Você está na página 1de 5

NUTRIÇÃO PARENTERAL

A nutrição parenteral é, por definição, administrada por via intravenosa.

A nutrição parenteral parcial fornece somente parte das necessidades nutricionais


diárias, suplementando a ingestão oral. Muitos pacientes hospitalizados recebem glicose
ou soluções de aminoácidos por esse método.

A nutrição parenteral total supre todas as necessidades nutricionais diárias. Pode ser
utilizada tanto em hospitais como em domicílio. Como as soluções de NPT são
concentradas, pode ocorrer trombose das veias periféricas, sendo necessário acesso
venoso central.

A nutrição parenteral não deve ser utilizada rotineiramente em pacientes com trato
gastrointestinal intacto. Em comparação à nutrição enteral, tem as seguintes
desvantagens:

 Causa mais complicações.


 Não preserva a estrutura e a função do trato GI.
 É mais cara.

(Ver também Visão geral do suporte nutricional.)

Indicações
A NPT só deve ser indicada para pacientes com trato gastrointestinal não funcionante
ou que apresentam distúrbios que requerem repouso intestinal, como:

 Alguns estágios da colite ulcerativa


 Obstrução intestinal
 Determinados distúrbios gastrointestinais pediátricos (p. ex., anomalias
congênitas, diarreia prolongada, sejam quais forem suas causas)
 Síndrome do intestino curto decorrente de cirurgia.

Componentes nutricionais
A NPT requer água (30 a 40 mL/kg/dia), energia (30 a 35 kcal/kg/dia, dependendo do
gasto energético; até 45 kcal/kg/dia para pacientes gravemente enfermos), aminoácidos
(1,0 a 2,0 g/kg/dia, dependendo do grau de catabolismo), ácidos graxos essenciais,
vitaminas e minerais (ver tabela Necessidades básicas diárias de nutrição parenteral
total para adultos).

Crianças que necessitam de NPT podem apresentar diferentes necessidades de líquidos


e mais energia (até 120 kcal/kg/dia) e aminoácidos (2,5 a 3,5 g/kg/dia).

Soluções básicas de NPT são preparadas com técnicas estéreis, geralmente em lotes de
litros de acordo com fórmulas padronizadas. Normalmente, são necessários 2 l/dia de
solução padrão. As soluções podem ser modificadas com base em achados laboratoriais,
doenças de base, hipermetabolismo ou outros fatores.

A maior parte das calorias é suprida por carboidratos. Tipicamente, administram-se 4 a


5 mg/kg/min de glicose. Soluções padrão contêm aproximadamente 25% de glicose,
mas a quantidade e a concentração dependem de outros fatores, como necessidades
metabólicas e proporção das necessidades calóricas supridas pelos lipídios.
Emulsões lipídicas disponíveis no mercado costumam ser acrescentadas para fornecer
ácidos graxos essenciais e triglicerídios; 20 a 30% do total de calorias são normalmente
fornecidos como lipídios. Entretanto, restringir lipídios e suas calorias pode ajudar
pacientes obesos a mobilizar o estoque endógeno de gordura, aumentando a
sensibilidade à insulina.

Soluções de NPT
Várias soluções de NPT são comumente utilizadas. Eletrólitos podem ser acrescentados
para atender as necessidades do paciente.

As soluções de NPT podem variar de acordo com as doençasa e a idade do paciente,


como a seguir:

 Para pacientes com insuficiência renal e que não estejam em diálise ou em


tratamento para insuficiência hepática: soluções com quantidade reduzida de
proteínas e alta porcentagem de aminoácidos essenciais.

 Para pacientes com insuficiência cardíaca ou renal: ingestão de líquidos limitada

 Na insuficiência respiratória: emulsão lipídica que fornece a maior parte das


calorias não proteicas para minimizar a produção de dióxido de carbono
promovida pelo metabolismo dos carboidratos.

 Para neonatos: concentrações mais baixas de glicose (17 a 18%)

Início da administração da NPT


Considerando-se que o acesso venoso central permanece instalado por um tempo
prolongado, deve-se usar assespsia e antissepsia durante a inserção e manutenção do
acesso da NPT. A via da NPT não deve ser utilizada para outro propósito. Os frascos
externos devem ser trocados a cada 24 h. Filtros não demonstraram reduzir
complicações. Curativos devem ser mantidos estéreis e trocados a cada 48 h.

Pacientes que recebem NPT fora do hospital devem ser orientados a reconhecer
sintomas de infecção, devendo-se providenciar serviço de enfermagem domiciliar
qualificado.

A solução deve ser iniciada de maneira vagarosa a 50% das necessidades calculadas,
utilizando-se glicose a 5% para compensar o equilíbrio de líquidos. Energia e nitrogênio
devem ser oferecidos simultaneamente. A quantidade de insulina regular oferecida
(acrescentada diretamente à solução de NPT) depende do nível de glicose sanguínea; se
o nível for normal e a solução final contiver 25% de concentração de glicose, a dose
inicial é de 5 a 10 unidades de insulina regular/L de NPT.

Monitoramento
Deve-se acompanhar a evolução da NPT por meio de fluxogramas. Uma equipe
multidisciplinar, se disponível, deve monitorar o paciente. Peso, hemograma completo,
eletrólitos e BUN devem ser monitorados com frequência (p. ex., diariamente para
pacientes internados). Glicose sanguínea deve ser monitorada a cada 6 h até a
estabilização. A ingestão e a eliminação de líquidos devem ser monitoradas de modo
contínuo. Quando o paciente se tornar estável, testes sanguíneos podem ser feitos com
menos frequência.
Testes de função hepática devem ser realizados. Proteínas plasmáticas (p. ex., albumina
sérica, possivelmente transtiretina ou proteína de ligação do retinol), tempo de
protrombina, osmolaridade plasmática e urinária, cálcio, magnésio e fosfato devem ser
dosados duas vezes por semana. Alterações na transtiretina e na proteína ligadora de
retinol refletem não apenas o estado nutricional, mas o estado clínico geral do paciente.
Se possível, exames de sangue não devem ser feitos durante a infusão de glicose.

A avaliação nutricional completa (incluindo cálculo do IMC e medidas antropométricas)


deve ser repetida em intervalos de 2 semanas.

Complicações
Cerca de 5% a 10% dos pacientes com acesso de NPT apresentam complicações
relacionadas com o acesso venoso central.

Os índices de sepse relacionada com o cateter diminuíram desde a introdução das


diretrizes que enfatizam as técnicas de assepsia e antissepsia para inserção de cateter e
os cuidados com a pele ao redor do sítio de inserção. O uso cada vez maior de equipes
exclusivas de médicos e enfermeiros especializados em vários procedimentos, como a
inserção de cateteres, também foi responsável pela diminuição da incidência de infecção
relacionada com o cateter.

Anormalidades relacionadas à glicose (hiper ou hipoglicemia) ou disfunção hepática


ocorrem em > 90% dos pacientes.

Anormalidades relacionadas à glicose são comuns. A hiperglicemia pode ser evitada


monitorando a glicose plasmática, ajustando a dose de insulina da solução da NPT e
administrando insulina por via subcutânea conforme necessário. Hipoglicemia pode
decorrer da súbita interrupção da infusão contínua de glicose. O tratamento depende do
grau de hipoglicemia. Hipoglicemia recente pode ser revertida por glicose a 50% por via
intravenosa; hipoglicemia mais prolongada pode requerer infusão de glicose a 5 a 10%
por 24 h antes de retomar a NPT via acesso venoso central.

Complicações hepáticas envolvem disfunção hepática, hepatomegalia dolorosa e


hiperamonemia. Podem ocorrer em várias idades, mas são mais comuns entre crianças,
em particular prematuras (aquelas cujo fígado ainda está imaturo).

 Disfunção hepática pode ser transitória, evidenciada pelo aumento de


aminotransferases, bilirrubinas e fosfatase alcalina; é comum no início da NPT.
Elevações persistentes ou tardias podem resultar de excesso de aminoácidos. A
patogênese é desconhecida; fatores prováveis que podem contribuir incluem
colestase e inflamação. Fibrose progressiva ocorre ocasionalmente. Reduzir a
oferta proteica pode ser benéfico.

 Hepatomegalia dolorosa sugere acúmulo de gordura; deve-se reduzir a oferta


de carboidratos.

 Hiperamonemia pode ocorrer em crianças, causando letargia, espasmos e


convulsões generalizadas. A correção consiste na suplementação de arginina de
0,5 a 1,0 mmol/kg/dia.

Para crianças que desenvolvem qualquer complicação hepática, a restrição de


aminoácidos a 1,0 g/kg/dia pode ser necessária.
Deve-se corrigir as alterações de minerais e eletrólitos séricos modificando as
infusões subsequentes ou, se for necessária sua correção urgente, iniciando as infusões
apropriadas por acesso periférico. Deficiências de vitaminas e minerais são raras se as
soluções forem oferecidas do modo correto. Nitrogênio ureico sanguíneo elevado pode
refletir desidratação, a qual se corrige com administração de água com 5% de glicose
por veia periférica.

Sobrecarga de volume (ganho de peso de > 1 kg/dia) pode ocorrer quando altas
necessidades de energia exigirem grandes volumes de líquidos.

Doença metabólica óssea ou desmineralização óssea (osteoporose ou osteomalacia)


ocorre em alguns pacientes que recebem NPT por > 3 meses. O mecanismo é
desconhecido. Doenças avançadas podem causar dor periarticular grave, nos membros
inferiores e no dorso.

Reações adversas a emulsões lipídicas (p. ex., dispneia, reações alérgicas cutâneas,
náuseas, cefaleia, dor dorsal, transpiração, tontura) são incomuns, mas podem ocorrer
precocemente, em particular se lipídios forem dados a > 1,0 kcal/kg/h. Pode ocorrer
hiperlipidemia temporária, principalmente em pacientes com falência renal ou hepática;
em geral, o tratamento não é necessário. Reações adversas tardias a emulsões lipídicas
são hepatomegalia, elevação moderada das enzimas hepáticas, esplenomegalia,
trombocitopenia, leucopenia e, especialmente em crianças prematuras com síndrome da
angústia respiratória, anormalidades de funções pulmonares. A prevenção ou
minimização dessas reações adversas pode se dar temporária ou permanentemente pela
diminuição ou parada da infusão lipídica.

Complicações da vesícula biliar são colelitíase, vesícula gordurosa e colecistite. Essas


complicações podem ser causadas ou piorar por prolongada estase biliar. A contração
pode ser estimulada oferecendo-se 20 a 30% das calorias em gorduras e cessando-se a
infusão de glicose por algumas horas. Ingestão oral ou enteral também pode auxiliar.
Tratamento com metronidazol, ácido ursodesoxicólico, fenobarbital ou colecistocinina
ajuda alguns pacientes com colestase.

Pontos-chave
 Considerar a nutrição parenteral para pacientes com trato gastrointestinal não
funcionante ou que apresentam distúrbios que requerem repouso intestinal
completo.

 Calcular as necessidades de água (30 a 40 mL/kg/dia), energia (30 a 35


kcal/kg/dia, dependendo do gasto energético; até 45 kcal/kg/dia para pacientes
graves), aminoácidos (1,0 a 2,0 g/kg/dia, dependendo do grau de catabolismo),
ácidos graxos essenciais, vitaminas e minerais.

 Escolher uma solução baseada na idade do paciente e estado da função dos


órgãos; soluções diferentes são necessárias para recém-nascidos e para pacientes
que têm função cardíaca, pulmonar ou renal comprometida.

 Utilizar um acesso venoso central, com técnicas estritamente estéreis durante a


inserção e manutenção.

 Monitorar atentamente complicações nos pacientes (p. ex., relacionadas com o


acesso venoso central, alterações da glicemia, de eletrólitos e minerais; efeitos
hepáticos ou na vesícula biliar; reações às emulsões lipídicas, e sobrecarga de
volume ou desidratação).

Você também pode gostar