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Colégio Bahiense - Literatura - Profª Maria Eduarda - M1

Cap. 14: A MATRIZ PORTUGUESA


1. TROVADORISMO (Marco inicial da Literatura portuguesa)
● Contextualização histórica
○ Idade Média (séc. V a séc. XV)
■ Teocentrismo: DEUS no CENTRO (doutrina ou filosofia teocêntrica
consideram Deus como o centro de todo Universo, responsável pela
criação do mundo e de todas as coisas nele existentes)
■ Feudalismo (Modelo social e econômico na Idade Média:
● Sociedade piramidal/estamental: uma estrutura social fixa
hierarquizada e que estava dividida em estamentos (Rei e
nobreza/Clero/Servos)
● Servidão (Vassalagem e Suserania): Relações de compromisso
de fidelidade entre nobres, que implicava em direitos e
obrigações recíprocas.
● Características do estilo literário
○ Produção literária = CANTIGAS
■ Textos apresentados ao som de instrumentos (Ex: Lira)
○ Artista = TROVADOR (ou segrel)
● Tipos de cantigas
○ Líricas (gênero lírico: alta carga de lirismo = sentimentalismo, subjetividade)
■ Cantigas de amigo:
● Eu lírico feminino/Autor homem: voz feminina no poema
(tematizam o sentimento feminino) x escrita por um autor
homem
● Linguagem espontânea para a época: expressão oral popular
(origem popular)
● Trabalho formal apurado: refrão e estrutura paralelística em que
versos são repetidos (paralelismo)
● Temas comuns: sentimentos femininos de solidão, tristeza,
saudade, lamentos
■ Cantigas de amor:
● Eu lírico masculino: voz masculina no poema
● Linguagem rebuscada/preocupada (origem nobre/provençal)
● Vassalagem amorosa: homem presta vassalagem (servidão) à
mulher nobre (posta como “senhora”, “dona”)
● Tema comum: amor platônico, sofrimento
○ Esse amor é respeitoso, cortês, desinteressado (o
cavaleiro daria sua vida pela amada)
● Exemplo:
Senhora, que bem pareceis!
Se de mim vos recordásseis De vossa grande beleza
que do mal que me fazeis da qual esperei um dia
me fizésseis correção, grande bem e alegria,
quem dera, senhora, então só me vem mal e tristeza.
que eu vos visse e agradasse. Sendo-me a mágoa sobeja,
deixai que ao menos vos veja
Ó formosura sem falha no ano, o espaço de um dia.
que nunca um homem viu tanto
para o meu mal e meu quebranto! Rei D. Dinis
Senhora, que Deus vos valha!
Por quanto tenho penado CORREIA, Natália. Cantares dos trovadores
seja eu recompensado galego-portugueses. Seleção, introdução, notas e
adaptação de Natália Correia. 2. ed. Lisboa:
vendo-vos só um instante. Estampa, 1978. p. 253.

○ Satíricas (sátira = uso do humor para fazer um comentário negativo sobre a


sociedade, uma pessoa ou até uma questão política)
■ Cantigas de escárnio: sátiras indiretas, marcadas pela ironia - zombaria
figurada
■ Cantigas de maldizer: sátiras diretas com citação nominal da pessoa
ironizada - agressividade explícita
2. HUMANISMO
● Contextualização histórica
○ Transição entre a Idade Média e o Renascimento (final do séc. XV e início do
séc. XVI)
■ Crise do Feudalismo + Revolução Comercial = ascensão da burguesia
mercantilista
■ Antropocentrismo: HOMEM no CENTRO (pensamento filosófico que
coloca o homem como indivíduo central para o entendimento do
mundo) = Substituição do Teocentrismo
● Características do estilo literário
○ Valorização do ser humano: valorização de feitos do homem
○ Racionalidade: busca pela Verdade
○ Confronto com o divino: mudança do Teocentrismo para o Antropocentrismo
● Em Portugal
○ Prosa (Fernão Lopes, historiador, como principal expoente)
■ Busca pela Verdade histórica: preocupação histórica, severa
investigação, busca pela imparcialidade na análise de fatos,
preocupação com a fonte dos fatos
● Crônicas válidas hoje como documentos históricos
■ Caráter literário: estilo simples, com amplo domínio das palavras,
técnica novelística (quase uma conversa com o leitor), carga dramática
○ Poesia palaciana (escrita por nobres para nobres)
■ Palácios da época como ambiente
■ Temas “desimportantes”: festas, modas, etc//Outros temas: temas
religiosos
○ Teatro
■ Gil Vicente: criador do teatro português
● Textos especificamente com o objetivo de serem representados
para um público (gênero dramático)
■ Críticas (sátiras): críticas ao clero e à nobreza
● As obras eram lidas nos palácios
● Algumas obras suas foram condenadas e proibidas (Inquisição)
■ Teatro popular: senso de espontaneidade (usava muito improviso) e
espírito popular (mesmo apresentado para uma plateia de elite)
■ Obra famosa: Auto da Barca do Inferno
● Crítica social: A obra traz diversas críticas à sociedade de sua
época (ele critica tipos sociais e não indivíduos)
Ex: Crítica à nobreza por meio da representação de um Fidalgo
tirano com os pobres que é recusado pelo Anjo em sua barca
3. CLASSICISMO
● Contextualização histórica
○ Renascimento: Antropocentrismo, mercantilismo, leitura de mundo mais
liberal
● Características
○ Apropriação dos modelos da Antiguidade clássica greco-romana
OBS: O homem do século XVI acreditava que os antigos gregos e romanos
eram detentores dos ideais de beleza.
○ Retomada da mitologia pagã
■ Mitologia greco-romana
○ Busca da perfeição estética (valorização da racionalidade na forma)
■ Pureza de formas
■ Uso de novas formas poéticas de inspiração clássica. Ex: Soneto (4
estrofes: 2 primeiras com 4 versos e 2 últimas com 3 versos = “4433”)
■ Métrica fixa: medida nova (versos decassílabos) em detrimento das
redondilhas (herança medieval)
○ Linguagem objetiva
■ Limite da subjetividade: Linguagem subjetiva e sentimental limitada
pela estética classicista (sem exageros ou extravasamentos
desnecessários)
○ Temáticas: reflexão moral, filosofia, política, feitos heroicos e lirismo amoroso
■ Busca pela universalidade dos temas (uma verdade que transcende a
experiência individual)
● Luís Vaz de Camões (cânone da Literatura portuguesa)
○ Famoso poema épico (ou epopeia): Os Lusíadas (1572)
■ Busca valorizar as qualidades do povo português, suas conquistas e
vitórias na época das grandes navegações (caráter heroico do povo
português = gênero épico)
■ Gênero/texto narrativo: contam a história da viagem de Vasco da Gama
às Índias
■ Linguagem culta
■ Trecho de exemplo (Início da obra):

Os Lusíadas - Canto I
As armas e os barões assinalados, E também as memórias gloriosas
Que da ocidental praia Lusitana, Daqueles Reis, que foram dilatando
Por mares nunca de antes navegados, A Fé, o Império, e as terras viciosas
Passaram ainda além da Taprobana, De África e de Ásia andaram devastando;
Em perigos e guerras esforçados, E aqueles, que por obras valerosas
Mais do que prometia a força humana, Se vão da lei da morte libertando;
E entre gente remota edificaram Cantando espalharei por toda parte,
Novo Reino, que tanto sublimaram; Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
[...]
○ Poemas líricos: sonetos (forma fixa = busca pela perfeição estética)
■ Temas:
● Desconcerto do mundo
○ Um mundo que se organiza fora de ordem,
“desconcertado” (incompreensão do mundo,
pessimismo)
○ Injustiças (os maus são recompensados e os bons são
castigados)
○ Ambição desenfreada (inútil tentativa de acumular bens
que de nada valem após a morte)
○ Conflito entre o ser e o dever ser (conflitos morais)
○ Exemplo de tema: transitoriedade da vida/mudanças e
transformações do homem e do mundo (tempo =
temática universal)

● Amor
○ Tratado como ideia
■ Mulher idealizada: a mulher é vista como um
ser superior/perfeito (uso intenso de adjetivação)
■ Amor espiritualizado/transcendental
○ Tratado como manifestação carnal
■ Experiência concreta
■ Amor terreno/físico
○ Impossibilidade de síntese entre os dois amores
■ Uso de antíteses (figura de linguagem: oposição
de ideias) e conjunções adversativas

● Exemplos de poemas líricos:


1)
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,


Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,


Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E afora este mudar-se cada dia,


Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía

2)
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;


é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;


é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor


nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor.

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