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Resumo para a frequência de Direitos Fundamentais

➔Introdução aos Direitos Fundamentais


Os Direitos Fundamentais são direito publico mas também é direito internacional e
direito da União Europeia. Mesmo dentro do Direito Constitucional ou do Direito
Internacional há uma perspetiva diferente: o Direito Organizatório. Os problemas nas
relações entre Direito Interno e Direito Internacional resulta em conflitos normativos,
pelo que é necessário estabelecer uma hierarquia. Falar de Direitos Fundamentais/
Humanos é indiferente. Trata-se de uma questão de terminologia.

✓ Noção de Direitos Fundamentais/ Humanos Filosóficos


Significa que como todos são pessoas têm direitos humanos (Ideia de Jusnaturalismo): é
uma primeira ideia de que os homens têm direitos por serem humanos.

✓ Noção de Direitos Fundamentais/ Humanos Jurídicos


Os Direitos Fundamentais/ Humanos são posições jurídicas ativas das pessoas jurídicas
singulares, mais tipicamente frente ao poder, tendo por base a dignidade da pessoa
humana.
As noções destes direitos podem ser ampliativas ou restritivas. A definição em cima
referida é restritiva e é uma das correntes possíveis mas não a corrente maioritária.
• Posições jurídicas ativas: faculdades, poderes, vantagens, são direitos. Para uma
parte dos autores são direitos apenas das pessoas singulares. No entanto, para uma
noção ampliativa são direitos de todas as pessoas jurídicas quer sejam singulares
quer sejam coletivas.
• Tipicamente frente ao poder: os Direitos Fundamentais quando surgem é para
defender os indivíduos do excesso do poder. É evidente que dessa relação, (apartir do
momento em que os direitos estão garantidos) surge uma segunda preocupação: a
dignidade. Os Direitos Fundamentais vinculam toda a gente (particulares, públicos).
Os particulares também têm obrigações de cumprir os Direitos Fundamentais de
terceiros. O Estado/ Poder intervêm no sentido de limitar uma pessoa por causa dos
seus direitos. Existe o poder e a comunidade. Em direito Constitucional só se trata o
poder, enquanto nos Direitos Fundamentais dão mais importância à comunidade, aos
indivíduos, do que ao poder.

✓ Todos os Direitos são iguais? Surgem todos ao mesmo tempo?


Não.

✓ O que se pode confundir com Direitos Fundamentais


• Deveres, obrigações, vinculações, adstrições: estão também relacionados com a
dignidade da pessoa humana, por exemplo: dever de pagar impostos.
• Figura das Situações Funcionais: enquanto nos Direitos Fundamentais têm-se
poderes e comunidade, nas Situações Funcionais desaparece a comunidade. Elas são
ou poderes ou deveres dentro do próprio poder. São situações em que determinados
títulos tem determinadas obrigações. O que os afasta são os titulares dessas
obrigações, por exemplo: o Estado/ Deputados têm determinados tipos de faculdades
que os cidadãos não. Não são Direitos Fundamentais mas faculdades.

➔Tipologias de Direitos Fundamentais


• 1ª Fase de Direitos: Direitos Civis/ Pessoais. A primeira preocupação destes
Direitos foi o direito à vida; á integridade física; liberdade de consciência; expressão;
religiosa.
• 2ª Fase de Direitos: Direitos Políticos. Estes vão alargar, o que traz uma mudança
relevante para os direitos fundamentais. Assim, a seguir aos direitos pessoais
encontram-se os direitos políticos.
• 3ª Fase de Direitos: Direitos Económicos, Sociais e Culturais. Enquanto os da 1ª
e 2ª fase estão associados por terem o mesmo tipo de regime, estes têm uma natureza
completamente diferente. Assim, as suas diferenças são:
o Os direitos pessoais e políticos são em primeiro plano direitos negativos.
Espera-se do poder uma omissão, isto é, que não ponha em causa os direitos. É
um espaço em que se espera que não se envolva. Nos direitos económicos espera-
se o oposto. Seja o que for pedido, espera-se que o Estado faça. Assim, são
direitos a uma prestação.
o Enquanto nos direitos pessoais se pede ao Estado uma omissão, nos Direitos
Fundamentais de prestação é diferente pois tem custos. Assim, o Estado está
vinculado. Já nos direitos políticos não é possível exigir o que não se pode.
o Não é uma questão de apenas garantir mas também de escolher. É possível
escolher nos direitos económicos entre os vários direitos, já que os recursos são
poucos. Mas já não é possível escolher nos direitos pessoais.
• 4ª Fase de Direitos: Direitos que resultam da Globalização. Resultam da
Comunicação, da Socialização.
• 5ª Fase de Direitos: Direitos das pessoas face a si próprios. Direitos que o próprio
poder limita para que as próprias pessoas não o coloquem em causa. Há uma
preocupação para avisar as pessoas sobre determinadas condutas.

➔Direitos, Liberdades e Garantias


Em Portugal, utiliza-se a expressão: Direitos, Liberdades e Garantias. Não são só
Direitos Pessoais, Políticos ou Económicos, Sociais e Culturais. A CRP faz uma
distinção: os Direitos Económicos, Sociais e Culturais integra-se os Direitos dos
Trabalhadores mas a CRP separa esses direitos numa outra classificação. Tem-se em
Portugal quatro regimes.

✓ Direitos, Liberdades e Garantias são a mesma coisa?


Não.
Direitos e Liberdades: são iguais e referem-se aos próprios bens jurídicos, por
exemplo: os bens como a vida.
Garantia: é um mecanismo de defesa de direitos e liberdades, por exemplo: a proibição
da pena de morte é uma garantia à vida. É um mecanismo meramente instrumental.
➔Direitos Individuais e Direitos Coletivos
Individuais: direitos de sujeitos singulares.
Coletivos: direitos de um conjunto de sujeitos.
A sua diferença está no exercício, pois os direitos individuais são de sujeitos singulares
e o exercício de direitos coletivos tem de ser feito num conjunto de sujeitos.
Direitos Transindividuais: a própria titularidade do direito é de uma entidade que não
a pessoa singular. É de comunidades, de grupos, como por exemplo: as nações. O
direito é do grupo e não de cada pessoa que a constitui.

➔Direitos Comuns e Direitos Particulares


Comuns: partilhados por todos os homens. São de todos e comuns a todas as pessoas/
indivíduos/ cidadãos.
Particulares: direitos de determinados grupos (alunos/ professores/ pais). Não são
privilégios. Não existe nenhuma discriminação.

➔Correspondências do Direito Interno e do Direito


Internacional
A maior parte dos direitos encontram-se nos tratados da comunidade internacional
(artigo 2º da Convenção de Viena). Todo e qualquer acordo concluído por escrito entre
Estados independentemente da designação que possa ter, incluiu tratados, convenções,
acordos. A CRP declara que são tratados: atos de natureza internacional mas que sejam
ratificados pelo Presidente da República, o resto são acordos. Na CRP a expressão
ampla são convenções.

✓ Relações entre o Direito Internacional e Direito Interno


É uma questão não consensual, já que, o Direito Internacional nada trata e o Direito
Interno pouco trata. Qual é o problema? Temos uma ou mais ordens jurídicas? Temos
apenas uma, não há dualismo. A evolução do Direito Internacional mostra que o Direito
Interno não consegue resolver determinadas matérias que só assim, podem ser
resolvidas pelo Internacional. Como se trata de um monismo (um só ordenamento com
dois componentes) quando há choque entre o Interno e o Internacional, qual prevalece?
O Direito Internacional.
Que Direito está acima da CRP? O Ius Cogem - Direito Supra Constitucional (artigo 53º
e 56º - CV). Não tem uma própria noção mas entende-se por um conjunto de normas
estruturadas, essenciais ao funcionamento da sociedade internacional. São todos os
direitos.
Ius Cogem não é uma fonte de Direito. São um conjunto de matérias que tanto pode ser
costume como tratado. Assim distingue-se:
No artigo 8º, nº1 da CRP: Costume que se encontra acima da CRP. E no nº 2 os
Tratados que têm de ser ratificadas ou aprovadas para vigorarem na ordem interna.
Independentemente da forma, o Ius Cogem encontra-se acima da CRP. Os restantes
tratados estão abaixo da CRP mas acima da Lei, dos aspetos normativos. Dentro dos
Direitos Fundamentais (Pessoais, Políticos e duvidosamente dos Económicos, Sociais e
Culturais) são Ius Cogem.
Um tratado contra o Ius Cogem é inválido/ nulo (53º, 64º - CV). Aqueles que
porventura já existiam também podem se tornar nulos.
Há Direitos Ius Cogem que a CRP não pode contrariar e depois há Direitos que não são
Ius Cogem. Em termos da Hierarquia, nos Políticos temos tratados Ius Cogem mas nos
Económicos não, são apenas tratados.

➔Direito da União Europeia


• Organizações Supra Estaduais
• Organizações Inter Estaduais

Os Estados que mal entram na Organização submetem-se ao seu Direito. É diferente do


Ius Cogem, que se impõe aos Estados. Já na Organização os estados são livres de aderir.
Consequência: este Direito da União Europeia esta acima do Direito Português. Ele é
supra constitucional, está acima da CRP (artigo 8º, nº2). Seja qual for a fonte, o Ius
Cogem prevalece sobre o Direito da União Europeia.

➔Parte histórica dos Direitos Fundamentais


Duas vertentes: Interna e Internacional.
Primeiro surge as vertentes internas. Só se vê direitos internacionais após a segunda
Guerra Mundial, já as internas revelaram indícios a partir das Revoluções Inglesas
(1640 – Puritana e 1688 – Gloriosa).
O que fizeram as Revoluções Americana e Francesa em Portugal?
Deram uma forma sistemática aos Direitos Fundamentais. Trouxeram os Direitos
Fundamentais numa Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão que é diferente da
Declaração Universal dos Direitos do Homem (texto internacional). Essa declaração foi
uma consequência direta da Revolução Francesa. Assim, em Portugal seguiram a
mesma evolução dos Franceses e em 1820 dá-se a Revolução Liberal que leva à CRP de
1822 com Direitos Pessoais. Fala-se numa Constituição censitária, capacitaria. Pouco
tempo depois, surge a Carta Constitucional que não foi uma evolução mas uma
regressão. É um texto escrito pelo Rei e por isso, é muito limitada, tendo apenas um
artigo, embora longo, com Direitos Fundamentais. Ainda em 1911 apresenta os mesmos
Direitos que a Carta Constitucional. Com o Estado Novo, surge a CRP de 1933. É a
antítese do que seria um Estado defensor de Direitos Fundamentais, pois é um Estado
autoritário que não tinha essa preocupação. Era uma Constituição bizarra, pois os
direitos que o Estado pudesse colocar em causa eram restringidos.
Na Constituição de 1976 pegou-se no que havia de Direitos Fundamentais, da CRP
Alemã e traduziu-se para português. Assim, a base da CRP Portuguesa é a CRP Alemã
(artigo 18º, nº2 e 3º). São uma resposta à CRP de 1933, colocando restrições para que
não se volte a repetir o passado. Por fim, a CRP de 1982 é moderna mas pouco realista,
provocando um choque entre a CRP e a Realidade. Ganha a Realidade. Quanto aos
Direitos, Liberdades e Garantias estão perfeitos já quanto aos Direitos Económicos,
Sociais e Culturais não, pois há uma falta de recursos e assim, só se os reconhece pela
metade.

➔Direitos Internacionais
Convenção de Genebra: tratam os Direitos daqueles que participam em conflitos
internacionais (por exemplo a guerra que põe em causa o direito à vida, à integridade
física) e inter estados, causando mais tarde as Guerras Frias.
Depois da 2ª Guerra Mundial e, ainda antes, criou-se a situação de se preocuparem com
o que nunca se preocuparam: os Direitos Humanos. Enquanto em termos Internos já
havia uma certa preocupação com os Direitos Fundamentais no século XVII, em temos
Internacionais, essa preocupação só nasce no século XX.
Os Estados Internos que defendem os Direitos Fundamentais têm lugar na participação
de Organizações Internacionais, os que não respeitam não participam e muito
dificilmente farão por respeitar, pois pensam que se trata de questões relacionadas com
o Direito Interno e não com o Direito Internacional. Assim, seria necessário uma
Organização que pudesse intervir a nível interno para resolver essas questões ao nível
de Direitos Fundamentais.

➔ Sistema Internacional Geral


O Direito Internacional Geral dos Direitos Fundamentais.
Inicialmente, consta no Costume Internacional mas acima de tudo nos textos escritos –
tratados. O primeiro tratado a surgir é a Carta das Nações Unidas, que mais do que
prever Direitos Fundamentais faz uma referência genérica do reconhecimento dos
Direitos Fundamentais. Ela diz que estão conscientes dos Direitos Fundamentais, mas
quais? (ver artigos 1º, nº2 e nº3, artigo 2º, nº7 e artigo 13º). Tem como órgãos o
conselho económico e social (artigo 61º e ss).
No artigo 102º, nº 2 e 103º da Carta, refere que, em caso de conflitos prevalece a Carta
porque ela é globalmente um texto Ius Cogem, embora tenha por exemplo, questões de
prazos que não são Ius Cogem. Ela é um tratado que está acima de todos os outros
tratados pelo que estão submetidos a ele e se tentarem confrontar, esses tratados serão
nulos.

➔ Declaração Universal dos Direitos do Homem


Tem uma importância simbólica por ter sido o primeiro ato de natureza internacional a
consagrar os direitos do Homem. A Declaração Universal dos Direitos do Homem é o
primeiro texto (não houve nenhum anterior relativamente a Direitos), daí a sua
importância.
É uma mera enunciação de princípios, não vinculada nada, é o que se designa de SOFT
LAW (é quase direito, atos de natureza não vinculativa). A SOFT LAW são textos
parecidos com textos jurídicos, mas não o é, é meramente enunciativa. Não é um
tratado, isto é, a situação originária não é vinculativa, não tem mecanismos de garantia,
mas aos poucos sofreu alterações. Tornou-se direito e deixou de ser SOFT. Como foi
feito: através de um mecanismo: costumeira (direito no qual o costume tinha uma
grande importância). Os Estados não estavam vinculados mas foram observando a
declaração. Há uma interação entre tratado, costume e direito internacional. Portanto, a
declaração foi ganhando uma natureza vinculativa através do uso e do costume.
Em Portugal, a declaração é recebida, integrada e interpretada pela CRP, que refere que
se vincula à declaração e se submete a ela. Em termos de hierarquia a CRP encontra-se
num plano inferior à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Tal não faz sentido,
pois a DUDH é um texto muito mais básico que a CRP, que é um texto com uma
densidade jurídica superior.

✓ Conteúdo da Declaração Universal dos Direitos do Homem


A Declaração Universal dos Direitos do Homem pretende ser em primeiro, o catálogo
desses direitos (direitos pessoais, políticos, económicos, sociais e culturais). Estes não
se encontram no mesmo nível: os direitos pessoais (artigo 3º - 20º); direitos políticos
(21º); direitos económicos, sociais e culturais (22º - 28º); deveres (29º) e uma norma
interpretativa a fechar o texto (30º).
Todavia nestas declarações temos em primeiro lugar: o preâmbulo: referencias à
dignidade da pessoa humana, causas que levaram à criação da declaração.
Em segundo lugar temos a proclamação: feita pela Assembleia Geral que proclama e
confirma que a declaração é apenas uma proclamação da Assembleia Geral das Nações
Unidas.
Artigo 1º: Princípio da Universalidade (“Todos os seres humanos”); Princípio da
Igualdade (“todos nascem livres e iguais”).
Artigo 2º: Tem os mesmos princípios que o artigo 1º mas numa vertente negativa (“sem
distinção alguma … de qualquer outra situação”).
Artigo 3º: finalmente o dito catálogo, ou seja, no mesmo artigo encontra-se tratado
todas as questões. Na CRP não é assim, existe um artigo para cada direito (direito à
vida, à liberdade e à segurança /garantia).
Artigo 4º e 5º: é uma garantia, mas falta referir os direitos. Deveria referir em primeiro
lugar os direitos e só depois as garantias tal como a CRP. O mesmo se passa com os
princípios, na DUDH aparece de uma forma espalhada, na CRP ou outros textos aparece
de uma forma homogénea. Ainda em termos pessoais (direito à vida, liberdade), na
declaração refere artigos de natureza politica que consagram princípios pessoais (artigo
9º: Principio da Liberdade). Só há crime/ sanção sem lei (artigo 11º: Principio do
Tratamento mais favorável que é uma manifestação do Principio da Liberdade – “ não
será infligida pena … foi cometido”). Mais um princípio que é encontrado de forma
mais sistemática na CRP.
Artigo 17º: não é tratado como direito pessoal, mas originariamente entendia-se que a
propriedade era pessoal. Mais tarde, entende-se que a propriedade será apenas de
natureza social e não do individuo.
Artigo 18º: Liberdade de pensamento, de consciência e de religião: a liberdade de
consciência antecede a liberdade de expressão (artigo 19º).
Artigo 20º: Liberdade de reunião e manifestação: ainda são direitos pessoais e não
políticos, pois as pessoas podem-se reunir sem ser por motivos políticos.
Artigo 21º: Direitos Políticos: direito de sufrágio.
Artigo 22º: Direitos Económicos, Sociais e Culturais: direito á segurança social
(Princípio da Universalidade).
Artigo 23º: direito ao Trabalho: enquanto a CRP trata o direito ao trabalho como um
direito, liberdade e garantia, a declaração trata como direitos económicos, sociais e
culturais, logo há divergência. Deveria estar em primeiro o direito ao trabalho e só
depois o direito à segurança social.
Artigo 26º: Direito à educação: aqui apercebe-se que, a declaração estava mais evoluída
que a CRP, já que só adotou estas leis passado décadas.

➔ Pacto Internacional entre Direitos Civis e Políticos


Assinado em 1966 mas só entra em vigor em 1976, pois só aí se vincularam Estados
suficientes. O preambulo faz uma breve referencia à Carta das Nações Unidas (natureza
genérica sobre os direitos do homem) e à Declaração Universal dos Direitos do Homem
(já é um catálogo, onde refere mais matéria). A quarta parte trata dos mecanismos de
Direitos Fundamentais, de Direitos Humanos. Não há garantias, Tribunais, mas há esses
mecanismos.
Artigo 28º: Comité dos Direitos do Homem (existem como forma de garantia a esses
direitos). Enquanto na declaração não tem isto porque não é obrigatório, tem aqui pelo
seu carácter de obrigatoriedade, pois este pacto tem como base os direitos pessoais.
O pacto está dividido em duas partes: Parte de Direitos Civis/ Pessoais e uma pequena
parte dedicada a Direitos Políticos.
É um tratado, uma convenção internacional, tem artigos relativos a garantias,
liberdades, sanções. Como começa? Tratando de, direitos transindividuais (relativos aos
povos – artigo 1º). Já o artigo 2º refere-se aos compromissos dos Estados – Princípio
da Igualdade. Tal como acontece com a Declaração, este pacto não é perfeito e por isso,
os princípios (Principio da Universalidade e Principio da Igualdade) aparecem em todos
os artigos. Assim, o Principio da Universalidade aparece no artigo 6º/1 e o da Igualdade
no artigo 15º/1 – 23º/4).
O artigo 4º é extremamente importante mas pela negativa. Tem o Principio da
Igualdade mas, o artigo está associado a uma suspensão, relacionada com o artigo 19º -
Principio da Proporcionalidade “na estrita medida”. Será que todo e qualquer direito
pode ser suspenso? Não, existem direitos que não podem ser suspensos. No artigo 4º/2
refere quais os artigos que não podem ser derrogados.
Artigo 6º: Direito à vida.
Artigo 7º: Integridade Pessoal.
Artigo 8º/1 e 2: Direito à Liberdade (distinção porque o 8º não é considerado na
íntegra, as matérias do nº 3 são suscetíveis de derrogação, enquanto o nº 1 e 2 não
podem ser suspensos).
Artigo 11º: Direito a não ser preso por dívidas.
Artigo 15º: Princípio da legalidade e do tratamento mais favorável.
Artigo 16º: Personalidade Jurídica.
Artigo 18º: Liberdade de Pensamento, Consciência e Religiosa.

✓ Catálogo de Direitos Fundamentais no Pacto Internacional sobre Direitos


Civis e Políticos
São quase todos os artigos sobre Direitos Civis e uma pequena parte Direitos Políticos.
Artigo 6º/1: qualquer pessoa pode ser privada da vida desde que, não arbitrariamente.
Artigo 6º/2: a pena de morte é possível desde que não seja arbitrária e para crimes mais
graves. Há limitações: têm de se maiores e não crianças, e as mulheres não podem estar
grávidas (artigo 6º/5).
Artigo 6º/4: um condenado à morte poderá solicitar a amisticia.
Artigo 8º: ninguém será submetido à escravidão. Trata o princípio da liberdade nas suas
várias vertentes. NOTA: ler em primeiro lugar o artigo 9º e depois o 8º artigo.
Artigo 9º e 8º: Direito à Liberdade.
Artigo 10º: Liberdade de Circulação (liberdade de deixar o país).
Artigo 14º: Princípio da Igualdade (perante os Tribunais). No nº 2 do artigo 14º temos
presente o princípio da presunção da inocência.
Artigo 15º: Direito Penal.
Artigo 16º: Personalidade Jurídica.
Artigo 18º: Liberdade de Pensamento, Consciência e Religiosa.
Artigo 19º: Direito de Expressão, liberdade de reunião, de manifestação, que se
distingue do direito de associação.
Artigo 20º: Direito de Família.
Artigo 23º/4: Princípio da Igualdade (família).
Artigo24º: Direitos relativos à criança.
Artigo 25º: Direitos Políticos – o principal é o direito do sufrágio (25º/b). A declaração
é mais simpática para a votação do voto secreto. A diferença é que no artigo 21º/3, diz
“ou segundo processo equivalente … liberdade de voto”, enquanto no pacto não há
alternativa ou é por voto secreto ou não é.
Artigo 28º: Qual é o mecanismo de garantia? É um mínimo, não tem natureza
jurisdicional. Em direito internacional, essa natureza é limitada. O Tribunal
Internacional de nada pode fazer, pois só resolve litígios entre Estados (34º/1). Já o
Tribunal Penal Internacional é melhor, tem uma maior competência mas novamente
limitada (5º/1), ou seja, ainda se está longe da tutela nos termos do direito internacional.
Se a Tutela jurisdicional é circunscrita, sobra o resto que é uma tutela política
administrativa constituída por o Comité dos Direitos do Homem. Como funciona?
Numa primeira ideia, esta tutela tem natureza facultativa. Os Estados Partes podem não
estar vinculados à 4ª parte do Pacto. A sua participação não é obrigatória para esta parte.
Para além de assinar, ratificar e vincular não é suficiente para ativar a 4ª parte, faltando
uma declaração dos Estados. Assim, não será obrigatória mas facultativa. Se 10 Estados
não tivessem feito a declaração, esta parte não seria sequer colocada no tratado.
Para o pacto entrar em vigor seria necessário 35 ratificações ou adesões (artigo 49º/1).
Já para a parte 4 era necessários 10 Estados para vincular (41º/2).
Se um Estado entender que outro Estado violou o direito internacional apresenta uma
comunicação, se o problema se resolve não há a intervenção do comité dos direitos do
Homem, se ainda com a sua intervenção não ficar resolvido, o comité deverá apresentar
um relatório (artigo 41º/h) e (artigo 45º).
Enquanto os artigos 41º e 42º fala em Estado e Comité, no artigo 2º refere Particulares
(Protocolo Facultativo do Pacto Internacional), ou seja, tem-se a criação de um
mecanismo complementar que faculta a legitimidade dos particulares para apresentarem
comunicação escrita ao Comité para que este a examine. No entanto, as más notícias é o
que é um protocolo? Artigo 8º, é um tratado, ou seja, para que os indivíduos possam
exercer este direito, direito à comunicação é necessário que:
• Estado tem de se ter vinculado ao Tratado;
• Tem de ser feita a declaração do artigo 41º;
• O Estado tem de ratificar um outro tratado (protocolo);

➔ Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais


e Culturais
É o segundo grande pilar de direitos fundamentais. Criado juntamente com o Pacto
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, ou seja, em 1966 e entrado em vigor em
1976. Nos anos 50 e 60 o mundo estava dividido em dois: o Mundo Oriental e o Mundo
Ocidental. Eram mundos com perspetivas muito diferente o que levou à dificuldade de
fazer só um Pacto pelo que, foram necessários dois, foi um compromisso das partes. Os
dois pactos têm semelhanças mas também diferenças, nomeadamente:
• Reporta-se à própria natureza: os direitos civis e políticos são direitos de
omissão enquanto os direitos económicos, sociais e culturais são direitos positivos.
São, portanto, direitos com características diversas. Neste pacto, no artigo 2º/3, em
relação ao estrangeiro podem determinar os direitos económicos, sociais e culturais
presentes no Pacto a não nacionais. Também no artigo 4º quando fala em limitações
não significa nada.
• Quanto á liberdade dos Estados: os Estados estão mais vinculados, soberanos
aos Direitos Civis e Políticos, já que para Direitos Económicos, Sociais e Culturais
os Estados necessitam de recursos pois esses direitos implicam custos.

✓ O que temos? Qual é o direito essencial neste Pacto?


É o Direito ao Trabalho, Direito relativo ao Trabalhador. Surgem em primeiro o Direito
ao Trabalho e só depois o Direito à Segurança Social (artigo 6º, 7º, 8º e 9º). No artigo
10º já trata de direitos relativos à Família, o artigo 12º refere direitos à Saúde e o 13º à
Educação. Já o artigo 15º trata a vida cultural. Por outro lado, não é só na natureza que é
diferente, a própria extensão também é diferente. É mais extensa nos Direitos Civis e
Políticos. Enquanto nos Direitos Económicos, Sociais e Culturais o procedimento é
mais limitado, tem também garantias mais limitadas que nos Civis e Políticos.
Uma violação deste pacto no âmbito jurisdicional não tem qualquer consequência.
Surge um Protocolo Facultativo dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais, assinado
em 2009 e entrado em vigor em 2013. A sua importância permite alargar aos indivíduos
a possibilidade de fazer comunicações, ou seja, queixas ao Estado.
No artigo 2º, as comunicações podem ser feitas por indivíduos ou grupos de indivíduos
que aleguem ser vítimas de Estado Parte relativamente a Direitos Económicos, Sociais e
Culturais (artigo 3º). Estes dois artigos serão os essenciais.

➔ Convenção para a prevenção e repressão do crime de


genocídio
Integra essencialmente o direito à vida e o direito à integridade. O que é? O genocídio é
um crime do direito dos povos, seja cometido em tempo de paz ou em tempo de guerra,
que desde já se comprometem a prevenir e a punir.
Esta convenção foi realizada logo a seguir à 2ª Guerra Mundial, porque no período entre
guerras e durante a guerra, os Estados tornaram-se um perigo para os próprios cidadãos.
Esta convenção é o resultado imediato dessa situação. Embora tenha erros técnicos a sua
existência foi muito importante. Sendo assim, de acordo com artigo 2º o genocídio são
os atos cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional,
étnico, racial ou religioso, como:
• Assassinato de membros do grupo;
• Atentado grave à integridade física e mental dos membros do grupo;
• Submissão deliberada do grupo a condições de existência que acarretarão a sua
destruição física, total ou parcial;
• Medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo;
• Transferência forçada das crianças do grupo para outro grupo;
Portanto, não se trata de um problema só com a vida/ homicídio, mas também há
genocídio relativamente à integridade física e mental dos membros do grupo. É evidente
que, há várias formas de genocídio, pode ter uma forma direta ou indireta e conseguir o
mesmo resultado. Assim, esta convenção pretende ser o mais abrangente possível ao
definir genocídio e também a definir as punições (artigo 3º).
Para evitar fuga, no artigo 4º, refere que quem quer que tenha cometido genocídio será
punido. No entanto, esta convenção pressupõe uma maior intervenção do Estado. No
artigo 5º, a convenção dá instruções/ indicações a serem seguidas pelo Direito Interno
de modo a prever sanções.
➔ Convenção contra a tortura e outras penas ou
tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes
É um texto tecnicamente mais desenvolvido e rigoroso. Enquanto o Direito
Constitucional tem apenas um artigo referente à tortura, aqui tem não só uma definição
como um mecanismo. Assim, a sua estrutura está dividida em:
1ª Parte: artigo 1º - 15º: no primeiro artigo tem-se a definição de tortura e nas restantes
fala do que os Estados podem fazer contra a tortura, isto é, exigências dos Estados.
2ª Parte: artigo 16º: atos próximos da tortura, isto é, penas cruéis.

→ Quanto às penas cruéis? Elas ainda existem, mas têm vindo a ser substituídas pela
pena de prisão. É melhor uma pena de prisão do que um desmembramento.
Noção de tortura: qualquer ato por meio do qual uma dor ou sofrimento agudos,
físicos ou mentais, são intencionalmente causados a uma pessoa com os fins de,
nomeadamente, obter dela ou de uma terceira pessoa informações ou confissões, a punir
por um ato que ela ou uma terceira pessoa cometeu ou se suspeita que tenha cometido,
intimidar ou pressionar essa ou uma terceira, ou por qualquer outro motivo baseado
numa forma de discriminação, desde que essa dor ou esses sofrimentos sejam infligidos
por um agente público ou qualquer outra pessoa agindo a titulo oficial a sua instigação
ou com o seu consentimento expresso ou tácito. Este termo não compreende a dor ou os
sofrimentos resultantes unicamente de sanções legítimas inerentes a essas sanções ou
por elas ocasionadas.
A tortura tem natureza pública mas é circunscrita. Num caso prático, deve-se verificar
cada um dos elementos para ter a certeza que se trata de tortura. A imposição de uma
pena de prisão, embora cause dor não é tortura.

✓ O que pode a Convenção fazer?


Pode desmontar a argumentação dos Estados.
Artigo 2º: medidas do Estado perante a tortura.
Artigo 2º/2: nem em tempo de guerra poderá haver tortura, para a obtenção de
informações.
Artigo 2º/3: os funcionários não estão autorizados a praticar atos criminais, pelo que,
não pode cometer tortura nem justificar com a autorização do seu superior – 271º/3 da
CRP.
Artigo 4º: Os Estados criminalizam a prática da tortura.
Artigo 9º: Compromisso dos Estados leva à colaboração entre eles. É importante saber
até onde se podia ir, para isso facultam toda a informação do processo para tal não
acontecer. Há também um dever de controlo, não se trata apenas de facultar informação
mas também de uma fiscalização à atuação.
Artigo 12º: Rigorosos Inquéritos.
Artigo 13º: Garantias às pessoas submetidas à tortura: direito de queixa (embora não
muito eficaz tem de se prever na mesma).
Artigo 14º: o bem jurídico que se protege é a integridade física e não a vida. Pretendem
prevenir a tortura e proteger a integridade da pessoa que acessoriamente esta associada à
vida.
Artigo 16º: não se reporta à tortura mas a quaisquer outros atos cruéis mas que não
sejam tortura, cometidos por um agente público. Nomeadamente, não é taxativa, as
obrigações previstas no artigo 10º, 11º, 12º e 13º são comuns às torturas e aos atos
cruéis.

✓ PARTE II: Garantias (mecanismos de Direito Internacional)


Artigo 17º: Comité contra a tortura.
Artigo 19º: Os Estados Partes apresentam relatórios sobre as medidas.
Artigo 20º: Se há informação de que houve tortura por parte de um Estado Membro,
esse será convidado a cooperar na verificação da informação.

➔ Direito Europeu
➔ Convenção Europeia dos Direitos do Homem
Teve sucessivos protocolos e por isso, foi-se atualizando. O catálogo dos Direitos
Fundamentais não é muito bem feito. É essencialmente um texto sobre Direitos
Pessoais/ Civis, havendo um protocolo onde estão alguns Direitos Políticos (Protocolo
nº11 – é o mais importante: a convenção tinha um sistema hibrido de tutela (comissão
europeia dos Direitos do Homem), este protocolo tornou a tutela jurisdicional, acabando
com a comissão).
Na Carta Social Europeia é que estão os outros direitos. Só se tornou vinculativa mais
tarde. Hoje está acima da CRP. Tem uma divisão diferente dos outros todos.
Artigo 1º: Estados estão obrigados a respeitar estes direitos mesmo que sejam
estrangeiros. Há dois protocolos sobre a proibição da pena de morte, já no artigo 2º não
é proibida, pois no número 2 alínea a) defende a legitima defesa.
A convenção não é garantística em matéria do direito à vida, possibilita-lhe restrições
(artigo 2º, nº2). Primeiro devia estar o número 5 e depois o número 4. O número 5 é
igual ao artigo 27º da CRP, mas a alínea e) vai mais longe do que a nossa CRP. Na
convenção há mais restrições ao Principio da Liberdade, na alínea e) essas restrições são
evidentes.
Artigo 7º: Tratamento mais favorável.
Artigo 15º: Restrições dos Direitos.
Artigo 16º: os artigos 10º, 11º, 14º podem ser restringidos se tiverem natureza política.
O Tribunal dos Direitos Humanos: esta parte distingue a convenção do resto dos textos.
Os indivíduos, organizações (não só os Estados) podem recorrer, apresentar queixas a
este Tribunal. Ao contrário do que acontece no Tribunal Penal, todos estes direitos de
convenção são aplicáveis ao Tribunal Europeu. Basta o Direito de uma pessoa ser
violado.
Este Tribunal não difere muito dos Tribunais Internos.
Artigo 23º: imparcialidade dos juízes, só assim faz sentido falar-se de Tribunal.
Artigo 22º: há um senão, os juízes são eleitos por um órgão tipicamente político, o que
faz com que às vezes o juíz seja partidário. A forma mais típica de funcionamento deste
Tribunal é o Tribunal singular (artigo 26º) já que o Tribunal pleno (17 juízes) é raro.
Artigo 43º: iniciativa das partes à posteriori.
Artigo 30º: iniciativa da secção.
Artigo 34º: faz a diferença de esta convenção para outras.
Artigo 35º: Princípio da exaustão dos recursos internos. Além da queixa da violação do
direito pode-se queixar da demora dos Tribunais Internos.
Artigo 36º/1: Princípio do Contraditório.
Artigo 39º: evitar audiências. Não há vendedor nem perdedor da causa.
Artigo 44º: sentenças são definitivas.
Artigo 46º: sentenças são vinculativas.
Artigo 41º: não se condena só o Estado, o Tribunal pode fixar para a parte queixosa e
que ganham a causa uma indeminização.
➔ Protocolo adicional á convenção de proteção dos direitos
do homem e das liberdades fundamentais (pág.219)
Artigo 3º: Direito Sufrágio/ Direitos Políticos

➔ Protocolo N 6º (pág.225)
Artigo 1º: relativo à proibição da pena de morte
Artigo 2º: exceções
NOTA: ver página 237 – complemento à convenção, trata do direito ao trabalho
essencial.

➔ Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia (28


Estados)
Tem força jurídica = tratados. Como os Direitos Fundamentais da União Europeia é
superior à CRP, esta Carta também é superior à CRP por força supra estadual.
A articulação deste texto é diferente da CRP. Não surgiu como vinculativo. Não à
divisão entre direitos pessoais, políticos, etc.
A Dignidade e Liberdade mistura liberdades pessoais com os económicos, sociais e
culturais (14º, 15º, 16º).
Provedor de Justiça Europeu (artigo 43º): uma queixa sobre o Estado não dá para
recorrer só provedor, só queixas de instituições, órgão ou organismos da União
(exemplo: um comité).

➔ Princípios da matéria de Direito Fundamental


1. Princípio da Universalidade
Seria o princípio mais importante dos direitos fundamentais, mas por questão de rigor
será o princípio da igualdade. Sem universalidade não há igualdade mas ao contrário já
não é verdade. O princípio da universalidade está presente no artigo 12º da CRP que diz
respeito aos estrangeiros e apátridas e aos cidadãos portugueses (artigo 15º). A
expressão “cidadãos” não é muito feliz pois em rigor deveria ser pessoas, pessoas
singulares com direitos e deveres fundamentais e não coletivas pois essas pessoas não
têm cidadania (artigo 12º).
Que portugueses são esses considerados cidadãos? A CRP não distingue cidadãos
portugueses originários de portugueses que adquirem a cidadania, mas á exceções,
como por exemplo o artigo 122º que menciona “portugueses de origem”.
No artigo 14º, o Principio da Universalidade concede aos cidadãos portugueses
estrangeiros a proteção do Estado, embora não residam no território.

2. Princípio da Equiparação
No artigo 15º encontram-se exceções nomeadamente no nº2 em que refere que aos
estrangeiros e apátridas não são concedidos direitos políticos e os direitos e deveres
reservados pela CRP e pela lei são exclusivamente dos cidadãos portugueses de origem.
Portanto, os estrangeiros não têm direitos políticos em Portugal, ou seja, não participam
na vida politica. Em contrapartida, podem exercer funções públicas desde que tenham
natureza essencialmente técnica. O nº2 parece tratar de todos os estrangeiros só que há
exceções (33º/8) que são direitos exclusivos dos estrangeiros.
✓ Diferenças entre Estados
• Cidadãos de Estados de Língua Portuguesa
• Cidadãos de Estados de União Europeia
Estes cidadãos destes Estados têm um regime diverso desde que tenham residência
permanente em Portugal e, que haja reciprocidade. É o regime mais benéfico para os
estrangeiros, desde que cumpram os requisitos (15º/3), podendo até ter cargos políticos.
Mas também há outro regime no número 5, em que qualquer cidadão de um Estado da
União Europeia residente em Portugal tem o direito de eleger e ser eleito Deputado ao
Parlamento Europeu.
Finalmente, no número 4, a lei pode atribuir aos residentes do território nacional, a
capacidade eleitoral ativa e passiva para eleição dos titulares de órgãos de autarquias
locais (freguesias, municípios).

3. Princípio da Igualdade
È o mais importante princípio do Direito Fundamental. Quando se fala no Principio da
Universalidade pergunta-se “quem tem direito?” já no Principio da Igualdade pergunta-
se “como são esses direitos?”, traduz uma forma qualitativa enquanto o da
Universalidade é uma forma quantitativa. São realidades que surgem próximas mas
distintas. Tem duas dimensões:
• Dimensão Positiva: 13º/nº1: “Todos têm este direito”.
• Dimensão Negativa: 13º/nº2: “Ninguém pode ser privilegiado…”
Todos os cidadãos têm a mesma dignidade, mas então e os estrangeiros? Tem que se
entender que é um princípio mas também é um direito pelo que leva-nos à equiparação
do artigo 15º, todos são iguais perante a lei, o que significa igualdade perante a lei?
Significa igualdade perante o direito. Obriga todas as funções do Estado a respeitar o
princípio da igualdade, isto é, o legislador está obrigado a respeitar quando elabora as
normas, assim como, a Administração Pública quando emana regulamentos ou até a
Jurisdição está vinculada à igualdade. Todos têm a mesma dignidade mas não é só isso,
é também uma dignidade social. Significa que a igualdade é tratada de várias formas: a
liberal (meramente formal) e a social.
Como se ultrapassa esta dignidade? Alterando o texto, o que levou às condições sociais
em que o Estado intervém na economia, visando uma igualdade formal mas também
real, tendo em vista os impostos para marcar a igualdade entre as diversas classes.
No artigo 9º refere as tarefas fundamentais do Estado, alínea d) que menciona a
igualdade real entre os portugueses. A ideia de igualdade social não exclui a formal mas
sim, a integra, encontram-se lá as duas.
No número 2, embora o preceito esteja “mal redigido” pois parece meramente taxativo
dá a entender que ele é meramente exemplificativo.
Este Princípio é o Igualdade mas é confundido com o Principio da Não Discriminação.
Ela é possível à luz da CRP? Sim, tem-se que tratar diferentemente o que é distinto. A
discriminação é a única forma de se chegar à Igualdade. Só não é possível a
discriminação arbitrária.
Portanto, são estes os aspetos principais do princípio da Igualdade. Ele não está apenas
no artigo 13º, ele está disperso para uma questão de ênfase porque o 13º seria suficiente.

4. Princípio da Proporcionalidade
Tem-se um princípio já apenas aplicável aos direitos, liberdades e garantias em duas
sedes: matéria de restrição de direitos e de suspensão (18º/2/3). Só se aplica aos direitos,
liberdades e garantias e encontra-se referido o principio da proporcionalidade quando
fala “limitar-se ao necessário”, por exemplo: 19º/4.
Adequação: as medidas tomadas devem ser adequadas ao que se pretende. Se o
resultado não for possível dessa maneira não haverá princípio da proporcionalidade.
Necessidade: deve sempre se recorrer ao meio que seja menos lesivo, ou seja, que
restrinja o menor número de direitos.
Justa medida: sempre que se restringe direitos, restringe-se para salvaguardar outros. O
Principio da Justa Medida significa que o custo da restrição ou suspensão não pode ser
superior à vantagem que se obtém. O princípio da proporcionalidade é acima de tudo
um princípio de equilíbrio, de custo.

5. Princípio da Proteção da Confiança ou da Segurança


A primeira ideia deste princípio é de irretroatividade e a segunda é a ideia do próprio
futuro que ainda assim, tem exceções. Não é para o passado, mas para o futuro que as
pessoas tomam decisões, só que essas decisões estão a ser defraudadas. É um princípio
muito bonito mas não tem um fundamento constitucional, ele está na CRP, mas foi
criado pela Jurisdição, pelo que não está verdadeiramente expresso.

6. Princípio do Direito à Proteção Jurídica


Presente no artigo 20º e contêm um conjunto de normas que não tem o mesmo alcance e
natureza. Começando pelo alcance: no nº5 é muito mais restrito que o restante artigo. Só
direitos, liberdades e garantias pessoais, excluindo os políticos. São direitos de natureza
análoga, mas também tem uma componente positiva, prestativa.

7. Princípio da Responsabilidade Civil Extracontratual


Exclui, desde logo, a responsabilidade contratual. Quando se fala nesta fala-se em factos
que nada tem a ver com o contrato, versa sobre direitos, liberdades e garantias.
Alargou-se essa responsabilidade a toda a entidade pública, isto porque, pode resultar de
uma má lei, causando uma violação de direitos, liberdades e garantias, sem ser só
administrativo também pode ser legislativo.
A administração não tem de responder apenas quando viola a lei, mas também quando
causa dano, havendo responsabilidades por factos ilícitos ou por factos lícitos (artigo
22º).

➔ Regime dos Direitos, Liberdades e Garantias VS dos


Económicos, Sociais e Culturais
1. Aplicabilidade Direta: significa que os direitos, liberdades e garantias estariam na
CRP e portanto, não seria necessária a reformulação constitucional (dispositivos infra-
constitucionais). Os direitos económicos, sociais e culturais não têm qualquer
aplicabilidade direta, mas dizer que todos os direitos, liberdades e garantias têm
aplicabilidade direta é mentira, basta que diga que o direito é inviolável. As garantias
não têm aplicabilidade direta, têm apenas um pouco ou nenhuma aplicabilidade direta.
Por exemplo: artigo 24º: direito à vida, chega a pena de morte para garantir a vida? Não,
não é suficiente, teria-se que recorrer ao Código Penal – Lei Ordinária.
Há direitos que também não têm grande aplicabilidade, por exemplo: direito de
sufrágio. A grande diferença entre os direitos, liberdades e garantias e os direitos
económicos, sociais e culturais é que os últimos não têm nenhuma aplicabilidade direta
e os direitos, liberdades e garantias não estão completos dessa aplicabilidade.

2. Vinculação das entidades públicas e privadas (18º/1): os direitos, liberdades e


garantias são direitos previstos na CRP e na Lei. Por força da Constitucionalidade ou da
Legalidade, as entidades públicas já estavam vinculadas aos direitos, liberdades e
garantias. O que são entidades públicas: são todas as pessoas coletivas públicas, todas as
funções do Estado. Estes direitos são também vinculados por entidades privadas que
são: as pessoas singulares (nós) e as Pessoas coletivas.
Na noção de direitos fundamentais tem-se uma perspetiva vertical, em que os próprios
destinatários ficam vinculados a respeitar os nossos direitos. Para além dessa perspetiva,
tem-se uma perspetiva horizontal, em que as entidades privadas também respeitam os
nossos direitos. Assim, a noção de direitos fundamentais também tem uma componente
privada. É basicamente, um direito público com uma pequena componente privada.

3. Restrição dos Direitos, Liberdades e Garantias e dos Económicos, Sociais e


Culturais: há uma diferença radical entre os direitos, liberdades e garantias e os direitos
económicos, sociais e culturais. Tem que se partir da ideia de que não há direitos
absolutos, portanto, há inviolabilidade quando o direito pressupõe a escolha entre duas
vidas. A CRP refere que se for um direito económico, social e cultural pode restringir “à
vontade”, já nos direitos, liberdades e garantias é necessário restringir o menos possível
(Princípio da Proporcionalidade: art. 18º/2/3). Há uma primeira ideia de que se restringe
direitos para salvaguardar outros, portanto, restringindo um pouco um direito permite-se
que o outro direito também funcione na mesma medida. Não há direitos absolutos, eles
podem ser restringidos mas sempre para salvaguardar outros. Chama-se a isso,
ajustamento prático, de modo a que nenhum deles seja esquecido/ passe de letra morta.
Em todo o caso, a norma mais importante está no número 3 do artigo 18º. Refere que as
leis restritivas (atos legislativos: não faria sentido que para legislar direitos, liberdades e
garantias exige-se uma forma e para restringir seria outra) têm de ter carácter geral e
abstrato e nunca caracter concreto e individual. Não podem ter efeito retroativo, nem
diminuir a extensão e o alcance do conteúdo essencial dos preceitos constitucionais.
Pode-se restringir o direito mas não se pode restringir o conteúdo essencial do direito,
liberdade, garantia. Portanto, vê-se o cuidado com os direitos, liberdades e garantias
mas não tem o mesmo cuidado com os direitos económicos, sociais e culturais. Eles
também merecem um tipo de tutela, pelo que se pode aplicar o artigo 18º mas
subsidiariamente, explicando que esse artigo não se aplica a esses direitos mas aos
direitos, liberdades e garantias.

4. Suspensão dos Direitos, Liberdades, Garantias e dos Económicos, Sociais,


Culturais: qual é a principal diferença entre suspensão e restrição? A suspensão pode ir
até à totalidade do direito enquanto a restrição não, por afetar o conteúdo essencial. Em
termos de tempo, a suspensão é necessariamente transitória e a restrição não tem que ter
essa natureza, embora possa ter. A suspensão é temporária e curta mas pode ser
renovada.
Nos direitos, liberdades e garantias, todos podem ser restringidos mas não podem ser
todos suspensos. Em princípio, a suspensão insere na totalidade do direito, o que
aconteceria se o direito à vida fosse suspenso? Nada de bom, pelo que, o artigo 19º, nº6
refere que alguns direitos não podem ser suspensos.
O que é comum entre estas duas figuras? O Princípio da Proporcionalidade. Na restrição
(18º/2) quando refere “limitar-se ao necessário”. Na suspensão (19º/4) quando menciona
“estritamente necessário”. Ou seja, o Princípio da Proporcionalidade atravessa
semelhantemente a restrição e a suspensão.

5. Regime Orgânico: órgãos que podem regular os direitos, liberdades e garantias.


Qual é a grande diferença com os direitos económicos, sociais e culturais? Em regra, a
competência dos direitos, liberdades e garantias é uma competência reservada em
termos relativos da AR. Só se quiser é que autoriza o Governo a legislar. Nos direitos
económicos, sociais e culturais é o oposto, estão na área concorrencial.
Quanto à matéria da revisão constitucional: os direitos, liberdades e garantias não
podem ser afetados pela revisão constitucional, isto é, não podem ser suprimidos. Já os
direitos económicos, sociais e culturais podem.
A CRP não tem uma grande preocupação, quanto à supressão dos direitos, com os
direitos económicos, sociais e culturais apenas com os direitos, liberdades e garantias.

6. Direitos Análogos: em parte, resultam de dificuldades de natureza sistemática de


direitos. Há um conjunto de direitos que estão perdidos na CRP, não se inserem numa
única matéria, isso acontece por incumprimento ou desleixo constitucional, tendo como
consequência: artigo 17º: não há critérios sólidos pelo que os legisladores fazem a sua
própria lista de direitos análogos.
Parte-se da noção de direito, liberdade e garantia para definir os direitos análogos. Estão
dispersos por toda a CRP, pelo que não se encontra uma lista consensual. É um absurdo
que se chame direitos análogos aos direitos que estão nos direitos económicos, sociais e
culturais e tenham o regime dos direitos, liberdades e garantias.
Para o Professor, os direitos análogos são direitos que se encontram fora do catálogo.
Onde se lê direitos, liberdades e garantias, deve ler-se direitos de natureza análoga. Por
exemplo: a iniciativa de fundo, tem natureza análoga e está espalhada pela CRP, ora no
artigo 115º ora no artigo 164º.

➔ Direitos Mais Importantes


✓ Direito à vida
Direito primário dos direitos fundamentais. A CRP refere que é inviolável, mas já se
verificou que não é assim, não pode ser suspenso mas pode ser restringido.
É um direito de natureza pessoal, e antes de mais de natureza defensiva, isto é, negativa,
de omissão. É defensiva para fazer frente ao poder, apátridas e acima de tudo frente a si
próprio. É negativo por referir várias vezes “não”.
Espera-se que o Estado nada faça em relação aos direitos mas, ao mesmo tempo espera-
se que faça, isto é, que os defenda e por isso, são direitos de prestação, mas não deixam
de ser de omissão.
Sem garantia, o direito não é suficientemente protegido. Além de ser um direito de
defesa é também um direito que tem garantia. Espera-se a defesa da vida mas também a
sua garantia. Qual? A punição da pena de morte (art. 24º) que é uma garantia
constitucional. Mas a pena de morte não é suficiente porque ela é uma ação do Estado,
pelo que o direito não é completamente defendido. Não são só as entidades públicas que
podem colocar em causa o direito e por isso, só ao nível penal encontra-se as garantias
merecidas.
Não se encontra na CRP porque é muito grande e sempre que se altera-se o Código
Penal teria-se que alterar a CRP. No Código Penal, os crimes contra a vida são as
garantias da vida por serem punidos quando praticados.
Assim, o direito à vida é um direito pessoal, é um direito, liberdade e garantia. Não se
pode olhar para a CRP e verificar apenas o artigo em questão.
É um direito de viver mas mais ainda, é um direito de viver com dignidade (art. 13º).
Não há um mínimo de dignidade sem trabalho, logo também é um direito de natureza
social, esta é uma dimensão secundária do direito.
Quando se analisa direitos surgem problemas, neste caso, esses problemas serão: o
início da vida e o fim da vida. A CRP limita-se a dizer que a vida é inviolável (não está
sujeito à suspensão, a restrição do direito deve ser mínima e sabe-se que se trata de uma
vida humana) mas quando começa e acaba a vida? Antes ou depois do nascimento? Essa
questão leva a outra: a interrupção voluntária da gravidez.
No Código Civil refere que adquire-se personalidade jurídica quando se dá o
nascimento completo e com vida após o corte do cordão umbilical.
A questão do início da vida nunca foi resolvida, e entende-se que a vida começa no
momento da concessão pelo que a questão da interrupção da gravidez é questionável.
Mas, e no caso da vida da mãe estar em risco? Qual das vidas estaria a ser violada? Não
há respostas pois há bastantes desconformidades. O professor, considera que a lei mais
recente sobre o aborto é inconstitucional porque uma coisa é o direito à vida, outra coisa
são direitos económicos, sociais e culturais. Não é constitucional.
Em relação à lei anterior que tinha exceções, já seria aceitável porque realmente há
casos em que tem de se restringir.
O termo da vida acontece com a morte. O que é? É um procedimento em que o corpo
vai avariando, acabando por ocorrer a morte cerebral que é a falência absoluta das
principais funções do cérebro sem possibilidade de retorno. Que problemas simétricos
suscitam? O problema da eutanásia: será legítimo uma pessoa colocar termo à vida de
outra? No suicídio não há propriamente um crime mas na eutanásia já há, pois trata-se
de uma morte assistida, faz-se cessar uma vida e portanto, há uma ação exterior. Mas a
eutanásia pode ser entendida de duas formas, uma delas é a eutanásia passiva que é
quando uma pessoa deixa a outra morrer, a outra é a eutanásia ativa que é quando uma
pessoa toma a decisão de agir.
À primeira vista a eutanásia é inconstitucional pois é basicamente um homicídio. Tal
como o aborto, para resolver a questão da eutanásia também se recorre ao código penal
pois, só se tem o artigo 24º como restrição, mas mesmo assim, há aspetos que merecem
uma reflexão, por exemplo: a dignidade.
Para o professor não há direitos absolutos, pelo que em situações de forte sofrimento
poderia-se recorrer à eutanásia.
Há ainda outra questão, a do testamento vital: em que uma pessoa deixa a sua vontade
para os casos de acidente. Por vezes, preferem a morte e nesse caso, tratar-se-á de
eutanásia passiva.

✓ Direito à Integridade
È um direito secundário e a seguir à vida é o mais importante. É um direito cuja
restrição deve ser limitada ao mínimo, é impossível de suspensão (art. 19º/6). Se o
direito à integridade fosse suspenso, as pessoas podiam atentar contra outras sem
punição.
É um direito de defesa, de omissão e de natureza negativa. Novamente, espera-se que as
entidades nada façam contra o direito, mas o Estado é obrigado a garanti-lo mesmo que
não possa fazer nada em relação a ele. Este direito abrange agressões físicas, morais,
mentais, entre outras. E como garantias tem-se desde logo, o artigo 25º/1/2: contra a
tortura e contra a violação da integridade moral e física. Grande parte dos mecanismos
de garantia do direito está no código penal (131º, ss).
Quais os crimes mais óbvios? Crimes corporais, difamação, injúria, maus tratos e
violência doméstica. Há varias questões que se colocam a este direito, como por
exemplo: quais os limites da disponibilidade do corpo? Posso vender todos os órgãos do
meu corpo? A fronteira não é a vida em si. A pessoa não pode agir assim, não pela sua
vida mas sim pela sua integridade.
Portanto, a fronteira é a vida razoavelmente normal. Por exemplo: doar um rim é um
ataque à integridade e não à vida porque não a afeta.
As intervenções cirúrgicas são um ataque à integridade, mas se não ocorrerem poderão
afetar outros direitos (saúde, vida), assim é sempre necessário o consentimento. Não é
tanto a vida que está em causa, é a integridade.
✓ Direito à Liberdade (art. 27º)
Corresponde à liberdade física, embora também à liberdade psíquica. É a ideia de que as
pessoas não podem ser presas arbitrariamente. Há muitas exceções que assumem
natureza constitucional: no nº2 e no nº3 tem-se restrições. Não há a ideia de que é um
direito inviolável ou absoluto. No nº2 diz-se que pode ser privado da liberdade se for
consequência de uma sentença judicial ou por medida de segurança. No nº3 será nos
casos em que estão previstos pela condição que a lei determinar.
Na alínea a) e b) são as restrições possíveis ao direito da liberdade (art. 18º). No número
4 e no número 5 diz que as pessoas devem ser informadas e indemnizadas. Há um
principio de responsabilidade para o Estado se tiver cometido um erro e uma pessoa
estar privada da sua liberdade. Pelo que, está presente no artigo 22º.
No artigo 31º tem-se um mecanismo de tutela para casos em que a prisão é
grosseiramente utilizada por causa de uma má fundamentação.

✓ Liberdade de consciência, religião e culto


Correspondente à liberdade psíquica da liberdade física do artigo 27º. Fala-se da
liberdade sobre a formação da pessoa, escolha de valores étnicos, morais, filosóficos. É
uma liberdade sem interferências do Estado, entidades públicas ou privadas. É um
direito inviolável e está no reduzido grupo em que a CRP utiliza essa expressão. Pode
ser restringido mas ao mínimo grau mas já não pode ser suspenso (art. 19º/6). A
liberdade de consciência e de religião não pode ser suspensa mas a liberdade de culto já
pode, pois não está referida no art. 19º.
É um direito que tem de ser visto com cuidado, é a liberdade de escolher a formação da
personalidade (livre e independente) mas para isso, não podia haver pais, professores e
tal não é possível pelo que já há um modelo na formação da pessoa devido aos valores e
padrões induzidos. O Estado também interfere mas numa mera questão de informação e
não obrigação. Senão haveria violação a liberdade de consciência.
Dentro da liberdade de consciência trata a liberdade religiosa, que é completada pelo
nº4 e nº5 a nível institucional. No nível pessoal, nº1, 2 e 3, é a escolha de ter ou não ter
uma religião, mudar de religião, é a faculdade de casar de acordo com a religião, a
suscetibilidade de educar os filhos. Teoricamente a liberdade indumentária faz parte.
No plano institucional: criar igrejas, organizar o plano interno das igrejas ou até
extingui-las.
No nº6 é importante referir a objeção de consciência, o que é? É o direito de não
cumprir obrigações ou de não praticar certos atos por entra em choque com a sua
consciência. Por exemplo: Advogado recusa-se a defender um pedófilo, ou um Médico
recusa-se a fazer um aborto ou praticar a eutanásia.

➔ Constituição anotada
✓ Direito à Vida – art.24º
É o primeiro dos direitos fundamentais constitucionalmente enunciados. É,
logicamente, um direito prioritário, pois é condição de todos os direitos fundamentais. O
direito à vida assenta desde logo no plano de ter e ser vida e por isso, é o bem mais
importante do catálogo de direitos fundamentais e da ordem jurídico- constitucional no
seu conjunto.
Precisamente por isso é que o direito à vida coloca problemas jurídicos no conceito do
começo e fim da vida humana e a delimitação do âmbito de proteção.
Relativamente à estrutura e conteúdo jurídico da proteção tem-se que referir a
natureza do direito à vida como um direito de defesa e consequentes problemas
respeitantes às modalidades de violação, de lesão de bens jurídicos e restrições ao
direito à vida.
Assim, o conteúdo jurídico objetivo da proteção do bem da vida humana implica o
reconhecimento do dever de proteção do direito à vida, quer quanto ao conteúdo e
extensão, quer quanto às formas e meios de efetivação desse dever. Este dever coloca
delicadas questões relacionadas com a autonomia da pessoa (direito ao corpo, liberdade
de morrer, suicídio).
Portanto, o objeto de proteção deste preceito é a própria vida humana. Porém,
enquanto direito fundamental, o direito à vida só pode ser titulado por pessoas que têm
de ser pessoas vivas e não pessoas mortas, todas as pessoas físicas e não as pessoas
coletivas, pessoas de todas as nacionalidades, raças e credos.
O sentido geral da garantia e proteção do direito à vida no plano constitucional é,
desde logo, a proteção da existência vivente, ou seja, o direito de não ser morto, de não
ser privado da vida. Deste direito surgiu a proibição da pena de morte, a punição penal
do homicídio e a punição do incitamento e ajuda ao suicídio. Conexo a esta componente
está o direito à proteção e ao auxílio contra a ameaça ou o perigo de morte.
Em qualquer destes aspetos o direito á vida impõe-se contra todos, perante o Estado e
perante os outros indivíduos. No que respeita ao Estado, ele implica:
• Não poder dispor da vida das pessoas, a qualquer título que seja;
• Obrigação de proteger a vida das pessoas contra os ataques ou ameaças de terceiros;
No que respeita aos outros indivíduos, implica:
• Legitimar um dever de socorro ou auxílio a quem se encontrar em perigo de vida;
Como referido anteriormente, o direito à vida conduz a problemas constitucionais no
que diz respeito ao começo e fim da vida humana. Quanto ao inicio da vida, a CRP
pressupõe todos os momentos do ato ou processo de nascer. Quanto á morte, o critério
dominante é o da morte cerebral, entendida como “falência completa e irreversível da
função global do cérebro”. Este critério pode ser subjacente a critérios cuja legitimidade
constitucional é duvidosa, pois morte cerebral significa que está uma pessoa a morrer
que ainda não está morta. No caso de dúvida, utiliza-se o conceito de morte entendida
como “a falência completa do organismo humano no conjunto dos seus órgãos e
funções”.
A CRP não garante apenas o direito à vida enquanto direito fundamental das pessoas,
também garante a própria vida humana independentemente dos seus titulares, como
valor ou bem objetivo. Enquanto bem ou valor constitucionalmente protegido, o
conceito de vida humana abrange a vida das pessoas mas também a vida pré-natal, ainda
não investida numa pessoa, a vida intra- uterina e a vida do embrião fertilizado. Assim,
surge questões relativamente à interrupção voluntaria da gravidez, não existindo uma
proibição absoluta do aborto, parece, todavia, não existir também o reconhecimento
constitucional de um direito ao aborto. Pelo que, compete à lei estabelecer limites à
faculdade de interrupção voluntaria de gravidez, tornando-se possível até às dez
semanas.
A proteção da vida humana em si, levanta ainda o problema de saber se o dever de a
proteger se impõe ao próprio individuo (dever de viver).
Começando pelo primeiro dos problemas – o suicídio – coloca o problema de saber
se o direito à vida inclui o direito de organização da própria morte e suscita questões em
relação à eutanásia e à Ortotanásia. Não existe o direito à eutanásia ativa, concebido
como o direito de exigir de um terceiro a provocação da morte para atenuar sofrimentos
“morte doce” pois o respeito da vida alheia não pode isentar os “homicídios de
piedade”. Relativamente à Ortotanásia e eutanásia passiva – o direito de se opor ao
prolongamento artificial da própria vida no caso de doença incurável podem-se
justificar regras especiais quanto aos cuidados e acompanhamento de doenças mas não
se confere aos médicos o direito de abstenção de cuidados em relação aos pacientes.
O direito à vida significa também direito à sobrevivência, ou seja, direito a viver
com dignidade. Neste sentido, articula-se a este direito o princípio da dignidade da
pessoa humana e traduz-se no direito a dispor das condições de subsistência, integrando
o direito ao trabalho, à saúde, à habitação. Por esta via, o direito à vida revela-se um dos
principais direitos sociais.
Este direito trata a proibição absoluta da pena de morte tanto para crimes políticos
como em relação a crimes militares. Esta proibição obriga não apenas no âmbito da
soberania portuguesa mas também à defesa da vida ante jurisdições estrangeiras.
O direito à vida implica o dever de defesa da vida em situações de risco subjetivo
(reféns) ou de risco objetivo (catástrofes naturais).
Quanto ao âmbito de proteção subjetivo do direito à vida trata-se de um direito
universal, pelo que não há lugar para o reservar para as pessoas de nacionalidade
portuguesa, excluindo os estrangeiros (art. 15º/1). Todas as pessoas, pelo facto de o
serem, gozam do direito à vida.
Pela mesma razão de ser um direito eminentemente pessoal, não faz sentido estender
este direito às pessoas coletivas (art. 12º/2). Sem dúvida que as pessoas coletivas gozam
de direito de não serem extintas pelo Estado, mas essa proteção decorre de outros
direitos e não de um qualquer direito à vida das pessoas coletivas.

✓ Direito à Integridade Pessoal – art.25º


Abrange as duas componentes: a integridade moral e a integridade física de cada
pessoa. Consiste num direito a não ser agredido ou ofendido no corpo ou no espirito,
por meios físicos ou morais. As penas e tratamentos degradantes e/ou desumanos tanto
podem consistir em ofensas à integridade física das pessoas como à integridade moral.
Sendo um direito ligado à defesa enquanto tal compreende-se não só a expressão “é
inviolável”, mas também a proteção absoluta que lhe confere, não podendo ser afetado
mesmo no caso de suspensão de direitos fundamentais na vigência de estado de sítio ou
de estado de emergência (art. 19º/6).
É um direito pessoal irrenunciável, a não ser nos casos em que o consentimento seja
aceitável por exemplo: intervenções e tratamentos médico- cirúrgicos que se mostram
adequados e foram levados a cabo por um médico com a intenção de prevenir,
diagnosticar doenças ou lesões. Neste contexto, assume particular relevo os transplantes
de órgãos mediante doação que tem como limite não afetarem de forma grave e
irreversível a integridade e a saúde do doador. No caso dos transplantes após a morte
não se coloca em questão o direito à integridade física do cadáver, mas sim o direito das
pessoas, enquanto vivas, a disporem sobre a utilização dos seus órgãos ou a oporem-se.
O direito à integridade física e psíquica, vale naturalmente, contra o Estado e contra
qualquer pessoa. No que respeita ao Estado são vários os planos em que ele é relevante:
• No plano da legislação, não podendo a lei penal determinar qualquer pena cruel,
degradante ou desumana.
• No plano da investigação criminal, não sendo lícitos nem a tortura nem nenhuma
prática à integridade moral ou física.
• No plano das instituições prisionais, hospitalares e equiparadas, sendo vedados os
tratamentos degradantes ou desumanos.
Expressões da garantia daquele direito encontram-se no plano civil, nos direitos de
personalidade e no plano criminal, nos crimes de ofendas corporais e nos crimes contra
a honra, difamação, calúnia ou injúria.
Tal como o direito à vida, também o direito à integridade pessoal pode implicar um
direito no socorro e no auxílio contra perigos que a ameacem. As agressões contra a
integridade física e também contra a própria vida são hoje articuladas com omissões de
deveres de cuidado e com casos de colocação em perigo. A tortura constitui a forma
mais agravada de tratamento cruel e desumano, pelo que a CRP autonomiza-a para
salientar a proibição de qualquer ato que cause dor ou sofrimentos agudos, físicos ou
mentais, intencionalmente infligidos a uma pessoa para dela obter informações a
intimidar ou a punir. Como tratamentos degradantes aponta-se os tratamentos
suscetiveis de causar nas vítimas sentimentos de medo, angustia e inferioridade de
forma a humilha-las e revolta-las. Hoje, a tortura e outros tratamentos degradantes e
desumanos são ilícitos e penalmente puníveis.
O problema típico deste direito é o de saber se impede o estabelecimento de deveres
públicos dos cidadãos que se traduzam em intervenções no corpo das pessoas
(vacinação, colheita de sangue para testes alcoólicos). A resposta é negativa, desde que,
a obrigação não comporte a sua execução forçada.
Problemas afins levantam as experiencias medicas e cientificas no corpo humano,
devendo-se também aí estabelecer uma barreira infrangível contra as lesões da
integridade pessoal. Com o aparecimento de novas doenças mortais transmissíveis, o
problema de controlo e tratamento de afeções com risco de contágio coloca novos
problema jurídico- constitucionais, nomeadamente os de sinalização das pessoas
afetadas e limites de circulação de seropositivos.
Assim, o direito à integridade física e psíquica assume particular relevância no
âmbito de relações especiais de educação, família, trabalho relativamente a pessoas
menores ou indefesas em virtude de idade, deficiência, doença, gravidez. Nestes casos,
o dever de proteção do Estado poderá justificar a adoção de medidas severas quando
haja maus tratos físicos ou psíquicos, emprego em atividades perigosas, desumanas.
O dever de proteção do Estado impõe-se também nos casos em que determinados
atos, atividades e situações são suscetiveis de conduzir ao “encurtamento da vida”
através de lesões a saúde e integridade física.
No âmbito de proteção subjetivo do direito à integridade pessoal, trata-se
obviamente de um direito universal pelo que não há lugar para o reservar para as
pessoas de nacionalidade portuguesa, excluindo os estrangeiros (art. 15º/1). Todas as
pessoas, pelo facto de o serem, gozam deste direito.
Pela mesma razão de ser um direito eminentemente pessoal, não faz sentido estender
este direito às pessoas coletivas (art. 12º/2).

✓ Direito à liberdade e à segurança- art.27º


A CRP reúne estes dois direitos que, embora distintos, estão intimamente ligados. O
direito à liberdade, significa o direito à liberdade física, liberdade de movimentos, ou
seja, direito de não ser detido, aprisionado, ou de qualquer modo fisicamente confinado
a um determinado espaço. O direito à liberdade engloba fundamentalmente sub-
direitos, nomeadamente: direito de não ser detido ou preso pelas autoridades públicas;
direito de não ser aprisionado ou fisicamente impedido por parte de outrem.
Meios específicos de garantia do direito à liberdade face às autoridades públicas são
o habeas corpus (art. 31º) e o direito à indemnização por prisão ou detenção
inconstitucional ou ilegal.
Além do direito à liberdade, o nº1 garante o direito à segurança que significa a
garantia de exercício seguro e tranquilo dos direitos, liberto de ameaças ou agressões.
Como segurança pessoal entende-se “a proteção que o governo deve dar a todos para
poderem conservar os seus direitos pessoais”. Este direito comporta duas dimensões: a
dimensão negativa ligada ao direito à liberdade traduzindo-se num direito subjetivo à
segurança; e a dimensão positiva traduzindo-se num direito positivo à proteção através
dos poderes públicos contra as agressões ou ameaças de outrem.
Não é um direito absoluto e por isso, admite restrições. As restrições ao direito à
liberdade, que se traduzem em medidas de privação total ou parcial dela, só podem ser
previstas nos números 2 e 3, não podendo a lei criar outras. Por outro lado, constituindo
as restrições do direito à liberdade restrições a um direito, liberdade e garantia estão
sujeitas as competentes regras do artigo 18º, nº2 e 3, pelo que só podem ser
estabelecidas para proteger outros direitos ou interesses fundamentais.
A diferença entre privação total da liberdade e a privação parcial só tem relevo
constitucional na medida em que a diferente gravidade de uma e outro deve ser tomada
em conta sob o ponto de vista do princípio da proporcionalidade. À partida, as medidas
de privação da liberdade, seja total, seja parcial só podem resultar conforme os casos, de
condenação de ato punido com pena de prisão, ou de aplicação judicial de medida de
segurança.
Em qualquer caso, as medidas privativas da liberdade estão sujeitas a uma dupla
reserva: reserva de lei e reserva de decisão judicial. A reserva de lei impõe que seja uma
lei da AR ou decreto-lei autorizado (art. 165º/1/c) e a reserva de decisão judicial implica
a proibição de medidas administrativas de privação da liberdade.
A CRP passou a distinguir com clareza detenção e prisão preventiva, pelo que
detenção é uma medida de carácter precário e condicionado, não resulta de decisão
judicial e situa-se entre os momentos de captura e do despacho judicial sobre a sua
apreciação e validação e a prisão preventiva. Por seu lado, a prisão preventiva é uma
medida de privação de liberdade decretada pelo juiz como medida de coação em
processo penal.
Também de distingue detenção em flagrante delito que é legítima independentemente
do tipo de delito envolvido, mas é difícil compreende-la, quando este não seja passível
de prisão. Pode ser efetuada por qualquer autoridade policial ou judiciária.
Um dos casos de privação da liberdade sem ser através de sanção penal ou de medida
de segurança é o de prisão preventiva, isto é, a prisão efetuada para prevenir que o
presumível autor de um crime se furte à justiça ou a dificulte. Só é admitida quando há
provas sérias de prática dolorosa de crime grave, exigindo-se que se trate
cumulativamente de um crime doloroso, e que lhe corresponda pena de prisão cujo
limite máximo seja superior a três anos. O conceito de crime doloroso pressupõe não só
a delimitação do conceito de crime no sentido do conjunto de pressupostos de que
depende a aplicação ao agente de uma pena ou de uma medida de segurança criminais.
As situações previstas no art. 27º/3/c – entrada ou presença irregular no pais e
processos de extradição ou de expulsão – têm aplicação a estrangeiros, pois são eles
que, em princípio, podem permanecer irregularmente em Portugal ou ser objeto de
extradição ou de expulsão.
A CRP não defina a competência para determinar a detenção ou prisão nestes casos,
todavia, natural que se lhes aplique regime próximo do da prisão preventiva. Evidente
que essa detenção de estrangeiro que tenha entrado ou que permaneça irregularmente
em território nacional não prejudica o exercício do direito de asilo (art. 33º/g).
A prisão disciplinar imposta a militares suscita dificuldades quanto à delimitação
extensional da noção de militares. É indispensável que como candidato positivo se
incluem os militares que prestam serviços nas forças armadas, mas já é duvidosa
extensão de um regime excecional como é o caso do art. 27º/3/d. Embora, a CRP não
fornaça a caraterização de “militares”, ela não dá qualquer guarida a distinções como
“militar geral”” e “militares especiais”, sugerindo antes a nova redação do art. 270º a
diferenciação entre militares, agentes militares e agentes das forças de segurança. O art.
27º continua a referir-se apenas a militares, não incluindo os termos como faz o art.
270º.
As medidas de privação ou restrição da liberdade previstas para menores (art.
27º/3/e) supõem uma definição de menor em que o CC no art. 122º fixa o termo da
menoridade aos 18 anos e a CRP confere o direito de voto aos maiores de 18 anos. Por
outro lado, o limite da imputabilidade penal é fixado pela respetiva lei em 16 anos, pelo
que os que não tenham atingido essa idade não podem ser condenados a penas, mesmo
que pratiquem atos qualificados como crimes.
O art. 27º/3/f pressupõe não apenas um dever de acatamento das decisões judiciais
mas também um dever de comparência perante as autoridades judiciárias. A detenção só
pode oorrer nos casos e para os efeitos previstos na lei e mediante decisão judicial.
A detenção de suspeitos, para efeitos de identificação (art. 27º/3/g) tem por fim
resolver o problema da inconstitucionalidade da medida restritiva de detenção para
efeitos de identificação. A CRP torna claro que a detenção para efeitos de identificação
deve estar sujeita ao princípio da proibição do excesso (necessidade, adequação e
proporcionalidade) dada a natureza de intervenção restritiva da medida detentiva (nos
casos e pelo tempo estritamente necessários).
Quanto ao internamento de portador de anomalia psíquica destina-se a dar guarida
constitucional a intervenções restritivas da liberdade justificadas pela existência de
anomalia psíquica grave. A CRP tem ainda outras dimensões garantísticas: o
internamento deve ser feito em estabelecimento adequado (hospital ou instituição
análoga); deve ser sujeito à reserva de decisão judicial. Ao restringir o internamento
compulsivo ao internamento tutelar de portadores de anomalia psíquica, a CRP deixou
por resolver um problema com tanta ou mais delicadeza, que é o internamento
compulsivo de perigo de pessoas portadoras de doenças infecto- contagiosas e, por
conseguinte, suscetiveis de cometerem crimes de perigo, pelo que deve-se ter uma
ponderação cuidadosa dos bens jurídicos constitucionais presentes.
O dever de informação imediata e de forma compreensível das razoes da privação da
liberdade (art. 27º/4) funciona como garantia simultaneamente, da proibição de prisões
ou detenções arbitrárias e dos direitos de defesa das pessoas perante medidas publicas
ofensivas do direito à liberdade. O termo “imediatamente” não deixa duvidas de que a
informação deve ser prestada no ato da detenção. O dever de informação do detido
quanto aos seus direitos destina-se a assegurar os direitos de defesa garantidos no art.
32º/3.
O nº5 do art. 27º consagra o principio da indemnização de danos nos casos de
privação inconstitucional ou ilegal da liberdade o que representa a responsabilidade
civil do Estado a factos da função jurisdicional, não se limitando esta responsabilidade
ao erro judiciário.
Quanto ao âmbito de proteção subjetivo do direito à liberdade trata-se de um direito
universal, pelo que não há lugar para o reservar para as pessoas de nacionalidade
portuguesa, excluindo os estrangeiros (art. 15º/1). Todas as pessoas, pelo facto de o
serem, gozam do direito à vida.
Pela mesma razão de ser um direito eminentemente pessoal, não faz sentido estender
este direito às pessoas coletivas (art. 12º/2). Não esta excluído a responsabilidade e a
punição penal das pessoas coletivas, mas está fora de causa a prisão preventiva ou a
pena de prisão.

✓ Liberdade de consciência, de religião e de culto – art.41º


Liberdade de consciência, de religião e de culto reconhece três direitos distintos
embora conexos, já que o segundo é uma especificação do primeiro e sendo o terceiro
uma especificação do segundo, ou seja, a liberdade de consciência consiste
essencialmente na liberdade de opção, de convicções e de valores, isto é, a faculdade de
escolher os próprios padrões de valoração ética ou moral.
A liberdade de religião é a liberdade de adotar ou não uma religião, de escolher uma
determinada religião, de não ser prejudicado por qualquer posição religiosa ou anti-
religiosa. Já a liberdade de culto é somente uma dimensão da liberdade religiosa dos
crentes, compreende o direito individual ou coletivo de praticar os atos externos de
veneração próprios de uma determinada religião. Assim, a liberdade de consciência e de
religião integram a esfera nuclear dos direitos pessoais, não podendo ser sacrificada
nem sequer em caso de estado de sítio (artigo 19º/6). A liberdade religiosa engloba:
direitos individuais - são mais amplos e estão relacionados com a sua dimensão negativa
- direito de informar e ser informado sobre a religião; direito de transmitir a religião;
direito de casar segundo os ritos religiosos; direito de educar os filhos de acordo com a
sua religião.

Também engloba direitos coletivos - cujos titulares são as igrejas - direito à auto-
organização; direito à autodeterminação; direito à organização do culto e à assistência
religiosa dos crentes; direito ao ensino religioso escolar pelas várias religiões.
A Garantia constitucional da liberdade religiosa exprime-se na proibição de toda a
discriminação ou privilégio por motivos religiosos (41º/2) que é uma explicitação do
artigo 13º/2 (Principio da Igualdade) e do artigo 26º/1 (proteção legal contra qualquer
forma de discriminação). Além de ninguém poder ser prejudicado nos seus direitos por
motivos religiosos também ninguém pode ser isento dos seus deveres jurídicos ou
cívicos. Uma exceção a este princípio é o artigo 41º/6 que permite a objeção de
consciência, embora não isente os cidadãos do cumprimento de uma obrigação (276º/4).
A Garantia especial da liberdade religiosa é direito à própria reserva pessoal das
convicções religiosas (41º/3), proibindo qualquer pergunta seja de uma autoridade
pública como privada. Deste modo, a prática religiosa assume um estatuto de foro
íntimo das pessoas, indevassável e indiferente ao estatuto social, profissional ou politico
dos cidadãos (35º/3). Pela mesma razão, as convicções religiosas pessoais não podem
ser objeto de tratamento informático (35º/3).
O preceito do nº4 refere-se ao princípio da separação entre o Estado e as Igrejas que
se traduz numa garantia da laicidade do Estado como na liberdade religiosa e abrange
princípios como o principio da não confessionalidade do Estado (implica a neutralidade
confessional do Estado e proíbe toda e qualquer identificação ou preferência religiosa
do Estado) e o principio de organização e independência das igrejas e confissões
religiosas (garante o estatuto privado das igrejas e confissões religiosas, bem como a
não ingerência do Estado na organização das igrejas e no exercício das suas funções e
do culto).
Relativamente à liberdade de ensino da religião e a liberdade de expressão e de
imprensa das igrejas e confissões religiosas suscitam dois problemas: ao significado da
fórmula “ensino de qualquer religião praticado no âmbito da respetiva confissão” e ao
sentido da expressão “meios de comunicação social próprios”.
A liberdade de ensino abrange o ensino ministrado em reuniões de fieis dentro ou
fora dos templos. E os meios de comunicação social próprios significam meios de
comunicação social privativos das respetivas religiões destinados ao prosseguimento
das suas atividades.
Direito à objeção de consciência: consiste no direito das pessoas de não cumprir
obrigações ou não praticar atos que conflituem essencialmente com os ditames da
consciência de cada um. Em certas situações, a objeção de consciência religiosa pode
suscitar problemas de harmonização e de ponderação ou balanceamento com direitos ou
deveres constitucionalmente garantidos, como o direito à saúde (objeção ás vacinações,
transfusões sanguinas, interrupção da gravidez).
As comunidades constitucionais plurais deparam com vários problemas de conflitos
de direitos relacionados com opções religiosas. O princípio da concordância pratica
entre os vários direitos à religião deve ser aqui complementado pelo princípio da
tolerância, de modo a respeitar-se tanto quanto possível a liberdade religiosa de cada
um.
Quanto ao âmbito subjetivo de proteção deste direito, trata-se de um direito de
natureza pessoal, que nada permite reservar a cidadãos nacionais, excluído os
estrangeiros (art. 15º/1).
Pela mesma razão, não faz sentido reconhecer a liberdade religiosa às pessoas
coletivas (art. 12º/2), sem prejuízo dos direitos próprios das igrejas e confissões
religiosas.

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