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MÓDULO I

Aula XVI - O Método Teológico

1. O método da teologia é de grande importância e de grande fecundidade. É


um assunto que pode ser considerado capital, porque toda meta a ser tra-
çada necessita de um método. Método é o caminho para se chegar a algum
objetivo, ou seja, é preciso saber este caminho. O objetivo da Teologia é ser
uma ciência, adquirir o conhecimento de Deus. Desse modo, para se chegar
a este conhecimento será necessário fazer uso de uma metodologia.

2. “Tendo em vista que a Ciência Teológica tem determinadas características,


qual seria o método mais adequado?” Esta é a pergunta a ser explorada
nesta aula.

3. Temos por interesse demonstrar historicamente 2 (dois) tipos de métodos


teológicos: o método da Patrística e o método Escolástico. Ainda que exis-
tam outros métodos teológicos, partiremos destes para fazermos as consi-
derações iniciais.

4. Bom, observando a metodologia Patrística – que vem de padres, originan-


do-se dos primeiros padres da Igreja e que foi se desenvolvendo até o século
VI – não é um método uniforme (nem todos os usuários deste método o
praticavam da mesma maneira), mas apresenta um denominador comum
com as variações apresentadas. Primeiramente, a Teologia concebida pelos
primeiros padres é considerada exegese, ou seja, interpretação da Bíblia e
exposição narrativa da história da salvação, pressupondo de modo pacífico
e espontâneo a integração operativa da razão e da fé.

5. Na Teologia considerada de maneira clássica, a razão tem grande impor-


tância no estudo teológico, se sustentando por muitos séculos este pensa-
mento, somente no século XVI surge um movimento desfavorável à razão,
surgindo até a ideia de que a razão não serve para muita coisa, original-
mente vinda de reformadores daquela época. Porém, entre os padres da
Igreja Católica, a visão se difere desta, os quais partiam do conceito de fé

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a ser entendido pela razão e a razão a ser colocada a serviço da fé. Nos pri-
meiros séculos, ao se deparar com o Cristianismo, São Justino afirmou que
encontrou a verdadeira Filosofia mostrando que a fé ser entendida pela sua
razão tem grande relevância, de maneira semelhante a razão sendo coloca-
da à disposição da fé.

6. É interessante ressaltar que para nossos padres, especialmente a partir do


século III, Teologia é a vida de Deus em si, “theos-logos”, que considerada
em si mesma é a Teologia. Portanto, na visão de nossos padres, Teologia
não é um saber científico, que é como nós concebemos hoje. Um conceito
paralelo a este é o de “Economia”, que vem de “oicos-casa”, que significa a
lei da casa e não economia financeira, como poderia ser entendido em um
primeiro momento. O conceito de Economia é visto como uma casa onde
habita Deus; em nosso universo existe uma ação poderosa de Deus (seja por
criação, por graça, por providência etc.) do qual advém o plano da salva-
ção. É o plano de Deus na história, portanto, o método teológico de nossos
padres está unindo a Teologia e a Economia, conforme as duas vertentes
explanadas.

7. De uma forma moderna esta abordagem chama-se Trindade Imanente e


Trindade Econômica, estas linguagens advêm do teólogo Karl Rahner e se
tornaram bastante difundidas, sendo de considerável importância que o
estudante de teologia tome conhecimento da origem destas terminologias.
Revisando, Teologia Imanente é o conceito antigo de nossos padres, como
uma Teologia observando a vida íntima de Deus e a ação de Deus no mun-
do, na história, seria a Teologia Econômica.

8. Karl Rahner propôs o axioma de que a “Trindade Imanente é a Trindade


Econômica”, o que provocou posicionamentos por parte de alguns teólo-
gos à época. De fato, a Trindade Econômica (como Deus se manifesta na
história) não pode deixar de ser a Trindade Imanente (Deus em sua vida
íntima), mas, a manifestação de Deus na história não revela tudo o que
Deus é, mas revela aquilo que é suficiente para nossa salvação ou simples-
mente aquilo que Deus quis nos revelar para que alcancemos a vida eterna.

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Deus, de fato, é muito mais daquilo que Ele revelou sobre si mesmo, então
é verdade que a Trindade Imanente é a Trindade Econômica, mas não se
pode afirmar que a Trindade Econômica representa a Trindade Imanente
em toda sua completude, compreensão e amplitude.

9. Os padres trabalharam bastante estas 2 (duas) linguagens: Teologia Ima-


nente e Economia. Santo Agostinho sintetizou várias formas de se enxergar
a Teologia, visando dar um equilíbrio entre a Revelação Cristã e a Filosofia
Platônica, o que poderia ser uma das maiores provas de que Santo Agos-
tinho não seria um dos “pais da Reforma”. Agostinho trabalhou bastante
com o uso de diálogos e narrativas, detalhadamente. Sempre que surgiam
necessidades de explanações, debates, considerações a serem feitas a algum
texto ou versículo bíblico ele os fazia de muito bom grado e com qualidade
diferenciada, de forma que os principais temas da fé cristã ficassem total-
mente apresentáveis a quem quisesse ter acesso ou estudar.

10. Agostinho distingue três momentos na tarefa teológica: o momento bíbli-


co, o momento dogmático e o momento explicativo. O primeiro consiste na
exposição da Sagrada Escritura; o segundo, em expor a Doutrina da Igreja e
o terceiro, é a defesa argumentada da verdade católica frente aos hereges e
aos pagãos, esta é a maneira com que Santo Agostinho enxerga a Teologia.
Outra característica da visão “agostiniana” da Teologia é o que chamamos
de visão sapiencial, um Teologia contemplativa (no sentido de que seja con-
vidativa para se “saborear” ao fazer leituras e reflexões).

11. Fazendo comparação com outros métodos existentes pode-se citar 2 (dois)
métodos: o indutivo e o comparativo. Método indutivo é aquele método se-
gundo o qual se faz consecutivos experimentos até que se chegue compro-
vadamente a uma lei universal relativa àquilo que se experimentou repe-
tidas vezes. Método Dedutivo parte-se dos princípios e tenta aplicar-se às
coisas concretas, de forma bastante oposta ao Método Indutivo. Na prática,
o Método Indutivo aplica-se muito bem a ciências experimentais, como,
por exemplo, a Botânica dentro da Biologia ou produção e testes de vacinas
dentro da área Farmacêutica.

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12. O Método Indutivo não pode ser aplicado à Teologia, apesar de que se pode
tirar algum proveito. Não é possível se ter uma “experiência de Deus”, no
sentido estrito da palavra experiência. As nossas experiências com Deus
são mediatas (indiretas) e não imediatas, logo não é possível realizar este
método.

13. De outro modo, com o Método Dedutivo é possível trabalhar dentro da


Teologia, a partir dos princípios da Revelação de se deduzir as coisas do
dia-a-dia, da doutrina, da moral e de outras coisas reveladas por Deus. Esta
abordagem torna-se segura a partir da confiança que temos em tudo o que
Deus revelou para nós em algum momento da história, portanto, este mé-
todo é confiável, a Teologia pressupõe a fé. Uma pessoa que não tem fé não
pode fazer Teologia ou não irá entrar no método teológico como deveria,
apesar de que realizar os estudos por curiosidade também pode ser feito,
mas a pessoa torna-se verdadeiramente um teólogo quando ela crê e den-
tro da sua fé ela pensa a sua fé, então os princípios a partir dos estudos e
constatações são praticamente condicionais aos estudos da Teologia. Esta
situação é uma prévia do Método Escolástico.

14. O Método Escolástico (de Santo Tomás de Aquino) tende a ser mais racio-
nal, dedutivo, parte de princípios para tirar conclusões concretas em suas
reflexões e a partir de informações obtidas da Divina Revelação chegar à
moral e à disciplina usual a um estudioso. Tem uma postura mais direta
diante das situações, se colocando em posição de questionar determinados
assuntos em diversos aspectos diferentes e em momentos diferentes para
absorver o resultado mais rico possível e “resolve” o assunto racionalmente
e da forma mais concreta possível.

15. Sobre a maneira como Santo Tomás de Aquino se portava diante dos temas
por ele abordados, observa-se um cuidado no trato com a situação, de for-
ma a não se comprometer e se envolver com o objeto e mérito da questão a
ser analisada, até que haja o devido desfecho, para ao final se tirar conclu-
sões ou comentar a respeito.

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16. Há dentro do estudo teológico uma preocupação com a história dos in-
divíduos, na experiência dos santos, em ter um contato maior com aquilo
que os cristãos estão vivenciando em seu meio, buscando efetivamente se
distanciar de um posicionamento demasiadamente abstrato e especulativo.
De certa maneira, há espaço para isso, mas em uma proporção reduzida.
Atualmente atenta-se muito para este foco histórico-contemporâneo no
estudo teológico, para não pecar em “descontextualizar”. O método na te-
ologia tem relação estrita com o que foi dito, como as coisas se revelam na
humanidade.

17. Como diria José Moráles em sua obra Introdução a Teologia: “...A concep-
ção e a aplicação adequadas do método teológico pode reger-se ao menos
pelos seguintes critérios: “Não existe um paradigma metodológico único
que possa ou deva considerar-se a forma científica da teologia, deve existir
diversos modelos e opções dado que não há um método teológico ideal e
a teologia necessita dessa variedade e complementaridades metodológicas
para seu desenvolvimento...”.

18. Por exemplo: um dos autores da Teologia da Libertação que mais entendeu
a Teologia da Libertação foi Clodovis Boff, porque ele escreveu sobre o mé-
todo teológico e abriu uma consideração deste método em relação à Teolo-
gia da Libertação. Porém, apesar disso, ao meu ver, a Teologia da Libertação
nada mais é do que um método apenas e não Teologia, um método para
fazer Teologia. Outra questão a ser levantada é se este método conseguiu
fazer Teologia.

19. É importante ter o devido cuidado na análise como métodos, porque as-
sim como todos os métodos a análise marxista é um método, por exemplo.
Partir da realidade social como tese principal e fazer do pobre o analisado
principal é uma metodologia. Em alguns momentos o oprimido é o pobre;
em outros momentos o oprimido poderia ser o negro ou o homoafetivo,
por exemplo. Enxergar como um método traz um olhar claro do que esta-
mos lidando e nos dá a liberdade de questionar o método. Questionando
este método da Teologia da Libertação, se é possível fazer Teologia com ele,

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eu diria que não. Em um segundo momento é possível que se utilize o méto-
do da Teologia da Libertação, após a Teologia já ter sido feita e construída.
O olhar social à realidade não é Teologia!

20. O método deve ser mais dedutivo, mas não somente dedução ou somente
indução, para determinadas coisas pede-se a maneira mais adequada de se
lidar ou explicar, por exemplo, na questão da Teologia Espiritual com rela-
ção às visões a indução se faz importante, será necessário conhecer quem
já passou por esta experiência, como Santa Teresa D’Ávila e Santa Hilde-
garda de Bingen, por exemplo, porque naturalmente um teólogo normal-
mente não tem visões e por isto necessita de evidências para se chegar a
um referencial mais justo quanto ao assunto, sem tender somente para um
episódio ou agente. Então, neste sentido, o método é indutivo porque parte
da experiência (de vida) dos santos, mas habitualmente nós partimos dos
princípios da Divina Revelação.

21. Eu defendo primeiramente que, habitualmente a Teologia deve ser deduti-


va (por isto não se aconselha usar o método da Teologia da Libertação, que
não é uma Teologia e sim um método, reforçando); segundo, todo método
teológico entende o “audite fidei” (do latim, escutar da fé), ou seja, não é
possível estudar Teologia sem fé (Um método que tem como base um ma-
terialismo histórico e dialético e deteriora a fé das pessoas não pode ser um
bom método teológico); terceiro, todo método contém métodos falíveis e
provisionais, como observam-se os métodos católicos clássicos, partindo
disto, observamos que no século XX se fez uso de outras abordagens histó-
ricas, desde o ponto de vista da experiência, entre outras abordagens que
nós devemos estar atentos, inclusive para serem aperfeiçoados; quarto, no
método teológico não se podem separar o modo de fazer teologia e o objeto
em questão, por exemplo: um indivíduo poderia argumentar “eu faço Teo-
logia segundo as Ciências Sociais porque o ‘objeto Deus’ pode ser analisado
da mesma maneira que as realidades sociais”, não é verdade porque um mé-
todo de estudo teológico, considerando Deus enquanto objeto de estudo,
precisa servir para analisar um ser transcendente e não utilizar o método
que seja feito para indivíduos da sociedade comum, Deus não é isso; quinto,

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o objeto nunca é um produto do método, o objeto é condicionante e não
condicionado pelo método, é Deus que condiciona o método na Teologia e
não a Teologia que condiciona a visão de Deus, é muito importante olhar
para o objeto e perceber que Deus é transcendente, Ele quem se revela, Ele
que nos fornece estes princípios de revelação e serão a partir destes prin-
cípios que a Teologia será trabalhada e; sexto, o método teológico inclui
necessariamente a consideração da incidência da doutrina cristã: na vida
daquele que crê, na comunidade, na Igreja e, portanto, toda Teologia é sim
um acontecimento e um evento eclesial, não simplesmente algo mental e
abstrato.

22. Estes pontos aqui levantados estão para nos ajudar a vivermos uma vida
cristã mais plena, apesar disto, não será falado a respeito de utilidade ou
utilitarismo, mesmo a Teologia possuindo realmente um aspecto de utili-
dade também para a Igreja como um todo.

23. Por fim, o método teológico deve ser aquele método que em sua grande
parte é dedutivo e em alguns momentos utiliza a indução, é um método
que deve possuir muita contemplação das verdades da fé e ao mesmo tempo
deve ter uma preocupação constante em ser científica em seus questiona-
mentos e em sua maneira de ser e fazer Teologia, sendo racional, porque
a fé é racional (não somente razão, mas neste aspecto de racionalidade é
preciso entender que Deus quando se pronunciou Ele falou para homens) e
trabalhar com ela é uma condição.

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