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FACULDADE SANTA MARCELINA - MURIAÉ

Aluno: Joycelene Nascimento


Curso: Letras Ano: 4º
Data: 21/06/2021
Professor: Lucas Esperança

O objetivo do Trabalho é fazer uma análise de poemas (2 poemas), por escrito, de


um dos autores trabalhados na Segunda Fase do Modernismo

A poesia da 2ª fase modernista percorreu um caminho de amadurecimento. No


aspecto formal, o verso livre foi o melhor recurso para exprimir sensibilidade do novo
tempo, se caracteriza como uma poesia de questionamento: da existência humana, do
sentimento de “estar-no-mundo”, inquietação social, religiosa, filosófica e amorosa. 

Na prosa:
- Graciliano Ramos
- Rachel de Queiroz
- Jorge Amado
- José Lins do Rego
- Érico Veríssimo
- Dionélio Machado

Na poesia:
- Carlos Drummond de Andrade
- Murilo Mendes
- Jorge de Lima
- Cecília Meireles
- Vinícius de Morais.

Sendo assim, como solicitado pelo professor Lucas Esperança, o  objetivo deste
trabalho é fazer uma análise de poemas (2 poemas), por escrito, de um dos autores
trabalhados na Segunda Fase do Modernismo.  O autor escolhido por mim para este
trabalho  certamente é Cecília Meireles, Cecília Meireles é considerada uma das
poetas mais importantes da literatura brasileira. Ela atuou ainda como jornalista e
professora. Além da carreira literária, o papel na educação também é lembrado. Cecília
fundou a primeira biblioteca infantil do país e trabalhou na Rádio Ministério da
Educação quando já estava aposentada. “Romanceiro da Inconfidência”, “Viagem” e
“Ou isto ou aquilo” são algumas obras que marcaram a carreira da escritora, pela
segunda, inclusive, Cecília ganhou o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de
Letras. O Prêmio Machado de Assis foi concedido pelo conjunto da obra. Foi escolhido
para este trabalho os poemas: "Discurso ao ignoto romano" e “Epigrama Nº 2”.

ANÁLISE DO POEMA: DISCURSO AO IGNOTO ROMANO

Não está no mármore o teu nome.


Nem teu perfil nem tua face
nada revelam do que foste.
Sabemos só que padeceste,
como acontece a qualquer homem;
que foste vivo e contemplaste
o que faz entre a alma e o horizonte,
e, com as grandes estrelas, viste
os vácuos do céu, na alta noite.
Cresceste como o bicho e a planta:
- mas sabendo que há amor e morte.
Houve um pensamento pousado
entre as rugas da tua fronte
e, dos teus olhos aos teus lábios,
vê-se da lagrima o recorte.

Por que foi talhado o teu rosto


nessa pedra pálida e suave,
ninguém se lembra. E as mãos que andaram
nessa escultura, ninguém sabe.
Poderoso foste? Do mundo
que desejaste? Que alcançaste?
Na raiz das tuas pupilas,
que sonho existiu, na verdade?
Como pensavas que era a vida?
E de ti mesmo que pensaste?
Diante desta bela cabeça,
vendo-a de perfil e de face,
entre os teus olhos e os do artista,
qual terá sido a tua frase?

IGNOTO ROMANO esculpido


por ignota mão, preservando
no silencio da pedra o antigo
rosto, que encobre a ignota sorte,
parado entre sonho e suspiro,
sem gesto, sem corpo, sem roupas,
sem profissão nem compromisso,
sem dizer a ninguém mais nada
nem do amigo nem do inimigo. . .

(E todos os homens – ignotos –


com os olhos nesse claro abismo,
sem saberem que estão parados
ante um puro espelho polido!
Ignoto Romano – soletram. . .
E continuam seu caminho,
certos de terem algum nome,
com pena do desconhecido...)

Abril, 1953 Cecília Meireles (In: Poemas Italianos)

O poema integra a obra Poemas italianos, que reúne textos escritos entre 1953 e
1956 mas só publicados em1968, quatro anos após a morte de Cecília. Temos neste
poema a importância  do elemento pedra na obra, isto é, dapedra convertida em objeto
de arte, o que pode ser pensado em natureza x cultura. A questão, portanto, gira em
torno do olhar e da imagem, mas poderíamos dizer mais, não só daquele que vê o
mármoretalhado ou daquele que lê o poema e o imagina, mas também o olhar do
artista que talha o mármore e do poeta que esculpe,a partir dele, o poema. Além disso,
se destaca também a diferença entre simplesmente verou ver e olhar, ultrapassar os
limites da imagem. No poema, conforme veremos,Cecília busca desvendar o que está
para além da pedra, o saber que a esculturasuscita e não revela. Vamos, então, ao
poema
Cecília alude ao mistério extremo da vida de outrora agora encerrada no silêncio da
pedra .Observemos que,nas duas primeiras estrofes, se estabelece um diálogo mudo
entre a estátua e seuinterlocutor, aqui, em diálogo mudo, cruzam-se os olhares, de
observador e estátua, que contam com a triste presença  do silêncio maciço, da
separação consumadade dois mundos que tentam comunicar o indizível, o misterioso
ausente que estáoculto na materialidade da estátua. Já no primeiro verso, o eu lírico
revela seu desejo de ultrapassar os limites dovisível: “não está no mármore o teu
nome”. Não é a personagem esculpida que interessa: é o homem, ésua humanidade. O
eu lírico diz, por isso temos certeza: “sabemos só que padeceste /como acontece a
qualquer homem; / que foste vivo e contemplaste / o que jaz entre a almae o
horizonte”.  E, principalmente, o que define sua humanidade: o saber “que há amor
emorte.” Amor e morte: todas as aspirações, desejos, sentimentos e a consciência de
suabrevidade e finitude. Teria sido, talvez, essa consciência que motivara aquele
romano adesejar ter sua imagem fixada no mármore. Mas o poema nos diz, nasegunda
estrofe: “ninguém se lembra”. Nada daquilo que o romano “foi”, “desejou”,“alcançou”,
nada do que sonhou ou pensava ficou registrado na pedra.
Já na terceiraestrofe, o eu lírico lança passa para o seu leitor um esvaziamento,
como que contrastando o peso da pedracom o vazio da não-presença daquele nela
esculpido: a escultura preserva “o antigorosto”, mas “sem gesto, sem corpo, sem
roupas, /sem profissão nem compromisso, / semdizer a ninguém mais nada. A
repetição da preposição “sem”, aqui, realça o vazio da existência confirmada pela
expressão “mais nada”,no verso final da estrofe. Por fim, na quarta e última estrofe, o
eu lírico conclui destacando que a sortedaquele “ignoto romano” é a sorte de todos os
homens, ainda que muitos daqueles queolham a estátua não se deem conta disso. É
importante ressaltar um outro lado dessa imagem: é o lugar da arte e doartista.
Tãoignoto quanto o romano figurado naquela estátua é o artista que talhou seu rosto
“nessapedra pálida e suave” (“ignoto romano esculpido / por ignota mão”, lemos nos
doisprimeiros versos da terceira estrofe – e não é o mesmo que, mais cedo ou mais
tarde, sesucede ao poeta?). O que permanece, então, é a arte, de pedras ou de
palavras.

ANÁLISE DO POEMA: EPIGRAMA Nº 2

És precária e veloz, Felicidade.


Custas a vir, e, quando vens, não te demoras.
Foste tu que ensinaste aos homens que havia tempo,
e, para te medir, se inventaram as horas.

Felicidade, és coisa estranha e dolorosa.


Fizeste para sempre a vida ficar triste:
porque um dia se vê que as horas todas passam,
e um tempo, despovoado e profundo, persiste.

Neste poema, o eu lírico escolhe como interlocutora, a Felicidade, motivo pelo qual
usa a inicial maiúscula para a ela se referir. Pode se identificá-la nos dois primeiros
versos, por ser simultaneamente "precária" e "veloz", por se custar a vir e não se
demorar, a Felicidade é conceituada como algo difícil de se encontrar. Tanto a
precariedade quanto a velocidade atribuídas à Felicidade nesses dois primeiros versos
já a relacionam ao tempo, já que é nele que ela custa a vir e já se vai, não demorando.
Os versos seguintes mostram a Felicidade como a razão de ser o próprio tempo:
"Fostes tu que ensinaste aos homens que havia tempo, / e, para te medir, se
inventaram as horas". O termo "coisa" utilizado na segunda estrofe para se referir à
Felicidade indica o quanto é difícil para o eu lírico compreender sua natureza. Sabendo
que a Felicidade dura no tempo,  embora brevemente, para em seguida passar, sua
semelhança parece com a do tempo em suas duas faces, porém enquanto o tempo fica
passando e dura no tempo, nada garante que a Felicidade volte e permaneça, razão
pela qual os últimos versos falam tristemente de um de um tempo despovoado e
profundo que para sempre persiste.
Na segunda estrofe, o eu lírico se refere a um tempo que vai além do momento em
que se vive no poema, temos a expressão "para sempre" que engloba toda vida,
descobrindo assim que as horas passam. O tempo verbal em que o poema está escrito
é o presente, que equivale ao instante da enunciação. Vemos, no entanto,  que apesar
do eu lírico e a felicidade se encontrarem no mesmo presente, apenas a tristeza, e não
a felicidade se aparta dessa voz. O eu lírico nos passa que essa voz pode pertencer a
alguém que experimentou de verdade a Felicidade, e por isso mesmo sabe exatamente
o quanto pode e o quanto pode dela esperar. 

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