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Departamento de Matemática da Universidade de Coimbra

Frequência de Análise Matemática I


M.I. Engenharia Mecânica e L. Engenharia e Gestão industrial
Duração: 2 horas 30-11-2011
Sugestão de Resolução

1. Considere a função definida por


 x
e −1−x
se x > 0


x


f (x) = .


 x+1 se x ≤ 0

(a) Calcule lim f (x).


x→0
(b) Verifique que a função é descontı́nua no ponto x = 0 e classifique a descontinuidade.
(c) Verifique se a função é derivável no ponto x = 0.
(d) Mostre que ex (x − 1) + 1 ≥ 0, para todo o x ∈ [0, +∞[.
(e) Estude a monotonia de f , indicando os seus extremos locais. Diga se f tem extremos absolutos.

Resolução

(a) Como lim f (x) = lim f (x) = lim f (x), calculemos os limites laterais. Sendo a função defi-
x→0 x→0− x→0+
nida por ramos e ocorrendo a mudança de ramo no ponto x = 0, temos que
lim f (x) = lim x + 1 = 1.
x→0− x→0−
ex − 1 − x 0
Relativamente ao limite à direita, como lim é uma indeterminação do tipo 0 apli-
x→0+ x
cando a regra de l’Hôpital obtemos
ex − 1 − x (ex − 1 − x)0 ex − 1 e0 − 1
lim f (x) = lim = lim = lim = = 0.
x→0+ x→0+ x x→0+ (x)0 x→0+ 1 1
Como os limites laterais são diferentes concluı́mos que lim f (x) não existe.
x→0
(b) Por definição, a função f é contı́nua no ponto x = 0 se lim f (x) = f (0). Pela alı́nea (a) o limite
x→0
lim f (x) não existe, logo a função f é descontı́nua no ponto x = 0. Como os limites laterais
x→0
existem mas são diferentes, a função tem em x = 0 uma descontinuidade de 1a¯ espécie.
(c) Pela alı́nea (b) a função f é descontı́nua no ponto x = 0, pelo que f não é derivável no ponto
x = 0.
(d) Definimos a função g(x) = ex (x − 1) + 1, para todo o x ∈ [0, +∞[, e calculemos a sua derivada.
Sendo g 0 (x) = ex (x − 1) + ex = xex ≥ 0, para todo o x ∈ [0, +∞[, então a função g é crescente
em [0, +∞[. Como g(0) = e0 (0−1)+1 = 0 temos que ex (x−1)+1 ≥ 0, para todo o x ∈ [0, +∞[.
(e) Para estudar a monotonia de f necessitamos do sinal da sua derivada, pelo que vamos calcular
a função derivada de f . Da alı́nea (c) sabemos que f não tem derivada no ponto x = 0. Como
f 0 (x) = (x + 1)0 = 1, para x ∈] − ∞, 0[, falta-nos calcular a derivada para x ∈]0, +∞[. Nesses
restantes pontos
(ex − 1)x − (ex − 1 − x) xex − x − ex + 1 + x ex (x − 1) + 1
f 0 (x) = = = .
x2 x2 x2
Obtemos a seguinte expressão para a função derivada de f :
 x
e (x − 1) + 1
se x > 0


x2


0
f (x) = ND se x = 0 .



 1 se x < 0

Como f 0 (x) = 1 ≥ 0, para todo o x ∈] − ∞, 0[, a função f é crescente em ] − ∞, 0[. Da alı́nea


ex (x − 1) + 1
(d) temos que ex (x − 1) + 1 ≥ 0, para x ∈]0, +∞[, logo f 0 (x) = ≥ 0, para todo
x2
o x ∈]0, +∞[. Consequentemente f é crescente em ]0, +∞[. A função tem um máximo local
1 em x = 0, porque lim f (x) = 1, lim f (x) = 0, f é crescente em ] − ∞, 0[ e f (0) = 1. A
x→0− x→0+
função tem unicamente um extremo local. A função não apresenta extremos absolutos. Com
efeito, o máximo local não é máximo absoluto porque aplicando a regra de l’Hôpital vem que
ex − 1 − x
lim f (x) = lim = +∞.
x→+∞ x→+∞ x

2. Para cada um dos seguintes integrais indique se são integrais definidos, indefinidos ou impróprios.
Calcule os integrais definidos e indefinidos. Indique a natureza dos integrais impróprios.
Z 2
(a) x3 − 3x2 + 10 dx
−1
Z
(b) 2x arccotg x dx
Z e+ 1e p
(c) x2 − 4 dx (Faça a substituição x = 2 cosh t .)
2
p
+∞
x − 2x + sin2 x
Z
(d) dx
1 x3

Resolução

(a) Integral definido.


Z 2  4 2
24 (−1)4
 
3 2 x 3 3 3
x − 3x + 10 dx = − x + 10x = − 2 + 10 × 2 − − (−1) + 10 × (−1)
−1 4 −1 4 4
1 99
= 4 − 8 + 20 − − 1 + 10 = .
4 4
(b) Integral indefinido.
Z Z Z Z 
2x arccotg x dx = 2x dx arccotg x − 2x dx( arccotg x)0 dx

x2
Z   Z
2 2 1 2
= x arccotg x − x − dx = x arccotg x + dx.
1 + x2 1 + x2
Efectuando a divisão de x2 por 1 + x2 , obtemos

x2 1
2
=1−
1+x 1 + x2
e,
Z continuando, Z Z
2 1
2x arccotg x dx = x arccotg x + 1 dx + − dx
1 + x2
= x2 arccotg x + x + arccotg x + c = (x2 + 1) arccotg x + x + c.
(c) Integral definido.
Fazendo a substituição x = 2 cosh t , temos que o intervalo [2, e + 1e ] se transforma no intervalo
[0, 1], uma vez que
x = 2 ⇔ 2 cosh t = 2 ⇔ cosh t = 1 ⇔ t = 0 e que
1 1 e+e−1
x=e+ e ⇔ 2 cosh t = e + e ⇔ cosh t = 2 ⇔ t = 1, para t > 0.
Temos então que
Z e+ 1 p Z 1p Z 1p
e
x2 − 4 dx = (2 cosh t)2 − 4 (2 cosh t)0 dx = 4 cosh2 t − 4 2 sinh t dx
2 0 0
Z 1q Z 1p Z 1p
2 2
=2 4(cosh t − 1) sinh t dx = 4 cosh t − 1 sinh t dx = 4 sinh2 t sinh t dx
0 0 0
Z 1 Z 1 Z 1 Z 1
2 1
=4 sinh t dx = 4 (cosh(2t) − 1) dx = 2 cosh(2t) dx − 2 1 dx
0 0 2 0 0
e2 − e−2 − 4
= [sinh(2t)]10 − 2 [t]10 = sinh 2 − sinh 0 − 2 + 0 = .
2
(d) Integral impróprio.
p
p
2 x − 2x + sin2 x x 1
Para x 6= 0, x − 2x + sin x ≤ x ⇒ 3
≤ 3 = 2.
x x x p
Z +∞ Z +∞
1 x − 2x + sin2 x
Para α > 1, o integral α
dx é convergente, e portanto dx é
1 px 1 x3
x − 2x + sin2 x
convergente, desde que seja positivo.
p x3
Para x > 1, x − 2x + sin2 x ≥ 0 ⇔ x2 ≥ 2x + sin2 x. Como 2x + sin2 x ≤ 2x + 1, basta

determinar quando é que x2 ≥ 2x + 1 ⇔ x2 − 2x − 1 ≥ 0 ⇔ x ≥ 1 + 5.
Z +∞ p Z 1+ 5√ p Z +∞ p
x − 2x + sin2 x x − 2x + sin2 x x − 2x + sin2 x
dx = dx + √ dx é con-
1 x3 1 x3 1+ 5 x3
vergente porque é a soma de um integral definido com um integral impróprio convergente.

3. Calcule a área da região limitada pela recta y = x e pela curva 2 − y = x2 .

Resolução

A recta y = x é a bissectriz dos quadrantes ı́mpares. A curva 2 − y = x2 ⇔ y − 2 = −x2 é uma


parábola com vértice no ponto (0, 2) e concavidade voltada para baixo.

A intersecção das duas curvas dá-se nos pontos que verificam a equação
p
2 2 −1 ± 1 − 4(−2)
x=2−x ⇔x +x−2=0⇔x= ⇔ x = −2 ∨ x = 1 .
2
Figura 1: Região limitada pela recta y = x e pela curva y = 2 − x2 .

Pela figura vê-se facilmente que a região está limitada superiormente por y = 2 − x2 e inferiormente
por y = x. Temos então que a área da região limitada por estas duas curvas é igual a
Z 1 1
x3 x2 (−2)3
  
2 1 1 9
(2 − x ) − x dx = 2x − − = 2 − − − −4 − −2 = .
−2 3 2 −2 3 2 3 2

4. Deduza a fórmula do volume de uma esfera de raio r > 0, calculando o volume da esfera obtida pela
rotação em torno do eixo dos XX da metade do cı́rculo (x − r)2 + y 2 ≤ r2 situada acima do eixo
dos XX.

Resolução
O cı́rculo (x − r)2 + y 2 ≤ r2 é um cı́rculo de centro no ponto (r, 0) e de raio igual a r, e que portanto
intersecta o eixo dos XX no intervalo [0, 2r]. Para usarmos o método das fatias, precisamos de
determinar y em função de x.

(x − r)2 + y 2 ≤ r2 ⇔ y 2 ≤ r2 − (x − r)2 ⇔ y 2 ≤ r2 − (x2 + r2 − 2xr) ⇔ y 2 ≤ 2xr − x2



Como só queremos a metade situada acima do eixo dos XX, 0 ≤ y ≤ 2xr − x2 . Assim, o volume
de uma esfera de raio r é igual a
Z 2r p Z 2r 2r
x3 (2r)3 8r3
2   
2 2 2
π 2xr − x 2 dx = π 2xr − x dx = π x r − = π (2r) r − = π(4r3 − )
0 0 3 0 3 3
4
= πr3 .
3

5. (a) Deduza a derivada de sinh x, a partir da definição de sinh e da derivada da função exponencial
0
ef (x) = f 0 (x)ef (x) .
(b) Mostre que o polinómio x3 + 3x2 + 12x + 5 tem exactamente um zero real.
(c) Seja g uma função contı́nua em R. Indique o valor da expressão
Z h2
1
lim 2 g(x) dx .
h→0 h 0

Resolução
(ex − e−x )0 ex − (−x)0 e−x ex + e−x
(a) (sinh x)0 = = = = cosh x
2 2 2
(b) Consideremos f (x) = x3 + 3x2 + 12x + 5. A função f é uma função polinomial, e portanto é
contı́nua em R.
f (0) = 5 e f (−1) = −5 têm sinais diferentes, logo pelo Teorema dos Valores Intermédios, existe
c ∈] − 1, 0[ tal que f (c) = 0. Ou seja, o polinómio tem, pelo menos, um zero real.
A derivada da função f , f 0 (x) = 3x2 + 6x + 12, não tem zeros reais, uma vez que a equação
x2 + 6x + 12 = 0 é uma equação impossı́vel porque 62 − 4 × 3 × 12 = −108 < 0. Como a derivada
não tem zeros, a função é monótona (neste caso é crescente) o que implica que tem no máximo
um zero.
Concluı́mos assim que o polinómio x3 + 3x2 + 12x + 5 tem exactamente um zero real.
Z h2 R h2
1 g(x) dx
(c) A expressão lim 2 g(x) dx = lim 0 é uma indeterminação do tipo 00 . Podemos
h→0 h 0 h→0 h2
portanto aplicar a regra de l’Hôpital, e temos então que
R 2 0
R h2 h
g(x) dx 0 g(x) dx 2h g(h2 )
lim 0 = lim = lim = lim g(h2 ) = g(0) .
h→0 h2 h→0 (h2 )0 h→0 2h h→0

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