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CURSO TEATRO - CONEXÕES CONTEMPORÂNEAS / VILA DAS ARTES

Módulo: Território da Performance

Facilitador: José Tonnezi

Aluna: Rafaela Diógenes

A PERFORMATIVIDADE EM FIGURAS DO COTIDIANO DA CIDADE DE FORTALEZA.

Antes de mais nada, devo colocar que achei interessante que esse módulo tratasse do "território" da
performance, e não apenas da "performance". Isso porque, quando colocada em termos de território,
parece que a performance tem uma liberdade e área de atuação mais ampla, todo um território onde
ela pode atuar, não precisando se restringir apenas a um conceito. Até porque, acredito que o
conceito de performance dentro do campo das artes é realmente um dos mais abrangentes, podendo
se relacionar com inúmeras linguagens e abordagens. O termo em si é inclusive utilizado para além
do campo artístico, como é sabido, se referindo a "atuação" ou "desempenho" de alguém ou algo
nos mais diversos campos possíveis - trabalho, esportes, estudos e outras tantas atividades.

Hoje em dia a performance já é um termo e uma "ação" tão ampla, que parece que tudo é
performance, ou quase tudo pode ser. De fato, nem tudo é performance, mas podemos encontrar
algo de performático em muitas coisas, e inúmeras delas nem sequer tem o objetivo de se enquadrar
no campo da arte. É extremamente comum ouvir o termo "performático" no cotidiano. Um corpo se
movimentando ou se vestindo de forma mais ousada ou "extra-cotidiana", por exemplo,
rapidamente recebe o adjetivo "performático". Acredito que isso acontece por conta do que me
parece ser uma característica primordial da performance, que consegue ser preservada ainda hoje,
mesmo com tantos desdobramentos. Essa característica é meramente a de inovar. Não é à toa que a
performance está ligada a movimentos de vanguarda. Assim como eles, ela tem como forte
característica a saudável pretensão de quebrar com os establishments artísticos vigentes para propor
novas possibilidades de atuação. Por isso parece que cada ato que quebra com um paradigma é
performático. Dessa maneira, a performance não se restringe só às artes cênicas ou buscando uma
referência cênica, mas também em outros campos, como a música, cinema ou a pintura ou talvez
transformando atos a princípio cotidianos em atos de certa forma cênicos ou até mesmo
subversivos. A performance veio para subverter uma ordem. Partindo desse pressuposto, me diverte
procurar no cotidiano a idéia ou a referência não necessariamente de performance, mas de
"performatividade". Considerando como performatividade aquilo que pode de certa forma se
relacionar fortemente com determinados princípios da performance sem necessariamente ter que ser
definida como tal. Dentre os critérios comumente utilizados para caracterizar a performance, alguns
em específicos guiam a minha busca cotidiana pela chamada "performatividade". São esses,
principalmente, o corpo e a não-representação. Por vezes o risco e a relação com o publico.

Existem os casos mais óbvios de serem identificados, como a body art, comumente tida como uma
subcategoria da performance, é uma subversão voluntária do paradigma corporal. A performance
acontece fortemente no corpo, a discussão "corpo e performance" não é recente e nem escassa. O
corpo é a via primordial da performance. A body art é a mais pura manifestação disso. Se existe
também a discussão do corpo como feramenta para o obra de arte, a body art o tira desse lugar,
deixando bem claro que o corpo é a própria obra de arte. As body arts mais comuns são as tatuagens
e os piercings. Apesar de estarem se tornando tão recorrentes a ponto de quase caírem num lugar
comum - não só porque hoje em dia é grande o número de pessoa que os tem, mas também porque é
muito comum vermos os mesmos desenhos ou estilos de desenho nos mesmos locais do corpo -
existem casos extremos. Como por exemplo Ricky Genest, o top model cujo corpo é completamente
tatuado de forma a lembrar uma caveira ou pessoas que tatuam o corpo inteiro com padrões de
animais, por exemplo Tom Leppard, o homem-leopardo ou Erik Sprague, o homem-lagarto, que
também utiliza na sua composição corporal outras formas de body art além das tatuagens. Existem
possibilidades ainda mais extremas na body art, como a chamada body modification, que envolve
técnicas como cicatrizes em relevo, que é uma espécie de tatuagem, porém em vez de tinta, utiliza-
se apenas a agulha para fazer o desenho com uma substância para irritar a pele, causando quelóide e
deixando assim um desenho em alto relevo; escarificação, que é o efeito oposto, cortes são feitos na
pele de forma que o desenho fica em baixo relevo; implantes subcutâneos, dentre outros…

Afora esses casos, que podem ser mais facilmente encontrados, identifico essa performatividade
fortemente em determinadas figuras na cidade de Fortaleza. Uma delas é o poeta Mário Gomes.
Tido como "o poeta mendigo", Mário Gomes, designado há muito e por muitos de louco, é
freqüentemente encontrado na vida boêmia da cidade. Normalmente bêbado, o poeta sempre se
veste da mesma forma, em trajes elegantes e entoa trechos de suas poesias e frases pertinentes com
sua voz rouca. O corpo, numa postura irregular, sempre em equilíbrio precário. Mário faz da sua
voz, gestos, loucura, corpo e figura uma manifestação performática. O fato de sempre se vestir da
mesma forma, a repetição em suas aparições e falas e sua relação com o público reafirmam isso.
Mário Gomes fica perdido em algum lugar entre um poeta, um mendigo, um bêbado, um boêmio
elegante e um louco e, no fim das contas, não responde plenamente a nenhum desses rótulos e
talvez nem pudesse, já que estes são socialmente tidos como muito diferentes e por vezes
contraditórios entre si.

Outra figura que se encaixa na procura, é um "artista da rua" que apresenta seu número na Praça do
Ferreira, todo dia. Ele chega não exatamente vestido de mulher, mas vestido de peças de roupa
femininas e carregando um carrinho de feira. Por vezes essas peças de roupa são algo como uma
camisola e uma toalha na cabeça. Ele se instala em frente ao antigo Cine São Luiz, e tira alguns
itens do carrinho de feira, como uma latina para as moedas que algum transeunte possa querer
ceder, um aparelho de som a pilha e algum objeto que represente um microfone. Todo dia ele tem
um repertório e geralmente vem vestido de acordo com esse repertório. Às vezes ele coloca axé pra
tocar, as vezes a Xuxa, quando Bollywood estava em alta, ele trazia música pop indiana. Uma vez
dado o play, ele passa o dia dublando essas canções, interpretando-as e as coreografando. Atende a
pedidos se tiver e interage com o público. É curioso observar que ele não tem intenção de
necessariamente representar uma mulher, ele apenas se veste com tais roupas. Apesar de apresentar
uma feminilidade, inclusive nos seus números extremamente performáticos, ele em momento
nenhum pretende necessariamente representar uma mulher, muito embora por vezes se comporte
como uma. Diferente de Mário Gomes, cuja mera existência é performática, essa figura está sim se
apresentando, apesar de fazê-lo de uma forma precária, o que não faz com que perca sua verdade e
organicidade. Assim como Mário Gomes, é uma figura recorrente na cidade, podendo ser vista todo
dia na Praça do Ferreira. Por mais que ela tenha um caráter de show, cabendo perfeitamente na
classe de artista de rua, há algo de singular nesse ser que não é exatamente homossexual ou travesti,
que não tem um grande número a nos apresentar, que seja incrível ou extremamente cômico ou
original, mas toda a sua concepção é inusitada e intrigante.

Há ainda uma terceira figura que vale ser citada. Trata-se de um senhor que deve ter por volta dos
seus sessenta anos. É muito freqüente vê-lo no meio fio da Duque de Caxias e ruas ao redor. Ele
veste por vezes um short pequeno ou uma sunga azul, mas está sempre sem camisa, com os pelos
brancos do peito à mostra e usando também um chapéu da mesma cor e tênis, ele faz cooper no
meio fio. Quando o sinal fica vermelho e os carros param, ele também para e acena para os
motoristas sorrindo como uma "miss", mandando beijos e rebolando o quadril, sempre com muita
simpatia. As vezes alguém pára e conversa com ele de vidro aberto, outras pessoas gritam insultos
ou elogios. Ele não tem nenhum traço que indique que é morador de rua, muito pelo contrário.
Assim como os dois anteriores, sua presença é recorrente e sempre nos mesmos trajes que por si só
já são pouco comuns no meio da rua, pois são trajes de banho e, são ainda mais incomuns quando se
considera a idade dele. A forma que ele interage com o "público" através de seu corpo também é
inusitada e improvável, chegando por vezes a ser erótica. Talvez seja algo que possa ser classificado
como loucura, independente é estranho o fato daquele senhor estar com tanta freqüência no meio fio
interagindo com os motoristas da forma que ele faz. É notória a intenção de explorar o corpo de
forma inusitada e até mesmo sensual, apenas de sua idade e da singularidade do local e forma
escolhidos.

De todas as figuras e atos carregados de performatividade que podemos encontrar na cidade,


acredito que essas três figuras valem ser ressaltadas, não só pela maneira que elas chamam atenção,
mas por serem facilmente encontradas e adotarem a repetição de elementos como a ação executada
e o traje. Por mais que não sejam necessariamente performers no conceito artístico, ou por mais que
não estejam necessariamente executando uma performance, apresentam traços performáticos,
mostrando que a performatividade está presente e pode ser facilmente encontrada no cotidiano.

COMENTÁRIO:
O texto é interessante, na medida em que a autora se atém ao sentido da performatividade, citando
exemplos presentes na cidade de Fortaleza. O texto, entretanto, apresenta muitos problemas de
pontuação e acentos, além de erros de grafia, necessita uma revisão rigorosa.

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