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Kushim nasceu em El-Badari, mas logo foi sequestrado para um jardim cuja a localização foi

perdida. Veio ao mundo e foi tirado das mãos de sua mãe, sua língua foi retirada de sua boca, seus
tímpanos foram destruídos em seus ouvidos, a linguagem foi retirada do seu futuro.
Seu convívio era quase que exclusivamente com ____ , todos os dias depois que completou
9 anos ele passava o dia aprendendo uma dança especifica com ____.
A 6 meses de completar 41 anos, ele vestiu vestes douradas e uma venda. Foi guiado por
_______ , que agora tinha 81 anos, para o jardim principal. Ele não via, mas ali com ele haviam
outros 80 dançarinos, todos vestidos exatamente como ele e que viveram o que ele viveu.
Os 81 ________ saíram do jardim.
Aquele que foi morto pelo veneno dos sete, concentrado no escorpião Tefen, e que foi
ressuscitado por Isis, a que sabia o verdadeiro nome de Rá, subiu no púlpito central.
Ali, além de Rá, ele era o único ser vivo que via.
O sinal é dado, o sol está no topo do céu e a dança é iniciada.
Cada passo é executado com perfeição, cada respiração, cada contração, o controle é
tamanho, que até o movimento das suas vestes segue o roteiro e desempenham seu papel.
Aquele que foi ressuscitado assiste o sol banhando cada um dos 81, vê os raios sendo
refletidos, as sombras sendo criadas. Tudo parece caótico, cada dançarino executa uma dança
distinta só conhecida por ele e pelo seu mentor. Esse caos dura alguns instantes, até as sombras e o
reflexo de todos começarem a se combinar e criar símbolos. Naquele instante a dança cessa. Mas
foi suficiente para o nome de Rá ser formado, ali estava a representação de um dos maiores
mistérios e maiores forças do universo. E só um humano e um Deus o havia visto.
Ao fim da dança, cada discipulo voltou ao seu quarto, velou e sepultou o seu _______. No
dia seguinte, recebeu do Nilo uma criança sem língua.
Kushim, após a dança, não fez nada disso.
Isis, senhora da Magia, conseguiu enganar Rá e descobrir o seu verdadeiro nome, essa
palavra era a que dava todo o poder a Num, o ser subjetivo, que se transforma no ser objetivo.
A Deusa enquanto procurava pelo corpo de seu irmão Seth, acabou ressuscitando uma
criança que havia sido assassinada por um dos seus sete escorpiões, que havia combinado o veneno
dos sete em seu ferrão. O que ela não sabia, é que enquanto rogava por Rá para que a criança fosse
ressuscitada, o verdadeiro nome do Deus foi ouvido pela criança morta.
O morto ouviu, mas nem em vida nem em morte a língua havia chegado nele e por isso o
nome não poderia ser reproduzido, porem os seus poderes permearam em todo o seu ser.
Durante séculos ele viveu como humano, aproveitando os prazeres terrenos, até ver que Rá
estava perdendo seu poder, começará a esquecer o próprio nome após Isis ter tomado o
conhecimento dele. Guiado pelo intuito de ajudar Rá, a criança renascida acumulou riquezas, criou
um império e um jardim oculto banhado pelos mais puros raios do Deus. Ali ele fundou a sociedade
dos Raios Dançantes.
Ele treinou pessoalmente e individualmente cada um dos primeiros 81 recém nascidos que o
Nilo trouxera para ele, já com as línguas retiradas por crocodilos e a audição destroçada pelo rio.
Conseguia treinar todos os 81 discípulos diariamente, a luz do dia parecia se expandir para a criança
renascida.
Uma única vez alguém de fora penetrou nos jardins, e por isso toda a vila do invasor foi
destruída por sete pragas, todos os descendentes e antepassados vivos foram mortos e retirados
da história da terra.
A sociedade relembrava a cada 81 anos o nome real de Rá ao próprio Rá, seu poder foi
voltando ao patamar original. Porém com algo diferente, o sol que agora banhava a terra não era
apenas benigno, ele também queimava e secava, ele tirava vida, parecia estar envenenado.
Mas aquele era o nome que a criança escutara, e ele continuou reproduzindo-o por mais de
um milênio.
Até que Kushin também o viu.
A escuridão era total, nada permeava a venda, e sua mente nunca soubera o que é um som.
Mesmo assim ele sentia cada um dos passos dos outros 80 dançarinos, nunca havia se comunicado
com um deles, executavam algo em conjunto, passaram a vida juntos, mas as danças eram
totalmente distintas. Algo havia sido retirado da mente de cada uma daquelas crianças, não fora
apenas a capacidade de falar e escutar, mas a capacidade de questionar.
Eles passaram aqueles 14.792,63 dias sonâmbulos, desempenhando atividades rotineiras,
sem nenhuma noção do que era a sociedade, sem questionar nada nem duvidar de nada, sem
saber que eles eram eles.
Mas a brisa da dança o fez sentir, sentir o quão individual ele era, o quão distinta sua dança
era daqueles 80.
Ali ele despertou.
E sua mente se conectou com a única outra mente que havia ali.
Ele viu com os olhos da criança morta ressuscitada.
Naquele lapso de tempo em que sua visão vagou, ele errou um passo. Com isso o veneno foi
retirado do nome, veneno que nem Isis sabia que havia se mesclado com o nome do seu Deus
quando o chamará. Assim ele viu a dança que a criança nunca tinha visto.
A dança como um todo, o padrão das sombras e raios, os símbolos. Ele viu o verdadeiro
nome de Rá.
A criança finalmente recebeu o seu descanso.
Enquanto a sanidade retornava a Rá, Koushin tentava controlar todas as informações que
chegavam a sua mente. O haviam privado de tanta coisa, de tudo na verdade. Ele havia estado no
universo sem viver, e a vida vinha como enxurrada para ele.
Ele nunca conhecera o amor, e antes de conhecer, viu o ódio. Ao sentir outras mentes
falando, ele também tentou criar sons, mas não conseguia. Passou dias tentando, analisando a
mente daqueles outros seres (que se autodenominavam humanos). Até conseguir criar um som
com sua boca, ele gritou o ódio da não existência, a força de Rá se permeou em suas cordas, o ar
aqueceu e se transformou em uma terrível tempestade varrendo todo o jardim e a cidade onde ele
estava. Ele continuou gritando durante meses. Só parou quando percebeu que os gritos não o
deixava escutar as outras mentes, que todo aquele barulho o levava novamente ao silencio que
havia sido a sua vida. Ele não queria aquilo e parou de gritar.
Mas o ódio ainda habitava o seu coração, ele começara a amar a humanidade, porem via
aquela segregação do conhecimento se permeando em varias esferas de sua sociedade. Ele iria
lutar contra isso.
Sua primeira decisão foi passar o conhecimento do nome de Rá adiante, mas de uma forma
que ele não pudesse ser mal utilizado. Então ele criou uma nova dança, uma dança com milhares de
passos e milhares de variações e os ensinou para cada povo da terra. Assim, Rá e apenas ele, vê
seu nome em toda a fase da terra e não esquece mais de quem ele é.
Ao fim dessa missão, Kushin também descansou. Ele deixou essa realidade em profunda
tristeza, agora ele sabia o que é uma mãe, um amigo, uma amante mas sem nunca ter vivido isso.

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