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Resumo: A Constituição Federal de 1988 traz princípios (expressos e implícitos) que devem ser
observados pelo administrador público em sua atuação administrativa. Num Estado de Direito
não se pode admitir a prática de atos atentatórios à moralidade administrativa e causadores de
prejuízo ao erário público ou que ensejam enriquecimento ilícito. O objetivo deste trabalho é
tecer breves comentários sobre a improbidade administrativa e sua relação com o princípio
constitucional da Moralidade.
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17/11/2020 O princípio da moralidade na administração pública e a improbidade administrativa - Âmbito Jurídico
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Abstract: The Federal Constitution of 1988 brings principles (express and implicit) that they
must be observed by the public administrator in its administrative performance. In a Rule of law
if it cannot admit the practical one of offensive to the administrative morality and .causing acts
of damage to the public state treasury or that they try illicit enrichment. The objective of this
work is to weave brief commentaries on the administrative improbity and its relation with the
constitutional principle of the Morality.
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17/11/2020 O princípio da moralidade na administração pública e a improbidade administrativa - Âmbito Jurídico
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Introdução
Para que possamos caracterizar a função administrativa faz-se necessário lembrar a clássica
tripartição das funções do Estado, desenvolvida pelo Barão de Montesquieu em sua obra “O
Espírito das Leis”, que trata da divisão orgânica do poder. Ele defende a existência de uma
trilogia das funções do Estado, quais sejam, a legislativa, a administrativa (ou executiva) e a
jurisdicional, correspondentes aos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, respectivamente.
Apesar do entendimento da unicidade do Poder Estatal, essa construção política está presente
no ordenamento jurídico de grande número de países, com o objetivo de impedir a
concentração de poderes e a conseqüente violação da liberdade dos indivíduos decorrente do
abuso e tirania dos governantes (MELLO, 2007, p. 29):
“(…) é uma experiência eterna a de que todo homem que tem poder tende a abusar dele; ele vai
até onde encontra limites. Quem o diria! A própria virtude tem necessidade de limites para que
não se possa abusar do poder é preciso que,pelas disposições das coisas, o poder detenha o
poder.”
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O princípio desenvolvido por Montesquieu busca o equilíbrio dos poderes a fim de que se
assegurem os direitos e garantias aos particulares, face à necessidade do controle. Foi desse
entendimento que resultou o método de freios e contrapesos adotado em nosso ordenamento
jurídico, segundo o qual um Poder limita o outro. (MEIRELLES, 2002, p. 60).
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Administração, segundo nosso modo de ver, é a atividade do que não é proprietário – do que
não tem a disposição da coisa ou do negócio administrado, afirma LIMA (LIMA, 1962, p. 22
apud MELLO, 2007, p. 52).
Por sua vez, a função administrativa qualifica-se como atividade estatal na gestão de interesses
públicos definidos em lei, é por isso que a atuação do administrador público está voltada para
o cumprimento da finalidade pública prevista em lei.
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A Constituição Federal traz em seu art. 37, caput os princípios[1] básicos da Administração
Pública que devem ser observados pelo administrador no exercício da função administrativa.
São, portanto, princípios explícitos no texto constitucional, norteadores da atividade
administrativa no âmbito público, a saber: Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade
e Eficiência. Temos também princípios constitucionais implícitos, quais sejam: Princípio da
Supremacia do Interesse Público, Principio da Finalidade, Principio da Razoabilidade, Principio
da Proporcionalidade e o Princípio da Responsabilidade do Estado. Nessa breve reflexão,
abordaremos especialmente o princípio constitucional da moralidade.
O texto constitucional ao apontar os princípios que devem ser observados pelo administrador
público no exercício de sua função, inseriu entre eles o princípio da moralidade. Isso significa
que em sua atuação o administrador público deve atender aos ditames da conduta ética,
honesta, exigindo a observância de padrões éticos, de boa-fé, de lealdade, de regras que
assegurem a boa administração e a disciplina interna na Administração Pública (MARINELLA,
2005, p. 37). Moralidade administrativa está ligada ao conceito de bom administrador.
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“Poder-se-á dizer que apenas agora a Constituição Federal consagrou a moralidade como
principio de administração pública (art 37 da CF). isso não é verdade. Os princípios podem estar
ou não explicitados em normas. Normalmente, sequer constam de texto regrado. Defluem no
todo do ordenamento jurídico. Encontram-se ínsitos, implícitos no sistema, permeando as diversas
normas regedoras de determinada matéria. O só fato de um princípio não figurar no texto
constitucional, não significa que nunca teve relevância de principio. A circunstância de, no texto
constitucional anterior, não figurar o principio da moralidade não significa que o administrador
poderia agir de forma imoral ou mesmo amoral. Como ensina JesusGonzales Perez “el hecho de
su consagracion em uma norma legal no supone que com anterioridad no existiera, ni que por tal
consagración legislativa haya perdido tal carácter” (El principio de buena fé em el derecho
administrativo. Madri, 1983. p. 15). Os princípios gerais de direito existem por força própria,
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“Difícil de saber por que o princípio da moralidade no direito encontra tantos adversários. A
teoria moral não é nenhum problema especial para a teoria legal. As concepções na base natural
são analógicas. Por que somente a proteção da legalidade e não da moralidade também? A
resposta negativa só pode interessar aos administradores ímprobos. Não à Administração, nem à
ordem jurídica. O contrário seria negar aquele mínimo ético mesmo para os atos juridicamente
lícitos. Ou negar a exação no cumprimento do dever funcional.”
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“Atos de improbidade administrativa são aqueles que, possuindo natureza civil e devidamente
tipificados em lei federal, ferem direta ou indiretamente os princípios constitucionais e legais da
administração pública, independentemente de importarem enriquecimento ilícito ou de causarem
prejuízo material ao erário público” (MORAES, 2005, p.320).
“é irresponsável aquele que macula, tisna, fere, atinge, agride a moralidade pública, sendo
ímprobo administrador, favorecendo terceiros, praticando a concussão ou sendo instrumento de
corrupção” (GANDRA apud DI PIETRO, 2007, p. 123).
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O nosso ordenamento jurídico possui vários mecanismos para impedir a prática de atos de
imoralidade, tais como os remédios constitucionais, principalmente, a ação popular, prevista no
art. 5º, LXXIII da CF; a Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei complementar nº 100/2000), normas
sobre improbidade administrativa, previstas no art. 37, § 4º, da CF e a Lei 8.429/92, entre
outros. É a Lei 8.429, de junho de 1992 que cuida da Improbidade Administrativa, dispondo
sobre as sanções aplicáveis ao agente público, no exercício do mandato, cargo, emprego ou
função, na administração direta, indireta ou fundacional, além de definir como e quando sua
conduta se traduz em ato com tal definição. Essa lei estabelece uma lista de condutas definidas
como ato de improbidade, mas trata-se de rol meramente exemplificativo, pois uma
determinada conduta, ainda que não se enquadre em uma das hipóteses previstas
expressamente nos dispositivos legais, poderá será considerada conduta ímproba.
Comparando a moralidade com a probidade, afirma DI PIETRO (2007, p. 744) que, como
princípios significam praticamente a mesma coisa, mas quando se fala em improbidade como
ato ilícito, como infração sancionada pelo ordenamento jurídico, deixa de haver sinonímia entre
as duas expressões, porque a improbidade tem sentido mais amplo e mais preciso, que
abrange não só atos desonestos ou imorais, mas também, e principalmente, atos ilegais. Na lei
de improbidade administrativa a lesão à moralidade administrativa é apenas uma das inúmeras
hipóteses de atos de improbidade previstos em lei.
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“Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou
omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento
ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades” (…)
“Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da
administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade,
imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições” (…)
O comando do art. 10, corresponde ao permitir que alguém integre ao próprio patrimônio, o
que é público; à utilização de bens, rendas ou valores incluídos na condição de indisponíveis; às
doações mesmo que com fins nobres, tipo educativo; a disponibilizar de forma pessoal a quem
quer que seja o que é exclusivo do patrimônio coletivo e pelo poder público tutelado.
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A lei prevê punições para quem praticar atos de improbidade administrativa, sendo que as
penas previstas em lei variam de acordo com a gravidade do ato, sendo possível a aplicação
cumulativa, conforme previsão do art. 12 [4] da lei., que estabelece as possibilidades.
Na fixação da pena o juiz deve levar em conta a extensão do dano causado, bem como o
proveito patrimonial obtido pelo agente, que são critérios para orientar o juiz na fixação da
pena. Na hipótese da conduta do agente se enquadrar nos três tipos de improbidade
administrativa previstos em lei, serão cabíveis as sanções previstas para a infração mais grave
(enriquecimento ilícito).
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Como forma de prevenção, embora nem sempre eficiente, a lei prevê a declaração de bens dos
agentes que se investem de função pública, com obrigação de atualização anual.
Falou aqui, de forma reiterada, que o administrador público deve observar o princípio da
moralidade em sua atuação na Administração Pública, mas não somente esse, mas também o
particular que se relacionar com a Administração deve observar este principio. Pois são
freqüentes em matéria de licitação,principalmente, os conluios entre licitantes, caracterizando
ferindo o referido principio, violando a boa –fé, os padrões éticos de probidade, o decoro,
enfim, a moralidade administrativa.
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De forma que, mesmo que o comportamento da Administração ou do particular que com ela
estabelece relação jurídica, ainda que esteja de acordo com a lei, ferir a moral, os bons
costumes, as regras de boa administração, estará violando o principio da moralidade. O ato
administrativo que foi praticado nessas circunstâncias deve ser retirado do ordenamento
jurídico, quer pela própria Administração, quer pelo Poder Judiciário, não podendo produzir
efeitos jurídicos.
Considerações finais
Sabemos que o sistema jurídico brasileiro adotou uma série de princípios norteadores da
atividade administrativa, os quais devem ser aplicados a todos que, direta ou indiretamente,
lidem com dinheiro público, sob pena de em caso de inobservância, serem devidamente
responsabilizados civil, administrativa e penalmente, dependendo do grau de agressão ao
patrimônio público.
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Referências bibliográficas:
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 20ª ed. São Paulo:Atlas, 2007.
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GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 12ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 33ª ed. São Paulo: Malheiros, 2002.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Ed. Malheiros
Editores, 23ª Edição, 2007.
Notas:
[1] Princípios são as proposições básicas, fundamentais, típicas que condicionam todas as
estruturações subseqüentes. Princípios, neste sentido, são os alicerces da ciência.
Diz MELLO: “violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A
desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório,
mas todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou
inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência
contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremessível a seu
arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra.
Os princípios são algo maior que as próprias normas. Estas podem ou não expressar algum
princípio, quando então receberão a feliz denominação trazida por José Afonso da Silva, de
“normas-princípios”. Os princípios não necessitam, no entanto, estar descritos na letra fria da
lei; eles transcendem o campo aleatório da vontade do legislador, para, em nome da segurança
jurídica, firmarem-se como postulados imanentes a todo e qualquer ordenamento que preze
pela manutenção da Democracia e do Estado de Direito.
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[2] STF – 2ª T. Recurso Extraordinário nº 160.381 – SP, Rel. Min. Marco Aurélio, v.u.; RTJ
153/1.030
[4] Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas, previstas na
legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes
cominações:
I – na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio,
ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função pública, suspensão dos
direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três vezes o valor do
acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou
incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa
jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;
II – na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores
acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função pública,
suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas
vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou
incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa
jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;
III – na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função pública,
suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem
vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder
Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda
que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.
Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta lei o juiz levará em conta a extensão do
dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente.
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