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Como lidar com o

Autismo? Essa palavra te parece estranha ou é parte do seu dia a dia? É provável que
você já conheça a condição, ou que pelo menos já tenha ouvido falar nela. Muitas
pessoas precisam lidar com transtorno durante a vida, por isso, é muito importante que
cada um de nós saiba como lidar com o autismo.

As pessoas que nascem com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), dependendo da


gravidade do transtorno, são capazes de realizar todo tipo de tarefas na sociedade: ter
autonomia, estudar, trabalhar, ter relacionamentos pessoais, entrar no mercado de
trabalho, entre outras coisas, porém, com peculiaridades no comportamento que podem
parecer estranhas, num primeiro momento. Mas com respeito, educação e
conhecimento, o mundo desses indivíduos pode se tornar mais confortável e livre de
preconceitos.

Afinal, o que é o Autismo?


Então, antes de qualquer coisa, uma breve explicação sobre o que é o Autismo: o
autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento, normalmente identificado nos
primeiros anos de vida. O indivíduo identificado pelo médico com TEA, não aparenta
nada diferente dos padrões no aspecto físico, como na síndrome de Down, por
exemplo (exceto se o sintoma de autismo fizer parte de uma síndrome genética, como
nos indivíduos com a síndrome do X-Frágil, em que há sintomas do autismo).
Entretanto, podem demonstrar dificuldades para estabelecer e desenvolver
relacionamento com as outras pessoas. Ou seja, os prejuízos na interação social são
características marcantes nos indivíduos com TEA. ¹

Pode ser que você já tenha estado com um autista e dado conta de que ele (ou ela)
parecia muito, muito tímido. Ou pode ser que você tenha estranhado o isolamento de
alguém numa situação onde, aparentemente, nada impedia que aquela pessoa se
comportasse de forma “normal”. Por isso, neste texto, você vai descobrir que estas não
são as únicas características de um autista, e que tudo depende do grau de autismo em
cada pessoa.

Tanto a pessoa autista quanto sua família e cuidadores necessitam que todos nós
tenhamos empatia, respeitando o tempo e o espaço de cada um. Veja mais dicas
sobre como lidar com o autismo:

Lembre-se: Autismo não é doença


Nem sempre é possível reconhecer, já de cara, quem é autista e quem não é. Pois há
um fato comumente ignorado e que deve sempre ser lembrado: autismo não é doença.
Aliás, tratá-lo assim pode configurar uma ofensa à pessoa que nasceu com TEA, e
também à sua família. Não é doença porque não está ligado ao risco de morte.

Autismo também existe no sexo feminino


A ocorrência do autismo em homens é muito maior do que em mulheres, algo que a
ciência ainda não explica. Mesmo assim, não é exclusividade do sexo masculino.
Também existem muitas meninas e mulheres diagnosticadas, apesar de numa
proporção média quatro vezes menor. Nada muda nelas quanto ao diagnóstico, mas
talvez a percepção possa ocorrer tardiamente, pois a tendência é encararmos as
meninas como pessoas naturalmente mais discretas, mais caladas.

Como lidar com o autismo e seus vários graus


Desde que foi denominado como Transtorno do Espectro Autista, em 2013, pelo Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), essa condição teve suas
definições de tipo abolidas para dar lugar à classificação por grau. Agora, mais bem
definidos, os estudos sobre autismo vêm melhorando. O nivelamento vai do 1 ao 3,
sendo o nível 1, e o terceiro considerado grave. ¹
Autismo leve

No nível1, a maior dificuldade enfrentada por um autista é uma inabilidade de


desenvolver suas relações com as outras pessoas em determinados contextos. Pode ser
que ele se dê muito bem com as pessoas que vivem na mesma casa ou na mesma
rua, mas na escola ou no trabalho, apresente um distanciamento maior.

Também, ainda no começo da infância, indivíduos com autismo leve apresentam


atraso no desenvolvimento da linguagem, como atrasos para falar e um repertório
restrito de palavras. Isso costuma ser um dos primeiros sinais notados pela família.

No planejamento do dia a dia, suas diversas atividades estão comprometidas por uma
tendência ao isolamento e a dificuldade de flexibilidade com ordens e regras. O problema
é que essas características são facilmente confundidas com hiperatividade. E como, na
maioria dos casos, os primeiros sinais aparecem nos primeiros anos de vida, muitas
pessoas não reconhecem a possibilidade de haver o autismo na criança e tratam como
apenas uma fase. ³

Entretanto, são crianças que alcançam a independência facilmente e não precisam de


um ambiente adaptado. Essas crianças podem estudar num colégio regular e utilizar
os mesmos materiais e grade curricular que os demais.

Outras características do autismo leve:

 Pouco ou nenhum contato visual direto;


 Pouca vontade de conversar;
 Alteração da entonação da fala;
 Apego a algum objeto ou interesse muito persistente por algum assunto;
 Dificuldade de mudar a rotina;
 Não atender quando lhe chamam pelo nome.

Apesar de o DSM-5 ter abolido a grande variedade de termos e nomenclaturas


atribuídas ao Autismo, ainda é muito comum ouvirmos falar em Síndrome de
Asperger quando tratamos dos autistas de grau leve.
Autismo moderado

Se no começo desse texto nós dissemos que alguns autistas são capazes de fazer
quase tudo do mesmo jeito que indivíduos sem autismo, é no grau 2 em que as coisas
começam a mudar. As diferenças estão, principalmente, no quanto essas crianças,
jovens ou adultos dependem de uma outra pessoa para realizar atividades comuns. 4

A capacidade de aprendizado para quem é diagnosticado em segundo grau acontece


em torno de um QI (Quoeficiente de Inteligência) abaixo de 70 (nas crianças de grau
leve fica acima de 70, um número considerado “normal”), e essa deficiência acarreta
uma série de problemas, decorrentes, geralmente, da dificuldade ainda maior de
entender as pessoas e de se fazer entender.

Um autista de grau moderado tem a tendência de apresentar mais alterações


comportamentais, como a agressividade, seja consigo ou com os outros, devido ao
estresse causado por não conseguirem um diálogo efetivo com as pessoas ao redor. É
muito importante saber como lidar com o autismo é desse grau.
É por isso que o apoio da família e o acompanhamento terapêutico são muito
importantes para o desenvolvimento da criança, que vai depender muito mais que um
adulto faça o papel de mediador entre ela e o mundo.

Nem neste, nem nos outros casos, há cura para o autismo. Mas através de intervenções
multidisciplinares e da estimulação, feitos de forma contínua e consistente, é possível
obter melhora da funcionalidade e dos comportamentos adaptativos. É preciso haver
uma combinação eficaz entre a família, a escola e as terapias – e que isso seja feito o
quanto antes, pois quanto mais jovem o cérebro, maior a capacidade de aprender e se
desenvolver. A recomendação médica é que isso seja feito já no período da primeira
infância, ou seja, dos zero aos seis anos.

Fonte da imagem: Mães amigas

Autismo severo

O autista de nível severo é completamente dependente de um adulto para realizar as


atividades da vida diária. E aqui não estamos falando de alguém que se nega a
responder um chamado, mas de uma pessoa que não tem autonomia para, por
exemplo, comer ou ir ao banheiro e outros hábitos de higiene. Além disso, acumulam-se
os problemas dos graus 1 e 2, como dificuldade de fala, isolamento e irritação.

A condição do autista severo é bastante delicada. As ocorrências mais peculiares


podem ser constrangedoras e até temerosas. Podem ocorrer crises violentas, situações
de vergonha social, comportamentos inadequados e autoflagelo, como mostrou
uma reportagem recente da BBC Brasil, em que pais de autistas severos contaram
histórias desafiantes.
Apesar disso, nem todos os autistas severos apresentam agressividade. Conversamos
com a Tamara Resi, lá de Curitiba que nos conta sobre seu irmão Nátan,
diagnosticado com autismo severo aos 3 anos de idade.

Saber como lidar com o autismo pode ajudar as famílias

“Temos muita sorte, embora as crises de agressividade sejam comuns nos quadros de
autismo severo, o Nátan (16 anos) não é agressivo, na verdade ele é muito amoroso
com a gente.

Mas já passamos por algumas situações constrangedoras e até um pouco tristes. Um


vez, numa festa de casamento, “nós demos bobeira” e ele com uns 6 ou 7 anos atacou
o prato de bolo de uma senhora. Ela reagiu muito mal à situação, gritou pra todo
mundo  ouvir que ele era mal educado e xingou ele de algumas outras coisas  como
“idiota, nojento e retardado mental”. Foi bem desagradável e na época doeu muito. 

Outra vez, estava com ele num terminal de ônibus, abaixei para amarrar seu tênis, e
quando me levantei ele estava devorando uma coxinha que tomou da mão de uma
moça. Ela percebeu logo de cara que aquele era um comportamento de ‘alguém
diferente’.

Eu me apressei em pedir desculpas, enquanto tentava arrancar o que sobrou do


lanche todo babado da mão e da boca dele (ele não discrimina muito e costuma
colocar muita comida na boca, se engasgando com frequência). Eu tentei me explicar,
meio envergonhada e meio apavorada de ouvir xingamentos novamente. Mas ela me
acalmou, disse que estava tudo bem, e até me ajudou a limpar a bagunça que ele fez.

Hoje em dia a gente até ri dessa situação, mas na hora é sempre muito difícil de
lidar.  O comportamento dessa moça doce e gentil me emociona até hoje,  e com certeza é
por isso que essa é mais uma lembrança engraçada do que constrangedora. Acho
que  todas as pessoas deveriam saber como lidar com o autismo, pois isso pode ser
motivo de memórias boas ou ruins para os familiares de autistas”
Você pode conhecer a história do Nátan lá no Autismo em Dia, o site traz muitas histórias reais de autistas, pais, mães, irmãos e cuidadores.

Autistas severos também podem aprender

Mesmo com todas essas limitações, os pais, a família e a sociedade não devem ignorar
os potenciais de desenvolvimento do autista severo, que também pode aprender novos
tipos de linguagens, talentos, conhecimento científico e afetivo. Além disso, a
intervenção pode trazer melhora na comunicação, na interação social, na autonomia e
na realização de atividades da vida diária.

Como lidar com o autismo: 7 comportamentos indicados

Seja você alguém diretamente ligado a uma criança ou adulto autista ou não, é sempre
bom saber como se comportar e interagir com essas pessoas. Aqui vão algumas dicas: 

1 – Tenha cuidado com toques e palavras

Tente entender como essas coisas atingem o autista, pois eles podem ser mais sensíveis
ao toque do que as pessoas normalmente são. Ao explicar as coisas para um
autista, evite usar ironias, expressões de duplo sentido ou termos muito
abstratos. Grande parte dos autistas entendem as coisas de forma muito direta e objetiva
e sinais não verbais como “piscadinhas” ou gestos podem não ser óbvios para eles.

2 – Aja com delicadeza

Os autistas podem se incomodar com barulhos, confusão e quebras na rotina. Tenha


sempre uma postura que acalme em vez de agitar. Não visite a casa de uma família com
um autista sem agendar antes, e também não desmarque nada em cima da hora.

3 – Estimule a interação com outros adultos e crianças

Faça isso mantendo por perto algo que interesse à criança, mas sem entregá-lo
totalmente, para que ele se veja na situação em que a única opção é se comunicar e
pedir ajuda.

4 – Ajude-o a criar novas formas de comunicação

Muitos autistas são altamente estimulados por coisas mais visuais. Pode ser que o
ensino funcione melhor com desenhos, gestos, fotos, vídeos ou qualquer outro meio que
chame mais atenção do que simplesmente falar.

5 – Imponha limites

Essa dica é principalmente para os pais. As crianças com TEA terão dificuldade de
entender regras e limites, mas ainda assim precisam entender, desde cedo, o que é
permitido e o que não é nos ambientes onde ele circula.

6 – Seja criativo

Afinal, se educar e entreter uma criança neurotípica (crianças que não estão no espectro
do autismo) já é difícil, é preciso ser ainda mais criativo com um autista. Pense além do
óbvio, pois essas crianças nunca vão entregar um resultado padrão. Pesquise novas
brincadeiras e estimule o aprofundamento nos temas de interesse.

7 – Deixe-os em contato com animais

Estudos recentes demonstram que crianças autistas ficam mais à vontade com animais
de estimação. Vale qualquer bicho que a criança ou o adolescente goste, mas cães de
pequeno e médio porte podem ser ainda mais eficazes. Se estivermos falando de um
autista severo, esteja junto sempre que houver interação, para evitar que uma crise de
agressividade ou simplesmente o comprometimento cognitivo dessas pessoas prejudique
o bem-estar do animalzinho.
Como lidar com o autismo: conheça os direitos previstos em lei 6
A legislação brasileira vem fazendo esforços e avanços no que diz respeito a como
lidar com o autismo. Por isso, aprovou, em 2012, a Política Nacional de Proteção dos
Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, colocando o autismo no mesmo
patamar de outras deficiências e tendo os mesmos direitos garantidos às outras
formas patológicas.  Além disso, o SUS também garante o tratamento do Transtorno do
Espectro Autista.

As leis também preveem um auxílio para famílias de baixa renda, administrado pelo
INSS. Nesse caso, se além da baixa renda for comprovada a incapacidade de
providenciar o sustento, a pessoa autista pode o Benefício de Prestação Continuada
(BPC/LOAS), auxílio para custear as necessidades básicas de alimentação, saúde e
moradia.
Como lidar com o Autismo: tornando a escola o ambiente ideal
Além dos pais e da família, a escola precisa ser preparada para receber o aluno com
autismo e saber como lidar. No Brasil, até o final de 2019, havia apenas uma escola 100%
voltada ao ensino de pessoas autistas. O projeto, que fica em Curitiba, é gerido pela
prefeitura.

Enquanto a realidade para o restante do Brasil não é de adequação, os pais precisam


contar com iniciativas das escolas públicas e privadas que buscam fazer o possível
para tornar o ambiente “normal” menos agressivo ao autista.

Como lidar com o autismo em sala de aula 9

 Iniciar a adaptação do aluno e da escola desde o ensino infantil;


 Constante participação da família;
 Manter a sala de aula organizada e com a mesma distribuição mesas e cadeiras
todos os dias;
 Utilizar materiais e móveis adaptados;
 Utilizar recursos visuais e coloridos no aprendizado;
 Manter uma rotina semanal de horários e atividades.
Todos os casos comentados neste artigo mostram que a criança autista precisa muito
do apoio da sociedade, a começar por não serem encarados nem tratados como
doentes ou incapacitados. Independente se você tem ou não um parente
diagnosticado com TEA, aproveite para exercitar a empatia e fazer a sua parte. Busque
conversar com os pais destas crianças e também compartilhe o que você aprendeu
para que o Autismo deixe de ser um tabu e passe a ser parte dos debates e iniciativas
diárias.

Colaborou com esse artigo:

Dra. Fabrícia Signorelli Galeti


Psiquiatra – CRM 113405-SP

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