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Os Máscaras
Maciel T.
Kultuur Editorial
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Você pode fugir, você pode se esconder, mas...
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Capítulo I
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manhã e olhar para o jardim da vovó Troodle, que morava
ali, e não vê-la como de costume cuidando de suas plantas
também não ajudava em nada. Mesmo do alto dos meus
onze anos, tinha que reconhecer que talvez fosse mesmo o
momento de mudar de ares para poder continuarmos a
viver, mesmo que isso significasse não poder ver mais o
Oliver. Mas, ainda vivia em minha mente o nosso último
momento juntos.
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mãos em meu ombro. - Me desculpe pelo Oliver, de
verdade! Sei o quanto gosta dele, mas era preciso.
Fiquei com o quarto que tinha uma janela que permitia ver
tudo lá fora e que ficava no andar mais alto. Era espaçoso e
tudo se podia ver até a serra. Além disso, era possível subir
ao telhado de vez em quando. Eu tinha um certo medo de
cair, mas, mesmo assim, era bom sentir o vento no rosto.
Talvez eu fosse aviador algum dia.
***
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a velha escada tinha um corrimão de madeira que tornava
tentador descer por ele. Mas bastava lembrar os três
andares e a mesma vontade logo se ia.
-O que fez?
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-É muito bom revê-lo, senhor Halley. Esse deve ser o seu
garoto, Jules! Como vai, amiguinho? – Me fez um carinho
no cabelo.
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-Jules, preciso te dizer algumas coisas, pequeno. Assim
como você está se sentindo deslocado aqui, alguns de
nossos alunos também se sentem. Mas eles passaram por
coisas que fazem com que eles se sintam diferentes pelo
resto da vida, e penso que precisamos protegê-los. Há vinte
anos recebemos um aluno que precisava frequentar a escola
usando uma máscara que cobria todo o seu rosto, porque
ele havia sido deformado por um acidente. Nós
permitimos, porque nada podia ser feito. Três anos depois,
correu uma notícia na cidade que um de nossos alunos que
receberíamos possuía uma doença grave, e que já estava
sofrendo preconceito por isso. Então permitimos que ele
também usasse uma máscara, para que pelo menos aqui
pudesse estudar em paz. Mas aí, outros casos acabaram
acontecendo.
-Senhor...
-Jebediah!
-Sim, senhor.
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Olhei em volta e só então percebi. Consegui contar pelo
menos cinco crianças em todo o pátio que usavam máscaras
só em meu campo de visão, mas a maioria conversava
normalmente com os demais. Havia até mesmo uma garota,
com um bonito vestido rosa. Dava uma certa pena imaginar
que uma garota bonita tivesse que esconder o seu rosto.
Mas, com tudo o que o senhor Jebediah havia dito, acho que
fazia um certo sentido que as coisas tivessem que ser assim,
mesmo que eu nunca tivesse notado isso antes. As máscaras
eram todas brancas.
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-Tem, mas não sabemos. Segundo a professora, ela inclui as
presenças deles depois que todos saímos para o intervalo. –
Respondeu.
Capítulo II
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nova função, como professor de educação artística. Ao sair
de sua primeira aula, foi até a sala do diretor Jebediah sem
entender o que estava acontecendo.
-S-senhor Jebediah?
-D-desculpe!
-Apenas Howard!
-Apenas Jebediah!
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condenado é visto como igual. Se essas máscaras não estão
unindo eles como gostaríamos, ao menos não estão
separando-os como essas histórias de vida deles fariam. A
vida é muito cruel, Howard. Mas a máscara ajuda a
amenizar. Ainda assim, não acha que essas crianças
merecem um pouco de paz?
-Sim, mas...
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Levantou-se e deixou a sala. Acomapanhando-o, um
pronfundo sentimento de irritação e frustração por aquela
conversa e mais ainda, por compreender tanto quanto antes
aquelas crianças. No corredor, a professora Rose se
aproximou. Percebeu seu olhar bem menos agradável de
receber do que o de quando chegou.
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sejam difíceis de encarar. E elas gostam muito do Jebediah
também.
16
***
-O que?
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-Novato, certo? Não posso dizer meu nome, mas é um
prazer conhecê-lo. – Cumprimentou-me.
-Jules.
-Isso dói?
-O que?
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uma dor muito, mas muito grande dentro de si. Apesar
disso, seu tom de voz era acolhedor. Acho que realmente
havia feito um amigo ali naquele momento. Ou nem tanto
assim.
Acenou, de longe.
Capítulo III
Oliver,
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menos achasse que podia procurá-lo ou que essa pessoa me
procuraria. Acho que isso vai demorar para acontecer.
A escola é bem grande e o prédio parece ser bem antigo. Fui bem
recebido e confesso que gostei de lá. É bem diferente da antiga
escola. Mas tem uma coisa que muito me incomoda ali. Há um
grupo de crianças que usam máscaras durante o tempo todo na
escola. Nosso diretor, senhor Jebediah disse que essas crianças têm
problemas que outras pessoas não podem saber e que isso é para
protegê-las. Essas crianças estão sempre juntas em seu próprio
canto, e é quase impossível ver elas conversando com crianças que
não as usam.
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de voz seguro. No fundo, não consigo deixar de pensar que há
uma dor muito grande por trás dele. Mas aquela foi a única vez
que o vi. Acho que vai demorar até eu falar com ele de novo.
Bem, confesso que não sei mais o que posso te dizer sobre essa
cidade. Essas crianças com máscaras me deixaram tão aéreo que,
francamente, não consigo pensar em mais nada para lhe dizer.
Jules.
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-Sei bem como é, chegamos aqui faz alguns meses também.
Com o tempo você se acostuma a estar aqui! Ei, acabamos
de adotar um casalzinho de Hamsters, quer ver?
***
-Senhor Jebediah?
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Howard tirou os óculos do rosto com uma mão e um lenço
do terno com a outra. Começou a limpar as lentes.
-O que disseram?
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relação a outras instituições parecidas e que, uma vez que
não esteja infringindo a lei de maneira comprovada, devem
responder apenas a si mesmas e aos pais que confiam suas
crianças a elas.
-Você…
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Novamente, o professor Howard, em início de carreira,
estava sendo vencido por Jebediah e mais uma vez
sentindo-se impotente sobre o que estava acontecendo ali.
Agora, nem tinha mais certeza do porque estava
questionando tanto aquilo. Por via das dúvidas, aceitaria o
conselho de Jebediah. Nisso ele não estava errado: Se
parasse para ouvir os máscaras talvez tirasse novas
conclusões. Retornou a sala dos professores para provar o
café com mais açúcar antes da primeira aula.
Capítulo IV
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Acho que não tinha mencionado ainda. A face em sua
máscara era a de um passarinho, mas não sei ao certo qual.
Talvez um Robin ou um Gaio-azul. Não importa. O que me
lembro nitidamente, é que ela tinha bonitos cabelos loiros
que deixavam a máscara em direção aos ombros.
-B-bom dia!
-Só disse que vai ficar de olho em você. Por causa do Robin.
-Tudo bem, o Coruja não vai ligar, eu acho. Anh, acho que
temos aula de matemática hoje!
-Algo errado?
-Jules!
Foi então que ele notou que ela estava conversando comigo.
Sua expressão de rosto mudou.
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-Jules, anh… Eu… A gente conversa depois! - Respondeu,
deixando-nos em seguida.
***
Comecei a ler.
“Jules,
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se esqueceu da nossa cidadezinha e das coisas daqui. E nem da
vovó Troodle.
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talvez, eu devesse continuar o que ele começou e escrever alguma
coisa. Pedi a minha mãe que tirasse cópias de um dos livros do
meu pai. Lembro-me que ele gostava muito de você e de sua
companhia. Achei que seria justo te enviar.
Olliver.”
Olliver ainda estava triste pelo pai. Não sei ao certo o que
aconteceu com ele. Ollie nunca me contou. Só sei que viajou
para um lugar muito distante, e, quando tiveram notícias
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dele dias depois, ele tinha morrido. Também não sei o que
tirou sua vida. Mas lembro como foi triste e doloroso para
Ollie receber essa notícia. Então, ele dormiu em minha casa,
naquele dia. Foi melhor para ele afastar-se um pouco da sua
realidade, só um pouquinho. Por isso, eu pude ver como foi
difícil para ele digerir aquilo.
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Oliver ganhou. Mas o prêmio maior veio para mim: O
senhor Humprey se comprometeu a me ensinar a jogar
Xadrez. Passamos a nos encontrar para jogar todos os dias
depois da aula. A senhora Humprey nos fazia biscoitos de
vez em quando. Com isso, eles acabaram se tornando
minha segunda família. Mas, o senhor Humprey viajou
depois de duas semanas, vindo a falecer onde esteve depois
de poucos dias. Não sabemos para onde foi e nem o que
tirou sua vida, se foi uma doença, se foi algum homem
mau, nada.
Era uma pena. Oliver não merecia passar por aquilo. Ele era
uma pessoa boa e gostava muito do pai. Mas, como mamãe
disse na época: É preciso ser bom para conseguir suportar
isso. Perguntei sobre os maus na época. Ela disse que
pessoas más são fracas, e precisam fazer maldades para se
sentirem fortes perante as outras. E isso dizia muito sobre
Ollie. Ninguém era bom como Ollie.
***
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poderia ter dito a eles antes de nós três nos afastarmos da
forma como aconteceu.
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que elas podem ver os nossos sorrisos e sabem quando não estão
em nós.”
Capítulo V
-Edgard!
-Bem, sim.
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-Bem, eu, com certeza, não gosto deles. Eles são estranhos.
Estão sempre presos em seu próprio mundo. Quase nunca
falam com as pessoas.
-Não pense que são seus amigos por causa disso. Eles não
são amigos de ninguém. Nem sei o que eles querem.
-Não acho que eles sejam assim porque querem. Mas tudo
bem então.
***
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assunto não sendo tão agradável. É sempre bom ter uma
companhia para o café da tarde.
-Então explique.
-Porque?
-Certo.
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Colocou-a de volta. Em seguida, aproximou-se do homem.
Se abraçaram. Eu ainda não sabia, mas aquele homem tinha
grande importância na vida do Coruja. Importância essa
que estava além dos Máscaras. Colocou a máscara em
seguida e deixou lentamente o local, enquanto o homem
tomava mais uma xícara do café quente.
***
Mas não olhou para mim e nem falou com outras pessoas.
Cada vez mais eu via o comportamento dos máscaras como
fechado e restrito ao seu próprio grupo. Até então, somente
Coruja e Rouxinol tinham conversado comigo naquela
semana, mas, mesmo assim, por poucos minutos no
máximo e cada um por sua razão. Coruja somente para me
defender de Robin, e Rouxinol aparentemente estava
quebrando o que parecia ser uma regra deles. Mas, até onde
eu via, nenhum aluno se questionava a respeito. Deviam
pensar a mesma coisa que Edgard pensava. Que são
estranhos e que não é seguro se aproximar deles. Se bem
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que o tom de voz de Edgard naquele dia mostrava um
medo muito mais real do que o de quem nunca nem se
aproximou deles.
-Ah, então é por isso que está aqui hoje? - Perguntou ele.
-Claro.
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-Oh, entendo. Adultos são sempre muito ocupados, sabe,
Jules? Mas, fico feliz que ainda assim seu pai tenha tirado
uns minutos para me escrever, seja lá o que for que precise
me avisar. Obrigado!
-Ele disse?
-C-certo.
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-Eu vou estar vendo você! - Disse isso e tomou outro
corredor.
***
Ollie,
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Estou lendo o livro que me mandou e fico muito feliz que tenha se
lembrado de mim ao encontrar os livros do seu pai. Também sinto
falta dele. Era um homem bom e gentil. Teve sorte de ter um pai
como ele. Espero que Deus o tenha consigo nesse momento.
Bem, devo lhe falar como as coisas tem acontecido por aqui. Essa
coisa estranha sobre os máscaras continua a me incomodar.
Depois de Coruja ter me defendido de Robin, outra pessoa veio
falar comigo. Dessa vez foi uma garota. E era bonita. De alguma
forma sei que era bonita, apesar de não ter visto seu rosto. Mas o
mais estranho é que ela não deveria ter falado comigo. Os
máscaras não falam com ninguém além dos adultos e do próprio
grupo deles. Era como se ela estivesse se arriscando. Mas, assim
como o Coruja, não conversamos novamente depois disso.
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rebeldia esconde uma dor. Talvez a mesma que a máscara
escondia. Acho que muito ainda vai acontecer sobre isso.
Jules.
Capítulo VI
-Você...
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Sentou-se no sofá, deixando o corpo cair com certa força.
Marca da frustração que sentia. Olhou no fundo dos olhos
de Lobo, com quem falava até então.
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-Vai para o inferno! - Desconversou.
***
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***
***
***
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No dia seguinte, chegou a resposta de Ollie para a minha
última carta. Curiosamente, dessa vez, ele a escreveu na
máquina de escrever do pai, e não mais de seu próprio
punho, sinal do quanto a máquina de escrever tinha se
tornado importante para ele e parte dos seus dias. Eu a
encontrei na caixa do correio ao chegar em casa do colégio
naquele dia.
Jules,
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E, eu sei que, no fundo, foi por isso que meu pai deixou a máquina
de escrever conosco quando se foi. Porque sabia que eu ia passar
por isso. Acho que você pode entender o que quero dizer. E
sinceramente, com tudo isso, acho que estou me compreendendo
melhor e até gostando um pouquinho mais de mim.
Da minha parte, não deixarei que estas cartas se percam. Sei que
você também não. Estou escrevendo como um louco nos últimos
dias e sei que sempre vai haver um momento e um pouco de tinta
no armário para responder ao que me manda. E Jules, muito
obrigado, de verdade, por entender tudo o que vem se passando
comigo desde que perdi meu pai e você foi embora. Isso tudo tem
sido muito importante para mim.
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Agradeço pelas orações e prometo fazer o mesmo. Até breve,
irmãosinho!
Oliver.
-Sim.
-Acha que ele sabia, papai? Acha que ele sabia que ia
morrer e por isso viajou?
-Eu não sei. Eugene não gostava de falar muito de sua vida
pessoal nesse sentido. Não gostava que as pessoas se
preocupassem com ele, sabe? Se sentia alguma dor ou
estava se sentindo mal, nunca dizia a ninguém. A não ser é
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claro que estivesse morrendo. Se tivesse uma doença
terminal, sei que não diria a ninguém no escritório, mas não
sei se esconderia isso de sua família. Quem sabe? Para nós
ele também disse que viajaria a negócios, mas negócios
pessoais.
Levantou-se, em seguida.
Capítulo VII
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conhecido o Coruja. Até então, ele nunca teria voltado a
falar comigo, salvo quando mandou que eu me afastasse.
***
-Essa situação ficará sob seu controle. Não quero nem ter
razões para pensar que terei de lidar com isso, porque se eu
tiver, você sabe. Esse erro pode se tornar ainda maior que o
primeiro.
-Certo.
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Coruja se levantou em seguida, para deixar a sala. Mas
dessa vez, o homem caminhou até ele, ainda observando-o
em seus olhos. De impulso, lhe deu um tapa que o fez cair
com força sobre o assoalho. Ele levou alguns segundos para
voltar a si.
***
Oliver
Tem sido uma terapia te contar sobre tudo o que tem acontecido
conosco aqui no colégio, e confesso que tem me feito me sentir
melhor escrever para você e isso tem me ajudado muito a me
adaptar a esse lugar.
A surpresa que você disse, sobre os Máscaras, que viria, ainda não
veio. Não sei o que está pensando sobre eles, mas isso tudo parece
ser bem mais complicado do que realmente parece. Existe alguma
coisa muito estranha sobre eles e quanto mais me aproximo, mas
estranho tudo isso parece ser. Mas tenho pensado cada vez menos
nisso desde que se afastaram. Não são questões minhas, então não
tem porque continuar pensando.
Estive conversando com papai sobre o seu pai, sobre tudo o que
aconteceu com ele. Deve lembrar que trabalhavam juntos. Bem,
ele falou sobre o seu pai e disse que era muito reservado e nunca
falava quando se sentia mau ou estava doente, e preferia suportar
tudo sozinho a pedir ajuda para as pessoas. Então, foi por isso que
ele deixou vocês, não é? Porque sabia que estava gravemente
doente e não queria que você e sua mãe sofressem, não é?
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Até um dia, irmão.
Jules.
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-Jules, quero que entenda, pelo que lhe é mais importante,
que, independente do que vai acontecer agora, não deve
contar a ninguém o que vai ver. Você entendeu?
-Certo.
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-E-eu não sei! Vocês não conversam com ninguém, só falam
entre vocês, sempre parecem esconder alguma coisa, e
nunca vemos vocês fora da escola! Vocês são as pessoas
mais estranhas que já vi e eu quero ir embora! - Disparei,
perturbado com aquilo.
-C-coruja?
-O-o que?
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na verdade, na verdade mesmo, essa não é a única coisa que
pareceu mudar.
-Aldri...
-Coruja.
-Certo.
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-Hoje não. Não estou nos meus melhores dias. As vezes um
homem tem que se debruçar no café para não cair.
-Aconteceu algo?
-Porque?
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Me calei. Não tinha nada que eu pudesse dizer a esse
respeito. Gostava muito do Aldrich e era horrível ter que
vê-lo abatido daquela forma. O sentimento que surgiu em
mim diante daquelas palavras era de impotência.
Puramente impotência.
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de abertura para luz natural, o tempo parecia não passar
quando estávamos ali. Havia livros de todos os tipos, desde
“Os Miseráveis” até um exemplar de “Culinária com
Cenouras”, dando a entender que era mais que uma
biblioteca de colégio. Era como se fosse a biblioteca de
alguém.
-Ei, Al...
-Sim?
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-Ainda não me contou sobre isso. Sobre porque usa essa
máscara.
***
-Mãe, cheguei...
Antes de mais nada, também senti falta das suas cartas, mas
desde o começo imaginei que tivesse um motivo realmente bom
para não estar escrevendo. Bem, tudo bem.
Alias, sobre ele, espero não estar colocando um grande peso sobre
seus ombros com esse livro, mas estou escrevendo coisas
importantes aqui. Coisas que estão presas dentro de mim há
muitos anos, e que não confiaria a outra pessoa para que
compreendesse. Sei que você pode entender isso.
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mãe para que lesse para você dormir. Espero que eles sejam bem
cuidados daqui para a frente.
E eu, agora, tenho que sair do meu mundo dentro das paredes do
meu quarto e fazer qualquer coisa lá fora. Minha mãe tem
insistido bastante com isso depois que percebemos que perdi
alguns quilos. Mas praticamente não tenho mais vontade de fazer
nada lá fora, e depois que você se foi, também não tenho ninguém
para ver. Mas bem, agora se trata da minha saúde. Vou dar uma
volta por aí.
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melhor depois de ler elas. Bem, dessa vez, estava feliz
também pelos livros da vovó Troodle. Lembro-me com
clareza das coisas que Oliver me contou em sua carta sobre
quando éramos mais novos sobre os livros da vovó. São
realmente uma nostalgia a parte.
Mas ele havia dito naquela época. Era sobre sua relação
com seu pai. Acho que o pai dele não gostava dele. Mas não
consigo entender o porque. Não conseguia encontrar um
motivo para que alguém não gostasse dele. Pensando bem,
não conseguia sequer encontrar um motivo para que ele
tivesse que usar aquela máscara. Bem, também não havia
um motivo real para que eu usasse, mas ele pediu que eu a
fizesse. Parece que ele precisava disso.
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-Coruja?
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-Parece que não. É aquela questão com a mãe dela
novamente. Também explico em nossa sala. Alias, tenho
que falar com todos vocês. Algumas coisas vão mudar.
-Não, isso não tem a ver com Porco. Isso tem a ver comigo.
E tem a ver com você também, Lobo. Sei que nenhum dos
nossos problemas nesse momento é mais importante que os
seus. E se todos usamos máscaras, penso que, pelo menos
nesse momento, isso precisa servir para ajudar alguém.
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E Hiena realmente se calou, como se tivessem roubado a
sua voz. Nem sequer um dos risinhos que lhe faziam a
fama. Coruja deixou no ar que conhecia sua dor e que
poderia usar contra ele. Seria assim com os outros também?
Será que ele também os machucaria para fugir? Eu
lembraria de perguntar mais tarde.
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o que ele passa. Então, espero que possamos contar com
você no que vamos fazer.
-Coruja...
-Claro!
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Capítulo IX
-Eu nunca vou ser como ela! Ela... Ela era uma estrela. Mas
eu não posso.
-Olha, por menos que pareça, eu amo você, assim como sua
mãe te amava! - Com um sorriso de compaixão. - Estamos
suportando isso juntas, você sabe!
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-Não fale como se entendesse. - Respondeu, seca,
rejeitando-a.
***
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Aldrich retirou a própria máscara, deixando-os ver seus
cabelos loiros. Por sinal, um loiro envelhecido que em toda
a vida só me lembro de ver em seus cabelos. Fiz o mesmo.
Todos se sentaram, menos Aldrich e Lobo, ele nos olhava
em tom sério.
***
78
somente uma pessoa com quem gostaria de expor o que
sentia naquele momento.
Oliver,
As coisas tem sido bem difíceis por aqui. Há tanta coisa aqui
dentro e nem sei por onde começar. Estou começando a entender
os máscaras agora, e, para ser sincero, há muito mais dor do que
eu esperava envolvida nisso tudo. Bem, eu me tornei um deles.
Fui convidado a isso. Não entendo porque eu posso ser um, mas,
Aldrich me quer por perto. Me deram uma máscara, com o
símbolo de um porco. E passei a andar com eles. Ainda não sei
quem são eles. Digo, além de coruja.
Acho que já lhe falei sobre Aldrich em outra carta. Ele é o líder
dos máscaras, e é a pessoa sobre quem tenho mais curiosidade
entre eles. Tem uma voz muito bonita e suave, mas é bem sério, e
vejo que se preocupa com os outros meninos do grupo. Realmente
gosta deles e conhece suas dores. E, ele tem a sua idade.
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enfrentava há anos, e agora, em poucas semanas, a doença
finalmente vai terminar de consumir o seu corpo e mata-lo. E eu,
eu não sei o que pensar. Eu o vi triste. Vi falar das coisas que
queria fazer antes de morrer e talvez não pudesse. Vi ele chorar
sobre os ombros de Aldrich. E, bem, não estou nem perto de
entender sua dor. Mas, agora eu tenho alguma ideia de porque ele
usava aquela máscara. Vi algo profundo em seus olhos naquela
hora. Algo que não sei explicar. Não sei um nome que posso dar
aquilo. Só sei que, naquele momento, acho que pude sentir uma
pequena fração de sua dor. Mas também, um forte sentimento de
inutilidade. De vê-lo sofrer e não poder fazer nada para ajuda-lo.
Bem, talvez você saiba me dizer alguma coisa sobre, para que eu
possa me sentir um pouco menos perdido sobre isso.
Eu quero muito voltar a ver você um dia. Mas quero vê-lo bem.
Quero vê-lo feliz e sorrindo, e quando abraça-lo, quero que esteja
forte, pois vou usar o máximo de minhas forças. Além disso,
vamos ter muito a fazer juntos para recuperar o tempo perdido,
então quero que esteja bem!
80
Até um dia, irmão!
Jules.
***
-Bem, Lobo não está mais entre nós. Por enquanto, quero
visita-lo bastante e gostaria que viesse comigo algumas
vezes. Principalmente amanhã. Quero fazer algo por ele.
Mas, ele não é mais um máscara. E acho justo que seja você
a sucedê-lo. Pegue.
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Estendeu-me a máscara dele. Foi então que tive essa reação.
Talvez um pouco alterada até para mim, mas não podia
aceitar aquilo.
-Ele não precisa morrer. É o que fazemos aqui. Você não foi
o primeiro porco. Ele ainda está vivo. Apenas terminou
seus estudos e foi embora. Olha, Jules, os Máscaras é algo
que já existe há alguns anos neste colégio. Eu estou aqui há
alguns anos, mas também não fui o primeiro Coruja. É uma
história longa.
-Eu sei disso, mas... Quero que essa máscara fique com o
Lobo, pelo menos até ele... Até ele não estar mais entre nós.
Depois disso, eu prometo que assumo sua máscara. Farei o
possível para tentar mante-lo vivo entre nós, mas... Agora
não, por favor, entenda!
-Obrigado, Al!
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-Pode vir comigo a casa do Adam hoje a noite? Telefonei
ontem aos pais dele. Mas, vamos fazer uma coisa proibida.
Lembra do que ele disse que queria fazer antes de ir?
-O que?
Capítulo X
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-Li sua correspondência. Sua família tem uma história
muito bonita. Uma linhagem tradicional do interior, a
grande maioria dos homens dela tornaram-se alfaiates ou
sapateiros. Uma família de comerciantes, de todo o modo.
Mas o senhor não quis isso. Achei realmente interessante o
que me disse, por isso pedi que viesse.
-Mas...
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-Oliver. É um bom garoto e realmente gostava de Jules.
Sempre o tratou bem e ensinou muitas coisas boas a ele,
como xadrez, e a pescar.
-Bem, lhe escrevi porque não tinha tempo de vir. Mas Jules..
Jules é uma criança extremamente tímida e com problemas
para se adaptar a novas situações. E esta é a primeira vez
em sua vida que temos de mudar de casa para um novo
lugar. Além disso, posso perceber como a ausência de
Oliver está tendo um impacto nele.
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-Desse mais atenção a essa necessidade. Compreendesse o
que ele está passando com toda essa mudança tão
repentina. O que lhes peço, resumidamente, é empatia e
paciência. Meu Jules precisa muito disso nesse momento.
-Agradeço!
***
-Mas e você?
-Al...
-Somos.
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coroinha logo na primeira vez que estivemos ali, dias antes.
Rejeitei educadamente.
89
Imerso nas flores do jardim, fui tirado a força pelo chamado
de Aldrich. Uma empregada no portão aguardava que
entrássemos.
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Aquela conversa no portão foi bastante pesada e intensa
para mim. Aldrich, somente dois anos mais velho que eu,
falava com a sabedoria e a maturidade de um ancião, ou
talvez mais que isso. Mas, para mim, essa era uma conversa
da qual jamais sequer precisei me aproximar.
***
-Lobo... - Murmurei.
91
-Os negócios na capital não podem esperar mesmo para
uma última visita. Paciência. Isso é a vida real. Não posso
mais ter olhos de criança para as coisas.
92
Levantou-se bem lentamente como se os ossos lhe pesassem
mais que o normal. Caminhou lentamente até nós. Parou,
bem perto, diante de Aldrich.
-Isso tudo tem sido demais para o Jules lidar. Sempre teve
uma vida muito pacata e tranquila na outra cidade. Nunca
teve nenhum trauma ou dor que tornasse seu coração duro
como o nosso. Então, ainda não consegue entender.
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-Oh, sim! - Sorriu Aldrich. - Você disse que queria provar o
Whisky que nossos pais gostam tanto, pois bem, acho que
você tem esse direito!
***
94
-E-eu não acredito que estou mesmo fazendo isso! -
Murmurou.
95
Capítulo XI
Jules,
96
a vida. Não acho que esteja triste. Mas é difícil para ele entender a
morte como o fenômeno natural que é, sobretudo quando está tão
perto. Ele deve ter piorado desde que me escreveu. O que posso
dizer é que deve fazer o que puder por ele até que ele se vá. No
mais, só podemos esperar pelo melhor. Tudo estará bem.
E, o nome do que sentiu quando o viu falar das coisas que não
conseguiria fazer, é empatia. É um sentimento muito singelo que
só pessoas especiais conseguem ter umas com as outras. Talvez
por isso eu goste tanto de você.
E, por fim, não quero que se preocupe comigo. Estou bem, agora
estou saindo mais lá fora e estou controlando meu tempo com a
máquina de escrever do meu pai. E também, estou finalmente
chegando perto de terminar aquele livro. Vou envia-lo a você
quando estiver pronto. E quero que guarde. Para sempre.
Oliver.
-Eu posso...
Até então, nunca havia dito não para os meus pais sobre
absolutamente nada, mas, eles não podiam saber sobre os
máscaras e sobre tudo o que estava acontecendo no colégio,
entre mim, Aldrich e os outros. Nem sequer podia saber
que Aldrich existia.
-Anh, não pai. M-mas, você sempre diz para não mexer nas
suas coisas do escritório, que são pessoais. B-bem, isso é
pessoal para mim.
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Mentir talvez funcionasse melhor. Mas eu era daquelas
crianças que simplesmente não sabia como fazer isso. Não
sem ficar claramente óbvio que estava mentido, que dirá
sustentar uma mentira por muito tempo. Então, era melhor
apenas não deixar que ele a lesse.
-Obrigado, papai.
***
Havia chegado o dia que, para ser franco, eu não queria que
chegasse, porque, ainda não tinha ideia de como lidaria
com isso. Uma semana após o enterro de Adam, voltamos
para a sala dos máscaras no horário de aulas. Era o dia em
que as coisas aconteceriam. Aldrich, sem a máscara,
Rouxinal e Hiena presentes.
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-Está tudo bem em fazer isso, certo? – Perguntou Al, em voz
baixa.
-Ele não é como nós. Ele não consegue suportar o peso das
nossas máscaras. Porco não significava mais que uma
brincadeira para ele. Mas a máscara do Lobo tem um preço
a ser carregado consigo. Chorou que nem uma garotinha
naquele funeral, não foi? – Disse Hiena.
-Se não suporta vê-lo morrer, como acha que vai carregar o
peso de sua vida?
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-Que engraçado! – Sorriu Aldrich. – E nostálgico também.
Pensamos a mesma coisa quando você assumiu a máscara
de Hiena.
101
-Ótimo, acho que nos entendemos. – Disse Aldrich. –
Rouxinol, alguma observação?
-Com licença.
102
Ela levantou-se e caminhou até mim. Tirou sua máscara,
causando uma grande surpresa. Tinha longos cabelos
castanhos e olhos verdes. Era realmente muito bonita.
-P-Pagloya...
103
Pagloya. Sou uma garota comum, com liberdade de ter
sonhos e desejos.
***
Hiena correu sem ter muita ideia de onde iria parar. Poderia
ter ido para qualquer lugar. Poderia ter deixado o prédio,
mas hesitou diante da porta, com a mesma apreensão com
que tinha hesitado em tirar a máscara antes. Virou-se para
trás para ir a outro lugar, mas era tarde. Aldrich o encarava
de forma bem séria.
104
-E isso é viver? Estar preso para sempre atrás dessa
máscara?
-Cala a boca.
105
Talvez Hiena até estivesse certo sobre as máscaras. Mas é o
melhor que ele tinha. É o melhor que todos tinham.
-De uma vez por todas, você não vai fazer isso! Não vai nem
pensar nisso! Eu não vou perder nenhum dos máscaras!
106
tempo até ser realmente resolvido, se um dia realmente
fosse.
***
107
desabafar algo realmente complicado. Era sobre seu
falecido pai.
Jules,
Tive que interromper tudo o que estava fazendo para lhe escrever,
porque, nesse momento, você é a única pessoa com quem eu posso
falar sobre isso. Digo, falar sobre tudo, até a última gota, até o
ponto mais profundo de meu âmago. Sei que você saberá ouvir.
Recebi notícias sobre o meu pai. Não foram notícias boas. Não em
contraste com as memórias que tenho dele. Nos ensinando a jogar
xadrez, saindo juntos para comer fora só eu e ele, ou até mesmo
me ensinando a escrever em sua máquina quando eu era mais
novo.
108
vida? Lembro de o meu pai dizer que apreciava a liberdade, e que
as pessoas deveriam saber o que isso realmente significava. Paz e
liberdade. Algo que soa tão bonito pode ser tão ruim?
Enfim, me responda o mais rápido que puder, por favor. Até lá,
não sei quanto tempo consigo fingir que não sei sobre o que houve
com o meu pai, que não sei sobre aquela conversa, que não sei que
ele estava fugindo, e que não sei que meu pai foi injustamente
tirado de mim. Mas farei o que o resto de minha sanidade me
permitir.
Espero que as coisas estejam melhores do seu lado. Boa sorte para
nós. Vejo que estes são tempos muito difíceis para nós dois.
109
Oliver.
***
Uma das coisas que meu pai mais gostou na nova casa, é
que haviam duas garagens separadas ali, uma delas para
um suposto portão dos fundos que devia ter ali há muitos
anos antes. Por isso, ele a transformou em uma pequena
oficina. Ele podia ser um executivo em uma empresa
financeira, mas ainda gostava de trabalhos manuais. Entrei
em sua oficina. Ele serrava um pedaço de madeira com uma
serra.
-Pai?
110
decepciona-lo, então, nunca sabia direito como agir nesses
momentos.
111
-Eu não sei. Não gosto de fazer acusações. Mas da maneira
como deixou a cidade o mais rápido possível e de surpresa,
se ele foi assassinado, acho que ele sabia que isso ia
acontecer mais cedo ou mais tarde. Mas, porque está
perguntando essas coisas?
Capítulo XII
112
tivesse me mostrado seu rosto ou contado sua história.
Aldrich e Hiena também estavam. Hiena bastante quieto
também. Pela primeira vez, eu usava a máscara que Adam
havia deixado para mim em vida.
-Al?
-Sim?
113
-Acho que precisamos mesmo conversar. Digo, eu e você. -
Começou a abotoar novamente a camisa. - Sobre Hiena.
Quero que se afaste dele por um tempo. Isso é sério.
114
-A família dele fugiu para esta cidade. Pagaram por
cirurgias plásticas com doutores que trabalhavam
ilegalmente e documentos falsos, mas no fim das contas,
alguns ainda o reconheciam. Henry é desequilibrado e
tirarem a identidade dele para protege-lo tornou isso pior.
Por isso ele está aqui e usa essa máscara. Ele tornou-se um
garoto comum depois dela e estava bem até agora. Mas
parece que perder o Adam, como posso dizer? Ligou
novamente o botão dentro da cabeça dele. Mas, até o
momento, só nós dois sabemos disso. E até que eu pense no
que fazer, mantenha isso em segredo e não se aproxime
dele. Tudo bem?
115
As coisas com os máscaras naquele momento começavam a
ficar muito mais estranhas do que jamais foram. Mas,
enfim, eu conhecia a todos aqueles que as usavam e os
motivos de as usarem. Menos... Menos Coruja. Ainda não
sabia porque Aldrich usava a máscara de Coruja. E de
repente, era muito estranho que ele confiasse em mim para
saber quem ele e os outros são, mas não para saber o que o
levava a se esconder atrás da máscara. Ainda havia muito a
ser descoberto sobre o que estava acontecendo ali.
Oliver,
Você tinha razão. As coisas por aqui estão tão confusas quanto
tudo o que tem acontecido com você. No fim das contas, as vezes
penso se não estamos ambos sozinhos da maneira que estamos.
116
começar a usar a sua máscara, mantendo-o vivo para o resto do
colégio, e... Ela me beijou. Isso... Isso foi estranho.
Não quero que se preocupe com isso, Ollie. Apesar de tudo, está
tudo bem. E eu sei porque Aldrich levou aquela facada. Porque ele
não queria que eu a levasse. Todas as brigas deles eram no colégio,
mas, de repente, sem razão aparente, resolveu conversar com ele
em sua casa. Ele queria discutir isso longe de mim, porque sabe
que, nesse momento, o problema de Hiena sou eu. É a ideia de eu
estar usando por vontade própria a coisa que ele mais odeia nesse
mundo: A máscara. Em resumo, tenho convicção de que aquela
117
facada era para mim. Aldrich está me protegendo agora, como me
protegeu de Robin quando nos conhecemos. Talvez isso signifique
mais.
Sobre seu pai, quero que me prometa que vai se esforçar para que
seu coração tenha a paz e a liberdade que seu pai sonhou. Isso
incomoda as pessoas, quando não são capazes de entender e menos
ainda de sentir essas coisas, mas o seu pai era diferente. Ele era
um homem admirável que espero que também sejamos um dia. Eu
sei que nunca o chamei assim antes, mas tio Humprey... Era uma
pessoa que tenho muito orgulho de ter conhecido, assim como
você. E você é filho dele, é a coisa mais preciosa que ele tinha. E foi
por isso que ele deixou para você seu segundo maior tesouro: Sua
máquina de escrever. Enquanto você usa-la para produzir coisas
boas e bonitas como ele a fazia, enquanto essa máquina estiver
produzindo sonhos, como sei que fazia nas mãos dele, então ele
estará vivo.
Sei que essas palavras não fazem você se sentir melhor, mas, é o
melhor que posso oferecer nesse momento para ajudar você. Quem
sabe te tirar um sorriso. Sei que seu pai não gostaria que você
abandonasse seu sorriso, e também eu quero vê-lo de novo em seu
rosto. Ollie, você é forte, e seu pai se afastou para resolver seus
problemas em outro lugar porque sabia disso, e sabia que você
ficaria bem sem ele. Hora de fazer jus a essa confiança e começar a
118
viver por ele. E sempre que precisar, escreva. Por favor escreva.
Eu vou sempre estar aqui para você. Do outro lado do papel!
Jules.
119
-Ele não está. - Uma voz séria, também com sua máscara,
acompanhada de um risinho.
-Você...
-N-não.
-Para esse ódio? Não. Isso é algo que eu tenho que resolver
sozinho. Colocar o Aldrich na defensiva, fazer ele saber que
eu não sou fraco foi um bom começo. Ele certamente não
120
vai mais me provocar. Não vai mais fazer parecer que é
melhor que eu.
-Ele nunca fez isso! Ele quer que você entenda que ele esta
tentando salvar você de você mesmo!
-Não é verdade!
-Estou.
-Não posso...
Saí dali. Deixei o lugar sem olhar para trás e sem saber
como terminou. Sabia que teria uma grande surpresa sobre
isso no dia seguinte, mas nem queria imaginar o que
poderia ser. Nem queria imaginar de que mil formas ruins
aquilo poderia acabar. O problema é que, se por um lado o
maior conflito de Hiena naquele momento era a minha
presença ali, também a maior prioridade de Aldrich era me
manter por perto por razões que ainda não entendia bem. O
que claramente fez com que o conflito que já havia entre
122
eles se tornasse maior. Caminhando para casa, tomei uma
decisão para mim mesmo: Era mais do que hora de isso
acabar.
Capítulo XIII
-E-estou?
123
-Jules, se tem algo errado acontecendo, eu preciso que me
diga, e podemos conversar com o diretor Jebediah ou te
colocar em outro colégio, mas por favor, você não precisa
passar por isso sozinho!
-Mãe...
124
O padre disse em um sermão que um dos maiores pecados
que se pode cometer é mentir para seu pai ou sua mãe. E eu
imagino que pior do que isso seja mentir sobre algo tão
importante e sério. Mas, naquele momento, não havia
nenhuma decisão “certa” a se tomar, além do que já estava
disposto a fazer.
-Pelo menos deve tomar um chá que vou fazer para você,
tudo bem?
-C-certo. Desculpe.
-O que?
***
126
-Eu precisava? Você é o líder da geração atual dos máscaras.
Devia saber quem eles são e o que acontece entre eles.
Robin, não é? Está nublando sua cabeça de novo, não é?
-É isso que quer saber? Bem, tem, tem sim. Isso tudo foi
sobre Robin, foi para protegê-lo de si mesmo. Mais que isso,
foi para trazê-lo de volta.
127
-Para você? - Questionou Henry.
-Para nós. Vocês estão certos, Jules nunca devia ter sido um
de nós. Mas Robin sim. Vocês sabem sobre ele. Mas ele não
pode voltar, não com a revolta que possui dentro de si.
Quando senti que ele faria de Jules seu novo alvo, imaginei
que essa era uma boa maneira de trazê-lo para perto de nós
de novo. Como eu te disse, preciso de tempo para que isso
aconteça, e aí, enfim a máscara de Lobo encontrará seu
herdeiro real!
***
129
-Não sou mais um deles! - Respondi. - Você estava certo,
eles são encrenca! Uma enorme encrenca na qual não quero
nem suporto mais estar envolvido!
-Porque recusou?
-E-eu não vou mudar. O-olha, quanto mais você chega perto
deles mais assustadores eles são, e ao mesmo tempo, mais
você os compreende. Bem, menos o Coruja. Ele nunca
pareceu assustador para mim. Mas eu não fui feito para
isso. Digo, para ser um deles. Está tudo bem, Edgard.
Finalmente está tudo bem.
130
Edgard me deu as costas sem nem mesmo apertar minha
mão. Fiquei ali por um tempo observando-o ficar cada vez
menor aos meus olhos e em seguida sumir no horizonte.
Então, me voltei para a carta. Caminhando de volta para
casa até subir as escadas e voltar em silêncio para o meu
quarto, fiquei olhando para o envelope. O endereço de
Oliver, na mesma rua de minha antiga casa. O selo com um
desenho qualquer. Tudo remetendo a melancolia da
distância.
-Ollie...
131
Jules,
Eu sinto muito pelo Adam. Espero que ele realmente esteja melhor
onde está. Mas posso imaginar a tempestade que está havendo em
cada um de vocês em função do luto. Digo, os máscaras. Estão
passando por momentos muito difíceis sem ele. É difícil entender,
mas parece que ele é que mantinha firmes os alicerces dos
Máscaras. Acho que Rouxinol gostava dele também. Um
pouquinho mais do que talvez você entenda agora.
Sobre Hiena, reforço o que Aldrich disse: Ele está certo em não
querer que você fique perto desse garoto, e também não quero que
fique. Não sei o que faria se encontrasse você severamente
machucado como aconteceu com Aldrich. E seja como for, o
problema de Hiena não é você, mesmo que ele pense assim. E,
bem, acho que devo agradecer ao Aldrich por proteger você, agora
que não posso mais fazer isso.
132
“comunistas” fizeram de errado, mas, meu pai não era um deles.
Digo, ele me contaria se fosse, não é? Ela disse que tem a ver com
uma guerra que está acontecendo bem longe daqui. Bem, mas isso
não importa mais. Estou feliz, porque, eu finalmente sei toda a
verdade sobre a morte do meu pai. Eu finalmente entendo. Seu
discurso sobre Paz e Liberdade deu início a essa conversa de que
ele tinha se posicionado sobre essa guerra. Mas ele não queria o
mal de ninguém, eu sei disso!
Bem, minha mãe acha que ele sabia que seria atacado por essas
pessoas e fugiu para minha mãe e eu não sofrermos o mesmo. Vida
e liberdade não tem a ver com “comunismo”, seja lá o que isso for.
Tem a ver com ser puro, correto, gostar das pessoas e ser livre. Foi
isso que ele me ensinou, e nada sobre essas coisas de política e
guerra. Enfim, estou ainda tentando entender toda essa história,
mas estou bem. Ou pelo menos vou ficar.
Olliver.
***
-O que está...?
134
-Vai embora, Jules, por favor! Eu ainda não terminei nada
disso! Eu preciso de tempo!
-Ok, tudo bem, deixe o garoto ficar. - Uma pessoa que não
tinha visto ali se aproxima. - Eu voltei agora da minha
viagem, ainda não sei muito bem quem você é, mas lembro
quando vi você chegar. Como está? - Num tom simpático.
-E-eu não sei! Vocês não conversam com ninguém, só falam entre
vocês, sempre parecem esconder alguma coisa, e nunca vemos
vocês fora da escola! Vocês são as pessoas mais estranhas que já vi
e eu quero ir embora! - Disparei, perturbado com aquilo.
-Calma, tudo bem, tudo bem! - Disse Coruja. Agora com a mesma
voz tranquila que tinha quando o conheci.
Em seguida, fez a última coisa que eu esperava que fosse fazer. Ele
tirou sua máscara. Era um garoto magro com cabelos loiros, mas
um loiro envelhecido, numa cor que lembrava capim seco, mas
que por alguma razão ficava muito bem nele, e eram um pouco
longos indo até os ombros. A pele era pálida e os olhos eram de um
azul muito claro e ao mesmo tempo profundo. Era um rapaz
realmente bonito como sua voz sugeria.
-C-coruja?
136
muitos de nós me seguiram e também falaram com você cada um
por sua razão. E eu meditei muito sobre o que fazer a respeito.
-Nós somos como você. E vamos quebrar mais uma regra agora,
mas creio que é o melhor a se fazer sobre isso no momento. Jules,
temos uma coisa para você. Hiena, por favor.
-O-o que?
-Estou atrasado?
138
-Me diverti muito. Estudei bastante também. Meu francês
evoluiu bastante, mostro a vocês dois mais tarde. Bem,
parece que nosso Jules aqui não se deu muito bem com todo
mundo!
139
que eu poderia fazer sozinho, então apenas obedeci. Corri
pelos corredores para fora da escola. Mas, alguém me
esperava.
-Jules...
-Desculpe.
-Ana...
-Não é para mim que tem que dizer isso. É ao nosso senhor.
O senhor e líder maior dos máscaras. O homem que criou
isso.
***
141
Caminhou devagar pelo corredor. Rose em seu caminho. O
mesmo sorriso de moça bonita e bem feita de sempre. Este,
impossível de ignorar para ele.
-O que?
-Aqueles garotos.
-Desculpa, Rose, mas não dá! Ter que se esconder para ser
respeitado é um preço muito alto! Desculpe se eu estou
142
sendo infantil ou emocional demais, mas cada vez que vejo
uma daquelas crianças quero tirar as máscaras delas e
quebra-las contra o chão e gritar que estão livres!
-Está ouvindo? Achei que não tivesse mais nada para lá,
além da rua.
143
-Howard, por favor, eu também não sei o que está
acontecendo, mas temos trabalho a fazer. Tem crianças te
esperando!
-Certo...
***
-Aldrich! - Gritei.
-Vocês...
144
limite. Nós o veremos em melhor estado nas próximas
horas. - Disse Esquilo.
-Sou eu.
145
aqui. Bem, talvez pelo fato de que você não devia estar
entre nós.
-Sim, senhor!
146
***
-J-jebediah?
-O-o que?
147
Aldrich me deu um espelho. Eu não sentia absolutamente
nada no rosto, mas, quando me olhei, um pequeno curativo
estava na minha bochecha.
Foi assim que tudo isso começou e prosseguiu. Não muito tempo
depois teve a ideia de criar a sala dos máscaras. Um lugar onde os
máscaras pudessem se reunir e conversar entre eles antes das
aulas. Um pátio próprio deles. Pessoas que se entendem. Meu pai
sabia que isso ainda não as fazia felizes. Mas de alguma forma as
ajudava. Convenceu seus amigos professores e educadores na
capital a apoiar a sua medida, de forma que ela fosse aceita pelo
estado. Mas, para eles, meu pai apenas oferecia as máscaras. Eles
sabem menos que você ou que qualquer um sobre o que acontece
aqui.
150
gostado muito de mim. O ponto é que, foi aí que começou minha
guerra com o meu pai. Ele não me aceita, não me entende e não
me quer como eu sou. E por isso ele me colocou como um máscara:
Como uma punição pelo que não escolhi ser.
151
Gosto muito de Robin, mas não exatamente como você gosta do
seu amigo Olliver. É um pouco diferente. Bem, ele era um cara
legal, apesar disso. Mas, quando passei a usar a máscara, como
você bem sabe, Aldrich desapareceu da escola e não foi mais visto
por anos até hoje, sendo substituído pelo Coruja. Mas ele nunca
soube que eu ainda estava por perto. E desde que seu amigo
Aldrich desapareceu, algo mexeu com sua cabeça, e ele foi se
tornando o valentão que você conheceu.
Então, eu tinha que dar um jeito de afastar você de nós, por ordem
de meu pai. Foi quando eu tive uma ideia. Eu podia fazer você se
juntar a nós e perceber o que somos. Não demoraria até saber toda
a dor e amargura que nos une, e então, sem saber lidar com isso,
pediria para ir embora. Quando Adam morreu e lhe pedi para
assumir sua máscara, achei que desistiria de nós naquele exato
momento, mas não o fez. Eu pedi mais tempo ao meu pai para te
fazer desistir, mas ele resolveu agir. Colocou veneno no meu café.
152
Algo para que eu apagasse a tarde toda e não pudesse interferir
quando tentassem machucar você. Tentei tomar o máximo de café
para atrasar o efeito e minha cabeça continuar funcionando, mas
você sabe o que aconteceu.
Capítulo XIV
-Seja lá como for, agora ele é, e ele tem que ser parado, para
o bem dessas crianças, mas nós precisamos de provas. Para
conseguir isso preciso de informação. Você precisa ajudar.
-Rose...
***
156
-Ele ia finalmente se tornar um de nós. Finalmente ia ter
uma razão para se esconder atrás de uma máscara. Não
teria mais a vida perfeitinha que sempre teve. Seria legítimo
que fosse um de nós. E você sabia que isso ia acontecer. Eu
disse que esse era o preço desde o início e você sabe que é
justificável. Esse garoto nos colocou numa situação
desesperadora, e isso pede uma medida desesperada. Bem,
acho que foi o suficiente.
157
-As suas decisões é que trazem coisas boas para nós, certo,
senhor Waldor? Felizmente, Howard não tem provas, e
Rose ficou assustada demais para fazer qualquer coisa.
***
Ollie,
Acho que nunca fui o mais seguro de nós. Sempre fui o mais
medroso, o mais inseguro, o que sempre achava que as coisas iam
dar errado. Em todo esse tempo que vivemos como irmãos, eu
nunca fui o garoto que tinha ideias e que nos metia em encrencas,
nunca fui o “mestre” nas brincadeiras e você sabe, nunca fizemos
nada que fosse minha ideia. Não sou esse tipo de pessoa, não
consigo ser.
Tem acontecido tantas coisas aqui que tenho me sentido cada vez
mais afundado nesse buraco e não sei como sair. Ollie, me
prometa que não vai se preocupar, mas, as coisas começaram a dar
ainda mais errado.
159
Tentei devolver a máscara e dizer a eles que não queria mais
aquilo, juro que tentei. Mas parece que não querem mais que eu
saia. Ou querem, nem eu entendi direito. Tentaram machucar o
meu rosto para eu ter um motivo para estar entre eles. Tentaram
me punir por tudo ter começado. Me desacordaram e desmaiei.
Quando vi, estava com Aldrich na enfermaria e tinha curativos
em mim. Ele disse que um professor foi parar ali por acidente e me
salvou antes que algo ruim me acontecesse, mas, isso ainda não
me faz acreditar que acabou: Foi o diretor do colégio, senhor
Jebediah, quem estava liderando tudo aquilo.
160
Um erro maior do que posso corrigir. E não sei quanto tempo
mais aguento não dizer nada aos meus pais.
Sobre o seu pai, também sinto falta dele. Era um bom homem.
Sinto muito que tenha sido confundido com esses tais
“comunistas”. Também não sei quem são ou o que querem, ou
porque essa guerra está acontecendo e nem importa. Sei que seu
pai está feliz onde está e agora você precisa ser feliz também.
Jules.
***
-Estou. Não quero falar sobre isso. Aquele dia acabou. Para
nós dois. Agora você se afastou e tudo está em seu lugar.
Pare de falar conosco!
163
sobre o que aconteceu aquele dia. Eu estou desapontada
comigo mesma e com ele por isso.
-Eu também estou com medo, mas, eu ainda não disse nada
aos meus pais.
164
menos eu espero que não. Além disso, quantos deles e quais
não se tornaram como Jebediah?
***
165
Nas mãos de meu pai, as cartas que Olliver e eu trocamos
desde que minha família e eu chegamos na cidade. O olhar
visivelmente irritado atrás dos óculos.
-Já basta! Não vai mais enviar nada ao Oliver! Isso já foi
longe demais! Você tem agido estranho desde que chegou,
Jules! Estava saindo mais cedo para a escola todos os dias,
deixou de assistir algumas aulas, Jules...
166
você, precisa se adaptar a essa cidade e fazer novos amigos
aqui sozinho também!
-O que?
Capítulo XV
-Pai... - Me aproximei.
168
-Eu queria muito ter inventado tudo isso, mas isso
realmente aconteceu. Você queria saber porque eu estava
indo mais cedo para a escola e porque estava agindo
estranho. Bem, é por isso. É por tudo isso. E você sabe que
os máscaras existem, você já os viu.
-Jules...
-Jules...
-Com licensa.
***
170
-Já faz alguns dias que o Jebediah não vem ao colégio. Ele
esqueceu que é o diretor dessa escola? - Hiena.
-As coisas também tem sido difíceis para ele. Ele conseguiu
afastar o professor Howard para a capital, acho que ele não
vai mais voltar. A professora Rose já pediu demissão. Ele
precisa decidir agora como a escola vai continuar. Mas de
algum jeito vai. - Aldrich, na outra poltrona.
-Eu já disse, fale por você. Você não sabe nada sobre como
meu pai e eu temos brigado e nem sabe nada sobre metade
dos nossos problemas. Ou melhor: Guarde suas palavras
para você!
-Eu acho que não deveria haver espaço para brigas quando
estamos todos juntos aqui! - Interviu Esquilo, em tom de
repreensão.
***
Jules,
174
diversas situações. Alias, não chame isso de coragem ou
segurança. Eu era imprudente, como qualquer criança. Acho que
era você que mantinha minha cabeça no lugar quando baixava os
olhos e murmurava que achava que aquilo não daria certo.
Felizmente nunca nos machucamos.
Bem, você disse muitas coisas que não é. Mas me deixe dizer
algumas coisas que você é. Você é bom, acredita nas coisas certas e
é sempre honesto. Você ainda é novo mas acredita em viver em um
mundo pleno e feliz. E espero que nunca perca isso. E por fim,
agora você está enfrentando coisas que enlouqueceriam qualquer
pessoa, mas você continua de pé depois de tudo. E sobretudo,
mesmo que eu não possa estar aí para te proteger e (perdoe-me se
isso não parece algo que eu diria) dar um bom soco na cara desses
idiotas, Henry e Esquilo, para nunca mais se aproximarem de
você, você continua de pé. E isso é admirável. É a conduta de um
homem.
Por falar nisso, diga a Aldrich que estou muito agradecido que ele
esteja protegendo você. Hei de dizer “obrigado” a ele pessoalmente
um dia. Tem sido muito importante para mim saber que você não
está totalmente sozinho, apesar de eu não poder estar por perto.
Sobre as máscaras, sobre o que elas tem feito com eles, isso me
parece perfeitamente compreensível. Eles fizeram das máscaras
sua zona de conforto, um lugar onde nada do que antes os
machucava poderia fazer isso novamente. Mas nada machuca
175
mais do que não poder ser livre. As máscaras, no fim das contas,
não são tão legais assim, mas, até que se libertem delas e se
aceitem, isso ainda trará muito sofrimento. E me parece que é
desse sofrimento que eles tem medo.
Olliver.
176
Olliver, além de fazer com que eu me sentisse melhor com
suas palavras novamente, como sempre me acontecia ao ler
suas cartas, me disse a mesma coisa que a professora Rose
tinha dito antes: Talvez fosse realmente melhor me afastar
para sempre deles. E agora que meu pai sabia sobre tudo o
que estava acontecendo, talvez pudesse deixar a escola
também. Sim, acho que seria um bom fim para essa história.
Seria.
***
Fui atingido por algo muito forte e caí sobre o chão. Meu
lábio começou a sangrar. Virei-me. Várias das crianças do
colégio olhando para mim. E, me encarando com o olhar
mais sério e revoltado que já vira...
-Q-quem?
177
-Aldrich! Alguém me contou que você sabe o que aconteceu
com ele! - Era o Robin novamente.
-Já basta! Não sei que tipo de confusão está havendo, mas
isso vai parar agora! Coruja, Robin e Jules, na minha sala
agora!
***
180
-Eu não suporto mais isso. - Coruja murmurou.
-Tudo bem, Jules. Minha vida tem sido uma mentira por
todos esses anos como você bem sabe. Eu não suporto mais
me esconder e eu não tenho motivo nenhum para fazer isso.
Eu não sou um doente, um deformado, e estou plenamente
bem. Pai, eu renuncio a isso. Não serei mais líder e nem
mesmo serei um dos máscaras. Você pode pensar e fazer o
que quiser a respeito, pode me agredir e até me matar se
quiser. Ainda será melhor que viver essa mentira.
181
fingir que eu estou na capital ou que minha mãe está viva!
Não quando a verdade continua nos atormentando!
-Já chega!
-Sim, senhor.
-Sim, senhor.
182
Obedecemos. Coruja colocou a máscara de volta no
corredor e em seguida olhou para mim.
Capítulo XVI
***
186
-Robin... - Murmurou. - Você acha que ele...
***
-Você se tornou parte disso! É por sua causa que ele não
pode assumir o legado da família! É por sua causa que ele é
a aberração que é! Você destruiu minha família, Packalen, e
eu não vou terminar isso sem vingança!
187
-O senhor é louco!
-Acha que sabe o que é dor? Por sua causa, meu filho tem
que usar aquela máscara! - Pegou disfarçadamente um
maçarico a gás da mesa atrás dele.
-Vão embora!
-Robin não tem nada a ver com isso! Nunca teve! Eu sou
assim! Eu simplesmente sou assim! E se não gosta... É a
mim que devia matar! - Em seguida, pareceu acalmar-se. Só
pareceu.
-Al...
189
maçarico! Não é o que quer? Não é o que queria desde o
começo?
-Acha que não sentirei mais nada por ele porque você o
machucou? Porque deformou o rosto dele? Você é um
idiota, mesmo! É a pior espécie de idiota que existe!
-Enfermaria, não é?
-Você é um louco!
191
***
-Ainda dói?
-Um pouco. Mas o Al... Vai dar tudo certo! Ele não vai
matar o próprio filho! Não pode fazer isso, pode?
-Não tenta bancar o herói. Você não é tudo isso, Jules. Você
não é nada. E isso nem é sobre você. Porque insiste tanto?
Porque está aqui, Jules?
192
-Não vai sair da frente por bem?
-N-não!
-Tudo bem.
-Ele não é o meu pai, nunca agiu como meu pai. E eu... Eu
não tive escolha. Ele não ia parar... Por Deus, ele não ia
parar! - As lágrimas começaram a correr o seu rosto aos
montes. - Porque alguém tinha que morrer, droga?
***
194
certo chamou a atenção da vizinhança que, talvez por
algum tipo de precaução, chamou a polícia.
195
e os velhos livros da vovó. Nos vimos poucas vezes depois
disso. Mas começamos a trocar cartas também.
196
contas, ele se foi feliz. Não haviam mais angústias mal
resolvidas para ele.
***
FIM.
198
Maciel T nasceu em 1992. Escreve desde os 11 anos. Atualmente é
professor e educador, sendo formado em Pedagogia pela Unesp e
ser atualmente mestrando em Educação Sexual pela mesma
universidade. Gosta muito de crianças e pré-adolescentes,
sobretudo seus alunos, e gosta mais de escrever para esse público.
199