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12/11/2020 A expressão da sexualidade das pessoas com autismo - Transtorno do Espectro Autístico - TEA

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A expressão da sexualidade das pessoas


com autismo - Transtorno do EspectroA- A A+

Autístico - TEA

Marina Silveira Rodrigues Almeida 2017


marinaalmeida@institutoinclusaobrasil.com.br
Consultora Ed. Inclusiva. Psicóloga. Neuropsicóloga. Psicopedagoga e pedagoga
especialista.

Publicado no Psicologia.pt a: 2017-06-04 | Idioma: Português (Brasil) | Palavras-chave:


Sexualidade, autismo, TEA

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12/11/2020 A expressão da sexualidade das pessoas com autismo - Transtorno do Espectro Autístico - TEA

A pessoa com Autismo tem


necessidade de expressar seus
sentimentos de modo próprio e
único, como qualquer pessoa.
Por isso neste artigo vamos
conversar um pouco sobre os
mitos e realidades em torno da
sexualidade que as envolve.

Vamos então partir do conceito


atual. Transtorno de Espectro
Autístico - TEA é um conjunto
heterogêneo de síndromes clínicas, tendo em comum a tríade de comprometimentos da
interação social recíproca, comunicação verbal e não verbal e comportamentos
repetitivos e estereotipados, variando num continuum, desde as formas mais severas
até as mais brandas.

Estas pessoas também apresentam reações anormais a sensações diversas como ouvir,
ver, tocar, sentir, equilibrar e degustar. A linguagem é atrasada ou não se manifesta.
Relacionam-se com pessoas, objetos ou eventos de uma maneira não usual, tudo
levando a crer que haja um comprometimento orgânico do Sistema Nervoso Central e
Bases Genéticas ainda não esclarecidas.

A repressão da sexualidade é usualmente encontrada e entendida nestes grupos de


pessoas com TEA, como conseqüência de um desequilíbrio interno, dos afetos, dos
comportamentos acima descritos, da maneira de se relacionar no mundo, diminuindo
assim as possibilidades de se tornarem seres psiquicamente saudáveis.

Observamos nos casos em que a sexualidade é bem encaminhada na vida destas


pessoas: melhora o seu desenvolvimento afetivo, transcurso da
puberdade/adolescência/vida adulta mais tranqüila e feliz, facilita a capacidade de se
relacionar, melhora a auto-estima, permite a construção da identidade adulta, melhora a
adequação à sociedade, consequentemente adquirem maior independência e
autonomia. Por que melhora tudo isso? Porque se vistos e considerados como seres
humanos inteiros, que pensam, sentem, desejam, tem sexualidade, identidade, profissão
e um projeto de vida.

O tema sexualidade em nossa cultura vem sempre acompanhado de preconceitos e


discriminações, e talvez sempre permaneça assim, pois pertence a ordem dos tabus,
das questões inerentes a origem do ser humano.

Notamos que a sobrecarga de valores morais e preconceitos aumentam quando o tema


passa a ser sexualidade da pessoa com algum tipo de deficiência; e quando se trata da
pessoa autista, gera mais polêmica quanto às diferentes formas de abordá-lo, isto
acontece na sociedade, na família, com os pais e na escola.

Destacamos que pouco se tem escrito na literatura sobre sexualidade da pessoa autista,
há poucos artigos, livros e referências, visto a complexidade desta discussão, as
dificuldades em vê-los como pessoas inteiras com identidade sexual, humana e com
desejos; em contrapartida os materiais publicados referente a pessoa com autismo, via
de regra encontramos as orientações baseadas nas abordagens comportamentais, de
extinção do comportamento sexual, através de métodos e técnicas aversivas.
Infelizmente, algum autores consideram uma abordagem humanística sobre o
protagonismo juvenil da pessoa com autismo, sobre o que sente uma pessoa com
autismo na puberdade, na adolescência e em sua idade adulta.

A palavra Autismo vem do grego “autos”, que significa si mesmo. Refere-se a alguém
que está retraído em si mesmo, porém isto se aplica as crianças autistas de pouca
idade, mas poderão cronificarem-se, ficarão isolados no ingresso da vida adulta se as
intervenções não forem adequadas. À medida que elas crescem, podem tornar-se mais
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sociáveis ou não. Junto a esse retraimento, estão os problemas e condutas específicas


de cada pessoa autista, em seu intento de encontrar ou criar uma ordem no mundo
caótico que ela não consegue entender, considerando sempre que cada pessoa autista é
única.

Por mais que educadores, profissionais, pais e demais pessoas envolvidas lembrem-se
que a sexualidade é uma função natural, existem em todos os indivíduos toda dificuldade
em tratar do assunto de maneira prática, porque a teoria sobre sexualidade esta
vastamente publicada explicada, nomeada, por diversos autores de maneira pertinente e
fundamentada, mas para normotípicos.

A questão então não é mais teorizar, explicar, como uma regrinha de jogo, ou pertinente
ao campo científico, da psiquiatria, da psicanálise, da abordagem cognitiva
comportamentalista, da psicologia do desenvolvimento, da educação, da moral dos bons
costumes, etc.

Pensar e falar sobre o tema sexualidade envolve nossa angústia, reporta-nos a nossas
instâncias do que acreditados ser sexo, na nossa vida, na relação com o outro, sobre
nossos desejos, fantasias, repressões, mitos e realidades. Nossa relação entre o que é
publico e o que é privado.

Propomos estas questões para pensar: Como lidamos com sexo? O que fazemos?
Como nos relacionamos afetivamente? Criativamente? Como nos relacionamos
sexualmente com as pessoas? O que representa a masturbação para uma pessoa
autista? Como será a primeira experiência sexual para uma pessoa autista?

A partir do momento que pudermos pensar em sexualidade relacionada a afetos,


relacionamentos afetivos e não mais puramente da esfera dos genitais, conseguiremos
intervir criativamente nas situações, sem tantos sobressaltos, medos, reservas,
preconceitos, autoritarismos, castigos.

Nos últimas décadas a melhora dos cuidados de saúde concomitante aos avanços
científicos e da medicina, como por exemplo, às intervenções precoces na gravidez,
cuidados pré-natais, pós-parto, vacinas e a qualidade de vida social, as pessoas com
deficiência ganharam longevidade, sua expectativa de vida melhorou qualitativamente,
estão aí os adolescentes, os adultos, e muitos com certeza caminharão para a
senilidade.

Falar sobre sexo não é dar uma aula de Biologia da Reprodução Humana. Por isso a
importância do trabalho em conjunto, dos profissionais de saúde, professores unirem-se
para estudar, discutir seus casos, discutir com os pais e a família, ajudando e orientando-
os.

Todos nós possuímos algum nível de compreensão da necessidade de entrar em contato


com as questões da sexualidade da pessoa com autismo, mesmo apresentando
resistências. As resistência muitas vezes são de cunho religioso, preconceito ou por falta
de informações adequadas.

A maioria das pessoas com autismo apresentam um desenvolvimento biológico normal


da sexualidade. Entretanto, no desenvolvimento psicológico ocorre uma série de
alterações que se manifestam na conduta e podem variar de intensidade e freqüência,
dependendo do grau de distúrbio e do nível intelectual. Em alguns deles predomina a
necessidade de satisfação imediata dos próprios impulsos sexuais. Segundo Haracopos
e Pederson (1989), em outros casos, a capacidade de conter os impulsos sexuais e
agressivos é rudimentar, havendo pouca ou nenhuma autocrítica. Pode ocorrer também
uma distorção da percepção da realidade, bem como capacidade limitada ou ausente de
fantasiar ou imaginar, assim como muita ansiedade ligada ao sentimento de excitação
sexual, associações bizarras e pensamento concreto.

Não entendemos que pessoas com autismo não tenham limites, talvez não saibam parar
seus comportamentos porque não entenderam o que está acontecendo com eles, e não

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sabem quando podem ou não podem tocar em seus genitais. A questão da


masturbação está no limite do privado e do público, de onde pode, quando, como, a
intensidade e frequência. Na realidade estavam obtendo prazer com seus genitais,
talvez até a compulsão a masturbação demonstre a falta de algo melhor na realidade
para investir, se ligar, se relacionar, ser criativo. Então esse é nosso gancho, é bom se
ligar com gente, este é o nosso papel!

Não encontramos nenhuma pessoa com autismo se masturbando ou se exibindo com


cara de coitadinho, aliás, estavam curtindo toda a situação, salvo exceções de alguns
casos de autistas que podem se machucar numa tentativa pouco organizada de
tentarem prazer de maneira inadequada, compulsiva ou autolesiva.

Poderíamos ouvir no silêncio das falas destas pessoas com autismo como, algo assim:

“Tudo bem, gosto de vocês, gosto da minha casa, da escola, então vou fazer o que me
mandam”.

“Acho que isto que sinto é muito ruim devo me submeter ao que vocês querem. Então
vou tomar o remédio e ficarei quietinho. Não aborrecerei mais ninguém com minhas
angustias de não saber também o que sinto, o que faço”.

“Tudo isso está tão chato e desinteressante, meu corpo me dá um sensação boa quando
eu mexo nele, é bom ficar assim desligado”.

“Achei que esta vontade louca de me masturbar fosse bom, estava aqui sozinho, estava
muito bom”.

“Descobri que não posso ter prazer com meu corpo na escola! Por que será? Vou
experimentar em outros lugares? Aonde será que pode?”.

Os mais valentes ou agressivos com a vida respondem com a subversão, não querem
tomar a medicação, ficam hostis, conseguem expressar através de seus desmandos,
desobediências que não é disto que precisam, não se submetem, podem dizer algo
assim:

“Preciso continuar a fazer isso, estou falando do meu jeito, vocês é que não entendem,
não consigo saber o que querem e o que sentem sobre isso que faço.”

“Estou crescendo e não sei o que fazer com este meu corpo novo, com estas mudanças,
com meu crescimento, com estes desejos, tudo é confuso.”

“Fico muito atrapalhado com as mudanças em meu corpo, desejos, excitações, meu
corpo modificou-se, eu não consigo compreender, fico muito desorganizado, com medo,
assustado, ao mesmo tempo tudo é muito bom, é uma confusão na minha cabeça.”

“Não entendo direito porque me bate, ameaçam, ficam bravo comigo, tem algo que faço
que não é para fazer, por que será?Por que as pessoas ficam tão bravas comigo quando
toco no meu corpo?”

Para a família, o isolamento do filho(a) com algum tipo de deficiência é uma forma de
proteção para o próprio núcleo familiar que também tenta se poupar e evitando a
exposição de comportamentos que fogem do controle. No entanto, isto acaba por
dificultar as noções de regras sociais e de bom convívio, fora de seu ambiente escolar e
familiar.

Para piorar, a pessoa com autismo raramente tem privacidade, o que dificulta o
entendimento do que é privado ou público: o quarto às vezes é mantido as portas
abertas ou sendo proibido fechar a porta ou apagar a luz. Muitas vezes os pais, irmãos
não batem na porta do quarto, invadem a dentro. Os banhos são supervisionados,
impedem que possam ter contato com seu corpo, que possam notar suas modificações
físicas, sobra pouco tempo para que eles possam desenvolver sentido de privacidade,
de liberdade, de respeito, de contato corpóreo. E ninguém conversa nada sobre isso.

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Além disso, a maioria das pessoas acredita que a pessoas com autismo não tem auto-
percepção, precisam ser controladas, repreendidas, ameaçadas, usam de chantagens,
mas não utilizam o diálogo afetivo e ou a informação com imagens. Tanto a família como
muitos profissionais tendem a impor condutas de comportamento, passando por cima
dos seus sentimentos, não consideram que as pessoas com autismo podem ter
limitações intelectuais mas não têm limitações de seus sentimentos.

Vejamos as diferenças entre às singularidades das pessoas com autistas.

A pessoa com autismo vai precisar de apoios para compreender o mundo a sua volta de
forma a desenvolverem sua identidade como jovem e futuro adulto libertando-se do
modelo infantilizado, de maneira concreta, firme, vivenciando a experiência através de
imagens, teatros, escrevendo, desenhando, expressando-se artisticamente.

Para podermos manejar as expressões sexuais inadequadas, precisamos observar


alguns aspectos, tais como: quando ocorrem, em que contexto, em que lugar, qual a
freqüência, e principalmente tentar descobrir qual o estímulo (interno ou ambiental)
desencadeante da conduta em questão. A partir desses dados, estratégias podem ser
cridas para tentar compreender, traduzir em linguagem verbal (escrita, gestual,
simbólica, imagética, visual) então construindo um manejo adequado para a expressão
e compreensão do comportamento sexual.

A primeira das três categorias principais do TEA é o Distúrbio da Interação Social. É


evidente que dentro desta categoria encontramos numerosos sintomas, tais como:
dificuldade em aceitar mudanças na rotina diária, muitos apresentam resistência ao
contato físico, embora alguns possam tolerar algum contato dependendo do momento,
de quem o toca e da intensidade e duração. Em outros casos, a pessoa com autismo
quer abraçar ou agarrar uma ou várias pessoas, de maneira invasiva e fora de contexto,
geralmente sem percepção do sentimento alheio. A agressividade (chutes, mordidas,
socos, tapas, beliscões, puxar os cabelos, cuspir, etc.) também podem ser um distúrbio
social importante, que muitas vezes é causada por uma pequena frustração ligada a
alguma atividade da vida cotidiana e, outras vezes ocorre sem uma causa aparente.
Pode-se dizer que a impossibilidade de estabelecer empatia ou perceber os sentimentos
alheios são alguns dos pontos marcantes da personalidade de muitos desses indivíduos.
Em outras palavras, eles não conseguem se colocar no lugar de outra pessoa.

A habilidade de imaginar (Teoria da Mente) o que se passa na mente do outro não faz
parte do repertório social desses indivíduos (Frith,1989). Esta inabilidade afeta
diretamente tanto a capacidade de perceberem os sentimentos, necessidades e desejos
alheios, como também os seus próprios afetos. De certa maneira isso afetará
significativamente a possibilidade de compreenderem e respeitarem uma série de regras
sociais que precisam ser mediadas.

Os distúrbios da comunicação, ecolalias, linguagem pedante, mutismo, dentre outras


podem estar presentes na pessoa com autismo. Todos sabemos que se não houvesse
comunicação entre as pessoas não haveria possibilidade de organização social. Pois
bem, praticamente todos os indivíduos com TEA apresentam distúrbios da comunicação,
que podem variar desde um isolamento e mutismo absolutos até um desenvolvimento da
comunicação muito próximo do normal. Alguns indivíduos não se comunicam nem
verbalmente nem através de gestos, parecem estar completamente indiferentes ao que
acontece ao seu redor. Outros, apesar do mutismo, acabam apontando para as coisas
que desejam, estabelecendo assim algum tipo de comunicação intencional, por isso a
importância da comunicação alternativa, uso de sistema de imagens e comunicadores de
vozes.

As estereotipias e rituais podem ser: girar objetos, abanar as mãos, mexer os dedos das
mãos ou o corpo de forma rítmica e estranha, andar na ponta dos pés, apego não
apropriado a objetos, restrição da variedade de alimentos ingeridos, etc. Também podem
estar presentes risos imotivados ou descontextualizados, agressividade, destrutividade e
comportamentos autolesivos. De qualquer forma, essas condutas podem ser freqüentes

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ou intermitentes, e deverão ser considerados caso a caso, alguns com intensidade e


frequências intensas precisarão ser medicados com supervisão médica, visto o
comprometimento da qualidade de vida e prejuízo social.

As pessoas com autismo precisam ser ajudadas na compreensão da interação social,


adequando-se melhor as relações sociais, através de vivencias com figuras, pranchas
com imagens, de maneira a ajudarem a construir sua identidade como jovem e futuro
adulto com identidade sexual. Estas pessoas não são vistas como tal. A interação da
comunicação precisa ser encorajada através de comunicação alternativas para que
possam expressar seus sentimentos e suas fantasias envolvendo seu corpo, suas
experiências sensoriais, perceptivas. O uso da criatividade precisa ser investido, num
campo, artístico, musical, plástico, a fim de que possam expressar sua subjetividade
concomitante as transformações da sua sexualidade.

Através destes contatos o confronto do ser adolescente encontrou vazão para


expressão, e precisam ter o direito de vivenciarem, experimentarem e conhecerem as
transformações físicas, afetivas e sociais que são pertinentes deste processo de
juventude. E nós temos o dever de ajudá-los a desenvolver estas transformações de
maneira adequada.

Ter que enfrentar a sexualidade dos filhos na época da adolescência já é um tabu,


gerador de conflitos, impasses, medos para a maioria dos pais. Agora imaginem o
quanto é incrementado de fantasias e preconceitos quando se trata das preocupações
de um filho com autismo.

Os pais por medo de expor o adolescente a riscos físicos e emocionais optam


eventualmente por negar, reprimir ou infantilizar a existência do crescimento do filho ou
filha na puberdade, lutam para mantê-los assexuados. É uma luta perdida, pois não há
como parar o crescimento de alguém, o que encontramos é que escapa por outra via,
aparecendo a regressão de aptidões que a pessoa havia adquirido, comportamentos
auto ou hetero-agressivos, isolamento, tristeza, adoecimento psíquico, sofrimento.

Nas instituições escolares encontramos os profissionais, também se defendendo,


acabam por criarem estigmas, rótulos como se as pessoas autistas fossem ora hiper-
sexualizados ora assexuados.

No entanto, muitas instituições de ensino já começam a aceitar/pensar a importância de


tal processo na vida do aluno.

O tema sexualidade vem sendo tratado com uma certa freqüência nas escolas, em
contraste com a mentalidade do final do século passado, quando havia a visão do sexo
como algo sujo e imoral (exceto quando para a procriação).

Os pais e professores da área de saúde e educação precisam lembrar que a vivência


sexual das pessoas com deficiência favorece o desenvolvimento afetivo, a capacidade
de estabelecer contatos interpessoais, fortalecendo a auto-estima o bem-estar, o amor-
próprio, e a adequação à comunidade.

Para que os comportamentos e manifestações sexuais não se tornem problemáticos,


existe a necessidade de investimentos na educação sexual; sempre com a participação
dos pais e familiares, pois é através destes que há o desenvolvimento psico-emocional e
a transmissão de valores para a aquisição de limites.

Os valores, princípios e regras sociais existem porque têm finalidade, nos ajudam a nos
proteger e aos outros de situações de abusos e violências, situações constrangedoras e
não éticas. Toda sociedade precisa para se organizar e se manter, de algum tipo de
ordenação, de regras que possam colocar ordem na desordem. Isto implica em restringir,
selecionar, e estabelecer critérios, além de dar valor e hierarquizar. Portanto, sempre
encontraremos aquilo que acaba sendo considerado mais ou menos doentio, errado,
impuro e anormal, dependendo do período histórico e do grupo social em que se está
numa dada sociedade. O importante é pensar, refletir, questionar, conversar, indignar-se,

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para não incorporarmos passivamente tudo o que nos é apresentado! Isto implica em
aprender a impor respeito aos nossos valores, mas saber respeitar os valores dos outros
também.

Na escola a educação sexual, deve apresentar-se com disponibilidade do profissional,


amor e ciência. Não adianta tratar o assunto como disciplina de conteúdo ou como algo
que irá conter a sexualidade.

A orientação sexual para pessoas com deficiência, é um trabalho organizado com


diversos objetivos: como por exemplo, à prevenção de gravidez indesejada, abuso
sexual, doenças sexualmente transmissíveis, tudo passa primeiro pela proximidade
afetiva e informações corretas sobre sexualidade, o aumento da compreensão sobre o
próprio corpo, a orientação sobre os códigos do comportamento sexual, a melhora do
relacionamento com sua família e os profissionais, favorecendo o desenvolvimento da
identidade sexual.

O educador sexual deve guiar-se por atitudes éticas, não esquecendo de estar atento a
suas concepções pessoais em face da sexualidade, verificando com precisão aquilo que
a pessoa com deficiência intelectual ou autismo quer saber, interpretando aquilo os
acontecimentos afetivos sobre sua perspectiva e não a pessoal, lidando com
comportamentos inadequados através da colocação de limites claros e objetivos, através
de acordos criados pelo profissional, aluno e ou grupo.

A higiene pessoal e os cuidados íntimos devem ser enfatizados, é uma forma de


desenvolver a auto-imagem e auto-estima, desenvolvendo a capacidade de adequação
social e o sentimento de posse do corpo.

Na adolescência os meninos com autismo precisam ser informados sobre a ejaculação e


a polução noturna, orientando sobre os cuidados e limpeza. As meninas necessitam de
orientação sobre como lidar com a menstruação e ambos precisam ser informados sobre
as mudanças que estão ocorrendo com seus corpos.

Nos casos de impossibilidade funcional devido a problemas motores ou em razão à


severidade do comprometimento cognitivo e ou afetivo os pais devem assumir tais
cuidados, ou pedir que ao jovem os realize com supervisão constante.

A educação sexual deve ser incluída na educação geral, integradas à estimulação


sensório-motora, intelectual e das capacidades adaptativas ao meio social, de modo
natural. Os recursos pedagógicos poderão ser lúdicos, criativos e desportivos como, por
exemplo, os jogos, a música, o esporte, a pintura, modelagem, de modo adequado à
idade e ao nível de compreensão, são elementos integradores e interativos para
trabalhar o corpo, crescimento, diferenças sexuais, rivalidades, atrações, etc...

É essencial enfatizar a importância do relacionamento afetivo dos pais e familiares, para


um adequado desenvolvimento da sexualidade. A família nuclear representa o protótipo
de todos os relacionamentos que a pessoa terá com os outros no decorrer de toda a
vida, mas ainda para a pessoa com autismo que precisa ser aceito pelo seu núcleo
familiar; mas na impossibilidade desta fazê-lo cabe a escola resgatar este papel
oferecendo suporte dos valores integrativos, de auto-estima, confiança e esperança.

Tanto a pessoa com autismo necessita de respostas coerentes às suas solicitações


afetivo-sexuais, que favoreçam sua autoconfiança, sua auto-estima e seu senso de valor.

A ambigüidade no comportamento dos pais e profissionais frente à sexualidade da


pessoa com autismo levam aos conflitos e atitudes incoerentes de ambas as partes,
gerando frustração, dor e muita angústia. O que sabemos é que tanto as pessoas com
deficiência intelectual e ou autismo sentem, desejam, sonham, sofrem, amam, como
qualquer ser humano, portanto cabe a cada um libertar-nos dos nossos preconceitos
frente à sexualidade humana e proporcionarmos uma vida com qualidade e respeito as
singularidades individuais das pessoas que tenham expressões de sua sexualidade
diferente do que os normotípicos.

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Bibliografia:

American Psychiatric Association – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos


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Frith, U. Autism And Asperger Syndrome. Cambridge, Cambrige University Press, 1992.

Defence D.A , Fernades F.D.M Perfil Funcional de Comunicação e Desempenho Sócio-


Cognitivo de Adolescentes Autistas Institucionalizados. Rev. Cefac, São Paulo 2010.

Campelo, L. D; Lucema, J. A; Lima, C.N; Araujo, H.M.M; Viana L. G. O, Veloso M. M. L,


Correia P. I. F. B ,Muniz L. F, Autismo: Um Estudo De Habilidades Comunicativas Em
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Santos, A.M.T. Autismo: Desafio da Alfabetização e no Convívio Escolar, Crda, São


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Tamanaha, A.C; Chiari, B.M; Perissinoto, J; Pedromônico, M.R. A Atividade Lúdica no


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Camargos Jr., Walter Et Al. Transtornos Invasivos do Desenvolvimento: 3º Milênio.


Brasília: Corde, 2005. 260 P.

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