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Unidade 1 – Reprodução e

manipulação da fertilidade

Fecundação
e gestação
Da ovulação à fecundação
Condições para a fecundação
 Durante o período de ovulação, o colo do útero fica bem aberto
com um muco alcalino abundante onde é mais fácil a deslocação
dos espermatozoides.

Relação entre o aspeto do muco cervical (glicoproteínas + sais + água)


e a capacidade de penetração dos espermatozoides.
Relação entre os ciclos ovárico, uterino e do
muco cervical
Condições para a fecundação
 A estreita entrada para as trompas, apesar de se encontrar
permanentemente aberta, só permite a passagem de muito poucos
espermatozoides de cada vez.
Esquema global da fecundação
Penetração na zona pelúcida

A zona pelúcida é uma espessa camada glicoproteica que


envolve o oócito e confere aos gâmetas femininos uma alta
especificidade. É formada pelas glicoproteínas ZP1, ZP2 e
ZP3 (ZP é a abreviatura de zona pelúcida), as quais servem como
ligantes para os espermatozoides.
A membrana plasmática do espermatozoide possui proteínas
(fertilizinas) que se associam a proteínas recetoras da membrana
plasmática do oócito II. Aquando da interação das proteínas dos dois
gâmetas, as suas membranas fundem-se, gerando uma alteração na
permeabilidade da membrana do oócito II aos iões Na+ e K+. Esta
alteração provoca uma despolarização que se propaga por toda a
superfície do oócito II, impedindo que outros espermatozoides o
fecundem.
Formação da membrana de fertilização

Os grânulos corticais são pequenas bolsas cheias de enzimas


digestivas. Logo que o primeiro espermatozoide se funde com o oócito
II, os grânulos corticais fundem-se com a membrana libertando o seu
conteúdo. As enzimas dos grânulos atuarão sobre a zona pelúcida,
modificando a glicoproteína ZP3 e destruindo a sua capacidade de
interação com os espermatozoides. Deste modo, nenhum outro
espermatozoide será capaz de atravessar a zona pelúcida.
O encontro dos gâmetas

O oócito II, ao ser Os espermatozoides são atraídos por


expulso do ovário, uma substância libertada pelas células
vem rodeado pela foliculares. Um espermatozoide liga-se
zona pelúcida e por à zona pelúcida, ocorrendo a reação
uma camada de acrossómica, permitindo a penetração
células foliculares do espermatozoide. Os pedúnculos
pedunculadas. das células foliculares retraem-se.
O encontro dos gâmetas

A cabeça do
O oócito II
espermatozoide penetra no Os núcleos dos
completa a
oócito II que, ativado, dois gâmetas,
meiose e
retoma a meiose. O designados por
forma-se o
conteúdo dos grânulos pronúcleos,
óvulo e o 2º
corticais liberta-se, fundem-se
glóbulo
formando a membrana de (cariogamia),
polar.
fecundação que impede a formando-se o
entrada de outro ovo.
Gestação
Gestação
Entre a fecundação e o nascimento ocorrem cerca de 38 semanas
(período denominado gestação) e podem considerar-se duas etapas: o
desenvolvimento do embrião e o desenvolvimento do feto.
O desenvolvimento
do embrião dura
desde a fecundação
até à 8ª semana, ao
fim das quais todos
os órgãos estão já
totalmente formados.

O desenvolvimento do feto
(decorre desde a 8ª semana
até ao nascimento)
corresponde a um aumento
de complexidade e da
maturação dos órgãos e ao
crescimento do indivíduo.
Gestação
Durante todo o desenvolvimento ocorrem três processos
fundamentais: Segmentação, Gastrulação e Organogénese.

Ocorre o crescimento a partir de multiplicações celulares,


Segmentação
por divisões mitóticas. Passa pela fase de mórula e atinge
o estado de blastocisto.

Ocorre a morfogénese - conjunto de movimentos de


Gastrulação territórios celulares que tomam posições uns em relação
aos outros, de acordo com as estruturas que vão formar.
São originados três folhetos germinativos (ectoderme,
mesoderme e endoderme). Forma-se a Gástrula.

Diferenciação celular com especialização estrutural e


Organogénese bioquímica de células da ectoderme, da endoderme e da
mesoderme no sentido de desempenharem funções
específicas. Formam-se tecidos, órgãos e sistemas de
órgãos.
Da fecundação à 1ª divisão do ovo
Desenvolvimento embrionário
- Segmentação
Formação do Blastocisto
Desenvolvimento embrionário -
Gastrulação
Desenvolvimento embrionário - Organogénese

Organogénese

Ectoderme Mesoderme Endoderme


origina origina origina

Sistema nervoso; Derme; Esqueleto (ossos e Sistema respiratório;


Órgãos cartilagens); Músculos; Revestimento do tubo
sensoriais; Sistema reprodutor; Sistema digestivo; Glândulas do tubo
Epiderme e pelos. excretor; Sistema circulatório. digestivo; Fígado; Pâncreas;
Revestimento da vagina e da
bexiga.
Organogénese durante o
desenvolvimento embrionário
Desenvolvimento embrionário
Desenvolvimento embrionário
 Ao sexto dia, o trofoblasto
adere à zona superficial do
endométrio, iniciando–se o
processo de implantação do
embrião – nidação
(dura cerca de 5 dias).

 As células do
trofoblasto situadas
acima do botão
embrionário
proliferam e
segregam enzimas
que catalisam a
digestão de células
do endométrio,
penetrando o
embrião
progressivamente
na parede uterina.
 Simultaneamente, ao nível do botão embrionário, continuam as divisões celulares
e ocorrem movimentos de territórios celulares uns em relação aos outros.

 Formam-se três camadas de células embrionárias: uma mais interna, a


endoderme, outra mais externa, a ectoderme, e a terceira, posicionada entre
estas, a mesoderme (gastrulação).
 É a partir destas camadas que, por diferenciação celular, se vão construir os
diferentes tecidos, órgãos e sistemas de órgãos do novo indivíduo
(organogénese).
 Por volta do 10º dia começa-se a formar o córion que possui vilosidades. Estas
mergulham em lacunas do endométrio que se encontram preenchidas por sangue
materno.
 Ao fim de cerca de onze a doze dias, o embrião encontra-se totalmente coberto
pela mucosa uterina – completa-se a nidação.
 Por volta do 15.º dia,
começa a ocorrer a
organogénese. A partir
dos três folhetos
embrionários ocorre uma
diferenciação celular em
tecidos, órgãos e
sistemas de órgãos.
 No final da 8.º
semana, todos os
principais órgãos estão
presentes, embora numa
forma rudimentar. Nesta
altura o embrião passa a
denominar-se feto.
 Durante este período, também se formaram os restantes anexos embrionários, a
partir de células do botão embrionário:
• Âmnio, membrana que delimita a cavidade amniótica preenchida por líquido (que
protege o embrião dos choques mecânicos e desidratação);
• Vesícula vitelina e um divertículo desta, o alantoide.
Embora muito importantes para outras espécies, na espécie humana as suas
funções são assumidas por outro anexo embrionário, a placenta.
Anexos
embrionários
B -Alantoide
Contribui para a formação
dos vasos sanguíneos do
cordão umbilical (C).

A - Vesícula vitelina

Parte fica incorporada


no cordão umbilical,
sendo o primeiro local
de produção de
glóbulos vermelhos.
Anexos embrionários

Córion Âmnio Vesicula Alantoide Cordão


Placenta umbilical
Fina vitelina
membrana que
Invólucro Saco Divertículo Estrutura em forma
delimita a
membranar membranoso da vesícula de disco formada a Canal
cavidade partir das formado a
que se forma a com reduzidas vitelina.
amniótica vilosidades partir do
partir da zona substâncias de
cheia de Contribui coriónicas do âmnio no
do trofoblasto reserva.
líquido para a embrião e do qual se
virada para a
amniótico. Muito reduzida formação endométrio do útero localizam
cavidade
mas ricamente dos vasos materno. duas
uterina. Constitui um
vascularizada. sanguíneos artérias e
abrigo contra a
Reveste a do cordão Garante todas as uma veia.
dessecação, Parte fica
bolsa umbilical trocas entre a mãe e
os choques incorporada o feto. Une a
amniótica
mecânicos e no cordão
Intervém na permite a umbilical, Produz hormonas placenta ao
idênticas às embrião.
formação da manutenção sendo o
placenta. de uma primeiro local hormonas ováricas
temperatura de produção para manter o
Forma uma endométrio e
constante. de glóbulos
extensa prosseguir
vermelhos.
superfície de normalmente a
trocas. gravidez.
Anexos Embrionários - Funções
Membrana que envolve todo o embrião e reveste outros anexos
Corión embrionários. Protege o embrião e contribui para a sua fixação na parede
uterina. Constitui ainda uma ampla superfície de trocas entre o embrião e a
mãe.
Membrana que envolve todo o embrião . Permite o desenvolvimento do
Âmnio embrião em meio líquido, protegendo da dessecação, dos choques
mecânicos e mantendo a temperatura constante.

Vesícula Nos mamíferos armazena muito poucas substâncias nutritivas para o


vitelina embrião, sendo responsável pela produção de hemácias nos primeiros
estágios de vida. Estrutura vestigial.

Alantoide Função respiratória. Armazenamento de excreções. Estrutura vestigial.

Anexo embrionário dos mamíferos, resultante da integração da vesícula


Cordão vitelina e alantoide. Permite a comunicação entre o embrião e a placenta.
Apresenta duas artérias e uma única veia, estruturas que garantem a
umbilical nutrição e respiração do embrião.
Anexo embrionário dos mamíferos, resultante da fusão do córion com a
Placenta mucosa uterina (anexo misto). Tem por função nutrir o embrião, promover
as trocas gasosas e eliminar excreções. Tem, também, uma função
endócrina pois produz gonadotrofina coriónica, progesterona e
estrogénios.
Anexos embrionários
 Durante os dois primeiros
meses desenvolve-se a
placenta, estrutura em forma
de disco, que tem origem
mista.

 É formada a partir de:


• vilosidades coriónicas do
embrião;
• endométrio do útero
materno, em cujas lacunas
essas vilosidades mergulham.

 À medida que o embrião se desenvolve forma-se a partir do âmnio o cordão


umbilical, que liga o embrião à placenta. No cordão umbilical localizam-se duas
artérias e uma veia.
Placenta
Trocas através
da placenta
Dados sobre a placenta…
No final da gestação:
• área é de cerca 15 m2
•O comprimento total da rede de
capilares estimado em cerca de 50
km.

No momento do
parto
• 20 cm de diâmetro
• 3 cm de espessura
• 1kg de peso
A placenta prévia é uma complicação que surge quando a placenta está
localizada na parte inferior do útero cobrindo-o total ou parcialmente.
Alguns tipos de placenta prévia marginal podem dar origem a um parto
vaginal, no entanto uma placenta prévia ou parcial requer um parto por
cesariana.
Desenvolvimento
embrionário
Gémeos idênticos e gémeos
fraternos
No caso de gestações monozigóticas, se o ovo
fertilizado se divide nas primeiras 72 horas (até 3
dias) após a fecundação, dará origem à gestação
monozigótica, dicoriónica (=duas placentas) e
diamniótica (=dois sacos amnióticos).

Se a divisão ocorrer entre o 4º e o 8º dias após a


fecundação, será monocoriónica e diamniótica.

Após o 8º dia, haverá apenas uma placenta e uma


bolsa amniótica (monocoriónica e monoamniótica).

Se a divisão ocorrer após o 13º dia, serão formados


fetos unidos.
Mudanças
do corpo
na
Gestação
Mecanismos que controlam a gestação
Durante a gestação ocorre, no organismo materno, uma série de
adaptações.
Adaptações morfológicas, como o
aumento das dimensões do útero,
são acompanhadas por adaptações
fisiológicas:

 o coração e a circulação
adaptam-se a um trabalho
suplementar;

 os rins passam a eliminar, além


das excreções da mãe, as
excreções do novo ser;

 ocorrem, também, diversos


mecanismos hormonais
indispensáveis ao desenvolvimento
e nascimento de um novo ser.
Controlo do desenvolvimento
embrionário
Alterações no organismo materno
 aumento das dimensões do
útero;
 adaptação do coração à
presença de um novo ser em
desenvolvimento;
 rins passam a eliminar as
excreções da mãe e do bebé.
Controlo hormonal

 paragem dos ciclos sexuais;


 trabalho de parto;
 lactação.
Gonadotrofina coriónica humana
HCG
 Segregada pelo feto.

 Impede a degeneração do corpo amarelo, que continua a


produzir estrogénios e progesterona para manutenção do
endométrio e nidação do embrião.
 Retroação negativa sobre o hipotálamo-hipófise.

 Eliminada na urina após a sua ação.

 Testes de gravidez baseados na sua deteção na urina.


 A sua produção entra em declínio ao fim de 8 a 10 semanas e
a sua função passa a ser assegurada pela placenta.
Mecanismos hormonais que controlam a gestação

Desde o início
da nidação do
embrião é
produzida a
hormona
gonadotropina
coriónica
humana (HCG)
pelo trofoblasto.

A HCG tem uma


estrutura e uma
ação semelhante
à LH.
Elevados niveis de hormonas ♀
provocam
no

Aparelho reprodutor feminino

 aumento dos seios - progesterona


 aumento da secreção de muco no colo uterino, que forma
uma tampa protetora - progesterona
 crescimento da parte materna da placenta -progesterona
 expansão do útero - progesterona
 ausência de ovulação e menstruação, através de feedback
negativo sobre o complexo hipotálamo-hipófise. - ambas
 inexistência de contrações uterinas -progesterona
 desenvolvimento e maturação das glândulas mamárias -
ambas
Mecanismos hormonais que controlam a
gestação
Mecanismos hormonais que controlam a
gestação
Elevados valores da hormona HCG acabam por exercer uma retroação negativa
sobre o complexo hipotálamo-hipófise, não ocorrendo, assim, nova evolução
folicular.

Elevado teor Corpo Produção de


estimula aumenta
de HCG amarelo estrogénios e
progesterona

Novo ciclo Complexo


FSH e
ovárico não ocorre LH não se liberta hipotálamo- inibem
hipófise

Durante o segundo trimestre de gestação, os níveis hormonais de estrogénio e


progesterona estabilizam, pois diminui a produção de HCG, deteriora-se o corpo
lúteo e a placenta segrega as hormonas.

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