradativamente de preocupada para
horrorizada. Ela deixou o aparelho cair no chão.
— Mãe, o que aconteceu? — perguntei com o coração na mão.
— Filha, você precisa ser forte.
— Não! — já falei me debulhando em lágrimas.
— Eu sinto muito, filha, mas... mas seu amigo de classe, o Felipe...
— Não, mãe, não diga nada, não!
Minha mãe correu para mim e me abraçou.
— Infelizmente tenho que te falar. O Felipe está morto. Ele tirou a
própria vida.
— NÃOOOOO!
Uma deprimente garoa fina caía naquela tarde. O padre Magnus, com
suas vestes sacerdotais, fazia o sermão. Olhava atentamente para o
caixão de madeira polido com a foto do Felipe no tampo. Me sentia
entorpecida; minha mãe, abraçada a mim, tentava me acalentar. Usava
óculos escuros para esconder meus olhos muito vermelhos de tanto
chorar e uma roupa preta em respeito ao luto. A culpa pesava sobre mim
como uma rocha de mil toneladas em minhas costas. Foi culpa minha,
tudo culpa minha, eu o fiz cometer essa loucura.
Haviam muitas pessoas no enterro, praticamente toda a classe estava
ali, muitos dos professores e funcionários todos com suas vestes pretas e
guarda-chuvas em sinal de luto. Felipe era muito querido e nem ele
mesmo sabia a dimensão disso. O pai dele estava desolado, ele não
conseguia esconder a emoção.
O caixão começou a descer para o seu sepulcro. Acompanhava tudo
como se estivesse entorpecida. Quando já estava acomodado no fundo da
cova, todos à volta jogaram rosas brancas, inclusive eu. O pai dele
aproximou-se com um disco de vinil na mão e o último troféu que ele
havia ganhado como melhor aluno. Com muita emoção, ele discursou:
— Meu filho teve pouco tempo de vida nesse mundo, mas o período
que ele passou aqui só trouxe luz e alegria para todos a sua volta. Eu sou
muito orgulhoso por ter tido um filho tão maravilhoso e inteligente.
O homem pausou e puxou o ar forte para dentro dos pulmões.
Agachou-se e colocou os objetos que estavam em suas mãos em cima do
caixão.
— Espero que você tenha encontrado o que procurava, meu filho! Vai
com Deus!
A tampa do sepulcro começou a ser fechada encerrando para sempre
aquela existência. Abracei-me mais à minha mãe deixando as lágrimas
escorrerem. Havia acabado.
Minutos depois, todos já estavam se despedindo do pai dele quando
uma mulher alta e muito elegante, com um sobretudo preto de veludo e
saltos altíssimos, aproximou-se do túmulo. Ela era ruiva como o Felipe. Já
haviam coberto tudo com a grama e somente a lápide de mármore com
os dizeres e a foto do Felipe estavam à mostra e uma grande coroa de
flores sobre o local.
— O que você está fazendo aqui? — o pai do Felipe perguntou para a
mulher.
— Ora! Vim para o enterro do meu filho.
— Seu filho? Nem ao menos deveria ter coragem de dizer isso.
— Pelo amor Deus, Raul. Ele é nosso filho, mas estava sob sua
custódia... E olha só onde ele está agora?! Não venha com essa ladainha,
eu o amava mais do que a minha própria vida.
— Amava? Como diz uma coisa dessas depois de nem ao menos lhe
enviar um cartão de Natal...
Uma senhora, que foi a primeira a encontrar Felipe naquela situação
tão deplorável, se aproximou dos dois acalmando a ambos, para o bem
do filho deles que não gostaria de ver aquela cena.
— Por favor, respeitem a memória do rapaz, não é hora para
discussões.
O pai do Felipe, muito indignado, virou as costas para a mulher e foi
acolhido pelos parentes. A mulher que supus ser a mãe do Felipe,
aproximou-se de onde seu filho repousava eternamente e se ajoelhou,
percebi as emoções em suas feições. A cena era muito triste. Meu coração
estava estraçalhado.
Olhei para a grama molhada e senti o cheiro da chuva tranquila,
lembrei-me, por um relapso de tempo, daquele nosso beijo que não
deveria acontecer, a música, até mesmo sua respiração nervosa e suas
sardas... Ele estava vivo.
— Senhora Bennet.
A voz grossa e viril do padre Magnus me fez piscar deliberadamente
me tirando do devaneio. Ele cumprimentou mamãe e, do mesmo jeito,
sua mão grande apertou a minha. Não queria olhá-lo nos olhos, mas era
inevitável.
— Padre Magnus, devo dizer que o senhor está... tão frustrado e
surpreso com tudo isso quanto eu.
— Nem tanto, isso acontece com muita frequência, pode acontecer
com qualquer um com a mente devastada pela angústia. Ele já tinha um
quadro depressivo.
— Tem razão, só de pensar... Mas Felipe era um bom rapaz e com
certeza está melhor agora, tenho a graça de não perder um filho, isso
acabaria comigo.
— Eve é uma menina devotada, o orgulho da família e, com certeza,
muito bem abençoada...
— É sim, padre, tenho sorte por tê-la.
— Terá muita sorte o homem que se casar com ela.
Encarei o padre Magnus por bons segundos, aturdida, ele também me
olhava cínico. Não pude continuar sustentando o olhar, embora estivesse
com os óculos escuros. Havia lágrimas aflitas presas em meu peito, me
sentia muito mal por estar pecando tanto quanto Judas. Minha língua
queimava por dentro.
— De fato, padre, contudo, quero que ela se forme primeiro —
mamãe falou.
Depois de toda a cerimônia e despedida, as pessoas deixaram o
cemitério com palavras de conforto para os pais de Felipe, que, de certa
maneira, estavam começando a se unir nesse momento de amargura.
Senti que minha vida estava em puro efeito dominó, Meg, Felipe... e o
padre Magnus.

Ao chegar em casa, consegui chegar até meu quarto antes de começar


a chorar. Atirei-me sobre a cama, sufocando os soluços no travesseiro.
Quando aquela tormenta de lágrimas se acalmou levantei-me e fui
para o banheiro. Tomei um banho quente o suficiente para sentir minha
pele queimando. Fiquei embaixo da corrente de água como se fosse
possível remover as lembranças e os arrependimentos tão facilmente
quanto as marcas das lágrimas.
Ao terminar, escolhi uma roupa limpa e confortável, arrumei a cama e
me arrastei debaixo dos lençóis, sem sono e arrasada.
Meu celular vibrou. Simplesmente o ignorei, não queria falar com
ninguém, só queria ficar sozinha. Agora tudo estava em silêncio. Com a
voz triste, cheia de remorso, proferi:
— Sinto muito, Felipe, me perdoa!
Naquela noite não jantei, acabei dormindo profundamente e só
acordei muito tarde no dia seguinte muito enjoada.
Dias depois...

Sentei-me à frente da minha mesa de estudo depois de fechar as


cortinas do quarto.
Mesmo a faculdade tendo atestado dias de luto para a Liturgia de
Felipe, não mudaram pelo fato das provas finais e as mais importantes do
semestre começarem. Eu precisava estudar, precisava me concentrar na
matéria, queria Meg aqui para me acalmar, mas nem sinal dela!
Sempre que olhava para as postagens na internet sentia um profundo
desalento. Algumas pessoas afirmavam que tinham visto ela, mas,
quando me mandavam a foto, eu ia pessoalmente ao encontro para ter a
certeza, com o coração cheio de esperança, de que não era ela, e um
tombo preenchia meu coração.
Liguei o notebook para começar a estudar, peguei os cadernos, livros
e marcadores, mas logo escutei a voz abafada dos meus pais discutindo.
Não havia passado nem mesmo meia hora e todos os dias as brigas se
elevavam mais, que nem ao menos pareciam que eram o casal que tanto
admirava. Estavam se transformando naquilo que eu mais temia.
— Eu já disse que estou bem, Eleonora! Só peço que tenha calma, vou
dar um jeito.
— Esse jeito é se embebedando, Richard?! Que exemplo você está dando
para a nossa filha? Os piores, porque nem mesmo com ela você tem se
importado! Isso já está ultrapassando todos os limites.
Percorri meus dedos pelo couro-cabeludo, olhei para os cadernos,
porém minha cabeça estava longe demais. Sentia um ódio, tristeza, uma
vontade de gritar...
Recebi uma notificação no meu celular que não tinha forças para ver.
Senti minha cabeça latejar de tanta dor e a voz dos meus pais discutindo
me incomodava mais do que eu podia suportar.
Levantei-me arrastando a cadeira e saí do quarto em busca de um
analgésico. Passei pelos corredores e desci as escadas, mesmo assim toda
casa era capaz de escutar e se quebrar com a voz e a briga entre as duas
pessoas que mais amava.
— As coisas vão melhorar, Eleonora, só foi um desfoque. E não estou
tão bêbado assim, isso me ajuda.
— Te ajuda?! Não é o que está parecendo! Ainda vamos conseguir
manter as coisas? Além dos problemas na empresa, você não dá a mínima
com o que gasta com essas bebidas!
— Tenha mais calma! Estamos longes de falir, além do mais sou um
homem influente, querida. Então, tente raciocinar um pouco mais.
— Raciocinar? Eu não sei se consigo mais, Richard. É só o que eu tenho
tentado fazer todo esse tempo!
Cheguei à cozinha e peguei um comprimido para a dor na caixa de
remédios da mamãe. Com um copo de água, engoli tudo e enchi
novamente quando ouvi a voz de Jemima. Já fazia um bom tempo que não
conversávamos como antes e esperava que ela entendesse que esse
momento não era agora.
— Menina...
— Tenho que estudar, Jemima, são provas importantes e com tudo
que vem acontecendo é provável que eu me dê muito mal.
— Sua mãe deu uma olhada nas últimas notas, e estão todas
excelentes, principalmente a da matéria do padre Magnus.
Olhei para ela e deixei o copo sobre a pia da cozinha.
— É, eu tenho tentado me esforçar, algum problema com isso?
— Você sabe que pode sempre contar comigo, filha, não sabe?
— Eu sei, Jemima, eu sei...
Subi as escadas e voltei para o meu quarto, ao me sentar no afofado
da escrivaninha tudo ficou em silêncio absoluto, a briga dos meus pais já
havia cessado quando peguei uma caneta e comecei a prestar atenção
nos vídeos importantes para estudar.
Por um bom momento me senti mais calma, a dor pulsante logo
afastou-se e me concentrava totalmente em entender sobre a morfologia
dos animais.
Nem tinha escutado ela abrir a porta e vir para perto de mim, só senti
o aroma quente e delicioso de uma xícara de chocolate quente que ela
colocou sobre a minha mesa.
— O tempo está ficando frio e o inverno está chegando, vai ser bom
para estudar mais.
— Não precisava, mamãe — falei sorrindo e acomodando a xícara em
mãos.
Olhei para a mamãe antes de assoprar o líquido e bebericar o gosto
saboroso que molhou minha boca. Seus olhos estavam ficando cada dia
mais quebrados e a expressão da mulher jovem e vaidosa dela estava
sumindo. Pensei em dizer alguma coisa, apesar da culpa que me
aniquilava, todavia ela mesmo começou com uma voz esperançosa:
— Falta pouco, na próxima semana será o grande dia! Comemoração
do meu casamento meu e do seu pai, filha.
— Graças a Deus, comemoração! Achei que iria ser o divórcio.
Ela deu um risinho, segurou seu colar no pescoço e não sei por que
me senti contente só por ela não estar grudada com aquele terço.
— Estamos passando por uma fase difícil, seu pai teve problemas na
contabilidade da empresa e diria que perdemos milhões...
— Nossa, milhões?
— Hum-hum, mas calma! Ainda temos o suficiente e todas as
propriedades que carregam o nosso nome. É só uma questão de tempo
para tudo ficar no devido lugar! Mas como está chegando uma das datas
mais importantes da minha vida, o que acha de uma festa? Podemos até
trabalhar bastante, juntas! Render. Claro que farei uma surpresa maior
nessa festa para o seu pai, ele já fez tantas coisas boas por mim...
Covinhas surgiram em minha bochecha só de sorrir. Deixei a xícara e
pausei o vídeo no notebook.
— É, mãe, acho que é isso que nos resta. Não quero ser inundada por
toda essa agonia! A festa vai ser no grande dia?
— Sim! Dia vinte e três! E quero que seja uma grande festa, podemos
economizar nos convites, se fizermos juntas! Mas muitos convidados, da
família e dos negócios de seu pai vão estar presentes. Sei que está
estudando muito, mas não precisamos ter pressa! Essa festa vai ser um
grande evento. Podemos alugar o salão de festas do Ritz hotel, o que
acha?
— Acho o máximo! Depois de tantas tempestades, será muito bom
para todos nós. Com certeza vai dar o que falar!
— Já vou contatá-los, só espero que eles tenham a agenda aberta.
Animada, mamãe saiu para organizar tudo. Sorri com a empolgação
dela e voltei para os meus estudos.
A rotina voltou e as aulas reiniciaram, mamãe havia conseguido
reservar o salão do Ritz hotel e já tinha distribuído os convites. Contudo,
mesmo eles tentando me esconder o máximo, tinha quase certeza de que
alguma coisa estava muito errada.
Mamãe reduziu o quadro de funcionários, ela despediu a copeira e o
jardineiro, dando a desculpa que ela mesma poderia cuidar do jardim e
incumbiu Jemima para ajudar na cozinha, além dos afazeres da casa.
Papai, por sua vez, chegava em casa todos os dias muito tarde e
abatido, nunca o vi desse jeito. Realmente a crise na empresa não era
algo simples, porém sempre que mamãe o questionava sobre o que
estava acontecendo, ele dizia que estava tudo sob controle e as
discussões continuavam.
A minha situação com padre Magnus era a mesma, ele não me
deixava em paz. Exigia minha presença todos os dias em sua sala após e
até durante as aulas somente para transarmos. Sim, eu gostava de
transar com ele, estava cada dia mais dependente dele. Eu já não tinha
mais identidade, toda a minha existência se resumia a ser aquilo que ele
queria.
O semestre estava quase terminando e até agora ele não deu nenhum
sinal de que o nosso relacionando acabaria. Fico feliz por isso? Não!
Principalmente agora que uma dúvida pairava sobre a minha cabeça
como um pêndulo pontiagudo prestes a atingir minha cabeça e me matar.
E de fato, isso seria um alívio, porque se o que eu estava desconfiada se
concretizasse, a minha vida se tornaria um inferno.
O salão do Ritz hotel estava cheio, a maioria dos convidados já
haviam chegado, muitos homens de negócios do papai, familiares e
amigos. Uma boa parte da nata da sociedade romana estava presente na
festa de comemoração do aniversário de casamento dos meus pais.
Minha mãe estava radiante em seu longo verde-musgo de chiffon. O
vestido era maravilhoso, como era de se esperar. Mamãe mandou fazer
exclusivamente para essa ocasião. Em seu pescoço, um lindo colar de
diamantes e pares de brincos acompanhavam o design do colar. Ela
recebia seus convidados com um sorriso largo, como se tudo estivesse
perfeito em nossas vidas.
Observei meu pai ao lado da minha mãe. Ele também estava elegante
em seu black-tie alinhado, com uma pose de homem poderoso e rico que
se mostrava mais relaxado, há dias não os via tão despreocupados.
Talvez o problema na empresa que tem afligido papai nesses últimos
dias já estivesse resolvido. Pelo menos isso, suspirei.
O garçom passou e eu peguei uma taça de alguma coisa, não fazia
ideia do que era. Beberiquei a bebida e senti o frescor descer pela
garganta. Sorri amistosa, hoje não deixarei que os problemas que têm
nos afligido tomem conta da minha mente, mamãe estava tão contente
quanto papai, que contagiava.
A festa estava no auge quando Antonella chegou com os seus pais.
Imediatamente, ela veio ao meu encontro.
— Finalmente, pensei que não viria.
— Meus pais como sempre... uma eternidade para sair de casa.
— Também não perdeu muita coisa, a festa está um pouco monótona.
— Não parece, sua mãe caprichou, a decoração está maravilhosa.
— Sim, mamãe queria fazer algo especial, afinal de contas são vinte
anos de casados.
— E conseguiu. E você está linda, há muito tempo não te vejo radiante
assim.
— Obrigada.
De fato, estava adorável. Meu vestido, como o de muitos ali, era um
longo de cor vinho vivo que ressaltava a suave palidez da minha pele,
que tinha um brilho quase transparente. Meus cabelos estavam soltos,
apenas preso de um dos lados com uma presilha. Meus olhos verdes
ostentavam uma luminosidade pálida. Me sentia bem com minha
aparência, sem os olhos do padre Magnus me condenando. Mamãe o
havia convidado, mas ele recusou, me senti aliviada e, ao mesmo tempo,
um pouco decepcionada, mas o fato dele não vir me deu coragem para eu
me arrumar.
A noite foi sendo envolvida por uma atmosfera cada vez mais
descontraída, até que percebi papai mais alegre e mamãe parecia nas
nuvens. Assim como meus pais, eu dividia a atenção para os convidados,
conversando com um e outro e dançando com outros jovens.
Ao final da dança, voltava para a mesa quando pressenti um olhar
sobre mim. Minha pele toda arrepiou-se e senti como se uma lufada de ar
tivesse me tirado do lugar quando me virei e deparei-me com o padre
Magnus caminhando entre os convidados com seu porte altivo e andar
leve como o de uma pantera exalando elegância em seu black-tie. Seus
olhos não desviavam de mim. Papai, que estava próximo, praguejou:
— Inferno! O que ele está fazendo aqui?
— Eu o convidei, Richard, não aceitou o convite antes, mas
provavelmente resolveu vir, não vejo problema nisso, espero que seja
gentil com ele — mamãe repreendeu papai e logo em seguida recebeu os
cumprimentos do padre Magnus com seu sorriso acolhedor. — Que bom
que decidiu vir, padre Magnus.
— Ah sim, os negócios que tinha para resolver acabaram antes do
esperado, então decidi vir parabenizá-los pessoalmente.
O padre Magnus estendeu a mão para o papai também e ele hesitou
por alguns segundos antes de apertá-la. Meu coração estava na boca, já
havia percebido essa hostilidade de papai com ele, mas agora era
evidente que meu pai não estava nem um pouco feliz com sua presença.
— Eve, minha querida, venha aqui cumprimentar seu professor.
Como se eu tivesse chumbo nos pés, aproximei-me dele e falei baixo,
quase não podia ser ouvida:
— Oi, Sr. Crawford.
— Oi, Eve, está encantadora hoje.
— Obrigada — agradeci o elogio lançando um olhar desconfiado e
fiquei vermelha.
— Padre Magnus, fique à vontade, em pouco tempo faremos os
discursos e terá uma demonstração de slides dos melhores momentos
meu e de Richard durante esses 20 anos de casados — minha mãe falou
mostrando seu belo sorriso contente, ela estava bem e isso me fez ficar
melhor.
— Que maravilha! Então cheguei a tempo para o espetáculo.
O jeito que padre Magnus falou estava carregado de ironia. Papai
lançou um olhar de escárnio para ele e se afastou com mamãe. Ficamos
sozinhos. Os olhos deles mudaram de agradáveis para severos em
segundos. Engoli em seco, minha expressão não escondia a angústia,
sentia-me desamparada. Com um lampejo no olhar, ele me observava da
cabeça aos pés, logo percebi que desaprovou a minha roupa.
— Você insiste em me desobedecer, não é, Eve?
— Não sei sobre o que está falando, Sr. Crawford — ousei contestá-lo.
— O sarcasmo não fica bem em você, Eve.
— Não estou sendo sarcástica, só queria saber o que faz aqui.
— Fui convidado.
— Mas recusou.
— Vim vigiar você.
Nesse momento, Antonella aproximou-se de nós de braços dados com
Francisco, o menino que ela insistia em me apresentar e cortou a nossa
pequena discussão.
— Professor Crawford, que honra tê-lo aqui. Eve disse que não viria.
— Decidi vir de última hora.
— Que bom. — Ela virou-se para o rapaz e o apresentou. — Esse é o
Francisco Rossi.
O rapaz cumprimentou a todos polidamente.
— Bom, professor, terei que roubar Eve um instante. Sabe, ela precisa
dançar e esse rapaz quer convidá-la.
— À vontade!
Ele me encarou com uma expressão enigmática, mas eu pude
perceber o aviso velado em seu olhar. Queria desafiá-lo e mostrar que ele
não mandava na minha vida, mas eu não tinha coragem.
— Vem, Eve! — Antonella insistiu.
— Ah! É... que... — “Que desculpa darei?”, pensei.
— Acho que Eve não quer dançar comigo — o rapaz falou.
— Me desculpa, estou com dor de cabeça, só isso!
— Para, Eve, que desculpa esfarrapada.
— Talvez a Srta. Bennet tenha algum namorado ciumento de olho
nela — o padre Magnus comentou.
— Ela não tem namorado nenhum, a não ser que esteja me
escondendo.
— Eu não estou escondendo nada e, definitivamente, não tenho
ninguém mesmo. Sou livre e posso dançar com quem quiser. — As
palavras revoltadas saíram soltas da minha boca.
Engoli um nó que se formou em minha garganta e respirei fundo.
Com um pouco de coragem que ainda me restava falei:
— Na próxima música dançarei com você, Francisco.
— Ahhhh! Finalmente! — Antonella disse animada, sem perceber que
isso que acabei de fazer, talvez provocasse uma tempestade. Ela
continuou falando agora para o padre Magnus: — Aproveito que está
aqui, em um ambiente mais descontraído, para pedir mais um tempo
para aquele relatório científico, professor Crawford.
Ela riu para valer. Padre Magnus a olhou mordaz e respondeu:
— É claro, o tempo que for necessário, assim nos encontramos no
próximo semestre com a mesma matéria.
— Ah! Não seria nada mal.
Engoli um gole longo de uma bebida que o garçom acabou de
oferecer. Senti algo tão estranho dentro de mim... Ciúmes?
— Hum! Quem sabe, você poderia ser a minha próxima assistente, já
que Eve irá para a próxima turma e não a terei mais.
Aquela revelação foi como um soco no meu estômago, meus olhos
arregalaram. O encarei e ele apenas sorriu cínico. Tentei disfarçar meu
desapontamento, ele só estava fazendo isso porque o desafiei, só podia
ser.
— Uau! Vale até a pena repetir de semestre.
— Não pense que ser minha assistente seja tarefa fácil, Srta. Grasso,
exijo muito e gosto de exclusividade. Pergunte a Eve como sou exigente.
— Ah sim, pedirei muitas dicas para ela.
Não suportando mais aquilo, pedi licença e comecei a andar entre as
pessoas até o jardim externo. Ainda ouvi a voz de Antonella atrás de
mim:
— Eve, aonde você vai? Francisco quer dançar com você.
Não dei ouvidos e saí me distanciando de todas aquelas pessoas. O
frio da noite atingiu-me e cruzei os braços tentando aquecê-los, já que
estavam desnudos. O hotel ficava sobre um rochedo à beira-mar e no
final do imenso pátio havia uma murada onde se conseguia ver o mar e a
arrebentação das ondas nas rochas. Parei e fiquei olhando além, ouvindo
o som da água. Ouvi o pio de uma ave noturna e todo meu corpo
arrepiou-se.
— Não pensa em se jogar, não é? Seria um desperdício.
— O que faz aqui?
— Já me fez essa pergunta hoje.
Voltei-me para ele. Um raio de luar da noite fazia contraste com sua
silhueta poderosa. Meu Deus! Por que ele era tão maravilhoso e, ao mesmo
tempo, nocivo? Ele está me matando aos poucos.
— Me deixa sozinha, por favor. Volta para a sua nova assistente.
— Ciúmes?
— Não, imagina! Sei muito bem meu lugar em sua vida.
Ele avançou alguns passos em minha direção e segurou meu pulso,
puxando-me para ele. Protestei desesperada, embora o local em que nos
encontrávamos estivesse sob pouca luz e bem afastado do salão de
festas, não podíamos fazer qualquer coisa ali, ainda mais na festa dos
meus pais. Contudo, o padre tinha outros planos.
— Padre, não podemos...
— Só quero você como assistente.
Com brutalidade, ele tomou meus lábios e começou a beijar-me com
um furor dominador. Suas mãos apertaram minha cintura e seus quadris
pressionaram os meus até perceber sua ereção evidente. Padre Magnus
desceu as mãos sobre meu vestido puxando-o para cima.
— Não! Aqui não, alguém pode nos ver — ainda tentei argumentar
sob o feitiço dos arrepios.
— Que se foda!
Ignorando meu protesto, ele me puxou para uma pilastra e me
prendeu ali. Sem deixar de me beijar, subiu meu vestido e enfiou a mão
dentro da minha calcinha, sua mão grande só me atiçou mais.
Abri a boca como se estivesse me afogando ao sentir a pressão dos
seus dedos na minha entrada quente e molhada. Então ele a puxou para
baixo e falou ofegante no meu ouvido:
— Entrelace as pernas em minha cintura.
Ele me suspendeu e eu fiz o que mandou. Em poucos minutos, ele me
penetrou e começou a me foder com grande potência. A cada impulso,
minhas costas batiam na pilastra me machucando, mas não me importei,
nada mais podia nos impedir de completar aquela relação impetuosa e
pecaminosa. Eu estava perdida, dentro do prazer da posse daquele
homem em plena festa dos meus pais. Estávamos tão imersos no ato que
não percebemos um ruído e passos de pessoas se afastando.
Quando finalmente chegamos junto ao clímax, o padre Magnus me
pôs no chão. Então rapidamente levantei a calcinha e ajeitei a roupa. O
padre Magnus fez o mesmo. Antes de sairmos dali, ele agarrou meu braço
e avisou com a voz ameaçadora:
— É melhor não me testar mais, Eve. Asseguro que não gostará das
consequências. Espero que tenha sido claro!
— Como cristal.
— Ótimo! Agora volte para junto dos seus pais e pose de filha
perfeita, com sua boceta piscando da minha posse.
— Eu te odeio!
— Por quê? Por ser uma pecadora, que atenta um padre devotado
como eu? Lembre-se, você é culpada por tudo isso, só você.
Puxei o braço e comecei a andar apressada. Queria chorar e gritar,
mas nada podia fazer. Ele tinha toda a razão, eu era uma farsa e tinha
culpa por ceder a ele.
Ao chegar no salão de festas, mamãe veio em minha direção aflita.
— Estava te procurando, vamos começar as apresentações de slides.
Pedi para a Antonella te procurar, mas ela voltou e disse que não a
encontrou.
— Eu só fui pegar um ar fresco, desculpa!
— Tudo bem, filha! Só queríamos que estivesse do nosso lado nesse
momento.
Segui mamãe até o local onde seria feito os discursos. Vi o padre
Magnus entrar no salão e se aproximar do meu pai. Ele falou alguma
coisa para ele, que deixou meu pai zangado.
Depois se afastou e se sentou em uma das mesas. Meu pai seguiu para
junto de nós e iniciou dizendo palavras lindas para a mamãe. Assim
mamãe também fez para ele. No final, me pediram para falar alguma
coisa também. Peguei o microfone e olhei todas aquelas pessoas
sorridentes, pessoas honestas, de família. E eu, uma suja pecadora, em
meio a todos eles, ainda sentindo os efeitos do sexo que acabei de
praticar com um padre. Minha calcinha estava encharcada do sêmen
dele. Pigarreei algumas vezes antes de falar:
— Boa noite! Sou a filha desse casal tão bonito, o fruto do amor
verdadeiro e honesto. Eu nasci para coroar essa união abençoada.
Uma chuva de aplausos aconteceu antes que eu pudesse continuar:
— Tenho muito orgulho de ter pais tão amorosos, e espero ser o
motivo de orgulho para eles! — Olhei para os meus pais e meu coração
apertou. — Me desculpa se eu os decepcionar.
— Isso não acontecerá, meu amor, nunca — mamãe falou me
abraçando.
De novo houve uma grande comoção de todos os presentes.
Naquele momento, um telão começou a mostrar as fotos dos meus
pais, desde que eles se conheceram, noivaram, casaram e construíram
uma família. Comecei a chorar copiosamente quando um pequeno vídeo
da Meg surgiu, ela estava comigo, brincando no quintal quando eu era
pequena. Vários momentos foram compartilhados com todos, até que o
vídeo acabou e uma chuva de aplausos e assobios ecoou no salão.
Então, inesperadamente, o telão acendeu de novo e começou a
mostrar fotos do papai com outra mulher, a surpresa de todos vibrou no
ar. Meu pai empalideceu na hora e minha mãe ficou sem ação.
— O que significa isso? — meu pai gritou. — Tirem isso! Agora!
Mais imagens, cada vez mais comprometedoras. O murmurinho era
geral, minha mãe cambaleou e eu a segurei. Jemima aproximou-se e
ajudou-me a ampará-la.
— Richard, o que significa isso?
— Querida! Eu não sei, isso são montagens, estão tentando me
incriminar!
— Mas por quê? — ela perguntou desesperada.
Quando pensei que tudo já havia desmoronado, de novo um
murmúrio de surpresa se fez para todos os lados e as pessoas olhavam
horrorizadas para o telão em murmúrios ofensivos. Foquei naquela
direção e o que vi fez meu estômago revirar e meu coração bater cada
vez mais lento. Não era verdade, não podia ser verdade. Então, um
homem de terno aproximou-se do meu pai, pegou o microfone,
apresentou um distintivo e anunciou:
— Sr. Bennet, está preso sob acusação de aliciamento de menores,
pornografia infantil e abuso de vulneráveis.
— Não! — minha mãe gritou em desespero.
— Eleonora, isso não é verdade, nada disso é verdade! — meu pai
gritava enquanto era algemado e levado para fora do salão arrastado
pelos policiais. Vários flashes dos celulares e de câmeras fotográficas
pipocaram enquanto meus olhos ficavam mais e mais embaçados,
registrando todo aquele show de horrores. Minha mãe não aguentou e
desmaiou.
— Mãe! — Tentei socorrê-la, mas logo alguém a levou para a
enfermaria do salão.
Abracei Jemima, tremendo em seus braços. Estava tão chocada que
não conseguia derrubar as lágrimas represadas em meus olhos. Minutos
depois, mamãe havia recobrado a consciência.
As pessoas começaram a ir embora e o salão ficou quase vazio, exceto
por uma figura no fundo, alto, sombrio e imponente, observando tudo,
cada detalhe.
O escândalo foi noticiado em todas as mídias do país, repórteres não
saíram da porta de nossa casa por dias. A nossa vida estava um
verdadeiro inferno. Mamãe não parava de chorar e sofrer, ela estava
destruída.
Os dias que se seguiram ao desmascaramento do meu pai foram
como um redemoinho de dor e desespero. Eu não fui para a faculdade
durante esses dias, na verdade, nunca mais voltarei àquele lugar, não
conseguiria enfrentar as pessoas depois do ocorrido.
Mas o pior ainda estava por vir, dois dias atrás descobrimos, através
dos advogados de papai, que estávamos completamente falidos, todo o
nosso patrimônio foi comprado por várias empresas gigantescas da Itália
e, principalmente, da Inglaterra. Não tínhamos mais nenhum patrimônio:
os carros do papai, a nossa casa na Suíça, a empresa e, o pior, a nossa
moradia.
Mamãe recebeu a visita de um representante de uma empresa
poderosa, que tomou a casa como pagamento de uma dívida. Não
tínhamos mais nada. Eles nos deram um prazo de um mês para sairmos.
Por sorte, eles foram misericordiosos e deixaram que mamãe fizesse um
leilão de alguns objetos de valor para tentarmos arrecadar algum
dinheiro para podermos alugar uma casa pequena.
Todos os empregados foram despedidos, somente Jemima ficou
conosco por opção dela, ela não quis ir embora e eu a agradecia por isso,
pois ela cuidava de mamãe enquanto passávamos por esses tempestade,
pois não tínhamos mais ninguém. Todos os nossos amigos nos viraram as
costas, nem mesmo a família de Antonella nos deu apoio. Não os culpava,
ninguém queria chegar perto de uma família que conviveu com um
pedófilo.
Muitas coisas foram faladas pela mídia, inclusive eles levantaram a
hipótese de eu ter sido uma das vítimas de papai. Mas, embora ele tenha
se revelado um monstro, podia afirmar que ele nunca me tocou de
maneira íntima. Porém, todos esses questionamentos fizeram minha mãe
me questionar sobre isso, ela queria ter certeza de que ele nunca fez
nada.
— Não, mãe! Acredite em mim, ele nunca me tocou.
— Tem certeza, filha? Por favor, não minta para mim, não suportarei
mais revelações. Se aconteceu alguma coisa me diga logo.
— Nada aconteceu, eu juro.
— Me sinto aliviada, se ele tivesse feito algo... eu me sentiria culpada
por nunca ter percebido.
Nos abraçamos e somente uma coisa martelava na minha cabeça: não
posso jamais contar a ela sobre meu caso com padre Magnus, ela não
suportará.

Os dias foram passando e aquele episódio foi sendo esquecido pela


mídia, já não se falava mais com tanta frequência como foi no começo.
Mas a nossa vida mudou drasticamente. O dinheiro que conseguimos
arrecadar com a venda de alguns objetos e móveis de valor, era
suficiente para alugarmos uma casa em um bairro de classe média nos
arredores de Roma. O local não era muito grande, tinha dois quartos,
uma sala e um banheiro. Um dos quartos ficaria para mim e o outro a
minha mãe dividiria com Jemima.
Mamãe estava sentada em uma cadeira na mesa, mexendo nos jornais
e olhando alguns sites na Internet quando coloquei um copo de água em
sua frente.
— Está difícil agora, mas logo vou arrumar um emprego. Não é tão
complicado assim, só temos que esperar a bola esfriar mais um pouco,
além do mais... sou formada em design antes de conhecer seu pai. Já
entrei em contato com minha família na Inglaterra, mas...
Alisei os cabelos curtos e sedosos de mamãe e lhe beijei o rosto, ela
não merecia nada disso, nem um pouco desse sofrimento. Um pouco de
sua luminosidade se perdeu, via as olheiras profundas dela acentuadas
em volta dos seus olhos verde e o rosto pálido. Ela tentava se mostrar
forte, mas sabia que era só uma fachada, mamãe sempre foi assim diante
das crises. Eu gostaria tanto de não lhe dar mais desgosto.
A cada dia, eu era uma filha que ela não merecia ter e cada minuto
que pensava nisso doía. Respirei fundo, hoje tirarei a prova e rezava para
tudo dar... certo... Caso contrário, serei a maior decepção que mamãe terá
e tinha medo dela não suportar a pressão.
— Não se culpe, mamãe, vamos nos reerguer logo — tentei lhe passar
confiança.
— Ainda está insuportável acreditar nas coisas que Richard fez, é
desumano... Desumano! O meu marido, o homem que confiei, ser um
crápula dos piores. O que de pior pode acontecer? Já estamos na lama,
mas tudo bem! Tudo bem, querida, logo você terá que voltar aos estudos,
não desistirei da sua faculdade, trabalharei para pagar...
— NÃO! — falei veemente quase com o peito apertado, eu não podia
lidar com tudo isso por diversos motivos. — Bem, não agora, quero estar
aqui para te ajudar, mamãe, vamos superar toda essa fase.
— Não, Eve, você voltará para a faculdade, padre Magnus fez questão
de falar com o reitor e pedir um tempo nas mensalidades até podermos
voltar a pagar.
— Padre Magnus?
— Sim, ele tem sido um ótimo apoio, inclusive a casa que
conseguimos alugar com um valor quase simbólico foi ele que conseguiu.
Franzi a testa confusa, desde o dia do ocorrido com papai que não o
via pessoalmente, pelo fato de não estar indo à faculdade e,
principalmente, por ele não ter me ligado e nem enviado mensagem, no
entanto tem falado e ajudado mamãe... “Qual a intenção dele?”, me
questionei.
— Sabe, filha, sentirei falta dessa casa. Quando nos mudamos para a
Itália, compramos essa mansão com tanto orgulho. Eu trabalhei em cada
detalhe, escolhi cada móvel, cada papel de parede — enquanto falava, ela
andava pela casa quase vazia.
No dia seguinte, estaríamos deixando a mansão por definitivo. Tudo
já estava empacotado, todos as coisas que nos restaram.
Escutamos a campainha tocar e ecoar na casa vazia. Mamãe fez uma
expressão de preocupada.
— Quem será? Mais um jornalista? Um paparazzi? Quem sabe até um
policial...
Jemima, que estava na cozinha até então, apareceu na sala.
— Deixa que eu atendo, dispensarei rapidamente quem quer que seja.
— Só receba se for um policial ou o advogado, fora isso, diga para nos
deixar em paz.
Mamãe e eu seguimos para a outra sala, mas ficamos espiando pelo
batente da porta.
Jemima foi até a porta da frente e olhou no olho mágico, voltou o
rosto para a mamãe e suspendeu o ombro demonstrando que não fazia
ideia de quem era. Mamãe gesticulou para ela atender. Jemima abriu a
porta e, sem esperar, a pessoa invadiu a casa praticamente empurrando a
Jemima, que quase caiu no chão.
O invasor era uma mulher, com aparência jovem, muito bonita,
porém vestida de modo vulgar. Ela parou no meio da sala como se fosse a
dona de tudo e ordenou para a Jemima:
— Chame sua patroa, e nem invente que ela não está em casa, não
sairei daqui até falar com ela.
— Senhorita, quem anuncio?
— Meu nome é Lucy e sou a amante de Richard.
Vi o rosto de mamãe empalidecer mais ainda. Ela colocou a mão
sobre a boca, incrédula. Cochichei em seu ouvido para ela não a atender,
porém mamãe decidiu terminar logo com aquilo. Ainda tentei impedi-la,
mas ela estava irredutível.
— Pronto! Não precisa ficar aqui por muito tempo. Eu sou a esposa
de Richard.
A mulher olhou mamãe de alto a baixo com ar de escárnio e sem
cerimônia falou:
— Eu vim aqui para algo muito simples, eu quero dinheiro, não pense
que sairei dessa sem um tostão. Há cinco anos que fodo com teu marido e
era ele que pagava todas as minhas contas, inclusive o aluguei do
apartamento de luxo onde eu moro.
Tentando manter uma postura distinta, mamãe falou firme e
elegantemente:
— Senhorita Lucy, olha em volta, estamos de mudança porque o
homem que você estava trepando nos deixou na falência. A não ser que
queira se juntar a nós para trabalhar e pagar as contas, nada posso
oferecer.
— Como é que é? Trabalhar? Olha aqui, não adianta ficar com essa
pose de madame de classe não, eu quero dinheiro e é melhor
providenciar. Se você não sabe, eu fodo com teu marido desde que tinha
15 anos, ele me fez sair de casa e me ofereceu o mundo, agora não vou
ficar nesse prejuízo não.
Mamãe cambaleou e colocou a mão no estômago, ela devia estar
enjoada como eu, por toda aquela situação. Meu Deus, a mulher tem a
idade para ser filha do meu pai. Minha mãe estava tão abalada, que a fiz
sentar-se no degrau da escada.
— Você está bem, mãe?
— Por que seu pai fez isso conosco, por quê?
Ela estava desolada. Decidi falar com a moça:
— Olha, é melhor você ir embora, não temos dinheiro, nada mais, por
favor, não a faça passar por esse constrangimento.
— E esse colar aí no pescoço dela? Aposto como vale uma grana.
— Não, isso é um colar que herdei da minha família.
Mamãe segurou a joia no pescoço protegendo-a.
— Foda-se! Eu quero, os malditos advogados confiscaram tudo que
eu tinha, todas as joias que Richard me deu, roupas, bolsas de grife e me
deram uma semana para deixar a cobertura, não vou ficar nesse prejuízo
mesmo.
— Advogados? Que advogados? — questionei.
— Eu vou saber? Diziam que eram representantes de uma empresa,
me ameaçaram, não consegui nem fugir com tudo antes da bomba
estourar, eles já estavam na minha cola.
Meu Deus! Aquela confusão parecia não ter fim. Mamãe, desolada,
tirou o colar do pescoço e entregou para a moça.
— Vai embora e nunca mais apareça na minha frente.
— Acho que isso vai servir, mas não pense que se livrou de mim não.
A mulher saiu da casa e mamãe caiu em prantos. Ela já não aguentava
mais tanta humilhação.

No dia seguinte, nos mudamos para a casa nova, embora fosse dez
vezes menor que a mansão, não era uma casa desagradável, era até bem
confortável com uma mobília moderna que já veio incluída. Havia uma
suíte e um quarto menor que ficou para Jemima, ela preferiu assim,
enquanto eu e mamãe dividimos o quarto maior que já estava preparado
com duas camas de solteiro.
— Por enquanto teremos que nos contentar assim, mas tenho
esperança de conseguir um trabalho em breve.
— Eu também posso trabalhar, talvez em um bar ou restaurante.
— Nunca! Você retornará para a faculdade.
— Mãe, não posso voltar para lá, muito dos alunos são do nosso meio
social, não aguentarei isso.
— Meu amor, você não pode pagar pelos erros do seu pai, além do
mais matricular você em outra faculdade está fora de cogitação. Temos
que aproveitar essa oportunidade que o padre Magnus conseguiu para
nós.
Senti um aperto na boca do estômago ao imaginar quais eram as
intenções sombrias que ele estava planejando. Será que me manterá
como assistente dele o resto do semestre? E depois? O que acontecerá?
Essas eram as perguntas que só teriam respostas se eu o confrontasse e
farei isso em breve.
O primeiro dia na nova casa foi de muito trabalho, arrumamos todas
as nossas coisas e, à noite, preparamos o jantar na pequena cozinha
conjugada com a sala. Jemima fez uma deliciosa lasanha e comemos
tranquilamente mantendo uma conversa neutra. Depois que mamãe e eu
arrumamos a cozinha, decidi assistir televisão enquanto ela se preparava
para dormir. Assim que ela terminou, veio me chamar:
— Já terminei, quer tomar seu banho agora?
— Irei mais tarde, mãe, vou terminar de assistir esse filme.
— Está bem, filha, boa noite!
Ela beijou o alto da minha cabeça e me deu sua bênção, seguiu para o
quarto. Jemima também se recolheu. Quando a noite já estava alta,
desliguei a TV e tentando fazer o mínimo de barulho, entrei no quarto e
percebi que mamãe dormia profundamente. Com certeza, ela havia
tomado o remédio para dormir, ultimamente ela só conseguia ter um
sono tranquilo dessa forma.
Entrei no banheiro e me despi, olhei por alguns segundos meu corpo
no espelho. Meus seios estavam mais vistosos e muito duros, percebia-se
até algumas veias azuladas em torno deles. Os bicos também pareciam
mais escuros. Com um profundo suspiro, peguei o teste de gravidez que
havia escondido entre as minhas roupas. Fitei aquela caixa pensando que
o caos era apenas uma palavra insignificante perto do que virá caso
minha suspeita se confirmasse. Havia uma grande possibilidade de estar
grávida, pois deixei de tomar o anticoncepcional algumas vezes. Fechei
os olhos e fiz uma pequena prece a Deus, pedindo sua misericórdia e que
aquela suspeita fosse apenas uma suspeita.
Sem mais enrolação, abri a caixa e tirei o teste. Li por alto o manual e
decidi tomar um banho antes de fazer o teste. Apenas fiz a coleta da urina
e deixei no pote. Entrei no chuveiro e deixei que a água quente
diminuísse a tensão que deixaram meus músculos doloridos.
A vida era um jogo, imaginava enquanto me entregava à carícia da
água... um jogo de tabuleiro do destino, regido por forças além do nosso
controle. Se eu nunca o houvesse conhecido, talvez tudo fosse diferente,
quem sabe até Felipe estivesse vivo. Sentia que ele decidiu por esse
caminho por causa de mim... eu não queria acreditar que ele nutria algum
sentimento por mim e eu o desprezei o fazendo se matar.
Senti um arrepio de frio ao desligar o chuveiro. Enrolei-me em uma
toalha felpuda e comecei a me enxugar. Vesti-me com um pijama, escovei
os dentes e, ao finalizar, decidi fazer o teste. Mesmo com muito medo,
mergulhei o aparelho na urina e esperei.
Angustiada, estava sendo tomada de um sentimento de fatalidade à
medida que os segundos passaram e as duas linhas rosadas surgiam no
indicador.
Um soluço seguido de lágrimas me fizeram deslizar até o chão do
banheiro e me sentar no piso frio. Encolhi-me e abracei meus próprios
joelhos me deixando embalar pelo desespero. Chorei baixinho até não
aguentar mais. Não sabia por quanto tempo fiquei naquela posição, tudo
que eu sentia era uma espécie de devastação total, estava arrasada.
Porém, mesmo devastada, apenas tinha certeza de uma coisa: o padre
Magnus jamais saberá dessa criança. Jamais!
Praticamente arrastando-me para a minha cama, deitei e descansei a
cabeça no travesseiro, deixando as lágrimas molharem a fronha. O
impacto da notícia de que estava grávida não saía da minha cabeça. A
angústia, o remorso e o padecimento nutriam dentro de mim Só pensava
em como contar para a mamãe. Ela ficaria destruída e decepcionada
comigo. Contudo, não podia lhe revelar quem era o pai do bebê, não por
medo dela se decepcionar mais ainda, mas sim para proteger o meu filho.
Não sabia ainda qual desculpa inventar para ela e nem como proceder
daqui para a frente. Tinha que organizar meus pensamentos e encontrar
uma solução para essa bagunça toda.
Que confusão, meu Deus! Eu já deveria estar preparada, eu já
esperava por isso. Mas era difícil saber e ver meu castelo de cartas
desmoronando. Tudo, exclusivamente, de uma só vez como um tsunami.
Queria ser uma lagarta pequena voltando para o seu casulo e nunca mais
sair dele.
Toquei minha barriga com os olhos pesados pelo pranto, alisei as
duas mãos por todo estômago deixando o choro escorrer pelos cantos
dos olhos. Tinha uma semente crescendo dentro de mim, um fruto de um
pecado e as palavras duras e afiadas como navalha do padre flagelavam a
minha alma. O padre Magnus havia deixado claro que a culpa disso era
minha e em nenhuma circunstância ele poderia saber da verdade que me
desolava. Não sabia o que fazer agora, contudo no momento, o que tinha
para exercer era ficar calada e saborear o preço do sacrilégio.
Não preguei os olhos por nenhum momento. Lá para as três da
madrugada parei de me revirar na cama, cruzei os olhos em um ponto
fixo na mesinha de cabeceira onde tinha uma Bíblia Sagrada e não
consegui pronunciar nenhuma palavra dirigida a Deus. Me senti a
própria blasfêmia em pessoa, a heresia e vergonha suja que não merecia
sua piedade. O que eu fiz com a minha vida? Onde cheguei?! Apaguei a luz
do abajur e a escuridão acalmou-me, pouco tempo depois adormeci.
Quando acordei na manhã seguinte, estava sozinha no quarto, mamãe
já havia levantado e sua cama estava impecavelmente arrumada. Recebi
a ausência dela com alívio, assim podia ter mais alguns minutos a sós
para reorganizar a cabeça.
Levantei-me e senti uma leve vertigem, essa sensação já era
frequente, mas diferente do que muitos falavam, não tinha enjoos
matinais com frequência, era raro acontecer, mas agora que sabia da
gravidez prestarei mais atenção nos sintomas.
O quarto estava escuro, aproximei-me da janela e afastei a cortina. O
dia estava lindo e avistei mamãe nos fundos da casa arrumando o
pequeno jardim. Ela adorava plantas e flores. Meu coração apertou, ela já
estava se acostumando com a nova vida, já não sofria tanto, e agora o
bebê... Levei a mão na barriga. Não queria pensar nele como algo
indesejado, não conseguia rejeitá-lo, muito pelo contrário me sentiria até
feliz por tê-lo, se não fosse todos os problemas em volta.
Voltei a fechar a cortina e me sentei na penteadeira. Sabia que mamãe
jamais aceitaria um aborto, assim como eu, ela me apoiaria nessa. Mas
ela não aguentaria outro escândalo. Ouvi uma pequena batida à porta e
Jemima entrou.
— Bom dia, minha menina! Você acordou cedo, não? Está bem?
— Estou bem sim, Jemima. Não se preocupe que já arrumarei as
coisas do meu quarto, e logo ajudarei você na cozinha.
— Não se preocupe, minha querida, já está tudo preparado,
esperamos você na cozinha para o desjejum.
Vi pelo reflexo do espelho ela me olhar com olhos receosos e um
pouco orgulhosos. Definitivamente, pelo menos depois dos últimos
acontecimentos, ela jamais poderia supor o que de fato estava me
corroendo nesse instante. Eu era seu orgulho, o seu motivo de “trabalho
cumprido” e nunca irei me esquecer de suas palavras e sua bondade,
entretanto agora ela entraria para a lista de pessoas que irão se
decepcionar profundamente comigo.
Assim que ela saiu fechando a porta, suspirei fundo e dei mais uma
olhada no espelho, eu não sabia por quanto tempo irei conseguir manter
esse papel de boa filha, mas farei o que for preciso, em suma importância,
pela minha mãe para esconder isso, por enquanto até saber o que fazer.
Vesti-me para enfrentar o dia, um vestido claro de estampa florida, os
cabelos soltos e maquiagem leve para esconder a depressão na minha
face.
Tomávamos o café fresquinho, os pães e os biscoitos que mamãe mais
gostava. Também as frutas que eram indispensáveis para o seu “bom
humor” pela manhã, mesmo que de fato... tivéssemos que economizar o
que mal tínhamos.
— Bom dia, mamãe!
— Bom dia, minha filha.
Coloquei o prato de brioches sobre a mesa e ela arrastou uma das
cadeiras para se sentar, mesmo com o rosto detonado pelo fracasso e
pela dor, ela deu seu melhor sorriso e abençoou o aroma dos alimentos.
— A senhora acordou bem?
— O melhor que pude, tive um sonho bom com você, minha flor
querida.
Sentei-me ao lado dela e peguei o suco fresco e natural da jarra, o
cheiro realmente era de rechear. Ela falou com Jemima e logo perguntei
querendo parecer, o mínimo possível, apresentável:
— Que sonho, mãe?
— Um sonho lindo, você estava formada! Tinha até um consultório
aqui na Itália, também estava namorando com um bom rapaz de Deus!
Tudo estava onde deveria estar.
Tentei forçar um sorriso, porém, por dentro, estava contaminada pelo
constrangimento.
— Enfim, não tenho dúvidas de que irá alcançar seus objetivos, aliás
vai voltar para a faculdade essa semana e sempre terá minha admiração.
O suco na minha boca pareceu azedo de repente, já estava sem
paladar, agora com essas palavras perdi todo.
— Não sei se estou preparada para voltar agora...
— Padre Magnus vai estar observando, querida, ele não irá deixar
que nada de ruim aconteça com você. Nem eu, é para o seu futuro e vai
lhe ajudar muito com todas as atividades.
Meu futuro. Suas palavras quase fizeram meu estômago revirar,
segurei um nó na garganta.
— Perdi muitas provas e acho...
— Por isso não deve continuar faltando às aulas, você é meu orgulho,
não perca essa oportunidade que o padre Magnus está nos oferecendo,
ele tem sido tão bom conosco.
Engoli em seco e mamãe continuava ditando suas palavras de valor
para ele:
— Devo tudo a esse homem, é tão generoso... Um homem santo, claro.
Era a gota d’água que até Jemima percebeu pela minha cara, mas nem
para ela poderia contar, na verdade para ninguém. Tinha que sustentar
essa muralha.
Mesmo contra a minha própria vontade arrumei as coisas da
faculdade na minha mochila, cadernos, livros, apostilas. Enquanto puder,
terei que ir... Até tomar alguma decisão. Por boa metade da tarde ajudei
mamãe e tentei manter minha casca. Quando já não conseguia suportar
mais a devastação, peguei meu casaco e saí para a rua dando a desculpa
que precisava respirar, sentir que era uma pessoa normal e comprar
algum doce.
Algumas pessoas até me olharam, mas era o mínimo que podiam
fazer. Por mais que pudessem pensar, não podiam me ferir tanto assim.
Caminhava pelas calçadas, olhando para as pessoas em suas vidas
movimentadas e tranquilas, casais românticos que jamais vão ser
comparados a mim e padre Magnus, crianças felizes que me causaram
enjoos só de imaginar e ao longe, saindo de um mercadinho, duas amigas,
jovens risonhas, com uma vida toda de alegrias e falando de garotas.
Uma das meninas me fez lembrar rapidamente de Antonella e me fez
sentir falta daquela risada boa, daquele abraço apertado que me fazia
esquecer por um bom momento todos os problemas da minha vida.
Peguei meu celular no bolso do casaco e disquei o número da minha
melhor amiga, os pais dela com certeza queriam ela afastada de mim e de
minha família, mas ela... NÃO! Conhecia bem a Antonella, e ela me
conhecia tanto quanto, na verdade deveria, só sabia de uma coisa... Uma
lembrança rala que povoava minha memória, desde a infância éramos
boas amigas... Daquelas que sempre uma poderia contar com a outra. E
eu precisava desabafar com alguém, porque tudo isso estava me
sufocando.
O telefone chamou, chamou e chamou até cair na caixa postal. Mordi a
boca e enviei uma mensagem para ela que não foi imediatamente
enviada por conta do sinal de internet! Xinguei de raiva e respirei fundo.
Olhei em volta e avistei um táxi, acenei e por sorte estava vago. Não
estava muito longe da casa dela, essa hora ela já chegou da faculdade e
seus pais só chegavam em casa mais tarde. Tempos atrás, esse era o
horário perfeito para aprontar todas na casa dela. Bagunçávamos toda
despensa e seus pais sempre ficavam furiosos quando chegavam na
mansão. Dei o endereço para o motorista.
Mesmo seus pais não estando lá, a possibilidade de um dos guardas
não deixar eu entrar era grande, porém não custava tentar... Não tinha
quase nada a perder e só queria me sentir normal enquanto podia,
mesmo que fosse tão difícil.
A mansão de Antonella não ficava muito longe do antigo bairro que
morava e eu precisava me recordar de coisas boas, me alimentar de
coisas simples por um segundo. A residência era grande, estilo clássico
que parecia um castelo! Cheio de mármore, árvores floridas e até plantas
comestíveis e de fragrância arrebatadora. Fazia muito tempo desde a
última vez que pisei realmente dentro da casa dela e até me surpreendeu
não ter nenhum guarda na portaria, apertei o interfone e chamei por
minha amiga, que não demorou muito para aparecer com roupas de frio
e sapatos confortáveis segurando seu celular na mão.
— O que está fazendo aqui? Se meus pais te virem, aí a coisa vai ficar
feia para o meu lado! — ela falou abrindo apenas uma fresta dos portões
enormes de grades greco-romanas.
— D-desculpe, é que... É que eu sinto sua falta e imaginei que seus
pais...
— Sim. Eles me perguntaram trinta milhões de vezes se fui tocada,
abusada ou coagida pelo seu paizinho. — As palavras de Antonella até
soaram ofensivas, mas não para mim, eu entendi e quase me arrependi
de ter vindo até sua casa.
— Ele...
— Claro que não! Se aquele velho tocasse em mim, não iria ser coisa
boa para ele e nem para você...
— Estou com tanta vergonha, não sei onde colocar a cara.
— Deveria estar mesmo, eu no seu lugar me sentiria muito pior por
todas as coisas. — Ela deu uma risadinha e eu olhei para a feição
ranzinza dela. Antonella segurou o portão, parecendo sem paciência.
— Você está bem? Não quero tomar muito seu tempo — perguntei.
Ela bufou e revirou os olhos até me encarar.
— Se estou bem? O pai da minha amiga é um pedófilo nojento, tarado,
que trai a esposa com qualquer uma... E pior que isso, saber que minha
amiga é tão pior que o pai dela, isso é abominável.
O choque atravessou minha espinha e meu rosto. Não esperava isso,
fiquei sem palavras, sem saber o que dizer, e ela continuou:
— Eu não saberia? Cara, quando te falei que o professor Crawford era
um gostoso para padre, não achei que seria nojenta o suficiente para
levar isso tão a sério nessa cabeça doentia, que eu não esperava de você.
Seduzir um padre e dar para ele na festa dos seus pais? Estou me
perguntando quem da sua família é pior, acho que você teve a quem
puxar! Estou me sentindo uma porca por ter andado com você, por ter
confiado em você! Você merece toda a desgraça que está acontecendo em
sua vida. Se me der licença, eu acho melhor você ir embora.
— Você, como você sabe? Por que está fazendo isso comigo?
— Eu os vi no terraço.
— Antonella, eu posso explicar, deixe-me contar tudo...
— Não quero saber de nada, peça misericórdia a Deus, talvez Ele
ajude a salvar alguém que profanou um padre.
Então ela bateu o portão. Limpei as lágrimas de tristeza e decepção e
esperei ela ir embora para ir também. Caminhei sem destino no frio da
tarde, as folhas do final de outono depositadas no chão em tons laranja
voavam ao receber rajadas de vento. E meu coração estava assim, como
uma árvore adormecida para receber o inverno sem suas folhas a
protegendo.
Quando cheguei em casa, não escutei mamãe, nem mesmo Jemima!
Fui direto para o quarto, deitei na minha cama e continuei chorando.
Senti tantas coisas que não deveria sentir, sufoquei-me na própria
solidão, nos meus próprios gritos, sem ter para onde correr e a quem
consultar!
Lá para o alto da noite recebi uma mensagem no meu celular, olhei a
tela. Era ele. Abri a mensagem apreensiva e, em palavras diretas, ele
ordenou:

Padre Magnus: “Quero te ver


amanhã à tarde, mandarei um
carro te buscar na sua casa.”

Respirei profundamente, irei a esse encontro, já tinha uma certeza do


que fazer no dia seguinte. Não podia mais remediar o inevitável, terei
que dar um ponto final nessa história, acabar para sempre a relação que
criei com o padre Magnus.
Entrei na cobertura luxuosa, segui direto para o bar e peguei a
garrafa de conhaque derramando seu líquido âmbar no copo de cristal
em uma generosa dose. Fui para a biblioteca e sentei-me atrás da mesa
na cadeira de costas altas e reclinei-me enquanto girava a bebida dentro
do copo. Tomei um gole saboreando o líquido queimando minha língua e
a garganta.
Relaxando na cadeira, eu me permiti sorrir, tudo estava saindo
exatamente como eu planejei.
Liguei o notebook, que logo me mostrou a foto da jovem ninfa, de pele
macia, lábios rosados e um sabor de tirar o fôlego.
A cada dia que passava, eu tinha a minha menina exatamente onde eu
queria que ela estivesse: na palma da minha mão. Ingeri mais um gole do
conhaque pensando em Eve. Ela tem se tornado muito mais do que eu
podia imaginar, do que eu podia esperar... em pouco espaço de tempo.
Ela era uma mistura de fogo, paixão, inocência e submissão, essa
combinação era suficiente para me manter interessado e insaciável.
Nunca pensei em dar continuidade no relacionamento após o término
do semestre com outras alunas, à essa altura já teria a dispensado, mas
com Eve estava sendo diferente e por isso preparei tudo para que
pudéssemos manter o nosso caso por um longo período, presa as minhas
mãos calorosas. Embora o gosto de conhaque estivesse bem acentuado
em minha boca, podia sentir o gosto dela, seu perfume feminino e
principalmente a sensação da sua boceta piscando e apertando o meu
pau, totalmente encharcada. Acho que nunca me cansarei disso, dessa
fome e agora a terei como amante sem nenhum obstáculo pelo caminho,
pois já tirei quase todos. Só falta aquela amiga dela, não esperava que a
vagabunda tivesse nos visto, mas já tinha planos para mantê-la de bico
calado.
Destruir o pai dela foi fácil, o homem estava envolvido em tantas
coisas obscuras que não tive muito esforço para pegá-lo. O querido papai
era um bastardo desonesto. Além de se envolver com menores, ele
também sonegou impostos durante anos, o que resultou em uma dívida
de milhões de euros com o governo. Ele permaneceria assim, se não
tivesse entrado no meu caminho. Então apenas revelei as falcatruas e me
sentei para esperar o castelo de cartas começar a desmoronar.
Seus sócios e acionistas o processaram por corrupção e exigiram sua
parte do negócio, ele teve que partilhar a empresa com eles, o que
resultou no início da falência. Em contrapartida, o governo confiscou
todos os seus bens para o pagamento dos impostos, então ele teve que
começar a vender tudo para pagar, caso contrário iria para a cadeia.
Mas para mim isso não era suficiente, eu o queria ver atrás das
grades, comendo o pão que o diabo amassou, humilhado; e por isso
armei todo aquele espetáculo escandaloso na festa de aniversário de
casamento, desmascará-lo na frente de todos foi o golpe final, fatal.
Ninguém me ameaçava de morte e se safava facilmente. Apenas juntei o
inútil ao agradável, destruí o homem para ficar livre para consolar a
filhinha.
Agora colocarei a segunda parte do plano em prática. Todo o
patrimônio da família Bennet agora me pertencia, inclusive a mansão.
Com minha ajuda, a mãe de Eve jamais desconfiaria do nosso caso, a
empregada já estava avisada para nunca mais tocar sobre qualquer
suspeita que ela tivesse e ficou incumbida de vigiar a minha presa. Não
queria que nada de mal acontecesse a mãe dela e nem à empregada,
então assim seria melhor para todos nós.
Tinha muitos planos para a minha florzinha, a deixarei
completamente dependente de mim, física, emocionalmente e
financeiramente. Sem ter como escapar. Hoje ela virá, comunicarei a
minha decisão de continuarmos o nosso relacionamento. Esse
apartamento será nosso ninho de amor. O quarto secreto ainda será
usado somente com ela, caso fosse uma menina indisciplinada.
Cada detalhe foi planejado meticulosamente para tê-la. No início, eu
apenas a estava usando, como fiz com todas as outras, sim, ela já se
mostrou diferente desde o começo, mas achei que logo o frenesi da
novidade passaria e ela seria apenas mais uma. Me enganei.
Eve se tornou a minha obsessão, uma deliciosa e doce obsessão de
corpo quente. Até quando ia durar? Não fazia a mínima ideia, e nem me
preocupava com isso. Só sabia que um dia acabaria e eu partiria para
outra com a maior tranquilidade, sem remorso ou compaixão como
sempre foi e sempre será, cada peça no seu devido lugar.
Controle era tudo que eu queria, que me empenhava, que amava...
jogar com a vida das pessoas. Era excitante e alimentava o monstro
perverso que havia dentro de mim. O mundo era um lugar perigoso, mas
eu era pior, meus demônios internos eram camuflados pela minha
posição de padre, um verdadeiro lobo em pele de cordeiro, rogado pela
minha benevolência. E não tinha a mínima intenção de mudar isso.
Diziam que os ímpios seriam punidos por Deus e colheriam o que
semearam. E para limpar suas almas era preciso se redimir de seus
pecados. E aqui estava eu, impuro e pecador, um homem que não tinha
medo de nada, muito menos queria me limpar de toda a profanação da
minha alma. Muito pelo contrário, eu queria bebê-la, como o cálice de
vinho consagrado.
Ingeri a última dose da bebida e levantei-me. Fui até a suíte e despi-
me das minhas sóbrias roupas, minha camisa de manga comprida preta e
meu blazer da mesma cor, e, claro, o colarinho. Fiquei apenas de calça.
Daqui a pouco, Eve estaria aqui, mandei buscá-la em sua nova casa e
não via a hora de possuí-la. Esses dias sem ela me deixou com
abstinência sexual. Nem aquelas freiras vagabundas eram capazes de me
satisfazer mais. Massageei o pau por cima da calça pensando no meu anjo
de olhos verdes. Meu pau ficou duro, latejando querendo insanamente
corromper aquela boceta divina.
Nesse momento meu celular vibrou, o peguei e atendi.
— Ela já está aqui, senhor — o motorista comunicou.
Meu coração aqueceu e meu pau ficou mais rígido com a expectativa
de tocá-la depois de dias. Alguns minutos e a campainha tocou.
Abri a porta e me deparei com ela. Estudei cada centímetro dela como
se fosse uma pintura rara, desde seus cabelos presos até o volume dos
seus seios. Observei que ela ostentava um pouco de olheiras,
provavelmente por tudo que passou nos últimos dias. Era inevitável não
ver a dor nos seus olhos, mas ao mesmo tempo o desejo. Tinha certeza de
que ela sentiu minha falta assim como senti a dela.
— Entra! — ordenei lhe dando passagem.
Ela passou por mim e olhou em torno tentando evitar ver meu peito
desnudo. Fechei a porta lentamente. Seus olhos agora me encaravam
apavorada, ela abriu a boca para falar algo, mas percebi que as palavras
não vinham. Esse jeitinho tímido e temeroso dela me deixava louco, essa
ninfeta trouxe algo novo na minha vida, um pouco de humanidade na
minha alma fria. Dei um passo e ela se manifestou:
— Padre Magnus, vim aqui para conversarmos.
— Palavras é a última coisa que quero de você agora.
Fui até ela e a agarrei procurando sua boca e invadindo-a com
exigência ardente. Por algum motivo, ela tentou escapar de mim, eu
apenas a peguei no colo e a levei para a suíte. Alheio aos protestos dela,
deitei-a na grande cama ainda a beijando. Seus lábios eram doces como
mel e eu os saboreava como um homem sedento. Quando a soltei, ela se
afastou de mim e falou desesperada:
— Não me toque, eu não quero!
— Não?!
— Como disse, vim para conversar, acho que o nosso relacionamento
não pode continuar.
— Não é você que decide isso, Eve, agora cale a boca e se entregue,
estou morrendo de saudades.
A puxei de forma rude e, antes que ela pudesse dizer mais uma só
palavra, a sufoquei com beijos violentos, ferindo os lábios dela. Mesmo
assim, ela ainda resistiu e tentou lutar contra mim, mas a força dela não
contrapôs a minha e facilmente a dominei. A imobilizei completamente
sem parar de beijá-la, passando lentamente da brutalidade a persuasão
sensual.
Como já sabia, logo ela já estava entregue às minhas carícias,
submetida completamente a mim. Comecei a despi-la e ela tentava
desatar o cinto da minha calça. Em minutos estávamos completamente
nus em uma verdadeira comunhão sexual, queimando, febris devorando
um ao outro como belos animais selvagens.
Eu queria resistir a ele. Oh, Deus! Como eu queria. Vim por todo o
caminho fazendo uma prece para que não caísse em tentação, mas aqui
estava em seus braços, incendiada como tocha humana, me consumindo
no fogo da paixão. Padre Magnus alimentou esse fogo até me ter
completamente submissa à impiedosa necessidade de meus próprios
desejos.
E eu não tive forças para impedi-lo porque eu também estava
desejosa dele. Eu me derreti contra o ataque da luxúria dando-me a ele.
Entre beijos febris, sua mão passeava pelo meu corpo moldando as
minhas curvas definidas, que, em breve, não estarão ali. Esse
pensamento me fez ter uma súbita consciência:
Meu Deus! Não posso, não posso. Preciso acabar com isso, pelo meu
bebê.
Juntando um pouco de força que ainda tinha, tentei me separar dele e
pedi entre seus lábios que me dominavam:
— Por favor, padre Magnus, me ouça, não podemos mais.
— Eve, não me faça ser bruto com você, caralho! Eu estou louco de
desejo de te possuir, esses dias afastados foram uma tormenta. Isso não
acontecerá mais, agora vamos ficar nesse apartamento, aqui será nosso
ninho de amor, onde passaremos a noite.
— A noite? Não posso passar a noite longe de casa, o que direi para a
minha mãe?
— Já está tudo acertado, eu disse que você ficará sob os cuidados das
bondosas freiras, para ajudá-la passar por toda a turbulência. Sempre
que eu quiser passar a noite com você, dirá para a sua mãe exatamente
isso, que dormirá no convento.
— Não, padre Magnus, isso não é certo, mamãe confia tanto em você...
— Shhh... Quietinha, isso não é problema seu, seu único objetivo na
minha vida é me proporcionar prazer. Agora seja a minha ninfeta
pecadora gostosa!
O padre Magnus voltou a me beijar entre os lábios, pescoço e boca,
suas mãos ávidas e profanas, deslizaram para baixo até encontrar minha
boceta quente e latejante, a outra mão se fechou em volta do meu seio e o
apertou. Sufoquei meus gemidos gananciosos querendo mais.
Oh, Deus! Me perdoa, mas eu vou me deixar levar para esse delírio de
paixão e pecado, pelo menos por essa noite, como despedida, porque depois
dessa noite, tudo estará acabado.
Assim, o enlacei no pescoço mergulhando meus dedos em seus
cabelos macios e arqueando meus quadris para senti-lo melhor. Seus
dedos amassavam meu mamilo, endurecendo-o ainda mais, desenhando
círculos e beliscando enquanto meu sexo piscava. Por estarem mais
sensíveis, suas investidas me traziam um desconforto, uma dor, mas, ao
mesmo tempo, prazer. Ele levou a boca no meu seio sugando-o com
força, mordiscando, me deixando entre o delírio e o desejo.
— Estão maiores — ele falou enquanto trocava de um peito para
outro com a boca.
Meu estômago apertou e minha barriga estremeceu de nervoso.
Meu Deus! Ele não pode nem sequer desconfiar que estou grávida.
Mas ele parecia que não associou o aumento no volume com uma
possível gravidez, pois continuou com a exploração do meu corpo sem
alterar nada.
Deixei minhas pernas se abrirem mais, para embalar seus quadris
entre os meus, me inclinando buscando atrito. Padre Magnus levantou
seu tórax sustentado em seus braços musculosos em meia flexão e olhou
dentro dos meus olhos.
— Você é tão bonita, tão tentadora e me deixa louco...
Antes que eu pudesse reagir, ele se abaixou e entrou com a cabeça
entre as minhas coxas, sua língua quente logo se encontrou com minha
pele lisa e sensível, ele chupou com força me fazendo liberar o gemido e o
fluido que escorria pelas pernas conforme os símbolos que ele desenhava
no meu clitóris. Agarrei um monte dos seus cabelos e puxei na medida
que ele devorava minha boceta molhada. Ele lambeu longamente até os
tremores apertarem minhas coxas, até parar e segurar os meus braços e
os esticar acima da minha cabeça.
— Mantenha suas mãos aí para receber meu toque, minha boca.
Fique quieta e me deixa devorar a única mulher que me fez sentir mais
que desejo, que me faz pecar de forma ensandecida.
A promessa sombria em sua voz grave me fez ficar mais molhada e
arrepiada. Eu balancei a cabeça freneticamente no travesseiro torcendo
meus dedos para não ceder à tentação de tocar seu corpo magnífico.
Mordi o lábio inferior com tanta força que senti o sangue na minha língua
enquanto ele me lambia e invadia com mais profundidade usando a
língua. Ele bebeu dos meus fluidos como licor, até que mudou de posição
e de novo tomou meus seios e continuou chupando e mordendo meus
mamilos doloridos. A boca dele era mágica, eu estava tão focada na magia
que sua boca estava proporcionando, que eu sacudi e me engasguei com
sua mão quando desceram pela minha barriga e tocaram minha vagina
sensível. Seus dedos flexionaram e acariciam meu botão me lançando
ondas elétricas de cobiça.
Seus dedos mergulharam e se moveram em círculo coletando a minha
umidade e levando para meu cume inchado. Eu estava alucinada, se ele
continuasse fazendo isso eu ia ter um orgasmo. Sussurrei seu nome em
uma entrega total:
— Padre Magnus... me faz sua, sua.
Padre Magnus então se levantou da cama e eu fiquei perdida sem ele
perto de mim. O olhei e fiquei admirada em ver toda a plenitude de seu
corpo. Ele parecia um deus grego, um pecado, um santo, um demônio...
Tudo em um só. Seu pau ereto era a coisa mais quente e poderosa que já
vi, lindo, potente, encoberto de veias sobressalentes e vibrantes,
igualmente como seus braços musculosos.
— Você me quer? Quer mesmo, safada?
— Sim, oh, sim, padre Magnus!
— Então vem aqui, sua puta gostosa e promíscua do caralho, eu te
mostrarei o caminho que te levará para o céu, ou melhor, para o inferno...
Ele puxou minhas pernas e meu corpo ficou na beirada da cama com
as pernas abertas e suspensas deixando minha boceta brilhante de
lubrificação, totalmente aberta.
Em um piscar de olhos, ele estava no meio de minhas coxas de pé, e a
cabeça do seu pau esfregou sobre o meu tecido sensível. Então ele entrou
em mim de uma só vez, seu pau me invadiu facilmente se perdendo em
meus fluidos. Gemi quando ele começou a se mover. As mãos dele
seguravam minhas pernas e ele foi aumentando o ritmo. O olhava através
do delírio da paixão, seu rosto lindo transfigurado pelo prazer, pelo suor,
os braços musculosos, rígidos pelo esforço, assim como seu peito e
abdômen.
Meu coração estava triste, embora ele estivesse me fazendo dele mais
uma vez, eu sabia que essa seria a nossa última vez juntos, não sabia
como conseguirei viver sem esse homem, minha alma doía, por isso
queria aproveitar cada minuto dele, cada partícula e cada suspiro para
que ficassem gravados para sempre em minha memória.
Padre Magnus agora fodia minha boceta sem piedade, cruel como um
anjo diabólico e seu comprimento atingia tão fundo que me causava
ardência por toda parte. Temi pelo bebê, parecia que ele poderia
machucá-lo com suas investidas violentas.
— Padre Magnus — balbuciava me afogando em meus próprios
fluidos bocal. Ele debruçou sobre mim e me apertou entre os braços
ainda se lançando e beijou a minha boca. O pau dele começou a atingir os
músculos certos e eu iniciei meu prazer. Gritei quando atingi o clímax e
minha vagina expeliu o líquido quente em seu membro.
Ele ainda me bombeava até soltar seu fluxo de esperma dentro de
mim. Meu orgasmo nunca acabava e ruídos de prazer emanavam da
minha boceta rasgando meu corpo.
Gradativamente, o padre Magnus foi desacelerando enquanto ainda
tinha os braços fortes em volta de mim. Perdi o fôlego inúmeras vezes e
mal conseguia me mover. Meu corpo estava tremendo e contorcendo-se
entre seus braços. Ele finalizou. Seu corpo suado inalava o perfume
másculo e do sexo. Era muito bom estar assim com ele, essa proximidade
e todos os sentimentos conturbados dentro de mim fizeram meu corpo
balançar e meus lábios tremerem com um soluço abafado e as lágrimas
vieram sem limites. Padre Magnus, percebendo minha angústia, desfez
do abraço e olhou para mim, eu chorei mais ainda.
— Ei! O que foi?
Balancei a cabeça de um lado para o outro e coloquei o antebraço
para esconder meu desespero. Ele saiu de dentro de mim e eu me encolhi
ainda mais sobre a cama agora deixando me debulhar em lágrimas.
Padres Magnus não disse nada, mas senti que ele me abraçou e fez minha
cabeça repousar em seu peito quente. As emoções estavam todas à flor
da pele e eu não pude me conter. Chorei até me sentir entorpecida.
Quando meu pranto terminou, fiquei ouvindo as batidas do coração
dele, o calor do seu corpo grudado de encontro ao meu ouvido e o som
me acalmou e acalentou até me fazer dormir.
Beijos molhados e calorosos varriam minha bochecha, espreguicei-
me meio confusa sobre onde estava.
— Vamos, acorde! Quero você de novo!
Abri os olhos e o encarei sem entender nada, com a mente
embaralhada.
— Que horas são? — perguntei.
— O que importa a hora? Vamos passar a noite toda aqui fodendo,
portanto esqueça tempo e espaço.
Todo o peso dele caiu sobre mim, o quente do seu corpo envolvendo
o meu. Nossos lábios se encontraram e o beijo aprofundou em um febril
ardente. Coloquei os braços no pescoço dele naturalmente oferecendo
meu corpo com confiança e generosidade. Mais uma vez, me entreguei a
ele.
O sexo durou praticamente toda a noite. Após a segunda vez que ele
me possuiu, tomamos um banho juntos na enorme banheira, na água ele
me fodeu por horas não só com o pau, mas também com os dedos. Foi tão
envolvente e maravilhoso que esqueci todos os problemas e me deixei
levar por aquela louca e pecaminosa paixão.
O padre Magnus, segurou minha cintura e me penetrou fundo dentro
da água quente, foi algo diferente e excitante. Logo depois, comemos
algumas coisas e de novo, praticamente nus, ele apenas com um roupão e
eu somente com uma camisa dele.
— Precisará trazer algumas roupas para cá, ou sair para comprar e
deixar aqui no apartamento — ele falou.
Parei de comer a uva que já estava preparada para levar à boca e o
encarei. Então o questionei, apenas para tirar uma dúvida:
— Nosso relacionamento continuará quando o semestre acabar? Pois
faltam apenas um mês para isso, não acho que vale a pena manter roupas
aqui, já que logo tudo estará terminado.
— Não deixei claro isso? Esse apartamento será nosso local de
encontro, na faculdade algumas vezes podemos nos encontrar, mas não
com tanta frequência como era antes, no entanto, vamos continuar
exatamente como está.
Aquela revelação só me fez entrar mais ainda em pânico, se ele
pretendia continuar o relacionamento depois do semestre seria
impossível esconder a gravidez, por isso terminar esse relacionamento
era o melhor a fazer, contudo, não falarei sobre isso agora, na manhã
seguinte o comunicarei sobre a minha decisão. Por ora, fiquei curiosa
para saber como ele pretendia levar nosso relacionamento. Por isso lhe
perguntei:
— E a nova assistente?
— Não é assunto seu, já falei isso.
— Você pretende manter um relacionamento com nós duas, talvez
fazer uma suruba, e, quem sabe, até convidar mais alunas?! — ironizei,
praticamente gritando de revolta, porém logo me arrependi diante da
expressão dele.
— Não fala comigo nesse tom, já avisei para não se intrometer, mas,
para deixá-la informada, não terá uma nova assistente no próximo
semestre.
A revelação me pegou de surpresa e fiquei sem ação. Não queria
sentir aquilo, mas uma felicidade me invadiu em pensar que não teria
uma nova assistente. Contudo, toda a excitação caiu por terra.
A quem quer enganar, Eve, não há mais chance para vocês. Ele não
aceitará o bebê e muito menos deixará o sacerdócio para ficar com você.
— Eve?! — o padre Magnus me chamou algumas vezes até eu sair do
meu estado compenetrado e lhe encarar. — Não fique com essa cara de
boba e muito menos alimente alguma esperança sobre isso, não quero
outra assistente por enquanto, pois você ainda me é suficiente, ainda...
Nada falei, com certeza ele teria que encontrar outra mesmo. Não
existiam dúvidas.
O resto da refeição foi tranquilo e logo depois voltamos para o quarto
e de novo ele me possuiu freneticamente. Passamos a noite toda
transando até que dormimos exaustos.

Acordei na manhã seguinte preocupadíssima, escaneei o quarto com


o olhar à procura de algum sinal dele, constatei que estava sozinha.
Sentei-me na cama com as mãos no queixo e mergulhei em pensamentos.
Os efeitos da noite de sexo se refletiam em cada pedaço do meu corpo, e
essa seria a última lembrança que levarei dele, além do bebê.
Decidi me levantar e procurar a porta do banheiro, achei e entrei.
Precisava de um banho, estava toda suja de fluidos corporais
provenientes do sexo. Liguei a ducha quente e me deixei lavar com seus
jatos potentes. Após o banho, voltei para o quarto e respirei aliviada por
ainda estar sozinha. Voltei a usar minhas roupas da noite anterior,
prendi meus cabelos com uma trança única e saí do quarto para
encontrar a minha bolsa.
Ao chegar na sala, deparei-me com uma grande janela de vidro que
não estava aberta no dia anterior, percebi que as persianas que a
cobriam haviam sido afastadas e um cômodo apareceu do outro lado, era
uma grande academia com muitos equipamentos para exercícios. Olhei
admirada padre Magnus apenas com uma calça de moletom, socando um
saco de treinamento. Seus braços e dorso contraíam enquanto ele
empregava socos potentes com os punhos fechados. Seu cabelo estava
úmido pelo suor assim como seu corpo com várias gotículas escorrendo
pela pele transpirando.
Eu estava fascinada e não conseguia desviar os olhos dele. Se a
personificação do pecado existia, essa era a forma dele, de um homem de
Deus que fez a promessa de celibato e as mulheres o tiravam de seu
estado de graça. Meu Deus! Por que ele é tão lindo?
De repente, ele virou a cabeça e me flagrou o espiando. Movi-me
rápido para sair do campo de visão dele e procurei a bolsa na sala, a
encontrei no sofá e a peguei rapidamente. Naquele momento, o padre
Magnus chegou na sala e me pegou colocando a alça da bolsa no ombro.
— Vai aonde? — ele perguntou enquanto desatava os protetores das
mãos.
— Eu tenho que ir, padre, acabou, não me obrigue. O senhor é um
padre, não haverá nunca um futuro para essa relação — falei à queima-
roupa, sem olhar para ele e não fraquejar.
— Futuro? Que tipo de futuro você quer?
— Eu quero um relacionamento normal, poder apresentar meu
namorado para a minha mãe, não me esconder como uma criminosa.
— Eve, o que está acontecendo? Imaginei que já tínhamos resolvido
isso ontem, não é você que determina quando termina.
Ignorando sua arrogância, prossegui:
— Não insista e não me procure mais. Antonella já sabe do nosso
caso, em pouco tempo todos saberão e não quero passar por isso. Eu,
mamãe e Jemima vamos deixar Roma e nos mudarmos para outra cidade,
o senhor pode continuar com sua vida, não sentirá falta de mim.
Eu precisava ser irredutível e fazê-lo entender que não voltarei atrás.
Sem esperar por mais, andei até a porta, mas a voz do padre Magnus me
fez parar horrorizada:
— Sua puta ordinária, você acha que vai terminar assim comigo?
Engana-se, nunca, eu fiz tudo para ficar com você, tem noção disso?
— Eu... eu não entendo...
— Ah! É claro que não entende, você é apenas uma idiota que eu fodo,
nada mais. Não precisa entender porra nenhuma, a única coisa que
precisa saber é que não permitirei que me deixe. Enquanto eu te quiser,
você irá ficar comigo.
— Não pode me obrigar, sou livre e espero que respeite a minha
decisão. Ontem tentei lhe comunicar, mas não consegui, porém hoje é
outro dia e te falarei com todas as letras: ACABOU.
Corri até a porta e tentei destrancar, mas ele me alcançou e me puxou
com tanta violência, que bati as costas no aparador de entrada e os
objetos de decoração caíram no chão quebrando-se em milhares de
pedaços. Gritei em pânico quando ainda senti as mãos fortes do padre
Magnus me pegando pelos pulsos e me puxando para a sala. Tentei lutar
com ele, mas não consegui. Então comecei a gritar e pedir ajuda, o
homem estava furioso e temi por mim e pelo meu filho.
— Socorro! Me solta!
— Cale a boca, vagabunda! Eu vou te dar uma lição por ser
indisciplinada.
— Não, me deixa ir, está me machucando.
Em pânico, tentei atingi-lo com um objeto que peguei em uma das
mesas, padre Magnus, com um reflexo rápido, me soltou e pegou o objeto
no ar antes de atingi-lo. Então, com toda a força, ele lançou a peça longe,
que bateu na parede e espatifou-se. Com fúria, ele veio em minha direção
e eu, temendo ser agredida, sentei-me no sofá e coloquei a mão sobre a
barriga, protegendo-a.
— Não machuca meu bebê, meu bebê — gritei em desespero.
Padre Magnus parou abruptamente.
— Bebê? Que bebê?!
Com os olhos embaçados pelas lágrimas olhei para ele. O homem
estava completamente surpreso. Soluçando, terminei:
— Eu estou grávida de um filho seu.
O padre Magnus andou para trás parecendo que havia levado um
soco no estômago. Agora o estrago daquela situação estava completo, ou
não, era só o começo.
Meu coração martelava em meu peito, as palavras saíram, sem
controle, o medo me fez dizê-las. Eu não queria revelar esse segredo, mas
de certa maneira me senti leve, como se tivesse tirado um peso das
costas. O silêncio dele me fez ter uma esperança, talvez ele tivesse
aceitado o filho, ou pelo menos estivesse pensando sobre isso. Mantive
minha cabeça baixa e os olhos fechados em uma prece silenciosa, apenas
o som da minha própria angústia e a respiração do padre Magnus
preenchia o ambiente. Eu ainda temia ser agredida por ele, contudo, já
que comecei precisava lhe dizer que não era responsável pelo bebê e que
sumirei de sua vida, assim como pretendia fazer antes.
Juntando a coragem, levantei minha cabeça para olhá-lo. Uma vez que
fiz, o medo se instalou, enchendo-me de pavor e trepidação ao focalizar
suas órbitas azuis tempestuosas vidradas em mim. Sua face era uma
máscara de fúria e seus braços musculosos estavam estendidos ao longo
do seu corpo com as mãos fechadas em punho. Então ele perguntou em
um rosnar selvagem:
— O que você disse?
— Padre... não era para ter contado nada, eu pretendia sair da sua
vida. A culpa foi minha, o senhor não tem responsabilidade nenhuma
pelo bebê. Deixe-me ir, nunca mais me verá.
— Traidora vadia.
Ele virou as costas para mim e o vi passar os dedos entre os cabelos,
seus músculos das costas contraíam. Minhas lágrimas voltaram e eu
esfreguei a palma das duas mãos sobre os joelhos para tentar me
acalmar, sem saber o que fazer. Definitivamente a notícia do bebê não o
deixou feliz. Por isso, peguei minha bolsa e coloquei no ombro, levantei-
me e comuniquei:
— Estou indo embora, eu sinto muito — choraminguei e segui para a
saída. Mas antes de eu dar qualquer passo, ele voltou-se para mim.
— Sua pecadora estúpida, o que eu lhe disse sobre uma gravidez?
Você acha que me desviará da minha vocação porque se deixou
engravidar?
— Não foi minha intenção, aconteceu — tentei me defender. — Eu
estava me prevenindo, mas, devido a todas as coisas que aconteceram
em minha vida, acabei esquecendo algumas vezes de tomar o
anticoncepcional.
Ele riu cruel e com dois passos segurou meu braço e me empurrou
com força contra a parede. Eu tentei escapar esmurrando seu peito com
os punhos, não importando onde o estava atingindo, eu só temia pelo
meu filho.
— Solte-me!
Facilmente ele me dominou, eu não era páreo para ele em uma
disputa física.
— Você acha que vou acreditar nessa sua história? Tenho certeza de
que fez de propósito, Eve.
— Não é verdade, por favor, acredita em mim.
— O que você esperava? Que eu deixasse o meu sacerdócio para me
casar com você?
— Não...
— Vagabunda pecadora, você não terá esse filho, eu disse que não
queria nada indesejado entre a gente. Por isso, vai tirá-lo, irei fazê-la
abortar essa criança.
Empalideci e tive um baque no coração. Eu podia esperar a rejeição
dele sobre a criança, mas isso não. Talvez isso fosse um teste de Deus,
talvez eu estivesse sendo punida por me entregar e corromper um de
seus pupilos. Oh! Como acreditar nisso olhando-o proferir aquelas
palavras? Meu Jesus, ele quer matar o próprio filho. Não posso acreditar
em algo tão abominável.
— Não farei isso, o senhor como católico deveria saber que essa
atitude é abominável aos olhos da igreja, jamais farei tal coisa.
— Ah! Você vai, Eve, e foda-se o que a igreja pensa, eu vou te levar na
clínica e esse ser será arrancado de você.
— Você não pode me obrigar! — gritei desesperada.
— Sim, eu posso. Se você não for por bem, irá por mal, eu vou arrastá-
la até a clínica. É melhor colaborar, não terei piedade.
— Você é um monstro!
— Oh, sim... Você verá o monstro que sou. Ajoelhe-se! Irei te punir
por tudo que fez.
— Não, padre Magnus, por favor, não.
Ele não me deu ouvidos e me forçou a ajoelhar.
— Você me pagará por tudo que me obrigou a fazer para tê-la comigo.
Eu matei por você, Eve, eu acabei com a vida daquele maldito padre
Gregório, para tirá-lo do meu caminho. O infeliz nem culpado de nada
era, mas o fiz acreditar nisso e o obriguei a escrever aquela carta, antes
de açoitar e matá-lo com minhas próprias mãos.
— Não... — era a única palavra que eu conseguia dizer diante daquela
revelação.
— Eu vou deixá-la saber de todas as coisas que fiz por você diante da
sua traição, para que se sinta culpada.
O padre Magnus se afastou e abriu a gaveta de um móvel, pegou algo
de dentro, era uma cruz de metal. Aproximou-se de mim novamente e
chegou o rosto perto de mim.
— Eu vou exorcizar o demônio que está dentro de você lhe induzindo
com as artimanhas de desviar um homem de Deus o prendendo na
armadilha da gravidez. — Sua voz era chocantemente calma e me encheu
de pavor frio.
Ele é louco, meu Deus!
— Abre a boca! Você ainda tem uma salvação por sua culpa.
— Eu não tenho culpa de nada. Não engravidei para lhe prender!
Ignorando totalmente o que disse, ele continuou com sua loucura.
— Mas esse seu jogo não dará certo, Eve, porque, depois de tirar o
demônio de você, eu vou tirar esse ser concebido do pecado.
Ele aproximou a cruz do meu rosto, pressionando-a contra a minha
testa e começou a proferir algumas palavras em uma língua estranha,
mas que logo identifique como sendo latim, a língua falada durante as
missas de antigamente. Enquanto ele falava, com a mão livre, colocou
dentro da calça e tirou o pau maligno para fora.
— Abre a boca! — voltou a ordenar.
Obedeci-o por puro medo, pois não queria que ele me machucasse ou
ao bebê. Minha melhor chance era fazer exatamente o que ele disse até
que conseguisse sair de suas mãos. Ele enfiou o pau na minha boca e
quase engasgou. Ele continuou falando as palavras em latim enquanto
pegou um punhado do meu cabelo na nuca e empurrou fazendo engoli-lo.
Me sentia sufocada, mas acompanhei seu ritmo. O pau chegava fundo na
minha garganta e, quando ele gozou, me segurou forte contra o seu
quadril e me fez engolir todo o sêmen.
— Engole tudo, pecadora, para a sua purificação.
Depois que todo seu líquido foi expelido na minha boca ele tirou o
pau e introduziu a cruz. De novo engasgou e tossiu, mas ele ordenou sem
misericórdia:
— Segura a cruz entre os dentes.
Com dificuldade, apertei o crucifixo entre os dentes em meio a minha
saliva e o sêmen que escorriam pela lateral da minha boca. Padre Magnus
se afastou e começou a ditar:
— A segunda que tirei do meu caminho foi aquela piranha, ela abriu a
boca e te contou sobre as assistentes, então apenas a atropelei e fiz
parecer um acidente. Foi tão fácil como tirar doce de criança.
Balbuciei em desespero diante daquelas revelações, era tudo muito
horrível. Ele continuou falando:
— Quero que saiba que tudo que fiz, Eve, foi por você, sua maldita,
somente por você. E o que você me dá de troca? A traição.
Meu corpo estremeceu de medo. Ele prosseguiu com suas declarações
diabólicas:
— E o paizinho honesto, ele queria me matar, e eu revelei o quanto
ele era um homem íntegro. Mas claro antes, lhe dei uma amostra do que
podia acontecer a ele e a esposa devotada, enviando aquela maldita gata
picadinha em um caixa.
— Não... — gritei cuspindo a cruz que caiu no chão.
— Sim, Eve, tudo sua culpa.
Ele aproximou de mim de novo e agarrou meus cabelos me fazendo
olhá-lo.
— E, para finalizar, foi aquele moleque do Felipe...
— Não... — falei quase sem voz, com meu coração e sentimentos em
frangalhos.
— Com as palavras certas, o tirei do meu caminho. Eu o incentivei a
se matar, Eve. Mas sabe por que eu fiz? Por sua causa, então a culpa da
morte dele é toda sua!
Ele me soltou com brusquidão e eu caí deitada no chão, sem forças.
Somente o choro de angústia conseguia me acalentar naquele momento.
As revelações foram muito terríveis.
Padre Magnus andou pela sala e parou próximo a uma mesa. Escutei
ele pegando alguma coisa e o barulho do isqueiro, logo o aroma do
tabaco inundou o cômodo.
— Levante-se e senta no sofá! — ele ordenou.
Com cuidado, fiz o que mandou. Esperei quieta com as mãos juntas.
Ele sentou-se de frente para mim e fumou por alguns minutos sem falar
nada, eu também não proferi palavra, estava apavorada. Ele esmagou o
charuto no cinzeiro e comunicou:
— Hoje você irá para a sua casa. Assim que eu resolver tudo com a
clínica, mandarei um carro te buscar para o procedimento.
Uma pequena pausa, eu apenas o esperava terminar.
— Devo informá-la que, caso tente fazer qualquer coisa, a vida da sua
mãe e da empregada correm perigo, eu tenho gente as vigiando, uma
ligação minha e a mamãe e a babá já eram!
Meu sangue esfriou em minhas veias com suas palavras, estava sem
saída, nem ao menos conseguia pensar diante disso tudo. Meus olhos
encheram de lágrimas.
— Nem pense em fugir ou me enganar, você não chegará muito longe,
eu a caçarei nem que seja no inferno. Saiba que vigio cada passo seu, e eu
saberei em poucos minutos se tentar. Eu sei de tudo, Eve.
Deus do céu, esse homem é um psicopata lunático, como não percebi
isso antes? Era tão claro como a luz do dia, cega! Tola!
Me sufoquei com um nó preso na garganta.
— Temos um acordo?
— Sim... — concordei, não podia arriscar a vida de mamãe e Jemima,
não a delas.
— Não se preocupe sobre a sua amiga, ela não abrirá a boca.
Levantei a cabeça em um supetão. Não, ele não pode matar a
Antonella. O olhava suplicante.
— Está com pena dela? Não deveria, depois da maneira que ela te
tratou.
— Como... Como você sabe?
— Eu já disse que sei de tudo, Eve. Seu celular e de todos a sua volta
estão grampeados.
Busquei seus olhos, nos encaramos por alguns minutos, algo dentro
de mim quebrou-se, como um cristal delicado. Talvez a minha fé, não em
Deus, mas nos homens. Ou talvez eu nunca a tivesse tido, ou talvez eu
merecesse tudo que estava passando, pois pequei, desejei o proibido.
O padre Magnus se moveu e veio até mim, nada fiz, estava tão
chocada com tudo que não conseguia reagir. Sua crueldade e a dor que
ele infligiu em mim estavam profundas agora em meu coração como uma
estaca. Ele se sentou do meu lado e segurou nas minhas bochechas.
— Eve, não vamos deixar que nada atrapalhe a nossa relação, somos
só eu você, um para o outro. Hum?
Ele passou o polegar nos meus lábios trêmulos. As lágrimas salgadas
minaram em minhas pupilas. Carinhosamente, ele me trouxe para junto
dele.
— Pobrezinha! Não chore, tudo isso que faço é para purificá-la da
culpa. Entende?
— Sim...
— Então, seja uma boa menina e faça tudo certo, em pouco tempo
tudo ficará em seu devido lugar, sem nada no nosso caminho. Por ora,
vamos comer alguma coisa e fazer amor, depois mando te levar em casa.
Meu coração pulou e me afastei dele horrorizada, não vou me deitar
com ele, nem agora nem nunca mais. Observando a confusão em meu
semblante, ele esclareceu:
— Nada mudou na nossa relação, Eve, agora as coisas estão claras,
você sabe o que espero de você, então sem dramas.
Assim ele me beijou na boca. Nada fiz para impedir, eu precisava ter
cautela naquele momento e a melhor maneira era concordar com tudo. E
assim foi, passamos quase o dia todo no apartamento.
Horas depois, o carro me deixou na porta de casa. Andei como um
zumbi e, ao entrar em casa, encontrei com mamãe na sala sentada no
sofá.
— Oi, filha? Como foi lá no convento com as freiras?
Não consegui segurar as lágrimas e desabei. Mamãe rapidamente
correu para me abraçar em desespero.
— O que foi, meu amor, o que aconteceu?
— Mãe, eu preciso lhe contar tudo, não posso mais esconder.
Nesse momento, Jemima surgiu na sala e eu pedi que as duas
sentassem no sofá. Elas me encaravam alarmadas. Eu ia contar tudo,
Jemima já devia saber de alguma coisa, mas mamãe tinha certeza de que
estava ignorante sobre tudo e ia sofrer. Não viverei essa tormenta.
Juntas, encontraríamos uma saída para aquela situação, por mais difícil e
insuportável que fosse.
— Mãe, primeiro quero te pedir perdão por tudo que fiz, não fui uma
boa filha, sou uma pecadora.
— Eve, está me assustando! — mamãe proferiu em choque.
— Eu sei que te decepcionarei sobre o que vou te revelar, mas
entenda, tudo que aconteceu foi culpa minha, eu fui uma fraca, burra e
me deixei levar...
— Não, Eve, não foi culpa sua, apenas diga a verdade para a sua mãe
— Jemima se manifestou.
A olhei nos olhos, ela sabia. Continuei:
— Mãe, eu estou grávida.
Minha mãe ficou pálida na hora, Jemima abriu a boca e colocou a mão
sobre ela, claramente surpresa, ela podia saber do meu caso com padre
Magnus, mas jamais sobre a gravidez.
— Pai amado! — Jemima exclamou.
— Desculpa, mãe!
— Quem... quem é o pai do bebê? — mamãe perguntou.
Aguentei firme o aperto no meu estômago, as palavras quase não
saíram da minha boca, mas os fatos eram crus e nus em minha frente,
não podia ficar sem fazer nada, não podia suportar tudo isso mais. Dei
um último lampejo de olhar para a Jemima, então olhei para a mamãe e
disse a verdade:
— O padre Magnus.
Mamãe colocou a mão sobre o peito e seus olhos se embargaram, ela
desmaiou na hora.
— Mãe! — gritei entre os soluços das minhas próprias lágrimas,
daqui para a frente só via a escuridão em minha vida, mas de uma coisa
estava certa: não podia deixá-lo tirar a vida do meu bebê.
Meu coração batia, mas sentia como se não estivesse, sentia-me
morta por dentro apesar da vida que crescia em minha barriga. Minha
mente era podre, meu corpo era contaminado pelo pecado, eu fiz, eu era
culpada, eu acabei e afastei todos em minha volta: Meg, Felipe,
Antonella... E até aqueles poucos que ficaram ao meu lado, agora estavam
frustrados, decepcionados.
Jemima podia acariciar minha cabeça, dizer coisas lindas como “você
é a vítima”, “vai ficar tudo bem”. Mas lá no fundo, eu sabia que era o seu
maior desapontamento, e mamãe? Ela foi a pessoa que mais me
incentivou, que botou fé em mim, que me ajudou... Que sempre esteve
comigo, mas agora com certeza seria a pessoa mais abatida com toda
essa situação, além de um marido pedófilo, tinha uma filha grávida de um
padre.
Um vexame para o seu nome, Antonella estava certa, padre Magnus,
de certa maneira nefasta, também estava. Não podia negar que tinha
grande culpa nisso. O que eu fiz comigo?! O que eu fiz com minha vida?!
Jemima ajeitou mamãe no sofá e pegou água e um lenço para
reanimá-la, eu fiquei no canto superior do sofá grande, segurando a mão
de minha mãe e chorando como uma criança tonta, coisa que não era,
pois me tornei uma suja, imoral, pecadora.
— Desculpe, mãe, desculpe!
A chuva fina começou a cair e pequenos relâmpagos já estavam
contornando o céu, finalmente dando vida ao inverno que ameaçava há
dias.
— Senhora Eleonora, acorde!
Mamãe finalmente abriu os olhos querendo acreditar que tudo aquilo
não passava de uma grande mentira ou uma piada de mau gosto, contudo
ela viu em meus olhos vermelhos pelas lágrimas que era a mais pura e
pecaminosa verdade.
— Não pode ser verdade! Eu confiei nele! Acreditei naquele sujeito de
batina, acreditei...
— Sim, senhora Eleonora, todos acreditam em um homem de batina e
de boas palavras, não se sinta culpada por isso! Mas olha só o que esse
homem fez.
— Onde errei?! Onde errei como esposa? Como mãe?! Eu sou uma
burra!
— Não, mãe, você não é, eu sim. Me deixei seduzir... eu quis desde o
começo. Foi tudo culpa minha.
Me espremi em lágrimas e Jemima me abraçou, apertando-me em
seus braços aconchegantes. Mamãe, já reanimada, segurou em minha
mão e me fez olhá-la.
— Você não teve culpa, filha. — Abaixei a cabeça envergonhada, mas
mamãe, determinada, levantou-a de novo e continuou: — Eu jamais a
desampararei, nem você e nem essa criança, mas esse homem será
responsabilizado.
— Não, mãe, você não entende, é tudo complicado.
Jemima também interveio:
— Bom, senhora, agora não é momento para isso!
— Não é momento para isso?! Sabe o que vou fazer! Vou agora ligar
para os superiores da igreja! Esse homem tem que ser, no mínimo,
excomungado por tamanha safadeza! Isso é imprescindível! Horrível!
Aposto que minha filha não deve ser a única. Como pode, meu Deus?!
Mamãe tentou se levantar irada com os fatos, mas a impedi
colocando-me em sua frente e me ajoelhando sobre seus pés! Segurei
seus joelhos e, entre meu próprio pranto e lamentação, gaguejei tentando
impedir a tragédia:
— Não, n-não! Não, mãe... A s-senhora...
— Eve... Não vai me dizer que quer defender esse homem?! Minha
filha, você foi seduzida...
— Não! Eu nunca fui, mãe! Eu tenho culpa, eu sei que tenho.
Jemima tentou intervir de novo, mas a impedi me quebrando:
— Eu gostava, gostava bastante! Me perdoe por isso. Eu não o
defendo e mais do que nunca quero vê-lo no calabouço do inferno agora!
Mas ele é perigoso, mamãe. Ele...
Respirei e pausei na minha própria angústia, por um rápido segundo
senti meu coração querer sair pela boca e meus olhos mal piscaram
enquanto pronunciei os fatos:
— Mãe, eu preciso te falar tudo o que está acontecendo, para que
juntas posamos encontrar uma saída. Esse homem é perigoso...
Na meia hora seguinte, relatei para a minha mãe tudo que estava
acontecendo.
Minha mãe colocou as duas mãos na boca, ficou sem reação e
impactada. Não tinha palavras dignas ou que pudessem expressar a
situação, somente a vergonha e inquietação.
— Não, não pode ser, que homem...
— Sim, mãe, mas o pior ainda está por vir. — Pausei por alguns
segundos, buscando as palavras: — Ele quer me fazer abortar meu bebê.
Não aceitou o filho. Eu não quero matar meu filho.
— Não! Jamais permitirei isso, filha, você não fará esse aborto. Esse
monstro não a obrigará, eu te apoiarei no que for preciso, nós
encontraremos uma solução.
— Não podemos arriscar muito, ele sabe de tudo — Jemima
interrompeu e prosseguiu: — Ele me ameaçou também, tive que ficar
espionando a menina Eve...
— Meu Deus, ele é um monstro! Abominável!
Inclinei o corpo enquanto chorava, sem coragem para continuar e
queimando na desgraça que estava causando em mim e em todos a
minha volta, como um vírus detestável.
— Sim, por isso eu sugiro, senhora, que não devemos ligar para
ninguém e muito menos contar, não conheço esse homem, mas já
sabemos do que ele é capaz! Olhe para tudo isso! Eu sempre vi naqueles
olhos o diabo! Ele é uma obra do satã, não duvido disso. E afrontar uma
pessoa execrável como ele, é querer tirar a vida!
— O que podemos fazer? O quê?! É tanta coisa que nem ao menos
consigo raciocinar, meu mundo desabou! Minha filha... Minha menininha
— Mamãe me feriu com a verdade.
— Temos que fugir, fugir! Eu não posso aceitar perder esse bebê,
mamãe, não desse jeito, não quero. Ele está nos vigiando, celulares,
computadores... e até capangas. Mas preciso estar bem longe desse lugar,
dele. Não só eu, todas nós temos que sair daqui, tenho muito medo.
— Pra onde iremos? Não temos um tostão! E minha família virou as
costas depois do que souberam de Richard! Por Deus, por Deus...
— Calma! De cabeça quente, não conseguimos pensar! Quanto ao
lugar, fiquem tranquilas. Lembra daquele velho chalé abandonado que
pertencia a um tio da minha família lá em Polperro, na Inglaterra? Se não
fosse os Bennet, eu não sustentaria o pobre que faleceu ano retrasado,
sempre deixei dinheiro vivo guardado! O salário de vocês era muito
generoso, e o dinheiro que sobrava eu guardava em uma mala velha no
quarto. Não é muito, mas é o suficiente para três passagens! A cidade é
pacata, nem rede Wi-Fi e essas novas tecnologias pegam direito por lá, dá
para vivermos até encontrarmos outra saída. O único problema que vejo
agora é como sair daqui, sem que ele descubra.
Um pingo de esperança brotou no meu peito, não por mim, pois já
estava morta, mas pela sementinha na minha barriga e por mamãe.
— Não podemos nem tocar no celular ou computador, ele está
monitorando tudo! — eu avisei.
— Vamos pensar em alguma coisa. Por ora, manteremos tudo na
normalidade. Eve, você precisa se alimentar bem e tentar manter a
calma, para o seu bem e do bebê — mamãe falava firme e determinada.
A admirei, em tão pouco intervalo de tempo ela teve tantas decepções
e mesmo assim se mostrava forte.
— E Eve, eu jamais vou julgá-la e abandoná-la, estarei sempre do seu
lado.
— Obrigada, mãe.
— Eu também, minha menina, vou cuidar de você e desse bebezinho
aqui — Jemima falou colocando a mão na minha barriga.
Respirei fundo, no meio de tanta desgraça receber o apoio delas me
acalentou.
Após o jantar, passamos o resto da noite e adentramos a madrugada
inteira em claro vendo formas de sairmos sem sermos percebidas por
ele, muitas das vezes eu só ficava quieta, mamãe poderia ter me
perdoado, porém ia levar um grande tempo para que ela me enxergasse
como filha e, de certa forma, nada seria como antes.
De todas as ideias que tivemos só uma realmente parecia funcionar
bem, uma saída que mamãe constatou e com a minha ajuda e de Jemima,
parecia ser sábia e eficaz.
— Amanhã à tarde farei uma ligação para o padre Paolo, fingirei que
tudo está bem, claro! Vou aparentar estar magoada, frustrada, dizer que
minha vida está um caos... O que de certa maneira não é mentira, vou
pedir uma oração para ele! Sei que ele não vai recusar — mamãe
palpitou.
Jemima continuou:
— Antes da ligação nada suspeita da senhora Eleonora, vou sair para
o mercado, comprar umas coisas básicas que também não irão levantar
alguma suspeita com o pouco dinheiro. Estarei sendo vigiada, mas o
plano só entra em ação quando sua mãe e você saírem da igreja ainda
vestidas de forma normais, mas só quando chegarem no nosso ponto de
acesso, a praça da cidade, que sempre está cheia de pessoas depois da
hora do almoço, vocês vão se misturar com as pessoas com os disfarces
assim como eu estarei também! Então, só aí nos encontramos, todas
disfarçadas e prosseguimos com o plano.

Não dormimos nem um pouco, ao menos fechamos nossos olhos, mas,


para parecer que tudo estava “minimamente bem”, mamãe se recolheu
para o seu quarto com Jemima e escutei suas preces orando baixinho,
pedindo força e esperança para Deus. Me perguntava como, acima de
tudo, ela tentava se manter forte, coisa que eu não demonstrava nem de
longe, pelo menos não agora... Não nesse momento.
Acariciei minha barriga e me afoguei nas lágrimas, tentando suportar
o estilhaço que a dor no meu coração estava causando, as lágrimas
faziam meus olhos arderem... Não eram suficientes para apagar e acabar
com tudo, mas eram boas para lembrar da minha culpa nessa história.
Pela manhã tomei um banho quente e me agasalhei, olhei pela janela
as árvores e as ruas de Roma. Será a última vez que a verei... Pelo menos,
por um bom tempo.
Jemima fez um café quente, ovos mexidos e brioches que mamãe não
conseguiu comer, porém eu precisava e, enquanto degustava a comida, a
mulher que um dia foi minha babá e agora era como uma segunda mãe,
apertou minha mão e disse com um olhar cordial:
— Vai dar tudo certo, Eve.
— E se não der, Jemima? E se ele, de alguma forma, descobrir e nos
pegar? E se ele tirar o meu bebê? Se ele fizer isso, eu juro que morro, eu
simplesmente... não tenho mais forças.
— Não pense assim! Lembra da lei da atração? Você adorava muito
praticá-la, menina Eve, pense que vai dar certo e irá dar certo.
— Menina Eve? Eu acho que não precisa mais me chamar assim.
— Você sempre será a minha menina, isso nunca vai mudar! Não
importa o que aconteça.
Quando Jemima saiu para o mercado, eu comecei a olhar para o
relógio e, a cada tique-taque, eu andava pela casa nervosa tentando
controlar os nervosos no meu peito. Enquanto mamãe chorava
mostrando sua derrota e tristeza no telefone com o padre Paolo, eu
amarrava o cadarço dos sapatos me preparando para o que viria pela
frente, temendo muito. Porém, acreditando e suplicando para o Todo-
poderoso me dar uma chance, uma última chance.
— Você está pronta? Temos um horário com o padre para meia hora
e não podemos nos atrasar — foi o que mamãe perguntou limpando seu
rosto cheio de lágrimas com um lenço, apenas assenti com a cabeça.
Logo ela pegou sua bolsa de colo com itens críticos que iríamos
precisar, não levaríamos roupas ou qualquer coisa que pudesse chamar
atenção na fuga, já era arriscado e qualquer coisa mais que isso poderia
nos colocar em maior perigo. Só contávamos com uma coisa: a sorte,
porque até o lado Divino tem nos testado.
Mesmo sentindo-me observada, tentei manter a discrição, olhava
para todos na igreja enquanto mamãe se confessava com o padre Paolo.
Eu tremi, suei como um camelo até a hora certa apitar no relógio de
pulso.
Eu precisava “ir ao banheiro”, mas, discretamente, precisava arranjar
dois disfarces de freira, o que não era tão difícil por ser horário da
confissão e, quando batesse o sino logo à tarde, não só as freiras da
décima comunhão sairiam da igreja para os seus trabalhos em
comunidades carentes, como mamãe e eu também. Caso o plano não
fosse como esperado, também tínhamos um plano B.
Não foi tão fácil, mas admito que foi prático pegar duas roupas do
vestuário, roupas novas que foram costuradas há pouquíssimo tempo
para espetáculos de canto que ocorreriam na semana. Os sinos já
badalavam quando mamãe me encontrou no banheiro.
— A senhora demorou.
— Não poderia ser tão rápida, além do mais... realmente tudo que
está acontecendo em minha vida é insuportável de suportar. Mas então?
Conseguiu as roupas?
— Aqui está.
Tirei o hábito maior de dentro da sacola e entreguei para ela, nós
duas nos vestimos rápido em cabines separadas. O véu e o hábito ficaram
grandes em mim, mas em compensação não era nem um pouco notável
minha silhueta ou qualquer outra coisa que pudesse lembrar de mim
além do rosto. Em mamãe, tudo ficou ótimo e era impossível não dizer
que ela era uma irmã da igreja.
Nas últimas badaladas, nos misturamos com as freiras que saíram e
até pegamos carona em um dos ônibus com elas, evitamos olhar pela
janela, sempre com os olhos em nossa própria mão segurando uma Bíblia
Sagrada. E para a nossa sorte, outras freiras também tinham que passar
pela praça de encontro, assim todas estávamos misturadas com os
grupos de pessoas que frequentavam o local.
— Cadê a Jemima?! Meu Deus! Ela tem que estar aqui.
— Calma, mamãe, não podemos chamar atenção. Tem muitas pessoas
por aqui, vamos continuar circulando que iremos encontrá-la.
O medo estava apertando meu coração, eu queria tanto ser mais
forte, mas só ia suspirar aliviada quando estivesse bem longe daqui.
Quando tivesse a garantia de que meu filho e as duas pessoas que
restaram em minha vida estivessem bem, se é que algum dia eu irei estar
aliviada.
Mamãe e eu não paramos de andar para não levantar suspeitas e
quase levamos um susto quando uma senhorinha de bengala e muito
bem-vestida apareceu, era quase uma madame de cabelos loiros e óculos
escuros, de nada se assemelhava à Jemima e passamos por ela duas
vezes! Porém, era ela.
— Achamos que não iríamos encontrar você!
Continuamos andando, não paramos e seguimos para fora da praça
para pegar um táxi até o aeroporto. E só quando estávamos no
automóvel, olhei para o rosto de Jemima e para o de mamãe, não falamos
nada, mas estávamos com esperança, pouca apesar dos nervos.
Não demoramos tanto para chegar no aeroporto, não tinha trânsito
como costumava ter e a chuva só caiu forte quando estávamos
comprando as passagens. A todo segundo meu coração pulava para fora
da caixa torácica, meu sangue fervia nas veias querendo decifrar o que
estava por vir.
Depois do check-in esperamos nosso voo sem dizer muitas palavras
no portão correspondente, apenas segurando a mão uma da outra e
aguentando o nó e a ansiedade na garganta.
Logo chamaram o nosso voo, entramos no avião e nos sentamos em
nossas poltronas perto uma da outra. Finalmente, quando o avião
levantou voo, pude sentir meu peito palpitar. Pude sentir esperança e
uma tranquilidade que habitou nos meus pensamentos, mesmo que, lá
no fundo, algo mexesse constantemente na minha cabeça, uma dor
terrível como se pudesse sentir na pele o ódio do padre Magnus.
Eu conseguia visualizar mentalmente sua fúria. Depois de todas as
coisas que vivemos, eu resolvi deixar tudo para trás com ele... Em meio às
nuvens do céu, que agora me levavam de volta para a Inglaterra. Nós
conseguimos.
Contudo, mesmo sentindo raiva por toda essa situação e alívio por ter
me livrado dele, eu também sentia uma angústia e tristeza. Pensei nele,
sabia que não deveria, mas sua imagem não saía da minha cabeça e meu
coração doía... Estava abandonando o pai do meu filho, o homem que
mudou a minha vida e despertou muitos sentimentos...
Apertei os olhos e encostei a cabeça na janela do avião, não queria me
sentir assim, mas era mais forte do que eu.
Dias depois...
O sol tímido com sua luz pálida infiltrava através da névoa
acinzentada da manhã. Olhava por entre o vidro da janela do pequeno
chalé o dia chegando. Já haviam passado alguns dias desde que chegamos
a pequena cidade do interior da Inglaterra e iniciamos a nossa vida.
Tomei um gole do chocolate quente que estava em minhas mãos e
contemplei as encostas das montanhas, que ostentavam agora uma
neblina densa anunciando o início do inverno.
No fundo do velho chalé de madeira, corria um riacho e sobre ele
havia uma pequena ponte de pedra. No quintal, amontoado do lado da
porta da cozinha, a lenha que cortamos pronunciava a chegada do
inverno rigoroso. A casa era pequena e não havia aquecedor, somente
uma velha lareira na sala, onde estávamos dormindo em sacos de dormir
de frente para o fogo.
Me encontrava sozinha, mamãe e Jemima saíram cedo para a cidade.
Mamãe tentaria uma colocação no mercado de trabalho local, embora
nunca tivesse trabalhado na vida, tinha formação acadêmica e sabia falar
três idiomas, ela tinha a esperança de encontrar um emprego mesmo que
fosse em uma loja.
Já Jemima, a acompanhou para fazer algumas compras de
supermercado e tentar encontrar uma máquina de costura usada por um
preço bom, ela tinha habilidades como costureira e tentaria trabalhar de
casa e ganhar uma renda extra também.
Suspirei fundo e terminei minha bebida, coloquei a xícara junto com
as outras na pia. Me preparei para lavar a louça e cuidar da casa. Era o
mínimo que podia fazer para ajudá-las e me sentir menos culpada por
colocá-las nessa situação. Peguei o balde e saí da casa para recolher água
do riacho. Pela casa ser muito velha, o encanamento estava
comprometido e não tínhamos água encanada funcionando, por isso
usávamos a água do riacho para tudo, exceto para beber, para isso
usávamos água mineral de garrafa, porém tínhamos que resolver isso
antes do inverno chegar, pois a neve se acumularia e nos impediria de
termos acesso ao riacho.
Agachei-me na borda do rio e colhi a água, levei para dentro para
iniciar a lavagem. Em poucos minutos, tudo já estava limpo e guardado
no armário. Espanei os poucos móveis, limpei a lareira, que
mantínhamos ligada a noite toda, e ajeitei nossos sacos de dormir.
Por enquanto não estávamos cozinhando, pois não tínhamos lugar
para armazenar alimentos frescos, por isso nos alimentávamos de frutas
e comida pronta. Mas essa situação teria que mudar o mais rápido
possível, teríamos que transformar esse chalé em um lar seguro para um
bebê recém-nascido.
Uma dor aguda atingiu meu peito e coloquei a mão na barriga. O bebê
estava crescendo rápido, eu não tinha ideia de quanto tempo estava, mas
pela barriga que estava despontando acreditava que estivesse de mais de
três meses. Ainda não fui ao médico, era outra coisa que mamãe também
resolveria hoje.
Ouvi o barulho de um carro parar próximo ao chalé. Perdi a cor e o
sangue formigou das minhas veias. “Oh, meu Deus! Quem será?”, me
perguntei aflita.
Esses dias que se passaram estavam sendo assim, não tínhamos
sossego, a cada som que ouvíamos fora do chalé, ficávamos tensas
pensando que podia ser ele. E isso estava sendo uma tormenta em nossas
vidas.
Apreensiva, apurei meus ouvidos para tentar identificar alguma
coisa, ouvi vozes, reconheci sendo de mamãe, porém a outra me era
desconhecida e de um homem. A porta de madeira abriu-se e mamãe
adentrou seguido de Jemima, que logo se dirigiu para a pequena cozinha
com as sacolas nas mãos e de uma outra pessoa.
— Filha, chegamos — mamãe comunicou.
A encarei questionadora sobre a presença do homem. Olhei-o curiosa,
ele tinha aparência de alguém em torno dos 40 anos, alto, pouco cabelo,
cavanhaque e usava óculos. Mamãe logo procurou apresentá-lo:
— Meu amor, esse aqui é o doutor Gabriel, e, como o próprio nome
sugere, está sendo um anjo para nós. Ele é o médico da cidade, trabalha
no pequeno e único hospital que atende a todos e me ofereceu um
trabalho lá na parte administrativa. Além disso, veio aqui te examinar e
iniciar seu pré-natal.
Aproximei-me do homem com um sorriso o acolhendo.
— Nossa! Obrigada, doutor, não sei como agradecer.
— Não precisa, minha jovem, sua mãe me contou que o pai do bebê o
rejeitou, por isso vocês vieram para cá.
— É... — Olhei para a mamãe constrangida, não sabia o quanto ela
contou para ele.
Ela entendeu minha angústia e esclareceu:
— Sim, filha, disse que o pai do bebê é um irresponsável mais velho e
sem escrúpulos, que a seduziu e não quis assumir suas
responsabilidades.
— Sei que essa é uma situação delicada, mas nesse momento temos
que pensar na saúde do bebê e da mamãe dele — o gentil médico falou,
me dando um sorriso acolhedor.
Suspirei aliviada por mamãe não ter revelado que, além de mais
velho, era meu professor e um padre. Não suportaria que mais ninguém
soubesse disso, queria esconder essa vergonha a sete chaves.
Na próxima hora, o doutor Gabriel me examinou, fez o cálculo do
tempo de gestação baseado na data da minha última menstruação e
constatou que estaria entrando para o quinto mês de gravidez em duas
semanas. Levei um choque, pois nem conseguia sentir o bebê ainda. O
questionei por isso.
— É normal, na primeira gravidez é difícil a mãe identificar os
movimentos do bebê, até que ele esteja grande suficiente para realmente
se fazer presente. Mas, para termos certeza que está tudo certo com ele,
marcaremos um ultrassom.
O doutor Gabriel me entregou algumas vitaminas e marcou os
exames, que seriam todos feitos no hospital da cidade onde mamãe agora
ia trabalhar.
Os dias foram passando e tudo se resolvendo. O doutor Gabriel
realmente estava sendo um anjo para nós, ele adiantou o salário de
mamãe e enviou um encanador, que resolveu o problema do
encanamento, agora tínhamos água nas torneiras. Um marceneiro veio e
fez reparos em alguns lugares do chalé. Tudo estava entrando nos eixos
aos pouquinhos.
Jemima continuou com os afazeres domésticos, que eu ajudava de vez
em quando, pois, com o avanço da gravidez, comecei a sentir todos os
sintomas que não sentia no início tudo de uma vez, tinha dias que não
conseguia sair da cama de tão mal que ficava. O doutor Gabriel me
colocou como gravidez de risco e receitou repouso. Mas sempre que
podia, ajudava Jemima na casa sob os protestos dela.
— Menina Eve, não faça esforço, deixa que eu cuido de tudo.
— Eu estou bem hoje, Jemima, não quero ficar deitada o tempo todo.
— Mas precisa, para o bem do seu bebê.
— Essa criança tem a energia do pai dele e suga a minha alma como
ele fazia.
Parei de falar e corei, era a primeira vez que falava dele assim em voz
alta, ainda era muito difícil, pois não havia um dia sequer que não
chorava com saudades dele. Claro que escondia isso, jamais deixaria elas
saberem como me sentia, por isso estava carregando toda essa carga
sozinha.
— Você ainda sente falta dele, não é? — Jemima perguntou sem um
tom de censura, mas reagi com raiva.
— Imagine, não quero vê-lo nunca mais na minha vida. Me sinto
aliviada por ter me livrado dele.
— Eu sei que tenta ser forte, menina Eve, mas eu escuto seus soluços
durante a noite.
— Eu... eu fico triste por causa de toda essa situação — desconversei.
— Sei! Não falo nada, mas seus olhos não mentem!
Ela se afastou e me deixou com minhas conjecturas.

O vento forte chegou despojando as árvores de suas folhas. O chão da


floresta assemelhava-se a um tapete de folhas secas.
Enfim, novembro chegou e com ele o inverno e a neve densa.
O fogo já crepitava ruidosamente na lareira, afugentando o frio.
Jemima, sentada em sua máquina de costura, criava uma manta para o
bebê que já sabíamos ser um menino.
Minha barriga agora estava bem vistosa e redondinha e o moleque
adorava dar uns pontapés. O bebê estava saudável, contudo minha saúde
bem fragilizada. Tive alguns sangramentos, que me levaram ao
desespero pensando que poderia perdê-lo. Mas, graças a Deus, o doutor
Gabriel conseguiu reverter, no entanto, os cuidados redobraram.
Jemima ficava comigo 24 horas do dia provendo tudo que eu
necessitava e me acalentava em meus momentos de angústia, sempre
com suas palavras de sabedoria e encorajamento. Mesmo eu tentando
esconder meus sentimentos com relação ao padre Magnus, ela sabia
como me sentia.
Mamãe, por sua vez, estava muito feliz com o trabalho e provia de
todas as nossas necessidades básicas. Não tínhamos muito, mas o pouco
já era suficiente para nos mantermos. O doutor Gabriel e mamãe se
tornaram muito próximos, embora eles ainda não tivessem assumido
nada, acreditava que o relacionamento deles estava despachando para
além de empregada e patrão, além até da amizade. Torcia por isso, pois
ela merecia ser feliz.
Soubemos notícias de papai pelo noticiário, ele foi julgado e
condenado a vinte anos de prisão. Fiquei triste por ele, mas não com
pena, estava colhendo o que plantou. No entanto, tive a impressão de que
até essa condenação de papai teve o dedo do padre Magnus. O que me fez
questionar as reais atividades dele. Eu tinha a impressão de que ele não
era somente um padre e professor, já havia percebido que tinha dinheiro.
Talvez estivesse desviando verba da igreja, pelas suas revelações isso
poderia ser possível, não descartava.
O apartamento que ele disse ser de um amigo rico, tinha certeza de
que era dele, pois, sem querer, vi uma correspondência com o nome dele
sobre o aparador de entrada. O carro luxuoso que ele dirigia e o outro
carro com motorista que ele me mandou buscar? Não era compatível
com o que ele aparentava. Fora que ele tinha pessoas que nos vigiavam.
E, para piorar, ainda era um assassino.
Meu Deus! Quem é esse homem? Quem é o pai do meu filho?
— Eve, minha querida, venha almoçar — Jemima me chamou me
tirando dos pensamentos conflitantes. Eu não deveria pensar mais nele,
porém era quase inevitável, havia muitas perguntas sem respostas.
Sentei-me à mesa e comemos conversando cordialmente. No final da
refeição, Jemima voltou para a máquina de costura e eu me sentei no sofá
em frente à lareira. Acabei pegando no sono.
A previsão para o dia de Ação de Graças era de neve. Ela vinha caindo
regulamente, acumulando-se depressa, o mês de novembro já estava no
final e logo dezembro chegaria.
— O doutor Gabriel nos convidou para o jantar de Ação de Graças na
casa dele — mamãe informou. — Mas penso em não aceitar, não quero
passar esse dia longe de vocês. Não sei se Eve estará bem até lá.
— Claro que vamos, eu estou ótima, mãe, o doutor Gabriel mesmo
disse isso. Além do mais, preciso sair um pouco, não vou me esconder a
vida inteira.
— Tem certeza, meu amor?
— Sim, esse menino deu uma folga para a mamãe esses dias.
— Estávamos pensando em ir à igreja também, o que você acha?
Fechei o sorriso, desde que nos mudamos não frequentamos as
missas, não por falta de fé, muito pelo contrário, mamãe mantinha sua
rotina de orações e sempre estava com seu rosário, mas por tudo que
ocorreu, mamãe e Jemima evitavam ir, por respeito a mim. Sim, embora
tentasse evitar me sentir assim, o fato de ser mãe solo em uma cidade
pequena como aquela e, pelo visto, bem conservadora, poderia ser bem
constrangedor para mim. Contudo, não podia viver assim e muito menos
privá-las de participarem da igreja por causa de mim. Voltei o meu
sorriso e comuniquei:
— Eu também irei, preciso renovar a minha fé e esse é o melhor
momento.
— Tem certeza?
— Sim, absoluta.
Assim, no dia de agradecer a Deus, estávamos todas reunidas na
igreja da cidade para a missa. O doutor Gabriel e seu filho, que tinha por
volta de 20 anos e que conheci nesse dia, também nos acompanhavam.
O dia amanheceu nevando e minhas vestimentas eram bem pesadas,
luva, cachecol, botas e casaco impermeável.
A celebração começou e meu coração disparou ao ver a figura do
padre no altar com as túnicas sacerdotais douradas para ocasiões
festivas. Claro que não era o padre Magnus, nem de longe, embora o
homem não fosse velho, nem se comparava a ele, mas sua figura me fazia
lembrar dele. Eu olhava para o homem vidrada, sem conseguir me
concentrar na liturgia. Para me lembrar de que ele estava ali, o filho do
padre Magnus se mexeu o tempo todo, era como se ele sentisse tudo que
se passava em meu íntimo.
Não fiz a comunhão com Deus, pois não me sentia preparada para
isso, precisava me confessar antes, mas só de pensar nisso, meu corpo se
incendiava. Jesus! Não deveria ter vindo, todo aquele cenário estava me
fazendo relembrar tudo. E meu corpo reagia de maneira vergonhosa. Não
via a hora de voltar para o meu esconderijo no chalé.
No final da missa, eu estava com os nervos à flor da pele e sentia uma
dor no pé da barriga, mas, para não atrapalhar mamãe e Jemima, não
disse nada. Para piorar a situação, o padre veio nos cumprimentar, pois
ele era conhecido do doutor Gabriel.
— Paroquianas novas? — o padre perguntou olhando para todas nós
e se deteve alguns minutos sobre mim e minha barriga. Quase
imperceptível, ele lançou seus olhos na minha mão esquerda,
provavelmente à procura de um anel de casamento. Por sorte, estava
com luvas, e agradeci por isso.
— Sim, padre, elas vieram da Itália e se instalaram na cidade no velho
chalé da floresta.
— Um local bem isolado, não? — o padre questionou.
— Sim, mas está bem aconchegante agora e preferimos assim, minha
filha está passando por uma gravidez delicada e lá é bem tranquilo.
— E o seu marido? — Ele olhou para mim diretamente e corei
violentamente, sem conseguir proferir nenhuma palavra. A dor no pé da
minha barriga aumentou consideravelmente e senti algo molhando a
minha calcinha.
Reparei que todos estavam sem ação diante da pergunta invasiva do
padre e o silêncio era constrangedor, que foi quebrado com meu grito de
dor, lágrimas e espanto.
— Oh, meu Deus! Estou perdendo meu bebê.
Fodia forte a freira por trás, o corpo dela era lançado para a frente
com a brutalidade da estocada, ela gemia como uma cadela, vagabunda.
Olhei para a cabeça dela encoberta com o véu preto e imaginei minha Eve
com seus longos cabelos castanhos.
Meu corpo todo tremeu e senti meu orgasmo vindo, continuei
enterrando na boceta da mulher que estava de quatro com as mãos
apoiadas na mesa, imaginando minha menina. Fechei os olhos e pensei
que era ela que estava ali, com seus gemidos tímidos, seu perfume de
flores da primavera. Não consegui me conter, precisei me derramar
dentro dela, da minha garotinha, minha obsessão. Com mais algumas
estocadas, afundei ainda mais meu pau dentro da boceta e ejaculei
potente. O sêmen ficou retido na proteção, movi meus quadris até liberar
a última gota. Gemi entrecortado pelo prazer adquirido.
Passados alguns segundos, abri os olhos e vi aquela mulher. A
realidade me atingiu. Merda! Essa não era a Eve, nenhuma delas era. Que
merda de sexo. Tirei meu pau da boceta imunda dela e a empurrei.
— Sai da minha frente, vagabunda.
— Me desculpa, padre.
Não dei ouvidos para ela e me dirigi ao banheiro com passos largos.
Tirei o preservativo e joguei no vaso sanitário. Dei a descarga. Respirei
fundo e apertei os olhos. Droga! Era sempre assim, ela rondava meus
pensamentos desde o dia que sumiu há alguns meses, longos malditos
meses sem notícias e pista dela. Como ela conseguiu essa façanha? Merda!
Irritado, peguei meu roupão preto e o vesti, voltei para o quarto e a freira
ainda estava lá plantada no meio do cômodo.
— Está fazendo o que aqui ainda, sua puta?
— Eu... Eu só queria saber se precisa de mais alguma coisa.
— Não preciso de mais nada, caia fora daqui.
— Eu pensei que...
Sem paciência, desferi um tapa no meio da cara safada dela. A mulher
cambaleou e quase caiu.
— Vá embora! E limpa essa cara, se alguma coisa sair da sua boca
sobre o que aconteceu aqui, eu arranco a sua língua.
Chorando, ela saiu quase correndo. Com raiva, segui até uma porta
secreta do meu quarto na casa paroquial e peguei uma garrafa de vodka,
enchi o copo e bebi em uma única golada só.
“Vadia! Vadia! Vadia!”, praguejei em pensamento. Respirei algumas
vezes tentando controlar aquela raiva.
Precisava ser racional e frio para lidar com essa merda, Eve
conseguiu algo quase impossível: me tirar completamente do prumo.
Porra! Primeiro, a revelação da gravidez; depois, conseguiu ludibriar
minha vigilância.
Mas se ela pensa que conseguirá se esconder para sempre está muito
enganada. Usarei toda a porra do meu dinheiro se precisar para encontrá-
la, ela me pagará por ter ousado escapar, tudo por causa dessa criança
maldita.
Com raiva, apertei o copo de bebida que estava em minha mão até
quebrá-lo. Senti os cacos de vidro penetrando em minha carne e o sangue
fresco escorrendo entre meus dedos, apesar de arder era bom, assim
como o tamanho do meu ódio.
Andei até o banheiro e arranquei os cacos, liguei a torneira e coloquei
a mão embaixo do jato de água fresco. Olhei meu sangue misturar-se à
água e descer pelo ralo da pia. Após lavar a mão, enrolei uma toalha para
estancar o sangramento por alguns minutos e logo joguei de lado.
Passei uma eternidade olhando minhas feridas na mão, assim como
as chagas de Jesus. Ela me chamou de monstro, mas ainda não conheceu
esse monstro na sua plenitude. Mas irá conhecê-lo em breve da melhor e
pior forma possível.
Caminhei até o altar, peguei uma foto dela. Observei atentamente seu
rosto de anjo, seus lábios carnudos e seus olhos puros.
Você conseguiu, Eve, o que muitas não conseguiram e pagará um preço
grande por isso.
Coloquei a foto de volta no altar e peguei a calcinha dela. Cheirei
profundamente seu perfume. Cacete! Eu imaginava se ela conseguiu
algum tipo de ajuda para fugir. Senti uma pontada direto no meu coração
frio de pedra, era uma sensação já conhecida por mim que corroía por
dentro: ciúmes.
Quem foi o filho da puta que as ajudou? Elas não pegaram o pouco
dinheiro no banco e nem ao menos usaram depois de sumirem. Como elas
conseguiram a porra do dinheiro?
Porra! Soquei o ar, passei as mãos entre os cabelos algumas vezes. A
ideia de um bastardo, infame, qualquer colocando as mãos nela, tocando-
a, quando ela era minha, fez meu sangue ferver nas veias.
Precisava saber dos andamentos da investigação, além de detetives
particulares, eu também fazia minha própria investigação para achar o
paradeiro dela.
Andei até minha mesa de trabalho e abri o notebook. Não estava indo
trabalhar como professor, pedi um afastamento, na verdade não pedi,
apenas comuniquei ao reitor que me afastaria por tempo indeterminado
e que ele podia contratar o professor substituto para ficar no meu lugar.
Ele apenas seguiu minhas ordens, afinal de contas ele era o meu
funcionário, assim como todos na faculdade, já que tudo pertencia a mim.
Desde que me tornei padre e professor, contrariando meus pais que,
embora tenham me colocado no seminário pela índole rebelde de criança
e adolescente, não esperavam que me tornasse um padre de fato. Foi um
choque para eles. Meus pais, principalmente meu pai, tentou persuadir-
me a desistir, mas fui até o final e me formei padre pelo Sagrado Coração
de Jesus. Um padre Diocesano, não de uma Ordem, assim era mais fácil
para manter meus negócios secretos.
Assim, decidi comprar todo o prédio da faculdade, na época meu pai
aceitou achando que eu mudaria de ideia com o tempo. Mas ele não
esperava que eu gostava da minha vida do jeito que estava, tinha
mulheres, mais dinheiro que podia gastar e ainda era um padre e gostava
disso, eu adorava ser um servo de Deus, na verdade, eu gostava de
brincar de Deus, e ter a vida e gratidão das pessoas nas mãos. E por fim,
ainda me divertia sendo professor.
A cada ano que passava meu pai esperava que eu desistisse de tudo
para voltar e assumir os negócios. Isso nunca aconteceu. Ele ameaçou me
deserdar, mesmo assim não recuei, até porque os lucros da faculdade
eram meus e, além disso, eu sabia que ele não tinha outra opção a não ser
deixar tudo para mim quando morresse, não havia mais herdeiros:
unicamente seu filho padre.
E quando ele e minha mãe morreram em um acidente de avião
inesperadamente alguns anos atrás, eu era o único herdeiro da fortuna
dos Crawford's. Nem ao menos fui ao enterro deles, apenas fui para a
leitura do testamento. Herdei todas as empresas, propriedades, ações e
negócios, somando uma fortuna de bilhões de dólares.
Por isso, só recebi os lucros a partir dos fundos fiduciários. Tinha
pessoas específicas para gerenciar as finanças para mim dos meus
negócios. Hoje era considerado um dos homens mais ricos da Europa.
Mas ninguém sabia quem eu era. E eu pretendia manter essa fachada por
muito tempo ainda, mas Eve veio para atrapalhar meus planos.
Eventualmente, usava meu dinheiro para os meus negócios sujos,
para manter tudo e todos sob controle, assim como fiz com o pai da
minha ninfeta. Mas a pequena pecadora conseguiu me desviar e desafiar
com sua fuga, não imaginei que ela teria coragem. Contudo, ela se tornou
minha maior obsessão.
Diziam que uma obsessão era uma ideia ou pensamento que
continuamente tomava conta, interferia, influenciava e perseguia o
objeto de obsessão, no meu caso, Eve. Porém, eu direi que era mais que
isso, mais que uma definição de uma série de palavras. Nada podia
descrever com precisão o que sentia, até onde eu iria e irei para
conseguir o que eu queria.
Lembrei-me da primeira vez que a vi pessoalmente na sala de aula, eu
esperava por sua beleza, mas ao vê-la tão linda e vulnerável, me senti
enfeitiçado e obcecado. Eu sabia que, a partir daquele momento, ela seria
diferente das outras, que ela seria minha de uma maneira que nunca
imaginou. Ela gritava inocência e vulnerabilidade, com sua beleza
delicada, que fez a minha parte masculina primitiva se manifestar. Ela
não tinha consciência das coisas imundas que eu queria fazer com ela, a
minha necessidade de subjugá-la e manchá-la de pecados cresceu como
uma doença incurável.
Eu queria domá-la, torná-la minha, fodê-la até que ela mesmo não
soubesse de nada, não pensasse em nada a não ser somente em mim e
nas coisas obscenas que faria com ela. Eu só queria corrompê-la e lhe
mostrar como isso era bom. E eu o fiz, porque alternativa não era uma
opção. Ela seria minha.
Ela era minha aluna, eu era o professor dela.
Essa porra toda era contra as regras, mas quem disse que eu ligava?
Nunca me importei em quebrar regras, era meu passatempo preferido.
Quebrava as regras da instituição e, principalmente, as malditas regras
da igreja.
E ela se tornou um vício, e desde que sumiu estava em abstinência
dela e isso estava me deixando doente. Pensava em todas as merdas que
poderia ter acontecido e isso me irritava em um nível exorbitante. Eu só
pensava em encontrá-la, sobretudo, bem. Não podia nem imaginar que
alguma coisa pudesse ter acontecido... Caralho! Eu queria desejá-la morta
por tamanha ousadia, mas não podia, porque eu mesmo queria pôr
minhas mãos nela e estrangular seu lindo pescoço.
Voltei a atenção para a tela do MacBook, nenhuma atividade dela,
nenhuma movimentação na conta, nem mesmo compra de passagens
aéreas no nome de nenhuma das duas, nem daquela maldita empregada.
Como elas evaporaram desse jeito?
Nesse momento meu celular tocou, olhei a tela antes de atender. Era
um dos detetives.
— Sr. Crawford, temos uma pista.
— Prossiga.
— Elas saíram do país.
— Como?
— A empregada comprou as passagens e usou nomes falsos. As três
estão usando documentos falsificados. Pelo que apuramos, a empregada foi
que praticamente planejou toda a fuga e que também proveu o dinheiro.
— Onde elas estão?
— Na Inglaterra, agora é questão de tempo para saber em que cidade e
local elas estão vivendo.
Desliguei o celular e estreitei os olhos diabolicamente, em breve
colocarei minhas mãos ardilosas e maléficas na minha menina, e, dessa
vez, será para sempre.
A leve batida à porta do quarto do hospital me fez abrir os olhos. Vi
mamãe colocar a cabeça através da fresta que foi aberta e pedir baixinho:
— Podemos entrar?
— Sim — autorizei colocando um sorriso no rosto e me movendo
para tentar me ajeitar melhor na cama.
Mamãe, Jemima, o doutor Gabriel e o filho dele entraram no quarto.
— Não se mova, filha, eu te ajudo. — Mamãe correu para ajudar-me e
eu sorri alegre.
— Estamos bem, mãe, pergunte ao doutor Gabriel.
— Sim, Eve e o bebê estão ótimos, foi só um susto, porém, a partir de
hoje, sua gravidez passou de risco para alto risco. Seu colo do útero já
está muito afinado e o peso do bebê está fazendo cedê-lo, contudo
precisamos segurar ele aí dentro do forninho mais um pouco, pelo menos
até o mais próximo possível da data do parto.
— Está vendo, filha, nada de esforço!
— A recomendação é de repouso. Não vamos precisar mantê-la aqui
no hospital, mas em casa tente evitar muitos esforços. Os remédios que
receitei também ajudarão no processo e no amadurecimento dos
pulmões do bebê. Você já está entrando no sétimo mês, espero segurá-lo
aí dentro até os nove meses completos.
O doutor Gabriel olhou os monitores dos aparelhos médicos
enquanto falava. O filho dele, que nem ao menos sabia o nome,
aproximou-se com um buquê de flores.
— Trouxemos flores para você, sua mãe disse que gosta de rosas
brancas recém-colhidas.
— Obrigada, são lindas!
— Aproveito para me apresentar, meu nome é Miguel Brat, assim
como meu pai. Nome de anjo e, em breve, me formarei em medicina.
— Prazer! Eu estudava Veterinária, mas acho que agora...
Parei de falar com tristeza, não queria me sentir assim, mas agora
tudo havia ido por água abaixo. Miguel segurou em minha mão
gentilmente e falou:
— Nunca desista dos seus sonhos, ser mãe é muito importante e
agora tem que pensar no seu filho, mas também não pode deixar de fazer
o que gosta, se for da sua vontade. Ainda é muito jovem e tem toda a vida
pela frente, ser mãe não é um problema.
— É verdade, filha, eu e Jemima estaremos aqui para te apoiar em
qualquer coisa.
Olhei para aquelas pessoas e senti meu coração aquecido, tinha sorte
por tê-los, me sentia apoiada e amada mesmo não merecendo tanto,
sabia que podia contar com essas pessoas e isso era o que mais
importava.

No dia seguinte, estava desembarcando em casa. Miguel nos levou no


carro dele. Em pouco tempo, ele havia sido um ótimo apoio, aquilo que o
pai do bebê deveria estar fazendo, mas pelo contrário.
Que droga, Eve! Que merda você está pensando? Esse bebê que está
carregando é o filho de um padre, e, mesmo que ele quisesse assumir, não
poderia... a não ser que ele deixasse a batina, e isso é algo que ele deixou
bem claro não querer e, com todas as circunstâncias, o melhor é assim.
Uma dor profunda e aguda atingiu meu peito, era muito difícil
esquecê-lo, eu precisava esquecê-lo, eu sabia, não só por mim, mas pelo
meu filho e por todos. Contudo era tão difícil, parecia que ele impregnou
na minha pele, no meu sangue e no meu coração. Era uma dor profunda,
enraizada. Pedia a Deus todos os dias que me fizesse esquecê-lo, pois não
podia perdoá-lo jamais pelo que fez com as pessoas, especialmente ao
Felipe e, talvez, até Antonella. Evitava pensar nela, não sabia o que lhe
aconteceu, se ele fez alguma coisa contra ela. Deveria não me importar
depois do modo como me tratou, entretanto não podia, ela estava certa
sobre minha conduta.
Os dias foram passando e a vida entrava na rotina. Ficava a maior
parte do tempo em meu quarto de repouso, mas também ajudava Jemima
a fazer pequenas tarefas como tricotar, apenas para passar o tempo. O
bebê estava se desenvolvendo bem, mexia muito, não parava e sempre se
mostrava ser um menino forte e, de certa forma, me enchia de alegria.
Miguel passou a vir em casa todos os dias para me examinar. Quando
terminava, ficávamos conversando por algum tempo. Ele muitas vezes
trazia presentes para o bebê e para mim.
Um bom rapaz, não queria envolvê-lo na minha vida tão complicada,
mas ao mesmo tempo precisava desse apoio para não me sentir tão fraca.
Mamãe e o pai dele de fato começaram um romance, ela estava tão
feliz depois da decepção com papai. Torcia muito para que ela
conseguisse esquecê-lo e seguisse em frente, como já estava fazendo.
Sentia que, às vezes, ela ainda sofria, foram muitos anos de casamento,
mas esse novo amor a estava reerguendo aos poucos. Comigo era o
contrário, cada dia que passava mais me afundava na minha solidão e
saudades. Eu tentava evitar de pensar, mas ele vinha em meus sonhos,
meus pensamentos, em todos os momentos. Mas sabia que um dia tudo
passaria e teria que entender que essa era minha nova vida.
Miguel tem sido uma ótima companhia e distração, mesmo assim uma
sensação de derrota me percorria, já foi ruim o bastante o que aconteceu
com Felipe, e me envolver, mesmo que fosse apenas amizade, com
alguém, me fazia lembrar tudo que ocorreu com ele.

Dezembro passou rápido, passamos o primeiro Natal em nossa nova


casa e vida. Mamãe fez uma ceia e convidou o doutor Gabriel e Miguel.
Eles aceitaram de bom grado e foi uma noite muito agradável. Como
sempre, Miguel trouxe presentes para o bebê e me presenteou com um
livro sobre maternidade.
Em nossas longas conversas fui conhecendo um pouco mais sobre ele,
inclusive falou muito sobre a mãe dele, que já era falecida. Ela se foi
jovem, quando ele ainda era criança, levada por uma doença. Desde
então, seu pai não teve um relacionamento com mais ninguém, até
conhecer mamãe e ele estava feliz por isso.
Uma certa manhã, Miguel apareceu em casa trazendo mais um de
seus presentes para o bebê.
— O que é isso? — perguntei curiosa?
— Um berço portátil, você pode colocá-lo do lado da sua cama.
— Oh, Miguel, não precisava. Muito obrigada, isso é incrível!
— Quero que se sinta segura e confortável e o bebê também. É muito
importante que nos primeiros meses ele fique o mais próximo da mãe.
— Você está sendo um amigo maravilhoso.
Miguel ficou me estudando por alguns minutos enquanto eu abria o
pacote. Quando olhei para ele de novo, levei um susto ao perceber que,
em suas mãos, tinha outro presente e era uma caixa pequena de veludo
preto. Meu coração disparou e o sorriso morreu em meus lábios.
— Eve, eu sei que me vê somente como um amigo, e eu também te
vejo assim... — Pausou, eu mantive a respiração suspensa sem conseguir
me mover. Ele prosseguiu: — Mas quero te dar segurança e te ajudar a
criar o seu filho.
— Miguel...
— Não fale nada ainda, deixe-me concluir. Eu não sei como foi sua
relação com o pai do bebê e não quero saber, se você não quiser
compartilhar. A única coisa que quero é proteger você e seu filho.
Miguel aproximou-se mais de mim e segurou minhas mãos trêmulas,
olhei para os seus olhos escuros e aparência comum e fina como o de seu
pai. Ele tinha os cabelos escuros e usava cavanhaque. Era um rapaz muito
bonito.
— Eu não quero juras de amor, não quero gratidão. Em breve, estarei
concluindo minha residência no hospital e trabalharei com meu pai na
clínica e quero dividir a minha vida com você. Eu quero criar seu filho
como se fosse meu.
Ele soltou minhas mãos e tirou a caixinha de dentro do bolso onde
havia guardado. Abriu-a e me revelou o anel de compromisso com uma
simples pedra de diamante claro.
— Casa comigo. Não quero te pressionar, você pode pensar em uma
resposta para esse pedido o tempo que você quiser, mas eu gostaria que
aceitasse o anel e que pensasse com carinho. Eu vou esperar por você.
Respirei fundo e avaliei aquele pedido por alguns minutos. O olhei
melancólica, realmente não queria magoá-lo e muito menos introduzi-lo
em minha vida tão complicada, mas confesso que seu pedido me
reconfortou e me senti bem.
Uma tristeza bateu em meu peito. Quem eu gostaria que estivesse me
fazendo esse pedido, assumindo o filho, à essa altura não deveria nem ao
menos se lembrar de nós. Por esse motivo, eu preferia que ele não se
envolvesse com isso, não serei capaz de lhe retribuir à altura tanta
generosidade. Finalmente consegui responder:
— Miguel, eu queria dizer sim, Deus sabe o quanto eu queria. Mas a
minha vida é complicada... O pai do bebê partiu meu coração e eu ainda
não consegui me recuperar disso.
— Você ainda o ama?
— É diferente, nem eu mesmo sei avaliar o que realmente sinto por
ele, nosso caso era proibido.
— Ele era casado?
— Não — suspirei fundo —, mas ele jamais poderia assumir um
compromisso comigo.
— Eve, como te disse, não quero uma resposta agora, eu vou esperar
seu momento. Só gostaria que você considerasse o pedido. Aceite o anel,
foi o mais lindo que achei, guarde-o, não precisa usá-lo se quiser.
Miguel me entregou a caixinha e vi em seu semblante que ele não
desistiria. Então peguei e agradeci.
A partir daquele dia, minha relação com o Miguel tomou um rumo
inesperado, eu realmente comecei a olhá-lo como um possível pai para o
bebê. Ele estava tão participativo de tudo, que até o nome dele nós
escolhemos juntos em um momento descontraído.
— O que você acha de Henry? — ele perguntou.
— É bonito e um nome forte, eu gostei.
— Então será esse?
— Sim, Henry Bennet — saboreei aquele nome.
— Se você quiser posso registrá-lo.
— Eu ainda não sei...
— O bebê nascerá em poucas semanas, eu realmente gostaria de ser
um pai para ele.
— Você já é, Miguel, mesmo que não seja no nome — falei
emocionada.
— Obrigado.
— Agora temos que escolher um segundo nome, o que combina com
Henry?
— William, Henry William.
— Perfeito!
Após Miguel ter ido embora aquela tarde, decidi descansar um pouco.
Jemima, como sempre, estava ocupada com as tarefas e mamãe ainda não
havia chegado do trabalho. Entrei no meu quarto e me sentei na cama,
embora Miguel fosse uma excelente companhia e um amigo maravilhoso,
todas as vezes, no silêncio do meu coração, não era nele que pensava,
mas no padre Magnus.
Respirei fundo, ao deitar-se na minha cama e puxar uma caixa de
chocolate que estava na mesa de cabeceira. Talvez eu fosse uma idiota,
aliás, talvez não, eu sou uma idiota por sonhar que ele bateria na minha
porta dizendo que veio cuidar de mim e do bebê, que havia se
arrependido de tudo e, principalmente, não era mais padre. Ri de mim
mesma. Isso não é um romance, Eve, é vida real. E o pai do seu filho o
queria morto. Além de ser um manipulador e assassino.
Pensei no Felipe e meu coração pesou, eu queria tanto voltar no
tempo, consertar tudo isso. Ele não merecia um fim desses. Foi tão cruel,
mesmo sabendo que o padre Magnus foi o responsável indiretamente
pelo que aconteceu com ele, eu ainda me sentia culpada, mais agora por
saber o que realmente aconteceu com ele e com Meg e que, mesmo
sentindo isso, não conseguia esquecê-lo. Mas eu precisava nutrir um
ódio, ele era um monstro e não podia me esquecer disso.
De novo as lágrimas que insistiam deslizaram, porém as reprimi, não
podia mais sofrer, isso tudo estava afetando meu bebê. Coloquei a mãe
na barriga ao sentir um chute forte dele. Sorri, meu filho me
reconfortava, ele era um pedacinho dele, do homem proibido, do homem
que amava tanto quanto podia imaginar odiar... O som dessa última
palavra ressoou no meu cérebro até eu pegar no sono.

Uma luz clara como um flash luminoso me fez abrir as pálpebras. A


luminosidade era tão intensa que meus olhos perderam o foco. Pisquei
tentando ajustar-me a toda aquela claridade. Quando consegui enxergar
melhor me vi em um lugar que não conhecia. Observei em volta e vi muitas
flores, amarelas e brancas. Uma brisa suave e morna atingiu meu rosto e
agitava meus cabelos. Comecei a caminhar entre as flores e o vestido que
estava usando esvoaçava e os contornos da minha barriga grávida
marcavam o tecido leve. Me senti em paz nesse lugar, era como se todos os
problemas estivessem se esvaindo. Abri um sorriso e cheirei uma das flores.
Não havia outras pessoas, caminhei um bom pedaço e não avistei
ninguém. De repente, eu vi uma sombra próxima de mim, parecia uma
pessoa. Virei-me para ver quem era e deparei-me com uma pessoa em volta
de uma grande luz, era tão brilhante que ofuscou minha visão. Coloquei as
mãos sobre os olhos para fazer sombra e consegui enxergar quem era. A
luz foi diminuindo de intensidade, até que eu consegui reconhecê-lo: Felipe.
— Eve!
A voz dele parecia um sopro, eu o olhava admirada, não conseguia
falar, apenas ouvia e sentia as batidas do seu coração como música viva.
— Eu estou em paz, não se sinta culpada por isso. Eu queria, encontrei
o meu caminho. Siga a sua vida. Estou feliz agora.
À medida que ele falava, sua voz sumia gradativamente assim como sua
imagem e meus olhos se enchiam de lágrimas pela emoção de vê-lo
novamente. Estiquei os braços tentando alcançá-lo, mas ele sumiu como
fumaça, evaporando.
— Felipe!

O som de uma batida forte me fez despertar, fiquei desorientada por


alguns segundos e olhei ao redor do cômodo. Logo me situei, embora
meus olhos ainda estivessem pesados e enevoados, percebi que estava
no meu quarto e tudo havia sido um sonho. Olhei para o relógio: eram
seis horas. A casa estava quieta, agora um silêncio triste e solitário
pesava. O barulho de alguém batendo à porta aconteceu de novo e
constatei que, de fato, havia alguém na porta. Com cuidado, levantei-me
da cama e chamei Jemima para atender:
— Jemima! Tem alguém batendo à porta.
Saí do meu dormitório e andei pela casa à procura dela, não
encontrei, as batidas voltaram, então decidi atender. A pessoa parecia
impaciente. Miguel? Será que alguma coisa aconteceu com mamãe? De
novo as batidas, gritei:
— Já vai! — anunciei.
Ansiosa, destranquei a porta e a abri de uma vez. Tive um choque ao
me deparar com quem estava parado à porta incrivelmente lindo, alto,
elegante, vestido com um casaco de cashmere sobre o terno escuro, com
os olhos azuis mortais e mordaz como se tivesse uma tempestade se
formando neles com trovões fervorosos a todo vapor. E de fato havia. O
encarava com os olhos arregalados e atordoada.
— Lembra de mim, Eve?
A dor atingiu-me como um punhal penetrando em minhas costas.
Automaticamente agachei e coloquei a mão no pé da barriga. Soltei um
gemido abafado de dor. O padre Magnus entrou na casa e se aproximou
de mim.
— O que está acontecendo?
Ao ouvir aquela voz, tive absoluta certeza de que não era um
pesadelo, era ele na minha frente. Entrei em pânico e outra dor ainda
mais forte assolou-me. Dobrei os joelhos e de novo senti uma pontada de
dor rasgando meu abdômen. Percebi a mão dele segurando meu braço e
tentei escapar desesperada.
— Vai embora, me deixa em paz!
Senti outra dor mais forte e não restava dúvida, estava entrando em
trabalho de parto. Soltei um grito de pavor, sem saber o que fazer.
— Eve, o que você tem? — ele perguntou.
— O bebê vai nascer, ainda não está na hora.
Naquele momento, senti uma pequena pressão no pé da minha
barriga e, como uma cachoeira, um líquido quente desceu pelas minhas
pernas. Olhei para o chão horrorizada, junto do líquido havia sangue.
Senti um medo forte e agonia. Eu vou perder meu bebê.
— Oh, meu Deus, a bolsa estourou.
— Merda! — o padre Magnus praguejou. — Venha, vou te levar para
o hospital.
— Não! Não chega perto de mim, é sua culpa!
— Não seja ridícula, eu a levarei.
Jemima apareceu naquele instante e parou estática ao ver a cena, me
senti aliviada por ela estar ali. O padre Magnus, com sua voz imperativa,
começou a ditar ordens:
— Vai pegar as coisas dela, agora!
— O que está acontecendo?
— O bebê vai nascer, Jemima — falei chorosa, sentindo muita dor e
minha voz saiu fraca.
— Oh, meu Deus!
— Vai logo! — o padre Magnus ordenou sem paciência.
Senti mais uma dor forte e gritei. Parecia que estava sendo rasgada ao
meio. O padre Magnus me amparou e eu não resisti, naquele momento
não podia pensar em mim, mas no meu filho, e se ele estava oferecendo
socorro eu o aceitarei. Ele me pegou no colo e saiu da casa. Havia um SUV
preto estacionado em frente ao portão, ele abriu a porta traseira e me
colocou no banco de trás. Eu só sabia gemer de dor e a cada minuto uma
contração forte me atingia. Jemima também entrou no carro e me
amparou, ajudando a massagear minhas costas.
O padre Magnus rapidamente assumiu o volante e arrancou
apressado até o hospital da cidade. Jemima tentava me consolar:
— Onde está doendo?
— Em todos os lugares, não sei identificar.
— Fica calma, dará tudo certo.
— Jemima, eu vou perder meu bebê...
— Não, não vai! Nós lutamos até agora por ele, Deus não permitirá
isso.
— Estou com medo...
— Calma, iremos cuidar de você — ela disse com a voz suave. —
Tudo ficará bem, eu prometo!
Uma outra contração me fez contorcer e, sem que eu conseguisse
controlar, comecei a fazer força. Podia sentir minha vagina abrindo.
Não, o bebê não.
— Jemima...
Mal me conscientizei de que o carro tinha parado e que o padre
Magnus me pegou nos braços outra vez. Ao meu redor soavam vozes e a
do padre Magnus se sobressaía entre todas, ele ditava ordens e dizia para
salvar a minha vida. Alguém colocou um balão de oxigênio no meu rosto,
lençóis frios de uma cama, luzes brilhantes.
— O bebê já está coroando, não temos mais tempo. A mãe está muito
fraca e perdeu muito sangue. Vamos fazer o parto normal, porque não há
tempo para uma cesárea e tentaremos salvar a vida de ambos.
Aquelas vozes pareciam tão longe, olhava fixamente para o teto com
todas aquelas luzes. Uma outra contração mais forte atingiu-me e o
médico pediu para eu fazer força:
— Vamos lá, mãe, só mais um pouco.
Eu tentava dar o meu melhor, porém enxergava tudo desfocado, o
oxigênio nos meus pulmões estava escasso. Enquanto eles tentavam tirar
o bebê de mim, outras pessoas faziam vários procedimentos, eu só queria
que meu bebê saísse bem disso tudo.
Alguém estava do meu lado, ele segurava minha mão.
— Tudo sairá bem, eles vão salvar a sua vida.
— Meu bebê...
— Do nosso bebê também.
“Nosso bebê”. Ele havia dito “nosso bebê” ou eu tinha imaginado. Não
conseguia pensar coerentemente. Mais uma vez, a dor veio e eu fiz muita
força, apertando a mão do padre Magnus à medida que contraía para
expulsar meu filho. Nessa última contração, senti o menino escorregar
entre as minhas pernas. Os médicos o levaram para algum lugar e nem ao
menos ouvi seu choro.
— Henry...
— Ele ficará bem, não se preocupe.
Senti que ele se reclinou e beijou em minha testa. Deus! Como a
presença dele me reconfortava! O movimento da cama me assustou e o
puxei com força, temerosa que ele se afastasse.
— Não vá!
— Não irei a lugar nenhum — ele disse tranquilizando-me.
Em torno, as vozes se tornaram mais tênues, minha respiração mais
fraca e minha vista escureceu. Ouvi de longe alguém gritando:
— Salve a vida dela!
— Vamos fazer de tudo. Agora, por favor, afaste-se.
E essa foi a última frase que escutei antes de tudo escurecer de vez.

Andava de um lado para o outro na sala de espera, como um leão


enjaulado. Olhei o relógio de pulso, já haviam se passado meia hora e
nada de notícias dela, estava ficando impaciente. Quanto mais iriam
demorar? Por que não me diziam nada?
Naquele momento, a mãe dela, acompanhada de um jovem, entraram
na sala desesperados. A empregada, que até então se manteve sentada
em um canto, levantou-se e foi ao encontro deles.
— Cadê minha filha, Jemima? Por que não me contatou antes?
— Não houve tempo, Eve sentiu-se mal e a trouxemos direto para o
hospital.
— O que aconteceu? O bebê está bem? Eve está bem?
— O bebê nasceu e está tendo os cuidados, mas Eve...
— Ela foi para o centro cirúrgico, Eve teve uma hemorragia severa,
estão tentando salvar sua vida — fui enfático, objetivo, sem demonstrar
sentimentos.
Então ela percebeu minha presença, a mulher empalideceu, contudo
se recompôs e aproximou-se.
— O que você está fazendo aqui? — ela perguntou chocada.
— Esperando notícias da Eve — respondi cínico.
— O senhor não tem o direito, a desprezou assim como o filho.
— Não discutirei nada com você, isso é entre mim e a Eve, portanto,
não sairei daqui.
— Chamarei a polícia.
Gargalhei, a mulher achava que conseguiria me ameaçar, ela podia
ser mãe da Eve, mas se não fizesse exatamente o que desejava,
rapidamente saberia do que era capaz para pô-la em seu lugar.
Aproximei-me dela, que se afastou assustada.
— Não me ameaça, Sra. Bennet, eu estou sendo compadecido de
vocês, mas não me provoque, não terei piedade, as coisas serão
exatamente como eu determinar.
— Quem é você?
O rapaz que chegou junto com a mãe da Eve, intrometeu-se no nosso
diálogo. Olhei para ele avaliando-o da cabeça aos pés. Já sabia quem era
ele. Antes de aparecer na casa da Eve, meus detetives fizeram um
levantamento de todas as atividades delas. Esse projeto de médico acha
que pode tomar meu lugar, imbecil. Estendi a mão para ele e me
apresentei:
— Padre Magnus, pai do filho da Eve.
O impacto da revelação o deixou em choque. A cara dele mudou de
raivoso para perplexo em segundos, ele piscou várias vezes, confuso. A
mãe da Eve corou e não sabia o que falar, o clima ficou tenso e pesado, e
eu adorei isso.
Mesmo relutante e disfarçando bem a surpresa, ele apertou a minha
mão. Eu segurei a dele firme e o encarei penetrante, o fuzilando com os
olhos, deixando um aviso velado para sair do meu caminho.
— Miguel Brat.
— Sei quem você é.
— Desculpa, senhor, acho que não deveria falar com a mãe da Eve
nesse tom.
— Não se intrometa aqui, doutorzinho, isso não é assunto seu.
— Acho que sim, o senhor está intimidando-a.
— Miguel, por favor, não fala nada.
A mãe da Eve o segurou pelo braço. O doutorzinho era corajoso, em
outras circunstâncias adoraria eliminá-lo, mas agora nem pensava nisso,
só queria que minha Eve saísse viva dessa.
— Com licença!
Todos se viraram em direção da voz da enfermeira que acabara de
entrar na sala. A mãe da Eve correu até ela.
— Como está minha filha e meu neto?
— O bebê está bem, embora tenha nascido com algumas semanas de
antecipação. Agora a mãe está se recuperando, ela teve uma hemorragia
e perdeu muito sangue, o que causou um choque hipovolêmico pela
perda rápida do sangue. Conseguimos reverter esse quadro e ela recebeu
uma transfusão sanguínea. Contudo, seu quadro ainda é muito delicado,
não descartamos o risco de morte.
— Oh, meu Deus! — A mãe de Eve abraçou-se a empregada chorando.
A enfermeira continuou:
— Ela está em coma induzido, ficará em observação na sala de
recuperação. O doutor Gabriel está lá com ela.
— Eu posso vê-la?
— Sim, e o bebê também.
— Eu a acompanharei.
O imbecil do doutorzinho se ofereceu e eu o cortei:
— Não precisamos de você, isso é um assunto de família.
— Eu sou o médico dela.
— Não é mais, aliás, logo que ela se recuperar, irá para outro hospital.
— O senhor não decide isso, eu sou a mãe dela.
— Deixarei uma coisa bem clara a partir de agora, e isso serve para
todos. Absolutamente todas as decisões que dizem respeito a Eve e ao
meu filho, serei eu que darei o alvará, estou tomando as rédeas da
situação e não quero contestação.
Sem deixar que protestassem, segui a enfermeira e fui direto para a
sala de recuperação. Havia um médico lá, que logo se afastou assim que
entrei. Ao ver Eve pálida, ligada a aparelhos, com todos aqueles fios, tive
um sentimento que nunca pensei sentir: medo. Ela podia ir para sempre
e essa certeza me fez ter raiva. Por que ela insistiu em ter essa criança?
Por causa dele agora corria o risco de perdê-la.
A cadência dos aparelhos médicos fez pouco para acalmar minha
raiva crua. Como ela ousou me desafiar dessa maneira, depois de tudo que
fiz por ela? E como ela retribuiu, escolhendo esse ser que era o
responsável por estar nessa situação. Droga! Me sentia impotente, minha
mente estava enfurecida. Eve era especial, ela tem sido desde o momento
que pus meus olhos nela, era diferente de todas as outras, ela era a
mulher que procurei por muito tempo, e agora que a encontrei, poderia
perdê-la.
Eu sabia que ela gostava de mim, eu via a admiração espelhada
naqueles olhos esmeraldas todas as vezes que a fodia e enfiava meu pau
na sua garganta. Aqueles lindo olhos me encarando com submissão e
obediência. Essas lembranças me deixaram frustrado. Como eu queria
minha menina de volta, com seu jeito doce e, às vezes, rebelde.
Olhei para a sua tez pálida e seus lábios ressecados, ela irá voltar, e,
quando isso acontecesse, a levarei para o mundo que construí para ela...
para nós. Ela só precisará de persuasão. Vou lhe mostrar o erro que
cometeu, irei discipliná-la. Se ela me achava cruel antes, realmente ainda
não viu minha crueldade.
Eu a farei sangrar por mim, a marcarei como minha para sempre. A
quebrarei até que cada pensamento e respiração sejam controlados por
mim. Eu já tinha feito isso antes, mas farei de novo, só que, dessa vez, me
certificarei de que a mente dela nunca pense em nada a não ser em mim.
Até essa criança ela esquecerá. Farei isso por ela e a farei apreciar e
agradecer o tipo de proteção que eu estarei oferecendo, não lhe darei
escolha, ela será aquilo que eu quero. Eu prometo!

Dias depois...
Sentia uma dor, porém já não era tão agonizante e aguda. Estabilizou-
se em uma dor amortecida, superficial. Tentei me mexer e fiquei sem
fôlego ao constatar que estava presa aos aparelhos.
— Cuidado! Não deve tentar se mover. — Uma voz suave de mulher
falou próximo de mim.
— O que aconteceu?
— Estamos a tirando dos aparelhos e do coma induzido, você está se
recuperando bem.
— O bebê — sussurrei tentando colocar a mão na barriga.
— O bebê está bem, e você também.
— Eu quero ver meu filho.
— Em breve, minha querida, primeiro vamos cuidar de você. Todos
estão ansiosos pela sua recuperação. Logo poderá vê-los também. Sua
mãe, amigos e o papai do bebê.
Fiquei sem fôlego de repente ao me recordar das cenas vividas
instantes antes de tudo acontecer. O padre Magnus nos encontrou. Meu
Deus! Comecei a respirar acelerado de medo e temi pelo meu filho. Movi-
me agitada, queria me levantar. A enfermeira, percebendo meu estado,
me segurou.
— Calma! Não pode se levantar agora.
— Eu preciso ver o meu filho, não o deixe lhe fazer mal.
— Ninguém fará mal ao seu filho, o trarei hoje para poder vê-lo, mas
primeiro preciso que se acalme.
Gentilmente, a enfermeira me fez deitar de novo. Pestanejei algumas
vezes, minha mente estava nebulosa, tudo estava turvo e eu me perdi em
minha angústia.
As horas foram passando e já estava melhor, haviam tirado todos os
aparelhos e sondas. Agora, estava sentada na cama, encostada nos
travesseiros, esperando ansiosamente trazerem meu bebê. Ouvi uma
leve batida à porta e uma enfermeira entrou empurrando o bercinho de
acrílico com um embrulho dentro. Ela o pegou e entregou a mim.
— Seu filho.
Olhei para ele e não podia acreditar, era lindo com suas bochechas
rosadas. Passei a mão em seu rostinho e meu coração transbordou de
amor. Segurei em suas mãozinhas minúsculas e ele segurou meus dedos.
Bocejou e abriu a boquinha. Ele era tão fofinho, não podia acreditar que
era meu.
— Qual o nome dele?
— Henry William.
O bebê começou a se contorcer e fazer gesto para chorar. A
enfermeira aproximou-se e disse:
— Você pode amamentá-lo, os antibióticos que está tomando são
para lactantes, esse contato será bom para vocês.
— Eu nem sei como se faz isso.
— Eu a ajudarei, porém o instinto se encarregará do resto.
Assim foi, embora, com um pouco de dificuldade e dor, logo Henry
sugava meus seios com vigor. Após a mamada, a enfermeira o levou de
volta para o bercinho e eu acabei dormindo de cansada.
Acordei sonolenta, o quarto estava na penumbra. Olhei em volta à
procura de Henry e o vi no berço dormindo. Sorri de leve aliviada. Deitei
a cabeça no travesseiro de novo, mas logo fiquei tensa ao ouvir uma voz
grave do lado da minha cama:
— Como se sente?
Arregalei os olhos e tentei identificá-lo na penumbra. O vi sentado em
uma cadeira com as pernas cruzadas e o rosto impassível. Engoli em seco
e tentei me sentar. O padre Magnus se levantou e me ajudou. Seu contato
fez algo dentro do meu peito soltar perigosamente. Por um instante
esqueci os incômodos e o atordoamento provocado pelos medicamentos.
Um doce e abençoado calor inundou minhas veias. Olhei-o e vi um brilho
diferente em seus olhos, não era hostil, também não benevolente, mas
apaixonante. Senti uma pontada de esperança, fazia tanto tempo que não
sentia nada parecido que custei a identificá-la. Talvez ele tenha
reconsiderado e aceitado o bebê. Não que isso mudasse alguma coisa,
nossa relação foi quebrada para sempre, contudo me reconfortava saber
que ele pelo menos não desprezaria o filho.
— Obrigada — agradeci enquanto ele voltava a se sentar. — Me sinto
melhor — respondi sua pergunta.
— Ótimo! Amanhã você terá alta e eu a levarei para casa.
— Casa? Para a cabana? — perguntei franzindo a testa.
— Não, para Londres, onde tenho uma casa.
— Me levará para a sua casa? Por quê?
— Por que eu determinei assim.
— Padre Magnus, acho que o senhor está equivocado, não irei a lugar
nenhum com você, esqueceu que fui embora?
— Não esqueci, Eve, muito pelo contrário, você pagará por isso.
— O que quer dizer? O que você fará?
O padre Magnus levantou-se com toda sua magnitude e se aproximou
do meu leito, debruçou-se sobre mim e segurou meu rosto próximo ao
dele. Meu coração dava cambalhotas dentro do peito quando ele deslizou
a almofada do seu polegar na minha bochecha e lábios trêmulos. Ele
agarrou minha mandíbula com força trazendo meu olhar para o dele, que
estava agora duro e implacável. Então ele sussurrou sombriamente
contra o meu ouvido:
— Eu vou me casar com você.
Meus olhos estavam tão grandes como dois discos sem ao menos
piscar completamente confusos encarando-o. O padre Magnus jogou essa
bomba sobre mim e se manteve tranquilo como se aquela notícia fosse a
coisa mais fácil do mundo. Muitas dúvidas saltaram em minha cabeça,
mas apenas uma martelava sem parar: ele deixou de ser padre?
Observei-o voltar para a mesma cadeira que estava antes, sua postura
me deixava intrigada, contudo apenas o olhava fixamente sem saber o
que dizer. Então ele mesmo quebrou aquele silêncio perturbador entre
nós:
— Tudo já está pronto, você e o bebê irão para a minha casa e nosso
casamento será realizado em quatro semanas.
— Só pode estar enlouquecido... — finalmente consegui falar com a
voz carregada.
— Não acho que me casar com você seja loucura.
— Mas o senhor é um padre... ou não é mais?
— Sim e não, pedi afastamento das minhas obrigações sacerdotais,
porém tecnicamente ainda sou um padre perante a autoridade clerical,
pois, para me desligar definitivamente, preciso passar por um processo
junto ao Vaticano. No entanto, no civil, minha condição não faz diferença,
por isso nos casaremos no civil apenas.
— Mas isso não seria algo contra as regras da igreja? Não deveria
pedir o desligamento definitivo primeiro ao Vaticano e depois se casar?
— Isso é o certo, mas eu não sigo regras estúpidas, já deveria saber
disso, Eve.
Uma pausa e ele concluiu evidentemente zangado:
—Você conseguiu o que queria.
— Eu? Nunca pedi para que deixasse de ser padre.
— Você escolheu ter essa criança, Eve, com certeza tinha a pretensão
de voltar e exigir o reconhecimento da paternidade. Ainda mais sabendo
que ele será herdeiro de uma fortuna de bilhões de dólares.
— Sobre o que está falando? Eu não sei de nada disso, não pretendia
voltar para exigir nada. Eu o quero longe de mim e do meu filho.
— Ah, Eve, você não me engana com esse teatro, tudo foi muito bem
planejado nessa sua cabecinha diabólica. Confesso que sua astúcia me
surpreendeu, mas agora que conseguiu me amarrar, eu serei seu marido
no amplo sentido da palavra.
— Pois saiba que não aceito, não me casarei com você, eu não
planejei coisa nenhuma, não aguento mais ser acusada de algo que não
fiz deliberadamente. — Meus olhos encheram de lágrimas e um nó forte
prendeu minha garganta.
— Minha querida, acho que você ainda não entendeu, você se casará
comigo em quatro semanas, isso não é um pedido, não estou te dando
alternativas.
— Você está falando sério? — Olhei-o com um misto de estupefação e
horror, ele falava como se não fosse nada demais. — Depois de tudo que
me fez passar? Ameaçou matar seu filho, acha mesmo que me casarei
com você depois disso? Fora todas as coisas ruins que você fez com as
pessoas à minha volta?
— Ótimo você falar isso, pois, se resistir ou se rebelar ao casamento,
sua mãe e a empregada intrometida passarão por maus lençóis.
Um arrepio percorreu a minha espinha e uma náusea varreu-me o
estômago. Empalideci e o encarei alarmada. Falei com a voz
entrecortada:
— Você não fará nada contra a vida delas... Não.
— Não lhes ferirei fisicamente, afinal de contas sua mãe e minha
sogra agora e a empregada nos será de serventia, pois ela que te ajudará
a cuidar do bebê. Contudo, se você não fizer exatamente o que quero,
tenho meios para deixá-las na rua da amargura, sem amparo ou
compaixão de ninguém.
A cada ameaça que ele lançava sobre mim, me fazia encolher sobre a
cama. Encorpei-me para trás e fechei os olhos. Percebi que ele se
levantou da cadeira e rapidamente abri as pálpebras, ele aproximou-se
do berço do bebê e meu coração quase saiu pela boca. Eu queria
levantar-me para pegar meu filho, mas me mantive no lugar esperando,
ele não ousaria fazer alguma coisa contra o filho no hospital. Depois de
contemplar alguns segundos o menino, o padre Magnus continuou sua
sentença:
— Essa criança é meu filho legítimo e com um piscar de olhos, eu
tomo a guarda dele de você.
— Como afirma algo assim, eu posso não ter muito dinheiro, mas sou
a mãe dele e sou perfeitamente capaz de cuidar do meu filho.
— Não disse que era incapaz, Eve, tenho certeza de que será uma
excelente mãe, mas eu posso alegar muitas coisas, tenho ótimos
advogados a meu serviço. A história do seu pai poderia ser usada como
cartada.
— Você não faria isso, nenhum juiz tirará a guarda de mim. Saiba que
eu também posso alegar que você não o queria.
— Qualquer juiz entenderá por que eu não o queria, eu sou um padre.
A frustração dominou-me.
Que irritante e arrogante era esse homem! Convencido e sempre queria
sair vencedor, mas não o deixarei dominar-me, pelo meu filho sou capaz de
tudo.
Enxuguei as lágrimas que escorriam nas bochechas e o desafiei:
— Pois faça, padre Magnus, tente a guarda dele, eu provarei para a
justiça que sou muito melhor do que você para cuidar dele.
— Se eu fosse você, não perderia seu tempo. Eu não somente usarei
argumentos contra você, como usarei meu dinheiro e influência. Se você
continuar a insistir.
— Você age como se fosse um desses homens poderosos
multimilionários, ou até como se fosse Deus, mas saiba que não é nada.
Um professor universitário pode ganhar bem, mas não o suficiente para
influenciar a justiça.
— Querida Eve, não seja tão ingênua, obviamente que não sou apenas
um professor universitário e padre.
— Então o que você é?
— Você descobrirá com a convivência quem eu sou, mas só te aviso,
Eve, não me desafie. Eu vou usar de todas as armas que tenho disponível
para conseguir o que quero, então comece a colaborar.
— Isso e chantagem — falei perplexa.
— Pense o que quiser, Eve.
Nesse momento, o bebê começou a ensaiar um choro. Olhei para o
padre alarmada, ele estava próximo do berço e voltou-se para o pequeno,
que movia as mãozinhas, nervoso. Logo começou a chorar.
— Você escolheu ter esse fedelho barulhento para atrapalhar a nossa
vida, Eve, agora arque com as consequências.
— Sai de perto do meu filho.
Ele riu irônico e apenas comunicou:
— Chamarei a enfermeira para te ajudar.
Assim que ele saiu do quarto, fiz um esforço para me levantar da
cama e pegar o Henry, que já estava se esgoelando. Aproximei-me do
berço e o peguei.
— Calma, meu menino, a mamãe está aqui.
A enfermeira entrou no cômodo e me ajudou a voltar para a cama e
amamentá-lo. Dei graças a Deus pelo padre Magnus não estar no local,
me sentiria muito constrangida.
As horas foram passando e eu não parava de pensar sobre tudo o que
estava acontecendo. De fato, o padre Magnus pode tirar o bebê de mim?
Ele disse que era influente e tinha dinheiro, mas não tinha a noção do que
isso significava. Ele também disse que Henry era herdeiro de bilhões...
Tudo isso era tão complexo, parecia um quebra-cabeça.
Alguém bateu à porta, me arrumei na cama e permiti que entrasse.
— Oi, meu amor.
Era mamãe e Jemima que beijou a minha testa e fez o sinal da cruz
para, em seguida, ir olhar o bebê.
— Oi, mãe, pensei que não viria me visitar.
— Queríamos ter vindo antes, mas o padre Magnus não permitiu.
— Não permitiu? Como assim?
— Filha, creio que ele já te falou os planos dele.
— Sim, falou, mas eu não quero me casar com ele.
— Eu tive essa mesma reação, contudo acho que não podemos fazer
nada, ele tem a faca e o queijo na mão. Tomou conta de toda a situação,
nem ao menos pude opinar sobre você e o bebê. Inclusive te transferiu
para esse hospital sem o meu conhecimento!
— Me transferiu de hospital... Essa não é a clínica do doutor Gabriel?
— Não, estamos em um hospital próximo de Londres. Olhe em volta,
a clínica do Gabriel é maravilhosa, mas não chega aos pés disso aqui.
Realmente, eu tinha reparado que o quarto era luxuoso, muito grande
inclusive, mas tinha concluído que o doutor Gabriel tivesse me instalado
em uma das melhores acomodações.
— Como ele ousou fazer isso? — perguntei indignada e continuei os
questionamentos: — E onde está o doutor Gabriel e o Miguel?
— Bom, depois que você foi transferida, ele não podia mais ser seu
médico, e Miguel... bem, eu mesma pedi para que ele não te procurasse e
nem tentasse te contatar nunca mais. Ele atendeu ao meu pedido.
— O padre Magnus... — engoli em em seco antes de continuar —
disse alguma coisa para ele? O ameaçou?
— Eu não sei, tenho notícia dele através do Gabriel e ele me informou
que o filho saiu da cidade e decidiu fazer residência em outro hospital.
— Que lástima, tudo por minha culpa!
— Não é sua culpa, infelizmente estamos nas mãos do padre Magnus,
não podemos fazer nada, meu amor.
Uma pequena enxaqueca começou a martelar minha cabeça. O que
iria ser das nossas vidas? Ele daria as ordens e obedeceríamos
humildemente? Mas o pior de tudo não era o futuro incerto, mas um
sentimento que assolava meu coração. Eu tentei não pensar sobre isso,
mas desde o momento que ele anunciou o casamento, senti uma euforia.
Droga! Eu sei, não deveria sentir isso, euforia? Ao lado dele nunca serei
realmente feliz, porém, pensando por outro lado, meu filho terá a presença
do pai em sua vida, eu secretamente havia desejado isso. Que confusão na
minha cabeça, estou no meio de um fogo cruzado.
Mamãe gentilmente pegou minhas mãos e as apertou afagando. Logo
em seguida, comunicou:
— Filha, eu não irei com vocês para a nova casa.
— Não? Mas por quê?
— Padre Magnus não permitiu, na verdade ele não me convidou. Mas
não precisa se preocupar comigo, eu estou bem morando com o Gabriel.
Jemima estará lá com você e irei visitá-las sempre e ao meu netinho
também.
— Mãe, eu posso falar com ele...
— É melhor não — mamãe me cortou. — Embora tudo isso seja
estranho, eu espero que realmente o padre Magnus seja um bom pai e
marido.
— Eu não sei, ele ameaçou tirar meu filho para me convencer a esse
casamento.
— Meu amor, preste atenção no que vou te falar. Eu não queria que se
casasse com ele nunca, por mim iríamos embora amanhã para bem
longe, mas já percebemos que de nada adiantaria, ele tem dinheiro e
influência, além do mais tem direitos sobre o menino. Se fugirmos, ele
pode nos acusar de sequestro, já que o registrou. Além do mais, temos
que pensar no Henry agora.
— Ele nem ao menos gosta do filho.
— Com o tempo, eu espero que ele se acostume, é o mínimo!
Suspirei fundo, realmente estava sem saída.
Mamãe e Jemima ficaram comigo até o início da noite. Um médico
veio me examinar e ver se estava tudo certo para liberar a alta no dia
seguinte, de manhã. Fiquei aliviada e apreensiva ao mesmo tempo por
todas aquelas mudanças em minha vida e mal consegui dormir olhando
para o meu bebê, por quem já tinha um imenso e enorme amor, um amor
que consumia todas as outras coisas.
Inclinei a cabeça para olhar pelo vidro do carro luxuoso, enquanto o
motorista cruzava a entrada de uma extensa propriedade rodeada por
jardins verdes e floridos bem tratados com chafarizes, toda a beleza
digna de ser chamada de palácio. Estava estupefata por todo o esplendor
daquele lugar, que nem imaginava poder ser meu lar. Jemima estava do
meu lado junto com Henry.
Havia recebido alta aquela manhã e, para minha surpresa, o padre
Magnus não foi me buscar, ele mandou o motorista junto com Jemima.
Confesso que fiquei um pouco desapontada, tinha fantasiado que ele
ficaria feliz em levar o filho para casa, apesar de tudo, mas vi que não.
Não deveria me sentir assim, pensei que ele só aceitou a criança por
obrigação. Continuei olhando admirada a casa que apareceu no meio da
propriedade. Era esplêndida, uma mansão com dois andares toda branca
com janelas francesas. O motorista parou na frente da casa; e logo atrás
de nós, outro carro onde haviam outras pessoas, que me pareceram
seguranças. Um deles apareceu do lado da minha porta e a abriu. Desci e
Jemima também o fez com o Henry no colo.
“Os seguranças nos protegiam de quê?”, me questionei. Mas apenas
os segui.
A grande porta de entrada foi aberta e mais pessoas estranhas nos
receberam no lar. Lar! Essa pequena palavra fez meu coração balançar de
repente, palpitando por tanta beleza em volta, mas logo movi a cabeça,
eu não tinha um lar e essa casa não se assemelhava a um.
Entrei em um amplo hall da qual surgiu uma elegante escada que se
curvava na parte superior até um corredor que unia ambas as partes da
casa. O piso e os objetos de artes, chamaram minha atenção. Não
imaginava uma criança pequena vivendo ali, aquela não era uma casa
para criar um filho.
Uma mulher elegante e distinta, vestida totalmente de preto, veio
falar conosco:
— Bem-vindas! Eu as conduzirei a seus aposentos.
Deixei-me conduzir, mas achando tudo formal demais, embora
tivesse sido criada em meio à riqueza, aquela casa nem se comparava a
nossa, que era acolhedora com uma atmosfera familiar. Essa era fria e
austera, como se fosse um museu moderno peculiar. Subimos as
escadarias e logo estava em um luxuoso quarto. Não havia nenhum berço
para colocar o Henry e fazia questão que, por ora, ele dormisse comigo,
não abrirei mão disso de jeito algum! Jemima ainda estava com o Henry
no colo com o semblante questionador.
— Essa é a suíte máster, o quarto da empregada é no andar inferior e
o do bebê ainda não foi selecionado, esperamos que o faça.
— Não quero que meu filho tenha um quarto separado ainda, se não
for pedir muito peço que providencie um berço portátil com trocador, ele
dormirá comigo.
— Sim, providenciaremos como pedido.
— O-obrigada.
— É melhor você se deitar agora para descansar um pouco, daqui a
pouco o Henry acordará e exigirá sua atenção — Jemima falou colocando
Henry sobre a enorme cama.
Outra pessoa entrou no quarto com as nossas coisas, Jemima separou
uma roupa leve para eu trocar. Os empregados saíram e ficamos eu e
Jemima. Respirei aliviada.
— Isso tudo é tão estranho, Jemima, nunca imaginei que o padre
Magnus fosse tão rico e nem mesmo que estaria nessa situação.
— Nem eu, querida, todos esses anos eu não esperava, mas não se
preocupe com isso agora, temos que pensar na segurança do Henry,
estarei aqui para te ajudar e te proteger.
— Obrigada. Gostaria que mamãe também estivesse aqui, mas seria
exigir muito.
— Amanhã ela virá, sua mãe tem a vida dela agora com o doutor
Gabriel.
O dia passou rápido e nem sinal do padre Magnus, isso me deixou
triste, realmente ele não fazia questão nenhuma de ficar com o filho.
Alguém trouxe o berço que eu havia solicitado. Depois de comer o jantar
no quarto e ter a ajuda com o Henry, deitei-me na cama pensativa sobre
tudo e acabei dormindo.
Acordei com alguém me beijando no rosto. Tentei me levantar, mas
ele me prendeu com seu corpo.
— Padre Magnus? — perguntei assustada.
— Gosto quando você me chama de padre Magnus, quero que sempre
me trate assim na cama, mas não precisa fazê-lo fora dela,
principalmente em ambientes públicos.
De novo, ele me beijou, dessa vez procurando minha boca, tentei
evitar.
— O que está fazendo? Não podemos ter contato íntimo, estou no
período de resguardo!
— Sei disso, mas te beijar não é proibido. Estou com tantas saudades.
Ele voltou a beijar a curva do meu pescoço pressionando também o
quadril para que eu sentisse a força da sua ereção. Meu corpo todo
acendeu-se, contudo esfriei rapidamente quando o pequeno Henry
começou a chorar. Rapidamente, o empurrei e saltei da cama para pegá-
lo. O bebê queria mamar, mas estava constrangida pelo padre Magnus
estar no quarto. Olhei na direção dele e percebi que seu semblante estava
bem aborrecido.
— Acho que ele quer mamar — falei tímida. Padre Magnus suspirou
profundamente e se levantou, passou os dedos pelos cabelos e me lançou
um olhar mortal.
— Faça o que tem que fazer. Amanhã te mostrarei a propriedade e
um joalheiro virá para que você escolha o seu anel.
Ele moveu- se até a porta, mas, antes de sair, comunicou:
— Eu espero, Eve, que você providencie um quarto separado para
essa criança, pois, depois do casamento, não admitirei interrupções.
— Essa criança tem nome, é Henry e é seu filho.
— Sei disso, mas te aviso que não usará essa criança para me
manipular, eu me casarei com você por bem ou por mal, porém essa é a
única exceção, do resto, quem decide sou eu.
Ele nem ao menos me deixou rebater, saiu do quanto batendo a porta.
Triste, sentei-me na poltrona para alimentar Henry, que já se mostrava
impaciente com a demora.
No dia seguinte, após o café da manhã, um joalheiro chegou com uma
imensa variedade de anéis de diamantes para que eu pudesse escolher
um. Ele apresentou diversas bandejas e eu olhei para todas aquelas
pedras magníficas sem saber qual escolher. Pensei no valor,
provavelmente valiam mais que o PIB de um pequeno país de Terceiro
Mundo. Eu não tinha certeza se podia escolher qualquer um, lhe lancei
um olhar questionador.
— Você pode escolher qualquer um deles, senhorita.
Sendo assim, acabei optando por um de diamante branco com um
solitário e, em volta do aro, pequenos diamantes.
— Excelente escolha — o joalheiro falou, pegando o anel
correspondente ao meu tamanho e me entregou, deslizei a joia no dedo e
senti uma emoção muito forte, uma vontade de chorar e rir ao mesmo
tempo.
— Obrigada — agradeci.
Os dias foram passando e os preparativos para o casamento
acontecendo, parecia que estava vivendo um sonho e um pesadelo ao
mesmo tempo. Padre Magnus, embora não demonstrasse afeto pelo
Henry, comigo ele agia como um noivo apaixonado. Flutuantes sentidos
lutavam para manter minha sanidade mental, mas a cada dia que passava
mais certeza tinha de que estava fazendo a coisa certa. Não havia dúvidas
dentro de mim que eu o amava, eu era louca por amá-lo, mas esse
sentimento se fortalecia dentro de mim a cada dia que ele me tocava.
Poucos dias antes do casamento, cheguei à conclusão que me casar
com ele era a coisa mais certa a se fazer, não haviam escolhas e de fato
colaborar parecia certo. Pelo meu filho e por mim, por todos que
restaram ao meu lado. Mesmo que ele não demonstrasse sentimentos
pelo menino, tinha a esperança de que isso mudasse com o tempo, eu
queria acreditar nisso com todas as forças, afinal iríamos nos casar e nos
tornar marido e mulher.
A manhã estava linda para um casamento. Embora o sol frio do final
de inverno se mostrasse tímido, o céu estava azul radiante sem muitas
nuvens.
Todos estavam reunidos na sala para a celebração daquela união.
Pelo que mamãe falou, não haviam muitas pessoas, além dela, do doutor
Gabriel e Jemima, alguns conhecidos do padre Magnus e familiares. Eu
estava nervosa como nunca, era estranho que, em poucos minutos,
estaria me casando com o pai do meu filho.
Olhei-me no espelho e tentei esconder a expressão sombria do rosto.
Queria me mostrar feliz e alegre com um sorriso de orelha a orelha, mas
não era realmente assim que eu me sentia agora, na verdade estava com
medo e tensa. Não pelo casamento em si, mas em como seria a nossa vida
daqui para a frente.
Nesse último mês que vivi nessa casa, descobri aos poucos quem era
o padre Magnus. De fato, como ele mesmo já havia dito, era muito mais
que um padre e professor, mas pertencente à família Crawford, uma das
mais tradicionais e influentes da Inglaterra. Todos os dias era uma
surpresa, até dono da faculdade ele era, por isso explicava muitas das
suas atitudes.
Não só isso me assustava, mas todas as decisões que ele tomava sem
ao menos me perguntar se eu concordava ou não. Inclusive, sobre a lua
de mel que ficaremos uma única noite em um dos apartamentos mais
belos dele. Não concordei na hora, não queria ficar afastada do Henry
nem por uma noite, porém ele não me deu opção. Tentei argumentar
dizendo que o bebê era muito pequeno para ficar afastado de mim, que
poderíamos levá-lo junto, até porque ele ainda mamava no peito, no
entanto ele foi irredutível em sua decisão.
O que me deixou tranquila foi que mamãe passaria essa noite em casa
junto com Jemima cuidando dele. Fiz um pequeno estoque de leite
materno congelado. Mas uma angústia e um pequeno sentimento de
culpa apossou-se de mim, não queria deixar meu filho nem nesse dia.
Passei a mão no estômago alisando o vestido simples escolhido para a
ocasião. Nada de babados e tules e nem véu. Apenas um vestido tubinho
de seda bege com uma alça fina e franzido na zona dos seios. Por cima
um cardigã curto e de acessórios um conjunto lindo de colar e brincos de
diamantes. Os cabelos estavam presos com um coque baixo e um
pequeno arranjo de orquídeas brancas ornava a cabeça. Tudo simples,
mas muito romântico e clássico.
Mamãe entrou no quarto naquele momento com o Henry no colo, que
estava vestido como um pequeno rapazinho, um príncipe.
— Está lindíssima, meu amor.
— Obrigada, mãe, e esse bebê lindo.
Estendi a mão para o pegar. Ele estava tão fofo, me encarava com
seus lindos olhos azuis-cobaltos como os do pai. Vou sentir tanta a falta
dele!
— Mãe, cuide bem do meu bebê — falei abraçando-o.
— Claro que sim, será só por uma noite, ele ficará bem.
— Obrigada, eu sei que ele será bem-cuidado, mas estou com o
coração na mão por me afastar dele mesmo que por algumas horas.
— Padre Magnus te disse para onde vocês irão?
— Ficaremos aqui em Londres mesmo, em um apartamento no
Centro.
— Bom, de qualquer maneira ele sabe que vocês não podem ficar por
muito tempo, esse anjo precisa de você.
— Para quem disse que o tiraria de mim, não duvido nada.
— Filha, você tem certeza de que esse casamento é o melhor?
— Eu não tenho opção, mãe.
— Eu sei, mas esses dias pensei e pensei, talvez possamos ter uma
saída, recorremos ao Vaticano...
— Não! Definitivamente não. Ele sabe o que está fazendo, além do
mais só seria dor de cabeça. Eu realmente quero tentar, sei que é loucura,
mas esse último mês eu vi um lado dele mais humano, sabe, ele tem sido
gentil. Sei que ainda resiste ao Henry, mas tenho certeza de que ele o
aceitará com o tempo, já vimos que fugir só pode causar mais dor.
— Eu também quero acreditar nisso e que realmente esse casamento
seja o melhor para você. Por isso, filha, tem a minha bênção.
— Obrigada, mãe.
— Agora se prepara que tudo já está pronto para o início da
cerimônia. Me dê o Henry aqui. Irei na frente e avisarei para começarem
a música.
— Okay!
Entreguei o Henry para ela e suspirei fundo, peguei o buquê de flores
e esperei a música começar a tocar antes de começar a andar a passos
lentos até o início da escadaria que estava decorada com flores frescas ao
longo do corrimão e os degraus da escada havia uma passadeira
vermelha. Meu estômago encheu-se de borboletas à medida que eu
descia a escada e um burburinho de vozes dos convidados surgiu. O
padre Magnus estava elegante no terno cinza ao pé da escada me
esperando. Ele estava tão lindo e meu coração pulou dentro do peito.
Sorrindo discretamente para mim, segurou em minhas mãos e me
conduziu até o pequeno altar onde um juiz de paz nos aguardava.
A cerimônia iniciou, para mim tudo parecia um sonho, as palavras do
homem não faziam muito sentido na minha cabeça, eu estava me
casando e minhas pernas tremiam, estava em estado de êxtase. Fiquei
com um nó na garganta ao ouvir o padre Magnus jurar amor e fidelidade
até o fim da vida com os olhos brilhando. De repente, eu senti o desejo
que ele não só falasse isso da boca para fora, mas que realmente me
amasse. Porque eu já o amava, sim eu o amava e não faria essa promessa
se não o amasse profundamente.
O casamento foi concluído após a troca das alianças e as nossas
assinaturas. Ele beijou-me calorosamente sobre o aplauso dos presentes.
Ele ficou do meu lado enquanto recebíamos as felicitações. Uma senhora
muito elegante aproximou-se de nós.
— Que bom que uma jovem como tu trouxe meu sobrinho de volta à
família.
— Nunca me afastei, tia Candice — ele falou sério.
— Ficou anos sem nos contatar, morando na Itália.
— Tenho certeza de que não sentiu minha falta, só o que te
preocupava era continuar recebendo a sua mesada.
A mulher ficou muda e ruborizou. Eu também fiquei constrangida,
mas logo outros vieram falar conosco e o clima pesado se dissipou,
contudo percebi de imediato a hostilidade com que ele tratava os poucos
parentes. Mamãe e o doutor Gabriel se aproximaram com o Henry.
— Os nossos melhores desejos de um casamento longo e feliz. — Ele
apertou a mão do doutor Gabriel e eu abracei mamãe, que já tinha
entregado o Henry para a Jemima.
— Deus te abençoe, filha.
— Assim seja, mãe.
Jemima também se aproximou e me abençoou. Olhei para o meu filho
em seu colo adormecido em sua roupinha branca e lágrimas vieram aos
meus olhos enquanto me despedia do sonho e abraçava a realidade.
— Seja muito feliz!
Após o almoço, estávamos prontos para irmos embora. Havia um
helicóptero nos aguardando. Sucederam-se abraços, beijos e despedidas.
Beijei o rosto do Henry várias vezes antes de acompanhar meu marido.
Meu coração pesava, não consegui conter as lágrimas. O padre Magnus
friamente apenas olhou para o filho sem demonstrar nenhum tipo de
afeto e esse gesto atravessou meu peito como um punhal, respirei fundo,
confiante, e seguimos para o nosso destino.

As luzes de Londres brilhavam à minha volta, contemplava aquela


linda cidade através da grande janela do apartamento. Tudo tinha um ar
sofisticado, de realização, a paisagem, o aroma de uma pós-chuva. Tudo.
Chegamos há uma hora, na qual tomei um banho e vesti minha camisola
nupcial. Me encontrava um pouco aflita, não pelo que aconteceria essa
noite, mas por toda a situação envolvida. Ele agora era meu marido e isso
tornava o prisma da nossa relação muito diferente. Senti um frio na
barriga. Meu Deus! Ele é meu marido, meu marido.
Percebi a mão quente e áspera deslizar pelos meus ombros, meu
corpo arrepiou-se e todos os meus sentidos ficaram em alerta, o seu
perfume masculino fez toda a minha pele se arrepiar. Os seios que
estavam cheios de leite, intumesceram e me causaram incômodo. Eu
havia ordenhado, mesmo assim produzi mais leite rapidamente.
Fechei os olhos ao sentir a boca dele deslocando no meu pescoço e as
grandes mãos apertando meus seios por cima da camisola fina de seda,
que já estavam supersensíveis e dolorosos.
— Vem para a cama, minha esposa, vamos consumar nosso
casamento para sempre.
Deleitei-me ao ouvir sua voz sedutora e grossa no meu ouvido, senti
minhas pernas ficarem mais sensíveis que o normal. Ele afastou-se de
mim e eu me virei para contemplá-lo.
O luar iluminava o corpo musculoso e definido, deixando seu rosto na
sombra da noite. Mas eu o conhecia bem, não precisava vê-lo. Imagens
vivas dos nossos momentos apareceram em minha mente. Percorri meus
olhos pelo seu corpo, que estava completamente desnudo. A simetria de
seus músculos era perfeita. Os pelos do peito formavam uma linha cada
vez mais estreita que terminava no baixo-ventre. Ao constatar a
excitação evidente, senti meu corpo pronto para esse amor.
O padre Magnus virou-se de repente e andou até o leito. Pude
contemplar as nádegas rígidas e redondas. Ele era perfeito e todo meu.
Oh, Jesus! Ele afastou os lençóis e se deitou, apoiou um dos cotovelos
sobre o colchão, olhou para mim e deu um tapinha no espaço ao seu lado.
— Venha aqui!
Andei devagar ciente de que minha silhueta fazia contraste com a luz
do luar e que minha nudez se revelava através do tecido fino da camisola.
Ajoelhei-me sobre o colchão e esperei ele ter a iniciativa.
— Sou todo seu.
O encarei confusa por um momento, mas logo entendi e gostei disso.
Ele queria me deixar no comando e isso era novo para mim, sempre ele
que conduzia tudo. Com um movimento espontâneo e sem receio, removi
a camisola lentamente e joguei no rosto dele. A peça deslizou e caiu sobre
a cama. Uma sombra atravessou seu olhar e captei algo indefinido nele,
entre a paixão e a dominação, ele deu um meio sorriso fascinante. Mas
nada me intimidava, meu corpo parecia que entraria em combustão, eu o
queria muito, com todas as forças.
Coloquei as mãos nos seus ombros fortes e deslizei pelos bíceps
musculosos. O resto seguiu com naturalidade, as mãos passaram pelo seu
peito acariciando devagar com as pontas dos dedos e foi descendo ao
longo do tórax até aproximar-se do seu membro duro. Desviando do pau,
coloquei as mãos entre sua virilha e passei as palmas na parte interna de
suas coxas. Senti sua respiração acelerar com o ritmo dos afagos. As
mãos agora seguravam seu pau rígido e lindo, que vibrava em minhas
mãos suaves. O pré-sêmen transparente saía do pequeno orifício da
cabeça. Eu queria provar do seu néctar perfumado, queria ingerir cada
gota do que ele tinha a me oferecer e me alimentar disso essa noite toda.
Deslizei a ponta do pênis nos lábios, lambuzando-os com seu fluido antes
de lhe dar os mais íntimos dos beijos. Eu queria levá-lo ao mais profundo
êxtase, fazê-lo gemer com meu toque.
A boca deslizou em sua carne longa e grossa encaixando
perfeitamente em minha boca faminta. Fiquei orgulhosa ao ouvir os
gemidos dele enquanto proporcionava o prazer. Sua ereção crescia mais
do que a vida em minha boca. Movia a cabeça até chegar o mais profundo
e puxava o chupando até fazer meus lábios como um vácuo, salivando e
me maravilhando com sua respiração ofegante. O sabor dele era
surpreendentemente agradável. O pulsar do pau dele na minha garganta
fez cócegas e eu estava achando toda a experiência imensamente
prazerosa. Uma das minhas mãos contornou com delicadeza, enquanto
seus cabelos se molharam com minha própria saliva. Não que já não
tivesse feito isso antes, muitas vezes, mas agora era diferente, eu estava
chupando o pau do meu marido, meu homem, meu.
Essa sensação de posse foi tão poderosa, e o pau dele todo na minha
boca fez a minha boceta ficar completamente molhada, piscando para ser
usada. Ele agarrou a parte de trás do meu cabelo empurrando ainda
mais. Deslizei meus lábios para cima e para baixo deixando um rastro
espesso de saliva com a língua. O calor e a umidade da minha boca ao
longo do seu pau fez com que ele estremecesse. Ele estava prestes a
gozar, mas com um impulso surpreendente, ele tirou o pau da minha
boca e me suspendeu pela cintura e me fez sentar no colo dele com as
pernas abertas.
— Nada disso, eu vou gozar dentro da sua boceta quente, querida.
Em uma mistura de instinto movido por um ímpeto primitivo, ele me
puxou para um beijo ardente. Seus lábios eram fortes e embrulhava-se
sobre meus. Nossas línguas selvagens entrelaçavam-se famintas de
paixão, enquanto meu fluido se esfregava ao seu. A boca dele deixou a
minha e percorreu o caminho do pescoço, lambendo-me, me levando ao
delírio e plena luxúria, carregada de prazer e desejo.
— Como senti sua falta, minha pecadora, safada e gostosa!
— Eu também, muito...
Nossos corpos moviam-se colados, meu quadril tentava alojar seu
pau na minha boceta fervilhante. Eu o queria muito, já estava
desesperada.
— Padre Magnus, me faça sua esposa, por favor.
Suas mãos seguraram minha cintura firme ajudando-me a saltar
minha virilha para cima e para baixo enquanto seus lábios chupavam
meu pescoço. O pau dele encontrou meu calor e começou a me invadir.
Ele lambeu o meu peito, os sugando e apertando com vigor. A ereção dele
me penetrando e sua boca em minha pele me faziam choramingar de
prazer, me arranhar e exigir mais disso tudo. Agarrei os cabelos dele
enquanto quicava em seu colo sendo fodida cada vez mais rápido e cheio
de vigor. Meus quadris começaram a tremer por conta própria
antecipando o orgasmo, adorava a sensação de apertar e me sentar com
profunda vontade.
— Ahhh! Meu, você é meu, meu marido, meu homem.
— Sim, sou todo seu, e você descobrirá muito em breve o que
significa ser minha mulher.
Aquela declaração me deixou preocupada, senti meu estômago
contrair de nervoso, mas continuei me movendo e joguei a cabeça para
trás deixando-o me devorar com a boca e o pau. Estávamos próximos e
não queria pensar no amanhã, não queria pensar sobre o significado do
que ele disse. Nossas línguas se chicoteavam, minhas coxas tremiam e as
paredes da minha vagina ardiam e, de repente, tudo explodiu a nossa
volta, tudo parecia despedaçar-se em um turbilhão de dor e prazer, de
vontade e ganância. O êxtase foi tão intenso que, por um momento,
pensei que morreria. Padre Magnus também estremeceu e jorrou seu
líquido quente e ardente dentro de mim. Senti seu pau contrair até que
parou completamente.
Nos beijamos e nos abraçamos exaustos e colados pelo suor, ficamos
assim por minutos seguidos. Agora eu era a mulher dele de fato em todos
os sentidos da palavra, e isso não tinha mais volta.
— Eu te amo — me declarei sem medo, olhando em seus olhos safiras
celestes.
A última coisa que me lembrei foi dos lábios dele me beijando
carinhosamente na testa suada, antes de dormir exausta pela paixão
avassaladora que nos consumiu.
Eu acordei com dor de cabeça. Abri as pálpebras e tentei me
encontrar. Minha mente estava meio confusa, lembrava-me de um anjo
lindo de olhos azuis como se tivesse sido enviado para me salvar, mas de
quê?
Gemi tentando me levantar, mas logo percebi que não conseguia,
alguma coisa estava me prendendo e apertando.
Abri os olhos ainda mais e olhei para os lados. Vi que estava presa
pelos pulsos em correntes e algemas, minha respiração acelerou como se
estivesse a perdendo. Meu coração começou a bater forte, minha
garganta apertou me sufocando. Puxei os braços tentando me soltar.
“Meu Deus! O que está acontecendo? O que é isso?!”, me perguntei
alarmada.
Movi minhas pernas, elas estavam soltas, por isso tentei apoiar os pés
sobre a superfície e impulsionar para tentar me sentar, mas meu corpo
estava tremendo demais me impedindo.
Que droga é essa?
Olhei em volta desesperada e vi que estava em um lugar sombrio,
como se fosse um castelo medieval com apenas uma janela alta de onde
penetrava uma luz tênue, vi pássaros negros como corvos baterem pela
paisagem de fora, que era alinhada por apenas um céu. Meu coração
acelerou mais ainda quando cheguei a uma terrível conclusão: eu fui
sequestrada. Não havia outra explicação! Como vim parar aqui, como,
meu Deus?
— Por favor! Me tirem daqui. Por que estão fazendo isso? O que é
isso?
— Não se assuste, meu pequeno cordeirinho.
— Magnus? — jamais confundiria sua voz com a de ninguém na
Terra.
— Padre Magnus, minha adorada esposa, padre.
Tentei achá-lo na penumbra do cômodo e o vi de pé no canto. Ele saiu
da sombra e se mostrou para mim. Ele estava vestido todo de preto,
exatamente como sempre se vestiu, e com o colarinho clerical no
pescoço.
— O que está acontecendo? Isso é algum tipo de brincadeira, um
fetiche?
— Brincadeira? Fetiche? Eu tenho cara de quem brinca, querida Eve?
— Se não é uma brincadeira, então o que significa isso? Por que estou
presa dessa forma, não há motivos...
— Muitas perguntas, minha querida, mas a única coisa que você
precisa saber agora é que tipo de marido eu sou e vou ser.
— Que tipo de marido você será?
— O tipo de marido que você merece.
— Isso é loucura, me solta. Precisamos voltar, nosso filho...
Ele estendeu a mão e encerrou meu pequeno discurso.
— Filho? Que filho?
— O nosso filho, meu bebê, Henry... — Minha voz saiu embargada à
medida que começava a entender. Meus olhos se encheram de lágrimas.
Não! Por Deus, não! Me recusava a acreditar que ele faria uma crueldade
dessa.
— Você não fará isso, não me separará do meu filho, nunca.
Ele aproximou-se da cama e se sentou sobre ela ao meu lado. Eu o
encarei em pânico, minhas veias fervilhavam de medo, seus olhos não
deixavam os meus me encarando sem um pingo de piedade. Ele
suspendeu a mão e, por um instinto de proteção, me encolhi. Mas relaxei
um pouco quando percebi que ele só queria limpar as minhas lágrimas.
As ações dele não estavam certas, nada disso fazia sentido. Que tipo de
jogo doentio ele está fazendo?
— É exatamente o que vou fazer, mas não será só isso, será bem
melhor, porque agora você é minha esposa e descobrirá da forma mais
perversa o peso de carregar meu nome, Sra. Crawford.

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