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HABEAS CORPUS 1
HABEAS CORPUS
PARECERES CRIMINAIS
VOLUME II
1994
SUMÁRIO
1.
LIMINAR EM HABEAS
CORPUS. NÃO CABIMENTO EM SEGUNDO GRAU DE JURISDIÇÃO.
INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL PARA A MEDIDA. IMPOSSIBLILIDADE DE
APLICAR ANALOGIA COM O PROCESSAMENTO
DO MANDADO DE SEGURANÇA.INTELIGÊNGIA DO ARTIGO 663 DO CÓDIGO
DE PROCESSO PENAL. PRISÃO PREVENTIVA. DECRETO DEVIDAMENTE
FUNDAMENTADO. NECESSIDADE DA CUSTÓDIA.
2.
DENÚNCIA. INÉPCIA.
Necessidade da descrição do fato delituoso com todas as suas características, de molde
que o réu possa preparar a sua defesa.
6 PRISÃO PREVENTIVA..
CRIME DE ROUBO QUALIFICADO PELO CONCURSO DE AGENTES E
EMPREGO DE ARMAS. PACIENTE QUE SE EVADIU LOGO APÓS A PRÁTICA DO
FATO DELITUOSO, SOMENTE SE APRESENTANDO
À POLÍCIA APÓS TER SIDO RECONHECIDA A SUA PARTICIPAÇÃO.
ADITAMENTO À DENÚNCIA.
8 TRÁFICO DE TÓXICO.
INÉPCIA DA DENÚNCIA POR FALTA DE DESCRIÇÃO DO FATO DELITUOSO.
PREJUíZO À DEFESA. HABEAS CORPUS QUE DEVE SER CONCEDIDO PARA
TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL, SEM
PREJUÍZO DA RENOVAÇÃO DA DENÚNCIA, OBEDECIDAS AS
FORMALIDADES LEGAIS.
12 PRISÃO PREVENTIVA.
NECESSIDADE. EXCESSO DE PRAZO NA FORMAÇÃO DA CULPA
OCASIONADO PELO PRÓPRIO PACIENTE.
13
CRIME DE LESÕES CORPORAIS TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.
INVIABILIDADE. Se o Ministério Público exclui da exordial pessoas mencionadas ou
indiciadas em inquérito
policial, ocorre pedido implícito de arquivamento, que uma vez aceito pelo juiz ao
prolatar despacho de recebimento da denúncia, torna-se insuscetível
de recurso pela defesa.
14 TRÁFICO DE ENTORPECENTES.
PACIENTE ENCONTRADO COM TRêS QUILOGAMOS DE MACONHA EM SEU
PODER PARA FINS DE TRÁFICO. Emborra seja viável o exame da prova em sede de habeas
corpus toda
vez que se estiver diante de dúvidas fundadas sobre a tipificação provisória atribuída ao
delito na exordial, a espécie não enseja este exame.
15 EXCESSO DE PRAZO NA FORMAÇÃO DA CULPA.
Se o feito já recebeu alegações finais das partes, não há falar em excesso de prazo para a
instrução criminal.
18 PRISÃO PREVENTIVA.
A CIRCUNSTÂNCIA DE SER PRIMÁRIO O RÉU, NÃO LHE ASSEGURA O
DIREITO DE RESPONDER O FEITO EM LIBERDADE, SE PRESENTES OS REQUISITOS
DA PRISÃO PREVENTIVA.
19 SURSIS. SUSPENSÃO.
ORDEM DE HABEAS CORPUS QUE DEVE SER DEFERIDA. É ilegal a decisão que
suspende o benefício do sursis sem estarem presentes as requisitos do artigo 81 e seu
parágrafo primeiro.
23 LIBERDADE PROVISÓRIA.
TRATA- SE DE DIREITO SUBJETIVO DO RÉU, QUE SOMENTE PODERÁ SER
NEGADO SE PRESENTES NOS AUTOS MOTIVOS QUE AUTORIZEM A DECRETAÇÃO
DA PRISÃO PREVENTIVA.
24 PRISÃO PREVENTIVA
Decretação que se arrima unicamente em requerimento do Delegado de Polícia, sem
nenhum amparo no caderno indiciário. Ordem de habeas corpus a ser deferida.
EMENTAS
DE
ACÓRDÃOS
1.
HABEAS CORPUS.
NECESSIDADE DA DECRETAÇÃO DA CUSTÓDIA PREVENTIVA
DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA. ORDEM DENEGADA.(D.J.S.C. nº 8.814, de 25.8.93,
pág.10).
8 Habeas corpus. Pedido visando o trancamento da ação penal por inépcia da denúncia.
Exordial acusatória que não descreve devidamente a conduta do paciente
no fato tido como delituoso. Inépcia manifesta. Constrangimento ilegal caracterizado.
Ordem concedida. ( DJSC n. 8.806, de 13.8.93, pág. 5)
Não pode falar em excesso de prazo paciente que se ausenta do distrito da culpa, tão logo
decretada a preventiva. Demora que se atribui exclusivamente à
sua ausência, procrastinando o andamento regular da ação penal.(DJSC n.8.800, de
5.8.93, págs. 6/7)
16 " Habeas corpus - Falta de justa causa para a ação penal - Inquérito policial que não
demonstra, sequer em tese, a ocorrência de prática delitiva. Ordem
concedida."
18. Habeas corpus - Alegado constrangimento ilegal - Não reconhecimento. Não pode
alegar constrangimento ilegal, paciente que se evade do distrito da culpa,
sendo preso um ano depois, por força de cumprimento de mandado de prisão. A
circunstância de ser primário, e de bons antecedentes, quando ocorrentes, não
obriga a que o réu responda a processo-crime em liberdade, cuja subjetividade fica ao
arbítrio do Magistrado, que próximo dos fatos, melhor conhece as
circunstâncias do delito e de seu autor. Ordem denegada. (DJSC n. 8.800, de 5.8.93, pábg.
6)
20 Habeas corpus. Tráfico de entorpecentes. Motivos para a segregação provisória ainda
presentes, independentemente dos requisitos de primariedade, bons
antecedentes, emprego e residência fixas, elementos que por si dó, em se tratando de
delitos inaficançáveis, não ensejam a concessão de alvará de soltura.
Excesso de prazo para a formação da culpa. Demora para a conclusão do feito atribuída à
expedição de precatória inquiritória e postergação, por parte das
defesas, na entrega das prévias.(DJSC n. 5.8.93, pág. 7)
21. Habeas Corpus. - Regressão de regime de cumprimento de pena - Apenado que não
cumpriu as condições que lhe foram impostas - Decisão afeta ao Juízo das
Execuções Penais. ( DJSC n. 8.806, de 13.8.93, pág. 6)
PARECERES
1.
LIMINAR EM HABEAS CORPUS
Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de J.J. H., que na Comarca de Joinville está
sendo processado por receptação em furto de automóvel.
Em primeiro lugar, cumpre assinalar que o periculum in mora que justifica a concessão da
liminar em mandado de segurança não encontra similitude alguma
no procedimento do habeas corpus.
Não queremos com isto, todavia, afirmar incabível, sempre, a concessão de medida
liminar em habeas corpus. Esta seria possível, por exemplo, se a Câmara
constatar, de plano, coação ilegal ao paciente. Então poderá conceder a ordem, in limine,
isto é, dispensando requisição de informações ou diligências
- mas desde que o faça em decisão de colegiado. O que não pode ocorrer é desconstituir-
se monocraticamente em segundo grau a prisão ordenada pelo magistrado
de primeiro grau.
Além do presente, o paciente figura em mais nove processos criminais que buscam apurar
crimes de furto de automóveis e comercialização de automóveis furtados.
NÉLSON FERRAZ
PROCURADOR DE JUSTIÇA
ACÓRDÃO
2. DENÚNCIA. INÉPCIA.
Uma denúncia nestas condições torna- se imprestável, por não possibilitar o exercício da
defesa . Tendo o Código Penal de 1984 adotado a teoria finalista
da ação, evidentes são as conseqüências processuais, como na narrativa do fato delituoso
na denúncia ou queixa, que deve conter em seu bojo a narrativa
da culpabilidade.
Isto porque, conforme ensina Damásio de Jesus, em sua mais recente obra, a culpabilidade
passa a integrar o tipo penal. Ora, como o tipo penal deve ser
descrito na exordial, com todos os seus requisitos, ou elementos do tipo, e a culpabilidade
faz parte da própria noção de tipo penal, a falta ou ausência
de sua descrição, torna inviável a imputação.
Diz o mestre:
Como se constata através do exame da denúncia de fls. 14/15, nenhuma menção se faz à
culpabilidade caracterizadora de um tipo penal que teria sido praticada
por cada um dos denunciados. Embora inexistam regras rígidas quanto narrativa a ser
fetuada na petição inicial criminal, imprescindível que a mesma obedeça
aquele mínimo necessário para que o réu possa preparar a sua defesa, consoante estudo
por nós efetuado:
O importante é que a descrição do fato da vida real se ajuste ao paradigma típico abstrato
previsto na lei penal, em todos os seus requisitos. Significa
isto que todos os elementos caracterizadores de um determinado tipo penal abstrato
devem estar compreendidos na descrição da ação concreta do agente. Deve
aqui ser perquirido, com apoio nos doutrinadores, quais os elementos que compõem um
dado tipo penal, para, em seguida se verificar se a ação praticada
pelo acusado se ajusta a todos os elementos deste tipo.
Na descrição do fato delituoso, não deve ser empregado o nomen iuris mas sim a ação, o
verbo que o caracteriza. Desse modo, ao denunciar-se um crime de
furto, a petição não diria que o réu furtou e sim que subtraiu.''
ACORDAM, em Primeira Câmara Criminal, por votação unânime, conceder a ordem para
trancamento da ação penal.
Diante de todo o exposto, opinamos pelo deferimento da presente ordem, a fim de ser
trancada a ação penal contra o paciente E. K. R. DE L., extensível,
através de habeas corpus de ofício ao denunciado R. O. DE B. S., sem prejuízo de
deflagração de outra, observados os requisitos legais.
NÉLSON FERRAZ
PROCURADOR DE JUSTIÇA
ACÓRDÃO:
Habeas corpus n. 11.057, da Capital. DECISÃO: por votação unânime, conceder a ordem,
extaensiva ao co-denunciado.
3. RECURSO EM LIBERDADE.
Colhe-se, também, das peças acostadas, que o paciente, revel, somente foi preso, em
cumprimento ao mandado de prisão expedido pelo juízo, o que ocorreu
após fluído o quinquídio recursal.
Conquanto a jurisprudência admita que o réu revel tem o direito a apelar em liberdade,
isto somente ocorre quando se lhe conceda o benefício do artigo 594
(STF, RHC 60372, DJU 18.3.83, pág. 2975).
Na espécie, a doutora juíza expressamente negou-lhe o direito de recorrer em liberdade,
não em decorrência da revelia, mas em razão de seus maus antecedentes.
NÉLSON FERRAZ
PROCURADOR DE JUSTIÇA
ACÓRDÃO:
EMENTA:
COLENDA CÂMARA
No caso dos presentes autos de inquérito, nenhum constrangimento pode ser apontado
contra a pessoa do paciente.
De ressaltar que com a avocação do inquérito pela Corregedoria Geral da Polícia Civil,
muito provavelmente em decorrência do apontado envolvimento de policiais,
fatos estes, aliás, que motivaram recente confirmação de condenação, pela Egrégia
Segunda Câmara Criminal desse Colendo Tribunal, de Delegado de Polícia
na Comarca de Chapecó, os autos foram redistribuídos ao Terceiro Distrito Policial da
Capital, onde a peça informativa ainda tramita, estando agora em
fase de cumprimento de diligências requeridas pelo órgão ministerial.
Inexiste, pois, qualquer razão para trancamento do inquérito policial. Diante de todo o
exposto, opinamos pelo indeferimento da presente ordem.
NÉLSON FERRAZ
PROCURADOR DE JUSTIÇA
ACÓRDÃO
EMENTA:
5. HABEAS CORPUS.
Tendo a prisão ocorrido em fins do ano de 1992, constata- se, pelas informações de fls.
53/55, que o feito obedeceu a uma tramitação normal para a complexidade
que o caso apresenta.
De assinalar, que havendo referência na prova de que o paciente seria co-autor de uma
morte, praticada juntamente com os fatos aqui examinados, o doutor
Promotor de Justiça, na fase do art. 499 do Código de Processo Penal, houve por requerer
uma diligência.
NÉLSON FERRAZ
PROCURADOR DE JUSTIÇA
ACÓRDÃO:
Habeas corpus n. 11.051, da Capital. DECISÃO: por votação unânime, denegar a ordem.
EMENTA
: 5. Habeas corpus- Alegado excesso de prazo - Não acolhimento. Não se pode falar em
excesso de prazo, quando embora complexa, a instrução do processo está
encerrada, e ocorrentes, no caso, as circunstâncias previstas no artigo 403 do CPP. Ordem
denegada. (DJSC, n. 8.800, de 5.8.93, pág.6)
Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de G. E., que perante a Primeira Vara
Criminal da Comarca de Itajaí responde a processo-crime por incurso nas
sanções do tipo roubo, com as causas especiais de aumento de pena do concurso de
agentes e emprego de armas.
Aponta o impetrante procrastinação na instrução criminal, objetivando obter, nesta
oportunidade, o relaxamento da prisão.
Colhe-se das peças acostadas que o paciente se encontra preso em decorrência de decreto
de prisão preventiva, prolatado em 30 de março de 1993, após ter
praticado assalto a mão armada, em concurso de agentes, contra o Supermercado
Fazendão.
Trata-se de paciente que fugiu logo após a prática do fato delituoso, ocorrido em 27 de
março de 1993, sendo preso somente em 20 de abril de 1993, quando
se entregou à polícia.
NÉLSON FERRAZ
PROCURADOR DE JUSTIÇA
ACÓRDÃO:
EMENTA:
7.
COLENDA CÂMARA
Trata-se de habeas corpus impetrado em causa própria por S. R. K., que na Comarca de
Lages está sendo processado pela prática dos crimes de roubo com a
causa especial de aumento de pena do emprego de armas e concurso de agentes, em
concurso material com o crime de furto qualificado.
Na realidade, sem vinculação ao distrito da culpa, com elenco de crimes praticados por
vários Estados, a prisão era a medida que se impõe à espécie.
ACÓRDÃO:
EMENTA:
8.
COLENDA CÂMARA
Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de F. C. S., que na Segunda Vara Criminal
da Comarca de Itajaí está sendo processado pelo crime de tráfico
de tóxico.
Mesmo que o paciente tivesse agido em co-autoria com o outro acusado, seu genitor,
como revela a autoridade policial em seu relatório, ainda assim a denúncia
mostra-se imprestável para a deflagração da ação penal contra o paciente.
A descrição do fato delituoso na denúncia ou queixa deve ser ampla, contendo o quid,
quod, quiunque, quomodo, em relação ao crime praticado pelo acusado,
que deve vir narrado de forma detalhada e clara, contendo os elementos do tipo, de modo
que o réu possa preparar a sua defesa.
Na espécie nada disso ocorre. Não há como identificar atividade criminosa na narrativa.
Isto porque, conforme ensina Damásio de Jesus, em sua mais recente obra, a culpabilidade
passa a integrar o tipo penal. Ora, como o tipo penal deve ser
descrito na exordial, com todos os seus requisitos, ou elementos do tipo, e a culpabilidade
faz parte da própria noção de tipo penal, a falta ou ausência
de sua descrição, torna inviável a imputação.
Diz o mestre:
Diante de todo o exposto, opinamos pelo deferimento da presente ordem, para trancar a
ação penal contra o paciente, sem prejuízo da renovação da denúncia,
obedecidas as formalidades legais.
ACÓRDÃO
Habeas corpus n. 11.055, de Itajaí. DECISÃO: por unanimidade, conceder a ordem para
declarar a denúncia inépta em relação ao paciente, expedindo-se em seu
favor o competente alvará de soltura, se por al não estiver preso.
EMENTA:
8 Habeas corpus. Pedido visando o trancamento da ação penal por inépcia da denúncia.
Exordial acusatória que não descreve devidamente a conduta do paciente
no fato tido como delituoso. Inépcia manifesta. Constrangimento ilegal caracterizado.
Ordem concedida. ( DJSC n. 8.806, de 13.8.93, pág. 5)
9.
COLENDA CÂMARA
A pre ten did a concessão de liminar em pedido de habeas corpus é totalmente descabida.
Além de não existir previsão legal para a medida in limine, a invocação
da analogia com o processamento do mandado de segurança é idubitavelmente
impertinente.
Em primeiro lugar, cumpre assinalar que o periculum in mora que justifica a concessão da
liminar em mandado de segurança não encontra similitude alguma
no procedimento do habeas corpus.
Demais disso, de ter presente que é da sistemática do processo penal brasileiro que a
decisão de magistrado de primeiro grau somente possa ser reformada
por colegiado em instância superior.
Não queremos com isto, todavia, afirmar incabível, sempre, a concessão de medida
liminar em habeas corpus. Esta seria possível, por exemplo, se a Câmara
constatar, de plano, coação ilegal ao paciente. Então poderá conceder a ordem, in limine,
isto é, dispensando requisição de informações ou diligências
- mas desde que o faça em decisão de colegiado. O que não pode ocorrer é desconstituir-
se monocraticamente em segundo grau a prisão ordenada pelo magistrado
de primeiro grau.
Ent end e o impetrante que a decretação da prisão preventiva deva ser invalidada porque o
juízo em que foi emitida a medida coercitiva não é o competente
para a ação penal.
10. HC11068.PIC
COLENDA CÂMARA
Inexiste coação ilegal contra o paciente, a ser sanado pela via do remédio heróico. O
doutor Promotor, ao invés de oferecer denúncia, como lhe fora requerido,
optou por uma apuração segura, através de inquérito policial.
É ponto perene na jurisprudência de nossos tribunais, que apenas existe constrangimento
ilegal na instrução provisória promovida através de inquérito policial,
quando a peça informativa houver sido deflagrada sem qualquer fundamento
investigatório, apenas para satisfazer interesse pessoal subalterno.
Em primeiro lugar, cumpre assinalar que o periculum in mora que justifica a concessão da
liminar em mandado de segurança não encontra similitude alguma
no procedimento do habeas corpus.
Demais disso, de ter presente que é da sistemática do processo penal brasileiro que a
decisão de magistrado de primeiro grau somente possa ser reformada
por colegiado em instância superior.
Não queremos com isto, todavia, afirmar incabível, sempre, a concessão de medida
liminar em habeas corpus. Esta seria possível, por exemplo, se a Câmara
constatar, de plano, coação ilegal ao paciente. Então poderá conceder a ordem, in limine,
isto é, dispensando requisição de informações ou diligências
- mas desde que o faça em decisão de colegiado. O que não pode ocorrer é desconstituir-
se monocraticamente em segundo grau a prisão ordenada pelo magistrado
de primeiro grau.
Na esp éci e, observa-se que a decretação da prisão preventiva foi medida absolutamente
necessária, sem a qual não se teria desmantelado perigosa quadrilha
de ladrões de automóveis, com atuação e ramificações por várias cidades de Santa
Catarina, da qual o paciente era um dos mais ativos integrantes.
ACÓRDÃO:
ACÓRDÃO:
Não pode falar em excesso de prazo paciente que se ausenta do distrito da culpa, tão logo
decretada a preventiva. Demora que se atribui exclusivamente à
sua ausência, procrastinando o andamento regular da ação penal.(DJSC n.8.800, de
5.8.93, págs. 6/7)
12 Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de D. H., que na Comarca de São José
responde a processo por crime de quadrilha e furto de aeronave.
Com referência à alegada demora na tramitação do feito, esta nos parece justificável
frente às peculiaridades do processo, dado que a quadrilha atua para
além das fronteiras do Estado. Citado e interrogado em 4.6.93, o feito tomou sua marcha
normal, somente dificultada em face de vários requerimentos do
paciente.
ACÓRDÃO
Habeas corpus n. 11087, de São José. DECISÃO: por votação unânime, denegar a ordem.
Entende o impetrante ser nula a deflagração da ação penal, por quebra do princípio da
indivisibilidade, vez que tendo as acusadas também resultado com ferimentos,
deveriam os autores destes também serem denunciados.
De outra parte, após o advento do Código Penal de 1984, que acolheu a teoria finalista da
ação, deve a petição inicial criminal demonstrar a culpabilidade,
conforme preleciona Damásio de Jesus (in Novas Questões Criminais, Saraiva, 1993,
págs. 125/126). Não poderia, pois, o Promotor denunciar a quem ele reputa
em estado de legítima defesa.
É que o paciente tinha em seu poder três quilos de maconha para fins de tráfico, e ao
momento da prisão trazia por baixo da blusa um quilo de maconha que
estava entregando a uma traficante.
Nenhuma dúvida quanto à tipificação de tráfico. Não vemos como possa se pretender
discutir em sede de habeas corpus, em face da evidência colhida até o
momento, este enquadramento.
NÉLSON FERRAZ
PROCURADOR DE JUSTIÇA
15 COLENDA CÂMARA
Com referência à alegada demora na instrução do feito, verifica-se que o feito já recebeu
alegações finais das partes.
Não há, assim, falar em constrangimento por excesso de prazo, consoante iterativa
jurisprudência.
NÉLSON FERRAZ
PROCURADOR DE JUSTIÇA
16
COLENDA CÂMARA
Em que esta omissão veio a prejudicar a deflagração do feito? É que, na espécie, a peça
informativa foi remetida precipitadamente a juízo, desacompanhada
das apurações imprescindíveis à deflagração da ação penal.
Ora, se a lei processual confere dez dias à autoridade policial para elaborar a peça
informativa, é porque, para a caracterização de muitos tipos penais,
não bastariam apenas as informações contidas no auto de flagrante, por insuscetíveis de
dar o necessário suporte à exordial, conforme exigido em muitos
tipos penais.
É o caso dos autos, onde precisaria ter sido caracterizada a habitualidade, o desvio de
finalidade do estabelecimento hoteleiro, e a caracterização de local
de prostituição, para que se tornasse legal o constrangimento contra a paciente, decorrente
da deflagração da ação penal.
Neste prazo de dez dias conferido pela lei processual, a autoridade policial deveria ter
caracterizado a habitualidade, colhendo as declarações necessárias
para caracterizá-la. Sintomático é o fato de que nenhum dos signatários do abaixo-
assinado que deu origem ao auto de flagrante, tenha sido ouvido pela
autoridade policial, pois a partir daí se poderia caracterizar a habitualidade.
Os constra ngimentos de que a paciente foi vítima, todavia não se limitam à fase policial.
Chegando o flagrante a juízo, após a correta manifestação sobre
a homologação do flagrante, o ilustre juiz abriu vistas ao órgão ministerial. Nesta
oportunidade o doutor Promotor, obrigatoriamente, conforme examinado
na nota de rodapé 12 deveria ter se pronunciado sobre a concessão ou não da liberdade
provisória, por se tratar de direito subjetivo do réu. Opinando,
ao revés, pela concessão da fiança, sem manifestar-se acerca da liberdade provisória,
ocorreu a primeira irregularidade em juízo. A segunda decorre da
decisão do doutor juiz, que concedeu liberdade provisória mediante fiança arbitrada em
três salários mínimos { fls.122/123}.
Ora, não tendo a autoridade policial juntado aos autos elementos que autorizariam a
decretação da prisão em flagrante, a concessão da liberdade provisória
sem o pagamento de fiança é um direito subjetivo da paciente, que não poderia ser
negado.
Diante de todo o exposto, opinamos pelo deferimento da presente ordem, a fim de ser
trancada a presente ação penal e restituída a fiança.
ACÓRDÃO
EMENTA: 16 " Habeas corpus - Falta de justa causa para a ação penal - Inquérito policial
que não demonstra, sequer em tese, a ocorrência de prática delitiva.
Ordem concedida."
17
HC11037.JO
I
Através do expediente de fls. 12, o doutor juiz informa que o feito já recebeu as alegações
finais da acusação, aguardando tão somente a inclusão das alegações
da defesa.
18 p>COLENDA CÂMARA
Examinando-se o decreto de prisão preventiva de fls. 13/15, constata-se que o doutor juiz
fundamentou amplamente a necessidade da decretação da custódia,
não somente a bem da ordem pública, em face da habitualidade na prática de crimes
contra o patrimônio, como também na garantia da aplicação da lei penal,
tendo-se em vista, não somente a fuga do paciente, mas também diante da circunstância
de ter fornecido endereço e idade falsos.
HC11067.PIC
Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de A. A. P., que na Comarca de Piçarras foi
condenado por crime de furto.
Insurge-se o impetrante contra a revogação do sursis, que teria sido efetuada ao arrepio
das normas legais, como a falta de oitiva do paciente.
Evidente que sim. Examinando-se o documento de fls. 19, verifica-se que no mesmo dia
em que o paciente foi posto em liberdade, ele compareceu a juízo, onde,
em sessão solene, foi cientificado das condições do sursis impostas na sentença, e
expressamente advertido das conseqüências de seu descumprimento, aceitando-as
e assinando o termo de compromisso.
Adquiriu, o paciente, através deste ato, o direito ao usufruto do sursis. A partir daí, o
sursis somente poderia ter sido desconstituído, se ocorrida alguma
das condições de revogação obrigatória (art. 81 CP) ou de revogação facultativa (art. 81, §
1º CP).
O despacho de fls. 29, que suspendeu o benefício, é de todo ilegal. Em primeiro lugar, não
existe suspensão de suspensão. Se, de outra parte, a intenção
era revogar, então esta revogação seria de todo inviável, por não se adequar aos princípios
legais.
Nem mesmo o arremedo que consta do mandado de prisão de fls. 30 "por ter sido
suspenso o benefício do sursis, face o mesmo não ter cumprido rigorosamente
as condições que lhe foram impostas em 31.7.91, quando da sua soltura...", não enseja a
revogação, porque, além de não constar dos autos qualquer violação
das condições, não se revoga o sursis sem antes ouvir a defesa (RT 620/631).
Diante de todo o exposto, opinamos pelo deferimento da presente ordem, para revogar a
prisão do paciente.
20
COLENDA CÂMARA
Trata-se habeas corpus impetrado em favor de M. C. T., que na Comarca de Joinville está
sendo processado pelo crime de tráfico de meia tonelada de maconha.
ACÓRDÃO
Habeas Corpus n. 11074, de Joinville. DECISÃO: por votação unânime, denegar a ordem.
21
COLENDA CÂMARA
Trata-se de habeas corpus impetrado em causa própria por V. F., que na Comarca de
Mafra foi condenado a três anos de reclusão, pela prática do crime tipificado
no artigo 213 do Código Penal Brasileiro.
Através das informações prestadas pelo doutor juiz a quo, constata-se que o paciente-
impetrante, por descumprir as condições do regime aberto que lhe fora
concedido na sentença, teve decretada a regressão para o regime fechado, eis que por dez
dias não comparecia à Cadeia Pública local para recolhimento noturno.
Esta regressão operou-se dentro das garantias legais, com observância do disposto no
artigo 118, § 2º da Lei 7.210/84, com a intervenção de seu defensor
constituído.
Não há, assim, constrangimento a ser saneado pela via do habeas corpus.
ACÓRDÃO:
Habeas corpus n. 11.083, de Mafra. DECISÃO: por votação unânime, não conhecer do
pedido.
22
22 HC11084.MAF
COLENDA CÂMARA
Consoante se depreende das informações prestadas pelo doutor juiz a quo, os pacientes
foram condenandos, em decisões já transitadas em julgado, e que não
ensejaram o benefício de recurso em liberdade, em face dos péssimos antecedentes
(participação em roubos e homicídio).
NÉLSON FERRAZ
] PROCURADOR DE JUSTIÇA
ACÓRDÃO
23
Quanto a este último requisito, nada há nos autos a demonstrar que o paciente estaria
obstacularizando a marcha processual, ou interferindo nas provas,
pressionando testemunhas, etc.
Diante de todo o exposto, opinamos pelo deferimento da presente ordem, para que o
paciente possa aguardar em liberdade o desfecho da instrução criminal.
NÉLSON FERRAZ
PROCURADOR DE JUSTIÇA
24
De outra parte, tem inteira razão o impetrante ao apontar a nulidade do decreto de prisão
preventiva.
Os motivos invocados pelo Senhor Delegado de Polícia no Ofício de nº 24/92 (fls. 75),
todavia nenhuma ressonância encontram no caderno indiciário.
Seria o caso de contrapor o ilustre entendimento com outra decisão do Pretório Excelso:
ACÓRDÃO
25 BR>
COLENDA CÂMARA
NÉLSON FERRAZ
PROCURADOR DE JUSTIÇA
COLENDA CÂMARA Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de L. S., que está
sendo processado na Auditoria da Justiça Militar do Estado de Santa Catarina,
por incurso nas sanções dos artigos 202 e 163 do Código Penal Militar.
Igualmente não é correta a afirmação de que a segregação do paciente seja uma medida
tardia. O mesmo esteve preso em várias oportunidades ao longo das apurações
administrativas, sendo, especificamente punido com 15 dias de prisão quando da
conclusão da sindicância, em 24 de março de 1992 (fls. 19), e com 4 dias
de detenção, em 31 de julho de 1992, quando da conclusão do Inquérito Policial Militar
(fls.61). A prisão judicial, portanto, segue apenas uma seqüência
lógica, desde que presentes os requisitos da necessidade da medida.
Não restam dúvidas que a prisão do paciente é necessária, frente ao seu procedimento que
coloca em risco a atividade policial na comunidade onde atua.
A sua segregação, enquanto sob disciplina militar, é medida, portanto, que se impõe.
NÉLSON FERRAZ
PROCURADOR DE JUSTIÇA
ACÓRDÃO
COLENDA CÂMARA
Trata-se de habeas corpus impetrado de próprio punho por P. E. N. M., que na Vara
Criminal e Feitos da Fazenda da Comarca de Tubarão está sendo processado
por incurso nas sanções do artigo 12 da Lei de Tóxicos em concurso material com o delito
previsto no artigo 19 da Lei das Contravenções penais.
Insurge-se o impetrante- paciente contra o excesso de prazo na tramitação do feito,
pretendendo que possa aguardar em liberdade o julgamento do feito, eis
que se encontra preso em decorrência de flagrante.
Conforme se constata através do exame das informações prestadas pelo doutor juiz a quo,
com base nas peças que as acompanham, a demora na tramitação deveu-se
ao exame de sanidade mental do acusado, que o ilustre magistrado houve por bem
determinar, em face das declarações do acusado por ocasião do interrogatório,
onde o mesmo se intitula dependente ao uso de drogas.
ACÓRDÃO
28. DENÚNCIA. INÉPCIA. Ausência de descrição da ação delituosa que teria sido
praticada pelo indiciado. Habeas corpus a ser deferido para trancar a ação
penal.
COLENDA CÂMARA
Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de V. R., que na Primeira Vara Criminal da
Comarca de Criciúma está sendo processado, em concurso material,
nas sanções do crime tipificado no artigo 129, caput, do Código Penal Brasileiro.
Na verdade, a denúncia nenhuma descrição faz no tocante à ação delituosa que teria sido
praticada pelo paciente.
Isto, sem dúvida alguma, a torna nula, submetendo o paciente a constrangimento ilegal, e
cerceando a sua defesa.
'' 1.1. A descrição do fato e os fundamentos jurídicos da acusação, expostos com clareza e
precisão, de modo que o réu possa preparar a sua defesa. Exige-se
o enquadramento da conduta humana na tipicidade prevista pela norma legal
incriminadora.Há que ser e demonstrado que o fato da vida real se ajusta ao modelo
abstrato previsto em lei.
Embora o artigo 41 do Código de Processo Penal utilize a expressão fato criminoso com
todas as suas circunstâncias, não deve aqui ser interpretado que da
exordial deva constar a descrição das circunstâncias judiciais e legais. Quando o
dispositivo faz menção a circunstâncias, evidentemente quer se referir
àqueles elementos imprescindíveis à caracterização do tipo penal. Já as circunstâncias
judiciais e legais , por integrarem os tipos penais, prescindem
de menção na petição inicial criminal. Não seria de boa técnica referí-las na exordial,
onde apenas devem vir descritos -se bem que de forma ampla - os
elementos imprescindíveis à caracterização do tipo penal.
Já o mesmo não acontece quando se trata das causas especiais de aumento de pena e das
causas especiais de diminuição (quando obrigatórias) de pena. Estas
devem ser descritas e classificadas na peça preambular, não somente por terem o condão
de poderem situar a pena para além ou aquém dos limites legais,
mas também, por se tratarem de condições ou predicamentos normalmente não
compreendidos na órbita de um tipo penal, tanto assim que o Código Penal as caracteriza
expressamente, descrevendo-as em diversos dispositivos da Parte Geral e da Parte
Especial, toda vez que admita a sua incidência.'' Como se constata através
do exame da denúncia de fls. 9/10, nenhuma menção se faz à ação que teria sido praticada
pela pessoa do denunciado. Embora inexistam regras rígidas quanto
narrativa a ser efetuada na petição inicial criminal, imprescindível que a mesma obedeça
aquele mínimo necessário para que o réu possa preparar a sua defesa,
consoante estudo por nós efetuado:
O importante é que a descrição do fato da vida real se ajuste ao paradigma típico abstrato
previsto na lei penal, em todos os seus requisitos. Significa
isto que todos os elementos caracterizadores de um determinado tipo penal abstrato
devem estar compreendidos na descrição da ação concreta do agente. Deve
aqui ser perquirido, com apoio nos doutrinadores, quais os elementos que compõem um
dado tipo penal, para, em seguida se verificar se a ação praticada
pelo acusado se ajusta a todos os elementos deste tipo.
Na descrição do fato delituoso, não deve ser empregado o nomen iuris mas sim a ação, o
verbo que o caracteriza. Desse modo, ao denunciar-se um crime de
furto, a petição não diria que o réu furtou e sim que subtraiu.''
Como se constata, a denúncia padece de inépcia, por não descrever os fatos praticados
pelo denunciado.
Diante de todo o exposto, opinamos pelo deferimento da presente ordem, a fim de ser
trancada a ação penal contra o paciente.
ACÓRDÃO
ACORDAM, em Primeira Câmara Criminal, por votação unânime, conceder a ordem para
trancamento da ação penal.