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Capítulo 6

OS SOFISTAS

Na Grécia Antiga, o período pré- retórica o que se coloca em foco


socrático foi dominado, em grande par- não é necessariamente a verdade
te, pela investigação da natureza. Essa acerca dos fatos, mas os aspec-
investigação consistia na busca de ex- tos que podem melhor convencer
plicações racionais para o universo e persuadir. Por isso, muitos filó-
manifestando-se na procura de um sofos acusavam os sofistas de
principio primordial de todas as coisas não terem compromisso com a
existentes, seguiu-se a esse período verdade.
uma nova fase filosófica, caracterizada Etimologicamente o termo sofis-
pelo interesse no próprio homem e nas ta significa ―sábio‖. Entretanto,
relações politicas do homem com a com o decorrer do tempo ganhou
sociedade. Essa nova fase foi marcada sentido de ―impostor‖, devido,
no inicio, pelos sofistas. sobretudo às criticas de Platão.
Os sofistas eram professores viajan- Desde então se considerou a
tes que, por determi- sofistica, apenas uma atitude vici-
nado preço vendiam osa do espirito, uma arte de mani-
ensinamentos práti- pular raciocínios, de produzir o
cos de filosofia. Ensi- falso, de iludir os ouvintes, sem
navam conhecimen- qualquer amor pela verdade.
tos úteis para o su- 5.1 Protágoras de Abdera
cesso nos negócios Nascido na cidade Abdera, pro-
públicos e privados. vavelmente em
Cada sofista tinha o 480 a.C., é
domínio de um con- considerado o
junto de conhecimen- primeiro e um
tos que ensinava pa- dos mais im-
Os sofistas eram professores viajantes que, por ra seus alunos. Mas portantes so-
determinado preço vendiam ensinamentos práti-
cos de filosofia. As lições sofistas tinham como
em geral, pratica- fistas. Ensinou
principal objetivo o desenvolvimento da argumen- mente todos os sofis- por muito tem-
tação, da habilidade da retórica, do conhecimento tas ensinavam a ha- po em Atenas,
de doutrina divergentes.
bilidade de falar bem. tendo como
Nesse período em principio bási-
Atenas, expressar-se bem em público co de sua dou-
era muito importante, porque as princi- trina a ideia de
pais decisões para a cidade e para os que o homem “O homem é a medida de
todas as coisas; daquelas
cidadãos atenienses eram tomadas é a medida de que são, enquanto são; e
em assembleias, por meio de votação. tudo o que daquelas que não são”.
Podemos considerar a retórica como Protágoras de Abdera 480 a
existe. 410 a.C.
a arte da persuasão, a qual, por meio O enunciado
de argumentos bem construídos, leva que resumo sua doutrina revela
os outros a concordarem como a opini- que ele, de forma critica e perspi-
ão de quem a exerce. Entretanto, na caz, percebeu o valor da relativo

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da verdade que havia nas teorias dos teses tão contraditórias em relação
filósofos do período cosmoló- a existência do ser que acabaram
gico. afirmando o contrario, ou seja, a
Conforme a concepção de existência do não-ser, isto é, do na-
Protágoras, todas as coisas da. Sendo que o nada não pode ser
são relativas às disposições pensado, não sendo pois, conhecido
do homem, isto é o mundo é o ou comunicado.
que homem constrói e destrói. De fato Górgias pôs de cabeça pa-
Por isso não haveria verdades ra baixo o pensamento de Parmêni-
absolutas. A verdade seria des ao afirmar que o ser não existe
relativa a determinada pes- e que o não-ser existe.
soa, grupo social ou cultura. Partindo dessas argumentações,
Parecia claro para Protágoras Górgias conclui que não existe um
que não existe verdade em conhecimento certo das coisas, ele
sentido absoluto, porque ela procurou mostrar tão somente o po-
depende de convenci- der das
mento, podendo, por- pala-
tanto, assumir valor v r a s ,
relativo ou subjetivo, não co-
isto é que é verdade mo ex-
O homem é a medida de todas coisas. A
frase de Protágoras tem sido reinterpre- para um pode não ser pressão
tada durante os séculos, a partir dessa verdade para outro. O da ver-
frase afirma-se que o conhecimento do homem é a medida dade,
mundo é uma criação humana; portanto
se constitui mediante o uso de nossa de todas as da verda- mas co-
capacidade de perceber e entender as de. Se assim é, o co- mo for-
coisas, que varia de pessoa para pessoa, nhecimento pode as- ça de
e de formar consensos¹.
sumir um caráter prá- persua-
Oratória é a arte de falar em público de forma
tico, uma vez que tudo depende estruturada e deliberada, com a intenção de são. Daí
de convencimento, daí a impor- informar, influenciar, ou entreter os ouvintes. o poder
tância da boa argumentação. da reto-
rica enquanto arte de persuadir e
5.2 Górgias de Leontini produzir crenças.
Górgias de Leontini, consi- As obras de retórica de Górgias
derado um dos grandes ora- ainda em existência (Encômio de
dores da Grécia, aprofun- Helena, Defesa de Palamedes, So-
dou o subjetivismo relativis- bre a Não-Existência e Epitáfio) fo-
ta de Protágoras a ponto de ram preservados através de uma
defender o ceticismo abso- obra chamada Technai, um manual
luto, negando de forma ra- de instrução retórica, que consistia
dical a possibilidade do co- de modelos a serem memorizados,
nhecimento. É dele a ex- e demonstrava diversos princípios
pressão máxima do ceticis- da prática retórica.10 Embora al-
“Bom orador é capaz de conven- mo formulada em três teses guns estudiosos tenham alegado
cer qualquer pessoa sobre qual- básicas; que cada uma dessas obra apresen-
quer coisa”. I. nada existe; ta afirmações contrastantes, os qua-
Górgias de Leontini 487 - 380
a.C. II. Se existisse, não poderia tro textos podem ser lidos como
ser conhecido; contribuições interrelacionadas à
III.Mesmo se fosse conheci- arte (technê) e à teoria (então pro-
do, não poderia ser comunicado a missora) da retórica.
ninguém.

Para Górgias, os filósofos produziram

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