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CAPÍTULO 3
A PSICOLOGIA SOCIAL É MAIS DO QUE UMA
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Como sugerimos anteriormente, essa não é a história da Psicologia Social brasileira, mas apenas uma história
possível. É uma história formada por diversas outras histórias, é uma história múltipla.
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De acordo com Liedke Filho (2003, p. 227), no caso específico da América Latina, essa crise foi
impulsionada, sobretudo, pela situação política vivenciada por vários países da região. Nas palavras do autor,
“no bojo da crise social e política latino-americana do final dos anos cinqüenta e início da década de sessenta
verificou-se o início do Período de Crise e Diversificação da Sociologia latino-americana, caracterizado pela
crise institucional e profissional da sociologia sob a repressão político-cultural dos regimes autoritários e,
simultaneamente, por uma profunda crise paradigmática, isto é, pela crise da hegemonia da Sociologia
"Científica", com a emergência de alternativas teóricas como a Sociologia Nacional, a Teoria da Dependência e a
Teoria do "Novo Autoritarismo.”
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[...] por se pressentir que sua lógica integrativa [ficava] subordinada aos
riscos do poder e da dominação. Esse ponto de vista [alimentou] de modo
todo particular o estruturalismo de perspectiva francesa. Fora do hexágono,
aplicada aos temas das classes, das desigualdades e dos conflitos, esta
perspectiva [favoreceu], de maneira diferente, a volta de Marx.
(LALLEMENT, 2008, p. 65, 66).
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Um movimento semelhante de crítica à “importação de saberes” já vinha permeando a Sociologia daquele
período. Segundo Liedke Filho (2005, p. 38), os anos 50 foram marcados “[...] pelo surgimento da proposta de
uma „Sociologia Autêntica‟, nacionalista, que buscava contribuir para o processo de libertação nacional e que
tem na obra de Guerreiro Ramos [...] sua referência principal. Teoricamente, a controvérsia entre Guerreiro
Ramos e Florestan Fernandes dominou a cena da comunidade sociológica brasileira durante esse período, tendo
por fulcro central a questão da particularidade e/ou universalidade do conhecimento social produzido no Brasil.”
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Com o fortalecimento dessas teorias e metodologias, começou a se pensar na necessidade de criar uma
associação que representasse as “novas” Psicologias Sociais. De acordo com Lane e Bock (2003), essa
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É justamente a partir das diferenças entre essa “escola” fundada por Lane e a corrente
norte-americana defendida por Rodrigues que começaremos a contar nossa história. Optamos
por fazer esse recorte por duas razões principais: primeiramente, pela inviabilidade de
descrever todas as Psicologias Sociais criadas no Brasil a partir da década de 1970 e, em
segundo lugar, pelo fato de vários autores (como STREY et. al, 2001, LIMA, 2009, SÁ, 2007;
NEIVA, TORRES, 2011, entre outros) se referirem a Lane como uma das principais
opositoras do modelo positivista defendido por Rodrigues.
A Psicologia Social de Rodrigues (1972, p. 55) consiste em realizar um “[...] estudo
científico do processo de interação humana.” Ou seja, é uma ciência básica cuja única forma
de intervenção é indireta: ela fornece dados objetivos para que tecnólogos sociais possam
resolver problemas sociais. Nas palavras do autor,
Sendo assim, a essa Psicologia Social caberia o papel de estudar, por meio do método
científico, a interação humana e suas consequências cognitivas e comportamentais, enquanto
que as Tecnologias Sociais seriam responsáveis por usar esse conhecimento para transformar
a realidade. Nessa Psicologia Social, estudar um determinado fato a partir do método
científico significa orientar-se pelo seguinte esquema (figura 1):
necessidade foi bastante discutida durante o Congresso da Sociedade Interamericana de Psicologia (SIP),
realizado em Lima, no ano de 1979. “Era uma proposta que buscava fortalecer a organização dos psicólogos
ligados à área da Psicologia Social, criando espaços para o diálogo e o avanço desse campo. Além disso,
caminhava-se para o fortalecimento de um pensamento latino-americano na Psicologia, a partir da Psicologia
Social.” (p. 146). Após o congresso da SIP, foi nomeada uma comissão para redigir o estatuto dessa nova
associação. No ano seguinte, durante a reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC), esse estatuto foi votado e aprovado, instituindo oficialmente a Associação Brasileira de Psicologia
Social (ABRAPSO). Segundo as autoras, as intenções políticas da ABRAPSO sempre foram “[...] a construção
de uma psicologia social crítica, voltada para os problemas nacionais, acatando diferentes correntes
epistemológicas, desde que filiadas ao compromisso social de contribuir para a construção de uma sociedade
mais justa. A ABRAPSO nasceu da insatisfação com a psicologia européia e americana. Os problemas de nossa
sociedade, marcada pela desigualdade social e pela miséria, não encontravam soluções na psicologia social
importada como um saber universal dos países do Primeiro Mundo.” (p. 149).
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De acordo com o autor, esse esquema deve ser marcado pela neutralidade do(a)
psicólogo(a) social em sua procura das relações não aleatórias entre variáveis. Apesar de
Rodrigues (1985, p. 19) admitir que a escolha do tema e o relatório do cientista possam não
ser neutros, para ele, “o produto final, isto é, o conhecimento novo que surge, este é
inexoravelmente neutro, pois toda a comunidade científica o fiscaliza.”
Contrariamente a Rodrigues, Lane (1985) critica a defesa da neutralidade da ciência e
da objetividade dos fatos. Sendo assim, a Psicologia Social de suas pesquisas e livros resgata
a subjetividade e não vê o indivíduo como produto de si mesmo. Em suas palavras:
Sendo assim, o “homem”58 a que a autora se refere é diferente do que aparece nos
textos de Rodrigues. Para ela, pensar o ser humano dessa maneira implica uma atuação mais
consequente da Psicologia, na qual teoria e prática devem andar sempre juntas (LANE, 1985).
Em outras palavras, sugere que o conhecimento seja compreendido, antes de tudo, como
práxis, e que
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Estamos utilizando aqui a palavra “homem” para referir-se a “ser humano” a fim de manter a terminologia
utilizada por Lane.
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Pensar a Psicologia Social como práxis significa, segundo Lane (2007a), abrir mão da
busca pela neutralidade científica. Afinal, em sua ciência, tanto o pesquisador quanto o
pesquisado são, ao mesmo tempo, produtos e agentes histórico-culturais e se definem por
meio de relações sociais que tanto podem reproduzir as condições sociais em que ambos estão
inseridos quanto podem transformá-las.
Além disso, segundo o autor, essa crise só ocorreu devido à ignorância da distinção
entre ciência e tecnologia. Para ele, assim como fisiólogos(as) não curam doentes, ou
físicos(as) não constroem pontes e casas, psicólogos(as) sociais não são os(as) responsáveis
por mudar a realidade social. Seu papel é o de produzir conhecimento, sendo que a aplicação
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[...] para que se possa empreender uma ação social destinada à resolução de
problemas sociais, não é preciso modificar o paradigma dominante na
psicologia social, nem transformá-la de uma ciência em um movimento de
ação social, necessariamente ideológico; basta, simplesmente, que se
utilizemos [sic.] os ensinamentos básicos que ela nos oferece e, através da
aglutinação destes achados proporcionada por uma tecnologia social eficaz,
sejam eles empregados na resolução de problemas sociais. É o que o médico
faz no tratamento dos doentes amparados pelas descobertas dos biólogos e
dos fisiólogos [...] Não há, pois, razão para extinguir a pesquisa
fundamental; muito pelo contrário, ela deve prosseguir a fim de que possa
proporcionar, ao tecnólogo social, o conhecimento necessário à aplicação da
solução ao caso concreto. (RODRIGUES, 1989, p. 123).
Segundo o autor, a situação política que o Brasil vivia na época era bastante favorável
ao desenvolvimento dessa nova Psicologia Social, pois o interesse pelo marxismo, a ênfase na
pesquisa-ação e o desejo de mudar a estrutura social eram predominantes entre os
universitários. Mas como Rodrigues discordava da fusão entre ciência e política, e como
foram frustrados seus esforços para fazer com que seus colegas percebessem que ciência e
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tecnologia eram coisas distintas, em 1968, ele resolveu voltar aos Estados Unidos, onde
passou a lecionar na Claremont Graduate School.
Em entrevista concedida ao Conselho Federal de Psicologia (CFP), Lane (2007c) fala
claramente das diferenças entre “sua” Psicologia Social e a “de” Rodrigues:
Uma das pesquisas que Lane (1989) mencionou durante sua conferência neste
simpósio da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia (ANPEPP)
tinha como objeto de estudo a consciência de sujeitos gagos. A despeito de não ter
explicitado sua autoria, acreditamos que ela se referia à tese de doutorado de Silvia Friedman,
uma de suas orientandas. Nesse trabalho60, Friedman (1994) estudou as mudanças no
movimento da consciência ao longo de um tratamento terapêutico. Para isso, apoiou-se em
conceitos como consciência, linguagem e representações sociais, e em autores como Leontiev,
Luria, Vigostski, Moscovici, Spink, Jodelet e na própria Silvia Lane. O corpus da pesquisa foi
composto pela gravação e transcrição de algumas sessões terapêuticas que Friedman realizou
em sua clínica de fonoaudiologia e a técnica empregada foi a Análise Gráfica do Discurso.
Segundo Friedman (1994), essa técnica foi desenvolvida por Lane e compreende
algumas etapas: em primeiro lugar, é feita uma numeração das unidades de significados ou
dos conteúdos que compõem o discurso – que geralmente correspondem a um sujeito e a seu
predicado –, acompanhando a sequencia em que aparecem. Em um segundo momento, são
realizadas releituras cuidadosas do material estudado, buscando localizar e marcar os
significados que se repetem. Esta etapa é importante, uma vez que
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Essa entrevista está gravada em vídeo e disponível no site do CFP (http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/
publicacoes/videos/videos_070605_0171.html).
60
Defendido em 1992 e publicado em 1994.
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Podemos dizer, assim, que as práticas descritas nessa tese orientada por Lane fazem
uma Psicologia Social que depende de uma série de elementos heterogêneos, tais como
autores russos, livros sobre a Teoria das Representações Sociais, gravadores de voz,
transcrições, jogos de canetas hidrográficas coloridas, setas numeradas, núcleos de
pensamento, discursos, uma consciência que se move, notas de leitura, notas de releitura,
representações gráficas do discurso etc. Juntos, esses atores nos permitem falar do que a
Psicologia Social é.
Na tese de Friedman (1994), a Psicologia Social é algo bastante diferente do que ela é
em uma pesquisa de Rodrigues e Assmar (2003) sobre comportamento normativo. Neste
estudo, os autores replicam pesquisas anteriores de Rodrigues61, introduzindo certo
refinamento metodológico e verificando uma possível influência das distintas bases de poder
no julgamento da justiça da punição infligida ao autor do comportamento normativo. Mais
61
De acordo com os autores, esses estudos demonstraram que “[...] comportamento antinormativo, causado por
influência social derivada da utilização dos poderes de recompensa, informação e referência, é percebido como
mais interno e mais controlável, e seu autor julgado mais responsável por tê-lo emitido, do que esse mesmo
comportamento provocado pelo uso dos poderes de conhecimento, legitimidade ou coerção.” (RODRIGUES,
ASSMAR, 2003, p. 191).
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a enfermeira acabou por fazer o que o médico lhe pediu. No dia seguinte, o
paciente piorou muito e veio a falecer alguns dias depois. Nas páginas
seguintes, seguiam-se seis razões apresentadas pela enfermeira para fazer o
que o médico lhe disse, cada uma representando uma das seis bases de poder
da tipologia de Raven (1965). Essas razões, apresentadas em seguida,
correspondem respectivamente, ao poder de recompensa, de coerção, de
legitimidade, de referência, de conhecimento e de informação: a) o médico
disse à enfermeira que facilitaria as coisas para ela no futuro; b) o médico
disse que cortaria o salário da enfermeira em R$ 50,00 por mês, durante
cinco meses; c) o médico disse que, nas organizações decentes, as ordens
superiores devem ser seguidas; d) o médico disse que tinha sido sempre uma
referência positiva para ela; e) o médico disse que ela deveria fazer o que lhe
foi solicitado, pois ele era visto por todos como um especialista; f) o médico
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Esses contextos eram seguidos por escalas de nove pontos, que mediam o grau de
controlabilidade, de internalidade e de responsabilidade atribuídos à enfermeira. Essas
escalas eram ancoradas nas extremidades pela indicação de totalmente interno/totalmente
externo, sob controle da enfermeira/fora de seu controle e muito responsável/nada
responsável.
Para evitar que as frases que representavam as bases de poder tivessem forças
diferentes, os autores realizaram um estudo prévio, apresentando a 60 participantes (distintos
dos 84 que participaram da pesquisa propriamente dita) seis conjuntos de 10 frases, cada um
representativo de uma das seis bases de poder da tipologia de Raven e relacionado à interação
médico-enfermeira descrita nos cenários. As frases eram apresentadas em ordem aleatória e os
participantes tinham de indicar em uma escala de 11 pontos quão forte eles consideravam a
tentativa de influência descrita em cada frase. Em seguida, era calculado o valor escalar 62 de
cada frase. Se acontecesse de mais de uma frase ter o mesmo valor escalar, os autores
escolhiam a que tinha o menor desvio-padrão. “Desta forma, seis frases com idênticos valores
escalares para as formas de influência do Grupo 1 (recompensa, informação e referência) e
para as do Grupo 2 (conhecimento, legitimidade e coerção) foram selecionadas e utilizadas na
segunda fase da pesquisa [...].” (RODRIGUES, ASSMAR, 2003, p. 194). A fim de evitar um
possível efeito da ordem de apresentação dessas frases, os autores construíram aleatoriamente
seis ordens de apresentação em um quadrado latino63, sendo que este foi replicado sete vezes
em cada condição.
O instrumento utilizado nessa pesquisa continha outra série de itens: solicitava que os
participantes supusessem que o diretor do hospital havia demitido a enfermeira que ministrou
o remédio experimental e, em seguida, apresentava seis escalas de sete pontos, uma para cada
motivo alegado pela enfermeira para fazê-lo (promessa de recompensa, ameaça de punição,
invocação de legitimidade, amizade, conhecimento e apresentação de argumentos). Nessas
escalas, os participantes indicavam, primeiramente, o grau de justiça da decisão do diretor do
hospital de demiti-la e, em seguida, indicavam o grau de justiça da não aplicação de algum
tipo de punição. Indicavam, também, o grau de justiça de aplicação da punição,
62
Segundo Rodrigues e Assmar (2003), o valor escalar é dado pela mediana dos julgamentos de cada uma das
frases.
63
De acordo com os Rodrigues e Assmar (2003, p. 194), em um planejamento de quadrados latinos “[...] são
estabelecidas seqüências distintas de ordenação das frases, contrabalançando-se, assim, o possível efeito de
ordem de apresentação.”
80
qualquer pessoa de bom senso saberia que as causas desse problema estão
na estrutura alienada de trabalho na sociedade contemporânea – que permite
aos diretores alterar ao seu bel prazer os quadros de profissionais da
empresa sem que os próprios tenham direito a opinar sobre isso- e nas
características do mercado capitalista, em que a competição frenética
angustia qualquer trabalhador numa perspectiva de mudança. O que fez o
senhor Varela? Tratou de persuadir os trabalhadores, candidatos naturais
para o cargo, de que não eram as pessoas mais aptas para aquele cargo.
Estamos diante de um duplo engodo: nem a realidade social cabe no
receituário do tecnólogo e muito menos as soluções encontradas são
capazes de resolver qualquer coisa, exceto o problema imediato do dirigente
empresarial. Estamos diante de uma Tecnologia Social sem dúvida voltada
a encobrir os problemas sociais e a serviço dos meios de produção. [...] Eis
algo em que concordo literalmente com Jacobo Varela: o mundo está
carente de uma Tecnologia Social. Mas que seja capaz de resolver não
apenas querelas administrativas das empresas mas, principalmente, capaz de
instrumentalizar o cidadão para a busca de sua própria cidadania.
81
Neste exemplo, podemos ver claramente que a divergência entre esses dois grupos de
pesquisadores não está somente na defesa ou crítica da dicotomia teoria/prática, mas está
também no posicionamento acerca do compromisso político do(a) pesquisador(a). Se, no
grupo de Lane, o(a) psicólogo(a) social é aquele que busca transformar a realidade, no de
Rodrigues, “o único engajamento admissível em ciência é [...] o compromisso desinteressado,
objetivo e persistente na busca da verdade acessível ao arsenal metodológico disponível.”
(RODRIGUES, 1989, p. 129).
Outra importante diferença entre essas Psicologias Sociais refere-se ao
posicionamento em relação à universalidade da ciência. Para Lane,
64
As edições mais recentes desse livro estão em coautoria com Eveline M. L. Assmar e Bernardo Jablonski. A
28ª edição é de 2010.
65
Livraria Cultura (loja Paulista), Livraria Cortez (loja Perdizes), Livraria Martins Fontes Paulista e Saraiva
Mega Store (Shopping Eldorado), todas na cidade de São Paulo-SP.
82
em vários editais recentes, como o edital n. 021/200866, do concurso público para professor
efetivo na área de Psicologia Social, Organizacional e do Trabalho da Universidade Federal
de Uberlândia (UFU), os editais dos concursos para psicólogo da Prefeitura Municipal de
Caraá-RS (n. 008/2004)67, e da Prefeitura Municipal de Pitanga-PR (edital n. 01/2009)68,
bem como o edital de seleção 2010.1 do mestrado em Psicologia Social da Universidade
Federal da Paraíba (UFPB)69. Outro livro de Rodrigues bastante utilizado é “Psicologia Social
para Principiantes: estudo da interação humana”, que foi reeditado em 2010.
Os livros de Lane, como “O que é Psicologia Social” (LANE, 1981/ 2006) e
“Psicologia Social: homem em movimento” (LANE; CODO, 1984/ 2009), também
permanecem sendo reimpressos/reeditados, estando, respectivamente, na 22ª e 13ª edição (7ª e
5ª reimpressão). Além disso, eles também foram encontrados nas livrarias visitadas e suas
leituras continuam a ser exigidas em concursos e processos seletivos, tal como o da Prefeitura
Municipal de Reserva do Iguaçu-PR (edital n. 01/2009)70 e da Universidade Federal de
Uberlândia – UFU (edital n. 099/2009)71. Os livros de Lane são, também, bibliografia básica
de disciplinas introdutórias à Psicologia Social de vários cursos de graduação, como, por
exemplo, o da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)72, da Universidade Estadual de
Londrina (UEL)73 e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)74.
Além disso, alguns cursos oferecem disciplinas voltadas especificamente à Psicologia
Sócio-Histórica desenvolvida por Lane, como a Universidade Nove de Julho (UNINOVE)75, o
Centro Universitário UNA76 , a Universidade Luterana do Brasil (ULBRA)77 e o Centro
Universitário Celso Lisboa (UCL)78.
66
Edital encaminhado via e-mail aos discentes do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Social da
PUC-SP.
67
Disponível em:‹http://www.pciconcursos.com.br/concurso/39074›. Acesso em: 18 dez. 2009.
68
Disponível em: ‹http://www.exatuspr.com.br/controle/arquivos/1260873987_edital_abertura.pdf›. Acesso em:
26 dez. 2009.
69
Disponível em: ‹http://www.cchla.ufpb.br/pos_psi/pdf/Edital_do_Mestrado_2010.pdf›. Acesso em: 26 dez.
2009.
70
Disponível em: ‹http://www.redesuldenoticias.com.br/edital_teste_seletivo_ri.pdf›. Acesso em: 26 dez. 2009.
71
Disponível em:
‹http://www.ufu.br/sites/www.ufu.br/files/06%20programa%20e%20refer%C3%AAncia%20edital%20n%C2%
BA%2099%202009.doc›. Acesso em: 18 dez. 2009.
72
Disponível em: ‹http://www.cfh.ufsc.br/psicologia/programaPSI5131.php›. Acesso em: 18 dez. 2009.
73
Disponível em: ‹ http://www2.uel.br/ccb/psicologia/3psi010.htm›. Acesso em: 18 dez. 2009.
74
Disponível em: ‹http://www.graduacao.ufrn.br/Programas/Psicologia/PSI0904%20-
%20T%F3picos%20em%20Psicologia%20Social%20I%20.doc›. Acesso em: 18 dez. 2009.
75
O quadro de disciplinas do curso de Psicologia da UNINOVE nos foi cedido por uma colega que leciona nessa
universidade.
76
Disponível em: ‹http://www.una.br/curso/graduacao/psicologia/grade›. Acesso em: 18 dez. 2009.
77
Disponível em: ‹ http://www.una.br/curso/graduacao/psicologia/grade›. Acesso em: 18 dez. 2009.
78
Disponível em: ‹ http://www.educaedu-brasil.com/licenciatura-em-psicologia-carreiras-universitarias-
22691.html›. Acesso em: 18 dez. 2009.
83
[...] não transcende o passado mas o contém. E ao invés de ser uma unidade
singular, o presente é composto de muitas partes. Há vários tempos
diferentes dentro do presente: o antiquado e o precoce, o atual e o
passageiro. [...] Ao invés de fluir de uma maneira linear, o tempo assume a
forma de dobras, voltas [loops] e espirais. É múltiplo. (MOL, BERG, 1998,
p. 5).
Pensar a Psicologia Social a partir da TAR implica, assim, assumir que sua crise de
referência não representou aquilo que Thomas Kuhn (1962/2003, p. 125) chamou de
“revolução científica”. Afinal, para o autor, as revoluções científicas são “[...] episódios de
desenvolvimento não cumulativo, nos quais um paradigma mais antigo é total ou
parcialmente substituído por um novo, incompatível com o anterior.” 79
De acordo com Kuhn (2003), essas revoluções acontecem quando uma pequena
subdivisão de uma comunidade científica começa a pensar que o paradigma existente não
mais é adequado para a exploração de um determinado aspecto da natureza. Este sentimento
de funcionamento defeituoso do paradigma faz com que esses cientistas proponham uma nova
maneira de ver as coisas, gerando novos problemas a serem considerados. Nas palavras do
autor,
79
Sendo que por “paradigma” o autor compreende todas “[...] as realizações científicas universalmente
reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de
praticantes de uma ciência.” (KUHN, 2003, p. 13).
84
Até poderíamos dizer que, nas décadas de 1960 e 1970, o grupo liderado por Silvia
Lane passou a ter esse sentimento de funcionamento defeituoso da Psicologia Social e
começou a propor novos problemas e soluções. Entretanto, como dissemos anteriormente, sua
proposta não substitui a tradição norte-americana de Rodrigues. Pelo contrario, até hoje
ambas fazem parte do escopo teórico da Psicologia Social no Brasil, fazendo com que seja
inadequado afirmar que a crise de referência representou uma mudança de paradigmas ou uma
revolução científica.
De acordo com Iray Carone (2003, p. 112), a noção de paradigma é muitas vezes
usada para defender “territórios” no interior da Psicologia – tal como quando manuais
introdutórios se referem a um “paradigma positivista” e a um “paradigma crítico” para
estabelecer a distinção entre as teorias que são “genuinamente” positivistas e aquelas que são
“genuinamente” críticas80. “Ao estabelecer tais distinções, estão separando escolas rivais com
o propósito de valorizar apenas uma ou mais dentre elas, que pretensamente correspondem às
características de um paradigma.” Além disso,
80
Na apresentação do livro “Paradigmas em Psicologia Social”, por exemplo, Regina Campos e Pedrinho
Guareschi (2009, p. 9, grifo nosso) afirmam que “as vicissitudes do planejamento social, associadas às
dramáticas conseqüências dos „experimentos socioculturais‟ realizados ao longo do século [XX], mostraram que
as supostas verdades científicas trazem consigo definições éticas que muitas vezes só se revelam com plena
desenvoltura quando experimentadas na prática. [...] As dificuldades de aplicação prática dos conhecimentos têm
levado, assim a uma reflexão mais madura, menos triunfalista. A ciência genuína se torna mais despojada e mais
preocupada com as questões éticas. É essa última tendência que, parece-nos, define grande parte da produção
contemporânea em Psicologia Social na América Latina. Maritza Montero explicitou este ponto de vista ao
propor, em 1996, a existência de um paradigma elaborado pela Psicologia Social latino-americana – o
paradigma da construção e da transformação crítica, caracterizado pela relação dialógica entre o pesquisador e
os sujeitos da pesquisa e pela ênfase na aplicação da ciência à transformação social [...]”.
85
Em sua dissertação de mestrado, Vera Menegon (1998)82 não usou escalas nem fez
uma análise gráfica do discurso, não falou de núcleos de pensamento nem de tipologias de
bases de poder. A Psicologia Social de Menegon é outra: é uma Psicologia Social que enfoca
o uso de repertórios interpretativos sobre menopausa em conversas do cotidiano e na literatura
científica da área de saúde. É uma Psicologia Social que acontece em bares, festas, salas de
espera e bibliotecas; que envolve ondas de calor, mudanças repentinas de humor, medos,
dúvidas, preconceitos, tratamentos hormonais, bancos virtuais de dados e diários de campo.
Todos esses atores (e muitos outros) fizeram parte do percurso percorrido por
Menegon (1998, p. 15) para responder à seguinte questão: “como um fenômeno presente na
vida de todas as mulheres [a menopausa] configurou-se [em uma] rede complexa de
81
Ao menos enquanto sustentou a noção de paradigma na análise do desenvolvimento histórico da ciência. De
acordo com Carone (2003, p. 14, grifos da autora), “mudanças importantes ocorreram nos anos 90, no interior da
epistemologia de Kuhn, em decorrência do intenso debate travado com filósofos e historiadores das ciências
após a publicação de A estrutura das revoluções científicas. O autor abandonou, paulatinamente, os conceitos de
paradigma, conflito interparadigmático, etc., ou, pelo menos, deixou de se referir a eles. No lugar desses,
começou a refinar as suas teses sobre o desenvolvimento histórico das ciências, por meio da retomada de
algumas observações constantes em suas obras anteriores, a respeito da incomensurabilidade entre teorias
científicas, de seus léxicos e classificações taxonômicas, além de esboçar um novo modelo historiográfico
inspirado em A origem das espécies, de Charles Darwin.”
82
Essa dissertação foi defendida no Programa de Estudos Pós-Graduados da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo (PUC-SP) e foi orientada pela Profa. Dra. Mary Jane Spink.