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AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRA LEILÃO

O deferimento total ou parcial da pretensão recursal, em antecipação da tutela, por


decisão monocrática do relator, é cabível quando estiverem evidenciados, de um lado,
a probabilidade do direito (que, no caso, consiste na probabilidade de provimento do
recurso), e, de outro, o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo (CPC,
art. 1.019-I, c/c art. 300).

Embora as alegações da parte agravante, julgo não estarem presentes os requisitos


necessários para o deferimento da tutela recursal antecipada, entendendo deva ser, por
enquanto, mantida a decisão agravada, por estes fundamentos:

(a) o juízo de origem está próximo das partes e dos fatos, devendo ser prestigiada sua
apreciação dos fatos da causa, não existindo nos autos, nesse momento, situação que
justificasse alteração do que foi decidido;

(b) a decisão agravada está suficientemente fundamentada, neste momento parecendo a


este relator que aquele entendimento deva ser mantido porque bem equacionou as
questões controvertidas; e

(c) a probabilidade de provimento deste agravo de instrumento é escassa, considerando


que: 

(c.1) a inadimplência é incontroversa e autoriza o início do procedimento de


consolidação da propriedade do imóvel, que não é suspenso apenas porque o mutuário
tem interesse em quitar a dívida ou porque ajuizou ação;

(c.2) o direito à moradia e os princípios da continuidade dos contratos, da boa-fé


objetiva, da legalidade, do devido processo legal, da ampla defesa e do
contraditório devem ser interpretados harmonicamente com as demais normas
incidentes no caso concreto e, na espécie, não são capazes de afastar as obrigações
assumidas pela parte autora ou tornar ilegal o procedimento extrajudicial adotado;

(c.3) o desrespeito ao prazo do art. 27 da Lei 9.514/1997 não implica na anulação do


procedimento de consolidação da propriedade (já perfectibilizado em momento anterior)
ou do procedimento posterior de leilão, considerando que a demora, a princípio, não
traz prejuízo ao devedor. Pelo contrário, a inércia da CEF tende a beneficiar o mutuário
que pode se manter na posse do bem por mais tempo;

(c.4) o registro da consolidação da propriedade do imóvel ocorreu após as modificações


da Lei 9.514/1997 pela Lei 13.465/2017, de modo que não cabe mais a purga da mora
posteriormente a averbação, na matrícula do imóvel, da consolidação da propriedade
fiduciária, possibilidade antes reconhecida pela jurisprudência, sendo possível,
contudo, o exercício do direito de preferência até a realização do segundo leilão (art. 27
- §2º-B da Lei 9.514/1997), como mencionado pelo juízo de origem.

Ante o exposto, indefiro o pedido de antecipação da tutela recursal.

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