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APRESENTAÇÃO

No primeiro volume do livro Atração Irresistível, Jackeline e Rui


iniciam um relacionamento sério.
Jackeline descobre que tem uma doença grave no útero, que
poderá impedi-la de ter filhos. Desesperada, e sem o consentimento
de Rui, ela decide parar com seus anticoncepcionais e começa uma
busca frenética pela tão sonhada gravidez.
Em um jantar promovido para o primeiro encontro entre as
famílias, Jackeline passa mal, é levada às pressas para um hospital
e, depois de diversos exames, descobre-se que ela está grávida.
A noticia cai como uma bomba, principalmente para Rui, que
sempre fugiu de relacionamentos sérios, e mais ainda de ter filhos.
Sentindo-se magoado por ter sido enganado por Jackeline, Rui
rompe o relacionamento entre eles. Jackeline volta para a casa de
sua mãe, com a esperança de que conseguirá ter seu filho sozinha,
na verdade, com a ajuda de sua mãe.
Mas, nem tudo sai como planejado...
Capítulo 1
JACKELINE
Eu não me lembrava mais o que era passar quase 60 minutos
ouvindo opiniões e conselhos de três idosas, e para piorar, a
respeito do meu destino e do destino de meu filho ou filha
bastardos.
— Eu acho que a Jackeline deveria exigir uma pensão do seu
moço. Ele é bem de vida, pode muito bem sustentar a menina e seu
filho! — Minha tia repete a mesma coisa pela terceira vez.
— Tia, eu já disse que serei mãe solteira. A criança que está na
minha barriga não terá pai, será órfã, olha que bonitinho! — falo com
deboche.
— Aquele salafrario vai me pagar! — vovó diz remoendo o
assunto. — Nenhuma mulher da nossa família teve filho sem um
marido! Será um vexame, Amélia, a nossa Jackeline será motivo de
chacotas das primas, cairá na boca do povo! O prédio inteiro já sabe
de seu caso com o advogado bonitão! — vovó diz inconsolável.
— Vovó, por favor! O que a senhora andou falando para a
vizinhança, ou para minhas primas? Ai, que vergonha! —
Choramingo.
Além dos meus próprios problemas, agora tenho que me
preocupar com os problemas que minha avó me arrumou.
Ai, que saco de vida! — Penso e choro.
Mamãe me consola, alisando meus cabelos.
— Se acalme, Jack! Quem sabe amanhã ele não vem até aqui,
vocês conversam com calma... — Interrompo seu raciocínio
absurdo.
— Eu não quero que ele venha, mãe, nem pintado de ouro! Ele
me ofendeu, me chamou de golpista! — Limpo minhas lágrimas. —
Amanhã mesmo arrumo um emprego, nem se for de faxineira!
— Oh, Jackeline, deixe de ser burra! Ninguém vai querer
contratar uma mulher grávida!
— Mamãe, você me chamou de burra?! — falo indignada. — Era
só o que faltava.
— Me desculpe, Jack, mas você está perdida. Não sei como
sustentaremos essa criança — ela diz apavorada, mas logo fica
altiva novamente, empina o nariz e fala: — Mas daremos um jeito,
posso vender folares, enfim, daremos um jeito, querida! — Ela alisa
minha coxa. — Vamos ter fé, Nossa Senhora proverá o que
precisamos. — Ela se benze.
Finalmente chegamos ao nosso apartamento, me sinto exausta.
Minha mãe abre a porta da sala, sigo para meu antigo quarto,
abro a porta e me surpreendo.
— Onde está a minha cama?
Minha mãe aparece ao meu lado, parece constrangida com a
situação.
— A cama de sua tia estava cheia de cupins e caiu com ela
semana passada, então dei a sua para ela. Desculpe, filha!
— Oh, mãe!
— Nunca imaginei que você voltaria! Ao menos se você tivesse
confiado em mim e falado sobre o bebê...
— Eu não sabia! — Me sento na escrivaninha e olho com
desânimo para meu quarto. — Onde dormirei?
— No meu quarto, amanhã vemos isso! Venha... — Ela me puxa
para seu quarto.
— Espera, onde estão aquelas roupas que deixei aqui? Vou
precisar delas — falo em pânico.
— Eu já dei tudo, filha. Você tinha dito para doar na igreja de
Santa Achiropita...
— Eu não disse isso, mãe! Está louca?
Coloco minha mão em minha testa, não tenho cama, não tenho
roupas... O que faço?
— Mãe, eu não tenho roupas para vestir. Oh, meu Deus, estou
perdida!
— Você tem na casa do Rui, é só buscar. Aproveita e conversa
com ele, faça as pazes... pronto! — Ela diz sem nenhuma sombra
de vergonha na cara.
— Ok, mãe, chega por hoje! Vou tomar um banho e dormir.
Sigo desanimada para o banheiro do meu quarto. Nunca me
imaginei numa situação como essa, mas ainda assim, estou feliz. Eu
vou ter um bebê, e ele será o bebê mais amado do mundo.
Acaricio minha barriga, fecho meus olhos, rezo e agradeço em
silêncio.
Foi um milagre, eu nunca acreditei de fato que eu engravidaria,
foi a bênção mais maravilhosa que já tive em minha vida.
Não deixarei aquele babaca estragar esse momento
maravilhoso.
— Você vale a pena, bebê! — Sorrio ao acariciar minha barriga.
— Eu estou grávida! — Volto a sorrir e chorar.
****
Foi difícil pegar no sono com minha mãe roncando feito uma
motosserra desgovernada.
Apesar do sono e do cansaço, passei horas com os olhos
abertos olhando para o teto do quarto, apenas uma pequena luz
vermelha iluminando o ambiente, dando um ar melancólico ao local.
Sem querer, penso no quarto que dividia com o Rui, em sua
cama, e no quanto era bom dormir abraçadinha a ele.
O seu cheiro está na minha memória, e também a sensação boa
de seus braços.
Uma lágrima escorre pelo meu rosto.
Eu sei que errei, mas daí ele me acusar de golpista, é demais
para mim.
Doeu lá no fundo, na alma.
Preciso dormir, para esquecer tudo isso. Amanhã eu penso em
um jeito de ganhar dinheiro para cuidar do meu bebê, e isso me faz
sorrir de novo.
É estranho, mas maravilhoso.
Estou ferrada até o último fio de cabelo, mas estou feliz!
Finalmente os roncos de minha mãe melhoram, coloco o
travesseiro na cabeça e adormeço.
****
Parece que será normal acordar com o mundo girando ao meu
redor.
Olho no relógio de cabeceira da minha mãe, é cedo demais.
Então continuo na cama, mas um mal-estar me revira do avesso,
me fazendo levantar apressada e quase vomitar no corredor dos
quartos.
Foi o tempo de abrir a porta do meu banheiro e lavar o chão
dele.
Esse deve ser o lado negativo da gravidez, nem tudo é perfeito.
Cubro o chão de papel higiênico, e tento arrumar a bagunça que
fiz.
Apesar de mal, arrumo forças para limpar o banheiro, e
finalmente dormir na poltrona do meu quarto.
Talvez eu passe o resto da madrugada aqui, bem melhor que
ouvir o ronco insuportável de minha mãe.
Apesar da falta de conforto e da dor no corpo, o sono me domina
e durmo toda torta.
Eu até ouvi um barulho lá ao longe, mas o cansaço era tanto que
o som da campainha se juntou ao meu sono, e me embalou. Mas
então, um rangido de porta e aquela voz que me causa arrepios de
medo e de desejo, preenchem meus ouvidos.

— Por que ela está dormindo na poltrona?


— Oh, não sei, Rui! Jackeline! — A voz de minha mãe chega aos
meus ouvidos, suave e insistente.
Abro meus olhos e então eu o vejo, o homem dos meus sonhos
e agora pesadelos.
Ele me olha intensamente, o vão entre os olhos com uma ruga e
uma expressão fria e distante, mas não tenho medo de sua cara
feia.
— O que você está fazendo aqui? — pergunto enquanto me
estico no sofá e faço algumas caras feias, meu corpo dói inteiro.
— Você está bem? — ele pergunta com um ar sério e
preocupado.
Tento manter minha dignidade, estou ridícula vestida em uma
camisola de senhoras e do tamanho de um saco de batatas.
Me sinto ainda pior por ele sabe que estou na merda, não tenho
roupas e nem cama para dormir.
— Estou ótima! — Arrumo meus cabelos e a camisola, que está
embolada em minhas pernas.
Vejo minha mãe saindo de fininho, ela fecha a porta, nos
deixando sozinhos.
— Eu vim te buscar, Jackeline. Você não merece, mas sou um
homem honrado e não vou te abandonar agora que está grávida.
Dou uma gargalhada histérica, e isso faz sua carranca aumentar.
— Deixe de ser ridículo, Rui! — O sorriso se esvai do meu rosto.
— Quem não quer você agora sou eu! Vá embora da minha casa, e
não me procure mais. — Tento ir para o banheiro, mas ele me
segura com firmeza.
— Olha aqui, sua garota folgada! Você não merecia que eu
estivesse aqui, mas eu passei por cima do meu orgulho e estou
dizendo que irei fazer a minha parte, e cuidarei de você e dessa
criança. Então, facilite a minha vida e a sua, se vista e vamos
embora!
Puxo o meu braço, mas não consigo me livrar dele.
— Me solta! Eu não vou a lugar nenhum, aqui é minha casa, e
eu não preciso de suas esmolas! — esbravejo em sua cara.
— Sua casa? — Ele olha ao redor com cinismo. — Você nem
cama tem mais, e olha suas roupas. É assim que pretende se
manter aqui, dormindo em uma poltrona e vestindo roupas de sua
mãe? — Ele dá um de seus sorrisos provocativos.
— Eu não preciso de você, Rui, me solte e vá embora! O bebê é
meu, você não o quer, então não me enche o saco, e me deixe ser
feliz.
Ele me solta, caminha até porta e volta a me olhar.
— Não vou dizer novamente, Jackeline. Se vista e vamos
comigo, não há a menor condição de você ficar aqui.
— Para que você quer que eu volte, você é louco? Sou uma
golpista, não sou? Para que você irá levar uma golpista para morar
em sua casa?
Ele balança a cabeça, parece nervoso, então se aproxima de
mim, me acuando e deixando a distância mínima entre nossas
faces.
— A porra do espermatozoide que te engravidou era meu, o
bebê que você está esperando não é só seu, é meu também. Irei
cuidar de você até que o bebê nasça, depois vemos como fica essa
situação.
Me desespero.
O que ele pensa em fazer, tirar o bebê de mim?
— Como assim? O que você quer dizer com isso?
— Nada! Se vista e venha comigo, você ficará melhor em minha
casa.
De onde vem tanta frieza? Ele fala comigo como se eu fosse
uma indigente que não tem onde ficar.
Como ele quer que eu vá com ele me tratando dessa forma?
Para me maltratar?
Decido acabar com isso.
— Eu não vou, Rui! Por favor, saia do meu quarto e da minha
casa!
Ele me encara, não gosto de sua expressão, um calafrio passa
pela minha espinha, e então, com uma facilidade assustadora, ele
me agarra pelas pernas, me joga em seu ombro e segue para a
porta.
Grito ensandecida.
— Me solta, Rui! — Ele abre a porta e começa a caminhar para a
saída.
— Mãe, socorro! — Bato em suas costas. — Me solta seu...
seu...
Então minha mãe aparece.
— O que está acontecendo aqui? — Apenas ouço sua voz.
— Dona Amélia, não se assuste. Estou levando sua filha deste
modo porque ela não queria ir com suas próprias pernas, mas não
se preocupe, não a tratarei mal.
— Tudo bem, mas cuide bem da minha menina. Ela está grávida,
Rui.
Esmurro suas costas.
— Me solta, seu grosso! — berro histérica.
Tomo um tapa dolorido na bunda.
— Dona Amélia, é só para ela se acalmar, isso não prejudicará o
bebê.
— Oh, claro... — mamãe diz como se tudo fosse normal.
— Que tipo de mãe você é? Peça para esse monstro me soltar!
— falo enfurecida.
— Cuide dela, Rui, mas seja gentil. — A porta do apartamento é
aberta, e ele segue para os elevadores.
— Mãe, você é a pior mãe do mundo! — Começo a chorar.
— Você ficará bem, Jack! Eu confio no Rui! — Ela fecha a porta.
Choro sentida.
— Me coloca no chão! — Sinto minha voz embargar, acabei de
ser escorraçada pela minha mãe, me tornei um problema para todo
mundo.
— Só quando chegar ao carro! — ele diz friamente.
A cena é absurda, ele caminhando comigo como se eu fosse um
saco de batatas, de camisola, descalça e todos nos olhando.
Finalmente ouço o barulho de destravar portas, ele abre a porta
de trás, enfia seu corpo para dentro e me descarta no banco.
Ele me encara desafiador.
— Não tente fugir, Jackeline, nem sua mãe te aguenta mais.
Aproveite a chance que estou te dando e não me provoque! — Ele
fecha a porta em um baque, dá a volta no carro e entra em silêncio
e assim ficamos até chegar à sua casa.
Que inferno minha vida se tornou, meu Deus!
Acordo do meu cochilo, ele abre a porta do passageiro e fala
secamente:
— Você vai sozinha ou preciso te carregar?
Empurro-o com raiva, desço do carro e lembro que estou
descalça.
— Merda! — esbravejo.
Resolvo caminhar assim mesmo, mas ele me pega no colo.
— Esse chão é muito sujo! — ele diz em um sussurro.
Enquanto ele caminha comigo, passo meus braços timidamente
pelo seu pescoço, ele me olha de relance, mas sua expressão é
impassível, fria e distante.
A porta do elevador abre em sua casa, ele me coloca no chão, o
Bóris vem feliz me receber, mas ele me chama enérgico.
— Suba comigo! — seu tom de voz sai áspero.
O acompanho como um autômato. Finalmente chegamos ao
andar de cima, ele para em frente a uma porta e a abre.
— Aqui será o seu quarto. A Josalice já trouxe suas coisas para
cá.
O olho com tristeza. É assim que ele me quer aqui, como uma
hóspede?
— E se eu não quiser ficar? — Ele me olha longamente.
— Você não tem para onde ir, não percebeu que sua mãe se
livrou de tudo que é seu? É aqui que você irá ficar, Jackeline, arque
com as consequências dos seus atos. — Ele passa por mim,
deixando apenas o rastro do seu perfume que tanto adoro.
Passado alguns minutos de entorpecimento, resolvo entrar no
quarto, ou prisão.
Parece que ele arrumou uma aliada poderosa para se vingar de
mim, minha mãe.
Me surpreendo com a delicadeza do ambiente.
Uma colcha de matelassê rosa enfeita a cama, tem um jarro de
flores do campo sobre uma mesinha lateral e um perfume delicado
exala das roupas de cama.
Passo meus dedos pela colcha, e então vejo uma bandeja com
meu café da manhã.
— É uma prisão de primeira classe! — falo para mim mesma.
Tiro a temperatura do bule, ainda está quente, parece até que
ele avisou a Jô que estava chegando com sua prisioneira.
Como não tem muito o que se fazer, resolvo tomar um café da
manhã, e por fim, me deito nos lençóis branquinhos e cheirosos.
Eu sei que nem tudo é perfeito, mas só dele ter me buscado, me
causa certa alegria.
Pode demorar, mas eu sei que ele irá me perdoar.
Sorrio com essa constatação e adormeço.
****
Para meu primeiro dia de prisão até que não está tão ruim.
Finalmente me levanto, sigo para o banheiro, tomo um banho
demorado, admiro minha barriga inexistente, e depois de me trocar,
resolvo descobrir o que o Rui está fazendo.
O procuro pela casa e nada.
Por fim me sento na área externa e tomo um pouco de sol na
companhia do Bóris.
Não vou mentir e dizer que está tudo bem.
Não está, mas preciso me redimir do que fiz, da minha atitude, e
só por isso estou me comportando e esperando com paciência que
ele volte sei lá de onde.
Finalmente meu saco enche e resolvo entrar. Ouço barulho na
cozinha, sigo vagarosamente e então o vejo entretido fazendo uma
salada.
— Oi! Onde você estava?
Ele me olha sobre o ombro.
— No escritório! — ele diz secamente.
Verdade, esse foi o único lugar que não olhei.
— Quer ajuda? — pergunto mansa como um cordeiro.
— Não, estou fazendo meu almoço. Como aqui não é hotel, você
precisa mexer seu traseiro e preparar a sua comida! — O olho com
a boca levemente aberta, incrédula com o que ele disse.
Ele acaba de montar seu prato, pega e segue para a mesa de
jantar.
— Bom apetite, Rui! — falo magoada, giro nos calcanhares e
sigo para as escadas.
— Aqui não é hotel. Se você quiser comer, terá que se virar
sozinha — ele diz antes de eu alcançar as escadas.
— Eu já ouvi, não sou surda! — respondo irritada. — Não estou
com fome.
Chego ao meu quarto, tiro minha roupa e me jogo na cama.
Tiro um cochilo e acordo com um solavanco na porta, olho
assustada e o vejo com uma bandeja nas mãos.
— Essa é a última vez que faço comida para você! — Ele coloca
o prato em cima de um móvel.
Saio dos lençóis e sigo só de calcinha e sutiã até ele.
Sorrio gentil.
— Obrigada, Rui! — Acho que soei provocante demais, será que
minha ninfomaníaca esqueceu o que ele me disse?
Ele não disfarça seu olhar de luxúria em me ver quase nua, eu
sei o que provoco nele e ele em mim.
Estou louca de saudades dele.
A gente se encara por alguns segundos, então ele passa as
mãos pelos cabelos nervosamente.
— Não me agradeça, essa é a última vez! — Ele desvia de mim
e sai batendo a porta com força.
Dou um pulo de susto e olho desanimada para a porta.
Esse castigo será uma penitência.
****
Passei meu dia sozinha em meu quarto, e ele entre a área
externa e seu escritório.
Não trocamos mais nenhuma palavra, resolvi ignorá-lo, assim
como ele está me ignorando.
Finalmente o dia termina, a noite chega e o silêncio
desconfortável começa a me incomodar.
Saio do meu quarto, ouço barulho em seu quarto, me aproximo e
penso em bater, mas por fim, desisto.
Não vou correr atrás dele.
Desço as escadas, pego uma maçã na cozinha e vou espairecer
em uma espreguiçadeira, na área da piscina.
Já de saco cheio de olhar para o céu, decido ir dormir.
Não sei se aguentarei viver aqui com ele assim, me ignorando.
O apartamento está em silêncio, apenas um som de TV vem do
seu quarto.
Caminho delicadamente para o meu quarto, mas então paro em
frente a sua porta.
Não consigo viver como uma múmia, preciso conversar com
alguém.
Bato de leve em sua porta, não ouço nada, então entro.
Ele está deitado em sua cama só de boxer, gostoso demais. Ele
me olha com desdém e volta a olhar para a TV.
— Oi! — falo sem graça.
— Oi! — ele diz sem me olhar.
— Posso ficar um pouco aqui? — Me aproximo da sua cama.
— Não. Aqui é o meu quarto, o seu quarto fica do outro lado do
corredor.
Me sento na sua cama, e o olho insistentemente.
— Não gosto de ficar sozinha. — Aos poucos me deito ao seu
lado.
— Eu não disse que você poderia ficar aqui — ele diz friamente.
Ele consegue ser grosseiro e insensível quando quer.
Começo a me levantar, mas ele me interrompe:
— Pode ficar, Jackeline, mas não pense que está tudo bem entre
nós!
— Eu sei que não está, mesmo porque, não te perdoei por ter
me chamado de golpista! — O olho magoada.
— E nem eu por você ter me enganado! — ele diz com o
semblante sério.
— Ok, então estamos kits! — digo irônica.
Me deito novamente ao seu lado, a cama é bem grande, mas
aos poucos diminuo a distância entre nós, porque o Rui é como uma
droga, quanto mais se experimenta, mais se quer.
Não sei em que momento adormeci, e nem a que horas ele me
levou para o meu quarto.
****
Os primeiros raios de sol iluminam meu quarto através da fresta
da cortina, me fazendo despertar.
Me lembro que é segunda-feira e que preciso trabalhar.
Saio da cama apressada, olho em meu relógio de pulso e fico
feliz ao verificar que não estou muito atrasada.
Tomo banho em um tempo recorde, coloco uma calça social,
uma camisa, escovo meus cabelos, passo batom e sigo com minha
bolsa até a porta do seu quarto, bato e não obtenho resposta, então
entro e o encontro vazio.
Desço apressadamente as escadas e vejo a mesa do café da
manhã posta, e vazia!
Sigo para a cozinha.
— Bom dia! — falo apressada.
— Bom dia, Jackeline! — a Jô diz simpática. — Você está bem?
Será que ela já sabe?
— Estou sim, está tudo bem! E o Rui? — pergunto sem graça.
— Ele já saiu, bem cedo, nem tive tempo de preparar o café da
manhã para ele. Mas ele pediu para preparar seu desjejum, fiz tudo
o que você gosta! — ela diz carinhosamente.
— Obrigada! — Me sento na mesa e começo a tomar meu café.
Antes que eu possa terminar meu desjejum, sinto um embrulho
em meu estômago, uma salivação, saio correndo para o lavabo e
devolvo tudo o que comi.
Um desânimo me abate.
Me recomponho, volto para a sala de jantar e a única coisa que
consigo tomar é um copo de água gelada.
Desisto de comer e pego apenas uma maçã para comer mais
tarde!
****
Cumprimento o meu assistente e subo apressada para minha
sala.
Se o Rui quer me abater com sua indiferença e frieza, ele está
conseguindo.
Arrumo minhas coisas em minha mesa, ligo meu computador e
vejo um e-mail seu.
O abro rapidamente e vejo uma lista de coisas para fazer, em um
e-mail seco e profissional.
Respiro fundo, imprimo a lista e começo meu dia.
O período da manhã passa sem que eu receba uma ligação sua
ou um grito pelo meu nome.
Finalmente a porta de sua sala abre, ele sai, me olha e diz
friamente:
— Estou saindo para almoçar, depois tenho uma audiência, não
volto mais para o escritório! — Sem que eu tenha tempo de
respondê-lo, ele segue para as escadas, me deixando com cara de
idiota.
— Seu idiota arrogante! — xingo-o baixo.
O final do dia chegou, arrumo minhas coisas e sigo desanimada
até o meu carro.
Agora me sinto cansada sempre, deve ser mais um dos efeitos
colaterais da gravidez.
Dirijo até seu prédio, logo estou em seu apartamento, e percebo
pelo silêncio que estou sozinha.
Tomo banho, me deito em minha cama, e percebo com tristeza
que não conseguirei suportar essa situação.
Pego meu celular e ligo para minha mãe.
— Oi, mãe! Tudo bem?
— Tudo filha, e você? Parece triste, o que foi? — ela diz
preocupada.
— Não quero ficar aqui, quero voltar para minha casa. Aqui não
é o meu lugar, mãe! Ele está me ignorando desde ontem, ele só
quer se vingar de mim, me fazendo sofrer. — Minha voz embarga.
Um silêncio desagradável toma conta de nós.
— Filha... dê um tempo para vocês dois, espere a poeira baixar,
será pior se você voltar para casa. O reconquiste, Jack!
— Não estou feliz aqui... — falo com os olhos cheios de
lágrimas.
— Uma semana, Jackeline. Se em uma semana as coisas não
melhorarem, você volta! Combinado?
— Você não me quer mais em sua casa, mãe? É isso? —
pergunto magoada.
— Que bobagem é essa, Jackeline? Eu quero que você se
acerte com o pai de seu filho, conserte a cagada que você fez! —
ela diz enérgica. — Não achei certo o que você fez, mas nunca
virarei as costas para minha filha! Por favor, tente mais um pouco,
ele ama você!
Fecho meus olhos e tento acalmar meu coração.
— Ok, tentarei. Tchau, mãe!
Encerramos a ligação.
Apago as luzes do meu quarto e tento adormecer.
Só quero dormir e fazer com que o tempo passe rapidamente, e
que tudo isso passe logo.
Nenhum mal é tão ruim que seja eterno.
O sono chega aos poucos, mas a porta do meu quarto é aberta
sem nenhuma delicadeza, assim como as luzes são acesas em meu
rosto.
— Desliga essa merda de luz! — falo mal-humorada.
— Você se alimentou, Jackeline? — Sua voz me irrita.
Enfio o travesseiro para cobrir minha cabeça, mas ele o tira e
joga longe.
— Eu fiz uma pergunta! — ele diz me irritando muito.
— Me deixe em paz! Por que você não esquece de vez que eu
moro aqui? — Viro meu corpo do lado contrário a ele. — Vá embora,
me deixe dormir!
— Vamos descer, você não pode ficar sem comer. — Ele puxa
minhas cobertas.
Me sento na cama, estou uma pilha de nervos.
— EU NÃO QUERO, ME DEIXE SOZINHA! — grito histérica. —
POR QUE NÃO TEM UMA MERDA DE UMA CHAVE NESSA
PORTA? NÃO QUERO MAIS QUE VOCÊ ME PERTURBE! SAIA
DAQUI!
Desço da cama, abro a porta e a seguro, e espero ele sair.
Ele passa por mim, me encarando com uma carranca de dar
medo.
Quero que ele se dane!
Bato a porta e volto a me deitar.
— Eu não vou aguentar uma semana! — Acendo as luzes, sigo
até o guarda roupa e começo a jogar todos os cabides sobre a
cama.
Pego a mala, a abro e enfio as roupas de qualquer jeito.
Em uma segunda mala, coloco o resto das coisas, a fecho com
raiva, tiro a camisola que coloquei, pego uma calça jeans e uma
blusinha, e então a porta abre.
— O que você está fazendo? — ele diz com uma bandeja em
suas mãos.
— Eu vou embora. — Pego a roupa e sigo para o banheiro.
A bandeja é colocada em um baque no móvel do quarto.
— Você não vai a lugar nenhum! — Ele tira enfurecido as roupas
de minha mão.
— Tente me impedir! Eu vou embora nem se for assim, nua! —
Ele olha para o meu corpo, estou só de calcinha.
— Não me irrite, Jackeline! — Ele se aproxima de mim.
Tento desviar do seu corpo, mas ele me segura junto ao seu.
— Você não vai a lugar nenhum! — ele vocifera a centímetros do
meu rosto, seu hálito quente contra minha pele embriaga meus
sentidos.
— Me solta! — rosno nervosa.
— Não vou te soltar! — Ele aperta mais suas mãos na pele nua
de minhas costas. — Tente se livrar de mim.
Seu olhar muda, fica selvagem, em chamas.
O empurro com as mãos em seu peito, mas ele não se move.
Meu coração bate descontrolado.
E mesmo contra vontade me sinto excitada com a nossa
proximidade, seu cheiro de banho, a pele nua do seu peito contra a
minha, seu perfume amadeirado.
Oh, esse homem é uma loucura!
— Você é muito fraca, Jackeline. Se esforce mais. — Agora seu
jeito de falar é sedutor, provocativo.
— Me solta — Já não grito mais, estou inebriada em sua magia
sexual e sedutora.
— Eu não vou te soltar... Você terá que implorar para mim — ele
diz em meu ouvido, roçando seus lábios em minha orelha, me
causando excitação, desejo e volúpia.
Fecho meus olhos e gemo baixo.
— Por favor, me solta — sussurro.
— Mais, ainda não é o suficiente. — Seus lábios descem pelo
meu pescoço, macios, quentes.
Mais um gemido escapa da minha garganta.
— Você quer mesmo que eu te solte? — Agora seus lábios
roçam a pele do meu rosto, beija e passa a língua em meu queixo.
— Quero — sussurro embriagada pelas suas carícias.
— Você quer que eu te solte ou te foda, Jackeline? — Ele puxa
meus cabelos, me fazendo o olhar.
Mergulho meu olhar no seu, e me perco, esqueço tudo, e é fato,
ele me domina só com um olhar.
Abro meus lábios, quero recusá-lo, mas não consigo.
— Fale o que você quer que eu faça. — Seus lábios descem
vagarosamente até os meus, roçando sua língua, provocativo,
excitante...
Oh, que tortura.
— Me fode, Rui! — Desabo e esqueço tudo, a raiva, a mágoa, só
sobra a paixão e o desejo.
Então, como se fosse uma avalanche, sua boca toma a minha,
de uma forma deliciosa, intensa, urgente, me engolindo, me
torturando.
— Você quer que eu te foda, Jack? — ele fala ao mesmo tempo
que me beija, me toma, me enlouquece de carícias.
— Quero, me fode! — Puxo seus cabelos, engulo sua língua, eu
quero ele e que se foda todo o resto.
Ele arranca minha calcinha, desço sua calça de agasalho.
Nos encaixamos um no outro, ele puxa meus cabelos, me beija,
me morde.
Nossos lábios procuram um ao outro em uma febre insana, como
se a gente pudesse entrar um no outro.
Amor, paixão, volúpia...
Sinto seu membro me preencher, ainda estamos em pé, se
atracando contra um móvel baixo, ele me levanta pelos quadris.
A gente se beija, se morde, se arranha, e finalmente o prazer fica
insuportável e perdemos o controle.
Gemo de prazer enquanto seu corpo se choca contra o meu,
viril, insano e incontrolável.
— Oh, Jack! — ele urra de prazer. — Caralho! — Ele continua
segurando meus cabelos entre seus dedos, sua boca contra meu
rosto, sua respiração quente e ofegante. Então ele abre seus olhos,
e nos olhamos intensamente.
— Eu amo você, Rui! Eu nunca quis te enganar.
Ele se afasta de mim.
— Não dá pra fugir desse fato, Jack. Você queria me enganar, e
me enganou! — Ele pega sua calça do chão e a veste rapidamente.
— Eu trouxe sua comida, espero que você comece a se virar
sozinha, eu não sou sua babá.
Ele segue para a porta, abre e vai embora me deixando
completamente desnorteada.
Capítulo 2
RUI FIGUEIREDO
Para quem planejava não chegar perto da diaba da Jackeline
por um mês, estou me saindo um desastre.
Apenas dois dias após nossa briga, não consegui resistir à
atração insuportável que sinto pela Jack, e tive uma recaída
daquelas.
Está sendo um inferno viver na mesma casa e não poder chegar
perto dela.
Talvez eu devesse parar de ir ao seu quarto. Ficar vendo-a
praticamente nua não está ajudando a controlar a compulsão que
sinto por essa mulher.
Deito em minha cama, e sinto o cheiro da Jackeline impregnado
em minha pele, e isso só me faz querer mais.
Apesar da raiva que ainda sinto pelo o que aconteceu, o amor
pulsa desenfreado no meu peito.
Nunca senti nada igual. É forte, avassalador, um sentimento
descontrolado que me domina, e que ofusca o raciocínio lógico das
coisas.
Eu deveria ignorá-la, mas não consigo. Passo o meu dia todo
pensando nela, preocupado com seu bem-estar, com suas
necessidades.
Me sinto um idiota.
Outro cara em meu lugar a teria colocado para fora de casa, e
eu, ao contrário, fui buscá-la.
Eu realmente estou meio louco, louco de paixão por aquela
mulher traidora.
Estou me segurando para não voltar ao seu quarto, e matar a
vontade insana que estou dela, do seu gosto, do seu cheiro, da sua
pele...
Não, eu não posso facilitar as coisas para ela, ela precisa de
uma lição.
Esfrego meu rosto e tento me acalmar.
E começo a pensar no que se transformará a minha vida quando
esse bebê nascer.
Me levanto nervoso, não quero pensar muito sobre isso, caso
contrário vou pirar de vez.
Ando em círculos no quarto, estou sentindo uma falta enorme da
Jack aqui comigo.
Não vou mentir, tudo isso está me aborrecendo demais. Eu
gostaria de perdoá-la de uma vez por todas, mas até para se
perdoar tem que ser corajoso.
Sigo para o banheiro, tomo um banho frio e tento acalmar o
tesão que estou sentindo.
Eu vou aguentar mais um pouco, ela precisa assumir a
responsabilidade pelo seu erro.
****
Desligo o alarme do celular desanimado.
Tive mais uma noite de merda.
Sigo para o banheiro exausto, tomo um banho e lembro que o
porra do treinador chegará daqui a pouco.
Saio do meu quarto vestindo um agasalho confortável, sigo até o
quarto da Jackeline, abro a porta e entro.
Nem sei se quero que ela faça aula agora que ela está grávida.
— Bom, sempre faz bem...
Me sento em sua cama e a admiro dormindo tranquilamente,
acaricio seus cabelos sedosos, seu rosto e finalmente me inclino um
pouco e a beijo suavemente.
Decido deixá-la dormindo.
Sei lá, vai que faz mal a ela os exercícios.
Mais um beijo suave em seus lábios e saio do seu quarto.
Logo o treinador chega, conversamos um pouco e começamos o
treino.
Estou entretido com minha corrida na esteira quando a vejo
chegar, e quase tenho um treco de novo.
Ela está vestida em um short de lycra preto indecente, e um top
que parece mais que ela está de sutiã.
Houve um tempo que gostava de ver a Jack expondo seu corpo,
ficando gostosa e provocativa, mas esse tempo acabou. Agora sou
um cara possessivo e ciumento, e odeio que outros homens
almejem o que é meu.
Ela cumprimenta o professor como se fossem íntimos, depois
iniciam uma conversa animada, e então não me aguento, desligo a
esteira e vou até eles.
— Parabéns, Rui! Fiquei sabendo que você será pai!
Tento ser simpático, mas esse cara está começando a me irritar
com seu excesso de atenção com a Jackeline.
— Legal... valeu! Então, você faz um treino leve para ela... Na
verdade, acho melhor a Jackeline não treinar hoje.
— Eu quero treinar! — Ela me encara folgada como só ela pode
ser.
— Não vejo problemas, Rui. A gente trabalha mais os glúteos,
pernas, enfim, já treinei grávidas.
Me posiciono em suas costas, sua bunda está me deixando
louco, esse maldito short expõe demais ela.
— Você já passou pela consulta com a obstetra? — falo próximo
ao seu ouvido.
— Não, mas...
— Então não, Jackeline! No máximo caminhada na esteira.
Ela me olha desafiadora, mas segue para a esteira que comprei
para ela.
Pego uma blusa minha, sigo até ela e amarro a blusa em sua
cintura.
— O que você está fazendo? — ela pergunta nervosa.
— Nada. Agora pode caminhar, e não corra.
— Você chama esse cara para que, se você acha que sabe
tudo?
— Boa pergunta, Jackeline! Vou dispensá-lo, eu treino você! —
Sorrio provocativo, a deixo caminhando e volto para meus
exercícios.
****
Termino meu banho, me visto rapidamente e sigo para a sala de
jantar. A mesa já está posta, mas a Jackeline não está tomando seu
café da manhã.
Chamo a empregada.
— Bom dia, Jô! Onde está a Jackeline?
— Ela já foi embora, Doutor Rui! — ela diz sem graça.
— Mas ela não tomou café da manhã? — pergunto com um
começo de irritação.
— Não. Apenas um copo de água, e pegou uma maçã para levar
ao trabalho!
Bufo irritado.
Agora que ela precisa se alimentar, resolve fazer regime.
A Jackeline está me enlouquecendo com essa gravidez.
— Ok. Traga meu café expresso, e não a deixe ir embora
novamente sem tomar seu café!
— Mas eu não posso obrigá-la, Doutor Rui, ela é adulta.
Agora a empregada também está folgada.
— Você dirá a ela que a proíbo de sair sem tomar seu café da
manhã. Entendido?
Ela arregala seus olhos.
— Sim, tentarei. Com licença, doutor!
Era só o que me faltava ser babá da Jackeline.
****
Chego ao escritório estressado.
— Por que ela não me esperou, caralho?
Tudo bem, ontem também não a esperei, mas a questão é outra.
Deixa pra lá...
Estaciono meu carro, vejo o seu estacionado e sigo para a
recepção.
Ok, Jackeline, vamos lá!
Cumprimento o rapaz, subo as escadas e a encontro em sua
sala.
— Bom dia, Jackeline! — Paro a sua frente, mas a maldita não
me olha, continua digitando em seu computador.
— Bom dia! — ela diz displicente.
— Venha a minha sala, preciso te passar algumas coisas.
— Pode passar por e-mail, eu não me importo. Estou muito
ocupada! — ela diz digitando.
— NÃO! — respondo irritado. — Venha a minha sala agora.
Que porra, eu que sou o chefe dessa merda!
Finalmente ela gira sua cadeira e me encara.
— Ok, você quem manda — ela diz cínica.
Sigo para minha sala, entro e deixo a porta aberta, e a espero...
e ela não vem.
— JACKELINE! — berro.
Então ela resolve aparecer, e que ela não me ouça, mas ela está
linda hoje!
— Pois não? — ela pergunta, a camisa branca de seda
mostrando os detalhes de sua lingerie, assim como o colo dos seios,
e a saia vermelha justa contorna seus quadris, e me lembro da
maciez da sua pele, do seu cheiro e do amor que fizemos ontem.
Porra, já estou louco de tesão, e o dia ainda nem começou.
— Sente-se, Jackeline! — Tento manter minha postura.
Ela se senta, me olha entre os cílios e morde a caneta
sensualmente.
Ela quer me deixar louco, eu adoro essa boca vermelha.
— Anote aí algumas coisas para você fazer hoje. — A encaro
por alguns segundos, mas não consigo, me levanto e sigo até onde
ela está sentada, me inclino um pouco sobre seu corpo, sinto seu
cheiro delicioso.
Isso é tortura, Rui. Pare com isso! — Penso atordoado.
Mas antes que eu possa fazer algo, ela levanta-se.
— Mais alguma coisa?— Ela segura seu caderno contra seu
corpo.
Me aproximo mais um pouco.
— Peça um café para nós.
Ela gira nos calcanhares e fica de costas para mim, mostrando
aquele traseiro delicioso.
Estou salivando para encoxá-la contra a mesa, e me enterrar
nessa buceta quente e deliciosa.
— Pedirei só para você, eu não quero — ela fala com a copeira,
enquanto isso me aproximo mais e mais, e finalmente encosto meu
corpo ao seu, seguro sua cintura e cheiro seus cabelos, mas ela se
vira e me olha enviesado.
— Dá licença! — Ela me empurra, e sai batendo seu salto alto.
— Merda! — bufo com raiva.
Não estou mais aguentando essa falta de sexo.
****
A manhã passou depressa, em meio a muitas reuniões e
telefonemas.
Dois toques na porta e Jackeline entra.
— Eu preciso ir embora. Eu tenho uma consulta agora, mas já
deixei tudo explicado para o Alexandre.
— Ok. Qual médico você irá? — Relaxo em minha cadeira.
— Na minha mesma. — Ela parece incomodada.
— Certo... — Me levanto, sigo até ela. — Depois você me conta
como foi a consulta.
— Ok! — Ela vira rapidamente, e me deixa no meio da sala feito
um idiota.
Bufo e volto para minha mesa.
****
É final de tarde, faz horas que a Jackeline saiu, e não é possível
que sua consulta não tenha terminado.
Ligo para seu assistente:
— Alexandre, a Jackeline ligou para você?
— Sim, Doutor Rui. Ela disse que não voltará mais hoje!
— Como assim? — falo nervoso. — Por que você não me
passou ela?
— Ela disse que estava com pressa, e que depois te ligava.
Esmurro a mesa.
— Ok!
Desligo.
Onde a Jackeline foi, porra?
Ligo em seu celular uma, duas, três vezes, e cai na caixa postal.
— Onde você está, Jackeline?! Me ligue quando ouvir essa
mensagem!
As horas passam sem que ela me ligue.
Resolvo ligar em casa.
— Jô, é o Rui! A Jackeline está em casa?
— Não, Doutor Rui, ela ainda não chegou do trabalho!
— Ok. Se ela chegar, peça para me ligar!
— Tudo bem! — Finalizo a ligação.
Ligo novamente para ela... e cai na caixa postal.
Porra, onde essa mulher se meteu?
Rugas de preocupação se formam em meu rosto.
Foda-se.
Volto às minhas atividades.
Finalmente o dia termina.
Nenhuma ligação da Jackeline ou sinal de vida. Ela sumiu,
literalmente.
Ok, não vou pirar. É isso o que ela quer, conheço essa tática.
Ela está tentando me pagar na mesma moeda.
Pego meu carro e sigo para casa.
Abro a porta de entrada, e pelo silêncio e ausência de luzes
acesas, tenho a impressão de que ela não está em casa.
Um nervosismo toma conta de mim, subo correndo as escadas,
entro em seu quarto, que está vazio e arrumado, sigo como um
louco até seus armários, abro-os com desespero e respiro aliviado
ao perceber que suas roupas continuam aqui.
— A Jackeline vai me enlouquecer! — falo alto.
Sigo para o meu quarto, tomo um banho, desço para a sala, abro
uma garrafa de vinho, me sento em uma poltrona e aguardo feito um
cachorrinho de estimação sua dona chegar.
As horas passam, 20h, 21h... 23h!
O meu estresse está me consumindo, viro a última taça de vinho,
se ela não chegar agora...
Um barulho de chaves na porta e ela entra.
Estou insano de raiva.
— Onde você estava, Jackeline? — Sigo até ela.
— Estou cansada, Rui. Depois conversamos. — Ela passa por
mim e segue para as escadas, me deixando com cara de panaca.
Esfrego meu rosto nervoso.
Tento manter a calma, subo as escadas, entro em seu quarto e a
encontro se despindo... Completamente nua!
Que tesão, eu vou morrer se não foder essa mulher hoje!
— Jack, onde você estava, porra? Eu estava morrendo de
preocupação!
Ela não responde, segue para o banheiro.
— Jackeline, vamos conversar, caralho! — falo alterado.
Ela me olha pelo ombro.
— Me deixe tomar um banho, depois conversamos. — Ela fecha
a porta.
Caralho de mulher!
Sigo até o banheiro, giro a maçaneta e xingo, ela o trancou.
Filha da puta!
Me sento na cama e espero ela sair.
Quando estou quase derrubando a porta, ela sai vestindo sua
camisola indecente.
— Rui, está tarde, eu estou cansada, acho melhor a gente
conversar amanhã! — Ela deita-se e me ignora.
Fecho meus olhos e inspiro.
Me levanto de sua cama, a olho deitada, e sem pensar muito me
deito ao seu lado.
Abraço seu corpo contra o meu, beijo seus cabelos, seu
pescoço, seu ombro...
Estou insano de desejo, de saudades, de ciúmes.
— Jack...
Ela me interrompe.
— Rui, vá escovar seus dentes. Esse cheiro de bebida está me
deixando nauseada.
Olho para ela incrédulo.
— Ok, Jackeline!
Me levanto irritado, abro a porta de seu quarto, vou até meu
quarto, escovo meus dentes, bocejo com um enxaguante bucal, e
finalmente volto ao seu quarto, e encontro a porta fechada. Giro a
maçaneta uma, duas, três vezes.
Ela trancou a porta! Mas como, se tirei as chaves e as guardei?
Filha da puta esperta!
— Jackeline! — berro. — Abra essa porta.
— Não — ela responde. — Estou cansada, Rui.
— Abra essa porra, Jackeline! — falo e esmurro a porta.
— Não vou abrir! Se quiser, derrube a porta.
Encosto minha cabeça na porta e tento me controlar.
Ela me fez passar por idiota.
— Você vai me pagar, Jackeline. — Finalmente desisto e sigo
para o meu quarto.
Capítulo 3
JACKELINE
Não está sendo tão fácil assim ignorar aquele ser irresistível
chamado Rui.
Ele sabe como seduzir e enlouquecer uma mulher, mas a
questão é que ele nunca mais vai transar comigo e me largar como
se eu fosse uma puta.
Me senti usada ontem, ele me seduziu apenas para matar sua
vontade, não houve em nenhum momento a intenção de fazermos
as pazes.
Fiquei ainda mais magoada do que já estava.
Mas, ele sentirá na pele para que serve a Jackeline, e não é só
para sexo.
Então, meu plano de vingança começou usando um traje
indecente em nossa aula com o professor saradíssimo do Rui.
O cara é um gato, saradão, e adora bater papo comigo!
Pronto, era o que eu precisava para começar infernizar a sua
vida.
Segunda parte do plano: sair antes dele, pois vingança boa é
aquela que fazemos a pessoa provar de seu próprio veneno, e foi
“tiro e queda”, ele estava louco da vida quando chegou ao escritório.
Parte três: ignorar seu charme irresistível. Confesso, foi difícil
ignorar a encoxada que ele me deu em sua mesa.
Estou com larica de Rui, o sexo que fizemos ontem foi apenas
um aperitivo, está longe de nosso padrão, uma vez em dois dias,
que miséria... Fazemos umas quatro vezes por dia.
Mas agora, minha preocupação é o meu bebê. Então, enquanto
espero a doutora me atender, folheio revistas de crianças, e me
sinto cada dia mais encantada com essa nova experiência em
minha vida.
Gostaria muito de dividir esse momento com o Rui, se ele
soubesse o quanto gostaria de dizer a ele o que estou sentindo,
meus medos, preocupações, anseios.
Ele se tornou muito mais do que simplesmente o meu namorado,
ele é o homem que quero dividir minha vida, que quero construir
uma família e envelhecer.
É com ele que quero passar por tudo isso, mas ele precisa
acreditar que ter filhos não é algo tão ruim, assim como construir
uma família.
Que cara mais complicado!
— Jackeline! — Olho assustada e vejo minha médica me
chamando.
Sigo até ela com um sorriso.
— Tudo bem, Jackeline? — ela pergunta já em sua mesa.
— Sim! Doutora, eu preciso te contar logo uma coisa, eu estou
grávida! — Vomito as palavras antes que eu tenha um ataque de
ansiedade.
Ela arregala seus olhos e me encara.
— Como assim? — ela pergunta surpresa.
— Eu parei de tomar o anticoncepcional e transei com meu
namorado o equivalente a um ano de um casal mediano, e eu
consegui engravidar! — Sorrio para ela.
Ela dá risada.
— Você tem certeza? — Ela pergunta novamente com um certo
ar de quem não acredita.
— Sim! Eu passei mal, me levaram ao hospital e lá descobriram.
— Isso é incrível, Jackeline. Realmente você e seu namorado
fizeram um milagre, e ele deve ter espermatozoides muito fortes
para ter conseguido fecundar seus óvulos — ela fala e ri. — Mas,
isso não importa, quero ver isso com meus próprios olhos. Venha
até aqui.
Ela me chama até uma maca e liga o computador.
— Tire a saia, Jackeline. Vou examinar essa barriguinha.
Subo na cama, ela espalha o gel e começa a deslizá-lo e então
eu vejo um pontinho preto na tela do computador, num emaranhado
de imagens, mas eu sei que esse é o meu bebê.
— É, aqui está o seu pequeno milagre. — Ela me olha e sorri. —
Você deve estar entre seis e oito semanas. — Ela checa algumas
coisas e me olha novamente, disfarço, estou com meu rosto
encharcado de lágrimas.
Esse talvez seja o momento mais lindo da minha vida, eu pensei
que isso nunca fosse acontecer.
Penso novamente no Rui, e o quanto gostaria que ele estivesse
aqui comigo.
— Da próxima vez traga seu companheiro, ele adorará ver a
evolução de seu bebê.
— Tudo bem. Vou convidá-lo, vamos ver se ele se empolga.
— Com certeza! — Ela se levanta. — Vou passar alguns exames
e orientações para você. Sente-se aqui comigo.
****
Estou em estado de graça, pisando em nuvens, feliz demais para
voltar ao escritório e ter que lidar com o orgulho e arrogância do
idiota do Rui. Então, decido tirar meu dia de folga, e por conta
própria.
Primeira coisa a se fazer é avisar meu assistente.
Ligo para ele, dou algumas recomendações e no final apenas
digo:
— Avise ao Doutor Rui que não irei voltar hoje. — Sorrio.
— Jackeline, acho melhor você falar diretamente com ele. O
Doutor Rui está meio estressado hoje, talvez ele queira falar com
você!
Giro meus olhos.
— Não. Estou no trânsito, diga a ele que não dava para eu falar.
Um beijo, Alexandre! — Desligo.
— Para onde irei? — Penso. — Para o shopping, quero comprar
minha primeira roupinha para o meu bebê!
Depois de percorrer o shopping inteiro e me divertir em lojas de
bebês, sento em um restaurante delicioso e almoço ouvindo
músicas instrumentais, herança do meu convívio com Rui.
No final da tarde, ligo para Carolina e a convido para um happy
hour, e é logico que ela topa na hora.
Checo minha caixa postal e gargalho com a mensagem
estressada do Rui.
— Idiota!
Logo a Carolina chega e não consigo disfarçar minha felicidade.
— Carolzinha, tenho uma novidade... — Faço suspense — você
será tia!
Ela arregala os olhos.
— O quê?! — Ela coloca as mãos sobre os lábios. — NÃO
ACREDITO!!! — ela berra.
— Acredite. Aqui está o meu bebê! — Mostro para ela o
ultrassom.
— Jack, pelas barbas do profeta! — Ela vibra. — Que coisa mais
maravilhosa!
Ela se levanta, vem até mim e me abraça forte e emocionada.
Nos olhamos seriamente, e então, caímos no choro juntas.
A única pessoa que sabia de tudo desde o princípio era a
Carolina, inclusive de minha mentirinha para o Rui.
Ela achou meu plano maluquice, mas me apoiou.
Foi bom demais dividir com ela, e mais ainda comemorarmos
juntas.
Olho no relógio e decido ir embora.
— Carol, preciso ir. Estou o dia todo na rua. — Dou risada. — O
Rui deve estar uma fera comigo, desliguei o celular! — Faço uma
careta e ela gargalha.
— Jack, você é uma peste, eu não conhecia esse seu lado.
— Conhecia sim! — conversamos mais um pouco e finalmente
sigo para casa.
O elevador chega ao seu andar, me benzo três vezes e me
preparo para a última parte do meu plano.
Abro a porta e olha quem está esperando por mim!
— Onde você estava, Jackeline? — ele diz furioso.
Não vou me deixar abater pelo seu olhar, ou seu jeito de macho
mandão e possessivo, sigo adiante para as escadas.
— Estou cansada, Rui. Depois conversamos.
O ouço subindo atrás de mim.
Chego ao meu quarto e propositalmente fico nua em pelo, quero
provocar e fazer ele se rastejar por mim.
Hoje mostro para o Rui com quem ele está lidando.
Sorrio por dentro.
— Jack, onde você estava, porra? Eu estava morrendo de
preocupação! — ele diz possesso.
O ignoro e sigo para o banheiro.
— Jackeline, vamos conversar, caralho!
— Me deixe tomar um banho, depois conversamos. — Fecho a
porta do banheiro com a tranca.
Não vou facilitar para ele, não tenho dó do Rui, ele não merece.
Tomo um banho demorado e relaxante, e percebo-o mexendo na
maçaneta várias vezes.
Acho que agora está bom.
Saio do banho, me enxugo e coloco uma camisola branca
transparente, com a parte dos seios em renda, curta e indecente,
ela mal consegue cobrir meu bumbum, e o Rui adora quando a
coloco para ele.
Finalmente abro a porta e já vou falando...
— Rui, está tarde, eu estou cansada, acho melhor a gente
conversar amanhã! — Me deito na cama, de costas para ele.
Pensei que ele fosse desistir, mas ao contrário, ele se deita
comigo, e estarei mentindo se disser que meu coração não disparou
com seu contato, com seus beijos em minha pele, com seus braços
ao redor do meu corpo.
Sou fraca, confesso, e louca por ele! Eu queria neste momento
mandar meu plano de vingança para o espaço, mas então, me
lembro que ontem ele me seduziu, gozou, e depois me deixou como
se eu fosse uma puta.
A raiva por ele volta.
— Jack... — ele fala manso, sedutor, mas não o deixo
prosseguir, o interrompo.
— Rui, vá escovar seus dentes. Esse cheiro de bebida está me
deixando nauseada. — Mentira, ele está cheiroso como sempre, e o
cheiro de bebida não está me incomodando.
Fecho meus olhos e peço a Deus que ele saia.
— Ok, Jackeline! — Ele se levanta e sai.
Corro até uma gaveta da cômoda, pego a chave reserva do
quarto que a Jô me deu, vou até a porta e a tranco.
Pronto, Jack, você está a salvo agora! — Sorrio sozinha.
— Jackeline! — ele berra atrás da porta, e dou um pulo de susto.
— Abra essa porta.
— Não! — respondo cheia de coragem. — Estou cansada, Rui!
Volto para a cama.
— Abre essa porra, Jackeline! — Ele esmurra a porta, nervoso, e
isso só me faz sorrir de novo.
Estou adorando castigá-lo, ele nunca mais vai me usar.
— Não vou abrir! Se quiser, derrube a porta.
Me cubro com a colcha e me aninho aos travesseiros.
Finalmente ele desiste, e adormeço feliz.
****
Como todos os dias, me levanto com o estômago embrulhado.
Agora eu sempre acordo estragada, pareço àqueles alcoólatras
que bebem demais, e no dia seguinte estão acabados.
Sigo para o banheiro apressada, e me viro do avesso no vaso
sanitário.
Depois de alguns minutos, estou de banho tomado, colocando
uma roupa, mas uma nova tontura me faz voltar para a cama.
Estou péssima! Acho que abusei ontem, comi muitas porcarias
com a Carol.
Finalmente consigo terminar de me vestir, pego minha bolsa e
sigo para o corredor dos quartos, abro a porta e dou de cara com o
Rui.
— Bom dia! — falo sem graça, meu bom humor foi embora e só
sobraram náuseas e mal-estar.
— Bom dia! — Ele olha para mim rapidamente, parece
aborrecido comigo, mas logo segue pelo corredor.
Sigo vagarosamente, a sensação de torpor aumenta, me amparo
na parede, coloco minha mão na testa e espero passar.
Estou de olhos fechados, e então sinto braços ao redor do meu
corpo.
— O que você está sentindo, Jack? — Sua voz grossa e
poderosa invade meus ouvidos.
— Um mal-estar, uma vontade de desmaiar. — O mal-estar
piora, minhas mãos ficam úmidas e geladas. — Rui, eu preciso me
deitar. — Já estou quase desfalecendo quando seus braços me
levantam do chão e me deitam rapidamente.
— Respira fundo, Jack! — sua voz vem até mim baixa, tento
fazer o que ele disse, puxo o ar uma, duas, três vezes, e então
começo a voltar vagarosamente de meu quase desmaio.
Sinto sua mão acariciando meu rosto, meu cabelo...
— Você está melhor, Jack? — Abro meus olhos e encontro os
dele, ele parece preocupado.
— Melhorei um pouco! — minha voz sai fraca, ainda sinto um
pouco de fraqueza.
— Você comeu direito ontem? — Ele enruga sua testa.
— Mais ou menos — sussurro. — Tenho sentido muitos enjoos,
está meio difícil comer.
Ele me encara por alguns segundos e então me beija, profundo,
apaixonado.
Sinto um torpor, mas agora é de amor.
Finalmente paramos de nos beijar, o abraço forte, preciso dele,
de sua força, de sua segurança.
Não sou mais nada sem o Rui.
— Oh, Rui, eu preciso tanto de você! — falo me sentindo frágil,
insegura, talvez por causa da gravidez.
— Jack, nunca mais faça o que fez ontem! Eu quase morri de
preocupação e de raiva de você — ele diz com sua cara de bravo.
— Eu me senti usada ontem! Você transou comigo e depois me
descartou, como se eu fosse uma puta! — Meus olhos enchem de
lágrimas.
— Não é verdade. Eu amo você, Jack! Eu nunca te trataria desta
forma, eu só estou magoado com você, caramba! — Ele se afasta
um pouco, esfrega seu rosto.
— Eu também estou magoada com você. Você me chamou de
golpista, mas eu te amo acima de tudo, quero me acertar com você,
só por isso ainda estou aqui! Se você acha que preciso de você
para ter meu bebê, você está enganado, eu sei me virar sozinha,
não morrerei de fome — falo com a voz embargada.
— Vamos parar com isso, Jack... — ele diz incisivo. — Porra, eu
não queria ter filhos, você sabia disso, nunca menti para você.
— Eu sei disso, e se você soubesse o quanto isso me deixa
triste. — Lágrimas escorrem pelo meu rosto, tento sair da sua cama,
mas ele me segura.
— Espera, Jack. — Ele me encara. — Eu tenho mudado muito
desde que nos conhecemos, acho que para melhor — ele diz com
um sorriso fraco. — Estou tentando me acostumar com tudo isso, de
verdade! — Ele me olha intensamente. — Tenha paciência comigo,
com meus antigos paradigmas, estou tentando abandoná-los, mas
preciso de você comigo. Você me faz bem, Jackeline.
— Você também me faz bem, me faz feliz... — Acaricio seu
rosto. — Eu preciso de você, Rui, mas não por causa do bebê, mas
porque eu te amo!
— Eu também amo você, Jack, você sabe disso — ele diz com
um sorriso.
Seguro seu rosto entre minhas mãos.
— Podemos chegar um pouco atrasados, chefinho? — O beijo
apaixonada.
— Depende. Qual o motivo para o atraso? — Ele faz cara de
safado.
— É que estou grávida... — Beijo seus lábios. — E tenho alguns
desejos — falo e sorrio.
— Quais são os seus desejos, minha deusa? — Ele me puxa
para junto dele.
— Estou com muito desejo de fazer amor com você. — Ele me
olha e sorri.
— Mas você estava quase desmaiando antes, minha gravidinha!
— Um beijo gostoso em meu pescoço, e me arrepio inteira.
— Eu sei, mas eu preciso disso, caso contrário meu bebê irá
nascer com cara de... — Penso um pouco. — Coração!
Ele ri e beija minha orelha.
— Então não vou exigir muito de você, talvez outro dia, mas hoje
vou te mostrar o quanto posso ser gentil. — Ele volta a me beijar
lentamente, com carinho, me fazendo sentir um gelado no estômago
e borboletas voando.
— Você é sempre gentil, até quando é bruto! — sussurro
sentindo suas mãos me acariciando, seus beijos em todo o meu
rosto, descendo pelo meu pescoço, abrindo minha camisa,
descendo meu sutiã e finalmente abocanhando meus mamilos, que
já estão entumecidos, e sensíveis às suas carícias.
— Adoro quando você me chupa! — Gemo de prazer.
Ele levanta seus olhos, cheios de desejo.
— Você quer que eu chupe mais eles? — ele pergunta e acaricia
meus mamilos com seus dedos, e isso me enlouquece de desejo.
— Quero! Quero que você me chupe inteira, adoro sua língua
em meus lábios, em meus seios, em minha buceta... — Falo e me
contorço de prazer sentindo sua língua passeando em minhas
auréolas.
— Eu não aguento você, Jack, você me deixa louco! — Ele
arranca minha calça, calcinha, e abocanha meu sexo, guloso e
ardente.
Alguns minutos com sua língua me acariciando e explodo em um
orgasmo alucinante.
— Isso, minha gostosa! Goza bem gostoso para o seu homem!
— ele diz com sua voz rouca.
Em segundos ele tira sua calça e seus sapatos, encaixa minhas
pernas em sua cintura e me penetra de um jeito delicado, mas não
menos sensual.
— Vou fazer bem devagar, Jack. Se você não se sentir bem, me
avisa! — Seus movimentos de entra e sai são lentos e excitantes,
assim como seus beijos, seus lábios em minha pele, sua pele
quente contra a minha, e seu cheiro que adoro.
Esfrego meu corpo ao seu, puxo seus cabelos, beijo-o, mordo
seus lábios, estou louca de desejo.
Finalmente Rui chega ao êxtase, geme alto meu nome e
finalmente para, e descansa seu corpo sobre o meu.
O abraço forte.
— Eu te amo! — falo embriagada em nossa bolha imaginária.
Nunca senti nada igual por nenhum homem, é bom demais esse
sentimento que o Rui me causa.
— Eu também amo você, minha deusa!
Me aninho ao seu peito e esqueço por um momento de tudo, só
o que me importa agora somos nós dois, quero dizer, nós três!
Capítulo 4
JACKELINE
Três meses depois.
Dia após dia vou experimentando as novas sensações de estar
grávida.
As primeiras e mais desagradáveis que foram as tonturas e as
náuseas matutinas, já passaram.
Agora minha gravidez é nítida, e já pode ser notada através de
uma ondulação arredondada que toma toda a extensão da minha
barriga.
Ela está linda, assim como meu bebê, que está crescendo
perfeito e sadio.
Não sei explicar o que sinto, é um estado de contentamento,
uma felicidade, um prazer. Não sei dizer, só se ficando grávida para
explicar.
Mas nem tudo é perfeito. Ainda não consegui que o Rui me
acompanhasse em nenhum ultrassom, ele parece ainda fugir do fato
inevitável que estou grávida.
Ok, hoje tenho uma nova consulta, farei um novo ultrassom e o
chamarei, como de costume.
Sigo para sua sala, bato na porta e entro.
Ele tira seus óculos de leitura e me olha.
Vou até ele, e me sento em seu colo como sempre.
— Você vai comigo hoje? — O encaro decidida e ele fica tenso.
Pego sua mão e coloco sobre minha barriga.
— Eu estou enrolado, Jack!
Ele foge do contato, me segura e se levanta.
— Eu irei o mês que vem! — Ele sorri, mas não está sendo
sincero.
— Ok! Talvez você queira o conhecer um dia, quem sabe aos 15
anos. — Sigo chateada para a porta.
— Eu irei conhecê-lo quando nascer, Jack. — Ele me segura. —
Não fique chateada comigo.
— Você não aceitou ainda o bebê! Estou de cinco meses, Rui!
Por favor, divida comigo esse momento.
— Claro que aceitei, eu só não acho necessário ficar indo a
esses exames.
— Prove para mim que aceitou, me acompanhe hoje! — O
desafio.
— Não preciso disso, Jack — ele diz nervoso.
— Eu vou entender que seu não é uma rejeição, Rui.
Ele bufa irritado e finalmente diz:
— Ok, Jackeline! Você venceu! — ele diz com as mãos na
cintura.
Pulo em seu pescoço e encho seus lábios de beijos.
— Obrigada, Rui! — O olho dentro dos olhos. — Isso é muito
importante para mim!
Ele me olha intensamente.
— Eu sei disso! — Ele me abraça forte e beija minha testa. —
Vamos, minha barrigudinha. — Ele sorri.
Aliso minha barriga por cima de uma blusinha justinha nos seios
e larguinha na barriga.
— Você acha que ela está grande?
Ele me olha de lado e sorri.
— Antes parecia que você estava comendo pizza demais, agora
já está claro que você está grávida!
Sorrio orgulhosa.
— Quero tomar um ônibus e fazer o teste, se ninguém se
levantar para eu sentar, estou apenas gorda.
— Você não está gorda, está grávida! — Ele coloca seu terno. —
E linda, Jack!
— Não tira seu tesão por mim... me ver assim, rechonchuda? —
pergunto insegura.
— Não. Sinto mais tesão, você não percebeu? — Ele volta a me
abraçar, beija meu pescoço.
— Digamos que sim! — Sorrio em seus braços.
De fato, nossa vida sexual em nada mudou, continuamos com
nossa rotina de ninfomaníacos, apenas com uma diferença, o Rui
está muito mais gentil, delicado e carinhoso. Ele me trata como se
eu fosse de cristal, e isso me encanta e apaixona.
— Então, vamos! Caso contrário, não conseguiremos chegar a
tempo da consulta.
****
Me sento com o Rui em uma das poltronas confortáveis
instaladas em uma recepção decorada com lindas estatuetas de
mulheres grávidas, muito coloridas, feitas artesanalmente,
provavelmente por algum artesão nordestino.
Me distraio olhando os objetos, alguns mostram grávidas com
recipientes em suas cabeças, como se estivessem carregando
água, outras estão com os seios à amostra, outras amamentando...
Sempre que venho ao consultório perco algum tempo vendo
essas obras, ricas em cores, em detalhes, e sempre retratando a
maternidade.
Sinto a mão do Rui em meus ombros me puxando para junto
dele.
Olho para ele feliz e beijo seu rosto.
— Daqui a pouco ela me chama, ela não costuma atrasar as
consultas.
— Tudo bem! — Ele beija meus cabelos carinhosamente. —
Você está aqui hoje só por causa da rotina, ou há algo especial
nesta consulta?
— Ela sempre mede o crescimento do bebê, vê se o
desenvolvimento está seguindo o esperado, e sempre há algumas
verificações sobre possíveis doenças! — Ele me encara seriamente.
— Temos tentado ver o sexo do bebê também, mas ele ou ela anda
meio envergonhado! — Sorrio. — Quem sabe hoje que o papai está
aqui ele mostre. — Olho para o Rui, ele sorri meio sem jeito, e
abaixa sua cabeça.
Como está difícil para ele se acostumar com a paternidade.
Então, ouço meu nome, olho para o Rui, pego em sua mão e
sorrio.
— Vamos?
Ele sorri e levanta-se.
— Vamos lá!
Seguimos de mãos dadas até a sala da doutora, ela abre um
sorriso a me ver.
— Veio acompanhada hoje, Jackeline? — ela pergunta
simpática.
— Trouxe o papai, para ver se ele nos dá sorte e vejamos o sexo
do bebê! — Brinco.
O Rui está tão calado que me dá até medo, mas tento não
pensar muito sobre isso, o importante é que ele veio.
Depois de fazer algumas perguntas de rotina, ela pede para eu
seguir até a maca.
Desço minha calça até a altura da virilha, o Rui continua sentado
em frente à mesa da médica.
— Vem até aqui, papai. Me deixe te mostrar o bebê de vocês! —
A doutora o chama, ele parece sem graça, mas segue até o meu
lado, se senta em uma cadeira e observa a médica.
As imagens começam a aparecer na tela, distorcidas a princípio,
mas aos poucos os contornos do bebê ficam claros.
— Estão vendo? — Ela olha para nós dois, e eu sempre me
emociono quando vejo o bebê. — Ele parece estar dormindo, olha o
dedinho na boca. — Ela me olha sorrindo, e eu fico extasiada.
Olho para o Rui, sua expressão é diferente, parece nervoso,
inquieto, então seguro sua mão junto a minha, ele me olha como
reflexo e sorrio para ele.
A médica discorre sobre o desenvolvimento do bebê.
— Ele está bem grande, papais! Será um bebezão! — ela diz
empolgada. — O desenvolvimento dele está perfeito, Jackeline e
Rui.
— E o sexo, será que conseguimos ver hoje? — Pergunto
animada.
— Me deixe ver. — Ela muda a posição do aparelho. — Vamos
acordar esse preguiçoso — ela diz e bate uma mão contra outra em
minha barriga, fazendo um som oco. — Ele se mexeu um pouco. —
Vamos ver agora... Qual sua preferência, Rui? — Ela pergunta
sorrindo.
— Não sei, acho que não pensei muito sobre isso! — Ele
responde timidamente.
Sinto um giro em minha barriga.
— Doutora, acho que agora ele acordou, eu senti! — Falo
empolgada.
— Pelo visto ele acorda com a voz do pai, Jackeline! — Ela pisca
para mim.
Ela posiciona o ultrassom e ele está em outra posição.
— Jackeline, o que você disse que queria mesmo? — Ela me
olha animada.
— Eu não disse nada, falei que apenas queria um bebê
saudável. — A olho curiosa. — Mas, então, não faça suspense.
— Vocês terão um menino, e pelo visto será bem grandão.
Lágrimas de felicidade escorrem de meus olhos.
Olho para o Rui emocionada.
— Parabéns, Rui! Você será pai de um menininho! — falo
emocionada.
Talvez pela primeira vez o vejo sorrindo de verdade em relação a
minha gravidez.
— Parabéns para nós dois! — ele diz com um sorriso, parece
meio tímido com tudo isso, mas feliz.
— Vou fotografar esse meninão, vamos ver se vocês descobrem
semelhanças — a médica diz, e de repente aparece na tela uma
imagem muito nítida dele, o nariz, queixo, mãozinhas, um bebê
perfeito.
Ela imprime a imagem e entrega para o Rui.
— Esse queixo é da Jackeline! — ele diz em tom de brincadeira.
— E o pênis é igualzinho ao seu! — cochicho e o faço sorrir.
— Parabéns, casal, e espero vocês no mês que vem. Se cuide,
Jackeline e qualquer coisa me ligue! — Ela me abraça e beija. —
Fiquem à vontade, vocês são meus últimos pacientes.
Ela sai do quarto, pego um papel toalha para me limpar, mas Rui
toma minha frente.
— Eu gostei de vê-lo, ajuda a acreditar que tudo isso está
acontecendo de fato! — Ele diz de olhos baixos enquanto passa o
papel toalha delicadamente em minha barriga.
— Eu não disse para a doutora, mas eu preferia um garotinho! —
confesso o olhando intensamente.
— Ah, é? — Ele sorri. — Não tinha pensado sobre isso, mas
agora pensando bem, acho que preferia uma garotinha — ele diz de
bom humor.
— Depois... se você gostar da experiência de ser pai e quiser
tentar novamente...
Ele abaixa sua cabeça e dá risada.
— Não sei... mas também não descarto a possibilidade, desde
que te conheci parece que tudo é possível!
Ele acaba de limpar minha barriga, e é estranho dizer que
quando estou com o Rui, o bebê fica mais agitado. Talvez porque
ele faça meu coração bater mais rápido, porque fico mais feliz
quando estamos juntos, sorrio mais, falo muito e fico mais excitada,
no sentido literal e não sexual.
— Quer ouvi-lo um pouco, Rui? Ele está bem agitado! — Olho
para ele intensamente.
— O que devo fazer? — ele pergunta timidamente.
— Encoste seu rosto na minha barriga, e ouça...
Ele se inclina sobre mim, colocando seu ouvido sobre minha
barriga e diz:
— Realmente está bem barulhento aqui dentro. — Ele me olha
sorrindo. — Ele será agitadinho igual à mãe.
Então, pela primeira vez ele acaricia minha barriga por conta
própria, e isso me emociona, fazendo as lágrimas se formarem em
meus olhos.
— Ele sente você, Rui! Ele fica agitado quando você está por
perto, talvez feliz com sua presença. — Acaricio seu rosto.
— Eu te prometo, Jack, serei um bom pai para ele, como meu
pai foi para mim, não irei decepcioná-la. — Seu olhar é terno e
sincero.
— Eu confio em você! — Ele beija minha mão que está em seu
rosto. — Precisamos escolher um nome para ele.
— Não tenho a menor ideia — ele diz sorrindo.
— Ok. Pense em três nomes, e eu mais três, então escolhemos
juntos, o que você acha?
— Perfeito. — Ele volta a olhar para minha barriga, e a acaricia
novamente. — Vamos lá, garotão, preciso te dizer quais são minhas
regras, antes que você nasça e queira mandar em tudo — ele diz
para minha barriga, me fazendo rir.
— Ele já vai levar bronca? — pergunto me divertindo com ele.
Ele ri.
— Regra número um: essa mulher que você chamará de mãe,
antes de você nascer, já era minha. Então, vai se acostumando, que
apesar de pequeno, a prioridade é minha!
Dou risada.
— Tem Jackeline para todos, não há necessidade de brigarem
por mim! — digo me divertindo com ele.
— Preciso deixar claro para ele quem manda naquela porra,
caso contrário vai virar bagunça.
— Coisa de macho, é isso? — Brinco.
— Isso mesmo! — Ele sorri e se levanta da cadeira. — Quer
comemorar? Podemos ir jantar em um lugar diferente! — Rui diz
animado, me levanto da maca, e arrumo minha roupa.
— Eu topo! Mas quero tomar um banho antes e colocar um
vestido de grávida, bem lindo!
— Ok! Você quem manda, patroa — ele diz bem-humorado.
O sigo para fora da sala, mas agora com uma sensação
diferente.
Finalmente ele está aceitando a paternidade, e isso é
maravilhoso, e torna tudo mais colorido e prazeroso.
****
O vestido que escolhi para sairmos para jantar não é
propriamente chique, mas foi bem caro, e só comprei porque foi um
mimo do meu amor.
Feito em seda, com fundo branco e figuras geométricas
desenhadas no tecido, dando um ar étnico ao vestido. O decote do
busto é generoso, mostrando o colo dos meus seios sensualmente,
além disso, as mangas longas são levemente bufantes, e ele mostra
boa parte de minhas pernas.
Escolho um sapato alto prata velho, e uma bolsinha de mão da
mesma cor. Aos poucos, me acostumei a me vestir bem, e
aposentei de vez meu estilo despojado ou simplesmente relaxado
de antes.
Me olho no espelho do closet —já voltei para o meu quarto e do
Rui, é logico—, e me surpreendo com o efeito desse vestido em
mim, fico ainda mais grávida, talvez seja culpa do modelo tipo bata
que dá mais volume na barriga.
Me sinto linda!
Grávida, peituda, bunduda, barriguda, agora ferrou de vez! Mas
a questão é que o Rui vive me agarrando, me beijando e me
amando, como se eu fosse a mulher mais gostosa do mundo. Então,
resolvi esquecer meus complexos, sou amada e desejada pelo
homem da minha vida, não vejo mais razão pela minha obsessão
por um corpo magro e esguio.
— Você está linda, Jack! — Seus braços me envolvem pela
cintura, assim como acariciam minha barriga.
Me arrepio toda com um beijo molhado em meu pescoço.
— Estou pronta, amor! — respondo meio mole, dengosa e
apaixonada.
— Eu adoro essas covinhas! — Ele morde minha bochecha,
onde formam pequenas covinhas quando sorrio.
— Ai! — grito de prazer, e sinto uma onda de excitação. — Não
me provoca, Rui.
— Tudo bem! Vamos logo, na volta namoramos. — Ele bate na
minha bunda e sai para não levar bronca.
— Eu quero que você faça isso na hora do “rala e rola”, não
agora! — reclamo. O Rui anda muito delicado no sexo, estou
sentindo falta de uma pegada forte.
— Ah, é? — Ele dá risada. — Você quer uns tapas, Jack?
O sigo para as escadas.
— Quero! — respondo com um sorriso safado.
— Tá bom... hoje à noite vai ter sessão tortura! — ele diz
divertido.
Ele segura minha mão e me ajuda nas escadas.
— Só para deixar claro, só quero uns tapinhas! — digo distraída,
mas ele me agarra pela cintura e enche meu pescoço de beijos.
— Tá bom, minha gostosa! A gente faz umas loucuras hoje à
noite, pelo visto você está cansada do meu feijão com arroz!
Dou risada com sua constatação.
Logo estamos em seu carro a caminho do restaurante.
— Aonde vamos, Rui? — pergunto curiosa.
— Eu li esses dias a respeito da inauguração de um restaurante
delicioso de comida francesa, achei uma boa pedida para hoje à
noite. — Ele acaricia minhas coxas.
— Hummm, parece ótimo! — falo animada.
Adoramos sair para jantar e almoçar em lugares diferentes.
Depois de meses juntos, já me acostumei com o hábito do Rui de
comermos fora, mas também já fomos a shows de stand up
comedy, de música, teatro, enfim, saímos muito.
Finalmente ele estaciona em um lugar lindo.
— Pela movimentação deve estar cheio! — digo assim que ele
estaciona.
— Acho que sim. Mas como você está grávida, temos prioridade.
— Ele pisca.
Olho para ele incrédula.
— Iremos usar minha gravidez para furar a fila de espera,
advogado? — Dou risada.
— Lei é lei, minha gravidinha! — Ele sai do carro rindo.
Apenas balanço minha cabeça e deixo por sua conta.
Logo Rui está cochichando no ouvido do maître, e não demora
muito para uma moça bonita e educada nos levar em meio ao salão.
Antes que alcancemos nossa mesa, ouço o nome do Rui ser
chamado alto, ele olha para trás e sorri, parece deputado, aonde vai
tem algum conhecido.
Seguimos até uma mesa extensa, lotada de pessoas, parecem
comemorar alguma coisa.
— É um amigo, Jack. Vamos cumprimentá-los, depois voltamos
para nossa mesa. — Ele pega em minha mão e me conduz até o
local, percebo meia dúzia de olhares curiosos sobre mim, mas evito
dar muita atenção.
Alguns caras se levantam, cumprimentam o Rui e me olham
curiosos e assustados.
— Essa é a Jackeline! Não nos casamos de fato, mas estamos
juntos há quase um ano e já temos até um pacotinho a caminho! —
Rui diz bem-humorado, fazendo meia dúzia de caras rirem.
— Porra, Rui, parabéns! — Mais apertos de mãos, mais
perguntas, e então tomo um susto.
É muita falta de sorte!
Tento disfarçar, mas ela caminha com um homem em nossa
direção, ninguém menos do que a cobra peçonhenta Priscila
Albuquerque.
Sua expressão quando me vê é impagável.
Ela não disfarçou, e por um momento quase esqueceu seu
acompanhante e veio até mim para ter certeza do que estava vendo.
Talvez por reflexo, repouso minha mão sobre minha barriga,
como se pudesse protegê-la dos olhos invejosos dessa cobra.
Ela perde o rumo e o sorriso que estava esboçando no rosto.
Aperto a mão do Rui, mas ele está empolgado conversando, e
apenas me abraça mais ao seu corpo.
Finalmente, ela se aproxima de nós e interrompe a conversa do
Rui.
Sinto uma onda de energia ruim vindo dela. Se houvessem
plantas ao redor, elas morreriam, com certeza.
— Olá, Rui! — ela diz provocativa.
Rui para de conversar com o outro rapaz, olha para ela e não
disfarça seu descontentamento.
— Olá, Priscila, Henrique... Como vocês estão? — Ele me
abraça mais ao seu corpo, e o sinto tenso.
— Estou bem...E vocês? — Ela me olha com escárnio, e um
sorriso muito estranho se forma em seus lábios. — Vai ser pai, Rui?
— Sim! Irei ser daqui a alguns meses! — ele diz rapidamente. —
Dá licença, pessoal, mas precisamos ir. — Ele desvia dos dois e sai
em direção à saída.
— Rui, nós vamos embora? — pergunto confusa.
— Acho melhor, Jack. Não confio nessa mulher, vai que ela
resolve se vingar. — Ele balança a cabeça, nitidamente nervoso. —
Não vamos facilitar!
— Tudo bem. Se você quiser, voltamos para casa!
— Não! Vamos comemorar pelo nosso garotão! Eu conheço
outro restaurante francês, você vai gostar! — Ele me olha animado,
entrega o ticket para o manobrista, e me mantém abraçada junto ao
seu corpo, de forma protetora.
Suspiro de alívio. No fundo, agradeço ao Rui por mudar de
restaurante, seria indigesto jantar no mesmo lugar que aquela vaca.
Capítulo 5
RUI FIGUEIREDO
Domingo de manhã nunca foi o melhor dia em minha opinião.
De fato, e apesar de eu insistir em dizer que nunca me sentia
sozinho antes de conhecer a Jackeline, essa era mais uma das
mentiras que contava para mim mesmo, e para os outros.
Eu me sentia sozinho, e talvez o pior dia fosse o domingo.
Eu até podia pegar alguma mulher no sábado, mas nunca gostei
de trazer desconhecidas para minha casa. Geralmente o domingo
era dia de ficar sozinho.
Então, a sensação de prazer que sinto ao despertar e sentir o
perfume da Jack em meu nariz, seus cabelos em meu rosto, ou
suas pernas enroscadas às minhas, é muito grande.
Descobri que apesar dos problemas e confusões de um
relacionamento, o prazer de ter ao lado alguém por quem se esteja
apaixonado, se sobrepõe a tudo isso.
Tenho consciência que minha vida nunca mais será a mesma,
mas quer saber? Estou mais feliz hoje do que era há um ano.
Com certeza, a Jackeline mudou a minha vida. Ela derrubou
antigos paradigmas do que significava felicidade para mim, e
dinheiro e poder deixaram de ser as coisas mais importantes na
minha vida.
Reaprendi a viver e a valorizar antigos sentimentos como amor,
respeito e fidelidade.
Agora sim posso dizer que sou feliz! Antes, eu apenas me
divertia e passava meu tempo, e gastava meu dinheiro com noitadas
de prazer e sexo.
Estava tão habituado com o vazio que vinha depois disso, como
uma droga, que fazia cada vez menos efeito, porque nunca estava
satisfeito.
A Jackeline veio como um antídoto, cheia de personalidade e
atitude, me enfeitiçou, depois me enlouqueceu, e agora não sei o
que é viver sem essa italiana maluca.
Ela é minha prioridade agora, ela e esse carinha que está em
seu “forninho”, como o Carlão costuma dizer.
Sorrio e acaricio sua barriga por cima do tecido fino da camisola.
Ela está ainda mais linda assim!
Nunca me imaginei nessa situação, mas agora que estou nela,
me sinto um tolo de ter fugido tanto.
É claro que ainda virá muita coisa pela frente, o nascimento do
bebê, por exemplo, e isso me assusta e me causa insônia. Mas
estou tentando não pirar, e acompanhar o prazer e a leveza com
que Jack lida com tudo isso.
Abraço mais seu corpo junto ao meu.
Um sentimento de amor maior que o mundo cresce dentro de
mim, me fazendo ficar a cada dia que passa, mais protetor e
preocupado em relação à Jack, e como consequência, em relação
ao meu filho que está em sua barriga.
É estranho, mas incrível.
Demorou, mas compreendi e aceitei a sua gravidez, e agora não
quero que nada de mal aconteça a eles.
Relembro nosso encontro com a infeliz da Priscila, e do mau
pressentimento que tive quando a vi olhando para Jack e para sua
barriga.
A Priscila não me parece a pessoa mais desequilibrada do
mundo, mas também não confio nela.
Essa garota sempre foi obcecada por mim, desde muito jovem.
Eu, como idiota que era, achava isso engraçado, e gostava de tirar
proveito dessa paixão exagerada dela por mim.
Eu já fui bem imbecil, tenho que concordar com isso.
Mas, isso é passado, estamos separados faz muito tempo. Já
ouvi dizer que ela já está saindo com outros caras, mas, também, já
fiquei sabendo que ela vive querendo investigar sobre minha vida,
mas como me afastei do círculo de amizades em comum que
tínhamos, ela provavelmente achasse que eu e Jackeline já não
estávamos mais juntos.
Então, reencontrá-la me trouxe uma preocupação, um sexto
sentido.
Ela irá voltar a me procurar, eu tenho certeza disso.
Ok, mas não irei perder meu tempo com aquela garota tola!
Tenho coisas muito mais prazerosas para fazer, e uma delas é
acordar a minha deusa.
Começo com beijos suaves em seus ombros nus. Ela se mexe
um pouco, mas é fato, a gravidez transformou a Jack num bicho
preguiça.
— Bom dia, minha deusa! — Tiro seus cabelos do pescoço, e
deposito mais beijos.
Seu cheiro feminino entra em minhas narinas, e apenas isso me
deixa excitado. A Jack é a única mulher que me excita em qualquer
circunstância, até mesmo quando ela está brava e de mau humor.
— Hummm, adoro acordar assim... — ela diz preguiçosa.
Acaricio sua barriga redondinha e dura. Nunca imaginei me
sentindo atraído por uma mulher grávida, mas é fato, ando cada dia
mais apaixonado pela Jackeline, e o fato dela estar grávida não me
incomoda em nada, parece que me excita mais.
— Dormiu bem, Jack? — Esfrego meu nariz em sua pele.
— Dormi como um anjo.— Ela se vira para me olhar. — E você,
meu gato?
— Também! — Não quero preocupá-la com minha neurose
acerca da maluca da Priscila. — O que você quer fazer hoje, além
de dormir?
Ela gargalha divertida.
— Eu tiro sonecas, Rui. Eu não durmo.
— Ah tá! Pensei ter ouvido você roncando esses dias no sofá da
minha sala! — Ela bate de leve no meu braço.
— Aquele dia eu não estava muito bem. — Ela se levanta
animada. — Quero curtir o dia nessa área externa linda. Vou vestir
um biquíni e tomar sol na minha barriga branquela. — Ah, mais
tarde iremos passear com o Bóris, um passeio em família.
— Ok, combinado! — Cruzo meus braços atrás da minha
cabeça. — Mas antes disso, vamos brincar um pouco de papai e
mamãe?
Ela faz sua cara de safada.
— Não... quero brincar de incêndio! — Ela sobe na cama e
passa suas pernas ao redor do meu corpo.
— Incêndio? Como se brinca de incêndio, gostosa? — Acaricio
suas coxas grossas e torneadas.
Ela dá uma risada deliciosa.
— É assim... — Ela se inclina sobre mim, com seu jeito sensual
e provocativo. — Você é o bombeiro, e eu sou o incêndio, então,
você precisa apagar meu fogo! — ela diz maliciosa.
Gargalho com seu jeito.
— Tudo bem! — A viro num supetão, colocando suas costas no
colchão, prendendo suas mãos, e a fazendo gritar de susto. —
Minha língua vai apagar seu incêndio, minha delícia. — Começo
lambendo seu pescoço.
Ela ri desesperada.
— Você não vai usar a mangueira, Rui? — Ela finge estar
decepcionada. — Tem muitas labaredas para apagar.
— No final, moça. Tenha calma, sou um bombeiro experiente! No
final do incêndio eu tiro a mangueira do compartimento e acabo com
o restante do fogo que ainda reste!
Ela ri histericamente, diante de meus beijos e mordidas em seu
pescoço.
Adoro esse jeito que fazemos amor, brincamos, realizamos
nossas fantasias sexuais, rimos muito um com o outro, e no final,
sentimos muito prazer e felicidade.
Eu desconhecia o que era amar alguém assim, ou esse tipo de
relacionamento. Somos amigos, mas somos amantes, e para
completar ainda somos chefe e funcionária.
Caralho, é coisa pra caramba!
****
É começo de semana, eu e Jack seguimos com nossa rotina, ela
vem comigo para o escritório, às vezes, almoçamos juntos, às
vezes, almoço com clientes, e no final do dia, seguimos juntos para
casa.
Teoricamente, esse tipo de relacionamento poderia ser
desgastante, é tempo demais com a mesma pessoa. Mas,
incrivelmente, não nos estressamos um com outro, ao contrário, isso
nos une mais.
Estou sozinho em minha sala, a Jack saiu para seus exames de
rotina.
Meu ramal toca, vejo pelo display que é o assistente da
Jackeline.
— Pois não, Alexandre?— Atendo entretido com um processo
grande e milionário que estou estudando.
— Doutor Rui, tem uma moça na linha. O nome dela é Priscila
Albuquerque, ela disse que é promotora, posso passá-la para o
doutor?
Não me causa surpresa receber a ligação da Priscila, eu sabia
que ela me ligaria. Mas me causa surpresa ela ligar no número fixo
do escritório, se Jackeline estivesse aqui ela teria atendido, e isso
causaria uma confusão mais ou menos.
Mas não quero fugir feito um rato, preciso me livrar desse
encosto de uma vez por todas. Já me livrei de todas as mulheres
que me relacionava, agora só falta a Priscila, mas essa parece ser a
mais persistente.
— Pode passar, Alexandre!
Alguns segundos, e atendo-a:
— Rui Figueiredo — digo formalmente.
— Boa tarde, doutor! Aqui é a sua promotora preferida. — Ela dá
risada, e não sei qual a graça.
— Boa tarde, promotora! Não sei por que, mas eu sabia que
você me ligaria! — falo com ironia.
— Talvez porque você também esteja com saudades de mim —
ela diz confiante.
Fecho meus olhos de tédio.
— Então, Doutora Priscila Albuquerque, qual a honra que a traz
a esse humilde advogado? — Mais ironia, relaxo em minha cadeira,
e giro meu pescoço.
Por que será que essa mulher sempre me causou essa
sensação de estresse?
Ouço sua risada e bufo irritado.
— Saudades desse humilde advogado, que de humilde não tem
nada! — ela diz sedutora. — Confesso que fiquei surpresa em te ver
naquele restaurante com aquela mulher, e grávida.
Passo minha mão pelo rosto, balanço minha cabeça e tento não
perder a cabeça e mandá-la se foder.
— Pois é, Priscila. Faz tempo que não nos vemos, então muita
coisa aconteceu, espero que em sua vida também. — Inspiro. —
Como estão as coisas, seu pai, a promotoria? — pergunto com
tédio.
Talvez eu devesse ser grosso e acabar com essa ladainha, mas
estou sempre com a pulga atrás da orelha com essa garota
descompensada.
— Tudo ótimo... — um silêncio e então ela diz. — Você se casou
ou algo do tipo?
Resolvo abrir o jogo e assim me livro dela.
— Estamos morando juntos. Mais alguma informação? Foi para
isso que você me ligou? — falo sem paciência.
— É seu o filho? — Ela dá uma risada. — Quero dizer, você não
sabe. Provavelmente ela disse que sim, e você, tolinho, acreditou!
— Isso mesmo! Sou bem tolinho, e qualquer mulher me engana.
— Bufo irritado. — Eu estou bem enrolado, Priscila...
Ela me interrompe.
— Desculpe, só fiquei muito chocada quando vi a cena, você
sempre disse que não queria filhos. Enfim, quero seu bem, sempre
quis, por mais que você não acredite, quero ser sua amiga, Rui,
tivemos um relacionamento, não deu certo, mas eu o admiro como
pessoa, profissional...
— Obrigado, Priscila. Também quero seu bem, que você seja
feliz. — Reviro meus olhos.
— Sabe, eu forcei a barra aquele dia no meu apartamento, me
desculpe, Rui. Mas agora, estou em outra, namorando, enfim, o que
você acha de almoçarmos um dia, para trocarmos ideias, é sempre
bom ter uma amiga promotora — ela diz amigavelmente. — Não
faço amizades facilmente, mas abro uma exceção para o Doutor Rui
Figueiredo, o temido advogado dos promotores.
Dou risada.
— Pegará mal para você fazer amizade com o inimigo do seu
chefe, e de seus amigos de profissão — falo com cinismo.
— Oh, meu chefe é um babaca presunçoso, como você mesmo
diz. Aliás, você deveria seguir a área da promotoria, você leva jeito,
e seria o melhor promotor de São Paulo, meu pai pode te ajudar
com isso! E eu adoraria ser sua subordinada, sempre gostei de ser
submissa a você.
Balanço minha cabeça, essa mulher é doida, e eu perdendo
tempo com ela.
— Estou meio velho para recomeçar minha vida profissional.
Estou bem feliz com o meu escritório, vou deixar a promotoria para
os jovens formandos. — Pigarreio. — Eu não menti quando disse
que estava enrolado, estou analisando um processo bem grande e...
— Ok, ok, eu já sei, Mas e o nosso almoço? — ela insiste.
— Um dia desses a gente combina, Priscila — desconverso.
— Um dia desses é um dia muito longe, será que sua... oh, como
posso chamá-la? Esposa, amante, secretária?— Ela ri debochada.
— Não importa, ela por acaso agora manda em você?
— Sim. De certo modo, a Jackeline manda em mim, ela que
controla minha agenda, meus compromissos, enfim... — Solto o ar,
cansado dessa conversa. — Mas, um dia desses a gente marca,
fique tranquila.
— Ok, vou esperar. Devo me sentar? — ela diz sarcástica.
— Você quem sabe! — respondo cinicamente.
— Ok. Oh, estava me esquecendo de te dizer: eu realmente
menti quando disse que o meu chefe estava revendo o seu caso.
— Eu imaginava! — respondo irritado.
— Mas eu resolvi revê-lo, apenas como aprendizado, e
realmente você deveria ter sido preso naquela época, e perdido sua
OAB. Não sei como meu pai te absolveu, você errou feio, Rui, se
fosse hoje em dia... — ela diz com sarcasmo, e eu odeio cada vez
mais essa garota.
— Meu pai subornou seu pai, aquele velho corrupto não pode
ver dinheiro na frente! Aliás, seu pai também deveria estar preso,
junto comigo. — Bufo nervoso. — Mais alguma coisa, Priscila? Não
estou com tempo para seu joguinho, e só para ficar claro, não dá
mais para me colocar na cadeia, eu fui muito idiota por ter lhe dado
conversa aquela vez.
— Tá nervoso, Rui? Sim, eu não consigo colocá-lo na cadeia,
mas posso te difamar, o que você acha?! Me deixe ver como ficaria
o título da reportagem... “Advogado de sucesso foi quase
condenado pela justiça por facilitar lavagem de dinheiro de quadrilha
de contrabandistas”. — Ela dá uma risada malvada. — Seus clientes
milionários não iriam gostar de saber que você tem um pezinho na
criminalidade.
— Você é bem baixa, Priscila, mal-amada, e doente... — Rosno,
ela acabou com o pouco de paciência que ainda tenho. — Qual o
seu problema, garota? Dá para me esquecer e me deixar em paz?
Caralho, você fica remoendo coisas de quando eu tinha 25 anos,
qual o seu prazer em fazer isso? Me esquece, Priscila, vê se
encontra outro trouxa para encher o saco!
Bato o telefone com toda a força no gancho.
Puta que pariu, que sina é essa? Será que nunca me livrarei
dessa peste?
Capítulo 6
JACKELINE
Saio de mais uma consulta, e mais um exame de ultrassom.
Cheguei ao meu sexto mês, e isso é incrível, meu pequeno
milagre cresce a cada dia, sempre superando as expectativas. Ele
está grande e pesadinho, e será um menino lindo como o pai, tenho
certeza disso.
É uma retórica dizer que nunca estive tão feliz, dizem que a
maternidade causa isso, mas no meu caso não existe apenas um
motivo.
Estou amando muito, e o amor é como se fosse uma droga que
causa uma sensação extraordinária dentro da gente, nos deixando
mais felizes, mais bonitas, e mais um montão de coisas.
Dizem que o hormônio do amor é o mais poderoso do mundo, e
cura até doenças.
Se eu olhasse minha vida há um ano, eu não colocaria fé nesse
relacionamento, muito menos no Rui.
Ele mudou da água para o vinho, e saber que fui eu que causei
isso nele me causa uma satisfação que não tem tamanho.
Sim, a gente está feliz na mesma medida, não há descompasso
entre nós, e se algum dia ele não queria ser pai, e não queria viver
como se fosse casado, isso é coisa do passado.
Ele é o melhor companheiro que eu poderia ter, carinhoso,
atencioso, romântico em sua medida, preocupado comigo, presente,
vivemos grudados uma ao outro, como gêmeos siameses.
Bem, quando o bebê nascer, eu sei, será uma nova fase, e
teremos que nos adaptar, mas eu confio na capacidade de
adaptação fora do normal do Rui. Ele é um camaleão, se adapta
muito facilmente a qualquer coisa.
Eu o amo cada dia mais, e cresce por ele minha admiração,
respeito que não tem precedentes, eu o amo por completo, como
homem, amante, profissional, chefe...
Eu sei que ele tem seus defeitinhos, mas eu aprendi a lidar com
eles, assim como eu também tenho meus defeitos, e ele também
lida com eles.
Então, como ainda é cedo, e as coisas no escritório estão
tranquilas, tiro proveito de ser a... bem, não sei como me nomear,
talvez, mulher do chefe? Então, decido enforcar o resto da tarde, e
sigo para a casa da minha mãezinha linda.
Apesar de não morar mais com elas, ainda assim cuido de suas
necessidades, elas continuam dependentes de mim.
Aproveito e passo no supermercado, faço uma pequena compra
para elas, e depois de alguns minutos, estou no meu antigo prédio,
e parece até mentira que eu morava aqui.
Existem situações em nossas vidas que nos adaptamos bem
demais, e minha mudança para morar com o Rui foi assim, mas não
foi só pelo fato de ter mais conforto, mas sim porque desde que o
conheci não consigo mais viver longe dele.
Cumprimento o porteiro e sigo com as sacolinhas elevador
adentro, em segundos estou tocando a campainha do meu antigo
apartamento.
A porta abre e vejo minha mãe com uma toalha na cabeça.
— Jack, por que você não avisou que viria? — Ela pega as
sacolas apressada. — Não se deve carregar peso, filha. — Ela
deixa as sacolas na mesa, e volta apressada até a mim. — Nossa,
como sua barriga cresceu... — Ela coloca a mão em minha barriga,
admirada.
— Meu bebê está lindo, não tá? — Brinco.
Vovó se levanta do sofá e vem em minha direção.
— Jackeline, deixe-me ver como você está! — Ela apalpa minha
barriga, como se fosse uma médica. — Não está exagerando muito,
né, minha neta? Não se deve exagerar nessa fase. Você sabe do
que estou falando, não é mesmo?
Olho para ela confusa.
— Do que a senhora está falando? Não levanto pesos, essas
coisas, estou fazendo exercícios, mas são para grávidas.
Ah, uma novidade, o Rui dispensou o professor saradão,
gostosão e falador. Agora temos uma treinadora mulher, e ela é
especializada em grávidas, mas também orienta o Rui.
— Estou falando de “tcheco tcheco”, Jackeline! Molhar o
biscoito... — ela diz brava. — Aquele homem enorme, com aquele
negocião, pode machucar o bebê! — Ela sai andando para a sala
me deixando sem graça. — Imagine aquele homem entrando e
saindo, o que vai ser desse bebê! — Ela se benze. — Deus que me
livre, na minha época seu avô só comparecia uma vez por mês, e
olha lá.
— Oh, claro, vovó, era disso que a senhora falava. — Me sento à
mesa. — Estamos tomando cuidado. — Desconverso.
— Estou falando sério, Jackeline! Sossega o fogo dessa
periquita, agora você está grávida!
Vovó insiste em se meter em minha vida sexual, ela é hilária.
— Vovó, e a senhora acha mesmo que vou deixar meu
maridinho na seca, para ele procurar as quengas! — falo com ironia,
mordendo uma maça da fruteira.
— Oh, ele que resolva seus problemas manualmente, é assim
que os homens fazem.
— Eles resolvem com as quengas, vovó. Então, por enquanto,
vou seguir satisfazendo meu homem, até que sejamos obrigados a
parar.
Dou risada, e minha mãe ralha comigo.
— Vamos parar com esse assunto! Mamãe, deixe a Jackeline e
o Rui em paz, que mania a senhora tem de cuidar da vida deles! —
mamãe diz brava.
— Tenho quase oitenta anos, eu sei das coisas, e enquanto
viver, cuidarei da minha neta! — vovó diz brava, enrolando seu
português de Portugal.
— Tá bom, vovozinha! Fica calminha, tá? E falando em ficar
calma, cadê a titia? — pergunto vasculhando a sala.
— Foi encontrar seu novo namorado. Parece que agora é para
valer, é um homem de 65 anos, ex-militar, sua tia está animada.
Caio na risada, titia é muito persistente.
— Que bom, né? Tomara que ela encontre o amor, mas que não
venham morar aqui! — falo brava. — Não quero homens morando
com vocês, mamãe.
Minha mãe arregala os olhos.
— Tudo bem, Jackeline! Como sempre, mandona! — Ela arruma
a mesa. — Vou fazer um chazinho para você, e um bolo bem
gostoso.
Sorrio feliz, adoro os bolinhos da minha mãe.
Depois de papear muito com minha avó e minha mãe, resolvo ir
embora.
— Preciso ir, mãe. O Rui deve estar saindo do trabalho, quero
estar em casa para jantar com ele.
— Ok, meu amor, mas me deixe pegar os casaquinhos que
fizemos para o bebê! — Ela sai apressada e volta com dois
casaquinhos lindos em suas mãos.
— Oh, mãe, como ficaram lindos! — Admiro o trabalho dela e da
vovó. — São perfeitos, adorei! — As abraço emotiva.
— E o nome desse garoto, sai ou não sai?
— Hoje à noite irei decidir com o Rui, tenho uma sugestão, não
sei se ele concordará. Queria colocar o nome do papai nele, Luigi,
ficaria lindo, né?
— Oh, Jack, seria uma homenagem linda para seu pai, e para
mim também! — Seus olhos enchem de lágrimas, e logo ela as
limpa.
— Um grande amor nunca se esquece, né, mãe? — digo
entristecida.
— Você não tem ideia, Jack! Não há um só dia que eu não me
lembre dele, um grande amor nunca se esquece, vou morrer com
ele em meu coração. — Ela chora, e eu choro junto.
Depois de minutos de nostalgia, nos recompomos.
— Vá, Jack. Não gosto de vê-la dirigindo de noite, e o Rui deve
estar te esperando! — ela diz me dispensando.
— Ok, nos vemos logo. — Abraço novamente as duas.
— Não esqueça meus conselhos, Jackeline — vovó diz
novamente.
— Ok, vovó. Obrigada pelos conselhos. — Reviro meus olhos.
Sigo para a porta e logo estou em meu carro, seguindo para
minha casa.
****
Estaciono meu carro ao lado do carro do Rui, ele já chegou em
casa, mas eu já sabia, porque nos falamos no caminho.
Eu o achei um pouco nervoso, talvez tenha havido algum
problema no escritório, nem sempre ele desabafa comigo. Por vezes
o Rui é introspectivo, nem sempre confia em mim em relação a
todos os seus problemas.
Mas, tudo bem, minha meta é desestressá-lo e confesso, sou
boa nisso.
Então, sigo animada para nosso — sim, nosso — apartamento,
carregando uma sacola cheia de guloseimas —segundo minha mãe,
são exclusivamente para ele.
Abro o apartamento e meu filho peludo vem me dizer oi.
Depois de muitos afagos, beijos e lambidas, consigo me livrar
desse ser peludo e lindo, que encanta e diverte nossas vidas.
— Cadê o papai? — pergunto, e ele se sacode inteiro, late e
corre para o escritório.
Como pode, ele me entende?
Dou risada sozinha.
Deposito a bolsa e as sacolas em cima do sofá e saio em
direção ao seu escritório, que fica em uma porta discreta no
cantinho da sala.
Paro à porta e o vejo pensativo em sua cadeira confortável de
couro.
— Olá! — falo com um sorriso. — Posso entrar?
Ele me olha de soslaio e sorri fraco.
— Claro que pode. — Ele fecha seu notebook, e gira sua cadeira
em minha direção. — Tudo bem, barrigudinha? — Ele brinca, pega
em minha mão e me faz sentar em seu colo.
O abraço e beijo, e o sinto tenso.
— Melhor agora — falo dengosa. — Você está bem? — Acaricio
seus cabelos, ele tem cabelos tão macios e sedosos, parecem
cabelos de mulher.
— Estou bem, um pouco cansado, talvez estressado. — Ela dá
um sorriso fraco.
— Estou aqui para acabar com tudo isso! — Seguro seu rosto
entre minhas mãos e o beijo novamente, vagarosamente, cheia de
amor.
A gente separa os lábios, ele me olha, arruma meus cabelos, e
fala:
— E como está esse bebê? — Ele acaricia minha barriga.
— Muito bem, e com saudades do papai! — Brinco. — Vamos
tomar um banho de banheira, eu faço massagem em suas costas,
depois em seus pés... — Brinco, segurando meu nariz com os
dedos. — O que você acha?
— Perfeito! Pode subir, irei em cinco minutos! — Ele me
dispensa, e me tira de seu colo.
— Tá bom! Te espero na banheira.
Hum, ele está esquisito hoje! Odeio isso.
Sigo para nosso quarto, entro em nosso banheiro, abro as
torneiras da banheira e tiro minha roupa.
Já não consigo mais usar minhas saias e calças sociais, então,
comprei algumas peças para grávidas, calças com elásticos,
blusinhas soltinhas, entre outras peças, mas ainda consigo usar
alguns antigos vestidos.
Enquanto a banheira não enche, me olho no espelho. Minha
barriga está bem bonitinha, ela é pontuda, de costas não é possível
saber que estou grávida.
De repente, meu grande amor aparece em minhas costas, me
abraça e beija meu pescoço.
— Está admirando sua barriguinha? — ele diz carinhoso,
passando suas mãos grandes em toda a sua extensão.
Me viro para olhá-lo e abraço seu pescoço.
— Sim, adoro olhar para ela! — Acaricio seus cabelos. — Está
tudo bem? Você parece preocupado.
Ele tira seus braços da minha cintura, e começa a tirar sua
camisa.
— Só algumas preocupações, nada que mereça a sua atenção.
Estou precisando da minha dose diária de Jackeline! — Ele me olha
sobre as sobrancelhas, do jeito mais sexy do mundo.
Sorrio, o ajudou a terminar de abrir os botões, depois sua calça,
e finalmente ele está do jeito que gosto.
Sigo para a banheira, entro e estendo minha mão para ele.
— Vem, amor!
Ele sorri, e segura minha mão, me sento, e em seguida ele se
encaixa entre minhas pernas, e relaxa seu corpo contra o meu.
Pego o sabonete líquido e começo a espalhar pelos seus
ombros, ao mesmo tempo em que fricciono seus músculos.
— Está gostoso assim? — falo em seu ouvido, beijando sua
orelha.
Ele sorri.
— Está muito gostoso! — ele responde manhoso.
Deslizo minhas mãos para seu peito, e passeio pelo seu tórax
definido e peludo. Ele é todo másculo, e não consigo ficar muito
tempo somente massageando-o, e quando vejo já estou beijando
seu pescoço, orelhas...
— Isso não é massagem, Jack! — ele diz divertido, pega em
minha mão, e a desce até seu membro. — Faça massagem nele
também, ele está precisando.
Mordo sua orelha.
— Por que você é tão gostoso? — falo rindo, ele vira se rosto e
me beija.
— Vamos relaxar de outro jeito, delícia — ele diz em meio ao
nosso beijo, segura em meus cabelos e abre aqueles olhos claros
lindos. — Fica de quatro para mim.
Ele abre espaço, me apoio na banheira, e já o sinto esfregando
sua ereção entre minhas pernas.
— Rui, devagar, tá? — sussurro.
Às vezes, ele se empolga, e me incomoda um pouco.
— Tá bom... — Ele esfrega sua barba por fazer em meu rosto,
me beija, segura meus quadris e me penetra. — Desse jeito está
bom para você? — ele diz em meu ouvido, com sua língua quente
me enlouquecendo.
— Sim, assim, continua!
Ele segura meus seios com suas mãos, ao mesmo tempo,
chupa, morde e beija meu pescoço, meus ombros, minhas costas...
Oh, céus, como adoro suas carícias, essa boca bendita.
— Está gostoso, Jack? — Ele volta a segurar meus quadris,
seus movimentos agora são viris, intensos.
Fecho meus olhos e tento controlar meus gemidos.
— Tá, Rui... — Ofego de prazer. — Hum... continua...
Ele engole minha orelha, em seguida desce seus lábios para
meu pescoço, volta a beijá-lo...
— Assim?— Ele aperta mais meus quadris, aumenta seus
movimentos.
— Isso! Ahhh...— Gemo alto, aquela sensação toma conta de
mim. — Ohhh, Ruiii!!! — Chego ao orgasmo.
— Vou gozar, Jack, não estou mais aguentando... — Ele envolve
meu corpo com seus braços, pressionando nossos corpos, aumenta
seus movimentos...
— Goza, Rui! — falo em soquinhos, ainda experimentando o
amortecimento delicioso do orgasmo.
— Ohhh, minha gostosa! — ele urra, me aperta, geme alto, e
finalmente goza. — Que delícia, Jack! — ele diz sem fôlego.
Aos poucos ele volta a sua consciência, beija meu rosto, e diz:
— Tudo bem, minha deusa? Exagerei? — ele diz ofegante.
— Não, foi perfeito! — Viro meu pescoço. — Me beija!
Nos beijamos apaixonados e sinto aquela sensação maravilhosa
dentro de mim, de conexão, de amor, de felicidade.
— Te amo, Jack!
Ele me olha intensamente.
— Eu também. — O beijo novamente. — Vamos finalizar nosso
banho? Assim posso servir nosso jantar!
— Tudo bem! — Ele se levanta, pega em minha mão e me leva
para o box.
Ficamos alguns minutos embaixo da ducha, um ensaboando o
outro, em um silêncio confortável, apenas carinhos, beijos, uma
conexão que só é possível quando se está amando.
— Vou descer e arrumar a mesa. Te espero lá embaixo. —
Termino de me secar, coloco um roupão e sigo para a porta.
— Pode ir, já estou indo — ele diz enquanto seca os cabelos.
Desço para cozinha, agora sou uma perfeita dona de casa —
quero dizer, mais ou menos —, arrumo a mesa de jantar, coloco as
comidas para esquentar e o vejo descendo com o Bóris em seu
encalço.
Logo estamos os dois sentados à mesa, conversando, rindo e
comendo.
— Rui, você já tem suas sugestões para o nome do nosso bebê?
— Brinco com a taça de suco.
— Desculpe, Jack, não consigo pensar em nenhum nome. Quem
sabe Rui Figueiredo Júnior? — Ele dá risada.
— Oh, sério? Acho tanta falta de criatividade dar o mesmo nome
do pai. — Torço meus lábios. — Bom, mas se você realmente
quiser...
— Não, eu não quero. — Ele pisca. — Então, quais são suas
sugestões? — Ele afasta seu prato e me olha.
— Ok, não dá risada, tá? — Afasto meu prato e respiro fundo. —
São todos nomes italianos. Com exceção de um, são nomes de
pessoas da minha família, falecidos, é claro!
Ele torce o nariz.
— O primeiro é o nome de meu pai: Luigi. Não quero ser
altruísta, mas eu amava demais o meu pai, e seria uma forma de
homenageá-lo.
— Ok, e o segundo? — Ele cruza seus braços.
— Ruggero, o nome do meu avô. — Sorrio.
— Certo, e o último? — Ele segura um riso.
— Alberto. É o nome do meu avô por parte de mãe, minha avó
que pediu para incluir o nome do meu avô na lista.
Ele balança a cabeça e ri.
— Gosto de Luigi, e já que é para homenagear alguém, que seja
seu pai.
Abro um sorriso maior que o mundo, levanto-me, sigo até sua
cadeira e sento-me em seu colo.
— Obrigada, Rui! — Beijo seus lábios. — Minha mãe ficará muito
feliz, além de mim, é claro!
— O que não faço chorando para te ver sorrindo, Jackeline? —
Ele dá um tapa em meu bumbum. — Vamos arrumar essa bagunça,
e depois vemos um filme, o que você acha?
— Adoro... já até sei o filme que veremos hoje.
Me levanto animada, começo a recolher as louças, ele me segue
levando as travessas, colocamos as louças sujas na lava louça, e
seguimos para a sala de televisão.
Nossa rotina tem sido bem caseira, com algumas saídas
esporádicas, mas durante a semana seguimos numa rotina de
casal, sem exageros, mas muito prazerosa.
Ele se deita no sofá, me deito entre suas pernas, e só para
completar, o Bóris encontra um espacinho entre nós, e assim
terminamos nossa noite vendo um pouco de televisão, conversando
e finalmente, dormindo um aninhado ao outro.
****
Chegamos ao escritório, e como sempre sigo para a sala do Rui,
abro suas janelas, organizo sua mesa, seus lápis, e termino como
sempre com um beijinho em meu chefe amado, e retorno para
minha sala.
As primeiras horas do dia passam tranquilamente, estou
entretida com minhas tarefas, e então Alexandre surge em minha
sala com uma caixa em mãos.
— Oi, chefinha! Acho que alguém enviou um presente para você!
— ele diz com seu sorriso fácil.
Adoro esse menino, ele é tão comprometido, competente e
proativo.
— Presente para mim? — Me levanto animada.
— Parece! Olha a caixa que linda! — Ele coloca a caixa sobre
minha mesa, num tom de rosa bebê, com motivos infantis, e uma
fita branca grossa de cetim transpassada, formando um lindo laço
na parte de cima.
— Quem trouxe? — pergunto curiosa.
— Um motoboy, mas não deixou nenhum cartão, deve estar no
interior da caixa. — Ele me olha curioso enquanto desfaço o laço.
— Adoro ganhar presentes! Quero dizer, esse parece ser para o
meu bebê! — falo sorrindo e cada vez mais curiosa, não consigo
pensar em alguém que possa ter enviado o presente.
Finalmente o laço está desfeito, abro com cuidado a caixa e
então meu coração dispara e dou um grito, e quase caio ao tentar
me afastar.
Tanto eu quanto Alexandre estamos em estado de choque.
Minhas pernas estão como gelatinas, coloco minhas mãos sobre
minha boca, e olho aterrorizada para o interior da caixa.
A porta abre em um solavanco e o Rui aparece assustado.
— O que aconteceu aqui? — ele pergunta atônito.
Estou petrificada, não consigo sair do lugar.
— Rui, olha o que enviaram para mim nessa caixa.
Ele se aproxima, e então toma um susto.
— Meu Deus! Quem enviou isso? — ele diz assustado.
— Não sei, Doutor Rui. Um motoboy apenas entregou e disse
que era para a Jackeline! — Alexandre responde.
De repente, sinto novamente aquela sensação de torpor, um
escurecimento em meus olhos, e falta de ar.
— Rui, eu vou desmaiar...
E desmaio.
****
A inconsciência foi momentânea, seguida por uma espécie de
pesadelo, a imagem da ratazana enorme, peluda e ensanguentada,
não sai da minha cabeça.
Desperto com meu coração na boca.
Me levanto de sobressalto do sofá do Rui, onde estou deitada.
— Calma, Jack! — Ele me olha preocupado. — Você está bem?
Fecho meus olhos, e tento não pensar naquele bicho nojento e
asqueroso.
— Tiraram a caixa da minha mesa? — pergunto com minhas
mãos trêmulas.
— Claro! — Ele me abraça. — Fique tranquila, a pessoa da
limpeza desinfetou sua sala, e colocou fogo naquela coisa.
— Meu Deus, Rui! Quem mandou aquilo? — falo aterrorizada.
— Não sei, alguém que queria te assustar. Mas eu já disse para
o Alexandre não te entregar mais nada antes de checar, e o que não
tiver remetente, ele devolverá.
Solto um soluço de choro, estou muito assustada, nunca vi nada
mais apavorante.
Ele me abraça forte, beija meus cabelos e então me olha.
— Acho melhor te levar até um hospital, você está nervosa, não
sei como o bebê está. — Ele me olha tenso.
— Já passou, só estou assustada. — O abraço junto a mim. —
Acho que não tenho condições de trabalhar.
— Vou te levar para casa... — Ele se levanta e pega seu terno.
— Vem, Jack, você fica em casa. Amanhã a gente vê o que faz, se
você ainda estiver assustada, eu me viro com o Alexandre.
Me levanto, respiro fundo e o sigo para minha sala, olho para
minha mesa com uma má impressão, mas o ambiente está com
cheiro de limpeza, álcool e essas coisas.
Pego minha bolsa e sigo com o Rui de mãos dadas para as
escadas.
Chegamos à recepção e o Alexandre vem em minha direção
preocupado.
— Você está bem, Jackeline?
Sorrio para confortá-lo.
— Sim, mas vou para casa. Qualquer dúvida, você me liga! —
digo rapidamente.
— Fique tranquila! Eu cuido das coisas para você!
Me despeço e depois de alguns instantes estamos em casa.
— Vem, Jack. Acho melhor você tomar um banho, depois você
se deita e fica quietinha. Vou avisar a Jô para fazer um chá para
você! — Ele me ajuda a tirar o vestido, me fazendo sentir como uma
criança.
Ele espera eu tomar o banho, me embrulha em um roupão e me
leva para cama.
Sorrio com seu jeito, parece um enfermeiro.
— Eu já estou bem. Talvez eu volte depois do almoço, só preciso
esquecer aquele bicho. — Fecho meus olhos para esquecer.
— Ok, vamos fazer assim, eu venho almoçar com você. — Ele
me cobre com a colcha, acaricia meus cabelos e me olha. — Você
está bem mesmo, posso ir?
Acaricio seu rosto preocupado.
— Está tudo bem! Pode ir! — respondo para tranquilizá-lo.
— Eu ficaria aqui, Jack, mas temos aquele processo grande, e
marquei uma reunião com os nossos advogados...
O interrompo.
— Eu sei. Pode ir, eu vou ficar bem com o Bóris! — Acaricio o
pelo macio do Bóris, que já está deitado ao meu lado, com seu
focinho em cima da minha barriga. — Ele cuida de mim.
Sorrio e puxo o Rui para perto.
— Te amo!
— Eu também, minha deusa... — Ele coloca sua mão sobre
minha barriga. — Tem certeza que ele está bem? Não precisamos ir
a um médico?
— Não. Já passou o mal-estar, vou dormir um pouquinho. —
Sorrio novamente, seguro em sua nuca e o puxo para um beijo terno
e apaixonado.
— Eu te amo! — ele diz me olhando intensamente. — Qualquer
coisa, me liga! — Ele se levanta segurando em minha mão.
— Tudo bem! Pode ir tranquilo! — Solto de sua mão e sigo-o
com o olhar até a porta.
— Tchau! Daqui a pouco estou de volta! — Ele manda um beijo e
sai.
Respiro fundo e tento não pensar no que aconteceu.
Apenas em filmes de terror eu vi algo parecido, e me vejo
tentando pensar nas possibilidades.
Que tipo de pessoa envia uma ratazana morta e estripada para
alguém?
Algumas pessoas veem a minha mente, mas nada faz muito
sentido para mim.
Não vou negar, estou assustada. Isso é coisa de gente louca e
desequilibrada.
Me aninho ao travesseiro, e ao meu filhote canino, que como se
sentisse minha aflição, se aconchega mais ao meu corpo.
— Isso, Bóris, me ajuda a esquecer do que vi!
Capítulo 7
RUI FIGUEIREDO
Aquela merda daquele presente acabou com meu dia, quero
dizer, presente o caralho!
Minha mente ferve, existem algumas possibilidades, mas não sei
porque a única que acho viável é a Priscila.
Louca, obcecada e ofendida.
Não quis me casar com ela, sempre dizia que não queria filhos,
ou seja, os ingredientes são perfeitos para uma maluca.
Mas, é que não a imagino fazendo isso.
Porra, a garota é rica, linda e inteligente, e acabou de se tornar
promotora! Por que ela faria isso?
E se ela quer se vingar, é fodendo a mim, e não a Jack.
Tudo bem, ela atingindo a Jack, ela me atinge...
Mas, não posso sair ligando para ela e a culpando, parecerei
maluco.
Esmurro minha mesa nervoso.
Estou preocupado com a Jack. Ela ficou tão assustada, e está
grávida, não pode passar por emoções fortes.
Oh, caralho! Que ódio de quem quer que seja.
Me levanto, pego meu terno e sigo para a garagem.
Me sentirei melhor ao vê-la e saber que ela está bem, e o bebê
também.
De repente, sinto aquela sensação de medo, quando a gente
ama muito alguém, não queremos que nada de mal aconteça a ela.
Talvez eu devesse deixá-la em casa até que o bebê nasça, me
viro com o Alexandre, e contrato mais alguém para ajudar na
recepção.
Isso, vou conversar com ela sobre isso.
Em meio aos meus pensamentos, nem notei quando cheguei em
frente ao nosso prédio. Entro na garagem, estaciono o carro e sigo
ansioso pelo elevador.
A música ambiente, o cheiro de comida e o frenesi do Bóris na
área externa me causam uma sensação boa.
Sim, ela está bem.
Sorrio a vendo com o Bóris dentro da piscina, ele nada e brinca
de pegar coisas. Esse cachorro nunca teve uma vida tão boa!
Me aproximo e a olho com admiração e amor, nunca me imaginei
amando tanto alguém.
— Que vida boa, hein! — digo em frente a porta de vidro,
morrendo de medo do Bóris pular em mim encharcado de água.
Ela me olha sorrindo.
— Eu e o Bóris estamos fazendo exercícios. — Ela segue até as
escadas. — Já vou sair.
A admiro enquanto sai da piscina, sua barriga está bem grande,
e parece que todo dia que ela acorda está maior.
Pego a toalha e a enrolo nela, abraço-a e a beijo. Parece que
algumas horas separados já causam uma saudade enorme.
— Como você está? — Separo meus lábios dos dela, e como
reflexo coloco minhas mãos em sua barriga.
— Muito bem! — Ela sorri, com sua boca linda, bem desenhada
e vermelha.
Acho que a primeira coisa que me apaixonei pela Jackeline foi
sua boca, adoro beijar e morder esses lábios carnudos.
— Pare de olhar para minha boca, Rui, eu estou falando com
você! — Levanto meus olhos e ela me olha divertida.
— Eu estava lembrando que quando te vi pela primeira vez,
fiquei louco pela sua boca... e pelos seus peitos, é lógico!
— Oh, você é bem safado! Aquele dia tive vontade de dar um
murro em sua cara! — Ela faz uma careta.
— Mentira, você ficou louca para me agarrar e me encher de
beijos. — Tomo um tapa no braço e saio apressado, vendo o Bóris
se sacudir inteiro e jogar água para todos os lados. — Vem, Jack,
deixa o Bóris aí para se secar.
Subimos as escadas, ela segue para o banheiro, mas para na
porta e diz:
— Toma banho comigo? — Eu conheço essa carinha, e não é só
banho que ela quer.
— Só banho, ou tem mais alguma coisa que iremos fazer? —
Não espero a resposta, jogo meu sapato longe, e começo a
desabotoar minha camisa apressado.
Ela dá risada.
— Não preciso responder, parece que você já entendeu minha
mensagem. — Ela pisca e entra no banheiro, e eu feito um louco
arranco minhas roupas, porque não sou de ferro. Se tenho tesão
pela Jack de roupa, imagine sem elas.
****
Beijo seus cabelos e a abraço junto ao meu corpo.
— Está bom demais aqui, Jack, mas eu estou precisando de
comida, e também trabalhar — ela resmunga e me abraça mais.
— Só mais cinco minutos! — Ela beija meu pescoço. — Posso
voltar com você? Já passou aquele mal-estar, já estou bem!
Penso um pouco....
— Não, hoje vou te dar o dia de folga. — Beijo seus cabelos
novamente. — Você está gravidinha, precisa descansar e... — Puxo
seu rosto para ela me olhar. — Eu estava pensando... — Ela franze
sua testa. — Você já está de seis meses, talvez fosse melhor ficar
em casa, eu me viro com o Alexandre.
Ela me interrompe brava.
— Eu não quero ficar em casa, estou ótima! Hoje foi só um
incidente de alguma ex-namorada sua, enciumada e louca. — Ela
se levanta.
— Jack, só estou pensando em você e no bebê. Eu sei que
gravidez não é doença, mas a correria do escritório pode te
estressar, e mulher grávida não pode ficar estressada.
Ela vira seu pescoço e me olha com as mãos na cintura.
— Vou querer seis meses de licença maternidade, chefinho.
Então, deixe para ser generoso comigo quando o bebê nascer. —
Ela segue para o closet.
Pulo da cama.
— Ok, Jack! Mas hoje você fica em casa, por favor! — A abraço
pelas costas, beijo seu pescoço, e amoleço a fera. — Aquilo te
abalou, você desmaiou e tudo mais. — A faço ficar de frente para
mim, acaricio seu rosto. — Sou um chefinho bonzinho com mulheres
grávidas. — Acaricio sua barriga, me agacho e a beijo. — Não quero
que nada aconteça a nosso bebê.
Seus olhos enchem de lágrimas, ela finge ser durona, mas é
uma manteiga derretida.
Me levanto e limpo suas lágrimas.
— Tudo bem, eu fico, e... obrigada por cuidar de nós dois — ela
diz emotiva.
Sorrio e a beijo novamente, e a gente se olha por alguns
segundos, porque conversamos pelo olhar.
— Preciso me apressar, tenho mais uma reunião à tarde, e
amanhã temos a primeira audiência desse processo. Vai ser foda,
Jack, o advogado do milionário é bom pra cacete.
Ela segura meu rosto e me beija novamente.
— Tudo bem, advogado, mas você é melhor, muito melhor! Ele é
foda, e você fodão. — Ela sorri, solta beijos no ar, e sai rebolando
seu traseiro gostoso, só para provocar o pobre coitado do meu pau.
— Quero ver você se rebolando assim à noite, Jackeline, e de
preferência em cima do meu pau. — Seguro meu cacete duro entre
minhas mãos e balanço para provocá-la.
Sua gargalhada gostosa e espontânea reverbera pelo closet.
— Seu devasso!
Adoro vê-la rindo, é um afrodisíaco para mim...
****
Passo as mãos pelos meus cabelos freneticamente.
Confesso que hoje não estou nos meus melhores dias para uma
reunião com cinco advogados.
Se um advogado sozinho pode enlouquecer alguém, imaginem
cinco!
— Porra, vocês são bem enrolados! Mas que porra de confusão!
— Me levanto nervoso.
— Mas, chefe, a Carolina só fala merda — o puto do Fernando
diz, e sem que eu tenha controle, a maluca se levanta insana,
agarra no colarinho do Fernando e vocifera feito uma leoa em sua
cara.
— Quem só fala merda aqui é você, seu imbecil! Se você falar
mais uma vez assim comigo, eu quebro sua cara! — A puxo de cima
do Fernando, que parece meio amedrontado com o ataque de
nervos da amiguinha da Jack.
— Calma, Carol. — A afasto e a faço se sentar. — Bom, para
não ter confusão, o Fernando fica fora desse caso, cuide do caso da
família Costa, e a Carol será minha assistente neste processo.
Ele esbraveja nervoso.
— Como assim? Eu sou o advogado mais antigo dessa merda!
Por que você sempre dá preferência para essa machona do
caralho?!
Porra, agora ele pegou pesado, e eu tive que segurar novamente
a Carolina.
— Fernando, eu até tenho tido paciência com você, mas não
terei com ofensas em relação à individualidade de cada um. Você
está fora do grupo, do escritório, você está demitido. — Sigo para o
telefone, e seleciono a tecla do RH.
— Rui, espera! — Ele vem desesperado até mim. — Eu perdi a
cabeça! A Carolina me deixa nervoso! Porra, pergunta para todo
mundo, ela é muito mandona, se acha a melhor...
— Mas ela é a melhor, e estou pensando em torná-la uma
associada. Quero dizer, está feito, agora você é uma associada,
Carolina... — Sua cara brava e turrona se desfaz, ela abre um
sorriso lindo, porque a Carolina é muito bonita, pena que não gosta
da coisa. — Fernando, você é bom, mas muito vaidoso, e também
costuma importunar as mulheres com suas cantadas ridículas.
Ele me olha ofendido.
— Olha quem fala! Comia todas as funcionárias, e agora só
porque está bancando o marido fiel, quer dar um de chefe sério.
Ninguém fala assim comigo, muito menos esse merdinha de
advogado, metido a besta. Ele pode até ter razão, mas vamos dizer
que a mulherada sempre se jogou nos meus braços.
O olho de lado, olhos semicerrados e punhos fechados.
Homem tem um negócio esquisito, quando mexem com nosso
brio, ficamos nervosos, perdemos a cabeça, e assim aconteceu
comigo. Quando me dei conta, o joguei contra a parede, segurei seu
colarinho, e só não o esmurrei porque a Carolina cochichou no meu
ouvido que isso daria um processo.
— É verdade, Carol. — Me afasto do merda. — Fernando, não o
quero mais aqui! Arrume suas coisas e saia imediatamente. — O
gerente do RH entra na sala. — O Fernando está demitido. O
acompanhe, e não o deixe acessar mais nada no escritório, o rapaz
da informática enviará para ele um pen-drive com suas coisas
pessoais.
Ele me lança um olhar cheio de ódio.
Olho para os olhos amedrontados dos outros advogados.
— Acabou o circo, voltem ao seu trabalho! Que isso sirva de
lição para todos, não aceitarei nenhum tipo de ofensa em relação a
gênero ou preferencial sexual.
Todos balançam suas cabeças acuados e seguem para a porta.
Volto para minha mesa e bufo exausto.
Eu até gostava do Fernando, e tolerei sua falta de postura
durante muito tempo, inclusive com a Jackeline.
Mas, eu não aceito homofobia em meu escritório.
É isso, o que está feito, está feito, uma maçã podre a menos,
melhor assim.
****
Como em todos os momentos tensos de minha vida, procuro
refúgio e sabedoria no cara mais importante da minha vida, meu pai.
Não sei o que será de mim quando ele não mais existir, mas hoje
ele está aqui e eu preciso desabafar com ele a agonia que aquela
merda de caixa me causou, e talvez minha explosão de nervos com
o Fernando tenha sido causada por aquilo.
Estou com um nó no estômago e preciso conversar com alguém.
Seleciono seu contato, e logo ele me atende:
— Olá filho! Como estão as coisas? A Jackeline está bem, e o
bebê? — Seu tom de voz é sempre o mesmo, nunca conheci
alguém tão controlado emocionalmente quanto meu pai, poucas
coisas o abalam.
Confesso que minha decisão de assumir a gravidez da Jackeline
no início foi por ele, seu abalo emocional me deixou preocupado.
— Ela está bem, o bebê também! — Sorrio ao pensar nela. —
Vou mandar uma foto do bebê em sua barriga para o senhor vê-lo,
ele é a minha cara!
Ele gargalha.
— Quando vocês virão nos visitar? — Fecho meus olhos, duvido
que a Jack tope rever minha mãe.
— Pai, vou ser sincero, duvido que a Jackeline queira rever
minha mãe. Ela fez uma desfeita muito grande com a Jack.
Ele bufa do outro lado da linha.
— Eu sei, e sinto muito por isso. Talvez a Jackeline não queira
que participemos da vida do seu filho, a Raquel cometeu um grande
erro.
— Vamos deixar para nos preocupar com isso quando ele
nascer. — Tento não transparecer meu desânimo com relação a
esse assunto.
— Tudo bem, mas mande lembranças minhas a ela!
— Claro, eu direi! — falo ansioso.
— Está tudo bem, Rui? Você parece um pouco... aflito?
Difícil de esconder algo desse velho sábio.
— Aconteceu algo muito estranho hoje pela manhã. Enviaram
uma caixa de presentes para a Jackeline, com um rato morto dentro!
— O que você está falando? — ele diz assustado.
— Ela até desmaiou, pai! Eu desconfio da louca da Priscila, mas
não tenho como provar isso.
— Mas, você acha mesmo que aquela menina faria algo tão
baixo? Ela é tão centrada.
— Acho que ela é mais maluca do que parece.
— Não havia nenhum cartão? Óbvio que não! — Ele próprio
responde.
— Não, e foi um motoboy que entregou a encomenda dos
infernos.
— E se você entrar em contato com a empresa de motoboys?
Talvez consiga descobrir quem solicitou a entrega!
— Sim, mas ele não deixou nenhum comprovante ou coisa do
tipo!
— As câmeras, Rui! Acesse as câmeras, e veja alguma
identificação do motoboy.
— Porra, como não pensei nisso? — falo puto comigo mesmo.
— Porque sou melhor que você! — Ele dá uma gargalhada.
— Tudo bem, velho sabichão, você venceu! Ainda preciso
melhorar muito para chegar aos seus pés. — Sorrio.
Ele dá mais risadas, adora quando digo que ele é melhor do que
eu. De fato, acho que gostamos de competir um com outro, coisa de
homem, e de pai e filho.
— Então faça isso. e me ligue para avisar o que conseguiu.
— Ok, pai, depois nos falamos. Obrigado!
Desligo o telefone e ligo imediatamente para a empresa de
monitoramento.
Depois de aproximadamente uma hora de espera o telefone
toca, é o Alexandre.
— Doutor Rui, o rapaz da empresa de segurança entregou um
DVD para o senhor!
— Ok. Suba aqui, vamos ver o que temos nessa filmagem.
Um toque na porta e ele entra agitado. Aliás, esse menino
parece uma pipoqueira ambulante, está sempre saltitante.
— Aqui, Doutor Rui! — Ele me entrega o DVD.
— Puxe uma cadeira, vamos ver juntos, você me ajuda com isso!
Insiro o DVD em meu computador, uma tela grande abre com
diversas gravações, seleciono o horário aproximado e coloco para
rodar.
Uma moto estaciona em frente ao escritório e um rapaz com
uma roupa preta sem identificação desce da moto.
— Dessa posição não conseguimos ver nada, doutor. Talvez no
final da filmagem, quando ele vai embora, eles costumam ter a
identificação na parte de trás do baú da moto. — Ele me olha
esperto por detrás de seus óculos de grau.
— Você tem razão. — Acelero a filmagem.
Ele segue até a moto, volta a colocar seu capacete e faz a
manobra de retorno, e então vemos uma identificação na parte de
trás.
— Aí, doutor! — Ele grita com sua voz esganiçada em meu
ouvido.
— Se acalma, Alexandre! Está parecendo a Jackeline! — Olho
para ele enviesado.
— Oh, me desculpe! Estou um pouco nervoso com o que
aconteceu. — Ele faz cara de nojo.
Tiro uma foto da tela, abro o aplicativo de fotos e tento dar um
zoom na imagem.
Apesar da qualidade ruim, dá para ver o nome da porra da
empresa.
— Anota o nome, Alexandre, vamos procurar na internet.
Saio do aplicativo de imagens, entro em um site de busca e
digito o nome da empresa.
Alguns nomes aparecem na tela, mas nada relacionado à
empresa de courrier.
— Parece que eles não possuem site, doutor! — Ele me olha
desanimado.
— Ok, vá para sua mesa e tente achar alguma coisa. Eu não
posso perder mais tempo com isso, amanhã tenho uma audiência, e
preciso me preparar.
— Tudo bem... — Ele se levanta e sai da sala.
Se foi a Priscila que fez isso, ela é muito inteligente, e não acho
que facilitaria minha vida para provar que foi ela que armou essa
brincadeira de mau gosto.
Preciso voltar ao meu trabalho, depois vejo isso com mais calma.
Capítulo 8
JACKELINE
Passado o susto com o presente de grego que recebi, volto ao
escritório renovada.
Não sou uma princesinha assustada, não é qualquer coisa que
abalará minha felicidade.
Eu acho que o Rui deve imaginar quem foi a donzela ofendida
que resolveu se vingar do seu amor não correspondido.
Talvez uma daquelas vagabundas que estavam em seus
contatos de mensagens instantâneas.
Tem também a Priscila Desequilibrada da Silva, mas já faz tanto
tempo que os dois terminaram, não vejo o porquê de ela querer me
presentear com uma ratazana peluda.
Urgh!
Não quero pensar mais naquilo, e que Deus o tenha, ou o diabo.
Chamo meu assistente pelo ramal, estamos organizando um
coquetel rápido para comemorar a ascensão da minha amiga linda a
mais nova associada do escritório de ninguém menos do que Doutor
Rui Figueiredo.
Essa comemoração é épica, porque o Doutor Rui Figueiredo era
um ser meio asqueroso, que não convidava mulheres para serem
associadas, e também não contratava gays.
Mas isso é passado, e agora ele é um cara diferente. Então há
certo reboliço no escritório para a coroação da Carolina, advogada
do ano do escritório, a mais competente, mais eficaz, e a mais
briguenta.
Soube pelo próprio Rui do ocorrido, ou seja, que a Carolina
agarrou o Doutor Fernando Galinha pelo colarinho, e iria socá-lo se
o Rui não apartasse a briga.
Ela nunca perdeu essa mania de querer bater em meninos, está
em seu sangue, e chego a pensar que ela teria sido uma bela
lutadora de MMA.
— Alê, já está tudo certo? — Ele se remexe agitadamente, e
sorrio discretamente.
Doutor Rui Figueiredo se irrita um pouco com o jeito do
Alexandre, ele diz que ele parece uma pipoqueira ambulante.
— Sim, chefinha, o pessoal chegará às 18h! Contratei tudo que
você pediu, olha aqui a lista passada pelo buffet...
Checo a lista de bebidas, quitutes e tudo o mais.
— Perfeito, Alê! Avise o pessoal que às 18h todo mundo joga as
pás, e começamos a festança!
Ele ri escandaloso —ele está se soltando comigo, e isso inclui
aquela gesticulação louca dos gays.
— Que ótimo, estou ansioso. — Ele diminui a voz. — É verdade
que a Carolina é gay?
O olho sobre os meus cílios.
— Não sei. Por que você não pergunta para ela? — falo em tom
casual.
— Deus que me livre! Aquela mulher é tão brava, parece um
general no escritório! — Ele revira os olhos. — Mas, era só
curiosidade.
— Tudo bem. Então vamos trabalhar, o chefe hoje está bem
estressadinho! — Dou risada.
— Não com você, né, chefa? — Ele dá um sorrisinho tímido.
Dou risada e volta ao meu trabalho.
****
Finalmente eu e o Rui descemos para o térreo, os funcionários
estão todos animados, bebendo, comendo e rindo.
Me separo do Rui, que segue para a rodinha dos advogados
engomadinhos, e sigo até onde está a Carolina, que ri à toa e
gesticula conversando animada com outra advogada recém-
contratada —não, ela não é gay.
— Oi, associada! Posso dar um abraço de felicitações? —
Brinco.
— Claro, minha porpeta preferida! — ela cochicha rindo em meu
ouvido.
— Você vai ver o que é uma porpeta! — Faço uma cara feia para
ela.
Ela acaricia minha barriga.
— Ela está linda, não está, Mariana? — A Carol me abraça e
acaricia minha barriga. — É meu sobrinho, Mari, e eu serei a
madrinha... — Ela me olha. — Você sabe que serei a madrinha, não
sabe, Jack?
— Sei, sua bobona! Então, me diga, como você se sente como a
primeira associada do escritório do Doutor Rui? — falo em tom de
brincadeira.
— Uma vencedora! Afinal, ele não era dado a escolher mulheres
como suas associadas, mas desde que a “Era Jackeline” iniciou
neste escritório, coisas maravilhosas têm acontecido — ela diz
orgulhosa.
— Estou muito orgulhosa de você, Carol, de verdade! Quem
sabe a próxima não será a Doutora Mariana. — Brinco.
— Oh, vamos com calma. Acabei de chegar, vou deixar para os
membros mais velhos, não quero causar tumultos! — a nova
doutora diz cautelosa.
Logo estamos em uma rodinha divertida de advogados, apesar
da braveza da Carol, ela é amada por todos.
No final das contas, ela é uma típica advogada, tem uma postura
altiva, segura e impetuosa.
Logo meu amorzinho me tira da rodinha, porque existem mais
advogados do que advogadas, culpa dele é lógico, que só contrata
homens.
— Fique comigo, Jack! — ele diz com uma cara amarrada,
franzindo seu semblante.
— Por quê? Me deixe conversar com seus funcionários! — falo
despretensiosa, tomando um suco de uva.
— Você é a primeira dama, tem que ficar com o seu presidente!
— ele diz debochado.
Reviro meus olhos, e pego em sua mão que ele estende para
mim.
Conversamos, bebemos e comemos, até que o Doutor Rui
chama a atenção de todos para seu célebre discurso.
— Eu só preciso de um minuto da atenção de vocês — ele diz
cheio de pompa, lindo e orgulhoso.
Ele limpa sua garganta, sorri, e retoma o discurso.
— Hoje é um dia muito especial para mim, mas também para
todos no escritório. Há muito tempo tenho em mente tornar a
Doutora Carolina uma de minhas associadas. Atualmente só
existiam dois, o Doutor Gustavo e o Doutor Felipe, que são meus
braços direito e esquerdo. — Os caras abrem aqueles sorrisos
enormes, estufam seus peitos orgulhosos de ver o chefe falando
deles. — Mas, a Carolina há muito tempo tem mostrado sua
competência, destreza e inteligência. Ela, em parceria com os
Doutores Felipe e Gustavo, liderará os casos mais complicados do
escritório, juntamente comigo, é claro. — Ele abaixa a cabeça,
parece pensar. — Não me sinto feliz de falar sobre o desligamento
do Doutor Fernando, ele estava há muito tempo conosco, mas sua
postura nem sempre foi das melhores com as senhoritas, e para
agravar, ele foi desrespeitoso com a Doutora Carolina, e portanto
cheguei à conclusão que ele não tinha mais condições de compor
nossa equipe. — Ele olha para todos como firmeza. — Nosso
escritório é respeitado, mas quero que todos se respeitem aqui
também, pelas suas diversidades raciais, sexuais e de gênero. Não
admitirei nenhum tipo de preconceito! — As pessoas ficam
quietas. — Bom, mas estamos aqui para comemorar a nossa mais
nova associada! Parabéns, Doutora Carolina, sucesso e continue
nos trazendo muitas alegrias. — Ele levanta sua taça. — Um brinde
à Doutora Carolina.
Uma festa de taças toma conta do ambiente, muitos parabéns,
risadas e barulho de taças tilintando umas contra as outras.
Olho para minha amiga querida, e a vejo com o rosto molhado
de lágrimas.
Ela me olha e sorri, e levanto minha taça para ela, e gesticulo
com meus lábios:
— Parabéns, amiga, você merece!!!
****
Semanas depois.
E o tempo não para...
Há poucos meses de conhecer meu bebê, sigo com os
preparativos para sua chegada.
Aos sete meses, não vejo mais motivos para esperar e preparar
o cantinho do nosso Luigi.
Então, neste exato momento, aguardo enquanto a decoradora e
sua equipe terminam os últimos detalhes do quarto do meu
príncipe.
Sentada em uma cadeira de amamentação, olho encantada para
o ambiente preparado para receber meu pequeno.
Nem só de azul vive um menino! Então pedi para a decoradora
preparar um ambiente com muitas cores, mas a pedido do papai, o
azul prevaleceu.
Coisa de macho! (risos)
Finalmente a equipe termina.
— O que você achou, Jackeline? — A mocinha linda e talentosa
me pergunta.
— Você é incrível, Tamara, está muito lindo! — A abraço
agradecida. — Já fizemos o último depósito, obrigada pelo carinho e
capricho! — falo emocionada, coisa de grávida, nos emocionamos
até com um abraço mais caloroso.
— Imagine, adorei trabalhar com você e com o Rui. — Ela olha
para a porta. — Ele não está?
Meu sorriso se esvai.
Como assim? O que ela quer com meu homem?
— Sim, ele está, mas tomando banho. — Olho de lado, retiro
tudo o que disse dessa garota. — Mas, ele não liga muito para
essas coisas. — desconverso.
— Só queria saber se ele gostou do meu trabalho. — Ela sorri
sem graça.
— Na verdade, a opinião que importa de fato é a minha! —
Levanto minhas sobrancelhas.
Ela fica acuada.
— Oh, claro! — Ela abaixa a cabeça. — Me deixe ir, Jackeline,
qualquer coisa me ligue!
— Sim, ligarei. Obrigada. — Não soei muito simpática, ela me
irritou.
E então como uma maldição o Rui aparece no quarto.
— Boa noite! — ele diz do alto de sua gostosura, camiseta
branca grudadinha no corpo, mostrando aqueles braços fortes, e
aquele peitão gostoso, com uma calça jeans despojada.
O Rui pode ter 35 anos, mas ele é muito melhor que um cara de
25, ele é muito gostoso.
Me levanto meio atrapalhada com minha barriga, e sigo até ele,
abraço sua cintura e o beijo nos lábios discretamente.
— A Tamara já terminou o seu trabalho. — Olho para ela com
um sorriso falso.
— Ficou bonito! Parabéns! — ele diz educado.
Ela se abre toda, não consegue disfarçar sua empolgação com a
chegada do Rui.
— Obrigada, Rui! — Ela pega algo em sua bolsa, segue até nós
e estende sua mão para o Rui. — Aqui está meu cartão, se você
precisar de alguma coisa, me ligue. Trabalho com decoração de
escritórios também, e ficaria muito feliz se você me indicar para
seus amigos.
Arranco o cartão de sua mão, ele me olha confuso com sua mão
estendida a sua frente.
— Eu que cuido dessas coisas, Tamara, inclusive do escritório
do Rui. — Sigo até ela, dou um beijo em seu rosto. — Então, é só
isso, não é mesmo? — Começo a empurrá-la para fora do quarto,
olho para o Rui e ele está me olhando de lado, com um sorriso de
canto de boca. — Obrigada por tudo, mas é que estou cansada, e
vocês demoraram muito. — Descemos as escadas. — Indicarei
você para amigas, conhecidas, enfim... — Abro a porta da sala. —
Passar bem. — Ela sorri fraco, chama as duas funcionárias que
estavam com ela, e finalmente fecho a porta, e solto o ar com força.
Oh, como odeio mulher oferecida e sem vergonha!
Subo as escadas, entro no quartinho do bebê, e encontro o Rui
sentado na cadeira de amamentação.
Sorrio novamente.
— O que você achou? Ficou com cara de macho? — Brinco.
— Machucado... — Ele ri. — Tem até rosa!
Me sento em seu colo.
— Oh, Rui, é quarto de bebê! Quando ele for um meninão de
verdade, aí você pinta o quarto dele de azulão, bem estilo macho! —
Faço graça.
Ele me puxa para um abraço em seu colo.
— É impressão minha ou você se estranhou com a decoradora?
— Ele me olha de rabo de olho.
— Imagine, é que ela fala muito, e me deixou cansada com toda
essa demora. — Beijo seu pescoço. — A achei oferecida demais
para o seu lado.
Ele dá uma risada deliciosa.
— Você que está muito ciumenta, Jack! — Ele enfia seus dedos
entre meus cabelos, que agora não estão tão curtos assim. — Não
tenho olhos para nenhuma mulher, sabia? — Ele me encara com
aquelas bolinhas cinzas lindas. — Eu te amo, minha barrigudinha!
Sorrio meio mole de amor.
— Eu também — sussurro.
Ele inclina sua cabeça, me beija, me beija e me beija.
Por mais que minha barriga esteja enorme e as posições para a
gente se amar já não sejam tão confortáveis, minha libido está a mil
por hora.
Suas mãos entram por baixo do robe de seda que cobre a
camisola, e me acariciam por sobre o tecido fino da camisola.
Meus dedos se enroscam entre os fios de seus cabelos, os
acariciando e puxando, ávido por mais.
Nosso beijo já não sacia nosso desejo um pelo outro.
— Vamos para nosso quarto? — ele diz em meios aos nossos
lábios.
— Vamos! — Abro meus olhos e encontro os dele, o desejo é
nítido.
Ele me pega em seu colo.
— Rui, eu estou bem pesada...
Ele faz uma careta, finge dor, e por fim sorri.
— Sou seu marido fortão, Jack.
Entrelaço meus braços em seu pescoço e sorrio.
— Posso te chamar de marido? — Faço uma careta.
— Pode! Aliás, por que não está me chamando assim ainda? —
Ele me coloca delicadamente sobre nossa cama.
— Porque não somos casados e... marido é usado nesse caso.
Enquanto falo ele vai tirando sua roupa, e me olhando de lado,
de um jeito sexy que ele tem de olhar.
— Não é um papel assinado que diz o que somos um para o
outro. Eu digo que você é minha esposa, espero que você me
chame de seu marido.
Ele se deita ao meu lado, desfaz o nó do robe e o desliza pelos
meus braços.
— Eu o chamo de meu marido, mas só quando você não ouve.
Pensei que você não iria gostar dessas formalidades, você é tão
complicado em alguns assuntos!
Ele ergue minha camisola e a passa pela minha cabeça.
— Não sou mais tão complicado, minha deusa. — Ele desce
beijando meu pescoço, logo alcança meus seios, que estão
sensíveis e grandes, muito grandes. — Você está uma delícia,
sabia, Jack? — Ele me olha por sobre seus cílios, com seus lábios
envolvendo minhas auréolas.
Fecho meus olhos e gemo baixo.
— Aham... — Me apoio em meus cotovelos. — Minhas aréolas
estão tão grandes e escuras, não estão?
— Estou achando o máximo isso! — Ele me olha e sorri e volta a
me enlouquecer com sua língua macia e quente. — Será que não
tem leitinho aqui dentro? Queria experimentar — ele diz divertido.
Dou risada.
— Ai, Rui! Assim tira o tesão!
— O meu tesão não tira. — Ele volta a envolver meus seios com
seus lábios.
Seguro seus cabelos e os puxo à medida que a excitação
aumenta.
Ele volta a me beijar, segura minha mão e a leva até seu
membro que está especialmente duro.
— Ele está com saudades dessa boca linda! — Ele passa seu
polegar por meus lábios, de um jeito muito sensual.
O olho salivando de desejo.
— Eu também estou com saudades dele. — Ele volta a enfiar
sua língua deliciosa em minha boca, guloso e exigente.
Agora são seus dedos que entram em meio aos meus cabelos,
segurando-os com firmeza, e pressionando minha cabeça de forma
a grudar mais nossos lábios.
— Eu quero que você chupe meu pau, Jack! — Ele abre seus
olhos selvagens, se levanta e fica em pé a minha frente.
Me sento na beirada da cama e envolvo seu membro com meus
lábios, o sugo, lambo e enlouqueço meu homem apenas com minha
boca.
— Oh, minha gostosa... — Ele puxa meus cabelos, e me olha
com aqueles olhos de tempestade. — Eu quero te foder, Jack!
— Então vem, meu amor! — Fico de joelhos sobre a cama, ele
se senta...
— Você por cima — ele diz com sua voz grave e rouca.
Me posiciono sobre ele, me encaixo em sua ereção e gemo de
prazer.
— Isso, gostosa... — Ele segura meu rosto e volta a me beijar, e
me movimento sensualmente sobre ele, e em segundos, gozo em
meio a gemidos, respiração acelerada, e sons sensuais de prazer.
Agora ele conduz nossos corpos, em meio a beijos, carícias e
amor, muito amor.
— Tudo bem, minha deusa? — Ele segura meu rosto, me
beijando e falando ao mesmo tempo.
— Está, amor! — Volto a me movimentar, seus beijos ficam mais
exigentes, seus gemidos começam e finalmente ele goza.
— Oh, Jack, hummm! — Ele me aperta em seus braços, mas
minha barriga atrapalha, fazendo com que nosso abraço seja
contido e apertado.
Unimos nossas testas, de olhos fechados, apenas sentindo a
respiração um do outro.
— Te amo, minha deusa. — Ouço sua voz linda, e sorrio, nunca
estive num momento de tanta plenitude.
— Eu também. — Abro meus olhos e encontro os seus tão
claros e brilhantes. — Para sempre.
Ele me olha profundamente.
— Eu também, para sempre.
Voltamos a nos beijar apaixonadamente, e se eu disser que nos
amamos de novo, não me julguem, estou grávida, e não morta.
****
Doutor Rui Figueiredo nunca foi um advogado qualquer, mas
ultimamente ele está no auge de sua vida profissional.
Eleito pela sociedade paulista de advogados como o advogado
do ano, ele vê com satisfação sua carteira de clientes crescer, todos
interessados em sua assessoria jurídica.
O recebimento de sua premiação ocorrerá em um hotel chique
de São Paulo, em um evento fechado apenas para advogados. Ele
até queria que eu fosse, mas achei que não me sentiria bem, pois
não haverá esposas, namoradas, nada do tipo, é um evento de
engomadinhos. Então, abri mão de aplaudi-lo de pé, e o deixei ir
sozinho a este evento.
Ajeito sua gravata borboletinha, ele está lindo demais em
um smoking, e eu sinto aquela pontinha de ciúmes de deixá-lo ir
sozinho a um evento desses.
Mas, neuroses a parte, eu confio nele, vivemos um momento
maravilhoso, e não há motivos para eu me preocupar.
— Você está gato demais, sabia? — Seguro seu colarinho e o
puxo para mais um beijo, acho que já dei uns dez desde que ele
ficou pronto.
— Jack, está ficando difícil assim. — Ele leva minha mão até seu
membro duro e ereto. — Eu preciso ir, minha delícia. Depois,
quando eu voltar, a gente namora até não termos mais forças. —
Ele dá risada.
— Tudo bem. Só mais um beijo. — Enrosco meus braços ao seu
pescoço e o beijo demoradamente. — Estou orgulhosa de você,
você não sabe o quanto! — Meus olhos enchem de lágrimas.
— Você sabe que por trás de um homem de sucesso, existe
sempre uma grande mulher, e no meu caso, você é meu talismã.
Esse prêmio tem a ver com você, Jack. — Ele me encara com seu
olhar profundo e enigmático, segurando meu rosto entre suas mãos.
Sorrio.
— Obrigada pela parte que me toca! — Brinco. — Então tá, pode
ir! E se comporta, tá?
Ele dá risada.
— Eu só me comporto, minha barrigudinha, sou seu cachorrinho
de estimação. — Ele beija minha testa. — Não vou demorar, e
prepare-se que vou te acordar quando chegar. — Ele sorri de lado,
sexy e gostoso.
— Ok, e não bebe muito, tá?
Ele pisca e sai caminhando lindo para a porta.
— Te amo! — Ele acena e sai apressado.
Inspiro profundamente, alongo minhas costas e sigo para o
banheiro.
— Vou relaxar na banheira, ando muito ciumenta! — desabafo
comigo mesma.
****
É obvio que não consegui esperar pelo Rui, mas como
prometido, despertei com seu perfume invadindo minhas narinas,
seu corpo quente contra o meu, seus braços fortes me aninhando, e
seus beijos em meu pescoço e ombros.
— Já cheguei, minha linda! — ele diz em meu ouvido.
Me viro preguiçosa para olhá-lo, e vejo um sorriso de satisfação,
ele está muito feliz.
Sorrio, porque sua felicidade é a minha também.
— E como foi lá? — falo em meio a um bocejo preguiçoso.
— Foi bom, queria que você estivesse comigo! Nunca recebi
prêmio nenhum, então teve um gostinho diferente — ele diz
orgulhoso.
Acaricio seu rosto.
— Esse povo não sabia o que estava perdendo deixando esse
advogado fora de série sem prêmios. — Brinco.
Ele me aperta mais em seus braços.
— Eu tinha prometido que quando chegasse... — Ele beija meu
pescoço, e gemo de excitação.
— Verdade. — Sorrio em seus braços. — Ah, só mais uma
coisa... — O faço me olhar. — Seu pai conseguiu ir?
Ele abre um sorriso largo.
— Claro, até parece que aquele velho babão deixaria de
prestigiar seu filho primogênito — ele diz alegre, leve e satisfeito.
Abraço seu pescoço, e dou um beijo apertado em seus lábios.
— Se existirem fotos, eu quero ver! — digo em meio aos seus
lábios que já envolveram os meus e me enlouquecem.
— Depois eu vejo isso, agora preciso apagar o fogo da minha
esposinha linda.
Gargalho em seus braços, em meio a muitas mordidas em meus
ombros, que me causam cócegas e muito tesão.
****
Dias depois.
Coloco um vestido envelope azul escuro, até os joelhos e de
mangas longas. Escolho um sapato de salto alto quadrado e grosso,
que me deixa confortável e não há risco de quedas, e finalmente
sigo para a sala de jantar, onde o Rui me espera.
O abraço pelas costas e beijo suas bochechas.
— Bom dia, meu amor! — falo manhosa.
— Bom dia, Jack! Estamos atrasados... — ele diz apressado
engolindo seu café. — Vou subir para escovar os dentes, leve um
lanchinho para comer no escritório! — Ele se levanta, beija minha
cabeça e sai apressado para as escadas.
Tomo um café com leite, como um pãozinho de queijo, e escolho
umas frutinhas para levar para meu lanchinho da tarde.
Em instantes ele desce as escadas apressado.
— Vamos, barrigudinha! Tenho uma audiência no Fórum às 11h,
e ainda preciso me reunir com os advogados — ele diz apressado.
O sigo vagarosamente para o elevador, estou em um ritmo de
tartaruga, lenta e calma.
Como de costume, o abraço no elevador e me aninho ao seu
peito.
— Estou com sono ainda. — Bocejo. — Você não me deixa
dormir.
Olho para ele sorrindo, e ele me devolve um sorriso.
Confesso que já não aguento mais o ritmo do Rui, a gravidez, o
peso da barriga já não me permitem ser a ninfomaníaca de antes.
Então, uma noite tórrida de amor acaba comigo, literalmente.
— Cansei você ontem? — Ele beija meus lábios.
— Um pouquinho, já não sou mais a mesma — falo preguiçosa,
acariciando suas costas.
— Então, acho que está na hora de reduzirmos nosso ritmo! —
Ele me olha de lado.
Apenas sorrio, estou cansada demais hoje para conversar, e não
quero reduzir ritmo nenhum.
****
Sigo com minhas rotinas, e mal consigo atender as demandas do
Rui e a agitação que o escritório está hoje.
Ele sai apressado de sua sala com dois advogados a tiracolo,
Felipe e Gustavo.
— Estamos indo, Jack! — Ele se inclina sobre mim e me beija.
— Não sei a que horas voltamos, essa merda pode levar a manhã e
a tarde toda. Então não me espere para almoçar, vá com a Carolina!
— Tudo bem! — Sorrio para ele, aceno para os dois advogados
e volto ao que estava fazendo.
Como estou muito cansada hoje, peço meu almoço no escritório,
sigo para a sala do Rui, arrumo tudo em sua mesa de reuniões e
faço minha refeição ali mesmo.
Como estou sozinha, aproveito para tirar uma soneca, mas antes
coloco meu celular para despertar em 40 minutos.
O sofá de sua sala é um convite à preguiça, muito confortável e
macio, então adormeço em segundos.
Desperto com meu celular berrando ao meu lado, me espreguiço
renovada, sigo para seu banheiro privativo, faço uma higiene, refaço
minha maquiagem e volto para minha sala.
Meu telefone toca, e vejo que é meu assistente.
— Oi, Alê! — falo bocejando.
— Oi, chefinha! Pensei que não tivesse chegado ainda, não a vi
passar pela recepção — ele diz agitadinho.
— Almocei por aqui mesmo, estava com preguiça de sair, e você
estava almoçando quando minha comida foi entregue pelo
restaurante. — Bocejo novamente.
— Bom, então estou te levando um envelope que chegou há
pouco.
— Ok!
Ouço barulho nas escadas e então aquele ser serelepe e
saltitante aparece em minha sala, sempre alegre e animado.
— Aqui está, chefa! — Ele me entrega um envelope pardo. —
Como o Doutor Rui me orientou, eu já dei uma verificada, são fotos,
acho que do evento do Doutor Rui.
Sorrio ansiosa.
— Ah, claro! — Puxo o calhamaço de fotos. — Eu solicitei as
fotos do evento para guardarmos, acho que são essas. — Sorrio
para o Alexandre. — Quer dar uma olhada comigo?
Ele balança sua cabeça positivamente, e se posiciona ao meu
lado.
Sorrio ao ver a primeira foto do meu gato lindo em uma espécie
de palco, microfone em mãos, e possivelmente discursando.
— Ele estava bem bonito, hein, chefa? — Olho para o Alexandre
e o vejo babando.
— Ele é muito gato, não é, Alê? — Ele sorri tímido.
— Sim, com todo o respeito, mas o Doutor Rui é um homem
muito bonito. — Ele levanta suas sobrancelhas, e dou risada
sozinha.
Puxo a segunda foto, e a terceira, todas meio iguais, apenas em
momentos diferentes.
— Não parecem fotos profissionais, chefinha. Está meio amador,
não está? — Olho para ele curiosa.
— Sei lá, mas realmente a qualidade das fotos está aquém de
fotos de um evento. — Dou de ombros.
Puxo a próxima foto, agora ele está recebendo a estatueta que o
homenagearam, a próxima foto, é meio igual, depois o presidente da
associação abraçando o Rui.
— Quantas fotos repetidas, né? — falo sem paciência, folheando
as próximas fotos, até que paro.
— O que é isso? — Meu coração para por alguns minutos. O Rui
está abraçado a uma mulher.
— É apenas uma mulher o cumprimentando chefinha.
Coloco minha mão sobre minha testa, uma enxaqueca fora de
hora, possivelmente em função da tensão que tomou conta de mim.
A mulher está vestida em um vestido desses de gala vermelho,
uma fenda enorme mostra sua perna praticamente nua até o final de
sua coxa. Seus braços e costas nus mostram uma pele bronzeada e
bonita, e os cabelos escuros estão presos em um coque
bagunçado.
Ela não é uma mulher qualquer, ela é linda, e seu corpo mostra
curvas estonteantes, e sensuais.
Sinto uma taquicardia no peito.
— Sim... — Sorrio nervosa para o Alexandre.
Puxo a próxima foto, de novo eles dois juntos, ela parece
cochichar em seu ouvido, numa cena que parece muito íntima.
Puxo mais uma, eles se distanciaram, mas continuam
abraçados, ela sorri olhando para ele.
— Alê, me dá licença. — O olho constrangida.
Ele sorri sem graça.
— Claro, me chame se precisar de alguma coisa. — Ele sai
apressado.
Respiro fundo e volto a folhear as fotos, e vejo o que não queria,
a próxima foto é um beijo entre os dois.
Uma raiva e uma agonia tomam conta do meu coração.
Folheio a próxima, e a próxima, e a próxima.
É uma sequência de fotos dos dois se beijando.
Jogo tudo sobre minha mesa, derrubo coisas, e me levanto como
um bicho enjaulado. Olho novamente para a mesa, vejo aquela cena
e desando a chorar, soluço e cubro meu rosto em prantos.
— Eu não acredito nisso. — Tento me controlar, coloco minhas
mãos sobre minha barriga, e sinto minha agitação refletir em meu
bebê. — Ele não fez isso comigo! — Revejo as fotos, e chego à
conclusão que essas não são as fotos do evento que solicitei, mas
sim as fotos de alguém que as tirou propositalmente.
Minha vontade é colocar fogo em tudo, mas não posso, ele
precisa me explicar o que significa isso.
Volto a chorar.
Na verdade, não há muito o que dizer, a foto está dizendo tudo.
Ele ficou com uma mulher no evento.
Ele me traiu.
Capítulo 9
RUI FIGUEIREDO
Flash back on
Enquanto dirijo em direção ao hotel onde receberei a
homenagem, penso na Jackeline e no quanto ela me fez bem ao
longo desse ano.
Óbvio que sempre fui um advogado respeitado, mas nosso
relacionamento trouxe um amadurecimento que eu não tinha antes.
Estou mais focado, responsável.
Parece mentira que aos 35 anos eu precisasse de uma mulher
para me colocar nos eixos, mas é fato, homem solteiro só bebe, faz
sexo e merdas.
Uma companheira dá equilíbrio, e quando ela está grávida, isso
é ainda mais acentuado.
Eu queria que ela estivesse aqui, mas é o evento é fechado
somente aos membros da Ordem dos Advogados, então ela
realmente poderia ficar deslocada.
Mas seria bom tê-la ao meu lado, estamos tão acostumados um
ao outro, que me sinto um pouco perdido sem sua presença.
Finalmente estaciono meu carro, entrego as chaves para o
manobrista e sigo para o interior do hotel.
Olho ao redor e vejo uma recepcionista entregando as
identificações.
Sigo até ela.
— Boa noite!
— Olá, boa noite! — Ela sorri. — O nome do senhor, por favor?
— Rui Figueiredo.
Ela sorri largo.
— Oh, claro, o homenageado da noite! — Ela pega um crachá.
— Aqui está, Doutor Rui! Parabéns e tenha uma excelente noite!
Agradeço e saio caminhando em direção à recepção.
O salão está repleto de colegas de profissão, mas também
existem promotores, juízes...
Logo os primeiros conhecidos se aproximam, e começam os
abraços e cumprimentos.
Essa é uma noite muito especial para mim, são anos de
dedicação, estudos e noites mal dormidas.
É bom demais saber que apesar das cagadas que fiz na vida,
hoje posso me orgulhar da minha carreira profissional.
Momentos de descontração, risadas, papo furado e então eu a
vejo.
Não consigo controlar a raiva que sinto dessa garota, mas como
um bom advogado, finjo simpatia.
— Priscila Albuquerque, que surpresa vê-la! — Me seguro para
não torcer seu pescoço e arrancar dela toda a verdade a respeito da
caixa surpresa.
Ela abre um sorriso no rosto.
— Por nada desse mundo eu deixaria de prestigiar o advogado
do ano e meu ex-noivo! — Ela se aproxima e beija meu rosto. —
Parabéns, Rui! Você merece!
Não sei como ela consegue ser tão falsa.
— Obrigado! — Tomo um gole do meu vinho, olho ao redor
tentando fugir da víbora, mas não consigo.
— Então, onde está sua... — Ela dá uma risada sarcástica.
— Ficou em casa. — Olho ao redor ansioso.
— Então, para quando é o bebê?
— Daqui a dois meses — respondo sem vontade.
— Oh, já está aí. — Ela sorri. — Está tudo bem com a gravidez
dela?
A olho de lado.
Que pergunta mais estranha.
— Sim! Por que não deveria estar? — A encaro ressabiado.
— Por nada, é que gravidez é sempre uma caixinha de
surpresas.
Cheguei ao meu limite, não consigo mais ficar ao lado dessa
garota falsa.
A interrompo irritado.
— Foi um prazer te ver, mas me dá licença, preciso
cumprimentar algumas pessoas. — Bato com a mão em seu ombro
e saio andando em direção a um grupo de amigos.
Oh, garota insuportável! Ainda me pergunto como consegui
suportá-la por tanto tempo!
****
A noite segue animada, fazia bastante tempo que não
encontrava meus amigos, depois que engrenei meu relacionamento
com a Jack me afastei deles.
A verdade é que sou oito ou 80, demorou para encontrar alguém,
me apaixonar, e assumir um relacionamento sério, mas agora que
aconteceu, me tornei um cara fiel e dedicado.
Nem todo cafajeste é cem por cento cafajeste, às vezes, o que a
gente precisa é só encontrar a mulher certa para nos colocar na
linha.
Penso e rio com minha constatação, observando a conversa
animada de um grupo de amigos solteiros, os papos são os
mesmos, mulheres, sexo e noitadas regadas a muito bebida e
sacanagem.
Mas, é fato, não sinto falta disso, tenho bastante sexo e
sacanagem com a Jack. Com relação à bebida, nós até enchíamos
a cara antes da gravidez, mas agora ela parou de beber, e eu não
vejo graça em beber sozinho.
Alguém me segura pelo braço, olho e vejo meu pai.
— Que bom que você veio, pai! — Nos abraçamos
demoradamente.
— Quase não consigo vir, mas por sorte consegui um voo para
São Paulo agora no final da tarde. — Ele acaricia meu rosto. —
Parabéns, Rui! Você me orgulha muito, a mim e a sua mãe.
Sorrio sem jeito, pai e mãe sempre deixam a gente sem graça, e
apesar de ser um cara maduro, ainda sim me emociono com elogios
vindos de meus pais.
— Obrigado, meu velho! Sem você talvez eu não tivesse
chegado tão longe! — Mais um abraço de quebrar ossos.
Nos recompomos e sigo com meu pai para a roda de amigos.
Mais alguns minutos de conversas furadas, e o mestre de
cerimônias me chama ao palco.
Apesar de minha experiência e desenvoltura, estou nervoso com
essa porra, tem gente pra cacete neste lugar, gente graúda, muitos
advogados conhecidos, outros desconhecidos, promotores e juízes
de peso.
Não será tão fácil assim discursar para essa gente toda.
Finalmente subo ao palco e vejo ao longe o frenesi de gente,
falando, comendo e bebendo. Aos poucos o barulho cessa, e as
atenções se voltam a mim.
Já fiz meu exercício de concentração e foco, puxo o ar
vagarosamente, sorrio e começo meu discurso improvisado.
— Boa noite, senhoras e senhores! Tenho certeza que além de
mim, outros colegas de profissão mereciam essa homenagem, de
fato, não sei muito bem por que me escolheram, talvez porque eu
sou o mais bonitão de todos vocês... — Um pouco de descontração
e todos riem e relaxam, e eu também, essa é minha tática para
quebrar o gelo e a tensão. — Bom, brincadeiras à parte, é bom
demais ser homenageado! São muitos anos de profissão, de
dedicação, estudos, casos ganhos e casos perdidos. — Respiro um
pouco, me concentro. — Mas, tenho que agradecer meu sucesso
primeiramente ao meu pai, Doutor Antony Figueiredo... — Aponto
para onde está meu velho, babão e orgulhoso do seu filho, e
confesso, me emociono com isso. — Tenho certeza que sem ele, eu
não teria me tornado o advogado que sou hoje! Por isso, divido com
ele essa homenagem, meu pai, professor e mentor intelectual. Uma
salva de palmas para ele, o homem que começou tudo. Te amo, pai!
— falo sem pensar, acho que a gravidez da Jackeline me tornou um
homem meio mole, emotivo.
Ele cobre seus olhos, e percebo que está chorando, não era
para fazer isso, mas enfim, tento me recompor e retomar meu
discurso.
— Retomando, o homenageado sou eu, não o Doutor Tony,
então voltem sua atenção a mim, ele já foi premiado por essa
academia muitas vezes. — Novamente descontraio os presentes. —
Aproveito essa oportunidade para agradecer também a minha
equipe, alguns estão por aqui. — Vejo ao longe o Felipe, o Gustavo,
a Carolina, e mais alguns advogados. — Ninguém faz sucesso
sozinho, sempre existem pessoas as nosso lado que nos ajudam,
no meu caso tenho essa equipe de advogados fora de série e minha
esposa Jackeline, que não pode me acompanhar, mas que com
certeza está em casa torcendo por mim.
Percebo alguns olhares curiosos, nem todo mundo sabe que Rui
Figueiredo não é mais o terror da mulherada. Tenho uma fama mais
ou menos, tenho consciência disso, mas aos poucos as pessoas
estão conhecendo a Jack, e com o tempo todos saberão que não
sou mais o mesmo, e que aquela italiana linda conseguiu fazer o
que nenhuma mulher fez: acabar com meu sossego e vida boa.
Sorrio sozinho.
—Enfim, não quero me prolongar muito, agradeço a todos,
promotores, e juízes, que são, antes de mais nada, nossos
parceiros, amigos, e que nos ajudam a cumprir nosso dever, que é
cumprir a justiça onde não exista, levo a sério o juramento que fiz na
faculdade, e pretendo continuar sendo um exemplo para meus
colegas e sociedade.
Ufa, finalmente consegui terminar essa porra!
Uma salva de palmas, alguns gritos de amigos mais empolgados
e bêbados, e finalmente o presidente da Ordem vem me
cumprimentar.
Abraços, afagos e muita falsidade, esse cara é falso pra cacete,
nunca me olhou na cara, e agora até beijo em meu rosto deu.
Oh, mundinho podre!
— Parabéns, Doutor Rui, estamos orgulhosos em te dedicar
esse prêmio.
Ele me entrega a estatueta, mais um abraço de falsidade e
finalmente estou livre desse velho arrogante.
— Obrigado! — Levanto a estatueta para os amigos e desço as
escadas do palco.
Tenho uma turma de amigos engraçados, alegres e divertidos.
Então, como não deixaria de acontecer, eles vieram como uma onda
me receber no final das escadas, gritando como loucos.
— RUI, RUI, RUI, RUI!!!
Dou risada, assim vou perder a moral com a sociedade jurídica.
Nunca vi nenhum advogado receber o prêmio e depois ser
homenageado pelos amigos malucos.
Mas, gostei, e não me fiz de orgulhoso, e saí para um abraço
coletivo.
— Oh, seus merdas, assim vão acabar com minha fama de
advogado sério.
E só para me desagradar, eles voltam a gritar:
— RUI, RUI, RUI!!!
****
A Priscila sumiu depois de nosso encontro lamentável, e
agradeço de mãos unidas. Se pudesse, evitaria de encontrar essa
mulher para o resto da minha vida.
Apesar de minha esposinha linda ter me dito para não beber
muito, acabei me empolgando um pouco, e comemorei com os
amigos bebendo um pouco a mais.
Não estou bêbado, mas estou bem alegre, mas é só comer um
pouco, e tomar um pouco de água que melhoro.
Estamos eu e vários amigos numa mesa grande, nossas piadas
e risadas reverberam pelo salão todo, estão todos um bêbados ou
só alegres, mas é fato, somos a mesa mais barulhenta desse lugar.
Começo a me preocupar, talvez o presidente da OAB resolva
tirar o prêmio de mim.
— Preciso dar um mijada, caso contrário vou me molhar todo
aqui, e é aí que o presidente vai tomar a estatueta de mim.
O Carlão gargalha, está alegre pra caralho.
Caminho em direção aos banheiros, e só para variar, me param
umas mil vezes, estou quase mijando nas calças e então uma
mulher para a minha frente.
Caralho, ela é um avião, tipo aquele Boings 737!
— Oi! Tudo bem? — ela diz sorrindo.
— Tudo e você? — Sorrio, apenas para disfarçar. De onde
conheço essa mulher?
— Não está se lembrando de mim, não é mesmo? — Ela dá um
sorriso sensual, será que é uma garota de programa?
Confesso, eu tinha essa mania de pagar para transar.
— Me desculpe, mas não estou lembrando.— Olho rapidamente
ao meu lado, e a Jack vem ao meu pensamento, ela é ciumenta pra
porra, não posso nem olhar para o lado, imagine se ela me vê
conversando com uma gostosa como essa.
— Tudo bem, nos conhecemos um dia desses em uma boate,
faz algum tempo. Sou advogada, meu nome é Amanda!
Ela não tem cara de advogada, mas vou falar o que?
— Oh, claro, acho que estou começando a me lembrar de você.
— Minto e sorrio sem jeito.
Afinal, o que ela quer, caralho?
— Gostaria de parabenizá-lo pelo prêmio. Posso?
Olho para ela confuso, e meio bêbado.
— Sim, claro! — Fico com cara de idiota.
Então, sem pé nem cabeça, ela me abraça.
Os primeiros segundos fico feito aqueles bonecos de posto de
gasolina, braços soltos ao longo do corpo, nem conheço essa tal de
Amanda para ela me abraçar, que coisa mais estranha.
Finalmente, e para não ficar chato, coloco minhas mãos
levemente em suas costas.
— Parabéns, Doutor Rui! Eu concordo, você é o advogado mais
bonitão desse lugar — ela cochicha em meu ouvido.
Sorrio sem graça.
— Obrigado! — Tento afastar meu corpo do dela, mas ela
continua segurando meu pescoço.
Ficamos nos olhando, numa situação bem desagradável.
— Então, obrigado, Amanda. — Coloco minhas mãos em sua
cintura, para afastá-la de mim.
— Você está sozinho? Se quiser, podemos ir para algum lugar, o
que você acha? — Ela abre novamente aquele sorriso, e agora
tenho certeza, é uma puta, nenhuma advogada teria essa postura.
— Desculpe, Amanda, mas eu sou casado...
Foi rápido, ou eu que estou lento, e quando vi, a mulher tinha
grudado seus lábios aos meus.
A empurro assustado, e meio atordoado.
— Você está louca? — Passo as mãos pelos meus lábios para
limpá-los.
Ela sorri, parece se divertir com a cena.
— Desculpe. Só queria parabenizá-lo, não achei que você fosse
se incomodar com um beijo.
— Incomodou, e muito! Me dá licença! — A empurro da minha
frente, puto da vida.
Se fosse em outro momento da minha vida, eu já estaria no carro
com a puta, e pararíamos no primeiro motel, mas não é o caso,
caralho!
Que porra é essa? Aqui não é boate, puteiro, o que essa mulher
acha que está fazendo?
Flash back off
Capítulo 10
JACKELINE
Minhas mãos tremem de nervoso, e minha cabeça dói de um
jeito que nunca senti.
Tento me acalmar, pensar com clareza, mas não consigo, estou
insana de raiva, ciúmes.
— Eu não vou ficar aguardando enquanto ele chega, aquele filho
da puta. — Penso alto, limpando meu rosto que está encharcado de
lágrimas.
Por alguns minutos esqueci que estou grávida, a única coisa que
penso são naquelas fotos, naquela mulher, e no Rui, esse maldito
cafajeste.
Pego as fotos que estão espalhadas em minha mesa, abro a
porta de sua sala e jogo-as sobre sua mesa.
Eu preciso ir embora.
Coloco minha mão sobre minha testa, não estou me sentindo
bem.
Pego as chaves do meu carro em minha gaveta, por sorte ele
ficou no escritório desde a última vez que o usei, e saio feito uma
louca escadas abaixo.
Passo pelo Alexandre sem ao menos me despedir dele.
— Jackeline, Jackeline... — Ele me chama insistentemente. —
Por favor, onde você vai?
Olho para ele de soslaio.
— Estou indo embora, Alexandre. — Não o deixo terminar o que
iria dizer, sigo quase correndo até meu carro.
Dou a partida e a única coisa que sei, é que não quero ir para
casa, quero dizer, aquela não é minha casa, é dele.
Choro sentida, porque no final das contas, não somos nada um
para outro, moramos juntos, teremos um filho em comum, e talvez
esse seja o único motivo para estar me aturando até hoje.
Deve ser difícil para um cafajeste ficar com a mesma mulher
todos os dias, principalmente quando ela não é mais desejável, está
gorda e desajeitada, não sou mais atraente para ele.
Enxugo as lágrimas que caem insistentemente do meu rosto,
inundando meus olhos e me deixando com a visão atrapalhada.
Eu sei que atualmente sou muito dependente dele, mas preciso
me virar, então decido ir para a casa de minha mãe.
Tenho consciência que não tenho cama, nem roupas para vestir,
mas que se foda, aquela é minha casa.
Dirijo feito uma louca, choro e soluço, de tristeza e de dor.
Sinto minha cabeça pesada e latejando, um começo de mal-
estar, e novamente aquela sensação de torpor.
— Por favor, meu Deus, agora não — falo para mim mesma,
acelerando o carro.
Preciso chegar à casa de minha mãe.
Eu não deveria ter insistido, porque agora no meio de uma
avenida movimentada, não há como voltar atrás.
Respiro fundo diversas vezes, as sensações de mal-estar se
acentuam, começo a sentir um suor frio em meu corpo e minhas
mãos, puxo o ar desesperadamente, e sinto minha visão turvar,
escurecer.
Rezo desesperada, mas então não consigo ver mais nada,
apenas senti um tranco forte, e a inconsciência tomou conta de mim.
****
Sempre imaginei que a pior coisa que poderia acontecer a uma
pessoa seria perder a consciência na rua, e estar sozinha.
Nunca fui daquelas mulheres que desmaiam facilmente, sempre
fui forte. Então, me ver deitada no asfalto, com um desconhecido
sobre mim, foi a sensação mais angustiante que senti.
— Olá, moça! Somos do resgate, você está se sentindo bem?!—
Ele me olha insistentemente.
— Estou confusa! — respondo, e então me dou conta do meu
filho.
Como pude ser tão irresponsável?
Coloco minhas mãos sobre minha barriga.
— Meu bebê? — Olho aflita para ele.
— Você sofreu um acidente... — Ele faz procedimentos de
checagem de pressão, essas coisas, olha para outro homem vestido
como ele. — A pressão arterial...
Vejo um frenesi de pessoas ao meu redor, mas me sinto tonta,
penso no meu carro, nas minhas coisas, mas a única coisa que me
importa é o meu bebê.
— O meu bebê? Ele está bem? — Volto a chorar.
— Fique calma, estamos indo para um hospital. — Ele parece
tenso, preocupado.
Sou colocada naqueles furgões grandes e inóspitos, as portas se
fecham, e me colocam uma daquelas máscaras com oxigênio.
Sim, esse deve ser o pior momento da minha vida, e eu que o
causei.
Eu deveria saber que não existem ex-cafajestes, ele é bom de
encenar, mas isso não importa agora.
Acaricio minha barriga insistentemente.
— Me desculpe, Luigi, por colocá-lo em risco, por não pensar em
você, só naquele maldito. — Penso e choro no caminho que parece
ser o mais longo da minha vida.
Finalmente o misturador de shake estaciona, estou com meu
estômago embrulhado, o motorista dessa coisa dirigiu como um
louco.
Estou assustada, com medo, e sozinha.
A maca que estou é tirada do furgão e levada às pressas para o
interior de um hospital, logo começam as perguntas, aparelhos e a
colocação de medicamentos em minha veia.
— O meu bebê? Por favor, como ele está? — pergunto
desesperadamente.
— Ele está bem. Fique calma, precisamos baixar sua pressão
para o bem de seu bebê! — uma enfermeira delicada diz
pacientemente. — Precisamos chamar um familiar, você consegue
lembrar de algum número de telefone? — ela diz com seu rosto
próximo ao meu.
Penso no Rui, mas na mesma hora desisto, não quero vê-lo.
— Uma amiga, ligue para ela — falo o número do telefone da
Carolina.
— Ok. Fique quietinha, vou pedir para ligarem para ela. — Ela
sai com um sorriso tranquilizador.
Devo ter sido trazida para um hospital público, pois as
acomodações do lugar são simples e sem o luxo dos hospitais que
meu plano de saúde me oferece.
Olho ao redor, fui colocada em um lugar grande e sem vida,
como uma enfermaria. Muitas mulheres estão acomodadas em
camas como a minha, a maioria acompanhadas, e algumas
sozinhas como eu.
Um aparelho bipa insistentemente em minhas costas, aos
poucos a dor de cabeça cessa, assim como o mal-estar que eu
sentia.
Eu só queria ouvir o coraçãozinho dele, saber que ele está bem.
E como se Deus ouvisse minhas preces, uma enfermeira chega
a minha cama e se apresenta.
— Vou chegar os sinais vitais do seu bebê! — ela diz simpática,
coloca um pequeno aparelho em minha barriga e então os sons
frenéticos de seu coraçãozinho inundam meus ouvidos.
— Ele está bem, não está? — pergunto ansiosa.
— Sim, parece que sim! — Ela sorri. — Você precisa fazer um
ultrassom, mas existem muitas mulheres que chegaram em sua
frente, então precisamos aguardar.
Pensei em dizer que tenho um plano de saúde, mas não faz
muito sentido falar sobre isso com a funcionária, apenas pergunto
sobre a Carol.
— Conseguiram avisar a minha amiga?
— Não sei. Vou pedir para a enfermeira do setor falar com você.
— Ela sorri, acaricia meu braço e sai.
As horas passam sem que ninguém me dê notícias de nada,
apenas uma enfermeira sem muita paciência, checa a todo
momento o aparelho que mede minha pressão.
— A pressão baixou? — pergunto angustiada, pois eu sei que
mulheres grávidas não podem ter pressão alta.
— Sim... — Ela vai embora sem me dar maiores informações.
Converso em silêncio com meu pequeno ser, peço desculpas por
ter sido tão louca, por não ter pensado nele, apenas em mim e em
minha raiva, e então ouço meu nome.
— Jack!!! — Olho e vejo a Carolina vindo em minha direção com
uma expressão transtornada. — Oh, meu Deus! O que aconteceu,
Jack? — Ela segura em minha mão e acaricia meus cabelos
angustiada.
— Bati meu carro! — Meus olhos enchem de lágrimas.
— Por que você não estava no escritório? Você estava indo em
alguma consulta, é isso? Você já avisou ao Rui! — Ela faz muitas
perguntas, me deixando meio desnorteada.
— Carol, uma coisa de cada vez! — Fecho meus olhos para me
acalmar, eu não posso ficar nervosa novamente.
— Ok, me desculpe! — Ela puxa meu rosto para eu olhar para
ela. — O que aconteceu? Por que você está chorando? O que
houve? — Ela acaricia minha barriga. — Ele está bem? — Ela me
encara com firmeza.
— Sim, ele está bem, mas minha pressão subiu. — Fecho os
olhos e me concentro. — Enviaram para mim umas fotos, Carol... —
Puxo o ar para me acalmar. — Ele estava beijando outra mulher no
evento que ele foi homenageado.
Ela arregala seus olhos castanhos grandes.
— Eu estava lá, Jack, e não o vi com nenhuma mulher. Ele
estava numa mesa com muitos homens, todos meio bêbados. — Ela
anda ao meu redor, coloca a mão sobre sua testa. — Eu teria visto.
— Você não ficou de babá, cuidando dele o tempo todo.
Provavelmente ele a encontrou em algum momento, e saíram juntos
— falo calmamente.
— Jack, eu o vi indo embora. Ele estava sozinho, e eu fiquei com
o Gustavo e o Felipe. — Ela me olha confusa.
— Não sei, Carol. Eu vi as fotos, era ele, a mesma roupa, eu
reconheço o Rui a 100 metros de distância! Era ele e uma mulher de
vestido vermelho, muito bonita. — Viro meu rosto para disfarçar as
lagrimas.
— Oh, meu Deus! — Ela me abraça, acaricia meus cabelos. —
Jack, eu prometo, se ele fez isso com você eu peço demissão,
nunca mais quero ver a cara daquele imoral.
— Esquece isso, Carol. O problema é entre eu e ele, ele é legal
com você, te respeita e acabou de torná-la sua associada.
— Foda-se! Somos amigas, irmãs, então eu quebro a cara dele,
e depois peço demissão! — Ela arregala seus olhos e faz cara de
mau.
Sorrio amarga, de fato, não quero nada disso, só quero ter meu
bebê, voltar para casa da minha mãe e viver em paz.
— Eu preciso avisá-lo, Jack! — Ela me encara novamente.
— Eu não quero vê-lo! — Minha voz embarga, e sinto meu
coração disparar.
Ela olha para a tela do aparelho, e me olha preocupada.
— Vamos com calma. Precisamos levá-la para o hospital que
sua médica atende, vou cuidar disso. — Ela me olha com carinho.
— Você fica quietinha aqui, vou falar com a administração do
hospital, e com nosso RH, tá bom?
— Sim. Pode ir, estou bem. — Ela aperta minha mão e sai
apressada.
****
Já é noite quando uma ambulância do hospital particular chega
para fazer minha remoção.
A Carolina está ao meu lado, segurando minha mão, e chego à
conclusão que se eu tivesse tido uma irmã, ela não teria sido boa
para mim como a Carolina é. Ela é muito melhor que uma irmã, a
Carol é minha alma gêmea, minha irmã siamesa.
Conversamos pouco durante o caminho, e pelo muito que a
conheço, ela está tensa e preocupada.
— Você não disse nada para minha mãe, não é? — Olho para
ela ansiosa.
— Não, mas não acho justo esconder dela o que está
acontecendo. — Ela faz uma expressão contrariada.
— E para o Rui? — Novamente aquela sensação no peito, um
misto de angústia e ansiedade.
— Me desculpe, Jack, mas eu precisava avisá-lo. Provavelmente
ele estará no hospital quando chegarmos, você precisa falar com
ele, com muita calma, e se realmente ele fez isso, foda-se ele! O
seu bebê está em primeiro lugar, ele sim é para sempre, Jack,
homens existem muitos e todos são uns merdas.
Seguro nos lençóis com firmeza.
— Você me aconselha a me tornar lésbica? — Tento fazer uma
piada para descontrair e me acalmar.
— Sim! — Ela sorri debochada. — Não me arrependo de minha
escolha sexual, sou feliz assim.
— E filhos, você não pensa nisso?
— Talvez um dia, quando eu encontrar uma companheira de
verdade, usamos o espermatozoide de algum amigo bicha. Agora
dá para fazer inseminação caseira, está sabendo disso?
— Como assim? — Reviro meus olhos.
— O cara goza em uma camisinha, tira o esperma com uma
seringa e puff, insere-se o sêmen no útero, sem penetrações,
médicos, internações e de graça. — Ela dá risada. — Tenho amigas
que fizeram isso, e deu certo!
— Meu Deus! Criatividade é o que não falta. — Dou risada, mas
relembro do passado da Carolina, e de sua ojeriza[1] por homens,
desde que foi estuprada por seu avô, aos nove anos.
Eu só soube dessa história quando tínhamos 18 anos, mais ou
menos quando ela assumiu sua homossexualidade.
— Homens nem pensar, né, Carol? — A olho com ternura.
— Não! Eu até tentei, mas não suporto o toque de um homem
em mim — ela diz amargamente.
— Entendo... — Sempre tive vontade de falar mais sobre isso
com ela, mas não consigo, porque vejo a dor que isso causa a ela.
— O que houve com ele? Quero dizer, com seu avô?
— O infeliz já morreu, e desceu direto para o inferno! Eu o teria
matado pessoalmente, até tentei, mas ele era mais forte do que eu,
provavelmente conseguiu acabar com a vida de mais alguma das
minhas irmãs.
Não consigo imaginar como alguém que deveria proteger uma
criança, é capaz de machucá-la, violentá-la.
— Você não fala com elas? — pergunto cuidadosa.
— Não. Ele desestruturou nossa família, a única que ainda falo é
minha mãe. Minhas irmãs sumiram no mundo, não sei delas — ela
diz com tristeza.
— Sinto muito, Carol, demais!
Ela sorri.
— Não sinta. Já superei isso, e sou muito feliz, acredite!
Acaricio seu rosto.
— Eu acredito! E você tem uma família, eu sou sua família —
digo de coração.
— Sim, você e esse bebezão. — Ela acaricia minha barriga. —
Vou te pedir algo, Jack. — Ela fica pensativa. — Eu sei que as fotos
são uma prova irrefutável do que aconteceu, mas deixe ele falar sua
versão.
Fecho meus olhos e viro meu rosto.
— Não sei se consigo.
— Ele mudou muito, Jack! Não vejo o Rui fazendo isso, beijando
outra mulher, ele é apaixonado por você, é nítido, claro como água.
Existem muitas formas de se fazer montagens, enfim, o deixe se
explicar, se não quiser fazer isso por ele, faça pelo seu bebê.
Respiro fundo, e finalmente a ambulância estaciona.
— Ok, Carol! Você me convenceu! — Tento sorrir.
A porta da ambulância abre.
— Vou descer primeiro. — Ela beija minha testa, e se agacha
para descer do furgão.
Alguns procedimentos e estou no chão novamente, ouço
algumas vozes e então a única que é capaz de me desestruturar
chega até meus ouvidos.
Ele está aqui.
Então eu o vejo, ele me olha intensamente, a taquicardia volta ao
meu peito, assim como a vontade de chorar. Fecho meus olhos e
viro meu rosto para não olhá-lo.
Eu sei que preciso falar com ele, mas ainda não estou pronta.
Capítulo 11
RUI FIGUEIREDO
Aguardo com meus advogados enquanto o juiz entra em
recesso e nos deixa plantados mais algumas horas na sala de
espera.
Estou cansado, com dor de cabeça e louco de fome.
Não faz parte de meu padrão comer coxinha na hora do almoço,
mas o puto do juiz tumultuou nosso horário de almoço. Esse cara é
um puto, e parece estar comprado pela outra parte do processo.
Me sento em um banco, apoio meus cotovelos em meus joelhos
e descanso meu rosto entre minhas mãos.
Meu telefone vibra em meu bolso, o pego e vejo que é do
escritório.
Estranho, a Jack não é de me ligar quando estou em meio às
audiências.
De qualquer modo, atendo imediatamente:
— Alô! — Me levanto e saio andando pelo corredor.
— Doutor Rui, é o Alexandre! — ele diz com sua voz
esganiçada.
Tenho vontade de dar uma bronca nele por me atrapalhar, mas
me contenho.
— Fala rápido, Alexandre. Estou no meio de uma audiência.
Ouço sua respiração rápida, ele parece nervoso.
— Doutor Rui, eu preciso que o senhor volte para o escritório.
Bufo irritado.
— Como assim, está maluco? Eu estou no meio de uma
audiência! Onde está a Jackeline?
— É por causa dela que estou ligando. Enviaram umas fotos
suas naquele evento, e isso deixou a Jackeline muito nervosa. Ela
saiu daqui feito um louca, e chorando.
Então, como um flash back, me vem à mente a mulher que me
agarrou e me beijou.
— Você viu as fotos? — pergunto aflito.
— Apenas o começo, o doutor aparece abraçado a uma mulher.
Então a Jackeline pediu que eu me retirasse, logo depois disso ela
desceu chorando e saiu com o carro dela.
Merda, mil vezes merda!
Como eu pude ser tão inocente? Aquilo era uma cilada.
— Ok, estou voltando para o escritório. — Desligo.
Sigo nervoso até os advogados que me acompanham.
— Estou com um problema no escritório, eu preciso ir embora —
falo nervoso.
— Mas, e a audiência? — O Felipe pergunta com os olhos
preocupados.
— Vocês terão que se virar sem mim! — Bato no ombro dele. —
Façam o que for possível para ganharmos, eu não posso ficar.
— Ok! — Os dois me olham preocupados, apenas aceno e saio
em disparada.
****
Ligo insistentemente no celular da Jackeline, mas ela o desligou.
Esmurro o volante com raiva.
Tento em casa, a empregada atende:
— A Jackeline, Josalice! — falo ríspido.
— Ela não está em casa, doutor!
Bufo nervoso.
— Tudo bem, obrigado. — Desligo.
Penso em ligar para sua mãe, mas não quero causar
preocupações desnecessárias.
— Acalme-se, Rui! — falo para mim mesmo.
Depois de longos minutos estaciono meu carro na garagem e
subo feito um raio para minha sala.
As fotos estão jogadas sobre minha mesa, me aproximo
vagarosamente.
Sim, estou temeroso do que verei, e do que a Jack viu.
As fotos que estão por cima são justamente as piores, as que a
piranha me beijou.
Fecho meus olhos e respiro.
Folheio rapidamente as fotos, alguém fotografou a cena, e a
misturou com as fotos do evento, justamente para confundir a Jack.
Ela caiu na armadilha, e agora mais do que nunca, está claro
para mim, existe alguém que resolveu se vingar de mim usando a
Jackeline.
Eu não tenho dúvidas que seja a Priscila, mas como irei provar
isso?
Me sento esgotado em minha cadeira.
Como a farei acreditar em mim?
Cubro meu rosto com as mãos, e então o celular toca, o olho
rapidamente e vejo o nome da Carolina.
Como assim? A Carolina deveria estar no escritório!
Atendo rapidamente.
— Rui, é a Carolina! — Percebo pela sua respiração que ela está
andando, e apressada.
— Onde você está, Carolina? Você não deveria estar no
escritório! — pergunto nervoso.
Ela inspira com força.
— É o seguinte, acabei de receber uma ligação de um hospital
público, a Jackeline sofreu um acidente, está internada, mas graças
a Deus não corre risco de vida.
Me levanto de sobressalto, todos os pelos do meu corpo se
arrepiam, tento me controlar, mas meu coração, assim como minha
respiração, está acelerado.
— Em que hospital ela está? Estou indo para aí! — Pego minha
carteira e já começo a andar para a porta.
— Rui, eu sei que você está nervoso, mas a Jackeline não está
muito bem. A pressão dela subiu muito, ela está sendo medicada, e
tudo isso tem a ver com fotos que ela viu, e que te mostram com
outra mulher.
Ela fica em silêncio.
— Aquilo foi uma armação, Carolina! — respondo nervoso.
— Não diga para mim, diga a ela — ela diz seriamente. — Mas,
primeiramente, me ajude a transferi-la de hospital, ela precisa de
cuidados médicos. Já falei com o hospital onde ela está, mas eles
são umas lesmas lerdas. — Ela inspira. — Então, peça para nosso
RH agilizar o contato do seguro saúde, eles precisam conversar
com o hospital.
Esfrego meus cabelos nervosamente.
— Ok, eu vou ver isso pessoalmente. Mas, me envie o nome do
lugar onde ela está, tentarei eu mesmo conversar com eles.
Desligamos.
Ligo para meu gerente do RH, ele atende rapidamente.
— Preciso de sua ajuda. A Jackeline passou mal, enfim... — falo
nervoso. — Ela foi levada para um hospital público, mas preciso
transferi-la para o hospital que sua médica trabalha.
— Certo. Eu só preciso fazer uma entrevista, serei rápido.
O interrompo nervoso.
— Peça para outra pessoa fazer isso! Preciso de sua ajuda
agora, venha a minha sala com o telefone do seguro saúde.
Desligo o telefone.
Talvez hoje seja o dia que terei um ataque cardíaco.
****
Respiro aliviado.
Finalmente a transferência da Jackeline está pronta, e a
ambulância a caminho para removê-la.
Esfrego meu rosto, estou cansado, continuo com fome, e para
ajudar, nervoso.
Meus dedos pinicam para ligar para a Priscila e desmascará-la,
mas ainda assim não estou certo, não sei como irei descobrir isso,
mas agora, meu foco é a Jack e o nosso bebê.
Depois penso na Priscila, agora não quero perder meu tempo
com essa garota.
Pego minhas coisas e sigo para a garagem.
Encontro o Alexandre em sua mesa.
— Pode ir, Alexandre. Já deu seu horário! — falo cansado.
— Queria saber se está tudo bem com a Jackeline, estou muito
preocupado com ela!
Sorrio fraco, gosto de ver a preocupação desse rapaz com ela.
— Sim, fique tranquilo. Ela está bem, está tudo sob controle!
Ele coloca a mão sobre seu peito.
— Graças a Deus!
— Precisa de uma carona, Alexandre? Passarei próximo a uma
estação de trem.
O espero na porta da recepção.
— Sim, seria ótimo, mas não quero incomodá-lo.
— Não é incômodo.
****
Passado alguns minutos de trânsito, chego ao hospital para onde
a Jack será transferida.
Me informo na recepção, eles estão a caminho, o hospital onde
ela foi levada é distante de onde moramos.
Me sento na recepção e tento manter a calma.
Preocupação, tensão e estresse me causam uma dor de cabeça
maldita.
Compro um refrigerante em uma máquina automática e espero
como numa penitência até que a ambulância chegue, e então a
moça me avisa:
— Eles chegarão em cinco minutos, senhor!
Me levanto rapidamente.
— Ok, obrigado. — Sigo apressado para a emergência.
5 minutos só se for no relógio dessa mulher! Os cinco minutos
dela viraram 30, e eu quase infarto de tanta preocupação.
Finalmente vejo uma ambulância encostar na entrada do
hospital, a porta abre e vejo a Carolina.
Tento não me empolgar, a Carolina já me disse que a Jackeline
não está querendo me ver nem pintado de ouro.
Se o plano de quem quer que seja é acabar com o que há entre
mim e a Jack, ele está sendo bem-sucedido.
Tudo poderia ser fácil, mas não com o meu passado de cafajeste
e mulherengo.
Me aproximo de sua maca, um nó no estômago está acabando
comigo, eu só queria saber se ela está bem.
Mas ela me olha com frieza e desvia seus olhos de mim.
Solto o ar esgotado, esfrego meu rosto e sigo as duas em
direção ao hospital.
Deixo que a Carolina fique com ela nesses primeiros momentos,
não a quero deixar nervosa, apesar da ansiedade estar me matando
por dentro.
Finalmente ela entra numa sala de triagem e a Carolina vem
falar comigo.
— Como ela está? — pergunto angustiado.
— Parece bem, ela está mais calma! — Ela me olha seriamente.
— Você sabe que pressão alta é muito perigosa em gestantes,
então, peço que tenha paciência, espere que ela esteja bem para
falar com ela.
Solto o ar com força.
— Minha consciência está tranquila, Carol. Eu não fiz nada!
— E o que significam as fotos que ela viu? — Ela me olha com
firmeza.
— Essa mulher que ela viu me abordou, disse que me conhecia,
que queria me parabenizar, então me abraçou, e me beijou, foi isso.
— Assim do nada? — Ela cruza seus braços.
— Acho que você não está acreditando em mim, não é mesmo?
— falo indignado.
— É que sua estória é bem estranha. — Ela vira seu pescoço de
lado.
— Sim, parece estranha, mas não é... — Viro de costas e saio
andando. — Vou andar um pouco.
Foda-se você, Carolina! Preciso apenas que a Jackeline acredite
em mim.
****
Finalmente ela é levada para um quarto, converso rapidamente
com o médico de plantão, e me sinto mais calmo ao saber que está
tudo bem com os dois.
— Ela ficará internada até amanhã, apenas para precaução, a
médica que a acompanha me ligou e pediu que eu providenciasse
sua internação. Mas ela está bem, medicada, fique tranquilo.
— Ok, obrigado. — Me despeço do médico e sigo até a Carolina.
— Se você quiser ir embora, pode ir, eu ficarei com ela.
Ela me olha preocupada.
— Rui, estou preocupada que talvez sua conversa com ela a
estresse. Talvez fosse melhor você ir embora, eu fico com ela.
— Claro que não! Porra, ela precisa acreditar em mim, não
preciso me esconder de nada, nem ninguém! Eu preciso conversar
com ela, Carolina, e tem que ser agora! — falo nervoso.
Ela fecha os olhos e mexe a cabeça irritantemente.
— Ok, se algo acontecer com ela, a responsabilidade é sua! —
ela fala alterada, e sai batendo o salto alto no chão de mármore.
Sim, estou pagando todos os pecados que cometi nesta vida.
Esfrego meu rosto, estralo meu pescoço, crio coragem e entro
em seu quarto.
Ela está olhando para uma televisão, desvia os olhos, me olha
brevemente e volta a olhar para o televisor.
— Jack, você está bem? — pergunto cuidadoso.
— Sim, estou! — ela responde sem me olhar.
— Eu preciso te dizer umas coisas, não quero estressá-la, não
quero que fique nervosa, mas eu preciso que acredite em mim.
Ela desvia seus olhos da televisão, e me lança um olhar distante
e vazio.
— Sim, pode dizer! — Ela descansa sua mão sobre sua barriga.
— Algum problema? — pergunto preocupado.
— Não, nenhum! — ela responde com frieza.
— Eu estava com meus amigos em uma mesa, bebi um pouco a
mais, mas não estava bêbado, você viu quando eu cheguei, talvez
estivesse um pouco alegre, mas... — Paro de falar e olho para ela.
— Me levantei para ir ao banheiro, aquela mulher me abordou, falou
seu nome, disse que me conhecia, mas eu não me lembrava dela.
Seu olhar é inquisidor, ela não parece acreditar em uma só
palavra que digo.
Continuo...
— Ela perguntou se podia me parabenizar pelo prêmio,
concordei, nem ao certo sabia o que ela queria dizer com isso,
então ela me abraçou... — A vejo puxando o ar. — Jack, foi tudo
muito rápido, pelas fotos pode parecer que passamos minutos,
horas juntos, mas foram alguns segundos, 20, 30, sei lá. Ela se
ofereceu para fazer um programa, para sairmos dali, irmos para
outro lugar, mas eu disse que era casado, e então ela me beijou.
Ela desvia seu olhar do meu.
Caralho, como vou fazê-la acreditar em mim?
— Olha para mim, Jack! — Me aproximo mais da cama. —
Acredita em mim, alguém armou isso para prejudicar a gente, para
que você achasse que ando por aí te traindo. Mas pensa bem, por
que vou fazer isso? A gente está feliz, eu amo você, qual o
propósito de eu sair por aí procurando outras mulheres?
— Não sei! — Sua voz sai embargada. — Talvez, porque estou
grávida, gorda e horrorosa.— Lágrimas escorrem pelo seu rosto.
— Você está linda, Jack! Por que essa insegurança? Em que
momento mostrei a você me incomodar com qualquer mudança que
você tenha tido em seu corpo? — Ela desvia seu rosto. — Olha para
mim, Jack! Eu te amo cada vez mais, como posso te provar isso?
Eu vivo em função de você.
Ela limpa suas lágrimas.
— É difícil acreditar que as fotos não sejam verdadeiras.
— As fotos são verdadeiras... — Ela me olha confusa. — Mas, a
cena é falsa, eu não fiquei com aquela mulher, ou qualquer outra. —
Seguro seu rosto entre minhas mãos. — Eu mudei, Jack, eu não
sou mais aquele cara idiota que ficava atrás de outras mulheres. Eu
estou com você porque quero, porque amo você, e nunca estive tão
feliz em minha vida.
— Mas, então por que não me contou sobre isso? — ela diz
alterada.
— Para não te aborrecer, não te preocupar. Para que te contar
sobre algo que não tinha importância nenhuma?
— Porque estamos juntos, não podemos ter segredos. Por favor,
pare de me esconder coisas, Rui! — Ela me olha magoada. — Eu
sei que posso ficar incomodada, chateada, mas eu preciso saber!
Se você tivesse me contado, eu poderia ficar brava no começo, mas
não faria o que fiz hoje, eu quase perdi meu bebê por causa disso!
— Seus olhos enchem de lágrimas.
— Eu sei. Eu só queria poupá-la de uma preocupação
desnecessária, não fiz isso para te enganar. Eu concordo com você,
eu errei. — Aproximo meu rosto do dela. — Me perdoa, eu não fiz
isso de caso pensado, apenas não achei necessário falar sobre
isso.
— Por que você diz que alguém armou isso para prejudicar nós?
Quem tem o interesse de fazer isso, e por quê? — Ela enruga sua
testa, continua brava, estressada.
— Jack, eu não tenho certeza de nada, mas talvez a Priscila que
esteja fazendo essas coisas, aquele presente, a prostituta. — Me
sento ao seu lado da cama. — Ela ficou magoada comigo, isso é
fato, e talvez tê-la visto grávida a desagradou. — Inspiro
pesadamente. — É um palpite, não tenho certeza.
Ela abaixa os olhos, parece pensar.
Volto a me aproximar dela, puxo seu rosto para que ela me olhe.
— Não vamos deixar ninguém estragar o que estamos vivemos,
eu sei que já fui um cara bem instável, mas isso foi antes de
conhecer você, e descobrir que não consigo mais viver sem minha
italiana brava, marrenta, irritante, mas ao mesmo tempo a mulher
mais incrível que já conheci. — À medida que falo me aproximo
mais dela. — Linda, doce, sensual, deliciosa...
Arranco seu primeiro sorriso, contido, mas é um sorriso.
Agora nossos lábios estamos praticamente unidos, mas antes de
beijá-la, sussurro:
— Eu te amo! Confia em mim, Jack! Acredite, isso que estamos
vivendo é verdadeiro, não é um teste, não é temporário, eu quero
que dê certo e seja para sempre.
— Eu também quero, Rui. — Agora seu olhar é suave, já não
tem a dureza de antes.
Sinto seus dedos entre meus cabelos, acariciando-os.
— Vamos confiar mais um no outro, combinado? — Olho para
ela.
— Sim, combinado! — Ela sorri. — Preciso de um beijo para
sarar.
Ela me olha lânguida e meiga.
— Quantos você quiser, minha deusa. — A beijo delicadamente,
vagarosamente.
Separo nossos lábios e volto a olhá-la.
— Preciso comer, Jack. Estou varado de fome!
Ela sorri.
— Eu não tenho muito o que fazer a respeito disso, não tenho
comida na bolsa!
Seu bom humor voltou, e isso me deixa mais tranquilo.
Mais um beijo, apenas para ter certeza que a tempestade
passou.
Volto a olhá-la.
— Vou ligar no restaurante, talvez eles possam trazer alguma
coisa para eu comer, estou apenas com uma coxinha no estômago
o dia todo.
Ela dá risada, e respiro aliviado.
Porra, espero que essa seja a última armação da Priscila. Não
sei o que sou capaz de fazer caso aconteça novamente alguma
coisa.
CAPÍTULO 12
PRISCILA ALBUQUERQUE

Flash back-on

Me preparo para o jantar em homenagem ao Rui. Escolho o


vestido mais sensual que tenho, de renda preto, capricho no salto
alto, deixo meus cabelos soltos, do jeito que ele sempre gostou, e
faço uma maquiagem forte em meus olhos.
Dispensei meu namorado grudento, um advogado que conheci
há alguns anos atrás, na época da faculdade. Ele não faz parte da
elite de advogados, não foi convidado para o evento, e eu não fiz
questão de convidá-lo.
Disse apenas que tinha um evento dos magistrados.
Não sei bem o que tenho em mente, tenho consciência que
aquele babaca não está nem aí para mim, aquela piranha conseguiu
o que eu queria, agora estão morando juntos, e ela, como é muito
esperta, embarrigou dele.
Respiro fundo, eu mereço, poderia ter conseguido tudo isso, mas
fui vaidosa, queria esfregar na cara de todas as mulheres que ele
era meu. Um casamento glamoroso era o que eu precisava, a
sociedade toda estaria lá, e eu poderia me vangloriar de ter
conquistado o advogado dos meus sonhos de adolescente.
Como uma tola, acabei me perdendo em minha vaidade.
O encontrei no restaurante francês e fiquei insana de ciúmes, e
de raiva.
Vê-la grávida foi a constatação que o perdi para sempre. Ele
está apaixonado por ela, não há dúvidas disso.
Eu odeio aquela mulher, odeio o bebê que ela espera.
E movida por um ódio insano, resolvo presenteá-la com o que
ela merece, um bicho asqueroso, algo horrendo até para mim
mesma. Foi fácil conseguir alguém para me ajudar com isso, as
pessoas são movidas por dinheiro. Então, foi só conversar com o
rapaz que cuida da limpeza do prédio onde moro.
Relembro nossa conversa:
Estaciono meu carro, sigo pela área externa e logo vejo o
homem que cuida da limpeza do prédio.
— Olá, boa tarde! — falo simpática.
Ele me olha timidamente.
— Boa tarde!
— Sou a promotora de justiça Priscila Albuquerque. Você me
conhece? — digo com arrogância, é sempre bom colocar um pouco
de terror nas pessoas.
— Sim, a senhora mora no 1.201! — ele diz humildemente.
— Isso mesmo! — Me aproximo dele. — Preciso de sua ajuda, é
algo sigiloso, mas o pagarei muito bem por isso.
Ele abaixa os olhos, parece incomodado.
— Desculpe, senhora, sou pobre, mas não desonesto.
— Não o chamei de desonesto — falo irritada. — Apenas disse
que preciso de sua ajuda! — Mudo meu tom de voz.
Ele levanta seus olhos incomodado.
— No que posso ajudá-la? — Ele segura sua vassoura, mexe
suas mãos nervosamente.
Tomo coragem e falo:
— Preciso que você me arrume um bicho morto, um rato, algo do
tipo...
Ele levanta as sobrancelhas, enruga sua testa.
— Como assim?
— Quero fazer uma brincadeira com uma amiga, vou enviar o
bicho para ela. — Dou risada.
Ele balança a cabeça.
— Brincadeira?
— Sim, brincadeira. Só para dar um sustinho nela! — Abro
minha bolsa e tiro uma nota de cem reais, e a ofereço para ele. —
Arrume o bicho, um bem grande e nojento, e te darei mais uma
dessas.
Ele olha para a nota, abaixa seus olhos, volta a olhar e a pega.
— Trarei amanhã. Onde moro tem muitos ratos, ratazanas,
capturo com uma armadilha e a trago.
Sorrio satisfeita.
— Amanhã de manhã nos falamos, suba até meu apartamento
com o bicho, o colocaremos em uma caixa. Vai ser muito divertido,
ela dará muita risada com o presentinho.
Gargalho.
— Nunca vi ninguém ficar feliz em receber um bicho morto de
presente. Mas se a doutora está falando... — Ele dá de ombros. —
Não quero saber, o problema é seu.
Ele se afasta, é bem grosso, e mal-educado, nem agradeceu
pelo dinheiro.
Reviro meus olhos e sigo para meu apartamento.
No dia seguinte, no horário combinado a campainha toca.
Abro a porta e vejo o homem, parece assustado e sem graça.
— Moça, eu não posso ser visto entrando em seu apartamento,
posso ser demitido por isso. — Ele carrega uma sacola em suas
mãos.
— Ok, entre logo! — Caminho até a área de serviço. — Venha,
vamos arrumar logo isso, antes que o bicho comece a feder, e aí
não conseguirei fazer a surpresa para minha amiga.
Ele coloca a sacola em cima de uma balcão de granito.
— Então, como a senhora quer fazer? — Ele me olha esquisito.
Pego a caixa de presentes linda que comprei para a Jackeline.
Caprichei nos detalhes, não sei se será menino ou menina,
talvez com meu presente ela perca o bebê, então, tanto faz.
Sorrio com minha constatação.
— Aqui está, vamos colocar o bichinho aqui dentro!
Ele abre a sacola, puxa um saco plástico, e então vejo o bicho
peludo, asqueroso e ensanguentado.
— Pobrezinho, como você o capturou? — falo sem emoção, me
sinto fria e sem sentimentos.
— Foi uma armadilha, ele entrou na gaiola, ainda estava vivo,
então tive que enfiar um espeto de churrasqueira nele, para matá-lo.
Quase acordo a vizinhança toda com seu barulho, esses bichos
gritam muito quando morrem.
Arregalo meus olhos.
— Sério? O senhor já matou alguém? — Pensamentos veem a
minha mente.
— Tá doida, dona? Esse bicho faz mal para as pessoas, causam
doenças, mataria uma dúzia deles se precisasse, mas não pessoas.
Ele me olha estranhamente.
— Onde está meu dinheiro? Já fiz o meu serviço!
— Vou buscar, enquanto isso o coloque dentro dessa caixa. —
Me afasto, sigo para a sala e pego duas notas de cem reais.
Volto rapidamente e vejo o plástico ensanguentado vazio, olho
dentro da caixa e vejo o bicho morto no local.
Sorrio satisfeita.
— Obrigada, senhor...
— Hilton...
— Oh, Senhor Hilton, estou te recompensando com mais uma
dessas. — Mostro o dinheiro, e vejo o seu sorriso satisfeito. —
Obrigada pela ajuda.
Ele balança a cabeça e segue pela cozinha, abro a porta de
serviços e ele sai.
— Pronto, Jackeline! Daqui a algumas horas você receberá meu
presentinho para seu bebê. — Sorrio, fecho a caixa e sigo para meu
quarto.
Horas depois...
Foi muito fácil achar um serviço de courrier discreto e amador
para fazer minha entrega.
Parei em uma rua qualquer de um bairro da periferia, uma
portinha aberta, várias motos estacionadas.
— Preciso que vocês entreguem essa caixa de presentes em um
endereço na Vila Olímpia.
O rapaz passa o preço, combinamos o horário e pronto.
Sem identificações, sem registros, nada que possa me
identificar.
Foi muito fácil.
****
Finalmente chego ao hotel onde o Rui será homenageado.
Pego minha identificação e sigo entre as pessoas, encontro
alguns conhecidos, não sou a pessoa mais comunicativa do mundo,
então não é novidade para mim não encontrar nenhum amigo.
Alguns juízes amigos do meu pai estão presentes, então perco
alguns minutos em conversas sem importância.
Olho ansiosa ao redor do salão, eu preciso achá-lo.
Dispenso os velhos babões que me cantam indiscretamente, e
volto a caminhar pelo lugar. Logo vejo alguns amigos do Rui, e
finalmente o acho.
Sim, ele é o homem mais lindo que já conheci, e meu coração
bate desenfreado. Não é algo que consiga controlar, sou
loucamente apaixonada por ele.
Me aproximo mais, quero ter certeza que ele está sozinho.
Sorrio feliz, nem sinal da piranha gorda e horrorosa da Jackeline.
Tomo coragem e me aproximo.
Não sou religiosa, não acredito em Deus, mas não me custa
nada pedir uma ajudinha de alguma força poderosa. Hoje é minha
chance de me aproximar dele, quem sabe levá-lo para a cama, e
finalmente tirar as fotos que preciso para acabar com seu
relacionamento.
Ele se afasta da roda de amigos, e então o interpelo.
— Priscila Albuquerque, que surpresa vê-la! — ele diz
sarcástico, uma nova versão do Doutor Rui Figueiredo.
Não me lembrava desse seu lado.
Sorrio.
— Por nada desse mundo eu deixaria de prestigiar o advogado
do ano e meu ex-noivo! — Beijo seu rosto, e sinto o cheiro
maravilhoso de sua colônia de barbear. — Parabéns, Rui! Você
merece!
— Obrigado! — ele diz displicente, olhando para os lados, e
chego a pensar que a vadia da Jackeline está por aqui.
— Então, onde está sua... — Não consigo pronunciar nenhum
adjetivo para aquela mulher.
— Ficou em casa. — Novamente ele responde alheio a minha
presença.
Controlo-me, esse jeito que ele está me tratando está mexendo
com minha autoconfiança.
— Então, para quando é o bebê? — pergunto curiosa.
— Daqui a dois meses...
— Oh, já está aí... Está tudo bem com a gravidez dela?
Sim, eu preciso saber se meu presentinho mimoso surtiu o efeito
que eu queria. Já sei por uma fonte segura que ela passou mal, mas
não consegui maiores informações sobre a piranha.
— Sim! Por que não deveria estar? — Ele faz cara de poucos
amigos.
Não consigo disfarçar minha decepção, eu queria que aquele
bebê dos infernos tivesse ido privada abaixo.
Disfarço.
— Por nada, é que gravidez é sempre uma caixinha de
surpresas.
Tento não mostrar meu desagrado com a gravidez dela.
Essa conversa não me levará a nada, preciso reconquistá-lo.
Mas então, como uma maldição ele diz:
— Foi um prazer te ver, mas me dá licença, preciso
cumprimentar algumas pessoas. — Ele bate em meu ombro
friamente, e sai andando entre as pessoas.
Bufo com raiva.
Um ódio fora do normal toma conta de mim.
Como ele pode ser tão frio, tão distante, depois de tudo o que
vivemos?
Respiro fundo, volto a minha postura altiva, sorrio e sigo entre as
pessoas.
Não, ele não irá me humilhar desse jeito.
****
Pego uma taça de espumante e a bebo de uma única vez, essa
é a terceira.
Ouvi-lo homenagear a secretária piranha em meio a todos, me
destruiu, e colocou abaixo todos meus planos de uma possível
reconciliação entre nós.
Então, movida pelo ódio, resolvo colocar em prática meu
segundo plano de vingança.
Como todo evento masculino, é comum encontrar alguma
prostituta de luxo entre os convidados.
Não foi muito difícil encontrar a primeira.
Elas não são muito discretas, então pelo modo que está vestida,
ficou claro para mim se tratar de uma prostituta de luxo.
Rui Figueiredo nunca foi o ser mais fiel do mundo, e sua queda
por garotas de programa é de longa data.
Não que ele tivesse problemas para arrumar garotas, acho que
sua preferência era realmente pela facilidade que poderia descartar
esse tipo de mulher.
A garota, morena e bronzeada, caminha sensualmente pelos
convidados, chamando a atenção dos homens e também das
mulheres.
Me aproximo dela.
— Olá, tudo bem?
Ela me olha e sorri.
— Oi! — Seus olhos mostram curiosidade.
— Você é advogada, promotora ou juíza? — Tomo mais um gole
de meu espumante.
— Nenhuma das alternativas anteriores... — Ela sorri. — E
você?
— Nenhuma das alternativas anteriores, também! — Sorrio.
— Então você é uma acompanhante de luxo? — Ela me olha de
lado.
— Talvez! — A encaro. — E você, o que faz aqui?
— Você é curiosa! — Ela sorri sensualmente. — Não faço
programas com mulheres, caso seja esse o seu interesse!
Ela beberica uma taça de vinho, e me olha.
— Que pena, não é mesmo? — falo para descontrair, não tenho
interesse nenhum por ela. — Mas, e se eu te contratar para levar
um homem para a cama, você aceita?
Ela sorri.
— Claro! Quem é a vítima?
Dou risada.
— Um ex-namorado. Quero tirar umas fotos de vocês dois juntos
e mostrar para sua atual... “mulher” — Reviro meus olhos.
— Ok. O que devo fazer? — Ela me olha interessada.
Explico para ela os detalhes do meu plano.
— Tudo bem, mas eu quero o pagamento antecipado, pois se
não der certo, não ficarei no prejuízo.
Esperta essa garota!
— Ok, vamos num lugar discreto, no banheiro... — Sigo na
frente, ela me segue.
Acertamos os detalhes da negociação.
— Vá na frente. — O mostro para ela.
— Bem gato, não será nenhum sacrifício.
Reviro meus olhos.
— O aguarde sair da mesa que está com os amigos, tirarei as
fotos de vocês dois com meu celular...
Ela concorda com a cabeça.
— Se você conseguir levá-lo para um motel, e tirar algumas fotos
de vocês dois juntos, pagarei o dobro para você. Guarde meu cartão
e me procure se tiver as fotos.
Ela olha para o cartão e sorri.
— Ok, promotora! — Então, ela sai entre as pessoas, roubando
olhares famintos dos homens ao nosso redor.
Respiro satisfeita.
Duvido que aquele idiota mulherengo irá resistir a uma mulher
como essa, principalmente agora que aquela horrorosa está com
uma barriga enorme e desajeitada.
Mulher ridícula, odeio ela!
Agora é só aguardar e saber se as fotos farão o efeito desejado.
Flash back off
Capítulo 13
JACKELINE
Oito meses — 32 semanas.
Eu não me imaginava chegando aos 28 anos esperando um
bebê.
Em meus planos íntimos eu engravidaria aos 30 anos, mas é
lógico que eu não contava com o aparecimento de uma doença em
meu útero.
Mas, é verdade, eu sempre sonhei com esse momento, e está
sendo mágico ver o crescimento de minha barriga, e as mudanças
que estão ocorrendo em mim.
Não vou mentir e dizer que não me sinto de vez em quando
insegura. Não vou mentir, e não tenho vergonha de dizer, sou
insegura, tento superar isso todos os dias, mas esse sentimento faz
parte de mim, sou mortal, de carne e osso, ninguém disse que
preciso ser forte o tempo todo, segura e corajosa.
Mas, me esforço todos os dias para melhorar como pessoa,
amadurecer e crescer, pois quero ser uma mãe forte e segura, para
que meu filho se sinta seguro ao meu lado.
Normalmente, as pessoas adultas que decidem ter filhos se
baseiam em relacionamentos sérios e duradouros. No meu caso
não foi assim, eu forcei uma gravidez. Talvez por isso, me sinta
insegura em relação ao Rui, em relação a sua aceitação quando o
bebê nascer, sobre nosso relacionamento depois de tudo isso.
Mas é fato, ele tem se esforçado demais para me mostrar o
quanto ele amadureceu em relação a nós, e eu preciso muito disso.
Aos oito meses de gestação, com uma barriga grande e pesada,
dificuldades de dormir, ir ao banheiro e fazendo xixi a todo
momento, relembro que não é só de felicidades que é feita uma
gravidez.
O sono bom e tranquilo demorou a vir, e agora que estou
descansando profundamente, os beijos do Rui em meu pescoço e
ombros, me causam certa irritação.
Sim, eu o amo a cada dia que passa um pouquinho mais, sou
louca por ele, adoro fazer amor com ele, mas está ficando difícil,
incômodo e eu lembro de minha vovozinha dizendo aquelas
barbaridades, e não vou mentir, começo a me preocupar com
nossas relações sexuais.
— Rui, me deixa dormir só mais um pouquinho! — reclamo
enfiando minha cara no travesseiro e abraçando um rolo gigante
que uso para apoiar minha barriga.
— Feliz aniversário, barrigudinha! — Ele acaricia minha barriga
imensa e deposita beijos em meu pescoço. — Vou te dar de
presente o dia do seu aniversário, mas acorda um pouquinho só
para eu te dar parabéns — ele sussurra em meu ouvido, e não
consigo não sorrir com seu jeito carinhoso.
Me viro para olhá-lo, sorrio para sua cara linda, a barba feita,
cheirando a colônia de barbear, cabelos molhados, e aquele sorriso
branco lindo.
— Bom dia! — Acaricio seu rosto. — Obrigada! — Faço charme.
— Estou velhinha, gorda e cansada. — Brinco.
— E linda! — Ele me encara com aqueles olhões lindos. — Feliz
aniversário, minha deusa, estou feliz demais por comemorar esse
dia com você.
Sorrio encantada com seu jeito, o abraço forte, não sei mais
viver sem ele. Oo Rui se tornou minha vida, é importante demais
para mim, e por isso me emociono todas as vezes que ele diz coisas
bonitas para mim, porque nunca me imaginei amando tanto alguém.
— Obrigada, meu amor! Você não sabe o quanto estou feliz! —
Volto a encará-lo. — Você me faz a mulher mais feliz do mundo,
sabia? — falo baixo, emocionada, olhos banhados em lágrimas.
Ele enfia seus dedos entre meus cabelos e me beija
carinhosamente, de um jeito terno, apaixonado, diferente dos
nossos antigos beijos, cheios de paixão, e desejo.
Não há dúvidas, nosso relacionamento mudou desde que
descobri minha gravidez, agora temos feito mais amor, e menos
sexo.
— Quer fazer amor, Jack? — ele pergunta em meu ouvido.
Não vou negar, estou na fase chata da gravidez, aquela que nem
sempre se está a fim de sexo, me odeio por isso, não quero deixá-lo
na mão. Mas, meu Deus, não é fácil ter libido com uma barriga
deste tamanho.
— Quero! — Abro meus olhos, e encontro os dele, tão cheios de
desejo, e mal posso acreditar que é por mim, uma porpeta enorme e
redonda.
A camisola que mal cabe em mim é puxada pelos meus braços,
ele tira minha calcinha, a toalha de sua cintura, em segundos
estamos os dois nus.
Seus lábios se demoram em meus seios, que estão enormes, e
duros.
As sensações no meu corpo parecem ter triplicado, cada toque
dele em cada parte do meu corpo parece mais intensa, deliciosa.
Minha mobilidade na cama está bem reduzida, portanto, não é
como se eu pudesse corresponder a ele na mesma intensidade,
tento acompanhá-lo, mas estou lenta e desajeitada.
Seus dedos experientes acariciam meu sexo deliciosamente,
aliás, faz tempo que não vejo a cara da minha amiga.
Gemo baixo, fico ofegante e finalmente gozo.
Ele volta a me beijar, me olha profundamente e diz:
— Eu te amo, Jack! — Seu polegar acaricia a pele da minha face
delicadamente, me deixando mole e apaixonada.
— Eu também, demais! — O encaro, e voltamos a nos beijar.
— Fica de lado. — Me posiciono como ele disse, ele se encaixa
em minhas costas.
Novamente os beijos em meu pescoço, nuca, ombros e isso já
não me incomoda mais, na verdade, eu adoro isso. Seu membro
roça minha entrada, e me penetra gentilmente.
— Está bom assim? — Mais beijos em meu pescoço.
— Aham... — respondo, ou simplesmente gemo.
Suas mãos seguram meus quadris, ao meu tempo que ele se
movimenta deliciosamente dentro de mim, com cuidado, sem
pressa.
Apesar de por vezes eu não querer fazer sexo, quando fazemos
é muito prazeroso, porque ele é gentil, carinhoso.
Ele me beija o tempo todo, e isso me dá um prazer enorme,
estou mais sensível, isso é fato, preciso de mais carinho para sentir
prazer, para relaxar.
— Me beija, Rui! — Viro meu rosto, ele envolve meus lábios com
os seus e me beija com vontade, e seus movimentos ganham
intensidade, e seus primeiros gemidos começam, e eu amo ouvi-lo
chegar ao orgasmo.
— Oh, Jack! — Ele me aperta em seus braços, enterra seu rosto
em meu pescoço, respira forte e descompassado, e finalmente
para.
Adoro o silêncio depois do amor, interrompido apenas pelo
barulho das respirações e da batucada dos corações que batem
desenfreados.
— Meu amor! — ele cochicha em meu ouvido, deposita beijos
em minha orelha, e isso nunca foi tão bom.
Levo sua mão que me abraça até meus lábios e a beijo.
— Te amo, Rui! — digo extasiada, com sua mão contra meus
lábios.
Amo cada pedacinho desse homem.
— Eu também. — Ele beija minha bochecha carinhosamente. —
Feliz aniversário. — Ele me faz virar o corpo novamente, para
ficarmos de frente. — Quero comemorar muitas datas como essa
com você! — Suas mãos grandes seguram minha cabeça, me
trazendo para mais um beijo, o mais gostoso de todos. — Gostou da
surpresa? — Ele finalmente separa nossos lábios e me olha.
— Qual? — O olho confusa. — Fazer amor logo cedo? — Sorrio
sem graça, ando preguiçosa demais pela manhã, e é fato, sexo só à
noite, e isso quando não durmo antes dele.
Oh, meu Deus, preciso melhorar isso.
— Não! — ele diz indignado e olha para o nosso quarto, e então
olho ao redor, e vejo muitas flores espalhadas pelos móveis.
— Oh, Rui! Que surpresa linda! — Me sento desajeitada na
cama. — Quantas flores! Eu amo flores, sabia? — falo emocionada,
limpando as lágrimas que escaparam de meus olhos.
— Sabia! — Olho para ele e o vejo sorrindo.
Ele se levanta e caminha até uma cômoda, abre uma gaveta e
tira um embrulho de presente.
— Esse é meu presente oficial! — Ele me entrega o pacote
sorrindo.
— Não precisava! Só as flores já são uma surpresa linda! — digo
sem graça, ele me mima muito, e isso é maravilhoso.
Ele se senta ao meu lado.
— As flores morrem, e esse seu aniversário é especial, você
está carregando nosso filho. — Seu olhar é diferente, diferente de
um jeito que não sei explicar.
Seguro a caixinha entre minhas mãos e a outra acaricio seu
rosto, e o trago para mim, e o beijo demoradamente.
— Te amo! — falo pela décima vez.
— Abre, vamos ver se você gosta! — ele diz meigo.
— Tenho certeza que vou gostar, até mesmo se for um par de
chinelos velhos! — Brinco e sorrio.
Finalmente termino de desfazer o embrulho, e já tenho certeza
que é uma joia.
Tiro a tampa da pequena caixa, e então vejo um colar de ouro
com um pingente cravejado de pequenas pedras brilhantes ao redor,
mas não é algo comum, é a coisa mais linda que já vi. Dentro de
uma esfera de ouro, um feto em ouro descansa, como se estivesse
dentro de um útero.
Nunca vi nada igual.
Olho para o Rui extasiada.
— Que coisa mais linda, Rui!! — falo emocionada, e volto a
abraçá-lo. — Obrigada, é muito lindo, delicado.
— Me deixa colocar em você! — Ele pega o colar em suas mãos
e o coloca em meu pescoço.
Passeio meus dedos pelo vidro do pingente, é como se estivesse
vendo meu pequeno Luigi dentro do meu útero.
O abraço novamente, e encho suas bochechas de beijos.
— Você não existe! — Sorrio com meu rosto molhado de
lágrimas, ando muito sensível, choro fácil e me aborreço fácil.
Estou um porre de chata.
— Como hoje é seu aniversário, você ficará em casa! — Ele
beija minha testa e se levanta.
— Sério? Vou passar meu aniversário sozinha?
Ele para e me olha confuso.
— Você não quer ficar descansando hoje? Pensei que você iria
gostar. — Ele parece decepcionado.
— Ok, então vamos fazer assim... — Me levanto como se tivesse
oitenta anos, e desfilo minha nudez de grávida pelo quarto. —
Quero ficar em casa até o horário do almoço, depois quero ir para o
escritório, comprar um bolo e comemorar com todo mundo.
Ele balança sua cabeça e dá risada.
— Como você quiser, minha gostosa! — Ele une nossos corpos
novamente, me beija, acaricia minha barriga, e não vou negar, isso
me excita. — Será que podemos abrir uma exceção hoje, Jack? —
Ele desce seus lábios para meu pescoço. — Mais uma vez, bem
devagar, ando com tanta saudade dessa buceta gostosa. — Suas
mãos acariciam meus seios sensualmente.
Sorrio mole de amor, e concluo que ele continua sedutor como
sempre, e nem uma mulher grávida escapa de seu charme sedutor
e envolvente.
— Você pedindo assim faço qualquer coisa por você! — sussurro
em seus braços.
— Então vem, vamos fazer uma outra posição...
****
Depois de nos amarmos pela segunda vez, me vi exausta e
voltei a dormir.
Tenho que concordar, esse presente de aniversário foi bem
prazeroso.
— Jackeline! — Um toque na porta, desperto assustada, cubro
rapidamente meus seios com o lençol, estou completamente nua, e
a Jô quase me pegou assim.
— Sim, pode entrar! — Me seguro em meus cotovelos e vejo
uma cesta gigante de café da manhã em suas mãos.
Abro um sorriso enorme.
Não sou diferente das outras mulheres, adoro presentes, mimos,
cuidados e amor.
Chego à conclusão que sou uma pessoa abençoada, porque
encontrei o homem dos meus sonhos. O Rui não é perfeito, mas me
faz feliz de um jeito que nunca fui em minha vida.
— Obrigada, Jô! — digo constrangida por estar nua em embaixo
do lençol.
— Imagine, e parabéns! — ela diz sem graça, sai discretamente
do quarto e fecha a porta.
Abro o papel celofane e pego o cartão que está dentro da cesta
e o leio ansiosa.
Feliz aniversário, minha deusa!
Te amo demais!
Ass.: Rui.
Ele não é muito meloso, mas esse é seu jeito de demonstrar
seus sentimentos, os gestos falam mais que as palavras.
Meu bebê está com fome —mentirinha de grávida—, então me
esbaldo nas guloseimas que encontro dentro da cesta.
Finalmente, estou satisfeita, me espreguiço e sigo para o
banheiro.
Decido colocar um biquíni e tomar um pouco de sol na piscina, o
sol da primavera está gostoso e ameno.
Converso um pouco com a Jô, e sigo com meu filho peludo para
a área externa. Nos deitamos um ao lado do outro na
espreguiçadeira, conto para ele um pouco sobre o novo integrante
da família, ele cheira e lambe minha barriga, e posso dizer que
estou vivendo os melhores momentos da minha vida.
Alguns minutos me exercitando na piscina, e a Jô aparece na
piscina com o telefone em mãos.
— É sua mãe — ela diz sorrindo, e me entrega o telefone. — Ah,
o Doutor Rui já chegou, disse que iria tomar um banho e já volta
para vocês dois almoçarem juntos, em um restaurante.
Levanto minhas sobrancelhas, porque por mim comeria por aqui
mesmo, mas é sempre bom comemorar a vida.
Atendo minha mãe, e choramos juntas, minha mãe é muito
chorona e eu estou chorona, então nada mais natural.
Depois, falo com minha vovó, sempre com seus conselhos
sábios e esquisitos, e por fim minha tia, que anda muito carinhosa
comigo.
Até que enfim...
Me enxugo rapidamente, coloco o vestido por cima do biquíni
molhado e sigo para nosso quarto.
Encontro o Rui dentro da ducha, então faço uma surpresa, tiro
rapidamente minhas peças de roupa, me enfio dentro do box e tento
abraçar suas costas, mas está cada vez mais difícil.
Ele me olha com um sorriso.
— Vim te buscar para almoçarmos em um restaurante bem legal!
— Ele segura meu rosto e me beija.
— Tudo bem! — Me enfio debaixo da ducha, e sinto suas mãos
em minha barriga, aliás agora ele está cada vez mais conectado ao
nosso bebê.
Sim, depois de muitos percalços o seu amor cresceu por esse
ser que nem ao menos nasceu ainda, mas que já é bem conhecido
por nós dois através dos exames de ultrassom.
Agora ele me acompanha em todas as consultas, porque não
dirijo mais.
— Ele passou bem o período da manhã? — ele diz com cara de
papai.
— Sim! Nós dois adoramos a cesta que o papai mandou para
nós! — O abraço pelo pescoço, o beijo demoradamente e o desejo
cresce, sua ereção também. — Obrigada pela cesta, estava
deliciosa — falo languida, com nossos lábios próximos, olhando um
nos olhos do outro.
Estamos cada dia mais apaixonados um pelo outro, e a gravidez
talvez só tenha aumentado o que já existia entre nós.
— Será que hoje estou merecendo mais carinho da minha
gravidinha? — ele diz sedutor, com suas mãos passeando pelo meu
corpo.
— Acho que sim... — falo em meio aos nossos lábios que não
desgrudam um do outro. — Aproveita que hoje estou muito
animada.
Ele sorri contra meus lábios.
— Pode deixar, vou aproveitar... — Ele volta a me beijar, e logo
estou apoiada sobre a pia do banheiro, com o Rui me penetrando e
me enlouquecendo.
****
Escolho para vestir uma calça jeans escuro tipo skinny, para
grávidas, uma bata branca estilosa e confortável, e uma sapatilha
com estampas de oncinha.
Não é fácil se vestir na gravidez, mas me acho uma gravida bem
estilosa, adoro mostrar minha barriga, então uso e abuso de
blusinhas justinhas a ela, calças baixas e vestidinhos curtos e
alegres.
Estou curtindo demais esse momento, pois não sei se o viverei
novamente. Talvez esse seja meu presente de Deus, o único, e por
isso precisa ser prazeroso em todos os sentidos.
Termino de secar meu cabelo, passo um batom e sigo até o
closet.
Meu homem lindo está acabando de abotoar sua camisa,
aproximo-me dele e ajudo-o com os botões.
— Tem algum lugar que você queira ir? — ele me pergunta
carinhoso.
— Me deixe pensar... — Olho para cima. — Talvez comida
japonesa, ando com vontade de peixe cru.
Ele dá risada.
— Dizem que é perigoso, quero dizer, comer alimentos crus... —
Ele me olha sério. — Mas se você quiser, nós vamos, não quero ter
um filho com cara de peixe.
Me esgueiro até seus lábios e o beijo apaixonadamente.
Adoro esse jeito que ele se preocupa comigo e com o bebê.
— Comerei só os grelhados, assim não tem risco, mas acho que
aquele restaurante que costumamos ir é muito cuidadoso.
— Ok. Então vamos, na volta compramos um bolo para cantar
parabéns para a velhinha!
Ralho com ele.
— O próximo a ficar velhinho é você. — Caminho na frente, com
ele segurando minha cintura. — Sabia que temos o mesmo signo?
— Olho para ele por sobre meu ombro. — Quase nascemos no
mesmo mês.
Ele abraça minha cintura e beija meu rosto.
— É por isso que somos bem parecidos — ele diz em meu
ouvido.
Sim, eu concordo, somos parecidos em muitas coisas, e talvez
esse seja o segredo para o nosso relacionamento ter dado tão certo.
Gostamos das mesmas coisas, temos o mesmo ritmo, enfim, acho
que encontrei minha outra metade.
Desço a escada cuidadosamente, afinal de contas, não vejo
mais meus pés, e isso é bem esquisito quando desço escadas.
Seguro a mão do Rui.
— Vamos só avisar a Jô que já estamos indo.
Falo rapidamente com ela, e ouço a campainha tocar.
— Pode deixar, Jô, nós atendemos — digo para a Josalice. —
Até mais tarde. — Me despeço dela.
O Rui larga de minha mão e sai na minha frente.
— Deixe que eu atendo.
O acompanho vagarosamente, a poucos metros de distância, ele
abre a porta e vejo o porteiro com um sorriso.
— Boa tarde, seu Rui, dona Jackeline! — ele diz simpático. —
Entregaram isso para dona Jackeline.
Vejo um embrulho grande em suas mãos, um saco de presentes
bonito e elegante.
O Rui pega o embrulho na mão, agradece o homem e fecha a
porta.
— Será que suas velhinhas mandaram um presente para você?
— ele diz divertido.
— Será? — Sorrio animada. — Me deixe ver.
Sigo com o embrulho em minhas mãos, não é muito pesado, o
coloco sobre a mesa de jantar, desfaço o laço, e puxo o saco de
presente, e então vejo algo inusitado.
Os primeiros segundos fico confusa, mas então me dou conta do
que é isso, uma coroa de flores, pequena, como se fosse para uma
criança. Uma faixa branca transpassada diz:
Meus pêsames...
Solto aquele presente dos infernos sobre a mesa, assustada,
coração acelerado, e um sentimento estranho no peito.
O Rui se aproxima rapidamente olha para o arranjo circular de
flores, desliza suas mãos pelo seu rosto, enfia o negócio dentro do
saco de presente, caminha a passos largos e apressados em
direção à cozinha e desaparece.
Não consigo controlar, as primeiras lágrimas brotam de meus
olhos.
Os fecho com força e tento me controlar, e minhas mãos seguem
trêmulas para minha barriga, como se pudessem proteger meu filho.
Não há nada mais cruel a ser fazer a uma mãe do que desejar a
morte ao seu filho.
Sinto os braços do Rui me envolverem num abraço apertado,
longo e demorado.
— Nada de mal irá acontecer a vocês dois, eu te prometo! — ele
cochicha em meu ouvido.
Eu só quero ficar dentro desse abraço. Eu confio nele, eu sei que
estou protegida ao seu lado.
— Eu sei! — Apenas concordo e me aninho mais ao seu peito.
— Vamos almoçar aqui mesmo, perdi a vontade de sair.
— Tudo bem! — Ele beija diversas vezes minha cabeça. —
Vamos pedir para o restaurante entregar aqui!
Concordo com a cabeça e o sigo até a sala.
****
Se a intenção, seja de quem quer que seja, era estragar o dia do
meu aniversário, essa pessoa conseguiu.
Não quis sair mais de casa, fiquei assustada e com medo.
— Eu vou buscar no final da tarde sua mãe e as outras para
comemorarmos seu aniversário aqui em casa — ele me diz na porta
de entrada, antes de sair e voltar para o escritório.
Sorrio feliz.
— Boa ideia, pedimos uma pizza — falo animada.
— Ou pedimos para a Jô preparar algo mais elaborado. — Ele
acaricia meu rosto.
— Pode ser. Não quero dar muito trabalho para ela.
Ele revira os olhos.
— Peça para ela fazer algo simples, só para recebermos as
nossas velhinhas! — Ele me abraça e beija minha testa.
— Tudo bem! — Acaricio seus cabelos. — Eu vou solicitar um
motorista para buscá-las, em um aplicativo de táxi, não precisa se
preocupar.
— Perfeito...
Ele segue para o elevador.
— Vou chegar cedo, eu sei que elas dormem com as galinhas.
Então, vamos adiantar nosso jantar.
Sorrio e mando beijos com os dedos.
— Te amo! — falo antes que o elevador feche.
— Eu também! Qualquer coisa me liga! Não esqueça de
encomendar um bolo, prefiro de chocolate! — Ele pisca para mim, e
finalmente o elevador fecha.
Solto o ar com força.
É isso que ela quer, me desestabilizar emocionalmente, mas não
vou deixar isso acontecer.
Nunca quis mal a ninguém, mas agora quero, quero que a
Priscila, ou seja quem for, tenha uma vida amaldiçoada na mesma
medida das coisas que ela esteja me desejando.
****
Minha tarde seguiu tranquila, aproveitei o tempo livre para
organizar as roupinhas do meu bebê em seus armários. Coloquei
para lavar o que ainda não tinha sido lavado, e comprei pela internet
alguns itens que ainda faltavam.
Em meio a tudo isso meu celular toca, e me surpreendo, é o
Renato.
Titubeio um pouco, mas acabo o atendendo.
— Alô... — respondo um pouco nervosa, faz muito tempo que
não nos falamos, mas não sinto mais nada por ele, só carinho.
— Jack, é o Renato! — ele diz sem graça.
— Eu sei. Tudo bem com você? Quanto tempo! — falo com
simpatia, o encorajando.
— Tudo certo... — Ele faz um pequeno silêncio. — Estou
sabendo que uma moça fica mais velha hoje. Será que não me
enganei com a data? — ele diz debochado.
— Sou eu mesma. Estou ficando velhinha, e mais experiente. —
Sorrio.
— Parabéns, Jack! — Mais silêncio. — Você está bem? Faz
tanto tempo que não nos falamos, estou com saudades de você!
— Obrigada! Não achava que você me ligaria. — Inspiro e
continuo. — Estou muito bem! Eu e o Rui estamos morando juntos,
e estou grávida!
Falo de uma vez, quero que ele saiba logo que minha vida está
maravilhosa.
Ele fica mudo, espero-o se recompor.
— Estou muito surpreso... Não esperava que você e aquele cara
fossem dar certo!
Sorrio.
— Pois é, deu muito certo, meu bebê nasce daqui a algumas
semanas, estou de oito meses.
Ouço sua respiração forte.
— Poxa, estou muito surpreso, de verdade...
— Feliz por mim, talvez? — digo para encorajá-lo.
— Sim, muito feliz por você! Espero que ele esteja te
respeitando, e te amando como você merece...
— Ele é um cara incrível, Renato! Quem vê cara, não vê
coração!
— Então, só queria te dar parabéns. Quando o bebê nascer, me
avise, talvez eu vá até o hospital conhecê-lo, se o cara não se
importar, é claro...
— Com certeza eu te avisarei... — Suspiro. — Obrigada por ter
me ligado, espero que você esteja feliz, bem...
— Sim, estou. Está tudo bem comigo, não se preocupe.
— Ok, que bom. A gente se fala, obrigada novamente pela
lembrança.
— Parabéns, Jack...
Ele desliga a ligação, e fico por alguns minutos com o telefone
em meu colo.
Não tenho mais nenhum sentimento amoroso em relação ao
Renato, mas já fomos tão íntimos e amigos, que me incomoda essa
frieza que sobrou de nossa relação.
Não queria que a vida fosse deste jeito, gostaria de continuar
com nossa amizade, mas enfim, nem sei se o Rui permitiria isso, ele
não confessa, mas é bem ciumento.
****
Sigo apressada — se é que consigo — para atender a porta, a
abro animada e vejo minhas três velhinhas sorridentes.
Recebo um abraço apertado, maior que o mundo inteiro, de
minha mãe.
— Minha filha adorada! — ela diz em meu ouvido, me
emocionando. — Que saudades de você, temos nos vistos tão
pouco. — Ela me olha com os olhos cheios de lágrimas.
Acaricio seus cabelos.
— Não posso mais dirigir, e o Rui tem estado tão ocupado com
alguns processos, tem dias que ele traz trabalho para casa e fica até
tarde no escritório — falo cheia de culpa. — Me desculpe, mãe...
Ela mexe sua cabeça energeticamente.
— Não se desculpe, nós precisamos vir mais vezes visitá-la. —
Ela olha para as outras duas. — Não é mesmo? Faremos como
hoje, viremos de táxi!
— Sim, Amélia, mas me deixe agora abraçar minha neta querida!
— Vovó abraça minha barriga, porque ela é baixinha. — Como está
esse meu bisneto, hein? — ela diz acariciando meu barrigão.
— Grande, vovó, pesado e agitado. Está difícil dormir com ele
jogando futebol em minha barriga. — Dou risada.
— Trouxe um presentinho para você, minha querida. — Titia me
beija e entrega um embrulho.
— Obrigada, tia, não precisava. — Beijo seu rosto. — Vamos
entrar, o Rui já está chegando, ele me ligou do caminho.
Sentamos as quatro no sofá, sirvo para elas vinho do porto, só
para não perder o costume, e elas contam as fofocas do prédio,
fazem perguntas, e então me marido lindo chega.
Me levanto desajeitadamente e sigo até ele.
— Tudo bem, minha deusa? — Ele me olha preocupado, mas
sorrio para relaxá-lo.
— Estou ótima, não se preocupe. — Pego em sua mão e o levo
até as minhas meninas.
— Que bom que vocês vieram! Aniversário sem a família não é
aniversário, não é mesmo? — ele diz sorrindo, acolhedor, beijando
as mãos das anciãs.
— Obrigada pelo convite, Rui... — minha mãe diz bem babona.
— Mas então, me contem como está esse bebê.
E assim as peças que faltavam para tornar meu aniversário feliz
chegaram, e como se fosse mágica, esqueço da surpresa
desagradável que recebi, porque não existe pessoas mais divertidas
que minhas três idosas.
No final das contas, meu aniversário foi perfeito, ao lado do
homem que amo, e da minha pequena família, mas não menos
importante.
Capítulo 14
RUI FIGUEIREDO
Acada dia que passa, minhas preocupações com a Jack
aumentam.
Há poucas semanas do nascimento do nosso bebê, me sinto
tenso e estressado.
São as preocupações naturais ao nascimento, não sou um cara
tenso, mas me causa insônia pensar que daqui a alguns dias o bebê
que está em sua barriga irá nascer.
Tem também o fato de coisas desagradáveis acontecerem a todo
o momento.
Faz alguns dias que ela fez aniversário, e o envio de uma coroa
de flores destinada a velórios me causou um ódio fora do normal.
Eu preciso fazer algo, não posso mais esperar, só pode ser a
Priscila.
Vamos dizer que minha experiência profissional me ajude a
perceber mais ou menos o que são pessoas psicopatas. Não está
escrito na cara da pessoa que ela é assim, são pequenos indícios,
ações, e atitudes que dizem que alguém é desequilibrado
emocionalmente.
Ando neurótico em relação à Jackeline, a quero perto de mim,
nada além de que um raio de um metro de distância.
Desde que a conheci, tenho uma preocupação exacerbada com
ela. Do namorado que era gay e não queria se assumir, ao encontro
com o maníaco do site de relacionamentos, até o fato dela pegar
ônibus, metrô, caminhonete e jegue para chegar à casa de sua mãe.
A Jack é meu tesouro, e nunca vou deixar nada acontecer a ela.
Mas sua insistência em fazer um chá de bebê na casa da
Carolina, está me enlouquecendo.
Me lembro da nossa conversa de louco, tudo entre nós é meio
exagerado e explosivo.
Flash back on
— Rui, é muito comum as mulheres grávidas fazerem essas
festinhas...
Ela diz insistentemente andando atrás de mim feito uma
assombração.
— Ok, então faça aqui em casa! — respondo sem paciência.
— Aqui não dá, a Carolina quer chamar uns amigos dela, e não
acho que você vai gostar muito disso.
Arregalo meus olhos e a olho seriamente.
— Como assim, vai ter homem nessa porra? Então cancela! —
Tiro minha camisa com raiva e jogo no cesto de roupas sujas.
— Eles são meio-homens, Rui! — Ela revira seus olhos.
— Porra, para que fazer essa merda? Você já tem tudo, que
coisa mais sem graça. — Entro na ducha irritado.
— Rui, deixe de ser mandão! É uma brincadeira, eles me pintam,
pedem para eu descobrir coisas, é tão divertido!
Bufo irritado e de saco cheio desse papo, ela está há uma
semana falando disso.
— Você não tem amigas normais, Jack? Chame elas para tomar
um chá! Caramba, por que tem que ser com esse pessoal esquisito?
— Ela se sentae no vaso sanitário e fica me olhando com sua cara
de folgada.
— Preconceituoso! — Ela faz cara feia. — E eu gosto deles, e
também virão algumas garotas. — Ela bufa. — Eu quero e eu irei. —
Se levanta e se direciona para a porta.
— Nem mais um passo, Jackeline! — falo nervoso. — Se você
insiste nisso, então faça, mas aqui em nossa casa, e eu estarei aqui!
— Ensaboo meus cabelos.
— Rui, você é bem chato, sabia? — Ela coloca as mãos na
cintura. — Ok, então será aqui. Não quero reclamações, e nem que
se meta em meu chá de bebê! — Ela bufa e sai caminhando... como
uma pata.
Dou risada do seu jeito, ela não está se aguentando mais com
essa barriga, está chata, mal-humorada, e não quer mais me ver em
sua frente.
Caralho, quero logo que esse bebê nasça e que minha vida volte
ao normal.
Flash back off
Penso sem parar no ocorrido e então ligo para a Priscila, que se
foda.
— Rui Figueiredo, a que devo a honra de sua ligação? — ela diz
sarcástica.
— Precisamos conversar, Priscila! — digo de uma vez.
— Own... — ela faz voz de surpresa. — Sério que você está me
convidando para sair?
— Não, não é um convite para sair... — falo irritado. — Podemos
nos encontrar hoje às 19h, naquele bar em frente...
Irei aproveitar o encontro da Jack com seus amigos esquisitos e
encontrar essa peste.
— Tudo bem. Quer me adiantar o assunto? — ela diz irônica.
— Não! Te encontro lá, não se atrase.
Desligo o telefone.
****
Finalmente o dia termina, me espreguiço em minha cadeira, e
seleciono o ramal da Jack.
— Oi, barrigudinha! Podemos ir?
— Sim, apressadinho! — ela diz com deboche.
— Ok, em cinco minutos. Faça xixi para não precisarmos parar
no meio do caminho! — ela esbraveja e eu desligo em sua cara.
Dou risada sozinho, pego minhas coisas, meu terno e saio para
sua sala.
A vejo agachada em frente a um armário, seus movimentos são
vagarosos, parece que ela tem 90 anos.
— Quer ajuda, Jack? — pergunto incomodado com sua
dificuldade em guardar as coisas no armário baixo.
— Não, queridinho. Eu me viro sozinha!
Me sento em sua cadeira, e espero pacientemente ela terminar o
que está fazendo.
— Sério, se essa barriga crescer mais um pouco, terei que ser
içada por um guindaste — ela diz cômica.
Não consigo deixar de rir.
Ela ajeita suas costas, faz caras feias, solta o ar e me olha.
— Ok, podemos ir, Doutor Rui Figueiredo, o terror dos
homossexuais! — A puxo para junto de mim, beijo e abraço sua
barriga gigante.
— Não quero más influências sobre meu filho! — Brinco, pois
não penso mais assim.
— Não trate ninguém mal, tá? — Ela faz um bico.
— Claro que não, vou até participar da brincadeira. — Me
levanto. — Vou me caracterizar de gay!
Ela gargalha.
— Sério? — Ela parece acreditar.
— Estou brincando... — Pego minha pasta executiva. — Jack, eu
preciso te dizer uma coisa.
Ela para o que está fazendo e me olha seriamente.
— Diga, por favor! — Ela arregala seus olhos.
— Eu vou encontrar a Priscila agora, depois que te deixar em
casa.
— O que?! — Ela faz uma expressão de indignada, mas seguro
seu rosto entre minhas mãos.
— Eu preciso fazer alguma coisa, Jack. Eu sei que é ela que
está fazendo essas brincadeiras de mal gosto com você.
Ela se esquiva nervosa.
— Eu não quero que você a veja, deixe isso pra lá.
Não sei ao certo o que incomoda a Jack, se é ciúmes, medo ou
preocupação.
— Prometo para você que serão 30 minutos. Só quero avisá-la
que não sou idiota, e que sei que é ela que está fazendo isso. — A
faço olhar para mim novamente. — Estarei de volta em uma hora,
no máximo.
Seus olhos ficam angustiados, ela solta o ar pesadamente.
— Promete que voltará logo? Eu quero que você participe da
minha festinha.
Sorrio.
— Que mudança, hein? Achei que você não queria que eu
participasse!
Ela revira os olhos.
— Promete que volta logo?!— ela choraminga.
Beijo-a demoradamente.
— Prometo! Vamos! Quanto mais cedo eu for, mas cedo eu
volto!
****
Estaciono meu carro na garagem, tiro o cinto e olho para a Jack.
— Vamos, barrigudinha! Está esperando o que?
— Você vai subir? — ela diz com um olhar estranho.
— Sim, vou te levar até nosso apartamento, e esperar o pessoal
chegar!
— Sério? Que horas você combinou com ela?
— Às 19h, mas dá tempo. O lugar que marquei é aqui perto! —
Desço do carro, dou a volta no carro e a ajudo a sair.
Seguimos de mãos dadas até o elevador e logo estamos em
casa.
— Rui, ela é meio maluca, tome cuidado com ela!
Abraço seu corpo junto ao meu.
— Ela é maluca, não assassina, Jack! — Dou risada de sua
preocupação.
— Sei lá, ninguém normal presenteia pessoas com aquelas
coisas.
— Fique tranquila, eu sei como lidar com a maluca! — Seguimos
para o nosso quarto, espero ela tomar banho, e logo a campainha
toca.
— Jack, vou descer e abrir a porta para seus amigos esquisitos.
A olho dentro do box, ela revira seus olhos, sorrio e saio do
banheiro.
Abro a porta e tenho vontade de rir.
Não, não sou preconceituoso, mas acho engraçado o jeito que
esses caras gesticulam e se mexem.
— Você deve ser o maridão! — Um dos caras fala com a voz fina
e esganiçada, se desmunhecando inteiro.
— Isso mesmo! A Jack está terminando de tomar banho, mas
daqui a pouco ela desce! — Abro a porta para que eles entrem, e
me surpreendo comigo mesmo.
Rui Figueiredo patrocinando uma festa gay em seu apartamento.
Se meus amigos descobrem isso, estou desmoralizado para o resto
da minha vida.
Sorrio para os dois que entram cheios de sacolas.
— Vocês bebem alguma coisa? — pergunto por educação.
— Adoraria tomar um suquinho! — um dos meninos — ou talvez
meninas—, diz bem mimoso.
— Ok. Vou pegar na cozinha, fiquem à vontade! — Saio e reviro
meus olhos.
Estou colocando o suco nos copos, quando gritos histéricos me
chamam a atenção.
— Pronto, é agora que eles se transformam! — Penso sozinho.
Saio apressado com a bandeja nas mãos, e encontro nada
menos que o Bóris dando um banho de língua em um dos meninos.
Caralho, para que tanto escândalo? — Bufo irritado.
— BÓRIS! — Minha voz sai um pouco mais grossa do que o
normal, ele também me irrita com seu excesso de amor por todos.
— Pra casinha!
Ele abaixa sua cabeça e sai amuado para a cozinha.
— Desculpem, mas a Jack mima demais esse cachorro, e ele
está ficando meio exagerado.
— Oh, nós o adoramos! — A bichinha mais simpática diz meio
chateada, acho que estava gostando dos carinhos exagerados do
Bóris.
— Vou deixar o suco aqui, e ver se a Jack está pronta. — Saio
apressado para os quartos, eu não vou conseguir ficar aqui com
esses caras.
A vejo no closet, tentando enfiar um vestido que com certeza só
cabia nela até o sexto mês.
— Jack, esse negócio vai entalar em você.
— Eu gosto dele, e quero vesti-lo. — Ela insiste, o vestido para
no meio, a sufocando. — Me ajuda, Rui!
Eu mereço...
Arranco o vestido sem muita delicadeza.
— Ai! — Ela reclama, faz cara feia. — Até semana passada ele
ainda servia em mim. — Ela bufa nervosa. — Nada serve em mim,
Rui!— E ela começa a chorar.
Paciência, Rui!
— Jack, coloca um vestidinho soltinho, não precisa ficar linda.
— Está tudo apertado — ela diz desesperada, como se o mundo
estivesse acabando.
— Ok, Jackeline Bartolli, a grávida mais desesperada do mundo!
— Sigo para seu closet, escolho um vestidinho básico e entrego
para ela.
— Esse me deixa parecendo um saco de batatas! — Ela bufa. —
Fico enorme nele.
Reviro meus olhos.
Eu sei que é difícil, mas ela está enorme, parece um balão
prestes a explodir.
— Ei, minha deusa, você fica linda de qualquer jeito! Não precisa
se preocupar, eles são gays, ninguém irá reparar em sua roupa!
Ela respira fundo, pega o vestido e o coloca.
— Está linda, Jack! — Ela faz uma careta. — Eu já estou indo. —
Seguro seu rosto e a beijo. — Daqui a pouco estou de volta.
— Tudo bem? — A sinto incomodada, mas preciso fazer isso.
— Vamos descer juntos! — Ela coloca um chinelinho baixo e sai
arrastando seus pezinhos inchados.
****
O lugar que combinei com a Priscila é um pub tranquilo que fica
a poucos quilômetros de onde moro.
Estaciono o carro, e sigo apressado para a entrada do pub,
estou um pouco atrasado.
Logo vejo os cabelos loiros da Priscilla, ela bebe algo enquanto
digita em seu celular.
Paro em frente a sua mesa.
— Olá!
Ela levanta os olhos e sorri.
— Oi! Pensei que não iria se atrasar! É muito deselegante deixar
uma dama esperando!
Me sento a sua frente.
— Me desculpe!
Chamo o garçom e peço uma bebida.
— Então, como estão as coisas? — ela diz, enquanto beberica
sua bebida.
— Tudo certo! E com você? — Não sei o que quero ao certo,
talvez ver indícios de sua insanidade.
— Bem! — Ela sorri. — Não sei qual o motivo que o levou a me
convidar, mas fico feliz, sinto saudades de você! — Ela segura
minha mão e a acaricia.
— Estou precisando de conselhos de uma amiga!
Ela me olha e sorri.
— Que bom que escolheu a mim. — Ela vira seu pescoço de
lado. — Algum problema de relacionamento?
A Priscila Albuquerque é muito mais idiota do que pensei. Ela
acha mesmo que escolheria ela para desabafar sobre meu
relacionamento?
— Não... — Penso um pouco. — Estou tendo problemas com um
ou uma psicopata! — A olho com firmeza.
— Sério? E qual o problema?
— Alguém muito desequilibrado tem enviado presentinhos
esquisitos para a Jackeline!
Ela bebe sua bebida, disfarça.
— Não me diga? Que coisa mais chata! — ela diz falsamente.
— Sim, é muito chato! — A encaro. — Pensei em pedir um
conselho a minha amiga promotora. — Sorrio provocativo. — O que
você acha que devo fazer?
Ela se distancia, mexe em seus cabelos.
Não há nada que indique ser ela a autora. Ela não muda sua
expressão, ou titubeia.
— Procure a polícia, dê parte Rui! Talvez eles possam te ajudar.
Balanço minha cabeça.
— Duvido, a polícia não terá interesse em investigar esse tipo de
coisa, existem crimes muito mais sérios... Pensei em colocar um
investigador, o que você acha?
— Sim, uma boa ideia! — Ela bebe seu drink, finge desinteresse.
Sua mão volta a acariciar as minhas.
— Sinto muito, mas se você precisar de mim, estarei aqui para
ajudá-lo no que for preciso. — Ela me olha intensamente. — Sou
promotora, não consigo influenciar muito num caso como esse.
Tiro minha mão de seu contato.
— Quero pegar quem está fazendo isso — falo incisivo.
— Por quê? É algo muito grave? Trouxe alguma consequência,
além de um sustinho bobo? — Ela sorri debochada.
— Sim, são brincadeiras de péssimo gosto.
— Sei! — Ela me olha com sensualidade. — Mas, vamos mudar
de assunto, esse papo está me dando sono! — Ela finge um bocejo.
— Então, como está seu relacionamento? Vocês ainda transam?
Ouvi dizer que mulheres gravidas perdem a libido! Deve estar sendo
difícil para um cara como você manter a fidelidade.
Seu jeito é sensual e provocativo.
— Não se preocupe com minha vida íntima, Priscila. Transamos
muito, ela tem libido, sempre teve, ela é uma companheira perfeita
em todos os sentidos. — Ela se esquiva, parece incomodada com
minha resposta. — Mas, se te deixa mais tranquila, continuamos
transando todos os dias. A Jack, mesmo grávida, tem um fogo fora
do normal. — Sorrio provocativo bebendo meu drink.
— Que bom! — Sua expressão muda, ela não consegue mais
disfarçar seu incômodo.
Me deixe acabar logo com essa palhaçada.
— Sabe, Priscila eu me relacionei com você movido por
interesses. Eu sinto muito por isso, mas nunca te amei de verdade.
— Olho para ela demoradamente, mas ela desvia seu olhar do meu.
— O que sinto pela Jackeline é diferente de qualquer sentimento
que já tenha sentido por alguém, é forte, é verdadeiro. Eu me
apaixonei por ela desde que a conheci, e por este motivo, terminei
nosso relacionamento. Me desculpe se te magoei, mas hoje vejo
que nunca gostei de você, foi só um negócio.
— Ah, é? Então você me usou para atingir seus objetivos? —
Seus olhos estão marejados, e eu sei que estou sendo duro com
ela, frio talvez, mas preciso acabar com esse sentimento que ela
nutre por mim.
— Você usou a influência de seu pai para me comprar, e na
época eu aceitei. Cometi um grande erro, mas acho que o corrigi a
tempo, não me casando com você. A poupei de uma vida sem amor,
tenha certeza, eu iria te magoar muito, Priscila.
— Você é corrupto, Rui, sempre foi! Não queira fingir que agora
é um cara honesto!
Agarro em seu pulso com força, e esbravejo nervoso.
— Eu fui quando tinha 25 anos, não sou mais há muito tempo.
Agora você e seu pai ainda usam de sua influência para ganhar
dinheiro e benefícios!
— Me solta! — Ela puxa seu pulso. — Você não tem ideia do que
sinto por você, Rui. Eu seria capaz de fazer qualquer coisa para te
fazer feliz. — Lágrimas escorrem pelo seu rosto. — Essa mulher
não te ama, e usou você, engravidou contra sua vontade, você não
suporta casamentos e crianças. — Sua voz sai descontrolada, em
meio às lágrimas.
— Eu achava que não suportava, mas é porque nunca tinha me
apaixonado de verdade. Estou adorando a ideia de ser pai, talvez eu
queira ter mais filhos. — Sorrio.
— Você está cego, não consegue perceber que essa mulher não
tem nada a ver com você — ela está quase gritando, e eu quase
perdendo a cabeça.
— Ela tem tudo a ver comigo. — Coloco uma nota de dinheiro
sobre a mesa. — Não mexa com a Jackeline, Priscila, pois você
estará mexendo comigo. — A encaro com firmeza. — Se afaste de
mim, e da minha família! — Me levanto. — Não pouparei esforços
para defender quem eu amo!
Ela sorri amargamente.
— Sinto muito por suas escolhas equivocadas. Um dia você
agradecerá a mim por abrir seus olhos.
— Espero não vê-la novamente! — Viro as costas e saio
rapidamente do lugar.
Espero ter sido claro, e finalmente me livrado dessa garota.
Capítulo 15
PRISCILA ALBUQUERQUE
Asensação que estou sentindo, é semelhante àquela quando
somos crianças, e sonhamos estar caindo de alguma espécie de
abismo, ou um lugar alto.
A queda é livre, tentamos nos segurar em algo ou algum lugar,
mas não há nada que pare nossa queda.
Sempre acreditei que em algum momento, o Rui se apaixonaria
por mim. Sou bonita, inteligente, e bem-sucedida.
Conduzi minha vida pensando nele, escolhi o curso de Direito
por ele, e me tornei a mulher que sou hoje para satisfazê-lo,
pensando em ser a mulher ideal para um cara como ele.
Saber que ele menospreza tudo que vem de mim, é como se
nada que eu tivesse feito em minha vida tivesse valido a pena, tudo
perdeu o sentido, o Direito, a promotoria, tudo.
Depositei todas as minhas expectativas de vida em me tornar um
dia a sua esposa, eu tinha muitos planos para nós dois, eu tinha
certeza que ficaríamos juntos para sempre.
Não sei onde errei, e porque ele se apaixonou por aquela mulher
sem graça, sem inteligência e posição social.
Ela não tem nada daquilo que ele sempre valorizou. Por que ele
escolheu a ela, e não a mim?
Deitada em minha cama, com o rosto coberto de lágrimas, revivo
suas palavras, tão cruéis e frias quanto a sua atitude.
Ele me usou, nunca me amou, e só queria usufruir de minha
influência junto ao meu pai.
Sim, eu o amo, mas o odeio na mesma proporção, e isso se
estende a ela, a maldita da Jackeline, e seu filho.
Meu celular toca insistentemente, é o bendito do Henrique, não
quero vê-lo ou falar com ele, só quero ficar sozinha.
Desligo o celular, e tento colocar um pouco de sanidade em
minhas ideias homicidas.
Cubro meu rosto com minhas mãos, e tento controlar o furacão
que acontece dentro de meu peito.
Ele me humilhou me deixando três meses antes de nosso
casamento, e agora me humilhou mais, dizendo que nunca me
amou, e que foram só negócios.
O ódio por ele, e por tudo o que o cerca, aumenta na mesma
proporção do que eu sentia por ele.
Não sei ao certo o que farei, mas uma coisa eu sei, eu me
vingarei dele, nem que seja a última coisa que eu faça em minha
vida.
****
Os raios de sol entram em meu quarto, me despertando da pior
noite de minha vida. Talvez a segunda pior noite de minha vida, a
primeira foi quando o Rui terminou nosso relacionamento.
Pego meu celular, e vejo 300 ligações de meu namorado
insuportável.
Sigo para meus contatos e seleciono o telefone da promotoria.
A secretária de meu chefe atende:
— Bom dia, Maria Luiza! Aqui é a Priscila Albuquerque!
— Olá, promotora! Como vai?
— Bem, quero dizer, não amanheci muito bem hoje, acho que é
uma virose, não sei dizer, só queria avisá-la que não irei hoje, avise
ao meu chefe, por favor!
— Claro, avisarei! Melhoras para você! — ela diz simpática.
Desligo em seguida.
Depois de horas deitada em minha cama, sem vontade nenhuma
de me levantar, decido qual será meu mote de vida. Se não posso
ser feliz com ele, ela também não será.
O primeiro sorriso surge em meu rosto, depois de chorar durante
horas.
Não tenho sido muito bem-sucedida com minhas investidas para
destruir seu relacionamento, e muito menos com a gravidez daquela
gorda horrível, mas sou inteligente e não cometerei mais erros.
Mesmo que ele coloque um investigador, ele não conseguirá
descobrir nada, não deixei rastros ou pistas, sua procura será
inócua e sem sentido, ele só gastará dinheiro.
Tomo um banho para me renovar, faço um pequeno lanche, e
enquanto isso, penso nas coisas que poderia fazer, mas não tenho
muito tempo, preciso agir rapidamente.
Depois de pensar muito, decido.
A primeira coisa a fazer é conhecer a rotina deles, então poderei
colocar meu plano em ação.
Me visto rapidamente e sigo para um lugar inusitado, nada
menos que uma loja de perucas.
Sim, usarei um disfarce, não posso deixar que eles me vejam.
Procuro rapidamente o endereço do local e dirijo até lá.
A vendedora me mostra algumas opções, mas me decido pela
ruiva com um corte chanel, é bem discreta e ficou bem em mim.
Ainda é cedo, mas os dois já devem ter seguido para seu
escritório.
Ok, não tenho pressa, sigo até uma loja de aluguel de carros.
Mas um cuidado que preciso tomar, ele conhece meu carro,
então o trocarei por outro modelo.
Depois de muito escolher, finalmente decido por um modelo
relativamente simples para meu padrão, não quero chamar a
atenção. A cor preta foi a escolhida, adoro vermelho, mas chama
atenção demais.
Enquanto espero a colocação de insulfim pretos nos vidros do
carro, listo em um aplicativo de anotações as coisas que tenho em
mente.
Sim, Jackeline, sua vida nunca mais será a mesma! — Penso e
sorrio.
****
Estaciono meu carro a alguns metros de seu escritório.
É horário de almoço, vejo alguns funcionários saindo, aguardo
mais algum tempo e então vejo os dois.
Eles saem de mãos dadas, conversam e caminham animados
pela calçada.
O sentimento de ódio volta a pulsar em meu peito.
A gorda horrorosa está com a barriga imensa, prestes a ter o
bebê.
Saio do carro e os acompanho de longe. Coloco óculos de sol
preto, estou vestindo uma calça jeans e uma camisa, ninguém irá
me reconhecer, estou irreconhecível.
Eles entram no restaurante que eu e o Rui costumávamos ir. Um
sentimento ruim me angustia, eu que deveria estar ao seu lado, eu
que deveria estar grávida do Rui.
Não gosto de crianças, mas engravidaria se assim ele quisesse.
Espanto as lágrimas que surgem em meus olhos, escolho uma
mesa não muito próxima a eles, e os observo como uma voyer.
Não está sendo fácil ver a forma como ele a trata, muitos beijos
e afagos, e chego ao meu limite.
Não consigo mais ficar os observando.
Pago minha conta e volto para o meu carro.
Ok, eu sabia que não seria fácil.
Limpo as lágrimas que surgem em meus olhos, me recomponho
e aguardo até que voltem.
Não sei ao certo o que quero encontrar, talvez uma brecha ou a
Jackeline sozinha.
Isso, eu só preciso disso, uma oportunidade de encontrá-la
sozinha, então colocarei um dos meus planos em prática.
Passei meu dia de plantão próxima ao escritório do Rui.
Nenhuma brecha, nenhuma oportunidade.
Vejo o carro do Rui saindo, e pelo vidro reconheço os dois no
interior de sua Mercedes.
Merda, eles não se desgrudam! — Bufo irritada.
Os sigo até seu prédio, o seu carro entra na garagem, e decido ir
embora.
Meu dia foi perdido hoje, mas não desistirei, nem que tenha que
pedir um afastamento da promotoria...
****
Um dia depois.
Conto uma história triste para meu chefe, faço caras e bocas, e
por fim aceito jantar com ele.
Eu preciso de um afastamento temporário, mas não quero
chamar a atenção de ninguém, então preciso que este cara me
encubra durante algum tempo.
Eu já sei o que ele quer e estou disposta a transar com ele para
tê-lo ao meu lado.
No horário marcado ele chega ao meu apartamento, o interfone
toca e autorizo sua entrada.
Logo a campainha toca, abro e vejo aquele ser repugnante a
minha frente.
— Olá! Entre, vamos tomar um vinho! — Abro um sorriso.
— Parabéns, Priscila! Seu apartamento é muito bonito! — ele diz
para me agradar.
— Obrigada! — Faço charme e entrego uma taça de vinho para
ele, mas antes coloco um sonífero poderoso em sua bebida.
Apesar de toda minha frieza, descobri que não serei capaz de
transar com esse cara, fingirei que transamos, ele ficará confuso,
mas irá acreditar.
Nos sentamos no sofá, começam as gracinhas, sua mão me
acariciando, e meu asco por ele aumentando.
Finalmente percebo que ele começa a ficar grogue, me levanto.
— Vamos para o meu quarto, ficaremos mais confortáveis lá! —
Sorrio sensualmente, pego em sua mão e o conduzo para o quarto.
— Esse vinho que você serviu é bem forte, Priscila. — Ele pisca
os olhos.
— Só um pouco. — O conduzo para minha cama. — Deixe que
tiro sua roupa.
O faço se deitar, ele luta contra o sono, tiro sua roupa, e sinto
muito nojo dele.
Ele precisa dormir. — Penso desesperada.
— Tire sua roupa, Priscila. Eu não aguento mais! — Ele enfia
sua mão pelas minhas pernas, chega ao meu sexo, e meu coração
bate desenfreado.
Ele precisa dormir, merda!
Tiro meu vestido, mas fico com minha lingerie.
— Vou buscar o vinho! — Sorrio tensa.
Ele me segura.
— Não, agora não! — Ele me deita com violência. — Você não
sabe como estou louco por você, minha loira! — Ele arranca minha
calcinha.
Oh, merda, eu não coloquei a quantidade suficiente do sonífero.
Tento me livrar dele, mas é tarde, sem maiores cerimônias ele
me penetra. Sua boca nojenta invade a minha, e pela primeira vez
na minha vida, me sinto uma prostituta, eu não queria fazer sexo
com ele, eu iria enganá-lo.
Finalmente ele goza e desaba ao meu lado, e em segundos ouço
seu ronco, ele finalmente dormiu.
Corro para o banheiro, ligo a torneira da ducha, pego uma
esponja e esfrego meu corpo vigorosamente uma, duas, três vezes.
Me sinto enojada, o seu cheiro parece impregnado em mim.
Termino o banho, e o vejo na minha cama.
— Eu terei que dormir com ele! — Meus olhos enchem de
lágrimas. — O que estou fazendo da minha vida? Eu não suporto
esse cara! — Penso aflita.
Me deito ao seu lado, me enrolo em meu lençol e tento manter o
máximo de distância possível.
Fecho meus olhos com força.
— Valerá a pena! Eu tenho certeza disso! — sussurro para mim
mesma.
Capítulo 16
JACKELINE
Oambiente está descontraído, muitos balões espalhados pela
nossa sala, enfeites, enfim, é uma festa de verdade.
A Carol e mais algumas amigas já chegaram, os presentes estão
espalhados no chão, e as brincadeiras já começaram.
Gargalho a cada novo castigo que recebo, e meu bebê pula
como um louco em minha barriga.
Mas, estou preocupada com o Rui, e a todo o momento olho em
meu relógio de pulso. Não queria que ele tivesse ido encontrar
aquela mulher.
Um misto de ciúmes e preocupação se misturam dentro de mim.
Ele prometeu que voltaria em uma hora. Por que não voltou
ainda?
Então a porta se abre, sorrio feliz, e respiro aliviada.
Agora sim poderei me divertir.
— Só um minutinho, pessoal. Me deixem dar um beijo em meu
amor!
As bichinhas soltam gritos escandalosos, e o Bóris late feliz com
a bagunça a sua volta.
O Rui me olha e fecha os olhos quando me vê, e dá risada.
Fizeram misérias em mim, estou toda pintada de batom.
Abraço seu pescoço, e encho seu rosto de beijos.
— Deu tudo certo? — falo com o semblante sério.
Ele acaricia meu barrigão.
— Tudo certo. Não falei que voltaria em uma hora? — Ele sorri
lindo. — Pode voltar para sua festinha, vou tomar um banho, depois
eu desço.
— Me conte como foi o encontro — falo tensa.
Ele acaricia meu rosto.
— Depois te conto com calma, mas apenas deixei claro que sei
que é ela que está fazendo essas coisas, enfim... — Ele me beija
suavemente. — Não se preocupe com isso, acho que agora ela irá
parar com essas brincadeiras de mau gosto. No final das contas, a
Priscila é uma menina tola e imatura.
— Tudo bem, mas não a acho tola e imatura, acho que ela é
maluca! — falo seriamente, às vezes acho que o Rui tem uma falsa
impressão da Priscila, ela é uma mulher perigosa, e não uma
menina imatura como ele diz.
Mas, não vou estragar minha festa por causa daquele ser
repugnante, quero que ela morra — no sentido figurado, não
consigo desejar a morte a outra pessoa, é contra meus princípios.
Ele olha para minha barriga, agora estou só de top e uma calça
baixa, e em minha barriga está escrito loading 90%.
Fizeram também desenhos, escreveram o nome do Luigi, enfim,
estou divertida...
— O que quer dizer isso em sua barriga? — Ele me olha curioso.
— Que meu bebê está 90% pronto! — Dou risada.
Ele dá mais uma olhada em mim, dá risada, estou parecendo
uma palhaça.
— Ok, volte para a palhaçada. Ficarei em nosso quarto! — Ele
dá um beijinho em minha testa.
Caminho com ele até a sala, ele diz um “Oi” de longe para o
pessoal e sobe, e nosso filho peludo sai correndo atrás do pai.
Volto feliz para nossa bagunça.
****
Finalmente meu chá de bebê termina.
A Carol é a última a ir embora.
— Pronto, Jack. Está tudo no lugar, assim o maridão não ficará
bravo com a bagunça! — ela diz lavando os últimos copos sujos.
— Não precisava se preocupar. — A ajudo enxugando os copos.
— Então, resolvida a história da loira maluca? — ela pergunta
com um olhar de preocupação.
Como sempre, a Carol sabe tudo que está acontecendo, até
prometeu ir ao apartamento da loira do banheiro e esfolar sua fuça
no assoalho, mas garanti a ela que estava tudo bem.
— O Rui disse que conversou com a maluca, e agora que ela
sabe que ele já concluiu que ela é a única desparafusada que
mandaria aquelas coisas horrendas, ela não fará mais nada.
— Você também acha isso? — ela pergunta com o rosto de lado.
— Sei lá, ela me odeia, Carol! Roubei seu noivo há três meses
do casamento... — Penso um pouco. — Acho que eu também
odiaria se uma mulher roubasse o Rui de mim.
Falo com sinceridade, não adianta ser hipócrita, ninguém está
fazendo curso para freira, somos humanas, pecadoras.
— Sim, eu também odiaria a outra pessoa neste caso, mas nem
eu, nem você, faríamos essas coisas — ela diz indignada.
— Claro, talvez eu jogasse ácido nela!
Caímos na gargalhada.
— Certo. Então amanhã nos vemos no escritório! — Ela me
abraça apertado.
— Obrigada pela festa linda, ficou o máximo! — Sorrio
emocionada.
— Bom, fizemos duas festas em uma: seu aniversário e o chá de
bebê! — ela diz charmosa.
É verdade, eles fizeram uma surpresa para mim, trouxeram um
bolo, cantaram parabéns e tudo mais.
Se o Rui desceu para nossa festinha?
Só um pouquinho, ele ficou muito sem graça em meio aos
amigos da Carol e meus, acho que os únicos héteros na festa
éramos euzinha e o Bóris.
Ah, claro, o Rui, meu macho alpha, muito alpha.
— Adorei, Carolzinha! — Volto a abraçá-la e encho seu rosto de
beijos! — Minha irmãzinha querida! Te amo, viu? — digo
carinhosamente.
Sim, sou muito calorosa, herança dos meus parentes italianos.
— Me deixe ir. Acho que a Mirella já deve ter chegado da sua
pós-graduação! — Ela pega sua bolsa apressada.
— Não sabia que ela estava morando com você! — falo curiosa.
— É, vamos dizer que sim. Ela é muito nova, Jack, instável, mas
eu gosto dela, então... — Ela dá uma suspirada.
— Tentar não custa nada, não é mesmo? — Entrelaço meu
braço ao dela, e a levo até a porta.
— Sim. — Ela me abraça novamente. — Vá descansar, seus pés
estão horríveis de inchados.
Olho para meus pés e desanimo.
— É, estou inchando um pouco.
Ela faz uma careta.
— Muito... — Ela gesticula com os dedos e entra no elevador, e
finalmente respiro.
Tranco a porta, e vejo o Bóris no meio da sala me esperando.
— Vamos dormir, meu amor? — Acaricio sua cabecinha, e ele
como sempre, cheira minha barriga.
Ele não deve entender o que aconteceu com sua mãe.
Puxo sua coleira, e o coloco em seu sofá, uma caminha grande e
confortável que comprei especialmente para ele.
— Sonhe com os anjinhos cachorros, Bóris! — Beijo sua
cabecinha e ele fica obediente em sua caminha.
Subo vagarosamente as escadas, estou muito pesada, 12 quilos
a mais na verdade, e isso dá uma diferença enorme.
Finalmente chego ao andar de cima, mas preciso parar um
pouco e me recompor, estou sem fôlego.
Vejo meu amor deitado em nossa cama, respiração forte, ele
dorme profundamente.
Arrumo os papéis que ele deixou espalhados pela cama.
Pobrezinho, tem trabalhado tanto! Todos os dias ele traz
processos para casa, e os lê antes de dormir.
Tomo um banho rápido, visto uma camisola confortável, deito me
encaixando nele, com o rosto mergulhado em seu pescoço, e meus
braços ao redor do seu peito.
Beijo seus cabelos, seu pescoço e ele se mexe.
— Tudo bem, Jack? — ele resmunga, bêbado de sono.
— Tudo, pode dormir. Boa noite, meu amor! — sussurro em seu
ouvido.
— Boa noite! — Ele segura minha mão contra seu peito.
Fecho os olhos e adormeço feliz.
Adoro minha vida.
****
35 semanas.
Converso como Rui na sala de espera do consultório de minha
obstetra.
Ele me conta sobre a audiência que tiveram hoje, o processo diz
respeito a uma família milionária que briga pela herança do pai
falecido.
— Jack, é impressionante como quando tem dinheiro na parada,
todo mundo esquece os laços de sangue, parecem um bando de
sanguessugas, abutres, um querendo mais que o outro — ele diz
indignado.
— Acho que dinheiro demais atrapalha. Se não tivesse herança
para dividir, tenho certeza que os irmãos seriam mais amigos, fariam
churrasco na laje, tomariam banho na piscina de plástico...
Ele me olha e dá risada.
— Você é tão criativa, Jack!
— Sim, sou muito criativa! — O olho maliciosa. — Está com
saudade da minha criatividade?
— Um pouquinho, mas eu sei que quando esse balão murchar,
colocaremos fogo naquele apartamento! — ele diz malicioso,
brincando com meus dedos. — Você está tão inchadinha, Jack!
Precisa ver com a médica se isso é normal.
Ele me olha preocupado.
— Ela irá me examinar agora. Se tiver alguma coisa de errada,
descobriremos.
Ele esfrega seu nariz em meu rosto, me beija, e me deixa uma
manteiga derretida.
— Te amo, minha barrigudinha! — ele cochicha em meu ouvido.
Sorrio apaixonada.
— Eu também — respondo olhando muito próximos um do outro.
— Jackeline! — Desperto do nosso momento amor, olho e vejo
minha médica nos olhando com um sorriso no rosto. — Vamos ver
como está esse bebê?
Levanto feito uma orca, o Rui coloca sua mão em minhas costas
e me acompanha em meu passo de tartaruga.
Nos sentamos em frente a sua mesa.
— E como você está? Tudo certo? — Ela me analisa.
— Sim, tudo normal, com exceção desse inchaço! — Ela olha
para minhas mãos.
— Sim, você está bem inchada. — Ela se levanta, pega seu
aparelho de auferir a pressão arterial.
Depois de alguns minutos, ela o tira e me olha preocupada.
— Está um pouco alta em relação à última aferição, nada que
precisemos medicar, mas acho melhor monitorarmos isso
diariamente! — Ela caminha para a maca. — Você pode comprar
um aparelho para medir, ou ir a um posto de saúde, tanto faz!
— Providenciaremos o aparelho. — O Rui me olha preocupado.
— Posso continuar com as massagens drenaticas?— Deito na
maca, levanto minha bata e ela espalha o gel.
— Sim, mas peça para a terapeuta medir sua pressão antes de
começar e depois. — Ela me lança seu olhar sério. — Quero que
você me envie diariamente por mensagem as aferições.
Oh, ela está tão séria, parece que isso a preocupou um pouco.
Sinto a mão do Rui segurando a minha, o olho com carinho,
sorrio para ele, e o vejo se sentando ao meu lado da maca.
— Alguma outra recomendação, doutora? — o Rui pergunta para
ela.
— A Jackeline tem uma tendência a pressão alta, já tivemos
alguns episódios, pode ser que isso se repita. Então vamos evitar
emoções fortes, descanse muito, fique calma, daqui a pouco esse
meninão nascerá, e tudo voltará ao normal! — Ela dá um sorriso
tranquilizador.
— A Jack tem insistido em continuar trabalhando, talvez fosse
melhor ela parar. Você não acha, doutora? — ele pergunta, e faço
cara feia para ele.
Não quero parar de trabalhar, ficarei tanto tempo fora, então, se
possível, quero continuar indo para o escritório.
Ela me olha e sorri.
— Não vejo necessidade, Rui. Ela só precisa se poupar, acredito
que seu trabalho não seja estressante. — Ela sorri. — E o pai é o
chefe, então fica mais fácil poupar a gestante neste caso.
Ele me olha contrariado, está louco para me colocar de molho
em casa.
Sorrio para ele, e mostro minha língua.
— Você é a única gravida que não quer ficar em casa, Jack! —
ele diz e balança sua cabeça.
— Quero ficar perto do meu amorzinho! — sussurro para ele,
que sorri satisfeito com minha resposta.
— E como está nosso meninão? — ele pergunta animado.
Ela nos olha compenetrada.
— Grande, já está completamente formado, ganhou bastante
peso, mas ainda falta um pouquinho, serão nessas últimas semanas
que ele terminará seu desenvolvimento.
Olho na tela do computador e me emociono ao vê-lo chupando
seu dedinho, ele tem essa mania.
— Ele está dormindo? — Pergunto curiosa.
— Não, acho que ele gosta de chupar o dedo! — ela diz
divertida.
Suas perninhas se mexem freneticamente, me fazendo sentir
aquelas sensações estranhas no pé da barriga.
— Veja como ele já está na posição de nascimento... — Ela olha
para nós dois. — Tudo está em perfeita ordem! Agora, mamãe,
quero que descanse bastante, coloque esses pezinhos para cima, e
evite sal e alimentos embutidos, coma muitas frutas e legumes.
— Estou fazendo tudo direitinho! — falo orgulhosa de mim
mesma.
— Pronto! Quero vê-la na semana que vem, vamos acompanhar
de perto esse garoto! — Ela beija meu rosto. — Fiquem à vontade.
Ela nos deixa sozinhos no quarto.
— Ele está lindo, não está? — falo brincando, enquanto o Rui
enxuga minha barriga.
— A cara do pai! — Ele pisca para mim.
— Dizem que os meninos parecem mais com as mães.
— Bom, se parecer com a mãe também será bonitão. — Ele
brinca. — Vamos aproveitar e ir até a casa de sua mãe, visitá-las?
Sorrio feliz.
— Claro, não quis dizer nada porque sei que você anda muito
ocupado, mas quero muito vê-las!
Ele me ajuda a levantar.
— Eu estou precisando descansar um pouco meus neurônios,
hoje vamos abrir uma exceção e visitar as velhinhas — ele diz
brincalhão.
— Ok! — Me levanto. — Vou fazer um xixi, só para não perder o
costume.
Ele dá risada.
— Vou esperar por você na recepção. — Ele sai na minha frente,
entro no banheiro da médica, faço minhas necessidades, repasso o
batom, e logo estou pronta.
****
Sempre conversamos muito, sempre temos muito assunto, e
sempre nos divertimos muito um com o outro.
Então, como não deixaria de ser, enquanto não chegamos à
casa de minha mãe, conversamos e rimos das coisas engraçadas
do dia-a-dia.
Gosto muito de tornar qualquer história engraçada, e o Rui tem
um senso de humor muito fácil, eu sempre arranco lágrimas de seus
olhos.
Estamos em uma avenida grande e longa que dá acesso ao
bairro de minha mãe, e vejo a todo momento o Rui olhando no
retrovisor.
— Rui, qual o problema? Por que você olha tanto no retrovisor?
— Nada, fique tranquila! — Ele sorri falso para mim.
— Oh, como você é mentiroso! Me diga, não ficarei nervosa, só
quero saber o que está te incomodando. — O olho incisiva.
— Tem um carro preto que está nos seguindo desde o
consultório.
— Tem certeza? Existem tantos carros pretos. — Olho ao redor,
e para todos os lados existem carros pretos.
— Sou observador, Jack, e percebi que é o mesmo carro.
Coincidência ou não, ele está nos acompanhando já faz algum
tempo.
Não sou de entrar em pânico facilmente, mas aquilo me
assustou.
— Sério? — pergunto preocupada. — Talvez seja melhor
voltarmos.
Ele me olha tenso.
— Desculpe, não queria preocupá-la, pode ser só coincidência.
— Ele olha a frente. — Vou parar no posto de gasolina, assim
teremos certeza que é só uma coincidência.
— Tudo bem, faça isso. Aproveito e faço xixi! — Ele me olha e
sorri.
Ele encosta em uma das mangueiras de abastecimento e pede
para encher o tanque.
— Jack, não me ache neurótico, mas vou sair do carro e ter
certeza que não tem ninguém nos seguindo.
Cacete, ele está me assustando.
— Rui, você está me assustando.
Ele beija minha mão, e me olha.
— Estou escoltando um baú muito valioso, todo cuidado do
mundo é pouco! — ele diz do jeito mais delicado possível, me
enchendo de amor por ele.
— Só não gostei da parte de baú. Estou parecendo um baú?
Ele dá risada.
— Oh, Jack, não complica! — Ele sai do carro, encosta nele e
parece um investigador de polícia olhando ao redor.
Eu não sei do que ele desconfia, mas irei descobrir daqui a
pouco.
— Não tem nada, eu que ando meio maluco! — ele diz ao entrar
no carro.
— Afinal, do que você desconfia? Me diga logo! — falo
seriamente.
— Nem eu sei, só achei estranho aquele carro todo preto,
parecia carro de mafioso. — Ele dá de ombros, entrega o cartão
para o frentista. — Já te falei que queria ser investigador de polícia
quando estava na faculdade? — ele diz bem-humorado.
— Oh, Rui, você não tem cara de policial, é muito gato e
mauricinho! — falo irônica.
Ele dá risada, me beija, e me beija de novo.
— Você que é, minha gatona! — Ele acaricia minha barriga. —
Vou estacionar na loja de delivery, então você pode fazer seu xixi!
Termino meu xixi, lavo minhas mãos e saio do banheiro.
O Rui está no telefone, fala animadamente, e percebo que é com
seu pai, eles se falam diariamente, e é fato, sua relação com o pai é
muito bonita.
Enquanto ele não termina a ligação, disfarço, vou até uma
estante de revistas, pego uma e aproveito para olhar ao redor do
posto.
Sim, ele me deixou preocupada!
Mas, não há nada, paramos em um posto no meio da avenida,
não existem ruas laterais, então não há como alguém se esconder
para nos vigiar.
Eu tenho que concordar, ele anda meio neurótico, não me deixa
desgrudar dele, e apesar de dizer que não é por nenhum motivo
aparente, eu desconfio que seja por causa da loira terrorista.
Finalmente ele desliga, e vem ao meu encontro.
— Podemos ir? — Ele passa suas mãos pela minha cintura. —
Quer que eu compre alguma coisa para vocês comerem? — ele diz
divertido.
— Acho que sim, estou com uma fominha — digo dengosa.
— Ok, vamos lá!
****
Depois do incidente do carro preto, seguimos para a casa de
minha mãe, e não deixei de notar o olhar atento do Rui no retrovisor.
Mas, nada de diferente aconteceu, ele estaciona seu carro em
frente ao prédio de nossas velinhas, e as surpreendemos ao chegar
sem um prévio aviso.
Mamãe coloca a mão na boca quando atende a porta.
— Nossa Senhora da Achiropita! — ela diz exagerada. — Que
surpresa maravilhosa. — E ela me abraça forte, quase me
esmagando em seus braços.
— Queríamos fazer uma surpresa! — finalmente consigo falar,
ela tirou suas garras de mãe de mim, e me deixou respirar.
— Olha, mãe, quem está aqui! — ela diz animada, puxando o
Rui pela mão em direção à sala.
Eu achei meio estranho, achei que ela me puxaria, mas ao invés
disso ela puxou o Rui, parece que a surpresa de fato foi ele, e não
eu!
Não, não estou enciumada, mas é que eu que estou grávida,
deveria ser o centro das atenções e não o meu maridinho lindo.
Vovó é muito esfuziante, logo se levanta com mais disposição do
que eu, e nos abraça e beija. Portugueses também são um povo
muito carinhoso.
— Que alegria! — vovó diz emocionada acariciando minha
barriga. — Vamos nos sentar, a Jackeline deve estar cansada.
— Vovó, não vim a pé, estamos de carro, estava sentada o
tempo todo.— Mas ela não me dá atenção, me faz sentar na marra.
— Então, como está esse bebê?— Ela olha para minha barriga. —
Minha santa, você não deveria mais sair de casa, esse bebê pode
nascer na rua — ela diz com um certo drama na voz.
— Fomos hoje na médica da Jack, está tudo bem com nosso
meninão, ele não vai nascer ainda — o Rui diz bem babão,
sentando ao lado da vovó e a abraçando.
Ele é muito carinhoso com elas, um príncipe, sempre foi.
Vovó descansa sua mão sobre a coxa do Rui, ela sempre faz
isso, e me incomoda um pouco, não é por nada, mas acho que vovó
quer na verdade acariciar as pernas deliciosas do meu homem.
Vovó é meio abusada, e parece ainda ter libido sexual, apesar da
idade!
— E você meu neto, o que me conta? — ela diz animada, nem
conversou comigo.
O Rui adora conversar com elas, e isso é muito engraçado, acho
que ele se sente como se estivesse com sua avó de verdade.
Oh, ele é muito fofo!
O abraço junto ao meu corpo, ele passa seus braços pelos meus
ombros, e passamos alguns minutos conversando amenidades,
fofocas, nada demais, coisa de família mesmo.
— Rui, eu não esperava por vocês, então não tenho nenhuma
comida especial — mamãe diz embaraçada, ela sempre quer
preparar algo especial quando vemos em sua casa, e por este
motivo não fiz questão de avisá-la.
— Oh, sogrinha, adoro feijão com arroz! Se tiver uma saladinha,
está ótimo — ele diz para relaxá-la.
Ela dá risada, parece tímida.
— Sim, fiz um arrozinho com feijão, como sempre, e uma carne
de panela, espero que goste!
— Adoro! — ele diz empolgado.
— Então, me deixe acabar de preparar a salada. Já está tudo
pronto, eu e mamãe jantamos cedo! — Ela sai em direção a
cozinha.
— Mãe, onde está a titia? — pergunto preocupada.
Ela ri.
— Oh, sua tia foi conhecer hoje a família do namorado. Parece
que vão se casar, Jackeline! — ela diz em tom de fofoca.
— Tomara! — Junto minhas mãos. — Vou ajudá-la. — Me
levanto vagarosamente e a sigo para a cozinha.
É sempre maravilhoso vir a casa de minha mãe, porque apesar
da distância, ela continua sendo minha melhor amiga, meu porto
seguro, meu norte!
Sim, não há nada mais maravilhoso do que ter uma mãe,
principalmente uma mãe como a minha, que sempre me apoiou, me
deu força quando eu não tinha, me fez enxergar o mundo e
amadurecer na marra.
Finalmente terminamos de jantar, tomamos um cafezinho e
seguimos para nosso ninho de amor.
O trânsito está tranquilo, então nosso retorno não é demorado,
logo estamos próximos do nosso apartamento.
Já não estou tão falante na volta, o sono tomou conta de mim, e
acabei cochilando e acordando de sobressalto, assustada.
O Rui freou bruscamente, e se não fosse o cinto de segurança,
eu teria enfiado minha cabeça no para-brisa.
Apoio minhas mãos na porta, estou com o coração na boca.
Vejo sua mão em meu peito, como se estivesse me segurando.
— Você está bem, Jack? — ele diz meio assustado.
— Estou! — falo ofegante. — O que aconteceu?
Vejo seu peito subindo e descendo freneticamente, ele também
está assustado.
— Não sei, de repente apareceu um carro do nada — ele diz
nervoso. — Caralho, por pouco ele não nos acertou em cheio.
O olho preocupada.
— Graças a Deus você estava atento. — Seguro em sua mão
que está suada e fria.
— Sim, foi por um triz. — Ele me olha. — Teria sido um acidente
feio, Jack. — Ele olha para o nada. — Você está bem? — Ele
acaricia minha barriga.
— Estou, eu não vi nada, estava cochilando, só me assustei com
a freada.
Ele respira fundo.
Olho ao redor e vejo que estamos na rua do nosso prédio, em
um cruzamento a 100 metros do apartamento. Não é um
cruzamento movimentado, moramos num lugar bem tranquilo, longe
da movimentação das avenidas ao redor.
Me dou conta que estamos parados no meio do cruzamento, o
carro ainda está ligado.
— Vamos, Rui! É perigoso ficar parado aqui!
Ele me olha, parece bem assustado, acaricio seu rosto.
— Sim, vamos! — Ele finalmente volta a dirigir, e logo entra no
estacionamento do nosso prédio.
Faço uma oração silenciosa, eu sei que tenho um anjo da guarda
poderoso, provavelmente é meu papai que está cuidando de mim,
de onde quer que ele esteja.
Capítulo 17
RUI FIGUEIREDO
Me deito junto a Jack, mas o sono não vem, o incidente no
cruzamento me assustou demais. O impacto, caso aquele carro nos
acertasse, poderia ter consequências que não gosto de pensar.
Me aconchego mais ao corpo da Jack, acaricio sua barriga,
nosso filho, e um gelado percorre minha espinha e me causa um
arrepio pelo corpo.
Sim, um acidente como esse poderia matá-la, o carro acertaria
do seu lado, foi por pouco, muito pouco.
Foi apenas o tempo de eu frear e virar o volante bruscamente, o
tirando da rota do carro que vinha com toda a velocidade em nossa
direção, parecendo querer nos acertar.
Engulo minha saliva, um mal-estar no peito, um medo grande,
um mau pressentimento.
Tenho certeza que olhei para todos os lados, sou cuidadoso
quando dirijo, não abuso da velocidade, principalmente agora que
ando com a Jack no carro.
Aquele carro apareceu do nada, como que estivesse esperando
por nós.
Eu sei, isso é loucura, mas estou assombrado com o ocorrido.
Ninguém em seu juízo perfeito dirige daquele jeito em ruas
tranquilas de um bairro onde só existem prédios residenciais.
Nunca passei por um incidente como esse.
Beijo os cabelos da minha deusa, um sentimento forte no peito,
um amor que me inunda por dentro, a Jack passou a ser minha vida,
e eu não suportaria se algo de ruim acontecesse a ela.
Fecho os olhos, e tento acalmar meu coração.
Nada acontecerá a ela e ao nosso bebê, redobrarei meus
cuidados, e apenas para acalmar meu coração, evitarei nossas
saídas noturnas, ela está prestes a ganhar o bebê, precisamos ficar
mais em casa, é isso!
****
Me levanto antes da Jack, sigo para o banheiro, tomo um banho
demorado, me sinto como se não tivesse dormido nada.
A tensão do incidente me deixou agitado, minha mente ferveu a
noite inteira, revivendo o momento, mas não foi só isso.
Fecho os olhos, tive um sonho horrível, um acidente, a Jack, o
bebê...
Existem sonhos que a gente não quer lembrar, quer deletar do
cérebro, e este é um.
Fiquei impressionado e preocupado, e isso se refletiu em meu
sono, sonhei muito, sonhei com acidente.
A porta do banheiro abre, e a Jack entra, descabelada, mal-
humorada, e com uma cara que dá medo.
Sim, só amando muito para suportar os meandres de um
relacionamento, de um casamento, mas eu amo desse jeito, e não
me importo de vê-la em suas diversas facetas.
— Bom dia, Jack!
Ela resmunga escovando os dentes.
— Estou achando que você está de mau humor, será que estou
certo? — Brinco com ela, quanto mais a irrito, mas nervosa ela fica,
e isso é bem engraçado.
Ela termina de escovar os dentes, tira sua camisola e entra no
box.
Nenhuma palavra, ela está “atacada” hoje!
— Nem um beijinho no seu maridinho? — Puxo seu rosto para
ela me olhar, mas seu olhar não é dos melhores.
— Me deixe alguns minutos calada, Rui! — finalmente ela
responde.
— Puts, Jack, por um momento achei que você havia engolido
sua língua! — Dou risada sozinho, ela só girou os olhos.
Termino meu banho.
— Bom, como você não quer conversar comigo, vou sair do box.
— Finjo estar magoado, então ela me puxa para junto dela.
— Só um beijinho de bom dia! — ela diz com um meio sorriso no
rosto.
Seguro seu rosto entre minhas mãos e dou um beijo demorado
nela.
Volto a olhá-la.
— E aí, melhorou o humor? — Brinco.
— Um pouco. — Ela entra embaixo da ducha. — Dormi mal,
você e esse bebê não me deixaram dormir direito — ela reclama.
— Sério? Mas o que fiz?
— Se mexeu demais, e ficava me agarrando e resmungando. —
Ela faz um bico. — Estou péssima hoje!
— Fica em casa, descansa. Não precisa ir mais, Jack, a amiga
do Alexandre já começou, já está ajudando nas rotinas. — Acaricio
seu rosto molhado. — Por que você é tão teimosa?
— Eu gosto de ir para o escritório, gosto de ficar perto de você,
estou muito acostumada com nossa rotina, não quero parar
enquanto o bebê não nascer.
Solto o ar derrotado.
— Eu também adoro te ter comigo o dia inteiro, não sou um cara
muito normal, normalmente os casais que passam muito tempo
juntos só brigam, e querem férias um do outro.
— A gente não briga. — Ela sorri.
— Esse é o problema, é bom demais ter você comigo, minha
deusa! Vou sentir demais sua falta!
Pareço um bobo apaixonado, mas só ela vê essa minha faceta,
no escritório continuo com minha pose de durão, carrasco e
advogado frio.
Ela passa seus braços ao redor do meu pescoço, tenta me
abraçar, mas o Luigi não deixa, já começou a interferir no
relacionamento dos seus pais, o sexo está minguando, e daqui a
pouco não haverá mais condições, já está difícil, então, só tenho
que me conformar com meu futuro.
Seus beijos começam, e colocam fogo em mim, porque o tesão
está igual, adoro seu corpo de qualquer jeito, o acho ainda mais
sensual, as transformações da gravidez a deixaram ainda mais
linda, parece que seu brilho é mais intenso, sua beleza, tudo nela
está melhor, quero dizer, talvez o humor deu uma piorada.
— Não me beija assim, minha gostosa! Meu pau não entendeu
ainda que você está grávida! — digo em meio aos seus lábios, rindo
e beijando-a.
— Talvez eu precise de um pouco de sexo, para melhorar meu
humor! — Ela sorri maliciosa.
Tenho que concordar, que apesar de sua barriga gigante, a Jack
não nega fogo. Tudo bem, às vezes ela nega, mas a maior parte do
tempo ela corresponde.
Intensificamos nosso beijo, e mesmo com todo o cuidado do
mundo, quando percebo já estou a prensando contra a parede, com
uma fome e um desejo que parece que nunca acabam.
— Sou viciado em você, Jack! — A viro contra a parede, e
sussurro em seu ouvido. — Quer me contar agora qual o segredo
para me manter assim, louco por você?
Beijo e mordo seu pescoço, seus ombros, suas costas.
Ela geme, e dá risada ao mesmo tempo.
— Não sei! Talvez você goste de mulheres grávidas.
A penetro vagarosamente.
— Talvez seja isso, essa barriguinha me excita. — Seguro em
seus quadris e controlo meus movimentos.
O sexo entre nós sempre foi do tipo quente, pegando fogo, mas
estamos tentando nos controlar, e fazer apenas um amor gostoso.
— Acho que você gosta de gordinhas! — Seu tom de voz sai
divertido.
Dou risada, ela está certa, gosto dessa abundância de carne
dela, adoro apertar sua bunda, morder e me fartar nesse corpo
gostoso.
— Acho que sim, você é muito gostosa! — Mordo sua orelha, ela
geme alto.
— Me fode mais forte, Rui, você está muito delicado!
De novo dou risada, essa mulher não existe.
Enfio forte, do jeito que ela gosta.
— Assim, Jack?
Mais uma vez...
— Ééé! — ela grita, e fico mais insano de desejo.
Mais uma vez...
— Você quer mais, Jack? — Meu corpo se choca contra sua
bunda gostosa, ela grita alto.
— Querooo!!!... Ohhh, Ruiii!!!
— Goza, Jack! Goza bem gostoso para o seu macho.
Uma sequência insana de penetrações, gemidos e urros, e
finalmente gozo ruidosamente.
A aperto em meus braços, mal consigo respirar.
Aos poucos retomo minha consciência, esse momento é incrível,
mas depois acho que vou morrer.
Ela se vira e volta a me beijar, e se eu não estivesse tão
cansado, eu daria mais uma.
— Acho que estou precisando me alimentar! — falo sentindo
uma fraqueza, talvez pela falta de sono.
Ela me olha preocupada.
— Você está bem?
— Também não dormi direito. Hoje vamos dormir com as
galinhas, bem cedinho.
— Tá bom... Te amo, Rui! — Seus olhos estão expressivos,
brilhantes.
— Eu também, minha deusa! — A abraço forte, um sentimento
de amor toma conta do meu coração. — Você é minha vida, Jack.
Beijo seu rosto todo, tive um sonho horrível com ela, e a
sensação ainda não saiu do meu peito.
Ela abre seu sorriso largo.
A Jack tem um jeito de sorrir que é único, seus dentes perfeitos,
e suas covinhas a deixam linda demais.
— Preciso me trocar, Jack, pode me largar agora. — Brinco,
seus braços parecem garras em meu pescoço.
Ela finge estar brava.
— Pode ir, seu bobo.
Antes de sair do box, a beijo de surpresa fazendo ela sorrir feliz.
Nada como uma trepada logo cedo para acabar como mau
humor da minha deusa.
****
Uma semana depois.
Reúno o pessoal no espaço maior do escritório, a Jack ao meu
lado, e uma garrafa de champanhe em minhas mãos.
A Jack e o Alexandre providenciaram um coquetel às pressas.
Já ganhei muitos processos em minha vida profissional, mas
existem aqueles que são acima da média, difíceis, complicados e
longos.
Mas, sou um cara de sorte, e tenho alguma competência.
Risos.
Então, hoje é um dia muito importante para mim, e quero dividir
isso com meus advogados, pois tenho um time que poucos
escritórios possuem, eles vestem a camisa da empresa, são
dedicados, e me ajudaram a chegar ao final de mais um processo
com sucesso.
Respiro fundo e começo meu discurso improvisado.
— Hoje tivemos uma notícia muito boa! Finalmente o processo
envolvendo a empresa foi julgado — Dou uma pausa —, e como
vocês devem ter percebido ganhamos!
Uma chuva de palmas, e sorrisos felizes.
— Sem vocês não teríamos conseguido, o empenho de cada um
de vocês foi imprescindível! — Levanto minha taça. — Meu muito
obrigado a cada advogado, a minha esposa linda que me aturou
todos os dias lendo essas merdas à noite, ao Alexandre pelo apoio,
a dona Maria pelos cafés... — Sorrio feliz. — Enfim, quero
comemorar com vocês, parabéns a todos nós!
Levanto minha taça, brindamos, rimos e comemoramos.
Estou vivendo uma nova fase da minha vida, do meu escritório,
coisas maravilhosas têm acontecido na minha vida desde que a
Jack apareceu, ela é meu talismã.
Olho para ela, a abraço e beijo sem maiores inibições.
— Obrigada, Jack! Você mudou minha vida, sabia? — A encaro
seriamente, e porque não dizer, emocionado.
Seus olhos ficam marejados, ela anda sensível, chora e fica
brava à toa.
— Você também mudou minha vida, para muito melhor! — Seus
braços me sufocam em um abraço apertado, lábios colados,
parecemos dois adolescentes.
Nos separamos e ficamos nos olhamos demoradamente.
— Te amo para sempre, Jack!
Nunca me imaginei dizendo essas coisas, mas é algo que
transborda do meu peito, e me vejo sufocado se não disser.
— Eu também! — Mais um abraço da minha barrigudinha, limpo
suas lágrimas e finalmente voltamos a nossa comemoração.
Depois de muita comemoração e muito champanhe, o pessoal
começa a se dispersar.
Ajudo o Alexandre e a Jack a arrumar a bagunça e logo estamos
na garagem pegando meu carro.
— Alexandre, vem com a gente. Nós te levamos até a estação
de trem — digo antes que ele vá embora.
— Oh, que maravilha, Doutor Rui! — ele diz empolgado,
saltitante, e desmunhecando inteiro.
Mas, já me acostumei com seu jeito, e ele é um menino
brilhante, com certeza fará parte do nosso time de advogados, pois
é inteligente, esforçado e será um grande profissional.
Tenho que concordar, a Jack é muito talentosa com pessoas,
seu feeling e naturalmente seu conhecimento, a fizeram contratar
pessoas excepcionais para nossa equipe.
Já faz algum tempo que todos os novos funcionários passam por
uma espécie de triagem por ela.
Ela que dá seu aval final, e é fato, ela acerta nas pessoas. Tenho
certeza que ela era muito talentosa como psicóloga, talvez o
problema era seu gênio, ela tem um gênio do cão, e devia brigar
com todos os seus chefes.
Mas comigo ela fica mansinha, é só dar uns beijos nela, uns
agarrões, ela amolece facilmente.
Abro a porta do carro para a Jack, e a ajudo a entrar, seu
barrigão já não permite que ela tenha muita mobilidade, ela está
lenta e desajeitada.
O Alexandre se posiciona ao meu lado, e diante de sua
indecisão em entrar no carro o apresso.
— Pode entrar, Alexandre! — Não levanto minha cabeça, estou
prestando atenção na Jack, em seus pezinhos inchados.
— Doutor Rui... — ele diz.
— Sim! — digo distraído.
— Já faz alguns dias que vejo esse carro preto parado embaixo
daquela árvore — ele cochicha.
Olho para a direção que ele diz, há uns 100 ou 150 metros do
escritório.
— Sério? Não havia reparado! — Presto um pouco mais de
atenção, um carro preto, vidros escuros.
Não é possível, ou estou louco, ou este é o carro que vi na
avenida.
— Será que não deveríamos ligar para a polícia? Pode ser um
carro roubado! Li que os ladrões de carros costumam abandoná-los
em ruas tranquilas, depois voltam para recolherem e levarem para
os desmanches de peças.
A Jack já está sentada no banco.
— Espere um momento, Jack. — Saio em direção ao carro, o
Alexandre me acompanha a alguns metros de distância.
À medida que me aproximo, pareço ver o contorno de uma
pessoa do lado do motorista. A claridade do dia já foi embora, então
conto apenas com as luzes dos postes de luz.
— Doutor Rui, não se aproxime muito, pode ter alguém! — o
Alexandre diz, talvez a falta de hormônio masculino o deixou um
pouco covarde demais para o meu gosto.
Olho para trás.
— Está tudo bem, quero dar uma olhada dentro do carro.
Começo a atravessar a rua, olho para um lado, para o outro e de
repente o grito histérico do Alexandre me assusta, olho
rapidamente, e vejo o maldito carro com as lanternas acesas vindo
em minha direção a toda velocidade. Dou um pulo para trás, e sinto
o movimento do carro passar por mim. Foi tudo muito rápido, por
pouco ele não me atropela.
— Filho da puta! — grito com ódio.
Olho rapidamente para memorizar a placa, mas o filho da puta
desliga os faróis e sai a toda velocidade.
— Maldito!
— O senhor está bem? — O Alexandre vem ao meu lado, os
olhos enormes, meio brancos.
— Estou! Você conseguiu ver a placa? — Passo as mãos
nervosamente pelos cabelos.
— Desculpe, fiquei tão apavorado que não notei isso. —
Andamos em direção ao escritório e vejo a Jack fora do carro,
assustada.
Oh, merda, ela não pode ficar nervosa.
— Está tudo bem, Jack! — falo alto, sorrio, disfarço.
— Não diga nada a ela, a Jack não pode ficar nervosa. — Viro
de lado, e cochicho discretamente para o Alexandre.
— Fique tranquilo. Podemos olhar na câmera, o que o senhor
acha? — ele diz discretamente.
— Ok! Vamos fazer isso amanhã, não quero preocupá-la!
Ela me olha preocupada.
— O que aconteceu? Onde você foi?
— Tinha um Maserati estacionado do outro lado da rua, adoro
esse carro! Fomos dar uma olhada, não é, Alexandre? — Dou uma
encarada no Alexandre, e ele concorda com a cabeça, parece um
robô.
— Jura que você foi até o outro lado da rua para ver um carro?
— Ela faz uma careta.
— Porra, Jack, homem é louco por carro, e um Maserati não é
todo dia que dá para dar uma olhada. Caralho, que máquina! —
Minto descaradamente. — Ainda terei um Maserati. — Ajudo a Jack
a entrar no carro, entro, espero o Alexandre fechar a porta e
finalmente saímos.
Caralho, não é possível que tudo seja coincidência, tem alguma
coisa de errado acontecendo, e eu vou descobrir, e será amanhã.
****
Novamente aguardo ansioso o portador da empresa de
segurança trazer as últimas filmagens de nossas câmeras.
O telefone toca, atendo apressado, é o Alexandre.
— Sim, Alexandre?
— O portador chegou, Doutor Rui. O que devo fazer?
Agora tenho que falar em códigos com o Alexandre, tudo para
que a Jack termine suas últimas semanas de gestação da forma
mais tranquila possível.
— Bem, me deixe pensar... Vou descer, falo que vou à copa,
então pego o envelope.
— Ok, Doutor Rui. Eu o aguardo.
Saio da minha sala rapidamente, e vejo que a Jack digita algo
em seu computador.
— Oi, minha deusa! — Beijo seus cabelos. — Vou tomar um café
na copa. — Sigo para a porta. — Quer que eu traga alguma coisa
para você?
Ela se levanta e sorri.
— Eu irei com você, preciso andar um pouco.
Me apavoro.
— Não, Jack. São muitos degraus, não faz bem para você ficar
subindo e descendo.
— Eu não desci o dia todo! Preciso andar um pouco, a médica
que disse. — Ela passa por mim, segue para as escadas, e esfrego
meu rosto nervoso.
— Merda! — Esbravejo baixo.
Acelero o passo, e a encontro no topo das escadas. Seguro sua
mão e a ajudo descer os degraus.
O Alexandre se levanta ao me ver, mas logo disfarça ao ver a
Jack.
— Vamos tomar um cafezinho, Alexandre. Está servido? —
Pisco para ele. — Oh, esqueci em minha mesa um envelope,
preciso que envie para o Fórum amanhã. — Coloco a mão em
minha cabeça. — Por favor, vá até minha sala e o pegue antes que
eu me esqueça novamente.
— Pode deixar, Doutor Rui.
****
Volto com a Jack para minha sala, disfarço, pego o envelope que
o Alexandre deixou em minha mesa e o coloco na gaveta.
— Precisa de alguma coisa, Rui? — A Jack pergunta
organizando os processos sobre a mesa de reuniões.
— Não, minha deusa. Vou fazer algumas ligações, fique
tranquila! — Sorrio para ela.
— Ok! — Ela sorri e sai caminhando vagarosamente para a
porta.
A admiro apaixonado, eu a acho tão linda grávida.
Ela fecha a porta, tiro rapidamente a gravação do envelope,
insiro em meu computador e espero as imagens aparecerem na
tela.
— Ok, me deixe ver as filmagens de ontem. — Seleciono o
arquivo referente a data de ontem.
Temos três câmeras externas, então verifico a primeira, mas seu
ângulo é contrário ao lugar que o carro estava estacionado.
Seleciono a segunda.
— Merda! — Esmurro a mesa.
Não dá para ver a placa, o ângulo da câmera pegou apenas a
lateral do carro.
A porta abre, fecho o arquivo, disfarço, abro um e-mail.
— Rui... — Ela caminha até minha mesa. — Preciso que você
assine esses documentos. — Ela espalha documentos pela minha
mesa.
Não sei como conseguirei ver essas filmagens, a Jack entra a
todo momento em minha sala.
— O que são esses documentos, Jack? — Coloco meus óculos.
— Esse aqui é referente ao... — Ela explica rapidamente cada
um dos documentos.
Assino sem prestar muita atenção, confio na Jack, e finalmente
não preciso mais me preocupar com cada merda que assino.
— Perfeito, chefinho! — Ela beija minha bochecha, pega os
papéis e volta a caminhar para a porta, mas logo para e volta a me
olhar.
— Seu aniversário é amanhã! — ela diz animada.
Me estico em minha cadeira. Ando tão preocupado ultimamente
que até me esqueci do meu aniversário.
— Pois é... O que você quer fazer?
— Eu, não. É o seu aniversário, você decide!
— Sei lá, jantar fora. Não ligo para essas datas!
— Precisamos comemorar! Afinal, você está ficando velhinho...
— Pense em alguma coisa, nada muito exagerado, vamos
poupar seu barrigão.
Ela acaricia sua barriga carinhosamente.
— Tudo bem, vou pensar!
Ela sai, volto aos arquivos das imagens.
— Cacete, não tenho a menor ideia do que fazer, preciso da
ajuda de alguém mais experiente.
Pego meu celular, procuro pelo contato de um amigo da época
da faculdade, atualmente ele é delegado em uma Delegacia não
muito longe daqui.
Seleciono o número.
A ligação completa...
— Fernando, é o Rui, cara! — falo rapidamente.
— Figueiredo? Caralho, que surpresa! — ele diz rindo. — Porra,
você sumiu! Nunca mais te vi lá no bar.
— Estou com minha mulher grávida, então tenho evitado sair.
— Que legal, parabéns! Para quando é o bebê? — ele diz
curioso.
— Daqui a poucas semanas! — Sorrio, nem eu acredito que
nosso bebê irá nascer.
— Cacete... bom, agora você vai entender por que bebo tanto! —
Ele ri. — Tenho três, brother, sendo dois gêmeos!
— Caralho, três é foda! — Gargalho.
— É sim..., mas então, por que da ligação?! Vocês só me ligam
quando tão na merda, ninguém me liga para convidar para uma
cerveja ou churrasco. — ele diz bem-humorado.
— É verdade, cara! Me desculpe!
— Fala logo, caralho! Você não é o primeiro, nem será o último.
— Ok, é o seguinte...
Explico resumidamente o que aconteceu nos últimos tempos, do
carro nos seguindo, e do mesmo modelo parado próximo do
escritório.
— Então, Fernando, eu estou com as filmagens das câmeras,
mas não tenho a menor ideia do que fazer com isso!
— Rui, eu vou te indicar um cara que conheço, ele é um
investigador de polícia, mas faz uns trabalhos particulares. Liga
para o cara, ele é a pessoa ideal para te ajudar com isso!
— Perfeito, Nandão! Passa o telefone do cara!
Ele passa o contato, anoto atentamente.
— É isso, cara. Se precisar da minha ajuda você volta a me ligar.
— Ok, por enquanto obrigado e fico te devendo a cerveja e
o churrasco!
Ele dá risada, nos despedimos, e imediatamente ligo para o
cara.
Ele atende.
— Pimenta, meu nome é Rui Figueiredo, sou amigo do Fernando
Bezerra, o delegado.
— Oh, claro! Estive hoje com ele, eu e o Fernando somos
amigos de longa data — o cara responde.
— Porra, então somos dois! Eu e ele fizemos a faculdade juntos!
— Beleza! Mas então, no que posso te ajudar? — ele diz
prontamente.
Novamente explico o que está acontecendo.
— Então, Rui, se você quiser eu irei amanhã ao seu escritório.
Assim por telefone é meio complicado, e preciso ver essas
filmagens, enfim...
— Claro, eu imagino, mas é que aqui no meu escritório é
complicado. Minha esposa está grávida, ela é minha secretária, e
sinceramente não quero preocupá-la com isso.
— Entendo! Bom, podemos conversar aqui no departamento de
investigação, estarei aqui amanhã no período da tarde. O que você
acha?
Penso um pouco, eu preciso fazer isso para me sentir mais
tranquilo.
— Ok. Podemos deixar marcado às 15h?
— Às 16h, pois antes disso terei uma reunião interna.
Porra, é tarde pra cacete, tenho medo de não chegar a tempo de
pegar a Jack.
— É tarde para mim, Pimenta. — Resmungo.
— Tudo bem, Rui. Se não puder, marcamos na próxima semana,
porque essa semana estou bem enrolado, só estou abrindo uma
exceção para você, porque foi indicado pelo Bezerra.
Oh, merda! Eu preciso resolver logo isso.
— Pimenta, eu estarei aí às 16h. Por favor, me passa seu
endereço.
Anoto rapidamente o endereço do local, nos despedimos e
respiro pesadamente.
Eu preciso dar um fim às minhas suspeitas, caso contrário, irei
enlouquecer.
Capítulo 18
PRISCILA ALBUQUERQUE
Desperto com a sensação de um corpo quente junto ao meu.
Aquele cheiro característico, ruim, que me faz me lembrar de
uma das piores transas da minha vida.
Seus lábios beijam meu pescoço e suas mãos passeiam em meu
corpo, retesando cada músculo.
Não, eu não vou suportar fazer sexo novamente com esse cara.
O que pensei que estava fazendo quando o convidei para vir ao
meu apartamento?
Devo estar ficando louca!
— Bom dia, minha loira! — Sua voz em meu ouvido, beijos em
meu pescoço e tenho vontade de morrer.
Fecho os olhos com força, tenho vontade de chorar, mas respiro
fundo e tento pensar em algo para me livrar dele, mas suas mãos
começam a acariciar meu corpo, e não me deixam raciocinar.
Eu não suporto os seus toques em minha pele.
— Bom dia! Estamos atrasados, acho melhor irmos. — Tento me
levantar, mas ele me segura, me deitando novamente.
Suas mãos seguram as minhas acima de minha cabeça, e seu
corpo flácido e gordo se sobrepõe ao meu.
— Eu sou o chefe, está lembrada? — Seu sorriso amarelado,
assim como odor forte de sua boca, me causa nojo.
Tento ensaiar um sorriso.
— Eu sei, claro que sei..., mas não quero abusar de você, as
pessoas podem perceber, enfim... marcamos outro dia.
Ele não responde, apenas começa a beijar meu pescoço, meus
seios.
Fecho meus olhos novamente, preciso suportar isso.
Fazer sexo com alguém que não se ama pode ser ruim, mas
quando existe alguma atração física é suportável, e pode ser até
prazeroso. Mas, quando o cara é repugnante, a sensação quando
ele finalmente goza é que você foi estuprada.
Penso no Rui, e a raiva por ele aumenta. Se estou aqui, me
sujeitando a ser tratada como uma puta, é por culpa dele.
Uma lágrima escorre pelo meu olho, a limpo rapidamente, sigo
para o banheiro, e aproveito os poucos minutos de privacidade que
tenho para esfregar meu corpo e tirar o cheiro desse homem
asqueroso.
Mas, foi por pouco tempo, logo ele entra em meu banheiro e sorri
satisfeito, nunca deve ter transado com uma mulher como eu. Sua
esposa é uma mulher feia e sem graça.
— E aí? Gostou da nossa trepada, loira? — Ele volta a me
abraçar, a me beijar.
— Sim, mas acho melhor nos apressarmos! — Sorrio
falsamente.
— Ligarei para minha secretária e avisarei que iremos depois do
almoço. Sou seu, minha gostosa, a manhã toda!
Me desespero, e o empurro delicadamente.
— Eu preciso ir, tenho que finalizar a análise daquele caso.
— Não, Priscila! Eu que digo quando iremos embora! — Seu
olhar muda, fica frio e perigoso, me fazendo sentir acuada, e
temerosa.
Esse não é o mesmo homem gentil e cavalheiro que conheci na
promotoria. Me enganei a respeito do promotor, e estou pagando
pela minha tolice.
Ele me prensa contra os azulejos, invade minha boca com sua
língua nojenta, e não há muito que fazer a não ser aceitar. Cometi
um grande erro!
****
Já passava das 13h, quando minha tortura acabou.
Finalmente o gordo nojento se viu satisfeito.
Transamos a manhã toda.
Me sinto suja, imunda, mas tento lembrar que tudo isso tem um
propósito, nada será perdido.
Ele está vestido, e resolvo abrir o jogo, eu tinha um plano e não
desistirei dele.
— Fernandez, estou há dias para falar com você sobre um
assunto, preciso de uma licença. Serão só alguns dias, para
resolver alguns problemas familiares de minha mãe, herança, essas
coisas, mas é no interior... — Acaricio seu rosto.
Ele enruga sua testa.
— Sem chance, Priscila! — Ele se afasta de mim. — Preciso de
você na promotoria, temos muitos casos e pouco pessoal!
Oh, merda!
Bufo irritada.
— Sim, mas é que...
Ele me interrompe.
— Tente postergar isso! Agora não dá, eu estou sendo
pressionado por nosso superior, e não terei como justificar sua
ausência!
Merda, me sujeitei a isso tudo para nada.
— Eu... eu... — Tento pensar em alguma coisa. — Serão poucos
dias.
— Ok, deixe para o mês que vem! — Ele termina de colocar seu
terno. — Podemos ir agora? — ele diz impaciente.
— Sim! — respondo atordoada.
Não consigo acreditar no que está acontecendo.
Tudo que planejei está dando errado!
Sigo para a porta, ele atrás de mim, a abro e é como se todos os
meus pesadelos se concretizassem.
O Henrique, meu namorado, acaba de chegar ao meu andar e
está neste momento olhando incrédulo para a cena.
— Então é por isso que você não me atende! — ele diz
enfurecido. — Você agora é a amante do seu chefe, sua cadela!
— Henrique, não é isso... — Tento me explicar.
— Piranha, é isso que você é, Priscila, uma piranha interesseira!
Bem que me disseram que a única coisa que você ama de verdade
é o dinheiro!
Ele sai caminhando para o elevador enfurecido. Corro atrás dele
e o seguro pelo braço.
— Espere, Henrique! Me ouça, por favor! — suplico.
Mas, de fato, não sei o que dizer sobre isso.
— Não quero te ver nunca mais, Priscila. — Ele puxa seu braço.
— Tenho nojo de você! — Ele entra no elevador e se vai.
Está tudo dando errado!
E se ele disser para nossos amigos que estou saindo com o
promotor chefe? Ficarei desmoralizada!
— Priscila, não posso ter meu nome envolvido em escândalos.
— Desperto de meu pesadelo, o promotor para ao meu lado, e me
olha friamente. — Se certifique de que ninguém saiba o que houve
entre nós.
— Como farei isso? Você viu como ele saiu daqui? — falo
nervosa.— Ele é meu namorado, te viu saindo do meu apartamento.
— Tenho uma família, esposa e filhos, então cale a boca desse
idiota. Caso contrário, você irá responder pelas consequências. —
Ele passa por mim, indo em direção ao elevador.
— Ei, o que você quer dizer com isso? — Entro em desespero.
Ele me olha seriamente.
— Que se eu tiver problemas com minha esposa, ou na
promotoria, você será responsabilizada.
— Exonerada, demitida? — Dou risada, ele deve estar louco. —
O que você quer dizer com isso?
— Sua prova foi uma fraude, andei olhando as provas dos
candidatos aprovados, você não obteve nota. Então, concluo que
Doutor Albuquerque andou usando sua influência para torná-la
promotora! — Ele sorri provocativo. — Se eu quiser, eu a
desmascaro, Priscila! Você perde seu cargo e ainda responderá um
processo administrativo por fraude.
Ele vira as costas e entra no elevador.
— Essa é uma ameaça? — pergunto em pânico.
— Não costumo ameaçar ninguém, só cumpro a lei! — O
elevador fecha, me encosto na parede, coloco as mãos sobre meu
rosto e o desespero toma conta de mim.
Estou perdida!
****
Durante o caminho para a promotoria, ligo um milhão de vezes
para o Henrique, mas ele não me atende e posteriormente me
bloqueou definitivamente.
Finalmente chego à promotoria, passo por alguns colegas, vejo
olhares estranhos sobre mim, e então chego a minha mesa.
Ligo meu computador, arrumo minhas coisas, e faço como todos
os dias, entro em meu e-mail para verificar mensagens urgentes,
mas, o telefone toca, atendo e vejo que é uma amiga.
— Oi, Pri! Tudo bem? — ela diz estranhamente.
— Sim, tudo, Gisele... acabei de chegar. Posso te ligar depois?
— Não, precisa ser agora. Eu tenho uma bomba para te dizer: o
Henrique espalhou para todo mundo que pegou você transando com
o promotor chefe!
Fico branca.
— Me diga, Priscila, isso é verdade? Eu não acreditei, não a
vejo fazendo isso, você tem um namorado lindo e incrível, mas foi o
Gustavo que me contou, e ele e o Henrique são muito amigos,
então...
Solto o ar.
— Não, não é verdade. Ele está magoado porque terminamos.
— Que alívio! Mas você tem um problema enorme para resolver,
ele está furioso, e não poupou ninguém do nosso círculo de
amizades, todos devem estar sabendo! — ela diz com pesar.
— Certo, vou ver como resolvo isso! — respondo apática.
— Um beijo, querida! Se cuide!
Desligamos.
Estou vivendo o pior pesadelo da minha vida! Eu só queria me
vingar do Rui e daquela cadela, e como uma maldição está tudo se
virando contra mim.
Escrevo rapidamente um e-mail para o Henrique, invento uma
história louca, e por fim, decido ameaçá-lo por difamação.
Rezo, pela primeira vez em minha vida, e seleciona a tecla de
enviar.
****
Meu dia foi um verdadeiro pesadelo, ligações, muitas ligações,
mensagens, muitas mensagens.
Todo estão sabendo o que houve entre mim e o promotor, e além
de rezar para que a notícia não caia nos ouvidos da esposa do
promotor, não sei mais o que fazer.
Fofoca é algo que as pessoas adoram, principalmente se for a
respeito da filha do temido Doutor Albuquerque.
Eu preciso falar com meu pai sobre isso, é vergonhoso, ele não
me poupará de um sermão! Se há algo que meu pai valoriza, é seu
nome, e vê-lo manchado por sua filha, será o fim.
Somos magistrados, temos uma carreira e honra a zelar. Ser
reconhecida como a amante de meu chefe, me tornou alguém sem
escrúpulos, sem dignidade.
Talvez eu seja tudo isso mesmo, no final sou como meu pai, nos
vendemos por dinheiro, poder e sucesso profissional.
Olho no relógio, preciso ir embora e chegar a tempo de encontrar
o Rui e sua cadela no escritório.
Sem avisar ao meu chefe, pego minhas coisas, e saio
discretamente.
O trânsito bom me ajudou a chegar cedo ao seu escritório, mas
assim que encosto o carro, vejo os dois entrando em seu carro. Os
sigo a uma distância segura, eles param em frente a uma clínica de
ginecologia, os aguardo até que finalizem a consulta.
Diferente do que eu pensava, eles seguem por uma avenida e
continuo os seguindo.
Não sei ao certo o que fazer, mas estou muito instável hoje,
choro e sorrio em meio aos meus pensamentos contraditórios.
Queria acabar com a vida do Rui, e depois da Jackeline. Ele está
acabando com minha vida, e tenho vontade de acabar com a dele.
Em meio aos meus pensamentos, acabo não percebendo
quando ele desvia seu carro para um posto de gasolina, tento
desviar também, mas é tarde, procuro uma rua para fazer o retorno,
mas me atrapalho, acabo caindo em outra avenida, e assim os
perco de vista.
Esmurro meu volante enlouquecida, e decido os esperar próximo
ao apartamento do Rui.
Se eu tivesse uma arma hoje, eu faria uma loucura.
Já é tarde da noite, estou estacionada um pouco antes de seu
apartamento, então o vejo passando por mim. Ligo o carro e saio
em disparada por uma rua perpendicular, e o encontro no
cruzamento que antecede seu apartamento.
Num ato de insanidade, apenas acelero o carro, e esqueço de
tudo, apenas deixo minha raiva fluir, preciso descarregar a raiva que
estou sentindo, frustração, decepção, tudo. Mas, ele desvia o carro
a tempo, e de novo falhei, falhei, falhei!
Choro de frustração, nada que faço surte efeito.
Choro e esmurro o volante do carro, e me distraio, e quase me
envolvo em outro acidente.
Sim, hoje é o pior dia da minha vida.
Preciso dormir.
****
Me levanto com o som do despertador do celular, mas resolvo
que não irei para a promotoria hoje.
Olho no aplicativo de mensagens, milhares delas, e todas falam
sobre meu envolvimento com o promotor.
Estou perdida, agora definitivamente!
Volto a minha cama, mas não consigo dormir, então decido
plantar guarda em frente ao escritório do Rui. Se existe um jeito de
matar minha angústia, é me vingar de quem a causou.
Ainda é cedo quando vejo os funcionários estacionando o carro
em seu escritório. Os primeiros a chegarem são os dois, eles riem,
brincam, se beijam.
— Vou acabar com a felicidade de vocês dois, e não demorará
muito! — digo para mim mesma.
No meio da manhã, recebo uma ligação da promotoria, é meu
chefe e amante:
— Priscila! — ele diz enérgico.
— Sim! — respondo apática.
— Estão todos sabendo sobre o que houve. Não há muito o que
fazer além do que abrir um processo administrativo contra você.
Pedirei que revejam sua prova, não a quero mais aqui.
Fico com minha boca levemente aberta, incrédula.
— Você não pode fazer isso, eu falarei com meu pai! Ele irá
derrubá-lo, Fernandez, você que ficará na sarjeta. — Tento buscar o
resto de dignidade que tenho, e de prestígio de meu pai.
— Você é muito inocente, Priscila. Existe uma investigação sobre
seu pai no Supremo Tribunal Federal, ele está sendo acusado de
uma série de crimes. Ele não contou nada a você? — ele diz com
ironia.
Minha mente dá voltas, estou tonta com tudo que está
acontecendo.
— Não... — Fico quieta, se ainda havia alguma chance de me
safar de tudo, seria através de meu pai, mas agora.
É fato que meu pai e minha mãe andam estranhos, conversamos
pouco, e recentemente eles viajaram para a Europa, há semanas
não os vejo.
— Então, estou te contando a notícia em primeira mão: hoje
sairá uma reportagem sobre ele no jornal. O juiz Albuquerque ficará
muito mais conhecido! — Ele dá uma gargalhada. — Até que enfim
consegui pegar aquele velho corrupto, ele nunca mais interferirá na
justiça, Priscila.
— Você está enganado! Meu pai é muito poderoso, e você se
dará muito mal, seu porco nojento! Eu te odeio, você fede, é mal de
cama, só te suportei porque precisava de você, mas eu não te
suporto, você é asqueroso.
Ele bufa nervoso.
— Vamos ver quem é asqueroso, sua vadia! Não é à toa que o
Doutor Rui Figueiredo te largou no altar! Fiquei sabendo que ele
está casado agora, e a esposa está grávida. Eu admiro aquele cara,
sou inimigo nos tribunais, mas quero dizer aqui que eu o admiro, e
fiquei muito feliz quando ele resolveu se dissociar de seu pai. Ele é
um homem inteligente, e percebeu que a família Albuquerque é um
lixo.
Bato o telefone na cara dele.
Ligo diversas vezes para meu pai, mas ele não me atende. Ligo
para minha mãe, ela atende, mas diz que não pode falar.
— Priscila, não me ligue mais! Nossos telefones estão
grampeados. — Ela desliga em minha cara.
Eu sempre achei que a minha família, nunca seria atingida pelos
infortúnios da vida. Estávamos acima do bem e do mal, meu pai
mandava em todos, todos o temiam.
A sensação de ver tudo se desmoronando é estranha, causa
certa leveza, não preciso ser mais a melhor, a mais aceita, a filha do
juiz Albuquerque.
Mas ao mesmo tempo, me vem à tona a realidade: perdi tudo,
meu emprego, minha carreira, minha dignidade.
Ninguém irá querer estar associado a alguém cujo nome de sua
família está manchado em meio à corrupção, rede de influências,
entre outras coisas.
Passei meu dia naquele mesmo lugar, embaixo de uma árvore,
absorvida pela sensação de amortecimento de que tudo a minha
volta está desmoronando.
É início de noite, me sinto vazia de sentimentos. Se há algo que
ainda valha a pena lutar, é pela minha vingança. Então, quando vi o
Rui no meio da rua, vindo em minha direção, me bateu um
desespero.
Ele não pode me ver, me reconhecer.
Ligo o carro, e saio em disparada, quase o atropelo.
Por pouco ele não me vê, ele está desconfiado, já percebeu meu
carro, então, faço a única coisa sensata a se fazer.
Sigo para a locadora de automóveis.
O carro escolhido é maior, mais forte e poderoso.
Agora, não irei brincar mais de pega-pega. Estou cansada de
brincadeiras, agora é pra valer.
Capítulo 19
JACKELINE
Estou há dias pensando sobre o que darei ao Rui de presente
de aniversário.
Como ele diz, sou uma pessoa criativa, mas mais na intimidade
do que no dia-a-dia, confesso, e dou risada de meus pensamentos
pecaminosos.
Mas, não quero dar de presente de aniversário para ele uma
camisa, gravata, ou sapatos.
Ele não é o tipo de pessoa que precise disso, ele tem tudo, e
seria um desperdício dar a ele mais uma peça de algo que ele já
tem aos montes.
Então, busquei na internet coisas legais que poderia dar a um
cara como ele.
Não há muita coisa, ele não é um homem com um hobby
definido, não ama times de futebol, enfim...
Então, resolvi comprar pequenos presentes.
A primeira coisa foi uma pequena estatueta, juntamente com o
símbolo dos advogados, que é uma espécie de balança.
Mas, a estatueta é muito engraçada, porque foi feita a
semelhança do Rui. Eu enviei uma foto dele ao artista plástico, e ele
fez uma estatueta sua, sentado numa cadeira, fingindo morder a
haste de seu óculos. Vale lembrar, seu nome está gravado na pedra
que segura a estatueta e a balança.
Ficou no mínimo, cômico, e no mais, o máximo, eu acho que ele
irá adorar.
A segunda coisa é uma caneta muito bonita, é uma homenagem
aos advogados, e tem o nome dele gravado.
Fiz sob encomenda, e não é nada comum, é um produto lindo.
Por último, comprei um chaveiro também voltado para esse
negócio do Direito, vários símbolos fixados em uma argola, feito de
aço, é muito bonito, elegante, irá combinar com meu advogado
amado.
Fora isso, também o acordarei com um café da manhã na cama,
e euzinha bem gorda, gostosa e barriguda, vestida em uma lingerie
vermelha. Ele adora me ver de vermelho, então, voilá!
Ok, a primeira parte do plano é preparar a bandeja de seu café
da manhã, e entregá-la antes que ele acorde.
Desço na ponta dos pés até a cozinha, que está vazia. A Jô
ainda não chegou, então apenas o Bóris,pula alegre com minha
chegada.
— Bom dia, meu amor! — Encho ele de beijos.
Enquanto preparo o café da manhã do Rui, conto para o Bóris
sobre o aniversário do papai.
— Pronto, Bóris! Vamos acordar ele! — Ele vem alegre comigo
em direção às escadas.
Subo cuidadosa, entro no quarto, ele está com seu rosto
mergulhado no travesseiro.
Deposito a bandeja na mesinha lateral, me sento ao seu lado da
cama, e começo a dar beijos em suas costas.
— Bom diaaa!!! — falo bem-humorada, milagre!
Finalmente, ele levanta seu rosto, o travesseiro está molhado,
sinal que ele estava babando, literalmente.
— Bom dia, Rui! — Mais uma vez faço voz de propaganda de
margarina. — Feliz aniversário, advogado!
Ele dá um sorriso contido, está mais para lá do que pra cá.
Ele se espreguiça, boceja, esfrega seu rosto e finalmente me
olha.
— Bom dia, Jack! Por que você me levantou tão cedo? O relógio
nem despertou — ele reclama, bocejando e falando.
— Porque hoje é seu aniversário, e vamos comemorar logo
cedo! — Me aproximo dele, passo meus braços pelo seu pescoço.
— Feliz aniversário, meu amor. — O beijo apaixonadamente, e ele
corresponde, ele adora ser beijado, e se eu deixar, daqui a pouco
estaremos atracados, mas agora não, então me afasto um pouco
dele. — Parabéns, Rui! Desejo que você tenha uma vida longa,
repleta de felicidades, realizações, e muitos presentes. — Sorrio
feliz.
— O único presente que quero é você! — Ele volta a me agarrar.
Sorrio feliz, porque estou feliz demais, sou uma pessoa muito
feliz.
— Me deixe te dar seus presentinhos, depois sou só sua — digo
em tom de brincadeira.
Me levanto sob seu olhar atento, pego a bandeja de café da
manhã, e coloco sobre seu colo.
— O primeiro presente é um café da manhã reforçado, pois
quero você com muita energia esta manhã. — Pisco maliciosa para
ele.
Ele dá uma risada linda, olha para a bandeja e esfrega suas
mãos, uma contra a outra.
— Estou vendo que você colocou tudo que gosto, e tem algumas
novidades aqui — ele diz bem comilão, porque o Rui é bem comilão.
Me sento ao seu lado, ele me dá mais um beijinho rápido, enfia
um morango em minha boca, e começa a falar e comer, porque, às
vezes, o Rui é muito agitado.
Finalmente ele termina de comer, quero dizer, nós dois, fiz uma
cesta dupla.
— Então, agora posso pegar os presentes? — Me levanto.
— Não precisava, Jack. Não ligo para essas coisas — ele diz
timidamente.
— São lembrancinhas, não é nenhum carro, helicóptero, ou
um Maseratti.
Ele gargalha, até hoje não me conformo com a história do tal
de Massratti, mas enfim.
Pego a sacolinha com seus presentinhos e coloco sobre seu
colo, ele segura meu rosto e me beija demoradamente.
— Obrigado, minha deusa! Estou falando sério, não precisa se
preocupar em me presentear, você é meu presente, não preciso de
mais nada!
Ele diz tão sério e tão profundamente que me emociono.
— Tudo bem! Mas agora já comprei, abra e veja o que acha! —
Ajoelho na cama e espero ele desfazer os pacotes.
O primeiro que ele pega em sua mão é a estatueta.
— Oh, esse é pesado! Talvez uma barra de ouro com meu nome
gravado? — ele diz brincalhão.
— Nossa, como você é narcisista! — Brinco. — Mas, vou
adiantar: tem seu nome gravado.
Ele abre seu sorriso lindo, arranca o embrulho desajeitadamente,
e cai numa risada histérica.
— Esse aqui sou eu? — Mais risadas, ele mal consegue falar. —
Ficou hilário!
Ele me abraça em meio ao seu rompante de felicidade.
— Obrigado, Jack! Porra, ficou perfeito, muito divertido, só podia
ser um presente seu. — Ele me beija e me olha sério. — Adorei,
minha deusa! Nunca recebi um presente tão inusitado, mas perfeito,
ficou demais... — Ele olha para a estatueta e ri mais um pouco. —
Olha os óculos, ficou igualzinho a mim.
Finalmente ele se recompõe e deposita a estatueta na mesinha
lateral.
— Levarei para o escritório, quero que todo mundo veja. — Ele
dá um sorriso divertido. — Ok, o que mais temos aqui? — Ele pega
e desfaz uma embalagem. — Opa, que caneta mais invocada, Jack,
adorei. — Mais um beijo.
— Tem mais um presentinho, mas é só para encher a sacola, eu
realmente não sabia o que dar para você — dalo sem graça.
— Estou adorando tudo! Não gosto de presentes tradicionais, os
seus têm a minha cara! — Ele acaricia meu rosto e pega a pequena
caixa com o chaveiro. — Porra, que negócio chique! — Ele olha
para o chaveiro. — Lindo, Jack, vou usar na Mercedes, mas esse
ficará perfeito no meu futuro Maseratti.
Rimos juntos, e volto a abraçá-lo.
— Se eu pudesse, ficaria o dia todo dando beijos em você! —
falo apaixonada.
— Então, pode começar tirando essa camisola, quero o presente
mais almejado: você, minha delícia, com barriguinha e tudo — ele
diz com seu olhar de desejo.
Me levanto, tiro a camisola longa e fico só de lingerie.
Confesso que fica difícil ficar sensual grávida, mas a lingerie é
bem sensual, de renda vermelha...
Ele sorri malicioso.
— Vermelho é minha cor predileta, principalmente quando está
em você! — Ele estende sua mão para mim. — Vem, minha deusa
do espartilho vermelho.
Gargalho ao ouvi-lo dizer isso.
— Jura que você ainda lembra do espartilho vermelho? — Passo
minhas pernas ao redor de sua cintura, sentindo sua ereção
crescendo.
— Ô, se lembro! — ele diz com seu olhar faminto. — Deixe essa
barriguinha murchar, quero vê-la novamente de espartilho, Jack,
você fica linda. — Enquanto ele fala seus lábios vão depositando
beijos pelo meu rosto, depois o pescoço e o vão entre meus seios.
De repente, ele abre o fecho do sutiã, e o joga pelo quarto.
— Eu gosto de vermelho, mas prefiro você sem nada — ele diz
engolindo meus mamilos, que estão sensíveis demais.
Arqueio meu corpo, meus seios, abrindo espaço para sua boca,
língua e mãos, que me exploram mais e mais.
— Oh, Rui... — Gemo baixo.
Sinto seu dedo acariciando meu ponto de prazer, e a tortura é
dupla, e isso me excita demais, e gemo alto, me contorço de prazer,
e finalmente explodo em gemidos.
Ele volta a me beijar, o desejo é nítido em seus beijos, em suas
mãos que exploram meu corpo avidamente. Num movimento rápido
ele tira sua boxer, afasta minha calcinha e me penetra.
— Ai, Rui! — Gemo novamente, estou encharcada e pronta para
ele.
Ele me beija e se movimenta, ajudo-o subindo e descendo,
esfrego-me nele, beijo-o insana e finalmente seus urros de prazer
invadem nosso quarto.
O silêncio toma conta do ambiente, ficamos como nossas testas
unidas, um respirando contra o outro.
— Foi bom demais, Jack! Que delícia, minha deusa! — ele
sussurra, ainda experimentando as sensações após o clímax. —
Adoro essa buceta. — Ele volta a me beijar.
— Oh, Rui, ele está duro de novo — falo em meio aos nossos
beijos, sentindo seu membro endurecer, sem mal ter saído de
dentro.
— Esse é o efeito, Jackeline: pau duro o dia inteiro! — Dou
risada contra seus lábios. — Quer mudar de posição, ou você
prefere assim? — ele diz cuidadoso.
— Vamos continuar assim. Eu gosto, e você? — digo
embriagada de amor, prazer, o beijando e falando ao mesmo tempo.
— Eu também gosto, mas prefiro de quatro. — Ele também me
beija e fala. — Mas, eu sei que te incomoda um pouco, então,
vamos continuar assim.
— Aham. — Voltamos a nos beijar, e logo chego ao orgasmo
novamente, ele tem razão, essa é a melhor posição, e a mais
prazerosa pra mim.
— Goza, Jack, minha deusa! — Ele engole minha boca, me beija
e me aperta em seus braços, intensifica os movimentos, fica tenso,
e urra de prazer. — Caralho, que delícia! Hummm, que delícia!
O beijo apaixonada, muito apaixonada, apaixonada demais.
— Te amo, Rui! Para sempre! — Encho seu rosto de beijos. —
Te amo muito, demais, sabia? — Finalmente o olho, a centímetros
de distância, seus olhos claros estão lindos, vivos e brilhantes.
— Sabia, e eu mais ainda! — Ele segura meu rosto com suas
mãos grandes, e me beija novamente, profundo, apaixonado.
Finalmente voltamos a nos olhar.
— Adorei todos os presentes, são muito criativos! Eu já disse
que você é criativa, não disse? — Ele brinca.
— Sim, muitas vezes! — Sorrio em seu colo. — Podemos tomar
banho juntos? Eu sei que você tem muitos compromissos hoje, não
podemos ficar em casa e curtir seu aniversário, não é mesmo?
— Verdade, Jack! — Ele me ajuda a me levantar, segura minha
cintura, e segue comigo para o banheiro. — Hoje à tarde, às 16h
tenho um cliente novo, irei ao seu escritório, mas eu volto para
pegá-la. Você me espera, não saia sozinha, tá bom?
— Sim, claro!
****
Hoje nosso almoço foi diferente, porque reservei uma mesa
grande em um restaurante que gostamos muito e convidei os
funcionários para comemorar o aniversário do chefe.
Então, como o Rui faz tudo que quero, foi só dizer que eu
preferia ir naquele restaurante, e quando chegamos, uma salva de
palmas, assobios, brincadeiras, e uma chuva de serpentinas no
chefe. Tudo bolado pela Jackeline maluca, que deixou seu chefe e
marido constrangido.
— Às vezes você é tão tímido, Rui! — cochicho em seu ouvido.
Ele dá risada e apenas me segue em direção à mesa.
Mas, não foram só seus funcionários que foram convidados,
consegui em sua agenda de contatos o telefone do Carlão, e o tal
do Carlão chamou mais dois ou três amigos dele.
Esse é meu presente mais vip, pagarei tudo de meu salário,
porque o Rui já fez muitas coisas por mim, e sou acima de tudo
grata a ele, porque apesar de tudo, ele é generoso, muito generoso
com as pessoas, e comigo nem se fala.
Combinei com o garçom de trazer um espumante para
brindarmos aos 36 aninhos do meu homem lindo. Então, no final do
nosso almoço, depois de muita descontração e risadas, o garçom
aparece com uma garrafa de espumante, e um bolo de aniversário,
com uma vela faiscante em cima.
Gargalho ao ver a cara do Rui, ele está tão tímido, que não se
parece com meu Rui devasso.
Todos à mesa se levantam e cantam parabéns para o chefe e
amigo, e por fim, euzinha tento abrir o espumante, mas o Carlão
acaba fazendo as honras da casa.
— Um brinde ao meu irmão e amigo, vida longa a esse cara
excepcional! Te amo, irmão! — Ele enche as taças de champanhe.
— E quero ser o padrinho desse carinha. — Ele acaricia minha
barriga, olho para a Carol e dou risada.
— A madrinha é aquela advogada fofa! — cochicho para ele.
— Perfeito! — Ele olha para ela e pisca.
****
É engraçado como fico preguiçosa após o almoço, então só para
não perder o costume, me deito meia hora na sala do Rui, e
enquanto ele trabalha feito um louco, eu durmo feito a Bela
Adormecida.
Acordo de sobressalto.
— Jack, eu já estou indo! — Ele me beija suavemente. — A
gente se fala mais tarde, mas você me espera aqui, tá? Mesmo que
eu demore um pouco, virei buscá-la! — O olho sonolenta.
— Tudo bem, não precisa se preocupar. Qualquer coisa, pego
um táxi, eu me viro! — Me sento vagarosamente.
— Não, eu venho te buscar — ele diz bravo.
— Nossa, você anda tão neurótico! Qual o problema? — Me
levanto feito uma pata.
— Jack, o bebê pode nascer a qualquer momento. Fico
preocupado de vê-la saindo sozinha, mesmo que seja de táxi.
Reviro meus olhos, e desisto.
— Tá bom, Rui! Está tudo bem, acho que ele não irá nascer, não
estou sentindo nada. — O abraço e beijo. — Boa visita!
Sigo com ele para minha sala.
Ele me beija novamente.
— A gente se vê mais tarde!
Sorrio e aceno para ele com meus dedinhos.
Volto a minha rotina.
Aos poucos estou passando minhas rotinas para o Alexandre,
que agora tem uma ajudante.
Então, não é como se eu tivesse muitas coisas para fazer, mas
mesmo assim me entretenho com minhas rotinas e quando olho no
relógio e vejo que já são 18h.
Vejo o Alexandre.
— Tudo bem, chefinha? — ele diz carinhoso. — Já estamos
indo, caso contrário, não conseguimos pegar a primeira aula.
Sorrio para ele.
— Claro, pode ir! Eu já disse, saia às 17h50, para não chegar
atrasado à aula.
Ele mexe as mãos freneticamente.
— Fique tranquila, chegaremos no horário.
— Ok, nos vemos amanhã! — Ele me dá um beijo no rosto e
segue para as escadas.
Ouço o som de chegada de mensagens, pego rapidamente meu
celular e vejo a mensagem do Rui.
“Jack, a reunião aqui atrasou um pouco, devo me atrasar. Te
aviso assim que sair daqui, ok?”
Respondo rapidamente.
“Tudo bem! Um beijo.”
Me levanto um pouco, ando pela minha sala e olho para meus
pés, eles estão muito inchados.
Na verdade, eles estão inchados demais!
Sigo para a sala do Rui, me deito em seu sofá, coloco meus pés
para o alto e tento relaxar um pouco.
Passados 15 minutos, volto a me movimentar, desço até a copa,
pego uma maça, faço um chá, e converso com a copeira que já está
finalizando sua rotina e indo embora.
Volto para minha sala, estou me sentindo inquieta, sei lá, um
mal-estar.
Sigo para a sala do Rui novamente, pego em sua mesa o
aparelho de pressão, relaxo no sofá e afiro minha pressão arterial, e
não gosto do que vejo.
Sim, ela está alta, bem mais alta.
Olho no relógio, são 19h, e nada do Rui.
Volto para minha sala, pego meu celular e envio uma mensagem
para ele.
“Oi, amor! Está tudo bem? Você já sabe a que horas chegará?”
Tento não o alarmar, ele anda tão nervoso, não quero colaborar
ainda mais para seu estresse.
Ele digita...
“Jack, acabei de terminar essa porra! Estou indo pegar meu
carro, mas já te digo, está tudo parado por aqui. Espero chegar aí
em uma hora, mas não tenho certeza, estou do outro lado da
cidade.”
Respondo.
“Ok, fique tranquilo. Estou te aguardando aqui...”
Retorno para sua sala, pego novamente o aparelho de aferir a
pressão arterial, relaxo um pouco em seu sofá, e faço uma nova
aferição.
— Merda! — falo comigo mesmo.
Sim, está alta, muito alta.
Um nervoso começa a tomar conta de mim.
Envio uma mensagem para minha médica.
“Doutora, boa noite! Não estou me sentindo muito bem hoje,
minhas pernas e pés estão muito inchados, estou com um mal-estar,
e minha pressão parece alta. Tirei uma foto da minha última
aferição, por favor, dê uma olhada.”
Ela é sempre muito atenciosa e atenta.
Então, não só me retornou, como foi através de uma ligação, ao
invés de mensagem.
— Oi, doutora! Desculpe incomodá-la... — falo sem graça.
— Não foi incômodo nenhum, e por favor, vamos parar de
formalidades! — ela diz secamente, ela é assim, mas no final é doce
e cuidadosa com suas pacientes. — Você está sozinha, Jackeline,
ou com seu marido?
— Ele saiu para uma reunião fora, então estou o aguardando no
escritório.
— Quero que você vá para o hospital agora. Irei avisar as
enfermeiras que estou indo para o hospital em alguns minutos, é o
tempo de terminar minha consulta.
— Doutora, o Rui pediu para eu esperá-lo. Então, devo sair
daqui em uma hora, ou duas, no máximo...
— Não, Jackeline! Vá agora para o hospital, sua pressão está
muito alta, e há indícios de que você possa estar entrando em um
pré-eclâmpsia.
Meu coração dispara.
— Sério?! — pergunto aflita.
— Não fique nervosa. Está tudo bem, só estou sendo precavida
— ela diz pausadamente. — Se tiver alguém para acompanhá-la,
será melhor.
— Ok, estou fazendo isso agora.
Desligamos.
Enxugo uma lágrima de nervoso que escapou de meus olhos e
ligo para a Carolina.
— Carol, você ainda está no escritório ou já foi embora? — Sinto
meu coração disparado no peito.
— Eu acabei de sair. O que houve? Quer que eu volte? — Sinto
sua voz aflita.
— Sim, por favor! O Rui não está aqui, e estou me sentindo mal.
— Jack, fique calma, é o tempo de eu fazer o retorno na avenida.
Me aguarde! — Ela desliga a ligação.
Solto o ar vagarosamente, respiro novamente, faço isso diversas
vezes, e então ouço a buzina lá embaixo.
A maluca deve ter passado em todos os faróis vermelhos.
Desço as escadas vagarosamente, sinto minhas pernas duras.
A vejo no final das escadas, ela sobe correndo em minha
direção, pega em meu braço e me ajuda a descer.
— O que você está sentindo? — ela diz com seus olhos
enormes.
— Um mal-estar, é bom ver o que é isso. — Tento não deixá-la
mais nervosa.
— Ok. Devo ir naquele hospital que você estava da outra vez? —
Ela me acompanha até seu carro e me ajuda a sentar no banco do
passageiro.
— Sim, minha médica estará lá — falo pausadamente, tentando
controlar as emoções e não piorar meu estado.
— Ok, coloque o cinto de segurança! — ela diz, mas ela mesma
o coloca.
— Não corre, isso me deixa nervosa! — digo antes que ela
comece a dirigir.
A Carol parece uma caminhoneira dirigindo, seu carro é alto,
parece um Jipe, então ela usa e abusa da velocidade. De fato, acho
que ela perdeu alguns pinos ao longo do tempo, nunca vi uma
mulher dirigir desse jeito.
— Ok, dirigirei como uma moça! — ela diz irônica.
Seguimos em direção à avenida, o trânsito está muito intenso,
mas está fluindo, o que me deixa mais tranquila.
— Está tudo bem com nosso garotão? — Ele me olha, coloca
sua mão em cima de minha barriga e a acaricia. — Fala oi pra tia,
Luigi, estou louca para ver sua carinha linda! — ela diz
carinhosamente, me fazendo relaxar um pouco.
Foi um momento de distração, e de repente sinto um impacto do
meu lado do carro, a Carol que estava distraída tenta controlar o
carro, mas com o impacto ele girou no meio da avenida, várias
vezes. Sinto alguns impactos, provavelmente batemos em outros
carros.
Desorientação, medo e uma sensação de que estou prestes a
perder a consciência me dominam.
Sinto tapas em meu rosto.
— Jack, não desmaie! — Ela enfia uma garrafinha de água na
minha boca. — Bebe isso, Jack! Fique calma!
Ela xinga ferozmente todos os nomes feios do mundo.
— Jack, puxe o ar, isso, mais uma vez, continue fazendo isso!
— Carol, minha vista está escura — falo em meio às lágrimas.
Ouço uma voz masculina, o homem está com sua voz alterada,
fala muito e briga com a Carol.
“— Você está maluca, moça? Olha o que você fez, bateu em
vários carros! Que porra que aconteceu?!”
“— Não sei! Não sei o que aconteceu, alguém bateu em mim,
girei na pista, mas não posso ficar aqui para resolver seu problema.
Olhe para minha amiga, ela está grávida, preciso levá-la para um
hospital. Fique com meu cartão, depois conversamos sobre o que
aconteceu, e não me enche mais o saco...” — Ela liga seu carro,
ouço pneus cantando, e desmaio...
Capítulo 20
RUI FIGUEIREDO
Estaciono meu carro em frente ao departamento de
investigações onde o tal Pimenta trabalha.
Vou ser sincero, não gosto muito de me envolver com policiais,
mas o fato é que não conheço e nem tenho a indicação de nenhum
profissional que possa me ajudar com essa investigação, então terá
que ser esse cara mesmo.
Entro no prédio, vejo alguns policiais zanzando pelo local,
pergunto a um deles sobre o tal Pimenta, e ele me pede para subir
as escadas.
Sigo pelo andar onde o policial me indicou, passo por algumas
salas, e então vejo um pessoal reunido em uma roda de conversa,
sigo na direção e me aproximo.
— Boa tarde! Eu preciso falar com um investigador de nome
Pimenta. Alguém poderia me dizer onde encontrá-lo?
Todos me olham simultaneamente, pelo visto a forma que me
visto chamou a atenção deles, ou os incomodou.
— Quem é você? — Um deles pergunta, com cara de poucos
amigos.
— Doutor Rui Figueiredo. — Estendo minha mão para ele.
— Prazer, eu sou o Pimenta. — Ele dá um sorriso contido. —
Pensei que fosse algum magistrado metido a besta, eles adoram
aparecer aqui para encher nosso saco — ele diz escrachado. —
Venha por aqui, doutor. — Interrompo-o
— Pode me chamar de Rui, me apresentei como doutor só para
colocar um pouco de moral! — Ele me olha, dou risada, e ele em
seguida ri, mas acho que não achou muito engraçado o que disse.
— Então, Rui, aquela reunião ainda não aconteceu. O porra do
delegado está enrolado com um caso de homicídio coletivo, essas
porras que acontecem todos os dias, mas enfim, a mídia está em
cima, então ele está dando uma atenção, e pediu para
aguardarmos.
Xingo mentalmente, começou tudo errado, agora vai saber que
horas sairei daqui.
— Ok. Podemos ir conversando enquanto sua reunião não
começa? — digo apressado.
— Sim, eu iria sugerir isso. — Ele olha para a rodinha dos
policiais. — Vou conversar com o doutor aqui, me chamem quando
o delegado começar a reunião.
Os caras balançam a cabeça.
— Ok, vamos conversar nessa sala.
Entramos em um cubículo, uma mesa, duas cadeiras, sem
janelas, ar condicionado ou ventilador. Deve ser aqui que eles
torturam os acusados para que digam a verdade, ou simplesmente
digam o que os policiais querem ouvir.
Olho para a cadeira que vou sentar e certifico-me que não tem
marcas de sangue, ou algo do tipo.
— Então, Pimenta, vou tentar ser breve...
Ele me interrompe.
— Primeiro vamos falar sobre a grana! — Ele sorri.
Me ajeito na cadeira, e o encaro.
— Claro! Me desculpe, estou tão ansioso para resolver essa
merda que esqueci de perguntar como você trabalha, enfim...
— Não me leve a mal, doutor, mas se você quiser tocar isso com
o delegado fique à vontade! O problema é que levará mais ou
menos seis meses, talvez até lá todo mundo esteja morto! — Ele
gargalha, e eu choro.
Cara esquisito esse tal Pimenta.
Tento sorrir para não ficar constrangedor.
— Sim, demorado demais. — Pigarreio para limpar minha
garganta. — Quanto você quer para fazer essa investigação para
mim discretamente, e de modo sigiloso?
— Para começar preciso de cinco mil! — ele diz na lata.
— Cinco mil... — Balanço minha cabeça. Não sei nada sobre o
preço de investigações, mas é uma bela grana, e pelo visto, só para
começar. — Ok, como você quer? Um cheque, transferência
bancária?
— Dinheiro! — Ele relaxa na cadeira e cruza seus braços, muitas
tatuagens, ele tem uma imagem bem estranha, mas acho melhor
não ficar muito preocupado com isso.
— Bom, como você deve imaginar, não tenho cinco mil reais aqui
em minha pasta! — Sorrio para descontrair, mas o cara não, ele
está bem sério.
— Ok, vamos ao banco. Eu te acompanho, é mais seguro! — Ele
levanta a camisa e mostra um "trabuco" em sua cintura.
Caralho, esse policial me causa arrepios. Será que o Fernando
me deu o telefone do cara certo? Será que ele entendeu que eu
procurava por um matador profissional? Não posso esquecer de
ligar para ele e perguntar sobre isso.
— Você acha mesmo necessário isso? — falo incomodado,
nunca vi esse cara na minha frente, ir com ele ao banco, com um
“trabuco” na cintura é bem perigoso. — Posso transferir agora
mesmo para você, é online! — Pego o celular.
— Não posso receber depósitos em minha conta, problemas
com minha ex-mulher! — Ele balança sua cabeça. — Acho que você
me entende, né, doutor? — De novo aquele sorriso esquisito.
— Acho que entendo... — Penso um pouco. — Mas, se formos
até o banco, perderemos muito tempo, Pimenta.
— Iremos conversando no caminho. Não há formalidades aqui,
não vou anotar nada, quero só ouvi-lo por enquanto.
Ok, foda-se! Qualquer coisa, depois esfolo o Fernando vivo.
— Ok, me deixe só enviar uma mensagem para minha esposa...
— Me levanto. — Ela está grávida, e está um porre, a cada passo
que dou preciso avisá-la. — Disfarço, entro no contato do Fernando,
e envio uma mensagem para ele: “Filho da puta, vou ter que ir até o
banco com esse tal Pimenta. Se eu aparecer morto em uma vala,
você terá mais um filho para criar.”
Aperto a tecla de enviar, olho para o maluco e sorrio.
— Pronto, agora ela ficará tranquila!
— Então, vamos! — Ele se levanta, passa por mim, e segue pelo
corredor. — Pode começar a falar sobre o seu problema, Rui.
Discorro rapidamente pelos últimos acontecimentos, sobre os
presentes de grego, o carro me seguindo, o mesmo carro
estacionado em frente ao escritório.
— Certo. Então você desconfia de sua ex-namorada? — ele diz
enquanto dirijo até a agência de meu banco.
— Sim. Acho que ela está por trás de tudo, ela é uma promotora,
parece uma garota centrada, mas na intimidade percebi que ela é
meio pirada.
Ele dá uma risada estrondosa.
— Entendi...
Finalmente chegamos ao banco, estaciono e olho para o
camarada.
— Então, como fazemos? — Olho para ele.
— Subirei com você, mas não entrarei na agência, é sempre um
inferno ter que explicar a arma, enfim...
— Ok. Vamos...
Seguimos pelo acesso à agência, ele fica plantado em frente à
entrada. Entro, passo pelas checagens de segurança, pego uma
pequena fila para os caixas, e então peço a retirada da grana.
Acho bem estranho entregar cinco mil reais para alguém sem
que ele tenha feito nada, me sinto extorquido. Mas, vou fazer o que?
É isso ou continuar sentindo que a qualquer momento algo de ruim
possa acontecer. Prefiro pagar essa merda logo.
Finalmente saio da agência, o maluco está parado com pose de
polícia, aquele estilo meio neurótico, olhando para todos os lados,
óculos escuros e braços estendidos na frente do corpo.
— A grana está aqui, Pimenta. Vamos para o carro que te
entrego! — Ele olha para os lados, e então me segue com aquele
jeitão desconfiado.
Entramos no carro, pego o envelope e entrego para ele.
— Pimenta, sou um cara bem sincero, me incomoda entregar
essa grana toda para você sem ao menos ter certeza que você fará
a investigação de fato.
Ele me olha, e estremeço, acho que ele não gostou do que eu
disse.
— Se você não confia, fique com seu dinheiro. — Ele me entrega
o pacote.
Respiro fundo, e o olho com firmeza.
— Eu preciso de sua ajuda, não estou preocupado comigo, estou
preocupado com minha esposa, e meu filho que ainda nem nasceu.
— Ele me olha com atenção. — Eu não o conheço, mas conheço o
Bezerra, e confio nele. Então, peço desculpas se mostrei alguma
desconfiança, mas se coloque em meu lugar, nunca te vi na frente, e
estou te entregando cinco mil, é dinheiro pra cacete.
— É pouco. Existem caras que pedem muito mais, e não são
honestos — ele diz seriamente. — Faço isso para conseguir pagar
minhas contas, a escola das crianças, essas coisas. — Ele inspira
com força. — Não sei se interessa saber, mas sou um policial
honesto, duro pra cacete, mas honesto.
Dou um sorriso de lado.
— Ok. Então, quais são os próximos passos? — pergunto
ansioso.
— Vamos voltar para a delegacia, quero dar uma olhada nessas
imagens, preciso anotar algumas coisas, endereços, telefones de
pessoas. Vamos ver se conseguimos fazer isso hoje mesmo, eu sei
que você está com pressa, e eu também não estou com muito
tempo.
— Certo! — Ligo o carro e saio rapidamente de onde estamos.
A distância entre a agência do banco e o prédio da polícia não é
muito longa, então logo estou estacionando.
Subimos em silêncio as escadas, o pacote de dinheiro ainda está
comigo, dentro de minha pasta, mais precisamente.
Voltamos para a sala onde estávamos, tiro o envelope e o
entrego para o Pimenta.
— Certo... — Ele pega o envelope, coloca em uma gaveta. —
Me deixe anotar o nome de sua ex-namorada, telefone e endereço
dela.
Falo rapidamente os mesmos.
— Mais algum nome que você queira que eu investigue? Às
vezes, achamos que é uma pessoa e no final é outra.
— Vou te dar o nome de algumas garotas, mas duvido que elas
fariam isso, foram relacionamentos muito rápidos, nada que
justificasse uma paranoia.
— Ok, pode me dizer...
Passo o nome da Helen, da Maria Helena, e da louca que me
mandava os nudes de seu corpo.
— Acho que é só, essas eram as mais instáveis! — Ele anota
rapidamente em um caderninho de bolso.
— Eu não tenho um computador aqui, então preciso ver se
arrumo um para vermos as imagens! — Ele se levanta, segue para
a porta e some.
Os minutos passam sem que ele retorne, me levanto, ando em
círculos na sala, e resolvo sair, antes que eu tenha um ataque
claustrofóbico.
Caminho pelo corredor, pego uma água em um filtro, e vejo um
policial vindo em minha direção.
— Você é o Rui?
Olho para ele confuso.
— Sim, sou eu mesmo.
— O Pimenta pediu para você aguardar um pouco. O delegado
chamou a todos para uma reunião, ele voltará assim que o delegado
liberar o pessoal.
Bufo cansado.
— Ok, obrigado por me avisar!
Pego o celular e digito uma mensagem para a Jack, apenas para
deixá-la avisada de meu atraso.
“Jack, a reunião aqui atrasou um pouco, devo me atrasar. Te
aviso assim que sair daqui, ok?”
Volto para a sala, deixo a porta aberta, e tento resolver por
celular alguns assuntos pendentes.
****
Finalmente terminamos de ver as imagens.
Estou muito atrasado, preocupado e cansado.
— Então, Pimenta, você consegue identificar o proprietário do
carro? — Ele digita algo em seu computador.
— Sim, mas é de uma locadora de carros, e eles não abrem
facilmente para quem foi locado o automóvel — ele diz distraído,
enquanto olha para seu computador, compenetrado e mal-
humorado.
Fico por alguns minutos em silêncio, mas estou ansioso, ele não
para de ver as imagens, e estou precisando ir embora.
— Pimenta, me desculpe, mas preciso ir embora.
Ele não presta atenção ao que digo.
— Você conhece essa mulher? — Ele vira a tela em minha
direção.
Uma mulher de cabelos ruivos curtos, anda pela rua e entra no
carro.
Ela é alta e magra.
— Não. Nunca sai com nenhuma mulher com essas
características.
Ele tenta dar um zoom para ver o rosto, mas a imagem está
muito distante, e então distorce ao aproximá-la.
— Eu a vi mais de uma vez nas imagens de suas câmeras. E
agora, vendo-a entrar nesse carro, não tenho dúvidas, ela está
vigiando você, seu escritório. — Ele me olha.
— Mas, essa não é a Priscila Albuquerque, ela é loira, tem
cabelos bem compridos. — Olho confuso para a imagem.
— Ela pode estar usando uma peruca! — Ele me olha com o
rosto de lado.
Olho com cuidado a imagem de corpo todo, sim ela tem o corpo
da Priscila, alta, magra, muito elegante.
— Sim, o corpo é parecido, não posso dizer com certeza, a
imagem engana um pouco, me sinto confuso em dizer com certeza
se é ela, precisaria ver o rosto, os olhos.
— Amanhã cedo irei até a locadora, pedirei ao Bezerra um
documento que force o pessoal a abrir o sigilo do locador desse
carro.
— Perfeito! — respondo animado, parece que as coisas
começam a clarear um pouco. — Pimenta, você tem como acessar
as câmeras das ruas?
— Dependendo da situação, peço uma autorização ao delegado
e a companhia de tráfego é obrigada a nos fornecer, mas também
posso entrar com um mandado, e conseguir as imagens nos prédios
vizinhos. O que você quer?
— Eu quase sofri um acidente recentemente, um carro veio a
toda velocidade em minha direção. Então apenas por desencargo
de consciência, gostaria de ter certeza que não é o mesmo carro
que vimos nas imagens.
— Ok. Me passe o dia, a hora, e o local, farei isso para deixá-lo
mais tranquilo!
Passo os dados que ele me pediu, despeço-me dele e sigo para
o estacionamento.
O som de chegada de mensagens me chama a atenção, tiro o
celular do bolso e checo a mensagem, é da Jack:
“Oi, amor! Está tudo bem? Você já sabe a que horas chegará?”
Pobrezinha da Jack, deve estar cansada de me esperar, ela não
está muito bem ultimamente, eu sinto isso!
“Jack, acabei de terminar essa porra! Estou indo pegar meu
carro, mas já te digo, está tudo parado por aqui. Espero chegar aí
em uma hora, mas não tenho certeza, estou do outro lado da
cidade.”
Envio a mensagem, estou incomodado, meio aflito, não deveria
tê-la deixado no escritório, deveria tê-la levado para casa...
Oh, como sou burro! — Esmurro o volante nervoso.
****
O trânsito em direção ao meu escritório está o que se pode
chamar de infernal.
— Cidade maldita! — esbravejo sozinho.
Coloco uma música para relaxar, mas é impossível relaxar
sabendo que a Jack está sozinha naquele escritório.
— Burro, burro e burro! — falo comigo mesmo.
Eu preciso falar com ela para me sentir mais tranquilo.
Ligo o bluetooth e disco o número de seu celular.
Um, dois, três, quatro toques, a ligação cai na caixa postal.
Enrugo minha testa.
Talvez ela esteja no banheiro.
Espero alguns minutos, e volto a ligar.
Um, dois, três... cai na caixa postal.
Fecho meus olhos com força.
— Merda Jack! Atende essa porra se não quiser que eu tenha
um ataque fulminante do coração — falo sozinho, apertando o
volante entre meus dedos.
Ligo de novo, e de novo, e de novo...
— Puta que pariu! — Meu coração dá saltos dentro do meu
peito.
Respiro fundo para controlar minha respiração. Não posso
perder a calma, ela deve ter deixado o celular em sua sala e descido
para comer alguma coisa.
É isso, daqui a pouco ela me liga.
Os minutos passam, olho a todo momento no celular, em
mensagens, e então o celular toca, eu quase estou enfartando,
porra!
Mas não é a Jack!
Esmurro o volante, e atendo, é a Carolina.
— Oi, Carolina! — falo sem muito saco, não estou com cabeça
para falar sobre nenhum caso agora.
— Rui, vou falar rapidamente... — Sua voz sai cansada. — A
Jack não passou bem no escritório, eu estava levando-a para o
hospital, e então um carro bateu em nós...
Não consigo mais prestar atenção no que ela diz.
— Onde ela está?! Está tudo bem com ela?! — pergunto
nervoso, mal prestando atenção ao que faço.
— Eu não sei, levaram ela para o centro cirúrgico... — Sua voz
sai embargada, ela está chorando, chorando muito.
Aquele arrepio que antecede maus acontecimentos passa pela
minha coluna, um aperto no peito, e meu coração bate tanto que
parece que vai me sufocar.
— Para onde você a levou? — falo no modo piloto automático, a
adrenalina correndo loucamente em minhas veias.
— O Hospital... Sua médica já estava aqui, a Jack a avisou... —
ela tenta falar, mas se atrapalha em meio ao choro.
— Estou indo para aí agora, Carolina! — Desligo.
Ligo o pisca alerta e saio dirigindo como se o diabo estivesse me
perseguindo. Passei em faróis vermelhos, ultrapassei pelo lado
direito, usei a pista de uso exclusivo dos ônibus, buzinei, xinguei, e
quase me enfio em uma ponte.
Mas, nada disso conseguiu me fazer chegar no tempo que eu
queria, demorei, demorei muito, e sinceramente, só não enfartei
porque realmente não tenho problemas cardíacos.
Demorei, demorei demais, eu não podia tê-la deixado sozinha.
— Merda, merda, merda... — E esmurro meu volante, o aperto
entre minhas mãos, e xingo, grito e me amaldiçoo por não estar com
a Jack quando ela precisava de mim.
Um medo, uma aflição, um mau pressentimento.
Eu não posso perder minha deusa, eu morro junto.
Ligo novamente para a Carolina, vou enlouquecer se não tiver
noticiais da Jack.
— Carolina, você tem notícias da Jack? — falo apressado,
respiração ofegante e coração na palma da minha mão, que está
tão pequeno quanto um grão de areia.
— Não. Rui, por favor, fique calmo... — ela diz pausadamente. —
Segundo a enfermeira que nos atendeu, ela estava entrando em
estado de pré-eclâmpsia, então o bebê iria ser tirado às pressas...
— Ela volta a chorar, e sem querer, e contra todos meus
princípios de macho controlado, choro junto.
— Ok. Estou chegando... — Desligo e choro, choro muito, de
nervoso, de preocupação, de medo de perdê-la.
Não sou um cara religioso, mas como todo ser humano em
desespero, rezo, rezo muito e peço pelo amor de Deus, para que ele
não a tire de mim.
Eu sei que podemos perder o bebê, mas ela poderá ter outros.
Eu não quero perdê-la, não posso perdê-la.
Limpo meus olhos, meu rosto, entro no estacionamento do
hospital feito um louco, quase atropelando os manobristas.
Finalmente estou dentro do hospital, pego um crachá de
autorização e sigo para a área de obstetrícia.
Ligo novamente para a Carolina, me certifico onde ela está e
sigo correndo, sim, correndo, literalmente correndo pelos
corredores.
Eu sei que não sou o médico, e nada poderei fazer a respeito
disso, mas preciso saber dela, do bebê.
Chego a uma sala de espera, olho ao redor meio desnorteado e
então vejo a Carolina com as mãos sobre o rosto.
— Carol! — chamo apressado, andando a passos largos em sua
direção.
Ela levanta seu rosto e me olha num misto de surpresa e susto.
Continuo seguindo em sua direção, ela se levanta, seu rosto está
vermelho de choro, e os olhos inchados.
— Você teve notícias dela?— pergunto aflito.
— Não. O centro cirúrgico é logo ali, já perguntei uma dezena de
vezes, mas eles pedem para aguardar. — O choro volta aos seus
olhos. — Desculpe, Rui, eu não sei se tive culpa, estava tudo bem,
estávamos conversando, de repente um carro bateu contra o meu
carro, eu não estava atenta, perdi a direção, giramos, batemos em
outros carros. — A abraço contra meu peito.
— Você não teve culpa de nada, Carol. — Acaricio seus cabelos,
puxo o ar, mas não consigo deixar de chorar com ela.
Estou uma pilha de nervos, preciso chorar para aliviar meu
coração.
Finalmente ela se acalma, olha para mim constrangida.
— Vou tentar pegar alguma informação. — A deixo no assento
para visitantes, e sigo para um guichê com várias enfermeiras. —
Eu sou o companheiro de Jackeline Bartolli, preciso saber como ela
está, ela e o bebê. — Minha voz sai controlada, mas por dentro,
parece que está acontecendo um terremoto dentro de mim.
Sinto minhas mãos tremendo, e um mal-estar no peito, parece
que vou morrer.
— Ela entrou no centro cirúrgico com diagnóstico de pré-
eclâmpsia. O bebê já está fora de perigo, e foi levado para a UTI
Neonatal, está recebendo os primeiros atendimentos, não corre
risco de vida, mas precisará ficar em observação, ela estava de 37
semanas, então, por precaução o bebê ficará alguns dias sob
cuidados. — Ela sorri levemente.
— E a mãe? A Jackeline? — Meus punhos fecham, tento
controlar as emoções que fluem descontroladas dentro do meu
peito.
— Ela ainda está no centro cirúrgico. Houve um início de
hemorragia, complicações, estão tentando controlar a pressão
arterial dela, enfim, é preciso aguardar os médicos passarem um
novo boletim sobre o estado de saúde da paciente.
— Ela corre risco de vida? — pergunto angustiado, não
querendo de fato ouvir mais nada. Eu sei que toda cirurgia é um
risco, mas normalmente os partos são momentos felizes da vida de
uma mulher, não há medo, é um momento de alegria.
Planejávamos que eu a acompanharia no parto do Luigi,
tínhamos planos para este dia, ela queria filmar tudo, tirar fotos, não
era para ser assim.
— Sim, há o risco! — ela diz com pesar, saio angustiado pelo
andar, andando e não sabendo ao certo o que fazer, quero ficar
sozinho.
Não acredito que tudo isso esteja acontecendo, estava tudo
bem, sua gestação foi maravilhosa, somente nas últimas semanas
que ela tem se sentido um pouco mal, mas estava sob controle.
Sento-me em um lugar afastado, coloco minhas mãos sobre meu
rosto e me permito chorar.
****
Sinto alguém se sentando ao meu lado, olho e vejo a Carol.
— Rui, a cirurgia acabou! — ela diz sem alegria.
— E como ela está? — falo com o coração aos saltos. —
Podemos vê-la?
— Não. Ela está na UTI, parece que está estável, mas seu
estado de saúde é preocupante. — Lágrimas escorrem pelo seu
rosto. — Temos que esperar.
A olho com tristeza, um cansaço enorme se abateu sobre mim,
eu só queria vê-la.
— Vou conversar com a enfermeira! — Me levanto e sigo para o
guichê de enfermagem.
— Olá! Preciso saber sobre a Jackeline, Jackeline Bartolli. —
Repito sem energia, meio destruído, com medo, e angustiado.
— Sim, ela checa um prontuário. — Ela me olha. — A cirurgia
terminou, a médica dela sairá daqui a pouco do centro cirúrgico, o
senhor poderá conversar com ela pessoalmente.
— Certo! — Monto plantão em frente a porta do centro cirúrgico.
Minutos intermináveis, e então a mulher aparece, seu rosto está
cansado, não há alegria, e tento não pensar o pior.
— Doutora... — a chamo ansioso.
Ela me olha, e vem em minha direção.
— Por favor, me dê notícias da Jackeline! — imploro, não
aguento mais essa agonia.
— Acredito que o pior passou! Sua pressão subiu muito, houve
uma hemorragia, complicações, mas Deus estava do nosso lado, e
conseguimos contornar a situação. Ela ficará na UTI, seu estado
ainda é muito preocupante, sua pressão está sendo controlada
através de medicamentos injetáveis...
— Tudo bem. Mas ela ainda tem risco de vida? — Não consigo
controlar o nervoso que estou sentindo. — Posso vê-la?
— Ainda não, Rui. — Ela respira cansada. — Ela está em
observação numa área exclusiva para médicos, porque pode haver
novas hemorragias causadas pela pré-eclâmpsia, ela está sendo
monitorada de perto. Quanto a risco de vida, não gosto de pensar
assim, ela conseguirá, tenho certeza disso! — Ela tenta passar
calma e tranquilidade. — Seu bebê é muito lindo, nasceu grande e
sadio! Elas chegaram a tempo de tirarmos ele antes que houvesse
consequências mais sérias para o bebê.
— Que bom! — falo sem muita empolgação, não consigo sentir
alegria sabendo que ela não está bem, que ainda está em risco.
— Vamos vê-lo, Rui! Ele está na UTI Neonatal, eu o levo até lá,
quero dar uma olhada no Luigi! — Ela sorri para mim.
— Eu também quero vê-lo, mas não gostaria de sair daqui agora.
E se tiverem notícias dela? — pergunto aflito, com medo.
— Se alguma coisa mudar em seu quadro de saúde, serei
avisada imediatamente. — Ela me mostra um aparelhinho em sua
cintura. — Vamos lá, vamos ver seu bebê!
— Tudo bem. Vou chamar a amiga da Jack!
A Carol me vê e logo vem ao meu encontro.
— Carol, a doutora nos levará para ver o bebê!
— Ele está bem? — a Carol diz emocionada.
— Sim, ele está muito bem! O médico neonatal me passou sua
avaliação sobre o Luigi, ele precisará ficar alguns dias no hospital,
ele nasceu antes da hora, então precisará de alguns cuidados
especiais. — Ela nos olha com carinho. — Podemos ir?
— Sim... — respondo desnorteado.
Seguimos pelos corredores, subimos alguns andares, e
finalmente chegamos a uma ala cheia de incubadoras. Vestimos
roupas especiais, seguimos a médica, e finalmente chegamos a
uma espécie de berço, muitos aparelhos, monitores, e um bebê
pequeno e frágil deitado apenas de fraldas.
— Aqui está o Luigi! — Ela me olha ternamente.
O olho demoradamente, e é estranho, mesmo sem nunca tê-lo
visto, sinto aquela conexão de amor e proteção. Pego em sua
mãozinha, ele a aperta entre seus dedos.
Eu nunca me imaginei pai, nunca fiz planos, nunca o quis, mas
aqui está o ser que a Jack tanto queria.
Isso me emociona muito, porque ela queria demais tê-lo, e ela
ainda nem o viu.
— Posso pegá-lo? — pergunto para a enfermeira ao meu lado
que fala sem parar sobre ele, mas eu mal sei o que ela disse, estou
em estado de torpor.
— Sim, deixe-me ajudá-lo! — Ela o embrulha em um lençol,
pede para eu me sentar em uma poltrona ao lado do pequeno berço
e o coloca em meus braços.
O olho demoradamente, seus olhinhos estão levemente abertos,
ele está quieto, parece tranquilo.
— Oi, Luigi! Aqui é o papai! — sussurro para ele, acaricio sua
cabecinha carequinha, apenas poucos cabelos, e clarinhos. —
Daqui a pouco a mamãe está aqui com você! — falo emocionado,
tentando controlar as lágrimas que querem descer a todo o
momento.
O trago para junto do meu peito, fecho meus olhos e beijo
demoradamente sua cabecinha.
Era esse o cheirinho que a Jack tanto dizia, cheiro de bebê, e de
pensar que eu sempre falei tão mal do cheiro dos bebês!
— Vai ficar tudo bem, Luigi! — sussurro em seu ouvido, o beijo e
cheiro o tempo todo, é isso que a Jack gostaria de estar fazendo
agora. — A mamãe vai ficar bem, Luigi! — cochicho para ele.
Não percebi quando a doutora foi embora, só me dei conta do
mundo a minha volta quando vi a Carol agachada a minha frente,
acariciando as costinhas do bebê.
— Ele é lindo! Eu ficava imaginando como ele seria, se pareceria
com a Jack, ou com você!
Olho para a Carol e a vejo tão emocionada quanto eu.
— Acho que ele parecerá com você, seus cabelinhos são
loirinhos, provavelmente você era loiro quando criança.
Penso um pouco, olho para ele e percebo que está de olhos
fechados, parece dormir.
— Sim, em minhas fotos eu tinha cabelos claros, depois foram
escurecendo e ficaram dessa cor — falo distraído. — Você quer
segurá-lo, Carol? Eu não me importo.
— Depois. O deixe agora no colinho do papai, ele parece tão
tranquilo aí! — ela diz com um olhar carinhoso. — Ela vai ficar bem,
Rui! Ela quer muito esse bebê, não abrirá mão dele nem para Deus,
e nem para o diabo. — Ela ensaia um sorriso.
Engulo o choro.
— Sim, também acho!
Capítulo 21
RUI FIGUEIREDO
Já era tarde quando eu e a Carol saímos da UTI Neonatal.
Ficamos em um silêncio de quem está tentando controlar as
emoções.
Depois de passar muito tempo com o Luigi em meu colo, permiti
que ela o segurasse, e foi emocionante, ela chorou muito.
Seguimos pelo corredor, chegamos aos elevadores, e então
resolvemos nos falar, estamos há minutos mudos, cada um perdido
em seus pensamentos e angústias.
— Carol, ficarei por aqui! — digo cansado.
— Certo! — Ela concorda com a cabeça. — Estou com a bolsa
da Jack, você quer que a deixe com você?
— Sim, acho melhor! — respondo apático. — Preciso te pedir um
favor. — Ela me olha com atenção. — Não terei condições de ir
amanhã para o escritório, preciso que você, juntamente com o
Felipe e o Gustavo, toquem os processos que estão comigo, vocês
sabem quais são!
Ela gesticula positivamente.
— Cuide de tudo para mim, Carol. Veja se o Alexandre precisa
de ajuda, enfim, estarei aqui amanhã, na verdade, até que a Jack
melhore, e volte para casa!
Ela sorri fraco.
— Ela se recuperará em breve, e voltará para casa, para cuidar
de seu bebê.
Ela me abraça longamente.
— Fique bem, Rui, e se precisar de mim, me ligue. Qualquer
novidade, por favor, me avise. Voltarei amanhã.
Ela começa a caminhar, mas a interrompo.
— Carol... Precisamos avisar a mãe da Jack. Por favor, me ajude
com isso. Não estou em condições de falar com ninguém.
— Claro...— Ela inspira pesadamente. — Irei até lá amanhã, e a
trarei aqui, fique tranquilo.
— Obrigado, Carol! Por tudo!
Ela sorri e volta a caminhar para a saída.
****
A sala de espera da UTI está vazia, o único barulho vem do
posto de enfermagem.
Sigo até lá, e tento obter alguma notícia da Jack.
— Olá, boa noite! — falo cansado. — Gostaria de saber se existe
alguma atualização a respeito do estado de saúde da paciente
Jackeline Bartolli?
— Me deixe ver quando foi a última vez que atualizaram. — Ela
olha para um prontuário. — O médico da noite saiu há pouco, mas
não há nenhuma mudança em seu quadro, ela continua como
grave, mas está estável.
Bufo desanimado, e sigo para um sofá, me sento, descanso
minha cabeça no assento e me permito cochilar um pouco.
Ainda era muito cedo quando despertei assustado. Olho ao
redor, estou na sala de espera. Passei minha noite em um sofá,
sinto dores pelo corpo todo, pescoço e costas.
Me espreguiço para ajeitar minhas costas, me levanto e sigo
apressado até o posto de enfermagem.
É tudo uma retórica, ela está estável.
— Sua médica chegará às 7h, o senhor poderá conversar melhor
com ela.
— Ok! — Esfrego meu rosto. — Preciso de um banho, mas
primeiramente falarei com a médica da Jack.
Volto a fazer o plantão em frente à UTI.
Minutos de agonia e então a vejo chegando, apressada e
distraída.
— Doutora...
Ela me vê, ensaia um sorriso.
— Bom dia! — falo ansioso. — Alguma notícia da Jackeline?
— Estou chegando agora, Rui. Vou checar como ela está e na
saída te chamo para conversarmos. — Ela apenas move seus
lábios.
— Tudo bem, estou por aqui. Por favor, não esqueça de mim.
— Como poderei esquecer?— Ela acaricia meu braço. — Logo
estarei de volta.
Volto a me sentar nos assentos, estou um prego de cansado,
então não percebi quando cochilei novamente sentado, e fui
acordado pela médica.
Me levanto de sobressalto, passo minhas mãos pelo rosto.
— Então, como ela está? — Atropelo as palavras, não estou
aguentando de ansiedade, medo e preocupação, me sinto
esgotado.
— A pressão está sob controle, e isso é muito importante, e
como consequência disso, não tivemos mais nenhum episódio de
hemorragia. Seu quadro é estável, Rui, a induzimos ao coma
propositalmente, para poupá-la.
— Mas, agora que ela já teve o bebê, a pré-eclâmpsia já não
existe mais, não é mesmo? — pergunto confuso.
— Infelizmente, ainda temos riscos associados aos hormônios
da maternidade, então ainda existe o risco da pressão voltar a subir,
e isso é muito perigoso. Quando a Jackeline chegou aqui, ela estava
com a pressão muito alta, conseguimos controlá-la antes que
compromete seus órgãos, em casos mais graves, há a falência dos
rins, problemas cardíacos, derrames cerebrais, e até o óbito da
paciente.
Se a médica pensa que está me deixando mais tranquilo com
toda essa explicação, ela está enganada, estou cada vez mais em
pânico.
— Doutora, sou leigo em tudo isso. A única coisa que me
importa é como a Jackeline está, quais os riscos que ela corre, e o
que posso fazer por ela. Se for preciso levá-la para a China, eu a
levarei!
— Ok, talvez eu não esteja sendo muito direta. Então, entenda,
Rui, ela ainda corre risco, não posso tirá-la da UTI, precisamos
monitorar sua pressão, e a má notícia é que, por enquanto, não
posso deixá-lo vê-la. Ela está na área mais restrita. Você me
entende?
Balanço minha cabeça indignado.
— Desculpe, mas não entendo. Que mal eu faria a ela se a
visse? — falo entristecido.
— O ambiente onde ela está é restrito, existem outras pacientes
lá, de alguma forma podemos transmitir doenças, senão para ela,
para as outras pacientes. — Ela respira fundo. — Tenha calma,
ainda é muito cedo, tudo ocorreu há algumas horas. Vamos esperar
para ver como ela ficará nas próximas 48 horas, esse é o tempo que
precisamos para saber se ela poderá passar para a UTI Semi-
intensiva.
— Ok! — respondo derrotado.
— Estarei aqui o dia todo hoje, qualquer dúvida, ligue em meu
celular. Passarei o dia todo com ela... e se for religioso e acreditar
que existe algo poderoso que nos rege e protege, vá a capela do
hospital, é um lugar muito especial, costumo ir até lá quando estou
angustiada, quando preciso conversar com Deus e pedir sua
orientação. Se não fizer bem, mal não fará.
Então ela me abraça.
— Obrigada, doutora.
Ela se afasta, e tenho que concordar, os médicos têm algo de
divino neles. Talvez não todos, mas com certeza a médica da Jack
tem, ela é tão serena, tranquila, e passa uma paz...
Seguirei o conselho dela, mas primeiramente, quero ver meu
filho, o banho ficará para outra hora.
Foda-se que estou fedendo.
****
Sigo em direção à UTI dos bebês, me identifico, pego as roupas
especiais, me troco e sigo para o interior do ambiente.
Hoje, diferente de ontem, existem muitas mães amamentando
seus bebês. Sinto uma tristeza, uma angustia, a Jack está longe de
poder ver nosso filho, não sei quando isso acontecerá, mas neste
momento só quero que ela fique bem e saia da UTI. Ela terá o resto
da vida dela para cuidar do nosso Luigi, e se ela desejar, poderemos
tentar novamente, quem sabe ter outro filho.
Sim, todos aqueles acontecimentos podem ter ocasionado a
tensão e por consequência a pressão alta.
Esse acidente não poderia ter acontecido, provavelmente o
susto, o estresse colaborou para a piora do seu quadro de saúde.
Penso novamente na Priscila. Se ela estiver metida em tudo
isso, não sei o que sou capaz de fazer. Sério, estou num estado de
nervos que mataria um, ou uma.
Preciso conversar com o Pimenta, saber se ele conseguiu
descobrir algo, agora eu quero essa história esclarecida, mais do
que nunca.
Mas, por hora, esquecerei de tudo, e farei o papel da Jack, não
quero que nosso filho fique abandonado em uma UTI.
Caminho entre as fileiras de incubadoras, é um ambiente triste,
porque muitos bebês estão entubados, cheios de fios, enfim,
parecem sofrer.
O nosso Luigi está num lugar que é chamado de Semi-Intensiva,
onde ficam os bebês que estão melhores.
Sigo vagarosamente, e logo vejo uma enfermeira trocando o
bebê.
Me aproximo.
— Bom dia!
— Olá! Bom dia, papai! — ela diz simpática. — Como está a sua
esposa?
— Não houve melhoras ainda — respondo apático.
Ela sorri sem jeito.
— Certo! — Ela parece sem graça com a situação. — Quer
aproveitar e aprender a trocar seu filho? — ela diz animada.
— Vou ver hoje, talvez eu tente outro dia — falo receoso.
— Ok, vou trocar a fralda, e depois ele irá mamar. Se você
quiser, poderá fazer isso.
— Sim, eu quero!
Ela começa a manipular o bebê, e ele começa a ficar nervoso, as
primeiras caretas e então o berreiro, aquele que eu sempre disse
não suportar. Mas, é estranho, vindo dele, tudo parece mais suave,
mais fácil de aceitar.
Quero dizer, a caca em sua fralda não é fácil de aceitar, precisei
me afastar, pois, Jesus, não tenho estômago para isso.
— Ok, papai! Agora ele está limpinho! — Ela o enrola no lençol,
mas o choro não para. — Ele está com fome, é bem comilão — ela
diz o pegando no colo. — Somente para sua informação, estamos
usando leite materno do banco de leite das mamães.
Ela me entrega uma mamadeira bem pequena.
— Sente-se. Vou ajeitá-lo em seu colo.
Sigo para a poltrona, ela o coloca em meu colo, seus gritos são
bem fortes, e doem no ouvido.
— Garotão, o papai já vai alimentar você! — ela diz
pacientemente, ajeitando o bebê. — Pronto, papai, é só colocar na
boquinha dele.
Faço o que ela diz, o bichinho parece que não come há três
meses, suga desesperado e se engasga, me desespero.
— Calma, calma... — Ela o levanta um pouco. — É só tirar a
mamadeira dele, e controlar o fluxo do leite, ele é meio
desesperado! — Ela sorri.
Estou tenso pra cacete! Para quem não queria ver um bebê na
frente, estou indo muito rápido. Mas, não tenho muitas opções, sem
a Jack aqui, ele só tem a mim.
— Isso, papai! Você está ótimo. — Ela se afasta. — Vou checar
o outro bebê, estou aqui ao seu lado, qualquer coisa me chame.
Eu queria dizer para ela não sair do meu lado, mas me senti um
pouco constrangido. Então, encarei o desafio, e foi bom.
Aos poucos peguei o jeito, quando ele se empolgava, eu
segurava a mamadeira inclinada, assim ele não se sufocava com o
leite. No final das contas, acho que até levo jeito para a coisa.
Sim, eu queria que a Jack visse isso.
Me lembro que estou com meu celular, quero registrar esse
momento, quero que ela veja a primeira mamada do Luigi com seu
pai atrapalhado.
— Enfermeira! — A chamo um pouco mais alto, sem gritar,
afinal, estou rodeado de bebês e mamães muito tensas.
Ela caminha até mim sorrindo, é uma mocinha delicada e
prestativa, parece que todos no hospital têm essa áurea de anjo.
— Pois não? Está tudo bem por aqui? — ela diz solícita.
— Gostaria que você registrasse para mim esse momento.
Quero mostrar para a mãe dele quando ela voltar. — Interrompo a
frase, é tão triste dizer que a Jack está em coma.
Sim, meus olhos ardem, tenho vontade de chorar.
Nunca me senti tão fragilizado em toda a minha vida, estou
péssimo.
— Claro! Aquele é o seu celular? — ela diz olhando na direção
em que deixei minhas coisas.
— Sim. — Volto a olhar para o Luigi, que está ficando inquieto
com a falta do leite.
— Ok, papai, pode voltar a amamentá-lo. Vou tirar fotos bem
naturais de vocês dois.
E assim, relaxo um pouco, e deixo a enfermeira registrar esse
momento que ficará em minha memória, e na memória do celular.
— Pronto. — Ela volta o celular para o lugar que o deixei. —
Ficaram lindas! Quando precisar me fale, tirarei mais, quem sabe na
hora do banho. O que você acha de me ajudar a banhá-lo hoje?
Dou risada, sim, a primeira de horas.
— Não me vejo dando banho em uma criança — respondo com
sinceridade.
— Vamos fazer assim: você me acompanha e vê como é, se
quiser tentar...
Sorrio para ela.
— Tudo bem!
Volto minha atenção ao meu filho, e penso no meu pai, eu não o
avisei de nada, estava tão transtornado ontem que não consegui
avisar ninguém.
Sim, preciso avisá-lo, mandarei minha foto com seu neto, ele
ficará muito feliz.
Finalmente a mamada termina, não sobrou um leite sequer para
contar história.
— Ei, acho que você parece com alguém que conheço! — falo
com ele, pensando em minha fome de leão. Aliás, estou desde a
hora do almoço de ontem sem comer nada, talvez por isso estou me
sentindo fraco e desanimado.
A enfermeira se aproxima.
— Nossa, esse menino é muito guloso! Tomou tudo! — ela diz
simpática, pegando a mamadeira vazia.
— É tão pouco leite! Não seria melhor dar mais um pouco para
ele? Parece que ele ainda está com fome... — falo distraído, vendo
seus olhos vivos me olhando, prestando atenção enquanto falo.
— Não, ele vomitaria. Vamos com calma, as mamadas são a
cada três ou quatro horas, é o suficiente, papai.
— Ok, voltarei depois! Gostei de dar a mamadeira para ele! —
Brinco com suas mãozinhas pequenas e frágeis.
— Vamos colocá-lo na posição para que ele arrote? — Olho para
ela meio apavorado, será que ele irá golfar em mim? Sempre tive
tanto nojo daquele cheiro de azedo dos bebês.
Mas, fiquei quieto, não estou em situação de reclamar de nada.
Ela o coloca contra o meu peito, passo minhas mãos pelas suas
costinhas, bato de leve, ele abre um bocão enorme, e sorrio com a
cena.
Ele é tão bonitinho, tão pequeno, tão indefeso, e precisava tanto
de sua mãe.
Fecho meus olhos e penso nela, e uma saudade enorme toma
conta do meu coração, as lágrimas vem aos meus olhos, não
consigo segurá-las.
Respiro fundo, as limpo rapidamente, e tento me controlar.
Ela ficará bem, nossa história não acabará aqui, não é possível
que demorei tanto tempo para encontrar a mulher dos meus sonhos,
para ela me deixar com um filho para criar.
Não, não seria justo!
Beijo a cabecinha do Luigi, e falo comigo mesmo:
— Vai dar tudo certo!
****
Coloco o Luigi em seu berço, o olho dormindo por alguns
segundos, e resolvo deixar ele e resolver alguns problemas.
Me troco e sigo pelos corredores do hospital, estou me sentindo
meio perdido, então volto para a UTI, preciso saber como ela está.
Como imaginei, as respostas da enfermeira são sempre as
mesmas: “estável”. Nunca odiei tanto essa palavra.
Me sento na poltrona da sala de espera e ligo para o meu pai.
— Rui! Como você está, filho? — ele diz alegre.
— Bem, pai... Bom, não tão bem como eu gostaria, aconteceram
algumas coisas...
Paro de falar para controlar a avalanche de emoções que
afloram, falar com meu pai me deixou emotivo novamente.
— O que foi filho? O que aconteceu?
— Pai, as coisas fugiram do controle. A Jack teve o bebê antes
da hora, ele está bem, mas ela não, ela está na UTI.
Um silêncio na linha, respiro fundo.
— Estou indo para aí, Rui, vou pegar o primeiro voo! Não se
preocupe, filho, estarei ao seu lado.
— Sim, pai. Vou enviar uma foto dele para o senhor e para a
mamãe, por incrível que pareça, hoje eu amamentei ele com a
mamadeira. — Sorrio ao pensar na cena. — Foi muito legal!
— Me envie agora, quero ver isso! — Ele tentar mostrar
animação.
— Ok pai. Vou enviar o endereço do hospital que estamos...
— Me aguarde, filho. Estou a caminho.
Encerramos a ligação.
Vou até o aplicativo de mensagens, escolho a melhor foto que a
enfermeira tirou, e envio para meu pai, juntamente com o endereço
do hospital.
Aproveito e envio uma mensagem para o Carlão, ele é o meu
amigo mais próximo, então quero dividir com ele esse momento.
“Carlão, nosso filho nasceu, mas infelizmente houve algumas
complicações. A Jack está hospitalizada, mas o bebê está bem,
segue minha foto amamentando ele. Irmão, parece tudo um sonho.”
De repente, um vazio enorme me abate, uma tristeza, acho que
preciso ir naquela capela, rezar um pouco, estou precisando disso.
Me levanto e sigo pelos corredores, sigo as sinalizações, e então
chego ao local.
É uma capela pequena, algumas pessoas oram fervorosas.
Me sento no fundo da capela, olhos fechados, penso nela, no
quanto a amo, no quanto quero que ela se recupere, e sinto as
lágrimas banharem meu rosto, mas não ligo. Quem falou que não
posso chorar?
Me ajoelho na madeira a minha frente, e rezo, peço, prometo e
faço juramentos.
Faço qualquer coisa para tê-la de volta, inclusive oficializar
nossa união, me casar de fato.
Sim, essa é a minha promessa: a gente se casará na igreja,
assinará a porra do contrato que tanto odeio.
— Essa é minha promessa, e juro que a pagarei, Senhor! —
Termino minha oração.
Sinto alguém se sentar ao meu lado, viro meu rosto de lado, e
então vejo a mãe da Jack, e sinto uma emoção tão grande.
Ela segura os lábios, eles tremem, as lágrimas inundam seu
rosto.
— Desculpe, Dona Amélia! Acho que não cuidei direito da sua
filha. — Ela me puxa para seus braços e me abraça forte.
— É Deus quem manda em nossa vida, Rui! Eu não escolheria
ninguém melhor para a minha Jack, você é tudo que sempre quis
para ela! — ela cochicha em meu ouvido.
Ficamos em silêncio, tento me controlar, puxo forças de dentro
de mim, preciso ser forte.
Ela limpa meu rosto, e me olha com carinho.
Sim, a mãe da Jack é uma mulher muito forte, outra mãe estaria
fora de controle nesse momento.
— Quero muito ver o meu neto! A Carolina queria me levar até
lá, mas eu disse que preferia que você me levasse!
— Eu estava lá há pouco. — Tiro o celular do bolso, e mostro
para ela a foto. — Podemos voltar lá agora, eu o deixei dormindo.
— Sim, vamos! Quero muito vê-lo! — Ela se levanta.
— Como a senhora sabia que eu estaria aqui? — pergunto
curioso.
— Não sei, deixei meu coração me guiar, e algo me dizia para vir
à capela. — Ela sorri tristemente. — Como ela está?
— Estável, em uma área restrita. Ninguém pode entrar para vê-
la.
Ela abaixa seus olhos, respira fundo e volta a me olhar.
— Vamos! Depois voltarei aqui, preciso orar um pouco, sempre
fui muito fervorosa, é de lá que tiro minhas forças. — Ela olha para o
altar, uma imagem de Jesus Cristo crucificado.
— Tudo bem, vamos.
****
Fazemos os procedimentos, vestimos os aventais, e então
entramos novamente na UTI.
Aos poucos estou ficando conhecido, as enfermeiras me olham,
sorriem.
— Ele está bem, Rui?
Olho para a dona Amélia, a sinto nervosa, talvez angustiada.
— Sim! Ele está bem, saudável, mas precisa passar alguns dias
em observação aqui na UTI.
Aproximamo-nos do local, ele continua dormindo, agora o
deixaram de bruços, seu rostinho está de lado, e os bracinhos
relaxados acima de sua cabeça.
— Este é o Luigi, Dona Amélia!
Ela coloca suas mãos sobre a boca, um soluço de choro escapa
de seus lábios.
— Como ele é lindo! — ela diz emocionada.
Suas mãos repousam sobre as costinhas do bebê, ela o
acaricia.
— Que Deus o abençoe, meu neto! — ela diz num sussurro.
— Eu preciso fazer uma ou duas ligações. Sente-se aqui nesta
poltrona, avisarei a enfermeira que a senhora está aqui!
Ela concorda com a cabeça e limpa suas lágrimas.
— Eu não demorarei. — Me despeço dela, e sigo novamente
pelos corredores, sento em um local e ligo para o Pimenta.
Ele atende.
— Pimenta, é o Rui! — digo rapidamente.
— Olá, Rui! Eu iria te ligar, estava terminando de enviar um
material sobre uma investigação.
— Então, você tem novidades?
— Sim, mas não são muito animadoras. O carro foi alugado com
um documento falso, foi pago em dinheiro, mas a boa notícia é que
agora eu tenho uma foto da ruiva, vou te enviar por WhatsApp.
— A notícia não é das melhores, mas...
Ele me interrompe.
— Sim, mas tem mais: ela trocou o carro alugado. Aquele que
vimos nas imagens foi devolvido, ela trocou por outro. — Ele respira
fundo. — Ontem ela devolveu o segundo carro, parece que se
envolveu em um acidente, mas como tudo é coberto pelo seguro,
não houve maiores complicações para ela.
— Acidente? — Me levanto de sobressalto.
— Sim, obriguei o atendente a me fornecer os passos dessa
pessoa, e hoje pela manhã ele me ligou avisando que ela devolveu
o carro batido.
Um sinal de alerta bate enlouquecido em minha mente.
— Pimenta, minha esposa está na UTI. Ontem, quando sua
amiga a trazia para o hospital, um carro bateu nelas... — Meu
coração bate desenfreado. — Foi ela, tenho certeza disso! Preciso
pegar essa desgraçada... — Um ódio louco se apodera de mim. —
Me ajude, Pimenta! Essa mulher é louca, ela tentou matar a minha
mulher e meu filho...
— Tudo bem! Onde foi esse acidente? Preciso do endereço para
ver as imagens do local...
— Preciso ligar para sua amiga, eu não sei onde foi! — falo
nervoso. — Estou ligando para ela agora, te envio o endereço e
horário aproximado por mensagem. Por favor, eu dobro aquele
valor, me ajude a pegar essa mulher maldita!
— Ok, Rui... Estou aguardando sua mensagem.
Desligo sua ligação e ligo imediatamente para a Carolina.
— Carol, é o Rui...
— Oi, Rui! Eu estou aqui no hospital, vim saber notícias da Jack,
mas não te achei.
— Estou aqui próximo ao berçário, deixei a mãe da Jack com o
Luigi — falo nervoso. — Carol, em qual rua você sofreu o acidente
com a Jack?
— Oh, naquela avenida...
— Qual a altura da avenida e o horário aproximado? Contratei
um investigador, tenho desconfianças, preciso saber se o carro que
bateu em vocês é o que estamos investigando.
— Nossa, estou assustada com tudo isso! Você desconfia de
quem?
— Da Priscila! Depois te explico. Agora, por favor, me passe a
altura da avenida e o horário.
Ela diz rapidamente.
— Ok! Nos falamos depois!
Abro o aplicativo de mensagens, sigo até o contato do
investigador, abro sua mensagem, espero o download da imagem, e
então a vejo...
É ela, é a maldita Priscila Albuquerque.
Escrevo rapidamente uma mensagem para o Pimenta:
“Sim, Pimenta, é a Priscila Albuquerque. Segue o endereço do
acidente... Eu quero essa louca presa, Pimenta! Me ajude com isso.”
Eu sei que não será tão simples assim prendê-la, ela é uma
promotora. Mas nem que eu tenha que falar com o papa, eu vou
foder com a vida dessa mulher.
Ela nunca mais esquecerá de mim.
Volto rapidamente para a UTI neonatal, estou agitado, nervoso.
Essa história da Priscila precisa terminar, nem que eu tenha que
quebrar suas duas pernas, e seus dois braços. Se me encher o
saco, quebro sua cabeça, e assim nunca mais vou ouvir falar dela.
Deve ser assim que pessoas normais cometem atos de loucura.
Não dá para ser paciente e equilibrado, com uma psicopata a solta.
Vejo dona Amélia com o neto no colo, ela conversa com ele,
parece cantar.
Paro há alguns metros e a observo, os olhinhos do bebê estão
fascinados observando a vovó. A cena é linda! Pego meu celular,
aproximo a imagem e click.
Está registrado mais um momento da história do Luigi.
Guardo o celular e me aproximo.
— Olá, Dona Amélia!
Ela me olha e sorri.
— Não resisti, Rui! Eu precisava senti-lo em meus braços.
Sorrio e me agacho ao seu lado, e acaricio os cabelinhos do
Luigi.
— Ele é sedutor, ninguém resiste a essa carinha redondinha!
Ele para seus olhos em mim, parece diferenciar as vozes.
Pego em sua mãozinha, e a acaricio.
A enfermeira se aproxima.
— Papai, chegou a hora do banho. Vamos lá?
— Oh, enfermeira, não levo jeito para isso— falo desanimado.
— A Jack ficará muito orgulhosa de saber que você deu banho
em seu bebê — Dona Amélia diz.
Respiro fundo.
— Ok! Vamos lá!
****
A enfermeira me passa rapidamente os princípios básicos do
banho de um recém-nascido.
Dona Amélia registra tudo em meu celular.
— Posso apertar o botãozinho vermelho, Rui?
— Pode, Dona Amélia! — respondo inquieto.
Seguro o bebê na posição recomendada pela enfermeira,
começo a jogar a água em seu corpo, e começa o berreiro, mas
logo ele se acalma.
Estou tenso e duro, e rezando para terminar essa porra.
Caralho, como é difícil dar banho em um bebê!
— O sabonete, papai... — Passo o sabonete líquido. — Agora
nos cabelinhos... — ela diz paciente.
Estou suando em bicas.
— Pronto! — A enfermeira sorri, e sinto um torcicolo em meu
pescoço.
Ela me ajuda a enxugá-lo, ele volta a berrar, e porra, isso é
alucinante!
Ufa, até que enfim consigo colocar a fralda, embrulho ele no
lençol e finalmente respiro.
As duas batem palmas e dão risadas.
Eu não estou neste clima, mas tento sorrir, pelo Luigi. Ele
merece um pouco de alegria no meio dessa tempestade toda que
está acontecendo ao seu redor.
— Papai, preciso que você traga roupinhas para o seu bebê. Ele
merece ficar bonito para suas visitas — a mocinha diz, olhando para
a Dona Amélia.
— Sim, eu e a vovó iremos mais tarde em casa e traremos as
coisinhas dele! — Olho para a Dona Amélia e vejo tristeza em seu
olhar.
— Sim, eu o ajudo as escolher as roupinhas. Eu conheço o gosto
da Jack!
— Vamos lá, papai! Agora é a hora da mamada!
— Sim, claro! Se a senhora quiser, Dona Amélia, pode dar a
mamadeira pra ele.
— Não, Rui, não precisa. Quero que você pratique bastante! —
Ela sorri.
****
A chegada de meus pais ao hospital não foi menos emocionante
do que a chegada da Dona Amélia.
Nunca em minha vida chorei tanto, talvez em minha infância,
mas minha mãe costumava dizer que eu era duro na queda.
Meu pai me abraça longamente, aqueles abraços que não
queremos sair nunca mais, me sinto uma criança, frágil e com
medo.
Os pais têm esse poder sobre nós, nos deixam emotivos, tiram
nossas máscaras.
Finalmente consigo largar meu pai, estou com o rosto coberto de
lágrimas e ele também.
Ele segura meu rosto com suas mãos fortes e calejadas.
— Confie em Deus, filho!
Engraçado como todos falam de Deus para mim.
Como disse anteriormente, nunca fui muito de acreditar nessas
coisas, mas concordo que somente nestes momentos percebemos o
quanto somos frágeis e fracos, não controlamos nada e nem
ninguém. Na verdade, não somos nada, não podemos fazer nada,
temos apenas que acreditar que há um ser poderoso, que se
evocado com muito fervor e sinceridade, poderá nos ajudar.
— Eu confio! — respondo emocionado.
Sinto os braços de minha mãe em minha cintura, a abraço junto
ao meu corpo, ela não diz nada, tem dificuldades em dizer o que
sente, sempre foi assim.
Me afasto um pouco deles, e vejo dona Amélia sentada
timidamente nos esperando. Seu último encontro com minha família
foi desastroso, ela e minha mãe simplesmente se atracaram como
dois búfalos raivosos.
— Dona Amélia está logo ali. Por favor, cumprimentem ela! —
digo alheio à cara de bunda, sim cara de bunda, da minha mãe.
Ela está com muita vergonha, e com razão, ela falou coisas
horríveis da Jack, das quais deveria se envergonhar.
Nos aproximo dela, dona Amélia se levanta, estende sua mão
para meu pai, olha para minha mãe e apenas balança sua cabeça.
Ela não esqueceu o que aconteceu.
— Vamos até a UTI neonatal, o Luigi está em observação.
— Sim, quero vê-lo pessoalmente — meu pai diz animado.
Seguimos em silêncio pelos corredores. Eu e dona Amélia já
fomos ao meu apartamento, tomei um banho rápido, a Jô preparou
um almoço para nós, e dona Amélia preparou a malinha do Luigi.
Depois de todos preparados, seguimos pelos corredores das
incubadoras, e então vejo o Luigi.
Ele está lindo, já foi trocado pela dona Amélia e pela enfermeira.
Como ela disse, ele precisava estar bonito para as visitas.
— Aqui está meu garotão, pai! — falo orgulhoso, ele já tomou
conta do meu coração, foi rápido, sem sofrimento, apenas o amor
chegou e preencheu todos os espaços.
Esse era o sentimento que meu pai dizia, só mesmo sendo pai
para se saber.
— Parabéns, filho. — Meu pai o olha com admiração.
— Ele se parece com você, Rui! Você era exatamente assim
quando nasceu — minha mãe diz emocionada, seus olhos estão
marejados. — Posso pegá-lo? — Ela faz menção de tirá-lo do berço,
mas então ouço a voz de dona Amélia, que até então estava calada
e absorvida em sua tristeza.
— Me desculpe, Rui, mas não concordo que ela pegue meu
neto. Minha filha não está aqui, mas eu não esqueci as
barbaridades que sua mãe disse dela. — Ela respira pesadamente.
— Não acho justo com minha filha, e não sei se ela gostaria que seu
filho fosse para os braços de sua mãe.
— Dona Amélia... — Tento retrucar.
— Tudo bem, você é o pai, você decide. Mas gostaria de deixar
claro, antes de sua mãe desfrutar do prazer de pegar em seus
braços essa criança, que ela deveria pedir perdão a minha filha
pelas coisas horríveis que disse a ela e dela. Se você esqueceu, eu
não esqueci! — Ela se afasta do berço. — Me deem licença.
A olho se afastar, ela limpa seu rosto, e eu a compreendo.
É como se a Jack estivesse morta, esse bebê é dela, e enquanto
ela viver, respeitarei sua vontade.
— Desculpe, mãe. A Dona Amélia tem razão! — Ela me olha
indignada, limpa as lágrimas e sai caminhando para a saída do
local.
— Eu compreendo você, Rui. Está tudo bem! — Meu pai se
senta na poltrona. — Eu não tenho nada a ver com essa confusão
que sua mãe aprontou, me deixe segurar meu neto.
Não consigo deixar de sorrir com a forma simples que meu pai
resolve as coisas.
Pego o Luigi do berço, e o coloco no colo de meu pai, e vejo com
emoção o prazer com que ele o aninha em seu colo.
— Posso tirar uma foto, pai? — Sorrio para ele.
— Sim, quantas quiser! Depois envie para mim, vou enviar para
os meus amigos, eles achavam que eu nunca seria avô!
Sorrio, pego meu celular, e sorrio com minha mais nova
diversão: tirar fotos de meu filho.
Capítulo 22
JAQUELINE
Flash back on
Desperto como de um sonho, ou como se estivesse em um
sonho.
Estou flutuando como um anjo, não me vejo de fato, mas estou
flutuando, eu sinto isso, vejo tudo do alto, como se estivesse em
uma nuvem.
Talvez minha alma tenha se desprendido de meu corpo, sim, não
estou em meu corpo físico, estou em outro plano.
Olho ao meu redor e vejo um frenesi de pessoas, médicos e
enfermeiros, e de repente me dou conta que a pessoa que está na
cama a minha frente sou eu.
Uma sensação de paz e tranquilidade toma conta de mim, não
sinto medo ou ansiedade, nada, apenas observo meu corpo sem
vida.
Um choro de bebê me tira de meu estado de entorpecimento,
olho em sua direção e o vejo, é o meu filho, sim, eu sei que é meu
filho. Uma enfermeira o leva às pressas do lugar onde estou, me
desespero, eu quero vê-lo, quero tocá-lo.
Eu não quero morrer, eu quero segurar meu filho em meus
braços, quero ninar e amamentar ele.
Vejo minha médica, suas mãos estão ensanguentadas, meu
corpo está coberto de sangue, eles lutam freneticamente pela minha
vida!
— A adrenalina, rápido... — a doutora diz em desespero.
Um balão de oxigênio é colocado sobre meu rosto, um bip forte e
então, um aparelho é colocado sobre meu peito, um barulho, meu
corpo inteiro se sacode sobre o seu impacto.
— De novo! — ela diz em desespero.
Novamente aquele aparelho, um barulho forte e meu corpo sem
vida sacode inteiro.
Olho tudo sem emoção, sentimentos, estou confusa, acho que
estou sonhando, não sei.
De repente, a máquina faz aquele barulho.
— Conseguimos! — Minha médica diz exaltada. — Rápido,
vamos entubá-la...
Então, uma sensação de estar sendo sugada novamente para
meu corpo se apodera de mim, e como se fosse um filme, me sinto
novamente em meu corpo, sinto minha respiração, sinto meu
coração. Estou viva novamente.
Flash back off
****
Dias depois.
Abro os olhos com dificuldades, mas não consigo me situar, me
sinto confusa.
Forço meus olhos a se manterem abertos, então percebo que
estou em um hospital, mas agora é diferente, existem muitos
aparelhos ao meu redor.
Minha consciência vai e vem, estou muito sonolenta e confusa.
Meus olhos voltam a fechar, mas escuto vozes, sinto a
movimentação ao meu redor, mas não consigo reagir, falar, parece
que estou presa em um sonho.
A inconsciência volta a me dominar, e como se eu fosse uma
televisão, desligo.
****
Desperto novamente de minha semi-inconsciência, mas aos
poucos tudo fica mais real, inclusive o meu corpo.
Então, penso em meu bebê, tento tocar a minha barriga, mas
não consigo, me sinto amarrada.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto. Eu não sinto mais o Luigi, eu
perdi o Luigi!
Quero gritar, mas minha voz não sai, existem coisas em minha
boca, nariz, que me atrapalham, me mexo na cama e então vejo
uma moça a minha frente.
— Jackeline, você está me ouvindo?
Balanço minha cabeça.
— Vou chamar o médico plantonista, não esperávamos que você
acordasse tão rapidamente! — Ela tira alguns aparelhos de minha
boca. — Deve ser a vontade de ver seu bebê. Ele está bem,
Jackeline! Fique tranquila, deu tudo certo com seu parto! — Ela
sorri.
Solto o ar vagarosamente, e sinto uma paz.
O Luigi nasceu, mas eu não me lembro de nada.
Tento forçar minha mente a lembrar dos últimos acontecimentos,
mas estou com minha mente embaralhada, um imenso branco me
impede de lembrar o que aconteceu comigo.
— O Rui? Onde está o Rui? — Penso sem parar, por que estou
sozinha, por que o Rui não está aqui?
O cansaço volta a me abater, fecho os olhos e adormeço.
Capítulo 23
RUI FIGUEIREDO
Dias depois.
Aconstatação de que o acidente de carro que levou Jack quase
a morte, foi causado pela Priscila, me causou um sentimento de
ódio, nunca por mim experimentado.
Olho para as fotos trazidas pelo Pimenta, ele imprimiu as
imagens e veio até o hospital me mostrar.
Através do para-brisa do carro, é possível ver o rosto da pessoa,
da ruiva, que agora sabemos ser a Priscila.
— Pimenta, quais são os próximos passos? — falo nervoso.
— Rui, vou te falar uma coisa: acidente de carro não leva
ninguém a cadeia — ele diz desanimado. — Não temos como
provar as intenções dessa maluca.
— Mas, ela queria matar minha esposa, caralho! — Esbravejo,
esfrego meus cabelos, xingo, bufo.
— Então, vamos fazer o seguinte: irei conversar com o Bezerra,
quem sabe ele nos dê uma ideia de como ir adiante com essa
investigação, um mandado de segurança para vasculhar o
apartamento dela, enfim...
— Ela está usando identificação falsa, isso é crime! — respondo
nervoso.
— Eu sei! Mas a porra da mulher é uma promotora, não dá para
enfiar ela em uma cadeia porque descobrimos que ela usa peruca e
aluga carros com um nome falso.
Olho para o chão desanimado, ele tem razão, não é tão fácil
pegar essa desgraçada.
— Rui, fique calmo. Por enquanto, ela não pode fazer nada
contra você e sua esposa. Precisamos montar uma estratégia com o
delegado, alguma coisa que nos dê motivos para pedir a prisão da
maluca.
Passo minhas mãos pelos meus cabelos, olho para o teto, e bufo
esgotado.
— Ok, por favor, pensem alguma coisa, estou sem cabeça para
pensar nisso. Só consigo pensar em minha esposa, ela está em
coma, eu posso perdê-la! — A emoção vem à tona, meus olhos
enchem de lágrimas, puxo o ar, recomponho-me.
— Tudo bem, Rui. Fique calmo...
— Ok, preciso voltar a UTI. Sua médica deve estar indo avaliá-la,
então, quem sabe tenho boas notícias.
Ele dá um sorriso fraco.
— Sim, faça isso... — Ele bate em meu ombro, se despede e vai
embora.
Respiro fundo, fecho meus olhos e tento me acalmar.
Tenho estado sem controle emocional nenhum, estou raivoso,
estressado.
As 48 horas ditas pela médica se esgotaram, hoje tiraram a
sedação dela, então, estou com meu coração esmagado em meu
peito, medo e apreensão não me deixam comer ou dormir.
Me sinto em uma vigília, a saudade dói, o amor pulsa! Eu preciso
da Jack junto comigo, não sei se tenho forças para seguir adiante
sem ela.
Tomo coragem e sigo nos corredores do hospital, a ansiedade
me corrói por dentro.
****
O posto de enfermagem da UTI está agitado hoje, as
enfermeiras estão num frenesi louco.
A moça que me atende todos os dias, e que já me sinto
constrangido de fazer sempre a mesma pergunta, hoje sorri para
mim.
— Bom dia, Senhor Rui!
— Oi, bom dia! Preciso perguntar, ou você já sabe o que quero
saber? — falo sem graça.
Ela volta a sorrir.
— Tenho boas notícias... — ela diz contida.
Meu coração dispara, minha respiração também, e um calor
toma todo o meu corpo.
— Ela acordou?! — minha voz sai meio engasgada, a respiração
rápida e ofegante não me deixa falar direito.
— Sim, nesta madrugada. O plantonista deixou anotado aqui que
o medicamento que a mantinha inconsciente foi tirado, e os sinais
dela voltaram imediatamente.
Caralho, está difícil controlar o turbilhão de emoções que sinto.
— Então, eu posso vê-la agora? — minha voz sai quase um
grunhido.
— Estamos esperando a doutora chegar, ela fará sua avaliação,
possivelmente ela será enviada para a ala da UTI semi-intensiva,
então você poderá visitá-la.
— Ok, vou ligar para a médica. — Saio andando apressado até
os assentos da sala de espera, sento e coloco as mãos sobre meu
rosto, explodo em um choro de alívio, descontrolado e barulhento.
Foda-se, eu preciso descarregar toda a tensão que está no meu
peito.
— Oh, meu Deus! Jack, você não tem ideia o quanto sofri por
você! — falo comigo mesmo, ou por telepatia, em pensamentos,
meus pensamentos, todos os pensamentos estão nela, desde que a
conheci, foi amor à primeira vista, essa mulher mudou minha vida, a
rota, a direção, meu modo de olhar o mundo, as pessoas, tudo, eu
não vivo mais sem ela.
Me recomponho, tento limpar o meu rosto, agora ando com
papel higiênico no bolso, me tornei o cara mais chorão do mundo.
Não conhecia esse meu lado, estou sensível pra cacete, estou
parecendo a Jack quando estava grávida, chorava até quando eu
dizia que a amava.
Eu preciso tanto vê-la, enchê-la de beijos, sentir seu corpo
contra o meu, apertá-la em meus braços...
Oh, que saudades é essa que me angustia, que me faz sentir um
peso no meu peito, uma aflição, um descontentamento?
Pego o celular do bolso, ligo para sua médica, ela atende.
— Doutora, é o Rui...
— Bom dia, Rui... — ela diz simpática. — Já estou sabendo da
novidade, se é este o motivo pelo qual está me ligando.
— Sim, é por isso! Você já está chegando? — Balanço minha
cabeça, tenho pressionado essa médica de um jeito que tenho dó
dela, não queria estar na pele de um médico em sua situação.
— Já estou a caminho, acabei de sair de um parto em um outro
hospital. Fique tranquilo o médico de plantão ainda está aí, ela não
está sozinha, Rui! Já pedi para realizarem alguns exames nela, está
tudo bem agora, vá para casa, descanse um pouco, você terá um
esgotamento nervoso desse jeito.
— Não! Esperarei por você, e tem o Luigi, preciso ficar com ele.
Sério, ando meio obcecado, minha vida se resume a dar a
mamadeira do Luigi, revezo com a mãe da Jack, mas tento ficar o
máximo de tempo com ele. Também, resolvi assumir meu lado mãe
e dou banho, às vezes troco a fralda, mas só quando é xixi.
Que a Jack me perdoe, mas a caca dele não dá para encarar.
Oh, tem o regurgito dele, esse eu tive que encarar, o bichinho é
esfomeado, quer comer até a mamadeira, e como consequência
sempre vomita um pouco. Estou sempre com cheiro azedo, mas já
me acostumei, já nem sinto mais o cheiro em mim.
Confesso, não sou mais o mesmo, barbudo, sempre
descabelado, às vezes sem escovar os dentes, a roupa amarrotada
de dormir em sofás, e com cheiro de vômito de bebê.
A Jack não precisa se preocupar, não tem uma doida que queira
se aproximar de mim, estou mais para um mendigo, do que para um
advogado.
Obriguei o médico a prescrever mais milímetros de leite para ele,
o bebê nunca estava satisfeito.
— Tudo bem, Rui! Graças a Deus essa loucura irá acabar,
depois disso tire umas férias, tá? — ela diz com ironia.
— Sim, farei isso. — Sorrio finalmente, e desligo.
****
Sigo para a UTI neonatal, mas agora a sensação é diferente,
uma sensação boa em meu coração, uma paz.
Eu sei que ela ainda está frágil, mas pelo visto, isso é
temporário, logo poderemos ir embora desse lugar.
Porra, estou quase trazendo uma mala e morando aqui de vez.
Visto as roupas especiais e sigo em direção ao berço do Luigi,
confesso, estou com saudades dele.
Tenho voltado todos os dias para casa, por causa de Dona
Amélia, principalmente. Não posso fazê-la dormir em sofás, mas por
mim, eu dormiria no hospital todos os dias.
Mas a rotina é pesada, levanto com as galinhas, porque quero
chegar sempre para a primeira mamada do Luigi.
Dona Amélia tem me ajudado muito, a velhinha é forte,
determinada, zela pelo seu neto como uma leoa.
Não é à toa que a Jack é tão brava, a mãe, a avó, e sei lá mais
quem da família, são todas iguais.
A vovó da Jack não tem vindo, ela é muito idosa, e Dona Amélia
prefere poupá-la, mas ela veio conhecer o bisneto, e achei que a
velhinha empacotaria. Ela ficou mal quando soube do que
aconteceu a Jack, sua pressão subiu, tivemos que levá-la para o
pronto socorro às pressas.
Minha mãe, depois do que aconteceu quis ir embora, ficou
magoada comigo porque não a defendi contra o ataque feroz da
Dona Amélia. Mas, eu não tinha muito o que fazer, o que é certo é
certo.
Se ela quiser ver seu neto, terá que pedir desculpas para a Jack,
nada mais justo.
Quanto ao escritório, está entregue às moscas, ops, me deixe
consertar isso: entregue a Carolina. Não tem jeito, aquela mulher é
um general, manda até nas formigas que querem tomar conta da
cozinha.
Relaxei, o Gustavo e o Felipe me ligam todos os dias
reclamando dela, e a única coisa que digo é: acatem o que a Carol
disser, o escritório está temporariamente sob sua direção.
Esquisito isso, mas passei a confiar naquela mulher de um jeito
que nunca imaginei, mulheres são confiáveis, mais do que os
homens.
Resumindo, minha vida está uma confusão dos infernos.
Me aproximo do berço do Luigi, dona Amélia faz seu crochê ou
tricô, não sei o que é isso, enquanto zela pelo seu neto. A cena
chega a ser engraçada, e só para não perder o costume, saco meu
celular do bolso, aproximo a imagem, e click.
— Mais uma para você ver, Jack — falo em pensamento.
Guardo o celular e me aproximo.
— Olá, Dona Amélia! Tudo bem por aqui? — falo com ela, mas
meus olhos estão em meu filho, ele está mais rechonchudo desde
que nasceu, seu rostinho está redondo, e parece mais comprido, as
roupinhas começam a não ter mais espaços sobrando.
— Tudo bem... — ela diz cansada. — Chegou a tempo da hora
da próxima mamada. — Ela disfarça seu olhar. — Você foi até a
UTI? Alguma notícia da minha Jack?
Sorrio para ela.
— Sim! Ela saiu do coma, Dona Amélia!
Ela coloca sua mão no peito, e tenho medo, agora mato a mãe
da Jack do coração.
— Meu pai eterno! Ele ouviu minhas preces... — ela diz
emocionada. — Ela está fora de risco, é isso?
— Sim, entendo que sim. Liguei para sua médica, ela está a
caminho, só vim dar a mamadeira para o Luigi, voltarei para lá daqui
a pouco.
Ela olha para cima, se benze, fecha os olhos e faz uma oração.
Dona Amélia, ou melhor, toda a pequena família da Jack é
religiosa. Todos os dias Dona Amélia vai a capela e acende uma
vela, e reza durante uma hora. Sua fé é tão grande e tão forte, que
me contagiou, tenho a acompanhado à capela, e a seguido em suas
orações.
Sem bem não fizer, mal não fará, não é isso?
A Jack não é assim, de fato, ela gosta de ler uns romances
espíritas, ela sempre tem um em sua cabeceira de cama. Mas,
enfim, ninguém precisa viver em uma igreja para acreditar em Deus,
não é mesmo?
A enfermeira me vê, e logo traz a mamadeira do Luigi.
Dona Amélia cede seu lugar para mim, me sento e o acolho em
meu colo.
Ele ainda está dormindo, então primeiramente começo uma
sessão de beijos nele, sim, o amor por esse ser pequeno e frágil ser
não tem tamanho.
Ele abre seus olhinhos e começo a ver mais semelhanças
comigo, e isso é impagável.
Ter um ser que parece com você é bom demais.
Seus olhos que tinham uma cor de burro quando foge, agora
estão cinza como os meus, a Jack irá adorar isso, seus dois homens
serão um a semelhança do outro.
— Ei, Luigi, acorda! Chegou a hora que você mais gosta, olha a
mamadeira! — Sorrio, e mostro o leite para ele, e penso que o vi
mexer a boquinha.
Coloco a mamadeira em sua boca, o desespero começa, reduzo
a quantidade, ele resmunga, parece querer segurar a mamadeira.
— Quer saber uma novidade? — cochicho para ele. — Mamãe
acordou de seu sono de beleza.
Sorrio e me emociono.
— Logo, logo, ela estará aqui com você, ou melhor, você com
ela... — Acaricio sua cabecinha. — Você é o maior sonho de sua
mãe, Luigi, não a decepcione.
Não percebo que Dona Amélia nos observa, olho para ela e a
vejo sorrindo com o rosto molhado de lágrimas.
Ela disfarça.
— Vou ao banheiro, tomar uma água e esticar minhas pernas. —
Ela gira nos calcanhares e sai apressada.
— Você tem duas avós. Vovó Amélia, é essa boazinha aí... —
Olho para Dona Amélia indo em direção à saída. — A outra ainda
precisa se redimir de seus pecados, mas ela é boa, um pouco dura
demais com as pessoas e com a vida, mas você ensinará a ela
como ser melhor!
Penso na minha mãe, me sinto triste por ela, eu sei que esse
momento é muito especial para ela também, mas talvez este seja
um grande ensinamento para minha mãe, não julgar as pessoas
antes de conhecê-las de fato.
Beijo a testa do Luigi, e me sinto em paz.
Agora, para minha vida ficar perfeita, preciso ver minha deusa, e
tê-la novamente em meus braços.
****
Aproveito meus últimos momentos com o Luigi, o espero arrotar,
e como sempre, ele volta ao seu sono de crescimento.
Beijo suas bochechinhas e o volto para o berço.
— Dona Amélia, estou indo conversar com a médica da Jack.
Assim que tiver novidades, volto para avisá-la.
— Sim, Rui! Vá com Deus nosso Senhor!
— Amém... — Nunca fui de fazer isso, mas aprendi com a Jack
que é assim que se faz.
Tiro o avental e sigo apressado pelos corredores, eles já devem
ter marcas de meus sapatos, de tantas vezes que vou e venho
nele.
Finalmente chego a UTI, sigo até o guichê, e pergunto:
— A doutora está lá dentro?
— Sim. Ela pediu para avisá-lo para esperar por ela aqui, daqui a
pouco ela vem conversar com você!
— Tudo bem. Me sentarei logo ali, a avise, por favor!
Relaxo no sofá, pego meu celular e vejo se existe algum assunto
urgente.
Vejo uma mensagem do Carlão, todos os dias ele passa aqui, é
um grande amigo.
Ele pergunta da Jack, e até que enfim posso dizer que ela
acordou do coma.
“Carlão, finalmente uma boa notícia, ela saiu do coma!”
“Cara, que noticia maravilhosa! Já podemos visitá-la?”
“Ainda não, eu não a vi ainda, estou esperando sua médica.
Aguarde que te aviso quando ela for removida para um quarto, e
possa receber as pessoas.”
“Ok, irmão, estou aqui! É só gritar que voo até aí...”
Dou risada, o Carlão é meio doidão, mas no fundo ele é um cara
legal, família, ele precisava de uma Jack em sua vida, para colocá-lo
nos trilhos, muita putaria acabou com sua personalidade.
“Valeu, irmão...”
Segunda mensagem, para meu pai. Ele me liga todo santo dia,
parece agoniado por não poder estar aqui, mas ele tem se
controlado, não quer tumultuar minha vida com a presença de minha
mãe.
“Pai, a melhor notícia do mundo: a Jack saiu do coma!”
Sorrio e envio, mas ele não lê de imediato, provavelmente está
em alguma reunião, cliente ou Fórum. Sua vida é bem agitada.
Certo, agora é a vez da Carolina. Eu a tenho como uma irmã da
Jack, são unidas, cúmplices e parceiras.
Às vezes, tenho ciúmes das duas, mas que isso fique entre nós.
“Carol, vamos comprar um champanhe, nossa Jack tá de volta!
Não a vi ainda, mas a médica virá falar comigo daqui a pouco. Ela
saiu do coma, e essa é a melhor notícia que poderíamos receber
depois de tanta agonia!”
Ela responde de imediato.
“Estou chorando, Rui, literalmente. Quando poderemos vê-la?
Quando ela irá para o quarto?”
“Ainda não sei, mas te aviso assim que souber... Está tudo certo
por aí? Algum problema?”
Ela responde e dou risada.
“Tudo na perfeita ordem, chefe! Estou colocando esses
advogados na linha. Nada como uma mulher para infernizar a vida
de um homem... (risos)”
“Certo! Já me disseram que seu novo apelido é Xerifa!”
“Sim, mas se eu descobrir quem começou com isso, corto o
negócio dele fora!”
“Você tem todo o meu apoio. Até mais.”
Ok, por enquanto está bom, quando ela estiver no quarto, aviso
as outras pessoas.
Relaxo um pouco, minha vontade é entrar naquela porta maldita
e invadir aquela porra. Mas, não posso bancar o louco, tem sempre
um cara vestido de terno azul escuro circulando pelo andar, ele
parece um guarda-roupa, o cara é enorme, e está sempre com
um walk-talk em mãos, preparado para imobilizar os mais
exaltados.
Aliás, em todos os andares existe um cara desses, no começo
me perguntei para que tanta segurança, depois entendi que é por
causa dos bebês. Por incrível que pareça, tem gente que rouba
bebês...
Mundo podre o nosso!
****
Estou novamente cochilando, tenho vivido de cochilos, à noite
não consigo dormir, acordo fácil, pareço sentir a Jack na cama.
Isso é estranho e me angustia.
Pela vigésima vez a doutora me acorda, ela sempre me acorda,
pois estou sempre dormindo em pé.
— Rui!
Arregalo meus olhos, e como reflexo, dou um pulo do assento.
Ando meio descompensado, ou estou caindo pelos cantos, ou alerta
como um tigre.
— Então, doutora?
— Primeiramente, fique calmo. Quer que eu prescreva um
relaxante para você? Você está muito tenso, Rui!
— Não, eu estou ótimo... — falo agitado, esfregando o rosto. —
Então, como ela está?
Um sorriso escapa dos lábios dessa médica séria e
compenetrada, e isso é bom, muito bom.
— Eu a examinei, pedi para fazerem uma série de exames nela,
e está tudo na perfeita ordem! Um milagre, eu só posso dizer isso!
Suspiro de alívio, fecho os olhos e agradeço em silêncio.
— Autorizei sua remoção para a semi-intensiva, é uma ala que
ela ficará sob observação constante das enfermeiras, mas não
precisará ficar sob o olhar atento de um médico. O risco maior
passou, mas não descuidaremos dela.
— Certo, perfeito... — Continuo agitado. — E nesse lugar eu
poderei ficar com ela? Ela poderá ver seu bebê?
— Sim, você poderá ficar com ela, mas o bebê ainda não poderá
ser levado para ela vê-lo. Ele ainda não está liberado, Rui!
— Sério? Ela deve estar tão angustiada, doutora... — falo
desanimado.
— Vou ver com o pediatra neonatal, quem sabe ele não abra
uma exceção. O Luigi está tão forte, já estão pensando em liberá-lo,
daqui a poucos dias.
— Isso é muito bom, mas faça isso por ela. É importante demais
para a Jack ver seu filho, isso fará bem a ela!
— Ok, me deixe fazer a papelada para transferi-la para a semi-
intensiva, depois cuidamos dessa segunda parte. — Ela me encara
seriamente. — A Jackeline ainda não está 100%, está muito fraca,
abatida, porque ela perdeu muito sangue, e cansada. Não exija
demais dela, eu sei o quanto você está ansioso por vê-la, mas vá
com calma, a deixe voltar aos poucos.
— Sim, claro! Não há dúvidas que terei muita calma com ela, eu
sempre tive muita calma com a Jack.
Ela dá risada.
— Ok, volte ao seu cochilo. As enfermeiras avisam a você
quando ela já estiver na nova ala.
Pego as mãos da médica e as beijo. Ela é um anjo do céu, eu
tenho certeza disso.
Ela sorri constrangida, balança sua cabeça e sai sem jeito.
****
Contei quantas idas e vindas fiz durante o dia todo, mas chegou
uma hora que esqueci de contar e me perdi nas contas, eu já estava
na vigésima vez.
Minhas pernas estão cansadas, parece que estou numa corrida
de maratona, só que no modo trote.
— Dona Amélia, preciso ir até a enfermaria, não é possível que
não a transferiram ainda! — falo irritado.
— Vá, Rui! Eu fico com nosso anjinho! — Ela acaricia a cabeça
do neto.
Me inclino sobre seu berço, o beijo suavemente, e cochicho só
para nós dois ouvirmos:
— Vou atrás de sua mãe, Luigi, pela trigésima vez! Vamos ver se
tenho sucesso agora! — Mais um beijo em sua testa, me despeço
da sogra e volto para minha via sacra.
O posto de enfermagem está com uma única enfermeira que se
move freneticamente, entre papéis e o telefone preso em seu
pescoço.
Paro em frente a ela, tento chamá-la umas vinte vezes, ela
acena com a mão para eu ter calma, mas estou a um triz de pegar
esse telefone dos infernos, e colocá-lo no gancho.
— Desculpe-me, senhor, é troca de turno, estou sozinha aqui.
Então, imagine minha situação... — ela diz cansada.
— Tudo bem. Você já sabe se transferiram a Jackeline
Bartolli para o tratamento semi-intensivo?
— Ok, me deixe ver... — ela diz atrapalhada, olhando para os
papéis a sua frente e não achando nada. — Vou ligar lá, é mais fácil.
As outras enfermeiras deixaram uma bagunça aqui.
Afasto-me, estou pouco me fodendo para a bagunça de suas
colegas de trabalho.
Ela pega o telefone, disca, conversa com a pessoa e então me
olha.
— Sim, ela já está lá. Parece que a transferência já ocorreu a
algum tempo, ninguém te avisou?
Falo meia dúzia de nomes feios.
— Aquela maldita enfermeira que estava aqui há pouco tinha me
dito que me ligaria quando ela fosse transferida — falo entre os
dentes.
— Oh, me desculpe... — Não a deixo terminar a frase.
— Onde fica essa porra?! — falo estressado.
— O senhor segue por esse corredor, haverá uma nova sala de
espera, e um novo corredor, ela está no quarto... — ela olha em um
papel — no quarto 43 — Ela sorri.
— Ok, obrigado. — Saio em disparada para o local, só não corri
porque achei que poderia chamar a atenção do segurança, que
poderia tentar me parar, achando que sou algum maníaco homicida.
Chego ao local que ela me falou, sigo pelo corredor, coração na
boca, mãos frias e um frio na espinha.
Olho para as numerações, checo um por um e então vejo o 43,
um gelado no peito, chego à porta, bato de leve e a abro.
Meus olhos enchem de lágrimas, finalmente estou revendo
minha deusa.
Seus olhos estão fechados, seu rosto está abatido, em seus
braços vejo muitas marcas roxas, provenientes dos inúmeros
cateteres que devem ter sido colocados em suas veias para medicá-
la.
Um cateter leva soro para seu braço, um aparelho de pressão
está conectado a ela, e monitora sua pressão arterial em tempo real.
Pequenos caninhos levam oxigênio ao seu nariz.
É, ela não está 100%.
Sigo até ela delicadamente, paro ao lado da cama, uma emoção
forte se apodera de mim.
— Jack! — a chamo baixinho.
Levo uma de minhas mãos até seus cabelos e os acaricio
lentamente, beijo sua testa demoradamente.
A olho de perto, e vejo suas pupilas se mexerem lentamente e
então ela abre os olhos.
— Rui! — Ela abre um sorriso, meio fraco, meio cansado, mas é
o sorriso da Jack, lindo, iluminado.
— Sou eu! — Sorrio para ela. — Minha deusa, que saudades de
você! — Respiro fundo, tento não chorar.
— Chega de choro, Rui! — falo para mim mesmo, mas estou
sem controle emocional, talvez daqui a algum tempo eu volte a ser
controlado, mas não hoje, e nem agora.
Sinto as primeiras lágrimas, as segundas, as terceiras...
Seus olhos ficam inundados de lágrimas também, ela leva sua
mão até meu rosto, limpa minhas lágrimas, seguro sua mão contra
meus lábios, fecho meus olhos e a beijo demoradamente.
— Não vivo sem você, Jack! — Mordo meu lábio para controlar o
tremor que sinto.
— Eu também não vivo sem você! — Suas lágrimas banham seu
rosto.
— Isso é bom! — Sorrio. — A gente não vive um sem outro... —
Brinco.
— Me abraça! — ela diz num sussurro, com os lábios tremendo.
Me sento em sua cama, passo meus braços vagarosamente
pelas suas costas, trazendo seu corpo para junto do meu e a
abraço, e choro, choro muito, tudo de novo.
— Desculpa, Jack! Você não sabe o que passei, achei que você
nunca mais voltaria para mim! — falo no meio dos seus cabelos, os
beijando e cheirando. — Você é o amor da minha vida!
— Você também, Rui! — Ela tenta me abraçar, mas então
reclama. — Ai... — Me assusto e a deito novamente na cama. —
Acho que é a cirurgia, dói muito... — Ela faz cara feia.
— Me desculpe, Jack, acho que me empolguei. — Passo minhas
mãos por seu rosto. — Te amo, Jack, de um jeito que não sei
explicar.
— Que engraçado, eu também! — ela diz com seu jeitinho
sarcástico, estende novamente sua mão em direção ao meu rosto.
— Será que a gente pode dar um beijo, de língua?— Ela torce seu
nariz.
Sorrio.
— A gente pode tentar. — Aproximo meu rosto do dela, beijo
suavemente seus lábios e olho para ela. — Assim? — pergunto
inseguro.
— Não! Eu quero um beijo de língua, Rui! — ela diz irônica e
sorri contra meus lábios.
— Tudo bem, Jackeline Bartolli! Achei que você estava bem
doentinha, mas parece que não é tudo isso! — Brinco, segurando
seu rosto entre minhas mãos.
— Minha língua não está doente! — Ela sorri novamente.
— Ok, vou tentar beijá-la como você gosta! — Aproximo meus
lábios dos seus, a beijo suavemente, ela abre seus lábios lindos,
aprofundo mais um pouco minha língua na sua e a beijo
delicadamente.
Talvez, esse seja o melhor beijo que dei nela, já a beijei muitas
vezes, mas esse foi o beijo que mais senti emoção, frio no
estômago, e um sentimento novo e profundo.
Separo nossos lábios, olho em seus olhos e mal posso acreditar
que até ontem, eu não tinha certeza se a veria de novo, assim,
cheia de vida.
— Nosso bebê, Rui, me fale dele.
— Ele é lindo, Jack! Parece comigo. — Dou risada, puxo o
celular do meu bolso da calça. — Estou montando um álbum de
fotos do Luigi desde que ele nasceu, quero dizer, desde o momento
que o vi pela primeira vez.
Abro a galeria de fotos, e posiciono em minha primeira foto com
ele, e mostro para ela.
— Oh, Rui! Como ele é lindo! — As lágrimas descem livremente
pelo seu rosto. — Você estava dando a mamadeira para ele? — ela
diz com sua voz meio fraca, mas com um sorriso no rosto.
— Já fiz coisas que nem o diabo acredita! — Dou risada. — O
que você acha dessa? — Mostro para ela, eu dando banho nele.
— Oh Rui, eu não estou acreditando! — Ela me olha indignada.
— O que fizeram com você, foi abduzido por algum alien?
Mesmo doentinha ela não deixa de lado seu espírito sarcástico.
— Talvez! Ando meio esquisito, dei para chorar, dar mamadeira,
trocar fraldas...
Ela segura meu rosto, o puxando para mais perto.
— Meu amor, obrigada por cuidar do nosso bebê! Te amo tanto,
Rui! — Unimos nossas testas. — Queria tanto poder ver ele... —
Seus olhos ficam marejados novamente.
— A doutora me prometeu que tentará trazê-lo até seu quarto! —
Beijo novamente seus lábios, mas percebo cansaço em seu olhar.
— Quer dormir mais um pouquinho?
— Acho que fui mordida pelo bicho do sono — ela diz
preguiçosa. — Me promete que ficará aqui comigo?
Acaricio seu rosto.
— Tenho dado a mamadeira do nosso bebê, mas sua mãe está
lá, então não preciso me preocupar. Mas confesso, acho que estou
apaixonado por ele, e não sei muito bem com quem quero ficar
mais, se com você, ou com ele! — Brinco.
Ela sorri.
— Decisão difícil, advogado! — ela diz sem energia. — Preciso
descansar um pouco, ainda não me sinto muito bem.
Olho para o monitor da pressão, mas ele não se moveu, mas
mesmo assim, certo pânico toma conta de mim.
— O que você está sentindo? Vou chamar a enfermeira! — Faço
menção de me levantar, mas ela segura minha mão.
— Não, acho que é só cansaço, me exercitei muito hoje! — Ela
sorri de olhos fechados. — Fica aqui, tá?
Beijo seu rosto.
— Te amo, Jack! — Me deito de lado em sua cama, coloco meu
braço um pouco acima de sua cintura, e adormeço.
Capítulo 24
JACKELINE
Desde que acordei do meu coma, tenho vivido muitas emoções
fortes e avassaladoras.
Meu reencontro com o amor da minha vida foi mágico.
Nunca achei que aquele cara cafajeste, mulherengo e cheio de
charme se tornaria o homem com o qual sempre sonhei.
Dizem que as pessoas não mudam, mas o Rui mudou ou
simplesmente sempre foi assim, esse cara carinhoso, apaixonado,
presente e atencioso, só não havia ainda encontrado uma mulher
que o fizesse desistir de sua vida de comedor e boêmio.
Acredito nisso, que para cada pessoa existe o seu par perfeito,
nem sempre o encontramos ao longo de nossa vida, batemos de
cara, escolhemos pessoas erradas e às vezes, passamos nossa
vida inteira com elas, e somos infelizes para sempre.
Realmente é difícil encontrar nossa alma gêmea, e acredito que
a maioria das pessoas não a encontre. Mas, eu encontrei, o destino
fez nos encontrarmos, e se da primeira vez não deu certo — no
elevador —, da segunda vez, deu.
Quando repenso como nos conhecemos, rio sozinha.
Nos dois anos que o Renato morou naquele prédio, eu nunca
havia cruzado com aquele homem lindo. Mas foi justamente naquela
noite fatídica que tudo aconteceu.
Talvez se tivéssemos nos conhecido antes, não teria dado certo.
Primeiro; porque eu ainda não tinha percebido que não adiantava
insistir, eu e o Renato nunca daríamos certo. Segundo; eu não havia
perdido meu emprego, e o Rui não estava precisando de secretária.
É realmente incrível como houve intersecção de todos os pontos,
e aí, a incrível coincidência aconteceu, a Carol me levar para fazer a
entrevista com ele.
Como diria minha mãe, foi coisa de Deus, tinha a mãozinha dele
ali, ele queria que ficássemos juntos, de qualquer jeito.
Fecho meus olhos, e me lembro do nosso primeiro beijo, eu já
estava louca por ele, mas com um medo louco de me apaixonar e
quebrar a cara pela quinta vez.
Mas deu certo, e agora somos uma família, e não consigo
controlar a ansiedade que se apoderou de mim, e se eu não vir meu
filho, eu vou ter um treco.
Esfrego meu rosto na barba rala do Rui, ele está tão gato com
essa barba por fazer, mas ao mesmo tempo, seus olhos estão
fundos e cheios de olheiras.
Não posso dizer que senti saudades dele, porque eu apaguei por
alguns dias, viajei para outro mundo.
Foi estranho demais, às vezes tenho lampejos de memória,
lembro de coisas estranhas, como por exemplo, ter visto o momento
que o Luigi nasceu, me vi na cama do hospital, me vi morta.
Isso me arrepia inteira.
Acho que leio demais histórias espíritas, isso me deixou muito
criativa, acho que é isso.
Mas, foi muito real...
Ok, ok, isso não importa mais. Deus foi generoso comigo, me
deixou voltar e desfrutar do maior sonho que tenho em minha vida,
ser mãe!
— Rui! — o chamo de mansinho, ele está deitado junto comigo
na cama do hospital, e isso é bom demais.
Beijo de lado os seus lábios, e ele abre vagarosamente seus
olhos claros lindos.
— Oi! — falo com um sorriso.
Ele segura meu rosto suavemente, se inclina sobre mim e me
beija, delicado, carinhoso, apaixonado.
— Assim eu não vou aguentar os 40 dias — falo de olhos
fechados, sentindo seus beijos em meus lábios, rosto. — Te amo,
Rui.
Abro meus olhos e encontro os dele, tão enigmáticos, tão
profundos.
— Eu também amo você! — Mais um beijo.
Ele sai da cama, se estica, faz caras feias, e me olha.
— Tô com fome!
Dou risada, esse é o Rui que conheço, sempre com fome.
— Tem uma maçã ali. Por que você não come? — Olho sobre o
aparador o meu café da manhã, mas não comi tudo.
— Maçã não tampa o buraco gigante que estou na barriga! —
Ele pega a maçã e a morde, e coloca em minha boca para eu
mordê-la.
— Então vá até a lanchonete, e peça um cheeseburger triplo...
— Quero arroz com feijão, Jack.
Dou risada, estou me sentindo mais forte agora, estou menos
sonolenta, e mais animada.
— Que horas são? — Olho no relógio de parede. — Oh, ainda é
cedo para comer arroz com feijão.
— Então, acho que vou comer o cheeseburger triplo. — Ele
brinca.
— Rui, mudando de assunto: quando vão trazer o Luigi para eu
vê-lo? Não aguento mais esperar... — digo triste.
— Eu vou ver isso agora, minha deusa. — Ele passa as mãos
em seus cabelos bagunçados. — Vou trazer ele nem se for
escondido.
Dou risada.
— Isso! Vai lá, meu machão, quebra tudo! — Brinco com ele. —
Mas, não me volte aqui sem um bebê no colo.
Ele se aproxima, me beija novamente, e sinto estrelinhas,
borboletinhas, astros, planetas, tudo.
— Vou até lá, e peço para sua mãe vir para cá! — Mais um beijo.
— Ela está cansada, Jack, está precisando ficar em casa e
descansar.
— Eu sei, mas ela não quer. Ela me disse que ficará aqui até eu
ir embora.
— Mãe galinha essa dona Amélia. — Ele ri. — Jack... — Ele faz
um pouco de suspense. — Meu pai e minha mãe estão vindo para
cá. Meu pai me enviou uma mensagem agora de manhã, devem
chegar na hora do almoço.
— Ok!
Me lembro do que minha mãe me disse, sobre a pequena
discussão que ela teve com o Rui, sobre a mãe dele poder pegar o
Luigi. Não quero ser tão insensível assim, ela é a mãe do Rui, mas
ela foi muito má comigo, então agradeci demais por minha mãe ter
sido dura com ela.
É isso, ela precisa se desculpar comigo primeiro.
Ele me olha sem graça.
— Então, tudo bem. Me deixe ir até o Luigi, estou com saudades
dele.
Sorrio com seu jeito, que papai mais lindo o Rui está se saindo.
As fotos dele dando mamar para o Luigi, banho e tudo mais, são
demais.
Existem coisas que acontecem em nossa vida que não sabemos
muito bem explicar, mas é fato, o Rui precisava que eu
engravidasse desse jeito mesmo, sem avisá-lo, caso contrário ele
arrumaria um jeito de se safar.
— Tchau, minha deusa! Eu volto logo!
Mando um beijo com os dedos para ele e o vejo saindo.
Ajeito-me na cama, e resolvo dormir mais um pouquinho, quando
eu for para casa, tenho certeza que não conseguirei dormir muito,
esse bebê ainda me dará muito trabalho.
****
Um beijo em meu rosto e acordo, e vejo minha mamãe linda.
— Tudo bem, filha? — Ela se inclina sobre mim, passa as mãos
pelos meus cabelos, tão carinhosa, tão protetora.
— Tudo, mãezinha! Estava dando uma cochilada! — Levo minha
mão aos seus cabelinhos curtos e os acaricio. — E o Luigi, como
está?
— Cada dia que passa mais lindo! Ele é a cara do seu marido,
Jack! — ela diz em tom de segredo. — Mas, com o passar do tempo
vão aparecer as semelhanças com a mãe também, é sempre assim.
— Ele mamou quantas vezes hoje? — pergunto curiosa, mas,
também, muito frustrada.
— Quando cheguei de manhã o Rui estava dando a mamadeira
para ele, a segunda mamada fui eu, e agora o Rui está dando a
terceira — ela diz sorrindo.
— Oh, esse Rui está se saindo um belo de um babá! — Brinco.
— Parece mentira, né mãe? Ele dizia que não suportava crianças!
Que esquisito isso, né?
— Ele era um bobão, imaturo e medroso! — Ela ri. — Morria de
medo de assumir uma família.
Dou risada da minha mãe, ela é tão direta.
— Se deita neste sofá mãe, e tira uma soneca!
— Oh, Jack, acho que vou fazer isso. Ando com minhas costas
doendo, muito tempo sentada, não estou acostumada.
Ela se deita e relaxa.
— E a vovó, como está? A titia... — falo distraída, ligando a
televisão.
— Sua tia só reclama, está tendo que fazer tudo sozinha, cuidar
da mamãe, comida, limpar casa..., mas quero que ela se dane. Sua
avó está bem, aliviada, né, filha? Ela passou muito mal no dia que
soube que você estava inconsciente.
— Eu sei, o Rui me contou.
— A Carol prometeu ir buscar as duas e trazê-las aqui para te
ver. A mamãe queria vir hoje de manhã, mas achei muito cansativo
para ela.
— Sim, melhor não, ela fica melhor em casa!
— Você quer que eu te ajude a tomar banho, Jack? — Ela se
senta, não consegue ficar quieta.
— Não, o Rui pediu para eu esperar ele.
— Oh, nada de brincadeiras, Jackeline. Aquieta essa periquita.
Dou uma gargalhada.
— Mãe, eu estou toda costurada, mal consigo me sentar,
imagine fazer alguma com o Rui...
— Ah, bom! — Ela levanta suas sobrancelhas.
— Dorme, Dona Amélia! Sossegue sua periquita também.
Ela me olha atravessado, fico quieta, e a vejo adormecer.
Me sinto em paz, uma sensação boa, de tranquilidade, de
felicidade. Só preciso ver meu bebê, e tudo ficará melhor.
Durmo de novo, acho que ainda estou com o efeito do sonífero,
não é possível.
****
Me levanto da cama vagarosamente, o Rui me ajuda, faço
muitas caras feias, dói muito a cirurgia.
De repente ele me pega no colo.
— Rui, a médica pediu para eu andar — falo rindo.
— Chega de sofrimento, depois você anda. — Ele me leva para
o banheiro, me coloca no chão e levo mais alguns segundos para
conseguir esticar meu corpo. — Oh, Jack, será que está tudo certo?
— ele diz apavorado.
— Sim, a enfermeira disse que dói mesmo. Me ajuda a tirar a
camisola.
Ele a puxa do meu corpo, olho para minha barriga, ela está tão
grande quanto quando eu estava grávida, parece que ainda tem um
bebê aí dentro.
— Rui, me ajuda com a calcinha... — A puxo vagarosamente, e
logo vejo aquele mundo de sangue. — Oh, isso é bem nojento.
— Oh, Jack, pare com isso... — Ele joga o absorvente fora, liga a
torneira e me ajuda a ficar embaixo da ducha.
— Hum, como é bom tomar banho. — Enfio meu rosto embaixo
da água e já sinto o Rui me ensaboando, e isso é muito gostoso.
Ele ensaboa demoradamente meus seios, olho para ele e vejo
aquela cara de safado.
— É muito feio bolinar uma paciente acamada, Rui! — falo com
deboche.
— Saudades deles, Jack!
Oh, esse olhar me causa estragos.
— Está difícil agora, mas daqui a algum tempo a gente pode
brincar. — Sinto suas mãos descendo pelo meu corpo, ele ensaboa
delicadamente a cirurgia, desce, chega a minha perseguida, e dá
uma boa geral nela.
Dou risada da cena, ele me olha e ri.
— Está rindo do que? Só estou limpando minha área de lazer. —
Ele ri. — Vira, Jack, deixa eu ver minha bunda gostosa.
— Rui, você é muito tarado, sabia? — Sorrio sentindo suas mãos
em minhas costas, descem, descem, e se demoram em minha
bunda.
Isso é muito excitante.
— Você é bobo, Rui. Isso só vai te deixar com vontade, não
posso fazer nada por você.
— Depois bato uma punheta.
Eu gargalho, ele é louco, e tarado.
Alguém bate na porta, arregalo meus olhos.
— Aff, minha mãe está viajando! — Reviro meus olhos.
— Seus pai chegaram, Rui — mamãe fala do outro lado da
porta.
Fico séria, não estou muito a fim de ver a jararaca, mas fazer o
que?
Ele me olha engraçado.
— Vamos finalizar essa porra, tá ficando difícil para mim! — Olho
para sua calça, o volume em sua braguilha já está enorme, e sinto
uma sede louca por ele.
Sim, eu sou doente, doente por Rui.
— Estou com saudades dele, Rui. Depois você me deixa dar
uma olhadinha?
Ele arqueia suas sobrancelhas e ri, ri muito.
— Está louca, Jack?
— Oh, você não está me vendo nua? Quero ver você nu,
também!
Brinco.
— Pra que? Não vamos poder fazer nada! — Ele desliga a
torneira, pega a toalha e começa a me secar, tão gentil, tão
carinhoso.
— Só ver... — Apalpo o volume em sua calça. — Eu sou louca e
masoquista.
— Depois eu penso sobre isso, neste momento você tem visitas
no quarto, fica chato eu ficar tirando meu pau no banheiro para
mostrá-lo a você.
— Então serve um beijinho. — Faço um bico para ele.
— Está tudo bem com você? — Ele brinca. — Você tomou algum
remedinho?
— Estou ótima, estou melhorando, e minha fome por você
começa a dar sinal de vida — falo em tom de brincadeira, não estou
nem louca, é só para atiçá-lo.
Ele ri, aproxima seus lábios dos meus e me beija, e lembro dos
nossos beijos, do nosso amor.
— Vamos parar, Jack. Não posso sair lá fora assim — ele diz
apalpando seu pacote.
— Ok, me ajude a colocar a calcinha e aquela fralda ali. —
Mostro o absorvente imenso.
Ele me ajuda, coloca minha camisola, e me sinto melhor, nada
como um banho.
— Estou bonita? — Me olho no espelho. — Não tenho nenhum
batonzinho aqui, estou tão branca.
— Está linda, Jack! Vamos... — ele diz com pressa.
— Pode abrir. — Respiro fundo.
Saio do banheiro amparada pelo Rui, vejo seu pai com um
sorriso imenso no rosto, o Rui puxou a ele, carinhoso, terno e
simpático.
— Jackeline, que prazer imenso ver você! — Ele se aproxima,
pega em minhas mãos, as leva até seus lábios e as beija.
Ele é tão bonitinho.
— O meu também, Doutor Tony! — falo meio envergonhada com
a cena.
— Que susto, não? — ele diz. — Mas, agora está tudo bem,
vamos esquecer tudo, vida nova! O bebê de vocês está cada dia
mais lindo, saudável e você também, parece ótima.
— Sim, estou me sentindo bem melhor! — Olho para Dona
Raquel, ela está sem jeito. — Como vai, Dona Raquel? — falo de
longe.
— Bem... — Ela sorri insossa. — Você parece melhor, rezamos
muito pela sua recuperação, Jackeline.
Fico surpresa com sua frase.
— Que bom! Muito obrigada!
O Rui segura minha cintura e me leva para a cama.
— Trouxemos isso para você, bom é para o bebê, mas eu sei
que mãe, que é mãe, só pensa nos filhos. — Ela me entrega uma
caixa grande, azul clara com amarelo.
— Adorei a caixa — falo para descontrair.
Abro o laço, tiro a tampa, e vejo um pequeno enxoval de bebê,
uma roupinha mais linda que a outra.
— Que coisas mais lindas! — digo encantada. — São lindas,
dona Raquel, muito obrigada! — falo com sinceridade. — Assim que
chegar em casa, lavarei tudo para poder vestir nele. — Fecho a
caixa e devolvo para o Rui. — Obrigada mesmo.
— Comprei em uma loja de bebês em nossa cidade, é de uma
amiga, ela possui uma confecção, suas roupas são muito bonitas e
de qualidade.
— Sim, são mesmo, adorei!
Oh, o clima está bem estranho, claramente ela está tentando ser
simpática comigo, mas é estranho, ela sempre me destratou.
— Então, você já viu o bebê, Jackeline? — O pai do Rui me
pergunta.
— Ainda não! O Rui está tentando trazê-lo escondido, mas acho
que não conseguiu, né Rui? — Olho para ele, ele beija minha testa
e diz.
— Não estou sendo muito bem-sucedido, acho que amanhã
trago um sobretudo, e enfio ele na parte de dentro.
Todos riem com sua brincadeira.
— Sim, faça isso, eu te dou cobertura — seu pai diz divertido.
— A médica da Jack está negociando com o pediatra, mas estou
quase desistindo. Daqui a pouco a Jack vai para casa, e então tudo
está resolvido.
— Estou me contentando com fotos, e cheirar a camisa do Rui,
ele anda com cheirinho de bebê. — Brinco acariciando a mão do Rui
que está sobre meu colo, sentado ao meu lado da cama.
Um toque na porta, e acho que é minha mãe, eu a vi saindo de
fininho quando eu sai do banheiro. Mas então vejo aquele
segurança enorme abrindo a porta, me assusto, mas vejo qual o
motivo, um daqueles carrinhos de bebê de maternidade entra,
mordo meu lábio, eu não acredito que ele está aqui.
Uma palpitação louca no coração.
— Oh Rui, trouxeram o Luigi! — Aperto sua mão, sinto meu rosto
encharcar de lágrimas, levo minha mão até minha boca e seguro o
soluço.
O Rui se levanta segue até a enfermeira.
— Obrigado por terem trazido ele — ele diz emocionado
também.
— Ele pode ficar aqui com a mamãe, depois venho buscá-lo — a
enfermeira diz para o Rui, e me olha. — Parabéns, mamãe.
Mal consigo olhar em meio à inundação que acontece em meus
olhos.
O olho fascinada, vejo o Rui pegar ele no colo e trazer para mim.
— Aqui está seu tesouro, minha deusa! — ele sussurra para
mim.
Eu mal consigo pegar o bebê, de tanto que choro, mas eu o
pego delicadamente, e vejo seu rosto, e mal acredito que ele está
aqui.
— Oi, Luigi! É a mamãe! — falo emocionada, o coloco contra o
meu peito, fecho meus olhos e o sinto.
Meu bebê, o mais almejado do mundo.
Beijo sua cabecinha delicadamente, olho para ele.
— Te amo, Luigi — falo baixinho.
Volto a abraçar e beijar ele e acho que apertei tanto ele que ele
começa a chorar.
— Oh, Rui, acho que exagerei na dose de amor. — O Rui o pega
no colo, parece já tão acostumado com ele, balança ele um
pouquinho e ele se acalma. — Você sabe mais de bebês do que eu.
Sorrio com a cena.
— Já entendi como ele funciona, ele não gosta muito de beijos.
Ele é macho, Jack. — Ele me devolve e tento controlar minha
loucura de mãe.
— Ok, Luigi, sem muitos beijos. — Começo a acariciá-lo, e
quando olho, o Rui está com o celular apontado para mim, tirando
fotos. — Estou horrível, Rui.
— Está linda, Jack... — ele diz guardando o celular.
— Demos sorte para você, Jackeline — o pai do Rui diz.
— Verdade — Olho para os dois, parecem tão ansiosos para
pegar o neto, sou uma pessoa que perdoa fácil, não guardo
rancores, acredito na outra vida, e que tudo que fazemos aqui, um
dia teremos que acertar contas.
Então resolvo ser generosa, é o primeiro neto deles, não é justo
deixá-los de fora desse momento. Sem eles não existiria meu
grande amor, e se ele é essa pessoa maravilhosa, deve ser porque
Dona Raquel tem algo de bom em seu coração.
Ok, faço o que meu coração diz...
— Dona Raquel, quer segurá-lo?
Ela fica sem jeito, olha para baixo, e de repente chora.
— Me desculpe pelas coisas horríveis que falei de você,
Jackeline. Fui muito mesquinha, não entendi que você era especial
para meu filho, a julguei por causa de roupas. Me perdoe, estou
falando de coração!
Puxo o ar, estou emocionada, achei que ela não pediria
desculpas, está certo que a chegada do Luigi, ajudou com isso, mas
enfim, o que vale é a intenção.
— Eu aceito suas desculpas. Agora sou mãe também, acho que
entendo seu lado. — Tento ser diplomática, de fato, acho que nunca
faria o que ela fez, mas enfim, não vou guardar isso em meu
coração.
Ela me olha sem graça.
— Obrigada, Jackeline... Se você não se incomodar, gostaria de
segurar o seu filho!
— Não me incomodo, pode segurá-lo!
Ela se aproxima e tira o bebê do meu colo, e vejo pelo seu rosto
emocionado o quanto é importante para ela esse momento.
— Ele parece muito com o Rui, Jackeline! — ela finalmente diz.
— Irei mostrar fotos dele para você ver, o Rui era assim quando
bebê — ela diz simpática, como nunca vi antes.
— Quero ver sim... — digo já meio angustiada de não poder ficar
com meu filho.
— Acho melhor devolver o bebê para a Jackeline. Ela deve estar
louca para ficar com seu bebê, Raquel — seu Tony diz sabiamente.
— Oh, claro! — ela diz sem jeito, e me devolve meu tesouro.
— Obrigada... — sussurro, e volto a olhar fascinada para o Luigi.
Ele abre sua boquinha, tão linda, gostaria tanto que ele
mamasse em mim.
— Será que terei leite? — falo com o Rui, mas enfim, todos
ouviram.
— Sim, é só estimular Jack, peça ajuda as enfermeiras.
— Farei isso depois, agora não, ele nem parece com fome.
O Rui olha no relógio.
— Daqui a trinta minutos ou quarenta, com certeza alguém trará
a mamadeira, então você poderá experimentar amamentá-lo.
— Sim... — Olho para o Rui, e me vejo cheia de amor, meu bebê
e do Rui, parece mentira.
Eles ficam mais um pouco no quarto, mas logo dizem que
precisam almoçar e voltamos a ficar sozinhos.
O Rui se senta ao meu lado da cama e fica acariciando a
cabecinha do Luigi, que está em meu colo.
— Obrigado por deixar minha mãe segurá-lo — ele sussurra.
— Fiz por você. — Olho para ele.
— Eu sei... — Ele beija minha testa, e alguém bate na porta, ela
abre e vejo o pessoal do escritório.
O Felipe, o Gustavo, a Mariana, e o Alexandre.
— Oi, pessoal! — digo feliz, e surpresa.
— Viemos visitar a mais nova mamãe! — o Felipe diz, ele é
muito simpático, e é o queridinho do Rui, ele gosta também do
Gustavo, mas sua preferência é pelo Felipe.
Todos abraçam o Rui, trazem flores, presentes, e finalmente se
aproximam para conhecer meu maior tesouro.
— Esse não nega quem é o pai! — a Mariana diz.
— Olhem os olhos dele. Não tem como negar, né? — falo
divertida, vendo os olhinhos do Luigi abrirem com a confusão no
quarto.
— Oi, Alê! Que saudades! — Meu assistente lindo, tão
cuidadoso comigo enquanto eu estava grávida.
Ele me abraça emocionado, e chora, ele é fofo demais.
— Oh, Jackeline, quase morro de preocupação — ele diz, e eu
acredito, ele é uma pessoa especial, muito especial.
— Obrigada, mas agora estou bem! O olha só o que saiu da
minha barriga! — Brinco.
Ele segura as mãozinhas do Luigi.
— Fofo, Jackeline, ele é fofo. — Ele olha para ele. — Aqui é o
titio Alê, Luigi, lembra da minha voz? Eu passava o dia todo
tagarelando com sua mãe — ele diz de uma forma carinhosa.
— Ele deve lembrar, né? — falo animada.
Abro os presentinhos que me trouxeram, enquanto o Rui segura
o Luigi para mim.
— Posso segurar o bebê, Jackeline? — a Mariana pergunta.
Sério, tive vontade de falar não, ela não é minha amiga para
pegar meu bebê. Mas me sinto constrangida de falar não, então
deixo.
— Claro, pode segurar.
O Rui segue com o bebê até ela, mas foi só sair do colo do pai
para ele abrir o maior berreiro.
Ela olha para o bebê, ele não para de chorar, e por mim, já deu.
— Dá ele aqui, Mariana! — falo meio grossa. — Não gosto de
ver meu bebê chorando.
— Oh, claro... — Ela me entrega ele, e com a maior satisfação
vejo o Luigi parar de chorar.
Beijo sua testinha.
— Está tudo bem, meu amor! — cochicho para ele.
Mais alguns minutos de conversa, e a porta abre, e vejo um
carrinho lotado de mamadeiras.
A enfermeira entra, deixa a mamadeira do Luigi sobre a mesa, e
se direciona até mim.
— Jackeline, se quiser tentar colocá-lo no peito antes da
mamadeira, seria ótimo, o colostro é muito importante para o bebê
— ela diz.
— Ok, irei tentar, obrigada.
Ela sai, e o Rui não pensa duas vezes, fala na lata:
— A Jack vai tentar amamentar o bebê, então é melhor ela ficar
à vontade.
— Oh, claro... — Todos dizem meio que juntos, se movimentam
e finalmente vão embora, e respiro aliviada.
— Ok, então vamos lá, vamos ver para que serve tanto peito! —
Brinco.
— Para eu me divertir — ele diz debochado.
— Ok, Rui, mas nesse momento eu preciso que eles soltem leite
— falo irônica.
O Rui pega o bebê, tento arrumar a camisola para amamentá-lo,
estou ansiosa, meio nervosa, e por fim acabo ficando quase nua.
— Jack, se entrar alguém aqui vai ver todos os seus seios,
caralho! — ele diz incomodado.
— Arruma uma fraldinha dessas de pano, não dá para
amamentar de camisola — falo nervosa.
O ajeito em meu peito, e como se fosse meu instinto, sei o que
fazer, apenas coloco o bico do peito em sua boca aperto um pouco,
e vejo um jatinho molhar seus lábios, e dou risada.
— Eu tenho alguma coisa. — Olho para o Rui e dou risada.
O vejo-o ajeitando uma fraldinha sobre os seios descobertos.
— Agora vou registrar a primeira mamada do Luigi em sua mãe.
— Olho para ele e o vejo com o celular na mãe, me fotografando.
— Vou repetir, estou horrível para tirar fotos — falo, mas não
presto muita atenção nele, estou compenetrada vendo o Luigi
sugando meu peito, e isso me emociona muito, e choro.
O Rui se senta ao meu lado, beija meus cabelos, e acaricia a
cabecinha do Luigi.
— Está dando certo, Jack. — Olho para ele e ele sorri.
— Sim, ele está sugando. Deve ter alguma coisa aí dentro, caso
contrário, ele já teria largado.
— Com certeza — ele diz olhando a cena.
Ficamos ali, nossa pequena família, o Rui ao meu lado, babando
em seu bebê e eu realizando meu grande sonho: amamentar meu
filho. É muita felicidade, acho que vou explodir...
Capítulo 25
CAROLINA
Receber a notícia do fim do coma da Jack, renovou minhas
energias.
Confesso, não está sendo fácil bancar a chefe num escritório
onde a maioria são homens.
Eu até tentei dividir as responsabilidades entre os outros
advogados seniores, mas isso não dá certo.
Já ouviram dizer que cachorro com dois donos, morre de fome?
É isso, enquanto brigávamos para ver quem dava a opinião final,
o circo pegava fogo, e percebi que iriamos falir o escritório do Rui,
antes que ele pudesse retomar suas atividades.
Não sou uma mulher frágil, indecisa ou com medo. Odeio que
mandem em mim, o único que permito que faça isso é o Rui, porque
ele sabe mais do que eu. Então, ver aqueles dois pangarés achando
que por serem homens poderiam dar sua opinião final, me irritou.
Então, liguei para o Rui, e disse: “Ou eu decido, ou eles
decidem”, e ele, como me adora, disse aos demais que agora
Doutora Carolina que dá o aval final sobre os processos.
Não me acho melhor que eles, só quero ver minha opinião
reconhecida e respeitada.
Podem me chamar de general, xerifa, mulher macho... Quero
que se fodam!
Assumi minha homossexualidade sabendo das dificuldades que
teria, não é fácil, o fato de ser diferente faz com que as pessoas te
questionem, não te respeitem.
Mas não sou vítima, gosto de mulheres, e não suporto homens.
Tão simples quanto isso.
Devolvo meu celular para a mesa e falo emocionada:
— Pessoal, a Jackeline saiu do coma. O Rui me enviou uma
mensagem avisando!
Vejo sorrisos, comentários, todos adoram a Jack, ela conquistou
o respeito e a admiração de todos, não só porque ela é a escolhida
do Big Boss, mas porque ela mudou o jeito do nosso chefe ver as
coisas, se tornou mais aberto aos diálogos, contratou um gay,
enfim...
A Mariana, a advogada nova e última contratação do Rui se
aproxima de minha mesa.
— Nossa, estou muito feliz com sua notícia! Então ela já está
fora de risco?
A olho sorrindo.
— Sim, ela saiu do coma. Está ainda em observação, sob
cuidados especiais, mas o pior já passou. O Rui irá me avisar
quando a levarem para um quarto.
— Que ótimo, diga a ele que rezei muito por ela!
Sorrio, mas acho meio exagerado, ela mal conhecia a Jack para
rezar por ela, mas enfim, acho que é força de expressão.
— Certo, direi! — Volto a olhar para meu computador.
— Ela já está em um quarto? Gostaria de visitá-la!
A olho de lado, essa Mariana está muito entrona, ela não é
amiga pessoal da Jack ou do Rui.
— Ainda não é possível, Mariana. Assim que o Rui me passar a
informação, aviso a todos. Quem quiser visitá-la, que o faça, mas
acho que por enquanto não, ela está se recuperando.
— Ok. — Ela sorri.
A olho seguindo para sua mesa, não sei porque, mas não
simpatizo muito com essa mulher. Alguém poderá dizer que é rixa
feminina, ou ciúme profissional, mas eu afirmo, não é isso, não
gosto do jeito dela, a acho falsa.
Percebo que ela pega seu celular e segue em direção à copa.
Um sexto sentido me faz levantar e segui-la.
Procuro ser discreta, não me aproximo muito, ela entra na copa,
e disfarço abrindo um armário próximo, e sem que ela me veja,
escuto sua conversa.
“— Oi, tudo bem com você? Então, tenho novidades: parece que
cadela saiu do coma...”
Meus olhos duplicam, trinco meus dentes, e fecho meus
punhos.
Com quem essa vaca está falando? E como ela tem coragem de
falar da minha amiga assim?
Ok, controlo meu temperamento de boxeadora, fuço no arquivo,
e tento ouvir a conversa...
“— Isso mesmo, parece que ela irá para um quarto... Aham...
Claro que te aviso, o hospital é o... Isso... Assim que a sapatona
informar para todos o quarto que ela ficará, eu te ligo. Ok, se cuida
amiga.”
A primeira coisa que me vem à mente é dar um murro no meio
da cara dessa patricinha de merda, quebrar seu nariz perfeito, seus
dentes alinhados, e talvez deixar uma marca em seu supercílio.
Mas respiro fundo, não posso fazer isso. Preciso descobrir mais
coisas, saber com quem ela está falando.
Antes que ela me veja, sigo para o banheiro, entro em uma
cabine e penso.
— Eu nunca deveria ter desconsiderado meu instinto, eu sabia
que ela não prestava, deveria ter convencido o Rui que ela não era
boa coisa. Uma indicação do Gustavo, amigo do ex-namorado da
cobra da Priscila, não poderia ser boa coisa.
Mas, tudo bem, ficarei na cola dessa vagabunda, se ela sair da
linha, eu a mato.
****
O nascimento do Luigi trouxe em mim um novo tipo de
sentimento, o da maternidade. Eu e a Jack temos a mesma idade,
somos muito parecidas, muito amigas, houve uma época que eu
achava que era apaixonada pela Jack, mas descobri que eu a amo
sim, mas não é amor romântico ou sexual, é amor em sua forma
mais simples e pura.
Então, não é porque me relaciono com mulheres que não gosto
de crianças.
Talvez um dia eu queira engravidar, como comentei com a Jack,
talvez algum amigo gay queira me ajudar, apesar que não gosto de
pensar em dividir a maternidade com alguém, quero um bebê só
meu, de alguém que não queira ter laços. Meus amigos gays são do
tipo que irão querer fazer papel de mãe também, e aí, ferrou!
Tem também o fato que eu e a Mirella temos um relacionamento
conturbado. Sinceramente, acho que ela só está interessada em
minha grana, nos jantares caros, no carro que dei a ela, e no
apartamento que ela mora de graça.
Desconfio que ela esteja saindo com outra pessoa, outra mulher.
Sou ciumenta e possessiva, então se isto estiver acontecendo,
talvez eu dê uma surra nela, para largar de ser mau caráter,
exploradora e vagabunda.
Eu só preciso ter certeza.
Eu pensei que desistindo dos homens eu seria mais feliz. Mas
vejo que as coisas não são bem assim.
Meus traumas de infância atrapalham demais minha vida afetiva,
não consigo amar ninguém, não consigo me apegar a ninguém, as
únicas exceções são minha mãe, e minha irmã de coração, a Jack.
Acho que meu fim será um apartamento fedorento e cheios de
gatos, uma escrivaninha, e uma garrafa de uísque.
Balanço minha cabeça para espantar os pensamentos que me
incomodam.
A única preocupação que quero ter agora é a Jack, seu bebê
lindo, e o escritório do meu chefe amado.
A Jack já sabe que tenho um amor fraternal pelo Rui, ele é meu
mentor intelectual, o único homem que acreditou em meu talento,
que me respeita pela minha diferença, e que me valoriza
profissionalmente.
Tudo bem, o filho da puta já me cantou no passado, mas isso
quando ele era um canalha gostoso e sem vergonha. Agora ele é
um homem apaixonado, e o cara mais fiel do mundo, e senão for, eu
ajudo a Jack a capar ele.
Acabo de sair da UTI Neonatal, fui visitar meu afilhado. Eu meio
que obriguei a Jack e o Rui a prometerem que seria a madrinha do
Luigi, essa é minha condição para manter nossa amizade.
Eu sei, sou bem autoritária, pouco flexível, gosto de mandar e de
ser obedecida. Deveria ter seguido a carreira militar, já me disseram
isso, o Fernando mais precisamente, aquele advogado imbecil e
preconceito. No final das contas, ele era frustrado, ele achava que
com seu charme barato eu me renderia a ele, mas não sou tão
idiota assim.
O Luigi está lindo demais, e cada vez estou mais apaixonada.
Sigo para o lugar que o Rui disse que a Jack está agora. Depois
de subir alguns andares, e andar por alguns corredores chego à ala
de terapia semi-intensiva.
Estou com um friozinho no estõmago, confesso, houve
momentos que achei que ela não conseguiria, seu quadro de saúde
era muito grave. Mas não havia chegado sua hora, e Deus não
poderia ser tão injusto com ela, o bebê que ela tanto queria nasceu
cheio de vida, como Ele poderia tirar isso dela?
E Ele não o fez, e isso é um milagre. A Jackeline é uma pessoa
abençoada, cheia de luz, eu sabia que Deus não a abandonaria.
Olho para as numerações e então vejo o seu quarto e sorrio, é
bom demais rever minha mais leal amiga.
Bato de leve na porta, a abro e a vejo deitada, e seu grande
amor ao seu lado.
Sério, nunca achei que esses dois dariam tão certo, mas a Jack
não é uma mulher qualquer, essa italiana tem uma personalidade
forte e decidida, além de linda. Eu a acho linda, não aquela beleza
das revistas de moda, sua beleza é real, natural e brasileira.
Que mulher não gostaria de ter peitos enormes e uma bunda
invejável?
Ok, eu não gostaria, mas adoro mulheres com esse corpo.
— Olá! É aqui que tem uma doentinha chamada Jackeline? —
faço voz de menininha.
Oh, pobrezinha da Jack, ela parece tão frágil.
Ela revira os olhos, não perde essa mania irritante, odeio quando
ela gira os olhos, ela insiste nesse costume desde seus 15 anos.
— Oi, Carolzinha... — ela diz com um sorriso.
Abraço o Rui, o acidente da Jack me aproximou dele, isso é
fato.
— Tudo bem por aqui? — Sigo até ela, vejo flores no quarto. —
Esqueci de trazer flores!
— Não precisava, o Rui já me deu muitas. — Sua voz sai meio
fraquinha, ela não está na sua força total, conheço essa italiana, não
foi fácil passar pelo o que ela passou.
Me aproximo dela, beijo sua testa, tenho vontade de abraçá-la,
mas me contenho.
— Estou tão feliz, Jack! — Me emociono ao vê-la. — Que susto,
amiga!
Trazer a Jack quase morta para o hospital me fez rever um
monte de coisas em minha vida.
Precisamos ser felizes hoje, não podemos deixar para amanhã.
— Você foi ver meu loirinho? — ela diz animada.
Olho para o Rui, tadinho, ele sofreu tanto, nunca vi um homem
sofrer desse jeito, se isso não é amor, não sei o que é.
— Sim, acabei de sair de lá! — Me sento em um sofá. — Ele
estava mamando com a vovó. Ele está, lindo Jack, você não tem
noção como ele é gostoso, cheiroso. — Olho para Rui. — Não é,
Rui?
— É verdade, Jack, mas a caca dele é de matar.
Damos risadas.
Conversamos mais um pouco, conto um pouco sobre o
escritório, sobre minhas brigas com os dois advogados, rimos e me
sinto renovada, é bom demais voltar aos velhos tempos.
Penso em contar para o Rui sobre o episódio com a Mariana,
mas não quero preocupá-lo. Ela pode apenas estar dando a notícia
para alguma ex-peguete do Rui.
Na real, o que tem de mulher invejosa, jogando praga na Jack,
não está escrito!
Fiquei de perguntar para o Rui sobre o acidente, se ele havia
descoberto algo, mas em meio a tantas coisas, não quis retomar
esse assunto.
Sua cabeça agora está na Jack e no seu filho, quero que ele
esqueça tudo isso, vida nova, enfim...
A porta abre e vejo o amigo do Rui, um mulherengo feito ele,
com cara de cafajeste.
Confesso, ele é bem bonitão, gostosão, e tem cara de tarado, e
parece que quer ser o padrinho do Luigi.
— Oi, família! — ele diz animado, segue até o Rui, o abraça
longamente, parecem muito amigos, muito próximos, se aproxima
da Jack, beija a mão dela e dou risada.
— Se lembra da minha amiga, Carlão? A Carolina, ela será a
madrinha do Luigi — a Jack diz com deboche.
— Claro que lembro, nos vimos no aniversário do Rui e no dia do
nascimento do Luigi! — Ele estende a mão para mim. — Tudo bem,
Carolina? Precisamos nos dar bem, afinal seremos os padrinhos do
herdeiro desses dois — ele diz em tom de brincadeira.
— Tudo ótimo, e você? — Não dou muita atenção, já percebi seu
estilo.
A chegada do amigo do Rui estragou o clima, então resolvo ir
embora.
— Eu já vou, Jack. Tenho muitas coisas para fazer, passar no
mercado, lavanderia, enfim....— Dou a volta na cama, e beijo o rosto
da Jack. — Amanhã venho te ver de novo. Te amo, amiga! —
cochicho.
— Eu também, obrigada por tudo! — ela diz com os olhos
emocionados.
— Eu já estou indo, Rui... — O abraço e olho para o amigo
cafajeste. — Até uma próxima, padrinho.
Ele sorri e fica me olhando, e tenho vontade de dar um murro de
esquerda em seus olhos verdes, lindos, por sinal!
****
Ainda é cedo, não tinha nada para fazer de fato, era mentira, e
só queria dar uma desculpa para ir embora e não mostrar que a
chegada do amigo do Rui me constrangeu.
Olho no relógio, a Mirella já deve estar em casa, hoje ela não
tem pós-graduação e como não trabalha, passa o dia coçando.
Ok, eu a aceitei com sua bagagem imensa, não posso reclamar.
Passo em uma pizzaria e compro uma pizza, farei uma surpresa
para ela, afinal não tenho chegado antes das 22h em casa, tenho
trabalhado como uma condenada, mas tudo bem, estou fazendo
isso porque quero.
Abro o apartamento, a sala está vazia, apenas uma mochila
sobre o sofá, não a reconheço, mas deve ser alguma nova
aquisição da garota mais consumista do mundo, a Mirella.
Sim, ela vai me quebrar se eu não colocar regras para ela.
Sigo até a mesa de jantar, coloco a pizza sobre a mesa, o
barulho de chuveiro me chama a atenção, então sigo para nosso
quarto, entro e vejo roupas jogadas pelo chão, a cama
desarrumada, e barulhos estranhos no banheiro.
Meu coração dispara, assim como todos os pelos do meu corpo
eriçam.
Caminho a passos firmes para o banheiro, o abro em um
solavanco e a vejo no chuveiro, mas ela não está sozinha, ela está
acompanhada e não é outra garota, mas sim um homem.
Sinto o sangue subir para meu cérebro como um foguete.
Abro a porta do box, pego em seus cabelos e saio a arrastando
molhada pela casa.
— Sua vagabunda, agora você vai aprender como a vida
funciona.
Ela grita, esbraveja e tentar se livrar de minhas mãos, mas não
consegue. A arrasto pelos cabelos até a porta da sala, abro e a jogo
nua no chão do hall dos elevadores.
— Vamos ver quem é esperta agora, sua vaca! Vá pedir roupas
para a vizinha.
— Carol, por favor. — Fecho a porta em sua cara, tranco, e
agora é a segunda parte.
Entro no quarto, o cara está vestindo sua roupa com desespero.
— Já vou deixar claro, eu não sabia que a Mirella morava com
outra mulher, ela me disse que o apartamento era dela. Ela nunca
me falou sobre você.
Seguro meu punho ao longo do meu corpo, pode ser verdade,
essa cachorra enganou o idiota, ele tem cara de idiota, e a mim, a
mais idiota de todas.
— Saia da minha casa, antes que eu quebre a sua cara. — Ele
passa por mim voando, o sigo até a sala, ele pega sua mochila, e
segue para a porta.
Antes que ele saia, eu digo.
— Diga a vadia da Mirella que ela não tem mais roupas,
queimarei tudo, ou melhor, darei para os pobres. Leve a bolsa dela,
ela precisará dos documentos. — Destranco a porta e o deixo sair,
mas não me dou ao trabalho de olhá-la novamente.
Volto para meu quarto, arranco as roupas de cama, tiro todas as
roupas dela do meu guarda-roupa, sapatos, tudo, deixo tudo no
chão.
Amanhã arrumarei uma caixa e doarei suas coisas, se ela pensa
que devolverei alguma coisa, ela está enganada.
Um vazio imenso toma conta do meu coração, mas não sou
capaz de chorar, e também, não chorarei por uma vagabunda.
Mas uma decepção para minha lista extensa de decepções.
Mas, não sou mulher de me deixar abater, sigo para o banheiro
de hospedes, tomo um banho, visto uma roupa para a noite, pego
meu carro e vou em direção a boate gay que frequento.
— Preciso dançar, e beber, é isso... — Respiro fundo.
****
Nada como uma noitada dançando e rindo para levar embora o
ódio que estou sentindo daquela garota.
Espero que ela não cruze comigo nunca mais, pois deformarei
seu rosto, e serei presa em seguida.
Está resolvido, darei um tempo em minha vida amorosa, não
quero me envolver com ninguém durante seis meses ou mais, talvez
me torne assexuada, não quero homens e nem mulheres.
Talvez eu decida ser mãe, seria uma boa forma de mudar minha
vida, me empolguei com a vinda do Luigi.
Só preciso arrumar um jeito de colocar um sêmen dentro de
mim.
Enquanto dirijo para o escritório, coloco uma música bem
agitada, para me acordar, me animar, e levar o resto de tristeza que
estou sentindo para bem longe.
Eu gostava dela, de verdade!
Sei lá, às vezes, penso que vivo procurando alguém para
preencher o vazio que tenho dentro de mim.
Preciso procurar uma terapeuta, mas não pode ser a Jack, ela é
maravilhosa, me entende mais do que ninguém no mundo, mas
somos amigas e isso atrapalha.
Finalmente estaciono meu carro, sigo para o interior do
escritório.
— Oi, Alexandre... — Beijo seu rosto, agora somos amiguinhos.
— Oi, Carol! Ontem fui visitar a Jackeline, e conheci o Luigi. Que
coisa mais fofa ,Carol, fiquei apaixonado!
Ele descamba a falar, e tenho que cortá-lo.
— Ok, Ale. Preciso trabalhar, depois tomamos um cafezinho
juntos, e conversamos.
Entro em nossa sala grande, onde todos os advogados,
estagiários e assistentes trabalham.
— Bom dia, pessoal!
Ouço meia dúzia de bom dia, o Felipe e o Gustavo andam de
mal comigo, mas quero que se danem.
— Vamos fazer nossa reunião? — falo para os dois.
— Ok, chefa! — o Gustavo diz com cara de bunda.
— Não sou sua chefe. — Pego minhas coisas e sigo para a sala
de reunião.
Depois de uma hora, discutindo, brigando, saímos estressados
da sala.
Não vejo a hora que o Rui retorne.
Sigo para o café, tomo meio litro de cafeína, esses dois me
deixam mal-humorada.
Volto para minha mesa, pego alguns processos do Rui que estão
parados, e começo a analisá-los.
O período da manhã passou rapidamente, com muitas coisas
para fazer, nem notei que a hora do almoço chegou.
Peço uma salada em um restaurante próximo ao escritório, faço
meu almoço rapidamente na copa e volto aos meus processos.
****
Olho em meu relógio de pulso, já é final de tarde, estou muito
cansada, depois de horas lendo e analisando um processo
complicado do Rui.
Me alongo em minha cadeira, e chego à conclusão que se eu
não for ao banheiro agora, irei mijar nas calçadas, e isso será bem
constrangedor.
Olho ao redor da sala, o Gustavo está reunido com a Mariana
em uma sala, o Felipe está em uma pequena mesa de reuniões com
sua estagiária, e os advogados mais jovens trabalham arduamente.
Penso no Rui, e me sinto satisfeita, acho que estou fazendo
minha parte.
Sigo para o banheiro, entro em uma cabine e faço um xixi
demorado.
A porta abre, ouço barulho de saltos, continuo com minha
meditação “banheiral”, e então ouço o barulho de um celular
tocando. Mas, não é o meu, eu o deixei em cima de minha mesa.
“— Alô... — Percebo que é a voz da Mariana.”
Faço silêncio.
“— Oi, sim, posso falar agora. Tudo bem e você? —Ela continua.
— Então, já tenho as informações, anota aí, quarto 43.”
Ela dá uma pausa, parece ouvir a outra pessoa.
Com quem essa vaca está falando sobre a Jack?
“— Sim, eu estive lá ontem, conheci o fedelho...”
Caramba, eu vou acabar com a vida dessa mosca morta.
“— Você vai até lá? Mas fazer o que? — Uma pausa. — Aham,
não faça nenhuma loucura, Priscila...”
Todos os pelos do meu corpo se eriçaram ao ouvir este nome.
Meu Deus, ela é amiga da ariranha da Priscila, ela é uma
informante da Priscila aqui no escritório. Como não percebi isso?
Ela continua...
“— Que tipo de susto? Roubar o filho da cadela? Oh, você não
sabe como ela falou comigo quando peguei aquele bebê nojento em
meus braços, o desgraçado não parou de chorar um minuto...”
Tento segurar o ódio que estou sentindo, mas seguro-me e
espero ela chegar até o final da ligação.
“— Eu acho que ela está para ter alta, se você quiser ir visitá-la...
— Ela dá risada. — Tem que ser rápido. O Rui comentou que o
bebê terá alta amanhã, então acho que ela também.”
“— Isso, o Rui estará com ela, não sei da rotina dele... Aham...
Tudo bem, depois me diga a que horas você irá até lá... Você vai
agora, sério? Tudo bem, depois me liga, me diz o que aconteceu...
Um beijo, se cuida!”
Ela desliga e sai, e estou com minha boca aberta, não sabendo o
que fazer.
Se eu abrir o jogo, ela poderá avisar a ariranha que sei do plano
dela.
Meu coração bate freneticamente, minha mente trabalha, não sei
como agir.
Preciso falar com o Rui.
Isso, preciso falar com o Rui, é a primeira coisa a se fazer.
****
Volto para minha mesa, estou tensa, não consigo mais continuar
com minha análise, olho a todo o momento para a mesa da vadia.
Ela não falou novamente no telefone, e eu não consigo falar com
o Rui, estou quase tendo um ataque cardíaco.
Tento pela vigésima vez ligar para ele, liguei no quarto e
ninguém atendeu, mas eu acho que ouvi o Rui dizer que a Jack faria
alguns exames hoje à tarde, então pode ser que ela não esteja no
quarto.
Penso em ligar para Dona Amélia, mas ela me disse que teria
que ficar em casa hoje, parece que a tia encalhada da Jack iria sair
com seu “namorado”, e deixaria a velhinha sozinha.
A vejo se levantar, pegar sua bolsa e sair.
Imediatamente, faço o mesmo, encontro-a no estacionamento do
escritório.
— Vai para casa, Mariana?
Ela me olha e sorri estranho.
Será que ela acha que estou paquerando ela?
Urgh, odeio loiras.
— Não, vou encontrar uma amiga...
— Sério, eu iria te chamar para tomarmos um chopp, o dia hoje
foi terrível, trabalhei pra cacete, queria relaxar um pouco... Vamos?
Ela abaixa a cabeça e sorri.
— Eu não sou lésbica, Carolina.
Um nocaute agora cairia bem.
— Eu sei, mas também não estou a fim de você. Você é muito
magra, loira, gosto de morenas, e bem carnudas!
Ela faz uma cara de nojo, e me divirto.
— Então, estou te chamando para tomar um chopp, como
amigas de trabalho.
— Não posso... — ela diz com desdém.
— Ok.
Espero ela sair com seu carro, ligo o meu, e começo a segui-la.
Achei a princípio que ela iria para o hospital, mas ela desvia para
outra direção, acelero meu carro, tento falar com o Rui, chama,
chama e cai na caixa postal.
— Merda, Rui! Atende essa porra!
Esqueci o número do telefone do quarto, me desespero, talvez
eu tenha demorado muito, mas de fato não sei o que a doida da
Priscila quer fazer, ela é uma promotora, não vai sujar sua carreira
por causa de um homem.
E também, aquele hospital parece a Casa Branca, tem
seguranças para todos os lados.
O trânsito empaca, buzino feito uma louca, e então meu celular
toca.
Arregalo meus olhos e vejo o nome do Rui na tela.
— Rui... — falo meio desesperada.
— Oi, Carol! Meu celular estava desligado, acho que o desliguei
quando fui à UTI Neonatal, para falar com o pediatra. Mas, qual o
problema? Quantas ligações, o que houve? — ele diz agitado,
parece andar.
— Rui, me desculpe, não quero criar pânico em você, mas... —
Puxo o ar. — Ouvi a Mariana, nossa advogada, conversando no
celular com ninguém menos que a Priscila, e ela estava passando o
endereço do hospital e o quarto da Jack... — falo atônita.
Ele fica mudo.
— Quando isso? — Sua voz sai tensa, nervosa.
— Agora a pouco, eu a peguei conversando no celular dentro do
banheiro, ela foi embora do escritório, tentei segui-la, mas ela
desviou o caminho, mas pelo que ouvi, a maluca da Priscila está
indo até aí, e acho que é agora.
— Porra, Carol, não me fala isso! A Jack está sozinha no quarto,
fui até a lanchonete. — Sua voz sai ofegante. — Preciso correr,
depois nos falamos.
Ele desliga.
Desvio meu carro para a pista exclusiva de ônibus, acelero e
rezo.
Capítulo 26
PRISCILA ALBUQUERQUE
Flash back on
Meu celular toca e percebo pelo número do telefone se tratar de
uma ligação da promotoria.
Desde minha última conversa com o procurador chefe, não voltei
mais até lá, ele me proibiu.
Sim, minha vida está desmoronando.
Penso um pouco e resolvo atender, preciso saber qual o meu
futuro na promotoria, ainda tenho esperanças de que ele desista do
processo administrativo disciplinar contra mim.
Tomo coragem e atendo:
— Alô! — falo insegura
— Alô, Priscila, é a secretária do promotor. Ele pediu para avisá-
la que o processo administrativo movido contra você foi publicado
no Diário Oficial do Estado, e portanto, você está definitivamente
afastada de suas funções até o final do processo.
Fecho meus olhos, inspiro profundamente, agora é definitivo.
— Certo! — Tento manter minha dignidade — diga ao promotor
que recorrerei, e com certeza retornarei ao meu cargo.
— Como achar melhor. Boa sorte!
Ela desliga.
Não consigo segurar as lágrimas. Agora todos saberão que além
de ter um pai corrupto, estou sendo exonerada de meu cargo de
promotora pública.
Nunca me imaginei em uma situação como essa, sinto como se
o chão tivesse sido tirado de mim.
Sigo para o banheiro, lavo meu rosto diversas vezes, estou
horrível, cheia de olheiras, não saio de casa e nem me arrumo há
dias.
Na verdade, desde o acidente que mandei a vadia da Jackeline
pro hospital. Essa é a única notícia boa, do resto, minha vida está
dissolvendo.
Se ele não me quis, também não terá a vadia.
Dou risada.
O impacto da batida foi muito forte, além de ter feito o carro onde
estavam girar várias vezes, ainda bateu em outros carros, tenho
certeza que ela não resistirá.
Sigo até meu celular, preciso ligar para a Mariana e saber se
aquela vaca já morreu.
— Mari, é a Pri! — Sorrio falsamente, ninguém ainda está
sabendo que estou afastada da promotoria.
— Oi, amiga! Tudo bem?
A Mariana é uma amiga que infiltrei no escritório do Rui, foi o
jeito que encontrei de conseguir informações sobre os dois.
— Então, como a cadela está? Já morreu? — Sorrio com
satisfação.
— Ai, amiga, que jeito de falar! — Giro meus olhos. — Ela
continua em coma, parece que está mal. A Carolina,
a sapatona, vive chorando pelos cantos...
— E o bebê, está na UTI ainda? — pergunto.
Até pensei em sumir com a criança, mas cheguei à conclusão
que seria muito perigoso e difícil. Me contentarei com a morte da
cadela.
— Sim, mas acho que sairá em breve.
— Certo, então não esquece de me dar notícias sobre a vadia.
— Tudo bem... — Ela fica em silêncio. — Preciso desligar, o
Gustavo está me chamando. Um beijo!
****
Me sinto sozinha, angustiada e depressiva.
A mudança definitiva de meus pais para a Europa me causou um
buraco imenso no peito. Estou sozinha, sem família, namorado ou
amigos.
Vi minha vida se destruir em alguns meses, na verdade desde
que a Jackeline apareceu em minha vida e na do Rui. Ela foi uma
espécie de amuleto do mal, alguém que veio para destruir tudo o
que conquistei.
Me sento em uma poltrona e tento falar com meus pais, mas eles
não me atendem e tampouco me retornam, estão com medo que
meu celular esteja grampeado, e a Polícia Federal os encontre.
Talvez eu devesse comprar um novo número, não sei, talvez eu
faça isso.
Por enquanto, não posso ir para onde eles estão, chamará a
atenção da polícia, e meu pai poderá ter seu paradeiro descoberto.
Ando pela casa deles, apenas os empregados ainda continuam
aqui.
Sigo para o quarto de meu pai, abro a porta e me bate uma
tristeza profunda, sinto demais a falta deles.
O quarto está intocado, vou até a cabeceira de meu pai, olho o
último livro que ele estava lendo, abro a gaveta da mesinha lateral,
para guardar o seu livro, mas então, me surpreendo ao ver uma
arma.
A olho por longos minutos e finalmente, respiro fundo e a pego.
Não sei exatamente o que farei com isso, mas logo saberei.
****
Os dias passam sem que eu tenha notícias da vadia da
Jackeline.
— Por que ela não morre logo? — falo comigo mesma, prostrada
em minha cama, esperando por uma ligação.
Quem sabe isso renovasse minhas energias!
Quem sabe com a morte dela eu conseguisse reconquistar o
Rui!
Me assusto com o celular, em um primeiro momento penso que
são meus pais, mas vejo que é a Mariana.
Atendo ansiosa.
— Oi! Tudo bem com você? Então, tenho novidades, parece que
cadela saiu do coma... — ela diz apressada.
Fecho meus olhos e esmurro a cama.
Maldita, como ela escapou da morte?
— Você tem certeza?! — pergunto incrédula.
— Isso mesmo. Parece que ela irá para um quarto.
Fecho os olhos com força.
— Tudo bem, preciso que você descubra tudo, e me avise.
— Aham. Claro que te aviso!
— Qual hospital a vadia está? — pergunto com raiva.
— O hospital é o... — a Mariana diz rapidamente.
— Na maternidade? — pergunto ansiosa.
— Isso! Assim que a sapatona informar para todos o quarto que
ela ficará, eu te ligo!
— Por favor, Mari, descubra isso rápido!
— Ok. Se cuida, amiga.
Desligamos.
Flash back off
****
Não suporto mais esperar uma ligação da Mariana, então pego
meu celular e ligo para ela.
Ela atende.
— Oi, estou enrolada. Te ligo em 10 minutos — ela sussurra e
desliga.
Bufo com raiva, mas sento-me em um sofá e aguardo.
Conto mentalmente o tempo, e volto a ligar, estou muito ansiosa
e estressada.
— Oi Mari! Tudo bem, você pode falar agora?
— Oi, sim, posso falar agora. Tudo bem e você? Então, já tenho
as informações, anota aí, quarto 43.
Abro um sorriso enorme, e anoto rapidamente.
— Você já foi até lá? Viu ela e o bebê? — pergunto com um
sentimento de ódio dentro de mim.
— Sim, eu estive lá ontem, conheci o fedelho...
— Eu também farei uma visitinha para a Jackeline. — Dou
risada.
— Você vai até lá? Mas fazer o que?
— Claro que vou! Só quero conhecer o bebê do Rui.
— Aham, não faça nenhuma loucura, Priscila...
— Só quero dar um sustinho na vadia! — Sorrio.
— Que tipo de susto? Roubar o filho da cadela? Oh, você não
sabe como ela falou comigo quando peguei aquele bebê nojento em
meus braços, o desgraçado não parou de chorar um minuto...
A interrompo, estou sem paciência.
— Você sabe quando ela sairá do hospital? — pergunto ansiosa.
— Eu acho que ela está para ter alta, se você quiser ir visitá-la...
— Ela dá risada. — Tem que ser rápido. O Rui comentou que o
bebê terá alta amanhã, então acho que ela também.
Me desespero, se a Jackeline for para casa, não terei chances
de encontrar ela, será muito mais difícil.
— Você disse amanhã? — pergunto nervosa.
— Isso!
— Ela costuma ficar sozinha, ou o Rui estará com ela?
— Isso, o Rui estará com ela, não sei da rotina dele... — ela
responde.
Oh, merda!
— Mari, você não sabe os horários que o Rui fica no hospital,
sua rotina? — Bufo estressada.
— Não sei da rotina dele.
Bufo novamente.
— Fique de olho na Carolina, se você descobrir qualquer coisa,
me ligue!
— Aham... Tudo bem, depois me diga a que horas você irá até
lá.
Penso um pouco e decido.
— Eu vou agora. Mari. Não vou perder tempo... — falo andando
para meu quarto.
— Você vai agora, sério? — ela pergunta incrédula.
— Sim, agora. Só irei me arrumar, então saio.
— Tudo bem, depois me liga, me diz o que aconteceu... Um
beijo, se cuida!
****
Termino de colocar um vestido na cor azul royal que combina
com meus olhos, um salto alto e alguns acessórios.
Quero estar maravilhosa hoje.
Faço uma maquiagem e prendo meu cabelo em um coque baixo,
para não atrapalhar na peruca.
Sigo até uma gaveta de meu closet, pego a arma e a coloco em
minha bolsa.
Não sei exatamente o que farei, estou confusa, extremamente
instável e com muita raiva do Rui e da Jackeline, principalmente da
Jackeline.
Então, tudo dependerá do meu humor quando chegar lá.
Pego meu passaporte, meus cartões internacionais falsificados e
uma pequena mala.
Meu pai sempre manteve documentos falsos para todos nós.
Parece que ele já sabia que teríamos problemas algum dia.
Se der tudo errado, eu fujo para a Europa, e antecipo os planos
de ir viver com meus pais.
Estaremos seguros, ninguém me encontrara lá!
O interfone toca, penso em não atender, mas acabo indo até a
cozinha e o atendendo.
— Pois não? — digo ajeitando minhas roupas.
— Doutora, tem dois policiais aqui que querem falar com a
senhora.
Meu coração dispara.
— Eu não posso atender ninguém.
Ouço o porteiro falando com alguém e então ele volta ao
interfone.
— Eles estão subindo, doutora.
Bato o interfone no gancho, pego minhas coisas e antes que
possa sair, ouço a campainha tocar.
Coloco a mão em minha cabeça e lembro.
— A saída de serviço! — Corro para a cozinha, abro a porta e
seleciono o elevador de carga.
Assim que o elevador fecha ouço um baque, acho que
arrombaram a porta do meu apartamento.
Chego ao meu carro correndo, literalmente, coloco as chaves na
ignição com as mãos tremendo, dou a partida e saio a toda
velocidade.
Respiro aliviada ao alcançar a rua.
Não sei o que querem comigo, talvez provas contra meu pai,
mas não encontrarão nada.
— Idiotas!
Antes de chegar ao hospital ajeito a peruca em minha cabeça,
olho-me no espelho e sorrio.
Nunca serei reconhecida.
Finalmente chego ao hospital, deixo o carro na rua, será mais
rápido na saia.
Sigo pelos corredores e finalmente chego à ala do hospital onde
ela está. Procuro pelo quarto e então o acho.
Uma enfermeira sai dele no mesmo momento, aproximo-me dela
e pergunto.
— Olá, boa tarde!
Ela sorri.
— Vim visitar a Jackeline e seu bebê. É aqui mesmo?
— Sim, é neste quarto.
— Oh, que bom! Você sabe se ela está acompanhada? — falo
bem meiga.
— Não. Ela está sozinha agora, seu marido deve ter ido até a
lanchonete, não sei ao certo.
Sorrio satisfeita.
— Ok, obrigada.
Abro a porta e então a vejo, ela e o bebê, e aquela raiva que eu
sinto por ela, vem à tona.
Ela me olha.
— Oi. Jackeline...
Ela me olha assustada, surpresa e abraça o filho junto ao corpo.
— Priscila? — Ela me olha confusa.
— Eu mesma, só que reestilizada! Gostou dos meus cabelos,
Jack? Posso chamá-la assim? — Dou risada, e fecho a porta.
— O que você está fazendo aqui? Vai embora, você não é bem-
vinda! — ela diz, parece apavorada com minha presença.
Sorrio.
— Preciso acertar umas contas com você.
Capítulo 27
RUI FIGUEIREDO
Arotina insana segue, mas está chegando ao fim, hoje nosso
bebê terá alta. Quanto a Jack, dependerá do resultado de alguns
exames que ela fará hoje.
Mas estou otimista, ela está muito bem, parece que o fato de ter
o bebê para cuidar a fez se recuperar mais rapidamente.
Não consigo desgrudar mais desses dois, então não fui para
casa essa noite, dormi no quarto com a Jack.
Na verdade, aproveitei que Dona Amélia foi para sua casa, para
cuidar da vovó da Jack, e fiquei aqui com minha pequena família.
O problema de se dormir em um hospital é a falta de conforto e
privacidade. Odeio quando essa porta abre e alguma enfermeira
entra no meio da noite.
Conclusão, estou como se não tivesse dormido nada.
— Bom dia, Rui! — Ouço a voz da minha deusa, e isso nunca foi
tão bom.
Sorrio, morto de sono, mas sorrio, pois a alegria de tê-la comigo
novamente é grande demais.
— Bom dia, minha deusa! — resmungo com a voz parecendo um
trovão.
— Oh, que voz mais sexy! — ela diz divertida.
Me sento no sofá cama e a olho.
— É bom demais ter você aqui, sabia, Jack?
Ela me olha com carinho.
— Obrigada! Agora quero um beijo de bom dia! — ela diz
manhosa, aliás está manhosa demais, estou a acostumando mal,
muito mal.
Me levanto feito um velho, dói tudo.
Sigo até ela.
— Eu não escovei meus dentes, devo estar com bafo! — Brinco.
— Hummm, eu adoro o seu bafo! — ela diz divertida,
estendendo seus braços para mim.
Me sento em sua cama, acaricio seu rosto, cabelos e a beijo.
Está difícil ficarmos só nos beijos, mas estou tentando me
controlar, demorará muito para voltarmos a ativa.
Separamos nossos lábios e ficamos nos olhando.
— Talvez todos nós iremos embora hoje ou amanhã cedo, não
sei ao certo! — Sorrio com a ideia. — Confesso, estou precisando,
Jack.
— Eu sei! — Ela acaricia meus cabelos. — Você está bem
cansado! — Ela me olha com carinho.
— Mas eu aguento, por vocês dois! — Sorrio. — Bom, vamos
tomar banho mocinha, seu humilde escravo cuidará disso. — A
pego no colo.
Ela dá risada.
— Você vai tomar banho comigo? — ela diz com malícia.
Eu já percebi, a Jack gosta de me provocar, mal sabe ela a
saudade que estou do amor que a gente fazia.
Era bom demais, viciante, e não posso ficar pensando muito
nisso.
— Você quer que eu tomo banho com você? — digo com ironia.
— Acho melhor não, né? — ela diz arrependida. — Nós dois
pelados não vai prestar. — Ela dá risada.
— É, posso perder a cabeça e aí já viu — digo com deboche.
A ajudo com a camisola, calcinha e ligo o chuveiro.
— Pode deixar que eu me lavo, você me tortura quando me
ensaboa — ela diz rindo.
A espero terminar, ajudo com os cabelos, o cateter do braço
atrapalha seus movimentos.
— Pronto, agora estou cheirosinha! — a Jack diz bem humorada.
— Vou te deixar no quarto e vou tomar um banho! — A ajudo a
colocar a roupa.
Voltamos para o quarto.
As bandejas com nosso café da manhã já foram deixadas no
quarto, então aproveito para tomar café da manhã com ela, em
seguida pego uma roupa limpa e sigo para o banheiro.
****
Termino meu banho, abro a porta do banheiro e vejo com
satisfação meus dois tesouros, a Jack e o Luigi.
— A enfermeira já trouxe esse comilão? — pergunto e sigo até
eles.
— Sim, eu liguei pedindo para trazê-lo — ela diz com cara de
mamãe babona.
O bebê está entretido mamando na Jack, e a expressão de
satisfação dela não tem preço.
Sim, este é o melhor e maior presente que já recebi, e de pensar
que eu não queria ser pai.
Beijo a cabecinha do Luigi, em seguida a da Jack.
— Vou lá fora fazer algumas ligações, mas já volto!
Ela sorri, não está muito preocupada comigo, só pensa no Luigi
agora.
Saiu do quarto, me sento em uma poltrona da sala de espera e
ligo para o Pimenta.
— Bom dia, Rui! — Ele atende rapidamente.
— Bom dia, Pimenta! Tudo bem?
— Tudo certo! Como está sua esposa?
— Bem melhor, estou esperando que ela saia, talvez ainda hoje!
— respondo animado.
— Que ótimo, Rui! Isso é muito bom!
— Então, alguma novidade? — pergunto ansioso.
— Sim, consegui um mandado com o Bezerra, dois homens
meus estão indo ao apartamento da promotora, vamos ver o que
achamos por lá!
— Espero que achem, mas não estou com muitas esperanças.
— digo apático.
— É sempre bom, e colocará algum medo nela. Vá por mim...
— Ok! Me ligue depois e me diga o que encontrou.
— Ah, mais uma coisa, notifiquei o Bezerra sobre os documentos
falsos, ele a convocará para esclarecimentos.
— Perfeito! Nos falamos... Por enquanto, obrigado!
— Ok!
Desligo.
Aproveito para checar meus e-mails, e responder mensagens
importantes.
Vejo uma mensagem nova do Carlão, a abro, e então vejo um
link para uma reportagem:
“Rui, essa notícia é bombástica! Você precisa ler.”
Ele escreve no corpo da mensagem.
Fico curioso e abro o link imediatamente, e então me
surpreendo:
“Juiz aposentado é condenado por diversos crimes, e foge do
país.”
No corpo da reportagem diz:
“Ex-juiz e importante advogado Paulista é acusado pela
promotoria pública por utilizar seu cargo para obter benefícios e
também por receber dinheiro de acusados para absolvê-los...”
Sinto um gelado no peito, mas a reportagem não cita nomes,
apenas menciona os tipos de crimes os quais o velho Albuquerque
está envolvido.
Estou muito surpreso, surpreso demais.
Nunca achei que ele fosse pego, mas parece que finalmente
alguém corajoso e honesto resolveu acabar com festa do pai da
Priscila.
A casa caiu para ele, mas demorou, demorou muito e acabaram
o deixando fugir.
Mas, eu sei por que ele foi pego. Há dois anos atrás, ele
absolveu alguns políticos envolvidos em um grande esqueça de
desvio de dinheiro público.
Ele foi muito ganancioso, achava que estava acima do bem e do
mal.
Não sou santo, cometi um único erro, mas foi o bastante para
aprender. Já o Doutor Albuquerque, não, ele já foi investigado
diversas vezes, mas nunca acreditou que poderia ser pego um dia.
Penso na Priscila, ela é fraca emocionalmente, deve estar
perdida com tudo isso.
Mas, eu quero que ela se foda, ela sempre soube das armações
do pai, era conivente, participava de tudo e tirava benefícios disso.
Talvez ela também seja indiciada e isso seria ótimo.
Ligo para o escritório, converso um pouco com o Felipe, depois
com o Gustavo. Eles estão melindrados, e enciumados com a
Carolina, mas isso irá passar assim que as coisas voltarem ao
normal.
Por enquanto, está bom. De tarde resolvo mais algumas coisas.
Me deixe voltar para minha família.
****
Enquanto a Jack almoça, aproveito para ficar um pouco com o
Luigi.
É fato, depois que a Jack acordou, não consegui mais ficar muito
com ele, a Jack não desgruda do seu bebê.
O faço dormir em meu ombro, e isso é muito bom, o seu
cheirinho, sua pele delicada, tudo é bom em um bebezinho.
— Ele dormiu, Jack! — O coloco no bercinho. — Agora você
deita um pouco e descansa, você não está totalmente curada.
— Rui, me ajude a ir até o banheiro.
A ajudo a ir até o banheiro, depois a levo para a cama, e a ajudo
a se deitar.
— Irei até a UTI neonatal, preciso conversar com o pediatra,
parece que a alta do Luigi sairá hoje, sua médica me avisou.
Ela me olha angustiada.
— Mas e quanto a mim? Quando terei alta? Ele precisa de mim!
Acaricio seu rosto.
— Fique calma, Jack! Ela disse que você fará alguns exames
hoje, se estiver tudo ok, ela dará sua alta também!
— Tudo bem, então conversa com a enfermeira. Veja quando
farão os exames! — Ela segura minha mão.
— Farei isso agora, patroa! Você quem manda! — Brinco com
ela.
— Não me chame de patroa, não sou mandona. — Ela ri, porque
sabe que é mentira, ela é bem mandona.
Dou um beijo nela, outro no Luigi, e sigo para a UTI neonatal.
****
Entro no ambiente da UTI Neonatal, desligo meu celular, e
coloco o traje especial.
Sigo pelos corredores a procura do pediatra.
Cumprimento algumas enfermeiras que encontro, já sou amigo
de quase todas.
O pediatra de plantão é um cara meio ranzinza, e se não fosse
pela médica da Jack, ele não teria liberado o Luigi para ir ao quarto
da mãe.
Mas, independente de qualquer coisa, ele foi legal com a gente.
— Olá, boa tarde! — digo assim que o encontro.
— Podemos conversar agora? — ele diz secamente.
— Sim, estou aqui para isso.
O sigo até sua mesa, me sento ao seu lado e presto atenção nas
suas explicações a respeito do Luigi.
— Então, Rui, seu bebê está ótimo, amanhã cedo ele terá alta,
espero que sua esposa também. Deixarei tudo preparado para que
amanhã cedo vocês venham buscá-lo e o levem para casa.
— Tudo bem, doutor. Estou aguardando a reavaliação da
obstetra, talvez minha esposa também tenha alta.
Ele se levanta apressado.
— Preciso ir, tenho uma cirurgia agora.
Aperto sua mão e ele se vai.
****
Olho no relógio, é final de tarde, o almoço não estava muito bom,
então estou precisando fazer um lanchinho, estou morrendo de
fome.
A Jack está tirando de letra os cuidados com o bebê, então
relaxo um pouco e sigo para a lanchonete.
Por incrível que pareça, encontro um amigo da faculdade no
caminho, sua esposa veio ter bebê, o segundo.
Perco alguns minutos conversando com ele. Finalmente, consigo
me livrar dele, o cara fala pra cacete.
Chego à lanchonete, peço um lanche, uma vitamina e compro a
revista que fala sobre a prisão do Doutor Albuquerque.
A reportagem é de capa, e isso quer dizer que a repercussão
será enorme.
A Priscila está perdida!
Enquanto aguardo o lanche, aproveito para ler a reportagem.
A lanchonete está cheia, então acabo demorando um pouco
mais do que gostaria.
Finalmente termino, pego a revista e sigo em direção ao local
onde a Jack está.
A distância entre a lanchonete e a ala do hospital onde ela está é
longa, então aproveito para ligar para meu pai, ele já deve saber
sobre o Albuquerque, mas estou curioso para saber sua opinião
sobre isso.
Apesar da amizade dos dois, meu pai nunca esteve metido nas
sujeiras do Albuquerque. Talvez a coisa mais suja que meu pai fez
em sua vida de advogado, tenha sido pagar o suborno para ele me
absolver.
Mas, foi um ato de amor, não conto isso como desonestidade.
Tiro meu celular do bolso, e percebo que o esqueci desligado.
Espero ele reiniciar e então me surpreendo ao ver diversas
ligações da Carol.
— Alguma merda aconteceu no escritório. — Penso alto.
O telefone toca uma vez, ela atende de imediato, parece aflita.
— Rui...
— Oi, Carol! Meu celular estava desligado, acho que o desliguei
quando fui à UTI Neonatal, para falar com o pediatra. Mas, qual o
problema? Quantas ligações, o que houve? — falo andando.
— Rui, me desculpe, não quero criar pânico em você, mas...
Ouvi a Mariana, nossa advogada, conversando no celular com
ninguém menos que a Priscila, e ela estava passando o endereço
do hospital e o quarto da Jack...
Oh, meu Deus, isso não pode estar acontecendo de novo.
— Quando isso? — pergunto tenso.
— Agora a pouco, eu a peguei conversando no celular dentro do
banheiro, ela foi embora do escritório, tentei segui-la, mas ela
desviou o caminho, mas pelo que ouvi, a maluca da Priscila está
indo até aí, e acho que é agora.
Me arrepio inteiro.
— Porra, Carol, não me fala isso! A Jack está sozinha no quarto,
fui até a lanchonete — Acelero meu passo, sentindo a agonia tomar
conta de mim — Preciso correr, depois nos falamos.
Enfio o celular no bolso e desando a correr pelos corredores.
Lembro do Pimenta, pego novamente o celular, ligo para ele em
desespero.
— Pimenta, é o Rui! A desgraçada está vindo ou já está aqui no
hospital, mande alguém para cá, agora!
— Tudo bem, Rui. Estou na rua, eu mesmo estou indo até você!
Desligo, entro no elevador, mais um corredor, viro à direita, a
esquerda e finalmente chego à ala onde a Jack está internada.
Um gelado no peito, uma agonia, finalmente abro a porta num
solavanco, e vejo a cena que tanto temia.
A desgraçada empunha uma arma, a Jack está em pé, acuada
num canto do quarto, com o Luigi no colo.
O pânico me domina, a Priscila está completamente louca.
Tento manter a calma, ela está apontando uma arma para os
dois seres mais importantes da minha vida.
— Priscila, me dá essa arma aqui, você não está bem...
Ela dá risada, parece completamente desequilibrada.
— Estou bem, muito bem!
Ando vagarosamente em sua direção.
— Você que criou toda essa situação, Rui, poderíamos estar
felizes, mas você preferiu ela a mim! — Sua voz embarga.
Agora estou mais próximo, falo com cuidado.
— Vamos conversar, mas me dê a arma, não complique sua
vida...
Ela surta.
— Se afaste de mim! — ela diz alterada. — Dei muitas chances
para você, e você preferiu ela. Destruí minha vida por você, você
não merece ser feliz com ela, vocês não merecem ser felizes... —
Ela chora, tão instável que sinto medo.
Penso a melhor forma de tirar a arma dela, olho de relance para
a Jack, tão assustada, agarrada ao Luigi, tentando protegê-lo.
Oh meu Deus, me ajude! – Penso em desespero.
Mais um passo em sua direção.
— O que você quer de mim Priscila? Eu farei! Deixe a Jackeline
fora disso, seu problema é comigo.
Ela me olha intensamente.
— Eu quero você! Eu te amo desde os meus 16 anos, eu sonhei
minha vida inteira que ficaríamos juntos.
Olho para a Jack, sua testa está enrugada, só quero que ela não
fale nada, preciso que a Priscila confie em mim.
A Jack me olha intensamente, tento dizer com meu olhar para
ela confiar em mim.
— Tudo bem, então me entregue a arma. Vamos conversar só
nós dois.
Me aproximo mais, estou entre as duas.
Pensei que havia ganhado sua confiança, mas então ela aponta
novamente a arma para a Jack.
— Não sou tão idiota.
Foi tudo muito rápido, a porta abriu, ela perdeu a atenção, então
joguei meu corpo contra o dela, caímos os dois no chão, fazendo a
arma escapar de sua mão.
A partir daí, perdi a cabeça, cravei minhas mãos em seu
pescoço, e eu a teria matado asfixiada, mas alguém me puxou.
Estou insano de raiva, ela tosse, respira com dificuldades.
Me levanto ofegante de ódio, a Carolina passa por mim e levanta
a Priscila pelos cabelos — a essa altura a peruca foi parar bem
longe.
— Vem cá, sua desgraçada...— ela diz irada. — Eu posso bater
nela, Rui! Se for você, haverá processo por agressão. Mas somos
duas mulheres, né, querida?!
Ela arrasta a Priscila para o banheiro e apenas ouço gritos, e
barulhos ocos.
Olho para a Jack, ela está em choque.
— Jack, você está bem? — Abraço os dois junto ao meu corpo.
— Desculpa, Jack, por você passar por tudo isso... — Beijo seus
cabelos.
— Está tudo bem. A Carolina vai matar ela, Rui...
— Deixe que a mate, depois eu resolvo isso! — Bufo com raiva.
Um toque na porta e finalmente o Pimenta chega.
Se dependesse dele, eu estava perdido.
— Está tudo bem, Rui? Vim o mais rápido que pude! — ele diz
ofegante.
A porta do banheiro abre e a Carolina sai do banheiro suada e
ofegante, carregando a Priscila com o rosto ensanguentado pelos
cabelos.
— Precisamos chamar a polícia, Rui! — ela diz.
— Pimenta, essa é a Priscila, ela entrou aqui com aquela arma...
— Mostro a arma no chão. — A prenda por tentativa de homicídio.
— Quem fez isso nela? Você, Rui? — o Pimenta pergunta.
— Não, fui eu. Eu tive que lutar com ela para tirar a arma, ela
estava a apontando para o Rui e para a Jackeline — Carol diz
rapidamente.
— Certo! — ele diz confuso. — Precisarei avisar ao delegado e
pedir uma viatura da polícia para levá-la para a delegacia.
— Ok. Então, vamos amarrá-la — a Carolina diz decidida. —
Jack, vou usar esse pano aqui.
Ela pega a fralda do bebê e prende as mãos da Priscila com a
ajuda do Pimenta.
— Eu vou te processar, sapatona! — a Priscila diz com a boca
inchada, seu rosto está horrível, a Carolina deu uma bela surra nela.
A Carolina dá um tapa forte em seu rosto.
— Nunca mais me chame assim! — ela diz entre os dentes. —
Você não vai processar ninguém! Você vai ser presa, e vai perder
sua pose!
E com um outro pano, a Carolina amarra sua boca.
— Tira ela daqui, Rui! — a Jack diz, parece incomodada.
— Pimenta, leva ela daqui!
— Tudo bem, vou tentar resolver isso sozinho. – Ele sai levando
a infeliz, abraço a Jack novamente.
— Está tudo bem agora, amor. Fique calma!
— Eu vou chamar a enfermeira, para ver se a Jack está bem, de
repente, ela precisa de um calmante, ou algo do tipo. — A Carolina
sai apressada do quarto.
— Deita, Jack!
A ajudo com o Luigi.
— Fala alguma coisa, você está muito calada! — digo aflito, a
vendo daquele jeito assustado.
Ela me olha intensamente.
— Pensei que ela iria matar a todos nós. — À medida que ela
fala, sua voz embarga, e o choro vem, forte, sentido. — Oh, meu
Deus, que pesadelo!
Deixo o Luigi no berço, ele não presenciou nada, dormiu o tempo
todo.
Abraço a Jack novamente.
— Passou, Jack. Agora acabou, ela será presa!
— Espero que sim, Rui!
A aninho em meu peito e ficamos assim.
Capítulo 28
JACKELINE
Tudo aconteceu como num sonho.
As imagens passam em minha cabeça como num filme, foi meio
irreal, absurdo, coisa dos filmes de Hitchcock[2].
Me lembro dela dizendo...
Flash back on
— Eu preciso acertar algumas contas com você! — ela diz com
um sorriso.
Na hora pensei, ela deve ter pirado de vez.
O que significa essa peruca ruiva?
Rezei em silêncio, e pedi para o Rui voltar logo, mas ele não
voltou de imediato, então ela se aproximou do meu bebê que estava
no berço.
— Que bebê mais bonitinho você teve, Jackeline. De quem é? —
Ela ri. — Aposto que é do padeiro da esquina...
— Você é louca, Priscila. Precisa de tratamento, e com
urgência... — respondo assustada.
Desço da cama de um jeito que não sei como não abri os pontos
da cirurgia, peguei o Luigi em meus braços e disse para mim
mesma: — ele só sai daqui se eu estiver morta.
Me afasto dela.
— Acho que sim, talvez um pouco... — ela diz com uma
expressão de quem não está batendo bem dos pinos.
— Saia daqui agora! Caso contrário, chamarei os seguranças...
— Pego o telefone do gancho, que por sorte está ao meu lado.
Mas, então, ela enfia a mão dentro da bolsa e tira uma arma.
Meu coração gela.
— Larga isso agora, se não quiser fazer o enterro dessa coisinha
insignificante!— Sua expressão muda, vejo ódio, raiva, ela não
titubeia, parece decidida a puxar o gatilho se for necessário.
Engulo em seco, devolvo o telefone para o gancho
vagarosamente, e sinto minhas pernas fraquejarem. Aperto o Luigi
contra meu peito, e penso, isso não está acontecendo.
Me afasto dela, preciso chegar à porta, então me movo
lentamente.
— Você não vai sair daqui, Jackeline. Pare onde está, caso
contrário, vou estourar seus miolos... — Ela aponta o revólver em
nossa direção, meu coração dispara. — Coloque o bebê no berço...
— Não irei colocá-lo, nunca! — digo com uma coragem que
pensei não tê-la.
E então a porta abre, e vejo o Rui, e não sei se isso é bom ou
ruim.
Ele olha a cena, parece pensar um pouco, e então começa a
conversar com ela, parece querer acalmá-la.
Minha mente está a mil por hora, tento pensar em uma forma de
avisar alguém que essa louca está aqui, mas com uma arma
apontada em minha direção, fica difícil.
A ouço dizendo que é apaixonada pelo Rui desde os seus 16
anos, e chego à conclusão que a Priscila não é normal, ela é
obcecada pelo Rui, e pessoas obcecadas são perigosas.
Ele se aproxima dela, e meu coração diminui. Meu Deus, e se
ela atirar contra ele?
Então a porta se abre e vejo a Carol. O Rui aproveita o momento
e se joga em cima da Priscila, e tudo foi muito rápido. Por um
momento achei que ele a mataria sufocada, e quem seria preso
seria ele, não ela.
Mas a Carol interveio, levou ela para o banheiro, e fez o que eu
queria fazer, bateu nela, e muito!
Flash back off
Olho para o Luigi dormindo ao meu lado, em nossa cama.
Finalmente estamos em casa, parece mentira que passamos por
tudo isso, e agora estamos aqui, alheios a todos os problemas, só
eu e meu tesouro.
Ops, o papai também, ele acabou de chegar, e nesse momento
está se aninhando a meu corpo.
Sorrio de felicidade, e agradeço em silêncio pela proteção, pela
generosidade de Deus comigo e com minha família.
— Posso participar desse sono coletivo? — o Rui diz abraçando
meu corpo junto ao seu, e beijando meus cabelos.
O amor que sinto por ele parece que cresceu ainda mais, e a
sensação que tenho, é que a cada dia que acordo, eu o amo mais.
Passo meus braços pelos seus, o aninhando mais ao meu
corpo.
— Só estava faltando você para esse momento ser perfeito! —
digo um pouco emocionada.
Na verdade, ando um pouco instável, mas deve ser por tudo que
vivi, foram muitas coisas desde que fiquei grávida. Como
consequência disso, o meu lado emocional está um pouco
complicado.
— Então, vamos fotografar! — ele diz.
O Rui anda meio compulsivo com a câmera de seu celular,
fotografando a mim e ao Luigi o dia inteiro.
Olho para o celular, sorrio e click, lá está a foto mais linda de nós
três.
— Essa irei ampliar e fazer um quadro! — ele diz olhando para a
foto.
— Não sabia que você gostava tanto de tirar fotos. — O olho de
lado.
— Eu também não... — ele diz despreocupado. — Vou tomar um
banho, daqui a pouco a Carol e o Carlão chegarão, eles virão jantar
com a gente.
— Sério? Mas você não disse nada! — falo surpresa.
— Eu quero que eles cuidem do processo que estou movendo
contra a Priscila... — Ele tira sua camisa, e admiro aquele tórax
lindo, ando com tanta saudade dele.
— Ah, claro, você disse... — Puxo o ar. — Ela continua presa?
— Sim, Jack, fique tranquila. Mas preciso garantir que ela não
saia de lá! — ele diz com seu semblante preocupado.
— Eu confio em você — digo apaixonada.
Ele se inclina sobre mim, beija meus lábios demoradamente,
levo minha mão até seus cabelos, os acaricio.
Separamos nossos lábios e nos olhamos, e vejo um incêndio em
seu olhar.
— Quer que eu vá com você? O Luigi está dormindo, temos um
tempinho!
Ele sorri torto, e eu adoro esse sorriso, meio cafajeste, meio
safado, e confesso, eu amo tudo no Rui, até seu jeito de cafajeste
aposentado.
Pego em sua mão, que ele estende para mim, levanto, estendo
meus braços para ele tirar minha camisola, e seguimos para o
banheiro.
Eu sei que a gente não deveria ficar se beijando no meio do
chuveiro, isso é uma tortura dos infernos. Mas, é que não dá para
resistir a esse homem.
Sinto sua ereção roçando minha barriga, suas mãos acariciando
meus seios, e por um momento, esqueço que não podemos transar,
me entrego as suas carícias, aos seus beijos apaixonados, gulosos,
e que colocam fogo no meu corpo inteiro.
Seus dedos acariciam minha área sensível, eu acaricio seu
membro, e assim satisfazemos um ao outro.
Foi bom, não como queríamos, mas depois de dias sem não nos
tocarmos, foi ótimo.
Mas, nosso momento de paz durou pouco, o choro estridente do
Luigi reverbera pelo quarto, e provavelmente está sendo ouvido
neste momento pelos chineses.
Ele tem um fôlego fora do normal.
Separamos nossos lábios meio assustados.
— Eu preciso ir até lá — digo meio perdida, mal terminei de
tomar banho.
— Tá... — o Rui diz também atordoado.
Acho que a realidade agora veio à tona, no hospital não
tínhamos problemas, ele voltava para o berçário à noite, nunca
precisei acordar de madrugada para amamentá-lo, e quando estava
cansada pedia para as enfermeiras levá-lo para o berçário, enfim...
Me enxugo rapidamente, coloco a toalha nos cabelos e saio
colocando o roupão enquanto caminho para o quarto.
O olho na cama, vermelho como um camarão, berrando,
berrando muito.
O pego no colo e como se fosse mágica, ele para de chorar.
Sim, ele já aprendeu que se chorar eu o pego no colo, e ele está
usando isso de uma forma nada honesta.
— Não está na hora de mamar, Luigi. Qual o seu problema? —
converso com ele, como se ele pudesse me entender.
O Rui entra no quarto.
— Olha a fraldinha, Jack — ele diz e eu fico com aquela cara de
interrogação.
Por que não pensei nisso?
Acho que ele sabe mais sobre o Luigi do que eu.
— Vou olhar. — Sigo para o quartinho dele, o coloco no trocador,
e o berreiro começa tudo de novo.
Sim, isso é ensurdecer, e de enlouquecer qualquer um.
Preciso confessar, minha pratica com recém-nascidos é
praticamente zero.
Abro a fralda, e a visão não é das melhores, mas encaro o
desafio.
O Rui entra no quarto, já está vestido, com uma calça jeans e
uma camiseta básica, e me ajuda a acalmar a fera.
— O Luigi é muito bravo! — desabafo meio atordoada pelo seu
choro.
Não vou mentir, estou mais nervosa do que deveria estar, e
portanto, estou me saindo muito mal.
— Deixa que eu te ajudo, Jack! — o Rui diz diante de minha
momentânea falta de coordenação motora para vestir o bebê.
Sinto uma vontade de chorar, estou me saindo uma péssima
mãe.
— Pronto! Agora estou pronto, mamãe — o Rui diz, e pega o
Luigi, ele praticamente trocou o bebê.
Eu disse que meu lado emocional está com problemas, então,
quando me dou conta, estou chorando.
— Por que você está chorando? — o Rui diz indignado.
— Eu não sei cuidar dele! — Saio correndo do quarto do bebê, e
vou chorar no nosso quarto.
Oh, meu Deus, o que está acontecendo comigo?
Ele entra em nosso quarto com o bebê em seu colo.
— Jack, é normal tudo isso, você não teve muito tempo para
ficar com ele, mas sua mãe virá te ajudar, fique calma — ele diz
pacientemente. — Se você preferir, podemos contratar alguém para
te ajudar, uma babá.
Enxugo a enxurrada de lágrimas que estão no meu rosto.
O olho envergonhada.
— Me desculpe, perdi o controle! — falo sem olhá-lo. — Não,
não quero ninguém para me ajudar, eu que sou a mãe dele!
— Ok, mas não fique com essa carinha. Eu sou o pai, lembra?
— ele diz bem-humorado. — Vá se trocar, irei descer com o Luigi, te
espero lá embaixo.
— Tudo bem! — Me levanto um pouco sem graça, e sigo para
o closet.
****
Coloco uma camisa folgada de botões na frente, que não
atrapalha na hora da amamentação, uma calça legging, uma
rasteirinha e sigo para as escadas.
Apesar de minha barriga ter murchado um pouco, ainda me sinto
meio grávida.
Pelo barulho que ouço, eles já chegaram.
Logo alcanço a sala, e os vejo sentados na sala principal, o Rui
serviu um vinho para eles, e o Luigi está no colo da madrinha.
Sorrio com a cena.
— Olá! — digo animada.
O Carlão vem em minha direção, ele tem sido tão carinhoso
comigo, nem parece o mesmo quando o conheci, que me olhava
como se eu fosse um bife.
— Você está com uma expressão ótima, Jack! — ele diz.
— Obrigada.
Vou até a Carol, que está sentada com o Luigi no colo, ela fica
meio abobada quando está com ele.
— Oi, amiga! — Ela sorri para mim, mas não me dá muita bola,
está mais preocupada com o Luigi.
— Quero um desses para mim — ela cochicha.
Beijo o seu rosto e me sento ao seu lado.
— Eles dão trabalho, Carol — confesso baixinho.
— Mas, você está adorando, não está? — ela diz animada.
— Sim. Estou um pouco atrapalhada ainda, mas Dona Amélia
virá em meu socorro. — Brinco.
Olho para o Rui conversando compenetrado com o Carlão.
— Você sabe por que o Rui quer que vocês dois cuidem desse
processo? — pergunto curiosa.
— Talvez, porque somos, eu sua melhor amiga, e o tal de
Carlão, o melhor amigo dele — ela diz despretensiosa.
— Você gosta da ideia? — pergunto curiosa.
— Não sei, não conheço o cara, e você me conhece, costumo
ser um pouco controladora demais. — Ela ri.
O Rui interrompe nossa fofoca.
— Vamos jantar?
Todos se levantam, pego o Luigi em meu colo e o coloco em um
carrinho para bebês que está na sala, e o levo até a sala de jantar.
Enquanto converso com a Carol, o Rui conversa animado com o
Carlão, eles parecem irmãos, são muito próximos, e se não me
engano, o jeito deles é parecido.
— O Carlão é bem gato, não é, Carol? — digo para irritá-la.
— Deixe seu marido saber que você está achando o melhor
amigo dele um gato! — Ela balança sua cabeça de um lado para
outro.
— Só estou comentando, sua boba! O Rui é bem mais gato, eu
não troco ele por ninguém, Carol! — A olho de lado.
— Ok. Ele é gato, mas tem uma cara de sem vergonha que dói.
— Ela ri.
— Ele já te cantou? Ele tem cara de quem canta até as
manequins das lojas femininas! — Dou risada discretamente.
— Não deixei, e se ele se engraçar comigo, serei obrigada a
chutar seu saco! — ela diz de uma forma engraçada.
— Então, Carol... — O Rui chama a atenção da Carol, ela
disfarça, faz cara de séria. — Eu já tenho em mente algumas coisas,
quero passar para você e para o Carlão. — Ele come um antepasto.
— Pretendo ir com a Jack para nossa casa de campo, ficaremos lá
algum tempo, preciso que vocês dois toquem esse assunto para
mim, eu estou precisando e a Jack também!
O olho surpresa.
— Ah, é? Eu não sabia de sua ideia! — Viro meu rosto de lado, o
Rui está com uma mania de fazer as coisas sem me dizer.
— É, minha deusa, a gente está precisando descansar um
pouco, longe dessa loucura toda..., mas não será agora, ainda tenho
alguns problemas para resolver no escritório — ele diz bem
bonzinho, já sabendo que não gosto que decidam por mim.
— Ok! — respondo, mas ainda quero conversar com ele sobre
isso.
— Então Carol, como estava dizendo, preciso da sua ajuda. O
Carlão é experiente nessa área criminal, mas você também tem
conhecimento e pode agregar valor ao processo... — Ele dá de
ombros. — A ideia é... — ele começa a discorrer sobre o assunto.
Depois de longos minutos falando sobre termos jurídicos, e
muitas leis, ele termina.
— Perfeito, Rui! Você sabe, irmão, pode contar comigo! Eu
sugiro que eu e a Doutora Carolina marquemos uma reunião, pode
ser em meu escritório. O que você acha? — Ele olha para ela.
— Ok, mas preciso ver minha agenda. Temos muitos processos
parados no escritório, Rui! — ela diz com sua cara de advogada
prepotente. — Com tudo o que aconteceu, acabei tendo que deixar
de lado algumas coisas...
— Se você quiser, podemos nos encontrar depois do expediente,
no meu apartamento, ou no seu — o Carlão diz, e tenho vontade de
rir, ele é bem descarado.
Olho para a Carol, e vejo seu olhar lança chamas.
— Nem no seu, nem no meu apartamento. Podemos marcar em
um bar!
Olho para o Rui, e o vejo segurando o riso.
Será que isso dará certo? Acho que os dois irão se matar!
— Oh, como você quiser, mas bares são barulhentos, não sei se
conseguiremos fazer alguma coisa. Mas se você quiser tentar,
podemos! — o Carlão diz meio acuado, leva a taça de vinho até
seus lábios e toma o vinho olhando para a Carolina.
— É, podemos tentar...
O jantar seguiu calmamente, vez ou outra o Carlão lançava
indiretas para a Carol, e ela respondia com um coice.
Será que o Rui o avisou que a Carol não gosta da coisa grande?
Talvez alguém tenha que deixar isso mais claro.
Finalmente acabamos de tomar um cafezinho, quero dizer, só
eles.
Sigo para amamentar o Luigi, a Carol me acompanha.
— Carol, o Carlão está dando em cima de você! — falo e sorrio.
— Problema o dele, Jackeline! S se ele me encher o saco, digo
para o Rui escolher outra pessoa para tocar esse processo com
ele.
Vejo o Carlão se aproximando, disfarço, cubro meus seios com a
fraldinha do Luigi.
— Já estou indo, Jack! — ele diz.
— Não precisa ir, ainda é cedo!
— O Rui já está me expulsando. — Ele brinca. — Parabéns pelo
bebê, ainda terei um igual a esse — ele diz de uma forma fofa,
parece tão verdadeiro.
— Você gosta dessas coisas choronas? — digo brincando.
— Porra, se gosto! Quando eu era casado com a Gabriela,
tentamos durante bastante tempo, mas não conseguimos, mesmo
com inseminações e tudo mais. Acho que não era para ser! — Ele
diz meio sério ou triste, não sei dizer.
— Bom, você tem a idade do Rui, ainda pode arrumar uma louca
que queira ter filhos! — Brinco, e sem querer olho para a Carol.
— É, quem sabe! — ele diz meio sem jeito, tira um cartão do
bolso. — Me ligue, Doutora Carolina, para marcarmos um dia para
conversarmos. O Rui está com pressa, então precisamos dar um
jeito em nossas agendas.
Ela pega o cartão, dá uma lida rápida.
— Ligarei para você!
— Boa noite, damas! — ele diz galanteador e sai em direção ao
Rui.
— Eu sei que ele tem jeito de cafajeste, mas o acho fofo, tipo o
Rui, canalha, mas fofo!
Levo um tapa no braço.
— Eu não curto isso, tá legal! — Ela se levanta e segue para o
lavabo.
— Eu sei, mas ele produz espermas, lembra? — falo para
encher seu saco.
Capítulo 29
JACKELINE
Dias depois.
Ochoro estridente do Luigi entra pelo meu ouvido, e a sensação
que tenho, é que não se passaram mais do que 30 minutos desde a
última mamada.
Ninguém me avisou que no início seria tão difícil.
Achei que poderia dormir em meu quarto, mas acho melhor
dormir de vez no quarto do Luigi, e deixá-lo mamar em mim sem
interrupções, ou até que ele exploda.
Estou grogue de sono, acendo o abajur e olho para o Rui, que
parece sonhar com os carneirinhos, ele nem se mexe.
Queria tanto estar em seu lugar...
Eu amo essa coisinha fofa e chorona, mas não pensei que desse
tanto trabalho. Eu deveria ter conversado mais com as mamães de
primeira viagem.
Mas, enfim, como diz o provérbio: “Quem pariu Mateus, que
balance o berço”, então lá vou eu, pela décima vez acalentar meu
anjinho chorão.
Minha mãe adora repetir esse provérbio, ela faz isso como um
mantra para mim, mais precisamente, quando reclamo que ele não
para de chorar.
Ela tem passado o dia todo aqui em casa, mas no final da tarde
ela vai embora, por causa da vovó. Minha tia agora resolveu
aproveitar a vida, e cair na noitada dos velhinhos, exatamente
quando mais preciso de minha mãe.
Acho que é de propósito!
Chego ao berço, ele está com o rostinho vermelho de tanto
chorar, ele é escandaloso, e apressado, não posso demorar muito.
— Ok, Luigi, o que houve agora? — O pego no colo. — Acho
que você não quer que eu durma, não é mesmo? — Olho para ele,
tão lindo, tão fofo, que me faz esquecer o quanto estão sendo
difíceis os primeiros dias dele em casa.
Sigo com a rotina, troco a fralda, vejo se ele está com frio ou
com calor, e ele não deveria estar com fome, mas é só colocá-lo no
peito que ele o suga ferozmente.
Mas, eu já entendi o que está acontecendo, ele dorme no meio
da mamada, e não há quem o acorde. Então, como consequência,
ele não mama o suficiente, e em pouco tempo está com fome.
Me sento na cadeira de amamentação para amamentá-lo, e sem
querer, durmo com ele no colo, e acordo assustada!
Olho a minha frente e lá está o Rui, lindo, vestido em um de seus
ternos impecáveis, cheiroso, de barba feita, e o mais importante,
sem olheiras.
— Você passou a noite com ele aqui na poltrona? — ele diz
irônico, me olha de lado, com um sorriso de que está achando tudo
muito engraçado.
Mas eu não acho nada engraçado, a dor que sinto em meu
pescoço não me deixa esquecer para nunca mais dormir sentada.
Mexo meu pescoço, mas os braços também doem, e as costas,
e a cirurgia também, e concluo, acho que essa foi a pior noite desde
que ele veio para casa.
Olho para o Luigi, ele dorme profundamente, e percebo que ele
fez meu peito de chupeta.
Ok, na lista de tudo que não se deve fazer com seu recém-
nascido, eu fiz 99%.
Ignoro o Rui, meu humor está negativo, abaixo de -100, estou
ácida hoje.
Me levanto, e sigo com ele até o berço, mas os primeiros sinais
de que ele vai chorar começam, algumas caretas, pequenos
solucinhos, e ele descamba a chorar, e eu choro junto, porque estou
um trapo, e preciso dormir como gente.
Coloco minhas mãos sobre meu rosto e descarrego toda a
tensão que estou sentindo, não achei que era tão difícil assim.
O Rui me abraça, e choro mais, choro muito, e chego à
conclusão, acho que não nasci para ser mãe como eu acreditava ter
nascido.
— Ele não me deixa dormir, e eu preciso dormir! — falo e choro.
— Tudo bem, Jack! — ele diz abraçado a mim. — Vamos
contratar uma babá para cuidar dele a noite.
Sinto como se tivesse tomado um tapa na cara.
Contratar uma babá é assinar a sentença que não consigo cuidar
do meu bebê, e isso é vergonhoso.
— Não, eu não quero! — Limpo meu rosto, e saio meio
desnorteada do quarto. — Eu só preciso me acostumar com isso.
Ele para de chorar, olho para trás e vejo o Rui acalmá-lo apenas
com um simples carinho no berço, mas comigo isso não funciona,
ele quer mamar em mim o tempo todo, essa criança nunca está
satisfeita!
A única coisa que consigo pensar é: “Cadê minha mãe?”
Sim, eu preciso dela, ela precisa me ensinar a lidar com a
maternidade, estou enlouquecendo e estou há apenas alguns dias
com ele em casa.
****
Semanas depois.
Estou literalmente babando no travesseiro, em um daqueles
sonos que só temos quando somos crianças, profundo, e impossível
de ser acordado.
— Jack... Jack... Jack...
Depois de ouvir meu nome acho que por mil vezes, desperto,
olho e vejo o Rui com o Luigi no colo, como sempre, chorando.
— Ele quer mamar, Jack!
— Acho que a babá eletrônica não funcionou... — digo meio
perdida no tempo e no espaço.
— Está funcionado sim, eu acordei com ele chorando — ele diz,
parece meio mal-humorado.
— Aham... — digo sentindo minhas pálpebras pesadas como
tijolos.
— Sente-se na cama, eu o coloco para mamar em você! — ele
diz, abro meus olhos, eles já estavam fechados de novo.
Me sento, ele abre minha camisola e o coloca para mamar, me
sinto como se estivesse drogada, não consigo controlar o sono que
sinto.
Percebo o Rui enchendo de travesseiros ao meu redor,
provavelmente para eu não derrubar o Luigi durante a mamada.
Acho que dormi novamente, porque não me lembro de nada, e
quando acordei, Luigi Bartolli Figueiredo dormia tranquilo entre mim
e seu pai, e nem sei como ele chegou até aí.
Acho que preciso conversar com minha médica, pareço meio
depressiva, só penso em dormir.
Sigo para o banho, estou toda molhada, meu peito jorra leite,
pareço uma vaca leiteira.
Todos os dias acho que tive a pior noite, mas essa não, eu
consegui dormir, mas provavelmente alguém não dormiu, e acho
que foi o Rui.
Seu celular desperta pela terceira vez, mas ele não se levanta.
Vejo os olhinhos do Luigi abertos, atentos, parece que ele me vê
de longe, e devo ter um aviso escrito na minha testa “leite grátis”.
Ele começa a reclamar, e antes que eu possa contê-lo, seus
gritos acordam o Rui.
Ele tem sido muito paciente comigo, mas talvez hoje ele não
esteja de bom humor, porque ele se levantou da cama, passou por
mim, entrou no banheiro e fechou a porta.
Pego o Luigi, o acalmo e sigo para o seu quarto, mas aquela
sensação ruim de que algo não está bem fica me incomodando.
Logo que chegamos em casa, o clima entre nós ainda era o
mesmo, romance, paixão, mas aos poucos foi mudando, quer dizer,
eu fui mudando.
A maternidade está me enlouquecendo, ele chora muito, ele tem
cólicas, ele mama demais, e tudo isso está acabando com meus
nervos.
Para ajudar, vovó não está muito bem, e por este motivo mamãe
não está vindo me ajudar.
Ficamos eu e a Jô, mas seria um desaforo fazê-la cuidar de um
bebê, com tantas coisas para fazer.
Então, essa semana estou destruída, me mudei para o quarto do
bebê, e mal vejo o Rui.
Ele sai, estou dormindo, ele volta estou dormindo.
Eu sei, isso não vai dar certo!
O vejo passar pelo quarto do Luigi sem se despedir de mim, e
isso me mata por dentro.
Cubro meus olhos com minhas mãos e choro.
Inocente é quem acha que um bebê mantém um relacionamento,
eu e o Rui nunca estivemos tão distantes.
****
Um mês de vida.
Desço para tomar meu café da manhã. Engraçado como o Luigi
dorme bem quando o sol nasce, talvez ele seja filho de vampiros, e
eu o peguei por engano.
Recém-nascidos são seres que vieram ao mundo para provar a
suas mães que elas não sabem de nada, e que todos os seus
limites serão testados, até que cheguem à exaustão.
— Tudo bem, Jackeline? — A Jô pergunta simpática.
— Tudo bem! — falo meio sem energia.
— Onde está o Luigi, dormindo?
— Sim, ele adora dormir pela manhã, e passar a noite inteira
acordado mamando! — digo mal-humorada.
Ela ri.
— Eu sei como é, mas a partir dos três meses eles melhoram, e
quando chegar os seis meses você já terá esquecido tudo que
passou.
— Oh, que notícia ótima! Não vejo a hora de passar os três
meses, se é que sobreviverei a eles!
— Quer que eu prepare algo para você?
— Não, obrigada! — digo apática.
— Aproveite para dormir enquanto ele dorme, é assim que as
mamães de recém-nascidos fazem — ela diz com propriedade, não
sei quantos filhos ela tem, mas também não estou querendo
conversar hoje, estou triste, e só penso no Rui.
— Ok, obrigada pela dica.
Tomo meu café da manhã, subo ao quarto dele para ver se já
acordou, e aproveito para dormir um pouco no sofá cama que existe
em seu quarto.
Mais um dia entre mamadas, trocas de fraldas, banhos, e
cólicas, muitas cólicas...
Ligo para minha mãe para pedir conselhos, para a Carolina para
desabafar, por fim resolvo marcar uma consulta com minha médica,
e com o pediatra do Luigi para ver se existe uma poção mágica que
cure cólicas.
As horas passam rapidamente, e finalmente é final da tarde, e
espero o Rui como se fosse uma adolescente apaixonada.
Já passa das 19h quando o ouço abrindo a porta.
Estou com o Luigi na sala, o introduzindo ao Bóris, mas o Bóris
não precisa de introduções, é o ser mais amável que existe no
mundo.
Quando a gente conhece muito bem uma pessoa, conhecemos
os seus olhares, o jeito que anda, seu tom de voz.
Então, sinto a distância do Rui só pelo jeito que ele me olha.
— Boa noite! — ele diz seco, não sei ao certo o que fiz de
errado, ou se fiz tudo errado, só sei que ele está diferente comigo.
— Tudo bem? — falo meio carente, ansiosa.
— Tudo certo! Vou tomar um banho! — Ele beija a cabecinha do
bebê, segue para as escadas sem nem ao menos me dar um beijo.
— Não parece que está tudo certo! — digo antes que ele suba.
Ele para, olha de lado para mim.
— Por que será que não está tudo certo? — ele diz com ironia.
— Por minha culpa, é isso? — digo emotiva, os olhos já
lacrimejam, e me esforço para não chorar como uma manteiga
derretida.
Ele pensa e diz:
— É, por sua culpa. — Ele volta a seguir para as escadas, mas
corro até ele, e o faço parar.
— Então me diz, não finja que eu não existo, isso dói muito mais
do que se você disser tudo o que está te incomodando.
— Jack, eu estou cansado, quero tomar um banho.
Eu não suporto vê-lo me rejeitando, então seguro seu rosto entre
minhas mãos, o faço me olhar.
— Me desculpa, Rui! Eu sei que estou me saindo uma péssima
mãe, faço tudo errado, sobrecarrego você, mas por favor, não me
trata assim.
— Você não está se saindo uma péssima mãe! — ele diz
indignado. — Mas...— Ele balança a cabeça. — Você não quer
ajuda, acha que pode resolver tudo sozinha, não me deixa opinar.
Ficamos nos olhando, eu sei que ele está certo, sou muito
cabeça dura.
— Tudo bem, você está certo, me desculpe. Irei melhorar, mas
volte ao normal comigo! — falo num tom meio que implorando.
— Ok, Jack! — ele diz meio sem paciência.
— Você não me beija mais quando sai, ou quando chega.
— Estou com raiva de você, você esqueceu que eu existo. — Ele
se livra de mim e sobe as escadas.
Oh, meu Deus, mas essa para eu resolver.
O Rui está carente, o Bóris, e eu também.
Todos estamos carentes, com exceção do Luigi, ele roubou todo
o amor da nossa casa.
****
Tudo bem, preciso resolver o problema de carência do Rui, e tem
que ser hoje, antes que outra mulher resolva.
Termino de amamentar o Luigi, ele adormece em seguida.
Sigo para nosso quarto, o Rui está deitado em nossa cama só de
boxer, pura tentação em forma de homem.
Ele assiste um programa jornalístico, quando me vê apenas
move seus olhos, mas volta sua atenção ao programa.
— Vamos descer para jantar?
Me aproximo dele, me sentando na cama.
— Daqui a pouco! — ele diz com uma expressão séria, não
desviando seus olhos da televisão.
— Ok, eu vou tomar um banho!
Está difícil ficar sexy com os peitos jorrando leite, uma barriga
saliente e desajeitada, mas vou me esforçar.
Pego uma camisola curta vermelha, deixo de lado o sutiã de
amamentação, a cinta e a calcinha enorme.
Escolho uma lingerie mais bonita, e sigo para o banheiro.
Faz tempo que não me cuido, então passo meus cremes e meu
perfume. Escovo meus cabelos para que fiquem mais soltos e
bonitos, me visto e passo o batom vermelho que ele adora.
O que não fazemos para não perder o nosso macho? — Penso.
Eu sei que ainda não podemos fazer sexo, não deu o prazo de
40 dias, mas vamos só brincar. O Rui está precisando de amor,
carinho e atenção.
Abro a porta do banheiro, sigo até nossa cama.
Primeiro, ele dá uma olhada rápida, desvia o olhar e volta a me
olhar.
Tenho vontade de rir, suas reações são tão previsíveis, ele se
ajeita na cama, disfarça, mexe no cabelo.
Me deito ao seu lado da cama, me encaixo ao seu corpo, o
abraço e enfio meu rosto em seu pescoço e aspiro seu cheiro que
tanto adoro.
Beijo seu pescoço e acaricio seu tórax.
— O que você quer, Jack? — ele diz no modo estátua, parece
decidido a me rejeitar, mas respiro fundo e continuo.
Me apoio em meu cotovelo e o encaro.
— Quero você, Rui! Quero fazer as pazes, voltar ao que éramos
antes! E você, quer isso, também?
Ele me encara, desvia seus olhos para meus lábios, e para
provocá-lo, mordo-os sensualmente.
— Acho que quero! — Ele me encara, daquele jeito que me
apaixonei por ele.
— Não tem certeza, Rui? — Sigo com minha mão acariciando
sua barriga, desço devagar até chegar a sua boxer.
Sorrio, eu sei que derrubei sua resistência.
— Eu adoro quando você passa esse batom, sua boca fica linda,
gostosa, carnuda.
— Então me beija, Rui. — Aproximo meus lábios dos seus,
mergulho minha mão dentro de sua boxer...
— Hummm — Ele geme. — Não faça isso, Jack, se não quiser
seguir adiante — ele sussurra.
— Quem falou que não quero seguir adiante? — Acaricio seu
volume generoso.
— Você coloca fogo em mim, depois me deixa na mão. — Ele
me olha magoado.
— Eu te amo, Rui! — Beijo suavemente seus lábios. — Muito! —
Mais um beijo. — Você não sabe o quanto.
Eu iria beijá-lo novamente, mas ele enfia seus dedos entre meus
cabelos e puxa meu rosto para junto do seu.
— Eu também te amo, Jack! — Suas pupilas estão grandes e
brilhantes.
Então, sua língua deliciosa mergulha na minha, tão macia,
quente, acariciando, sugando a minha.
Se há algo que amo no Rui, são seus beijos. Essa paixão, essa
gula, esse desejo que ele transmite em seu beijo, é algo único.
Em segundos ele está sobre mim, e sinto com prazer a paixão
voltar entre nós.
É fato que somos ligados por uma atração física e carnal muito
forte, mas tem também a questão do cheiro, da pele, da química.
Então, como sempre aconteceu entre nós, um incêndio toma
conta de nossos corpos.
Os beijos já não suficientes para matar a sede da paixão, muitos
menos as carícias.
É estranho, mas existem momentos que é como se nossos
corpos conversassem entre si, e precisassem se unir em um só.
Ele enfia sua mão por baixo da minha camisola, tenta tirá-la, e
por fim, sem paciência, rasga o tecido delicado.
Eu adorava essa camisola, mas adoro mais esse jeito do Rui de
fazer amor.
Seus lábios mergulham em meus seios, a sensação é boa, mas
estranha, mas ele suga-os com vontade, parece fazer de propósito.
— Oh, Rui, não faça isso! — Me contorço de prazer.
— Jack, que saudades de você! — Ele beija, chupa e morde
meu pescoço, ombros, meu corpo inteiro.
Estamos os dois ofegantes, excitados, e loucos um pelo outro.
Seu membro roça minha intimidade, ele quer me provocar, ele
quer me enlouquecer.
— Quanto tempo falta, Jack? — ele diz insano, louco de desejo.
Abro a boca para responder, mas então o choro do Luigi estoura
nossa bolha de amor e paixão.
Paramos no ato, não me mexo, o deixo decidir, essa não é a
primeira vez que o Luigi nos interrompe, entretanto, das outras
vezes, eu simplesmente o larguei na mão, e por isso sua mágoa
comigo.
— Eu vou até lá — ele diz.
Não retruco como das outras vezes.
— Tudo bem... — Tento controlar minha ansiedade, meu
sentimento de proteção, que me deixa angustiada ao vê-lo
chorando.
— Ele mamou direitinho? — ele pergunta, no final das contas,
ele é tão preocupado quanto eu.
— Sim... — respondo.
— Então é só manha, Jack. — Ele me olha intensamente. — Eu
já volto.
— Ok.
Tenho que confessar, isso é brochante, mas hoje o bebê não irá
tirar meu foco.
O choro cessa, e em alguns minutos ele volta.
— Onde paramos? — ele diz malicioso.
— Acho que você estava me beijando. — Sorrio.
— Ah, agora lembrei... — Ele deita seu corpo sobre o meu, e a
loucura recomeça.
— A gente já pode fazer amor? — ele diz em meu ouvido, em
meio a muitos beijos, e caricias.
— Faltam alguns dias — respondo ofegante.
— Acho que já deu, Jack... — ele diz, e antes que eu possa
responder, o sinto me penetrar gentilmente.
— Aham...
Agora tanto faz minha resposta, ele já está dentro de mim, seu
corpo viril se movimentando contra meu corpo, o suor tomando
conta de nossas peles, a excitação, o desejo, e finalmente o êxtase.
Seus gemidos graves e roucos inundam o nosso quarto, ele me
abraça, e ficamos assim, por longos segundos.
— Eu te amo, minha deusa! — ele diz baixinho.
— Eu também. — Olho para ele, acaricio seu rosto, beijo
suavemente seus lábios. — Eu vou melhorar.
— Tudo bem, só não demora muito... — Ele me olha
intensamente. — Quero minha mulher de volta.
— Ok, eu entendi o recado!
Capítulo 30
RUI FIGUEIREDO
Aos poucos volto as minhas rotinas do escritório, a loucura dos
processos.
Tenho tentado me adaptar a minha nova realidade, primeiro a
falta da Jack no escritório, segundo, ao Alexandre, e terceiro, a
chegada do Luigi em nossas vidas.
Os dias com ele no hospital foram apenas o aperitivo. A verdade
nua e crua de um bebê está ocorrendo lá em casa, mas
precisamente no quarto ao lado do nosso.
O prazer de tê-lo se sobrepõe aos problemas, mas não vou
fechar os olhos e me fingir de rogado, nossa vida está um inferno!
Aquela mulher incrível, chamada Jackeline Bartolli, se tornou a
mãe mais obsessiva da terra, não aceita opiniões, não aceita
sugestões, e não me quer mais.
Sim, estou testando toda a minha paciência, e minha
masculinidade.
Nunca achei que Rui Figueiredo, o solteirão de 35 anos, iria se
casar, muito menos ter filhos, e muito menos trocar fraldas e acordar
de madrugada para acalentar seu filho.
Mas, cá estou eu, no meio da madrugada, me levantando de
meu sono profundo, porque Jackeline Bartolli está desmaiada, não
acorda nem com uma fanfarra, muito menos com um bebê
chorando.
De fato, acho que ela já se acostumou com o choro dele, e como
consequência, ela não acorda mais com ele chorando de
madrugada.
Eu sei que é cansativo, já tinha ouvido os amigos me dizerem da
loucura que virou suas vidas após o nascimento dos filhos, eles até
tentaram me avisar, mas aí a Jack apareceu na minha vida, virou
minha cabeça do avesso e ficou grávida, não tive muito o que fazer,
a não ser aceitar.
Não sei quantas vezes nessa semana me levantei para pegar o
Luigi em seu berço, mas já decidi, não quero que a Jack durma no
quarto dele.
Mas então, vem o segundo problema, ela não acorda nem com
um megafone, muito menos com o choro do Luigi.
Então, assumi o prejuízo. Se quero dormir agarradinho com a
minha deusa, tenho que acordar pelo menos uma vez na noite para
ajudá-la.
Tivemos um atrito feio há alguns dias atrás, eu estava de saco
cheio, no sentido figurado e literal.
Meu saco estava cheio mesmo, de espermas mais
precisamente.
A falta de sexo começou a mexer com meu raciocínio, briguei
com todo mundo no escritório, desde a copeira, até com os
advogados, e por fim com a Jack, a causadora de todos meus
males, ou a única que pode resolvê-los.
Preciso de sexo, eu não tenho mais 15 anos e não sobrevivo só
de bater punheta, e a Jack sabe disso.
Mas, tudo bem, nos acertamos, e finalmente fizemos sexo. Ainda
não estou zerado totalmente, mas já deu para dar uma aliviada na
tensão.
Sigo até a Jack, ela dorme profundamente, me sento ao seu
lado, e mal acredito que ela não acorda com os berros do Luigi.
Acho que meu ouvido já está mais ou menos acostumado com
essa orquestra, chego até a ficar calmo quando ele berra.
— Jack, Jack, Jack... — Mais ou menos na quinta vez ela
acorda, bêbada de sono, confusa e atrapalhada.
— Desculpa, Rui. Não ouvi ele chorando! — ela diz sem graça.
— Tudo bem, Jack. Já me acostumei com isso! — falo sincero,
não quero mais brigas, desentendimentos, quero paz, muita paz.
Ela se senta na cama, ajeita sua camisola e aninha o Luigi ao
seu peito.
— Posso dormir, ou o risco de você adormecer com ele no peito
é grande? — A olho de lado.
Eu sei que ela está cansada, entendo que não há curso que
ensine como ser mãe, mas poderia ser um pouco menos traumático
se tivéssemos uma babá.
— Estou bem, pode dormir. Mas só para garantir, coloque os
travesseiros!
Dou um sorriso, acho que ela vai pegar no sono.
— Rui, é um sonífero amamentar um bebê, sabia? — ela diz
diante de minha expressão.
— Eu sei, minha deusa, não estou te culpando! — Ajeito os
travesseiros para ela. — Me chame se precisar, seu humilde servo
estará por aqui! — Brinco, me ajeito aos travesseiros e abraço seus
quadris.
****
Meu celular toca, olho no display e vejo o contato do Carlão,
atendo de imediato:
— Fala, irmão! Tudo bem? — Atendo descontraído, na verdade
quem gosta de me chamar de irmão é o Carlão.
— Tudo bem, e com você? Sobrevivendo ao terremoto chamado
Luigi? — Ele ri.
O Carlão é brother, portanto, está sabendo sobre a confusão que
minha vida se tornou.
— Sim, comprei um aparelho para surdez, devo ficar surdo mais
cedo do que imagino, aquele bebê tem um fôlego fora do normal.
Cara, você não tem ideia como ele berra quando está com fome.
Ele morre rir.
— Pode rir, Carlão! Se Deus quiser você terá uma penca de
filhos, todos estilo Luigi.
Mais risadas.
— Está difícil irmão, não arrumei uma Jackeline em minha vida,
e agradeço, aquela mulher te faz de gato e sapato! — Ele ri, gosta
de me irritar.
— Ok, se é para tirar barato, então fala logo o que quer. Se for
dinheiro, não tenho, gastei tudo em fraldas!
— Bom, vou direto ao assunto: sua funcionária insubordinada
não me ligou!
— Ah, a Carolina está fugindo de você? — Brinco. — Para de
cantar ela, Carlão, a mulher não gosta de pau, eu já disse!
— Vai se foder, eu não estou interessado nela, mas se ela não
me ligar não temos como começar o processo, Rui, estou falando
sério. Já estou com tudo anotado aqui, só preciso conversar com
ela. Que caralho, ela tem medo de homem, é isso?
— Sei lá, não sei qual o problema dela com homens, só sei que
ela não gosta! Quer que eu te transfira para ela? Assim fica mais
fácil.
— Não, caralho, ela que tem que ligar para mim — ele diz
indignado.
— Carlão, entre nós, não vou contar para a Jack, mas você está
querendo comer a Carol, não está? — Tento segurar o riso.
— Se ela estiver a fim... até que poderia rolar, com uma ou duas
amiguinhas lésbicas, eu não me importaria. Tenho a cabeça aberta,
a de baixo, é claro!
Gargalhamos.
— Esse é o Carlão que conheço, comedor... — Dou risada. —
Vou conversar com ela, mas dá um tempo e deixa a garota em paz!
Falando sério, não incomoda a Carol, ela é minha pupila, portanto,
minha protegida!
— Falou o Rui, o defensor das lésbicas e deprimidas.
— Vai se foder!
— Ok, brother, vou esperar a princesa Carol me ligar — ele diz
irônico.
Desligo.
Chamo a Carolina a minha sala.
Estou preocupado, isso é fato, a Priscila está presa, mas é
provisório, tenho certeza que seu pai está mexendo seus pauzinhos,
mesmo de longe ele consegue interferir, e não posso deixar essa
maluca sair da cadeia por nada desse mundo.
A porta abre e vejo que a Carol.
— Tudo bem, Carol? — A cumprimento, ela sorri e vem em
direção a minha mesa.
Eu já havia percebido que a Carol não gostou da indicação dela
para trabalhar junto com o Carlão, no processo contra a Priscila,
mas ela é a pessoa mais indicada para cuidar disso para mim.
Primeiro, porque ela é muito competente, e segundo, porque se
trata da Jack, e eu tenho certeza que ela defenderá os interesses da
amiga com unhas e dentes.
Eu sei que o Carlão é um filho da puta, está louco pra comer a
Carol, mas eu já disse para ele que ela não curte um cacete, o
negócio dela é outro!
Enfim, não tenho mais o que fazer.
— E então, Carol, já conseguiu montar alguma coisa? O Carlão
disse que você ainda não marcou nada com ele! — Me encosto a
cadeira, e espero sua reação.
— Acho melhor eu tocar isso sozinha, Rui! — Ela franze sua
testa. — Eu não conheço seu amigo, e não gosto do jeito dele.
Eu sabia que era isso, o Carlão é muito direto quando está a fim
de uma mulher, ele fica secando a Carol, já disse para ele que isso
é chato, mas ele não tem “semancol”.
— Carol, eu sei que o Carlão não é um cara muito sério, ele
gosta de fazer umas gracinhas, mas profissionalmente ele é fera,
um dos melhores que conheço na área criminal! Ele tem muito a
agregar. Eu até poderia deixar você montar o processo sozinha,
você é competente, mas preciso que ele te ajude, eu não estou com
tempo para isso. — Bufo cansado. — Sua amiga está me dando um
trabalhão, Carol! A Jack não quer babá, não quer ajuda, e eu que
tenho que acordar de madrugada para ajudá-la. Tá foda, Carol! —
desabafo.
— Dê um tempo para ela, Rui, é tudo muito novo para a Jack,
ela está muito ansiosa, o bebê acabou de nascer, acho que é assim
mesmo, a mulher fica insegura! — Ela se senta, porque falou na
Jack a Carol amolece. — A tia Amélia acabou abandonando a Jack
para cuidar da vovó, ela está bem perdidinha.
— Ok, mas para isso que servem as babás...
— Rui, deixa ela decidir isso, é importante para ela, é o seu
primeiro filho!
— Ok, então você me ajuda com o processo contra a Priscila, e
se encontra com o babaca do Carlão? — Cruzo meus braços em
cima da mesa. — Marque no escritório dele, ele também está
fodido, só está fazendo isso porque somos amigos, para me ajudar.
Ela revira os olhos.
— Ok, mas se ele me irritar, não respondo por minhas ações —
ela diz nervosa.
— Chuta o saco dele, fique à vontade!
Ela ri.
— Ok, chefe, mais alguma coisa? — Ela me olha estreito.
Eu entendo o Carlão, a Carol é muito bonita, não tem nada de
“sapatão”, como dizem.
Tudo bem, não sei como ela é na cama, talvez ela queira enfiar
uma cenoura no rabo do Carlão, mas aí o problema não é meu, é
dele.
— Vou oficializar minha união com a Jack.
Ela sorri.
— Nossa, que noticia fantástica! Ela já sabe disso? — ela diz
empolgada.
— Não. Pensei em fazer uma surpresa, o que você acha?
Chamo um juiz, em nossa casa mesmo, não sei ao certo o que a
Jack espera de um casamento, se ela gostaria de casar em uma
igreja, enfim... Queria pedir sua ajuda!
— Ela nunca me disse que sonhava em se casar de véu e
grinalda! — Ela pensa. — Acho que não faz o estilo da Jack. Talvez
um casamento simbólico ao ar livre, gostamos muito disso, somos
muito parecidas, e certa vez fomos ao casamento de uma colega de
colégio, numa chácara, ela adorou e eu também.
Penso um pouco, mordendo a haste de meus óculos.
— Poderia ser em minha casa de campo, só nossos familiares e
os amigos íntimos, quero dizer, você e o Carlão! — Dou risada.
Será que estou tentando unir o Carlão com a Carolina?
Sei lá, queria dar um jeito na vida de putaria do Carlão, queria
que ele se casasse com uma mulher legal!
Acho que estou pirando, a Carol não gosta de homens. Então,
que merda que vai dar isso?
— Acho que ela irá gostar, aliás, adorar! Eu ajudo você, não sei
exatamente como, mas eu ajudo.
— Você compra o vestido para ela usar, eu contrato o pessoal
para fazer a cerimônia, peço a ajuda da minha mãe, ela mora na
mesma cidade, ficará mais fácil!
— Sua mãe, tem certeza? — Ela levanta suas sobrancelhas.
Sorrio.
— Ela mudou, está mais boazinha, e se ela fizer alguma coisa
que aborreça a Jack, nunca mais irá ver seu neto!
— Sim, a Jack agora tem um trunfo! — Ela ri. — Já sabe quando
pretende se casar, Doutor. Rui? — Ela brinca.
— Neste final de semana. Estou finalizando os processos que
estavam pendentes, pretendo viajar com a Jack para o interior por
estes dias, quero ficar com ela alguns dias, só nós e o bebê.
— Perfeito! — ela diz animada. — O vestido de noiva é por
minha conta, presente de madrinha de casamento. — Ela esfrega as
mãos.
— Tudo bem! O padrinho é o Carlão, espero que você não se
incomode.
Ela revira seus olhos, bufa e sai.
****
Acerto os últimos detalhes do meu casamento, precisei da ajuda
do Alexandre para contratar o buffet no interior, minha mãe está
boazinha, mas continua dondoca, então imagine se ela cuidaria da
contratação de um buffet para meu casamento.
Nunca.
Ok, ela me ajudou com o juiz de paz, marido de sua melhor
amiga, contratou a floricultura, e vai checar a arrumação do local.
Está de bom tamanho para Dona Raquel.
Tenho certeza que a Jack irá gostar, pedi a opinião da Carol em
tudo, e ela conhece o gosto da Jack, tudo ficará do seu gosto.
Ainda estou indeciso se falarei sobre nosso casamento, sei lá,
pode ser que ela não goste, a Jack anda tão chata.
Depois vejo isso.
Ajeito as coisas em minhas gavetas do escritório, fecho minha
pasta executiva e sigo para a porta.
— Já estou indo, Alexandre!
Ele me olha.
— Boas férias, Doutor Rui, e bom casamento! — ele diz
espevitado, sempre espevitado.
— Obrigado. Então, qualquer problema me ligue ou me mande
um e-mail, ficarei on-line no caso de algum problema, mas tudo que
puder passar para os três advogados, faça isso, me deixe em paz
um pouco. — Concluo com um sorriso.
— Tudo bem, pode deixar, cuidarei de tudo! — ele diz elétrico,
me seguindo em direção as escadas. — Mande um beijo para a
Jackeline, estou com muitas saudades dela.
— Pode deixar, mandarei. — Bato em seu ombro. — Até mais.
Sigo para casa, concluí tudo que precisava, então amanhã cedo,
seguiremos para o interior.
O casamento está marcado para às 11h da manhã, e parece
mentira que vou me casar, acho que estou ficando louco de vez.
Não demoro muito no trânsito, logo estou estacionando meu
carro e pegando o elevador, e finalmente em casa.
Confesso, eu gosto disso, desse cheiro de talco de bebê pela
casa, do choro estridente do Luigi, da confusão, e de encontrar a
Jack todos os dias me esperando.
Nunca achei que me apaixonaria tanto por essa vida doméstica,
tudo bem que existem os altos e baixos. Tem dia que está tudo uma
merda, mas tem dias que está tudo perfeito.
É o efeito família, a casa cheia, agitada, criança chorando,
cachorro latindo e mulher estressada.
Ok, essa última parte podemos pular.
Sigo pela sala, agora a Jack coloca músicas instrumentais para o
Luigi, ela aprendeu que isso acalma o Luigi, mas não tenho certeza
disso, acho que um Led Zeppelin cairia melhor para seu estilo
terrorista de mãe.
Pensei em gritar seu nome, assim como fazia no escritório, mas
aí me lembro que o bebê pode estar dormindo.
O Bóris aparece, está feliz pra cacete.
— E aí, Bóris? Arrumou um amiguinho para brincar? — Acaricio
seu pelo gostoso.
Ele late feliz, está agitado, parece que a Jack está drogando
esse cachorro!
— Ok, ok, Bóris, se acalma! Vamos subir e ver o que temos lá
em cima. — Ele sobe correndo as escadas, e eu vagarosamente,
porque se eu acordar o Luigi, eu tomo bronca, mas o Bóris, não, ele
é o queridinho da Jack.
O segundo andar inteiro cheira a talco de bebê, shampoo de
bebê, tudo de bebê, a casa inteira, a Jack, nossa cama, o Bóris, e
concluo que o Luigi tomou conta de tudo, não sobrou mais espaço
para o antigo dono dessa casa.
Enfio minha cabeça no quarto do Luigi.
— Jack! — a chamo baixinho.
— Aqui, Rui — ela diz do banheiro.
Sigo vagarosamente, e lá está o peladão do último andar.
Sorrio ao vê-lo tomando banho.
— Tudo bem por aqui? — Abraço a cintura da Jack e beijo seu
rosto.
— Tudo bem! Já estou terminando o banho dele!
Olho demoradamente para o Luigi, parece mentira que tenho um
filho.
— E aí, Luigi, como foi seu dia? — Ele ensaia um sorriso,
cresceu, engordou e já tem cara de bebê. — Dormiu bastante? Não
esqueça, o período da noite é feito para chorar.
A Jack dá risada.
Ok, vamos fazer um pouco de piada da nossa desgraça.
— Não ensine coisas erradas para ele, Rui! — a Jack diz irônica.
— Ele será da night, Jack! Já entendi o Luigi, ele não gosta de
dormir à noite, o negócio dele é agito!
A faço rir um pouco, ela está precisando disso.
Ela coloca a toalha ao redor dele e o coloca em seu colo, e
segue para o seu quartinho.
— Amanhã vamos para o interior, Jack, já finalizei tudo no
escritório.
Ela me olha meio assustada.
— Sério? Mas você só me avisa agora? Não arrumei nada!
— Tudo bem, arrumamos agora à noite, por isso, cheguei mais
cedo... Não sei se você percebeu? — pergunto curioso, a Jack anda
com a cabeça na lua.
— Eu percebi! — Ela puxa o ar, anda estressada pra cacete. —
Tudo bem, vou arrumar uma malinha para ele, depois arrumo a
minha.
Combinei com a Carol que ela levará as velhinhas da Jack, a
ideia é que seja uma surpresa, então hoje a Dona Amélia a deixou
na mão pela vigésima vez, por isso, ela está puta.
Será que a Jack irá gostar da surpresa? Ela anda tão
estressada!
— Então, ficaremos alguns dias por lá, vamos descansar um
pouco. Você está muito estressada, Jack.
Ela me olha, franze a testa.
— Não falei? Olha como você está estressada! — Aponto para
seu rosto.
— Rui, você está querendo me irritar? Talvez você esteja
conseguindo com essa história de estressada! — Ela me olha de
lado.
Desencosto do móvel, é melhor não cutucar a onça com a vara
curta.
— Bom, vou tomar um banho. — Sorrio para ela. — Se precisar
de mim, me chama.
Saio de mansinho.
Tem dias que ela está bem, hoje não é o caso. Provavelmente o
Luigi infernizou seu dia todo.
Arrumo rapidamente minhas coisas, sem frescuras, algumas
camisetas, shorts, calças jeans, uma ou duas camisas, cuecas e
pronto.
Termino de tomar meu banho e sigo novamente para o quarto do
Luigi.
— E aí, Jack, tudo bem por aqui? Quer uma ajuda?
— Eu estou arrumando as coisas dele! — ela diz irritada, e vejo
um monte de coisas.
— Por que tudo isso? — pergunto surpreso.
— São todas as coisas dele.
— Mas, não ficaremos um mês lá! — falo indignado com o monte
de malas que vejo.
Ela revira seus olhos.
— Rui, ele é um bebê, suja de três a quatro roupas por dia,
tenho que levar tudo dele. Será que você me entende?
Ok, ok, ela está ficando nervosa, é melhor eu relaxar.
— Tudo bem, leve o que for preciso, não vamos brigar por isso.
— Sigo para a porta. — Quer que eu fique com ele para você
terminar isso?
— Seria ótimo! — ela diz irritada.
O pego de seu colo e sigo com ele para o nosso quarto, ligo a
televisão e o coloco em meu peito, e ele dorme tranquilo.
Ele fica bem comigo, parece que com a Jack ele está sempre
agitado, acho que é o cheiro de leite, deve deixá-lo louco.
Eu já até experimentei o leite dela, mas não vi a menor graça,
não sei o que o Luigi acha de tão gostoso naquilo.
Dou risada sozinho, estou feliz, amanhã é meu casamento.
****
Já é tarde quando sinto a Jack deitar em nossa cama.
Eu sei que a vida dela está foda, mas caralho, o que faço com o
tesão que sinto por ela?
Está difícil para ela acreditar, que apesar das transformações do
seu corpo, o desejo que sinto por ela é o mesmo.
Suas encanações de ainda estar com a barriga saliente e tudo
mais, não me incomodam, eu sei que tudo isso é passageiro, mas
mulher é um bicho complicado pra cacete.
Ela se tortura todos os dias com aquele negócio apertado, talvez
seja por isso que ela fique mal-humorada.
Ok, mas voltando a realidade, eu estava falando do tesão que
estou sentindo, faz uns três dias que não rola nada entre nós, e isso
está me deixando meio selvagem.
Aproximo meu corpo do seu, abraço sua cintura, e beijo seu
pescoço.
Se fosse em outros tempos, ela corresponderia imediatamente,
mas agora, ela parece uma múmia.
— Jack, faz três dias que a gente não faz nada, eu estou
subindo pelas paredes...
— Aham... — ela diz.
— O que isso quer dizer? Um sim? — Isso soou patético.
— Eu estou com tanto sono — ela resmunga.
— Ok, você não precisa fazer nada, eu faço tudo... — digo com
deboche, e penso “nunca achei que isso aconteceria em minha
vida”, eu estou pedindo pelo amor de Deus para ela fazer amor
comigo.
— Tá bom — ela responde preguiçosa.
É isso ou nada, então parto pra cima, eu sei como acordar minha
leoa.
Começo com os beijos em seu pescoço, ela adora isso, revezo,
beijos na boca e no pescoço.
Ela começa a acordar...
— Está gostoso assim, Jack?
— Aham... — ela diz, está preguiçosa ainda.
Começo a torturá-la passeando minha língua pelos seus seios,
ela também adora isso.
— Assim, Jack? Você gosta quando faço isso?
— Gosto. — Ela parou de falar “aham”, e isso é muito bom. —
Quer que eu faça alguma coisa especial em você? — Mordo e
chupo sua orelha.
— Quero que você chupe minha buceta! — ela diz e ri.
— Sério, está com saudades? — Olho em seus olhos.
— Sim, muitas saudades.
— Ok! Não passe vontade, Jack, é só pedir. — Brinco, ela já está
bem acordada.
Se há algo que sei fazer bem é isso, eu levo a Jack para outra
galáxia, deixo ela maluquinha, e não foi diferente hoje, fiz a Jack
gemer, gemer muito, daquele jeito escandaloso que gosto de ouvi-
la.
— Oh, Rui, continua... Isso... Ahhh...
— Isso, minha gostosa! Geme bem alto! — Enfio dois dedos
dentro dela e a levo ao orgasmo.
Volto a beijá-la, estou louco para foder ela, mas tem que ser de
quatro, estou louco pra foder a Jack vendo sua bunda gostosa.
— Vira gostosa, vamos voltar à ativa, do jeito que fazíamos
antes!
Ela vira, passo minhas mãos pelos contornos de sua bunda.
— Ela continua linda, Jack. — Enfio meu pau nela, de uma vez,
a faço gemer alto. — Você gosta assim?
— Gosto — ela diz.
— E quando faço isso? — Bato em sua bunda com minha mão,
esfrego em seguida, ela grita, e isso é muito excitante.
— Gosto, gosto muito!
Me movo lentamente dentro dela, deito meu corpo sobre suas
costas, beijo e mordo seus ombros.
— Saudades de foder assim, minha deusa?
— Sim, eu estava...
— Então fala para eu te foder.
— Me fode, Rui, bem gostoso — sua voz sai sensual, rouca, do
jeito que gosto de ouvi-la.
Bato forte em seu bumbum, mas massageio.
— Ai, Rui! — Ela geme alto.
— Mais uma vez, Jack? — pergunto, mas estou no meu limite.
— Sim, mais uma vez!
Seguro em seus quadris e a fodo com força, do jeito que queria
fazer nos últimos quase nove meses.
Finalmente gozo, e faço muito barulho, foi incrível.
Desmaio ao seu lado.
— Foi demais, Jack! Aho que vou morrer feliz agora! — Brinco,
sem fôlego, mas rindo.
Ela me olha em meio aos seus cabelos.
— Eu adorei! Até passou o sono! — Ela ri.
— É disso que a gente precisa, Jack, muito sexo.
Ela ri novamente.
— Você sabia que não estamos usando nenhum método
anticoncepcional?
Penso um pouco, mas não acho que a Jack vá engravidar de
novo, foi uma puta sorte que tivemos.
— Ok, se você engravidar de novo, é sorte!
Ela apoia sua cabeça com o cotovelo.
— Você não acha que engravidarei novamente, não é mesmo?
— Não sei, Jack. — A puxo para perto de mim. — Não se
preocupe com isso, vamos curtir esse momento, uma coisa de cada
vez!
Ela se deita sobre meu peito.
— Tudo bem, agora eu preciso dormir.
— Agora você pode dormir. — Sorrio, ela me olha e dá risada.
— Te amo, minha deusa! Amanhã será um dia muito especial.
— Sério? Por quê? — ela diz preguiçosa.
— Não sei, mas acho que será! — Sorrio feliz.
— Que bom, então me deixe dormir agora. Boa noite, Rui!
— Boa noite, Jack!
Capítulo 31
JACKELINE
Acordo preguiçosa, com minhas pernas enroscadas as do Rui.
O abraço junto a mim, quero senti-lo, pois o amor que sinto por
ele sai pelos meus poros.
Ontem tivemos uma noite de amor perfeita, como há tempos não
tínhamos.
Foi delicioso, e me fez lembrar que preciso voltar a ser amante, e
não somente mãe.
Mas não é tão fácil, e se não fosse por insistência do Rui ontem,
eu teria sucumbido ao desejo insuportável de dormir.
Ando muito cansada, mas não é um cansaço de trabalhar, é o
cansaço de não dormir durante a noite. E consequentemente, me
sinto uma zumbi durante o dia.
Olho no relógio digital e sorrio ao lembrar que hoje é sábado, e
iremos passar alguns dias de férias em sua casa no interior.
Adoro aquele lugar, e acho que esse tempo juntos irá renovar
nossas energias.
Temos nos estranhado um pouco depois do nascimento do Luigi.
Confesso, eu tenho culpa, tenho estado muito insegura, não me
reconheço.
É fato, a maternidade muda a gente.
Tenho que confessar, que além de insegura, ando muito chata,
irritada, azeda.
Eu estou feliz, tenho tudo que amo, mas não estou acostumada
com essa rotina insana de mãe.
As cólicas deixam o bebê irritado, chorão, ele só quer colo, e eu
mal posso ir ao banheiro com calma.
A amamentação é algo complicado também, demorada e
exaustiva.
Eu adoro amamentá-lo, mas ele ainda é muito bebê e sempre
dorme durante as mamadas. Então, ele nunca está satisfeito, e está
sempre com fome.
Para ajudar ainda mais, agora estou com meus mamilos
machucados.
Tenho certeza que tudo isso irá melhorar, mas ainda é muito
cedo, ele só tem um mês de vida.
Preciso ser paciente, porque ainda tem muita coisa para rolar.
Olho para o meu deus grego, ele dorme profundamente, mas se
queremos voltar a nossa vida sexual, teremos que transar não
quando queremos, mas sim quando o Luigi deixa.
Então...
Beijo seu rosto carinhosamente.
— Bom dia, amor! — sussurro em seu ouvido.
Ele abre vagarosamente seus olhos.
— Bom dia! Já acordou, Jack? — ele diz sonolento.
— Já, preciso amamentar o Luigi, meus peitos estão pulsando, e
doloridos!
Isso é horrível, mesmo que eu não queira, meu peito dói muito, e
para aliviá-lo preciso, ou tirar o leite ou amamentá-lo.
— Sério? Pensei que você queria namorar um pouco! — Ele me
encara sedutor.
Sorrio com seu jeito, acaricio seus cabelos e falo:
— Se formos rápidos, quem sabe dê tempo...
— Eu sou rapidinho, tipo coelho! — ele diz com sua cara de
safado.
— Então vem, amor...
Ele tira minha camisola e cobre meu corpo com o seu, e me beija
daquele jeito delicioso, guloso e sensual.
Me entrego aos seus beijos, aos seus carinhos.
— Oh, Rui, que delícia! — sussurro sentindo seus beijos em meu
pescoço. — Rui... não podemos demorar.
— Que pressão, Jack! Assim eu brocho, caralho! — Ele reclama.
Seguro seu rosto.
— Desculpe, não quero apressá-lo, só não quero que ele acorde
no meio do nosso namoro.
Ele volta a me beijar.
— Eu sei minha deusa, vou acelerar o processo! — Ele me
penetra. — Está bom agora? — Ele sorri.
— Está! Muito bom por sinal. — O beijo apaixonada. — Te amo,
Rui. — Enrosco meus dedos entre seus cabelos e puxo-os.
Ele segura minhas mãos no alto de minha cabeça e começa a
me torturar, beijos, chupões, mordidas...
— Oh, Rui! — Fecho os olhos e gemo de prazer.
Seu corpo se choca contra o meu vigoroso, viril...
Me contorço de prazer, e gemo, e ofego, e estou quase
chegando lá, mas aí... ouço o choro do Luigi.
— Merda! — ele diz parando. — Ele pode esperar um pouco,
Jack... — Ele ignora os berros do Luigi, volta a me penetrar e
finalmente goza.
Eu teria gozado também, talvez exatamente quando ele chorou,
mas aí não consegui mais me concentrar.
Ficará para uma próxima vez.
Ele respira ofegante.
— Você gozou, amor? — Seus olhos me encaram.
— Sim, foi maravilhoso! — Minto, porque ele foi perfeito, mas o
Luigi não colaborou com sua mãe.
— Quer que eu o pegue para você? — ele diz carinhoso.
— Sim, só vou ao banheiro rapidamente, já volto.
Ele segura meu rosto e me beija.
— Te amo, Jack!
Sorrio.
— Eu também!
****
Coloco um vestido florido soltinho e curto, não estou me sentindo
bem com minha barriga, ela continua grande e inchada, e isso me
incomoda muito nas roupas.
Me olho no espelho, encolho a barriga, e bufo irritada.
— Jack, esquece um pouco isso, daqui a pouco seu corpo volta
ao normal! — Ele me abraça pelas costas e beija meu pescoço.
— Estou tão agoniada com isso, olha como ela está enorme! —
Meus olhos enchem de lágrimas.
— Quando voltarmos para casa, você retoma com suas aulas de
condicionamento, a personal trainner te ajuda com isso! — Ele dá
um tapa na minha bunda. — Vamos, gostosa! Você está atrasando a
gente.
Ele segue para o quarto do Luigi.
—Rui, que pressa! — reclamo, pego minha última mala e minha
bolsa e seguimos para o elevador.
Olho para o porta malas de sua SUV, e me surpreendo com a
quantidade de coisas que levamos.
— Ok, Jack, podemos ir? Está ficando tarde! — ele diz ansioso.
— Sim, só falta o Bóris. — digo distraída, enfiando minha bolsa
de viagem no porta malas.
— Bóris!!! — ele berra.
Vejo o Boris fazendo xixi no pneu do carro próximo ao nosso.
— Vamos bebê! — o chamo apressada, ele sobe no banco, o
prendo rapidamente no assento. — Ok, não falta mais ninguém! —
Sorrio para o Bóris e para o Luigi, que me olha fascinado.
— Fui abandonado aqui na frente! — O Rui choraminga
manobrando o carro.
Massageio seus ombros.
— Não foi abandonado, não! — Brinco beijando seu rosto. —
Vou fazer massagem a viagem inteira!
Em pouco tempo estamos pegando a estrada, e percebo que o
Rui está correndo mais do que o normal, mas relevo porque a
estrada está vazia.
Cochilo um pouco, o bebê chora, o amamento com o carro em
movimento e finalmente chegamos à cidade do Rui.
— Nossa, acho que hoje fizemos essa viagem em tempo
recorde! — digo admirada ao olhar no relógio do carro.
— Sério? — Ele me olha pelo retrovisor. — Eu vim na boa, não
corri muito! — ele diz despreocupado.
— Sei, sei! — Giro meus olhos.
— Jack, você tem vontade de se casar? — ele diz, assim, do
nada.
— Como assim? — O olho surpresa com a pergunta.
— Casar formalmente, de papel passado, essas coisas. — Ele
me olha intensamente.
— Sei lá, você não diz que isso é besteira? Eu resolvi concordar
com você!
— Ok, mas você queria, não queria?
— Talvez sim, mas já passou à vontade! — respondo distraída,
acariciando os cabelinhos fininhos do Luigi.
— Qual o seu sonho, Jack? Se casar de noiva, na igreja, de que
jeito? — ele pergunta estranhamente.
— Por que essa curiosidade agora? — Sorrio. — Você resolveu
que quer se casar comigo? — Brinco.
— Responde o que perguntei! — Ele parece meio ansioso.
— Acho que em uma igreja, adoro casamentos em igrejas. —
interrompo o que estava falando com sua explosão de nervos.
Ele esmurra o volante e xinga.
— O que foi? — pergunto preocupada.
— Nada! — Ele bufa, resmunga.
— Rui, o que aconteceu? — Seguro em seu ombro, e o forço a
me olhar.
Ele me olha intensamente.
— A gente vai se casar hoje, mas não será numa igreja, será na
nossa casa.
Fico com a boca aberta.
— A gente vai se casar? — minha voz sai meio esganiçada.
— Sim, mas achei que você gostasse de casamentos ao ar livre,
quero dizer, a Carol achava isso!
Dou uma risada louca, cubro minha boca com as mãos e o olho.
— Rui, olha para mim!
Ele para o carro e olha para trás.
— Isso é sério? Nós vamos nos casar? — pergunto com uma
expressão de pura felicidade.
— Sim, era para ser uma surpresa, mas fiquei inseguro se você
iria gostar de se casar assim, sem combinarmos, enfim...
— Eu estou muito surpresa, mas tenho certeza que irei gostar!
Obrigada, Rui! — Sorrio nervosa. — Mas é um casamento de
verdade, terá padre, aliás, quem virá?
— Sim, assinaremos o contrato de matrimônio, haverá um juiz de
paz, e estarão somente nós e nossos familiares — ele diz e o olho
com admiração e amor.
Que surpresa mais linda ele me fez.
— Adorei! Não importa onde seja, se for com você eu topo
qualquer coisa, numa cachoeira, embaixo de uma árvore, no meio
do mato, do mar, qualquer coisa serve! — Ele beija minha e sorri
com uma expressão de felicidade. — Mas, e minha mãe e minha
avó, elas não virão? — Enrugo minha testa.
— Elas virão com a Carol e o Carlão, eles foram convidados!
— Ah, tá... — Penso um pouco. — Mas eu posso me casar com
qualquer roupa? Dá tempo de comprar alguma coisa? — falo
ansiosa. — Eu trouxe só um vestido mais chiquezinho, os outros
são mais simples.
Ele acaricia meu rosto.
— Seu marido pensou em tudo, fique tranquila.
Levanto meus braços e dou um gritinho de felicidade.
— Serei agora oficialmente a senhora Figueiredo, é isso? — Dou
risada.
Ele volta a dirigir.
— Sim, agora oficialmente minha esposa, para sempre minha! —
Ele me olha pelo retrovisor, um olhar terno, de amor.
Meus olhos enchem de lágrimas.
— Sim! Para sempre sua, meu amor! — Me inclino sobre seu
assento, o abraço através do banco, e encho seu rosto de beijos. —
Te amo, Doutor Rui Figueiredo.
****
Ele estaciona o carro na garagem da casa.
Vejo pelo vidro do carro uma van escrito o nome de um buffet,
alguns poucos carros estacionados, e um arco de flores na entrada
da casa.
Sorrio encantada, mas também nervosa, comecei a sentir um frio
no estômago.
— Estou nervosa, Rui! — Roo uma unha.
— Não fique, Jack! Será uma cerimônia simples, só para nós
formalizarmos o que já existe entre nós, acho que você irá gostar —
ele diz bem fofo.
— Ok! — respondo em pânico. — Vou tentar ficar calma.
— Vamos descer? — Ele abre a porta do carro, segue para as
portas traseiras, e me ajuda com o carrinho do Luigi. — A cerimônia
será no jardim, então vamos entrar por aqui, eu aviso a Carol, e ela
virá te arrumar.
— Tá! — respondo com as mãos úmidas. — Me dá um beijo, eu
estou precisando! — Seguro em seu pescoço e o beijo
demoradamente. — Te amo, Rui! Obrigada pela surpresa, estou
muito feliz. — Meus olhos enchem de lágrimas.
— Eu também! Vamos subir para o nosso quarto, eu te ajudo
com o Luigi. — Ele coloca o Luigi em seu colo. — Eu peço para o
caseiro levar nossas malas, pegue só o que você precisa para se
arrumar.
Solto o Bóris, pego minha nécessaire e sigo com o Rui para
dentro de casa.
****
Entramos pela porta da entrada principal, olho para as portas de
vidros que dão para o jardim, e vejo tudo enfeitado, um pequeno
altar, algumas mesinhas, flores e mais flores.
Coloco minhas mãos sobre meus lábios e me emociono.
Nunca pensei que nos casaríamos algum dia, de verdade, ele
tinha urticária de casamentos.
O que aconteceu com Rui Figueiredo? Que ser adorável o
abduziu?
— Ai, Rui, está tudo tão lindo lá fora!
Ele deixa a bolsa do bebê sobre o sofá.
— Aqui é nossa outra casa, Luigi... — O vejo apresentando a
casa para o Luigi, tão lindo, tão carinhoso com nosso bebê. — Hoje
mamãe e papai irão se casar... — Ele conversa com o Luigi, que o
olha com os olhinhos claros vidrados. — Então, sem chororô,
porque sua mãe não poderá ficar com você o tempo todo.
Abraço sua cintura pelas costas.
— Você fica tão lindo de papai, sabia? — Beijo sua nuca. — Vou
subir, e tomar um banho bem rápido, estou com cheiro de leite
azedo.
— Tudo bem. Vou avisar que chegamos.
Sigo para as escadas, entro em nosso quarto e me jogo na
cama.
— Que dia mais maravilhoso para se casar! — falo para mim
mesma, olhando para o céu lindo que se exibe na janela grande e
charmosa da varanda do quarto.
Ouço barulho de saltos, e logo a Carol entra no quarto.
— Oiii, que demora! — A Carol me puxa da cama e me dá um
abraço de urso. — Vem ver seu vestido! Estou nervosa, não sei se
você irá gostar.
Ela nem me deixa falar, parece mais nervosa do que eu.
O vestido está pendurado no cabide do closet, branco, com os
ombros de fora, uma manga linda, cheia de detalhes...
— Lindo, amiga! Mas será que não ficará apertado? — Aperto
meu vestido contra minha barriga. — Olha como está isso ainda...
horrorosa! — Faço uma careta.
— O vestido é bem soltinho, e você não está gorda, é só a
barriguinha que ainda não foi embora. — Ela ri. — Corre, Jack, toma
um banho, vou arrumar você.
A Carol coloca o vestido sobre a cama, e me empurra para o
banheiro.
— Rápido, mulher! Como você está lenta! — Ela abre o zíper do
meu vestido, me deixando nua. — Tira a calcinha, Jack, estou
cansada de ver mulher pelada.
Reviro meus olhos.
— Estou com um pouco de vergonha do meu corpo, está tão
feio! — digo envergonhada.
Sempre fui muito vaidosa, e me ver com a barriga enorme, sem
ter um filho dentro dela é de matar.
— Jack, o Rui continua sentindo tesão por você, te deseja, e
continua querendo transar com você?
A olho confusa.
— Sim, acho que sim, nada mudou. Ele continua do mesmo jeito,
por ele transávamos a todo o momento. — confesso, meio
constrangida com o rumo do assunto.
— Então, está ótimo, é isso que importa! Depois você faz uma
lipoaspiração e arranca a gordura que sobrar.
Começo a me ensaboar...
— Ok. Você veio sozinha? — disfarço.
— Não, eu trouxe as três santas! — Ela revira seus olhos. —
Como falam, Jack, meu Jesusinho! Quase tive um derrame cerebral,
de tanta merda que disseram.
— Sério? E o Carlão, ele está aí? O Rui gosta tanto dele!
— Está aí, sim, e eu que tive de trazer aquele ser... — Ela revira
os olhos.
Dou risada.
— Acelera tartaruga — ela diz apressada.
— Por que você teve que trazer ele? Virou motorista de van, por
acaso? — Brinco.
— Ele inventou que o carro dele foi para a revisão. — Ela faz
uma cara feia. — Só dei carona para ele por causa do Rui, não
gosto desse cara, ele é muito enxerido.
— Oh, então ele e o Rui são irmãos gêmeos, o Rui sempre foi
muito enxerido. Quando nos conhecemos, ele chegou a perguntar
se eu e você tínhamos alguma coisa.
Ela bufa.
— Tá bom, Jack! — Ela desliga a torneira do chuveiro. —
Vamos, vamos, eu estou cansada de te esperar.
— Carol, eu não sabia que iria me casar! Se soubesse, eu teria
sido a primeira a chegar, sabia? — Me enrolo na toalha e sigo para
o quarto.
— Eu comprei alguns acessórios, e tentarei arrumar seu cabelo,
não sou muito boa nisso, mas tentarei. — Ela me puxa para uma
penteadeira. — Vou secar seu cabelo, darei uma de cabeleireira
hoje. — Ela ri através do espelho.
— Você está linda, Carol! Adoro te ver vestida assim, bem
feminina.
— Eu sou feminina! Quem falou que não sou? — Ela faz charme
no espelho.
— Eu só te vejo de terninho, camisas, isso não é muito feminino.
— A encaro pelo espelho.
— Ok, Jackeline Bartolli, não me enche o saco! Estou ocupada
agora arrumando uma noiva! — ela diz divertida.
— Ok, vamos brincar de estátua, no três a gente fica muda! —
Ela ri. — Um, dois e três...
A olho compenetrada secando meu cabelo, tão linda, eu sempre
achei a Carol uma mulher linda, mas ela é dura, e, às vezes, ácida,
e por isso, as pessoas costumam se afastar dela. Mas, no fundo, lá
no fundo, ela é doce, meiga, gentil, e carente, muito carente.
Depois da desgraça que aconteceu em sua vida, ela mudou, se
tornou uma menina arredia e agressiva. Mas o amor que sinto por
ela nunca me permitiu afastar-me dela, mesmo quando ela era
ríspida e grossa comigo, e parecia querer afastar todos de perto
dela.
Sim, o estupro de seu corpo causou um rombo em sua alma,
mas ela é forte e parece ter superado isso, ela vive bem com seus
relacionamentos homossexuais, pelo menos parece viver.
— Carol, e a Mirella? Você nunca mais falou sobre ela.
— Morreu!
Arregalo meus olhos.
— Oi? Como assim, morreu? De verdade?
— Não, é só jeito de falar. Não estamos mais juntas, não me
pergunte por que, não me pergunte dela, apenas aceite que acabou
— ela diz com uma expressão dura.
— Tudo bem! — Fico séria. — Me conte da viagem até aqui,
como foi a vinda daquelas senhoras loucas com você? — Sorrio.
— Sua vovó falou tanta merda que quase vômito, mas o tal de
Carlos gostou delas, deu muita risada, e assim a viagem se tornou
menos complicada. — Vejo um sorriso de lado em seus lábios.
— Carol, me deixe dar minha opinião. — Ela franze sua testa. —
Calma, Carol, eu só iria dizer para você não se incomodar tanto com
a presença do Carlos, ele deve te achar bonita, é só dar um chega
pra lá nele, e acabou.
— Tivemos uma reunião essa semana, para tratar sobre o
processo contra a loira maldita. — Ela me olha pelo espelho.
— Que bom! O Rui estava ansioso com isso, não podemos
demorar, enfim, você sabe mais do que eu... — Olho para ela. — Foi
bom o encontro? Produtivo, enfim...
Ela me olha pelo espelho.
— Sim, foi bom, produtivo.
— Humm, que ótimo! — Resolvo não perguntar mais nada, se
ela quiser que me conte.
— Vou aproveitar que os fios estão longos, Jack, e prender aqui
atrás e deixar o resto solto, me deixe te mostrar o enfeite que
colocarei. — Ela segue até a cama e pega algo e me mostra.
— Lindo! Ficará no cabelo?
— Isso. — Ela deixa de lado o assunto do amigo do Rui, mas
tive a impressão que vi certo brilho em seu olhar. — Fique quietinha,
vou começar a arrumar o cabelo.
Eu sei que a Carol tentou se relacionar com alguns caras,
quando ainda éramos jovens, mas havia sempre algo de errado, e
por fim, ela assumiu de vez seus relacionamentos homossexuais.
Sei lá, não quero me meter em sua vida, apenas quero que ela
seja feliz, com um homem ou uma mulher.
Mais alguns minutos e vejo meus cabelos com alguns fios presos
na frente e o enfeite na parte de trás. Ela também me maquiou, a
Carol sabe maquiar muito bem, estou com cara de noiva, e com
muita vontade de chorar.
— Carol, quero passar meu batom vermelho, o preferido do meu
homem! — Sigo até minha bolsa e pego o batom que deixa o Rui
louco. — Passe esse...
— Ficou linda, Jack! Vou usar seu batom, eu gosto dessa cor, é
bem paixão, né? — Ela brinca se olhando no espelho. — Ok, ok,
vamos ao vestido, mulher. — Ela me entrega lingeries novas, e uma
meia 7/8.
O vestido é passado pela minha cabeça, ajusto-o ao corpo e fico
feliz com o resultado.
É lógico que não vejo mais minha cintura fina e minha barriga
chapada, mas fiquei com cara de noiva, o vestido é bem delicado.
Giro em frente ao espelho e me emociono.
— Nunca pensei que casaríamos, Carol. O Rui me surpreende a
cada dia que passa.
— Ele é um homem apaixonado, Jack! Homens apaixonados
fazem qualquer coisa pela amada! — ela diz engraçado, fazendo
charme.
— Tem sapatos, ou irei descalça mesmo? — Brinco com ela.
— Sim, Cinderela! Aqui estão seus sapatinhos de cristais. — Ela
traz uma caixa e me mostra um par de sapatos lindos.
— Você está linda, Jack! A primeira foto é minha, vamos tirar
uma self? — Ela pega seu celular, me abraça, fazemos caras e
bocas, e pronto, mais uma foto linda de nós duas, temos muitas,
mas essa é especial, essa, e a que tiramos com o Luigi.
— Obrigada. — Inspiro profundamente. — Podemos descer?
Não vejo a hora de me casar com aquele homem lindo chamado
Rui? — Brinco.
— Vem, eu te ajudo nas escadas.
Sigo com a Carol, coração batendo forte, mãos geladas, e um
friozinho no estômago.
A vida me surpreendeu muito, encontrar o amor da minha vida
no homem menos provável, ficar grávida depois de descobrir que
um dos meus ovários havia falido literalmente.
Fecho meus olhos e agradeço em silêncio.
Sim, estou feliz demais.
****
Através das portas de vidro vejo o Rui vestido em um
smoking preto, conversando com um homem elegante, deve ser o
tal juiz de paz.
Ao lado deles está o pai do Rui, elegantíssimo também, e
segurando seu netinho.
Olho rapidamente entre as pessoas, a mãe do Rui está
acompanhada de uma moça, e um rapaz. Não conheço nenhum
deles.
Enrugo minha testa.
— Será que é a irmã do Rui? — Penso.
Olho mais um pouco, mamãe, vovó e titia se sentam em
companhia do Carlão, ele é engraçado, um tipo de pessoa daquelas
que apesar de seu jeito de cafajeste, encanta, ele é simpático, boa
gente.
As mesas estão cuidadosamente arrumadas, vasinhos de flores
estão acomodados sobre elas, um arco de flores enfeita um lugar
que possivelmente será o altar.
Está tudo lindo.
— Gostou da decoração? — A Carol me tira de meus devaneios.
— Sim! Está tudo perfeito! — Meus olhos lacrimejam.
— Vamos noiva, estão todos esperando por você há horas! Já
acabei com todos os canapés, estou com uma fome de leão hoje! —
ela diz com seu jeito engraçado.
— Lutou muito ontem, foi isso? — pergunto.
A Carol pratica boxing, seus braços são durinhos, aliás ela é
toda malhada, tem um corpo invejável.
— Sim, um pouquinho. Estava meio estressada! — ela diz
misteriosa.
Chegamos até a porta de vidro, e como se fosse mágica, o Rui
olha para mim e sorri, e parece que não existe mais ninguém nesse
lugar, só eu e ele.
Como amo esse homem, meu Deus!
Todos olham para trás, sorrio sem jeito, sinto-me um pouco
tímida com tudo isso.
Vejo o Carlão se posicionar ao lado do Rui.
Sigo com a Carol ao meu lado, a essa altura, ela me entregou
um pequeno arranjo de mini rosas vermelhas.
Caminhamos lentamente em direção ao altar, sorrio para minha
mãe, para minha avó...
Esse momento não é especial somente para mim, é para elas
também. Não existem pessoas no mundo que torceram mais pela
minha felicidade do que essas duas!
À medida que me aproximo do Rui, meu coração bate mais
depressa. Minhas bochechas estão levemente doloridas, pois desde
que soube que iria me casar com o Rui, não tiro o sorriso do rosto.
Caminhamos mais alguns poucos passos e chegamos ao local
onde o Rui está.
Tudo isso é surreal, parece mentira que estou me casando.
— Você está linda, minha deusa! — ele diz com um olhar de
admiração, leva minha mão até seus lábios e a beija
demoradamente.
Sim, esse gesto é sua marca, desde que nos conhecemos ele
beija minha mão, e eu me apaixonei por isso, acho romântico,
delicado e respeitoso.
— Você também está lindo! — sussurro.
O juiz de paz chama nossa atenção.
— Podemos começar a cerimônia? — ele diz, parece meio
apressado.
— Sim... — eu digo, e o Rui também, em seguida segura minha
mão junto a sua e nos aproxima do juiz.
— É com grande prazer que realizo essa cerimônia de
casamento, Rui — o homem diz simpático. — Eu conheço esse
rapaz desde criança, o vi crescer, enfim, é sempre uma felicidade
para mim unir duas pessoas que se amam, e que querem formar
uma família!
Ele continua...
— Não sou um padre, mas gosto sempre de dizer algumas
palavras para os noivos... — Ele sorri, o Rui aperta minha mão.
— Eu sou um daqueles que ainda acredita no casamento, no
“até que a morte nos separe”. Pode parecer antiquado para alguns,
mas sou um romântico inveterado! — Ele dá risada, e sorrio junto.
— Assim como seu pai, Rui, sou casado há mais de 35 anos, é
tempo demais com a mesma pessoa, e não é fácil... — ele diz com
humor. — Mas, eu tenho o segredo para esse fenômeno... — Ele
nos olha com firmeza. — Tolerância, respeito, amizade e amor,
muito amor, e se vocês me permitem dizer, um pouco ou muito sexo!
Isso ajuda, também.
Todos riem com a piadinha do juiz conversador.
— Eu sei que vocês já possuem uma vida conjugal, inclusive já
tiveram um filho, então imagino que a decisão de oficialização desse
relacionamento se dá pelo fato de acreditarem nessa união, e na
instituição do casamento.
— Sim, acreditamos... — O Rui responde rapidamente.
— Então, gostaria que vocês repetissem comigo os votos do
matrimônio... — Ele olha para o Rui. — Repita comigo, Rui: “Eu, Rui
Figueiredo, recebo a ti Jackeline Bartolli como minha legítima
esposa...”
Ficamos de frente um para o outro.
A voz do Rui reverbera pelos meus ouvidos, e confesso, ouvi-lo
pronunciar essas palavras para mim, me causa um nó na garganta.
“...prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te em todos os momentos
das nossas vidas.”
Seu olhar profundo e sincero desestrutura meu autocontrole, e
acabo inundando meu rosto em lágrimas.
O juiz coloca o microfone em frente a minha boca:
— Jackeline Bartolli, você aceita Rui Figueiredo como seu
legítimo esposo e promete ser fiel? — O Juiz repete tudo
novamente.
— É claro que aceito, e sim para todo o resto! — digo sem
titubear, e faço o Rui rir.
— Pelo poder legal a mim dado, eu os declaro perante a lei,
marido e mulher!
Vejo o Bóris entre nós dois, com uma cestinha em sua boca.
— O que é isso? — pergunto surpresa.
— As alianças! — o Rui diz com uma expressão divertida.
— Você o ensinou a fazer isso? — pergunto curiosa.
— Treinei ele em minhas noites solitárias. — Ele brinca.
— Lindo, Rui! — Estendo minha mão, e ele coloca minha aliança
em meu dedo.
— Te amo, minha deusa — ele sussurra com os olhos vidrados
em mim.
Pego sua aliança e repito o mesmo ritual.
Beijo seu dedo anelar e relaxo.
Finalmente, o juiz pede para assinarmos os documentos, a Carol
também assina e o Carlão.
— Agora pode beijar a noiva! Parabéns, que sejam muito felizes!
— o homem diz.
Olho para o Rui, ele segura meu rosto entre suas mãos,
aproxima seus lábios dos meus e me beija.
Que momento mais lindo da minha vida! Estou emocionada e
chorando muito.
Capítulo 32
CAROLINA
Flash back on
Depois de todo o estresse com a ida da Priscila ao hospital e de
sua tentativa de homicídio da Jack, do Rui e de não sei mais quem,
fiquei com aquela sensação de culpa.
Eu vi a Mariana falando com a Priscila por duas vezes, e eu não
fiz nada.
Me senti muito culpada, não protegi minha irmãzinha, e quase a
perdi!
Quando cheguei ao hospital e vi o Rui insano tentando enforcar
a Priscila, pensei: além de não o ter precavido, coloquei os dois em
risco, e ainda o farei ser preso por homicídio.
Então, fiz o que tinha que ser feito, peguei a desgraçada e eu
pessoalmente bati nela, coloquei para fora toda a raiva que estava
sentindo.
A segunda parte dessa história tem a ver com a Mariana, eu vou
acertar as contas com aquela desgraçada, e será hoje.
A caminho do trabalho penso qual a melhor forma de fazer isso,
mas nada vem à minha mente, senão a vontade de dar uma surra
naquela vagabunda, traidora, que se dizia amiga de todos, da Jack,
do Rui, e pelas costas fazia armações com a loira maldita.
Estaciono meu carro no estacionamento do escritório, fico por
alguns minutos dentro do carro, pensando, pensando...
Finalmente, decido entrar.
Cumprimento rapidamente o Alexandre, ele já percebeu que não
estou de bom humor, então não puxa papo.
Entro em nosso espaço, passo por alguns advogados,
cumprimento-os e então vejo a vagabunda da Mariana.
Sigo para minha mesa, ligo meu computador, e fico a olhando de
longe.
Eu não vou aguentar isso, preciso resolver essa questão agora,
caso contrário terei uma úlcera no estômago.
Me levanto e sigo para sua mesa.
— Mariana! — a chamo, ela me olha com desdém. — Vamos a
uma sala de reunião, quero conversar com você.
Não a espero responder, apenas sigo em direção ao acesso às
salas.
Abro a porta e a espero entrar.
A vejo seguindo vagarosamente, deve ser para me irritar,
finalmente a vaca entra na sala, fecho-a e a encaro, em pé, sem
maiores rodeios.
— Sua vaca maldita! Você está neste escritório a mando de sua
amiguinha, Priscila, não é isso? — digo sem rodeios.
Ela sorri nervosa.
— Você está maluca, Carolina? Eu não sei do que está falando!
— ela diz cínica, com a maior cara de pau da terra.
Me aproximo dela, ela recua, mas eu não, continuo me
aproximando.
— Eu te vi falando por duas vezes com aquela desgraçada, você
estava aqui apenas para dar informações sobre o Rui e a Jackeline
para ela. Você não presta, Mariana.
A essa altura, estou a centímetros dela, seus olhos estão
saltados, ela está pálida, vejo pânico em seu rosto.
— Você está enganada! — Ela tenta sair, mas pego em seu
braço e aperto meus dedos contra sua pele com força, e jogo-a
contra a parede.
— Fique aqui, sua maldita! Você tem ideia o que sua amiga
maluca tinha em mente? Você sabia que ela foi armada até o
hospital? — Vocifero completamente descontrolada contra seu
rosto.
Ela treme...
— Eu não sabia de nada, ela só disse que daria um susto nela!
— ela diz apavorada.
Perco a cabeça, pego em seus cabelos com toda a força.
— Sua filha da puta, como você pode dizer isso com tanta
naturalidade? A Jackeline acabou de ter bebê, ficou em coma, como
você poderia deixar aquela maluca querer assustá-la? Ela quase
morreu! — A jogo no chão com toda força.
— Eu não achei que a Priscila faria mal a ela! — Ela tenta se
levantar, mas estou com tanta raiva, que chuto sua barriga com toda
a força.
Ela se encolhe, tosse.
— Eu irei te processar, Carolina — ela diz, e eu esqueço tudo, o
mundo fica vermelho, o ódio toma conta de mim.
— Então, me processe! Mas antes você irá apanhar, para
aprender a nunca mais se meter no caminho da minha amiga. —
Agarro em seus cabelos novamente, a tirando do chão, ela chora,
tenta se livrar de mim, mas estou com tanta raiva que nem Jesus
Cristo me tira de cima dessa vaca.
Um, dois, três, quatro, cinco tapas na cara, daqueles que
estalam, e que a mão arde muito. A jogo no chão novamente, chuto
a vaca com vontade, ela grita e chora.
A xingo de tudo o que é nome, a pego novamente pelos cabelos,
a jogo contra a parede, estou insana de ódio, mas então a porta
abre e vejo o Gustavo e o Felipe.
— Carolina, o que você está fazendo? — Eles me seguram, e
vejo a lagartixa branca arreganhada no chão, rosto inchado,
vermelho e sangrando.
— Batendo nessa maldita! Ela traiu nosso chefe, estava dando
informações para a Priscila sobre ele e a Jack... — falo quase sem
ar, meu coração está disparado. — Ela permitiu que a Priscila fosse
armada até o hospital, e quase aconteceu uma desgraça por culpa
dela! — Vocifero insana, sendo segura pelo Gustavo.
Os dois olham incrédulos para a Mariana.
— Meu Deus, Mariana! Como você pode fazer isso? Que tipo de
advogada você é? — o Gustavo diz. — Vamos chamar o gerente de
RH, o Rui não se importará de nos livrarmos de você.
— Eu vou processar esse escritório de merda — ela vocifera,
tento me livrar das mãos do Gustavo, mas ele não me deixa acabar
de matar essa vaca.
— A gente processa você primeiro, sua idiota! — o Felipe diz,
olha para mim e para o Gustavo. — Gus, leve a Carolina para tomar
uma água, eu resolvo isso!
E foi assim que acabei com a farsa da Mariana, ela pediu
demissão, o Felipe a forçou a fazer isso, e a fez assinar um
documento, evitando assim processos futuros.
****
Dias depois.
Me sento a minha mesa, respiro fundo, e finalmente pego o
cartão do amigo do Rui.
Tudo bem que não gostei dele, do jeito que ele me olha, mas
também não posso abandonar meu chefe querido.
Tem também o fato que não sou feita de cristal, e se me encher
o saco, enfio um murro na cara dele.
É isso.
Respiro fundo novamente, aliás, não sei por que estou tão
nervosa!
Oh, Carolina, você é patética! — falo em pensamento.
Leio o nome do figura no cartão de visita, Carlos Eduardo
Carvalho e Silva.
Disco seu número no telefone fixo, e aguardo ser atendida.
Uma voz feminina atende.
— Escritório de advocacia...
— Olá, boa tarde! Gostaria de falar com o Doutor Carlos
Eduardo.
— Sim, quem gostaria de falar?
— Doutora Carolina, por parte de Doutor Rui Figueiredo.
— Um momento, por favor...
Segundos passam, e então a voz do figura atende.
— Boa tarde, Doutora Carolina! — sua voz sai com ironia.
— Boa tarde, Doutor Carlos Eduardo! — respondo no mesmo
tom.
— Nada como falar com o seu chefe! — Ele ri, e eu reviro meus
olhos. — Então, como está sua agenda? Quando podemos nos
reunir? — ele diz bem direto.
— Não importa como está minha agenda. Me diga você, quando
podemos nos reunir?
Mais uma risada debochada dele, e penso que isso não dará
certo, esse cara é irônico e debochado o tempo todo.
— Ok, Doutora Carolina. Como você está no final da tarde?
Gostaria de dar entrada no processo contra a Priscila Albuquerque o
mais rápido possível.
— Claro... — Titubeio. — Tudo bem, qual o seu endereço?
Anoto rapidamente seu endereço.
— Aguardo por você — ele diz.
— Ok, estarei aí no final da tarde. Passar bem. — Desligo.
Algumas horas depois estou a caminho do endereço do tal do
Carlão.
Estranhamente, me sinto nervosa, talvez por causa da
responsabilidade que estou assumindo.
Não, não é isso, preciso confessar para mim mesma, me sinto
atraída por aquele cara, e isso é muito patético.
Já perdi a conta de há quanto tempo não me relaciono com um
homem. A última vez foi com um antigo amigo de faculdade, nos
reencontramos em uma festa de ex-alunos, estávamos bêbados, e
eu mal sei o que aconteceu, só me lembro que foi estranho acordar
ao seu lado, me senti mal.
Nunca me apaixonei por um homem, e acho que nunca irei me
apaixonar, tenho medo, é um medo estranho.
As lembranças da minha infância, o abuso por parte de meu avô,
isso deixou marcas profundas em mim.
Até hoje sonho com aquele dia, e com os outros, foram algumas
vezes, até que fugi de casa.
Sinto vontade de chorar, mas não choro, apenas respiro
profundamente, e tento esquecer aqueles momentos, mas não
consigo, a cena se repete em minha mente.
Finalmente, chego ao endereço, é um prédio comercial, não fica
longe do escritório do Rui.
Me identifico na recepção e sigo para o andar indicado.
O elevador abre e vejo uma porta de vidro com o nome de seu
escritório, em uma mesa está uma mulher, uma ruiva, bem bonita,
olhos muito verdes, encaro-a com um sorriso.
— O Doutor Carlos Eduardo está? Sou a Doutora Carolina!
Ela sorri.
— Só um momento, vou avisá-lo! — Ela sai se rebolando por um
corredor.
Olho ao redor, seu escritório é bem bonito, clássico, sem a
imponência do escritório do Rui, mas é bonito.
Me sento em um sofá de couro, e aguardo o retorno da
secretária, logo ela retorna, sorri e diz:
— Pode me acompanhar. O Doutor Carlos está aguardando por
você em sua sala!
A sigo pelo corredor, vejo algumas salas de reunião, então ela
abre uma porta e lá está o doutor cara de safado.
Ele sorri ao me ver, levanta-se e vem em minha direção.
— Como vai, Doutora Carolina? — Ele estende sua mão e sorri.
Engraçado como vejo semelhanças entre ele e o Rui, o tipo
físico, o jeito, a forma de falar.
A Jack já tinha me dito isso, mas agora pareço perceber melhor.
— Bem, Doutor Carlos. E você? — Sorrio discretamente.
— Sente-se, por favor! — Ele puxa uma cadeira em uma
pequena mesa de reuniões.
Sentamos os dois, ele pede para a secretária água e café, volta
a me olhar e sorri.
— Então, como estão as coisas? — Ele relaxa em sua cadeira, e
me olha insistentemente.
O encaro. Que papo é esse de como estão as coisas?
O ignoro.
— Aqui está o material que fiz... — Tiro de minha pasta algumas
folhas, e anotações.
Ele me olha por sobre seus cílios, pega o material e o lê em
silêncio.
— Certo! — Ele devolve os papeis para a mesa. — Pensei em
fazermos outro caminho, me deixe te mostrar o que fiz... — Ele se
levanta, segue até sua mesa, e fico o admirando.
Ele é um homem muito atraente.
Ele retorna com algumas anotações, entrega-me e leio com
cuidado.
— Ok, parece bem razoável, talvez devêssemos seguir por esse
caminho, acho que faz mais sentido. Eu não sou uma especialista
na área criminal, tenho conhecimento, mas o Rui diz que você é
muito bom nessa área.
Ele sorri, e presto atenção em cada detalhe seu, no modo como
ele olha, como sorri, como se movimenta. Por que será que ele me
chama tanto a atenção?
— Perfeito! Me deixe te explicar o que tenho em mente...
Durante alguns minutos apenas presto atenção no que ele diz,
cheio de energia, entusiasmo, ele parece ser bom, competente.
— Por mim, tudo bem! — digo no final de suas explicações. —
Como fazemos? Você quer que eu faça o que? Estou vendo que
você sabe bem mais do que eu!— desabafo sem graça, em meio a
tudo que ele disse, sinto-me patética.
Ele dá risada.
— A pior parte será no tribunal, Doutora Carolina, no papel, tudo
cabe. Quero você me ajudando a defender este processo na frente
do juiz. O Rui diz que você é muito talentosa, quero ver isso na
prática.
O olho com desdém. Quem ele pensa que é para querer me
avaliar?
— Não preciso provar nada a você, meu chefe é o Rui!
Ele gargalha.
Talvez o chute no saco cairia bem agora.
— É só isso? — Me levanto incomodada.
— Ei, me desculpe! Não fique brava, prometi ao Rui me
comportar perto de você! — Ele me olha sério.
— Que ótimo — falo distraída. — Acho que já posso ir, não é
mesmo?
— O que você acha de jantarmos juntos? Assim podemos
conversar um pouco mais sobre o processo. Gostaria de protocolá-
lo no Fórum ainda essa semana, então, quanto mais rápido
chegarmos a um “veredicto”... — Ele sorri. — ...melhor.
Algo me diz para não me aproximar muito desse cara, mas eu
prometi ao Rui me dedicar a isso, então, aceito.
— Ok!
Ele escancara seus dentes.
— Perfeito, me deixe pegar meu terno.
****
Alguns minutos em um cubículo com o tal de Carlão se tornaram
momentos de agonia, ele me incomoda, me distrai, e me causa
coisas estranhas.
Finalmente o elevador abre, e saio em disparada, o deixando
para trás.
— Ei, Carolina! Aonde você vai com tanta pressa? — ele diz no
hall de elevadores.
Paro e fico meio atordoada, pensei em dizer que preciso respirar
ar puro.
— Vou pegar meu carro! — respondo.
— Ok, mas estou sem carro hoje, é meu rodízio. — Ele dá
aquele sorriso sexy. — Podemos ir juntos, se não for um incomodo
para você.
Respiro fundo.
— Tudo bem. Onde você sugere?— O olho decidida.
— Você gosta de comida tailandesa? Tem um lugar ótimo aqui
perto!
Penso um pouco.
— Por mim, tanto faz— respondo com desdém.
— Ok. Então vamos, eu te indico o caminho.
Entramos em meu carro, o olho de lado.
— Então, onde fica o restaurante?
— Pode seguir por essa rua, entre a direita.
Faço o que ele pede, ficamos em silêncio, num clima pesado,
incomodo, mas logo chegamos ao restaurante, e respiro aliviada.
O ambiente é grande, cercados por imagens que remetem a
cultura tailandesa. As cores são fortes, vibrantes, o cheiro
levemente adocicado, agradável, e certo misticismo rodeia a
atmosfera.
— É muito bonito aqui! — digo distraída.
— Costumo vir neste restaurante de vez em quando, é perto do
escritório, e gosto muito de comidas exóticas! — ele diz
descontraído, educado, parece estar se esforçando para parecer um
cara legal.
Uma moça com roupas típicas nos leva até uma mesa, sentamos
e nos olhamos.
— Quer sugestões, ou você já conhece as coisas tailandesas?
— Ele sorri.
— Já conheço. — Olho o cardápio, logo o garçom anota nossos
pedidos e voltamos à estaca zero, o silêncio, e o clima estranho.
Ele remexe seus talheres.
— Então, como eu estava dizendo, temos um problema, a
Priscila é Promotora, apesar que tenho boas notícias, existe um
processo administrativo contra ela, ela está afastada de suas
funções, mas ainda assim, ela está protegida por seu cargo, isso
será um empecilho para nós.
— Sim, tenho pensado sobre isso, mas sinceramente, não temos
muito o que fazer... — falo preocupada.
Discutimos mais um pouco, ele dá algumas alternativas, eu
sugiro outras, a bebida que pedi começa a me relaxar um pouco, me
sinto mais à vontade com ele.
— Então, você irá ao casamento do Rui e da Jack? Será neste
final de semana! — pergunto despreocupada.
— Claro que vou! Não posso deixar de ir, o Rui é um irmão para
mim. — Ele beberica sua bebida. — Somos amigos desde a época
da faculdade, o Rui me ajudou muito, tenho uma gratidão imensa
por ele.
O olho curiosa.
— Verdade? Mas por quê?
Me arrependo de perguntar, não tenho nada a ver com a vida do
Rui, muito menos do Carlão.
— Eu era sócio em um escritório de advocacia com meu ex-
sogro e minha ex-esposa, mas com a separação, a Gabriela e seu
pai me foderam, perdi tudo, e fiquei na merda. O Rui que me ajudou
a recomeçar, foi difícil, mas depois de cinco anos estou aqui
novamente, nunca mais me caso, e nem sou sócio de ninguém. —
Ele ri, mas não parece muito feliz com o que diz.
— Por que vocês se separaram? — De repente me sinto curiosa
em conhecer esse homem.
Ele sorri amargo.
— Nos conhecemos na faculdade, nos formamos juntos,
casamos, mas foi um erro, éramos muito jovens! — Ele abaixa seus
olhos. — Nós queríamos muito ter filhos, mas ela não conseguia
engravidar, acho que foi esse o problema. Ela se tornou uma pessoa
infeliz, a convivência ficou insuportável, então resolvemos nos
separar.
— Isso é muito comum, todo mundo se separa! — digo distraída,
pensando neste assunto.
— É verdade, mas tem também quem é louco e queira se casar.
É o caso de seu chefe. — Ele sorri.
— É verdade, o Rui mudou muito depois que conheceu a Jack!
— Está apaixonado, é isso! — Ele sorri. — E você, é verdade
que você...
Ele não termina a frase.
— Eu o que? — pergunto para provocá-lo.
— Não se relaciona com homens? — Ele me encara.
— Sim, prefiro mulheres.
Mais um sorriso, sacana.
— Eu também só me relaciono com mulheres, temos algo em
comum.
Dou risada do seu jeito.
— É, talvez. Não sei se tenho algo em comum com você! —
respondo.
— Posso te dizer uma coisa? — Ele me encara.
— Não sei, depende. Se eu não gostar, posso te dar um murro
na cara?
Ele gargalha.
— Fiquei com medo agora, mas estou curioso! — ele diz muito
charmoso.
— Então diga, prometo não bater com muita força. — Brinco.
— Você não sai com homens, em nenhuma hipótese? — Ele me
encara, e me sinto nervosa.
— Faz tempo que isso não acontece, mas já sai, já transei, mas
não gosto, prefiro com mulheres.
— Sei... — Ele remexe seu copo. — O que você não gosta?
Oh, como ele é curioso.
— Por que eu deveria me abrir com você? Eu nem te conheço!
Ele estende sua mão para mim.
— Sou Carlos Eduardo Carvalho e Silva, advogado, 35 anos,
moro na rua..., tenho um escritório na avenida... agora você me
conhece.
Dou risada.
— Não somos amigos. Você não é gay, se fosse eu até poderia
me abrir. — Olho de lado e sorrio.
— Você acreditaria se eu dissesse que sou gay? — Ele faz uma
cara engraçada.
Dou risada, ele é divertido.
— Tudo isso só para saber da minha vida? Você é muito curioso,
Doutor Carlos Eduardo. — Tomo minha bebida.
Ele chama o garçom, pede uma nova rodada de uma bebida
alcoólica tailandesa a base de chás.
Me sinto estranhamente leve, acho que essa bebida deve ser
feita a base de cogumelos alucinógenos.
— Sou um cara curioso! — Ele me olha sedutor, ele me atrai,
talvez bêbada até que rolasse alguma coisa entre nós.
— Sinto em te dizer, mas não me abro tão facilmente! — Olho
em meu relógio. — Eu preciso ir, ainda tenho uma festa para ir. —
Pego minha bolsa.
— Festa? Adoro festas. — Ele sorri.
Fecho os olhos e dou risada.
— Essa você não irá gostar. — Pego minha carteira, mas ele
segura minha mão.
— Eu pago. Cortesia do Doutor Curioso — ele diz debochado.
— Obrigada, eu preciso ir. — Faço menção de me levantar.
— Não tenho nada para fazer, posso te fazer companhia? Ir a
essa tal festa?
— É uma festa em uma boate gay, você não irá gostar de ir. — O
encaro.
— Quem falou?
— Não! — respondo indignada. — É um lugar para GLS, você é
hétero!
— Tenho curiosidade de saber o que rola nesses ambientes. —
Ele relaxa em sua cadeira, e mal acredito no que ele está dizendo.
— Os gays irão se apaixonar por você, Doutor Carlos, e não
poderei fazer nada sobre isso! — Sorrio provocativa.
— Você pode fingir que é minha... sei lá, parceira, só para
ninguém me agarrar a força! — Ele dá risada.
— Não sei. Isso será bem esquisito, eles sabem que sou gay! —
Faço uma careta.
— Vamos lá, Carolina! Vamos nos divertir, você não tem nada a
perder e eu também não.
— Hoje não, talvez outro dia e o convide para ir comigo! — Me
levanto.
— Tudo bem! — ele diz finalmente. — Obrigado pela
companhia.
— Eu que agradeço o jantar!
Caminho para a saída do restaurante rindo, eu deveria levá-lo a
boate GLS, seria engraçado ver os gays o apalpando.
****
É sexta-feira à tarde, corro a uma loja de noivas para escolher
um vestido para a Jack.
Olho uma dúzia de vestidos, mas estou insegura quanto ao
modelo, tenho medo de não a agradar.
Finalmente a vendedora traz um modelo muito bonito, o decote
valorizará seu colo, os ombros ficarão a mostra, e não marcará
muito seu corpo, a Jack está incomodada com a barriga que ainda
não sumiu.
— Ok, vou levar esse! — falo para a vendedora.
Escolho um par de sapatos brancos, compro alguns acessórios
para arrumá-la, e pronto.
Já combinei com a mãe da Jack que a pegarei amanhã de
manhã.
Bufo cansada, terei que acordar de madrugada, caso contrário
não dará tempo de chegar no horário da festa.
Faço um lanche rápido em um restaurante do shopping e então o
celular trepida em minha bolsa.
O pego e vejo um número que não reconheço, mas atendo de
qualquer modo.
— Doutora Carolina, aqui é o Doutor Curioso! — ele diz, e não
consigo segurar um sorriso.
— Olá, Doutor Carlos! Tudo bem? — respondo formalmente,
mas com vontade de rir.
— Então, como foi a festa? — ele diz.
Balanço minha cabeça.
— Foi legal, divertida. Você deveria ter ido!
— Ahhh, isso é sacanagem, eu queria ir, você que não deixou—
ele diz descontraído.
— Fica para a próxima. — Brinco.
— Te liguei para pedir um favor! — Ele diz misterioso.
— Pode falar. Alguma coisa a respeito do processo? — Entrego
o cartão de crédito para a garçonete.
— Não, é sobre amanhã. Precisei deixar meu carro na
concessionária, ele está fazendo um barulho estranho, achei melhor
não o usar para viajar, poderia ser perigoso!
Levanto minhas sobrancelhas.
— E onde entro nessa? Não tenho nada a ver com seus
problemas, doutor! — digo com ironia.
— Preciso de carona, não posso pedir para o Rui, o casamento é
uma surpresa.
Reviro meus olhos.
— Ok, mas onde você mora? Eu ainda terei que pegar a família
da Jack, e elas moram no fim do mundo!
— Moro a duas quadras de meu escritório, e você?
— É próximo também...
— Então posso contar com sua gentileza? — ele diz sedutor.
— Claro, me envie seu endereço por mensagem, mas já te
aviso, vou chegar a sua casa quando o galo cantar, esteja pronto.
— Ok, Doutora Carol, agradeço a gentileza — ele diz
debochado.
— Passarei às 7h!
— Ok, até amanhã.
Desligo e balanço a cabeça.
Flash back off
****
Arrumo rapidamente uma pequena mala, coloco um vestido
vermelho de seda, um sapato alto da mesma cor, algumas roupas
leves, um biquíni.
Tomo um banho rápido, faço um rabo de cavalo em meu cabelo,
visto uma calça jeans e uma blusinha qualquer, engulo um café
preto, e saio apressada, checando se não esqueci nada.
O vestido da Jack está empacotado disfarçadamente no porta
malas, coloco minha pequena mala, e sigo para o apartamento do
Doutor Curioso.
Achei esse apelido engraçado, caiu bem para ele.
É muito cedo, então o trânsito está perfeito, logo estou
estacionando em frente ao seu apartamento, toco o interfone, o
porteiro atende.
— Por favor, o senhor poderia avisar ao Doutor Carlos Eduardo,
do apartamento 53 que a Carolina já chegou?
— Um momento... — ele diz e aguardo. — Ele pediu para a
senhorita subir.
Ele destrava a porta, e fico com a boca semiaberta, eu não
queria subir, eu queria que ele descesse.
Oh, que merda!
— Quinto andar, senhorita! — O porteiro diz sorrindo.
Bufo irritada, sigo para o elevador, seleciono seu andar e logo
estou em frente ao apartamento 53.
Respiro e aperto a campainha, e tomo um susto, ele abre a
porta, sem camisa, toalha na cintura, cabelos molhados.
Sinto um calor repentino.
— Estou um pouco atrasado, mas sou rápido para me vestir —
ele diz apressado. — Fique à vontade, Carolina.
Ele sai caminhando para onde devem ser os quartos, e fico
parada no meio de sua sala, olhando-o, não, eu não fiquei olhando
para ele, para suas costas largas e fortes, para sua bunda, as coxas
também.
Balanço minha cabeça.
— Carolina, o que está acontecendo com você? — falo comigo
mesma.
Caminho em seu apartamento para espairecer, tudo é bem
masculino, bonito, simples, mas bem decorado.
Ele não é muito organizado, vejo roupas jogadas pelos móveis,
sapatos, louças fora do lugar.
Olho alguns livros sobre uma mesinha lateral, sobre Direito, mais
livros em uma estante, ele parece ler muito.
Nenhum porta retrato, nada, apenas livros, para todos os lados.
— Estou pronto! — Ouço sua voz, me viro e o vejo com um
camisa branca, calça jeans, e sapatos.
Sim, ele é um homem muito bonito.
— Que ótimo! Podemos ir? — Sigo para a porta. — Onde está
sua mala? Ou não vai levar nada?
— Porra! — Ele bate em sua testa. — Eu acho que bebi muito
ontem.— Ele sai apressado para seu quarto, e volta com uma mala
de mão. — Agora sim, Carolina, podemos ir.
Entramos no elevador em silêncio, ele está com uma cara de
sono horrível, parece que mal dormiu de ontem para hoje.
— Chegou tarde ontem, doutor? — pergunto com deboche.
Ele sorri.
— Um pouco, sai com uns amigos.
— Talvez amigas? — Brinco.
Ele sorri.
— Não, foram amigos mesmo.
— Certo! — Volto a ficar em silêncio.
Seguimos para meu carro, ele se acomoda ao meu lado, ligo o
carro e quando olho para ele, já está dormindo, roncando feito um
porco.
Demoramos quase quarenta minutos para chegar à casa da mãe
da Jack, mas ainda bem que elas não se atrasaram, quando
cheguei ao prédio, todas estavam me esperando no térreo.
Desço do carro, e sigo apressada até elas.
— Oi, tia Amélia, vovó... — As beijo, e quando vou pegar as
malas, sinto a presença do Carlos.
— Deixe que te ajudo, Carolina. — Ele pega as malas e as leva
para o carro.
— Quem é, meu bem? Namorado novo?! — a vovó da Jack diz.
— Muito bonitão, parece o Rui da minha Jack. Que pedaço de
homem!
Essa velhinha é bem assanhada.
— Não. Vovó. Ele é amigo do Rui, só estou dando uma carona
para ele — digo apressada, oferecendo meu braço para ajudá-la a
caminhar até o carro.
— Oh, você deveria fazer como minha neta, arrume um homem
como esse, adoro homens grandes — ela diz, olho para ela e vejo
uma expressão de saudades. — Será que o negócio dele é grande
também? — ela cochicha, e quase vomito.
— Não sei, vovó. Depois a senhora pergunta para ele, entre no
carro, estamos com pressa! — A ajudo a subir no carro, e vejo o
Carlos ajudando a mãe e a tia da Jack.
— Tudo certo? Podemos ir agora? — falo apressada.
— Claro meu bem! Não vejo a hora de ver minha Jack se
casando, estou tão emocionada! — a mãe da Jack diz, e sorrio para
ela.
— Comprei um vestido muito bonito, tia. Acho que a Jack irá
adorar!
— Quem é o moço, Carolina? — tia Amélia diz curiosa.
— Amigo do Rui! — Olho para ele. — Apresente-se, Doutor
Carlos, elas querem te conhecer.
Ele se inclina para trás e sorri para elas.
— Sou o padrinho, eu e a Carolina! — Ele pisca para mim, e sem
querer sinto uma inquietação por dentro.
****
O caminho até a cidade do Rui foi especialmente divertida, as
velhinhas da Jack são muito engraçadas, chatas, pentelhas, e
bisbilhoteiras.
Durante o caminho todo elas bisbilhotaram a vida do amigo do
Rui, a minha — mas não respondi nada —, falaram da vida da Jack,
do Rui, da família do Rui, enfim, fizeram o que mais gostam de
fazer, tricotar, no sentido figurado, mas elas também gostam de
tricotar de fato.
— Carolina, quanto tempo demora para chegar a esse fim de
mundo? — vovó diz. — Estou que não me aguento, tenho
incontinência urinária, filha, pare em algum lugar antes que eu suje
seu belo carro.
O Carlão vira seu rosto de lado, tampa sua boca e ri.
— Ok, vovó. Tem um posto de gasolina mais a frente, mas os
banheiros desses lugares não costumam ser muito higiênicos.
— Não tem problema, só preciso de uma latrina para me aliviar!
Reviro meus olhos, e o Carlão ri, ele deu risada o caminho
inteiro.
— Querido... — a titia da Jack pergunta. — Você é casado?
— Não!!! — Ele franze a testa.
— Ah, que bom. — Olho pelo retrovisor e a vejo arrumando os
cabelos, em seguida pega o batom e se borra toda o passando. —
Carolina, ande devagar, por favor. Soltarei os bofes se você
continuar dirigindo desse jeito!
Olho para o lado e encontro o Carlos me olhando.
— Ela tem razão, eu também vou soltar os bofes se você
continuar dirigindo desse jeito! — ele diz com cinismo.
— Você irá soltar os bofes, mas provavelmente porque encheu a
cara ontem!
— Oh, assim você me ofende, pinguço não! — Ele ri.
— Vovó, se prepare, estamos chegando ao posto — falo alheia
ao olhar insistente do Doutor Curioso.
Aproveito o tempo que a vovó está no banheiro e sigo até a
cafeteria do posto, peço um café e uma água.
— Um café para mim também! — Olho e vejo o Carlos ao meu
lado.
— Então, me conte como foi a festa! — Ele me olha e sorri.
— Já falei, muito legal. Minhas amigas drags fizeram um show
especial, você precisava ter assistido! — falo com deboche.
— Me leve da próxima vez. — Ele encosta no balcão e fica me
olhando.
— Talvez! — Bebo meu café com pressa, pago e me retiro antes
que ele termine seu café. — Já estou indo, te espero no carro.
Coloco uma música e aguardo eles, o bonitão do Carlão sai da
cafeteria, pega um cigarro e fuma despreocupado.
— Ele é um homem muito atraente, Carolina!
Olho para trás e vejo tia Amélia me observando.
— De quem a senhora está falando? Do amigo do Rui? — falo
constrangida por ter sido pega no flagrante.
— Sim, dele mesmo. Vocês fariam um belo casal!
Tia Amélia não sabe sobre minhas preferências sexuais.
— Não estou à procura de um marido, tia! — Disfarço, mudo de
estação de rádio.
— Tudo bem. Só sugeri porque achei vê-la olhando para ele, de
um jeito diferente!
— Impressão sua! — Mudo meu tom.
O vejo caminhando em direção ao carro, vovó entra com a titia
da Jack, ele joga seu cigarro fora e entra no carro.
— Podemos ir agora? — pergunto inquieta.
— Claro, agora estou bem melhor! — vovó diz com um sorriso.
Ligo e o carro e volto para a estrada.
****
Finalmente chegamos à casa do Rui, eu não tinha vindo aqui
antes, e fiquei surpresa, o lugar é muito bonito.
O pai do Rui nos recebe, nos apresenta sua família, e percebo
um mal-estar entre a tia Amélia e a mãe do Rui, mas já sei o motivo,
as duas já se atracaram feito dois búfalos.
— Doutor Tony, posso usar um quarto para me trocar? —
pergunto apressada, ainda terei que arrumar a Jack.
— Claro, fique à vontade, os quartos estão na parte de cima da
casa.
Sigo com minha mala e o vestido da Jack.
Entro no quarto maior, procuro um armário e coloco o vestido
dela. Aproveito para me trocar, coloco meu vestido, o salto alto, faço
uma maquiagem básica, e volto a descer para o jardim.
O Carlos e a família da Jack já trocaram de roupa também,
devem ter usado os outros quartos da casa.
Vejo o Carlos, Doutor Tony e o juiz batendo papo, me sento na
mesa da família da Jack, e aguardo ansiosa enquanto ela não
chega.
Me sinto nervosa, ansiosa, parece até que eu que irei me casar.
Pego uma taça de espumante e vou andar pelo jardim, o dia está
lindo, e o lugar é muito bonito, sinto uma sensação de tranquilidade
e paz.
— Bonito aqui! — Me assusto ao ouvir aquela voz grave ao meu
lado.
— Sim, muito bonito! — respondo incomodada.
— Você ficou muito bonita com esse vestido.
O olho de lado, mas ele está com sua taça, bebendo e olhando o
horizonte.
— Obrigada. — Fico inquieta, um pouco nervosa com sua
proximidade. — Acho que vou checar se eles já chegaram.
— Ok! — ele diz distraído.
— Com licença. — Saio rapidamente, e respiro aliviada ao ver o
Rui vindo em minha direção.
Ele cumprimenta a todos com seu bebê no colo.
— Oi, Carol! Entã,o a Jack tá lá em cima, você a ajuda? — ele
diz ansioso.
Sorrio.
— Claro! Mas antes posso dar um beijo em meu afilhado? — Me
derreto ao ver aquela coisa fofa.
Beijo sua cabecinha repetida vezes e saio apressada para a
casa.
****
Finalmente a cerimônia termina.
O Rui e a Jack seguem para cumprimentar sua família, pego o
Luigi do colo de Dona Amélia e saio para passear um pouco com ele
pelo jardim.
Beijo sua cabecinha, e converso com ele, besteiras, conto
segredos da sua mãe para ele, e sorrio ao pensar o quanto sou
louca.
Mas, então ouço de novo aquela voz, grave e sexy, ele me
persegue, isso é fato.
— Vejo que você gosta muito de bebês — ele diz em minhas
costas.
— Sim, principalmente este aqui! — Olho para o Luigi, tão lindo.
— Gostaria de ter um? — ele pergunta, reviro meus olhos.
Por que esse cara não sai do meu pé?
— Sim, talvez eu tenha um — falo despreocupada, o ninando
contra o meu peito.
— Que eu saiba, para isso você precisa de um homem — ele diz
com um sorriso cínico.
— Não, eu só preciso dos espermas de um homem.
Ele gargalha.
— Ok, então você vai precisar fazer uma inseminação artificial!
— Ele vira sua taça em seus lábios.
— Já estou pensando sobre isso.
— Quer uma ajuda? Eu fiz diversos exames para saber se eu
tinha problemas, e segundo o médico, tenho espermas o suficiente
para engravidar a vizinhança toda. — Ele me lança um olhar
demorado. — Se precisar, eu posso te ajudar com isso.
Por que será que meu coração disparou?
— Ah, tá! — Disfarço, acariciando as costinhas do bebê. —
Obrigada, vou pensar em sua oferta.
EPÍLOGO
JACKELINE
Abro meus olhos e encontro os olhos do Rui.
— Bom dia, esposa! — ele diz, fofo, lindo.
— Bom dia, marido! — Sorrio, acaricio seu rosto. — Dormiu
bem?
— Maravilhosamente! — Ele abre seu bocão enorme, boceja, se
estica na cama. — Será que o Luigi está bem? Ele não chorou a
noite inteira.
Dou risada.
— Talvez porque fomos dormir de madrugada, mas ele chorou
sim, você que não escutou! — Fico de bruços sobre seu peito. —
Adorei nosso casamento! Será que tiraram fotos?
Ele acaricia meus cabelos, e me olha.
Nossa festa de casamento foi até o final da tarde, e a noite
também, minha mãe, tia e vovó, se hospedaram em um dos quartos,
a Carol e o Carlão ficaram nos dois outros.
Eu e o Rui continuamos festejando nosso casamento até de
madrugada, nos amando mais precisamente, entre uma mamada e
outra do Luigi.
— Pedi para minha irmã fazer isso. O namorado ou noivo dela
trouxe uma máquina fotográfica daquelas profissionais, as fotos
ficarão legais.
— Eu gostei dela, muito simpática, o noivo também, mas
americanos são meio estranhos! — falo e passo meus dedos pelos
seus lábios.
— É verdade! Somos mais expansivos, extrovertidos! — Ele
beija a ponta do meu dedo.
— E o Carlão e a Carol? — Sorrio ao lembrar. — O Carlão não
saiu do pé dela, ela parece meio irritada com isso.
— Sei lá, Jack! Já falei para ele que ela não curte um cacete,
mas ele gosta de desafios. — Ele ri.
Olho para o bercinho montado em nosso quarto, o Luigi parece
dormir profundamente.
— Vamos namorar, Rui? — falo manhosa, depositando beijos em
seus lábios, pescoço, em seu peito.
— Com ele aqui, será que tudo bem? — Ele olha para o berço
desconfiado.
— Acho que sim, a gente faz amor estilo múmia!
Ele dá uma risada deliciosa.
— Não faz barulho, Rui! — cochicho, seguro seu membro em
minha mão e o massageio.
— O coloca em sua boca, minha taradinha! — ele diz com seu
olhar de desejo.
Me esgueiro em seu corpo e faço o que ele me pede.
Ele geme baixo, com uma expressão de puro prazer.
— Agora sobe nele, minha gostosa! — Ele puxa meus cabelos.
Me encaixo em sua ereção, e começamos nossa dança sensual
e erótica.
Me inclino sobre ele, seus lábios envolvem meus seios, os suga
me causando um misto de prazer e dor.
— Oh, minha delícia! — Ele me beija, me aperta em seus
braços, nossos movimentos ficam intensos, a loucura da paixão,
nossos gemidos, a respiração descompassada, e finalmente o
êxtase, seguidos pelo silêncio e a aquela sensação de paz.
— Te amo, Rui! — Volto a beijá-lo, deito em seu peito e
adormeço.
— Eu também, minha deusa! — Ele beija minha testa.
****
A rotina segue, Luigi acorda, berra feito uma sinfonia, acordando
a mim e ao Rui assustados.
Estamos tontos de sono, mas o Rui se levanta, vai até o berço e
pega nosso fofucho.
— Primeiro, vamos trocar você, seu chorão! — Converso com o
Luigi, enquanto o Rui traz a sua bolsinha. — Agora sim, você pode
mamar.
Olho para o Rui, e o vejo nos observando, ele sempre faz isso.
Estou completamente nua, então vejo o Rui trazendo meu
roupão. Aninho o Luigi em meu colo, e relaxo o olhando mamar em
mim.
Suas pequenas mãos se espalmam em meu seio, e ele me olha,
me encara, e me fascina. Esse prazer, essa sensação é impagável,
é amor puro e o maior presente que já ganhei em minha vida.
— Te amo, viu! — cochicho para ele, e vejo um pequeno
movimento de seus lábios. — Ele já mostra sorrisos, Rui. — falo
para o Rui deitado ao nosso lado, com o controle remoto em suas
mãos, zapeando os canais.
O Rui se esgueira sobre ele e beija sua bochechinha, e volta a
deitar ao nosso lado, preguiçoso.
Essa sensação de família é única, é muito prazeroso quando
estamos os três juntos, eu adoro, o Luigi já faz parte de nossas
vidas.
Finalmente descemos para o café da manhã, mas fomos os
últimos, estão todos no jardim batendo papo.
Minhas velhinhas estão em uma mesinha, e a Carol e o Carlão
na piscina, cada um em uma espreguiçadeira, e parece que o papo
está bom.
Eu não aposto nada nessa vida, não gosto de jogos de azar, mas
sinto que há uma química entre esses dois, e sorrio ao pensar nisso.
— Vamos tomar nosso café de núpcias, Jack! — o Rui diz em
tom de brincadeira.
Olho aquela mesa de café da manhã farta e linda, e me sinto
faminta.
Fazia tempo que não namorávamos tanto, aos poucos estamos
tentando voltar a nossa vida de antes, não está sendo fácil, mas
estamos tentando.
Coloco o Luigi em seu carrinho para bebês, ele fica quietinho,
olhando para o Bóris, que neste exato momento está com o focinho
enfiado dentro do bercinho, cheirando o Luigi.
— Jack, você se importa se chamarmos minha família para
almoçar conosco? — Ele me olha sobre seus cílios, cheio de
cuidados.
Sorrio, estou muito feliz para me incomodar com alguma coisa.
— Claro que não! Mas o que faremos para comer? Estou meio
preocupada com isso!
— Deixe comigo. — Ele se levanta. — Peço para meu pai
comprar os ingredientes para um churrasco, o caseiro dele é
especialista nisso — ele diz feliz, animado.
Gosto de vê-lo assim, nas últimas semanas estávamos tão
estressados um com o outro, mas sinto que as coisas estão
melhorando.
Finalmente finalizo meu café da manhã, e saio para o jardim,
para desfrutar do dia lindo.
— Te espero lá fora, Rui! — Mando um beijinho para ele, e o
deixo na mesa, ele está no celular conversando com seu pai.
Sigo até minha mãe.
— Bom dia, meninas! — Beijo o rosto de cada uma delas. —
Dormiram bem? — pergunto animada, sentando-me à mesinha
onde elas tomam um suco.
— Sim, Jack! Que lugar maravilhoso, olha essa vista! — mamãe
diz sonhadora. Há muito tempo ela não fazia uma viagem, preciso
fazer mais vezes isso com ela, ela merece uma vida melhor.
— E a senhora, vovó? — pergunto.
— Dormi com sua mãe e você sabe como ela ronca, Jackeline.
Não posso dizer que dormir bem, precisei cutucá-la a noite inteira!
— vovó diz ranzinza.
— E a senhora, titia? — Olho para minha tia, toda arrumada,
com chapéu na cabeça, parece uma dondoca.
— Para mim, estava tudo ótimo, estava muito cansada e
adormeci em minutos. O empregado de seu marido colocou uma
cama para mim no mesmo quarto que essas duas! — ela diz com
desdém.
— Que bom que vocês passaram bem! — Abraço minha mãe. —
Olha minha aliança, que linda! — cochicho em seu ouvido,
espalmando minha mão para ela olhar.
Ela sorri.
— Linda demais, Jack! Parabéns, meu anjo, você merece ser
muito feliz! — ela diz emocionada.
Me levanto.
— Nós vamos fazer um churrasco no horário do almoço, e a
família do Rui virá. Tudo bem para vocês? — pergunto cautelosa.
— Sim, claro, não se incomode conosco! — mamãe diz
diplomática, mas eu vi minha avó torcer os lábios.
Tão sincera que dói.
— Ok, me deixe cumprimentar a Carol e o Carlão.
— Oh, esse aí não saí do pé da sua amiga. Acho que está
apaixonado! — titia diz com ares de reprovação, ou simplesmente
dor de cotovelo.
Dou risada e saio caminhando pelo jardim, deixando o Luigi aos
cuidados de mamãe.
A Carol está de biquíni, exibindo seu corpo magrinho e perfeito,
ao seu lado o Carlão só de sunga, e assim, entre nós, que homem!
Sorrio sozinha.
Euzinha não irei exibir minha barriga pós gravidez, e meus seios
gigantes, prefiro ficar em meu vestidinho curto.
— Olá, bom dia! — digo animada.
— Oi, Jack! — A Carol se levanta e vem me abraçar, e vejo o
Carlão baixando seus óculos escuros e secando sua bunda, ele é
muito tarado. — Tudo bem? Como foi a noite de núpcias? — ela
cochicha em meu ouvido e ri.
— Quente, muito quente! — Brinco e dou risada.
— E você, Carlão, dormiu bem? — Me aproximo dele, que já
está sentado, e beijo seu rosto.
— Tudo perfeito! Está certo que a Carol ronca muito, mas tudo
bem, eu consegui dormir!
Olho para os dois indignada, mas vejo a Carol lançar um olhar
atravessado para ele.
— É brincadeira, Jack. Dormimos em quartos separados — ela
diz com um bico.
— Cadê o Rui? — O Carlão se levanta, e agora vejo a Carol
dando uma boa escaneada no material.
E que material! Mas tenho um compatível, quero dizer, muito
melhor.
— Tomando café da manhã, e não parou de comer ainda. Ele é
muito comilão.
Ele coloca sua bermuda.
— Vou até lá petiscar! — Ele brinca.
Dou risada e me sento ao lado da Carol.
— E aí, amiga, fez um novo amigo? — falo em tom de
brincadeira.
— Amigo? — Ela ri. — Não, mas felizmente ou infelizmente
preciso ter um bom relacionamento com ele, estamos trabalhando
juntos no processo contra a Priscila, então... — Ela revira os olhos.
— Eu o acho bem charmoso! — Me deito na espreguiçadeira ao
lado dela. — Você não sente nem uma vontadezinha de dar uns
amassos nele?
Ela enruga sua testa.
— Não! — ela responde indignada.
— OK, irei perguntar de novo. — Dou risada. — Um tesãozinho?
Ele é bem gostoso. — Gargalho.
— Jackeline, Jackeline, deixa o Rui saber disso! — Ela faz cara
feia.
— Esquece o Rui, isso é entre nós. Eu sei que você gosta de
mulheres, mas um cara como este dá uma balançada, não dá? — A
provoco.
— Talvez! — Ela fala com desdém.
Dou risada.
— Carol, ele está louco por você, dá uma chance!
Ela me dá um tapa dolorido na coxa.
— Ai, sua filha da puta! — Xingo-a.
— Isso é para você nunca mais falar desse assunto comigo —
ela diz brava.
— Ah, você se entregou! Ele mexe com você! — Gargalho e ela
me expulsa da espreguiçadeira.
Parecemos duas adolescentes.
— Jack, se você não parar com isso, vou contar para o Rui que
você está achando o amigo dele gostoso.
— Quem é gostoso? — Ouço o vozeirão do meu homem, e fico
pálida, e a Carol dá risada.
Me levanto de sobressalto, ele está atrás de mim, com nosso
pimpolho no colo.
— Você é gostoso! — Me esgueiro em seu ouvido, beijo e
cochicho.
— Vamos dar um passeio de barco? — ele diz animado. — Já
falei com todos, todos toparam.
— Claro! Vai ser muito divertido, minhas velhinhas irão adorar!
****
E a tarde chegou, num clima gostoso, minha família se
comportou e a família do Rui também.
O churrasco foi bem divertido, o Doutor Tony, o Rui e o Carlão
nos divertiram contando piadas, o namorado da Juliana, irmã do
Rui, não entendia nada, e minhas velhinhas faziam xixi nas calças
de tanto rir.
Finalmente conheci a irmã do Rui, ela é simpática, educada, mas
tem o jeito da mãe. Mas como faço qualquer coisa por esse homem,
conversei e dei muita atenção a ela.
Estou me adaptando à família do Rui, eles são muito diferentes
de minha família, tenho que me esforçar para não cometer gafes,
não perder a paciência.
O Luigi tem sido o elo de ligação entre nossas famílias, todos se
esforçam para se darem bem, em função dele.
No final das contas, Luigi trouxe paz para nossas famílias, meus
desentendimentos com Dona Raquel cessaram, minha mãe relevou
tudo que aconteceu entre elas, e vovó, vez ou outra diz umas
besteiras, mas a idade a permite fazer isso.
Eu e o Rui estamos nos adaptando, nem sempre é um mar de
rosas, mas estou me esforçando para passar por essa fase da
maternidade complicada.
Mas, o amor cresce a cada dia, por ele, pelo nosso filho e pela
família que estamos construindo.
Não sei se serei presenteada novamente com um bebê, eu bem
que queria.
Mas, ainda é muito cedo para falar sobre isso, afinal, Luigi só
tem um mês de vida.
A vida é engraçada, quando a gente acha que tudo acabou, tudo
recomeça.
Nunca duvide do destino, ele sempre pode nos surpreender.
FIM
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Com carinho e gratidão,


Yvis Writer
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