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NOTAS PARA PENSAR A OBJETIVAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA


INTENÇÃO DE RUPTURA: PARA UMA ANÁLISE DO PROJETO ÉTICO
POLÍTICO
AINDA NÃO CONSEGUI PENSAR UM TÍTULO: HELLPPPP!!!

Maria Antonieta Rocha dos Santos1

RESUMO

Com o propósito de atender aos requisitos da disciplina “Ética, Direitos Humanos e


Serviço Social”, no âmbito do Programa de Pós-graduação em Serviço Social da
Universidade Federal de Santa Catarina, busca-se neste trabalho, extrair alguns
elementos do pensamento de José Paulo Netto, acerca do processo de renovação do
Serviço Social no Brasil, no período de 1960 a 1980, de modo a situar sua “teorização”
no contexto da dominação ideopolítica do regime autocrático burguês instituído no
Brasil pós-1964. A organização do texto, apresenta-se sob três eixos, a saber: 1) as
dinâmicas mais gerais que o direcionamento do Estado autocrático burguês impõe à
política educacional, especificamente àna universidade, espaço que engendra os
processos vivos da vida social e ao “mundo da cultura” 2) Os elementos que traduzem
o sentido da função intelectual no serviço social, ao incidirem no seu processo de
“teorização”, a partir da inserção no circuito acadêmico dos cursos de formação, em
níveisl de graduação e pós-graduação; no circuito acadêmico, 3) Tomada como central,
a “perspectiva de intenção de ruptura” que incidiu e na construção do Projeto Ético
Político da Profissão, e; 3 4) Aalgumas considerações sobre a partir da contribuição
do referido autor para a compreensão dos modos de objetivação do PEP, tomando como
eixo de em vistaanálise a dos estratos da categoria possibilidade, na perspectiva de em
Bloch (2015).

1. INTRODUÇÃO

Neste artigo Este trabalho se coloca-se o desafio de apresentar os principais


elementos da elaboração teórica de José Paulo Netto, acerca do processo de renovação
do Sserviço Ssocial brasileiro pós-1964, tendo em vista que sua . Netto é um autor
seminal do serviço social brasileiro, cuja influência incide na formação profissional e
cujna concepção tornada ou-se assume a hegemônicaonia no debate acadêmico, e nas
instâancias organizativas da profissão.

1
Mestre em Planejamento do Desenvolvimento pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da
Universidade Federal do Pará (UFPA). Atualmente Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em
Serviço Social (PPGSS) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

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A contribuição de Netto, é fundada na segunda parte de sua tese de


doutoramento, intitulada “Autocracia Burguesa e Serviço Social 2”, quando faz uma
reflexão crítica inspirada na teoria social marxiana, acerca do processo de renovação do
Serviço Social brasileiro, no período compreendido entre os anos 1960-1980. O autor
parte de duas dinâmicas entrecruzadas dialeticamente no compasso das mudanças
societárias, cuja totalidade se expressa na formação social brasileira: uma mais geral,
em que ocorrem as demandas socioinstitucionais e outra no nível endógeno da realidade
profissional, com rebatimentos para o acúmulo profissional. Nas contribuições de Netto,
à compreensão do processo de renovação são imanentes aos movimentos
sociohistóricos, para além do momento de “teorização” do serviço social brasileiro,
refletindo a natureza da análise epistemológica desse campo de conhecimento.
Ao contextualizar seu objeto de estudo Netto (2015) situa a renovação do
Serviço Social, enquanto resposta formulada pelos profissionais, em meio as relações
estabelecidas no movimento, geral, experimentado pela sociedade brasileira, tratou,
efetivamente, da relação profissionalidade - sociedade no horizonte sociocultural
instaurado pela autocracia burguesa no Brasil.
Para fins de apreensão da função dintelectual no sServiço sSocial buscou-se
elementos da conjuntura sociopolítica do Toma como referência analítica as políticas
sociais do Estado autocrático-burguês, as estratégias de coerção e resistência, que se
movem no “mundo da cultura” e na política de educação, em vistas de esclarecer o
processo de renovação experimentado pelo Serviço Social entre os anos de 1960 e 1980.
O resgate da obra seminal de Netto: “Ditadura e Serviço Social: Uma análise do
serviço Social no brasil, pós-64, é um passo metodológico importante para situar o chão
histórico onde se desenvolve país que se considerou essencial e que foram apontados
pelo autor, como e dos modos de incidente a no movimento da que explicita a
“perspectiva de intenção de ruptura” e nessa angulação, a construção do Projeto Ético
Político da profissão, o qual encontra materialidade na década de 1990, na aprovação do
Código de Ética (1993), na Lei de Regulamentação ( 1993) da profissão e nas novas
Diretrizes Curriculares (1996 ) do curso de formação. À busca de refletir acerca das
formas de objetivação do Projeto Ético Político, assume-se o desafio de encontrar
pontes analíticas no pensamento de Ernest Blochquanto aos “estratos da categoria
possibilidade”. Entende “possibilidade” como um campo para onde tendem as

Tese elaborada no âmbito do Programa de Estudos Pós-graduados em Serviço Social da Pontifícia


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Universidade Católica de São Paulo.

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aspirações humanas. A história é um repositório de possibilidades que são opções de


vida para ações futuras, portanto, o que poderia ter sido, ainda pode ser. O momento
presente é assim, constituído de latência e potência. “Esse possível não é imenso, mas
um possível que pode ser nominado de caso a caso e, na medida das condições
conhecidas” ( BLOCH, 2005, p. 222-223). . O busca-se elencar os principais elementos
da conjuntura sociopolítica do país, os quais são apontados pelo autorautor pensou o
processo de renovação que marcou a profissão, a partir d a partir da década de 1960,
analisando as políticas sociais do Estado autocrático-burguês e seus rebatimentos no
contexto social. no âmbito do processo de renovação que marca a profissão, a partir da
década de 1960.
Toma-se como referência a discussão uma obra em particular, cujos
fundamentos encontram-se desenvolvida por Netto, na segunda parte da tese de
doutoramento, do autor, sob o títulintituladao “Autocracia Burguesa e Serviço Social3”,
elaborada no âmbito do Programa de Estudos Pós-graduados em Serviço Social da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, quando . Afaz borda sob uma reflexão
crítica, inspirada na teoria social marxianade Marx, para pensar o processo de renovação
do Sserviço Ssocial brasileiro, no período compreendido entre os anos 1960-1980. O
autor parte de , e o faz, a partir de duas dinâmicas que se entrecruzadas m
dialeticamente no compasso das mudanças societárias, cuja totalidade se expressa na
formação social brasileira: uma mais geral, em que ocorrem as demandas
socioinstitucionais e outra no nível endógeno da realidade profissional, com
rebatimentos para e ao mesmo tempo baseada no acúmulo profissional., cuja totalidade
se expressa na formação social brasileira: uma mais geral, onde aparece as demandas
socioinstitucionais e outra no nível mais endógeno à realidade profissional. Nas
contribuições de Netto, à compreensão do processo de renovação, são imanentes estão
portanto, aos movimentos aspectos sociohistóricos, para além do momento de
“teorização” do serviço social brasileiro, e que refletindo a natureza da análise em a
natureza epistemológica da análise desse campo de conhecimento.
Ao Para contextualizar o seu objeto de estudo Netto (2015) situa a renovação do
sServiço Ssocial, enquanto uma resposta formulada pelos profissionais da assistêencia
tes social is em meio as relações que a profissão estabelecidas e com no movimento,
mais geral, experimentado pela sociedade brasileira. Tratou, efetivamente, no contexto

Tese elaborada no âmbito do Programa de Estudos Pós-graduados em Serviço Social da Pontifícia


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Universidade Católica de São Paulo.

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da autocracia burguesa. Toma como referência analítica da relação profissionalidade -


sociedade, no horizonte sociocultural do período em que se instaurado pela autocracia
burguesa no Brasil.
Bu
Na exposição, sca-se, na primeira parte do texto, localiza-se demonstrar oos
elementos estratégicos que Netto , identifica nas políticas sociais do estado autocrático-
burguês, onde é possível observar o novo perfil intelectual requerido aos sujeitos
inseridos em vetores críticos, cuja tendências eram, até então, influenciadas pelo
“mundo da cultura”, enquanto expressão dos processos vivos da vida social.
Nesse sentido, tem-se, deDe um lado, o sistema educacional, cujo elemento em
destaque é o isolamento da universidade em relação ao em face do processomovimento
social. De outro lado, o e, de outro lado, as estratégias os processos de coerção e
resistência experimentadas que incidem no “mundo da cultural”. Com base no Netto,
destaca as estratégias de controle do “mundo da cultura”, que não renderam ao regime
político, o apoio inconteste da intelectualidade, porém, influiu em resultados
significativos nos arcabouços institucionais e ideológicos, que alimentaram “os esforços
de elaboração formal-abstrata que invade a universidadecomo indicadores dos limites
enfrentados pela autocracia burguesa na busca de implementar sua política cultural,
(NETTO, 2015).as estratégias de controle do “mundo da cultura”, que não renderam ao
regime político, o apoio inconteste da intelectualidade, porém, influiu em resultados
significativos nos arcabouços institucionais e ideológicos, que alimentaram “os esforços
de elaboração formal-abstrata que invade a universidade.
Na segunda parte, do texto, destaca-se, traz-se a analítica de Netto (2015) sobre
as políticas sociais, fundamentalmente, em Netto, toma-se as relações que Netto
constrói, entre o “mundo da cultura”, o movimento de coerção e resistência que nele que
se imprimiu e e no sistema educacional institucional por meio da , particularmente, na
universidade e a incidência na , a fim de demonstrar a posição que do autor em face
assume diante da organização institucional que modela as estratégias do projeto de
modernização conservadora da autocracia burguesa. . Desse traçado sociohistórico,
abstrai-se a Netto explicita sua crítica do autor, às influeências do conservadorismo (,
seja religioso e, seja da perspectiva modernizador) a, que invademm o sServiço sSocial,
e limitando m o avanço da “perspectiva de intenção de ruptura”.
Na terceira parte do texto, busca-se, apreender alguns elementos do pensamento
de Ernest Bloch acerca dos estratos da categoria possiblidade, a fim de refletir sobre a

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objetivação do Projeto Ético Político do Serviço Social – um produto da “perspectiva de


intenção de ruptura”- que ganha materialidade na década de 1990. com base nesse
traçado dno pensamento de Netto, trazer à tona os fundamentos do Projeto Ético-
Político do Serviço Social, passíiveis de ser identificação dos na “perspectiva de
intenção de ruptura”. Tal desafio é assumido em vista de implica problematizar,
preliminarmente, onde esse projeto é possível desde a analítica de Bloch, ou seja, em
quais (qual) estrato(s) de possibilidade, a objetivação do Projeto Ético-Político do
Serviço Social é possível (ou é possível de se realizar na realidade objetiva?). , como
profissão, ao trazendo para isso uma refletir xão sobre acerca dos “estratos da categoria
possibilidades”, em vista dno pensamento de Ernest Bloch.

2. O CONTEXTO DE OBJETIVAÇÃO DA FUNÇÃO INTELECTUAL NO


SERVIÇO SOCIAL: um o esforço de “teorização”
OU
2.1 TRADIÇÃO, MODERNIZAÇÃO E INTENÇÃO DE RUPTURA: os caminhos da
formação profissional e da função intelectual no sServiço sSocial

Ao Em busca de explicitar as linhas- forças que incidiram nas formulações


“teorizantes”, mais representativas, dos assistentes sociais brasileiros, Netto (2015) ,
procurou contextualizar o universo de transformações econômicas e sócio-políticas , que
marcam “ o ciclo autocrático burguês”, dando ênfase aos impactos na educação , por
meio da rReforma Uuniversitária e no “mundo da cultura”. Nesse último, incidem os
campo, de onde emergem movimentos de resistência e, ao mesmo tempo as, estratégias
de cooptação do pensamento crítico , de onde resultam as dinâmicas para forjadas na
política de educação e cultura da autocracia burguesa em vista do projeto modernizante.
Esboça-se, sumariamente, aAs manobras do poder de estado para controlar a
produção e difusão dos produtos culturais, mesclam de modo a mesclar com os
interesses modelados forjados nos processos macroscópicos, os quais incidem na
reprodução social da vida (NETTO, 2015). A vista de uma “cultura democrática” , a
autocracia burguesa assume como centralidade da política cultural, erradicar o
analfabetismo, combater a miséria e a exploração, tornar acessível os meios de
comunicação livres de censura, e estabelecer padrões de participação social. Isso ocorre
em meio à crise e constrangimentos, mas garante a inserção da política cultural e da

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cultura no universo ideocultural, por meio de estratégias que vão desde o fornecimento
de equipamentos, infraestrutura, constituindo-se em condições ideais para o controle.
O É certo que o Estado, não produz diretamente cultura, sendo esta uma
prerrogativa de protagonistas presentes no movimento da sociedade civil. Nesse sentido,
ganha destaque a política educacional e a reforma universitária, lugar do enquadramento
do sistema institucional de educação, em que onde o Estado passa a assegurar o
isolamento de vetores críticos já que não podia impedi-los de existir. A universidade se
revela o espaço onde a crítica passa a se constituir como “oposição legal de caráter
puramente intelectual”.
Segundo o autor, é É sob a dinâmica do processo social em tela, que o Estado
autocrático burguês, segundo o autor, tolera as tendências culturais radicais e
contestadoras, que se movem restritas ao universo da subjetividade reificada, ou seja,
passiva, sem autonomia eé , e onde há a perda da totalidade, e da consciência subjetiva,
são estruturadas de acordo com o arcabouço mercantil, tornando o homem expectador
da própria vida.
O enquadramento da política educacional do Estado autocrático burguês faz
parte da estratégia de controle do “mundo da cultura” e isso possibilita o que Netto
9(2015) denomina de “giro” ou mudança qualitativa e estrutural no trato da educação.
Esse giro é parte da demanda social por educação, que desde a década de 1950 que
estava tensionada pelas exigências do novo padrão de desenvolvimento do país, para ao
qual passa requerer uma qualificação especiífica da força de trabalho, ao mesmo tempo
em que são forjados os elementos do processo de urbanização.
Ainda que o esse padrão de desenvolvimento acima referido, requeira novas
institucionalidades no campo educacional, o autor chama atenção (baseado em
referência à Florestan Fernandes) quanto ao fato de que o elemento institucional,
queinstitucional que forja a socialização das massas, no Brasil, não passar ndo
historicamente pelos níveis de escolarização4, mas por e que é só a partir da demandas
da conjuntural, requeridas pelas novas ocupações, que está passam a ser um meio de
ascensão das camadas médias, fundamentalmente, à universidade.
Com base no contexto acima referido, cumpre apontar aA posição de Netto
(2015), quanto ao resultado global da política educacional da autocracia burguesa indica
que ela . Esta, serve à consolidação do regime, fornece ao mercado de trabalho, sujeitos

4
Para uma melhor compreensão acerca do tema, na trajetória histórica do Brasil, desde o início do Século
XX até a década de 1920, buscar “Toda Crônica” (BARRETO, 2004).

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qualificados e semiqualificados formais, necessários e excedentes, ao mesmo tempo em


que que asseguratempo, assegura a “neutralização do sistema educacional como topos
de problematização e crítica societárias” (NETTO, 2015, p. 90). A tendência fecunda
que articulava teoria, pesquisa e práatica social, desde a década de 1950, assume por
meios coercitivos, caráter reversivo e ganha legitimidade no nível intelectual sob os
requisitos de “competência”, “qualificação” e “objetividade” científicas.
Vê-se, portanto, que a neutralização se constitui no grande êxito da política
educacional da autocracia burguêesa, em vista do “esvaziamento da universidade”. Seu
caráter asséptico incide na vida intelectual, obscurecendo os tensionamento e as
contradições, ao romper os laços vivos que se mantinha entre universidade e o
movimento das classes sociais. Essa lógica encontra combinação na degradação do
padrão do trabalho, no período entre as décadas de 1960-1970 e deixa um flanco aberto
à modernização conservadora e sua condução ideo-política.
Assim, o insulamento, a perda do senso crítico e capacidade criativa da
universidade,, são identificadas por Netto (2015), como variáveis da degradação do
padrão do trabalho intelectual. Com isso, o estoque técnico-científico do país se torna
limitado e marginalizado. P, o que para o Estado, isso, não assume significado, uma vez
que seu compromisso econômico-social, se funda na subalternidade e dependência à
lógica do capital imperialista externo5. i.

5
O tema da “dependência” e o caráter subalterno que assume o Brasil na trajetória de seu desenvolvimento
histórico, é tratado, pelo pensamento crítico, de intelectuais para os quais, o fator econômico não é suficiente,
para explicar o modo de pensar e agir subalternizado. A expansão e extensão territorial do modo de produção
especificamente capitalista, encontra-se com os complexos fenômenos da formação sócio histórica das
sociedades latino-americanas e a compreensão sociológica de (FERNANDES, 2006), contribui para entender as
particularidades do Brasil, por meio de elementos oligárquicos locais/regionais/nacionais, cuja transposição
conceitual para pensar a sociedade burguesa no país, não pode deixar de considerar a formação sociocultural que
torna “a revolução burguesa”, uma chave explicativa importante na compreensão dos elementos presentes, na
particularidade brasileira, quando da transição da condição político-econômica de estado colonial ao estado
moderno e portanto a transição ao domínio do capital imperialista. Nesse cenário o sistema educacional é
impregnado das dinâmicas que envolvem o Estado e a Sociedade e como tal a formação acadêmica onde a
intelectualidade brasileira é constituída.

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Faz-se destaque da função intelectual6 no âmbito da política educacional e de


suas frágeis relações com o “mundo da cultura”, para afirmar que por meio da
depuração asséptica, são excluídos os docentes e pesquisadores, cujo perfil encontrava-
se alinhado com as forças mais democráticas e progressistas. Nesse período o
crescimento do número de docentes ditos “independentes” e descomprometidos com o
passado7, é caracterizado por Netto (2015) por uma postura contestatória de caráter
abstrato, cuja existência, ainda que longe de ser hegemônica assumehegemônica,
assume “um discurso teórico formalmente de esquerda que só pagava um preço
para sobreviver: não conjugar a reflexão (“teoria”, “ciência”) com a intervenção
prático social dela decorrente (“ideologia”, “política”) (NETTO, 2015, p. 93).
É sob o signo dessa neutralidade que o “ marxismo acadêmico” passa a ser
tolerado, desde que, obviamente, não se vincule asà prááaticas sociais, ou seja, um
marxismo que se impõe no limite das fronteiras intelectuais. Os exemplos citados pelo
autor revelam que mesmo os militares, legítimos representantes da autocracia burguesa,
cumpriam função intelectual de modo a exercer liderança à frente da repressão à
estudantes e professores e, ao mesmo tempo, promover eventos que colocavam na
mesma mesa intelectuais de esquerda e de oposição para discutir “crise” e “o caráter
ultrapassado” do conhecimento marxista.

A universidade sob a lógica formal-burocrática, que se ordena por uma


tecnocracia, e assume a função de modelar sujeitos, sem responsabilidade crítica diante
do contexto social, revela o alargamento e o limite da política educacional e sua

6
Lima Barreto em suas crônicas: - “Toda Crônica”, de 1900 - 1919, refere-se de maneira crítica à vida
acadêmica e a soberba dos professores, ao tratar como “presunção doutoral” os comprometimentos ideopolíticos
dos que exerciam função intelectuais à época. Desde sua percepção do povo brasileiro, como um povo que detém
uma porosidade à docilidade, absorve ideias que não lhe são favoráveis, se deixando infiltrar pelo que chama
“abusão de feitiçaria” pelo título universitário, o direcionamento de sua crítica é o caráter intelectual,
corruptíveis e obsoleto diante da realidade concreta, objetiva. “a superstição do “doutor” é tal, que faz o
governo, [ ] não raciocinar claramente e proceder contra as mais comezinhas regras de bom senso... é contra
tais disparates que me insurjo e procuro, por todos os meios, mostrar a imbecilidade desse respeito cabalístico,
esotérico pelo “doutor”, respeito e veneração que estão criando entre nós, uma nobreza das mais atrozes que se
pode imaginar”. (BARRETO, 2004, p. 350). Lembrando que o “doutor” da época tinha seu processo de
formação sob outras dinâmicas, diferentes do sistema educacional massificado, mas permite perceber as raízes
históricas, onde se fundam a intelectualidade brasileira.

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Entende-se que o autor se refere às influencias do marxismo-leninismo que presente no pensamento
crítico brasileiro, até a década de 1960. Com a conquista da autocracia burguesa em abril de 1964, parte
dos intelectuais passam se localizar no âmbito do marxismo acadêmico, onde o “Grupo do Capital”,
assim chamados os marxistas acadêmicos da USP, se incluem, de modo a revelar autonomização teórica,
ou um “materialismo funcionalista” (na visão de Celso Furtado).

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incidência no projeto de modernização conservadora e na política culturalii. O aspecto


relevante da política cultural do estado autocrático burguês na análise de Netto (2015) é
a contenção.
A contenção articula-se com a intenção de construir, sob cooptação, de atores da
própria intelectualidade, o projeto da “modernização conservadora”. Isso faz colidir
com a dinâmica modernizante, a vida social brasileira, dilacerando na base, os setores
médios urbanos e a pequena burguesia, que se deslocam da arena cultural e passam a
desenvolver a possibilidade de legitimação do regime golpistas nestes estratos sociais.
Ainda, assim, as adesões de parte do mundo da cultura se tornam inexpressivas diante
da resistência democrática. Mesmo a intelectualidade desvinculada da esquerda, ou seja,
intelectuais tradicionais de formação ideo-política liberal, ao aceitar a ordem ditatorial,
mantinham fortes condicionamentos. Isso significa que entre 1964-1968 a autocracia
burguesa não consegue trazer e manter sujeitos importantes da vida cultural.
A produção e divulgação no circuito cultural desse período, segundo Netto
(2015) revela a riqueza, a polêemica e a criatividade com que a realidade do país é
traduzida, o que demonstra a complexidade dos processos contraditórios,
experimentados pela cultura brasileira nesse período. Isso sintetiza a análise de que no
“mundo da cultura”, onde a hegemonia se mantéem no circuito dos que haviam sido
politicamente derrotados no golpe de abril.
Porém, Netto (2015) aponta que a dinâmica política da conjuntura, faz com que
o “mundo da cultura”, sob a pressãoa pressão vivenciada pelos por seus protagonistas
do “mundo da cultura” , que sob a , perda ca das mediações culturais
espeícificasespecíficas, não foram capazes de universalizar problemas e temas cuja ótica
original firmasse raízraiz nas relações de classe, . Isso faz com que a cultura se
confundindo cultura a com a política: Na impossibilidade de fazer política, a cultura se
politiza. Participar de eventos culturais era sinônimo de ir contra o regime político.
Nesse sentido, o autor afirma a “inserção de um veio irracionalista na cultura brasileira
pós-64”. Processo que vai se aprofundando e no período entre1968-1969 e passa a vai
golpear (não sem a influência externa) o “mundo da cultura” iii. Esse movimento faz
emergir a perspectiva da contracultura, momento da formação do tropicalismo, cuja
base, assentava-se em elementos do pensamento crítico, clássico, ou seja, no
racionalismo, no historicismo e no humanismo, sem os quais, “é inviável a crítica
cultural e seu desenvolvimento numa direção nacional-popular” (Netto,2015, p. 111).

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Assim, Nesse sentido, a autocracia burguesa apresenta sua versão fascista, sob a
proteção de um regime político que anula os sujeitos da contestação e acaba com o
bloco cultural que o guiava. No período entre 1974-1975. Configura-se uma espécie de
“vazio cultural”, decorrente do “saneamento” que transforma a ditadura reacionária em
ditadura militar-fascista.
É sob esse cenário que a política cultural ganha positividade e promove o
redirecionamento, ou seja, a reinterpretação da herança cultural brasileira, abandonando
as tendências histórico-críticas, que fundam a perspectiva nacional-popular em favor de
um “ radicalismo abstrato, ou nas palavras de Netto (2015) “de vertentes estético-
culturais que aludiam a questão central do realismo artístico”. Tal afirmativa , o qual
ganha sentido no método de criação/composição e não como estilo, a exemplo do que
são emblemáticas das construções estéticas do nacional-popular e seu lastro crítico8.

Na política educacional, o Se oO regime autocrático, burguês alcança seus


objetivos na política educacional tendo como um de seus centros de ataque, a
universidade. Esta , que se torna-se asséptica à influência de tendências intelectuais,
críticas. Em , do ponto de vista ideo-político, na política cultura, a incidência, não
alcança a mesma positividade. Nesse sentido, a autocracia burguesa apresenta sua
versão fascista, sob a proteção de um regime político que anula os sujeitos da
contestação e acaba com o bloco cultural que o guiava. No período entre 1974-1975.
Configura-se uma espécie de “vazio cultural”, decorrente do “saneamento” que
transforma a ditadura reacionária em ditadura militar-fascista.
É sob esse cenário que a política cultural ganha positividade e promove o
redirecionamento, ou seja, a reinterpretação da herança cultural brasileira, abandonando
as tendências histórico-críticas que fundam a perspectiva nacional-popular em favor de
um “ radicalismo abstrato, ou nas palavras de Netto (2015) “de vertentes estético-
culturais que aludiam a questão central do realismo artístico”, o qual ganha sentido no
método de criação/composição e não como estilo, do que são emblemáticas as
construções estéticas do nacional-popular e seu lastro crítico9.
8
A análise feita por (Netto 2015, p. 116) tem como referência a obra de Coutinho (1976), a qual encontra
fundamentação teórica em Luckács, 1966; 1967 a, 1967; b) para quem o realismo é entendido “como
método de criação/composição e não como estilo” sendo aquele o lastro das construções estéticas críticas
no período em que predominou o nacional/popular no Brasil.
9
A análise feita por (Netto 2015, p. 116) tem como referência a obra de Coutinho (1976), a qual encontra
fundamentação teórica em Luckács, 1966; 1967 a, 1967; b) para quem o realismo é entendido “como
método de criação/composição e não como estilo” sendo aquele o lastro das construções estéticas críticas
no período em que predominou o nacional/popular no Brasil.

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O destaque dado por Netto (2015), a destaca , à a política de educação com a


reforma universitária, expressa “um giro, uma mudança qualitativa e estrutural no trato
da educação por parte da autocracia burguesa – e que este giro ocorre entre 1969-1969”
quando são sufocas as experiências democratizantes que vinham sendo gestadas, antes
do golpe, e quando no sistema educacional de ensino, são forjadas as estratégias
imediatas requeridas pelo projeto modernizador. Os estudos citados por Netto, dão
conta de que a nova legislação educacional visava criar instrumentos de controle e de
disciplina sobre estudantes e operários (NETTO, 2017, p. 78).
Os principais problemas elencados pelo autor no campo da política educacional
do estado autocrático burguês, advém da alteração na estrutura da demanda social por
educação institucional, a saber:
- As exigências e implicações decorrentes do novo padrão de desenvolvimento
vinculado àe ao “mundo da cultura” como o lugar da resistência e, ao mesmo tempo, de
coerção e cooptação ideocultural industrialização pesada, a exigir qualificação da força
de trabalho;
- Novas demandas advindas do processo de urbanização;
- Aumento do contingente de indivíduos que pressionam o sistema educacional,
principalmente a partir da segunda metade da década de 1960;
- A expansão da demanda global por educação, principalmente no nível superior,
para onde migram as camadas medias-urbanas, para quem a possibilidade de mobilidade
social vertical ascendente, por esse meio da universidade, torna-se central. Para esse
ponto, destaca-se que a ocorrência de mudanças no padrão de ascensão da classe média.
Até esse momento as vias de acesso, eram dadas por meio de poupança e formação de
capital, para investimento em pequenas empresas, ou pequeno negócio. A partir da
segunda metade da década de 1960, com a expansão do grande capital, essas vias se
estreitam e o acesso passa a ser via “hierarquias ocupacionais se ampliam, tanto no setor
privado, quanto no setor público” (Netto, 2015, p. 79-80). O resultado desse processo, é
que a demanda do ensino superior se amplia, e mesmo com o aumento do número de
matriculas, estas se tornam insuficientes frente a procura. Em fontes citadas por Netto
(Idem, p. 80) tem-se entre 1964-1968, um aumento de 120% no número de candidatos
às escolas superiores, enquanto o número de vagas cresce em apenas 56%.
Em meio a essa conjuntura, o regime autocrático burguês passa a se afirmar
como uma ditadura reacionária, onde aparece a gênese de um Estado-fascista. Ao

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mesmo tempo, ocorrem as repressões as manifestações democrático-populares,


impondo-se o projeto econômico modernizador.
Nesse quadro referencial, ocorre a expansão do Serviço Social como profissão.
Iamamoto afirma, que na década de 1960, “a profissão sofrerá suas mais acentuadas
transformações, “modernizando-se” tanto o agente como o corpo teórico, métodos e
técnicas por ele utilizados” (Iamamoto, 2000). O serviço Social, assume novas funções
no âmbito do aparato estatal. O redesenho apontado por Iamamoto, trata da importância
da função do serviço social, como estratégia eficiente de investimento produtivo, a
partir de sua contribuição para a organização técnica da prestação da assistência. Trata-
se segundo essa autora de legitimar e ampliar a função da profissão, de mostrar
seriedade na formação profissional, sem deixar de lado os sólidos princípios cristãos. O
reformismo que caracteriza esse processo, se mostra como uma centelha no horizonte
que se impõe de modo natural à ordem monopólica.
Na busca de participar da nova importância utilitária dos serviços assistenciais,
os Congressos da profissão são tomados por intelectuais de origens e interesses diversos
(desde a ação católica, passando por representantes da burocracia de estado, que
empregava assistentes sociais e ainda, bacharéis, higienistas, sanitaristas, professores
etc...), que travavam de alguma forma o debate sobre assistência. A nova centralidade
da ação, agora sob maior controle do estado, passa pela valorização do homem
brasileiro, pelo fim do pauperismo e consequentemente, o aumento da qualidade de
vida. Esse discurso, funda a transição da perspectiva do serviço social tradicional, para a
perspectiva modernizadora”.
Assim, no âmbito do Serviço Social, o desenvolvimentismo é ideologicamente, o
fundamento, e o Desenvolvimento de Comunidade – DC, a estratégia para se contrapor
ao status quo e investir em diretrizes e métodos de atuação comunitária, sob as
particularidades da conjuntura nacional. No evolver desse movimento, novas questões
emergem no meio profissional de assistentes sociais e as perspectivas ideopolíticas
contestatórias às práticas institucionais até então em vigor, passam a enfrentar as bases
ideopolíticas do desenvolvimentismo, mas são abafadas com o golpe de 1964. Desse fio
, servem como um fio condutor mais geral, é possível agora capaz de , a fim de
demarcar o cenário interno onde mais amplo no qual são gestadas as vertentes de
pensamento que influenciaram os esforços de teorização no âmbito do serviço social e
onde a perspectiva de intenção de ruptura, emerge e se coloca como um determinado

Ver a respeito Iamamoto e Carvalho, 2000 “


13

“estrato de possibilidade” em vista de objetivar um Projeto Ético Político para a


profissão. como instituição no Brasil.

FORMULAÇÕES AUTO-REPRESENTATIVAS DA PROFISSÃO NA


PERSPECTIVA DE INTENÇÃO DE RUPTURA

Antecedentes

Para Netto, o processo de renovação do serviço social deita raízes no


esgotamento do espaço nacional impresso no nacionalismo popular, em vista do avanço
das relações capitalista e na emergência da “modernização conservadora”, projetada
pela autocracia burguesa. É sob tais circunstâncias que o mercado nacional de trabalho
para os assistentes sociais, se amplia e se consolida, sintonizado com a expansão da
urbanização e das questões sociais que dela emergem. Tem-se, assim, demarcado o
lugar da profissão na divisão sociotécnica do trabalho, em sintonia direta com a tomada
da “questão social” como objeto de intervenção do Estado burguês que, vinculado ao
grande capital, adota pela mediação das políticas sociais, estratégias de controle dos
movimentos que demandam atenção às necessidades sociais básicas.
Ao tomar a particularidade do processo real que envolve o serviço social no
Brasil, antes, durante e depois do ciclo autocrático burguês, Netto evidencia, processos
de rompimento, continuidades e reiterações, onde vetores de transformação e
permanecia se entrecruzam de modo desigual, em vista do novo. O objetivo do autor
é, a partir dessas particularidades, problematizar no âmbito da renovação, a modalidade
pela qual as várias tendências foram se desenhando e se desenvolvendo no processo de
amadurecimento da profissão.
A questão chave levantada por Netto, é: como no âmbito da renovação foram
sendo construídas as principais concepções que surgem e se afirmam no processo de
renovação, marcado pelo período onde vigorou a autocracia burguesa no país?
Ao chamar atenção para o confronto que a conjuntura sociopolítica projetada
pela “modernização conservadora”, fazendo incidir nas práticas tradicionais da
profissão, Netto aponta que “a autocracia burguesa exerceu a função precipitadora
de um processo de erosão do serviço social tradicional” que lhe é anterior– e a cujo
desfecho, ela confere uma direção particular” (NETTO, 2015, p. 179)

Ver a respeito Iamamoto e Carvalho, 2000 “


14

Isso significa que a adesão e a oposição profissionais ao projeto modernização,


incidem nas concepções teóricas e ideológicas, gerando um processo de crise, seja na
direção de manter ou romper com o serviço social tradicional. De um lado, a tradição da
profissão se fundava em abordagens individuais e, de outro lado, as novas requisições
demandadas pelo caldo cultural internacional que incidia na superação do
subdesenvolvimento. Essa dinâmica, direcionava , e que dava a direção àas ciências
sociais, e forjando, va por meio do financiamento público, a ideologia
desenvolvimentista.
No Serviço Social, ganha que na profissão passa a ter relevâncias as abordagens
do Desenvolvimento de Comunidade, já que as características da sociedade brasileira
passa a evidenciar a “questão social” como de proporção massiva. É nesse quadro que
Netto, pinta a erosão do serviço social tradicional historicamente cristalizado nas
abordagens de caso e grupo, e onde emergem as formas de intervenção e representação
profissional que engendram a intervenção inscrita no desenvolvimento de comunidade,
com a mais compatível com às novas demandas da sociedade que engendra um vínculo
dependente ao capitalismo monopolista.
O II Congresso Brasileiro de Serviço Social, realizado em 1961 no Rio de
janeiro, demarca o debate acerca da legitimação profissional fundada na ultrapassagem
do assistente social como “apóstolo” para se auto-representar com “agente de
mudança”. As implicações desse reconhecimento afinado com as mudanças da
sociedade em crescimento, levam a identificação da necessidade de aperfeiçoamento
conceitual do serviço social. Daí a importância de elevar o padrão técnico, científico e
cultural de suas intervenções. Emergem ainda a inserção de funções executivas no
âmbito de programas e projetos de desenvolvimento em vista do bem-estar social.
Até então, os métodos e técnicas ligados ao desenvolvimento de comunidade
(DC) e ao desenvolvimento e organização de comunidade (DOC) se mostram como
meios de participação nas mudanças, o que não vai além da retórica. Está em jogo, um
movimento de intervenção e controle do Estado na vida cotidiana, sob estratégias as
quais encontram significado na compreensão de Iamamoto (2000), quando enfatiza que
o controle social não se reduz ao Estado. Sob os fundamentos da “Teoria do Estado em
Lenin, para quem, este, um organismo de dominação de classe, de opressão de uma
classe sobre outra, surgindo no momento em que as contradições entre classes se tornam
irremediáveis, há, segunda a autora, um controle exercido por relações de poder,
delegado à agentes sociais que exercem suas atividades no cotidiano dos indivíduos.

Ver a respeito Iamamoto e Carvalho, 2000 “


15

Tais agentes, acabam por apoiar a internalização de normas e comportamentos


legitimados socialmente. “Entre esses agentes institucionais encontra-se o profissional
do serviço social” (IAMAMOTO, 2000, p. 107).
A intervenção mais incisiva no controle da vida social por meio do DC e DOC,
se explicitam nos textos elaborados no Encontro de Porto Alegre, em 1965, cuja
fundamentação se afirma no “Seminário de Teorização do Serviço
Social"/CBCISS/março de 1967 – o Documento de Araxá e tem seu desdobramento no
Documento de Teresópolis/janeiro de 1970.
ANa análise de Netto (2015), apesar desses documentos apresentarem
características diferenciadas, a marca em destaque é “ a tentativa de adequar as (auto)
representações profissionais do Serviço Social” às tendências sociopolíticas da ditadura,
sem coloca-las como objeto da crítica do grupo de profissionais participantes de tais
formulações.

Sob a s intercorrências da realidade sociopolítica, ameaçamameaça de levar a


profissão à um segundo plano, as formulações modernizantes, , e aguçam a erosão do
serviço social tradicional, e colocam em evidencia com o desdobramento do
desenvolvimentoo desenvolvimento de comunidade e do em bem-estar-social,
revelando-se na , a síntese de um jogo de continuidade e mudança.
No horizonte da modernização encontram-se as alterações do público nas
escolas de serviço social, que deixa de ser apenas mulheres advindas das classes mais
abastadas e com forte vínculo com a ação católica, e passa a absorver a demanda das
classes populares, em busca de inserção no mundo do trabalho. A, ao mesmo tempo, a
ampliação do mercado de trabalho para a profissão, em vista das novas demandas
sociais que passam a requerer um perfil profissional, dotado de melhor capacidade
técnica para as intervenções, insere a em que a formação em serviço social é no sistema
de educação superior, cujo perfil acadêmico passa a se mover, entre o pensamento
crítico, desde o chão histórico influenciado pelo “mundo da cultura” e a formação de
uma massa de trabalhadoras(es) tecnicamente mais vincado(as) ààs necessidades da
urbanização e seus desdobramentos na “questão social”.
A PRIMEIRA REFERENCIA
METODO B H
Ao destacar Sem deixar a crítica acerca das formulações do Método de Belo
Horizonte, Netto, destaca ,nas elaborações da equipe que formulou o “Método de Belo

Ver a respeito Iamamoto e Carvalho, 2000 “


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Horizonte” e ao pensamento de Marilda Villela Iamamoto (2000, p.350). Em relação ao


método BHQuanto ao primeiro, afirma: ter sido:
“ a primeira elaboração cuidadosa, no país, sob a autocracia burguesa,
de uma proposta profissional alternativa ao tradicionalismo
preocupada em atender a critérios teóricos, metodológicos e
interventivos capazes de aportar ao Serviço Social uma
fundamentação orgânica e sistemática, articulada a partir de uma
angulação que pretendia expressar os interesses históricos das classes
e camadas exploradas e subalternas”(p.350).

Para Netto (2015, p. 353), as elaborações de BH constituem momento fundante


do projeto de ruptura. Ao resgatar as formulações da equipe de BH, o autor destaque
a contribuição do Método BH, cujo passo inicial foi a elaboração de “uma súmula
crítica do tradicionalismo”, . Aadotando na exposição três ordens de reserva, a
saber: 1) ideopolítica: aparente neutralidade, sua função revela a defesa de interesses
determinados, sob um papel conservador; 2) teórico-metodologia: não existe um
corpo teórico revelado em vista de orientar a ação, em que pese estarem presentes na
atuação profissional; concepção abstrata e departamentalizada, visão micro, visão
dicotômica; 3) operativo-funcional: o objeto é definido de modo unilateral, ora é a
realidade objetiva, ora é a realidade subjetiva, sem priorizar áreas de atuação e
preocupado em “eliminar disfunções, problemas de adaptação e condutas
desviadas”.
Ao explicitar as mediações que cercam as duas formulações emblemáticas da
perspectiva de intenção de ruptura, Netto, identifica os limites das formulações de
BH, e aponta “a defasagem entre as referências teóricas (de origem
problemáticas/enviesada) com que o agente profissional assumia a experiência
e as condições particulares que contextualizavam a sua intervenção” (NETTO,
2015, p. 362).
O fato de historicizar o objeto e os objetivos profissionais, não se passa sem
problemas. Insuficiência teórica, ausência de profundidade crítica frente àa
complexidade da realidade brasileira. Esses, foram alguns dos vetores limitantes,
identificados pelos próprios formuladores de BH, “depois da intervenção prático-
profissional que conduziram no processo de experimento” (Idem).
O instrumento de conhecimento apresentava ausência de clareza teórica, cujo
equivoco maior foi o de “atribuir in totum e sem mais, ‘a transformação da
sociedade e do homem’ a uma profissão, situando como objeto profissional o que

Ver a respeito Iamamoto e Carvalho, 2000 “


17

só legitimamente pode ser posto como perspectiva histórica a enquadrar um


projeto profissional” (NETTO, 2015, p. 356).
Para Netto (Idem, p. 365)., o problema central dos formuladores mineiros foi o
das mediações10, menos que uma potencial dimensão operativa das referências teóricas.
A crítica do autor, se dirige ao “marxismo sem Marx”, ao combinar “o formalismo e
empirismo na sua redução epistemológica da práxis (...) deforma as efetivas relações
entre teoria, método e prática profissional e simplifica indevidamente as mediações
entre profissão e sociedade” (Idem, p. 365).
Os formuladores de BH projetam um quadro profissional que requer
competência em três dimensões: política (capacidade de análise da sociedade como
campo de forças contraditórias); teórica (assimilar o que existe de formulações critico-
reflexiva e ter habilidade de investigação e sistematização); e interventiva (aptidão no
enfrentamento com eficiência, às restrições da pratica profissional).
Ao postular as contribuições dessa linha de orientação, cujos pontos fortes,
segundo Netto, podem ser apreendidos desde à vinculação necessária entre teoria e
método, sem descurar da relação entre conhecimento e intervenção, o autor retoma a
crítica já formulada por (Santos (NETTO apud SANTOS, 1985), ao apontar que por
meio do método BH, a institucionalidade do serviço social seria função do seu método
profissional, significando uma tendência a identificar método científico e método
profissional, derivando assim, seu caráter científico.
Nesse sentido, o conhecimento, a interpretação e a transformação da realidade
fariam parte dos processos interventivos, apreendidos como prática científica, que
enquanto tal, se realiza ‘ em constantes aproximações com a realidade e realimentação
teórica”. Na crítica formulada no âmbito do serviço social, à essa relação simplista,
entre teoria e ciência, redução da atividade teórica a expressões de sistematização, e
vinculação entre método cientifico e método da intervenção profissional, é conhecida
como “metodologismo ”.

ACERCA DA SEGUNDA REFERÊNCIA emblemática para o processo de


renovação do serviço social, Netto (Idem, p. 350). afirma a relevância do trabalho de

10
A mediação é uma das categorias centrais da dialética. Encontra-se inscrita no âmbito da
ontologia do ser social e se expressa em dupla dimensão, a saber: dimensão ontológica, que pertence
ao real e que se encontra em qualquer realidade, não dependendo do conhecimento do sujeito.
Dimensão reflexiva formulada pela razão a fim de ultrapassar a imediaticidade, ou seja, a
aparência, e buscar a essência. Para apreende-la é necessário construir intelectualmente as
mediações.

Ver a respeito Iamamoto e Carvalho, 2000 “


18

Iamamoto, tratando suas elaborações como a “maioridade intelectual da perspectiva


de intenção de ruptura”... “consolidação acadêmica do projeto de intenção de
ruptura e mediação para o seu desdobramento para além das fronteiras
universitárias” (Idem, p. 350).
De outro lado, o contexto sociohistórico em que emergem as formulações de
Iamamoto, ao configurar os processos que decorrem da mudança na estrutura
universitária, do pensamento progressista e revolucionário que incide na transição
democrática, ganha relevância intelectual, uma mediação para pensar criticamente as
demandas que requerem a emergência da institucionalização do serviço social como
profissão. As formulações de Iamamoto (????), constituem-se na “ primeira
incorporação bem sucedida no debate brasileiro da fonte clássica da tradição marxista
para a compreensão profissional do serviço social” (NETTO, 2015, p.351).
Em sua linha de análise, “a compreensão da profissão de serviço social implica
o esforço de inseri-la no conjunto das condições e relações sociais que lhe atribuem um
significado e nas quais torna-se possível e necessária” (IAMAMOTO, 2000, p. 76). Sob
uma prática institucionalizada, que se legitima e é socialmente sancionada, o serviço
social se desenvolve como “um tipo de especialização do trabalho coletivo”, cuja
função técnico-operacional é mediar o atendimento de necessidades sociais resultantes
de práticas históricas no ato de produção e reprodução dos meios de vida e de trabalho,
o que ocorre sob formas socialmente determinadas.
É, portanto, em meio às dinâmicas do desenvolvimento das forças produtivas,
onde problemas de ordem política, econômica e social se constituem a expressão das
relações antagônicas e desiguais entre os homens, que novas necessidades sociais e
novos conflitos passam a requerer profissionais qualificados, sob a mesma
“racionalidade” e eficiência”, intrínsecas ao modo de produção da sociedade moderna,
cuja hegemonia é assumida pela classe burguesa.
Iamamoto (2000); Netto (2015) cConcordam a esse respeito (IAMAMOTO
2000; NETTO, 2015), quando suas formulações apontam que a sociedade moderna ao
assumir o caráter fundamentalmente mercantil, nas suas relações sociais de produção,
gera contradições e conflitos, os quais remete à necessidade de sujeitos sociais, cuja
ação, inserida na divisão sociotécnica do trabalho, requer saberes e técnicas que tornem
possível a administração e o controle dos conflitos de interesses gerados na relação
capital trabalho.

Ver a respeito Iamamoto e Carvalho, 2000 “


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Portanto, as relações sociais de produção estabelecidas na ordem burguesa


moderna em seu estágio monopólico, tem como centralidade o desenvolvimento
industrial capitalista e a expansão dos espaços urbanos. Sob tais determinações a
emergência, o desenvolvimento e a legitimação do serviço social como profissão,
resulta das inter-relações de processos econômicos, sócio-políticos e culturais que
acompanham o movimento de constituição e expansão do proletariado e da burguesia
industrial, os quais se altera e se modifica na composição de grupos e frações de classe,
que disputam e se solidarizam no poder de estado, em conjunturas históricas especificas.
Tem-se, assim, que a função do serviço social, é de controle e administração de
conflitos de interesses que emergem das relações antagônicas entre capital e trabalho.
Nesse sentido, a profissão assimila a “racionalidade instrumental 11, que sustenta a
sociedade moderna e seu modo de produção e reprodução da vida.
Para Netto (????), a autora em tela, aborda o processo de institucionalização da
profissão, rompendo com as formulações moralista do serviço social e apresenta uma
analítica que o colocando-o enquanto parte da engrenagem estatal, que responde ao
contexto de aprofundamento do capitalismo. Toma, portanto, a institucionalidade do
serviço social como totalidade das relações existente na sociedade burguesa, ao mesmo
tempo em que localiza o tema na particularidade da formação social brasileira. Destaca-
se para fins dessa reflexão a crítica de Netto (????) à autora, no que se refere “ ao
deslize” de afirmar “sociologisticamente” que “ a divisão social do trabalho e a
consequente determinação dos indivíduos a certos ramos de atividades profissionais é
uma característica comum à todas as sociedades”. Para Netto esta afirmativa não
encontra suporte teórico no pensamento de Marx, de onde é possível afirmar que para
ele, a autora funda as raízes de sua afirmação da sociologia das profissões 12. Retomar-
se-á considerações a esse respeito na sessão seguinte deste texto.
Sob inspiração teórico-metodológica, advindas das obras seminais de Marx, e,
nesse sentido, superando os equívocos teóricos, demarcados por Netto (????), acerca das
formulações de BH., Iamamoto se contrapõe à duas abordagens existentes nas
11
O entendimento de racionalidade aqui referido, expressa os modos de ser, pensar e se constituir
dos processos sociais. Ao assimilar a lógica instrumental que constitui o conhecimento na sociedade
moderna, os fenômenos e processos na sociedade, são apreendidos sob uma “razão instrumental”
formal-abstrata, que elabora uma maneira particular de apreende-los. Tal racionalidade ao se
tornar hegemônica se constitui como funcional à sociabilidade dominante. Adota a forma como os
fatos, fenômenos ou processos sociais se apresentam e desconsidera seus conteúdos concretos,
abstraindo deles, as condições e relações que o produzem (SANTOS, 2014, p.).
12
Retomar-se-á considerações a esse respeito na sessão seguinte deste texto.

Ver a respeito Iamamoto e Carvalho, 2000 “


20

formulações do serviço social, que se reclamam críticas, mas assumem: a) caráter


mecanicista, desde quando defende analiticamente que o serviço social é instrumento do
poder político e existe para reforça-lo; b) caráter voluntarista, sob a compreensão do
serviço social como um agente de transformação, não alcançando o real caráter da
profissão na sociedade atual. ( retomar essa crítica em vista dos extratos de
possibilidades em Bloch).
Ao se contrapor a tais formulações Iamamoto (????), traz outra alternativa
analítica que se sustenta na produção e reprodução das relações sociais, cujos
fundamentos encontram no “O Capital” e nos “Grundrisse” (fontes originais marxianas)
a base de sua argumentação. Para Netto (NETTO, 2015, p. 369)., é visível a relevância
dada ao diálogo que a autora estabelece com as obras de Marx, desde a juventude
(sobretudo os Manuscritos de 1844) e a ideologia alemã, em especial. (NETTO, 2015, p.
369).
A centralidade da crítica de Netto (Idem), à Iamamoto, refere-se ao segundo
capítulo de sua obra, quando esta autora se vale do debate de Gramsci, em suas
formulações de “Americanismo e Fordismo”, acerca da divisão social do trabalho.
Segundo Netto (Idem), a autora utiliza as mediações requeridas para a adequação da
força de trabalho aos mecanismos da ordem urbano-industrial, sob a criação de
instituições sociais que realizam o controle dos operários para além dos muros das
fábricas, sendo esta uma forma de tutela e normatização da vida do trabalhador. Tal
processo de socialização tem como função, adapta-lo à disciplina e métodos de trabalho
próprios à organização industrial burguesa. Nesse sentido, apontando, acertadamente,
para os caminhos da “universalização mercantil”, com a automatização e suas
implicações nos processos de trabalho e na população trabalhadora. Para o autor,
Iamamoto , tece relações em vista do significado das políticas sociais no âmbito das
relações burguesas em sua idade madura e, assim, localizar o lugar que o serviço social
ocupa como profissão.
Em vista de encontrar fragmentos que possam contribuir nesta reflexão, fez-se
uma rápida imersão na obra de Iamamoto, para em vista de trazer ao debate, sua análise
acerca da intervenção do assistente social nas relações sociais. Ganha relevância o
quadro geral em que situa o serviço social como profissão:, de onde considera, de um
lado, o considera inserido em atividades necessárias a garantia do poder de classe, onde
o Estado burocrático é sua expressão máxima. Nestas atividades incluí as que conectam
controle político-ideológico, ou de cunho repressivo, a fim de destituir as tensões

Ver a respeito Iamamoto e Carvalho, 2000 “


21

inerentes às relações sociais, reduzir os conflitos que possam limitar a expansão do


capital, como lei geral da acumulação. Tal contribuição serve à manutenção da
organização social nos limites da ordem social burguesa.
De outro lado a autora, sob o suporte analítico de Gramsci, afirma que o
profissional de serviço social é também considerado na sua “condição de intelectual”.
Nessa caracterização, não há autonomia e independência do intelectual em relação às
classes fundamentais. Ao contrário, seu papel é contribuir na luta pela direção social e
cultural da classe à qual está vinculado.
“ ‘Trata-se do organizador, dirigente técnico’ que coloca sua capacidade
à serviço da criação de condições favoráveis à organização da própria
classe... posto que expressa uma identidade, pela consciência e pela
prática com essas classes, são orgânicos organicidade que é tanto maior
quanto mais íntima a conexão com a classe fundamental (burguesia ou
proletariado) ” (IAMAMOTO, 2000, p. 87).

Sob tal afirmativa a autora Iamamoto acrescenta que, apesar da auto


representação dos intelectuais, ser de independência em relação às classe fundamentais,
em Gramsci, isso não é mais que uma utopia social, posto que cada classe cria sua
categoria de intelectuais, a cujos interesses se encontra estritamente vinculado (Idem, p.
87).
Na sociedade moderna, a categoria especifica que caracteriza um novo tipo de
intelectuais, encontrando vínculos importantes com a educação técnica, aos moldes da
exigências da indústria. A característica marcante é menos a eloquência do discurso e
mais, as suas habilidades de envolvimento na vida cotidiana em vista de organizar e
persuadir a população na direção dos grupos a que estão ligados, apoiando, portanto, o
domínio de classe.
Chama atenção, ainda, na analítica de Iamamoto (????) os diferentes graus de
atividade intelectual. A distinção é dada, de um lado, em razão da criação de valores, da
produção científica, artística e filosófica e, de outro lado, os que administram e
divulgam a riqueza intelectual existente, e que é acumulada tradicionalmente. Para a
autora, o assistente social exerce função intelectual e tem sua legitimidade na linguagem
de seu instrumento básico de trabalho, portanto, localiza o lugar do serviço social em
sua função intelectual, no segundo grupo, acima referido, posto que para ela, a categoria
profissional não exerce, historicamente, atividade proeminente na produção de
conhecimentos científicos.

Ver a respeito Iamamoto e Carvalho, 2000 “


22

A profissão emerge e se vai se afirmar, em seu evolver, como categoria que


intervêm na realidade, tomando como referência os conhecimentos socialmente
acumulados e produzidos por outras ciências, a fim de aplica-los como subsídios, em
sua prática.
Ainda que o serviço social não tenha adquirido, em sua história, o patamar de
ciência, isso não impede que produza conhecimento científico, em vista de contribuir
para o campo das ciências sociais e humanas, sob um movimento que articula teoria e
prática. Iamamoto (Idem), sintetiza sua reflexão acerca da intervenção profissional nas
relações sociais, atentando para “ a divisão do trabalho entre as ciências e a
segmentação entre teoria e prática, ciência e técnica, como expressão da crescente
divisão do trabalho intelectual, própria do aprofundamento das relações capitalistas.
Nesse sentido a autora caracteriza o serviço social nos seguintes termos:

“ O serviço social [se constitui] como uma tecnologia social, e o


profissional como um técnico cuja atuação é geralmente mediatizada pela
prestação de serviços sociais em instituições que implementam políticas
sociais específicas, sendo nesse sentido relevante indagar-se sobre o
significado desses serviços na sociedade vigente ” (IAMAMOTO, 2000,
p. 89).

Retomando à analítica de Netto acerca da obra de Iamamoto, tem-se em sua


indicação de que a abordagem de Iamamoto ,acerca dos processos basilares da divisão
social do trabalho na dinâmica do capitalismo, é correta, porém insuficiente. A ausência
de pesquisa relativa aos novos processos implicados na ordem burguesa consolidada (o
capital monopolista), e que incide de modo diferenciado no nível interno e externos das
classes fundamentais. Para Netto (NETTO, 2015, p. 373)esse recorte da autora, “carece
de um desenvolvimento teórico que dê conta das múltiplas (e novas) segmentações do
trabalho coletivo na dinâmica capitalista contemporânea”. (NETTO, 2015, p. 373)
Ao abordar a crise de legitimação no serviço social brasileiro, Iamamoto traz “ a
questão social” e o modo como o Estado intervêm, sob a mediação das políticas sociais
e execução final dos assistentes sociais. Isso exige um profissional que articule a
população, aos órgãos em que trabalha, exercendo papel coercitivo em busca de
consensos. Reafirma aqui, a posição acima referida de que a atuação profissional é de
caráter predominante político-ideológico, sob uma aparente desenvoltura técnica, cujo
perfil se mantém predominantemente feminino e sob a ambiguidade de um estatuto de
profissão liberal, que é assalariada. Nesse ponto mantém concordância com Netto

Ver a respeito Iamamoto e Carvalho, 2000 “


23

(2015), concordância quanto a crise de legitimidade da profissão e o processo de


renovação do serviço social.
Iamamoto (2000, p. 213) ao tratar da crise de legitimidade, explicita duas
vertentes: 1) uma que privilegia as dimensões reformistas utópicas do conservadorismo
(vinculação às versões europeias da profissão) que sob o signo do catolicismo privilegia
a vinculação histórica e ideocultural da profissão com o pensamento conservador13; 2)
outra que chama de vertente modernizadora, que nas observações da autora, servem
para atualizar no pós-1964, a herança conservadora da profissão, de modo a ajusta-la
“às novas estratégias de controle e repressão da classe trabalhadora” (IAMAMOTO,
2000, p. 213).
Acerca da vertente modernizadora, Netto faz a crítica quanto ao pouco
aprofundamento do tratamento que a autora dá aos condicionantes conjunturais do
momento histórico da vigência da autocracia burguesa e que Netto, tenta dar conta na
sua argumentação aqui tratada.
Ele acrescente sua crítica às formulações de Iamamoto, quando esta autora faz
suas apreciações sobre a vertente de intenção de ruptura, posto que ela afirma a herança
conservadora, ainda presente no movimento de reconceptualização. Para a autora, a
vertente de intenção de ruptura é “uma aluta por alcançar novas bases de legitimação
para a ação profissional do assistente social que reconhecendo as contradições sociais
presentes nas condições do exercício profissional, busca colocar-se objetivamente, a
serviço dos interesses dos usuários.
A guisa de conclusão, Netto, reafirma a contribuição profícua e essencial de
Iamamoto para a vertente de intenção de ruptura, ao apoiar-se rigorosamente na
perspectiva teórico-metodologia crítico-dialética da fonte marxiana. Esse esforço incide
sobre o debate profissional dando-lhe qualidade teórica e política. Netto, entretanto, não
deixa de fazer a crítica quanto a moderação com que trata as projeções e lutas
sociopolíticas e a atenção dada pela autora as configurações ideopoliticas da sociedade
burguesa, sem que estejam firmadas no acervo crítico da tradição marxista. Netto afirma

13
Ao dimensionar o humanismo cristão e sua relação vocacional com a profissão, Iamamoto afirma que o
conteúdo de classe e a intencionalidade política advindos da igreja e das frações de classe que ela
mobiliza, devem ser devidamente apreendidos em vista das práticas e relações que envolvem o apostolado
laico, das quais é necessário apreender as mediações, sem as quais é impossível a compreensão do
surgimento e desenvolvimento do serviço social como profissão. Ainda que a prática profissional deixe
uma margem de autonomia, importa observar o grau de adesão dos agentes profissionais em vistas dos
resultados esperados pelo poder institucional. Nesse caminho, referente à especificidade dos agentes, a
autora chama atenção para a formação profissional, enquanto modo de explicar os modos de percepção e
apreensão que tornam justificáveis tais adesões (Iamamoto, 2000, p. 218-219)

Ver a respeito Iamamoto e Carvalho, 2000 “


24

o desconhecimento da autora acerca das polemicas do anticapitalismo romântico, e que


são ignoradas pela autora ao tratar da “problemática da comunidade”.
A renovação profissional, apreciada sob as lentes críticas de Netto, parte de
estratos do conjunto profissional que se propôs a repensar de modo diferente o seu fazer
profissional e que ele se desafiou a situa-los no contexto de uma abordagem, cujo ponto
de partida foi “sistematizar as tendências fundamentais que mobilizam as classes e os
grupos sociais brasileiros no enfrentamento dos problemas da economia, da cultura e da
história” (NETTO, 2015, p. 390).
Assim, a renovação profissional é analisada sob um ângulo crítico que segundo
o autor não se alimenta do sangue que circula nas reflexões produzidas, mas se auto
implica, já ele assume compromisso com uma determinada direção. Ressalta que “a
compulsória pluralidade de concepções e posições legitimadas pela riqueza da vida
social, a serem preservadas no debate democrático, torna capaz de sintonizar a
renovação da profissão às representações do serviço social e com isso reflete a
pluralidade dos projetos presentes na sociedade brasileira (Idem, p. 391).

3 NOTAS PARA PENSAR A OBJETIVAÇÃO DA INTENÇÃO DE RUPTURA


VIA PROJETO ÉTICO POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL: UMA OS
ABORDAGEM EXTRATOS DA CATEGORIA POSSIBILIDADE EM BLOCH:
notas para pensar a objetivação da intenção de ruptura, via projeto ético político
do serviço social

Ernst Bloch é um filosofo alemão que viveu entre (1885-1977), Acuja obra
filosófica de Bloch14 é construída à margem do ateísmo e do niilismo, tendências que
mantinham forte influência no pensamento europeu. Seu objetivo era se contrapor ao
niilismo, uma filosofia da esperança fundada no Reino de Deus sem Deus. Ao herdar os
primores da religião, tinham a esperança de resistir e manter o homem erguido, mesmo
contra "a mais forte não-utopia" que é a morte (BORGES, 1993, p. 404).
O autor se apresenta como ateu e em meio ao pensamento hegemônico de sua época,
afirma: "a matéria é a mãe de todos os seres, o esclarecimento sexual era completo, o

14
Ernst Bloch é um filosofo alemão que viveu entre (1885-1977). O autor se apresenta como ateu e em
meio ao pensamento hegemônico de sua época, afirma: "a matéria é a mãe de todos os seres, o
esclarecimento sexual era completo, o mistério do mundo estava solucionado. O que se chamava Deus
não passava de matéria (Stoff), energia e razão (inconsciente).

Ver a respeito Iamamoto e Carvalho, 2000 “


25

mistério do mundo estava solucionado. O que se chamava Deus não passava de matéria
(Stoff), energia e razão (inconsciente)"15.
O pensamento de Bloch, se apoia sobre a categoria possibilidade, pois
considerava que é para onde tendem as aspirações humanas relacionadas com o que
ainda não é. Para ele, a história é o lugar das possibilidades, traduzidas em escolhas de
vida para ações futuras. , dDeste modo, o que poderia ter sido, ainda pode ser. Isso
significa que o presente historicamente dado, é constituído por “latência e tendência”.
Afirma o autor:
“ Quantas vezes algo se apresenta de tal modo que pode ser, ou até, de
tal modo que possa ser diferente do que havia até ali, razão pela qual
algo pode ser feito a respeito. Isto, porém, não seria possível sem o
possível dentro dele e anterior a ele” (BLOCH, 2005, p. 221).

No debate sobre que traz os extratos da categoria possibilidade, Bloch questiona


a passagem de um poder pronunciar em vista de um pode-ser [kannsein]. Tal passagem
não deve ser tratada como obviedade, posto que nela incidem aberturas, as quais podem
ser idealizadas de modo diferente, invertidas e alteradas. Não há nessa abertura, porém,
espaço para o vago, pois o possível, ainda que sob o seu aspecto aberto, não coincide
com o aleatório.
“ Também o pode-ser é regido por leis, tanto no mero jogo de palavras
quanto no aspecto mais sério que logo se apresenta. E o material que temos
diante de nós, que contém tanta coisa diáfana, é, ao mesmo tempo um dos
mais pesado e requer uma abordagem rigorosa. De outro modo não se tornam
visíveis sobretudo os diversos estratos do pode-ser” (BLOCH, 2005, p. 222).

A categoria do possível formal, [Das formal Mõgliche] em Bloch, tem


significado naquilo que pode ser perfeitamente pensado, ou seja: que pode ser concebido
como estando em relação, ainda que sob partes ilógicas ou contraditórias entre elas, mas
que “representam uma relação formalmente observável”. Ao verificar no que se expressa,
que não há qualquer relação entre as coisas, e que mesmo a relação toma um lugar
infrutífero no possível de ser pensado, admite que a ambiguidade pode levar à equívocos
ao pensar e, por conseguinte, “uma má abertura no possível de ser pensado”. Tal
perspectiva pode existir paralela à “boa, que se abre sobretudo no pode-ser formal
autocontraditório” (Idem).
Ao tratar “o possível objetivo-factual” Bolch afirma que muitas coisas podem
não só ser ditas, mas também pensadas. Assim, o pode-ser encontra-se não apenas no
pensar, mas no conhecer, constituindo-se em algo que perece bem mais definido.
15
Essa cCitação foi compilada por Borges (1993) de: Spuren (= SP) (Frankfurt /M.1985) 67. Cf. Id.,
Tendenz-LatenzUtopie. Ergaenzungsband zur Gesamtausgabe (=TLU) (Frankfurt/M. 1985)369.

Ver a respeito Iamamoto e Carvalho, 2000 “


26

Possível, passível de ser nominado, caso a caso, na medida das condições conhecidas e
aos poucos referido. Esse possível, portando, assimila os graus do conhecer-reconhecer e
não níveis do amadurecimento interior das condições do próprio objeto objetal, [ ] se
constituindo como um possível factual e não rigorosamente com objetal.
Isso significa um enunciado cauteloso que se segue de uma probabilidade
fundamentada de seu pode-ser, sendo a fundamentação, a base real na qual repousa o
possível. “ o possível é o parcialmente condicionado e só como tal é possível”. A partir
desse ponto, o autor chama atenção para sua proposta, pois “ela contém o critério do
possível em todas as suas variações”.
“ Todo possível que transcende o meramente possível de ser pensado representa
uma abertura em decorrência de uma base condicionante ainda não completamente
suficiente, ou seja, mais ou menos insuficiente. Dispondo-se de algumas, mas não de
todas as condicionantes, ainda não é possível deduzir do possível assim constituído, o
real, razão pela qual é válido o antigo princípio escolástico [ do pode-ser não decorre
necessariamente o ser]” (????).
Portanto, a condicionalidade parcial assimilada no conhecimento-
reconhecimento, revela o caráter de desconhecimento das condições totais, o que tornaria
a passagem de um evento apenas presumível, mais ou menos provável, factualmente
possível, em algo incondicionalmente certo (BLOCH, 2005).
O possível objetivo-factual e o “possível real” são demonstrados através de um
“juízo hipotético”, que segundo o autor, no caso de o caráter de certeza desse juízo ser
menor, ele se expressa por meio de um “juízo problemático”. A diferença entre juízo
hipotético e juízo problemático, é que o primeiro, parte de premissas não confirmadas, e o
segundo, cala quanto às premissas.
O juízo problemático é, nesse sentido, o juízo que que gera a possibilidade como
uma determinação propriamente modal. O possível objetivo-factual, tema tratado por
Bloch (2005), é um juízo categórico ou assertivo do começo ao fim, não se confundindo
com o juízo hipotético e nem com o juízo problemático.
“ A possibilidade factual está, desse modo, já na conjectura ou nas suposições
que levam à formulação de questionamentos referentes a dados das ciências naturais ou
das ciências sóocio-históricas. A suposição antecipa, num juízo problemático, a condição
principal ou o conjunto de condições, com base nas quais o objeto em exame pode ser
aclarado quanto ao seu fundamento real e, então compreendido no seu transcurso”.

Ver a respeito Iamamoto e Carvalho, 2000 “


27

Em Bloch, essa hipótese metódica, guia os questionamentos e a variação de


condições do experimento e realiza ainda a transposição singular do “quadro provisório”
de um objeto, como “hipótese de trabalho”, ao que Bloch, prefere chamar “princípio
heurístico”. Um princípio heurístico, operado, por exemplo, como analogia, com algo já
conhecido. Por meio dele se poderia explorar inicialmente fenômenos complexos, ou no
limite de serem atingidos, como os que fazem parte do universo das ciências sóocio-
históricas.
Os passos metodológicos informados do autorpor Bloch, apontam que:
“as premissas condicionantes do conhecimento dedutivo não podem, sem cair
num esquematismo fechado e alheio ao mundo, ser mais completas que o
próprio objetal inacabado, que irá representar o factual ao seu modo em
conceito, juízo e dedução. Também no objeto factual o âmbito do possível,
sui generis é muito amplo; ele pode fazer parte aqui, contra a indolência e a
derivação fixa, da vida da pesquisa” (BOLCH, 2005, p. 226).

Ao avançar na construção metodológica em vista de categoria possibilidade, são


apresentados, os passos do possível conforme a estrutura do objeto real 16. Se algo
permanece em aberto é porque não está fixado, e, portanto, o pode-ser nesse cessar s
condição ões é tido com cautela frente aos juízos. Esse procedimento pode se apresentar
em forma de pergunta, expressando uma “reserva factual”.
17
A diferença entre esse possível factual e o possível objetal é que nesse
momento é possível apreender algo que pode vir a ser, constituindo de condicionantes
insuficientes manifestadas. Daí resulta um possível ainda aberto, mesmo que o
conhecimento das condições existentes, seja suficientemente completo. O possível
emerge como o próprio comportamento estrutural-objetal18 de representação do
caráter objetal da conformidade com o objeto, a qual se diferencia da mera objetividade.
O autor afirma que o caminho assim construído, torna diferente o curso de
tratamento do possível objetal, uma vez que a objetividade, faz relação exclusivamente
com o conhecimento e sua finalidade se prende à teoria do conhecimento.
O caráter objetal diz respeito ao objeto, que para o neokantianos não é igual ao
próprio conhecimento, sendo sua finalidade “ a teoria categorial do objeto”. Segundo
o autor, a “teoria do objeto”, expressa ao modo apressado, ou seja, como condição
pretensamente livre de existência. A matemática foi a primeira expressão desse “saber
livre de existência”. Em seguida a fenomenologia de Husserl. Isso significa que tais

16
Destaque da autora.
17
Destaque da autora.
18
Idem.

Ver a respeito Iamamoto e Carvalho, 2000 “


28

saberes são afastados artificialmente de toda referência representativa concreta,


malditamente fixada na sua abstração. A teoria do objeto com referência concreta, ao
contrário do acima.
A anterioridade aqui observada de uma teoria do objeto do conhecimento em
relação a uma teoria do objeto concreto, não significa nenhum idealismo. Tem-se que a
expressão materialista da função investigativa constitui parte da teoria do objeto e se
processa unicamente em vista do real-objetal, não se perde e nem concorda com ela.
Sendo assim, o desenho das disposições estruturais não mais faz parte do procedimento
metodológico cognitivo por ser um resultado do conhecimento.
“ a forma do resultado do conhecimento é a definição real, como
especificação não só de signos linguísticos e características conceptuais, mas
de qualidades objetais constitutivas; e justamente essa definição real, sendo
caracteristicamente “concisa”, não desdobrada, representa o objeto quanto ao
seu aspecto estrutural de objeto...a doutrina do objeto é assim, o lugar das
categorias, como modos ou formas de existências mais gerais” (BLOCH,
2005, p. 228).

A partir da distinção apontada entre objeto do conhecimento e objeto real, entra


em destaque o modo próprio e determinado da possibilidade. Afirma o autor que a
possibilidade puramente estrutural da disposição para algo ainda não é o mesmo que
essa disposição real mesma.
“ o possível conforme a estrutura do objeto real, compreendido e definido no
nível da teoria do objeto, perfaz, portanto, perfeitamente uma diferenciação
própria na categoria da possibilidade e não constitui, quem sabe, uma
duplicação desnecessária do possível objetal-real. O possível objetal é o
parcialmente condicionado pelo objeto conforme o gênero estrutural, tipo,
contexto social, contexto legal das coisas. Assim sendo, o parcialmente
condicionado manifesta-se aí como estando estritamente bem fundado no
objeto e só como tal transmitido ao conhecimento hipotético ou
problematizador como abertura do tipo mais ou menos estruturalmente
determinado” (BLOCH, 2005, p. 228).

Chama atenção as condições de possibilidade dentro do meramente possível.


Tais condições são dadas desde os aspectos internos até os externos. Tais condições ao
entrelaçarem-se de modo a interagir umas com as outras, devem manter suas
particularidades. Nestes termos o meramente possível-objetal se mantem ainda que se
alterem uma das condições: a interna ou externa. Nesse traçado metodológico, o autor
afirma que a falta de condições externa, torna mais comprometedor o efeito da
debilidade de condições internas, o que incide de maneira expressiva nas condições
externas, .
Ttrazendo como exemplo a “ausência de condições revolucionáarias no 09 de
setembro de 1918 na Alemanha”. Afirma, nesse sentido, que mesmo a humanidade só
Ver a respeito Iamamoto e Carvalho, 2000 “
29

se colocando tarefas, as quais é capaz de solucionar, caso o grande momento que se


oferece à solução encontra com uma geração mesquinha, então essa realização é tanto
mais meramente possível, ou seja, apenas fragilmente possível ( Idem, p. 229).
Ele aAfirma, que o entrelaçamento das condições internas e externas, quando
concebido de modo mais preciso, tornando clara a estrutura das condições internas e
externas, podendo reverter os equívocos contidos, desde tempos antigos, na categoria
objetal possibilidade.
“ Possibilidade significa aqui, tanto o poder interno e ativo, como poder-ser-
feito externo e passivo; assim sendo: o poder-ser-diferente divide-se em poder-
fazer-diferente e poder-tornar-se-diferente” (Idem, p. 229)
Quando diferenciados, o poder-fazer-diferente e o poder tornar-se diferente,
emerge a condição parcial interna como possibilidade ativa, ou seja, como capacidade,
potência, e a condição parcial externa como possibilidade no sentido passivo, como
potencialidade.
Segundo o direcionamento metodológico de Bloch, a forma política da
possibilidade ativa é a capacidade do fator subjetivo; e, ele é o que menos pode tornar-
se efetivo sem a interação com os fatores objetivos da possibilidade, ou seja com a
potencialidades daquilo que na proporção do amadurecimento das condições externas,
realmente pode ocorrer ou ao menos pode ser encaminhado.
Sendo assim, a categoria objetal possibilidade, expressa aquilo que ela não pode
ser por si mesma, mas pela intervenção que dos seres humanos que podem promover em
vista do que pode ser mudado: como possível conceito de salvação, mas que também
pode ser revelada como desgraça, reafirmando aqui, a relação entre o poder-ser-
diferente e o poder-tornar-se-diferente, nele contido, o abre espaço para
direcionamentos piores, em acordo com a mutualidade e instabilidade de uma dada
situação. Assim, o amaldiçoado concorre ao lado do caráter de salvação, possível de ser
apreendido desde as referências à categoria objetal possibilidade.
O ponto onde essência e manifestação coincidem é para o método em Bloch, o
ointo (PONTO???) ideal, ao mesmo tempo, o ponto de orientação para o horizonte
estrutural do possível positivamente humano.

3.1 O POSSÍVEL OBJETIVO-REAL

Ver a respeito Iamamoto e Carvalho, 2000 “


30

Aqui, o autor aponta que o homem é a possibilidade real de tudo o que ainda
pode vir a ser no caso de um progresso sem entraves. É assim, uma possibilidade
que ainda não chegou à maturação de suas condições, de suas condicionantes,
sejam as internas, sejam as externas. No mundo inesgotado, a matéria é a
possibilidade real de todas as formas latentes, presentes no seu seio e que são
deslocadas dela no processo.
“É nesse conceito mais abrangente de possibilidade real que se situa o lugar
do ser-em-possiblidade”. (BLOCH, 2005, p. 232).
Bloch (2005) Rretoma Heráclito para dizer que a contradição se encontra
nas próprias coisas e , Aristóteles para a primazia da afirmativa de
reconhecimento da possibilidade com constituição mesma do mundo. No
pensamento da Idade Média, a possibilidade real, chamada de “matéria” é o
fundamento geral do mundo e a vontade criadora divina é sempre um momento da
matéria. Deus e matéria tornam-se idênticos.
A criação (excluindo todo dualismo) torna-se auto movimento
autofecundação da matéria-Deus. Para ele, já está em voga um semimaterialismo
da possibilidade real que avança no Renascimento, com Giordano Bruno. Segue-se
ao debate quanto ao conceito de matéria no Renascimento torna-se ,a afirmativa de
que há um encolhimento do conceito com a introdução de aspectos mecanicistas na
concepção de matéria. Esquece-se a definição aristotélica, onde a mutação estava
presente e torna-se algo estranho à história, “tendo toda sua possibilidade real se
tornado uma realidade estática, no sentido de um início congelado já no seu
nascimento”. O autor Aadmite que mesmo sob tais condições, permanece uma
certa repercussão da concepção aristotélica de mutação e sob tal modo ela ingressa
no materialismo dialético-histórico. Ao se tornar inerte na constituição da matéria,
o fator subjetivo, a maturação das condições, a reversão da quantidade em
qualidade e até mesmo a mutabilidade, enquanto momentos do processo de sua
constituição, tornam o desenvolvimento dialético materialista sem substrato.
Na crítica, o autor afirma: “a transição do reino da necessidade para o da
liberdade tem chão somente na matéria processual inconclusa...sem a matéria não
há solo para a antecipação (real); sem antecipação real não há horizonte concebível
para a matéria” (Idem. p. 234).
Assim, a possiblidade real é o espaço que, em termos categoriais, está à
frente do movimento material enquanto processo.

Ver a respeito Iamamoto e Carvalho, 2000 “


31

E cadê a Antonieta??? É preciso te colocar no texto e dizer como isso vai se ligar
com a tua análise sobre o Serviço Social, está parte caracteriza-se pela tua necessidade
de conhecimento do pensamento, mas tens que fazer a conexão.
3.2 RECORDAÇÃO: A LUTA ESTÁTICO-LÓGICA CONTRA O POSSÍVEL

Nesse ponto, Bloch, faz um resgate no âmbito da filosofia para apresentar sua
tese sobre a categoria do possível que é relegada a um grau de indefinição, não sendo
tratada ontologicamente, pois o que para o autor, o possível é considerado na doutrina
das categorias “apenas como determinação do conhecimento e não do objeto, e o seu
lugar é tradicionalmente no campo da lógica formal. Bloch, identifica desde o
pensamento lógico, até os filósofos originais, o esvaziamento do possível, em razão “da
não diferenciação entre o conhecimento ainda parcial das condições e as próprias
condições parcialmente presentes” (BLOCH, 2005, p. 238).
Na sua crítica, ele afirma que o possível é transformado em “ficção irreal”, como
expressão da indecisão subjetiva ou resignação de um saber limitado. Tomando as
referências do pensamento de Aristóteles, Hegel, Giordano Bruno, Espinosa, Kant,
Bloch, identifica as insuficiências, do pensamento estático contemplativo, e mesmo da
dialética de Hegel, para quem a possibilidade é colocada em último lugar ou descartada
como “de segunda categoria”.
É na filosofia de Marx, que Bloch identifica:
“A importância de transformar o mundo corretamente
interpretado como estando num processo materialista-histórico,
como inconcluso. Transformação do mundo transformável é a
teoria-práxis do possível real realizável na linha de frente do
mundo, do processo do mundo. E nessa ponta, o possivelpossível
real, apátrida em qualquer filosofia estático-contemplativa,
constitui-se no problema real do mundo como tal: ele é o
idêntico ainda não ocorrido da manifestação e do ente real,
enfim, da existência e da essência contida nele” (BLOCH, 2005,
p. 243).
Idem........
3.3 REALIZAR A POSSIBILIDADE

Reconhecendo a importância dos processos de transformação do mundo, a partir


de Marx, Bloch, toma-se o trabalho como o lugar da mudança. É no limite do trabalho
que o homem toma consciência e ultrapassa-os. Sendo assim, o propriamente dito no
homem e no mundo, está na expectativa, sob o medo da frustação. O que é possível não

Ver a respeito Iamamoto e Carvalho, 2000 “


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está totalmente condicionado, ele é o não consumado, daí que medo e esperança se
encontram na capacidade ativa do homem, sendo esta a parte especial da possibilidade.
Se a capacidade ativa é utilizada com valentia no momento e na medida em ela
ocorre, produz a superioridade da esperança. A valentia, não deve ser confundida com
ato heróico, rápido e abstrato. Deve ser mediada de modo mais preciso, quanto as
condições dadas, pela maturação dessas condições e pelo seu conteúdo presente na
conjuntura do cotidiano da sociedade. Somente isso é práxis dada no âmbito do possível
em cada caso, ou seja, “ser-possibilidade como um todo da história e do mundo
inconclusos”. “ Somente essas práxis pode transportar a causa pendente do
processo histórico, a naturalização do homem, a humanização da natureza, da
possibilidade real para a realidade” (idem, p. 244).
OEm vista dos fundamentos de Marx, para quem o tempo é o espaço da história,
Bloch pensa vai dizer que o modo futuro do tempo como sendo é o espaço das
possibilidades reais da história, situado no nível teórico-prático, na linha de frente do
processo do mundo, onde as decisões são tomadas e onde se abrem novos horizontes. O
processo em direção a esse futuro é unicamente o da matéria, que se condensa e atinge
sua finalização no homem.
Ao ratificar a tese de Marx, Bloch, afirma que o homem e seu trabalho tornaram-
se os elementos decisivos no processo histórico do mundo, onde o trabalho é o
instrumento de humanização e as revoluções, as parteiras da sociedade futura e da qual
a atual está gravida. O fator subjetivo impresso nesse campo de possibilidades é a
potência não encerrada de mudar as coisas, e o fator objetivo, a potencialidade não
encerrada de mutabilidade. É possível mudar o mundo no quadro de suas leis, leis que
podem variar regularmente, sob novas condições. Para Bloch, esses dois fatores se
entrecruzam dialeticamente. O que divide sujeito objeto é excessiva valorização de um
ou de outro.
“A potência subjetiva é coincidente não só com o elemento
transformador, mas também, com o elemento realizador na
história, e será tanto mais coincidente com estes quanto mais os
seres humanos tornarem-se construtores conscientes de sua
história” (BLOCH, 2005, p. 245).

Assim, o autor retoma sua tese ao afirmar a produção consciente da história


como realização do realizador e possibilidade real última frente ao problema real
último: colocar a sociedade e a natureza nos eixos. Isso expressa a conformidade do
objeto não reificado com o sujeito manifestado, o que se apresentam como “proporções

Ver a respeito Iamamoto e Carvalho, 2000 “


33

básicas do desenvolvimento humano- voltadas tanto para o futuro próximo, quanto para
o distante”.
Nesse sentido, o homem trabalhador é reafirmado por Bloch, como o sujeito central,
mas numa condição superior, ao sair da alienação, mediação importante do pensamento
de Marx e que Engels traduz: “ Com a transformação da suposta coisa em si na coisa
para nós em conformidade com uma possível humanização da natureza. Povo livre em
solo livre” o que, na tradução original de Engels, tem significado de total, Bloch traduz
como “de maneira paradoxal”. Esse seria, portanto, “o conteúdo mais radical em todo o
possível real-objetivo”.
OBS: onde estão as conexões com a tua primeira parte do texto, analisando especificamente o SS.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Situar serviço social como profissão que emerge e se desenvolve, em meio a


produção e reprodução de relações sociais, sob o marco de determinadas perspectivas
ideopolíticas e teóricas, nos fez, situar nossa abordagem no caminho percorrido pelo
exercício profissional e pelas formulações teóricas e ideopolíticas que possibilitaram
suas representações.
Sob as lentes de José Paulo Netto, identifica-se os principais elementos da
conjuntura sociopolítica do país, e seus rebatimentos no “mundo da cultura”, sob um
fundamento de cultura como um "dever-ser", qualificado pela liberdade de escolha de
procedimentos, enfim de caminhos. Sob as mediações e determinações que incidem no
mundo da cultura e as marcas impressas pela produção material, do período dos
governos da autocracia burguesa no Brasil, Netto, desvela as determinações que estas
relações imprimem na ação do Estado, por meio das políticas sociais.
É desse cenário que extraímos das contribuições esclarecedoras do autor as
influêencias ideopolíticas, as formulações teóricas presente nas tendências que
marcaram a renovação do serviço social brasileiro. Nesse percurso, nosso interesse foi
compreender a função intelectual do serviço social, para localiza-la no espaço e no
tempo, em vista de pensar os desafios atuais. Isso requer a superação das debilidades
anteriores e nesse sentido, o projeto ético político da profissão, parece ser um elemento
de objetivação da perspectiva de intenção de ruptura. Sua construção assume o
compromisso no âmbito das forças sociais democráticas e progressistas de enfrentar

Ver a respeito Iamamoto e Carvalho, 2000 “


34

com competência as condições em que reproduzem, trabalhadores (empregados e


desempregados) e os diversos setores que se encontram em condições de subalternidade.
Para problematizar esses elementos, nos propopropôs-se mos a uma exploração
embrionária dos caminhos que Bloch (2005) ao constrói, para tratar os “estratos da
categoria possibilidade” ao. Ernst Bloch afirmar que a “a necessidade, no sentido de
privação, nos ensina a pensar”. O autor trata da Fala de utopia, como o poder de
construir esperança.
“O processo do mundo ainda não está decidido em nenhum
lugar, nem tão-pouco está frustrado; e os homens podem ser
na terra os guardiões do seu rumo ainda não decidido, quer
para a salvação, quer para a perdição. O mundo permanece,
na sua totalidade, como um fabril laboratorium possibilis
salutis.”. (Ernst BLOCH, 2005, p.).

Seu caminho metodológico de apreensão nos instiga a buscar na categoria


possibilidade, os estratos possíveis de objetivação de um projeto de profissão, que
não se objetiva da mesma forma que uma mercadoria. Assim, o que se pretende
problematizar, a partir da analítica de Bloch, é: onde o esse projeto ético político se
objetiva? Em que condições e sob que campos de possibilidade isso é possível?
Com essas questões, inicia-se mos um percurso investigativo, que possibilita
contribuir com o debate acadêmico, de modo a trazer à tona as inquietações que
cercam a função intelectual e as práticas institucionais.

Ver a respeito Iamamoto e Carvalho, 2000 “


i
Para a compreensão acerca da “dependência” e do caráter subalterno que assume o Brasil na trajetória de seu
desenvolvimento histórico, o argumento econômico não é suficiente, na medida em que a expansão e extensão territorial do
modo de produção especificamente capitalista, encontra-se com os complexos fenômenos da formação sócio histórica das
sociedades latino-americanas. Nesse sentido, a compreensão sociológica de (FERNANDES, 1976), contribui para entender as
particularidades do Brasil, por meio de elementos oligárquicos locais/regionais/nacionais, cuja transposição conceitual para
pensar a sociedade burguesa no país, não pode deixar de considerar a formação sociocultural que torna “a revolução burguesa”,
uma chave explicativa importante na compreensão dos elementos presentes, na particularidade brasileira, quando da transição
da condição político-econômica de estado colonial ao estado moderno e portanto a transição ao domínio do capital
imperialista.

A política cultura para o autor, tem como marco a criação do Conselho Federal de Cultura (CFC) em 1966, que se
ii

impõe sob a resistência do “mundo da cultura” (hegemonia, ainda que prenhe de problemas dos setores democráticos e
progressistas) frente a política cultural do estado autocrático burguês. Apenas para fins de nota, a política cultural da
ditadura, assume a “integração” como o seu grande lema e se conecta a política de comunicações e turismo. OBS: NÃO
ENTENDI ESSA CITAÇÃO EM QUE ELA AJUDA NA TUA EXPLICAÇÃO??????
iii

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