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Tutoria UC3 – Anamnese e Exame Ginecológico

MARIANE Físico KOLANDJIAN


Anamnese e exame físico do sexo ou gênero). No Dossiê de Saúde das Mulheres
Lésbicas, as entrevistas indicaram, ainda, que o
ginecológico significado de palavras como "lésbica" ou "bissexual"
pode não ser o mesmo para o profissional e para sua
1- Reconhecer o roteiro e a importância dos interlocutora, portanto, cabe ao examinador esclarecer
tópicos da anamnese ginecológica: os conceitos à paciente a fim de que ela indique qual é o
identificação, queixa principal, história da que mais se adequa às suas relações afetivas. É
doença atual, revisão de sistemas, importante reforçar ao examinador a necessidade de
antecedentes patológicos, ginecológicos e que a coleta de informações em consultas ginecológicas
obstétricos; não pressuponha a heterossexualidade das mulheres e
de que o profissional investigue as trajetórias sexuais e
Ref: Semiologia Ginecológica: o atendimento da mulher na reprodutivas, a fim de evitar pressuposições ligadas a
atenção primária à saúde – Renata Bittencourt, Sheldon estereótipos. Além disso, apontar a necessidade de que
Botogoski e Tania Pires os profissionais de saúde possam criar um ambiente de
confiança onde as mulheres fiquem à vontade para falar
Acolhimento da paciente
mais abertamente sobre sua sexualidade e expor suas
Para uma boa consulta ginecológica, o tempo dedicado inquietações. Entre as entrevistadas que relatam ao
à paciente não deve ser estipulado em minutos ou ginecologista sua orientação sexual, a maior parte o fez
horas, mas sim o suficiente para se estabelecer uma após uma indicação de tratamento do parceiro sexual,
adequada comunicação entre as partes(3). Neste ou durante a anamnese, particularmente após
momento deve-se realizar anamnese, exame físico geral perguntas que pressupõem a heterossexualidade. Boa
e ginecológico com o exame das mamas, o registro no parte não relata sua própria orientação sexual, pois fica
prontuário médico, finalizando com seu diagnóstico, esperando alguma orientação ou conduta mais
tratamento e orientações(2). específica por parte do profissional, mas como maneira
Dados de Identificação de encurtar uma lista de perguntas que percebem não
lhes dizerem respeito.
É a coleta de dados pessoais e demográficos da mulher, Estado civil – deve ser registrado, e se for casada ou
da forma mais precisa, evitando-se erros e confusões. com relacionamento estável não legalizado, acrescentar
Esses elementos serão comentados de uma maneira o nome do/a parceiro/a.
individual. Idade – dado imprescindível, pois permite situar a
Nome – registrar de maneira completa e precisa sem paciente em uma fase da vida, seja ela infância,
abreviações. adolescência, adulta e senilidade. Algumas doenças são
Data e hora – registrar os dois no momento do mais comuns na infância-puberdade, como
atendimento(5-7). vulvovaginites; na adolescência, distúrbios menstruais,
Número do prontuário – permite o arquivamento e a gestação indesejada e infecções gênito-urinárias; na
busca do prontuário por uma sequência numérica. adulta, dor pélvica, infertilidade, vulvovaginites,
Profissão – permite definir o perfil da mulher, bem alterações do ciclo gravídico puerperal, enfermidades
como seu nível social e ambiente de trabalho, benignas mamárias, variação do padrão de
facilitando ao profissional o linguajar e a abordagem sangramentos por alterações benignas; na senilidade,
que o médico deverá usar. Este dado se torna um pouco distopias genitais, incontinência urinária, osteoporose,
irrelevante na história ginecológica, pois poucas doenças cardiovasculares e neoplasias(2,3).
afecções ginecológicas tem correlação com a profissão. Cor – importância devido ao aparecimento de
Ref: Facchini & Barbosa, 2004; Facchini, 2004 – Dossiê Saúde das determinadas doenças, como leiomioma uterino, que é
Mulheres Lésbicas: Promoção da equidade e da integralidade. mais frequente nas mulheres negras, em comparação
com as brancas(6).
É importante antes de fazer a pergunta sobre o estado Naturalidade e procedência – a importância reside no
civil dessa paciente, questioná-la sobre sua identidade fato que determinadas doenças são mais comuns em
de gênero (maneira como ela se enxerga o gênero que certas regiões do país e podem influenciar as doenças
se identifica – podendo se identificar como “homem”, ginecológicas(8).
“mulher”, com “mais de um dos gêneros” ou com Religião
“nenhum dos gêneros” pré-estabelecidos na sociedade
e a sua orientação sexual (por qual gênero ela sente Pedir e-mail da paciente
atração, mostra pra que lado sua sexualidade está
orientada) – homossexual, bissexual, heterossexual, Queixa Principal
pansexual (atração sexual por pessoas, independente
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Realizar a transcrição fiel das expressões usadas pela atual ou pregressa, o tipo e a dose(3,6,9,10,15,16). Os
paciente, haja vista que nem sempre o motivo da ciclos menstruais devem ser registrados com o intervalo
consulta ginecológica é por uma doença, e sim, apenas (I), a duração (D) e a quantidade (Q). O intervalo entre
para prevenção oncológica, orientação para as menstruações, em média, é de 28 dias, porém pode
planejamento familiar e pré-natal(3,6,8). variar entre 21 a 35 dias. A duração do fluxo menstrual,
em média, é de 4 a 5 dias, porém pode variar entre 2 a 7
História da Doença Atual dias. A quantidade (volume) de sangue perdido oscila
entre 20 a 80mL, que pode ser calculado de maneira
Coletar toda a informação considerada útil relatada pela subjetiva por meio da quantidade de absorventes ou
paciente relevante ao motivo – queixa principal - que a tampões vaginais utilizados pela paciente. É estimado
trouxe para a consulta, levando em consideração início, que um absorvente cheio acumule 15mL, e um com
duração, intensidade dos sintomas, evolução, fatores de pouca quantidade retenha 5mL(5,6,8). Pode-se utilizar a
alívio e de agravo e condições associadas(6). Dentro dos fórmula I/D Q para simplificar o registro das
fatores de alívio é importante ser registrado o uso ou informações, como por exemplo: 28-28/4 50 mL, que
não de medicamentos ou outros métodos; e nas representa um ciclo com intervalo de 28 dias, duração
condições associadas, tratamentos anteriores de 4 dias e quantidade de sangue perdido de 50 mL.
relacionados à queixa principal. Não recomendamos o Também é importante questionar a paciente quanto a
registro, neste ponto da história, de exames dismenorreia e síndrome da tensão pré-menstrual
laboratoriais ou de imagem, pois esta é uma fase (SPM).
subjetiva da consulta. Recomendamos que seja anotado Quanto ao método anticoncepcional, interessa saber se
após o exame físico(3,8,9). está em uso de algum no momento ou se já fez uso no
Antecedentes Mórbidos Pessoais e Familiares passado, o porquê da descontinuação, seus efeitos
(ANTECEDENTES PATOLÓGICOS) positivos e negativos e preferências. A importância do
questionamento quanto à contracepção está no
Nos antecedentes pessoais e familiares cabe ao clínico a conhecimento do risco de uma possível gestação ou do
investigação sobre alterações tanto sistêmicas quanto desejo da mesma(10). Interrogamos sobre a presença
cirúrgicas. A avaliação da presença, bem como do de corrimento vaginal, caracterizando a duração, a
tratamento, das diferentes doenças prévias devem ser quantidade, a coloração, odor, variações com o ciclo
minuciosamente avaliadas: Cardiovasculares – menstrual, o tratamento utilizado, e seu resultado. É
hipertensão arterial sistêmica, doenças vasculares, uma queixa frequente em ginecologia o fluxo vaginal
tromboembolismo; Endócrinas/ Metabólicas – anormal, e para facilitar, podemos dividi-lo em
diabetes, tireoideopatias, obesidade, osteoporose; mucorreia, vulvovaginites e cervicites(2,3,10,18).
Vacinação – rubéola, difteria/tétano, hepatite B, gripe, Antecedentes Sexuais
HPV; Alergias – a medicamentos, alimentos, produtos e
vacinas; Viroses – esclarecer ocorrência de rubéola, A abordagem do médico na intimidade da mulher deve
toxoplasmose, sarampo, caxumba e outras; DSTs – ser através de uma postura neutra, de respeito e sem
anotar incidência de HIV(10), sífilis, tuberculose, julgamento. Com relação ao primeiro coito, anotar a
condilomas, corrimentos(10-13); Cirurgias/ Transfusão idade, pois contribui para recomendações particulares
– conhecer quantas, quando e quais cirurgias foram adequadas. Deve-se questionar o sexo e o número de
feitas, mesmo que não envolvam o trato genital, e os parceiros, pois sabe-se que quanto maior, é mais fácil a
resultados dos exames anatomopatológicos anteriores e aquisição de DSTs(19); assim como, a participação em
a necessidade ou não de hemotransfusão; Câncer – relações sexuais não seguras(10). Arguir sobre práticas
pesquisar neoplasias de mama, colo uterino, sexuais variadas, tais como sexo anal, oral ou com
endométrio e ovários ou outros, avaliar quais são e com objetos. Avaliar se está presente a libido e efeitos da
qual idade foram acometidos; e Outros - dados de prática sexual, como o orgasmo, prazer, sinusiorragia,
importância para a história clínica(3,6,8,11,14- 17). dispareunia.
Antecedentes Ginecológicos Antecedentes Obstétricos

A pesquisa deve começar pela idade da menarca, que é É importante anotar o número de gestações, ocorrência
a primeira menstruação na vida da mulher, que de prematuridade, gravidez ectópica ou molar, tipos de
normalmente ocorre entre 10 e 16 anos de idade, com partos – se transpélvicos (TP) ou cesarianas (CST), e o
uma média de 12 anos(3). Deve ser anotada a data da número de abortos - se espontâneos ou provocados,
última menstruação (DUM) se estiver no menacme, e seguidos ou não de curetagem. Anotar a idade em que
se for após a menopausa, anotar a idade que ocorreu a ocorreu o primeiro e último parto. Avaliar o
DUM, bem como se está em uso de terapia hormonal aleitamento, o tempo de amamentação de cada filho e
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se houve fissuras ou mastites. As intercorrências se abertas são aconselháveis, como: “Alguma outra
referem ao ciclo gravídico-puerperal, e é relevante dúvida?”, “Alguma coisa a mais que você acha
questionar diabetes, hipertensão arterial, hemorragias, importante me dizer, mas que ainda não perguntei?”
restrição de crescimento intra-útero e outros problemas
ou “e como vai a sua vida?”.
clínicos (6,8,9).
Medicamentos em Uso 2- Conhecer o roteiro para a realização do
exame físico ginecológico;
Perguntar quais, por que está em uso, qual a dose, há
quanto tempo, e quem prescreveu ou se está fazendo
Ao iniciar o exame ginecológico, cabe ao médico armar-
automedicação. Possíveis interações medicamentosas
se de paciência, de respeito e de delicadeza, não se
podem influenciar o aparecimento de sintomas
esquecendo da tensão emocional da paciente que se
ginecológicos, tais como, sangramentos, vulvovaginites
propõe a esse exame, em especial quando está se
e galactorreias, assim como reduzir a eficácia dos
submetendo a ele pela primeira vez. Ao medo de
contraceptivos hormonais(3,6,8).
realizar o exame, que supõe doloroso, juntam-se a
Hábitos de Vida
vergonha pela exibição dos órgãos genitais e o temor do
diagnóstico.
Quanto ao tabagismo, saber se fuma, a quantidade, o
tempo, se já cessou o hábito de fumar, há quanto A paciente não deve estar completamente despida
tempo parou; pois, está relacionado à maior incidência durante o exame, mas sim usando avental e lençol.
de tumor de colo uterino, tromboembolismo, Faz-se o desnudamento progressivo da paciente de
prematuridade e restrição de crescimento intrauterino. acordo com a região a ser examinada. Convém iniciar o
No quesito etilismo e uso de drogas ilícitas, saber se usa exame pelas mamas em respeito ao pudor da paciente.
ou não, qual a quantidade, o tipo, o tempo de uso e via Constitui pré-requisito a bexiga estar esvaziada antes
de administração(6,8).
do exame ginecológico. O esvaziamento intestinal
Revisão de Sistemas
também pode ser necessário em casos especiais,
Uma queixa muito comum nas mulheres quanto aos solicitando-se, então, o uso de laxativos na véspera.
sintomas urinários, são as alterações da frequência Deve ser recomendado à paciente não fazer duchas
urinária, da diurese, do jato e da percepção de sintomas vaginais higiênicas na véspera ou no dia do exame.
associados. Se a queixa for com relação à perda urinária
aos esforços, detalhar quanto à duração, fatores de O exame físico geral, principalmente a avaliação do
melhora ou piora, como tosse, espirro ou exercício físico estado geral, dos linfonodos e do estado de nutrição, a
e o impacto na qualidade de vida. Outra queixa comum caracterização do biotipo e a determinação do peso e
está relacionada aos sintomas intestinais, como da altura, são feito antes do exame ginecológico.
frequência das evacuações, presença ou não de dor, Exame das mamas
sangramentos e qualidade das fezes(6,9). A abordagem
dos membros inferiores deve ser feita quanto ao
questionamento de presença ou não de varizes,
tratamentos de trombose e edema (Fig. 1).

Perfil psicossocial (Ref: Rotinas em Ginecologia –


Freitas)

Condições de habitação, noções de higiene, nível


socioeconômico e grau de instrução (também dos pais),
situação familiar, animais em casa, hábitos de vida
(exercícios atualmente e no passado, exposição ao sol,
ingestão de laticínios – avaliação de risco de
swartz
osteoporose).

Ao final da anamnese, é importante deixar à paciente


um espaço para que resolva algumas dúvidas
persistentes, revelar motivos ocultos para a consulta
com o ginecologista ou liberar ansiedades. Perguntas
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Inspeção (Ref: Semiologia Médica – Porto)

Inspeção estática

É realizada com a paciente sentada, com os membros


superiores dispostos paralelamente ao longo do tronco.

Observa-se a pele que recobre as mamas e as aréolas,


BATES o volume, o contorno, a forma, a simetria, a
A mama costuma ser dividida em quatro quadrantes, pigmentação da aréola, o aspecto da papila, a
com base em linhas horizontais e verticais que se presença de abaulamentos ou de retrações, a
cruzam no mamilo, para descrição dos achados clínicos circulação venosa e a presença de sinais flogísticos
(Figura 10.2). Uma quinta área, a cauda axilar do tecido (edema e rubor).
mamário, às vezes denominada “cauda de Spence”,
estende-se lateralmente através da prega axilar A seguir, pede-se à paciente que eleve os braços acima
anterior. Um método alternativo é descrever os da cabeça ou que pressione as asas dos ossos ilíacos.
achados como se fossem “horas” no mostrador de um
Tais manobras tornam mais evidentes as retrações e as
relógio (p. ex., 3 h) e anotar sua distância
em centímetros em relação ao mamilo. assimetrias, além de possibilitar a avaliação do
comprometimento muscular nos casos de carcinoma.
O exame físico das mamas deve seguir a seguinte
Quanto à forma, ao volume e à simetria, as mamas
ordem:
podem ter variações fisiológicas e patológicas. Na
puberdade, quando as mamas iniciam seu
Inspeção Palpação e desenvolvimento, com frequência a mama de um lado
estática Exame axilar Expressão é maior do que do outro, causando preocupação aos
e dinâmica mamária
pais, que, não raramente, procuram orientação médica.

Deve ser realizado em todas as consultas, Pouco desenvolvimento ou o contrário (mamas


independente da queixa apresentada. Devido aos gigantes) tem importância estética e, no caso das
efeitos hormonais, a melhor época para se examinar hipertrofias mamárias, pode provocar sintomatologia
as mamas é entre os 5º e 7º dias após a menstruação,
dolorosa relacionada com modificações posturais.
período em que há menos congestão e sensibilidade.
Neoplasias mais volumosas provocam alterações da
forma, mas a evolução cultural da população tem
modificado conceitos relativos à saúde, fazendo com
que as mulheres procurem o médico tão logo percebam
o surgimento de qualquer "caroço" na mama.

Procura-se na pele abaulamento, retração, edema,


eritema, solução de continuidade e nódulos
subcutâneos. A presença de poros anormalmente
dilatados, indicando edema da pele, é um importante
sinal de malignidade. Esse sinal clínico é denominado
casca de laranja por sua aparência semelhante à textura
da casca de laranja.

Deve-se observar na papila se há retração, desvio,


ulceração e eritema. Algumas mulheres têm inversão
papilar sem qualquer enfermidade mamária.
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Investiga-se na aréola abaulamento, retração, edema e A contração dos peitorais tem por objetivo avaliar a
solução de continuidade. mobilidade das mamas, que pode estar preservada,
diminuída ou ausente.
Classificação dos estágios de Tanner: deve ser realizada
em pacientes púberes e pré-puberes. Vale ressaltar que Por exemplo: em casos de câncer, pode-se constatar
a mama espelha o padrão hormonal da mulher, diminuição da mobilidade ou mesmo imobilidade da
podendo apresentar alterações com estados virilizantes mama, sede da neoplasia, traduzindo a fixação parcial
ou de hipoestrogenismo, como em assimetrias
ou total da neoplasia aos planos profundos (fáscia do
fisiológicas durante a puberdade, decorrente do
processo de amadurecimento hormonal. São divididos grande peitoral ou gradil costal).
em cinco estágios, que vão do padrão infantil ao adulto.
Exame axilar
Palpação dos linfonodos axilares e supraclaviculares

Por ser geralmente o primeiro local de metástase das


doenças malignas da mama, o exame das cadeias
linfáticas axilares é realizada sistematicamente.

Antes de fazer a palpação, deve-se inspecionar as axilas


à procura de erupções provocadas por desodorantes ou
por material para depilação, de infecções das glândulas
sudoríparas (hidradenite) e de pigmentação. A
acanthosis nigricans associa-se à neoplasia maligna de
Inspeção dinâmica diferentes órgãos internos.
É realizada com duas manobras: levantamento dos
braços para aumentar a tensão dos ligamentos de
Cooper (suspensores); e pressão na cintura ou
compressão das palmas das mãos para aumentar a
contração dos peitorais.

A paciente deve ficar sentada de frente para o


examinador. Com a mão espalmada (a mão direita
examina o lado esquerdo da paciente e vice-versa), faz-
se a palpação deslizante do oco axilar e de suas
proximidades. As fossas supraclaviculares e a axila são
palpadas com as pontas dos dedos.

Encontrando linfonodos, deve-se analisar:


• A localização (axila, fossa supraclavicular)
Durante a inspeção dinâmica, pode-se constatar a • O número de linfonodos
acentuação de alterações identificadas na etapa • O maior diâmetro transverso
precedente, destacando-se a retração da pele, a • A consistência
retração e/ou o desvio da papila e os abaulamentos. • A eventual fusão ou fixação dos linfonodos às
Algumas alterações são observadas apenas na estruturas vizinhas.
inspeção dinâmica, tais como: Linfonodos axilares aumentados são indicativos de
infecção das mãos ou dos braços, podem fazer parte de
- assimetria de contorno linfadenopatia generalizada ou levantam a suspeita de
- retração da pele câncer de mama.
- retração e/ou desvio da papila.
Nos casos com suspeita clínica de câncer mamário,
adquirem importância o maior diâmetro transverso dos
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linfonodos, a fusão ou a fixação da mama às estruturas • Temperatura da pele da região mamária.
vizinhas, bem como a presença de linfonodos palpáveis
na axila contralateral e nas fossas supraclaviculares.

Palpação: Realiza-se a palpação da mama estando a


paciente deitada com as mãos atrás da cabeça e os
braços bem abertos. A palpação deve ser feita
delicadamente, partindo-se da região subareolar e
estendendo-se até as regiões paraesternais, A consistência normal das mamas varia amplamente,
infraclaviculares e axilares (prolongamento axilar da dependendo das proporções relativas de tecido
mama). gorduroso, mais macio e homogêneo, e de tecido
glandular, mais firme, podendo ser observada certa
irregularidade que aumenta no período pré-menstrual.

No período pré-menstrual, as mamas podem aumentar


de tamanho e tomarem-se hipersensíveis à palpação.
Há aumento também da nodularidade, que pode
despertar a atenção da paciente quando faz
autoexame das mamas.

Cumpre ressaltar que as alterações observadas na


inspeção (estática e dinâmica) são extremamente
valiosas, pois indicam a área a ser mais bem explorada
durante a palpação.
Entre as alterações do parênquima mamário que podem
ser identificadas à palpação, destacam-se as áreas de
condensação e os nódulos.

As áreas de condensação caracterizam-se por


apresentar consistência mais firme em relação ao
parênquima mamário circunjacente.
A condensação pode apresentar superfície uniforme ou
eriçada de pequenos pontos, como é o caso da displasia
mamária benigna. Pode-se reconhecer na área de
condensação uma estrutura de consistência mais firme.
É o que se chama nódulo dominante em uma área de
condensação.
As características semiológicas dos nódulos ou massas
palpáveis compreendem:

a) Limites: Os nódulos bem delimitados são, em


geral, benignos. As neoplasias malignas, em
maioria, têm limites imprecisos e irregulares em
consequência da infiltração dos tecidos
A palpação da mama tem como objetivo avaliar:
vizinhos.
• Volume do panículo adiposo e seu possível b) Consistência: As neoplasias malignas
comprometimento por processo inflamatório ou apresentam consistência dura, enquanto as
neoplásico benignas são apenas firmes ou elásticas.
• Quantidade de parênquima mamário e eventuais c) Mobilidade: A ampla mobilidade constitui
alterações característica das neoplasias benignas pela
• Elasticidade da papila inexistência de fixação à pele ou às estruturas
• Presença de secreção papilar
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profundas. O contrário acontece com as Toda região compreendida entre o bordo esternal, linha
neoplasias malignas. axilar posterior, eixo clavicular e rebordo costal deve ser
d) Fixação nas estruturas circunjacentes: A fixação examinada.
aos planos profundos é avaliada na inspeção
dinâmica pela contração dos peitorais. Nas O importante nessa etapa é a sistematização do exame.
neoplasias malignas, há diminuição da Assim, padrões de círculos concêntricos, padrão radial
mobilidade ou imobilidade da mama sede da ou em faixas verticais podem ser utilizados para ordenar
lesão. a busca.
e) Diâmetro: O diâmetro da neoplasia, a rigor, não
constitui característica específica das neoplasias O método em faixas verticais tem-se mostrado superior.
malignas, mas sua determinação serve para Neste, cada ponto deve ser avaliado em três diferentes
orientar o estadiamento da neoplasia. níveis de compressão (suave, médio e intenso) e cada
Expressão papilar faixa deve possuir largura de um dedo. Assim, o
examinador segue o padrão de lateral para medial,
Terminando a palpação, faz-se uma delicada pressão subindo e descendo nas faixas (como uma barra grega
no nível da aréola e da papila. Qualquer secreção deve deitada). A consistência do tecido varia entre glandular,
ser submetida a exame citológico, sobretudo para mais firme, e adiposo, mais flácido.
diagnóstico diferencial das neoplasias malignas, desde
que a paciente não esteja grávida ou em período de Nódulos são detectáveis clinicamente quando
lactação. possuem mais de 1 cm. Localização, tamanho,
formato, consistência, delimitação, hipersensibilidade
Identificada a presença de secreção papilar, é e mobilidade devem ser descritos. Nódulos irregulares,
importante esclarecer:
endurecidos, aderidos aos planos subjacentes são mais
• Se a secreção provém de um único conduto ou de
característicos de malignidade, enquanto nódulos bem
vários
• Se o óstio ductal, sede do derrame, é periférico (dueto delimitados, não aderidos, com contornos regulares
superficial) ou central (dueto profundo) são sugestivos de benignidade.
• Localização
• Aspecto da secreção. Quando há regiões hipersensíveis ou dolorosas, o
O aspecto da secreção pode ser sanguíneo, seroso, examinador deve afastar a mama da parede torácica e
claro, purulento, leitoso ou semelhante ao colostro, palpar o gradil costal, musculatura intercostal, as
pastoso, esverdeado ou acastanhado. cartilagens intercostais e a articulação intercostal com o
esterno visando identificar se a origem da dor é
A localização do óstio ductal orienta, ao se executar a osteoarticular ou muscular.
biopsia, em que região se deve fazer a incisão, além de
dar uma ideia da quantidade de parênquima a ser A palpação termina com a avaliação areolopapilar, esta
ressecado. região possui um tecido mamário menos denso, pode
A secreção papilar de dueto único, com aspecto
conter abcessos e é fisiologicamente mais sensível
sanguíneo, seroso claro ou pastoso, indica a presença
de afecção intraductal. Na ausência de outros achados, devido a intensa inervação.
realizam-se citologia da secreção papilar e ductografia
Os mamilos não devem ser apertados. Em orientação
contrastada.
radial cada porção areolar deve ser comprimida para
Palpação (Ref: Semiologia Médica - Rocco) evidenciar se há descarga papilar. Desta forma, se
houver descarga pode-se ter noção da localização do
A paciente deve ser posicionada em decúbito dorsal ducto acometido. O conteúdo deve ser coletado para
com as mãos na nuca, alinhando a mama sobre a caixa exame complementar posterior e seu aspecto
torácica. O examinador permanece do lado direito da macroscópico descrito (coloração, opacidade, se há
paciente, mesmo para avaliar a mama esquerda. Em sangue ou pus).
mamas muito volumosas, este pode trocar de lado
quando necessário. As mamas são palpadas com as
polpas digitais, com ambas as mãos em leve flexão.
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Caso o exame das mamas sugira doença maligna, a
pesquisa por descarga papilar não deve ser realizada,
podendo levar à disseminação de celulas cancerosas.

MEDCURSO: Os principais achados do exame clínico


das mamas que necessitam de referência urgente para
investigação diagnóstica são os seguintes:

- Nódulo mamário de consistência endurecida e fixo,


independente da idade.

- Nódulo mamário persistente por mais de um ciclo


menstrual em mulheres com mais de trinta anos ou
presente após a menopausa.

- Nódulo mamário em mulheres com história prévia de


câncer de mama.

- Nódulo mamário em mulheres com alto risco de


câncer da mama na família.

- Alteração unilateral na pele da mama, como eczema, • Abaulamento (assinalando a região em que ele se
localiza, tamanho, forma, mobilidade, desaparecimento
edema cutâneo semelhante à casca de laranja, retração
ou não com a contração da musculatura da parede
cutânea ou distorções do mamilo. abdominal)
• Umbigo (normal, desviado, hérnia, inflamação,
- Descarga papilar sanguinolenta unilateral e neoplasia, dermatose)
espontânea (secreções transparentes ou rosadas • Pelos (disposição androide ou ginecoide, ausência,
também devem ser investigadas). escassez, hipertricose)
• Marcas e manchas (estrias, cicatrizes, manchas hiper
Exame do abdome (Ref: Semiologia Médica ou hipopigmentadas, equimoses, petéquias, VI'bices,
telangiectasias)
- Porto) • Circulação colateral (tipo porto-cava, cava superior,
cava inferior, síndrome de Cruveillier-Baumgarten)
O exame do abdome deve ser realizado com a paciente • Movimentos e pulsações (movimentos respiratórios,
deitada, localizando e anotando os dados clínicos de pulsações, peristaltismo visível)
acordo com a divisão em quadrantes. Faz-se a inspeção, • Lesões cutâneas (vesículas, flictenas, pústulas etc)
a palpação e a percussão. Em alguns casos, faz-se,
também, a ausculta, seguindo as normas técnicas Palpação
descritas no estudo semiológico do sistema digestivo. A palpação do abdome deve ser iniciada em regiões
distantes da zona dolorosa. Deve-se fazer a palpação
Inspeção superficial e a profunda, avaliando-se a espessura da
parede, hiperestesia, dor provocada, defesa, contratura,
A inspeção do abdome avaliam-se os seguintes tumor (forma, volume, consistência, mobilidade,
parâmetros: sensibilidade, pulsações), tensão da parede abdominal,
• Forma (normal, plano, obeso, globoso, escavado, de soluções de continuidade (orifícios hemiários, diástase)
batráquio, em avental). e ruídos hidroaéreos (vasculejo, patinhação e
gargarejo).

Percussão
Na percussão, investigam-se zonas de macicez e de
timpanismo, presença de ascite.

Ausculta
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Na ausculta, pesquisa-se a presença de ruídos é necessário que a paciente se encontre o mais cômoda
hidroaéreos e de sopros. possível, bem apoiada, de modo a não contrair a
musculatura.
Exame da genitália Ref: Semiologia Médica - Rocco
O exame ginecológico é comumente visto com
A paciente deve ser colocada na posição “ginecológica” apreensão pelas pacientes, podendo torna-lo
desconfortável. Assim, deve-se:
ou de “talha litotômica”, de modo a expor mais
1. Explicar para a paciente sucintamente no que
facilmente a genitália externa. Na maioria dos casos,
consiste o exame ginecológico e retirar suas
essa posição é suficiente. Contudo, quando é preciso
dúvidas antes de conduzi-la à sala de exame;
analisar melhor a parede anterior da vagina, no seu
2. Orientá-la a ir ao toalete e esvaziar sua bexiga e
terço superior, toma-se necessária a posição
intestino;
genupeitoral ou de "prece maometana".
3. Permitir tempo adequado para a troca de roupa e
A paciente é instruída a esvaziar a bexiga. Ela é colocada colocação do avental;
em posição de litotomia dorsal (Figura 1.1) e deitada de 4. Se o examinador for homem, é conveniente a
maneira apropriada. Os pés da paciente devem presença de uma auxiliar do sexo feminino ou, na
repousar de maneira confortável em estribos e com a impossibilidade, a acompanhante da paciente, se
borda dos glúteos na extremidade inferior da mesa, de esta concordar;
modo que a vulva seja inspecionada prontamente e o
5. Posicionar a paciente na mesa ginecológica na
espéculo possa ser inserido na vagina sem obstrução
pela mesa. posição clássica de litotomia: coxas em flexão,
abdução e leve rotação externa com relação ao
quadril, apoiadas no estribo. Solicitá-la que
posicione as nádegas na borda da mesa. Cobri-la
adequadamente até um pouco abaixo do nível dos
joelhos, possibilitando o contato visual. Existem
outras posições para avaliações específicas de
BEREK & NOVAK
patologias ginecológicas, como a GENUPEITORAL ou
Além da posição descrita, pode-se utilizar a posição
“prece maometana”, que expõe a parede vaginal
lateral ou lateral-oblíqua esquerda ou decúbito-lateral
esquerdo, ou posição de Sims, que permitem a anterior e a posição de Sims, que expõe a vagina
realização do toque em uma gestante em trabalho de anorretal;
parto; permite também a visualização da vulva, mas 6. Deixar o instrumental necessário separado e
exige maior manipulação preparado. Posicionar o foco de luz;
7. Calçar as luvas.

Ref: Semiologia Médica - Rocco

GENITÁLIA EXTERNA:

Inspeção e Palpação

Fornecem importantes informações quanto ao status


hormonal da paciente (normal, hipoestrogênico,
hiperandrogênico, por exemplo), sobre lesões
Posição preferencial para o toque vaginal. Consiste em dermatológicas e infecciosas comuns a esta região,
a observada estar em decúbito lateral esquerdo com as continência urinária e distopias genitais. A abordagem
coxas fletidas (mais acentuadamente a que assenta feita pelo Rocco foi dividida por regiões anatômicas:
sobre a marquesa, MMI direito) e com o braço oposto Monte de Vênus/Monte Púbico e Pilificação
estendido para trás e ao longo do dorso.
Há dois padrões de pilificação típicos: feminino (padrão
Nos casos de prolapso e de incontinência urinária de
esforço, a paciente deve também ser examinada de pé, linear hipogástrico; distribuição triangular com base
com as pernas entreabertas. Em qualquer das posições, voltada pra cima) e masculino (padrão triangular com
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ápice em região umbilical). Neste caso, o examinador
deve buscar outras áreas de pilificação tipicamente
masculinas como no mento, região intermamária e
periareolar. A presença de padrão masculino deve
alertar para condições de hiperandrogenismo, com a
síndrome dos ovários policísticos e os tumores
ovarianos produtores de androgênios. Devem ser
consideradas as variações entre as raças e entre
extremos de idade. Se há alterações presentes, buscar
por outros sítios acometidos no corpo da paciente.

Mamas
 M1 - mama infantil.
 M2 (8-13 anos) - fase de broto mamário, com
elevaçao da mama e aréola como pequeno montículo.
 M3 (10-14 anos) - maior aumento da mama, sem
separaçao dos contornos.
 M4 (11-15 anos) - projeçao da aréola e das papilas
para formar montículo secundário por cima da mama.
 M5 (13-18 anos) - fase adulta, com saliência somente
nas papilas.
Atentar para a presença de piolhos ou lêndeas
característicos da pediculose pubiana, áreas Pilificação ou Pêlos
hiperemiadas sugestivas de processos alérgicos ou  P1 - fase de pré-adolescência (nao há pelugem).
traumáticas.  P2 (9-14 anos) - presença de pêlos longos, macios e
A maturidade sexual pode ser avaliada através da ligeiramente pigmentados ao longo dos grandes lábios.
Classificação de Tanner: existem estágios que vão do  P3 (10-14,5 anos) - pêlos mais escuros e ásperos
padrão infantil ao adulto. sobre o púbis.
Ref da tabela e da imagem: Rotinas em Ginecologia -  P4 (11-15 anos) - pelugem do tipo adulto, mas a área
Freitas coberta é consideravelmente menor que a do adulto.
 P5 (12-16,5 anos) - pelugem do tipo adulto, cobrindo
todo o púbis e a virilha.

Lábios

Há grande variação anatômica com relação a tamanho e


forma dos lábios vaginais, podendo ser assimétricos.
Entretanto, formatos anômalos devem ser percebidos
como genitálias ambíguas (é uma condição rara em que
o órgão genital do bebê não se caracteriza como
feminino ou masculino. Isso pode acontecer através da
presença de ambos os órgãos genitais ou quando o
órgão não foi formado corretamente).

Inspecionar úlceras, cicatrizes, edema, alterações


atróficas, lesões traumáticas, lesões inflamatórias,
massas e cistos.
Em mulheres no climatério, a presença de lesão branca
eritematosa, hipopigmentação, pele fina, atrófica, com
reabsorção de lábios e clitóris, presença de plica
posterior, fibrose da pele anogenital, associada à queixa
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de prurido sugere líquen escleroso, doença de pele Analisar também a presença de tumefação com eritema
progressiva, crônica e benigna. em grandes lábios é sugestivo de abscesso da glândula
de Bartholin, segundo a terminologia anatômica,
glândulas vestibulares maiores. O exame das glândulas
de Bartholin deve ser sistemático e consiste na palpação
dos grandes lábios com o indicador através da face
interna do lábio, por dentro da vagina, e com o polegar
na face externa. Normalmente, as glândulas não são
palpáveis. Quando palpadas, sugerem cistos ou
abcessos, quando há sinais de inflamação (como mácula
de Sanger, hiperemia do orifício de saída de glândulas
de Bartholin).

Líquen Escleroso “figura


em oito” ou “em fechadura”

Observar se há presença de vesículas pequenas, BATES


dolorosas, coalescentes (que se une intensamente),
podendo formar crostas são características de herpes
genital.
Entretanto, devem ser diferenciadas dos pontos de
Fordyce, que são glândulas sebáceas ectópicas (fora de
lugar) aumentadas em tamanho, podendo ser vistas a
olho nu, na face interna dos pequenos lábios, formando
pápulas branco-amareladas indolores, mais encontrada
na mucosa bucal e na porção lateral do lábio superior,  A maioria
mas ocorre também em genitálias. Como consiste em dos cistos não apresenta sensibilidade, é unilateral e
uma variação anatômica normal e assintomática, palpável perto do introito vaginal. Os cistos podem se
nenhum tratamento é indicado. distender e atingir os grandes lábios, causando
assimetria vulvar.

GRANDES LÁBIOS: Atingem seu desenvolvimento após


a puberdade; Atrofiam após menopausa; Homólogos do
escroto; Proteção mediana da vulva; Sede de doenças
infecciosas (granuloma, herpes, condilomas e outros);
Transformação maligna
PEQUENOS LÁBIOS: Pele pigmentada (cor varia
conforme padrão racial); Glândulas sudoríparas;
Formam o prepúcio clitoriano; Estrógeno-dependente;
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Vascularizado; Aumentam conforme excitação; Sítio de A inspeção do clitóris deve ser cuidadosa devido à
lesões infecciosas e transformação maligna. sensibilidade da região. Seu tamanho normal varia de 3
mm a 5mm, estando aumentado em estados virilizantes
e reduzidos ou ausentes em escleroses. (ROCCO)

CLITÓRIS: Avaliar tamanho e lesões; Mede 3-4 mm de


comprimento; Porção mais erógena do trato genital;
Aumenta de tamanho e consistência durante excitação;
Abaixo dele encontra-se o Meato Uretral
O meato uretral pode apresentar uma tumefação
avermelhada, comum em mulheres pós-menopausa,
correspondente à carúncula uretral. As glândulas para-
uretrais, ou glândulas de Skene, devem ser
inspecionadas buscando sinais inflamatórios e ordenhas
para identificar secreções purulentas. Quando
presentes devem ser coletadas para o exame a fresco
em lâmina histológica/citopatológica.
Presença de perda de urina é um dado importante,
assim como a busca por fístulas.

Intróito vaginal (orifício da vagina):

VESTÍBULO VULVAR/DA VAGINA: Espaço circundado Deve ser avaliado respeitando a idade da paciente. Em
pelos lábios menores no qual se abrem os óstios da crianças e adolescentes devem ser buscados sinais de
uretra e da vagina e os ductos das glândulas malformações, como agenesia de vagina na Síndrome
vestibulares maiores e menores de Rokitansky-Kuster-Hauser.
Forma triangular; Delimitado anteriormente pelo
clitóris, posteriormente pela fúrcula, lateralmente pelos
pequenos lábios; Observa-se orifícios da uretra, vagina e
canais das glândulas de Skene (glândulas
uretrais/parauretrais)

Avaliar a integridade himenal, considerando os padrões


existentes e sinais de lesão ou abuso sexual devem ser
atentamente notados.
Meato uretral e clitóris: Vestígio do hímen pode ser encontrado nas mulheres
com atividade sexual prévia, sendo denominados
carúncula himenal.
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Em pacientes idosas, realizar o exame com maior vaginais ou perda de urina. As distopias são reflexos do
delicadeza devido às alterações atróficas. enfraquecimento das estruturas que formam o assoalho
Devemos avaliar a integridade epitelial, trofismo pélvico. Quando ocorre a procidência da parede vaginal
genital, presença de lesões inflamatórias, verrugas, anterior, chamamos de cistocele e, quando é da parede
corpos estranhos e corrimentos vaginais. posterior, de retocele.
A distopia genital é nomeada de acordo com o órgão
subjacente à parede prolapsada. Por exemplo, um
prolapso de parede vaginal posterior é denominado
retocele, um prolapso de parede anterior, cistocele. A
uretrocele é a herniação, a projeção da uretra e pode
cursar cistocele e retocele.

De acordo com a FEBRASGO, o prolapso pode ser


quantificado de acordo com sua posição com relação ao
introito vaginal em 3 graus possíveis:
I-Órgão prolapsado não atinge introito vaginal
II-Órgão prolapsado se exterioriza parcialmente
Períneo: através do introito vaginal
III-Órgão prolapsado se exterioriza totalmente através
Cicatrizes cirúrgicas, lacerações, massas e fístulas do introito vaginal
devem receber atenção na avaliação perineal. Neste
momento, avalie também a região perianal, os
linfonodos inguinais superficiais, descrevendo sua
consistência, formato, bordos, tamanho e se há sinais
de flogose (1 Enrubescimento e calor característicos da
inflamação. 2 Inflamação, especialmente superficial).
Buscar a presença de acantose nigricans, uma mácula
hipercrômica em áreas de dobras, que é relacionada a
estados metabólicos de hiperinsulinismo.

As lacerações perineais são classificadas em três


estágios de acordo com sua profundidade:
Lesão de 1º grau: atinge somente a pele e a mucosa
Lesão de 2º grau: a laceração atinge a musculatura,
sendo evidenciada pela diástase dos músculos perineais GENITALIA INTERNA:
Lesão de 3º grau: a laceração se estende até o esfíncter
externo do ânus Inspeção (Exame especular)

Esse é um dos momentos de maior apreensão da


A INSPEÇÃO DINÂMICA DA GENITÁLIA paciente. Vale ressaltar, neste momento, a necessidade
de orientá-la sobre o que é como será feito este exame.
EXTERNA é uma etapa importante do exame e pode
ser feita ao mesmo tempo com a inspeção da região O material deve ser preparado antes. Há diversos tipos
anatômica relacionada. É importante na avaliação das de espéculos, contudo, o mais usado em nosso meio é o
distopias genitais e na incontinência urinária. de Collins. Este é composto por duas válvulas
articuladas, uma presilha em forma de borboleta e é
Nas manobras que elevam a pressão intra-abdominal, disponível, geralmente em três tamanhos.
como Valsava, solicitar que a paciente tussa ou simule Selecionar o espéculo de tamanho adequado, as
um movimento de evacuação, podendo assim surgir articulações e a borboleta devem ser testadas. Atenção
alterações das relações entre órgãos pélvicos e/ou especial à pacientes virgens com a utilização de
perda de urina involuntária. equipamentos específicos e avaliação da relação custo x
A manobra de Valsalva baseia-se no ato de tossir ou benefício de certas manobras.
soprar no dorso da mão, para avaliar se ocorre Nas pacientes com hímen íntegro não se deve fazer o
procidência do útero, abaulamento das paredes toque vaginal. As informações sobre a genitália interna
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deverão ser obtidas pelo toque retal. O exame lábios e exerça uma pressão leve no períneo posterior.
especular também não deve ser feito nas mulheres A mão direita leva o espéculo ao introito vaginal, em
ângulo de 45° com a vertical em sentido horário. O
virgens. O chamado espéculo de virgem não tem
espéculo deve deslizar sobre os dedos da mão esquerda
serventia, pois, embora pequeno, sua abertura no
que afastam os lábios a ser inserido respeitando a
interior da vagina traumatiza ou rompe o hímen. Em seu anatomia vaginal. Ou seja, a vagina não é um órgão
lugar, deve ser utilizado o “colpovirgoscópio” um retificado e nem tubular, suas paredes se encontram
instrumento cilíndrico com fonte de luz para melhor colabadas e em sua extensão há predomínio de uma
visão. O material para exame laboratorial da vagina e do inclinação posterior. Assim, a introdução do espéculo
colo uterino deve ser colhido com o uso do deve ser lenta e gradual, com o vetor de entrada
apontando para a parede posterior da vagina.
colpovirgoscópio.
Com a introdução completa, gire-o mais 45° em sentido
horário e o coloque na posição horizontal.
A etapa que se segue é a do exame especular, que tem
como finalidade inicial a coleta de material para exame
citológico, bacteriológico, cristalização e filância do
muco cervical, fazendo uso de corantes para a
avaliação do epitélio cervical. Organização da mesa,
preparação dos materiais e a identificação correta dos
recipientes e lâminas compõem os passos iniciais. Não
se deve utilizar lubrificante para introdução especular,
pois pode interagir com as amostras alterando os A abertura do espéculo permite a visualização do colo.
resultados. EXAME ANTIGO: PAPANICOLAU EM Se este não for visível, pequenos ajustes e básculas
LÂMINA DE VIDRO devem ser feitos tentando localizá-lo. A maior causa de
não visualização do colo é a introdução incompleta do
Uma pequena quantidade de geleia lubrificante deve espéculo.
ser usada, especialmente desde que o exame citológico
cervical líquido substituiu o exame de Papanicolau em Neste momento, há a avaliação da presença de
lâmina de vidro. secreções, lesões, tumores, massas, malformação,
O exame em meio líquido pode remover a maior parte erosões, eritema, hemorragias, cicatrizes e do formato
do sangue, muco, bactérias, leveduras e células de pus do orifício externo.
em uma amostra (que podem mascarar células Nesse momento o colo uterino deverá ser visualizado, e
cervicais), e evita que as células ressequem ou fiquem terá aspecto puntiforme nas nulíparas e fenda
distorcidas. É possível efetuar teste pra HPV com a transversa nas multíparas
mesma amostra, e o exame aumenta o diagnóstico de
condições pré-cancerosas.
SWARTZ

Após a coleta de material, devem ser analisados os


seguintes itens:

Presença e aspecto das secreções, coloração,


epitelização e superfície do colo, forma do orifício
externo, lacerações, neoplasias, ulcerações, pólipos,
aspecto do muco cervical e das paredes vaginais
durante a retirada lenta do espéculo (para observação Se as secreções dificultarem a visualização, podem ser
pormenorizada das paredes vaginais, recobertas pelo retiradas com haste com ponta de algodão ou com uma
espéculo). gaze montada, que por sua vez devem ser examinados a
O objetivo do exame é inspecionar o colo uterino fresco em lâmina.
(ectocérvice), a vagina, seu conteúdo e o colabamento Erosões e massas são comuns no câncer de colo uterino,
das paredes durante a retirada do espéculo. secreções purulentas guiam a busca por IST’s. Pólipos
podem insinuar-se pelo orifício externo e são causas de
Após a etapa de preparo, inicie o exame avisando à sangramento vaginal relacionado ao coito, assim como
paciente. Com a mão esquerda, gentilmente, afaste os as servísseis.
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Após inspeção, deve-se coletar material para exame lâmina. A visualização microscópica de cristalização
colpocitológico ou CCO(como é chamado aqui em arboriforme típica, em formato de “folhas de
Cuiabá ou Papanicolau) respeitando as indicações da samambaia”, reflete a ação estrogênica sobre o muco. A
OMS para cada faixa etária. A coleta tríplice filância é a capacidade do muco em formar fios quando
contemplando a parede vaginal posterior, ectocérvice e distendido (fenômeno de Spinnbarkeit).
endocérvice é realizada. Terminada a inspeção do colo, com coleta de amostras,
A escova de Campos da Paz é utilizada para introdução segue-se com a avaliação da parede vaginal e seu
no orifício externo do colo repetindo o movimento conteúdo durante a retirada do espéculo. Avaliar
rotacional. Esta etapa pode seguir com discreto parede vaginal, mucosa, pregueamento, conteúdo
sangramento cervical e, por isso, é feita por último. O vaginal. Muco incolor ou esbranquiçado é comum.
exame só tem validade se a coleta apresentar células
glandulares, garantindo que a endocérvice foi Palpação (Toque vaginal e Toque Retal)
adequadamente avaliada.
As amostras são colocadas sobre lâminas de vidro Toque Vaginal unidigital: Por ser bem tolerado, deve
separadas e identificadas (iniciais da paciente e local da ser o inicial, pois propicia a indispensável colaboração
coleta – ecto/endo/parede posterior), que logo devem da paciente. As manobras seguintes são executadas:
ser emersas no frasco com substância fixadora. expressão da uretra, palpação das glândulas
Outros testes podem ser realizados com o material vestibulares e palpação das paredes vaginais,
obtido no exame especular: observando-se a elasticidade, a capacidade, a extensão,
Exame a fresco: utiliza-se solução de KOH(hidróxido de a superfície, as irregularidades, a sensibilidade e a
potássio) a 10% para destruição dos elementos temperatura. Ainda no toque unidigital, obtém-se uma
celulares e facilitar a visualização de micro-organismos. primeira impressão sobre os fundos de saco e o colo do
Whiff test: durante a colocação das gotas de KOH a 10% útero.
a presença de um forte odor característico de peixe é Toque Vaginal Bidigital: No toque bidigital, analisam-se
comum na vaginose bacteriana. o colo do útero e os fundos de saco vaginais. No colo do
Medida do pH vaginal: pH vaginal > 4,5 sugere infecção útero analisam-se a orientação, a forma, o volume, a
ou desequilíbrio da flora. Sendo que o normal é de 3,8 superfície, a consistência, o comprimento, a
até 4,5. sensibilidade, a mobilidade, o orifício externo
Teste de Schiller: cora-se o colo uterino com solução de (puntiforme, entreaberto, permeável à polpa digital) e
lugol à base de iodo. O lugol cora o glicogênio as lacerações.
intracelular, assim, se torna fácil entender o resultado Nos fundos de saco, ou fórnices, verifica-se a
desse teste. O epitélio escamoso cora-se intensamente distensibilidade, a profundidade, a sensibilidade, se
(alto teor de glicogênio) e o epitélio glandular estão livres ou ocupados, rasos ou bombeados. Quando
moderadamente. Células que estão em replicação ocupados, definir se trata-se de tumoração sólida ou
intensa não atingem valores de glicogênio intracelular cística, se dolorosa ou indolor, se fixa ou não.
normais, sendo coradas fracamente. Área não coradas
tornam o resultado do teste positivo e sugere lesões em Toque combinado: O toque combinado é realizado da
que há replicação celular acelerada, características de seguinte maneira: enquanto uma das mãos palpa o
infecções por HPV e neoplasias. hipogástrio e as fossas ilíacas, a outra realiza o toque
vaginal, retal ou o combinado (retovaginal). O toque
combinado é a melhor maneira de obter uma ideia
tridimensional da pelve da mulher; confirma e
complementa os dados obtidos com as técnicas
anteriores.
Corpo do útero: Quanto ao corpo do útero, analisam-se
sua posição, situação, forma, tamanho, consistência,
superfície, mobilidade e sensibilidade. O tamanho do
corpo uterino é anotado em centímetros, em relação à
cicatriz umbilical ou em comparação às semanas de
gestação, no caso das grávidas. A consistência pode ser
normal, amolecida, dura, lenhosa ou pétrea. A
superfície pode ser lisa, regular, nodular ou lobulada. As
retroversões podem ser de primeiro, segundo ou
Cristalização de muco cervical e filância: uma pequena
terceiro graus, fixas ou móveis (apenas as fixas têm
amostra do muco cervical é deixada secar sobre a
expressão clínica).
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Anexos: Quanto aos anexos, o primeiro dado é se são médio no ânus. A palpação do septo retovaginal busca
palpáveis ou não, dolorosos ou indolores, de volume evidências de nódulos, alterações de consistência e
normal ou aumentado, com presença ou não de tumor. pontos dolorosos. A presença de infiltração tumoral dos
Se tiverem aspecto tumoral, verificam-se a forma, o
paramétrios e ligamentos uterossacros deve sempre ser
volume, a consistência, a superfície, a mobilidade e a
sensibilidade, fazendo-se o diagnóstico diferencial com avaliada.
as neoplasias do corpo uterino, principalmente as
pediculadas, e com as neoplasias extragenitais. As
manobras de mobilização do corpo uterino,
instrumentais ou não, são de grande utilidade.

Na presença de massas volumosas, manobras especiais


podem elucidar a origem uterina ou anexial.
Manobra de Weibel: mobiliza-se a massa pelo abdome
observando o movimento do colo uterino. Se a origem
for uterina o colo será afetado,
Manobra de Hegar: apreende-se o colo com uma pinça
Pozzi, mobiliza-se a massa e se observa o movimento da
pinça. SWARTZ

Toque retal Toque retal simples: O dedo indicador é introduzido no


ânus de maneira análoga ao toque vaginal, sustenta e
O toque retal é um exame indispensável na avaliação estabiliza os órgãos pélvicos para a mão abdominal
dos órgãos genitais internos, pois é a única maneira de palpá-los. A integridade da mucosa retal, o tônus da
avaliar corretamente as condições dos paramétrios musculatura, alterações no contorno ou consistência da
(tecido fibroso que separa a porção supravaginal do região retrocervical são analisadas. As fossas ovarianas
cérvix (colo do útero) da bexiga). Deve-se também são alcançadas em maior extensão e são melhor
verificar a presença de afecções do canal anal ou do exploradas por essa técnica.
reto.
Em pacientes virgens o toque retal é alternativa para MEDCURSO/Prevenção e tratamentos dos agravos resultantes da
exploração dos órgãos pélvicos. violência sexual contra mulheres e adolescentes. Ministério da
Saúde 2012: Exame Físico em pacientes vítimas de violência sexual

Após a anamnese e exame clínico-ginecológico, a


extensão das lesões devem ser avaliadas. Deve-se
proceder aos cuidados imediatos de lesões graves com
risco de vida por lacerações e hemorragias. Na
constatação de lesões leves, a sequência no
atendimento dependerá da disponibilidade ou não de
exames laboratoriais; e caso exista tal possibilidade, os
exames deverão ser solicitados após coleta imediata das
amostras. As lesões encontradas deverão ser
cuidadosamente observadas e anotadas no prontuário.
O examinador deve explicar o motivo e como será Nas pacientes de idade fértil e que não estejam em uso
conduzido o toque retal. Explica-se que um leve desejo de contraceptivo eficaz, deve-se iniciar a contracepção
de evacuar pode ser notado, mas que isso não ocorrerá. de emergência.
Para Inspecionar a região perianal Duas formas de
toque retal são possíveis: combinado e simples.
Quando indicado, O EXAME RETOVAGINAL deve ser 3- Reconhecer a importância da avaliação
realizado para que se avaliem o septo retovaginal, a ginecológica e a sua documentação no
superfície uterina posterior, as estruturas anexiais, os prontuário médico;
ligamentos uterossacros e o fundo de saco posterior.
Ref: Ética em ginecologia e obstetrícia. 5ª edição /
Toque retal combinado: O dedo indicador é inserido Organização de Krikor Boyaciyan. São Paulo: Conselho
profundamente na parede posterior da vagina e o dedo Regional de Medicina do Estado de São Paulo, 2018.
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Pode-se conceituar que o prontuário médico é um como as alternativas de diagnóstico e terapêutica
documento único constituído do registro de um existentes, inclusive por escrito, se assim for solicitado.
conjunto de informações, sinais e imagens geradas a O prontuário bem preenchido facilita essa tarefa para a
equipe de saúde. Para a Justiça, nos casos sub judice, se
partir de fatos, acontecimentos e situações sobre a
os fatos não forem constantes das anotações de
saúde do paciente e a assistência a ele prestada. Possui prontuário, eles não aconteceram.
caráter legal, sigiloso e científico, o que possibilita a Por isso, o correto e completo preenchimento do
comunicação entre membros da equipe prontuário são grandes aliados do médico para uma
multiprofissional e a continuidade da assistência eventual defesa judicial junto à autoridade
prestada ao indivíduo.2 É o instrumento que traduz o competente. A elaboração de uma prova pericial, com a
relacionamento entre o paciente, a equipe de saúde e a nomeação de um perito médico pela autoridade
judiciária, é um procedimento rotineiro, quando a
instituição. As anotações no prontuário ou ficha clínica
conduta técnica deve ser avaliada. A prática forense
devem ser feitas de forma legível para a finalidade a demonstra que, em um suposto erro médico, sendo o
que se destina. Em todos os formulários (ficha de profissional de saúde nomeado (perito) hipossuficiente
internação, prescrição, evolução, descrição de nos seus conhecimentos de Medicina, este não reunirá
procedimentos, solicitação de exames, etc.), o médico condições para apresentar as devidas provas. O
assistente deve se identificar por meio de carimbo ou magistrado, invertendo o ônus da prova, incumbe ao
de seu nome (ou número do CRM), grafado de forma médico acusado provar que agiu dentro dos parâmetros
científicos e éticos, e também sob a correta postura
legível, com rubrica ou assinatura em cada intervenção
técnica-profissional para aquela situação. Para que o
realizada. O prontuário médico pertence ao paciente, médico reúna as provas técnicas necessárias à sua
ficando sob a guarda e responsabilidade dos médicos, defesa, não há instrumento de maior relevância do que
em consultórios, e das instituições de saúde que o prontuário médico.
constituem seus “fiéis depositários”. Não basta que a descrição dos procedimentos esteja
correta; é fundamental que constem também os
Importância do prontuário consentimentos e a plena ciência dos fatos, obtidas
junto ao paciente ou seu representante legal. Em face
Não existe instrumento melhor para reproduzir com das inúmeras disputas judiciais envolvendo médicos,
fidelidade todas as circunstâncias que envolvem o hospitais e pacientes, a prudência na relação médico-
atendimento ao paciente do que o prontuário médico. paciente e a correta elaboração do prontuário médico
Nele devem ser descritos, com lisura (honestidade), a podem ser consideradas os pilares que norteiam essas
prescrição e a administração dos medicamentos, todos demandas. Não se justifica, hoje, a desinformação
os sintomas, reações, procedimentos e cirurgias acerca da importância do prontuário para os
realizadas. Deve revelar as condutas adotadas com profissionais de saúde, notadamente quando o
precisão, permitindo, com isso, o atendimento às paciente está sob o cuidado de uma equipe
diversas demandas, em situações privativas ou em multidisciplinar e multiprofissional.
instituições públicas: ensino, pesquisa, elaboração de
censos, propostas de assistência à Saúde Pública, Documentos padronizados do prontuário
avaliação da qualidade da assistência médica, etc.
Entre os direitos do paciente está o de ser informado
médico
sobre o estado de saúde em que se encontra, bem Formulários específicos para cada situação de
atendimento:
• Atendimento ambulatorial; • Exames complementares (testes bioquímicos,
• Atendimento de urgência; radiológicos, ultrassonográficos, etc.) e seus resultados;
• Evolução médica; • Descrição cirúrgica;
• Evolução de enfermagem e de outros profissionais • Descrição da anestesia;
assistentes; • Resumo de alta;
• Partograma; • Boletins médicos;
• Prescrição médica; • No centro cirúrgico ou obstétrico: formulário com
• Prescrição de enfermagem e de outros profissionais gastos de sala.
assistentes;

Observação: uma etiqueta de identificação da paciente Atendimento em pronto-socorro


deve ser afixada em cada formulário.
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Os documentos gerados em pronto-socorro (PS) devem podem conter informações úteis à assistência
ser arquivados com o prontuário no caso de internação subsequente. O modelo e a padronização da ficha de
do paciente. Não se justifica registrar e arquivar atendimento ficam a cargo de cada instituição.
separadamente esses documentos, visto que eles Itens obrigatórios:
• Identificação da paciente; • Não deixar espaços em branco nas folhas de evolução,
• Anamnese; pois podem caracterizar ou facilitar a adulteração do
• Exame físico; prontuário;
• Hipóteses diagnósticas; • Não fazer anotações não referentes à paciente;
• Diagnósticos definitivos; • Não riscar textos (adulteração) por eventual erro na
• Tratamentos efetuados. Preenchimento de descrição de quaisquer fatos. Quando alguma anotação
prontuários: recomendações for incorreta, ao invés de riscá-la, escreva em seguida a
• Não escrever a lápis; frase correta, após o termo “digo” ou outro
• Não usar líquido corretor (conhecido como equivalente.
“branquinho”);
Arquivamento do prontuário nomeado pelo juiz. § 2º – Quando o prontuário for
apresentado em sua própria defesa, o médico deverá
§ 2º do Art. 87 – O prontuário estará sob a guarda do solicitar que seja observado o sigilo profissional. Art. 90
médico ou da instituição que assiste o paciente. O – É vedado ao médico deixar de fornecer cópia do
prontuário médico é um documento de manutenção prontuário médico do seu paciente quando de sua
permanente pelos médicos e estabelecimentos de requisição pelos Conselhos Regionais de Medicina.
saúde (“fiéis depositários”), segundo o que determina a 1. Solicitação da própria paciente: Como o prontuário
Resolução CFM 1.821/07,3 artigos 7º e 8º. É um pertence ao próprio paciente, mediante a sua
documento que pode ser utilizado como meio de solicitação, o médico deve preservar esse direito,
prova até 20 anos, quando finda o prazo prescricional, facilitando o seu acesso a qualquer momento. As
para efeitos de ações que possam ser impetradas na informações contidas em um prontuário podem se
Justiça. Todos os documentos originais que compõem o prestar para a continuidade do tratamento por outros
prontuário devem ser guardados pelo prazo de 20 anos. profissionais, ou mesmo para subsidiar eventuais
Após esse período, esses e outros documentos do contestações por inadequações da conduta médica.
prontuário podem ser substituídos por métodos de 2. Solicitação dos familiares e/ou do responsável legal
registro capazes de assegurar a restauração plena das da paciente: Para os incapazes e para os menores de
informações contidas (microfilmagem), e os originais idade, a revelação dos dados de prontuários (cópias ou
podem então ser destruídos. Com o objetivo de dirimir laudos) deve ser feita para os responsáveis legais. Nas
as dúvidas geradas pela controvérsia do assunto, o mulheres plenamente capazes, a solicitação por
Conselho Federal de Medicina expediu a Resolução parentes deve ter autorização expressa da paciente. Na
1.821/07, que aprovou as “Normas Técnicas para o uso hipótese de ela não estar apta para expressar o seu
de Sistemas Informatizados para a Guarda e Manuseio desejo, deve ser emitido um laudo ou até mesmo
do Prontuário Médico”.2,3 Esse documento norteia a cópias. Para as devidas orientações em caso de óbito da
utilização do prontuário informatizado, desde que o paciente ou do médico assistente, pode-se reportar,
sistema utilizado assegure o sigilo profissional, a respectivamente, aos Pareceres do CFM nº 31/954 e nº
inviolabilidade do sistema e a recuperabilidade dos 6/10,5 que enfocam os pormenores sobre o assunto,
dados. tendo este último a Ementa transcrita abaixo:
Acesso ao prontuário O prontuário médico de paciente falecido não

Artigos do CEM relacionados:1 Art. 88 – É vedado ao deve ser liberado diretamente aos parentes do de
médico negar ao paciente acesso a seu prontuário, cujus, sucessores ou não. O direito ao sigilo tem
deixar de lhe fornecer cópia quando solicitada, bem efeitos projetados para além da morte. A
como deixar de lhe dar explicações necessárias à sua
compreensão, salvo quando ocasionarem riscos ao liberação do prontuário só deve ocorrer ante a
próprio paciente ou a terceiros. Art. 89 – É vedado ao decisão judicial ou requisição do CFM ou de CRM.
médico liberar cópias do prontuário sob sua guarda,
salvo quando autorizado, por escrito, pelo paciente, Isso é certo, pois o prontuário muitas vezes possui
para atender ordem judicial ou para a sua própria informações pessoais das quais o paciente não quer que
defesa. § 1º – Quando requisitado judicialmente, o a família saiba. Desse modo, o sigilo deverá ser
prontuário será disponibilizado ao perito médico preservado. A personalidade do ser humano cessa com
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a morte, mas os direitos personalíssimos persistem I) Justa causa: Fundamenta-se na extensão de
mesmo após o óbito. Assim, se houver interesse estado de necessidade. Haverá justa causa
justificado dos sucessores do de cujus em prestar quando a revelação for o único meio de
informações, principalmente às companhias de seguro,
conjurar perigo atual ou iminente e injusto
pode haver a quebra do segredo com o acesso ao
prontuário através de medidas judiciais e, por outro para si ou para outro. Entende-se por justa
lado, outras oficiais, por parte dos Conselhos de causa situações de grave risco à saúde
Medicina, para eventuais esclarecimentos na instrução coletiva, crimes de ação pública
de sindicâncias ou processos disciplinares. O prontuário incondicionada quando solicitado por
original deve ser conservado no arquivo – entregam-se autoridade judicial ou policial, não
apenas as cópias. A elaboração dos laudos não deve dependendo de representação e que não
resultar em ônus aos solicitantes, facultando-se, porém,
exponha o paciente a procedimento
a cobrança das despesas das cópias efetuadas.
3. Solicitação de outras entidades Salvo autorização criminal, e defendendo interesse legítimo
expressa da paciente, por justa causa e por dever legal, próprio ou legítima defesa.
é vedado ao médico: II) Dever legal: Dever previsto em lei, decreto
Art. 85 – Permitir o manuseio e o conhecimento dos e outros. Deriva não da vontade do que o
prontuários por pessoas não obrigadas ao sigilo confia a outrem, mas de condição
profissional quando sob sua responsabilidade. profissional, em virtude da qual ele é
confiado, e na natureza dos deveres que, no
Art. 94 – Intervir, quando em função de auditor, interesse geral, são impostos aos
assistente técnico ou perito, nos atos profissionais de profissionais.
outro médico, ou fazer qualquer apreciação em a) Leis penais
presença do examinado, reservando suas observações 1. Doenças infectocontagiosas de
para o relatório. notificação compulsória, de declaração
obrigatória e profissional, regulamentada
Art. 97 – Autorizar, vetar, bem como modificar,
pelo Departamento de Saúde Pública;
quando em função de auditor ou de perito,
2. Crimes de ação pública que teve
procedimentos propedêuticos ou terapêuticos conhecimento no exercício da Medicina,
instituídos, salvo, no último caso, em situações de desde que a ação penal não exponha o
urgência, emergência ou iminente perigo de morte do paciente a procedimento criminal.
paciente, comunicando, por escrito, o fato ao médico b) Leis extrapenais (Exclusão de Ilicitude) –
assistente. “Não há crime quando o agente pratica o
fato em estrito cumprimento de dever legal
Art. 98 – Deixar de atuar com absoluta isenção
ou no exercício regular de direito”.
quando designado para servir como perito ou como
auditor, bem como ultrapassar os limites de suas • Médicos legistas; • Médicos sanitaristas; • Médicos
atribuições e de sua competência. peritos; • Médicos de juntas de saúde; • Médicos de
companhias de seguro; • Médicos de empresas; •
O prontuário médico deve estar permanentemente Médicos militares; • Atestado de óbito; • Em pacientes
disponível, e sua liberação a outras pessoas que não o
menores de idade, com abuso do pátrio poder, de
próprio paciente envolve a delicada questão do sigilo
qualidade de padrasto, tutor ou curador, nos casos de
profissional, mencionado no Capítulo IX do Código de
Ética vigente, como também nos artigos 153 e 154 do sevícias, castigos corporais, atentado ao pudor,
Código Penal,6 artigo 207 do Código de Processo Penal7 sedução, estupro, supressão intencional de alimentos,
e 407 do Código de Processo Civil.8 Em atenção a esses desde que tenham capacidade de avaliar seus
dispositivos normativos, os dados nele existentes problemas e de se conduzir por seus próprios meios
somente podem ser divulgados a outrem por para solucioná-los, ou caso a não revelação possa
autorização expressa do próprio paciente ou de seu
acarretar danos a eles, pois se trata de crime de ação
representante legal, ou quando houver “justa causa”
ou, ainda, “dever legal”, explicados a seguir: pública e independem de representação; • Requisições
do CFM e dos Conselhos Regionais de Medicina; •
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Induzimento, instigação ou auxílio na prática do suicídio Na tentativa de superar dilemas na área de Saúde,
ou mesmo sua tentativa; • Abortamento provocado por surgiu em 1979 um modelo de análise bioética
outrem, sem o consentimento do paciente. comumente utilizado e de grande aplicação na prática
clínica em muitos países, especialmente nos EUA e na
O acesso ao prontuário pela figura do médico auditor Europa: o “Principalista”, introduzido por Beauchamp e
enquadra-se no princípio do dever legal, porque ele tem Childress. Esses autores5 propõem quatro princípios
atribuições de peritagem sobre a cobrança dos serviços bioéticos fundamentais ao contexto sanitário, que são a
prestados pela entidade, cabendo a ele opinar pela Autonomia, Beneficência, Não-Maleficência e Justiça.
regularidade dos procedimentos efetuados e cobrados, O princípio da Autonomia requer que indivíduos aptos a
tendo, inclusive, o direito de examinar a paciente para deliberar sobre suas escolhas pessoais devam ser
confrontar o que foi descrito no prontuário. Entretanto, tratados com respeito pela sua capacidade de decisão.
esse acesso deverá ocorrer, impreterivelmente, dentro Desde a década de 90, os Códigos de Ética Profissional,
das dependências da instituição de assistência à saúde inclusive o de Ética Médica, tentam estabelecer uma
responsável por sua posse e guarda, não podendo a relação médico-paciente na qual o respeito à autonomia
instituição ser obrigada, a qualquer título, a enviar os tenda a ser ampliado, reconhecendo o direito de as
prontuários aos seus contratantes públicos ou privados pessoas atendidas decidirem sobre as questões
(Resolução CFM nº1.614/01).9 4. Solicitação de relacionadas ao seu corpo e à sua vida. Quaisquer atos
autoridades policiais ou judiciárias Além das exceções médicos, portanto, devem ser autorizados pelo
acima descritas, existe outra que decorre do paciente: obter a permissão depende da capacidade de
ordenamento jurídico, ou seja, os representantes legais comunicação e empatia do médico, como explicam
de pessoas que não têm aptidão para praticar Muñoz e Fortes:
pessoalmente os atos da vida civil, como, por exemplo, A postura do médico na relação com o paciente,
os pais de um menor de idade ou de maiores
dentro dos princípios bioéticos, é a de consultor,
comprovadamente incapazes.
Com relação ao pedido de cópia de prontuário pelas conselheiro, parceiro, companheiro e amigo, com
autoridades policiais (delegados) e/ou judiciárias maior ou menor predomínio de um desses papéis
(promotores e juízes), vale citar o artigo 73 do CEM que
na dependência das características de
preceitua: “É vedado ao médico revelar fato de que
tenha conhecimento em virtude do exercício de sua personalidade do paciente e do próprio médico.
profissão, salvo por motivo justo, dever legal ou
consentimento, por escrito, do paciente”.1 Portanto, na Em relação às mulheres, o princípio da Autonomia
ocorrência das duas hipóteses – justa causa e dever enfatiza o importante papel que devem adotar na
legal – o médico está liberado do segredo médico. tomada de decisões quanto aos cuidados de sua própria
Entretanto, como a revelação do sigilo profissional pode saúde. Neste ponto, os médicos deverão observar a
causar constrangimento, a solução é a nomeação de um vulnerabilidade feminina, questionando expressamente
perito médico pelo Juiz, a fim de que este manuseie sobre suas escolhas e respeitando suas opiniões, como
com maior fluência os documentos e elabore um laudo salienta, desde 1994, a Federação Internacional de
conclusivo sobre o assunto em investigação. Ademais, Ginecologia e Obstetrícia (FIGO). O marco ético emitido
deverão ser sempre resguardadas todas as informações pela FIGO tem sido divulgado por meio de seu Comitê
contidas no prontuário médico por força do sigilo para Assuntos Éticos da Reprodução Humana e Saúde
médico que alcança, além do médico, todos os seus da Mulher.
auxiliares e pessoas afins que, por dever de ofício, Tratando a paciente com o adequado respeito à sua
tenham acesso às informações confidenciais constantes condição humana, o médico conseguirá obter seu
do prontuário. consentimento para os atos propostos, ou então
4- Compreender os aspectos éticos em identificará, sem maiores dificuldades, os motivos da
ginecologia presentes no código de ética do recusa, procurando, no diálogo, alternativas para
CRM. solucionar ou aliviar o sofrimento. Deve-se, enfim,
tentar compreender as razões da rejeição, identificando
Ref: Ética em ginecologia e obstetrícia. 5ª edição /
opções que sejam aceitas e satisfaçam a atendida.
Organização de Krikor Boyaciyan. São Paulo: Conselho
Regional de Medicina do Estado de São Paulo, 2018. No caso de pacientes intelectualmente deficientes e de
crianças, o princípio da Autonomia é visto como
Princípios bioéticos (Capítulo 1) limitado, e, por isso, deve ser exercido pela família ou
responsável legal. Entretanto, motivados por questões
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religiosas, culturais e emocionais, estes não têm o No âmbito individual, no consultório ou ambulatório, o
direito de forçar os menores a receberem tratamentos médico que atende ao princípio bioético de Justiça deve
nocivos ou desproporcionalmente penosos. Isso atuar com imparcialidade, evitando ao máximo que
significa que, quando a equipe médica concluir que as aspectos sociais, culturais, religiosos, financeiros, entre
decisões de pais e responsáveis são contrárias aos outros, interfiram na relação médico-paciente. Os
melhores interesses do paciente, deve intervir ou negar- recursos devem ser equilibradamente distribuídos, com
se a adotar condutas específicas, contando, por o objetivo de alcançar com melhor eficácia o maior
exemplo, com o apoio do Serviço Social ou Comitê de número de pessoas assistidas.
Bioética Hospitalar, e, como último recurso, fazendo uso Em outro importante marco de referência ética para os
de medidas de cunho legal. É válido lembrar que, por cuidados ginecológicos e obstétricos, o Comitê para
não ser um direito moral absoluto, mesmo a autonomia Assuntos Éticos da Reprodução Humana e Saúde da
da paciente legalmente responsável ou sem deficiência
Mulher assinala: ao se oferecer cuidados de saúde à
poderá entrar em conflito com a do profissional de
saúde. Por razões éticas, é permitido ao médico alegar mulher, o princípio da Justiça requer que todas sejam
objeção de consciência para se opor aos desejos da tratadas com igual consideração, independentemente
paciente de realizar certos procedimentos, incluindo de sua situação socioeconômica.
aborto e técnicas de reprodução assistida, ainda que
haja amparo legal ou deontológico para essas ações. Ética no exercício da Ginecologia e
A autonomia do médico de recusar-se a prestar serviços
Obstetrícia (Capítulo 4) – A relação
que contrariem “os ditames de sua consciência” está
explicitada no próprio Código de Ética Médica. Como médico-paciente
exceção figuram situações de urgência e emergência, de
dano ao paciente, ou na ausência de outro colega. Pode-se dizer que a relação humana começa quando as
Por sua vez, o princípio da Beneficência refere-se à pessoas se dispõem a fazer algo em comum na busca
obrigação ética de maximizar o benefício e minimizar o pelo benefício da aplicação do saber de outra. A partir
prejuízo. A Beneficência vincula-se à obrigação moral de daí, consolida-se uma relação de confiança. Sejam quais
agir em favor dos outros, ajudando-os a promover seus forem os motivos e as necessidades, o saber, a prática, a
interesses importantes e legítimos, muitas vezes base moral e ética para o sucesso estará plantadas
prevenindo ou removendo possíveis danos. Ou seja, o nessa confiança. Assim é a relação médico-paciente.
profissional deve ter convicção e informação técnica Para que essa relação tenha fluência e manutenção
para assegurar que o ato médico será benéfico ao garantidas, a dinâmica de atendimento dos pacientes
paciente (ação de fazer o bem). deve obedecer a princípios e compromissos, conforme a
O princípio da Beneficência proíbe infligir dano Declaração de Genebra de 2002.1 O bem-estar do
deliberado, e isso é enfatizado também pelo princípio paciente, o respeito à autonomia e à aplicação da
da Não-Maleficência, que estabelece que a ação do justiça social são princípios fundamentais para o bom
termo dessa relação. Além disso, o médico deve
médico deva levar ao menor prejuízo ou agravos à
apresentar competência profissional, ser sincero com os
saúde do paciente (ação de não fazer o mal). A Não- pacientes, obedecer ao sigilo profissional
Maleficência é universalmente consagrada pelo (privacidade/confidencialidade), manter um
aforismo hipocrático “primum non nocere” (primeiro relacionamento apropriado, destinar o tempo
não prejudicar), cuja finalidade é reduzir os efeitos adequado às consultas, facilitar o acesso dos pacientes,
adversos ou indesejáveis das ações diagnósticas e atualizar continuamente seus conhecimentos, ser
transparente nos conflitos de interesse e, acima de
terapêuticas no ser humano.
tudo, ter responsabilidade profissional. São
O princípio da Justiça estabelece como condição compromissos inarredáveis para a boa prática médica.
fundamental a equidade, obrigação ética de tratar cada Tendo em vista ainda que o doente, que já está
indivíduo conforme o que é moralmente correto e fragilizado, desgastado e até desequilibrado, carrega
adequado. Nos cuidados de saúde é geralmente também o fardo do sofrimento, é essencial a presença
definido como uma forma de justiça distributiva, ou, dos princípios da afetividade e do acolhimento. Essas
como dito por Aristóteles, “dar a cada um aquilo que premissas geram sentimentos de confiança,
lhe é devido”. Essa modalidade de justiça parece profissionalismo, respeito, urbanidade e credibilidade
depender do fato de que alguns bens e serviços são nos envolvidos. Esses princípios constituem a essência
escassos, e, sendo assim, meios justos de alocar tais da vertente humanitária do atendimento médico.
recursos devem ser determinados. Fatores que podem intervir na relação médico-
paciente
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a) Local e forma de atendimento Entre os grupos vulneráveis, destaca-se o atendimento
às crianças e aos adolescentes, e a participação de seus
As atividades médicas relativas ao atendimento dos familiares está fundamentada em evidências científicas
pacientes acontecem em diferentes situações e locais,
e dispositivos legais (Estatuto da Criança e do
tais como: emergências/urgências em prontos-socorros,
atendimento eletivo em consultórios/ambulatórios e Adolescente).2 No caso das mulheres incapazes, fica
pacientes internados em enfermarias/apartamentos. determinada a necessidade de um responsável legal por
Essa assistência médica pode ocorrer nos serviços ela, que deve se relacionar com a equipe médica em
públicos, em instituições beneficentes, nos serviços favor dos interesses da paciente.
privados ou sob a tutela da medicina de grupo. Logo,
constata-se que o vínculo trabalhista do profissional e) Presença de acompanhante
médico se estabelece de forma ampla. Em cada
situação, a qualidade assistencial estará em estreita A presença de acompanhante é garantida pela Lei
dependência dos recursos técnicos disponíveis, dos Estadual nº 10.241/99 (conhecida como Lei Covas),3
recursos humanos alocados para o local de atuação do pela Lei Federal nº 11.108/054 e pela Portaria MS/GM
médico e do volume de casos a serem atendidos. É n° 2.418/05.5,6 A presença é garantida em todos os
evidente que inadequações podem intervir
procedimentos médicos, incluindo as consultas e
negativamente na qualidade da relação médico-
paciente. De acordo com cada situação de trabalho e partos. Indubitavelmente, isso gera uma tarefa adicional
sua especificidade, essa relação pode se tornar tensa, ao médico, por vezes até perniciosa para a fluência do
desgastante e repleta de riscos. seu trabalho. No entanto, cabe à paciente decidir pela
b) Avanço tecnológico presença ou não de acompanhante.

Em que pese a existência de alguns aspectos negativos, f) Atendimento aos direitos das pacientes:
o avanço tecnológico na Tocoginecologia deve ser
celebrado, já que humanitarismo e tecnologia não são • Dignidade no atendimento: as pacientes têm direito
necessariamente antagônicos. Dentre esses avanços na ao atendimento digno, solícito e respeitoso. Ela deverá
especialidade tocoginecológica, destaca-se a ser chamada pelo nome e sobrenome e jamais pela
ultrassonografia, que revolucionou a prática médica patologia que porta, pelo número do leito ou de modo
notadamente. Entretanto, na execução dos exames, é genérico, desrespeitoso ou preconceituoso;
preciso adicionar cuidados em relação a toda • Direito à autonomia: conforme visto sobre
metodologia diagnóstica – que consome muito da consentimento esclarecido (item 3.3), o respeito à
atenção médica e promove certo distanciamento do autonomia constitui o mais importante pilar da Bioética;
paciente que está sendo examinado. Esse fato é muito • Direito à informação: o direito à informação é sagrado
comum em períodos de aprimoramento médico: e essencial para que a cliente possa manifestar
quando a utilização de maquinário como método plenamente sua escolha, sem coação externa – ou seja,
auxiliar para o diagnóstico ou monitoramento de ela pode desempenhar sua autonomia nos
doenças induz o médico aprendiz não “automatizado” à procedimentos médicos;
abstração, o que pode ser um grande entrave no seu • Direito ao prontuário: conforme descrito no tópico
relacionamento com o doente. Prontuário médico (3.1), todos os pacientes têm o
c) As malformações fetais direito ao seu prontuário e podem solicitar uma cópia
dele a qualquer momento;
Em Obstetrícia, a aplicação dos métodos de diagnóstico • Direito ao respeito: de forma bastante especial, o
frequentemente ocasiona uma angústia adicional, respeito à intimidade da paciente na esfera
especialmente nos casos em que anomalias estruturais tocoginecológica é item de suma importância. Por essa
são diagnosticadas no feto, gerando muita tensão no razão, a presença de auxiliar de sala em consultórios é
casal. A relação médico-paciente pode se deteriorar imperiosa;
muito rápido – às vezes, por simples descuido do Nas demais situações, o respeito aos pacientes é parte
examinador ou do médico assistente. Nas integrante da conquista da cidadania.
malformações fetais, uma equipe multidisciplinar de • Direito à segunda opinião: em situações conflitivas ou
Medicina Fetal, detentora de conhecimentos sobre o quando há prejuízos na relação médico-paciente,
tema, deve coordenar as ações para a obtenção do recomenda-se facilitar a procura de uma segunda
melhor porvir à gestação. opinião para a paciente. Nesse sentido, o médico
d) Cuidados dos grupos vulneráveis assistente tem a obrigação de elaborar um relatório,
mesmo que sucinto – mas verdadeiro –, sobre o quadro
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da paciente até o momento em que ela esteve sob sua • Não exigir o impossível do médico, que só pode
responsabilidade; oferecer o que a Ciência e a Medicina desenvolveram.
• Direito ao sigilo: conforme o que foi explanado no Da mesma forma, jamais culpar o médico pela doença;
capítulo Segredo Médico (3.2), o sigilo deve permanecer • Respeitar a autonomia profissional e os limites de
compulsoriamente resguardado. atuação do médico. Ele não pode ser responsabilizado,
Recomendações do CRM prolatadas no Guia da por exemplo, por todas as falhas dos serviços de saúde,
Relação Médico-Paciente muitas vezes sucateado por seus gestores. Nesse
sentido, é direito do paciente denunciar e reivindicar
O que melhora a relação médico-paciente: para que o Estado cumpra sua obrigação. Existem
Por parte do médico: órgãos competentes para isso, como os Conselhos de
• Prestar um atendimento humanizado, marcado pelo Saúde e o Ministério Público, além da direção dos
bom relacionamento pessoal e pela dedicação de próprios serviços;
tempo e atenção necessários; • Não exigir dos médicos exames e medicamentos
• Saber ouvir o paciente, esclarecendo dúvidas e desnecessários, lembrando que o sucesso do
compreendendo suas expectativas, com registro tratamento está muito mais na relação de confiança
adequado de todas as informações no prontuário; que se pode estabelecer com o médico;
• Explicar detalhadamente, de forma simples e objetiva, • Seguir as prescrições médicas (recomendações,
o diagnóstico e o tratamento para que o paciente dosagens, horários etc.) e evitar a automedicação;
entenda claramente a doença, os benefícios do • Ter consciência dos seus direitos.
tratamento e também as possíveis complicações e
prognósticos;
• Após o devido esclarecimento, deixar que o paciente Referências:
escolha o tratamento sempre que existir mais de uma Ref: Semiologia Ginecológica: o atendimento da mulher
alternativa. Ao prescrever medicamentos, dar a opção na atenção primária à saúde – Renata Bittencourt,
do genérico, sempre que possível; Sheldon Botogoski e Tania Pires
• Atualizar-se constantemente por meio de participação Ref: Facchini & Barbosa, 2004; Facchini, 2004 – Dossiê
em congressos, estudo de publicações especializadas, Saúde das Mulheres Lésbicas: Promoção da equidade e
cursos, reuniões clínicas, fóruns de discussão na da integralidade.
internet etc; Ref: Rotinas em Ginecologia – Freitas
• Ter consciência dos limites da Medicina e falar a Ref: Semiologia Médica – Porto 7ed
verdade para o paciente diante da inexistência ou pouca Tratado de Semiologia Médica SWARTZ
eficácia de um tratamento; Ref: Ética em ginecologia e obstetrícia. 5ª edição /
• Estar disponível nas situações de urgência, sabendo Organização de Krikor Boyaciyan. São Paulo: Conselho
que essa disponibilidade requer administração flexível Regional de Medicina do Estado de São Paulo, 2018.
das atividades; Ref: Semiologia Médica - Rocco
• Indicar o paciente a outro médico sempre que o
tratamento exigir conhecimentos que não sejam de sua
especialidade ou capacidade, ou quando ocorrer
problemas que comprometam a relação médico-
paciente;
• Reforçar a luta das entidades representativas da
classe médica (conselhos, sindicatos e associações),
prestando informações sobre condições precárias de
trabalho e de remuneração e participando dos
movimentos e ações coletivas.
Por parte do paciente:
• Lembrar-se de que, como qualquer outro ser humano,
o médico tem virtudes e defeitos, observando que o
trabalho médico é uma atividade naturalmente
desgastante;
• Considerar cada médico principalmente por suas
qualidades, lembrando que em todas as áreas existem
bons e maus profissionais. Ter claro que o julgamento
de toda a classe médica por conta de um mau médico
não faz sentido;
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