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Atividade de análise semântica e discursiva

Tema: A inscrição do texto no cotidiano do leitor - criação de discursos a partir do curso do tempo e
da fragilidade da condição humana.

Texto: Roda Viva - Chico Buarque de Holanda

Tem dias que a gente se sente Mas eis que chega a roda-viva
Como quem partiu ou morreu E carrega a roseira pra lá
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu Roda mundo, roda-gigante
A gente quer ter voz ativa Rodamoinho, roda pião
No nosso destino mandar O tempo rodou num instante
Mas eis que chega a roda-viva Nas voltas do meu coração
E carrega o destino pra lá
A roda da saia, a mulata
Roda mundo, roda-gigante Não quer mais rodar, não senhor
Rodamoinho, roda pião Não posso fazer serenata
O tempo rodou num instante A roda de samba acabou
Nas voltas do meu coração A gente toma a iniciativa
Viola na rua, a cantar
A gente vai contra a corrente Mas eis que chega a roda-viva
Até não poder resistir E carrega a viola pra lá
Na volta do barco é que sente Roda mundo, roda-gigante
O quanto deixou de cumprir Rodamoinho, roda pião
Faz tempo que a gente cultiva O tempo rodou num instante
A mais linda roseira que há Nas voltas do meu coração
Roda mundo, roda-gigante
O samba, a viola, a roseira Rodamoinho, roda pião
Um dia a fogueira queimou O tempo rodou num instante
Foi tudo ilusão passageira Nas voltas do meu coração
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa Roda mundo, roda-gigante
Faz força pro tempo parar Rodamoinho, roda pião
Mas eis que chega a roda-viva O tempo rodou num instante
E carrega a saudade pra lá Nas voltas do meu coração.

Sobre a obra:

A música Roda Viva, de Chico Buarque de Holanda, foi escrita em 1967 para fazer parte da peça
teatral, também chamada Roda Viva, na qual o autor faz uma forte crítica ao tempo político no qual vivia: os
duros anos da ditadura militar. Significativamente, a letra está circunscrita às condições políticas do Brasil
de 1967. Os militares assumem o governo em 1964 e a restauração da democracia só vai ocorrer em 1985. O
regime militar foi instaurado com a deposição do Presidente João Goulart, em nome do anticomunismo, da
“democracia” e da salvação nacional. Uma onda de prisões varreu o país nos dias seguintes ao golpe: líderes
sindicais, políticos que apoiavam o presidente deposto e militantes de entidades estudantis eram os alvos
preferidos.
O poema Roda Viva foi composto nesse clima de torturas, perseguições políticas e processos
sumários. Assim, quando se leem os versos do poema, a dupla significação fica clara: a geração de sentido
pode estar ligada tanto à fragilidade da condição humana em geral como, especificamente, à impotência
do cidadão brasileiro, sujeito às arbitrariedades da ditadura militar.
Em julho de 1968 a peça foi montada em São Paulo quando o CCC invadiu o teatro, depredou o
cenário e espancou os atores. Chico Buarque suspeitou, na ocasião, que o CCC pretendia invadir a
apresentação do espetáculo dirigido por Augusto Boal, Feira Paulista de Opinião que acontecia em outra sala
do mesmo teatro. A peça e todas as músicas do roteiro foram censuradas.

Atividade:

Analisando a história da música e fazendo uma leitura minuciosa, vamos aprofundar a interpretação e
analisar a semântica e a construção de discursos.
As tensões, isto é, os significados contraditórios do poema, criam as condições para organizar o
discurso, por meio de uma unificação de ideias que se contradizem. No caso de Roda Viva é possível afirmar
que os elementos contraditórios, descritos abaixo, constituem núcleos dinâmicos, que servem como elemento
organizador do texto:

 Onipotência X impotência;
 Movimento X imobilismo;
 Ganhos X perdas;
 Eterno X finito;
 Universal X regional.

Esses pares, expressos por sentidos contraditórios, são princípios estruturantes do texto e conduzem o
significado em direção à ênfase na fragilidade da condição humana.

1) A partir desses pares citados acima, identificar a que estrofes os símbolos se constituem e discorrer
sobre os aspectos críticos significativos em termos da impotência da condição humana diante dos
problemas políticos, sociológicos e filosóficos. Analisar essas estrofes em grupo e apresentar as
ideias oralmente.

2) No poema, há a roda viva, que é um elemento opressor, e há o ser humano, que é um elemento
oprimido. Faça um texto dissertativo, cujo título seja: A inadequação da presença de opressores.

Exercícios Propostos (vestibular):

1. Observe o trecho abaixo, retirado da música Roda Viva do compositor Chico Buarque de Hollanda:

Tem dias que a gente se sente


Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá
Observe as afirmações abaixo:

I. Saber que a música foi produzida em 1967 não influencia na interpretação que eu faço dela.
II. Saber que a música foi produzida em 1967 me desautoriza a interpretar a música de outra forma que não
sendo uma referência à ditadura militar.
III. O fato de o compositor usar de uma linguagem figurada para se referir à repressão pode ser explicado
pelo contexto de produção da música.

IV. O fato de que o compositor se posicionava contrariamente à ditadura militar não influencia em sua
canção.
V. O fato de que o compositor se posicionava contrariamente à ditadura militar pode me ajudar a entender o
verso “A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar, mais eis que chega a roda-vida e carrega o
destino pra lá”.

Estão corretas:

(A) Apenas I e IV
(B) Apenas II
(C) Apenas II e IV
(D) Apenas III
(E) Apenas III e V

2. Sobre a canção Roda Viva de Chico Buarque. É correto afirmar que o tema central dessa canção é

(A) Uma crítica ao samba brasileiro


(B) Uma crítica à ditadura militar brasileira
(C) A dor provocada pelo amor não correspondido
(D) Uma apreciação da saudade provocada por aqueles que já morreram.

3. Texto I: Roda Viva

Texto II:

Elifas Andreato

Pertencentes ao patrimônio cultural brasileiro, a música de Chico Buarque de Holanda e a imagem de Elifas
Andreato retratam um momento em que o país passava por um período de exceção.

Da leitura dos textos 1 e 2, constata-se que o que aproxima as duas obras diz respeito a:
A) A tentativa de desmistificar o jovem como fio condutor de uma mudança necessária Nação recém-livre.

B) A presença de metáfora para disfarçar a real intenção das obras, em virtude da presença de censura, o que
inviabilizava uma exposição mais direta.

C) A escassez de liberdade social, advinda da entrada do Brasil, efetivamente, na Guerra Fria, o que gerou a
necessidade de se burlar a censura, através de mecanismos metafóricos como uma maneira de esconder a
realidade.

D) O exato retrato da realidade, independente da presença ou não da censura a ameaçar o artista.

E) A presença de retrato, direto ou indireto, objetivo ou figurado, de uma época marcada pela repressão.

4. Questão ENEM:

Uma noite em 67, de Renato Tera e Ricardo Calil.


Editora Planeta, 296 páginas.

Mas foi uma noite, aquela noite de sábado 21 de outubro de 1967, que parou o nosso país. Parou pra
ver a finalíssima do III Festival da Record, quando um jovem de 24 anos chamado Eduardo Lobo, o Edu
Lobo, saiu carregado do Teatro Paramount em São Paulo depois de ganhar o prêmio máximo do festival com
Ponteio, que cantou acompanhado da charmosa e iniciante Marília Medalha.

Foi naquela noite que Chico Buarque entoou sua Roda viva ao lado do MPB-4 de Magro, o arranjador.
Que Caetano Veloso brilhou cantando Alegria, alegria com a plateia ao com das guitarras dos Beat Boys,
que Gilberto Gil apresentou a tropicalista Domingo no parque com os Mutantes.

Aquela noite que acabou virando filme, em 2010, nas mãos de Renato Terra e Ricardo Calil, agora
virou livro. O livro que está sendo lançado agora é a história daquela noite, ampliada e em estado que no
jargão jornalístico chamamos de matéria bruta. Quem viu o filme vai se deliciar com as histórias – e algumas
fofocas – que cada um tem para contar, agora sem os contes necessários que um filme exige. E quem não viu
o filme tem diante de si um livro de histórias, pensando bem, de História.

VILLAS, A. Disponível em: www.cartacapital.com.br. Acessado em: 18 jun. 2014 (adaptado).

Considerando os elementos constitutivos dos gêneros textuais circulantes na sociedade, nesse fragmento de
resenha predominam

(A) caracterização de personalidades do contexto musical brasileiro dos anos 1960.


(B) questões polêmicas direcionadas à produção musical brasileira nos anos 1960.
(C) relatos de experiências de artistas sobre os festivais de música de 1967.
(D) explicação sobre o quadro cultural do Brasil durante a década de 1960.
(E) opinião a respeito de uma obra sobre cena musical de 1967.

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