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O Manuseio das Cores 2

Apesar de sabermos a importância de você entender os funda- 4


mentos básicos e conhecimentos técnicos relativos às cores, esse
guia tem um papel diferente, que é te auxiliar a entender o pro-
cesso de mistura e percepção das cores, através do manuseio de
diferentes tipos de spectrum e através de reflexões sobre a impor- 1
tância das cores em um projeto de design. E através disso, vamos
te ajudar a começar a pensar em cores. Como assim, Viana?
Pensar em cores? É isso mesmo. Pensar em cor, por cor e através 5
das cores. Você entenderá isso ao longo desse guia prático.

E, para começar em uma dimensão bem prática, vamos falar


primeiro sobre a mistura de cores e como você pode navegar
entre elas para fazer a escolha.
Um dos modos de seleção que eu mais gosto de usar é o HSB - 3
matiz (hue), saturação (saturation) e brilho (brightness). Que é
esse da imagem ao lado. No Photoshop, é o modo de seleção de
cor padrão. Mas nas versões mais recentes do Illustrator, se O primeiro passo para você começar a se aventurar na criação da
dermos um duplo clique em cima da cor, também abre esse modo paleta de cores, é realmente começar a entender o processo de
de seleção de cores. mistura, é entender como os seletores funcionam e como você
pode usá-los a seu favor. Pois, aprendendo isso, você vai poder
Sua utilização é bem simples. Primeiro você escolhe através do começar a perder o medo e ir você mesmo ganhando a maturida-
Slider(1) qual a cor que você deseja trabalhar. Digamos que seja de e confiança necessárias para avançar. Mas, de verdade, existe
azul, como no exemplo ao lado. E daí, através do cursor do mouse, um processo de evolução no pensar em cores e aqui começamos
você pode navegar entre as zonas do azul. Pra cima, à direita(2), apenas mostrando a nível instrumental e vamos ampliar nas pró-
você encontra os tons mais vibrantes e “vivos” do azul. Pra ximas páginas.
baixo(3), tons mais escuros. Pra cima, à esquerda(4), tons claros
perto do branco e pra baixo, à esquerda(5), tons mais acinzenta-
dos.

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@designcomvc Ele é exclusivo para estudo e uso pessoal dos participantes desse evento.
Veja o caso da paleta abaixo, os círculos pretos eu criei só para Para escolher as cores é importante você saber as zonas de inter-
apontar a zona de seleção das cores que eu fiz. cessão entre elas. Você pode pensar, “ah, eu quero um azul... mas
queria um azul esverdeado, então você move o slider primeiro
A B C D
para o centro do azul e depois vai movendo até chegar no tom
desejado mais próximo do verde. É um trabalho que exige um
pouco de delicadeza mesmo ao arrastar o mouse e clicar, cada
clique, cada movimento brusco na seleção modifica totalmente a
escolha no range.

A
B C D

A paleta foi criada apenas através da seleção do azul, e eu fui


navegando pegando azuis próximos variando apenas a intensidade
(matiz/saturação/brilho). Um primeiro passo para quem está
começando e ainda tem dificuldades é começar trabalhando com
tons e sobretons de uma mesma cor. Mas é preciso avançar para
não criar coisas apenas monocromáticas. Ao adicionar uma segun-
da cor, precisamos atentar para a legibilidade e o contraste.

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Atualmente o seletor padrão do Illustrator é esse abaixo. E eu te
sugiro que, ao utilizar ele, você até expanda arrastando a caixa do
painel(1) do spectrum para ver melhor o range de cores e ter mais
mobilidade na escolha(2)

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Esse spectrum de cores funciona assim: (1) tons mais claros; (2) Você pode ver um exemplo prático através das seleções abaixo.
tons mais vibrantes que significam as cores mais “vivas”, e (3) tons Onde o conta gotas está marcado é onde foram selecionadas as
mais escuros. E, na parte de cima, vai estar o modo de cor, que cores. Eu mantive o mesmo eixo vertical, para manter a escolha
você pode alterar, no exemplo abaixo está o modo CMYK. de tons de azul.
A B C

A B

1
C

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E você pode alternar entre os modos de cores através do ícone de E assim, nada contra os sliders, eu até gosto muito e me utilizo
três barras do canto superior direito. Notem que até tem o modo mesmo bastante da mistura de cores através dos sliders do modo
HSB de mistura, porém a seleção se dará apenas por “sliders”. CMYK. E, de verdade, parte da maturidade que tenho hoje na mis-
Aí você deve ser perguntar: mas, Viana, o que é CMYK, RGB, e, de tura de cores veio fazendo misturas com os sliders no modo
verdade, isso é muito importante você saber, mas eu optei por CMYK, e eu te digo que isso é importante porque meio que te força
trazer nesse momento coisas que você não encontra no Google. E a entender as cores. Ex: “Se eu mover o slider pra cá adiciono um
o que é CMYK, RGB e Pantone, com um clique você acha no pouco mais de azul, pra cá um pouco mais de verde. Agora adicio-
Google. E pode ser assunto para um outro guia. no um pouco mais de preto.” E é nessa “brincadeira” que você
começa a aprender de fato a misturar as cores.

Você sempre terá duas ou mais possibilidades na vida. Uma é utili-


zar sites já prontos com paletas e se sentir super realizado e isso
funciona de verdade para algumas pessoas, nada contra mesmo.
A outra é você perder o medo de misturar as cores. E eu te digo
que, a médio e longo prazo, você terá uma autonomia incrível e,
de uma hora para outra, dentro desse seu esforço inicial de enten-
der, de mexer, de usar e de testar, quando você menos esperar,
você estará pensando em cores. E, no início, pode parecer algo
mecânico, afinal ali só tem alguns sliders, você deve pensar
“nossa, será mesmo que eu vou ganhar maturidade mesmo na
evolução do meu pensamento em cores apenas misturando aqui e
fazendo testes?”.

E eu te digo que sim, vai. Mas essa é apenas a dimensão técnica.


Até aqui, eu só te falei como misturar. E ainda tem muitos detalhes
de misturas de cores que eu poderia escrever páginas sobre o
assunto. Mas agora vamos ao outro lado da moeda, que é a per-
cepção sensitiva da escolha das cores.

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A percepção sensitiva
O primeiro passo para fazer a escolha das cores, é você entender
Se, por um lado, é muito importante você dominar a técnica de bem o projeto que você está criando. Você precisa ter um sentido
mistura e manuseio das cores, por outro lado é importante você gerado para aquilo que você vai criar. A escolha das cores não
entender a função representativa das cores em um projeto de cumpre apenas um papel estético e visual, do tipo “nossa, essa cor
design e como você pode aguçar a sua percepção sensitiva na combina com essa”. Tampouco a escolha das cores estará apenas
seleção e escolha. relacionada à temática do projeto, por exemplo: “ah, eu vou fazer
uma marca visual para uma empresa de clínica de beleza, então
Existe uma ciência quase que positivista quando o assunto é tenho que usar roxo, porque a maioria das empresas usa esse tom,
“cores”, onde alguns se apegam a teorias e preferem fincar o pé e roxo remete a isso.”
em ensinar a utilização das cores apenas através do campo teóri-
co. A teoria das cores advém de estudos seculares que, de fato, Não é bem assim que funciona a escolha das cores que favoreça a
validam o uso, explicam alguns porquês e apresentam toda uma criação de uma marca visual representativa. Não existe uma
ciência quase que exata que está por trás das cores. E isso é muito receita do tipo é assim que você faz a escolha, muito menos exis-
importante. Porém, aqui vamos fazer um pouco diferente, não tem regras que ditem o que é certo ou errado, eu acho que é algo
vamos nos deter em falar o que é uma cor primária, uma cor muito pessoal mesmo. Mas existem algumas reflexões importantes.
secundária, nem nada a nível mais conceitual. E isso sim é impor-
tante, mas eu te confesso que quando eu estudei, eu entendi, foi No início, eu trabalhava apenas assim como esse exemplo que citei.
legal saber de tudo isso, mas não foram esses conceitos que me Eu fazia um estudo de referência da concorrência, analisava a
fizeram aguçar a minha percepção criativa na escolha e uso das temática e via cores recorrentes e o que eu poderia utilizar de ma-
cores de maneira efetiva. Mas, de fato, foram conhecimentos neira similar aos tons.
importantes em outros aspectos.
Eu utilizava bastante a teoria da psicologia das cores, e isso, de fato,
“Ah, Viana, então não é importante aprender a teoria das cores?”. me ajudava. E ainda acho que ajuda mesmo.
Pelo contrário, é muito importante, é fundamental, eu diria.
Porém, eu apenas escolhi trazer nesse material uma outra pers- Porém, com o passar do tempo, com a maturidade que ganhei de
pectiva de como você pode caminhar pela escolha das cores. E é alguns projetos, eu percebi que tudo isso sim é importante, mas
sobre isso que vamos falar nas próximas linhas. existe uma dimensão na escolha das cores que está muito mais
relacionada à conexão que você cria com o sentido do projeto,
com os atributos de percepção que você quer alcançar, e com a
personalidade da marca que você quer representar.

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Quando falamos de marca visual, falamos de experiências, de
Mas, Viana, e como eu faço isso? Como eu crio um sentido para o conexão, de senso de pertencimento. Falamos de produtos e
meu projeto? Como eu defino atributos de percepção da marca serviços, sim, mas falamos, sobretudo, de pessoas. A marca ela é
visual? Como eu sei qual a personalidade da marca que eu quero criada para pessoas, e não deve visar tão somente as pessoas em
representar? uma relação de consumo, mas em uma relação de experiência
positiva, de entrega, de empatia, de consideração das emo-
Essa não é uma resposta que se dê para trazer de maneira precisa ções, das necessidades, dos relacionamentos que se estabele-
em algumas linhas, mas, de maneira geral, é preciso você dominar cem com a marca.
bem as duas principais etapas de um projeto, que são o Briefing e
a fase de Estudo e definição de um conceito de representação Quando você compreende toda essa dimensão, você começa a
visual. pensar as cores de uma outra forma. As cores dentro de um proje-
to têm um papel absurdamente estratégico e importante. É atra-
Essas etapas, resumidamente, consistem em você coletar infor- vés das cores que você irá representar grande parte da personali-
mações importantes e estratégicas sobre o seu projeto com o seu dade da marca. É através das cores que você comunica aquilo
cliente, e fazer um processo de estudo e pesquisa bem aprofunda- que você não conseguiu transmitir à nível icônico do símbolo do
do para entender como você vai representar a marca visualmente. logotipo. É através das cores que você é capaz de representar toda
Criar uma marca visual não é abrir um programa e criar algo a dimensão intangível de uma marca.
bonito. É você criar uma solução de representação que seja capaz
de transmitir o que é a marca do seu cliente em diversos níveis. Falar de cor dentro de um projeto de design tem muito a ver com
Uma marca visual tem de ser capaz de transpor a essência da a dimensão funcional do Design de criar uma solução e ser parte
empresa, a missão, os valores. Ela tem a função de comunicar dessa solução. Mas, por um outro lado, parte desse processo fun-
visualmente o que é a empresa. Então, você não cria uma marca cional, dessa escolha, não se dará à nível racionalista, não se dará
apenas para o seu cliente achar bonita. Você cria uma marca que tão somente de maneira exata. Pois existe, sim, um campo sensi-
conecte o sentido da empresa com os clientes do seu cliente. tivo, perceptivo e intuitvo que está em uma dimensão artística
Apesar de você criar a marca para a empresa do seu cliente, essa do processo criativo; dimensão essa que sente, percebe, intui e
marca vai ser consumida diariamente por outras pessoas, e é com que cria; e que visa, sim, proporcionar chegar em um resultado, e
essas pessoas, com esse público, que você deve estar também em uma solução que funcione e que represente, mas que. por
conectado no sentido de visualizar como comunicar a eles o que é considerar as pessoas e suas necessidades no centro do processo,
a empresa. não pode ser um processo tão racionalista e linear. Exige muito do
campo sensitivo e perceptivo também.

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Essas percepções anteriores vão ajudar bastante a você entender
que a escolha das cores não é algo tão somente visual e estético,
como eu comentei. E vão te fazer perceber que cada vez mais
perde o sentido você ficar utilizando paletas prontas, e vão te fazer
sair da zona de conforto para criar suas próprias paletas. Só que eu
sei que, nesse início, é difícil você tentar fazer isso sozinho. Por isso Sites para pesquisas de referências visuais
que, no Design, existem dois estudos que caminham lado a lado.
Um é o estudo teórico, técnico e conceitual, onde você entende o
porquê e o sentido das coisas. E por um outro lado, existe o estudo
de referência visual, que é onde você vai visualizar coisas que já https://behance.net
funcionam, e vai ter como referência outros projetos para servir de
inspiração. Nota que não é copiar e colar. É reunir informações https://dribbble.com
visuais para te auxiliar no seu processo criativo.
https://pinterest.com
O estudo de referências visuais pode ser feito em diversas fases de
vários tipos de projetos. E para o estudo de cores também é impor-
tantíssimo. Ao estudar projetos já prontos e focar em analisar
apenas as cores, você vai começar a visualizar como as pessoas
utilizam as cores, vai perceber jogos de cores que funcionam, vai
perceber tonalidades de paletas diferentes, vai perceber também
coisas que não são tão legais, porque nem todo projeto que você
visualizar pode estar tão funcional assim. Mas, sobretudo, você vai Longe de esgotar o assunto, esse é só um guia prático onde falei
acumulando referências visuais e isso, de fato, ajuda bastante. E apenas um pouco do processo de mistura de cores e da dimensão
aqui, para finalizar, eu vou passar alguns sites nos quais você perceptiva da escolha. Quando o assunto é cores, existe todo um
poderá fazer um estudo de referências visuais. E, para pesquisar, arsenal teórico que deve ser estudado e considerado também.
você pode utilizar termos genéricos como “brand”, “branding”, Recomendo a leitura do livro “Psicologia das Cores” de Eva Heller.
“marcas”, “logo”, ou mesmo já pesquisar um tema como “yoga”,
“saudável”, “fitness”, “food”. Uma dica é usar palavras de pesquisa
em inglês também.

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