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Avaliação Geriátrica
Avaliação Geriátrica
SUMÁRIO
2
AVALIAÇÃO GERIÁTRICA AMPLA
A avaliação clínica deve ser individualizada em cada fase da vida. Não há sentido em se usar o arsenal
semiotécnico do recém-nascido para um paciente adolescente. Assim também ocorre em relação
ao idoso. Muitas condições peculiares nessa faixa etária, como as demências e as quedas, passam
despercebidas ou são mal dimensionadas pela avaliação clínica padrão. O processo diagnóstico e,
por vezes de direcionamento terapêutico do idoso é conhecido como “Avaliação Geriátrica Ampla”
(AGA). A AGA começou a ser utilizada no Reino Unido, no final da década de trinta, com base no
trabalho da médica britânica Marjory Warren.1Em 1936, ela assumiu a chefia de uma unidade do
West Middlesex County Hospital, de pacientes crônicos, acamados, para os quais se acreditava que
permaneceriam na instituição pelo resto de suas vidas. Por meio da avaliação sistemática, com
detalhado trabalho diagnóstico, apoio da enfermagem e da reabilitação, muitos deles receberam
alta do hospital.
3
ÍNDICE DE VULNERABILIDADE CLÍNICO- FUNCIONAL (IVCF)
O primeiro passo para identificar qual paciente idoso mais se beneficiaria da AGA, é a estratificação
em níveis de risco para declínio funcional. Uma das formas é a ferramenta IVCF3. Trata-se de um
instrumento conciso, fácil de ser utilizado e que possui boa correlação com a AGA.
O IVCF avalia oito dimensões: a idade, a auto-percepção da saúde, as atividades de vida diária (três
AVD instrumentais e uma AVD básica), a cognição, o humor/comportamento, a mobilidade (alcance,
preensão e pinça; capacidade aeróbica/muscular; marcha e continência esfincteriana), a
comunicação (visão e audição) e a presença de comorbidades múltiplas, representada por
polipatologia, polifarmácia e/ou internação recente. As perguntas podem ser respondidas pelo
idoso ou por alguém que conviva com ele. É importante que as respostas sempre sejam confirmadas
pelos cuidadores, pois, muitas vezes, o idoso com déficit cognitivo pode não perceber o problema
e não apresentar queixa de memória ou de perda funcional nas atividades de vida diária. Cada
pergunta recebe uma pontuação específica, de acordo com o desempenho do idoso, no total de 40
pontos. Além das perguntas, algumas medidas, como a circunferência da panturrilha, a velocidade
da marcha e o peso/índice de massa corporal, são incluídas para aumentar o valor preditivo do
instrumento.
4
QUADRO 1. Índice de vulnerabilidade clínico-funcional
ÍNDICE DE VULNERABILIDADE CLÍNICO-FUNCIONAL-20 (IVCF-20)
MARCADORES
MARCADORES DE DE VULNERABILIDADE
VULNERABILIDADE CLÍNICO-FUNCIONAL
CLÍNICO-FUNCIONAL
·· Todas
Todas as respostas devem ser
as respostas devem ser confirmadas
confirmadas por
por alguém
alguém que
que conviva
conviva com
com oo idoso.
idoso. Pontuação
Pontuação
·· Nos idosos incapazes de responder, utilizar as respostas do cuidador.
Nos idosos incapazes de responder, utilizar as respostas do cuidador.
60
60 a
a 74
74 anos
anos 0
0
IDADE
IDADE 1.
1. Qual
Qual é
éaa sua
sua idade?
idade? 75
75 a
a 84
84 anos
anos 1
1
≥
≥ 85
85 anos
anos 3
3
Excelente,
Excelente,
AUTO-PERCEPÇÃO
AUTO-PERCEPÇÃO DA
DA 2.
2. Em
Em geral,
geral, comparando
comparando com
com outras
outras pessoas
pessoas de
de sua
sua muito
muito boa
boa ou
ou 0
0
SAÚDE
SAÚDE idade,
idade, você
você diria
diria que
que sua
sua saúde
saúde é:
é: boa
boa
Regular
Regular ou
ou ruim
ruim 1
1
3.
3. Por
Por causa
causa de
de sua
sua saúde
saúde ou
ou condição
condição física,
física, você
você deixou
deixou de
de fazer
fazer compras?
compras?
(( )) Sim
Sim 4
4
AVD
AVD Instrumental
DIÁRIA
Instrumental
VIDA DIÁRIA
(( )) Não
Não ou
ou não
não faz
faz compras
compras por
por outros
outros motivos
motivos que
que não
não a
a saúde
saúde 0
0
Respostas
Respostas positivas
positivas
valem
valem 4 4 pontos
pontos cada.
cada. 4.
4. Por
Por causa
causa de
de sua
sua saúde
saúde ou
ou condição
condição física,
física, você
você deixou
deixou de
de controlar
controlar seu
seu dinheiro,
dinheiro,
Todavia,
Todavia, aa pontuação
pontuação gastos
gastos ou
ou pagar
pagar as
as contas
contas de
de sua
sua casa?
casa?
DE VIDA
máxima
máxima é é de
de 44 pontos,
pontos, (( )) Sim 4
Sim 4
mesmo
mesmo que que oo idoso
idoso
tenha (( )) Não
Não ou
ou não
não controla
controla o
o dinheiro
dinheiro por
por outros
outros motivos
motivos que
que não
não a
a saúde
saúde 0
0
tenha respondido
respondido simsim
ATIVIDADES DE
para
para todas
todas as
as três
três 5.
5. Por causa de sua saúde ou condição física, você deixou de realizar pequenos
Por causa de sua saúde ou condição física, você deixou de realizar pequenos
atividades
atividades dede vida trabalhos
trabalhos domésticos,
domésticos, como
como lavar
lavar louça,
louça, arrumar
arrumar a a casa
casa ou
ou fazer
fazer limpeza
limpeza leve?
ATIVIDADES
vida leve?
diária.
diária. (( )) Sim 4
Sim 4
(( )) Não
Não ou
ou não
não faz
faz mais
mais pequenos
pequenos trabalhos
trabalhos domésticos
domésticos por
por outros
outros motivos
motivos 0
0
que
que não
não aa saúde
saúde
6.
6. PorPor causa
causa de
de sua
sua saúde
saúde ou
ou condição
condição física,
física, você
você deixou
deixou de
de tomar
tomar banho
banho sozinho?
sozinho?
AVD
AVD Básica
Básica
Resposta
Resposta positiva
positiva vale
vale (( )) Sim
Sim 6
6
6
6 pontos.
pontos. (( )) Não 0
Não 0
Sim
Sim Não
Não
7.
7. Algum
Algum familiar
familiar ou
ou amigo
amigo falou
falou que
que você
você está
está ficando
ficando esquecido?
esquecido? 1
1 0
0
8.
8. Este
Este esquecimento está piorando
esquecimento está piorando nos
nos últimos meses?
últimos meses? 1
1 0
0
COGNIÇÃO
COGNIÇÃO
9.
9. Este
Este esquecimento
esquecimento está
está impedindo
impedindo a
a realização
realização de
de alguma
alguma atividade
atividade do
do 2
2 0
0
cotidiano?
cotidiano?
10.
10. NoNo último
último mês,
mês, você
você ficou
ficou com
com desânimo,
desânimo, tristeza
tristeza ou
ou desesperança?
desesperança? 2
2 0
0
HUMOR
HUMOR 11.
11. NoNo último
último mês,
mês, você
você perdeu
perdeu o o interesse
interesse ou
ou prazer
prazer em
em atividades
atividades 2
2 0
0
anteriormente
anteriormente prazerosas?
prazerosas?
Alcance,
Alcance, preensão
preensão e
e 12.
12. Você
Você é
é incapaz
incapaz de
de elevar
elevar os
os braços
braços acima
acima do
do nível
nível do
do ombro?
ombro? 1
1 0
0
pinça
pinça 13.
13. Você
Você é
é incapaz
incapaz de
de manusear
manusear ouou segurar
segurar pequenos
pequenos objetos?
objetos? 1
1 0
0
14.
14. Você
Você tem
tem alguma
alguma das
das três
três condições
condições abaixo
abaixo relacionadas?
relacionadas?
·· Perda
Perda de
de peso
peso não
não intencional
intencional dede 4,5
4,5 kg
kg ou
ou 5%
5% dodo peso
peso corporal
corporal no
no
MOBILIDADE
MOBILIDADE
5
COMPONENTES DA AVALIAÇÃO GERIÁTRICA AMPLA
Uma vez identificados os indivíduos de moderado e alto risco clínico-funcional, é essencial a AGA.
Existem diversos modelos disponíveis no Brasil.4,5,6 De forma a avaliar cada um de seus
componentes, descreveremos em detalhes aqui o modelo sugerido pela Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia (SBGG), disponível no site da sociedade.7
Identificação
6
Na pessoa idosa, a presença de comorbidades é a regra. A coexistência de mais de uma doença
torna novos diagnósticos e as intervenções terapêuticas mais complexos.13 Um inventário com os
problemas mais relevantes para aquele indivíduo norteia as futuras condutas, bem como permite a
comunicação com outros integrantes da equipe que assistem o paciente, assim como o
estadiamento de cada uma das principais doenças.
Entre as intervenções em saúde, o uso de medicamentos é a principal forma de iatrogenia no
idoso.14Pessoas idosas frequentemente utilizam muitos medicamentos, prescritos por diferentes
médicos, adquiridos de parentes ou nas farmácias, o que aumenta o risco de interações
medicamentosas e eventos adversos. Todos os fármacos em uso devem ser revistos a cada encontro
com o paciente. O melhor método para se detectar risco de problemas relacionados a
medicamentos é pedir ao idoso que traga todos medicamentos à consulta, incluindo vitaminas,
herbais e aqueles adquiridos por outra via que não a prescrição médica. Polifarmácia é o termo que
indica o uso concomitante de cinco ou mais medicamentos, que marca o aumento do risco de
eventos adversos relacionados a fármacos.15
Dimensão funcional
7
níveis de funcionalidade:17 nas atividades da vida diária (AVD´s) básicas, aquelas desempenhadas
para o autocuidado; as AVD´s instrumentais, aquelas relativas à habilidade para manter de modo
independente as atividades domésticas; as AVD´s avançadas, relativas aos papeis sociais,
comunitário ou laboral. A seguir, relacionamos, nas tabelas 2 e 3, dois instrumentos simples de
avaliação das AVD´s básicas e instrumentais, amplamente utilizadas no nosso meio e indicadas na
diretriz da SBGG.
TABELA 2. Índice de Barthel de independência nas atividades básicas da vida diária18
8
TABELA 3. Escala de Lawton/Brodyde atividades instrumentais da vida diária19
Pontuação
Ação (máximo 1 ponto por
ação)
1-Utilização do telefone
Utiliza o telefone por iniciativa própria. 1
É capaz de ligar facilmente para alguns números familiares. 1
É capaz de pedir para telefonar, mas não é capaz de ligar. 1
Não é capaz de usar o telefone. 0
2- Fazer compras
Realiza todas as compras necessárias independentemente. 1
Realiza independentemente pequenas compras. 0
Necessita ser acompanhado para fazer qualquer compra. 0
É totalmente incapaz de comprar. 0
3-Preparação das refeições
Organiza, prepara e serve as refeições sozinho e adequadamente. 1
Prepara adequadamente as refeições se os alimentos são fornecidos. 0
Prepara, aquece e serve as refeições, mas não segue uma dieta adequada. 0
Necessita que lhe preparem e sirvam as refeições. 0
4- Cuidados da casa
Mantém a casa sozinho ou com ajuda ocasional (trabalhos pesados). 1
Realiza tarefas ligeiras, como lavar pratos ou fazer a cama. 1
Realiza tarefas ligeiras, mas não pode manter um nível adequado de limpeza. 1
9
Interpretação (Mulher) Homem: Total de pontos
0-1 Dependência total 0 Dependência total
2-3 Dependência grave 1 Dependência grave
4-5 Dependência moderada 2-3Dependência moderada
6-7 Dependência leve 4 Dependência leve
8 Independente 5 Independente
Ressalta-se aqui a pesquisa de incontinências, condições comuns e com grave repercussão na vida
do idoso. São definidas como a perda involuntária de urina ou de fezes, quase sempre com
problemas sociais graves.20 Isoladamente, o envelhecimento não causa incontinências. Sua
intensidade pode variar desde episódios ocasionais de gotejamento de pequenas quantidades de
urina até a incontinência urinária (IU) e/ou fecal contínuas. A saúde física, o bem-estar psicológico,
as condições sociais e os custos com a assistência à saúde podem ser afetados negativamente pelas
incontinências. Muitas das incontinências são tratáveis, desde que devidamente reconhecidas. Mais
informações sobre esse problema na população geriátrica podem ser vistas em publicação das
Sessões Clínicas em Rede da Unimed-BH.21
Adicionalmente às medidas de avaliação de independência para AVD´s, é importante determinar o
risco de quedas, que está intrinsecamente relacionado à marcha. Por si só, a redução da mobilidade
e os distúrbios da marcha são marcadores de pior prognóstico no idoso.22,23 Todo idoso deve ser
inquirido ativamente quanto à ocorrência de quedas. Mais de um evento no último ano, uma ou
mais quedas com lesões secundárias, o idoso que refere desequilíbrio e o desequilíbrio detectado
no exame físico são preditores de risco aumentado de quedas e indicam necessidade de avaliação
pormenorizada.24 Testes específicos podem auxiliar na avaliação, sobretudo por torná-la mais
objetiva e para se observar resposta aos tratamentos. A descrição desses testes pode ser vista na
tabela 4.
TABELA 4. Testes de avaliação da marcha e da mobilidade
10
própria vida ou cuidar de si mesmo, há Incapacidade Cognitiva.27 Termos como “confusão” e
“lucidez” são muito amplos e imprecisos e têm pouca utilidade clínica.
Todo paciente acima de 60 anos, sobretudo aqueles com suspeita de Incapacidade Cognitiva, devem
ser avaliados globalmente, uma vez que comorbidades frequentemente são causa ou fator de piora
da cognição. A anamnese e o exame físico devem, portanto, ser abrangentes. O histórico de
medicamentos, o uso de drogas lícitas ou ilícitas, trauma crânio-encefálico e doenças psiquiátricas
devem ser investigados, assim como internações hospitalares e outras intervenções terapêuticas.
Também é fundamental a avaliação quanto à presença de depressão, uma vez que a mesma pode
ser causa ou associar-se a outras causas de deterioração da cognição. Instrumentos como a Escala
de Depressão Geriátrica28são úteis para rastreamento dessa condição (tabela 5).
TABELA 5. Escala de Depressão Geriátrica abreviada28
Não Sim
1. Você está satisfeito com sua vida? 1 0
2. Você abandonou muitos de seus interesses e atividades? 0 1
3. Você sente que sua vida está vazia? 0 1
4. Você se aborrece com frequência? 0 1
5. Você se sente de bom humor a maior parte do tempo? 1 0
6. Você tem medo que algum mal vá lhe acontecer? 0 1
7. Você se sente feliz a maior parte do tempo? 1 0
8. Você sente que sua situação não tem saída? 0 1
9. Você prefere ficar em casa a sair e fazer coisas novas? 0 1
10.Você se sente com mais problemas de memória do que a maioria? 0 1
11. Você acha maravilhoso estar vivo? 1 0
12.Você se sente um inútil nas atuais circunstâncias? 0 1
13.Você se sente cheio de energia? 1 0
14.Você acha que sua situação é sem esperanças? 0 1
15.Você sente que a maioria das pessoas está melhor que você? 0 1
Uma pontuação acima de 4 sugere o diagnóstico de depressão maior
Juntamente com a avaliação das atividades da vida diária e o rastreamento de depressão, testes
simples de avaliação da cognição podem ser realizados em qualquer contexto e fornecem
importantes parâmetros sobre o status cognitivo do idoso. A tabela 6 relaciona alguns dos testes
mais empregados, seus componentes e a maneira de interpretá-los. Deve ser ressaltado que
nenhum resultado dos testes de avaliação cognitiva comprova ou afasta definitivamente o
diagnóstico de demência. A avaliação global do quadro clínico, associado com a observação de
desempenho em atividades da vida diária é essencial. Mais informações sobre cada um dos testes
podem ser vistas em publicação anterior da Unimed-BH.29
11
TABELA 6. Principais testes de rastreamento de incapacidade cognitiva do idoso e com suas
características de aplicação27,28,29
Tempo aproximado de
Teste Funções que avalia aplicação
(em minutos)
Atenção, função executiva memória,
Mini-exame do estado
linguagem, gnosia, praxia, função 05/out
mental
visuoespacial
Atenção, função executiva, memória, praxia,
Teste do relógio 2
função visuoespacial
Atenção, memória semântica, linguagem,
Fluência verbal 3
função executiva
Atenção, função executiva memória, praxia,
Mini-Cog* 02/abr
função visuoespacial
Avaliação nutricional
O estado nutricional alterado associa-se a inúmeras doenças no idoso, piora seu prognóstico e
também a qualidade de vida.30 Por outro lado, um bom cuidado nutricional parece estar
diretamente relacionado ao envelhecimento bem-sucedido.31Há várias formas de se identificar o
idoso que se encontra em risco ou com comprometimento nutricional. A triagem pelo questionário
de Mini Avaliação Nutricional (tabela 7) pode ser um ponto de partida.
12
D - Passou por algum estresse psicológico ou doença aguda nos últimos três meses?
0 = sim 2 = não
E - Problemas neuropsicológicos
0 = demência ou depressão graves
1 = demência leve
2 = sem problemas psicológicos
F - Índice de massa corpórea (IMC = peso [kg] / estatura [m]2)
0 = IMC < 19
1 = 19 ≤ IMC < 21
2 = 21 ≤ IMC < 23
3 = IMC ≥ 23
Escore de triagem (subtotal, máximo de 14 pontos)
12 = pontos ou mais = normal; desnecessário continuar a avaliação
11 = pontos ou menos possibilidade de desnutrição; continuar a avaliação
Apesar da prevalência de tabagismo hoje ser menor em idosos, quando comparados aos adultos
mais jovens, a carga tabágica maior implica maior risco para doenças relacionadas ao cigarro.35 Há
benefícios em parar de fumar, mesmo na idade avançada. Quando uma pessoa para de fumar aos
65 anos, estima-se que homens aumentem a expectativa de vida em 1,4-2,0 anos e mulheres, em
2,7-3,4 anos.36 Em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica, sua maioria composta de
idosos, a melhora sintomática após a cessação do tabaco é evidente. O hábito de tabagismo deve
ser avaliado em toda pessoa idosa, assim como o aconselhamento e o tratamento para a cessação
do tabagismo.37
Aproximadamente, 15% dos idosos evoluem com problemas de saúde relacionados ao consumo de
álcool, sobretudo por sua interação com medicamentos e condições crônicas.38 Dois a quatro por
cento preenchem critérios para alcoolismo. O uso de bebidas alcoólicas pode impactar
negativamente na funcionalidade e na cognição.39 Fatores de risco para abuso de álcool em idosos
incluem luto, depressão, ansiedade, dor, incapacidade física e história prévia de abuso de bebidas
alcoólicas. O aconselhamento médico é efetivo na redução do uso de álcool e deve sempre ser
13
utilizado.38 Na medida em que não há níveis seguros ou benéficos para consumo de álcool bem
determinados, esse não deve ser uma recomendação para manutenção da saúde de idosos.39
QUADRO 6. Avaliação de fatores de risco cardiovascular e de uso de álcool na AGA – SBGG
Um idoso fisicamente ativo tende a ser mais saudável quando comparado ao sedentário. Os
benefícios da atividade física vão além da prevenção de doenças cardiovasculares.40 Qualquer
quantidade de atividade física é melhor que nenhuma e nunca é tarde para se tornar fisicamente
ativo. Portanto, é essencial delimitar o tipo, a frequência e a intensidade das atividades físicas
praticadas, incluindo as aeróbicas, de flexibilidade, fortalecimento muscular e equilíbrio.41 O
incentivo à prática de atividades físicas para o idoso sedentário deve ser sempre feito, adaptadas às
condições crônicas e de funcionalidade de cada indivíduo.
14
Aproximadamente 50% dos idosos referem dificuldade para dormir. A piora do sono não é
consequência do envelhecimento, mas de doenças que o acompanham, maior número de
medicamentos e aumento da incidência de doenças específicas do sono.46 O histórico de
dificuldades para dormir e um registro dos padrões de sono são, em geral, suficientes para
diagnóstico e direcionamento do tratamento. A melhora desses problemas resulta na melhora
significativa da qualidade de vida e na funcionalidade diurna dos idosos.47
Status vacinal
Suporte social
15
QUADRO 9. Avaliação do suporte social na AGA – SBGG
Para se avaliar o grau de suporte social, no paciente sem déficit cognitivo grave, recomenda-se o
questionário APGAR da família,50destinado a refletir a experiência do idoso com seus
relacionamentos mais próximos. O acrônimo APGAR, proveniente da língua Inglesa, é de Adaptação
(“adaptation”), Participação (“partneship”), Crescimento (“growth”), Afeição (“affection”) e
Resolução (“resolution”).
O paciente assinala uma das três escolhas, as quais têm a seguinte pontuação: 2 pontos para "Quase
sempre", 1 ponto para "Às vezes", e 0 para "Raramente". Os pontos para cada uma das cinco
questões são totalizados. O resultado de 7 a 10 sugere uma família altamente funcional. O resultado
de 4 a 6 sugere uma família moderadamente disfuncional. O resultado de 0 a 3 sugere uma família
gravemente disfuncional.
TABELA 9. APGAR familiar – avaliação do funcionamento familiar
Quase
Às vezes Raramente
sempre
Estou satisfeito com a atenção que recebo da minha
família quando algo está me incomodando
Conclusão
O Brasil será, em breve, um dos países com maior contigente de idosos no mundo. Todos devemos
nos preparar para enfrentar os desafios econômicos, sociais, e sobretudo de saúde, para que
possamos encontrar maneiras mais apropriadas de conduzi-los.
A abordagem das condições de saúde do idoso não deve ser exclusividade de especialistas.
Ferramentas como as apresentadas neste texto permitem avaliar rápida e eficientemente a situação
16
de saúde de um indivíduo e se tornam, para qualquer profissional de saúde, passo fundamental na
condução terapêutica da pessoa idosa.
17
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