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ARTIGO CIENTÍFICO

Artigo Científico
O LÍDER MILITAR: uma visão pessoal.
Luiz Eduardo Rocha Paiva(*)

1 - INTRODUÇÃO consolidada ao longo de mais de quatro


Os estudos sobre liderança vêm ocupando décadas na Força, sendo 38 anos de serviço.
um grande espaço na literatura, nas empresas Alguns aspectos desta percepção coincidem
privadas e em organizações e instituições de com idéias consagradas sobre o tema como
distinta natureza. O cenário atual é não poderia deixar de ser. Outras, creio,
cambiante, dinâmico e conflituoso em todos podem servir de motivo para se meditar e
os ambientes, requerendo chefes que, além discutir.
de excelentes gestores, sejam verdadeiros
líderes. Homens, com visão estratégica,
capazes de: perceber o futuro e, em 2 - CONVICÇÕESAMADURECIDAS.
conseqüência, identificar o que precisa ser Nem todos os chefes militares serão líderes
mudado ou mantido; apontar rumos, definir na plenitude do termo. O Exército Brasileiro
estratégias e estabelecer objetivos; estruturar (EB) precisa identificá-los, valorizá-los e
e desenvolver equipes de alto desempenho; e aproveitá-los, mas deve proporcionar
conduzir seus comandados em cenários de condições para que todos os chefes militares
incertezas e desafios difusos. possam desenvolver atributos de liderança,
As Forças Armadas (FA) têm algumas no mais alto nível, aproximando-se do ideal.
peculiaridades que facilitam e outras que Existem líderes que permanecerão sempre
dificultam transitar nesse terreno perigoso. no anonimato e serão líderes do mesmo nível
Elas formam e aperfeiçoam seus próprios dos grandes capitães da história militar,
líderes, estabelecendo, assim, fortes e embora, talvez, nunca tenham a
perenes laços de comprometimento e oportunidade de demonstrá-lo. No entanto,
lealdade. Por outro lado, a usual terão plena confiança de seus comandados e
interpretação equivocada de princípios e é o que importa para a Força.
valores profissionais – permanentemente Liderar não pode ser um fim em si mesmo.
válidos – cria paradigmas que retardam a Tem que ter um propósito nobre. Servir à
evolução destas Instituições. Pátria, ao EB, à organização militar (OM),
Não vou escrever sobre liderança direta, aos comandados, chefes e irmãos de armas,
organizacional ou estratégica, pois já se sem deixar interesses particulares – bens,
teorizou bastante sobre estes conceitos, que cargos e promoções – guiarem suas ações.
não trazem muita novidade ao tema. O líder tem que compreender e considerar
Liderança é difícil de ser estruturada e a situação em que vai exercer sua chefia –
enquadrada em conceitos herméticos. Ela é missão, tipo e perfil dos comandados e da
exercida nos níveis técnico-tático, fração ou OM –, compatibilizando sua
operacional (intermediário) e estratégico atuação com estes e outros aspectos.
como sempre o foi. Em cada um deles, Há muito não se pensa mais na liderança
variam o grau de cobrança (não tanto de isolada de um chefe sem a participação de
importância) de determinados princípios e líderes intermediários. O líder deve ser um
valores, a freqüência com que o líder deve formador e condutor de líderes.
evidenciar certos atributos, bem como a Em tempos de normalidade, bons e muito
missão e os desafios. bons chefes militares conseguem conduzir a
Neste artigo, apresento uma visão pessoal, Instituição e as OM. Porém, em tempos de

(*)O autor é General-de-Brigada da Reserva do Exército Brasileiro. (EMail: rochapaiva@yahoo.com.br).

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incerteza, insegurança, ameaças ou crises, quem remove montanhas e a conquista; e
embora esses chefes ajudem, a Instituição e - aprimorar o caráter (conjunto de nossos
as OM precisam de líderes que lhes apontem hábitos, virtudes e vícios), o que é possível
os caminhos e as conduzam para vencer enquanto for sensível à voz da própria
desafios e obstáculos anormais. Assim, consciência.
quanto mais altos os escalões maior a Após 38 anos de serviço, não tenho dúvida
necessidade de chefes militares que sejam que integridade moral, senso de justiça,
líderes em sua plenitude, pois nestes níveis coragem, perseverança, humanidade e
reina a incerteza e atuam atores externos austeridade são, ao lado da competência
distintos e com poder para interferir. profissional, as principais qualidades do
A preparação de nossos líderes começa na chefe militar para ser um verdadeiro líder.
Escola Preparatória de Cadetes do Exército
(EsPCEx) e nunca termina. Desenvolve-se de 3 - U M A P R E PA R A Ç Ã O
forma direta, instrução institucional CONTINUADA.
específica, e indireta, integrada a outras Em cada nível – técnico-tático,
disciplinas e atividades entre as quais se intermediário e estratégico – a preparação
inclui o auto-aperfeiçoamento. tem características distintas, pois as
Para o chefe militar aproximar-se do nível expectativas e exigências quanto ao
pleno de liderança será preciso: desempenho do futuro líder são diferentes.
- querer liderar e ter entusiasmo por A preparação evolui de forma contínua,
comandar (é normal o receio); primeiramente passando pelo nível técnico-
- ter amor à Instituição, considerando-a tático, mais evidenciado nos escalões
como uma causa, uma de suas razões de inferiores onde o pensamento cartesiano e o
viver, e ter a capacidade de amar ao próximo, raciocínio lógico são muito importantes.
colocando-se, normalmente, em segundo Neste nível, as situações a enfrentar são
plano; estruturadas e os óbices visíveis, os
- liderar a si próprio (autodisciplina) com ambientes são mais estáveis, o horizonte
renúncia, persistência, honestidade de temporal das ações e dos acontecimentos é de
propósitos e dedicação além do dever; curto prazo, os erros cometidos podem ser
- buscar a excelência profissional e a corrigidos com maior facilidade, tendo
perfeição do caráter (foco no impossível), reflexos localizados e pouco duradouros. Os
sabendo que é humano e vai errar e tropeçar, fins e as estratégias são estabelecidos e
mas vai levantar e prosseguir, esforçando-se transmitidos pelos escalões superiores. Por
para voltar ao rumo certo ciente de que o tudo isso, é importante, também, o estudo das
subordinado não exige a perfeição no líder; ciências exatas na fase inicial da formação de
- todos os atributos são importantes, mas líderes militares, pois elas desenvolvem o
alguns devem ser evidenciados com mais raciocínio lógico. O futuro líder estará em
freqüência ou mais ênfase nos escalões mais contato cerrado e constante com os
baixos (vigor físico, coragem física, etc.), comandados.
enquanto outros nos escalões superiores Posteriormente, entre os escalões
(percepção estratégica, cultura geral, etc.); intermediários e os mais altos, a preparação
- manter um contínuo aperfeiçoamento, começa a galgar o nível estratégico onde vai
seja a cargo do EB, seja por si próprio; prevalecer o pensamento holístico. Aqui, as
- colocar a alma em tudo que fizer, pois se situações não são estruturadas e visíveis, os
é a mente – onde reside a razão – quem ambientes são carregados de incertezas e
descobre e aponta o caminho da vitória, é o instabilidade, o horizonte temporal das ações
coração – onde vive a emoção, a vibração – e dos acontecimentos é de médio ou de longo

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prazo, os erros são difíceis de corrigir em capitães e apenas satisfatórios como oficiais
curto prazo, trazendo reflexos amplos e superiores, ainda que sejam íntegros e
duradouros. Nestes níveis, se definem os fins dedicados. O ideal seria que o nível
e as estratégias institucionais. O líder tem estratégico fosse mobiliado apenas por
escalões de staff e de comando entre ele e os líderes que, também íntegros e dedicados,
liderados executantes. tivessem feito a passagem do nível tático
O estudo de Relações Internacionais, para o estratégico.
Estratégia, Administração, História Militar e
Liderança deve começar no início da carreira 4 - O AMBIENTE CONDICIONA A
e evoluir progressivamente em graus de F O R M A Ç Ã O E O
profundidade e intensidade. O EB não pode APERFEIÇOAMENTO.
esperar o ingresso do oficial na ECEME para O ambiente deve ser acompanhado e
iniciar o estudo destas disciplinas, nem deve considerado, para estabelecer as estratégias
o oficial esperar que apenas a Força o de formação e aperfeiçoamento de líderes,
aperfeiçoe. Deve ser um autodidata, sendo com o cuidado de saber que, tanto aquele,
fundamental a leitura de obras relacionadas quanto estas evoluem com o tempo e exigem
com aquelas disciplinas. medidas de adaptação.
A preparação da passagem do “cartesiano a) O Mundo – características.
para o holístico”, ou seja, do técnico-tático Evolução e mudanças contínuas num
para o estratégico começa desde a formação. ambiente de estressantes e permanentes
Devemos ter em mente que o cidadão não disputas geradoras de conflitos e crises.
ingressa na AMAN para ser um tenente, por Os países dividem-se em um centro
mais importante que seja este posto, e sim dominante, alguns emergentes e a maioria
para ser um chefe militar. Dessa forma, deve periféricos. A globalização obedece à ética
ser preparado, continuamente, para estar em do poder com o centro dominante fazendo
condições de vir a atuar nos altos escalões e a prevalecer seus interesses por meio de
ser um líder na Força no futuro. diversos instrumentos de pressão, inclusive
O ensino de Relações Internacionais na no campo militar. A unipolaridade do final do
AMAN, a partir de 2008, foi um passo século XX vai tendendo para
importante. Outro passo seria o de multipolaridade neste início de século.
aprofundar e aperfeiçoar o ensino de História O nacionalismo prevaleceu sobre
Militar em todas as nossas escolas. liberalismo, socialismo e ambientalismo. O
Quanto ao estudo continuado, seria fundamentalismo religioso tem a capacidade
importante um programa anual de leitura de radicalizar os nacionalismos.
voltado às disciplinas correspondentes ao Existem os chamados temas da “agenda
nível estratégico supramencionado. Tal internacional” – crime organizado, meio
programa seria direcionado aos postos desde ambiente, direitos das minorias e terrorismo
tenente até tenente-coronel (inclusive), – explorados por governos, organismos
sendo interrompido para os oficiais internacionais e ONG, que podem servir de
matriculados em cursos, inclusive os “justificativas” para a ingerência
preparatórios, exercendo missão no exterior internacional em países emergentes e
ou em comando de OM, além de outras periféricos.
situações a serem determinadas. Importância da credibilidade (imagem)
Alguns líderes não conseguirão concretizar o para o exercício da liderança, cujas bases são
“salto do cartesiano para o holístico”. Em o conhecimento e a ética, e o poder da mídia
termos de competência, existirão muito bons de construir e destruir a credibilidade de
líderes como tenentes, que serão bons como líderes e instituições.

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Conclusão Parcial. A riqueza, o desenvolvimento e a
Este ambiente se reflete na segurança e projeção internacional do Brasil nos vão
na defesa nacional, portanto, no preparo e colocar no eixo dos conflitos internacionais,
emprego da Força, o que ressalta a implicando a necessidade de ação conjunta
necessidade de líderes de alta performance. dos Ministérios das Relações Exteriores e da
Líderes militares devem estar Defesa.
capacitados não só para assessorar mas, Existem desequilíbrios internos em
principalmente, para influenciar o Ministro todos os campos do poder, inclusive no
da Defesa e o Chefe de Estado em suas político-militar, estando as FA sucatadas,
decisões. É a chamada liderança reversa. sem peso político e afastadas do núcleo
Visão/percepção, patriotismo, decisório do Estado.
competência interpessoal, cultura geral e Conclusão Parcial.
militar, comunicação e caráter são decisivos Os líderes militares, em princípio,
para a credibilidade e a capacidade de devem participar da formulação de
influenciar. estratégias no nível nacional, inclusive para
b) O Brasil – características. corrigir distorções como as
O Brasil prioriza a solução pacífica de supramencionadas, que enfraquecem
conflitos e, por enquanto, mantém sua politicamente o campo militar.
liderança natural na região sul-americana. Devem saber compatibilizar modos de
O nosso povo é trabalhador, ação, meios e objetivos estratégicos, bem
empreendedor, criativo, idealista ingênuo, de como compreender que as estratégias devem
baixo nível de educação, crítico e alegre. ajustar-se ao contexto cultural e às
O País vive uma crise de valores características nacionais.
prolongada e sofre com uma corrupção O papel dos líderes militares, acima
endêmica, que acarreta o desvio de vultosos descrito, requer um elevado nível de
recursos, não sendo verdade a falta destes liderança para atuar em ambientes externos à
para melhorar a capacidade de dissuasão. As Força, interagindo com profissionais de alto
lideranças nacionais não têm mostrado nível de outras áreas. Assim, são válidas,
compromisso com nosso futuro, estão também, as conclusões parciais da letra “a”.
desacreditadas e não têm visão estratégica. c) O Exército.
Podem ser considerados como nossos É um instrumento instituído pela
valores nucleares: liberdade, família, Nação para, junto com a Marinha do Brasil e
tolerância, misticismo e dignidade da pessoa. a Aeronáutica, assegurar sua defesa e
E, como valores latentes: democracia, garantir os poderes constitucionais, a lei e a
patriotismo e comunitarismo (1). ordem, conforme a Constituição Federal
O Brasil é dependente no campo (CF).
científico-tecnológico, apresenta um baixo A Carta Magna define estas
investimento neste setor e submete-se a Instituições como nacionais e permanentes,
imposições do centro dominante e de subordinadas ao Estado. Organizam-se com
organismos internacionais, no sentido de base na hierarquia e na disciplina, condições
impedir seu desenvolvimento científico e indispensáveis para contar com a confiança
tecnológico. da sociedade em que só usarão os meios de
Temos como grave vulnerabilidade o violência, por ela disponibilizados, para
vazio de poder na Amazônia, que defender os interesses nacionais e não os de
compromete a integridade territorial e a grupos ou indivíduos de qualquer natureza.
soberania nacional e que vem sendo A Portaria do Comandante do Exército
explorada pelo centro dominante. Nr 657, de 04 Nov 2003, estabelece com

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muita justeza a missão, a visão de futuro, a igual ao subordinado e nem este o quer assim.
síntese dos deveres, valores e da ética do Deseja ter um guia que tenha algo a lhe
Exército e os fatores críticos para o êxito da ensinar, para ajudá-lo a progredir, um
missão. conselheiro, um amigo, mas não um parceiro
Os futuros líderes militares são jovens para o “extra-classe”.
que vêm de diversas regiões do Brasil e de Entender que a profissão é serviço e
diferentes classes sociais, com distintas servidão, um nobre sacerdócio cívico, e não
experiências e hábitos, muitos com um emprego. Serviço à Pátria –
distorções de comportamento, independente compromisso exclusivo e perene com a
da classe social. Nação, o Estado e o EB – sem dividi-lo com
A Força busca transformá-los em um grupos de qualquer natureza. Servidão à CF,
grupo que comungue dos valores, crenças e às leis, aos regulamentos e valores que regem
ideais da Instituição, que seja coeso e de a profissão e não a homens e associações de
comportamento padronizado. É a construção qualquer espécie.
da “identidade militar”, que não faz do grupo A Instituição tem que identificar, desde
uma casta, mas lhe confere um papel cedo, quem são os chefes militares que se
específico e uma grande responsabilidade destacam como líderes e cuidar para que a
social, uma vez que a imagem e a inveja e o ciúme não prejudiquem sua
credibilidade da Força sempre serão afetadas ascensão, pois os líderes incomodam os
pelo comportamento de seus componentes, inseguros e os fracos em qualquer escalão.
particularmente, dos chefes. a) A preparação e o aperfeiçoamento
Aí estão sintetizados o papel legal, os contínuos visarão a desenvolver.
fundamentos morais e éticos da ação do EB e 1) COMPETÊNCIA.
o esforço de transformação do cidadão, É revelada pelo conhecimento e
inicialmente em cidadão-soldado e, cultura, geral e profissional, exercidos com
posteriormente, em líder militar. O EME e as inteligência calcada em um nobre caráter
Escolas devem tê-los, também, em mente ao (reúne integridade, honestidade, lealdade e
estabelecerem diretrizes, estratégias e senso de justiça). A intuição é um importante
programas referentes à formação e ao atributo que enriquece a competência e
aperfeiçoamento de seus futuros líderes. resulta do conhecimento e da experiência
prática. Significa visão (percepção) e não
5 - CONSTRUINDO O LÍDER MILITAR. deve ser confundida com adivinhação.
Da análise do contexto - mundo, Brasil Competência, em seu mais alto nível,
e EB – a Instituição determina o perfil de líder significa sabedoria e combina:
que o Exército precisa e planeja como - Visão, ou seja, golpe de vista tático
prepará-lo. nos escalões inferiores, e percepção, ou seja,
O futuro oficial tem que compreender o golpe de vista estratégico nos escalões
papel do líder militar no Estado e na Força, superiores (“ver o outro lado da colina”);
seja como assessor nos altos escalões, como - Objetividade, para ater-se ao
condutor no cumprimento de missões, e fundamental, e criatividade, para encontrar
como mestre na educação moral e no soluções inovadoras em situações incomuns;
adestramento. Deve considerar que poderá - Capacidade de decisão e de direção.
nunca vir a combater, mas vai sempre - Comunicação para esclarecer,
assessorar, chefiar, educar e instruir. convencer e motivar;
Deve conhecer-se a si mesmo, fazer a -Adaptabilidade e flexibilidade;
autocrítica e melhorar sempre. - Competência Interpessoal
Compreender que o líder não é alguém (inteligência emocional) para dialogar,

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cativar e estabelecer um ambiente de Ao buscar o bem-estar dos
confiança e cooperação dentro e fora do subordinados, o líder deve: distinguir
trabalho. necessidades de desejos; equilibrar o
A competência gera autoconfiança e interesse do serviço com o das famílias,
reforça a auto-estima. sabendo quando deve priorizar cada um;
2) CORAGEM MORALE FÍSICA considerar o mérito e a auto-estima ao
É disposição para decidir, agir e distribuir recompensas, advertir e aplicar a
assumir a responsabilidade pelas justiça; e esforçar-se pelo seu
conseqüências, enfrentando riscos físicos e aperfeiçoamento moral e profissional.
profissionais. Equilíbrio emocional, O líder evita esforços e riscos inúteis
autoconfiança e auto-estima ajudam o para sua tropa e sabe construir um ambiente
exercício tanto da coragem física como da de camaradagem e cooperação.
coragem moral. Em síntese, conhecer, amar, respeitar e
Coragem moral depende da defender, mas também, orientar, corrigir e
ascendência do líder, que é resultado do seu reprimir. Paternalismo compromete a missão
exemplo pessoal, devendo ser manifestada e solicitude demasiada cria maus hábitos,
em face de companheiros e subordinados, vícios e confusão a respeito de direitos e
não apenas de chefes. Para a ascendência deveres. (1)
moral de um líder são importantes atributos e 4)AUSTERIDADE
valores como: honestidade de propósitos, É rigidez de princípios de quem
coerência de atitudes, senso de justiça, dignifica o cargo, servindo à Instituição, a
lealdade, camaradagem, discrição e bom sua OM e a seus irmãos de armas nunca deles
relacionamento (que evita rejeição), pois lhe se servindo para interesses particulares.
conferem credibilidade. Exige firmeza e coerência de atitudes
O líder evidencia coragem moral (dizer e fazer), sereno rigor no trato com os
quando: defende suas convicções com comandados e consigo mesmo,
franqueza, observando o tato com os compartilhando sacrifícios e dificuldades e
subordinados e a disciplina com os exigindo sempre mais de si mesmo (1).
superiores; resiste às pressões de grupo para É importante demonstrar otimismo
fazer o que não deseja (se não for sua com realismo, bom-humor adequado a cada
obrigação) ou julga ser incorreto; assume situação, camaradagem sem intimidade,
riscos perante os superiores na defesa do que humildade com altivez e maturidade
é legal e justo; e não se deixa levar pelo progressiva sem perda da motivação.
impulso de ser simpático ou “bom moço”. Um chefe austero sabe – sem vaidade
Perante os superiores, coragem moral ou deslumbramento – que o tempo e as
sem disciplina chama-se rebeldia. O líder que pessoas passam. O que deve ficar não é a sua
perde a discrição e alardeia, vaidosamente, imagem, mas os bons exemplos. Se os seus
atitudes de desafio a seus superiores, perante comandados, ainda que sem lembrar a
os subordinados, revela deslealdade e origem, incorporarem estes exemplos e
estrelismo, comprometendo sua liderança. procederem como cidadãos, militares e
3) HUMANIDADE chefes dignos, ele terá permanecido, mesmo
É respeito à dignidade do ser humano após cumprir sua missão no Exército e na
em geral e à personalidade de cada indivíduo, vida.
tanto quanto permita o interesse coletivo (1). b) Resultados esperados como
Revela-se pelo senso de justiça, pela conseqüência dessa preparação contínua.
disposição para ouvir e pelo interesse em Chefes Militares que sejam exemplos e,
conhecer e apoiar o subordinado. por isso:

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- sejam líderes admirados, respeitados, a fim de corrigir ou melhorar os processos


reconhecidos e valorizados pelo EB; empregados no cumprimento das missões,
- adquiram fama e credibilidade e, assumindo riscos para implantar mudanças.
assim, possam influenciar dentro e fora da 2) Inspirar uma Visão Compartilhada.
Força; É a visão de um futuro comum assumido
- tenham habilidade para desenvolver pelo grupo, que se traduz em anseios
frações/organizações de alto desempenho; e alinhados aos propósitos da Instituição. Estes
- sejam capazes de contribuir para anseios são transformados em objetivos e o
desenvolver, nas suas OM e na Instituição, o líder demonstra capacidade e vontade de
mais elevado senso de cumprimento do conquistá-los. Assim, obtém adesão e motiva
dever, espírito-de-corpo e coesão. seus comandados para a consecução das
estratégias traçadas.
6 - D E S E N VO LV I M E N T O D E 3) Capacitar os Subordinados.
EQUIPES DEALTO DESEMPENHO (2). Para poder delegar (descentralizar)
Hoje, as pessoas têm um nível maior de atribuições e tarefas com segurança, fator
conhecimento o que desperta o anseio de decisivo para estimular a participação e
participar, ativamente, das atividades de seus cooperação dos comandados, o líder
grupos como colaboradores e não apenas precisará capacitá-los, continuadamente, de
como executantes. modo a desenvolver sua autoconfiança e
Em função do escalão e do cargo do auto-estima.
subordinado, o líder deve considerar até que 4) Modelar o Caminho pelo Exemplo.
profundidade aproveitar este anseio, pois isto O líder tem de expressar princípios e
vai auxiliá-lo em um dos seus principais valores morais, institucionais e grupais, bem
papéis que é o de transformar seu grupo numa como agir coerentemente com a sua
equipe de alto desempenho. pregação, a fim de contar com a confiança
Ao sentir que participa ativamente do dos comandados. Comunicar objetivos e
processo, por ser aproveitado em suas metas com entusiasmo e clareza e relacionar
potencialidades, o subordinado: os resultados obtidos pelo grupo àqueles
- motiva-se, dedica-se mais e reforça objetivos e metas, a fim de mostrar os êxitos
seu comprometimento com o grupo; alcançados aos seus comandados.
- aprimora o desempenho; e 5) Encorajar Emoções
- trabalha com mais energia, Demonstrar seu reconhecimento pelos
estimulando sua criatividade. bons serviços prestados por seus
Tudo isso melhora os resultados do subordinados, individual ou coletivamente.
grupo. Ser consciente de que justiça é conceder as
a) Habilidades exigidas do líder. mesmas oportunidades e recompensar
Sintetizar e selecionar, objetivamente, distintamente, conforme o desempenho, o
informações numerosas, identificar o rumo a senso do dever e a integridade de cada um.
seguir (direção geral), estabelecer suas
diretrizes e traçar estratégias, dentro do rumo 7 - CONCLUSÃO.
definido, bem como estruturar o grupo para Muitos estudiosos do tema no EB sabem
cumprir suas missões. como devem ser formados e aperfeiçoados
b) Práticas comportamentais nossos líderes. Grande parte do que
necessárias. apresentei neste artigo já está em execução,
1) Desafiar Processos para Inovar. porém, quando alguém diz algo que já
Nunca se acomodar a rotinas. Indagar conhecemos ou aconselha a fazer o que já
sempre e perceber ameaças e oportunidades, fazemos é um indício de que podemos estar

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no caminho certo. Outras idéias apresentadas
poderão ser úteis para aprimorar o trabalho de
preparação de líderes da Força.
O Exército, enfatizo, tem que formar e
aperfeiçoar chefes militares para que sejam,
também, líderes capazes de conduzir,
efetivamente, seus comandados no
cumprimento de missões de alto significado
em situações de normalidade ou conflito.
Ao longo dos meus muitos anos de
serviço, consolidei como convicção que
basta conversar com os subordinados para
sabermos se um comandante tem liderança.
Não é difícil perceber quando um chefe goza
da confiança de seus comandados e é a partir
desta relação de confiança, revelada pelo
“seu mais severo juiz”, que se identifica um
verdadeiro líder.

BIBLIOGRAFIA

(1) CARDOSO, Alberto. Os 13 Momentos da


Arte da Guerra. Rio de Janeiro: Ed. Record,
2005.

(2) CARVALHAL, Eugenio. FERREIRA,


Geraldo. Ciclo de Vida das Organizações.
Rio de Janeiro: Ed. Fundação Getúlio Vargas,
1999.

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