Você está na página 1de 7

1

UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA

CONCRETO ARMADO I

Prof. Cristian Paulo Caon – 2017/01

EMENDA E TRASPASSE DE BARRAS

1. INTRODUÇÃO

Este capítulo, por sua vez, tem como objetivo estudar as técnicas utilizadas para
emendas de barras, bem como as recomendações bibliográficas e normativas para
as mesmas.
Ainda, os conceitos e recomendações aqui apresentados visam suplementar o
conteúdo estudado na apostila “031 – Aderência e ancoragem de barras”, servindo
como complemento ao assunto.
O material aqui apresentado tem como base as prescrições técnicas normativas
da NBR 6118:2014. Ainda, são aproveitadas bibliografias já consagradas e apostilas
de outras universidades como material complementar, de forma a contribuir para um
melhor entendimento do conteúdo.
Ao final da apostila são apresentadas as referências bibliográficas consultadas
para a sua confecção.
Esta apostila não esgota todo o assunto, que é muito vasto e de grande
complexidade. Por isso, o aprendizado deve ser complementado com estudo dos itens
constantes nas Referências Bibliográficas e na bibliografias apresentadas na ementa
e no Plano de Ensino, dentre outras publicações.

2. TIPOS DE EMENDAS

As barras de aço, comumente chamadas de vergalhões, possuem comprimento


de usina de 12 metros. Por isso, em elementos estruturais em que seu comprimento
supera esse valor, faz-se necessário emendar dois ou mais vergalhões.
O item 9.5.1 da NBR 6118:2014 apresenta quatro diferentes tipos de emendas
de barras:

Unoesc (Campus Chapecó/SC) – Concreto Armado I – Emenda e traspasse de barras.


2

- por traspasse;
- por luvas com preenchimento metálico, rosqueadas ou prensadas;
- por solda;
- por outros dispositivos devidamente justificados.

Dentre os diversos tipos de emendas de barras, o concreto participa da


transmissão de esforços apenas na emenda por traspasse, o qual apresenta-se como
a solução mais simples e de maior utilização prática. Por isso, a presente apostila visa
o estudo apenas deste caso.

3. EMENDA POR TRASPASSE DE BARRAS TRACIONADAS

Quando da emenda de barras tracionadas, a emenda é feita pela simples


justaposição das barras em um comprimento já definido.
A transferência da força de uma barra para outra numa emenda por transpasse
ocorre por meio de bielas inclinadas de compressão, conforme indicado na Figura 01.
Ao mesmo tempo surgem também tensões transversais de tração, que requerem uma
armadura transversal na região da emenda.

Figura 01 – Transferência de esforços entre as barras.

A NBR 6118:2014 diz que “esse tipo de emenda não é permitido para barras de
bitola maior que 32 mm”. O mesmo item da Norma ainda diz que “no caso de feixes,
o diâmetro do círculo de mesma área, para cada feixe, não pode ser superior a 45
mm”.
Diversos pesquisadores apontam que as barras a serem emendadas devem ficar
próximas entre si, numa distância não superior a 4Ø, e que barras com saliências
podem ficar em contato direto, dado que as saliências mobilizam o concreto para a
transferência da força.

Unoesc (Campus Chapecó/SC) – Concreto Armado I – Emenda e traspasse de barras.


3

Vale ressaltar que a resistência da emenda por traspasse depende do


comprimento de transpasse, do diâmetro e espaçamento das barras e da resistência
do concreto. Porém, o aumento do comprimento de transpasse não aumenta a
resistência da emenda na mesma proporção.

3.1. PROPORÇÃO DE BARRAS EMENDADAS

Devido à concentração de tensões de tração e compressão gerada nas


armaduras na região da emenda, deve-se limitar a quantidade de emendas numa
mesma seção.
Para isso, a NBR 6118:2014 diz no item 9.5.2.1 que são consideradas como na
mesma seção transversal as emendas que se superpõem ou cujas extremidades mais
próximas estejam afastadas de menos que 20% do comprimento do trecho de
traspasse.
Ainda, no mesmo item, a Norma diz que quando as barras têm diâmetros
diferentes, o comprimento de traspasse deve ser calculado pela barra de maior
diâmetro. Estes efeitos são vistos abaixo na Figura 02:

Figura 02 – Emendas na mesma seção transversal.

Assim, A proporção máxima de barras tracionadas da armadura principal


emendadas por transpasse em uma mesma seção transversal do elemento estrutural
devem obedecer o disposto abaixo na Tabela 01:
A NBR 6118:2014 ainda diz que “a adoção de proporções maiores que as
indicadas deve ser justificada quanto à integridade do concreto na transmissão das
forças e da capacidade resistente da emenda, como um conjunto, frente à natureza
das ações que a solicitem”.

Unoesc (Campus Chapecó/SC) – Concreto Armado I – Emenda e traspasse de barras.


4

Tipo de Carregamento
Tipo de Barra Situação
Estático Dinâmico
Em uma camada 100% 100%
Alta Aderência
Em mais de uma camada 50% 50%
Ø < 16mm 50% 25%
Lisa
Ø ≥ 16mm 25% 25%

Tabela 01 – Proporção máxima de barras emendadas.

3.1.1. COMPRIMENTO DE TRASPASSE DE BARRAS TRACIONADAS ISOLADAS

Segundo o item 9.5.2.2.1 da NBR 6118:2014, “quando a distância livre entre


barras emendadas estiver compreendida entre zero e 4Ø, o comprimento do trecho
de transpasse para barras tracionadas deve ser:”

𝑙0𝑡 = 𝛼0𝑡 𝑙𝑏,𝑛𝑒𝑐 ≥ 𝑙𝑏,𝑚𝑖𝑛

Onde:
- l0t,mín é o maior valor entre 0,3 α0t lb, 15Ø e 200 mm;
- α0t é o coeficiente função da porcentagem de barras emendadas na mesma seção,
conforme Tabela 02.

Barras emendadas na mesma seção % ≤ 20 25 33 50 > 50


Valores de α0t 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0

Tabela 02 – Valores do coeficiente α0t.

3.1.2. COMPRIMENTO DE TRASPASSE DE BARRAS COMPRIMIDAS ISOLADAS

Nas emendas de barras de aço à compressão existe o efeito favorável da ponta


da barra e, por este motivo, o comprimento da emenda não é majorado como no caso
de emendas de barras tracionadas.
Quando as barras estiverem comprimidas, como ocorre normalmente com as
barras longitudinais dos pilares, adota-se a seguinte expressão para cálculo do
comprimento de transpasse:

Unoesc (Campus Chapecó/SC) – Concreto Armado I – Emenda e traspasse de barras.


5

𝑙0𝑐 = 𝑙𝑏,𝑛𝑒𝑐 ≥ 𝑙0𝑐,𝑚𝑖𝑛

Onde:

0,6lb

l0c,min ≥ 15Ø

200mm

O conceito das siglas acima foram apresentados na apostila anterior, ao longo


do conteúdo de “aderência e ancoragem de barras de armaduras”.

3.2. ARMADURA TRANSVERSAL NAS EMENDAS POR TRANSPASSE DE


BARRAS ISOLADAS

Com o objetivo de combater as tensões transversais de tração, que podem


originar fissuras na região da emenda, a NBR 6118/03 recomenda a adoção de
armadura transversal à emenda, em função da emenda ser de barras tracionadas,
comprimidas ou fazer parte de armadura secundária.

3.2.1. ARMADURA PRINCIPAL TRACIONADA

Quando Ø < 16 mm e a proporção de barras emendadas na mesma seção for


menor que 25 %, a área de armadura transversal deve resistir a 25% da força
longitudinal atuante na barra.
Nos casos em que Ø ≥ 16 mm ou quando a proporção de barras emendadas na
mesma seção for maior ou igual a 25 %, a armadura transversal deve:
— ser capaz de resistir a uma força igual à de uma barra emendada, considerando os
ramos paralelos ao plano da emenda;
— ser constituída por barras fechadas se a distância entre as duas barras mais
próximas de duas emendas na mesma seção for < 10 Ø (Ø = diâmetro da barra
emendada);
— concentrar-se nos terços extremos da emenda.

Unoesc (Campus Chapecó/SC) – Concreto Armado I – Emenda e traspasse de barras.


6

Figura 03 – Disposição da armadura transversal em emendas de barras tracionadas.

3.2.2. EMENDAS DE BARRAS COMPRIMIDAS

Devem ser mantidos os critérios estabelecidos para o caso anterior, com pelo
menos uma barra de armadura transversal posicionada 4 Ø além das extremidades
da emenda.

Figura 04 - Disposição da armadura transversal em emendas de barras comprimidas.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118. Projeto de


estruturas de concreto – Procedimento. São Paulo, 2004.

BASTOS, Paulo Sérgio dos Santos. Notas de aula da disciplina 1309 - Estruturas
de concreto II, FEC-Unicamp, Universidade Estadual Paulista, Campinas, São Paulo,
2006.

FUSCO, P.B. Técnica de armar as estruturas de concreto. São Paulo, Ed. Pini,
2000, 382p.

Unoesc (Campus Chapecó/SC) – Concreto Armado I – Emenda e traspasse de barras.


7

LEONHARDT, F.; MÖNNIG, E. Construções de concreto – Princípios básicos do


dimensionamento de estruturas de concreto armado, v. 1, Rio de Janeiro, Ed.
Interciência, 1982, 305p.
LEONHARDT, F.; MÖNNIG, E. Construções de concreto – Princípios básicos
sobre a armação de estruturas de concreto armado, v. 3, Rio de Janeiro, Ed.
Interciência, 1982, 273p.

PINHEIRO, Libânio M.; MUZARDO, Cassiane D.; SANTOS, Sandro P. (2003). Notas
de aula da disciplina CV714 Concreto I, FEC-Unicamp, Universidade Estadual
Paulista, Campinas, São Paulo, 2003.

Unoesc (Campus Chapecó/SC) – Concreto Armado I – Emenda e traspasse de barras.

Você também pode gostar