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Caroline Macêdo.
Patogênese/Fisiopatologia.
Atividade neuronal normal ocorre de maneira não sincronizada, com grupos de neurônios inibidos e
excitados sequencialmente durante a transferência de informações entre áreas encefálicas
diferentes. As convulsões ocorrem quando neurônios são ativados de maneira simultânea. O tipo de
convulsão depende da localização da atividade anormal e do padrão de disseminação a partes
diferentes do encéfalo.
Descargas em ponta interictais são observadas frequente- mente em registros de EEG de pacientes
epilépticos, e se devem à despolarização sincrônica de um grupo de neurônios em uma área
anormalmente excitável do encéfalo. Experimentalmente, isso é conhecido como desvio
despolarizante paroxístico e é seguido por um potencial subsequente hiperpolarizante, que é o
orrelato celular da onda lenta que se segue a descargas em ponta no EEG. O desvio é produzido por
correntes despolarizantes geradas em sinapses excitadoras e por influxo subsequente de sódio ou
cálcio por meio de canais com portão de voltagem.
A disseminação de uma descarga local acontece por uma combinação de mecanismos. Durante o
desvio despolarizante paroxístico, potássio extracelular se acumula, despolarizando neurônios
próximos. A frequência aumentada de descargas amplia o influxo de cálcio para dentro de
terminações nervosas, aumentando a liberação de neurotransmissor em sinapses excitadoras por
um processo conhecido como potenciação pós-tetânica. Isso envolve influxo aumentado de cálcio
por meio de canais com portão de voltagem e por meio do subtipo N-metil-d-aspartato (NMDA) de
canais iônicos com portão de receptor de glutamato. Pelos canais com portão de receptor NMDA
passam preferencialmente íons cálcio, mas são relativamente quiescentes durante a transmissão
sináptica normal, porque são bloqueados por íons magnésio.
Modelos animais têm fornecido pistas para a patogênese das convulsões de ausência. As convulsões
de ausência se originam de descargas talâmicas sincrônicas que são mediadas por ativação de
correntes de cálcio de baixo limiar (correntes T ou “transitórias”) em neurônios talâmicos. O
anticonvulsivante etossuximida bloqueia canais T e suprime convulsões de ausência em seres
humanos. Os canais T têm maior probabilidade de serem ativados depois da hiperpolarização da
mem- brana celular. A ativação de receptores GABAB hiperpolariza neurônios talâmicos e facilita a
ativação de canais T. Camundongos letárgicos (lh/lh) demonstram crises de ausência frequentes
acompanhadas por descargas ponta-onda de 5 a 6 Hz no EEG, e respondem a fármacos usados na
epilepsia de au- sência humana. Uma mutação isolada em um gene no cromossomo 2 resulta nesse
distúrbio autossômico recessivo. Há um aumento do número de receptores GABAB no córtex
cerebral nesses camundongos, e o agonista GABAB, baclofeno, piora as convulsões, ao passo que
antagonistas as aliviam.
Isso sugere que a regulação anormal da função ou a expressão de receptor GABAB pode ser
importante na patogênese das convulsões de ausência. Isso é apoiado pelo achado de que γ-
hidroxibutirato, que causa alterações comportamentais e eletrencefalográficas semelhantes às
observadas durante crises de ausência, ativa receptores GABAB, e que agonistas GABAB aumentam
e antagonistas GABAB diminuem descargas ponta-onda em ratos geneticamente suscetíveis a
convulsões de ausência (ratos GAERS).
Os alvos principais para os anticonvulsivantes disponíveis atualmente são (1) canais iônicos com
portão de voltagem que estão envolvidos na geração de potenciais de ação e na liberação de
neurotransmissores, e (2) canais com portão de ligante que modulam excitação e inibição sináptica.
Muitos agentes atuam por mais de um mecanismo.
03- Estudar como é realizado o tratamento da convulsão e epilepsia (mecanismo de ação dos
principais fármacos antiepiléticos).
Os fármacos constituem o tratamento de primeira linha para a maioria das crises epilépticas. A
lamotrigina é considerada o fármaco de primeira escolha para as crises epilépticas focais, e o
valproato, para as crises epilépticas generalizadas. Entretanto, com os medicamentos mais novos
disponíveis no mercado, qualquer fármaco isolado ou combinação de fármacos podem ser utilizados
com as seguintes metas: (1) controle das crises epilépticas e (2) reações adversas mínimas. Outros
fatores a considerar são o tipo de crises epilépticas, a idade e o sexo do paciente, comorbidades e
custo. A maioria dos fármacos antiepilépticos têm usos específicos, isto é, são valiosos no
tratamento de tipos específicos de crises epilépticas. As categorias de fármacos utilizadas como
antiepilépticos incluem as hidantoínas, os derivados do ácido carboxílico, as succinimidas, as
oxazolidinedionas e os benzodiazepínicos. Além disso, vários fármacos mais recentes são utilizados
como antiepilépticos e não se enquadram em uma categoria específica. Todos esses fármacos têm a
capacidade de deprimir as descargas neurais anormais no sistema nervoso central (SNC), inibindo,
assim, a atividade convulsiva.
AÇÕES
2.Os derivados do ácido carboxílico aumentam os níveis de ácido gama (γ)-aminobutírico (GABA),
estabilizando as membranas celulares.
3.As succinimidas deprimem o córtex motor, elevando o limiar antes que os nervos possam reagir
aos estímulos convulsivos.
OUTRA REFERÊNCIA.
Antiepilépticos que apresentam como efeito adverso indução ou inibição de enzimas devem ser
evitados. Isso evita não apenas interações farmacocinéticas entre os anticonvulsivantes como
também evita dificuldades futuras, considerando o tratamento por toda a vida quando, por outras
indicações, precisam ser administrados outros medicamentos. A dosagem do antiepiléptico deve ser
aumentada gradualmente até que não ocorram mais ataques ou até que os efeitos adversos se
tornem intoleráveis. Somente quando o monotratamento com diversos fármacos é mal sucedido,
faz-se a troca para um fármaco de segunda linha ou tenta-se uma associação (adição) ( ► Fig. 40.2B),
atentando para o risco de interação farmacocinética (ver a seguir).
O essencial é que a excitabilidade possa ser diminuída mediante inibição dos neurônios excitatórios
ou ativação dos inibidores. O transmissor utilizado pela maioria dos neurônios excitatórios é o
glutamato, e a maioria dos inibidores utilizam o GABA.
Os receptores de glutamato compreendem três tipos, dos quais o denominado receptor NMDA tem
a maior importância sob aspecto terapêutico. (O N-metil-D-aspartato é um agonista seletivo
sintético.) Esse receptor é um canal iônico ativado por ligante que, sob estimulação com glutamato,
permite a entrada de íons sódio e cálcio na célula. Para o GABA inibidor, é importante um receptor
canal iônico de cloreto cuja função pode ser reforçada pela ligação em um local alostérico.
Os benzodiazepínicos aumentam a ativação do receptor GABAA por via alostérica (p. 222) mediante
liberação fisiológica de GABA. Há uma entrada de cloro na célula, o que dificulta sua despolarização.
A tiagabina bloqueia a remoção do GABA da fenda sináptica, diminuindo sua captação. A vigabatrina
inibe a metabolização enzimática do GABA (► Fig. 40.2B).
Na ► Figura 40.3, estão reunidas as frases de efeito (slogans) das informações especializadas dos
fabricantes dos medicamentos. Os mecanismos de ação dos anticonvulsivantes citados mais
frequentemente são:
Na maioria dos casos, o mecanismo molecular de ação dos antiepilépticos não é conhecido
precisamente. Considerando a complexidade da função cerebral, que também não é bem conhecida,
isso não é uma surpresa. O farmacologista experimental que está à procura do mecanismo
molecular de ação é forçado a simplificar o complexo sistema em um modelo. Isso significa ao
mesmo tempo afastar-se da situação real. Assim, o eletrofisiologista, para avaliar a ação de um
fármaco em um determinado tipo de canal iônico, precisa “desligar” outros canais que interferem.
Medir a ligação de fármacos em possíveis estruturas-alvo pode ser feito em suspensões de
membranas de células alteradas geneticamente (p. ex., células ovarianas de hamster chinês) que
receberam o gene para a estrutura-alvo desejada. As medidas feitas em homogenados de
membranas significa, porém, que a diferença de potencial entre os lados interno e externo foi
anulada. Com esse fundamento, não se pode concluir que o mecanismo de ação molecular
observado no laboratório é decisivo para o complexo mecanismo terapêutico.
Deve-se notar que uma série de fármacos baixam o limiar convulsivo (p. ex., neurolépticos, o
tuberculostático isoniazida, dosagens elevadas de antibióticos β-lactâmicos) e, por isso, são
contraindicados nos pacientes epilépticos.
CAUSAS DAS CONVULSÕES E DA EPILEPSIA
As convulsões resultam de um desvio no equilíbrio normal entre excitação e inibição no SNC. Em
função das várias propriedades que controlam a estabilidade neuronal, não causa surpresa o fato de
existirem muitas formas diferentes de perturbar esse equilíbrio normal e, portanto, muitas causas
diferentes para as convulsões e a epilepsia. Três observações clínicas importantes enfatizam como
diversos fatores determinam por que certas condições causam convulsões ou epilepsia em um dado
paciente.
1.O cérebro normal é capaz de sofrer uma convulsão sob as circunstâncias apropriadas, havendo
diferenças entre as pessoas na suscetibilidade ou no limiar para as convulsões . Por exemplo, as
convulsões podem ser induzidas por febre alta em crianças normais sob outros aspectos e que nunca
desenvolvem outros problemas neurológicos, incluindo epilepsia. Porém, as convulsões febris
ocorrem apenas em uma proporção pequena de crianças. Isso implica que há vários fatores
endógenos subjacentes que influenciam o limiar para uma convulsão. Alguns desses fatores são
genéticos, visto que a história familiar de epilepsia tem uma clara influência na probabilidade de
ocorrência de convulsões em pessoas normais sob outros aspectos. O desenvolvimento normal
também desempenha papel importante, pois o cérebro parece apresentar limiares diferentes para
convulsão em diferentes estágios de maturação.
2.Há uma variedade de condições que apresentam altíssima probabilidade de acarretar um distúrbio
convulsivo crônico. Um dos melhores exemplos disso é o traumatismo craniano grave penetrante,
associado a risco de quase 45% de epilepsia subsequente. A alta propensão da lesão cerebral
traumática grave de gerar epilepsia sugere que a lesão resulte em uma modificação patológica
persistente no SNC que transforma uma rede neural presumivelmente normal em uma
anormalmente hiperexcitável. Esse processo é conhecido como epileptogênese, e as alterações
específicas que resultam em diminuição do limiar para convulsões podem ser consideradas fatores
epileptogênicos. Outros processos associados à epileptogênese incluem acidentes vasculares
cerebrais (AVCs), infecções e anormalidades do desenvolvimento do SNC. De modo semelhante, as
anormalidades genéticas associadas a epilepsia provavelmente envolvem processos que
desencadeiam o surgimento de conjuntos específicos de fatores epileptogênicos.
3.As convulsões são episódicas. Os pacientes com epilepsia têm convulsões de maneira intermitente
e, de acordo com a causa subjacente, muitos permanecem completamente normais por meses ou
até mesmo anos entre as convulsões. Isso sugere a existência de fatores desencadeantes ou
precipitantes importantes que induzem convulsões no paciente com epilepsia. De modo análogo,
fatores desencadeantes são responsáveis pela ocorrência da convulsão isolada em indivíduos sem
epilepsia. Os fatores precipitantes incluem aqueles que decorrem de processos fisiológicos
intrínsecos, como estresse psicológico ou físico, privação do sono ou alterações hormonais. Também
incluem fatores exógenos como exposição a substâncias tóxicas e a certos fármacos.
Essas observações enfatizam o conceito de que muitas causas de convulsões e epilepsia resultam de
uma interação dinâmica entre fatores endógenos, fatores epileptogênicos e fatores desencadeantes.
O papel em potencial de cada um precisa ser cuidadosamente analisado ao se definir a conduta
apropriada para um paciente com convulsões. Por exemplo, a identificação de fatores
predisponentes (p. ex., história familiar de epilepsia) em paciente com convulsões febris pode
aumentar a indicação para acompanhamento mais atento e avaliação diagnóstica mais agressiva. A
descoberta de uma lesão epileptogênica ajuda a estimar a recorrência das convulsões e a duração da
terapia. Por fim, a remoção ou modificação de um fator desencadeante pode ser um método eficaz e
mais seguro de prevenir novas convulsões do que o uso profilático de anticonvulsivantes.
Na prática, é útil considerar as etiologias das convulsões com base na idade do paciente, pois a idade
é um dos fatores mais importantes para determinar a incidência e a provável causa das convulsões
ou da epilepsia (Tab. 418-4). Durante o período neonatal e primeira infância, as causas em potencial
incluem encefalopatia hipóxico-isquêmica, traumatismo, infecção do SNC, anormalidades congênitas
do SNC e distúrbios metabólicos. Os recém-nascidos de mães que utilizaram substâncias
neurotóxicas como cocaína, heroína ou etanol são suscetíveis a convulsões por abstinência da
substância nos primeiros dias de vida. Hipoglicemia e hipocalcemia, que podem ocorrer como
complicações secundárias de lesão perinatal, também são causas de convulsões logo após o
nascimento. As convulsões provocadas por erros inatos do metabolismo em geral manifestam-se
quando a alimentação regular é iniciada, com 2 a 3 dias de vida. A deficiência de piridoxina (vitamina
B6), uma causa importante de convulsões neonatais, é tratada efetivamente com a reposição da
piridoxina. As formas idiopáticas e hereditárias das convulsões neonatais também são vistas nesse
período.
A terceira infância assinala a época em que muitas síndromes epilépticas bem definidas se
manifestam. Algumas crianças, normais nos demais aspectos, desenvolvem convulsões tônico-
clônicas generalizadas idiopáticas sem outras características que se encaixem em síndromes
específicas. A epilepsia do lobo temporal em geral manifesta-se na infância e pode ter relação com a
esclerose do lobo temporal mesial (como parte da síndrome de ELTM) ou outras anormalidades
focais, como disgenesia cortical. Outros tipos de convulsões focais, incluindo aquelas que evoluem
para convulsões generalizadas, podem ser uma manifestação relativamente tardia de um distúrbio
do desenvolvimento, de uma lesão adquirida como traumatismo craniano, de infecção do SNC (em
especial encefalite viral) ou, muito raramente, de tumor do SNC.
O período da adolescência e início da idade adulta é uma fase de transição, durante a qual
síndromes epilépticas de origem genética ou idiopática, como a EMJ e a epilepsia de ausência
juvenil, tornam-se menos comuns, enquanto as epilepsias secundárias a lesões adquiridas do SNC
começam a predominar. As convulsões que começam em pacientes dessa faixa etária podem estar
associadas a traumatismo craniano, infecções do SNC (incluindo infecções parasitárias como a
cisticercose), tumores cerebrais, anormalidades congênitas do SNC, uso de substâncias ilícitas ou
abstinência de álcool. Autoanticorpos dirigidos contra antígenos do SNC como receptores de
glutamato ou canais de potássio são uma causa recentemente reconhecida de epilepsia que também
começa a aparecer nesse grupo etário (embora casos de autoimunidade sejam cada vez mais
descritos na população pediátrica), incluindo pacientes sem um câncer identificável. Deve-se
suspeitar dessa etiologia quando um indivíduo previamente normal apresenta um padrão de
convulsões particularmente agressivo que se desenvolve ao longo de semanas a meses e que se
caracteriza por convulsões cada vez mais frequentes e prolongadas, particularmente quando
combinadas com sintomas psiquiátricos e alterações da função cognitiva (Cap. 90).
O progresso recente mais importante nas pesquisas sobre epilepsia foi a identificação de mutações
genéticas associadas a uma variedade de síndromes epilépticas (Tab. 418-2). Embora a maioria das
mutações identificadas até o presente cause formas raras de epilepsia, sua descoberta proporcionou
avanços conceituais extremamente importantes. Por exemplo, parece que muitas das epilepsias
hereditárias resultam de mutações que afetam a função dos canais iônicos. Portanto, essas
síndromes fazem parte do grupo maior de canalopatias que causam distúrbios paroxísticos como
arritmias cardíacas, ataxia episódica, fraqueza periódica e migrânea (enxaqueca) hemiplégica
familiar. Foi constatado que outras mutações gênicas estão associadas a vias que influenciam o
desenvolvimento do SNC ou a homeostase neuronal. Mutações de novo podem explicar uma
proporção significativa dessas síndromes, em especial aquelas que começam no início da infância.
Um desafio atual é identificar os múltiplos genes de suscetibilidade que originam as formas mais
comuns de epilepsia idiopática. Estudos recentes sugerem que as mutações nos canais iônicos;; e
variantes do número de cópias podem contribuir para a causa em um subgrupo desses pacientes.